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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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17
Out16

PORQUE ADOLF HITLER ODIAVA TANTO OS JUDEUS?

António Garrochinho

“O ódio aos Judeus, historicamente manifestado por Adolf Hitler, seria derivado da crença errônea de que sua mãe fora morta por envenenamento, ao ser medicada por um doutor judeu”, afirma o autor de um novo livro sobre ditador nazista, conforme reportagem do ‘JEWISH NEWS’, no site ‘HAARETZ .com’. 

No seu livro "November 9: How World War One Led To The Holocaust (“9 de Novembro: Como a I Guerra Mundial Deu Origem ao Holocausto”), recém-lançado, o autor Joachim Riecker escreve que a morte de Klara, mãe do jovem Adolf, então com 18 anos, diagnosticada com câncer do seio, deixou marca indelével na mente do filho. O médico de Klara, Eduard Bloch, teria administrado iodofórmio à paciente, tratamento padrão, à época, para o câncer da mama. E ela morreu do tratamento em 1907, quando tinha apenas 47 anos de idade.

“E Hitler jamais perdoou o doutor judeu, declarou Riecker ao jornal britânico ‘The Telégrafo’”. Ainda segundo ele, em conversas com assessores como Joseph Goebbles, A.H. se referia aos Judeus como a própria ‘TB’ (Tuberculose, o grande mal da época. N.A.) e a si próprio como um ‘curandeiro’ que devia marcá-los e, posteriormente, eliminá-los. (Em tradução livre deste blogueiro)


Não obstante, embora não conste da notícia em foco, publicada no site HAARETZ.com, uma outra versão para o ódio manifesto de Hitler aos Judeus, que circula entre autores publicados, como Marrs, Springmeier, Jackson, Howard e outros (Vide “O Poder SECRETO!, deste autor, P. 610-611) levanta a hipótese de que Maria Anna Schiklgruber, sua avó, havia sido empregada doméstica (cozinheira) na mansão de um membro (barão) celibatário e mulherengo do clã Rothschild, em Viena, e por ele engravidada, sendo, então, devolvida à casa paterna, onde contraiu núpcias com um trabalhador rural de nome Johan Georg Hiedler, que criou a criança bastarda, de nome Alois Schiklgruber. Somente aos 40 anos, Alois Schiklgruber veio a ser perfilhado por seu tio Johan Nepomuck Hiedler, de quem recebeu o nome de família Hiedler. Alois Hiedler era o pai de Adolf Hitler, assim nomeado por um erro do pároco em seu registro de nascimento. 

O não reconhecimento formal da sua linhagem, pelo suposto ancestral Rothschild, teria suscitado o enorme ódio do ditador a todos os Judeus, segundo a teoria desses autores.


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Outro 'Facto':

Hitler matou-os não propriamente por odiá-los.

Ele não odiava especialmente os judeus, mas qualquer um não se enquadrasse no padrão de "raça pura ariana" Ciganos, homossexuais, deficientes físico ou mentais, negros... foram executados em campos de concentração da mesma forma.

A dedicação maior em relação aos judeus, se deve ao fato de que eles ocupavam boas posições na sociedade, em faculdades, comércio e então Hitler primeiro trabalho em enfraquecê-los com campanha anti-semita, sucessivamente proibindo a ocupação de cargos, depois com o comércio, para depois dar início `as execuções.

Caso ele dia um dia pra outro lançasse um decreto mandando os judeus para o gueto , a sociedade não lhe daria apoio e os judeus também teriam mais chances de se organizarem.

humorindigesto.blogspot.pt

17
Out16

A VOLTA A PORTUGAL EM BICICLETA (2) banda desenhada

António Garrochinho



Nicolau_e_Trindade_dos_anos_30Com o futebol um pouco “adormecido” durante o estio — ou, pelo menos, mais afastado das competições nacionais até ao início de nova época —, Julho e Agosto são meses tradicionalmente dominados por outra grande modalidade desportiva, o ciclismo, com destaque para o Tour de France e, no nosso (mais tacanho) circuito caseiro, a Volta a Portugal
Volta a Portugal 1Ao vermos as imagens, nos telejornais, dos velozes ciclistas que se lançam briosamente ao assalto das estradas e das pistas de montanha onde a glória pode estar à sua espera, perpassam-nos pela memória os nomes e os feitos de grandes ídolos do passado como Fausto CoppiGino Bartali, LouisonBobetJacques AnquetilEddy MerckxBernardHinaultMiguel Indurain, José Maria NicolauAlfredo Trindade, Alves BarbosaMoreira de Ribeiro da SilvaJoaquim AgostinhoMarco Chagas e outros mais, que os autores de BD, nalguns casos, ajudaram também a cobrir com os louros da fama.
agostinho_joaquimUm desses exemplos, no sumário historial desportivo da BD portuguesa, é “Um Campeão Chamado Joaquim Agostinho”, episódio publicado no vespertino A Capital, durante a Volta a Portugal de 1973, cujo registo biográfico se transformou numa autêntica reportagem ilustrada, graças ao traço dinâmico e às envolventes composições de Fernando Bento, para quem o ciclismo não era um tema inédito.
Em 2010, associando-se às celebrações do centenário do genial Artista, o Gicav, promotor e organizador do Salão de BD de Viseu, reeditou esse trabalho — perdido, como tantos outros, nas páginas de jornais que já não existem — em homenagem ao talento do Mestre também já desaparecido, dedicando-lhe um magnífico álbum de grande formato, a fim de permitir aos seus indefectíveis admiradores uma apreciação mais perfeita do expressivo e documental estilo exibido nessas 16 pranchas, quase como se estivessem a admirar os originais.

CLIQUE NAS IMAGENS PARA AUMENTAR
Joaquim Agostinho Capa+1
Joaquim Agostinho 2 + 3
Ao longo da sua prolífica carreira, Fernando Bento fez várias ilustrações sobre temas desportivos, incluindo caricaturas de “ases” do ciclismo n’Os Sports e tiras sobre a Volta a Portugal na secção infantil do República. No Cavaleiro Andante chegou mesmo a contar a história do popular velocípede de duas rodas numa página recheada de curiosos apontamentos sobre a evolução da sua forma e do seu funcionamento. Nascida de uma ideia totalmente absurda, que era a da locomoção pedestre num ridículo veículo de madeira sem pedais, a bicicleta tornou-se, graças a um pequeno acidente, o meio de transporte ideal (embora destinado a poucos passageiros), antes da invenção do automóvel, e ganhou direito de cidadania em todos os países do mundo.
Volta a Portugal 3
CAVALEIRO ANDANTE 146A página que aqui reproduzimos foi publicada no nº 23, de 7/6/1952, do Cavaleiro Andante, onde tempos depois não tardariam a surgir vários episódios curtos sobre temas desportivos, na sua maioria desenhados por Jean Graton (o futuro criador de Michel Vaillant), que dedicou também especial atenção às peripécias e às emoções do desporto mais popular, logo a seguir ao futebol, em Espanha, França, Itália, Bélgica, Portugal e noutros países europeus.
Mas dessas histórias (e de outras que as antecederam) falaremos com mais detalhe em próximos artigos sobre este aliciante (e pouco divulgado) tema.
A título de curiosidade, apresentamos também uma página com um mapa da 19ª Volta a Portugal (cujo vencedor foi Alves Barbosa), publicada no Cavaleiro Andante nº 242, de 18/8/1956, em que a rapaziada podia seguir as etapas da prova e fazer, ao mesmo tempo, uma espécie de jogo com os amigos, que consistia simplesmente em anotar no mapa os seus prognósticos para os vencedores de cada etapa, somando 10 pontos quando acertavam.
Os pitorescos “bonecos” que ilustram essa página, com um traço humorístico inconfundível, são de Artur Correia, um dos mais apreciados e mais antigos colaboradores da revista, cujos trabalhos recheavam o suplemento infantil O Pajem.

Volta a Portugal 2

ogatoalfarrabista.wordpress.com

17
Out16

A PRIMEIRA VOLTA A PORTUGAL EM BICICLETA

António Garrochinho

A primeira Volta a Portugal em bicicleta



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 A primeira volta a Portugal tem início em 1927.

A criação da Volta a Portugal em bicicleta deve-se a Raul Oliveira do jornal Os Sports.
A Volta é criada em 1927, tem o seu Regulamento publicado no jornal Os Sports de 4 de Fevereirode 1927 e o primeiro itinerário realiza um desenho paralelo à linha da fronteira do continente português. O anúncio da realização da Volta a Portugal provoca nos jornais concorrentes, o Sporting e O Sport de Lisboa, uma reacção de crítica que se estende à UVP por ter dado apoio oficial à realização da prova. A disputa e rivalidade entre os jornais chega a tal ponto que, em1927, se assiste não a uma volta a Portugal mas a duas voltas, uma realizada em Abril pelos jornais Os Sports e pelo Diário de Notíciascom o apoio da estrutura federativa e outra, logo a seguir, em Maiopelo jornal Sporting do Porto. A realização da primeira Volta a Portugal foi um banco de ensaios em termos económicos, mas os encargos terão sido de tal ordem que, não obstante a popularidade alcançada, os empreendedores só conseguiram repetir o evento quatro anos mais tarde, em 1931. Com a Guerra Civil de Espanha a Volta não se realiza em 1936-37 e, devido à II Guerra Mundial, interrompe de novo entre 1942-45. Em 1953-54 a Volta não se faz por falta de organizador e em 1975 não se realiza devido à revolução vivida após o 25 de Abril de 1974. A Volta, desde que criada, é o maior evento de ciclismo de Portugal.
Nos primeiros anos a fronteira foi a grande referência das Voltas das primeiras décadas da Volta[9] . As primeiras voltas procuraram unir todos os locais e, neste esforço, as cidades do interior situadas nesses limites são praticamente todas contempladas pelo desenho da Volta. Entre 1955 e 1965, o desenho da Volta é assimétrico e passa duas vezes pelo litoral entre Lisboa e Porto. A crescente popularidade do ciclismo e o aparecimento de novas pistas como a de Alpiarça, a de Loulé e a de Sangalhos marcam anos de prosperidade para os clubes de ciclismo, maioritariamente situados no litoral a Norte de Lisboa. Os itinerários contêm etapas em circuito feitas em torno destas vilas que acabam em festivais de pista.
O vencedor da primeira edição foi AUGUSTO DE CARVALHO da equipa do Carcavelos.
portugaldeantigamente.blogs.sapo.pt

As voltas da primeira... Volta

1927, o ano em que tudo começou, o ano em que nasceu oficialmente a Volta a Portugal em Bicicleta.

A popularidade grangeada pelo ciclismo em Portugal remonta, no entanto, a algumas décadas antes do ano em que a Volta viu a luz do dia. Já em finais do século XIX a modalidade era bastante apreciada pelos portugueses, talvez devido ao facto de um dos primeiros grandes nomes do ciclismo internacional ter sangue lusitano. José Bento Pessoa, de seu nome, nascido na Figueira da Foz, em 1874, e que em maio de 1897 entrava para os anais da história após ter batido o recorde mundial de pista dos 500m numa prova internacional ocorrida durante a inauguração do velódromo de Chamartin, em Madrid. Este e outros feitos do atleta figueirense ganharam eco no nosso país, e já em pleno século XX surgiam com grande frequência provas de ciclismo em solo lusitano. O primeiro grande evento foi quiçá o Porto-Lisboa, que conheceu a sua primeira edição em 1911, ganha pelo francês Charles George, na época corredor do Louletano.

E precisamente de França chegavam histórias da grande corrida que anualmente concentrava as atenções do povo gaulês, o Tour, certame que reunia os melhores corredores do Mundo, e que na altura muitos dos filósofos desportivos diziam ser já o segundo maior evento desportivo do planeta, logo a seguir aos Jogos Olímpicos! 
Perante estes e outros factos foi com naturalidade que surgiu a ideia de criar uma grande prova de ciclismo que tocasse os quatro cantos de Portugal, à semelhança do que se fazia em França. 
Quanto ao pai da ideia ainda hoje a dúvida persiste quanto ao seu nome. Para muitos historiadores do ciclismo o jornalista Raúl de Oliveira foi o mentor da Volta. Na época a trabalhar no (jornal) Sport de Lisboa Oliveira deslocou-se em 1917 até França, integrado no Regimento de Transmissões que partiu para a I Guerra Mundial. Enquanto permaneceu em território francês maravilhou-se com o Tour, que acompanhou de perto, e na hora de regressar a Portugal lançou para o ar a ideia de criar uma prova semelhante por estas bandas. Para outros historiadores Raúl Oliveira foi apenas um dos três Oliveiras que esteve na génese da Volta a Portugal. Nesta segunda versão um homem do futebol é tido como o mentor da ideia, Cândido de Oliveira, de seu nome, enquanto Raúl de Oliveira e Mário de Oliveira - estes três homens para além do apelido tinham em comum o facto de serem jornalistas - são apontados como os concretrizadores da ideia de mestre Cândido. Bom, progenitores da ideia à parte o que é certo é que edificar a Volta a Portugal não foi uma tarefa fácil. Raúl de Oliveira, que quando regressou a Portugal foi chefiar a redação de Os Sports, pertença do Diário de Notícias, insistiu que o seu jornal deveria organizar uma competição semelhante ao Tour de França. Vendo a sua sugestão cair por diversas ocasiões em saco roto, decide ele próprio aplicar o prémio da lotaria que havia ganho na organização de uma prova velocipédica, bem mais modesta e pequena que o Tour, é certo, mas que haveria de mudar mentalidades!

Corria então o ano de 1923 quando Raúl de Oliveira criou a 1ª Volta a Lisboa, certame que seria coroado de êxito. Perante isto o administrador do Diário de Notícias, Beirão da Veiga, ficou finalmente convencido quanto à hipótese de ser organizada - pelo seu jornal - uma prova semelhante ao Tour francês, e assim em 1927 ia para a estrada a 1ª Volta a Portugal em Bicicleta. 

A Volta a Portugal sai para a estrada

País pobre, Portugal não reunia na época as melhores condições para a realização de uma prova de estrada de longa duração como a que se pretendia erguer. As ligações entre as cidades eram paupérrimas, estradas de terra batida, muitas delas sem condições para circular um carro de bois quanto mais uma bicicleta. Mesmo assim a 26 de abril de 1927 os 38 ciclistas participantes fazem-se à estrada para dar início a uma longa aventura.

Com 18 etapas traçadas a prova teve início e fim em Lisboa, e desde cedo se assistiu a um emocionante duelo entre dois dos melhores corredores da época, António Augusto de Carvalho (que defendia as cores do Carcavelos) e Quirino de Oliveira (do Campo de Ourique). Este último ciclista venceu a etapa inaugural, que ligou Cacilhas a Setúbal, numa distância de 40,4km (a etapa mais pequena da Volta de 1927). A etapa seguinte - Setúbal-Sines (114,6 km) - seria ganha por Augusto de Carvalho, que assim retirava a camisola amarela ao seu rival do Campo de Ourique. Porém, Quirino de Oliveira estava numa forma estupenda, tendo vencido as seis etapas posteriores - Sines-Odemira (49,2km), Odemira-Portimão (86,2km), Portimão-Faro (65,8km), Faro-Beja (154,7km), Beja-Évora (82,2km), e Évora-Portalegre (122,3km) - e reconquistado assim a camisola mais desejada da prova.

E desta forma se manteve até ao momento em que o azar lhe bateu à porta. Antes, na 9ª etapa, que ligou Portalegre a Castelo Branco (numa tirada de 106,6km), o benfiquista Santos Almeida intrometeu-se na luta entre Carvalho e Quirino, ao cortar a meta em primeiro na chegada à capital da Beira Baixa. Na etapa seguinte, que ligou Castelo Branco à Guarda (112,9km), na qual foram experimentados os duros obstáculos da Serra da Estrela, Quirino de Oliveira sofreu um revés ao ficar sem o selim da sua bicicleta, galgando quilómetros e quilómetros (em subidas e descidas!) somente apoiado nos pedais! Tarefa heróica que seria premiada com mais uma vitória de etapa e mais do que isso Quirino continuava de amarelo. Poucos duvidariam que a mágica camisola pudesse fugir ao corredor do Campo de Ourique. Mas o azar teimava em acompanha-lo no percurso que muitos apontavam como vitorioso.

Na 11ª etapa, que ligou Guarda a Torre de Moncorvo (106,2km) o líder da prova tem uma queda aparatosa, facto que não só o impede de vencer mais uma etapa (da qual Santos Almeida saíria de novo vencedor) mas sobretudo porque o faz perder a camisola amarela para o seu principal rival, Augusto de Carvalho. 

Antes do primeiro dia de descanso o ciclista do Carcavelos cimentou a sua liderança ao vencer as 12ª e 13ª etapas, respetivamente Torre de Moncorvo-Bragança (128,3km), e Bragança-Vidago (118,2km).

Após a 14ª etapa, que ligou Vidago a Braga (115,1km), ganha pelo camisola amarela, Quirino de Oliveira como que disse definitivamente adeus à vitória na Volta. Na 15ª etapa, entre Braga e Porto, numa distância de 113,7km, o ciclista do Campo de Ourique perdeu imenso tempo, e o braço de ferro pela vitória na prova passou protagonizado por Augusto de Carvalho e... Nunes Abreu. O ciclista do Leixões não só venceu a etapa cujo final ocorreu na cidade do Porto como também passou a envergar a... camisola amarela. Isto porque o azar voltava a bater à porta dos líderes, e depois de Qurino de Oliveira o ter sentido na pele na 11ª etapa foi agora a vez de Augusto de Carvalho provar do seu veneno.

Na ligação entre Braga e o Porto o corredor do Carcavelos teve uma avaria na sua bicicleta, perdendo desde logo imenso tempo, e mais teria perdido não fosse um popular que se encontrava na berma da estrada ver os corredores passarem ceder-lhe a sua pasteleira que o possibilitaria de concluir a etapa! 
O reinado de Nunes Abreu seria muito curto, já que na tirada seguinte (Porto-Coimbra, numa distância de 117,2km) António Augusto de Carvalho recuperou o 1º lugar da classificação geral, não mais o largando até à etapa final, que ligou Caldas da Rainha a Lisboa (100km).

À chegada a Lisboa os corredores foram recebidos como heróis por um mar de gente que inundava a Avenida da Liberdade, onde a meta havia sido instalada. Levado em ombros pela multidão António Augusto de Carvalho (natural de Sintra) seria então coroado como o primeiro rei da Volta a Portugal em Bicicleta. 

Legenda das fotografias:
1-António Augusto de Carvalho, o vencedor da 1ª Volta a Portugal em Bicicleta
2-O corredor nascido em Sintra (aqui levado em ombros pelos populares) terminou a prova com o tempo total de 79h08m00s, mais 9 minutos e 31 segundos que o 2º classificado, Nunes de Abreu
3-Os três primeiros classificados (da esquerda para a direita): Quirino de Oliveira, Augusto de Carvalho, e Nunes de Abreu. 38 ciclistas participaram nesta edição inaugural da Volta, mas apenas 26 terminaram a prova!

museuvirtualdodesportoportugues.blogspot.pt
17
Out16

Volta ao Algarve já é a prova mais importante de ciclismo em Portugal

António Garrochinho



Foto de arquivo: Alberto Contador triunfou no Alto do Malhão na Volta ao Algarve 2016 – foto: Nelson Inácio
A Volta ao Algarve, que subiu da categoria 2.1 para 2.HC, é agora a prova de ciclismo mais importante de Portugal, numa decisão que saiu do congresso da União Ciclista Internacional (UCI), realizado esta sexta-feira, à margem dos Mundiais do Qatar.
Também a Volta ao Alentejo viu a sua pretensão de promoção garantida, ao subir de 2.2 para 2.1. Apenas a Volta a Portugal se manteve como 2.1, ou seja, ao nível da Alentejana e abaixo da Algarvia.
Ao todo, Portugal tem oito provas de estrada no calendário internacional, mais 16 no BTT. Quanto ao ciclismo de pista, é quase certo que Portugal voltará em 2017 a ser palco do Campeonato da Europa sub-23 e juniores.
A Volta ao Algarve, que se disputa em Fevereiro, é considerada como a prova de abertura do calendário velocipédico mundial, atraindo todas as grandes equipas e os grandes nomes, que se hão-de mostrar no Verão, nas Voltas à França, Espanha e Itália.
Este ano, a Algarvia recebeu 12 equipas do WorldTour (Astana, Cannondale, Etixx-QuickStep, FDJ, IAM Cycling, Katusha, Lotto Soudal, Lotto NL-Jumbo, Movistar, Team Sky, Tinkoff e Trek-Segafredo), seis formações Continentais Profissionais (Bora-Argon 18, Caja Rural-Seguros RGA, Gazprom-RusVelo, Novo Nordisk, Roth e Verva ActiveJet) e ainda as formações portuguesas Continentais (Efapel, LA Alumínios-Antarte, Louletano-Hospital de Loulé, Rádio Popular-Boavista, Sporting-Tavira e W52-FC Porto).
Pela época em que se disputa, esta ano a Volta ao Algarve atraiu também 26 ciclistas do Top100 da modalidade, a nível mundial, como o espanhol Alberto Contador, várias vezes vencedor da prova francesa, ou o alemão Tony Martin, que acaba de sagrar-se campeão mundial de contrarrelógio, nos Mundiais de Ciclismo do Qatar.



Foto de arquivo: Tony Martin no contrarrelógio inicial da Volta ao Algarve 2016


Provas internacionais em Portugal 2017
Estrada
15 a 19 de Fevereiro – Volta ao Algarve (2.HC)
22 a 26 de Fevereiro – Volta ao Alentejo (2.1)
5 de Março – Clássica da Arrábida – Cyclin’Portugal (1.2)
12 de Março – Clássica Aldeias do Xisto – Cyclin’Portugal (1.2)
1 a 4 de Junho – Grande Prémio Beiras e Serra da Estrela (2.1)
29 de Junho a 2 de Julho – Volta a Portugal do Futuro Sub-23
6 a 9 de Julho – GP Internacional de Torres Vedras – Troféu Joaquim Agostinho (2.2)
4 a 15 de Agosto – Volta a Portugal (2.1)
BTT
3 a 5 de Março – Algarve Bike Challenge – Tavira XCS (2)
5 de Março – Taça de Portugal – S. Brás Alportel DHI (2)
12 de Março – Taça de Portugal – Marrazes XCO (3)
19 de Março – Taça de Portugal – Pampilhosa da Serra DHI (1)
9 de Abril – Troféu DHI de Boticas DHI (2)
9 de Abril – Taça de Portugal – Viana do Castelo XCO (3)
10 a 15 de Abril – Portugal MTB XCS (2)
7 de Maio – Taça de Portugal – Ribeira de Pena DHI (2)
14 de Maio – Taça de Portugal – Fundão XCO (2)
21 de Maio – UCI World Marathon Series – Mêda XCM (3)
28 de Maio – Taça de Portugal – Porto de Mós DHI (3)
4 de Junho – XCO Internacional de Ribeira de Pena XCO (2)
18 de Junho – Taça de Portugal – Pista do Jamor XCO (3)
17 de Setembro – Taça de Portugal – Oliveira de Azeméis XCO (2)
24 de Setembro – Taça de Portugal – Funchal DHI (2)
1 de Outubro – UCI World Marathon Series – Ponta Delgada XCM (3)

www.sulinformacao.pt
17
Out16

250 mil pensões abaixo dos 275 euros também terão aumento extraordinário

António Garrochinho
250 mil pensões abaixo dos 275 euros também terão aumento extraordinário



Atualização de dez euros prevista para agosto deverá chegar a pensões mínimas que não foram atualizadas nos últimos anos

O Governo diz que há 250 mil pensões abaixo dos 275 euros que poderão beneficiar da atualização extraordinária de 10 euros prevista para agosto na proposta de Orçamento do Estado para 2017 (OE2017).



De acordo com a secretária de Estado da Segurança Social, Cláudia Joaquim, estão neste caso "diversas situações", como pensões de invalidez com carreiras mais baixas ou pensões antecipadas por flexibilização.

"Quando o anterior Governo referia que atualizava todas as pensões até um determinado valor isso de facto não aconteceu (...) há um conjunto ainda muito significativo abaixo desse valor [da mínima das mínimas] que não teve essa atualização", disse a governante hoje em conferência de imprensa.

"Nós estimamos que 250 mil pensões possam estar neste caso", avançou Cláudia Joaquim, explicando que a atualização extraordinária não se processará se o pensionista acumular mais de uma pensão e se o valor total ultrapassar o 1,5 IAS [Indexante de Apoios Sociais].

Segundo o ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Vieira da Silva, as pensões baixas que não tiveram nenhuma atualização "correspondem ao grupo social onde o Governo deveria concentrar os esforços".

"Estamos a falar de valores de 80/90 euros em média", disse.

O governante explicou durante a conferência de imprensa que o Governo decidiu, na proposta de OE para 2017, proceder a uma atualização extraordinária para o ano de 2017 das pensões para pensionistas cujo rendimento seja inferior a 1,5 IAS e que não tenham tido atualização.

Existem cerca de 1,5 milhões de pensionistas que serão abrangidos por esta medida, disse.

"Ao longo dos últimos anos, um conjunto significativo, aliás a maioria dos pensionistas, viu degradado o seu poder aquisitivo e a sua qualidade de vida e portanto o Governo tendo constatado essa realidade, e havendo possibilidade de dar uma resposta ainda que parcial no Orçamento de Estado de 2017 resolveu leva-la a cabo", justificou.

Na proposta de OE para 2017, em matéria de pensões o Governo alarga também o primeiro escalão de 1,5 IAS para 2 IAS.

O impacto financeiro total decorrente das atualizações previstas para 2017 será de 200 milhões de euros.

De acordo com Vieira da Silva, a atualização das pensões "voltará à normalidade" em 2018.

www.dn.pt


17
Out16

Explosão em fábrica alemã BASF faz um morto e seis feridos

António Garrochinho
























Uma explosão na fábrica de químicos da BASF na 

Alemanha, esta segunda-feira 17 de outubro, causou 

um morto e seis feridos.



VÍDEO








A explosão ocorreu cerca das 11:30 locais (menos uma hora em Lisboa), na unidade de Ludwigshafen, junto ao Reno, no oeste da Alemanha, segundo as autoridades e a empresa.
"A explosão, seguida de incêndios, foi registada durante obras num sistema de tubulação", indicou o grupo alemão num comunicado. A fábrica foi encerrada e as causas da explosão estão já a ser investigadas, anunciou a BASF.
Este acidente causou um morto e seis feridos, segundo avança a agência AP.
As autoridades da cidade de Ludwigshafen indicaram que "os serviços de emergência de toda a região estiveram no local para evitar que o fogo atinja outras partes da fábrica”.
Segundo a imprensa local, as autoridades dizem que não existem evidências de que este seja um ataque terrorista.
A EXPLOSÃO CAUSOU UM MORTO E SEIS FERIDOS.

A principal preocupação das autoridades foi resgatar as pessoas na fábrica e impedir que o incêndio se propagasse ao restante complexo industrial, cuja área ronda os 13 hectares.
Foi possível avistar uma longa coluna de fumo negro sobre a fábrica e os moradores da zona foram aconselhados a ficar em casa de portas e janelas fechadas.
Este incidente obrigou à paragem da produção por motivos de segurança.
Os bombeiros utilizaram um barco nas operações de socorro, segundo a município. Na sua conta do Twitter, a cidade anunciou que alguns habitantes estão a queixar-se de irritação das vias respiratórias.
A BASF é uma empresa que opera no setor dos produtos químicos. É líder mundial do mercado e está presente em Portugal.
Este não é o primeiro acidente grave numa fábrica da BASF. Em 1921 uma explosão provocou 585 mortos, nos anos 40 um novo acidente provocou 200 mortos e 3800 pessoas ficaram feridas.
Vários vídeos partilhados na rede social Twitter mostram a fábrica a ser consumida pelas chamas que se seguiram à explosão.

A empresa está a dar informações sobre procedimentos de segurança e passos a seguir, bem como do estado do incêndio, na sua página no Facebook.

24.sapo.pt
17
Out16

O ALGARVE NO PARLAMENTO: Com a luta, travar as demolições na Ria Formosa !

António Garrochinho







Em finais de setembro, o Governo PS retomou o processo de demolição de habitações nas ilhas-barreira da Ria Formosa.
Há uns meses, escrevi nas páginas deste jornal que a nova composição da Assembleia da República, saída das eleições legislativas de outubro de 2015, abria a possibilidade de pôr termo, definitivamente, às demolições, canalizando as verbas destinadas a esse fim pelo anterior Governo PSD/CDS para requalificar os núcleos urbanos e os espaços balneares das ilhas-barreira, para proteger e salvaguardar os recursos e valores naturais e para apoiar as atividades económicas desenvolvidas na Ria Formosa.
Não parece ser esta a opção do Governo PS que, contrariando as expetativas criadas, decidiu não romper com um processo iniciado pelo anterior Governo PSD/CDS que visava a expulsão das comunidades locais das ilhas-barreira da Ria Formosa e a entrega deste valioso património natural aos grandes interesses privados para que estes o explorem em seu benefício.
Esta é uma decisão tanto mais inaceitável quando se sabe que o PS, antes das eleições legislativas, votou favoravelmente uma iniciativa legislativa do PCP que recomendava ao Governo o reconhecimento do valor social, económico e cultural dos núcleos urbanos da ilhas-barreira da Ria Formosa e o fim das demolições.
No passado dia 27 de setembro, ao mesmo tempo que na Assembleia da República o Ministro do Ambiente em resposta a uma pergunta do PCP afirmava que nada estava decidido sobre as demolições, no Algarve aSociedade Polis Ria Formosa decidia avançar para a tomada de posse administrativa das habitações das ilhas-barreira da Ria Formosa para, seguidamente, proceder à sua demolição coerciva.
Perante isto, coloca-se a questão: o Presidente da Sociedade Polis Ria Formosa agiu à revelia da tutela, violando as suas orientações, ou o Ministro do Ambiente faltou à verdade na Assembleia da República? É isto que o Ministro deve clarificar na sua ida à Assembleia da República, requerida pelo PCP com caráter de máxima urgência. Como também deve clarificar por que motivo o Governo quer avançar com as demolições, violando os compromissos assumidos pelo PS com as populações antes das eleições.
Quanto ao PCP, como sempre, honramos os nossos compromissos. Mantemos hoje aquilo que dissemos antes das eleições. Aquilo que defendemos no Algarve é aquilo que fazemos em Lisboa, na Assembleia da República. Estamos, inequivocamente e sem subterfúgios, ao lado das populações na lutacontra as demolições, pela requalificação dos núcleos urbanos das ilhas-barreira, pela defesa e preservação dos valores naturais e pela valorização das atividades produtivas na Ria Formosa.
No passado dia 8 de outubro, organizámos uma Tribuna Pública contra as demolições, em Olhão, uma iniciativa que contou com a participação das associações da Ilha da Culatra e da Praia de Faro e ampla adesão popular. Nos próximos dias apresentaremos na Assembleia da República um Projeto de Resolução pelo reconhecimento do valor social, económico e cultural dos núcleos urbanos da ilhas-barreira da Ria Formosa e pelo fim das demolições.
É com a luta que se irá travar, mais uma vez, as demolições! Nessa luta, as populações sabem que podem contar com o PCP.
Paulo Sá
(Deputado do PCP na Assembleia da República)
www.jornaldoalgarve.pt
17
Out16

ALEPO - ATÉ QUE ENFIM SABEMOS QUEM SÃO OS "REBELDES" (São do Daesh e da Al-Qaida, parece que o Ocidente está do lado dos terroristas mais sanguinários.

António Garrochinho
ATÉ QUE ENFIM SABEMOS QUEM SÃO OS "REBELDES"
(São do Daesh e da Al-Qaida, parece que o Ocidente está do lado dos terroristas mais sanguinários. Bonito, não é?)
"Acontece, como está provado através de fontes que a comunicação social dominante silencia, que a esmagadora maioria desses «rebeldes» armados e «moderados» não têm qualquer relação com a Síria e são terroristas mercenários oriundos principalmente da Arábia Saudita, Koweit, Tunísia, Líbia, de regiões russas como a Chechénia ou uigures chineses. 

Foram eles, empunhando bandeiras como as da al-Qaida, do Isis e mil e uma outras de bandos afins, que levantaram Alepo contra Damasco, transformando a cidade num símbolo de toda a guerra de agressão externa contra a Síria, e tornando-a uma chave dessa mesma guerra."

Submarino amarelo (facebook)


Utilizo os tempos verbais do passado porque Alepo pouco mais é hoje do que um aglomerado de ruínas, um imenso cemitério, tal como Beirute Ocidental foi no início da década de oitenta do século passado, como Gaza é nos dias que correm.



Ao combater os terroristas no leste de Alepo, o exército sírio e a aviação russa limitam-se a aplicar as recomendações da citada resolução da ONU
Muitos opinadores que até há meia dúzia de anos mal sabiam apontar a Síria num mapa e, com alguma sorte, conheciam o nome da capital, tornaram-se, subitamente, conhecedores e especialistas sobre a realidade em Alepo, coisa de que jamais tinham ouvido falar.
Não têm qualquer dúvida – e ai daqueles que as têm – de que, por causa de Alepo, o governo da Síria e a Rússia têm de pagar por crimes contra a humanidade e deverão ser proscritos para todo o sempre dos polidos e democráticos corredores da ONU, onde o maior vetador da história da organização e respectivos súbditos entendem que o pior dos crimes é vetar por causa de Alepo, enquanto eles próprios fazem exactamente a mesma coisa.
A cidade de Alepo era, até há meia dúzia de anos, uma vibrante cidade de negócios, importante entreposto entre o Mediterrâneo e o Eufrates no final da histórica rota da seda asiática. Sendo uma das mais antigas cidades do mundo, Alepo era também olhada como uma capital cultural do islamismo.
Utilizo os tempos verbais do passado porque Alepo pouco mais é hoje do que um aglomerado de ruínas, um imenso cemitério, tal como Beirute Ocidental foi no início da década de oitenta do século passado, como Gaza é nos dias que correm, do mesmo modo que numerosas aldeias, vilas e cidades da Palestina, do Afeganistão, Iémen, Iraque ou Líbia – todas elas vítimas das acções benfazejas de «libertadores» chegados de fora.
Foi assim também em Alepo, na origem da grande tragédia da cidade. Um dia, replicando essa reconhecida fraude que foi a «primavera árabe», chegaram os «rebeldes» a Alepo. Diziam-se a «oposição» síria, levaram a tiracolo algumas organizações não-governamentais que alguns governos «amigos da Síria» financiam, inspirados directamente pela senhora Clinton, e fizeram de Alepo o seu bastião militar para derrubar o governo de Damasco.
«Utilizo os tempos verbais do passado porque Alepo pouco mais é hoje do que um aglomerado de ruínas, um imenso cemitério, tal como Beirute Ocidental foi no início da década de oitenta do século passado, como Gaza é nos dias que correm»
Acontece, como está provado através de fontes que a comunicação social dominante silencia, que a esmagadora maioria desses «rebeldes» armados e «moderados» não têm qualquer relação com a Síria e são terroristas mercenários oriundos principalmente da Arábia Saudita, Koweit, Tunísia, Líbia, de regiões russas como a Chechénia ou uigures chineses. Foram eles, empunhando bandeiras como as da al-Qaida, do Isis e mil e uma outras de bandos afins, que levantaram Alepo contra Damasco, transformando a cidade num símbolo de toda a guerra de agressão externa contra a Síria, e tornando-a uma chave dessa mesma guerra.
A perda de Alepo pelos «rebeldes» significará um ponto de viragem no conflito não propriamente favorável aos invasores e aos que neles apostam as mais valiosas fichas diplomáticas. São esses «rebeldes» e respectivos apoiantes os principais responsáveis pela tragédia humanitária que atinge a cidade. Eles criaram o conflito e provocaram a batalha de Alepo, com todo o repugnante desfile de chacinas, vinganças e banditismo numa cidade onde cinco milhões de civis viviam em paz até chegarem os «libertadores».
Alepo é hoje uma cidade desigualmente dividida. A oeste, sob controlo de Damasco, vivem um milhão e meio de pessoas ansiando pela unificação e pelo fim do martírio, para poderem recomeçar praticamente do zero; a leste, e ao contrário do que afiança a propaganda terrorista, restam ao todo cerca de 35 mil pessoas, isto é, alguns milhares de civis sobreviventes, tornados reféns do desespero de terroristas em pânico.
O enviado do secretário-geral da ONU para a região tentou que a França incluísse na sua recente proposta de resolução do Conselho de Segurança a hipótese de os civis do leste da cidade poderem ser evacuados, numa operação que implicasse um cessar-fogo. Paris rejeitou – ao que parece depois de consultar Israel –, provando-se a sua vontade de provocar um veto russo.
«Reclamar que a Rússia e o governo sírio sejam acusados de crimes contra a Humanidade é um artifício que revela, em relação às vítimas de Alepo, uma emoção condoída e chorada com lágrimas de crocodilo»
Quem «governa» o «rebelde» sector leste de Alepo? Em termos gerais é a al-Qaida, aliás al-Nusra, aliás Fateh al-Cham, tantos são os heterónimos da herança de Bin Laden. O chefe nominal é o xeique Abdullah al-Muhaysini, cujo credo recomenda o extermínio de todos os xiitas duodecimais, conceito que integra os xiitas iranianos e libaneses, mas também os drusos e os alauitas, que dizem ser o grupo dominante por detrás do governo da Síria. Al-Muhsaysini é o supremo juiz do Tribunal da Charia do Exército Conquistador (Jaish al-Fatah), uma espécie de coligação transversal do terrorismo salafita que integra elementos da al-Qaida. No recente cessar-fogo fracassado, o citado xeique condenou à morte todos os cidadãos do leste que tentassem refugiar-se no sector oeste. Atiradores de elite estrategicamente colocados cumpriram pelo menos 40 execuções.
Entretanto, também por ocasião do recente e fracassado cessar-fogo, os Estados Unidos foram convidados pela Rússia a salvaguardar os «rebeldes moderados», associando-os operacionalmente ao combate contra os terroristas salafitas. Passou-se o cessar-fogo e nenhum «moderado» foi encontrado – simplesmente porque eles não existem sem estar enquadrados na al-Qaida ou no Isis.
Recorda-se que a resolução 2249 do Conselho de Segurança da ONU, de Novembro de 2015, «pede aos Estados-membros que redobrem esforços e coordenem acções para prevenir e por fim aos actos de terrorismo cometidos em particular pelo Isis, igualmente conhecido por Daesh, e também pela Frente al-Nusra e todos os outros indivíduos, grupos, empresas e entidades associadas à al-Qaida».
Ao combater os terroristas no leste de Alepo, o exército sírio e a aviação russa limitam-se a aplicar as recomendações da citada resolução da ONU.
Ao recusarem introduzir no texto de um projecto de resolução uma reafirmação do objectivo central da resolução 2249, o combate ao terrorismo, neste caso em Alepo, a França, os Estados Unidos e o Reino Unido não obrigavam apenas a Rússia a vetar; estavam a revogar uma resolução antiterrorista que aprovaram há menos de um ano.
Na verdade, e para que conste quando se fala em combate ao terrorismo, os Estados Unidos, a França e o Reino Unido usaram os mecanismos da ONU para tentar poupar a al-Qaida e o terrorismo salafita a uma derrota em Alepo.
Reclamar que a Rússia e o governo sírio sejam acusados de crimes contra a Humanidade é um artifício que revela, em relação às vítimas de Alepo, uma emoção condoída e chorada com lágrimas de crocodilo. O principal objectivo das três potências ocidentais presentes em permanência no Conselho de Segurança, ou seja, da NATO, não é combater o terrorismo, mas sim acabar na Síria um trabalho de desmantelamento idêntico ao que já praticaram no Iraque e na Líbia, ao que está também em curso no Iémen, ao que desenvolvem ainda no Afeganistão, onde a única libertação alcançada até agora foi a dos grandes traficantes mundiais de heroína.

www.abrilabril.pt

17
Out16

DOS PROFESSORES, DO SEU TRABALHO, DA INDISCIPLINA E DE OUTRAS COISAS

António Garrochinho

No âmbito do Projecto aQueduto, uma parceria entre o Conselho Nacional de Educação e a Fundação Francisco Manuel dos Santos, é hoje divulgado mais um trabalho. O trabalho é dedicado aos professores e assenta em dados comparativos retirados de trabalho de 2012 doTALIS – Teacher and Learning International Survey, um estudo com países da OCDE. Como é habitual e no que respeita aos alunos a base de trabalho é o PISA.
Dos dados conhecidos e deixando de lado alguns aspectos que sendo importantes são mais de natureza profissional, caso do estatuto salarial surgem indicadores que me parecem interessantes.
Os professores mais velhos referem mais episódios de indisciplina nas suas aulas. De uma forma geral os professores portugueses são os que referem maior carga de trabalho global, incluindo a preparação das aulas e o excesso de trabalho burocrático. 
No inquérito TALIS 48% dos docentes portugueses referiram sentir-se pouco respeitados pela sociedade e 26% nunca se sentem reconhecidos pelo que fazem. Uma referência ainda aos métodos de trabalho que, de acordo ainda com o TALIS, são de natureza muito expositiva.
A relação entre as variáveis aqui referidas, idade dos docentes, volume e natureza do trabalho, reconhecimento, indisciplina nas aulas, métodos de trabalho, etc. deve ser vista com muita prudência e evitar o estabelecimento apressado de relações de causa efeito. 
No entanto, até com base noutros estudos, podemos encontrar associações que merecem reflexão e, mais do que isso, preocupação e decisões em matéria de política educativa~, mas não só educativa.
Vejamos alguns aspectos. Segundo o Relatório “Perfil do Docente”, divulgado em Julho pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, em 14/15 apenas 1.4% dos docentes que leccionam em escolas públicas têm menos de 30 anos, não chegam a 500.
Acresce que o grupo etário com mais de 50 anos é o mais representado, 39.5%. Se a este grupo adicionarmos o escalão imediatamente anterior, 40 aos 49, temos que 77,3% dos docentes estão nos dois grupos mais velhos. Este brutal enviesamento distribuição etária dos docentes deveria provocar um alerta vermelho. 
Como se sabe, em qualquer sistema educativo a profissão docente é altamente permeável a situações de burnout, estado de esgotamento físico e mental provocado pela vida profissional, associado a baixos níveis de satisfação profissional.
Recordo um estudo recente realizado pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA-IU) segundo o qual cerca de 30% dos perto de 1000 professores inquiridos revela risco de burnout.
Os professores mais velhos, do ensino secundário ou os que lidam com alunos com necessidades educativas especiais apresentam níveis mais elevados de burnout e sentem mais a falta de reconhecimento profissional.
Como causas mais contributivas para este cenário de stresse profissional são identificadas turmas com elevado número de alunos, o comportamento indisciplinado e desmotivação dos alunos, a pressão para os resultados, insatisfação com as condições de desempenho, carga horária e burocrática, falta de trabalho em equipa, falta de apoio e suporte das lideranças da escola.
Por aqui, podemos estabelecer alguma relação com os dados agora divulgados e inferir preocupações sérias com o seu impacto.
No que respeita aos alunos e do seu comportamento julgo de recordar a existência de currículos extensos, normativos, associados a um conjunto insustentável e burocratizado de metas curriculares que tornam muito difícil aos docentes acomodar a diversidade dos alunos e, como estes dizem, reflectem-se na motivação. Como sabemos a baixa motivação é um factor fortemente contributivo para comportamentos desajustados em sala de aula.
Parece-me também de considerar o impacto da alteração do quadro de valores, por exemplo a percepção social dos designados traços de autoridade. Não afecta só os professores mas dada a enorme presença dos docentes na vida de crianças e adolescentes o efeito é óbvio.
Daqui decorre, por exemplo, que restaurar a autoridade dos professores, tal como era percebida há décadas, é uma impossibilidade porque os tempos mudaram e não voltam para trás. Pela mesma razão, não se fala em restaurar a relação pais – filhos nos termos em que se processava antigamente e falar da "responsabilização" dos pais é interessante, mas é outro nada.
Um professor ganha tanta mais autoridade quanto mais competente, apoiado e valorizado se sentir. O apoio aos professores é um problema central no que respeita à indisciplina mas não só.
Neste âmbito, apoio e valorização dos professores está muito por fazer e ganha particular relevância o facto de sistematicamente os docentes não se sentirem valorizados e reconhecidos.
É também importante reajustar a formação de professores. As escolas de formação de professores não podem “ensinar” só o que sabem ensinar, mas o que é necessário ser aprendido pelos novos professores e pelos professores em serviço. Problemas "novos" carecem também de abordagens "novas". Talvez por aqui se perceba a presença mais evidente de métodos de natureza mais expositiva, muitas vezes menos eficazes na gestão dos comportamentos e motivação dos alunos.
No âmbito da intervenção no comportamento dos alunos parece também importante a existência de estruturas de mediação entre a escola e a família o que implica a existência de recursos humanos qualificados e disponíveis. 
Por outro lado, os estudos e as boas práticas mostram que a presença simultânea de dois professores é um excelente contributo para o sucesso na aprendizagem e para a minimização de problemas de comportamento bem como se conhece o efeito do apoio precoce às dificuldades dos alunos.
As dificuldades dos alunos estão com muita frequência na base do absentismo e da indisciplina, os alunos com sucesso, em princípio, não faltam e não apresentam grandes problemas de indisciplina.
Os professores também sabem que na maior parte das vezes, os alunos indisciplinados não mudam os seus comportamentos por mais suspensões que sofram. É evidente que importa admitir sanções, no entanto, fazer assentar o combate à indisciplina quase que exclusivamente nos castigos ou sanções é ineficaz.
De facto, temos pela frente um caderno de encargos pesado. Quanto mais tarde o entendermos e assumirmos, mais pesado e mais caro ele se torna.

atentainquietude.blogspot.pt
17
Out16

«OE2017 pode ser melhorado»

António Garrochinho


A CGTP-IN valoriza a política de reposição de rendimentos prevista na proposta de Orçamento do Estado para 2017 mas defende que o documento pode e deve ser melhorado.armenio carlos
O secretário – geral da CGTP-IN, considerou como positivas medidas de reposição dos rendimentos como a actualização das pensões, a eliminação da sobretaxa de IRS, apesar de ser faseada, a gratuitidade dos livros escolares no primeiro ciclo e o respeito pela contratação colectiva no Sector Empresarial do Estado (SEE), que permitirá a recuperação do valor do trabalho extraordinário e do trabalho noturno.
No entanto, Arménio Carlos referiu que o Orçamento do Estado para 2017 (OE2017) «prossegue a política de reposição de rendimentos, que nós valorizamos, mas precisa de ser valorizado em sede de especialidade, e nós iremos apresentar propostas nesse sentido». Alertou ainda para a situação dos trabalhadores da administração pública que, depois de cortes nos salários, vão manter as limitações no valor do trabalho extraordinário e reconheceu como «insuficiente» o aumento do subsídio de refeição em 0,25 euros.
O líder da CGTP-IN criticou ainda que a proposta de OE17 «continue a não tocar nos intocáveis», referindo-se aos juros da dívida e às Parcerias Público –Privadas (PPP).
17
Out16

Camboja: encontro com a cidade perdida

António Garrochinho

A cidade de Angkor esteve perdida na selva durante demasiado tempo: primeiro, ignorada pelo ocidente até à chegada dos franceses à Indochina; depois, demasiado perigosa para visitar,devido às minas espalhadas durante a guerra. Agora é um dos locais mais visitados do sudeste asiático 

A primeira plataforma – o Terraço do Rei Leproso – com as lajes negras comidas pela humidade, tem paredes decoradas com dançarinas voluptuosas e figuras de reis e princesas, habilmente esculpidas na pedra mole. No ponto mais alto, uma estátua muito lisa representa um ser humano nu, sem sexo nem cabeça: pode ser Xiva, o deus hindu da Criação e da Destruição, ou Yasovarman, o fundador de Angkor que teria morrido de lepra. Na continuação lógica de muros cobertos de líquenes, com árvores a despontarem por detrás como se saíssem das entranhas da pedra, há outra plataforma que deve o seu nome aos elefantes estampados em relevo, num friso de muitos metros. Do cimo deste desmesurado terraço pregavam os reis-deuses aos súbditos reunidos em assembleias que, no auge do Império Khmer, acabavam sempre em grande pompa, com desfiles muito coloridos de infantaria e cavalaria. É impossível imaginar tanto aparato naquele cenário enterrado em plena selva, com os poucos figurantes do presente diluídos nas sombras, ou passando num silêncio de fantasmas, flutuando nas ondas do calor.
A cerca de duzentos metros dos terraços, nas traseiras, ergue-se o Baphuon, o terceiro e último monumento importante deste grupo. É uma pirâmide imponente, com o topo destruído e que representa o Monte Meru, centro simbólico do universo, “a casa dos deuses”, segundo os conceitos religiosos hindus. O Baphuon é um dos vários “templos de montanha” espalhados pela vastíssima área de Angkor, destinados a centralizar o culto ao rei-deus (devaraja) e através dos quais a sagrada personalidade do soberano era adorada, em altar próprio, como sendo a única e verdadeira essência do reino.
A decoração do pórtico e as figuras em alto-relevo que animam a longa cintura de pedra, valem a caminhada no descampado martirizado pelo sol, que acentua a humidade de piscinas que foram o deleite da corte e dos peregrinos, agora transformadas em pântanos onde pastam vacas cravadas no lodo. No regresso ao tapete acanhado do asfalto e à abençoada sombra onde deixara a motorizada de aluguer, fui intercetada por três miúdos que interromperam as suas brincadeiras para me mostrarem um estreito corredor, cuja entrada passa completamente despercebida. A passagem segue paralela aos muros principais e é um não mais acabar de esculturas duma perfeição a toda a prova; às dançarinas sensuais, figuras mitológicas e cobras de cinco, sete, nove ou onze cabeças, é difícil dar uma idade tão avançada – quase 800 anos – pois parecem ter sido esculpidas no dia anterior. Mas para aqueles miúdos, que me incitam com sorridentes “par ici, par ici”, o ex-líbris é um guerreiro ou um rei a quem chamam Buda e que tem uma bala cravada no coração. “Khmer Rouge…” , dizem, excitados, apontando o projéctil preso com cimento para que não escape à história.
Entre os séculos I e VI, grande parte do território cambojano pertencia ao reino de Funan, estrategicamente situado na rota comercial que ligava a Índia à China. Teve uma influência vital em todo o Sudeste asiático, devido a uma cultura que reunia hinduístas e budistas. Crê-se que invasores javaneses passaram a controlar grande parte do país, a partir do século VIII e é precisamente um descendente destas dinastias – Jayavarman II (802-850) – que inicia o chamado período de Angkor, que se prolongaria até ao século XIV. É o primeiro soberano khmer a receber o título de devaraja (rei-deus). Instala-se em quatro capitais diferentes, nas imediações do lago Tonlé Sap, mas só com a construção de um vasto e sofisticado sistema de irrigação, levado a cabo por Indravarman I (877-889), seu sobrinho e sucessor, é possível a cultura intensiva das terras circundantes e a consequente subsistência duma população numerosa, que vivia numa área relativamente pequena. As conquistas começariam com Yasovarman (889-910), que muda a capital para Angkor, o futuro centro de uma extensa possessão que se estenderia aos actuais VietnameLaos e Tailândia. Mas as sucessivas guerras com birmaneses, vietnamitas e Cham, povo que dominava o centro-sul do Vietname, enfraqueceram o poder khmer e Angkor é conquistada e saqueada em 1177, deixando o império num caos.
Só aquele que é considerado um dos mais importantes reis khmer – Jayavarman VII (1181-1201) – consegue repôr a ordem e iniciar a construção de inúmeros monumentos. A ele se deve a edificação de Angkor Thom, uma cidade fortificada que chega a ter um milhão de habitantes (mais do que qualquer cidade europeia da época), protegida por uma muralha quadrada com doze quilómetros de extensão, oito metros de altura e rodeada por um fosso, largo de cem metros, onde abundavam crocodilos. O acesso era feito por entradas monumentais; as cinco portas de pedra, com vinte metros de altura, ainda ostentam o rigor e a qualidade dos artistas da época: os elefantes e as inúmeras caras de Avalokitesvara parecem ter sido petrificadas, e não esculpidas… Em frente a cada uma das portas, à esquerda e à direita, existiam cinquenta e quatro estátuas de deuses e outras tantas de demónios, segundo a inspiração nas histórias contidas na Agitação do Oceano de Leite. O relato do comerciante chinês Chou Ta-Kuan, que visitou a cidade em 1296, não deixa margem de dúvidas: “magnífica e excitante metrópole”.




Mas como há sempre um declínio nos grandes impérios, Angkor foi desfalecendo, ao mesmo tempo que abandonava a adesão ao hinduísmo para enveredar pelo budismo hinayana; até o uso do sânscrito foi trocado por uma língua sagrada. As sucessivas incursões tailandesas, que sabotavam o imprescindível sistema de irrigação, foram o golpe de misericórdia: Angkor é ocupada em meados do século XV, obrigando a corte a edificar uma nova capital nos arredores de Phnom Penh. Seguem-se quase quatro séculos de instabilidade, de confusões dinásticas e de guerras que envolviam tailandeses, vietnamitas, espanhóis e até portugueses!

A história mais recente

Em 1884, o Camboja torna-se uma colónia francesa à força e eis que Angkor, “a cidade perdida”, renasce no interesse dos europeus, sobretudo após a publicação do livro Le Tour du Monde, um relato das viagens do naturalista francês Henri Mouhot. Imediatamente se idealizaram programas de pesquisas, com o envolvimento de arqueólogos e filólogos sob a direcção da École Française d’Extrême Orient. No entanto, só em 1908 se deu início aos primeiros trabalhos no terreno: remover toda a vegetação nociva aos monumentos, reconstruir estruturas danificadas pela selva e pelo tempo e restaurar tudo o que fosse possível, tentando fazer reviver a grandeza original. Este enorme esforço foi interrompido no início dos anos 70 devido à guerra que, desta vez, envolvia vietnamitas do norte e do sul, americanos e uma nova facção, os Khmer Vermelhos.
A invasão do Camboja pelo Vietname, em janeiro de 1979, teve, pelo menos, a virtude de acabar oficialmente com o regime.Previa-se o pior para a “cidade perdida”, mas os estragos não foram tantos como o previsto. E só no início de 1992, com a chegada dos primeiros vinte e dois mil funcionários das Nações Unidas, cuja tarefa principal era manter a paz e administrar as eleições livres, foi possível reabrir a área à visita de turistas estrangeiros.
Mesmo que a bala espetada no Buda do Terraço dos Elefantes seja o resultado da imaginação de quem andou por ali em restauros, e não a obra de um atirador exímio, é natural que cause espanto e reflexão a muitos dos visitantes, que só aguardavam tempos de paz verdadeira para se deliciarem com uma obra que já atingiu o estado de lenda. Do cimo do Phnom Bakhung, a Montanha de Idra, uma intrusa na monotonia plana da paisagem, há uma vista panorâmica sobre os limites de Angkor Thom, se a visibilidade não se turvar com inesperadas mudanças climatéricas; as chuvadas costumam ser violentas e prolongadas, verdadeiras cortinas líquidas. Até Angkor Wat, ali a dois passos, pode desaparecer engolido pela tempestade e só renascer com os últimos raios de sol que se escapem do manto rasgado das nuvens do poente. Brilhando no palco talhado na selva, suspenso nos efeitos especiais dos fumos da condensação, ultrapassa a categoria muito generalizada de ser “o mais inspirado e espetacular monumento jamais concebido pelo pensamento humano”, para entrar nos limites do imaginário, como uma nave de pedra vinda de outra galáxia, aqui ancorada para nosso eterno deleite.
Esta jóia da arquitectura foi construída durante o reinado de Suryavarman II (1112-1152), que o dedicou a Vixnu, deus com quem se identificava, para mais tarde aí ser sepultado. O abandono forçado de Angkor Thom, devido à invasão tailandesa, não significou a perda de Angkor Wat, imediatamente habitado por monges budistas que evitaram a pilhagem e os danos causados pela vegetação, tornando-o num dos mais importantes lugares de peregrinação do sudeste asiático. Presentemente, apenas algumas dezenas de monges vivem nos dois pagodes que existem dentro do complexo.
A primeira sensação é a de grandiosidade. Angkor Wat foi concebido para representar um microcosmos do mundo mítico, e o seu acesso faz-se por um longo passeio de pedras negras que atravessa o fosso retangular que cerca o monumento.  Após a primeira entrada, guardada por um Vixnu com oito braços, surge uma avenida com quase quinhentos metros de comprimento e dez de largura, ornamentada com parapeitos laterais representando nagas (cobras). Ao fundo, as silhuetas das três torres principais recortam-se no papel de lustro do céu e o fascínio aumenta a cada passo, até se tornar uma experiência impressionante. Há um labirinto de galerias em cada um dos três andares e escadarias íngremes que atingem o topo, o lugar ideal para o desfrute da grandiosidade do monumento e da sua relação com a selva. A visão rende-se à atração fatal do rendilhado da pedra, à volúpia das dançarinas de peitos redondos e à interminável parede com uma série extraordinária de baixos-relevos, que representam cenas épicas.
Orgulhosamente inalterado, tal e qual como quando foi descoberto pelos primeiros exploradores franceses, satisfazendo as insistências dos românticos da época que o desejavam original e misterioso, o Ta Prohn é um dos maiores edifícios do período de Angkor. No reinado de Jayavarman VII chegou a albergar mais de doze mil pessoas, das quais quase três mil e quinhentas eram monges e coristas que celebravam e participavam em todos os rituais religiosos. Presentemente é um local que exala vibrações enigmáticas e contraditórias: ultrapassa tanto o seu estado de solidão e de abandono ao poder da selva, que acaba por se tornar um monumento mais vivo do que qualquer outro. Num cenário digno das aventuras fantásticas de Indiana Jones, percorre-se corredores, galerias e passagens, muitas vezes obstruídas por desabamentos, árvores derrubadas e teias de raízes. Os templos ganham beleza e dimensão no enquadramento caprichoso da floresta, e nem o fino tapete de musgo e líquenes consegue ofuscar os magníficos pormenores de esculturas e frisos. Uma grande parte das paredes e dos tetos não resistiram à força implacável do crescimento de árvores gigantescas e com muitas centenas de anos, que rompem a pedra com a aflição de quem sufoca, verdadeiras torres erigidas à fecundidade vegetal, que derramam raízes tentaculares numa coreografia imprevisível. No acaso da exploração, é possível encontrar recantos incríveis com divindades a nascerem da negrura da pedra, intactas, apesar das derrocadas de enormes blocos que abriram brechas por onde se infiltram raios de luz. Se não fosse a sinfonia constante de pássaros, cigarras e grilos, o silêncio seria abissal, quase medonho, neste lugar de extremo exotismo, onde há a nítida sensação de podermos ficar presos para sempre nas poderosas garras da selva.
Ainda dentro do perímetro de Angkor Thom, precisamente no seu centro, ergue-se aquele que é, para a maior parte dos visitantes, o mais fabuloso e inquietante monumento de Angkor: o Bayon. A primeira impressão, quando visto de longe, é completamente oposta: parece uma ruína sem interesse, com torres talhadas na amálgama quase disforme e sem atractivos da pedra esverdeada. No entanto, quando se chega perto da entrada principal, os nossos olhos começam a distinguir algumas das 172 caras de Avalokitesvara, o rei-deus que se identificou com Buda, esculpidas nas quatro faces das torres. O efeito é surpreendente; se desviarmos o olhar por uns minutos elas voltam a desaparecer, como que absorvidas pela pedra, mas reaparecem num pestanejar, imponentes e com aqueles sorrisos enigmáticos, só usados por deuses e santos.
No terceiro andar consegue-se o contacto directo com a grandiosidade duma arquitetura sublime, imaginada por Jayavarman VII para venerar Xiva; só mais tarde, com a construção desta última plataforma, é que o Bayon se transformou em templo budista. Quando se percorrem as alas que contornam as torres, há diversos ângulos em que é possível juntar mais de meia dúzia de caras no nosso campo visual – inteiras ou de perfil – numa espécie de jogo fantasmagórico que muda constantemente.



Os traços do rei khmer são tipicamente cambojanos, até no sorriso, eternamente desenhado na pedra. O povo acolhedor e caloroso, de sorriso fácil, que aqui costumava vir nas noites de lua cheia venerar deuses e antepassados, é o melhor cartão de visita do país, que agora parece ter encontrado o rumo para a paz.  E Angkor não deverá ser, nunca mais, uma cidade perdida.




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17
Out16

FREI BETTO: TODO CRISTÃO VERDADEIRO É COMUNISTA

António Garrochinho
17
Out16

Convulsões

António Garrochinho



Vocês se lembram que 2011 foi pródigo em invasões das 'potências democráticas' nas vidas de outros povos, principalmente nas dos islâmicos? Invasões que ainda são a tónica dos supremacistas e geram as piores sequelas possíveis para as vítimas, criando um estado de horrores e privações. As atuais "imigrações" de africanos à Europa são parte cruenta dessas invasões financiadas por essas "democracias".

No Egito e na Líbia, tais invasões foram as mais destacadas. No primeiro, Hosni Mubarak estava há mais de 30 anos sugando e desviando os recursos da nação, tornando-se um bilionário, sob as bênçãos das grandes potências. No segundo, Muammar Khadafi estava'intocável'. Hoje, está a Síria sendo vilipendiada e o Irão e a Coréia do Norte têm um alvo de neon nas suas costas.

O que aconteceu em 2011 para tanta invasão?

'Oficialmente', a mesma desculpa para a invasão ao Iraque, com a subsequente deposição, 'julgamento' e execução de Saddam Hussein: IDEAIS DEMOCRÁTICOS!

"O mundo não pode mais tolerar esses ditadores que ameaçam a paz mundial com suas armas de destruição em massa e sua sede de conquista! Além das injustiças sociais e atrocidades que cometem diuturnamente contra seu povo!"

Khadafi
Numa análise rápida, é público e notório que no Iraque nunca existiram armas de destruição em massa e que Saddam não tinha nenhum plano pra dominar o Oriente Médio; o egípcio Mubarak era o maior aliado africano dos EUA e de Israel em qualquer questão que fosse aventada pelos dois aliados; e Khadafi era sempre bem recebido, com cordiais (e hipócritas?) abraços e sorrisos, por todos os líderes das grandes potências.

Quanto à dominação pela força e ameaça nuclear, é preciso dizer que as maiores potências bélicas e/ou nucleares do mundo são EUA, Rússia, França, Israel (que nega, é claro), Reino Unido, China, Índia e Paquistão? Confiram os outros:

Quadro bem ilustrativo
Mas tudo o que nos é veiculado pelos grandes parasitas são acusações mentirosas de que Irã e Coréia do Norte são "um perigo para a paz mundial com seus programas nucleares", desviando a atenção de tantos problemas reais e prementes, como a miséria galopante, as drogas e, principalmente, os planos sórdidos de dominação. Esse é o típico papo furado de supremacista criando cortina de fumaça para salvar a sua pele. Essa "ameaça terrorista" para a dominação mundial não tem nenhuma lógica! Se qualquer país (até EUA e israel) tentar usar seus arsenais atômicos numa guerra, será imediatamente retaliado e repelido pela humanidade, sendo obliterado do seio das nações. Eles são ditadores ou supremacistas, nunca suicidas.

https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%8Dndice_de_Desenvolvimento_Humano

Quanto mais verde, melhor.
A ONU, anualmente, divulga a lista do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). A que vemos acima é de 2014 e mostra detalhes interessantes: os países africanos mais ricos são África do Sul e Egito e estão acima da 100ª posição no ranking. Os africanos à frente deles são (Vejam só!) Líbia (o melhor colocado da África, bem acima do Brasil!), Tunísia, Argélia e Botsuana!!

Líbia adorada pelos supremacistas














Pergunta: como a Líbia, com o executado Khadafi, conseguiu tal feito? Um país que tem mais de 3/5 do seu território dominado pelo deserto do Saara e parcos recursos naturais (fora o petróleo) não deveria ser superior em IDH a um país riquíssimo em tantos recursos como o Brasil. Mas a Líbia da era Khadafi dava show: bela renda per capita; energia elétrica, saúde e educação gratuitas; gasolina a 15 centavos o litro; quem comprovasse não possuir renda para construir sua casa, o governo a construía. 

Ainda por muito tempo, vamos ter de aguentar essas toneladas de sordidez que visam destruir civilizações ancestrais, soberanas, tradicionais, desviar as atenções de soluções plenamente possíveis para melhorar as condições de vida dos povos. O comodismo das massas que se deitam no "berço esplêndido da democracia" (este belo embuste!) à espera de salvadores da pátria que pensarão e agirão por elas, entregando-lhes tudo (migalhas, sobras e restos) de mão beijada é o maior câncer que assola a mente e o espírito da humanidade, tornando-a marionete suscetível a todo e qualquer desmando.

As torpes facilidades e entretenimentos que a modernidade dispõe às pessoas (aliadas a um ensino subversivo) cumprem garbosamente a função de estupidificá-las e anestesiá-las, evitando convulsões, com um requinte de crueldade: faz as massas execrarem todos aqueles que tentam tirá-las desse nefasto conforto que as deixa propícias a serem docemente parasitadas pelos seus feitores. São plenamente partidárias do "melhor pingar do que faltar". Popularmente falando: "Tá ruim, mas tá bom!"

Nesta toada, nada pode prosperar. Enquanto essa inércia perdurar nos brios das pessoas, a realidade será uma névoa a nos separar de horizontes e esperanças. Um mínimo de coragem de abrir mão desse limbo é urgente. Dando-se este primeiro passo, a inanição moral será paulatinamente solapada. Cada qual que dê seu primeiro passo e siga adiante.

palavralivre.blogspot.pt
17
Out16

A expansão árabe na África ( A expansão dos almorávidas na península ibérica

António Garrochinho


A gesta dos almorávidas (1056-1147)


O Império Almorávida em sua maior extensão (1110).

Os almorávidas, cuja dinastia começou em 448 (20 de março de 1056), eram formados por várias tribos que se diziam descender de Himyar. As mais célebres são as de lamtuna (ou lemtuna), da qual o príncipe dos crentes Ali ibn Taxufin faz parte, e os chadala. Saídas do Yêmen nos tempos de Abu Bakr Siddiq, que as enviou para a Síria, elas passaram depois para o Egito e depois se transferiram para o Magreb, com Musa ibn Nusayr. Seguiram depois para Tariq até o Tanger, mas seu gosto pelo isolamento as empurraram para o interior e ali habitaram até a época que vamos tratar (Kamil fi-l-Tarij, de Ibn al-Athir. In: SÁNCHEZ-ALBORNOZ, 1986, tomo II: 108).

No século XI, do Saara Espanhol ao Marrocos, surgiu um poderoso movimento berbere islâmico que varreu a costa setentrional da África até chegar à Península Ibérica, conferindo um novo caráter e dramaticidade tanto às culturas da África do Norte quanto à Reconquista Ibérica cristã. Para entendê-lo, é preciso levar em conta que, durante muito tempo, os berberes, como vimos, foram reticentes com o Islã, mas depois de terem se convertido transformaram-se em uma das etnias africanas que abraçaram a fé do Corão com mais força.
No entanto, no século X, o Islamismo ainda era praticado em muitas áreas orientais africanas de maneira bastante permissiva. Isso ocorria especialmente com muitas tribos de chefes berberes da costa atlântica da Mauritânia, como os sanhadjas. Por exemplo, eles cumpriam a obrigação da peregrinação a Meca somente como uma formalidade política. Assim, ao retornar de Meca e parar em Kairuan, Yaya ibn-Ibrahim, chefe dos djoddalas, foi se consultar com um sábio muçulmano de nome Abu Amiru (de Fez) e foi repreendido por este por sua ignorância em relação à fé.

O sábio, chocado com o baixo nível de conhecimento da Lei corânica dos djoddalas, decidiu procurar um teólogo para instigá-lo a ir até àquele povo berbere e guiá-lo à luz da verdade sagrada. Encontrou Abdallah ibn Yacine, um grande letrado da cidade de Sidjilmasa, que aceitou ir pregar entre os djoddalas.

Contudo, os berberes o receberam muito mal. Não gostaram nem um pouco das práticas ascéticas de Yacine, queimaram sua casa e o expulsaram. Yacine então se retirou (cerca de 1030) com dois discípulos da etnia berbere dos lemtunas, Yaya ibn Omar e seu irmão Abu Bakr (não confundir com o califa do mesmo nome do século VII), para algum lugar desconhecido da costa atlântica. Foi então que começaram a receber adeptos. Quando chegaram ao milhar, Ibn Yacine batizou-os de Al-Morabetin (aqueles do ribat), palavra que deu origem a almorávida.

O ribat era uma espécie de convento militar muçulmano erguido nas fronteiras do dar al-islan (a “Casa do Islã”) e que acolhia voluntários piedosos que desejavam se retirar do mundo e que ali ficavam sob as ordens de um veterano (sheikh) para se purificar e sair em missões conforme o desejo do sheikh (DEMURGER, 2002: 43). Demurger define o ribat em uma obra dedicada às ordens militares cristãs porque muitos historiadores consideram o ribat o antecessor islâmico das ordens militares e o autor discute essa tese, da qual discorda).

A idéia de posto de vigília e mosteiro fortificado foi mais tarde valorizada pelo sufismo: os sufis levavam um modo de vida que buscava a união com Deus por meio do amor, do conhecimento baseado na experiência e ascese, que levaria a uma união estática com o Criador. Essa invocação tinha o objetivo de desviar a alma das distrações mundanas para libertá-la até o vôo da união com Deus. Uma das formas do dhikr era um ritual coletivo chamado hadra: os participantes repetiam constantemente o nome de Alá, cada vez mais rapidamente, até se chegar a um transe e perda da consciência do mundo sensível (COSTA, 2002: 73-74).

No tempo dos almorávidas não se têm notícias desse sentido preciso de guarnição religiosa. Nessa época, a palavra ribat significava “sua seita, seu corpo, suas forças, sua guerra santa”. O único autor que empregou a palavra precisa de rabita (fortaleza) foi Ibn Abi Zar, em sua obra Rawd al Qirtas (de 1326), portanto, duzentos anos depois do período de Yacine (KI-ZERBO, s/d: 143).

A missão dos almorávidas era impor a verdadeira fé pela força aos não-crentes. A partir de 1042, eles se lançaram em uma furiosa jihad a partir das regiões do Adrar e do Tagant, ambas hoje no coração do Saara Espanhol, contra os djoddalas e os lemtunas, tendo Yacine como chefe espiritual e Yaya como general. Negros do Tekrur logo se juntaram a eles, desejosos de se opor ao Império de Gana. Yaya foi expulso do exército, por não concordar com os saques e violações cometidos por seus soldados.
Após um breve e novo retiro espiritual, ele conseguiu novas adesões de discípulos e se lançou novamente no deserto. Isso, somado à pregação religiosa de Yacine, fez com que as forças almorávidas ganhassem uma grande adesão de soldados (cerca de 30.000 homens armados de lanças, machados, maças, a pé, a cavalo e em camelos). Esse motivado exército religioso varreu todo o Sudão ocidental.


Mesquita de Koutoubia, Marrakech (séc. XII)

Yaya morreu em 1056 em uma batalha contra os djoddalas próxima a Atar. Yacine atacou o Marrocos (Maghreb el-Acsa) e morreu no ano seguinte, quando os almorávidas passaram a ser dirigidos pelo emir Abu Bakr. Este fundou em 1062 a cidade de Marrakech, apoderou-se de Fez, Tlemcen (capital dos zenatas) e alargou seu poder até Argel. Depois disso, Abu Bakr retornou para o sul e se instalou no Tagant, decidido a atacar e submeter o Império de Gana.

Os almorávidas na Península Ibérica

Mas antes de tratar do declínio de Gana e de sua derrota para as forças almorávidas, abro um pequeno parêntese à conquista almorávida da Península Ibérica (1092-1094), devido à sua importância para o processo da Reconquista cristã. Nas palavras do conde D. Pedro de Portugal, filho bastardo do rei D. Dinis e famoso cronista do século XIV, os almorávidas eram “os melhores cavaleiros que os mouros tinham” (Crónica Geral de Espanha de 1344, 1990, vol. IV, cap. DLXVIII: 34).

Esses monges-soldados muçulmanos haviam declarado uma guerra santa contra “os muçulmanos depravados dos reinos ibéricos” (CAHEN, 1992: 295).


O movimento almorávida – do Saara Espanhol à Península Ibérica
( 1042-1087); KI-ZERBO, Joseph. História da África Negra I.
Lisboa: Publicações Europa-América, s/d, p. 144.

Mesmo antes da invasão almorávida na Península Ibérica, os governantes dos reinos de taifas, mais tolerantes com a convivência e a afinidade entre moçárabes e andaluzes, já não se interessavam pela guerra santa. A palavra taifa (que significa “partido, facção”) designa os principados que se constituíram na Hispânia sobre os restos do califado omíada de Córdoba (MIQUEL, 1971: 216).

Por exemplo, o rei de Granada, ‘Abd Allãh Nãsir, conta em suas memórias que o hadjib Almançor (Muhammad ibn Abi ‘Amir) não conseguiu convencer os andaluzes a fazer a guerra, pois eles “...declararam-se incapazes de participar nas suas campanhas e alegaram (...) que não se achavam preparados para combater e, por outro lado, que a sua participação nas campanhas os impediria de cultivar a terra” (MATTOSO, 1985: 194).
Outro bom exemplo da nova mentalidade dicotômica desses invasores berberes é a obra Ódio a cristãos e judeus do pensador cordovês Ibn Abdun (séc. XII):

Um muçulmano não deve fazer massagem em um judeu nem em um cristão, nem tirar suas sujeiras ou limpar suas latrinas, pois o judeu e o cristão são mais indicados para essas atividades, que são tarefas para gentes vis (…)

Deve proibir-se às mulheres muçulmanas que entrem nas abomináveis igrejas, pois os clérigos são libertinos, fornicadores e sodomitas.
(Tratado de Ibn Abdun. In: SÁNCHEZ-ALBORNOZ, tomo II: 219)


Curiosamente, os almorávidas praticavam a cinofagia – morte de cães – uma prática e hábito culinário pré-islâmico presente em um hadith do profeta: “Os anjos não entram em uma casa onde há um cão”:

A Hadith consiste na tradição oral das tribos que habitavam a Arábia mais os ensinamentos de Maomé que não foram para o Livro, mas que foram se formando através dos anos. Esta tradição é que conta a história do Profeta, dos santos e dos outros profetas menores, entre estes Jesus.

Os mulçumanos acreditam também nos gênios, fadas, nos espíritos bons e maus, em práticas mágicas e outras coisas que, proibidas aos fiéis, podem ser usadas pelos descrentes (KHALIDI, 2001: 16-17).


Eles também inovaram a sociedade dos nômades berberes e as das fronteiras do mundo negro, trazendo inovações táticas no modo de se fazer a guerra. Acrescentaram aos exércitos regulares três fileiras de arqueiros – precedendo a Europa cristã em quase dois séculos na superioridade da infantaria de arqueiros sobre a cavalaria. Além disso, numa revolução ideológica dos aspectos mentais do conflito, incluíram grupos com grandes tambores, com o intuito de aterrorizar os inimigos.


Exército muçulmano partindo para o ataque (1237) ; Iluminura
das “Estações de Hariri” (1237), manuscrito da Biblioteca Nacional

de Paris. Esta cena representa uma pequena paragem antes do ataque
decisivo, quando tocam as trombetas e rufam os tambores. Ela pode
estar se referindo a uma das primeiras batalhas do Islão na Península
Ibérica. No entanto, os trajes dos guerreiros e os jaezes das montadas
apontam para uma origem oriental e para a época em que a iluminura
foi elaborada. In: MATTOSO, José (dir.). História de Portugal.
Antes de Portugal. Lisboa: Editorial Estampa, s/d, p. 399.

Este novo estilo de guerra, mais agressivo, era marcado basicamente pela fundamentação religiosa (MATTOSO, 1985: 194). Isto os distinguia dos outros islamitas andaluzes da Península, desprezados pelos berberes almorávidas. Assim, aconteceu a partir do século XI uma “internacionalização” do conflito na Península Ibérica.

De um lado, cristãos peninsulares ligados ideologicamente ao restante da Europa, especialmente ao reino franco; de outro, muçulmanos ibéricos dos reinos de taifas auxiliados pelo conjunto de aliados da África do Norte, por sua vez intransigentes na ortodoxia. Nesse contexto deram-se as vitórias portuguesas do primeiro rei de Portugal, Afonso Henriques, na batalha de Ourique (1146), e na tomada da cidade de Lisboa (1147), com o auxílio de cruzados vindos do norte europeu.

A queda do Império de Gana (1203)


Até esse avanço almorávida, o Império de Gana conseguira suportar os ataques estrangeiros, tanto de tribos inimigas quanto dos próprios berberes, graças ao seu exército composto de guerreiros soldados, cavaleiros e arqueiros – citados por Al-Bakri em sua obra, como vimos.

No entanto, apesar de uma forte resistência, eles foram derrotados pelos almorávidas e sua capital, Kumbi Saleh, foi tomada e saqueada, por volta de 1076. Com essa vitória, os almorávidas receberam um poderoso reforço, devido às conversões dos negros de Gana. Disso nos informa o cronista Al-Zuhuri: “As gentes do Gana tornaram-se muçulmanas em 1076 sob a influência dos lemtunas” (citado por KI-ZERBO, s/d: 147).

Abu Bakr prosseguia em sua tentativa de unificar as tribos berberes e com elas atacar Gana. No entanto, morreu em uma escaramuça por causa de uma flecha envenenada (1087). Gana reconquistou sua independência, mas após a devastação e saque de sua capital, dez anos antes, o reino negro nunca mais conseguiu recuperar seu antigo poderio. Pelo contrário, as caravanas passaram a se desviar das rotas que privilegiavam o coração de Gana, e os comerciantes passaram a optar por Tombuctu, Gao e Djena.

Os muçulmanos ricos se refugiaram em Walata, especialmente depois do segundo saque da capital, Kumbi, em 1203, por parte do rei sosso Sumaoro Kanté. Paralelo a esse declínio comercial aprofundou-se o processo de islamização das etnias negras, embora sem nunca atingir todas as camadas da população – e, de resto, o islamismo negro era bastante mesclado com práticas animistas.

O Império de Mali (1235-1500)

A queda do Império de Gana abriu um vácuo de poder. A grande questão era: quem tomaria agora o controle das rotas comerciais próximas das fontes auríferas? Os almorávidas fracassaram em sua tentativa de monopolizar o tráfico. O reino que parecia mais próximo de conseguir esse intento era o reino sosso dos Kantés, ao sul de Gana.

Em 1180, surgiu um guerreiro, Diarra Kanté, de um clã de ferreiros animistas adversários do Islão. Feiticeiro famoso e de prestígio, Kanté conseguiu tomar a cidade de Kumbi Saleh, mas sem ocupar as jazidas de ouro, controladas agora por uma tribo de camponeses, os malinqués (“homem de Mali”). Kanté, após dominar o Dyara, o Bakunu e o Bumbu, apoderou-se da região do Buré.


Mapa do Império de Mali (século XIV)

Kanté foi um pequeno interregno entre dois impérios, Gana e Mali. Quanto ao segundo, não se conhecem as origens do reino de Mali (ou Mandinga). Diferentes etnias viviam naquela região. Seus chefes se diziam “caçadores-mágicos”, todos com ritos iniciatórios mais ou menos comuns. Esses clãs estavam unidos pelo chamado “parentesco de brincadeira”, isto é, um curioso direito e dever de fazer troça uns aos outros. O chefe gozava do monopólio das pepitas de ouro. A estrutura social baseava-se em uma grande família que dispunha de um campo comunitário (foroba) próximo à aldeia. Logo um dos herdeiros sosso tomou o título de mansa (ou maghan), isto é, imperador.

Paralelo a esse processo de integração por parte dos sosso acontecia a conversão ao Islamismo. Baramendana foi o primeiro rei a se converter, graças ao pai de Abu Bakr, em 1050. A tradição conta que Baramendana estava desesperado por causa de uma longa seca. Então se dirigiu a um devoto lemtuna que o levou a um monte para passar uma noite rezando. Pela manhã choveu, e o rei mandou destruir os ídolos animistas e se converteu ao Islamismo.


O Império de Mali com seus reinos “vassalos” (século XIV);
KI-ZERBO, Joseph. História da África Negra I. Lisboa:
Publicações Europa-América, s/d, p. 165.

A partir de 1150 se conhece relativamente bem a cronologia dos reis de Mali. Hamana, Djigui Bilali (1175-1200), Mussa Keita, Naré Famaghan (1218-1230) e principalmente Sundjata (ou Mari Djata, o “Leão do Mali”), todos com estórias recheadas de lendas e mitos e transmitidas também pelos griot, os “transmissores de ouvido” de cada etnia que passam de geração para geração as tradições de sua cultura.

Na época de Sundjata, Mali era um reino essencialmente agrícola. Os malinqués desenvolveram a cultura do algodão, do amendoim e da papaia, além da criação de gado. Sundjata instituiu uma associação de trinta clãs (de artesãos, de guerreiros, de homens livres – que, no entanto, eram chamados de “escravos da coletividade”, os ton dyon). Com o crescimento do reino, a categoria dos escravos se multiplicou – recorde que sempre os reinos negros praticaram a escravidão.

Com o filho de Sundjata, Mansa Ulé (1255-1270) e seus sucessores – Abubakar I, Sakura, Abubakar II – até Mansa Mussa (ou Kandu Mussa, 1312-1332), o reino de Mali passou a ser conhecido no mundo ocidental. Em 1324, Mansa Mussa realizou uma peregrinação a Meca, passando pelo Egito e com a intenção de maravilhar os soberanos árabes.


Figura sentada, Mali (século XIII); Observe as feições
alongadas do rosto do personagem, aliás, de todo o corpo.
Pode-se, assim, ter uma noção do tipo físico predominante então,
além de uma contemplação de posturas e gestos corporais.

O Tarikh es Soudan! (1655), de autoria do mouro Es Saadi, nos informa que ele atravessou o deserto passando por Walata e pelo Tuat com 60.000 mil servidores (escravos), evidentemente um exagero – as cifras hoje estão por volta de 500. (HEERS, 1983: 79). Chegou ao Cairo com cerca de duas toneladas de ouro (!), em pó e em pepitas. O cronista Al-Omari (†1349) nos conta:

Quando da minha primeira viagem ao Cairo, ouvi falar da vinda do sultão Mussa (...) E encontrei os habitantes do Cairo todos excitados a contarem as largas despesas que haviam visto fazer às suas gentes.

Este homem espalhou pelo Cairo ondas de generosidade. Não deixou ninguém, oficial da coroa ou titular de qualquer função sultânica, sem receber dele uma quantia em ouro. Que nobre aspecto tinha este sultão! Que dignidade e que lealdade! (citado por KI-ZERBO, s/d: 171).


Mansa Mussa foi tão generoso que, ao sair do Cairo, foi obrigado a pedir um empréstimo a um riquíssimo mercador de Alexandria, para que pudesse manter sua largueza até chegar a Meca...

Sua peregrinação fez o Império de Mali ser conhecido por todo o mundo, e os mapas europeus passaram a citá-lo. Por exemplo, tanto o de Angelo Dulcert Portolano (1339), quanto o Atlas catalão de Abraão Cresques (1375), elaborado para o rei da França Carlos V (1338-1380), o Sábio, trazem nitidamente o nome da capital (Ciutat de Melli), além do rei de Mali, Mansa Mussa, sentado em seu trono e segurando uma pepita de ouro.


Mapa do Norte da África (manuscrito catalão de 1375);
Este mapa catalão do século XIV do Norte da África tem
quatro reis, três africanos: o rei Mansa Musa de Mali
(sentado, com uma gema de ouro na mão direita),
o rei de Organa, o rei da Núbia e o rei da Babilônia.


Detalhe do mapa do Norte da África (manuscrito catalão de 1375);
Os dois números em vermelho marcam dois textos. São eles:
1. “Toda esta parte tem gentes que ocultam a boca; só se vêem
seus olhos. Vivem em tendas e têm caravanas de camelos.
Também possuem animais de cujas peles fazem excelentes escudos”.
2. “Este senhor negro é aquele muito melhor senhor dos negros
de Guiné. Este rei é o mais rico e o mais nobre senhor de toda esta
parte, com abundância de ouro na sua terra” (tradução literal).
Observe que embaixo do globo de ouro que o imperador Mansa Musa
segura na mão direita está a representação da cidade de Tumbuctu.
DAVIDSON, Basil. “Os Impérios Africanos”, História em Revista (1300-1400).
A Era da Calamidade. Rio de Janeiro: Abril Livros / Time-Life, 1992, p. 149.

De regresso para Mali, o imperador trouxe consigo um poeta-arquiteto, Abu Issak, mais conhecido como Es Saheli. Com ele, construiu a grande mesquita de Djinger-ber, em Tumbuctu.

Os sucessores de Mansa Mussa tiveram dificuldades de manter um território tão vasto. Depois de Maghan (1332-1336), até Mussa II (1374-1387), o reino de Mali viu Tumbuctu ser saqueada, além de sucessivos assassinatos palacianos que enfraqueceram o império. Lentamente a hegemonia passava para o reino de Gao, que anexava uma a uma as províncias do leste, além de tomar a cidade de Djena, metrópole comercial.

No final do século XV o Tekrur passou para os domínios do estado wolofo. Houve um curto período confuso entre a hegemonia do Mali e do Gao. Várias etnias foram arrastadas para o movimento dos peules do Bundu, conduzido por Tenguella I (chamado de “o Libertador”). O imperador do Mali tentou até uma aliança com D. João II de Portugal, mas nenhuma das missões portuguesas parece ter chegado a seu destino.

A religião em Mali


Como todos os reinos negros islamizados desse período, a religião em Mali era um misto de várias influências, especialmente as pagãs. Por exemplo, Mussa desconhecia a interdição do Corão de ter mais de quatro mulheres, e os malinqués comiam carnes proibidas pelo Islão. Sacerdotes com máscaras de aves praticavam ritos animistas na corte. Em contrapartida, as festas religiosas islâmicas eram celebradas com grande pompa. As crianças aprendiam o Alcorão, às vezes com duros castigos – eram postas a ferro, por exemplo.

O imperador e sua corte em Mali (descrição de Ibn Batuta)


Ibn Batuta.


O cronista muçulmano Ibn Batuta (1307-1377), um dos maiores viajantes da Idade Média, chegou a Mali quinze anos depois da morte de Mansa Musa, entre os anos 1352-1353. Em um belo texto medieval, esse notável cronista muçulmano nos informa o fausto da corte do imperador de Mali (o texto explicativo em parênteses é de Ricardo da Costa):

O sultão tem uma cúpula elevada, cuja porta se encontra no interior de seu palácio e onde ele se senta com freqüência. Tem do lado das audiências três janelas em arco, de madeira, cobertas de placas de prata, e por baixo delas três outras guarnecidas de lâminas de ouro ou de prata dourada. Estas janelas têm cortinados de lã que são levantados no dia da audiência do sultão na cúpula (...)

Da porta do castelo saem trezentos escravos, uns com arcos na mão, outros com pequenas lanças e escudos. Uns estão sentados, outros de pé. À chegada do rei, três escravos precipitam-se para chamar o seu lugar-tenente. Chegam os comandantes, assim como o pregador, os sábios juristas, que se sentam à esquerda e à direita, diante dos homens de armas. À porta, de pé, o intérprete dougha em grande aparato.

Está soberbamente vestido, em seda fina. O seu turbante está ornado de franjas, que estas gentes sabem fazer admiravelmente. Tem um sabre a tiracolo, cuja bainha é de ouro. Nos pés botas e esporas (...) Tem na mão duas lanças curtas. Uma é de prata, a outra é de ouro. As pontas são de ferro. Os militares, o governador, os pajens ou eunucos e os mesufitas (mercadores berberes e sarakholés) estão sentados no exterior do lugar das audiências, numa longa rua, vasta e com árvores.

Cada comandante tem diante de si os seus homens, com as suas lanças, os seus arcos, os seus tambores, as suas trompas, enfim, com os seus instrumentos de música feitos com caniços e cabaças, em que se bate com baquetas e que dão um som agradável (as trompas eram feitas de marfim das presas de elefantes). Cada um dos comandantes tem sua aljava às costas. Tem o seu arco à mão e anda a cavalo (...) No interior da sala de audiências e nas janelas vê-se um homem de pé. Quem desejar falar ao rei dirige-se primeiro ao dougha. Este fala ao dito personagem que está de pé e este último ao soberano.

Instala-se então um grande estrado com três degraus debaixo de uma árvore. É o pempi. (segundo Al-Omari, o pempi era uma grande cadeira de ébano, parecida com um trono, com as medidas adequadas a uma personagem alta e gorda. De cada lado, uma defesa de elefante a cobri-lo, uma em frente da outra). É coberto de seda e guarnecido de almofadas. Por cima instala-se o guarda-sol, que parece uma cúpula de seda, no alto da qual se vê uma ave do tamanho de um gavião.

O rei sai por uma porta aberta num ângulo do castelo. Tem o seu arco à mão e a aljava às costas. Traz na cabeça um solidéu de ouro, fixado por uma pequena faixa também de ouro, cujas extremidades são pontiagudas como facas e com mais de um palmo de comprimento. Na maioria das vezes, traz uma túnica vermelha e felpuda, feita com tecidos de fabricação européia chamados mothanfas. Diante dele saem os cantores, tendo na mão um kanabir de ouro e de prata (O kanabir era uma calhandra, isto é, uma espécie de cotovia, sabiá-do-campo).

Atrás dele encontram-se cerca de trezentos escravos armados. O soberano caminha lentamente. Aproxima-se devagar e pára mesmo de vez em quando. Chegado ao pempi, deixa de caminhar e olha para os assistentes. Em seguida, sobe lentamente o estrado, como o pregador sobe ao púlpito. Uma vez sentado, tocam-se os tambores e fazem-se soar as trompas e as trombetas. (citado por KI-ZERBO, op. cit.: 176-177.)

Alguns dos pajens escravos do rei eram comprados no Cairo. Era expressamente proibido espirrar em sua presença. Os cortesãos vestiam-se de branco, com tecidos de algodão cultivado na própria terra. As jovens e mulheres escravas, em contrapartida, andavam completamente nuas, para escândalo de Ibn Batuta. Ele ainda estranhou a comida: “Dez dias depois de nossa chegada, comemos um mingau que eles preferem a qualquer outra comida. Na manhã seguinte, estávamos todos doentes”. (citado por DAVIDSON, op. cit.: 150)

A organização política e a vida económica

No século XVI, tempo de Mahmud Kati, historiador e conselheiro do Askia Mohammed, o império tinha cerca de quatrocentas cidades e vilas. O sistema de governo era descentralizado. Era dividido em províncias, administradas por um dyamani tigui (ou farba). As províncias eram subdivididas em conselhos (kafo) e aldeias (dugu).

A autoridade da aldeia poderia ser bicéfala: um chefe político, outro religioso. O farba recolhia impostos e requisitava tropas, caso necessário. Havia ainda reinos subordinados que reconheciam a hegemonia do imperador, enviando regularmente presentes.

Um dos segredos do Império de Mali foi a maleabilidade de seu sistema político, única lógica possível em uma estrutura sem burocracia, além da tolerância religiosa. Povos tão variados como os tuaregues, os songais, os malinqués e os peules, reconheceram, durante mais de cem anos, a soberania do imperador de Mali. Há um elogio do cronista Ibn Batuta que expressa bem esse sentimento de confiança no funcionamento da estrutura do império:

Não é necessário andar de caravana. A segurança é completa e geral em todo o país (...) O sultão não perdoa a ninguém que se torne culpado de injustiça (...) O viajante, tal como o homem sedentário, não tem a temer os malfeitores, nem os ladrões, nem os que vivem de pilhagem.

Os pretos não confiscam os bens dos homens brancos que venham a morrer nas suas terras, ainda mesmo que se trate de tesouros imensos. Depositam-nos, pelo contrário, em mãos de um homem de confiança dentre os brancos, até que se apresentem aqueles a quem revertam por direito e tomem conta deles.
(citado por KI-ZERBO, op. cit.: 180).


Esse é um belo testemunho da grandeza do Mali, feito pelo maior viajante da época.

O Império Songai (de Gao)


Máxima extensão do Império de Songai (século XVI).

Uma das características mais perenes das sociedades pré-industriais e iletradas (ou semiletradas) é a existência de mitos de origem relacionados à cultura e especialmente ao poder monárquico, além de suas manifestações sociais, todos mitos originários das tradições orais africanas (Controversial Origins). Além disso, os homens das sociedades pré-industriais também tinham uma forma bastante distinta de se relacionar com o mundo (a natureza) e com seus animais.

O caso do Império de Songai (ou de Gao) é um deles. Sua estória começa com o mito do feiticeiro Faran Makan Boté. Ele nasceu de um pai sorko e uma “mãe-fada ligada aos espíritos das águas”. Ao subir o rio, Makan Boté se aliou aos caçadores gows e pescadores sorkos, e passou a exercer as funções de grande sacerdote (kanta) junto a camponeses na região de Tillabery. Assim teriam nascido as energias mágicas do Songai. (KI-ZERBO, op. cit.: 181)

Mas a lenda não pára aqui. Por volta do ano 500, príncipes berberes chegaram às margens da curva do rio Níger e libertaram os pescadores sorkos e camponeses gabibis do terror de um peixe-feiticeiro (seria um descendente de Makan Boté). O autor da façanha teria sido Za Aliamen, e a partir de então sua dinastia reinaria em Kukya até 1335 (no mapa acima, a região assinalada entre Tumbuctu e Gao). Por volta de 1009, Diá Kossoi, décimo-quinto rei da dinastia fundada por Za Aliamen, fixou sua capital em Gao. Ele foi o primeiro rei a se converter ao Islamismo. Já no século XI, Gao rivalizava com a cidade de Kumbi, capital de Mali.
Esse surto de desenvolvimento despertou a cobiça dos malinqués: em 1325, Gao foi conquistada pelo Império de Mali, mas em 1337, dois irmãos e príncipes songaleses – Ali Kolen (ou Golon) e Suleiman Nar – conseguiram se desvencilhar da dominação mali, e Ali Kolen fundou a nova dinastia dos Sis (ou Sonnis).

Suleiman Daman (ou Dandi), décimo-oitavo rei da dinastia Sonni, teria conquistado a cidade de Mesma, mas foi com Sonni Ali (1464-1493), ou Ali Ber (o Grande), ou ainda Dali (o Altíssimo), imperador songai e grande feiticeiro, é que o império se afirmou definitivamente. Sonni Ali conquistou Tumbuctu – então sob o domínio tuaregue –, realizando um verdadeiro massacre (1468), motivo pelo qual os escritores muçulmanos terem-no apresentado como um tirano sanguinário, um ímpio.

Ali também conquistou Djenne (1473), após noventa e nove tentativas dos malinqués de se apoderar de volta da cidade, além do centro de Macina, um pouco mais ao norte. Abriu ainda um canal d’água a oeste do lago Faguibine (ver imagem 42) e ordenou a redação das atas oficiais do reino. Com sua morte, em 1492, seu filho Sonni Bakary assumiu a coroa, mas reinou somente um ano.

Em seguida, houve uma tomada do poder: o filho de Sonni renegou a fé islâmica e um lugar-tenente chamado Mohammed Torodo, assumiu o trono, com o nome de Askia Mohammed, com a ajuda dos ulemás, corpo de estudiosos. (HOURANI, op. cit.: 77)

Como Mussa, Askia também realizou uma luxuosa peregrinação a Meca em 1496, com quinhentos cavaleiros e mil homens a pé. Esse mini-exército de escravos e homens livres levava consigo 300.000 peças de ouro, um terço distribuído em esmolas durante a viagem. No Hedjaz, Askia conseguiu do califa o título de “califa do Sudão”: Khalifatu biladi al-Tekrur.

Do califa Mohammed até Askia Ishak I (1539-1549), o império adquiriu cada vez mais territórios, graças às guerras – e apesar das intrigas e assassinatos políticos palacianos. Por exemplo, no tempo de Askia Mohammed Bunkan (1531-1537), o imperador de Songai tinha uma grande corte com um harém, seus cortesãos recebiam roupas de fazenda e braceletes (mantendo a tradição medieval do soberano vestir, literalmente, seus convivas) e uma orquestra, com novos instrumentos (trombetas e tambores) acompanhava o príncipe em suas viagens. A guarda pessoal do soberano era composta de 1.700 homens. O império então se estendia por mais de dois mil quilômetros, de Teghazza ao país dos mossi (norte a sul), de Agades a Tekrur (leste a oeste).


Mapa do Império de Songai (Gao) e de seus vassalos (século XVI).

Mais bem organizado e estruturado que o império de Mali, Songai estava fundado em torno da pessoa do imperador. No dia de sua entronização, ele recebia um selo, uma espada e um Corão, além de conservar dois atributos mágicos antigos: o tambor e o fogo sagrado (dinturi). A corte obedecia a um rígido protocolo: por exemplo, o cuspe do príncipe não podia cair no chão, sendo recolhido nas mangas de qualquer um dos setecentos homens vestidos de seda que o acompanhavam. Como em Mali, todos os que se aproximavam dele deveriam cobrir a cabeça de pó, com raras exceções (no caso do general do exército, este utilizava farinha).
A formação do exército, dividido por sua vez em vários corpos, reestruturou a sociedade: isento de ir à guerra, o povo trabalhava na terra, na produção artesanal e no comércio. A “burocracia” era muito estratificada (citemos apenas alguns cargos): os altos funcionários (os koy, os fari), ministros e governadores das montanhas (tondi-fari), feiticeiras (que tinham a permissão de dirigirem-se ao imperador pelo nome), o governador da província (gurma-fari) que era o celeiro agrícola do império, o ministro da navegação fluvial (hi-hoy), o chefe dos cobradores de impostos (fari-mondyo), o sacerdote do culto aos antepassados (horé-farima), o inspetor das florestas (sao-farima), o chefe dos pescadores (ho-koy), e ministro encarregado dos homens brancos residentes no império (korey-farima). Todos eram nomeados e demitidos pelo imperador a seu bel-prazer.

A economia songai é hoje calculada com base no número de escravos disponíveis para o trabalho no campo. Por exemplo, uma terra com duzentos escravos deveria produzir cerca de 250 toneladas de arroz por ano (1.000 sunus). O historiador Ki-Zerbo descarta a possibilidade de comparação desse sistema escravocrata com o feudalismo europeu, embora defenda um princípio semelhante para o caso africano: a existência do sistema religioso-simbólico de dádiva e contra-dádiva atenuava a opressão escravocrata. Pois o que interessava ao senhor da terra era ter o maior número de famílias e aldeias de servos, não apenas a exploração econômica (KI-ZERBO, op. cit.: 187-188).

Isso certamente é um caráter análogo ao sistema sócio-econômico vigente cerca de quatrocentos anos antes na Europa medieval. Esse sistema, também chamado de dom e contra-dom, está bem expresso em um documento, escrito pelo historiador soninké de Tumbuctu, Mahmud Kati (Tarikh el-Fettach – a Crônica do Buscador – obra escrita em 1520). Nele, há um interessante e expressivo diálogo em que o imperador Askia Daud concede a liberdade a uma escrava. Ela, por sua vez, sentindo-se presa a ele, declara:

É necessário que eu te traga um tributo para que, com ele, te lembres de mim. Será de duas barras de sabão no princípio de cada ano.

Então o imperador respondeu:

E eu também quero, para obter o perdão do Altíssimo e a Sua indulgência, mandar-te pagar um tributo, que receberás de mim no princípio de cada ano e que será constituído por uma barra inteira de sal e por um grande pano preto. Aceita-o, pelo amor de Deus. (citado por KI-ZERBO, op. cit.: 188)


Página de um manuscrito de Mahmud Kati (1485);
Observe os comentários do próprio autor escritos nas margens.

O ouro e o sal serviam de moeda corrente em Songai, mas a principal moeda eram os cauris, conchas de moluscos utilizadas como moeda de troca até meados do século XIX – e isso do Sudão à China. De qualquer modo, os imperadores Askias procederam a uma unificação de pesos e medidas para evitar fraudes.
As cidades do império eram bastante populosas, e parece que suas gentes se orgulhavam disso. Um trecho da mesma obra de Mahmud Kati ilustra muito bem esse sentimento de auto-estima:

Tendo surgido uma contenda entre as gentes de Gao e as de Cano quanto a saber qual das duas cidades era a mais populosa, frementes de impaciência, jovens de Tombuctu e alguns habitantes de Gao intervieram e, pegando em papel, em tinta e em penas entraram na cidade de Gao e puseram-se a contar os grupos de casas, começando pela primeira habitação a oeste da cidade, e a inscrevê-las uma após a outra, “casa de fulano”, “casa de sicrano”, até chegarem às últimas construções da cidade, do lado leste. A operação levou três dias e contaram-se 7.626 casas, sem incluir as cubatas construídas de palha. (citado por KI-ZERBO, op. cit.: 189)

Esse certamente é um dos primeiros censos conhecidos em África, talvez mesmo um dos primeiros do fim da Idade Média européia. Com ele, os historiadores puderam calcular uma população citadina de cerca de 100.000 habitantes.

Tumbuctu renasce na pena de Al-Hasan (1483-1554)


Mesquita songai de Tumbuctu (séc. XVI).

Todas essas cidades eram grandes centros de estudos, especialmente dos textos religiosos e de Direito (notadamente a jurisprudência). Em sua obra Descrição da África (1526), o granadino Al Hasan, chamado de Leão, o Africano (al-Hasan ibn Muhammad al Wazzân az-Zayâtî, 1483-1554), nos dá preciosas e claras informações sobre a cidade de Tumbuctu (os comentários em parênteses são de Ricardo da Costa):

O reino recebeu recentemente esse nome, depois que uma cidade foi construída por um rei chamado Mansa Suleyman, no ano 610 da Hégira (1232), próxima doze milhas de uma filial do rio Níger (Mansa Suleiman reinou nos anos 1336-1359. Na verdade, a cidade de Tumbuctu foi provavelmente fundada no século XI pelos tuaregues, e antes foi capital do reino de Mali em 1324).

As casas de Tombuctu são choupanas feitas de pau-a-pique de argila, cobertas com telhados de palha. No centro da cidade há um templo construído de pedra e de almofariz por um arquiteto de nome Granata. (Ishak es Sahili el-Gharnati, trazido para Tumbuctu por Mansa Suleiman)

Além do templo, há um grande palácio também construído pelo mesmo arquiteto, onde o rei vive. As lojas dos artesãos, dos comerciantes, e, especialmente, as dos tecelões de pano de algodão, são muito numerosas. As telas são importadas da Europa para Tombuctu, carregadas por comerciantes da Barbária. (Por caravanas de camelos que passavam pelo deserto do Saara vindas da África do Norte)

As mulheres da cidade mantêm o costume de vendar seus rostos, com exceção dos escravos, que vendem todos os gêneros alimentícios. Os habitantes são tão ricos, especialmente os estrangeiros que se estabeleceram no país, que o rei atual deu duas de suas filhas a dois irmãos, ambos homens de negócios, pois era ciente de suas riquezas. (O autor se refere a Omar ben Mohammed Naddi, que não era de fato o rei, mas um representante do rei de Songai)

Há muitos poços que contêm água doce em Tumbuctu. Além disso, quando o rio Níger está cheio, canais levam a água para a cidade. Grãos e animais são abundantes, de modo que o consumo de leite e de manteiga é considerável. Contudo, o fornecimento de sal é fraco, porque ele é levado daqui para Tegaza, que fica cerca de 500 milhas de Tumbuctu.

Eu mesmo estava na cidade no momento em que uma carga de sal foi vendida por oito ducados. O rei tem um rico tesouro rico de moedas e pepitas de ouro. Uma dessas pepitas pesa 970 libras. (Como vimos, os escritores muçulmanos mencionam freqüentemente as fabulosas pepitas de ouro africanas, mas atualmente há a tendência de se considerar os tamanhos descritos por eles um exagero)

A corte real é magnífica e muito bem organizada. Quando o rei vai de uma cidade a outra com as gentes de sua corte, monta um camelo e os cavalos são conduzidos manualmente por servos (escravos). Se a luta é necessária, os servos montam os camelos e todos os soldados montam nas costas dos cavalos. Quando alguém desejar falar com o rei, deve ajoelhar-se diante dele e curvar-se ao chão; mas isto é exigido somente daqueles que nunca falaram nem com o rei, nem com seus embaixadores.

O rei tem aproximadamente 3.000 cavaleiros e uma infinidade de soldados de infantaria, todos armados com arcos feitos de funcho selvagem, e com o qual disparam setas envenenadas. (Funcho é uma planta aromática e ramosa, de grande importância medicinal)

Este rei faz a guerra somente contra os inimigos vizinhos e contra aqueles que não aceitam lhe pagar tributo. Quando obtêm uma vitória, ele vende todos os inimigos, inclusive as crianças, no mercado em Tumbuctu.

Os pobres cavalos nascem pequenos neste país. Os comerciantes usam-nos para suas viagens e os cortesãos para mover-se na cidade. Os bons cavalos vêem da Barbária. Chegam em uma caravana e, dez ou doze dias mais tarde, são conduzidos ao soberano, que, caso goste, os examina e paga apropriadamente por eles.

O rei é um inimigo declarado dos judeus. Ele não permitirá que nenhum deles viva na cidade. Caso ouça que um comerciante da Barbária anda ou faz negócio com eles, o rei confisca seus bens. Há numerosos juízes em Tumbuctu, professores e sacerdotes, todos bem nomeados pelo rei, que honra muito as letras. Muitos livros escritos à mão e importados da Barbária são vendidos. Há mais lucro nesse comércio do que em toda a mercadoria restante.

Ao invés de dinheiro, são usadas pepitas puras de ouro como moeda de troca. Para compras pequenas, escudos de cauris trazidos da Pérsia; quatrocentos cauris igualam um ducado. Seis ducados e dois terços correspondem a uma onça romana de ouro. (Como vimos, os cauris eram conchas de moluscos utilizadas como moeda, desde o Sudão até a China; um ducado de ouro sudanês deveria pesar cerca de 15 gramas)

Os povos do Tumbuctu são de natureza calma. Têm um costume quase regular de caminhar à noite pela cidade (com exceção daqueles que vendem ouro), entre dez e uma hora da madrugada, tocando instrumentos musicais e dançando. Os cidadãos têm muitos escravos a seu serviço, tanto homens quanto mulheres.

A cidade corre muito perigo de incêndios. Quando eu estava lá em minha segunda viagem (provavelmente em 1512), metade da cidade queimou no espaço de cinco horas. Com medo de o vento violento levar o fogo para a outra metade da cidade e também queimá-la, os habitantes começaram a tirar seus pertences.Não há nenhum jardim ou pomar na área que cerca Tumbuctu. (Leo Africanus: Description of Timbuktu, from The Description of Africa [1526])

A educação no Império de Songai


Como em todo o mundo urbano islâmico, a educação era muito incentivada pelos potentados locais. Tumbuctu e as demais cidades do Império de Songai tinham muitos professores e uma antiga tradição de centros de estudos. Em Tumbuctu, por exemplo, a universidade de Sankore, organizada em torno de três mesquitas (Jingaray Ber, Sidi Yahya e Sankore), abrigava já no século XII cerca de 25.000 estudantes, isso em uma população de cerca de 100.00 pessoas, como vimos.


Universidade de Sankore, construída por volta do século IX.

Doutores atravessavam o deserto para ministrar seus cursos ou assistir a alguma disciplina de um colega. O cádi (juiz) de Tumbuctu, Mahmud, inspirava reverência dos Askias e de seus ministros - suas funções eram distintas das do governador, pois não tinha deveres políticos ou financeiros, cabendo-lhe somente decidir conflitos e tomar decisões à luz do sistema islâmico de leis (HOURANI, op. cit.: 56)

Muitas vezes o cádi censurava abertamente o imperador nos conselhos, quando se sentavam ao lado dos generais. Por exemplo, novamente segundo Mahmud Kati em sua obra Tarikh el-Fettach (1520) – e se acreditarmos na sinceridade de seu relato - ele teria dito pessoalmente ao Askia Mohammed, de quem era conselheiro:

Esqueceste ou finges esquecer o dia em que me foste procurar em casa e me pegaste pelo pé e pelas roupas, dizendo-me “Venho colocar-me sob a tua proteção e confiar-te a minha pessoa para que me livres do fogo do Inferno”? Foi por esse motivo que pus fora os teus enviados. (citado por KI-ZERBO, op. cit.: 190)

Como se vê – e Ki-Zerbo destaca muito bem isso em sua obra – a soberba universitária tem longa tradição mundo afora, e aqui se misturava ao clericalismo vigente no século XVI.

Desse celeiro de estudiosos de Songai, o mais ilustre sem dúvida foi Ahmed Baba (c. 1556-1620). Nascido em Arauane (dez dias de marcha de Tumbuctu a Tuat), Baba teria escrito setecentas obras (!), dentre elas um dicionário dos sábios do rito malekita e um tratado sobre as populações do Sudão ocidental. Seus estudos abrangiam praticamente todo o campo dos estudos islâmicos da época: Língua Árabe, Retórica, Exegese corânica e Jurisprudência. Sua biblioteca tinha cerca de 1.600 obras.

Mahmud Kati escreveu com entusiasmo sobre esse ambiente cultural efervescente no Império de Songai, e com ele termino minha narrativa da expansão muçulmana na África e o surgimento dos impérios negros ao sul do Saara:

Naquele tempo, Tombuctu era sem igual entre as cidades do país dos Negros pela solidez das instituições, pelas liberdades políticas, pela pureza dos costumes, pela segurança das pessoas e dos bens, pela clemência e compaixão para com os pobres e os estrangeiros, pela cortesia em relação aos estudantes e aos homens de ciência e pela assistência prestada a estes últimos. (citado por KI-ZERBO, op. cit.: 191)

Assim, até o século XVI, o Império de Songai, como o restante da África negra, conheceu um grande desenvolvimento e expansão. No entanto, a partir de então, os estados muçulmanos passariam a um expansionismo brutal (o primeiro deles o reino de Marrocos, muito interessado nas minas de sal do outro lado do deserto). Somado a isso, a Europa passou a conhecer a África e utilizá-la para seus fins igualmente expansionistas. “É o começo de uma aventura sombria”, afirma Ki-Zerbo. (KI-ZERBO, op. cit.: 251)


civilizacoesafricanas.blogspot.pt
17
Out16

TRIBO WODAABE

António Garrochinho



O Wodaabe ou Bororo são um pequeno subgrupo da Fulani grupo étnico. Eles são tradicionalmente nômades gado-pastores e comerciantes no Sahel, com as migrações que se estende do sul do Níger, através do norte da Nigéria, nordeste do Camarões, sudoeste do Chade, ea região ocidental do Central Africano República. O número de Wodaabe foi estimado em 2001 para ser 100.000.  Eles são conhecidos por sua beleza (homens e mulheres), vestuário elaborado e cerimónias culturais ricas.
O Wodaabe falar a língua Fula e não use uma linguagem escrita.  Na língua Fula, woɗa significa “tabu”, e Woɗaaɓe significa “povo do tabu”. “Wodaabe” é um anglicização de Woɗaaɓe.  Isso às vezes é traduzido como “aqueles que respeitam tabus”, uma referência ao isolamento Wodaabe de cultura Fulbe mais ampla, e sua alegação de que eles mantêm tradições “mais velhos” do que seus vizinhos Fulbe. Em contraste, outro Fulbe, bem como outros grupos étnicos, por vezes, referem-se ao Wodaabe como “Bororo”, um nome às vezes pejorativo,  traduzida em Inglês como “gado Fulani”, e que significa “os que habitam em acampamentos de gado”.  Por volta do século 17, os fulas toda a África Ocidental estavam entre os primeiros grupos étnicos a abraçar o Islã, eram muitas vezes líderes dessas forças que se espalhou o Islã, e tem sido tradicionalmente orgulhoso da vida urbana, letrado, e piedoso com o qual este tem sido relacionado. Ambos Wodaabe e outros Fulbe ver no Wodaabe os ecos de uma maneira pastoralist anterior da vida, da qual o Wodaabe são orgulhosos e de que Fulbe urbana são, por vezes crítica.
A cultura Wodaabe é uma das 186 culturas da amostra cross-cultural padrão utilizadas pelos antropólogos para comparar traços culturais.

A VIDA COTIDIANA

 

O Wodaabe manter rebanhos de longas-cornudo Zebu gado. A estação seca vai de outubro a maio. Sua viagem anual durante a estação chuvosa segue a chuva desde o sul até o norte.  Grupos de várias dezenas de parentes, tipicamente vários irmãos com suas esposas, crianças e idosos, viagens a pé, de burro ou de camelo, e ficar em cada pastejo local para um par de dias. Uma grande cama de madeira é o bem mais importante de cada família; quando camping é cercado por algumas telas. As mulheres também carregam cabaças como um símbolo de status. Estes cabaças são passadas através das gerações, e muitas vezes provocar rivalidade entre as mulheres. O Wodaabe vivem principalmente de leite e chão milho, bem como iogurte, chá doce e, ocasionalmente, a carne de cabra ou ovelha. Esta é uma raridade para eles como eles muitas vezes não têm animais suficientes de sobra para a carne.

RELIGIÃO, A MORAL E OS COSTUMES

 

Wodaabe religião é, em grande parte, mas vagamente islâmica.Apesar de existirem diferentes graus de ortodoxia exibiu, mais aderir a, pelo menos, alguns dos requisitos básicos da religião.  o Islã se tornou uma religião de importância entre os povos Wodaabe durante o século 16, quando o estudioso al-Maghili pregou os ensinamentos de Maomé para a elite do norte da Nigéria. Al-Maghili foi responsável por converter as classes dominantes entre os Hausa, Fulani, e tuaregues povos na região.
O código de comportamento do Wodaabe enfatiza reserva e modéstia (semteende), paciência e fortaleza (munyal), cuidado e prudência (hakkilo), e da lealdade (amana). Eles também dão grande ênfase na beleza e charme.
Os pais não estão autorizados a falar diretamente com seus dois primeiros filhos nascidos, que, muitas vezes, ser cuidada por seus avós. Durante o dia, marido e mulher não pode dar as mãos ou falar de uma maneira pessoal com o outro.

CASAMENTO

 

Os viajantes têm indicado que alguns grupos Wodaabe em Níger são sexualmente liberal; moças solteiras podem ter relações sexuais quando e com quem quiserem.
A prática Wodaabe poligamia. Casamentos ou são arranjados pelos pais quando o casal são crianças (chamados “koogal”), ou eles podem ser por causa do amor e da atração (chamado de “teegal”). Uma noiva fica com seu marido até que ela fica grávida depois que ela retorna para casa da mãe, onde ela permanecerá para os próximos três a quatro anos. Ela vai entregar o bebê em casa de sua mãe e, em seguida, ela se torna uma boofeydo, que literalmente significa “alguém que tenha cometido um erro.” Enquanto ela é boofeydo, ela não é permitido ter qualquer contato com seu marido, e ele não tem permissão para expressar qualquer interesse em ela ou o filho.Depois de dois ou três anos, ela tem permissão para visitar seu marido, mas ele ainda é um tabu que ela deve viver com ele ou trazer a criança com ela; isso se torna apenas permitida quando sua mãe conseguiu comprar todos os itens que são necessários para a sua casa.

BELEZA IDEAL E GEREWOL FESTIVAL

 

Ver artigo principal: Gerewol
No final da estação chuvosa, em setembro, clãs Wodaabe reúnem-se em vários locais tradicionais antes do início da sua estação seca transumância a migração. O mais conhecido deles é o In-Gall ‘s cura Salée mercado de sal e Tuareg festival sazonal.Aqui os jovens Wodaabe, com composição elaborada, penas e outros adornos, execute o Yaake: danças e músicas para impressionar as mulheres casadoiras. A beleza masculina ideal do Wodaabe salienta estatura, olhos e dentes brancos; os homens, muitas vezes, reviram os olhos e mostrar os dentes para enfatizar essas características. Clãs Wodaabe, em seguida, juntar-se para o restante da semana longa Gerewol:. Uma série de permutas sobre casamento e concursos onde a beleza e as habilidades dos rapazes são julgados por mulheres jovens.

vivimetaliun.wordpress.com
17
Out16

O ANTÍLOPE E A SUA VARIEDADE

António Garrochinho
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  1. Antilocapra


    (Antilocapra americana)

    O antílope que tem um sinal de alarma
    O antilocapra é um animal veloz, que chega a correr a mais ou menos 70 km/h. Houve tempo em que ele dividia as planícies da América do Norte com o bisão, o coiote, o lobo e o índio.

    Os antilocapras acham-se atualmente confinados ao oeste dos Estados Unidos, principalmente à região das montanhas Rochosas, e a algumas partes do Canadá e do México.

    São protegidos pelo governo, mas os dados falam por si: existem atualmente cerca de 350 00 antilocapras, enquanto por volta de 1 800 somavam cerca de 30 000 00. O antilocapra é o único sobrevivente de um animal pré-histórico, cujos vestígios fósseis deixam sem resposta as perguntas sobre sua evolução.


    Ele tem a crina eriçada e os dedos laterais atrofiados dos bois; tem o mesmo número de vértebras que os veados.Os chifres caem todo o ano , mas o processo de crescimento é diferente dos outros cervídeos.

    Em caso de perigo, o antilocapra avisa seus companheiros eriçando os pêlos compridos e brancos que tem no traseiro. Os rebanhos se reúnem em setembro, e os machos mais fortes, depois de combaterem, juntam haréns de 10, 12 ou até 20 fêmeas.


    Filo: Chordata 
    Classe: Mammalia
    Ordem: Artilocapridae 
    Família: Antilocapridae
    Características: 
    Altura dos ombros: de 0,80 a 1 m
    Peso: até 60 Kg
    Comprimento dos Chifres:30 cm (macho); 10 cm (fêmea)

  2.  Antílope das Estepes




    Antílope das Estepes


    (Saiga tatarica)Um nariz incomumO nariz do antílope das estepes parece uma corneta feia, comprida e recurva. Esse nariz filtra a areia e a poeira levantadas pelo vento e também funciona como aparelho de troca de calor: o muco nasal aquece o ar gélido das estepes eurasianas, onde o animal não encontra abrigos naturais.

    Unicamente por causa do nariz é que o antílope das estepes conseguiu adaptar-se às vastas regiões desérticas da Mongólia e do Cazaquistão geladas no inverno e tórridas no verão e apenas com vegetação muito espalhada.

    Aglomerados como carneiros, os rebanhos de antílopes das estepes estão sempre em movimento e permanentemente em guarda contra ataques de animais predadores. O acasalamento ocorre no início do inverno. Os rebanhos se dividem em haréns, cada um liderado por um macho velho.


    Os machos novos formam rebanhos de indivíduos sem fêmeas. Os antílopes das estepes já foram intensamente caçados, mas hoje constituem uma espécie protegida pelo governo soviético e a quantidade de indivíduos existentes aumentou de alguns milhares para mais de 1 milhão no decorrer dos últimos 45 anos.


    FILO: Chordata
    FAMÍLIA: Bovidae'
    CLASSE: Mammalia
    ORDEM: Artiodactyla


    CARACTERÍSTICAS:

    Comprimento: até 1.70 m. mais 0.80 m de cauda
    Altura dos ombros: até 80 cm
    Peso: até 68 kg
    A fêmea se torna adulta aos 10 meses
    Período de gestação: 5 meses
    Ninhada: de 1 a 3 filhotes





  3.  Antílope Indiano



    Antílope Indiano



    (Antilope cervicapra)

    Um animal lendário

    Também conhecido como cervicapra. o antílope indiano é um personagem importante das lendas asiáticas. A mitologia hindu usa-o como um dos signos do zodíaco. O antílope indiano é retratado puxando a carruagem da lua, na qual estão sentados os deuses.

    Massas de pêlo, chamadas bezoars, encontradas no estômago do antílope indiano, eram usadas pelos curandeiros tribais no tratamento de doenças graves. Como o nome indica, o antílope indiano vive na índia, e também no Paquistão ocidental.

    Em manadas de cerca de uma centena de cabeças, o antílope indiano passa seu tempo pastando o capim rasteiro das planícies descampadas. Sua melhor defesa contra os inimigos — tigres, leopardos e lobos — é a agilidade. O antílope indiano os desencoraja graças à capacidade de correr a uma velocidade de 80 quilômetros por hora. e de dar grandes saltos no ar.

    A estação de acasalamento vai de fevereiro a março, conforme a região. Ao encontrar uma companheira, o antílope indiano macho dança para conquistá-la. Geralmente a fêmea cria um único filhote. Ambos ficam escondidos durante uns poucos dias antes de se juntarem novamente à manada.
    CARACTERÍSTICAS:
    Comprimento: até 1.40 m
    Altura: 0.80 m
    Peso: até 36 kg
    Dá cria uma vez por ano
    Período de gestação: 180 dias
    Vida média: 15 anos
    O macho tem chifres compridos



    FILO: Chordata
    CLASSE: Mammalia
    ORDEM: Artiodactyla
    FAMÍLIA: Bovidea




  4.  Antílope Real





    Antílope Real(Neotragus pygmaeus)


    Um rei que vive escondido


    Não, ele nunca crescerá mais do que isso: seu tamanho, quando adulto o antílope-real, não passa dos 25 cm. Os africanos chamam-no "rei das lebres" e não caçam o antílope-real porque o consideram um animal encantado. O antílope-real vive nas mais impenetráveis florestas da África. Há outros, minúsculos, chamados de antílopes pigmeus.

    O antílope-real vive só ou com sua companheira. Nunca se junta em bandos porque é tímido e solitário por natureza. Ao menor distúrbio,o antílope-real desaparece no mato rasteiro. Tem hábitos noturnos. De dia,o antílope-real permanece escondido e, por ser tão pequenino, pode abrigar-se até em tocas abandonadas de roedores.

    O antílope-real alimenta-se de insetos, vermes, bichos mortos, mas come também capim, folhas e brotos de árvores. É difícil seguir o antílope-real e observá-lo.


    Por isso. a época do seu acasalamento e o seu tempo de gestação são ainda desconhecidos.


    FILO: Chordata
    CLASSE: Mammalia
    ORDEM: Artiodactylae
    FAMÍLIA: Bovidae



    CARACTERÍSTICAS:
    Comprimento: 35 cm
    Altura: 20 cm
    Um filhote por ano
    Tempo de vida: 9 anos
    O macho tem chifres retos e pontudos
    Tufos de pelos entre os chifres



  5.  Antílope Ruão





    Antílope Ruão(Hipporragus equinus)


    Uma charada

    O que é que tem crina e cauda de cavalo, orelhas de burro e a cabeça majestática da camurça? E o antílope-ruão, de longas orelhas que, à distância, parecem chifres. Sudão. Senegal e Gâmbia são alguns dos países africanos onde pode ser encontrado. É muito caçado, porque seu couro de pêlos curtos é usado na confecção de agasalhos leves naqueles países.

    Está sempre andando em busca de alimento. Ele nunca se demora muito tempo em uma mesma área. E dá preferência às ervas suculentas. O antílope-ruão é muito sociável. É achado em companhia de zebras, girafas e impalas. Os únicos inimigos que ele teme são o homem e o leão. Durante a época de acasalamento, que é demorada, os machos travam tremendos combates uns com os outros para conseguir ou manter uma fêmea.


    Frente a frente, derrubam-se a golpes dos seus possantes chifres. Os filhotes nascem em agosto ou setembro, um ou dois por ninhada. Tanto o macho como a fêmea têm chifres torcidos e curvados para trás. Seu tempo de vida é de 17 anos.



    FILO: Chordata
    CLASSE: Mammalia
    ORDEM: Artiodactyla
    FAMÍLIA: Bovidae
    CARACTERÍSTICAS:
    Comprimento: até 3 m
    Altura: até 1,50 m
    Peso: de 150 a 300 kg
    Filhotes: 1 ou 2 urna vez por ano
    Período de gestação: 280 dias
    Cauda reta
    Orelhas compridas




    Responder com Citação
  6.  Antílope Saltador





    Antílope Saltador


    (Antidorcas marsupialis)

    Uma Crista de Pelos brancos ( Sinal de Alerta)
    Quando se assusta, o antílope -saltador abre uma dobra de pele que tem no lombo para exibir uma crista de pêlos brancos. Isso funciona como sinal de alerta para o resto do bando. Esse antílope pode saltar mais de 2 metros no ar, com as pernas unidas e esticadas.

    Ele pula sobre rodovias e estradas de ferro sem grande esforço. Sobrevive sem beber água, apenas absorvendo o líquido dos arbustos que come. Os bandos de antílopes percorrem grandes distâncias à procura de campos de pastagens.
     Há algum tempo eles perambulavam pelas estepes da África em bandos tão grandes que levava dias para um bando passar por um dado lugar. 

    Como essas migrações arruinavam as lavouras, O famigerado governo sul-africano distribuiu rifles à população na tentativa de exterminar os pobres animais. Também os caçadores furtivos abateram centenas desses animais.

    Atualmente, esse antílope é raro sobrevivendo em apenas dois parques estatais da África do Sul, e em Angola. O mesmo pais que massacrou o antílope-saltador homenageou o animal colocando-o no emblema nacional da África do Sul. É um animal que gosta de grandes espaços pois migra para outros lugares em busca de pasto verde. Pode ser visto na maior parte dos jardins zoológicos infelizmente.



    FILO:Chordata
    CLASSE: Mammalia
    ORDEM: Artiodactyla
    FAMÌLIA: Bovidae



    CARACTERÍSTICAS:
    Comprimento: 123 centímetros altura do quarto dianteiro: 61 a 91 centímetros
    Peso: ate 34 quilos 
    Cor: castanho-amarelado por cima, branco por baixo faixa marrom dos lados cauda branca e garupa malhada Chifres pretos, anelados, em ambos os sexos
    Período de gestação: 171 dias Uma cria, em novembro ou dezembro



    achetudoeregiao
17
Out16

Os carrascos dos Balcãs

António Garrochinho


Guerras democráticas, crimes humanitários e mentiras caridosas 
por Anabela Fino

A prontidão com que se encerrou o «ficheiro Milosevic» legitima a convicção de quantos não se deixaram enganar pela campanha de desinformação levada a cabo a nível mundial, e que cedo perceberam que o grande «perigo» do julgamento do dirigente sérvio não era que este viesse a provar a sua inocência, mas antes que provasse as atrocidades cometidas pela NATO com o patrocínio dos EUA e da União Europeia (UE), e desmascarasse o plano concebido e executado por Washington para a destruição da Federação Jugoslava.


Não terá sido certamente por acaso que o julgamento de Milosevic começou, há cerca de quatro anos e meio, como um grande espectáculo mediático, e em poucas semanas foi banido dos noticiários, até cair no esquecimento.

Como escreveu a propósito Paul Craig Roberts (ex-secretário adjunto do Tesouro na administração Reagan, editor associado do Wall Street Journal, colaborador da National Review e co-autor de «A Tirania das Boas Intenções») se a «massiva campanha de propaganda contra Milosevic tivesse sido apoiada por muitos factos, ele teria sido condenado em Haia». Não foi.

Coloca-se então a questão de saber porquê.


[NE: como se refere no cabeçalho, sublinha-se que este artigo foi publicado em 2006/04/06. Além do mais, bastaria a breve referência a Guterres e Durão Barroso para justificar a sua publicação]

«Slobodan Milosevic, presidente do Partido Socialista da Sérvia e ex-presidente da Sérvia e da Jugoslávia, foi assassinado hoje no Tribunal de Haia. A decisão do Tribunal de recusar o tratamento médico de Milosevic no Instituto Bakunin em Moscovo representa um prescrição de sentença de morte contra Milosevic. A verdade e a justiça estavam do seu lado e por isso utilizaram uma estratégia de assassinato gradual de Slobodan Milosevic. A responsabilidade da sua morte recai evidentemente sobre o Tribunal de Haia.»

A acusação é de Zoran Andelkovic, dirigente do Partido Socialista Sérvio, e foi proferida a 11 de Março de 2006, o próprio dia da morte de Milosevic. 

Cerca de um mês depois, a pesada cortina de silêncio imposta sobre as obscuras causas do seu desaparecimento só tem paralelo na que envolve a actividade do «tribunal» e na que esconde os verdadeiros motivos da sua criação. 

É necessário retroceder mais de duas décadas para encontrar a ponta desta intricada meada que, segundo Sean Gervasi («Alemanha, Estados Unidos e a Crise Jugoslava», Covert Action Quarterly, nº 43), citado num artigo de Michel Chossudovsky, consta do documento secreto intitulado «Política dos Estados Unidos para a Jugoslávia».

Uma versão censurada deste documento, divulgada em 1990, revela que os objectivos dos EUA incluíam «desenvolver esforços para promover uma ‘revolução silenciosa’ e derrubar Partidos e Governos comunistas» enquanto se reintegravam os países do Leste europeu na economia de mercado.

O assalto à Jugoslávia teve início em 1980, pouco antes da morte de Tito e muito antes de Milosevic chegar à presidência da República (Maio de 1989), sob a forma de um programa macro-econômico de reformas imposto ao governo de Belgrado pelos credores estrangeiros. Segundo Michel Chossudovsky, esse programa deu início ao «colapso da economia nacional, que começou com a desintegração do sector industrial e a destruição e o desmantelamento do Estado de bem-estar social».

Para o conceituado economista, «a reestruturação macro-econômica aplicada na Jugoslávia sob um programa de política neoliberal levou inequivocamente à destruição de um país inteiro».

Sublinhando que «já desde o início da crise, este papel principal das reformas macro-econômicas foi cuidadosamente dissimulado e inclusivamente negado pelos grandes meios de comunicação social», Chossudovsky faz notar que «o impacto social e político da reestruturação econômica na Jugoslávia foi cuidadosamente apagado da nossa consciência social e da compreensão colectiva», o que permitiu que «as divisões culturais, étnicas e religiosas fossem apresentadas dogmaticamente como a única ‘causa’ da crise, quando na realidade são a ‘consequência’ de um grave processo de destruição econômica e política» (in Dismantling former Yugoslavia, recolonising Bosnia / Desmantelamento da antiga Jugoslávia, recolonizando a Bósnia - 1995).

Um programa de destruição 

Os dados do Banco Mundial («Estudo de Reestruturação Industrial, considerações, Resultados e Estratégia para as reformas», Washington DC, Junho de 1991) confirmam as palavras de Chossudovsky: o crescimento da produção industrial, que no período de 1966/1979 tinha registado um índice anual de 7,1 por cento, caiu para zero entre 1987/88 e tombou até -10,6 por cento em 1990. 

Segundo Sean Gervasi, o auge das reformas impostas com a ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI) ocorreu sob o governo federal do primeiro-ministro Ante Markovic, pró-americano, que quando Milosevic chegou à presidência da República já tinha acordado com Bush (pai) a implementação de medidas como a desvalorização brutal da moeda (2700 por cento em 1989), congelamento dos salários, redução drástica da despesa pública, alteração da legislação para facilitar os investimentos estrangeiros, destruição do sector empresarial do Estado e liquidação do regime de autogestão.

Este pacote de medidas - sob a forma de um Acordo com o FMI e como condição para um empréstimo do Banco Mundial (BM) e para a negociação da dívida externa com os clubes de Londres e Paris - , foi posto em marcha em Dezembro de 1989. 

As consequências foram dramáticas, como atestam os próprios dados do BM: o salário real baixou cerca de 41 por cento nos primeiros seis meses de 1990, e em apenas dois anos mais de 600 000 trabalhadores da indústria, num total de 2,7 milhões, ficaram no desemprego. Enquanto isso, a estrutura orçamental da federação entrou em colapso, o que levou à suspensão das transferências de verbas do governo central para as repúblicas e províncias autônomas. As regiões onde se registraram mais falências de empresas e mais despedimentos, assinala o BM, foram a Sérvia, Bósnia-Herzegovina, Macedônia e Kosovo.
Estava preparado o terreno que havia de servir de palco à guerra nos Bálcãs e ao fim da Jugoslávia.

Os separatistas foram apresentados como vítimas, aclamados como heróis e financiados como amigos. Os que tentaram manter a federação foram demonizados perante a opinião pública, condenados, bombardeados e finalmente derrotados. 

Quando Milosevic assinou os acordos de Dayton, em 1995, a delimitação das fronteiras há muito que tinha sido traçada em função dos interesses dos EUA e dos grandes grupos econômicos.

Vale a pena reflectir se terá sido por pura coincidência que a principal frente de batalha no Verão de 1995 entre croatas e sérvios da Bósnia, na Bósnia e na Krajina, tenha sido na região de Dinar, justamente onde foram identificadas as principais jazidas de carvão e petróleo. E já agora, se terá sido também por acaso que a Amoco (American Oil Company), sediada em Chicago, com outras companhias estrangeiras, tenham iniciado então as suas próprias prospecções.

Como referia na época o San Francisco Chronicle (28 de Agosto de 1995), «o Ocidente está sôfrego por explorar essas regiões (...) O Banco Mundial - e as multinacionais que dirigem as operações - estão pouco dispostos a divulgar aos governos combatentes as suas últimas informações sobre as explorações, enquanto a guerra continuar.»

O genocídio que não existiu

Após os acordos de Dayton que puseram fim à guerra na Bósnia, o que sobrou da Federação Jugoslava continuava a ser de mais para as potências ocidentais, que não podiam tolerar a insubmissão da Sérvia. 

A estratégia passava agora pelo Kosovo, província sérvia «colonizada» pela minoria albanesa, onde no Inverno de 1997/1998 o auto-intitulado Exército de Libertação do Kosovo (UÇK) proclama a guerra pela unificação do território com a Albânia.

Os ataques contra polícias e civis entram na ordem do dia, aparentemente à revelia dos ditames de Washington, cujo representante para a antiga Jugoslávia, Robert Gelbard, chega a afirmar em conferência de imprensa (23 de Fevereiro de 1998), que o UÇK era «sem qualquer dúvida um grupo terrorista». Na altura, Gelbard «condena fortemente» as actividades terroristas.

Belgrado faz o que seria de esperar em tais circunstâncias: combate a insurreição separatista.

Enquanto isso, os EUA afastam-se gradualmente da posição do seu representante, indo ao ponto de explicarem, numa conferência de imprensa em 29 de Junho de 1998, que cabe à secretária de Estado (à época Madeleine Albright) «determinar quando uma organização é ‘uma organização terrorista’, e essa determinação não está feita no caso do UÇK».

Como os factos viriam a comprovar, os EUA intervieram a favor dos separatistas, apoiados por uma campanha de desinformação em tudo idêntica à que alguns anos depois iria ser utilizada no Iraque com as propagandeadas «armas de destruição maciça».

No Kosovo, a campanha contra Milosevic teve por mote o «genocídio» da população albanesa. A mentira, repetida até à exaustão, criou o clima propício aos bombardeamentos da Nato contra a Sérvia, com o seu cortejo de «danos colaterais».

Durante 78 dias, entre 24 de Março e 10 de Junho de 1999, as bombas «humanitárias» mataram pelo menos 500 civis sérvios e uma destruição estimada em 100 000 milhões de dólares.

Depois da guerra, a própria Nato informava que 2000 pessoas tinham sido mortas de ambos os lados do conflito no ano anterior aos bombardeamentos. Em Novembro de 1999, uma investigação própria do Wall Street Journal concluía que em vez dos «imensos campos da morte que alguns investigadores chegaram a esperar (...) o padrão é de mortes isoladas em áreas onde o separatista Exército de Libertação do Kosovo tinha estado activo».

Ainda segundo aquele jornal, a Nato tinha empolado as declarações sobre o genocídio quando «viu um grupo de imprensa cansado que se orientava para uma história diferente - civis mortos por bombas da NATO». 

E concluía: «A guerra do Kosovo foi cruel, selvagem. Mas não foi um genocídio.»

À mesma conclusão chegou Phillip Hammond, da South Bank University (Degraded Capability, The Media and the Kosovo Crisis, Pluto Press, 2000):

«Talvez nunca venhamos a saber o número certo de mortos. Mas parece razoável concluir que ainda que tenham morrido pessoas nos confrontos entre o UÇK e as forças jugoslavas (...) o quadro pintado pela Nato - de uma campanha sistemática de ‘genocídio’ de estilo nazi cometido pelos sérvios - foi pura invenção.»

Sete anos depois do Kosovo e três anos depois do Iraque é por demais evidente que a destruição da Jugoslávia e os crimes de guerra cometidos para o conseguir, bem como a campanha de mentiras que os justificaram perante a opinião pública, criaram um precedente que permite aos EUA levar a cabo intervenções «humanitárias» ao sabor dos seus interesses. De Clinton a Bush, acolitados por subservientes homens de mão - chamem-se eles António Guterres ou Durão Barroso - os crimes de guerra passaram a ser da exclusividade dos adversários a abater em qualquer ponto do globo. 

Bush acredita que pode repetir a receita no Irão e a União Europeia assesta já baterias para a campanha mediática dita anti-nuclear. O porta-voz é Javier Solana, com provas dadas no ataque à Jugoslávia, onde em nome da «liberdade de expressão» mandou atacar com mísseis a Televisão de Belgrado, cujos destroços permanecem na capital sérvia como um símbolo do império americano. 

Curiosidades

O «futuro estatuto» do Kosovo começou a ser discutido em Viena, em Fevereiro último, apesar de a resolução 1244 da ONU estipular que aquela região da Sérvia é parte integrante da Jugoslávia.

A República Srpska, que os acordos de Dayton consagraram como um Estado sérvio constitutivo da Bósnia, está ameaçada de extinção a pretexto de uma nova reforma constitucional.

Na Voivodina, os separatistas estão cada vez mais activos com o apoio pouco discreto dos serviços secretos ocidentais.

Nas masmorras do «tribunal» de Haia está encarcerado há dois anos o sérvio Vojislav Seselj. Dado que na maior parte dos anos 90 esteve na oposição, não pode ser «acusado» de colaborar com Milosevic. O seu processo ainda nem sequer começou. É um ‘perigoso’ patriota sérvio. Teme-se que esteja a ser submetido ao mesmo «tratamento» de Milosevic.

Mykolas Burokevicius, dirigente comunista lituano, nascido em 1927, foi encarcerado numa prisão da Nato na Lituânia em 1994 pela sua suposta implicação num golpe a favor da permanência da Lituânia na URSS em 1991. Doze anos depois foi libertado. Teve sorte. Sobreviveu.


Anabela Fino






17
Out16

Segredos da Escrita Antiga

António Garrochinho



É sabido que a escrita começou na Mesopotâmia cuja maior parte é, hoje, ocupada pelo Iraque. Na época, tinha como intuito registrar transações comerciais; começando pelo desenho dos objetivos e passando para símbolos que representavam ideias em seguida. Por volta de 3.500 a.C., os sons da fala começaram a ser escritos com estilete em pequenas tábuas de barro, sendo conhecida atualmente como escrita cuneiforme, ganhando o Velho Mundo.
Só em 1.000 a.C. os fenícios inventaram o alfabeto, mesmo já existindo a escrita independente em outras partes do mundo. Na China, os primeiros registros foram feitos em ossos, que marcavam ações militares e feitos de imperadores. Já na América Central os maias usavam hieróglifos a fim de usarem para a astronomia e as dinastias. É válido ressaltar que nas sociedades antigas, o conhecimento da escrita era restringido às elites, por ser considerado como fonte de sabedoria e poder.
A seguir abordarei alguns conceitos interessantes e úteis para que haja melhor compreensão do processo de evolução dessa maravilhosa arte. A pesquisa teve como fonte a Coleção Aventura Visual, publicada pela Editora Globo.


Placa Inaugural: Este cone de tijolo de 4.000 anos, da cidade sumeriana de Ur, estava numa parede para registrar a inauguração de um prédio. Além dele, havia também os sinetes usados para autenticar documentos; trazia o nome do proprietário e era passado em barro para deixar a impressão nítida. Podiam ser feitos com uma variedade de pedras, algumas até preciosas.


Tábula Cuneiforme: A forma mais antiga de escrita, a cuneiforme, consiste em sinais feitos com estilete numa tábua de barro úmido. Esta da imagem acima é uma de contas, da Mesopotâmia, escrita em, aproximadamente, 3.400 a.C.


Escrita Maia: Os escritos pictográficos dos maias desafiaram gerações de estudiosos. Não têm nenhuma semelhança com as outras formas conhecidas de escrita. Os primeiros sinais só foram traduzidos meados dos anos de 1880 e por mais de 100 anos pensou-se que os maias só utilizavam da escrita para registrar o calendário e fazer cálculos de astronomia. Só depois de 1960 é que se descobriu que alguns hieróglifos se referiam aos reis e aos seus feitos.


Escrita Chinesa: A escrita chinesa é a mais antiga em uso no mundo. A forma de 1.300 a.C., Período Shang da Idade do Bronze, ainda tem relação com o chines moderno. Em 221 a.C. foi estabelecida uma escrita padronizada que substituiu todas as variações regionais e que até hoje é usada.


Escrita Egípcia: A ideia da escrita provavelmente viajou da Ásia para o Egito, mas os caracteres em si foram desenvolvidos no local. Eram usados três tipos básicos: a escrita oficial, das inscrições, é o hieróglifo; a religiosa se escrevia nos papiros, com tinta; e havia uma mais simples, chamada de demótica, ou popular, para o dia a dia. Os escribas eram necessários para o funcionamento da complexa sociedade  do Antigo Egito para fazer os registro, tocar os negócios e para que os impostos fossem cobrados. O hieróglifo é um tipo de escrita em que palavras se representam por símbolos. Foi desenvolvido por volta do ano 3.000 a.C. e era usado para registros históricos, principalmente em túmulos e templos.

www.penapensante.com.br
17
Out16

Quanto mais velhos os professores, maior a indisciplina nas aulas

António Garrochinho

Quanto mais velhos são os professores, maior é a indisciplina em sala de aula, revela estudo do Conselho Nacional de Educação, que alerta também para o envelhecimento crescente do corpo docente.


“Em Portugal, os professores mais velhos são os que reportam menor disciplina em sala de aula. Não obstante, os níveis de disciplina reportados pelos professores são sempre baixos”, lê-se num estudo dedicado aos professores, às suas condições de trabalho e remunerações, entre outros aspetos, da autoria do projeto aQeduto, uma parceria do CNE com a Fundação Francisco Manuel dos Santos.
O estudo, que compara alguns países membros da OCDE, tendo por base dados do relatório TALIS 2012, mostra que Portugal apresenta os níveis mais baixos de disciplina em sala de aula, nas faixas etárias mais envelhecidas do corpo docente.
Se em casos de países como Espanha, Dinamarca e Polónia, à medida que os professores envelhecem e ganham mais experiência vai aumentando o nível de disciplina em sala de aula, noutros, como Irlanda e Portugal, acontece exatamente o inverso.
“O envelhecimento dos docentes conduz a um reporte mais acentuado de indisciplina, particularmente em Portugal, onde os professores acima dos 50 anos reportam níveis muito baixos de disciplina. Esta questão deve ser encarada com muita atenção, dado o envelhecimento do corpo docente. Em 2012, 34% dos professores portugueses tinham mais de 50 anos, sendo que, em 2015, essa percentagem aumentou para 39%”, alerta o estudo.
Em Portugal, 87% dos professores declara sentir-se satisfeito com a profissão, mas apenas 52% se sente respeitado. Regra geral, é a sensação de ser útil aos alunos e de que contribuem para os ajudar a aprender que leva os docentes a mostrarem-se satisfeitos com o trabalho.
O documento compara ainda o nível salarial dos professores com outros licenciados na função pública, em cada um dos países analisados, concluindo que é em Portugal e Espanha que os docentes ganham melhor, sobretudo em início de carreira: “Os professores recebem entre 20 a 30% mais do que os restantes licenciados”.
No entanto, passados 15 anos de trabalho a progressão salarial em Portugal é quase nula para os professores, ao contrário do que acontece na Irlanda ou na Holanda, por exemplo.
“Portugal e Espanha também apresentam uma grande disparidade entre professores em fim de carreira e os restantes, sinalizando um período de aumentos no passado que provavelmente não se repetirá para as gerações mais jovens, que têm tido os salários congelados há mais de uma década”, lê-se no estudo.
Os professores portugueses são os que mais horas trabalham, sobretudo no que diz respeito ao tempo passado a preparar aulas, mas são dos que mais se queixam do reconhecimento do seu trabalho.
“Em 2012, 26% dos professores declararam nunca ter sido reconhecidos de forma alguma pelo seu trabalho e 48% afirmam que, no geral, os professores são pouco respeitados pela sociedade”, lê-se no estudo, em relação a Portugal.
Pior, só Espanha, onde 45% dos professores afirmaram nunca ter tido qualquer reconhecimento pessoal pelo trabalho realizado.
No que diz respeito a metodologias de trabalho, os professores portugueses “debitam muita matéria”, preferindo o método expositivo ao método de aulas práticas.

observador.pt
17
Out16

A sociedade do ruído.

António Garrochinho

 5. Pescar na Rede




Temos ideias feitas sobre muitas coisas correntes. Às vezes, as ideias feitas são erradas. Outras vezes, estão certas mas não temos modo fácil de as testar. De vez em quando, é possível confirmar pequenas coisas.

A crítica (uma das críticas) que muitos fazem às "redes sociais" é que elas são pasto para a superficialidade numa forma extrema. Sendo certo que colhemos muita informação relevante nas ditas redes, é fácil descartar aquela crítica dizendo que "há de tudo, como na mercearia". Só que, na realidade, a febre com que muitos se comportam nas ditas redes pode ser ilustrada de muitas maneiras.

Acabei de fazer um teste. Não no ambiente frequentemente agressivo do Twitter, mas no mais pacato Facebook. Publiquei a imagem acima, acompanhada da seguinte mensagem: «Os comentários a este "anúncio" são bem o retrato de muita coisa que se passa no FB... Há quem diga que é mentira, que a mudança de hora não é este fim-de-semana, que já bastam as mentiras dos políticos... Quer dizer, muito mais "opiniães" do que gente a ler e a interpretar o que lá está.» Quer dizer: o texto, basicamente relatando o que tinha visto na página de outra pessoa, já apontava para a armadilha, não a explicando, mas assinalando a sua existência. Mesmo assim, muitos comentários vieram fazer a caridade de me explicar que a hora não mudava este fim-de-semana... 

Julgo poder concluir que muita gente não percebeu o jogo da imagem... e que, do mesmo modo, muita gente nem leu o texto de acompanhamento (ou não o entendeu).

Dispenso-me grandes considerações. Sem excessiva teoria, este pequeno experimento mostra o jogo de aparências em que vivemos nestas "redes de nodos esburacados", nodos pelos quais passa muita informação que não deixa nada de consistente. Qualquer dia explicarei melhor como enquadro isto no problema "redes vs. instituições".

maquinaespeculativa.blogspot.pt
17
Out16

Meia dúzia de notas e um lembrete

António Garrochinho



1. No contexto da discussão Orçamento de Estado de 2016, António Costa fez uma declaração simples, mas realista: o OE ficou pior depois de ter ido a Bruxelas. No fundo, Costa reconhecia que a tal Europa já não estava connosco.

2. Uma das principais traduções deste facto está presente no relatório do OE de 2017: a reconhecida quebra do investimento público, que atinge este ano o valor mais baixo, em percentagem do PIB, da história democrática (1,9%), sendo responsável parcial pelo corte do crescimento previsto (e logo pelo menor crescimento da receita fiscal, ou não estivessem as finanças públicas dependentes do andamento do resto da economia por estas influenciada, facto ainda há dias sublinhado por Jorge Bateira neste blogue).

3. Este ano, o governo quer evitar que o OE venha pior de Bruxelas e isso nota-se já. Nota-se, por exemplo, no contributo negativo que o consumo público (quebra real prevista de 1,2%) dará para o crescimento económico: OE “restritivo”, de facto. O investimento público previsto recupera um pouco da queda deste ano, mas o seu peso previsto no PIB (2,2%) será ainda inferior ao de 2015 (2,3%).

4. As escolhas progressistas, no quadro dos pesados constrangimentos europeus, numa semicolónia, na realidade, são limitadas, por falta de instrumentos de política económica: veja-se o quadro 3 da página 37 do relatório do OE. Este quadro indica de forma transparente como a política orçamental que muda as relações sociais num sentido igualitário está limitada a umas curtas décimas e centésimas na política de despesa e na política fiscal. É por isto que a futilidadesempre me pareceu o melhor dispositivo no arsenal retórico reaccionário, sendo a UE o dispositivo material que melhor o pode confirmar. Entretanto, um dos muitos problemas estruturais aí está: o baixo investimento público e a quebra do emprego público, já há muito abaixo da média da OCDE, acentuam o risco de degradação dos serviços públicos.

5. É claro que mesmo o que é reduzido, em percentagem do PIB, pode fazer uma pequena, embora relevante, diferença para a vida de muitos pensionistas, trabalhadores ou beneficiários de prestações sociais, que deixarão de ver o seu poder de compra reduzido, como nos anos das direitas e da sua troika, podendo também fazer uma modesta diferença na redução das desigualdades e de hábitos com externalidades negativas, com custos sociais. Sem complacência, a esperança e a confiança populares dependem de resultados, por muito que estes estejam abaixo das necessidades.

6. Este orçamento procura ganhar tempo, como bem conclui Ricardo Cabral. Para quê? Para que alguma coisa mude na UE, dirá também um economista euro-liberal, como o deputado Paulo Trigo Pereira, no principal blogue da direita, reconhecendo de forma parcial a natureza do constrangimento. Nada mudará, já que tudo está trancado do ponto de vista institucional. Assinalaremos mesmo duas décadas de estagnação, acompanhadas de uma continuada punção de rendimentos canalizados para o exterior por via de uma dívida externa colossal, verdadeira expressão da euro-dependência. Só quando enfrentarmos os constrangimentos europeus é que poderemos vir a conhecer alguma mudança nesta trajetória. O tempo tem de ser usado para fazer com que mais ganhem consciência política deste facto com valor.

Relembremos:
 o comboio que rumava em direcção ao abismo foi travado, travando-se a lógica explicitamente privatizadora (um OE sem privatizações, assinale-se) e mesmo de desvalorização interna. No entanto, e na ausência de instrumentos para construir outra linha, o comboio não fica parado muito tempo, ainda para mais quando, a partir de dentro e de fora, nunca se desiste de retomar a marcha, eventualmente através da possibilidade de um golpe financeiro, assinalada recentemente por Carlos Carvalhas, seja indirecto, por via da agência canadiana controlada pelo BCE, fazendo mexer as forças espontâneas da especulação, seja directo, através de tantos instrumentos de política furtados a esta democracia.

ladroesdebicicletas.blogspot.pt
17
Out16

Quem o entender que o compre

António Garrochinho



Quem o entender que o compre: em 2011, Passos preferia impostos indirectos em alternativa ao directos; em 2016, numa cambalhota despudorada, os indirectos são agora injustos.


VÍDEO

17
Out16

17 de Outubro de 1849: Morre Frédéric Chopin, compositor e pianista polaco

António Garrochinho


No Verão de 1849, o pianista Frédéric Chopin já  não conseguia leccionar pois uma tuberculose pulmonar evoluía rapidamente. A sua irmã mais velha, Ludwika, viajou desde Varsóvia para cuidar do compositor. No dia 17 de Outubro, o génio do piano morre no seu apartamento parisiense da Place Vendôme.


Se os amigos e admiradores pudessem prever que a Marcha Fúnebre da sua Sonata em si bemol menor opus 35, III Movimento, acompanharia no século e meio seguinte as exéquias de algumas das maiores personalidades mundiais, por certo a fariam executar no funeral que conduziu o corpo do genial compositor ao cemitério de Père- Lachaise em Paris.


Frédéric (Fryderyk Franciszek) Chopin nasceu em 1 de Março de 1810 na cidade de Zelazowa Wola, ducado de Varsóvia. O seu pai, Mikolaj (Nicolas) Chopin, polaco de origem francesa, era professor de Língua e Literatura Francesa no Liceu de Varsóvia. A sua mãe, Justyna Krzyzanowska, era dona de casa e talentosa pianista, que lhe ensinou as primeiras notas.


Muito cedo, com 7 anos, Frédéric compôs duas ‘polonaises’. Este prodígio foi ressaltado em jornais da cidade e o pequeno tornou-se atracção nos salões aristocráticos da capital.


Dos 13 aos 16 anos, Chopin estudou no liceu, onde o pai leccionava. Colegas de classe provinham das diversas regiões do país o que lhe possibilitou passar as férias nessas localidades. A música tradicional da Polónia,a  sua tonalidade distinta, a riqueza dos seus ritmos e o vigor das danças acompanhariam Chopin para sempre.


No Outono de 1826, Chopin ingressa na Escola Superior de Música, cujo director era o consagrado compositor Josef Elsner. O severo director permitiu que o Chopin se concentrasse no piano, devido  à sua facilidade de improvisação, inclinação a efeitos brilhantes, precisão de composição e compreensão do significado e da lógica de cada nota. Ao concluir os estudos em 1929, Elsner registou num relatório: “Chopin, Fryderyk, estudante de 3º ano, talento excepcional, génio musical”.


Chopin planeia, então, uma longa viagem pelo estrangeiro a fim de ganhar familiaridade com a vida musical na Europa e conquistar certa reputação. É aplaudido calorosamente nos seus concertos. Em Viena, o editor, Tobias Halinger, imprime a  sua primeira obra editada fora da Polónia, Variações sobre um tema de Mozart.


De volta a Varsóvia, dedica-se à composição e escreve os seus dois concertos para piano e orquestra. Dessa época são os seus primeiros nocturnos, estudos, valsas, mazurkas e ‘lied’

Depois de permanecer meses em Viena, Chopin resolve viajar para Paris. Durante a viagem toma conhecimento da queda de Varsóvia nas mãos dos russos. Chega à ‘cidade luz’ no Outono de 1831. Lá encontra muitos de seus compatriotas exilados, recebidos amistosamente.


Em Paris, a reputação de Chopin cresce vertiginosamente. Torna-se amigo de Liszt, Mendelsohn e Berlioz. O grande pianista Friedrich Kalkbrenner – cognominado o “rei do piano” – sabendo da estadia do jovem músico, organiza-lhe um concerto na sala Pleyel em Fevereiro de 1832. O sucesso foi estrondoso. Chopin assina contrato com a mais importante casa editorial da época, a Schlesinger.


O pianista instala-se definitivamente em Paris na condição de emigrado. Algum tempo depois, conhece a escritora francesa Aurore Dudevant, que escrevia sob o pseudónimo masculino de George Sand. A autora de romances audaciosos, seis anos mais velha, divorciada e com dois filhos, oferecia ao artista solitário uma ternura extraordinária bem como cuidados materiais e maternais.


Os amantes passam o Inverno de 1838/1839 na ilha espanhola de Maiorca. Devido às condições climáticas desfavoráveis, Chopin rapidamente adoece e dá os primeiros sinais de tuberculose. Debilitado, ainda assim compõe ali algumas de suas obras-primas: os 24 prelúdios, Polonaise em dó menor, Balada em fá maior, Scherzo em dó bemol menor.


Volta à França na Primavera de 1839, instala-se na mansão de Sand em Nohant, região central do país. Lá permanece até 1846. Foi o período mais feliz e produtivo. A maioria de suas obras mais marcantes foi ali composta.


O amor e a amizade profunda entre Chopin e Sand aos poucos cederam lugar a conflitos cada vez mais sérios, devido principalmente à atitude hostil do filho de George Sand. A separação final ocorreu em Julho de 1847.


Estas dolorosas experiências pessoais foram devastadoras para a criatividade do compositor e para sua saúde física e mental. Abandona quase que completamente a composição e até ao fim da vida escreveria apenas umas tantas miniaturas. Frágil e acossado por uma febre insidiosa, Chopin dá seu último concerto em 16 de Novembro de 1848.

O pianista foi enterrado no cemitério Père-Lachaise. Em respeito à sua vontade,o  seu coração foi retirado e está colocado numa urna na igreja Santa Cruz em Varsóvia.

wikipedia (Imagens)






Arquivo: Frédéric Chopin por Bisson, 1849.png

Frédéric Chopin c. de 1849



 Ficheiro:Chopin, by Wodzinska.JPG
Retrato de  Frédéric Chopin - Maria Wodzińska
Arquivo: Chopinradziwill.jpg


Chopin ao piano - Henryk Siemiradzki


VÍDEO
17
Out16

Falharam assalto e atacaram PSP com arsenal de guerra

António Garrochinho







Grupo tentou roubar carrinha de valores no Barreiro. Não conseguiu e acabaram a trocar tiros com polícia. Morreu uma pessoa

O uso de uma pistola, um revólver, uma metralhadora e uma shotgun - recuperados pela polícia, mas que foram utilizados para disparar contra os agentes - já era um indicador inequívoco do perigo que o grupo que tentou assaltar uma carrinha de valores no noite de sábado no Barreiro representava.

Mas o que mais surpreendeu as autoridades foi o recurso aos coletes à prova de bala, considerada uma "sofisticação pouco normal", segundo fonte policial, para quem este equipamento demonstra que "estavam ali para o que desse e viesse. Houve uma decisão prévia para disparar caso o assalto corresse menos bem. Também não é normal esta violência".

A tentativa de roubo que aconteceu junto ao supermercado Continente do Barreiro terminou com um assaltante morte e outro ferido. À hora de fecho desta edição a PSP ainda tentava capturar quatro ou cinco fugitivos. A autópsia ao assaltante morto será feita hoje para apurar quem alvejou o indivíduo, com idade entre 30 a 40 anos, identificado pelas autoridades como "pessoa experimentada" no mundo do crime da zona norte do Tejo. Há ainda um outro suspeito gravemente ferido.

Aliás, fonte policial avançou ao DN que o acesso ao armamento utilizado durante o assalto retrata que o grupo será formado por "elementos experimentados". Sabiam que o dinheiro iria ser recolhido pelas 23.30 horas por uma carrinha de transporte de valores, mas, segundo a investigação, a carrinha ter-se-á atrasado ligeiramente, enquanto os indivíduos, encapuzados e de luvas, precipitaram o roubo do dinheiro, tendo colocados as notas num carrinho de compras.

Ao agirem cedo de mais, permitiram que um funcionário do supermercado alertasse a PSP, tendo este passado uma informação que não indiciava que a ocorrência iria ser tão grave como se verificou minutos depois. Assim que um carro patrulha chegou ao local foi alvejado pelos assaltantes, tendo os agentes respondido. Seguiu-se uma troca de tiros. Segundo o comandante da PSP de Setúbal, os dois primeiros polícias a chegar ao local sofreram ferimentos, tendo um deles sido atropelado pelos suspeitos.

As autoridades também ficaram surpreendidas com a violência utilizada pelos indivíduos logo no primeiro embate com a PSP. Fonte da PJ considera que o recurso aos disparos não é uma atitude "inteligente", sublinhando que os gangues mais experimentados neste tipo de crime preparam os assaltos para evitar confrontos com troca de tiros. "Este grupo não fez nada para evitar o tiroteio", frisa a fonte do DN.

Nas imediações do Continentes do Barreiro estava o carrinho de compras com dois sacos cheios de dinheiro. Ainda chegou a ser empurrado durante alguns metros pelo indivíduo que viria a ser abatido. Segundo o comandante da PSP de Setúbal também foi ele o primeiro a disparar contra a polícia, contando com cobertura dos restantes elementos do grupo. A PJ está a investigar, tendo o caso sido entregue diretamente à Unidade de Combate ao Terrorismo.

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