A certidão de nascimento: Margueretha Gertruida Zelle; nome artístico: Mata Hari. No dia 13 de Fevereiro de 1917, a famosa e exótica dançarina holandesa é presa num hotel na avenida Champs-Élisées, em Paris, acusada pelos serviços secretos franceses de espionagem durante a I Guerra Mundial.
Mata Hari era filha de um empresário holandês e de uma descendente de javaneses – provável origem da sua beleza exótica. Casou com um funcionário da Companhia das Índias Orientais, Rudolph McLeod.
Admirou-se com a cultura oriental quando morou na Indonésia, mas o seu casamento ia de mal a pior: McLeod era alcoólico, tinha acessos de fúria e mantinha um caso com uma concubina.
Divorciada, Margaretha decidiu viver independentemente em Paris após McLeod não pagar pensões e ela ser forçada a entregar-lhe a filha. O outro filho havia morrido no Oriente, vítima de sífilis contraída dos pais – ou, segundo boatos, de envenenamento de uma criada.
Assim, passou a exercer a profissão de dançarina na capital francesa. Era 1903, tinha 26 anos de idade, e percebeu que que os parisienses da Belle Époque adoravam ver espetáculos com alusões estéticas à distante cultura oriental. Assim nascia Mata Hari, que afirmava ter sido criada num templo sagrado indiano e recebido aulas de antigas danças do país de uma sacerdotisa, quem havia mudado o seu nome para a tradução de “visão do amanhecer”.
Obteve popularidade em toda a Europa, principalmente por dançar e posar quase inteiramente nua diante do público.
Cortesã e bailarina, Mata Hari coleccionou vários militares e figuras políticas francesas e alemãs como amantes.
Na década de 1910, imitadores haviam aparecido e críticos diziam que o seu sucesso se devia ao exibicionismo barato e falta de talento artístico. A sua carreira como dançarina entrava em declínio e já se iniciava a I Guerra Mundial.
As movimentações daquela mulher que esbanjava relacionamentos amorosos começaram a levantar suspeitas. As circunstâncias da sua prisão não são consensuais – assim como, aliás, muitos factos de sua vida.
Algumas fontes afirmam que a França exigiu que ela servisse como espia a partir de casos premeditados com oficiais alemães em Espanha. Por fim, mostrou-se inabilidosa, com informações pouco relevantes. Outras afirmam que os franceses interceptaram mensagens de rádio entre alemães em que eram descritas as actividades de um espião alemão, com codinome H21. A partir das informações, os franceses teriam identificado a sigla como Mata Hari.
Após ser presa no hotel Elisée Palace e interrogada, Mata Hari foi acusada de servir como espia da Alemanha (ou como agente duplo, dependendo da história). Ela teria escrito várias cartas ao cônsul holandês em Paris, clamando a sua inocência e dizendo que as suas conexões internacionais eram fruto do seu trabalho como dançarina.
Por um lado, a autora da biografia Femme fatale, Pat Shipman, defende que Mata Hari nunca foi agente duplo e que foi usada para bode expiatório para distrair a opinião pública das grandes perdas sofridas pelo exército francês. Por outro, detalhados documentos alemães comprovariam a entrada de Mata Hari como agente na Alemanha e na Espanha e confirmariam o nome de código H21.
As circunstâncias das suas alegadas actividades de espionagem durante a Guerra eram – e permanecem ainda – pouco claras. De qualquer modo, em 25 de Julho de 1917, Mata Hari foi julgada por um tribunal militar e sentenciada à pena de morte.
O seu processo foi tendencioso, cheio de falhas e montado sobre evidências circunstanciais. Não ficou provado que nenhuma informação relevante ou secreta tivesse sido passada para os exércitos inimigos da França, mas nem ela nem o seu advogado tão pouco conseguiram sustentar a defesa.
Tendo o presidente francês negado o apelo final de clemência, um pelotão de fuzilamento francês executou-a em 15 de Outubro do mesmo ano em Vincennes, nos arredores de Paris. Mata Hari não foi amarrada e recusou-se a vendar os olhos, recebendo as balas de cabeça erguida, segundo relato de Henry Wales, jornalista britânico que cobriu a execução.
Ainda que envolta em vários mitos e incertezas sobre a sua história, Mata Hari permanece como uma das figuras com mais glamour do sombrio mundo da espionagem, símbolo da ousadia feminina e arquétipo de mulher espião.