Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

orouxinoldaresistencia

POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

orouxinoldaresistencia

10
Nov16

A gradual recomposição do mercado de trabalho

António Garrochinho


As mais recentes estatísticas do mercado de trabalho, relativas ao passado mês de setembro, evidenciam uma consolidação da tendência verificada desde o início do ano para a recuperação do emprego (mais 86 mil postos de trabalho que em setembro de 2015), a diminuição do desemprego (menos 70 mil desempregados em termos homólogos) e o aumento da população ativa (mais 0,3% face a setembro do ano passado).

Estes dados deverão ser suficientes para reduzir a pó a ideia, tão insistentemente propalada pela direita, de que a solução governativa das esquerdas representava uma ameaça nefasta para o mercado de trabalho, ao comportar medidas como o aumento do salário mínimo que, segundo Passos, constituiria uma «barreira à criação de emprego» e conduziria a um «aumento do desemprego». Ora, não só nada disso não se verificou, como a recuperação do mercado de trabalho tem ocorrido com uma diminuição gradual das formas ocultas de desemprego, que serviram à direita para mascarar o seu aumento nos anos de «ajustamento».

Com efeito, a par da criação de emprego e da redução do desemprego, tem vindo também a diminuir, de forma gradual, o número de desempregados ocupados (que contam estatisticamente como emprego), o número de inativos desencorajados (que não são contabilizados no desemprego) e o fenómeno do subemprego (que pode ser encarado como uma expressão oculta de desemprego). Se somarmos este conjunto de situações ao número de desempregados do INE, constatamos que não é só o «desemprego oficial» que tem vindo a cair, mas também - e de modo um pouco mais acentuado - o «desemprego real». O que significa que as estatísticas do mercado de trabalho estão novamente, e ainda que de modo gradual, a aproximar-se da realidade e a ser capazes de melhor a traduzir.



ladroesdebicicletas.blogspot.pt
10
Nov16

Não se vê luz ao fundo do túnel por CARLOS CARVALHAS

António Garrochinho























"A questão que se coloca é até quando os povos vão tolerar que a banca continue a desestabilizar a situação econômica e até quando vão tolerar pagar direta e indiretamente o grosso da fatura, em nome do salvamento da banca mas de fato do salvamento das fortunas dos banqueiros e grandes acionistas, pese embora o disfarce da legislação europeia sobre a «resolução bancária»."

"É a via do empobrecimento contínuo para a larga maioria da população e a concentração da riqueza para uma reduzida minoria, a que chamam política de austeridade."
Nove anos depois do rebentar da Bolsa, em Agosto de 2007, seguido do brutal crash financeiro, a economia mundial não consegue dar resposta às principais questões com que tem estado confrontada: elevadíssimo endividamento privado e público, crescimento anêmico, elevadas taxas de desemprego, taxas de inflação quase nulas e taxas de juro directoras nulas ou negativas, políticas e programas dos bancos centrais (d'assouplissement monetaire – quantitative easing) de fornecimento maciço de liquidez à banca, que não tem conseguido relançar a inflação nem estabilizar as finanças.

As contradições do sistema acumulam-se, o recurso às taxas negativas, com o objectivo de facilitar o investimento, combater a deflação e permitir o financiamento das empresas e dos Estados, tornando mais suportável o garrote das dívidas, não se pode manter indefinidamente.

Por um lado, o sistema financeiro acusa os bancos centrais de com as taxas negativas laminarem as margens bancárias e dos seguros (de que pouco se fala mas que estão estreitamente imbricados aos bancos e fundos de investimento e que podem ser os primeiros a deflagrar), por outro, os mesmos bancos, as empresas e os Estados fortemente endividados temem pelo aumento das taxas de juro.

Os bancos centrais dizem que não podem fazer tudo, que os Estados têm a sua quota parte, mas não se vê um caminho claro. Perante o impasse, Mário Draghi, vai dizendo «é preciso que os governos nacionais tomem medidas para libertar o crescimento, reduzir o desemprego, capacitar os indivíduos e oferecer protecção aos mais vulneráveis». Santa oração!

A pressão da deflação continua a verificar-se, designadamente, nos países do Sul da Europa, mas também em muitos outros. O seu prolongamento, tal como a experiência do Japão revela, aponta-nos os perigos de se ultrapassar o que se considera os limites da «irreversibilidade económica» caindo na armadilha da deflação.

Como o mostram, entre outros, os trabalhos do economista americano Irving Fisher (1867-1974), a pressão deflacionista e a austeridade orçamental criam uma mistura explosiva.

Estagnação, crescimento letárgico, estagnação secular, são expressões que se repetem para caracterizar uma situação que vai acumulando perigoso material explosivo pronto a deflagrar.

Mas esta constatação comum nas análises de economistas, especialistas financeiros e até de banqueiros, tem tido como resposta por parte dos bancos centrais, governos e sistema financeiro no seu conjunto, a fuga para a frente, o procurar ganhar tempo, apesar de saberem que uma nova crise terá efeitos devastadores muito superiores aos das crises precedentes e que os bancos centrais estão a ficar sem munições.

Como já foi afirmado, eles não sabem o que fazer e a instabilidade e incerteza são o que mais caracterizam a situação.

Quando tantas vozes, mesmo do sistema, afirmam que os bancos centrais devem guardar munições é porque no seu pensamento há a convicção que novas crises do sistema financeiro são muito prováveis ou praticamente inevitáveis.

Na União Europeia, para além da crise económica, financeira, das dívidas públicas e privadas, da crise social, dos refugiados, do terrorismo, há ainda as incertezas dos actos eleitorais e as negociações sobre o Brexit.

O quadro é de tal ordem que na pomposamente denominada «declaração de Bratislava» se afirma querer oferecer aos europeus «uma visão atraente da União Europeia»!!!

A insistência na mesma política

A dogmática insistência na mesma política tem levado à acentuação das desigualdades e ao marasmo da atividade econômica sem a resolução da estabilidade do sistema financeiro ou a diminuição das dívidas públicas e privadas.

Hoje fica muito claro que as políticas ditas de austeridade, como a prática o demonstra, foram e são políticas de concentração de riqueza.

Que as dívidas privadas eram muito superiores às dívidas públicas (dois terços da dívida mundial é privada).

Que o substancial aumento das dívidas públicas, pagas pelos contribuintes, no essencial pelos assalariados, é na sua maior parte resultante dos generosos planos de socorro em benefício da banca, isto é, do auxílio directo e indirecto aos banqueiros e grandes accionistas e na resposta à crise provocada pelo mesmo sistema financeiro.

Nove anos depois da crise ter eclodido, a banca «está ligada à máquina» dos bancos centrais, em estado comatoso e tem utilizado a liquidez não para impulsionar a economia, mas para continuar com as mesmas políticas especulativas: derivados, futuros… 1

Que em matéria de criminalidade financeira e hipocrisia fiscal, na prática, muito pouca coisa mudou, como o caso do panama papers o evidencia. Muitas das medidas tomadas contra os paraísos fiscais foram mais para a opinião pública ver do que para terem efeito real, pese embora as declarações definitivas na altura de vários dirigentes, como as de Sarkozy em 23/10/2009: «Os paraísos fiscais e o segredo bancário terminaram».

Que os Stress Tests à banca foram concebidos, no essencial, para iludir a opinião pública, dar confiança aos depositantes. Em 29 de Julho de 2016 foram divulgados os resultados dos terceiros Stress Tests, realizados após a crise dita de 2007/2008 e mais uma vez em estado de negação procurou-se sossegar os depositantes. Um método de auto-sugestão sobre a ausência da gravidade dos problemas, tal como o mostram o Deutsche Bank, a banca italiana, espanhola, francesa,...

O Deutsche Bank veio mostrar aquilo que há muito se afirmava mas que o governo alemão e em particular o arrogante ministro das finanças negava, ou seja que a banca alemã, sobretudo a regional (Lands), mas não só, estava também em maus lençóis.

O Deustche Bank não só enfrenta alguns milhares de processos como está assente numa montanha colossal de derivados. A quebra do seu produto bancário, e o afundamento da valorização na Bolsa são uma realidade. Mas o Deustche Bank é apenas a ponta do iceberg do sistema bancário.

A litigância, o crédito mal parado, os derivados, activos sobrevalorizados não são exclusivo do Deutsch Bank. São apontados, entre muitos outros, JP Morgan, Creditrights, Barclays, Royal Bank of Scotland, Crédit Suisse, UBS e os maiores bancos italianos... E o mesmo se passa nos EUA.

A questão que se coloca é até quando os povos vão tolerar que a banca continue a desestabilizar a situação econômica e até quando vão tolerar pagar direta e indiretamente o grosso da fatura, em nome do salvamento da banca mas de fato do salvamento das fortunas dos banqueiros e grandes acionistas, pese embora o disfarce da legislação europeia sobre a «resolução bancária». O Bail In.

A banca cria moeda e a moeda é um bem público que deve estar nas mãos do Estado e não de privados.

Se a banca fosse pública mesmo que houvesse necessidade de intervenção do Estado, a factura dos contribuintes não iria engordar banqueiros mas salvaguardar património público em que futuros lucros ficariam no Estado aliviando a carga fiscal.

A política dita de austeridade para resolver os problemas de bancos e banqueiros privados e de um euro construído segundo os interesses da Alemanha tem criado graves situações sociais e um crescente descontentamento.

O mal-estar na União Europeia, a exasperação dos povos, um misto de cólera e de desespero como nos recorda Jacques Sapir, tem obrigado dirigentes cada vez mais impopulares a tomar posições muitas vezes contrárias às que sempre defenderam.

A proximidade das eleições assim o obriga. É o caso da dita Parceria Transatlântica (TTIP). Depois de tantas negociações descobriram agora que estas não são transparentes. Assim, no seguimento das palavras do ministro da economia alemão Sigmar Gabriel, rejeitando tal Tratado, Hollande veio dizer que o Tratado estava morto.

Em editorial o Público concluía, pesaroso: mais valia um mau Tratado do que Tratado nenhum!

No entanto, tudo indica que estamos mais uma vez perante manobras politiqueiras em vésperas de eleições, sabendo-se que as opiniões públicas estão crescentemente contra aquele Tratado. 2

Angela Merkel, não negando o seu ministro da economia, disse no entanto que ela continuava a defender o projecto.

A manobra é clara. O governo francês e alemão, com nuances, tomam publicamente posição contra o Tratado que nada de positivo traz aos pequenos e médios produtores e aos consumidores, servindo apenas a finança e as transnacionais. Mas não dão o passo de revogar o mandato explícito que deram à Comissão que continua a negociar, como aliás confirmou Juncker! Depois das eleições, como já alguém lembrou, sempre poderão dizer que estão contra o Tratado, mas que foi a Comissão que negociou.

Por cá, PSD, CDS e o governo foram parcos em palavras procurando passar por entre os pingos da chuva. Embora esta União Europeia tenha uma posição de clara submissão aos EUA, como se vê nas sanções à Rússia e na vergonhosa guerra da Síria, a verdade é que a crise capitalista tem agudizado contradições, como também o mostra o TTIP, as «guerras monetárias» e as multas à banca e a multinacionais de base americana e europeia.

Portugal

Como se sabe Portugal desde que o euro entrou em circulação teve um crescimento médio nulo.

As privatizações de empresas básicas e estratégicas, algumas a pretexto ou mesmo ditadas pela pressão do défice face às exigências de Bruxelas retiraram ao Estado uma fonte de financiamento e poder de intervenção. Afirmámos e reafirmámos na altura que, com a adesão à CEE, mais se justificava a existência de um forte e dinâmico sector empresarial do Estado, não só por razões de condução de uma política económica segundo os nossos interesses, mas também porque com as privatizações estas, mais tarde ou mais cedo, cairiam nas mãos do estrangeiro. Está escrito e reescrito.

É interessante revisitar hoje a argumentação dos «ideólogos das privatizações».

Primeiro afirmaram que estas ficariam «indubitavelmente» em mãos nacionais e que ganhariam em eficiência.

O Estado não é gestor, e muito particularmente em relação à banca, diziam.

Chegaram a afirmar que o governo e a Caixa Geral de Depósitos deveriam criar condições favoráveis (taxas de juro, garantias) para que os centros de decisão continuassem em Portugal.

Grandes empresários chegaram a ir em conjunto ao Presidente da República (PR) pressionando para que as ditas facilidades fossem concedidas. E foram muitas das quais estamos a pagá-las.

Apanhadas as empresas privatizadas, os mesmos do cortejo ao PR não tardaram em vendê-las. O Banco Totta foi uma das que passou para as mãos do Santander, como se sabe.

Com o andar do tempo, e sempre com os mesmos pretextos, não só as empresas mais lucrativas foram privatizadas, como foram caindo no domínio estrangeiro. Apareceram então novos argumentos nos grandes meios de comunicação social de mercado, também eles dominados pelo grande capital nacional e estrangeiro.

O argumento de que a nacionalidade dos centros de decisão não contava para nada, que era um falso problema, que o que era preciso era regulamentação apertada para que os interesses do País ficassem salvaguardados. Foi o que se sabe e o que se tem visto:

Quanto à eficiência da gestão privada esta foi exemplarmente confirmada, por exemplo, no Espírito Santo, BANIF, BPN, BPP,…

Quanto ao argumento de que a nacionalidade dos centros de decisão são um falso problema aí temos a saída de lucros e dividendos para o estrangeiro a demonstrá-lo. Os lucros e dividendos saídos do País, conjuntamente com os juros da dívida, ultrapassam o montante de todos os fundos vindos da União Europeia desde que o Euro entrou em circulação, e são um sufoco para qualquer política de desenvolvimento.

O País não dispõe de política monetária nem cambial. Praticamente também não dispõe de política orçamental, e como os principais centros de decisão estratégicos estão na mão de privados estrangeiros e nacionais, está cada vez mais limitado para definir e concretizar uma política económica autónoma.

O caso das papeleiras, por exemplo, se estivessem nas mãos do Estado poderiam ser uma alavanca importante no combate aos fogos, sobretudo no que toca ao ordenamento da floresta e prevenção dos fogos, desde logo pela valorização do preço das madeiras, que, como está, é um incentivo claro ao abandono.

Portugal é hoje uma nação com uma soberania muito limitada e com o sistema bancário praticamente nas mãos do estrangeiro, que domina também importantes sectores da comunicação social. Quando o poder político se subordina ao poder económico, temos a dominação do País pelo capital estrangeiro.

Hoje já são várias as vozes, e de vários quadrantes, que se dão conta desta grave situação. Santana Lopes, por exemplo, em artigo recente, preconiza a criação de uma frente ampla de capitais portugueses de instituições e empresários para que o «Novo Banco» fique em mãos nacionais. Uma ilusão. Como sempre dissemos e a experiência o demonstra, a banca ou é pública ou acaba por ser dominada pelo estrangeiro.

A situação não é fácil dado o colete de forças em que estamos envolvidos: elevadíssima dívida externa, exigências de redução acentuada do défice, «cumprimento do pacto de estabilidade», uma envolvente externa em depressão, ameaças e chantagens do Banco Central Europeu, da Comissão Europeia e das chamadas empresas de notação.

Portugal precisa de crescimento económico, designadamente para pagar a dívida, dizem estes. Mas para ter crescimento económico Portugal precisa de aumentar as exportações (procura externa), aumentar o mercado interno e investir. As exportações têm sido penalizadas pela situação no Brasil, Angola, Venezuela, e para haver investimento público a lebre que atrai o investimento privado é necessário utilizar os fundos estruturais que são em parte comparticipados pelo Estado. Mas para haver uma elevada utilização dos fundos com a comparticipação do Estado é necessária uma flexibilização do défice ou a libertação de meios pela reestruturação da dívida, ou as duas simultaneamente.

A ortodoxia neoliberal ao serviço da plutocracia europeia, à boa maneira de Thatcher (There is no alternative) continua a apontar um único caminho, a que chama eufemisticamente o da desvalorização interna (redução de salários, pensões e serviços públicos – saúde, ensino,…) para compensar a perda de competitividade, designadamente pela valorização do Euro.

É a via do empobrecimento contínuo para a larga maioria da população e a concentração da riqueza para uma reduzida minoria, a que chamam política de austeridade.

Aqui chegados, é uma evidência que estamos confrontados com dois grandes garrotes a que é necessário dar resposta: o da dívida e o do euro.

Quanto à dívida sempre afirmámos que ela devia ser renegociada, e na altura estávamos num quadro de relação de forças muito mais favorável.

É significativo que o estudo sobre a crise portuguesa, do Background Paper, do Independent Evolution Office do Fundo Monetário Internacional (The Portuguese Crisis and the IMF), para além de apontar os erros das previsões, dos multiplicadores,... nos venha agora dizer que a dívida devia ter sido reestruturada.

A política de juros baixos, ou até negativos, praticada pela generalidade dos bancos centrais e pelo Banco Central Europeu (BCE), representa um alívio no montante dos juros a pagar pelos Estados, empresas e famílias, mas cria novas contradições e apenas concede tempo. Não resolve os problemas da dívida. Estamos de novo na «armadilha da dívida» e, no caso da União Europeia, na «dominação dos Estados mais endividados pela via do BCE». Fala-se muito da dívida pública e, não por acaso, muito pouco da dívida privada, empresas e «famílias», e em relação a estas praticamente não há referência a esta forma de exploração secundária pela via dos juros exorbitantes e que é independente da extracção da mais-valia no processo de produção. 3

As questões da dívida externa e da soberania financeira são questões centrais. Portugal não pode ficar continuamente sob a chantagem do BCE e das agências de rating que este influencia, como é o caso da DBRS.

Quanto ao Euro, a sua defesa com argumentos de que tem sido um factor de paz (Varoufakis), a guerra da Jugoslávia parece que não se verificou na Europa e no tempo do «Euro»; ou com a ideia de que o que falta é a «fuga para a frente, federalismo, união política,… é uma pura mistificação. O «Euro» é uma fonte de divisão entre os países da União Europeia pelas contradições que gera, um factor de empobrecimento para os países de economias mais débeis e de liquidação do Estado social, e um factor, pelo agravamento da situação social que alimenta, da xenofobia e do ascenso da extrema-direita.

Quanto ao federalismo como uma «União de Transferências», isto é, com um forte orçamento comunitário que fizesse uma redistribuição da riqueza e compensasse as «perdas» geradas pelo Euro, é também outra ilusão. Os países mais ricos nunca quiseram pagar os avanços federalistas já verificados (o orçamento comunitário faz o mínimo) e, no caso de uma redistribuição mais efectiva, os desníveis entre as estruturas económicas dos diversos países da União Europeia é de tal ordem que, só para os países do Sul (Portugal, Espanha, França, Itália) está calculado que as transferências exigiriam um pagamento de 10% (entre 8% a 12%, segundo os estudos) do PIB alemão, o que se considera, política e economicamente, insustentável.

É também escusado acenar com o apocalipse da saída do Euro, cujos custos não são desconhecidos, como se fosse defendida uma saída unilateral intempestiva. A solução do Euro será política e preferencialmente negociada entre países com estruturas económicas mais débeis – nos quais se encontra Portugal –, as instituições comunitárias e os outros Estados-membros, sendo também do interesse de países que hoje são os principais beneficiários da moeda única, pois a débil situação estrutural dos países ditos do Sul será sempre e cada vez mais um factor potencial de divisão, instabilidade e acentuação das desigualdades na zona euro.

Alimentar ilusões é continuar a cavar nas divisões e conflitos entre os países da União Europeia, é continuar com a estagnação e o «colonialismo» dos países do Sul é empobrecer cada vez mais a democracia, é aceitar a destruição das conquistas sociais, a acentuação das desigualdades, da insegurança, é continuar a procurar iludir a conivência de posições ditas de esquerda com a política de austeridade, isto é, com a política de brutal concentração de riqueza. Ora isto não serve Portugal nem a Europa dos trabalhadores, dos povos e das nações!


CARLOS CARVALHAS


Notas

(1) Contratos a prazo celebrados e valorizados por referência a um determinado activo (taxa de juros... chamado produto subjacente) para a cobertura de riscos e especulação.↲

(2) «(...) se o TTIP for adoptado [as empresas transnacionais] terão até o direito de apresentar queixa contra os Estados em tribunais arbitrais privados… A desagregação do tecido democrático leva-nos a perguntar o que acontecerá à responsabilidade, à transparência, à representatividade, à inclusão e à gestão do bem comum no interesse de todos os cidadãos.» Susan George, «Os Usurpadores», p. 189.↲

(3) «O capital fictício», Cédric Durand, «Finantial Profit: Profit from Production and Profit upon Alienation», Costas Lapavitsas e Iren Levina.

Fonte: Revista "O Militante" ECONOMIA, EDIÇÃO Nº 345 - NOV/DEZ 2016


mafarricovermelho.blogspot.pt

10
Nov16

Não se vê luz ao fundo do túnel por CARLOS CARVALHAS

António Garrochinho



















"A questão que se coloca é até quando os povos vão tolerar que a banca continue a desestabilizar a situação econômica e até quando vão tolerar pagar direta e indiretamente o grosso da fatura, em nome do salvamento da banca mas de fato do salvamento das fortunas dos banqueiros e grandes acionistas, pese embora o disfarce da legislação europeia sobre a «resolução bancária»."



"É a via do empobrecimento contínuo para a larga maioria da população e a concentração da riqueza para uma reduzida minoria, a que chamam política de austeridade."
Nove anos depois do rebentar da Bolsa, em Agosto de 2007, seguido do brutal crash financeiro, a economia mundial não consegue dar resposta às principais questões com que tem estado confrontada: elevadíssimo endividamento privado e público, crescimento anêmico, elevadas taxas de desemprego, taxas de inflação quase nulas e taxas de juro directoras nulas ou negativas, políticas e programas dos bancos centrais (d'assouplissement monetaire – quantitative easing) de fornecimento maciço de liquidez à banca, que não tem conseguido relançar a inflação nem estabilizar as finanças.

As contradições do sistema acumulam-se, o recurso às taxas negativas, com o objectivo de facilitar o investimento, combater a deflação e permitir o financiamento das empresas e dos Estados, tornando mais suportável o garrote das dívidas, não se pode manter indefinidamente.

Por um lado, o sistema financeiro acusa os bancos centrais de com as taxas negativas laminarem as margens bancárias e dos seguros (de que pouco se fala mas que estão estreitamente imbricados aos bancos e fundos de investimento e que podem ser os primeiros a deflagrar), por outro, os mesmos bancos, as empresas e os Estados fortemente endividados temem pelo aumento das taxas de juro.

Os bancos centrais dizem que não podem fazer tudo, que os Estados têm a sua quota parte, mas não se vê um caminho claro. Perante o impasse, Mário Draghi, vai dizendo «é preciso que os governos nacionais tomem medidas para libertar o crescimento, reduzir o desemprego, capacitar os indivíduos e oferecer protecção aos mais vulneráveis». Santa oração!

A pressão da deflação continua a verificar-se, designadamente, nos países do Sul da Europa, mas também em muitos outros. O seu prolongamento, tal como a experiência do Japão revela, aponta-nos os perigos de se ultrapassar o que se considera os limites da «irreversibilidade económica» caindo na armadilha da deflação.

Como o mostram, entre outros, os trabalhos do economista americano Irving Fisher (1867-1974), a pressão deflacionista e a austeridade orçamental criam uma mistura explosiva.

Estagnação, crescimento letárgico, estagnação secular, são expressões que se repetem para caracterizar uma situação que vai acumulando perigoso material explosivo pronto a deflagrar.

Mas esta constatação comum nas análises de economistas, especialistas financeiros e até de banqueiros, tem tido como resposta por parte dos bancos centrais, governos e sistema financeiro no seu conjunto, a fuga para a frente, o procurar ganhar tempo, apesar de saberem que uma nova crise terá efeitos devastadores muito superiores aos das crises precedentes e que os bancos centrais estão a ficar sem munições.

Como já foi afirmado, eles não sabem o que fazer e a instabilidade e incerteza são o que mais caracterizam a situação.

Quando tantas vozes, mesmo do sistema, afirmam que os bancos centrais devem guardar munições é porque no seu pensamento há a convicção que novas crises do sistema financeiro são muito prováveis ou praticamente inevitáveis.

Na União Europeia, para além da crise económica, financeira, das dívidas públicas e privadas, da crise social, dos refugiados, do terrorismo, há ainda as incertezas dos actos eleitorais e as negociações sobre o Brexit.

O quadro é de tal ordem que na pomposamente denominada «declaração de Bratislava» se afirma querer oferecer aos europeus «uma visão atraente da União Europeia»!!!

A insistência na mesma política

A dogmática insistência na mesma política tem levado à acentuação das desigualdades e ao marasmo da atividade econômica sem a resolução da estabilidade do sistema financeiro ou a diminuição das dívidas públicas e privadas.

Hoje fica muito claro que as políticas ditas de austeridade, como a prática o demonstra, foram e são políticas de concentração de riqueza.

Que as dívidas privadas eram muito superiores às dívidas públicas (dois terços da dívida mundial é privada).

Que o substancial aumento das dívidas públicas, pagas pelos contribuintes, no essencial pelos assalariados, é na sua maior parte resultante dos generosos planos de socorro em benefício da banca, isto é, do auxílio directo e indirecto aos banqueiros e grandes accionistas e na resposta à crise provocada pelo mesmo sistema financeiro.

Nove anos depois da crise ter eclodido, a banca «está ligada à máquina» dos bancos centrais, em estado comatoso e tem utilizado a liquidez não para impulsionar a economia, mas para continuar com as mesmas políticas especulativas: derivados, futuros… 1

Que em matéria de criminalidade financeira e hipocrisia fiscal, na prática, muito pouca coisa mudou, como o caso do panama papers o evidencia. Muitas das medidas tomadas contra os paraísos fiscais foram mais para a opinião pública ver do que para terem efeito real, pese embora as declarações definitivas na altura de vários dirigentes, como as de Sarkozy em 23/10/2009: «Os paraísos fiscais e o segredo bancário terminaram».

Que os Stress Tests à banca foram concebidos, no essencial, para iludir a opinião pública, dar confiança aos depositantes. Em 29 de Julho de 2016 foram divulgados os resultados dos terceiros Stress Tests, realizados após a crise dita de 2007/2008 e mais uma vez em estado de negação procurou-se sossegar os depositantes. Um método de auto-sugestão sobre a ausência da gravidade dos problemas, tal como o mostram o Deutsche Bank, a banca italiana, espanhola, francesa,...

O Deutsche Bank veio mostrar aquilo que há muito se afirmava mas que o governo alemão e em particular o arrogante ministro das finanças negava, ou seja que a banca alemã, sobretudo a regional (Lands), mas não só, estava também em maus lençóis.

O Deustche Bank não só enfrenta alguns milhares de processos como está assente numa montanha colossal de derivados. A quebra do seu produto bancário, e o afundamento da valorização na Bolsa são uma realidade. Mas o Deustche Bank é apenas a ponta do iceberg do sistema bancário.

A litigância, o crédito mal parado, os derivados, activos sobrevalorizados não são exclusivo do Deutsch Bank. São apontados, entre muitos outros, JP Morgan, Creditrights, Barclays, Royal Bank of Scotland, Crédit Suisse, UBS e os maiores bancos italianos... E o mesmo se passa nos EUA.

A questão que se coloca é até quando os povos vão tolerar que a banca continue a desestabilizar a situação econômica e até quando vão tolerar pagar direta e indiretamente o grosso da fatura, em nome do salvamento da banca mas de fato do salvamento das fortunas dos banqueiros e grandes acionistas, pese embora o disfarce da legislação europeia sobre a «resolução bancária». O Bail In.

A banca cria moeda e a moeda é um bem público que deve estar nas mãos do Estado e não de privados.

Se a banca fosse pública mesmo que houvesse necessidade de intervenção do Estado, a factura dos contribuintes não iria engordar banqueiros mas salvaguardar património público em que futuros lucros ficariam no Estado aliviando a carga fiscal.

A política dita de austeridade para resolver os problemas de bancos e banqueiros privados e de um euro construído segundo os interesses da Alemanha tem criado graves situações sociais e um crescente descontentamento.

O mal-estar na União Europeia, a exasperação dos povos, um misto de cólera e de desespero como nos recorda Jacques Sapir, tem obrigado dirigentes cada vez mais impopulares a tomar posições muitas vezes contrárias às que sempre defenderam.

A proximidade das eleições assim o obriga. É o caso da dita Parceria Transatlântica (TTIP). Depois de tantas negociações descobriram agora que estas não são transparentes. Assim, no seguimento das palavras do ministro da economia alemão Sigmar Gabriel, rejeitando tal Tratado, Hollande veio dizer que o Tratado estava morto.

Em editorial o Público concluía, pesaroso: mais valia um mau Tratado do que Tratado nenhum!

No entanto, tudo indica que estamos mais uma vez perante manobras politiqueiras em vésperas de eleições, sabendo-se que as opiniões públicas estão crescentemente contra aquele Tratado. 2

Angela Merkel, não negando o seu ministro da economia, disse no entanto que ela continuava a defender o projecto.

A manobra é clara. O governo francês e alemão, com nuances, tomam publicamente posição contra o Tratado que nada de positivo traz aos pequenos e médios produtores e aos consumidores, servindo apenas a finança e as transnacionais. Mas não dão o passo de revogar o mandato explícito que deram à Comissão que continua a negociar, como aliás confirmou Juncker! Depois das eleições, como já alguém lembrou, sempre poderão dizer que estão contra o Tratado, mas que foi a Comissão que negociou.

Por cá, PSD, CDS e o governo foram parcos em palavras procurando passar por entre os pingos da chuva. Embora esta União Europeia tenha uma posição de clara submissão aos EUA, como se vê nas sanções à Rússia e na vergonhosa guerra da Síria, a verdade é que a crise capitalista tem agudizado contradições, como também o mostra o TTIP, as «guerras monetárias» e as multas à banca e a multinacionais de base americana e europeia.

Portugal

Como se sabe Portugal desde que o euro entrou em circulação teve um crescimento médio nulo.

As privatizações de empresas básicas e estratégicas, algumas a pretexto ou mesmo ditadas pela pressão do défice face às exigências de Bruxelas retiraram ao Estado uma fonte de financiamento e poder de intervenção. Afirmámos e reafirmámos na altura que, com a adesão à CEE, mais se justificava a existência de um forte e dinâmico sector empresarial do Estado, não só por razões de condução de uma política económica segundo os nossos interesses, mas também porque com as privatizações estas, mais tarde ou mais cedo, cairiam nas mãos do estrangeiro. Está escrito e reescrito.

É interessante revisitar hoje a argumentação dos «ideólogos das privatizações».

Primeiro afirmaram que estas ficariam «indubitavelmente» em mãos nacionais e que ganhariam em eficiência.

O Estado não é gestor, e muito particularmente em relação à banca, diziam.

Chegaram a afirmar que o governo e a Caixa Geral de Depósitos deveriam criar condições favoráveis (taxas de juro, garantias) para que os centros de decisão continuassem em Portugal.

Grandes empresários chegaram a ir em conjunto ao Presidente da República (PR) pressionando para que as ditas facilidades fossem concedidas. E foram muitas das quais estamos a pagá-las.

Apanhadas as empresas privatizadas, os mesmos do cortejo ao PR não tardaram em vendê-las. O Banco Totta foi uma das que passou para as mãos do Santander, como se sabe.

Com o andar do tempo, e sempre com os mesmos pretextos, não só as empresas mais lucrativas foram privatizadas, como foram caindo no domínio estrangeiro. Apareceram então novos argumentos nos grandes meios de comunicação social de mercado, também eles dominados pelo grande capital nacional e estrangeiro.

O argumento de que a nacionalidade dos centros de decisão não contava para nada, que era um falso problema, que o que era preciso era regulamentação apertada para que os interesses do País ficassem salvaguardados. Foi o que se sabe e o que se tem visto:

Quanto à eficiência da gestão privada esta foi exemplarmente confirmada, por exemplo, no Espírito Santo, BANIF, BPN, BPP,…

Quanto ao argumento de que a nacionalidade dos centros de decisão são um falso problema aí temos a saída de lucros e dividendos para o estrangeiro a demonstrá-lo. Os lucros e dividendos saídos do País, conjuntamente com os juros da dívida, ultrapassam o montante de todos os fundos vindos da União Europeia desde que o Euro entrou em circulação, e são um sufoco para qualquer política de desenvolvimento.

O País não dispõe de política monetária nem cambial. Praticamente também não dispõe de política orçamental, e como os principais centros de decisão estratégicos estão na mão de privados estrangeiros e nacionais, está cada vez mais limitado para definir e concretizar uma política económica autónoma.

O caso das papeleiras, por exemplo, se estivessem nas mãos do Estado poderiam ser uma alavanca importante no combate aos fogos, sobretudo no que toca ao ordenamento da floresta e prevenção dos fogos, desde logo pela valorização do preço das madeiras, que, como está, é um incentivo claro ao abandono.

Portugal é hoje uma nação com uma soberania muito limitada e com o sistema bancário praticamente nas mãos do estrangeiro, que domina também importantes sectores da comunicação social. Quando o poder político se subordina ao poder económico, temos a dominação do País pelo capital estrangeiro.

Hoje já são várias as vozes, e de vários quadrantes, que se dão conta desta grave situação. Santana Lopes, por exemplo, em artigo recente, preconiza a criação de uma frente ampla de capitais portugueses de instituições e empresários para que o «Novo Banco» fique em mãos nacionais. Uma ilusão. Como sempre dissemos e a experiência o demonstra, a banca ou é pública ou acaba por ser dominada pelo estrangeiro.

A situação não é fácil dado o colete de forças em que estamos envolvidos: elevadíssima dívida externa, exigências de redução acentuada do défice, «cumprimento do pacto de estabilidade», uma envolvente externa em depressão, ameaças e chantagens do Banco Central Europeu, da Comissão Europeia e das chamadas empresas de notação.

Portugal precisa de crescimento económico, designadamente para pagar a dívida, dizem estes. Mas para ter crescimento económico Portugal precisa de aumentar as exportações (procura externa), aumentar o mercado interno e investir. As exportações têm sido penalizadas pela situação no Brasil, Angola, Venezuela, e para haver investimento público a lebre que atrai o investimento privado é necessário utilizar os fundos estruturais que são em parte comparticipados pelo Estado. Mas para haver uma elevada utilização dos fundos com a comparticipação do Estado é necessária uma flexibilização do défice ou a libertação de meios pela reestruturação da dívida, ou as duas simultaneamente.

A ortodoxia neoliberal ao serviço da plutocracia europeia, à boa maneira de Thatcher (There is no alternative) continua a apontar um único caminho, a que chama eufemisticamente o da desvalorização interna (redução de salários, pensões e serviços públicos – saúde, ensino,…) para compensar a perda de competitividade, designadamente pela valorização do Euro.

É a via do empobrecimento contínuo para a larga maioria da população e a concentração da riqueza para uma reduzida minoria, a que chamam política de austeridade.

Aqui chegados, é uma evidência que estamos confrontados com dois grandes garrotes a que é necessário dar resposta: o da dívida e o do euro.

Quanto à dívida sempre afirmámos que ela devia ser renegociada, e na altura estávamos num quadro de relação de forças muito mais favorável.

É significativo que o estudo sobre a crise portuguesa, do Background Paper, do Independent Evolution Office do Fundo Monetário Internacional (The Portuguese Crisis and the IMF), para além de apontar os erros das previsões, dos multiplicadores,... nos venha agora dizer que a dívida devia ter sido reestruturada.

A política de juros baixos, ou até negativos, praticada pela generalidade dos bancos centrais e pelo Banco Central Europeu (BCE), representa um alívio no montante dos juros a pagar pelos Estados, empresas e famílias, mas cria novas contradições e apenas concede tempo. Não resolve os problemas da dívida. Estamos de novo na «armadilha da dívida» e, no caso da União Europeia, na «dominação dos Estados mais endividados pela via do BCE». Fala-se muito da dívida pública e, não por acaso, muito pouco da dívida privada, empresas e «famílias», e em relação a estas praticamente não há referência a esta forma de exploração secundária pela via dos juros exorbitantes e que é independente da extracção da mais-valia no processo de produção. 3

As questões da dívida externa e da soberania financeira são questões centrais. Portugal não pode ficar continuamente sob a chantagem do BCE e das agências de rating que este influencia, como é o caso da DBRS.

Quanto ao Euro, a sua defesa com argumentos de que tem sido um factor de paz (Varoufakis), a guerra da Jugoslávia parece que não se verificou na Europa e no tempo do «Euro»; ou com a ideia de que o que falta é a «fuga para a frente, federalismo, união política,… é uma pura mistificação. O «Euro» é uma fonte de divisão entre os países da União Europeia pelas contradições que gera, um factor de empobrecimento para os países de economias mais débeis e de liquidação do Estado social, e um factor, pelo agravamento da situação social que alimenta, da xenofobia e do ascenso da extrema-direita.

Quanto ao federalismo como uma «União de Transferências», isto é, com um forte orçamento comunitário que fizesse uma redistribuição da riqueza e compensasse as «perdas» geradas pelo Euro, é também outra ilusão. Os países mais ricos nunca quiseram pagar os avanços federalistas já verificados (o orçamento comunitário faz o mínimo) e, no caso de uma redistribuição mais efectiva, os desníveis entre as estruturas económicas dos diversos países da União Europeia é de tal ordem que, só para os países do Sul (Portugal, Espanha, França, Itália) está calculado que as transferências exigiriam um pagamento de 10% (entre 8% a 12%, segundo os estudos) do PIB alemão, o que se considera, política e economicamente, insustentável.

É também escusado acenar com o apocalipse da saída do Euro, cujos custos não são desconhecidos, como se fosse defendida uma saída unilateral intempestiva. A solução do Euro será política e preferencialmente negociada entre países com estruturas económicas mais débeis – nos quais se encontra Portugal –, as instituições comunitárias e os outros Estados-membros, sendo também do interesse de países que hoje são os principais beneficiários da moeda única, pois a débil situação estrutural dos países ditos do Sul será sempre e cada vez mais um factor potencial de divisão, instabilidade e acentuação das desigualdades na zona euro.

Alimentar ilusões é continuar a cavar nas divisões e conflitos entre os países da União Europeia, é continuar com a estagnação e o «colonialismo» dos países do Sul é empobrecer cada vez mais a democracia, é aceitar a destruição das conquistas sociais, a acentuação das desigualdades, da insegurança, é continuar a procurar iludir a conivência de posições ditas de esquerda com a política de austeridade, isto é, com a política de brutal concentração de riqueza. Ora isto não serve Portugal nem a Europa dos trabalhadores, dos povos e das nações!


CARLOS CARVALHAS


Notas

(1) Contratos a prazo celebrados e valorizados por referência a um determinado activo (taxa de juros... chamado produto subjacente) para a cobertura de riscos e especulação.↲

(2) «(...) se o TTIP for adoptado [as empresas transnacionais] terão até o direito de apresentar queixa contra os Estados em tribunais arbitrais privados… A desagregação do tecido democrático leva-nos a perguntar o que acontecerá à responsabilidade, à transparência, à representatividade, à inclusão e à gestão do bem comum no interesse de todos os cidadãos.» Susan George, «Os Usurpadores», p. 189.↲

(3) «O capital fictício», Cédric Durand, «Finantial Profit: Profit from Production and Profit upon Alienation», Costas Lapavitsas e Iren Levina.

Fonte: Revista "O Militante" ECONOMIA, EDIÇÃO Nº 345 - NOV/DEZ 2016


mafarricovermelho.blogspot.pt

10
Nov16

Não se vê luz ao fundo do túnel por CARLOS CARVALHAS

António Garrochinho


"A questão que se coloca é até quando os povos vão tolerar que a banca continue a desestabilizar a situação econômica e até quando vão tolerar pagar direta e indiretamente o grosso da fatura, em nome do salvamento da banca mas de fato do salvamento das fortunas dos banqueiros e grandes acionistas, pese embora o disfarce da legislação europeia sobre a «resolução bancária»."













"É a via do empobrecimento contínuo para a larga maioria da população e a concentração da riqueza para uma reduzida minoria, a que chamam política de austeridade."
Nove anos depois do rebentar da Bolsa, em Agosto de 2007, seguido do brutal crash financeiro, a economia mundial não consegue dar resposta às principais questões com que tem estado confrontada: elevadíssimo endividamento privado e público, crescimento anêmico, elevadas taxas de desemprego, taxas de inflação quase nulas e taxas de juro directoras nulas ou negativas, políticas e programas dos bancos centrais (d'assouplissement monetaire – quantitative easing) de fornecimento maciço de liquidez à banca, que não tem conseguido relançar a inflação nem estabilizar as finanças.

As contradições do sistema acumulam-se, o recurso às taxas negativas, com o objectivo de facilitar o investimento, combater a deflação e permitir o financiamento das empresas e dos Estados, tornando mais suportável o garrote das dívidas, não se pode manter indefinidamente.

Por um lado, o sistema financeiro acusa os bancos centrais de com as taxas negativas laminarem as margens bancárias e dos seguros (de que pouco se fala mas que estão estreitamente imbricados aos bancos e fundos de investimento e que podem ser os primeiros a deflagrar), por outro, os mesmos bancos, as empresas e os Estados fortemente endividados temem pelo aumento das taxas de juro.

Os bancos centrais dizem que não podem fazer tudo, que os Estados têm a sua quota parte, mas não se vê um caminho claro. Perante o impasse, Mário Draghi, vai dizendo «é preciso que os governos nacionais tomem medidas para libertar o crescimento, reduzir o desemprego, capacitar os indivíduos e oferecer protecção aos mais vulneráveis». Santa oração!

A pressão da deflação continua a verificar-se, designadamente, nos países do Sul da Europa, mas também em muitos outros. O seu prolongamento, tal como a experiência do Japão revela, aponta-nos os perigos de se ultrapassar o que se considera os limites da «irreversibilidade económica» caindo na armadilha da deflação.

Como o mostram, entre outros, os trabalhos do economista americano Irving Fisher (1867-1974), a pressão deflacionista e a austeridade orçamental criam uma mistura explosiva.

Estagnação, crescimento letárgico, estagnação secular, são expressões que se repetem para caracterizar uma situação que vai acumulando perigoso material explosivo pronto a deflagrar.

Mas esta constatação comum nas análises de economistas, especialistas financeiros e até de banqueiros, tem tido como resposta por parte dos bancos centrais, governos e sistema financeiro no seu conjunto, a fuga para a frente, o procurar ganhar tempo, apesar de saberem que uma nova crise terá efeitos devastadores muito superiores aos das crises precedentes e que os bancos centrais estão a ficar sem munições.

Como já foi afirmado, eles não sabem o que fazer e a instabilidade e incerteza são o que mais caracterizam a situação.

Quando tantas vozes, mesmo do sistema, afirmam que os bancos centrais devem guardar munições é porque no seu pensamento há a convicção que novas crises do sistema financeiro são muito prováveis ou praticamente inevitáveis.

Na União Europeia, para além da crise económica, financeira, das dívidas públicas e privadas, da crise social, dos refugiados, do terrorismo, há ainda as incertezas dos actos eleitorais e as negociações sobre o Brexit.

O quadro é de tal ordem que na pomposamente denominada «declaração de Bratislava» se afirma querer oferecer aos europeus «uma visão atraente da União Europeia»!!!

A insistência na mesma política

A dogmática insistência na mesma política tem levado à acentuação das desigualdades e ao marasmo da atividade econômica sem a resolução da estabilidade do sistema financeiro ou a diminuição das dívidas públicas e privadas.

Hoje fica muito claro que as políticas ditas de austeridade, como a prática o demonstra, foram e são políticas de concentração de riqueza.

Que as dívidas privadas eram muito superiores às dívidas públicas (dois terços da dívida mundial é privada).

Que o substancial aumento das dívidas públicas, pagas pelos contribuintes, no essencial pelos assalariados, é na sua maior parte resultante dos generosos planos de socorro em benefício da banca, isto é, do auxílio directo e indirecto aos banqueiros e grandes accionistas e na resposta à crise provocada pelo mesmo sistema financeiro.

Nove anos depois da crise ter eclodido, a banca «está ligada à máquina» dos bancos centrais, em estado comatoso e tem utilizado a liquidez não para impulsionar a economia, mas para continuar com as mesmas políticas especulativas: derivados, futuros… 1

Que em matéria de criminalidade financeira e hipocrisia fiscal, na prática, muito pouca coisa mudou, como o caso do panama papers o evidencia. Muitas das medidas tomadas contra os paraísos fiscais foram mais para a opinião pública ver do que para terem efeito real, pese embora as declarações definitivas na altura de vários dirigentes, como as de Sarkozy em 23/10/2009: «Os paraísos fiscais e o segredo bancário terminaram».

Que os Stress Tests à banca foram concebidos, no essencial, para iludir a opinião pública, dar confiança aos depositantes. Em 29 de Julho de 2016 foram divulgados os resultados dos terceiros Stress Tests, realizados após a crise dita de 2007/2008 e mais uma vez em estado de negação procurou-se sossegar os depositantes. Um método de auto-sugestão sobre a ausência da gravidade dos problemas, tal como o mostram o Deutsche Bank, a banca italiana, espanhola, francesa,...

O Deutsche Bank veio mostrar aquilo que há muito se afirmava mas que o governo alemão e em particular o arrogante ministro das finanças negava, ou seja que a banca alemã, sobretudo a regional (Lands), mas não só, estava também em maus lençóis.

O Deustche Bank não só enfrenta alguns milhares de processos como está assente numa montanha colossal de derivados. A quebra do seu produto bancário, e o afundamento da valorização na Bolsa são uma realidade. Mas o Deustche Bank é apenas a ponta do iceberg do sistema bancário.

A litigância, o crédito mal parado, os derivados, activos sobrevalorizados não são exclusivo do Deutsch Bank. São apontados, entre muitos outros, JP Morgan, Creditrights, Barclays, Royal Bank of Scotland, Crédit Suisse, UBS e os maiores bancos italianos... E o mesmo se passa nos EUA.

A questão que se coloca é até quando os povos vão tolerar que a banca continue a desestabilizar a situação econômica e até quando vão tolerar pagar direta e indiretamente o grosso da fatura, em nome do salvamento da banca mas de fato do salvamento das fortunas dos banqueiros e grandes acionistas, pese embora o disfarce da legislação europeia sobre a «resolução bancária». O Bail In.

A banca cria moeda e a moeda é um bem público que deve estar nas mãos do Estado e não de privados.

Se a banca fosse pública mesmo que houvesse necessidade de intervenção do Estado, a factura dos contribuintes não iria engordar banqueiros mas salvaguardar património público em que futuros lucros ficariam no Estado aliviando a carga fiscal.

A política dita de austeridade para resolver os problemas de bancos e banqueiros privados e de um euro construído segundo os interesses da Alemanha tem criado graves situações sociais e um crescente descontentamento.

O mal-estar na União Europeia, a exasperação dos povos, um misto de cólera e de desespero como nos recorda Jacques Sapir, tem obrigado dirigentes cada vez mais impopulares a tomar posições muitas vezes contrárias às que sempre defenderam.

A proximidade das eleições assim o obriga. É o caso da dita Parceria Transatlântica (TTIP). Depois de tantas negociações descobriram agora que estas não são transparentes. Assim, no seguimento das palavras do ministro da economia alemão Sigmar Gabriel, rejeitando tal Tratado, Hollande veio dizer que o Tratado estava morto.

Em editorial o Público concluía, pesaroso: mais valia um mau Tratado do que Tratado nenhum!

No entanto, tudo indica que estamos mais uma vez perante manobras politiqueiras em vésperas de eleições, sabendo-se que as opiniões públicas estão crescentemente contra aquele Tratado. 2

Angela Merkel, não negando o seu ministro da economia, disse no entanto que ela continuava a defender o projecto.

A manobra é clara. O governo francês e alemão, com nuances, tomam publicamente posição contra o Tratado que nada de positivo traz aos pequenos e médios produtores e aos consumidores, servindo apenas a finança e as transnacionais. Mas não dão o passo de revogar o mandato explícito que deram à Comissão que continua a negociar, como aliás confirmou Juncker! Depois das eleições, como já alguém lembrou, sempre poderão dizer que estão contra o Tratado, mas que foi a Comissão que negociou.

Por cá, PSD, CDS e o governo foram parcos em palavras procurando passar por entre os pingos da chuva. Embora esta União Europeia tenha uma posição de clara submissão aos EUA, como se vê nas sanções à Rússia e na vergonhosa guerra da Síria, a verdade é que a crise capitalista tem agudizado contradições, como também o mostra o TTIP, as «guerras monetárias» e as multas à banca e a multinacionais de base americana e europeia.

Portugal

Como se sabe Portugal desde que o euro entrou em circulação teve um crescimento médio nulo.

As privatizações de empresas básicas e estratégicas, algumas a pretexto ou mesmo ditadas pela pressão do défice face às exigências de Bruxelas retiraram ao Estado uma fonte de financiamento e poder de intervenção. Afirmámos e reafirmámos na altura que, com a adesão à CEE, mais se justificava a existência de um forte e dinâmico sector empresarial do Estado, não só por razões de condução de uma política económica segundo os nossos interesses, mas também porque com as privatizações estas, mais tarde ou mais cedo, cairiam nas mãos do estrangeiro. Está escrito e reescrito.

É interessante revisitar hoje a argumentação dos «ideólogos das privatizações».

Primeiro afirmaram que estas ficariam «indubitavelmente» em mãos nacionais e que ganhariam em eficiência.

O Estado não é gestor, e muito particularmente em relação à banca, diziam.

Chegaram a afirmar que o governo e a Caixa Geral de Depósitos deveriam criar condições favoráveis (taxas de juro, garantias) para que os centros de decisão continuassem em Portugal.

Grandes empresários chegaram a ir em conjunto ao Presidente da República (PR) pressionando para que as ditas facilidades fossem concedidas. E foram muitas das quais estamos a pagá-las.

Apanhadas as empresas privatizadas, os mesmos do cortejo ao PR não tardaram em vendê-las. O Banco Totta foi uma das que passou para as mãos do Santander, como se sabe.

Com o andar do tempo, e sempre com os mesmos pretextos, não só as empresas mais lucrativas foram privatizadas, como foram caindo no domínio estrangeiro. Apareceram então novos argumentos nos grandes meios de comunicação social de mercado, também eles dominados pelo grande capital nacional e estrangeiro.

O argumento de que a nacionalidade dos centros de decisão não contava para nada, que era um falso problema, que o que era preciso era regulamentação apertada para que os interesses do País ficassem salvaguardados. Foi o que se sabe e o que se tem visto:

Quanto à eficiência da gestão privada esta foi exemplarmente confirmada, por exemplo, no Espírito Santo, BANIF, BPN, BPP,…

Quanto ao argumento de que a nacionalidade dos centros de decisão são um falso problema aí temos a saída de lucros e dividendos para o estrangeiro a demonstrá-lo. Os lucros e dividendos saídos do País, conjuntamente com os juros da dívida, ultrapassam o montante de todos os fundos vindos da União Europeia desde que o Euro entrou em circulação, e são um sufoco para qualquer política de desenvolvimento.

O País não dispõe de política monetária nem cambial. Praticamente também não dispõe de política orçamental, e como os principais centros de decisão estratégicos estão na mão de privados estrangeiros e nacionais, está cada vez mais limitado para definir e concretizar uma política económica autónoma.

O caso das papeleiras, por exemplo, se estivessem nas mãos do Estado poderiam ser uma alavanca importante no combate aos fogos, sobretudo no que toca ao ordenamento da floresta e prevenção dos fogos, desde logo pela valorização do preço das madeiras, que, como está, é um incentivo claro ao abandono.

Portugal é hoje uma nação com uma soberania muito limitada e com o sistema bancário praticamente nas mãos do estrangeiro, que domina também importantes sectores da comunicação social. Quando o poder político se subordina ao poder económico, temos a dominação do País pelo capital estrangeiro.

Hoje já são várias as vozes, e de vários quadrantes, que se dão conta desta grave situação. Santana Lopes, por exemplo, em artigo recente, preconiza a criação de uma frente ampla de capitais portugueses de instituições e empresários para que o «Novo Banco» fique em mãos nacionais. Uma ilusão. Como sempre dissemos e a experiência o demonstra, a banca ou é pública ou acaba por ser dominada pelo estrangeiro.

A situação não é fácil dado o colete de forças em que estamos envolvidos: elevadíssima dívida externa, exigências de redução acentuada do défice, «cumprimento do pacto de estabilidade», uma envolvente externa em depressão, ameaças e chantagens do Banco Central Europeu, da Comissão Europeia e das chamadas empresas de notação.

Portugal precisa de crescimento económico, designadamente para pagar a dívida, dizem estes. Mas para ter crescimento económico Portugal precisa de aumentar as exportações (procura externa), aumentar o mercado interno e investir. As exportações têm sido penalizadas pela situação no Brasil, Angola, Venezuela, e para haver investimento público a lebre que atrai o investimento privado é necessário utilizar os fundos estruturais que são em parte comparticipados pelo Estado. Mas para haver uma elevada utilização dos fundos com a comparticipação do Estado é necessária uma flexibilização do défice ou a libertação de meios pela reestruturação da dívida, ou as duas simultaneamente.

A ortodoxia neoliberal ao serviço da plutocracia europeia, à boa maneira de Thatcher (There is no alternative) continua a apontar um único caminho, a que chama eufemisticamente o da desvalorização interna (redução de salários, pensões e serviços públicos – saúde, ensino,…) para compensar a perda de competitividade, designadamente pela valorização do Euro.

É a via do empobrecimento contínuo para a larga maioria da população e a concentração da riqueza para uma reduzida minoria, a que chamam política de austeridade.

Aqui chegados, é uma evidência que estamos confrontados com dois grandes garrotes a que é necessário dar resposta: o da dívida e o do euro.

Quanto à dívida sempre afirmámos que ela devia ser renegociada, e na altura estávamos num quadro de relação de forças muito mais favorável.

É significativo que o estudo sobre a crise portuguesa, do Background Paper, do Independent Evolution Office do Fundo Monetário Internacional (The Portuguese Crisis and the IMF), para além de apontar os erros das previsões, dos multiplicadores,... nos venha agora dizer que a dívida devia ter sido reestruturada.

A política de juros baixos, ou até negativos, praticada pela generalidade dos bancos centrais e pelo Banco Central Europeu (BCE), representa um alívio no montante dos juros a pagar pelos Estados, empresas e famílias, mas cria novas contradições e apenas concede tempo. Não resolve os problemas da dívida. Estamos de novo na «armadilha da dívida» e, no caso da União Europeia, na «dominação dos Estados mais endividados pela via do BCE». Fala-se muito da dívida pública e, não por acaso, muito pouco da dívida privada, empresas e «famílias», e em relação a estas praticamente não há referência a esta forma de exploração secundária pela via dos juros exorbitantes e que é independente da extracção da mais-valia no processo de produção. 3

As questões da dívida externa e da soberania financeira são questões centrais. Portugal não pode ficar continuamente sob a chantagem do BCE e das agências de rating que este influencia, como é o caso da DBRS.

Quanto ao Euro, a sua defesa com argumentos de que tem sido um factor de paz (Varoufakis), a guerra da Jugoslávia parece que não se verificou na Europa e no tempo do «Euro»; ou com a ideia de que o que falta é a «fuga para a frente, federalismo, união política,… é uma pura mistificação. O «Euro» é uma fonte de divisão entre os países da União Europeia pelas contradições que gera, um factor de empobrecimento para os países de economias mais débeis e de liquidação do Estado social, e um factor, pelo agravamento da situação social que alimenta, da xenofobia e do ascenso da extrema-direita.

Quanto ao federalismo como uma «União de Transferências», isto é, com um forte orçamento comunitário que fizesse uma redistribuição da riqueza e compensasse as «perdas» geradas pelo Euro, é também outra ilusão. Os países mais ricos nunca quiseram pagar os avanços federalistas já verificados (o orçamento comunitário faz o mínimo) e, no caso de uma redistribuição mais efectiva, os desníveis entre as estruturas económicas dos diversos países da União Europeia é de tal ordem que, só para os países do Sul (Portugal, Espanha, França, Itália) está calculado que as transferências exigiriam um pagamento de 10% (entre 8% a 12%, segundo os estudos) do PIB alemão, o que se considera, política e economicamente, insustentável.

É também escusado acenar com o apocalipse da saída do Euro, cujos custos não são desconhecidos, como se fosse defendida uma saída unilateral intempestiva. A solução do Euro será política e preferencialmente negociada entre países com estruturas económicas mais débeis – nos quais se encontra Portugal –, as instituições comunitárias e os outros Estados-membros, sendo também do interesse de países que hoje são os principais beneficiários da moeda única, pois a débil situação estrutural dos países ditos do Sul será sempre e cada vez mais um factor potencial de divisão, instabilidade e acentuação das desigualdades na zona euro.

Alimentar ilusões é continuar a cavar nas divisões e conflitos entre os países da União Europeia, é continuar com a estagnação e o «colonialismo» dos países do Sul é empobrecer cada vez mais a democracia, é aceitar a destruição das conquistas sociais, a acentuação das desigualdades, da insegurança, é continuar a procurar iludir a conivência de posições ditas de esquerda com a política de austeridade, isto é, com a política de brutal concentração de riqueza. Ora isto não serve Portugal nem a Europa dos trabalhadores, dos povos e das nações!


CARLOS CARVALHAS


Notas

(1) Contratos a prazo celebrados e valorizados por referência a um determinado activo (taxa de juros... chamado produto subjacente) para a cobertura de riscos e especulação.↲

(2) «(...) se o TTIP for adoptado [as empresas transnacionais] terão até o direito de apresentar queixa contra os Estados em tribunais arbitrais privados… A desagregação do tecido democrático leva-nos a perguntar o que acontecerá à responsabilidade, à transparência, à representatividade, à inclusão e à gestão do bem comum no interesse de todos os cidadãos.» Susan George, «Os Usurpadores», p. 189.↲

(3) «O capital fictício», Cédric Durand, «Finantial Profit: Profit from Production and Profit upon Alienation», Costas Lapavitsas e Iren Levina.

Fonte: Revista "O Militante" ECONOMIA, EDIÇÃO Nº 345 - NOV/DEZ 2016


mafarricovermelho.blogspot.pt

10
Nov16

É amarga, mas justa, a lição que Donald Trump acabou de nos dar

António Garrochinho


(Miguel Esteves Cardoso, in Público, 09/11/2016)
mac

Trump ganhou. Nós perdemos. Por nós quero eu dizer os meios de comunicação social dos EUA e da Europa. Segundo as histórias que nós contámos aos leitores e uns aos outros o que acaba de acontecer era impossível.
As nossas sondagens e opiniões – incluindo as minhas – não só se enganaram redondamente como contribuiram para criar um perigoso unanimismo que fez correr uma cortina de fumo digno dos propagandistas oficiais dos estados totalitários.
Eu leio todas as semanas duas revistas conservadoras americanas – The Weekly Standard National Review. Leio todos os dias o igualmente pro-Republicano Wall Street Journal. Em nenhum deles fui avisado que Trump poderia ganhar.
Sinto-me vítima de uma conspiração – não da parte de Trump mas da parte dos media. Aquilo que aconteceu não foi a cobertura das eleições americanas, mas antes uma vasta campanha publicitária a favor de Hillary Clinton onde até revistas apolíticas como a Variety participaram.
Donald Trump foi sujeito à maior e mais violenta campanha de ataques pessoais que alguma vez vi na minha vida. Todos as principais publicações alinharam entusiasticamente. Sem recorrer a sites de extrema-direita o único site que defendia Trump foi o extraordinário Drudge Report. Foi só através dele que comecei a achar – e aqui vim dizer – que o eleitorado reage sempre mal às ordens paternalistas dadas por uma unanimidade de comentadores, jornalistas e celebridades.
A eleição de Donald Trump foi um triunfo da democracia e uma derrota profunda dos meios de comunicação social.
Claro que Trump não é nenhum outsider. É um bilionário que sempre fez parte da ordem estabelecida, da elite que dá as ordens e manda na economia dos EUA. É um amigo de Hillary e Bill Clinton que só se tornou ex-amigo porque lhe deu na gana ser presidente dos EUA.
Agora é. Conseguiu o que queria. Há-de voltar as costas ao eleitorado que o elegeu logo que perceba que a única coisa que esse eleitorado tinha para lhe dar já foi dado: os votos de que ele precisava para ser eleito.
Já fez o elogio de Hillary Clinton. Já disse que vai representar todos os americanos. Vai-se tornar lentamente um republicano moderado e liberal. Os oportunistas têm sempre essa vantagem da metamorfose.
Trump ganhou contra grande parte do Partido Republicano mas foi graças a ele que o Partido Republicano manteve a maioria no Senado e no Congresso. Se Trump fosse o populista aventureiro que finge ser aproveitaria para minar o sistema político vigente, tirando partido do poder político pessoal que agora tem.
Mas não fará nada disso. O Partido Republicano tem agora tudo na mão.
Trump presidirá à complacência do poder político instalado, do poder recuperado das mãos de Obama. O velho sistema político será reforçado e os beneficiários serão os de sempre: os que menos precisam.
E os media? Que vamos nós fazer? Continuar em campanha? Continuar a enganarmo-nos e a enganar quem nos lê?
Mostrarmo-nos surpreendidos e atónitos não chega. Só revela o mau trabalho que fizemos. Dizer que foi um choque, que ninguém estava à espera só aponta para o mundo ilusório onde reside a nossa própria zona de conforto.
Não é Trump que tem de dar uma reviravolta. Somos nós. Trump ganhou porque foi eleito. Nós perdemos porque fomos derrotados pelos nossos próprios preconceitos e pelo excesso de zelo com que perseguimos a vitória de Hillary Clinton.
É um dia feliz para Donald Trump e para a maioria que o elegeu. Para nós é um dia triste e, do ponto de vista profissional, pelo menos para mim, vergonhoso.

estatuadesal.com
10
Nov16

AS SETE PROPOSTAS DE DONALD TRUMP QUE OS GRANDES MEDIA NOS ESCONDEM, por IGNACIO RAMONET

António Garrochinho



Selecção e tradução de Júlio Marques Mota




ignacio-ramonet

Ignacio Ramonet, Les 7 propositions de Donald Trump que les grands médias nous cachent

Mémoire des Luttes, 21 de Setembro de 2016


Há ainda algumas semanas – a mais de dois meses da eleição presidencial do próximo 8 de Novembro nos Estados Unidos –, todas as sondagens davam Hillary Clinton, a candidata do Partido democrata, como a vencedora. Parecia então evidente que, apesar da peso dos preconceitos machistas, a Sra. Clinton seria a primeira mulher a ocupar a Sala Oval da Casa Branca e ter nas mãos as rédeas da mais importante potência do nosso tempo.

O que é que tinha acontecido ao candidato do Partido republicano, o mediático Donald Trump, cuja ascensão era considerada como “irresistível”? Porque é que tinha caído tão fortemente nas sondagens? Sete americanos em cada dez declaravam que não o queriam como presidente; e apenas 43 % o consideravam como “qualificado” para se sentar à Casa Branca (65 %  consideravam, em contrapartida, que Hillary Clinton estava perfeitamente apta para exercer esta tarefa).

Recordemos que nos Estados Unidos, as eleições presidenciais não são nem nacionais nem diretas. Trata-se antes de cinquenta eleições locais, uma por cada Estado, que designam os 538 grandes eleitores encarregados de elegerem por sua vez (ele ou ela) o chefe do Estado. Isto relativiza singularmente as sondagens de caráter nacional.

Face a estes resultados tão maus, contudo, o candidato republicano Donald Trump decidiu, em Agosto passado, fazer algumas mudanças na sua equipa e nomear um novo chefe de campanha, Steve Bannon, diretor do sítio ultra conservador Breitbart News Network. Trump alterou também o seu discurso para se dirigir a dois grupos de eleitores decisivos: os Afro-Americanos e os Hispânicos.

Conseguirá ele assim inverter a tendência e impor-se na resta final de modo a ganhar a  campanha? Não é impossível. Com efeito, Trump parece já, em parte, ter recuperado o seu atraso em relação a Hillary Clinton. Personagem atípico, com as suas propostas odiosas, grotescas ou sensacionalistas, Trump já superou os prognósticos. Face a pesos pesados como Jeb Bush, Ted Cruz ou Marco Rubio que, além disso, contavam sobre o apoio decidido do conjunto do establishment republicano, eram poucos os analistas que davam Trump como vencedor nas primárias do Partido republicano. E contudo, esmagou os seus adversários, reduzindo-os a cinzas.

Desde a crise devastadora de 2008 (da qual ainda não saímos), nada há que esteja como dantes, em parte nenhuma. Os cidadãos estão profundamente desiludidos, desencantados e desorientados. A própria democracia, como modelo, perdeu uma grande parte da sua atração e da sua credibilidade. Todos os sistemas políticos foram abalados até às raízes. Na Europa, por exemplo, sucedem-se sismos eleitorais inéditos, desde a vitória da extrema-direita na Áustria até ao Brexit inglês ou mesmo a recente derrota da chanceler alemã Angela Merkel no seu Land Mecklembourg-Poméranie.

Mas a perturbação não se limita à Europa, basta olhar para a esmagadora vitória eleitoral, em maio passado, do inclassificável e tonitruante Rodrigo Duterte nas  Filipinas… Todos os grandes partidos tradicionais estão em crise. Assiste-se por toda a parte à ascensão de forças de rutura, quer com os partidos de extrema-direita (Áustria, países nórdicos, Alemanha, França), quer com os partidos populistas e antissistema (Itália, Espanha). Por toda a parte, a paisagem política está em vias de transformação radical.

Esta metamorfose atinge hoje os Estados Unidos, um país que já teve em 2010, uma vaga populista destrutiva, encarnada na época pelo Tea Party. A irrupção do multimilionário Donald Trump na corrida à Casa Branca prolonga esta vaga e constitui uma revolução eleitoral que ninguém foi capaz de prever. Ainda que, aparentemente, a velha bicefalia entre democratas e republicanos continua a ser uma realidade, a subida de um candidato tão atípico  como Trump constitui um verdadeiro tremor de terra. O seu estilo direto, de discurso a dar para o populacheiro, e a sua mensagem maniqueísta e reducionista, em que apela aos mais baixos instintos de certas categorias sociais, está extremamente afastado do tom habitual dos políticos americanos. Aos olhos das camadas mais desiludidas da sociedade, o seu discurso autoritário-identitário possui um caráter de autenticidade quase inaugural. Muitos dos eleitores, com efeito, estão extremamente irritados “pelo politicamente correto”; consideram que já não se pode mais dizer o que se  pensa  sob pena de se ser acusado “de racista”. Consideram que Trump diz bem alto o que eles pensam em voz baixa. E ouvem “a palavra libertada” de Trump sobre os Hispânicos, sobre  os Afro-Americanos, sobre os imigrantes e os muçulmanos como um verdadeiro alívio.

A esse respeito, o candidato republicano soube interpretar, melhor que ninguém,  o que se poderia chamar “a rebelião da base”. Antes de toda a gente, percebeu a potente fratura que separa doravante, de um lado as elites políticas, económicas, intelectuais e mediáticas; e de outro lado, a base popular do eleitorado conservador americano. O seu discurso anti-Washington, anti-Wall Street, anti-imigrantes e anti-meios de comunicação social seduz nomeadamente os eleitores brancos de  pouca formação mas também – e é muito importante –, todos os abandonados do sistema, devido à globalização económica.

A mensagem de Trump difere da dos líderes neofascistas europeus. Não é um ultra-direita convencional. Define-se a si próprio como “um conservador com bom senso ”. Sobre o tabuleiro de xadrez político tradicional, situar-se-ia antes à direita da direita. Chefe de empresa multimilionário e estrela popular de reality show, Trump não é nem um militante antissistema nem, evidentemente, um revolucionário. Não critica o modelo político em si mesmo mas antes os responsáveis que pilotam este modelo. O seu discurso é emocional e espontâneo. Faz apelo aos instintos, “às tripas”, não à reflexão nem à razão. Dirige-se à esta parte do eleitorado americano que foi envolvida pelo desânimo e pelo descontentamento, e às pessoas cansadas da velha política e do sistema “dos privilegiados”, “das castas”. Todos os que protestam e que gritam: “Que se vão todos f. ! ” ou “ são todos uns corruptos! ”, a estes promete injetar honestidade no sistema e renovar o pessoal e os costumes políticos.

Os grandes meios de comunicação social difundiram muito algumas das suas declarações e propostas. Sobretudo as mais ignóbeis e mais odiosas. Recordemos a esse respeito, por exemplo, as suas afirmações a propósito dos imigrantes mexicanos ilegais que, de acordo com ele, “ são corrompidos, delinquentes e violadores”. Ou o seu projeto de expulsar cerca de 11 milhões de imigrantes latinos ilegais que propõe reenviar à força em autocarros para o México. Ou a sua proposta, inspirada da série “Guerra dos Tronos ” (Game of Thrones), de construir um colossal muralha ao longo dos 3.145 quilómetros de fronteira com o México, que atravessaria  vales, montanhas e desertos, para impedir a chegada de migrantes latinos e cujo financiamento (21 mil milhões de dólares) ficaria a carga do governo mexicano.

Na mesma ordem de ideias, anunciou querer proibir a entrada dos migrantes muçulmanos, e atacou com veemência os pais de um militar americano de confissão muçulmana, Humayun Khan, morto em combate em 2004 no Iraque. Tem igualmente afirmado que o casamento tradicional formado por um homem e uma mulher constitui “a base de uma sociedade livre” e criticou a decisão do Tribunal supremo de reconhecer o casamento entre pessoas do mesmo sexo como um direito constitucional. Apoia o que se chama “as leis de liberdade religiosa” promovidas pelos conservadores em vários Estados para recusar os subsídios às pessoas  LGBT. Convém também não esquecer as suas declarações sobre “a mentira” da mudança climática que seria, de acordo com ele, um conceito “inventado por e para os Chineses para provocar a perda de competitividade do sector transformador americano.”

Um  tal catálogo de detestáveis inépcias foi difundido pelos meios de comunicação social dominantes não somente nos Estados Unidos mas por toda a parte no mundo. Ao ponto que nos podemos questionar como é que um candidato com ideias tão miseráveis pode encontrar um tão grande sucesso nos eleitores americanos que, evidentemente, todos eles não são, seguramente, desmiolados? Há aqui qualquer coisa que não bate bem.

Para resolver este enigma, foi necessário quebrar abertamente  o muro da informação e analisar com cuidado e rigor o programa completo do candidato republicano. Descobre-se então sete outras opções fundamentais que defende, e que os grandes meios de comunicação social passam sistematicamente sob silêncio.

1) Em primeiro lugar, os jornalistas não lhe perdoam os seus ataques frontais contra o poder mediático. Acusam-no  de incentivar regularmente o seu público a apupar os meios de comunicação social apelidados de “desonestos”. Trump afirma frequentemente: “Não estou em competição com Hillary Clinton, mas sim com os meios de comunicação social corrompidos. ” Recentemente, escreveu: “Se os grandes meios de comunicação social, repugnantes e corrompidos, cobrissem de maneira honesta a minha campanha, sem falsas interpretações, ultrapassaria Hillary em 20 %. ” Não hesitou em proibir o acesso aos seus comícios a vários meios de comunicação social importantes como The Washington Post, Politico, Huffington Post e BuzzFeed. Ousou mesmo atacar Fox News, a grande cadeia da direita panfletária, que no entanto o apoia a fundo …

2) Uma outra causa dos ataques mediáticos contra Trump: a sua denúncia da globalização económica que ele considera como responsável pela destruição das classes médias. De acordo com Trump, a economia globalizada é uma calamidade cujo número de vítimas não cessa de crescer. Recorda que mais de 60.000 fábricas já tiveram de fechar nestes quinze últimos anos nos Estados Unidos e que cerca de cinco milhões de empregos industriais foram destruídos.

3) Trump é um fervoroso protecionista. Propõe aumentar as taxas sobre todos os produtos importados. E diz-se pronto, se chegar ao poder, a estabelecer direitos aduaneiros de 40% sobre os produtos chineses. “Vamos recuperar o controlo do nosso país e faremos de modo que os Estados Unidos tornem a ser um grande país” afirma frequentemente, retomando o seu slogan de campanha. Partidário do Brexit, declarou que, se fosse eleito, faria sair os Estados Unidos do Acordo de Comércio livre norte-americano (NAFTA). Atacou-se igualmente ao Tratado Transpacífico (TPP) e confirmou que, uma vez eleito, retiraria os Estados Unidos do acordo: “O TPP constituiria um golpe mortal para a indústria transformadora dos Estados Unidos. ” Evidentemente, se for eleito, pararia também as negociações correntes com a União europeia. Vai mesmo mais longe: “Vamos renegociar ou sair da OMC (Organização mundial do comércio). Estes acordos comerciais são um desastre. ” repete. Em regiões como o rust belt, “a cintura da industria transformadora ” do nordeste onde as deslocalizações e o encerramento de fábricas fizeram explodir o desemprego e generalizaram a pobreza, estes propósitos são recebidos com entusiasmo e fazem reaparecer todas as esperanças.

4) Outra opção de que  os meios de comunicação social falam pouco: a sua recusa das reduções orçamentais neoliberais em matéria de segurança social. Numerosos eleitores republicanos vítimas da crise económica, e todos os que têm mais de 65 anos, têm necessidade do Social Security (reforma) e do Medicare (seguro de doença) lançado pelo presidente Barack Obama que os outros líderes republicanos querem suprimir. Trump prometeu não ir contra estes estes progressos sociais. Também prometeu diminuir os preços dos medicamentos, ajudar a regular os problemas dos sem domicílio fixo “SDF”, reformar a fiscalidade dos pequenos contribuintes, e suprimir um imposto federal que atinge 73 milhões de lares modestos.

5) Denunciando a arrogância de Wall Street, Trump propõe igualmente aumentar significativamente os impostos dos traders especializados nos hedge funds (fundos especulativos) que ganham fortunas. Promete o restabelecimento da lei Glass-Steagall (votada em 1933 durante a Depressão e revogada em 1999 por William Clinton), que separava a banca tradicional dos bancos de negócios para evitar que estes possam pôr em perigo a poupança popular com os investimentos de alto risco. Evidentemente, o conjunto do sector financeiro está todo ele artilhado contra Trump e opõe-se ao restabelecimento desta lei.

6) Em matéria de política internacional, Trump mostrou-se extremamente empenhado em encontrar terrenos de acordo ao mesmo tempo com a Rússia e com a China. Quer nomeadamente assinar uma aliança com Vladimir Putin e a Rússia para combater eficazmente a organização Estado islâmico (Daesh) ainda que para a estabelecer Washington deva aceitar a anexação da Crimeia por Moscovo.

7) Por fim, Trump considera que com a sua enorme dívida soberana, a América já não tem mais os meios para praticar uma política estrangeira intervencionista total. Já não tem vocação para garantir a paz a qualquer preço. Contrariamente à vários responsáveis do seu partido, e tirando as lições do fim da guerra fria, quer alterar a estrutura da NATO “Não terá mais – afirma ele – a garantia de forma automática de  uma proteção dos Estados Unidos para com os países-membros da NATO ”

Estas sete propostas não fazem esquecer as declarações odiosas e inaceitáveis do candidato republicano difundidas em fanfarra pelos grandes meios de comunicação social dominantes, mas explicam  sem dúvida um pouco melhor as razões do seu sucesso junto de largos sectores do eleitorado americano. Ajudá-lo-ão a ganhar? Não se pode afirmar mas é certo que os três duelos emitidos por televisão que se irão dar, face a Hillary Clinton, vão ser temíveis para a candidata democrata. Porque os estrategas militares sabem-no efetivamente: numa confrontação entre e o forte e o louco, este, pela sua imprevisibilidade e a sua irracionalidade, ganha-a muito frequentemente.

Em 1980, a vitória inesperada de Ronald Reagan à presidência dos Estados Unidos tinha feito entrar o mundo num ciclo de quarenta anos de neoliberalismo e de globalização económica. Uma eventual vitória de Donald Trump no próximo dia 8 de Novembro poderia, esta vez, fazer entrar o mundo num ciclo geopolítico novo cuja característica ideológica principal, que se vê surgir um pouco por toda a parte e nomeadamente na França, seria então o autoritarismo identitário.



http://www.medelu.org/Les-7-propositions-de-Donald-Trump

aviagemdosargonautas.ne

10
Nov16

Terremoto político: A revolução de Trump nos Estados Unidos

António Garrochinho



(Por Prof. Rodrique Tremblay, in GlobalResearch
trumpp



Os trabalhos de Hércules que esperam o novo Presidente

“Quando você dá [dinheiro aos políticos], eles fazem tudo o que você quiser que eles façam. Como homem de negócios convém-me que seja assim.” Donald J. Trump (1946-), em entrevista ao Wall Street Journal, 29 de julho de 2015.

“Nós [os Estados Unidos] gastámos 2 biliões de dólares; milhares de vidas. … Obviamente, foi um erro…George W. Bush cometeu um erro. Podemos cometer erros. Mas aquilo era uma evidência. Nós nunca deveríamos ter estado no Iraque. Nós desestabilizámos o Médio Oriente… – Eles [o presidente George W. Bush e o vice-presidente Dick Cheney] mentiram… Disseram que havia armas de destruição maciça. Não havia nada. E eles sabiam que não havia nada. Não havia armas de destruição em maciça. ” Donald J. Trump (1946-), durante um debate para a nomeação do candidato às eleições presidenciais pelo Partido Republicano (GOP), na CBS News, sábado, 13 de fevereiro de 2016.

“Na minha opinião, gastámos 4 biliões de dólares tentando derrubar várias pessoas que, francamente, se se tivessem mantido, e se tivéssemos gastado os 4 biliões nos Estados Unidos para consertar as nossas estradas, as nossas pontes e todos os outros problemas; os nossos aeroportos e todos os outros problemas que tivemos, teríamos feito muito melhor. Eu posso dizer isso agora.

– Nós causámos um tremendo dano, não só ao Médio Oriente; causámos um enorme dano à humanidade.

– As pessoas que foram mortas, as pessoas que foram eliminadas, e para quê? Não parece que tenhamos tido qualquer vitória.

É uma bagunça. O Médio Oriente está totalmente desestabilizado. – Uma bagunça total e completa.

– Gostaria que tivéssemos os 4 biliões ou os 5 biliões de dólares. Gostaria que tivessem sido gastos aqui nos Estados Unidos, nas nossas escolas, hospitais, estradas, aeroportos e tudo o mais que se está a desfazer”. Donald J. Trump (1946-) num debate presidencial do Partido Republicano, terça-feira. 15 de dezembro de 2015, Las Vegas, NV.

“Ao longo da história, qualquer profunda mudança política e social foi precedida por uma revolução filosófica, pelo menos entre uma parte significativa da população.” M. N. Roy (1887-1954), em “O Futuro da Democracia”, 1950.

Ocorreu um terramoto político geracional nos Estados Unidos e os choques que se irão seguir são potencialmente enormes. Na verdade, em 8 de novembro de 2016, contra todas as probabilidades, o candidato republicano Donald Trump (1946-) foi eleito como o 45º presidente americano, repetindo ad nauseam o seu slogan principal “Make America Great Again”. Será o primeiro presidente americano desde Dwight D. Eisenhower (1890-1969) a ocupar a Casa Branca sem ter qualquer experiência política.

A retórica e as propostas de Trump foram inequivocamente anti-establishment e anti status quo, tanto a nível nacional como internacional. Como tal, a vitória de Trump é uma revolução política na sua génese porque anuncia uma rutura com as políticas americanas seguidas por ambas as administrações republicanas e democratas dos E.U.A. desde os anos 90.

Por isso, a eleição de Trump inspira tanto medo quanto esperança. Medo entre as elites estabelecidas, especialmente entre os meios de comunicação e interesses financeiros estabelecidos e dominantes em Washington, já que a vitória de Trump será, sem dúvida, vista como um repúdio dos valores e das políticas desses interesses. E porque, depois do Brexit, em junho passado, pode ser também uma antecipação de derrocada das elites europeias, que também impulsionaram ativamente um mundo globalizado, com fronteiras abertas, imigração ilegal, mudanças tecnológicas e desindustrialização das economias mais avançadas.




Dados da noite de eleição, 8 de novembro, 22h

No entanto, há esperança entre aqueles que foram deixados para trás económica, politica e socialmente, especialmente entre os membros da classe média americana cujos rendimentos reais estão estagnados ou em declínio e que sofreram muito com a agenda e as políticas perseguidas durante as últimas três décadas. Nos últimos 30 anos, de fato, os 10% mais ricos e os 1% super-ricos da população dos Estados Unidos beneficiaram altamente com a mudança de uma economia de manufatura para uma economia de serviços, enquanto os 90% mais pobres foram deixados para trás.

Muitos dos trabalhadores americanos mais desprotegidos, especialmente aqueles com formação abaixo do ensino secundário, viram no candidato republicano Donald Trump e no candidato democrata derrotado Bernie Sanders a esperança de ver as coisas mudarem para melhor. É sintomático que os americanos nas grandes áreas urbanas tenham votado massivamente na candidata democrata, enquanto as áreas industriais e rurais o tenham feito massivamente no candidato republicano. Contrariamente às sondagens, os modelos de previsão que incluíam o contexto histórico e o desejo de mudança na sua previsão tinham razão. É o caso do modelo do professor universitário americano Allan J. Lichtman.

Os trabalhos de Hércules que esperam o novo Presidente

O presidente eleito Donald Trump e sua equipa têm pela frente uma tarefa hercúlea, se quiserem cumprir as promessas que fizeram.

1- Comecemos com as principais mudanças que se esperam na política externa.

Os maiores perdedores das eleições de 8 de novembro serão os falcões da política externa e os neoconservadores dos governos anteriores dos Estados Unidos, desde o governo Bill Clinton até aos últimos governos de Obama. Foram eles que levaram avante o reacender da Guerra Fria com a Rússia e que desenharam as políticas intervencionistas, que estão a destruir o Médio Oriente.

Espera-se que uma administração Trump reverta a política da NATO liderada pelos EUA para provocar a Rússia, multiplicando movimentos militares hostis nas suas fronteiras. Além disso, pode-se esperar que uma administração Trump chegue a um acordo com o governo russo de Vladimir Putin para pôr fim ao desastroso conflito sírio. Esta é uma má notícia para a organização medieval e assassina do ISIS.

Naturalmente, espera-se que um governo Trump possa transformar as diretrizes da política comercial dos EUA. A política comercial deverá ser provavelmente acompanhada por uma política industrial. Na prática, isso pode implicar que o curso dos dois grandes tratados multilaterais de comércio livre e de investimento livre, o Acordo de Livre Comércio Transatlântico (TAFTA) e o Acordo de Parceria Transpacífico (TPP) será interrompido.

Nesse sentido, a revolução Trump pode significar que a globalização económica e financeira está morta.

2- As principais alterações que se podem esperar de uma administração Trump na política interna.

Uma administração Trump tentará estimular a economia dos EUA através de uma série de políticas económicas. Afinal, o candidato Trump prometeu impulsionar a taxa de crescimento dos EUA para um valor médio anual de 3,5% e criar 25 milhões de postos de trabalho na próxima década. E também prometeu “rever as nossas políticas fiscais, regulatórias, energéticas e comerciais”.

Como pode uma administração Trump estimular o crescimento? Primeiro, propondo um enorme corte de impostos de 4,4 biliões de dólares para estimular o crescimento, não muito diferente do programa de corte de impostos de 1,3 biliões de dólares da administração Bush-Cheney em 2001-2003, que teve resultados duvidosos, além de ter aumentado o deficit fiscal do governo dos EUA.

Em segundo lugar, um governo Trump tentará impulsionar a criação de empregos na indústria dos EUA. Para isso, terá que fazer melhor do que o recorde alcançado durante os dois mandatos de Bush-Cheney, quando os Estados Unidos perderam mais de seis milhões de empregos na indústria. Para reverter essa tendência, Trump pode tentar forçar o repatriamento dos lucros de 2,1 biliões de dólares que as empresas americanas possuem no exterior e induzir essas empresas a investir mais nos Estados Unidos. Pode também aumentar alguns impostos sobre as importações para persuadir as empresas americanas a criar empregos nos EUA. Até que ponto um Congresso controlado pelos republicanos aceitará essa política comercial protecionista ainda está para se ver.

Finalmente, o candidato Trump prometeu lançar um enorme programa de investimento em infraestruturas, afirmando que queria “construir a próxima geração de estradas, pontes, ferrovias, túneis, portos e aeroportos”.

3- Os desafios do governo Trump nas políticas sociais

De longe, o maior desafio que um governo Trump enfrentará será lidar com a promessa do candidato Trump de abolir o programa nacional de saúde conhecido como Obamacare. Ele propôs a substituição da lei americana de saúde com uma transferência do Medicaid para os estados, acompanhada por um programa estadual de subsídios, e isenção de impostos para as empresas que facultem planos de seguro de saúde aos trabalhadores, sendo alargada a indivíduos que comprem os seus próprios planos de saúde. O candidato Trump chegou mesmo a namorar a ideia de os EUA adotarem um sistema de saúde de contribuição única. A ver vamos como uma questão tão complexa irá ser resolvida.

Conclusão

Vai levar semanas e meses até que a agenda real do governo Trump fique clara. Sob uma presidência de Donald Trump, os Estados Unidos podem esperar mudar de direção em muitas políticas. À medida que esta revolução se desenrolar, os olhos do mundo estarão focados no governo Trump e nas novas políticas que ele tentará implementar. Esperemos que tal seja feito com cuidado e pensamento inteligente, e não de modo precipitado e caótico.

estatuadesal.com

10
Nov16

Esta ilha foi considerada a mais bela do mundo; e você provavelmente nunca ouviu falar dela

António Garrochinho


https://scontent.fssa2-2.fna.fbcdn.net/v/t1.0-9/14632992_1799242163685537_6380658830104979998_n.jpg?oh=f1817b8e58c1d35ea19093247badc1ed&oe=58A4BFBA
Se está difícil decidir o destino de sua próxima viagem, nós te damos uma pista. Que tal conhecer a ilha mais bonita do mundo? O título pertence a Palawan, nas Filipinas, e é bem fácil entender o porquê.
Palawan foi nomeada a ilha mais linda do mundo pelas publicações Travel and Leisure e Condé Nast Travel. Ela é uma das 7 mil ilhas nas Filipinas, mas se destaca por sua beleza única. Uma das atrações mais charmosas do local é o rio subterrâneo Puerto Princesa, considerado Patrimônio Mundial pela Unesco e eleito como uma das novas 7 Maravilhas da Natureza.
Mas há outras características que tornam a ilha tão especial. Por lá, o visitantes poderão encontrar cinco espécies de tartarugas marinhas ameaçadas de extinção, além de muitos peixes, golfinhos e mais de 600 espécies de borboletas. Para observar de perto a vida marinha, nada melhor do que praticar snorkel. Já as borboletas poderão ser encontradas mais facilmente nos penhascos que são abundantes por lá, tornando a paisagem ainda mais intrigante.
Espia só que lindeza de lugar:
palawan8
palawan7
palawan6
palawan4
palawan3
palawan2
Fotos © Lindsay Talbot
palawan1
Foto © Rosaire Godin/ImageBrief

vivimetaliun.wordpress.com

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

António Garrochinho

Links

  •