A fotografia reflete parte do treinamento dado às mulheres da Força Aérea Auxiliar Feminina (então órgão auxiliar da Força Aérea Britânica). Fotografia: AP Photo. O registro teria ocorrido em 15 de janeiro de 1942.
Nos difíceis dias da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), “trabalho, sangue, suor e lágrimas” eram as palavras de ordem e mulheres do mundo inteiro atenderam ao chamado de sua respectiva nação e partiram para a labuta nos campos, cidades e praias, dedicando cuidados únicos e administrando impetuosa força rumo à Vitória — e mostraram “como pôr um homem no seu devido lugar”.
Em alguns países, principalmente na Europa, as mulheres ocuparam os lugares dos homens em grande número. Enquanto estes sangravam nas cruéis frentes de batalhas, aquelas trabalharam com firmeza e dedicação nas mais diversas áreas, destacando-se na defesa territorial e industrial.
Mulheres trabalhando na construção de um porta-aviões. Fotografia: Margaret Bourke-White — Time & Life Pictures/Getty Images
Rainha Elizabeth trabalhou como mecânica e motorista de caminhão. Fotografia: autor desconhecido.
Mulheres alemãs trabalhando nas comunicações do III Reich. Fotografia: autor desconhecido.
Duas mulheres soldando, EUA, 1943. Fotografia: Margaret Bourke-White, Time & Life Pictures / Getty Images.
Japonesas procurando eventuais falhas em munições, ca. 1941. Fotografia: AP Photo.
Jovem francesa como parte da resistência parisiense, ca. 1944. Fotografia: AP Photo.
Trabalhadoras finalizando “narizes” de bombardeiros A-20J na Douglas Aircraft, em Long Beach, Califórnia, em outubro de 1942. Fotografia: AP Photo / Office of War Information.
Linha de confecção de cartazes. Fotografia: AP Photo / Marty Zimmerman.
Mulheres soviéticas do Quirguistão trabalhando duro na plantação, ca. 1942. Fotografia: AP Photo.
REFERÊNCIAS:
WHITE, Margaret Burke. Women of Steel: LIFE With Female Factory Workers in World War II. Acesso em: 14 jan. 2015.
MASSON, Philippe. A Segunda Guerra Mundial: História e Estratégias. trad. Angela M. S. Corrêa. São Paulo: Contexto, 2011.
CARDONA, Gabriel. O mundo durante a guerra: A Batalha da Inglaterra. Coleção 70º Aniversário da 2ª Guerra Mundial (1939-1945). Sangue, Suor e lágrimas: A Inglaterra resiste. São Paulo: Abril, n. 9, 2009.
IMAGEM: A equipe do Museu de Imagens buscou informações para creditar a(s) imagem(ns), contudo, nada foi encontrado. Caso saiba, por gentileza, entre em contato.
A atiradora soviética Pavlichenko era tão temida que os alemães falavam com ela à distância, por meio de um megafone. A oficial adquiriu respeito com a experiência que teve desde jovem – aos 14 anos já trabalhava em uma fábrica de munição e não demorou muito para que logo aprendesse a atirar. Quando a guerra começou, ela se voluntariou a lutar para defender seu país.
No início, obviamente, o exército a aceitou apenas como enfermeira, ainda que ela tivesse mostrado seus certificados de boa atiradora. Depois de insistir, ela finalmente teve a chance de fazer um teste de tiro e, ao mostrar seu talento, foi imediatamente aprovada. Durante a Segunda Guerra Mundial, Pavlichenko matou 309 pessoas, sendo que, dessas, 36 eram atiradores alemães de alto escalão.
Apesar de ter sofrido vários ferimentos durante os combates, a atiradora só foi removida de suas atividades depois de ferir gravemente o rosto. Após isso, ela passou a se dedicar ao treinamento de novos atiradores. Apesar de tudo isso, quando deu algumas entrevistas nos EUA, em 1942, ouviu perguntas sobre o estilo de seu uniforme e seus hábitos de maquiagem.
De volta à Rússia, recebeu vários prêmios, incluindo a Medalha Estrela de Ouro e o título de “Heroína da União Soviética”. Depois, graduou-se na Universidade de Kiev e se tornou historiadora.
2 – Nancy Wake
Conhecida como “rato branco” devido à sua habilidade de nunca ser capturada, Nancy Wake foi considerada pelos alemães, durante muito tempo, como a mulher mais procurada do país. Casada com um francês, Wake transportava documentos falsos e materiais contrabandeados – na única vez em que foi capturada e interrogada por muitos dias, nunca revelou nenhuma das informações secretas que sabia.
Em 1943, fugiu para a Grã-Bretanha, onde se juntou ao Serviço de Inteligência Britânico. Depois de um treinamento intenso de paraquedismo e manuseamento de armas, voltou à França como espiã oficial dos britânicos.
Chegou a comandar 7 mil tropas de guerrilha, explodiu construções nazistas e sabotou veículos – sem falar em quando matou um sentinela com as próprias mãos. Aos 89 anos disse, durante uma entrevista: “Alguém uma vez me perguntou: ‘Você já sentiu medo?’. Eu nunca senti medo em toda a minha vida!”.
3 – Susan Travers
Única mulher presente na Legião Estrangeira Francesa, Susan Travers chegou a passar 15 dias dentro de um forte, ao lado de outros soldados, na tentativa de não ser alvo da artilharia pesada dos alemães. Então a comida acabou e, ao lado do marido, o General Marie-Pierre Kœnig, Travers saiu do forte para buscar alimento.
Em meio a uma perseguição ferrenha, Travers chegou a conduzir um caminhão pegando fogo e conseguiu chegar à fronteira, onde encontrou 2,5 mil soldados franceses cujas vidas havia ajudado a salvar. Ela só conseguiu se tornar um membro oficial da Legião ao não informar seu gênero no formulário.
Entre suas conquistas, Travers conseguiu ser membro de honra da Legião, recebeu a Medalha Militar Francesa e a Cruz de Guerra, ambos símbolos de alta honraria para o exército francês.
4 – Hedy Lamarr
Conhecida como “a mulher mais bonita da Europa”, a atriz austríaca Hedy Lamarr e o compositor George Antheil criaram, durante o início da Segunda Guerra Mundial, um sistema de rádio que guiava o disparo de torpedos. A invenção de Lamarr impedia que houvesse interferência de frequência de rádio, o que deu início, em termos tecnológicos, à criação de sistemas de WiFi e Bluetooth.
O esquema desenvolvido por Lammar foi patenteado em 1941, mas só foi realmente usado em 1960, durante a crise dos mísseis de Cuba. Em 1997, Lammar foi homenageada por um dos prêmios mais importantes em termos de tecnologia, o EFF Pioneer Awards – foi como se ela tivesse recebido um “Oscar dos Inventores”. Em 2014, postumamente, a invenção de Lammar passou a fazer parte do National Inventors Hall of Fame.
5 – Noor Inayat Khan
Descendente da realeza indiana, Inayat Khan treinou para ser enfermeira da Cruz Vermelha Francesa. Sempre interessada pelos ensinamentos pacifistas do pai, surpreendeu a todos quando decidiu participar da Força Aérea depois de fugir para a Inglaterra durante a ocupação alemã na França. Em território inglês, ela foi treinada a operar rádios sem fio.
Tempos depois, Inayat Khan foi recrutada para trabalhar como executiva de operações especiais em ocupações nazistas na França. Usando o codinome Madeleine, e apesar da dúvida de todos, Inayat Khan aproveitou o fato de ser fluente em francês para aceitar o trabalho de operadora de rádio para as redes de resistência.
Na França, ela continuava trabalhando clandestinamente, mandando mensagens a Londres até que, em 1943, foi traída, denunciada e presa. Acabou escapando depois de algumas horas, mas foi recapturada e mantida em uma solitária na Alemanha, onde permaneceu amarrada e foi torturada, sem nunca revelar qualquer informação secreta.
Da prisão alemã, a guerreira indiana foi enviada ao campo de concentração de Dachau, onde foi torturada e estuprada – mesmo assim, continuou sem revelar qualquer informação. Depois da tortura e da violência sexual, Inayat Khan foi morta com um tiro na parte de trás da cabeça, e sua última palavra foi “liberdade”.
Postumamente, recebeu a Cruz de Jorge, por sua bravura, e Cruz de Guerra do Exército Francês.
Resistência Francesa: legado de bravura e liderança é lembrado décadas depois
Movimento, capitaneado pelo general de Gaulle, não aceitou a submissão do Estado Francês ao poder nazista na Segunda Guerra Mundial
Henri Philippe Pétain, militar que ganhou notoriedade na Primeira Guerra, foi convidado a integrar o governo francês em maio de 1940. Neste período, a Segunda Guerra já havia sido deflagrada e fazia poucos dias que as forças alemãs tinham invadido a França.
Soldado norte-americano e partisan francês durante batalha em cidade francesa recuperada dos nazistas em 1944 Pétain rapidamente chegou ao posto de primeiro-ministro, o que aconteceu na noite do dia 16 de junho, quando o então chefe de Estado, Paul Reynaud, por discordar da condução passiva que o poder francês vinha assumindo frente à invasão dos alemães, tornou público seu pedido de desligamento. Substituição feita, no primeiro dia após sua nomeação, Pétain anunciou um armistício cuja assinatura aconteceria já no dia 22 seguinte, no mesmo vagão de trem, na cidade francesa de Compiègne, onde o general francês Ferdinand Foch havia definido na Primeira Guerra os moldes da rendição alemã. A escolha do mesmo lugar para a celebração do cessar-fogo foi uma exigência de Adolf Hitler, que fez questão de se sentar na mesma cadeira que antes havia sido ocupada por Foch.
Através do Segundo Armistício de Compiègne, estavam então confirmadas todas as condições para que a Terceira República, que vigorava em território francês na época, fosse dividida em Zone ocupée (Zona Ocupada), ao norte, e Zone libre (Zona Livre), ao sul, através daquela que ficou conhecida como Ligne de démarcation (Linha de Demarcação) e impôs ao país uma severa fronteira interna.
A Zone ocupée ficou sob a orientação dos códigos do III Reich, e a Zone libre, conhecida como La France de Vichy, teve uma gestão administrativa que somente na fachada era francesa, pois não deixou de ser interferida pelos alemães. O chamado de De Gaulle
A cessão ao domínio alemão foi avaliada como impertinente por parte do general Charles de Gaulle, antigo Secretário-Geral do Estado no governo de Reynauld, e que ao saber que um armistício tinha sido anunciado foi imediatamente a Londres solicitar aos britânicos apoio para que a França permanecesse lutando.
Foi então que munido deste ideal, De Gaulle no dia 18 de junho de 1940 se dirigiu aos estúdios da Rádio BBC e, através de uma emissão radiofônica, convocou os franceses a fugirem da servidão, continuarem a luta e a não se renderem, “pois a pátria estava em perigo e era preciso salvá-la”.
Líderes da França Livre, Henri Giraud e Charles de Gaulle, com Franklin Roosevelt e Winston Churchill, em 14 de janeiro de 1943 Novos apelos seguiram ao do dia 18, de modo que De Gaulle, a partir de Londres, suscitou no povo francês a necessidade de fazer frente ao nazismo e estruturar um movimento, que além de reagir à ocupação alemã, precisava se opor ao governo vigente. E foi a esse combate político-militar, que aconteceu entre 1940 e 1944, dotado de teor patriótico e contornos revolucionários, constituído por homens e mulheres contrários à ação de Pétain e à consequente conversão da França num país colaboracionista, que foi dado o nome de “Resistência Francesa”. A Resistência chegou a reunir 450 mil pessoas; mas considerando os leitores da imprensa clandestina, alcançou o número de 2 milhões de simpatizantes, aproximadamente. Perseguição Segundo estudiosos, a Wehrmacht, forças armadas alemãs, contava com 900 espaços de detenção; eram campos de internamento, de concentração, prisões e fortalezas, para aonde foram encaminhados judeus, comunistas, alemães antifascistas e detentos políticos. Georges Duffau-Epstein, presidente da Associação Nacional das Famílias de Fuzilados e Massacrados da Resistência Francesa e Seus Amigos (ANFFMR), afirma que “140 mil resistentes foram deportados ou levados a campos de concentração, dos quais quase 100 mil morreram”.
A Resistência contou com duas grandes frentes: a Résistance intérieure (Resistência interior), organizada dentro da França, e a France libre (França Livre), constituída fora das suas fronteiras, e que na Inglaterra desencadeou a FFL – Forces françaises libres (Forças Francesas Livres). A France libre, no entanto, não se restringiu somente à capital britânica, pois ganhou terreno na África do Norte.
Jornais e panfletos circulavam na França disseminando as ideias da Resistência, em torno das quais gravitavam distintas perspectivas, a saber: nacionalista, cristã, socialista e comunista. Alinhá-las tornou-se, então, uma urgência, de modo que foi desencadeado um processo de unificação sob a liderança de Jean Moulin, que em janeiro de 1943, criou o MUR – Mouvements unis de la résistance (Movimentos Unidos da Resistência). Os partisans e suas estratégias
Os resistentes eram chamados de partisans (partidários), adotavam pseudônimos, costumavam usar barba, bigode e óculos falsos como disfarces e fizeram da música Chant des partisans, de Anna Marly, seu hino. Entre eles, havia comerciantes, professores, funcionários públicos, universitários e empresários.
Segundo o historiador Jean-François Muracciole, apesar dos esforços empregados para conseguir fundos e se armar, o movimento sofria de uma contínua falta de dinheiro e sua quantidade de armas era insuficiente.
Para minar o poder alemão, os partisans recorreram à sabotagem, espionagem, rede de informação, greve de setores estratégicos, corte de cabos telefônicos e à formação de maquis, grupos camuflados que se posicionavam em pontos estratégicos para desestabilizar as ações da Wehrmacht.
“Inicialmente o movimento era pulverizado, com iniciativas isoladas. A Resistência no começo era somente escrever palavras anti-Pétain nos muros e espalhar frases como ‘Viva De Gaulle’. Meu pai, por exemplo, em 1941, recolhia armas e explosivos, mas eles não sabiam o que iam fazer com aquilo”, explica Georges Duffau-Epstein, filho de Joseph Epstein, fuzilado em abril de 1944, no Mont-Valérien, onde houve aproximadamente 1000 fuzilamentos e onde, hoje, existe um monumento consagrado aos mortos pela França.
Por parte da sociedade civil muitas táticas foram usadas para comunicar a discordância com as ordens alemãs, como, por exemplo, ondas de assobios coletivos atrapalhando a veiculação dos cinejornais pró-alemães e a destruição sistemática dos cartazes assinados pela Ocupação ou pelo Estado.
Já interromper rotas, confundir informações e gerar um caos no transporte público foram ações empreendidas pelos cheminots (ferroviários, em francês), peça-chave no progresso da Resistência.
Embora o Brasil tenha participado da Segunda Guerra, através da FEB (Força Expedicionária Brasileira), houve um brasileiro que desempenhou importante papel na Resistência: trata-se de Apolônio de Carvalho, que comandou uma guerrilha em de Lyon, e em virtude deste engajamento, Apolônio foi condecorado com a Medalha Legião de Honra.
Estadista francês (1890-1970). Comandou a resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial.
O nome mais importante da vida política francesa desde Napoleão Bonaparte, Charles Andre Marie Joseph de Gaulle nasceu em Lille, no norte da França, no dia 22 de novembro de 1890, e ingressou na academia militar francesa em St. Cyr em 1910. Ele se formou poucas semanas antes do início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), durante a qual serviu em combate como tenente do exército francês. Depois da guerra, ele atuou na ocupação militar da Alemanha e nas colônias ultramarinas francesas, antes de retornar à França para aceitar uma nomeação para o Conselho Supremo de Guerra e para o Conselho da Defesa Nacional. Na década de 1930, a estratégia defensiva da França – ou seja, proteger-se da vizinha Alemanha, seu inimigo tradicional – baseava-se na concepção de um perímetro defensivo fixo, altamente fortificado, conhecido como Linha Maginot. De Gaulle começou a irritar seus superiores militares quando passou a criticar a Linha Maginot e a idéia de uma defesa fixa. Em vez disso, ele propunha uma força móvel de tanques e de veículos armados, semelhantes aos que os alemães estavam desenvolvendo. Depois do início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), em 1º de setembro de 1939, os alemães não fizeram nenhuma tentativa imediata de atacar a Linha Maginot. Mas, em maio de 1940, forças alemãs investiram contra a França, seguindo para o norte da Linha Maginot. Coube a De Gaulle liderar várias ações de sucesso com os poucos tanques que possuía. De forma geral, no entanto, os franceses não estavam bem preparados para enfrentar os alemães e, em 14 de junho, os invasores capturaram Paris e derrotaram a França.
De Gaulle fugiu para a Inglaterra, de onde enviava vários mensagens ao povo francês para continuar a resistência. O governo de Vichy da França, instaurado sob os auspícios das tropas de ocupação alemãs, condenaram De Gaulle, mas, com o apoio dos ingleses (e posteriormente dos americanos), ele conseguiu reunir seu Exército Livre Francês. Em 6 de junho de 1944, quando os Aliados desembarcaram na Normandia para libertar primeiro a França e depois a Europa, De Gaulle e seu exército estavam presentes. E ele os liderou vitoriosamente na libertação de Paris dez semanas depois. De Gaulle, então, formou um governo provisório francês, em que ele mesmo ocupou o cargo de presidente. Pouco tempo depois, em 1946, ele se aposentou.
Em 1958, quando a guerra na colônia francesa da Argélia ameaçava desencadear um conflito dentro na própria França, De Gaulle decidiu deixar a aposentadoria de lado e se elegeu presidente por uma esmagadora maioria de votos. Ele resolveu o problema argelino, dando-lhes a independência e então se preocupou em reconstruir a vida econômica e política francesa. Sob sua Quarta República, a França voltou a ocupar seu lugar de destaque como uma das principais forças políticas da Europa e, claro, do mundo. Em 1968, no entanto, uma revolta que uniu estudantes e trabalhadores enfraqueceu a confiança do povo francês no governo de De Gaulle e em 28 de abril de 1969 ele renunciou, passando a Quarta República para Georges Pompidou (1911-1974). De Gaulle morreu em Colombey les Deux Églises em 9 de novembro de 1970.
Durante muitos anos li muito, comecei cedo lendo os jornais O Século, Diário de Lisboa, Diário Popular etc onde lia e coleccionava os recortes da história de Portugal, o resto dos jornais eram para limpar as chaminés do candeeiro a petróleo e o pitromax "Hipólito" da barbearia, a seguir vieram as cowboyadas que comprava em livrinhos de segunda mão em Faro. Nas bibliotecas da Gulbenkian onde chateava o funcionário para que me deixa-se ler livros mais adultos, li um romance que me fascinou "As minas de Salomão", depois com os livros de bolso da Europa América e muitos anos como sócio do Círculo de leitores adquiri quase todos os clássicos russos e franceses.. Comprei dezenas e dezenas que eram as minhas pérolas e acariciava-os olhando orgulhoso o seu encardenamento. Gostava e gosto do cheiro dos livros. A minha hora preferida de leitura era na cama onde lia até à exaustão .O meu pai era barbeiro e depois de fechar a oficina eu instalava-me na cadeira de barbear e ali devorava as histórias até sonhar. Continuei sempre um apaixonado pela literatura e ainda o sou , na tropa devorava livros, na Guiné, li Che Guevara que cá só se conseguia na clandestinidade. Veio a internet, tenho lido pouco e tenho saudades de um bom livro, tenho ainda dois para ler e não consigo arranjar coragem. Possuo uma razoável biblioteca dentro das minhas possibilidades e os livros que tenho li-os todos. Há dias fui ler e pouco depois de abrir o livro caí no sono Como disse atrás passava noites a ler e o que sei devo-o aos livros e depois na prátrica revolucionária com os neus camaradas cruzando este Portugal que hoje não reconheço o muito do que tinha nas suas gentes. Os primeiros livros que lemos têm de ter aquele gancho, o querer saber logo o desfecho mas depois vamo-nos habituando, disciplinando e a leitura é um prazer enorme. Tenho o defeito de sublinhar de escrever notas nos meus livros. Dizem que não é elegante mas eu não me importo, gosto de o fazer.
Foi pela saudade de ler que estou a escrever isto, tenho que arranjar coragem e afastar-me um pouco das redes sociais que confesso estão a desiludir-me embora sejam de grande utilidade.
Porque o mundo muda e precisamos nos atualizar – e também porque não somos obrigadas
Gosto de pensar que se eu vivesse nos anos 50, seria uma revolucionária queimadora de revistas como a Good Housekeeping e Housekeeping Monthly – cuja publicação de uma lista de 18 dicas para boas esposas viralizou nessa última semana –, mas eu sou também uma mulher produto das referências e estímulos que recebo durante a vida e, apesar da minha propensão interna a encher o saco das pessoas com perguntas, provavelmente seria uma compradora dos periódicos.
De qualquer forma, o resgate dessa lista é bem produtivo já que nos bota pra refletir sobre o que mudou, mas principalmente sobre como muito disso ainda segue igual.
Ponha a mesa, organize sua cozinha, prepare o jantar de ação de graças, economize dinheiro, seja uma mulher mais calma e cuide mais da sua pele. Ah, e ao menos finja que sua casa é limpa!
O número de mulheres que ainda são cobradas pelo estereótipo de boa esposa dos anos 50 é enorme, apesar de estarem ativas no mercado de trabalho. Acumularam as funções da casa e da vida profissional, sem trégua.
Ainda bem que os veículos de comunicação agora abrem algum espaço pra que a gente subverta essas ideias – e foi isso que tentei fazer. Bom deixar claro que esse não é um guia definitivo de como se comportar, apesar do trocadilho do título, e que você não deve se casar se não quiser. Tire daqui o que quiser, afinal, o exercício de escrever não pode ser mais do que oferecer.
As imagens distribuídas ao longo do texto são fotografias e fotomontagens de Martha Rosler e Laurie Simmons, duas americanas porretas que desde os anos 60 e 70 vêm questionando o papel atribuído à mulher e a nossa construção da feminilidade.
O fato é que já não somos os mesmos. Ainda bem.
* * *
1. Tenha o jantar sempre pronto. Planeje com antecedência. Esta é uma maneira de deixá-lo saber que se importa com ele e com sua necessidades. 1. Certifique-se de que não está casando com uma criança antes do grande dia. Além de eu estar quase certa de que isso é ilegal, queremos evitar que você assuma papel maternal na relação.
2. A maioria dos homens estão com fome quando chegam em casa, e esperam por uma boa refeição (especialmente se for seu prato favorito), faz parte da recepção calorosa. 2. A maioria das pessoas está com fome quando chega em casa. Combinar que o primeiro a sair do trabalho é o cozinheiro do dia é uma opção. Você pode, ainda, dividir a tarefa por dias da semana ou até mesmo compartilhar o fogão.
Bowl of Fruit, Martha Rosler, 1966-72: O corpo – assim como os afazeres que executa –, é o lugar estável da identidade da mulher no início do século XX, mas é objeto de crítica quando retratado de forma erótica
3. Separe 15 minutos para descansar, assim você estará revigorada quando ele chegar. Retoque a maquiagem, ponha uma fita no cabelo e pareça animada. 3. Separe 15 minutos para descansar. Tire a maquiagem, desmonte o coque do cabelo e queime arranque o sutiã.
4. Seja amável e interessante para ele. Seu dia foi chato e pode precisar que o anime e é uma das suas funções fazer isso. 4. Seja generosa com você mesma. Trocar carinhos é uma delícia nos dias bons e ruins, mas ame a si mesma e não aceite menos do que doa.
5. Coloque tudo em ordem. Dê uma volta pela parte principal da casa antes do seu marido chegar. Junte os livros escolares, brinquedos, papel, e em seguida, passe um pano sobre as mesas. 5. Coloque tudo em ordem. Dê uma volta pela parte principal do seu coração antes do seu marido chegar. Junte as memórias, as sensações, lembre-se de quem você é. Passe um pano sobre as retinas e desembace a sua visão. Amor pleno vem de dentro e só emerge quando somos inteiros.
Red, Laurie Simmons, 1988: A função doméstica da mulher parecia ser tão natural quanto sua biologia
6. Durante os meses mais frios você deve preparar e acender uma fogueira para ele relaxar. Seu marido vai sentir que chegou a um lugar de descanso e refúgio. Afinal, providenciando seu conforto, você terá satisfação pessoal. 6. Durante os meses mais frios você deve consumir chocolate quente e caldos variados afim de colaborar com a homeostase do seu corpo sempre que quiser. Comprar um lençol térmico também é uma opção. Afinal, providenciando seu conforto, você terá satisfação pessoal.
7. Dedique alguns minutos para lavar as mãos e os rostos das crianças (se eles forem pequenos), pentear os cabelos e, se necessário, trocar de roupa. As crianças são pequenos tesouros e ele gostaria de vê-los assim. 7. Dedique algumas horas para refletir sobre a sua vontade ou desgosto de ter filhos. Especialmente se a responsabilidade sobre eles for cair prioritariamente no seu colo, essa decisão deveria pesar mais do seu lado. Os desejos só tem o mesmo peso se as responsabilidades forem assim distribuídas.
8. Minimize os ruídos. Quando ele chegar desligue a máquina de lavar, secadora ou vácuo. Incentive as crianças a ficarem quietas. 8. Minimize os ruídos. Quando ele te desrespeitar, desligue o contrato de casamento. Incentive as crianças a não suportarem violência verbal.
Hot Meat, Martha Rosler, 1966-72: A prisão do corpo feminino na domesticidade, representada pelo fogão, evidencia a dominação patriarcal também no âmbito privado
9. Seja feliz em vê-lo. O receba com um sorriso caloroso, mostre sinceridade e desejo em agradá-lo. Ouça-o. 9. Seja feliz em vê-lo. Caso contrário, divorcie-se.
10. Você pode ter uma dúzia de coisas a dizer para ele, mas sua chegada não é o momento. Deixe-o falar primeiro, lembre-se, os temas de conversa dele são mais importantes que os seus. 10. Você pode ter uma dúzia de coisas a dizer para ele, e tudo bem. Fale, escute, troque ideias.
11. Nunca reclame se ele chegar tarde, sair pra jantar ou outros locais de entretenimento sem você. Em vez disso, tente compreender o seu mundo de tensão e pressão dele, e a necessidade de estar em casa e relaxar. 11. Nunca reclame se ele chegar tarde, sair pra jantar ou outros locais de entretenimento sem você. Vocês são adultos e não precisam de permissão para tocarem suas vidas. Em vez disso, torne-se consciente do seu próprio direito à uma vida autônoma, a chegar tarde, sair pra jantar ou outros locais de entretenimento sem ele.
12. Seu objetivo: certificar-se de que sua casa é um lugar de paz, ordem e tranquilidade, onde seu marido pode se renovar em corpo e espírito. 12. Seu objetivo: certificar-se de que sua relação é um lugar de paz, respeito e tranquilidade, na qual você e seu marido podem nutrir corpo e alma com amor.
Cleaning the Drapes, Martha Rosler, 1967-72: Aqui, a mulher extrapola a domesticidade e entra no domínio público, representado pela Guerra do Vietnã
13. Não o cumprimente com queixas e problemas. 13. Não construam uma comunicação com base em queixas e problemas. Eles existem, mas é mais saudável que o foco seja as soluções.
14. Não reclame se ele se atrasar para o jantar ou passar a noite fora. Veja isso como pequeno em comparação ao que ele pode ter passado durante o dia. 14. Reclame se ele demonstrar descaso para com os seus carinhos e vontades. A relação deve ser uma troca e consideração pelas necessidades emocionais de ambos os parceiros é essencial.
15. Deixe-o confortável. Faça com que ele se incline para trás numa cadeira agradável ou deitar-se no quarto. Dê uma bebida fria ou quente pronta para ele. 15. Esteja confortável. Faça do seu corpo seu templo de prazer e reflexão e certifique-se de que só faz uso dele para fins benéficos.
16. Arrume o travesseiro e se ofereça para tirar os sapatos dele. Fale em voz baixa, suave e agradável. 16. Faça de sua cama e travesseiros um refúgio do mundo. Um lugar acolhedor, no qual você pode extravasar quaisquer emoções que precisar.
Red Stripe Kitchen, Martha Rosler, 1967-72: E sua função doméstica ainda pesa, ao mesmo tempo que o espaço público é hostil e masculinizado
17. Não faça-lhe perguntas sobre suas ações ou que questionem sua integridade. Lembre-se, ele é o dono da casa e, como tal, irá sempre exercer sua vontade com imparcialidade e veracidade. Você não tem o direito de questioná-lo. 17. Não só faça-lhe perguntas sobre suas palavras, mas observe como age. Lembre-se: ele é o dono de si e, como tal, deve sempre exercer responsabilidade sobre seus atos, com sensibilidade e veracidade. Você tem todo o direito de impulsioná-lo a ser um homem melhor.
18. Uma boa esposa sabe o seu lugar. 18. Uma boa esposa sabe se amar.
Cantora, compositora, escritora, poeta, ativista política, Patti Smith é uma das mais importantes mulheres no cenário cultural atual
Em preto e branco, com o paletó nos ombros tipoFrank Sinatra, cabelo desalinhado, em uma foto que não poderia ser capturada por outro que não seu amante Robert Mapplethorpe, Patti Smith surgiu de rompante declarando com vigor poético sua posição transgressora: "Jesus died for somebody's sins, but not mine" ou "Jesus morreu pelos pecados de alguém, mas não pelos meus", em tradução livre.
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Essa é nada mais, nada menos que a primeira frase que emite em seu álbum de estréia – Horses –, produzido por John Cale, de Velvet Underground.
Estamos somente na primeira faixa, Gloria, que acabou se transformando em algo além de um simples cover de Van Morrison. Horses, conceituado por alguns críticos como um dos melhores álbuns de estreia já lançados por um artista, nos oferece ainda mais – um concerto apaixonado que mistura relatos sobre amores exacerbados com o cenário confuso das ruas. Vai de Rimbaud a Jim Morrison e nos arrasta para um horizonte multifacetado, uma perspectiva composta de recortes.
“A gratidão que eu sentia pelo rock and roll por ter me ajudado a atravessar a adolescência difícil. A alegria que sentia ao dançar. A força moral que eu reunia ao me responsabilizar pelas atitudes de alguém. Essas coisas estão todas entranhadas em Horses assim como uma saudação àqueles que pavimentaram o caminho antes de nós.
Em 'Birdland', embarcamos com o jovem Peter Reich enquanto ele esperava que seu pai,Wilhelm Reich, descesse do céu e o fizesse nascer.
Em 'Break it up', Tom Verlaine e eu escrevemos um sonho em que Jim Morrison, amarrado feito Prometeu, de repente se liberta.
Em 'Land', imagens de meninos gays mesclados com cenários da morte de Hendrix.
Em 'Elegie', lembrando de tudo, passado, presente, futuro, daqueles que perdemos, estávamos perdendo e acabaríamos perdendo.”
Ao nos apresentar todas as suas referências, Patti Smith narra seu nascimento como pessoa, mulher, cantora e poeta à luz de tais influências, emergindo entre elas de maneira singular para nos falar sobre os anseios e pretensões de uma geração que aguardava um porta-voz para os anunciar.
Antes de acordar em Nova York
Patti Smith nasceu no dia 30 de dezembro de 1946 em Chicago, Illinois, em meio há uma tempestade de neve, logo após a Segunda Guerra Mundial. Era a primogênita da união de um pai ateu e uma mãe religiosa seguidora das Testemunhas de Jeová.
Em 1949 sua família mudou-se para a Filadélfia, onde Patti passou parte da sua infância, até 1957. Foi então que seguiram para Nova Jersey, lugar em que ela viveria por dez anos, até encontrar Nova York, a cidade que lhe acolheria como artista.
Nova Jersey foi um período difícil para Smith. Sua família nunca contou com dinheiro em abundância, o que a levou a largar os estudos aos 16 anos para trabalhar numa fábrica, onde recebia apenas 36 dólares por 40 horas de trabalho semanais. A experiência excruciante foi registrada pela cantora na canção Piss Factory (ou Fábrica de Mijo).
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I'm gonna be somebody, I'm gonna get on that train, go to New York City, I'm gonna be so bad I'm gonna be a big star and I will never return
Patti foi mãe aos vinte anos e como as condições do momento não lhe permitiam assumir a maternidade, entregou o bebê para a adoção. contudo, sempre havia livros em sua casa, e sua mãe lhe ensinou a ler esses livros.
Foi a casa cheia de livros e o incentivo da mãe que a salvaram da melancolia, assim como trouxeram-lhe simultaneamente uma sensação de desconforto, inquietação e despertencimento.
"Quando morava em Nova Jersey não tinha tempo para sonhar acordada, a vida era simples, e isso podia ser bom para alguns, mas eu sempre me senti diferente. Eu sabia que havia algo que poderia florescer em mim, mesmo que fosse a minha ruína."
Bem-vinda, NY
“New York me seduziu, NY me formou, NY me deformou, NY me perverteu, NY me fez.”
Em busca de iluminação, inspiração, caos, sucesso ou fracasso, Patti Smith finalmente desembarcou em Nova York.
A cidade grande não sorriu tão logo assim para ela, que chegou a dormir nas ruas e passar fome até conseguir um emprego como caixa em uma livraria. Mas o que nem ela imaginaria é que essa primeira chance que lhe foi ofertada a levaria em direção ao grande amor da sua vida.
Era verão em New York quando Robert Mapplethorpe entrou na livraria em que Patti trabalhava para comprar um colar persa – já que o lugar, estranhamente, também vendia joias. É claro que, por coincidência, essa era a peça favorita da cantora.
Ela, que sempre sonhou em encontrar um companheiro com que pudesse dividir uma vida de artista, tal como Diego e Frida, confessou que, ao ver Robert, soube que ele era o cara.
Mas Patti só pode se apresentar ao seu futuro parceiro no segundo encontro: um cliente da livraria convidou-a para passear num parque, mas chegando lá ela se deparou com Robert. Na tentativa de fugir do cliente, pediu a Robert para se apresentar como namorado dela para o outro homem. Ele aceitou, e os dois logo se mandaram dali prontos para começar uma história de amor, cumplicidade e companheirismo que se revelaria na arte que ambos construíram.
Para alguns, o romance dos dois poderia parecer um tanto excêntrico já que Robert era homossexual e estava agora a se relacionar com uma mulher. O amor dos dois não era motivo de dúvida, contudo, e apesar de Patti ter rompido com ele em 69, quando foi morar por um tempo em Paris com a irmã, assim que voltou para NY regressou para seu amor.
Patti e Robert mudaram-se para o Chelsea Hotel, o único na cidade cujo aluguel podia ser pago com arte. Muitos dos artistas da época também viviam no Chelsea, o que contribuiu para que o novo casal de artistas fossem aos poucos se inserindo na cena cultural nova-iorquina
Ávidos por mostrar seus trabalhos a quem admiravam e sedentos por produzir cada vez mais arte, desejo e êxtase, Patti e Robert viveram uma relação completamente livre, onde um estava sempre a apoiar o outro a seguir suas vontades, mesmo que que isso se significasse se envolver física ou emocionalmente com outras pessoas.
Robert foi quem começou incentivar Patti a escrever poemas e a cantar o que sentia, e foi ele também quem financiou seu primeiro single, Piss Factory/Hey Joe, em 1974. Além disso, também foi o artista responsável pela foto mais icônica de Patti até hoje, capa do seu primeiro álbum em 1975.
Depois de Horses, Patti lançou mais dez álbuns de estúdio, sendo o último de 2012, mas só quatro deles foram produzidos antes de Robert morrer devido à AIDS, em 1989. Ele queria ter fotografado Patti para a capa de Dream of life (1988), mas o último retrato que fez da cantora foi dela com sua filha Jesse – fruto de sua união com Fred Smith – no colo.
Robert dizia que a filha de Patti era perfeita e lamentava nunca ter tido nenhum filho com ela. Patti retrucava afirmando que os filhos deles foram os trabalhos. Sobre ele, Patti escreveu:
“Aprendi que, muitas vezes, a contradição é o caminho mais desimpedido para a verdade.”
Mapplethorpe faleceu em março de 89, deixando a artista em Detroit com sua família. Mas Patti não esperava que apenas cinco anos depois, experienciaria mais uma vez o luto pela perda de um amor: em 94 foi a vez de Fred partir. Como se não bastasse, seu irmão Todd também faleceu em seguida.
Seguindo as recomendações de Allen Ginsberg e John Cale, Patti foi procurar ajuda terapêutica para se recuperar da dor, tornando-se, mais tarde, grande incentivadora do tratamento para doenças mentais, defendendo a formação de serviços de atendimento a suicidas por telefone.
Em dezembro de 1995 fez uma breve turnê musical ao lado de Bob Dylan (que foi registrada em um livro de fotografias de Michael Stipe), e quando seu filho Jackson completou 12 anos, Patti regressou ao seu lar, de volta para Nova York.
Alcançando o sonho
“Desde que comecei a fazer uso da razão eu tento ser livre, escapar dos limites do mundo, da existência mundana, sair da fábrica.”
Em 1996, Patti retornou para a música e gravou o álbum Gone Again, no qual fez uma homenagem à Kurt Cobain, na faixa About a Boy. Depois desse, vieram mais quatro álbuns, sendo o último de 2012.
Mas quem conhece Patti Smith sabe que ela foi muito além da música. A própria artista confessa que "nunca pensou em cantar numa banda de Rock and Roll, mas que isso acabou acontecendo, já que tudo na sua vida sempre mudou rapidamente" no documentário Dream Of Life (2007) de Steven Sebring, que faz um apanhado sobre a sua vida. Talvez tenha sido esse mundo particular e em constante oscilação que permitiu que Patti se expressasse através de múltiplas facetas.
Mulher, homem, cantora, compositora, atriz, escritora, poeta, pintora, ativista política, filósofa e revolucionária, ela garantiu o reconhecimento de sua arte, tendo recebido inúmeros prêmios ao longo de sua carreira.
Por sua literatura (ela possui 16 livros publicados), conquistou em 2003 o Prêmio de Poesia de Turim, em 2005 foi nomeada pelo Ministro da Cultura da França líder da Ordre des Arts et des Lettres, em 2010 venceu o National Book Award na categoria não-ficção por seu belíssimo relato autobiográfico em Just Kids (Só Garotos) e, em 2011, foi reconhecida pela Real Academia Sueca de Música por ter dedicado sua vida à expressão da arte nas mais diversas formas. Segundo a Academia, a cantora-poeta demonstrou quanto rock’n’roll há na poesia, assim como quanta poesia há no rock’n’roll.
Aos 69 anos, considerada pela revista Rolling Stone como uma das cem artistas mais influentes de todos os tempos, Patti Smith conseguiu seu lugar na história do mundo e da arte, e seu grito que fez uma geração inteira levantar não deixa de reproduzir ecos.
Da figuração ingénua dos anos da Slade School of Art (1952-1956); às primeiras colagens políticas; à narratividade do bestiário das Operas e das Vivian Girls; à visceralidade dos acrílicos com figuração humana; aos complexos estudos realizados a lápis, aguarela, aguada ou tinta sobre papel; às gravuras a água-forte e água-tinta em compulsiva reinvenção literária até aos primeiros pastéis de grande formato (1994), o trajecto desenvolve-se em progressivo naturalismo, complexidade, exigência técnica e domínio obsessivo do desenho. O encontro determina todo o trabalho subsequente e o lugar de produção maior de Paula Rego: a tela, primeiro, o papel depois, desconcertantemente riscado a pastel.
À seminal série “Mulher Cão” (1994) sucedem outras de importância fundamental no corpo de trabalho de Paula Rego, como as “Avestruzes Dançarinas do filme Fantasia de Disney” (1995); “O Crime do Padre Amaro” (1997-98) ou “Aborto” (1998-99). Obras como o tríptico “The betrothal, after Marriage à la Mode by Hogarth” (1999); “Metamorfose” (2002) ou “Guerra” (2003) são apresentadas junto a outras mais recentes como “A Sala de Shakespeare” (2005); “A tia (Nada)” (2006) ou Promessas Desfeitas (2006), que antecipam o derradeiro diálogo expositivo estabelecido entre os monumentais trípticos “O Homem Almofada” (2004) e “O Pescador” (2005), exibidos, respectivamente, na primeira e última salas do percurso. A referenciação e citação artísticas (Goya, Hogarth, Daumier, Ensor, Freud, Bacon); a “re-imaginação” literária (Charlotte Brontë, Franz Kafka, Hans Christian Andersen, Martin McDonagh); o naturalismo inventivo (produção fantasista dos cenários e sua observação directa) e o convencionalismo nos materiais utilizados são componentes de um classicismo intemporal que actua critica e desconstrutivamente sobre a contemporaneidade política, social e moral. Do particular para o geral, de dentro do seu próprio mundo, em grito, para a possibilidade de um entendimento da justiça universal.
??“Pinto para dar uma face ao medo”, disse um dia uma das mais conceituadas pintoras do meio artístico britânico. Paula Figueiroa Rego nasceu em Lisboa, em 1935. Oriunda de uma família da alta burguesia, frequenta o colégio St Julian’s, no Estoril. Os professores cedo reconhecem o seu talento para a pintura e incentivam-na a prosseguir uma carreira que em Portugal estava destinada aos homens ou a jovens de sociedade, enquanto breve devaneio diletante, antes de se tornarem esposas e mães.
O término dos estudos em Londres determinaria um outro futuro; aceite pela Slade School of Art (1952-1956), Paula Rego conhece o pintor Victor Willing, com quem vem a casar, e aprende a fazer “arte de adulto”, como chama à pintura de cavalete. Gestualista e espontânea, habituada a desenhar no chão, em contacto directo com os objectos da pintura, esta nova forma de criar afasta-a do seu universo infantil, das estadas na Ericeira em casa dos avós paternos, das histórias terríficas da tia Ludgera, das ilustrações do Blanco y Negro e do Pluma y Lapiz do avô, e dos livros ilustrados com gravuras do pai.
A viver na Ericeira (1957-1962) após o nascimento da primeira filha, é numa ida a Londres, dois anos depois, que Paula Rego encontra Dubuffet e, com ele, a libertação. A Arte Bruta vinha justificar a sua necessidade de romper com o instituído e com a conformidade hipócrita que exalavam da ditadura de Salazar e da moral bafienta de uma religião com que não se identificava. A violência de Salazar Vomitando a Pátria (1960) encontra eco noutras obras deste período. Dentes, vómito, sangue, garras, excrementos e órgãos sexuais são lançados na tela num ímpeto feroz, apenas refreado pela técnica da colagem de fragmentos de jornal, inquietantes testemunhos de um presente compactuante com o estado das coisas. Cães Vadios (1965) é outra parábola à opressão da ditadura, esta baseada num artigo de jornal sobre o envenenamento de cães vadios em Barcelona. À falta de imagens impressas, Paula Rego desenha as figuras, que recorta, cola e repinta, num ritual de mutilação que não é alheio ao acto criativo.
Os anos 60 são pontuados por exposições colectivas em Inglaterra e pela primeira individual em Portugal, na Galeria de Arte Moderna, nas Belas-Artes (1965-1966), onde é muito bem recebida pela crítica.
Os anos 70 foram anos de consolidação e de mudança: ganha uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian para fazer pesquisa sobre contos infantis (1975); figura com onze obras na exposição Arte Portuguesa desde 1910 (1978); dá-se a falência da empresa familiar e a venda da quinta da Ericeira (1979) e instala-se definitivamente em Londres com a família. As colagens dos anos 70 seriam as últimas. Paula Rego ansiava por voltar à pintura, mais livre, mais directa. A morte do pai, em 1966, marcou um regresso ao desenho, que se assume em definitivo na série de acrílicos sobre papel O Macaco Vermelho (1981). O seu mundo intimista, de memórias infantis, inspirado em dados reais ou imaginários, mas sempre conscientes, é agora interpretado por figuras antropomórficas. O macaco, o leão e o urso, saídos de um teatro de criança de Vic Willing, interpretam as histórias que Paula Rego inventa ou recria. O quotidiano e os dramas humanos são aqui retratados com uma mestria que atinge o seu culminar na série de grande formato das óperas (1983) e no cinemático Muro dos Proles (1984), de mais de seis metros de comprimento, inspirado na obra literária de George Orwell. As histórias desfilam em sequências ordenadas, em que os referentes são mais ou menos óbvios e em que predominam uma sexualidade e uma agressividade perturbantes. Os personagens, saídos do catálogo da Disney ou de ilustrações de contos infantis, actuam como figuras de Bosh, dignos habitantes de um Inferno contemporâneo.
A viragem radical dá-se com a série da menina e do cão. A figura feminina assume claramente a liderança na acção, enquanto o cão é subjugado e acarinhado. A menina faz de mãe, de amiga, de enfermeira e de amante, num jogo de sedução e de dominação que continua em obras posteriores. Sentimentos e papéis debatem-se num merry-go-round onde dominadores e dominados se confundem. Tecnicamente as figuras ganham volume, o espaço ganha solidez e autonomia, a perspectiva cenográfica está montada. Em 1987, Paula Rego assina com a galeria Marlborough Fine Art, o passo que faltava para a divulgação internacional.
A morte de Vic nesse ano é assinalada em obras como O Cadete e a Irmã, A Partida, A Família ou A Dança, de 1988, em que o espectro da separação e a autonomia da mulher em relação ao elemento masculino estão presentes. A convite da National Gallery, em 1990, Paula Rego ocupa um ateliê no museu e pinta várias obras inspiradas na colecção. Tempo – Passado e Presente (1990-1991) conclui a série das despedidas, numa recriação feliz de momentos da infância, de referências aos clássicos e de vivências quotidianas.
Em 1994, Paula Rego realiza a série de pinturas a pastel intitulada Mulher-Cão, que marca o início de um novo ciclo de mulheres fortemente simbólicas, representadas sozinhas, mas aparentemente escravizadas a algum parceiro ausente ou imaginário (Fiona Bradley, 1997).
Esta espécie de regressão, do humano ao animal, tem paralelo na série do Aborto (1997-1999), crítica aberta ao referendo que em Portugal justificou a continuação da criminalização do aborto. Nesta série, a mulher é colocada numa situação de vulnerabilidade, sustentada por posturas menos dignas ou incómodas pelo significado que encerram. Não há alegoria ou parábola. A realidade invisível, apenas sugerida, é mais desconfortável do que a delação de situações sociais da série inspirada nos desenhos de Hogarth (Betrothal, 1999), ou do que a subversão de temas religiosos (série O Crime do Padre Amaro, 1997-1998; Marta, Maria e Madalena, 1999).
Mães e filhas, passado e presente, crescimento e envelhecimento atravessam A Casa de Celestina (2000-2001), palco privilegiado onde desfilam as mulheres da vida de Paula Rego, as mulheres da nossa vida, num banquete em que o ar ausente dos actores garante que, ali naquele momento, se alimentam apenas de sonhos. Sonhos de quem não queria crescer.
“A pintura de Paula Rego não pode ser classificada como conservadora ou académica, mesmo se ela vem sendo (em especial desde o seu trabalho na National Gallery) um exercício de reaprendizagem dos meios de expressão pictural, reapropriando-se da possibilidade da representação humana e aprofundando os recursos da volumetria ilusionística do quadro, em contacto com as lições dos mestres antigos e de alguns contemporâneos (como Lucian Freud, que especialmente admira). «O naturalismo está muito fora de moda, mas eu não me importo», declara Paula Rego. «A moda passará. Estas revolucionárias ‘pinturas silenciosas, com as suas réplicas sombrias’, sobreviverão», comenta Maggie Gee num artigo do «Daily Telegraph».
As “Avestruzes”
“The Ostriches couldn’t have been done if I hadn’t been the age I am. A younger woman wouldn’t know what it was like; longing for things that are not gone, because they’re inside one, but that are inaccessible.” Paula Rego
Deitadas, expectantes, aguardando o calvário, encontramos personagens que nunca se transformam em ícones abstractos da desgraça. Se, por exemplo, na série de «Avestruzes Dançarinas» (1995) a pesada figura das mulheres contrastava com a ideia de leveza que associamos à dança, tornando-as paradoxais, neste caso a representação realista dos corpos reforça o carácter tangencial das situações representadas. Como em Lucian Freud ou Francis Bacon, P.R. transforma cada corpo numa instância dramática. A própria utilização do pastel encaixa na necessidade de explicitar a presença da carne como lugar da dor, sem simbolismos nem diferições. Os corpos possuem uma animalidade não dissipada pela cultura que os envolve, têm a imperfeição e a rudeza necessária para que nos identifiquemos com eles.
Não havendo propriamente uma relação temática entre as duas séries, não deixam de notar-se evidentes continuidades. Desde logo na afirmação de um olhar feminino na leitura da violência estática que impregna a série em torno do aborto e contamina a dicotomia feminino/masculino nas pinturas inspiradas na história de Amaro. Por outro lado, também aqui estamos no território do segredo, da realidade velada. Um espaço que só é possível desvendar através da sua própria encenação. P.R. inspirou-se claramente no livro de Eça, mas produziu um jogo de espelhos que faz jus à complexa e contraditória personalidade do padre. Não há, portanto, ilustração literária mas um entendimento de que a literatura (como noutros casos em que explorou o imaginário e a cultura popular) participa de modo difuso na tessitura cultural contemporânea.
De quadro para quadro, P.R. vai explicitando a personalidade ambivalente do sacerdote, representando-o como um semi-homem infantilizado («A Companhia das Mulheres») ou com a autoridade de um representante de Cristo na terra («O Embaixador de Jesus»), cruzando na figura do homem adulto, quer a criança reminiscente, quer o homem egoísta. É quase sempre um jogo de pesos e contrapesos como em «A Cela» onde o corpo de um Amaro adulto, deitado num divã, oculta a presença de uma boneca. P.R. reinterpreta o romance de forma fragmentária, lê-o visualmente e constrói uma narrativa autónoma. O espaço definido em cada cena, cada elemento incluído, funcionam como um indício efectivamente importante na construção do drama psicológico.
Em «Untitled» de modo mais evidente, mas também na série inspirada pelo romance queirosiano, a artista não circunda a realidade que pretende abordar. Quando olhamos estas personagens, não são estereótipos o que julgamos ver. Elas possuem a densidade suficiente para encarnar a dor ou uma demência torrencial produzida em funestas circunstâncias.”
DOIS anos depois de o CCB ter apresentado um largo panorama da sua obra, Paula Rego volta a mostrar em Lisboa uma importante exposição. São duas séries – «O Crime do Padre Amaro» e «Untitled» – que vão buscar à literatura realista e à própria realidade portuguesa o pretexto para a instauração de um teatro funesto onde a dor e o silêncio dominam. Apresentam-se, para além das pinturas, os esboços preparativos sendo possível entender o papel determinante que o desenho ocupa hoje na sua pintura. Por trás da série «Untitled» está a recente realização de um referendo em Portugal em torno da despenalização do aborto. P.R. ficou indignada com o desfecho do processo, funcionando «Untitled» como a denúncia de um problema que quase sempre a comunidade preferiu manter na clandestinidade.
Não é a primeira vez que a sua pintura assume objectivos claramente políticos. Já nos anos 60, a ditadura salazarista, os modelos familiares tradicionais e a ordem estabelecida serviram de pretexto a uma pintura repleta de personagens de fábula ou à beira do informe onde o quotidiano do país era invocado de modo irónico ou expressionista.
«Untitled» surge no final dos anos 90, numa altura em que a sua pintura se orienta para o diálogo com grandes mestres da composição como Velázquez, explorando processos de representação pré-modernos. O que desde logo ressalta como imagem genérica desta série são as qualidades teatrais desta pintura, o modo como a «mise-en-scène» é adequada à situação pretendida, intensificando a tensão interpelativa de cada cena. Um exemplo: num dos quadros vemos uma rapariguinha sobre um divã contorcendo-se com dores. Pela roupa que veste – uma saia de colegial e uma camisa impecavelmente branca – podíamos situá-la numa qualquer década anterior ao 25 de Abril. Mas há um pormenor que trai qualquer intenção de fazer pintura de época: a rapariga traz calçadas umas sapatilhas «Nike» que, obviamente, não condizem temporalmente com a restante indumentária. É afinal uma forma subtil de explicitar que qualquer coisa está fora do tempo. Que os anacronismos prevalecem e não falamos apenas de roupa.
«É tudo copiado à vista», insiste a artista, que expõe com as pinturas os seus desenhos preparatórios realizados com a constante presença dos modelos, desvendando assim os «segredos» de atelier, a «ordem e a disciplina» do trabalho do quadro em que se sustenta o seu poder de subversão. «Aprender a desenhar é muito importante. Eu também não sei muito bem, mas estou a aprender», diz Paula Rego.
De facto, não existe consenso crítico, nem mesmo coexistência pacífica, em torno da sua obra, embora as vozes que a pretendem colocar no exterior da «arte contemporânea» não se façam ouvir publicamente. A pintura de Paula Rego, no processo da continuada renovação com que amplia cada vez mais o seu poder de intervenção, não é a mera sobrevivência da linguagem ultrapassada da pintura, como alguns dizem em surdina, mas uma imensa prova de vitalidade criadora, e a contradição mais subversiva da pretensa ruptura que teria conduzido a tradição da arte, «circa 1968», a não ser mais do que um exercício aplicado no reducionismo e na desmaterialização dos seus meios, revalorizado pela rotação das modas. Não se trata aqui de um retorno ao passado ou de um «regresso à ordem», mesmo se a esta designação, que nos anos 20 se aplicou ao reaquacionar das buscas e impasses das primeiras vanguardas, se não pode associar genericamente uma conotação política ou artisticamente reaccionária.
Tentando minimizar o potencial de contestação que esta pintura opõe à insignificância do «mainstream», é habitual insinuar-se a vinculação de Paula Rego a uma tradição artística que seria apenas regional, colocada à margem da história e alheada da sua direcção dominante, cujo significado não ultrapassaria as margens das ilhas britânicas. Afinal, Paula Rego, sugere-se, não teria ascendido à circulação internacional (veja-se na última «Arte Ibérica» a medíocre contabilidade dos «únicos artistas verdadeiramente conhecidos no exterior» que fazem Delfim Sardo e Vicente Todoli). De facto, Paula Rego faz parte de uma linhagem que tem em Bacon e em Freud os seus nomes maiores (mas que tem outros expoentes distintos em diversos lugares), e já se afirmou como o nome mais importante entre as gerações mais novas da chamada Escola de Londres. Numa recente montagem dos espaços da Tate Gallery, Paula Rego presidia com o seu grande quadro A Dança, de 1988, a uma vasta galeria dedicada à tradição britânica da pintura narrativa do séc. XX («People and Places»), onde se sucediam a Walter Richard Sickert, obras de Stanley Spencer, Carel Weight, Ronald B. Kitaj, David Hockney, Peter Blake e outros pintores que contam histórias, sugerem situações ou descrevem relações humanas.
Mais exactamente, Paula Rego encontrou no meio britânico, menos dependente das concepções vanguardistas da modernidade e também da circulação das modas, as condições favoráveis para aprofundar um trabalho com raízes portugueses, que mergulham nas suas memórias pessoais, decorrem dos incidentes da sua vida e interpelam as prisões mais fundas da nossa existência colectiva. É provável que a vitalidade desafiadora das suas últimas obras resulte dessa dupla localização.
Depois da retrospectiva que em 1997 se viu no CCB, o Centro de Arte Moderna torna agora possível continuar a seguir de perto a obra de Paula Rego, com duas exposições complementares onde se mostram as suas últimas pinturas, feitas «sobre» e para Portugal. Entretanto, expõe-se na Galeria 111 uma recente série de gravuras, «A Cruzada das Crianças», onde mais uma vez são as lendas e o imaginário colectivo que sustentam o comentário actual do desconcerto do mundo; na mesma exposição, duas grandes pinturas e outras obras dos anos 80 permitem revisitar alguns dos passos anteriores de um continuado itinerário de libertação.
A Assembleia da República, os governantes e as autoridades públicas têm de intervir perante a situação que se está a verificar na empresa CTT e no serviço público postal – e perante a gravidade dos problemas que estão a ser sentidos pelos utentes e pelos trabalhadores dos correios.
O serviço postal sempre foi vital para as populações, particularmente no interior do país ou nas ilhas, com a ligação à vida das populações, contrariando o isolamento e o abandono. Encerraram escolas, tribunais, juntas de freguesia. Encerraram centenas de estações e postos dos CTT: 564 desde 2009! E agora é a própria distribuição do correio que está a ser degradada.
As estruturas representativas dos trabalhadores da empresa, e nomeadamente o SNTCT/Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações, apontaram recentemente situações concretas em 32 Centros de Distribuição Postal, de vários pontos do país, onde se identificou pelo menos um local onde o correio só está a ser distribuído uma vez por semana.
Durante anos, foram chegando à Assembleia da República alertas e denúncias de problemas deste tipo. Mas agora temos o relato sistematizado com a referência específica de casos como estes – e não temos dúvidas de que muitos outros existem que estão por identificar.
Foram apontadas 132 situações, em 55 CDP, em que a distribuição postal é efectuada com “giro em dobra”, isto é, recorrendo à disponibilidade de carteiros que trabalham para além da distribuição que lhes está atribuída na sua jornada. Há cartas que ficam vários dias no Centros de Distribuição Postal à espera para serem entregues.
Chega a haver 15 dias de atraso ou mais na chegada dos vales postais com as pensões de reforma. E depois disso o reformado vai de estação em estação e não há dinheiro em lado nenhum. Isto acontece de forma recorrente, em diversas regiões do país!
Temos o relato de centenas de giros agenciados, isto é, distribuição de correio subcontratada a indivíduos, a empresas – que em cada momento podem ou não garantir o serviço, e que não estão enquadrados na estrutura dos CTT nem são por eles substituídos se faltarem.
Há uma descaracterização e uma desarticulação geral nas estações de correios e o trabalho que aí deve assegurar o serviço público postal. As estações foram transformadas em bazares e os trabalhadores do serviço postal transformados em vendedores de livros, discos, materiais de papelaria, etc., etc., etc.
Agora, como se não fosse bastante, meteram um banco dentro dos correios, com todas as exigências de serviço e funcionamento para os seus trabalhadores e para o atendimento às populações. São dezenas de estações dos correios, especificamente apontadas pelos trabalhadores, onde as filas de espera e os tempos de espera se tornam insuportáveis para os utentes enquanto são colocados funcionários pela empresa, não no atendimento ao serviço postal…, mas sim no serviço bancário!
Entretanto, tudo isto sucede nos CTT, nesta mesmíssima empresa onde está a ser levada a cabo uma verdadeira operação de despedimento colectivo encapotado, por via de cartas para “rescisões por mútuo acordo” para trabalhadores de diversas áreas, de Norte a Sul do País. Fonte oficial dos CTT afirmou para a comunicação social que a empresa iniciou "um processo de optimização de recursos humanos"!
Ora, como o SNTCT refere, os CTT têm um Acordo de Empresa que permitiria fazer as tais “optimizações” (se fosse disso que na verdade se estivesse a tratar) sem qualquer necessidade de destruir postos de trabalho. Como é evidente, não é isso que está em causa. A empresa quer colocar trabalhadores no desemprego, quando na verdade falta pessoal em vários sectores. Ainda para mais, este processo tem a agravante de suscitar denúncias dos trabalhadores sobre pressões, chantagens, assédio moral.
O PCP já confrontou o Governo com a necessidade de uma resposta muito clara a esta situação e a esta actuação dos CTT – quer no tocante à garantia da qualidade e da regularidade do serviço público postal, quer no que aos direitos dos trabalhadores e das suas condições de trabalho diz respeito. E hoje mesmo foi aprovado na Comissão Parlamentar de Economia, Inovação e Obras Públicas o Requerimento do PCP no sentido de ouvir na Assembleia da República as organizações representativas dos trabalhadores dos CTT e também a Autoridade Nacional de Comunicações sobre esta situação.
Estamos perante um quadro que é indissociável da privatização dos CTT – e que confirmam os alertas que sempre manifestámos no combate a esse processo. O que esta realidade vem demonstrar é que, mais uma vez, são os sacrifícios de quase todos que estão a dar muito dinheiro a ganhar a alguns.
Só entre janeiro e setembro deste ano, os lucros dos CTT atingiram 46 milhões de euros. Isto soma-se aos 72,1 milhões registados em 2015, aos 77,2 milhões em 2014, aos 61 milhões em 2013. E quase todo este dinheiro, num valor que aumenta de ano para ano, é distribuído em dividendos aos grupos económicos a quem o anterior Governo vendeu a empresa.
Para os accionistas e administradores dos CTT o quadro pode ser de “optimização”. Mas para os utentes dos correios, para os trabalhadores dos correios, para as populações votadas ao abandono, não há optimização nenhuma – o que existe na verdade mais depressa se poderia chamar de “pessimização” a todos os níveis!
É que para garantir esta política de lucros máximos para os grupos económicos, estão a impor péssimas condições de trabalho, péssimas condições para a prestação do serviço público, péssimas situações e problemas gravíssimos no dia-a-dia de todos aqueles que precisam dos correios como serviço público de qualidade, factor de desenvolvimento, de coesão social e territorial!
É imperioso que haja vontade política para enfrentar os interesses dos grandes grupos económicos que hoje controlam os CTT, e para pôr cobro a esta política de ataque ao serviço público e aos seus trabalhadores. Por isso saudamos a luta dos trabalhadores e dos utentes dos correios, e continuaremos, lado a lado com as populações, a intervir na defesa do serviço público postal e dos CTT verdadeiramente ao serviço do Povo e do País.
Vídeos - Protesto Anti-imperialista contra OSCE Summit em Hamburgo, Alemanha.
"Contra os belicistas da OSCE e do G-20! Viva a resistência do povo!"
8 e 9 de Dezembro em Hamburgo realizou uma reunião de Ministros dos Negócios Estrangeiros da "Organização para a Segurança e Cooperação na Europa" (OSCE) .
Em a ocasião desta cimeira imperialista da Liga contra a agressão imperialista I organizar uma manifestação com o slogan "Contra os belicistas da OSCE e do G-20! Viva a resistência do povo! ".
Como o mundo está cravejado de anticomunistas, qualquer coisa que se diga sobre um comunista, por muito estapafúrdio que possa soar, medra. Qualquer mentira que se diga torna-se verdade. Ninguém pensa sobre o que ouve ou sobre o que repete.
Noutro dia, ouvi esta barbaridade dita por um amigo meu: “o Fidel comia lagosta diariamente ao almoço, enquanto o povo passa fome”. A barbaridade não era da sua autoria. Leu-a de um adolescente anticomunista que, pelos vistos, trabalha para o Semanário Sol e escreve barbaridades para o Jornal i. Tenho notado que ser-se um ignorante anticomunista faz muito bem em termos de carreira. O adolescente vai muito bem lançado.
Em primeiro lugar, ninguém passa fome em Cuba e tão pouco existe mendicidade. Mas não dispersemos, vamos ao busílis da afirmação: a lagosta!
Quem tem o privilégio de visitar Cuba, mesmo aqueles que não saem das estâncias balneares de Varadero, todo incluido, mesmo aqueles que têm medo de se misturar no meio da multidão, conseguem vislumbrar, ao longe, no mar, pescadores cubanos, por vezes a bordo de uma simples câmara de ar, a pescar a dita cuja lagosta, em boa verdade, uma espécie de lagostim que existe em grandes quantidades ao largo da costa cubana.
Quem ouve tamanho disparate de que Fidel comia lagosta todos os dias, pensa que comer lagosta em Cuba é tão precioso como comer lagosta em Portugal. Mas não. É ainda mais comum do que comer sardinhas assadas. Se refletirmos um pouco, todavia, seria altamente improvável que Fidel mantivesse uma tal dieta e conseguisse simultaneamente atingir os noventa anos de idade.
Tive eu o trabalho de explicar tudo isto ao meu amigo. Ele, todavia, não ficou muito convencido. Prefere acreditar-se nos disparates do adolescente anticomunista que nunca visitou Cuba. É que na verdade, as barbaridades que se escrevem sobre Fidel e sobre Cuba vão de encontro ao que ele próprio acredita. E isso tem muita força. Tem muito mais força que a força de qualquer verdade ou evidência.
A corrida da primeira expedição ao Polo Sul começou em Junho de 1910, quando Robert Scott deixou a Inglaterra no navio Terra Nova em direcção ao Hemisfério Sul.
Dois meses depois, o norueguês Roald Amundsen partia com o mesmo objectivo, já que não havia conseguido ser o primeiro a chegar ao Polo Norte. Frustrado, ele ouvira em 6 de Abril de 1909 a notícia de que Robert Edwin Peary havia completado a façanha antes dele e decidiu concentrar os seus esforços na conquista do Polo Sul.
Experiente na sobrevivência a baixas temperaturas (já havia passado um inverno na Antártica e participado de excursões ao Ártico), ele sabia que cães esquimós eram mais adequados que os póneis escolhidos por Scott para puxar os trenós.
Além disso, Amundsen levou sacos de dormir forrados com peles grossas, uma cabana semipronta e várias tendas impermeáveis.
A verdadeira aventura desta expedição ao continente gelado começou a 20 de Outubro de 1911. Até aí, Amundsen havia passado oito meses a estudar a região. Várias vezes ele havia avançado até 85 graus de latitude, depositando reservas de comida. As temperaturas chegavam aos 50 graus negativos, como registou Amundsen no seu diário.
A primeira incursão ao Polo Sul havia sido interrompida em Setembro, quando Amundsen e os seus quatro melhores homens desistiram por causa das fortes tempestades de neve. Em Outubro, com a chegada do Outono, Amundsen partiu novamente com os seus quatro companheiros, levando quatro trenós e 48 cães. Cada trenó transportava 330 quilos de mantimentos e equipamentos.
Os primeiros 150 quilómetros foram percorridos de trenó. Nos 500 quilómetros seguintes, foram rebocados por esquis, sem gastar muita energia. Depois de chegarem a 3,2 mil metros de altura, mataram os 24 cães em pior estado e guardaram a carne para quando retornassem.
No dia 14 de Dezembro de 1911, finalmente, desfraldaram a bandeira da Noruega no Polo Sul. O triunfo foi comemorado com charutos. O grupo partiu quatro dias depois. Sabendo que Scott ainda chegaria, deixaram uma tenda, peças de roupa, vários instrumentos para orientação e uma carta:
"Prezado senhor comandante Scott, já que tudo indica que o senhor será o próximo a atingir este local, peço que envie esta carta ao rei Haakon 7º. Caso possam fazer uso de alguma coisa que deixamos, não hesitem. Espero que o trenó também possa ser útil. Atenciosamente e com os votos de um bom retorno, seu Roald Amundsen."
Seis semanas demorou a viagem de retorno até à base da equipa de Amundsen. Scott, por seu lado, também chegou ao acampamento deixado por Amundsen. A moral do grupo, entretanto, ficou bastante abalada ao saber que não tinham sido os primeiros.
Nas suas anotações, Scott culpou o mau tempo pelo fracasso. Ele e o grupo morreram de frio e de fome. O último registo foi feito a 19 de Março de 1912, quando estavam a 17 quilómetros de um depósito de comida. Os corpos foram encontrados oito meses depois por uma equipa de resgate.
Da direita para a esquerda: Roald Amundsen, Helmer Hanssen,Sverre Hassel e Oscar Wisting em "Polheim", a tenda instalada no Polo Sul em 16 de Dezembro de 1911. A bandeira é a da Noruega. Fotografia de Olav Bjaaland.
Médico do século XVI, Michel de Nostradame nasceu a 14 de dezembro ou 21 dezembro de 1503 (dependendo das fontes), em Saint Remy, na França, no seio de uma família judia.Graças aos ensinamentos dos seus avôs, quando Michel foi para a escola, em Avignon, aprender filosofia, gramática e retórica, já tinha conhecimentos profundos de literatura clássica, história, medicina, astrologia (que na altura era considerada uma ciência legítima) e medicina natural.
Nostradamus (versão do seu nome em Latim) tornou-se conhecido pelo tratamento que concebeu para combater aPeste Negra, que deflagrou na Europa durante o século XVI. A cura utilizada por Michel de Nostradame consistia na limpeza do corpo e administração de vitamina C aos seus pacientes. Sempre que entrava numa localidade para dar consultas, o médico pedia que fossem retirados das ruas todos os corpos que lá se encontravam abandonados.Em 1537 a peste chegou a Agen, onde Nostradamus vivia com a família. Ocupado com a cura da população, não conseguiu salvar a mulher e os dois filhos. Começou a questionar as suas capacidades enquanto médico e, desapontado, viajou pela Europa sem destino durante seis anos. Foi nessa altura que Nostradamus se apercebeu dos seus poderes proféticos.
Dez anos depois da morte da sua família, Michel de Nostradame mudou-se para Salon, onde voltou a casar. Na sua casa montou um estúdio privado, onde instalou um astrolábio, espelhos "mágicos", um tripé e um recipiente de vidro de forma redonda, que ele desenhou a partir dos modelos usados nos oráculos.
À noite Nostradamus retirava-se para o estúdio, onde fazia experiências com ervas pungentes. Durante alguns anos o médico optou por não divulgar as suas descobertas científicas.
Em 1550 publicou o primeiro almanaque de profecias, Quadras um conjunto de doze quadras com profecias genéricas para cada altura do ano que se aproximava. As críticas favoráveis encorajaram Nostradamus a continuar.
O seu trabalho mais conhecido, As Centúrias, foi iniciado em 1554. A primeira centúria foi publicada em Lyon, em 1555. As restantes publicaram-se nesse mesmo ano, sendo finalizadas em 1558, mas Michel de Nostradame decidiu não as distribuir em grande número. As Centúrias foram impressas por mais de 400 anos.
No seu tempo, bem como atualmente, as quadras proféticas tiveram várias interpretações. As combinações de francês com o provençal, o grego, o latim e o italiano escritas como enigmas, anagramas e epigramas são complexas e exigem que o potencial intérprete tenha conhecimentos de vários campos temáticos.
Algumas quadras de Nostradamus podem encontrar significações em diversas épocas, mas as que lhe deram a fama de ser um dos maiores profetas foram as quadras precisas. À exceção das profecias que se concretizaram no tempo de Nostradamus, é difícil poder dar uma interpretação exata das previsões que o profeta fez e que ainda não se cumpriram.
Apesar de nos últimos anos da sua vida Michel de Nostradame ter sofrido de artrite e de gota, parentes e amigos seus afirmaram que o médico sempre se manteve alerta às profecias.
Um dos factos que admirou grande número de pessoas foi a previsão que Nostradamus fez da sua própria morte.
Nostradamus morreu na madrugada do dia 1 de julho de 1566. O seu epitáfio é uma exaltação ao seu carácter profético.
Nostradamus. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012.
Sidónio Bernardino Cardoso da Silva Pais, foi assassinado no dia 14 de Dezembro de 1918, quando exercia a Presidência de Portugal, por José Júlio da Costa, activista da esquerda republicana.
Na política, Sidónio Pais, exerceu as funções de deputado, ministro do Fomento, ministro das Finanças, embaixador de Portugal em Berlim, ministro da Guerra, ministro dos Negócios Estrangeiros, presidente da Junta Revolucionária de 1917, presidente do Ministério e presidente da República Portuguesa.
Exerceu a Presidência de forma ditatorial, suspendendo e alterando por decreto normas essenciais da Constituição Portuguesa de 1911. Foi cognominado o presidente-rei.
Quando em 1918 ocorreu uma greve dos trabalhadores rurais no Vale de Santiago, José Júlio da Costa assumiu a posição de negociador entre as autoridades e os grevistas, alcançando um acordo. A actuação daqueles trabalhadores, liderados pela ala anarquista da Comuna da Luz de António Correa, foi considerada perigosa para a ordem pública. O governo não aceitou os termos do acordo, sendo os grevistas severamente punidos e alguns deportados para África.
Sentindo-se traído pela falta de palavra das autoridades, Costa jurou vingar os seus conterrâneos do Vale de Santiago, decidindo assassinar Sidónio Pais, visto então pela esquerda radical como o ditador cuja acção era a fonte da opressão das classes trabalhadoras e como o traidor que abandonara à sua sorte o Corpo Expedicionário que combatera em França.
Costa deslocou-se de Garvão, no Baixo-Alentejo, até Lisboa, com o objectivo de acabar com o regime sidonista, ou seja pôr termo à República Nova, assassinando o seu líder. A acção foi cuidadosamente preparada, como indica uma carta escrita por ele mesmo em 12 de Dezembro.
No dia 14 de Dezembro, após jantar no restaurante Silva, localizado no Chiado, dirigiu-se à Estação do Rossio, onde aguardou a chegada do chefe de Estado que deveria partir rumo à cidade do Porto. Quando Sidónio Pais se preparava para o embarque, no primeiro andar da estação, Costa furou o duplo e compacto cordão policial ao mesmo tempo em que disparava uma pistola, escondida pelo seu capote alentejano. O primeiro projéctil alojou-se junto do braço direito do presidente, e o segundo, fatalmente, no ventre, fazendo com que a vítima caísse de imediato por terra.
Apesar da enorme confusão que se instalou, e de que resultaram quatro mortos, José Júlio Costa, não tentou fugir, deixando-se capturar.
Embora não existam provas convincentes, sempre circularam teses que apontavam para o envolvimento da maçonaria na preparação do assassinato de Sidónio, alegando-se que Costa estaria ligado àquela sociedade secreta. Apesar dos rumores, próprios de uma época em que a maçonaria estava sob forte ataque por parte dos círculos mais conservadores, sabia-se que Costa nutria grande simpatia pelo grão-mestre Sebastião de Magalhães Lima. O grão-mestre em carta enviada a um correligionário, afirmou ter mantido contacto com Costa, mas “ achou-o muito doente, receando mesmo pela sua vida que tão preciosa é a esta nossa tão amada terra”. Carecem de prova os rumores de que teria escrito uma carta a Magalhães Lima, que, sem mencionar o pretendido assassinato, teria sido encontrada nos bolsos do grão-mestre quando foi preso e conduzido ao calabouço na noite do assassinato.
Um dos motivos apontados pelos defensores desta tese é o facto de Sidónio ter sido maçom, alegando-se que a maçonaria não perdoaria que os seus antigos membros abandonassem a organização, criando desse modo o mito que Sidónio teria sido morto por outro maçom.
Outro motivo que apontava a cumplicidade da maçonaria na morte do presidente era o conhecido apoio dado pela maçonaria à República e aos republicanos que Sidónio vinha traindo e perseguindo. Tal sentimento tinha levado a uma radicalização de posições, com os defensores do sidonismo a acusar a maçonaria de estar por detrás do atentado fracassado que sofrera em 5 de Dezembro. A reacção antimaçónica levara a que no dia imediato, a 6 de Dezembro, a loja do Grande Oriente Lusitano Unido fosse invadida e saqueada.
A tese de que José Júlio da Costa pertencia à maçonaria jamais foi confirmada, apresentando-se como pouco provável pois aquela era uma organização elitista e urbana, onde um militar de baixa patente dificilmente entraria. No caso de Costa fazer parte de alguma associação secreta, o que não seria de estranhar devido ao seu empenho político, provavelmente pertencesse à Carbonária, um movimento bem mais radical e com forte implantação nas áreas rurais e entre praças e sargentos das forças armadas. Contudo, desconhecem-se provas da ligação de José Júlio com qualquer associação secreta.
José Júlio da Costa faleceu em 1946, aos 52 anos, internado no Hospital Miguel Bombarda, depois de 28 anos preso, sem direito a julgamento.
O condicionalismo industrial, combinado com um ambiente laboral gerido com recurso a uma poderosa polícia política, estimulou a criação de uma classe empresarial que ainda hoje denota algumas dificuldades em se adaptar a um quadro económico, social e político diferente. Ao porque ao longo de décadas o proteccionismo assumiu várias formas, não tendo havido uma rotura com esse passado.
Se na natureza a evolução das espécies é um processo lento, que pode levar muitos milhares de anos e se os processos de aprendizagem das espécies animais são lentos, no caso das empresas, a que se podem aplicar alguns conceitos da teoria da evolução das espécies, tudo pode mudar em poucas gerações.
O grande motor da competitividade reside na capacidade e vontade dos empresários e dos gestores, são eles que se adaptam a novas circunstancias, que buscam novos mercados, que promovem a inovação para ganhar novos clientes, que estimulam os seus trabalhadores a serem mais produtivos, que promovem a inovação tecnológica, que buscam os investidores que apostam em soluções mais sofisticadas.
Se criamos um ambiente social, laboral, fiscal, económico, político e cultural em vez de termos empresários e empresas competitivas teremos empresários e empresas geneticamente fracas. Em vez de procurem soluções competitivas exigem que os Estado lhes garanta a competitividade, em vez de competirem em conformidade com as regras do mercado preferem o jogo sujo da evasão fiscal e da corrupção, em vez de trabalhadores qualificados e motivados preferem trabalhadores submissos e baratos.
Uma empresa que recorre facilmente a esquemas de evasão fiscal não valoriza os estímulos fiscais, uma empresa que não declara os seus trabalhadores pouca importância dá às reformas laborais, uma empresa que recorre à corrupção para ganhar contratos com o Estado ou com outras empresas pouco aposta na qualidade ou na eficiência dos seus processos produtivas, uma empresa que vive de expedientes judiciais e de créditos concedidos de forma pouco clara não precisa de ter rigor na forma como aplica o dinheiro.
Nas últimas décadas o país criou uma geração de empresas e de empresários sem qualidade genética e de pouco servem as políticas governamentais. Depois de décadas de subsídios a tudo e mais alguma coisa, dos mais variados programas de incentivos fiscais e de tudo o mais, uma boa parte das nossas empresas está insolvente, não são competitivas. Não estão doentes, são deficientes.
É hora de os governos fazerem uma abordagem diferente das políticas económicas, preocupando-se não apenas com os resultados das empresas, mas principalmente com a qualidade genética das empresas e empresários que são criados.
O eurodeputado do PCP teceu duras críticas aos partidos que votaram esta terça-feira a favor do Regimento do Parlamento Europeu (PE).
"Um grave ataque à democracia, ao pluralismo e à transparência do funcionamento do Parlamento Europeu". Foi desta forma que João Ferreira classificou o sentido de voto de PS, PSD e CDS.
Em causa está uma proposta, segundo os comunistas, de "limitação da intervenção dos deputados (perguntas, resoluções, declarações escritas, propostas de alteração - nada escapa); concentração de poder nos grandes grupos políticos, limitação dos pedidos de votos nominais (aqueles que nos permitem saber como votou cada deputado em determinado assunto)". E ainda, a instituição de procedimentos legislativos 'fast-track'.
Em suma, critica João Ferreira, "encher chouriços, atar e pôr ao fumeiro, sem escrutínio democrático e sem incómodas propostas de alteração".
A proposta de Regimento, que está em discussão há dois anos e que vai ser votada em plenário, teve o voto favorável dos deputados Paulo Rangel (PSD) e Pedro Silva Pereira (PS) na Comissão de Assuntos Constitucionais de que fazem parte, lê-se no site do PCP, onde é dado a conhecer que João Ferreira, lançou um apelo público a favor da suspensão imediata da revisão do Regimento, e pelo aumento da democracia, do pluralismo e da transparência no funcionamento do PE.
Estão mortas, mas pela aparência podia jurar-se que a vida apenas está em suspenso. Conheça doze histórias de múmias e cadáveres embalsamados onde a História parece ter parado no tempo. Se o túmulo promete ser a última morada de todos nós – que para morrer basta estar vivo e essa é a única certeza que se tem – as histórias destas doze pessoas parecem desafiar as regras do jogo. Os seus corpos foram tão bem preservados – ora por especialistas em medicina, ora pela própria natureza – que o sopro da morte parece nunca lhes ter tocado. A vida parece estar apenas em suspenso, mesmo naqueles que já morreram há milhares de anos. Na fotogaleria, vagueie pelas 36 imagens de cadáveres mumificados e conheça as circunstâncias que os levaram para última morada com estas características. FOTOGALERIA
Indícios de corrupção passiva levara à detenção do ex-presidente do INEM e da ARS de Lisboa. As investigações prosseguem num caso com ligações à Operação Marquês.
Luís Cunha Ribeiro, médico, ex-presidente do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), que também esteve à frente da Administração Regional de Saúde de Lisboa foi detido esta terça-feira por indícios de corrupção, suspeito de ter beneficiado a Octapharma no negócio do plasma e derivados do sangue.
O caso remonta a 1999, altura em que Cunha Ribeiro fez parte do júri que atribuiu o monopólio da venda do plasma sanguíneo aos hospitais portugueses à farmacêutica suíça Octapharma — de Paulo Lalanda de Castro. O polémico negócio do sangue passava pelo não aproveitamento, em Portugal, do plasma sanguíneo dos quase 500 mil dadores benévolos, anónimos e voluntários existentes no país. O que levava os hospitais portugueses a comprarem, devido a um contrato firmado com a Octapharma, por milhões de euros por ano, o componente do sangue, usado no tratamento de doenças raras e graves, como por exemplo a hemofilia ou imunodeficiência primária.
A partir adjudicação do negócio à Octapharma, o responsável máximo da farmacêutica em Portugal (Lalanda de Castro) terá cedido um conjunto de contrapartidas que passava por dois apartamento de luxo:
O primeiro, situado no edíficio Heron Castilho (o mesmo prédio onde viveu José Sócrates), terá sido cedido para usufruto de Cunha Ribeiro sem que este pagasse qualquer renda.
Um segundo imóvel, localizado na alameda Eça de Queirós, no Porto, terá sido vendido ao ex-líder do INEM por um valor abaixo do mercado através de uma empresa de Lalanda (a Convida), poucos anos depois de ter contribuído para a atribuição do monopólio da venda do plasma à farmacêutica.
Segundo divulgou a PGR, com base na investigação do Ministério Público e da Unidade Nacional de Combate à Corrupção da PJ, Luís Cunha Ribeiro e o responsável pela farmacêutica, Lalanda de Castro, terão “obtido vantagens económicas que procuraram ocultar, em determinadas ocasiões com a ajuda de terceiros. Em causa estão factos suscetíveis de integrarem a prática de crimes de corrupção ativa e passiva, recebimento indevido de vantagem e branqueamento de capitais“.
Os prejuízos ao Estado rondarão os 100 milhões de euros.
A investigação a Luís Cunha Ribeiro teve início após uma reportagem da TVI onde era precisamente denunciado o facto de Portugal não estar a aproveitar os hemoderivados. Na altura, segundo a estação televisiva, Portugal chegou a gastar 70 milhões de euros em hemoderivados. De acordo com a reportagem, se tivesse sido aproveitado o plasma dos 500 mil dadores, o Estado teria poupado milhões de euros.
Que ligações existem à operação Marquês?
As ligações entre Lalanda de Castro e Luís Cunha Ribeiro começaram por ser identificadas durante a investigação da Operação Marquês, onde a farmacêutica suíça tem um lugar de destaque devido ao facto de José Sócrates ter sido seu consultor. Lalanda de Castro foi constituído arguido no caso que envolve o ex-primeiro-ministro por fraude fiscal e branqueamento de capitais.
Nos autor da Operação Marquês estão identificadas ligações de José Sócrates ao negócio de plasma sanguíneo e de produção e distribuição de hemoderivados — mas no Brasil. Como consultor da Octapharma para a América Latina em 2013 e 2014, Sócrates o ponta-de-lança da Octapharma em reuniões com altas individualidades brasileiras, tendo até recorrido ao ex-presidente Lula da Silva para defender os interesses da farmacêutica suíça
Paulo Lalanda Castro tinha interesse em ter uma relação comercial com a Hemobrás — empresa pública federal brasileira que tinha como missão a pesquisa e produção de hemoderivados — ou em participar no acordo de cooperação que aquela empresa pública tinha assinado com o Butantan, um centro de pesquisa biomédica tutelada pelo Governo do Estado de São Paulo.
Através de escutas telefónicas realizadas a Sócrates, a investigação conseguiu reconstituir os contactos que se verificaram com Lula da Silva mas também com o José Ramos Temporão, ex-ministro da Saúde, e Jorge Kalil (presidente do Butatan). Foi durante o mandato de Temporão, mais concretamente em dezembro de 2011, que a Hemobrás e o Butatan começaram as negociações para um acordo de cooperação para a produção de hemoderivados.
Entre setembro de 2013 e até ser detido, José Sócrates tentou recorrer de forma regular a Lula da Silva para o ajudar na consultadoria que prestava à Octapharma.
A farmacêutica acabou por rescindir o contrato com o ex-primeiro-ministro logo após o anúncio da prisão preventiva a 21 de novembro.
Lalanda Castro arguido na Operação Marquês e acusado nos Vistos Gold
Lalanda Castro foi também constituído arguido na Operação Marquês, sendo que além dos crimes de fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais, foi igualmente imputado um crime de alegada corrupção ativa no comércio internacional. Esta situação relacionava-se com alegados pagamentos ilícitos realizados a responsáveis políticos do governo da Líbia. A informação, divulgada no seguimento da Operação Marquês, foi alvo de extração de certidão para o processo dos Vistos Gold.
No despacho de acusação deste último processo a situação da Líbia não foi alvo de avaliação penal por parte do Ministério Público.
Lalanda Castro veio a ser acusado de dois crimes de tráfico de influência no caso Vistos Gold devido a uma situação queenvolve um processo fiscal de uma das suas empresas (Intelligent Life Solution) e a emissão de vistos de estada temporária para cidadãos líbios que vinham a Portugal receber tratamento médico no âmbito de contrato entre a Intelligent Life Solution e a Líbia.
PARA CHUPAR O SANGUE FRESCO DA MANADA AÍ ESTÁ A MÁFIA DO SANGUE !
QUE BEM QUE ELES FALAM, TODOS DELICADOS, SEMPRE ESCUDADOS NA PRESUNÇÃO DA INOCÊNCIA DÃO "PALMADAS" DE MILHÕES NAS EMPRESAS, NOS BANCOS NAS INSTITUIÇÕES, NO ESTADO.
ELES OS QUE SE BENZEM E SÃO BENZIDOS PELO CLERO REACCIONÁRIO, AGRACIADOS COM CONDECORAÇÕES NÃO PASSAM DE RELES GATUNOS ROUBANDO AO POVO QUE JÁ NADA TEM E CONTINUA A SER O MATADOURO PARA LHES SACIAR O APETITE DE VAMPIROS.
ELES OS FILHOS DA PUTA DO COLARINHO BRANCO, DAS MANSÕES DE LUXO, ONDE VIVEM RODEADOS DE LUXOS SÃO O CANCRO VERDADEIRO DESTE PAÍS.
Crimes na direção de Elisabete Gomes na União Mutualista entre 2003 e 2013. Diretora-geral e presidente do conselho de administração da União Mutualista Nossa Senhora Conceição, no Montijo, entre 2003 e 2013, Elisabete Gomes, de 58 anos, terá, com a ajuda do marido Diogo, de 62, desviado pelo menos meio milhão de euros dos cofres da instituição, do bolso dos utentes e de verbas da Segurança Social. Foram ontem detidos pela PJ de Setúbal. Segundo apurou o CM, as autoridades querem agora avançar para a apreensão dos bens comprados com o dinheiro desviado, mas para já só apanharam um carro porque tudo o resto, acredita a PJ, foi passado de Elisabete para Diogo num "divórcio fictício" tendo em vista esconder os bens à Justiça. De acordo com fonte policial, as suspeitas contra Elisabete Gomes, bancária de origem, partiram do interior da mutualista e após a sua saída da direção em 2013. Uma sindicância do Ministério da Segurança Social identificou um aumento de ordenado ilegal atribuído a ela própria em 2003 - e que em 10 anos terá ‘rendido’ meio milhão de euros. Há ainda suspeitas de se apropriar de dinheiro deixado à instituição por utentes, presencialmente ou em testamento. Num caso, uma idosa deixou milhares em ouro para quando morresse. Elisabete Gomes vendeu-os com a utente ainda viva e terá entregue à mutualista apenas uma parte. A mulher terá ainda remetido para a Segurança Social listagens de utentes em número superior aos que efetivamente apoiava no lar de idosos, apoio domiciliário e creches. Com isso enganou o Estado em mais alguns milhares de euros. http://www.cmjornal.pt
Uma notável entrevista com o poeta, ensaísta, docente universitário, dirigente comunista Manuel Gusmão. Entrevista que, fazendo o percurso de uma carreira, transita por aspectos fundamentais do seu pensamento e da sua criação poética, um e outros dos mais marcantes na vida cultural portuguesa do último meio século.
Manuel Gusmão, conhecido crítico, poeta e professor universitário, continua a escutar, e é dos poucos que ainda escuta, o que nos diz a poesia. Com um percurso já longo, que começa na década de sessenta e que se reparte entre a sua actividade de poeta, crítico e pensador, por um lado, e activista político, por outro, Manuel Gusmão sublinha o carácter dialógico da poesia na nossa comum aventura terrestre e vê nesta o lugar de uma alegria comunicável e partilhável, a forma de uma promessa messiânica. É este diálogo que marca, para ele, tanto a força como a fraqueza da poesia, a sua fragilidade.
A partir de 1989 o Manuel foi coordenador editorial da revista Vértice, mas teve, desde a sua juventude, uma grande actividade ligada a revistas, que eram conotadamente de esquerda e a nossa pergunta é: como é que era ser jovem nessa altura e escrever para revistas que já seriam censuradas na época? Sei que o Tempo e o Modo não era muito ligada ao Partido Comunista, mas, de alguma forma, era uma revista que estava sob a vigilância do regime.
Era uma revista que estava sob a vigilância do regime porque era uma revista ligada aos católicos progressistas que foram bastante importantes nos últimos anos do assalto ao fascismo, e, por outro lado, tinha gente ligada aos socialistas e aos sociais-democratas de esquerda e, episodicamente, gente próxima do Partido Comunista. O Tempo e o Modo foi, por outro lado, o ninho, por assim dizer, da esquerda democrática estudantil, de onde surgiu o MRPP. Os activistas a ele ligados foram roendo a carne e os ossos da revista até ficarem só eles na disputa. E toda a gente, o resto, tinha saído, os católicos, eu próprio tinha saído, o Nuno Júdice, que também lá andou, também tinha saído e tinham ficado os do MRPP. Pergunta-me como é que era a luta de esquerda. Eu respondo-lhe com um exemplo: na passagem dos anos 60 para os anos 70, eu fui colaborador permanente de um jornal, Crítica. As coisas funcionavam assim: os números eram preparados colectivamente pelos colaboradores permanentes em que se incluíam os proprietários do jornal e que eram um grupo de estudantes da mesma geração que a grande maioria dos colaboradores (eram Eduarda Dionísio, o Luís Filipe Salgado de Matos, o Luís Miguel Cintra e o Jorge Silva Melo). Trabalhávamos com um tipografia e especialmente com um tipógrafo. Quando um número (mensal) saía, nós procedíamos à sua distribuição pelas livrarias e tabacarias, onde achávamos que o jornal devia estar à venda. Dividíamos a cidade em quatro zonas e eu com a Eduarda batíamos duas dessas zonas e o Jorge e o Luís as outras duas.
Pertence a um tempo que é hoje, para nós, mítico e povoado de figuras maiores da literatura como José Gomes Ferreira, Carlos de Oliveira, Nuno Bragança, José Cardoso Pires, Urbano Tavares Rodrigues, cuja componente social e de engajamento é fortíssima, algo que parece ter-se perdido hoje. Não acha que é necessário relançar esse debate entre literatura e política, num mundo que se encontra em colapso, como este, o da falência da ideia de União Europeia, da perda da soberania dos países do sul, etc.?
Eu penso que sim. Eu não acho que esse debate tenha verdadeiramente terminado em algum momento. É verdade que perdeu muito o viço e a força. Essa crença que levava os intelectuais, de um modo geral, e os artistas, em particular, a disputarem uma alimentação que era ideológica e essa força, essa energia, era bebidas nas fontes populares, na luta popular ou na insurreição popular. Os intelectuais ganharam a certa altura uma independência relativa no seu trabalho. Não exprimiam directamente a correlação de forças sociais e económicas que marcava a situação de então. Eram capazes de deslocar essas relações tais quais eram à partida e o seu trabalho levava-os a reivindicá-lo como isso mesmo, como trabalho, como acção ou intervenção. Ao longo dos anos 80 o debate foi fortemente condicionado. As forças de direita propuseram uma negociação em que deixaria de haver convulsão, luta e confronto, desde que a esquerda acalmasse as suas exigências e, de certo modo, partes da área da esquerda consentiram nisso e foi moda dizer-se que não existia já esquerda e direita. Ora, eu penso que isso foi um diagnóstico feito prematuramente e que não tinham desaparecido as razões para existir a esquerda e para existir um confronto entre esquerda e direita, mesmo que ele se tivesse deslocado de certos conflitos para outros, ou, mesmo que as palavras de ordem que tivessem unido a esquerda se tivessem tornado menos efectivas. Mas havia sempre que procurar o que poderia ser ou poderia estar ligado a esse vento da esquerda na história, que desarruma as coisas, e que tinha a ver com a possibilidade de os intelectuais não serem apenas um mostrador ou um gestor de existências, mas pessoas que eram solidárias com outras e que transmitiam ou transpunham para o campo da poesia e das artes, das ideias e da cultura, valores que não tinham sido obviamente eles que descobriram, em certos casos, mas dos quais se tinham apropriado, ou que tinham, em alguns casos, reformulado ou dado uma forma mais concretamente manejável no seu tempo. Não acha que essa figura do intelectual desapareceu? Isso já é outra história e é frequentemente mal contada. Quem transmitiu isso em Portugal, quem transportou para Portugal esse debate foi o Pacheco Pereira. O Pacheco Pereira é um homem que tem escrito coisas surpreendentes e surpreendentemente interessantes e capazes nos últimos tempos, mas, ao adaptar o tema da morte do intelectual que lhe vem de França, ao Pacheco Pereira, aconteceu-lhe o que aconteceu a muito boa gente que se meteu nestas coisas: é que ele buscou, na sua teorização, desempenhar o papel que julgava findo. O que Lyotard e outros queriam dizer era que tinha acabado o tempo dos intelectuais universais, portanto os intelectuais já não podiam falar em nome de valores universais porque isso era uma pretensão à universalidade que justamente eles não podiam ter, porque os intelectuais reflectiam sempre a particularidade de certos pontos de vista e a história que eles vendiam sobre a sua universalidade era uma forma de enganar o público. Este ataque à pretensão de universalidade dos intelectuais é denunciado por um sociólogo como Pierre Bourdieu e também por alguém como Derrida.
Em França há o renovar dessa tradição porque há uma série de intelectuais de esquerda ligados à filosofia. Houve sobretudo uma reconfiguração, pois tanto Lyotard como Derrida são pessoas que nunca deixaram o espaço público, sempre mantiveram uma actividade política muito forte.
Há uma dissensão ética; enquanto para alguns era uma questão de ética o participar e o dar testemunho de si na sociedade em que se vivia, para outros a atitude ética era a contrária, era a que exigia o não misturar, o não sujar as mãos na lama da política e da vida social.
No início de Tatuagem e Palimpsesto fala da poesia como uma “incerta chama” que oscila e ondula. E lembramos uma passagem da Crítica da Faculdade de Julgar onde a beleza é comparada de facto à forma da chama. Acha que é possível passar dessa ordem puramente estética como aquela que diz respeito à poesia e às artes em geral para a ordem política. Acha que há essa possibilidade de efectivar essa beleza da chama na ordem política?
Acho. Acho decisivamente que é uma das possibilidades da redenção das nossas coisas, dos nossos casos de vida, vidas perturbadas, onde reside sempre a possibilidade de em algum sítio e algum lugar viver algo que é para nós um acontecimento e a promessa de uma alegria comunicável e partilhável. A possibilidade da estética tem a ver, ou pode ter a ver com uma disponibilidade ética.
Essa ideia de viver a poesia como uma forma de esperança, faz-me pensar sobretudo em Walter Benjamin (um autor que lhe é caro), essa ideia da esperança como urgência porque tem um carácter revolucionário. A poesia não adia essa urgência ao nível da acção? É um paradoxo.
Afasta…adia a acção…
A poesia apazigua o homem. Não haverá aí, de alguma forma, um desvanecimento desse carácter de urgência política e ética?
Sem dúvida.
Isso não é paradoxal?
A mim não me parece um paradoxo. Eu creio que a poesia pode ser paradoxal, de acordo, mas o que a poesia revela da esperança ou da alegria é uma condição de possibilidade delas e…
Portanto será uma condição vivencial nesse sentido…
É. A poesia aparece como o acto de fala da promessa, a forma da promessa. É uma promessa que, ao ser lida, tem de ser repetida, o que desencadeia a contaminação por uma esperança messiânica mas sem Messias.
Exacto. Como Derrida explica muito bem em Espectros de Marx.
É uma esperança sem Messias, é uma alegria sem redenção, uma alegria sem papel passado, digamos assim, e nesse aspecto…
Como é que isso se formula em termos políticos? Como é que se passa dessa esperança da poesia para uma política? Se tal é possível ou se esta esperança não é também desde já política…
Na base há a esperança radical de convivência entre uma coisa e outra, entre a política e a poesia. É um apontar para a possibilidade de serem da mesma natureza.
Isso tem que ver com as teses sobre a história que nós conhecemos, não é, aquela esperança na revolução e com esse carácter de urgência…
Tem a ver com isso mas tem a ver com o facto de cada comunidade, unidade humana ser um diálogo, ser um projecto, como dizia o Hölderlin, e Hölderlin já é um poeta para os tempos de indigência, para quem resolve escutá-lo, e Hölderlin diria que nós somos algo ao nascer do dia, nós somos um diálogo, mas em breve seremos um cântico. Nós nascemos como um diálogo ou seja, a capacidade da linguagem em nós é inata, nós estamos preparados para a linguagem e por isso a linguagem faz-nos e ao fazer-nos nada impede que aquilo que eu faço seja partilhável. E nesse aspecto, se nós existimos nesta dupla condição de esperados sobre esta terra e de preparados para uma linguagem, como diz o Benjamin, está encontrado o quadro para pensar a relação da poesia com o mundo da História.
Agora, voltemos à questão da língua natural e dos seus próprios limites, a linguagem como reinvenção. Como é que certos autores trabalham com aquela que é a sua língua materna, mas também a do inimigo, do colono? Cabe aqui Celan, que escrevia em alemão, a sua língua materna mas que era, ao mesmo tempo, a língua do inimigo, mas também podemos pensar nos escritores contemporâneos dos PALOP, relativamente a uma língua materna que também é a língua do colonizador. Essa não é uma relação cheia de dificuldades e tensões, que afecta profundamente a sua escrita?
É possível. Eu chamava a atenção para o caso das línguas que nasceram do português, e essas línguas foram escolhidas como línguas oficiais, por razões políticas e guerreiras para a unidade dos combatentes. E para possibilitar que os combatentes tivessem êxitos contra o inimigo principal que era o exercito português e, nesse sentido, o combate pelo português quer de Samora Machel quer de Amílcar Cabral, quer de Agostinho Neto são combates essenciais para a afirmação da língua portuguesa enquanto tradição susceptível de transformação, ou seja, ser um território que se encara como uma potência soberana encara o seu próprio território. E nesse aspecto é muito curioso quando nós lemos alguns autores dos primeiros dos países africanos ou lemos alguns dos grandes brasileiros. São…
Como o Guimarães Rosa, por exemplo.
Como o Guimarães Rosa, exacto, era desse que ia falar. Sobretudo no Grande Sertão Veredas é um autor que ultrapassa em muito os jogos já feitos sobre a língua portuguesa e sobre a sua literatura, designadamente, pois ele usa um estádio de língua que parece um recorte regionalista do falar do Mato Grosso, cheio de fórmulas do português antigo conservadas naquela região brasileira. Entretanto, a prosa de Guimarães Rosa é sobretudo uma poderosa maquinaria de reinvenção do português e uma obra verdadeiramente poética.
O Manuel disse que a poesia era um diálogo. Como é que entende esse diálogo? O nosso mundo contemporâneo está farto, cheio de injunções ao diálogo e à compreensão, ao sermos comunicáveis, a percebermo-nos uns aos outros. Por isso eu presumo que o Manuel quando fala em diálogo não estará propriamente a falar do que nós, todos os dias, ouvimos de políticos, jornalistas que nos enchem a cabeça com o tornarmo-nos comunicáveis.
Sim, o diálogo, no caso da poesia, é aquele diálogo que nós podemos tentar situar através das operações que Bahktine, Mikhail Bahktine faz para chegar à poesia… e é muito curioso que ele diz que o romance tem uma dimensão dialógica e plural e portanto há um confronto entre várias vozes e entre vários estratos de voz. Ora, ele diz que em comparação com isso a poesia é monologia. Ora, entretanto, nós reparamos que ele vai dizer que a poesia triunfa sobre o romance, na medida em que, ela sim, é radicalmente dialógica, e o romance apenas aparentemente redistribui as falas, enquanto essa poesia joga a palavra como aquela que pode ser re-infinitamente ou re-indefinidamente dita e jogada e nesse aspecto o que é que ele revela? Ele revela aquilo que parece que também vai dizer que é: que para dizermos uma palavra precisamos de dois homens ou de duas pessoas, porque só quem ouve a palavra é que verdadeiramente a diz, só quem é capaz de a dizer é que revela que é capaz de perceber essa palavra e de julgá-la. E portanto, há uma série de autores que andam a princípio como que reféns da linguagem discursiva…
Não há uma relação à tradição, à própria ideia de tradição? Há uma frase da Hannah Arendt que cita René Char: “o nosso tempo não é precedido de nenhum testamento”. Como é que comenta o diálogo nessa relação com a tradição?
Já agora não queria perder uma ideia que era a questão do diálogo e da língua que aparecia como um informe e incessante plural. Agora, para essa questão que me colocou a tradição é mais forte do lado da poesia do que do lado da prosa, porque a tradição do lado da poesia em última instância vai acantonar-se em efeitos de verso, em jogos de aliterações e assonâncias, em rimas, etc.,. E vai apegar-se aí para resistir a um mundo desabrido, levantado contra isso, e, nesse sentido, a poesia é muito frágil e, essa tradição que é simultaneamente frágil é, ao mesmo tempo a sua fraqueza e a sua força. Ora, o que a poesia entretanto me disse é que essa fragilidade da tradição só pode ser herdada por quem se apropria dessa tradição e a toma em seu nome, e, portanto, usa a tradição para saudar os seus novos participantes, que são aqueles que são capazes de escutar e repetir a poesia. Por outro lado, a tradição é aquilo que, da poesia, protege a poesia da sua ineficácia ou do seu fracasso. A tradição é aquilo que leva o poeta a ter confiança na poesia.
Acha ainda possível, urgente, necessário, que a arte surja como função de libertação? Ou só ela não chega?
Terá de ser a arte a encontrar aquilo que quer fazer com os seus materiais e instrumentos. E se ela vier encontrar-se com a política ela deverá configurar o seu espaço, uma espécie de protocolo, de terreno, para o seu encontro com a política, porque ela não se pode entregar pura e simplesmente nas mãos da política e dar à política o comando. Porque neste sentido encontramos mais uma vez, pela enésima vez, uma forma de a política colonizar a poesia ou de a política colonizar a poética. A poética é um termo que para mim me é mais simpático que o termo de estética. Porque a poética recoloca no centro de qualquer fenómeno artístico e de qualquer relação com a arte a questão do fazer. A poética é um produzir, um estudo da poiesis, e, a poesis já introduz artes e portanto podemos falar da poesis de qualquer arte sem trazer nada de exterior à arte, enquanto que, quando falamos da estética, tentamos confrontar o mundo da arte com o mundo em que vivemos, o mundo onde a arte é. Esse confronto pode não nos trazer muita coisa de bom porque substitui a descrição daquilo que as artes fazem por valores de comparação entre a figura artística e a figura do mundo e isso é aquilo que significa, por um lado, aparentemente, a necessidade de ver que a arte tem sempre a ver com o mundo mas não implica, não garante, que o que o que a arte ganha do mundo seja dito pela arte tal qual, e, portanto, é preferível escutar a arte no que ela diz enquanto arte e aí confiarmos que ela tem uma palavra sobre o mundo.
O Governo vai rescindir os contratos para prospeção e exploração de petróleo no Algarve com a empresa Portfuel, de Sousa Cintra, e com o consórcio que reúne Repsol e Partex.
O governo confirmou que vai rescindir os contratos com a empresa Portfuel para pesquisa, desenvolvimento e produção de petróleo on-shore (em terra) nas áreas designadas por Aljezur e Tavira.
O executivo adiantou também que deu já início ao processo de rescisão e execução das garantias bancárias no caso do consórcio que reúne Repsol e Partex e que previa a prospeção, pesquisa, desenvolvimento e produção de petróleo na bacia do Algarve.
Em novembro, o governo veio a público afirmar que poderia rescindir o contrato de concessão para a prospeção e exploração de petróleo no Algarve com a Portfuel, de Sousa Cintra.
Os municípios algarvios, as associações ambientalistas, de defesa do património e empresariais do Algarve têm manifestado a sua oposição à prospeção e exploração de gás natural e petróleo na região, por considerarem que esta aposta surge em contraciclo com as metas ambientais internacionais traçadas para a redução das emissões de carbono para a atmosfera e pode ser prejudicial para atividades como o turismo e a pesca.
Na origem da decisão sobre a Portfuel está, segundo o Diário de Notícias, o parecer pedido pelo Governo à Procuradoria-Geral da República (PGR) que veio confirmar - ainda que com argumentos distintos do executivo, que alegava falta de experiência da empresa de Sousa Cintra por ter menos de três anos de atividade neste negócio - "haver justificação para a rescisão".
No parecer, a PGR considera que "há de facto incumprimento inequívoco" da Portfuel, "na medida em que a empresa não apresentou prova de constituição e manutenção do seguro de responsabilidade civil a que estava obrigada".
"A apresentação de duas declarações genéricas de uma seguradora consubstancia incumprimento cuja culpa se presume da concessionária em termos de infringirem o enunciado da cláusula oitava de ambos os contratos e habilitam, por isso, à imediata rescisão pelo Estado atendendo à especial gravidade reconhecida pelas partes à violação destas obrigações", é referido.
O jornal acrescenta que este facto permite ao Estado avançar com a rescisão sem ter de pagar indemnizações.
No caso da Repsol-Partex, a Entidade Nacional para os Mercados de Combustíveis (ENMC) - que representa o Estado - "concluiu existir uma situação de incumprimento não justificado do Plano de Trabalhos para 2016, que justifica a execução de cauções prestadas pelos membros do consórcio".
O Governo aceitou a recomendação e já deu início ao processo de execução, que implica um valor global de 4,5 milhões de euros dados pelo concessionário como garantia de cumprimento das obrigações.
"Sobra assim apenas o contrato que dá à Galp e à ENI Portugal direitos de prospeção, pesquisa, desenvolvimento e produção de petróleo nas áreas denominadas Lavagante, Santola e Gamba, na Bacia do Alentejo", escreve ainda o DN.
O contrato de concessão para a prospeção e pesquisa de petróleo on-shore nas áreas de Aljezur e Tavira, entre o Estado e a Portfuel, do empresário Sousa Cintra, foi assinado a 25 de setembro de 2015, ainda pelo Governo de Pedro Passos Coelho.
Entretanto, o atual executivo pediu ao Conselho Consultivo da PGR um primeiro parecer sobre estes contratos, que considerou não haver motivo para apontar invalidade aos contratos de concessão para a prospeção e exploração de petróleo no Algarve à Portfuel.
De acordo com o parecer a que a Lusa teve acesso, "ainda que, por hipótese, o despacho de junho de 2015 fosse inválido e, por consequência, inválidos os contratos de concessão outorgados, ter-se-ia já esgotado o prazo de seis meses para o Governo dar início à impugnação judiciosa".
Mais tarde, o Governo remeteu a este órgão da PGR novas dúvidas sobre este processo.
A aguardente de medronho faz parte da identidade cultural e gastronómica da vila de Monchique e representa uma tradição secular
A apanha do medronho acontece entre outubro e dezembro.
O fruto deve estar maduro e ser apanhado sem pés nem folhas. Para muitos, esta é a parte essencial de todo o processo, pois vai influenciar a qualidade da bebida no fim.
Depois, segue-se a fermentação que vai até março/abril.
Neste período, o medronho é conservado em barris de plástico ou em tanques de madeira.
Os reservatórios devem ser cobertos com frutos esmagados e estar bem vedados para evitar o contacto com o ar.
Deve haver, ainda, um pequeno respiradouro para o gás sair.
Finalmente, segue-se a ‘estila’, o fabrico propriamente dito, da aguardente de medronho.
Nesta fase, o fruto fermentado é lentamente destilado em alambiques de cobre, preferencialmente de cano direto porque é de fácil limpeza.
A caldeira também deve estar sempre bem limpa antes de cada ‘estila’, pois só assim se evita que o cobre passe para a aguardente.
Na fornalha é aconselhado o uso de madeira grossa de medronheiro ou de sobreiro.
O processo da ‘estila’
Consiste no aquecimento feito em lume direto, seguindo-se o arrefecimento do líquido que acontece através de um tubo de cobre mergulhado em água fria corrente, contida num recipiente próprio, e, por fim, a recolha da aguardente num cântaro de barro.
Na recolha verifica-se inicialmente a chamada ‘cabeça’, que se deve rejeitar por conter excesso de gases indesejados, depois o ‘coração’, a aguardente bebível (que corresponde a cerca de 80% do destilado) e, por último, a ‘cauda’, ou a aguardente ‘frouxa’ que é utilizada para juntar à destilação seguinte.
Finda a recolha, a aguardente é engarrafada.
Há quem a envelheça em barris durante aproximadamente oito anos para aumentar a sua qualidade.
Normalmente, a graduação da aguardente de medronho ronda os 50% de teor alcoólico
Avião era proveniente de Caracas, na Venezuela, e a Polícia Judiciária apreendeu a droga que estava escondida em vários compartimentos do porão. A cocaína valia cinco milhões de euros.
Um avião da TAP que aterrou em Lisboa, vindo da Venezuela, tinha a bordo 51,3 quilos de cocaína em elevado estado de pureza. A droga, apreendida pela PJ, estava escondida num compartimento do porão, onde normalmente só têm acesso mecânicos e pessoal do handling, que trata da carga.
De acordo com a PJ, a droga foi apreendida no aeorporto Humberto Delgado, em Lisboa, e nenhum suspeito foi detido.A operação terá decorrido há mais de uma semana.
Fontes do sector contactadas pelo Expresso descrevem uma segurança muitoparticular à saída de droga da Venezuela, com “índice de corrupção altíssimo” no controlo de fronteira. Fonte do sindicato do pessoal de voo revela que grande parte dos tripulantes já só leva mala de cabina para Caracas, evitando enviar bagagem para o porão.
Foi precisamente no porão que os 50 quilos de droga foram escondidos. Ao que o Expresso apurou, estavam guardados nos compartimentos que se encontram nas paredes do porão e contêm diferentes componentes no seu interior (elétricos, por exemplo). Os painéis terão sido abertos para esconder a cocaína, o que, de acordo com uma das fontes ouvidas pelo Expresso, poderia ter posto em causa a própria segurança do avião.
A TAP desmente que a segurança do avião tenha estado em causa e garante que está "a colaborar, desde a primeira hora, com as autoridades policiais relativamente a esta questão".
Segundo a RTP, os gémeos iraquianos suspeitos de terem agredido Ruben Cavaco viajaram para Istambul, na Turquia
A RTP diz que a saída "terá sido em companhia da restante família residente em Portugal" com destino a Istambul, Turquia. Segundo o Expresso, na altura do embarque os inspetores do SEF alertaram o Ministério Público que entendeu não haver qualquer impedimento para a saída dos filhos do embaixador do Iraque.
Não havendo "qualquer medida de coação" e na posse de passaportes diplomáticos válidos, nada impedia a saída dos gémeos de Portugal.
O advogado dos jovens disse ter sido informado da viagem - habitual nesta altura do ano - adiantando, ao Expresso, que a família costuma regressar a Lisboa no início do ano.
Na semana passada, a Procuradoria-Geral da República informou, em comunicado enviado à comunicação social, que quer ouvir como arguidos os filhos do embaixador do Iraque em Portugal, na sequência das agressões ao jovem em Ponte de Sor, e que considera "imprescindível" o levantamento da imunidade diplomática.
"Na sequência da análise da resposta do Estado Iraquiano, o Ministério Público considera essencial para o esclarecimento dos factos, ouvir, em interrogatório e enquanto arguidos, os dois filhos Embaixador do Iraque em Lisboa, sendo, assim, imprescindível para os autos o levantamento da imunidade diplomática", refere o comunicado.
De acordo com a PGR, e porque o Estado iraquiano considerou, no passado mês de outubro, prematuro tomar uma decisão em relação ao levantamento da imunidade dos dois irmãos, que admitiram ter agredido Rúben Cavaco em Ponte de Sor, o Ministério Público decidiu, "apesar do inquérito se encontrar em segredo de justiça, informar o Estado Iraquiano sobre o conteúdo dos autos", tendo enviado "certidão dos elementos constantes do processo" através do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Já o Ministério dos Negócios Estrangeiros, também em comunicado, confirma ter recebido nota da PGR dando conta da "necessidade de proceder ao levantamento da imunidade diplomática de que beneficiam dois filhos do Embaixador do Iraque em Lisboa", tendo por isso convocado o embaixador do Iraque em Lisboa já esta quarta-feira para lhe fazer chegar a "nota verbal que renova o pedido de levantamento da imunidade diplomática dos seus filhos", bem como a cópia do ofício e a certidão remetidos pela PGR.
"Considerando a extensão da certidão extraída dos autos e o facto de estar redigida em português, o MNE solicitou a resposta formal ao seu pedido no prazo máximo de 20 dias úteis", termina a declaração.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) voltou nesse dia, 7 de outubro, a convocar o embaixador do Iraque em Lisboa para renovar o pedido de levantamento de imunidade diplomática dos dois filhos gémeos do diplomata, na sequência das agressões em Ponte de Sor, e deu 20 dias úteis ao Iraque para tomar uma decisão.
Em nota enviada à comunicação social, e depois de o Ministério Público ter também difundido uma declaração onde sublinha ser "imprescindível" o levantamento da imunidade diplomática dos gémeos iraquianos, que quer ouvir na qualidade de arguidos, o MNE informa que "convocou o Embaixador do Iraque, tendo-lhe entregue, hoje mesmo, a Nota Verbal que renova o pedido de levantamento da imunidade diplomática dos seus filhos. Foi-lhe também entregue a cópia do ofício e a certidão remetidos pela PGR", que decidiu informar o Estado iraquiano sobre o conteúdo dos autos da investigação, ainda que se encontrem sob segredo de justiça.
"Considerando a extensão da certidão extraída dos autos e o facto de estar redigida em português, o MNE solicitou a resposta formal ao seu pedido no prazo máximo de 20 dias úteis", termina a declaração.
No dia 17 de agosto, Rúben Cavaco foi agredido em Ponte de Sor, no distrito de Portalegre, pelos filhos do embaixador do Iraque em Portugal, gémeos de 17 anos, que têm imunidade diplomática em Portugal ao abrigo da Convenção de Viena.
O jovem alentejano sofreu múltiplas fraturas, tendo sido transferido do centro de saúde local para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde chegou a estar em coma induzido. Teve alta hospitalar no início de setembro.