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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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02
Set16

FRANÇA DE VICHY – O GOVERNO DA DESONRA DE UMA NAÇÃO

António Garrochinho



Em 1939 os exércitos de Hitler invadiram a Polônia, tendo como conseqüência a deflagração da Segunda Guerra Mundial. Inglaterra e França foram as primeiras nações a declarar guerra à Alemanha. Menos de um ano depois, o exercito francês foi capitulado, obrigando à redenção total da França ante ao regime nazista.
Humilhada, a França, através do marechal Philippe Pétain, assinou o acordo de rendição à Alemanha, sendo dividida em duas zonas principais: ocupada e não ocupada. A chamada França ocupada, que consistia na parte norte e ocidental, toda a costa do Atlântico Norte e a capital Paris, passou a ser controlada diretamente pelo regime nazista; o restante do território seria administrado por um suposto regime livre, liderado por Pétain, com capital na cidade de Vichy. Surgia o Estado Francês, vulgarmente chamado de França de Vichy, ou República de Vichy.
O período em que a França livre foi governada da cidade de Vichy durou de 1940 a 1944, sendo um dos mais obscuros da história do país. Pétain construiu um regime colaboracionista com os nazistas, movido pela direita conservadora e moralista. Durante quatro anos, as Milícias de Vichy prenderam cidadãos que se opunham ao regime, fuzilou suas lideranças, entregou os judeus franceses aos alemães, além de adotar a política nazista da segregação racial, enviando ciganos, prostitutas, indigentes, homossexuais e outras minorias para os campos de concentração. Também a eugenia fez parte desse regime de exceção do Estado Francês.
Na contramão da França de Vichy surgiu a Resistência Francesa, movimento liderado por oponentes idealista, que com operações logísticas de inteligência de guerra, sabotavam, combatiam e lutavam por um país livre da ocupação nazista e do regime infame governado por Pétain.
O regime da França de Vichy só se extinguiu com a chegada das forças Aliadas ao país, a libertação da opressão nazista e o fim da Segunda Guerra Mundial. Passou para a história como o momento mais vergonhoso do povo francês. Ainda hoje historiadores dividem-se sobre o período, alguns acham um mal necessário, com a população a pagar os custos da invasão às tropas alemãs, evitando que os franceses deixassem o país. Outros acham que melhor teria sido não aceitar tão humilhante regime imposto pelos nazistas, e sim deixar o continente, formando um exército de resistência no Norte da África, nas então colônias francesas daquele continente. Por trás da França de Vichy estavam os franceses que sustentavam a idéia de uma França de raça pura e de ideais nacionalistas próximos às ditaduras de Franco, da Espanha, e do próprio Hitler, da Alemanha nazista. Colaboracionismo, racismo, perseguições e fuzilamentos marcaram com uma grande nódoa a história da França, fazendo da República de Vichy um momento de humilhação e vergonha do povo francês.


A França é Capitulada pelos Alemães



O governo nazista de Adolf Hitler propunha a elevação e expansão da Alemanha, transformando-a na maior potência da Europa e do mundo. A ideologia nacionalista do governo do Terceiro Reich procurava devolver ao povo alemão a alto-estima perdida após a derrota sofrida na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Em 1938, com o consentimento do povo austríaco, Hitler anexou a Áustria à Alemanha. No mesmo ano, reivindicou a integração dos Sudetos, região montanhosa da antiga Tchecoslováquia, habitada por minorias germânicas. Diante da ameaça expansionista nazista, foi realizada uma conferência internacional em Munique, onde a França e a Inglaterra cederam às intenções dos alemães, permitindo a anexação dos Sudetos.
Mas os objetivos expansionistas da Alemanha não pararam. Em 1 de setembro de 1939, a Alemanha invadiu a Polônia, derrotando as tropas polacas em um mês. A parte oriental da Polônia foi ocupada pela União Soviética, no cumprimento do acordo Ribbentrop-Molotov, assinado entre as duas nações. Desta vez, França e Grã-Bretanha opuseram-se a esta invasão, declarando guerra à Alemanha. Iniciava-se o maior conflito da humanidade, a Segunda Guerra Mundial.
A guerra entre a Alemanha e França foi considerada como uma falsa demonstração de poder, visto que o exército francês estava aquém das forças do Reich. Numa guerra relâmpago, os franceses seriam capitulados em poucos meses. Em 10 de maio de 1940 começou a ofensiva alemã contra os exércitos franceses, dando início à Batalha de França. Em poucos dias, a Holanda e a Bélgica sucumbiriam às forças nazistas. Em 20 de maio, o primeiro ministro francês, Paul Reynaud, demitiu o general Gamelin, nomeando o general Weygand para que traçasse a estratégia e medidas contra o cerco alemão. A partir de 23 de maio, as cidades portuárias da região de Calais foram sucumbindo uma a uma, ao exército de Hitler. A ofensiva prosseguiu rumo a Paris. Em 5 de junho, o exército francês comandado por Weygand foi derrotado. Em 10 de junho, a Itália, aliada da Alemanha, declarou guerra à França. Em 14 de junho, os alemães tomaram Paris. Em fuga, o governo francês transferiu-se para Bordéus, à espera da ajuda dos aliados britânicos.
Após a queda de Paris, o marechal Philippe Pétain anunciou publicamente, através do rádio, em 17 de junho, que a França proporia um armistício, com a intenção de render-se aos alemães. O primeiro-ministro Reynaud, recusou-se a assinar a rendição, demitindo-se do cargo. Em 22 de junho de 1940, o marechal Pétain, que assumiu o lugar de Reynaud, assinou o armistício com a Alemanha, após a rendição do Segundo Grupo do Exército Francês, entrando em vigor em 25 de junho. Ironicamente, a rendição oficial, foi dada em Compiègne, no mesmo trem que a Alemanha, em 1918, ao fim da Primeira Guerra Mundial, fora obrigada a render-se. Imagens do marechal Pétain a apertar a mão de Adolf Hitler tornam-se símbolos da propoganda nazista, sendo divulgadas pelo mundo inteiro. Estava concretizada a maior vitória dos exércitos do Terceiro Reich durante a Segunda Guerra Mundial.


Criada a França de Vichy



Com a ocupação da França pelos nazistas, não só a situação política-administrativa do país foi alterada, como também a sua geografia. No mapa da Europa, a França foi dividida em três partes: a França de Vichy, formada pelo centro-sul do país, com o governo entregue ao marechal Pétain, com centro administrativo a partir da cidade de Vichy, na França central, sendo ali exercido um governo colaboracionista com os nazistas, com forte orientação fascista. A França Ocupada, formada pelo norte e pela costa atlântica francesa, incluindo a capital, Paris; sendo uma zona comandada diretamente pelas autoridades militares germânicas. Finalmente, a terceira parte, os territórios da Alsácia-Lorena, foi anexada à Alemanha, tornando-se parte do território daquele país.
A divisão da França pôs fim à Terceira República Francesa (1870-1940). Na França de Vichy, Paris continuou a ser a capital oficial, embora não o fosse administrativamente. Philippe Pétain era, em 1940, um velho herói da Primeira Guerra Mundial. Durante o tempo que governou de Vichy, prometeu sempre devolver a administração a Paris, assim que o fosse possível fazer.
O governo de Vichy apresentava-se como um regime de neutralidade à guerra, mas na prática colaborava ativamente com o governo de Hitler. O termo “República Francesa” foi substituído por “Estado Francês”. Para garantir o regime, em 10 de julho de 1940, Pétain conclamou a França de Vichy, através de uma Assembléia Nacional, deixando de ser o último primeiro-ministro da Terceira República, transformando-se no chefe do Estado Francês, obtendo amplos poderes no novo cargo.
O regime de Vichy na verdade governava à sombra das diretrizes de Berlim. Não administrava apenas a considerada zona livre do sul da França, a sua jurisdição estendia-se ao longo de toda a França metropolitana, com exceção da Alsácia-Lorena, território que se tornou parte da Alemanha.
Quando as forças Aliadas desembarcaram no Norte da África, os alemães desencadearam a Operação Processo Anton, em 11 de novembro de 1942, ocupando o sul da França, zona considerada neutra e livre. O regime de Vichy continuou a exercer jurisdição sobre quase toda a França, apesar de ter os poderes diminuídos. A partir de então, a colaboração com os nazistas tornou-se mais intensificada, sendo adotados claramente as suas políticas raciais. O marechal Pétain tornou-se chefe de um Estado com um programa político reacionário, ao qual chamou de “Revolução Nacional”, que se proclamava como regenerador da nação.


A Política Racial do Regime de Vichy



O regime de Vichy tornou-se autoritário, que não só aceitou a ocupação alemã, como assimilou várias facetas da sua ideologia. Sustentava-se no poder pelo regime de Hitler, pelo medo e opressão à população, garantidos pela terrível polícia do Estado, a Milícia (Milice).
Temida pelos franceses, a Milícia garantia a face repressiva e racial do regime. Capturava os indesejáveis pelos alemães, tanto na parte norte, como no sul do país, prendendo-os, fuzilando-os ou simplesmente entregando-os aos alemães, para que fossem enviados para campos de concentração nazistas. Membros da Resistência e judeus eram os seus alvos favoritos.
Sob o comando do marechal Pétain, o regime de Vichy tomou medidas drásticas e de caráter repressivo contra diversas etnias e setores da sociedade francesa. Imitando a política vergonhosa de perseguição racial, começou uma caça aos imigrantes, chamados de métèques, aos judeus, maçons, ciganos, homossexuais, comunistas e outras minorias.
Já em julho de 1940, tão logo o regime foi implantado, foi criada uma comissão para rever a lei da nacionalidade de 1927, que concedera a cidadania francesa a vários estrangeiros, em especial aos judeus vindos do leste europeu na década de 1930, fugindo da perseguição do regime nazista. Iniciou-se o processo de desnaturalização que, de 1940 a 1944, tempo que durou a França de Vichy, atingiu mais de quinze mil pessoas, sendo os judeus os mais atingidos.
Em outubro de 1940, foi editado um decreto que autorizava a internação dos judeus em campos de concentração franceses, abertos durante a Terceira República, e que serviriam de trânsito para a execução do Holocausto. Após passar pelos campos franceses, todos os deportados eram enviados para os campos nazistas do leste europeu. Além dos judeus, os ciganos foram os principais remetidos para os campos de extermínios. Camp Gurs era o principal local de internamento de presos, construído antes da Segunda Guerra Mundial. Em 1940 recebeu o primeiro contingente de prisioneiros daquela guerra, que incluía anarquistas, comunistas, sindicalistas e antimilitaristas. Com a implantação do regime de Vichy, vários outros campos de concentração foram abertos em solo francês, sendo o primeiro deles o de Aincourt, em Seine-et-Oise. O Camp des Milles, próximo a Aix-en-Provence, foi o maior campo de concentração do sudeste francês, sendo de lá deportados cerca de 2.500 judeus. Na Alsácia, os alemães abriram o campo de Natzweiller, que incluía uma câmera de gás, utilizada para executar aproximadamente 86 prisioneiros, sendo a maioria judeus.
Com a perda da nacionalidade, os judeus passaram a ser classificados como “Grupos de Trabalhadores Estrangeiros”. Passaram a ter que usar um distintivo amarelo, sendo excluídos da administração civil. O regime de Vichy permitiu o uso da eugenia como programa destinado para preservar o francês de raça pura. Felizmente, o programa não foi tão longe quanto o seu similar desenvolvido pelos nazistas.


A Resistência Francesa



Após a assinatura do armistício em Compiègne, que aceitava a invasão da França pelos nazistas e a sua divisão administrativa; vários setores da sociedade francesa opuseram-se à submissão do seu país. Iniciava-se uma resistência ao regime colaboracionista de Vichy e à ocupação germânica. Grupos vindos de todas as camadas sociais francesas, desde os comunistas, judeus, anarquistas, sacerdotes, católicos conservadores, liberais, jornalistas; uniram-se para dar corpo ao que ficou conhecido com Resistência Francesa.
Após a ocupação alemã, grande parte da população francesa manteve-se neutra, procurando continuar a vida sem manifestação contrária ou favorável àquela situação. O regime de Vichy mostrou-se autoritário, espelhado nos governos fascistas, iniciando uma repressão violenta aos que se opunham a ele e aos alemães. A opressão passou a gerar um número pequeno de patriotas descontentes. O envolvimento sentimental das mulheres francesas com os ocupantes alemães causou a repulsa dos homens, ofendendo-lhes a honra. A desvalorização da moeda francesa diante da alemã permitiu que os nazistas usufruíssem os privilégios econômicos, enquanto que os franceses mergulhavam em grande miséria, causada por uma galopante inflação e escassez de alimentos. Crianças e idosos sofriam com a desnutrição, combalindo diante da fome. Milhares de trabalhadores franceses foram transferidos para trabalhar na indústria alemã, em plena ascensão, enquanto que as fábricas francesas entravam em colapso, trazendo um grande desemprego. Todos estes fatores, aliados ao patriotismo e à falta de liberdade civil, com toques de recolher à noite e a repressão política durante o dia, levaram à revolta, passiva ou ativa, da população francesa.
O Estado Francês, dirigido pelo marechal Pétain, extinguiu os partidos, os sindicatos, a liberdade da imprensa, com perseguições e prisões de líderes políticos. O descontentamento não era somente com os invasores germânicos,
mas com o governo reacionário de Pétain e dos seus aliados, que se mostrava opressivo e sem honra diante da colaboração com os nazistas, a quem se havia declarado guerra em 3 de setembro de 1939. A situação forçou a união de vários grupos de movimentos de resistência. Seus membros passaram a ser chamados de partisons (partidários), desenvolvendo um esquema de inteligência logística contra os inimigos, alemães ou franceses colaboracionistas.
Os núcleos de resistência passaram a existir desde a capitulação da França pelos alemães, em junho de 1940, e da instauração do regime de Vichy, visto por líderes políticos como vergonhoso. Estudantes universitários que se proclamavam revolucionários, criaram o jornal “Resistência”. Ainda naquele ano fatídico de 1940, a Resistência teve as suas lideranças iniciais levadas prisioneiras ao campo de concentração de Camp Gurs, entre eles, os comunistas, estudantes, sindicalistas e líderes de esquerda em geral.
Com o passar do tempo, um maior número de pessoas uniram-se aos grupos de resistência. No norte, ocupado e governado diretamente por autoridades militares do Terceiro Reich, surgiram, entre 1941 e 1942, aOrganization Civile et Militaire e o Liberation-Nord. Desenvolviam táticas de guerrilhas, logísticas de inteligência e sabotagem aos governantes e às polícias de Estado, e aos alemães invasores. No sul, até 1942, a Resistência concentrava as suas ações na propaganda, visto que era zona não ocupada pelos alemães. Quando os territórios do sul foram ocupados, mudaram de tática. No sul a intensidade da Resistência era menor, uma vez que a sua população conservadora apoiava, na maioria, o governo do marechal Pétain. Apenas os adeptos da esquerda aderiam à Resistência.
Até 1941, a Resistência centrava as ações em atividades clandestinas e lutas de guerrilha. A partir daquele ano, em outubro, passaram a receber apoio das forças Aliadas, quando o governo britânico decidiu ajudar, criando em Londres o Bureau Central de Renseignements et d’Action (BCRA), comandado pelo coronel Dewaurin.
A Resistência passou a usar a Cruz de Lorena como símbolo da França livre. Pequenos grupos de homens e mulheres armados desenvolviam as ações contra os inimigos através das zonas rurais, passando a ser chamados demaquis.
Diante do crescimento logístico dos grupos de resistência, o governo do marechal Pétain passou a combatê-los com uma intensa repressão. Inúmeros comunistas passaram a ser cassados pela Milícia. Em agosto de 1941, em represália à Resistência, foram estabelecidos os métodos depunição coletiva, que tomava reféns entre a população, que passavam a ser fuzilados a cada investida dos rebeldes. No decurso do regime de Vichy e da ocupação alemã, cerca de trinta mil franceses foram fuzilados como reféns em represália aos atos da resistência. Algumas aldeias, como Oradour-sur-Glane, foram destruídas pelos alemães, tendo a população massacrada, como uma resposta às atividades da Resistência ao redor. Em Lyon, o movimento de resistência Franc-Tireur, nascido em torno de alguns jornalistas, teve o seu maior líder, Marc Bloch, assassinado pelos nazistas.
A Milícia, formada por um grupo de paramilitares, foi criada no início de 1943, para combater a Resistência, e dar apoio às tropas alemãs, que desde 1942, estavam espalhadas por todo o território francês. A Milícia tornou-se uma espécie de Gestapo francesa, colaborando estreitamente com os nazistas. Tornou-se temida pela população, por usar métodos brutais de tortura e executar sumariamente a todos que suspeitassem pertencer à Resistência. Os temidos miliciens só encerrariam as suas atividades após a libertação da França pelos Aliados, em 1944. Na ocasião, grande parte da polícia terrorista do regime de Vichy foi condenada por colaboracionismo e executada. Muitos fugiram para a Alemanha, sendo incorporados na divisão do Charlemagne da Waffen-SS.
A atuação da Resistência Francesa foi de grande importância aos Aliados durante a invasão da Normandia, em 6 de junho de 1944. Foram eles que conduziram as forças Aliadas através da França, passando informações militares sobre os inimigos, além de proporcionar sabotagens nas telecomunicações, transportes e energia que abasteciam os alemães invasores. Ao lado dos Aliados, formaram unidades chamadas de Forças Francesas do Interior (FFI). As FFI reuniam em junho de 1944, cerca de cem mil membros, crescendo rapidamente, atingido o número de quatrocentos mil combatentes até outubro daquele ano.
A Resistência Francesa foi fundamental para que a França não morresse moral e politicamente durante a ocupação nazista e a duração do regime de Vichy. Gerou vários heróis, como o mítico Jean Moulin, morto pela Gestapo em 1943. Com o fim da França de Vichy, a Resistência Francesa floriu como o único motivo de orgulho e honra do povo francês durante o mais obscuro dos períodos da sua história, em que a colaboração com os nazistas trouxe desconforto e humilhação diante do mundo.


Jean Moulin, o Herói da Resistência


Se o general Charles De Gaulle é o herói vencedor da opressão nazista sobre a França, o seu libertador invencível; Jean Moulin é o herói mártir, símbolo daqueles que resistindo dentro de uma França colaboracionista, pagaram com a vida o direito de lutar pela liberdade.
Jean Moulin é a própria imagem do galã frágil e sensível, mas decidido a cumprir o seu destino trágico, mas heróico, em nome do seu país, do fim da opressão e pela liberdade de ir de vir. Tornou-se o maior símbolo da Resistência Francesa durante a Segunda Guerra Mundial.
Nasceu em Béziers, sudeste da França, próximo do mar Mediterrâneo, no fim do século XIX, em 20 de junho de 1899.
Na juventude, alistou-se no exército francês, em 1918, para lutar pelo seu país na Primeira Guerra Mundial. Com o fim da guerra, voltou aos estudos, licenciando-se em Direito, em 1924.
Muito cedo Jean Moulin deixou-se enveredar pela carreira administrativa. Em 1922 iniciava uma brilhante carreira política, exercendo o cargo de chefe de gabinete de deputado em Sabóia. De 1925 a 1930, tornou-se subprefeito de Albertville, sendo o mais jovem francês a exercer o cargo.
A vida de Jean Moulin sempre foi marcada pela ideologia política. Sua vida amorosa é menor diante da sua luta ideológica. Casou-se uma vez, em setembro de 1926, com Marguerite Cerruti, de quem se iria divorciar dois anos mais tarde, em 1928.
Durante a Guerra Civil Espanhola, Jean Moulin ajudou as forças de esquerda que lutavam contra o general Francisco Franco. As versões da participação de Jean Moulin neste período divergem, trazendo dados obscuros. Alguns historiadores acreditam que ele forneceu armas soviéticas para os espanhóis, mas a versão mais aceita é de que, de dentro do Ministério da Aviação, ofereceu aviões franceses aos que lutavam contra o fascismo na Espanha.
Além da vertente política, Jean Moulin era um exímio ilustrador e caricaturista. No início da década de 1930 chamou a atenção pelas caricaturas políticas que publicou no jornal “Le Rire”, usando o pseudônimo de Romanin. Ilustrou o livro do poeta Tristan Corbière.
Em janeiro de 1937, nomeado para o departamento de Aveyron, tornou-se o mais jovem prefeito da França. Em 1939 foi nomeado prefeito do departamento de Eure-et-Loire. Quando exercia o cargo, foi apanhado pela invasão dos alemães ao seu país. Logo no início, em 1940, foi preso pelos nazistas por recusar a colaborar com os invasores, não assinando falsos documentos por eles propostos. A sensibilidade de Jean Moulin foi rompida pela perda da liberdade. Desesperado, ele tentou o suicídio na prisão, cortando a garganta com um pedaço de vidro. A tentativa deixou-lhe uma cicatriz indelével, que sempre escondia com um cachecol. A imagem sensível, de galã romântico, com o pescoço coberto por um cachecol, tornou-se a mais conhecida através das décadas, chegando intacta aos tempos atuais.
Após a implantação do regime de Vichy, o governo colaboracionista ordenou que todos os prefeitos de esquerda, eleitos nas cidades e aldeias francesas fossem demitidos. Recusando a cumprir a ordem, Jean Moulin foi removido do próprio escritório. Foi então que entrou para a Resistência Francesa.
Em setembro de 1941, usando o nome de Jean Joseph Mercier, partiu para a Inglaterra, encontrando-se com o general Charles De Gaulle. Em Londres, De Gaulle encarregou-o de unificar os movimentos de resistência contra a invasão nazista na França, sendo nomeado delegado da zona não ocupada francesa, tendo o apoio do comitê de Londres. No início de 1942, Jean Moulin reuniu-se com membros da Resistência, dando início à missão delegada por De Gaulle.
De volta a Londres, em fevereiro de 1943, foi encarregado de uma nova missão, formar o Conselho Nacional da Resistência (CNR). A primeira reunião do CNR aconteceria em Paris, em 27 de maio de 1943, tendo Jean Moulin como presidente.
Em 21 de junho de 1943, no primeiro dia do verão, e um dia após ter completado 44 anos de idade, Jean Moulin e vários líderes da Resistência foram presos em Caluire-et-Cuire, um subúrbio de Lyon. Uma versão sobre a prisão de Jean Moulin aponta para uma possível traição de René Hardy, que foi capturado e libertado pela Gestapo. Outros historiadores acreditam que René Hardy, ao ser seguido pelos alemães, foi simplesmente imprudente.
Em Lyon, Jean Moulin foi interrogado pelo chefe da Gestapo, Klaus Barbie, sendo levado mais tarde para Paris. Mesmo sob tortura, o líder da Resistência não revelou nenhum segredo aos alemães. Durante a transferência para a Alemanha, Jean Moulin morreu perto de Metz, no dia 8 de julho de 1943. Provavelmente devido aos ferimentos sofridos pela tortura. Mais tarde, Klaus Barbie alegaria que o herói da Resistência Francesa teria morrido pelas próprias mãos, em uma tentativa de suicídio. Alguns biógrafos do mártir apóiam esta versão, acrescentando que Barbie teria ajudado pessoalmente à tentativa.
Jean Moulin tornou-se símbolo de retidão cívica e de patriotismo numa época de muitos anti-heróis e de desonra de uma nação. Tornou-se uma lenda do século XX na França, sendo homenageado e referendado por todas as gerações que viram ou procederam ao seu martírio. Inicialmente foi enterrado no Cemitério Père Lachaise. Em 19 de dezembro de 1964, suas cinzas foram transferidas para um memorial no Panteão de Paris.


O Fim da França de Vichy


Com a chegada das forças Aliadas em junho de 1944, a França seria libertada da ocupação nazista alguns meses depois. A legitimidade da França de Vichy e do seu chefe de Estado, marechal Philippe Pétain, foi contestada pelo general Charles De Gaulle e pelas suas forças francesas livres, primeiro com base em Londres, e mais tarde, através de Argel, no Norte da África, onde foi declarado que o regime de Vichy não passou de um governo ilegal e de traidores colaboracionistas com as forças do Terceiro Reich, com fortes inclinações inspiradas na ideologia nazista.
Em junho de 1944, logo a seguir à invasão da Normandia, que levou a uma seqüência de ações que culminaria na libertação da França, o general De Gaulle proclamou o Governo Provisório da República Francesa (GPRF). Em agosto as forças dos Aliados chegaram a Paris, libertando finalmente, a capital francesa de quatro anos de ocupação e humilhação impostas pelas forças dos exércitos alemães. O GPRF instalou-se em Paris, em 31 de agosto, vindo a ser reconhecido pelos Aliados como governo legítimo da França, em 23 de outubro de 1944.
A libertação da França pelos Aliados, ocasionou a fuga dos funcionários e simpatizantes da França de Vichy, entre agosto e setembro de 1944, sendo o regime movido para Sigmaringen, na Alemanha, onde foi estabelecido um governo no exílio, liderado pelo marechal Pétain. O regime de Vichy no exílio durou até abril de 1945, quando os Aliados chegaram a Berlim, pondo fim ao governo nazista de Adolf Hitler.



































Na reconstrução de uma República francesa livre, importantes lideranças, políticos e militares do regime de Vichy foram julgados e executados como traidores e colaboracionistas. As mulheres que se envolveram com os nazistas, sendo deles amantes, tiveram os cabelos rapsados em praça pública, para que fosse exposta a sua desonra. O marechal Philippe Pétain foi condenado à morte por alta traição, mas teve a pena comutada para prisão perpétua. A imagem do governante a apertar a mão de Adolf Hitler ficaria para sempre marcada na lembrança dos franceses, como um símbolo de vergonha daquele povo.
Durante o período da França de Vichy, de 1940 a 1944, o exercito francês seria reduzido a cem mil homens; os prisioneiros de guerra seriam mantidos em cativeiro. A população francesa mergulharia na miséria, com a fome a tomar grande forma, assolando a nação. Estima-se que a França forneceu 42% da ajuda externa à economia alemã durante a Segunda Guerra Mundial.


jeocaz.wordpress.com
02
Set16

A BRASILEIRA DO CHIADO – ONDE LISBOA PULSA

António Garrochinho


Situada no coração de Lisboa, A Brasileira do Chiado representa um dos lugares mais míticos da capital portuguesa. Emblemática, a cafetaria atravessou o seu primeiro século de existência, foi aberta em 1905, volvida por uma tradição histórica que se tornou legendária.
Inicialmente, a casa servia uma bebida amarga e pouco difundida em Lisboa, o café. Aos poucos, Adriano Telles, seu inaugurador, conseguiu fazer da bebida uma tradição, e em 1908, abria a primeira sala de café na cidade. O termo “bica”, usado pelo lisboeta para designar uma xícara de café, teria sido criado por Adriano Telles, jamais saindo do vocabulário da população.
Na década de 1920, A Brasileira tornou-se um importante centro cultural de Lisboa e de Portugal. Longas tertúlias eram regadas por fumo e café, promovidas por pintores, artistas, escritores, políticos e a maioria dos representantes da intelectualidade lusitana. Por lá passaram Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Jorge Barradas e muitos dos modernistas portugueses. As marcas da presença dos grandes expoentes dessa época de ouro ficaram nas paredes do café, com quadros feitos exclusivamente para a exposição permanente da casa.
A tradição histórica de A Brasileira atravessou o século XX, pela ditadura salazarista passou sem perder o glamour, assistiu ao alvorecer dos cravos de abril, viu a capital lusitana exilar as suas características bairristas e transformar-se em uma cidade fortemente européia e totalmente englobada na União Européia; saiu intacta do imenso incêndio que destruiu grande parte do Chiado, em 1988, adaptou-se aos novos tempos, criando uma nova clientela, sem perder o ludismo emblemático que atrai milhares de turistas durante todo o ano, e recebe a tradicional clientela lisboeta, formada pelas mais variadas vertentes e movimentos que assolam a cidade.
O serviço de atendimento da cafetaria é péssimo. Serve uns pastéis medíocres, o restaurante é da pior qualidade, e o café, que tem no lema secular a frase “o melhor café é o da Brasileira”, há décadas que só o é nas palavras. Apesar de todos os problemas, tomar um café na esplanada d’A Brasileira durante o verão ou dentro dela durante o inverno, é um dos momentos mais mágicos e lúdicos da cidade de Lisboa. Ponto de encontro de todas as tribos, não há nada mais elegante, provocativo e contraventor do que mesclar os turistas e os clientes habituais no fim da tarde. Só então, é que se percebe o mistério sedutor que o ambiente d’A Brasileiraexerce sobre todos nós. Paradoxalmente, servindo o pior café de Lisboa, A Brasileira é o melhor local de Portugal para bebê-lo.

O Café Chega aos Lisboetas


Em 19 de novembro de 1905, o português Adriano Telles, que anos antes emigrara para o Brasil, onde acumulara um bom capital, inaugurava uma casa na Rua Garret, nos números 120 e 122, próxima ao Largo do Chiado, que chamou de “A Brazileira”. Mantendo grandes contactos no Brasil, Telles viu na importação de diversos produtos daquele país um excelente e lucrativo negócio. Vendia entre os exóticos produtos tropicais: a tapioca, a goiabada, piripiri e pimentas, chá e farinha, além dos tradicionais produtos portugueses, azeite e vinho.
Localizada em um dos pontos mais requintados e bem freqüentados da Lisboa do princípio do século XX – o bairro do Chiado; a casa fundada por Telles tinha como vizinhos a tradicional “Casa Havaneza”, a maior importadora de cigarros e charutos do seu tempo, e que ainda resiste ao terceiro milênio como uma das mais emblemáticas de Lisboa; e, a “Retrozaria David & David”. Ante a vizinhos tão sofisticados, era preciso que se inovasse nas ofertas dos produtos oferecidos. A Brasileira trazia uma novidade, a venda do “genuíno café do Brasil”, conforme anunciava Telles. O café não fazia parte da cultura lisboeta, sendo uma bebida pouco apreciada e até evitada pela população. 
Inicialmente o café estava distante de ser servido em chávenas,de ser extraído de máquinas e adquirir aspecto cremoso. Telles servia a bebida a cada cliente, para que provasse, sem que lhe fosse cobrado. Era uma bebida amarga, aromática e servida quente. Junto ao café que era oferecido no balcão, Adriano Telles ensinava ao cliente como fazê-lo, juntamente ofertava um jornal publicitário da casa e de outras vizinhas no Chiado.
Reza a lenda que Adriano Telles teria inventado o termo “bica”, para designar uma chávena de café. Servida de uma cafeteira, Telles teria ordenado ao empregado que trouxesse a bebida para ser servida em chávena cheia a partir da bica do saco. Usara a palavra bica, que passou a fazer parte do vocabulário lisboeta, sendo usado até os tempos atuais.
Aos poucos, Adriano Telles, através d’A Brasileira, foi introduzindo o hábito do café aos habitantes de Lisboa. O sucesso levou o inaugurador da casa a transformá-la, em 1908, em uma sala de café, novidade que caiu no gosto da elite lisboeta. Rapidamente, beber um café n’A Brasileira do Chiado virou moda, sendo transformada em lugar de culto pelos setores mais sofisticados da sociedade da época.


A Exposição Permanente de Arte da Casa do Chiado


Seria na década de 1920 que A Brasileira tornar-se-ia uma casa fundamental nos movimentos culturais que revolucionaram Lisboa e Portugal. Cada vez mais famosa, a casa passou a ser ponto de encontro da elite intelectual alfacinha. O café foi convertido em sala de estar da capital. Era freqüentado por Almada Negreiros, seu mais fervoroso cliente; Fernando Pessoa, que tinha predileção pelo Martinho da Arcada; Bernardo Marques; Jorge Barradas e Santa Rita Pintor, entre muitos outros.
Ainda na primeira metade da década de vinte, A Brasileira passou por uma grande remodelação do espaço, vindo a abrigar obras dos artistas emergentes que eram freqüentadores assíduos do café.
Em 1925, onze telas que se tornariam valiosas dentro do modernismo português são mostradas n’A Brasileira. Eram tão além do conservadorismo da época, que sofreram pesadas críticas da imprensa, sendo chamadas de “As Telas Tolas”. Um novo lema espalhou-se por Lisboa para definir as obras de arte: “O melhor café é o d’A Brasileira, e os piores painéis também são os de lá”. Os autores das onze telas eram sete: Eduardo Viana (com duas obras), Almada Negreiros (duas obras), José Pacheko, Antonio Soares (duas obras), Jorge Barradas (também com duas obras), Bernardo Marques e Stuart de Carvalhais. A conservadora elite intelectual portuguesa tinha como espelho a arte de Malhoa e Columbano, não enxergando o movimento modernista e as novas tendências nas artes que assolaria aquela década.
Apesar da rejeição da época, as obras de arte da exposição permanente da década de vinte n’ABrasileira do Chiado, fazem parte dos maiores acervos do modernismo português. As telas fizeram do café o centro dos movimentos artísticos. A Brasileirapassou a fazer parte da História da Arte em Portugal.
Em 1971, a exposição permanente do café do Chiado seria atualizada com onze novos quadros, englobando várias vertentes de correntes e estéticas que retratavam a época. Os autores das obras eram: Eduardo Nery, Noronha da Costa, João Vieira, Antonio Palolo, Hogan, Nikias Skapinakis, Vespeira, Carlos Calvet, Fernando Azevedi, Joaquim Rodrigo e Manuel Baptista.
O acervo artístico d’A Brasileira tem ainda, a famosa estátua de bronze de Fernando Pessoa, de autoria de Lagoa Henriques, erguida em frente ao café, na sua esplanada. Pessoa aparece sentado, com a mesa do lado, à espera do café. A estátua atrai um grande número de turistas, que se sentam à sua volta, registrando o momento em milhares de fotografias.
As obras permanentes estão até os dias atuais nas paredes d’A Brasileira, fazendo do local um sofisticado e valioso patrimônio histórico. Estas características fazem do café um sítio impar dentro da cultura portuguesa do século XX, em um legado sem precedentes que atravessou o terceiro milênio.


O Fascínio d’A Brasileira


A Brasileira tornou-se um local de grande pulsação intelectual, que passou pelos vários períodos da história de Portugal no século XX. Na época do Estado Novo, era freqüentada por intelectuais que se opunham à ditadura de Salazar, e por homens influentes do próprio regime. Militantes de esquerda dividiam espaço com a perigosa e repressiva polícia política salazarista, a PIDE.
Reza a lenda que Salazar tinha profundo respeito pela tradição histórica da casa do Chiado, proibindo que se efetuassem prisões dentro do café. Há relatos de que vários perseguidos políticos da ditadura, exilavam-se por algumas horas no café para não serem presos, do lado de fora ficava a polícia, à espera.
Na década de 1960, as guerras coloniais, a crise econômica, levaram Portugal a um visível empobrecimento, fazendo com que a elite intelectual perdesse grande parte do seu glamour. A Brasileira sentiu a crise. Nesta e na década seguinte, já no crepúsculo da ditadura, viu a importância do café popularizar-se, saindo dos grandes salões para cafés comuns, sem sofisticação, e, espalhados por vários pontos da cidade.
No fim dos anos 1980, assistiu-se a um desleixo na qualidade dos serviços, uma negligência com o espaço, que dava um aspecto de degradação e decadência. Esta crise ficou acentuada a partir de agosto de 1988, quando um imenso incêndio destruiu grande parte do Chiado. Apesar de não ter sido atingida pelo fogo, A Brasileira foi prejudicada pela degradação do bairro e das ruínas que restaram do incêndio. O Chiado levou mais de dez anos para ser reconstruído, trazendo grande prejuízo para o comércio do bairro.
No início da década de 1990, A Brasileira passou a ser administrada a partir do seu nome, da fama e da tradição, sem a preocupação com a qualidade. Nesta época, o então dono, Jaime Silva, não vendo lucros na casa, ameaçou transformá-la em uma lucrativa hamburgueria, seguindo a tendência das grandes redes de hambúrgueres norte-americanas, que compraram cafés e prédios históricos por toda a Europa. A resposta do governo português foi imediata, a casa foi tombada como patrimônio cultural, não sendo permitido que fosse modificada. Frustrados os planos da hamburgueria, o café fechou as suas portas em 1993, para que se efetuasse uma profunda reforma. Quando reaberta, a casa trouxe a sua beleza e sofisticação, por anos escondidas atrás das paredes desbotadas pelo tempo, agora restauradas. Os sanitários, que ficavam ao fundo, foram transferidos para a cave, tendo o seu acesso através de uma escada, que roubou o lugar de várias mesas. Na cave, foi aberto um restaurante sem qualquer atrativo. No lugar dos antigos sanitários, foram instaladas as novas cozinhas. A casa voltou a mostrar a sua beleza opulenta, apesar de não ter melhora alguma no atendimento o no que se é servido.
Mesmo diante das deficiências, a casa jamais deixou de receber turistas curiosos, clientes lisboetas tradicionais e portugueses de todas as partes do país. Sua esplanada é aberta na primavera, quando as chuvas terminam. Atingem o auge no verão, passando a ser um local disputado por todas as vertentes dos movimentos sociais da cidade e por turistas do mundo inteiro. No fim da tarde, é ponto de encontro obrigatório de intelectuais e amantes da noite, que dali partem para a boemia do Bairro Alto.
Foi na esplanada d’A Brasileira que intelectuais e representantes dos movimentos de Lisboa, encontraram-se para encerrar o “Lisboa 94”, movimento que dera à cidade o título de capital européia da cultura daquele ano. Dali, ouviu-se os sinos de todas as igrejas do Bairro Alto, então aclamado de “Sétima Colina”, a encerrarem o movimento. Logo a seguir, a estátua de Fernando Pessoa foi retirada e a esplanada do café desapareceu provisoriamente, para dar passagem às obras de expansão do metropolitano. Em 1998, a estação Baixa-Chiado foi inaugurada, com uma entrada na frente do legendário café.
Localizada em um local privilegiado, com o Teatro Nacional de São Carlos àfrente, ao lado do prédio onde nasceu Fernando Pessoa; o Largo do Chiado e a famosa estátua do poeta, também em frente; a poucos metros da Praça Camões, ponto de entrada para o mítico Bairro Alto; e ainda, a Livraria Bertrand, tradicional em Lisboa. Logo abaixo, do mesmo lado, está a Bernard, grande pastelaria de qualidade inegável, que não fica a dever às grandes da Europa. Mas o café sem sabor d’A Brasileira sabe a um prazer intelectual que nenhuma qualidade ofusca.
No século XXI, A Brasileira continua a ser o lugar mais emblemático para uma tertúlia, para que se possa encontrar pessoas em ebulição constante, que carregam e promovem os movimentos culturais da cidade, ou simplesmente para travar grandes amizades entre nativos e turistas do mundo inteiro. A Brasileira tem esta magia, faz com que todas as tribos convirjam, visões e comportamentos sejam quebrados, e que todos estejam abertos para grandes conhecimentos.
02
Set16

A NOITE DAS FACAS LONGAS

António Garrochinho


A subida de Hitler e do Partido Alemão dos Trabalhadores (NSDAP), o partido nazista, ao poder do governo germânico, em 1933, deu-se com a ajuda fundamental da Sturmabteilung ou SA, uma milícia paramilitar nazista com grande influência e poder dentro da Alemanha.
Liderada por um herói da Primeira Guerra Mundial, o capitão Ernst Röhm, e formada pelos setores menos favorecidos da nação alemã, como desempregados, homens pobres e sem os privilégios da elite secular, a SA exercia o seu poder através da violência e coação dos que se opunham a ela e aos conceitos nazistas. Seus membros eram conhecidos como “camisas pardas”, devido à cor dos uniformes que usavam. Na década de 1920, como milícia de Adolf Hitler, eram usados para intimidar os adversários políticos, em destaque os sociais democratas e os comunistas. Grandes batalhas foram travadas entre membros da SA e os comunistas nas ruas das cidades alemãs, levando o país ao caos e desestabilização que possibilitou a ascensão de Hitler ao poder.
Ernst Röhm era conhecido pela sua grande capacidade de organizador de massas. Era um homem cruel e de ambições políticas que incomodava à elite alemã. Quando o nazismo chegou ao poder, Röhm garantiu a autonomia da SA dentro do próprio partido. Continuou, através da violência nas ruas, a intimidar qualquer inimigo. No poder, desfilavam pelas ruas de limusines, a espancar bêbados; promoviam banquetes extravagantes, e principalmente, conclamavam orgias homossexuais entre as suas lideranças. A condição homossexual explícita de Ernst Röhm foi o que mais incomodou os poderosos e conservadores alemães. Röhm sonhava em transformar a SA no poderoso exército alemão. As suas pretensões atraíram para si a pressão dos políticos, exército e industriais alemães, que exigiram de Adolf Hitler a sua cabeça. As elites ameaçaram retirar o seu apoio aos nazistas. Acossado, Hitler não pensou duas vezes, teria que eliminar qualquer obstáculo à consolidação do nazismo na Alemanha, optando por eliminar antigos companheiros do próprio partido. Assim, engendrou-se um plano de expurgos que resultou no assassínio de personalidades apontadas em uma lista como entraves ao poder de Hitler. Ernst Röhm e vários membros da SA, foram os mais atingidos. Na noite de 30 de junho para 1 de julho, de 1934, dezenas de pessoas foram presas e executadas, numa operação sanguinária que entrou para a história como a “Noite das Facas Longas” ou “Noite dos Longos Punhais”. Após o banho de sangue, o caminho estava aberto para Adolf Hitler consolidar o seu poder absoluto sobre a Alemanha.
Ernst Röhm e a Sturmabteilung
A história da Sturmabteilung ou SA, está estreitamente vinculada à biografia de Ernst Röhm, um representante genuíno da geração perdida alemã da Primeira Guerra Mundial. Ferido três vezes durante a guerra, trazia no rosto profundas cicatrizes que lhe outorgavam o título de herói. Röhm aderiu ao partido nazista já em 1918, ano da sua fundação. Em 1919 passou a fazer parte do fechado grupo de amigos de Adolf Hitler.
Versões da história apontam Ernst Röhm como o responsável pela entrada de Hitler na política. Após um exaltado discurso do futuro führerem um bar de Munique, induziu-o e incentivou-o a participar da vida política alemã.
Em 29 de julho de1921, Hitler tornou-se o líder do partido nazista, iniciando um processo radical e revolucionário em busca do poder. Foi também em 1921, que a Sturmabteilung, a SA, uma força de assalto, foi fundada dentro do partido nazista. Foi desenvolvida a partir dos Freikorps, organização nacionalista surgida logo após a Primeira Guerra Mundial; seus membros eram pessoas financeiramente desfavorecidas e empobrecidas pela guerra. Os Freikorps condenavam o governo alemão, responsabilizando-o pela humilhação do país ao assinar o Tratado de Versalhes. Ernst Röhm era o comandante principal.
A SA, ao substituir os Freikorps, usava como meio de expansão da ideologia nazista a intimidação, o medo e ataques violentos a outros partidos. Além de ter como integrantes os desempregados e desfavorecidos sociais, recrutava para as suas fileiras ladrões e assassinos, formando uma tropa de assalto nazista violenta e em ebulição constante. Confrontos sangrentos foram travados entre os nazistas da SA e os comunistas.
Ernst Röhm mostrou-se sempre um talentoso organizador, atraindo para o partido nazista e à sua milícia paramilitar um grande número de adeptos. Dizia que a organização de um exército plebeu traria de volta a honra alemã, perdida com a guerra. Esteve sempre ao lado de Hitler, mesmo quando este foi preso em 1923, acusado de traição, após o fracassado golpe que ficou conhecido como Putsch da Cervejaria, movimento com a intenção de tomar o poder na Bavária pelos nazistas, que depois seguiriam em marcha por toda a Alemanha. O golpe era uma imitação clara à marcha sobre Roma, que levara Mussolini ao poder na Itália.
Homossexual assumido, Ernst Röhm era um homem que dava grande valor ao companheirismo e lealdade entre os homens da caserna, característica que herdara dos seus tempos de guerra. Era cruel e sanguinário, com uma veia criminosa travestida por um eloqüente nacionalismo revolucionário. Na luta para que o partido nazista chegasse ao poder, acreditava que só aconteceria através da violência revolucionária. Chegara a anunciar que mataria doze homens para cada membro da SA que fosse assassinado. Os confrontos constantes com os comunistas geraram grande número de mortos e feridos, trazendo a instabilidade para o governo alemão, favorecendo a ascensão de Hitler ao poder.
Surgimento da SS
Os membros da SA passaram a ser conhecidos como os “camisas pardas”, devido à cor dos seus uniformes. Tornaram-se temidos pela população por causa do uso da intimidação nas ruas. Hitler prometeu pôr fim à violência urbana se chegasse ao poder, como se as milícias do próprio partido nazista não fossem as principais propagadoras dessa violência. A promessa valeu-lhe a ascensão política em 1933.
Ernst Röhm transformara a SA, que de força paramilitar privada de Hitler, passou a ser uma grande milícia popular, formada na sua essência, por combatentes de ruas e baderneiros. Em pouco mais de um ano, as suas fileiras foram engrossadas de 70 para 170 mil membros.
Paralelamente, foi criada dentro da SA, em 1925, uma organização altamente disciplinada, a Schutztaffel (SS), encarregada da proteção pessoal de Adolf Hitler. Logo a SS foi designada como força de proteção do partido nazista e dos seus líderes. De 1925 a 1929, a SS era tida como um batalhão da SA, possuindo 280 membros. Em 1929, Heinrich Himmler foi nomeado o seu líder, expandido-a até 1932 para 52 mil membros.
Se nas fileiras da Sturmabteilung estavam homens rudes, movidos pela violência latente, na Schutztaffel eram encontrados homens com uma logística tática mais voltada para a inteligência militar, sem jamais perder a vertente sanguinária de uma força paramilitar de defesa. Futuramente, seria a SS uma das principais responsáveis pela queda da SA.
A SA Passa a Ser Um Obstáculo Para Hitler
Mesmo depois da chegada do partido nazista ao poder, a violência da SA não cessou. Os seus membros continuaram a promover distúrbios nas ruas, a espancar e torturar bêbados e minorias raciais, matando muitas vezes, inocentes. Eram conhecidos pelo grande aparato que promoviam, desfilando em luxuosas limusines pelas ruas. Faustosos banquetes regados a muita bebida, davam passagem para luxuriantes aventuras, muitas envolvendo homens do mesmo sexo. A prática aberta do homossexualismo nas fileiras da SA, serviu como ponto de repúdio da sociedade alemã mais conservadora e supostamente mais religiosa.
Uma vez no poder, a ambição de Röhm era ser comandante supremo das forças armadas alemãs. Queria que Hitler incorporasse o exército a SA, formando uma poderosa organização militar. Afinal, logo a seguir a chegada do partido nazista ao poder, a Sturmabteilung tinha um contingente de cerca de três milhões de homens, enquanto que o exército sucumbia à humilhante resolução do Tratado de Versalhes, que não lhe permitia ter mais de cem mil homens. Röhm contava que Hitler, velho companheiro de partido, firmasse a expansão e poder militar da SA.
Mesmo no poder, Hitler não tinha o controle absoluto. Precisava do apoio da classe média alemã, da tradicional e poderosa aristocracia, dos donos das indústrias e do exército. O populismo exacerbado de Röhm era contra àqueles setores. Para as milícias da SA, as classes privilegiadas eram as culpadas pela degradação da Alemanha e pela humilhação que se lhe fora imposta após a derrota na Primeira Guerra Mundial. A violência da SA, suas orgias, a postura sexual aberta dos seus líderes, contribuíam para que fosse combatida pela classe média germânica.
A violência da Sturmabteilung contra a população, suas manifestações arruaceiras, tudo ia contra o que Hitler prometera ao povo alemão para que chegasse ao poder. Poderosos aristocratas, industriais, o exército alemão, ameaçavam retirar seus apoios a Hitler se não demitisse Röhm e acabasse com o poder e violência da SA. Por outra vertente, o líder da milícia nazista pressionava o chanceler a dar mais poderes militares àquela que fora uma organização fundamental na ascensão do partido ao poder. Röhm condenava qualquer vínculo com os conservadores do governo alemão, considerando-os inimigos e traidores da Alemanha, irritando-se com a repentina burocratização do partido nazista.
Mas Hitler precisava mais do apoio de todos os setores da sociedade alemã do que da velha ideologia dos antigos companheiros de partido. Tinha a intenção de expandir o exército alemão, controlando-o por completo, incorporando os melhores homens da SA a ele, transformando-o em uma força que lhe serviria para a ambição bélica que tinha em mente. Röhm, velho companheiro e amigo, passou a ser uma preocupação, um grande obstáculo aos planos políticos de Hitler. Era preciso que fosse neutralizado.
A Operação Colibri
No início de 1934, o ministro da defesa da Alemanha, o general Werner von Blomberg, escreveu um memorando a Hitler para que incorporasse a SA ao Reichswehr (exército). Em resposta, Hitler promoveu um encontro entre ele, Blomberg e Röhm. Hitler pressionou Röhm, que relutante, viu-se obrigado a assinar um acordo, reconhecendo a superioridade do Reichswehr sobre a SA. Quando Hitler se retirou, Röhm declarou publicamente que não iria seguir as ordens do “ridículo”. Desde então, passou a fazer discursos públicos contra o que chamava de burocratização do nazismo, aumentando os seus desafetos dentro do partido e irritando Hitler.
A pressão contra Röhm veio de todos os setores conservadores da Alemanha. O vice-chanceler Franz von Papen, um católico conservador, em um discurso inflamado, criticou os nazistas, condenou a conduta sexual dos membros da SA, avisou sobre uma possível revolução organizada pela organização e, ameaçou pedir demissão se Hitler não agisse contra os seus líderes. Diante do impasse, o presidente Paul von Hindenburg, que nomeara Hitler chanceler, ameaçou pôr o país em lei marcial. Àquela altura, Röhm já havia caído em desgraça diante de Hitler, a sua contribuição história para a ascensão do nazismo já nada valia, a sua vida muito menos.
Mais do que demitir Röhm, Hitler optou por um expurgo que atingiria não só a SA e os seus líderes, mas a todos os seus inimigos. Na preparação do expurgo, Heinrich Himmler e o deputado Reinhard Heydrinch, membros da SS, forjaram um dossiê que sugeria o recebimento de doze milhões de marcos alemães por Röhm, vindos do governo francês, para que depusesse Hitler. Os dois espalharam que a SA estava a promover um violento golpe para tomar o poder. Estava criada a “Operação Colibri”, com a missão de viabilizar o expurgo. 
Hermann Göring e Himmler, prepararam, em 26 de junho de 1934, uma lista com os nomes de todas as pessoas que poderiam, de uma forma ou de outra, ameaçar Adolf Hitler e o partido nazista. Quem constasse na lista, deveria ser morto no dia da operação.
Dando seguimento aos planos, no dia 27 de junho, Hitler nomeou um grupo tático especial para levar a operação a cabo, planejando todos os detalhes. Tudo teria que ser feito com discrição e em uma única noite; exigências do próprio Hitler.
No dia seguinte, 28 de junho, mostrando-se tranqüilo, o chanceler prestigiou o casamento de Gauleiter Josef Terboven, indo à cerimônia realizada em Essen. No casamento, um telefonema, provavelmente a fazer parte da farsa, alertava Hitler que tinha acontecido uma suposta tentativa de golpe vinda por parte de Röhm e da SA.
No dia 29 de junho, Hitler encontrava-se em um hotel em Bonn, quando Himmler o informou de que a SA já sabia da Operação Colibri, e que as suas tropas tinham ido para a rua, em Munique. Hitler decidiu ir para Munique e derrubar a SA. Em outra versão da história, Hitler ordenou ao assistente pessoal de Röhm que reunisse toda a tropa da SA e que se encontrasse com ele na noite seguinte, 30 de junho. Atraídos para uma armadilha, Röhm e os seus companheiros não se deram conta do ardil que se lhes ia abater.
Deflagrada a Noite das Facas Longas
Hitler chegou a Munique no sábado, 30 de junho. Tão logo desembarcou, ordenou que fossem presos os membros da SA que se encontravam na sede do partido nazista da cidade. Em seguida, rumou para o Ministério do Interior, indo de encontro aos dirigentes da SA que haviam promovido uma briga urbana na noite anterior. Em um ataque de histeria, Hitler retirou as medalhas e a parte de cima do uniforme de um chefe de polícia, acusando-o de não obedecer às suas ordens de manter a ordem na cidade.
Já era madrugada, quando Hitler dirigiu-se para Bad Wiesse, local próximo de Munique, onde Röhm e os seus homens estavam hospedados no Hotel Hanselbauer, junto ao lago Tegernsee.
Sem suspeitar da armadilha que se vislumbrava, Ernst Röhm e os seus homens beberam e festejaram naquela noite, fazendo do hotel o palco de uma festa faustosa já tradicional entre os membros da SA. Embriagados, aos poucos, os homens retiraram-se para os seus quartos, sozinhos ou acompanhados.
Hitler chegou ao hotel escoltado por uma grande coluna de tropas e carros. Registros divergem de como ele adentrou nas instalações do hotel. Há os que dizem que trazia uma pistola na mão, outros apontam para um rebenque. Seguiu para o quarto onde se encontrava Röhm, acompanhado por dois agentes da polícia, que traziam armas em punho. Encontrou o líder da SA deitado. Bradou furiosamente:
Röhm, você está preso!
Ainda sonolento, pesado pelos resquícios da bebida que ingerira, Röhm, sem aperceber o que se passava, levantou a cabeça do travesseiro, olhou Hitler surpreso e disse: “Heil mein Führer”. Hitler repetiu a ordem de prisão, saindo logo a seguir do quarto.
A mesma ordem correu por todos os quartos do hotel, atingido aos chefes da SA, que em segundos, viram-se transformados de companheiros nazistas a traidores da causa. Em um dos quartos, o deputado e oficial Edmund Heines, foi encontrado na cama com um outro jovemcompanheiro da SA. Ao saber do fato, Hitler ordenou que Heines fosse morto. Ele foi executado ali mesmo, no quarto que ocupava no hotel.
Vários líderes da SA que chegaram ao hotel, para um encontro com Röhm, foram imediatamente presos pela SS. Röhm e os companheiros foram enviados para a prisão de Stadelheim, em Munique.
Hitler telefonou de Munique para Göring, em Berlim, utilizando o código “colibri”, que deflagrou uma operação sangrenta, com várias prisões e execuções que se propagou pelas principais cidades da Alemanha. Era a caça aos líderes da SA e aos inimigos políticos de Hitler, cujos nomes constavam na lista. Era a concretização da barbárie nazista contra os próprios companheiros, que entraria para a história como a “Noite das Facas Longas” ou “Noite dos Longos Punhais”.
Execuções e Mortes
Longe do Hotel de Bad Wiesse, a caça às bruxas teve início em Berlim e por mais 20 cidades da Alemanha. Em Bremen, Karl Ernst, membro berlinense da SA, líder nazista que esteve envolvido no incêndio do edifício do Reichstag, em 1933, foi preso logo após o seu casamento, quando se preparava para embarcar em lua de mel para a ilha da Madeira. Ao ser preso, Karl Ernst pensou que se tratava de uma brincadeira de despedida de solteiro. Levado para Berlim, ele sorria e mostrava os braços algemados, sempre a crer que era uma brincadeira. Foi encostado no muro de Lichterfeld, sendo fuzilado. Não acreditando na tragédia que se lhe esperava, ainda exclamou um “Heil, Hitler”, segundos antes de ter o corpo trespassado pelas balas.
Na lista macabra dos nazistas, constava não só os velhos companheiros da SA. Entre os desafortunados estavam:
Gustav Ritter von Kahr, ex-comissário que se tinha oposto a Hitler durante o Putsch da Cervejaria, em 1923. Kahr teve o corpo cortado por golpes de picareta e atirado em um pântano aos arredores de Dachau; padre Bernhard Stemple, profundo conhecedor e crítico do livro “Mein Kampf”, escrito por Hitler, o padre foi executado por uma bala; Kurt von Schleicher, ex-chanceler da Alemanha, especialista em engendrar intrigas políticas, foi executado com a esposa em sua casa; Gregor Strasser, um dos membros primitivos do partido nazista, que se desligara dele em 1932; Erich Klausener, líder da ação católica alemã; Franz von Papen, vice-chanceler da Alemanha, preso por ter discursado contra Hitler e o nazismo, foi anistiado por Hitler, sendo proibido de comentar o ocorrido; Herbert von Bose, secretário de Papen, não teve a mesma sorte, sendo executado pelos nazistas; Edgard Jung, sócio de Papen e autor do seu discurso contra os nazistas, também foi executado.
Willi Schmidt, crítico de música de um jornal de Munique, foi preso em sua casa quando tocava violoncelo. Levado por quatro homens da SS, foi executado por engano, sendo confundindo com outro Willi Schmidt da lista. O seu corpo foi devolvido à família em caixão fechado, proibido de ser aberto, por ordem da Gestapo.
Ernst Röhm foi mantido na prisão de Stadelheim, em Munique, até do dia 2 de julho. Hitler decidiu que o ex-amigo e companheiro fosse sentenciado com a pena de morte. Dois oficiais da SS, entre eles Theodor Eicke, que se tornaria mais tarde, chefe do campo de concentração de Dachau, foram enviados por Hitler à cela de Röhm. Levaram ao líder da SA uma pistola e dez minutos para que ele se matasse. Röhm recusou-se a cometer suicídio, proferindo: “Se vou ser morto, deixe que o Sr. Hitler faça isso”. Após uma espera de dez minutos, vendo que nada acontecia na cela do prisioneiro, os membros da SS voltaram. Ao abrir a porta, depararam-se com Röhm de pé, completamente nu. Um dos oficiais, desconfiado daquela atitude provocativa, desferiu um tiro fulminante em Röhm. Consta que as últimas palavras do ex-líder nazista teriam sido: “Mein Führer!
A Alemanha Aplaude a Noite das Facas Longas

















Após o expurgo, vários membros da SA abandonaram qualquer idéia de oposição a Hitler e às lideranças do partido nazista. Hitler justificou as mortes como um ato de defesa do Estado, ameaçado por uma tentativa sanguinária de golpe promovida pelos líderes da SA. Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda, plantou a idéia da conspiração em todos os órgãos de notícia alemães. Göring ordenou que todos os documentos dos dois últimos dias que precederam à “Noite das Facas Longas”, fossem queimados.
Ao discursar à Nação, em 14 de julho, Hitler mostrou-se como um salvador da ameaça à soberania da Alemanha e aos costumes do seu povo. Foi aplaudido pelo exército alemão e por grande parte da população. Hitler proibiu na SA a prática de homossexualismo, conduta comum naquela organização, até então sabida e tolerada por ele. Proibiu os banquetes, a embriaguez e a irreverência dentro da milícia. Nomeou Victor Lutze para assumir o lugar de Ernst Röhm. Com a morte de Röhm e sob a direção de Lutze, a milícia foi perdendo gradualmente a sua importância e os seus membros.
A “Noite das Facas Longas” serviu para que Hitler e o regime nazista, no início da sua implantação, fossem consolidados e que se acabasse a autonomia de várias entidades em relação ao poder centralizado do führer. A operação elucidou aos alemães que qualquer oposição ao regime seria punida com a morte. Devido à queima total dos arquivos, jamais ficou claro o número de mortos na chacina da “Noite das Facas Longas”, há quem aponte 85 mortos, há os que defendem entre 200 e 250 vítimas. Mais tarde, teorias foram defendas de que a suposta homossexualidade de Hitler fosse a verdadeira causa do massacre aos membros da SA. Desde então, o homossexualismo foi perseguido na Alemanha nazista, levando à prisão e aos campos de concentração milhares de pessoas. Seja qual for a causa, a “Noite das Facas Longas” representou a execução de homens sanguinários, por seus velhos companheiros de luta, ainda mais sanguinários e atrozes.

jeocaz.wordpress.com
02
Set16

"Americanices"

António Garrochinho

Andam os americanos a gabar-se que já foram à lua, que têm um Vai - Vem e outras tralhas voadoras, quando em Lagos há muito que já existe um Vai - Vem. O nosso nem precisa de fatos espaciais, apenas fatos especiais, mais propriamente calções e biquinis e uns óculos escuros a fazer cara de rico, Três dias para chegar à lua ? A rapaziada lá em baixo leva só três minutos a chegar à Meia - Praia. Ah ! e o preço da viagem não são milhões de dólares. Por apenas um euro você viaja no Vai - Vem algarvio. E já agora não paguem com notas, que o comandante da Nave só aceita dinheiro trocado ...
encontrogeracoesbnm.blogspot.pt
Foto de António Garrochinho.

02
Set16

Comerciantes queixam-se de falha nos serviços de recolha de resíduos recicláveis em Ferragudo

António Garrochinho



Resíduos recicláveis por recolher em Ferragudo



Comerciantes de Ferragudo queixam-se de que, este Verão, a recolha dos resíduos recicláveis quase porta a porta, garantida pelo serviço Ambilinha, tem estado a falhar. Na Urbanização da Hortinha, «há mais de duas semanas que não vêm cá recolher os resíduos e os sacos amontoam-se aí à porta, como se pode ver», diz Bruno Capela, dono de um café e pastelaria.

«Já quase não tenho espaço para armazenar dentro da loja o papelão e a esferovite das embalagens», explica, por seu lado, António Pereira, proprietário de uma loja de eletrodomésticos na mesma zona de Ferragudo.

Luís Alberto, presidente da Junta de Freguesia e empresário na vila, admite: «eu próprio tenho sentido na pele a má qualidade do serviço que está a ser prestado agora».

Os empresários denunciam que o serviço de recolha de embalagens de cartão, papel, plástico, metal e vidro, junto do pequeno comércio, restauração e similares, que começou a ser feito três vezes por semana (segundas, quartas e sextas-feiras), foi depois reduzido a uma vez por semana. «E agora há mais de duas semanas que não aparecem cá».

Alertada para o problema, a Algar Valorização e Tratamento de Resíduos Sólidos SA, a empresa responsável pela recolha e reencaminhamento dos resíduos sólidos no Algarve, que criou o serviço Ambilinha e o concessionou, mediante concurso público internacional, a uma outra empresa, a Hidurbe Gestão de Resíduos SA, diz que vai agora «acionar as cláusulas de penalização que existem no contrato», uma vez que o serviço não está, de facto, a ser prestado como devia.

Em declarações ao Sul Informação, Pinto Rodrigues, diretor-geral, acrescentou que a Algar vai «fazer tudo o que estiver ao nosso alcance» para que o serviço Ambilinha passe a funcionar como deve, situação que também já comunicou à AMAL, a Comunidade Intermunicipal do Algarve, uma vez que as queixas «não têm chegado apenas de Ferragudo».

«Tanto quanto sabemos, a Hidurbe aumentou a sua capacidade de recolha no Verão, tendo passado de 14 para 18 viaturas e atribuído mais horas, mas as queixas continuam», acrescentou aquele responsável.


 Resíduos recicláveis por recolher em Ferragudo 2



O Serviço Ambilinha foi criado pela Algar, empresa de cujo capital são sócios minoritários os 16 municípios da região.

O Ambilinha foi criado «a pedido dos nossos acionistas, os municípios, e do pequeno comércio, porque era preciso ajudar os pequenos comerciantes e donos de restaurantes, que tinham dificuldade em levar esses resíduos para os ecopontos ou para o ecocentro mais próximo», explicou ainda Pinto Rodrigues.

O serviço, que o diretor-geral da Algar sublinha nem fazer parte das obrigações desta empresa enquanto responsável pela recolha e tratamento dos resíduos sólidos domésticos, promove a recolha seletiva de resíduos recicláveis, junto dos estabelecimentos – lojas, restaurantes, cafés – de forma totalmente gratuita.

Esses estabelecimentos tornam-se aderentes do serviço Ambilinha, tendo para isso recebido até uma formação sobre a forma de separar os resíduos e de os acondicionar, nos sacos de diferentes cores que lhes são distribuídos, também de forma gratuita.

«A Algar não é responsável pelo que se está a passar com o Ambilinha, quando muito pode ser corresponsabilizada», sublinhou Pinto Rodrigues. «Por isso mesmo, vamos acionar as tais cláusulas de penalização».

No entanto, salientou aquele responsável, «os senhores comerciantes também podiam ajudar, andar uns 50 metros e depositar os resíduos no ecoponto mais próximo, ou ir entregá-los nos ecocentros, em Lagoa ou em Portimão».

É que, frisou, «este é um serviço gratuito que ajuda os comerciantes a cumprir as suas obrigações». Se o serviço está a falhar, pelo menos enquanto as coisas não são normalizadas, «tem que haver alguma entreajuda, por parte dos próprios comerciantes, que são os beneficiários de um serviço que é complemento do nosso contrato de obrigação».

«Se o ecoponto ou o ecocentro não tivessem capacidade, aí poderia dizer-se que a Algar não estava a prestar o serviço público a que é obrigada. Mas não se trata disso», disse ainda.

Entretanto, Luís Alberto, presidente da Junta de Freguesia de Ferragudo, diz que esta autarquia, «dentro das possibilidades», está disposta a «estudar a criação de um serviço de transporte para colocar os resíduos recicláveis produzidos pelo pequeno comércio e pela restauração num único local, para a Algar, a Câmara ou a Ambilinha virem recolher com mais facilidade». Mas já não será este Verão que o serviço poderá eventualmente avançar.

www.sulinformacao.pt

02
Set16

Porco-preto-alentejano é exportado para ficar com selo de origem espanhola

António Garrochinho


Cerca de 95% da produção nacional é comprada por Espanha, que depois produz presunto e paleta. Falhas na legislação abriram a porta à entrada em Portugal de porco com menos qualidade.
Produtores querem apoios para investir nas explorações 
Estima-se que existam em Portugal cerca de 50.000 porcos de montanheira, criados em regime extensivo, nos montados de azinho, onde se alimentam de bolota — o que é obrigatório para que sejam considerados produtos genuínos. Mas apesar do seu grande valor alimentar, a sua produção continua fortemente dependente da indústria de Espanha. Este país “compra 95% do porco português de montanheira para transformação em presunto (membros posteriores do porco) e paleta (membros anteriores do porco) e desta forma recebe o selo de origem espanhola”, diz Pedro Bento, secretário-geral da Associação Nacional dos Criadores de Porco Alentejano (ANCPA).
A crise económica veio provocar um decréscimo da produção em Portugal, devido não só à retracção do poder de compra dos consumidores, mas também por causa das “falhas na legislação sobre rotulagem” que não abrangia a denominação de “porco preto” e abriu as portas do mercado português a carne de porco vinda de Espanha com menos qualidade. Com efeito, as grandes superfícies comerciais, a restauração e a indústria de charcutaria foram “invadidas” com produto espanhol, com a indicação de que se tratava de “porco preto” mas não existia regulamentação que garantisse esta designação. Pedro Bento dia que, por isso, a carne de porco alentejano foi “praticamente arredada do mercado nacional”.
A situação só foi superada com a entrada em vigor do decreto de Lei 95/2014, que veio regulamentar a venda de carne de suíno associada à referência “porco preto” destacando que esta denominação “só pode ser utilizada nos animais ou nos produtos deles derivados” que sejam de “raça pura” e registados no Livro Genealógico Português de Suínos.
No dia em que se celebra, em Montemor-o-Novo o “Dia do Porco Alentejano”, os criadores querem valorizar a raça através da venda para mercados externos. As possíveis mais-valias “dependem muito da instalação de indústrias transformadoras em Portugal”, diz Pedro Bento.
Para além de os custos de produção serem mais elevados do que em Espanha, subsiste ainda outra questão de fundo: criar um porco preto alentejano com a matriz genealógica que o caracteriza (50% porco Alentejo puro e 50% de uma outra espécie de porco chamada 505 Duroc) demora no mínimo um ano. Os espanhóis fabricam o seu porco ibérico em 7-8 meses.  O suíno - que em Espanha é baptizado de porco ibérico – em Portugal é baptizado de porco preto alentejano, quando na realidade não obedece aos mesmos critérios a que os criadores nacionais são obrigados, prossegue o responsável da ANCPA.
Outro condicionalismo reside na recuperação do efectivo. Com efeito, o máximo histórico de 7000 porcas reprodutoras, registado em 2007, não voltou a ser atingido, embora se assista, desde 2013, a uma recuperação.  Em 2015 “estavam registadas 6500 porcas em Portugal”.
“O principal desafio dos criadores é tornar as explorações mais competitivas em três eixos principais: diferenciação, rentabilidade e eficiência”, afirma Pedro Bento.  A valorização do produto fica em Espanha, pois em Portugal existem apenas três unidades de transformação (Barrancos, Ourique e Vila Nova de S. Bento), que no seu conjunto têm uma capacidade de produção que não chega aos 15 mil porcos.
“Há que fomentar a industrialização do sector em Portugal, o desenvolvimento da fileira também depende da geração de valor cá dentro e da conquista de novos mercados externos que valorizem os produtos derivados do Porco Alentejano”, defende Pedro Bento. Este dirigente associativo constata que apesar de estar associado a um sistema agro-silvo-pastoril sustentável, em linha com as actuais directrizes da Política Agrícola Comum, “o porco alentejano recebe parcas ajudas do Programa de Desenvolvimento Rural 2020”.
A valorização da fileira em Portugal leva os criadores do porco alentejano a reclamar medidas mais favoráveis ao fomento e desenvolvimento da actividade. O secretário-geral da ANCPA reforça este argumento acentuando que “as ajudas são importantes para dar consistência às explorações e ao modo de produção extensiva”. “Vivemos uma conjuntura de preços muito voláteis e a actividade apresenta períodos muito longos de retorno dos investimentos efectuados”, afirma. A fileira do porco alentejano vale entre os 20 e os 25 milhões de euros.
O presente e o futuro do sector vai estar em debate numa conferência comemorativa dos 25 anos da ANCPA, que hoje se realiza em Montemor-o-Novo. O ministro da Agricultura, Luís Capoulas Santos, participa no evento.

 www.publico.pt
02
Set16

Blues: Os anos dourados de B. B. King (vídeos)

António Garrochinho
 B. B. King faleceu apenas este ano. 
E nunca interrompeu sua carreira: estava sempre presente 
nos noticiários sobre música, lançando álbuns novos e 
rodando o mundo em turnês. Assim, não é de se espantar 
que muita gente o enxergue como uma espécie de “artista 
contemporâneo”.
Mas, quando se pensa na história do blues, fica claro que 
estão todos no mesmo bolo. As primeiras gravações de 
Muddy Waters para a Chess aconteceram em 1946 
(quando a empresa ainda se chamava Aristocrat Records), enquanto 
King entrou em estúdio pela primeira vez três anos depois 
disso. Ou seja, estamos falando de um artista que surgiu no 
início da explosão do blues elétrico e que começou a deixar 
sua marca no mundo ainda na década de cinquenta.
Isso nos leva ao grande problema na hora de conhecer 
B. B. King mais a fundo: como começar a ouvir um artista 
cuja carreira tem mais de meio século? Afinal, é inegável que 
suas canções se modificaram com o tempo. Mesmo nunca 
ultrapassando a fronteira do blues, suas músicas ganharam 
arranjos mais modernos, especialmente nas últimas 
décadas, quando ele percorria o mundo ao lado de uma 
grande banda de apoio, atuando como uma espécie de 
embaixador do blues.
Eu gosto desse papel que ele assumiu. Se o blues é uma 
religião, B. B. King se tornou seu papa. Para o público 
casual, ele era blues incorporado, e foi decisivo para que 
muitas pessoas conhecessem o gênero.
Mas nada disso teria acontecido se ele não tivesse se tornado 
uma lenda, algo que aconteceu justamente na primeira 
metade de sua carreira. É por isso que sempre que alguém 
me pede dicas para conhecer B. B. King, eu indico as 
gravações das duas primeiras décadas de sua carreira, o 
período que eu enxergo como seu auge criativo. Sim, seu 
trabalho nunca perdeu qualidade, mas suas canções das 
décadas de 50 e 60 pavimentaram o caminho para tudo o 
que ele faria — e seria — futuramente em sua carreira.
Afinal, estamos falando de uma época em que B. B. King não 
era um ícone mundial, “apenas” um dos melhores guitarristas 
de blues que já existiu — mesmo que ele assumia enxergar a 
si mesmo como um cantor de blues, e não como um guitarrista.
É um blueseiro que sempre impôs seu estilo pessoal, muito 
mais próximo de T-Bone Walker (que foi uma de suas 
maiores influências) que das canções de seus contemporâneos 
como Muddy Waters e Howlin’ Wolf, que faziam um som 
mais cru. Eu coloco as canções de B. B. King entre as mais 
elegantes que ouvi no blues, e muita gente se surpreende ao 
descobrir que isso se aplica a toda a sua carreira, e não 
somente ao que ele lançou nas últimas décadas. Basta escutar 
Three O’Clock in the Morning, canção gravada em 1952 
(a composição original é de 1946) e que fez sua carreira 
deslanchar, para comprovar isso.


vídeo
O tema é clássico do blues. São três da manhã e ele não 
consegue dormir por que a mulher que ama não está com ele. 
Assim, na terceira estrofe, ele encontra a solução para escapar 
da dor: o suicídio, que fica claro no último verso, quando ele 
pede que seu amor o perdoe por seus pecados.
Se a letra parece violenta demais para aquele simpático 
velhinho que nos acostumamos a ver sorridente sobre o 
palco, a guitarra já é totalmente B. B. King. De todos os 
muitos blueseiros que usaram o instrumento como segunda 
voz — ele canta e a guitarra responde — ninguém fez isso com 
essa riqueza e essa economia de notas, em que cada som 
parece ter uma função dentro da música e do sentimento que 
ela passa.
É por isso que a importância da guitarra de B. B. King na 
música mundial vai muito além do folclore dela ter um 
nome — para quem não sabe: no início da carreira ele estava 
se apresentando em um bar que acabou pegando fogo devido 
a uma briga na plateia; o local foi evacuado, mas King voltou 
para dentro do incêndio para recuperar sua guitarra e só 
depois descobriu que o motivo da briga era uma garota 
chamada Lucille, que acabou batizando seu instrumento.
Se B. B. King não foi o inventor daquela guitarra doce e 
melancólica — algo que hoje é utilizado pela maior parte dos 
guitarristas do gênero — ele certamente foi quem levou isso 
para além do blues. Sua marca registrada se tornou também 
a marca registrada de um estilo, sobretudo por boa parte do 
que surgiu após sua época. Por isso, chega a ser praticamente 
impossível medir a influência de B. B. King como 
guitarrista, já que seu legado parece estar em todo lugar.
E sua guitarra doce e melódica é a alma da música mesmo em 
suas canções mais aceleradas. Isso se deve a um motivo que 
também pode surpreender muitas pessoas: King tinha 
extrema dificuldade em tocar acordes — ele aprendeu as 
noções básicas do instrumento com o pastor da igreja onde ele 
cantava no coral quando menino, que o ensinou três acordes 
básicos. Sem conseguir tocar acordes, sempre que compunha 
uma música ele improvisava, dedilhando as cordas da guitarra.

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Mas a surpresa causada pelo fato de B. B. King não conseguir 
tocar acordes é tão impactante quanto o teor de suas músicas 
nos primeiros anos de sua carreira. Algumas de suas grandes 
canções caem no velho sexismo do blues, algo impensável 
quando pensamos em seus últimos anos de vida.
Como eu já disse em outros textos, o blues tem um sexismo 
muito particular: seja com cantores ou cantoras, o poder 
absoluto está sempre na mão do sexo oposto, que parece 
capaz de definir se o narrador da música será feliz ou triste. 
Isso sempre descamba para canções com teor extremamente 
violento, com brigas e juras de morte (que muitas vezes são 
cumpridas).
Gravando nos anos 50 e 60 e completamente influenciado 
pelo blues do Mississipi onde cresceu, King jamais se manteria 
afastado desses temas. Um bom exemplo está em 
Don’t Answer the Door, na qual ele proíbe sua mulher de 
atender a porta quando ela não está em casa. 
O sentimento, originário principalmente por ciúme, acaba se 
transformando em uma demonstração de poder já que ela não 
pode abrir a porta para ninguém, nem mesmo para a mãe ou a 
irmã (de quem ele assume não gostar na canção), ou até 
mesmo para o médico. Talvez seja o maior exemplo de 
paranoia da história do blues, guiado por uma das guitarras 
mais lindas que já ouvi.

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“Eu não quero sua irmã aparecendo por aqui Porque aquela garota, ela fala demais. Se ela quiser nos visitar Diga a ela que nos encontre domingo na igreja.(…) Se sua mãe quiser nos visitar Diga a ela que eu chego em casa ao raiar do dia E que esse horário é tarde demais para visitar alguém, Então diga a ela que, por favor, fique longe.”(Don’t Answer the Door)
Na verdade, as mulheres sempre tiveram um papel 
fundamental na vida de King. Foi casado duas vezes e ambos 
os casamentos fracassaram devido ao fato de que ele passava 
mais tempo em turnês que em casa. Evidentemente, não se 
tratava apenas de sua ausência, já que ele teve nada menos 
que quinze filhos com mulheres diferentes. Quando li sua 
autobiografia, fiquei impressionado com a franqueza que ele 
trata sua verdadeira fixação por mulheres.
Se não existissem mulheres, eu não iria querer estar nesse planeta.Mulheres, amigos e música: sem esses três, eu não iria querer estar aqui.”(B. B. King)
Assim, chega a ser difícil de imaginar que, assim como muitos 
mestres do blues, ele não colocasse o sexo oposto como um 
dos temas centrais da sua obra. As mulheres de B. B. King 
estão presentes em todas as fases de sua vida. Podem gerar 
alegria em alguns casos (como Sweet Little Angel, que está no 
final do texto), mas, na maior parte das vezes, causam apenas 
tristeza ou desespero, como manda a gramática do blues.
Uma delas permanece como a minha música de blues 
preferida de todos os tempos. Quem me conhece sabe que 
sou verdadeiramente obcecado por How Blue Can You Get? 
(quando criei esta coluna, fiquei tentado a batizá-la com esse 
nome) e que mostra um dos personagens mais maléficos da 
história do blues. A mulher de B. B. King nesta canção 
simplesmente acaba com o narrador mesmo que, como é 
comum no blues, ele tente agradá-la de todas as formas. 
Abaixo, a versão do magistral Live at Regal.

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O verso “você é má quando está comigo e ciumenta quando 
estamos separados” é um dos mais brilhantes que já encontrei. 
Ele diz absolutamente tudo o que você precisa saber sobre a 
mulher que ele ama, e como ela lida com o relacionamento. 
Mas King vai além:
“Eu lhe dei um Ford novo em folhaMas você disse “eu quero um cadillac”Eu lhe paguei um jantar de dez dólaresE você disse “obrigada pela petisco”.Eu deixei você viver na minha coberturaE você disse “que era apenas um barraco”Eu lhe dei sete filhos,E agora você quer devolvê-los.”(How Blue Can You Get)
É uma mulher impossível de ser agradada, especialmente 
porque, cada vez que escuto, me convenço mais que é uma 
mulher que não quer ser agradada. Na minha cabeça, ela é 
extremamente mal resolvida e a única coisa que a satisfaz é o 
poder que exerce sobre o homem. Assim, tudo o que ele pode 
fazer é perguntar o quão triste você pode ficar, e dizer que 
“a resposta está aqui no meu coração”, assumindo que ele 
chegou ao ápice da tristeza.
Não é a primeira vez que um cantor ou cantora sente 
“o maior blues do mundo” (mesmo porque o blues, como 
sensação, sempre é insuportável nas letras), mas poucas vezes 
isso foi colocado de uma forma tão emocionante.
Da mesma forma, poucas vezes o fim de um relacionamento 
foi colocado de uma forma tão direta no blues quanto em 
The Thrill is Gone. Como se pode imaginar, o tema é comum 
ao blues: afinal, nem sempre um relacionamento infeliz 
termina em morte; muitas vezes, ele caminha para uma 
separação (que sempre é benéfica para somente um dos 
envolvidos).
Mas, em The Thrill is Gone, o próprio nome diz algo que 
costuma ser deixado de lado. Ao abordar o fim do 
relacionamento com a frase “o arrepio se foi”, a letra deixa 
claro que um relacionamento que se tornou infernal nasceu 
como qualquer outro: com amor.
A maior parte das canções de blues que narra o fim de um 
relacionamento faz isso com alívio ou raiva. King não esconde 
sua mágoa (“você agiu errado comigo e vai pagar por isso um 
dia”, deixando a justiça nas mãos do destino), mas se 
comporta de forma muito mais conformada, repetindo o título 
da canção — e atestando que o amor acabou — ao longo de toda 
a música, sempre guiado por uma guitarra espetacular.
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Cronologicamente, esta é a última canção do período que eu 
considero a fase áurea de B. B. King. Foi composta em 
1951, mas a versão de King foi gravada somente em 1969 — ou 
seja, vinte anos após o início de sua carreira em estúdio — se 
tornou uma de suas músicas assinaturas e lhe rendeu o primeiro 
Grammy da carreira, em 1970.
Foi o primeiro de muitos prêmios que recebeu — nada mal para 
o garoto que cresceu em uma fazenda e sentiu-se orgulhoso 
quando foi incumbido de dirigir o trator, algo que era símbolo 
de status entre os empregados. Daí em diante, sua carreira 
seria marcada por um sucesso contínuo, que o colocaria como 
um dos maiores e mais famosos artistas do século 20.
Chega a ser impossível não pensar em B. B. King quando se 
pensa em blues. E se isso se deve ao sucesso que ele conquistou 
nas últimas décadas, este sucesso, por sua vez, não teria acontecido 
sem o seu 
trabalho impressionante e genial nas décadas de 50 e 
60, quando ele e sua Lucille mudaram a história do blues. 
São canções que entraram para a história e inspiraram 
incontáveis artistas de diversas gerações.
A partir dos anos 70, King gravou canções magistrais — e mais 
um punhado de clássicos — e fez apresentações 
históricas, como na Cadeia de Cook County, em 1971 e no 
Concerto de Natal do Vaticano, em 1997. Mergulhou em 
parcerias com nomes como Eric Clapton e até mesmo U2. 
Listar tudo de notável que ele fez resultaria num texto maior 
que esse, já que ele manteve uma regularidade impressionante, 
especialmente quando pensamos em uma carreira tão longa.


Mas está ali, nos primeiros vinte anos de seu trabalho, toda a 
base disso. Antes de ser o “King of the Blues”, B. B. King era, 
como eu disse, um blueseiro, que parece ter entendido toda a 
complexidade desse gênero musical da forma mais brilhante 
possível.
Ou, como ele mesmo resume em sua autobiografia: “o blues é 
uma música simples, como eu sou um homem simples”.

papodehomem.com.br

02
Set16

Uma situação muito perigosa

António Garrochinho

Baptista Bastos

O mundo está a mudar de uma forma tão drástica que a representação do poder moderno torna difícil a sua compreensão.
Muitos de nós fomos enganados pelas propostas e pelos propósitos de alguns em quem acreditámos. As coisas foram-se alterando e o mundo retomou o seu rumo. Claro que alguma coisa se modificou. E, às vezes, perguntamo-nos se as mortes e as matanças se justificam a si mesmas. Muitos de nós perguntamo-nos acerca da natureza daquilo que fazemos. O mundo está a mudar, de uma forma tão drástica que a representação do poder moderno torna difícil a sua compreensão. As antigas proposições têm sofrido alterações tão profundas e significativas que o poder primordial corresponde a outras técnicas políticas.
O mundo está a mudar e essa mudança mexe, profundamente, com os mecanismos do poder moderno e, por isso, com a nossa imediata compreensão e aceitação. Que fazer? Tentar entender, através das possibilidades da nossa compreensão, o movimento acelerado das coisas.

As velhas noções de relação com os outros têm sido substancialmente alteradas. Pretende-se, isso sim, controlar os mecanismos pessoais, através da uniformização em massa. A organização da União Europeia talvez nascesse de uma ideia generalista de que essa uniformização tenderia a aceitar as coisas tal como eram apresentadas. Desejavam, os seus progenitores, uma espécie de uniformização do pensamento e do comportamento humanos. Cedo se verificou a impossibilidade do sistema. A espécie humana constrói, inventa e alimenta as tecnologias, mas recusa a uniformização. A História está repleta destes exemplos. E a própria União Europeia torna-se recalcitrante de si mesma.

A Alemanha, pela razão exposta por Wolfgang Schäuble, tornou-se numa espécie de poder que não deseja outro que não aquele, antigo, hegemónico e atroz, fautor de tanta miséria e de tanto desconforto. Mas o cansaço já atingiu diversos governos. Não são absolutamente favoráveis a esta União, mas não estão dispostos a aceitar e admitir esta política do tudo quero e tudo mando, dominada por Angela Merkel, e que mais não é senão o porta-voz dos grandes poderes económico-financeiros.

A nossa situação, a situação portuguesa, chega a ser rastejante. Vimos isso com José Sócrates e, de um modo absolutamente cabisbaixo, com Pedro Passos Coelho, em que a subserviência atingiu aspectos de ultraje. Como a nossa comunicação social estava, quase toda, sob a direcção abjecta de administrações apenas destinadas à subserviência, o assunto tornou-se de uma gravidade tormentosa.

Nem no tempo do salazarismo a situação foi tão delicada. É substancialmente depravante o número de bons jornalistas que foram afastados, e substituídos por tecnocratas medíocres que apenas serviam um dono: o do dinheiro.
Não acredito na manutenção indeterminada de uma situação dolosa, desta natureza. Porém, admito que o assunto seja fastidioso e incómodo. Naturalmente, as nações não conseguem viver com esta aspereza de comportamento. E as reacções que se têm registado são particularmente significativas. O próprio Francisco Louçã escreveu, há dias, que a situação é incomportável. E Louçã, quando fala deste modo determinante, quer sempre dizer mais do que aparenta.

O mundo está numa situação perigosa. E as decisões últimas dos seus dirigentes, assim como a multiplicidade das tensões nas relações de poder são de molde a ficarmos muito preocupados com o que pode acontecer.

Jornal de negócios
02
Set16

Golpe 'made in USA': Queda de Dilma foi ordenada por Wall Street?

António Garrochinho
















por Michel Chossudovsky








“O que está em jogo através de vários mecanismos – incluindo operações de inteligência, manipulação financeira e meios de propaganda – é a desestabilização pura e simples da estrutura estatal do Brasil e da economia nacional, para não mencionar o empobrecimento em massa do povo brasileiro."

“Um ex-CEO/presidente de uma das maiores instituições financeiras dos Estados Unidos (e um cidadão dos EUA) controla instituições financeiras-chave do Brasil e define a agenda macroeconômica e monetária para um país de mais de 200 milhões de pessoas. Chama-se um golpe de Estado… dado por Wall Street”, conclui Chossudovsky."

Em artigo publicado pela primeira vez em junho, mas reeditado neste 1º de setembro, um dia após a consumação do impeachment no Brasil, o renomado professor e economista canadense Michel Chossudovsky explica por que a queda de Dilma foi ordenada por Wall Street e tenta desmascarar “os atores por trás do golpe”. 

O controle sobre a política monetária e a reforma macroeconômica eram os objetivos últimos do golpe de Estado. As nomeações principais do ponto de vista de Wall Street são o Banco Central, que domina a política monetária e as operações de câmbio, o Ministério da Fazenda e o Banco do Brasil”, diz o artigo, ressaltando que, desde o governo FHC, passando por Lula e Temer, Wall Street tem exercido controle sobre os nomes apontados para liderar essas três instâncias estratégicas para a economia brasileira.

“Em nome de Wall Street e do ‘consenso de Washington’, o ‘governo’ interino pós-golpe de Michel Temer nomeou um ex-CEO de Wall Street (com cidadania dos EUA) para dirigir o Ministério da Fazenda”, diz o artigo, referindo-se a Henrique Meirelles, nomeado em 12 de maio. 

Como observa o artigo, Meirelles, que tem dupla cidadania Brasil-EUA, serviu como presidente do FleetBoston Financial (fusão do BankBoston Corp. com o Fleet Financial Group) entre 1999 e 2002 e foi presidente do Banco Central sob o governo Lula, entre 1º de janeiro de 2003 e 1º de janeiro de 2011. 

Antes disso, o atual ministro da Fazenda, que volta ao poder sob o governo Temer após ter sido dispensado por Dilma em 2010, também atuou por 12 anos como presidente do BankBoston nos EUA. 

Já o atual presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, nomeado por Temer em 16 de maio, tem dupla cidadania Brasil-Israel e foi economista-chefe do Itaú, maior banco privado do Brasil. Segundo o artigo, Goldfajn “tem laços estreitos tanto com o FMI [Fundo Monetário Internacional] quanto com o Banco Mundial”.
“Goldfajn já havia trabalhado no Banco Central sob Armínio Fraga, bem como sob Henrique Meirelles. Ele tem estreitos laços pessoais com o prof. Stanley Fischer, atualmente vice-presidente do Federal Reserve dos EUA [além de ex-vice-diretor do FMI e ex-presidente do Banco Central de Israel]. Desnecessário dizer que a nomeação de Golfajn ao Banco Central foi aprovada pelo FMI, pelo Tesouro dos EUA, por Wall Street e pelo Federal Reserve dos EUA”, afirma o artigo.
Fraga, por sua vez, atuou como presidente do Banco Central entre 4 de março de 1999 e 1º de janeiro de 2003. Ele foi diretor de fundos de cobertura (hedge funds) por seis anos na Soros Fund Management (associada ao magnata George Soros), e também tem dupla cidadania Brasil-EUA.
“O sistema monetário do Brasil sob o real é fortemente dolarizado. Operações da dívida interna são conducentes a uma dívida externa crescente. Wall Street tem o objetivo de manter o Brasil em uma camisa de força monetária”, explica o professor canadense.
Por isso, afirma o artigo, quando Dilma Rousseff aponta um nome não aprovado por Wall Street para a presidência do Banco Central, a saber, Alexandre Antônio Tombini, cidadão brasileiro e funcionário de carreira no Ministério da Fazenda, é compreensível que os interesses financeiros externos se articulem aos interesses das elites brasileiras para mudar o quadro político no país.

Contexto histórico 

No início de 1999, na sequência imediata do ataque especulativo contra o real, diz Chossudovsky, o presidente do Banco Central, Francisco Lopez (que havia sido nomeado em 13 de janeiro de 1999, a Quarta-feira Negra) foi demitido pouco depois e substituído por Armínio Fraga, cidadão americano e funcionário da Quantum Fund de George Soros em Nova York.
"A raposa tinha sido nomeada para tomar conta do galinheiro", resume o artigo, afirmando que, com Fraga, os especuladores de Wall Street tomaram o controle da política monetária do Brasil.
Sob Lula, o apontamento de Meirelles para a presidência do Banco Central do Brasil dá seguimento à situação, diz o artigo, destacando que o nomeado já havia atuado anteriormente como presidente e CEO dentro de uma das maiores instituições financeiras de Wall Street. “A FleetBoston era o segundo maior credor do Brasil, após o Citigroup. Para dizer o mínimo, ele [Meirelles] estava em conflito de interesses. Sua nomeação foi acordada antes da ascensão de Lula à presidência”, escreve o autor. 

Além disso, Meirelles foi um firme defensor do controverso Plano Cavallo da Argentina na década de 1990: “um ‘plano de estabilização’ de Wall Street que causou grandes estragos econômicos e sociais”, segundo o professor Chossudovsky. 

De acordo com ele, “a estrutura essencial do Plano Cavallo da Argentina foi replicada no Brasil sob o Plano Real, ou seja, a imposição de uma moeda nacional conversível dolarizada. O que este regime implica é que a dívida interna é transformada em uma dívida externa denominada em dólar”. 

Quando Dilma sobe à presidência em 2011, Meirelles é retirado da presidência do Banco Central. Como ministro da Fazenda de Temer, ele defende a chamada “independência do Banco Central”.
“A aplicação deste conceito falso implica que o governo não deve intervir nas decisões do Banco Central. Mas não há restrições para as ‘Raposas de Wall Street’”, diz o artigo, acrescentando que “a questão da soberania na política monetária é crucial” e que “o objetivo do golpe de Estado foi negar a soberania do Brasil na formulação de sua política macroeconômica”.
De fato, sob o governo Dilma, a "tradição" de nomear uma “raposa de Wall Street" para o Banco Central foi abandonada com a nomeação de Tombini, que permaneceu no cargo de 2011 até maio de 2016, quando Temer assume a presidência interina do país. 

A partir daí, Meirelles, no Ministério da Fazenda do governo interino, “aponta seus próprios comparsas para chefiar o Banco Central [Goldfajn] e o Banco do Brasil [Paulo Caffarelli]”, diz o artigo do Global Research, sublinhando que o novo ministro havia sido descrito pela mídia dos EUA como "market friendly" (“amigo do mercado”).

Conclusão 
“O que está em jogo através de vários mecanismos – incluindo operações de inteligência, manipulação financeira e meios de propaganda – é a desestabilização pura e simples da estrutura estatal do Brasil e da economia nacional, para não mencionar o empobrecimento em massa do povo brasileiro”, afirma Chossudovsky.
Segundo a tese do renomado professor, “Lula era ‘aceitável’ porque seguiu as instruções de Wall Street e do FMI”, mas Dilma, com um governo mais guiado por um nacionalismo reformista soberano, não pôde ser “aceita” pelos interesses financeiros dos EUA, apesar da agenda política neoliberal que prevaleceu sob seu governo. 

“Se Dilma tivesse decidido manter Henrique de Campos Meirelles, o golpe de Estado muito provavelmente não ter ocorrido”, afirmai o analista.
“Um ex-CEO/presidente de uma das maiores instituições financeiras dos Estados Unidos (e um cidadão dos EUA) controla instituições financeiras-chave do Brasil e define a agenda macroeconômica e monetária para um país de mais de 200 milhões de pessoas. Chama-se um golpe de Estado… dado por Wall Street”, conclui Chossudovsky.

Michel Chossudovsky, escritor premiado, é professor (emérito) de Economia da Universidade de Ottawa, fundador e diretor do Centro de Pesquisa sobre a Globalização (CRG) e editor da organização independente de pesquisa e mídia Global Research. Ele lecionou como professor visitante na Europa Ocidental, no Sudeste Asiático e na América Latina, serviu como conselheiro econômico para governos de países em desenvolvimento e tem atuado como consultor para várias organizações internacionais. Ele é o autor de onze livros, publicados em mais de vinte línguas. Em 2014, foi premiado com a Medalha de Ouro de Mérito da República da Sérvia por seus escritos sobre a guerra de agressão da OTAN contra a Iugoslávia.





02
Set16

LA ACTRIZ ROSEANNE BARR LLAMA A HILLARY CLINTON “ANTISEMITA” Y A SU PRINCIPAL ASESORA “PUTA NAZI”

António Garrochinho



La actriz de comedia de origen judío, Roseanne Barr, llamó a Hillary Clinton ‘antisemita’, y calificó a su principal asesora de “puta nazi sucia”.
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Roseanne, ha atacado en repetidas ocasiones a Hillary Clinton en Twitter, diciendo que una victoria de la candidata demócrata “representará la muerte absoluta de Israel”
Barr ha escrito numerosos comentarios incendiarios contra clinton, entre los cuáles hay algunos en los que la califica como “Hitlery Clinton” y otros en los que la etiqueta como la “anti-semita Hillary”
Barr también atacó a la ayudante de Clinton, Huma Abedin, a quien Barr ha etiquetado como “una puta nazi sucia”. Abedin, una musulmana estadounidense, está casada con el ex congresista demócrata Anthony Weiner, que es judío.
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Barr también tuiteó que Clinton “está rodeada de enemigos de los judíos que se burlan del holocausto judío y de su sufrimiento…”
Barr twitteó: “Hillary será la muerte absoluta de Israel y va a vender armas atómicas a Hamas si le pagan un buen precio. Ella escucha a Sid Paul y Max Blumenthal”, escribió, refiriéndose al ex asesor de Clinton, Sidney Blumenthal y a sus dos hijos, Max, un confeso antisionista, y Paul, un periodista.
Barr fue durante varios años protagonista de la célebre serie cómica “Roseanne“.
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En 2012, Barr buscó la nominación presidencial del Partido Verde, pero perdió frente a Jill Stein, actual candidata presidencial del partido.
La comediante, que con frecuencia publica en Twitter, es una crítica contra toda la izquierda pro-palestina.
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Set16

UM FUNDADOR DO FACEBOOK ANDA FUGIDO DA CIA E DIZ QUE A AGÊNCIA QUER MATÁ-LO

António Garrochinho



O fundador fugitivo do Facebook revela que tem dados em que a rede facebbok se liga a CIA,  razão pela qual a agência americana quer matá-lo.
Paul Ceglia O eloped enviou quatro e-mails para a agência de notícias norte-americana Bloomberg, e disse que a CIA quer matá-lo por tudo o que ele sabe sobre a ligação entre a CIA e a rede social.
Em 2010, Ceglia entrou com uma acção contra o presidente do Facebook, Mark Zuckerberg, e exigiu o controle de 84 por cento das acções dessa rede.
No entanto, durante a sua queixa Ceglia foi acusado de falsificar provas e condenado a 20 anos em prisão domiciliar, mas não cumpriu a sua pena e em 2015 fugiu com sua esposa e dois filhos para um local desconhecido.
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"Senti que no governo dos EUA nãopodia confiar e é por isso que eu fugi para salvar minha vida , " disse o fundador do Facebook, fugitivo Paul Ceglia.

Ceglia contratou Mark Zuckerberg em 2003 para escrever um código para o seu site Streetfax.com , e depois Zuckerberg lançou o que mais tarde acabaria por se tornar o Facebook.
Ceglia processou-o em 2010, alegando que Zuckerberg a fase inicial foi paga por ele  no projecto da rede social, e que usou o StreetFax como mecanismo de pesquisa.
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Set16

Por apoiar Dilma, Vanessa Grazziotin é agredida por advogado em Curitiba

António Garrochinho



A intolerância e o ódio estão sendo praticados no Brasil diariamente, com o beneplácito da Globo e seus cúmplices midiáticos. 

Por volta das 23h45 dessa quarta-feira (31/8), no Aeroporto Internacional de Curitiba (Afonso Pena), um covarde de aproximadamente 40 anos foi detido por meia hora pela Polícia Federal (PF), por suposta tentativa de agressão à senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM).

No momento do desembarque de passageiros que vinham de Brasília em um avião da Latam, a senadora foi hostilizada por um grupo favorável ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. Ao ser xingada, ela começou a filmar quando o homem tentou tirar o celular das mãos dela. Depois do tumulto, o homem foi levado para uma sala da PF.

Segundo testemunhas, os comissários de bordo tiveram que intervir para liberar a passagem da senadora para fora do avião. A PF foi acionada pela companhia aérea. O homem, que estaria alterado, foi retido até que todos os passageiros desembarcassem. O voo JJ 3151 da Latam saiu de Brasília às 22h05 e chegou às 23h45. Houve atraso de 30 minutos no desembarque.

A psicóloga Ana Lúcia Canetti, que estava no fundo do avião, afirma que no momento do embarque um grupo já tinha se manifestado contra a senadora. “Lá no fundo as pessoas acharam que era a Gleisi (Hoffmann, PT-PR). Eu tinha visto ela embarcando e reparei que ela pediu para ficar em uma poltrona especial, mas não tinha mais, uma que é mais larga que fica lá na frente. Acho que ela já estava com medo (de ser hostilizada). Quando ela conseguiu a poltrona especial lá na frente, as pessoas começaram a gritar ‘fora querida’. Durante o voo pararam”, conta.

“Quando (os passageiros) começaram a desembarcar, e algumas pessoas começaram a gritar com ela, eu vi o cara pular pra cima dela, porque ela estava com um celular na mão. Os comissários avisaram que o desembarque ia demorar porque ‘houve uma agressão’. Ela saiu e o agressor foi retido”, disse.

Segundo a PF, o passageiro não chegou a ser preso e foi liberado por volta da 0h20.

Por telefone, a assessoria informou que a senadora não registrou ocorrência e que achou melhor não divulgar o caso que considera lamentável. Vanessa Grazziotin participou da votação do impeachment no Senado nessa quarta e, à noite, veio a Curitiba para visitar a mãe que mora na capital paranaense.

Começa assim. Em breve podemos ter sangue nas ruas.

Nota da Latam:

“A LATAM Airlines Brasil informa que solicitou apoio da Polícia Federal para realizar o desembarque de um passageiro do voo JJ3151 (Brasília – Curitiba) de ontem (31) em função de comportamento indisciplinado. A empresa ressalta que segue os mais elevados padrões de segurança, atendendo rigorosamente aos regulamentos de autoridades nacionais e internacionais.”


www.marchaverde.com.br
02
Set16

ONTEM EM PORTUGAL NALGUNS SITES REAÇAS E JORNAIS PORTUGUESES E TAMBÉM NO ESTRANGEIRO OS FASCISTAS IMPERIALISTAS DAVAM ESTA MANIFESTAÇÃO COMO SENDO CONTRA NICOLAS MADURO - POVO VENEZUALANO JUNTA MILHARES E MILHARES A FAVOR DO PRESIDENTE NICOLAS MADURO

António Garrochinho


As avenidas e bulevares de Caracas se vestiram de vermelho ontem para manifestar apoio ao presidente bolivariano Nicolás Maduro.


Milhares de venezuelanos mostraram que não temem as ameaças dos EUA e da direita corrupta do país.


O governo de Nicolás Maduro segue firme na defesa do socialismo bolivariano criado pelo imortal Hugo Chavez


www.marchaverde.com.br




02
Set16

O socialismo também é uma festa

António Garrochinho



Com uma greve histórica no sector, os trabalhadores da segurança dos aeroportos mostraram ao País as graves condições a que as multinacionais Vinci, Prosegur e Securitas os sujeitam.

As lutas laborais e a opinião comunista são tipicamente ignoradas pela imprensa convencional e são duas das razões para ler regularmente o Avante. O Público em papel, por exemplo, não deu qualquer cobertura à luta dos que garantem parte da nossa segurança nos aeroportos e é um dos espaços onde colunista comunista não entra, se a memória não me falha, desde que Vítor Dias aí deixou involuntariamente de escrever. Bom, a festa do Avante inicia-se hoje, celebrando quarenta anos. Dizem que continua a não haver festa como esta. O socialismo foi um fórum no fim-de-semana passado e é uma festa neste.

ladroesdebicicletas.blogspot.pt
02
Set16

ANCARA DIZ QUE INFORMAÇÕES DE WASHINGTON SÃO FALSAS

António Garrochinho


O chefe de Estado turco acusa Washington de faltar à verdade. Em causa estão as informações fornecidas pelos Estados Unidos que davam como certa a retirada das milícias curdas-sírias para leste do rio Eufrates.
“Neste momento, há quem diga que os militantes das YPG, Unidades de Defesa do Povo curdo atravessaram para a zona leste do rio Eufrates. Mas tenho de dizer: não, não o fizeram. Não vamos acreditar que esta milícia ou o PYD, Partido da União Democrática Curda atravessaram para a margem leste do Eufrates apenas porque alguém dos Estados Unidos o disse” refere Recep Tayyip Erdogan


As declarações feitas antes de partir para a China onde vai participar na cimeira do G20.
O Observatório Sírio dos Direitos Humanos, também, já confirmou que a maioria dos curdos permanece do lado ocidental do rio.
Ancara avançou com uma operação militar em território sírio contra os radicais do Estado Islâmico e os curdos do Partido da União Democrática e da milícia Unidades de Proteção do Povo.
Uma ofensiva que segundo Erdogan está a “correr bem” tendo em conta que já permitiu “eliminar” terroristas do autoproclamado Estado Islâmico e militantes curdos “de um território de 400 metros quadrados.”

VÍDEO

pt.euronews.com
02
Set16

50 ARTISTAS POLACOS REUNIRAM-SE NUM FERRO VELHO E CONSTRUÍRAM CARROS DE METAL RECICLADO

António Garrochinho
Na cidade polonesa de Pruszków, na voivodia de Mazóvia, você encontrará a Galeria de Figuras de Aço, um museu inteiro dedicado a dezenas de esculturas construídas com sucata recuperada de um ferro-velho local. A sua adição mais recente é uma coleção de quatro carros icônicos projetados e construídos por cerca de 50 artistas ao longo dos últimos 5 anos. Os modelos incluem um Mercedes-Benz 300 SL, um Bugatti Veyron, um GranTurismo Maserati e um Lamborghini Aventador. Os veículos de aço são construídos inteiramente em escala e incluem portas funcionais e réplica interiores. São simplesmente fantásticos.

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Os caras realmente foram detalhistas fazendo o interior o mais semelhante possível à dos carros atuais. Estranhamente, não há nenhuma Ferrari. Uma pena, teria ficado bacana ao lado do SL. Talvez quando realizarem a segunda exposição, em 2017, no Dubai Auto Show, a 250 GTO poderia aparecer.

Esta galeria de arte de reciclados incrível também tem grande variedade de Transformers e outras figuras da cultura pop, da TV e do cinema. Na sequência você pode ver mais detalhes dos carros.
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Fonte: 
Fotos: Leslaw Sagan do Auto Swiat.
www.mdig.com.br
02
Set16

ENQUANTO ISSO ALGUÉM FAZ UMA MUDANÇA NAS FILIPINAS

António Garrochinho


Eu não sei se ainda fazem este tipo de mudança, mas eu já vi casas de madeira inteiras sendo rebocadas por um caminhão pelas rua de Curitiba. Sim, a casa era macaqueada, colocada em cima de um grande caminhão reboque e era levada para outra localização onde era instalada. Este tipo de mudança foi uma prática também bem comum nas Filipinas, que acabou se convertendo em uma tradição local chamada "bayanihan" ("mutirão" em tradução livre), que consiste da reunião de suficientes voluntários para transportar nas costas uma casa inteirinha de um lugar ao outro. E por esse vídeo recente notamos que a tradição está mais forte do que nunca.

VÍDEO

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02
Set16

Refugiados "Mundo piorou" apesar da comoção com a imagem da morte de Aylan

António Garrochinho

Na cidade alemã de Frankfurt foi feito um mural de homenagem ao menino sírio

Passou um ano desde que a imagem de um menino de três anos curdo-sírio afogado numa praia foi partilhada até à exaustão. Apesar das palavras de pesar e de revolta e das promessas, milhares de pessoas continuam a morrer.

Só este ano, pelo menos 3100 pessoas morreram no mar Mediterrâneo ao tentar chegar à Europa. A matemática da mortalidade que envolve os migrantes é feita pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Aylan Kurdi não pertence a essa lista. Figura na de 2015. A fotografia do pequeno de três anos foi mural de muitos perfis na rede social Facebook, primeira página nos jornais de todo o mundo e tema de debates televisivos em horas a fio. E depois dele?

Segundo dados revelados pelo jornal "El Mundo", passaram 365 dias e morreram 423 crianças afogadas no mar às portas do sonho europeu.

FOTO DE OMRAN EMOCIONOU O MUNDO, MAS HÁ OUTRAS QUE FICARAM ESCONDIDAS





Duas mil crianças morreram, em terra, desde janeiro, em bombardeamentos na guerra da Síria, de acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos. Omran sobreviveu. A foto do menino sírio coberto de pó e de sangue sentado numa ambulância após um bombardeamento voltou a agitar as redes sociais, mas já caiu no esquecimento.

As imagens de Omran e Aylan mostram as opções das crianças sírias face a uma guerra que dura há cinco anos. Arriscar a vida em terra ou morrer no mar a tentar chegar à Europa.

O pai da criança afogada de camisola vermelha e cara enterrada na areia diz aos jornalistas da britânica "BBC" que o mundo "piorou", depois de ter erguido os braços a clamar uma mudança urgente.

Alguns países negociaram quotas para receberem refugiados, outros construíram muros e vedações nas suas fronteiras, Na Hungria vai ser erguido uma segunda cerca antimigrantes. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, quer um "sistema de defesa mais robusto". O governo da Hungria diz que 18 mil pessoas entraram este ano no país de forma ilegal.



O anúncio da construção da segunda barreira húngara foi feito poucos dias antes de a guarda costeira italiana ter anunciado o socorro a cerca de 6500 migrantes ao largo da Líbia, num dos dias mais movimentados dos últimos anos no Mediterrâneo. Nesse 30 de agosto de 2016, 6500 pessoas tiveram melhor sorte do que Aylan Kurdi.

Os países europeus tinham acordado acolher até 2017, 160 mil refugiados, através da Grécia e de Itália. Apenas quatro mil foram realojados.

A União Europeia fez um acordo com a Turquia para o país receber os migrantes que chegam ao sul do continente. Um acordo que garantiu a Ancara um encaixe financeiro de seis mil milhões de euros. Mas o governo turco já ameaçou abrir as comportas e não continuar a impedir o fluxo migratório para a Europa. O acordo entre Turquia e Bruxelas está suspenso, 423 "Aylans" depois.





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02
Set16

A reação nas ruas contra o golpe e ForaTemer: "Não vai ter arrego!"

António Garrochinho


O dia em que a presidenta Dilma Rousseff foi definitivamente afastada através de um processo de impeachment fraudulento no Senado, milhares de pessoas indignadas com o golpe e contra o governo Temer, foram às ruas protestarem. As manifestações ocorreram ao longo da noite em quase todas as capitais do país, na maioria delas, houve forte repressão da polícia que usou de violência para dispersar os manifestantes.

Em São Paulo, manifestantes usavam faixa pendindo novas eleições.Em São Paulo, manifestantes usavam faixa pendindo novas eleições. Em São Paulo, no terceiro dia consecutivo de manifestação, logo após a decisão do Senado, milhares de pessoas se aglomeravam nos dois lados da pista da avenida Paulista, conforme a tarde ia caindo, mais e mais pessoas apareciam para mostrar sua indignação.

“Não vai ter arrego”, “Fora Temer”, por novas eleições e contra a mídia golpista foram as principais palavras de ordem entoadas pelos manifestantes que a noite seguiram em marcha pela Avenida Consolação. Depois das 20h, a Polícia Militar avançou contra os ativistas atirando bombas de efeito moral e gás lacrimogênio.

Nas redes sociais, há vários relatos de pessoas que se espantaram com a truculência da Polícia e questionaram o motivo da violência contra pessoas que só estavam reivindicando os seus direitos. A ardência nos olhos, a irritação, náuseas, tosse e asfixia na garganta, foram as principais queixas dos manifestantes e também de moradores vizinhos ao centro de São Paulo, que também sofreram com a fumaça tóxica.




Abaixo alguns relatos descreviam São Paulo como uma praça de guerra:

"Fomos covardemente atacados pela PM.
Fui rendida na parede com policiais atirando balas de borracha e bombas.
Não era pra dispersar, era para amedrontar.
Nunca me senti tão impotente.
Me senti covarde.
Não tinha como me defender.
Na verdade eles são os covardes.
Estava de peito aberto.
Sem armas e sem proteção.
Eles atiram porque estão protegidos com escudos,capacete e armas.
Sim, não temos o direito de protestar.
E agora é daqui pra pior.
Enquanto comemoram com fogos de artifícios, jovens estão recebendo bala e bomba na cara.

VOCÊS GOLPISTAS QUEREM NOS CALAR MAS NÃO VÃO.
NÃO VÃO NOS AMEDRONTAR." (Marcela Baladez).





Segundo informações publicadas pelo Jornalistas Livres, Deborah Fabri, que participava do ato contra o impeachment na noite desta quarta-feria (31), foi atingida por um estilhaço de bomba no olho esquerdo. "Quando encontramos Deborah, ela já estava ferida e era amparada por amigos e outros manifestantes. Ainda assim, ela conseguiu explicar que o estilhaço da bomba que atingiu seu olho, dilacerou a lente do óculos que usava. Deborah sentia pedaços de vidro dentro do globo ocular. Ao nos aproximarmos, ela dizia: “perdi meu olho, meu olho não está aqui”. De acordo com a publicação, a manifestante passa por cirurgia. (Foto: Roberto Seracinskis/Jornalistas Livres)

“Chegando no Largo Santa Cecília mais de duas mil pessoas começam a se juntar no entorno. Passamos a saber dos vários feridos, mulheres, senhoras e até crianças que acompanhavam os pais. O pessoal se revolta e decidem ir até a sede da Folha protestar contra essa a imprensa que alimentou o Golpe na Democracia. Em 20 minutos chega a PM despejando bombas. Um jornalista da imprensa alternativa é espancado pelos PM's.”




“Gente foi muito desproporcional o ataque da polícia. Encurralou uma parte dos manifestantes onde eu estava e não tinha para onde correr. Foi muita bomba dos dois lados da consolação. Tempos sombrios.”

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“Hoje foi a segunda vez na semana que respirei muita bomba de gás. Hoje Leo estava comigo. Ficamos encurralados entre duas tropas de choque na Consolação (sempre ali...). Muita muita bomba. Minha preocupação era cobrir o rosto, porque é na cara que eles jogam, pra acertar. Isso eu já vi acontecer. Nos perdemos momentaneamente no meio da confusão, do corre-corre, tentando achar como sair dali. Foi um alívio vê-lo de novo, e vê-lo bem. Não nos machucamos, embora eu esteja com muita dor de estômago em virtude do gás tóxico. (...) Me assusta, mas não me impede, porque eu sei que é assim quando se reivindica algo justo na nossa "democracia": bomba na cara! Mas me deprime um pouco, porque eu só quero exercer minha liberdade de expressão de NÃO concordar com um governo golpista. Por fim chego em casa e tenho que ouvir vizinho munido de panela, gritando "viva a PM", do conforto da sua varanda. O mundo roda, mas nós brasileiros não conseguimos mudar. Vida que segue, ainda tenho trabalho para entregar hoje. (Eduardo Araújo, internauta)”.





"Um MASSACRE em SP da PM Paulista. 

Mais de 20 mil pessoas desciam a Consolação. Por volta de 1.500 soldados do Choque, Força Tática e PM's comuns vinham atrás acompanhando. Quase no fim da Consolação haviam uma barreira de mais de 500 soldados da Tropa, Força Tática Caminhões bloqueando a passagem. Neste momento os Policiais que vinham atrás começam a comprimir os manifestantes num trecho que não haviam saídas laterais. Percebi a situação, mas não acreditei que eles fariam aquilo. De repente começam a lançar no meio da manifestação uma chuva de bombas de gás. A correria é intensa. O povo tenta escapar e a única maneira era passando pelos cordões Policiais. Eles então começam a atirar a queima roupa balas de borracha e bombas de efeito moral. Bem em minha frente uma senhora tem o rosto dilacerado por estilhaços de uma bomba de efeito. O pessoal ajuda a senhora carregando nos braços. Os que passavam recebiam cacetetes na cabeça e nas costas. Várias pessoas pisoteadas. O povão que consegue passar acessa as ruas laterais e são perseguidos por carros e motos da PM. Vejo um jovem sendo atropelado por uma viatura. A fumaça de gás e bombas era intenso, não consigo enxergar número da viatura, É muito dificl correr e respirar. Os PM's alvejam jornalistas da imprensa alternativa devidamente identificados que tentam cobrir os fatos. E tentam tomar os equipamentos.em seus equipamentos. A revolta toma conta da massa que começa a montar barricadas por todo lado. Helicopteros da PM sobrevoa orientando as viaturas e motos policiais. Neste momento estou com um grupo 300 pessoas encurraladas justamente na Rua Maria Antônia (parece até ironia da história) Várias caçambas de entulho de reformas nos condomínios de alto padrão do entorno são utilizadas pra bloquear as ruas. A Rua Maria Antônia arde em chamas. Os moradores dos apartamentos assistem tudo do alto de suas varandas gourmets. A PM rompe o bloqueio e os manifestantes descem a Rua Veridiana correndo vemos mais um atropelamento, desta vez uma pickup branca. Não dá pra anotar placa com a PM no encalço. A moça atropelada chegou a cair no chão, o carro pegou de lado, mas ela se levanta e sai correndo mancando. Chegando no Largo Santa Cecília mais de duas mil pessoas começam a se juntar no entorno. Passamos a saber dos vários feridos, mulheres, senhoras e até crianças que acompanhavam os pais. O pessoal se revolta e decidem ir até a sede da Folha protestar contra essa a imprensa que alimentou o Golpe na Democracia. Em 20 minutos chega a PM despejando bombas. Um jornalista da imprensa alternativa é espancado pelos PM's. Voltamos pra Santa Cecília. Pelas redes sociais ficamos sabendo que na Praça Rosevelt e Praça da República a PM agridem manifestantes e revistam todos os transeuntes que acham suspeitos. Junto com um grupo do ABC pegamos o metrô e viemos embora. O que PM cometeu foi um verdadeiro Crime Contra a Humanidade. São Paulo, 31 de Agosto de 2016, 52 anos depois de 1964. (Depoimento do Marcelo Buraco).

Em Ribeirão Preto também houve manifestação e agressão policial. Uma mulher é arrastada pela PM.




Brasília




Na Capital Federal não foi diferente, a Polícia Militar reprimiu com extrema violência a manifestação contra a confirmação do golpe. Bombas de efeito moral, gás de pimenta, prisões arbitrárias e espancamentos deram a tônica da atuação policial na noite de 31 de agosto.


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A caminhada começou na Esplanada, em frente ao Ministério da Justiça. Na altura da rodoviária, os policiais atacaram com gás de pimenta e cassetetes. Fotógrafos e cinegrafistas também foram ameaçados.



Rio de Janeiro

Na capital fluminense, o ato reuniu uma multidão no Centro da cidade. O grupo saiu da Cinelândia em direção à Assembleia Legislativa. Bairros da Zona Sul, da Zona Norte e da região central da capital fluminense registraram panelaços durante todo o pronunciamento de Temer em cadeia de rádio e televisão.



Em Vitória (ES), foram mais de mil manifestantes que seguiram em marcha até a praça do pedágio da Terceira Ponte, segundo relatos, a cavalaria os aguardava. O grupo realizou uma assmebleia sentados ao chão, "quando sem nenhum motivo o batalhão começou a disparar bombas e balas de borracha. Apesar das incansáveis tentativas de resistência, a cavalaria perseguiu a manifestação dispersando o ato Fora Temer", informou o Mídia Ninja.

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As informações foram que houve manifestantes feridos vítimas das bombas e tiros de bala de borracha. Entre eles um idoso de 70 anos.

Belo Horizonte


Na capital mineira uma multidão tomou o centro da cidade. Os manifestantes fizeram um protesto pacífico e gritaram palavras de ordem contra o golpe difarçado de impeachment no Senado. E ainda contra o retrocesso nos direitos do trabalhador, os manifestantes mineiros gritaram "ForaTemer".



Recife

No Recife, manifestantes e representantes de diversas entidades civis ocuparam por cerca de duas horas uma das principais vias do Recife, a Avenida Agamenon Magalhães, percorrendo, em seguida, outro importante corredor viário da cidade, a Avenida Conde da Boa Vista, até a Praça do Diário.






Em Salvador (BA), milhares de manifestantes usaram o apito para protestarem contra Temer. Os manisfestantes também entoaram palavras de ordem dizendo que a luta vai continuar. "Não pode parar, daqui pra frente é resistir e ocupar".



Florianópolis


O ato Fora Temer em Florianópolis ficou marcado pela grande movimentação nas ruas. Milhares de pessoas se uniram em defesa da democracia e pelo Fora Temer.


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www.vermelho.org.br
02
Set16

Explosão de baterias suspende vendas de Samsung Note 7

António Garrochinho

A gigante tecnológica Samsung decidiu retirar o smartphone Note 7 do mercado depois de detetar problemas com a bateria. Já esta sexta-feira, a empresa anunciou que as vendas do aparelho vão ser suspensas. Em Portugal, o lançamento estava previsto para o dia 9 de setembro.



Na origem da retirada do produto do mercado estão problemas detetados na bateria do equipamento. A Samsung garantiu que todos os aparelhos que, entretanto, foram vendidos serão recolhidos e os clientes serão ressarcidos do valor. 

A empresa sul-coreana revelou que a recolha dos aparelhos deve demorar cerca de duas semanas, mas não adiantou quando é que novos equipamentos poderão ser postos à venda.

Nos últimos dias foram conhecidos alguns casos. Um deles envolveu o adaptador micro USB do Galaxy Note 7, o outro foi o caso de um aparelho que estava a ser carregado.

O novo smartphone foi lançado a 19 de Agosto no mercado, tendo recebido boas críticas. Em Portugal, o lançamento estava marcado para o próximo dia 9 de setembro, uma data que poderá agora ser adiada.


Até o momento, não há vítimas a registar nos casos de explosão que são conhecidos. A Samsung já tinha adiantado esta semana que tinha parado com o fornecimento do novo modelo a três companhias sul-coreanas de telecomunicações e que os envios do Galaxy Note 7 estavam a ser atrasados para que fosse alvo de novos testes de qualidade.

Entretanto, a Samsung disse que todos os relatos de incidentes reportados pelos clientes são considerados “de forma muito séria”.
Investigação rigorosa
“Em resposta a situações que nos foram recentemente comunicadas relativas ao novo Samsung Galaxy Note7, realizámos uma investigação rigorosa e detetámos uma anomalia em algumas baterias que integram estes equipamentos”, revela a Samsung em comunicado.

Até ao dia 1 de setembro foram reportados 35 casos, sendo que está a ser feita uma inspeção completa para identificar possíveis baterias afetadas, daí a decisão de suspender as vendas do Samsung Galaxy Note7 durante as próximas semanas.

A Samsung deixa ainda uma recomendação aos clientes que já têm o equipamento, no sentido de o entregarem nas lojas em que foram adquiridos ou em qualquer centro de assistência.

 www.rtp.pt


02
Set16

ESTA REACCIONÁRIA CARCUMIDA JULGA-SE ENGRAÇADA ! ACHARÁ ELA POUCO OS BILIÕES QUE A IGREJA ARRECADA DESONESTAMENTE COM ALDRABICES OU ANDARÁ A FASCISTA COM DÓ DO ZÉ POVINHO (O CRENTE) - Ferreira Leite “Qualquer dia lança-se um imposto sobre as esm

António Garrochinho

A ex-líder do PSD fala em “aumento de impostos encapuzado” relativamente a medidas como a alteração na lei do arrendamento ou do IMI


Na sua intervenção de quinta-feira à noite na TVI24, Manuela Ferreira Leite acusou o Governo de estar a criar uma “distorção no sistema fiscal”, com “um conjunto de medidas que são uma falácia” e que podem levar “a uma enorme deterioração do equilíbrio social”.
A ex-líder do PSD disse que a alteração da lei do arrendamento consiste na realidade “num aumento de impostos encapuzado sobre quem património”, considerando também as alterações feitas no IMI como aberrantes: “Todas as respostas que têm sido feitas na área do IMI (…) feitas com argumentos de justiça social (…) não é justiça social nenhuma. O sistema fiscal não pode ser utilizado com estes objetivos”.
A economista acrescentou não compreender a hipótese dos imóveis da Igreja Católica passarem também a pagar o imposto, pois ou “a isenção era legal” ou então terá de se explicar como essa situação foi mantida durante tantos anos. “Duvido que qualquer dia não se lance um imposto sobre as esmolas que se dão na missa”, referiu ainda a propósito da tentativa de aumento das receitas.
Ferreira Leite disse que “não será possível aumentar-se a despesa (do Estado) sem se aumentar a receita”, defendendo que será contudo “menos mau aumentar impostos, do que fingir que não se aumentam (…) através de truques contabilísticos e legislativos (...) criando injustiças em relação às quais as pessoas não se podem defender”.

expresso.sapo.pt
02
Set16

02 de Setembro de 31 a.C. : Batalha Naval de Áccio: As forças de Octávio derrotam as esquadras de Marco António e Cleópatra.

António Garrochinho


Batalha naval ocorrida a 2 de Setembro de 31 a. C., na antiga Grécia, perto do promontório de Áccio - consagrado a Apolo -, à entrada do Golfo de Arta. Também conhecida como batalha de Ácio, opôs Marco António a Octávio, ofuturo imperador romano Augusto, e foi favorável a este último. A frota de Octávio era comandada por Marco Agripa e a de António apoiada pelos barcos de guerra da rainha Cleópatra do Egipto. O resultado foi uma vitória decisiva de Octávio, que findou a oposição ao seu poderio crescente. Esta data é por isso usada para marcar o fim da República e início do Império Romano.


Após o fim do segundo triunvirato em 32 a. C., o poder Romano dividia-se entre as intenções de Octávio e Marco António. O primeiro contou com o apoio de um contingente militar novo, defendendo o Ocidente das ameaças do Oriente, simbolizado por António, que se apoiava na grande nobreza, e que mantinha uma forte ligação com o Egipto e com a sua rainha, Cleópatra.


Com o apoio do senado, Octávio declarou guerra ao Egipto. O apoio de António à rainha egípcia envolveu-o na contenda e, em Áccio, deu-se o confronto, vencido por Octávio. As duas frotas eram constituídas por cerca de 400 navios cada uma. Este número é apenas uma estimativa, visto que as fontes históricas são contraditórias neste aspecto. A táctica usada por Marco António foi valer-se da maior tonelagem das suas embarcações, carregá-las com artilharia e bombardear o inimigo. No entanto, os barcos comandados por Marco Agripa eram mais leves e manobráveis e conseguiram evitar estas investidas e eliminar o perigo. Durante a luta, Cleópatra decidiu fugir e António depressa a seguiu. A fuga do comandante não foi descoberta e a luta prosseguiu até Agripa conseguir incendiar e afundar a frota de António. António retirou as suas tropas na esperança de poder combater o seu adversário mais tarde no Egipto ou na Síria. Contudo, o abandono das suas legiões retirou-lhe qualquer hipótese de resistência. Marco António suicidou-se em Julho e Cleópatra em Agosto,data em que Octávio se apoderou do Egipto. Uma referência à batalha é feita na Eneida de Virgílio.



wikipedia (imagens)
Batalha de Actium. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2014.

Batalha de Áccio2 de Setembro de 31 a.C., por Lorenzo A. Castro, pintada em 1672
Disposição das tropas durante a batalha de Áccio
02
Set16

UZBEQUISTÃO: PRESIDENTE KARIMOV "EM ESTADO CRÍTICO", FONTES DIPLOMÁTICAS DIZEM QUE MORREU

António Garrochinho

As autoridades do Uzbequistão podem estar a preparar o anúncio da morte do presidente Islam Karimov. Algumas fontes diplomáticas, citadas pela agência Reuters, dizem que terá morrido.

O governo admitiu que o presidente estava “em estado crítico”, o que é muitas vezes um eufemismo, sobretudo na ex-URSS, para dizer que o anúncio da morte está próximo.

No fim de semana, tinha sido confirmado que Karimov tinha sido internado de urgência. A filha disse na altura que ele tinha sido vítima de uma hemorragia cerebral. O presidente do Cazaquistão, Nursultan Nazarbayev, encurtou a viagem à China para se deslocar ao Uzbequistão, o que pode ser um indício da morte de Karimov.


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