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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

orouxinoldaresistencia

18
Out16

SAD futebol

António Garrochinho

e elas, elas
os Jóquins as Florbelas
digladiam-se no futebol
discutem coisas mesquinhas
receitando mesinhas
bruxas fazendo pão mole
e eles ganhando fortunas
borrifando-se para as calúnias
com automóveis de milhões
são os magos da pelota
ganham mais num minuto
do que uma vida de trabalho bruto
de quem lhes lambe a bota


António Garrochinho

18
Out16

SYRIZA NO MARASMO

António Garrochinho





Luís Fazenda

Alexis Tsipras dirigiu-se ao 2º Congresso do Syriza, a 13 de outubro, sem se referir à direita e extrema-direita que acossam o governo grego. Por incrível que pareça, todo o discurso, a que tivemos acesso por extensas notas do gabinete de política internacional do partido, é um repositório de acusações aos adversários de esquerda. Tsipras, que aplica na Grécia como primeiro-ministro os ditames austeritários do ministro das finanças alemão, Schauble, com consequências sociais de uma brutalidade inaudita, acusa agora os seus opositores de serem cúmplices do plano de Schauble para expulsar a Grécia do euro. A esquerda helénica que se manteve fiel ao resultado do referendo que disse Não a Berlim, fiel ao programa do próprio Syriza, é considerada inimiga do país e a sua gente uma espécie de niilistas destrutivos de qualquer ideia progressista e radical, assim pensa Alexis Tsipras.
A contradição nos termos é pesada mas a agressividade empregue é ainda mais pesada. O líder do Syriza entende que perante a chantagem da União Europeia, com a Alemanha à cabeça, para impor mais um resgate e respetivo memorando, a saída do euro nesse contexto teria sido um desastre de proporções históricas. Um desastre, que segundo ele, só responsabilizaria a esquerda grega e a esquerda europeia. O que é assinalável é que nesse extenso discurso há um esforço muito pormenorizado para demonstrar que o Syriza é melhor a distribuir a austeridade, já que o faz, a seu ver, protegendo as classes populares. Curiosamente, o primeiro-ministro não se refere sequer às greves e manifestações de trabalhadores que o seu governo tem enfrentado. A camuflagem que Tsipras faz da capitulação do seu governo pode parecer patética mas é com este tipo de vitimização que pretende impedir a progressão de forças consequentes à esquerda, e dar o mote para consumo interno eleitoral: o Syriza tem o salvo-conduto europeu, tem o respeito sacrificial dos delinquentes do “eurogrupo”. Por alguma razão, que não a realidade, Tsipras continua a intitular o seu governo como o único da Esquerda Radical (assim mesmo com iniciais maiuscúlas) na Europa. Sabe-se que o nome Syriza quer dizer isso mas é arrojo político, e muito.
Talvez por isso, o orador se tenha estendido na proposta da aproximação da esquerda radical à social-democracia e aos verdes. A pretensão não é nova e é sempre descrita como “frente contra a austeridade”. Dando de barato de que a credibilidade do proponente é nula, não é uma questão de convergência de governos no âmbito da UE, coisa que a Grécia tem tentado mas debalde e que seria compreensível. Aí o problema é que a França e a Itália, guiadas por sociais-liberais, como se sabe, não querem saber dos estados de alma de Atenas. A proposta de convergência com a social-democracia (assim denominada) e os verdes é nitidamente um processo ideológico e político. Mas aliança com quem? Não há nenhum partido membro do Partido Socialista Europeu que queira pôr em causa o Tratado Orçamental e toda a armadura das orientações contra o Estado social. Não há sequer unidade mínima para acolher refugiados de guerra, como tem sido dolorosamente evidente. Designadamente, o Partido Socialista francês é há muitos anos responsável por uma política colonial para com os países árabes, na origem de várias guerras. Com certeza, em algumas questões é possível estabelecer pontes com setores socialistas e isso não é negligenciável. Tal facto opera-se sem precisar de estruturar vizinhanças ideológicas. Há alguns partidos e setores verdes anticapitalistas com quem se pode lutar em conjunto, não será o caso dos verdes alemães, completamente vendidos ao capitalismo e possíveis parceiros de Merkel. A esperança Corbyn, ainda longe de se confirmar como projeto social-democrata, não chega para a amplitude dos desejos de Atenas.
O que Tsipras propugna, sem máscara, é a junção da esquerda radical em vários países aos respetivos partidos sociais-liberais. Objetivo: mudar o programa político, desistir do socialismo, abdicar da luta contra o Império. Será possível restaurar o fantasma da social democracia, o espírito de Olaf Palme? Isso é algo que a globalização capitalista arrasou pelas privatizações e pelo desarmamento fiscal dos muitos paraísos da fortuna. O reforço da esquerda europeia faz-se pelo crescimento dos seus partidos, dos movimentos sociais, das alianças progressistas que possam alargar o campo da alternativa de justiça social e paz. O perigo do crescimento da extrema-direita na Europa, e não só, não invalida o programa socialista, nem impede oposições democráticas alargadas. Certamente não dá cobertura à capitulação ideológica como campa da prévia capitulação política.

acontradicao.wordpress.com
18
Out16

Após aprovação de recomendações na Assembleia da República Tarifa social de água: aplicação automática não resolve problemas de fundo

António Garrochinho


O Governo quer introduzir legislação que permita a aplicação automática da tarifa social da água, mas acompanha proposta com disposições que contrariam a autonomia municipal.


O fornecimento de serviços de águas é da competência dos municípiosCréditos/ msaerografia.blogspot.pt
O Governo inscreveu no Orçamento do Estado para 2017 (OE2017) um pedido de autorização legislativa sobre a tarifa social da água. A ideia é fixar condições de acesso iguais para todos os municípios, tendo por base a carência económica.
O Executivo assume que a competência matéria de «instrução e decisão relativa à atribuição da tarifa social, bem como do respectivo financiamento» cabe aos municípios, no entanto pretende acrescentar regulamentação à já existente. Em vez de eliminar as disposições legais e regulamentares que têm contribuído para o agravamento das tarifas de água, o Governo aposta em retirar mais uma parcela de autonomia aos municípios., no sentido do projecto de resolução que o BE fez aprovar dias antes da apresentação do OE2017, com o voto favorável do PS e do PAN, e com a abstenção dos restantes grupos parlamentares.
A atribuição da tarifa social da água passará a ser automática, tal como já acontece com a electricidade, para quem receba prestações sociais como Complemento Solidário para Idosos, Rendimento Social de Inserção, Subsídio Social de Desemprego, Abono de Família, Pensão Social de Invalidez ou Velhice, ou «cujo agregado familiar tenha um rendimento anual igual ou inferior a 5808 euros», valor a que se somam 2904 euros por cada elemento que «não aufira qualquer rendimento».
Os municípios passam a ver as condições de acesso à tarifa social fixadas por lei, deixando de poder decidir sobre o alcance da tarifa social da água, vendo o universo de beneficiários fixado por lei.

Alteração pode ser insuficiente sem alteração da legislação do sector

A recomendação do BE apelava aos municípios «que ainda não seguem a recomendação da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR) e que não fixaram ainda sistemas eficientes de atribuição de tarifas sociais a praticar pelos operadores dos serviços de abastecimento de águas, para que apliquem aquela recomendação no mais breve prazo». O regulamento tarifário dos resíduos e a propostas de regulamento tarifário da água (ambos da responsabilidade da ERSAR) definem a tarifa social apenas como uma isenção da tarifa de disponibilidade (a componente fixa).
As recomendações da ERSAR apontam para aumentos significativos nas tarifas da água, incluindo as sociais, de forma aos gastos serem cobertos pelas receitas tarifárias. Por outro lado, a legislação aprovada pelo anterior governo obriga os municípios a aplicarem as recomendações do regulador, sob pena de ser a ERSAR a fixar as tarifas. Ou seja, estas alterações (sem mexer nos estatutos do regulador, aprovado em 2014) podem conduzir a aumentos tarifários em grande parte dos municípios.
O PCP também apresentou um projecto de resolução, onde recomendava alterações aos estatutos da ERSAR, no ponto 1, e da legislação que contraria a autonomia dos municípios, no ponto 2. Ambos foram rejeitados com os votos a favor do PCP e do PEV, a abstenção do BE e do PAN e os votos contra do PSD e do CDS-PP. O PS votou contra o primeiro ponto, abstendo-se no segundo.
O último ponto, que recomendava a agilização da transmissão de informação entre a Autoridade Tributária, a Segurança Social e as entidades gestoras dos sistemas de distribuição de água foi aprovado, com as abstenções do PSD e do CDS-PP e os votos a favor de todas as restantes bancadas. O artigo 55.º do OE2017, onde consta o pedido de autorização legislativa, replica a formulação do projecto de resolução dos comunistas.

www.abrilabril.pt
18
Out16

As sepulturas esquecidas

António Garrochinho



Dionísio entrara como “verde” no Santa Maria Manuela em 1960. Segundo a lei, ao completar a sua sétima viagem consecutiva na Pesca do Bacalhau, livrava-se do serviço militar obrigatório e foi com esse espírito que, aos 26 anos, partiu de Lisboa, com a bênção de Salazar e da Igreja, naquela Primavera, num dos famosos veleiros do que ainda restava da chamada Frota Branca portuguesa. Assim baptizada desde que, para assinalar a neutralidade do país, se teve de pintar de branco os navios, na II Guerra. Dionísio ainda tentou levar o irmão Fernando com ele. Mas era duríssima a vida nos dóris, esses botes de um homem só, em que os portugueses da pesca à linha trabalhavam em troca de um salário dependente de quanto pescassem ao longo de seis meses, e o rapaz de 18 anos, já homem feito e com bastante experiência de mar, mas na costa portuguesa, achava-se novo para aquilo.



Manuel Agonia Cancuja Marques, pescador das Caxinas, trabalhou no navio Santa Maria Manuela em 1960
Vitorino Ramalheira mantém viva, aos 85 anos, a memória do temporal que apanharam, entre os Açores e o Canadá, no final de Abril desse ano. Dionísio ficou gravemente ferido quando, arrastado pelo mar no convés durante uma manobra, terá embatido num ferro. “Foi na esquina do tanque do óleo do bacalhau”, precisa Manuel Agonia Cancuja Marques, o Nia Cancuja, um dos pescadores de Caxinas e Poça da Barca, Vila do Conde, que trabalhavam naquele mesmo navio. O Gil Eannes estava ainda em Lisboa. Ramalheira ponderou voltar para trás, e deixar o homem nas Ilhas, mas desconfiou da qualidade dos cuidados que ali lhe poderiam ser prestados, explica à Revista 2, justificando, assim, a opção de seguir viagem para a Terra Nova. “E na verdade também nem tínhamos noção da gravidade dos ferimentos, que eram internos”, acrescenta o capitão.
“O navio andava pouco. Ainda não tinha motor auxiliar, demoramos uns três dias a chegar a St. John’s”, contabiliza Nia Cancuja. Acompanhado por um enfermeiro, Dionísio agoniava em silêncio, “no beliche, sem dar uma fala a ninguém” — diz o companheiro, já comovido pela memória — até acabar por morrer na véspera da chegada a terra, a 5 de Maio. “O que nos botava em choque era ter de passar por ele, e ele ali, morto.” No navio, estes tensos momentos de viagem foram poeticamente captados por Rex Tasker, que escreveu e produziu o documentário de Lemieux. “À noite chega o momento da chora” — the soup of sorrow, traduz livre e apropriadamente para inglês o narrador, voz a quebrar um plano silencioso na mesa do rancho. “Diz-se que quem a come voltará aos Bancos [da Terra Nova]. Dionísio não a comerá. Recém-casado, esmagado por uma onda, o seu corpo segue num caixão.”
Nesse dia 5 de Maio, o irmão de Dionísio, Fernando Esteves, acabara de chegar ao portinho de Âncora quando o mandaram de imediato para casa, no bairro dos pescadores, ali a poucos metros, aliviando-o do trabalho de descarga do peixe. Desconfiou. “Quando cheguei, já estava tudo aos gritos”, revive. Alguém os tinha vindo avisar da capitania, para onde eram enviados os telegramas. Cristina, a mulher de Dionísio, enviuvava em seis meses, já grávida de uma filha, Cândida, que nunca chegaria a conhecer o pai. França, para onde emigraram mais tarde, deixou-as mais longe daquela desgraça que vem nas letras pequenas de qualquer contrato de casamento com um pescador, numa cláusula dependente dos humores do mar. O cemitério católico de São João da Terra Nova, onde o tripulante do Santa Maria Manuela foi enterrado, está cheio destas histórias, várias delas portuguesas.



Os dóris largam para a pesca MUSEU MARÍTIMO DE ÍLHAVO
Direito a uma campaPresença constante nos Grandes Bancos há vários séculos, muitos portugueses foram sendo enterrados na Terra Nova, principalmente em St. Jonh’s, e em outros portos da costa canadiana e da Gronelândia, como acontece aliás com marinheiros das muitas nações que frequentavam, em meados do século XX, aqueles mares. Em Mount Carmel, nos arrabaldes da capital provincial e cidade-abrigo da frota portuguesa, uma placa assinala por exemplo a vala comum de 11 dos 15 fogueiros lusos do SS Florizel, um ferry a vapor que se afundou a 24 de Fevereiro de 1918, quando iniciava mais uma ligação a Nova Iorque. Morreram 93 pessoas. Outros portugueses, muitos deles pescadores de bacalhau, foram sepultados no mesmo local, em número indeterminado, mas o passar dos anos, as intempéries e o abandono deixaram sem identificação as sepulturas, adornadas normalmente com uma frágil cruz em madeira. 
“Os cemitérios deles não são como os nossos. Aquilo é um campo”, descreve Fernando Esteves. Mas ainda assim, Dionísio e os que por lá foram enterrados ainda tiveram direito a uma campa. Outros foram levados pelo mar: que os engolia à socapa, ao abrigo da névoa que se abatia repentina sobre os dóris, ou que os arrastava borda fora dos lugres, como aconteceu no final da década de 50 com Armando Afonso do Águas Santas, outro pescador de Âncora, e um dos vários mortos na Faina Maior a quem o dramaturgo Bernardo Santareno dedicou o seu livro de crónicas marítimas, Nos Mares do Fim do Mundo. Escrita quando o autor viajou como médico da frota bacalhoeira, em 1957 e 1958, a obra, que foge ao registo épico das epopeias marítimas, concentra-se nos episódios quotidianos dos que viviam a bordo em condições absolutamente precárias, no limite do  “aceno da morte” e à mercê, muitas vezes, do seu “beijo gelado”.



Vitorino Ramalheira, agora com 85 anos, foi o capitão do Santa Maria Manuela 
Durante o Estado Novo, período em que a pesca do bacalhau foi submetida a uma organização corporativa que tudo controlava, sob a omnipresença de Henrique Tenreiro, um delegado-geral das Pescas com mais poderes do que os ministros do sector com quem conviveu, os pescadores, na verdade, contavam pouco. Percebeu-se isso logo em 1937. Nesse ano, milhares participaram numa greve em que contestavam as condições impostas pelo regime — por via do recém-criado Grémio dos Armadores de Navios da Pesca do Bacalhau — que os obrigava a se inscreverem no mesmo navio da campanha anterior, o que acabava com a concorrência, entre armadores, pelos melhores pescadores e nivelava os salários para valores tabelados. A paralisação durou semanas, mas os homens acabaram mobilizados à força, após intervenção policial em várias comunidades. Alguns saíram directamente da prisão para os navios, conta o investigador Álvaro Garrido em O Estado Novo e a Campanha do Bacalhau
Os navios eram, assim, uma extensão do país. Seguindo à boleia das palavras de Bernardo Santareno, nas viagens de seis meses da pesca à linha, os capitães exerciam uma disciplina férrea para conseguirem controlar os humores de dezenas de homens rudes, quase todos de proveniência humilde e com baixas qualificações, capazes de gestos extremos de solidariedade e, ao mesmo tempo, prontos para se pegarem por qualquer insignificância. Estes ansiavam por regressar a casa com o melhor salário possível, o que dependia dos conhecimentos de quem os comandava e teria de os levar aos melhores pesqueiros e, aí chegados, da sua sagacidade e destreza no manejo das linhas de múltiplos anzóis. 



Ficha de Dionísio Esteves no Grémio dos Armadores de Navios da Pesca do Bacalhau, que morreu há precisamente 48 anos 
O objectivo era encher o porão com bacalhau antes de o Inverno se insinuar, gelando o próprio mar, no caso da Gronelândia. Submetidos a jornadas de trabalho que podiam, por vezes, passar as 20 horas, que o descanso só chegava depois de escalado e salgado o peixe, os pescadores acordavam às 4h, com uma oração, para se lançarem de novo ao mar pouco depois, naquelas “cascas de nozes” que tripulavam sozinhos. Os próprios assumem que nem sempre tinham cuidado. Muitos afastavam-se demais, arriscavam por vezes demais. 
“Como capitão, a minha maior preocupação era não perder nenhum homem. Tentava mantê-los por perto, que o tempo às vezes mudava rapidamente. Mas eles iam, como se nada fosse, contentes por poderem pescar. Eles eram um heróis. Quando era novo, também tinha aquela adrenalina e fazíamos as coisas naturalmente, mas agora, passados estes anos, digo-o: eles é que eram os heróis”, repete Vitorino Ramalheira, que passou metade da sua vida profissional à procura do bacalhau e que naquele ano de 66, como testemunhou Lemieux, chegou a temer pela vida de outros dois homens, que se perderam no nevoeiro.  
Perante estes riscos, não espanta que, até meados do século XX, em várias comunidades do litoral, as mulheres destes homens tivessem por hábito vestir-se de preto quando eles partiam, e cobrir com panos todo o mobiliário do lar, dormindo, com uma enxerga, no chão. Era como se toda a casa se enlutasse, solidária com as provações deles, por seis meses. Mais do que um mau pressentimento, era uma espera sofrida, por um regresso que nem sempre aconteceu.
Quando as más notícias chegam a casaApesar de haver documentação de várias instituições envolvidas neste “desígnio nacional” que era o abastecimento do país com um dos seus alimentos favoritos e de melhor conservação, não se conhece com exactidão o número de baixas na frota portuguesa da pesca do bacalhau durante o Estado Novo. Álvaro Garrido, que é também programador do Museu Marítimo de Ílhavo (MMI), afirma que, da consulta de documentação do Grémio, se contam, em vários anos, três a cinco mortos por campanha. Mas explica que o nível de sinistralidade mortal até tem sido maior nos arrastões. Em todo o caso, o facto é que, se se conhecem bem os casos excepcionais, como o afundamento do Maria da Glória, por um submarino, na II Guerra, que matou 36 homens, a grande maioria deles da Fuzeta (Olhão), até hoje ninguém soube dizer quantos, quem eram e de onde partiram esses homens que ficaram nesses mares do Fim do Mundo até ao ocaso da pesca à linha, que coincidiu, em 1974, com o 25 de Abril. 
A revolução pôs os homens em alvoroço. Depois de uma greve em que exigiam que o salário passasse a ser fixo e não dependente do que pescassem, nesse ano, dois dos três últimos navios com dóris, o Ilhavense e o São Jorge, foram ao fundo ao largo da Terra Nova. Muitos dos velhos navios à vela tinham sido abatidos assim, após incêndios alegadamente provocados a mando dos armadores, em que todos, como aconteceu nestes casos, saíam ilesos. E quis a ironia da história que o último exemplar deste tipo de pesca — que no Estado Novo se manteve em paralelo com tecnologias mais modernas e predatórias como o arrasto — se chamasse Novos Mares. Símbolo do fim de uma era, este atravessou o estreito de St. John’s a 24 de Julho de 1974, a caminho de Aveiro, onde foi adaptado para a pesca com redes. Nesse ano, as imagens de dezenas de homens espalhados pelo mar, cada um no seu bote, passou a ser uma memória. Ao mesmo tempo vibrante e triste, pela lembrança dos que por lá ficaram.  
Só na terra de Agonia Cancuja, as Caxinas, ainda hoje demasiadas vezes notícia pelos seus náufragos, contam-se em mais de uma dezena os nomes que a Revista 2 foi descobrindo, numa curta pesquisa, apenas em conversa com alguns pescadores. Várias famílias têm um antepassado que não regressou vivo de uma actividade que, muito dura, era ainda assim bem mais rentável do que a pesca local, feita então com barquinhos pouco maiores do que os dóris usados nos Grandes Bancos. Lugar de recrutamento de cerca de mil bacalhoeiros, esta zona, com a vizinha Póvoa de Varzim, foi uma fonte importante de mão-de-obra, mas foi apenas uma das muitas comunidades piscatórias de norte a sul e das ilhas que, ao longo de quatro décadas, entregaram cerca de 20 mil dos seus àquela vida. 
A cada casa, as más notícias podiam chegar, choque difícil de imaginar, com o navio. Foi isso, segundo Santareno, que aconteceu com a açoriana Rosa Bailão, que lançara foguetes para dar as boas-vindas ao marido, Jorge, que só depois percebeu que se perdera no mar. Mas normalmente elas corriam mais depressa, à velocidade de um telegrama. Em 1965, criança ainda, o caxineiro José Marafona soube pelas lágrimas da mãe — revê-a de papel na mão, grávida, 12 filhos — que o pai, José Gomes Marafona, não regressaria. O corpo, admite a família numa dúvida alimentada pela distância e pelo tempo que entretanto passou, terá sido sepultado na Gronelândia. Como o do ilhavense Manuel Gonçalves Bilelo, de cuja sepultura o Museu Marítimo de Ílhavo guarda uma fotografia tirada por um antigo comandante do Gil Eannes
A história destes homens não será muito diferente da de outros que, até esse ano de 1966, eram levados para um porto próximo. Só depois de Dionísio Esteves, os corpos dos que morriam “começaram a ser trazidos de volta”, explica Fernando Esteves, facto confirmado por Vitorino Ramalheira. O Gil Eannes, que funcionava como navio-hospital mas também como capitania flutuante, “ainda não estava por perto quando se deu o acidente com o Dionísio. Tive de tomar uma decisão”, relembra este homem, natural de Ílhavo, descendente de uma linhagem de marinheiros e filho de outro famoso capitão de navios bacalhoeiros, João Ramalheira.   



O ilhavense Manuel Bilelo foi sepultado na Gronelândia. DE muitos outros perdeu-se-lhes o rasto 
Um dos amigos do capitão Vitorino Ramalheira, Francisco Teles Paião, comandava o Rio Antuã em 1962 quando, a 7 de Setembro, dois ou três dias antes da viagem de regresso para Portugal, perdeu o seu melhor pescador. Chama-se José Francisco Marques, Zé da Ferrucha, este caxineiro de 39 anos que viu o seu dóri carregado afundar sem que alguém lhe desse a mão. Foi no Mar da Barrinha, na costa oeste da Gronelândia, precisa o irmão Joaquim, 77 anos bem conservados, que não esconde que a ambição que elevara o Zé da Ferrucha à condição de “special” do Rio Antuã — atribuído a quem pescasse muito mais bacalhau do que os outros — pode bem ter sido o que levou à morte. A ele como a outros, levados ao fundo do mar por uma ganância estimulada pelo sistema de remuneração variável. “Nós contribuíamos para isso, ao afixar a tabela com a classificação de cada um, ao longo da viagem”, assume hoje o capitão Ramalheira. 
Naquele dia, como habitualmente, José Francisco Marques enchera o bote. Afastara-se dos outros, como muitas vezes fazia, e aparecera depois carregado ao pé do dóri do irmão, que ainda pescava. Foi seguindo viagem para o navio-mãe, a remos, quando o tempo virou, trazendo névoa e um vento que levantou a marola da água. Confiante, o caxineiro despachara a companhia de outro pescador que se aproximou dele, mais leve de carga. Seguia sozinho, quando, de longe, o irmão ouviu os gritos, três, cuja origem só percebeu quando, chegando ao Rio Antuã, viu que só o Zé da Ferrucha não estava ainda a bordo. De pouco valera a Joaquim aquele “Oxalá não seja do meu lado” que a sua cabeça inventara minutos antes, ao ouvir o socorro longínquo, no mar. E de pouco valera a José a sua destreza. Nos mares gélidos da Gronelândia, a morte chega rápida e ele, sabendo-o, amarrou um pulso ao balão dos seus aparelhos de pesca.
Foi assim que o encontraram, ao Zé da Ferrucha — bacalhoeiro desde 1938 — naquele ano em que pela primeira vez, no Rio Antuã, não pescara com o dóri número 13, o do dia da Senhora de Fátima. Os barcos foram nessa viagem sorteados pelo capitão e calhou-lhe o 42. Anos antes, numa colecção de cromos sobre seres vivos que fez a delícia da criançada, este era o número do bacalhau, uma estampilha “marcada”, por ser difícil de encontrar. E ficou tão famosa aquela caderneta que, deste então, e como recorda o irmão, no jogo do loto, o 42 é cantado como “O Bacalhau”, nas Caxinas. Mas de nada valeu este aparente golpe de sorte ao exímio pescador. 
José Francisco Marques deixou mulher e quatro filhos. Longe de casa, o seu corpo seguiu para o navio-hospital Gil Eannes, que o transportou para o porto da localidade de Holsteinsborg, actual Sisimiut, na Gronelândia, para ser enterrado. Este porto com pequeno hospital, de difícil entrada, segundo Santareno, tinha “fama de perigoso”, por causa de várias pedras que dificultavam a navegação. Mas foi bastante utilizado pela frota portuguesa.
A memória da Grande PescaA perda do pai não demoveu Manuel Marques, então com 17 anos, da vontade de experimentar a pesca do bacalhau. E foi pela mão do tio Joaquim que, na Primavera de 1963, entrou naquele mesmo barco de onde José fora levado num caixão, sete meses antes. O capitão Francisco Teles Paião, que declinou um convite da Revista 2 para um depoimento sobre estes episódios, tê-lo-á recebido a bordo com uma amabilidade estranha ao relacionamento habitual, distante, entre oficiais e pescadores. “Ele era duro, mas tinha bom coração”, descreve o caxineiro, que, pelo Natal, mantém o hábito de contactar aquele homem de Ílhavo, outro descendente de uma linhagem de capitães cujo pai comandava então o Argus, um dos dois barcos — o outro é o Santa Maria Manuela — que Aníbal Paião, dono da Pascoal & Filhos, comprou recentemente, para o recuperar e manter, assim, na esfera da família, a memória da Grande Pesca.
Como quase todos os bacalhoeiros, Manuel Marques também mantém fresca, como que conservada em sal, a sua memória daqueles anos. Principalmente do de 1967, em que um problema grave nos pulmões o obrigou a uma cirurgia em St. John’s e posterior convalescença no Gil Eannes, onde chegou a estar em isolamento. Já quase recuperado, soube que o navio-hospital, que então navegava ao largo da Gronelândia, ia passar por Holsteinsborg, e pediu que o deixassem ir a terra, para ver a sepultura do pai. Um grupo, que incluía entre outros Jaime Pontes, outro caxineiro, pescador no Avis, e Manuel Agonia Maio, da Poça da Barca, e tripulante do Dom Deniz, foi então enviado à pequena localidade. Jaime recorda bem que lhes deram tinta e madeira, para que, se fosse necessário, recuperassem as cruzes das sepulturas de portugueses — cerca de dez, doze, Manuel já não sabe precisar. Nos últimos anos, os filhos dele contactaram a paróquia de Sisimiut, de onde lhes disseram que as campas já não estavam identificadas.



Arrear dos dóris no navio Vila do Conde MUSEU MARÍTIMO DE ÍLHAVO
Há dois anos, um canadiano com raízes nas pequenas ilhas francesas de Saint Pierre e Miquelon, no Sul da Terra Nova, foi contactado a partir de Portugal por um amigo, Pedro Pinto — antigo capitão de navios bacalhoeiros e actual coordenador de operações da Agência Europeia de Controlo das Pescas — e pelo comandante da corveta António Enes, da Marinha. De partida para mais uma acção de fiscalização nas águas da Organização das Pescas do Atlântico Noroeste (NAFO, em inglês), pretendiam ambos fazer uma cerimónia militar de homenagem aos portugueses e Jean-Pierre Andrieux, empresário e estudioso da nossa presença nesta região, pareceu-lhes o homem certo para a organizar.
A Andrieux, a parada e a deposição de flores, em Agosto de 2012, soube-lhe a pouco, mesmo que repetida anualmente, como acontece desde então. Há dezenas de anos que o canadiano acompanha os portugueses, fruto de uma amizade que nasceu nos inícios de 1980, à mesa dos oficiais do Vimeiro, que aportara em Saint Pierre. Foi ali que o empresário, dono de um hotel, e a mulher, Elisabeth, conheceram um dos seus grandes amigos, Francisco Paião, que comandava então esse outro navio. Ele é um de vários portugueses, quase todos da região de Aveiro, que fazem questão de visitar todos os anos, em longas férias que vêm repetindo há um quarto de século e que os trouxeram a Portugal em Março e Abril deste ano. Mas desta vez, para além da vontade de rever Paião, Ramalheira e outros, o casal trouxe na bagagem um propósito maior: o de garantir, este ano ainda, esperam, uma homenagem perene aos marinheiros de que tanto ouviram falar. 
“A memória daqueles pescadores tem de ser preservada”, insiste este canadiano de 66 anos que ouviu as histórias da Frota Branca nesses jantares em que provou o vinho verde e outros sabores que, terminada a moratória de pesca nos Grandes Bancos, voltaram em 2010 a atravessar o Atlântico com os (agora poucos) navios bacalhoeiros. No novo hotel que entretanto abriu em St. John’s, há colecções de peças pertencentes aos serviços de mesa de muitos dos antigos lugres e, na biblioteca, há uma miniatura à escala do Gazela Primeiro, mítico veleiro que, em 1969, fez a sua última viagem à pesca do bacalhau. Em sua casa, para além de bóias do Gil Eannes, guarda umas 40 mil fotografias de navios, centenas delas documentando a presença lusa nas águas da Terra Nova. “Isto representou uma mudança também na minha vida e na da minha família. Portugal passou a fazer parte de nós”, assume este homem que dedicou um dos volumes da sua obra Acidentes e Naufrágios na Terra Nova e Labrador ao período entre 1940-1980 e, especialmente, à Frota Branca.  



O irmão do Zé da Ferreucha, Joaquim, que com ele trabalhava quando o dóris afundou



Manuel Marques, filho do Zé da Ferrucha, pescador que morreu com o seu dóris carregado na costa oesta da Gronelândia 
Conhecido o homem, percebe-se porque se meteu Andrieux, nos últimos anos, num esforço de angariação de fundos para construir um monumento aos portugueses enterrados em St. John’s. Em Outubro, organizou um jantar, com comida e música portuguesa, e os seus conterrâneos pagaram cem dólares (quase 66 euros) por cabeça para participar. Apesar de problemas pontuais, de alguma discriminação testemunhada por vários pescadores noutros tempos, passados estes anos, “é forte e boa a memória dos portugueses, principalmente do tempo da Frota Branca, nas décadas de 50 e 60, em que eles chegavam aos milhares à cidade”, nota o empresário. O ar humilde, as camisas de padrão axadrezado, os jogos de bola com que se entretinham no cais que os abrigava das tempestades nos Bancos e o ar de museu vivo daqueles veleiros, linhas de mastros a marcar o horizonte, criaram uma aura. “Que não foi esquecida”, acrescenta, justificando assim os 7500 dólares angariados.  
A estátua, cujo desenho ainda está a ser pensado, vai ser construída nos próximos meses em Portugal e viajará para a Terra Nova como aqueles que vai homenagear: num navio bacalhoeiro. No cemitério de Mount Carmel, será uma marca perene junto de sepulturas sem nomes. “É triste não estarem identificados”, lamenta o empresário que escreveu sobre contrabandistas de álcool durante a lei seca, sobre as ilhas Francesas onde nasceu, sobre os Grandes Bancos de pesca e que, no ano passado, publicou The White Fleet — An History of the Portuguese Handliners. É o seu contributo para a história de uma saga que inspirou grandes obras como A Campanha do Argus, de Alan Villiers (livro de 1951, que acaba de ter a sua terceira reedição, uma parceria da Cavalo de Ferro com o MMI), e que apaixonou também o cinema, como se pode ver em Captain Corageous (1937), filme a partir da obra homónima de Rudyard Kipling que valeu a Spencer Tracy um Óscar de melhor actor pelo papel de Manuel, um pescador português.  
A atracção da Sétima Arte pelos veleiros portugueses foi imensa. Villiers filmou (e fotografou) uma das viagens do mítico Argus, um veleiro construído no século XIX, e, entre vários outros, George Sluizer gravou em 1967 para a National Geographic o documentário The Lonely Dorymen, passado nos navios José Alberto e Vila do Conde. Mas a película de Lemieux, filmada um ano antes a bordo do Santa Maria Manuela, acabou por ter outro significado, ao deixar para a posteridade uma imagem do lugar onde foi enterrado Dionísio Esteves, o que o retirou do anonimato a que o tempo o votara. Graças ao plano do cemitério, a homenagem aos portugueses vai ter um rosto, o do jovem bacalhoeiro de Vila Praia de Âncora que morreu há 50 anos.
O pai de Dionísio também andara nos Grandes Bancos. E Fernando acabou por ir para lá em 1967, num arrastão, escapando aos trabalhos árduos da pesca à linha e, como era benesse da legislação desde 1927, livrando-se do serviço militar. Escolheu esse outro mar para fugir ao Ultramar, onde a morte espreitava no mato. Andou por ali mais do que os sete anos que a lei equivalia à tropa, marcou o corpo com cicatrizes, perdeu o baço, mas pôde visitar o irmão, uma vez. De outras que tentou, “a neve no monte”, recorda, impedia-o de perceber onde estaria enterrado. E depois a vida levou-o para outros mares, os de África, onde correu o mapa até ao cabo da Boa Esperança, antes de se fixar de novo na pesca costeira, na terra natal.



O empresário canadiano Jean-Pierre Andrieux não quer deixar morrer a memória dos portugueses que andaram na pesca do bacalhau
Reformado, Fernando Esteves acalenta agora a esperança noutra viagem, que o leve a ver de novo a sepultura do irmão. Em Março deste ano, Jean-Pierre Andrieux esteve com ex-bacalhoeiros em Caminha, a convite da câmara local — que assim lhe agradeceu o gesto em memória de Dionísio — e fez questão de o convidar a participar na homenagem que está a organizar. O canadiano garante que se arranjará maneira de custear a deslocação deste homem. Conheceram-se num almoço que terminou com um bolo, um doce em forma de bacalhau salgado-seco, e no qual não faltou, a abrir, a chora, uma sopa de bacalhau antes servida no rancho da proa dos navios e hoje transformada em iguaria gourmet. Se for verdade o que diziam os antigos, ao comê-la, Fernando talvez tenha garantido o seu bilhete de regresso à Terra Nova. 
Ao meu bisavô Abel, que em 1910 já andava pela Terra Nova e que para lá levou meia dúzia de filhos, tendo perdido um deles no mar, nessas viagens. À Cândida, que não conheço e que nunca conheceu o pai, Dionísio Esteves. Ao meu pai, Abel, que, como a maioria, felizmente, teve a sorte de ir e voltar



MUSEU MARÍTIMO DE ÍLHAVO

www.publico.pt
18
Out16

5 CARROS FRANCESES QUE NÃO PODEM SER ESQUECIDOS

António Garrochinho


1. BUGATTI VEYRON SUPER SPORT

Bugatti

O Bugatti Veyron Super Sport é, sem dúvida, um dos melhores carros franceses da história. De fato, é dos melhores do mundo inteiro, e chegou a ser durante muito tempo o mais rápido do mundo, tendo sido batido recentemente – por muito pouco  pelo Hennessey Venom GT. No entanto, o carro continua a ir dos 0-100 km/h em 2,5 segundos, e continua a conseguir chegar aos 430 km/h.

Foram produzidos poucos modelos deste carro, e como tal cada um tem um valor bem acima de um milhão de euros. Este tipo de potência não é para qualquer carteira.

 

2. CITROËN DS

citroen DS

O Citroën DS, também conhecido como boca de sapo, foi produzido entre 1955 e 1975, e marcou a história automóvel em França, por ter um design futurístico e várias inovações tecnológicas, como a suspensão hidropneumática, que ajudaram a melhorar a experiência de condução - e a segurança – de vários condutores.

O Citroën DS chegou a ganhar várias competições, e foi até um carro presidencial. Um caso famoso foi o da tentativa de assassinato do presidente Charles De Gaulle, onde o motorista do carro conseguiu fugir a uma tentativa de assassinato ao presidente, em parte graças à suspensão. Como poderia o DS faltar a uma lista dos melhores carros franceses da história?
 


3. CITROËN 2CV

citroen 2 cv

Nos anos 30, em França, o meio de transporte preferido de muitos ainda eram carroças puxadas a cavalos, e a solução encontrada pela Citroën para tal foi o Citroën 2CV. O carro foi produzido entre 1948 e 1989 e era fácil de conduzir, económico, acessível e fiável, tudo para que a transição de carroças para algo com um motor não fosse assim tão má.

Por ser tão acessível e pelo plano inicial que teve, o carro tornou-se um ícone e França, e teve tanto sucesso que foi produzido durante vários anos. 

 

4. PEUGEOT 205 GTI

Peugeot 205

O carro veio ao mundo em 1984, altura em que o Volkswagen Golf dominava grande parte do mercado. Para sobreviver, o 205 tinha que ser qualquer coisa – e foi. Teve tanto sucesso que foi adorado pelos media e pelo público, que admirou o carro durante o seu tempo de produção. Ainda hoje em dia, este é utilizado como ponto de referência para vários modelos, algo que já diz muito acerca do estatuto que alcançou.



5. VENTURI FETISH

venturi fetish

Apesar de haver dezenas de carros a merecer entrar nesta lista, temos de considerar o Venturi Fetish um dos melhores carros franceses da história, por ter estado na vanguarda daquilo que os elétricos podiam fazer. Quando foi concebido, este era o único carro desportivo elétrico em todo o mundo em produção. O carro chega aos 200 km/h, vai dos 0-100 km/h em 5 menos de 5 segundos – isto além do nome interessante.


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18
Out16

É ISTO QUE AS CÂMARAS MUNICIPAIS ESTÃO DESTRUINDO !

António Garrochinho

Historia da Calçada à portuguesa

A calçada portuguesa é uma herança histórica da cultura e da tecnologia de construção dos romanos, que se impôs em Portugal no século XIV durante o reinado de D. João II.
Com as características de aspecto com que hoje a conhecemos, a Calçada Portuguesa teve como seu grande impulsionador o governador do Castelo de S.Jorge em Lisboa entre 1840 e 1846, o Tenente General Eusébio Cândido Pinheiro Furtado, que em 1842 transformou a fortaleza e os seus arredores em lugares de passeio onde foram introduzidas flores, arvoredo e calçada mosaico, utilizando como mão-de-obra dos presidiários do Castelo, chamados por “guilhetas”, que assentaram um tapete de pequenas pedras de calcário branco, cortado a espaços por linhas de pedras de basalto negro, num desenho em ziguezague.
O efeito obtido foi tal que em breve os lisboetas acorriam em romaria ao Castelo, o que levou a Câmara a reconhecer o excelente trabalho do engenheiro Militar Eusébio Furtado, profundo conhecedor das técnicas romanas. Em 1848, viu aprovado o seu projecto para a Praça do Rossio, uma obra com uma área de 8712 m², concluída em 323 dias, onde foi introduzido o calcetamento, usando apenas calcário “vidraço”, branco e negro, designado por “Mar Largo” em homenagem aos descobrimentos.
A Baixa de Lisboa transforma-se com a maioria das suas ruas a serem calcetadas a basalto, entre elas o Largo de Camões em 1867, o Príncipe Real em 1870, a Praça do Município em 1876, o Cais do Sodré em 1877 e o Chiado, finalizando em 1894. A abertura da Avenida da Liberdade dá-se em 1879 e em 1908 chega finalmente ao Marquês de Pombal com largos passeios onde foram introduzidos belos e deslumbrantes tapetes de desenhos, que fazem de Lisboa a cidade referência deste tipo de pavimento artístico.
Hoje, a calçada nascida em Lisboa, Portugal está presente em todo o Mundo, em cidades como Rio de Janeiro (o famoso “Calçadão”), Luanda, Maputo, Macau, Nova Iorque, entre outras.
Actualmente é reconhecida e apreciada internacionalmente como uma manifestação bem-sucedida da nossa cultura Portuguesa.









roc2c.com
18
Out16

Do bidonville ao poder

António Garrochinho


Chegaram com nada, trabalharam para fugir à miséria do maior bairro de lata francês e hoje são empresários de sucesso em França.

Construíram a pulso grandes fortunas e empresas e, nas regiões onde estão instalados, dominam mesmo os colegas franceses no seu ramo de negócios. Almoçam e jantam regularmente com as mais altas autoridades francesas – prefeitos, presidentes de regiões ou de câmaras, deputados e ministros. Têm em comum serem ricos, viverem em palacetes, possuírem barcos de lazer e conjuntos únicos, inacreditáveis, de dezenas de carros de coleção. E também o facto de terem sido emigrantes pobres e de terem começado a trabalhar quando ainda eram crianças. Muitos viveram nos anos 1960/70 no gigantesco bairro de lata português de Champigny-sur-Marne, nos arredores de Paris, que ficou para a história como o maior bidonville de sempre em França (15 mil pessoas, num terreno baldio de 45 hectares).
Alguns foram emigrantes clandestinos, viveram anos a fio a chapinhar na lama, em barracas ou casitas em tijolo, sem eletricidade, sem água canalizada, sem retrete, sem esgotos e sem serviço de recolha do lixo. Comparando a situação dos portugueses da época do bairro de lata de Champigny com as condições sanitárias, minimamente corretas, em que vivem os emigrantes e refugiados na atual “Selva”, em Calais – onde se amontoam de três a cinco mil pessoas de diversas origens –, este bairro de lata do Norte da França é um luxo que, por vezes, alguns portugueses, emigrantes de há 50 anos, invejam.

CONTO DE FADAS

Certas histórias individuais destes portugueses parecem vir diretamente de um conto de fadas. De um modo geral fadas boas, embora por vezes também as haja más. Eles explicam o seu sucesso com o trabalho, a sorte, a vontade indomável de sair da miséria, de vencer e de contrariar o destino miserável que lhes parecia traçado à nascença .







 Valdemar, humanista de 62 anos, viveu no bairro de lata durante nove anos, onde se juntou aos pais quando chegou a França em maio de 1960. Tinha seis anos, quando entrou no bidonville. “Há pessoas que têm vergonha de dizer, hoje, que viveram aqui. Eu não. No entanto, na altura, confesso que tinha vergonha. Vivíamos na miséria e com a lama à porta de casa, mas íamos à escola. Eu ia a casa de colegas franceses, mas nunca os convidava para virem a minha casa, porque tinha vergonha, não os podia convidar”, diz.

Ao lado dele, Lionel Marques, de 66 anos, vice-presidente da associação Les Amis du Plateau, que viveu 12 anos no bairro de lata, corrobora. “É uma homenagem à França e a Louis Talamoni, porque o presidente da Câmara desobedeceu, de facto, como o cônsul Sousa Mendes, em Bordéus, às ordens que tinha recebido do Estado, que eram para acabar com o bidonville. É também um dever de memória para com os nossos pais, uma homenagem a eles, que sofreram muito, na época”, explica. Lionel e Valdemar começaram a trabalhar aos 11 anos de idade, o primeiro numa mercearia árabe, o segundo a descarregar fruta de camiões, no mercado de Villiers-sur-Marne, ao lado de Champigny.

UMA ROTUNDA PARA ARMANDO

São narrativas de tempos muito sombrios, os relatos são terríveis, mas todos resultam em histórias humanas espantosas que, por vezes, terminam em finais com grande sucesso. Armando Lopes, hoje patrão de um grupo de 16 empresas (cimentos, areias, construção civil em França e Portugal e também proprietário da rádio Alfa), não chegou a viver no bairro de lata mas começou a trabalhar aos 11 anos, ainda em Portugal, em Caxarias, Ourem, de onde é natural. Aos 17 anos emigrou, instalou-se em Saint-Maur, vila vizinha de Champigny, e começou imediatamente a trabalhar em Paris, como pedreiro. Participou na construção das autoestradas (o conhecido “periférico”), que ainda hoje envolvem a capital francesa. Foi pedreiro, hoje é patrão de pedreiros e não só.
Armando Lopes, hoje patrão de um grupo de 16 empresas, chegou a França aos 17 anos. “Tive de aguentar porque tinha força de vontade e sentia que as coisas iriam melhorar”, conta
Armando Lopes, hoje patrão de um grupo de 16 empresas, chegou a França aos 17 anos. “Tive de aguentar porque tinha força de vontade e sentia que as coisas iriam melhorar”, conta
HAMILTON/REA/4SEE
“Foi muito duro, no inverno estava por vezes tanto frio, nevava, que até me chegou a cair a pele das orelhas. Mas tinha de ser, tive de aguentar porque tinha força de vontade e sentia que as coisas iriam melhorar”, conta. Durante a visita de Marcelo Rebelo de Sousa, Armando Lopes, que já foi condecorado no passado pelas presidências francesa e portuguesa, estará de novo em foco – o chefe de Estado português, o primeiro-ministro António Costa e diversas autoridades francesas vão inaugurar uma rotunda com o seu nome, em Créteil, cidade dos arredores de Paris. A praça, com uma fonte luminosa no centro, está já construída e, tal como o monumento de Champigny, é delimitada por uma dezena de oliveiras portuguesas. “As oliveiras são centenárias, vieram de Alqueva”, sublinha o empresário.
Armando Lopes criou a primeira empresa aos 20 anos, Valdemar Francisco fê-lo aos 15. Em Champigny, o monumento eleva-se junto a uma rotunda, à entrada de um frondoso bosque que os próprios portugueses recentemente embelezaram. O local passará a chamar-se “Espace de l’Espoir” (Espaço da Esperança) e a construção é marcada por oito colunas revestidas com 20 mil tijolos, muitos deles com nomes de emigrantes portugueses antigos residentes do bairro de lata, gravados – e até com autógrafos de personalidades como Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa, Linda de Suza, Pedro Abrunhosa ou Pinto da Costa. Ao centro, assente num espaçoso pedestal de mármore, será instalada uma escultura representando um livro aberto – “um livro que pretende ser a evocação da nossa história de emigrantes”, explica Valdemar – colocado sobre um par de mãos abertas. Na inscrição que será gravada no monumento vai ler-se: “Os portugueses de França prestam homenagem a Louis Talamoni, homem de humanismo e de coragem.”
“Fomos a um tempo infelizes e felizes aqui no bidonville, tivemos de sair de Portugal à procura de uma vida melhor, mas, sobretudo, resistimos porque tínhamos muita esperança. Tenho boas e más recordações mas nunca passámos fome”, acrescenta Valdemar Francisco. “Houve momentos difíceis. A certa altura, fizeram pesquisas de petróleo no terreno e foi um desastre: andávamos, crianças e adultos, num lamaçal horrível logo à porta das nossas casitas e barracas”, exclama.

MERCADO DAS AMBULÂNCIAS É NOSSO

É uma saga extraordinária, a história da emigração portuguesa em França. Mesmo a vivida pelos chamados emigrantes de sucesso ultrapassa tudo o que se pode imaginar. “A França dá muito mais hipóteses do que Portugal às pessoas que vêm do nada. É uma evidência que o chamado elevador social funciona muito melhor em França, porque, em Portugal, quem nasce pobre dificilmente consegue sair da pobreza ou subir ao nível a que estes portugueses emigrados subiram”, diz Victor Pereira, historiador, autor do livro “A Ditadura de Salazar e a Emigração – o Estado Português e os Seus Emigrantes em França (1957-1974)”.
Carlos de Matos (grupo Saint-Germain, construção e promoção imobiliária), de 65 anos, também viveu no bairro de lata de Champigny, onde chegou aos 18 anos, em 1969. Também começou a trabalhar aos 11 anos, numa fábrica, em Portugal, e hoje é patrão de grande prestígio, com investimentos em França e Portugal. É conhecido em alguns meios portugueses de Paris como o “empresário português vermelho”, porque investe muito em cidades onde os presidentes das câmaras são comunistas. Mas, apesar disso, tal como os seus colegas emigrantes de sucesso, também tem uma valiosa coleção privada de carros fora de série.
Pelo seu lado, Mapril Baptista (60 anos, pai operário) chegou a França com seis anos. Não viveu no bairro de lata (a mulher sim, viveu), mas cresceu num subúrbio complicado de Paris, em Montfermeil, que é frequentemente notícia devido à violência e aos conflitos raciais radicais. Aos 12 anos já trabalhava e hoje é patrão de um grupo construtor de ambulâncias (Les Dauphins) que detém mais de 50 por cento do mercado do sector em França (90% na região parisiense). As ambulâncias são montadas numa fábrica em Portugal, exportadas para África e para outras zonas do globo.
Mapril diz-se “cem por cento francês e cem por cento português”. Pessoa de trato simples, politicamente gaullista, é amigo do antigo Presidente francês Jacques Chirac, que está hoje muito doente e que ele visita regularmente. Como muitos outros emigrantes de sucesso, também tem uma extraordinária coleção privada de carros e participa regularmente em corridas de automóveis. Adora a velocidade. Ainda jovem foi motorista de ambulâncias, depois decidiu lançar-se na sua construção e em poucos anos passou a dominar esse mercado em França.
“O sucesso dos portugueses que viveram no bidonville é um grande orgulho para nós. São pessoas que merecem todo o nosso respeito, são grandes homens e grandes mulheres”, reconhece Mário Martins, empresário
“O sucesso dos portugueses que viveram no bidonville é um grande orgulho para nós. São pessoas que merecem todo o nosso respeito, são grandes homens e grandes mulheres”, reconhece Mário Martins, empresário
ANTÓNIO PEDRO FERREIRA
Já Mário Martins, 53 anos, tem 300 camiões de transporte de mercadorias. Fundou a empresa MRTI, em 1994. Emigrou aos 10 anos para França, em 1974. O pai era operário e ele tem o curso de torneiro mecânico. Como o seu amigo Mapril, foi motorista, também não esteve no bairro de lata, embora tenha muitos amigos que lá viveram. “O sucesso dos portugueses que viveram no bidonville é um grande orgulho para nós. São pessoas que merecem todo o nosso respeito, são grandes homens e grandes mulheres, e merecem esta homenagem que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa lhes vai fazer”, afirma.
Faz transporte internacional, mas 80 por cento da sua atividade comercial é em França. “Gosto do Presidente Marcelo porque antes de ser eleito prometeu vir cá comemorar um 10 de Junho e vai cumprir. É raro que um político cumpra as promessas e isso é de realçar”, acrescenta.

O MAIS RICO FOI PRESO

Mas nem tudo são rosas e contos de fadas boas. Mesmo no campo dos esforçados emigrantes que chegaram à fortuna e aos louros da glória, há história com final diferente. “Em todos os rebanhos há uma ovelha negra, diz o ditado”, lembra ao Expresso um dos diversos emigrantes entrevistados durante esta reportagem. Já no passado, alguns dos empresários emigrantes condecorados como comendadores por Portugal foram presos em França e, agora, está detido em prisão preventiva mais um dos chamados empresários emigrantes de grande sucesso.
Chama-se António de Sousa e é talvez o mais rico e vistoso de todos eles. Tem cerca de 40 empresas no ramo da construção e do imobiliário (700 empregados) que realizam no conjunto centenas de milhões de euros de volume de negócios. Foi detido há algumas semanas por suspeita de “corrupção, tráfico de influências ativo, abuso de bens sociais e cumplicidade de abuso de bens sociais”, segundo a procuradoria de Paris. Com ele, neste processo, estão igualmente a ser investigadas altas autoridades políticas e administrativas francesas, incluindo um prefeito (governador civil), outros portugueses seus alegados associados, e “eleitos locais” (autarcas). O prefeito implicado, Alain Gardère, presumivelmente amigo de António Sousa, é suspeito de “corrupção, peculato e abuso de autoridade”.
O grupo a que preside António de Sousa (De Sousa et Frères) é o mais importante de todos os que foram criados em França por portugueses ou seus descendentes. No caso, em investigação, encontra-se particularmente uma das suas empresas – a France Pierre (imobiliário) que, sozinha, realiza 80 milhões de euros em volume de negócios. António de Sousa tem cerca de 70 cavalos de corrida (a maioria puro-sangue) que regularmente disputam as provas francesas do PMU (corridas oficiais de cavalos com apostas presenciais, na internet e em cafés franceses especializados). Os seus cavalos já terão conquistado mais de 500 vitórias.
Tal como quase todos os emigrantes citados nesta reportagem, António de Sousa, 72 anos, chegou a França ainda criança, no início dos anos 60, no quadro da lei do reagrupamento familiar, quando ainda não havia livre circulação de pessoas na Europa e quando muitos dos emigrantes portugueses eram clandestinos. O pai era operário. Mesmo na prisão, não deixa de ser um representante do sucesso dos portugueses em França. O poder não é apenas feito de rosas e de contos de fadas.
expresso.sapo.pt
18
Out16

Críticas à lobotomia - 12 de Novembro de 1935. A história esquecida das lobotomias de Egas Moniz

António Garrochinho


CRÍTICAS À LOBOTOMIA
Em 1950, foi sintetizado um medicamento chamado clorpromazina (vendido como Torazina). Isso marcou o início do fim da lobotomia como tratamento para doenças mentais nos Estados Unidos. A Torazina foi o primeiro de uma série de medicamentos antipsicóticos, e alguns médicos o prescreviam como o maior avanço no tratamento da esquizofrenia - semelhante à descoberta da penicilina para o tratamento de doenças infecciosas.
Sempre houve críticas à lobotomia, mas a preocupação cresceu com sua popularidade. Um editorial em uma edição de 1941 da Revista da Associação Médica Americana dizia: "Nenhum médico pode afirmar se esse procedimento realmente vale ou não à pena. A decisão final deve aguardar a produção de outras evidências científicas". [fonte: Diefenbach]. Apesar disso, o Comitê Nobel escolheu o Dr. Moniz, indicado pelo Dr. Freeman, para o Prêmio Nobel em fisiologia ou medicina, em 1949. Entretanto, embora as publicações populares contivessem histórias da precisão cirúrgica de Freeman e da recuperação milagrosa dos pacientes, a comunidade médica e científica discutiu a natureza grosseira da operação e questionou se ela realmente poderia ser comprovada como eficaz.
Médica examina uma tomografia computadorizada do cérebro de um paciente.

Médica examina uma tomografia computadorizada do cérebro de um paciente
Finalmente, essa negatividade espalhou-se por toda a imprensa. Depois que a URSS proibiu as lobotomias em 1953, um artigo do New York Times mencionou o psiquiatra soviético Dr. Nicolai Oseresky ao dizer, durante uma reunião da Federação Mundial de Saúde Mental, que as lobotomias "violam os princípios da humanidade" e transformam "uma pessoa insana" em "um idiota". [fonte: Laurence]. O artigo também afirmava que os principais psiquiatras norte-americanos e europeus presentes estavam inclinados a concordar. Nunca houve uma base científica estabelecida para a lobotomia, e a maioria dos psiquiatras não fazia um acompanhamento prolongado dos pacientes para avaliar sua eficácia.
Algumas críticas estavam relacionadas aos critérios descontraídos da lobotomia. Ela era feita em criminosos, em alguns casos contra sua própria vontade, na tentativa de "curá-los" de seu desejo de cometer crimes. Alguns veteranos da Segunda Guerra Mundial com fadiga de combate foram lobotomizados de modo que pudessem dar lugar nos hospitais. Quando os pacientes não podiam autorizar a operação, seus familiares o faziam, embora, às vezes, fosse mais por interesse em se livrar do problema do que realmente ajudar a pessoa. À medida que outras histórias de abuso e resultados desastrosos tornaram-se públicos, e o uso de medicamentos antipsicóticos, difundido, a lobotomia foi esquecida.
Freeman continuou a realizar lobotomias até 1967, quando foi proibido de operar depois que a última paciente (em sua terceira lobotomia - Dr. Freeman acreditava que deveria ficar tentando até dar certo) morreu de hemorragia cerebral. Ele continuou visitando seus antigos pacientes e apregoando o sucesso da lobotomia até falecer de câncer em 1972.
Embora a lobotomia tivesse sido proibida em vários países (incluindo Portugal de Moniz), hoje ela ainda é realizada em quantidade limitada em diversos países. Geralmente, é usada para tratar a epilepsia. Hoje conhecidas como NDM(neurocirurgia para distúrbios mentais), as lobotomias são realizadas em dois hospitais na Grã-Bretanha como último recurso para tratar o transtorno obsessivo compulsivo e a depressão grave. Aqueles que as defendem ainda acreditam que podem ser benéficas quando todos os demais tratamentos não funcionaram.




Alguns médicos nos Estados Unidos têm interesse em reviver a psicocirurgia - ou a cirurgia psiquiátrica, como alguns preferem chamá-la. Em 1997, uma equipe de neurocirurgiões de Harvard publicou um relatório sobre o uso da ressonância magnética para orientar os médicos na realização das cingulotomias para tratar as doenças mentais. Uma cingulotomia envolve a queima de pequenos orifícios no giro cingulado, uma área do cérebro que liga os lobos frontais à região límbica, envolvida no comportamento emocional. Embora haja algumas evidências de que ela possa funcionar, o neurocirurgião Dr. Frank Vertosek aponta os problemas inerentes em qualquer tipo de psicocirurgia. Ele também afirma que a maioria dos portadores de doença mental responderá bem a medicamentos e outras terapias, deixando poucos candidatos para a cirurgia, mesmo que ela se torne amplamente mais aceitável.
saude.hsw.uol.com.br
Um caso bastante discutido foi o da Rosemery Kenedy, irmã dos ex presidente americano. Nascida em 1918, Rosemary era ligeiramente retardada quando criança e teve que ser educada por professores particulares. Ao atingir a adolescência, ela passou a ter períodos de descontrole e violência, embora ela estivesse desfrutando uma vida cheia, com muitas viagens e festas pagas por seu pai rico, o empresário e embaixador Joseph Kennedy. Aborrecido pela incapacidade da família de se adaptar ao comportamento agressivo de Rosemary, o pai dos Kennedys, sem consultar ninguém da família, contactou um neurocirurgião e ordenou que uma lobotomia prefrontal fosse realizada em Rosemary, em 1941 (lembre-se que naquela época, a lobotomia era considerado uma "cura" milagrosa para comportamento agressivo e inadequado). A operação a deixou totalmente incapaz de viver uma vida normal, e ela foi internada então permanentemente no Convento de Santa Coletta, em Wisconsin, no qual ela ainda vive. Este sempre foi um ponto extremamente dolorido na família de Kennedy, e Joseph e Rose Kennedy, atormentados pelo destino da filha, doaram bastante dinheiro e esforço para ajudar as pessoas retardadas. Eles estabeleceram a Fundação Joseph P. Kennedy Jr para este propósito (e que recebeu este nome em honra ao seu filho, morto no Segunda Guerra Mundial). 





Lobotomia

Os cirurgiões americanos Walter Freeman e James Watts, que aperfeiçoaram a técnica da lobotomia.
A trepanação deu origem a outro procedimento macabro: a lobotomia, incisão pequena para separar o feixe de fibras do lobo pré-frontal do resto do cérebro. Como isso provoca o desligamento na parte das emoções, pessoas agitadas se acalmavam como se tivessem tomado tranquilizantes. Essa técnica, criada pelo neurologista português Antônio Egas Moniz, foi realizada pela primeira vez em 1935 e também lhe rendeu um Nobel, em 1949. Os resultados foram tão bons, que a lobotomia começou a ser usada em vários países como uma tentativa de reduzir psicose e depressão severa ou comportamento violento em pacientes que não podiam ser tratados com qualquer outro meio (na ocasião, não havia muitos). O problema é que a técnica, que deveria ser o último recurso, passou a ser usada maciçamente nos manicômios para controlar comportamentos indesejáveis – inclusive em crianças agitadas e adolescentes rebeldes. Entre os anos de 1945 e 1956, mais de 50.000 pessoas foram sujeitas a lobotomia no mundo inteiro. E os efeitos colaterais eram horríveis: a pessoa virava um vegetal – sem emoções, apáticas para tudo. Com o aparecimento de drogas efetivas contra ansiedade, depressão e psicoses, nos anos 50, e com a evidência de seu abuso difundido e efeitos colaterais, a lobotomia foi deixando de ser usada.
EGAS MONIZ - PRÉMIO NOBEL DA MEDICINA




A polémica operação que valeu o único Nobel da Medicina a Portugal faz 80 anos. O i recupera relatos sobre os primeiros doentes e os passos do médico no Hospital de Santa Marta, em Lisboa.






Para a história ficaram apenas as iniciais M.C. Seria Maria do Carmo, talvez Catarina. Foi admitida pela primeira vez no Hospital dos Alienados de Lisboa a 26 de Maio de 1910, com 48 anos. Aos 14 teve o primeiro amante e entregou-se à prostituição, uma vida sempre na clandestinidade. No início daquele ano atirara-se de uma janela e, depois da recuperação, foi enviada para o também chamado Manicómio Bombarda com delírios de perseguição e agitação maníaca. 

Os antecedentes pessoais anotados pelo psiquiatra Sobral Cid, que dirigia o Bombarda, mostram o passado conturbado da mulher que mais tarde viria a ser a primeira doente lobotomizada da história, na manhã de 12 de Novembro de 1935. Faz 80 anos, mas o livro em francês em que Egas Moniz relatou, no ano seguinte, o historial dos primeiros 20 casos é dos poucos lugares onde é lembrada. 
No Hospital de Santa Marta, onde tudo aconteceu, não há também muitas marcas das operações ou sequer da passagem do médico que em 1949 receberia o Nobel da Medicina. Apesar da distinção, Egas Moniz e a sua técnica nunca deixaram de estar envoltos em polémica. Terá sido, como muitos críticos consideram, um dos momentos negros da medicina?

A discussão continua em aberto, mas, na manhã daquele 12 de Novembro, o médico estava determinado. Era o culminar de dois anos de reflexão sobre o funcionamento do cérebro e alguma experimentação com cadáveres. Não por ele directamente, já que era neurologista e não operava – mesmo que quisesse tinha as mãos atrofiadas pela gota. Todos os treinos e operações seriam feitas pelo neurocirurgião Almeida Lima, tio-avô de João Lobo Antunes, e pelo seu assistente Ruy Lacerda.
Depois de muita insistência M.C. foi enviada para o Hospital Santa Marta, onde Egas Moniz dirigia o serviço de Neurologia, após muita insistência do médico junto de Sobral Cid. Por cada doente, escreveria mais tarde, tinha de ir nove ou dez vezes ao manicómio lutar contra as desculpas do psiquiatra. Dos 20 primeiros operados, 14 vieram do Bombarda e os restantes teve mesmo de os arranjar nas clínicas onde dava consulta e no Telhal.
Em “Tentatives Opératoires dans le Traitement de Certaines Psychoses” lê-se que, depois do primeiro internamento, em 1910, M.C. regressara ao Bombarda em 1932. Pelo caminho continuara a vida de “prostituição e excesso alcoólico”. Teve um amante que a abandonou, o que despertou nela um forte ciúme. Sentia-se perseguida pelos vizinhos e começou a ouvir vozes que criticavam a sua conduta. Sofria de sono irregular, crises de ansiedade e delírios cada vez mais fortes. Acusava médicos e farmacêuticos de a porem naquele estado. No manicómio há três anos, estava quase sempre quieta e muda. Sem perspectivas. “Se lhe falamos ou perguntamos qualquer coisa, chora, queixa-se do seu destino e suplica que a deixemos tranquila.”

Quando chega o dia da operação tem 63 anos e um diagnóstico de “melancolia involutiva, ansiosa e paranóide”. Egas Moniz descreve todo o processo. Não andava à procura de nenhuma psicose em particular para tratar, queria ver se a sua hipótese de tratamento alterava sintomas psíquicos. Tinha a sua teoria para os delírios “mórbidos”: se o cérebro funciona pelo accionamento de ligações entre neurónios, explicava, em doentes mentais graves, determinadas ligações neuronais estariam demasiado fixas. Destruindo esses arranjos, ficariam livres.
Furar o cérebro Como o lobo pré-frontal era a área cerebral que mais se destacava no cérebro humano, mesmo em relação a outros mamíferos, Egas Moniz defendeu que era aí que importava intervir, eliminando células do seu centro oval tanto no hemisfério esquerdo do cérebro como no direito – estudos da época com feridos e doentes com tumores cerebrais mostravam que intervir apenas num lado não produzia efeitos.





Para fazer os cortes, cirurgia que internacionalmente viria a ficar conhecida como lobotomia mas a que o médico português chamou leucotomia, havia várias hipóteses. Nos primeiros dez doentes usaria injecções de álcool absoluto, capaz de destruir o tecido nervoso. Depois, para maior precisão, inventa um instrumento de corte a que chama leucótomo. Uma haste de 11 cm com uma ansa na ponta, para cortar e puxar a massa a remover. Apesar de não haver regras sobre ensaios clínicos, Egas Moniz defendeu que primeiro os cirurgiões deviam treinar em animais e a sua equipa fê-lo também com cadáveres humanos. Não guiava por causa da gota, mas comentava com o motorista o que diria a polícia se os visse com as cabeças cedidas pela anatomia na bagagem do carro, no percurso que fez muitas vezes da faculdade até ao hospital.
Curada No dia D, tudo começou com a anestesia e dois orifícios no crânio, de três centímetros cada, com uma broca de trépano. Ultrapassada a dura-máter, meninge externa, começou o procedimento cerebral que no imaginário colectivo ficaria para sempre associado à imagem sórdida de Frankenstein. Embora nada tivesse a ver com a história do início do século xix.
A operação de M.C. demorou meia hora, escreve Egas Moniz. A doente acordou da anestesia às sete da tarde e às oito, cinco horas depois da intervenção, examinaram o seu estado. “Bastante bom”, declarou o médico. Ao levantar-se queixou-se de dor de cabeça mas depois melhorou. Interagiu e respondeu às perguntas, só hesitando na idade.
Nos dias seguintes viria febre, sonolência e ausência de emoção, efeitos secundários que Egas Moniz listou entre os mais comuns após concluir os 20 primeiros casos. Todos “passageiros”, acrescentou. M.C. não tornaria a mostrar-se delirante mas passa a exprimir preocupação com o futuro. Quer recuperar a liberdade mas diz que a sua vida está desfeita. Quando por fim lhe perguntam a idade pensa ter 53 anos, e não 63, desorientação temporal que o médico viria também a considerar comum.

Certo é que quando é devolvida, a 20 de Novembro, ao manicómio, está “clinicamente curada”. Segundo Egas Moniz, faltava então ver se seria definitivo, mas disse acreditar que as recidivas se notariam em pouco tempo. Dos 19 casos que se seguiriam até 30 de Janeiro de 1936, Egas Moniz afirma que o primeiro é dos mais felizes. Dos 20 iniciais, sete são considerados pelo médico “curas clínicas”, outros sete “melhorias consideráveis, sobretudo da agitação psicomotora”, e seis doentes ficaram na mesma. Neste primeiro relato, Egas Moniz acredita estar no bom caminho: nenhum doente morreu ou ficou pior e nenhum teve diminuição da memória ou da vida intelectual.
Seria mesmo assim? Para os críticos, contudo, o sucesso sempre foi uma ilusão. Manuel Correia, investigador do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra e especializado em história da psicocirurgia, ajuda a contextualizar. Acompanha-nos no percurso pelo Hospital de Santa Marta junto com a administradora hospitalar do Centro Hospitalar Lisboa Central dedicada ao património Célia Pilão, que tem aprofundado o estudo sobre Egas Moniz na instituição. Ambos pensam que o médico estava bem intencionado, mas tinha também a ambição de deixar uma marca na ciência. Dimensões inseparáveis quando se avalia a sua ambição e o seu julgamento dos factos. “É sempre difícil falar de erros no passado, porque naquele contexto fazia sentido e na altura Egas Moniz teria uma grande intuição de que aquilo poderia funcionar”, diz o investigador.

Dez anos antes Egas Moniz já tinha inventado a chamada arteriografia cerebral – o primeiro exame em que introduzindo um líquido de contraste era possível através de raio X analisar os vasos sanguíneos do cérebro e identificar eventuais trombos e aneurismas. Isso dar- -lhe-ia alguma confiança. “No caso da leucotomia, estava desejoso de ter os 20 casos para os apresentar lá fora. Também porque sabia que não tinha muito tempo”, explica Manuel Correia. Tendo ambição científica, tinha noção de que tinha começado velho, depois de uma vida dedicada à política, já que chegou a ser ministro de Sidónio Pais. “Se Sidónio não tivesse sido morto, talvez nem tivesse começado.”
 
O cérebro no centro 


A intuição assentava numa ideia que não era assim tão consensual à época. “Pensava que a psiquiatria não fazia nada realmente inovador e que uma perspectiva mais organicista talvez conseguisse melhor”, explica Manuel Correia. Egas Moniz brinca com isso nos seus escritos, lembrando a escola de pensamento que achava que a doença mental era resultado de fenómenos psíquicos, nada tendo a ver com o cérebro.
Por isto, mas não só, a vida no hospital e entre a elite médica de Lisboa não seria fácil. Natural de Avanca e licenciado em Coimbra, Egas Moniz vem para Lisboa antes da implantação da República e entra em Santa Marta por concurso. Em 1911 assume a chefia do serviço de neurologia. “Na altura o hospital era dominado por dois médicos: Francisco Gentil, na cirurgia, e Francisco Pulido Valente, na medicina”, lembra Célia Pilão. “Havia alguma rivalidade, em parte devido à relação intestina entre Coimbra e Lisboa, e em particular de Pulido Valente, que terá sentido que de certa forma vir um médico fundar a cátedra de Neurologia lhe tirava uma parte da sua medicina.”

Tirando colaboradores próximos, como Almeida Lima, Ruy Lacerda e uma enfermeira, Deolinda, Egas Moniz era um homem isolado em Santa Marta. Durante o dia via os doentes e às terças e aos sábados dava aulas. Mas só trabalhava nas suas técnicas quando já não estava presente nenhuma das sumidades. “Dizia muitas vezes que fazia a sua investigação na clandestinidade, ao final do dia.”

Mais que alguma reserva ética, teria receio que lhe roubassem os créditos. Pulido Valente (avô de Vasco Pulido Valente) seria particularmente corrosivo. “Chamava-lhe o electricista da Rua do Alecrim, por usar muitas vezes electricidade nos doentes”, lembra Célia Pilão, já que na altura estavam também em teste os electrochoques. “E dizia que o contraste que injectava na carótida dos doentes era leite das suas vacas de Avanca.” Egas Moniz, por bem-intencionado que fosse, era assumidamente republicano e um homem vaidoso, o que também lhe valia críticas num meio conservador. Usava capachinho e tinha mandado construir em casa uma réplica da Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra.
Oposição silenciosa 

Apesar das críticas e das guerras internas, o médico manteve-se firme e não houve protesto público contra o seu trabalho. Só anos mais tarde, em 1946, partilha com o médico americano que tornou célebre a lobotomia, Walter Freeman, que Sobral Cid – que então já tinha morrido – tivera dúvidas. O psiquiatra chega em 1937 a criticar a lobotomia numa apresentação em Paris, mas não a contesta em Portugal, embora já tivesse na altura as que seriam as principais dúvidas históricas em torno do trabalho de Egas Moniz: considerava que eventuais resultados se deviam ao facto de a lesão no cérebro tornar os doentes apáticos suprimindo estímulos endógenos, e por isso não se justificava a violência da operação. 

Para Manuel Correia, tudo isto faz de Egas Moniz e da sua história um caso de estudo na cultura portuguesa. “A crítica só na intimidade acaba por ser paradigmática do jeito português de não afrontar o outro.” Mas há mais pontos de interesse. Se em todo o mundo foi grande a controvérsia, em Portugal veio mais depressa o silêncio. Os porquês serão profundos. “Vejam-se grandes questões que atravessaram o século xx: a psicanálise, o marxismo, o darwinismo. Nenhuma motivou grande debate em Portugal. Somos uma sociedade muito subjugada pelos poderes centrais, muito paternalista, em que o espaço de debate é reduzido.”
Sem memória 

Curioso também para Manuel Correia é o esquecimento de Egas Moniz nos corredores de Santa Marta. Célia Pilão é a primeira a assumi-lo. O hospital na colina de Santana foi durante 30 anos o local de trabalho do único Nobel científico português e não há nada a invocá-lo. “Só sobra uma mesa”, diz a responsável. “E porque a salvaste”, brinca Manuel Correia. A marquesa de madeira e ferro onde Egas Moniz fez a primeira arteriografia chegou a estar na sala de espera do serviço de radiologia com revistas cor-de-rosa e a máquina do café. 

A explicação será institucional, diz a responsável. Em 1953 abre o Hospital de Santa Maria, que substitui Santa Marta como hospital escolar. O ensino da Neurologia muda-se para lá e constrói-se no adro uma estátua do médico. “Há uma apropriação do legado, quando na realidade Egas Moniz nunca lá trabalhou”, lamenta Célia Pilão. Mas mais que reparar o passado a responsável teme o futuro. “Indo os hospitais antigos da colina de Santana para o novo Hospital de Lisboa Oriental, em Chelas, como está previsto, vai ser preciso preservar ainda mais esta memória. Santa Marta tem de fazer parte da história e não tem feito quase nada por isso.”

Hoje a mesa está na sala onde Egas Moniz dava aulas em Santa Marta, um começo. O serviço de neurologia, que ficava num canto a sudeste do edifício, deu lugar à ala de cirurgia vascular. Para quem conheça a história, acaba por ser uma homenagem: é a arterogafia desenvolvida por Egas Moniz, que médicos de Santa Marta aplicariam noutros órgãos, que funda esta especialidade no país.

Para vislumbrar os restantes passos do médico no edifício, só mesmo com visita guiada. Todos os dias entraria pela portaria e passaria pelo andar térreo do claustro, com um jardim que sobrevive do tempo em que o edifício era um convento de Clarissas. O médico subia depois por umas escadas, hoje fechadas, até ao seu serviço, que sempre disse ser o mais desprovido do hospital. Para as suas experiências, e como não tinha um aparelho de raio X, descia ao serviço de radiologia, que se mantém no mesmo local.

Se a história o foi esquecendo, Egas Moniz quis fazer parte dela e escreveu muito, não se esquivando à controvérsia. Alguns excertos do livro francês foram aproveitados mais tarde no trabalho autobiográfico “Confidências de Um Investigador Científico” (1949). “Mesmo que a nossa concepção seja exacta, caminhamos como cegos nesta prática terapêutica”, assume em 1936. “É preciso apalpar terreno prudentemente, mas com determinação, desde que possamos garantir que a vida dos doentes não corre perigo. Como as primeiras experiências devem ser feitas em casos incuráveis, aquilo que poderemos alterar não terá importância.” 
Diminuir os alienados 

“Havia um certo optimismo quanto estar a tentar arranjar uma solução. Tanto que a psicocirurgia entra em declínio nos anos 50 e 60, quando surgem novos medicamentos”, diz Manuel Correia, que rejeita um perfil menos humanista no médico. Ainda assim, com retórica de político, Egas Moniz parece apelar sobretudo aos benefícios da sua ideia. Nas imagens do antes e do depois dos doentes, as segundas são bem mais tranquilas que as primeiras. E lista várias vantagens contra a desvantagem de não ter bem a certeza do que está a fazer. Fala de um caminho para suprimir o sofrimento íntimo dos “prisioneiros da ansiedade, dos delírios hipocondríacos e melancólicos” e das forças ocultas que os levam ao desespero. De “restituir às famílias pessoas que consideram perdidas”. E refere até resultados económicos, como a diminuição da “população de alienados”. 

Nada disto aconteceu. 


Em Portugal estimam-se 500 operações. Nos EUA, onde Freeman foi considerado um monstro, foram mais de 20 mil. Depois dos doentes incuráveis operados por Egas Moniz, a lobotomia passou a ser usada em quase tudo, até na dor crónica. A apatia e a ausência de resultados inequívocos contribuíram, a par dos medicamentos, para a técnica cair em desuso, ainda que Egas Moniz tenha escrito a Freeman, já no final de vida, dizendo que em Portugal não foi mais usada devido ao “ambiente de opressão” da ditadura, ao “sectarismo nos apoios sociais” e à má vontade e inveja de alguns colegas. 

Em 1949, e quando a técnica já era questionada, o Nobel foi em contracorrente, diz Manuel Correia, admitindo que isso perpetuou a polémica e que há injustiças na história. “A angiografia até era visualmente mais violenta: faziam uma incisão no pescoço, puxavam a carótida com um gancho e injectavam o contraste, que era uma substância radioactiva. Como se revelou uma técnica benéfica, há menos ideia do ponto a que foram sacrificados os doentes.” E sendo mais revolucionária, não ter sido por isso que Egas Moniz recebeu o Nobel contribuiu para a dúvida sobre se o prémio terá sido indevido, quando havia matéria para o distinguir.

A história dos doentes, essa, está em grande parte por fazer. Nos inquéritos clínicos M.C. diz que morava no n.o 5 da Calçada do Desterro. No local há um prédio que os moradores garantem ter quase 100 anos, mas nunca ouviram falar de tal história. De Egas Moniz sim, acenam. Vagamente. Sobre M.C. e os primeiros doentes, o médico deixaria um apelo que talvez faça sentido quando ainda hoje se fala da saúde mental como parente pobre da medicina.

“Constatamos curas e melhorias nos delírios hipocondríacos, melancólicos e outros como ansiedade, mania e agitação psicomotora. Na psiquiatria não há muitas terapêuticas eficazes. Que ao menos este aspecto da nossa orientação venha a merecer a atenção dos que se interessam pelo progresso deste ramo da medicina.” 
ionline.sapo.pt

Mentes criminosas


          A revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences divulgou, esta semana, um artigo demonstrando que um exame de imagens do cérebro ajuda a prever a chance de um criminoso voltar a cometer crimes depois de cumprir pena.
          Essa publicação vai dar o que falar e, desde já, peço aos leitores mais belicosos que se contenham nos limites da civilidade ao comentar o texto ou espinafrar o autor por abordar semelhante assunto. Trata-se, apenas, de uma crônica.
          Para começar, voltemos ao século XIX e a uma teoria chamada frenologia. A palavra, derivada do grego, significa “estudo da mente” e a idéia inicial tinha lá seus méritos como, por exemplo, o fato de seu fundador, o médico alemão Franz Gall, ter sido um dos primeiros a considerar que o cérebro é a sede das atividades mentais e que suas diferentes partes servem a funções distintas. Porém, a frenologia ficou tristemente conhecida como a teoria que dizia ser possível prever o caráter e a personalidade de um cidadão e, assim, seu potencial de criminalidade pelas saliências e reentrâncias do seu crânio. Essa pretensão foi, é claro, descartada como pseudociência.

          Agora transportemo-nos para um filme de 1975, estrelado por Jack Nicholson, chamado “Voando sobre um ninho de cucos”. Quem não viu, não sabe o que está perdendo. O roteiro gira em torno de um criminoso reincidente, que dá um jeito de ser internado num hospício na esperança de cumprir pena em condições mais brandas do que numa prisão comum. O personagem lidera uma revolta dos internos contra o autoritarismo e a rigidez com que os pacientes são tratados e, em meio a muita confusão, nosso herói termina “amansado” por uma cirurgia no cérebro, chamada lobotomia frontal. Esta técnica foi criada pelo neurologista português Egas Moniz, na década de 1930, e consiste na desconexão do lobo frontal do cérebro do restante do órgão, levando o paciente a um estado de pouca ou nenhuma reação a estresse ou emoções. A lobotomia rendeu o Prêmio Nobel ao seu inventor, mas caiu em desuso por razões médicas e éticas.
          Então, nosso contexto inclui a tentativa de prever comportamentos a partir de características físicas, bem como intervenções na estrutura do cérebro para modificar a personalidade de um indivíduo. Considerem-se os estimados leitores avisados, pois aí vem chumbo grosso. Entretanto, não só a revista da seleta Academia de Ciências dos EUA tem credibilidade, mas o artigo publicado leva a assinatura de vários profissionais respeitáveis, como os neurocientistas Kent Kiehl, da Universidade do Novo México e Michael Gazzaniga, da Universidade da California em Santa Barbara, bem como o filósofo Walter Sinnott-Armstrong, da Universidade Duke, especialista no uso jurídico da Neurociência.
          A pesquisa partiu do conceito de que uma região do cérebro, o córtex cingulado anterior (abreviado ACC), participa de circuitos neurais que permitem reorientar a ação do indivíduo de modo a inibir reações impulsivas inadequadas. Esta noção é compatível com o efeito de lesões no ACC, que levam pacientes a ser classificados como portadores de personalidade psicopática.
          Os cientistas examinaram, com uma técnica de imagem conhecida como ressonância magnética funcional, a atividade do ACC em resposta a um teste no qual prisioneiros deviam dar respostas diferentes a dois estímulos distintos mostrados na tela de um computador. Porém, o teste foi desenhado de tal forma a induzir que os sujeitos dessem a mesma resposta para ambos os estímulos e, portanto, para acertar era preciso que eles inibissem a tendência a responder de forma impulsiva. Nesse cenário a atividade do ACC aumenta durante o teste, mas o aumento foi distinto em cada indivíduo, maior em alguns do que em outros.
          Esta variabilidade era esperada, mas o importante é o que veio depois. Os testes foram feitos às vésperas do final da pena de cada prisioneiro e o destino destes foi acompanhado por alguns anos após a libertação, com base em um registro nacional de atividades criminais. E é aí que a porca torce o rabo, pois foi encontrada uma correlação significativa entre a alteração de atividade da ACC e a probabilidade do ex-prisioneiro voltar a ser preso nos 3 anos subsequentes ao fim da pena anterior. Nos casos em que a atividade do ACC durante o teste foi baixa, os individuos apresentaram uma probabilidade de reincidência cerca de duas vezes maior do que quando a atividade do ACC era alta. Uma série de medidas adicionais mostrou que não havia correlação significativa com outros fatores, como por exemplo a idade na época da libertação, abuso de álcool ou drogas ou características gerais do cérebro. A atividade específica do ACC foi o único fator que apresentou uma capacidade robusta de prever a reincidência no crime.
          Longe de concluir que, antes de sair da prisão, cada interno deve ser submetido a uma ressonância magnética funcional para ganhar um rótulo de provável ou improvável reincidente, os autores discutiram seriamente as implicações dos resultados. Diversas ferramentas, como entrevistas e outras formas de identificação de fatores de risco psicosociais, já são aceitas para previsão de reincidência no âmbito jurídico. Os cientistas sugeriram, prudentemente, que a investigação direta e objetiva da atividade cerebral poderá eventualmente se adicionar aos métodos atuais, em lugar de substituí-los. Além disto, apontaram a dificuldade de aplicar a casos individuais resultados que indicam tendências em uma população, bem como reconheceram as dúvidas sobre se o exame de imagem atinge os padrões legais de prova em processos criminais ou se viola direitos fundamentais dos réus.
          Por outro lado, os pesquisadores salientaram que seus achados reforçam a hipótese de que características mensuráveis, tais como a atividade cerebral no ACC durante testes que implicam inibição de respostas impulsivas, tem o potencial de caracterizar traços de personalidade independente de entrevistas e impressões subjetivas. E foram além, sugerindo que resultados semelhantes poderão, eventualmente, fundamentar terapias dirigidas para circuitos cerebrais específicos. Em outras palavras, no futuro talvez se possa tratar o potencial de criminalidade de um indivíduo de forma análoga a outros tratamentos psiquiátricos modernos. A gentil leitora pode ficar sossegada porque, embora o ACC seja uma das partes do cérebro envolvidas na famigerada lobotomia frontal e em outras formas de psicocirurgia, cá no telhado prefiro pensar, se alguma coisa, em terapias mais amenas e éticas, ainda que de tarja preta.
          Depois dessa história toda, restam-me duas considerações. Há uma certa ironia no fato de que, décadas depois da frenologia ser desmoralizada, parece fortalecer-se uma “neofrenologia”, quem diria, com boa chance de realizar o sonho maluco do Franz Gall de prever o potencial de criminalidade de alguém por medidas objetivas, não de protuberâncias do crânio, mas de atividade cerebral. E, de minha parte, passei a acalentar um desejo sincero de, quiçá, num futuro não muito distante aplicar compulsoriamente tais métodos a candidatos a cargos públicos que não raro são ocupados por criminosos reincidentes, cujos traços de personalidade poderiam ser detectados precocemente por ressonância magnética funcional durante um singelo teste psicométrico.

Rafael Linden
umcientistanotelhado.blogspot.pt
18
Out16

Os Esquecidos da História

António Garrochinho





Sabe Quem Foi O General Vassalo e Silva?

O General Vassalo e Silva é a demonstração de que há pessoas que mesmo depois de morrer precisam ter muita sorte.
Vassalo e Silva foi o último Governador da Índia Portuguesa, ter a coragem de desobedecer a uma ordem de Salazar, para salvar um massacre, não obedeceu à ordem enviada por Salazar e, com essa atitude, foi demitido, votado ao ostracismo pelo regime fascista e, pelos vistos a democracia também não o está a tratar como merece.
É verdade que a Assembleia da República através do Decreto-Lei nº 727/74, de 19 de Dezembro,  o reintegrou nas Forças Armadas, anulando as penas impostas e refazendo a sua carreira.
Os admiradores do salazarismo, que há muitos, Infelizmente, digo eu), bem podem elevar o regime conhecido pelo “Estado Novo”, veja o que fizeram a este General e tirem as suas conclusões.
O General Vassalo e Silva, apesar de ter sido reabilitado pela Assembleia da República, isto é, politicamente, está no quase completo desconhecimento  da grande maioria dos portugueses.
O seu nome faz parte da Toponímia de: Almada (Freguesia da Charneca de Caparica), Lourinhã (Freguesia da Atalaia), Oeiras (Freguesia de Linda-a-velha), Torres Novas.
O nome em Almada, existe sobre proposta minha para a Junta de Freguesia, em Lisboa, apesar de ter apresentado proposta, não mereceu acolhimento.
Manuel António Vassalo e Silva, nasceu em Torres Novas, 08-01-1899, e faleceu em Lisboa, em 11-08-1985. Oficial do Exército, último Governador da Índia Portuguesa. Era filho de Manuel Caetano da Silva, um pequeno comerciante, e de D. Maria da Encarnação Vassalo e Silva e irmão da Escritora Maria Lamas.
Iniciou os seus estudos superiores na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, onde concluiu o bacharelato em Matemáticas e fez os preparatórios de Engenharia Militar. Ingressou na vida militar, em 13 de Novembro de 1922, indo frequentar o Curso de Engenharia Militar na Escola Militar, que concluiu em 1926 como Aspirante-a-Oficial, sendo promovido a Alferes, a 01 de Novembro do mesmo ano, e colocado no Regimento de Sapadores Mineiros nº 1 (Lisboa). Em 1927 passou ao Regimento de Sapadores Mineiros nº 2 (Porto) e à Escola Prática de Engenharia, quando foi promovido a Tenente, em 01 de Dezembro deste ano, e onde se manteve até Agosto de 1931. Em seguida foi prestar serviço na Escola de Transmissões, onde recebeu o posto de Capitão, em 01 de Dezembro do ano seguinte, e onde permaneceu até 1943. Cumulativamente, foi Vogal da Comissão Técnica da Arma de Engenharia, integrou a Comissão para “elaborar as bases para se iniciar a montagem de produção de fumos e gases para as necessidades do País em tempo de paz” e foi Professor adjunto da 24ª Cadeira da Escola do Exército. Até Fevereiro de 1945 esteve colocado no Batalhão de Telegrafistas onde foi promovido a Major, em 27 de Outubro de 1944. Em Março de 1945 embarcou para Moçambique como Comandante de Engenharia do Quartel-General do Comando das Forças Expedicionárias às Colónias. Demorou-se em Moçambique até 01 de Setembro, data em que seguiu viagem para Timor, integrado nas Forças Expedicionárias ao Extremo Oriente, cuja principal missão era restabelecer a soberania portuguesa no território timorense, que havia estado ocupado pelo Japão durante a II Guerra Mundial.
Nesta primeira comissão de serviço no Ultramar, desenvolveu uma acção notável na recuperação das infra-estruturas e de desenvolvimento da colónia, no âmbito das funções que lhe foram sendo atribuídas, algumas em acumulação, como: Chefe da Repartição de Engenharia do Comando-Chefe das Forças Expedicionárias, Comandante de Engenharia do Destacamento Militar de Timor, Chefe da Repartição Técnica das Obras Públicas, Comandante do Destacamento Militar de Timor, Chefe da Repartição Militar da Colónia de Timor e Encarregado do Governo da Colónia de Timor, na ausência do Governador. Dos trabalhos cuja planificação e execução orientou, são de destacar os da instalação das tropas e serviços e os de urbanização da cidade nova de Dili e o respectivo Porto de Mar, tarefas a que se dedicou com “todo o seu esforço em todas as circunstâncias e por vezes nas mais difíceis condições, com inteligência e muita competência técnica”, como consta de um dos louvores recebidos na época.
Regressou a Lisboa em Janeiro de 1947 e foi colocado no Instituto Profissional dos Pupilos do Exército, onde foi Professor provisório no ano lectivo de 1947-1948, depois do que foi provido no cargo de Professor Catedrático da 24ª Cadeira da Escola do Exército. No exercício desta actividade recebeu o posto de Tenente-Coronel, em 06 de Março de 1953, terminando-a quando foi promovido a Coronel, por escolha, em 11 de Setembro de 1956. Foi comandar a Escola Prática de Engenharia (Tancos) e, no ano lectivo de 1957-1958, frequentou o Curso de Altos Comandos, para acesso ao Generalato. Era Inspector interino das tropas de Transmissões, quando recebeu a promoção a Brigadeiro, em 04 de Novembro de 1958. Em 30 de Dezembro deste mesmo ano, iniciou a mais espinhosa e última missão da sua vida militar: chegava a Goa para assumir o cargo de Governador-Geral do Estado da Índia, de qual foi o 128º e último. No decorrer deste mandato recebeu a patente de General, em 14 de Junho de 1960. A permanência de Portugal na Índia foi dramaticamente terminada com a invasão das tropas da União Indiana, na noite de 17 para 18 de Dezembro de 1961 que, em grande número, tomaram de assalto os territórios de Goa, Damão e Diu, consumando a ocupação no dia imediato. Contrariando as ordens que recebera do Presidente do Conselho, Professor Oliveira Salazar, no dia 14 para resistir até ao último homem, pois só aceitava “soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos”, o Governador-Geral ordenou, no dia 19, a rendição dos cerca de 3500 militares portugueses mal armados e municiados, por considerar não haver qualquer hipótese de resistência prolongada perante avalancha dos 50.000 homens do Exército invasor, dotado com modernos meios terrestres, navais e aéreos. As ordens que deu foi de recuo das tropas portuguesas e o de fazer retardar o mais possível o avanço do inimigo, destruindo vias de comunicação. Apesar de tudo, ainda houve importantes focos de resistência, que obrigaram os indianos ao combate, cifrando-se as perdas portuguesas em 26 mortos. Após a rendição, no dia 19, os militares portugueses foram internados em campos de prisioneiros, incluindo o Governador-Geral. Assim se mantiveram até Maio de 1962, por teimosia de Salazar em aceitar a situação, demorando o repatriamento. Durante o cativeiro, o último Governador da Índia foi tratado com deferência, embora alojado em instalações modestas, iguais às dos outros oficiais. Foi o último prisioneiro a abandonar Goa, a bordo de um avião indiano, apenas acompanhado por um ajudante e um enfermeiro. Rumou a Carachi (Paquistão) para onde foram evacuados os outros prisioneiros, que regressaram de navio. Embarcou no dia 14 de Maio no aeroporto de Carachi e chegou a Lisboa no dia 16. Os meses seguintes foram passados a elaborar relatórios sobre os acontecimentos e a responder a inquéritos. Apenas em 22 de Março de 1963, o Conselho de Ministros decidiu da sorte dos últimos militares da Índia. Sem serem levados a Tribunal Militar, Salazar, baseando-se num parecer dos Conselhos Superiores do Exército e da Armada, aplicou várias punições disciplinares aos que foram considerados os principais responsáveis pela perda da Índia Portuguesa e, recompensou alguns dos que morreram em combate ou se distinguiram nas acções de resistência ao inimigo. Ao General Vassalo e Silva e aos seus mais directos colaboradores foi aplicada a pena de demissão do Exército, outros foram passados compulsivamente à Reforma e, outros ainda, foram punidos com inactividade temporária. Vassalo e Silva soube da pena que lhe foi imposta pelos jornais e confessou, mais tarde, que a recebeu “Com a maior amargura da minha vida”. Só depois da Revolução de Abril de 1974 foi reparado o mal suportado pelos injustiçados da Índia: o Decreto-Lei nº 727/74, de 19 de Dezembro, do Conselho de Chefes dos Estados-Maiores das Forças Armadas, anulou as penas impostas aos militares punidos e mandou reintegrá-los nas Forças Armadas e refazer-lhes as respectivas carreiras. Assim o General Vassalo e Silva foi reintegrado no Exército para a situação de Reforma, dada a sua já avançada idade (75 anos), sendo consideradas as datas de passagem à Reserva em 08 de Janeiro de 1964 e de passagem à Reforma em 08 de Janeiro de 1969. Entretanto, procurou refazer a sua vida e, apesar da sua idade e de muitos se terem afastado dele, não foi difícil enveredar por uma nova actividade profissional, dada a sua longa experiência como Engenheiro e técnico de comunicações: trabalhou durante anos como Engenheiro de uma grande empresa de construção de estradas e empreitadas.
A par da actividade militar, participou, desde muito novo, em projectos de âmbito civil, tendo, entre outras obras e projectos, colaborado com o Engenheiro Duarte Pacheco no estudo de grande parte das principais vias circulares e radiais do plano geral de urbanização de Lisboa. Participou também nos projectos do Matadouro Municipal e da Central Pasteurizadora de Lisboa e elaborou trabalhos de investigação em Engenharia, nomeadamente sobre o abastecimento de água à cidade de Lisboa, sobre os abalos sísmicos na Ilha de S. Miguel e sobre as construções anti-sísmicas. Até 1961 foi agraciado com os graus de Oficial, Comendador e Grande Oficial, da Ordem Militar de S. Bento de Avis, com o grau de Grande Oficial da Ordem de Mérito Agrícola e Industrial, Classe de Mérito Industrial, com a Medalha Naval (Ouro) comemorativa do 5º Centenário da Morte do Infante D. Henrique, foi condecorado com a Medalha de Prata de Serviços Distintos (pela sua acção em Timor), com a Medalha de Mérito Militar de 1ª Classe, com a Medalha de Prata, da Classe de Comportamento Exemplar e com a Medalha comemorativa das Expedições a Timor.
Fonte: “Os Generais do Exército Português”, (III Volume, I Tomo, Coordenação do Coronel António José Pereira da Costa)
ruascomhistoria.wordpress.com
18
Out16

Câmara de Faro rejeita proposta de 2 milhões de euros por peça do Museu Municipal

António Garrochinho


A Câmara de Faro rejeitou, esta tarde, por unanimidade, uma proposta de 2 milhões de euros pela compra da peça de arte africana «Nkisi Nkondi», que faz parte do espólio do Museu Municipal.


A oferta foi feita pela galeria inglesa Entwistle, especializada neste tipo de artefactos, há cerca de um mês e meio, apurou o Sul Informação. 
No documento para votação, levado a reunião de Câmara, assinado pelo vice-presidente Paulo Santos, eram dadas duas hipóteses aos vereadores: o reconhecimento do «interesse na prática dos atos e procedimentos conducentes à alienação da peça Nikisi Nkondo, património do município, destinando-se o respetivo valor a investimento no espaço do Museu Municipal de Faro e valorização cultural do mesmo», ou «não reconhecer interesse na prática dos atos e procedimentos conducentes à alienação da peça Nikisi Nkondi, património do Município».
No documento lê-se que Niki Nkondi «é uma das principais peças do acervo patrimonial do Museu Municipal de Faro, quer pelas suas características únicas de objeto ritualístico, associado a práticas tribais do Congo, ligadas à feitiçaria e espiritualidade» e que «a sua presença em exposições de museus de referência na área da antropologia, tornaram esta peça uma das mais viajadas e com maior currículo dentro do conjunto de bens culturais do Museu Municipal de Faro».


Museu de Faro



A proposta considerava ainda que «a peça acrescenta ganhos na visão internacional e universalista que o museu pode ter, nomeadamente mostrando as diferentes latitudes religiosas e espirituais existentes e que por aqui também passaram, bastando lembrar a cidade de Faro, como um local portuário e de convívio entre diferentes culturas».
Por outro lado, o documento reconhecia que o investimento no espaço do Museu, para onde seria canalizada a verba da venda, é considerado «prioritário, sobretudo no aumento da área expositiva, assim como no aumento da área das reservas e relocalização de alguns serviços técnicos, enquadrando-se na ótica da reabilitação urbana prevista pelo PARU» e que a «cidade de Faro não possui relação particular com esta peça de origem africana, a não ser o facto de ter sido recolhida e oferecida por um munícipe local em 1917 (João de Sousa Viegas)».
Ao início da tarde, cerca das 14h00, quatro horas antes do final da reunião de Câmara, o PS Faro, em comunicado enviado às redações, acusava o executivo liderado por Rogério Bacalhau, do PSD, de «delapidar os bens culturais dos farenses».
Para os socialistas, «a proposta de venda deste bem cultural, alegando razões financeiras, é um verdadeiro escândalo e coloca a nu a ausência de uma estratégia para a afirmação de Faro».
No entanto, na reunião de Câmara, a alienação da peça foi rejeitada por unanimidade, ou seja quer pelo PS, quer pelo PSD, quer pela CDU.
Fonte da Câmara de Faro disse ao Sul Informação que «nunca houve a intenção de vender esta peça» e que este comunicado dos socialistas «nos deixou muito surpreendidos», uma vez que «quando a proposta foi recebida, houve uma reunião com os vereadores da oposição onde foi dada a conhecer a intenção de não a aceitar. No entanto, não cabia ao presidente, ou ao vice-presidente, rejeitar uma proposta deste valor e tornava-se obrigatório que fosse a Câmara a fazê-lo».
Por isso, segundo a mesma fonte, os vereadores socialistas «sabiam desde este dia que não era intenção vender o património, mas preservá-lo, enriquecê-lo e melhorá-lo. Há a plena consciência que esta peça enriquece muito quer o concelho, quer o Museu».
Na reunião de Câmara, além da rejeição da alienação da «Nkisi Nkondi», foi aprovada, também por unanimidade, uma proposta para que seja feita uma avaliação imparcial do artefacto e um seguro, para que fique protegido.

Sobre a peça Nkisi Nkondi:
Esta peça data do século XIX e incorporou no espólio do Museu Municipal de Faro em 1917, tendo sido recolhida na fronteira do Congo (Ionbe) com Angola e Zaire. De forma antropomórfica apresenta-se plena de pregos, lâminas, elementos em ferro e cobre. No peito ostenta um chocalho pendurado e relicários; os olhos em vidro, o trabalho de entalhe da madeira e a boca semi-aberta acentuam a sua expressividade e características. O braço direito, erguido, levava na mão uma faca ou pequena lança, conferindo-lhe algum movimento. Madeira, cobre, ferro, vidro, fibras vegetais e tecido compõem este fetiche.

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18
Out16

GAITA DE BEIÇOS E REALEJOS

António Garrochinho


Gaita de Beiços

A gaita de beiços, harmónica, ou harmónica de boca (também conhecida como realejo é um instrumento musical de sopro cujos sons são produzidos por um conjunto de palhetas livres em vibração.
A gaita possui na sua embocadura um conjunto de furos por onde o instrumentista sopra ou suga o ar. Devido ao seu pequeno tamanho, a gaita não possui caixa de ressonância. O tocador usa as mãos em concha para amplificar o som do instrumento e também para produzir efeitos, como variações de afinação e intensidade ou vibrato. Quando executada em conjunto com outros instrumentos, é comum que ela seja amplificada eletronicamente. A gaita é bastante usada no blues, rock and roll, jazz e música clássica. Também são muito comuns os conjuntos compostos apenas de gaitas, as chamadas Orquestras de Harmónicas, que normalmente tocam músicas tradicionais ou folclóricas.


A harmónica, também conhecida por flaita, gaita de beiços, gaita das vozes, realejo e piano da cavalariça. era o instrumento mais frequentemente usado para acompanhar os bailadores de fandango ribatejano 

O realejo é um instrumento de sopro portátil, cabendo tipicamente num bolso.
A harmónica/gaita de beiços foi inventada na Alemanha.


História
A gaita teve sua origem em um antigo instrumento chinês, o sheng, que foi inventado há mais de cinco mil anos e que funciona pelo princípio de palhetas livres. Esta técnica de produção sonora gerou uma grande família de instrumentos acionados por foles ou bombas de ar, como o acordeão e a melódica. Em órgãos é comum que alguns tubos sejam flautados e outros utilizem palhetas livres para produzir sons com timbres diferenciados.

Em 1821 um relojoeiro alemão chamado Christian Ludwig Buschmann inventou um instrumento semelhante à gaita atual com 15 palhetas e 10 cm de comprimento, mas esse instrumento foi encarado como um brinquedo e não foi considerado adequado para a execução musical. Em 1857um outro relojoeiro alemão, Matthias Hohner, fundou uma companhia e começou a fabricar as chamadas harpas de boca ou órgãos de boca com 10 furos. O instrumento passou a vender muito bem na AlemanhaFrançaItália e nos Estados Unidos.

Na Europa a gaita se tornou um instrumento muito popular na música folclórica e surgiram bandas e orquestras especializadas neste instrumento. Nos Estados Unidos foi muito utilizada na música country. Com o surgimento do blues no início do século XX, a gaita chegou ao seu auge e daí garantiu a participação em outros gêneros musicais, como o jazz, folk music, rock and roll e até na música clássica.
Realejo
é um instrumento musical que toca uma música predefinida quando se gira uma manivela.

O realejo é uma espécie de órgão mecânico portátil que tem um ou vários foles, com um teclado.

Funciona por meio de uma manivela a accionar simultaneamente os foles e um cilindro dentado munido de pontas de bronze que abrem as válvulas dos tubos do órgão para a produção das diferentes notas.

Em algumas regiões , a  harmónica  é chamada  de realejo.







cintraseupovo.blogspot.pt
18
Out16

GAITA DE BEIÇOS E REALEJOS

António Garrochinho



Gaita de Beiços

A gaita de beiços, harmónica, ou harmónica de boca (também conhecida como realejo é um instrumento musical de sopro cujos sons são produzidos por um conjunto de palhetas livres em vibração.
A gaita possui na sua embocadura um conjunto de furos por onde o instrumentista sopra ou suga o ar. Devido ao seu pequeno tamanho, a gaita não possui caixa de ressonância. O tocador usa as mãos em concha para amplificar o som do instrumento e também para produzir efeitos, como variações de afinação e intensidade ou vibrato. Quando executada em conjunto com outros instrumentos, é comum que ela seja amplificada eletronicamente. A gaita é bastante usada no blues, rock and roll, jazz e música clássica. Também são muito comuns os conjuntos compostos apenas de gaitas, as chamadas Orquestras de Harmónicas, que normalmente tocam músicas tradicionais ou folclóricas.


A harmónica, também conhecida por flaita, gaita de beiços, gaita das vozes, realejo e piano da cavalariça. era o instrumento mais frequentemente usado para acompanhar os bailadores de fandango ribatejano 

O realejo é um instrumento de sopro portátil, cabendo tipicamente num bolso.
A harmónica/gaita de beiços foi inventada na Alemanha.


História
A gaita teve sua origem em um antigo instrumento chinês, o sheng, que foi inventado há mais de cinco mil anos e que funciona pelo princípio de palhetas livres. Esta técnica de produção sonora gerou uma grande família de instrumentos acionados por foles ou bombas de ar, como o acordeão e a melódica. Em órgãos é comum que alguns tubos sejam flautados e outros utilizem palhetas livres para produzir sons com timbres diferenciados.

Em 1821 um relojoeiro alemão chamado Christian Ludwig Buschmann inventou um instrumento semelhante à gaita atual com 15 palhetas e 10 cm de comprimento, mas esse instrumento foi encarado como um brinquedo e não foi considerado adequado para a execução musical. Em 1857um outro relojoeiro alemão, Matthias Hohner, fundou uma companhia e começou a fabricar as chamadas harpas de boca ou órgãos de boca com 10 furos. O instrumento passou a vender muito bem na AlemanhaFrançaItália e nos Estados Unidos.

Na Europa a gaita se tornou um instrumento muito popular na música folclórica e surgiram bandas e orquestras especializadas neste instrumento. Nos Estados Unidos foi muito utilizada na música country. Com o surgimento do blues no início do século XX, a gaita chegou ao seu auge e daí garantiu a participação em outros gêneros musicais, como o jazz, folk music, rock and roll e até na música clássica.
Realejo
é um instrumento musical que toca uma música predefinida quando se gira uma manivela.

O realejo é uma espécie de órgão mecânico portátil que tem um ou vários foles, com um teclado.


Funciona por meio de uma manivela a accionar simultaneamente os foles e um cilindro dentado munido de pontas de bronze que abrem as válvulas dos tubos do órgão para a produção das diferentes notas.


Em algumas regiões , a  harmónica  é chamada  de realejo.








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18
Out16

PCP QUESTIONA GOVERNO SOBRE PARAGEM DAS OBRAS NA EN 125

António Garrochinho

O partido liderado por Jerónimo Martins mostra preocupação com a situação de paragem das obras na EN 125 desde meados do Verão
O partido liderado por Jerónimo de Sousa mostra preocupação com a situação de paragem das obras na EN 125 desde meados do Verão
O Partido Comunista Português (PCP) dirigiu ao Governo perguntas em sede parlamentar relativas ao andamento das obras de requalificação da EN 125, que se encontram paradas desde meados do Verão.
As questões foram dirigidas ao Governo no quadro da Resolução da Assembleia da República aprovada a 23 de Março de 2016, em que o parlamento recomendava ao Governo que:
“1 – Adopte as medidas necessárias para que as obras de requalificação da Estrada Nacional 125 (EN 125) abrangidas pelo contrato da subconcessão Algarve Litoral sejam concluídas rapidamente.
2 – Incumba a empresa Infraestruturas de Portugal, S. A., que deve ser dotada dos meios adequados, de proceder ao lançamento e rápida conclusão de todas as obras inicialmente previstas para a EN 125, incluindo as variantes e as estradas de acesso / ligação, que não estão abrangidas pela subconcessão Algarve Litoral.
3 – Proceda à renegociação do contrato da subconcessão Algarve Litoral, de modo a reduzir a taxa interna de rentabilidade da subconcessionária, garantindo, por essa via, uma diminuição dos encargos do Estado ao longo da vida da subconcessão”.
Na nota enviada às redacções o PCP recorda que a Resolução, resultante de uma proposta dos comunistas, foi aprovada com os votos do partido do Governo, o PS. 
 Segundo o partido, “decorridos 7 meses desde a aprovação da Resolução interessa fazer o balanço da sua aplicação” e por isso os comunistas questionam o Governo sobre “que medidas foram adoptadas ou irão ainda ser adoptadas pelo Governo para que as obras de requalificação da EN 125, abrangidas pelo contrato da subconcessão Algarve Litoral, sejam concluídas rapidamente?”.
Além disso a estrutura partidária pede esclarecimentos sobre se “o Governo incumbiu a empresa Infraestruturas de Portugal de proceder ao lançamento e rápida conclusão de todas as obras inicialmente previstas para a EN 125, incluindo as variantes e as estradas de acesso / ligação, que não estão abrangidas pela subconcessão Algarve Litoral?”, “quando serão lançadas essas obras?” e sobre “quando estarão concluídas?”.
Finalmente, revela ainda a informação veiculada pelo PCP, o partido deseja saber “que diligências foram feitas pelo Governo no sentido de renegociar o contrato da subconcessão Algarve Litoral, de modo a reduzir a taxa interna de rentabilidade da subconcessionária?” e se “foram feitas algumas diligências no sentido de resgatar a subconcessão Algarve Litoral?”
 www.postal.pt
18
Out16

FILHA DE JERÓNIMO

António Garrochinho
CURIOSIDADES
Foto de 1900
Esta é a filha do lendário guerreiro nativo americano apache Jerónimo .
Lena Geronimo nasceu em 1886 em Fort Marion, St. Augustine, FL, enquanto seu pai era um prisioneiro .
A equipe médica deu-lhe o nome de Marion, após o nascimento no forte, mas ela tomou o nome de Lenna ao retornar para o Sudoeste. Lenna Geronimo, a filha de Geronimo e mulher de um Mescalero Apache era a irmã de Robert Geronimo, único filho vivo do Geronimo.
Foto de António Garrochinho.

 
18
Out16

FOTO e POESIA

António Garrochinho

Tenho os pombos como amigos
são animais com sentidos
procuram abrigo, migalhas
oxalá nesta vida atribulada
a regra fosse aplicada
não fossem os homens canalhas

António Garrochinho

18
Out16

Os melhores sistemas de saúde do mundo

António Garrochinho


A assistência médica é uma das necessidades básicas que um governo deve oferecer aos seus cidadãos. É incrível como alguns países são capazes de manter uma alta qualidade dos sistemas de saúde, no suporte e atendimento, melhorando a qualidade de vida e bem-estar do seu povo. Esses cuidados começam justamente com acompanhamento e prevenção. :


10°

Cuba


Cuba entre os melhores sistemas de saude do mundo

Até com todas as controvérsias que o governo cubano está enfrentando em relação ao seu sistema de saúde, há algo em que os cubanos são muito bons, que é a assistência preventiva. Eles se certificam que os cidadãos estejam sempre cientes da necessidade do exercício, tenham uma dieta adequada e mantenham boa higiene.

Itália



A maioria dos cidadãos na Itália não tem qualquer seguro privado, porque o governo deles é capaz de cobrir a maioria das suas necessidades de assistência médica. Isto é verdade, apesar do fato de que tenham uma das menores taxas de despesa de saúde per capita, comparada às nações de primeiro mundo, como os Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, e Suíça.

Japão



A expectativa de vida média dos japoneses é de até os 86 anos de idade, mostrando como o sistema de assistência médica do país é avançado e amigável ao cidadão.

Eles também ostentam uma baixa despesa per capita de assistência médica, comparados aos seus outros homólogos asiáticos. E têm uma das melhores taxas de recuperação de doenças graves do planeta e têm uma das menores taxas de mortalidade infantil, em apenas 3 mortes para cada 1000 nascidos vivos.

França



Nos últimos anos, a França tem sido considerada um dos principais países dentre os melhores sistemas de saúde do mundo. Isso se deve ao fato do sistema de saúde universal que é financiado por contribuições do povo, baseado na renda deles. Portanto, o governo em troca, é capaz de reembolsar quase 70% das despesas médicas de seus cidadãos.

O povo francês tem até a liberdade de escolher qualquer provedor de saúde que prefiram. Enquanto isso, aqueles que podem pagar um plano de saúde privado, podem também optar por se beneficiar como alternativa.

Alemanha



É imperativo para todos os cidadãos ter o seguro médico na Alemanha. Eles compram os mesmos de fundos sem fins lucrativos. Destes 200 planos disponíveis, nenhuma entidade pode negar a um cidadão em relação à cobertura, até para condições pré-existentes.

Para permitir este tipo de assistência médica, os alemães dedicam 8% de seus salários para fundo de saúde, e seus empregadores conseqüentemente igualam isso.

A assistência pública está disponível para aqueles que não podem pagar a mesma. As crianças, no entanto, são cobertas pelo fundo de contribuintes. Os programas de gestão da saúde têm feito sucesso na Alemanha também.

Grã-Bretanha



O povo britânico racionalizou seu sistema de saúde. Portanto, além de pagar pelo seguro do povo, o governo é também responsável por manter médicos e hospitais funcionando.

Então quando um paciente vai para um centro médico, todos os serviços que ele recorre já estão pré-pagos. No entanto, isso não cobre medicamentos prescritos. Há um limite de US$45.000 para estes serviços, porém, é necessário que o Instituto Nacional para Saúde e Excelência Clínica aprove as solicitações para uso.

Canadá



Os canadianos recebem assistência médica adequada que são financiadas através de suas rendas e impostos sobre vendas. Ao contrário do sistema britânico, os médicos e hospitais são entidades privadas.

Os fornecedores de assistência médica canadenses notificam o governo para que os cidadãos apenas tenham que pagar por odontologia, oftalmologia, e medicamentos prescritos. Embora a assistência médica esteja ficando muito cara no Canadá, eles ainda gastam menos do que seus homólogos nos Estados Unidos.

China



Em meio a problemas enfrentados pela China sobre seu sistema de saúde de alguns anos atrás, a China atualmente está no meio de uma iniciativa de reforma de saúde importante. O governo chinês atribui US$ 124 bilhões para assistência médica, garantindo que ao menos 90% de sua população, então tenha o seguro de saúde.

Suíça



Os suíços têm contado com cobertura universal desde 1994 e é fornecido por planos de saude privado. A Suíça possui o custo de assistência médica mais caro, perdendo apenas para os Estados Unidos.

Ao contrário dos Estados Unidos, o plano de saúde na Suíça não é baseado nos impostos sobre emprego. Os cidadãos escolhem entre uma variedade de planos privados e aqueles que não podem pagar poderiam receber subsídios do governo. Além disso, a categoria Premium de todos, é a mesma.

Taiwan


taiwan entre os melhores sistemas de saude do mundo

O governo de Taiwan paga para todas as necessidades de seus cidadãos em assistência médica. Eles são capazes de cobrir as necessidades da população, ainda conseguiram diminuir os custos de assistência médica. Muito crédito é dado para o aumento no uso de cartões inteligentes.

Estes cartões inteligentes já contêm o histórico médico do paciente, desde o nascimento, tornando isso fácil aos médicos para diagnosticar qualquer problema de saúde. Este sistema é baseado em impostos sobre emprego, portanto, aos idosos e aqueles que não podem pagar o sistema, são concedido subsídios.



Fonte: http://top10mais.org/top-10-melhores-sistemas-de-saude-do-mundo/#ixzz4NRayTH5N

18
Out16

AS 12 LEIS DO KARMA

António Garrochinho


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1ª – A GRANDE LEI

Colhemos o que plantamos. É a lei da causa e do efeito. O que quer que façamos no universo nos volta.

2ª – LEI DA CRIAÇÃO

A vida não apenas acontece, ela requer nossa participação. Estamos ligados ao Universo dentro e fora de nós mesmos. Tudo que nos cerca nos dá indícios de nosso estado interior. Temos que fazer em nós o que queremos em nossa Vida.

3ª – LEI DA HUMILDADE

O que nos recusamos a aceitar, continua a existir em nós. O mundo espelha nossos traços.

4ª – LEI DO CRESCIMENTO

Onde formos, lá estaremos. Para crescermos no espírito, somos nós que devemos mudar, não as outras pessoas, ou lugares ou as coisas em torno de nós.

5ª – LEI DA RESPONSABILIDADE

Sempre que algo está errado, existe algo errado em nós. Nós espelhamos o que nos cerca e o que nos cerca se espelha em nós. Devemos fazer um exame da responsabilidade do que ocorre em nossa vida.

6ª – A LEI DA CONEXÃO

Mesmo que algo pareça desconectado, é importante entender que no Universo tudo está conectado. Cada etapa conduz a etapa seguinte e assim por diante. Passado, presente e futuro, todos estão conectados

7ª – LEI DO FOCO

Não podemos pensar duas coisas ao mesmo tempo. Quando nosso foco está em valores espirituais é impossível ter pensamentos baixos de mágoas ou de raiva.

8ª – LEI DA DOAÇÃO

Se acreditamos que algo é verdade, seremos chamados para demonstrar essa verdade. É nesse momento que podemos colocar o que dizemos e aprendemos na prática.

9ª – A LEI DO AQUI E AGORA

Quando olhamos para trás para examinar o que passou, ficamos impedidos de olhar para o aqui e agora. Pensamentos velhos, padrões antigos, sonhos velhos…tudo isso impede que tenhamos novos pensamentos, novos padrões e novos sonhos.

10ª – A LEI DA MUDANÇA

A história se repete até aprendermos as lições que necessitamos para mudar nosso trajeto.

11ª – LEI DA PACIÊNCIA E DA RECOMPENSA

Todas as recompensas requerem trabalho inicial. Recompensas de valor duradouro requerem labuta paciente e persistente.

12ª – LEI DO SIGNIFICADO E DA INSPIRAÇÃO

O valor de algo é o resultado direto da energia e intenção colocada nela. Cada contribuição pessoal é também uma contribuição ao todo. A inspiração amorosa fornece uma contribuição ascendente e inspira o Todo.


Via: O Segredo – http://www.osegredo.com.br
18
Out16

GRETA GARBO UMA SOLITÁRIA FAMOSA

António Garrochinho
Greta Garbo foi uma solitária famosa, embora, com efeito, ela nunca tenha dito “eu quero ficar sozinha” (a bailarina russa Grusinskaya, que Garbo interpretou em Grand Hotel, disse). Ela foi uma grande actriz: o historiador de filmes David Denby escreveu em 2012 que Garbo introduziu uma subtileza de expressão à arte da interpretação muda, e o seu efeito na audiência não se pode subestimar. “Mundos giravam a seus movimentos.” Ela foi bem-sucedida o bastante para se aposentar aos 35 anos, depois de fazer 28 filmes.

Greta-Garbo_1
Perto do fim de sua vida – e ela viveu até os 85 – contou a Sven Broman, seu biógrafo sueco (com quem trabalhava em conjunto), que “estava cansada de Hollywood. Eu não gostava do meu trabalho. Houve vários dias em que tive de me obrigar a ir ao estúdio... Eu realmente queria viver uma outra vida.” E assim ela fez.
Na aposentadoria, ela adoptou um estilo de vida de simplicidade e lazer, de vez em quando apenas “se deixando levar”. Mas ela sempre teve amigos próximos com os quais socializara e viajara. Ela não se casou, mas teve casos amorosos sérios com homens e mulheres. Ela colecionava arte. Caminhava sozinha e com colegas, especialmente em Nova Iorque. Era  habilidosa a fugir dos paparazzi.

Uma vez que ela escolheu se aposentar, e pelo resto da vida consistentemente negar oportunidades de fazer mais filmes, é razoável supor que ela estivesse contente com essa escolha.





 A ÚLTIMA FOTO DA ACTRIZ


















18
Out16

"A Guerra dos Tronos" tirou atriz do mundo da prostituição

António Garrochinho












A atriz Josephine Gillan tem um passado marcado por abusos sexuais, drogas e álcool. Uma audição para a série "A Guerra dos Tronos" tirou-a do mundo da prostituição. Hoje diz ser uma nova mulher

Além de ser uma das séries mais populares do momento, "A Guerra dos Tronos" teve um forte impacto na vida pessoal e profissional de Josephine Gillian. Aos 27 anos e com uma infância e adolescência marcadas por abusos sexuais, consumo de drogas e álcool, a jovem atriz encontrou nesta trama o seu escape para uma nova vida.

"Eu trabalhava como prostituta e também fazia filmes pornográficos, com o nome Sophie O'Brien, quando vi um anúncio na internet para a indústria televisiva. Eles procuravam jovens atrizes com seios naturais e sem tatuagens, que não tivessem problemas em fazer cenas de nudez. Enviei logo uma fotografia", contou Josephine Gillian em entrevista ao "Daily Mail".

A resposta foi positiva. Foi chamada para um "casting" e passou. "Fiquei radiante porque era uma oportunidade fantástica de ter uma carreira na representação. Mas não me passava pela cabeça que iria mudar tanto a minha vida", destacou.


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A atriz, que curiosamente também dá vida a uma cortesã na série inspirada nas crónicas de George R. R. Martin, não tem dúvidas: "'A Guerra dos Tronos' salvou-me de uma vida na prostituição e tornou-me numa pessoa mais forte".

Josephine Gillian entrou na segunda temporada da série, que já conquistou 26 Emmy, para vestir a pele da prostituta Marei, novata na profissão. A primeira cena da atriz mostra a sua personagem a aprender técnicas para fingir um orgasmo.

Ao "Daily Mail", a jovem britânica revelou que teve uma infância e uma adolescência problemáticas. Frequentou 24 escolas primárias diferentes, uma vez que a mãe, que tinha sido vítima de violência doméstica, estava a fugir do seu antigo companheiro.

Mas os momentos traumáticos de Josephine Gillian não se ficam por aqui. Com apenas 12 anos foi para uma casa de acolhimento onde tornou-se consumidora de álcool e drogas. "Fui criada por uma família que me dava canábis e álcool e, com 14, introduziram-me na cocaína. Dois anos depois fui violada e, depois, obrigada a prostituir-me", admitiu.

Foi por medo que a atriz decidiu manter o silêncio até aos dias de hoje. "Estava demasiado assustada para contar isto a alguém porque ele [autor dos abusos] ameaçava que ia enterrar-me no jardim, caso contasse a alguém. Ele disse que já o tinha feito antes e eu acreditei".

Este passado empurrou Gillian para o mundo da prostituição. Mas um golpe de sorte fez com que a jovem britânica iniciasse uma nova vida.

http://www.jn.pt/

18
Out16

Os Mundos de Renan Santos

António Garrochinho


14
Em 2011 eu precisava passar pela Rua Augusta, sentido Jardins, para ir ao trabalho e sempre passava em frente à loja de camisas El Cabriton, localizada nesta rua. Além de ter camisas de fabricação própria com estampas inteligentes e desenhos originais de artistas fantásticos, esta loja possui a maravilhosa iniciativa de ceder sua fachada à disposição para criações de talentos da arte visuais, o que denominam Projeto Fachada.
Projeto Fachada JUN/11 - Renan Santos
Projeto Fachada JUN/11 - Renan Santos
Projeto Fachada JUN/11 - Renan Santos
Numa de minhas passagens pude conhecer o trabalho fabuloso do artista Renan Santos estampado na fachada da loja. Desenhista, gravador, pintor e, como se define, libertador de imagens presas no inconsciente, Renan Santos desenvolve aquarelas, desenhos a lápis, nanquim e pena. Com seu traço firme e autêntico, são percebidas narrativas poéticas através de composições elaboradas e intrigantes com os personagens criados pelo artista que nos transporta para um mundo de sonhos surrealistas próprio de “Alice no Pais das Maravilhas”, ao mesmo tempo que nos instiga e, em alguns momentos, nos provoca. Assim deve ser a arte nesta contemporaneidade, não somente bela mas instigante e provocadora.
"Mata Burros" Gravura em metal, guache e aquarela. 20x22cm 2015
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Renan Santos tem 30 anos, é ilustrador (talentosíssimo), e inspira seu trabalho nas suas memórias de infância. Sua paixão por desenhos vem desde a infância, ainda criança estudou animação e quadrinhos. Hoje em dia trabalha como artista plástico, ilustrador, e nas horas vagas faz gravuras em metal. Cursou arquitetura, mas como não tinha muita vocação para usar régua e fazer cálculos, decidiu continuar desenhando da maneira que fazia quando era criança. Atualmente dedica a maior parte de seu tempo cuidando de gatos, gravuras, livros infantis e também colecionando todo o tipo de antiguidades e velharias mofadas.
Vale a pena conhecer a obra deste talentosíssimo artista.
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ideiaperegrina.wordpress.com
18
Out16

ESPECIAL - Ashes And Snow" - Gregory Colbert - O vínculo perdido do homem e animal é explorada por Gregory Colbert em seu "Ashes and Snow" projeto em andamento; imagens de uma época em que o homem era parte integrante da natureza

António Garrochinho
O vínculo perdido do homem e animal é explorada por Gregory Colbert em seu "Ashes and Snow" projeto em andamento; imagens de uma época em que o homem era parte integrante da natureza, não um déspota tirânico a pensar em termos de lucro. O artista canadense (b. 1960) tem desfrutado de enorme sucesso comercial e os elogios dos críticos, recebendo uma série de prémios com as grandes gravuras e filmes que compõem o projeto.

Durante dez anos Colbert atravessando o comprimento e a largura do planeta, do Ártico à Antártica, e documentadas mais de 100 espécies fotografou enquanto colaborava com os nativos . 

No entanto, ele  ainda não se tinha exibido publicamente, até o momento  e veio em 2002 para uma grande exposição no Arsenale, em Veneza. 

Uma instalação monumental abrangendo 12.600 metros quadrados, a certeza de ser lembrada como uma dos maiores de sempre a ter lugar na Europa.
Desde então, Ashes and Snow foram alojados no Museu Nómada, a estrutura portátil construída para sediar a exposição itinerante. O espetáculo de Colbert é o mais visitado no mundo tendo atraído mais de 10 milhões de visitantes 

Feito celebridade ou não, o trabalho de Gregory Colbert é inegavelmente poderoso; poderoso e humilhante ao mesmo tempo. A serenidade e tranquilidade presentes são impressionantes de se ver. A beleza que a natureza é.

VÍDEO




18
Out16

Olha que duas!

António Garrochinho





No intervalo do tacho que arranjou à pala de ter sido ministra, Maria Luís Albuquerque veio a público dizer que o OE para 2017 era socialmente injusto. Conseguiu dizer isto sem se rir e, logo de seguida, foi a um restaurante comer o seu prato preferido que, como a própria fez questão de divulgar, é Bife na Pedra- 
Mas alguém dá alguma importância às opiniões de quem elege o Bife na Pedra  seu prato preferido?
No mesmo dia Assunção Cristas foi até aqui  e acusou o governo de ter lançado a caça aos impostos. Sendo a falta de memória comum a toda a ganapada que fez parte do anterior governo, esta declaração de Cristas não espanta. Extraordinário é que ela tenha apontado como exemplo da falta de vergonha o imposto sobre as balas. Ainda se fosse sobre o pão, vá lá... agora sobre as balas é um desaforo!

cronicasontherocks.blogspot.pt
18
Out16

Sá de Miranda: poeta, diplomata, pensador, a ele se deve a introdução do Soneto, em Portugal.

António Garrochinho



Sá de Miranda
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.




Sá de Miranda


Nome completo Francisco de Sá de Miranda
Nascimento Entre 1481 e 1487
CoimbraPortugal
Morte 17 de maio de1558 (76 anos)
AmaresPortugal ou Duas Igrejas (Penela - Minho)
Nacionalidade  Português
Ocupação Comendador da Ordem de Cristo
Magnum opus Poesias




Francisco de Sá de Miranda (Coimbra28 de agosto de 1481 — Amares15 de março de 1558 (76 anos)) foi um poeta português, introdutor do soneto e do Dolce Stil Nuovo na nossa língua.

Francisco de Sá de Miranda nasceu em Coimbra: possivelmente em 28 de Agosto de 1481 (data em que D. João II subiu ao trono, dizem os biógrafos). Outros autores apontam para a data de "27 de Outubro de 1495".[1][2] Meio-irmão de Mem de Sá, era filho de Gonçalo Mendes de Sácónego da Sé de Coimbra e de Inês de Melo, solteira, nobre, e neto paterno de João Gonçalves de Crescentecavaleiro fidalgo da Casa Real, e de sua mulher Filipa de Sá que viveram em São Salvador do Campoem (Barcelos) e em Coimbra, no episcopado de D. João Galvão.

Nada se sabe da vida de Sá de Miranda nos seus primeiros anos. Meras hipóteses, mais ou menos aceitáveis, indicam-nos o caminho que seguira, desde o seu berço em Coimbra até à Universidade em Lisboa. Foi nas Escolas Gerais que Sá de Miranda conheceu Bernardim Ribeiro, com quem criou estreitas relações de amizade, lealmente mantidas e fortalecidas na cultura literária, nos serões poéticos do paço real da Ribeira, na intimidade, em confidências e na comunhão de alegrias e dissabores.

Estudou GramáticaRetórica e Humanidades na Escola de Santa Cruz. Frequentou depois a Universidade, ao tempo estabelecida em Lisboa, onde fez o curso de Leis alcançando o grau de doutor em Direito, passando de aluno aplicado a professor considerado e frequentando a Corte até 1521, datando-se de então a sua amizade comBernardim Ribeiro, para o Paço, compôs cantigas, vilancetes e esparsas, ao gosto dos poetas do século XV.






Na Corte-trovador


Se as ninfas do Mondego lhe embalaram docemente o berço e lhe deram as primeiras inspirações, o sangue dos Sá, tão rico de vida e de fulgor, e o seu parentesco com a fidalguia da corte, abriram-lhe as portas do paço da Ribeira, que era então o templo das Musas. Ali ouviu os velhos trovadores D. João de Menezes, o Pica-sino, que assistiu à tomada de Azamor (1513) e lá morreu em 15 de Maio de 1514; e D. João Manuel, camareiro-mor de el-rei.

Na carta a D. Fernando de Menezes, Sá de Miranda refere-se, com viva saudade, no seu retiro de Duas Igrejas, às festas da corte, aos velhos trovadores e aos faustosos serões.

Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, impresso em 1516, publica treze poesias do Doutor Francisco de Sá. Os seus versos, à maneira dos trovadores da época, já revelam o carácter do homem e a vivacidade e cultura do seu espírito. Sá de Miranda começou imitando os poetas do Cancioneiro General de Hernan Castillo, impresso em 1511, glosando, em castelhano, os motes ou cantigas de Jorge Manrique e de Garcia Sanchez. Nunca abandonou as formas tradicionais da redondilha, antes e depois de conhecer e aceitar a escola italiana, e de introduzir em Portugal o verso decassílabo.
Viagem à Itália e Espanha

Tendo-lhe falecido o pai, em 1521 parte para Itália onde permanece até 1526. Graças a uma parente abastada, Vitória Colonna, marquesa de Pescara, pôde conviver com algumas personalidades doRenascimento tais como o italiano (Pietro BemboSannazaro e Ariosto), apreciando muito a estética literária que todos os humanistas cultivavam com entusiasmo.

Regressou a Portugal em 1526. Fruto dessa viagem, trouxe para Portugal uma nova estética, introduzindo o soneto, a canção, a sextina, as composições em tercetos e em oitavas e os versos de dez sílabas.

Além de composições poéticas várias, escreveu a tragédia Cleópatra, as comédias Estrangeiros e Vilhalpandos, e algumas Cartas em verso, sendo uma delas dirigida ao rei D. João III, de quem era amigo.

Na ida, ou na volta, demorou-se em Espanha, encontrando escritores clássicos como Juan Boscán e Garcilaso de la Vega. Na carta em que respondeu a D. Fernando de Menezes, que lhe havia escrito de Sevilha, refere-se Sá de Miranda aos lugares que lhe deixaram mais viva impressão.

Dessa viagem, que o poeta recordou, saudoso, na carta a D. Fernando de Menezes, resultaram seus inegáveis triunfos, o progresso do nosso teatro e a introdução do verso de decassílabos a par das novas formas poéticas. Foi, sem dúvida, o introdutor da escola italiana, o arauto do Renascimento literário em Portugal.
Regresso a Coimbra

Não existem elementos seguros para fixar a data do regresso de Sá de Miranda. D. Carolina Michaelis de Vasconcelos afirma, todavia, que o poeta voltou a Portugal em 1526 ou, com mais certeza, em 1527fixando a sua residência em Coimbra ou nos seus arredores. É no entanto possível afirmar-se, sem receio, que Sá de Miranda estava em 1527 na sua terra natal.

Foi em Coimbra e em Buarcos que o poeta do Neiva estudou e escolheu a melhor forma de executar o seu plano de reforma literária concebido em Itália.

comédia «Os Estrangeiros», em prosa, foi talvez a sua primeira obra e é, sem dúvida, a primeira comédia clássica portuguesa. Sá de Miranda, no propósito de apresentar um modelo clássico que triunfasse dos autos de Gil Vicente, tão apreciados pelos cortesãos, imitou «mais do que deveria» o teatro de Terêncio e de Plauto.

A alusão ao teatro vicentino é apontada por Clóvis Monteirocomo feita no prólogo dessa peça, tido como dito pela própria Comédia, referindo-se à mudança de nome para Auto: "Venho fugindo, aqui neste cabo do mundo acho paz, não sei se acharei assossego. Ia sois no cabo, e dizeis ora não mais, isto he auto, e desfazeis as carrancas, mas eu o que não fiz até agora, não queria fazer no cabo de meus dias,que he mudar o nome. Este me deixay por amor da minha natureza, e eu dos vossos versos também vos faço graça, que são forçados daquelles seus consoantes. Eu trato cousas correntes, sou muito clara. Folgo de aprazer a todos. Direis vós que não he muito boa manha de dona honrada: direi que portugueses sois. Finalmente a mim nunca me aprouve escuridões, nem fallo senão pera que me entendão, quem al quiser não falle, e tirará de trabalho a si, e a outrem.". 

Saída da corte
Um dos factos mais interessantes da vida de Sá de Miranda, que tem prendido a atenção dos biógrafos e cuja explicação continua mais ou menos escondida entre hipóteses e dúvidas, é o seu abandono da corte, a fuga do povoado, o abrigo à sombra das florestas, o domicílio no Minho.

Os biógrafos apontam várias razões para a causa do ostracismo do poeta, tão apreciado nos serões do paço. Uma das possíveis causas da sua retirada para o Minho estará relacionada com a chegada da corte a Coimbra no ano de 1527. Sá de Miranda encontrava-se na cidade do Mondego tendo sido, provavelmente, ele a fazer a oração de chegada a el-rei D. João III. Por essa altura Sá de Miranda assistiu à representação da comédia de Gil Vicente sobre a divisa da cidade de Coimbra. No prólogo, Gil Vicente, descrevendo a nobreza de Coimbra, omite os Sás e só fala dos Melos. Ora, filho do cónego Gonçalo Mendes de Sá e de Inês de Melo, Sá de Miranda, homem culto que assistira em Itália a artísticas representações dramáticas, sentiu-se mal entre os numerosos admiradores de Gil Vicente. Assim da crítica desfavorável de Sá de Miranda e dos comentários que dela resultaram no meio intriguista da corte, nasceram o ódio a Gil Vicente, a indisposição de Sá de Miranda, e as discussões mais ou menos violentas entre os seus respectivos admiradores. Aborrecido e desgostoso, Sá de Miranda retirou-se para Buarcos.

Logo que a orte se retirou para Almeirim, Sá de Miranda recolheu, como parece, à sua terra. Gil Vicente voltou a atacar Sá de Miranda na farsa «O Clérigo de Beira» representada na corte em 1529: «filho de clérigo és, nunca bom feito farás». Este ataque tão violento e os aplausos dos favoritos agravaram profundamente a ofensa e o poeta retirou-se para o Minho.
No Minho — O casamento

Sá de Miranda não foi, como erradamente se diz, logo para Duas Igrejas porque a mercê da Comenda só data de 1534. Se até aqui a vida do poeta do Neiva está ensombrada de dúvidas, entre 1530 e 1558, ano do seu falecimento, pode, em grande parte, documentar-se.

O primeiro documento data de 1530 e trata-se de uma escritura lavrada no dia 3 de Maio, na Casa de Crasto, onde se encontrava temporariamente com a sua mulher, através da qual efectua a compra de metade da quinta de Barrio em FiscalAmares. A 20 de Julho de 1531, numa quinta que era pertença de sua mulher, a quinta da Torre em Penela (actual S.Tiago de Arcozelo) é elaborada outra escritura de transmissão de propriedades. Daqui se conclui que, antes de 1530, já o poeta era casado com Briolanja de Azevedo. Ora sendo certo que D. Briolanja teve a Quinta da Torre, em Penela (dentro dos limites do extinto concelho de Penela esta quinta situava-se na freguesia de S.Tiago de Arcozelo, a que esteve anexa à freguesia de Marrancos. Pertenceu aos senhores do Paço de Marrancos e à casa de Codeçosa) aqui residiu com o poeta até à mercê da comenda de Duas Igrejas.
Comenda de Duas Igrejas

Quando casou, Sá de Miranda ainda não era comendador. Nessa época, ser comendador da Ordem de Cristo representava uma elevada posição, nobrezafidalguia, privilégios e isenções, de que o interessado não prescindia e de que os oficiais públicos se não esqueciam por cortesia e por dever de ofício, principalmente nos contratos de compra e venda para justificar o não pagamento de sisa. Ora o primeiro documento que refere o título de comendador a Sá de Miranda, data de 1535 e trata-se de um autógrafo do poeta relacionado com a compra de uns moinhos em Caldelas. Assim, é certo que nessa altura já o poeta do Neiva tinha fixado domicílio em Duas Igrejas.

A quinta da comenda das Duas Igrejas situava-se na margem esquerda do rio Neiva e foi esta a residência do poeta até 1552. Aqui passou os anos mais felizes da sua vida, na doce companhia de D. Briolanja, criando e educando os filhos; aqui o visitaram seus amigos e os admiradores do seu talento e do seu carácter. Foi aqui, bem junto do rio Neiva, que Francisco Sá de Miranda concebeu e compôs a maior e melhor parte da sua obra literária. A écloga Aleixo, que tem servido de explicação para o ostracismo do poeta, foi composta em Duas Igrejas e é a sua primeira poesia clássica, como afirma Sá de Miranda na Epístola aAntonio Pereira, senhor de Basto.

D. Manuel de Portugal, comendador de Vimioso, igualmente poeta e que viria a ser o mecenas de Luís de Camões, foi o primeiro imitador dele, e as suas íntimas relações com Sá de Miranda explicam-se facilmente, sabendo-se que aquele ilustre fidalgo foi comendador de São Pedro de Calvelo e que esta comenda é vizinha da de Duas Igrejas e também banhada pelo rio Neiva.
Na Casa da Tapada

Como já foi referido, em 3 de Maio de 1530, o poeta do Neiva adquiriu metade da quinta do Bárrio, em Fiscal. Com posteriores aquisições e a outra metade da quinta em 1550 viria a constituir a quinta da Tapada. Continuando a residir em Duas Igrejas, o domicílio do poeta na Tapada só pode documentar-se desde 28 de Abril de 1552

Mas não foi longa nem feliz a vida do poeta do Neiva no seu derradeiro domicílio. A casa que edificara com tanto carinho, a sua quinta cercada, o carinho que lhe dedicou, foram impotentes para assegurar um fim de vida tranquilo e descuidado. Desgostos, receios, cuidados e desventuras, precipitavam-se entre a velhice e a enfermidade.

Não foram, nem podiam ser, numerosas as produções de Sá de Miranda, neste curto e doloroso período, que devia ser o derradeiro da sua vida. Mas foi na Tapada, na decadência do poeta, que este recebeu os melhores testemunhos de admiração dos continuadores da reforma literária por ele empreendida: António Ferreira e Diogo Bernardes.

Em 1552, ou princípios de 1553, enviou ao príncipe D. João, e a seu pedido, o terceiro caderno de poesias (já antes tinha enviado dois), desta vez mais conformes à nova escola italiana.

Mas, a partir de 1552 os desgostos sucederam-se, na Casa da Tapada: neste mesmo ano dá-se a morte do seu desventurado amigo Bernardim Ribeiro; no ano seguinte morre o filho Gonçalo, vítima de uma emboscada em Ceuta; em 2 de Janeiro de 1554morreu o príncipe D. João, herdeiro do trono, um grande amigo e devoto admirador das obras do poeta a quem Sá de Miranda dedicou uma elegia (poesia fúnebre); em 1555 morre D. Briolanja de Azevedo, sua mulher, que não pôde resistir à dor sofrida pela perda de seu filho. Sá de Miranda que, hora a hora, pressentia a nova punhalada, sofreu resignado o duro golpe; em 1557 morreu el-Rei D. João III por quem Sá de Miranda teve sempre a maior veneração, a quem foi sempre leal e grato, porque o monarca, bondoso e ilustrado, teve, desde moço, grande afeição ao poeta do Neiva. A mercê da comenda de Duas Igrejas, a carta que Sá de Miranda lhe dirigiu, após o abandono da corte, e a dedicatória da fábula do Mondego sobejam para confirmar as boas relações que a morte de D. João III aniquilou e foi preso.

Depois da morte de D. Briolanja, Francisco de Sá de Miranda viveu com o seu filho Jerónimo, ainda menor, na quinta da Tapada, dando mostras de bom administrador (também da quinta da comenda de Duas Igrejas) e aumentando seus bens.
O fim da vida do poeta

Os desgostos sofridos, o peso dos anos, os insultos da enfermidade foram a pouco e pouco enfraquecendo o corpo do varão prudente e forte que, reconhecendo o seu estado, promoveu o casamento de seu filho Jerónimo para assegurar a conservação da casa da Tapada. Concertado esse casamento, Sá de Miranda escreveu o seu último testamento que não viria a assinar porque, muito provavelmente, a morte o terá surpreendido.

A morte antecipou-se às festas do casamento de seu filho tendo a escritura antenupcial sido lavrada na casa da Taipa, em Cabeceiras de Basto, no dia 14 de Janeiro de 1559.
Morte e sepultura


Escultura de Sá de Miranda do artista António Pinheiro

A data da morte de Sá de Miranda, indicada com tanta precisão e firmeza pelos seus biógrafos, é inexacta. Não faleceu a 15 de Março de 1558, como se tem afirmado, porquanto em 2, 13 e 16 de Maio desse mesmo ano o poeta ainda efectuou compras de certas propriedades, como provam as respectivas escrituras. Também não é certo que o poeta tenha morrido na casa da Tapada. Sá de Miranda ainda deveria manter as suas necessárias e costumadas visitas à comenda de Duas Igrejas. Velho e enfermo pode ter cometido a imprudência de percorrer os longos e arruinados caminhos, os escabrosos atalhos que tantas vezes pisara até Duas Igrejas. Quiçá, saudades dos tempos felizes e da sua fonte inspiradora. Numa dessas viagens poderá ter sido surpreendido pela morte, o que se poderá depreender do soneto fúnebre que Diogo Bernardes lhe dedicou:

/É este o Neiva do nosso Sá de Miranda,/

Inda que tam pequeno, tam cantado?/

É este o monte que foi às musas dado/

Enquanto nele andou quem nos ceos anda?/

/O claro rio onde chorar me manda/

Saudosa lembrança do passado?/

O monte, o vale, o bosque, o verde prado/

Onde suspira Apolo, Amor se abranda?/

/Aqui na tenra flor, na pedra dura/

Escrevi, ninfas, e no cristal puro/

Estes versos que Febo me inspirou/

/Aqui cantava Sá, daqui seguro,/

Livre do mortal peso ao ceo voou:/

Pastores: vinde adorar a sepultura!/

O facto de não ter feito aprovar o seu testamento leva a crer que a morte veio de surpresa. A notícia da morte do poeta do Neiva contristou os seus amigos e admiradores e provocou manifestações mais ou menos eloquentes dos poetas da nova escola italiana em homenagem ao seu introdutor e ao prestigioso mestre de tão preclaros cantores.

Resta esta dúvida: a primitiva sepultura seria em Duas Igrejas ou, levado em andas, enterrar-se-ia na igreja de Carrazedo. Ora, a capela de Nossa Senhora da Apresentação, onde o poeta se encontra sepultado, foi mandada construir pelo filho Jerónimo por vontade expressa no seu testamento de 30 de Setembro de 1581, já o poeta havia falecido havia mais de vinte anos. O seu filho, pedia, nesse testamento, que os ossos de seus pais fossem trasladados para essa capela.

No dia 8 de Junho de 1923, os estudantes do Liceu de Braga, em romagem ao túmulo do seu patrono, fizeram colocar exteriormente voltada para a estrada, na igreja de Carrazedo, uma lápide em mármore com a inscrição: FRANCISCUS DE SAA DE MIRANDA / HOC MONUMENTUM/ SIBI. SVISQ. ELEGIT. ----------- OPTIMO. PATRONO. SUO / INSIGNQ. VATI/ ALVMNI/ ALMI. LICAEI. BRACARENSIS. / CVI. NOMEM/ SAA. DE. MIRANDA. / EST. DECVS. ET PRAESIDIUM. / HVNC. POSVÊRE / ANNO S. – MCMXXIII
A poesia

Poema de Sá de Miranda em Azulejos na Casa do Barreiro,GemieiraPonte de Lima.

Para Sá de Miranda, a poesia não é uma ocupação para ócios de intelectual ou de salões, como para os poetas que o antecederam, mas uma missão sagrada. O poeta é como um profeta, deve denunciar os vícios da sociedade, sobretudo da Corte, o abandono dos campos e a preocupação exagerada do luxo, que tudo corrompe, deve propor a vida sadia em contacto com a «madre» natureza, a simplicidade e a felicidade dos lavradores.

A ele se aplicam perfeitamente os seus versos da Carta a D. João III: «Homem de um só parecer, / dum só rosto e d'ua fé, / d'antes quebrar que torcer / outra cousa pode ser, mas da corte homem não é.»

A sua linguagem é elíptica, sóbria, densa, forte, trabalhada, hermética, difícil de entender e às vezes demasiado dura. Mesmo assim, Sá de Miranda é o escritor do século XVI mais lido depois de Camões. A sua verticalidade e a sua coerência impuseram-se.

Sá de Miranda concebeu as primeiras comédias clássicas portuguesas (Estrangeiros e Vilhalpandos), cuja recepção pelo público, habituado aos autos (de Gil Vicente sobretudo), não foi das melhores. Se os aspectos criticados por Sá de Miranda e a sua intenção moralizadora o aproximam muito de Gil Vicente, o escritor afasta-se deste último pelas formas e o tom em que vaza as suas críticas.

Sá de Miranda deixou uma importante obra epistolográfica e uma série de éclogas, entre outros textos. A sua obra foi publicada postumamente, em 1595.

Influenciou decisivamente escritores seus contemporâneos e posteriores, como António FerreiraDiogo BernardesPero Andrade de CaminhaLuís de Camões, D. Francisco Manuel de Melo ou ainda, mais recentemente, Jorge de SenaGastão CruzRuy Belo, entre outros, manifestando alguns textos destes autores nítida intertextualidade com textos mirandinos, sobretudo com o tão conhecido soneto «O Sol é grande, caem co'a calma as aves».

Antecipa temáticas como a dos conflitos do eu, de maneira um pouco semelhante ao que faria Fernando Pessoa, como nos versos: Comigo me desavim,/Sou posto em todo perigo;/Não posso viver comigo/Nem posso fugir de mim.

lusibero.blogspot.pt
18
Out16

Engels: "O Papel do Trabalho na Transformação do Macaco em Homem"

António Garrochinho

















Engels: "O Papel do Trabalho na Transformação do Macaco em Homem"
por Friedrich Engels, escrito em 1876 e publicado no Neue Zeit em 1896.


"A ciência social da burguesia, a economia política clássica, só se ocupa preferentemente daquelas conseqüências sociais que constituem o objetivo imediato dos atos realizados pelos homens na produção e na troca. Isso corresponde plenamente ao regime social cuja expressão teórica é essa ciência. Porquanto os capitalistas isolados produzem ou trocam com o único fim de obter lucros imediatos, só podem ser levados em conta, primeiramente, os resultados mais próximos e mais imediatos. Quando um industrial ou um comerciante vende a mercadoria produzida ou comprada por ele e obtém o lucro habitual, dá-se por satisfeito e não lhe interessa de maneira alguma o que possa ocorrer depois com essa mercadoria e seu comprador. O mesmo se verifica com as conseqüências naturais dessas mesmas ações. Quando, em Cuba, os plantadores espanhóis queimavam os bosques nas encostas das montanhas para obter com a cinza um adubo que só lhes permitia fertilizar uma geração de cafeeiros de alto rendimento pouco lhes importava que as chuvas torrenciais dos trópicos varressem a camada vegetal do solo, privada da proteção das arvores, e não deixassem depois de si senão rochas desnudas! Com o atual modo de produção, e no que se refere tanto às conseqüências naturais como às conseqüência sociais dos atos realizados pelos homens, o que interessa prioritariamente são apenas os primeiros resultados, os mais palpáveis."

O trabalho é a fonte de toda riqueza, afirmam os economistas. Assim é, com efeito, ao lado da natureza, encarregada de fornecer os materiais que ele converte em riqueza. O trabalho, porém, é muitíssimo mais do que isso. É a condição básica e fundamental de toda a vida humana. E em tal grau que, até certo ponto, podemos afirmar que o trabalho criou o próprio homem.

Há muitas centenas de milhares de anos, numa época, ainda não estabelecida em definitivo, daquele período do desenvolvimento da Terra que os geólogos denominam terciário, provavelmente em fins desse período, vivia em algum lugar da zona tropical — talvez em um extenso continente hoje desaparecido nas profundezas do Oceano Indico — uma raça de macacos antropomorfos extraordinariamente desenvolvida. Darwin nos deu uma descrição aproximada desses nossos antepassados. Eram totalmente cobertos de pelo, tinham barba, orelhas pontiagudas, viviam nas árvores e formavam manadas.

É de supor que, como conseqüência direta de seu gênero de vida, devido ao qual as mãos, ao trepar, tinham que desempenhar funções distintas das dos pés, esses macacos foram-se acostumando a prescindir de suas mãos ao caminhar pelo chão e começaram a adotar cada vez mais uma posição ereta. Foi o passo decisivo para a transição do macaco ao homem.

Todos os macacos antropomorfos que existem hoje podem permanecer em posição erecta e caminhar apoiando-se unicamente sobre seus pés; mas o fazem só em casos de extrema necessidade e, além disso, com enorme lentidão. Caminham habitualmente em atitude semi-erecta, e sua marcha inclui o uso das mãos. A maioria desses macacos apóiam no solo os dedos e, encolhendo as pernas, fazem avançar o corpo por entre os seus largos braços, como um paralítico que caminha com muletas. Em geral, podemos ainda hoje observar entre os macacos todas as formas de transição entre a marcha a quatro patas e a marcha em posição erecta. Mas para nenhum deles a posição erecta vai além de um recurso circunstancial.

E posto que a posição erecta havia de ser para os nossos peludos antepassados primeiro uma norma, e logo uma necessidade, dai se depreende que naquele período as mãos tinham que executar funções cada vez mais variadas. Mesmo entre os macacos existe já certa divisão de funções entre os pés e as mãos. 

Como assinalamos acima, enquanto trepavam as mãos eram utilizadas de maneira diferente que os pés. As mãos servem fundamentalmente para recolher e sustentar os alimentos, como o fazem já alguns mamíferos inferiores com suas patas dianteiras. Certos macacos recorrem às mãos para construir ninhos nas árvores; e alguns, como o chimpanzé, chegam a construir telhados entre os ramos, para defender-se das inclemências do tempo. A mão lhes serve para empunhar garrotes, com os quais se defendem de seus inimigos, ou para os bombardear com frutos e pedras. Quando se encontram prisioneiros realizam com as mãos várias operações que copiam dos homens. Mas aqui precisamente é que se percebe quanto é grande a distância que separa a mão primitiva dos macacos, inclusive os antropóides mais superiores, da mão do homem, aperfeiçoada pelo trabalho durante centenas de milhares de anos. O número e a disposição geral dos ossos e dos músculos são os mesmos no macaco e no homem, mas a mão do selvagem mais primitivo é capaz de executar centenas de operações que não podem ser realizadas pela mão de nenhum macaco. Nenhuma mão simiesa construiu jamais um machado de pedra, por mais tosco que fosse.

Por isso, as funções, para as quais nossos antepassados foram adaptando pouco a pouco suas mãos durante os muitos milhares de anos em que se prolongam o período de transição do macaco ao homem, só puderam ser, a princípio, funções sumamente simples. Os selvagens mais primitivos, inclusive aqueles nos quais se pode presumir o retorno a um estado mais próximo da animalidade, com uma degeneração física simultânea, são muito superiores àqueles seres do período de transição. Antes de a primeira lasca de sílex ter sido transformada em machado pela mão do homem, deve ter sido transcorrido um período de tempo tão largo que, em comparação com ele, o período histórico por nós conhecido torna-se insignificante. Mas já havia sido dado o passo decisivo: a mão era livre e podia agora adquirir cada vez mais destreza e habilidade; e essa maior flexibilidade adquirida transmitia-se por herança e aumentava de geração em geração.

Vemos, pois, que a mão não é apenas o órgão do trabalho; é também produto dele. Unicamente pelo trabalho, pela adaptação a novas e novas funções, pela transmissão hereditária do aperfeiçoamento especial assim adquirido pelos músculos e ligamentos e, num período mais amplo, também pelos ossos; unicamente pela aplicação sempre renovada dessas habilidades transmitidas a funções novas e cada vez mais complexas foi que a mão do homem atingiu esse grau de perfeição que pôde dar vida, como por artes de magia, aos quadros de Rafael, às estátuas de Thorwaldsen e à música de Paganini.

Mas a mão não era algo com existência própria e independente. Era unicamente um membro de um organismo íntegro e sumamente complexo. E o que beneficiava à mão beneficiava também a todo o corpo servido por ela; e o beneficiava em dois aspectos.

Primeiramente, em virtude da lei que Darwin chamou de correlação do crescimento. Segundo essa lei, certas formas das diferentes partes dos seres orgânicos sempre estão ligadas a determinadas formas de outras partes, que aparentemente não têm nenhuma relação com as primeiras. Assim, todos os animais que possuem glóbulos vermelhos sem núcleo e cujo occipital está articulado com a primeira vértebra por meio de dois côndilos, possuem, sem exceção, glândulas mamárias para a alimentação de suas crias. Assim também, a úngula fendida de alguns mamíferos está ligada de modo geral à presença de um estômago multilocular adaptado à ruminação. As modificações experimentadas por certas formas provocam mudanças na forma de outras partes do organismo, sem que estejamos em condições de explicar tal conexão. Os gatos totalmente brancos e de olhos azuis são sempre ou quase sempre surdos. O aperfeiçoamento gradual da mão do homem e a adaptação concomitante dos pés ao andar em posição erecta exerceram indubitavelmente, em virtude da referida correlação, certa influência sobre outras partes do organismo. Contudo, essa ação se acha ainda tão pouco estudada que aqui não podemos senão assinalá-la em termos gerais.

Muito mais importante é a ação direta — possível de ser demonstrada — exercida pelo desenvolvimento da mão sobre o resto do organismo. Como já dissemos, nossos antepassados simiescos eram animais que viviam em manadas; evidentemente, não é possível buscar a origem do homem, o mais social dos animais, em antepassados imediatos que não vivessem congregados. Em face de cada novo progresso, o domínio sobre a natureza, que tivera início com o desenvolvimento da mão, com o trabalho, ia ampliando os horizontes do homem, levando-o a descobrir constantemente nos objetos novas propriedades até então desconhecidas. Por outro lado, o desenvolvimento do trabalho, ao multiplicar os casos de ajuda mútua e de atividade conjunta, e ao mostrar assim as vantagens dessa atividade conjunta para cada indivíduo, tinha que contribuir forçosamente para agrupar ainda mais os membros da sociedade. Em resumo, os homens em formação chegaram a um ponto em que tiveram necessidade de dizer algo uns aos outros. A necessidade criou o órgão: a laringe pouco desenvolvida do macaco foi-se transformando, lenta mas firmemente, mediante modulações que produziam por sua vez modulações mais perfeitas, enquanto os órgãos da boca aprendiam pouco a pouco a pronunciar um som articulado após outro.

A comparação com os animais mostra-nos que essa explicação da origem da linguagem a partir do trabalho e pelo trabalho é a única acertada. O pouco que os animais, inclusive os mais desenvolvidos, têm que comunicar uns aos outros pode ser transmitido sem o concurso da palavra articulada. Nenhum animal em estado selvagem sente-se prejudicado por sua incapacidade de falar ou de compreender a linguagem humana. Mas a situação muda por completo quando o animal foi domesticado pelo homem. O contato com o homem desenvolveu no cão e no cavalo um ouvido tão sensível à linguagem articulada que esses animais podem, dentro dos limites de suas representações, chegar a compreender qualquer idioma. Além disso, podem chegar a adquirir sentimentos antes desconhecidos por eles, como o apego ao homem, o sentimento de gratidão, etc. Quem conheça bem esses animais dificilmente poderá escapar à convicção de que, em muitos casos, essa incapacidade de falar é experimentada agora por eles como um defeito. Desgraçadamente, esse defeito não tem remédio, pois os seus órgãos vocais se acham demasiado especializados em determinada direção. Contudo, quando existe um órgão apropriado, essa incapacidade pode ser superada dentro de certos limites. Os órgãos vocais das aves distinguem-se em forma radical dos do homem e, no entanto, as aves são os únicos animais que podem aprender a falar; e o animal de voz mais repulsiva, o papagaio, é o que melhor fala. E não importa que se nos objete dizendo-nos que o papagaio não sabe o que fala. Claro está que por gosto apenas de falar e por sociabilidade o papagaio pode estar horas e horas repetindo todo o seu vocabulário. Mas, dentro do marco de suas representações, pode chegar também a compreender o que diz. Ensinai a um papagaio dizer palavrões (uma das distrações favoritas dos marinheiros que regressam das zonas quentes) e vereis logo que se o irritardes ele fará uso desses palavrões com a mesma correção de qualquer verdureira de Berlim. E o mesmo ocorre com o pedido de gulodices.

Primeiro o trabalho, e depois dele e com ele a palavra articulada, foram os dois estímulos principais sob cuja influência o cérebro do macaco foi-se transformando gradualmente em cérebro humano — que, apesar de toda sua semelhança, supera-o consideravelmente em tamanho e em perfeição. E à medida em que se desenvolvia o cérebro, desenvolviam-se também seus instrumentos mais imediatos: os órgãos dos sentidos. Da mesma maneira que o desenvolvimento gradual da linguagem está necessariamente acompanhado do correspondente aperfeiçoamento do órgão do ouvido, assim também o desenvolvimento geral do cérebro está ligado ao aperfeiçoamento de todos os Órgãos dos sentidos. A vista da águia tem um alcance muito maior que a do homem, mas o olho humano percebe nas coisas muitos mais detalhes que o olho da águia. O cão tem um olfato muito mais fino que o do homem, mas não pode captar nem a centésima parte dos odores que servem ao homem como sinais para distinguir coisas diversas. E o sentido do tato, que o macaco possui a duras penas na forma mais tosca e primitiva, foi-se desenvolvendo unicamente com o desenvolvimento da própria mão do homem, através do trabalho.

O desenvolvimento do cérebro e dos sentidos a seu serviço, a crescente clareza de consciência, a capacidade de abstração e de discernimento cada vez maiores, reagiram por sua vez sobre o trabalho e a palavra, estimulando mais e mais o seu desenvolvimento. Quando o homem se separa definitivamente do macaco esse desenvolvimento não cessa de modo algum, mas continua, em grau diverso e em diferentes sentidos entre os diferentes povos e as diferentes épocas, interrompido mesmo às vezes por retrocessos de caráter local ou temporário, mas avançando em seu conjunto a grandes passos, consideravelmente impulsionado e, por sua vez, orientado em um determinado sentido por um novo elemento que surge com o aparecimento do homem acabado: a sociedade.

Foi necessário, seguramente, que transcorressem centenas de milhares de anos — que na história da Terra têm uma importância menor que um segundo na vida de um homem — antes que a sociedade humana surgisse daquelas manadas de macacos que trepavam pelas árvores. Mas, afinal, surgiu. E que voltamos a encontrar como sinal distintivo entre a manada de macacos e a sociedade humana? Outra vez, o trabalho. A manada de macacos contentava-se em devorar os alimentos de uma área que as condições geográficas ou a resistência das manadas vizinhas determinavam. Transportava-se de um lugar para outro e travava lutas com outras manadas para conquistar novas zonas de alimentação; mas era incapaz de extrair dessas zonas mais do que aquilo que a natureza generosamente lhe oferecia, se excetuarmos a ação inconsciente da manada ao adubar o solo com seus excrementos. Quando foram ocupadas todas as zonas capazes de proporcionar alimento, o crescimento da população simiesca tornou-se já impossível; no melhor dos casos o número de seus animais mantinha-se no mesmo nível Mas todos os animais são uns grandes dissipadores de alimentos; além disso, com freqüência, destroem em germe a nova geração de reservas alimentícias. Diferentemente do caçador, o lobo não respeita a cabra montês que lhe proporcionaria cabritos no ano seguinte; as cabras da Grécia, que devoram os jovens arbustos antes de poder desenvolver-se, deixaram nuas todas as montanhas do pais. Essa “exploração rapace” levada a efeito pelos animais desempenha um grande papel na transformação gradual das espécies, ao obrigá-las a adaptar-se a alimentos que não são os habituais para elas, com o que muda a composição química de seu sangue e se modifica toda a constituição física do animal; as espécies já plasmadas desaparecem. Não há dúvida de que essa exploração rapace contribuiu em alto grau para a humanização de nossos antepassados, pois ampliou o número de plantas e as partes das plantas utilizadas na alimentação por aquela raça de macacos que superava todas as demais em inteligência e em capacidade de adaptação. Em uma palavra, a alimentação, cada vez mais variada, oferecia ao organismo novas e novas substâncias, com o que foram criadas as condições químicas para a transformação desses macacos em seres humanos. Mas tudo isso não era trabalho no verdadeiro sentido da palavra. O trabalho começa com a elaboração de instrumentos. E que representam os instrumentos mais antigos, a julgar pelos restos que nos chegaram dos homens pré-históricos, pelo gênero de vida dos povos mais antigos registrados pela história, assim como pelo dos selvagens atuais mais primitivos? São instrumentos de caça e de pesca, sendo os primeiros utilizados também como armas. Mas a caça e a pesca pressupõem a passagem da alimentação exclusivamente vegetal à alimentação mista, o que significa um novo passo de sua importância na transformação do macaco em homem. A alimentação cárnea ofereceu ao organismo, em forma quase acabada, os ingredientes mais essenciais para o seu metabolismo. Desse modo abreviou o processo da digestão e outros processos da vida vegetativa do organismo (isto é, os processos análogos ao da vida dos vegetais), poupando, assim, tempo, materiais e estímulos para que pudesse manifestar-se ativamente a vida propriamente animal. E quanto mais o homem em formação se afastava do reino vegetal, mais se elevava sobre os animais. Da mesma maneira que o hábito da alimentação mista converteu o gato e o cão selvagens em servidores do homem, assim também o hábito de combinar a carne com a alimentação vegetal contribuiu poderosamente para dar força física e independência ao homem em formação. Mas onde mais se manifestou a influência da dieta cárnea foi no cérebro, que recebeu assim em quantidade muito maior do que antes as substâncias necessárias à sua alimentação e desenvolvimento, com o que se foi tomando maior e mais rápido o seu aperfeiçoamento de geração em geração. Devemos reconhecer — e perdoem os senhores vegetarianos — que não foi sem ajuda da alimentação cárnea que o homem chegou a ser homem; e o fato de que, em uma ou outra época da história de todos os povos conhecidos, o emprego da carne na alimentação tenha chegado ao canibalismo (ainda no século X os antepassados dos berlinenses, os veletabos e os viltses, devoravam os seus progenitores) é uma questão que não tem hoje para nós a menor importância.

O consumo de carne na alimentação significou dois novos avanços de importância decisiva: o uso do fogo e a domesticação dos animais. O primeiro reduziu ainda mais o processo da digestão, já que permitia levar a comida à boca, como se disséssemos, meio digerida; o segundo multiplicou as reservas de carne, pois agora, ao lado da caça, proporcionava uma nova fonte para obtê-la em forma mais regular. A domesticação de animais também proporcionou, com o leite e seus derivados, um novo alimento, que era pelo menos do mesmo valor que a carne quanto à composição. Assim, esses dois adiantamentos converteram-se diretamente para o homem em novos meios de emancipação. Não podemos deter-nos aqui em examinar minuciosamente suas conseqüências.

O homem, que havia aprendido a comer tudo o que era comestível, aprendeu também, da mesma maneira, a viver em qualquer clima. Estendeu-se por toda a superfície habitável da Terra, sendo o único animal capaz de fazê-lo por iniciativa própria. Os demais animais que se adaptaram a todos os climas — os animais domésticos e os insetos parasitas — não o conseguiram por si, mas unicamente acompanhando o homem. E a passagem do clima uniformemente cálido da pátria original para zonas mais frias, onde o ano se dividia em verão e inverno, criou novas exigências, ao obrigar o homem a procurar habitação e a cobrir seu corpo para proteger-se do frio e da umidade. Surgiram assim novas esferas de trabalho, e com elas novas atividades, que afastaram ainda mais o homem dos animais.

Graças à cooperação da mão, dos órgãos da linguagem e do cérebro, não só em cada indivíduo, mas também na sociedade, os homens foram aprendendo a executar operações cada vez mais complexas, a propor-se e alcançar objetivos cada vez mais elevados. O trabalho mesmo se diversificava e aperfeiçoava de geração em geração, estendendo-se cada vez a novas atividades. A caça e à pesca veio juntar-se a agricultura, e mais tarde a fiação e a tecelagem, a elaboração de metais, a olaria e a navegação. Ao lado do comércio e dos ofícios apareceram, finalmente, as artes e as ciências; das tribos saíram as nações e os Estados. Apareceram o direito e a política, e com eles o reflexo fantástico das coisas no cérebro do homem: a religião. Frente a todas essas criações, que se manifestavam em primeiro lugar como produtos do cérebro e pareciam dominar as sociedades humanas, as produções mais modestas, fruto do trabalho da mão, ficaram relegadas a segundo plano, tanto mais quanto numa fase muito recuada do desenvolvimento da sociedade (por exemplo, já na família primitiva), a cabeça que planejava o trabalho já era capaz de obrigar mãos alheias a realizar o trabalho projetado por ela. O rápido progresso da civilização foi atribuído exclusivamente à cabeça, ao desenvolvimento e à atividade do cérebro. Os homens acostumaram-se a explicar seus atos pelos seus pensamentos, em lugar de procurar essa explicação em suas necessidades (refletidas, naturalmente, na cabeça do homem, que assim adquire consciência delas). Foi assim que, com o transcurso do tempo, surgiu essa concepção idealista do mundo que dominou o cérebro dos homens, sobretudo a partir do desaparecimento do mundo antigo, e continua ainda a dominá-lo, a tal ponto que mesmo os naturalistas da escola darwiniana mais chegados ao materialismo são ainda incapazes de formar uma idéia clara acerca da origem do homem, pois essa mesma influência idealista lhes impede de ver o papel desempenhado aqui pelo trabalho.

Os animais, como já indicamos de passagem, também modificam com sua atividade a natureza exterior, embora não no mesmo grau que o homem; e essas modificações provocadas por eles no meio ambiente repercutem, como vimos, em seus causadores, modificando-os por sua vez. Nada ocorre na natureza em forma isolada. Cada fenômeno afeta a outro, e é por seu turno influenciado por este; e é em geral o esquecimento desse movimento e dessa interação universal o que impede a nossos naturalistas perceber com clareza as coisas mais simples. Já vimos como as cabras impediram o reflorestamento dos bosques na Grécia; em Santa Helena, as cabras e os porcos desembarcados pelos primeiros navegantes chegados à ilha exterminaram quase por completo a vegetação ali existente, com o que prepararam o terreno para que pudessem multiplicar-se as plantas levadas mais tarde por outros navegantes e colonizadores. Mas a influência duradoura dos animais sobre a natureza que os rodeia é inteiramente involuntária e constitui, no que se refere aos animais, um fato acidental. Mas, quanto mais os homens se afastam dos animais, mais sua influência sobre a natureza adquire um caráter de uma ação intencional e planejada, cujo fim é alcançar objetivos projetados de antemão. Os animais destroçam a vegetação do lugar sem dar-se conta do que fazem. Os homens, em troca, quando destroem a vegetação o fazem com o fim de utilizar a superfície que fica livre para semear trigo, plantar árvores ou cultivar a videira, conscientes de que a colheita que irão obter superará várias vezes o semeado por eles. O homem traslada de um pais para outro plantas úteis e animais domésticos, modificando assim a flora e a fauna de continentes inteiros. Mais ainda: as plantas e os animais, cultivadas aquelas e criados estes em condições artificiais, sofrem tal influência da mão do homem que se tornam irreconhecíveis.

Não foram até hoje encontrados os antepassados silvestres de nossos cultivos cerealistas. Ainda não foi resolvida a questão de saber qual o animal que deu origem aos nossos cães atuais, tão diferentes uns de outros, ou às atuais raças de cavalos, também tão numerosos. Ademais, compreende-se de logo que não temos a intenção de negar aos animais a faculdade de atuar em forma planificada, de um modo premeditado. Ao contrário, a ação planificada existe em germe onde quer que o protoplasma — a albumina viva — exista e reaja, isto é, realize determinados movimentos, embora sejam os mais simples, em resposta a determinados estímulos do exterior. Essa reação se produz, não digamos já na célula nervosa, mas inclusive quando ainda não há célula de nenhuma espécie. O ato pelo qual as plantas insetívoras se apoderam de sua presa aparece também, até certo ponto, como um ato planejado, embora se realize de um modo totalmente inconsciente. A possibilidade de realizar atos conscientes e premeditados desenvolve-se nos animais em correspondência com o desenvolvimento do sistema nervoso e adquire já nos mamíferos um nível bastante elevado. Durante as caçadas organizadas na Inglaterra pode-se observar sempre a infalibilidade com que a raposa utiliza seu perfeito conhecimento do lugar para ocultar-se aos seus perseguidores, e como conhece e sabe aproveitar muito bem todas as vantagens do terreno para despistá-los. Entre nossos animais domésticos, que chegaram a um grau mais alto de desenvolvimento graças à sua convivência com o homem podem ser observados diariamente atos de astúcia, equiparáveis aos das crianças, pois do mesmo modo que o desenvolvimento do embrião humano no ventre materno é uma réplica abreviada de toda a história do desenvolvimento físico seguido através de milhões de anos pelos nossos antepassados do reino animal, a partir do estado larval, assim também o desenvolvimento espiritual da criança representa uma réplica, ainda mais abreviada, do desenvolvimento intelctual desses mesmos antepassados, pelo menos dos mais próximos. Mas nem um só ato planificado de nenhum animal pôde imprimir na natureza o selo de sua vontade. Só o homem pôde fazê-lo.

Resumindo: só o que podem fazer os animais é utilizar a natureza e modificá-la pelo mero fato de sua presença nela. O homem, ao contrário, modifica a natureza e a obriga a servir-lhe, domina-a. E ai está, em última análise, a diferença essencial entre o homem e os demais animais, diferença que, mais uma vez, resulta do trabalho.

Contudo, não nos deixemos dominar pelo entusiasmo em face de nossas vitórias sobre a natureza. Após cada uma dessas vitórias a natureza adota sua vingança. É verdade que as primeiras conseqüências dessas vitórias são as previstas por nós, mas em segundo e em terceiro lugar aparecem conseqüências muito diversas, totalmente imprevistas e que, com freqüência, anulam as primeiras. Os homens que na Mesopotâmia, na Grécia, na Ásia Menor e outras regiões devastavam os bosques para obter terra de cultivo nem sequer podiam imaginar que, eliminando com os bosques os centros de acumulação e reserva de umidade, estavam assentando as bases da atual aridez dessas terras. Os italianos dos Alpes, que destruíram nas encostas meridionais os bosques de pinheiros, conservados com tanto carinho nas encostas setentrionais, não tinham idéia de que com isso destruíam as raízes da indústria de laticínios em sua região; e muito menos podiam prever que, procedendo desse modo, deixavam a maior parte do ano secas as suas fontes de montanha, com o que lhes permitiam, chegado o período das chuvas, despejar com maior fúria suas torrentes sobre a planície. Os que difundiram o cultivo da batata na Europa não sabiam que com esse tubérculo farináceo difundiam por sua vez a escrofulose. Assim, a cada passo, os fatos recordam que nosso domínio sobre a natureza não se parece em nada com o domínio de um conquistador sobre o povo conquistado, que não é o domínio de alguém situado fora da natureza, mas que nós, por nossa carne, nosso sangue e nosso cérebro, pertencemos à natureza, encontramo-nos em seu seio, e todo o nosso domínio sobre ela consiste em que, diferentemente dos demais seres, somos capazes de conhecer suas leis e aplicá-las de maneira adequada.

Com efeito, aprendemos cada dia a compreender melhor as leis da natureza e a conhecer tanto os efeitos imediatos como as conseqüências remotas de nossa intromissão no curso natural de seu desenvolvimento. Sobretudo depois dos grandes progressos alcançados neste século pelas ciências naturais, estamos em condições de prever e, portanto, de controlar cada vez melhor as remotas conseqüências naturais de nossos atos na produção, pelo menos dos mais correntes. E quanto mais isso seja uma realidade, mais os homens sentirão e compreenderão sua unidade com a natureza, e mais inconcebível será essa idéia absurda e antinatural da antítese entre o espírito e a matéria, o homem e a natureza, a alma e o corpo, idéia que começa a difundir-se pela Europa sobre a base da decadência da antigüidade clássica e que adquire seu máximo desenvolvimento no cristianismo.

Mas, se foram necessários milhares de anos para que o homem aprendesse, em certo grau, a prever as remotas conseqüências naturais no sentido da produção, muito mais lhe custou aprender a calcular as remotas conseqüências sociais desses mesmos atos. Falamos acima da batata e de seus efeitos quanto à difusão da escrofulose. Mas que importância pode ter a escrofulose, comparada com os resultados que teve a redução da alimentação dos trabalhadores a batatas puramente sobre as condições de vida das massas do povo de países inteiros, com a fome que se estendeu em 1847 pela Irlanda em conseqüência de uma doença provocada por esse tubérculo e que levou à sepultura um milhão de irlandeses que se alimentavam exclusivamente, ou quase exclusivamente, de batatas e obrigou a que emigrassem para além-mar outros dois milhões? Quando os árabes aprenderam a distilar o álcool, nem sequer ocorreu-lhes pensar que haviam criado uma das armas principais com que iria ser exterminada a população indígena do continente americano, então ainda desconhecido. E quando mais tarde Colombo descobriu a América não sabia que ao mesmo tempo dava nova vida à escravidão, há muito tempo desaparecida na Europa, e assentado as bases do tráfico dos negros. Os homens que nos séculos XVII e XVIII haviam trabalhado para criar a máquina a vapor não suspeitavam de que estavam criando um instrumento que, mais do que nenhum outro, haveria de subverter as condições sociais em todo o mundo e que, sobretudo na Europa, ao concentrar a riqueza nas mãos de uma minoria e ao privar de toda propriedade a imensa maioria da população, haveria de proporcionar primeiro o domínio social e político à burguesia, e provocar depois a luta de classe entre a burguesia e o proletariado, luta que só pode terminar com a liquidação da burguesia e a abolição de todos os antagonismos de classe. Mas também aqui, aproveitando uma experiência ampla, e às vezes cruel, confrontando e analisando os materiais proporcionados pela história, vamos aprendendo pouco a pouco a conhecer as conseqüências sociais indiretas e mais remotas de nossos atos na produção, o que nos permite estender também a essas conseqüências o nosso domínio e o nosso controle.

Contudo, para levar a termo esse controle é necessário algo mais do que o simples conhecimento. É necessária uma revolução que transforme por completo o modo de produção existente até hoje e, com ele, a ordem social vigente.

Todos os modos de produção que existiram até o presente só procuravam o efeito útil do trabalho em sua forma mais direta e Imediata. Não faziam o menor caso das conseqüências remotas, que só surgem mais tarde e cujos efeitos se manifestam unicamente graças a um processo de repetição e acumulação gradual. A primitiva propriedade comunal da terra correspondia, por um lado, a um estádio de desenvolvimento dos homens no qual seu horizonte era limitado, em geral, às coisas mais imediatas, e pressupunha, por outro lado, certo excedente de terras livres, que oferecia determinada margem para neutralizar os possíveis resultados adversos dessa economia primitiva. Ao esgotar-se o excedente de terras livres, começou a decadência da propriedade comunal. Todas as formas mais elevadas de produção que vieram depois conduziram à divisão da população em classes diferentes e, portanto, no antagonismo entre as classes dominantes e as classes oprimidas. Em conseqüência, os interesses das classes dominantes converteram-se no elemento propulsor da produção, enquanto esta não se limitava a manter, bem ou mal, a mísera existência dos oprimidos.

Isso encontra sua expressão mais acabada no modo de produção capitalista, que prevalece hoje na Europa ocidental. Os capitalistas individuais, que dominam a produção e a troca, só podem ocupar-se da utilidade mais imediata de seus atos. Mais ainda: mesmo essa utilidade — porquanto se trata da utilidade da mercadoria produzida ou trocada — passa inteiramente ao segundo plano, aparecendo como único incentivo o lucro obtido na venda.

* * *

A ciência social da burguesia, a economia política clássica, só se ocupa preferentemente daquelas conseqüências sociais que constituem o objetivo imediato dos atos realizados pelos homens na produção e na troca. Isso corresponde plenamente ao regime social cuja expressão teórica é essa ciência. Porquanto os capitalistas isolados produzem ou trocam com o único fim de obter lucros imediatos, só podem ser levados em conta, primeiramente, os resultados mais próximos e mais imediatos. Quando um industrial ou um comerciante vende a mercadoria produzida ou comprada por ele e obtém o lucro habitual, dá-se por satisfeito e não lhe interessa de maneira alguma o que possa ocorrer depois com essa mercadoria e seu comprador. O mesmo se verifica com as conseqüências naturais dessas mesmas ações. Quando, em Cuba, os plantadores espanhóis queimavam os bosques nas encostas das montanhas para obter com a cinza um adubo que só lhes permitia fertilizar uma geração de cafeeiros de alto rendimento pouco lhes importava que as chuvas torrenciais dos trópicos varressem a camada vegetal do solo, privada da proteção das arvores, e não deixassem depois de si senão rochas desnudas! Com o atual modo de produção, e no que se refere tanto às conseqüências naturais como às conseqüência sociais dos atos realizados pelos homens, o que interessa prioritariamente são apenas os primeiros resultados, os mais palpáveis. E logo até se manifesta estranheza pelo fato de as conseqüências remotas das ações que perseguiam esses fins serem multo diferentes e, na maioria dos casos, até diametralmente opostas; de a harmonia entre a oferta e a procura converter-se em seu antípoda, como nos demonstra o curso de cada um desses ciclos industriais de dez anos, e como puderam convencer-se disso os que com o “crack” viveram na Alemanha um pequeno prelúdio; de a propriedade privada baseada no trabalho próprio converter-se necessariamente, ao desenvolver-se, na ausência de posse de toda propriedade pelos trabalhadores, enquanto toda a riqueza se concentra mais e mais nas mãos dos que não trabalham; [...]



18
Out16

Caramelos Vaquinha (13)

António Garrochinho




Vasco Pulido Valente regressou às crónicas, após uma longa pausa estival. De há muito que deixei de me preocupar com o senhor do canto do Gambrinus. Ou com a quantidade de whiskey que ele emborca antes de começar a escrever.Desde que  Pulido Valente deixou de ter piada e passou a ser bota-abaixista  , ignorei-o.
Gente que  apregoa ser livre, porque  ganha a vida a dizer mal de toda a gente, interessa-me pouco. E não me interessa nada mesmo, quando nada fez de positivo na vida.
Pois, como escrevia, VPV voltou às crónicas. E marcou o seu regresso com uma violenta crónica contra Guterres, apontando-lhe apenas defeitos, sem que lhe encontrasse uma virtude.
Nada que me espante, pois é apenas a confirmação de que Pulido Valente escreve por despeito, mas também  com muita frustração, por nunca ter passado de um historiador mediano que escreve umas graçolas e em nada ter contribuído para melhorar o país.
Pulido Valente é como uma alcoviteira  bêbada, que passa os dias na taberna para se penitenciar pelo mal que fez na véspera. Não é Pulido, nem Valente e o seu nome próprio devia ser Vómito e não Vasco.

cronicasdorochedo.blogspot.pt
18
Out16

A reforma é outra

António Garrochinho







Volta e meia vem à baila a necessidade de reforma da Segurança Social. A comunicação social - pressionada pela agenda da oposição de direita - insiste. Mas o discurso da insustentabilidade parte de pressupostos que representam a desistência de uma política económica com objectivos estratégicos.

O capítulo anexo do relatório do Orçamento de Estado sobre esse tema – a partir de estimativas europeias - apresenta na pagina 247 uma tabela que diz quase tudo. Dá-se por adquirido que a natalidade não progredirá de forma a compensar o envelhecimento; que a esperança de vida continuará a subir (ainda bem!) e que o saldo migratório se manterá negativo. Ou seja, que continuaremos a emigrar mais do que atraímos imigrantes. Espera-se – de braços cruzados – que Portugal perca 2,3 milhões de pessoas até 2060!! Claro que assim não há contas que resistam.

Além disso, espera-se que as contribuições e quotizações para a Segurança Social, feitas pelos trabalhadores e patronato, manterão o mesmo peso no PIB (8,1%) até 2060.


Isso quer dizer que o peso dos salários no PIB se manterá constante ao longo do tempo e que não haverá qualquer melhor redistribuição do valor acrescentado produzido do que a actual. Para que esse objectivo seja possível, isso pressupõe que a subida da massa salarial - o produto da subida do emprego com a subida dos salários - nunca possa ir além do crescimento do PIB. O que – segundo as previsões – ficará ao redor de 1%!!! De 1,4% em média anual até 2020, de 1,6% na de 20, de 1% na de 30, de 0,7% na de 40 e de 0,8% na década de 50!

Faça-se um exemplo: para que a massa salarial cresça 1,4% num ano, tanto o emprego como os salários deveriam crescer apenas 0,7%. Ou mais o emprego e menos os salários. Ou vice-versa. Estão a imaginar a chantagem que será feita... Para a massa salarial crescer 0,7%, será metade disso!

E, claro está, o nível de desemprego descerá ligeiramente, mas não muito. O que ajudará a pressionar os salários para baixo.

Ou seja, algo que prolonga o que se viveu até agora e que nos tem levado a esta situação.

Entre 2000 e 2011, Portugal perdeu 213,9 mil empregos e o desemprego em sentido lato abrangeu mais 520,4 mil trabalhadores. Mesmo assim, a população activa subiu quase 200 mil pessoas. Mas, a partir de 2011 e pela primeira vez, a população activa perdeu pessoas: cerca de 300 mil. Além do que se perdera antes, foram destruídos mais 260 mil postos de trabalho. A emigração foi o escape da estagnação.Os salários recuaram e a pobreza aumentou.

Por outras palavras, o Portugal que nos prometem já aí está. É o de um país em completa estagnação, em que os serviços públicos estão cada vez mais rarefeitos, em que os portugueses definham e emigram. E os que sobram envelhecem e recebem prestações sociais, necessariamente cada vez menores, porque a pressão do sistema será - neste quadro - para a ruptura e, por isso, há que fazer poupanças...

E mesmo assim, a crise do sistema - segundo as mesmas contas - apenas aparecerá lá para a década de 50...! Ou melhor, aparecerá mais cedo, mas o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS), criado para as emergências, suportará o embate.


A solução não está, pois, numa reforma que reduza prestações sociais ou que reduza contribuições como querem as direitas. Porque essa “saída” levar-nos-á mais facilmente ao fundo, como aconteceu em 2011-2013, ou chegaremos mais rapidamente à ruptura (caso se retirem contribuições a alguns trabalhadores através do plafonamento).

A reforma deverá ser outra.




Não será fácil encontrar uma saída no actual quadro comunitário (Tratado Orçamental, moeda única, funções do BCE) e não será fácil viver com algumas rupturas. Mas nenhum povo se pode entregar a um destino como o que nos mostram como sendo o expectável.

A verdadeira reforma da sustentabilidade da Segurança Social é a reforma das causas profundas que atam o nosso país. O problema não são os salários elevados (quais?! A esmagadora maioria recebe abaixo de mil e tantos euros mensais!). Passa por encontrar forma de elevar o emprego. De crescer mais. De fazer com que o consumo e o do investimento privados não se transformem num maior défice das contas externas. Porque o nosso problema não é o consumo ou o investimento, mas sim as importações.

Porque chegará a altura em que - tal como a reestruturação da dívida pública passou de um tema maldito a aceitável pelo FMI... - o fim da moeda única (como a conhecemos) se tornará consensual. E isso porque é irracional do ponto de vista económico e um factor de desestabilização da Europa. E nessa altura, Portugal terá de aguentar a subida do preço das importações e precisará de estar preparado para isso.

Neste combate, o patronato e os empresários terão todo o interesse em encontrar um terreno comum com os trabalhadores. Sob pena de todos definharem, a prazo. Pode ser que alguns sobrevivam, mas à custa de muitos outros. Talvez seja a lei de concentração do sistema capitalista, mas muito poucos terão interesse nisso. E depois não nos falem de violência ou caos.

Nem mesmo a direita nacional – sempre tão míope nas suas ideias - se deveria manter afastada dos seus jogos de vistas curtas que têm levado a cabo ao longo de mais de duas décadas, individualistas e egoístas, subservientes de um pensamento importado, que apenas beneficia um sistema financeiro depauperado ou internacional. Mas isso fica para o próximo post.

ladroesdebicicletas.blogspot.pt
18
Out16

ASSASSINAM NUM ATENTADO UM IMPORTANTE REVOLUCIONARIO LIDER MILITAR DA REPÚBLICA DE DONETSK

António Garrochinho


O comandante de uma unidade militar da República autoproclamada de Donetsk, Arseni Pavlov, mais conhecido pelo apelido de "Motorola", morreu em conseqüência da explosão de um dispositivo, quando estava no elevador de sua casa.
O Ministério da Defesa da República disse que foi um ataque supostamente cometido por forças da Ucrânia.
Ele acredita que o seu assassinato é um  "ato terrorista" , alegadamente perpetrado pelas forças da Ucrânia, disse o porta-voz do Parlamento de Donetsk, Denis Pushilin.
Motorola era conhecido por ter participado em grandes combates na região, como o aeroporto de Donetsk. Em junho passado sobreviveu a um ataque  ao lado de um centro de emergência médica onde ele estava.
breu-16-b
O líder daauto-proclamada República Popular Donetsk  (DPR), Al exander Zakharchenko, descreveu o assassinato de Pavlov,  como uma declaração de guerra por Kiev.
A morte Pavlov  na linha da frente no Donbas pode levar a uma escalada da guerra na Ucrânia.


periodicodigitalwebguerrillero.blogspot.pt
18
Out16

GREGOS DESCEM À RUA CONTRA A AUSTERIDADE EM VÉSPERA DE NEGOCIAÇÕES COM CREDORES

António Garrochinho


Os gregos regressaram às ruas para se manifestar contra as medidas de austeridade, na véspera da nova ronda de negociações entre o governo e os credores do país.
Cerca de sete mil pessoas desfilaram na praça Sintagma, em Atenas, contra a reforma da lei do trabalho e o congelamento do salário mínimo, quando o FMIcontinua a exigir novas reformas para desbloquear, em Dezembro, um novo empréstimo de 6.100 milhões de euros ao país.

VÍDEO

pt.euronews.com
18
Out16

Haiti: Barco holandês com ajuda humanitária zarpa sem descarregar

António Garrochinho

Os haitianos continuam a sofrer com a falta de bens de primeira necessidade depois da passagem do furacão Matthew. A ajuda humanitária tarda em chegar e por vezes sucedem episódios caricatos como o que ocorreu no domingo no porto de Jeremias. Um navio holandês acostou com 35 toneladas de alimentos, tendas, cobertores e produtos de higiene mas a falta de segurança obrigou a embarcação a zarpar sem proceder à sua distribuição. O furacão Matthew fez um milhar de mortos e deixou cerca de um milhão e meio de pessoas dependentes da ajuda humanitária.

VÍDEO


pt.euronews.com
18
Out16

18 de Outubro de 1739: António José da Silva, "O Judeu", é executado, num auto de fé, por ordem da Inquisição

António Garrochinho


Poeta, comediógrafo e advogado, dito o Judeu, nasceu em 1705, no Rio de Janeiro, e veio a ser executado em 1739, em Lisboa. É considerado o dramaturgo português mais importante entre Gil Vicente e Almeida Garrett.Originário de uma família de cristãos-novos, perseguida pela Inquisição, facto que lhe valeu a alcunha de "o Judeu", chegou do Rio de Janeiro a Portugal, com 8 anos, para o julgamento da sua mãe. Este incidente permitiu-lhe estudar em Lisboa e mais tarde em Coimbra, onde se formou em Direito (1728).


As suas comédias foram escritas em prosa, embora com alguns recitativos poéticos,  destinavam-se à representação essencialmente por bonifrates. Situa-se a sua obra na transição da comédia espanhola para o melodrama italiano. Calderon, Tirso de Molina e Lope de Vega foram algumas das influências sofridas.No Teatro do Bairro Alto foram representadas algumas das  suas  comédias, em que incluía números musicais:  Vida de Esopo (1734), Os Encantos de Medeia (1735) Labirinto de Creta (1736)  Guerras do Alecrim e Manjerona (1737).


Em 1726 foi preso pelo Santo Ofício juntamente com a mãe e libertado meses depois. Pouco tempo após a sua estreia no teatro, em 1733, o comediógrafo casou-se com uma prima judia de quem teve uma filha. Quatro anos depois, em 1737, António foi preso pela Inquisição, juntamente com a mãe e a esposa (Leonor de Carvalho). A mãe e a mulher seriam libertadas posteriormente.

António José da Silva foi  torturado. O processo decorreu com notória má-fé por parte do tribunal e o autor foi condenado, apesar de a leitura da sentença deixar transparecer que ele não seria, de facto, judaizante.Como era regra com os prisioneiros que, condenados, afirmavam desejar morrer na fé católica, António José da Silva foi garrotado antes de ser queimado num Auto-de-Fé em Lisboa  no dia 18 de Outubro de 1739.  


A história deste autor inspirou Bernardo Santareno, ele próprio de origem judaica, a escrever a peça O Judeu, que, por sua vez, tem o mesmo titulo que a obra do romancista português Camilo Castelo Branco, que retrata a vida de varias gerações da família de António José da Silva até à sua morte.

António José da Silva. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. 
António José da Silva

Selo de 2010 dedicado a António José da Silva
 
18
Out16

A cidade mexicana que expulsou criminosos, políticos e polícia

António Garrochinho
Há cinco anos, o povoado de Cherán, uma pequena cidade no estado mexicano de Michoacan, fez manchetes internacionais por pegar em armas contra as poderosas gangues de drogas que ameaçavam sua subsistência, também expulsando os políticos e a polícia local no processo. Desde então, Cherán é uma experiência única de autogoverno no México. Não há eleições. Cada bairro elege seus representantes por três anos. A polícia estatal não entra e a promotoria federal só vai quando se trata de um caso muito grave, o que não ocorre quase nunca.


A cidade mexicana que expulsou criminosos, políticos e polícia
A história de Cherán começou em 2011. Durante três anos, os moradores assistiram impotentes como madeireiros apoiados por cartéis de drogas devastavam as florestas locais, levando os grandes troncos de árvores e queimando o resto, para preparar o terreno para plantios de abacate e drogas. Eles pediram ao Governo que resolvesse a situação, mas não receberam nenhuma ajuda; os políticos e policiais locais corruptos simplesmente optaram olhar para o outro lado. Sem outras opções, e com os madeireiros se aproximando de uma das principais nascentes de água da cidade, o povo de Cherán decidiu que era hora de lutar pela floresta e seus meios de subsistência.

- "Nós estávamos preocupados", disse Margarita Elvira Romero, uma das conspiradoras do levante histórico, à BBC- "Se você cortar as árvores, há menos água. Muitas famílias sobrevivem da cultura bovina, e onde eles iriam beber se a principal nascente secasse?"
A cidade mexicana que expulsou criminosos, políticos e polícia
Ela e algumas outras mulheres primeiramente tentaram razoar com os madeireiros, mas foram agredidas verbalmente e perseguidas por capangas armados? Foi ai que elas tiveram a ideia de bloquear os caminhões madeireiros que tentassem atravessar Cherán, e receberam o apoio de toda a comunidade.

Na sexta-feira 15 de abril de 2011, Margarita e outras bravas mulheres de Cherán, bloquearam os caminhões e mantiveram alguns caminhoneiros reféns. O sino da igreja local começou a tocar e fogos de artifício iluminaram o céu, alertando toda a cidade sobre o perigo iminente. As pessoas corriam pelas ruas carregando facões, paus, foices, pedras e quaisquer outras armas que poderiam ter em suas mãos, esperando que os madeireiros viessem libertar seus amigos. Eles realmente vieram com a polícia local e o prefeito corrupto a tira-colo. Ameaças de um lado, foices e facões brandindo do outro e depois de um longo e tenso impasse, os madeireiros recuaram, pois estavam em menor número.
A cidade mexicana que expulsou criminosos, políticos e polícia
O levante foi o início de um caminho para a auto-governação de Cherán. Logo depois, os políticos e policiais locais também foram expulsos da cidade por conspirar com os criminosos, e os partidos políticos foram banidos por causar divisões entre as pessoas.

Para substituí-los, a Ronda Comunitária -uma milícia formada por homens e mulheres locais- foi criada, e cada um dos quatro distritos de Cherán elege representantes para a Câmara Municipal. Seus membros são eleitos para um mandato de três anos. Pontos de inspeção com homens e mulheres armados foram criados nas três principais estradas que levam até a cidade, para proteger contra a retaliação por parte dos madeireiros e cartéis de drogas. Eles ainda estão por aí esperando alguma falha na segurança. Por isso, qualquer um que tente entrar ou sair de Cherán é parado e interrogado pela Ronda Comunitária.
A cidade mexicana que expulsou criminosos, políticos e polícia
Contra todas as probabilidades, a cidade de Cherán conseguiu afastar seus opressores e estabeleceu um Estado de Direito, tudo isso sem a ajuda do governo mexicano. Hoje, os partidos políticos ainda são proibidos e não há polícia. O Grande Conselho e outras comissões criadas pelo povo controlam todos os aspectos da vida na cidade, e a Ronda Comunitária é responsável pela segurança e manutenção da paz.

Em comparação com o resto do estado de Michoacan, a taxa de criminalidade em Cherán caiu consideravelmente. Não houve nenhum assassinato, sequestros ou desaparecimentos registrados na cidade durante o último ano, e as pessoas se sentem seguras em muitos anos andando pelas ruas, mesmo no meio do breu da noite. Enquanto isso, nas comunidades localizadas a não mais de 10 km de distância, assassinatos e sequestros são comuns, e os dados mostram que o crime está em ascensão.
A cidade mexicana que expulsou criminosos, políticos e polícia
Cherán certamente não está livre do crime, mas as infrações mais registradas são coisas de "ladrões de galinha" ou na maioria das vezes estão relacionadas com o abuso de álcool. Mas, nesses casos, a cidade tem a sua própria justiça, multando, impondo trabalhos voluntários na comunidade ou então sentenciando o infrator a passar algumas noites atrás das grades. A justiça federal só é convocada no caso raro de um crime grave, e faz tempo que não acontecem na cidadezinha.

Mas não é só a cidade que renasceu após a revolta de 2011. A floresta devastada também começou a se curar sob a proteção de seus vizinhos. Estima-se que mais de 17.000 hectares de floresta foram devastados pelo crime organizado antes do povo de Cherán colocar um fim a isso. Desde então, 3.000 hectares foram replantadas com mudas de viveiros locais, e as florestas são patrulhadas diariamente por membros da Ronda Comunitária. Todo mundo que quiser cortar uma árvore tem de obter permissão das autoridades locais, e a lei é rigorosamente aplicada.
A cidade mexicana que expulsou criminosos, políticos e polícia
Hoje, Cherán é considerada tanto como um exemplo quanto um farol de esperança para muitas comunidades mexicanas atormentado pelo crime e pela corrupção, e alguns até tentaram imitar seu sistema de auto-governo, mas sem o mesmo sucesso. A chave, os moradores dizem que é a unidade. Há poucas pessoas de fora que vivem em Cherán, todo mundo conhece todo mundo, e as famílias são muito próximas.

Com o crime em ascensão em todo o México, os temores de que cartéis de drogas tentem recuperar sua posição de controle em Cherán são procedentes, mas desta vez os moradores estão prontos e armados até os dentes.
A cidade mexicana que expulsou criminosos, políticos e polícia
- "Mesmo que exista apenas uma pessoa que queira continuar assim defendendo a nossa cidade, todos nós vamos apoiá-la", diz Melissa Fabian de 18 anos. - "Nós todos nos sentimos orgulhosos porque deixamos de ser controlados e fizemos algo que nenhuma das outras comunidades se atreveu a fazer."

VÍDEO


Cheran não é completamente independente: ela ainda recebe fundo estaduais e federais. Mas a sua autonomia como uma comunidade é reconhecida e garantida pelo governo mexicano. A proibição de partidos políticos, por sua vez, foi mantida pela justiça, que confirmou seu direito de não participar nas eleições locais, estaduais ou federais.
Fonte: El Pais.
Fotos: Cheran Michoacan.
www.mdig.com.br
18
Out16

CARREIRISMO - Mário-Henrique Leiria

António Garrochinho


  


CARREIRISMO

Após ter surripiado por três vezes a compota da despensa, seu pai admoestou-o.

Depois de ter roubado a caixa do senhor Esteves na mercearia da esquina, seu pai pô-lo na rua.

Voltou passados vinte e dois anos, com chofer
fardado.

Era Diretor Geral das Polícias. Seu pai teve o
enfarte.



voarforadaasa.blogspot.pt

18
Out16

A LUTA PELA LIBERDADE DE INFORMAÇÃO MANTÉM-SE

António Garrochinho


Durante o fascismo tinhamos jornais, e jornalistas que resistiam lutando pela liberdade de informação, e não só. Ontem como hoje, sempre que saímos em defesa de quem trabalha, somos ignorados ou deturpam o nosso discurso. A censura continua a recair sobre os mesmos, a diferença está no método. Os trabalhadores menos politizados não têm acesso a nenhum meio de informação e esclarecimento na defesa dos seus interesses de classe.
Em baixo os cortes da outra censura
A censura salazarenta não era sofisticada como hoje, o manholas das botas, usava o ”lápis azul”, arma pré-histórica comparada com as manhas dos neo-manholas senhores dos media que se autodenominam de “referência”.
No artigo enviado à redação de “a opinião” em fevereiro de 1974, pedia-lhes que se o texto fosse cortado publicassem pelo menos o título, caso escapasse.
 
A LUTA PELA LIBERDADE DE INFORMAÇÃO MANTÉM-SE AO MESMO NÍVEL.


Via: GPS & MEDIA http://bit.ly/2dmZFSP
18
Out16

FINANCIAMOS UM SERVIÇO QUE NOS ENGANA E NOS ESCONDE O ESSENCIAL E QUE ESTÁ RECHEADO DE FASCISTAS E IGNORANTES A GANHAREM BALÚRDIOS (salvo as devidas excepções) - Cidadãos entregam 503 mil euros por dia à RTP

António Garrochinho
Gonçalo Reis, presidente da RTP, e Luís Castro Mendes, ministro da Cultura, que tutela o grupo público de rádio e TV 


Cidadãos entregam 503 mil euros por dia à RTP 

Fatura anual para financiar a RTP vai atingir os 36,25 euros. 

O Grupo RTP deverá ter no próximo ano receitas totais de 235,8 milhões de euros, segundo dados presentes no Orçamento do Estado para 2017, um aumento de 1,7 milhões em comparação com o previsto para este ano, que se fixou nos 234,1 milhões. 

Este valor significa que, em média, a empresa pública terá 646 mil euros para gastar por dia, mais cinco mil euros do que em 2016. 

A grande fatia das receitas da RTP no próximo ano advém da Contribuição sobre o Audiovisual (CAV), que vai dar ao grupo público 183,7 milhões de euros (503 mil euros diários), uma subida de 3,5 milhões face ao valor previsto para este ano (mais dez mil euros diários). 

Recorde-se que o Governo fixou o valor da CAV em 2,85 euros mensais (a que acresce 6% de IVA, colocando o total em 3,021 euros/mês, ou 36,25 euros anuais por cada cliente), que são pagos diretamente na fatura da eletricidade. Já quem tem tarifa social paga cerca de 1 euro mensal. 

As contribuições públicas vão totalizar 77,9% do total de receitas da empresa de rádio e televisão (mais 0,9 pontos percentuais do que em 2016). 

Os outros proveitos da RTP, nos quais se incluem os ganhos com publicidade e distribuição de canais, entre outros, serão de aproximadamente 52,1 milhões de euros, uma quebra de 1,8 milhões face a este ano. 

Contas feitas, com as receitas comerciais, a empresa pública terá mais 143 mil euros por dia. Ou seja, somando as receitas públicas com as comercias, atingimos o valor de 646 mil euros diários.



 http://www.cmjornal.pt

18
Out16

Aguiar da Beira. O retrato do fugitivo e das suas vítimas

António Garrochinho
O homem que há uma semana se emocionava com a fotografia dos filhos de um amigo falecido continua em fuga depois de ter matado duas pessoas e ferido três. Como se vive em Arouca estes dias de fuga?


Há pouco mais de uma semana, Pedro entrou num café de Arouca com a filha de 10 anos e emocionou-se ao olhar para uma fotografia dos filhos de Francisco, um amigo que morreu, de forma precoce, aos 39 anos. Olhou para Maria, a mulher do seu amigo, e, com lágrimas nos olhos, disse-lhe: “Estou a olhar para os teus filhos e a ver o Chico!”. Maria impressionou-se ao vê-lo assim: “Ele arrepiou-se todo”. Um homem que “se comove daquela forma, ao olhar para uma fotografia” não podia fazer mal a ninguém.
Ou podia? Poucos dias depois, a 11 de outubro, o mesmo homem, Pedro Dias, terá baleado, à queima-roupa, cinco pessoas, causando duas vítimas mortais e colocando outra entre a vida e a morte — e está em fuga desde então, tornando-se no homem mais procurado do país. Este domingo, depois de se ter pensado que estaria em Espanha, o fugitivo de Aguiar da Beira, que tem na sua posse um passaporte sul-africano, terá sido o responsável por um assalto a uma casa na freguesia de Moldes, nas proximidades de Arouca, tendo sequestrado dois idosos.
Pedro Dias voltou à sua zona de conforto e estava numa casa desabitada, tendo sido surpreendido, ao início da tarde, pela filha da proprietária, que começou a gritar por ajuda. Um vizinho ouviu os gritos e dirigiu-se à habitação, tendo sido os dois amordaçados. Em seguida, o alegado homicida roubou uma carrinha Opel Astra branca e colocou-se, de novo em fuga. O carro roubado foi, entretanto, avistado por uma patrulha da GNR de Vila Real, tendo sido montado novo cerco ao fugitivo. A caça ao homem começou na zona industrial de Vila Real, próximo da aldeia de Constantim, sendo que, por volta das 17h30, uma patrulha da GNR se cruzou com a viatura do suspeito, tendo iniciado uma perseguição.
Entretanto, durante a tarde desta segunda-feira, a Polícia Judiciária encontrou, na localidade de Carro Queimado, perto de Constantim, o carro roubado em Moldes. No interior da viatura, encontrava-se um par de calças com sangue, o que faz suspeitar que Pedro Dias esteja ferido. Até ao momento, o suspeito de duplo homicídio continua a monte, sem mostrar intenções de se entregar às autoridades. Mesmo após o apelo que, no domingo, foi feito pelo médico de Pedro Dias. Vítor Brandão, o clínico do alegado homicida, falou à comunicação social apelando ao suspeito para se entregar, “para acabar com o sofrimento da família”. “O apelo que faço, espero que ele me oiça, com a amizade que tenho por ele, é que apareça, que se entregue e acabe com o sofrimento da família”, manifestou o médico de Arouca.
Candal
Foi na aldeia de Candal que Pedro Dias terá estado fugido nas horas seguintes aos crimes, mas a polícia, apesar do cerco montado, não o encontrou @Liliana Garcia

O fugitivo

No dia a seguir aos crimes, chegou a chuva — o cenário perfeito para um homicida em fuga, no meio do maciço da Gralheira, local que lhe é muito familiar. “Ele gosta muito da natureza. Já o pai dele gostava de sítios isolados e do silêncio e, como o pai é engenheiro florestal, acaba por conhecer montes e caminhos que ninguém conhece”, diz António Teixeira, morador de Arouca.
Um comerciante da vila que prefere manter o anonimato fala de Pedro Dias como uma pessoa impecável, embora notasse nele uma inquietação, como se tivesse sofrido algum trauma na infância: “Ele estava sempre pronto a ajudar toda a gente, mas parecia que na cabeça dele havia sempre alguma coisa que o perturbava. Sabe, quando temos tudo na vida ficamos com vontade de passar para o outro lado do rio. Quando andamos habituados à autoestrada, temos vontade de ir por caminhos que abanem o carro todo e que nos levem a outros lados da vida”.
Há cerca de um mês, Pedro Dias estava a batizar o segundo filho, que nasceu da relação com a namorada Sara, uma jurista de Arouca, com residência em Leiria. Há poucos dias, terá também conseguido a custódia da filha, de um outro relacionamento, estando a criança a morar com os avós paternos. Agora, após os crimes que terá cometido na madrugada de terça-feira, Pedro Dias deixa para trás várias famílias desfeitas: a sua, a do militar Carlos Caetano e a do casal Liliane e Luís Pinto.
Casa de Vila Chã
Casa de Vila Chã onde Pedro Dias é visto várias vezes, mas sozinho @Liliana Garcia
Pedro Dias nasceu em Angola: a mãe é professora e o pai engenheiro agrónomo. Tem uma irmã mais nova e sempre teve uma vida económica confortável. Desde os homicídios, os pais do fugitivo mantiveram-se resguardados em casa, na moradia que possuem no centro da vila. Na quinta-feira, a casa foi alvo de buscas por parte da Polícia Judiciária.
Pedro Dias dedicar-se-ia à atividade de piloto de aviação de cargas, tendo tirado a licença de pilotagem na África do Sul, no período em que esteve emigrado neste país. Além disso, possuía várias quintas onde criava cavalos, vitelos e coelhos. Uma dessas propriedades é a Quinta da Ribeira Escura, na zona de Fornos de Algodres. Pedro Dias tem um funcionário que o auxilia nas tarefas nessa quinta, sendo que esse empregado já terá sido interrogado pelas autoridades.
A ligação de Pedro Dias ao concelho de Fornos de Algodres deve-se ao facto de uma avó, nonagenária, ter ali uma casa, na pequena localidade de Vila Chã. Em Fornos de Algodres chegou a ter uma namorada, cujo relacionamento terminou há cerca de dois anos. “Para mim, ele é o neto da dona Emília e o bisneto da senhora Anunciação. Não conheço nem a irmã, nem os pais dele. Só o conheço a ele”, diz Maria, que vive em Vila Chã depois de ter passado décadas em Lisboa. Na terça-feira de manhã, foi surpreendida pela presença da Guarda junto à casa da avó de Pedro Dias. “Vi a GNR e fui lá para perceber o que se passava, mas eles disseram-me apenas para eu ir para dentro de casa.”
“Ele estava sempre pronto a ajudar toda a gente, mas parecia que na cabeça dele havia sempre alguma coisa que o perturbava. Sabe, quando temos tudo na vida ficamos com vontade de passar para o outro lado do rio."
A avó do suspeito dos homicídios de Aguiar da Beira, uma antiga enfermeira que trabalhou em Arouca, não vive na moradia de Vila Chã. Na casa de granito, que foi restaurada há poucos anos, só se vê mesmo Pedro Dias. Normalmente, sozinho. Maria conta que já o viu ali acompanhado por um amigo. À entrada da casa onde o suspeito de homicídio estava há dias, duas cadeiras brancas e um par de botas castanhas aguardam pelo dono, escondido em parte incerta.
“Há uns tempos terá enveredado por outros caminhos”, refere um habitante de Arouca. Esses trajetos desviantes passam por vários processos criminais. Segundo o Correio da Manhã, o alegado homicida é suspeito em dois processos de violência doméstica, em 2009 e em 2015. É também suspeito num processo por abuso de confiança e por danos no carro da sogra, em 2009, estando ainda envolvido num processo de crime contra a propriedade. No seu registo criminal consta ainda que, em 2012, foi interveniente numa ocorrência que envolve a apreensão de armas, munições, matrículas falsas e posse de droga.
Em 2014, a GNR procedeu ainda a buscas na quinta que Pedro Dias possui em Várzea, tendo encontrado duas caçadeiras de canos cerrados e mais duas armas ilegais. Nesta propriedade, na zona de Arouca, o alegado homicida tinha, ilegalmente, aves tropicais e um primata, da espécie Callithrix jacchus, que foi entregue ao Zoo da Maia. “Ele gostava de animais, trazia alguns da África do Sul. Tinha animais engraçados na Várzea, cheguei a ver até um primata”, disse ao Observador um morador de Arouca que prefere manter o anonimato.

“Vou combater o mal”

Na quinta-feira, ao final da tarde, a 30 quilómetros de Vila Chã, a capela e o cemitério de Quinta dos Cepos, Aguiar da Beira, eram pequenos demais para a quantidade de familiares, amigos e colegas militares que se quiseram despedir de Carlos Caetano, o militar da GNR, de 29 anos, que foi abatido a tiro por Pedro Dias, na madrugada de terça-feira. “Tinha planos de fazer casa e constituir família”, recorda Isabel Caetano Duarte, tia e madrinha do jovem.
“Era um herói para os irmãos”, sublinha Sandra Duarte, prima do militar abatido a tiro. “Ele era ‘o’ primo, era o irmão que nunca tive”, diz, emocionada, durante o velório. “Ele era muito simpático, alegre, ajudava toda a gente”, conta a prima, de 37 anos. Nos tempos livres, jogava futebol e andava de bicicleta, com amigos. Mas a paixão era mesmo o trabalho. E fazer patrulha nunca lhe meteu medo, até porque aquela não era uma região de grandes sobressaltos. “Vou combater o mal”, costumava dizer, na brincadeira, quando ia trabalhar. Naquela noite, em que fazia uma ronda na zona das Termas da Cavaca, não esperou que o mal levasse a melhor.
Carlos Caetano e António Ferreira, de 41 anos, estavam a patrulhar uma zona onde, durante o mês de setembro, deflagraram vários incêndios durante a madrugada, e onde havia historial de pequenos furtos. Por volta das três da manhã, junto ao hotel em construção das Termas da Cavaca, os militares consideraram suspeito o facto de estar uma carrinha estacionada naquela zona isolada.
Intercetaram, então, o condutor, Pedro Dias, que se mostrou tranquilo e conversador, tendo referido que estava naquele local a dormir. No interior do veículo estava um jerrican para combustível. O condutor saiu da viatura. As autoridades pediram-lhe a documentação e repararam que o titular da carta de condução não era o proprietário da carrinha. Perante isso, os militares pediram informações por rádio e foram avisados de que estariam perante um indivíduo armado.
Prosseguem buscas em S. Pedro do Sul para encontrar suspeito de crimes de Aguiar da Beira
Paulo Novais/ Lusa
Nessa altura, e aproveitando o facto de os dois militares se distraírem perante um ruído vindo da zona de mata, Pedro Dias pegou num revólver 635, que teria escondido numa sovaqueira, e disparou, de frente, sobre a cabeça de Carlos Caetano. Após o abate do militar, obrigou António Ferreira a conduzir a viatura da GNR e a andarem, durante uns 15 minutos, às voltas pela zona de Cortiçada.
O militar terá implorado ao alegado homicida para regressarem ao local do crime, para que pudesse auxiliar o colega. Aflito, António Ferreira pediu mesmo a Pedro Dias para este fugir no carro e deixá-lo com Carlos Caetano, para que o pudesse socorrer. O criminoso terá mandado o militar calar-se, ameaçando fazer-lhe o mesmo que tinha feito ao colega. Mas decidiu voltar ao hotel em construção. Nessa altura, obrigou António Ferreira a colocar o militar morto no porta-bagagem do carro patrulha. Depois, este militar terá sido algemado à pega de teto da viatura da GNR e conduzido até perto do quartel de Aguiar da Beira. Chegados ali, o autor do homicídio perguntou quantos homens se encontravam no interior do posto. Para despistar Pedro Dias, o militar terá dito que estavam muitos guardas e que o edifício possuía sistema de videovigilância.
Essa informação dissuadiu o homicida de querer eliminar mais testemunhas do crime, em particular o guarda que tinha comunicado via rádio. Em seguida, dirigiu-se para uma zona de mato, onde só se aventuraria quem conhecesse a área. Aí, a viatura fica atolada e, com um pé de cabra (que tinha trazido da sua viatura), Pedro Dias parte a pega do carro a que António Ferreira estava algemado. Tira-o do carro e algema-o a um pinheiro. De frente para o militar, dá um disparo em direção à cabeça de António Ferreira. Julgando-o morto, tapa-o com giestas e dirige-se a pé para a beira do asfalto da EN229, onde fez carjacking a um casal que seguia, num Wolkswagen Passat antigo, a caminho de Coimbra, para uma consulta de fertilidade.

“Uma vida desarranjada”

Luís Pinto, de 29 anos, morreu no local; Liliane, de 26, ficou em estado muito crítico e foi submetida a uma cirurgia, por causa do traumatismo crânio-encefálico. Pedro Dias, entretanto, regressou ao local do crime inicial, para trocar de carro. Terá ido a Fornos de Algodres trocar de pick-up, e fugiu para a sua zona de conforto: a serra da Freita. Entretanto, após ter estado algum tempo inconsciente, António Ferreira, um pouco desorientado, terá conseguido ir bater à porta de um colega militar, que morava nas proximidades do local onde foi abandonado. Este militar – que escapou por a bala ter batido na zona de osso nas maçãs de rosto, instalando-se na cervical – já está livre de perigo e é a testemunha-chave da investigação.
“Veio cá um sargento de Sernancelhe”, relembra. Ainda há um mês aquela casa, em Ponte do Abade, recebia uma boa notícia, com o nascimento da neta Mafalda. Liliane e Luís iam ser os padrinhos da bebé, filha do irmão mais velho da jovem baleada.
Sentados à mesa da cozinha, com o televisor ligado no programa “Queridas Manhãs”, na SIC, os pais de Liliane estão desolados, minutos antes de saírem de casa, na passada quarta-feira, para irem visitar a filha ao Hospital de Viseu. A mãe é acarinhada por amigos e familiares. O pai ouve, com uma atenção desmoronada, o que Hernâni Carvalho diz na televisão sobre o caso que envolve a filha e o genro.
António de Jesus conta que só ao final do dia de terça-feira é que ficou a saber o que se passara. “Veio cá um sargento de Sernancelhe”, relembra. Ainda há um mês aquela casa, em Ponte do Abade, recebia uma boa notícia, com o nascimento da neta Mafalda. Liliane e Luís iam ser os padrinhos da bebé, filha do irmão mais velho da jovem baleada. “Atrás de uma alegria vem uma tristeza”, lamenta Maria Helena dos Santos, vizinha dos pais de Liliane, que passou a terça-feira com a mãe da jovem, na apanha da maçã. “Saímos de casa às 7h30 e voltámos às 17h30. Estava aqui fora a varrer umas folhas, que tinha chovido, e ouço gritos muito fortes. Lembrei-me logo da Lili, que a consulta tivesse corrido mal”. Não tinha sido isso. “Ainda penso que é mentira. Um casal novo, que ia na sua vida. É uma vida desarranjada.”
Os 14 utentes da Unidade de Cuidados Continuados (UCC) da Santa Casa da Misericórdia de Aguiar da Beira já sentirão falta de Liliane Pinto. Esta auxiliar de ação médica, que começou a trabalhar naquela unidade em abril de 2011, é conhecida por “dar carinho aos doentes”. “Nunca vi ninguém com a idade dela ter o carinho que tinha pelos idosos”, assegura Fernando Andrade, provedor da Santa Casa da Misericórdia.
Em Benvende, localidade de onde é natural Luís Pinto, e onde vivia com Liliane, com quem estava casado há cinco anos, a tristeza surge logo após a Rua do Espírito Santo. No dia a seguir aos homicídios, no interior da casa dos pais do construtor civil, há um aquecedor ligado na sala e, em cima de uma mesa, uma vela acesa e uma embalagem de ansiolíticos. Os pais de Luís estão sentados num sofá. A irmã de Luís, ajoelhada no chão, agarra-se à perna de uma prima e pergunta: “O que vou fazer agora, sozinha? Era o meu único irmão”.

observador.pt
18
Out16

“Não temos meios para fazer uma avaliação sistemática” das isenções de IMI (entrevista)

António Garrochinho
Paulo Ralha, presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Imposto


Presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos desconhece melhorias no sistema informático do fisco para aumentar controlo das isenções de IMI



O Presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos (STI), Paulo Ralha, corrobora o diagnóstico feito pela IGF de que a avaliação dos serviços para atribuir isenções de IMI é feita de forma casuística. Falta um sistema integrado para cruzar dados, avalia.

Segundo a IGF, o controlo da AT na atribuição das isenções de IMI é insuficiente. Que orientações têm os serviços para fazer esta avaliação?
Há dados que uma pessoa no serviço de Finanças não dispõe para poder relacionar todos os dados relativamente a outros rendimentos [além da declaração de IRS], como taxas liberatórias, prémios de jogos, para haver uma correlação de todos esses rendimentos na altura de atribuir, ou não, a isenção.


A avaliação dos serviços de Finanças para atribuir isenções de IMI é feita de forma casuística, como diz a IGF?
Sim, de certa forma, pode-se dizer que é feita de forma casuística. Com o rol de informação que existe, não temos nem meios nem recursos humanos para fazer uma avaliação sistemática. Só é possível fazer uma avaliação sistemática através do recurso de meios informáticos que permitam em tempo real relacionar todos os dados sobre um contribuinte: a informação da declaração Modelo 31 [rendimentos isentos, dispensados de retenção ou com taxa reduzida], do Modelo 39 [taxas liberatórias] e os dados do Modelo 3 de IRS. Assim, tínhamos o panorama global do rendimento e da “riqueza” de cada contribuinte, para, mediante essa análise, atribuir ou não a isenção de IMI por baixos rendimentos.

Os dados a que o relatório diz respeito são relativos a 2012 e 2013. Entretanto foram introduzidas medidas para melhorar o sistema informático para detectar irregularidades?
Quem poderá responder cabalmente é a Direcção-Geral da AT ou a secretaria de Estado dos Assuntos Fiscais. Não nos parece que tenha sido feita qualquer alteração desde 2013 até este momento.

A IGF recomenda que seja o serviço de finanças da área de residência desses contribuintes a fazer o controlo, para a atribuição ou cancelamento da isenção. Actualmente, de onde parte esta decisão, não é do serviço local da AT?
É do serviço local, mas mais uma vez esbarramos na plataforma informática. Se quem está no serviço, nomeadamente na área do património, tiver acesso por via informática a todos estes elementos e eles forem relacionados à partida, isso permite reunir os dados todos para ser dada a informação [necessária para se decidir a atribuição da isenção fiscal]. Por exemplo, se um contribuinte vai ao balcão, [o funcionário] analisa os dados do contribuinte, mas só com base na declaração Modelo 3 e o valor patrimonial que tem em seu nome. Uma visão muito mais real da capacidade patrimonial do contribuinte permitia logo à partida errar muito menos.

Na proposta de OE de 2017, o Governo diz ter feito uma estimativa da despesa fiscal do Estado. Pensa que há isenções no IMI que devem ser reponderadas?
Há situações, mas são de outra ordem [sem passar pelos contribuintes com baixos rendimentos]. Há abusos em determinado tipo de isenções patrimoniais, nomeadamente a instituições financeiras e imobiliárias, sobre as quais se pode trabalhar melhor para existir maior equidade e maior justiça a este nível. Outra área onde o regime pode ser melhorado tem a ver com o património rústico que tem produção associada mas valores [patrimoniais] absolutamente irrisórios.

www.publico.pt
18
Out16

Daesh. Secretas identificaram radicalizados em Portugal

António Garrochinho




O autoproclamado Estado Islâmico, na sua propaganda de terror e autopromoção, divulga, com frequência, vídeos bárbaros nas redes sociais na internet



Identificados portugueses que se radicalizaram no jihadismo islâmico. Número de casos duplicou em alguns países

Há portugueses que, a partir do território nacional, aderiram à propaganda terrorista do Daesh. A informação foi avançada pelo diretor do Serviço de Informações de Segurança, Adélio Neiva da Cruz, que, no entanto, não adiantou o número de radicalizados.

"Em Portugal, os casos identificados de radicalização são minoritários e a dimensão do problema não é comparável com o que se verifica em alguns países", disse Neiva da Cruz, perante uma plateia cheia, durante uma conferência pública na Universidade Nova.


Neiva da Cruz é diretor do Serviço de Informações de Segurança
É a primeira vez que um alto dirigente assume que este fenómeno de origem jihadista atingiu cidadãos nacionais em território nacional. E não apenas portugueses fora do país, como foram os conhecidos casos dos jihadistas de origem nacional que se juntaram ao ISIS na Síria e no Iraque, mas que se radicalizaram em Inglaterra e França.

Quantos são e quem são estes portugueses que cederam? Onde estão e quais as suas motivações? Que medidas tomaram as autoridades? Questões que ficaram sem resposta, apesar da insistência do DN nos últimos dias junto do SIS, Polícia Judiciária (PJ) e Procuradoria-Geral da República (PGR), estas duas últimas responsáveis pela investigação dos casos.

Tentando desvalorizar e recuar no impacto da revelação, Neiva da Cruz limitou-se a responder que as suas palavras no seminário "nada acrescentam" ao que está escrito no Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2015, que na página 85 já mencionava: "...tendo sido identificados casos de radicalização e conexões entre cidadãos e/ou estruturas, e organizações jihadistas de cariz transnacional".

O DN consultou o RASI e nesse parágrafo, que fala sobre as "tarefas" desenvolvidas pelas secretas no "domínio do terrorismo", não está escrita qualquer referência a que esses casos tenham sido em território nacional. A PGR apenas confirmou a "existência de inquéritos a decorrer" sobre "factos relacionados com o denominado Estado Islâmico". Não adianta se estas investigações são apenas as que já tinham sido divulgadas, sobre os jihadistas portugueses radicalizados no estrangeiro, ou se foram acrescentados novos casos. A PJ não responde a nada.

Não deixa de ser irónico que as declarações de Neiva da Cruz tenham sido proferidas num seminário sobre "Estratégias de Comunicação no contexto de terrorismo", na qual vários participantes salientaram a importância da informação rigorosa para evitar especulações e alarmismos.

Segundo a ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, está agora a ser "desenvolvido em sede da Unidade de Coordenação Antiterrorista um plano de comunicação". Está previsto desde a aprovação da Estratégia Nacional de Combate ao Terrorismo há quase 20 meses (fevereiro de 2015), mas na prática nada mudou.

O fenómeno da radicalização terrorista e do recrutamento de cidadãos europeus para as fileiras do Daesh ou para cometer atentados nos seus países, tem estado na agenda dos vários países da União Europeia. Diversos programas de prevenção estão em curso. Em Portugal também tem havido algumas discretas iniciativas, longe do grande público.

Segundo o diretor do SIS, "o fenómeno da radicalização consubstancia, em si mesmo, uma ameaça às sociedades democráticas baseadas nos princípios da tolerância e da supremacia do Estado de direito". Neiva da Cruz assinalou a "diminuição de partidas para a Síria, em mais de 50%, no último ano", uma situação que se pode explicar "pela atual perda de território que o Daesh regista e também devido às medidas de caráter judicial e securitário adotadas pelos governos europeus". No entanto, sublinhou, "o número de indivíduos abertos à mensagem do radicalismo transmitida por recrutadores continua a aumentar", tendo duplicado em alguns países . "Já não há apelos às viagens para a Síria", mas sim "à prática de atentados no próprio país".


www.dn.pt
18
Out16

QUANDO SE APAGA A MEMÓRIA QUEM BENIFICIA COM ISSO !? COM PÉZINHOS DE LÃ ! APAGAR A HISTÓRIA - NA ÁUSTRIA VÃO ACABAR AS VISITAS À CASA ONDE HITLER NASCEU, AS VISITAS NAZIS E A DE OUTROS QUE QUEREM CONHECER A HISTÓRIA - POR CÁ ONDE SOFRERAM E MORRE

António Garrochinho


Acabou a peregrinação. Casa onde Hitler nasceu vai ser demolida



A casa tornou-se um local de adoração para neo-nazis de todo o mundo, que todos os anos fazem uma peregrinação no aniversário de Hitler. Agora acaba a adoração e peregrinação

A casa onde Hitler nasceu em 1889 em Braunau am Inn, na Áustria, vai ser demolida. O anúncio foi feito esta segunda-feira pelo ministro do Interior austríaco Wolfgang Sobotka, após um longo período de indecisão quanto ao destino da casa.

"A casa do Hitler vai ser demolida. Vão manter-se as infraestruturas e um novo edifício vai ser erguido", afirmou o ministro do Interior, segundo a BBC. "[O novo edifício] vai ser usado por uma instituição de caridade ou autoridade local".

O primeiro passo vai ser dado em breve. Ainda este mês, o parlamento austríaco deverá aprovar a expropriação do edifício das mãos de Gerlinde Pommer, a dona da casa, segundo o Deutsche Welle. A casa onde Hitler nasceu pertence à família de Pommer há mais de um século.

O prédio está vazio desde 2011, o que criou uma oportunidade para neo-nazis de todo o mundo o usarem como local de adoração e peregrinação. Todos os anos a 20 de abril, data do aniversário de Hitler, vários apoiantes de extrema-direita se reúnem à porta do edifício para tirar fotografias, segundo o jornal Deutsche Welle.

A demolição da casa não é bem vista por todos os 17 mil habitantes da cidade de Braunau am Inn e tem provocado um debate no país. Se uns acreditam ser o melhor para afastar os neo-nazis do local, outros dizem que não vai fazer diferença.

Rotraud Steiger vive em frente à casa de Hitler há mais de 50 anos e é contra a demolição. "Não vai mudar a história, pois não? Acho que não tem sentido", contou a mulher numa reportagem do jornal Deutsche Welle. Steiger disse ainda que Hitler apenas viveu na casa durante alguns dias quando era bebé e que preferia que esta se tornasse um memorial.

Martin Simbock, dono da tabacaria que se encontra perto da casa, também acredita que o edifício deveria ser transformado num memorial e que demoli-lo será inútil.

"Mesmo que eles transformem [o edifício] num buraco as pessoas vão continuar a saber o que era antes", afirmou Martin ao Deutsche Welle. "O edifício não deveria ser derrubado mas sim usado de uma forma responsável, para educar pessoas".

Em frente à casa está uma placa retirada do campo de concentração de Mauthausen, que diz "Pela paz, liberdade e democracia. Fascismo nunca mais. Milhares de mortos são um aviso".



A casa foi comprada pelo regime Nazi e, depois da II Guerra Mundial, foi devolvida a família de Pommer, em 1952.

Em 1972, o governo austríaco assinou um contrato de concessão com Pommer para o edifício ser transformados num centro para pessoas com deficiências, mas em 2011, Gerlinde Pommer cancelou o contrato devido a uma disputa sobre as renovações necessárias para tornar o prédio mais acessível a pessoas com dificuldades motoras.

Nos últimos anos, Gerlinde Pommer tem pago uma renda mensal de 4800 euros pela casa de Hitler, segundo a BBC, e o facto de o estado querer retirar-lhe a propriedade também está a indignar os austríacos.

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