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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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08
Dez16

sem abrigo

António Garrochinho


Tens as roupas sujas e gastas, o cabelo grisalho sem forma ou arrumo, a mão esticada sem convicção.
Há dias que te cortaram a água. Dizem que setembro foi um mês quente e outubro lá lhe vai seguindo os passos, prolongando tal proeza.
Para ti, tanto faz!
Gostas pouco de seguir as tendências. És irreverente! Crias a tua própria moda e às vezes, como ela, és o último grito: aquele que a madrugada abafa e que as tuas próprias forças não projetam.
As olheiras não te incomodam. Aliás, sempre tiveste um fraquinho por olhos esbugalhados repletos de traços promíscuos.
E de cheiros, ninguém percebe tanto como tu! Desde que descobriste esta nova forma de viver que não largas o teu novo perfume por nada.
Encontraste finalmente um que se adequa à tua verdadeira essência, criado a partir dos extratos de dias e dias e noites sem luar. Aquela doce fragrância que revela a tua personalidade e a convicção com que acordas todos os dias à beira de um pedaço de cartão, daqueles que outrora fizeram parte dos caixotes descartáveis de que as pessoas aluadas se desfazem a torto e a direito.
Os que passam mal te veem. És já parte daquela rua em decadência - um habitué, para os mais afrancesados!
O teu nome é da família dos álcoois, dos estupefacientes ou, resumindo tudo isto, dos portadores de HIV.
Mas ainda existem transeuntes de bom coração. Basta olhar para ti para ver que nenhum desses é o teu apelido. O teu nome completo é dos mais badalados por entre as esquinas: Triste-que-não-quer-trabalhar-mas-sim-viver-à-custa-dos-outros. É isto, não é? Brasão de família!
Todos sabem bem como é a gente da tua laia: muita parra e pouca uva.
Todos conhecem os teus motivos, a tua história, o teu passado, a tua vida. Todos sabem o vagabundo que és. Não te veem a cara, mas acreditam saber-te o coração.
Mesmo assim, não te preocupes! Estamos quase no natal. O frio amolece os bombeadores de sangue da comunidade e “solidariedade” é a palavra que, de ano a ano, te abastece.
Tens é de saber gerir tão avultados donativos. O meu avô sempre me ensinou que devemos guardar “do riso para a chora”.
Mais tarde, quando o inverno te sugar as forças e a neve te limpar as botas, semicerrarás os olhos com vontade. Os músculos atrofiar-se-ão e, num sofrimento só teu, terás vontade de desistir.
Quererás deixar de ser a personagem das fotografias artísticas a preto e branco. Ansiarás que não olhem com desprezo e que o comum dos mortais não fuja da tua nobre companhia.
Terás novos caprichos e sonharás recuperar a dignidade que os outros julgam teres deixado na calçada.
E, de novo, somarás novos ciclos ao teu caminho até que alguém te olhe e veja em ti o que vê nele: um Ser Humano. Sem suporte.
Alguém que se perdeu ou que foi perdido. Alguém com ou sem vontade de se encontrar.
Um de nós.
Ao abrigo dos que passam.


poema.blogs.sapo.pt

08
Dez16

O MOEDEIRO

António Garrochinho

O moedeiro


As moedas fazem parte do nosso quotidiano, serão uma das mais importantes invenções do homem e testemunham a história dos povos ao longo dos tempos.
No caso de Portugal, sendo uma nação com mais de oito séculos, tem um legado rico e vasto no que respeita à produção de moeda.
As primeiras moedas portuguesas terão sido cunhadas no reinado de D. Afonso Henriques, feitas de uma liga de prata e cobre chamada bolhão e com dois valores: o dinheiro e a mealha (que valia meio dinheiro).
moiranbitino
Desde então, a moeda portuguesa andou sempre associada à história de quem a mandava cunhar e dela fazia prova de soberania.
O percurso da moeda acompanha, ao longo do tempo, os períodos de prosperidade e os retrocessos do seu povo.

É comum a face da moeda ostentar o semblante do soberano que a mandou cunhar. No entanto existe uma face invisível ligada à produção da moeda, a face do profissional que manuseia os materiais, os equipamentos e as ferramentas associados ao seu processo de fabrico: o moedeiro.
moedeiro
A profissão de moedeiro é das mais antigas em Portugal e chegou a gozar de grandes privilégios e benefícios como reconhecimento da sua importância.
Os moedeiros constituíam uma corporação altamente privilegiada e esses privilégios, que se podem situar cronologicamente entre o reinado de D. Dinis (1324) e o de D. João V (1750), estavam registados no livro dos privilégios dos moedeiros, um manuscrito com cerca de 100 folhas de pergaminho e uma encadernação manuelina que é pertença do arquivo da imprensa nacional casa da moeda.
moeda em ouro
Os moedeiros, que podiam ter as mais diversas profissões, prestavam serviço a título gratuito sempre que para isso eram chamados pelo tesoureiro ou, mais tarde, pelo provedor da casa da moeda, isto é, sempre que se lavrava moeda, e tinham direito a foro privativo, cadeia própria, porte de armas, além de isenção de aposentadoria, de serviço militar, de pagamento de determinados tributos e impostos, sendo que tais privilégios tinham carácter vitalício e eram extensíveis a membros da sua família e serviço.
moedeiro
A palavra moedeiro concentrava em si uma série de funções ligadas ao fabrico da moeda que iam desde os oficiais da casa, com vencimento fixo, e se estendiam a todos os outros artífices que colaboravam no fabrico mas não tinham presença permanente: cunhadores, salvadores, contadores, branqueadores, capatazes, guardas da fundição e do cunho, entre outros.
Os moedeiros, que naqueles tempos tinham de residir na cidade de Lisboa ou arredores e estar sempre disponíveis para acorrer à casa da moeda quando chamados, viram o seu estatuto transformar-se ao longo dos séculos assim como o exercício das suas funções.
moedeiro
Até cerca de 1678 era utilizado o sistema manual do martelo que consistia no seguinte: num cunho fixo, sobre o qual se colocava o disco monetário, o moedeiro encostava, seguro por uma das mãos, o cunho móvel que, por sua vez, recebia uma pancada do martelo, empunhado pela outra mão.
moedeiro
A partir de então dá-se início a um novo período na produção da moeda caracterizado pelo uso da máquina e no final do século XVII são definitivamente introduzidos os balancés (máquina utilizada na cunhagem da moeda) de parafuso, cuja força motriz, inicialmente humana, deu lugar ao vapor, a partir de 1835, com a aquisição de uma das primeiras máquinas a vapor do país.
livro de balançés do moedeiro


Constituídos ao longo de vários séculos, os privilégios dos moedeiros foram finalmente extintos por decreto de D. João VI, marcando o fim do estatuto social da classe que lhes conferia prestígio e importância, além de muitas vantagens fiscais.
moedeiro
Actualmente os moedeiros já não gozam dos privilégios de outrora, mas esse facto não lhes retira o orgulho que sentem da sua profissão.





arlloufill.com
08
Dez16

TRADIÇÕES - Agua-pé palheta em malga de barro

António Garrochinho





Uns dizem que faz mal à saúde, outros chamam-lhe o champanhe do povo. Durante séculos a água-pé foi acompanhando os magustos um pouco por todo o país, mas com especial incidência nas Beiras e em Trás-os-Montes.


Trata-se de um vinho mais fraco, com gás (apenas em determinadas zonas de Portugal), e que era dado pelos patrões aos trabalhadores por ser um vinho mais barato.

Os mais audaciosos espremem as uvas em casa dentro de um alguidar, acrescentam água e deixam ferver dizendo tratar-se de água-pé. Mas, o processo requer alguns (poucos) cuidados a mais.

Em plena Bairrada, entre as aldeias de Catraia-Norte e Várzeas, na freguesia do Luso, a TSF entrou numa adega familiar e encontrou quem ainda produza água-pé para dar de beber aos amigos na época de São Martinho.

A torneira abre-se e deixa derramar no chão o líquido grená translúcido durante alguns segundos. Só depois Eduardo Rodrigues ampara a água-pé com a malga de barro. Porquê desperdiçar? "Pode ter moscos na torneira e assim está limpinha", denota.

Está limpinha e saborosa atesta Eduardo Rodrigues, que marca encontros pontuais com David Pinheiro para provar a Água-pé. "É vinho fraquinho. É vindimado, espremido e colocado dentro do pipo a ferver. Não vai ao tanque, metemos no pipo direto e por isso é que ela fica palheta", explica o produtor.

Discutem o processo de fabrico. Um diz que não vai ao tanque ou lagar, o outro tinha quase a certeza que em miúdo via o pai a colocar as uvas e a pisá-las no tanque, misturando depois a água. Mas, estão de acordo em relação à qualidade do que bebem. "Fica palheta e com gás, caso contrário fica morta", justifica David Pinheiro.

Na Catraia Norte, em plena Bairrada fizeram-se 12 almudes de água-pé, o mesmo é dizer 240 litros. Na aldeia vizinha de Várzeas não havia casa onde a água-pé em altura de São Martinho não fosse rainha. Mas, já não é fácil encontrar quem se dedique a fazer a bebida que noutros tempos acompanhava qualquer magusto, mas que servia para outras ocasiões. "Levávamos para a caça um garrafão e bebíamos a olho. Um garrafão para cinco manos e desaparecia tudo".

E quanto ao grau? A pontaria saía afetada? "Não tem mais de oito graus". Pouco álcool, que obviamente afeta quando bebido em grandes quantidades. A pontaria, em jornadas de caça, era sobretudo feita ao garrafão, dependendo da qualidade da água-pé.

Eduardo Rodrigues levou a água-pé para a "castanhada" (nome dado ao magusto na Bairrada) da aldeia de Várzeas. Foi de garrafão na mão, mas para beber água-pé "tem de ser numa malga, não pode ser em copos, nem chávenas, nem canecas, nem nada".

Já na aldeia, à volta de um magusto feito com caruma/agulhas dos pinheiros, as castanhas saltam negras, enfarruscam as mãos e fazem companhia à tradicional água-pé. "Está ótima, está mesmo muito boa e para acompanhar agora só mesmo umas castanhas".

E apesar de o São Martinho ser dado a bom tempo e a dias de sol, a água-pé para ficar no ponto precisa de frio, muito frio.
SOM AUDIO
www.tsf.pt
08
Dez16

Como surgiu a profissão de Cabeleireiro

António Garrochinho


A profissão de cabeleireiro é uma das mais antigas da humanidade. Achados arqueológicos, como pentes e navalhas feitos em pedra, mostram que a preocupação com as madeixas vem da pré-história. Contudo, foi no Egito, há aproximadamente cinco mil anos, que a arte de cuidar dos cabelos chegou ao ápice. Foi nessa época que surgiram perucas sofisticadas, as quais mostravam a habilidade dos cabeleireiros, que gozavam de grande prestígio na corte dos faraós.O cuidado com os cabelos é um traço característico do povo do Antigo Egito. O arsenal empregado nesses cuidados (escovas, tesouras, loções de tratamento, etc.) era guardado em caixas especiais, luxuosamente decoradas. Embora a partir de 3.000 a.C., as cabeças raspadas e lisas e os corpos sem pêlos tenham passado a ser sinais de nobreza no Egito, a moda exigia que homens e mulheres usassem perucas de cabelo humano ou de lã de carneiro. As barbas postiças eram populares entre os homens. A tintura azul-escuro era usada para conseguir a cor preta (predileta) das perucas e barbas e a henna, um pó feito das folhas da alfena egípcia, dava um tom vermelho-alaranjado aos cabelos e unhas. Os estilos mais populares de cabelo eram os cortes retos, cujo comprimento variava desde a altura do queixo até abaixo dos ombros, sendo usados geralmente com franja. 
Foram os gregos que criaram os primeiros salões de cabeleireiro (koureia), em Atenas, construídos sobre a praça pública, o Ágora. Lá, os Kosmetes ou "Embelezadores de Cabelo", escravos especiais, circulavam soberanos. Os escravos cuidavam dos homens e as escravas das mulheres. Vemos que os cabelos, em particular, tiveram o privilégio de um espaço próprio.
No século II AC, na Grécia antiga, para encontrar um verdadeiro penteado requintado era conveniente dar asas à imaginação e ir até ao topo do Olimpo: espaço reservado aos deuses e deusas. Os penteados ostentavam algumas sobriedades e fantasias, prevalecendo os cabelos louros, frisados, com caracóis estreitos e discretos, com franjas em espiral. Conversas sobre política, esportes e eventos sociais eram mantidas por filósofos, escritores, poetas e políticos, enquanto estes eram barbeados, faziam ondas nos cabelos, manicure, pedicure e recebiam massagens. Os cabelos eram principalmente espessos e escuros e eram usados longos e ondulados. É nos afrescos de Creta que o rabo-de-cavalo usado pelas mulheres aparece pela primeira vez. Os preparados cosméticos, óleos, pomadas, graxas e loções eram usados para dar brilho e um perfume agradável aos cabelos. Os cabelos loiros eram raros e admirados pelos gregos e ambos os sexos tentavam descolorir seus cabelos com infusões de flores amarelas. As barbas, verdadeiras e falsas, continuaram populares até o reinado de Alexandre o Grande. Ainda na Grécia antiga, a moda dos cabelos se mantinha por dois a três séculos.  


A mudança era mais rápida na Roma Antiga, onde as esposas dos soberanos eram os exemplos, sendo seguidas por todas. A essa altura, no Império Greco-Romano, gregos e gregas faziam os cabelos dos romanos e penteavam as romanas.Nesses salões, discutiam-se novidades e propagavam-se as fofocas. As barbearias continuaram sendo instituições sociais, tendo um grande número de barbeiros que prestavam seus serviços nos mercados e casas de banho públicas. Os cidadãos prósperos ofereciam aos seus convidados os serviços dos seus barbeiros particulares. Os cabelos e a barba eram ondulados com ferro quente. Muitas poções eram usadas para prevenir a queda dos cabelos e o seu embranquecimento. O estilo de cabelo mais popular entre os homens era curto, escovado para a frente e com ondas. As mulheres usavam o cabelo ondulado, repartido no centro e caindo sobre as orelhas. 

Se antes existiam particularidades regionais, a partir de Luís XIV, a moda francesa dominou todas as civilizações.
No começo do século XVIII, as mulheres casadas usavam uma touca para esconder os cabelos e somente o marido delas poderia ver seus cabelos soltos. Maria Madalena, a pecadora, foi sempre representada com cabelos longos e soltos, ao contrário das Santas, que usavam toucas ou presos.
Jornais de moda, nos séculos XVIII e XIX, divulgavam os estilos por toda a Europa. Seguia-se o exemplo das casas reinantes de Paris e Viena, e também de todas elites européias. Os primeiros cabeleireiros para senhoras foram os Coiffures parisienses, Leonard, Autier e Legros Rumigny, que prestavam seus serviços à Rainha Maria Antonietta e recebiam altos salários.


Contudo, foi no século XX que a moda dos cabelos aliou-se à tecnologia . A pesquisa científica sobre cabelos começou quando a higiene pessoal se tornou um meio de prevenir o acúmulo de piolhos e sujeira, que ficavam escondidos sob as perucas, pós, perfumes e poções que vinham sendo usados pelo homem.No início do século apareceram os salões de beleza para mulheres, os quais não serviam apenas para cuidar dos cabelos, mas eram um ponto de encontro como as barbearias na Grécia Antiga.

Com o advento da eletricidade, em 1906, Charles Nestle (Londres), inventou a máquina de fazer ondas permanentes nos cabelos. Mesmo levando aproximadamente 10 horas para concluir o processo de ondulação permanente dos cabelos, poupou as mulheres de incontáveis horas usando o ferro quente para fazer ondas
No ano seguinte, um estudante de química francês, Eugene Schuller, fundou a empresa L'Oreal, criando uma tintura para cobrir os cabelos grisalhos com cores naturais e usando um processo permanente.
Quando nos anos 20, a moda exigia cabelos "a la garçonne", os partidários do cabelo comprido polemizaram que cabelo curto era vergonha para a mulher. Entretanto, as mulheres, cada vez mais envolvidas na sociedade e no trabalho, não mais admitiam seguir tradições que remontavam à Idade Média. Depois do fim da I Guerra Mundial, o corte de cabelo "Joãozinho" para as mulheres (cabelos bem curtos como os de homem) foi considerado escandaloso, mas ganhou popularidade devido à sua praticidade
O advento do cinema na década de 20 trouxe novos padrões de moda para os cabelos. As mulheres de todo o mundo rapidamente adotaram os estilos e cores das atrizes de Hollywood. 
A moda masculina de cabelos não mudou radicalmente na primeira metade do século XX, prevalecendo o "look clean" que tinha a influência militar das duas guerras mundiais. 

Elvis Presley ajudou a mudar isso com as suas costeletas compridas e o topete brilhante. Mas, foram os Beatles que, pela primeira vez em muitas décadas, tornaram novamente populares os cabelos mais compridos para homens. 

Na década de 60 também houve mudanças no estilo dos cabelos das mulheres, com o retorno dos cabelos lisos e de corte simétrico, criado pelo cabeleireiro inglês Vidal Sassoon.


A partir da década de 70, houve ampla aceitação de estilos variados tanto para homens quanto para mulheres, desde os cabelos soltos e naturais até o estilo "punk".
Seja por superstição, por costume, ou por vaidade, a verdade é que o ser humano sempre dispensou, e continua dispensando, grande atenção a essa parte do corpo. Hoje, porém, nós, homens e mulheres, podemos contar com um imenso arsenal para nos ajudar nessa tarefa. 
Compridos ou curtos, lisos, crespos ou ondulados, qualquer que seja a cor ou o seu estilo de cabelos, o importante é manter a saúde deles, a saúde da nossa pele.

Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/mulher-cabelo
belezaemdiavalborges.blogspot.pt
08
Dez16

O POVO KRISTANG DESCENDENTE DE PORTUGUESES

António Garrochinho


 
Um dos lugares que eu gostaria imenso de visitar, e que poderei visitar em breve devido à proximidade geográfica, é Malaca. Em Malaca (Melaka, i.e., "O Estado Histórico"), o terceiro mais pequeno Estado da Malásia, existe um povo conhecido por Kristang ("cristão"), que descende dos portugueses e que sobrevive desde o século XVI como uma pequena comunidade de cerca de 5000 pessoas.
 
 
Os Kristang, também conhecidos por euroasiáticos portugueses ou malaqueiros, são actualmente um grupo étnico resultante de uma mistura entre portugueses e malaios, possivelmente também com alguma mistura indiana e chinesa, e que ainda nos dias de hoje mantém o Catolicismo e as tradições culturais de Portugal, especialmente da província do Minho, de onde partiram muitos dos primeiros colonos portugueses para a região em 1507, isso mesmo depois da tomada da região pelos holandeses em 1641. Como as mulheres não participavam nos descobrimentos, muitos portugueses acabaram por casar e ter filhos com as nativas (isso é, aliás, uma coisa que o português sempre fez de melhor - o Brasil é um exemplo perfeito da miscelândia à moda do tuga): D. Afonso de Alburquerque promoveu a miscigenação como forma de colonização de Malaca, em 1511, concedendo aos que se casassem com as indígenas a isenção de impostos à coroa portuguesa. Hoje em dia, os Kristang são uma das comunidades características e preservadas da Malásia apesar do risco de extinção que enfrentam.
 
 
O dialecto Kristang está, infelizmente, ainda mais em vias de desaparecimento. "Houve um tempo em que até os comerciantes chineses em Malaca falavam o Kristang. Era muito popular na altura", disse Joan Marbeck, uma dos falantes do crioulo luso-malaio, também falado na Singapura. O dialecto Kristang resulta da "malainização" do português durante a ocupação lusa de Malaca, à semelhança do patuá macaense, o Papiaçám Cristám di Macau (patuá), igualmente em risco de extinção (quanto a isso vale a pena realçar o excelente trabalho feito pela Associação dos Macaenses [ADM] liderado pelo advogado Miguel de Senna Fernandes, promovendo espectáculos em patuá como forma de preservação do dialecto macaio).
 

"Nós durámos todos estes séculos", disse Martin Theseira, um activista da causa Kristang de Malaca. "E durámos sem escolas e sem nenhuma ligação com Portugal", acrescentando que "Nós não estamos muito contentes" porque crê haver uma tendência para fazer desaparecer a identidade Kristang através da integração, não apenas religiosa e cultural mas também étnica, na maioria malaia, que é muçulmana (apesar de o islão proibir o casamento interreligioso a não ser que haja conversão à seita de Maomé). "Há muitas forças que nos querem destruir", garantiu. Há por lá um hotel que é o Hotel Lisbon (Hotel Lisboa, como também há aqui em Macau), mas não é permitido por lei servir bebidas alcoólicas. "Como é isso português se é proibido beber?", perguntou Theseira. "Não é compatível com o nome Lisbon".
 
 
Os Kristang são a prova viva da grandeza de Portugal que espalhou as suas sementes um pouco por todo o mundo.

 bloguedofirehead.blogspot.pt
08
Dez16

21 cartões postais de 1900 mostram a beleza feminina da época

António Garrochinho
A globalização não mudou apenas a maneira como as pessoas fazem negócios e giram a economia. Com o avanço da comunicação de massa, particularmente da televisão, a beleza se tornou bastante padronizada.
O que era considerado bonito nas Filipinas, há 50 ou 90 anos, por exemplo, passou a ser visto como feio ao redor do mundo, matando, assim, diferenças culturais essenciais a povos de diferentes nações.
Para demonstrar esta padronização da beleza e a perda de identidade nacional, um usuário do Flickr resolveu publicar cartões postais dos anos 1900, em que figuravam belas mulheres da época:
Mulher de Filipinas (Foto: Flickr)
Guerreira japonesa (Foto: Flickr)
Garota cigana (Foto: Flickr)
Atriz e cantora inglesa Lily Elsie (Foto: Flickr)
Jovens garotas da Argélia (Foto: Flickr)
Jovem berbere, povo que vive no norte da África (Foto: Flickr)
Anna Pavlovna, Prima Ballerina russa (Foto: Flickr)
Rainha Maria da Romênia (Foto: Flickr)
Cigana desconhecida (Foto: Flickr)
Jovem nepalesa (Foto: Flickr)
Japonesa desconhecida com um guarda-chuva (Foto: Flickr)
Atriz francesa Louise Derval (Foto: Flickr)
Irmãs filipinas (Foto: Flickr)
Japonesa desconhecida penteando seus longos cabelos (Foto: Flickr)
Jovem tonquim, povo da região sul do Vietnã (Foto: Flickr)
Mulher beduína, povo nômade que vive nos desertos árabes (Foto: Flickr)
Jovem tâmil, povo que vive no Sri Lanka (Foto: Flickr)
Jovem guerreira vietnamita (Foto: Flickr)
Garota do Camboja (Foto: Flickr)
Gabrielle Ray, atriz, dançarina e cantora inglesa (Foto: Flickr)

revistagalileu.globo.com

08
Dez16

PT Barnum: a reinvenção das belezas circassianas e a moda do cabelo afro no século 19

António Garrochinho


circassiana
“Beleza circassiana” é um termo usado para se referir a uma imagem idealizada das mulheres que viviam no norte do Cáucaso (ou Caucásia) – isto é, entre o Mar Negro e o Mar Cáspio, perto Rússia. Acreditava-se que as mulheres circassianas – aquelas que viviam na Circássia, uma região do norte do Cáucaso – eram extraordinariamente bonitas, espirituosas e elegantes. Na década de 1860, o showman PT Barnum exibia mulheres que ele alegava serem da Circássia. Mas elas eram diferentes: usavam o cabelo em estilo afro, que logo foi copiada por outras artistas do sexo feminino.
Na verdade, essas mulheres exibidas por Barnum eram apenas mulheres do interior dos Estados Unidos que tinham uma aparência mais exótica, e quase sempre adotavam um nome que começava com a letra Z, como Zublia Aggolia, Zalumma Agra ou Zolutia Aggie. Mas porque essas mulheres eram tão famosas no século 19? A História explica: uma série de batalhas estavam ocorrendo entre a Rússia e a Circássia desde 1763, com a derrota do povo circassiano em 1864. Precisamente quando os circassianos de verdade estavam sofrendo uma limpeza étnica em sua terra natal (acredita-se que mais de 600 mil circassianos morreram para expulsar os russos de sua região), todos estavam comentando sobre isso. Então Barnum aproveitou a deixa, apresentando as lindas mulheres provenientes deste local (só que não).
Performance Aggie Zolutia.
Uma performance albinaAggie Zolutia.
Além disso, os circassianos já tinham ficado mundialmente famosos em 1775, quando o naturalista alemão Johann Friedrich Blumenbach publicou uma obra em que iniciava a divisão dos seres humanos em cinco ‘raças’ distintas, definidas por cor e região: os caucasianos ou a raça ‘branca’; a Mongólia ou a raça ‘amarela’; os Malyan ou a raça ‘marrom’; os etíopes ou a raça ‘negra’; e os norte-americanos ou a raça ‘vermelha’. De acordo com Blumenbach, a raça branca tinha se originado na região do Cáucaso, e todas as outras raças humanas brancas haviam sido derivados dessa fonte original. Cem anos mais tarde, por volta de 1870, essa identificação dos circassianos como os representantes perfeitos da brancura tomaram conta da imaginação dos Estados Unidos.
Inicialmente, para tentarmos salvar a reputação de Barnum, ele realmente tentou mostrar mulheres de belezas circassianas – ao tentar entrar ilegalmente no mercado de escravos de Istambul. Falhando em sua tentativa, Barnum passou a procurar mulheres que poderiam se passar por circassianas. Ele inventou um tipo de roupa para essas senhoras, que logo foram copiados em circos de todo o país. As regras para escolher uma mulher eram simples: ela tinha que ser bonita para os padrões vitorianos, deveria usar roupa exóticas (geralmente mais reveladoras do que as usadas pelas mulheres européias e americanas), exibiria jóias e colares impressionantes, além de um cabelo enorme – também invenção de Barnum. O cabelo deveria ser lavado com cerveja, para ficar uma nuvem crespa que se assemelha ao “black power” dos anos de 1960 e 1970. Vale a pena notar que as mulheres reais circassianas não pareciam em nada com as mulheres de Barnum.
Veja abaixo alguns retratos de mulheres realmente circassianas do século 19:
circassianas (1)circassianas (2)circassianas (3)
A fama que as falsas mulheres circassianas provocaram pode ser explicada de forma relativamente simples: se as circassianas eram a forma mais primordial da raça branca e, portanto, os exemplares mais puros e belos da brancura, como era possível que ela estivessem sujeitas ao tráfico de escravos do Império Otomano? A idéia de que uma mulher branca poderia ser vendida como escrava, onde ela seria marcada como um objeto sexual, era uma questão tanto e horror quanto de fascínio para os americanos brancos.
O mito da beleza circassiana e sua escravidão sexual foi mais divulgado quando o filósofo Voltaire escreveu sobre elas em suas cartas publicadas entre 1726 e 1729:
Os circassianos são pobres, e as suas filhas são lindas, e, na verdade, é nelas que reside principalmente o comércio. Elas forram com suas belezas os serralhos do sultão turco, e de todos aqueles que são ricos o suficiente para comprar e manter tal preciosa mercadoria. Essas moças são muito honrosas e virtuosamente instruída em como agradar e acariciar os homens, são ensinadas a fazer uma dança muito educada e feminina, e aumentam, com artifícios voluptuosos, os prazeres de seus senhores desdenhosos…
O cabelo afro das fingidas circassianas é realmente algo digno de nota. Não tendo nada a ver como a forma que as mulheres reais circassianas usavam o cabelo, os cabelos crespos nos retratos das performances era completamente artifical. Notavelmente, o movimento afro da década de 1960 foi em grande parte um movimento de rebelião contra a norma, até então seguida por muitos negros, de deixar o cabelo como os brancos usavam. Dessa forma, os circassianos faziam o inverso: crespavam o cabelo para parecerem mais com os outros, enquanto ainda permaneciam identificavelmente brancos. O cabelo selvagem evocava o exotismo, servia para marcar que essa mulher, embora fosse inteiramente branca, era diferente. Ou seja, a forma mais primordial e bonita da raça branca tinha a juba selvagem dos africanos.
Veja foto de outras mulheres performances circassianas:
circassianas (4)circassianas (3)circassianas (5)
circassianas (7)circassianas (8)circassianas (2)
circassianas (6)circassianas (1)circassianas (1)
BIBLIOGRAFIA:
FRANÇOIS MARIE AROUET DE VOLTAIRE (1694–1778). LETTERS ON THE ENGLISH.THE HARVARD CLASSICS. 1909–14.“,
CIRCASSIAN BEAUTIES“,
CIRCASSIAN BEAUTIES“,
A FREAKISH WHITENESS: THE CIRCASSIAN LADY AND THE CAUCASIAN FANTASY“, POR GREGORY FRIED.
eravitoriana.wordpress.com
08
Dez16

Nós [jornalistas] prostituímos o nosso intelecto – John Swinton

António Garrochinho




Em Nova Iorque, no jantar de despedida a 25 de setembro de 1880, o célebre jornalista John Swinton, editor do New York Times, irritou-se quando lhe propuseram fazer um brinde à liberdade de imprensa.


«Nos Estados Unidos não existe imprensa livre e independente e vocês queridos amigos sabem tão bem quanto eu. Nenhum de vós ousaria dar abertamente a vossa opinião pessoal e, sabem muito bem que se o fizerem, eles não a publicam. Pagam-me um salário para que eu não publique as minhas opiniões e todos nós sabemos que se a isso nos aventurássemos seriamos postos na rua. O trabalho do jornalista é destruir a verdade, mentir descaradamente, perverter os factos e  manipular a opinião ao serviço do poder financeiro. Nós somos os instrumentos obedientes dos Poderosos que dos bastidores nos manejam como marionetas. Os nossos talentos, as nossas faculdades e as nossas vidas pertencem a esses homens. Nós prostituímos o nosso intelecto. Tudo isto vocês sabem tão bem quanto eu!»



Via: GPS & MEDIA http://bit.ly/2ggfjFL
08
Dez16

INVESTIGAÇÃO

António Garrochinho


DE QUE CLUBE SERÁ A "GRANDE JORNALISTA DE INVESTIGAÇÃO" UMA TAL CABRITA ? NÃO GOSTARÁ DE FUTEBOL ?

TEM AGORA MUITA "MASSA" PARA GANHAR GATAFUNHANDO NOS SEUS TEXTOS E AVERIGUAÇÕES AS FUGAS AO FISCO DO AL CAPONISMO FUTEBOLÍSTICO. 
SENDO ELA UMA CIDADÃ TÃO PREOCUPADA COM A HONESTIDADE COM QUE SE GANHA O DINHEIRO, TEM AGORA AÍ UM BOM MANANCIAL DE RECOLHA..

PODERÁ ESCREVER BIOGRAFIAS , TER INFORMAÇÃO PRIVILEGIADA DAS AUTORIDADES, INVENTANDO ESTÓRIAS VERDADEIRAS OU NÃO DOS CRAQUES DA BOLA, ELEVANDO OS QUE MAIS ESTIMA E ADULA.
PODERÁ TAMBÉM ASSIM MALHAR NOS QUE NÃO LHE MERECEM SIMPATIA PRINCIPALMENTE PELA COR DA CAMISOLA..

ASSIM O PASQUIM DA MANHA OU OUTROS SIMILARES AUMENTARÃO O VOLUME DOS COFRES COM AS CAGADAS, AS MENTIRAS QUE ESCREVEM SEMPRE AO SABOR DOS INTERESSES DE QUEM MUITO GANHA E POUCO PAGA .
António Garrochinho
08
Dez16

Ex-ministro francês condenado a três . anos de prisão por fraude fiscal

António Garrochinho


Jérôme Cahuzac foi considerado culpado de fraude fiscal e branqueamento de capitais por esconder a sua fortuna em paraísos fiscais em todo o mundo

A justiça francesa condenou hoje um antigo ministro do Orçamento, Jérôme Cahuzac, a três anos de prisão por fraude fiscal e branqueamento de capitais no âmbito de um escândalo ocorrido no Governo de François Hollande.
.
O outrora defensor da luta contra a evasão fiscal, que deixou o cargo de ministro em 2013, também foi condenado a cinco anos de inelegibilidade.

A ex-mulher, Patricia Menard, foi condenada a uma pena de prisão de dois anos.

Cahuzac foi considerado culpado de fraude fiscal e branqueamento de capitais por esconder a sua fortuna em paraísos fiscais em todo o mundo. O tribunal disse que o antigo ministro cometeu irregularidades "de extraordinária e rara gravidade".

Cahuzac e a sua ex-mulher reconheceram possuir contas bancárias estrangeiras ilegais por duas décadas. Ambos já pagaram 2,3 milhões de euros em impostos atrasados às autoridades francesas.
O tribunal de Paris também sentenciou François Reyl, um banqueiro suíço, a uma pena de prisão suspensa de um ano e multou-o em 375.000 euros por ajudar o casal.

O escândalo alimentou a desconfiança pública em relação aos políticos tradicionais e aumentou as exigências de maior transparência, sendo que as eleições gerais em França decorrem no próximo ano.



www.dn.pt
08
Dez16

Gang do azeite leva 310 mil litros em camiões-cisterna

António Garrochinho

Gang do azeite leva 310 mil litros em camiões-cisterna
A GNR e a Guardia Civil de Espanha detiveram oito pessoas suspeitas de roubar 310 mil litros de azeite em lagares de Portugal e Espanha. Só em Monte Trigo, no concelho de Portel, o grupo levou 160 mil litros de azeite com a ajuda de camiões-cisterna.
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De acordo com as autoridades espanholas, que lideraram a operação de captura, os detidos, todos espanhóis, residentes em Córdoba, usavam veículos camuflados e atacavam em dias de festa nas localidades próximas dos lagares.

Roubavam durante a noite, depois de vigiarem os passos dos funcionários dos lagares. Bastava ligar uma mangueira à cisterna, carregar o azeite e fugir. O crime só era detetado na manhã seguinte. O valor do azeite furtado pelo grupo nos dois lados da fronteira – num total de 310 mil litros – ascende a quase um milhão de euros. Segundo o CM apurou, os camiões com o azeite roubado seguiam em direção a Espanha, onde era colocado em contentores e depois comercializado como se fosse um produto legítimo.

Alguns dos detidos são empresários do setor que já estavam sinalizados por crimes semelhantes nos últimos anos.



www.cmjornal.pt
08
Dez16

De cardos, espinhos e lendas urbanas

António Garrochinho


Começo a dar-me conta: a mão
que escreve os versos
envelheceu. Deixou de amar as areias
das dunas, as tardes de chuva
miúda, o orvalho matinal
dos cardos. Prefere agora as sílabas
da sua aflição.


Eugénio de Andrade, Os trabalhos da mão (in Ofício de Paciência)

No post «Lendas urbanas: tamiflu e anis estrelado» referi brevemente o cardo mariano e o cardo coroado e a elevadissima toxicidade deste último, muito popular em algumas «medicinas» tradicionais.

No entanto, embora cantados por alguns poetas, os cardos são considerados erva daninha em Portugal. As plantas a que chamamos cardos pertencem, na sua maioria, à tribo Cardueae ou Cynareae cujas características distintivas são os espinhos e a ausência de flores liguladas, substituídas por flores tubulosas. Nem todos os cardos pertencem à mesma família, por exemplo o cardo marítimo recordado por Eugénio de Andrade é uma umbelífera.

Embora em Portugal o cardo espinhoso não mereça grande consideração, na Escócia é tido em tão alta estima que figura no respectivo emblema nacional. As razões de tal escolha peculiar estão encobertas pelas brumas do tempo. Rezam as lendas e o folclore escoceses que, algures há uns largos séculos e em lugares diversos consoante a versão, os habitantes de uma dada aldeia ou de um certo castelo rodeados de cardos foram salvos de um massacre certo pelos gritos de invasores viking que imprudentemente se descalçaram para melhor surpreender os adormecidos escoceses.

É certo no entanto que desde 1470 o cardo é utilizado como emblema real na Escócia, introduzido pelo rei James III que criou nesse mesmo ano a condecoração honorífica que continua a mais alta da Escócia, a Ordem do Cardo, ou antes, The Most Ancient and Most Noble Order of the Thistle.

A insignia da Ordem tem inscrito o motto nacional escocês, Nemo me impune lacessit, (Ninguém me provoca impunemente), motto muito semelhante ao da cidade de Nancy, Non Inultus Premor, (Ninguém me toca com impunidade), que tem igualmente o cardo como símbolo.

Mas se entre nós o cardo não está associado a lendas tão galantes como na Escócia,  para além de nos recordar leite cru de ovelha Bordaleira Serra da Estrela coalhado com o cardo Cynara cardunculus  fez parte do léxico do imaginário popular como repelente de bruxas e arma de protecção contra demónios, mau-olhado e doenças. Em relação a esta última utilização não somos muito originais, já que desde que o historiador grego Heródoto (484-426 a.C.), o Pai da História, o menciona nos seus escritos, as virtudes curativas de cardos sortidos têm sido louvadas nas páginas das enciclopédias médicas da época respectiva.

Os cardos foram ( e continuam a ser) abundantemente utilizados ao longo da História na farmacopeia popular, especialmente os já referidos cardo-mariano (Silybum marianum) e o cardo do visco (Atractylis gummifera) mas em particular o cardo-santo (Cnicus benedictus). Já vimos que se em relação ao cardo mariano parece existir um fundo químico que justifica a lenda, em relação ao cardo do visco está perigosamente enganada a «sabedoria popular», tão louvada pelo BE que a queria incluir nos curricula escolares ao lado da ciência.

Também não há muitas dúvidas de que não passam de lendas as virtudes atribuídas ao cardo-santo, o cardo de S. Bento que na Idade Média era visto como (outro) candidato santificado a panaceia universal - e talvez para evitar guerras no panteão católico, era utilizado conjuntamente com a angélica do arcanjo Gabriel na preparação do licor, conhecido hoje em dia como Benedictine, que supostamente seria um elixir contra a peste negra.

Hoje em dia continua a atribuir-se ao cardo bento capacidades curativas extraordinárias, do cancro à estimulação da lactação, e este é vendido como suplemento alimentar em inúmeros locais da internet. Mas não se reconhecem grandes virtudes à cnicina, a lactona sesquiterpénica que lhe confere o (extremo) amargor, tirando as suas excelentes qualidades de pesticida. Sabe-se que a dose letal em ratos se situa entre 0.6-1.3 g/kg pelo que embora os suplementos alimentares apenas indiquem a quantidade do cardo que contêm mas não a concentração de cnicina (que se vai degradando ao longo do tempo), não me parece provável que seja perigosa a sua utilização a quem não seja alérgico a sesquiterpenos - apenas demasiado amarga e francamente mais onerosa que um qualquer chá muito mais agradável ao palato. Como a cnicina é igualmente um emético bastante potente - em doses elevadas - parece-me no entanto totalmente apropriada a sua inclusão nas ditas cujas «medicinas» alternativas.



jugular.blogs.sapo.pt


08
Dez16

ALGARVE - Incêndio que destruiu carro na Praia do Tonel pode ter sido provocado por telemóvel (com vídeo)

António Garrochinho


Um automóvel ficou destruído e dois outros ficaram danificados na sequência de um incêndo que deflagrou, ontem de manhã no parque de estacionamento da Praia do Tonel, em Sagres. Um telemóvel, que estava a carregar no interior do veículo onde começaram as chamas, pode ter sido a causa do fogo, segundo fonte dos Bombeiros de Vila do Bispo.
O proprietário do carro era um «rapaz estrangeiro com idade entre os 20 a 30 anos», segundo adiantou, ao Sul Informação, Paulo Borges, bombeiro de 2ª dos Bombeiros Voluntários de Vila do Bispo, que estiveram no local.
O incêndio não causou feridos, tendo sido combatido por 7 bombeiros, auxiliados por dois veículos. A GNR também deslocou para a ocorrência dois militares e um veículo.

VÍDEO




www.sulinformacao.pt
08
Dez16

Ó Santana, não te estiques muito…

António Garrochinho





Há muitos anos li uma obra do chamado realismo fantástico, mais propriamente o Despertar dos Mágicos de Louis Pauwels e Jacques Bergier. A certa altura os autores, para provarem que as múltiplas facetas da realidade se encontram todas intimamente correlacionadas, avançavam com a seguinte asserção: “Tudo está em tudo: provavelmente há uma grande semelhança entre um ramo de rosas e um ramo de hipopótamos, apesar de nenhum noivo se lembrar de oferecer à noiva, um ramo de hipopótamos”.
Poderão perguntar a que título vem esta reminiscência. Bem, se calhar tudo está mesmo em tudo, e tudo está relacionado com tudo. A propósito, haverá alguma relação entre o facto de Santana Lopes se ter vindo a demarcar da atual liderança do PSD – havendo quem diga que se está a posicionar para a disputar, e por isso  recusando-se em definitivo a ser candidato autárquico à Camara de Lisboa -, e as notícias que hoje surgem de investigações da PJ à Santa Casa da Misericórdia, que ele dirige?
Isto começa a ser costumeiro em Portugal. Parece que a Justiça tem um despertador que só toca em certos momentos. Havia umas confusões de 2012 e de 2014, uns zunzuns relativos à Santa Casa da Misericórdia, que estiveram adormecidos durante quatro anos. Não se passava nada. Dormiam o sono dos justos. E de repente, acordam quando ninguém espera, sabe-se lá bem porquê. Claro que é coincidência, tem lá a Justiça e as polícias interesse em atrapalhar o Santana?!
O Santana, um menino de ouro, de verbo rápido e fácil, com um reputado currículo de arrasa corações, uma alma agora dedicada aos pobres e à caridade, quer lá a Justiça agora, causar-lhe moléstia?! Sim, até porque nada do que se diz que está a ser investigado tem diretamente a ver com ele. São, ao que dizem, coisas menores mais ao nível dos desvios de pilha-galinhas. No entanto, para coisa tão pequena, fartaram-se de investigar: casas, funcionários, computadores, contabilidades, papéis, e se calhar até viraram de alto a baixo a tombola do EuroMilhões para investigar se as bolas também estão envolvidas na moscambilha.
Ainda assim, eu se fosse o Santana, pelo menos consultava a Maya para saber se este episódio estava ou não escrito nas estrelas. E se não estivesse, juro que tiraria daí de imediato a conclusão de que alguém me estaria a mandar um recado. É que há recados amistosos e amistosos.  D. Corleone, o Padrinho, também falava sempre em tom amistoso quando propunha aos interlocutores os tais negócios e convites que não se podem recusar.
Ó Santana, eu acho que tu já és crescido e já não acreditas no Pai Natal, mas o melhor é mesmo continuares a acreditar no Lobo Mau. Alguém te está a mandar um recado, um primeiro aviso, para que não te estiques muito.
E talvez seja mesmo de levar a sério. É que, se não levares, em segundo aviso já não te vão mandar um ramo de rosas: mandam-te mesmo um ramo de hipopótamos… 🙂


estatuadesal.com
08
Dez16

Diz-se que Trump vai expulsar 3 milhões de emigrantes, Obama e Clinton expulsaram 2 milhões

António Garrochinho


 A análise de James Petras em CX36 Radio Centenario

Os grandes meios de comunicação social, que tinham em Hillary Clinton a sua candidata, prosseguem uma acção que distorce e dificulta a compreensão dos factores que conduziram à vitória de Trump e das reais perspectivas da sua administração. E para o atacar branqueiam a administração Obama/Clinton, uma das mais destruidoras da história da maior potência imperialista.



Chury: Naturalmente que no arranque deste diálogo que mantemos todas as segundas-feiras em Radio Centenario queria que nos traçasses uma expectativa de como se vê a instalação e com que expectativas se encara por ai o novo governo, tantos dias já passados sobre a eleição nos Estados Unidos.

Petras: Bom, depende de com quem falas e com quem tratas. Os meios de comunicação continuam os ataques contra Trump destacando qualquer noticia que seja prejudicial e não mencionando coisas que poderiam atrair o público. Entretanto poderíamos dizer que a nomeação dos primeiros cargos do seu gabinete é uma mescla, que vai constituir algo de significativo, um alto funcionário como chefe de gabinete que é um republicano tradicional muito vinculado com os republicanos tradicionais no congresso. Outro é um direitista mais imprevisível, também num lugar de assessor de Trump, que representa o que poderíamos dizer as partes mais negativas relativamente às políticas económicas anti populares. Podemos dizer que Trump tem mostrado mais moderação no relacionamento com Obama. Disse que vai baixar os impostos, vai baixar os compromissos para os empresários e vai seguir políticas que modificarão o Plano Nacional de Saúde mas que não o eliminarão completamente. Diz que vai aceitar as decisões do governo sobre outros assuntos, em outras palavras não é tão claro que se trate de um populista, a parte mais positiva é que declarou que vai continuar a procurar negócios e reciprocidade com a China. Comunicaram que estão prontos a acordar e negociar com a Rússia. Disseram que estão menos envolvidos no Médio Oriente. Em outras palavras podemos dizer que Trump modificou em relação à direita e pelo progressismo as suas posições, menos crítico e mais conciliador. Isso não recebeu tanta atenção nos media como os protestos, que é outro tema que podemos discutir

Chury: Hillary Clinton culpou de alguma maneira o FBI pela sua derrota.

Petras: Sim, é uma loucura, é completamente falso. A derrota de Cinton resulta de uma grande mobilização de classe media, dos trabalhadores e outros sectores do capitalismo doméstico e não das multinacionais, dos banqueiros, Syllicon Valley, Hollywood, que eram os apoios importantes para Hillary Clinton e não eram o suficiente. O problema básico no voto era o problema económico, e nisso ganhou Trump porque foi discutir a re-industrialização, o aumento dos salários para os mal pagos. Disse que vai limitar as pressões no mercado laboral a partir de políticas limitando a emigração. Disse que vai tratar de fazer acordos económicos mais do que guerras. O belicismo de Hillary prejudicou os seus resultados. Os vínculos com os grandes financeiros e regimes corruptos como é o de Arabia Saudita e as manipulações da comunicação, o correio electrónico em sua casa, que era para esconder os seus acordos com os sectores reaccionários tanto no governo norte-americano como no exterior, custou-lhe algo mais que não era problema da policia federal. Era nada mais que a estupidez de Hillary Clinton que trata de manipular os documentos do departamento de estado para seu consumo pessoal, gerando ressentimento com a sua arrogância. Um ponto mais que devo também mencionar com referencia aos milhões de votantes que apoiam Trump, Clinton insultou-os chamando-lhes trabalhadores-lixo, e isso também irritou as pessoas em geral e não simplesmente esses apoiantes. Clinton foi demasiado longe quando chamou lixo aos trabalhadores, isso não é algo que fosse aumentar os votos para Clinton

Chury: Outra pergunta que queria fazer-te Petras, ¿Trump tem falado algo do plano económico, de proteccionismo ou de mercado?

Petras: Sim mas há agora ambiguidades que se podem ver. Fala mais de não terminar os intercâmbios através de um proteccionismo, fala mais sobre limitações, modificações e também acordos mútuos, é que há um deficit comercial com a China de milhares de milhões cada ano, superior a 100 mil milhões e isso quer mudá-lo. Modificar, não romper com a China mas tratar de conseguir mais mercados para exportadores norte-americanos. Essa é a sua agenda, não é uma ruptura proteccionista neste sentido. Ele procura antes de tudo melhorar as relações. Por exemplo pede que os países da NATO paguem a sua própria quota. Os Estados Unidos pagam agora mais de 70% dessa quota da NATO, e ele diz que é excessivo e que outros devem pagar a sua própria quota e manter as suas próprias tropas e não depender da presença de tropas norte-americanas. Trump disse também das guerras de Médio Oriente que perdemos 2 milhões de milhões de dólares em guerras inúteis no Iraque, Afeganistão e agora na Síria. Esses são pontos significativos agora e é agora que os devemos enfatizar. Os funcionários das relações externas vão trabalhar com pessoas que não vão compartilhar esta visão de Trump. Como vai gerir ou como vai tratar a contradição entre os novos nomeados e as suas propostas em políticas exteriores, é até agora uma incógnita e vai tornar muito difícil para Trump modificar o belicismo em favor do comercialismo


Chury: Vou contigo e os comentários para o Caribe, ao norte da América do Sul, concretamente há noticias de Venezuela e de Colômbia ao mesmo tempo, Venezuela uma leitura que tenhas feito acerca do tema dos acordos que não são acordos entre a oposição e o governo de Maduro e a segunda tentativa de tratado pela paz entre o governo colombiano e as FARC, começamos pela Venezuela.

Petras: Ambos temas complexos, mas vamos tratar de os colocar num contexto, Maduro está a procurar encontrar um consenso no país sobre os temas económicos, o desabastecimento, a necessidade de aumentar a produção, as exportações e uma cooperação em vez de uma sabotagem. Mas os opositores procuram derrubar Maduro, não estão ali para discutir e unificar forças sobre os problemas económicos. Para eles é ele o ponto do diálogo, é ele o ponto que não tem qualquer forma de conseguir um consenso.. Eles querem um referendo, querem eleições, querem derrubar o presidente contra a constituição e são coisas incompatíveis. O Vaticano está a procurar que se chegue a um acordo mas obviamente os opositores não estão por um acordo para solucionar os problemas económicos e apenas se mantêm ameaçando o governo e provocando oposição nas ruas. Com os capitalistas que não estão a cobrar na condução é impossível imaginar que o diálogo vai avançar muito.
Sobre a Colômbia devemos dizer que outra vez a direita, o presidente Santos conseguiu mais concessões das FARC. Já limitaram as suas exigências sobre mudanças estruturais na economia; deixaram no limbo as políticas para a transformação agraria; aceitaram as bases militares norte-americanas, 7 bases militares; insistiram em que os guerrilheiros devem passar por processos judiciais. Agora com as novas concessões estão a limitar as possibilidades de que as FARC possam ter presencia no próximo congresso e o resto. É a concretização de uma posição importante da ultra direita de Álvaro Uribe. Ou seja, mais prisão para os guerrilheiros, menos para os militares que assassinaram a maioria das 250 mil vítimas desta guerra prolongada. Por outras palavras a paz é uma paz que favorece a direita e os governantes mais do que as classes populares, para além dos guerrilheiros. Creio que os movimentos sociais vão prosseguir as suas lutas, os trabalhadores as suas greves e as FARC vão ficar à margem dos novos processos políticos.


Chury: Bem Petras, seguramente que como sempre estás trabalhando também em outros temas e deixo-os para completar esta entrevista.

Petras: Evo Morales declarou algumas coisas muito interessantes sobre a eleição de Trump. Vai contra a corrente dos diários supostamente progressistas. Evo Morales disse que a vitória de Trump é um resultado do descontentamento popular, é uma resposta do povo norte-americano contra a globalização falhada. Eu creio que Evo Morales é mais realista sobre as consequências do triunfo de Trump que muitos supostos progressistas. A vitória de Trump se se concretiza vai baixar o nível de imperialismo político e militar e enfatizar os acordos entre negócios.
Segundo ponto que quero mencionar, há mobilizações nas ruas mas uma grande parte é financiada por Soros que é o grande especulador que é o autor das revoluções coloridas, como chamam aos golpes na Ucrânia, Geórgia, etcétera; outro sector dos manifestantes são os clintonistas que estão na rua simplesmente para criar confusão e procurar a forma de derrubar o governo e mudar a votação no colégio eleitoral. Outros manifestantes têm reivindicações específicas como o aborto, como os emigrantes. Mas devemos dizer uma coisa: os media norte-americanos e seus sipaios na América Latina exageram o número de participantes, falam de 10 dezenas de milhares e não há 100 mil pessoas a manifestar-se num país onde há 350 milhões de cidadãos. Por outras palavras podemos dizer que as maiores manifestações estão em estados que votaram por Clinton, Califórnia e Nova Iorque. Há protestos também no Oregon que são violentos e actividades vandálicas partindo portas janelas de pequenos e médios comerciantes. Em outras palavras há um esforço dos meios de comunicação de criar um clima que facilite algum golpe. É esse o sonho de Soros, de alguns clintonistas que não aceitam a derrota eleitoral
Quero comentar três coisas rápidas. A Rússia fez acordos de venda de armamento primeiro com a China e agora com o Irão. Há uns 10 mil milhões em armamento entre a Rússia e o Irão, vão vender ao Irão e com isso vão evitar que os Estados Unidos possam utilizar as Nações Unidas como lugar para recomeçar as acções contra o Irão. A Rússia não vai apoiar novas acções contra o Irão. Poderemos ver que qualquer promessa de Trump para alterar as relações com o Irão não tem futuro nas Nações Unidas.
E finalmente quero anotar que Israel passou, aprovou uma lei que permite que qualquer judeu possa apossar-se de qualquer território e propriedades palestinas, apoiados pela maioria dos deputados israelitas que estão actualmente a legalizar o roubo de qualquer terra, de qualquer propriedade, de qualquer edifício palestino. E enquanto estão a legalizar o saque os governantes os vigilantes coloniais assaltaram cinco agricultores palestinos, os vigilantes judeus actuando como o Ku Klux Klan, mascarados, batendo e partindo as pernas, os dentes e cabeças de não dois mas cinco agricultores que estavam a recolher azeitonas, atiraram as cestas de azeitonas sobre a terra e afugentaram os demais sem qualquer intervenção de qualquer parte do estado de Israel e do exército de Israel que reside a poucos metros do lugar do assalto. 38 milhões de dólares de doações entre os milionários e bilionários sionistas em Hollywood financiam os vigilantes. Quer dizer que os sionistas na Califórnia estão a financiar os vigilantes que estão a assaltar os palestinos com um tratamento similar ao que os nazis e o Ku Klux Klan fizeram.
Quero anotar uma coisa sobre a emigração. Temos ouvido que o senhor Trump vai expulsar 3 milhões de emigrantes sem papeis. Primeiro, Obama e Clinton expulsaram 2 milhões. Trump anunciou que vai dar início a um processo de recolher e expulsar os emigrantes com cadastro criminal e isso é muito menos que os 3 milhões e muito menos que os 2 milhões que Obama e Clinton expulsaram na prática. Segundo, há que ver em que grau e como vão ser identificados os delinquentes emigrantes, e se apenas se concentrarem nos delinquentes o máximo de pessoas que têm cadastro criminal não vai superar os 200 mil. Com isso quero terminar.



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08
Dez16

Por que razão nos EUA não tem batucada? (INCLÚI VÍDEOS)

António Garrochinho


(Uncle Tom's Cabin, Robert Criswell, 1852)
(Uncle Tom’s Cabin Contrasted…, Robert Criswell, 1852)
Não é curioso que os Estados Unidos não usem tambores em sua música como todos os outros países que tiveram mão-de-obra escrava vinda da África? Eu sempre fiquei me perguntando isso. Por que a música dos negros norte-americanos é tão diferente da música brasileira, de Cuba, do Caribe? Onde foram parar os tambores? Cadê a batucada?
Pense em todos os grandes ídolos da música afro-americana: Charlie “Bird” Parker tocava sax. Louis Armstrong tocava trompete. Nina Simone tocava piano, assim como Stevie Wonder e Ray Charles. Miles Davis tocava trompete. E Wynton Marsalis, idem. Robert Johnson tocava guitarra. Chuck Berry, idem. Leadbelly tocava um violão de 12 cordas.
Os negros chegaram aos EUA vindos, em sua maioria, de regiões que hoje se conhecem como Senegal, Gâmbia, Nigéria, Camarões, Namíbia, Congo, Angola e Costa do Marfim. Os negros brasileiros vieram de Moçambique, do Benin, da Nigéria, e também de Angola, Congo e da Costa do Marfim. Com todas as diferenças existentes entre estas nações africanas, todas elas faziam uso de tambores com fins musicais e de comunicação. Por que então nós temos o samba e os gringos não? Por que não tem atabaque, agogô e cuíca na música afro-americana e sim saxofone, clarinete, trompete, instrumentos “de brancos” que os negros, aliás, aprenderam a tocar com maestria? Simplesmente porque os tambores foram proibidos na terra do tio Sam durante mais de 100 anos.
No dia 9 de setembro de 1739, um domingo, em uma localidade próxima a Charleston, na Carolina do Sul, um grupo de escravos iniciou uma marcha gritando por liberdade, liderados por um angolano chamado Jemmy (ou Cato). Ninguém sabe o que detonou a rebelião, conhecida como a “Insurreição de Stono” (por causa do rio Stono) e que é considerada a primeira revolta de escravos nos EUA. Conta-se que eles entraram numa loja de armas e munição, se armaram e mataram os dois brancos empregados do lugar. Também mataram um senhor de escravos e seus filhos e queimaram sua casa. Cerca de 25 brancos foram assassinados no total. Os rebeldes acabaram mortos em um tiroteio com os brancos ou foram recapturados e executados nos meses seguintes.
A reação dos senhores foi severa. O governo da Carolina do Sul baixou o “Ato Negro” (Negro Act) em 1740, trazendo uma série de proibições: os escravos foram proibidos de plantar seus próprios alimentos, de aprender a ler e escrever, de se reunir em grupos, de usar boas roupas, de matar qualquer pessoa “mais branca” que eles e especialmente de incitar a rebelião. Como os brancos suspeitavam que os tambores eram utilizados como uma forma de comunicação pelos negros, foram sumariamente vetados. “Fica proibido bater tambores, soprar cornetas ou qualquer instrumento que cause barulho”, diz o texto.
A proibição se espalhou pelo país e só foi abolida após a guerra civil, mais de um século depois, em 1866. Antes disso, o único lugar onde os negros podiam se reunir com certa liberdade eram as igrejas; daí o surgimento dos spirituals, a música gospel, com letras inspiradas pela Bíblia, que eles cantavam muitas vezes à capela (sem instrumentos) ou marcando o ritmo com palmas. As mãos batendo no corpo e os pés batendo no chão foram os substitutos que os escravos encontraram para os tambores, resultando em formas de dança e música conhecidas como “pattin’ juba”, “hambone” e “tap dance” (sapateado), ainda hoje utilizados por artistas negros (e também brancos) dos EUA.

VÍDEOS
“Os tambores ‘falantes’ africanos interagiam com os dançarinos utilizando diferentes ritmos, assim como comunicando mensagens através dos tons e batidas. Os tocadores de tambor podiam fazer seus instrumentos ‘falarem’ sons específicos, de forma que a percussão constituía um texto sonoro. A musicalidade de várias palavras africanas era tão precisa que elas podiam ser escritas como notas musicais. Os escravos levaram estes ritmos e o uso destas técnicas para a América”, diz o coreógrafo norte-americano Mark Knowles, autor do livro Tap Roots: the Early History of Tap Dance.
Os brancos sabiam que as rebeliões de escravos eram organizadas durante encontros que envolviam dança e que a cadência dos tambores podia ser um convite à insurreição, com o uso dos tambores falantes. “Proibidos os tambores, o corpo humano, o mais primitivo de todos os instrumentos, se tornou a principal forma de ritmo e de comunicação entre os escravos. “Usando o corpo como percussão, em uma tentativa de imitar os sofisticados ritmos e cadências dos tambores, com o elaborado uso de batidas dos saltos e do bico do sapato, surgiu o que chamamos de ‘tap dance’. Mesmo hoje em dia, quando dois sapateadores mantêm uma conversação com seus pés, é como se estivessem telegrafando mensagens, como faziam originalmente os tambores africanos”, afirma Knowles.
VÍDEO
Alguns estudiosos atribuem ao banimento dos tambores o fato de a música dos EUA em geral não ser tão rica em compassos como a sul-americana ou a caribenha. “Há uma coisa peculiar que quase toda a música norte-americana tem em comum: uma extensa ênfase em um mesmo ritmo, muito diferente da encontrada em qualquer outro lugar no mundo. É assim: Boom – Bap – Boom – Bap, com um bumbo na primeira e terceira batidas, ou em todas as quatro, uma caixa precisamente na segunda e quarta, e quase nada entre elas. Este ritmo é chamado de ‘duple’ (compasso binário) em teoria musical, e você pode encontrar variações dele em todos os estilos da música americana popular moderna: Blues, Motown, Soul, Funk, Rock, Disco, Hip Hop, House, Pop, e muito mais”, diz o DJ Zhao neste interessante artigo.
“O predomínio generalizado deste monorritmo simplificado, rígido e mecânico, minimizando elementos polirrítmicos na música para o papel de embelezamento, às vezes ao ponto de não-existência, é muito diferente do foco em polirritmos complexos que existe em várias formas da moderna música sul-americana e caribenha: o Son Cubano e a Rumba, a Bossa Nova brasileira, o Gwo Ka e Compas haitiano, o Calipso de Trindade e Tobago… Nenhum deles depende tão extensivamente do duple.”
Em sua autobiografia, To be or Not… to Bop, o trompetista Dizzy Gillespie atribui esta menor complexidade rítmica da música afro-americana em relação à música afro latino-americana à proibição dos tambores. “Os ingleses, ao contrário dos espanhóis, tiraram nossos tambores”, lamenta Gillespie (leia mais aqui). Em meados da década de 1940, muitos congueros (tocadores de conga, espécie de atabaque) migraram para os Estados Unidos e exerceram influência na música local, criando o jazz afro-cubanoGillespie colocou a conga do cubano Chano Pozo em sua música e a parceria resultou em Manteca (1947), canção pioneira por introduzir percussão cubana no jazz.

VÍDEO
Nos rincões do Mississippi, driblou-se a proibição dos tambores com bandas de flautas e tarol (caixa), instrumentos que eram aceitos e inclusive tocados no Exército durante a guerra civil. Em 1942, o folclorista Alan Lomax gravou pela primeira vez gente como Othar Turner e Ed e Lonnie Young, cuja sonoridade esbanja ancestralidade, soa a África e foi comparada à música haitiana. É o mais próximo de uma batucada que encontrei na música negra dos EUA. Não parece meio maracatu?

VÍDEOS
Enquanto nos Estados protestantes os tambores eram banidos, na católica Louisiana eles foram permitidos até o século 19 e eram utilizados sobretudo nas cerimônias de vodu, religião afro-americana levada para os EUA pelos escravos do Benin, antigo Daomé – de onde vieram também a maioria dos negros da Bahia. Assim como em Salvador, havia muito sincretismo em New Orleans até começar a perseguição ao vodu e por conseguinte aos tambores.
A partir de 1850 o uso de tambores passou a ser restringido até mesmo na Congo Square, uma praça da cidade onde tradicionalmente os negros se reuniam para tocar tambores, dançar e entrar em transe espiritual ao som de música. Nos anos 1970 a praça foi reabilitada e até hoje rola um batuque de primeira por lá.

VÍDEO
Apesar desta “percussofobia”, como alguns chamam, a música negra dos EUA é maravilhosa, sem sombra de dúvidas. Mas como seria ela se os tambores não tivessem sido proibidos?

 www.socialistamorena.com.br
08
Dez16

ENERGIA NUCLEAR: QUESTÕES GEOPOLÍTICAS

António Garrochinho
INTRODUÇÃO

..............O presente trabalho foi elaborado com a finalidade de estudar não somente a energia nuclear no âmbito técnico-científico, mas especialmente as diversas questões geopolíticas envolvidas neste setor de prima necessidade ao Estado (o setor energético), bem como os interesses políticos acerca de armas nucleares, no mundo capitalista.
Como iremos discutir ao longo deste, a energia nuclear é imprescindível em países como a Franca, por exemplo, já que não reúne condições físicas, climáticas e geográficas para a obtenção de energia por meio de hidrelétricas a energia nuclear corresponde a 80% do total nacional. Porém há uma grande polêmica que circunda a utilização deste tipo de energia, e a maior delas é a produção de armas nucleares.
As armas nucleares são um capítulo à parte na discussão sobre a energia nuclear, sendo muito controverso falar sobre isso, principalmente no mundo pós 11 de setembro de 2001, após esta data muitas coisas mudaram, e criou-se a concepção de que os países aliados aos Estados Unidos se encontram sobre constante ameaça terrorista, além disso, foi criado um tipo ideal que representa os árabes e demais habitantes do oriente médio: todos são terroristas até que se prove ao contrário.
Com isso o mundo entra em estado de alerta e surgem temas delicados como o programa nuclear do Irão, que gera descontentamentos e dúvidas nos EUA e em países da União Européia, que duvidam das boas intenções dos iranianos, gerando uma preocupação por parte de disponibilizar condições para que o país de Mahmoud Ahmadinejad venha a desenvolver armas nucleares.
A razão de um trabalho como este consiste em fornecer um compilado de notícias e informações valiosas e fundamentais que dizem respeito à compressão do mundo e dos fatos e acontecimentos sociais vistos a partir de um risco iminente que a crescente utilização da energia nuclear nos trás à tona, uma vez que para muitos, como, por exemplo, o povo japonês que está sofrendo com a atual crise nuclear devida a catástrofe natural do terremoto e tsunami, deve ser a sensação de viver sobre uma bomba relógio, que pode explodir a qualquer momento.
Para a elaboração deste trabalho de pesquisa, buscamos informações da mídia digital (internet) e de conceituados portais de noticias on-line, ou seja, fontes confiáveis, das quais retiramos os trechos anexos, de indispensável importância para o entendimento do tema energia nuclear, tanto no âmbito técnico, mas especialmente para trabalhar seus aspectos geopolíticos.
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ENERGIA NUCLEAR
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1. O que é energia nuclear?
Fig 1. Esquema simplificado do funcionamento de uma usina nuclear.
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..............A energia nuclear provém da fissão de matérias minerais altamente radioativas, como urânio, plutônio, tório, ou da fusão nuclear do hidrogênio. A energia é liberada dos núcleos atômicos quando os mesmos são levados por processos artificiais à condições instáveis dentro de um reator nuclear, produzindo uma seqüência conhecida como “reação em cadeia”.
..............O funcionamento de uma usina nuclear é bastante parecido ao de uma usina termelétrica. A diferença é que ao invés do calor ser gerado pela queima de um combustível fóssil, como o carvão, o óleo ou o gás, nas usinas nucleares o calor é gerado pelas transformações que se passam nos átomos de urânio. O calor gerado no núcleo do reator aquece a água de um circuito primário. Esta água circula pelos tubos de um equipamento chamado gerador de vapor. A água de um outro circuito em contato com os tubos do gerador de vapor vaporiza-se à alta pressão, fazendo girar um conjunto de turbinas ligadas a geradores elétricos. O movimento do gerador elétrico produz a energia, que imediatamente segue para o sistema de distribuição.
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ENERGIA NUCLEARQUESTÕES GEOPOLÍTICAS

 
1. Mundo repensa Energia Nuclear depois de 2ª explosão de reator no Japão

Informações da BBC e Agência Brasil - 14/03/2011

1.1. Explosão nos reatores: O reator número 3 da usina nuclear de Fukushima, no Japão, sofreu uma pane no seu sistema de resfriamento e explodiu nesta segunda-feira, a exemplo do que já havia ocorrido com o reator número 1.
Um porta-voz da companhia de eletricidade Tokyo Electric Power Company (Tepco) disse que os técnicos estão adotando medidas como injetar água do mar no reator número 2 da usina para evitar o superaquecimento da instalação.
As autoridades afirmaram que o reator número 3 resistiu ao impacto. O núcleo da estrutura teria permanecido intacto e os níveis de radiação, abaixo dos limites considerados legalmente perigosos.
O porta-voz do governo, Yukio Edano, afirmou que há baixa possibilidade de contaminação por radiação por conta da última explosão. Ainda assim, dezenas de milhares de pessoas foram evacuadas das proximidades da instalação e 22 estão sob tratamento por exposição à radiação.
Especialistas crêem que é improvável uma repetição do desastre nuclear das proporções de Chernobyl, em 1986, porque os reatores atuais são construídos com padrões mais elevados e sob medidas de segurança mais rigorosas.

1.2. Alemanha pensando melhor: A Alemanha anunciou nesta segunda-feira que suspendeu temporariamente seus planos de ampliar a vida útil de suas usinas nucleares.
A chanceler Angela Merkel disse que a decisão divulgada no ano passado, de estender a vida útil das 17 usinas nucleares do país, será suspensa por três meses: “Durante a moratória, examinaremos como podemos acelerar a rota para a era da energia renovável”, disse ela.
O governo alemão tem sido alvo de protestos contrários à ampliação da vida útil das instalações, e com a suspensão anunciada nesta segunda-feira, as duas plantas nucleares mais antigas do país (construídas nos anos 1970) provavelmente serão fechadas nos próximos meses.
Merkel disse que os eventos no Japão “nos ensinam que os riscos que considerávamos absolutamente improváveis na verdade não o são”.

1.3. União Européia e o aumento da segurança nuclear: Além da Alemanha, o acidente nuclear japonês - já considerado o mais grave desde Chernobyl, em 1986 - levou também outros países a reverem suas posições.
A Suíça disse que vai endurecer os padrões de segurança que regulam suas usinas nucleares “particularmente com relação à segurança sísmica e resfriamento”, segundo a ministra da Energia, Doris Leuthard. A Suíça tem quatro usinas nucleares que produzem 40% da energia que o país consome.
A Áustria, que se preocupa com a segurança em plantas nucleares instaladas em antigos países comunistas com os quais faz fronteira, reivindica que as usinas sejam testadas em casos de terremotos.
Mas países como a Rússia e a Polônia afirmaram que não vão cancelar planos de ampliar o uso de energia nuclear. Em janeiro, havia 195 usinas nucleares em operação na Europa e 19 em construção, sendo que 11 delas na Rússia.


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2. Fracassos Nucleares Franceses
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.Informações do Greenpeace –16/03/2009
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..............Em plena retomada do Programa Nuclear Brasileiro, o Greenpeace promoveu hoje, no Rio de Janeiro, um evento reunindo especialistas para debater os problemas e dificuldades enfrentados pela indústria nuclear na França e no Brasil. No seminário “Energia Nuclear no Brasil e na França”, foi lançada versão em português do relatório “Fracassos Nucleares Franceses”, um documento com o histórico nuclear brasileiro, mostrou como é arriscada a parceria na área nuclear que vem se consolidando nos últimos três anos entre França e Brasil.
..............O relatório “Fracassos Nucleares Franceses” resume as principais conclusões de pesquisa realizada pela Global Chance - organização francesa sem fins lucrativos que reúne cientistas em energia inclusive os problemas que levaram a estatal Areva, braço industrial da política nuclear francesa, a fechar o ano de 2008 com uma queda de 20% em seu lucro líquido. Lembrando que a França tem 80% de sua energia gerada por 58 reatores nucleares distribuídos em 19 usinas.
..............Exemplos concretos dessa decadência são as dificuldades enfrentadas nos projetos de construção de European Pressurized Reactores (EPRs), reatores de quarta geração desenvolvidos e promovidos pela Areva ao redor do mundo, inclusive no Brasil. Comprovando que a tão propagada “nova” tecnologia não foi capaz de superar os problemas históricos da energia nuclear, o reator da usina de Olkiluoto, na Finlândia, que começou a ser construído em 2005, já está com atraso de três anos e sobre faturamento de 1,5 bilhões de euros. O reator finlandês, bem como o EPR em construção em Flamanville, na França, apresentou falhas de projeto como uso de concreto e soldas de má qualidade, comprometendo a segurança da operação do reator.
..............O documento mostra ainda como a aposta francesa em priorizar energia nuclear é um obstáculo concreto para que o país possa cumprir suas próprias metas de redução de emissões de gases de efeito estufa, conforme esclareceu em sua apresentação o professor Yves Marignac, especialista francês independente e principal autor do relatório da Global Chance. “energia nuclear não é solução para o aquecimento global. Chega a ser engraçado, esse é mais um argumento usado pela indústria. As emissões não diminuem com a construção de reatores nucleares”.
..............O Greenpeace apresentou também um cenário da indústria nuclear no Brasil: se a Areva se esforça para driblar seus fracassos pelo mundo, aqui é recebida de braços abertos pela Eletro-nuclear, que acena com a participação de 30% de capital francês no financiamento da terceira usina nuclear brasileira.
..............O documento traz dados sobre a construção das usinas Angra 1 e Angra 2, marcada por atrasos, orçamentos estourados e falta de transparência governamental, corroborando o desempenho do setor nuclear ao redor do mundo. Angra 2 entrou em operação apenas em 2000, mais de vinte anos após o início de sua construção, inúmeros atrasos de cronograma e falhas técnicas.
.............Outro ponto lembrado nas apresentações, tanto sobre o Brasil como a França, foi a ausência de solução para o lixo radioativo gerado ao longo de todo o ciclo de produção da energia nuclear.
 ..............“O que fazer com o lixo radioativo é a grande pergunta sem resposta em relação ‘a tecnologia nuclear’, disse Rebeca Lerer, coordenadora da campanha de energia do Greenpeace. "No Brasil, essa discussão veio á tona durante o licenciamento ambiental de Angra 3, no qual a Eletro-nuclear foi incapaz de responder o que fará com os resíduos da usina nuclear. Mesmo assim, o Ibama concedeu licença de instalação para Angra 3”.
..............Em 2008, os presidentes Nicolas Sarkozy e Luiz Inácio Lula da Silva firmaram acordo para o desenvolvimento de um submarino nuclear e construção de estaleiro e base no Rio de Janeiro.
..............“A opção nuclear não se sustenta do ponto de vista económico, energético ou ambiental. A cooperação nuclear para fins militares com a França revela os verdadeiros objetivos do Programa nuclear brasileiro, que vão muito além da geração elétrica”, afirma Rebeca Lerer.
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3. A polémica envolvendo o programa nuclear do Irão
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Informações da BBC – 09/11/2009
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...............O Irã tem desafiado uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que ordena a suspensão do enriquecimento de urânio no país.
..............Apesar da resolução, no dia 8 de fevereiro de 2010, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, anunciou que o país comunicou à ONU que ampliaria seu programa nuclear.
..............Um dia depois, o chefe do programa nuclear do país, Ali Akbar Salehi, afirmou que o Irão havia começado o processo de enriquecimento de urânio a 20% em Natanz, a principal usina de enriquecimento de urânio iraniana e nesta quinta-feira, Ahmadinejad disse que o país possui tecnologia para enriquecer urânio a até 80%, embora não escolherá não o fazer.
..............O nível é suficiente para o funcionamento do reator nuclear de Teerão, mas não para a produção de uma bomba nuclear, que requer enriquecimento a pelo menos 90%.
..............A decisão alarmou os países do Ocidente devido ao temor de que o regime iraniano esteja planejando construir armas nucleares.
..............O Irão, no entanto, continua insistindo que seu programa nuclear tem fins pacíficos e defende o direito, previsto no Tratado de Não-Proliferação Nuclear (NPT, na sigla em inglês), de enriquecer urânio para ser usado como combustível para a energia nuclear civil.
..............Autoridades iranianas e porta-vozes dos Estados Unidos e da União Européia não conseguiram chegar a um acordo sobre o programa de enriquecimento de urânio do Irã. Há receio de que o Irã esteja ao menos tentando adquirir experiência para que um dia tenha a opção para produzir uma bomba.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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..............Considera-se que a energia nuclear tem sim seus aspectos positivos, mas também inúmeros pontos negativos que necessariamente precisam ser estudados e melhorados.
..............É importante conhecermos tanto a parte técnica, quanto as disputas geopolíticas que giram em torno da energia nuclear, tentar compreender a magnitude científica e o grau de complexidade aplicado à estruturação de uma usina nuclear, e principalmente valorizar nisto, todo o conhecimento humano utilizado.
..............Conclui-se também que a questão energética nuclear é uma motriz geradora de conflitos e disputas, o que cria um mal-estar e uma preocupação em escala internacional, pois na maioria das vezes um incidente como o de Chernobyl em 1986, ou o recente vazamento no Japão, nos colocam em uma postura de reflexão e ao mesmo tempo de desespero sobre a segurança nuclear nos dias atuais.
..............Por outro lado não devemos ir ao extremo e propor a proibição da utilização da energia nuclear, a opção mais coerente seria o uso desta com responsabilidade, descartando a possibilidade de produção de armas nucleares pelos iranianos, por exemplo, seria o primeiro passo para a desmistificação deste preconceito de que todo o árabe é terrorista. Sabemos que é em certo ponto um pensamento utópico, mas exigiria uma mudança de consciência por parte de todos os cidadãos e de todas as lideranças políticas mundiais.
..............Pelo fato do setor energético ser de prima ordem para os Estados, deve-se pensar em mecanismos de distribuir este recurso e esta tecnologia de uma forma mais democrática, não deve existir um país que detenha toda a técnica nuclear e outro desprovido; justamente pela falta da democratização da energia nuclear, situações preocupantes como a do Irão começam a surgir no mundo contemporâneo.
............Para que haja a total otimização da utilização deste importante recurso é indispensável a convergência entre técnicos e políticos – ao contrário do que o presidente do Senado José Sarney declarou – estes são os responsáveis pela eficiência de um programa nuclear, o trabalho de um técnico depende do sucesso das negociações e decisões tomadas pelo político, e este por sua vez depende do êxito do trabalho técnico.
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FONTE: http://www.biodieselbr.com/energia/nuclear/energia-nuclear.htm
http://www.coladaweb.com/geografia/fontes-de-energia/energia-nuclear
http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=mundo-repensa-energia-nuclear-explosao-reator-japao&id=040175110314
http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Noticias/greenpeace-exp-e-fracassos-nuc/
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/11/091121_ira_qanda_nuclear_np.shtml
http://economia.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2011/03/16/sarkozy-defende-uso-de-energia-nuclear-na-franca.jhtm

portalcomunista.blogspot.pt
08
Dez16

REDES SOCIAIS

António Garrochinho

HÁ QUEM AS APROVEITE E FAÇA DELAS UM INSTRUMENTO MUITO PERIGOSO DE ALIENAÇÃO E MENTIRA.
HÁ UMA PREGUIÇA, MEDO, VERGONHA, DESMAZELO, E AQUI FALO DOS PORTUGUESES EM PUBLICAR E ESCLARECER O ESSENCIAL SEJA DO PONTO DE VISTA HISTÓRICO SEJAM AS NOTÍCIAS E ACONTECIMENTOS QUE DOMINAM A ACTUALIDADE.
NAS REDES SOCIAIS HÁ MUITO DE FASCISMO, HÁ MUITO DE ANTI COMUNISMO, HÁ MUITO DE ALIENAÇÃO POR UMA SIMPLES RAZÃO. AS PESSOAS DE ESQUERDA, MUITAS DELAS, NÃO RIPOSTAM, NÃO COMBATEM, DORMEM EM CIMA DOS ACONTECIMENTOS E PERDEM TEMPO COM NINHARIAS E PUBLICAÇÕES QUE EM NADA ENRIQUECEM A DISCUSSÃO POLÍTICO SOCIAL, A CULTURA E ATÉ O ENTRETENIMENTO PEDAGÓGICO.
AGEM SEMPRE COMO SE AS SUAS ASPIRAÇÕES FOSSEM UMA CERTEZA, ISTO É, JÁ ESTIVESSEM NO PAPO.
OS OUTROS, OS NOSSOS ADVERSÁRIOS NÃO DESARMAM E A CADA SEGUNDO ESPALHAM O VENENO E A MENTIRA CONFUNDINDO, BARALHANDO OS MAIS INCAUTOS E OS QUE MENOS LÊEM E OS QUE NÃO DISCUTEM, NÃO CONTESTAM, NÃO PROCURAM ESTAR A PAR DOS ASSUNTOS IMPORTANTES DO NOSSO PAÍS, DA EUROPA E DO MUNDO.
QUEM NÃO LÊ NÃO VÊ !
António Garrochinho
08
Dez16

O LUTADOR DE SUMO MAIS MAGRO DO MUNDO

António Garrochinho


Nós já falamos de Takanoyama Shuntarō, cujo real nome é Pavel Bojar, um rikishi (lutador de sumô) diferente de todos os outros. O caso é o simples fato de falarmos lutadores de sumo, já evoca homens enormes, pesados, fortes e lentos, semelhante a um urso. No entanto, o lutador tcheco desafia todas as normas do sumô: seus braços e pernas não são tão avantajados e seu peito não se parece com um paredão de carne e gordura. De fato, seu corpo é bem resolvido muscularmente falando.

Sua compleição física, aliada a agilidade, permitem com que consiga alcançar os objetivos de uma luta de sumô, que é levar o outro lutador para fora do dohyō (ringue) ou fazer com que ele toque o chão com qualquer parte do corpo que não seja a sola dos pés.

Takanoyama Shuntarō é o primeiro homem tcheco a juntar-se às fileiras de rikishis, que são principalmente de descendência japonesa. Segundo ele, o que lhe falta em massa corporal é compensado por suas habilidades em evadir os adversários em vez de enfrentá-los frente a frente como se fossem dois tanques. Neste vídeo você vê uma compilação de lutas de Pavel.

VÍDEO
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08
Dez16

A NOTÁVEL HISTÓRIA DOS MORADORES DO REMOTO ARQUIPÉLAGO DE SAINT KILDA

António Garrochinho
O remoto arquipélago de Saint Kilda, ao largo da costa oeste do continente escocês, é verdadeiramente um lugar isolado. Localizado a cerca de 64 km a oeste das Hébridas Exteriores, é a parte mais remota das Ilhas Britânicas. A ilha está cheia de rochedos de granito irregulares e altas falésias que carregam toda a força da condição atmosférica selvagem do Atlântico Norte. O vento é tão forte ali que as árvores se recusam a crescer.

Neste clima hostil, uma pequena comunidade se agarrou à sua existência mais básica, sobrevivendo em grande parte comendo aves marinhas e seus ovos. Este grupo extraordinário de homens, mulheres e crianças viveu em um estilo de vida de caçador-coletor, escalando paredões de penhascos para caçar atobás, pardelões-prateados e papagaios-do-mar, e cultivando escassos produtos agrícolas, até as primeiras décadas do século XX.
A notável história dos moradores de Saint Kilda 01
Depois de milhares de anos de isolamento, toda a população da ilha foi evacuada para o continente para escapar da falência das colheitas, a falta de comunicação e a necessidade de cuidados médicos. A história desses ilhéus e sua gradual perda de auto-suficiência foi objeto de um fascínio duradouro para a Escócia e para o resto do mundo.
A notável história dos moradores de Saint Kilda 02
Saint Kilda foi habitada continuamente por cerca de 4.000 anos. Seu único assentamento, A Vila da Baía, estava localizado em uma terra de baixa altitude na maior ilha do arquipélago, Hirta. A ilha varrida pelo vento não era adequada para a agricultura.
A notável história dos moradores de Saint Kilda 03
Os ilhéus cultivavam pequenas quantidades de cevada, aveia e batatas, mas os ventos fortes e a água salobra muitas vezes danificavam as colheitas. O mar era muito grosso para a pesca, assim que os ilhéus comiam poucos peixes. Sua comida favorita era pássaros, e havia muitos deles na ilha.
A notável história dos moradores de Saint Kilda 04
Saint Kilda ainda é o terreno fértil para muitas espécies importantes de aves marinhas como atobás, pardelas e pardelões e papagaios-do-mar.Possui as maiores colônias de atobás do norte, totalizando 24% da população mundial e quase 90% da população européia de pardelas de Leach. De acordo com um relatório, cada pessoa em Saint Kilda comia 115 atobás todos os anos. Um registro de 1876 indica que os ilhéus consumiram mais de 89.600 papagaios-do-mar.
A notável história dos moradores de Saint Kilda 05
A captura dos pássaros não era fácil, mas os ilhéus tinham dominado a arte. Durante os meses de primavera e verão, os homens descalços desciam os penhascos íngremes pendurados em cordas, e recolhiam aves jovens e ovos dos ninhos.
A notável história dos moradores de Saint Kilda 06
Nada era desperdiçado. As penas eram usadas para almofadas e roupas de cama, a pele dos pardelões era usada para fazer sapatos, e o óleo do estômago dos papagaios era usado como combustível dos lampiões. Os pássaros estavam disponíveis apenas metade do ano. Durante o outono e inverno eles saíam para o Oceano Atlântico. Para evitar morrer de fome, os ilhéus construíram montes de pedra, conhecidos como cleits, onde armazenavam as carcaças dos pássaros.
A notável história dos moradores de Saint Kilda 07
A partir do meio do século XIX, os ilhéus começaram a receber turistas e eles próprios aventuraram-se ao exterior. O crescente contato com o mundo exterior fez com que os jovens tivessem contato com um modo de vida diferente, e suas próprias inadequações na ilha.
A notável história dos moradores de Saint Kilda 08
Os moradores começaram a importar alimentos, combustível e materiais de construção em uma tentativa de melhorar a vida na ilha, e gradualmente se tornaram dependentes desses suprimentos.
A notável história dos moradores de Saint Kilda 09
Durante a Primeira Guerra Mundial, a presença da Marinha Real na ilha melhorou a comunicação com o continente. Mas, pela primeira vez na história, havia entregas regulares de correspondência e comida.
A notável história dos moradores de Saint Kilda 10
Quando esses serviços foram retirados no final da guerra, o sentimento de isolamento aumentou. A escassez de alimentos tornou-se mais aguda e mais frequente. A necessidade de cuidados médicos foi gravemente sentida.
A notável história dos moradores de Saint Kilda 11
A última gota veio com a morte de uma jovem que ficou doente com apendicite em janeiro de 1930, e foi levada para o continente para tratamento. Depois desse incidente, uma decisão coletiva foi tomada para deixar a ilha para sempre. Uma petição (terceira imagem) assinada por vinte insulares foi escrita ao governo pedindo a evacuação.
A notável história dos moradores de Saint Kilda 12
Afirmaram que a população da ilha estava diminuindo e vários outros homens decidiram partir. Sem eles para cuidar das ovelhas, operar os teares manuais e cuidar das viúvas, seria impossível ficar na ilha um outro inverno", escreveram.A petição prosseguia:
A notável história dos moradores de Saint Kilda 13
- "Não pedimos que sejamos estabelecidos juntos como uma comunidade separada, mas seríamos coletivamente gratos pela ajuda e transferência para outros lugares, onde haja uma melhor oportunidade de garantir nosso sustento."
A notável história dos moradores de Saint Kilda 14
Em 29 de agosto de 1930, os restantes trinta e seis habitantes de Saint Kilda foram evacuados e reassentados no continente.Em 1986, as ilhas tornaram-se o primeiro lugar na Escócia a se tornar Patrimônio Mundial da UNESCO. É um dos 24 lugares do planeta a receber esta distinção por sua significância natural e cultural. Milhares de turistas visitam a ilha de Hirta hoje para explorar a cidade abandonada.
A notável história dos moradores de Saint Kilda 15


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08
Dez16

08 de Dezembro de 1930: Suicida-se a poetisa portuguesa Florbela Espanca, no dia em que completava 36 anos

António Garrochinho


Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa, a 8 de Dezembro de 1894, sendo baptizada, com o nome de Flor Bela Lobo, a 20 de Junho do ano seguinte, como filha de Antónia da Conceição Lobo e de pai incógnito. É em Vila Viçosa que se desenrola a sua infância. Em Outubro de 1899, Florbela começa a frequentar o ensino pré-primário, passando a assinar Flor d'Alma da Conceição Espanca (algumas vezes, opta por Flor, e outras, por Bela). Em Novembro de 1903, aos sete anos de idade, Florbela escreve a sua primeira poesia de que há conhecimento, «A Vida e a Morte», mostrando uma admirável precocidade e anunciando, desde já, a opção por temas que, mais tarde, virá a abordar de forma mais complexa. Ainda no mesmo ano, Florbela começa a escrever uma poesia sem título, o seu primeiro soneto.

Conclui a instrução primária em Junho de 1906, entrando para o actual sexto ano de escolaridade em Outubro do mesmo ano. No ano seguinte, Florbela aponta os primeiros sinais da sua doença, a neurastenia; além disso, escreve o seu primeiro conto, «Mamã!». Em 1908, Antónia Lobo, a mãe de Florbela morre vítima de neurose, após o que a família se desloca para Évora, para Florbela prosseguir os seus estudos no Liceu André Gouveia, com o chamado Curso Geral do Liceu, cuja sexta classe (próxima do 10º ano actual) completa em 1912. Entretanto, em 1911, começa a namorar com Alberto Moutinho, mas acaba por se afastar deste, em virtude de uma nova paixão por José Marques, futuro director da Torre do Tombo. Após romper com este, no ano seguinte, Florbela reata o namoro com Alberto Moutinho e, a 8 de Dezembro, uma vez emancipada, casa com ele, pelo civil, aos 19 anos.

Em 1914, apesar de algumas dificuldades económicas, o casal muda-se para o Redondo, na Serra d'Ossa, onde abre um colégio e lecciona. Numa festa do colégio, Florbela recita, pela primeira vez, versos seus em público. É no ano seguinte que Florbela inicia o seu caderno «Trocando Olhares», que completa ao longo de cerca de um ano e meio. Em 1916, a revista «Modas e Bordados» publica o soneto «Crisântemos», cheio de alterações ao original, e Florbela torna-se amiga da directora e da sub-directora da revista, Júlia Alves, com quem, aliás, inicia correspondência. Alguns meses depois, torna-se colaboradora do jornal «Notícias de Évora», e desiste de um projecto intitulado «Alma de Portugal», um livro de acentuada carga patriótica, e que conteria as partes «Na Paz» e «Na Guerra».

Em 1917, após ter regressado a Évora, Florbela completa o actual 11º ano do Curso Complementar de Letras, com catorze valores; apesar de querer seguir essa área, acaba por se inscrever, em Outubro, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, o que a obriga a mudar-se para Lisboa, onde começa a contactar com a vida boémia. Na sequência de um aborto involuntário, em 1919, Florbela tem de se mudar para Quelfes, perto de Olhão, onde apresenta os primeiros sintomas sérios de neurose. Pouco depois, o seu casamento desfaz-se e Florbela decide ir para Lisboa prosseguir o curso, separando-se do marido, e passando a conhecer a rejeição da sociedade. Em Junho de 1919, depois de alguma correspondência trocada com Raul Proença, sai a lume o «Livro de Mágoas»; posteriormente, completa o terceiro ano de Direito. No ano seguinte inicia «Claustro das Quimeras»; simultaneamente, passa a viver com António Guimarães, em Matosinhos, com quem se casa em 1921, após o primeiro divórcio.

De volta a Lisboa, em 1923, Florbela vê publicado o «Livro de Soror Saudade», mas tem de se mudar rapidamente para Gonça, perto de Guimarães, para se tratar de um novo aborto. Assim, Florbela separa-se do marido, que pede o divórcio, oficializado em 1924; isso leva a que a família de Florbela não lhe fale durante dois anos, o que a abala muito.

Em 1925, depois de se ter mudado para a casa de Mário Lage em Esmoriz, casa com ele, pelo civil e, depois, pela Igreja. Dois anos depois, enquanto Florbela traduz romances franceses para a Livraria Civilização no Porto (que publica oito trabalhos seus), e prepara «O Dominó Preto», o seu irmão falece, o que a torna uma mulher triste e desiludida e inspira «As Máscaras do Destino». Enquanto a relação com o marido se desgasta progressivamente, a neurose de Florbela agrava-se bastante; é neste período que, possivelmente, se apaixona pelo pianista Luís Maria Cabral, a quem dedica «Chopin» e «Tarde de Música»; talvez por isso, tenta suicidar-se. Em 1929, Florbela passa por Lisboa, onde lhe é recusada a participação no filme «Dança dos Paroxismos», de Jorge Brum do Canto, e segue para Évora, onde, em 1930, começa a escrever o seu «Diário do Último Ano». Passa, então a colaborar nas revistas «Portugal Feminino» e «Civilização», e trava conhecimento com Guido Battelli, que se oferece para publicar «Charneca em Flor». Já em Matosinhos, Florbela revê as provas do livro, depois da segunda tentativa de suicídio, em Outubro ou Novembro, período em que a neurose se torna insuportável e lhe é diagnosticado um edema pulmonar. A 8 de Dezembro, dia do nascimento e do primeiro casamento, Florbela suicida-se, cerca das duas horas, com dois frascos de Veronal.

wikipedia (Imagens)
revistacult.uol.com.br

File:Picture of Florbela Espanca.jpg

Ficheiro:Espanca Florbela.jpg
Florbela Espanca

VÍDEO


08
Dez16

8 de Dezembro de 1980: John Lennon, 40 anos, é assassinado à porta da sua casa, em Nova Iorque

António Garrochinho

Cantor e compositor inglês nascido a 9 de outubro de 1940, em Liverpool. 


A sua carreira a solo começou um ano antes da dissolução do grupo, em 1968, com o álbum Unfinished Music No. 1 - Two Virgins, cuja capa mostra John Lennon e Yoko Ono nus. Seguiram-se-lhe Unfinished Music No. 2 - Life With The Lions (1969) e The Wedding Album (1969). Estes três álbuns apresentavam música de cariz experimental e vanguardista, pouco acessível ao consumidor pop.

Formou a Plastic Ono Band em 1969. Para além de Lennon e Ono, o grupo foi composto por Eric Clapton, guitarra, Klaus Voorman, teclas, e Alan White, bateria. Editaram três singles: "Give Peace A Chance" (1969), um hino à paz, "Cold Turkey" (1969), uma canção rock sobre o problemático afastamento das drogas, e "Instant Karma" (1970), um protesto político, que se tornou no seu maior sucesso até então. A sua carreira não pode estar dissociada das inúmeras ações a favor da paz mundial e dos sucessivos protestos contra a guerra que levou a cabo, quer através da música, quer em iniciativas públicas na televisão ou nas ruas.

Após a dissolução dos Beatles, em 1970, saiu John Lennon - Plastic Ono Band, o álbum que constituiu um corte com o passado quer pelas letras amargas, quer pela sonoridade mais agressiva. "Mother", "Working Class Hero" e "God" estão entre os temas mais conhecidos do álbum.

Depois da edição do single "Power To The People", ainda em 1971, surgiu Imagine, com maior sucesso comercial que o seu antecessor. O tema-título ficou como o mais forte da sua carreira a solo, quer pela simplicidade melódica, quer pela intemporalidade da letra. Deste álbum fazem parte "How Do You Sleep", interpretado como um ataque a Paul McCartney, "Gimme Some Truth", uma crítica aos políticos, e "Jealous Guy", um clássico mais tarde recuperado por Bryan Ferry. Em dezembro saiu o single "Merry Christmas (War Is Over)".

Em 1972 saiu Sometime In New York City, um duplo álbum de intervenção política carregado de letras amargas e canções melódicas, como são exemplo "Luck Of The Irish" e "Woman Is The Nigger Of The World". Este álbum foi o resultado da aproximação de Lennon a radicais norte-americanos como Abbie Hoffman, Jerry Rubin e John Sinclair.

Seguiram-se Mind Games (1973), Walls And Bridges (1974), com o êxito "Whatever Gets You Through The Night" e Rock' n' Roll (1975), com uma versão de "Stand By Me" de Ben E. King.

Em 1980 foi lançado pela editora Geffen Records Double Fantasy, um álbum pop escrito, composto e cantado equilibradamente por Lennon e Ono. Dele fazem parte os temas "Just Like Starting Over" e "Woman".

A 8 de dezembro de 1980 foi assassinado à porta de sua casa em Nova Iorque, EUA, por Mark Chapman, um admirador, a quem assinara o autógrafo momentos antes.

Nos anos posteriores à sua morte foram lançados vários álbuns com material nunca antes editado, o primeiro dos quais foi Milk And Honey (1984). Outras edições: The John Lennon Collection (1982), John Lennon: Live In New York City(1986) e Imagine John Lennon: Music From The Original Motion Picture (1988), a banda sonora para um documentário sobre Lennon.

Em 1998 foi editado The John Lennon Anthology, um conjunto de quatro CDs contemplando toda a sua carreira, a solo e com a Plastic Ono Band.

Foi casado duas vezes. Do seu primeiro casamento (agosto de 1962), com Cynthia Powell, nasceu Julian Lennon. Do seu segundo casamento (março de 1969), com Yoko Ono, nasceu Sean Lennon.

Das edições mais recentes, destaque para o DVD Legend (2003), uma recolha de alguns momentos em palco de John Lennon (20 canções) e episódios particulares da sua vida com Yoko, a sua detenção por posse de marijuana, brincadeiras com o filho Sean. Este registo é um testemunho da personalidade conturbada e da vida atribulada de John Lennon, uma figura ímpar na música pop, elevada ao altar da imortalidade pela mais cruel das formas: a morte.

Fontes: Infopédia
wikipedia (imagens)


Os Beatles em 1964
VÍDEOS





08
Dez16

08 de Dezembro de 1922: Nasce o pintor Lucien Freud

António Garrochinho

Pintor alemão nascido a 8 de Dezembro de 1922, em Berlim. O seu pai, Ernst, era o filho mais novo de Sigmund Freud. No ambiente de uma família judaica não praticante, rodeado pelo conforto burguês, Freud viveu uma infância calma livre para dar azo à sua imaginação. Passou a viver em Inglaterra desde 1933, quando a família fugiu à ascensão nazi, e naturalizou-se inglês em 1939. De 1938 a 1943 frequentou a Central School of Art, o Goldsmith's College, Londres e a East Anglian School of Painting and Drawing, Dedham, dirigida por Cedric Morris.

Alistou-se na Marinha Mercante durante a Segunda Guerra Mundial, mas foi ferido em 1942, dedicando-se a partir daí exclusivamente à pintura. Passou um ano a viajar pela França (Paris) e Grécia, mas a maior parte da sua vida e da sua carreira foi passada em Paddington, Londres, área cujas características sombrias se reflectem em algumas das suas obras que representam interiores e paisagens urbanas. Durante os anos quarenta o seu interesse principal foi o desenho, especialmente a face, usando, ocasionalmente, um estilo deformado reminiscente de George Grosz. 

Terminada a guerra e com os perturbantes anos da adolescência para trás, Freud iniciou uma busca pelo retrato ilusório retratando incessantemente a sua primeira mulher Kitty. Após o divórcio, continuou a mesma procura, pintando repetidamente a sua segunda mulher, Caroline, assim como vários amigos pintores. Os resultados eram sempre desconcertantes sugerindo a crise existencial que conduziu a obra de Freud durante este período. Exemplo disso é a obra intitulada Interior, Paddington (1951), que ganhou um prémio na Inglaterra. 

Em 1956, chegou à conclusão que os seus retratos solitários necessitavam ser livres, começando, então, a explorar as técnicas expressionistas do chiaroscuro que irá iluminar as suas figuras de novas perspectivas. No entanto, a sua procura da figura livre só será plenamente conseguida na altura em que Freud começou a explorar o retrato do nu feminino, em 1966. O nu feminino permanece a forma mais poderosa e subversiva do seu trabalho e na qual Freud exerceu toda a sua criatividade. Sendo o sujeito, amigo, amante, parente ou um dos seus três filhos, Freud parece celebrar o corpo nu como um todo, coberto de vida e luz apenas descoberto na honestidade da carne feminina.

Em 1977, Freud começou a dedicar-se ao nu masculino. Apesar das figuras vestidas ainda dominarem a maior parte do seu trabalho, Freud desenvolveu grande interesse pela forma masculina realista. A obra Man with Rat(1977) iniciou uma rigorosa investigação dos melhores meios de comunicar a realidade. Em vez de pintar o homem sem idade e congelado, Freud opta por representá-lo parado num dado momento, em quieto repouso. Esta captura do homem realista sugere uma necessidade para o observador de testemunhar a pessoa trabalhadora contemporânea, moderna, no seu próprio espaço, reclinado numa cama, ou num dos muitos sofás de Freud. O melhor amigo do homem, o cão, também aparece muitas vezes representado na mesma posição, acompanhando o sujeito. Não se pode falar sobre a pintura de Freud do nu masculino sem mencionar um dos seus sujeitos preferidos, o artista de performance Leigh Bowery. Os dois conheceram-se numa galeria londrina em 1990 e pouco tempo depois começou a pintá-lo. Bowery posou para Freud dezenas de vezes durante quase quatro anos, altura em que este morreu.

Lucian Freud realizou inúmeras exposições retrospetivas da sua obra em todo o Mundo. Assim como o seu patronímico é citado em quase todos os ensaios sobre crítica cultural. 

Lucien Freud faleceu no dia 20 de Julho de 2011.



Lucian Freud. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011.


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VÍDEO








08
Dez16

JUMENTO DO DIA

António Garrochinho



   
Marco António, vice-presidente do PSD que andava desaparecido

Marco António ressuscitou do mundo dos mortos-vivos da política para anunciar ao país qual a grande preocupação do PSD para 2016. Não é a CGD, o défice, a crise financeira e muito menos as eleições autárquicas, a grande preocupação do estratega de Passos Coelho é a eutanásia. Talvez não seja má escolha, anda por aí muita gente  pedir ao PSD que recorra à eutanásia para acabar de forma pouco dolorosa com a vida partidária de Passos Coelho. Mas o líder do PSD é um sofredor e prefere levar o PSD para uma doença prolongada.

«"O que pretendemos é mobilizar a sociedade portuguesa, abrir caminho para uma consciencialização que estas matérias, este tipo de assuntos, não se tratam nos corredores do parlamento, nem em encontros, nem em acordos assinados à socapa", afirmou terça-feira à noite o vice-presidente do PSD Marco António Costa.

Falando aos jornalistas enquanto decorria o conselho nacional, o órgão máximo do partido entre congressos, Marco António Costa adiantou que a eutanásia é uma matéria que deve envolver a sociedade, sendo importante que cada um possa livremente formular o seu juízo.

"Não estamos disponíveis para promover decisões no âmbito da Assembleia da República sobre matérias como estas da eutanásia sem um amplo debate na sociedade portuguesa", insistiu.

O tema da eutanásia, que chegará à Assembleia da República no próximo ano, deve ser discutido "sem preconceito", mas com "um grande sentido de responsabilidade", já que é um tema que "socialmente fraturante e, do ponto de vista dos princípios e da ética social, "um tema muito sensível", acrescentou o vice-presidente do PSD, adiantando que o primeiro debate será feito na reunião desta noite do conselho nacional, que decorre num hotel em Lisboa.» [JN]

      
 Foi um fisco que lhes deu
   
«A justiça espanhola acusou o antigo jogador do Real Madrid Ricardo Carvalho por delitos fiscais, estando também a investigar o internacional português e atual jogador do clube madrileno Fábio Coentrão, noticiou hoje a agência espanhola EFE.

De acordo com a mesma fonte, a justiça espanhola acusou também os antigos jogadores dos 'merengues' Xabi Alonso e Ángel Di María, estando a investigar o antigo avançado do Atlético de Madrid Radamel Falcão.» [DN]
   
Parecer:

Parece que os nossos emigrantes de luxo, alguns deles promovidos recentemente a verdadeiros heróis nacionais, andam atrapalhados com o fisco espanhol.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sorria-se.»
  
 Vamos ter a A Guterres
   
«"Como sinal dessa gratidão quero aqui anunciar que irei propor ao senhor primeiro-ministro que seja atribuída a denominação de 'Autoestrada António Guterres' à A23", afirmou Vítor Pereira.» [Notícias ao Minuto]
   
Parecer:

Daqui a uns tempos vamos na A Costa até Évora ou na A Marcelo até ao Porto. Esperemos que o governo não caia no ridículo de fazer a vontade ao autarca.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a merecida gargalhada.»

 Teodora volta ao ataque
   
«A presidente do Conselho de Finanças Públicas (CFP) considerou que cumprir a meta do défice deste ano é “quase uma questão de fé”, mas admitiu que as receitas adicionais do “perdão fiscal” podem ajudar a alcançar o objetivo.

A Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) estima que o défice até setembro tenha representado 2,8% do Produto Interno Bruto (PIB), um valor que fica acima do objetivo do Governo para 2016 e que aumenta os desafios sobre a meta, exigindo um défice de 1,5% no último trimestre do ano.

À margem de um debate organizado pelas confederações de comércio luso-britânica e francesa, em Lisboa, a presidente do CFP, Teodora Cardoso, foi questionada sobre se ainda é possível alcançar a meta orçamental para este ano, de 2,5% do PIB, exigida por Bruxelas e respondeu: “É quase uma questão de fé”.» [Observador]
   
Parecer:

Esta pobre senhora não descansa.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sorria-se.»

 Uma perda irreparável...
   
«A conhecida casa noturna lisboeta Elefante Branco fechou as portas definitivamente. Os números de telefone do espaço já não estão atribuídos e, fazendo uma rápida pesquisa no motor de busca Google, lê--se nos resultados obtidos que o espaço está “encerrado permanentemente”.

A boîte situada na Rua Luciano Cordeiro era a mais emblemática do país, já que no seu interior ocorriam segredos quase de Estado. Depois de se ultrapassar o porteiro, os clientes eram conduzidos às mesas disponíveis e podiam chamar uma das muitas mulheres produzidas e vistosas que se encontravam no local. As conversas podiam depois levar a encontros nos hotéis das imediações a troco de 250 euros.

Pelo Elefante Branco passaram muitas figuras emblemáticas da sociedade portuguesa e não só. Embaixadores, governantes, árbitros de futebol, jornalistas, médicos, polícias, atores, magistrados e demais profissões encontravam--se entre os clientes. Muitos iam lá porque gostavam de comer um bife ou um caldo verde que eram servidos até altas horas, no meio de uma animação muito própria. Outros procuravam o espaço pelos pecados da carne.» [i]
   
Parecer:

Para usar a terminologia de Pinto da Costa era uma verdadeira praça da fruta lisboeta.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sorria-se.»

 Negócios pecaminosos da Santa Casa de Santana?
   
«O site da Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa (PGDL) revela que foram feitas ao total "nove buscas domiciliárias, duas buscas a local de trabalho de advogado e quatro buscas não domiciliárias".

Segundo o Expresso apurou, as buscas estão relacionadas com suspeitas de favorecimento em ajustes diretos.

Ainda segundo a PGDL, no inquérito, investigam-se suspeitas de aquisição de bens e serviços pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, "com recurso a contratação por ajuste direto a empresas com relações a trabalhadores e órgãos da referida instituição, beneficiando indevidamente aquelas e estes, em detrimento das regras que presidem ao regular funcionamento do mercado".

Em causa estão factos suscetíveis de integrar a prática de crime de participação económica em negócio.

O inquérito não tem arguidos constituídos e encontra-se em segredo de justiça.

O "Diário de Notícias" garante que os inspetores estiveram ainda na casa de Helena Lopes da Costa, administradora da instituição e ex-vereadora na Câmara Municipal de Lisboa.» [Expresso]
   
Parecer:

Espere-se para ver porque isto da justiça portuguesa há coisas bem mais tornas do que as linhas com que se escreve a justiça.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aguarde-se.»

jumento.blogspot.pt
08
Dez16

POEMA DA PERGUNTAÇÃO

António Garrochinho



POEMA DA PERGUNTAÇÃO

Não somos todos, os envergonhados, os verdadeiros culpados?
Não somos nós, os indignados, os verdadeiros carrascos?
O que antes e agora julgamos, não foi apenas uma pequena evidência? O que nós prendemos não foi a mão obscura de uma consciência? E mesmo o que matamos, não foi tão-somente uma ínfima parte da verdade?
E procuramos grades? E procuramos muros altos e seguros? E procuramos homens obtusos para que os possamos vigiar? E procuramos armas para os tornarmos intransponíveis? De nada nos valerá, de nada nos adiantará. Não há ferro, nem betão, nem servilismo nenhum que nos possam salvar da luz da verdade.
Uma mentira não tem sempre sede de liberdade? Uma mentira não é a cela da verdade? E quantas vezes a pretendemos prender? E com quantas grades a desejamos ocultar? E com quantas mãos a ameaçamos estrangular?
Não vale a pena. Desistamos. Em nenhum maciço de betão podemos esconder o que a nossa consciência sabe. Em nenhuma anedota, em nenhum boato, em nenhuma suposição, em nenhuma imparcialidade e em nenhum juiz e em nenhum desmentido nos jornais e em nenhum país. Nem de nós, nem dos outros.


Eduardo White

cris-sheandbobbymcgee.blogspot.pt
08
Dez16

FRANÇA UMA ÉPOCA FESTIVA SOB ESTADO DE EMERGÊNCIA

António Garrochinho
A luz volta a inundar as noites da cidade de Lyon, no sudeste de França um ano após a chamada “Festa das luzes” ter sido anulada por razões de segurança depois dos atentados de Paris.
O evento anual teve, no entanto, que ser limitado a uma zona de segurança restrita, quando a França se mantém sob estado de emergência.
Para o responsável do evento, :
“O espaço público tem que continuar a ser um espaço de liberdade tanto para os artistas que apresentam as suas obras como para o público que vai poder passear e contemplar a magia, a poesia e a emoção suscitadas por estas obras”.
Nos próximos três dias cerca de 70 instalações luminosas vão voltar a cobrir algumas das fachadas mais marcantes da cidade.
Um momento de ilusão, entre um pico de poluição agudo que afeta a cidade e os receios das forças de segurança.
Um evento, à semelhança de outras festividades natalícias em todo o país, rodeado de fortes medidas de segurança.

VÍDEO



pt.euronews.com
08
Dez16

A quadrilha dos criados gatunos com alcunhas de mulher

António Garrochinho
Retrato-robô de José Lopes, mais conhecido por A Perpétua Cheirosa, uma quadrilha de criados ladrões

Eram criados de servir que gostavam uns dos outros e formaram uma quadrilha para roubar os patrões. Eram rapazes na casa dos vinte anos de idade, mas usavam alcunhas femininas. A Perpétua Cheirosa liderava-os. Esta é a quarta história de uma minissérie do “Crime à Segunda”, até ao regresso de mais uma temporada longa de criminosas portuguesas

Perante a gritaria, os desmaios e os choros dos restantes oito membros da quadrilha, José Pereira Lopes viu-se obrigado a confessar: fora ele quem roubara o subdelegado de um dos distritos criminais de Lisboa. Mas todos eram cúmplices do arrojado esquema. Se havia dúvidas, o agente Francisco Carapeto acabava de as tirar e os jornais diriam que “a trupe de A Perpétua Cheirosa & Companhia", identificada nos antetítulos por "Os Criados Gatunos", ia atuar para a cadeia do Limoeiro.
Augusto Ribeiro Vaz procurou o criado que contratara há uns dias, enquanto a mãe recebia as visitas na casa de ambos, um rés-do-chão na Avenida da República num edifício que será demolido em 1949. Eram dez horas da noite do sábado 23 de janeiro de 1915 quando o subdelegado encontrou, em vez de José, o cofre com menos dinheiro e o lugar do guarda-joias vazio. Neste caso não havia coincidências e a polícia, chamada a intervir, começou a caça ao homem.
A capital estava, judicialmente, dividida em distritos criminais, mas a imprensa nunca mencionará em qual a vítima do roubo exercia o cargo de subdelegado do procurador. Aliás, só há uma referência à função, de resto tratavam-no por “sr. dr.”. Apesar da sua formação em direito e de estar ligado à aplicação da justiça, Augusto Vaz seguia a norma, facilmente acreditava em quem admitia ao serviço doméstico e logo “depositou nele a maior confiança”. Do suspeito, portanto, sabia apenas o que ele disse, a si e à sua mãe: chamava-se José e trabalhara quatro anos no Porto em casa de um titular.
A nobiliarquia perdera importância com a implantação da República, mas cinco anos depois ainda servia de credencial, sobretudo para quem preferia ser governado por um rei. Para António Vaz, mais monárquico do que republicano e que andará pela casa dos vinte de idade tal como o criado desaparecido, trabalhar com alguém da nobreza era uma ótima referência, além disso terá engraçado com “o rapaz modesto, trabalhador e de boa aparência”, como o descreverá à polícia.
José Pereira Lopes, que, por vezes, trocava o apelido do meio por Pires, apresentava-se de aparência cuidada, bem vestido e cheiroso. E até poderá ter trabalhado, em tempos, na residência de um titular. Porém, ao oferecer os seus préstimos a Augusto Vaz, esqueceu-se de dizer que, pouco antes, estivera uns dias hospedado numa casa na rua da Cruz dos Poiais, próximo da calçada do Combro, de onde saíra, sem pedir à proprietária, com um cordão e três anéis de ouro, uma medalha de cinco mil réis e várias peças de roupa.
Desta vez, de acordo as primeiras notícias, datadas de 26 de janeiro, levara “uma importante soma em dinheiro e objetos de ouro e brilhantes de grande valor, e alguma roupa”. Com o diário da noite A Capital, ficava-se a saber que do n.º 57 da Avenida da República tinham desaparecido 200 libras, ouro, brilhantes e roupa, tudo num valor superior a dois mil escudos, dois contos na linguagem oral, o que significava mais de dois milhões na antiga moeda real que o primeiro governo provisório da República substituiu pelo escudo. em 1911. Durante alguns anos, falar-se-á nas duas moedas indiscriminadamente.
Os mais de dois mil escudos referidos com frequência serão dois milhões e quinhentos mil réis, como a dada altura se lerá nas notícias. O Carnaval estava à porta, José Lopes saiu de bolsos cheios da Avenida da República direto para uma ceia, seguida de baile, “numa certa casa” no Dafundo, onde se divertirá com alguns dos membros do grupo. Pelo caminho, em Alcântara, arrombou o guarda-joias e atirou-o para umas medas de pinho, onde será encontrado na manhã seguinte e entregue à polícia do Calvário.

JOSÉ PEREIRA LOPES, A PERPÉTUA CHEIROSA, PRESO EM SETÚBAL UM DIA ANTES DA IMPLANTAÇÃO DA DITADURA

Muito embora o criado gatuno fosse pouco ou nada conhecido, na tarde seguinte ao roubo José Pereira Lopes estava a ser preso em Setúbal. A polícia encontrou-o numa hospedaria da praça do Bocage, depois de ter andado a fazer algumas perguntas e ter batido à porta certa. “O Lopes, que é indivíduo de péssimos costumes, mantinha ali relações com um outro de não menos equívoca moralidade, chamado José Luís Calado, que foi quem o indicou”, esclarecia O Século, três dias depois, dando conta de que a caixa de folha tinha sido recuperada, em Alcântara, esvaziada das joias.
As investigações da polícia deveram ter começado logo na noite da queixa dos Ribeiro Vaz, mas os jornalistas andavam muito ocupados com os acontecimentos nacionais. Só assim se compreende que um caso tão badalado seja publicitado dois dias depois. Na manhã de 24, o Presidente da República chamara os partidos a Belém, todavia a crise política impôs-se e, pelas 16h, o governo liderado há pouco mais de um mês por Vítor Hugo de Azevedo Coutinho, do partido Democrático, anunciaria a demissão. Durante a madrugada, a Guarda Nacional Republicana dispersará vários grupos considerados suspeitos, mas quando o sol nasceu os rumores eram de que se frustrara um golpe de Estado, encabeçado por partidários do Governo, e se efetuara uma série de prisões de militares e de civis.
Joaquim Pimenta de Castro, general, chefe de um governo ditatorial entre fevereiro e maio de 1915
Joaquim Pimenta de Castro, general, chefe de um governo ditatorial entre fevereiro e maio de 1915
WIKIPÉDIA
Manuel de Arriaga assinou, nesse 25 de janeiro, a nomeação de Pimenta de Castro como presidente do ministério, ou seja, chefe de Governo, assim como ministro de todas as pastas. Quando o jornalista de A Capital que estivera horas à espera no Ministério da Guerra para ouvir o novo primeiro-ministro lhe perguntou qual iria ser a orientação do novo governo, o general respondeu: “O programa é simples: é pegar na lei e andar para a diante. É preciso acalmar os espíritos. Para isso é necessário haver ordem e haver liberdade. Os primeiros atos de governo foram orientados por essa necessidade: levantaram-se as suspensões de jornais, mandaram-se tirar os elos da Luta, mandaram-se soltar os oficiais presos… Aqui tem tudo o que posso por enquanto declarar a um jornalista”. Embora prometesse o contrário, o militar, ditador e autoritário, mandou fechar o Parlamento, cuja maioria era democrática, e iniciou o período que o próprio designará por “afrontosa ditadura”.

A PRISÃO DE A ROSA DA RIBEIRA TERÁ LEVADO À DESCOBERTA DOS PRIMEIROS PASSOS DO ROUBO

Voltando ao domingo, dia 24, antes da prisão do gatuno conhecido pela alcunha de “A Perpétua Cheirosa”, o agente Carapeto, com informações cuja origem se desconhece, terá feito uma busca no primeiro andar do n.º 81 da calçada do Combro — hoje sede de uma empresa que se dedica ao comércio a retalho de relógios e de artigos de ourivesaria e joalharia. Ali, não encontrou o produto do roubo, mas deteve o morador Roberto Augusto Rosa, de 27 anos, o qual optaria por denunciar os passos dados pelo cúmplice José Lopes, que talvez já tivesse também mencionado o seu nome.
Conhecido por A Rosa da Ribeira, provavelmente desde que vendera peixe no mercado desse nome, Roberto Augusto era conhecido da polícia por ter possuído uma casa no rua do Norte, no Bairro Alto, onde já se albergara a Perpétua Cheirosa e vários outros indivíduos suspeitos, na sua maioria criados de servir que terão decidido agir em grupo. Com exceção de casos pontuais, conseguiram ir escapando às autoridades até ao roubo a Augusto Vaz, homem que se relacionará bem com a imprensa e será diretor da revista do Automóvel Clube de Portugal.
Entretanto, os jornais começaram a dizer que José Lopes tinha confessado. O correspondente de O Século em Setúbal enviara um telegrama no dia 24, que o diário publicou a 26: “O Gatuno apoderou-se das chaves do cofre do patrão para cometer o roubo, confessando o facto e esclarecendo o sítio onde enterrou o dinheiro”. Mas Perpétua Cheirosa ainda não contara tudo, recusava-se a dizer o paradeiro exato do produto do roubo. E Rosa da Ribeira também não adiantava mais do que já dissera. Carapeto resolve então juntar os detidos e acareá-los.
Augusto Ribeiro Vaz, em 1929, num jantar de homenagem ao coronel Cristóvão Aires de Magalhães, a quem o presidente da República recusaria condecorar
Augusto Ribeiro Vaz, em 1929, num jantar de homenagem ao coronel Cristóvão Aires de Magalhães, a quem o presidente da República recusaria condecorar
ARQUIVO NACIONAL TORRE DO TOMBO
Depois de ouvir os dois cúmplices no Governo Civil, o investigador da judiciária ficou a saber quem mais ir buscar para interrogatório. Foi direto à calçada de São João de Nepomuceno, também não muito longe da calçada do Combro, e surpreendeu quase todos os restantes membros da quadrilha. No 3º andar do n.º 32, o agente da Judiciária prendeu Eduardo Augusto Moura, a Zázá, Raul José Arez ou Brás, a Bibi, Manuel Simões Porto, a Petiza do Bairro Alto, e Januário Rosa, a Rita ou a Lili. E apreendeu duas peças de fazenda, compradas com o dinheiro do roubo e destinadas a belos fatos, e ainda “fotografias pornográficas”, como refere o Diário de Notícias.
De início, a polícia pensou que Roberto Augusto era o chefe da quadrilha. Este já uma vez fora apanhado, em 1911, num roubo de mobílias em Cascais com o seu companheiro à data - Florindo Garcia, o Catita. Mas quando verificou os cadastros dos indivíduos que mantinha presos, incomunicáveis, em várias esquadras, percebeu que se tratava de uma associação de malfeitores de larga folha corrida e que era uma daquelas quadrilhas em que todos os membros possuíam alcunhas femininas.
Esta quadrilha, concluiu o agente da Judiciária, era a da Perpétua Cheirosa, que, saberá mais tarde, já planeara fazer o próximo roubo na casa da família judia Zagury, onde servia o cúmplice José António Rosa, "por sinal um excelente criado” — por esta altura, o líder do gangue concorrente mais conhecido intitulava-se Rainha dos Pirilampos. Na verdade, chamava-se Carlos Rego e tinha 17 anos, era o chefe de Ernesto Jorge Castanheira, de 18, a Marquesa do Faial; de António Cândido Chaves, de 18, a Violeta; e de Francisco Nunes, de 17 anos, a quem tratavam por a Boneca.
No final de janeiro já eram seis os criados gatunos presos, mas Carapeto continuava sem saber onde Lopes enterrara uma parte do dinheiro e as joias de Augusto Vaz. Entretanto, entre as negações de autoria do crime, as denúncias iam surgindo e a poliícia fez uma busca no beco dos Birbantes, deitando a mão a José Luís de Matos, A Morna, José António Rosa, conhecido por Furlana, talvez por executar bem a dança italiana originária de Friul, e Arnaldo dos Santos, a Peixeira. A quadrilha, como refere O Século, é formada por “rapazes ainda novos, mas de péssimos costumes”.

ENTRA EM CENA GERTRUDES, A SALOIA, QUE É RECETADORA E ÚNICA MULHER ENVOLVIDA

Já se estava em fevereiro e ainda continuava por descobrir a cova das joias. Carapeto decide replicar o método anterior - juntou todos para uma acareação no governo civil. “Estabeleceram entre si uma tal discussão e acusaram-se de tais proezas que alguns deles foram acometidos de delíquios e choraram copiosamente”, contou o Diário de Notícias. Afinal, Perpétua Cheirosa tinha dividido uma parte do dinheiro com os seus companheiros de baile na noite do roubo: Eduardo Moura e Januário Rosa, cuja irmã há de entregar à polícia, por sua iniciativa, a quantia que aquele levara para casa.
“Nos bailes públicos é que o uranista mais se denuncia. Ama a dança extraordinariamente e, se a ocasião é propícia para o disfarce, como pela época de Carnaval, aparece vestido de mulher. Espartilha-se, cria formas provocadoras, à custa de balões de borracha, pinta-se e adorna-se com brincos e sapatos femininos.” A descrição é do prémio Nobel Egas Moniz, em “A Vida Sexual”, edição revista e aumentada de 1924, na qual explica esta “doença”, à luz do pensamento da época, com o nome “uranismo”, “introduzido na ciência por Ulrichs". Tratava-se de uma derivação “de Uranos, personagem que, segundo uma passagem do banquete de Platão, sofrera de perversão homossexual e tanto que teve uma filha, Afrodite, que, no dizer da lenda, nascera sem mãe”.
Gertrudes, a recetadora, conhecida pela alcunha de A Saloia, também teve honras de notícias e fotos nos jornais (recorte de O Século)
Gertrudes, a recetadora, conhecida pela alcunha de A Saloia, também teve honras de notícias e fotos nos jornais (recorte de O Século)
DR
A José Luís de Matos, a Morna, coubera o papel de intermediário na venda do roubo a Gertrudes Maria, de alcunha A Saloia, com “estabelecimento” no Largo do Regedor. Esta era conhecida por comprar objetos roubados por tuta-e-meia. Há anos que o fazia sem deixar provas que a condenassem, embora tenha “granjeado uma fortuna, dizendo ela à boca cheia que não rouba e que é uma injustiça pedirem-lhe contas dos seus ‘negócios’”, afirmava O Século. Desta vez, a polícia encontrou em sua casa 600 mil réis e, passando um interrogatório a ouvir negas, arrancou-lhe nos seguintes o paradeiro de todas as joias que pertenciam a Augusto Vaz.
No dia 7 de fevereiro de 1915 foram todos pronunciados como fazendo parte de uma associação de malfeitores e presos sem fiança. Só a Gertrudes Rosa ou Roque, o juiz dará a oportunidade de pagar três mil escudos. Todavia, ela preferirá a cadeia. Os criados gatunos, como também ficaram conhecidos, desenvolviam um sistema de certa forma original. Aqueles que estavam empregados roubavam para sustentar os desempregados, conforme confessaram estes "ladrões disfarçados em homens de bem”, que, quando foram fotografados, se riram e pediram que as suas caras ficassem perfeitas e simpáticas.
Terão sido condenados por crimes de associação de malfeitores, furtos, vícios contra a natureza, vadiagem e encobrimento de furto”. O médico legista e investigador Asdrúbal de Aguiar, no seu livro “Homossexualidade Masculina Através dos Tempos”, publicado no início da década de 1930, onde se refere a “dois grupos de sodomitas que já no século XX assentaram arraiais em Lisboa, não adianta qual foi a condenação, mas acrescenta que os membros da quadrilha de “A Rainha dos Pirilampos” foram igualmente presos, mais tarde, nesse ano de 1915, e acusados de sodomia, furto e vadiagem.
As associações dos Criados de Mesa e de Classe dos Empregados de Hotéis e Restaurantes — considerados trabalhadores domésticos pelo Código Civil desde o século XIX — fizeram um “veemente protesto” contra a quadrilha de gatunos que “exercia o mister de criados de mesa” com “arte para se meter portas adentro das casas particulares”. E, por causa da “trupe da Perpétua Cheirosa & C”, criaram uma “bolsa de trabalho”, uma “agência” para os associados e para quem quisesse ter, “por uma pequena percentagem”, a certeza de que empregava “gente de bem”.


expresso.sapo.pt
08
Dez16

O homem que foi freira ou a pseudo-hermafrodita

António Garrochinho





Algumas freiras queixaram-se à madre superiora do comportamento esquisito de uma das irmãs. Parece que, por debaixo do hábito, havia algo de incomum que perturbava certas residentes do convento de Santa Cruz de Vila Viçosa... Soror Claudiana da Natividade será julgada, sumariamente, e condenada à expulsão "por ser homem, e não mulher". Teve sorte: na altura, casos destes levavam a pena de morte ou ao degredo para possessões africanas mais agrestes, não antes de algumas sessões de tortura.
Os rumores e alguns alvitres diretos eram claros: a dita soror possuía "natureza de homem". Por isso, frei Jorge de Sande, eleito provincial da Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho no mês de maio desse ano de 1622, não pôde mantê-lo em segredo nem tão pouco adiar mais a resolução do problema: no dia 16 de dezembro, estava a sentenciar a soror considerada pseudo-hermafrodita séculos depois, numa breve análise datada dos anos de 1920, quando a medicina portuguesa começava a dar mais atenção à “ciência sexual”.
O procedimento de uma irmã “contrastava com o das outras religiosas de modo que o sossego da clausura era escandalosamente perturbado. Seria mais próprio de mancebo afoito em aventuras amorosas que de virgem dada à contemplação mística o comportamento da tal freira”, refere o médico legista Asdrúbal António de Aguiar, no seu texto “Pseudo-hermafroditismo feminino (Caso português do século XVII), publicado em 1928 na revista “Archivo de Medicina Legal”.
Claudiana, cujo nome de batismo não consta na sentença, tomou o hábito, fez-se noviça e professou sem que até esse ano em que já estaria na idade dos vinte tenha alguma vez levantado dúvidas em quem a rodeava ou então teve grande arte em manter o seu segredo e em fazer com que os eventuais conhecedores mantivessem a discrição. Ou não queria ser homem, como deu a entender dizendo-se envergonhada com a sua anatomia, pedindo “remédio para a alma”. Ou…


O Convento de Santa Cruz de Vila Viçosa está localizado na atualmente chamada Rua Florbela Espanca. É a casa da Sociedade Artística Calipolense e a sua igreja foi transformada em museu de arte sacra
O Convento de Santa Cruz de Vila Viçosa está localizado na atualmente chamada Rua Florbela Espanca. É a casa da Sociedade Artística Calipolense e a sua igreja foi transformada em museu de arte sacra

“ATALHAR OS PERIGOS QUE SE PODIAM TEMER”

A dado momento, a situação tornou-se mais delicada e o provincial decidiu que “se devia, com diligência, atalhar os perigos que se podiam temer”. Asdrúbal de Aguiar, talvez o professor de medicina legal que mais contribuiu para o desenvolvimento da chamada “ciência sexual”, era de opinião de que a madre superiora se atrapalhou com o “extraordinário caso”, ficando sem saber como resolvê-lo. É que Claudiana fora “algumas vezes apalpada e vista por várias pessoas que lhe acharam natureza de homem” - e por vezes o dera ela a entender, ainda que de outras “se retratava e encobria”.
Perante a quebra do silêncio, a prioresa do convento de Santa Cruz levou o assunto ao responsável pelos agostinhos, na certa depois de se terem seguido as regras da Ordem. As religiosas eram incentivadas a denunciar irmãs prevaricadoras se estas persistissem no erro. Por isso, o assunto cedo terá chegado à madre superiora, uma vez que estava estabelecido que a responsável maior pudesse atuar “secretamente”, de modo a evitar que o assunto chegasse ao conhecimento das outras.
Claudiana, porém, não poderia desmentir uma condição física. Portanto, como manda a regra de Santo Agostinho para as mulheres, terá sido exposta perante as residentes, com o intuito de que, “diante de todas, pudesse não por uma testemunha ser acusada, mas por duas ou três convencida”. Se de uma outra prevaricação se tratasse, a madre superiora aplicaria um corretivo e ela só seria expulsa se se recusasse a cumpri-lo, mas neste caso a questão a resolver não se resolveria. Só uma enorme cumplicidade poderia manter um homem num lugar reservado ao sexo feminino.


Nesta planta, que foi publicada no Diário da República, está marcado a cinzento escuro a área ocupada pelo imóvel classificado (convento e igreja), e a cinzento claro o limite da zona de proteção
Nesta planta, que foi publicada no Diário da República, está marcado a cinzento escuro a área ocupada pelo imóvel classificado (convento e igreja), e a cinzento claro o limite da zona de proteção
DR

Nunca nada semelhante se passara no Convento de Santa Cruz de Vila Viçosa, à data com quase cem anos de existência. É verdade que esta casa religiosa para agostinhas surgiu devido a uma desavença - segundo se conta, num diferendo entre o duque dom Jaime e a fundadora Margarida de Jesus, filha de nobres servidores da Casa de Bragança - e era um Estado dentro do Estado que tinha a sua sede na vila alentejana. Mas não se conhecia maior perturbação desde esse tempo em que a madre superiora recusara as ofertas luxuosas do duque, o quarto a ostentar o título da mais importante e rica família do reino.
A soror Margarida “sempre quis que aquela casa cheirasse a pobreza”, e dom Jaime, que uma dezena de anos antes assassinara a mulher por desconfiança de adultério, pretendia erguer um convento vizinho ao seu palácio para abrigar mulheres da alta nobreza da região. A gota de água, todavia, foi a vontade do duque em que todas as duquesas “tivessem passadiço para o convento para entrarem nele todas as vezes que quisessem”, contou a prioresa Mariana Micaella em 1754.
Margarida de Jesus deixou o Convento das Chagas e foi para um pouco mais longe ocupar, com a sua sobrinha e sucessora Leonor, umas casas do padre Mendo Rodrigues, na Corredoura, e, em 1530, ter pedido esmolas fez inaugurar o Convento de Santa Cruz de Vila Viçosa. No início, contaria com 12 freiras, mas, no século XVIII, o edifício classificado em 2012 como monumento de interesse público chegou a albergar perto de 100 mulheres.
No final do século XIX, contou o padre Joaquim José da Rocha Espanca, tio da poetisa Florbela Espanca, num dos 36 volumes das suas “Memórias de Vila Viçosa” que o convento das agostinhas sobreviveu à extinção das ordens religiosas ordenadas em 1834 pelo rei Pedro IV, até à morte da sua última ocupante como se estabelecera. E foi por altura da morte da superiora, em 1879, que se verificou o terceiro contratempo publicitado: fez-se regressar “à pressão” uma agostinha de 78 anos, que há 48 abandonara o convento por questões de saúde, para tentar assegurar a continuidade. O episódio rocambolesco fez com que o convento, onde se encontra instalada a Sociedade Artística Calipolense (a igreja é agora o Museu de Arte Sacra), se mantivesse na Ordem mais quatro anos.


A igreja e o convento de Santa Cruz de Vila Viçosa, conjunto classificado “monumento de interesse público” em 2012
A igreja e o convento de Santa Cruz de Vila Viçosa, conjunto classificado “monumento de interesse público” em 2012
LUÍS BARRA

“NÃO TINHA VASO NATURAL COMO AS MAIS MULHERES”

Digno da personagem Rocambole, do escritor Jonson du Terrail, foi também a descoberta do segredo de Claudiana. Quando o caso chegou a frei Jorge de Sande, que usava o hábito dos Agostinhos há 40 anos e fora eleito provincial há poucos meses, este, “para acudir aos rumores e outros avisos”, resolveu mandar fazer “um sumário de testemunhas”. Ou seja, foi instruído um processo durante o qual Claudiana da Natividade se sujeitou a ser examinada por parteiras e terá confessado a sua condição, dizendo que “se meteu religiosa por saber de si, que não tinha vaso natural como as mais mulheres para poder casar”.
Ficar “encalhada” ou “para tia” representou ao longo de séculos um problema para as mulheres. A sociedade condenava-as à vergonha, já que lhes limitava o futuro ao casamento, com raríssimas exceções, daí que, na maioria das vezes, o recolhimento num mosteiro, fazendo ou não votos religiosos, significasse uma vida melhor, mais livre, até. Acontecia a muitas, no entanto, serem obrigadas a entrar em clausura por os pais lhe "acharem algum defeito", ou para agradar ao Deus de que eram devotos.
Maria de Jesus, a quarta religiosa a fazer profissão no mesmo convento de Claudiana, tinha cinco anos quando caiu na roda onde um oleiro fazia púcaros. Foi dali tirada quase morta, “pelo que logo determinaram de a entregar ao serviço de Deus em algum mosteiro, se tivesse saúde”, como se lê no livro de 1626 “Jardim de Portugal”, em que se dá notícia de algumas “santas e de outras mulheres ilustres em virtude, as quais nasceram, ou viveram, ou estão sepultadas neste reino, e suas conquistas”. Outro caso elucidativo é o de Adeodata de São Nicolau, que acabou por ali ser recolhida depois de bater à porta para pedir esmola, integrada num grupo de crianças pobres. Começou por ser educada para ter um ofício, passou a tecedeira das teias que as freiras fiavam para o serviço da igreja e acabou por professar.
Tal como as suas companheiras, Claudiana sentia-se mulher. Contudo, sabia que não o era, pelo menos no modo considerado normal. Segundo a confissão constante nos autos, ela tinha “vergonha do pejo natural” e por essa razão se escondia por baixo do hábito religioso, um largo vestido negro, ajustado por um cinto. Terá dito ainda, em seu prejuízo, ter consciência de que “as ações assim naturais, como deleitosas seminis efusivas, as fazia pela natureza de homem, que algumas vezes tinha recolhida e outras se lhe saía para fora, quando se lhe alterava”.


Imagem parcial da sentença de expulsão de Claudiana guardada na Biblioteca Nacional
Imagem parcial da sentença de expulsão de Claudiana guardada na Biblioteca Nacional
DR

“CONHECIA DE SI NÃO SER MULHER, SENÃO HOMEM”

Tudo este desenvolvimento do corpo pode ter sido uma surpresa para a própria Claudiana. Atualmente, sabe-se que na puberdade o nível das hormonas sobe repentinamente. Portanto, uma criança pode crescer como menina e, na adolescência, ser surpreendida com o aparecimento de testículos, que afinal se encontravam escondidos, e com a transformação do clitóris num pequeno pénis. As parteiras chamadas a examiná-la, contudo, concluíram não ter ela, “de modo algum, natureza de mulher, nem vaso seminis receptitio, antes, em lugar do dito vaso, apontar natureza de homem”. E, conforme referido na sentença, ao ver o seu segredo descoberto, Claudiana da Natividade declarou que “conhecia de si não ser mulher, senão homem”, e pedia que “se lhe desse remédio conveniente à sua alma e à sua honra”.
Fala-se em segredo descoberto. Todavia, seria quase impossível que desde que Claudiana entrou no convento nenhuma das irmãs se apercebesse do problema. As regras da Ordem impunham o banho uma vez por mês e as religiosas só deviam ir aos balneários, ou a qualquer outro lugar, acompanhadas de pelo menos duas irmãs, não com aquelas que entendesse mas sim com as que a superiora ordenasse. Além disso, durante a audição de testemunhas, algumas agostinhas realçaram o “aborrecimento que a dita Soror Claudiana tinha aos exercícios mulheris e o afeto com que procurava e exercitava as ações de homem”.
Se no início do século XX estes casos são batizados de “anormalidade descomunal” - e ainda agora o ser hermafrodita, rebatizado de intersexual, tem dificuldade em ser entendido pela sociedade -, calcule-se a dificuldade de compreensão destes fenómenos no século XVII.
“Os mais ilustres juriconsultos, os mais conspícuos físicos, os mais abalizados doutores da igreja, os mais graves e virtuosos cronistas encanecidos nas leituras dos velhos códices e incunábulos, os mais doutos e letrados mestres de dezenas de universidades dedicavam horas e horas a decidir essas numerosas questões. E dos seus estudos, de que, diga-se em boa e sã verdade, nada resultava de definitivo, brotavam novas dúvidas, nasciam novos embargos e enredava-se mais o assunto”, explicava Asdrúbal de Aguiar na sua análise.
“Assim - prosseguia o médico, nessa altura com 45 anos de idade —, vinha um sábio anatómico (no caso Gaspar Bauhino) e declarava-os ‘uma injúria da natureza’ e pensando bem acabava por não acreditar na sua existência; vinha outro mestre em questões sacras e marcava-os como produto evidente da cólera divina; vinha outro, conceituado legalista e físico de nomeada, e dava-os como devendo a sua origem aos súcubos e íncubos”, isto é, aos demónios que provocavam maus sonhos e pesadelos. Havia ainda altas figuras da igreja a atribuir estes nascimentos “a certos factos astrológicos indo ulir com o sol, com a lua, com os signos zodiacais, com os planetas, e por fim ficava-se precisamente na mesma”.
Por outro lado, sempre que se debatia a capacidade dos hermafroditas para o casamento, para se dedicarem a estudos liberais, exercer medicina ou advocacia, herdar feudos, serem professores ou reitores de universidades, a resposta “era, por via de regra, negativa”, como diz Asdrúbal de Aguiar, adiantando que os “sábios” teólogos também respondiam “não” quanto ao crédito a dar a “testemunhos destes seres em juízo, à dedicação à religião, ao tomar ordena, à entrada para conventos”.

UM CASO INÉDITO PARA INVESTIGADORES ESTRANGEIROS

O caso de Claudiana da Natividade é tão inédito pela data e pela sentença que foi escolhido, através da abordagem do investigador Asdrúbal de Aguiar, pelos autores de “Sex, Identity and Hermaphrodites in Iberia, 1500-1800” para iniciar este estudo mais focado em Espanha do que em Portugal, cujo objetivo é o “aprofundamento das teorias” sobre hermafroditismo e mudanças de sexo durante os três séculos em causa.
Francisco Vázquez Garcia e Richard Cleminson, na obra publicada em 2013, destacam o facto de o médico afirmar que “não abundam em Portugal alusões a antigos casos de hermafroditismo”, todavia, também fazem sobressair alguns outros que estiveram nas mãos do Santo Ofício e foram julgados com a facilidade de quem podia determinar à sua maneira a identidade sexual das vítimas e acabaram, inevitavelmente, condenados à morte ou, pelo menos, a um longo período de tortura.
Se Claudiana não tivesse confessado a “sua culpa”, dizendo-se vítima e não culpada, o provincial teria de remeter o processo para a Inquisição de Évora. E se este tribunal religioso, de existência inqualificável, tivesse tomado conta do caso, a sentença seria outra: a fogueira ou o degredo em São Tomé ou Angola, onde a sobrevivência se tornava quase impossível para europeus habituados a climas pouco agrestes. O Santo Ofício teria gostado. Três anos antes, em 1619, o rei de Espanha visitara o seu “segundo reino” e, na cidade de Évora, foi preparada uma grande receção. "Onze bejenses, dos quais oito mulheres, em doze vítimas constituíram a carne que alimentou o espectáculo oferecido pela inquisição de Évora a Filipe III e à corte que o acompanhava", lembra Borges Coelho em “Inquisição de Évora”.


Claudiana, apesar da sentença de expulsão, provavelmente nunca chegou a sair do convento...
Claudiana, apesar da sentença de expulsão, provavelmente nunca chegou a sair do convento...
LUÍS BARRA

Seria Claudiana familiar de alguma das freiras e por isso se gerou um silêncio solidário além do imposto pelas regras da Ordem dos Agostinhos? Seria de famílias importantes? Uma protegida de alguém influente ou, simplesmente, uma pessoa enjeitada a quem a madre superiora resolveu dar abrigo? São perguntas às quais não se encontrou resposta, mas uma coisa é certa: alguma proteção teria, já que passados 15 anos foi apresentada uma apelação ao Papa e a soror condenada à expulsão foi reintegrada.
“Juízes delegados do Papa tiveram de pronunciar-se sobre o caso. E, ou que os doutíssimos teólogos nas compulsas feitas no direito canónico achassem desculpa para a freira ou que menos ríspidos ou mais tolerantes não encontrassem verdadeira culpa ou ainda que supusessem estarem senão extintas pelo menos amortecidas as naturais manifestações daquela natureza descomunal, pois o seu juízo foi solicitado passados 15 anos da expulsão da ordem, tiveram como melhor resolução mandarem recolher outra vez a religiosa na clausura revogando a sentença do provincial, o que logo foi feito”, explicou Asdrúbal de Aguiar.
Como refere o professor de Medicina Legal, “de bom aviso parece ter sido a resolução, pois não consta que de então por diante prioresa ou superior da ordem, do bispo ou dum inquisidor tivessem que haver-se com más ações da madre, a qual se dedicou de alma e coração às práticas místicas em que santamente terminou a vida”. Frei Jorge Sande optara por não a entregar à Inquisição e, muito embora a tivesse condenado a despir de imediato o hábito da ordem e a abandonar em duas horas a casa que fora sua, perdoara-lhe outras penas em “respeito à sua simplicidade”.
Claudiana, provavelmente, nunca chegou a sair do convento. Vila Viçosa teria perto de duas centenas de habitantes, era uma terra importante, dada a presença da Casa de Bragança, especialmente nesta época em que a soberania era exercida pelos reis de Espanha. A história terá corrido de boca e boca, mas assim como surgiu desapareceu, não se sabendo sequer a data da morte do homem que foi freira.


expresso.sapo.pt
08
Dez16

O manto de invisibilidade que cobre o racismo

António Garrochinho




«Qual é a dimensão do problema da discriminação racial em Portugal? Manifesta-se em todas as áreas e em todos os sectores? Ou é um fenómeno excepcional? Só se manifesta em certas camadas da população? Só em relação a certas comunidades específicas? E de que formas se reveste a discriminação existente? (…)

A resposta oficial é que não sabemos. Não há estatísticas porque, tanto para o Estado como para as organizações privadas, não existem cidadãos com diferentes origens étnicas, diferentes religiões e diferentes cores de pele. (…) A questão é que este não-registo não só não protege os mais frágeis como esconde os crimes da discriminação racial. Há outras formas de responder a estas perguntas. Podemos perguntar aos elementos dos grupos que são objecto de discriminação. Aos imigrantes, aos negros, aos ciganos. Aí, as respostas são radicalmente diferentes do panorama oficial da não-discriminação. As histórias dos imigrantes ou dos cidadãos afro-descendentes portugueses não estão apenas recheadas de episódios de discriminação. São vidas de discriminação.

E há ainda outra maneira de responder a estas perguntas: olhar à nossa volta. A religião não se vê, mas a cor da pele é evidente. Basta olhar para os grupos de crianças que saem das escolas básicas e para os grupos de jovens que entram nas faculdades para verificar como os mais morenos se perdem pelo caminho enquanto se vão concentrando nos sectores mais pobres, nos empregos menos remunerados. (…)

Que a discriminação racial é um problema real e grave em Portugal ninguém tem dúvidas. Mas a questão é escamoteada há décadas no discurso oficial, alimentando o mito do “Portugal não racista”.

Esta semana, o Comité da ONU para a Eliminação da Discriminação Racial deverá tornar público um relatório sobre Portugal, para o qual vários organismos estatais enviaram contributos. Mas 22 organizações de combate ao racismo queixam-se de a sua contribuição não ter sido pedida pelas entidades oficiais, o que significa que o retrato resultante irá provavelmente branquear a situação real.»

entreasbrumasdamemoria.blogspot.pt

08
Dez16

Ainda o XX Congresso e a esperança de quem não esquece o Congresso do PS

António Garrochinho


Por acaso foi para o Tornado (e não neste espaço) que me atrevi a dar (para já) alguns contributos para um balanço de como eu vi o XX Congresso do meu Partido.
Recuo no tempo, heis-me em Junho passado a passar em revista o Congresso do PS e detenho-me num painel temático, moderado por Nicolau Santos.
Avanço e, chegando a esta cena, estanco. 
Alto, isto está um espanto.
Não pelo o que disse o convidado, pois o que Pacheco Pereira disse não compromete o PS. Não diria o mesmo do que aconteceu em sala, aliás, na altura muito bem composta. Sigam o vídeo:
  • ao 5º minuto, aplauso;
  • ao 7º minuto, novo aplauso;
  • mais coisa menos coisa, ao 8º, ao 10º, ao 12º, 15º, 16º aplausos;
  • após o 17º minuto, aplausos quase seguidos…
 Ah, se os dirigentes do PS souberem, como eu, ouvir… (refiro-me às palmas e ao que elas sublinhavam, claro)

VÍDEO
Via: CONVERSA AVINAGRADA http://bit.ly/2gcuriE
08
Dez16

Nem uma menos

António Garrochinho



A revolta invadiu o bairro Bosque Calderón, uma das zonas mais pobres de Bogotá, onde vivia Yuliana Samboní. Esta menina colombiana de sete anos foi raptada por um abastado arquitecto. Depois, Rafael Uribe Noguera torturou-a, violou-a e matou-a. Há quatro anos, também na capital colombiana, Rosa Elvira Cely havia sido brutalmente violada num parque por dois homens. Morreu quatro dias depois nas urgências do hospital com os órgãos internos destruídos pelos ramos de árvore que usaram para a violar.
«Esta ciudad es la propriedad del Señor Matanza» cantavam os Mano Negra nos anos mais duros da guerra que regou de sangue as montanhas e cidades da Colômbia. Desde que em 1949 a oligarquia decidiu assassinar o candidato presidencial Jorge Eliecer Gaitán, os trabalhadores e o povo levantaram-se em armas. Primeiro como vingança, depois como forma de resistência. Desse processo nasceram as diferentes guerrilhas que deram voz aos condenados daquela terra.

Hoje, os clichês e preconceitos procuram dar a ideia de que as mulheres e os homens que optaram pela violência política para transformar o esgoto em que vivem são terroristas. A ignorância pode muito mas não pode apagar a história. Os soldados colombianos que em 1928 dispararam sobre uma manifestação de 25 mil trabalhadores que se recusaram a cortar bananas para a United Fruit Company cumpriram a mesma função que os militares de hoje. Nesse dia, foram assassinados quase dois mil grevistas.
Essa violência que se estende até aos nossos dias atinge sobretudo a classe trabalhadora. Quase um século depois do Massacre das Bananeiras, a Colômbia continua a ser o país onde mais sindicalistas são assassinados todos os anos. Mas a barbárie atinge de forma implacável os grupos mais discriminados da população colombiana. As mulheres, os negros e os indígenas são as primeiras vítimas de uma guerra que suja de sangue as mãos da oligarquia e do imperialismo.
O livro «Últimas notícias de la guerra», do jornalista Jorge Enrique Botero, destapa a vida de muitas das mulheres que optaram por ingressar nas FARC. Solangie, uma destemida guerrilheira que foi uma das vozes da emissora clandestina Cadena Radial Bolivariana, fugiu de casa ainda adolescente. A mãe era dona de um bordel numa aldeia no meio da selva e o padrasto tentara violá-la várias vezes. Uma noite, esperou-o na cama e esfaqueou-o. Depois de desenhar mapas para a guerrilha e de fazer parte da rede de vigilância, as FARC acederam aos sucessivos pedidos de Solangie.
Foi clara ao explicar que para muitas mulheres as FARC não são uma opção. São a única via para fugir de uma vida miserável num bordel ou a apanhar pancada do marido. Hoje, quase metade daquela organização guerrilheira é composta por mulheres comunistas que lutam por uma Colômbia onde não haja lugar para o capitalismo e para a violência contra as colombianas. É uma causa que une camponeses, negros e indígenas, entre mulheres e homens, pelo fim da opressão que é responsável também por todo o tipo de discriminações e violências.
O rapto, violação e assassinato de Yuliana Samboní é o retrato da impunidade com que as diferentes discriminações e violências se abatem sobre o povo colombiano. Quando Rafael Uribe Noguera abandonou o seu bairro rico e cómodo para violar uma menina de um bairro miserável de Bogotá repetiu os passos dos generais que ordenavam sequestrar desempregados, toxicodependentes e sem-abrigo para depois de os assassinar vesti-los de guerrilheiros e apresentá-los como troféus de guerra.
Manifesto 74 http://bit.ly/2hljJHF

08
Dez16

DIZ QUE “AINDA” NÃO FALA…

António Garrochinho



Assim a modos que inocentemente, perante título tão enigmático, poderão perguntar-me e com toda a propriedade: Como pode dizer que “ainda” não fala, se “ainda” não fala?
Mas não é nada disso! É que o Silva falou dizendo que “ainda” vamos ter que esperar que ele fale! Disse ele: “Ainda vão ter que esperar algum tempo até que eu decida falar sobre a situação política nacional”!
Deu-se um autêntico terramoto nas redes sociais, um sobressalto até, assim como se uma múmia aparecesse a voar, pois se uma vaca pode porque não também uma múmia, digo eu, e só comentários eu vi noventa e três!
Mas, antes desses comentários eu aqui resumir, eu quero-vos dizer que lendo a frase de trás para a frente e da frente para trás, eu não descortinei nada de especial senão o “Ainda”! É que, para mim, é nesse indefinido, incerto e duvidoso advérbio de tempo que está a questão! É ele que me perturba, porque ele não quer dizer que “ainda” não está preparado, que não é o momento certo, não é um “tenham lá paciência” …Não, nada disso! Para ele, evidentemente, soa assim a uma ameaça, assim como quem diz: Têm pressa? Pois esperem! O que significa que, para ele novamente, as pessoas estão ansiosas por o ouvir, os jornalistas vão-se pôr em fila às portas do convento, eles mais a CMTV e as restantes TV,s. Quando falará, vai ser a pergunta que não se sabe que eternidade poderá durar…Eles esperam algo de revelador e bombástico, algo de novo e nunca visto…e vão esperar…
No entanto, como disse, as reacções nas redes sociais foram mais que muitas, eu há bocado já tinha contado noventa e três, mas são quase todas do mais decepcionante que pode haver: só mostram menosprezo e desconsideração. Algumas até com uma linguagem imprópria, assim como eu às vezes uso, mas só quando estou muito zangado! Pois vejam:
Uma série deles a dizerem  para não abrir a boca para o resto da vida, outros a dizerem que se estão não sei quê para as suas opiniões, que pode ficar calado para sempre (essa já disse), que calado era um poeta, outro diz que para ele também, corroborando o anterior só pode ser, outro ainda diz que se abre a boca sai asneira, um outro mais diz com um desplante mórbido que fale depois de morto, que tem rabos de palha, que calado, mais que um poeta, era um doutor, um outro propõe que a falar que fale depois do Natal para não nos estragar o mesmo, uma diz à anterior que vai pôr um cavaco na lareira, olhem se isso se diz, houve até um que colocou um anuncia da “Era” a dizer “Vende-se”, e eu achei piada como se alguém o comprasse e até o célebre “Porque non te callas”, mas este acrescentou para sempre, como se ele já tivesse falado!
Um outro ainda mandou-o emigrar, outro falar com as cagarras e este, o único que li com bom senso, que disse que há pessoas que deviam era perceber quando estão a mais e quando já ninguém se interessa pela sua opinião e, continuando com bom senso, aconselhou-o também a estar calado para não dizer asneiradas…
Eu só estou a transcrever o que li, atente-se, e acabo com uma frase da qual deveras gostei : Se lhe disserem que o silêncio é de oiro, ele vai pensar duas vezes antes de quebrar o silêncio…! Mas o primeiro dizia tão só: Dispenso…
Pois eu não, eu quero ouvi-lo! Melhor, não me importo de o ouvir. Melhor ainda, se quiser falar que fale mas que fale quando quiser, ora!
E isto porque constato que muitos não percebem nem nunca perceberam o cujo. De modo que eu pergunto: Afinal, para que fez ele aqueles roteiros todos e deixou aquela enormidade toda de “avisos”? Sim, para quê? É que ele não fez como o Passos Coelho que desatou à caça do diabo durante meses e não o encontrou. O Silva, não. O Silva passou a vida avisando que ele irá aparecer e só está à espera do momento em que ele apareça mesmo. E aí ele vai ganhar fôlego e dizer: Eu não avisei? Mas isso pode demorar meses, anos, séculos, quiçá eternidades, mas ele lá estará vigilante e, mesmo com a múmia já putrefacta, dela se elevará para dizer, nem que seja pela última vez: Eu não avisei? E todos diremos: Ámen…
Mas “ele” há gente para tudo e depois de ter lido esta notícia no Observador, ao contrário de mim que só a observei no Facebook, para que se conste, um amigo meu veio-me com uma teoria, que eu até achei perspicaz e por isso a bebi, que é a de que ele está à espera de um carro novo, de um topo de gama!
Eu só achei perspicaz depois porque antes perguntei-lhe. E? E o quê, diz ele, não te surge nada, assim uma cidade, uma cidade com praia, com um casino até…A Póvoa, perguntei eu? Qual Póvoa, pá, a Figueira, a Figueira da Foz! Ah, abri eu a boca de espanto perante tanta sagacidade! Ele quer candidatar-se à chefia do coiso? Será? E porque não, diz o meu amigo? É que aquilo parece um deserto, não se vê ninguém, não aparecem candidatos, nem sequer a Lisboa e Porto, todos têm medo, todos se temem, ninguém avança…E ele, quando chegar a viatura, vai ter que a rodar…Percebes, desafiou-me ele?
Diz que foi a Maria que exigiu, pois já nem à rua sai por falta de alfaiate…Percebes?
Fiquei sem fala…

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