Antes de qualquer discussão importa definir os conceitos que se irão utilizar, e o conceito de trabalho está subdesenvolvido na atual discussão pública. As diferentes ciências utilizam a palavra “trabalho “ para definir realidades completamente diferentes. A noção de “ trabalho” para a física é completamente diferente da noção de “trabalho” na sociologia ou economia, no entanto, todas as definições partem do mesmo principio: o trabalho corresponde à alteração da realidade, ou seja, à criação física ou mental de uma realidade nova.
Neste momento discute-se qual deve ser o horário de trabalho semanal dos trabalhadores – 8 ou 7 horas diárias. Historicamente tem sido papel da esquerda a redução do horário de trabalho. Em 1890, dia em que se passou a comemorar o 1ºde Maio em Portugal, as principais reivindicações dos operários eram as seguintes: Regulamentação do trabalho infantil apenas para maiores de 12 anos; Possibilidade da mulher trabalhar caso o “chefe de família masculino” se encontre incapacitado; redução do horário de trabalho de 12 para 9 horas diárias. É nesta última reivindicação que me quero focar. No anterior governo o aumento do horário de trabalho para 8 horas significou que em mais de 110 anos a tão afamada produtividade apenas permitiu a redução do horário de trabalho uma hora.
Será isto possível ? Parece-me claramente que não.
A ideia de crescimento ilimitado e a ideologia neoliberal que está empregada na nossa sociedade faz com que se naturalize o excesso no horário de trabalho. A moral judaico-cristã da dignificação através do excesso de trabalho e da cor contribui exatamente para esta aceitação por parte da maioria da população destes abusos por parte da lei e dos patrões.
Chegando a este ponto devemos discutir o que é que a esquerda ( em particular uma esquerda decrescimentista e ecossocialista) deve responder relativamente ao trabalho. Sendo o trabalho uma das bandeiras da esquerda ela não deve, ou não pode, ser o foco final de um partido de esquerda. É na razão desse trabalho e nas relações de poder que ele cria que nos devemos focar.
Eu, decrescentista confesso, recuso-me a embarcar nas lógicas mercantilistas e moralistas do trabalho. Recuso-me mesmo a definir “trabalho” da mesma maneira meramente utilitarista que toda a sociedade o faz.
Analisando igualmente o impacto do crescimento económico excessivo no bem-estar ambiental global podemos dizer que o ser humano em 1900 necessitava o equivalente a 1 planeta igual à terra para continuar a ter o mesmo nível de vida. Já em 1984 este valor aumenta para 3,5 planetas, subindo a partir daí sem nunca cessar. É este crime do crescimento económico da economia de mercado que temos de derrotar.