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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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22
Jul16

PATRICK COMMECY: EL PINTOR DE FACHADAS

António Garrochinho

PATRICK COMMECY: EL PINTOR DE FACHADAS

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Así pues su premisa parece bastante clara, conseguir que una ordinaria fachada monocolor se transforme en una escena llena de vida, vibrante, tomada por el color y las acciones, en ellas se incorporan personajes famosos e influyentes de la ciudad donde se encuentren.
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Los colores, las escenas, los personajes, todo esta escogido con esmero, teniendo en cuenta el punto personal del edificio y su entorno.
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Es un magnifico ejemplo del trampantojo, la ilusión óptica o trampa con la que se engaña a alguien haciéndole creer que esta viendo algo que en realidad es distinto a la realidad.
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El trampantojo clásico es el pictórico y, como su etimología evidencia, es un engaño, un trampa que se hace a los ojos para simular lo que no es. Una pintura que simula ser parte del ábside de una iglesia o en la pared de un jardín crea la ilusión mediante una imagen de prolongar el espacio verde con una falsa perspectiva.
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La pintura ilusionista se cree apareció en el antiguo Imperio Romano aunque posiblemente tenga sus orígenes en el mundo griego. Se tiene constancia histórica que dos pintores griegos, Paraísos y Zeuxis, compitieron con el objetivo de hacer imágenes tan realistas que difícilmente se pudieran distinguir de la realidad.


redespress.wordpress.com
22
Jul16

PCP apresenta balanço do trabalho parlamentar na Assembleia da República

António Garrochinho

VÍDEO


O balanço do trabalho parlamentar na primeira sessão da XIII Legislatura confirma a apreciação feita pelo PCP quanto às possibilidades de resultam da nova correlação de forças existente na Assembleia da República, confirmando igualmente uma intensa actividade e intervenção do Grupo Parlamentar do PCP, com um trabalho ímpar que contribuiu de forma determinante para que pudessem ser aprovadas e concretizadas medidas positivas para os trabalhadores e o povo português.
Tal como o PCP afirmou na sequência das eleições legislativas de 4 de Outubro de 2015, a derrota de PSD e CDS e a composição da Assembleia da República com uma nova correlação de forças que colocou PSD e CDS em minoria, abriu caminho à possibilidade de repor direitos e rendimentos e dar resposta a alguns dos problemas imediatos dos trabalhadores e do povo português.
No fim da primeira sessão legislativa confirma-se o acerto da apreciação feita pelo PCP, registando-se a aprovação de muitas medidas positivas de reposição de salários, pensões e outros rendimentos, de reposição de direitos dos trabalhadores e das populações, de resposta a problemas relacionados com os direitos à saúde, à educação, à Segurança Social ou à habitação, de redução de impostos sobre os rendimentos do trabalho.
Na sequência de décadas de política de direita e particularmente depois de quatro anos de Governo PSD/CDS com a sua política de agravamento da exploração e do empobrecimento e a aplicação do Pacto da Troica assinado entre PS/PSD/CDS e UE/BCE/FMI, a crise que o país enfrenta e as desigualdades e injustiças que atingem os trabalhadores e o povo exigem uma política alternativa, patriótica e de esquerda, que está muito para lá das medidas que foi possível aprovar e concretizar.
Não ignorando o carácter limitado ou insuficiente de algumas das medidas aprovadas, elas não podem deixar de ser valorizadas como resultado da intensa luta travada ao longo dos anos pelos trabalhadores e o povo em defesa dos seus direitos e interesses.
Não correspondendo por inteiro às necessidades e expectativas dos trabalhadores e do povo, nem à totalidade das propostas e soluções apresentadas pelo PCP, as medidas positivas aprovadas ao longo destes últimos meses confirmam que vale a pena lutar e que é necessário prosseguir essa luta por uma política que dê resposta aos problemas estruturais do país que persistem e às desigualdades e injustiças que continuam a atingir os trabalhadores e o povo, a luta pela concretização da política alternativa, patriótica e de esquerda que o PCP propõe ao povo e ao país.
Essa resposta de fundo aos graves problemas nacionais com a concretização da política alternativa, patriótica e de esquerda não está desligada da luta dos trabalhadores e do povo nem do reforço do PCP e da sua capacidade de intervenção, tal como não estiveram as medidas aprovadas durante a primeira sessão legislativa da XIII Legislatura.
Esta primeira sessão legislativa fica marcada por uma intensa actividade e intervenção do Grupo Parlamentar do PCP, com um trabalho ímpar que contribuiu de forma determinante para que pudessem ser aprovadas e concretizadas medidas positivas para os trabalhadores e o povo português.
Por iniciativa, proposta ou com o contributo do Grupo Parlamentar do PCP foi possível aprovar nesta sessão legislativa mais de 60 Propostas ou Projectos de Lei e mais de 150 Projectos de Resolução.
Com um total 89 Projectos de Lei, 104 Projectos de Resolução e as 11 Apreciações Parlamentares, o Grupo Parlamentar do PCP foi aquele que mais iniciativas apresentou e trouxe à discussão na Assembleia da República.
Acrescentando a isto as mais de 600 perguntas e requerimentos ao Governo, mais de 300 visitas e reuniões realizadas em todos os distritos do país, mais de 300 audiências concedidas e as 12 audições temáticas realizadas na Assembleia da República, confirma-se o trabalho ímpar desenvolvido pelo Grupo Parlamentar do PCP e a sua intervenção indispensável e insubstituível nas medidas positivas aprovadas.

22
Jul16

Turquia: Comunicado Comité Central do Partido Comunista

António Garrochinho




O Comité Central do Partido Comunista reuniu-se a 17 de Julho e analisou em profundidade os últimos desenvolvimentos do país e discutiu também o estado do partido e as suas tarefas.


Comunicado:


1. A tentativa de golpe de 15 de Julho não foi um confronto entre centros de conflito ideológico, mas envolveu pelo menos duas ou mais facções com identidades e ideologias de classe idênticas. Não é possível que essas facções não soubessem dos planos e acções umas das outras assim como não é possível separar um do outro.


2. O processo que levou ao golpe tem duas dimensões. Primeiro poderia ser descrito como uma luta pelo «poder» no sentido geral entre apoiantes de Erdogan e o movimento de Gulen, que adquiriu uma nova dimensão com as recentes purgas alargadas de Gulenistas. Enquanto o peso económico e político desta luta aumenta, a luta adquire também uma dimensão internacional e centros imperialistas apoiam estas facções.


3. Que a maioria dos oficiais que participaram na tentativa de golpe é gulenista e que os movimentos Gulen têm ligações com os Estados Unidos, são factos. A ideia que não teria havido golpe na Turquia sem a aprovação dos Estados Unidos já que a Turquia é um parceiro militar próximo como membro da NATO é correcta. A principal razão por trás das altas patentes das forças armadas turcas que estão frustradas por o AKP não tentar um golpe é devida ao apoio que a administração norte-americana tem dado ao AKP.


4. Esse apoio foi recentemente reduzido por varias razões. Alguns elementos com influência nos Estados e alguns países europeus, começaram até a preparar-se para a purga de Erdogan. O levantamento do povo em 2013 com a participação de milhões, o dano nos interesses do sistema devido à tensão criada por Erdogan em largos sectores da sociedade e por fim o fiasco total da politica síria afectou profundamente as relações entre Erdogan e alguns países imperialistas. Não é possível considerar a tentativa de golpe de 15 de Julho sem levar em conta esta tensão.


5. Ainda que os golpistas tenham ligações fora, isso não faz de Erdogan um patriota ou um anti-imperialista. Como político, Erdogan serviu os interesses dos Estados Unidos e dos monopólios internacionais. Agora, como político que perdeu favores entre as forças que o apoiaram durante anos, manobra para criar novas alianças num esforço para se salvar. O facto de Erdogan estar agora a aproximar-se deste ou daquele eixo internacional não muda o seu carácter de classe e as suas preferências ideológicas. Recp Tayip Erdogan é um politico burguês, é um inimigo da classe trabalhadora, é um contra-revolucionário não é diferente dos golpistas que queriam vencê-lo.


6. A tentativa de golpe, os poderes atrás dela, os métodos utilizados e a sua base ideológica não têm a ver com os interesses do povo. A opinião de que o país teria visto melhores dias se o golpe tivesse tido êxito não tem sentido. É óbvio o que poderia significar um golpe pró-americano, anti povo.


7. É também absurdo apresentar a supressão do golpe como uma vitória para o povo e/ou celebrá-lo como o «festival da democracia» na cauda do AKP. É uma aproximação que não questiona a legitimidade do regime do AKP e que ignora os fundamentos de classe do que se está a passar no país.


8. A tese de que Erdogan conquista mais poder depois desta tentativa de golpe é certa até um certo ponto. Sem duvida Erdogan conseguiu uma oportunidade de infligir um golpe pesado à Comunidade Gulen, conseguiu a oportunidade de se fazer de vítima mais uma vez, consolidou a sua base e testou o poder de algumas organizações sob o seu controle. Mas, acabou por ter um aparelho de estado seriamente danificado e tem de enfrentar o facto que já não há burocracia segura por causa da transitoriedade das facções integrais.


9. Nessas circunstâncias, Erdogan pode tentar uma purga não só de elementos gulenistas como também de Kemalistas com quem tem mantido uma aliança nas duas instituições de estado mais críticas, as Forças Armadas Turcas (TSK) e o aparelho judicial, e manter-se apenas com os seus apoiantes. Embora seja relativamente fácil conseguir isso em vários sectores da burocracia, há grandes desafios em confiar nos seus recursos no sector militar e judicial. Sem entrar num confronto absoluto e final no plano social, Erdogan não pode fazer esta jogada, que significaria essencialmente uma tentativa de estabelecer um estado islâmico. Por outro lado, Erdogan não tem outra maneira de conseguir consolidar as suas massas sob tensão.


10. Também é possível que Erdogan faça um esforço para reparar as relações com os Estados Unidos e reduzir a tensão interna após um rápido período de terror e intimidação, e já há sinais de que ele se prepara para dar esses passos. Adicionalmente, as expectativas do CHP e HDP vão também nessa direcção. Essa opção é difícil porque não é possível a Erdogan sem políticas de tensão crescente, limpar o campo dos seus elementos radicais. Nem a oposição no Parlamento parece ser um problema para Erdogan e o seu AKP.


11. Em qualquer caso, há uma dissolução e uma crise multidimensional sobre a hegemonia do capital. Não é esta dissolução mas o estado desorganizado da classe trabalhadora, que neste momento é perigoso.


12. Outro perigo potencial é espalhar-se a ideia após o golpe que Erdogan é invencível. Esta crença é acompanhada de cenários «assustadores» que se espalham como vírus e notícias, que na sua maioria são mentiras e criam um estado de pânico. O governo AKP tem sido sempre perigoso e claro que agora é ainda mais perigoso. Mas o clima de pânico está a ajudar a legitimar a agressão do AKP. Na verdade, nem o AKP nem Erdogan são tão fortes como afirmam nem a Turquia é um país cujo futuro pode ser lançado à escuridão da noite. Por exemplo, nas chamadas «celebrações» após o golpe, apesar dos apelos, o número de apoiantes do AKP nas ruas foi limitado. A posição correcta é saber o perigo que está pendente mas não ceder ao pânico, pelo contrário, tentar utilizar a dissolução em benefício da classe trabalhadora.


13. O AKP e a ameaça fundamentalista não devem ser subestimados. É claro que o período que abriu com a asserção «O Secularismo não está ameaçado» levou o país à beira do abismo. Mas, há a tarefa de organizar um movimento popular mais poderoso e mais «pronto» a enfrentar esta ameaça considerável. Esta tarefa não será conseguida a espalhar o medo depois de longos anos de dormência. Que a oposição dentro do sistema esteja a coroar a inacção passada com a criação do pânico actual é inaceitável.


14. Nestas condições, a principal fonte de poder do AKP e Erdogan continua a ser os seus oponentes no sistema político. O estabelecimento político centrou os seus planos na normalização, transformação e organização do AKP. A atitude de alguns políticos que garantem ser representantes da «esquerda» no Parlamento é realmente espantosa e causadora de preocupação.


15. Experiências durante e após o 15 de Julho mostraram como são terríveis as facções dentro do estado. Todos vimos como os golpistas não tinham limites para a crueldade. Depois, vimos o barbarismo do governo. Tudo isso não se resolve pela ideia «deixem-nos matar-se uns aos outros». Um número desconhecido de civis foi morto e soldados de várias patentes que não sabiam o que se passava foram linchados. Talvez sejam julgados os perpetuadores desses actos horríveis, linchamentos e tortura sobre suspeitos e soldados que se renderam e os dirigentes daquelas duas facções que durante anos trabalharam juntos mas que agora se digladiam, eventualmente terão de enfrentar a justiça do povo.


16. Não é correcto explicar toda essa crueldade como um sinal de «poder». Pelo contrário é dissolução, medo e confusão do lado do governo. O medo generalizado pode apenas ser vencido por movimentos fortes, sólidos e consistentes, nunca por acções desorganizadas e loucas. E essa dissolução pode ser transformada numa oportunidade para o povo.


17. Como sempre afirmámos a Turquia só pode ser libertada pela luta unificada da classe trabalhadora contra a hegemonia de classe apresentada pelos poderes negros, não como resultado de lutas entre os poderes negros. Recusamos toda a espécie de análises e posições que ignorem esta realidade. É obvio que os Comunistas não darão crédito às atoardas de «vitória dos poderes democráticos» e ao apelo falacioso a unir todos contra Erdogan. Entre aqueles que gritam as palavras «a vitória do poder democrático» alguns estão, também, a criar o pânico com a retórica de «os seguidores da sharia vão cortar as vossas cabeças» é um testemunho do nível de confusão.
Repetimos: o nosso caminho nunca se cruzará com os representantes da classe capitalista, com golpes apoiados pelos Estados Unidos e NATO ou agentes de revoluções coloridas. Isso não nos enfraquece. Uma classe trabalhadora desorganizada deslumbrada com soluções falsas iria enfraquecer-nos.


18. A escala de vazio entre as fileiras de pessoas, criada como resultado da animosidade contra a organização vê-se claramente num país em que o movimento Gulen, gangues do governo, grupos de interesses, assassinos profissionais e mesmo a máfia têm a capacidade de agirem «organizados» Vamos ainda mais longe ao dizer que todos os que querem uma sociedade sem classes, livre de exploração tem de lutar e unir-se por um estado de organização persistente, continuo e de espírito colectivo. Negar essa tarefa, legitimando a inércia e a indiferença a este ponto equivale a ser um inimigo do povo. É importante reforçar a organização da classe, independentemente das seitas religiosas. Os movimentos Gulen, centros capitais e imperialistas, aqueles que idolatram as reacções populares apolíticas, acções de massas espontâneas não organizadas, aqueles que não têm objectivo nem interesse sob a retórica do «pluralismo Gezi» talvez tenham aprendido a lição.


19. O único objectivo do Partido Comunista é tornar-se uma organização revolucionária independemte que pode mudar o equilíbrio de forças no pais, mobilizando-se durante os golpes ou campanhas reaccionárias. A fim de conseguirmos juntos esse objectivo, o nosso único apelo à nossa classe trabalhadora é mobilizar, acreditando apenas no seu poder e tomando a iniciativa em vez de assistir a este pesadelo.


Comité Central do Partido Comunista, Turquia

www.odiario.info

22
Jul16

Que fazer às placas do tempo em que Relvas era doutor?

António Garrochinho


Blogue Má Despesa Pública lança campanha para que título académico de ex-ministro seja apagado. Ex-ministro vai recorrer de sentença que lhe tirou licenciatura.
Que fazer às placas do tempo em que Relvas era doutor?
O blogue Má Despesa Pública lançou uma campanha destinada a corrigir as placas de inaugurações feitas um pouco por todo o país pelo ex-ministro Miguel Relvas que o apelidam de "doutor". O antigo governante do PSD perdeu a licenciatura que lhe tinha sido dada pela Universidade Lusófona no final do mês passado, por decisão de um tribunal, quatro anos depois de se ter descoberto que tinha feito uma das disciplinas do curso apenas com base na discussão oral de sete artigos da sua autoria, publicados em jornais, e sem mais nenhum exame.
"Algo que tape o "dr." basta, de forma a que seja reposta a verdade", dizem os autores do blogue, que não querem fomentar aquilo que eles próprios criticam com veemência: os gastos públicos injustificados. Entre pavilhões desportivos, câmaras municipais e lares de idosos, por exemplo, é extensa a lista de edifícios públicos agraciados com placas de todos os tipos a atestar a qualidade académica do inaugurador. Algumas delas antecipam até a licenciatura em vários anos, uma vez que foram descerradas anos antes de Relvas terminar os estudos na Lusófona, o que só sucedeu em 2007 . Em Lagoa há uma placa nos Paços do Concelho a recordar que "sua excelência o secretário de Estado da Administração Local, dr. Miguel Relvas" por ali passou em 2004. O mesmo sucede na sede da Junta de Freguesia de Antas, em Esposende, inaugurada em 2003.
"A nossa placa foi feita com letras chumbadas. Não tenho forma de a rectificar a não ser enviando-a novamente para a fábrica – e isso, sim, seria má despesa pública. Só o faríamos se um tribunal o ordenasse", reage a presidente da Câmara de Alvaiázere, Célia Marques, eleita pelo PSD. Aqui, o ministro teve a honra de descerrar a placa de um pavilhão desportivo em 2012.
Um dos autores do Má Despesa Pública, Rui Oliveira Marques, não acredita que a maioria das entidades que o blogue irá contactar venha a responder-lhe de forma positiva, por forma a "reporem a verdade" e a "higienizarem o espaço público". Mas isso não o demove. De resto, explica, a ideia partiu de um leitor do Má Despesa Pública, que lhes chamou a atenção para a quantidade de placas alusivas a Relvas existentes no distrito de Santarém, região à qual o antigo governante tem fortes ligações.
O centro escolar Luís Ribeiro Pereira, em Ferreira do Zêzere, também tem uma destas placas, descerrada em 2012. O acrílico que a reveste estalou e já teve de ser substituído, conta a sua coordenadora, Maria da Luz Martins, que não percebe por que motivo os títulos académicos constam quase sempre deste tipo de distinções solenes. Corrigir ou não o que se tornou há menos de um mês um erro depende da autarquia, salienta a educadora, que observa ainda que "haverá muitos casos idênticos" país fora. O Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Mação é dos que vai esperar para ver antes de decidir se faz alguma coisa à recordação da ida do "Dr." Relvas ao novo lar da terra: "Teremos de nos inteirar do assunto para ver se tomaremos ou não alguma decisão".
Em Antas, o presidente da junta, Viana da Cruz, não se mostra preocupado, embora admita que tem sentido rectificar o que deixou de ser verdade: "Tenho coisas mais importantes em que pensar". Miguel Relvas vai recorrer da decisão do tribunal que lhe tirou a licenciatura.


24.sapo.pt
22
Jul16

O silêncio de Morais Sarmento

António Garrochinho




No Diário de Notícias de 13 de Junho passado desafiei Nuno Morais Sarmento (NMS) a "esclarecer onde, quando e como tive o comportamento que ele classifica como "cobarde"" e os "atentados que por escrito ou oralmente eu cometi contra a sua pessoa privada e respectiva família".

Recorde-se que numa entrevista a este jornal, publicada a 10 de Junho, o antigo ministro da Presidência do PSD e putativo candidato à liderança desse partido me ameaçara com murros por eu supostamente o ter ofendido pessoalmente e atingido a sua família. Note-se ainda que, nessa entrevista, nem entrevistado nem entrevistador esclareciam as razões concretas que justificavam tal assanhamento pessoal, com ameaças de agressão física. Daí o desafio que lancei mas não obteve qualquer resposta.

O silêncio de Morais Sarmento - personalidade com responsabilidades públicas notórias, advogado, ex-ministro e candidato a uma liderança partidária - não pode passar em branco, até porque as suas declarações irresponsáveis e ameaças de violência não só visaram a minha dignidade pessoal e profissional como mostraram a falta de carácter de quem as proferiu e a sua cobardia intrínseca, quando colocado perante uma exigência de verdade. Mais: ao não responder ao meu desafio, Morais Sarmento demonstrou uma falta de respeito elementar pelos leitores do Diário de Notícias e a opinião pública em geral. Aliás, soube entretanto que não era essa a primeira vez que NMS me fazia semelhantes ameaças, reiterando declarações que prestara ao jornal i e que eu desconhecia até hoje.

Para além do meu caso pessoal, é simplesmente intolerável e motivo de indignação pública que um político, comentador televisivo e advogado - suponho que inscrito na respectiva Ordem - se permita (e por mais de uma vez!) ameaçar a integridade moral e física de terceiros, sem se sentir obrigado a esclarecer os motivos por que o fez.

Apenas me lembro de um episódio em que me vi confrontado directamente com NMS. Foi durante uma audição parlamentar, era eu então deputado do PS e ele ministro da Presidência, sobre a nomeação para administrador da Lusa de um jornalista conhecido pelas suas manifestações de servilismo perante o Governo da altura. Citei alguns exemplos mais óbvios, questionando a isenção do jornalista em causa e as razões oblíquas que tinham levado o Governo a nomeá-lo. NMS não escondeu a sua irritação e agressividade, acusando-me a despropósito de ser um nostálgico do Maio de 68, ao que eu respondi com uma frase do género: "Tomara a si fazer parte dessa geração."

Se NMS confunde um episódio de natureza política como este - que ele, pelos vistos, nunca terá digerido - com qualquer outro de natureza pessoal, isso só mostra até que ponto pode chegar a cegueira e a perturbação mental de alguém possuído pela arrogância e o culto da violência. De qualquer modo, é um atestado de insanidade que não o recomenda de todo para o exercício de cargos de responsabilidade na vida pública.


Jorge Bacelar Gouveia
Jornalista

22
Jul16

O cerco olímpico ao urso - O que está em causa com a tentativa de banir todos os atletas russos dos Jogos do Rio não é o combate ao doping que, diga-se, não é exclusivo da Rússia.

António Garrochinho





O Tribunal Arbitral do Desporto (TAS) confirmou a decisão da Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF, sigla em inglês) de proibir as equipas da Rússia, na modalidade de atletismo, de participarem em qualquer competição, inclusive nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. A notícia foi recebida com entusiasmo do outro lado do Atlântico, com o The New York Times a prever que «outras organizações desportivas venham a punir as equipas russas».
Em causa estão as acusações de um esquema montado, com o patrocínio do governo russo, de utilização de doping nos Olímpicos de Inverno de Sochi (Rússia), em 2014. A decisão da IAAF foi anterior à recente apresentação de um relatório conduzido pelo jurista candiano Robert McLaren, que confirma as alegações.
Duas semanas antes do arranque dos Jogos do Rio, um conjunto de responsáveis de agências nacionais anti-dopagem enviaram uma carta ao presidente do Comité Olímpico Internacional (COI) a pedir a suspensão do Comité Olímpico da Rússia e dos atletas russos das próximas Olimpíadas. Mas a carta promovida por Travis Tygert, o responsável pelo combate ao doping nos EUA, diz mais: os atletas russos que se submetam a testes por entidades independentes podem participar, mas nunca com a bandeira russa. O objectivo não é visar os atletas que estejam fora das regras anti-doping, mas sim todos os atletas russos e a Federação Russa como um todo.
Na verdade, o que estamos a assistir é ao aproveitamento político do caso, mais uma arma norte-americana na tentativa de desestabilização da Rússia. O combate ao doping e o espírito olímpico deviam merecer mais respeito.
Como o presidente dos Comités Olímpicos Europeus, o irlandês Pat Hickey, declarou, dois dias antes de ser conhecido o relatório McLaren, «depois de se saber que o relatório, que deveria ser confidencial, foi enviado às agência norte-americana e canadiana antes de ser apresentado, fica claro que tanto a sua independência como a sua confidencialidade estão comprometidas».
Norte-americanos e canadianos enviaram um pedido de assinaturas para a recente carta dirigida ao presidente do COI. Pat Hickey denunciava que «os contactos foram feitos apenas a organizações e atletas que se sabe que apoiam a expulsão dos atletas russos».
Fica claro que o que está em causa não é o combate a uma prática que, diga-se, não é exclusiva da Rússia. Em 2007, o COI retirou as três medalhas de ouro e duas de bronze que Marion Jones levou para os EUA, nos Jogos de Atenas, em 2000, por utilização de doping.
Como o antigo membro da administração Reagan, Paul Craig Roberts, escreveu no Off Guardian, «Washington não está motivado pelo respeito pela justiça no desporto. O "escândalo de doping" é parte do esforço de isolamento da Rússia que está em curso».


abrilabril.pt
22
Jul16

OLHÓ AVANTE ! - OS INDIGNADOS -Anabela Fino

António Garrochinho

Anabela Fino 

Os indignados


O incómodo que a contratação de Durão Barroso pelo Goldman Sachs está a suscitar nas instâncias da União Europeia, traduzido em protestos veementes e apelos lancinantes a que desista do cargo, fazem lembrar aquelas situações em que os larápios, apanhados em falso, tentam salvar a pele armando-se em vítimas e gritando alto e bom som «agarra que é ladrão».

Desde o presidente francês François Hollande ao comissário europeu dos assuntos económicos e monetários Pierre Moscovici, anda tudo num desatino a tentar fazer crer que a UE nada tem a ver com o produto tóxico chamado Goldman Sachs, cuja reputação ficou nas ruas da amargura desde que se tornou público e notório, entre outras coisas, o papel que desempenhou durante a crise financeira de 2008.

Percebe-se: como o próprio Moscovici afirmou em recente entrevista, «neste período de crise, quando o populismo quer dinamitar o ideal europeu e a instituição que o encarna, o recrutamento de Barroso pelo Goldman Sachs é chocante e alimenta os ataques contra a Comissão».

Para salvar a pele, a Comissão vem a terreiro qual virgem ofendida, tentando ocultar sob o manto da retórica a crua realidade da promiscuidade que desde há muito grassa entre as instituições europeias e este banco de investimentos norte-americano. Basta no entanto uma breve revisitação aos arquivos para perceber que estamos mais uma vez perante um gato escondido com o rabo de fora. A transumância entre o banco e a UE e vice-versa não é nova: Romano Prodi, antigo presidente da Comissão Europeia e ex-primeiro-ministro italiano, esteve no Goldman nos anos 90; Mario Draghi, presidente do BCE, foi director-geral do Goldman Sachs International entre 2002 e 2005; Carlos Moedas saiu do Goldman em 2004 para o governo PSD/CDS, onde foi responsável pelo acompanhamento do programa da troika, e daqui saltou direitinho para Comissão Europeia. Isto para já não falar do falecido António Borges ou de José António Arnaut, com currículo no Goldman, que muito «aconselharam» as políticas da troika.

Qual cereja em cima do bolo, o Goldman está presente na «nova regulação para os mercados financeiros» tão cara à UE. Com «indignados» destes, Durão Barroso pode dormir descansado.


22
Jul16

Vários mortos em tiroteio em centro comercial de Munique - Operação policial está a decorrer.

António Garrochinho



Várias pessoas morreram num tiroteio esta sexta-feira à tarde num centro comercial em Munique, na Alemanha. O jornal alemão Muencher Abendzeitung diz que morreram 15 pessoas e a televisão alemã NTV avança com 10 vítimas mortais. 


O balanço ainda não é oficial mas os meios de comunicação apontam para uma dezena de vítimas. A polícia de Munique confirma vários mortos. 


O centro comercial Olympia é um dos maiores da Baviera.  


A Reuters revela que um funcionário do centro comercial disse ao telefone que ainda há vários empregados escondidos dentro do edifício.  Uma grande operação policial está no local e testemunhas relatam nas redes sociam que há várias vítimas mortais, informação que ainda não foi confirmadas por fontes oficiais.   Não se conhece ainda o motivo dos disparos. Vídeos e fotografias partilhados nas redes sociais mostram o pânico de várias pessoas em fuga.




VÍDEO




http://www.cmjornal.xl.pt

22
Jul16

Uma petição

António Garrochinho


para ler melhor, clicar na imagem
Um grupo de funcionários de instituições europeias lançou uma petição aberta a todos os cidadãos europeus, até fim de Setembro, «for strong exemplary measures to be taken against José Manuel Barroso, whose behaviour dishonours the European civil service and the European Union as a whole».

Nota de rodapé.


Para ter acesso ao texto e à possibilidade de assinar a 

petição, basta clicar AQUI.



 outramargem-visor.blogspot.pt
22
Jul16

22 de Julho de 1798: Napoleão Bonaparte conquista o Cairo

António Garrochinho


"Os infiéis que vieram para vos combater têm unhas do comprimento de um pé, bocas enormes e olhos assombradores. São selvagens possuídos pelo demónio e vão unidos por correntes para os campos de batalha." Com esta descrição, o general mameluco Ibrahim tentava usar meios psicológicos para preparar os seus soldados para a defesa do Cairo.

Os inimigos eram os franceses, que acabavam de chegar à margem ocidental do rio Nilo. Eram 40 mil soldados que, apenas 19 dias antes, tinham desembarcado em Alexandria e tomado a cidade portuária sem sofrer perdas dignas de menção.

Era um exército formidável, que partira da França para conquistar o Egipto. Vinha com 400 navios, entre eles 13 de combate, 42 fragatas e 130 de transporte, sob o comando de um general famoso: Napoleão Bonaparte.

O Directório - poder executivo na época em Paris - havia planeado a conquista da Inglaterra. Vendo que a marinha francesa não tinha qualquer hipótese de derrotar a esquadra inglesa, Napoleão Bonaparte rejeitou o plano. Em vez disso, executou um projecto que mantinha na gaveta há muito tempo: bloquear as rotas comerciais britânicas em direcção à Ásia, através da ocupação do Egipto e do Oriente Médio.

Em apenas dois meses e meio, Napoleão conseguiu recrutar uma força armada que, em vez de "exército inglês", foi chamado de "exército egípcio" e zarpou de Toulon.

Depois de ocupar Alexandria, Napoleão enviou um apelo aos egípcios. "Ó, xeques, imames e oficiais da cidade: digam à vossa nação que os franceses são amigos dos muçulmanos. Prova disso é que eles, em Roma, destruíram o Vaticano, que sempre conclamou os cristãos à luta contra o Islão.

Eles também expulsaram os cavaleiros de Malta, que diziam combater os muçulmanos em missão divina. Os franceses sempre foram amigos do sultão otomano e inimigos dos seus inimigos. Os mamelucos negavam-se a obedecer ao sultão e só o faziam para satisfazer sua ganância. Abençoados sejam os egípcios que concordam connosco."

Napoleão queria aparecer como o libertador do país, que pertencia ao Império Otomano, mas, na realidade, era dominado pelos mamelucos. Descendentes de escravos militares eslavos e caucasianos, os mamelucos enfrentavam divisões internas, mas dispunham de uma poderosa cavalaria.

Também o general francês tinha grande respeito pelos cavaleiros mamelucos, mas percebeu logo que eles ainda usavam estratégias medievais. Assim, deixava-os atacar primeiro, para dizimá-los à curta distância com os mosquetes da sua infantaria.

Quando os mamelucos finalmente bateram em retirada, deixaram para trás milhares de mortos e feridos. Como prémio pela vitória, os franceses, esgotados pela marcha para o Cairo, saquearam as suas vítimas. A França tivera um saldo de apenas 29 mortos e 260 feridos.

Em 22 de Julho de 1798, o Cairo capitulou. Dois dias depois, Napoleão entrou na cidade. Assim como acontecera em Alexandria, ele estava decepcionado. Mas, num primeiro momento, a invasão francesa revitalizou o interesse artístico e académico pelo Egipto. A ideia de devolver o país ao Império Turco-Otomano (com capital em Constantinopla) foi logo abandonada. Ao contrário: no seu avanço rumo à Palestina, os franceses logo entrariam em conflito com os turcos.

A suposta amizade franco-egípcia, proclamada por Napoleão, não durou muito. Os primeiros sinais de resistência da população do Cairo foram reprimidos sem piedade. Em Outubro, quando um confidente de Napoleão foi assassinado por uma multidão revoltada, o general ordenou a destruição da mesquita e universidade de Al Azhar (então com mais de 800 anos) – até hoje, um dos principais centros de pesquisas do islamismo.

Os franceses tiveram ainda outra surpresa desagradável: poucos dias depois da conquista do Cairo, o almirante inglês Horatio Nelson destruiu a frota napoleónica próximo de Alexandria, liquidando 1.700 franceses. E a marcha napoleónica para a Palestina terminou em Akko, novamente com pesadas perdas no lado francês.

Por essa altura, Napoleão já havia retornado à França para assumir o poder. O general Kléber sucedeu-lhe como comandante no Egipto, para onde as tropas francesas foram obrigadas a recuar, sob pressão dos turcos e dos ingleses. Kléber foi assassinado por um fanático muçulmano, num acto de vingança pela destruição de Al Azhar.

Napoleão havia prometido aos seus soldados que eles voltariam ricos do Egipto. De entre os soldados, mais de um terço foram mortos no Médio Oriente; os demais voltaram derrotados para casa. O sonho do general, de destruir o Império Turco-Otomano, também não se tornara realidade.

Fontes: DW
wikipedia (imagens)
Principais movimentos e batalhas na conquista do Egipto (1798) pelo exército francês

O General Jean-Baptiste Kléber substituiu Napoleão Bonaparte no comando do Exército do Oriente
Napoleão no Egipto - Jean-Léon Gérôme
22
Jul16

22 de Julho de 1946: A revista Time publica a reportagem sobre Salazar e o Estado Novo com o título "Até que ponto o melhor de Portugal é mau"

António Garrochinho


No dia 22 de Julho de 1946, a edição semanal da revista TIME dedicou a sua primeira página a António de Oliveira Salazar. Em manchete, o artigo referia: "Portugal Salazar's: Dean of Dictators – How Bad is the Best?"("Até que ponto o melhor de Portugal é mau").  O número de Julho é retirado do mercado nacional e, por seis anos, é proibida a venda da "Time" em Portugal. 

Na capa da revista à esquerda de uma imagem de Salazar, a revista colocou uma maçã aparentemente viçosa, mas repleta de bichos no interior. Era a metáfora escolhida para ilustrar a mais antiga ditadura da Europa. O trabalho resultara da recolha de informação por parte do editor Percy Knauth e de um correspondente em Lisboa, o italiano Piero Saporiti, radicado na capital portuguesa desde 1944. No texto, referia-se que, com praticamente “duas décadas de ditadura, Portugal era uma terra melancólica de pessoas empobrecidas, confusas e assustadas”.

O presidente do conselho não tolerou o teor do texto. A 27 de Agosto de 1946, um despacho PIDE, ratificado pelo Secretariado de Propaganda Nacional, deu ordem imediata a um dos autores da peça (Saporiti), para abandonar o país até 3 de Setembro. Enquanto Saporiti lutava contra a extradição, foi-lhe dito pela PIDE que poderia evitá-la, caso se demitisse da TIME. O italiano recusou.

A venda da revista foi proibida em território nacional, todos os exemplares ainda por vender foram apreendidos e a PIDE recebeu ordens para confiscar as revistas que viessem a ser encontradas em domicílios privados. Saporiti conseguiu adiar a expulsão por mais um mês, tendo abandonado Lisboa de barco no dia 3 de Outubro, com destino  a Paris.



22
Jul16

A verdadeira história da fragata “Gago Coutinho”

António Garrochinho


A verdadeira história da fragata “Gago Coutinho”
Na madrugada de 25 de Abril de 1974, a fragata Gago Coutinho estava a sair para o mar, integrada num exercício da NATO, quando recebeu ordens de voltar para trás. O Estado-Maior da Armada mandava-a colocar-se diante do Terreiro do Paço e preparar-se para fazer fogo contra os blindados de Salgueiro Maia. A fragata não disparou, mas mantém-se até hoje a discussão sobre o que se passou a bordo nas horas seguintes.

Declaração de interesses: o autor do presente artigo é filho do comandante Seixas Louçã, que dirigia a fragata Gago Coutinho no dia 25 de Abril de 1974.

dossier sobre o episódio da fragata já vai longo, e encontra-se quase todo depositado no Centro de Documentação 25 de Abril. A peça fundamental desse dossier é o Auto de Averiguações levado a cabo pela Marinha, em 1976, sob a responsabilidade do almirante Fernando Santos Silva, oficial prestigiado e a quem reconheciam qualidades de isenção todos os envolvidos na polémica sobre a fragata. No relatórioque dele resultou, Santos Silva emite um conjunto de apreciações que hoje continuam, em grande parte, a ser válidas.

Em dois artigos relacionados com este (vd. ao lado), procurei actualizar essas apreciações com o valor que lhe acrescentaram depoimentos posteriores, e alguns muito recentes. Aqui limitar-me-ei a passar em revista as conclusões que, à luz do relatório de 1976 e desses depoimentos posteriores, podemos tomar como certas e aquelas em que continuam a existir versões diferentes, nomeadamente a do então comandante da fragata, Seixas Louçã, e a do então imediato, Caldeira dos Santos.
A ordem de fogo sobre o Terreiro do Paço

Por volta das 7h40 da manhã, o navio recebeu ordens do vice-chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Jaime Lopes, para fundear diante do Terreiro do Paço e para se preparar para fazer fogo contra a coluna da Escola Prática de Cavalaria. Foi o comandante quem levantou objecções à ordem de preparação para fazer fogo: havia muita gente no Terreiro do Paço e vários cacilheiros no rio.

O comandante manteve além disso o navio em movimento, aliás mais acelerado do que era habitual, ignorando a ordem para fundear. Desse modo pretendeu reduzir a probabilidade de o navio ser alvejado com êxito por eventuais forças hostis. E mandou colocar as peças de artilharia em elevação máxima, para mostrar que não apontava para qualquer alvo em terra.

O imediato reconhece que o comandante se opôs à ordem de preparação para fazer fogo com munições de combate e admite, ao menos no Auto de Averiguações, que a decisão de colocar as peças em elevação máxima era uma decisão “prudente”.

Mas há duas versões contraditórias sobre o que ambos terão discutido, sem mais testemunhas. Em depoimento prestado em 1974, a versão do imediato ainda coincidia com a do comandante, negando ambos a existência de qualquer conversa nesse momento do dia. Mas a partir de 1976 o imediato passou a sustentar que tinha informado o comandante sobre um alegado compromisso “da Marinha”, de manter uma atitude de “neutralidade activa” para com o “Movimento”. O comandante, por seu lado, sustenta que, depois de ter levantado aquelas objecções, ouviu da boca do imediato palavras de aprovação pela sua resposta ao Estado-Maior, e nada mais do que isso.

Pouco depois, o comandante convocou uma reunião de oficiais, em que lhes apresentou as várias hipóteses de comportamento do navio no caso de este ser atacado. Nenhum dos oficiais presentes faz qualquer referência ao dito compromisso de “neutralidade activa” ou à natureza, objectivos e composição do movimento que se encontrava em curso. Nada foi dito sobre estes temas, nem pelo imediato, nem por nenhum dos presentes.
A ordem de fogo de salva

Em nova comunicação, o Estado-Maior da Armada dava entretanto ao navio uma ordem para fazer tiros de salva, para o ar. O comandante transmitiu essa ordem ao chefe do Serviço de Artilharia, com a variante de se tratar de tiros de exercício – em qualquer caso de pólvora seca. Segundo o relato do comandante, este oficial manifestou timidamente relutância em cumprir a ordem, ao que o comandante lhe perguntou se tinha problemas com as peças. À resposta afirmativa, o comandante mandou-o verificar o que se passava.

Entretanto, o comandante foi dizendo aos outros oficiais presentes que não havia problemas nas peças, como todos sabiam, e que era preciso pensar o que dizer ao Estado-Maior perante uma previsível insistência deste. Quando o Estado-Maior voltou a comunicar com a fragata, o comandante disse-lhe que o fogo de exercício não era possível, devido a problemas nas peças, que não especificou.

Segundo o chefe do Serviço de Artilharia, ao receber a ordem de preparar para fazer tiros de exercício este terá dito ao comandante que o imediato queria falar-lhe – a “deixa” para ser transmitida ao comandante uma combinação com outros oficiais contra eventuais ordens de fogo. Segundo o imediato, este terá então comunicado ao comandante que “a guarnição” se recusaria a fazer fogo de qualquer espécie.

O relatório do almirante Santos Silva dá as duas versões como possíveis, mas considera que, ainda na hipótese de ter havido uma recusa, esta foi torneada pelo comandante “com realismo e sensatez”, evitando desse modo uma ruptura irremediável com os oficiais.
A ordem do “Movimento”

O “Movimento”, que continuava a ser desconhecido pelo comandante com qualquer outro nome ou acrónimo, pôs-se entretanto em contacto rádio com o navio. O tenente Lourenço Gonçalves, seguindo instruções do Posto de Comando da Pontinha, pediu para falar com o imediato – não com o comandante – e deu-lhe instruções para o navio sair a barra do Tejo com as peças em baixo.

Gonçalves não se identificou e o imediato não ficou a saber com quem falara. Mesmo assim, o imediato transmitiu ao comandante a ordem do “Movimento”. Mas, como não dissesse quem tinha sido o seu interlocutor, criou no comandante a convicção de que lhe ocultava alguma coisa. O comandante disse-lhe então que estava “amarelo e cheio de medo” - e que o exonerava. O imediato recolheu “de livre vontade” à câmara e desapareceu de cena.

Entretanto, o comandante pediu ao oficial mais antigo, tenente Varela Castelo, que assumisse a função de imediato, mas este escusou-se. Ao abordar, depois, o tenente Palhinha, este não lhe opôs uma decisão pessoal, e sim uma reflexão mais ampla: considerando que “o pior já passou”, entendia que “é preferível ficar tudo como estava”. O comandante aceitou, aparentemente, as razões do tenente Palhinha e deixou “tudo como estava”.
A “insubordinação”

Pelas 14h30, o balanço do comportamento do navio era o seguinte: por um lado, o “Movimento” não tinha conseguido que o navio saísse a barra do Tejo com as peças em baixo; por outro lado, o Estado-Maior não tinha obtido dele a preparação para eventuais disparos com munição de combate sobre o Terreiro do Paço, não tinha obtido que fundeasse, e não tinha obtido que fizesse tiros de salva, para o ar. Quem tinha dado a cara perante o Estado-Maior era, em todos estes casos, o comandante. Se a revolução falhasse, era a ele que o Estado-Maior pediria contas.

A essa hora, o comandante convocou uma segunda reunião de oficiais, que vários depoimentos interpretam como destinada a acusá-los de “insubordinação”. O comandante, por seu lado, sustenta que a reunião se destinou a discutir, mais uma vez, o comportamento a adoptar durante a tarde, quando não ainda não estava claro que outras emergências poderiam deparar-se ao navio.

A palavra “insubordinação” terá surgido num outro contexto: o de chamar os oficiais - que aí se declararam abertamente contra quaisquer ordens de fogo -, a assumirem, durante a tarde, as suas responsabilidades perante eventuais ordens dessas, mesmo que isso pudesse ser considerado “insubordinação”.

A verdade é que depois de o comandante ter evitado o confronto aberto com os oficiais - com “sensatez e realismo”, como afirma o almirante Santos Silva -, não faria sentido algum vir agora acusá-los de “insubordinação”. E menos sentido faria juntá-los a todos e acusá-los a todos, metendo no mesmo saco os que se tinham manifestado, mesmo “timidamente”, e os que nada tinham dito.

Quanto a um alegado consenso da guarnição, incluindo as praças, o autor do relatório considera sem “consistência” o depoimento do imediato. Pelo contrário, os depoimentos de sargentos e praças constantes do dossier, muito favoráveis ao comandante, permitem compreender porquê este manteve sempre o navio em funcionamento. E convém lembrar que se tratava de fazê-lo funcionar em circunstâncias especialmente difíceis, sem poder aderir a um “Movimento” que desconhecia, e sem querer obedecer a ordens de um Estado-Maior que dava mostras de pânico e de irresponsabilidade nesse estertor final da ditadura.
22
Jul16

O Ministério Público detectou o rasto de milhões de euros, alegadamente, lavados em Angola.

António Garrochinho

O Ministério Público detectou o rasto de milhões de euros, alegadamente, lavados em Angola.
Investigação diz que José Sócrates recebeu 3 milhões de euros. Dinheiro teria sido entregue por Bataglia a Carlos Santos Silva, mas tinha como destino o antigo primeiro-ministro. Estava em causa a compra de um imóvel em Luanda. Negócio 'Kanhangulo' envolveu Bataglia e rendeu comissão de três milhões a Santos Silva.




VÍDEO
22
Jul16

A montanha do desemprego e a Direita

António Garrochinho


Fonte: IEFP
Aquele montanha que surge a partir de meados de 2011, foi o resultado da mensagem de terror que o Governo PSD/CDS lançou sobre o que seria necessário fazer para o país se endireitar.

O volume de pessoas que apareceu nos centros de emprego - fosse desempregada ou não - para pedir um emprego não parou de subir desde então. O terror apenas se atenuou quando a troika e os dois partidos chegaram à conclusão de que não era possível continuar com a anterior política. Todo o programa foi interrompido. Manteve-se o aperto fiscal que ainda não foi desatado, sob pressão comunitária. Desde aí, desde 2014, que o mercado de trabalho tem reanimado um pouco. Os dados divulgados ontem mostram-no. Ainda assim, são 700 mil pessoas que procuram um emprego. Caso se estime o desemprego lato pelos dados do INE - juntando os desempregados, os inactivos desencorajados ou indisponíveis e o subemprego - essa realidade ainda abrangia no 1º trimestre 2016 cerca de 1,133 milhões de pessoas, quando já foi 1,469 milhões no 1º trimestre de 2013.

Para esta evolução, têm contribuído diversos elementos. Veja-se este gráfico que apura os fluxos de ano para ano em cada uma daquelas realidades. O que se vê?



1) O desemprego em sentido lato tem estado a reduzir-se desde 2013, mas a ritmos cada vez menores, a ponto de poder começar a subir em 2016. Esses dados corroboram a evolução das pessoas que em cada mês se têm dirigido aos centros de emprego para se declarar como desempregadas. Esses valores nunca pararam de crescer desde 2002. Eram 30 mil por mês em 2001, passaram para 50 mil em 2007, e saltaram para um valor médio de 60 mil no período do Governo PSD/CDS. Mas desde 2014 que se têm atenuado. E continuaram a descer em 2016, estando ao nível de 2012.

2) Simetricamente, o emprego assalariado subiu desde 2013, mas aparentemente de forma artificial até 2015, já que a subida do emprego em 2013 e 2014 parece corresponder de sobremaneira ao acréscimo dos empregos apoiados pelo IEFP. Diga-se que em 2014 e 2015 foram apoiadas 200 mil pessoas em cada ano. Esses apoios estão a reduzir-se em 2016. E apesar disso, o emprego tem continuado a manter-se num ritmo uniforme - embora insuficiente - ao redor dos 50 mil por ano.

3) Sim, em parte, a redução do desemprego lato também se deveu a outra montanha - a dos emigrados permanentes. Em 2010, eram 23,1 mil. Em 2011, saíram 44 mil. Em 2012, mais 52 mil. Em 2013, mais 53,8 mil. Em 2014, mais 49,6 mil. E em 2015, mais 40,4 mil (dados INE). Ou seja, a emigração permanente está ao nível anual do emprego criado em cada ano! Ao todo, nesses seis anos, saíram permanentemente 263,4 mil pessoas. Só de 2013 a 2015, foram 143 mil.

A situação do mercado de trabalho revela-se, pois, de uma enorme fragilidade. O emprego criado - insuficiente para absorver a montanha de desempregados e emigrantes - assenta em valores de rendimento salarial muito baixos (o salário mínimo nacional atinge uma larga percentagem dos assalariados), na precariedade dos contratos. Um ambiente laboral, de fracas ofertas de emprego, que ainda não desmotiva a fuga do país.

Mas a Direita insiste em voltar à política de terror. Voltou a agitar o perigo de 2011. Que vivemos numa mentira e que tudo vai rebentar. Parece assumir o discurso de Trump ao afirmar que quem não vê que tudo se está a degradar, não está preparado para governar o país...

A situação não é, de facto, das mais sólidas. Mas não se entende por que é que:
1) a retoma do emprego que foi tão saudada por esses partidos até às eleições legislativas de Outubro 2015, passou, depois, com a criação de um governo de PS, a estar à baira da bancarrota outra vez.
2) ou por que é que o Governo de Direita, que contribuiu fortemente para a situação actual - vide profundas alterações da legislação laboral - não recebeu os frutos da economia e o emprego se mantém numa tão frágil situação, a ponto de poder ser - de novo - aproveitada pela Direita.


ladroesdebicicletas.blogspot.pt

22
Jul16

Actualização democrática

António Garrochinho



VÍDEO



Numa actualização à medida da nossa «democracia», diria este ou outro Professor, com mais ou menos afecto:
«Não discutimos a União Europeia e os seus Tratados;
Não discutimos o Euro e as suas consequências…»
Acabando, claro está, com outra democrática tirada, extraída de outro discurso, do ditador maior português: «Está tudo bem assim, não podia ser de outra forma».

pracadobocage.wordpress.com
22
Jul16

Granada abandonada em passeio obriga PSP a criar zona de segurança na Baixa de Faro

António Garrochinho


Uma granada foi encontrada ontem frente à Residencial Avenida, na Baixa de Faro, frente ao Terminal das carreiras de autocarro urbanas Próximo e da EVA. O Departamento de Desativação de Explosivos da PSP já chegou ao local, que foi de imediato isolado pelas autoridades.
O alarme para a presença do presumível engenho explosivo, deixado no passeio, foi dado pelas 17h30.
No local, como o repórter do Sul Informação constatou, estão elementos da PSP, que já alargaram o perímetro de segurança e estão mesmo a condicionar o trânsito, em especial o dos autocarros, bem como os Bombeiros Sapadores de Faro e elementos da Proteção Civil.

Fotos: Hugo Rodrigues|Sul Informação
22
Jul16

Marcelo elogia emprego de Durão…Porquê?

António Garrochinho

Pedro TadeuNão importa aqui referir o que um outro Marcello, o Caetano, que durante os últimos seis anos do regime fascista esteve à frente do governo, disse sobre o carácter do pupilo e jovem amigo e por que razão lhe vedou o acesso a S. Bento; como pouco importa também o que Pinto Balsemão já disse sobre o carácter do Marcelo Rebelo de Sousa da direção do Expresso, quando Francisco Balsemão era Primeiro-ministro do governo AD, após a morte de Sá Carneiro.

Talvez haja até alguma coerência nos três Marcelos: o de Marcello, o de Pinto Balsemão e o que ocupa o cargo de presidente português.
É que o Goldman Sachs é talvez o mais importante elo do sistema do capital.
E com o patrão dos patrões não se brinca…



Com tanta notícia excitante neste mundo maravilhoso mas doente quase deixei passar despercebida uma leve perturbação que, apesar de mínima, explica tanta coisa.
Quando há dez dias era notícia ter o ex-presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, aceitado o lugar de presidente em Londres no banco Goldman Sachs, espalharam-se nos jornais os comentários ácidos, os tons indignados, as revoltas de verbo. E com óbvia razão.
Mas no mesmo dia o nosso Presidente da República resolveu deitar água na fervura: «No caso do doutor Durão Barroso, trata-se de atingir o topo da vida empresarial. E o topo da vida empresarial tem muito mérito, como tem o atingir o topo na ciência, na universidade, na cultura, nas artes. Portanto, deve ser naturalmente reconhecido», disse.
Que contraste face às declarações do presidente francês, nosso parceiro na mesma União Europeia que Durão comandou para o declínio: «é moralmente inaceitável que José Manuel Barroso se junte ao Goldman Sachs», disse François Hollande para, a seguir, explicar a acusação que qualificou, aliás, como defeito de carácter. «Ele esteve dez anos à cabeça da Comissão».
O Goldman Sachs esteve no centro da crise dos subprimes e ajudou o governo grego a maquilhar as contas da Grécia.»
Porque é que Marcelo Rebelo de Sousa, um homem que geriu a sua vida sempre com atenção para não cair em situações de incompatibilidade suspeita, vê mérito no novo emprego de Durão? Como é que Presidente português, que foi sempre financeiramente transparente e inequívoco, defende o reconhecimento público para quem baralha alhos políticos com bugalhos profissionais?
O que leva este homem, que não soaria despropositado se debitasse o aforismo cavaquista «para serem mais honestos do que eu, têm de nascer duas vezes”, a ser complacente com a promiscuidade política e financeira?…
Olho para a frase. Releio. O Goldman Sachs é, para o Presidente da República, “o topo da vida empresarial”. Este é o toque… Nem o honesto, probo, afetuoso Marcelo consegue evitar admiração ao falar do Goldman Sachs. “O topo”, dize ele. Algo quase inalcançável, colocado lá nas alturas, ao nível do divino.
Nem o católico praticante, cheio de entusiasmo pela consciência social do Papa Francisco, subscritor das críticas da Igreja aos crimes do mundo financeiro capitalista, olha para o Goldman Sachs sem deixar escapar admiração, respeito e, até parece, temor reverencial.
Há demasiadas boas pessoas complacentes por impotência, cobardia, cegueira, ignorância, necessidade ou hipocrisia com o rosto descarado do mais puro e destrutivo mal. E também é por isso que este mundo, maravilhoso mas com doença maligna, não se cura.



* Jornalista e articulista do Diário de Notícias.
Este texto foi publicado no Diário de Notícias de 19 de julho de 2016.

www.odiario.info

22
Jul16

PIER PAOLO PASOLINI: POESIA E PENSAMENTO POLÍTICO – por MANUEL SIMÕES

António Garrochinho


(1922 – 1975)

Em 4 de Março de 2014 publicou o blogue o meu texto “Pier Paolo Pasolini: paixão e ideologia”(1), no qual se referia sobretudo o percurso de vida do grande cineasta, poeta, ensaísta, dramaturgo e romancista, morto tragicamente na madrugada de 2 de Novembro de 1975. Retornando agora ao autor de “As cinzas de Gramsci”, aqui ficam algumas considerações sobre a sua poesia e a ideologia que lhe está subjacente.

                                               *

A primeira poesia de Pasolini (1922-1975), escrita em dialecto friulano, evidencia o experimentalismo linguístico que desde sempre ocupou o poeta, como operação cultural que precedia a operação poética. Como quem se sente atrofiado numa civilização em crise (também linguística), o autor propõe-se saltar o obstáculo recorrendo ao dialecto, usando-o como “língua mais próxima do mundo” rural e arcaico, pré-capitalista e dialectal, não contaminado pelo consumismo, aspecto que constituirá o sinal distintivo da sua grande poesia.

Entretanto dá-se a descoberta de Marx e dilui-se a carga narcisista. L’usignolo della Chiesa Cattolica(“O rouxinol da Igreja Católica”) é, neste sentido, um livro de charneira na sua evolução poética, a passagem de uma perspectiva filológica e linguística à consciência ideológica e à pesquisa de um «espírito lógico e historiográfico» (Paixão e ideologia, 1960). Não surpreende, portanto, que o poema Le ceneri di Gramsci (1957) seja invadido por uma densidade histórica e que aluda ao mundo «orgulhoso e perdido» que se seguiu a 1945. Aqui confluem os aspectos do drama não resolvido a que se refere o próprio Pasolini no seu famoso ensaio “La libertà stilistica”: a crise aberta pelo marxismo na consciência do intelectual burguês; a proposta de uma “racionalidade” em sentido anti-tradicionalista; e o subproletariado romano como problema social e como “pureza” e “inocência” ameaçadas pelo desenvolvimento.

Não se trata, porém, de continuar a tradição progressista do racionalismo e do “realismo crítico” da arte burguesa proposto por Lukács, mas sim de recusar “este” progressismo que o poeta considera corruptor e causa da aculturação que alastrou pela sociedade italiana. Certos temas continuam latentes em La religione del mio tempo(1961), como, por exemplo, os da Resistência, dos escombros e do pranto que se reflecte «neste dias/ em que se levanta o doloroso espanto/ de saber que toda aquela luz/, pela qual vivemos, foi apenas um sonho/ injustificado, não objectivo, fonte/ agora de solitárias, vergonhosas lágrimas». Pasolini repropõe agora a relação antitética entre o “seu” povo e a sociedade que o confina, contraposição explícita entre a “religião” dos subproletários e a “irreligiosidade” do neo-capitalismo e da Igreja. Neste âmbito se inscreve o poema “A um Papa” (pio XII), modelo de poesia-testemunho entre neo-realismo e neo-vanguarda e ponto de partida para alguns dos temas que tratará posteriormente.

Porventura é aqui que se inicia a ruptura com o passado poético e se inscreve uma certa agressividade polémica, por vezes provocatória, e que explodem, de forma decisiva, em Poesia in forma di rosa (1964), fio condutor da sua poética. Uma tal operação resolve-se na auto-condenação («aceito toda a culpa») e no sarcasmo com que denuncia a “fraqueza” dos que «não foram capazes/ de chegar até ao fim». A ironia adquire tonalidades trágicas, consciência da esperança naufragada com a “partida” dos partigiani e a implementação da «social-democracia nascente». Fixa-se então a poética pasoliniana como cristalização de um momento de luta que gradualmente se foi diluindo e degradando: «Quero ver quem tem a coragem de dizer-lhes/ que o ideal que arde secreto nos seus olhos/ se extinguiu, pertence a outro tempo, que os filhos// dos seus irmãos já há anos não lutam/ e que a história cruelmente nova/ trouxe outros ideais, os corrompeu tranquilamente».

O tom provocatório acentua-se, por isso, posteriormente. Basta recordar um famoso, polémico e longuíssimo poema contra os estudantes , escrito em 1968 e evocando um recontro com a polícia: «Vocês têm cara de meninos-bem./ Odeio-vos como odeio os vossos pais./ Quem sai aos seus não desmente […]. Quando ontem em Valle Giulia tiveram recontros/ com os polícias,/ eu simpatizava com os polícias./ Porque os polícias são filhos dos pobres». Estes aspectos polémicos  miram sobretudo a oposição política italiana, a qual, segundo Pasolini, depois de 1945, só procurou integrar-se na ortodoxia: «Ah! bárbaros, meus únicos amigos,/ nenhum homem de Igreja destruiu jamais uma Igreja;/ a luta travou-se sempre entre a ortodoxia velha e a nova» (Trasumanar e organizzar, 1971).

E a polémica, como escândalo, insinua-se por entre os versos de La nuova gioventù (1975), onde o poeta volta a usar, intencional e simbolicamente, o dialecto friulano à mistura com a língua italiana, isto porque o universo campesino acabou por perder a sua “pureza” inicial, uma vez assimilado à cultura burguesa e à sociedade de consumo. Escreveu Pasolini em Scritti Corsari (1975): «o verdadeiro fascismo, já o disse e repito-o, é o da sociedade de consumo e os democratas-cristãos, mesmo que não se dêem conta disso, acabaram por ser os reais e autênticos fascistas de hoje». E neste fundamental livro de ensaios, teve ainda o autor ocasião para analisar o caso português: «Se o seu fascismo tivesse que prevalecer, seria o fascismo de Spínola, não o de Caetano, isto é, seria um fascismo ainda pior do que o tradicional, mas já não seria fascismo. Seria qualquer coisa que já na realidade vivemos…».

Com impressionante ardor cantou polemicamente Pasolini os seus temas segundo uma orientação nacional-popular gramsciana, cujo peso interfere decididamente no seu itinerário poético. Por vezes a sua poesia é panfletária, certamente, mas também nítida demonstração do laboratório intelectual (com uma singular e atípica colocação teórica, a rebentar de heteredoxia) de um dos maiores poetas do nosso tempo.

(texto extraído, com variantes, da introdução à antologia “Pasolini, poeta”, 1978)

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(1) Clicar em:

aviagemdosargonautas.net
22
Jul16

ALGARVE - LOULÉ - Presidente da República na homenagem à escritora Lídia Jorge no Cine-Teatro Louletano

António Garrochinho



Marcelo Rebelo de Sousa presidiu à cerimónia de homenagem à escritora algarvia, promovida pela Câmara Municipal de Loulé.
O Presidente da República sublinhou na altura o talento de “alguém que nunca deixou de ser fiel às suas raízes e que por causa delas escreveu para o mundo”.
Apesar dos múltiplos prémios já atribuídos a Lídia Jorge, tanto em Portugal como no estrangeiro, esta Medalha de Honra entregue pelo município de Loulé terá sido, segundo o Presidente, o mais acarinhado pela escritora.











































planetalgarve.com

22
Jul16

Trump assume-se como "a voz" dos EUA que quer "consertar"

António Garrochinho

Em Cleveland, Donald Trump aceitou ser candidato à Casa Branca. 

No discurso que fechou a convenção do Partido Republicano defendeu que os EUA "não se podem dar ao luxo de serem politicamente corretos"


REGISTO AUDIO

Reportagem da enviada especial da TSF Judith Menezes e Sousa



A América inventou o politicamente correto mas o candidato "da lei e da ordem" , como se assume o empresário Donald Trump, decreta que isso já não é viável.


REGISTO AUDIO



Donald Trump aceita a nomeação

"Já não nos podemos dar ao luxo de ser tão politicamente corretos", disse o candidato escolhido pelo Partido Republicano, para concorrer à Casa Branca.

Trump afirmou que "conhece bem o sistema e por isso pode "consertá-lo".

O milionário prometeu levar o partido Republicano "de volta à Casa Branca" e disse que " humildemente" aceita a "nomeação para a presidência dos Estados Unidos",

De Hillary Clinton , a rival democrata, que deverá ser nomeada na Convenção da próxima semana, em Filadélfia, Donald Trump diz que deixou "um legado de morte, destruição, terrorismo e fraqueza", enquanto Secretária de Estado.

E acusa-a de ser apenas "uma marioneta" nas mãos dos grandes interesses que "puxam os cordelinhos".

A plateia da Convenção gritou."lock her up" (prendam-na), mas Trump fez uma pausa, encolheu os ombros e remeteu a sentença para as presidenciais:

"Vamos derrotá-la em Novembro", disse, numa referência à ida às urnas marcada para o dia 8.

O candidato republicano manifestou a convicção de que irá buscar votos entre os apoiantes do outro outsider, Bernie Sanders, o rival de Hillary, nas primárias democratas.

"Os apoiantes dele vão juntar-se ao nosso movimento porque nós vamos resolver o problema que eles querem, dos acordos comerciais", afirmou Trump.

Ao longo de uma hora, Donald Trump, fez soar a música que a plateia queria ouvir: sem concretizar, prometeu renegociar os tratados comerciais "responsáveis pela perde de postos de trabalho", derrotar o Daesh,,baixar impostos, garantir a posse de arma, criar empregos, travar a imigração ilegal com um muro.

"Vamos construir um grande muro para pôr fim à imigração ilegal, para pôr fim aos gangues e à violência, para impedir a entrada da droga", disse pelo meio de fortes aplausos e de gritos "Build the wall/Construam o muro".

Para dentro do Partido Republicano, garantiu que, se for presidente vai nomear um juiz para o Supremo que seja "judicialmente conservador".

Para fora, deu voz a uma nova atitutde americana no mundo:os aliados que se cuidem:
"Os países que estamos a proteger, com um imenso peso para nós, serão chamados a pagar parte deles", prometeu o candidato.

"América primeiro e em primeiro", foi a expressão mais repetida por Donald Trump que prometeu ser "a voz" dos americanos, por que, disse, entrou na arena política "para defender os indefesos".

Trump foi apresentado pela filha Ivanka, que iniciou uma nova linha de argumentação a pensar no eleitorado feminino e afro-americano, garantiu que o pai "não vê cores, nem géneros", apenas mérito.

Esta estratégia já tinha resultado, durante a Convenção, na presença constante, na tribuna, de mulheres e de vozes ligadas às comunidades afro-americana e latina.

Na intervenção Donald Trump agradeceu o apoio da Igreja Evangélica e prometeu defender os direitos da comunidade LGBT, agradecendo à plateia os aplausos a essa referência.

A festa ao jeito Trump terminou com a tradicional chuva de balões vermelhos, azuis e brancos ao som de "You Can't Always Get What You Want" dos Rolling Stones.

Até parecia uma resposta aos republicanos que preferiam outro candidato.


www.tsf.pt
22
Jul16

Orquestra Clássica do Sul no Revelim de Santo António em Castro Marim | 30 de julho

António Garrochinho



O Revelim de Santo António, em Castro Marim, recebe, no próximo dia 30 de julho (sábado), pelas 22h00, com entrada livre, um concerto do Ciclo “Clássicos Light” – Folclore Europeus, apresentado pela Orquestra Clássica do Sul.
O programa é composto por obras de Freitas Branco, Fauré, Mendelssohn, Albeniz, Vaughan Williams, Glazunov e Bártok, sob a direção musical de Rui Pinheiro, maestro titular da Orquestra Clássica do Sul.
A Orquestra Clássica do Sul, assim designada desde 2013, foi fundada em 2002, como Orquestra do Algarve, e é composta por músicos de 12 nacionalidades. O seu objetivo é consolidar a sua implementação nas regiões algarvia e andaluza e alargar a sua atividade às regiões do Alentejo e Península de Setúbal, promovendo a música erudita e a cultura, reforçando a relação com o público e alcançando novos públicos.
A Câmara Municipal de Castro Marim é entidade associada da Orquestra Clássica do Sul (Associação Musical do Algarve), à semelhança de diversas câmaras municipal do Algarve e do Alentejo, entidades regionais e Universidade do Algarve e de Évora.


planetalgarve.com
22
Jul16

ALGARVE - PORTIMÃO - PSP trava autores de pânico nas ruas de Portimão

António Garrochinho



Esta madrugada, pelas 04h00, foram realizadas algumas chamadas de populares denunciando que se ouviam disparos em diversos locais na cidade de Portimão. De imediato a PSP ativou os meios necessários, de várias valências, tendo vindo a intercetar uma viatura com dois ocupantes que, em flagrante, procediam ao rebentamento de artifícios pirotécnicos, atirando-os pelas janelas da viatura em andamento.
Ao serem fiscalizados verificou-se que se encontrava uma caixa de cartão no seu interior, contendo 54 artifícios pirotécnicos de divertimento e 3 “bombas” de arremesso, situação esta que constitui infração ao Regime Jurídico das Armas e Munições.
De salientar ainda que a equipa de trânsito submeteu o condutor da viatura ao teste de alcoolémia, tendo acusado uma TAS de 0,71 g/L.

planetalgarve.com
22
Jul16

Pokemon, o jogo que traz espiões para dentro de casa

António Garrochinho


por Sergey Kolyasnikov (@Zergulio)
'.Pode falar-me do "Pokemon Go"?

Já dei três entrevistas sobre isso, de modo que agora tenho de me aprofundar nas fontes primárias.
  • Programador do jogo: Niantic Labs. É uma start-up da Google. Os laços da Google com o Big Brother são bem conhecidos, mas irei um pouco mais fundo.
  • A Niantic foi fundada por John Hanke, o qual fundou a Keyhole, Inc. – um projecto de mapeamento de superfícies cujos direitos foram comprados pela mesma Google e utilizados para criar o Google-Maps, o Google-Earth e o Google Streets.
  • E agora, atenção, observe as mãos! A Keyhole, Inc. foi patrocinada por uma empresa de capital de risco chamada In-Q-Tel , que é uma fundação oficialmente da CIA estabelecida em 1999.
As aplicações mencionadas acima resolvem desafios importantes:
  • Actualização do mapeamento da superfície do planeta, incluindo estradas, bases [militares] e assim por diante. Outrora tais mapas eram considerados estratégicos e confidenciais. Os mapas civis continham erros propositais.
  • Robots nos veículos da Google Streets olhavam tudo por toda a parte, mapeando nossas cidades, carros, caras...
Mas havia um problema. Como espiar dentro dos nossos lares, porões, avenidas com árvores, quartéis, gabinetes do governo e assim por diante?

Como resolver isso? O mesmo estabelecimento, Niantic Labs, divulgou um brinquedo genial que se propagou como um vírus, com a mais recente tecnologia da realidade virtual.

Uma vez descarregada a aplicação e dadas as permissões adequadas (para acessar a câmara, microfone, giroscópio, GPS, dispositivos conectados, incluindo USB, etc) o seu telefone vibra de imediato, informando acerca da presença dos três primeiros pokemons! (Os três primeiros aparecem sempre de imediato e nas proximidades).

O jogo exige que você dispare para todos os lados, atribuindo-lhe prémios pelo êxito e ao mesmo tempo obtendo uma foto da sala onde está localizado, incluindo as coordenadas e o ângulo do telefone.

Parabéns! Acaba de registar imagens do seu apartamento! Preciso explicar mais?

A propósito: ao instalar o jogo você concorda com os termos do mesmo. E não é coisa pouca. A Niantic adverte-o oficialmente:   "Nós cooperamos com agências do governo e companhias privadas. Podemos revelar qualquer informação a seu respeito ou dos seus filhos...". Mas quem é que lê isso?

E há o parágrafo 6:   "Nosso programa não permite a opção "Do not track" ("Não me espie") do seu navegador". Por outras palavras – eles o espiam e o espiarão.

Assim, além do mapeamento alegre e voluntário de tudo, outras oportunidades divertidas se apresentam.

Por exemplo: se alguém quiser saber o que está a ser feito no edifício, digamos, do Parlamento? Telefones de dúzias de deputados, pessoal da limpeza, jornalistas vibram: "Pikachu está próximo!!!" E cidadãos felizes agarrarão seus smartphones, activarão câmaras, microfones, GPS, giroscópios... circulando no lugar, fitando o écran e enviando o vídeo através de ondas online...

Bingo! O mundo mudou outra vez, o mundo está diferente.

Bem vindo a uma nova era. 
18/Julho/2016

Ver também 
  • Casos insólitos 
  • Mais de um milhão de downloads do Pokemon em Portugal 

  • PSP lança manual que ensina a caçar Pokémons em segurança

    A versão em inglês encontra-se em www.fort-russ.com/2016/07/pokemons-in-every-yard-every-military.html 


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
  • 22
    Jul16

    Paratíssima, o festival que convida à caça à obra de arte

    António Garrochinho


    O Largo de São Miguel vai servir de passerelle a modelos de alta costura 



    Até domingo à noite, há arte contemporânea para descobrir entre o Largo do Chafariz de Dentro e a Praça do Martim Moniz, em Lisboa.

    Só na segunda-feira de manhã voltará a haver lençóis estendidos no Largo de São Miguel, em Alfama, Lisboa. Até lá é tempo de Paratissima, festival de arte urbana que se estende quase por três quilómetros, entre o Largo do Chafariz de Dentro e a Praça do Martim Moniz. Iniciativa do coletivo Ebano, a ideia é partir numa caça à obra de arte enquanto se descobre o património de bairros como Alfama, Castelo e Mouraria.

    O desafio lançado aos mais de 300 artistas participantes foi "usarem a cidade, mas não como se fosse uma galeria", explica Chiara Pussetti, que, juntamente com Vítor Barros e Fabrice Ziegler integram o coletivo Ebano, acrónimo de Ethnography-based Art Nomad Organization, que tem como um dos principais objetivos trazer a arte para o espaço público ligando a prática artística e a pesquisa etnográfica.


    Por isso, durante meses visitaram a extensa freguesia de Santa Maria Maior com os artistas, oriundos de dez nacionalidades. "A maior parte dos artistas decidiram conduzir as pessoas à descoberta das obras de arte no percurso e assim a descobrir o próprio património da cidade. É um pouco uma caça à obra de arte completamente integrada no percurso", refere Chiara. Assim, há arte no espaço público, mas também em centros culturais, coletividades, ginásios.

    A integração das obras de arte foi feita "com todo o respeito pelos moradores, pelas habitações particulares e pelos licenciamentos necessários", salienta. "Não se pode colar, não se pode pregar, não se pode fazer absolutamente nada no espaço público sem a devida autorização", explica, colocando em evidência a dificuldade da intervenção artística no espaço público.

    A solução passou mesmo por muita criatividade. "Tivemos de inventar uma a uma as soluções de instalação para as quase 300 obras de arte incluídas nesta primeira edição da Paratissima em Portugal, por forma a não danificar nada e a não deixar qualquer tipo de marca no território", conta.

    Na verdade, algumas marcas vão ficar. Ou melhor, obras. Como por exemplo uma pintura mural da artista Ana Cristina Dias, na parede de uma casa particular na Rua de São Miguel. As lembranças de criança e as andorinhas de Lisboa recordadas pela proprietária à artista ganharam forma e ali ficarão enquanto a casa for sua.

    A mesma sorte poderá não bater à porta dos moradores das Escadinhas da Achada. Quando a artista brasileira Priscilla Bailarin visitou o local, perguntou aos moradores qual o era o desejo urbano deles. Rapidamente chegaram a uma resposta coletiva: desejavam que o maravilhoso céu de Lisboa chegasse à Terra, ao chão da sua rua. E Priscilla fez-lhes a vontade, utilizando tintas especiais, removíveis e que não alterassem a calçada. O inesperado aconteceu quando uma senhora se juntou à artista e lhe pediu para pintar cinco estrelas naquele céu, uma por cada pessoa da sua família que já tinha morrido. E outros moradores seguiram-lhe o exemplo. Agora, os moradores não querem perder aquele céu terreno das Escadinhas da Achada. A decisão, essa, está nas mãos da Câmara Municipal de Lisboa.



    Um festival democrático

    Sem seleção, totalmente democrático - quem se pagou os 10 euros e se inscreveu participa -, a curadoria dos três elementos do Ebano foi colaborativa com os artistas oriundos de dez nacionalidades. Fruto da visita ao espaço e das conversas com os moradores, de forma natural foram-se criando zonas temáticas. Chiara exemplifica: "a parte mais baixa de Alfama, junto ao Chafariz de Dentro, tem obras mais ligadas às questões populares e à identidade do bairro, mas com alguns momentos de rutura: vamos ter alta costura em Alfama". A razão é simples: mais uma vez, por desejo dos moradores.

    Por isso, no Largo de São Miguel, o estendal ficará sem lençóis até segunda-feira. Mas mantém-se e as molas seguram fotografias. Será ali que todos os dias, às 19.00, haverá castings ao vivo e sessões fotográficas com profissionais da Vogue Portugal. E também haverá desfiles de moda, hoje e amanhã, às 21.30, com os modelos a prepararem-se ali mesmo, no balneário público.

    No outro extremo do percurso, na Praça do Martim Moniz, a temática é totalmente diferente: "todos os artistas que se instalaram na Mouraria, tendencialmente estão ligados ou têm uma mensagem ligada à questão da multicultura, da imigração, dos refugiados". É o caso de Takoua Ben Mohamed, tunisina, de 24 anos, a viver desde os oito em Roma, onde a família se refugiou fugindo da ditadura tunisina. Ilustradora de banda desenhada e jornalista, com um trabalho com um cariz político muito forte, a artista confessa que é a primeira vez que expõe no espaço público. Situação que encara como "ocasião para chegar ao público em geral, para transmitir a sua mensagem na rua". Uma mensagem que brinca e ironiza com os estereótipos com que uma jovem tunisina se vê confrontada.

    Para além de arte, haverá também concertos todas as noites, às 21.30, no Pátio de Dom Fradique, e um lounge, com música mais calma, no Largo da Rosa. Com a adesão dos músicos de rua ao evento, em diversos pontos haverá também música. Outra surpresa poderá ser o encontro com Monas Lisas vivas, uma cortesia do grupo de teatro de rua As Joanas.

    www.dn.pt
    22
    Jul16

    Técnica minimamente invasiva evita cirurgia em idosos operados ao coração com problemas na válvula aórtica

    António Garrochinho




    Milhares de Portugueses são operados anualmente ao coração. Muitos deles, ao fim de algumas décadas, enfrentam a necessidade de uma segunda intervenção e estão a ser adotadas técnicas de vanguarda para evitar as reoperações. O anúncio é da Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular (APIC) da Sociedade Portuguesa de Cardiologia e surge no âmbito do Dia Mundial dos Avós que se celebra a 26 de julho.

    Em Portugal, todos os anos, cerca de 2500 idosos são operados ao coração devido à estenose aórtica, a doença cardíaca mais comum entre os avós e que se caracteriza por um desgaste da válvula aórtica. O tratamento da estenose aórtica passa por um implante de uma válvula nova através de cirurgia de peito aberto ou, de forma menos invasiva, de um implante percutâneo, que permite a colocação da válvula cardíaca por uma incisão de meio centímetro.

    De acordo com Rui Campante Teles, cardiologista de intervenção e Presidente da APIC, “nos últimos anos, este número de intervenções tem vindo a crescer, já que com o aumento da esperança média de vida, muitos destes doentes ao fim de uma ou duas décadas têm que enfrentar uma segunda intervenção de substituição da válvula artificial degenerada”.

    E acrescenta: “Em Portugal, esta intervenção é atualmente feita por via minimamente invasiva com menor risco para os doentes e com uma recuperação mais rápida. Só em 2015, uma em cada vinte intervenções por via percutânea deveu-se precisamente a uma substituição de uma válvula artificial degenerada, com resultados muito bons para os doentes, que veem assim recuperada a sua qualidade de vida”.

    A estenose aórtica é uma doença que se caracteriza pelo aperto da válvula aórtica, cuja função é evitar que o sangue bombeado pelo coração volte para trás. Quando existe este estrangulamento o sangue passa com dificuldade, provocando cansaço, dor no peito e desmaios.

    Em todo o mundo, mais de 300 mil pessoas sofrem de estenose aórtica grave e, em Portugal, esta patologia atinge 30 mil pessoas.

    As melhorias produzidas pelos medicamentos são muito limitadas e não evitam as complicações mais graves provocadas pela exaustão cardíaca que, após os primeiros sintomas e nos apertos de alto grau, conduz à morte de metade dos doentes no primeiro ano. O tratamento é feito por isso através do implante da válvula aórtica através de cirurgia aberta ou por cateterismo.

    Em Portugal, o tratamento das válvulas por cateterismo (o implante percutâneo da válvula), está a aumentar muito, acompanhando o panorama mundial. Este método permite o implante de uma válvula cardíaca através de um pequeno tubo que é introduzido na artéria, não sendo necessário a abertura da caixa torácica, facilitando muito a recuperação e diminuindo o risco.


    planetalgarve.com
    22
    Jul16

    Reformas. Governo quer pôr militares a trabalhar mais anos

    António Garrochinho


    A ministra da Administração Interna está empenhada em equiparar os militares aos polícias  

    Forças Armadas consideram o projeto "a todos os níveis inaceitável". GNR receia "atentado à condição militar"

    O governo está a preparar um conjunto de alterações profundas ao regime de reformas dos militares e dos polícias que prevê a redução de direitos históricos dos primeiros. O que está a causar mais polémica é o aumento da idade da reforma para mais um ano e dois meses - igual aos polícias - quebrando uma das mais fulcrais compensações pela perda de direitos e exigências que a "condição militar" impõe. Na GNR pode estar em causa uma diminuição do valor das pensões.

    Um documento de trabalho a que o DN teve acesso, foi distribuído ao mais alto nível para pareceres reservados e já mereceu um chumbo absoluto dos peritos das Forças Armadas (FA) que o analisaram: "O preconizado no projeto diploma é a todos os níveis inaceitável e incompreensível à luz da justiça, da equidade, da confiança no Estado de Direito, e gerador de profunda instabilidade no seio das Forças Armadas, comprometendo as condições para exercício do Comando, a todos os níveis e, designadamente, para os mais elevados responsáveis da hierarquia militar", advertem.

    A alteração para mais um ano da idade da reforma teria um "efeito dominó" para toda a estrutura militar, implicando aumento dos tempos em cada um dos postos, nas promoções, progressão na carreira e no período atualmente de cinco anos que antecede a reforma.

    O diploma partiu da iniciativa da ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, que assumiu publicamente querer equiparar os regimes da PSP e da GNR, colocando polícias e militares ao mesmo nível o que já está a provocar mal-estar na Guarda. No entanto, o documento que foi preparado vai mais longe, alargando-o aos "militares das Forças Armadas, pessoal militarizado da Marinha e do Exército e ao pessoal do Corpo da Guarda Prisional" e envolvendo outros quatro ministérios. O da Defesa Nacional, o da Justiça e, está claro, o das Finanças e o do Trabalho.

    De acordo com o preâmbulo do referido projeto-lei, pretende-se "proceder a uma uniformização das condições e das regras de atribuição e de cálculo das pensões de aposentação e de reforma e de pensão de velhice entre os militares das FA, da GNR, da Polícia Marítima e outro pessoal militarizado, dos agentes com funções policiais da PSP e do pessoal do Corpo da Guarda Prisional".

    Ao que o DN apurou junto a fonte governamental que está a acompanhar o processo, o ministro da Defesa, José Azeredo Lopes é sensível aos argumentos dos responsáveis das FA e terá dado sinal que queria ficar de fora desta "revolução". Mas Constança Urbano de Sousa tem demonstrado que não vai poupar os "seus" militares da GNR. Na sua audição parlamentar do passado dia 12 de julho anunciou que ia ser criado um novo diploma que "de forma justa e equitativa, estabeleça um regime comum de acesso à reforma dos polícias e militares". Contactado pelo DN, o gabinete da Ministra não quis avançar com dados novos. "Até decisão final, é prematuro avançar com qualquer outro comentário", disse fonte oficial.

    Na GNR espera-se o pior. Um grupo de oficiais na reserva e reforma, organizados numa estrutura com sede no Comando Geral - Grupo de Estudos e Reflexão da Guarda - receia um "atentado à condição militar". Um dos seus elementos, o coronel Carlos Gervásio Branco sublinha que "querer nesta matéria igualizar os militares a outros servidores do Estado, sem desprimor para nenhum, para além de ferir o princípio da igualdade que manda tratar de forma diferente o que é diferente, é simultaneamente um desrespeito pela condição militar consagrada em lei da Assembleia da Republica".

    Receia-se que o plano do governo venha agravar ainda mais a situação dos centenas de militares da GNR que, desde 2014 têm recorrido à justiça para serem reembolsados de cortes, à margem da lei, nas suas pensões. Em 2015, o anterior governo publicou um decreto lei que ordenava o acerto de contas (as reduções vão desde os 300 euros aos 750), mas até agora não foi cumprido pela Caixa Geral de Aposentações (CGA), sob o pretexto de estar a "aguardar instruções do governo". A grande preocupação é que essas "instruções" sejam as do projeto de decreto-lei e que os cortes sejam legitimados.


    www.dn.pt
    22
    Jul16

    Guterres, o único que não teve um voto contra

    António Garrochinho




    Os 15 do Conselho de Segurança disseram se "encorajam", "desencorajam" ou não têm opinião sobre cada um dos candidatos

    Straw polls. Ou seja, "votos de palha". Assim se designa, na gíria da ONU, a primeira votação, que ontem teve lugar no Conselho de Segurança sobre as doze candidaturas a secretário-geral das Nações Unidas.

    Esta é uma votação destinada, acima de tudo, a eliminar candidatos. Ou seja, a dizer a quem não tem condições de prosseguir que não deve prosseguir, porque entre os 15 países com assento no Conselho de Segurança (cinco permanentes + dez rotativos) os apoios não são suficientes.

    Cada representante fez, em relação a cada um dos doze candidatos, uma de três escolhas: "encorajamento"; "desencorajamento"; e "sem opinião". E o resultado do antigo primeiro-ministro português António Guterres - ontem na Índia em campanha - foi de longe o melhor: obteve 12 votos de "encorajamento"; zero de "desencorajamento"; e três "sem opinião". Foi aliás, de todos os candidatos, o único que não teve um voto de "desencorajamento". Um resultado, segundo fontes diplomáticas consultadas pelo DN, igual ao do atual secretário-geral da ONU, o sul-coreano Ban Ki-moon, no seu processo de seleção para o cargo (foi eleito pela primeira vez em 2006 e reeleito - desta vez sem concorrência - em 2011).

    Não se soube que país votou o quê e em quem mas soube-se a distribuição dos votos pelo menos em relação àqueles que a partir de agora serão os cinco principais candidatos.


    Danilo Turk, ex-presidente da Eslovénia, teve 11 votos de "encorajamento", dois de "desencorajamento" e dois de "não opinião"; Irina Bokova, búlgara, chefe da UNESCO, ficou-se pelos nove "encorajamentos", quatro "desencorajamentos" e dois "não opinião"; Vuk Jeremic, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros da Sérvia, obteve nove votos de "encorajamento", cinco de "desencorajamento" e um de "não opinião". E Helen Clark, a ex-primeira-ministra da Nova Zelândia e atual chefe do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), oito "encorajamentos", cinco "desencorajamentos" e dois votos de "não opinião".

    Esta foi uma primeira ronda de votações, a segunda será no final deste mês e a terceira, presumivelmente, em setembro (em agosto a ONU basicamente fecha para férias). Em outubro, mês em que a Rússia presidirá ao Conselho de Segurança da ONU, este órgão deverá definir finalmente o candidato único a apresentar à Assembleia Geral, órgão onde têm assento todos os países da ONU. Será a Assembleia Geral a proceder formalmente à sua eleição e o eleito iniciará funções no início de janeiro de 2017.

    Esta primeira straw poll indica, para já, que não parece estar a fazer caminho a tese - que se pensava dominante - segundo a qual o próximo chefe das Nações Unidas teria de ser necessariamente uma mulher (em privado Guterres chegou a considerar que esse era o seu principal handicap, lamentando a rir entre amigos não ter tido tempo para fazer uma operação de mudança de sexo).

    Por outro lado, esta primeira sondagem revela uma preferência clara por personalidades com currículo dentro da estrutura da ONU e nas suas agências mais importantes (o ACNUR, no caso de Guterres, ou a UNESCO e o PNUD, no caso de Bokova e Helen Clark).


    www.dn.pt

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