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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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31
Dez16

O BUCHA E ESTICA

António Garrochinho

Stan Laurel, o Estica


E também

Oliver Hardy, o Bucha

Uma pequena amostra da arte de Bucha e Estica.




O OLHAR DE UM CRÍTICO SOBRE A TRAJECTÓRIA DESTA DUPLA DE CÓMICOS QUE MARCOU A HISTÓRIA DO CINEMA.


«Uma espantosa capacidade de adaptação às novas exigências impostas pelo meio».
Oliver Hardy e Stan
 Laurel. Foto sem data encontrada em www.chroniclelive.co.uk

Arthur Stanley Jefferson nasceu em Ulverston, Grã-Bretanha, em 1890 e morreu em Santa Monica, Califórnia, em 1965, e Oliver Norwell Hardy nasceu em Atlanta, Georgia (EUA), em 1892 e morreu em Burbank, Califórnia, em 1957: actores sob os aliases de Stan Laurel e Oliver Hardy.
Não é despiciendo que o primeiro venha da Inglaterra e o segundo da Georgia. O início da frutuosa colaboração entre os dois deve-se ao produtor/realizador Hal Roach e ao argumentista/realizador Leo McCarey, um cineasta interessado numa comicidade realista que deriva muito mais das reacções psicológicas das personagens a determinadas situações que de fáceis efeitos visuais, caracteres disformes ou excessos rítmicos.

Oliver Hardy e Stan Laurel  em The Battle of the Century 
(1927) de Clyde Bruckman e produção de Hal Roach.

Laurel inicia a sua carreira artística na pátria (faz music-hall e circo): pertence a uma família de artistas (o pai é actor e director de teatros e a mãe actriz dramática de certa nomeada). Vai para os Estados Unidos com a companhia de Fred Karno (Chaplin também, estamos em 1910), entra no cinema em 1917, trabalha várias vezes para Hal Roach, interpreta a série «Stan Laurel Comedies», realiza filmes, alcança êxito.
Hardy, ao invés, provém das companhias que trabalham nos barcos fluviais. Quando entra no meio cinematográfico serve-se com notável desenvoltura criativa do seu aspecto físico e de uma mímica surpreendentemente comunicativa. Trabalha para a Lubin, a Pathé, a Vitagraph, e é também realizador de algumas curtas metragens de Larry Semon, um dos grandes actores da chamada slapstick comedy.
Hal Roach e Leo McCarey, homens de cinema extraordinariamente inventivos, compreendem as potencialidades da actuação conjunta dos dois — um magro, o outro gordo — em histórias que os coloquem numa oposição burlesca que faça ressaltar as suas distintas características físicas e compositivas. Estamos em 1926. Roach e McCarey organizam os argumentos que melhor se adequam aos dois actores e fazem-nos intervir numa longa série de filmes cómicos, curtas metragens que se distinguem por uma comicidade de índole aparentemente vulgar (a célebre série das «tortas atiradas à cara», das gravatas puxadas, dos fatos esfarrapados, em suma, da destruição de objectos emblemáticos) prosseguida no período sonoro, com filmes como The Brats, Below Zero, ambos de 1930, e outros, realizados, como estes, geralmente por James Parrott, em 1930 e 1931.

Oliver Hardy e Stan Laurel junto de Hal Roach. Foto encontrada em www.filmreference.com e Stan Laurel e Oliver Hardy in Wrong Again (Tudo ao Contrário, 1929) de Leo McCarey e produção de Hal Roach. Foto encontrada em benhasten.tumblr.com

Importa aqui referir que o advento do sonoro implica um nítido recuo no processo de evolução das técnicas de filmagem, recuo este particularmente notório no cinema cómico, já que a introdução da palavra na estrutura fílmica determina a crise da nuclearidade da imagem que a slapstick comedy tornara, nos anos precedentes, típica da sua organização discursiva. Esta crise atinge com rara violência muitos actores e realizadores cómicos. Ora, os que melhor resistem a este desmoronamento dos antigos modos de conceber o cinema cómico são precisamente Laurel e Hardy, que revelam uma espantosa capacidade de adaptação às novas exigências impostas pelo meio: é que, embora a sua comicidade seja baseada no slapstick, eles compreenderam a necessidade de distender as suas cadências e de atribuir um clima mais fantasioso (i.e., onírico) ao ritmo excessivo que imperava no mudo: a violência física, normalmente exibida na destruição furiosa de objectos, adquire um movimento mais vagaroso, quase de câmara lenta.


Estátua de Stan Laurel e Oliver Hardy do lado de fora do Coronation Hall Theatre, em Ulverston, Cumbria, Inglaterra, terra natal de Stan Laurel. Foto encontrada em wikipédia.com
A primeira longa metragem do par é Pardon Us (Bucha e Estica na Prisão, 1931), ainda de Parrott, que alcança um êxito extraordinário e permite a continuação da feliz associação. E sobretudo em Pack Up Your Troubles (1932), de George Marshall, Fra Diavolo (1933), de Hal Roach e Charles Rogers, Sons of the Desert (Os filhos do Deserto, 1933), de William A. Seiter, Babes in Toyland (Era uma Vez… Dois valentes, 1934), de Charles Rogers e Gus Meins,Bonnie Scotland (Apurados para o Serviço, 1935), de James V. Horne, The Bohemian Girl (Um Par de Ciganos, 1936), de James W. Horne e Charley Rogers, Way Out West (Bucha e Estica a Caminho do Oeste, 1936), de James W. Horne, Swiss Miss (Os Dois Tiroleses, 1938) e Block-Heads (O Cabeçudo das Tricheiras, 1938), de John G. Blystone, e The Flying Deuces (Homens… sem Asas, 1939), de A. Edward Sutherland, mas também em alguns dos filmes da década de 40, como por exemplo Chump at Oxford (Campeões de Oxford, 1940), de Alfred Goulding, Saps at Sea (Marinheiros à Força, 1940), de Gordon Douglas, e Jitterbugs (Bucha e Estica, Músicos de Jazz, 1943), de Malcolm St. Clair, que se aprofunda o contraste cómico entre os dois actores, um contraste que começava por ser físico e se tornava moral e ético, fundado na magreza e ingénua incapacidade (transparência) de «Stanley» oposta (e integrada) à manhosa e prepotente obesidade (opacidade) de «Ollie». 
(Salvato Teles de Menezes, Jornal de Letras 23-01-90)


Stan Laurel e Oliver Hardy, entretidos em um pub, propriedade da irmã de Laurel em Sunderland, Inglaterra, durante uma digressão à Europa em 1952. Foto encontrada em  www.bbc.co.uk


Foto de www.stanlaurel.com
O «Estica» deixou dito, em numerosas entrevistas, o que pensava dos seus companheiros de ofício.

O que Stan Laurel pensava dos outros cómicos

Oliver Hardy — Terrivelmente engraçado e divertido. Consegue fazer-me rir descontroladamente, mesmo ao fim destes anos todos juntos.

Charlie Chaplin — Muito simplesmente: O Maior!

Harry Langdon — Um grande cómico, que teve a preocupação de querer ser um grande actor como Chaplin.

Buster Keaton — Outro «máximo» e eu uso esta palavra muito cuidadosamente e não da forma que Milton Berle usa. Uma das razões pelas quais eu adoro Buster é porque ele, vive a Comédia e também participa nela. Algumas das suas coisas são melhores que as de Chaplin.

Billy Gilbert — Um dos quer está no cimo da roda! Pergunto a mim próprio, porque é que não há mais pessoas a darem por isso?!

Eddy Cantor — Ele e Jolson são óptimos «entertainers» e duma forma que não se vê noutros. Não são realmente verdadeiros cómicos. Mas óptimos cantores e «entertainers» no género que estou habituado a ver nos musicais ingleses. É uma vergonha que os novos Comediantes de agora não sejam tão bons como eles!

Jack Benny — Um grande espertalhão. Sabe em que consistem as características da Comédia. A única crítica que tenho a fazer-lhe é que uma vez por outra ele arrasta muito as suas graças.

Jack Paar — Uma coisa rara,nestes dias — Uma graça.

Jerry Lewis — Ele continua a imitar-se a si próprio, mas tem muito talento e penso que atempadamente fará as melhores Comédias. Espero que sim, mas terá que aprender a disciplinar-se artisticamente. (Stan faleceu em 1965).

Dick Van Dyke — Se alguém quiser fazer um filme sobre a minha vida — e espero que não queiram — eu gostaria que Dick Van Dyke fizesse de mim mesmo. Ele é um dos muitos poucos cómicos que existem por aí que sabe usar o seu corpo nas Comédias.

James Fin Lay Son — Bastava que largasse aquelas sobrancelhas, que eu aplaudiria...

Harold Lloyd — Dificilmente me fazia rir, mas admiro a sua criatividade. Um cómico engenhoso. Um dos melhores e mais honestos cómicos.
 (em, Jornal de Letras 23-01-90)


Stan Laurel na BBC provavelmente em 1952 ou 1953. 
Foto encontrada em  www.bbc.co.uk 


  
O actor Dyck Van Dyke leu este elogio fúnebre, em 
Fevereiro de 1965, homenageando Stan Laurel e a sua obra

Um elogio fúnebre


Há 30 anos atrás, quando os últimos filmes de Stan Laurel e Oliver Hardy passaram na minha cidade, no Illinois, eu aguardava as matinés de sábado, quer eram das onze da manhã às nove ou dez da noite, até os meus pais me irem buscar e me carregarem para casa. Daí por diante e durante toda a semana os meus pais ficavam entretidos e regalados, bem como os meus colegas da escola, com os meus comentários entusiásticos sobre Stan Laurel. Mas ninguém me prestava realmente muita atenção, porque muitas outras crianças também eram fãs de Stan Laurel.
Existem centenas ou milhões de pessoas por todo o Mundo que sentiram muita pena e saudades quando Stan nos deixou, é impossível a alguém conseguir falar por todas elas. O mais que posso fazer é falar por mim e dizer como sinto a sua falta. Foi a influência de Stan que fez com que eu decidisse ir para o mundo do espectáculo em primeiro lugar, além de moldar a minha atitude sobre a comédia. Claro que nunca tinha conhecido o senhor, mas há quatro anos atrás quando eu vim para a Califórnia ia fiz questão de conhecer Stan Laurel, custasse o que custasse. Depois de um ano de esforço para conseguir saber o endereço ou o número de telefone, qualquer coisa que me colocasse em contacto com ele, sabem como é que finalmente consegui? Numa lista telefónica normal... na lista telefónica do Oeste Los Angeles, que dizia: Stan Laurel, Ocean Avenue, Santa Monica. Um miúdo telefonou-lhe e recebeu um convite para o visitar e eu fiz exactamente o mesmo. 
Quando o fui visitar, a sua secretária estava repleta de cartas de fãs de todo o Mundo, que continuou a receber até morrer. Insistia em sentar-se à secretária com uma pequena máquina de escrever e a responder pessoalmente a todas as cartas. E claro que ele estava atrasadíssimo nas respostas e nunca conseguiu pôr em dia a correspondência. 
Numa das últimas manhãs que Stan passou na Terra, uma enfermeira entrou no quarto dele para lhe fazer um tratamento de emergência. Stan olhou-a e disse: «Sabe uma coisa? Adorava estar a esquiar.» A enfermeira perguntou-lhe: «Mas, o senhor esquia, senhor Laurel?» Ele respondeu-lhe: «Não! Mas preferia estar a esquiar, a estar aqui!» Uma vez, Stan disse que foi Chaplin e Harold Lloyd que fizeram «todos os grandes» e que ele e «Babe» Hardy fizeram todos os pequenos filmes e os mais baratos. «Mas eles disseram-me que os nossos pequenos filmes, foram vistos por mais pessoas durante estes anos, do que os deles. Eles devem-se ter apercebido com quanto Amor nós fizemos esses filmes.» Ele pôs nesse trabalho um «ingrediente» especial. 
Era um Mestre Cómico um Mestre Artista, mas punha um «ingrediente » que só uma pessoa muito humana podia pôr, que era Amor. Amor pelo seu Trabalho, Amor pela sua vida, Amor pelo seu Público. E corno ele amava o seu Público! Stan nunca foi aplaudido pelo seu trabalho como devia, pelas horas de trabalho árduo que tinha antes das filmagens. Ele não queria que as pessoas vissem ou notassem o seu trabalho. O que queria era que as pessoas rissem e, de facto, elas riam!(...)  
(em, Jornal de Letras 23-01-90)


 Mário Viegas idealizou um espectáculo em 1989, chamado "O Regresso de Bucha e Estica", com Juvenal Garcês e Eduardo Firmo, em homenagem a Stan Laurel e Oliver Hardy.

 Foto de "O Regresso de Bucha e Estica", noticia em O Jornal 

citizengrave.blogspot.pt
31
Dez16

Cândido, Ribeiro dos Reis, Godinho e o Tarrafal

António Garrochinho



Chegou-me, há uma semana, às mãos e olhos, um livro que há muito desejava ler e ter, da autoria de Cândido de Oliveira: "Tarrafal - O Pântano da Morte". Muito há (haverá) a dizer acerca do livro e do seu autor.


Semanário "O Benfica"; página 3; 2 de Julho de 1953
O treinador do Benfica, Ribeiro dos Reis (à direita) entre o presidente do Benfica Joaquim Bogalho e o do FC Porto (Urgel Horta) com o treinador do FC Porto, Cândido de Oliveira (à esquerda, de óculos), no Estádio Nacional, antes da final da Taça de Portugal, em 28 de Junho de 1953, conquistada pelo Benfica após derrotar, por 5-0, a equipa do FC Porto

Um momento épico
Na final da Taça de Portugal da temporada de 1952/53 encontraram-se dois Benfiquistas que nesse dia, como treinadores, foram adversários: Ribeiro dos Reis (pelo Benfica) e Cândido de Oliveira (pelo FC Porto). Grandes amigos, Ribeiro dos Reis nunca perdoou a Cândido de Oliveira um dia, no início do Verão de 1920, ter "virado costas" ao "Glorioso", quando o Clube tanto necessitava dele que era "apenas" capitão da equipa de futebol!

Cândido infiel, Cândido fora... para sempre
Como resultado da infidelidade do seu capitão - Ribeiro dos Reis era um dos futebolistas da equipa - o seu grande amigo e antigo capitão da equipa Cândido de Oliveira nunca mais regressou ao Clube, encontrando sempre em Ribeiro dos Reis, dirigente do "Glorioso" praticamente até morrer, um obstáculo ao seu regresso. Quando António Ribeiro dos Reis faleceu em 3 de Dezembro de 1961 já Cândido de Oliveira deixara o nosso mundo em 23 de Junho de 1958.


Fotografia de Cândido de Oliveira nos ficheiros da PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado) Fotografia gentilmente enviada pelo dedicado leitor do blogue Victor João Carocha. Obrigado. Fotografia e legenda acrescentada às 03.05 da matina de sábado, 05 de Julho de 2014

E tantas vezes Cândido de Oliveira podia - e ao que constava queria - ter regressado ao Benfica
Cândido de Oliveira depois de futebolista tornou-se o melhor treinador português, talvez o melhor de sempre, treinando no Brasil o mítico CR Flamengo, em 1950, importante ano da fase final do Campeonato do Mundo realizado no Brasil. Durante os anos 30, 40 e 50 o Benfica necessitou inúmeras vezes de um treinador. De "um" treinador! Quanto mais do "melhor deles"! Para António Ribeiro dos Reis, um dos pilares do Benfiquismo que burilou o Benfiquismo do pioneiro Cosme Damião: Quem sai porque quer não regressa por querer...

Uma promessa para 24 de Setembro
Deixo já a digitalização de uma fotografia (a do início deste texto) retirada de uma edição do jornal "O Benfica". Enquanto  procuro uma fotografia com melhor qualidade em que estejam estes dois amigos prometo para dia 24 de Setembro de 2014 - dia em que passam 118 anos do nascimento de Cândido de Oliveira - escrever acerca desta relação benfiquista entre dois Benfiquistas... mas "fora" do SLB.



Copiar (parte) do livro
Entretanto aqui ficam - no final deste texto - deliciosas, mas tenebrosas, páginas de um capítulo do livro de Cândido de Oliveira para quem quiser ler ou copiar para levar de férias. O tempo de ócio vai ser bem ocupado. E não vai ser tempo perdido.

E mais três notas
1.       O prefácio do livro, apenas editado em Portugal depois do 25 de Abril de 1974, é de José Magalhães Godinho que foi o primeiro director do jornal "O Benfica". Por agora fica neste espaço um prefácio que valeria também um magnífico artigo. Mais tarde haverá um texto evocando esse Benfiquista de Sempre, José Magalhães Godinho, nascido em 12 de Fevereiro de 1909 e falecido em 25 de Março de 1994, aos 85 anos;


Só um clube desinteressado do Poder do Estado Novo e sem temer represálias por que também não queria benesses podia ter como primeiro director do Jornal "O Benfica" ainda com o nome inicial de "Sport Lisboa e Bemfica", entre 1942 e 1946, um oposicionista como José Magalhães Godinho que foi referenciado pela PIDE quatro vezes durante o tempo em que dirigiu o Semanário do Clube. E foi preso quatro vezes, duas em 1930 e duas nos anos 40 (1947 e 1948). A sua acção democrática anti-censura, responsável e tolerante deu ao cargo de director do Semanário um prestígio e responsabilidade que outros depois - ao ocupar o mesmo cargo - tiveram dificuldade ou incapacidade em honrá-lo! A essa função e ao pioneiro director...
2.      António Ribeiro dos Reis (10 de Julho de 1896 a 3 de Dezembro de 1961) terá também um destaque neste blogue, em princípio no último dia deste ano (31 de Dezembro) assinalando os 100 anos da sua estreia com o "Manto Sagrado" na 1.ª categoria;

3.      O Benfica nunca foi um clube que discriminasse. Era, sim, um clube agregador que acolhia no seu seio todos os que quisessem engrandecê-lo independentemente da sua ideologia, etnia, género ou classe social. Em contraponto a um democrata, anti-fascista e anti-salazarista como Cândido de Oliveira, o EDB no espírito do Benfiquismo e da Gloriosa Cultura do Clube fará também a evocação de uma outra grande figura Benfiquista, ministro de Salazar: Augusto Cancella de Abreu, presumo que também salazarista e de direita, ao contrário de Cândido de Oliveira. Mas que só exerceu cargos no "Glorioso" depois de deixar de ser ministro e estar ligado ao Poder. Em 14 de Agosto de 2014, dia em que se completam 119 anos do seu nascimento em Anadia, no ano de 1895, o EDB homenageará um antigo presidente da Mesa da Assembleia Geral do Benfica, falecido em 6 de Abril de 1965. E dedicará a Cancella de Abreu o mesmo fervor, dedicação e rigor que terá para com Cândido de Oliveira, praticamente um mês depois. Se bem que o tema não seja o mesmo. Para Cancella de Abreu interessa destacar a sua acção como 11.º presidente da Mesa da Assembleia Geral, entre 27 de Julho de 1956 e 26 de Março de 1964, já doente. Enquanto que para Cândido de Oliveira interessará evidenciar uma amizade "fora do Benfica" entre ele e Ribeiro dos Reis. Ribeiro dos Reis que foi o 10.º presidente da Mesa da Assembleia Geral do Benfica antes de... Cancella de Abreu! 




Apesar de preferir destacar o Clube enquanto colectividade e não somatório de individualidades é sempre um prazer escrever acerca de Benfiquistas que sempre serviram o Clube e nunca se serviram dele!

Alberto Miguéns

Prefácio de José Magalhães Godinho ao livro de Cândido de Oliveira



Último capítulo do livro (páginas 129 a 153)
















  1. O futebol é feito em primeiro lugar pelos seus praticantes. E esses são também homens (ou mulheres), com as suas incongruências, as suas cambiantes e as decisões que tomam em função do meio onde se inserem e interagem com os seus semelhantes.

    Cândido Oliveira foi um homem notável. Um praticante de qualidade, um mentor , um treinador de sucesso. Foi tudo o que o Dr. José Magalhães Godinho escreve nesse prefácio.

    A vida é assim, por vezes afasta-nos daqueles que foram amigos num dado tempo. Pelo que nos diz, a cordialidade e a amizade entre Cândido de Oliveira e Ribeiro dos Reis manteve-se forte apesar da saída de Cândido que arrastou quase uma equipa inteira do Benfica com ele para a Casa Pia. Afinal fundaram o jornal "A Bola". Interessante como Ribeiro dos Reis terá então apartado o Benfica de tudo o resto, não colocando em causa a relação entre amigos mas fazendo questão de impedir qualquer regresso ao Benfica. Valores sólidos e coerência ao longo de décadas. Homem de fibra concerteza.

    Entende-se mas pelo menos do pouco que sei ainda assim lamento que não tenha havido uma reconciliação. Quando saiu Cândido era capitão do Benfica. Era treinado por Cosme Damião. Deveria pois ser o seu braço direito. Seria interessante perceber também a relação entre esses dois homens. Tanto quanto sei terão existido conversas antes da tomada de decisão. Não sei se o Alberto sabe alguma coisa sobre isso. Penso se não estou em erro que já li qualquer coisa de si a propósito de Cândido de Oliveira ter protelado por 1 ano essa decisão pois terá feito questão de sair como campeão.

    Cândido de Oliveira foi um dos maiores "ses" do Benfica. Como teria sido se não tem saído. Teriamos tido a crise de 1926 mais cedo? Teria sido diferente? Ter-se-ia Cosme afastado nessa data? Cândido era um pensador e por isso teria tido uma enorme importância na definição do Benfica como clube. Teriamos tido uma dupla Candido de Oliveira e Ribeiro dos Reis a fazer parte do pequeno núcleo de figuras-chave do clube. Parece mais do que provável.

    A parte do livro, a parte da experiência do Tarrafal é terrível. Cândido de Oliveira era um intelectual e pode - viveu para isso - racionalizar e relatar a sua experiência. Outros não tiveram a mesma sorte. É terrível perceber até que ponto um ser humano pode descer tão baixo para subjugar a este ponto um seu semelhante.

em-defesa-do-benfica.blogspot.com
31
Dez16

O Império Diabólico do Ku Klux Klan

António Garrochinho


Nascido no imaginário de alguns oficiais sulistas ociosos, o sinistro Ku Klux Klan, tolerado durante muito tempo, incarna os demónios racistas e homicidas da América branca e puritana.
Na véspera do Natal, dia 24 de Dezembro de 1865, em Pulaski, no Estado do Tennessee, os veteranos James Crowe, Frank McCord, Calvin Jones, John Kennedy, John Lester e Richard Reed, criam uma associação de irmãos de armas cujo nome, em forma de altercação misteriosa, retoma o nome grego «kuklos» (círculo) associado ao latim «lux» (luz). Esta associação recebe o nome de Ku Klux Klan.

Durante cavalgadas nocturnas, estes homens percorrem a cidade, vestidos com lençóis brancos e máscaras pontiagudas, mostrando apenas os olhos.
O disfarce sugere o regresso dos soldados confederados mortos durante a Guerra da Sucessão.

Movidos pelo racismo, os cavaleiros-fantasmas tem como objectivo
assustar a população negra, considerados responsáveis pela derrota
dos confederados e pela crise económica que atinge a região do sul.

Rapidamente, as cavalgadas espalham-se pelas cidades de outros Estados: Alabama, Geórgia e Mississípi, hostis ao poder federal dos nortistas responsáveis pela abolição da escravatura. Os clansmen tornam-se cada vez mais agressivos, multiplicando as expedições punitivas, as pilhagens e as vinganças pessoais, em nome da superioridade da raça branca. Em pouco anos, o Império do Ku Klux Klan reúne perto de 500.000 membros, tornando-se difícil controlá-los.

Além de divertirem-se com os aterrorizados negros, esta sinistra associação também atacava brancos que protegiam os negros, principalmente os professores que leccionavam em escolas para negros, temendo que os negros se instruíssem, tornando impossível a volta à escravidão. Além da prática racista, os klanistas faziam visitas surpresas aos negros, obrigando-os a votar nos democratas, acompanhadas de algumas chibatadas.

Em consequência dos excessos, o grupo foi posto na ilegalidade em 1871 pelo então presidente dos Estados Unidos Ulysses Grant. Nesse mesmo ano, o Senado vota uma lei, Anti-Ku Klux Klan Bill que leva o general Nathan B. Forrest, antigo mercador de escravos e Grande Mago do Império dos Fantasmas, a proclamar a dissolução da sua sinistra organização. A Ku Klux Klan é dissolvida, deixando atrás de si, mais ou menos, cerca de 4600 vítimas negras.

O nascimento de uma Nação
Em 1915, o cineasta D. W. Griffith dirigiu um filme intitulado "O nascimento de uma nação", baseado no romance e na peça "The Clansman", ambas de Thomas Dixon, Jr. O filme relata as vidas de duas famílias durante a Guerra de Secessão e a subsequente Reconstrução dos Estados Unidos: os Stonemans, nortistas pró-União e os Camerons, sulistas pró-Confederação. O assassinato de Abraham Lincoln por John Wilkes Booth é dramatizado no filme.

VÍDEO

O filme foi um enorme sucesso comercial, mas foi altamente criticado por retractar os afro-americanos
(interpretados por actores brancos com as caras pintadas de negro) como ignorantes e sexualmente
agressivos em relação às mulheres brancas, e também por apresentar a Ku Klux Klan como uma força
heróica. O filme é creditado como um dos responsáveis pelo ressurgimento da Ku Klux Klan.

A segunda ordem nasce então numa noite de Inverno de 1915, nas mãos de um antigo pregador metodista, o reverendo William Joseph Simmons, em Atlanta. Motivados pela película, vários racistas se reuniram e retomaram a seita, usando todos os meios para atiçar o ódio contra os negros, fustigando os judeus, os católicos, os pacifistas ou os bolchevistas, assim como os sindicatos e todos cuja moral lhes parece ímpia. Uns são considerados responsáveis pela corrupção dos costumes, outros são suspeitos, a começar pelo Papa, de querer comandar o país.

Este grupo foi criado como uma organização fraternal e lutou pelo domínio dos brancos protestantes sobre os negros, católicos, judeus e asiáticos, assim como outros imigrantes. Este grupo ficou famoso pelos linchamentos e outras actividades violentas contra seus inimigos. Chegou a ter 4 milhões de membros (outros dizem serem 5 milhões) na década de 1920, incluindo muitos políticos. O Ku Klux Klan torna-se então, numa enorme máquina financeira que enriquece os dirigentes. A partir do palácio imperial de Atlanta, o Imperador e os seus comparsas orquestram a repartição das quotas: em cada 10 dólares, 4 dólares vão para o recrutador, 6 dólares para o Klan. Em poucos anos, só as despesas de propaganda atingem 35 milhões de dólares.
Marcha de integrantes da Ku Klux Klan em Washington, DC em 1928.

Pouco a pouco, a implementação política do klan ganha terreno: 11 governadores e vários senadores são iniciados.
Novamente instalada em Washington, a organização faz uma demonstração de força ao fazer desfilar 30.000 cavaleiros nas ruas da capital federal.

Uma organização esotérica-sectária
A organização Ku Kux Klan baseia-se num programa que era acompanhado de um ritual que mistura a iniciação cavaleiresca, religião e o esoterismo barato. A direcção da Ordem pertence ao Feiticeiro Imperial ou ao Imperador, apoiado pelo Klonvocatória Imperial, composta pelos kloppers. Cada Estado é governado por um Grande Dragão; cada distrito por um Grande Tirano; cada província por um Grande Gigante. Juntam-se-lhe os graus de Ciclope, Fúria e Vampiro. Uma linguagem secreta une os iniciados: os dias e os meses são baptizados de Mortal, Tenebroso, Terrível, Furioso. Os Clansmen reúnem-se em Covis ou Cavernas, onde preparam as investidas sangrentas, vestidos com os uniformes brancos com uma cruz de Santo André vermelha ao peito.

Cruz sendo queimada, actividade introduzida por William J. Simmonk, o fundador da segunda
Klan em 1915.

Os candidatos 100% norte-americanos, nascidos nos Estados Unidos, brancos e protestantes, são recebidos de noite, diante de uma cruz alta, incendiada, que ilumina um altar envolto numa bandeira estrelada e sobre o qual estão colocados uma Bíblia aberta e um punhal. Aí, rodeados por uma multidão de homens encapuçados que rezam pela salvação do Imperador, respondem a um questionário para depois prestarem um juramento, no final do qual lhes dizem: «Lembrai-vos sempre de que a fidelidade ao juramento prestado é honra, vida, felicidade, e de que a sua transgressão, pelo contrário, significa vergonha, infelicidade e morte». O Grande Ciclope baptiza-os com um pouco de água vertida sobre a testa e os ombros, pronunciando a seguinte fórmula: «in mind, in body, in sirit and in life». Depois de integrados no grupo dos clansmen, podem desde logo, participar nos crimes dos vingadores de direito.

O fim do Ku Klux Klan
Entretanto, as suas vítimas eram marcadas com três letras K na testa. A perda de respeitabilidade da Ku Klux Klan devido aos métodos brutais, ilegais ou meramente arbitrários, e as execuções sumárias de inocentes, unidas as divisões internas, levou à degradação de seu prestígio, apesar de a organização continuar a realizar expedições punitivas, desempenhando, por exemplo, o papel de supervisora de uma agremiação de patrões contra os sindicalistas, cuja cota estava em alta depois da crise de 1929.

Na década de 1930, o nazismo exerceu uma certa atracção sobre a Ku Klux Klan. Mas na Segunda Guerra Mundial, depois do ataque japonês à base americana de Pearl Harbor, os klans cortaram as relações com os alemães. Muitos membros se alistaram no exército para lutar contra o "perigo amarelo". Em 1944, o serviço de contribuições directas cobrou uma dívida da Klan, pendente desde 1920. Incapaz de honrar o compromisso, a organização morreu pela segunda vez. O clã foi perdendo forças, alguns integrantes foram amadurecendo, e a mentalidade foi mudando até que o clã se desfez novamente. A popularidade do grupo caiu durante a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial, já que os Estados Unidos se posicionaram ao lado dos aliados, que eram contrários às ideias totalitárias, extremistas e racistas, como as nazis.

A tentativa do ressurgimento do Klan
Após a Segunda Guerra Mundial, apesar de ter perdido muitos adeptos, a organização goza de simpatia de muitos americanos cuja xenofobia é reavivada devido à chegada de novos imigrantes. Na década de 1950, a promulgação da lei contra a segregação nas escolas públicas despertou novamente algumas paixões, e cruzes se acenderam. Seguiram-se batalhas, casas dinamitadas e novos crimes (29 mortos de 1956 a 1963, entre eles 11 brancos, durante protestos raciais). Os klanistas tentaram se reciclar no anticomunismo, combatendo os índios ou atenuando seu anticatolicismo fanático. Em 1966, o Klan que conta com perto de 60.000 membros, é finalmente proibido.

A Ku Klux Klan entra para a história negra da América, denunciada em 1989, no filme de Alan Parker, "Mississípi em Chamas, 1964".

VÍDEO

Mississipi, 1964. Rupert Anderson (Gene Hackman) e Alan Ward (Willem Dafoe), dois agentes do
FBI, investigam a morte de três militantes dos direitos civis numa pequena cidade onde a segregação
divide a população em brancos e pretos e a violência contra os negros é uma tónica constante.

Nos dias actuais, alguns racistas ainda se reúnem em grupos, promovendo a superioridade dos arianos. Mas em termos de contingente, não se compara com o auge do clã, no século XIX.

 www.geralforum.com
31
Dez16

O Tigre de Tipu.

António Garrochinho


 
 



 
 
 
Parece um animal feroz, mas não passa de um boneco articulado. Como o Pinóquio. A primeira vez que o vi mirei-o só de relance, às pressas, quando ia atrasado para almoçar no V&A. Mas logo então fiquei ofuscado pela fearful symmetry das suas riscas, como diz Blake no poema famoso. Depois de almoço, regressei ao interior do Victoria and Albert Museum, onde a fera está exposta sem particular destaque, no meio de uma vitrina, rodeada de abundante tralha, toda muito linda.
O Tigre era certamente das peças menos opulentas do majestoso espólio do sultão Tipu, que os pérfidos ingleses pilharam após conquistarem o reino de Mysore em 1799. Durante anos, Tipu tinha desafiado o poder britânico, infligindo-lhe derrotas humilhantes que a imprensa inglesa iria caricaturar sem piedade alguma. «Melhor viver um só dia como tigre do que como ovelha toda a vida» é uma frase atribuída ao sultão Tipu, que pelos vistos conhecia o célebre dito de Luísa de Gusmão, mãe da futura rainha Catarina, que levaria para Inglaterra o hábito de beber chá mas também, já agora, a compota de laranja e outras duas coisas, até aí desconhecidas nas Ilhas Britânicas: o higiénico uso de talheres e o malfazejo consumo do tabaco.
 
 
 
A monção e as chuvas fizeram fracassar uma primeira expedição contra o poderoso Tipu. A imprensa londrina, sempre dada ao tablóide, vergastou os vencidos. Os alunos de Oxford faziam apostas entre si sobre quem iria ganhar aquele choque de civilizações. Mais tarde, um exército melhor equipado conseguiu impor a Tipu um tratado leonino, através do qual o sultão não só cedia aos ingleses metade do seu reino como dava como garantia os dois filhos do seu sangue, a título de caução. Os filhos foram devolvidos, mas o reino não. E até lhe ficaram com a outra metade. E até lhe destruíram o palácio inteiro, chegando ao ponto de vilipendiar o seu cadáver, cortando-lhe o bigode. Por herança de seu pai, Tipu ascendera ao trono de Mysore em 1782, dominando uma região imensa, quase tão grande como o seu orgulho. O pai, Haydar Ali, era homem de poucas letras, talvez mesmo analfabeto, mas o filho Tipu teve uma educação principesca, falando várias línguas. Acontece que a maioria do povo da sua terra vastíssima era hindu, enquanto Tipu professava no Islão. E no Islão linha dura, defendendo até a jihad contra os infiéis. Nas cartas que escrevia a outros monarcas muçulmanos abundam as referências à jihad, que em árabe significa literalmente «último esforço», ou seja, guerra aos descrentes. O seu trono e as armas dos seus soldados tinham ornatos de tigres mas também a palavra «Alá» ou versículos do Corão. O sultão tinha vários hábitos, todos péssimos, um dos quais consistia em mandar que os seus prisioneiros, europeus incluídos, fossem circuncisados. Uma gravura da época mostra um recluso em Mysore, de seu nome Richard Chase, com um ar bastante abatido e tristonho. Um outro prisioneiro, o irlandês Cromwell Massey, escreveu um diário secreto enquanto padecia as últimas nas masmorras do sultão Tipu; o documento, que sobreviveu miraculosamente, faz descrições terríveis do que se passava na cidadela fortificada de Seringapatam.
 

 
 
Não admira que, quando chegaram a Inglaterra as primeiras notícias do cerco ao palácio de Tipu e do iminente branqueamento da capital, o empresário de espectáculos Philip Astley, que enriquecera exibindo artes equestres ao público londrino, organizasse de imediato uma extravaganza, «The Storming of Seringapatam». Com mais de cem personagens e uma quadrilha de cavalos, máquinas ululantes e fumos de cena, foi um estrondo de bilheteira, com casas cheias até 1829.   
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tipu escolheu o tigre como emblema – e o seu trono octogonal estava adornado por cabeças de tigres, revestidas a oiro. No centro do trono, um tigre possante, também a oiro, que hoje, claro está, se encontra na posse dos ingleses, mais precisamente na colecção real (quem o quiser ver, estará em exibição em Londres, na Queen’s Gallery, até finais de Fevereiro de 2015,numa exposição de cinquenta peças expressivamente intitulada Gold). Jóias, armas d’aparato, vestidos de seda delicadíssima, tudo foi devastado – ou, melhor, saqueado e vendido, disperso em leilão feito pela East India Company. Sendo das menos valiosas peças do tesouro de Tipu, o Tigre tornou-se a mais conhecida, em parte devido à atracção que nos séculos XVIII e XIX existia por automata e máquinas articuladas, em parte porque o Tigre de Tipu é, de facto, um objecto fascinante. Feito em madeira por volta de 1799, mostra um tigre a devorar um ser humano, um branco, ocidental. Não se sabe se a vítima é civil ou militar. Possivelmente, a peça inspira-se num episódio macabro passado nas costas de Bengala. Segundo o relato distinto do Gentleman’s Magazine, de Julho de 1793, o jovem Hugh Munro, o filho único do general Sir Hector Munro, foi esventrado por um tigre enquanto repousava com os amigos, numa pausa da sua jornada de recreio e caça na Ilha de Sagar (já agora: uma ilha que está prestes a desaparecer, tragando homens e tigres, devido ao aquecimento global,aqui).   
 
A tragédia de Munro numa peça de porcelana Staffordshire (c. 1814)
 
Sendo a tragédia de Munro a fonte de inspiração, ou não, o certo é que Tipu mandou fazer dezenas de imagens em que os europeus – ou, mais precisamente, os ingleses – eram esquartejados alegremente por animais: leões, elefantes e sobretudo tigres. Tipu mantinha tinha os franceses por aliados e diz-se ser muito provável que o Tigre e a maquinaria existente nas suas vísceras tenham sido fabricados com o auxílio de artistas habilidosos vindos de Paris. Além da nota descritiva do V&A, a Wikipedia conta a história do Tigre e também aqui (http://www.tigerandthistle.net/) se pode saber alguma coisa do bicho. Mas nada substitui a leitura de um livro formidável, profusamente adornado com imagens dos tesouros de Tipu. De Susan Stronge, Tipu’s Tiger é editado pelo próprio V&A e, em poucas páginas, produz uma envolvente «narrativa» (para usar um termo agora muito em voga) sobre a ascensão ao trono de Tipu, o seu acidentado reinado, e as atribulações do tigre de madeira. O livro de Stronge reproduz relatos da época da captura de Tipu, que asseguram que este só foi morto por ter resistido a um soldado que lhe queria tirar o cinto. Ficarmos assim, de calças na mão, é sempre aborrecido de acontecer; para mais, tratava-se certamente de um cinto adornado com pedras preciosas ou, no mínimo, semipreciosas. O que os relatos da época não explicam é a razão que levou a autorizar que profanassem o cadáver de Tipu (foi, aliás, um oficial superior que perpetrou esse crime). Certo é que autoridades reprimiram com dureza os saqueadores oportunistas, enforcando quatro de uma vez, para servir de exemplo. De caminho, mataram a tiro os tigres de carne e osso que o sultão tinha no seu palácio. Quanto ao abundante guarda-roupa do sultão, os ingleses tiveram a cortesia de convidar os filhos de Tipu a escolherem algumas peças de vestuário do pai, como recordação. Depois, iria tudo à praça, num leilão organizado pela East India Company. Na cidade, porém, correu o rumor que os muçulmanos se preparavam para arrematar todos os lotes, distribuindo as vestes de Tipu pelos crentes, como relíquias «do profetismo e da santidade do seu carácter». A Companhia cancelou a hasta pública do guarda-roupa, guardou as 57 túnicas (ou jamas), os 84 turbantes (dois dos quais com inscrições corânicas), os 54 casacos e diversos pijamas de Tipu, transportando-os para Londres. O interior do palácio de Seringapatam foi vilmente destruído em 1808, o mesmo acontecendo com o palácio Lal Bagh, outra residência de Tipu, cujos destroços seriam usados em 1829 na construção de uma pequena igreja cristã, St. Stephen, em Ootacamund. O triunfo do Império foi assinalado de uma forma bastante simbólica, prenhe de significado: cunharam-se medalhas que mostravam um leão, ícone britânico, a dominar um tigre, o animal predilecto do sultão Tipu.
 
 
 

As medalhas, feitas às centenas ou aos milhares, foram distribuídas pelas tropas vencedoras, sendo dadas sobretudo aos cipaios, isto é, aos soldados de origem indiana, para que estes espalhassem entre a população nativa o símbolo do novo poder. Enganaram-se. O poder de Tipu permanece – e pujante. Na Índia, devido aos seus canhões com tigres e aos «mísseis de Mysore», Tipu é considerado um visionário, o pai do lançamento de foguetes e mísseis, celebrado oficialmente. Um indiano da América, vivendo no remoto estado de Montana, lembrou-se de fazer uma bebida em sua honra (http://tipustigerchai.tripod.com/). Há filmes (The Sword of Tipu Sultan, 1990), peças de teatro (The Dreams of Tipu Sultan, 1997), desfiles,sites comemorativos, livros infantis e até, obviamente, tatuagens com o tigre anticolonialista. Para quem puder dispensar 48 minutos do seu domingo a ver uma série indiana, eis o sultão, Tipu no seu esplendor:
 
 




 
Se o Tigre de Tipu tivesse pedras preciosas ou adereços de ouro, certamente teria tido outro destino. Sobreviveu. Nas suas entranhas, um intricado sistema de tubos emitia o som pavoroso de um homem a ser devorado por um felino ferocíssimo. Há quem refira que a caixa de música tem uma vaga associação às gaitas de foles tocadas pelos exércitos escoceses – o que, a ser verdade, não deixa de constituir uma refinada ironia. Quando a peça foi trazida para Inglaterra, instalaram-na na biblioteca da East India House (também para lá foi a cabeça gigantesca do tigre que estava no trono de Tipu, e que mais tarde, em 1831, seria oferecida ao rei William IV). Os estudantes e os investigadores que frequentavam a biblioteca – e que estavam ali para fazer o que faz um verdadeiroestudante, que é estudar à séria, sossegada e discretamente  – ficavam incomodados com o corrupio de pessoas que só iam à livraria para ouvir o Tigre e os seus rugidos, agora inofensivos mas ainda assim bastante incomodativos. Os visitantes podiam até dar à manivela para ouvir o som que emitia. Parece que tanto o tocaram que o animal se avariou, e a caixa de música nunca mais deu sinal de si, fazendo dó. Mas no V&A, para onde o animal foi transferido em 1880, existe uma gravação do tenebroso rugido, que pode ser escutada. Há também uns vídeos no YouTube, pouco esclarecedores. Em todo o caso, aconselha-se o visionamento do segundo, sobre o restauro da peça.  
 
 
 
 
 
 
Com 1,72m de comprido, o bicho é enorme, quase em tamanho natural. O sultão gostava de ouvir o som terrível que produzia, entre outras malvadezas que fazia aos ingleses encarcerados nas masmorras do seu palácio, em Seringapatam a capital do reino de Mysore. A pintura é tipicamente indiana no cromatismo e nos acabamentos, tendo sido restaurada várias vezes ainda em vida de Tipu. Durante a 2ª Guerra Mundial, a peça foi seriamente danificada, ficando desfeita em centenas de pedaços, que cuidadosamente restauraram, ficando como nova logo em 1947. Repousa hoje numa cela de vidro do Victoria and Albert Museum, no meio de muita tralha de artes decorativas.

 
 
 
 
 
 
 
 
Quando descobriram a peça no palácio de Tipu, os ingleses ficaram impressionados pelo ódio que exalava. Chegaram ao ponto de querer levar o Tigre de Tipu para a Torre de Londres, como castigo: «this memorial of the arrogance and barbarous cruelty of Tippoo Sultan may be thought deserving of a place in the Tower of London», escreveu-se na altura. Prevaleceu o bom senso e o Tigre de Tipu é hoje uma peça de museu, a mais conhecida de todas do espólio do sultão de Mysore. Ao contrário do que sucedeu com as jóias e os adornos faustosos, o que o salvou da perdição foi justamente o seu escasso valor comercial, despojado que era de jóias rutilantes e materiais exóticos. Em contraste, o seu valor simbólico e histórico é enorme, muito superior ao dos muitos tigres de oiro e prata que deambulavam pelos salões do palácio de Tipu. De visita a Londres, para ver a Grande Exposição de 1851, Gustave Flaubert entediou-se de morte com o exibicionismo do Crystal Palace (sobre a construção deste edifício, Bill Bryson tem um relato apaixonante no seu livro Em Casa). Mas, ao ver o Tigre de Tipu, que na altura estava exposto na East India House, ficou maravilhado. Também John Keats se deixou encantar pela peça, fazendo-lhe alusão num longo poema que deixou por concluir (a play-thing of the Emperor’s choice / From a Man-Tiger-Organ, prettiest of his toys). Como Flaubert e Keats, muitos não conseguem resistir à atracção voraz do Tigre de Tipu, que serviu de inspiração a poetas e outros artistas, sendo alvo de vários pastiches recriações, quase todos de mau gosto. O pior exemplo, sem dúvida, é o texto cópia/cola que acabastes de ler.
 
António Araújo  
 
 
 

Bill Reid, Rabbit eating astroinaut, 2004



M. F. Husain, Tipu Sultan's Tiger, 1986 


 
 


malomil.blogspot.pt

 
31
Dez16

EXCERTOS HISTÓRICOS - A TENEBROSA PIDE (repetição)

António Garrochinho


DIAS COELHO MILITANTE DO PARTIDO COMUNISTA PORTUGUES, ASSASSINADO PELA PIDE



CAÇA AO PIDE EM ABRIL DE 1974

RUA ANTÓNIO MARIA CARDOSO LISBOA - SEDE DA PIDE/DGS


A Polícia Política - Segundo a História de Portugal 

de A. H. de Oliveira Marques


A polícia política, cujas origens remontam  a 1926, foi reorganizada na década de 1930. Primeiro chamada Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (P. V. D. E.), passou a ser conhecida por Polícia Internacional e de Defesa do Estado (P. I. D. E.) a partir de 1945, data em que viu as suas atribuições consideravelmente ampliadas. Na época Marcelista foi a D.G.S - Direcção Geral de Segurança.

A Polícia Secreta portuguesa alcançou, sob regime de Salazar, em todas as esferas da vida nacional, tais limites de poder e penetração que desafiaram a autoridade do próprio Estado - incluindo a das Forças Armadas - e a converteram gradualmente num estado dentro dele.
Da mesma forma que a lnquisição, teve de justificar a sua própria existência e os seus amplos poderes pela «invenção» ou o exagero de ameaças à segurança do regime e pela «fabricação» de comunistas e de outros  perigosos opositores ao Estado Novo.

Movimento quer roteiro da ditadura de Salazar

Fernando Madaíl


Vocês podem imaginar isto tudo, amigos?” A interrogação da ex-presa Maria Fernanda Leitão foi publicada na revista Notícia, a 25 de Maio de 1974, sendo reproduzida no livro PIDE – A História da Repressão (coordenação de Alexandre Manuel, Rogério Carapinha e Dias Neves).
Sem a fama de Cunhal ou Soares, Jaime Cortesão ou Torga, Emídio Santana ou Palma Inácio, descrevia a repressão fascista. “O que era, em prisões destas, ser torturado, espancado, apodrecer nos curros, adoecer, tuberculizar, ter cancro, ter dores, vomitar, ter período menstrual, não tomar banho, tremer de frio, passar fome? Ninguém pode imaginar. Só vendo.”
“Vocês poderão imaginar, amigos”, prosseguia, “o que eram os interrogatórios, os insultos, a vida inteira devassada, avacalhada, o silêncio das noites, o isolamento, os anos passados, as cartas abertas, os parlatórios com microfones minúsculos debaixo dos mosaicos das paredes, as visitas com guardas ao lado? Ninguém pode imaginar. Só tendo passado por isto.”
Manuela Cruzeiro, na apresentação do livro Silêncio – Prisões Políticas Portuguesas, do fotógrafo Pedro Medeiros, invoca o título provocatório de Eduardo Lourenço, O Fascismo Nunca Existiu (1976). A investigadora do Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra escreveu antes de surgir o movimento Não Apaguem a Memória!, uma vez que a missão fotográfica de reconstituir o universo concentracionário e repressivo do Estado Novo decorreu entre 1999 e 2005 e os autores da petição ao Parlamento só se organizaram em Dezembro de 2005.
O roteiro essencial do fascismo português que este movimento cívico, sem direcção formal, pretende que seja criado passa por locais emblemáticos da brutalidade da polícia política, nomeadamente a sede central da PIDE/DGS em Lisboa, as cadeias do Aljube, Caxias e Peniche, o Tribunal Plenário. Mas um dos ícones do que Salazar designava por uns “safanões a tempo” – da tortura do sono e da estátua (o comunista Francisco Miguel esteve 51 dias de pé) até à morte -, o mais temível de todos, que era o campo de concentração do Tarrafal, não está em território português.
Edmundo Pedro, um dos cinco sobreviventes que estrearam o “campo da morte lenta”, onde estiveram desde o treinador de futebol Cândido de Oliveira ao escritor Luandino Vieira, lembra que o Tarrafal integra simultaneamente a memória do combate contra o nazi-fascismo (inaugurado em 1936, era cópia dos campos hitlerianos) e da luta anticolonial: encerrado em 1954, seria reaberto para os presos dos movimentos de libertação.
E, no entanto, o projecto também deve servir para enaltecer os “semeadores de liberdade”, como definiu os lutadores contra a ditadura o ministro Santos Silva. Afinal, só as fugas mais rocambolescas davam filmes: Nuno Cruz e outros reviralhistas foram brutalmente espancados por cúmplices que se fizeram passar por polícias que os iriam transferir de cadeia; José Magro e outros comunistas saíram de Caxias no carro blindado de Salazar; Palma Inácio serrou as grades da prisão da PIDE no Porto com limas que guardava nos frascos do chocolate e do leite em pó. Vocês podem imaginar?

(http://dn.sapo.
Quantas foram as vítimas dpt/2006/08/20/tema/movimento_quer_roteiro_ditadura_sala.html)a PIDE?
Fernando Madaíl

Desde o tempo em que Raul Proença editou um panfleto a denunciar a ditadura, logo em Dezembro de 1926, até Palma Inácio sair de Caxias de braços abertos a saudar a liberdade reconquistada em Abril de 1974, houve “não se sabe quantos” presos políticos durante o fascismo.
Um dos grupos de trabalho do movimento Não Apaguem a Memória! vai dedicar-se a fazer um levantamento, na Torre do Tombo, de todas as vítimas da ditadura militar e dos governos chefiados por Salazar e Marcelo Caetano.
Ao longo de 48 anos, passaram pelos calabouços do regime antigos ministros e militares do reviralho, anarquistas e comunistas, operários e camponeses, intelectuais de renome e funcionários públicos, maçons e sacerdotes, velhos republicanos e monárquicos anti-salazaristas, comunistas fiéis a Moscovo ou cisionistas pró-Pequim, africanos anticolonialistas e estudantes universitários, todas as correntes de opinião.
Na sede da PIDE/DGS, na António Maria Cardoso – nome da rua lisboeta que, a exemplo do que sucedia com a portuense Rua do Heroísmo, só de se pronunciar metia medo -, foi encontrado quase um milhão de nomes nos ficheiros, embora fossem incomparavelmente menos aqueles que tinham direito a fichas idênticas às que se publicam no topo destas páginas (de Álvaro Cunhal, Mário Soares, Palma Inácio, Dias Lourenço, Pires Jorge e Jaime Serra).
A designação PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado) só foi usada entre 1945 e 1969, mas os métodos dos agentes de Agostinho Lourenço e de Silva Pais tornaram a sigla terrível. Antes, chamou-se Polícia Especial, Polícia de Informação Pública, Polícia de Defesa Política e Social, Polícia de Vigilância e Defesa do Estado. Depois da “Primavera Marcelista”, Direcção-Geral de Segurança (DGS).
SEDE DA PIDE NO PORTO


CARTEIRA DE FÓSFOROS USADA EXCLUSIVAMENTE PELA PIDE

SILVA PAIS CHEFE DA PIDE/DGS





DIRIGENTES COMUNISTAS PRESOS PELA PIDE

ALVARO CUNHAL PRISIONEIRO DA TENEBROSA PIDE
PRISÃO DE PIDE EM ABRIL DE 1974

As origens da PIDE


As origens da PIDE começaram em 1933, ano da criação oficial do Estado Novo.  É criada a Polícia de Vvigilância e de Defesa do Estado  (PVDE), com duas secções principais:

Secção Defesa e da Política Social, a fim de reprimir a oposição política actividades, impor censura, etc
Secção internacional, utilizadas para controlar a imigração, a deportação e os serviços secretos e de inteligência.

Em 1936  a PVDE criou o presídio do  Tarrafal em Cabo Verde, sob o seu controlo directo, como um destino para os presos políticos, que o regime considerava mais perigosos. Durante 40 anos de ditadura, 32 pessoas morreram no Tarrafal, devido aos rigorosos regimes de internamento.

Com a Guerra Civil Espanhola, e depois de um atentado contra Salazar por militantes anarquistas, aumenta a repressão, em especial contra o Partido Comunista Português. A PVDE, recebeu instrutores alemães e italianos, que tentaram adaptá-la à estrutura e os métodos da Gestapo. 

Durante a Segunda Guerra Mundial, Portugal tornou-se um país de espiões, local de exílio para importantes personalidades estrangeiras, e aumentou a cooperação entre a PVDE e Gestapo. 
De PVDE a PIDE Em 1945, a PVDE, que tinha sido criada e instruída pelo modelo GESTAPO nazista, muito BRUTA e pouco TÉCNICA, é dissolvida e substituída pela PIDE, que modifica o seu estilo e orientação profissional pelo modelo Scotland Yard. Mais TÉCNICA e menos BRUTALIDADE ! Torna-se uma secção da Polícia Judiciária , e continua a manter o seu estatuto de aparelho de repressão do regime de Salazar.



Como a PVDE, foi dividida em duas secções principais:



Funções administrativas (incluindo os serviços de imigração)
Características penal (aplicação da lei ea segurança do Estado)

PIDE é considerada por muitos analistas como um dos serviços secretos mais eficaz e funcionais da  História.  Com células secretas em todo o território Português, conseguiu infiltrar-se em  todos os movimentos da oposição, como o Partido Comunista ou movimentos independência em Angola e Moçambique. Tinha também parceria, com centenas de civis, chamados "bufos", que actuaram como espiões entre a população. Isso deu-lhe a possibilidade de controlar todos os  aspectos da vida quotidiana em Portugal. Como resultado, milhares de portugueses foram presos e muitos torturados nas prisões da PIDE.

Desde a guerra nas colónias da África, a PIDE intensificou a sua actividade, principalmente no Ultramar. Depois do 25 de Abril de 974, foi criada uma comissão para dissolução da PIDE, e toda a sua documentação arquivada no Arquivo Nacional da Torre do Tombo. As suas páginas podem ser visualizadas, excepto o acesso aos nomes dos seus agentes e altos cargo directivos.



As Vítimada PIDE



Foi responsável por alguns crimes sangrentos, como o assassinato do militante do Partido Comunista Português (PCPJosé Dias Coelho e do General Humberto Delgado. Este último foi atraído para uma emboscada, só possível pela introdução de informadores nas organizações que o general liderava ou na sua teia mais íntima de relações pessoais, ultrapassando mesmo as fronteiras nacionais (não só o crime foi cometido em território espanhol como os informadores se encontravam instalados no Brasil, na França e na Itália).
As principais vítimas da PVDE - PIDE foram sempre os comunistas ou seus simpatizantes, cujos mártires ultrapassaram, de longe, quaisquer outros oposicionistas. Parece também averiguado que os elementos das classes «inferiores» recebiam em geral pior tratamento do que os das classes média e superior.  
Seria, no entanto, errado, considerar a polícia Secreta como um organismo de classe visando reprimir apenas actividades de outra classe. Todas as correntes de opinião, incluindo os Católicos e os Integralistas e representantes de todas as classes e grupos sociais contaram inúmeras vítimas das perseguições policiais. 
Num país pequeno como Portugal, altamente centralizado, as pressões políticas iam também afectar muitas profissões «independentes», para lá do funcionalismo público, como frequentemente se verificou. Por vezes, ao perseguir-se alguém, omitiam-se cuidadosamente os motivos políticos reais, invocando-se, antes, razões de ordem profissional ou moral. 
Também se verificaram pressões sobre empresas ou sobre particulares para demitirem ou para recusarem admissão a indivíduos politicamente suspeitos ou de menos confiança. Pôde assim ser estabelecido todo um clima geral de dependência do Estado e dos seus objectivos políticos
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Dez16

A POLÍCIA DE ANTIGAMENTE - Houve época em que a polícia não nos metia medo, senão respeito por ser a força de segurança encarregada de manter a ordem pública e também garantir a nossa segurança. Mas o tempo se encarregou de semear o joio entre o

António Garrochinho



Neste post compilamos fotografias de representantes da lei e da ordem no começo do século passado na Rússia, Grã-Bretanha, EUA, China e outros países.

1. Policiais ajudam uma senhora idosa a atravessar a rua. Londres, Inglaterra. Em 1910.
Polícia para quem precisava no século passado

2. Demonstração de armas confiscadas pela polícia de Nova Iorque. Em 1925.
Polícia para quem precisava no século passado

3. A novidade do uso do rádio pel polícia alemã. Em 1925.
Polícia para quem precisava no século passado

4. Detenção de um arruaceiro no Parque St. James em Londres, depois de um comício. Em 1912.
Polícia para quem precisava no século passado

5. Na estação ferroviária. Londres, 1907.
Polícia para quem precisava no século passado

6. Polícia Montada perto do Mercado de Smithfield durante a greve dos trabalhadores dos transportes. Em 1912.
Polícia para quem precisava no século passado

7. O policial de rua, San Francisco. Em 1900.
Polícia para quem precisava no século passado

8. Apito para guiar o trânsito. Londres, janeiro de 1909.
Polícia para quem precisava no século passado

9. Policial ajuda espectadores a atravessar a estrada na corrida de Goodwood de Londres, 27 de julho de 1926.
Polícia para quem precisava no século passado

10. Novo colete à prova de balas para a polícia, Alemanha, 1930.
Polícia para quem precisava no século passado

11. Veículos da polícia na França. Em 1895.
Polícia para quem precisava no século passado


12. Detenção de um arruaceiro no País de Gales. Em 1913.
Polícia para quem precisava no século passado

13. Fábrica de capacetes policiais em Tooley Street em Londres. 07 de abril de 1930.
Polícia para quem precisava no século passado

14. Distribuição dos novos capacetes. Londres, 29 de maio de 1930.
Polícia para quem precisava no século passado

15. Garoto apontando e zombando da etiqueta de preço no uniforme policial. Londres, 05 de novembro de 1925.
Polícia para quem precisava no século passado

16. Medidas antropométricas, o método de Bertillon, Paris. Em 1895.
Polícia para quem precisava no século passado

17. A baronesa de Roshikrants leva os cães para passear no Hyde Park enquanto é observada por um policial. Abril de 1912.
Polícia para quem precisava no século passado

18. Turistas alemães na Trafalgar Square, 12 de abril de 1931.
Polícia para quem precisava no século passado

19. Policial contém espectadores de um desfile em Londres. Julho de 1919.
Polícia para quem precisava no século passado

20. Carabineiros em Alassio, na Itália. Em 1894.
Polícia para quem precisava no século passado

21. Membros do serviço da Guarda Real Irlandesa antes das eleições na cidade de Derry. Irlanda, 1 de fevereiro de 1913
Polícia para quem precisava no século passado


22. Polícia mexicana. Cidade do México, 1913.
Polícia para quem precisava no século passado

23. Policial russo, 1900
Polícia para quem precisava no século passado

24. Teatro de rua com a polícia chinesa. China, em 1900.
Polícia para quem precisava no século passado

25. Polícia da cidade de Niagara Falls, EUA. Em 1908.
Polícia para quem precisava no século passado

26. Policiais armados sob as ordens de Winston Churchill, durante o cerco de Sidney Street. Janeiro de 1911.
Polícia para quem precisava no século passado

27. Carro de polícia equipado com rádio. França, em 1930.
Polícia para quem precisava no século passado

28. Policiais encontram um macaco em um dos navios durante a greve geral de transportes. 31 maio de 1912.
Polícia para quem precisava no século passado

29. No parque Presque Isle, EUA. Em 1929.
Polícia para quem precisava no século passado

30. A imagem inversa de um semáforo em Portland. EUA, 1915.
Polícia para quem precisava no século passado

31. Saratoga Springs. EUA, 1890.
Polícia para quem precisava no século passado


32. Confrontos com estudantes. Paris, 1910. (1)
Polícia para quem precisava no século passado

33. Confrontos com estudantes. Paris, 1910. (2)
Polícia para quem precisava no século passado

34. Arruaceiro tentando fugir. Paris, França, 1910.
Polícia para quem precisava no século passado

35. Sylvester Moore, da polícia da cidade de Chatsworth, EUA, 1900.
Polícia para quem precisava no século passado

36. Corpo policial de Tampa, EUA, 1900.
Polícia para quem precisava no século passado

37. A equipe de patrulha, Tampa, EUA, 1900.
Polícia para quem precisava no século passado

38. Força policial da mesma cidade, Tampa. EUA, mas já em 1920.
Polícia para quem precisava no século passado

39. Duas mulheres pedem informação ao um policial. Londres, 1912.
Polícia para quem precisava no século passado

40. Porto de Londres. 1920.
Polícia para quem precisava no século passado

41. Maca com rodas da polícia para transportar vítimas. Londres, 1905.
Polícia para quem precisava no século passado


42. Policial de St. Petersburg, 1908.
Polícia para quem precisava no século passado

43. Tenentes da cidade de Niagara Falls, NY, EUA. 1920
Polícia para quem precisava no século passado

44. Policial maltês. Malta, 1890
Polícia para quem precisava no século passado

45. Bebidas e material de destilaria confiscadas pelo departamento de polícia de Fort Wayne Estados Unidos, 1920.
Polícia para quem precisava no século passado

46. Recrutas de escola de polícia. EUA, 1911.
Polícia para quem precisava no século passado

47. Cidade de Chillicothe, Missouri, EUA, 1936.
Polícia para quem precisava no século passado

48. Polícia de Cardiff antes da greve dos mineiros de carvão. Inglaterra, em 1925.
Polícia para quem precisava no século passado

49. George Biddle, o chefe de polícia da cidade de Elkton, EUA, 1905.
Polícia para quem precisava no século passado

50. Policial acompanha os moradores em Londres. Novembro de 1917.
Polícia para quem precisava no século passado

51. Divisão de motoqueiros de Tampa. EUA, 1920.
Polícia para quem precisava no século passado

52. Desfile sobre ponte ferroviária em Ladzhigeyt Hill, Londres. Em 1902.
Polícia para quem precisava no século passado

53. Parada em Saratov, EUA, 1917.
Polícia para quem precisava no século passado

54. A polícia de Niagara Falls. 1900.
Polícia para quem precisava no século passado

55. Demonstração de um novo carro à prova de balas, encomendado pela Scotland Yard, Londres, 15 de janeiro de 1937.
Polícia para quem precisava no século passado

31
Dez16

TROPAS ESPECIAIS

António Garrochinho




8. Os homens-rãs dinamarqueses

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S¯vÊrnets Fr¯mandskorps


Trata-se de uma elite de forças especiais da Marinha Real da Dinamarca, constituída em 1957, e composta por equipe de mergulhadores profissionais e por soldados. O principal dever dos homens-rãs é reconhecimento de terreno, mas eles também podem ser encarregados de invadir navios inimigos, sabotar instalações fixas e combater. Além disso, ainda podem executar serviços de forças especiais em terra, incluindo ações anti-terrorismo e trabalho anti-criminal.

7. A Divisão de Cavalaria do exército chinês

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Considerada uma força em decadência, porém com uma rica e intensa história, os soldados da Divisão de Cavalaria do exército chinês costumavam dominar as extensões territoriais do terceiro maior país do mundo. Basta dar uma olhada na imagem que ilustra este tópico, com guerreiros mal encarados, cavalos grandes e espadas!

6. Exército iraniano vestido de branco

APTOPIX Mideast Iran National Army Day

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Esqueça o modelo padrão de soldados vestidos de uniforme camuflado – que já é meio estranho, mas pelo menos já estamos acostumados. Agora preste atenção nas vestes inteiramente brancas (incluindo máscaras!) do exército do Irã. O “toque” de Ku Klux Klan é bem aterrorizante, certo?

5. As tropas sul-coreanas que quebram tijolos como parte de uma demonstração militar

South Korea Childrens Day


Não se trata de uma locação de filme do Jackie Chan nem de um truque de cinema. Os soldados desta imagem estão realmente quebrando tijolos com a força do corpo. As faixas ninjas na cabeça e o rosto inteiro pintado dão um toque ainda mais sinistro à cena.


4. Agentes do sexo feminino da Coreia do Sul

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O 707° Batalhão de Missão Especial representa a força especial do Comando de Guerra do Exército da Coreia do Sul. A unidade tem como objetivo principal ser a reação contra-terrorista primária do país. O apelido do batalhão é “Tigre Branco”. A unidade também possui um pequeno número de mulheres agentes das forças especiais, como se pode observar na fotografia. Elas são usadas ??em operações antiterrorismo, onde a presença de uma mulher não é vista como uma ameaça para um terrorista. 

3. Forças Especiais do exército francês

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Outro caso de uniforme que parece saído de um filme de ficção científica de Hollywood. Novamente, não é o caso. Desta vez, a imagem ilustra soldados pertencentes às Forças Especiais do exército da França, mais especificamente à Seção de Intervenção da Ofensiva Náutica francesa. Mas poderiam muito bem pertencer aos estúdios da Universal.

2. Forças Especiais mexicanas

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Os soldados que fazem parte das Forças Especiais do México estão divididos entre o Exército e a Marinha do país. Na foto, os militares exibem metralhadoras quase tão compridas quanto a altura dos próprios soldados – além da pintura facial, moda já tradicional nesta lista. Encontrar com um sujeito desses no campo de batalha seria aterrorizante.

1. Forças Especiais da Bielorrússia quebrando tijolos que estão pegando fogo

BELARUS ARMY

APTOPIX BELARUS ARMS EXHIBITION

APTOPIX BELARUS ARMS EXHIBITION




O que pode ser ainda mais másculo e ninja do que quebrar tijolos com a cabeça? Bem, vamos começar prestando atenção no detalhe que alguns soldados estão sem camisa, mesmo que a temperatura na hora das fotografias estivesse congelante (repare no pessoal todo encasacado observando a demonstração militar). Agora vamos ao ponto principal: esses integrantes das Forças Armadas Bielorrussas estão rachando blocos de concreto usando apenas simplesmente sua cabeça. Ah, e os objetos – claro! – estão pegando fogo. 


hypescience.com


31
Dez16

Biblioteca mais antiga do mundo vai ser aberta ao público

António Garrochinho

MARROCOS


O município de Fez, que além de ser considerado a capital cultural do território muçulmano e igualmente famoso por seus mercados e artesãos, é onde está localizada a maior e mais importante biblioteca do mundo, a Al Quaraouiyine, fundada no ano 859 por uma mulher, Fatima al-Fihri.


biblioteca-fez1
Nela, é possível encontrar mais de 32 mil manuscritos incluindo textos sobre o islamismo, ciência e matemática. O espaço histórico inclui não só uma biblioteca, mas também uma famosa mesquita (na qual apenas muçulmanos podem entrar) e uma universidade considerada pela UNESCO como a instituição educacional mais antiga do planeta.
O ambiente ficou restrito para visitantes por três anos – sendo acessado apenas por estudiosos – e será reaberto até o fim deste ano. A biblioteca recebeu uma grande intervenção estrutural. Cercada por pátios e arcos, ganhou nova pintura e um reforço nas arcadas milenares esculpidas em madeira. Para preservar ainda mais as obras raras, a biblioteca abriga um novo sistema de canais subterrâneos, que eliminam boa parte da umidade e evita que os livros e manuscritos sejam danificados.
biblioteca-fez2
No entanto, o grande destaque diz respeito à segurança. Quando retomada as atividades, ganhará uma sala especial climatizada, com quatro bloqueios que visam preservar a integridade dos exemplares. Calcula-se que uma das obras mais antigas é uma cópia do Alcorão escrita no século 9.

VÍDEO


www.aeroportoguarulhos.net
31
Dez16

MISTICISMO NO REINO VEGETAL

António Garrochinho




















A evolução humana foi possível graças àqueles que experimentaram e compartilharam. Não devemos ter medo do conhecimento, como se tivéssemos comendo um fruto proibido. Nós podemos nos organizar para estudar uma planta através da tecnologia e de vasto material existente. Mas o estudo principal é plantar.


AS PLANTAS SAGRADAS E SUAS SIMBOLOGIAS NAS PRINCIPAIS RELIGIÕES E/OU SEITAS
  • Acácia- Para os maçons, a planta sagrada simboliza a imortalidade em suas lendas de ensino. Seu poder vai voltar para a arca da aliança e o tabernáculo de tabelas de David, que foram feitas da madeira de Acácia Seyal. 
  • Aveleira: É conhecida como Árvore Mágica, principalmente em divinação com água, pois ela a aveleira é associada a atributos misteriosos. Na tradição celta, o símbolo do conhecimento, ela era usada na varinha dos magos, tornando-se assim a “aveleira-mística”, já que poderia descobrir tesouros assim como água. O bastão de Hermes, o mensageiro dos deuses, era feito de aveleira. A aveleira era consagrada ao deus Thor e também foi usada pelos capitães europeus junto aos seus chapéus como um talismã contra os mares nervosos. O ramo de aveleira também era associado à fertilidade e utilizado como amuleto para trazer boa sorte aos amantes. 
  • Baobá - O animismo Africano, sempre considerou a baobá como uma árvore sagrada, sem cortes, ninguém danificado, esta é a razão que hoje há baobás antigas e gigantescas. 
  • Carvalho - No santuário de Dodona, o farfalhar das folhas do carvalho ajudou o oráculo, o carvalho é um símbolo de magia previsão e adivinhação, o cristianismo adotou este símbolo sob o nome de Nossa Senhora do carvalho. 
  • Cedro: O cedro é o símbolo da força e da fidelidade. É considerado o emblema do Líbano, pois se acredita que a madeira do Templo de Salomão seja cedro. A sua goma era embalsamar e a sua madeira para construir castelos riquíssimos. Acreditava-se também que o cedro tinha o poder de revelar os mistérios dos Céus e apresentava poderes mágicos de afastar as malignidades. 
  • Ciprestre - No cristianismo símbolo cristão da regeneração e ressurreição, decoram cemitérios. Para os judeus, o ciprestre é sagrado porque foi utilizado para a construção do templo de Salomão e da Arca Noé. 
  • Figueira - Sagrada no Budismo, por que Buda costumava meditar em sua sombra, no Cristianismo que as folhas defendeu a modéstia de Adão e Eva e Islã, porque é um símbolo do alimento para Ala. 
  • Macieira: A tradição cristã e judaica afirma que a maçã era o símbolo do pecado original desde o momento que Deus avisou Adão e Eva de que não comessem o fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Todavia, a regra não foi cumprida e, posteriormente, eles foram expulsos do Jardim do Éden e infelizmente caíram em desgraça. Na tradição dos gregos, a macieira é símbolo de discórdia, pois temos o mito da Maçã Dourada, quer dizer, Páris deveria dar uma maça para a deusa mais graciosa mas, escolheu Afrodite, enfurecendo as outras deusas e dando início a Guerra de Troia. A maçã representava os desejos materiais e misericórdia. 
  • Loureiro - Folhas de Louro: O loureiro, em Roma, era o símbolo de Apolo, pois representava a vitória, a glória e as recompensas. Os romanos acreditavam que os ramos de folhas de louro protegiam quem os utilizavam contra os relâmpagos. Já os sacerdotes romanos utilizavam os ramos para borrifar água ou sangue de sacrifícios nas cerimônias nos Templos, e aí deu origem à tradição cristã de borrifar a água benta nas missas. Os gregos acreditavam que as folhas de louro davam o dom da poesia e da profecia e para os chineses, era associado com vitória e a arte de falar bem, isto é, o poder da palavra sempre presente. 
  • Milho - Feixe de Milho para os ingleses, o último feixe de milho representa o “espírito do milharal” e parte desse feixe era utilizado na confecção das bonecas de milho. As bonecas e mergulhadas na água, simbolizando as chuvas necessárias para garantir seu crescimento ou queimadas, na intenção de simbolizar a morte do espírito do grão. 
  • Oliveira: A oliva era sagrada para a deusa Atena e uma coroa de oliveira era presenteada ao vencedor de Jogos Olímpicos. As portas e os pilares do Templo de Salomão eram feitos de madeira de oliveira e o seu óleo era utilizado em cerimônias de consagração aos sacerdotes judeus. 
  • Palmeira: A palmeira era associada a Osíris no Egito antigo e era símbolo de união com Ísis. Era também símbolo do culto ao deus fenício Baal-Peor, que incluía a indulgência sensual. Os ramos da palmeira eram carregados no Festival de Tabernáculos quando Jesus Cristo entrou em Jerusalém, pois a multidão o saudou com as folhas de palmeira. Ela é o símbolo da vitória de Cristo sobre a morte e é presenteada aos fiéis que vão para a missa no Domingo de Ramos. As folhas de palmeira eram utilizadas em funerais, representando assim a vida após a morte. 
  • Pinheiro: O pinheiro simboliza a sobrevivência e a regeneração. O costume atual de utilizar o pinheiro com bolas coloridas e luzes na festa natalina originou-se na época em que não existia a luz artificial. Para os gregos antigos, as pinhas representavam a fertilidade e a masculinidade em razão de sua postura ereta e abundância.
  • Trigo - Os grãos de trigo no Cristianismo nada mais é que o símbolo de Jesus Cristo. Ele representa Seu Corpo e significa ressurreição pela partilha sagrada do pão e do vinho os quais simbolizam o corpo e o sangue de Cristo. Já os alqueires de trigo representam a Colheita Divina. 
  • Visco Branco(Viscum album) - No mundo celta, era sagrado por duas razões.A primeira; foi a sua qualidade de remédio universal, a segunda; o visco é capaz de parasitar e viver na árvore de carvalho sagrado para os druidas da Gália. A origem da sacralização do carvalho está possivelmente ligado a Thor (deus do Travão filho de Odin/ mitologia nórdica).
Há várias outras plantas sagradas nas culturas, inundadas com símbolos de conhecimento tradicional.

IMPORTÂNCIA DAS ERVAS PARA A WICCA

Tão importante quanto saber usar instrumentos mágicos e manipular energias é conhecer e saber utilizar as ervas . Elas são empregadas em quase toda nossa prática seja para curas naturais, seja no preparo das poções, amuletos e filtros para os mais diversos fins. É importante ter um conhecimento básico sobre elas... Conhecer para que serve, como manipular corretamente (cascas, flores, raízes e folhas). Deter tal conhecimento significa ter o poder nas mãos para resolver, ou pelo menos amenizar, problemas de ordem física, espiritual, emocional, etc. Além do conhecimento básico (indicação e preparo) é de bom tom, a bruxa/ bruxo se preocupar em combinar a erva com o planeta que a rege. Sobre a combinação ervas + planetas, Laurie Cabot, in O poder da Bruxa, escreveu: “A antiga sabedoria sempre viu correlações entre a astrologia e as ervas, manifestando-se a influência planetária como cor e luz que interatua com a aura da planta (...)” E, é isso mesmo. As plantas – como todo ser vivente – possuem uma aura. E ela prossegue: “(...) Dizemos que a erva é “regida” por um determinado planeta porque a luz que é refletida e refratada do planeta está contida nessa erva.” Cita a raiz de bardana: Esta sob a influência de saturno pode ser utilizada para a disciplina; Se em Urano pode ser usada para divulgar/ comunicar alguma coisa a alguém; sob a influência de Vênus esta raiz pode ser utilizada para o amor sexual, amizade, dinheiro e por aí vai. A importância e a tradição de utilizar as plantas vem de longa data e tem sido esquecida... relegada... 
Hoje bruxas e bruxos, se preocupam com altares maravilhosos, robes estilizados, mas se esquecem das ervas em suas operações mágicas. Tomam chá de hortelã porque gostam sem lembrar que por trás daquele gosto de hortelã existem propriedades e indicações diversas. O/A bruxa deve saber para que serve, como manipular, qual o Planeta que a rege, etc. Sem tais cuidados de nada adianta mover céus e terra para conseguir, por exemplo, mandrágora, para usar em determinada receita se não sabe sequer porque a está usando. O conhecimento da planta que está se utilizando pode ser a chave para o sucesso ou o ingrediente para a perda de tempo de um feitiço, poção, amuleto, filtro, feitiço.

PARA SABER MAIS -LISTA DE ERVAS

CRISTIANISMO E SÍMBOLOS VEGETAIS 

O cristianismo tem referências essenciais em que as plantas marcam momentos de viragem. O exemplo mais marcante será talvez o de Adão e Eva: o fato de Eva não ter resistido à tentação de comer uma maçã assume uma simbologia de pecado a que também está associado o uso de folhas para tapar as zonas genitais. As plantas surgiram sem culpa associadas ao pecado, mas também foram aliadas na vergonha da nudez e dos órgãos sexuais que passaram a ser associados facilmente a atos pecaminosos…
  • Cardo: O cardo é um símbolo da tristeza temporal, pois na história da queda em pecado ele é mencionado como parte da desgraça que o pecado trouxe. Pelo fato de o cardo ser uma planta espinhosa ela é muitas vezes retratada como a fonte da coroa de espinhos de Cristo. Por ser uma planta que cresce em grande quantidade no meio de outras plantas, é uma praga e pode ser comparada ao joio no meio do trigo. Gn. 3:17 Mt. 13.24-30.
  • Carvalho: O carvalho é um símbolo pagão adotado pelos cristãos para representar sua firmeza e persistência, principalmente durante a perseguição. A tradição cristã acredita que é do carvalho que se usou madeira para a cruz de Cristo.
  • Cedro do Líbano: O cedro do Líbano é uma das árvores mais citadas pela Bíblia. É uma árvore muito bonita, atinge grandes alturas. Sua madeira é de qualidade e seus ramos são muito verdes. Estas qualidades a tornaram um símbolo de Cristo. Por causa dos seus ramos sempre verdes e da sua vida longa, ela é também associada com a vida eterna. Também é por esta razão que o cedro do Líbano muitas vezes está plantado nos cemitérios. Ez 17.22-24; 31.3; Sl 104.16
  • Flor-de-lis: A flor-de-lis é um lírio estilizado. É um símbolo da pureza, da realeza e da humanação de Cristo. É também um símbolo da Virgem Maria. Esta flor é representada por três pétalas, o que faz dela um símbolo da símbolo da Trindade.
  • Lírio: O lírio é um símbolo da pureza e tem sido usado como um símbolo da Virgem Maria. Mas é especialmente de Cristo e da ressurreição que ele nos lembra. O lírio da páscoa, uma variedade dos lírios, tornou-se um símbolo da ressurreição de Cristo e da nossa ressurreição para a vida eterna. Pois um bulbo aparentemente sem vida, é plantado na terra e um lindo lírio cresce dele. Assim também, nossos corpos sepultados brotarão para a vida eterna. Ct 2.1,2
  • Lírio da água: Esta é uma planta que tem suas raízes na lama, mas floresce sobre a água. Por isso ela é usada como símbolo do poder santificador do Espírito Santo.
  • Maçã: A maçã tornou-se símbolo do fruto proibido do Jardim do Éden, provavelmente por causa da palavra latina “malum” que pode ser traduzida tanto por “maçã”, como por “mal”. Desta forma, a maçã tem sido usada para simbolizar a queda em pecado. Quando Cristo é retratado segurando uma maçã ele representa o segundo Adão que traz a nova vida.1 Co. 15.21,22
  • Margarida: A margarida é um símbolo do século 15 que, por sua simplicidade, representa a inocência do menino Jesus.
  • Oliveira: O galho de oliveira é largamente reconhecido como um símbolo da paz. Na história do Dilúvio é relatado que uma pomba retornou para Noé com um galho de oliveira. Assim Noé ficou sabendo que as águas haviam abaixado, e que o episódio do julgamento de Deus havia passado. A oliveira produz grande quantidade de óleo o que faz dela um símbolo do Espírito Santo e da sua unção, bem como da consagração ao Senhor. Gen. 8.10,11: Lv. 8.10-12
  • Palmas: As folhas da palmeira são usadas como símbolo da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, evento que proclamou a crucificação e morte de Jesus. Desta forma, as palmas poderiam ser usadas para representar a leviandade da aclamação humana. Os romanos as usavam como símbolo da vitória. A igreja as tem usado como um símbolo da vitória de Cristo sobre o pecado e da vitória dos santos sobre a morte. Neste sentido, muitos mártires são mostrados segurando folhas de palmeiras. Jo 12.12,13
  • Papoula: A papoula, também conhecida por dormideira, simboliza sonolência espiritual, a ignorância e a indiferença. Também pode ser usada para representar o sono da morte. Eventualmente a papoula está retratada nas crucificações e mortes de santos.
  • Romã: Pelo fato da romã estar repleta de sementes, tem sido usada como símbolo da realeza, esperança e vida futura. Muitas vezes é usada como um símbolo da ressurreição e da igreja, onde suas sementes representam os muitos cristãos que formam a única igreja católica, ou seja, universal.
  • Rosa: A rosa, geralmente mostrada em forma estilizada, tem sido um símbolo cristão comum desde o ano 1200. Ela pode ser usada para representar a promessa messiânica, a natividade de Cristo, a virgem Maria (rosa branca), ou o martírio (rosa vermelha). Esta rosa é muitas vezes usada na arquitetura gótica. Ct 2.1
  • Rosa de Lutero: Este selo, conhecido por “rosa de Lutero”, foi desenhada pelo próprio Lutero. No centro dela está uma cruz negra que lembra o terrível sacrifício de Cristo sobre a cruz por todo os povos. O coração vermelho representa o amor a alegria e a paz que brotam da fé. A rosa é branca, pois é a cor “de todos os anjos e espíritos santificados”. O fundo azul representa a esperança da alegria do céu. O anel de ouro significa a felicidade do céu não terá fim.
  • Sarça ardente: A sarça ou espinheiro em chamas é um importante símbolo da revelação de Deus no Antigo Testamento. Foi através da sarça em chamas que Deus chamou a Moisés e revelou seu nome, EU SOU O QUE SOU (Yahweh). Ela é também um importante tipo de Cristo, pois através dele Deus revelou a si mesmo de maneira suprema. Ex. 3. 1-15; Jo 17. 25, 26
  • Trevo: O trevo é um desenho simples composto de três círculos ligados, que serve para representar a eternidade e que Deus é um só em três pessoas.
  • Trevo branco: O trevo branco é um símbolo da Trindade e de São Patrício(389-461), missionário na Irlanda, que o usou para explicar aos pagãos como Deus é um Deus em três pessoas. Patrício teria segurado um trevo destes e questionado seus ouvintes: “Isso é uma folha ou são três folhas?” “É uma só, como também são três,” teriam respondido. “Assim é com Deus” ele teria concluído.
  • Trevo de quatro folhas: Este trevo é um símbolo dos quatro evangelistas : Mateus, Marcos, Lucas e João.
  • Trigo: O trigo é um rico símbolo bíblico. Nas parábolas de Jesus, o trigo representa os cristãos em oposição ao joio, que representa os incrédulos. O trigo também pode ser usado para representar o pão na Santa Ceia. Mt. 13.24-30; Jo 12.23,24.
  • Tronco (Árvore de Jessé): A figura de um broto crescendo de um toco, é um símbolo do Antigo Testamento que lembra a promessa do Messias predita por Isaías, uma passagem que faz parte das leituras do Advento. Is. 11:1.
  • Uvas: As uvas são símbolos da santa comunhão, e do sangue de cristo derramado na cruz para o perdão dos pecados. A uva também é um dos símbolos da fecundidade da Fé Cristã. Mt 26. 27-29.
  • Videira e os ramos: A videira e os ramos são um símbolo de Cristo e a sua igreja. Os ramos somente podem ter vida e produzir frutos se estiveram ligados à videira. Jesus ensina que ele é videira verdadeira e quem permanece nele dará muitos frutos. Jo 15.5.
  • Violeta: A violeta é um símbolo da humildade. É também muitas vezes usada como referência para a Virgem Maria, ou para Cristo assumindo a natureza humana.

O XAMANISMO E AS PLANTAS DE PODER

                    DEUS DISSE:
 "Eis que vos dou toda a erva que dá semente
sobre a Terra e todas as     árvores  frutíferas, contendo em si mesmas a sua semente,  para que vos sirva de alimento".  Genesis 1,29

Das plantas se obtém os princípios ativos empregados nos medicamentos. Deus nos ofertou uma completa farmácia natural. Umas alimentam, outras nos perfumam, outras nos purificam, nos calmam, nos dão prazer, etc. Porém, algumas plantas transportam a mente humana a regiões de maravilhas espirituais, alterando a nossa consciência, levando-nos ao Mundo Profundo, reconectando-nos com os nossos ancestrais.
O uso de Plantas Sagradas vem fazendo parte da experiência humana há milênios. Não podem nunca serem confundidas com drogas que causam a dependência e colocam em riso a saúde de quem as usa. A Planta é criação de Deus, a droga é uma criação humana. As Plantas de Poder são ingeridas em rituais. Obedecem a preceito mágico-religiosos e proporcionam cura, autoconhecimento, expansão da consciência. Com as obras do escritor místico e antropólogo Carlos Castañeda, abriu-se uma porta para a observação do uso de plantas de poder, para a expansão da consciência, mas há sinais de sua utilização em Escrituras Sagradas. Sabe-se por exemplo que os sacerdotes védicos se utilizavam do Soma para entrar em contato com o Reino Celestial, que o Rei Salomão era mestre no conhecimento de algumas plantas de poder. Os druidas tomavam uma poção que lhes conferia força e coragem, mas, foi entre os primitivos, os indígenas que se têm um relato mais preciso de sua utilização. 
Conhecidas atualmente como plantas enteógenas ( entheos = Deus dentro ) são também reconhecidas como; Plantas Mestres, Plantas Professoras, Plantas de Conhecimento, Plantas de Poder, Plantas Sagradas. Em suas diferentes espécies, participaram e participam de cerimônias rituais em todos os continentes.  Atualmente, existem comunidades religiosas que se utilizam destas plantas como sacramento de seus rituais tais como; a Igreja Nativa Americana que se utiliza do Peiote ( Don Juan ) ; o Catimbó, da Jurema; a Ganja entre os Rastafaris, O Santo Daime, a União Vegetal, e a Barquinha, da bebida Sacramental conhecida no Peru como Ayauasca, e nas matas brasileiras com os nomes; iagé, nixi honi xuma, caapi. As Plantas de Poder aumentam a percepção, a acuidade visual e auditiva, e transportam o praticante para outras camadas vibracionais ou dimensões. A experiência é individual, algumas pessoas tem visões, outras canalizam mensagens, fazem regressões, recebem insights, recebem soluções para seus problemas com maior claridade, percebem as causas de suas doenças, recebem cura, se conectam a arquétipos, aos mitos, aos medos, traumas, símbolos que estão no inconsciente coletivo, visualizam entidades, viajam astralmente, etc..
O uso ritualístico de Plantas de Poder proporciona, sem dúvida, uma experiência místico-religiosa de beleza incomparável, proporcionando o samadhi, o êxtase, o nirvana, o encontro com o Eu Superior, o transe.
Alerta - A busca pelas Plantas de Poder pode ser perigosa. Não são todos os que dizem conhecê-las, que as conhecem realmente. As Plantas de Poder só trazem resultados benéficos, se utilizadas dentro de um fundamento espiritual. Consagradas em rituais e preparadas de forma correta.




UMBANDA E SEUS RITUAIS  COM ERVAS

Nos rituais de Umbanda, as ervas detém grande quantidade de energia vital, no elemento vegetal, que através de suas combinações podem produzir determinado efeito positivo ou negativo, como tudo que é energia no Universo. As ervas possuem forte poder para atuarem em nossa aura, em nosso campo energético, fato este já conhecido pelos indígenas, e demais povos ancestrais que já as utilizavam para diversos fins. Diante desse conhecimento, a Umbanda utiliza-se desse elemento para desenvolver seus rituais, seus descarregos, curas ou fortalecimentos, tudo comandado pelas entidades espirituais que determinam o uso apropriado do elemento vegetal conforme o caso. Uma das formas de utilização das ervas na Umbanda, são na forma de banho. Os banhos de descarrego são usados para eliminar vibrações negativas, limpando o perispírito de miasmas negativos, magia negativa ou mesmo da influência de obsessores. Os banhos de fixação, para adquirir vibrações positivas, vitalizando os chacras do médium de energia positiva para fortalecimento dos processos mediúnicos ou de ligação do espírito encarnado com seus guias e entidades atuantes. 
O uso destes banhos são de grande importância e depende do conhecimento e uso de ervas e raízes, nas suas diferentes qualidades e afinidades, que devem entrar na composição dos mesmos, não se podendo facilitar quanto a isso.
Geralmente para banhos deve-se usar as ervas frescas, e este deve ser preparado dentro de um ritual, o qual consiste em:
  1. Nunca ferver as folhas junto com a água.
  2. As folhas devem ser maceradas ou quinadas e colocadas em vasilhas de louça, ágata ou potes de barro.
  3. Em alguns casos, quando não houver necessidade de água quente, as ervas devem ser quinadas diretamente sobre a água.
  4. É conveniente usar sempre água de boa qualidade, como pôr exemplo: água de mina, de poço ou água mineral.
Ocorre uma diferenciação, também, na forma em que se deve tomar o banho. No de descarrego, deve-se molhar do pescoço para baixo, jamais a cabeça; já no banho de fixação, este deve ser tomado de corpo inteiro. Não se deve enxugar o corpo totalmente após os banhos indicados na Umbanda, para que haja maior captação ou eliminação da energia propiciada pelas ervas usadas no banho. Deve-se, após o banho, as ervas utilizadas serem jogadas, de preferência em lugares de água corrente, como rios ou mar.Há banhos para todos os Orixás e Entidades e muitos banhos têm dia e hora certos para tomar. As ervas são também usadas no ritual do amaci, Amaci é um banho de ervas que se faz no médium iniciante

REFERÊNCIAS  BIBLIOGRÁFICAS

bibocaambiental.blogspot.pt

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