Que eu saiba, é a primeira vez que se conhece uma desagregação dos estágios apoiados pelo Estado por ramos de actvidade. Mas posso estar mal informado. Os números referem-se a 2014.
Os dados do emprego são do INE. E relembre-se que os dados do INE, para lá dos grandes agregados, podem não ser muito fidedignos. Mas são os que há.
Os dados do número de estágios por actividade foram fornecidos como resposta à pergunta nº835 XII/4, feita a 30/1/2015 pelos deputados do PCP Rita Rato, David Costa e Jorge Machado e respondida, seis meses depois, a 25/7/2015, pelo então chefe de gabinete do então ministro Pedro Mota Soares. Refira-se que a pergunta feita pedia a listagem das empresas apoiadas que tinham feito contratação sem termo, a sua discriminação por distrito e actividade. E essa pergunta surgiu na sequência de uma outra pergunta feita em novembro de 2014, de molde a comprovar que os estágios correspondiam a empregabilidade de 70%, respondida em janeiro de 2015, ao lado. Ou seja, a resposta ficou muito aquém da perguntas.
A tabela seguinte foi construída por mim.

Fonte: gabinete do ministro MTSSS (Pedro Mota Soares), INE
Os números de 2014 permitem mostrar várias coisas:
1) quais foram (são?) os sectores que têm abusado dos estágios;
2) que o Estado foi recipente desses apoios, enquanto se pugnava pela saída de funcionários públicos sem serem substituídos: veja-se o peso na Administração Pública, na Saúde ou na Educação. Caso se considere que o peso do sector privado nestes dois últimos sectores é de 20%, o peso do Estado atingiu os 9 mil estágios!;
3) que os apoios não foram orientados para nenhuma actividade em especial ou estratégica, apoiando o Estado tudo o que vier à rede, mesmo actividades sem qualquer necessidade destes apoios;
4) que as actividades industriais foram as preteridas: um peso de estágios foi de 0,9%, abaixo da média nacional de 1,6%;
5) que o total do emprego criado em 2014 - cerca de 70 mil - correspondeu grosso modo foi fruto, de sobremaneira, a concessão desses estágios - 70450 estágios;
6) Que os 70450 estágios corresponderam a uma verba de 250,2 milhões de euros.
Enquanto a agricultura, produção animal, caça, florestas e pesca conseguira tinha apenas 0,4% dos seus 389,1 mil empregados como estágios, já as actividades de consultoria - desde advocacia, arquitectura, publicidade, etc. - tinham sido apoiadas com um total de estágios que representavam 7,1% da sua população empregada. Agora imaginam a vida dessa significativa percentagem de mão-de-obra...
O que é interessante verificar é que os apoios foram concedidos a actividades que anos antes, em 2011, se diabolizara por não estarem ligadas à produção de bens sujeitos à concorrência internacional (transacionáveis), que pudessem ter um contributo para a "competitividade" nacional. Ou então o conceito de transacionável alargou-se ao mercado nacional, onde as multinacionais podem vir disputar serviços nacionais, sendo que não se sabe se as multinacionais não beneficiaram desses estagios igualmente...
Se as políticas activas de emprego são positivas, como apoio, este tipo de apoios pode ter - como se vê - efeitos bem preversos. Nomeadamemte o da fraca empregabilidade e de uma elevada rotação de estagiários, sem que nunca se traduza num emprego.