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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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11
Jul16

Secretária de Estado do Turismo na inauguração do Vilamoura Garden Hotel

António Garrochinho




O novo hotel de quatro estrelas com serviço superior está localizado em Vilamoura, no Algarve, e nasce de um projeto de revitalização imobiliária, permitindo o aumento e valorização da oferta turística nacional promovido pela ECS Capital.
A ECS Capital, no seguimento da sua atividade de recuperação e dinamização empresarial, inaugurou no sábado, dia 9 de julho, o Vilamoura Garden Hotel, a mais recente unidade hoteleira do Algarve. O projeto implicou um investimento de cerca de 3 milhões de euros e permitiu a criação de perto de uma centena de postos de trabalho, dos quais 25 postos de trabalho diretos.
A inauguração contou com a presença da secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, do presidente da RTA – Turismo do Algarve, Desidério Silva, do presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo, do presidente da Junta de Freguesia de Quarteira, Telmo Pinto, da administradora da Inframoura, Fátima Catarina, bem dos membros da administração da ECS Capital e da unidade.
O Vilamoura Garden Hotel nasce da completa recuperação de um edifício dos anos 90, que se encontrava inacabado, sendo um exemplo de revitalização imobiliária e turística, por um lado valorizando a oferta e por outro respondendo à procura atualmente existente em Vilamoura, no Algarve e em Portugal.
Esta nova unidade apresenta uma decoração moderna inspirada pelos aspetos típicos da região onde pontuam espécies autóctones como o rosmaninho e o alecrim. As comodidades e serviços do Vilamoura Garden Hotel prometem oferecer aos clientes e visitantes uma experiência marcante, onde o mais importante é vivenciar do melhor que a região tem para oferecer.
O Vilamoura Garden Hotel caracteriza-se como um hotel direcionado também para famílias, com um serviço superior, disponibilizando 59 quartos, uma piscina exterior e um ginásio com equipamentos state-of-the-art, bem como um restaurante “à la carte bistro” e um “tapas lounge bar” liderados pelo chef André Simões. Os hóspedes podem também disfrutar de kids club, spa e golfe próximos do hotel, beneficiando de um serviço de excelência.
Vilamoura Garden Hotel aposta no conforto e qualidade
O Vilamoura Garden Hotel está situado no coração do Algarve, rodeado pelos melhores campos de golfe da Europa, uma extensão de praia a perder de vista, a premiada Marina de Vilamoura e 200 hectares de Parque Natural.
A pensar na máxima comodidades dos hóspedes, o Vilamoura Garden Hotel oferece um conjunto alargado de serviços gratuitos, nomeadamente wi-fi, parque de estacionamento coberto e shuttle para a Praia da Falésia, Marina de Vilamoura e campos de Golfe, proporcionando uma experiência distintiva aos seus clientes.
O hotel disponibiliza quatro diferentes tipologias de quartos com preços adequados à época e ajustados à sua localização, de excelência e convidativos a umas férias familiares ou uma pausa da cidade.
A Garden Grand Suite, com 55 m2, reparte-se por dois pisos, apostando na união entre conforto, requinte e bom gosto, com muita luz e espaços harmoniosos. Os seus hóspedes beneficiam de uma cama King Size, de televisor de 43 polegadas e de um terraço com vista para a piscina.
A Garden Suite apresenta quarto e área lounge em divisões distintas, num total de 40 m2 que garantem o maior conforto, o qual é reforçado pelo televisor de 43 polegadas, pela cama King Size e pela vista para o pinhal algarvio potenciado pelo terraço.
O Garden Room, o quarto standard do hotel, apresenta dimensões generosas, com 28 m2, destacando-se pela leveza e bom gosto da decoração, bem como pelas comodidades proporcionadas pelo terraço com vista para o pinhal e ecrã plano de televisão.
Para as famílias, o hotel disponibiliza o iluminado e espaçoso Garden Family, de 45 m2, que contempla duas zonas distintas no mesmo espaço. Uma com cama King Size e outra zona lounge com sofá-cama, ambas com televisores de ecrã plano. O espaço permite às famílias descansarem e divertirem-se, bem como desfrutar de momentos em família no terraço com vista para a piscina.
O Vilamoura Garden Hotel já está disponível para reservas a partir do site oficialwww.vilamouragardenhotel.com, do endereço de emailreservations@vilamouragardenhotel.com e telefone +351 289304333






















































11
Jul16

Secretária de Estado do Turismo na inauguração do Vilamoura Garden Hotel

António Garrochinho



O novo hotel de quatro estrelas com serviço superior está localizado em Vilamoura, no Algarve, e nasce de um projeto de revitalização imobiliária, permitindo o aumento e valorização da oferta turística nacional promovido pela ECS Capital.
A ECS Capital, no seguimento da sua atividade de recuperação e dinamização empresarial, inaugurou no sábado, dia 9 de julho, o Vilamoura Garden Hotel, a mais recente unidade hoteleira do Algarve. O projeto implicou um investimento de cerca de 3 milhões de euros e permitiu a criação de perto de uma centena de postos de trabalho, dos quais 25 postos de trabalho diretos.
A inauguração contou com a presença da secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, do presidente da RTA – Turismo do Algarve, Desidério Silva, do presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo, do presidente da Junta de Freguesia de Quarteira, Telmo Pinto, da administradora da Inframoura, Fátima Catarina, bem dos membros da administração da ECS Capital e da unidade.
O Vilamoura Garden Hotel nasce da completa recuperação de um edifício dos anos 90, que se encontrava inacabado, sendo um exemplo de revitalização imobiliária e turística, por um lado valorizando a oferta e por outro respondendo à procura atualmente existente em Vilamoura, no Algarve e em Portugal.
Esta nova unidade apresenta uma decoração moderna inspirada pelos aspetos típicos da região onde pontuam espécies autóctones como o rosmaninho e o alecrim. As comodidades e serviços do Vilamoura Garden Hotel prometem oferecer aos clientes e visitantes uma experiência marcante, onde o mais importante é vivenciar do melhor que a região tem para oferecer.
O Vilamoura Garden Hotel caracteriza-se como um hotel direcionado também para famílias, com um serviço superior, disponibilizando 59 quartos, uma piscina exterior e um ginásio com equipamentos state-of-the-art, bem como um restaurante “à la carte bistro” e um “tapas lounge bar” liderados pelo chef André Simões. Os hóspedes podem também disfrutar de kids club, spa e golfe próximos do hotel, beneficiando de um serviço de excelência.
Vilamoura Garden Hotel aposta no conforto e qualidade
O Vilamoura Garden Hotel está situado no coração do Algarve, rodeado pelos melhores campos de golfe da Europa, uma extensão de praia a perder de vista, a premiada Marina de Vilamoura e 200 hectares de Parque Natural.
A pensar na máxima comodidades dos hóspedes, o Vilamoura Garden Hotel oferece um conjunto alargado de serviços gratuitos, nomeadamente wi-fi, parque de estacionamento coberto e shuttle para a Praia da Falésia, Marina de Vilamoura e campos de Golfe, proporcionando uma experiência distintiva aos seus clientes.
O hotel disponibiliza quatro diferentes tipologias de quartos com preços adequados à época e ajustados à sua localização, de excelência e convidativos a umas férias familiares ou uma pausa da cidade.
A Garden Grand Suite, com 55 m2, reparte-se por dois pisos, apostando na união entre conforto, requinte e bom gosto, com muita luz e espaços harmoniosos. Os seus hóspedes beneficiam de uma cama King Size, de televisor de 43 polegadas e de um terraço com vista para a piscina.
A Garden Suite apresenta quarto e área lounge em divisões distintas, num total de 40 m2 que garantem o maior conforto, o qual é reforçado pelo televisor de 43 polegadas, pela cama King Size e pela vista para o pinhal algarvio potenciado pelo terraço.
O Garden Room, o quarto standard do hotel, apresenta dimensões generosas, com 28 m2, destacando-se pela leveza e bom gosto da decoração, bem como pelas comodidades proporcionadas pelo terraço com vista para o pinhal e ecrã plano de televisão.
Para as famílias, o hotel disponibiliza o iluminado e espaçoso Garden Family, de 45 m2, que contempla duas zonas distintas no mesmo espaço. Uma com cama King Size e outra zona lounge com sofá-cama, ambas com televisores de ecrã plano. O espaço permite às famílias descansarem e divertirem-se, bem como desfrutar de momentos em família no terraço com vista para a piscina.
O Vilamoura Garden Hotel já está disponível para reservas a partir do site oficialwww.vilamouragardenhotel.com, do endereço de emailreservations@vilamouragardenhotel.com e telefone +351 289304333





















































11
Jul16

JÁ FALTAVA A EVOCAÇÃO DOS TRÊS EFES POR PARTE DE MARCELO QUE REZOU MUITOS TERÇOS COM FERNANDO SANTOS - Marcelo Rebelo de Sousa pondera ir a Fátima

António Garrochinho
Marcelo Rebelo de Sousa pondera ir a Fátima



PR levantou e pegou na taça. 

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse esta segunda-feira que pondera ir a Fátima por conta da vitória da seleção nacional no europeu de futebol, destacando a resistência dos jogadores que "aguentaram de uma forma quase sobre-humana". 

Em declarações a um pequeno grupo de jornalistas, no Palácio de Belém, no final da cerimónia de receção à seleção nacional, que domingo venceu o campeonato europeu de futebol, Marcelo Rebelo de Sousa assumiu-se como "um homem de fé" e confessou que rezou muitos terços, tal como o selecionador Fernando Santos. 

"Rezámos muito terços. Ele e eu [Fernando Santos]. Muitos. 

Ainda vou a Fátima por conta disso", admitiu. 

O Presidente da República considera que esta vitória é "fruto de muito trabalho, de muito mérito, do presidente da Federação, da equipa federativa, do grande treinador que é Fernando Santos, contra tudo e contra todos", destacando que os jogadores "aguentaram de uma forma quase sobre-humana". "O que Portugal teve superior aos outros, além do talento e do génio de vários jogadores, foi o espírito de equipa e a resistência. Eu nunca pensei que, jogando tantos prolongamentos, chegando a penáltis e portanto jogando mais tempo do que as outras equipas, com intervalos por vezes muito curtos, que aguentam-se tanto", afirmou. 

Os campeões europeus estiveram cerca de uma hora nesta cerimónia, na qual receberam os alvarás de concessão das condecorações, ouviram os discursos do Presidente da República e do Presidente da Federação Portuguesa de Futebol e foram aplaudidos pelos milhares de pessoas que aguardavam na Praça Afonso de Albuquerque, em frente ao palácio. 

A seleção assomou-se, juntamente com o Presidente da República, à varanda dos jardins do Palácio de Belém com vista para a praça, da qual ouviram o hino tocado pela banda da GNR. Não só os jogadores, mas também Marcelo levantou e pegou na taça, enquanto as pessoas concentradas na praça cantavam e gritavam pelo nome de Portugal e dos seus heróis nacionais, que traziam cachecóis a dizer "Campeões Europeus". 

Depois, os jogadores voltaram a cruzar os jardins do Palácio de Belém para regressar aos dois autocarros panorâmicos que transportavam toda a equipa, com as cores da seleção nacional, onde se lia a palavra "Campeões", e aí muitos dos funcionários presentes pediram autógrafos e tiraram fotografias com os seus ídolos. Nas despedidas, Marcelo deu um forte abraço a Cristiano Ronaldo e sussurrou-lhe ao ouvido palavras que apenas os dois sabem quais foram.


http://www.cmjornal.xl.pt/

11
Jul16

EMPREGO E DESEMPREGO DIMINUEM, E TAMBÉM A PERCENTAGEM DE DESEMPREGADOS A RECEBEREM SUBSÍDIO – por EUGÉNIO ROSA

António Garrochinho



Os últimos dados divulgados pelo INE, que são de Maio de 2016, sobre o emprego e o desemprego em Portugal revelam um fenómeno insólito que tem passado despercebido à opinião pública e aos media, que é o seguinte: o desemprego está a diminuir em Portugal mas não como consequência do emprego ter aumentado, pois este tem diminuído também como os dados do INE constantes do quadro revelam.

Quadro 1- Variação do emprego e do desemprego em Portugal no período Maio.2015/Maio.2016

Desemprego - I

Segundo os dados do quadro 1, entre Maio-2015 e Maio-2016, o desemprego diminuiu em 46,8 mil se consideramos os valores ajustados da sazonalidade, e em 45,7 mil se os valores não forem ajustados. Esta diminuição não resultou do emprego ter aumentado pois este, no mesmo período, diminui em 13,9 mil se utilizarmos os valores ajustados ou em 17,1 mil se forem os valores não ajustado. Assim, entre 60,7 mil e 62,8 mil trabalhadores desapareceram dos dados do INE referentes ao emprego e desemprego.

A primeira conclusão que se tira é que a economia não está a criar emprego; pelo contrário, continua-se a verificar uma destruição de emprego embora a um ritmo muito mais lento (entre Maio/2015 e Maio/2016 foram destruídos entre 13,9 mil e 17,1 mil empregos), o que é dramático para aqueles que se encontram desempregados pois as possibilidades de encontrarem trabalho não estão a aumentar; pelo contrário, estão a diminuir.

A segunda conclusão que se tira dos dados do INE, é que o desemprego tem diminuído (entre Maio.2015 e Maio.2016, diminuiu entre 45,7 mil e 46,8 mil), mas não porque o emprego esteja a crescer; pelo contrário, como se mostrou, o emprego até tem diminuído.

A pergunta que naturalmente se coloca é esta: Como explicar este fenómeno aparentemente contraditório que é o do desemprego diminuir ao mesmo tempo que o emprego diminui? E a explicação pode ser de duas, uma: (1) Imigração para o estrangeiro (entre o 1ºT.2015 e1ºT206, +26,4 mil considerando apenas os com idade entre 25 e 34 anos); (2) Exclusão de um número crescente de trabalhadores do mercado de trabalho mesmo sem se reformarem. São os que o INE designa, por “inativos disponíveis que não procuram emprego”(aqueles que depois de tanto procurar, perderam a esperança de encontrar trabalho, e deixaram de procurar emprego), que já não são considerados nas estatísticas do INE como desempregados. Quer num caso quer em outro, é dramático para o país. A saída de jovens quadros para o estrangeiro poe em causa a recuperação e o futuro do país. A exclusão prematura do mercado de trabalho de muitas centenas de milhares de trabalhadores representa, para além da destruição de vidas humanas que ficam assim sem meios para sobreviver e psicologicamente destruídas, a destruição de uma parte importante da capacidade produtiva atual do país.

Um outro fenómeno que está a acontecer em Portugal é que apesar do emprego e desemprego não estarem a aumentar, o número de desempregado com direito e receber subsídio tem diminuído bastante como revelam os dados da Segurança social (quadro 2).

Quadro 2 – Desemprego oficial e desempregados a receber subsidio de desemprego e subsidio social de desemprego – Maio2015/Maio/2016

Desemprego - II

Entre Maio de 2015 e Maio de 2016, o desemprego oficial diminuiu em 7,4%, mas número de desempregados a receber subsídio de desemprego reduziu-se em 16,8%. E isto porque a percentagem de desempregados a receber subsídio de desemprego diminuiu, entre 2015 e 2016, de 45,3% para apenas 40,7% (a Segurança Social “poupou” até Maio.2006, em relação a igual período de 2015, à custa da redução do apoio aos desempregados,121,8 milhões€, ou seja, -15,3%). Em Maio.2016, em cada 100 desempregados apenas 41 recebiam subsídio de desemprego, quando em Maio.2015 eram 45 em cada 100. Portanto, a proteção aos desempregados está a diminuir. E tenha-se presente que os valores do desemprego oficial não correspondem ao desemprego real e efetivo. Dos números oficiais de desemprego, o INE exclui os chamados “inativos disponíveis que não procuraram emprego”, mas que são trabalhadores desempregados que, pelo facto de não terem procurado emprego no período em que o INE fez o inquérito, este exclui (arbitrariamente, de acordo com a metodologia que utiliza) do número oficial de desempregados. E no fim do 1º Trim.2016, os desempregados não incluídos nos números oficiais de desemprego atingiam 225,1 mil, segundo o próprio INE.

Para além disso, como revelam os dados do quadro 3, que são divulgados pela Segurança Social, o valor médio do subsídio de desemprego é baixo e tem diminuído.

Quadro 3 – Valor médio do subsídio de desemprego em Portugal

Desemprego - III

Os dados oficiais que analisamos neste estudo mostram que o problema do desemprego continua a ser o problema social mais grave que o país tem, que a sua gravidade não tem diminuído; muito pelo contrário. Neste momento essa gravidade está a ser ocultada pela redução verificada no número oficial de desempregados (que não reflete o desemprego total existente), e na taxa de desemprego, que são indicadores enganadores como se viu.

O problema do desemprego não se resolve sem investimento. E, em 2016, o investimento está a ser inferior ao de 2015. Os privados não investem (no 1ºTrim.2016 o investimento total – FBCF – foi inferior ao do 1º Trim.2015 em -2,2%). O mesmo sucede com Estado (de Jan-Maio de 2016, o investimento das Administrações Públicas foi inferior ao do período homologo de 2015 em 199 milhões €, ou seja, -13,5%). E sem investimento não há criação de emprego, pois na economia não há milagres.

Eugénio Rosa – Economista – edr2@netcabo.pt 

aviagemdosargonautas.net

11
Jul16

A regionalização é um imperativo constitucional a cumprir

António Garrochinho

O poder local que falta

A pretexto de uma falsa descentralização, o poder central tem vindo a alienar as suas responsabilidades.

FERRAGUDO - ALGARVE


A regionalização permitirá uma melhor gestão dos recursos nacionais
A regionalização permitirá uma melhor gestão dos recursos nacionais
Os últimos anos, com particular aprofundamento na governação de Passos e Portas, têm sido frutíferos em soluções encontradas que são o contrário do que as autarquias e, consequentemente, as regiões precisam em matéria de autonomia e desenvolvimento.

A pretexto de uma falsa descentralização, o poder central tem vindo a alienar as suas responsabilidades em áreas fundamentais como a saúde e a educação, transferindo-as para as autarquias locais sem o financiamento devido para uma gestão autónoma e eficaz, criando um ambiente favorável à privatização de bens (a água!) e serviços que importam à população.

Constitucionalmente identificadas como autarquias locais (a par dos municípios e das freguesias), as regiões administrativas demoram a sair do papel e as soluções aplicadas vão mais no sentido da desconcentração do que de uma verdadeira descentralização administrativa – o princípio que segundo a Constituição deveria regular as competências e atribuições das autarquias locais.

Falar de regionalização implica portanto falar de descentralização com efectiva transferência de competências e meios, com autonomia política, administrativa e financeira. A descentralização que a regionalização prevê implica uma gestão participada e a aplicação de soluções específicas de acordo com as características do território, em vez do tratamento igual que a desconcentração aplica (e onde o poder de decisão se mantém no poder central).

Sendo verdade que o desenvolvimento regional só pode ser assegurado por uma justa política nacional, não é menos verdade que esse desenvolvimento depende igualmente de um poder e capacidade de decisão a nível regional, com legitimidade e força política atribuídas pela vontade do popular, com meios e instrumentos adequados.

A regionalização não resolverá, só por si, os problemas existentes ao nível do atraso e subdesenvolvimento que as regiões (particularmente as do interior) apresentam. Mas pode ser um travão às assimetrias e desequilíbrios, ao despovoamento e desertificação, ao fraco aproveitamento dos recursos das regiões e a utilizações erradas dos fundos comunitários.

abrilabril.pt
11
Jul16

Uma questão de etiqueta?

António Garrochinho




























As etiquetas comerciais estão a tornar-se num factor de tensão entre alguns países da UE e os EUA a propósito das negociações do TTIP.


O Le Monde do passado dia 9 dava conta de que a indústria agroalimentar e a grande distribuição se opõem ao projecto, resultante de um estudo encomendado pelo governo francês, de colocar um logotipo colorido nos alimentos em função da sua qualidade nutricional. Não só agora mas nos últimos anos têm-se sucedido os trabalhos científicos que mostram a eficácia deste tipo de etiquetas na informação aos consumidores para reduzir os riscos sanitários. Esta questão também vai exigir a clarificação do governo francês já que uma parte dos peritos mandatados pelo Ministério da Saúde mantém ligações, nem sempre declaradas, com a indústria.


As cinco doenças mais comuns em muitos países estão ligadas, no todo ou em parte, à produção e ao consumo de alimentos provenientes da cadeia agroalimentar industrial: diabetes, hipertensão, obesidade, cancro e doenças cardiovasculares.. Isto não só se traduz em má qualidade de vida e tragédias pessoais, mas também em altos gastos com consultas médicas e com o orçamento de saúde pública, e num enorme subsídio oculto para as multinacionais que dominam a cadeia agroalimentar, das sementes ao processamento de alimentos e à venda em supermercados. Fortes são pois as razões para questionar esse modelo de produção e consumo de alimentos. E fortes são também as razões para a etiquetagem desses produtos confira segurança aos cidadãos.



Quer neste caso de França quer no das negociações entre a UE e os EUA sobre o TTIP, também na etiquetagem destes e outros tipos de produtos, conhecem-se genericamente os tipos de questões a ser tratadas mas não as opções concretas. E são estas que os cidadãos reclamam conhecer. Os relatórios são um “faz de conta” e escondem o que, no concreto, está a ser acordado. Uma entre centenas de perguntas a esclarecer: como vai a UE reagir ou a que acordou chegou sobre a oposição dos EUA à referência nas etiquetas a “produto geneticamente modificado”?



Em relação ao TTIP, esta questão da etiquetagem e da segurança, coloca-se não só no sector agroalimentar mas no vestuário/têxtil e em em todas as áreas
Fazer o exercício de ler os relatórios das 13 reuniões já realizadas entre os EUA e a EU mostra isto à evidência e quem negoceia nas costas dos cidadãos não pode considerar.
Os grupos económicos apelam à simplificação e harmonização das normas de etiquetagem relativas a peças de vestuário vendidas na União Europeia e Estados Unidos da América, como forma de impulsionar o comércio inter-regional, reduzir o número de requisitos de etiquetagem obrigatórios e permitir que as etiquetas dos produtos sejam o mais simples possível. Isto é “esconder mais para vender melhor”.




Entre os grupos norte-americanos estão a Aliança Europeia de Marcas de Vestuário (EBCA), a Associação de Vestuário e Calçado Americana (AAFA) e a Associação Indústria da Moda dos Estados Unidos (USFIA). Todos eles destacam que as práticas empresariais modernas requerem a capacidade de transferência de produtos entre as regiões, como ditam as condições de mercado. Afirmam que “Se um produto não se vende bem na Europa, deveria ser possível transferir esse produto para os EUA e vice-versa, assegurando que o produto encontra a melhor mercado. O produto, portanto, deve estar pronto a ser vendido em qualquer jurisdição, incluindo no que diz respeito à etiquetagem e línguas”, referem. 


Em última análise, pretendem que o TTIP “permita a eficiência do comércio inter-regional, simplificando os requisitos de etiquetagem e idiomas, reduzindo assim o comprimento das etiquetas, resíduos, custos e confusão do consumidor, resultante de quantidades excessivas de informação. Chegam mesmo ao ponto de, como a Ginetex-Associação Internacional para a Etiquetagem, dizerem que alguma etiquetagem e a contemplação nela de direitos de propriedade intelectual se acabam por reflectir nos preços ao consumidor. E portanto, “cortem nas etiquetas”… 
Harmonização, redução das palavras a símbolos, necessidade de reduzir o número e línguas usadas pela EU e o excesso de informação. Tudo são facilidades.
Por detrás de tão bons corações, está a cupidez do aumento dos lucros de quem quer ver alargados os seus mercados e amortizados mais rapidamente os investimentos realizados na exportação/produção, procurando, assim, que “o gato passe por lebre”.



No tocante à indicação do país de origem de produtos que são importados, neste momento a Comunidade Europeia não dispõe de legislação sobre a etiquetagem de origem de produtos industriais importados de países terceiros (“made in”).



No decurso da consulta que a Comissão organizou em 2004, certos estados-membros e vários organismos interessados (indústrias, sindicatos, consumidores e outras instituições) tinham expresso a sua preocupação crescente com o aumento da incidência de etiquetas de origens enganosas e/ou fraudulentas apostas em produtos importados e tinham requerido o estabelecimento de regras que impusessem a etiquetagem de origem das importações e/ou dos produtos UE. A proposta que a Comissão apresentou em 2005 permitia conceber a determinação, pelo menos parcial, da origem de um produto em função de regras aduaneiras.


No triénio 2009-2011, os eurodeputados comunistas defenderam o conhecimento, tão completo quanto possível e justificável, da composição dos géneros alimentícios, que constitui um direito fundamental dos consumidores. Consideraram que deve também existir informação sobre aditivos alimentares com efeitos alergénicos e a obrigatoriedade de indicação de origem em determinados produtos, tendo condenado a inexistência de obrigatoriedade de informação relativa à presença de organismos geneticamente modificados (OGM) nos alimentos.


Em Portugal, em 8/2/2011, a Comissão Parlamentar de Assuntos Económicos elaborou um parecer que, face à disposição da Comissão Europeia alterar alguns requisitos da etiquetagem, não deveria antes de se concluir tal processo, ser revogado o Regulamento nº1548/98 de definia os requisitos em vigôr à altura.


Em Março deste ano, um grupo de produtores de leite do Norte do país juntou-se num hipermercado da Póvoa de Varzim para comprar mil litros de leite nacional e colocar etiquetas em produtos lácteos importados, paraalertar para as dificuldades que o setor atravessa e sensibilizar as superfícies comerciais e os consumidores a comprarem produtos lácteos produzidos no nosso país. 



Também nesse mês, a CNA referia que tem de haver coragem para enfrentar a grande distribuição, que continua a acumular lucros, mesmo quando aqueles que produzem para ela só acumulem prejuízos. Tem de haver exigência na rotulagem da produção nacional à qual a grande distribuição tem resistido. Tem de se verificar se não há dumping na importação de carne e leite que fazem baixar os preços pagos em Portugal. Exige-se também por parte da ASAE uma maior atenção através de uma ação forte, visível e dissuasora.
É de esperar que, também em Portugal, os grandes grupos económicos e as grandes distribuidoras assumam atitudes semelhantes ao que está a acontecer em França.

Via: antreus http://bit.ly/29yNlxO
11
Jul16

Uma questão de etiqueta?

António Garrochinho




























As etiquetas comerciais estão a tornar-se num factor de tensão entre alguns países da UE e os EUA a propósito das negociações do TTIP.


O Le Monde do passado dia 9 dava conta de que a indústria agroalimentar e a grande distribuição se opõem ao projecto, resultante de um estudo encomendado pelo governo francês, de colocar um logotipo colorido nos alimentos em função da sua qualidade nutricional. Não só agora mas nos últimos anos têm-se sucedido os trabalhos científicos que mostram a eficácia deste tipo de etiquetas na informação aos consumidores para reduzir os riscos sanitários. Esta questão também vai exigir a clarificação do governo francês já que uma parte dos peritos mandatados pelo Ministério da Saúde mantém ligações, nem sempre declaradas, com a indústria.


As cinco doenças mais comuns em muitos países estão ligadas, no todo ou em parte, à produção e ao consumo de alimentos provenientes da cadeia agroalimentar industrial: diabetes, hipertensão, obesidade, cancro e doenças cardiovasculares.. Isto não só se traduz em má qualidade de vida e tragédias pessoais, mas também em altos gastos com consultas médicas e com o orçamento de saúde pública, e num enorme subsídio oculto para as multinacionais que dominam a cadeia agroalimentar, das sementes ao processamento de alimentos e à venda em supermercados. Fortes são pois as razões para questionar esse modelo de produção e consumo de alimentos. E fortes são também as razões para a etiquetagem desses produtos confira segurança aos cidadãos.



Quer neste caso de França quer no das negociações entre a UE e os EUA sobre o TTIP, também na etiquetagem destes e outros tipos de produtos, conhecem-se genericamente os tipos de questões a ser tratadas mas não as opções concretas. E são estas que os cidadãos reclamam conhecer. Os relatórios são um “faz de conta” e escondem o que, no concreto, está a ser acordado. Uma entre centenas de perguntas a esclarecer: como vai a UE reagir ou a que acordou chegou sobre a oposição dos EUA à referência nas etiquetas a “produto geneticamente modificado”?



Em relação ao TTIP, esta questão da etiquetagem e da segurança, coloca-se não só no sector agroalimentar mas no vestuário/têxtil e em em todas as áreas
Fazer o exercício de ler os relatórios das 13 reuniões já realizadas entre os EUA e a EU mostra isto à evidência e quem negoceia nas costas dos cidadãos não pode considerar.
Os grupos económicos apelam à simplificação e harmonização das normas de etiquetagem relativas a peças de vestuário vendidas na União Europeia e Estados Unidos da América, como forma de impulsionar o comércio inter-regional, reduzir o número de requisitos de etiquetagem obrigatórios e permitir que as etiquetas dos produtos sejam o mais simples possível. Isto é “esconder mais para vender melhor”.




Entre os grupos norte-americanos estão a Aliança Europeia de Marcas de Vestuário (EBCA), a Associação de Vestuário e Calçado Americana (AAFA) e a Associação Indústria da Moda dos Estados Unidos (USFIA). Todos eles destacam que as práticas empresariais modernas requerem a capacidade de transferência de produtos entre as regiões, como ditam as condições de mercado. Afirmam que “Se um produto não se vende bem na Europa, deveria ser possível transferir esse produto para os EUA e vice-versa, assegurando que o produto encontra a melhor mercado. O produto, portanto, deve estar pronto a ser vendido em qualquer jurisdição, incluindo no que diz respeito à etiquetagem e línguas”, referem. 

Em última análise, pretendem que o TTIP “permita a eficiência do comércio inter-regional, simplificando os requisitos de etiquetagem e idiomas, reduzindo assim o comprimento das etiquetas, resíduos, custos e confusão do consumidor, resultante de quantidades excessivas de informação. Chegam mesmo ao ponto de, como a Ginetex-Associação Internacional para a Etiquetagem, dizerem que alguma etiquetagem e a contemplação nela de direitos de propriedade intelectual se acabam por reflectir nos preços ao consumidor. E portanto, “cortem nas etiquetas”… 
Harmonização, redução das palavras a símbolos, necessidade de reduzir o número e línguas usadas pela EU e o excesso de informação. Tudo são facilidades.
Por detrás de tão bons corações, está a cupidez do aumento dos lucros de quem quer ver alargados os seus mercados e amortizados mais rapidamente os investimentos realizados na exportação/produção, procurando, assim, que “o gato passe por lebre”.



No tocante à indicação do país de origem de produtos que são importados, neste momento a Comunidade Europeia não dispõe de legislação sobre a etiquetagem de origem de produtos industriais importados de países terceiros (“made in”).



No decurso da consulta que a Comissão organizou em 2004, certos estados-membros e vários organismos interessados (indústrias, sindicatos, consumidores e outras instituições) tinham expresso a sua preocupação crescente com o aumento da incidência de etiquetas de origens enganosas e/ou fraudulentas apostas em produtos importados e tinham requerido o estabelecimento de regras que impusessem a etiquetagem de origem das importações e/ou dos produtos UE. A proposta que a Comissão apresentou em 2005 permitia conceber a determinação, pelo menos parcial, da origem de um produto em função de regras aduaneiras.


No triénio 2009-2011, os eurodeputados comunistas defenderam o conhecimento, tão completo quanto possível e justificável, da composição dos géneros alimentícios, que constitui um direito fundamental dos consumidores. Consideraram que deve também existir informação sobre aditivos alimentares com efeitos alergénicos e a obrigatoriedade de indicação de origem em determinados produtos, tendo condenado a inexistência de obrigatoriedade de informação relativa à presença de organismos geneticamente modificados (OGM) nos alimentos.


Em Portugal, em 8/2/2011, a Comissão Parlamentar de Assuntos Económicos elaborou um parecer que, face à disposição da Comissão Europeia alterar alguns requisitos da etiquetagem, não deveria antes de se concluir tal processo, ser revogado o Regulamento nº1548/98 de definia os requisitos em vigôr à altura.


Em Março deste ano, um grupo de produtores de leite do Norte do país juntou-se num hipermercado da Póvoa de Varzim para comprar mil litros de leite nacional e colocar etiquetas em produtos lácteos importados, paraalertar para as dificuldades que o setor atravessa e sensibilizar as superfícies comerciais e os consumidores a comprarem produtos lácteos produzidos no nosso país. 



Também nesse mês, a CNA referia que tem de haver coragem para enfrentar a grande distribuição, que continua a acumular lucros, mesmo quando aqueles que produzem para ela só acumulem prejuízos. Tem de haver exigência na rotulagem da produção nacional à qual a grande distribuição tem resistido. Tem de se verificar se não há dumping na importação de carne e leite que fazem baixar os preços pagos em Portugal. Exige-se também por parte da ASAE uma maior atenção através de uma ação forte, visível e dissuasora.
É de esperar que, também em Portugal, os grandes grupos económicos e as grandes distribuidoras assumam atitudes semelhantes ao que está a acontecer em França.

Via: antreus http://bit.ly/29yNlxO
11
Jul16

Uma questão de etiqueta?

António Garrochinho




























As etiquetas comerciais estão a tornar-se num factor de tensão entre alguns países da UE e os EUA a propósito das negociações do TTIP.
O Le Monde do passado dia 9 dava conta de que a indústria agroalimentar e a grande distribuição se opõem ao projecto, resultante de um estudo encomendado pelo governo francês, de colocar um logotipo colorido nos alimentos em função da sua qualidade nutricional. Não só agora mas nos últimos anos têm-se sucedido os trabalhos científicos que mostram a eficácia deste tipo de etiquetas na informação aos consumidores para reduzir os riscos sanitários. Esta questão também vai exigir a clarificação do governo francês já que uma parte dos peritos mandatados pelo Ministério da Saúde mantém ligações, nem sempre declaradas, com a indústria.
As cinco doenças mais comuns em muitos países estão ligadas, no todo ou em parte, à produção e ao consumo de alimentos provenientes da cadeia agroalimentar industrial: diabetes, hipertensão, obesidade, cancro e doenças cardiovasculares.. Isto não só se traduz em má qualidade de vida e tragédias pessoais, mas também em altos gastos com consultas médicas e com o orçamento de saúde pública, e num enorme subsídio oculto para as multinacionais que dominam a cadeia agroalimentar, das sementes ao processamento de alimentos e à venda em supermercados. Fortes são pois as razões para questionar esse modelo de produção e consumo de alimentos. E fortes são também as razões para a etiquetagem desses produtos confira segurança aos cidadãos.
Quer neste caso de França quer no das negociações entre a UE e os EUA sobre o TTIP, também na etiquetagem destes e outros tipos de produtos, conhecem-se genericamente os tipos de questões a ser tratadas mas não as opções concretas. E são estas que os cidadãos reclamam conhecer. Os relatórios são um “faz de conta” e escondem o que, no concreto, está a ser acordado. Uma entre centenas de perguntas a esclarecer: como vai a UE reagir ou a que acordou chegou sobre a oposição dos EUA à referência nas etiquetas a “produto geneticamente modificado”?
Em relação ao TTIP, esta questão da etiquetagem e da segurança, coloca-se não só no sector agroalimentar mas no vestuário/têxtil e em em todas as áreas
Fazer o exercício de ler os relatórios das 13 reuniões já realizadas entre os EUA e a EU mostra isto à evidência e quem negoceia nas costas dos cidadãos não pode considerar.
Os grupos económicos apelam à simplificação e harmonização das normas de etiquetagem relativas a peças de vestuário vendidas na União Europeia e Estados Unidos da América, como forma de impulsionar o comércio inter-regional, reduzir o número de requisitos de etiquetagem obrigatórios e permitir que as etiquetas dos produtos sejam o mais simples possível. Isto é “esconder mais para vender melhor”.

Entre os grupos norte-americanos estão a Aliança Europeia de Marcas de Vestuário (EBCA), a Associação de Vestuário e Calçado Americana (AAFA) e a Associação Indústria da Moda dos Estados Unidos (USFIA). Todos eles destacam que as práticas empresariais modernas requerem a capacidade de transferência de produtos entre as regiões, como ditam as condições de mercado. Afirmam que “Se um produto não se vende bem na Europa, deveria ser possível transferir esse produto para os EUA e vice-versa, assegurando que o produto encontra a melhor mercado. O produto, portanto, deve estar pronto a ser vendido em qualquer jurisdição, incluindo no que diz respeito à etiquetagem e línguas”, referem. Em última análise, pretendem que o TTIP “permita a eficiência do comércio inter-regional, simplificando os requisitos de etiquetagem e idiomas, reduzindo assim o comprimento das etiquetas, resíduos, custos e confusão do consumidor, resultante de quantidades excessivas de informação. Chegam mesmo ao ponto de, como a Ginetex-Associação Internacional para a Etiquetagem, dizerem que alguma etiquetagem e a contemplação nela de direitos de propriedade intelectual se acabam por reflectir nos preços ao consumidor. E portanto, “cortem nas etiquetas”… 
Harmonização, redução das palavras a símbolos, necessidade de reduzir o número e línguas usadas pela EU e o excesso de informação. Tudo são facilidades.
Por detrás de tão bons corações, está a cupidez do aumento dos lucros de quem quer ver alargados os seus mercados e amortizados mais rapidamente os investimentos realizados na exportação/produção, procurando, assim, que “o gato passe por lebre”.
No tocante à indicação do país de origem de produtos que são importados, neste momento a Comunidade Europeia não dispõe de legislação sobre a etiquetagem de origem de produtos industriais importados de países terceiros (“made in”).
No decurso da consulta que a Comissão organizou em 2004, certos estados-membros e vários organismos interessados (indústrias, sindicatos, consumidores e outras instituições) tinham expresso a sua preocupação crescente com o aumento da incidência de etiquetas de origens enganosas e/ou fraudulentas apostas em produtos importados e tinham requerido o estabelecimento de regras que impusessem a etiquetagem de origem das importações e/ou dos produtos UE. A proposta que a Comissão apresentou em 2005 permitia conceber a determinação, pelo menos parcial, da origem de um produto em função de regras aduaneiras.
No triénio 2009-2011, os eurodeputados comunistas defenderam o conhecimento, tão completo quanto possível e justificável, da composição dos géneros alimentícios, que constitui um direito fundamental dos consumidores. Consideraram que deve também existir informação sobre aditivos alimentares com efeitos alergénicos e a obrigatoriedade de indicação de origem em determinados produtos, tendo condenado a inexistência de obrigatoriedade de informação relativa à presença de organismos geneticamente modificados (OGM) nos alimentos.
Em Portugal, em 8/2/2011, a Comissão Parlamentar de Assuntos Económicos elaborou um parecer que, face à disposição da Comissão Europeia alterar alguns requisitos da etiquetagem, não deveria antes de se concluir tal processo, ser revogado o Regulamento nº1548/98 de definia os requisitos em vigôr à altura.
Em Março deste ano, um grupo de produtores de leite do Norte do país juntou-se num hipermercado da Póvoa de Varzim para comprar mil litros de leite nacional e colocar etiquetas em produtos lácteos importados, paraalertar para as dificuldades que o setor atravessa e sensibilizar as superfícies comerciais e os consumidores a comprarem produtos lácteos produzidos no nosso país. 
Também nesse mês, a CNA referia que tem de haver coragem para enfrentar a grande distribuição, que continua a acumular lucros, mesmo quando aqueles que produzem para ela só acumulem prejuízos. Tem de haver exigência na rotulagem da produção nacional à qual a grande distribuição tem resistido. Tem de se verificar se não há dumping na importação de carne e leite que fazem baixar os preços pagos em Portugal. Exige-se também por parte da ASAE uma maior atenção através de uma ação forte, visível e dissuasora.
É de esperar que, também em Portugal, os grandes grupos económicos e as grandes distribuidoras assumam atitudes semelhantes ao que está a acontecer em França.

Via: antreus http://bit.ly/29yNlxO
11
Jul16

11 de Julho de 1975: É anunciada a descoberta do Exército de terracota de Xian

António Garrochinho




Arqueólogos chineses anunciaram no dia 11 de Julho de 1975 a descoberta de uma gigantesca sepultura de 20 mil m2 do primeiro imperador de Qin Shihuangid, que reinou de 221 a 207 a. C., perto de Xian. A sepultura continha estátuas de mais de seis mil soldados e cavalos em terracota em tamanho natural, um verdadeiro exército enterrado  com o soberano a fim de acompanhá-lo ao “outro mundo". As esculturas, que datam  aproximadamente do final do século III aC, foram descobertas em 1974 por agricultores locais no distrito de Lintong, em Xian, na província de Shaanxi. Começada em 221 a. C., a obra teria levado 36 anos a ser concluída e cerca de 700 mil trabalhadores ajudaram a completá-la. Os guerreiros têm todos rosto diferente e estão armados, prontos para o combate. 


O imperador Qin Shihuang foi um dos mais importantes governantes da história chinesa. Deixou um legado tão moralmente complicado quanto o de Pedro o Grande. Como o czar russo, ficou conhecido pelas suas contribuições para a implantação de um Estado moderno tanto quanto por ter sacrificado a vida de milhares de trabalhadores em troca dos seus visionários projectos. 


Embora vilipendiado pela tirania, Qin Shihuangdi é admirado pelas diversas políticas radicais e perspicazes. Para unificar sete distintos Estados numa única nação, padronizou uma escrita comum e estabeleceu sistemas monetários e medidas uniformes. A fim de tornar eficiente o governo, codificou um sistema legal e submeteu governantes hereditários a um sistema administrativo centralmente conduzido. Para melhorar a produtividade manufactureira, encorajou reformas agrícolas e construiu muitos caminhos. E num esforço para limitar a invasão de tribos bárbaras, mandou construir uma fortificação ao longo da fronteira norte, a primeira Grande Muralha. 


As obras e as esculturas tiveram início logo que o imperador ascendeu ao trono. Todos os trabalhadores e as concubinas sem filhos foram com eles sepultados a fim de salvaguardar os segredos. Segundo os “Registos Históricos” de Sima Qian, escrito um século depois, céu e terra são representados na câmara central da sepultura. O tecto, incrustado de pérolas, representa o céu estrelado. O chão, feito de pedra, forma o mapa do reino chinês; 100 rios de mercúrio fluem através dele. E todos os tipos de tesouro são protegidos por armadilhas com explosivos mortais. 


A parte principal do mausoléu ainda está por ser escavada, em parte porque os arqueólogos ainda estão incertos quanto à sua exacta localização. Com frequência os imperadores construíam um conjunto de túmulos funerários simplesmente para dificultar aos ladrões a localização do verdadeiro túmulo. O túmulo do imperador não indica necessariamente o local da sua maravilhosa câmara central. 


A montagem de cada uma das estátuas ocas sobre pernas sólidas permitiu aos artesãos resolver o desconcertante problema de como fazer uma estátua portátil. Cabeças, braços e pernas ocos, feitas de terracota, foram misturados com argila e colocados sobre as pernas sólidas. Depois de montado esse modelo sem acabamento, uma camada de argila era acrescentada, e aspectos como olhos, boca, nariz, bem como detalhes de roupa eram esculpidos na argila enquanto ainda estava flexível. Peças adicionais como barba, orelhas e armadura eram modeladas separadamente e pregadas, após o que a figura completa era levada ao fogo em elevada temperatura. 

Fontes: Opera Mundi
wikipedia (imagens)

Os Guerreiros de Xian
Os Guerreiros de Terracota
Os guerreiros têm expressões faciais individualizadas



11
Jul16

11 de Julho de 1944: O Conde Claus von Stauffenberg leva uma bomba até à residência de Hitler com intenção de assassinar o Führer

António Garrochinho

No dia 11 de Julho de 1944, o conde Claus von Stauffenberg, um alto oficial do exército alemão, transporta uma bomba ao quartel-general e residência de Verão de Adolf Hitler em Berchtesgaden, nos Alpes Bávaros, com a intenção de assassinar o Führer.

Assim que o sentido da guerra começou a virar contra os germânicos e as atrocidades cometidas às instâncias de Hitler cresciam por toda parte, um crescente número de alemães, dentro e fora das forças armadas, passaram a conspirar para a eliminação do seu líder.

Avaliando que seria bastante improvável que as massas se levantassem contra o homem em cujas mãos depositaram até então as suas vidas e o seu futuro, cabia aos homens próximos a Hitler, oficiais militares alemães, a tarefa de assassiná-lo. A liderança da conspiração coube a Claus von Stauffenberg, na época recém  promovido a coronel e chefe da equipa do estado-maior da reserva do exército o que lhe permitia acesso aos quartéis-generais de Hitler nas montanhas da Bavária, em Berchtesgaden e no nordeste da Alemanha, em Rastenburg.

Stauffenberg, que servia no exército germânico desde 1926, manifestou contrariedade com o cruel tratamento dispensado aos judeus e aos prisioneiros soviéticos pelos seus soldados e camaradas de farda enquanto servia como oficial do estado-maior na campanha contra a União Soviética. Depois disso, pediu para ser transferido para a África do Norte, onde perdeu o olho esquerdo, a mão direita e dois dedos da  mão esquerda.

Depois de se restabelecer dos ferimentos e estar determinado a ver Hitler removido do  poder, Stauffenberg viajou até Berchtesgaden no dia  3 de Julho, quando recebeu das mãos do oficial do exército Helmuth Stieff uma bomba com um detonador silencioso e suficientemente pequena para ser escondida numa pasta de couro.

Em 11 de Julho, Stauffenberg foi convocado a Berchtesgaden para apresentar pessoalmente a Hitler um relatório sobre a situação militar do momento. O plano era usar a bomba em 15 de Julho, mas no último minuto, Hitler foi chamado para o seu quartel-general em Rastenburg. Stauffenberg então foi designado para acompanhá-lo.

A tentativa de assassinato foi adiada para 20 de Julho em Rastenburg, no quartel-general, conhecido como a "Toca do Lobo (em alemão, "Wolfsschanze"). A conspiração e os detalhes da explosão das bombas foram relatadas em livros e no cinema, em especial no filme “Operação Valquíria”, - 2008 - protagonizado por Tom Cruise no papel do coronel Stauffenberg. 

Fontes: Opera Mundi
wikipedia (imagens)

Stauffenberg em 1926
Entrada para a toca do lobo


VÍDEO



11
Jul16

Filho de Osama bin Laden promete vingar a morte do líder da Al-Qaeda

António Garrochinho



Um dos filhos do líder da Al-Qaeda, Hamza bin Laden, foi identificado numa gravação áudio de 21 minutos divulgada no domingo a ameaçar que irá vingar-se dos Estados Unidos pela morte do seu pai, Osama bin Laden, em 2011, e pela opressão do mundo islâmico.
De acordo com o SITE Intelligence Group, que rastreia as movimentações online de grupos radicais, é Hamza bin Laden - que terá atualmente vinte e tal anos - quem se ouve a falar na gravação intitulada “We Are All Osama” (“Somos todos Osama”), a prometer dar continuidade à luta do pai.
“Vamos continuar a atacar-vos no vosso país e no estrangeiro em resposta à opressão dos povos da Palestina, Afeganistão, Síria, Iraque, Iémen, Somália e o resto das terras islâmicas que não sobreviveram à vossa opressão. Quanto à vingança da nação islâmica [pela morte] do Sheikh Osama, não será uma vingança por Osama a pessoa mas uma vingança pelos que defendem o Islão.”
Em maio, Hamza bin Laden já tinha divulgado uma outra gravação semelhante por alturas do quinto aniversário da operação das forças especiais norte-americanas em Abbottabad, no Paquistão, que conduziu à morte do seu pai e fundador da Al-Qaeda.
Documentos recuperados no complexo residencial daquela cidade, onde Bin Laden viveu escondido durante alguns anos, e que foram tornados públicos pelos EUA no ano passado mostram que os conselheiros de Osama tentaram reunir o seu líder com Hamza, que esteve sob prisão domiciliária no Irão.
Hamza vivia com o pai no Afeganistão antes dos atentados de 11 de setembro de 2001, tendo passado igualmente algum tempo com ele no Paquistão já depois da invasão do Iraque e do Afeganistão pelas tropas norte-americanas e aliados em 2003.

expresso.sapo.pt
11
Jul16

Três mortos e um ferido grave em acidente com C-130 no Montijo

António Garrochinho



Um acidente com um avião C-130, na base aérea do Montijo, fez esta segunda-feira três mortos e um ferido grave. A aeronave incendiou-se na descolagem: a bordo iam sete militares. As vítimas mortais são um tenente-coronel, um capitão e um sargente-ajudante, que seguiriam no cockpit da aeronave. Seriam piloto, co-piloto e um mecânico.

Fonte do gabinete de comunicação do Estado-Maior da Força Aérea confirmou ao DN que houve uma ocorrência com uma aeronave, mas não avança mais informação até as circunstâncias do acidente serem apuradas.

Os bombeiros do Montijo também confirmam que foram chamados ao Montijo por causa de uma ocorrência, pelas 12.20.

Fonte do INEM adiantou ao DN que foram enviadas para o local uma Viatura de Emergência Médica do Hospital do Barreiro e acionadas três ambulâncias dos bombeiros de Montijo e uma dos de Alcochete. E confirma que o acidente causou três mortos e um ferido grave.

As circunstâncias e as causas do acidente serão alvo de averiguações, indicou o porta-voz da Força Aérea, que recusou confirmar para já qual foi a aeronave acidentada.

De acordo com a página da Autoridade Nacional da Proteção Civil na internet, o alerta para o acidente foi dado às 12:20 e pelas 14.30 estavam no local 49 operacionais e 16 veículos.

www.dn.pt

11
Jul16

Hospitais públicos pagaram 100 milhões aos privados para fazerem cirurgias

António Garrochinho




Nos últimos três anos, os hospitais públicos pagaram cerca de 100 milhões de euros em cirurgias e consultas feitas no privado para reduzir as listas de utentes à espera de procedimentos cirúrgicos, que poderiam ter sido feitos no sector público, caso o governo anterior não tivesse cedido aos fortíssimos lóbis da saúde privada, médicos e grupos económicos, sendo a saúde considerada já o cluster mais lucrativo do século XXI (a seguir ao tráfico e ao petróleo, claro!).

À semelhança do que acontece com o ensino, mas com certeza para pior, o Estado, através dos governos que o gerem, tem desinvestido nos serviços públicos de Saúde, congelamento das carreiras, não admissão de novos profissionais, reformas antecipadas até há algum tempo atrás, aumento do horário de trabalho (de 35 para 40 horas), corte no valor do preço hora e das horas complementares e extraordinárias, encerramento de serviços, para entregar aos tubarões da medicina privada muitos milhões para a realização de actos médicos e prestação de cuidados de saúde e exames complementares de diagnóstico que ele próprio tem competência e capacidade para realizar.

O boicote à realização de cirurgias e consultas por parte de alguns médicos, bem como a realização de exames complementares de diagnóstico, tem sido uma estratégia delineada e colocada em prática desde há muito, desde do tempo dos governos de Cavaco Silva/PSD, com a conivência activa das administrações hospitalares e que, nos últimos tempos, teve um desenvolvimento extraordinário com a abertura de clínicas privadas mesmo ao lado das instituições de saúde do estado, adoptando inclusivamente nomes muito semelhantes à daquelas, como aconteceu em Coimbra.

E também não será por acaso que se encontra em Coimbra a instituição pública que mais dinheiro tem dado a ganhar às clínicas privadas a fim de realizar aquilo que ela não pode ou não quer (vamos lá saber as razões exactas?). Foram mais de 2.500 cirurgias realizadas fora, com um custo total de 4,6 milhões de euros, e com mais de 14 mil inscritos. Coimbra lidera também as listas de espera, mais do que o Centro Hospitalar Lisboa Central que vem a seguir! Tem sido o fartar vilanagem!

Este problema facilmente seria resolvido desde que houvesse vontade política, coisa que este governo ainda não manifestou, bastava: separar o público do privado, quem trabalha no público não trabalha no privado (há médicos e até alguns enfermeiros que parecem ter o dom da ubiquidade!); rentabilizar os blocos operatórios, que estão na maior parte do tempo às moscas; responsabilizar pessoalmente os administradores hospitalares, parece que isso já existe mas só no papel; e... contratar mais profissionais de saúde, os necessários, seria até uma boa forma de combater o desemprego, e de forma indirecta subir os salários, e igualar por cima os contratos no privado, colocando-os a par dos da função pública; neste particular, os enfermeiros até agradeciam e um bom ponto de reflexão para os nossos "queridos" dirigentes sindicais!

DN: «Só em 2015, foram emitidos mais de 111 mil vales para operações no setor privado ou social, com um custo de 36 milhões de euros

Entre 2013 e 2015 os hospitais públicos gastaram cerca de cem milhões de euros em operações feitas fora do Serviço Nacional de Saúde (SNS), no setor privado ou social, através de vales-cirurgia, emitidos ao final de seis meses de o doente estar à espera. Só em 2015 foram emitidos mais de 111 mil vales que levaram à realização de 20 282 operações, com um custo de 36 milhões de euros. O ano terminou com perto de 194 mil utentes na lista de inscritos para cirurgia - mais dez mil do que 2014 - e 5972 doentes pendentes.
Os dados provisórios do Ministério da Saúde foram enviados ao Bloco de Esquerda numa resposta sobre o Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC) nos últimos três anos e a que o DN teve acesso. Uns hospitais descem, outros sobem, mas no total a fatura e o número de operações feitas fora do SNS aumentou . "Acreditamos que se pode estabelecer uma relação com a saída dos profissionais mais diferenciados e a redução de serviços. Podem estar a deixar o SNS com menos capacidade e a enviar mais doentes para o privado. Não compreendemos que aconteça, porque o SNS tem capacidade instalada e é preciso aproveitá-la. É incompreensível que hospitais de fim de linha enviem imensos doentes para o privado", diz Moisés Ferreira, deputado do BE.

O Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) é o que tem a fatura mais elevada e 2560 cirurgias realizadas fora. No final do ano tinham 14 mil inscritos na lista e 237 doentes pendentes. "Apenas 25% dos doentes aceitaram ser operados fora do CHUC. O valor faturado foi de 4,6 milhões de euros. O CHUC é dos hospitais com maior produção cirúrgica. Em 2015 foram feitas 65 735 cirurgias. Temos vindo a "aumentar a capacidade interna e a reduzir a emissão de vales-ci rurgia", refere. Quanto aos doentes pendentes, "são propostas cirúrgicas que estão em fase de avaliação clínica e/ou a aguardar exames e esclarecimentos adicionais", número que não consideram elevado dada a procura. (...)»

11
Jul16

A maior orquestra do mundo actua em Berlim

António Garrochinho


Milhares de músicos quebraram, no sábado, o recorde mundial para a maior orquestra. Os músicos reuniram-se num estádio de Frankfurt para tocar durante 45 minutos, dirigidos pelo maestro Wolf Kerschek. 7548 músicos participaram no concerto, mais 300 do que havia acontecido em Brisbane, na Austrália, quando o recorde anterior tinha sido estabelecido. O recorde ainda tem de ser reconhecido pelo Guiness World Records.

VÍDEO


pt.euronews.com
11
Jul16

Fotogaleria: Algarve festeja “à grande e à francesa” 1º título de campeão europeu de futebol para

António Garrochinho

Portugal sagrou-se campeão europeu de futebol este domingo, depois de vencer a França por 1-0, após prolongamento.

Num jogo de muitas emoções, em que Portugal se viu privado da sua maior referência, Cristiano Ronaldo, ainda antes de completa a primeira meia hora, a equipa das quinas conseguiu resistir às investidas dos franceses, viu Éder a marcar de fora da área quando já estavam jogados 109 minutos e trará a taça de Campeão Europeu para casa, esta manhã.

A vitória de Portugal levou muita gente à rua, com bandeiras, cachecóis e camisolas da seleção das quinas. Um pouco por todo o Algarve, houve festa rija.

Quem não se mostrou tão entusiasmado pelo feito da seleção portuguesa foram os muitos turistas franceses que estão a passar férias na região, que, ainda assim, não se esconderam na hora dos festejos.


































www.sulinformacao.pt

11
Jul16

Nunca mais os livros fizeram tantos quilómetros

António Garrochinho


Em 60 anos de Fundação Gulbenkian, as bibliotecas itinerantes tornaram-se um dos projetos mais emblemáticos da instituição. Terminaram em 2002, com muitas histórias e a pergunta "quando voltam?".


“O mundo não seria maravilhoso se as bibliotecas fossem mais importantes do que os bancos?” é a frase de uma das personagens da série de banda desenhada “Mafalda”. Felipe, apaixonado e esperançoso, o garoto que por vezes acredita que os sonhos são realidade. Mais ou menos o que passava pela ideia de quem criou um dos mais acarinhados projetos da história da Fundação Calouste Gulbenkian, as bibliotecas itinerantes. O programa foi extinto em 2002 mas agora que a Fundação cumpre 60 anos, tentámos saber mais: o que aconteceu às bibliotecas e porque não regressam?

Começaram como qualquer outra iniciativa, com a ambição de mudar algo — neste caso, a vontade maior era a de promover a leitura pública e a cultura em Portugal. Num país onde a taxa de analfabetismo era alta e o Estado Novo reprimia o que era escutado e lido, 1958 tornou-se o ano em que as bibliotecas iam começar a percorrer o país. Sem que as “fronteiras” ou as más condições do alcatrão fossem um entrave.

A ideia surgiu com o escritor Branquinho da Fonseca, que depois de adaptar uma carrinha para a distribuição de livros em Cascais, decidiu formalizar a iniciativa com a Fundação Calouste Gulbenkian. A proposta foi feita a José de Azeredo Perdigão, primeiro presidente da instituição, que aceitou de bom de grado e moveu esforços para que as bibliotecas itinerantes correspondessem às expectativas.















“Em maio de 1958, trabalhavam 15 bibliotecas itinerantes por todo o país. Mais tarde, em dezembro de 1959, havia 81 340 leitores espalhados por 118 concelhos”, esclarece Maria Helena Borges, diretora-adjunta do Programa Gulbenkian Língua e Cultura Portuguesas.

Desde Trás-os-Montes até ao arquipélago dos Açores, o projeto pretendia colocar os livros em pé de igualdade com as pessoas: aproximar uns dos outros, sem medos ou ideias preconcebidas. No fundo, demonstrar que tanto o agricultor, o aluno de uma escola primária ou o empresário podiam percorrer livremente os livros de uma carrinha Citroen HY. “O princípio era o de as pessoas terem livre acesso às estantes”, afirma a diretora-adjunta. “Nas bibliotecas itinerantes, os leitores encontravam não só os livros mas também a ajuda de um encarregado”, tudo para poderem tomar as melhores decisões na hora de requisitar os livros e descobrir pequenas curiosidades literárias.

Maria Helena Borges teve um percurso curto no projeto: substituiu Vasco Graça Moura, quando o escritor foi eleito para deputado no Parlamento Europeu e teve de abandonar o cargo de responsável pela biblioteca. No entanto, o tempo foi suficiente para ainda hoje lhe dizerem o quanto as bibliotecas deixaram saudade. “Onde quer que se vá, há sempre alguém que já foi leitor das bibliotecas itinerantes e que começou a ler com o projeto”, diz-nos.

“Em maio de 1958, trabalhavam 15 bibliotecas itinerantes por todo o país. Mais tarde, em dezembro de 1959, havia 81 340 leitores espalhados por 118 concelhos”, esclarece Maria Helena Borges, diretora-adjunta do Programa Gulbenkian Língua e Cultura Portuguesas.
Além dos leitores e dos funcionários, vários nomes da cultura portuguesa foram elementos importantes no programa especial da Calouste Gulbenkian. Os então jovens poetas, Herberto Hélder e Alexandre O’Neill, trabalharam com as bibliotecas itinerantes, como encarregados, orientando as leituras e as escolhas quando as dúvidas dos leitores eram mais que muitas. Hoje “fazem parte da História de um dos projetos mais icónicos da Fundação”, diz Maria Helena Borges. São nomes que não passam pelos pingos da chuva dos arquivos da Gulbenkian e que reforçavam a importância de ter pessoas especializadas a trabalhar.





Trabalhar nas bibliotecas itinerantes

Esteve em Santarém, no arquipélago dos Açores e por quase todos os sítios onde as bibliotecas itinerantes tiveram um ponto de passagem. Armando Fernandes, de 70 anos, foi um dos inspetores-chefe do projeto. O funcionário tinha como tarefa garantir que o serviço corria sem sobressaltos, ao mesmo tempo que registava as fragilidades e as virtudes que as carrinhas encontravam, para depois as comunicar à sede em Lisboa.

“De Melgaço até ao Corvo [ilha]” é o que responde quando lhe perguntamos por onde andou. Tornou-se um “saltimbanco” à boleia das bibliotecas itinerantes da Gulbenkian, mas tem noção que o amor à camisola “lhe custou alguns momentos pessoais e familiares”.


Entrou ainda jovem, com apenas 18 anos, para a Fundação Calouste Gulbenkian e não tarda em referir “a revolução cultural” a que assistiu quando as bibliotecas itinerantes foram introduzidas. “Havia um acervo documental de milhares de livros em Lisboa, que prestavam auxílio às carrinhas que andavam por todo o país”, diz Armando Fernandes.

O funcionário teve também uma pequena experiência como encarregado de biblioteca, portanto as cores dos livros ainda continuam vivas na memória: “A História tinha uma fitinha vermelha, a literatura tinha uma fitinha azul…”, recorda. Até os métodos de requisição de livros permanecem intocáveis na coleção de memórias, tal como as artimanhas que alguns casais de namorados utilizavam para trocarem declarações de amor, sem necessitarem de pagar o selo dos correios. “Havia raparigas que chegavam às bibliotecas e diziam ao encarregado para guardar o livro, com uma carta dentro, porque vinha o namorado buscar”, diz.

Os 44 anos de atividade das bibliotecas itinerantes permitiram a vários funcionários assistir de perto às mudanças sociais que ocorreram em Portugal. Desde o 25 de abril até à tecnologia em constante evolução, Armando Fernandes tem noção que o projeto foi o corolário da passagem do tempo, principalmente dos fenómenos políticos. “Depois do 25 de Abril, muitos encarregados descobriram que tinham fichas na PIDE”, refere o antigo funcionário. Os episódios de Portugal sob o olhar atento da ditadura não escaparam ao projeto: no Minho, foram queimados pela população vários livros numa espécie de “auto de fé” e um livro de educação sexual teve a sorte de ser agraciado com um abaixo-assinado para ser retirado do arquivo.

Os então jovens poetas, Herberto Hélder e Alexandre O’Neill, trabalharam com as bibliotecas itinerantes, como encarregados, orientando as leituras e as escolhas quando as dúvidas dos leitores eram mais que muitas.
Muitos “temiam que as bibliotecas itinerantes se tornassem abismos para a religião católica”, o que motivou “ações muito intempestivas por parte dos locais”. O poeta António José Forte, na altura encarregado de biblioteca, escreveu uma carta a Branquinho da Fonseca em que suplicou “mandem armas”, quando verificou que parte do arquivo tinha sido incendiado; outros funcionários utilizavam táticas mais tranquilizadoras, como mostrar aos leitores a fotografia de Salazar no dia em que as bibliotecas passavam pela primeira vez em determinado lugar.

Os agentes da polícia política faziam algumas visitas inesperadas e mandavam retirar algumas obras, como o livro de Tomás da Fonseca — pai de Branquinho da Fonseca — “Filha de Labão”: “Ironicamente, teve ser o próprio filho a retirar o livro do pai das estantes das bibliotecas”, afirma Armando Fernandes.




O regresso esperado que (dificilmente) acontecerá

António Quadros foi também um dos inspetores-chefes do projeto das bibliotecas itinerantes. Assumiu funções depois da morte de Branquinho da Fonseca em 1974. A filha, Mafalda Ferro, hoje responsável pela Fundação António Quadros, em homenagem ao pai, foi também uma leitora ávida do serviço. Além de observar com curiosidade os outros leitores, seguiu com atenção as pisadas do pai. Para Mafalda, as bibliotecas itinerantes da Gulbenkian revelam-se tão ou mais necessárias do que em 1958. “Vivo numa pequena aldeia do Ribatejo onde grande parte da população, mesmo vivendo apenas a 3 quilómetros da cidade de Rio Maior, continua a comprar peixe, pão, bolos, fruta em carrinhas porta-a-porta e que ainda se sentem pouco à-vontade numa grande biblioteca”, refere.


Quando a Fundação Calouste Gulbenkian extinguiu o serviço das bibliotecas itinerantes em setembro de 2002, cerca de 250 pessoas trabalhavam no projeto. Umas aproveitaram o momento para tratarem da reforma, outras continuaram a trabalhar na Fundação. “Para mim, foi um desgosto, mas foi um desgosto controlado”, confessa Armando Fernandes. Na altura, a razão apontada para o fim deveu-se à introdução da leitura pública pelo Estado, através das bibliotecas municipais e escolares.

“Deixou de haver público para o nosso serviço: as aldeias estavam a ficar vazias e as crianças já tinham bibliotecas nas escolas. Depois, a Fundação sempre teve o lema de não atuar onde o Estado está presente”, afirma Maria Helena Borges.

De forma a não perder o vínculo com as localidades, uma das soluções encontradas foi entregar uma parte do arquivo da Gulbenkian às autarquias e às novas bibliotecas fixas que surgiram. Algumas bibliotecas itinerantes idealizadas mais tarde, a título individual, também receberam livros da Fundação. Hoje, o projeto parece revelar-se necessário, mas “em moldes diferentes”. “Julgo que não erro se disser que ainda há lugar para as bibliotecas itinerantes. Tinham era de funcionar num modelo completamente distinto. Sejamos realistas: hoje é impensável trabalhar sem internet, vídeos ou cinema”, explica Armando Fernandes.

Um regresso do projeto, embora aguardado por muitos, não é ponderado pela Fundação Calouste Gulbenkian, de acordo com Maria Helena Borges. Mas essa quase-certeza não vai fazer com que a pergunta chave deixe de ser feita a alguns funcionários da instituição: “então quando voltam?”.




observador.pt
11
Jul16

A falsa seita que abusava de crianças em Palmela

António Garrochinho


Um falso psicólogo criou um falso local de culto para uma falsa seita religiosa. Pedro, de 34 anos, era tratado por "mestre". Na realidade, abusava de crianças e vendia os seus serviços a pedófilos.
Da estrada vê-se apenas a casa principal da herdade, em Brejos do Assa, Palmela. Nada que dê indicação do que se passava lá dentro. Um falso local de culto, de uma falsa seita religiosa, inventada por um falso psicólogo. E assim Pedro, de 34 anos, abusou de várias crianças e criou um negócio de pedofilia.
Foi preciso percorrer o caminho de terra para a Polícia Judiciária encontrar inscrito numa árvore o nome “Javeh” e um crucifixo. À volta, umas cadeiras, onde seriam feitas as supostas cerimónias religiosas. E depois, entre paredes, o choque: havia colchões espalhados por todo o lado e documentos com as regras da organização. Os miúdos passavam por uma cerimónia semelhante ao batismo, mas o grande objetivo “não era chegar ao céu”. Era ser purificado.
Havia vários graus de purificação, todos eles através de atos sexuais com os menores. “Sexo anal era o topo. Seguiam-se diferentes tipos de abusos: carícias, masturbação, sexo com penetração”, diz uma fonte da PJ. Os purificadores? Os predadores sexuais.
Ele percebeu que havia homens com preferências específicas por crianças e começou a vender-lhe os serviços”, diz fonte da investigação.







Pedro sabia que podia fazer dinheiro. Bissexual assumido, ele próprio abusava dos menores. Criando cenários para lhes tirar fotografias, acariciando-os. Foram essas imagens, assim como as descrições físicas de cada um dos meninos que usou numa série de sites destinados a encontros gay — onde passava horas e acabaria por encontrar vários homens que andavam, afinal, à procura de crianças.”Ele percebeu que havia homens com preferências específicas por crianças e começou a vender-lhe os serviços”, diz fonte da investigação.
Para camuflar o esquema, Pedro, utilizando os seus conhecimentos enquanto Testemunha de Jeová, criou uma seita a que chamou “Verdade Celestial”. Segundo a PJ, elaborou um conjunto de regras, com categorias hierárquicas, e alegava ser ele o “mestre” — que por sua vez respondia a um mestre espanhol, de nome Pablo. No Facebook, criava vários perfis para sustentar a mentira.
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O acesso à casa onde aconteciam os abusos sexuais
Pedro dava consultas de psicologia e explicações às crianças e aproveitava-se do facto de elas por vezes passarem a noite na quinta para trazer os clientes pedófilos até lá. Enquanto as crianças dormiam, eram sujeitas a abusos sexuais vários. Sempre sozinhas, para que os crimes não fossem testemunhados por outras crianças. E sempre sob o pretexto da purificação. “Chegou a cobrar 30, 60 euros pelos serviços. Havia homens que acabavam a dormir lá, outros iam embora” depois dos abusos, conta a PJ.
Entre os múltiplos contactos que fez pela internet, e cujas conversas foram recuperadas pela Polícia Judiciária, há diálogos “inacreditáveis”. “Nalguns ele descreve os próprios filhos. Noutros, há homens a sugerirem que tenham filhos para se servirem deles”, conta a PJ.
Na casa que a PJ visitou, em junho de 2015, numa operação montada em apenas duas semanas, viviam Pedro, a mulher e os dois filhos, um amigo que servia de “motorista” da organização e o filho deste, também menor. Era o motorista quem ia buscar e levar os miúdos a casa dos pais.
A certa altura, nos contactos pela internet, Pedro conheceu também um casal de raparigas com cerca de 20 anos que tinham fugido da casa dos pais, em Aveiro, porque eles não aceitaram a sua homossexualidade. “Foram para lá viver, tomavam conta das crianças, mas tinham práticas sexuais à frente delas. Uma vez terão mostrado como se usa um vibrador”, diz a PJ. “Lembro-me de a mulher do Pedro andar sempre acompanhada de duas miúdas muito loiras. Dizia que eram amigas dela. Às vezes eram elas que iam buscar as crianças à escola”, diz uma testemunha.
Certo dia, chegou um oitavo habitante à casa: um rapaz que acabara o curso superior e que também tinha assumido a sua homossexualidade. Os pais não o aceitaram e sentia-se “perdido”. Todos eles contribuíam de alguma forma para a falsa seita, acreditando que Pedro tinha “superpoderes”.

“Ninguém queria acreditar na história”

Foi esse rapaz, recém-licenciado, que acabou por denunciar tudo à PJ. Um dia, chateado com Pedro, disse-lhe que ia abandonar a organização. O mestre respondeu-lhe que, se o fizesse, corria sérios riscos de vida. Alegou que havia elementos da PSP e da GNR na organização e que esta tinha dimensões internacionais. Chegou mesmo a castigá-lo, obrigando-o a despir-se e vergastando-o com ramos de árvores.
O rapaz fugiu e, cheio de medo, foi bater à porta da Polícia Judiciária de Setúbal. “Ninguém queria acreditar na história que estava a contar”, diz a fonte. “Era tão inacreditável que tivemos dificuldade em considerar o caso credível”, sublinha. Mas, como a história envolvia crianças, era preciso atuar. “É um case study. Não é normal em Portugal, parece inacreditável. Passa-se ao lado da nossa casa”, diz a PJ.
É um case study. Não é normal em Portugal, parece inacreditável. Passa-se ao lado da nossa casa”, diz a PJ.






Em duas semanas, a PJ conseguiu reunir vários peritos e obter mandados de busca e detenção para junho de 2015. “Nesse dia havia polícia por todo o lado”, recorda a vizinha. Foram recolhidos computadores, vestígios de sémen, papéis com regras e todas as provas que pudessem confirmar a história da testemunha que fugiu da seita. Seguiram-se horas de interrogatórios, de identificações das crianças, de cruzamento de provas — que incluíam chats na internet, vídeos, fotografias feitas na casa.
A PJ conseguiu identificar oito vítimas, entre elas os filhos de Pedro e do seu motorista. “O filho do ‘psicólogo’ era uma criança muito calada. Fazia tudo o que lhe diziam e passava o dia sem ir à casa de banho. Ele recusava ir a passeios da escola por causa disso”, conta a funcionária da escola.

Pedro alegou também ser vítima

Assim que a PJ lhe entrou em casa, Pedro descaiu-se. Disse que já estava à espera de ser detido um dia. Mas depois, já nas instalações da PJ, viria a tornar-se um suspeito difícil de interrogar. Com contradições e omissões. Até que, com persistência da polícia, acabou por confessar. Alegou ter sido abusado em criança, à frente dos pais, pensando assim que a sua culpa seria atenuada.
No seu passado, apurou a PJ, não havia cadastro. Mas a mulher dele admitiu ter-lhe satisfeito alguns fetiches sexuais, como fazer sexo com outros homens enquanto ele filmava. Por outro lado, ele próprio já tinha deixado um pedófilo ir a sua casa e acariciar o seu filho. Um ato que também filmou e com o qual chegou a lucrar. “Foram encontradas no computador inúmeras imagens dele próprio e de pornografia infantil. Fotografava os miúdos na piscina insuflável, de cuecas, afastava as cuecas das crianças e mostrava isso tudo a pedófilos”, diz a PJ.
Com ele foram detidos quatro outros homens, os “purificadores” da seita: o recém-licenciado; um homem com o curso de Direito que se fazia passar por advogado; o motorista; e um amigo, que namorava com a filha dos donos da quinta. Os primeiros três ficaram em prisão preventiva. Há ainda um quinto arguido, que, quando a PJ agiu, já se encontrava preso preventivamente à ordem de outro processo — também por abuso sexual de menores. A mulher de Pedro e as duas raparigas de Aveiro foram detidas, mas encontram-se em liberdade. “A mulher do mestre tem uma atitude demasiado passiva, tem algum instinto protetor em relação ao mais velho, mas assistia impávida e serena. Compactuou”, diz a PJ.

Como Pedro chegou à terra e ficou conhecido por “psicólogo”

A dona de um café em Brejos do Assa, Palmela, que não quer ser identificada, lembra-se bem da primeira vez que viu Pedro. Chegou ao café acompanhado da mulher e dos dois filhos pequenos. Foi a mulher dele quem os apresentou, através de uns cartões de visita que o identificavam como “psicólogo”. E foi assim que Pedro ficou conhecido pela vizinhança. Até ao dia em que a PJ irrompeu na casa onde viviam e desmantelou a falsa seita religiosa. Um ano depois, com cinco homens e três mulheres arguidos no processo, o caso continua a gerar perplexidade.
A mulher do mestre tem uma atitude demasiado passiva, tem algum instinto protetor em relação ao mais velho, mas assistia impávida e serena. Compactuou”, diz a PJ.








Pedro e a mulher terão chegado à freguesia em 2013. Quem os conheceu diz que pareciam “pessoas pobres”. Pensavam que tinham vindo do Norte, com os dois filhos então de dois e sete anos. Mas, segundo disse fonte da PJ ao Observador, Pedro veio de perto. Antes vivera em casa de uma irmã no bairro de Monte Belo, em Setúbal, onde trabalhou como rececionista. E a mulher era do Pinhal Novo.
O casal não teve dificuldades em integrar-se. Pedro tinha experiência como treinador de futebol e conseguiu um lugar no Clube Desportivo de Algeruz, a treinar os Esferinhas — entretanto a jogar noutro local. Ia mantendo contacto com os rapazes menores. Aos pais, entregava cartões e apresentava a sua especialidade: psicologia. “Cheguei a levar lá o meu filho, ele fez um relatório médico e eu entreguei-o à psicóloga da escola. Nunca ninguém estranhou”, disse uma residente ao Observador.
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Pedro chegou a ser treinador do clube de futebol local
Os relatórios feitos pelos psicólogos da PJ mostram que é um “burlão manipulador, mentiroso, convincente naquilo que diz”. Pedro conseguia argumentar e convencer as pessoas sem sequer as confrontar. Sabia levá-las. E foi assim que se integrou na freguesia e depressa conseguiu um conjunto de clientes. Todos menores.
Manuel ainda se lembra de quando ele chegou. Um vizinho perguntara à sua mulher, entretanto falecida, se ela não teria um espaço para o “senhor psicólogo alugar para dar consultas”. Ela tinha um anexo: uma sala, uma pequena cozinha e uma casa de banho. Pedro aceitou e pagou-lhe 150 euros. Ainda chegou a pintar as paredes, mas acabou por nunca habitar ali, em Algeruz. A mulher de Manuel acabou por devolver-lhe o dinheiro. “Via-se que eram pessoas pobres”, argumenta.
Foi num anexo numa quinta em Brejos do Assa que Pedro e a família acabaram por ficar. Com eles um amigo, da mesma idade, que também tinha um filho de oito anos. Com os contactos feitos através dos treinos de futebol com os pais das crianças, Pedro começou a dar consultas de Psicologia. Diz a PJ que por apenas cinco euros. Paralelamente, dava explicações. “Lembro-me de ele vir cá distribuir panfletos para divulgar as explicações que dava. Mal soube que tinha sido preso deitei tudo fora”, conta ao Observador uma funcionária da escola primária, frequentada pelo filho de Pedro.
“Lembro-me de ele vir cá distribuir panfletos para divulgar as explicações que dava. Mal soube que tinha sido preso deitei tudo fora”, conta ao Observador uma funcionária da escola primária, frequentada pelo filho de Pedro.









Montou o seu negócio e acabou por deixar os treinos de futebol. Da estrada, é impossível ver todo o espaço ocupado por Pedro, localizado no centro de uma enorme quinta com árvores de fruto e rodeada de videiras. Cá fora, os moradores pensavam tratar-se um verdadeiro ATL. Havia consultas de psicologia, explicações e atividades. Os miúdos gostavam de ir para lá. E os pais até chegaram a ser convidados para festas e sessões de karaoke. Sem suspeitas. “Ao fim de semana ouvia-se sempre música. Às vezes até muito tarde”, conta ao Observador uma vizinha, que chegou a pensar deixar lá o neto no verão — a PJ chegou antes para prender Pedro.
A acusação aos cinco homens e três mulheres por parte do Ministério Público ficou concluída em junho deste ano, doze meses após a detenção. O procurador pediu que os arguidos perdessem as responsabilidades parentais. Os filhos de Pedro encontram-se à guarda da mulher dele, que está em liberdade.
A Comissão de Proteção de Menores e Jovens em Risco está a avaliar o caso. Além dos filhos dos arguidos, vai avaliar se as crianças que foram vítimas dos abusos se encontram seguras com quem vivem. “Como é que os pais nunca suspeitaram, olhando para as condições daquela casa?”, interroga a PJ. E deixa o aviso: “Que este caso sirva de prevenção. Estas coisas podem acontecer mesmo ao lado e ninguém dá por elas”.
(Artigo corrigido no nome do clube de futebol que Pedro treinava)
Texto de Sónia Simões, fotografia de pamaral.
observador.pt
11
Jul16

10 de Julho de 1940: A França dá início ao regime colaboracionista de Vichy

António Garrochinho


No dia 10 de Julho de 1940, no casino da cidade das águas de Vichy (Auvérnia, centro da França), a Assembleia Nacional, eleita em 1936, aprova a concessão de plenos poderes ao marechal Philippe Pétain, então conhecido como o “leão de Verdun”. Poucos deputados se opõem à decisão, que marca o fim da III República e o começo do que se denominou de “regime de Vichy”, um dos capítulos mais vergonhosos e humilhantes da história francesa.


Tudo começou com a invasão alemã de 10 de Maio de 1940 que, primeiramente,  empurrou a sede do governo francês de Paris para Bordéus e, em seguida, em 29 de Junho, de Bordéus para Vichy. A França estava incondicionalmente derrotada pelas forças de Hitler.


Entre finais de Junho e início de Julho, notou-se urgência no Executivo e entre os deputados presentes em Vichy em restaurar alguma autoridade capaz de negociar as condições da paz com o invasor e de tirar o país da crise nascida com o êxodo das populações civis e com a vergonhosa derrota militar - metade do território do país ocupado, incluindo Paris. A França ainda existia na base de um armistício assinado em 22 de Junho.


A ideia inicial partiu de Pierre Laval, então vice-presidente do Conselho de ministros, que propõe um projecto de lei constitucional confiando plenos poderes ao marechal, herói da I Guerra Mundial e que passara a ocupar o cargo de Presidente do Conselho (chefe de governo) há menos de um mês. O objectivo era que ele promulgasse uma nova Constituição garantindo “os direitos do trabalho, da família e da pátria”.


A priori, a vontade de restaurar uma autoridade forte não incluía a necessidade de suspender as leis constitucionais de 1875 e promulgar uma nova Constituição. Pétain gozava de sustentação parlamentar ampla e incontestável e de grande popularidade como herói de guerra.

O projecto de Laval é aprovado em 4 de Julho pelo Conselho e apresentado ao Parlamento no dia 8 de Julho. A exposição de motivos alegou “a necessidade de profunda reforma do sistema político da III República”. Entretanto, além de “dotar a França de um regime eficaz” o projecto de lei “permitiria compreender e aceitar a necessidade de uma revolução nacional” passando por um retorno aos “valores tradicionais”.


Na noite de 8 de Julho, o deputado radical-socialista Vincent Badie redige uma moção assinada por 27 deputados afirmando que, apesar de reconhecer “a necessidade imperiosa de uma reorientação moral e económica do nosso infeliz país” e “que se fazia indispensável conferir ao marechal Pétain, que nessas horas encarna tão perfeitamente as virtudes tradicionais, todos os poderes para levar a bom termo a obra da salvação pública e da paz” se recusavam a votar um projecto de lei que “conduziria inevitavelmente ao desaparecimento do regime republicano” ao confiar-lhe poderes ditatoriais.


A aplicação imediata de um artigo do regimento da Câmara de Deputados permitiu colocar o projecto de lei a voto. A emenda constitucional foi aprovada por 569 votos contra 80, 20 abstenções e 176 ausências.


Pierre Laval, então vice-presidente do Conselho, foi o encarregado de ler diante dos deputados a carta do marechal, solicitando plenos poderes com vista a elaborar uma nova Constituição. Assim que o pedido foi aceite, a Câmara foi dissolvida e o novo chefe de Estado, extrapolando a missão que lhe havia sido concedida, começa, aos 84 anos, uma carreira de ditador.


O marechal passa prontamente a ser objecto de um verdadeiro culto de personalidade.  Muitas sumidades colocam-se ao lado do homem apontado como grande vencedor da Batalha de Verdun, que determinou os rumos da I Guerra Mundial, com a esperança de regenerar o país graças a uma “revolução nacional”.


O que era para ser uma medida desesperada para retomar a soberania e dignidade francesas, num país que tinha sido facilmente ocupado pela Alemanha nazi, torna-se um governo fantoche e colaborador de Hitler, mandando milhares de judeus franceses para os famigerados campos de concentração, entre outras séries de irregularidades, abolindo direitos fundamentais e implantando um regime autoritário. Com direito a um pronunciamento oficial anunciando a França como uma nação colaboracionista em Outubro de 1940.


Após a libertação do país pelas tropas aliadas, a ordenação de 9 de Agosto de 1944, restabeleceu a legalidade republicana sobre o país, declarando nula e sem efeito a acta de 10 de Julho de 1940. Pétain acabou acusado de alta traição e crime de indignação nacional, é condenado à pena de morte - pena que é transformada em prisão perpétua pelo seu sucessor, o líder da resistência francesa, Charles de Gaulle. Morre na prisão, em 1951.

Fontes: Opera Mundi
wikipedia (imagens)

O Marechal Philippe Pétain por Marcel Baschet 
Pétain e Hitler em Montoire
11
Jul16

50 detidos em confrontos entre adeptos e polícia durante a final

António Garrochinho




Os confrontos ocorreram junto ao Stade de France e junto à Torre Eiffel. Caixotes de lixo, scooters e automóveis foram incendiados

50 pessoas foram detidas este domingo na sequência de confrontos entre adeptos de futebol e a polícia, em Paris. Os confrontos decorreram antes e durante a final do Euro 2016 e a maioria das pessoas foi detida junto ao Stade de France, onde decorria o jogo, e nos Champs de mars, segundo a prefeitura da polícia de Paris.

No Champs de mars, a confusão começou porque os adeptos tentaram entrar na fan-zone, uma zona onde foram exibidos os jogos do Euro em ecrãs gigantes, junto à Torre Eiffel, mas o local tinha capacidade apenas para 90 mil pessoas e já estava lotado duas horas antes do início do jogo.

A partir das 19 horas, segundo o jornal Le Figaro, a polícia começou a impedir os adeptos de entrarem no local, o que desagradou a alguns apoiantes franceses. Durante os confrontos, caixotes de lixo, scooters e automóveis foram incendiados e a polícia usou canhões de água e gás lacrimogéneo para dispersar os adeptos.



Os adeptos são acusados de atirarem projéteis, lançarem fogos-de-artifício, insultarem e desrespeitarem as forças policiais e perturbarem a ordem pública nos dois locais.

Às 21 horas, a prefeitura da polícia de Paris publicou uma mensagem no Twitter em que aconselhava os automobilistas a evitarem a zona de Trocadéro, Champs de mars e dos Campos Elísios.

Segundo o Le Monde, o trânsito foi proibido a partir das 22 horas entre o Concorde e a Praça Charles de Gaulle e os comerciantes foram convidados a fecharem as lojas às 21 horas.


VÍDEOS





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11
Jul16

América Latina da ficção à realidade

António Garrochinho




Miguel Urbano debruça-se neste texto sobre a presente evolução daAmérica Latina, desde a contestação ao neoliberalismo no início do milénio com a eleição marcante de dois populistas com discurso anti neoliberal, Lula e Kirchner, para a presidência do Brasil (2002) e Argentina (2003), até à presente frase de recuperação de posições por parte do imperialismo norte-americano.
O início do que parece ser o termo do presente ciclo de governos progressistas e das preocupações com o futuro de Cuba e das Farc-EP parecem estar a «favorece[r] a reinstalação da contrarrevolução» na América Latina.
Mas se o presente panorama exige realismo na análise da dificil situação, é igualmente importante constatar que o agudizar das contradições, acelerado pelo imparável avanço da crise estrutural do sistema do capital, tornam necessário que o movimento operário e sindical e os revolucionários clarifiquem as suas posições e rompam com as influências ideológicas alheias aos seus interesses de classe.
Miguel Urbano conclui: «Gostaria de ser otimista, mas a situação existente na América Latrina, impõe-me o dever de ser realista».

América Latina, ou Amérique Latine são expressões geográfico-históricas relativamente recentes.
Essas palavras foram utilizadas pela primeira vez em 1836 por um francês, Michel Chevalier, e vulgarizadas por Napoleão III quando invadiu e ocupou o México em 1861. O objetivo do imperador foi excluir os povos da América que falavam inglês.
Mas a expressão é enganadora. Com uma superfície de 21.070.000 km2, e uma população de aproximadamente 620 milhões, a América Latina é um conjunto heterogéneo de países.
De comum entre eles somente falarem idiomas latinos – apenas oficiais em alguns - e terem sido colonizados e expoliados por potências europeias, e submetidos, a partir da primeira guerra mundial, à dominação imperial dos Estados Unidos.


DIVERSIDADE

A composição étnica desses países é extremamente diversificada.
No Haiti (27.000 km2 e 9 milhões de habitantes), em Cuba (110.000 km2 e 11.300.000 habitantes), em Porto Rico (8.500 km2 e 4.000.000 de habitantes) e na República Dominicana (48.000 km2 e 10.000.000 de habitantes) os povos autóctones foram totalmente exterminados. O Haiti é hoje uns pais de afro-haitianos. No Brasil (8.500.000 km2 e 202.000.000 de habitantes) os ameríndios são residuais (menos de 0,5%). A população atual descende de europeus e africanos e, em percentagem mínima, de asiáticos. Na Argentina (2.792.000 km2 e 43.000.000 de habitantes) e no Uruguai (176.000 km2 e 3.500.000 habitantes) a quase totalidade da população é hoje de origem europeia.
A diversidade de critérios adotados nos censos da população retira credibilidade às estatísticas relativas à composição étnica.
Admite-se que no México (1.964.000 km2) 12 dos 120.000.000 de habitantes são índios, dos quais uma elevada percentagem se expressa ainda em idiomas anteriores à conquista espanhola. No Peru (1.285.000 km2 e 31.000.000 de habitantes) e na Bolívia (1.09. 000 km2 e 11.000.000 de habitantes), o quéchua e o aimará, línguas do Incário, são oficiais, ao lado do espanhol. No Equador (243.000 km2 e 16.000.000 de habitantes) a maioria dos índios mantêm como língua materna o quéchua.
No Paraguai (406.000 km2 e quase 7.000.000 de habitantes), o guarani é falado pela maioria da população, embora esta descenda hoje sobretudo de emigrantes europeus. A chacina foi tamanha durante a guerra genocida contra a Triple Aliança (Brasil, Argentina e o Uruguai), que a poligamia foi autorizada porque quatro quintos dos homens morreram durante o conflito, incentivado pela Inglaterra.
No Chile (756.000 km2 e 18.000.000 de habitantes), os mapuches, descendentes dos antigos araucanos, são aproximadamente 1.500.000.
Na Colômbia (1.140.000 km2 e 48.000.000 de habitantes) e na Venezuela (915.000 km2 e 30.000.000 de habitantes) os ameríndios são pouco numerosos, mas a miscigenação foi intensa. No primeiro desses países existe uma importante minoria de afro-colombianos (quase 5 milhões).
Na Guatemala (109.000 km2 e 16.000.000 de habitantes) a maioria da população é ameríndia, descendente dos antigos maias, Nas Honduras (110.000 km2 e 8.700.000 habitantes; na Nicarágua (148.000 km2 e 5.000.000 de habitantes); em El Salvador (21.500 km2 e 6.500.000 de habitantes); e no Panamá (78.000 km2 e 3.000.000 de habitantes, a maioria é mestiça, mas a percentagem de ameríndios pequena. Na Costa Rica (51.000 km2 e 5.000.000 de habitantes) a maioria tem aspeto europeu, mas isso resultou do genes ibérico ter prevalecido sobre o dos autóctones, porque a miscigenação foi intensa.
A quase totalidade da população das Antilhas Francesas (2.835 k2 e 850.000 habitantes) e da Guiana Francesa (83.000k2 e 250.000 habitantes) é de origem africana.


A MESTIÇAGEM E AS INTERAÇÕES CULTURAIS


Dois franceses, Carmen Bernand e Serge Gruzinski, escreveram a obra mais importante que conheço sobre os processos de miscigenação na América*.
Esses historiadores analisam exaustivamente os processos de mestiçagem no Hemisfério, que diferiram muito consoante as regiões.
Chamam nomeadamente a atenção para uma realidade pouco estudada. No México e no Peru, os conquistadores espanhóis massacraram sistematicamente as elites que detinham o poder e o saber. Mas os capitães peninsulares pouparam as mulheres das classes altas de Tenochtitlan e do Incário e em muitos casos casaram com elas.
Os filhos dessas uniões foram educados como espanhóis e muitos deles destacaram-se como pioneiros de uma nova cultura que fundia os valores da asteca, da inca e da europeia.
É conhecido o caso de Garcilaso de la Vega, autor de uma obra clássica da historiografia espanhola. Sua mãe era uma princesa inca e seu pai um capitão espanhol.
Martin, o filho de Hernan Cortês e de Dona Marina, uma asteca de origem nobre, também se distinguiu pela sua intervenção na História.
O México gerou um notável historiador mestiço, Fernando Alva Ixtlixochitl, descendente dos reis de Tenochtitlan e Texcoco.
A partir de meados do século XVI o nauhatl – a língua mais falada no planalto central mexicano – passou a ser escrito no alfabeto latino. As elites indígenas tiveram acesso à cultura do Renascimento no século de ouro espanhol.
No México surgiu uma geração de escritores, músicos e pintores mestiços cujas obras, pela criatividade e imaginação, expressavam uma nova cultura, síntese e fusão das autóctones e da introduzida pelos conquistadores. E isso ocorreu tambem no Peru, berço de outra das grandes civilizações do Novo Mundo, a dos incas.
Os historiadores dedicaram escassa atenção às consequências sociais, económicas e politicas da tragédia que do Canadá à Patagónia resultou das doenças vindas da Europa.
No México, um século após a conquista, a população do país era aproximadamente de um milhão de habitantes, um décimo da existente quando Cortés entrou em Tenochtitlan. No Peru, na Bolívia e no Equador, o despovoamento foi similar porque os índios não tinham defesas contra epidemias como a da varíola e a da gripe.
Transcorreu quase um quarto de século desde a publicação do importante livro de Carmen Bernand e Serge Gruzinski. Estudos genéticos recentes encaram a problemática das mescigenações num período curto e sob uma perspetiva mais cultural do que étnica.


LUZ E SOMBRAS


No início do século XIX as lutas pela independência foram sobretudo lideradas por crioulos de grandes famílias. Miranda, Bolivar, San Martin, Sucre, Santander, O’Higgins, José Artigas descendiam de europeus.
Mas no México as insurreições armadas foram dirigidas por dois sacerdotes, Miguel Hidalgo e José Maria Morelos, este um mestiço.
O sonho de Bolivar – uma América Latina unida, democrática, progressista e verdadeiramente independente – foi rapidamente desmentido pelo rumo da História. As oligarquias que assumiram o poder governaram despoticamente em benefício da classe dominante, descendente de europeus. No Brasil, o príncipe D. Pedro, filho de D João VI, proclamou-se imperador e a monarquia durou até 1889.
A ditadura foi, com poucas exceções, a forma de governo mais comum nas repúblicas latino-americanas.
O recurso permanente a empréstimos, resultantes do desgoverno e da estagnação económica, foi determinante para o endividamento galopante desses países. A Inglaterra foi a potência dominante na Região até final da I Guerra Mundial. Na Argentina e no Chile a sua influência económica e política foi hegemónica. A partir de 1920, o imperialismo norte-americano dominou o Continente e multiplicou as intervenções militares em países que não se submetiam às suas exigências (México, Nicarágua, Haiti, República Dominicana, Panamá, Granada, entre outros).


DA REVOLUÇÃO CUBANA À CRISE DO PROGRESSISMO


A vitória da Revolução Cubana em 1958 gerou uma grande esperança na América Latina. A década de 60 ficou assinalada pela convicção de que era possível tomar o poder através da luta armada e implantar o socialismo em países de capitalismo dependente, semi colonizados pelos EUA. Na Venezuela, no Peru, na Argentina, na Guatemala, na Nicarágua, em El Salvador organizações revolucionárias pretensamente marxistas, inspiradas pela experiência de Cuba, recorreram à guerrilha rural, como estratégia de combate ao imperialismo. A trágica morte do Che na Bolívia sepultou duramente essa ilusão romântica. As guerrilhas foram derrotadas militarmente na maioria desses países. Em El Salvador um compromisso patrocinado pelos EUA pós fim ao conflito armado. Na Nicarágua a Frente Sandinista de Libertação Nacional chegou ao poder em 1979, derrubando a ditadura de Somoza, mas perdeu-o em 1990 pela via eleitoral.
A grande e inesperada exceção teve a Colômbia por cenário. A sobrevivência há mais de meio seculo das Forças Armadas Revolucionarias da Colombia-Exército do Povo demonstrou que em condições históricas, politicas e económicas excecionais era possível desencadear e manter a luta armada contra o Exército mais numeroso e bem armado da América Latina. As FARC-EP são aliás uma guerrilha-partido que se assume como marxista-leninista.
Com a derrota norte-americana no Vietnam e da França na Argélia acentuou-se o desprestígio do imperialismo em escala mundial. A solidariedade da URSS aos movimentos de Libertação na África e na Ásia afetou também duramente a estratégia de dominação norte-americana.
A eleição de Salvador Allende no Chile, o advento no Peru e na Bolívia dos governos progressistas dos generais Velasco Alvarado e Juan José Torres e a resistência vitoriosa da Revolução Cubana renovaram a esperança nos países a sul do Rio Bravo.
Mas o imperialismo norte-americano, que alcançara uma grande vitória no Brasil com o golpe militar de 1964, que derrubou o presidente João Goulart, retomou a iniciativa na América Latina. Washington contribuiu decisivamente para a preparação e o êxito da contrarrevolução chilena; Kissinger confirmou-o nas suas memórias.
No resto do Hemisfério, a derrota das guerrilhas rurais e urbanas permitiu a consolidação de uma série de ditaduras, no Brasil, na Argentina, no Uruguai, no Paraguai, na Bolívia, nas Honduras, no Haiti, na Guatemala, na Nicarágua.
Os EUA apoiaram esses regimes que se submeteram docilmente às exigências do Banco Mundial e do FMI, adoptando políticas neoliberais ortodoxas, inspiradas no modelo chileno imposto por Pinochet.
O resultado foi desastroso. Para as economias latino-americanas os anos 80 foram «a década perdida».
Não há em qualquer país da Região com condições subjetivas para um choque frontal dos povos com o imperialismo estadounidense.
Mas o aumento torrencial da contestação social ao neoliberalismo do México à Argentina alarmou Washington. Gradualmente retirou o seu apoio às ditaduras, consciente de que esses regimes não favoreciam já os seus interesses. Mudou de tática.
No Brasil e no Chile foram eleitos presidentes que condenaram os regimes militares. Na Argentina, o povo insurgiu-se contra a política de Menem, o país entrou em bancarrota e, após prolongada crise, Nestor Kirchner sobiu à presidência e iniciou uma política populista com um discurso anti neoliberal.
Mas foi na Venezuela que, inesperadamente, um militar, o coronel Hugo Chávez, venceu com ampla maioria as eleições em 1999. Derrotou um golpe de estado em 2002 (apoiado e financiado pelos EUA) e um lock-out contrarrevolucionario, venceu sucessivas eleições e morreu como presidente em 2013.
Inspirado em Bolivar, desenvolveu uma política que gradualmente o confrontou com os EUA, sobretudo a partir do momento em que declarou a opção socialista da Revolução Bolivariana.
Mas apesar da nacionalização real do petróleo – fonte principal do PIB – e da reforma agrária, a Venezuela continuou a ser uns pais capitalista com o sector privado a controlar áreas chaves da economia e dos serviços.
A ideologia do regime, o chamado Socialismo do século XXI, foi mais um slogan do que uma realidade, até porque o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) é uma organização heterogénea, distanciada do marxismo.
Nicolas Maduro, o atual presidente, carece do carisma de Chávez. A oposição venceu as eleições legislativas, conta com ampla maioria no parlamento, e a situação económica degrada-se a cada semana. O futuro da Revolução Bolivariana é muito preocupante.
Dificilmente o regime progressista da Bolívia – que se caracteriza por contradições complexas – poderia sobreviver a um regresso ao poder da direita em Caracas.
Os Estados Unidos encontram-se no momento na ofensiva em toda a América Latina. James Petras tem chamado insistentemente a atenção para essa realidade, criticando o otimismo irresponsável de muitos intelectuais progressistas.
O Brasil atravessa uma crise muito profunda de desfecho imprevisível. Na Argentina, Macri, o sucessor de Cristina Kirchner, executa uma política de direita de submissão total aos Estados Unidos.
Washington renunciou aos golpes de estado tradicionais, promovidos por militares. A tática agora é outra. Obama – o presidente dos EUA mais perigoso para a humanidade das últimas décadas – incentiva e financia golpes institucionais através dos parlamentos para afastar presidentes incómodos.
Isso aconteceu nas Honduras e no Paraguai.
As próprias FARC-EP que desafiam há 60 anos numa luta épica, a oligarquia colombiana, tutelada pelo imperialismo americano, enfrentam hoje problemas que suscitam legitimas interrogações quanto ao desfecho dos Diálogos de Paz com o governo de Juan Manuel Santos. O Acordo de Cessar fogo foi assinado por ambas as partes. Mas será viável na prática a chamada «reconciliação» nos termos em que foi discutida, com o aval do secretariado do Estado-Maior Central da organização revolucionária? Mas seja qual for o desfecho do processo de paz, o combate épico das FARC-EP será recordado como exemplo maravilhoso da eterna luta do homem pela liberdade.
Cuba é hoje o último baluarte revolucionário que detém o poder na América Latina. Mas o restabelecimento de relações diplomáticas com os EUA ao nível de embaixadores justifica apreensões. O bloqueio persiste, assim como a lei do ajuste cubano, e a entrada de capitais americanos no país e de centenas de milhares de turistas é encarada com compreensível temor por muitos dirigentes do Partido, tal como as medidas mercantis aprovadas pelo último congresso do PC de Cuba.
Não exagera o Partido Comunista do México num documento do seu Comité Central datado de Fevereiro p.p. ao afirmar (http://www.odiario.info/america-crise-do-capitalismo-crise-do/) que na América Latina «temos um panorama no qual a crise do progressismo favorece a reinstalação da contrarrevolução e, além disso, em que o progressismo, auxiliado por partidos comunistas de prestígio, está à condenar a crítica revolucionária».
Os Acordos de Havana, assinados pelo comandante chefe das FARC e pelo presidente da Colômbia são preocupantes. Significativamente foram festejados pela direita na Europa e na América Latina.
Gostaria de ser otimista, mas a situação existente na América Latrina, impõe-me o dever de ser realista.

Vila Nova de Gaia, Julho de 2016
* Carmen Barnand e Serge Guzinski, Histoire du Nouveau Monde-Métissages, Ed.Fayard,Paris, 1993



www.odiario.info

11
Jul16

Começou o futuro!

António Garrochinho


brexit.jpg

























Estes são os dias do resto da vossa vida, sentenciaram os povos das ilhas. Ouviram-nos em Bruxelas, do outro lado do canal com feitio de manga e, sem esperarem dali outra resposta, os senhores plenipotenciários entreolharam-se, surpreendidos, e ficaram suspensos como cabides na corda a oscilar ao vento. Começava o futuro!

De pouco ou nada serviu espalhar tanto medo. Aqueles povos distinguiram claramente os factos e não se amedrontaram. E conseguiram depois espalhar medo em quem procurou infundir medo.
Realmente, não demorou nada que outros povos, a começar por um vizinho de Bruxelas, erguessem as vozes para sentenciarem como os das ilhas. Muitos outros vão também querer lavrar sentença. A estrela caída, segunda em grandeza, parece que correu uma cortina que deixou agora a cena toda iluminada.
Os senhores plenipotenciários mostram semblantes os mais carrancudos, carregam nos tons ameaçadores, tentando castigar os povos das ilhas e, ao mesmo tempo, dissuadir outros povos da mesma peripécia. Estão dentro dos seus papéis, mas, avançando por esse caminho, contra os seus interesses, provavelmente mais depressa farão cair da bandeira umas quantas estrelas da constelação unida. Sim, para todos os efeitos, entrámos no dia seguinte, eis-nos no futuro!
Definitivamente, o facto tornou-se óbvio. Os senhores de Bruxelas não foram eleitos, por lá as regras democráticas pouco significam, de modo que as estrelas constituintes do círculo perfeito desenhado na bandeira podem ser tratadas de modos desiguais, imperfeitos. A duplicidade de critérios tornou-se flagrante.
Agora até se pode perceber quanto o imperialismo foi servido com a organização de um mercado único de quinhentos milhões de consumidores. E perceber igualmente o objectivo fundamental que orienta a organização (se acaso não estava já imbuído na matriz original). Por algum motivo os senhores plenipotenciários são apontados como servidores dos interesses da especulação financeira internacional.
Na verdade, a união dos vinte e oito desfaz-se quando se afunda em paralisia económica e o desemprego cresce sem remédio à vista, demonstrando quanto vale a visão das troikas, do neoliberalismo e da austeridade. Bastava, porém, a escandalosa crise dos refugiados ou o inspirado alastrar das forças políticas da extrema-direita pelo velho continente. Portanto, sem sequer lembrar o famigerado, o incrível Tratado Transatlântico de Comércio e Investimento que o presidente Obama andou por cá a vender…

arseniomota.blogspot.pt
11
Jul16

Manel, arrête, arrête!

António Garrochinho


Íamos nós dans la route à toute la vitesse, com a mão do Manel brincando dans mes jambes, dans la direction Argenteuille -Saint Denis porque o meu Manel n’a arrivé à obtenir os bilhetes para o Stade de France e nós tínhamos un grand désir de saluer os nossos rapazes quoi qu’il soit le résultat, alors nous étions dejà muito perto e o meu Manuel ia-se entusiasmando avec sa main quando o Éder meteu o golo e aí fez-me festas plus avante, ele não viu l´autre mobile devans nous. Nous avons crié à bon coeur, ainda eu disse Manel, arrête, arrête. Mas ele não se arretou e deu-se l’accident…pimba! e o da frente saiu do carro com o mesmo cachecol, il a même baisé mon mari e je lui a dit desta vez passa mas vai é beijar la femme de ton auto ao que ele m’a répondu qu’ils étaient déjá bem tratados e eu confirmei qu’elle a sorti du mobile demi nue et criait a bons pulmões,”Campeões, campeões, nós somos campeões!” e veio-me baiser aussi, ainda por cima eram egitanenses comme nous!… ah, rapazes tantas emoções num só minuto que je vai raconter à mes petits-enfants



Campeões, campeões, nós somos campeões!




Via: antreus http://bit.ly/29Hzj1E
11
Jul16

Os sem-vergonha

António Garrochinho


“Não somos favoritos. Mas vamos ganhar.”
Fernando Santos

Para quem não ganhou nada na vida, estar quase a ganhar pode ser cruel.

Não é a nossa pele. É demasiado justo, demasiado apertado, demasiado desconfortável, como um fato que não queremos vestir. Como o exagero de responsabilidade que não queremos assumir. Não era suposto, não nos era pedido e é ingrato termos agora de dever alguma coisa. Perder era muito mais fácil. Porque é mais leve jogar sem esperarem nada de nós. É mais leve viver sem esperarem nada de nós. Temos o talento, o coração, e temos uma capacidade de sacrifício absolutamente inqualificável. Só não queremos ter de ganhar. Esse é, possivelmente, o único sacrifício que nunca aprendemos a fazer. Entramos e saímos sempre com as nossas ideias. E há uma grande dignidade nisso. Em não ter vergonha de nunca ter ganho nada, em ter brio de segurar o nosso lugar. Há também medo que lhe baste. Nunca ganhámos, não porque era impossível; nunca ganhámos, porque também era assustador.


Para a França, por exemplo, perdemos a vida toda. Uma das primeiras cassetes de futebol que vi chamava-se “Os Patrícios no Europeu de 84”, cortesia d’A BOLA, o jornal que foi, singularmente, enquanto lhe lia as caixinhas todas fascinado ao sábado ou ao domingo de manhã, a razão pela qual quis ser jornalista. O Euro 84, também jogado em França, foi a nossa primeira participação internacional em quase 20 anos, depois do que Eusébio fizera em Inglaterra. Ir àquelas coisas era uma improbabilidade tão grande, um passo tão ilógico sobre o abismo, que os portugueses desse tempo lhe davam nome. Os “Magriços” no Mundial de 66, os “Patrícios” no Europeu de 84. Os novos descobridores, os novos missionários, os embaixadores na vanguarda de um mundo desconhecido do que poderia vir um dia a ser o futebol português.


Já vi aquele França 3, Portugal 2, muitas, muitas vezes. O talento ridiculamente singular do Chalana, o gigante mais esquecido dos gigantes do futebol português, um Astérix mas contra franceses, a vir da esquerda para dentro num ziguezague primordial, que gravou na relva o ADN do extremo português, para todos os que vieram depois dele. O tamanho do Bento na baliza, toda aquela tropa de choque na defesa e no meio-campo, de portugueses vintage que pareciam ter 30 anos de carreira ou mais, como o João Pinto, o Álvaro Magalhães, o Frasco, o Sousa ou o Pacheco. A classe do Nené e a força do Gomes e do Diamantino, num ataque que podia ter sido quase tudo. E claro, a graciosidade do Jordão, aquela elegância inigualável de quem veio só marcar dois golos à França, antes de voltar a um cocktail na Côte-d’Azur, onde era devido.



O que mais me fascinou nesse jogo, de todas as vezes que o revi enquanto miúdo, era aquela sensação de vitória. Aquele encanto de ter enchido o campo e ter estado a cinco minutos da final, aquela ilusão de quando o Jordão salta ao segundo poste no prolongamento e a cabeceia no ângulo, aquela euforia que é tanta demais, que nem parece de verdade. Vi o jogo tantos anos depois e achei, mais do que uma vez que, se calhar, quem sabe, aquela bola suja do Platini poderia não entrar um dia. Acho que nunca acreditamos realmente que ela entrou. Que nunca perdemos realmente esse França 3, Portugal 2. Não sei se essa pureza é boa ou má. Sei que, da mesma forma, continuamos a não ganhar muitas coisas muito depois.


Em 2000, lembro-me de ter ido festejar aquele golão em moinho do Nuno Gomes para o meio da minha estrada. Era o meu primeiro Portugal num grande Campeonato. Em 2000, por ironia das ironias. No ano em que pudemos tudo. A melhor geração, a melhor Selecção, o melhor futebol, o melhor Figo, o melhor marcador. O Europeu que refundou Portugal. Tinha 9 anos e, com 9 anos, ainda se acredita em contos de fadas e em heróis com final feliz. 28 de Junho de 2000, a ver na televisão de caixa da minha antiga sala esse jogo no Estádio Rei Balduíno, em Bruxelas. É a primeira vez que me lembro de chorar a ver futebol. Não chorei em 2004, nem me lembro honestamente de voltar a chorar com a Selecção depois disso. Mas lembro-me daquele penalty do Abel Xavier como se fosse hoje. Do ódio, da impotência, do desespero. De ter gritado roubo até já ter deixado de ser uma criança. Infelizmente, a vida é quase sempre um penalty, de uma forma ou de outra.


Em 2006, não posso dizer em consciência do que é que estava à espera. Esperava não encontrar a França, por exemplo. O Euro2004 pesava mas, durante esse mês na Alemanha, parecia afinal nem pesar assim tanto. Ao último apóstolo da Geração de Ouro, tinha sido dada mais uma última oportunidade. Passámos a Inglaterra, claro, e é difícil não achar que podíamos passar o mundo, depois da Batalha de Nuremberga. Mas tudo nos levou à França e ao Casamento Vermelho dessa meia-final. Uma chuva de Castamere, uma execução à espera de acontecer. Scolari provou-nos, epicamente, que era possível viver duas vezes. A França lembrou-nos o que era invadir-nos três.

Todos esses jogos têm em comum o facto de não sermos favoritos e, ainda assim, parecermos ter tudo a perder. Ainda antes do jogo, o chão, a confiança, até o destino. Não falo do que achavam de nós, falo daquilo que achávamos de nós próprios. Falo, afinal, dessa falta de convivência extrema com o sucesso. Dessa vertigem que era, quem sabe, poder ganhar. Tínhamos melhor futebol, tínhamos tanto maior carisma, só não tínhamos forma de dever aquilo a nós próprios. De não nos assustarmos e não cairmos. Para a França, perdemos a vida toda. Perdemos emigrantes, perdemos futebolistas, perdemos financeiramente, perdemos três invasões e perdemos, até, essas três meias-finais. É exactamente por isso que, amanhã, tinha de ser a França. Porque já não temos mais nada para perder.

Se perdermos, que se foda.

Se há alguém que aprendeu da forma mais dura o que é lhe arrebanharem os sonhos, fomos nós. Se há alguém que já aprendeu tudo o que tinha para perder, fomos nós. Não temos mais nada a provar a ninguém. Muito menos a quem tinha a obrigação de cá estar. Não temos mais gente, mais dinheiro, nem mais tamanho. Mas vamos jogar a nossa segunda final em 12 anos, com quatro meias-finais nos últimos cinco Europeus. Nos últimos 20 anos jogámos futebol que dava para o continente inteiro, e o raio que o parta, metemos portugueses no melhor que há no continente inteiro. Demos espectáculo, emprestamos coração e trouxemos alma para dar e vender, deixamos em campo o sangue e o suor, e chorámos vezes de mais. Ninguém fez mais por isto do que nós. Ninguém.

Se perdermos, que se foda.


Mas tudo o que este Europeu provou é que não há mais nada que nos possam tirar. Desta vez, não viemos pela glória. Não viemos para gostarem de nós. Somos chatos, somos nojentos, somos iméritos, somos sortudos e somos toda a merda que nos quiserem chamar, e que dê para colar nas paredes do balneário de Saint-Denis. Mas também somos este caminho todo até Paris. Desta vez, viemos para gostarmos de nós próprios. E ter amor próprio come a cabeça a muita gente, sobretudo se fores pequeno, sobretudo se a vida de grande for feita dessas pequenas perversões de andar a brincar com as presas entre os dentes. O que os franceses claramente não percebem, é que, desta vez, nos estamos a cagar para eles. Que, desta vez, vão ter de comer com este bicho que não entendem, que não lhes fará vénia, nem lhes beijará a mão, e que lhes vai faltar à puta do respeito todo, por mais que eles se estrebuchem nos Versalhes da vida onde sempre viveram. Não temos sangue azul. Mas, desta vez, eles vão ter de vir à rua ganhar, se quiserem. E o que os corrói é este desamor. Este despeito. Esta arrogância de quem já não tem medo, nem tem vergonha, nem tem mais pena de si próprio.

Se perdermos, que se foda.

Mas, na rua, o campo nunca é inclinado. Na rua, somos todos do mesmo tamanho. Quem sabe, talvez não seja desta, em Paris. Se não for, inimigos na mesma. Mas não tenham dúvidas de que, se quiserem ganhar, os franceses vão ter de sofrer coisas que nunca sofreram. Vão ter de ser melhores em campo, no banco e nas bancadas, vão ter de querer mais, sacrificar mais, aguentar mais, enervar mais e sobreviver mais. Vão ter de sair do altar e virem ver se são bons o suficiente. Já nós, fizemos isso a vida toda.

Se perdermos, que se foda.

Escrevia um jornal inglês esta semana que o único mérito que ninguém pode tirar a Portugal é o de ser incansável. É a impassibilidade de continuar a remar mesmo quando não saímos do mesmo lugar. Quando não se criam jogadas, quando não se marcam golos, quando o adversário vem numa e noutra vaga. Nós nunca paramos de remar. Para mim, isso é crónica moderna de um super-poder. Amanhã, a França terá melhores jogadores, mais futebol, mais passado, melhor forma, mais gente. 80 mil pessoas. O que os franceses devem perguntar a si próprios é se isso é suficiente. Para aguentar.

Se perdermos, que se foda.

Foi isso que o Fernando percebeu antes de irmos. Foi isso que o Cristiano percebeu antes dos outros. O que nunca foi nosso, não podemos perder. O que não é suposto ser nosso, não podemos perder. Mas se questionarmos o tempo suficiente, se aguentarmos o tempo suficiente, se fizermos com que eles duvidem de si próprios o tempo suficiente, então, de repente, deixa tudo de ser uma piada. Não vai ser chato, vai ser tortuoso. Não vai ser nojento, vai ser um suor frio.

Se perdermos, que se foda.

Mas amanhã, sentados à volta da esfera armilar que fala deste povo e desta língua em cada canto do mundo (dizia hoje o Engenheiro, "por todo o lado onde passei, havia um português"), o que nos resta não é apoiar, nem gritar, nem ficar a torcer. O que se nos propõe é um desafio muito mais radical: é acreditar mesmo no que não estamos a ver, é esperar mesmo pelo que não parece ir chegar, é saber que nada em estar ali é de menos e perceber que não há nada para além da miragem de uma vitória moral. É não fraquejar e é sonhar acordados. Porque já não é um sonho. É amanhã. Pensem o que era desta terra se acordássemos todos na segunda Campeões da Europa. Pensem em não dormir no domingo. É isso, é hora. Sonhem acordados.

Se perdermos, que se foda. 

Mas, por uma vez, pensem em chorar, mas duma puta alegria. Pensem no que é derrubar a maior de todas as nossas barreiras e não ter, enfim, vergonha de ser feliz. Pensem,

e se ganharmos?



tunaoliderasbemcomosono.blogspot.pt
11
Jul16

Número dois no governo de Blair admite que guerra no Iraque foi ilegal

António Garrochinho



"Vou viver o resto da minha vida com a decisão de declarar guerra e as suas consequências catastróficas", afirmou John Prescott num artigo de opinião

O número dois no governo de Tony Blair, John Prescott, lamentou hoje que o Reino Unido tenha participado numa "guerra ilegal", ao invadir o Iraque, em 2003, e admitiu que viverá sempre com essa decisão e as suas consequências.

"Vou viver o resto da minha vida com a decisão de declarar guerra [ao Iraque] e as suas consequências catastróficas", afirmou John Prescott, através de um artigo no jornal britânico Sunday Mirror, quatro dias depois da publicação de um relatório bastante crítico sobre a guerra no Iraque.

Nesse artigo, o anterior número dois do governo do primeiro-ministro Tony Blair e atual membro da Câmara dos Lordes admite que a guerra no Iraque foi um erro.

"Em 2004, o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, defendeu que, se o primeiro objetivo da guerra era a mudança de regime, então ela era ilegal. Com grande tristeza e raiva, agora acho que ele estava certo", escreve Prescott.

O relatório Chilcot, divulgado na quarta-feira, mostra que o Reino Unido partiu para a guerra no Iraque em 2003 "sem esgotar as opções pacíficas para um desarmamento" e que os planos para a ocupação do Iraque foram "completamente desadequados".

O documento critica duramente as decisões tomadas pelo ex-primeiro-ministro trabalhista em relação à guerra do Iraque, na qual morreram 179 soldados britânicos.

A alegada posse, pelo regime iraquiano, de armas de destruição maciça, nunca comprovada, foi a principal justificação para a participação do Reino Unido na invasão do Iraque, em março de 2003, quando Tony Blair liderava o governo britânico.

No mesmo dia da divulgação do relatório, Tony Blair pediu desculpa, mas disse ter agido de "boa-fé" e no "melhor interesse" do Reino Unido.

Cerca de 150 mil iraquianos morreram durante os seis anos seguintes à invasão do Iraque, dominada pelas tropas norte-americanas, com forças britânicas e o apoio de militares da Austrália e da Polónia.

www.dn.pt
11
Jul16

A vitória e a sorte

António Garrochinho



São três e meia da manhã. Agora, que ninguém estará a ler o blogue, posso confessar? Nunca acreditei que Portugal pudesse ser campeão europeu de futebol em 2016. Porquê? Porque não tinha nenhuma "fezada" nesta equipa. (Podia estar aqui a dizer o contrário, aproveitando a onda da vitória, mas acho mais honesto, embora talvez impopular, dizer simplesmente a verdade). Claro que ainda tinha uma esperança muito residual de que houvesse uma conjugação ideal de fatores, se bem que improvável, que levasse a equipa portuguesa ao título. Mas, ontem, quando vi Cristiano Ronaldo lesionado, a minha réstea de esperança foi-se quase por completo. E apenas fiz figas - e só porque tinha lá Rui Patrício e Pepe - para que não sofrêssemos nenhum golo e pudéssemos chegar aos penáltis. Porque aí, eu confiava que Patrício não teria as angústias que consagraram a obra de Peter Hanke.

Felizmente, eu estava redondamente enganado. E Portugal ganhou. Esta vitória, precisamente porque era improvável, tornou-se muito mais preciosa. Faz bem à nossa auto-estima, faz-nos esquecer, por uns dias, o espetro das sanções, faz feliz um país que tem passado "as passas do Algarve". Não nos reduz o défice, não nos atenua a dívida, não dá emprego a quem o não tem, mas tornou, por horas ou dias, as pessoas mais alegres. E isso é muito importante. Houve, neste título, coisas dadas pela sorte? Claro que sim! Mas "a sorte protege os audazes", como soe dizer-se. E, como português, estou cansado de ver o meu país não ter sorte. Também eu tive a tentação de pensar que era mais fácil um "dois cavalos" ganhar o Mundial de Fórmula Um do que Portugal um Europeu de futebol com Éder a "ponta de lança". E, no entanto, foi Éder quem nos deu a vitória. Esta é a beleza e a bizarria do futebol. Onde o improvável pode acontecer, onde, na final e afinal, Gary Lineker deixou de ter razão e não foi a Alemanha que ganhou. 

Ganhámos nós! Mas muito mais importante do que para os portugueses que vivem em Portugal - e sei que muitos não entenderão isto - ganhou a "concierge" do XVIème, que esta manhã, de olheiras sorridentes, vai cruzar-se com locatários apressados de cara fechada. Ganhou o operário do "bâtiment", que, daqui a pouco, com sorriso irónico e boca de sarro, deixará graçolas intraduzíveis aos colegas do país que, no Stade de France, só tinha papelinhos azuis, brancos e vermelhos, porque nunca pensou ser necessário utilizar a cor verde, que é a da esperança que ele (não eu) tinha. Ganhou o Mathis, de que aqui falei ontem, que pode atirar agora uma piadas orgulhosas aos seus colegas, nacionais de um grande e extraordinário país onde, porém, por um "azar dos Távoras", nasceu um dia um soldado de seu nome Chauvin, que lhes destinou para todo o sempre um vírus de nacionalismo arrogante de que nunca se libertaram, a que se dá o nome de chauvinismo.

Foi muito boa e saborosa esta vitória. Quando acordarmos (também dela), a segunda-feira estará aí e os nossos problemas não desapareceram, por um passe de mágica. Mas, caramba, quase tão importante como ganhar, faz-nos muito bem ter sorte!

duas-ou-tres.blogspot.pt
11
Jul16

Sangue, suor e lágrimas dão título europeu a Portugal

António Garrochinho

Sangue, lágrimas e suor acabaram em Glória! A Europa caiu aos pés de Portugal.

Foram 120 minutos de sofrimento na final do Euro 2016 contra a França que acabaram numa explosão de alegria entre os portugueses nos quatro canto do mundo.

Portugal sagrou-se campeão da Europa com um golo de Eder no prolongamento.

Tristeza e deceção entre os franceses. Para muitos o triunfo gaulês era quase garantido, mas a realidade abateu-se sobre os adeptos quando a seleção nacional marcou o golo da vitória.

A enviada da Euronews, Paula Vilaplana, afirma que “o futebol está cheio de surpresas e a final do Euro2016 foi uma delas. Poucos poderiam imaginar no início da competição que Portugal seria campeão da Europa. Alegria em terras portuguesas e tristeza aqui em França, impedida de se coroar campeão em sua própria casa”.

Entre os adeptos, as palavras não chegam, por vezes, para explicar o que sentem.

“Não sei como descrever isto. Um sonho, uma realidade para Portugal e somos campeões”, diz um jovem.

“Estou muito agradecida por poder viver aqui em França, mas ao mesmo tempo, este é o dia mais feliz da minha vida, este ano, o poder levar a Taça para Portugal”, diz uma mulher.

“Estou um pouco desapontado por termos perdido, mas o que podemos fazer? Corremos bem… bom, é pena”, explica um francês.

“Estou muito satisfeito, é a primeira vitória para Portugal. Esperámos por isto após tantos desapontamentos… em 2004… Portugal campeão, é a única coisa que interessa, estamos aqui para festejar”, afirma um jovem.

“Hoje sentimo-nos todos alemães, pelo menos a mesma coisa. Deveríamos ter ganho pelo menos umas 20 vezes, mas perdemos. É triste porque eles apenas remataram uma vez… e foi golo”, confessa um francês.



Momentos antes do desafio começar, a polícia interpelou cerca de 40 pessoas após momentos de tensão, perto da ‘fan zone’ em Paris.

Indivíduos irritados por não poderem entrar na fun zone – lotada com 90 mil pessoas – provocaram a confusão e obrigaram mesmo à polícia a usar gás lacrimogéneo.

No final do desafio, a tensão voltou aos Campos Elísios, mas não passou disso.

A festa foi portuguesa.

VÍDEOS



pt.euronews.com
11
Jul16

PCP SAÚDA A FEDERAÇÃO PORTUGUESA DE FUTEBOL

António Garrochinho



Flag_of_Portugal.svg
‘O PCP felicita a Federação Portuguesa de Futebol, os jogadores, a equipa técnica e toda a estrutura de apoio à Selecção Nacional de Futebol pela vitória alcançada no Campeonato da Europa de 2016.
A vitória da Selecção Nacional constitui um reconhecimento ao valor do Futebol português, elemento de prestígio para Portugal’
Jerónimo de Sousa
11
Jul16

Parabéns, campeões… [ESTOU CHIM]

António Garrochinho

 

ESTOU, CHIM

Não sou bruxo nem vidente, mas tenho feelings e senti que o Éder ia fazer o golo”

***«»***
Parabéns à Selecção Nacional de Futebol, pelo importante troféu conquistado, feito que galvanizou o país, as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, principalmente a de França, bem como todo o espaço lusófono, com uma especial referência para o povo de Timor-Leste.
Exceptuando as esquizofrénicas e doentias rivalidades clubísticas, o futebol possui esta magia de unir ludicamente e sentimentalmente as pessoas, embora de uma maneira efémera e ocasional. No caso da selecção nacional, é o sentimento identitário de pertença a uma comunidade, a um território e a uma história colectiva, que prevalece, Mas é também a erupção emocional do momento e a alegria do prazer da festa, que importa realçar nestas situações.
Seria injusto não fazer-se aqui uma elogiosa referência ao brilhante comportamento de quatro atletas portugueses (três mulheres e um homem), no palco do recente campeonato europeu de atletismo.
Patrícia Mamona conquistou a medalha de ouro de triplo salto; Sara Moreira venceu a meia maratona e Jéssica Augusto ficou com o bronze; e Tsanko Arnaudov ficou em terceiro lugar no lançamento do peso.
Merecem o nosso reconhecimento e também o usofruto de uma  exposição mediática adequada, por parte dos órgãos de comunicação social


Alexandre de Castro
2016 JUL 11
Via: Alpendre da Lua http://bit.ly/29xIf77

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