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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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29
Out16

VÍDEO - OS 10 MANDAMENTOS DA MÁFIA

António Garrochinho


Sinopse: A “Cosa Nostra” é uma das mais misteriosas organizações criminosas e desde o século XIX vem aguçando a curiosidade das pessoas. O especial começa narrando a ação da polícia italiana, que interrompe uma reunião de altos representantes da máfia no esconderijo secreto de Salvatore Lo Piccolo, o Il Barone – um homem de 65 anos de idade, suspeito de ser o grande chefe da “Cosa Nostra” de Palermo. Espalhados entre pistolas, charutos e garrafas de whisky são achados documentos secretos. À medida que decifram o conteúdo destes documentos, os agentes da polícia percebem que ali estão registrados OS 10 MANDAMENTOS DA MÁFIA, um verdadeiro manual secreto de conduta para os integrantes da organização. O especial analisa minuciosamente este código da “Cosa Nostra”, investigando sua influência na rotina dos mafiosos e em sua atuação ao redor do mundo. Fazendo uso de entrevistas com membros da máfia, jornalistas e agentes que desvendaram o código da “Cosa Nostra”, OS 10 MANDAMENTOS DA MÁFIA relaciona os documentos encontrados com os vínculos estabelecidos entre sicilianos e americanos, analisando como as grandes fortunas da máfia nos Estados Unidos foram drasticamente afetadas no final do século XX. Em um fascinante registro, o documentário também reúne imagens de arquivo que mostram aos telespectadores o mundo da máfia nos Estados Unidos: como se comportavam seus membros, que tipo de roupas usavam e onde se reuniam habitualmente.


VÍDEO


29
Out16

Esta rota montanhosa na China é o caminho mais perigoso do mundo

António Garrochinho


Este tipo de caminho em rochas nos quais é possível subir uma montanha por meio de ’escadas’ algum tipo de apoio é chamado pelos escaladores de ’via ferrata’. E, por ter essa espécie de escada, normalmente não é preciso ser alpinista para subir, basta usar um bom equipamento de segurança e, se possível, ir acompanhado de um guia.
Esta, na China, é um dos lugares mais incríveis do Planeta, e aterroriza até quem não tem medo de altura. É o Monte Hua, também conhecido como Huá Shan, e fica situado próximo à cidade de Huayin. Na base, há um caminho extremamente perigoso que leva ao topo. E a via ferrata é cheia de surpresas assustadoras até para os mais corajosos. É impossível traduzir em palavras a sensação de estar ali.
Hoje, o Incrível.club lhe convida a dar um passeio radical que faz tremer até os aventureiros mais experientes.
A caminho começa com uma íngreme escada entalhada no penhasco.

E isso é só o começo.

As paisagens que se vê dali são realmente incríveis!

Depois é preciso ir de teleférico até o outro lado, onde a verdadeira loucura começa.

É isso que espera os corajosos.

A única coisa que você pensa quando anda por aqui é «NÃO OLHE PARA BAIXO».

E é aí que vem a parte mais incrível: para chegar à parte seguinte da rota, é preciso escalar a montanha, literalmente.

Fascinante!

Finalmente, a recompensa que espera os aventureiros no fim desta aventura tão perigosa é um antigo templo taoísta, que hoje funciona como uma casa de chá.

Deu medo? Ou deu vontade? Agora imagine o que sentiram aqueles que pregaram as tábuas que fazem parte do caminho. Sem falar que, quem sobre, precisa descer pela mesma rota. 
incrivel.club

29
Out16

Yosemite - desbravando a terra dos ursos

António Garrochinho
Quando se pensa em parques must see para visitar e praticar desportos pelo mundo, com certeza, o Yosemite Park estará na lista de praticamente todos os viajantes desportistas e aventureiros em geral. No imaginário popular, essa esplendorosa reserva no vale californiano é a morada dos tão temidos ursos. E é verdade.
Esta é a magia da Califórnia. São raros os lugares que conseguem projetar na mente paisagens e referências tão distintas em um mesmo espaço: de um lado, praias e desertos. Do outro, as mais lindas montanhas.

Acredite, a fama procede. O Yosemite Park é indescritivelmente belo, simplesmente um espetáculo da natureza. As imponentes montanhas da Serra Nevada, o paredão El Capitan, o Half Dome, as cachoeiras do Yosemite Falls com algumas das maiores quedas d'água do mundo, além é claro, das estrelas maiores, os cerca de 500 ursos que habitam o local. 
Inaugurado em 1864 pelo então presidente Abraham Lincoln, e patrimônio da Unesco desde 1984, o Yosemite inspirou no mundo o conceito de “parque nacional”, com suas diversas áreas de preservação ambiental. Cerca de 95% do parque é considerada área de natureza selvagem.

Localizado no centro-leste da Califórnia, com aproximadamente três mil km2, o Parque é um dos mais visitados nos Estados Unidos, recebendo cerca de 4 milhões de visitantes anualmente para percorrer suas trilhas e contemplar paisagens únicas.

O vale no qual o parque está inserido por si só já é um espetáculo. Com cerca de 11 km de comprimento por 1.5 km de largura é rodeado por penhascos esculpidos há muitas eras pelo Rio Merced. Ao Norte do vale está o famoso paredão de monólito El Capitan, com 900 metros e desejo obrigatório de quase todo alpinista. Mas não precisa ser radical para sentir a majestade da pedra. Há uma trilha que pode ser percorrida caminhando, nos entornos do Yosemite Falls. 
Com formato distinto, o Half Dome é outro símbolo do parque que inspira aventureiros e esportistas de todos os tipos a contemplarem seu esplendor. Para chegar ao topo é preciso preparo físico e logístico, já que pode levar o dia todo, dependendo das condições meteorológicas. Como quase todo esforço ali feito, a recompensa vem no visual do topo da montanha.  Inesquecível. Para quem não é muito fã de alturas, o Lake Mirror é igualmente belo e atrativo, assim como a trilha de aproximadamente 3 km para se chegar a ele.  

Se a ideia é contemplar o vale de cima, sem grandes esforços, não há lugar igual ao Glacier Point, que pode ser acessado de carro. Uma trilha de arrepiar (tanto pela beleza quanto pelo caminho desafiador) parte do Glacier em direção ao vale em inesquecíveis 6.5 km (4 milhas), cortando montanhas e oferecendo vistas de tirar o fôlego. Um piquenique nos arredores do lindo Tenaya Lake é outra ótima sugestão para relaxar e desfrutar da beleza e tranquilidade do Parque.

Apesar das atrações mundialmente famosas, o simples fato de atravessar o parque pode proporcionar um contato singular com a natureza. São trilhas, ursos, noites de céu estrelado, lagos cristalinos, esquilos por todos os lados, cachoeiras, bosques infinitos, sequóias gigantes, cervos e muita diversidade ao seu alcance. 
No coração do Yosemite, próximo a Vila, existem ainda pequenos e charmosos museus que contam toda a história de construção e evolução do Parque, bem como uma sensacional galeria com os trabalhos do fotógrafo Ansel Adams, famoso por seus registros locais repletos de sensibilidade. A vila do Yosemite Park oferece toda a infra estrutura de restaurantes e serviços necessária para que você desfrute dos dias mais perfeitos da sua vida.  

Descobrir os encantos do Yosemite Park é uma obrigação para qualquer esportista que busca um real contato com a natureza e experiências únicas em lugares incríveis. Se quiser saber mais sobre o Parque e como praticar o seu esporte por lá

www.7sherpas.com
29
Out16

O HOMEM DAS MIL E UMA FACES

António Garrochinho
Polémico e indecifrável, ele foi espião, aventureiro, antropólogo, diplomata, místico, tradutor, poeta, explorador e só Allah sabe o que mais! Sir Richard Francis Burton é um personagem muito mais complexo e misterioso que os heróis das Mil e Uma Noites e do Kama Sutra, obras que traduziu. Primeiro ocidental a entrar em Meca e descobridor da nascente do Nilo, Burton era um polímata que poderia ser descrito como um típico homem renascentista em plena era vitoriana.
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Há menos de um mês comprei no sebo do Sr. Fred, o Alfarabista, um exemplar humilde de As Mil e Uma Noites, baseada na tradução de René R. Khawan. A edição contempla apenas uma história, a de “Djulnare-do-Mar”. Mas a compra me levou a pensar na primeira vez que ouvi falar em Sir Richard Francis Burton, um dos tradutores mais famosos do livro.
Descobri Jorge Luís Borges muito cedo, lá pelos 12 anos, pois meu avô paterno (sempre ele) tinha Ficções naquela coleção vermelha inesquecível da Abril Cultural, que herdei após sua morte. (O Sr. Fred me contou uma história adorável sobre Borges e Bioy Casares, mas não vem ao caso agora). No conto “Aleph”, que dá nome a um de seus livros, duas coisas me marcaram quando o li a primeira vez: o trecho final em que Borges fala da perda inexorável de sua memória dos traços de seu amor Beatriz Viterbo (o mito do Aleph como a pedra filosofal da memória e da enciclopédia infinda que transpõe o tempo e o espaço contraposto a finitude, impotência e dissolução humana) e a citação de que o Aleph havia sido descrito em um texto perdido de Richard Francis Burton (que, por sinal, mais parece um personagem do próprio Borges).
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Espião, espadachim, soldado, aventureiro, historiador, diplomata, tradutor, etnógrafo, geógrafo, explorador, poeta e sabe-se Allah o que mais, Burton (1821-1890) foi um personagem muito mais complexo e misterioso que muitos heróis e heroínas das histórias que traduziu. Falava cerca de 30 línguas e, dizem, mais de 40 dialetos. Um polímata que poderia ser descrito como um típico homem renascentista em plena era vitoriana.
(Por conta de minhas leituras de Monteiro Lobato na primeira infância eu tinha contraído o germe do fascínio pelos exploradores e aventureiros de todos os tipos, Marco Polo, Champollion, Schliemann, Dr. Livingstone e Stanley, Thomas Edward Lawrence (Lawrence da Arábia) e, tempos depois, fiquei um tempo fixada nas expedições de Amundsen e do azarado Scott ao Polo Sul e em Robert Peary - correndo contra o degelo de Primavera após chegar ao Polo Norte e sobrevivendo, mesmo tendo perdido alguns dedos.
lawrenceOfArabia_1484445c.jpgT. E. Lawrence, o Lawrence da Arábia: do mesmo planeta de Burton
Não fosse a biografia de Burton suficiente eu ainda tinha uma atração danada por um certo clima fim do século XIX: Darwin e o Beagle, Phileas Fogg, salas cheias de palmeiras e cortinas de veludo vinho e adamascado, um certo almíscar oriental e africano que perfumou também a pintura, Madame Curie, salões de ópio, os romances de H. R. Haggard, Ela, As Minas do Rei Salomão...Enfim: aquela mistura incomum de ciência e exotismo.)
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Minha pequena pesquisa começou nas enciclopédias de meu avô, mas nunca achei nenhuma tradução brasileira de sua versão das Mil e Uma Noites (existem edições de Galland e uma mais recente traduzida direto do árabe por Mamede Mustafá Jarouche). A primeira tradução foi a do orientalista francês Antoine Galland que verteu os textos no inicio do século XVIII e é a mais difundida até hoje. A versão de Burton é considerada por muitos como obscena, mas, é provável que isso signifique apenas que é a menos etnocêntrica. Pesquisadores aceitam que as histórias do livro tiveram sua origem na Índia, foram transpostas para a Pérsia, onde foram acrescidas e arabizadas e, por fim, tiveram seu terceiro ciclo no Egito.
parrish_arabian_nights_talking_bird.jpgIlustração do magnífico Maxfield Parrish para uma edição de As Mil e Uma Noites
A se acreditar nos estudiosos, as traduções e transposições das Arabian Nigths (Noites Árabes, um dos títulos alternativos das traduções inglesas) também foram cercadas de magia, fantasia e mistérios: a mais famosa história, “Aladim e a Lâmpada Maravilhosa”, que consta da tradução de Galland, nunca foi encontrada nos originais árabes ou persas – suspeita-se que o próprio Galland a criou. Burton titulou sua tradução de O Livro das Mil Noites e Uma Noite, talvez para reforçar a ideia de infinitude, criação contínua e circularidade. Ele traduziu 17 volumes.
kama-sutra-1.jpg
É provável que mais famosa do que a transposição das Mil e Uma Noites tenha sido a tradução de Burton do tratado indiano Kama Sutra de Vatsayana. Ele transpôs outros textos eróticos como O Jardim Perfumado, que fala dos costumes sexuais da África islamizada do século XVI, e elegias do poeta latino Catulo. Espantosamente prolífico, Burton acompanhava suas traduções de ensaios introdutórios e apêndices que são verdadeiros tratados de antropologia cultural. Contrariamente à moral vitoriana, não poupava descrições naturalistas que iam de detalhes anatômicos aos costumes sexuais, falando sem reservas de poligamia, incesto e homossexualismo - e teve peito para publicá-los. Alvo de intenso patrulhamento e inimizades poderosas por suspeita de inclinações anti-imperialistas (em um período no qual o Império Britânico lutava contra insurreições) e ameaçado pelo Ato contra Publicações Obscenas baixado em 1957, criou a Kama Shastra Society para publicar os textos com suas observações na íntegra em pequenas edições de circulação limitada.
Apresentação1.jpgEdição de Vikran com desenhos de Grisset pode ser lida em http://ebooks.adelaide.edu.au/b/burton/richard/b97v/
Traduziu ainda contos hindus como Vikram e o Vampiro e a Lírica e Os Lusíadas de Camões, entre outras obras. Mas, em paralelo a suas traduções (quiçá recriações), escreveu livros sobre falcoaria e sobre a arte da espada, estudos sobre arte etrusca, relatos antropológicos e geográficos variados de suas viagens e aventuras. Em um Relato Pessoal de Uma Peregrinação de Meca a Medina, sua primeira aventura que ganhou repercussão, ele conta como foi o primeiro ocidental a entrar na cidade sagrada muçulmana disfarçado de médico afegão.
falcon-antelope.jpgIlustração de um dos livros sobre falcoaria escritos por Burton
Quando foi cônsul no Brasil, em Santos, viajou pelo interior de Minas Gerais e pelo Rio São Francisco, chegando até Paulo Afonso na divisa da Bahia com Alagoas. No Brasil, além de um livro sobre as Highlands, traduziu a “aventura” de Hans Staden entre os índios – livro em cujo ensaio introdutório discorre sobre etnias indígenas e costumes do interior e das zonas citadinas. (Uma curiosidade: sua esposa, Isabel Burton, traduziu Iracema de José de Alencar).
A vida de Burton, como já dito, foi cercada de mistérios e escândalos. Conta-se que em conversa com um padre ele teria dito: “Senhor, tenho orgulho de dizer que cometi cada um dos pecados do Decálogo”. Tendo-o feito ou não, não se pode negar que ele tinha uma concepção moral imensamente flexível e ideias bem exóticas até para um antropólogo do século XIX. Uma delas era a teoria da “Zona Sotádica” que sustentava, sem nenhum tom crítico ou etnocêntrico, que a “pederastia” ou o “amor de um homem mais velho por um jovem” era endêmica e “bem tolerada” em boa parte do planeta – leia-se vastas áreas da Europa, inclusive toda a Península Ibérica e a Itália, o Norte da África, boa parte da Ásia e toda a extensão das Américas do Sul, Central e do Norte. O nome “sotádico” deriva de um poeta satírico grego do século III, famoso por seus versos homoeróticos. O conceito é desenvolvido com mais fôlego por Burton no ensaio final do décimo volume das Mil e Uma Noites, publicado em 1886, intitulado de forma pouquíssimo sutil de “Pederastia”.
burton-photo-sz.jpgFoto mostra cicatriz que Burton ganhou quando teve o rosto atravessado por uma lança somali Preocupada com a reputação do marido, Isabel insistiu em um funeral católico e queimou a maior parte de sua produção não publicada que considerou pornográfica, inclusive uma nova tradução do Jardim Perfumado em que ele havia incluído um novo capitulo sobre “o amor entre iguais”. Em termos religiosos, tudo indica que Burton se inclinava ao agnosticismo, a despeito de seu forte misticismo. Usuário de ópio e haxixe e radicalmente identificado com os costumes do Oriente, conta-se que quando trabalhou para a Companhia das Índias Orientais foi iniciado em uma seita brâmane altamente esotérica – sendo tratado por seus pares como membro de uma casta superior. Posteriormente teria aderido ao segmento místico do islamismo tornando-se adepto do sufismo (diz-se também que um de seus disfarces prediletos era o de dervixe). O poema místico sufi Kasidah, que Burton alegou ser da autoria de Haji Abdu El-Yezdi, é reconhecido como obra do próprio. Abaixo um pequeno trecho que traduzi (recriei) do inglês.
Onde está sua alma, besta selvagem
Que foi desviada das florestas primevas?
Que forma tem, que local habita, que papel desempenha no plano da natureza?
Esta alma [aqui está] para decifrar um mistério
Quem deseja a vã dualidade?
Não serei eu suficiente a mim mesmo?
Que tipo de coisa necessita de um eu no interior do próprio eu?
Em paralelo a sua vida fora dos padrões Burton foi membro da Royal Geographic Society, nomeado cônsul britânico na ilha de Fernando Po, Santos, Damasco e, por fim, em Trieste, e foi declarado Cavaleiro pela Rainha Vitória em 1886. Mas o episódio que contribuiu de forma definitiva para sua fama foi a expedição (na realidade duas expedições) em busca da nascente do Nilo Branco juntamente com o militar e explorador John Speke.
Depois de meses de aventuras dignas de um Indiana Jones, ele finalmente “descobriu” o Lago Tanganica, acreditando ter chegado ao fim de sua busca. Doentes e cansados, Burton e Speke decidiram então dividir a expedição e o último rumou para o Norte onde acabou por “encontrar” o Lago Vitória, a verdadeira nascente. O retorno de Speke a Londres na surdina antes de Burton para assumir os louros da descoberta e os desentendimentos entre eles deram origem a uma querela que culminou na morte acidental de Speke (que foi considerada suicídio). A história da expedição e da disputa na Royal Society é contada no filme de Bob Rafelson As Montanhas da Lua.



VÍDEO
Recursos

Sites com informações e obras de Burton (em inglês)
http://www.burtoniana.org/index.html (site excepcional com fac-símiles de toda a obra de Burton, muitos de edições prínceps)


© obvious: http://lounge.obviousmag.org/ordem_no_ruido/2013/04/burton-o-homem-das-mil-faces-e-uma-face.html#ixzz4OUmTRR7F 
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www.prof2000.pt
29
Out16

CURIOSIDADES SOBRE OS SAMURAIS

António Garrochinho
Se você acredita que os samurais eram, na sua maioria, homens altos que lutavam apenas usando espadas e abriam mão de prazeres sexuais em nome do dever, vai se surpreender com algumas evidências históricas a respeito desses famosos guerreiros do Japão.

10. Existiam “samurais” mulheres



Na classe guerreira da qual vieram os samurais, havia mulheres que também eram treinadas em artes marciais e em estratégias de guerra – as onna-bugeishas. Elas participavam de batalhas ao lado de homens, e geralmente lutavam usando naginatas (lanças com uma lâmina curvada na ponta).
Embora textos históricos contenham poucas referências às onna-bugeishas, é possível que elas tenham sido mais numerosas do que se imagina: análises feitas no local onde ocorreu a batalha de Senbon Matsubaru (1580) mostraram que, de 105 corpos encontrados, 35 eram de mulheres, um resultado similar aos de outros estudos.

9. Suas armaduras protegiam sem comprometer a mobilidade



Placas de couro ou metal cobriam o corpo do guerreiro e, ao mesmo tempo, preservavam sua liberdade de movimento. O capacete típico (que serviu de inspiração para o de Darth Vader) garantia que o pescoço estivesse devidamente protegido contra flechas e ataques de espada vindos de vários ângulos. A máscara, que podia ter uma aparência demoníaca, servia não apenas para proteger o rosto, mas também para assustar os inimigos.

8. A homossexualidade era aceite (e até mesmo incentivada) entre eles



Contrariando a imagem “machões” (ou mesmo de “guerreiros que não ligavam para sexo”) criada por livros, filmes e desenhos, os samurais tinham a “mente aberta” no que dizia respeito a homossexualidade (da mesma forma que soldados espartanos), encorajada entre guerreiros experientes e jovens em treinamento (prática conhecida como wakashudo, ou “o caminho da mocidade”).

7. Existiram samurais estrangeiros




Pelo menos quatro homens do ocidente se tornaram samurais: os aventureiros William Adams e Jan Joosten van Lodensteijn, o oficial da Marinha Eugene Collache e o comerciante de armas Edward Schenell.
Curiosamente, os dois homens que serviram de inspiração para o protagonista de O Último Samurai (Frederick Townsend Ward e Jules Brunet), um ocidental que se tornou guerreiro, não chegaram a receber essa honra.

6. Eles eram muitos




Quando estavam em seu auge, os samurais correspondiam a cerca de 10% da população do país, e, ao longo da história, eles foram tão numerosos que, supostamente, cada cidadão japonês tem pelo menos um pouco de “sangue samurai”.

5. Suas roupas eram elegantes, mas práticas



Da mesma forma que suas armaduras, as vestes de um samurai deviam impor respeito e ao mesmo tempo facilitar combates. As calças (hakamas) largas davam mobilidade e evitavam que o oponente visse a posição das pernas do guerreiro. A veste (kimono) era normalmente feita de seda, um tecido leve e maleável.

4. Eles carregavam diversos tipos de armas




Embora a espada fosse um dos elementos mais característicos dos samurais, eles também podiam usar arcos, lanças e, depois do desenvolvimento da pólvora, até mesmo rifles, dependendo da necessidade.

3. Eles estudavam diversas artes



Seguindo o código do Bushido (“caminho do guerreiro”), a maioria dos samurais estudava temas que não tinham relação direta com o combate, como caligrafia, matemática, literatura, poesia, pintura e arranjo de flores.

2. Muitos eram “baixinhos”





Diversos registros históricos apontam que os samurais do século 16 tinham, em média, entre 1,60m e 1,65m de altura, enquanto cavaleiros europeus tinham estatura média de 1,80m a 1,96m. Além disso, há indícios de que muitos descendiam do grupo étnico ainu, que tinha mais pelos no corpo e pele mais clara do que a maioria da população japonesa.

1. O ritual de suicídio podia durar horas



Para um samurai, o suicídio poderia ser a única maneira de recuperar a própria honra. Esse ritual, chamado seppuku ou hara-kiri, tinha uma versão “informal” (em que o guerreiro cortava a própria barriga com a espada e era decapitado por um companheiro ou amigo, para diminuir o sofrimento) e uma versão “formal” (em que o guerreiro se vestia com roupas brancas, comia uma última refeição e escrevia um poema antes de se matar). 
hypescience.com

29
Out16

QUATRO AVENTUREIROS DESTEMIDOS

António Garrochinho



A história de pessoas corajosas que, mesmo contra todas as probabilidades, resolveram se lançar em aventuras perigosas e, sem pestanejar, saíram para desbravar os limites do mundo? Nesse caso, você vai gostar de conhecer um pouco mais sobre os quatro personagens que reunimos a seguir — selecionados a partir de uma interessante lista publicada pelo pessoal do site ListVerse. Confira:

1 – Alexandra David-Néel

Esta incrível francesa foi, além de uma corajosa exploradora, jornalista, cantora de ópera, budista, escritora, anarquista e orientalista. Alexandra iniciou suas viagens cedo e, aos 18 anos de idade — isso no final do século 19 — já havia visitado sozinha vários países europeus, o que era extremamente atípico para a época. A aventureira até tentou se casar e levar uma vida tranquila, mas em 1911, aos 42 anos, ela abandonou o marido e se mandou para a Ásia.
Alexandra foi para Siquim, na divisa da Índia com o Nepal, e lá aprendeu o idioma nepalês. Durante sua estada, ela adotou um jovem monge chamado Aphur Yongden e se tornou a primeira pessoa europeia a conhecer o Dalai Lama. Entretanto, o maior feito de Alexandra foi ter visitado a cidade Lhasa, cujo acesso era proibido a estrangeiros e, principalmente, a mulheres. Aliás, essa intrusão resultou em sua expulsão de Siquim
Da Índia, Alexandra foi com Yongden até o Japão, mas, decidida a voltar para o Nepal, resolveu entrar no país disfarçada de peregrina budista. Para isso, a francesa teve que escurecer a pele para poder se passar por uma mulher tibetana. O truque deu certo, e Alexandra passou dois meses em Lhasa antes de voltar para a Europa e começar a escrever seus vários livros sobre suas aventuras pelo mundo.

2 – Tenzing Norgay

A dupla da foto acima, formada por Edmund Hillary e Tenzing Norgay, foi a primeira a alcançar o topo do Everest, isso em maio de 1953. No entanto, como Norgay era apenas um guia sherpa, quem ficou mais famoso pelo feito foi o neozelandês Hillary, embora isso não tenha impedido que o nepalês se tornasse uma celebridade em seu país e na Índia.
Mas, voltando a Norgay, o guia já havia tentado atingir o cume do Everest outras seis vezes, portanto, já tinha bastante experiência quando saiu com Hillary para a expedição. Na verdade, a equipe era liderada por um alpinista chamado John Hunt que, originalmente, enviou outra dupla — formada por Tom Bourdillon e Charles Evans — para a primeira tentativa de chegar ao topo do monte.
Contudo, a 90 metros verticais do cume, os alpinistas ficaram sem oxigênio e tiveram que voltar para a base, abrindo caminho para Hillary e Norgay. O neozelandês insistiu que o nepalês fosse seu parceiro de escalada, já que, em uma etapa anterior da expedição, durante um acidente no qual Hillary escorregou e caiu por uma fenda, por pouco o guia conseguiu salvar sua vida.

3 – Fridtjof Nansen

Nansen foi um explorador norueguês responsável por vários feitos, como liderar uma equipe através de uma travessia pelo interior da Groelândia e fazer uma expedição pelo Polo Norte. Entretanto, o que tornou Nansen famoso foi a forma como ele organizou suas viagens. Para a jornada através da Groelândia, o norueguês resolveu reunir uma equipe menor e desenvolver equipamentos novos e mais leves para dispensar o uso de animais ou máquinas de transporte.
Além disso, em vez de iniciar a viagem a partir do oeste para o leste — que era o habitual, pois o oeste era habitado e, portanto, as expedições tinham para onde voltar em caso de problemas —, Nansen partiu no sentido oposto, o que não deixava outra opção além de seguir sempre adiante. Apesar de ser considerada por muitos como uma expedição suicida, o norueguês e sua equipe completou a travessia em dois meses.
E essa não foi a expedição mais maluca de Nansem! Quando o norueguês resolveu ir ao Polo Norte, ele também optou por fazer uma viagem pouco convencional, tirando proveito das correntes oceânicas do Ártico. O explorador decidiu deixar que sua embarcação ficasse congelada em um bloco de gelo e, então, se deslocasse naturalmente em direção ao polo. Nansen só voltou da expedição três anos mais tarde, depois de ter sido dado como morto.

4 – Douglas Mawson

Considerado como um dos principais personagens da Idade Heroica da Exploração da Antártida, o geólogo australiano Douglas Mawson fez parte da primeira expedição já organizada para chegar ao Polo Sul. O aventureiro foi nomeado líder de sua equipe — a Expedição Antártica Australasiática — em 1911, composta por outros dois homens, o oficial britânico Belgrave Ninnis e o célebre esquiador suíço Xavier Mertz.
O objetivo do time era o de explorar a costa da Antártida entre o Cabo Adare e o Monte Gauss, no entanto, apenas 35 dias após o início da viagem Ninnis caiu em uma fenda levando a maior parte da comida e dos cachorros com ele. Mawson e Mertz foram deixados com alimentos suficientes para apenas 10 dias, e ainda tinham pelo menos 35 dias de viagem até a base mais próxima de onde se encontravam.
Diante desse panorama, os dois foram forçados a se alimentar com a carne dos cães que restaram e empreender o caminho de volta, mas Mertz acabou perecendo, deixando Mawson sozinho. O australiano tinha certeza de que não sobreviveria à viagem e, então, se dedicou a tomar notas científicas pelo caminho.
Mawson continuou adiante e inclusive sobreviveu à queda em uma fenda — mais tarde batizada de Glaciar Mertz. Duas semanas depois do acidente, o australiano encontrou provisões deixadas por outra expedição, que o mantiveram vivo até ele chegar à base, o que aconteceu três meses mais tarde. 

 www.megacurioso.com.br
29
Out16

INTERVENÇÃO DE JERÓNIMO DE SOUSA, SECRETÁRIO-GERAL, SESSÃO PÚBLICA «O PCP E A SITUAÇÃO NACIONAL» - "Quanto mais força o PCP tiver, em melhores condições estaremos para avançar no caminho da justiça social, da produção, do emprego, da sob

António Garrochinho


Na nova situação política nacional decorrente das eleições legislativas temos dado uma particular atenção e prioridade no nosso trabalho e intervenção política à luta pela defesa, reposição, conquista e reconquista de direitos dos trabalhadores e do nosso povo que haviam sido injustamente extorquidos nestes últimos anos de PEC e de Pacto de Agressão, e por uma governação do PSD/CDS apostada em conduzir o País e os portugueses ao empobrecimento.
Era esse um dos primeiros compromissos que assumimos com os trabalhadores e o povo e tudo temos feito para que se concretize, sempre animados pelo desejo e possibilidade de dar expressão à profunda aspiração do povo português a uma vida melhor.
Temo-lo feito conscientes das limitações e condicionamentos que a nova realidade política transporta - o menor dos quais não é o facto de estarmos perante um governo do PS que resiste a libertar-se das imposições europeias, do Euro e do domínio do capital monopolista e de constrangimentos que determinam em grande medida a natureza das suas opções políticas -, mas mesmo assim, não desperdiçando nenhuma oportunidade para ver repostas mais justiça e dignidade nas condições de trabalho e de vida dos trabalhadores e do nosso povo.
Tem sido um combate de trincheira a trincheira, sempre avançando, conquistando posição a posição e sob o fogo cerrado da sempre presente ameaça externa da União Europeia e do seu directório comandado pela Alemanha, do BCE e FMI e de outros representantes do grande capital transnacional, mas também interna, do grande capital nacional aos partidos derrotados em 4 de Outubro, todos a agir em estreita sintonia para travar toda e qualquer medida que sirva os interesses do povo e do País.
Ameaças bem visíveis em todos estes meses, anunciando catástrofes eminentes, novos resgates, sanções e punições, condenando a reposição de rendimentos e direitos e apresentando sempre novas exigências que significariam novos sacrifícios para o nosso povo e mobilizando todo o seu poderio e todo arsenal intimidatório para fazer valer as suas exigências e submeter o País aos seus ditames.
É na linha da frente deste combate pela reposição de rendimentos e direitos que o PCP tem estado e que permitiu, com a luta dos trabalhadores e do povo, dar passos na reposição dos salários e das 35 horas de horário de trabalho na administração pública, a reposição dos feriados roubados, o aumento do salário mínimo nacional, o aumento do abono de família e do complemento solidário para idosos, a redução das taxas moderadoras, o apoio extraordinário a trabalhadores desempregados, a redução do IVA da restauração, entre outros.
Passos também na abertura do caminho a novas conquistas, como é o caso dos manuais escolares gratuitos para os alunos do 1º. Ciclo do ensino básico, agindo com iniciativa legislativa própria, com propostas concretas no âmbito do debate e consideração comum no âmbito dos Orçamentos do Estado, dando expressão institucional à luta dos trabalhadores e do povo pela consagração das suas justas reivindicações e aspirações.
Um combate travado no plano político, tirando partido dessa alteração positiva na composição da Assembleia da República, que resultou na existência de uma relação de forças em que PSD e CDS-PP estão em minoria, e em que, ao mesmo tempo, os grupos parlamentares do PCP e do PEV condicionam decisões, e são determinantes e indispensáveis à reposição e conquista de direitos e rendimentos.
Sim, alguém dúvida que se houvesse uma qualquer maioria absoluta de partidos que têm protagonizado a concretização da política de direita em Portugal o rumo da reposição de rendimentos e direitos, mesmo limitado e insatisfatório como aquele que ainda temos, seria possível? Não duvidem, não seria!
Como não seria possível sem a iniciativa, o peso, influência e papel deste Partido Comunista Português.
Desde logo sem aquela iniciativa que ao cair do pano eleitoral, em 4 de Outubro de 2015, apontava já o caminho que iria permitir encontrar uma solução política que, mesmo limitada nos seus objectivos, dava expressão à primeira exigência da vigorosa e prolongada luta travada pelos trabalhadores e amplas massas populares, de afastamento de um governo que estava a condenar o País ao retrocesso económico e à regressão social e com tal solução abrir as portas à criação de condições para resolver problemas prementes dos trabalhadores, do povo e do País.
Mas igualmente sem esse abundante acervo de intervenção, acção e proposta a favor do povo e do País deste Partido necessário e indispensável na solução dos problemas nacionais. Deste Partido que se impõe reforçar e dar mais força não só para que o caminho que está encetado de inversão do processo de empobrecimento e exploração dos trabalhadores e das massas populares vá mais longe e siga o seu rumo de forma mais decidida, mas para que a grande batalha pelo emprego, pela produção com mais crescimento económico, pelos direitos laborais dos trabalhadores e pelos direitos sociais de todo o povo à saúde, à educação, à segurança social, à cultura e pela nossa soberania, avance com êxito e de forma mais determinada.
Essa batalha em que estamos empenhados e que não abdicamos de travar para a elevar a outro patamar de eficácia concretizadora para a solução dos problemas de fundo do País e que se expressa nesta nossa campanha nacional em curso, sob a consigna “Emprego, Direitos, Produção, Soberania – uma política patriótica e de esquerda – Mais força ao PCP” que pretende não só chamar a atenção do País para a necessidade e possibilidade de ir mais longe na resolução dos nossos principais problemas, mas igualmente mostrar que há uma política e soluções para esses mesmos problemas e para promover o desenvolvimento nacional.
Estes meses que nos separam da demissão do governo do PSD/CDS, provaram que é possível resistir e avançar, tal como revelam quanto certa foi a nossa decisão que permitiu abrir uma nova fase da vida política nacional, embora toda a evolução mostre também quanto caminho é necessário ainda fazer para resolver problemas concretos e que são da mais elementar justiça satisfazer e, particularmente e com muita evidência, quanta luta é preciso travar para romper com os bloqueios, resistências, constrangimentos que são um entrave à solução dos grandes problemas nacionais.
Tudo isto é evidente no debate que estamos a travar à volta da proposta do Orçamento do Estado, apresentado pelo governo do PS, para o próximo ano.
Uma proposta de Orçamento com avanços e medidas positivas, mas também com insuficiências e limitações.
Medidas positivas quando confirma e consolida avanços presentes no Orçamento de 2016, tais como a reposição dos salários na Administração Pública, a redução do IVA da restauração, o apoio aos desempregados de longa duração e a reposição dos complementos de reforma. Quando acrescenta novas medidas com origem na iniciativa ou com contribuição do PCP, designadamente, a do alargamento da gratuitidade dos manuais escolares, agora a cerca de 370.000 mil crianças do ensino básico; o reforço da Acção Social Escolar; o descongelamento do Indexante dos Apoios Sociais que se traduzirá no aumento de várias prestações sociais; o apoio aos desempregados de longa duração e melhoramentos quanto aos parâmetros do regime contributivo dos trabalhadores a recibos verdes.
Passos igualmente positivos quanto a proposta apresentada acolhe medidas de apoio e estímulo aos pequenos e médios empresários, na perspectiva de redução de custos da energia, no alívio da tributação sobre as pessoas com deficiência e no reforço da verba para o apoio às Artes.
Ainda que de forma insuficiente foi possível, com a intervenção decisiva do PCP, abrir caminho para dar respostas a questões dos trabalhadores das empresas do Sector Empresarial do Estado, designadamente com a reposição dos instrumentos de contratação colectiva referentes ao subsídio de refeição, ao trabalho suplementar e ao trabalho nocturno que é necessário alargar às restantes matérias de modo a restabelecer o direito à contratação colectiva consagrado na Constituição. Tal como são insuficientes os passos dados no sentido da reversão de restrições impostas a direitos e remunerações dos trabalhadores da Administração Pública.
Regista-se a inscrição da possibilidade da consolidação da mobilidade inter-carreiras dos trabalhadores da Administração Pública e a reposição do direito ao pagamento de metade do subsídio de Natal na altura devida (mantendo-se metade em pagamento por duodécimos) consagrando-se a reposição do seu pagamento integral e único em 2018 e o descongelamento do subsídio de refeição.
Matéria de inegável importância e valor é a do aumento das pensões e reformas. Na sequência de uma intervenção contínua e empenhada do PCP com vista à valorização real das pensões e reformas e das carreiras contributivas, o Orçamento de Estado estabelece um aumento das pensões de 98% dos pensionistas. Destes, cerca de 1 milhão e 500 mil terão um aumento até 10 euros e os demais verão as suas pensões descongeladas nos termos da lei.
Ainda no campo das pensões, é ainda de destacar o alargamento do primeiro escalão da actualização até aos 844,30 euros.
Este registo de avaliação dos aspectos positivos não ilude o facto da Proposta de Orçamento do Estado ser um orçamento da responsabilidade do governo do PS, vinculado ao seu Programa.
O que por si só explica limitações e insuficiências inseparáveis das opções e constrangimentos que impedem o Governo de ir mais longe e que põe em evidência a necessidade de ruptura com a política de direita.
Constrangimentos bem evidenciados quer no plano fiscal, onde prevalece a resistência da adequada tributação sobre os lucros e dividendos do grande capital e da especulação, quer na adopção de metas orçamentais associadas aos ditames e exigências da União Europeia e dos seus instrumentos de dominação económica e orçamental.
União Europeia que, nesta fase de preparação do Orçamento de 2017, já havia deixado pendente o cutelo da sanção do corte e suspensão dos fundos comunitários com o objectivo claro de conter e inviabilizar propostas e medidas favoráveis à reposição de direitos e rendimentos, vem esta semana ampliar o alarido desestabilizador, ora dramatizando, ora desdramatizando, mas deixando no ar a ameaça da devolução do Orçamento com o argumento de que Portugal não cumpre a recomendação europeia de redução do “défice estrutural”.
Esse conceito ardiloso, construído na base de projecções económicas e de hipotéticos “ses” e fabricado no caldeirão do economês bruxelense, para impor a economia do pensamento único e da solução única – a solução das privatizações, dos sistemáticos cortes nos salários, nos direitos laborais e sociais e no investimento – mas também para mandar areia para os olhos do povo e manipular os dados sobre a real situação de cada País em função dos interesses políticos do directório das grandes potências.
É com base nessa maquinação que dizem que há um desvio de cerca de 900 milhões que pode exigir novas medidas. Não sabemos se é por simples coincidência que o número avançado é o mesmo que soma o rol de medidas ditas de austeridade que o FMI apresentou aqui há mês e meio/ dois meses.
Medidas dirigidas contra os salários, pensões, prestações sociais, redução da despesa na saúde, nos direitos dos trabalhadores – novas medidas de exploração e empobrecimento.
Não bastando aí temos também o senhor ministro das finanças alemão a entrar outra vez em cena, tratando Portugal como se fosse uma colónia alemã com advertências acerca do caminho que o País está a percorrer, entre elogios ao anterior governo do PSD/CDS e à política que afundou o País e a insinuar riscos de novos resgastes!
Toda esta gritaria do senhor Schäuble tem dois objectivos: levar ainda mais longe o processo de condicionamento do rumo do País num sentido contrário aos interesses nacionais e do povo português e dar uma mão aos seus correligionários do PSD e CDS no PPE na esperança de ver retomado a todo o vapor o caminho da política de exploração e empobrecimento – a única que aceitam!
Ao nível desta inaceitável intromissão nos assuntos portugueses, está o escandaloso exultar de PSD e CDS perante as insinuações e os ultimatos de Bruxelas e de Berlim, mas sobretudo essa indecorosa e repentina operação de auto-transmutação partidária em que se envolveram a seguir à apresentação da proposta de Orçamento.
Eles que eram o governo do tira, tira, corta, corta nas condições de vida do povo – salários, reformas, direitos, serviços púbicos essenciais às populações e no investimento. Eles que eram o governo do carrega e carrega sempre os mesmos com impostos – os trabalhadores e povo – protagonizando o maior aumento de impostos sobre o trabalho de que há memória, querem apresentar-se agora aos olhos dos portugueses como os partidos anti-austeridade e como os grandes paladinos do investimento, da defesa dos serviços públicos e, pasme-se, dos reformados, com o CDS com uma imensa hipocrisia a arrogar-se, outra vez, como o partido dos pensionistas!
Ninguém os bate nas artes da encenação e da hipocrisia!
Mas verdadeiramente digno de registo é toda a pressão e chantagem externa da União Europeia e de Berlim, que revela o carácter crescentemente inconciliável entre a submissão a imposições externas e uma política capaz de dar resposta sólida e coerente aos problemas nacionais.
Como o PCP tem sublinhado a questão que está colocada na vida política portuguesa e, particularmente, neste Orçamento é a da escolha entre enfrentar esses constrangimentos, pressões e chantagens ou não poder responder a problemas e aspirações do povo.
Apresentada que está a proposta do Orçamento, o PCP bater-se-á para que, em sede do debate na especialidade, prossiga o exame comum com vista a anular ou limitar os seus aspectos negativos e ir mais longe na recuperação, devolução e conquista de direitos e remunerações.
É nesse sentido que vamos trabalhar para que um conjunto de matérias que, apesar de não ter sido possível concretizar já na proposta de Orçamento, sejam consideradas no debate de especialidade, nomeadamente reafirmaremos, entre outras, a nossa proposta inicial de aumento extraordinário das reformas e pensões não inferior a 10 euros para toda a gente!
Em todo este processo seguiremos o caminho de honrar o nosso compromisso com os trabalhadores e o povo na defesa dos seus interesses e das suas justas aspirações a uma vida melhor.
Fazemo-lo conscientes também que a vida e a solução dos problemas dos portugueses e do País, não se confinam, apesar da sua efectiva importância, a um Orçamento, nem tão pouco a nossa acção e intervenção se esgota na sua elaboração.
Nos próximos meses, no quadro da sua acção política, o PCP continuará a bater-se pelos objectivos que considera necessários e indispensáveis para o País, nomeadamente, levantando bem alto as bandeiras do combate contra a precariedade, pela revogação das normas gravosas da legislação laboral, pela devolução de direitos dos trabalhadores da Administração Pública, pelo aumento dos salários, designadamente do salário mínimo nacional para 600€ a partir do início do próximo ano.
A bandeira da defesa e melhoramento do Serviço Nacional de Saúde, e por mais e melhor Segurança Social!
Contra a injustiça fiscal, combatendo os privilégios dos grupos económicos e pelo alívio dos impostos sobre os trabalhadores, o povo, as micro, pequenas e médias empresas.
Continuaremos o combate em defesa da produção nacional, por políticas que defendam a agricultura, as pescas, a indústria e os outros sectores produtivos.
Estamos aqui na Figueira da Foz e não podemos deixar de referenciar o que se passa no sector produtivo das Pescas.
Desde 19 de Outubro que se concretizou a paragem da pesca da sardinha por esgotamento da quota atribuída para 2016.
Tal significa que a frota da pesca do cerco, segmento importante das pescas portuguesas que ainda resistiu, depois do desbaste imposto pela política de direita de sucessivos governos, sob a tutela da Política Comum de Pescas da UE, enfrenta um sério risco de sobrevivência!
A frota do cerco não é viável a pescar 5 meses num ano, como acontece neste ano de 2016!
Como podem os seus pescadores e armadores sobreviver nestas condições? Os seus pescadores vêem agravada a situação com a falta de compensação salarial adequada durante as paragens e a não efectivação dos descontos para a Segurança Social, pondo em causa os seus direitos e o valor de futura reforma!
E os sinais da intenção de afundamento total das pescas reforçaram-se com a notícia da proposta da Comissão Europeia de uma redução generalizada das capturas de peixes de águas profundas para 2017 e 2018, com cortes que chegam aos 20% para peixe-espada preto, goraz e abrótea e agora com a proibição da pesca do tamboril.
No PCP, nós, não somos indiferentes ou insensíveis à sustentabilidade dos recursos marinhos, mas temos sérias dúvidas da fiabilidade dos dados recolhidos noutros países e das fórmulas que vão sendo usadas na União Europeia para nos impor quotas que acabarão por liquidar completamente as pescas nacionais!
O PCP tem vindo a intervir junto do Governo, na resposta a estes problemas. Julgamos que é obrigatório, e julgamos que tal é sustentável com a preservação dos recursos, conseguir uma quota para a sardinha em 2017 que garanta a sustentabilidade da frota do cerco. E simultaneamente dar resposta aos problemas dos pescadores, garantindo-lhes, com urgência, compensações salariais pelos dias de paragem.
Como temos vindo a defender a imperativa urgência da intervenção na dragagem de barras e portos assoreados, bem como resposta à requalificação e obras de reparação de infraestruturas portuárias! Igualmente continuamos a defender, um subsídio à gasolina pois é o combustível usado em mais de 50% dos barcos da nossa frota de pesca. E o combustível é o seu principal custo operacional. São medidas absolutamente necessárias para a sobrevivência do sector.
Problemas que estão presentes no porto da Figueira da Foz, nomeadamente o do assoreamento do porto que coloca graves perigos à navegação, conforme podemos confirmar pelos acidentes que aconteceram nos últimos tempos e amplamente noticiados. Um porto que, inexplicavelmente, não foi considerado prioritário na obtenção de fundos comunitários e, por isso, limitado na sua capacidade de obtenção de investimento.
Mas se falássemos de outros sectores, como a agricultura, verificaríamos que os problemas permanecem e são grandes as preocupações de quem trabalha a terra. Do arroz ao leite o estrangulamento da produção é cada vez mais evidente. No arroz os preços pagos na colheita de 2016 pela indústria aos produtores são inferiores aos custos de produção da cultura e as grandes superfícies e os industriais continuam desde Novembro a fazer importações maciças de arroz agulha.
Ao contrário dos seus congéneres espanhol e francês, o Ministério da Agricultura português não cria mecanismos de fiscalização dos produtos importados, para protecção e escoamento da produção nacional.
Entretanto, as verbas para a finalização das Obras Hidroagrícolas do Baixo Mondego continuam bloqueadas. Há mais de 30 anos que os orizicultores e todos os agricultores do Baixo Mondego travam uma justíssima luta pela conclusão da obra hidroagrícola!
No leite as restrições e o baixo preço que é pago à produção por cada litro estão a asfixiar os produtores também aqui no distrito de Coimbra.
O preço pago entre os 26 e 28 cêntimos é manifestamente insuficiente para a sobrevivência das explorações ainda existentes.
É urgente a reposição das Quotas Leiteiras para controlar e repartir a produção de leite pelos Estados-Membros da União Europeia e pelos respectivos produtores, para que os produtores nacionais tenham condições para continuar a produzir.
No sector industrial, podíamos falar na situação dos Estaleiros Navais do Mondego, tão importante para o desenvolvimento desta região e do País. Lutou-se e conseguiu-se o regresso da construção naval à empresa, mas as regras do sector financeiro, a falta de aposta no financiamento da indústria permanecem como um bloqueio ao seu desenvolvimento.
Todos temos consciência que os problemas do País não desapareceram só porque foi derrotada a coligação PSD/CDS.
Por isso a luta continua a ser decisiva para assegurar a inversão do rumo de retrocesso económico e regressão social que o País conheceu nestes últimos anos.
Essa luta que tem no PCP um solidário apoio e incentivo, e o contributo e acção militante dos comunistas portugueses, lá onde é necessário defender os interesses dos trabalhadores e do nosso povo - nas empresas, nos locais de trabalho ou nas ruas e praças deste País.
Lutas como aquelas que têm vindo a ser travadas na Soporcel, mas também pelos trabalhadores do SEF, pelos enfermeiros, pelos reformados a convocatória do MURPI, e pelos trabalhadores da administração pública, que têm agora marcada uma acção nacional para o próximo dia 18 de Novembro e muitas e muitas outras que saudamos!
Mas se sabemos que os problemas não desaparecem apenas porque foi derrotada a coligação PSD/CDS, também sabemos que as soluções não chegarão aplicando as mesmas receitas e a mesma política que afundou o País e, particularmente, sem que o País se liberte dos fortes constrangimentos estruturais que o limitam na obtenção de recursos e nas opções de política económica, monetária e orçamental.
Constrangimentos resultantes da dívida pública e do seu serviço que atinge hoje mais de 8, 5 mil milhões de euros anuais, da imposição e dos mecanismos de submissão ao Euro, e dos constrangimentos que resultam do domínio dos grupos monopolistas sobre a vida nacional que o governo resiste em afrontar.
As dificuldades que o País enfrenta para elevar os ritmos de crescimento económico e de recuperação do emprego não estão desligadas do seu amarramento a esses constrangimentos que urge superar.
É o próprio crescimento e desenvolvimento do País que o exige! Nós sabemos que um País que não produz não tem futuro! A questão da necessidade de uma política para produzir, criar riqueza e emprego por todo o lado, por todo o País, em cada uma das suas regiões, nos diversos sectores assume uma grande e prioritária urgência!
Os níveis de crescimento fraco e irregular que temos vindo a conhecer não são suficientes para tirar o País do marasmo económico a que foi conduzido.
Mas não há crescimento sustentável sem investimento. E a verdade é que o investimento, público e privado, em relação ao PIB nacional, desceu muito nestes últimos anos, para níveis de há quatro ou cinco décadas atrás!
Este é um problema que se manterá se Portugal não se libertar do Euro, renegociar a dívida, ter o controlo público da banca, para arranjar, respectivamente9, a moeda, os recursos e os créditos que lhe financiem o crescimento económico e o desenvolvimento.
É uma ilusão pensar que é possível garantir níveis de crescimento económico e de emprego, inverter o rumo de empobrecimento do País deixando tudo como está, sujeitos às políticas, aos critérios, às metas, aos objectivos impostos a partir do exterior, nomeadamente da União Europeia e para servir interesses que não são os do nosso povo.
Aqueles que assim pensam não tardarão a ver-se enredados nas suas próprias contradições, que poderão ser insanáveis, à medida que o cerco aperta e as exigências crescem da parte do grande capital nacional e transnacional e das instituições que os servem, União Europeia, FMI, BCE e outras.
Portugal precisa de se livrar das chantagens dos “mercados”, do Pacto de Estabilidade e Crescimento e do Tratado Orçamental e sucedâneos do empobrecimento perpétuo.
Precisa de dotar-se dos meios e dos instrumentos para assegurar a nossa liberdade de criar e distribuir a riqueza, a nossa capacidade e a nossa liberdade de escolhermos o caminho que, enquanto povo, queremos seguir.
Por isso temos afirmado que é preciso, com coragem, fazer o caminho que nos conduza à libertação desses constrangimentos. Um caminho difícil, também por opção do próprio governo do PS, mas não impossível!
Conscientes de que há cada vez mais portugueses a compreenderem esta necessidade, o PCP não regateará esforços para trilhar esse caminho.
Um ano depois da vitória eleitoral de há um ano e analisando a evolução da situação política, se há lição a tirar desta nova fase da vida política nacional é de que quanto mais força o PCP tiver, quanto maior for a sua organização e influência, quanto mais homens e mulheres apoiarem o Partido e os seus aliados da CDU, em melhores condições estaremos não só para derrotar aqueles que querem o regresso à política do Pacto de Agressão, como para avançar no caminho da justiça social, da produção, do emprego, da soberania nacional que apontamos na política patriótica e de esquerda que propomos ao País e que o País tanto precisa!

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"Quanto mais força o PCP tiver, em melhores condições estaremos ...

www.pcp.pt/quanto-mais-forca-pcp-tiver-em-melhores-condicoes-estare..
29
Out16

JORNALIXO (2)

António Garrochinho
O QUE APRENDERAM NA UNIVERSIDADE ESSES IGNORANTES CAGAÇALOSOS QUE SE AUTO ROTULAM DE JORNALISTAS ?
ACABARAM COM O JORNALISMO DE INVESTIGAÇÃO EM PORTUGAL.
NÃO INTERESSA AO CAPITAL.
NÃO LHES CONVÉM MOSTRAR O QUE SE PASSA CÁ E NO MUNDO.
NÃO TÊM QUALIFICAÇÕES PARA EXERCÊ-LO.
NÃO TÊM CORAGEM.
PREFEREM GANHAR O DINHEIRO MENTINDO E DETURPANDO A MANDO DA VOZ DO DONO.
SALVO UMA OU DUAS EXCEPÇÕES SÓ RESTA A VENDIDA CABRITA QUE LAMBE O RABIOSQUE AOS LARANJAS E FAZ JORNALISMO ADEQUADO À CASA DOS SEGREDOS.
PAVONEIA-SE E PROMOVE O NEO LIBERALISMO FASCISTA VIVENDO NA ESTÚPIDA SERVIDÃO A TROCO DAS MIGALHAS QUE LHE PAGAM OS TUBARÕES DE QUEM É LACAIA.
É UMA VERGONHA O QUE SE PASSA NESTE PAÍS COMPARADO COM O QUE SE INVESTIGA NOUTROS PAÍSES ALGUNS DOS QUAIS OS MERDOSOS QUE HOJE ESCREVEM NOS JORNAIS (NOSSOS) (PASQUINS E AFINS) AINDA DENIGREM
António Garrochinho
29
Out16

As milícias xiitas iraquianas apoiadas pelo Irão entram na batalha de Mossul, depois terem iniciado este sábado uma ofensiva na frente oeste da cidade.

António Garrochinho

A coligação armada, denominada Forças de Mobilização Popular recebeu a luz verde de Bagdade para avançar sobre a cidade de Tal-Afar, controlada pelo grupo Estado Islâmico.

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Uma ofensiva xiita em território sunita que levanta questões sobre os abusos cometidos no passado pelos combatentes, mobilizados pelo presidente xiita do Iraque.
Haider al-Abadi garantiu, no entanto, que a operação das forças xiitas vai parar às portas de Mossul.
Na frente sul da batalha, o exército iraquiano anunciou esta tarde ter entrado na cidade de Al Shura, a 40Km de Mossul, quando esperam retomar o controlo da localidade nas próximas horas.
Em paralelo, as forças iraquianas, tentam igualmente “libertar” várias povoações em torno da localidade de Nemrud.
O avanço das forças iraquianas, que enfrentam vários ataques suicidas e atiradores furtivos do grupo Estado Islâmico, está a provocar um êxodo maciço da população.
Milhares de pessoas teriam fugido nas últimas horas dos combates em Shura e Nemrud.

VÍDEO

pt.euronews.com
29
Out16

TESTE - Vinte. 20 perguntas para lhe dificultar a vida

António Garrochinho



Não estamos com meias medidas: o objetivo é dificultar-lhe a vida. E por isso preparámos um teste com vinte perguntas mesmo complicadas. Daquelas rebuscadas para a sua memória. Vamos a isso?

É sem dó nem piedade. Bem sabemos que já estamos no fim da semana e que a capacidade do cérebro já começa a roçar a de uma porta. É normal: o cansaço não perdoa. Mas não nos importa: o objetivo deste teste é agitar as cabeças cansadas e fazê-las abrir as gavetas mais rebuscadas do seu conhecimento. E por isso é que elaborámos vinte perguntas difíceis (algumas delas mesmo muito difíceis) para si: primeiro, porque qualquer desafio é divertido; e depois porque o saber, seja em qualquer dia, hora ou lugar, nunca ocupa lugar.
Está preparado para o teste? Pode começar!

VÁ CARREGANDO COM O RATO

Está preparado para o teste? Pode começar!

observador.pt
29
Out16

Nuno Martins. “Ronaldo fazia cabritos sem parar”

António Garrochinho



Nuno Martins na frescura dos 82 anos de vida



Convidamos hoje para o "Questões de Forno Interno" o ilustre Nuno Martins. Quem? Uma vénia para o senhor que joga com Eusébio no Sporting de Lourenço Marques e treina Mourinho no Comércio e Indústria.



Calma, respirar fundo e cá vai disto. O contacto é-nos facultado por Tomé, um histórico do Sporting com vida estabelecida em Setúbal. Quando chega ao Bonfim para entrevistar Félix Mourinho há uns anos, o bom do Tomé fala-me de um senhor carismático, a viver em Setúbal e cem por cento da Académica. Segreda-me só isto: “vai ser a sua melhor entrevista de vida.” É o suficiente. Quer dizer, a dica e, já agora, o número de telefone. O contacto é imediato, a amizade também. Nuno Martins é um perfeito desconhecido para qualquer dono da bola e isso é um facto inaceitável. Porque é treinado por Cândido de Oliveira na Académica. Porque joga com Mário Wilson na Académica. Porque joga com Eusébio no Sporting Lourenço Marques. Porque treina Eusébio no Sporting Lourenço Marques. Porque aconselha Eusébio ao Sporting Clube de Portugal. Porque treina Mourinho no Comércio e Indústria. Porque vê cabritos do Ronaldo ao Vitória. Por tudo isso, e muito mais, Nuno Martins tem de fazer parte do futebol nacional. Sem demoras, aqui vamos.
Que comecem os jogos. Nome e idade, se faz favor?
Nuno Martins, 82 anos de idade.
Oitenta e dois?? Tem mais que eu. Mais que o dobro, quero dizer.
Eheheheh, é assim. Nasci a 8 junho 1934, em Coina.
Espectáculo. E jogou futebol onde?
Na Académica, ó meu amigo. Entre 1953 e 1957, sempre na 1.ª divisão.
Uyyyy, a Académica. Isso é uma boa escola.
Nem imagina, ó amigo Rui. Aquilo só visto. Era uma descontração, uma tranquilidade. Jogávamos, estudávamos e frequentávamos aquela bela cidade.
Estudavam?
Sim senhor, todos os jogadores estudavam. Quer dizer, quase todos. A esmagadora maioria.
O Nuno estudava o quê?
Geologia, na faculdade de ciências.
E acabou o curso?
Fiquei vacinado com a Académica e tão encantado com a vida em Coimbra que nem acabei o curso.
Isso acontece aos melhores, sabe?
Eheheheheh, comigo foi mesmo assim. Aquelas quatro épocas em Coimbra foram tão maravilhosas que nem acabei o curso. A vida que transpirava naquela cidade, ai ai. Nunca conheci um ambiente assim. Só em cafés, havia uma coleção deles belíssimos, onde dava gozo entrar e estar com qualquer um.
Cafés?
Sim, o café da montanha, o do largo da igreja ou o arcádia, mais conhecido como o café dos teóricos. E, claro, havia ainda as tascas na Baixa. Era uma delícia, a vida.
E o futebol?
Também, meu amigo. Grandes épocas, com o Cândido de Oliveira a treinador. Que homem, que senhor, que estratega. Ele era tudo e mais alguma coisa.
Xiiiiiii, Cândido de Oliveira é grande. Génio e figura. É mesmo assim como o pintam?
E mais ainda. Só lhe dou dois exemplos. Uma vez, o Jorge Humberto, lembra-se dele?
O tal que jogou no Inter do Herrera, ao lado do Luis Suárez?
Esse mesmo. Era veloz. Um belo dia, ele cai a meio de um jogo e não se levanta tanta era a dor. O primeiro a chegar é o massagista, o Guilherme. Chamávamos-lhe o Mão de Pilinhas, veja bem.
Então isso faz-se?
É para ver a balbúrdia daquele tempo, eheheheh. Não consigo parar de rir. Era o Mão de Pilinhas, porque o massagista do Benfica era o Mão de Pilão. Vai daí, toma lá esta alcunha. Pronto, vou parar de rir. O Mão de Pilinhas entra e vê que aquilo do Jorge Humberto é assim para o grave. O segundo a chegar é o Cândido de Oliveira. Com muita calma, sem alaridos nem nada, tira um lenço do bolso, mete na boca do Jorge Humberto e pede-lhe para aguentar. A lesão era ali na perna, quase quase junto ao joelho. O Cândido prepara-o para a dor e, de repente, dá uma guinada e puxa a perna para dentro. O lenço deve ter ficado rasgado, tal era o esgar de dor do Jorge Humberto. Só então é que o meteram na ambulância e levaram-no para o hospital. Quando chegou lá, o médico de serviço viu aquilo e perguntou ‘quem é que fez isto à perna do Jorge Humberto?. Foi o Cândido. ‘Não teria feito melhor.’ Era assim o Cândido.
O Cândido deixou marca. Quem ocupou o seu lugar, se é que me entende?
Ele mesmo disse, em voz alta: ‘o meu discípulo é o Fernando Vaz’. Uma vez, vim de Moçambique e aterrei aqui. O Fernando Vaz, então a treinar o Vitória, alegra-se por me ver e começa a contar as novidades. Às tantas, diz-me ‘tens de vir ao treino, tenho ali um jogador para te mostrar. Ele tem uma corrida, uns reflexos e um toque de bola. Vais ver, vais ver. Contratámo-lo ao Palmelense.’ Fui lá e vi-o. Sabe quem era?
Errrrrr.
Octávio Machado.
Disse duas histórias do Cândido, ainda falta uma.
Bem sei, bem sei, aqui vai ela. Esta é mais desportiva. É na época do Benfica do Otto Glória, que chegou, profissionalizou o clube e ainda o meteu a jogar no 4-2-4, a tática que então se usava no Brasil. Ora bem, o Cândido viu jogar o Benfica em Évora e pensou ‘também consigo jogar assim’. Na jornada seguinte, era o Académica-Benfica e o Cândido preparou-nos para o jogo com base no 4-2-4.
Quem jogava nessa altura?
Na baliza, Orlando Carvalho Ramin. Na defesa, eu à direita, Melo à esquerda, Corina e Carola no meio.
Corina e Carola, isso são desenhos animados?
Eheheheheh. O Corina é o Mário Wilson, o Carola é o Mário Torres.
Mário Wilson. O Nuno jogou com o Mário Wilson?
Ai sim, sim. Muito. E bem.
Como era ele?
Metia a bola onde queria desde a defesa. E metia-a de uma maneira muito própria. Repare: toda a gente sabe que se nos inclinarmos muito para trás, a bola sai pelo ar, totalmente desgovernada. O Mário Wilson, não. Jogava quase sempre inclinado e as bolas saíam-lhe rasas, perfeitas para os extremos.
E como pessoa?
Era um companheirão. Discutia problemas que não lembram ao diabo, sempre bem-disposto, muito educado, vivo, cheio de humor. Os irmãos também estavam em Coimbra: o Guilherme Oliveira jogava nas reservas da Académica e o Henrique era basquetebolista, também da Académica.
Voltemos ao 4-2-4 do Cândido de Oliveira. Ia passar para os dois do meio-campo.
Pois sim, era o Chico Abreu e o Gil. De vez em quando, o Malícia.
Na frente…
Duarte à direita, Bentes à esquerda, Chico André no meio, com o Pérides.
Conheço alguns nomes, poucos. Como era o Nuno?
Certinho, eheheheheh. Raramente me aventurava, só quando estávamos a perder e ia lá para a frente nos últimos minutos em lances de bola parada. Regra geral, sobretudo quando jogava à esquerda, fazia jogadas com o Bentes.
Como?
Cortava-lhe a bola e aquilo saía bem, ela a ganhar velocidade até à linha final. Aí, aparecia as fintas do Bentes. Era uma equipa bem boa, sabe. Jogávamos bem, para a frente, sem medos. Há três regras para jogar futebol bem: receção, controlo e passe. Nós encurtávamos a teoria, era só receção e passe. Fazia de nós uma equipa temida em qualquer campo.
Só para acabar este tema, qual é o resultado desse Académica-Benfica, em que as duas equipas jogaram em 4-2-4?
Ao intervalo, 0-0. Na segunda parte, marcámos pelo Duarte, 1-0.
É a sua melhor recordação?
Essa é um jogo inesquecível em Braga, na época 1955-56. A Académica arriscava a descida de divisão e o Braga apresentava uma equipa melhor que a nossa mas o trajeto de autocarro para o estádio foi decisivo. O treinador Cândido disse-nos que era o tudo ou nada e disse-nos para jogarmos homem a homem. Eu, como lateral-direito, apanhei com um argentino Garófalo pela frente. Um extremo fortíssimo no um para um, com atributos técnicos acima da média. Só não o acompanhei ao balneário, de resto.
E ganharam?
Sim senhor, 3-1. E sabe o que aconteceu depois?
Nem consigo imaginar.
O Cândido de Oliveira disse-nos que o prémio de jogo era umas camisolas de jogo com gola redonda, sabe? Naquela altura, era um luxo. Não se viam por aí. Eram todas em forma de v, sabe?
E isso foi o prémio de jogo?
Sim senhor. Eram outros tempos, está a ver?
Está bom de ver que sim. E mais recordações?
Uma vez, ganhámos 2-1 ao Benfica, no Campo Grande, com um golo do André a dois minutos do fim. Ainda hoje, guardo uma fotografia no final desse jogo com o Duarte, ainda equipados. Grande jogo, esse. Grande ambiente no estádio. E grande ambiente, o nosso, de camaradagem. Era fácil bater o pé aos mais fortes, quase natural. Naqueles anos todos em Coimbra, só não consegui ganhar nunca a uma equipa.
nuno martins,
Nuno Martins
Qual?
FC Porto.
Então?
Não se explica, é assim e pronto. Talvez por isso, lembro-me do seu onze: Pinho, Virgilio, Arcanjo e Carvalho; Pedroto e Monteiro da Costa; Carlos Duarte, Hernâni, Jaburu, Perdigão e Teixeira.
Uau, isso é memória RAM. Então, e depois da Académica?
Fui jogar para Moçambique. Fiquei encantado com aquela terra e quis ficar. De 1958 a 1964, fui jogador, capitão e treinador do Sporting de Lourenço Marques.
Ah, então foi assim que se cruzou com Eusébio?
Sim, vamos lá começar a conversa a sério [risos]. Num determinado dia, ou melhor noite. Naquela altura, os treinos eram das 19 horas até às 22, 22 e tal. Estava eu a trabalhar com os três guarda-redes com bolas medicinais quando me aparece um seccionista do Sporting, de seu nome Vigorosa, a dizer “Estão ali cinco rapazes que querem treinar e vir à experiência. Um deles, já o vi jogar e é muito bom, um miúdo com uma habilidade nata, um fora de série”. Àquela hora, não dava muito jeito mas eram miúdos e devemos sempre dar-lhes uma oportunidade. Ok, disse eu, que calcem umas sapatilhas e vamos observá-los. Aparece então um miúdo magrinho, de 16 anos, e espantou-me a sua voz de líder. Perguntei-lhe o porquê ter aparecido só àquela hora e ele responde-me: “Bem, fomos ali ao campo do Desportivo [conotado com o Benfica de Lisboa, devidamente simbolizado com a águia] e não nos deixaram entrar.”
Porquê?
O treinador de juniores do Desportivo era um senhor chamado Mário Romeu, funcionário da embaixada italiana em Lourenço Marques, e certamente já tinha acabado o treino. Ter-lhes-á dito “não, hoje já não há mais nada para ninguém.” E o Eusébio, juntamente com os seus quatro amigos, saiu do Desportivo e entrou pelo portão do Sporting, onde estava eu a treinar os guarda-redes.
E depois?
Eles, os cinco, treinaram comigo e com os três guarda-redes. Fizemos um campo improvisado e jogámos uma peladinha, onde percebi que o Eusébio tinha uma habilidade acima da média. Disse-lhe logo ‘tu ficas no Sporting, podes ser inscrito’ ao que ele respondeu imediatamente ‘inscrevo-me eu não, ou nos inscrevemos todos ou não se inscreve ninguém’. A tal firmeza na voz aos 16 anos. Isto é muito importante. Não é para todos. Eu então disse ao Vigorosa para os inscrever a todos.
Desculpa lá mas vou repetir-me: e depois?
Aos 17 anos, o Eusébio já era um jogador feito. Chamei-o ao meu gabinete e perguntei-lhe se queria mais uma época nos juniores ou se queria saltar já para as honras, que era como se chamavam os seniores. Ele respondeu-me na hora: ‘Quero ir para as Honras.’ Pronto, o resto é história.
Não, não. Conte lá algumas histórias do Eusébio.
Os primeiros jogos foram verdadeiramente empolgantes. Ele tocava na bola e levava tudo à frente. Era um fenómeno. Marcava golos, assistia os companheiros, fazia todo o tipo de diagonais.
Jogava a que posição?
Interior-esquerdo. Sempre. E sempre com o número 10. Tinha cá um pé esquerdo. Mais habilidoso e potente que o direito. Com o passar do tempo, habituou-se a jogar mais com o direito do que com o esquerdo e isso permitia-lhe fazer todas as diagonais possíveis e imaginárias. Lembro-me de uma dele.
Onde?
Numa viagem às Maurícias, pela seleção. Em Lourenço Marques, só havia pelados. E nas Maurícias, o clima é marítimo, pelo que a relva era húmida. O Eusébio calçou umas chuteiras com pitons rasos e fez jogos extraordinários, sem cair uma única vez. Os locais estavam verdadeiramente espantados porque alguns deles ainda tropeçavam, escorregavam, caíam. O Eusébio não. Parecia um bailarino. E marcava golos. Na estreia pelo Sporting, ganhámos 4-1 e ele marcou logo um ou dois. A partir daí, começou a ser conhecido. E a lenda foi crescendo, crescendo, crescendo…
É aí que aparece o Sporting e o Benfica?
Não, não. Antes disso, há o Belenenses. Lembro-me perfeitamente que o Belenenses fez uma digressão por Moçambique e jogou com a seleção dos naturais. Quando chegou a Portugal, o mestre Otto Glória, treinador do Belenenses [e seleccionador de Portugal no Mundial-66], foi questionado pelos jornalistas portugueses sobre Eusébio, porque já se falava dele. Mas Otto Glória respondeu que “não, como Eusébio havia lá muitos.” Sinceramente, não percebi.
Terá Eusébio jogado mal nesse dia com o Belenenses?
Sim, não terá sido o Eusébio de sempre mas dizer que há muitos como ele… Essas reticências do Otto Glória fizeram com que o Sporting não apostasse logo no rapaz. Aliás, eu próprio, como treinador do Sporting de Lourenço Marques, recebi dois telefonemas do Sr. Fernando da Costa, chefe de departamento do Sporting Clube de Portugal, a perguntar-me se o Eusébio era, de facto, aquilo que se dizia na imprensa. Eu respondi sempre que sim, que o rapaz não enganava ninguém, mas do lado de lá disseram-me que ele não ia para o Sporting.
É aí que aparece o Benfica?
Antes de responder a isso, vou dizer-lhe uma coisa: um certo dia, estava eu a preparar-me para sair de casa em direção ao Campo João da Silva Pereira para mais um treino no Sporting, quando o Eusébio bate-me à porta. Foi lá despedir-se de mim, que já não iria treinar nessa quinta-feira. Até me lembro da frase dele: ‘Eu vou para o Puto’, como era conhecido Portugal. Eu questionei-o: ‘Mas então já assinaste, já falaste com a Direção” e ele respondeu-me ‘já, já’. E estava correto. A Direção estava ao corrente de tudo e o Eusébio desapareceu de cena. Antes disso, pedi-lhe uns minutos, fui a casa e ofereci-lhe um casaco-blazer que tinha comprado na África do Sul. Ele agradeceu e adeus.
E a teoria do rapto?
O que eu sei é que o Eusébio pernoitou na casa de um senhor chamado Vasco Machado, juntamente com o Major Rodrigues de Carvalho, que mais tarde acabou por ser Brigadeiro e Presidente da Assembleia Geral do Benfica. Ora o que se passou? Conta-se que esse Major foi à estação central dos Correios, Telégrafos e Telefones de Lourenço Marques, ao lado do Café Scala, na parte baixa da cidade, e emitiu dois telegramas. Um para o Sporting Clube de Portugal, a dizer “Eusébio segue navio motor, Príncipe Perfeito”. E outro para o Benfica. “Rute, segue avião hoje”. O que aconteceu? Enquanto o Sporting fez contas de cabeça sobre a viagem de barco, que atracava em Chelas, o Benfica foi buscar o Eusébio à Portela naquela noite de dezembro 1960. Nesse ano, fomos campeões.
Fomos, quem?
O Sporting de Lourenço Marques. Eu a capitão, o Eusébio a número 10.
nuno martins,
Nuno Martins,
Voltou a ver o Eusébio?
Sim, muitas vezes. Por exemplo, em 1963, quando o Sporting de Lourenço Marques ganhou o campeonato distrital, provincial e a eliminatória com o campeão de Angola, que lhe garantiu o direito de jogar a Taça de Portugal. E quem foi o nosso adversário? O Sporting Clube de Portugal. Viemos a Lisboa e fizemos os dois jogos. Perdemos o primeiro por 3-1, a ganhar 1-0 ao intervalo. Ficámos hospedados no Hotel Suíço Atlântico, junto ao Elevador de Santa Justa. E o Eusébio foi lá ter lá connosco, almoçar. Quem lá estava era o fotógrafo sr. António Capela, do “Record”. Por graça, vestimos o Eusébio com a camisola 10 do Sporting de Lourenço Marques e tirou-se uma fotografia. Eu aí disse-lhe ‘estás metido numa encrenca, se essa fotografia sai…’ e o Eusébio, já jogador feito e consagrado no Benfica, pediu então ao Capela para que a fotografia não fosse publicada. Dito e feito. Acordo de cavalheiros. Na segunda mão, outra vez em Alvalade, perdemos 4-2, mas esteve 2-1 e 3-2.
Vejo aqui pelo seu currículo que voltou a Portugal para treinar algumas equipas: Sintrense (1978-81), Comércio e Indústria (1982-85 e 1987-88) e Santiago do Cacém (1989)
Tudo aqui nas redondezas.
Alguma história desses tempos?
Interessa-lhe saber se treinei o Mourinho?
Hein, a sério?
Pois é, o Mourinho. Esse mesmo. Que jogava em pelados e fazia carrinhos a torto e a direito, como se aquela bola dividida fosse a última da sua carreira. Foi sempre um jogador apaixonante, vibrante. E um amigo. Sabe o que se passou no Comércio e Indústria?
Nem ideia.
Houve ali uns problemas com a Direção, nomeadamente com o presidente, que desautorizou-me. Ora, não admito isso e chegámos a acordo para eu sair. Estávamos a meio da época, atenção. Nessa noite de desalento, o Mourinho mais uns quantos jogadores, três ou quatro, mas o Mourinho como porta-voz, foi à porta de minha casa e pediu desculpa pela atitude do presidente. Pediu-me que eu não ficasse com a ideia errada de meter os jogadores e o presidente no mesmo caso, digamos assim. Claro que não. Claro que nunca pensei isso. Uma coisa é o presidente, outra são os jogadores. E estes portaram-se sempre bem comigo. Até na hora da despedida, como se vê. Bela atitude do Mourinho. Às vezes, cruzo-me com ele aqui e falamos bastante, trocamos ideias. Somos amigos e guardo essa despedida com muita satisfação.
Falava do pelado do Comércio e Indústria. Aquilo devia doer.
Nem imagina, meu amigo. Um carrinho ali é coisa para sair pele, sangue e sei lá mais o quê. Um dos momentos mais marcantes é a inauguração do relvado e da iluminação do estádio do Comércio e Indústria. Foi lá o Benfica, com Mortimore e Toni. Empatámos 2-2.
Dois-dois, grande resultado!
Sim, foi um feito bem bom. Estava 2-1 e eu na galhofa com o Toni, outro homem feito na Académica. De repente, a dois ou três minutos do fim, viro-me para o banco e faço entrar um moço chamado Paulo Pedro Vasconcelos. Disse-lhe ‘vais arranjar maneira de empatar o jogo’. E não é que ele faz mesmo o 2-2 em cima dos 90′? Que alegria imensa.
Bem, já só me falta dizer que também conhece o Figo.
O Figo não, conheci-o já numa fase adulta
E o Ronaldo?
Sim, esse sim. Lembro-me muito bem.
Nãããããããã.
Colaborava com o Setubalense, um jornal de Setúbal, e fui ver um jogo de juniores entre o Vitória e o Sporting ao Brechão, ali em Sarilhos Pequenos. Fui com o Juca [jogador e depois treinador do Sporting, ainda hoje o mais jovem a sagrar-se campeão nacional, em 1962, com 33 anos], e vi esse miúdo fabuloso. Nesse dia, ele jogou a extremo-direito e fez coisas com a bola como há muito já não via. Há muito mesmo. Aquela finta de ultrapassar a bola com os pés por cima e ir buscá-la lá abaixo. O famoso cabrito. Ou lambreta, como se diz no Brasil. O Ronaldo fazia cabrito sem parar. E com a maior naturalidade, sem acusar esforço nem sequer de forma desengonçada. Era o Ronaldo, o Cristiano Ronaldo. Espetacular.

observador.pt
29
Out16

João Lobo Antunes: 11 reflexões sobre a vida, a doença e a morte

António Garrochinho

 Algumas das reflexões feitas por João Lobo Antunes sobre temas como a vida, a compaixão pelos outros, a doença que o afetou e a morte que o esperava.

"As pessoas sem memória são navegadores sem bússola"

João Lobo Antunes morreu esta quinta-feira aos 72 anos, depois de uma vida dedicada à medicina e em particular à neurocirurgia, mas também ao ensino, às questões ligadas à Ética para as Ciências da Vida, à filosofia, à intervenção pública e política e até à literatura. Reconhecido pelos pares, agraciado com várias distinções, não foi por acaso que Maria João Avillez, no Observador, o distinguiu como o “Príncipe do Renascimento“.
Habituado a encarar a fragilidade (dos outros, dos doentes) de frente, nunca deixou de refletir sobre a vida, a doença e a compaixão. No último período da sua vida, o médico viu-se na pele de paciente e a morte tornou-se um tema frequente das suas reflexões. O Observador recolheu 11 frases de João Lobo Antunes que materializam essa e outras discussões.

A vontade de viver “uns anos mais”

Quando olho para a minha vida, diria que o futuro sempre me aconteceu, e eu não dei por isso. Nunca tive uma meta (…) Portanto, quando dava por isso, o futuro já cá estava. De maneira que estou tranquilo. Queria ter uns anos mais, queria ter uns anos mais.”

O medo de perder a memória

No balanço entre as coisas que recordo e as que procuro esquecer ficam sobretudo aquelas em que me afastei de mim próprio, da minha razão de ser. Em que não fui fiel a mim próprio. Essas são irreprimíveis. Tive ocasião de ser eu próprio operário dessa transformação e de perceber como a doença trata a memória das pessoas. As pessoas sem memória são navegadores sem bússola. É das maldições piores que existem.”

Treinado para resolver problemas

Um primeiro-ministro inglês do princípio de século XX dizia que a democracia era o governo pelo diálogo, mas para que funcionasse era necessário que se calassem. O diálogo não pode perpetuar-se sempre, a certa altura é necessário chegar a conclusões. Pessoas como eu, que foram treinadas para resolver problemas, sabem que há uma altura em que é necessário levar as pessoas a fecharem conversas.”

A transformação pela doença

Há anos escrevi que não se pode dizer com os olhos aquilo que se nega com a palavra. Diria que foi a experiência da doença que me tornou mais sensível. Como se tivesse esticado a corda do violino e esta vibrasse ao menor toque, com maior intensidade e frequência. Por isso, mais do que uma mudança sofri uma evolução, que introduziu outra doçura na relação com as pessoas.”

Benevolente, mas não bondoso

A benevolência surge da capacidade de reconhecer nos outros os nossos defeitos. Da irmandade secreta entre as faltas que os outros cometem e as que cometemos. Mas tem limites. Há coisas com que já não sou assim tão tolerante. Nomeadamente, algumas falhas de caráter. Não que isto tenha mérito moral — não tem nenhum.”

Uma vida entre batalhas vencidas e perdidas

Tenho refletido muito sobre o que foi a minha vida e diria que se houve guerra foi vivida com leveza. Perdi muitas batalhas, como médico e cirurgião. Mas ganhei mais do que perdi. Devo dizer que sempre com uma estratégia cautelosa. Nunca me meti numa guerra que não achasse que tinha possibilidade de vencer. Ou seja, fui sempre pragmático, apesar dos meus devaneios literários ou filosóficos. E tive muitas quando voltei a Portugal.”

A doença como “implacável igualizador”

De facto, o meu hospital era um lugar para pessoas importantes, e o reconhecimento do estatuto de privilégio de cada um era um passo prévio e indispensável na relação que se estabelecia. Para o doente, isto era essencialmente um mecanismo de defesa, um grito de apelo adicional, a reclamação da atenção exclusiva, o que não surpreende, pois todos os doentes, sem excepção, se encontram no estado que alguém descreveu eloquentemente como de ‘wounded humanity’. Mas, no fundo, a doença é um implacável igualizador e ri‐se do berço e da fortuna”.
Obra Ouvir com outros olhos (Gradiva) – 2015

O balanço final

A doença convida ao exame da vida, provavelmente a única circunstância em que chegamos próximo da análise lúcida do caminho percorrido. Então regressam à cena os actores esquecidos da nossa biografia. Voltamos a viver os momentos em que subimos mais alto do que alguma vez aspirámos, ou descemos àquela profundidade em que a vergonha nos perdera. Ouvimos novamente as palavras que deveríamos ter contido ou então, pelo contrário, as que ficaram por dizer. Contabilizamos o balanço final e escrevemos, com um sorriso e um travo de amargura, o último currículo.”
Obra Ouvir com outros olhos (Gradiva) – 2015

A rejeição da comiseração piedosa

Prefiro a compaixão ontológica, de bicho para bicho, um sentimento cuja essencial nobreza tem uma raiz biológica que só agora se vai desvendando à comiseração piedosa, um sentimento mais barato. Esta é a minha maneira de ser doente.”
Obra Ouvir com outros olhos (Gradiva) – 2015

A traição do corpo e o refúgio na mitologia da adolescência

Por isso, quando o corpo me traiu, o meu refúgio foi adoptar a impassibilidade do coronel inglês de calças de caqui e pingalim, cuja imagem se gravara, indelével, quando ainda adolescente vi pela primeira vez David Niven na Ponte do Rio Kwai.
Obra Ouvir com outros olhos (Gradiva) – 2015

O futuro da medicina

Não sei o que nos espera, mas sei o que me preocupa: é que a medicina, empolgada pela ciência, seduzida pela tecnologia e atordoada pela burocracia, apague a sua face humana e ignore a individualidade única de cada pessoa que sofre, pois embora se inventem cada vez mais modos de tratar, não se descobriu ainda a forma de aliviar o sofrimento sem empatia ou compaixão.”
Obra Ouvir com outros olhos (Gradiva) – 2015
observador.pt
29
Out16

Funcionárias da Câmara de Olhão vão a tribunal acusadas de corrupção e peculato

António Garrochinho





O Ministério Público (MP) anunciou hoje que acusou duas funcionárias da Câmara de Olhão pelos crimes de corrupção passiva e pecultado de uso. As arguidas vão agora a julgamento por tribunal coletivo.
Segundo o MP, as duas arguidas, que exerciam funções na secção de fiscalização de obras da Câmara de Olhão, pediram a um dono de uma obra a quantia de 4000 euros para não elaborarem autos de contraordenação por situações ilegais que tinham detetado na edificação.
O inquérito foi dirigido pelo Ministério Público da 2.ª Secção de Faro do DIAP e a investigação foi levada a cabo pela Polícia Judiciária – Diretoria de Faro.

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29
Out16

Carta de demissão do presidente da Polis acusa ministro do Ambiente de causar «graves prejuízos ao erário público»

António Garrochinho


Sebastião Teixeira
A decisão do ministro do Ambiente de adiar, para 8 de Novembro, a posse administrativa de mais um lote de casas nos núcleos dos Hangares e do Farol Nascente, nas ilhas-barreira da Ria Formosa, está na base da demissão de Sebastião Teixeira e de João Alves, da presidência e de vogal da administração da Sociedade Polis Ria Formosa.
Sul Informação teve acesso à carta de demissão, com três páginas, enviada ontem, dia 26 de Outubro, ao ministro João de Matos Fernandes, e assinada em conjunto por Sebastião Teixeira, até então presidente do Conselho de Administração da Sociedade Polis, e por João Alves, vogal do Conselho de Administração, enquanto representante do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
A missiva faz referência a uma outra carta enviada ao Conselho de Administração da Polis Ria Formosa pelo titular da pasta do Ambiente, no dia anterior, 25 de outubro, dando conta da «determinação do adiamento da tomada de posse administrativa de construções localizadas na Ilha da Culatra – Hangares e Farol Nascente».
Os dois signatários começam por exprimir a sua «discordância» quanto a essa decisão do ministro Matos Fernandes, de, «mais uma vez», adiar a posse administrativa das construções ilegais, considerando que isso se traduz «não só numa violação do princípio de autonomia de gestão do órgão de administração desta Sociedade», mas também numa «desautorização do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelo atual (e anteriores) conselhos de administração», o qual, defendem, «sempre se pautou por critérios de estrita legalidade e defesa do interesse público».
Sebastião Braz Teixeira e João Manuel da Silva Alves consideram que não é «correta» a decisão do ministro de «neste momento, nas vésperas da tomada de posse administrativa, proceder à reanálise de situações, caso a caso, com base em critérios não previstos na lei».
Os signatários acrescentam que as situações que Matos Fernandes quer agora reanalisar «já foram todas escrutinadas, minuciosamente, em sede própria, não só na fase administrativa, como também nos Tribunais».


João Alves



Invocando o «acerto, transparência e legalidade» das decisões do Conselho de Administração do Polis Ria Formosa, na sua carta de demissão, Sebastião Teixeira e João Alves salientam que, «mesmo nas situações mais controvertidas e litigiosas, das providências cautelares intentadas relativas a 272 construções, 261 foram favoráveis a esta Sociedade, somente 3 foram desfavoráveis e 8 ainda se encontram pendentes».
Na sua carta, a que o Sul Informação teve acesso, os dois antigos responsáveis salientam que «na prática», a decisão do ministro do Ambiente «significa paralisar, ou mesmo inviabilizar, o processo de renaturalização legalmente cometido a esta Sociedade».
Bastante claros e duros nas suas palavras, os signatários sublinham que, ao parar tais ações, «estar-se-á a colocar em risco a sustentabilidade ambiental a médio e longo prazo de todo este sistema». E chamam a atenção para o «quadro de alterações climáticas» e do «Acordo de Paris recentemente ratificado por Portugal», assim como para «o risco para pessoas e bens, invocado nas decisões administrativas tomadas há dois anos e sucessivamente sufragadas pelo Ministério Público e por todos os tribunais administrativos, mediante decisões transitadas em julgado, que têm vindo a reconhecer a urgência e prevalência do interesse público» das intervenções da Sociedade Polis.
Por outro lado, realçam os «graves prejuízos para o erário público» causados pela decisão do ministro de suspender, na prática, as demolições, incluindo «eventuais indemnizações a empreiteiros, a perda ou devolução de financiamentos comunitários, bem como o desperdício de milhões de euros já investidos».
Por fim, considerando que a decisão do ministro do Ambiente de reanalisar os processos e adiar a tomada de posse administrativa «abala» a «confiança» na sua gestão e «coloca em causa a autoridade desta Sociedade e do próprio Estado», tanto Sebastião Teixeira como João Alves anunciam a sua renúncia aos cargos no Conselho de Administração da Sociedade Polis Ria Formosa, formalizada hoje, dia 27.
Hoje, em comunicado enviado às redações, o Ministério do Ambiente confirmava estas demissões, indicando que Sebastião Teixeira se deverá manter em funções até ao final do mês de Novembro.
De acordo com o comunicado, «o Governo já iniciou o processo de substituição do presidente da Sociedade Polis Litoral Ria Formosa e do outro administrador».
Ao que o Sul Informação apurou junto de várias fontes ligadas ao Ministério do Ambiente, a pessoa a indicar pelo ministro Matos Fernandes para a presidência do Conselho de Administração da Sociedade Polis Ria Formosa «deverá ser alguém da inteira confiança do ministro», provavelmente «vindo de Lisboa».

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29
Out16

Em Olhão, a poesia também se faz da luta contra as demolições

António Garrochinho

  
A poesia, no Encontro Internacional Poesia a Sul, que decorre até domingo em Olhão, também se mostra através de outras expressões artísticas e até com a luta contra as demolições no Farol e nos Hangares.

O evento foi lançado numa cerimónia que teve lugar no Salão Nobre da Câmara de Olhão, onde marcaram presença o poeta olhanense Fernando Cabrita, mentor da iniciativa, uma pintora e um escultor, cuja obra está exposta no âmbito do festival, e dezenas de ilhéus em protesto contra a anunciada tomada de posse de 81 casas em dois núcleos habitacionais da Culatra.

A presença tranquila e silenciosa dos ativistas anti-demolições marcou os discursos da cerimónia de abertura do evento, mas não os prejudicou. Antes pelo contrário. Para Fernando Cabrita, todos os que estiveram na sala «foram lá por causa da poesia, mesmo os que não o sabem», já que, ao longo da história, «onde há lutas há, também, poetas». «A poesia está sempre na primeira linha das lutas, lado a lado com os combates sociais», considerou.

«Este ano, o Poesia a Sul, infelizmente, também é luta. E isto vem confirmar aquilo que muitas vezes se diz: a poesia se não estiver ligada à realidade, à sociedade e ao mundo, é perfeitamente inútil» disse Fernando Cabrita ao Sul Informação.

Uma forma de tornar esta expressão artística ainda mais útil é levando-a até aos locais onde as pessoas estão, mas também mostrando que esta pode ser encontrada em muitos locais. O escultor Alberto Germán confessou, mesmo, que «sem a poesia e sem a música, a minha arte não seria a mesma».



A segunda edição do Poesia a Sul teve um crescimento substancial em relação à edição de 2015, muito por culpa do apoio do programa cultural «365 Algarve».

«Este programa cobre boa parte dos custos do evento. Isso dá-nos uma maior responsabilidade na sua execução e a obrigação de investir mais no Poesia a Sul, no ano que vem, se o Algarve 365 se repetir», disse o presidente da Câmara de Olhão António Pina. Mesmo sem este financiamento extra, o evento têm já garantida uma 3ª edição, a fazer fé nas palavras do edil.

Até porque esta é, acima de tudo, uma afirmação de Olhão como terra de cultura. «Em Olhão também há gente que pensa e que faz cultura. Há intelectualidade na nossa cidade», considerou o autarca. O Poesia a Sul procura que esta seja conhecida por todos.

A grande novidade da edição de 2016 é a introdução de outras expressões artísticas, desde a música às artes performativas, passando pelas artes plásticas. Também nova é dimensão internacional, já que marcarão presença no evento convidados do Vietname, Marrocos, Chile, Espanha, Brasil, França e, naturalmente, Portugal.

No fundo, os 10 dias que dura o Poesia a Sul são uma oportunidade de intercâmbio e partilha para os poetas e artistas que nele participam, através de palestras, debates, mesas redondas, apresentações de livros, leituras, homenagens, exposições, espetáculos variados e momentos de convívio. «Este é um momento de troca de experiências literárias, mas também de valores e éticas entre os participantes», resumiu Fernando Cabrita.

Esta oportunidade estende-se a todos os interessados, já as diferentes iniciativas são abertas à participação do público em geral. É por isso que os olhanenses e aqueles que visitam o concelho andam a cruzar-se com poesia há quase uma semana e continuarão a fazê-lo nos próximos três dias.

Desde sexta-passada, dia em que foi inaugurada uma exposição com trabalhos da artista plástica olhanense Joana Rosa Bragança e do escultor espanhol Alberto Germán no Auditório Municipal de Olhão, têm-se sucedido iniciativas, em vários pontos da cidade de Olhão. E se há locais mais óbvios para se mostrar poesia e outras artes, como o auditório, o museu ou a Biblioteca Municipal, há outros inesperado, como restaurantes e bares.

Até dia 30 de Outubro, domingo, esta expressão literária continuará a ser rainha em diferentes locais de Olhão. E também não faltará poesia, ou pelo menos sentimentos poéticos, no Farol e nos Hangares, tendo em conta a vitória conseguida esta semana pelos ilhéus na sua luta contra as demolições. Afinal, a tomada de posse das casas, originalmente marcada para ontem, foi adiada e a ameaça de demolição só pende, neste momento, sobre 62 casas.



Veja as fotos da exposição de Joana Rosa Bragança e de Alberto Germán no Auditório de Olhão, que pode ser visitada até domingo:













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29
Out16

A má-fé dos dirigentes da União Europeia

António Garrochinho



Costa pode ter muitos defeitos, mas um não possui: o da subserviência rastejante.
Wolfgang Schäuble, o ministro alemão dos dinheiros e figura todo-poderosa da União Europeia, está descontente com as decisões tomadas por António Costa, actual primeiro-ministro português. Schäuble está habituado a uma total obediência de propósito, e recordamos a manifesta simpatia demonstrada por Vítor Gaspar, ao ponto de chegar a confidências surpreendentes, filmadas a descaso, mas reveladoras das suas funestas simpatias. Logo que saiu do Governo, onde esteve durante mais de dois anos, Vítor Gaspar enveredou por uma carreira de cariz internacional. Costa pode ter muitos defeitos, mas um não possui: o da subserviência rastejante.
Esclareço que Gaspar está, agora, num lugar importante numa das estruturas económico-financeiras que possuem nexo com a União. Repare-se, como modesta anotação, que todos os portugueses que concordam com os métodos e os processos dos dirigentes da União, mais cedo do que tarde, são colocados em altos postos.
O actual Governo português não embala os corações dos dirigentes da União Europeia, e as pequenas lutas, que não são do apreço nem do conhecimento gerais, possuem um valor acrescentado aos trabalhos e às tarefas regimentais. Ainda ninguém sabe aonde tudo isto vai parar, mas lá que é uma canseira dupla, lá isso…
Agora, foi a manigância de um pequeno obstáculo, observado pelos senhores da União Europeia, que está a atrasar a aprovação do Orçamento português. Nota-se logo que o empecilho constitui mais uma parda anotação do que uma verdade factual. Por outro lado, em Portugal, os obstáculos erguidos em torno do documento, e malfeitosamente personificados por Passos Coelho, chegam a ser obscenos. A natureza das evidências deixam o alemão Wolfgang Schäuble completamente fora de si, mas as evidências dos documentos apresentados por Lisboa só não são aprovados porque a morosidade das aprovações deixam atrás de si um roldão de suspeitas.
Como temos assinalado, os obstáculos que a União tem apresentado às propostas e aos documentos portugueses são significativos do verdete que os alemães demonstram pelo Governo nacional. Sobretudo pelo desconforto aguerrido constantemente exposto por Schäuble. Ele e o alargado grupo que o acompanha estão cada vez mais pressionados pelos movimentos de extrema-direita, que assumem, na Alemanha, um poder cada vez mais decisivo. E anote-se que o partido da senhora Merkel, a CDU, apoiada pelo PSD, está a sofrer abalos poderosos. É estranho ou, pelo menos, sintomático, que as alterações políticas registadas na Alemanha atinjam aspectos surpreendentes.
Estamos perante uma nova esquina da História, cujos resultados são, pelo menos, preocupantes. A Alemanha atingiu um nível de bem-estar até agora nunca visto, mas as convulsões sociais alemãs nunca deixaram de estar presentes. Por outro lado, pouco sabemos do que ocorre nos outros vinte e sete países da União. As coisas nunca acontecem por acaso, e não podemos, nem devemos ignorar, as declarações de Francisco Louçã, ainda há pouco advertindo que a União Europeia estava seriamente ameaçada. A ver vamos.
Baptista Bastos (Jornal de Negócios)
29
Out16

“Só os bois têm medo do vermelho” (Maio68)

António Garrochinho


ou


Quando do Maio68, o senhor Miguel Tavares ainda andava a saltitar de um para o outro, e bem podia por lá ter ficado ou ser-lhe dado outro caminho. O senhor João Miguel ouve falar do Maio68 tal como hoje olha de esguelha o Abril74. O senhor JMT é o grão de areia da direita curvilínea que avança na história como os caranguejos. O JMT funciona por estímulos electromagnéticos sensíveis ao vermelho, “Mário Nogueira sob o efeito do Xanax que lhe é diariamente prescrito pelo PCP”.  Ou ainda “e o país, mais mal do que bem, foi sendo empurrado para a frente – sempre contra a vontade do PCP e da CGTP, sublinhe-se.” Quando leio o senhor Tavares recordo o Quartier Latin e o slogan que tão bem se lhe cola:

“Só os bois têm medo do vermelho” Maio68

“Burgueses, creiam-me, deixemos o medo do vermelho aos bois.”  Vitor Hugo, Os Miseráveis, 1862

Bourgeois, croyez-moi, laissons la peur du rouge aux bêtes à cornes. Les Misérables (1862) Victor Hugo

O JMT É UM PATUSCO


Via: as palavras são armas http://bit.ly/2eZSu3X
29
Out16

A América, e com ela o Ocidente, num impasse perigoso com as eleições presidenciais de Novembro – Eleições presidenciais americanas: e se a Sra. Clinton morresse antes das eleições

António Garrochinho

Jean Guiart, antropólogo e etnólogo

É a primeira vez em que as posições são tão divergentes e onde os insultos chovem dos dois lados também forte e feio mas de uma forma claramente artificial. Os insultos contra Donald Trump chegam ao ponto de que todos os grandes jornais estão contra ele, o que significa que o poder paralelo financeiro lhe é hostil, entre os quais está o Sr. Soros, o que é compreendido geralmente de maneira tanto mais clara quanto os jornalistas não escondem que o seu objetivo de momento é a destruição de Trump.

Para saber o que este último diz e pensa, a leitura da imprensa não serve para nada

A imprensa está furiosamente contra ele e mente sem vergonha constantemente em cada frase. A sua fórmula de contra ataque de neutralização bateria consiste em organizar conferências de imprensa de onde se publicam notas estenografadas que são neste momento a única fonte útil.

Hillary Clinton, esta enche-nos de processos que sabe de cor e de textos e vídeo a pagar que põem em causa Trump de todas as maneiras possíveis e imagináveis e que tendem a dar um efeito oposto ao que é esperado. O discurso de investidura de Donald Trump no congresso do partido republicano não foi publicado por nenhum grande jornal. Em contrapartida têm publicado imediatamente relatórios perfeitamente falsos e injuriosos, fazendo exatamente aquilo de que acusam Trump. Os neoconservadores, que são antigos marxistas arrependidos, estão também furiosamente contra Trump. Obama opunha-se-lhes até um certo ponto. A Sra. Clinton está inteiramente nas suas mãos. Os erros que se atribuem a Trump são construídos a partir de hábeis ações de cortar/colar, mas são falsos. Ele disse sempre outra coisa. Isto pode ser um erro político, não se sabe nunca, mas não é nunca o que os jornalistas americanos pretendem pôr em evidência.

Foi dito que a Sra. Trump tinha copiado a Sra. Obama. Não há nada de verdade nesta acusação. Nenhuma palavra ou frase foi copiada. Mas essas duas senhoras, em circunstâncias paralelas, dizem exatamente a mesma coisa, agradecendo ao sistema dos EUA ter-lhes permitido, não obstante terem tido ambas os seus próprios problemas, destacarem-se da multidão. A Sra. Obama porque era negra, a Sra Trump porque era estrangeira.

O problema do muro entre o México e a América é igualmente falso

O muro existe, no centro, com estações radar de tantos em tantos quilómetros, tratando-se de resolver as suas reconhecidas fraquezas e de prolongá-lo a oeste e a leste. Trump diz que fará pagar este muro pelo México. Poderá bloquear ou certamente atrasar qualquer criação de empregos no México por capitais americanos. A França constrói em Calais um muro pago pela Inglaterra. Os críticos do muro de Trump não tiveram nada a dizer contra o muro israelita. A muralha da China e o muro Hadrien na Inglaterra são monumentos culturais reconhecidos em cada caso. Se o muro é realmente impermeável, isso porá fim aos imigrantes que morrem de sede, abandonados pelos seus passadores nos desertos do Sul dos Estados Unidos. Os esqueletos latinos no deserto do Arizona são a vergonha da América de que nunca se fala.

As sondagens neste momento valem rigorosamente nada

Primeiramente são realizados por telefone, o que não permite nenhum controlo. Seguidamente, são encomendados pelos que dão ao mesmo tempo as ordens quanto ao que as sondagens devem dar como resultados. Publicaram durante meses sondagens cada vez mais favoráveis à Sra. Clinton, enquanto que a tendência real estava a inverter-se durante esse mesmo período, e depois tiveram que alterar para tentarem manter-se credíveis. Depois, recomeçam. As sondagens nos Estados Unidos são um instrumento essencial da corrupção política em período eleitoral e esta corrupção não foi nunca tão forte como agora

Um fator de primeiro plano na campanha revelou-se ser a saúde dos candidatos

De momento, Trump vende saúde. A Sra. Clinton foge às conferências de imprensa por medo de aí perder o seu latim, não sendo o seu controlo dos processos de forma alguma o que se pensava ser. Nunca teve, com efeito, as qualidades intelectuais que se lhe atribuem. Em política internacional, ela pode ser caracterizada por uma forma de grande ingenuidade, a do poder insensato, daí a controvérsia em redor dos seus emails. Pior, desmaiou há cerca de duas semanas e acaba de recomeçar no alto de uma escadas, com os gorila do serviço de proteção aos presidentes protegendo-a em cada uma das vezes. Se ela se afunda antes do dia das eleições, a América terá então sobre os seus braços um problema constitucional inédito. A única solução neste caso, [eliminar dado] que [eliminar o caso] não está previsto na constituição americana, será recomeçar tudo no próximo ano, o que permitirá encontrarem um meio de se desembaraçarem do Sr. Trump e da Sra. Clinton, sendo certo que toda a América sabe, mais ou menos claramente, que o casal Clinton é o casal mais corrupto da política americana. Com efeito os dois partidos maioritários americanos encontram-se cada um com um candidato que teriam preferido não terem de apoiar nesta corrida.

O presidente russo deve ter previsto um período incerto no controlo americano da política internacional, o que lhe permite iniciativas que permanecerão de momento sem resposta do lado de um aparelho político americano que se quer acima do mundo, mas que não sabe em que sentido vai, de momento. Certas nações prevêem a justo título, um governo de técnicos durante o período eleitoral.

Eliminar Mme Clinton par l’intermédiaire de sa fondation, Mr Trump en multipliant les sociétés parallèles, dont une fondation lui aussi. Les journaux clament que Mme Clinton a gagné cette confrontation, ce qui n’est pas évident du tout. Aucun n’est de très bonne foi dans cette discussion, d’autant que Mr Trump essaie visiblement de se contrôler, ce qui n’était peut-être pas une très bonne idée. On n’a pas relevé la tape sur les fesses qu’il lui a donné au départ, celle-ci ayant été bien calculée pour la ridiculiser.

A primeira confrontação, a partir do texto estenografado do debate emitido por televisão, mostra a extrema superficialidade do debate. O Sr. Trump tem como tática interromper a Sra. Clinton e falar de outra coisa, o que fará por confundi-la e impede-a de recitar até ao fim a sua lição bem decorada. Vê-se, além disso, que se conhecem bem, eles foram muito amigos no passado, têm uma linha vermelha a não ser ultrapassada por nenhum dos dois e que em matéria de táticas para pagar menos impostos, eles utilizam exatamente as mesmas tácticas, a Sra. Clinton através da sua fundação, o Sr. Trump multiplicando as sociedades paralelas, entre as quais também uma fundação. Os jornais clamam que a Sra. Clinton ganhou esta confrontação, o que não é de todo evidente. Nenhum deles está de boa fé nesta discussão, tanto que o Sr. Trump tenta visivelmente controlar-se, o que talvez não seja uma boa ideia. Não voltou a dar-lhe uma palmada nas nádegas como tinha feito no início, ação bem calculada para a ridiculizar.



29
Out16

CAMILO O CONTORCIONISTA

António Garrochinho





 
29
Out16

PCP rejeita dizer "Heil" Schauble

António Garrochinho



Jerónimo de Sousa acusa Wolfgang Schauble de tratar Portugal como se fosse colónia alemã.


O secretário-geral do PCP acusou hoje o ministro das finanças alemão de tratar Portugal como se fosse uma colónia alemã, considerando a intervenção de Wolfgang Schauble como uma "inaceitável intromissão" nos assuntos nacionais

"Temos também o senhor ministro das Finanças alemão a tratar Portugal como se fosse uma colónia alemã, com advertências acerca do caminho que o país está a percorrer, entre elogios ao anterior Governo PSD/CDS e à politica que afundou o país. E a insinuar riscos de novos resgates", disse Jerónimo de Sousa, na noite de sexta-feira, durante uma sessão de esclarecimento na Figueira da Foz.

O líder comunista criticou ainda o "escandaloso exultar" de PSD e CDS-PP face às "insinuações e ultimatos" de Bruxelas e de Berlim e também o que disse ser uma "indecorosa e repentina" operação de "auto-tramutação partidária" de social democratas e centristas "em que se envolveram a seguir à apresentação da proposta de Orçamento" do Estado para 2017.

"Eles que eram o Governo do 'tira, tira, corta, corta' nas condições de vida do povo, salários, reformas, direitos, serviços públicos essenciais e no investimento. Eles que eram o Governo do 'carrega, carrega' sempre os mesmos com impostos, os trabalhadores e o povo", frisou Jerónimo de Sousa.

Depois de uma intervenção inicial de 25 minutos, o líder do PCP falou durante cerca de uma hora em resposta a questões colocadas pelas cerca de 100 pessoas presentes na sessão, entre dirigentes sindicais e militantes e simpatizantes comunistas.

Na resposta a uma militante sobre a relação com o Governo PS, Jerónimo de Sousa disse que o acordo foi assinado com os socialistas "no interesse dos trabalhadores e do povo", mas argumentou que o Governo não é de esquerda e o PCP não é "força de suporte" do executivo liderado por António Costa.

A esse propósito, o secretário-geral do PCP contou que "ouve-se muito" pelo país que o PCP está no Governo, mas recusou que assim seja.

"Vocês estão no Governo, ouve-se muito, eu nunca tive tanto caderno de encargos como quando ando pelo país fora. Vocês estão muito bem lá no Governo, parabéns'. Não há nenhum Governo das esquerdas, não há nenhum Governo de esquerda, não há nenhum Governo com acordo interparlamentar, o PCP não é força de suporte deste Governo", alegou Jerónimo de Sousa.

Durante a sessão, o líder comunista avisou que o atual Governo "durará tanto mais ou tanto menos conforme responder mais ou menos aos interesses dos trabalhadores, do povo e do país".

Na intervenção final, Jerónimo de Sousa voltou a este tema, frisando que o PCP sabe o terreno que pisa, "num quadro [nacional] de grandes incertezas, dúvidas e complexidades que estão colocadas" e que o seu primeiro e principal compromisso "é com os trabalhadores e com o povo português e não com o Governo do PS".

www.tsf.pt
29
Out16

Venezuelanos em mobilização permanente contra tentativa de derrubar Maduro

António Garrochinho


Pelo quarto dia consecutivo, o povo venezuelano está nas ruas para repudiar as acções violentas e inconstitucionais da oposição, que pretende derrubar o presidente Nicolás Maduro.


Milhares de defensores da Revolução Bolivariana têm-se mobilizado, esta semana, contra a tentativa de derrubar o chefe de Estado
Ontem, anteontem e na terça-feira, os venezuelanos concentraram-se junto ao Palácio de Miraflores (sede do Governo), junto ao Parlamento e nalgumas das principais artérias da capital, Caracas, bem como em muitos dos estados do país, para condenar o intento de golpe perpetrado na Assembleia Nacional (onde a oposição, de direita, tem maioria), defender as conquistas sociais alcançadas nos últimos 17 anos e apoiar a governação económica de Maduro.
Nesta sexta-feira, quarto dia consecutivo de mobilizações em defesa da Revolução Bolivariana, prevê-se que o povo dê o seu apoio à decisão ontem anunciada por Maduro de aumentar em 40% o salário mínimo dos trabalhadores e repudie a greve geral de 12 horas convocada para hoje pela Mesa da Unidade Democrática (MUD).
O aumento do salário mínimo dos trabalhadores – o quarto do ano – entrará em vigor a 1 de Novembro. O valor do salário mínimo anual passa de 22 576 para 27 091 bolívares (de 2257 para 2792 dólares), refere a Prensa Latina.

«Dia de madrugar»

Como forma de combater a paralisação convocada pela MUD, o vice-presidente da Venezuela, Aristóbulo Istúriz, instou a população a estar nas ruas, a ir para os seus locais de trabalho e estudo, a realizar as suas actividades quotidianas.
Istúriz sublinhou que hoje não é um dia de greve e que é «dia de madrugar», «porque eles [oposição] estão à espera de tirar fotos com as ruas vazias, para depois dizerem que a Venezuela parou».
Por outro lado, Istúriz criticou o Parlamento pelo facto de violar a Constituição, na medida em que pretende levar a cabo um julgamento ao presidente Maduro quando não tem competências constitucionais para tal.
Istúriz, que também é membro do Partido Socialista Unificado da Venezuela (PSUV), acusou a Assembleia Nacional de promover a ingerência dos Estados Unidos nos assuntos internos do país e lembrou que, neste momento, o Parlamento actua «em desobediência», declarada pelo Supremo Tribunal de Justiça.

Mobilizações contra acções golpistas

Para repudiar as acções violentas e de desestabilização, promovidas pela direita a nível nacional e internacional, e apoiar o processo bolivariano, o PSUV convocou diversas iniciativas para os próximos dias.
Amanhã, as forças do PSUV vão promover acções de sensibilização no Distrito Capital com o objectivo de explicar às pessoas que não se mobilizam em que consiste o golpe e como deve ser derrotado nas ruas, informa a TeleSur.
Na terça-feira, 1 de Novembro, dia em que a oposição diz que irá julgar o chefe de Estado, as forças chavistas vão realizar uma mobilização entre a Praça Carabobo e a Assembleia Nacional.
Na quinta-feira, 3 de Novembro, dia em que o Parlamento pretende levar a carta de «destituição» ao presidente da República, o povo irá concentrar-se no Palácio de Miraflores e nas principais avenidas da capital.
Desde a última quarta-feira que o Conselho de Defesa da Nação se encontra «em sessão permanente», para «resguardar a paz do povo, garantir a estabilidade económica, defender a soberania e rejeitar qualquer intervenção externa».

www.abrilabril.pt
29
Out16

Por dento do governo invisível: guerra, propaganda, Clinton e Trump

António Garrochinho


Nota prévia: Decidi traduzir este texto porque o seu conteúdo nunca é discutido na comunicação social em Portugal. Quem domina o inglês ainda pode obter alguma informação em vários sites da internet que quebram a cortina com que a comunicação social dominante vai formatando a mente dos cidadãos comuns. Este texto revela muitas das suas tácticas operacionais. E traz a debate a gigantesca manipulação que está neste mmento em curso, em relação à situação de pré-conflito mundial que pode pode fazer regressar a Humandade à idade da pedra lascada, senão à destruição total. Quem me achar tremendista, e muitos acharão, não me deixarão surpreso. Na verdade, tal só provará que as técnicas de propaganda que o texto refere estão de boa saúde e que funcionam na perfeição. (Estátua de Sal, 29/10/2016)
O jornalista norte-americano, Edward Bernays, é frequentemente descrito como o homem que inventou a propaganda moderna. Sendo sobrinho de Sigmund Freud, o pioneiro da psicanálise, foi Bernays que criou o termo “relações públicas”, um eufemismo para as opiniões manipuladoras e as fraudes que elas originam.
Em 1929, Bernays convenceu um grupo de feministas a promover o cigarro entre as mulheres fumando no Easter Parade New York – comportamento, à época, considerado estranho. Uma feminista, Ruth Booth, declarou então: “Mulheres! Vamos acender outra tocha da liberdade! Vamos lutar contra outro tabu do sexo! ” A Influência de Bernays estendeu-se muito para além da publicidade. O seu maior sucesso foi ter conseguido convencer o público americano a contemporizar com os massacres da Primeira Guerra Mundial.
O segredo, segundo ele, era “fabricar o consentimento” das pessoas, a fim de “as controlar e disciplinar de acordo com a nossa vontade, sem elas terem consciência disso”.
Bernays considerou tais técnicas como “o verdadeiro poder dominante nas nossas sociedades” e designou-as por “governo invisível”.
governo invisível nunca foi tão poderoso quanto o é nos dias de hoje, sendo em simultâneo tão pouco percecionado. Na minha carreira como jornalista e cineasta, nunca como hoje alguma vez eu vi a propaganda ser tão persuasiva e tão influente nas nossas vidas, sem que tal seja questionado.
Imagine duas cidades. Ambas estão cercadas pelas forças militares do governo desse país. Ambas as cidades estão ocupadas por fanáticos, que cometem atrocidades terríveis, tal como a decapitação de pessoas. Mas existe uma diferença fundamental. Num dos cercos, os soldados do governo são descritos como libertadores por repórteres ocidentais, conluiados com eles, que entusiasticamente relatam as suas batalhas e os seus ataques aéreos. Há logo imagens de primeira página nos jornais desses heróicos soldados que erguem os dedos em V, em sinal vitória. Há pouca menção de baixas civis.
Na segunda cidade – noutro país vizinho – acontece quase exactamente o mesmo. As forças do governo estão sitiando uma cidade controlada pela mesma raça de fanáticos. A diferença é que esses fanáticos são apoiados e armados por “nós” – pelos Estados Unidos e Grã-Bretanha. Além disso, ainda têm um centro de propaganda que é financiado pela Grã-Bretanha e América. Outra diferença é que os soldados do governo que cercam esta cidade são os “maus”, condenados por agredir e bombardear a cidade – que é exatamente o que os “bons” soldados fazem na primeira cidade.
Confuso? Na verdade não. Isto é apenas um caso exemplar do duplo padrão básico que é a essência da propaganda. Refiro-me, naturalmente, ao cerco atual da cidade de Mosul pelas forças do governo do Iraque, que são apoiadas pelos Estados Unidos e Grã-Bretanha e ao cerco de Aleppo pelas forças do governo da Síria, apoiadas pela Rússia. Um é o bom; o outro é o ruim.
O que raramente é dito é que ambas as cidades não teriam sido ocupadas por fanáticos e devastadas pela guerra se a Grã-Bretanha e os Estados Unidos não tivessem invadido o Iraque em 2003. Essa operação criminosa foi lançada com base em mentiras semelhantes em tudo à propaganda que agora distorce a nossa compreensão da guerra civil na Síria. Sem essa propaganda estrondosa, apresentada como sendo notícias, o monstruoso ISIS, a Al-Qaida, a al-Nusra e os restantes gangues jihadistas não existiriam, e o povo da Síria não teria que lutar hoje para defender as suas vidas.
Convém que nos lembremos, como em 2003, uma sucessão de repórteres da BBC se voltaram para a câmera e nos disseram que Blair estaria “justificado” naquilo que acabou por ser o crime do século. As redes de televisão norte-americanas produziram a mesma justificação para George W. Bush. A Fox News recorreu a Henry Kissinger para espalhar as invenções de Colin Powell. No mesmo ano, logo após a invasão, filmei uma entrevista em Washington com Charles Lewis, um conceituado jornalista americano de investigação. Perguntei-lhe: “O que teria acontecido se os meios de comunicação mais livres do mundo tivessem questionado seriamente o que acabou por se provar não passar de propaganda bruta?”
Ao que ele respondeu que se os jornalistas tivessem feito seu trabalho, “há uma grande probabilidade, enorme mesmo, de que não teria havido guerra no Iraque”.
Foi uma declaração chocante, corroborada por outros jornalistas famosos a quem eu coloquei a mesma pergunta – Dan Rather da CBS, David Rose do Observer e jornalistas e produtores da BBC, que preferiram o anonimato. Isto é, se os jornalistas tivessem feito o seu trabalho, se tivessem questionado e investigado a propaganda ao invés de a amplificar, centenas de milhares de homens, mulheres e crianças estariam vivas ainda hoje, e não haveria ISIS nem cerco a Aleppo ou a Mossul. Não teria havido nenhum atentado no metro de Londres em 7 de julho de 2005. Não teria havido nenhum exodo de milhões de refugiados; não existiriam acampamentos miseráveis incapazes de os receber.
Quando o atentado terrorista aconteceu em Paris em novembro passado, o presidente François Hollande enviou imediatamente aviões para bombardear a Síria – e mais terrorismo se seguiu, provavelemente, consequência das frases bombásticas de Hollande, a França está “em guerra”, e “não mostrará nenhuma clemência”. Que a violência estatal e a violência jihadista se alimentam uma da outra é uma verdade que nenhum líder nacional tem a coragem de dizer.
Os ataques ao Iraque, à Líbia e à Síria aconteceram porque o líder de cada um desses países não era um fantoche do Ocidente. O cadastro de desrespeito aos direitos humanos de um Saddam ou de um Gaddafi sempre foram irrelevantes. Eles, simplesmente não obedeceram às ordens de entregar o controlo do seu país.
O mesmo destino teve Slobodan Milosevic porque se recusou a assinar um “acordo” que exigia a ocupação da Sérvia e a sua conversão numa economia de mercado. O povo sérvio foi bombardeado, e Milosevic foi julgado pelo Tribunal de Haia. A independência deste género é considerada intolerável. Como o WikiLeaks revelou, foi apenas quando o líder sírio, Bashar al-Assad, em 2009, rejeitou que um oleoduto atravessasse o seu país, do Qatar para a Europa, que ele passou a ser acossado pelo Ocidente.
A partir desse momento, a CIA planeou destruir o governo da Síria recorrendo a fanáticos jihadistas – os mesmos fanáticos que actualmente controlam a cidade de Mossul e a zona oriental de Aleppo. Porque é que isto não é notícia? O ex-funcionário da chancelaria britânica Carne Ross, que era responsável pela imposição de sanções ao Iraque, disse-me em tempos: “Nós alimentamos os jornalistas com factos triviais de higienizada inteligência, ou congelamo-los. É assim que funciona.”

O cliente medieval do Ocidente, a Arábia Saudita – a quem os EUA e a Grã-Bretanha vendem milhões de dólares de armamento – está atualmente a destruir o Iêmen, um país tão pobre onde, na época do seu maior desenvolvimento, metade das crianças eram subnutridas. Procure no YouTube e poderá ver o tipo de bombas pesadas – as “nossas” bombas -, que os sauditas estão a usar contra aldeias pobres e sujas, e contra casamentos e funerais. As explosões são semelhantes a pequenas bombas atómicas. Os lançadores das bombas da Arábia Saudita trabalham lado a lado com oficiais britânicos. Este fato nunca é referido nos noticiários da noite.
A propaganda é mais eficaz quando a nossa aquiescência é construída por aqueles que são portadores de uma boa educação – Oxford, Cambridge, Harvard, Columbia – e com carreiras na BBC, no Guardian, no New York Times, no Washington Post. Estes organismos são conhecidos como os media liberais. Eles apresentam-se como tribunas iluminadas, progressistas do zeitgeist moral. Eles são anti-racistas, pró-feministas e pró-LGBT.
E eles amam a guerra.
Enquanto falam para o feminismo, eles apoiam as guerras de rapina que negam os direitos das inúmeras mulheres, incluindo o direito à vida. Em 2011, a Líbia, na altura um estado moderno, foi destruída com o pretexto de que Muammar Gaddafi estava prestes a cometer genocídio contra seu próprio povo. Essa foi a notícia incessante; mas não houve nenhuma evidência, e o fato nunca se provou. Era uma mentira.
Na verdade, a Grã-Bretanha, a Europa e os Estados Unidos queriam aquilo que eles gostam de designar por “mudança de regime” na Líbia, o maior produtor de petróleo da África. A influência de Gaddafi no continente e, acima de tudo, a sua independência eram intoleráveis. Assim, ele foi assassinado com uma facada nas costas por fanáticos, apoiados pelos Estados Unidos, Grã-Bretanha e França. Hillary Clinton aplaudiu a sua morte horrível dizendo para as câmeras: “Nós viemos, nós vimos, ele morreu!”
A destruição da Líbia foi um triunfo dos media. À medida que os tambores de guerra iam rufando, Jonathan Freedland escrevia no Guardian: “Embora os riscos sejam muito reais, a opção para uma intervenção continua a ser forte”. Intervenção – eis uma educada e benigna palavra do Guardian, cujo significado real, para a Líbia, era a morte e a destruição.
De acordo com os seus próprios registos, a NATO lançou 9 700 “surtidas de ataque” contra a Líbia, das quais mais de um terço foram destinadas a alvos civis. Nesses ataques foram usados mísseis com ogivas de urânio. É ver as fotografias dos escombros de Misurata e Sirte, e as valas comuns identificadas pela Cruz Vermelha. O relatório da UNICEF sobre as crianças mortas diz, “a maioria delas com idade inferior a dez anos”. Como consequência directa, Sirte tornou-se a capital do ISIS.
A Ucrânia é outra vitória dos media. Jornais liberais respeitáveis, como o New York Times, o Washington Post e The Guardian, e as emissoras tradicionais, como a BBC, NBC, CBS, CNN têm desempenhado um papel fundamental no condicionamento dos telespectadores para aceitar uma nova e perigosa guerra fria. Todos têm deturpado acontecimentos na Ucrânia como sendo uma ação maligna perpetrada pela Rússia quando, na verdade, o golpe na Ucrânia em 2014 foi orquestrado pelos Estados Unidos, ajudados pela Alemanha e pela NATO.
Esta inversão da realidade é tão difundida que a intimidação militar de Washington à Rússia não é novidade; é escondida por detrás de uma campanha de difamação e susto do tipo daquela em que eu cresci durante a primeira guerra fria. Mais uma vez, os Ruskies virão buscar-nos, liderados por outro Estaline, a quem The Economist descreve como o diabo.
A mistificação da verdade sobre a Ucrânia é um dos apagões de noticiosos mais completos de que há memória. Os fascistas que projetaram o golpe em Kiev são a mesma raça que apoiou a invasão nazi da União Soviética em 1941. De todos os alarmes sobre a ascensão do fascismo, do antissemitismo na Europa, não há nenhum líder ocidental que mencione os fascistas na Ucrânia – exceto Vladimir Putin, mas ele não conta.
Muito se tem trabalhado arduamente nos media ocidentais para apresentar a população étnica de língua russa da Ucrânia como estrangeiros no seu próprio país, como agentes de Moscovo, quase nunca como ucranianos que procuram uma federação dentro Ucrânia e como cidadãos ucranianos a resistir a um golpe orquestrado por estrangeiros contra o governo eleito do seu país.
Há quase como que um joie d’esprit de uma reunião de turma de belicistas. Os tocadores de tambores que incitam no Washington Post à guerra com a Rússia são os mesmos editorialistas que publicaram a mentira monumental que propalava que Saddam Hussein tinha armas de destruição maciça.
Para a maioria de nós, a campanha presidencial norte-americana é um espetáculo mediático horroroso, em que Donald Trump é o vilão. Mas Trump é odiado por aqueles que têm poder nos Estados Unidos por razões que pouco têm a ver com o seu comportamento e com as opiniões detestáveis. Para o governo invisível, em Washington, o Trump imprevisível é um obstáculo para o projeto da América para o século 21.
Isso é, para manter o domínio dos Estados Unidos e para subjugar a Rússia, e, se possível, a China.
Para os belicistas em Washington, o real problema com Trump é que, nos seus momentos de lucidez, ele parece não querer uma guerra com a Rússia; ele quer falar com o presidente russo, não lutar com ele; diz também que quer falar com o presidente da China. No primeiro debate com Hillary Clinton, Trump prometeu não ser o primeiro a recorrer a armas nucleares em caso de conflito. Ele disse: “Eu, certamente não faria o primeiro ataque. A alternativa nuclear, a acontecer, acabou tudo”. Isto não foi novidade.
Mas será que ele realmente quis dizer o que disse? Quem sabe? Ele contradiz-se frequentemente. Mas o que é claro, é que Trump é considerado uma séria ameaça ao status quo mantido pela vasta máquina de segurança nacional que controla os Estados Unidos, independentemente de quem estiver na Casa Branca. A CIA quer que ele seja derrotado. O Pentágono quer que ele seja derrotado. Os media querem que ele seja derrotado. Mesmo o seu próprio partido quer que ele seja derrotado. Ele é uma ameaça para os planos dos senhores do mundo – ao contrário de Clinton, que não deixou nenhuma dúvida de que está preparada para recorrer a armas nucleares numa guerra contra a Rússia e contra a China.
Clinton tem o perfil necessário, do qual muitas vezes se gaba. Na verdade, o seu currículo assim o comprova. Como senadora, ela apoiou o banho de sangue no Iraque. Quando concorreu contra Obama em 2008, ela ameaçou “aniquilar totalmente” o Irão. Como secretária de Estado, foi conivente com a destruição de governos na Líbia e nas Honduras e pôs em marcha um processo de enfrentamento com a China. Ela também já se comprometeu a apoiar um No Fly Zone na Síria – uma provocação direta para desencadear uma guerra com a Rússia. Clinton pode, de facto, tornar-se o presidente mais perigoso dos Estados Unidos durante a minha vida – ainda que para obter tal galardão defronte concorrentes ferozes.
Sem qualquer sombra de evidência, ela acusou a Rússia de apoiar Trump e de hacking dos seus emails. Divulgados pelo WikiLeaks, esses emails mostram-nos que o que Clinton diz em privado, em discursos para os ricos e poderosos, é o oposto do que ela diz em público. É por isso que silenciar e ameaçar Julian Assange é tão importante. Como editor do WikiLeaks, Assange sabe a verdade. E posso assegurar àqueles que estão preocupados com Assange, que ele está bem, e que o WikiLeaks está a trabalhar a todo o gás.
Hoje, a maior concentração de tropas, lideradas pelos americanos, desde a Segunda Guerra Mundial está em curso – no Cáucaso e na Europa Oriental, na fronteira com a Rússia, na Ásia e no Pacífico, onde a China é o alvo. Tenha isso em mente quando o circo das eleições presidenciais chegar ao fim em 8 de novembro, Se o vencedor for Clinton, um coro grego de comentadores tolos vai comemorar a sua coroação como um grande passo em frente para as mulheres. Nenhum vai mencionar as vítimas de Clinton: as mulheres da Síria, as mulheres do Iraque, as mulheres da Líbia. Ninguém vai mencionar os exercícios de defesa civil que estão a ser realizados na Rússia. Ninguém se vai lembrar das “tochas da liberdade” de Edward Bernays.
O porta-voz de imprensa de George Bush chamou uma vez aos media“facilitadores cúmplices”.
Vindo de um alto funcionário duma administração cujas mentiras, permitidas pelos media, causaram tanto sofrimento, essa afirmação é um aviso da história.
Em 1946, o promotor do Tribunal de Nuremberga disse dos media alemães: “Antes de cada grande agressão, eles iniciaram uma campanha de imprensa pensada para enfraquecer as suas vítimas e para preparar psicologicamente o povo alemão para o ataque. No sistema de propaganda, a imprensa diária e a rádio foram as armas mais importantes “.
(Este texto é uma adaptação de uma comunicação para o Festival das palavras de Sheffield, Sheffield, Inglaterra.)
estatuadesal.com

29
Out16

O favor que Schauble nos fez

António Garrochinho


estatuadesal.com

As declarações do ministro alemão das Finanças, garantindo que “Portugal vinha tendo muito sucesso até à chegada de um novo Governo” tornaram finalmente claro para os mais distraídos que o que está em causa para Berlim e para a sua correia de transmissão, o presidente do Eurogrupo, não é a evolução das contas públicas mas sim a orientação político-económico do Governo PS, apoiado pelo Bloco e pelo PCP. 


É isto que Wolfgang Schauble e Jeroen Dijsselbloem não suportam. As suas absolutas certezas de que não havia alternativa à política seguida, de cortes de salários e pensões e de emagrecimento drástico do Estado social, sem o qual o défice não diminuiria, estão a ser desafiadas publicamente. E a redução do défice para os valores mais baixos de sempre em 42 anos de democracia por um Governo de centro esquerda é insuportável para os dois (embora Dijsselbloem seja supostamente do PS holandês…).

É isto que está em causa: uma questão política e não económica. Schauble não gosta de socialistas, mesmo que moderados, e menos ainda de bloquistas ou comunistas. Por isso, há que deitar abaixo um Governo com estas características. E Schauble sabe que cada vez que diz que está preocupado com um possível segundo resgate a Portugal, as taxas de juro da dívida portuguesa nos mercados secundários sobem e a profecia fica mais perto de se cumprir.
Ora o ministro alemão tem feito isto de forma repetida, sem que ninguém lhe ponha travão nem freio na língua, apesar de em casa ter uma bomba-relógio muito mais perigosa para a estabilidade europeia do que Portugal, o Deutsche Bank. Mas não só ele. Esta semana tivemos outro alemão proeminente, Otmar Issing, ex-economista-chefe do BCE, a afinar quase ipsis verbis pelo mesmo diapasão: “Portugal é um caso que demonstra que todos os problemas [da zona euro] não são problemas da política monetária e de ganhar algum tempo. Portugal não só tem desperdiçado tempo, no que diz respeito a fazer as reformas necessárias, mas também, desde que o novo governo tomou posse, tem ido na direção errada. Agora pagam o preço dessas políticas, que vão em sentido contrário em relação àquilo de que Portugal precisa para manter o país alinhado com a estabilidade da zona euro”, disse Issing à Bloomberg.
E quais são os factos em que Schauble e Issing fazem assentar as suas afirmações? Quando a Comissão Europeia vem reconhecer que o Orçamento do Estado português para 2017 “parece cumprir os critérios”; quando das sete cartas que Bruxelas enviou a Estados membros a pedir esclarecimentos, os dois mais suaves foram para a Bélgica e Portugal; quando este ano Portugal vai sair do Procedimento por Défice Excessivo, porque ninguém coloca em causa que o défice fique nos 2,5%; quando este valor é o mais baixo em 42 anos de democracia; quando ninguém coloca em causa o cenário macroeconómico do OE português para o próximo ano; quando o crescimento volta a assentar nas exportações e no investimento – em que se baseiam Schauble e Issing para dizerem publicamente o que dizem e a desfaçatez com que o fazem?
Era bom que a Comissão Europeia se demarcasse destas afirmações. Era bom que Bruxelas tivesse a coragem de valorizar o que deve ser valorizado, mesmo que não aprecie a receita que está a ser aplicada, mas que aparentemente está a conseguir os resultados que a Comissão desejava. E sobretudo era bom, que ficasse claro para toda a gente que Schauble e Issing não gostam é da cor do Governo português. E detestam-no tanto que nem sequer falam sobre o que importa: os resultados na frente orçamental que estão a ser alcançados.

(Nicolau Santos, in Expresso Diário, 28/10/2016)
29
Out16

QUANDO TOCA A ARRANJAR DINHEIRO NÃO HÁ AMIGOS MESMO NAQUELES QUE NÃO ESTÃO HABITUADOS A PAGAR ! - Procissões pagam taxas para atravessar estradas nacionais

António Garrochinho


Os autarcas da Área Metropolitana do Porto criticaram, esta sexta-feira, as taxas cobradas pela Infraestruturas de Portugal relativamente aos acessos e utilização das estradas nacionais.

Entre os exemplos desta "injustiça" e "esbulho", apontados pelo autarca da Póvoa de Varzim, Aires Pereira, foram citadas as procissões, que têm de pagar entre 200 a 500 euros para cruzar as vias nacionais.


http://www.jn.pt

29
Out16

POR LÁ OS "PIRATAS" SÃO OUTROS ! - Partido dos Piratas está muito perto de conquistar a terra do gelo

António Garrochinho

Partido dos Piratas está muito perto de conquistar a terra do gelo

O Partido dos Piratas foi criado na Islândia em 2012. No ano seguinte foram o sexto partido mais votado. 

O Partido da Independência, no poder, e a força liderada por Birgitta Jónsdóttir são os favoritos dos islandeses para as eleições legislativas de hoje. A ex-porta-voz da WikiLeaks diz não estar interessada em ser primeira-ministra

O Partido dos Piratas é um fenómeno de popularidade na cena política da Islândia, facto que surpreende a própria líder da formação política, Birgitta Jónsdóttir. Na sua estreia eleitoral, nas legislativas de 2013, tornaram-se na sexta maior presença no Parlamento, com três deputados. Os islandeses voltam hoje às urnas e, de acordo com as sondagens, poderão ser o segundo partido mais votado... ou até mesmo ganhar as eleições.

Uma sondagem da MMR-Market and Media Research divulgada ontem mostra que, neste momento, o Partido da Independência, atualmente no poder, está ligeiramente à frente das intenções de voto, com 24,7%, seguida do Partido dos Piratas, com 20,5%. Mas estes dados não são indicadores claros de quem vencerá as eleições legislativas antecipadas de hoje - a sondagem da Háskóli Íslands publicitada na segunda-feira e que dava a liderança da preferências dos islandeses aos piratas, com 22,6% das intenções de voto. Esta tendência de alternância entre os dois partidos tem sido uma constante ao longo dos últimos três anos de sondagens.

"Nem pensar", disse esta semana ao The Washington Post Birgitta Jónsdóttir, de 49 anos, quando questionada sobre se alguma vez pensou ver o seu partido a governar o país apenas quatro anos depois de ter sido fundado. Não se definem como sendo de esquerda ou direita, mas um movimento radical que mistura o melhor dos dois campos políticos. São também o mais proeminente dos Partidos dos Piratas existentes, da Suécia ao Reino Unido, passando pela Áustria e Estados Unidos.

Jónsdóttir é a líder e um dos três deputados eleitos pelo Partido dos Piratas nas legislativas de 2013. Poeta, programadora web e antiga ativista e porta-voz da WikiLeaks acredita que esta eleição pode ser o começo de um reiniciar que a democracia ocidental tanto precisa.

"As pessoas querem mudanças reais e percebem que temos de mudar os sistemas, temos de modernizar a forma como fazemos as leis", declarou na mesma entrevista. "Não queremos saber de onde vêm as políticas, não queremos saber se vêm do partido do governo, da oposição, ou se são nossas. Queremos inspirar os outros a juntarem-se a nós, mas queremos apoiar coisas boas seja lá de onde vêm", acrescentou.

"As pessoas estão zangadas e frustradas. Na cabeça de muitos eleitores, os Piratas são o único partido imaculado, e com isso ela ganha autoridade. Ela tem sido o rosto da oposição desde a crise financeira", declarou na semana passada à revista norte-americana The Nation Karl Blöndal, diretor adjunto do jornal islandês Morgunbladid.

"Não acredito que o Partido dos Piratas vença as eleições"

O ponto central da campanha do Partido dos Piratas para a eleição parlamentar de hoje é a promulgação de uma nova Constituição - o texto foi concebido no rescaldo da crise económica por cerca de mil islandeses escolhidos aleatoriamente e escrito por um comité jurídico. Inclui normas para renacionalizar indústrias baseadas em recursos naturais e institui mecanismos para uma governação cívica. Em 2012, num referendo não vinculativo, 66% dos islandeses aprovaram o documento, mas o projeto nunca foi para a frente.

Sobre a adesão da Islândia à União Europeia, a líder dos piratas islandeses afirma que o importante é "confiar na nação" e não coloca de parte a realização de um referendo sobre o assunto. "Mas é muito importante que se fizermos um referendo como este não façamos os mesmos erros que ocorreram no Reino Unido. Temos de garantir que será uma campanha informativa", sublinhou ao The Washington Post.

Uma Islândia governada pelo Partido dos Piratas será também a Islândia que receberá Edward Snowden de braços abertos. "Disse-lhe a ele e ao advogado dele que ele deveria pedir a nacionalidade, porque aqui há mais proteções contra uma extradição para cidadãos islandeses do que para quem pediu asilo. É nossa política, como partido, conceder-lhe nacionalidade, se ele a pedir", disse ao mesmo jornal.

Caso o Partido dos Piratas ganhe as eleições de hoje, uma coisa é certa: Birgitta Jónsdóttir não quer ser primeira-ministra. O desejo da antiga porta-voz da WikiLeaks é ser presidente do Althing, o Parlamento da Islândia. Um cargo que, diz, lhe permitiria voltar a dar poder à legislatura, ou seja, aproximar a política dos cidadãos, uma das causas dos piratas.

Do seu gabinete no Althing - decorado com um cartaz que diz Free Bradley Manning, uma foto do Dalai Lama e uma bandeira preta dos piratas - Jónsdóttir adiantou à The Nation mais um plano para o seu futuro. "Não estarei aqui daqui a quatro anos", garantiu, caso não consiga levar a cabo reformas estruturais no seu próximo mandato como deputada.

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29
Out16

Livro meu, livro meu, haverá alguém mais carismático do que eu?

António Garrochinho


O dom profano – considerações sobre carisma, o livro de José Sócrates, é apresentado nesta sexta-feira em Lisboa pelo socialista Sérgio Sousa Pinto.


  • Não se sabe se o actual primeiro-ministro, António Costa, e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa lerão o livro, mas o socialista José Sócrates deixou-lhes o desafio implícito na entrevista que deu à TVI, na véspera de a obra chegar às bancas. Tentando fazer jus ao nome, Sócrates dá uma lição sobre liderança e carisma no livro O dom profano  considerações sobre carisma. Nele, o único primeiro-ministro detido até agora em Portugal deixa reflexões para quem o quiser ouvir: “Seja como for, tudo o que é apenas ensaiado e fabricado acaba por soar a falso.”


Esta é apenas uma de muitas observações que o socialista faz no segundo livro que publica. Como quase tudo o que envolve aquele que ficou conhecido como o “animal feroz”, a polémica estalou logo com a primeira obra e com o Ministério Público a suspeitar que não terá sido o próprio a escrevê-la.
Na noite que antecedeu a chegada do livro às bancas, o ex-primeiro-ministro – que tanto suscita ódios como admirações incondicionais – esteve na televisão e afirmou que António Costa ainda “é um líder em formação”. Quanto a Marcelo, foi mais longe no aviso: “O excesso mata qualquer ideia de carisma” e “enfraquece”. O Presidente “devia ter isso em atenção”, alertou o antigo líder do PS.
Mas, afinal, a que conclusões chega José Sócrates no segundo livro dedicado, entre outros, à família que “tudo suportou”? E no qual também não esquece o histórico socialista Mário Soares (que sempre o apoiou), colocando-o ao lado de “líderes carismáticos e democráticos” como Lula, Roosevelt, Gandhi, Luther King, Obama e Mandela. Líderes que, defende, “nunca recorreram à procura histérica de bodes expiatórios nem à ideia de complotsformados secretamente por inimigos escondidos e conjurados”.
Logo nas primeiras páginas, pode ler-se que “tudo o que diz respeito à personalidade política parece ser hoje fruto de um cálculo claramente racional, de estudos de opinião, de trabalho de staff técnico”. Um pouco mais à frente, um alerta: “Assim que o público percebe que por detrás do pano nada existe, o personagem torna-se vazio”.
Sócrates não desvaloriza “a dimensão estética da política nem a força que a presença física e a forma podem dar à palavra”, mas “o que torna excepcionais estes momentos não é a forma, é o conteúdo”, lê-se. “Não é a maneira como se diz; é o significado e a consequência do que é dito. O carisma da forma é fugaz; o carisma do conteúdo é outra coisa. (…) Não, não tem a ver com a beleza da forma, mas talvez com a beleza da coragem.”
O autor destas linhas é o mesmo que, em 2011, foi apanhado desprevenido, em pleno noticiário da TVI, antes de fazer uma declaração ao país. O jornalista passa a emissão para São Bento: “Vai falar o primeiro-ministro”. Estava em causa o anúncio oficial do pedido de ajuda externa. Mas o que se vê é José Sócrates a perguntar: “Ó Luís, vê lá como é que fico melhor a olhar para… Assim fica melhor ou fica melhor assim?” E roda a cabeça, ou o olhar, uns milímetros imperceptíveis. O jornalista desculpa-se em directo: “Não foi de propósito, assistimos sem querer a preparativos do primeiro-ministro para falar ao país.”

VÍDEO
O mesmo político que agora questiona no livro: “Será que estamos condenados ao kitsch político de ouvir um candidato dizer exactamente aquilo que os auditórios querem ouvir, depois dos estudos de opinião e dos focus groups terem indicado as mensagens certas e as palavras de ordem adequadas? Haverá ainda espaço para o novo, o risco, o diferente – numa palavra, para a política?” Mais, lê-se ainda: “Tudo nesta história é produto da televisão, que é o verdadeiro e moderno instrumento da criação da Fama.”

“Todos se calam” mas Sócrates não

Poucos governantes terão tido tanto mediatismo como o antigo-primeiro-ministro, que esteve detido preventivamente na prisão de Évora, no âmbito da Operação Marquês, por suspeita de fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção. Foi, aliás, naquela prisão que esboçou o livro.
O nome de Sócrates tornou-se um incómodo para o PS, dividido nessa altura entre o silêncio e o apoio. Logo no dia seguinte à detenção que aconteceu a 22 de Novembro 2014, António Costa fez questão de enviar uma mensagem aos militantes na qual dizia que “os sentimentos de solidariedade e amizade pessoais não devem confundir a acção política do PS”.
Houve directos do aeroporto, na noite da detenção, quando chegava de Paris. Directos à porta da prisão, mais tarde à porta de casa. Da prisão, Sócrates escreveu cartas para serem publicadas em órgãos de comunicação social. Depois de ser libertado, participou em eventos, alguns em sua homenagem.
O antigo líder socialista, que deu a única maioria absoluta ao partido em eleições legislativas até agora, nunca se conformou com a detenção nem com o facto de não ter sido ainda deduzida a acusação. Num desses almoços, em Lisboa, que juntou mais de 400 pessoas, garantiu: “A minha voz está de volta ao debate público.” Avisou de forma clara: “Se o objectivo de alguém foi” que ela “fosse calada”, tal não vai acontecer. “Eu não me vou calar”, repetiu.
Agora, no livro, Sócrates defende que “o carisma democrático não é o da vingança ou do ressentimento” e que “o elemento essencial do carisma democrático” passa por uma “autoridade que resulta da acção: quando todos se calam, quando todos aceitam e se resignam, quando ninguém sabe o que fazer (…) alguém decide levantar-se e agir”.
José Sócrates, que foi primeiro-ministro entre 2005 e 2011, entre outros cargos que exerceu, pergunta nesta obra: “haverá ainda algum papel para o extraordinário, no mundo do ordinário racional que caracteriza a política contemporânea?”.
O dom profano – considerações sobre carisma vai ser apresentado nesta sexta-feira, às 18h30, no Auditório I da FIL – Centro de Exposições e Congressos de Lisboa. Será o socialista Sérgio Sousa Pinto a apresentar a obra na qual Sócrates questiona ainda: “Quantos personagens carismáticos terão existido – cheios de aura, de qualidades verdadeiramente extraordinárias – sem que ninguém se tenha dado conta (…)?”. E cita Fernando Pessoa: “‘Génio? Neste momento/Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu,/ E a história não marcará, quem sabe?, nem um’”.

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29
Out16

A ideia de mudar a hora nasceu na cabeça de gente madrugadora

António Garrochinho


A prática da hora de Verão começou na Alemanha da Primeira Guerra, como forma de poupar no combustível e aproveitar ao máximo a gratuita luz do Sol. A medida tem 100 anos.
Portugal interrompeu a mudança da hora durante 1922, 1923, 1925, 1930 e 1933 

  • Neste domingo de madrugada, mais precisamente às 2h00, o relógio é atrasado uma hora, passando a ser 1h00 da manhã. Nos Açores a mesma mudança acontece à 1h00 e passa a ser meia-noite. A hora legal muda do regime de Verão para o de Inverno. E tudo começou com uma ideia que nasceu na cabeça de gente madrugadora que se lembrou que a luz do sol era gratuita, pelo que era preciso aproveitá-la. A prática tem 100 anos em Portugal e no mundo.




Benjamin Franklin terá sido o primeiro a verbalizar a ideia, em 1784. Houve um dia, numa estada em Paris, que este cientista, inventor e político americano, foi acordado do seu sono por um barulho. Eram 6 da manhã, constatou. Espreitou para fora e reparou que o sol já tinha nascido, mas que todos, ao contrário de si, ainda dormiam. Ocorreu-lhe que, ao estarem na cama, estavam a desperdiçar a económica, aliás, gratuita, luz natural do sol.
Apressou-se a tornar a sua ideia pública. No seu Ensaio sobre poupança da luz solar, publicado no Journal de Paris, advogou que havia que mudar a hora, para rentabilizar a luz solar. No seu artigo faz elaborados cálculos sobre a quantidade de velas que seriam poupadas, se as pessoas se levantassem mais cedo e fossem para cama também mais cedo.
Propôs aliás, de forma irónica, medidas muito concretas para pôr toda a gente em sintonia com o aparecimento e desaparecimento do astro-rei. A saber: “Assim que o sol nascer, todos os sinos de todas as igrejas devem tocar e, se isso não foi suficiente, devem ser disparadas balas de canhão em todas as ruas, para acordar os preguiçosos e levá-los a abrir os olhos em seu próprio benefício.”
Ao mesmo tempo, o autor defendeu que, mal o sol se pusesse, era importante que as actividades parassem. “Depois do pôr do sol os guardas devem impedir a circulação de todas as carruagens nas ruas, à excepção de médicos e parteiras.”

1916, a primeira vez

Em 1905 foi a vez de o construtor britânico William Willet (curiosidade: é bisavô do vocalista dos Coldplay, Chris Martin) vir dizer algo parecido no escrito Desperdício de luz solar. Consta que a ideia lhe surgiu depois de uma cavalgada de madrugada, lá está, ainda antes de ter tomado o pequeno-almoço. Constatou então que muitos londrinos ainda dormiam e que desperdício era não estarem a aproveitar tanta claridade. A solução que propôs foi o adiantamento do relógio nos meses de Verão. Passaria o resto da sua vida a defender esta causa. Mas morreria em 1915, um ano antes da sua concretização.
Será na Alemanha e não em Inglaterra que o horário de Verão será adoptado pela primeira vez, a 30 de Abril 1916, adiantando-se os relógios uma hora. A medida seria aplicada por razões práticas em plena Primeira Guerra Mundial: era uma forma de poupar no uso de iluminação artificial e economizar combustível para o esforço da guerra, refere um resumo histórico sobre os 100 anos da hora de Verão no site do Observatório Astronómico de Lisboa.
No mês seguinte foi a vez de o Reino Unido aprovar o Summer Time Act. Portugal começou a aplicar a hora de Verão nesse mesmo ano, através dos decretos n.º 2433 e n.º 2712. Aí se ditava que a hora seria adiantada 60 minutos às 23h00 de 17 de Junho até à 1 hora do dia 1 de Novembro. A consulta da tabela portuguesa de mudanças de hora desde essa data até hoje permite-nos perceber que, ao longo dos anos, se sucederam variações e intermitências na prática. Portugal interrompeu, por exemplo, a mudança da hora durante 1922, 1923, 1925, 1930 e 1933, anos em que se manteve a hora de Verão durante todo o ano.
E houve ainda anos em que a alteração foi feita em meses variados. Houve anos em que Portugal saía do horário de Verão no final de Setembro, enquanto noutros países isso se fazia em Outubro. “Durante este mês era uma confusão nas transacções”, lembra Rui Agostinho, director do Observatório Astronómico de Lisboa. “Andou-se a experimentar”, “a tentar perceber como é que as pessoas se sentiam”, diz o astrofísico.
Depois, houve mesmo um período, que foi de 1992 a 1996, em que o Governo português decidiu adoptar a hora de Bruxelas. Os argumentos eram políticos e da esfera dos negócios. Alegava-se a dependência da Bolsa de Frankfurt, recorda. O que aconteceu, na altura, foi que Portugal ficou, na prática, duas horas desfasado da sua hora solar, lembra. Percebeu-se que isso trazia mal-estar às pessoas e acabou por ser abandonado, recorda o também professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
O que acontece actualmente é que Portugal está desfasado da hora solar em 1h37 minutos; com a mudança da hora no domingo essa diferença passa a ser apenas de 37 minutos, explica.

Poupar petróleo

Ao contrário de Portugal, muitos países abandonaram a hora de Verão após o fim da Primeira Guerra e apenas a retomaram na Segunda Guerra Mundial. Depois deste conflito, as discussões em torno de vantagens e desvantagens têm sido muitas, recorda-se no site do Observatório Astronómico de Lisboa.
O facto de a mudança não ser feita em simultâneo leva, por exemplo, a dificuldades de comunicação e transportes; por outro lado, uma mudança simultânea sem levar em consideração as diferentes latitudes  faz com que em alguns locais a hora de Verão se prolongue para semanas em que a duração da luz do dia já é pequena.
Mas uma coisa parece certa: tanto Benjamin Franklin como William Willet tinham razão quando alegavam benefícios económicos. “Os efeitos na poupança energética são em geral significativos.” Por exemplo: a adopção da hora de Verão nos Estados Unidos, durante a crise do petróleo de 1973, levou a uma poupança de energia equivalente a 10.000 barris de petróleo por dia.
Com a adesão de Portugal à União Europeia as regras passaram a ser uniformes, tornou-se uma regra de adesão, refere Rui Agostinho. “Um bem mais alto sobrepôs-se: a gestão da União Europeia como um todo, a vida colectiva.” Em 1996, a UE padronizou a hora de Verão entre os Estados-membros.
Mas, ao contrário do que se possa pensar, a maioria dos países do mundo não muda a hora: são 68% os que não o fazem, o que representa 80% da população mundial, refere o site da BBC.
Rui Agostinho diz que nas zonas equatoriais as diferenças entre Verão e Inverno são menos acentuadas, o que faz com que estes países não tenham grande coisa a ganhar com as mudanças de hora.

No início era o Sol

Mas houve um tempo em que na vida das pessoas não havia relógios e elas se regiam pelo Sol propriamente dito, começando o dia quando ele começava, terminando-o quando ele se punha.
A adopção do horário de Verão (e, logo, da mudança quando chega ao Inverno) foi em 1916, mas houve uma outra alteração ainda mais radical: o início da chamada “hora legal” que, em Portugal, foi adoptada em 1912, depois da instauração da República. A Convenção de Washington, em 1884, tinha criado os fusos horários, mas apenas cerca de 30 países tinham aderido a este sistema de uniformização da hora — Portugal não foi um deles.
Antes de 1912 acontecia que em Portugal “cada localidade media as suas horas, de acordo com a observação que fazia das estrelas”. Estes observatórios ficavam muitas vezes em mosteiros e casas senhoriais. “Os minutos não batiam certo”, diz Rui Agostinho. O tempo no país era desfasado.
Mas essa diferença horária não trazia grandes problemas, porque não havia grandes movimentações de pessoas e comunicações, nota. Precisamente por causa dessa falta de uniformização do tempo é interessante perceber como há toda uma polémica em torno da hora a que teve lugar o maremoto de 1775, lembra.
Foi com o alargamento das transacções comerciais e dos transportes e telecomunicações que se impôs a necessidade criar algum tipo de sincronia; daí surgiu a hora legal portuguesa. O relógio oficial da hora legal esteve durante muitos anos no Cais do Sodré, em Lisboa.
O estabelecimento da hora legal foi também uma forma de a recém-instaurada República se demarcar dos tempos passados da Monarquia. Era como se estivesse a dizer que, com o novo regime, tinham começado os tempos modernos e acabado os antigos. O outrora chamado Real Astronómico da Ajuda deixou de ser “real” e a observação e a medição que a instituição fazia dos astros tornou-se quase indiferente. Já não eram apenas os astros a reger os horários.

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