Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

orouxinoldaresistencia

POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

orouxinoldaresistencia

17
Ago16

Escravidão e liberdade no seio da antiguidade

António Garrochinho


Bem antes da invenção das máquinas a vapor, a principal fonte de energia produtiva era o corpo humano.
Isso transformava a liberdade assalariada em exceção e o uso de homens cativos, em regra





É difícil precisar quando se deu a origem da escravidão. Alguns historiadores sugerem que a escravidão humana pode ter decorrido da domesticação de animais, fato que ocorreu por volta de 8000 a.C. na região do Crescente Fértil, no Oriente. Porém, os primeiros documentos revelando a existência de escravos são posteriores, oriundos da Suméria, região meridional da Mesopotâmia, e datados de 2000 a.C..



Sociedades economicamente dependentes da escravidão,
como o sul dos E.U.A e o Brasil, até o séc. XIX,
foram consideradas genuinamente escravistas.


Embora as sociedades que se desenvolveram na Mesopotâmia e no Egito antigos tenham conhecido e praticado a escravidão, não são usualmente consideradas pelos estudiosos modernos como "sociedades escravistas", rótulo que, por sua vez, é aplicado a Itália e Grécia clássicas, além de Brasil, o Sul dos Estados Unidos e o Caribe inglês e francês, entre os séculos XV e XIX. Como se vê, trata-se de um conceito que aponta para uma linha de continuidade entre o escravismo antigo e moderno, e desvela uma tendência de longa duração histórica, qual seja, a de que o trabalho compulsório, e sobretudo a escravidão, foi a regra, não a exceção, para obtenção de mão-de-obra. Se há algo peculiar nessa história é o trabalho assalariado livre, cuja propagação e legitimação são relativamente recentes. A escravidão não desapareceu da Europa durante a Idade Média e continuou vigente até o século XIX nas colônias européias de além-mar. E ainda hoje ouvimos falar de "condições de trabalho análogas à escravidão"...

CIDADANIA FORMADORA DA ESCRAVIDÃO

De acordo com o historiador norte-americano Moses I. Finley, os três componentes da escravidão são: a posição do escravo como propriedade, a totalidade do poder do senhor sobre ele e a falta de laços de parentesco, componentes que possibilitavam ao proprietário vantagens com relação a outras formas de trabalho involuntário. Para Finley, uma sociedade é genuinamente escravista quando a escravidão torna-se uma instituição essencial para a sua economia e seu modo de vida, no sentido de que os rendimentos que mantêm a elite dominante provêm substancialmente do trabalho escravo. Para constituição de tal sociedade, menciona três fatores: a propriedade privada da terra e sua concentração em poucas mãos; o desenvolvimento dos bens de produção e a existência de um mercado para venda, e a ausência de mão-de-obra interna disponível, obrigando os agenciadores de trabalho a recorrer a estrangeiros. Essas condições teriam existido em Atenas, e outras comunidades gregas no século VI a.C., e em Roma desde o século III a.C..



Os mesopotâmios forneceram os primeiros registros de escravidão
sistemática dois milênios antes de Cristo. Abaixo, O mercado
de casamentos babilônico, de Edwin Long (1829 - 1891).



O fortalecimento da noção de cidadania foi a principal causa da ausência de mão-de-obra interna e conseqüente recurso a estrangeiros. Tanto em Atenas quanto em Roma, a abolição da escravidão de cidadãos por dívidas cortou um potencial suprimento de braços visando o trabalho para outrem. A posse da terra também passou a ser uma prerrogativa dos cidadãos: propriedade privada da terra e cidadania reforçavam-se mutuamente. Quando falamos de estrangeiros, portanto, não se trata necessariamente de uma questão étnica, mas essencialmente sociológica. Estrangeiro é aquele que está privado de participação política em uma comunidade, ainda que nela possa ter um papel econômico.

Em Roma encontramos escravos desempenhando as mais diversas funções no artesanato e na agricultura



Escrava grega, pintura do alemão
Max Nonnenbruch (1857 - 1922).



Em Atenas e nas cidades gregas, existiam poucas atividades reservadas exclusivamente a escravos, de modo que esses atuavam lado a lado com outros tipos de trabalhadores, nas cidades - em manufaturas de objetos de metal ou cerâmica - e nos campos - sobretudo na produção de azeite e vinho, artigos de valor comercial. Em geral, o serviço doméstico era reservado a escravos. O mesmo ocorria em Roma e cidades da Itália, onde encontramos escravos desempenhando as mais diversas funções no artesanato e na agricultura. Mas cabe lembrar que a exploração de terras cultiváveis em províncias do Império Romano - no Norte da África, Espanha, Gálias e Bretanha - não foi realizada predominantemente por meio de latifúndios escravistas, mas combinando escravidão e trabalho camponês dependente local. No Império Romano temos ainda uma peculiaridade: o uso de escravos e libertos pelos imperadores no serviço administrativo imperial. Em suma, embora juridicamente o escravo fosse classifi- cado como um objeto, uma coisa, do ponto de vista social, sua condição era muito variada.



Cerâmica grega do séc. V a.C. mostra Ájax, o menor, levando
Cassandra cativa, após a tomada de Tróia pelas forças gregas.


ESCADA PARA A LIBERDADE

Atualmente, é observável na historiografia sobre escravismo antigo uma ênfase na apresentação da escravidão como instituição social e não apenas como uma relação de propriedade. Um impulso nessa direção partiu da acolhida de estudos sociológicos e antropológicos que, muitas vezes, têm por foco as relações escravistas em sociedades africanas. Assim, por exemplo, o antropólogo Igor Kopytoff definiu a escravidão como "um processo de transformação de status que pode prolongar-se uma vida inteira e inclusive estender-se para as gerações seguintes", transformação que implica em o escravo ganhar uma nova identidade social atribuída pelo senhor. De maneira semelhante, o sociólogo Orlando Patterson, em amplo estudo comparativo, afirma que "escravização, escravidão e manumissão não são meros eventos relacionados; são um único e mesmo processo em diferentes fases". Em síntese, mais importante do que o status de propriedade, que caracteriza o escravo como mercadoria, é a trajetória do escravo, da escravização à possível liberdade.

Embora o escravo fosse classificado como objeto, sua condição era muito variada 

Esta perspectiva permite lançar luz sobre um fenômeno presente na escravidão grega e romana: a manumissão, isto é, a libertação do escravo. Estamos acostumados a entender escravidão e liberdade como termos completamente antagônicos, mas na Antiguidade essa constatação talvez não fosse tão imediata. Um breve olhar sobre a figura do liberto na Grécia e na Itália clássicas ajuda a problematizar esse ponto.

CLIENTES E LIBERTOS EM ROMA

A clientela é uma relação de dependência entre homens juridicamente livres. Esse tipo de relação social não foi exclusivo da Roma antiga, existindo em muitas sociedades antigas e medievais. Na sociedade romana, em que relações de clientelismo estabeleciam hierarquias informais entre o corpo cidadão, estar sujeito a uma série de obrigações e de costumes não era, portanto, privilégio dos libertos, de modo que se podem traçar algumas identidades com os ingênuos - os nascidos livres.

Como ressalta o historiador Fábio Faversani, "cliente e liberto são iguais no fundamental: são estimados - e se estimam - com uma posição social inferior em relação a seu patrono; estabelecem um vínculo duradouro com esse patronus ao qual deverão prestar benefícios em troca de algumas vantagens". Muda a forma de ingresso na relação: enquanto o cliente ingressa voluntariamente, o liberto o faz por necessidade.

É significativo, nesse sentido, que o grego Políbio, que escreveu no século II a.C. suas Histórias, em que narra a progressiva conquista da região mediterrânica pelos romanos, em algumas passagens traduza o termo latino clientes por apeleútheroi, que, no caso da Grécia, era aplicado aos libertos ainda dependentes de seus ex-senhores.



Gladiadores eram escravos das arenas, podendo conquistar
ao longo da vida grande status, fortuna e até liberdade.



Os gregos usavam termos específicos para os escravos manumitidos: apeleútheros(a) e exeleútheros(a), ambos derivados de eleútheros(a), "livre". Embora pareçam sinônimos à primeira vista, representam diferentes estatutos dos escravos libertados. As evidências literárias e epigráficas sugerem que o primeiro termo indicava "estar livre de (alguém)", enquanto o segundo caracterizava uma situação de liberdade plena. Estaríamos diante, assim, de gradações de liberdade, revelando resquícios de condição servil no estatuto de homem livre. O termo apeleútheros(a) revela a continuidade de relações de dependência entre senhores e escravos para além da manumissão, relações essas às vezes reguladas por leis. Por exemplo, o liberto via-se obrigado a continuar servindo o senhor ou seus familiares por um determinado número de anos antes de ser contemplado com a liberdade plena, ou seja, antes de tornar-se um exeleútheros(a). Essa prática perdurou no mundo grego para além do período clássico, como se percebe na inscrição citada abaixo, do começo do século II d.C., de Panticapaeum:

O liberto via-se obrigado a continuar servindo o senhor por um determinado número de anos antes de receber a liberdade plena

"Pereceste, Estratonico, firme em tua sabedoria e métodos sábios, deixando lágrimas para seu pai pesaroso. Amigo [philos] como que divino, estimado entre aqueles de outrora; inumeráveis gerações aprenderão tua encantadora sabedoria por meio dos livros. Sósias, o liberto [apeleútheros] erigiu esta estela em memória de seu próprio senhor, Estratonico, filho de Zeno."

O liberto aqui se refere ainda a Estratonico como seu "senhor", com o qual mantinha uma relação de amizade (philia). Em outras inscrições deparamo-nos com essa forma de apresentação de status indicando um vínculo de dependência. Mesmo depois de plenamente libertado, o liberto também deveria ter um prostatés, um cidadão que o representasse e protegesse, já que na Grécia o ex-escravo não adquiria de imediato a cidadania.

A relação entre manumissão e cidadania também foi um aspecto diferenciador da escravidão em Roma. Os romanos também tinham dois termos para designar o escravo manumitido: libertus(a) e libertinus(a). O primeiro ressalta a vinculação ao ex-senhor, agora patrono, a quem o escravo libertado devia operae (serviços) e obsequium (respeito). Já o termo libertinus qualifica o liberto do ponto de vista político, como portador de cidadania, em que pese suas gradações. Em Roma predominavam três formas de manumissão: pelo censo, isto é, inscrevendo-se o escravo entre os cidadãos no momento do recenseamento; por vindicta, quando a manumissão era intermediada por um magistrado, geralmente o pretor; e por testamento, quando o testador explicitava o desejo de ver livres seus escravos após sua morte. Todas essas formas implicavam um reconhecimento público da condição do ex-escravo, que agora passava a ser inscrito em uma das 35 tribos da cidade de Roma e tinha direito a voto nas assembléias, isto é, o liberto passava a deter não apenas uma liberdade pessoal, mas também uma liberdade cívica.

A legislação do imperador Augusto a respeito da manumissão introduziu fatores novos que passaram a determinar a condição de liberto. A lex Aelia Sentia, de 4 d.C., estipulou que o escravo que recebesse a liberdade antes dos trinta anos de idade não teria direito, mesmo se seu senhor fosse cidadão, à plena cidadania, ganhando o status de Latinus Junianus. Dessa forma, podia adquirir e transmitir propriedade, firmar contratos, mas não lhe era permitido transmitir seus bens a seus herdeiros naturais. A conseqüência dessa situação é clara: em termos de propriedade, o liberto continuava sob a dependência do patrono, para quem revertia o fruto de seu trabalho, ao mesmo tempo em que comprometia economicamente as suas gerações seguintes.


Escravidão e liberdade no seio da antiguidade  2ª parte

A escravidão começou a ser vista como instituição abominável
e desumana apenas após o Iluminismo, no séc. XVIII.
A revolução industrial no mesmo período tornou economicamente
plausível a busca por uma sociedade livre de escravos.


LIBERTOS, FORASTEIROS E LIBERTINOS

Os escravos manumitidos eram tidos como xenoi, estrangeiros, o que significava que não possuíam direitos políticos, não lhes era permitido possuir terras e casar com cidadãos e, ao menos em Atenas, pagavam um imposto especial. Libertos que se estabelecessem em Atenas eram registrados como metecos e como tais pagavam o metoikion (taxa que distinguia os metecos de outros estrangeiros e dos cidadãos), eram alistados para serviço militar e, caso fossem ricos, faziam contribuições monetárias à cidade. Se, por ventura, a polis reconhecesse a lealdade e generosidade de alguns libertos, esses podiam ganhar a isenção de impostos e até a cidadania. Registros de outras cidades gregas nas regiões de Fócis, Etólia, Tessália e Epiro indicam uma diferente condição de liberto se comparada àquela em Atenas, pois os libertos podiam ter terras e o direito à cidadania.

Escravos libertos eram tidos como estrangeiros em Atenas e pagavam impostos especiais 


Taça de prata do século II d.C.
dedicada aos deuses Mercúrio e
Maya pelo liberto P. Aelius Eutychus.

Essa divisão da categoria dos libertos devido a diferentes combinações de escravidão e liberdade é bem ilustrada por uma passagem dos Anais, do historiador latino Cornélio Tácito (55-120 d.C.). Narra ele, que, em 56 d.C., no conselho do imperador Nero, ocorreu uma discussão sobre uma decisão do Senado de conceder aos patronos o direito de revogar a liberdade dos libertos que se mostrassem ingratos (Anais, 13, 26-27), mas prontamente um grupo mostrou-se contrário à proposta com os seguintes argumentos: "Que a culpa de poucos devia ser-lhes pessoalmente danosa, mas sem retirar os direitos do conjunto. Pois este corpo era já muito numeroso. Dele provinha a maior parte das tribos, das decúrias, dos auxiliares de magistrados e sacerdotes e dos soldados alistados nas coortes urbanas. E grande parte dos cavaleiros e muitos senadores não tinham outra origem. Caso se separasse os filhos de libertos, o pequeno número dos homens nascidos livres seria evidente. Não fora em vão que os antigos, quando estabeleceram a divisão das ordens, consideraram a liberdade como bem comum. E tinham estabelecido dois meios de conferi-la, a fim de dar tempo ao arrependimento ou a um novo benefício. Todos aqueles a quem o patrono não tivesse conferido liberdade com as formalidades legais eram mantidos sob um certo vínculo de escravidão. Antes de se conceder a liberdade era necessário examinar os méritos com vagar, mas não revogar o que fora concedido". (Anais, 13, 27)

Havia um reconhecimento positivo do passado servil para a construção da liberdade

A renovação do corpo de cidadãos a partir da escravidão era, portanto, um mecanismo social comum à sociedade romana. É, contudo, difícil quantificar a regularidade da manumissão na Antiguidade greco-romana. Seria toda sociedade escravista, no fundo, indisposta à manumissão, como crêem certos pesquisadores? Talvez a questão seja mais de ordem qualitativa. Mesmo que os índices de manumissão fossem baixos, os escravos tinham como horizonte de expectativa a liberdade, ensejando determinadas estratégias para obtê-la.


SONHO DE LIBERDADE: A manumissão fornecia ao escravo a
possibilidade de libertação e incorporação ao império. Esse vínculo
com o senhor sugere um padrão mediterrâneo de escravidão.
Acima, Mercado de Escravos, de Gustave Boulanger (1824-1888).


SERVOS DE PAI E MÃE

Embora a escravidão e a servidão sejam consideradas formas diversas de obtenção de trabalho, guardam certas similaridades. Ambas eram geralmente hereditárias, com o status transmitido aos descendentes. Ainda que sejam consideradas instituições involuntárias, há também registros de casos em que indivíduos colocavam-se voluntariamente nessas condições subalternas para fins de sobrevivência. Do ponto de vista das diferenças, o servo não é propriedade do senhor; estava preso à terra que pertencia a outrem, prestando-lhe certas obrigações. Na Idade Média, os servos não tinham plena posse de patrimônio, cuja parte é detida pelo senhor e não transmitida a descendentes, e deviam taxas, como a formariage, paga após o casamento, revelando uma limitação de liberdade matrimonial.

Se, por um lado, não podemos equiparar o servo ao escravo, há que se notar que a servidão implicava num abuso corporal comparável àquele retratado nas evidências greco-romanas relativas à escravidão. Por exemplo, nos Capítulos do Projeto de Concórdia entre camponeses e seus senhores na Catalunha do século XV registrou-se a seguinte queixa: "Em muitas partes do dito principado de Catalunha, alguns senhores pretendem e observam que os ditos camponeses podem justa ou injustamente ser maltratados à sua inteira vontade, mantidos em ferros e cadeias e freqüentemente recebem golpes. Desejam e suplicam os ditos camponeses que isto seja suprimido e não possam ser mais maltratados por seus senhores, a não ser por meio da justiça".

MEU ESCRAVO, MEU AMIGO 

Os libertos no mundo grego e romano, a despeito de diferenças no tocante à obtenção de cidadania, compartilhavam um elemento comum e importante para a compreensão da mentalidade servil, que aparece materializada nas inúmeras inscrições encontradas na bacia do Mediterrâneo: um reconhecimento positivo do passado servil para a construção da liberdade. Além da inscrição do liberto grego Sósias, citada acima, podemos transcrever a inscrição conservada na tumba de um liberto em Pompéia, cidade italiana soterrada pelas cinzas do Vesúvio em 79 d.C.:

"Publius Vesonius Phileros, liberto [libertus] e Augustal, fez este monumento enquanto vivia para si e sua patrona, Vesonia, filha de Publius, e para Marcus Orfellius Faustus, liberto de Marcus, amigo."

Esta tumba contém três estátuas - das pessoas citadas na inscrição - e Phileros aparece vestindo uma toga, atributo de um cidadão romano. O título de Augustal era conferido àqueles indivíduos responsáveis pelo culto imperial nas cidades do Império. A tumba funcionava como um túmulo familiar, com Vesonia, a patrona do liberto, representando a fundadora da família, à qual Publius manifesta seu pertencimento. Os exescravos tornavam então públicas suas identidades a partir dos laços de dependência com seus senhores. Não há vergonha no passado servil, pelo menos entre aqueles libertos que lograram galgar uma projeção em suas comunidades.

Os estudos clássicos ainda estão presos a distinções que impedem uma visão mais inter-relacionada das sociedades antigas

Essa íntima associação entre escravidão e liberdade na Antiguidade greco-romana faz-nos refletir sobre a separação que ambos os conceitos sofreram na cultura ocidental, principalmente a partir do século XVIII, com a Revolução Francesa, e com o movimento abolicionista na Europa e Américas. Também nos leva a ponderar sobre a arbitrariedade das divisões que comumente aplicamos ao estudo do passado. As modalidades de manumissão na Grécia e Itália clássicas, com seus pontos de aproximação, não seriam indicativas de um "padrão mediterrânico de escravidão"?

Enfim, os estudos clássicos ainda estão presos a certas distinções que impedem uma visão mais inter-relacionada das sociedades antigas, de modo que estudos comparados são bem-vindos para compreender a complexidade de suas modalidades de trabalho compulsório e relações escravistas.

"HOMEM BOM, apesar de escravo, É LIVREO MAL, mesmo reinando, É UM ESCRAVO, e não o escravo de um único homem, mas - o que é pior - o escravo de tantos mestres quantos forem seus vícios."
Santo Agostinho


universodahistoria.blogspot.pt
17
Ago16

FOTO DO DIA

António Garrochinho


FOTO DO DIA
Um feliz instantâneo
A atleta da Coreia do Sul, Youngsik Jeoung concentra o seu olhar na bola, durante a partida de ténis de mesa onde foi medalha de bronze nos jogos olímpicos do Rio 2016
17
Ago16

RIO2016: POLÍCIA BRASILEIRA DETÉM PATRICK HICKEY, MEMBRO DO COMITÉ EXECUTIVO DO COI

António Garrochinho

A polícia brasileira deteve esta manhã, segundo vários meios de comunicação brasileiros, Patrick Hickey, membro do Executivo do Comité Olímpico Internacional.

O também presidente do Comité Olímpico da Irlanda foi detido onde estava hospedado, o Windsor Marapendi, na Barra da Tijuca, mas levado para o hospital, depois de dizer que se estava a sentir mal. Hickey sofreu um ataque cardíaco há seis meses.

Patrick Hickey é acusado de fazer parte de um esquema de venda ilegal de bilhetes destinados ao Comité irlandês e que não podiam ser vendidos, como explica Ricardo Barbosa, investigador do departamento anticorrupção:

“Além disso, outros ingressos vieram, diretamente, do Comité Olímpico da Irlanda, são nominais ao Comité Olímpico da Irlanda, não podiam estar na posse da THG e não poderiam ser objeto de venda a título de programa de hospitalidade.”

Deste a semana passada que várias pessoas foram detidas no âmbito deste processo. Também esta quarta hoje terão sido presos Ken Murray, Eamon Collins e Michael Glynn, da empresa Pro 10, que comercializa os bilhetes do Rio 2016.

Bilhetes para os grandes eventos olímpicos terão chegado a valores astrómicos. Como um deles, para a cerimónia de abertura, que chegou aos 8 mil dólares.


VÍDEO



pt.euronews.com
17
Ago16

Entrevista com o presidente da Síria, Bashar Al Assad

António Garrochinho



Traduzido por Vila Vudu
Damasco (Prensa Latina) Prensa Latina distribuiu a íntegra da entrevista exclusiva com o presidente da Síria Bashar Al Assad:

Prensa Latina:Sr. Presidente, obrigado por dar a Prensa Latina de Cuba a oportunidade histórica de transmitir o seu ponto de vista ao resto do mundo sobre a realidade na Síria. Como o senhor sabe, há muita desinformação sobre o seu país, sobre a agressão estrangeira que seu belo país está sofrendo.
Sr. Presidente, como o senhor avalia a situação militar atual da agressão externa contra a Síria, e quais os principais desafios das forças sírias em campo, para combater os grupos anti-governamentais? Se for possível, gostaríamos de saber sua opinião sobre as batalhas ou combates em Aleppo, em Homs.
Presidente Assad: Claro, os terroristas receberam muito apoio, de todo o mundo. Temos mais de cem nacionalidades que participam na agressão contra a Síria, com o apoio de certos países como a Arábia Saudita e Qatar com o seu dinheiro e da Turquia, com o apoio logístico e, claro, com o aval e supervisão dos países ocidentais, principalmente os Estados Unidos, França e Reino Unido, e alguns outros aliados.
Mas desde que os russos decidiram intervir no apoio legal ao Exército Sírio na luta contra os terroristas na Síria, principalmente contra a Frente al-Nusra e o ISIS e alguns outros grupos afiliados, os resultados têm pendido contra os terroristas, e o Exército Sírio tem feito muitos avanços em diferentes áreas na Síria.
E ainda estamos avançando, e o Exército Sírio está determinado a destruir e derrotar aqueles terroristas. O senhor mencionou Homs e Aleppo.
Claro, a situação em Homs, uma vez que os terroristas deixaram Homs há mais de um ano, a situação tem sido muito, muito melhor, mais estável.
Têm-se alguns subúrbios da cidade que foram infiltrados por terroristas. Agora, há um processo de reconciliação nas áreas em que ou os terroristas depõem armas e voltam à vida normal com a anistia que o Estado lhes garante, ou podem deixar Homs e mudar-se para qualquer outro lugar dentro da Síria, como o que aconteceu há mais do que um ano, no centro da cidade.
Para Aleppo é uma situação diferente, porque os turcos e seus aliados, como os sauditas e cataris perderam quase todos seus trunfos nas batalhas na Síria. De tal modo que o último trunfo que lhes resta, especialmente para Erdogan, é Aleppo.
É por isso Erdogan trabalhou duro com os sauditas para enviar o máximo que pudessem de terroristas – estimamos que tenham sido enviados mais de cinco mil terroristas – para Aleppo.

Prensa Latina
:Através das fronteiras turcas?
Presidente Assad: Sim, da Turquia para Aleppo, durante os últimos dois meses, a fim de recapturar a cidade de Aleppo. E não funcionou.
Na verdade, o nosso exército tem feito avanços em Aleppo e nos subúrbios de Aleppo, a fim de cercar os terroristas. E depois, digamos, ou negociar a volta deles à vida normal, como parte da reconciliação, ou que os terroristas abandonem a cidade de Aleppo, ou que sejam derrotados. Não há outra solução.

Prensa Latina:
Sr. Presidente, quais são as prioridades do Exército Sírio no confronto com os grupos terroristas? Qual o papel dos grupos populares de defesa, no teatro de operações?
Presidente Assad: A prioridade do Exército Sírio é, antes de tudo, derrotar o ISIS, a Frente al-Nusra e Ahrar al-Cham, e Jaish al-Islam. Estas quatro organizações são diretamente ligados à Al Qaeda, pela ideologia; todos têm a mesma ideologia, são grupos extremistas islâmicos que querem matar qualquer um que não separeça, ou não se sinta igual a eles, ou não se comporte como eles.
Mas sobre o que o senhor chamou de grupos de milícias populares, na verdade, no início da guerra, os terroristas começaram uma guerra não convencional contra o nosso exército e nosso exército é exército tradicional, como qualquer outro no mundo. Por isso o apoio daquelas milícias populares de defesa foi muito importante, para derrotar terroristas naquele confronto não convencional.
Elas foram muito úteis para o Exército Sírio, porque aqueles combatentes, aqueles lutadores nacionais, lutam em suas regiões, nas suas cidades, nas suas aldeias, e, claro, conhecem a área muito bem, quero dizer, as vias , o terreno, conhecem tudo isso muito bem.
Assim, podem ser ativos importantíssimos para o Exército Sírio. É o papel deles.

Prensa Latina:
Sr. Presidente, como a resistência do povo sírio se dá na frente econômica, ante a agressão externa? Falo da economia, e por favor, qual é a sua opinião sobre que setores da economia síria permaneceram funcionando apesar da guerra, do bloqueio econômico, saques e tudo mais?
Presidente Assad: Na verdade, a guerra contra a Síria é guerra total, não se trata só de apoiar terroristas. Eles apoiam os terroristas e, ao mesmo tempo lançaram uma guerra política contra a Síria no plano internacional. E o terceiro front foi o front econômico. Mandaram seus terroristas, seus mercenários de aluguel, para começar a destruir a infraestrutura na Síria da qual depende a economia e o atendimento das necessidades diárias dos cidadãos sírios.
Ao mesmo tempo, eles começaram um embargo diretamente sobre as fronteiras da Síria, servindo-se dos terroristas; e no exterior, servindo-se dos sistemas bancários em todo o mundo. Apesar disso, o povo sírio manteve-se determinado a viver a vida mais normal possível.
Muitos empresários sírios ou os proprietários, digamos, de indústrias, que na Síria são médias e pequenas indústrias, foram forçados a mudar-se das zonas de conflito instáveis, para áreas mais estáveis, em menor escala do negócio, para sobreviver e para manter a economia funcionando, atendendo as necessidades do povo sírio.
Assim, posso deizer que a maioria dos setores ainda estão trabalhando. Por exemplo, mais de 60% do setor farmacêutico ainda está trabalhando, o que é muito importante, útil, e muito favorável à nossa economia em tais circunstâncias.
E eu acho que agora nós estamos fazendo nosso melhor para re-expandir a base da economia, apesar da situação, especialmente depois que o Exército Sírio fez muitos avanços em diferentes áreas.

Prensa Latina:
Sr. Presidente, falemos um pouco sobre o ambiente internacional. Dê-me sua opinião, por favor, sobre o papel da ONU no conflito sírio, as tentativas de Washington e seus aliados para impor sua vontade sobre o Conselho de Segurança e nas conversações de paz de Genebra.
Presidente Assad: Falar do papel da ONU ou do Conselho de Segurança pouco acrescenta, porque, na verdade, a ONU é agora um braço norte-americano, que os EUA podem usar como queiram, podem impor ali seus seus padrões duplos, mesmo que desrespeitem a Carta da ONU.
Eles podem usá-lo como qualquer outra instituição no âmbito do próprio governo norte-americano. Sem algumas posições russas e chinesas em certas questões, a ONU e o CS seriam instituições completamente norte-americanas.
Assim, russos e chineses têm imposto lá algum equilíbrio, principalmente em relação à questão da Síria, nos últimos cinco anos. Mas se o senhor quiser falar sobre o papel dos mediadores ou enviados, como recentemente de Mistura e, antes, de Kofi Annan, e entre eles, Brahimi, e assim por diante… Digamos que esses mediadores não são independentes; eles refletem ou a pressão dos países ocidentais, ou às vezes o diálogo entre as principais potências, principalmente Rússia e EUA.
Não são independentes, de modo que o senhor não pode falar de papel da ONU; é um reflexo desse equilíbrio. Por isso, até agora a ONU não teve papel algum no conflito sírio; há apenas o diálogo entre russos e americanos. Sabemos sim que os russos estão trabalhando duro e sério e honestamente, a fim de derrotar os terroristas. E os norte-americanos, enquanto os americanos sempre tentar jogadas, querendo usar os terroristas, não derrotá-los.

Prensa Latina:
Sr. Presidente, como o senhor vê no presente momento a convivência entre grupos étnicos e religiosos da Síria contra esta intervenção estrangeira? Como podem contribuir ou não a este respeito?
Presidente Assad:
O mais importante sobre esta harmonia entre os diferentes espectros do tecido da Síria, é que ele é genuíno, porque foi construído ao longo da história, através dos séculos. Assim sendo, esse conflito não pode destruir o tecido social .
É por isso que se o senhor anda pelo país e visita diferentes áreas sob controle do governo, o senhor verá todas as cores da sociedade síria que convivem em harmonia umas com outras.
E eu diria, gostaria de acrescentar que durante o conflito, essa harmonia tornou-se muito melhor e mais forte. E não é retórica; é a realidade, por diferentes razões, porque este conflito é uma lição.
Esta diversidade que se tem é ou uma riqueza para o seu país, ou um problema. Não há meio termo. Então, as pessoas aprenderam que é preciso trabalhar mais a favor dessa harmonia, porque a primeira retórica utilizada pelos terroristas e aliados na região e no Ocidente a respeito do conflito sírio, foi a retórica do sectarismo.
Eles queriam dividir as pessoas, criar conflitos de todas com todas, incendiar a Síria. Mas não funcionou. E os sírios aprenderam a lição. Viram que, antes, havia harmonia; que tivemos harmonia antes do conflito, nos tempos normais; mas que seria preciso trabalhar mais para reforçar aquela harmonia.
Então, posso dizer sem exagero que a situação quanto a isso é boa. Mesmo assim eu diria que, nas áreas sob controle dos terroristas – principalmente grupos extremistas afiliados à Al Qaeda – eles trabalharam muito na doutrinação dos mais jovens; e conseguiram, algumas áreas, divulgar aquela ideologia obscura e sinistra.
Quanto mais tempo passe, mais difícil lidar com esta nova geração de jovens que foram doutrinados com doutrina e ideologia de Al-Qaeda e wahhabismo. Portanto, este é o único perigo que nossa sociedade enfrenta, para manter a harmonia e a boa convivência que o senhor acabou de mencionar.

Prensa Latina:
Sr. Presidente, gostaria de ir novamente para a arena internacional. Na sua opinião, qual é o papel da coalizão internacional liderada pelos EUA, no trato com os grupos que operam no norte da Síria, em particular em relação aos curdos. Aviões americanos e da coalizão têm bombardeado o norte do país. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
Presidente Assad:
O senhor sabe. Tradicionalmente, os governos norte-americanos quando têm relações com qualquer grupo ou comunidade em qualquer país, nunca é para o bem do país, com vistas a atender interesses do povo: trata-se, sempre, da agenda dos EUA.
Então, o que temos de nos perguntar é: por que exércitos norte-americanos apoiariam algum grupo na Síria? Para ajudar a Síria não é. Devem ter agenda deles, e a agenda dos EUA sempre opera para dividir qualquer país. Não trabalham para unir povos: trabalham para promover divisões entre diferentes tipos de pessoas.
Às vezes, escolhem um grupo sectário; às vezes, um grupo étnico, a fim de apoiá-los contra outras etnias ou para empurrá-los de tal modo que se afastem do resto da sociedade.
Esta é a agenda dos EUA. Então, é muito claro que este apoio norte-americano não está relacionado com o ISIS, não está relacionada com a al-Nusra, não está relacionada com a luta contra o terrorismo, porque desde o início da intervenção americana, ISIS estava se expandindo, e não diminuindo. Ele só começou a diminuir quando o apoio russo para o Exército Sírio ocorreu em setembro passado.

Prensa Latina:
Sr. Presidente, qual sua opinião sobre o recente golpe de Estado na Turquia, e seu impacto sobre a atual situação no país, no plano internacional e no conflito sírio?
Presidente Assad:
Temos de olhar para aquela tentativa de golpe como um reflexo da instabilidade e perturbações dentro da Turquia, principalmente no nível social. Poderia ser instabilidade política, poderia ser qualquer outra coisa, mas no final, a sociedade é a questão principal quando o país enfrenta instabilidade.
Independentemente de quem vai governar a Turquia, que vai ser o presidente, que vai ser o líder da Turquia; esta é uma questão interna. Os sírios não interferimos. Não cometemos o erro de dizer que Erdogan deve ir ou deve ficar. Esta é uma questão turca, e o povo turco tem de decidir.
Prensa Latina:
Sr. Presidente, como o senhor avalia as relações do governo sírio com a oposição dentro da Síria? Qual é a diferença entre estas organizações da oposição e as outras, que têm base fora da Síria?
Presidente Assad:
Temos boas relações com a oposição dentro da Síria com base nos princípios nacionais. Claro, eles têm agenda política própria e suas próprias crenças, e nós temos nossa própria agenda e nossas crenças. O modo que há para dialogar é ou diretamente ou por meio das urnas. Votar é uma forma diferente de diálogo, conforme a situação em cada país.
Mas não podemos comparar a oposição síria que vive aqui e outros, supostos de oposição que não vivem aqui. “Oposição” significa convivência e implica recurso a meios pacíficos para superar diferenças. Não se pode dizer que os terroristas sejam ‘oposição’.
Ninguém que viva no Ministério de Relações Exteriores do Reino Unido, na França, no Qatar e na Arábia Saudita ou nos EUA pode pretender que seria oposição ao governo da Síria. Não são grupos de oposição: são traidores.
A oposição real são as pessoas e grupos que trabalham para o povo sírio e vivem na Síria e sua agenda. Podem tem projetos diferentes, mas são atentos aos interesses dos sírios.
Prensa Latina:
Sr. Presidente, como o senhor avalia a insistência dos EUA e seus aliados, de que o senhor deixe o poder? E a campanha para distorcer a imagem do seu governo?
Presidente Assad:
No que diz respeito à vontade deles de que eu deixe o poder, sim, querem muito, e não falaram de outra coisa nos últimos cinco anos. Nunca respondemos, nem uma linha.
Nós nunca nos preocupamos com eles. Todas essas são questões sírias e só o povo sírio pode dizer quem deve ir ou ficar ou deixar o governo. O ocidente conhece perfeitamente nossa posição sobre isso.
Estou onde estou porque essa é a decisão do povo sírio. Se o povo sírio não quisesse, eu não estaria aqui. Isso é muito simples.
Quanto a eles difamarem ou tentarem demonizar certos presidentes, esta é a maneira americana, pelo menos desde a segunda Guerra Mundial. Como se os EUA tivessem substituído a colonização britânica nesta região, e talvez no mundo. Os governos norte-americanos e os políticos dos EUA jamais disseram uma única palavra honesta sobre qualquer coisa.
Sempre mentem. E o tempo passa, e eles estão-se tornando mais inveterados mentirosos. É parte da política deles. Tentam demonizar o presidente da Síria como tentaram demonizar o presidente Vladimir Putin, durante os últimos dois anos. Também fizeram o mesmo com o líder cubano Fidel Castro durante as últimas cinco décadas.
Esta é o jeito deles. Temos de saber que esse é o modo norte-americanos. Não nos preocupamos com isso. O que importa é ter boa reputação e nome honrado para o próprio povo. Só temos de nos preocupar com isso.

Prensa Latina:
Sr. Presidente, qual sua avaliação das relações da Síria com a América Latina, em particular os laços históricos com Cuba?
Presidente Assad:
Apesar da longa distância entre a Síria e a América Latina, sempre me surpreendo com o quanto as pessoas na América Latina, não só os políticos, sabem sobre nossa região. Há muitas razões para isso. Uma delas são as semelhanças históricas entre nossa região, entre Síria e América Latina.
A América Latina viveu sob a ocupação direta há muito tempo, mas depois passou a viver sob a ocupação das empresas americanas, dos golpes de Estado promovidos pelos EUA e sob intervenção norte-americana.
Quero dizer que os latino-americanos conhecem o que é ser independente ou não ser independente. Por isso entendem que a guerra na Síria é guerra de independência.
Mas o mais importante da América Latina é Cuba e o papel de Cuba. Cuba foi a ponta de lança do movimento de independência na América Latina, e Fidel Castro foi a figura emblemática nesse sentido.
Assim, no nível político e o nível de conhecimento, há uma forte harmonia entre Síria e na América Latina, especialmente Cuba. Mas entendo que ainda temos de trabalhar muito para melhorar a outra parte da relação; para estar no mesmo nível do que Cuba conseguiu no plano da educação dos cidadãos e no plano econômico.
Foi meu modelo e era minha aspiração antes da crise. Por isso visitei a América Latina, Cuba, Venezuela, Argentina e Brasil, para revigorar nossas relações. Mas em seguida começou este conflito, que foi grande obstáculo a todos os nossos planos. Mas entendo que temos de ampliar nossas relações para além do plano político e histórico. Todos temos de conhecer melhor uns os outros.
Creio firmemento que, se superarmos a crise em que nos debatemos e essa guerra que os sírios não procuramos, chegará o momento de dinamizar os diversos setores desta relação com a América Latina e especialmente com Cuba.

Prensa Latina:
Sr. Presidente, gostaria de conhecer sua opinião sobre o processo eleitoral nos Estados Unidos, principalmente a eleição presidencial. Agora são dois candidatos, o republicano sr. Donald Trump e a democrata sra. Hillary Clinton. Qual sua opinião sobre esse processo, sobre o resultado deste processo e como ele pode afetar o conflito aqui na Síria?
Presidente Assad:
Retomamos nossa relação com os Estados Unidos em 1974. São 42 anos e testemunhamos muitos presidentes norte-americanos em diferentes situações. A lição que aprendemos é que ninguém deve apostar em nenhum presidente americano. O nome faz pouca diferença.
Eles têm instituições, têm sua própria agenda e todos os presidentes vêm para implementar sua agenda à sua própria maneira. No final, é disso que se trata.
Todos eles têm agendas militaristas. Só muda o caminho. Um manda o próprio exército, como Bush; outro contrata mercenários e ‘procuradores’ locais, que lutam ‘por procuração’, como Obama. Mas todos eles têm de implementar a tal agenda.
Não acredito que o presidente dos EUA tenha autonomia para fazer valer as suas próprias convicções políticas. Ele tem de obedecer às instituições e aos lobbies, e os lobbies não mudam e a agenda das instituições não muda.
Assim, nenhum presidente aparecerá capaz de promover mudança séria e dramática na política dos EUA.

Prensa Latina:
Sr. Presidente, para encerrar: que mensagem o senhor envia, servindo-se dessa entrevista com à Prensa Latina de Cuba, aos governos e aos povos da América Latina, no Caribe, e também, por que não?, ao povo norte-americano, sobre a importância de apoiar a Síria contra o terrorismo ?
Presidente Assad:
A América Latina é exemplo muito bom e importante, para todo o mundo, de como povos e governos podem recuperar a independência.
Os EUA os veem como se fossem ‘o quintal dos EUA, onde os EUA habituaram-se a jogar suas próprias jogadas, para implementar a própria agenda. As pessoas na América Latina sacrificaram muito a fim de recuperar a independência e todos sabem disso.
Depois de recuperar a independência, os países deixaram de ser países em desenvolvimento, ou países, por vezes, subdesenvolvidos e começaram a crescer e a desenvolver-se. A independência é valor muito caro a todos os cidadãos da América Latina.
Entendemos que cabe aos latino-americanos manter essa independência, porque os Estados Unidos não vão parar de tentar derrubar todo e qualquer governo independente, qualquer governo que manifeste a vontade e os interesses da maioria das pessoas em todos os países da América Latina.
E mais uma vez, Cuba sabe disso, sabe do que estou falando mais do que qualquer outro povo no mundo. O povo cubano sofreu mais do que qualquer outro as tentativas americanas, mas conseguiu resistir a todas estas tentativas durante os últimos 60 anos ou mais, exclusivamente porque governo cubano manifestava o desejo e a visão do povo cubano.
Assim, entendo que o mais importante é garantir firmemente esta independência. É o mais importante, o mais crucial para o futuro da América Latina.
Em relação à Síria, podemos dizer que a Síria está pagando o preço de sua independência, porque nunca trabalhou contra os Estados Unidos; nós nunca trabalhamos contra a França ou o Reino Unido. Sempre tentamos ter boas relações com o Ocidente.
Mas o problema é que eles não aceitam país independente. Acho que acontece o mesmo com Cuba. Os cubanos jamais tentaram fazer qualquer mal para o povo americano, mas o governo dos EUA é incapaz de aceitar país independente, seja qual for.
O mesmo vale para outros países da América Latina, e daí vê os golpes de Estado, como nos anos sessenta e setenta.
Entendo, portanto, que preservar a independência de um determinado país nunca é caso isolado; se eu quiser ser independente, tenho de apoiar a independência no resto do mundo. Assim, a independência em qualquer lugar do mundo, incluindo a América Latina, dará forças à minha independência. Se estiver sozinho, serei fraco.
Todos podem apoiar a Síria, principalmente, na arena internacional. Existem muitas organizações internacionais, principalmente as Nações Unidas, apesar da sua impotência. Mas seja como for, o seu apoio de cada país sempre será vitalmente importante, também, claro, no Conselho de Segurança; depende de quem seja o membro temporário do Conselho de Segurança. Toda e qualquer qualquer outra organização de apoio a Síria sempre será muito importante.

Prensa Latina:
Sr. Presidente, sabemos que o senhor é muito ocupado. Agradecemos encarecidamente o tempo que os senhor dedicou à Prensa Latina de Cuba.
Presidente Assad:
O senhor é bem-vindo sempre.


www.marchaverde.com.br
17
Ago16

A verdade escondida dos hipermercados / por trabalhadora abusada

António Garrochinho























Os hipermercados são um lugar horrível: cínico, falso, cruel. À entrada, os consumidores limpam a sua má consciência reciclando rolhas e pilhas velhas, ou doando qualquer coisa ao sos hepatite, ao banco alimentar ou ao pirilampo mágico. Dentro da área de consumo, cai a máscara de humanidade do hipermercado: entra-se no coração do capitalismo selvagem. 

O consumidor, totalmente abandonado a si próprio (é mais fácil de encontrar uma agulha num palheiro do que um funcionário que lhe saiba dar 2 ou 3 informações sobre um mesmo produto), raramente tem à disposição mercadorias que, apesar do encanto do seu embrulho, não dependam da exploração laboral, da contaminação dos ecossistemas ou de paisagens inutilmente destruídas. Fora do hipermercado, os produtores são barbaramente abusados pelo Continente (basta que não pertençam a uma multinacional da agro-indústria), que os asfixia até à morte e, quando há um produtor que deixa de suportar as impossíveis exigências que lhe são impostas, aparece outro que definhará igualmente, até encontrar o mesmo fim. Finalmente, nas caixas do hipermercado, para servir o consumidor como escravos idênticos aos que fabricaram os artigos comprados, estamos nós.

O hipermercado está portanto no centro da miséria que se vive hoje no mundo. O consumidor, o produtor e nós temos uma missão comum: contribuir para que os homens mais ricos do planeta fiquem cada vez mais ricos – contribuir para que a riqueza se concentre como nunca antes na história. Se somos todos diariamente roubados e abusados, é por este mesmo e único motivo. Vou-vos relatar apenas a minha banal experiência diária (sem pontos de exclamação já que o escândalo é comum a qualquer um dos tópicos que irei descrever). Espero que sirva de alguma coisa, apesar de saber que ninguém se incomodará muito com ela. Afinal, é a mesma selva que está já em todo o lado.

1 – salário Trabalho 20h semanais em troca de 260€ mensais, o que dá pouco mais de 3€ por hora. Que isto se possa pagar a alguém em 2015 devia ser motivo de vergonha para um país inteiro. Que seja um milionário a pagar-me esta esmola devia dar pena de prisão efectiva.

2 – precariedade Já vou no terceiro ‘contrato’ de seis meses e ainda não passei a efectiva. Quando chegar a altura em que poderei finalmente entrar para o quadro, serei dispensada como tantas outras. A explicação para a quebra brutal na natalidade está encontrada: afinal, alguém consegue ter filhos nestas condições?

3 – trabalho não remunerado fora do horário de trabalho Se o futuro é uma incógnita, o presente é sempre igual: todos os dias, sem excepção, trabalho horas extra grátis que me são impostas. O meu horário de saída é às 15h mas, depois dessa hora, ainda tenho para executar várias tarefas obrigatórias, que me levam entre 15 a 20 minutos diários, como arrumar os cestos das compras e os artigos que os clientes deixam ficar na caixa ou guardar o dinheiro no cofre. No quase ano e meio que levo a trabalhar no Continente, devo ter saído uns 5 dias, no total, à hora certa. E já cheguei a sair uma hora e meia depois das 15h, apesar de os meus superiores saberem muito bem que dali ainda vou para outro trabalho e de, por isso, eu ter sempre imensa pressa para não me atrasar.

4 – trabalho em dias de folga Para perpetuar a falta de funcionários na loja, obriga-se aqueles que lá estão a trabalharem pelos que fazem falta, oferecendo assim todos os meses algumas horas do seu tempo de vida e de descanso ao patrão, que deste modo poupa no número de salários a pagar. Mais absurdo: num dia em que esteja de folga, posso ser convocada para ir à loja para fazer inventário. Sou obrigada a ir, apesar de estar na minha folga, e apenas posso faltar mediante justificação médica. E, como se não bastasse, até já aconteceu eu ser avisada no próprio dia da folga.

5 – cada segundo de exploração conta Neste ano e meio, cheguei uma única vez 5 minutos atrasada e a minha superior foi logo bruta e agressiva comigo, tendo-me gritado e agarrado pelo braço, apesar de supostamente haver uma tolerância para se chegar até 15 minutos atrasada. Nunca mais voltei a atrasar-me. Nem 10 segundos. (Já sair pelo menos 15 minutos mais tarde do que a hora prevista, isso é todos os dias.)

6 – formatação do corpo Relativamente à aparência física, devemos formatá-la meticulosamente, ao gosto sexista do patrão. Na loja onde trabalho, várias colegas tiveram por isso de eliminar os seus pírcingues, apagar também a cor das unhas (lá só é admitido o vermelho) e uma até teve de mudar de penteado. O patrão quer que nos apresentemos como autênticas bonecas. Faz lembrar os escravos que eram levados para as Américas, a quem se retiravam as suas marcas corporais para serem explorados sem outra identidade que a de escravos (seres humanos transformados em mercadorias).

7 – pausa para comer/urinar/descansar é crime Mas o pior de tudo é mesmo o que acontece durante o tempo de trabalho. Os meus superiores querem que eu esteja as 4 horas sentada a render o máximo que é humanamente possível, por isso, dificultam ao máximo as minhas pausas – que são legais e demoraram séculos a conquistar – para ir comer qualquer coisa ou ir simplesmente à casa de banho. A única coisa que me autorizam a levar para junto de mim, no meu posto de trabalho na caixa, é uma garrafinha de água previamente selada e nada mais. De resto, o que levar para comer e beber (sumos e iogurtes líquidos não podem ir comigo para a caixa) tenho que deixar no Posto de Informações e só tenho acesso quando da caixa telefono para lá. Normalmente, no Posto, fazem que se esquecem desses pedidos, passando uma eternidade até eu finalmente conseguir ir comer. E, quando a muito custo lá consigo obter autorização para ir comer, sou pressionada para ser ultra rápida, pelo que em vez de mastigar estou mais habituada a engasgar-me. O mesmo acontece com as idas à casa de banho, sempre altamente dificultadas.

8 – gerem-nos como se fôssemos animais Há uns tempos, uma colega sentiu-se mal quando estava na caixa, fartou-se de pedir licença para ir à casa de banho, mas foi obrigada como de costume a esperar tanto, tanto que lá se vomitou, quase em cima de um cliente. Não se calem e denunciem todos os abusos nas redes sociais e nos blogs. (gostava imenso de assinar, mas os 260€ do salário fazem-me tanta falta)

Fonte: L'obeissance est morte
Crédito foto de capa: L'obeissance est morte
achispavermelha.blogspot.pt
17
Ago16

Depois de Cannes, a Córsega também proíbe o 'burkini'

António Garrochinho



Desacatos na região corsa de Bastia levaram presidentes da câmara a agir

O presidente da câmara de uma localidade da Córsega, ilha mediterrânica francesa, proibiu o 'burkini' nas praias do seu concelho, seguindo outros dois municípios, após violentos incidentes entre jovens e famílias de origem magrebina, disse o autarca.

Segundo testemunhas citadas pela AFP, o conflito surgiu quando, na praia, turistas fotografaram mulheres que estavam no mar vestidas com 'burkini', um fato de banho que cobre todo o corpo.

Os desacatos na região de Bastia provocaram cinco feridos e danos materiais e cerca de 100 polícias foram mobilizados para manter a calma entre os grupos.

Dois presidentes de câmara do sul da França já tinha proibido o uso de 'birkini' para entrar no mar, nas praias, nas últimas semanas, suscitando uma polémica entre aqueles que defendem a restrição da opção laica no espaço público e os que querem a liberdade de expressão.

A regra anti 'burkini' será registada a partir de terça-feira na prefeitura (câmara), precisou o presidente socialista de Sisco, no norte da ilha, que disse apoiar-se nas duas decisões anteriores, uma delas a de Cannes, validada pela justiça.

O presidente da câmara também decidiu cancelar as festividades marcadas para hoje na região, "não por questões de segurança, mas porque os habitantes não têm cabeça para isso".

As autoridades de Bastia decidiram abrir um inquérito para averiguar as condições em que ocorreu a situação de violência, no sábado.

Cerca de 500 pessoas participaram hoje, em Bastia, numa concentração que decorreu num ambiente tenso, e gritando "às armas, vamos reagir porque estamos em nossa casa" dirigiram-se a Lupino, um bairro periférico, e os polícias tiveram de bloquear a entrada.

Vários incidentes relacionados com a comunidade muçulmana têm ocorrido nos últimos tempos, na Córsega, e em julho, a assembleia da Córsega aprovou uma resolução a pedir ao Estado para encerrar os lugares de culto muçulmanos fundamentalistas na ilha.



www.dn.pt

17
Ago16

VÍDEOS - A prova de que as canções de Elvis soam ainda mais surpreendentee a cappella

António Garrochinho


As canções de Elvis já conheceram todos os tipos de versões. É difícil hoje em dia se deparar com uma versão verdadeiramente original de uma canção de devido a quantidade de covers, quase todas são apenas a revisita de outra. Mas as vezes aparecem coisas novas emulando gêneros consagrados, como é o caso deste cover verdadeiramente único e igualmente assombroso em sua execução. Sim, é uma versão a cappella, mas realmente funciona! De fato, o arranjo de vozes para "Can't Help Falling In Love" ficou tão bom que muito provavelmente o próprio Elvis aplaudiria de pé.

VÍDEOS




O nome do quarteto, formado por Adam, Tristin, Kelley e Chris, é 7th Ave. No site oficial eles contam que o grupo que reinventar definições-padrão de alguns gêneros musicais através de seus inovadores arranjos. Eu fiquei tão impressionado com o baixão (feito por Chris), que decidi dar uma olhada em outros covers e encontre isso:


www.mdig.com.br
17
Ago16

"Confederações patronais estão a fazer tudo para condicionar o Governo"

António Garrochinho



"Confederações patronais estão a fazer tudo para condicionar o Governo"

Ainda sofremos impacto do memorando da troika, mas os tempos são de cumprimento de promessas. Numa entrevista concedida ao Notícias ao Minuto, Arménio Carlos, líder da CGTP, assume que há muito por fazer no que toca aos direitos dos trabalhadores. E, "mais do que palavras", exige "atos".
   
A luta que, em 1974, se propôs travar é ainda o que o move. Arménio Carlos bate-se diariamente pelos direitos da parte mais frágil na relação entre capital e trabalho: os trabalhadores. E recusa baixar os braços, porque ainda há muito a fazer, como explicou em entrevista ao Notícias ao Minuto. Fique com a primeira parte*.



O gosto pelo sindicalismo e pela defesa dos direitos dos trabalhadores começou cedo? O que é que o moveu?

Desde que entrei no mercado de trabalho, em janeiro de 1974, e me apercebi das dificuldades que os trabalhadores sentiam, da ausência de liberdades, de democracia. A partir dessa vivência senti necessidade de imediatamente me envolver, desde logo, em fevereiro desse ano, na elaboração de um abaixo-assinado a reclamar melhores salários. A partir daí, fi-lo em toda a atividade no local de trabalho. E em 1985 entrei em atividade permanente no sindicato.

Porque considera ser tão importante que haja uma entidade que defenda os direitos dos trabalhadores?

Porque, num quadro em que o confronto entre o trabalho e o capital é permanente e secular, a parte mais frágil nesta relação, que são os trabalhadores, precisa de ter uma organização forte, atuante, interventiva e que corresponda àquilo que são as suas necessidades e anseios. Os sindicatos têm uma visão mais global do desenvolvimento da sociedade e da sua transformação.

Ainda estamos a sofrer o impacto do memorando assinado com a troika?

Estamos, claramente. Tivemos nos últimos anos uma política baseada na perspetiva dos cortes – nos salários, nas pensões, nos direitos – que acentuou as desigualdades, a exploração e o empobrecimento. O que temos agora é uma linha de reposição de alguns desses direitos, mas não nos podemos esquecer que estamos num processo evolutivo. É preciso que novas medidas sejam implementadas para responder a problemas fundamentais que têm de ser ultrapassados. Falo concretamente da distribuição da riqueza e da melhoria dos salários, do combate à precariedade e ao desemprego, da aposta na valorização da contratação coletiva, que está bloqueada, e da melhoria dos serviços públicos (escola pública, Serviço Nacional de Saúde e Segurança Social pública e universal).

As entidades patronais foram demasiado favorecidas no governo de Passos Coelho?

O governo PSD/CDS tomou a opção de subjugação relativamente ao que era o memorando da troika e procurou ir mais longe, numa lógica que foi muito objetiva: tudo contra os trabalhadores, tudo a favor das entidades patronais. Isso é por demais evidente.

Deu margem a que os movimentos sindicais ganhassem mais força? Foram anos de muitas manifestações e luta por parte dos trabalhadores.

A partir do momento em que fomos confrontados com o memorando da troika, fragilizando os direitos dos trabalhadores, como movimento sindical só tínhamos uma resposta a dar. Hoje é claro que não podemos deixar de valorizar a participação ativa dos trabalhadores, que nunca faltaram à chamada sempre que a CGTP o reclamou. Foi uma luta que se desenvolveu num dos períodos em que os trabalhadores foram mais afetados.

Isso refletiu-se no número de trabalhadores sindicalizados?

Numa altura em que, no espaço de quatro anos, desapareceram 540 mil postos de trabalho, 500 mil pessoas emigraram, tivemos o maior número de desempregados após a democracia e houve uma redução significativa de salários, é evidente que perdemos sindicalização. Mas lançámos em 2012 uma campanha para atingir 100 mil novos sindicalizados. Certo é que atingimos 105 mil.

O Governo não pode ser prisioneiro de pressões e chantagens"

Encarou como legítima a solução governativa encontrada para o país. Não considera que os portugueses podem entender que o seu sentido de voto foi traído?

Ao contrário do que alguns diziam, as eleições para a Assembleia da República (AR) não servem para eleger o primeiro-ministro, servem para eleger deputados. No plano da AR é que se constroem maiorias, que por sua vez definem o governo. Foi isso que se passou. É perfeitamente natural, legal e constitucional. É, aliás, exemplo de muitas situações que se passam na Europa. O sentido do voto popular foi respeitado.

Que balanço faz destes meses de governo PS?

É um balanço positivo. O facto de as promessas estarem a cumprir-se valoriza a política, os políticos e a democracia. Cortou-se na lógica de fazer promessas na campanha eleitoral e, chegado ao governo, fazer precisamente o contrário. Parece-nos que, neste momento, os compromissos estão a ser concretizados.

Como é a sua relação com o atual Governo e com os parceiros sociais?

É uma relação diferente da anterior. Com o governo anterior não havia diálogo, não havia negociação, não havia rigorosamente nada. Agora há outra abertura da parte do Governo para dialogar e procurar encontrar soluções connosco. E nós procuramos não só criticar o que não achamos adequado como apresentar propostas alternativas para resolver problemas. Em relação aos parceiros sociais, verificamos que as confederações patronais estão a fazer tudo o que está ao seu alcance para condicionar o Governo. Este vai ser o grande desafio e terá de clarificar a sua posição: ou se deixa ficar prisioneiro das pressões e chantagens das confederações patronais ou se liberta definitivamente e passa a governar para ir ao encontro daqueles que lhe deram voto. Mais do que palavras, nós exigimos atos.

Cortou-se na lógica de fazer promessas na campanha eleitoral e, chegado ao governo, fazer precisamente o contrário"
Mário Centeno disse há tempos que os salários em Lisboa são um terço dos praticados em Paris. Como lhe apraz reagir a estas palavras?

Cá está a contradição. Temos um primeiro-ministro a dizer que quer acabar com um modelo de baixos salários e trabalho precário e depois temos um ministro das Finanças a dizer aos investidores estrangeiros que em Portugal se trabalha muito e se ganha pouco. Assim não vamos ser competitivos. E nós vamos mais longe e criticamos também o IGCP, por nos pressupostos para atrair investidores ter dito que em Portugal havia um baixo nível de abrangência da contratação coletiva, se pagava mal e havia um baixo nível de proteção social. São mensagens que não valorizam o país nem os trabalhadores e que contrariam o sentido de mudança que foi apresentado.

Encarou da mesma forma as declarações do primeiro-ministro sobre a possibilidade de professores portugueses emigrarem para França?

Sobre isso creio que houve uma tentativa de aproveitamento por parte da Direita para arranjar uma manobra de diversão para se falar de tudo menos do que importa. Não nos pareceu que tivesse havido um posicionamento de António Costa idêntico àquele que Passos Coelho assumiu enquanto primeiro-ministro quando disse que os portugueses podiam emigrar. Quando mais pessoas saírem do país (especialmente qualificadas), mais nos colocamos numa posição periférica em relação à União Europeia.

Disse também que quem quer educação privada deve pagá-la. Depreende-se que concorda com a decisão do Governo de acabar com alguns contratos de associação.

O que sempre dissemos e mantemos é que os princípios constitucionais devem ser respeitados. No que toca ao ensino, compete ao Estado assegurar as condições necessárias para que todos tenham acesso no plano da igualdade. É lógico que não faz sentido nenhum que, tendo escolas onde foi investido dinheiro do erário público, estas não sejam rentabilizadas e seja desviado dinheiro dos nossos impostos para continuar a manter colégios. Se há uma oferta pública, temos de rentabilizar aquilo que existe.

A decisão de deixar de financiar metade dos colégios com contratos de associação dará azo a despedimentos no setor privado?

Esse é um problema com o qual a CGTP está preocupada. Independentemente de ser público ou privado, nós defendemos sempre os postos de trabalho. Através dos nossos sindicatos demos todo o apoio necessário a esses mesmos trabalhadores no caso de isso se vir a verificar. Mas creio que a discussão deve ser colocada noutro patamar. Se as administrações desses mesmos colégios foram tão criativas para fazer investimentos de ostentação e de luxo à custa do dinheiro do erário público para fazer da educação um negócio, então agora devem ter a mesma criatividade para, reduzindo os lucros, garantir a manutenção dos postos de trabalho.

Investir nos contratos de associação com o setor privado levava a que houvesse um menor investimento no setor público?

Nós tivemos uma situação caricata. Os mesmos PSD e CDS que agora se mostram tão angustiados e contrários à decisão que foi tomada foram os mesmos que, nos últimos quatro anos, encerraram escolas, maternidades, serviços de Finanças, hospitais e outros serviços públicos fundamentais. Tudo em nome da redução do défice e da dívida. Enquanto cortaram três mil milhões de euros na educação, andaram a financiar alguns colégios quando tinham escolas públicas ao lado. É uma postura hipócrita, cínica e contrária aos interesses do país.




"Devíamos ser indemnizados pelas políticas que a troika nos impôs"

Muito se falou nos últimos tempos da aplicação de sanções europeias a Portugal por incumprimento do défice de 2015. Ora, os receios não se confirmaram. Mas nem por isso Arménio Carlos 'baixa a guarda' quando questionado sobre o assunto. Até porque, faz sobressair, a situação de mais "desigualdade e empobrecimento" com que o país se debate é a fatura que a troika deixou por pagar.


   
"Mal de nós se perdêssemos a CGD". As palavras pertencem ao secretário-geral da CGTP que, à conversa com o Notícias ao Minuto, 'toca nalgumas feridas' com as quais o país se debate, como aquelas que o banco público tenta curar, por um lado, enaltecendo (re)conquistas recentes, por outro. Exemplo paradigmático dessas vitórias, enfatiza, é a reposição das 35 horas de trabalho na Função Pública. 

Aqui está a segunda parte da entrevista a Arménio Carlos.



As 35 horas de trabalho semanal entraram há pouco tempo em vigor e já se fala em desigualdade entre funcionários públicos com diferentes tipos de contrato. Não será mais discriminatório em relação aos trabalhadores do privado?

Não, isso é uma falsa questão. Os primeiros trabalhadores que tiveram horários inferiores a 40 horas eram de alguns subsetores e empresas do setor privado, através da contratação coletiva (indústria de vidro, cimenteiras e setor financeiro, por exemplo). Isto antes de ser implementado o regime de 35 horas na administração pública. Não estão a dar nada aos trabalhadores, estão a dar algo que eles já tinham. Relativamente ao setor privado, esta reposição vem-nos dar mais força para que na contratação coletiva possamos reduzir os horários de trabalho sem reduzir salários. Se entretanto for possível na Assembleia a redução para todos os trabalhadores para as 35 horas, melhor ainda.

Não estão a dar nada aos trabalhadores, estão a dar algo que eles já tinham"

Acredita que isso é possível sem se reduzir a produtividade?

Acredito, por uma razão muito simples: todos os estudos que conhecemos indicam que não é por se trabalhar mais horas que se produz mais, pelo contrário. A partir de um determinado número de horas, começa a baixar o nível de produção. Além disso, menos horas de trabalho são determinantes para motivar e ir ao encontro das necessidades dos trabalhadores, que ficam com mais tempo para gerir a sua vida.

Encostar os feriados aos fins de semana poderia ser uma forma de colocar os portugueses a produzir mais e de aumentar a competitividade das empresas?

Se dúvidas subsistissem, nos últimos quatro anos provou-se que, ao contrário do que alguns teimosamente afirmavam, não se melhorou a competitividade das empresas, a qualidade do emprego ou a economia. Uma questão que releva o papel da importância da Assembleia da República é que se hoje estivéssemos a discutir a reposição dos feriados na concertação social, ainda não tínhamos resolvido problema nenhum. Além disso, a produtividade das empresas não se assegura por mais horas de trabalho, mas pela modernização tecnológica das empresas.

A produtividade das empresas não se assegura por mais horas de trabalho
Nós não somos favoráveis a que se associem feriados aos fins de semana, porque cada feriado tem um sentido político, cultural ou religioso. É preciso respeitar as pessoas que têm esses sentimentos e se reconhecem naquele feriado. Por outro lado, daria azo a que, daqui a alguns anos, muitos empresários achassem que tínhamos muitos fins de semana prolongados.

É viável voltar a injetar dinheiro na Caixa Geral de Depósitos tendo em conta o défice do país?

Eu creio que é fundamental o país ter um banco público com a pujança necessária não só para ter outro tipo de gestão como para responder às necessidades das populações. Mal de nós se perdêssemos a CGD. Então é que ficávamos completamente dependentes de uma série de gurus da alta finança que veem em tudo uma oportunidade de negócio. Está em causa muito dinheiro, mas é um investimento que se faz num bem público que importa depois rentabilizar ao serviço da população. Mas não se pode questionar este investimento sem abordar o dinheiro do erário público que foi desviado para recapitalizar bancos privados que entraram na falência (BPN, Novo Banco e Banif). E há ainda os processos decorrentes de concessão de créditos que ainda hoje estão por explicar.

Como é que se justifica aos portugueses que, com um buraco deste tamanho, o Governo tenha descongelado o salário dos gestores da CGD?

O argumento que foi invocado pelo ministro das Finanças é que era uma exigência do Banco Central Europeu (BCE). E sobre esta exigência só temos a relembrar que o mesmo BCE que nos últimos anos andou a exigir que se cortasse nos salários e não se aumentasse o salário mínimo nacional é o mesmo banco que tem uma atitude diferente para os gestores da CGD. Não estamos de acordo nem com o alargamento da administração e muito menos com este alargamento dos vencimentos dos gestores. Há dois pesos e duas medidas. Se há dinheiro para os gestores, tem de haver para os restantes trabalhadores. Isso nós vamos exigir.

Depois de todos os esforços de consolidação feitos pelos portugueses, como acompanhou o processo das sanções europeias?


Não devíamos ser sancionados, devíamos ser indemnizados pelas políticas que a troika nos impôs e que deixaram o país nesta situação de mais desigualdade e empobrecimento.

www.noticiasaominuto.com
17
Ago16

Qual controlo de armas, qual carapuça

António Garrochinho




EUA: medo com a segurança
dos filhos nas escolas ? 

A indústria talentosa responde !



Não e não, que ninguém pense que os miúdos e miúdas norte-americanos de famílias abonadas, ver preços) vão agora para a escola com coletes antibalas quais pequenos agentes do FBI. O capitalismo é inegavelmente criativo e os coletes antibalas são uma espécie de forro de agradáveis peças de vestuário.


ler aqui


Via: o tempo das cerejas 2 http://bit.ly/2b4rNLq
17
Ago16

‘Escravo reprodutor’ teve mais de 200 filhos e viveu 130 anos, afirma família

António Garrochinho


É uma história verdadeira, não é uma lenda’, diz neta de São Carlos (SP).
Para pesquisador, memória de Roque José Florêncio precisa ser resgatada.


“É uma história verdadeira, não é uma lenda”, diz Maria Madalena Florêncio Florentino enquanto segura a foto do avô. Nascido em Sorocaba na primeira metade do século XIX, Roque José Florêncio foi comprado por um fazendeiro de São Carlos (SP) e escolhido para ser “escravo reprodutor” no distrito de Santa Eudóxia. Familiares e um estudo afirmam que ele teve mais de 200 filhos e, segundo a certidão de óbito, morreu com 130 anos.
O documento, lavrado em 17 de fevereiro de 1958, aponta que Roque morreu por insuficiência cardíaca, miocardite, esclerose e senilidade. A quantidade de filhos estaria contabilizada em um antigo livro da Fazenda Grande. Mas a família diz que não tem documentos que comprovem os nascimentos e procura os descendentes nas redes sociais.  “No Broa tem, em São Paulo, Araraquara, mas, quando eu pergunto, dizem que não sabem. É uma incógnita”, afirmou o neto Celso Tassim, de 54 anos.
Certidão de óbito atesta que escravo viveu durante 130 anos (Foto: Fabio Rodrigues/G1)Certidão de óbito de 1958 atesta que escravo Pata Seca viveu durante 130 anos (Foto: Fabio Rodrigues/G1)
De acordo com Marco Antonio Leite Brandão, pesquisador da história de São Carlos, o documento mais antigo sobre escravidão na cidade é de 1817. Ele diz ainda que o auge da mão de obra forçada se deu a partir de meados da década de 1860, com a expansão do café.
“O mais importante, talvez, das pesquisas que realizei foi a identificação de uma rota de comércio de escravos entre a Província da Bahia, centralizada no município de Caetité, e São Carlos. Havia, de fato, um mercado de escravos, a Fazenda Babilônia, limite entre São Carlos e Descalvado”, afirmou. “Mas nada sobre reprodutores ou sobre Pata Seca”.
Para o psicólogo Marinaldo Fernando de Souza, doutor em educação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) com uma tese que aborda a história de Pata Seca, a explicação para a falta de documentos está na desvalorização da memória negra. “A história oficial tende a forçar o esquecimento da memória negra”, disse. “Em Santa Eudóxia existe uma história a ser vasculhada, a ser contada, e que fica relegada a um status de menor valor”.
Segundo Souza, estima-se que mais de 30% dos moradores de Santa Eudóxia sejam descendentes de Roque e o papel dele como produtor pode ajudar a explicar por que o número de escravos na região continuou a aumentar mesmo depois de restrições como a Lei Eusébio de Queirós.
“Se fosse um branco, não seria lenda. Ele é real, foi escravizado”, comentou. “Essa história precisa ser resgatada e não precisa de documentos. Os documentos são forjados em prol da elite branca. A memória negra precisa vir à tona”.
Neta de escravo contra com orgulho a história do patriarca (Foto: Fabio Rodrigues/G1)
Neta do escravo Pata Seca conta com orgulho a história do patriarca (Foto: Fabio Rodrigues/G1)
‘Pai de mais de 200’
A família conta que Roque foi comprado na Vila Sorocaba e vendido para Visconde da Cunha Bueno, dono de um latifúndio voltado para a produção de café. Na propriedade, ganhou o nome e o apelido de Pata Seca pelas mãos compridas e finas.
Como era alto – tinha 2,18 m – e, na época, acreditava-se que homens com canelas finas gerariam filhos do sexo masculino, foi escolhido para se deitar com as escravas e gerar mais mão de obra.
Também cuidava dos cavalos e era responsável pelo transporte de correspondência entre a fazenda e a cidade.
Segundo a neta, foi como ‘correio’ que ele conheceu a esposa. “Ele ia buscar as cartas em São Carlos e, quando passava, via uma moça magrinha, barrendo, barrendo”, contou Madalena.
Um dia, ele pediu a mão da moça e, com o “sim”, colocou a jovem na garupa e rumou para a fazenda. Foi celebrado o casamento e Roque ganhou dos patrões 20 alqueires de terra. Depois de gerar mais de 200 filhos na senzala, era hora de formar a própria família com Palmira, com quem teve mais nove crianças.
Multitarefa

Sem arame para cercar todo o terreno, Pata Seca acabou perdendo grande parte da propriedade. Para sustentar a família, fazia canecas e assadeiras com lata, criava galinhas, plantava abobrinha e mandioca e preparava rapaduras. Depois, saía para vender os ovos, utensílios e doces por fazendas da região.
“Ele tinha um cavalinho e, como era muito grande, arrastava os pés no chão. Falavam que ele ia acabar matando o animal e ele dizia que não, que era o ganha pão dele”, afirmou Madalena.
Amigo de Roque, Marcílio Corrêa Bueno, de 88 anos, se lembra dessa época. “Eu morava na fazenda Grande e, nesse tempo em que eu morei lá, ele ia vender ovo, frango, rapadura. Fazia uma rapadura! De coco, abóbora, mamão, leite, cidra…”.
“Se dava com todo mundo, meu pai se dava muito com ele”, lembrou o aposentado, recordando ainda que Pata Seca era religioso e costumava realizar festas no sítio em homenagem a São João, sempre recebendo bem os convidados.
Memórias

Madalena também guarda memórias do convívio com o avô e não esconde o orgulho ao falar dele.De pequena, lembra-se de Roque sempre de camisa branca e postura ereta.
Conta que Pata Seca fazia questão de varrer todos os dias a parte ao redor da casa do sítio, cercada por mangueiras, e que o café era preparado por tio Zé. Roque sempre comia fubá mexido na panela com banha de porco e café preto, e levava o café para Palmira, que ficou cega depois de complicações em um dos partos. Já no almoço, costumava comer arroz e feijão com torresmo ou frango.
Para dormir, deitava-se em uma cama de tarimba com colchão de palha de milho. Para os netos, foi dessa cama que caiu o prego que feriu o pé do avô. “Pegou bicheira. Usaram o remédio da senzala – fumo, urina e álcool – e uma moça cuidava, mas ela viajou para Rio Preto e ele piorou”, disse Madalena.
Internado na Santa Casa de São Carlos, Roque morreu em fevereiro de 1958, apenas três meses depois de participar do desfile de aniversário da cidade como o homem mais velho do município.
Madalena guarda com carinho lembranças do avô que viveu em São Carlos (Foto: Fabio Rodrigues/G1)Madalena guarda com carinho lembranças do avô
que viveu em São Carlos (Foto: Fabio Rodrigues/G1)
“Achei a foto”
A única foto do patriarca é justamente desse desfile e foi encontrada depois de anos de procura. Madalena descobriu que um antigo amigo do avô possuía a imagem e, após diversas buscas, familiares desse senhor encontraram o retrato na carteira dele.
Hoje, a imagem fica na estante da casa de Madalena, bem de frente para quem entra na sala. Também há lembranças atrás da porta, onde ela guarda as antigas chaves da casa do sítio e um prego como o que caiu no pé do avô, e na cozinha, ao seguir a mesma receita para produzir rapaduras.
Para ela, o avô viveu muito porque, ao contrário de outros escravos, morava na Casa Grande e podia se alimentar melhor, e a pesquisa sobre esse passado continua. Ela segue à procura de informações e diz que antes de morrer pretende doar as recordações para um museu. “Fico muito feliz, muito orgulhosa de contar a história do meu avô”.
Idoso de Santa Eudóxia conheceu escravo Pata Seca (Foto: Fabio Rodrigues/G1)
Idoso de Santa Eudóxia conheceu Roque e relembrou histórias da fazenda (Foto: Fabio Rodrigues/G1)


www.comunidadenews.com.br
17
Ago16

Descendentes e ex-escravos ricos que voltaram para a Africa

António Garrochinho

De praxe pensamos que os descendentes dos escravos eram pobres. No final do Séc. XIX, muitos escravos alforriados voltaram para a África e até hoje são chamados de comunidades brasileiras. Muitos se enriqueceram e tornaram-se as elites africanas, principalmente na cidade de Lagos.
Abaixo fotos tiradas no Brasil, Nigéria e Benin, dessa interessante história desconhecida de muitos - ex-escravos e descendentes que se tornaram ricos comerciantes, médicos, advogados, políticos, donos de muitas propriedades.
Essa pintura é de Debret (1839). Retrata o oficial de barbeiro no Brasil, que quase sempre era negro ou mulato. O europeu chocava com tal, mas o habitante do Rio de Janeiro utilizava vários trabalhos realizados por escravos. O barbeiro podia ser ao mesmo tempo, um cabeleireiro, um cirurgião que utiliza bisturi e um destro aplicador de sanguessugas, técnica bem utilizada como anestesia. Segundo os viajantes Th. Lindley e Wetherell, na Bahia, os barbeiros eram de músicos a arrancadores de dentes.

A esquerda, escrava doméstica. Artur Gomes Leal com sua ama-de-leite Mônica, 1860. A direita, escravo alforriado. Carte visite (Coleção Francisco Rodrigues, Fundação joaquim Nabuco, Recife).

Escrava de ganho, vendendo frutas no Brasil, cerca de 1860. (Museu Imperial, Petrópolis)
Crioula, 1885. O termo crioulo, nesse caso, é denominação principalmente linguística africana, mas também para denominar grupos étnicos em várias regiões da África. A direita, Iorubá (grupo étnico da África Ocidental, sendo o segundo maior grupo da Nigéria) com escoriações características, fotografado em Salvador em 1885. (Coleção Tempostal, Salvador).

Escravos do eito numa fazenda fluminense por volta de 1885 (Museu Imperial, Petrópolis).
Costureiras brasileiras em Abeokutá (capital do estado de Ogun, na Nigéria), sec. XIX (Société des Missions Africaines, Roma). Com certeza retornaram a terra África.
Os homens mais ricos da comunidade brasileira, ou seja, ex-escravos do Brasil que voltaram a África, mandavam seus filhos para estudar na Europa ou na Bahia. Assim se formaram os primeiros médicos e advogados da Nigéria, como Plácido e Honório Assumpção. As carreiras de funcionário do governo colonial inglês e em empresas estrangeiras atraíam muito dos chamados "brazilian descendants". Os irmãos acima adotaram o nome iorubá Alakija. Parte da família voltou para a Bahia no começo do sec. XX. (Documento da família fotografado por Pierre Verger).
Acima, capela de bambu, primeira igreja Católica de Lagos (cidade portuguesa no distrito de Faro), 1872. Sentado entre dois missionários francesesm de chapéu, está o padre Antônio, ex-escravo do prior do Carmo do Salvador. Abaixo, sagração do católico de Lagos, Monsenhor Lang, em 1902. (Société des Missions Africaines, Roma).
Decoração dos festejos da abolição: sob os retratos de D. Pedro II e da Rainha Vitória, vêem-se as armas do Império do Brasil, ladeadas pelas bandeiras inglesa e brasileira. (Société des Missions Africaines, Roma).
Acima, comitê brasileiro dos festejos da abolição, reunindo os membros mais representativos da elite brasileira em Lagos. Abaixo, atores da peça "The Mysterious Ring", drama em cinco atos, apresentada em 5 de outubro de 1888, como parte dos festejos lagosianos pela Abolição da Escravatura. Os brasileiros em Lagos eram grandes aficionados do teatro clássico e da música lírica (Société des Missions Africaines, Roma).
Família brasileira em Lagos. (Société des Missions Africaines, Roma).

Mulheres da comunidade brasileira de Lagos. No brasil no sec. XIX, as africanas admiravam seguir a moda européia.
Grupo de mulheres iorubá no final do sec. XIX, com roupas tradicionais, "adirés" e panos da costa. (Société des Missions Africaines, Roma)
A esquerda, Hypolito dos Reis, nascido na África, filho do brasileiro Papai Muda Lugar (que devia seu nome ao fato de ser mestre de dança em Lagos). Hypolito acaba indo para a Bahia. A direita, membro da família Martins (documento da família).

A esquerda, Porfirio Maxwell Assumpção Alakija, filho de Marcolino. Nascido na África, instalou-se na Bahia, onde foi professor de inglês e onde colaborou com Nina Rodrigues. Foto feita em Lagos. A direita, Plácido Assumpção (Sir. Adeyemo Alakija). Nascido em Aneokutá, em 1884, foi educado em escola católica em lago, seguindo depois para a Inglaterra, onde se formou em Direito criminal. Foi um dos poucos advogados da comunidade brasileira a ocupar cargo influente nos quadros do governo colonial. Teve participação significativa na vida política de Lagos. Convertido ao anglicanismo, foi dirigente da sociedade secreta Reformed Ogboni, antiga sociedade iorubá, causa de séries divergências da Igreja Anglicana. Foto tirada na Bahia, por volta de 1911. (Documentos da família, fotografados por Pierre Verger). Interressante como, poucos anos após a abolição, um negro consegue uma ascensão social tão expressiva.
Acima, família Suberu, em Ondo (maior cidade do Estado de Ondo, na Nigéria). Abaixo, famíliaFragoso. Ambas, ex-escravas no Brasil. (Documento da família)
Sentado, Lucio Mendes da Costa. Foi escravo na Bahia, voltou para Lagos e depois retornou a Bahia, morrendo em Cachoeira. Seu filho, Cypriano Lucio Mendes, de pé, comerciava "carne do sertão" (charque) importada do Brasil. Rico, consta que possuía cinquenta casas e que teria perdido a fortuna em um naufrágio (documentos da família).
Família Mendes, no Rio de Janeiro. Parte dessa família está em Lagos, parte em Cachoeira, na Bahia, e parte no Rio de Janeiro. (Foto cedida pela família em Lagos. A mesma foto foi encontrada em Cachoeira)
Cosmos Anthonio, nascido em Lagos em 1889, de mãe baiana, fotografado aos 76 anos, em Oshogbo (capital e a maior cidade do Estado de Osun, na Nigéria). Sua avó materna, Felicidade Maria de Sant'Anna, era uma princesa Ijexá, retornada do cativeiro no Brasil e que comerciava com a Bahia. A direita, Dominga Ariike Anthonio, esposa de Cosmos e brasileira de Lagos.
A esquerda, João Esan da rocha em foto anterior a 1870, tirada no Brasil. Vendido como escravo aos 10 anos, comprou sua alforria aos 30 anos. Voltou para Lagos com sua mulher e seu filho e tornou um rico comerciante (Coleção família Rocha-Thomas). A direita, Louisa Angélica Nogueira da Rocha, em foto de cerca de 1870, mulher de João Esan, com seu filho Cândido da Rocha. Cândido tornou-se um grande comerciante de ouro. Tinha cavalos de corrida e luxuosas carruagens. Seu irmão, Moysés da rocha, estudou medicina em Edimburgo e especializou-se em doenças tropicais. Foi um fecundo jornalista, estreitamente ligado a Igreja Católica (foto Pierre Verger, coleção família Rocha-Thomas).
Família de João Angelo Campos, comerciante e uma das maiores fortunas de Lagos no sec. XIX. Teve grande participação na vida política e cultural da cidade. (Société des Missions Africaines, Roma).
Acima, João Angelo Campos, em foto tirada na Bahia, em casa de sua afilhada Ana Cardoso. Abaixo, duas casas de propriedade da família. A da esquerda, construída em 1897, pertenceu a Romão Campos, comerciante que deu nome a Campos Square, centro do brairro brasileiro em Lagos. (Société des Missions Africaines, Roma).



As fotos e informações acima foram tiradas do livro:
Da senzala ao sobrado: arquitetura brasileira na Nigéria e na república popular
17
Ago16

Mercado de Escravos em Lagos - monumento de interesse público

António Garrochinho







Lagos recebeu desde 1444 carregamentos regulares de escravos e foi aqui que se instalou o provável primeiro mercado de escravos da Europa.
O edifício do Mercado de Escravos, em Lagos, perpetua a memória da escravatura 


O edifício construído no local onde funcionou o que se presume tenha sido o primeiro Mercado de Escravos da Europa quatrocentista, em Lagos, foi classificado como monumento de interesse público, segundo uma portaria publicada na terça-feira em Diário da República.
Datado de 1691, o mercado foi o último dos edifícios de apoio à praça-forte de Lagos a ser construído, sobre o que restava de um antigo edifício quatrocentista que servira para venda de escravos, na Praça Infante D. Henrique.
O imóvel serviu no século XVII para acomodar o Corpo da Guarda, integrando-se no contexto de racionalização dos recursos e de especialização dos espaços que deu origem à Oficina do Espingardeiro (ex-Quartel da Coroa) e ao vizinho Armazém Regimental.
"Trata-se de um monumento de grande impacto urbanístico e um dos mais emblemáticos da cidade, constituindo-se em vértice da principal praça de Lagos", segundo a portaria.
O texto refere, ainda, que o local testemunha a "umbilical" ligação da cidade "à empresa dos Descobrimentos e cristaliza, até à actualidade, a memória do local onde se instalou o provável primeiro mercado de escravos da Europa quatrocentista". "Para além do seu inegável valor histórico, o edifício detém elevada qualidade arquitectónica, concretizada no traçado racional, erudito e simétrico, e na harmoniosa composição de volumes da sua estrutura maneirista", conclui.
A partir de 1444, Lagos passou a receber todos os anos carregamentos regulares de escravos, que eram normalmente capturados em razias ou adquiridos por troca na costa ocidental de África. Utilizados em trabalhos pesados e em tarefas domésticas, os escravos africanos, a partir de então, passaram a fazer parte da paisagem humana portuguesa, que marcarão de forma profunda

Museu sobre a escravatura  no Algarve “para que não se apague a memória”

Ossadas. Cadáver de Mãe com recém-nascido entre braços.
Ossadas de escravos do século XV e XVII encontradas em Lagos. Foto: Museu AfroDigital – Portugal
Em 2009, durante as escavações para a construção de um 
parque automóvel, no Vale da Gafaria, em Lagos, a equipa de 
arqueólogos que estava de serviço encontrou várias ossadas 
contendo uma centena e meia de esqueletos ali sepultados. 
O achado deu origem ao Núcleo Museológico Rota da Escravatura, 
que foi inaugurado no início do mês de junho (06.06).
Os 155 esqueletos encontrados são de dois períodos distintos. 
Os mais antigos do século XV e os mais recentes do século XVII. 
O que os arqueólogos encontraram “é tão raro” que, na altura, se 
procedeu:
A assinatura de um protocolo de colaboração entre a Câmara 
Municipal de Lagos e o Comité Português do Projeto UNESCO A 
Rota do Escravo, com vista à criação de um Museu da Escravatura 
e à salvaguarda e memorialização do sítio. 
Nesse protocolo, previa-se que, no local hoje ajardinado, ficasse 
sinalizado o achamento através de um Memorial e de uma estrutura que permitisse dar a conhecer a realidade ali encontrada.
O referido protocolo acabou por não ser totalmente cumprido 
mas isso não impediu a inauguração do Núcleo Museológico que 
acabou por ficar instalado no renovado Edifício da 
Alfândega – também conhecido por “Mercado de Escravos” – em 
Lagos.


Inauguração Núcleo Museológico da Rota de Mercado de Escravos
Inauguração Núcleo Museológico da Rota de Mercado de Escravos. Foto: CM-Lagos

Este núcleo museológico de Lagos associou-se ao projeto 
internacional da UNESCO, “Rota do Escravo“, que tem 
como objetivo “romper com o silêncio em torno do tema“. 
Lançado em 1994, por iniciativa do Haiti e de alguns 
países africanos, este projeto tem provocado significativo 
impacto e contribuído para o reconhecimento oficial do 
tráfico de escravos como um crime contra a humanidade. 
Com comités nacionais em vários países, incluindo 
Portugal, a organização internacional da “Rota do Escravo” 
conseguiu instituir o dia 23 de agosto como o Dia 
Internacional da Memória do Tráfico de Escravos e de sua 
Abolição e tem levado a cabo diversas apresentações e 
colóquios sobre o tema para que a memória não se apague.

A Rota do Escravo no mundo e em Portugal
VÍDEO

Segundo o historiador norte-americano, Davis Eltis, da Universidade de Emory, em Atlanta:
O tráfico de escravos transatlântico foi o maior deslocamento forçado de pessoas a longa distância ocorrido na história, tendo constituído, até meados do século XIX, o maior manancial demográfico para o repovoamento das Américas após o colapso da população ameríndia.
Eltis estima que entre 1500 e 1840, o período áureo do comércio negreiro transatlântico, cerca de 12 milhões de escravos partiram para as Américas. Enquanto apenas 3,4 milhões de europeus partiram para o mesmo destino, em igual período. A forte demanda por produtos e metais preciosos vindos das Américas e a falta de mão-de-obra, tanto local como de trabalhadores europeus – que não queriam atravessar o atlântico – não era suficiente para dar resposta às exigências dos consumidores na Europa. Fazendo com que o tráfico de escravos e o trabalho humano forçado aumentasse.
Comércio triangular. Fonte: Blogue "Os Descobrimentos Portugueses"
Comércio triangular. Fonte: Blogue “Os Descobrimentos Portugueses
Este trabalho escravo era constituído maioritariamente por Africanos e o comércio negreiro transatlântico integrava duas grandes rotas – do chamado comércio triangular – que ligava a Europa, a África e a América Central e do Sul. Uma das rotas de escravos, a Europeia, foi dominada maioritariamente pelos ingleses e a outra, no Brasil, foi dominada em exclusivo e durante três séculos pelos portugueses:
Os ventos e as correntes também determinaram que os africanos transportados para o Brasil viessem predominantemente de Angola, enquanto o sudeste da África e o golfo do Benim desempenhavam papéis secundários; e que os africanos levados para a América do Norte, o Caribe incluído, viessem principalmente da África Ocidental, em sua maioria dos golfos de Biafra e Benim e da Costa do Ouro. Mas, assim como o Brasil cruzava a fronteira entre os sistemas traficando no golfo do Benim, ingleses, franceses e holandeses também trouxeram alguns escravos do norte de Angola para o Caribe.
Portugal assumiu um papel destacado no tráfico de escravos africanos para as colónias europeias da América e terá sido o responsável pelo início do tráfico atlântico. Embora não o reconhecesse formalmente: 
Tal acusação era motivada pela demora do país em aceitar a abolição, tanto por razões económicas como culturais.
Pelo menos até ao período abolicionista que viria a contribuir para a abolição do tráfico de escravos:
Há 250 anos, em 1761, Portugal foi pioneiro na abolição do tráfico de escravos na metrópole, declarando libertos e forros os escravos que entrassem em Portugal. Foi um primeiro passo para a abolição da escravatura.
Lagos na rota do comércio de escravos
Segundo a crónica de Gomes Eanes de Azurara, “O Descobrimento e conquista da Guiné“:
Em 1444, Lançarote deixa o porto de Lagos e regressa em agosto do mesmo ano com o primeiro grande contingente de escravos: 235 escravos negros que se raptaram nos litorais da Senegâmbia e foram vendidos em leilão na praça pública.
Por isso mesmo, faz todo o sentido a criação deste museu dos escravos nesta cidade algarvia. Lagos não foi apenas um dos grandes centros de apoio económico e militar durante a época dos Descobrimentos portugueses. Foi também a cidade que acolheu o maiormercado de escravos do país. Acredita-se que foi o primeiro mercado de escravos da Europa:
Lagos recebeu desde 1444 carregamentos regulares de escravos e foi aqui que se instalou o provável primeiro mercado de escravos da Europa.

pt.globalvoices.org
17
Ago16

Santa Luzia, Algarve

António Garrochinho

Santa Luzia, Algarve

Santa Luzia é uma pequena aldeia pesqueira próxima de Tavira, que é especializada na captura de polvo. O porto ganha vida logo pela manhã quando o polvo capturado durante a noite é descarregado e vendido, enquanto que no resto do dia a bela aldeia mantém-se sossegada e sonolenta. A fachada do porto está alinhada com vários restaurantes que servem polvo fresco, e estes estabelecimentos “encaram” a colorida frota de barcos. Santa Luzia pode ser pequena, mas proporciona uma agradável excursão de meio dia a partir de Tavira e pode ser visitada como parte de um passeio de bicicleta ou de uma pequena caminhada.

O Que Fazer em Santa Luzia?

Santa Luzia é uma aldeia Portuguesa pesqueira e tradicional, que quase nunca mudou desde o aparecimento do turismo em massa. A principal atração é a própria aldeia e o charme antiquado que ela emana. Os barcos de pesca coloridos regressam cedo pela manhã e esta é a melhor altura para visitar o mercado de peixe, onde é exposto e vendido o peixe que é capturado durante a noite.
A frota pesqueira de Santa Luzia
A frota pesqueira de Santa Luzia
Existe uma praia deslumbrante a sul de Santa Luzia (Praia da Terra Estreita) que é apenas acessível de ferry. Esta praia faz parte da Ilha de Tavira e oferece um areal dourado, águas geladas e um cenário remotamente subdesenvolvido. Esta praia é reconhecida como a melhor praia da região e é sempre calma, mesmo na época alta de verão.
A deslumbrante Praia da Terra Estreita
A deslumbrante Praia da Terra Estreita
Nenhuma visita a Santa Luzia está completa até provar o polvo, uma iguaria adorada pelos Portugueses. Este prato é extremamente difícil de cozinhar e preparar, mas a aldeia dominou a arte desta receita de gosto adquirido.

A aldeia está posicionada no limite do Parque Natural da Ria Formosa, uma série de lodaçais protegidos e lagoas desenhadas para a vida de aves migratórias. No verão existem passeios de barco, mas é mais interessante ver centenas de caranguejos nos lodaçais durante a baixa maré, perto do porto.

Factos Interessantes Sobre Santa Luzia

Os polvos são capturados por métodos clássicos, que quase nunca foram alterados ao longo dos séculos. Para capturar o polvo, são lançados potes de barro para o fundo do mar e os animais sentem-se involuntariamente tentados a nadar para dentro das armadilhas, mas são incapazes de fugir. Estes potes de barro podem ser vistos alinhados nos barcos e no cais da aldeia.
octopus Santa Luzia
Os polvos encaixotados e prontos para venda...…
A aldeia foi nomeada em homenagem a Santa Luzia, quando pescadores locais recuperaram miracolosamente uma relíquia sagrada que lhe pertencia, que foi perdida em alto mar durante uma enorme tempestade.

Ciclismo e Caminhada Até Santa Luzia

Santa Luzia situa-se apenas a 3km de Tavira e ambos os destinos pertencem à principal ciclovia do Algarve. Construída para o propósito de ciclismo, esta via é uma rota que se extende ao longo do Algarve. A rota é completamente segura para ciclistas de todos os níveis, e podem ser alugadas bicicletas em Tavira ou Santa Luzia. A ciclovia para Santa Luzia segue a estrada R151 que abandona Tavira a sudoeste, mas esta é uma estrada muito sossegada com pouco trânsito.
A rota também é adequada para caminhantes e demora cerca de 40 minutos, cobrindo uma distância de 3km a partir do centro de Tavira. Uma fantástica rota para caminhar (5 horas) parte de Tavira em direção a Santa Luzia e continua até à Praia do Barril, regressando ao longo da praia até à Ilha de Tavira, para posteriormente apanhar o ferry de volta a Tavira. Para um guia do onibûs com rota Tavira – Luzia, clique aqui.
O Cemitério das Âncoras, próximo de Santa Luzia
O Cemitério das Âncoras, próximo de Santa Luzia
A Praia de Santa Luzia - A Praia da Terra Estreita
Santa Luzia situa-se na ilha restinga chamada Ilha de Tavira e ao longo do comprimento da ilha, encontram-se viradas para o mar, algumas das melhores praias da região. A praia mais próxima de Santa Luzia é a Praia da Terra Estreita e é apenas acessível de ferry, a partir do porto. O numéro de serviços de ferry reflete a época (partidas frequentes de maio até meados de setembro), mas existem táxis aquáticos em caso da perda do embarque ou durante a época baixa. Um bilhete de ferry individual de adulto tem um custo de €1.50 e um bilhete de ida e volta custa €2.00.
A praia situa-se apenas a uma pequena caminhada da Terra Estreita
A praia situa-se apenas a uma pequena caminhada da Terra Estreita
A este da Praia da Terra Estreita situa-se a Praia de Tavira, a secção mais desenvolvida da ilha, enquanto a oeste situa-se a Praia do Barril e o Cemitério da Âncoras. Consegue-se caminhar até ambas as praias, a partir da Terra Estreita e demora aproximadamente 30 minutos. A Praia da Terra Estreita é sempre mais calma do que a Praia de Tavira ou do Barril e possui apenas instalações básicas. Esta é a praia a visitar, para escapar às multidões durante o pico do verão.
Terra Estreita beach ferry
O ferry da Praia da Terra Estreita e o Parque Natural da Ria Formosa


tavira-algarve-portugal.com
17
Ago16

Casa de João de Deus em Messines

António Garrochinho



Existe em S. Bartolomeu de Messines, terra da naturalidade do grande poeta João de Deus, a forte convicção de ter nascido numa casa térrea, onde aliás se encontra hoje colocada uma lápide e um medalhão assinalando o facto de ter sido ali o seu primeiro berço.
Ora bem, parece que essa afirmação e a lápide de homenagem incrustada na humilde casa térrea, não parece corresponder inteiramente à verdade dos factos.
Segundo parece, o próprio poeta terá contado a seu filho, o Dr. João de Deus Ramos, que a casa onde nasceu é aquele prédio nobre fronteiro à Igreja matriz, onde hoje se acha instalada a sua Casa-Museu.
Com efeito os pais do poeta João de Deus, quando se casaram foram viver para aquela humilde casa térrea, cujo traço arquitectónico é do mais comum e popular que se conhece na região. Há muitas casas na aldeia iguais àquela. Nos primeiros anos de vida do casal tanto as possibilidades como as ambições económicas não eram muitas, pelo que a pequenez da habitação satisfazia as suas mais imediatas necessidades.
Naquela casa humildes nasceram os primeiros filhos do casal, que como se sabe foram catorze, dos quais só metade sobreviveram. Um dos primeiros filhos chamou-se João de Deus, e nasceu naquela casa térrea. Porém, não resistiu e faleceu pouco depois. Seguiram-se outros filhos e como a prole aumentasse e as possibilidades económicas tivessem melhorado resolveu mudar-se para uma casa maior, precisamente aquela que hoje se converteu em museu e biblioteca.
Foi nessa casa que nasceu o poeta João de Deus, que era o quinto filho de entre os que efectivamente sobreviveram. Os pais, em homenagem ao irmão que havia falecido quase à nascença, resolveram baptiza-lo com o mesmo nome. Portanto foi na “Casa Grande” junto à Igreja Matriz que nasceu o cantor das Flores do Campo, não tendo pois qualquer fundamento a ideia popular que ainda subsiste relativamente à casa térrea.

promontoriodamemoria.blogspot.pt

17
Ago16

Florbela Espanca no Algarve (parte I)

António Garrochinho


J. C. Vilhena Mesquita
A fugaz passagem de Florbela Espanca pelo Algarve tem sido pouco estudada pelos seus biógrafos que, naturalmente, se têm mostrado muito mais atentos aos factos que marcaram directamente a sua amarga existência. Porém, permitam-me que discorde da macrobiografia e que modestamente me embrenhe na obscuridade dos episódios pouco conhecidos, «a priori» irrelevantes, mas que teremos de admitir, constituem os microfactos, na maioria dos casos, indispensáveis e urgentes para o desvelamento dos chamados «acontecimentos notáveis». Pois, na vida de Florbela d'A1ma da Conceição Espanca, verificam-se muitos «pontos negros», que apenas se afloram sem que, contudo, se penetre no cerne das suas origens, na essência da sua constituição. Ora, a permanência daquela poetisa em terras do Algarve não tem constituído, ainda, um objecto de investigação para os ensaístas da nossa literatura ou para os historiadores da nossa cultura, talvez porque a sua estada foi efémera, transitória e indelével.
A razão da transferência daquela poetisa alentejana para a pacata Aldeia de Quelfes, no concelho de Olhão, prende-se com questões de saúde e data da Primavera-Verão de 1918. Nessa altura, Florbela já campeava nos jornais, mormente no «Notícias de Évora», creditando-se como uma jovem poetisa de rara sensibilidade, espelhando desde logo uma inspiração transcendente e mística, de uma beleza algo amarga.
Vinha atraída pelo clima ameno, de ares puros e grande calmia, que então se vivia na orla marítima desta província. A sua doença aparentava sintomas de tuberculose e a prudência aconselhava-a a fugir dos ares poluídos e da vida atribulada, que experimentara como estudante do 1.º ano de Direito da Universidade de Lisboa.
Nessa época Florbela era já uma mulher feita. Tinha 24 anos de idade e era casada com Alberto de Jesus Silva Moutinho, mais velho do que ela um ano. A sua vida conjugal prolongava-se desde há cinco anos e um aborto, associado a um estado de espírito verdadeiramente inconstante, degenerara num esgotamento físico-psíquico muito próximo dos sintomas da tuberculose. Restava-lhe escolher o local mais apropriado ao seu completo restabelecimento. Escolheu Quelfes. Porque? É simples! A zona da beira-serra algarvia que se estende desde os Vilarinhos, passando por Alportel até Moncarapacho, era muito aconselhada pelos médicos havendo inclusivamente a salientar a existência de uma sanatório no lugar de Almargens, no concelho de S. Brás de Alportel, originariamente destinado ao tratamento dos trabalhadores dos caminhos-de-ferro. Além disso, o pai de Florbela, o conhecido antiquário João Maria Espanca, era muito bem aceite por estas bandas, que frequentemente visitava na ânsia de encontrar e adquirir objectos de arte de comprovado valor e antiguidade. Portanto, tudo leva a crer que conhecendo bem a região e sabendo por experiência própria o quanto ela era benéfica no tratamento de taisdoenças, tenha aconselhado a filha a vir para o Algarve, em vez de demandar as terras altas do Norte. Acrescente-se a tudo isto, o facto de em Faro residir o irmão de seu marido, o Manuel, de que era grande amiga, e cujo fraternal afecto conservou até à morte. Nada nos repugna afirmar que a seu alvitre resida mais uma das razões que motivaram a sua permanência nesta província.
Mas, nessa altura, atendendo à amizade que a unia ao cunhado, porque não escolheu antes a cidade de Faro? Muito naturalmente porque nesta cidade os ares não seriam tão propícios à sua doença quanto os de Quelfes, que se situa na zona do chamado Barrocal, área morfologicamente intermédia à serra, e ao litoral. Mas, nesse caso, porquê Quelfes e não Moncarapacho, por exemplo? Ora aí é que reside a principal questão! E a explicação foi-nos revelada pelo Dr. Antero Nobre, grande investigador da cultura e da história olhanense, que, não há muito tempo, lançou de balde o alvitre de na casa que Florbela Espanca habitou, que felizmente ainda existe, se colocasse uma lápide, assinalando, com inteira justiça, a veracidade do facto. Infelizmente, o dono do imóvel recusou-se a permitir tal «sacrilégio», talvez com medo que assim se impedisse a futura hipótese de naquele lugar vir a construir um prédio novo. E a ideia morreu sem ter qualquer seguimento, apesar de mesmo assim se ter iniciado uma subscrição pública para comportar as despesas de elaboração da referida placa comemorativa. Enfim…, coisas que só acontecem no Algarve.
Mas estava eu dizendo que a explicação da sua fixação em Quelfes reside no facto de aí se encontrar colocada como professora primária uma irmã solteira do marido, que se chamava Doroteia, e que partilhava a residência com uma amiga. Logicamente que ela era a pessoa mais indicada para os ajudar pois residia no local apropriado ao tratamento de Florbela e, além disso, tinha conhecimentos suficientes da vila de Olhão que permitissem ao irmão ganhar a vida como explicador de matérias liceais, trabalho esse que ele já havia desenvolvido nos concelhos de Redondo e de Évora. Inclusivamente era esse o único ganha-pão do casal, muito embora o pai de Florbela já patrocinasse os estudos da filha contribuindo com uma mesada que, associada aos rendimentos do Alberto Moutinho, era substancialmente capaz de permitir a sobrevivência de ambos. Portanto, atendendo a que Olhão Se encontrava a dois quilómetros da casa da irmã e que aí existia um colégio onde podia exercer a sua actividade de explicador, o Alberto Moutinho concluiu, naturalmente, que não valia a pena pensar duas vezes. E assim aconteceu. Fixaram-se em Quelfes, muito provavelmente desde Março de 1918 até Setembro desse mesmo ano. Uma efémera estada, portanto. Contudo, foi suficiente para que Florbela se restabelecesse dos achaques provocados pelo aborto e pudesse, inclusivamente, dedicar-se à meditação poética, à produção de alguns sonetos, que mais tarde foram reunidos em livro. 
Curioso será notar que a amenidade do clima algarvio e a placidez da aldeia de Quelfes vão estar na base da separação do casal e no seu consequente divórcio. Assim, enquanto o marido, mais calmo e sensato, preferia a segurança e a tranquilidade da província, situação que mais se coadunava com o seu espírito modesto e resignado, capaz de viver com as maiores dificuldades, sem que isso constituísse uma verdadeira desgraça; Florbela, ao invés, preferia o luxo, o convívio com gente culta, mais de acordo com o seu feitio e com as suas carências afectivas. Florbela amava a cidade, o movimento e o rebuliço, a sua roda de amigos e, especialmente, sentia uma vontade intrínseca de ser adorada, na expressão mais sublime do termo. O marido não podia regular-se pelo mesmo diapasão. Daí a sua incompatibilidade.
Efectivamente, não se pode dizer que Florbela Espanca tenha sido feliz nesta sua torturante permanência em Quelfes. Assim se comprova através de breves passagens das suas cartas, datadas de 19 de Abril, 18 de Maio e de 5 de Junho, justamente compiladas em livro por Azinhal Abelho e José Emídio Amado, Cartas de Florbela Espanca (1949), nas quais faz transparecer a sua desilusão, o seu desencanto a sua, ao fim e ao cabo, permanente frustração.
«Estou farta disto tudo. Se me vejo daqui para fora não acredito, mas o raio do médico diz que se me vou embora que não duro seis meses e eu tenho medo.»
Mas ainda mais saturante e dramática poderá considerar-se esta passagem:
«Não me digas que fico cá até ao fim da vida. Era melhor dar um tiro nos miolos.»A solidão da aldeia igualmente atormentava o seu espírito sequioso de comunicação, de carinho, de afecto, de admiração, de fama…, com a qual sempre sonhou, mas que só veio a obter depois da morte.
«Não imaginas como eu passo os dias aborrecida. Não há ninguém com quem a gente possa conversar.»
Tal como muito bem observa Agustina Bessa Luís, «todas as suas perturbações, a emoção exaltada, o esgotamento, as insónias, a intolerância aos alimentos, às pessoas, ao género de vida, a tuberculose encoberta, as dores de cabeça, as infecções, toda a espécie de repugnâncias físicas e morais, anunciam a instalação da neurose. Provavelmente com o desgosto sexual aparece o grande motivo desentendimento no matrimónio.»[1]
No entanto, é errado pensar-se que ambos viviam numa situação económica matizada por privações insustentáveis e adversas ao seu espírito, já que o contrário se comprova através de uma carta, datada de Junho de 1918, na qual se verifica que o Alberto Moutinho ganhava cerca de 45$00 mensais como explicador, e que, acrescido do ordenado da irmã e da mesada que recebia do pai, dava perfeitamente para levarem uma vida desafogada.

(artigo publicado no «Diário de Notícias» em 5 de Agosto de 1983)

algarvehistoriacultura.blogspot.pt

17
Ago16

A Preguiça

António Garrochinho


Por Maria de Sousa Martins
[Aposentada - Benfarras]

Ora, queres tu que eu te conte histórias de quando eu era moça nova… Eu tenho lá histórias para contar. A minha vida foi sempre a trabalhar. Trabalho. Só trabalho. Bem sabes que o meu pai – o teu avô – era rendeiro nas terras do Morgado de Quarteira. Tínhamos à nossa conta a Preguiça. Assim se chamava o bocado de terra que semeávamos.

[E o que é que lá semeavam, tia?]

Semeávamos trigo, cevada, milho, batata doce…íamos daqui de manhã cedinho, levávamos as vacas que por lá ficavam a pastar e só voltávamos à noite. Eram dias inteiros a regar. Às vezes até noite dentro. Mas, olha, tínhamos pão para comer o ano inteiro. Lembro-me de um ano em que o teu avô semeou um alqueire de trigo e acabou por arranjar 16 alqueires. Naquele tempo, nos anos 40, quando havia racionamento, nunca chegámos a ir para a bicha do pão que se vendia na casa da Ti Teresa Ramexida.

Mas trabalhi muito. Isso é que trabalhi. E não me hei-de esquecer de uma noite em que fiqui lá sozinha, com as vacas. Já era tarde e tínhamos que voltar no dia seguinte. A tua mãe e as outras manas regressaram a casa, mas para fazer o caminho com as vacas era mais demorado. Fiqui eu. Era por ocasião da feira de Quarteira, fins de Outubro. Olha, choveu tanto, mas tanto que repassou todo o abrigo que eu tinha debaixo do carro de mula. Molhou tudo, subiu a água na vala grande. Ai que dilúvio, menina.

[Oh tia, mas a que zona de Vilamoura é que corresponde hoje essa antiga terra da Preguiça?]

Shiiii, já nem deve dar para se reconhecer. Acho que já não existe lá a nora grande, mas parece que ainda lá está a carreira de oliveiras junto às quais passávamos à chegada à Preguiça. Diz a tua prima que é um pouco antes de chegar ao Posto da GNR. Eu cá não sei. Nunca mais para lá fui. Dizem que hoje é só casas para turistas. Às vezes penso por que raio é que se havia de chamar Preguiça a um sítio em que trabalhávamos tanto…Se calhar já lhe adivinhávamos o futuro, que hoje sim, só para lá se vai ao descanso.


Vilamoura

blog.turismodoalgarve.pt
17
Ago16

Feira da Caça Maior volta a São Teotónio a 3 e 4 de Setembro

António Garrochinho


A Feira da Caça Maior vai voltar à vila de S. Teotónio, no concelho de Odemira, no fim-de-semana de 3 e 4 de Setembro, no Parque de Feiras e Exposições.

Segundo a Câmara de Odemira, o certame, que tem este ano a sua 5ª edição, «
vai contar com a presença de stands de empresas e associações do setor, exposição de cães de matilha e de troféus, demonstrações de caça com cães de parar e de caça ao coelho, entre outras atividades. A componente gastronómica, animação infantil e animação musical completam o programa».

A Feira da Caça Maior tem como objetivo promover «uma atividade com grande dinamismo no concelho de Odemira, que tem extraordinárias condições cinegéticas e é destino de eleição para muitos adeptos da caça. No território odemirense existem diversas zonas de caça, sendo a caça maior uma das modalidades com maior expressão, nomeadamente a caça ao javali».

Este evento resulta de uma parceria entre o Município de Odemira, a Junta de Freguesia de S. Teotónio e as Associações de Caçadores do Concelho.


www.sulinformacao.pt
17
Ago16

Noites do Levante voltam a trazer música e artes de rua a Olhão

António Garrochinho

Música, espetáculos de novo circo, teatro, dança e arruadas vão animar a zona ribeirinha de Olhão, entre os dias 23 e 26 de Agosto.

Durante quatro noites, os jardins situados junto à Ria Formosa e a Avenida 5 de Outubro vão acolher diversas iniciativas culturais, que começam às 21h30 com arruadas de música e artes de rua e terminam junto aos Mercados Municipais, onde  será montado um palco que acolherá concertos improváveis. A entrada é livre.
No dia 23 de Agosto, uma terça-feira, a festa começa com um desfile de malabaristas, equilibristas, manipuladores de fogo e músicos do grupo Satori, que percorrerá a 5 de Outubro e a envolvente dos Mercados. A festa continua com um concerto do conceituado músico português JP Simões.

Na quarta-feira, o rastilho será aceso pela banda de fanfarra Original Bandalheira. No palco situado junto aos Mercados Municipais, atuarão os Mesa pra Dois, que vão proporcionar uma noite repleta de funk, reggae, disco e pop.



A 25 de Agosto, há teatro, mais precisamente a representação de um excerto de Gil Vicente, o «Monólogo de Branca Gil», por Alexandre Lopes. A noite termina com fado.

O evento encerra na sexta-feira, depois de mais uma noite com muita animação. A música e o fogo vão ser elementos centrais do espetáculo que a companhia Atelier trará à Baixa de Olhão, denominado Fire Sculpture Mobile. A música funk da banda Os Compotas encerra a noite e a edição de 2016 das Noites do Levante.


www.sulinformacao.pt
17
Ago16

TOP PROTAGONISTAS DE NOTÍCIAS TV JULHO 2016

António Garrochinho

Há várias formas de discriminar -positiva ou negativamente - na informação noticiosa.
Há 'notícias' tendenciosas e até falsas, que alguns procuram justificar com base em critérios jornalisticos.
Depois há coisas mais objectivas e irrefutáveis como o silenciamento de alguns e a promoção de outros.
A imagem anexa resulta de um estudo da marktest aos noticiarios dos 4 canais de sinal aberto durante o mês de Julho, excluindo entrevistas e reportagens.
Cada um faça as suas leituras e tire as suas conclusões...

Jaime Toga




17
Ago16

50 mil devoraram 10 toneladas de marisco em Olhão (com fotos)

António Garrochinho



Mais de 50 mil pessoas passaram pela 31ª edição do Festival do Marisco de Olhão ao longo dos seis dias do evento, que terminou este domingo no Jardim Pescador Olhanense.

Para além dos sabores do mar, os espetáculos de Áurea, Expensive Soul, Os Azeitonas, C4 Pedro, Camané e Xutos & Pontapés foram chamarizes para o público.

Segundo a Câmara de Olhão, «as enchentes maiores registaram-se nas atuações de C4 Pedro, com cerca de 11 mil pessoas no recinto, e dos Xutos e Pontapés, com mais de 10 mil».

No que diz respeito à quantidade de mariscos e bivalves consumidos, segundo a autarquia, o número chegou às 10 toneladas, sendo que o camarão, a sapateira, as amêijoas e as ostras foram as iguarias mais procuradas.

«Estamos, mais uma vez, muito satisfeitos com a forma como decorreu esta edição do Festival do Marisco. É com imenso prazer que, ano após ano, recebemos de braços abertos as dezenas de milhares de pessoas que nos visitam. Vamos agora recuperar energias e, brevemente, começar já a trabalhar na edição de 2017», anunciou o presidente da Câmara, António Miguel Pina, na derradeira noite do Festival.

«Projetar a Ria Formosa, a cidade e o concelho de Olhão e promover a sua economia e turismo são os objetivos desta iniciativa da Câmara Municipal, organizada pela Fesnima, que ano após ano atrai dezenas de milhares de visitantes ao Jardim Pescador Olhanense, que encontram no Festival do Marisco o que de melhor o mar português e a Ria Formosa têm para oferecer», conclui a Câmara de Olhão em nota enviada às redações.























www.sulinformacao.pt
17
Ago16

Orçamento do Estado para 2016 já abre possibilidade - Funcionários públicos podem recuperar subsídio de Natal

António Garrochinho



O subsídio de Natal dos trabalhadores da Administração Pública pode ser mais um dos direitos repostos no próximo ano. Pagamento por duodécimos foi imposto pelo anterior governo e dura desde 2013.

O Orçamento do Estado para 2017 pode ser o primeiro em cinco anos a garantir aos trabalhadores da Administração Pública o direito ao subsídio de Natal



Os trabalhadores da Administração Pública podem recuperar o subsídio de Natal, pago por inteiro e juntamente com o salário de Novembro, já no próximo ano. O Orçamento do Estado (OE) de 2017, em fase de preparação, pode acabar com o pagamento em duodécimos imposto em 2013 pelo governo do PSD e do CDS-PP para mascarar o «brutal aumento de impostos» desse ano, com a sobretaxa e a redução dos escalões do IRS (de oito para cinco).

O OE de 2016, aprovado em Março na Assembleia da República, foi expurgado de um ponto presente em anteriores orçamentos, que fixava o regime com «natureza imperativa e excecional, prevalecendo sobre quaisquer outras normas, especiais ou excecionais, em contrário e sobre instrumentos de regulamentação coletiva de trabalho e contratos de trabalho, não podendo ser afastado ou modificado pelos mesmos». A lei orçamental estabeleceu, ainda, o regime a ser aplicado quando o pagamento por duodécimos terminar.

O pagamento do subsídio de Natal através de duodécimos (repartido pelos salários dos 12 meses) aos trabalhadores da Administração Pública foi introduzido em 2013, após o anúncio de um «enorme aumento de impostos» pelo ministro das Finanças, Vítor Gaspar. A ideia era esconder o efeito da sobretaxa do IRS, introduzida também nesse ano. O actual Governo introduziu a eliminação gradual da sobretaxa já neste ano.

O subsídio de Natal foi criado em Agosto de 1974, pelo II Governo Provisório, poucos meses após a Revolução de Abril.


www.abrilabril.pt

17
Ago16

OS “JE SUIS” AINDA EM FÉRIAS

António Garrochinho

Ataque norte-americano contra escola iemenita. Mais de 28 feridos e 10 meninos mortos.
O chá continuou a servir-se à hora marcada, em Londres ou Camberra, e o “pastis” prosseguiu a sua exaltação de patriotismo no Eliseu.

Guilherme Antunes


17
Ago16

Greve na Valorlis por aumentos salariais

António Garrochinho



Decorreu greve na Valorlis pela exigência imediata do aumento das remunerações. Os trabalhadores contrapõem o congelamento dos salários aos lucros de quase dez milhões de euros que a Mota-Engil arrecadou.


Trabalhadores da Valorlis estiveram em greve pelo aumento de 50 euros no salário


Trabalhadores da Valorlis estiveram em greve ao trabalho extraordinário de 13 a 15 de Agosto, e em greve de 24 horas no dia 16 de Agosto, que teve uma adesão significativa. Em causa estava a exigência de aumentos salariais.

Segundo Manuel Pereira, dirigente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local e Regional, Empresas Públicas, Concessionárias e Afins (STAL), nos dias 13, 14 e 15 «ninguém efectuou trabalho extraordinário», e quanto ao dia 16, todas as pessoas que trabalham na triagem estiveram em greve «e não entrou nem saiu nenhum carro do aterro».

Dos cerca de 120 trabalhadores que laboram na Valorlis, «cerca de 70 fizeram greve» e «alguns foram requisitados para cumprir os serviços mínimos», referiu à imprensa o dirigente, considerando, contudo, que essa medida «não se justifica, já que não se trata de lixo tóxico».

O sindicato lembra, num comunicado, que a Valorlis já não se encontra abrangida pelas normas do Orçamento de Estado que impediram a valorização salarial dos trabalhadores, exigindo assim o aumento imediato dos salários em 50 euros. A Mota-Engil/Suma, que controla a Empresa Geral de Fomento (EGF), à qual pertence a Valorlis, mantém os salários congelados, embora esta já não seja do Estado.

«Os trabalhadores estão convictos que de outra forma não vão conseguir os seus objetivos e vão continuar a lutar até que os aumentos cheguem. Há pessoas aqui a ganhar o salário mínimo há dez anos e foram distribuídos dez milhões de euros de lucros pelos administradores, valores que foram obtidos com o esforço dos trabalhadores que tiveram os salários congelados», afirmou Manuel Pereira.

O STAL refere ainda que os funcionários exigem a «negociação e a aplicação à Valorlis do Acordo de Empresa da Amarsul e Valorsul (Grupo EGF)».

www.abrilabril.pt
17
Ago16

Alertando para a degradação do serviço - Trabalhadores da Transtejo denunciam graves problemas na frota

António Garrochinho

A Comissão de Trabalhadores da Transtejo envia uma carta aberta ao Governo onde denuncia os entraves criados à retoma da autonomia jurídica da empresa e os problemas da manutenção da frota.

A Comissão de Trabalhadores da Transtejo enviou uma carta aberta ao Governo e aos órgãos de soberania, onde denuncia acções da empresa para perpetuar a fusão operacional, técnica e financeira com a Carris e o Metropolitano, e os vários problemas com que se depara a Transtejo.

Segundo os trabalhadores, apesar de aprovado pela Assembleia da República no dia 9 de Junho o diploma que revoga os Decretos-leis 98/2012 e 161/2014, determinando assim que as empresas de Serviço Público de Transportes, Grupo Transtejo, Carris e Metropolitano retomem o modelo de autonomia jurídica, continuam a decorrer acções que visam efectivar a fusão operacional, técnica e financeira das empresas, com a celebração de contratos conjuntos, o desenvolvimento de aplicações informáticas para utilização conjunta, e a deslocalização de trabalhadores para edifícios de outras empresas.

Os trabalhadores denunciam ainda o pouco investimento dos últimos anos na conservação e manutenção da frota actual, evidenciando-se «as situações mais anómalas». Outro aspecto apontado é a falta de mão-de-obra, denunciando os trabalhadores que o transporte não foi ainda afectado devido «à boa vontade e colaboração dos profissionais que têm feito muito trabalho extraordinário, alguns mesmo já ultrapassado o limite máximo previsto por lei».

Problemas graves com a frota

São enumerados vários problemas com a frota, como é o caso dos ferries, que efectuam o transporte de viaturas, e que neste momento encontram as duas unidades mais recentes da frota com problemas técnicos muito graves, problemas que vêm desde a sua construção e que têm originado muitas interrupções nas carreiras que ligam a margem sul à margem norte. São frequentes os episódios em que existe um transporte de ciclomotores e velocípedes para a margem oposta e no regresso os utentes encontram-se privados do seu transporte devido às constantes avarias. A empresa substitui, mas no entanto as embarcações de substituição muitas vezes não permitem o transporte de viaturas.

A substituir as unidades novas existe outro navio, já com cerca de 60 anos de serviço, o que levanta diversos problemas – o mercado de sobresselentes não existe, tendo que se socorrer ao fabrico das peças que são necessárias, que além de as encarecer, aumenta o seu tempo de espera nas reparações.

Outro dos problemas apresentados pelos trabalhadores são a falta de inspecções e vistorias, verificando-se o seu atraso, o que faz com que os certificados de navegabilidade deixem de estar válidos, impedindo assim as embarcações de prestarem o serviço para a qual foram adquiridas.

Os trabalhadores alertam ainda para que existem secções na empresa que não têm ordem para efectuar compras, e deste modo muitas pequenas operações são afectadas, chegando ao ponto de navios estarem parados devido à falta de material para reparação.

www.abrilabril.pt
17
Ago16

Festa dos Filhos de Querença com inscrições abertas para o jantar no Largo da Igreja| 20 de agosto

António Garrochinho

A União de Freguesias de Querença, Tôr e Benafim, com o apoio da Câmara Municipal de Loulé, organiza no próximo sábado, dia 20 de agosto, mais uma edição da tradicional Festa dos Filhos de Querença.
Este evento tem como principal objetivo reunir amigos, familiares, amantes e simpatizantes de Querença, num jantar ao ar livre, no Largo da Igreja, que terá início pelas 20h00.
Este momento de convívio contará com um baile animado pelo acordeonista Nelson Duarte e atuação do artista Afonso Dias. Durante o evento, a fim de animar miúdos e graúdos, a Palhaça Pirolita marcará também presença.
O jantar funciona por reserva e as marcações poderão ser feitas pelo telefone 289 422 337, entre as 09h00 e as 16h0s, dias úteis.

planetalgarve.com

17
Ago16

Residência Criativa “Designers de Loulé” promove o diálogo com os saberes tradicionais

António Garrochinho


Residência Criativa “Designers de Loulé” promove o diálogo com os saberes tradicionais | 10 a 24 de setembro

Três designers nascidos em Loulé retornam com um novo olhar sobre as suas origens, promovendo o encontro com artesãos e o cruzamento entre os universos da tradição e da inovação, para a criação de produtos com alma louletana. Este é o desafio lançado pela Residência “Designers de Loulé” que acontece de 10 a 24 de setembro, no âmbito da iniciativa “Loulé Criativo”.
Na senda do que o Município de Loulé tem vindo a fazer em torno da valorização do seu património, artes e ofícios, a residência surge como uma oportunidade para promover o diálogo entre os saberes tradicionais e um pensamento mais concetual e contemporâneo sobre os mesmos. A terra e as suas tradições serão o laboratório para a criação, reflexão e partilha que se irá proporcionar em estreito envolvimento com a comunidade local.
A residência inaugura no dia 10 de setembro com a conferência “Sobre o futuro das tradições artesanais” que junta Investigadores, designers e instituições responsáveis, para abordar estratégias de integração das tradições artesanais nos eixos da relevância cultural e económica da sociedade contemporânea. Tem como convidados Fernando Poeiras (Investigador e docente da ESAD), Dália Paulo (Comissária do Programa de Apoio às Artes do Algarve) e Álbio Nascimento (Designer).
Entre 12 e 16 de setembro haverá diariamente, ao final da tarde, aulas a pé e tertúlias, abertas ao público, sobre diferentes aspetos do património local, “Loulé Medieval”, “Loulé moderno”, “Os ofícios nas lojas históricas”, “Comeres da terra” e “Transformar a terra”. Estas conversas serão animadas por investigadores, conhecedores e apaixonados pela cultura local e pretendem trazer conhecimento e inspiração para a residência.
No dia 22 de setembro, o Projeto TASA apresenta 12 novos produtos que aliam as artes tradicionais do Algarve e o design, elaborados nos concelhos de Alcoutim, Silves e Loulé. Associa-se a esta apresentação uma conversa com as instituições, os artesãos e designers envolvidos.
No sábado, dia 24, a Cerca do Convento, em Loulé, local privilegiado de circulação do público, transforma-se numa grande roda de empreita, juntando as empreiteiras do Concelho de Loulé aos curiosos que queiram experimentar as várias técnicas de trabalhar a palmeira-anã, um ícone da tradição artesanal deste território.
Ainda neste sábado, ao final da tarde, será feita a apresentação preliminar das experiências de criação realizadas no decorrer das duas primeiras semanas de residência.
Os nove produtos resultantes da residência entram posteriormente em fase de desenvolvimento e estarão em exposição a partir de dezembro. O objetivo é que estes produtos valorizem e dinamizem a produção artesanal do Concelho, projetando-a para um novo patamar, onde haja uma maior oportunidade para a sua continuidade.
A residência irá envolver nove artesãos das artes do metal, empreita, cestaria, cabedal, madeira, lã, olaria, uma unidade de produção de doçaria tradicional e três designers de produto naturais de Loulé, mas que têm desenvolvido as suas carreiras noutros locais do país e do mundo. Promovida pela Câmara Municipal de Loulé e curadoria de Henrique Ralheta, conta com o apoio à organização da Proactivetur/Projecto TASA.
Os interessados poderão conhecer o programa no site www.loulecriativo.pt e inscrever-se nas atividades.

planetalgarve.com
17
Ago16

17 de Agosto de 1786: Morre Frederico II da Prússia

António Garrochinho


No dia 31 de Maio de 1740, o príncipe herdeiro Frederico da Prússia, então com 28 anos, subiu ao trono prussiano. Monarca absolutista e quase omnipotente, governou o país com firmeza.

Uma mensagem urgente foi recebida pelo príncipe Frederico a 31 de Maio de 1740. O seu pai estava no leito de morte e ele deveria dirigir-se imediatamente a Potsdam.

A morte de Frederico Guilherme I e a ascensão do seu filho simbolizou o início de uma nova era na Prússia. Foi o florescimento das artes, o surgimento do "rococó de Frederico", como ficou conhecida esta época na Alemanha. Ao mesmo tempo, o novo monarca iniciou três guerras europeias.

O pai havia-lhe deixado um país dividido, politicamente insignificante, mas cofres cheios e um exército exemplar para a época. Frederico II soube tirar proveito de ambos para conquistar posição entre as potências da Europa.

Já em Dezembro de 1740, poucos meses após subir ao poder, ordenou a invasão da Silésia e incorporou uma importante região económica. Depois disso, dedicou-se ao desenvolvimento interno, iniciando a construção dos seus esplêndidos castelos em Potsdam e Berlim.

Ao mesmo tempo, atraiu conhecidos artistas para a sua corte, atenuou a censura e promoveu reformas no sistema de ensino e na Justiça. A tortura foi banida e qualquer ser humano, fosse nobre ou mendigo, passava a ter direitos iguais.

Inspirado pelo Iluminismo, o soberano transformou a Prússia num dos países mais progressistas do seu tempo. Em primeiro lugar, ele valorizava o princípio da tolerância religiosa, o que é admirável numa época de grande influência da Igreja Católica.

Ao aceitar os "refugiados" religiosos de outros países, como os huguenotes, Frederico II conscientemente estava a promover a "colonização" da Prússia, pois a mão-de-obra era necessária para o seu desenvolvimento económico.

Visando facilitar a colonização, o soberano incentivou e financiou grandes projectos em que regiões pantanosas foram drenadas, florestas derrubadas e até rios desviados do seu leito.

Esta fase de crescimento económico da Prússia sofreu uma interrupção repentina em 1756: Frederico II envolveu-se numa guerra que duraria sete anos e deixaria metade da Europa em ruínas. O rei prussiano havia iniciado a guerra com a invasão da Saxónia, que se tinha aliado ao Império Austríaco e à Rússia para desmantelar a Prússia. A guerra acabou sem vitoriosos. Por se impor bravamente frente aos inimigos mais fortes, Frederico recebeu do seu povo o respeitoso epíteto "o Grande".

Frederico II governou a Prússia durante 25 anos. Ao falecer, no dia 17 de Agosto de 1786, deixou, da mesma forma como o pai, os cofres cheios e um exército imbatível. O seu império, entretanto, havia- se expandido e tinha-se tornado uma potência europeia. Ainda hoje, o soberano é chamado, com um certo carinho, de Alter Fritz(velho Fritz) pelos alemães.


Fontes: DW
wikipedia (imagens)

Frederico, o Grande

 Mesa-redonda, o Rei Frederico II (centro) em Sanssouci com Voltaire (esquerda) e os principais cientistas da Academia de Ciências de Berlim, em 1850, obra de Adolph Menzel
File:Adolph Menzel - Flötenkonzert Friedrichs des Großen in Sanssouci - Google Art Project.jpg
Concerto de Flauta em Sanssouci  de Adolph Menzel. Frederico II toca flauta acompanhado por Bach no Cravo

17
Ago16

17 de Agosto de 1987: Morre o escritor brasileiro Carlos Drummond de Andrade

António Garrochinho


Escritor brasileiro, Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira, Minas Gerais, em 1902. Estudou em Belo Horizonte e diplomou-se em Farmácia, carreira que não exerceu, e fez a sua vida no Rio de Janeiro, entregando-se às letras. Aderiu ao Modernismo, no qual se distinguiu. Como poeta, estreia-se em 1930 com Alguma Poesia,obra à qual se seguem outras que estão reunidas em Poesia até Agora e Fazendeiro do Ar (1955). Aí se encontram: Alguma Poesia, Brejo das Almas (1934), Sentimento do Mundo (1940), José (1942), A Rosa do Povo(1945), Novos Poemas (1948), Claro Enigma (1951) e Fazendeiro do Ar, apenas com exclusão da poesia circunstancial de Viola de Bolso (1952). Escreve ainda Ciclo (1957), Poesias (1959) e Lição de Loiras (1962),reunindo, então, toda a sua produção literária em Obras Completas (1965).

Na sua poesia, caldeiam-se o sarcasmo, a ironia, o humor, mas há lirismo puro e profundo, a pesquisa do«sentimento do mundo», por vezes a revelação do seu mundo interior, do seu povo, da sua paisagem, atingindo a verdadeira serenidade e pureza clássicas em muitas composições. Foge do sentimental, do patético, mas afirma uma poesia séria, de sentimento límpido e acentuado sentido trágico, transmitidos com discrição e delicadeza. É,então, uma poesia séria, meditada, que se insere no Modernismo brasileiro. É evidente a sua preocupação formal e a abordagem dos temas numa atitude anti-lírica. Tem para ele um grande relevo o mistério da palavra que considera relevadora de poesia. É evidente a sua progressiva depuração quanto ao tema. Como ficcionista,escreve Contos de Aprendiz (1951); como cronista e crítico, é autor de Confissões de Mimas (1944), O Gerente(1945), Passeios na Ilha (1952), Fal, Amendoeira (1957). Na prosa há humor e ceticismo, por vezes uma certa ironia e graça sem esconder a sua natural preocupação com o homem e com o autêntico. Carlos Drummond de Andrade faleceu em 1987 no Rio de Janeiro. No ano de 2002 comemorou-se o centenário do nascimento do poeta.

Carlos Drummond de Andrade. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012.

 

A Palavra Mágica

Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.

Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.

Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.

Carlos Drummond de Andrade, in 'Discurso da Primavera'
17
Ago16

Conheça seis pensadores que mostraram que outra educação é possível

António Garrochinho

A educação é por definição integral porque deve olhar para crianças e jovens buscando atender a todas as dimensões do desenvolvimento humano. Para atingir tal objetivo devem ser pensados espaços, dinâmicas e os sujeitos que são os objetos do aprendizado de maneira que tudo encontre convergência na construção do conhecimento.

Helena Singer elaborou uma lista com referenciais importantes que mostram que outra educação é possível
Helena Singer elaborou uma lista com referenciais importantes que mostram que outra educação é possível

















Inúmeros autores, pensadores e educadores refletiram e colocaram na prática e na teoria modelos que fogem do padrão educacional da maioria das escolas e que podem servir como referências para quem deseja refletir sobre outras formas de ensinar e aprender.
Centro de Referências em Educação Integralprocurou a socióloga e educadora Helena Singer que elencou 6 autores que pensaram o ensino em uma perspectiva inovadora. Confira:

leon_to
Leon Tosltoi foi um escritor russo do século XIX
O escritor russo criou uma escola para filhos de camponeses na propriedade de sua família, emYasnaia Poliana, em meados do século XIX. Crianças, jovens e adultos se reuniam em torno de interesses em comum e o ritmo das atividades seguia o ritmo do interesse das pessoas. Os espaços de aprender eram os que melhor acolhiam o grupo, da sala da escola às florestas. Não é possível saber se Tolstoi foi o primeiro a organizar uma escola desta forma, mas certamente foi o primeiro a registrar uma experiência deste tipo. A escola foi fechada pelo czar justamente por sua proposta inovadora.
janusz-korczak
Pediatra de formação, Janusz Korczak foi pioneiro no uso de ferramentas de comunicação criadas pelas próprias crianças
O pediatra polonês criou e dirigiu junto com Stefania Wilczyńska um orfanato projetado para ser um espaço para as crianças, que atendesse suas necessidades e desejos. O orfanato era gerido por uma república formada pelas próprias crianças.  Korczac escrevia peças infantis e foi pioneiro no uso de ferramentas de comunicação criadas pelas próprias crianças, dirigindo um programa de rádio e uma revista que mostravam suas produções e ideias. O orfanato foi transferido para o campo de Varsóvia durante a Segunda Guerra Mundial e, pouco tempo depois Korczak, Stefa e suas crianças foram levados pelos trens da morte.
Alexander Sutherland Neillcriou criou a escola internato Summerhill
Alexander Sutherland Neillcriou criou a escola internato Summerhill
Educador inglês criou a escola internato Summerhill, ainda nos anos 20 do século passado. Muito influenciado pela psicanálise, especialmente na sua vertente reichiana, buscou que em Summerhill as crianças se sentissem totalmente livres para escolher seus percursos de aprendizagem. A gestão da escola se dá principalmente por assembleias, em que estudantes e educadores debatem e definem, juntos, as regras. A escola permanece funcionando até os dias de hoje nas mesmas bases, dirigida pela filha de Neill, Zoe Readhead.

VÍDEO
Paulo Freire foi um educador brasileiro que até hoje é referência em todo o mundo. Crédito: Instituto Paulo Freire
Paulo Freire foi um educador brasileiro que até hoje é referência em todo o mundo. Crédito: Instituto Paulo Freire
O educador brasileiro, criou um método de alfabetização de adultos baseado na contextualização da realidade vivida pelo trabalhador, afirmando que a leitura das letras não se desconecta da leitura de mundo. Sua teoria possibilita compreender a relação educador-educando em sua horizontalidade, o aprendizado se dá pela troca de saberes e experiências, sem hierarquia de pensamento.
Ele é considerado em todo o mundo como um dos pensadores mais notáveis da educação. Nascido em 1921 em Recife, Freire recebeu 29 títulos de Doutor Honoris Causa de universidades ao redor do mundo e também foi reconhecido com um prêmio da Unesco de Educação para Paz em 1986 e em 2012 foi aprovada a lei 12.612 que tornou o educador o Patrono da educação brasileira.
Ivan Illich foi um filósofo austríaco.
Ivan Illich foi um filósofo austríaco.
O filósofo vienense viveu nos Estados Unidos, Alemanha e México, onde atuou como padre até entrar em conflito com o Vaticano e então continuar suas atividades como professor universitário e ativista. Sua teoria é fundamental para a compreensão da escolarização como um dispositivo moderno para a destituição dos saberes tradicionais, a dependência social em relação aos profissionais e a perpetuação das desigualdades mesmo em regimes democráticos.

Michel Foucault foi um sociólogo francês, atuou como pesquisador, escritor e professor universitário
Michel Foucault foi um sociólogo francês, atuou como pesquisador, escritor e professor universitário
O sociólogo francês atuou como pesquisador, escritor e professor universitário. Seus estudos descrevem a escola como uma das instituições disciplinares de nossa sociedade, sempre denunciadas por seus fracassos, mas de fato bem sucedidas em sua missão maior, a de tornar nossos corpos e mentes dóceis e eficientes.

 educacaointegral.org.br

17
Ago16

Os portugueses são estúpidos?

António Garrochinho
LEONEL MOURA



Todos os anos temos a mesma lengalenga. O país cobre-se de incêndios de norte a sul passando pelas ilhas.
Às televisões, invadidas pelas labaredas e por uma histeria maior do que a habitual, acorrem especialistas enumerando as causas dos sinistros, propondo as mesmas soluções de sempre, misturados com o natural desespero dos populares que tentam apagar fogos com baldes e mangueiras precárias. Já os jornalistas nunca resistem a falar dos cenários dantescos revelando que nunca leram "A Divina Comédia" de Dante. De resto, os políticos expressam solidariedade com as populações, o que é à borla e fica sempre bem, enquanto o Governo promete mais meios, coisa que diga-se em abono da verdade, têm cumprido ao longo dos anos. Nunca houve tanto bombeiro, tanto carro, avião e helicóptero. E, no entanto, o país continua a arder.

Os simplórios culpam os criminosos. Os políticos culpam os outros. Jaime Marta Soares, eterno presidente da Liga dos Bombeiros, presidente da Câmara durante 40 anos, deputado do PSD em várias legislaturas desde 1979 e até membro da assembleia-geral do Sporting, fala que se farta, sempre exaltado, culpando tudo e todos. Mas não revela o que fez em tanto cargo para resolver o problema. A não ser exigir mais dinheiro para os bombeiros.

O problema dos fogos é também esse. Instalou-se em Portugal um poderoso lóbi, que há quem, menos comedido, chame uma verdadeira máfia, que canaliza todas as verbas disponíveis para o combate ao fogo. A gestão da floresta e a prevenção ficam com as migalhas. 

Portugal não precisa de mais bombeiros. Precisa de mais engenheiros florestais.

É claro que existem incendiários, idiotas e descuidados. Mas isto não explica tanto e tão descontrolado fogo. Sobretudo não explica como se propagam com tanta intensidade.

Os estudos estão feitos, passados a extensos relatórios cheios de gráficos. A quantidade de teses universitárias sobre a matéria já consumiu várias florestas só em pasta de papel. Portugal arde com tanta facilidade porque a sua floresta, retalhada em minifúndios, está mal arrumada e não é limpa. Há quem diga que a culpa é do progresso. Quando o povo, no tempo do fascismo, vivia na miséria absoluta e não tinha eletricidade, recolhia todo o pau que encontrava para as lareiras com que, tal como no quadro de Van Gogh, cozia as batatas. Hoje são "ricos". Têm energia elétrica, micro-ondas e fazem as suas compras no supermercado. A lenha fica na floresta à espera de uma faísca.

Infelizmente, aquilo que se ganhou em ligeiro progresso económico não se conquistou em inteligência. Ter habitações no meio de matos ressequidos não é uma boa ideia. A preguiça em prevenir o fogo, limpando as matas, faz com que este consuma as casas, outro património e vidas. É assim tão difícil de perceber?

A dificuldade em encontrar os proprietários, em obrigá-los a fazer a limpeza ou a inércia das entidades responsáveis também não servem de justificação. O Estado, como todos sabemos, é eficiente sempre que quer. Há quem diga que isto não vai lá com multas. A realidade diz o contrário: vai, vai. Não há outra maneira. Infelizmente a maioria das pessoas só muda à força. Não o faz por informação, persuasão e raciocínio.

Arrume-se a floresta, modernize-se a sua gestão, aplique-se a lei e multe-se pesadamente quem não a limpa. Quem não tem capacidade para o fazer venda. A propriedade não é um bem absoluto. Inútil, abandonada, é um risco para todos.

Em suma: passe-se da estupidez para a inteligência.

Artista Plástico
17
Ago16

Conheça a primeira revista de moda da história, a Le Mercure Galant

António Garrochinho


primeira revista de moda da história
Você já está acostumada a comprar revistas de moda, mas provavelmente você não sabe qual foi a primeira revista de moda da história, não é mesmo?
Ela nasceu na França, mais precisamente em Paris. Era uma revista semanal chamada “Le Mercure Galant” (O Mercúrio Elegante), criada em 1678 por Jean Donneau de Visé. O nome da revista foi escolhido fazendo referência ao Deus Mercúrio, que na mitologia grega era o mensageiro dos deuses. Aquele que transmitia as mensagens com velocidade.primeira revista de moda da história conheça
Embora a moda já aparecesse em publicações direcionadas ao público feminino, era apenas um entre vários assuntos abordados, junto com trabalhos manuais e literatura. Com Le Mercure Galant acontecia justamente o contrário: a moda era o assunto principal nas páginas.
Em 1724, quando a revista já estava fazendo sucesso em toda a França e até em outros países, ela mudou seu título para “Le Mercure de France”, durando por mais 100 anos. Em 1825 ela deixou de ser publicada.
Para quem ficou curiosa sobre as publicações dessa revista, a Biblioteca Nacional da França disponibiliza 37 anos (1678-1714) de publicações da Le Mercure Galant para consulta gratuita.


www.wefashiontrends.com
17
Ago16

RIO2016: CHEFE DO MELHOR RESTAURANTE DO MUNDO SERVE REFEIÇÕES AOS POBRES

António Garrochinho


O chefe do melhor restaurante do mundo está a preparar refeições com restos de comida dos Jogos Olímpicos para os sem-abrigo e desfavorecidos do Rio de Janeiro.

O italiano Massimo Bottura, que se pode gabar de ter três estrelas Michelin, inaugurou um restaurante muito especial, com a abertura dos Jogos na cidade brasileira:

“Não se trata de alimentar uma centena de pessoas… Podem ser construídos toneladas de refeitórios para os pobres, mas isto é algo diferente. Quando saírem daqui, como aconteceu há dois dias, [quero] que as pessoas digam: ‘É a primeira vez na nossa vida em que fomos tratados como príncipes’.”

Batizado ReffetoRio Gastromotiva, o restaurante efémero utiliza ingredientes ainda próprios para o consumo, mas que íam ser desperdiçados pelos serviços que alimentam os 60.000 atletas, trabalhadores e voluntários envolvidos nos Jogos Olímpicos no Rio.

Instalado no conhecido bairro da Lapa, o chefe italiano serve diariamente 108 refeições gratuitas a pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Para aceder ao restaurante Osteria Francescana, onde Bottura exerce normalmente a sua arte, na cidade de Modena, perto de Bolonha, considerado este ano o melhor do mundo pela revista britânica “Restaurant”, há uma lista de espera de três meses e o menu custa 180 euros por pessoa.


VÍDEO


pt.euronews.com
17
Ago16

O PSD E O IMI

António Garrochinho



O PSD finge. Finge que não tem nada que ver com o PSD, aliás, nem se conhecem. 
O PSD fala do IMI como se não fossem eles os principais responsáveis pelo IMI pago pelos munícipes. 
Os proprietários de imóveis só deram pela existência do IMI quando o governo PSD-CDS decidiu proceder à reavaliação dos imóveis, definindo critérios para este imposto que conduziram a aumentos brutais da carga fiscal e a graves injustiças na sua aplicação.
Os proprietários de imóveis  só sentiram o peso desse imposto quando o governo PSD-CDS decidiu fazer uma reavaliação dos imóveis e acabar com a cláusula de salvaguarda que impedia o aumento brusco do IMI. 
O PSD foi responsável pela subida do IVA da restauração, do gás e da electricidade para 23%, ou pelo agravamento do IRS através da sobretaxa.
O PSD também sabe que a taxa máxima de IMI vai baixar para 0,45% por iniciativa do PCP na Assembleia da República, mas isso pouco importa, até porque o PSD votou contra.

O PSD também sabe que os Fundos Imobiliários deixaram de estar isentos de IMI, mas isso pouco importa, até porque o PSD votou contra.
O PSD também sabe que os proprietários com baixos rendimentos estão isentos de IMI, mas isso pouco importa, até porque o PSD se absteve.
O PSD também sabe que foi reposta a cláusula salvaguarda do IMI, mas isso pouco imposta, até porque o PSD votou contra.
O PSD finge, mas finge mal.

cris-sheandbobbymcgee.blogspot.pt
17
Ago16

Elvis Presley morreu há 39 anos, mas antes mudou o mundo ( VÍDEOS/FOTOGALERIA)

António Garrochinho


Foi a 16 de agosto de 1977 que Elvis Presley morreu em Graceland, a sua mansão em Memphis, Tennessee. Mas a memória do cantor sobrevive, bem como a sua influência na música atual.



Nasceu a 8 de janeiro de 1935, em Tupelo, Mississippi. O seu irmão gémeo nasceu morto e Elvis seria o único filho de Vernon e Gladys Presley. A infância foi passada junto da família, em Tupelo, mas as dificuldades económicas levaram a família a procurar melhores condições em Memphis, Tennessee. E ainda bem. Porque, se por um lado o primeiro contacto com a música surgiu ainda no Mississippi, onde recebeu a sua primeira guitarra, foi em Memphis que contactou com o gospelblues e R&B que viriam a influenciar a música do impulsionador do rock and roll.
O seu timbre único aliado aos ritmos frenéticos da música negra, coroaram Elvis como Rei do Rock. Morreu cedo demais, a 16 de janeiro de 1977, na mansão Graceland, em Memphis. Mas a sua influência deixou marcas que moldaram a música que ouvimos hoje. No dia em que marca 39 anos desde a sua morte, o jornal ABC explica a importância que Elvis Presley teve para os artistas que lhe sucederam.
Foi à música negra que o cantor foi buscar a matriz da sua obra. E nunca o negou. Se muitos o apontam como o inventor do género musical, Elvis é o primeiro a relembrar que antes dele já muitos o faziam. Chegou mesmo a homenagear nas suas canções Chuck Berry e Little Richard, que elogiou o trabalho do músico. Little Richard acredita que Elvis fez muito pelo género: “Foi um integrador. Elvis foi uma benção. Não deixavam passar música negra. Ele abriu a porta à música negra”. Afinal, ele foi a primeira grande estrela mundial; o primeiro fenómeno musical de massas.
Mas nem todos acreditam que o impacto da popularidade de Elvis foi positivo para a comunidade afro-americana. O grupo de hip hop Public Enemy, lançou no final dos anos 80, o tema “Fight the Power” que inclui uma passagem em que criticam o cantor. “Elvis foi um herói para a maioria, mas para mim não significou nada”. Chuck D., um dos membros do grupo disse que «respeito Elvis. (…) Mas os meus heróis são anteriores a ele. Não compro isso de “Elvis o Rei”.»

VÍDEO

Também Eminem identifica-se como o próximo Elvis no tema “Without me” quando diz que é “o pior desde Elvis Presley” por “fazer música negra tão egoisticamente e usá-la para tornar-se rico”.


VÍDEO

A importância de Elvis para o paradigma racial nos Estados Unidos foi também mencionada por Bono, vocalista dos U2, que diz que “é como o Bing Bang do rock and roll. Há duas culturas colidem aqui. Uma branca, europeia, e uma africana; o ritmo da música negra e a melodia vocal da música branca”. A banda dedicou ao cantor o tema “Elvis Presley and America”.
Mas a grande maioria dos artistas que lhe seguiram reconhece que Elvis traçou o caminho para muitos deles e veem-no como um mentor. John Lennon admitiu que “se não fosse pelo Elvis, os Beatles não existiriam”, embora mais tarde venha a elencá-lo como uma das coisas em que não acredita no tema “God”. Também Paul McCartney explicou a influência que o Rei teve na sua formação “quando éramos crianças em Liverpool, tudo o que queríamos era ser como Elvis”. O vocalista dos Rolling Stones, Mick Jagger, disse: “ninguém, mas ninguém, será igual. Elvis era e será superior. Não se deve subestimar o que assumiu”.


VÍDEO

Mas não era só no mundo do rock and roll que o cantor de Memphis era admirado. A sua influência atravessou fronteiras raciais, geográficas e até de géneros musicais. A estrela que popularizou o folk, Bob Dylan, elencou como ponto alto da sua carreira o momento em que a estrela de Memphis fez uma versão da sua canção “Tomorrow is a long time”. Dylan dedicou “Went to See the Gipsy” ao homem de Graceland. A mansão do cantor deu nome ao tema “Graceland” de Paul Simon, canção que cantou quando visitou a casa de Elvis. Antes disso, já Presley tinha feito uma versão do tema “Bridge Over Troubled Water” que Simon considerou que “estava um pouco dramatizada, mas quem sou eu para competir com isso?”


VÍDEOS


Elton John considera que “se não fosse por Elvis, não sei o que teria sido da música popular”. Cantou a cidade natal do cantor no tema que escreveu em sua homenagem “Porch Swing in Tupelo”. A cidade do estado do Mississippi foi também cantada por Mark Knopfler para relembrar o músico que muitos acreditam ser de Memphis Tennesse. Foi também em “Tupelo” que Nick Cave se inspirou para homenagear Presley.

VÍDEO

Um dos temas de maior sucesso da banda inglesa Depeche Mode, “Personal Jesus”, foi inspirado na relação entre Elvis e a sua mulher, Priscilla. Já o cantor Robbie Williams descreve a queda de uma estrela, a primeira a atingir a fama a nível mundial em “Advertising Space”.


VÍDEO

Sobre o rei do rock, Madonna, a rainha da pop, diz simplesmente que é um “Deus”. Bruce Springsteen partilha a mesma visão e considera que “Elvis é tudo o que há. Não há nada mais. Tudo começa e acaba com ele. Ele escreveu o livro. Ele é tudo o que há que fazer e tudo o que não no negócio da música”.
Quando Elvis morreu, há 39 anos, Lana del Rey ainda nem era nascida, mas o músico é uma das grandes inspirações da cantora, que lhe dedicou o tema “Elvis”.


VÍDEO

A marca do músico que inventou a fama sobrevive à passagem do tempo. Se muito da memória do Rei sobrevive graças ao mito de que voltará, das digressões a Graceland, e dos imitadores que invadem Las Vegas ou tantos outros sítios dos Estados Unidos, os movimentos endiabrados de “Elvis, the Pelvis” não fariam parte ainda hoje da memória coletiva se a sua música não tivesse revolucionado o mundo.

FOTOGALERIA












































observador.pt
17
Ago16

Passos, o Homem-Público.

António Garrochinho
O que há de melhor no desvio do Público a que temos assistido recentemente é que ele pode ser compreendido por todos, dispensando grande atenção ou especial conhecimento do tema. Com orgulho – com o orgulho de quem limpa o salão das festas para receber David Dinis – o jornal tem publicado editoriais atrás de editoriais com significado político, a demarcar nitidamente uma nova posição, recentemente inaugurada e que se prepara para assumir oficialmente a breve prazo.


O editorial de hoje é isso mesmo e, por isso, merece a leitura atenta de todos os que pretendem acompanhar este processo e compreendê-lo criticamente. Trata-se de um elogio ao estilo de Passos Coelho: o homem “que não vive para as sondagens”, que “fala verdade aos portugueses”, que não quer agradar nem diz o que os portugueses querem ouvir. No fundo, está validada a famosa expressão, pelo próprio proferida “Que se lixem as eleições!”
Foi nisto que o Público se tornou – um jornal brioso do seu pedantismo, mas que nunca abdicou de ser um serviçal, pronto para as mais boçais jogatanas da política caseira e do nacional-tacticismo.
O que tem piada nisto é que tratam Passos Coelho como nem a Emissora Nacional tratava Salazar ou como nem os livros de história do EN tratavam os bravos navegadores e os de geografia tratavam os rios de Angola e Moçambique. A heroicidade esforçada, a exaltação da dificuldade como um bem, “o caminho duro é o caminho bom” e, sobretudo, a fábula. A fábula que a imprensa cria para infligir paraísos artificiais à nossa realidade política e para nos fazer aceitar aquilo que, na nossa simplicidade, consideraríamos inaceitável.”
Via: GPS & MEDIA http://bit.ly/2byo0bI
17
Ago16

MENSAGEM DA PRESIDENTA DA REPÚBLICA DILMA ROUSSEFF AO SENADO FEDERAL E AO POVO BRASILEIRO

António Garrochinho




Dirijo-me à população brasileira e às Senhoras Senadoras e aos Senhores Senadores para manifestar mais uma vez meu compromisso com a democracia e com as medidas necessárias à superação do impasse político que tantos prejuízos já causou ao país.
Meu retorno à Presidência, por decisão do Senado Federal, significará a afirmação do Estado Democrático de Direito e poderá contribuir decisivamente para o surgimento de uma nova e promissora realidade política.
Minha responsabilidade é grande. Na jornada para me defender do impeachment me aproximei mais do povo, tive oportunidade de ouvir seu reconhecimento, de receber seu carinho. Ouvi também críticas duras ao meu governo, a erros que foram cometidos e a medidas e políticas que não foram adotadas. Acolho essas críticas com humildade e determinação para que possamos construir um novo caminho.
Precisamos fortalecer a democracia em nosso País e, para isto, será necessário que o Senado encerre o processo de impeachment em curso, reconhecendo, diante das provas irrefutáveis, que não houve crime de responsabilidade. Que eu sou inocente.
No presidencialismo previsto em nossa Constituição, não basta a desconfiança política para afastar um presidente. Há que se configurar crime de responsabilidade. E está claro que não houve tal crime.
Não é legítimo, como querem os meus acusadores, afastar o chefe de Estado e de governo pelo “conjunto da obra”. Quem afasta o presidente pelo “conjunto da obra” é o povo e, só o povo, nas eleições.
Por isso, afirmamos que, se consumado o impeachment sem crime de responsabilidade, teríamos um golpe de estado.
O colégio eleitoral de 110 milhões de eleitores seria substituído, sem a devida sustentação constitucional, por um colégio eleitoral de 81 senadores. Seria um inequívoco golpe seguido de eleição indireta.
Ao invés disso, entendo que a solução para as crises política e econômica que enfrentamos passa pelo voto popular em eleições diretas. A democracia é o único caminho para a construção de um Pacto pela Unidade Nacional, o Desenvolvimento e a Justiça Social. É o único caminho para sairmos da crise.
Por isso, a importância de assumirmos um claro compromisso com o Plebiscito e pela Reforma Política.
Todos sabemos que há um impasse gerado pelo esgotamento do sistema político, seja pelo número excessivo de partidos, seja pelas práticas políticas questionáveis, a exigir uma profunda transformação nas regras vigentes.
Estou convencida da necessidade e darei meu apoio irrestrito à convocação de um Plebiscito, com o objetivo de consultar a população sobre a realização antecipada de eleições, bem como sobre a reforma política e eleitoral.
Devemos concentrar esforços para que seja realizada uma ampla e profunda reforma política, estabelecendo um novo quadro institucional que supere a fragmentação dos partidos, moralize o financiamento das campanhas eleitorais, fortaleça a fidelidade partidária e dê mais poder aos eleitores.
A restauração plena da democracia requer que a população decida qual é o melhor caminho para ampliar a governabilidade e aperfeiçoar o sistema político eleitoral brasileiro.
Devemos construir, para tanto, um amplo Pacto Nacional, baseado em eleições livres e diretas, que envolva todos os cidadãos e cidadãs brasileiros. Um Pacto que fortaleça os valores do Estado Democrático de Direito, a soberania nacional, o desenvolvimento econômico e as conquistas sociais.
Esse Pacto pela Unidade Nacional, o Desenvolvimento e a Justiça Social permitirá a pacificação do País. O desarmamento dos espíritos e o arrefecimento das paixões devem sobrepor-se a todo e qualquer sentimento de desunião.
A transição para esse novo momento democrático exige que seja aberto um amplo diálogo entre todas as forças vivas da Nação Brasileira com a clara consciência de que o que nos une é o Brasil.
Diálogo com o Congresso Nacional, para que, conjunta e responsavelmente, busquemos as melhores soluções para os problemas enfrentados pelo país.
Diálogo com a sociedade e os movimentos sociais, para que as demandas de nossa população sejam plenamente respondidas por políticas consistentes e eficazes. As forças produtivas, empresários e trabalhadores, devem participar de forma ativa na construção de propostas para a retomada do crescimento e para a elevação da competitividade de nossa economia.
Reafirmo meu compromisso com o respeito integral à Constituição Cidadã de 1988, com destaque aos direitos e garantias individuais e coletivos que nela estão estabelecidos. Nosso lema persistirá sendo “nenhum direito a menos”.
As políticas sociais que transformaram a vida de nossa população, assegurando oportunidades para todas as pessoas e valorizando a igualdade e a diversidade deverão ser mantidas e renovadas. A riqueza e a força de nossa cultura devem ser valorizadas como elemento fundador de nossa nacionalidade.
Gerar mais e melhores empregos, fortalecer a saúde pública, ampliar o acesso e elevar a qualidade da educação, assegurar o direito à moradia e expandir a mobilidade urbana são investimentos prioritários para o Brasil.
Todas as variáveis da economia e os instrumentos da política precisam ser canalizados para o País voltar a crescer e gerar empregos.
Isso é necessário porque, desde o início do meu segundo mandato, medidas, ações e reformas necessárias para o país enfrentar a grave crise econômica foram bloqueadas e as chamadas pautas-bomba foram impostas, sob a lógica irresponsável do “quanto pior, melhor”.
Houve um esforço obsessivo para desgastar o governo, pouco importando os resultados danosos impostos à população. Podemos superar esse momento e, juntos, buscar o crescimento econômico e a estabilidade, o fortalecimento da soberania nacional e a defesa do pré-sal e de nossas riquezas naturais e minerárias.
É fundamental a continuidade da luta contra a corrupção. Este é um compromisso inegociável. Não aceitaremos qualquer pacto em favor da impunidade daqueles que, comprovadamente, e após o exercício pleno do contraditório e da ampla defesa, tenham praticado ilícitos ou atos de improbidade.
Povo brasileiro, Senadoras e Senadores,
O Brasil vive um dos mais dramáticos momentos de sua história. Um momento que requer coragem e clareza de propósitos de todos nós. Um momento que não tolera omissões, enganos, ou falta de compromisso com o país.
Não devemos permitir que uma eventual ruptura da ordem democrática baseada no impeachment sem crime de responsabilidade fragilize nossa democracia, com o sacrifício dos direitos assegurados na Constituição de 1988. Unamos nossas forças e propósitos na defesa da democracia, o lado certo da História.
Tenho orgulho de ser a primeira mulher eleita presidenta do Brasil. Tenho orgulho de dizer que, nestes anos, exerci meu mandato de forma digna e honesta. Honrei os votos que recebi. Em nome desses votos e em nome de todo o povo do meu País, vou lutar com todos os instrumentos legais de que disponho para assegurar a democracia no Brasil.
A essa altura todos sabem que não cometi crime de responsabilidade, que não há razão legal para esse processo de impeachment, pois não há crime. Os atos que pratiquei foram atos legais, atos necessários, atos de governo. Atos idênticos foram executados pelos presidentes que me antecederam. Não era crime na época deles, e também não é crime agora.
Jamais se encontrará na minha vida registro de desonestidade, covardia ou traição. Ao contrário dos que deram início a este processo injusto e ilegal, não tenho contas secretas no exterior, nunca desviei um único centavo do patrimônio público para meu enriquecimento pessoal ou de terceiros e não recebi propina de ninguém.
Esse processo de impeachment é frágil, juridicamente inconsistente, um processo injusto, desencadeado contra uma pessoa honesta e inocente. O que peço às senadoras e aos senadores é que não se faça a injustiça de me condenar por um crime que não cometi. Não existe injustiça mais devastadora do que condenar um inocente.
A vida me ensinou o sentido mais profundo da esperança. Resisti ao cárcere e à tortura. Gostaria de não ter que resistir à fraude e à mais infame injustiça.
Minha esperança existe porque é também a esperança democrática do povo brasileiro, que me elegeu duas vezes Presidenta. Quem deve decidir o futuro do País é o nosso povo.
A democracia há de vencer.
Dilma Rousseff

www.oquintopoder.blog.br
17
Ago16

A ponte e o preço

António Garrochinho


Correia da Fonseca lembra neste artigo que a Ponte 25 de Abril, inaugurada há meio século, se chamou durante o fascismo Ponte Salazar.
É lamentável que a sua exploração tenha sido atribuída a uma empresa por um ex-ministro do PSD que é agora, pasme-se, presidente da referida empresa, a Lusoponte.



A ponte e o preço

No passado dia 6 completaram-se cinquenta anos sobre a inauguração da Ponte 25 de Abril, então sob a designação subserviente e abusiva de Ponte Salazar, como se o ditador tivesse dado uma contribuição relevante para a sua construção (excepto obviamente a indispensável autorização) ou, pelo menos, como se o anseio por uma ponte entre Lisboa e a margem esquerda tivesse habitado a sua cabecinha tão enternecidamente aplaudida por Amália Rodrigues numa quadra que convém não esquecer. Na verdade, o sonho de uma ponte entre a capital e a outra margem já vinha pelo menos da segunda metade do século XIX, mas bem se sabe que os sonhos são vãos quando faltam as condições para a sua concretização, e neste caso faltaram durante décadas as adequadas sabedorias técnicas que só surgiram nos Estados Unidos no decurso do século XX. Em valores da época, a ponte terá custado dois milhões e duzentos mil contos e, como se sabe, a sua exploração está confiada a uma empresa, a Lusoponte, cujo contrato com o Estado foi negociado pela parte estatal por um então senhor ministro que é agora presidente da empresa. Por coincidência, naturalmente, e é claro que com todo o mérito. Mas o que para aqui importa é que o 50.º aniversário da inauguração da ponte foi largamente celebrado na TV portuguesa, sobretudo na RTP como aliás se justificava, mas não só, e por isso entra naturalmente na área de observação destas duas colunas. Convém dizer, antes do mais, que o conjunto de documentários e reportagens transmitidos teve sólidos e variados méritos. Entre todos eles, talvez devam ser destacados os que lembraram a «crise das portagens» durante os maus velhos tempos do PM Cavaco Silva e o testemunho de Aristides Teixeira acerca do quotidiano «imposto» que continua a ser forçosamente pago pelos cidadãos da margem esquerda que têm em Lisboa o seu posto de trabalho.


A versão salazarista

Porém, na construção da Ponte 25 de Abril houve um custo bem mais importante do que os que entram nas contas dos estritos contabilistas: o preço pago em vidas humanas, o número dos trabalhadores que ali morreram no decurso da batalha diária que um pouco ironicamente é designada por «ganhar a vida». Uma das reportagens informou-nos: teriam sido quatro os trabalhadores mortos nesse peculiar combate. Mas uma outra reportagem desmentiu essa versão ao dizer-nos que a Junta de Freguesia de Alcântara homenageou exactamente agora, no quadro das comemorações do 50.º aniversário da ponte, a memória de vinte trabalhadores que morreram no decurso da sua construção. A diferença entre ambos os números não surpreende: estava-se em 1966, quando decorria em África uma guerra colonial em que oficialmente quase não morria nenhum soldado português, isto é, em que nesta matéria de baixas em combate a mentira era um padrão oficial e, nestes casos, uma sinistra arma de combate ideológico. Como é sabido, quando a contagem honesta pôde ser feita soube-se que quase nove mil portugueses morreram ao participar naquela guerra injusta. Sem levar longe de mais o paralelo, bem se pode dizer que a ocultação oficial da quase totalidade dos trabalhadores mortos a construir a ponte, isto é, mortos no decurso de um trabalho de paz e não numa tarefa de guerra, se entende perfeitamente. É que naquele ano de 66 o governo português era um governo de mentiras, habituado a encobrir crimes vários e de diversa dimensão com imposturas a condizer. De então para cá decorreram cinquenta anos, já não há soldados portugueses a morrer nas Áfricas embora haja ainda trabalhadores a morrerem em obras diversas. Enfim, o País é diferente. Pelo que bem podia a TV ter-nos poupado à versão salazarista que fixava em quatro o número de trabalhadores que morreram a construir a Ponte. Chamada 25 de Abril também graças a eles, que eram povo.

Este artigo foi publicado pelo jornal Avante! no dia 5.08.16

www.odiario.info

17
Ago16

Acesso do Fisco a todas as contas bancárias é ilegal

António Garrochinho



Comissão de Proteção de Dados diz que diploma do Governo viola Constituição e consumidores recusam fim do sigilo bancário.

As Finanças vão saber quanto dinheiro possui no banco no final de cada ano, mesmo que nunca tenha sido suspeito ou acusado de delito fiscal. O Governo quer obrigar a banca a enviar os saldos das contas dos residentes em Portugal à Autoridade Tributária, a partir de 2017. A Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) considera esse acesso excessivo e inconstitucional. As associações de consumidores recusam que se enterre, de vez, o sigilo bancário. O Ministério das Finanças está em silêncio.

 http://www.jn.pt/
17
Ago16

Hillary Clinton não é o mal menor, é o pior dos males

António Garrochinho


Entrevista de James Petras sobre as eleições americanas.

Efraín Chury Iribarne: É com muito gosto que recebemos aos microfones de Rádio Centenário o nosso comentarista internacional James Petras.
Efrain Chury IribarnePara começar lemos-te umas linhas para ouvir o que te aprecem: «Israel negou autorização ao chefe da delegação olímpica da Palestina, Issam Qishta, para abandonar a Faixa de Gaza e viajar com a sua equipa aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro».
James Petras: Toda a estrutura dos Jogos Olímpicos, de alto a baixo, é muito corrupta e manipulada pelos poderes ocidentais, especialmente os Estados Unidos.
Esta medida contra os atletas palestinos está alinhada com a política de Israel para debilitar qualquer sentimento nacional e o reconhecimento internacional da Palestina.
O contexto dos Jogos Olímpicos mudou nos últimos anos, e cada vez se convertem mais numa promoção comercial, excluem participantes como os russos, que têm uma muito boa equipa e acusam-nos de usar drogas que não tinham nada a ver com os atuais participantes. A consequência é a possibilidade de a representação dos atletas norte-americanos poderem conquistar mais medalhas, o que significa – aqui pelo menos – mais propaganda nacionalista, chauvinista. Se alguém quer ver os jogos na televisão, aqui só dão os acontecimentos em que os estadunidenses ganham ou têm grandes possibilidades de vir ganhar. Por outras palavras, as outras equipas, os representantes de outros países do mundo não aparecem, não existem.
Então, a propaganda política chauvinista faz parte do jogo.
E este caso de Israel devia provocar a sua exclusão dos jogos olímpicos, por ter levantado obstáculos para que outra delegação, a da Palestina, não possa participar; Porque a sua participação significa que Israel não é o porta-voz dos palestinos, têm que reconhecer que há outra nacionalidade; o facto de o Comité Olímpico aceitar o bloqueio à participação da Palestina, particularmente no Brasil, é um indício da decadência em que caiu esse país desde que (Michel) Temer, o golpista, assumiu o governo.
Temer é um títere de Washington, representa os piores aspetos do capitalismo internacional e local. Quere cumprir com qualquer exigência que lhe peçam, seja ela contra a Venezuela, contra a Palestina, contra os povos em luta na América Latina, contra o Mercosur. É um governo muito à direita, extremista. Por isso é capaz de aceitar estas pulhices, como a de permitir que Israel, um Estado apartheid, com um regime que violou todas as normas internacionais, bloqueie os palestinos. Moralmente, parece-me uma grande perda para os Jogos Olímpicos, um golpe nos princípios originários dos jogos.
Creio que cada vez mais gente perde interesse pelos Jogos Olímpicos. As pessoas estão fartas da propaganda, da comercialização, das acusações, da politização. Recordo-me, quando era criança e jovem, como toda a família ficava a ver as competições, as corridas, os atletas, o boxe, etc.. Agora as pessoas deixaram de estar interessadas devido ao modo como degeneraram todo o seu conteúdo, pela manipulação, pela politização, os jogos deixaram de ter importância.
Efrain Chury Iribarne: Na Europa aumenta a violência e o medo. Como analisas isso?
James Petras: É um exagero. Não sei se há números sobre os diferentes assassínios, homicídios, ataques de desequilibrados. Agora, qualquer ataque passa a ser um ataque terrorista, aprofunda-se a repressão dos direitos civis.
Mas na verdade há alguns casos de massacres que temos visto, mas também aumentaram os massacres no exterior; os bombardeamentos da Síria, os ataques à Líbia, as intervenções na Ucrânia. Há na Europa um aumento da violência a partir da sua associação aos Estados Unidos, as acusações e a demonização da Rússia; a acusação contra os povos islâmicos do Médio Oriente. Num caso particular podemos admitir que há mais massacres que no passado, mas na sua totalidade os crimes aumentaram a partir do ocidente, e isso é uma relação que coincide: mais violência no exterior, maior tendência para a violência política interna.
As políticas externas estão diretamente ligadas com as violências internas. E a emigração que saiu dos países afetados pela violência ocidental, são os principais exportadores de povos procurando um outro lugar para viver, e como há limitações à capacidade de absorção dos emigrantes forçados, podemos prever que os conflitos vão aumentar, não apenas entre os europeus e os imigrantes, mas entre os imigrantes e os povos internos, devido aos conflitos que temos visto na política global.
Efrain Chury Iribarne: Como está a situação na Síria? Há algumas informações por estes dias…
James Petras: Há muitas mentiras Chury, não se pode acreditar em nada do que editam a BBC, o New York Times, Le Monde; dizem que os terroristas, a quem eles chamam rebeldes, conseguiram romper o cerco das forças sírias. Mas as informações que nos chegam é que o cerco se mantém, que não tiveram o êxito que dizem, que se trata mais de propaganda que de factos e que os dirigentes ocidentais que fomentam os terroristas estão à procura de uma ponta para justificar a intervenção.
Pensamos que as coisas não são como dizem, que as notícias sobre os avanços dos terroristas são muito exageradas e o facto é que o cerco se mantém e os terroristas estão em recuo.
Qualquer notícia que recebamos do Médio Oriente já não é fiável. A propaganda atingiu níveis de histeria, já não se pode acreditar. Por exemplo, leio o New York Times, o Finantial Times, e dizem coisas que eu sei por outras fontes que não são verdadeiras.
Assim, o facto é que Alepo continua em grande parte nas mãos da Síria, que os terroristas ainda estão atolados e que os esforços para declarar vitórias ou avanços são falsos. As proclamações de que há uma reversão sobre a ofensiva do governo não têm sentido.
Parece-me importante aclará-lo, porque as pessoas começam a acreditar na propaganda de que os terroristas estão a um passo de voltar a controlar Alepo, o que não é verdade.
Efrain Chury Iribarne: Bem Petras, passemos a outros temas em que está a trabalhar.
James Petras: Há duas coisas que dizem respeito à Venezuela.
Na Venezuela a situação é muito dramática, muito conflituosa. Todos os dias há assassínios de polícias, soldados e políticos; a direita lançou uma campanha de assassínios como forma de fomentar o terror e dividir as forças da ordem. A situação económica é grave, as bichas são enormes, a sabotagem económica continua a avançar e estamos à beira de um levantamento.
Washington trabalha noite e dia na subversão do Exército, que é o principal elemento, quer lançar um levantamento da direita para derrubar o governo, mas ainda lhe falta controlar alguns dos principais comandos das diferentes forças.
No momento em que Washington consiga subverter algum sector do Exército, vai apelar a Organização dos Estados Americanos para que mande o que eles chamam «forças da paz» e intervir, talvez com tropas da Colômbia, do Brasil, de outros países e com os seus próprios marines para derrubar o governo.
Não acredito que a situação atual possa continuar seis meses mais. Creio que num dado momento vamos assistir a um confronto violento, uma guerra civil com os Estados Unidos a intervir, e ninguém sabe o que pode sair daí, para além de uma contrarrevolução.
Washington procura, a partir de um golpe, uma solução final para acabar com o chavismo e será um momento de grandes tensões, de caos. As cidades, as ruas são cada vez mais inseguras, tanto pelos atos de violência contra o governo como pela falta de segurança e de respeito pelos direitos dos cidadãos.
Estamos perante uma situação caótica, conflituosa e muito perigosa.
Efrain Chury Iribarne: E em que pé estão as eleições nos Estados Unidos?
James Petras: O que sobressai é a questão das minorias que sofrem a repressão policial, e o assassínio de cidadãos de origem afro-americana que atingiu números históricos. Todos os dias se noticia um tiroteio da polícia contra alguma pessoa afro-americana desarmada. E a incapacidade da polícia intervir: quando há um massacre, por exemplo, a polícia desaparece; querem que a violência se alargue para depois semear mais medo e terror.
Quanto às eleições, temos em primeiro lugar toda a campanha de propaganda a favor de Hillary Clinton e a demonização de Donald Trump. Apesar de Trump nada terfeito de violento contra os muçulmanos e Hillary Clinton ser a autora dos ataques contra os islamitas na Líbia, no Iraque, etc..
O problema de Trump é que utiliza uma linguagem prejudicial para as criticas que lhe têm feito; ele diz que o governo deve focar-se na economia nacional e propõe melhorar as relações com a Rússia, e é por isso que o acusam de ser um apoiante de Putin, de ser anti-islâmico, etc.. Mas o verdadeiro inimigo e praticante da violência foi a Clinton. Mas muitos latinos caíram nesta armadilha, e lemos escritores supostamente progressistas como Atilio Borón e outros, que dizem que Hillary Clinton é má, mas é o mal menor. Não é o mal menor, é o pior de todos os males. R Trump é um político da direita, mas que não tem esses crimes nas suas mãos.
Nós não aceitamos que a alternativa seja Clinton ou Trump, a alternativa é o Partido Verde, com a candidatura de Jill Stein, que é uma progressista que já representou o povo em muitas lutas e a ideia que só temos de escolher entre Trump e Clinton é mentira.

Efrain Chury Iribarne
Muito bem Petras, agradecemos-te toda esta análise.
James Petras: Um abraço para todos vós e sigam em frente com o bom trabalho da Rádio centenário.

* Sociólogo e professor universitário.
Este texto foi publicado por Radio Centenario do Uruguai:
http://www.ivoox.com/analisis-james-petras-cx36-audios-mp3_rf_12477998_1.html
Tradução de José Paulo Gascão

www.odiario.info

17
Ago16

Uma nova elite jornalística

António Garrochinho


  • Entrar / Registar
Esta elite denota uma inesperada polivalência mediática que lhe permite ocupar o cargo tanto na imprensa como na rádio, na TV ou no online, assim como uma suspeita competência para ser comentadora de política em qualquer canal de grande audiência.
1. Uma das características que melhor definem a actual situação da nossa comunicação social, desde logo a imprensa, é a sua transversal uniformidade, gerando a convicção de que é quase indiferente ler este ou aquele jornal, ver este ou aquele telejornal. Os temas e as abordagens poderão não ser os mesmos (geralmente até são), mas estamos longe do que seria se tivéssemos – e isso aconteceu, em democracia, até ao fim dos nos 80 – órgãos de informação com visões e interpretações próprias e diferenciadas daquilo que se passa no país e no mundo.
A homogeneidade de conteúdos, independentemente do tipo e da dose de sensacionalismo a que se recorre, encaixa na identidade de interesses dos grupos económicos proprietários, assentes no crescimento das tiragens que leva ao aumento da publicidade e dos lucros, e no poder de influência dosmedia nos meandros da política, dos negócios – e, naturalmente, na opinião pública.
«Surge assim um novo tipo de elite jornalística (...) que se destaca pelos seus contactos nos meandros da política (de direita) e dos negócios e pela sua disponibilidade para adaptar a agenda jornalística aos interesses dos patrões e dos gestores»
Esta situação implica da parte dos responsáveis editoriais que a isso se disponham não uma organização do trabalho jornalístico atenta aos leitores, ouvintes e telespectadores na perspectiva da sua valorização integral (informativa, cultural, humanística, cívica…), mas sim orientada para o cumprimento dos objectivos empresariais – que, na comunicação social, também são sempre político-ideológicos, principalmente quando publicamente o negam. Recorrem não aos saberes jornalísticos, mas sim a competências gestionárias acima de tudo atenta às estratégias jornalístico-comerciais.
2. Surge assim um novo tipo de elite jornalística (tradicionalmente composta pelos profissionais que ocupam os lugares de maior responsabilidade dentro da sala de redacção – directores e outros responsáveis editoriais) que se destaca pelos seus contactos nos meandros da política (de direita) e dos negócios, e pela sua disponibilidade para adaptar a agenda jornalística aos interesses dos patrões e dos gestores. O objectivo é o da noticia que vende bem (e o lucro até pode ser, mal ou bem disfarçado, essencialmente político-ideológico…), desprezando a clássica concepção do jornalismo enquanto bem social.
Em geral, esta elite denota duas características complementares que se revelam altamente compensadoras: uma inesperada e suspeita polivalência mediática, que lhe permite ocupar o cargo tanto na imprensa como na rádio, na TV ou no online, em órgãos generalistas ou especializados, de desporto ou de economia, diários ou semanários, populares ou ditos de referência; e uma não menos inesperada e suspeita competência para ser comentadora de política em qualquer canal de grande audiência, onde, aliás, manifesta uma amena divergência nos cenários e uma indisfarçável convergência nas convicções.
Tudo isto num deplorável e cuidadosamente escondido contexto: o crescente povoamento das redacções por jovens precários e por estagiários rotativos, que acrescentam a sua fragilidade laboral à dos mais antigos há muitos anos sem aumentos, obrigados a horas extraordinárias não pagas ou ameaçados pelo despedimento – por «mútuo acordo», se possível…
«Omais (...) esclarecedor sobre o terreno da batalha em curso [é] a crescente relação estrutural de interdependência entre o sistema mediático e a sociedade capitalista.»
3. É neste quadro que não se podem considerar surpreendentes as mudanças recentes de directores nas últimas semanas noticiadas na imprensa. Dois exemplos: o novo membro da direcção de informação da RTP era director do Diário de Notícias, depois de um percurso feito no Diário EconómicoSábadoCorreio da ManhãFocus e Record; o novo director do Público, que era director da TSF, foi um dos fundadores do Observador, com passagens pelo Jornal de NotíciasSol,TSF e Diário Económico, tendo também sido assessor de Durão Barroso.
Omitimos os nomes deliberadamente – a omissão é simbólica, porque são públicos – para enfatizar que mau seria se sobrevalorizássemos a importância dos indivíduos e dos seus currículos, esquecendo o mais significativo e simultaneamente mais esclarecedor sobre o terreno da batalha em curso: a crescente relação estrutural de interdependência entre o sistema mediático e a sociedade capitalista.
Nota final: lamenta-se ver o Serviço Público, através do caso citado, metido nestas andanças.

www.abrilabril.pt
17
Ago16

Os números do turismo e os números dos trabalhadores do turismo

António Garrochinho

  • Entrar / Registar
Apesar da evolução positiva no sector, que se pode dizer positiva para o país, não tem havido uma melhoria das condições laborais dos trabalhadores da hotelaria.


Protesto dos trabalhadores do Inatel Albufeira
 
Ontem foram divulgados dados do Instituto Nacional de Estatística que nos indicam que no primeiro semestre deste ano a receita total da actividade turística atingiu os 1163,5 milhões de euros, mais 16,5% do que em igual período de 2015. A taxa de ocupação média subiu para 43,1%, mais 2,7 pontos percentuais do que em igual período de 2015, e o número de dormidas em estabelecimentos hoteleiros cresceram 11,2% em relação ao mesmo período de 2015.
Apesar da evolução positiva no sector, que se pode dizer positiva para o país, não tem havido uma melhoria das condições laborais dos trabalhadores da hotelaria. Já em 2014, o Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia, nos resultados publicados do Inquérito aos Ganhos e à Duração do Trabalho por sectores de actividade, mostrava-nos que o sector de actividade de alojamento, restauração e similares é dos que pratica dos salários mais baixos de toda a economia do país, só superado pelo sector da fabricação de têxteis, indústria do vestuário e do couro. 
Os dados indicavam-nos ainda que neste sector a média de trabalhadores com um nível de remuneração idêntico ao Salário Mínimo Nacional era em Outubro de 2014 bem superior à média nacional – neste sector 25,6% dos trabalhadores recebiam o Salário Mínimo Nacional enquanto a média nacional é de 19,6% para todos os sectores de actividade. Os dados mostravam também que os níveis de precariedade neste sector não têm paralelo em qualquer outro sector da actividade económica no nosso país: 39,5% dos seus trabalhadores tinham contrato a termo, enquanto a média nacional era de 28,4%; e 7,5% dos seus trabalhadores eram aprendizes ou estagiários, enquanto a média nacional dos vários sectores era de 3%. 
Hoje, a situação mantêm-se para os trabalhadores desta área. Prova disso, são os inúmeros protestos que ocorreram recentemente e que estão marcados para as próximas semanas.É importante não esquecer que a actividade turística e o seu sucesso está assente na qualidade e disponibilidade do trabalho realizado. A maior ou menor satisfação do turista tem uma ligação intima, não com o empresário proprietário do empreendimento onde se instalou, mas com o trabalhador com quem contactou. Assim, valorizar o trabalho realizado no sector do turismo e os seus trabalhadores é não só justo e uma questão de dignidade, como é também um indispensável contributo para o sucesso do sector.
Medidas têm que ser tomadas para combater estas condições dos trabalhadores. Dar à Autoridade para as Condições de Trabalho as condições e os mecanismos para combater o trabalho ilegal e precário no sector do turismo; regulamentar os estágios lectivos e profissionais, em contexto de trabalho, no sentido de impedir que as empresas recorram, de forma abusiva, a esta prestação de trabalho e criar mecanismos de controlo adicionais no sentido de garantir que os estágios nas empresas cumpram com as normas legais em vigor e que não sirvam para substituir trabalhadores; as empresas têm que fazer reflectir o seu desempenho nos salários dos seus trabalhadores e na relação vincular que com eles estabelecem.
É importante também não esquecer que, para o desenvolvimento do país, este não pode estar só dependente dos serviços. O estímulo à actividade produtiva tem um papel central para o cumprimento desse objectivo.

 www.abrilabril.pt
17
Ago16

LA DOLCE VITA ! Portuguesa conduz carro de 5 milhões Tem 30 milhões em carros numa garagem em Lisboa.

António Garrochinho
A piloto portuguesa Carina Lima tem acelerado pelas ruas do Mónaco ao volante de um Koenigsegg. Trata-se de uma ‘bomba’ avaliada em 5,5 milhões de euros, que vai dos 0 aos 300 km/h em 11,9 segundos. 

Só foram fabricados sete carros destes no Mundo, e a portuguesa é dona do nº 1. Nascida em Angola, Carina tem 36 anos, é piloto de corridas pela Lamborghini e casou-se com o dono de uma empresa de construção civil angolana. 

Apaixonada por carros de luxo, tem uma garagem, em Lisboa, com máquinas avaliadas em 30 milhões de euros.











www.cmjornal.pt
17
Ago16

quem muito quer tudo perde !Falso diplomata engana consultor Militar americano dizia que queria comprar imóvel por 5 milhões.

António Garrochinho


Falso diplomata engana consultor
Esquema passava por pintar dinheiro falso. Vítima 
pensou que se as notas fossem lavadas com 
produto ficavam boas

O consultor imobiliário do Porto mantinha contactos com um militar norte-americano há alguns meses. Este dizia estar numa comissão de serviço no Afeganistão, mas quando terminasse, dentro de poucos meses, pretendia viver em Portugal. Queria por isso comprar uma quinta no Douro, por cinco milhões de euros, e estava disposto a pagar 20% (1 milhão) em comissões.

O dinheiro não era problema, garantia o militar. Tinha doze milhões guardados, estava apenas à espera que um amigo seu, diplomata francês, lhe transportasse o dinheiro em mala diplomática para o nosso país.

O consultor nunca desconfiou. Encontrou-se com o diplomata, que lhe mostrou uma mala com milhões camuflados que devia guardar. Tinham sido pintados de negro, mas uma tinta mágica dava-lhes vida. O diplomata ainda mostrou ao consultor como se fazia. Usou três notas, gastou o frasco de químicos que trouxe para amostra e as notas de 100 euros apareceram. 
A partir daí começou a burla. O militar pediu primeiro 1240 euros adiantados ao consultor, para comprar o bilhete de avião, depois mais 6800 para despesas. A vítima só estranhou quando lhe pediram mais 200 mil euros, para comprar químicos para restaurar as notas. O consultor foi à Judiciária e mostrou o dinheiro que tinha em casa. Percebeu que tinha sido enganado, havia apenas três notas verdadeiras. Combinou depois com o diplomata para lhe dar os 200 mil €. 

Foi com os inspetores e o burlão acabou preso. É um camaronês já com cadastro, e foi ouvido sexta-feira pelo juiz.


www.cmjornal.pt

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

António Garrochinho

Links

  •