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orouxinoldaresistencia

POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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23
Dez16

O negócio sujo do sangue

António Garrochinho


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(In Blog O Jumento, 23/12/2016)
sangue
«Tendo em conta que desde 1990, o Conselho da Europa tem vindo a recomendar que os Estados desenvolvam mecanismos que garantam a autossuficiência em plasma, face às necessidades de utilização do mesmo, bem como dos medicamentos dele derivado, de forma a eliminar progressivamente o seu desperdício.»

É assim que reza o Despacho n.º 15300-A/2016, do secretário de Estado da Saúde, publicado esta terça-feira na Série II do Diário da República, despacho que tranquiliza as consciências do ministério da Saúde, determinado que se faça num par de meses o que não se fez numa década.
Leu bem? Desde o ano de 1990 que o Conselho da Europa recomenda o contrário do que se fazia em Portugal, isso mesmo o ano da graça de 1990, já lá vão vinte e seis anos! Entretanto gastaram-se milhões, perderam-se outros tantos, muitos hospitais não adquiriram equipamentos, muitos portugueses morreram nas urgências, outros tantos doentes de hepatite morreram para poupar em tratamentos inovadores.
Como é que isto foi possível? Que mais cancros como este existirão no sector da saúde? Quantos mais poderes ocultos têm mais poder no sector dos que o poder político, quantos mais senhores mandam nos decisores da máquina do ministério da Saúde, quantos mais barões gerem as ARS em função das ordens de grupos de interesses do sector?
Quando se procurava um homem para a CGD o Dr Macedo apareceu a falar num seminário da Gulbenkian. O homem não é grande orador, nem se lhe conhecem grandes escritos, mas as notícias pouco reproduziram, a notícia rezava que o Dr. Macedo falou sobre corrupção, a mensagem era clara, o grande combatente anti-corrupção  falou.
Uns dias depois Passos Coelho divertia-se dizendo que o Dr. Macedo tinha salvo o SNS e agora ia salvar a CGD. Curiosamente, nunca mais se falou do legado no SNS do Dr. Macedo, nem o líder do PSD voltou a referir o seu nome, quase de forma milagrosa a CGD desapareceu dos noticiários, o líder do PSD apressou-se a focar a atenção nos lesados do BES. Antes falar nos lesados do BES do que falar dos lesados do plasma.
Talvez com um seminário dedicado ao tema os portugueses ficassem a perceber melhor os negócios feitos com o imenso orçamento da saúde.
23
Dez16

Criminosas portuguesas - Guilhermina Adelaide, a gatuna pianista

António Garrochinho


Retrato robô de Guilhermina Adelaide, que ficou conhecido por "A Pianista" ou "A Cepa", concebido a partir de escassa descrição e um retrato antigo


Roubava o que estava à mão enquanto dava lições de piano. Como nunca foi apanhada, passou a atacar ourivesarias. E começou a dar nas vistas, apesar de se conseguir safar atirando as culpas para o filho. Foi presa várias vezes, mas o pior aconteceu quando se ligou ao Mesquita. 

Acontecia a mãe bater-lhe, mas José António sabia que era apenas para evitar que chamassem a polícia. Guilhermina Adelaide, mais conhecida por "a pianista", usava o filho menor nos roubos de roupas, tecidos e joias que depois vendia ou empenhava. Presa por diversas vezes, conseguiu livrar-se de ir a julgamento até que arranjou um amante e... foi degredada.
O país andava entusiasmado com os últimos acontecimentos no Parlamento: na sessão de sábado 7 de maio de 1887, um deputado exaltado dera uma bofetada ao ministro da Marinha quando se discutia o incidente com marinheiros bêbedos no Arsenal. A dada altura, Henrique de Macedo, de 44 anos, levantou-se para proferir na cara de Ferreira de Almeida, de 40: "Não tenho medo do senhor, nem aqui nem lá fora". Disse-o por três vezes. Nas duas primeiras, o deputado respondeu-lhe por palavras, à terceira foi com a mão.
Seis horas depois, o autor da bofetada era metido na cadeia por quatro meses. A ordem de prisão foi assinada pelo próprio ministro do governo do Partido Progressista. Perguntará o leitor: e o que é que resultou deste "estranho incidente"? "Um ministro fora do poder e um deputado fora da Câmara: um conselheiro da coroa saído dos conselhos da dita coroa, e um oficial de marinha encarcerado nos ferros de el-rei: dois homens ao mar", lê-se numa crónica na revista literária e artística "Ilustração Portuguesa", de maio de 1887, em que se critica ainda o facto de o deputado estar preso "sem culpa formada e sem intimidação de culpa".
O deputado da oposição, também oficial da marinha, no tempo do rei dom Luís e do "primeiro-ministro" José Luciano de Castro foi detido mais rapidamente do que Guilhermina Adelaide, cuja prisão o matutino "O Século" apenas noticiaria dois dias depois. Há muito que esta professora de piano, bem vestida, elegante e simpática roubava casas e lojas lisboetas. Todavia, até à véspera do dia da bofetada, conseguira passar despercebida.


Era "uma industriosa", como titularam os jornais, mas foi um sinete de ágata com incrustações de prata dourada, no valor de cinco libras, que a tramou. Nos primeiros dias desse mesmo mês de maio, o senhor Coimbra, que possuía um bazar na rua do Alecrim, em Lisboa, fez queixa à polícia de que lhe desaparecera um desses objetos com que se imprimia no lacre brasões ou iniciais para autenticar ou garantir a inviolabilidade de cartas, encomendas e afins.


O cabo Loureiro, encarregado de investigar o furto, percorreu os caminhos habituais dos ladrões e encontrou o sinete no ourives Abranches, que lhe explicou tê-lo acabado de comprar (por menos de metade do valor) a uma mulher que prometera voltar para lhe vender uma medalha e outros objetos, os quais disse estarem empenhados e serem de uma senhora muito nobre, como conta o "Diário Ilustrado".
Guilhermina voltou à ourivesaria no dia seguinte, conforme previsto, mas o negócio saiu-lhe mal. Abranches chamou o cabo e a professora de piano e bordados foi detida. E levada para o Governo Civil, onde a apalpadeira - era tempo sem mulheres-polícia - lhe descobriu "uma cautela do Montepio Geral" referente a um alfinete de ouro com brilhantes que empenhara depois de o surripiar.
Palavra passa palavra, e outros comerciantes começaram a perceber como é que estavam a ser roubados, em especial os ourives da rua Larga de S. Roque (atual rua da Misericórdia) e da Praça de Dom Pedro V (Jardim do Príncipe Real), as maiores vítimas da pianista. Guilhermina Adelaide, acompanhada do filho de dez anos, entrava numa loja, fosse de ouro e prata ou de fazendas, dizia querer ver determinada coisa, depois ia pedindo mais; no ínterim, enquanto o caixeiro ia e vinha, o rapaz guardava no bolso o que a mãe lhe indicava.
Guilhermina Adelaide ia dizendo ao lojista ter sido "encarregada da escolha por uma pessoa de alta posição", para justificar no final porque não comprava nada, após lhe exporem tanta mercadoria no balcão - alegava que andava só a ver para informar eventuais compradores. A maior parte dos comerciantes, ludibriados sem no imediato se aperceberem, apenas a considerava uma "freguesa maçadora".
Se o comerciante ou o caixeiro, como se denominava o empregado de balcão, desconfiava do miúdo ou dava pelo furto, "a mulher ralhava com o filho, chegando mesmo a bater-lhe, mostrando-se muito indignada, pedia desculpa, e retirava-se em paz. Quando não davam pela maroteira punha-se a andar tendo feito um bom negócio", lê-se no "Diário Ilustrado" de 7 de maio de 1887.

PRESA, SOLTA, PRESA, SOLTA... SEMPRE LADRA

Do Governo Civil, Guilhermina Adelaide, de 27 anos, foi transferida para o Aljube e a criança para o antigo convento das Mónicas, transformado em casa de correção de rapazes, já que não apareceu ninguém para pagar a fiança. Dez dias volvidos, a professora estava cá fora, retomando a sua vida normal, ou seja, o crime. Cinco meses depois, a 6 de setembro, mais ou menos quando o esbofeteado ex-ministro da Marinha resolveu desafiar para um duelo o deputado Ferreira de Almeida, é presa de novo, suspeita de "uma fornada de crimes".
Desta vez, a segunda, a professora esteve no Aljube sete dias. Ao que parece, tinha uma certa ligação com um advogado cheio de arte que conseguia desfazer o processo antes de o escrivão o organizar a tempo de não ultrapassar os oito dias de prisão preventiva. "Seja como for, a verdade é que a criminosa tão depressa era presa pela polícia como liberta pela justiça... por falta de provas", conta Ferraz de Macedo na revista "Galeria de Criminosos Célebres em Portugal: história da criminologia contemporânea", começada a publicar em 1896.
No início do ano de 1888, a 3 de janeiro, Guilhermina voltou a ser detida, por furto de um corpo de vestido e de um chapéu da casa de duas modistas na baixa de Lisboa, numa área que parece ser das suas preferidas, especialmente depois de se tornar demasiado conhecida dos comerciantes do Bairro Alto. Desta feita, teve azar e ficou 13 meses no Aljube, local no bairro de Alfama que desde a era dos árabes na Península Ibérica tem servido de prisão, "muito embora o tempo lhe tenha atribuído características diferentes", como explica Eliana Catarina Gonçalves de Oliveira na sua dissertação de mestrado em História Contemporânea.
"No período medieval foi prisão para os delinquentes em matéria eclesiástica, vertente que se prolongou até à implantação do liberalismo no século XIX, altura em que se extinguiu o foro eclesiástico e todos os cidadãos passaram a ter uma justiça comum. Entre os finais do século XIX e inícios do século XX, o edifício do Aljube serviu de prisão de mulheres", resume a autora da tese "Aljube, uma história política".
Na época de Guilhermina Adelaide, o edifício situado um pouco mais acima da prisão para homens no Limoeiro, de quem vai da baixa para o castelo de S. Jorge, serve de estabelecimento prisional para criminosas comuns. "Até à data do seu encerramento em 1965 - adianta Eliana de Oliveira - o Estado Novo usava o Aljube como cadeia para encarcerar os presos políticos na fase instrutória dos processos." Por isso é, desde 2015, o museu da "Resistência e Liberdade", com o qual se pretende, como afirma a direção, "assegurar que o nosso futuro não seja amputado do nosso passado".



O edifício do Aljube, em 2001, antes de ser transformado em museu. Nesta altura, assemelhava-se ainda à cadeia onde esteve presa Guilhermina Adelaide


Francisco Ferraz de Macedo, que nasceu para ser alfaiate como o pai mas acabou por se formar em farmácia e em medicina, conheceu Guilhermina Adelaide: "Quem a visse por então, aí nos anos 1887 ou 1888, alta, delgada, fisionomia atraente, vestida com elegância e até com luxo; quem a ouvisse falar com aquela facilidade e largueza de expressão de quem sabe muito bem o que dizer, não julgaria estar diante de uma mulher padecendo de todos os vícios até à escala do crime".
"Esta mulher tinha recebido uma educação aprimorada, no sentido que estas duas palavras em conjunto possam ter, tratando-se de maiores ou menores habilitações literárias realçadas pelas prendas com que é de uso dotar as meninas nascidas num certo meio de abastança", afirma o investigador, conhecido pela sua coleção de mais de mil crânios e mais de cem esqueletos humanos.
"A pianista" ou "A Cepa", como a polícia e os jornais a tratavam, era uma mulher inteligente, com alguma cultura, falava línguas, sabia bordar e tocar o instrumento que, à época, qualquer menina de família devia saber aprender. Terá sido no domicílio das suas alunas que começou a roubar, ganhando o à-vontade de quem não é apanhado. E não o foi, durante uns anos. Os donos das casas davam pela falta de objetos ou de roupas, mas nunca desconfiavam da professora de piano cheia de maneiras e "excelente aparência".
Ferraz de Macedo também conheceu o marido da pianista - aliás, é por causa de respeitar esse "honesto comerciante de província" que não divulga os apelidos da criminosa. No entanto, os jornais não os poupam: Guilhermina Adelaide Couto Melo Araújo e Cepa, de nome completo, casou cedo, aos 17 anos, provavelmente (assim acontecia) por conveniência da família ou porque já estava grávida. Se José António tinha dez anos quando Guilhermina deu entrada nas Mónicas, significa que nasceu no ano do casamento, isto é, em 1877.
O marido, cujo nome se evaporou no tempo, quando soube não quis acreditar. Casou apaixonado pelo "anjo de candura" que a rapariga parecia ser e viveu feliz os primeiros anos de matrimónio. Quando se foi apercebendo de que vivia no engano, deixou-se sugar pelo desgosto e pela própria mulher. Perdeu tudo - “a honra, os meios de ganhar a vida e até a razão!” -, e, segundo constou, passou a viver da caridade de alguém amigo.
"Felizmente para esse infeliz, a idiotia primeiro e depois a morte privaram-no de assistir ao desenrolar de todo o pungitivo drama de que foi protagonista sua mulher", escreveu Ferraz de Macedo, homem de ciência e de teorias avançadas no campo da criminologia, estudioso de diversos casos do século XIX.

A FAMIGERADA CEPA E O MESQUITA

Ao invés de a afastar do crime, as estadas na prisão levaram Guilhermina Adelaide a refinar o talento com as convivas do Aljube e a envolver-se, nos períodos de soltura, com gente marginal. Ainda não era viúva quando se apaixonou por um ladrão especialista em arrombamentos, conhecido por Mesquita.
Quando saiu da cadeia, ao fim de mais de um ano, Guilhermina resistiu apenas um mês e pouco em liberdade. Numa loja da mesma rua onde roubara o chapéu à mademoiselle Clément, "empalmou um corte de fazenda para calças de homem". Se calhar roubou para vestir o Mesquita, mas perdera a destreza para entalar o roubo no vestido ou escondê-lo debaixo da capa, como dantes era perita.
O falhanço valeu-lhe mais quatro meses atrás das grades. Foi solta a 16 de agosto de 1889. Neste ano, irá aguentar-se em liberdade, não contará para a estatística das prisões, não será uma das 11.940 pessoas presas, menos 422 do que no ano anterior, numa Lisboa com cerca de 300 mil habitantes.
Já não é tão fácil roubar como dantes. Os comerciantes atravessam um período de crise provocado pelas dificuldades financeiras que afetam o reino, o que os torna mais sensíveis à gatunagem disfarçada. O poder de compra diminuiu, associado ao aumento de impostos e ao corte nos ordenados; o crime amenta, assim como a experiência das vítimas. Há mais queixas de furtos.
A vida também se complica para Guilhermina. Já se tornou demasiado conhecida dos possíveis alvos e da polícia, mas tem de sobreviver. Então, viúva e sem a tutela do filho, foi morar com o seu namorado Mesquita. Aguentou dez meses "tocando piano pelos cafés refilões sem que a polícia tivesse conhecimento de alguma nova partida da ladra", elucida Ferraz de Macedo. De facto, não se ouve falar dela durante esse tempo: ou conseguia fazer a coisa bem feita ou dedicou-se mesmo ao trabalho.
Em Outubro de 1890, porém, tudo voltou ao mesmo mas para pior. O casal mudou-se para um quarto andar do nº 17 da rua da Padaria, que liga a rua dos Bacalhoeiros ao largo de Santo António da Sé, e reparou que a mulher a quem subalugaram o quarto possuía papéis que valiam dinheiro, e uma boa quantia.
A arrendadora era, de facto, inquilina desse quarto andar, mas recebia outros "hóspedes". Ora, quando deu por falta das três inscrições de dívida pública, desconfiou que o ladrão fosse um deles e não esperou para fazer queixa à polícia. As chamadas inscrições valiam 300 mil-réis, o vencimento anual dos contadores dos tribunais administrativos, uma espécie de auditores de contas.



A notícia da prisão de Guilhermina Adelaide, no "Diário Ilustrado" de 7 de maio de 1887


O comissário da primeira divisão, ao saber que entre os hóspedes se encontravam "a famigerada Cepa e o Mesquita", mandou logo dois polícias "deter os dois figurões", noticiou o "Diário Ilustrado", acrescentando: "O Mesquita, porém, que é fadista de marca, pegou numa garrafa e deu com ela na cabeça do 107, ferindo-o gravemente na testa. Um burburinho diabólico, que acabou pela prisão da Cepa e do Mesquita".
Já no comissariado, Guilhermina negou o roubo, como sempre fizera quando era apanhada. O seu companheiro também se disse inocente, mas no dia 22 de outubro de 1890 ela dava entrada no Aljube e ele no Limoeiro, atualmente o Centro de Estudos Judiciários. Os dois são condenados, sem apelo nem agravo, ao degredo em África. A pianista foi deportada para Angola no dia 6 de maio de 1892, morrerá poucos anos depois.
Como diz o criminologista desse tempo, Ferraz de Macedo, "os gatunos têm um lado de semelhança com os toureiros: por mais hábeis, por mais cautos e peritos que sejam, lá vem um dia em que são colhidos".

expresso.sapo.pt
23
Dez16

Criminosas portuguesas - De Aguardenteira a incendiária, namorando um assassino

António Garrochinho
Retrato-robô concebido a partir de uma antiga foto

Maria da Piedade foi lavadeira mas não se deu bem. Apaixonou-se e passou a trabalhar junto do seu cabouqueiro, vendendo goles de aguardente. Mas o seu amor virou assassino e ela condenada por fogo posto. Este é o décimo caso da série “Crime à Segunda”, que o Expresso está a publicar sobre criminosas portuguesas.

Perguntou-lhe se não queria fazer um seguro da casa, pois se esta ardesse ganhavam algum dinheiro, mas Alfredo não quis, andava com outras preocupações, nos preparativos de coisa mais rendosa. Então, Maria da Piedade, meteu mãos à obra e fogo na casa em que habitava às portas da cidade de Lisboa. No meio disto, envolveu-se num assalto que acabou em assassínio e foi presa, com o seu amor, na cidade do Porto.
Dois anos antes, andava de um lado para outro, de galochas e odre a tiracolo, vendendo goles de aguardente ao pessoal da obra do túnel ferroviário de Lisboa, no lado de Campolide, na zona da Rabicha, a quinta que o caminho de ferro atravessará vindo do Rossio. Chamavam-lhe a Aguardenteira. A primeira ideia seria servir o namorado, mas o grupo de cabouqueiros a que este pertencia fez-lhe criar o negócio.
Maria da Piedade, nascida em São João da Pesqueira, distrito de Viseu, no ano de 1854, vivia com Alfredo Gomes, numa casa abarracada no sítio de Sant’ana, para lá da ribeira de Alcântara, onde hoje se localiza a Vila Ferro, no Bairro da Liberdade. Morava perto das obras do túnel da Rabicha, por isso, quando os homens esvaziavam a borracha, como chamavam ao recipiente que ela trazia ao ombro preso com uma correia, podia rapidamente ir enchê-la.
Piedade andava por ali, entre os trabalhadores, sem temer pelo físico. Não era mulher de se assustar, era valente “e mais temível do que muitos homens”, apesar de franzina. No sítio de Sant’ana, ninguém se metia com ela, “citavam-se proezas, na verdade extraordinárias, praticadas por aquela nova padeira de Aljubarrota”, escreveu em 1897 o jornalista Luiz Silva, na “Galeria dos Criminosos Célebres em Portugal” publicada em 1897. E andava com más companhias. O namorado e os cinco vizinhos que hão de entrar no assalto fatídico, eram ali conhecidos como “desordeiros, jogadores e amigos de galinhas”, segundo o jornal “A Vanguarda”.
Alguns dos locais lisboetas por onde andou Maria da Piedade
Alguns dos locais lisboetas por onde andou Maria da Piedade
Na sua folha corrida, constavam duas prisões por ofensas corporais, uma em outubro de 1890 e outra no mesmo mês do ano seguinte. Nada de extraordinário, os jornais traziam diariamente notícias de agressões entre homens, entre homens e mulheres, entre mulheres… Sempre que a polícia intervinha, a prisão efetuava-se. “Maria do Patrocínio foi presa por agredir com socos a Rosa de Jesus. A cena deu-se numa casa da Travessa das Dores, nº 11, à Ajuda”, é apenas um exemplo sucedido no final de 1891. Às vezes bastava uns tabefes, como aconteceu a João Gautier, sapateiro, preso por esbofetear Carlos Leitão, morador no Areeiro do Monte.
Antes de ser Aguardenteira, Maria da Piedade ganhou músculo lavando roupa. Mas não por muito tempo, o mundo das lavadeiras também não corria de forma pacífica. Era um negócio muito competitivo… Veja-se um caso passado em setembro de 1892, quando desapareceu uma saia à lavadeira Maria de Jesus. Decorridos onze meses, a governanta do tanque nº 6, onde se dera o roubo, reconheceu a peça de roupa na mão de Joana Maria, quis tirar-lha e, como a outra não cedesse, agrediu-a, pondo-a fora do tanque que geria.
“A guarda municipal da estação do Pasteleiro, a quem a Joana se queixou, interveio e quis arbitrariamente, fazer com que a Joana continuasse a lavar no tanque, chegando a querer obrigar a governante a acompanhar a parte do ocorrido para o quartel”, noticiou em 12 de agosto de 1893, rematando: “Se o caso se assim se deu, parece-nos incorreto o procedimento da guarda e para ele chamamos a atenção do sr. comandante”.
O caso não foi com a Maria da Piedade, aliás, ela já não se encontrava no continente quando se deu o desenlace, mas podia ter sido, dado o seu feitio. Uma agressão, ou mesmo um roubo, poderiam tê-la levado a mudar de profissão, todavia, sabe-se apenas que o negócio de lavadeira não lhe correu bem e, por isso, pensando no seu Alfredo, virou-se para a venda de aguardente nas obras do túnel que irão proporcionar viagens entre o Rossio e Sintra, ida e volta, a mil réis em 1.ª classe, 900 em segunda e 500 em terceira. Por esta época, um operário ganhava cerca de 200 réis por dia
Inauguração do túnel do Rossio, em cujas obras trabalhou o namorado de Maria da Piedade
Inauguração do túnel do Rossio, em cujas obras trabalhou o namorado de Maria da Piedade

Os trabalhos começaram em 1887 e terminaram três anos depois, mas o primeiro comboio a testar a circulação no túnel fê-lo em abril de 1889, levou 27 minutos, hoje demora três. Foram escavados 2612 metros de rocha calcária, entre o Rossio e Campolide; com a abertura da estação central, em junho de 1890, ficou a linha férrea de Lisboa a Sintra, Torres e Figueira a Alfornelos com um movimento de 50 comboios diários. E o casal de Sant’ana, assim como os caboqueiros seus vizinhos, ficaram desempregados, por pouco tempo…
Piedade adorava o seu Alfredo. Quando forem presos, há de jurar-lhe que nunca o abandonará. Mais novo quinze anos do que ela, era um rapaz destemido, habituado a abrir caboucos e muitas vezes obrigado a alargar o campo de ação pela força das circunstâncias, significando esta a falta de dinheiro, por dispêndio excessivo em jogo e vinho, embora deste último não haja notícia de exageros, apesar do tempo que passava nas tabernas, com os seus companheiros, alguns de anos, outros mais recentes. Eram eles: António Fernandes, de 29 anos e de alcunha o Guerra, Santiago Rey y Lopez, de 37, António da Fonseca Pinto, de 35, João Esteves, de 24, e Romão Lousada de 24 ou 25 anos.
Alfredo Gomes, de 23 anos, nascido em Monção, não se saía mal, normalmente, quer dizer, nunca fora preso por roubar, tal como Maria da Piedade que não faria do roubo a sua ocupação principal, até ao malfadado dia em que um assalto deu para o torto e a polícia se revelou bastante eficiente. O namorado ganhara a sua coroa de glória num assalto na vizinha Espanha, do qual escapara por um triz, e isso dera-lhe confiança para continuar tivesse ou não trabalho na construção civil.
Ele e o Romão Louzada, um espanhol de Pontevedra, participaram, entre 1887 e 1889, num assalto a casa de um padre, no lado de lá da fronteira. Foram experimentar a ligação ferroviária à província de Salamanca, provavelmente, depois de trabalharem nas obras entre Barca de Alva e La Fregeneda, troço inaugurado em dezembro de 1887, mas quando apanharam o comboio já iam com o propósito do roubo. Eles e outros mais, desconhece-se quantos, uma vez que a coisa correu bem.
Assaltaram-lhe a casa à noite, a horas mortas. O padre espanhol ainda resistiu, não querendo dizer onde guardava o dinheiro. Mas não lhe serviu de nada, ao ver-se atado, deitado num colchão de palha a que os ladrões largaram fogo, logo se prontificou a revelar o esconderijo. Os meliantes extinguiram as chamas, agarraram no dinheiro e fugiram. O Romão, ligeiramente ferido, escondeu o roubo nas ceroulas e chegou bem a Lisboa, o Alfredo passou um momento de tensão quando, na estação da fronteira espanhola, o consideraram suspeito. Livrou-se, dizendo ser “limpiador do comboio e começando a fingir que o limpava”, contou “A Vanguarda”.

DEITA-SE FOGO À CASA E RECEBE-SE O SEGURO


A dada altura, no mês de junho, João Esteves soube que uma sua tia de Monção, governanta em casa do reitor da freguesia de Trovisco, recebera um conto de réis de herança, e desafiou os amigos cabouqueiros. “Não acham que seria um golpe real apanharmos aquele dinheiro? Além disso o reitor também possui pé de meia. De uma cajadada matam-se dois coelhos. Que dizem?” Como o golpe de Salamanca dera uma boa maquia, Romão e Alfredo pensaram que não seria má ideia roubar outro sacerdote, já que estes possuíam sempre alguma riqueza. Dias depois, a 25 de junho, reuniram-se de novo, desta feita em casa de Alfredo e de Maria Piedade, para acertar o que fazer.
Enquanto os homens andavam nesta combinação, Maria da Piedade engendrava outra maneira de ganhar não apenas uns cobres, mas uma boa maquia. Para isso, nada melhor do que fazer o que já ouvira que outros tinham feito com resultados positivos. Dirá depois que o espanhol Santiago é que a incentivou. “Podemos ganhar bastante com isso”, ter-lhe-á dito numa tarde. Pouco tempo depois, ela, que “nunca mais tinha pensado no assunto” desde que Alfredo recusara a ideia, correu a segurar a casa por 500$000 réis.
Escondendo de Alfredo aquilo que preparava, Maria da Piedade foi combinando com Santiago como iriam dar o golpe à companhia de seguros. Na madrugada de 26 de junho, estando já acertada a ida para norte, faltando apenas decidir o dia, os dois cúmplices mudaram todo o recheio para casa do espanhol. De seguida, esfarelaram um colchão, espalharam a palha pelo solo, regaram-na com aguardente e pegaram-lhe fogo. A casa, localizada ao lado da igreja, ardeu completamente. “Para se avaliar bem a força da amante do Alfredo, basta dizer que ela se dirigiu à esquadra próxima, e pediu a dois polícias que lhe servissem de testemunhas para receber o dinheiro do seguro!”, observou Luís Silva.
O incêndio não alterou os planos dos cabouqueiros. No dia seguinte, Romão decidiu que era tempo de partirem. Mandou Maria da Piedade chamar Alfredo. Esta foi a Campo de Ourique, direita à obra onde o namorado (os jornais da época referem-nos sempre como amantes, por não serem casados) se encontrava por esses dias a trabalhar, e disse-lhe: “O teu primo João está preso”. Alfredo percebeu logo que estava na hora, porém, mais tarde, Piedade dirá que desconhecia ser uma combinação dos homens.
“Alfredo, para ter dinheiro para a viagem, empenhou uma mala com roupa, um relógio e cadeia de prata, numa casa de penhores em Alcântara, por 15$000 réis. O Guerra empenhou umas argolas e umas contas de oiro da amiga por 3$900 réis; Santiago levou 3$000 reis que tinha em casa; Fonseca levava só um tostão, abonando-lhe Romão o dinheiro para a passagem e João não levava nada, porque ia às ordens de Alfredo”, contou “A Vanguarda”, adiantando que Romão era o que tinha mais “capitais”, ainda lhe sobrava dinheiro de Salamanca
A Estação do Rossio no início das obras, em 1886, o túnel começaria a ser perfurado no ano seguinte
A Estação do Rossio no início das obras, em 1886, o túnel começaria a ser perfurado no ano seguinte

Conforme tinham combinado, entretanto, para dar tempo às diligências necessárias, encontraram-se os seis cabouqueiros na estação da Avenida (como também se chamava ao Rossio) a afim de seguirem caminho. Por segundos, perderam o comboio, e voltaram a perdê-lo mesmo depois da correria que fizeram até Santa Apolónia. Regressaram a casa aborrecidos, sem tensões de desistirem. Na noite seguinte, a 28 de junho, portanto, embarcaram pelas 23 horas, decididos a irem roubar a tia e o padre.
Deviam ter pensado que, por vezes, o destino dá os seus avisos. A viagem correu bem. Fizeram uma paragem em Sacavém para comerem e de manhã já estavam noutro comboio com destino ao Porto, do qual sairiam na cidade Invicta para chegarem a Valença. Não havendo mais hipóteses ferroviárias, foram a pé até à casa do reitor da freguesia de Troviscoso. Percorridos os quase 20 quilómetros de caminho, chegaram ali já de noite, mas nada fizeram, havia gente acordada a regar o cultivo à volta da casa. Refugiaram-se no bosque e, sendo meia-noite, voltaram a tentar, contudo, foram vistos por um criado que agarrou numa espingarda e disparou um tiro que os pôs em fuga.
João Esteves lembrou-se, então, de um rendeiro que morava ali perto e que também devia ter que roubar. Já que ali estavam, pensaram todos, aproveitariam para não regressarem a Lisboa de mãos a abanar. Lá foram. Muito embora fosse de madrugada, também depararam com dois homens de sachola a trabalhar na horta. Nada feito, quanto menos esperassem levavam com as ferramentas e aparecia gente armada como no Troviscoso.
Escondendo-se na mata conferenciaram. António Fernandes lembrou-se então que não muito longe, no lugar de Vilar, freguesia de Alvaredo, a sua mãe fora criada de um padre que possuía uma razoável fortuna. Mais uma caminhada, estavam com azar mas desta vez conseguiriam. Pelas duas horas da madrugada de 2 de Julho, entraram na casa do padre Sousa Lobato. Só Romão não ia armado, dera a sua pistola ao Guerra, já que este emprestara a sua ao João Esteves, de resto Fonseca levava um punhal, Romão uma navalha, Santiago um revólver e um cacete.

QUANDO JULGARAM QUE TUDO CORRIA COMO PREVISTO…


Quando entraram, apesar do Santiago ter feito algum barulho, nenhum dos residentes acordou. Mas ao procurarem o dinheiro no quarto do padre, não tiveram a mesma sorte. O religioso ainda deu luta, mas ficou muito ferido. Com os gritos, o irmão e o cunhado acudiram, envolvendo-se todos à pancada, com tal estrondo que acordaram a vizinhança e os cabouqueiros não tiveram outro remédio senão porem-se a andar. Foi uma fuga desordenada, a pé, até Braga. Estavam praticamente sem dinheiro. Romão tinha uma moeda de cinco duros, mas ninguém a trocava; Santiago pensou empenhar o revólver mas as lojas estavam fechadas; o Guerra e o Fonseca decidiram ir a pé até ao Porto…
Dois locais no Porto ligados a Maria da Piedade, a aguardenteira incendiária
Dois locais no Porto ligados a Maria da Piedade, a aguardenteira incendiária
Maria Piedade ficara em Lisboa, entregue a si própria, confiando Alfredo que ela daria bem conta do recado e que ainda ganharia algum com isso. Pensou bem. Apesar de ter havido alguma desconfiança quanto à origem do fogo, a companhia de seguros acabou por dar-lhe 114$000 réis, uma boa maquia, embora longe do valor do seguro. Com esse dinheiro, a Aguardenteira foi à casa de penhores buscar os pertences do namorado, e resgatou ainda alguma roupa, umas argolas de nove mil réis, dois anéis, um afagador com medalha, uma pregadeira, tudo em ouro.
Depois disso, a 31 de julho, partiu para a Invicta, onde ainda deu ao Santiago 12 mil réis pelo trabalho, dois mil para alugar uma casa para todos e 300 para a mudança. Todavia, beneficiaria muito pouco com todo este movimento. O padre Sousa Lobato sucumbira aos ferimentos no dia 23 de julho, a partir daí as investigações intensificaram-se, ganhando um impulso com o aparecimento de uma carta anónima que dizia serem os bandidos trabalhadores em Lisboa.
No dia 1 de agosto, Maria da Piedade e Alfredo, que arranjara trabalho nas obras da circunvalação, alugaram uma casa nas Fontainhas. Daí a três dias estarão todos presos, com exceção de João Esteves que só será apanhado, no dia 25, por um carabinero, muito perto da fronteira, e o Romão Louzada que desaparecerá para sempre. Quando o casal foi detido, já o Fernandes, o Fonseca e o Santiago se encontravam no comissariado de Lisboa. A polícia rondara a casa de Alfredo e Piedade, mas não os detetara, só os vês quando os dois aparecem a espreitar na porta da frente…

PROVAVELMENTE, IRÃO TODOS ENCONTRAR-SE EM ANGOLA


Maria da Piedade tem algumas manhas. Lê-se no jornal que assumiu que deitara fogo à casa para receber o dinheiro do seguro e que “fez importantes revelações” sobre o “Drama de Alvaredo” ou “O Crime de Melgaço” como o caso ficou conhecido. No dia 8 de agosto, foi ouvida no terceiro comissariado e no Tribunal da Boa Hora. “Interrogada em juízo declarou-se autora do crime, como já o fizera na polícia, sendo depois remetida ao Aljube”, noticiou “A Vanguarda”. O seu processo ficou separado do dos cabouqueiros.
Passado um ano, a 3 de agosto de 1893, os cinco vizinhos presos na Cadeia da Relação do Porto são levados ao tribunal de Melgaço. Milhares de pessoas aguardam à porta a entrada dos assassinos do padre Manuel António de Sousa Lobato. Oito anos de prisão e 20 anos de degredo foi a sentença para quatro, o Guerra seria poupado em oito anos de África porque se provou ter ficado de vigia.
Maria da Piedade, de 38 anos, já tivera o seu julgamento e seguira há três meses para África. Fora condenada pelo crime de fogo posto, como mandava o Código Penal de 1886: seis anos de prisão, seguidos de dez de degredo, ou, em alternativa, 25 anos em Angola.
Quando ainda no comissariado foi acareada com Santiago Rey de Lopez, já que este negava ter recebido “doce duros” para a ajudar e se mostrava renitente em admitir o assalto em Melgaço, Maria da Piedade disse-lhe: “Ande homem, confesse que eu já confessei. Se vocês não tivessem dado com a língua nos dentes, podiam matar-me que eu negava tudo, ainda que me apertassem o pescoço até deitar a língua de fora”.


expresso.sapo.pt
23
Dez16

VÍDEOS - Há alguns anos Alleppo era assim:

António Garrochinho

As ruas cheias de vida. 
Uma cidade com mais de dois milhões de habitantes. A maior da Síria e uma das mais antigas do mundo.
Aleppo era conhecida pela indústria manufatureira e por ser um dos principais destinos turísticos da região
ALEPPO ANTES DA GUERRA
Hoje, dificilmente, figurará na lista dos destinos mais procurados.
Mas isso não impediu o regime sírio de promover a cidade.
Em outubro passado, ignorando as marcas da guerra, foi divulgado um vídeo onde se via uma cidade calma, verde, solarenga, repleta de monumentos e edifícios impressionantes… Uma cidade que já não existe.

A DESTRUIÇÃO VISTA POR DRONE
Aleppo, designada património mundial pela Unesco em 1986, é agora uma cidade em ruínas.
Os subúrbios orientais foram destruídos pelos bombardeamentos dos últimos cinco anos de guerra.
Imagens recentes mostram a extensão da destruição, ocorrida em particular nos últimos meses, no que outrora foi um dos maiores tesouros do Médio Oriente.

ANTES E DEPOIS

VÍDEO

O QUE RESTA DE ALLEPO.


23
Dez16

PS Faro diz que Rogério Bacalhau «chegou atrasado» nas críticas ao INEM

António Garrochinho


O PS Faro considerou que o presidente da Câmara de Faro «chegou mais uma vez atrasado» nas críticas que dirigiu ao Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) relativas às limitações de funcionamento da ambulância do INEM do Hospital de Faro e acusam Rogério Bacalhau de «chorar lágrimas de crocodilo».

O edil farense enviou um ofício ao ministro da Saúde em que pedia ao Governo medidas urgentes «para impedir que a ambulância com maior atividade na região e que faz cobertura a Faro e zonas contíguas, opere em condições de sobrecarga dos seus tripulantes e demais colaboradores».
O aumento da carga horária dos tripulantes foi a solução encontrada pelo INEM para evitar que a ambulância ficasse parada durante parte do período noturno, por falta de pessoal, medida que Rogério Bacalhau apelidou de «mera cosmética».
O PS Faro reagiu a esta tomada de posição, alegando que o presidente da Câmara de Faro «nos últimos quatro anos manteve-se em profundo silencio sobre a degradação do serviço de emergência médica no Algarve, esquecendo-se até de dar um ar da sua graça quando o Governo do seu partido encerrou a delegação do INEM em Faro».
Para os socialistas, Rogério Bacalhau «chega tarde para causar boa impressão, aparecendo atrasado e fora de tempo, já depois do Governo do Partido Socialista ter decidido dotar novamente o Algarve com uma Direção Regional do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), devolvendo a Faro as valências que tinham sido perdidas em 2012, nomeadamente o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU), por decisão do anterior Governo PSD / CDS-PP, a mesma coligação que dirige atualmente a Câmara Municipal de Faro».
reabertura da Direção Regional do INEM deverá acontecer em Janeiro, segundo anunciou o secretário de Estado da Saúde Manuel Delgado, numa visita que fez à região.



www.sulinformacao.pt
23
Dez16

PCP admite votar contra descida da TSU no parlamento

António Garrochinho


O PCP defendeu hoje que a descida da TSU foi uma cedência do Governo à chantagem dos patrões pela subida do salário mínimo, não rejeitando votar a revogação dessa norma se for pedida a sua apreciação parlamentar.
Questionada pelos jornalistas no parlamento sobre a eventual apreciação parlamentar do diploma por parte de “Os Verdes”, a deputada Rita Rato respondeu: “Há um ano, o PCP foi o único partido que apresentou propostas para a revogação dessa norma do decreto, obviamente que é esse o nosso compromisso e que continuaremos a intervir nesse sentido”.
A deputada comunista sublinhou, contudo, que “esta matéria não consta da posição conjunta do PCP e do PS” e “continua a marcar as diferenças de perspetiva” entre os dois partidos.
“Nós entendemos que o aumento do salário mínimo devia ser de 600 euros e não devia implicar nenhuma contrapartida aos patrões e o que aconteceu foi uma inaceitável manobra de chantagem das confederações patronais sobre o Governo, a que o Governo decidiu ceder”, afirmou Rita Rato.
No ponto 2 do anexo da posição conjunta assinada pelo PEV e pelo PS a 10 de novembro de 2015 está inscrito que “não constará do programa do governo qualquer redução da TSU das entidades empregadoras”.
No ponto 3 do anexo da posição conjunta que o PS também assinou na altura com o BE está inscrita exatamente a mesma frase. Só no documento assinado entre socialista e comunista é que não é feita qualquer referência à redução da TSU (Taxa Social Única).
“O aumento do salário mínimo nacional não é uma decisão da concertação social, é uma decisão do Governo, ouvida a concertação social. O PCP continua a defender o aumento do salário mínimo para 600 euros a partir de janeiro”, afirmou Rita Rato.
“A nossa posição foi sempre assumida, contra a descida da TSU das empresas para a Segurança Social. Entendemos que isso descapitaliza e desvaloriza a segurança social, para além de colocar o Governo a assumir a subsidiar o aumento do salário mínimo”, vincou.
Rita Rato argumentou que se o salário mínimo “tivesse sido atualizado ao longo dos anos de acordo com os índices de produtividade hoje estaria nos 900 euros e continua a estar abaixo dos 600 euros”, sendo “um dos mais baixos da União Europeia, que não permite viver em condições de dignidade”.
“É de elementar justiça o seu aumento”, declarou.
A deputada Heloísa Apolónia, de “Os Verdes”, confrontou na quinta-feira o primeiro-ministro com a proposta apresentada pelo Governo em concertação social, prevendo uma descida da TSU a aplicar ao conjunto dos salários mínimos atualizados, em violação com o teor da declaração conjunta para a formação do atual executivo.
O primeiro-ministro rejeitou, respondendo: “Não é assim, porque está no programa do Governo que iríamos propor à concertação social, anualmente, uma trajetória de convergência para o salário mínimo”.
“É isso que estamos a fazer”, sustentou.



www.dinheirovivo.pt
23
Dez16

Orçamento da Câmara de Olhão para 2017 superior a 25 milhões de euros

António Garrochinho



No final de outubro, a Assembleia Municipal de Olhão aprovou, por maioria, o Orçamento e as Grandes Opções do Plano para 2017, o qual ascende aos 25,2 milhões de euros, ou seja, a Autarquia terá mais cerca de três milhões de euros do que em 2016 para gerir, continuando as apostas a ser nas áreas da Educação, Desporto, Juventude, Cultura e Ação Social.

Segundo António Miguel Pina, presidente da Câmara Municipal de Olhão, “este orçamento espelha o equilíbrio das contas do Município. A evolução verificada revela uma melhoria sustentada na gestão orçamental. Definimos como prioritárias, para o ano que agora se vai iniciar, as áreas da Educação, Desporto, Juventude e Cultura e Ação Social”.

É de realçar que o Orçamento para 2017 inclui mais de 300.000,00 euros para a manutenção de jardins e espaços verdes, no âmbito do protocolo de delegação de competências existente entre a Câmara e as Juntas de Freguesia.

No que respeita às despesas de capital (investimento), estão considerados todos os projetos em curso, ou os que estão em fase de realização de projeto com início no próximo ano, caso de alguns dos projetos em execução como a requalificação da Estrada de Quelfes, do troço de 2 quilómetros na Estrada da Foupana, do Caminho do “Cimento”, da Rua da Palmeira em Bias do Sul, da renovação dos Parques Infantis, da requalificação dos polidesportivos da Cavalinha, Associação 18 de Maio e Bairro 28 de Setembro, da requalificação do Circuito de Manutenção dos Pinheiros de Marim e repavimentação da Estrada Alfandanga – Moncarapacho, sendo este financiado através do empréstimo efetuado pela Autarquia.

Em fase de elaboração de projeto, o Município destaca as novas instalações das Oficinas Municipais, Serviços Veterinários e Ambiolhão, a requalificação da EN125, a requalificação do cruzamento da Av. D. João VI com a Rua 18 de Junho e Rua Dâmaso da Encarnação, a construção de canil/gatil intermunicipal, a construção da pista de atletismo em Pechão; a ampliação/requalificação da Escola Básica nº 5, a requalificação da Escola Básica de Quelfes ou a requalificação do Jardim de Infância de Pechão.

Esclarece a autarquia que, no que diz respeito a estes últimos investimentos, que são necessários e urgentes, a sua realização só será possível se existir, durante o próximo ano, um crescimento das receitas fruto da venda de terrenos, e/ou a sua inclusão em projetos cofinanciados por fundos comunitários.

Dado adquirido é que Olhão tem crescido nas diversas áreas económicas nos últimos anos e muitos são os empresários que escolheram o concelho de Olhão para implementarem as suas empresas, pelo que é propósito da Autarquia manter todos os apoios aos já aqui instalados e aos novos empresários que pretendam investir no concelho.

www.regiao-sul.pt
23
Dez16

VEJA VÍDEO COM LIBERTAÇÃO DE ALGUNS REFÉNS - Piratas do ar libertam grupo de mulheres e crianças em Malta

António Garrochinho




Avião líbio com 118 pessoas foi desviado para Malta. Um dos sequestradores diz ser pró-Kadhafi e afirma ter uma granada de mão








Os piratas do ar que sequestraram e desviaram um avião líbio com 118 pessoas a bordo libertaram um primeiro grupo de 25 passageiros, mulheres e crianças, avançou o primeiro-ministro de Malta, Joseph Muscat.

VÍDEO



    O A320 da companhia Afriqiyah Airways fazia um voo interno, de Sebha com destino a Trípoli, mas acabou por ser desviado para a pequena ilha, a 500 km da capital da Líbia. O avião está neste momento imobilizado na pista, rodeado de tropas, enquanto decorrem as negociações.
      A bordo estavam, inicialmente, 111 passageiros (82 homens, 28 mulheres e um bebé) e sete tripulantes, também de acordo com o primeiro-ministro Joseph Muscat.
      Segundo os media locais, dois piratas do ar ameaçaram fazer explodir o avião. O The Times of Malta avança que um dos homens diz ser pró-Kadhafi e afirma ter uma granada de mão. O sequestrador diz ainda que está disposto a libertar todos os passageiros, se as suas exigências forem satisfeitas, mas ainda não se sabe que reivindicações são essas.
        The Times of Malta lembra que em 1985 o sequestro de um Boeing 737 da EgyptAir, que aterrou em Malta, terminou num banho de sangue. Há 31 anos, após 24 horas de pesadelo, comandos do Egito invadiram o aparelho e 62 pessoas morreram.
        Devido ao incidente desta manhã, o aeroporto de Malta está fechado.

        www.jn.pt
        23
        Dez16

        23 de Dezembro de 1667: A Inquisição condena o padre António Vieira à reclusão e ao silêncio

        António Garrochinho

        Notável prosador e o mais conhecido orador religioso português, o Padre António Vieira nasceu em 1608, em Lisboa, filho primogénito de um modesto casal burguês, e faleceu na Baía em 1697. Quando tinha apenas seis anos, os seus pais mudaram-se para a Baía, no Brasil, tendo aí iniciado os seus estudos.
        Os jesuítas tinham sido desde sempre os portadores da cultura e civilização no Brasil, com relevo especial para os Padres José de Anchieta e Manuel de Nóbrega. Assim sendo, cursou Humanidades no colégio da Companhia de Jesus, onde revelou bem cedo dotes excecionais. Aos 15 anos, motivado pela sua fé na Virgem das Maravilhas na Sé baiana e por um sermão que ouviu sobre as torturas do Inferno, Vieira teve o seu famoso "estalo" e decidiu ingressar na Companhia de Jesus. Ante a oposição dos pais, Vieira fugiu de casa e prosseguiu a sua formação, em que predominavam as Humanidades Clássicas (principalmente o latim), a Filosofia e a Teologia, com especial relevo para a Sagrada Escritura. Guiado pelos pressupostos e práticas jesuíticas, que apontavam para o objetivo primordial da salvação do próximo através da pregação, exerceu a sua função evangelizadora junto dos indígenas de uma aldeia onde passou algum tempo.
        Todavia, cedo regressou à capital de forma a continuar a sua formação. Ao entrar no segundo ano do seu noviciado, assistiu à brusca invasão dos holandeses na Baía, tendo de refugiar-se no interior da capitania. Começara, então, a Guerra Santa entre Portugal e os inimigos de Deus, a que Vieira não ficou alheio durante mais de 25 anos. Descrevendo estes eventos calamitosos do ano de 1624, na "Carta Ânua" ao Padre Geral em Roma, Vieira deixou claro que a sua atividade não se limitaria a ser meramente religiosa, pois os preceitos jesuíticos, que apontavam para a emulação e o instinto de luta, levavam-no a bater-se pela justiça.
        Em 1625 António Vieira fez votos de pobreza, castidade e obediência e, propondo-se missionar entre os ameríndios e escravos negros, estudou a "língua geral" (tupi-guarani) e o quimbundo. Foi nomeado professor de Retórica no colégio dos Padres em Olinda, onde permaneceu dois ou três anos, tendo depois voltado à Baía com o fito de seguir os cursos de Filosofia e Teologia. Ordenado padre em dezembro de 1634, depressa se avolumou a sua fama de orador e se celebrizaram os seus sermões que refletiam as vicissitudes da Baía, em luta contra os holandeses, e criticavam a ganância, a injustiça e a corrupção. Em 1641, restaurada a independência, Vieira acompanhou o filho do governador, que vinha trazer a adesão do Brasil a D. João IV, à Metrópole. Em Lisboa, começou a pregar em S. Roque e logo o seu talento se espalhou pela cidade. Segundo o testemunho de D. Francisco Manuel de Melo, a afluência às pregações era tal que, como se de provérbio se tratara, corria a frase: "Manda lançar tapete de madrugada em S. Roque para ouvir o Padre António Vieira". Cativa o favor de D. João IV, que não tardou em convidá-lo a pregar na capela real, onde ele proferiu o seu primeiro sermão no dia 1 de janeiro de 1642. Dois anos depois foi nomeado pregador régio. Nos numerosos sermões desta época da sua vida, Vieira não se cansava de animar o auditório a perseverar na luta desigual com Castela e propunha medidas concretas para a solução de problemas, inclusive de ordem económica. A sua situação privilegiada dentro da corte teria contribuído para que fosse encarregue de diversas missões diplomáticas na Holanda, França e Itália, como foi o caso do casamento do príncipe Teodósio. Em 1644, António Vieira proferiu os votos definitivos, depois de ter feito o terceiro ano de noviciado em Lisboa. A Companhia de Jesus começou a ver com maus olhos a sua influência nos destinos do país, ameaçando-o de ser expulso da Companhia. A pedido da mesma, voltou ao Brasil em 1653, para o estado do Maranhão e aí assumiu um papel muito ativo nos conflitos entre jesuítas e colonos, como paladino dos direitos humanos, a propósito da exploração dos indígenas. No ano seguinte pregou o Sermão de Santo António aos Peixes. Foi expulso do Maranhão pelos colonos, em 1661, e regressou a Lisboa.De novo na capital, D. João IV, seu protetor, havia falecido e D. Afonso VI, instigado pelos inimigos do orador, desterrou-o para o Porto e, mais tarde, para Coimbra. Perfilhando as novas expectativas sebastianistas que encontrou no reino, que se baseavam no juramento de D. Afonso Henriques, nas cartas apócrifas de São Bernardo, nas profecias atribuídas a São Frei Gil e nas famosas trovas de Bandarra, escreveu o Sermão dos Bons Anos, em 1642. Foi nesta altura que a Inquisição o prendeu sob a acusação de que tomava a defesa dos judeus, acreditava nas possibilidades de um Quinto Império e nas profecias de Bandarra. Durou largo tempo o processo, porque a Inquisição não se dava por satisfeita e impunha que reconhecesse os seus erros, a que o padre jesuíta se recusou, e talvez se não salvasse da fogueira, se a Companhia o abandonasse à sua sorte, e o papa Alexandre VII não interviesse a recomendar-lhe que se retractasse. A sentença do tribunal foi proferida a 23 de Dezembro de 1667. Condenando Vieira a perder a voz activa e passiva, proibindo-lhe a predica, e ordenando lhe que se recolhesse a um colégio de noviços, ele ouviu a sentença de pé e imóvel durante duas horas com o olhar fito num crucifixo do tribunal, e isto depois de 27 meses de cárcere incomunicável.  Entretanto, a situação política alterou-se. Destituído D. Afonso, subiu ao trono D. Pedro II. António Vieira foi amnistiado e retomou as pregações em Lisboa. Em 1669 parte para Roma como diplomata e obtém grande sucesso como pregador, combatendo o Tribunal do Santo Ofício. Na Cidade Eterna, continuou a defesa acérrima dos judeus e ganhou grande reputação, encantando com a sua eloquência o Papa Clemente X e a rainha Cristina da Suécia. Regressou a Portugal em 1675; mas, agora sem apoios políticos e desiludido pela perseguição aos cristãos-novos (que tanto defendera), retirou-se de vez para a Baía em 1681 onde se entregou ao trabalho de compor e editar os seus Sermões. A sua prosa é vista como um modelo de estilo vigoroso e lógico, onde a construção frásica ultrapassa o mero virtuosismo barroco. A sua riqueza e propriedade verbais, os paradoxos e os efeitos persuasivos que ainda hoje exercem influência no leitor, a sedução dos seus raciocínios, o tom por vezes combativo, e ainda certas subtilezas irónicas, tornaram a arte de Vieira admirável. As obras Sermões, Cartas e História do Futuro ficam como testemunho dessa arte.

        Padre António Vieira. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013.
        wikipedia(imagens) 
        Ficheiro:Padre António Vieira.jpg
        Retrato do Padre António Vieira - Autor desconhecido, início do século XVIII

        23
        Dez16

        Críticos de Passos recolhem assinaturas para convocar congresso extraordinário

        António Garrochinho


        São mais de 2500 as assinaturas já recolhidas por críticos de Pedro Passos Coelho para que seja convocado um congresso extraordinário para o próximo ano. A possível convocação de um congresso servirá para pôr em causa o lugar do actual líder do PSD, mas falta avaliar o momento em que este poderá decorrer. A informação é avançada pelo semanário Expresso.
        O PSD tem descido nas sondagens e há sinais de falta de mobilização dentro do partido. Com as eleições internas do PSD marcadas para 2018, um dos impulsionadores deste movimento de recolha de assinaturas referiu ao Expresso que a avaliação do projecto do actual líder seria só feita nesse ano, “mas também pode ser antes” referindo-se ao congresso extraordinário.
        A realização de um congresso não implica, no entanto, uma mudança imediata de líder do partido, visto que este é eleito por eleições directas. Este possível congresso extraordinário acabaria sim por acentuar as críticas feitas a Passos e dar início a uma disputa pela liderança do PSD.Rui Rio é um dos nomes que se posiconam para fazer frente a Pedro Passos Coelho nas eleições directas do PSD. O ex-presidente da Câmara do Porto já se disponibilizou para o cargo e os apoios crescentes que tem ganho quase que tornam inevitável que assim seja. Rio vem ganhando terreno com a presença em cada vez mais encontros partidários do PSD.
        O limite temporal para a possível realização deste congresso será em Março ou Abril de 2017, visto que depois disso a data aproxima-se demasiado das eleições autárquicas, que se realizam em Setembro ou Outubro.

        A queda da popularidade de Passos e, consequentemente, do partido acabará por influenciar os próprios candidatos às autarquias. “Por todo o país há gente que Passos desiludiu, há conflitos das autárquicas que vão deixar feridas e há a ideia de que ele deu o que tinha a dar”, diz um crítico citado pelo Expresso.
        Esta hipótese de algum opositor desafiar a posição de Passos Coelho ainda antes das autárquicas não é certa, mesmo com a recolha de assinatura em curso. Dirigentes sociais-democratas ouvidos pelo PÚBLICO consideram "improvável" a realização de um congresso, apesar de essa hipótese ter sido levantada por Carlos Encarnação, antigo presidente da Câmara de Coimbra.
        Já do lado de Pedro Passos Coelho, o Expresso avança que na equipa do actual líder a hipótese de este ceder o seu lugar por iniciativa própria nem sequer é posta em cima da mesa. A recolha de assinaturas teve, em grande parte, apoio e mobilização da concelhia de Lisboa, cidade onde as candidaturas às autárquicas têm dado muito que falar, sendo que as negociações sobre uma coligação com o CDS para a capital continuam a perturbar o PSD.




        www.publico.pt
        23
        Dez16

        Portugueses gastaram mais de 2 mil milhões em jogos Santa Casa

        António Garrochinho


        Raspadinha é o jogo mais escolhido, mas nesta época do ano a aposta rainha é a Lotaria de Natal

        Os portugueses estão a apostar valores recorde nos jogos sociais da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. De janeiro a outubro investiram 2 257,5 milhões de euros, mais 498,5 milhões do que nos primeiros dez meses do ano passado. Estes valores vão aumentar substancialmente, pois falta incluir as apostas da época natalícia.

        Especialmente a Lotaria do Natal, que ontem já era a rainha nas escolhas dos apostadores, no Rossio. Uma tradição que vão mantendo ao mesmo tempo que conjugam com as apostas habituais no Euromilhões ou Placard.

        Além do aumento das apostas, a Santa Casa viu também subir os prémios pagos: nos primeiros dez meses do ano foram ganhos pelos apostadores 1 353 milhões de euros, verba que já ultrapassa o valor atribuído nos doze meses de 2015 - 1295 milhões. Aliás, estes prémios vão subir, pois só esta terça-feira o primeiro prémio do Euromilhões no valor de 61 milhões de euros foi vendido em Carnaxide (Oeiras).

        A raspadinha é o mais procurado - 1113 milhões vendidos, segundo a Santa Casa -, seguido do Euromilhões (652 milhões) e do Placard (303,4 milhões). Este último é o jogo que mais cresceu em comparação com o período homólogo, mas também só foi para o mercado em setembro de 2015, daí o valor de 19,7 milhões de euros pagos pelos portugueses em dois meses.

        Quanto ao M1lhão, só disponível em setembro, os serviços da SCML adiantam que nos 60 dias da análise obteve 11,9 milhões de euros. Em relação aos restantes jogos sociais todos, incluindo o Euromilhões, apresentam queda de receitas.

        A vontade dos portugueses em apostar enfrentou dificuldades nos últimos dias, com alguns postos de venda a esgotarem o stock , nomeadamente de raspadinhas, e a não conseguirem ver correspondidos os pedidos efetuados. Ao DN, a Santa Casa da Misericórdia adiantou que existiram "alguns atrasos", que estarão relacionados com questões de logística, na resposta aos pedidos dos 5000 mediadores no país.

        Ontem de manhã, a Casa da Sorte, no Rossio, era um desses locais onde as raspadinhas estavam esgotadas. António Nobre que só compra "raspadinhas e lotaria de cinco euros", acabou por sair da loja de mãos a abanar. "Disseram-me para ir à outra loja na Baixa", responde o apostador. A explicação para esta quebra no stock é dada por Paulo Costa, caixeiro da Casa da Sorte: "Esgotou hoje [ontem]de manhã, tem a ver com plafonds de compras e com a afluência que tem sido grande. Na outra loja não esgotou."

        Mas por estes dias a grande aposta tem sido a Lotaria do Natal. "Nesta semana vendemos sempre mais lotaria, este ano até estamos a vender mais do que no período homólogo do ano passado", acrescenta o funcionário da Casa da Sorte. O que não significa que os apostadores habituais deixem os outros jogos. "Normalmente a lotaria são 15 euros, as pessoas pagam com uma nota de 20 e usam os cinco euros de troco para fazer o Euromilhões ou comprar Raspadinhas."

        Exceção para o caso de João Rios. "Só compro lotarias e no Natal venho de propósito aqui para comprar". Apostador "há mais de 40 anos", vem de Miraflores ao Rossio porque tem "uma fezada" nesta casa de apostas e até deixa ao critério dos funcionários a escolha das frações que compra. "É o que vier à rede."

        A única escolha vai para o 725 - número do autocarro em que teve um problema há uns anos largos -, que vem buscar mais tarde e que compra já mais por tradição do que confiança num prémio - "é o que tem de ser", resume. No bolso para já leva "cem euros" em Lotaria do Natal.
        A fama desta casa foi colhida com uma longa tradição de dar prémios - "somos a casa que vende mais e dá mais prémios", sublinha Paulo Costa. No ano passado, "o primeiro prémio foi vendido aqui", por isso, "as pessoas chegam e pedem logo uma fração com prémio". Os números especiais "normalmente são uma data de nascimento ou de casamento".

        E há ainda quem insista nos mesmos números ao longo do tempo. "Às vezes são grupos que já compram há muito tempo e pedem para reservar bilhetes. " Ao balcão, um cliente pede dois números específicos. Um não foi atribuído para venda à Casa da Sorte e o outro só existe na outra loja. Pouca sorte tem também o cliente que liga a pedir o 814. "Temos todos os 800 menos esse", responde o funcionário.


        www.dn.pt
        23
        Dez16

        Lalanda e Castro. Quem é o homem por detrás do negócio do plasma?

        António Garrochinho


        Lalanda e Castro foi administrador de uma farmacêutica com vendas de 1,5 mil milhões de euros, gosta de roupas caras e adora carros desportivos. Eis a história da sua ascensão e queda.

        Patrão de José Sócrates, suspeito de fazer-lhe chegar dinheiro que alegadamente tinha origem no Grupo Lena, acusado de tráfico de influências junto do ex-ministro Miguel Macedo, arguido por corrupção de responsáveis políticos líbios e agora alvo de um mandado de detenção europeu por alegadamente ter corrompido Luís Cunha Ribeiro para ganhar o monopólio do negócio do plasma em Portugal — afinal, quem é Paulo Lalanda e Castro, o homem que é suspeito em três dos principais processos judiciais nacionais dos últimos anos e que foi esta quarta-feira libertado por um tribunal alemão?
        Administrador executivo da operação global de uma farmacêutica com vendas de 1,5 mil milhões de euros, apontado como sucessor do 17.º bilionário alemão à frente da Octapharma, com queda para carros desportivos, começou a dar nas vistas como delegado de propaganda médica pela sua capacidade de comunicação mas também pelos seus dotes sociais que o levaram a organizar jogos de poker pela noite fora com médicos amigos.
        “Ambicioso”, “estratega”, “vendedor”, “sedutor” e “generoso” são outras palavras normalmente utilizadas para descrever Lalanda e Castro por ex-colegas ou amigos próximos. Luís Cunha Ribeiro, o outro protagonista da “Operação O -“, é, aliás, um amigo de infância e a proximidade entre ambos era conhecida quer na filial portuguesa da Octapharma, quer no seu círculo de amigos, nomeadamente ligados à medicina. Encontravam-se com regularidade, viajavam juntos e eram confidentes um do outro.
        Luís Cunha Ribeiro, o outro protagonista da Operação O -, é um amigo de infância. Encontravam-se com regularidade, viajavam juntos e eram confidentes um do outro.
        Lalanda e Castro chegou a empregar uma namorada dinamarquesa de Cunha Ribeiro na área do marketing da Octapharma. "Era uma autêntica modelo. A típica nórdica loira, de olhos azuis, alta, lindíssima", afirmou um amigo de ambos.

        O estudante que nunca foi médico

        Nascido no Porto em 1957, filho de um militar e de uma farmacêutica, Joaquim Paulo Nogueira de Lalanda e Castro cresceu numa tradicional família de burguesia portuense. A proximidade natural que sempre sentiu em relação à mãe foi potenciada com a morte do pai quando ainda era jovem.
        Dedicada ao trabalho, a mãe chegou a ser diretora de serviço da farmácia hospitalar do Hospital de São João (onde terá trabalhado com Luís Cunha Ribeiro) e terá sido sob a sua influência que Paulo Lalanda e Castro se interessou pela área da saúde. Tentando corresponder a uma expectativa da sua mãe, inscreveu-se na Faculdade de Medicina do Porto no período revolucionário do 25 de Abril mas acabou por desistir a meio do curso. E foi a partir daí que se dedicou ao trabalho na indústria farmacêutica, a área de trabalho da sua mãe.
        Tentando corresponder a uma expectativa da sua progenitora, inscreveu-se na Faculdade de Medicina do Porto mas acabou por desistir a meio do curso. E foi a partir daí que se dedicou de corpo e alma ao trabalho na indústria farmacêutica -- ao fim e ao cabo, a área de trabalho da sua mãe. Dotado de uma boa capacidade de comunicação e um forte sentido comercial, Lalanda começou a trabalhar como delegado de propaganda médica.
        Dotado de uma boa capacidade de comunicação e um forte sentido comercial, Lalanda começou a trabalhar como delegado de propaganda médica e rapidamente se destacou entre os colegas, viajando pelo país. Foi nesses tempos iniciais que ganhou o epíteto de “Grande Vendedor”. Tanto vendeu medicamentos da mais variada espécie como instrumentos cirúrgicos e máquinas de sutura — tudo com a mesma eficácia.
        Lalanda conseguia facilmente ganhar empatia com os médicos e era muito eficaz a explicar a cada um deles as mais-valias dos seus produtos. Socialmente era também um sucesso. Não só começou a ganhar facilmente amigos entre os médicos, como passou a organizar jogos de poker em Lisboa que se prolongavam pela noite fora no início dos anos 80.
        Antes de entrar na Octapharma, passou por diversos laboratórios conhecidos nos anos 80 e chegou a ser diretor de marketing de uma farmacêutica norte-americana importante no mercado mundial da época: a Wyeth — empresa que viria a ser comprada pela Pfizer em 2009 por cerca de 68 mil milhões de dólares (cerca de 65 mil milhões de euros ao câmbio de hoje)

        A entrada

        Falar de Paulo Lalanda e Castro, contudo, é falar da Octapharma — uma farmacêutica suíça que passou a ser mais conhecida por causa das notícias da última semana sobre a “Operação O -“. Mas, afinal, o que é a Octapharma?
        Trata-se de uma farmacêutica fundada em 1983 na Suíça pelo alemão Wolfang Marguerre. Um exímio violinista e ex-vice-presidente do grupo francês de cosméticos Revlon, Marguerre viu no início dos anos 80 uma oportunidade de negócio na biotecnologia — uma área que, então, estava num estado de desenvolvimento primitivo.
        O combate à hemofilia é a principal missão empresarial da Octapharma. Aliás, a primeira parte do seu nome, “Octa”, significa oito em grego e pretende simbolizar o Factor VIII — o factor sanguíneo deficiente que caracteriza a hemofilia A, a variante mais grave desta doença genética hereditária. Através de uma forte aposta na investigação, Marguerre e a sua equipa conseguiram desenvolver dois processos inovadores:
        • Inativação do plasma sanguíneo — consiste na separação do plasma, que é a parte líquida do sangue (que se caracteriza por uma forte cor amarela), dos restantes componentes, isolando-o e conservando-o de forma a que seja utilizado em transfusões. A grande novidade deste processo foi um aumento exponencial da segurança das transfusões, já que reduziu ao mínimo a transmissão das doenças dos dadores;
        • Criação de produtos hemoderivados — através de um processo de fracionamento, foi possível separar, purificar e transformar as proteínas do plasma em produtos farmacêuticos. Estes medicamentos viriam a ser chamados de hemoderivados e a Octapharma foi das primeiras farmacêuticas a criar produtos com Factor VIII (para combater a hemofilia A) e Factor XIX (para lutar contra a hemofilia B).
        O mínimo que se pode dizer é que Wolfgang Marguerre acertou na mouche. Desde o final dos anos 80 que a Octapaharma não parou de crescer, tornando-se uma das maiores farmacêuticas do mundo especializadas em plasma sanguíneo. Para ter uma real percepção da escala da Octapharma, concentremo-nos nos resultados do exercício de 2015:
        • Vendas brutas – 1.58 mil milhões de euros
        • Lucro – 351 milhões de euros
        O crescimento da empresa nos últimos seis anos tem sido exponencial, como se pode verificar no gráfico abaixo reproduzido:

        Mas podemos ir mais longe: as vendas acumuladas suplantaram os 10 mil milhões de euros entre 2004 e 2015, enquanto os lucros acumulados atingiram cerca de 1,9 mil milhões de euros no mesmo período, de acordo com os dados contidos nos relatórios e contas da empresa.
        Resultados que traduzem a operação global da Octapharma, presente em 32 mercados nacionais, com destaque para os principais países europeus, Estados Unidos, Brasil, México, Rússia, Ucrânia, China, Arábia Saudita, Singapura e Austrália. A empresa tem ainda fábricas em Viena (Áustria), Springe e Dessau (Alemanha), Lingolsheim (França), Estocolmo (Suécia), Charlote (Estados Unidos) e México.

        O 17. º bilionário alemão

        Por isso mesmo, Wolfgang Marguerre ocupa um lugar destacado na famosa lista anual de milionários da revista Forbes. Na lista de 2016 (actualizada em tempo real consoante a variação diária das empresas cotadas), Marguerre ocupa a posição #196 em termos globais, com um conjunto de ativos que suplantam os 5,3 mil milhões de euros. Se olharmos apenas para a Alemanha, estamos a falar do 17.º bilionário alemão.
        Uma informação de contexto: Américo Amorim, o homem mais rico de Portugal, está na posição #369, com ativos avaliados em 4,1 mil milhões de euros, enquanto Alexandre Soares do Santos encontra-se posição #854, com 2,1 mil milhões de euros.
        Um exímio violinista, Marguerre viu no início dos anos 80 uma oportunidade de negócio na biotecnologia. Hoje ocupa a posição #196 na lista da Forbes sobre os homens mais ricos do mundo com uma fortuna de 5,3 mil milhões de euros. É o 17.º bilionário alemão. Américo Amorim, o homem mais rico de Portugal, está na posição #369 com ativos avaliados em 4,1 mil milhões de euros
        Marguerre transformou a Octapharma desde o início numa empresa com um forte cariz familiar. Fundada e gerida por Wolfgang, a administração da farmacêutica conta ainda com dois dos seus três filhos (Tobias e Frederic) com pastas importantes na gestão da empresa.
        Apesar de ter sido fundada por um alemão, tem sede na cidade suíça de Lachen (Cantão Schwyz), nas imediações do Lago de Zurique. Essa é a sede formal, mas a cidade alemã de Heidelberg, onde nasceu Wolfgang, passou a ter um lugar de destaque na organização a partir do momento em que foi inaugurado um centro de investigação em 2012 que custou mais de 25 de milhões de euros — e que estava anteriormente em Munique. Foi nestas instalações que Paulo Lalanda e Castro foi detido pela polícia alemã e pela Polícia Judiciária em plena reunião do Conselho de Administração da Octapharma.
        A ligação do fundador da Octapharma à cidade onde nasceu traduz-se igualmente na doação pessoal de cerca de 17 milhões de euros para a renovação do teatro local, assim como na doação de cerca de 1 milhão de euros para a autarquia de Heidelberg promover a integração dos refugiados que entraram na Alemanha no âmbito da política de portas abertas da chanceler Angela Merkel, segundo informação da revista Forbes.

        A ascensão

        A farmacêutica suíça começou por entrar no mercado português em 1988, através de um distribuidor local escolhido para comercializar os seus produtos. Lalanda e Castro trabalhava nessa distribuidora local, coincidência que fez com que tivesse os primeiros contactos com os suíços. Quatro anos mais tarde, a empresa de Wolfgang Marguerre decidiu avançar para a criação de uma filial portuguesa e convidou Paulo Lalanda e Castro. Então diretor de marketing da Wyeth em Portugal, encontrava-se numa posição segura. E foi precisamente isso que a mãe argumentou, segundo um amigo próximo conta ao Observador, para o demover de aceitar o convite da Octapharma. Apesar da forte oposição da mãe, de quem sempre foi muito chegado até à data da sua morte, Lalanda acabou por aceitar o convite da família Marguerre.
        O gestor português começou por focar-se em dominar o negócio da venda do plasma sanguíneo inativado a cada um dos hospitais portugueses, apostando mais tarde na venda de hemoderivados. Tendo em conta a ausência ou a fraca concorrência, foi muito fácil dominar o mercado ao início. Os seus conhecimentos nos principais hospitais portugueses foram vitais para o sucesso da Octapharma.
        Lalanda e Castro conhecia tão bem o mercado que, com o conhecimento e autorização da casa mãe, começou a abrir outras empresas (suas e que nada têm a ver com a Octapharma) com o objetivo de comercializar produtos farmacêuticos que complementassem o portfólio da farmacêutica suíça. É a partir daqui que constrói um pequeno conglemorado de empresas que, mais tarde estará, na origem, das imputações criminais.
        A filial portuguesa, apesar de faturar muitos milhões anualmente, era uma espécie de micro-empresa nos seus primórdios. Apenas quatro funcionários davam uma dimensão familiar à empresa e enfatizavam as capacidades de liderança de Lalanda e Castro. “Era uma pessoa muito gentil. Procurava estar a par de tudo e dos problemas das pessoas”, diz um ex-funcionário.
        Outro destaca as suas capacidades de gestão: “Era um estratega. Tinha grande sentido comercial e conhecia muito bem o mercado em que se movia”, afirma outro ex-funcionário.
        Conhecia tão bem o mercado que, com o conhecimento e autorização da casa-mãe, começou a abrir outras empresas (suas e que nada têm a ver com a Octapharma) com o objetivo de comercializar outros produtos ´ que complementassem o portfólio da farmacêutica suíça. É a partir daqui que constrói um pequeno conglemorado de empresas que também chega a sectores como o imobiliário — e que está na origem, segundo o Ministério Público e a Polícia Judiciária, das contrapartidas pelo alegado crime de corrupção activa que lhe é imputado.
        [Veja aqui as várias empresas criadas por Lalanda e Castro]
        lalanda-ornanograma
        Quando Maria de Belém, então ministra da Saúde do primeiro Governo de António Guterres (1996/1999), decide centralizar as compras de plasma sanguíneo e de hemoderivados para conseguir preços mais baratos, a Octapharma continua a ter sucesso. A vitória da farmacêutica suíça no concurso de 2000 para a compra de produtos hemoderivados, cujo júri foi presidido por Luís Cunha Ribeiro, é um exemplo disso mesmo, como pode verificar aqui. É este concurso que está na origem da “Operação O -“.
        Segundo a TVI, a Octapharma terá facturado em Portugal nos últimos 20 anos mais de 120 milhões de euros. Mas, de acordo com dados do Infarmed citados pelo Público, só entre 2009 e setembro deste ano os suíços tiveram receitas de 250 milhões de euros com origem nos hospitais públicos portugueses.
        Todos estes dados de sucesso no mercado nacional fizeram com que Paulo Castro — o nome normalmente usado pelos seus amigos — tivesse uma ascenção na empresa suíça. Um exemplo da importância do mercado português para a Octapharma: em 2006, Paulo Lalanda e Castro já era membro do Conselho de Administração da holding suíça como diretor-geral da filial portuguesa. Com esse estatuto, apenas os responsáveis máximos das filiais alemã e nórdica tinham igualmente assento no board da Octapharma — quando a empresa estava presente em 11 países europeus.

        Roupas, Porsche e cremes

        A sua vida pessoal também foi conhecendo muitas mudanças. Casado com uma advogada, separou-se ainda nos anos 90, tendo tido dois filhos de outra relação.
        Os resultados positivos da Octapharma, e ainda antes de subir à administração da holding na Suíça, trouxeram os aumentos salariais e os prémios anuais elevados. Quem conviveu com Lalanda e Castro no final dos anos 90 recorda-se do seu gosto por roupa cara, em especial por marcas italianas como Ermenegildo Zegna ou Cerruti; da sua queda por comprar carros desportivos, como um Porsche 911; e de ter uma grande preocupação com a sua imagem, comprando cosméticos masculinos para retardar o envelhecimento da pele.
        Um amigo recorda igualmente uma casa que Lalanda e Castro tinha no final dos anos 90 na Av. Estados Unidos da América que tinha a melhor tecnologia disponível para as chamadas casas inteligentes. “Ele não precisava de fazer nada. Bastava dar uma ordem e abriam-se os estores, as luzes e a televisão”, diz.
        Na década de 2000, com a ascensão à administração da Octapharma, Lalanda e Castro ficou com a pasta do marketing da multinacional suíça e começou a viajar por todo o mundo, muitas vezes em aviões privados.
        Os resultados positivos da Octapharma, e ainda antes de subir à administração da holding na Suíça, trouxeram os aumentos salariais e os prémios anuais com cheques chorudos. No final dos anos 90 Lalanda e Castro tinha uma queda especial por marcas italianas como a Ermenegildo Zegna ou a Cerruti, e por carros desportivos. Após ser nomeado administrador, os amigos começam a comentar o seu gosto por namoradas eslavas. Irina, uma hospedeira ucraniana, foi a sua grande paixão dessa época.
        A subida dos lucros da Octapharma e o apreço que Wolfgang Marguerre foi ganhando por Lalanda e Castro, fez com que este começasse a ter mais poder dentro da administração da Octapharma.
        Em primeiro lugar, passando a ser diretor-geral para Portugal e Espanha. Numa segunda fase, em 2008, Lisboa foi igualmente a base para o nascimento de uma “Latin America Unit”. Seria Paulo Lalanda e Castro que ficaria responsável pela penetração da Octapharma no Brasil e nos restantes países da América Latina.
        Apesar de a Octapharma e de Lalanda e Castro terem sido investigados no âmbito do chamado processo “Máfia dos Vampiros”, juntamente com outras farmacêuticas, sob a suspeita de terem inflacionado os preços acima do valor de mercado, as vendas, mais uma vez, foram muito positivas. Entre 2010 e 2015, a Octapharma faturou cerca de 668 milhões de reais brasileiros (cerca de 192 milhões de euros ao câmbio de hoje), segundo um requerimento apresentado pelo senador Álvaro Dias no Senado da República do Brasil.
        Foi também devido ao sucesso da implatanção na América Latina que Lalanda e Castro é promovido em 2010 a líder do "Global Management Commitee International Marketing" da farmacêutica. É também por esta altura, que Paulo Castro é desafiado pela empresa a viver em Paris ou na Suíça. Acaba por escolher Zurique e começa a ser falado dentro da empresa como um potencial sucessor de Wolfgang Marguere.
        Foi também devido ao sucesso da implatanção na América Latina que Lalanda e Castro é promovido em 2010 a líder do “Global Management Commitee International Marketing” da farmacêutica.
        É também por esta altura, que é desafiado pela Octapharma para viver em Paris ou na Suíça. Acaba por escolher Zurique e começa a ser falado dentro da empresa como um potencial sucessor de Wolfgang Marguere.
        Tendo em conta a característica de empresa familiar e o facto de os dois filhos do fundador serem membros do Conselho de Administração, sendo Frederic o representante dos accionistas e líder da operação dos Estados Unidos, é pouco provável que isso viesse a acontecer.

        Os problemas

        O início dos problemas de Lalanda e Castro dá-se com um facto que deveria exponenciar a sua importância dentro de um grupo como a Octapharma: a contratação de José Sócrates, um ex-primeiro-ministro de um governo europeu, como consultor. O lugar oferecido era o de presidente do Conselho Consultivo para a América Latina.
        O convite foi feito à mesa de um restaurante em Paris em 2012 e o objetivo era claro: ajudar a Octapharma a melhorar as suas relações com o Governo de Dilma Rousseff, no Brasil. Por 12.500 euros mensais, Sócrates comprometia-se a abrir portas para melhorar a imagem da farmacêutica por causa do processo Máfia dos Vampiros e também para fazer com que a Octapharma ganhasse uma posição no negócios dos hemoderivados — cuja produção os brasileiros pretendiam que fosse tendencialmente pública, como pode verificar aqui.
        A péssima imagem de José Sócrátes junto da comunicação social fez com que automaticamente a Octapharma passasse a ser um nome a ter em conta nas redações portuguesas a partir do momento em que o Ministério da Saúde brasileiro divulgou fotos de uma reunião em fevereiro de 2013 entre José Sócrates, Paulo Lalanda e Castro e o ministro Alexandre Padilha.

        VÍDEO

        José Sócrates passou a estar sob escuta na Operação Marquês pouco tempo depois. Após a detenção do ex-primeiro-ministro em novembro de 2014, tudo mudou para Paulo Lalanda e Castro.
        Devido ao forte escrutínio a que as empresas são sujeitas na Suíça por parte dos diferentes reguladores, a Octapharma viu-se obrigada a despedir José Sócrates de imediato — mas o dano já tinha existia. A Octapharma passa a estar ligada a um caso em que se investiga suspeitas de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais — facto exponenciado pela constituição de Lalanda e Castro como arguido e a divulgação das escutas telefónicas das conversas entre o administrador da Octapharma e Sócrates.
        A nódoa na imagem da Octapharma é clara. Isso mesmo enfatiza ainda hoje a revista Forbes no perfil que faz de Wolfgang Marguere.
        Devido ao forte escrutínio a que as empresas são sujeitas na Suíça por parte dos diferentes reguladores, a Octapharma viu-se obrigada a despedir José Sócrates imediatame a seguir à sua detenção. A nódoa na imagem da farmacêutica é clara. Isso mesmo enfatiza ainda hoje a revista Forbes no perfil que faz de Wolfgang Marguere como um dos homens mais ricos do mundo.
        Tudo vai piorar, contudo. Em 2015, Lalanda e Castro é acusado da alegada prática de dois crimes de tráfico de influências devido a problemas fiscais de empresas pessoais suas e constituído arguido por alegada corrupção activa no comércio de responsáveis políticos da Líbia para ganhar um contrato para a International Life Solutions — outra empresa sua que nada tem a ver com a Octapharma.
        O facto de as suspeitas criminais na Operação Marquês e nos Vistos Gold estarem relacionadas apenas com empresas pessoais de Lalanda e Castro — e não com a Octapharma — foi a razão pela qual se manteve como administrador da farmacêutica suíça.
        Wolfgang Marguere segurou-o até ao dia 14 de dezembro — quando uma reunião do Conselho de Administração da Octapharma em Heidelberg foi interrompida por uma brigada da polícia federal alemã, acompanhada de um agente da Polícia Judiciária, para prender Paulo Lalanda e Castro. Ao mesmo tempo, a polícia suíça fazia buscas na sua casa de Zurique. Poucas horas depois, a Octapharma emitia um comunicado em que agradecia “os serviços de 33 anos à Octapharma”, declarava o seu “apoio total” e “confiança” de que Paulo Lalanda e Castro “irá ser ilibado de qualquer irregularidade”, mas informava que o seu gestor “tinha apresentado a sua demissão de todos os cargos na Octapharma para se concentrar na sua defesa”.
        “Porquê?” — questionam os seus amigos. Porque razão um homem que tudo teve, com competência reconhecida, se deixou enredar em três das principais investigações judiciais dos últimos anos em Portugal. Se uns o defendem, enfatizando, por exemplo, a defesa do aproveitamento do plasma português e do seu fracionamento que Lalanda e Castro sempre fez, outros enfatizam defeitos clássicos da natureza humana. “A ganância do dinheiro e de mais poder foram as razões porque ele caiu. Não tenho dúvidas”, diz uma amiga.

        observador.pt
        23
        Dez16

        Autor do atentado de Berlim morto em Itália

        António Garrochinho


        O suspeito foi parado às três da manhã nos arredores de Milão, numa operação stop de rotina e disparou contra o agente que lhe pediu os papéis de identificação: Acabou por ser abatido a tiro por um dos policias, que ficou ferido mas não corre perigo de vida.
        A identificação de Anis Amri foi confirmada através de impressões digitais.
        "É sem qualquer sombra de dúvida, Anis Amri", afirmou o ministro italiano, que repetiu elogios aos agentes envolvidos e à forma "exemplar" como agiram.

        VÍDEO


        Minniti deu poucos detalhes sobre o que sucedeu, acrescentando que as investigações continuam e que poderá haver mais "desenvolvimentos".
        Parte da investigação debruça-se agora sobre o percurso de Amri depois desde segunda-feira. A polícia berlinense identificou-o durante uma operação de vigilância rotineira a uma mesquita, horas depois do atentado mas antes de ele ser considerado suspeito.

        Apesar de ter lançado um mandado de detenção europeu e oferceido 100 mil euros por informações sobre o paradeiro de Anis Amri, a polícia alemã acreditava que Anis Amri ainda se encontrava em Berlim e ferido.
        Esta manhã a polícia dinamarquesa anunciou por seu lado na rede social Twitter que tinha sido avistado no norte do país um homem que correspondia à descrição de Anis Amri, tendo sido lançada uma operação na região.
        Anis Amri acabou por ser morto em Itália, ao reagir violentamente numa operação de rotina. Terá gritado "Alá é grande!" quando disparou.

        A revista italiana Panorama publicou um pequeno vídeo do local onde o tunisino foi abatido, às três da manhã na praça I Maggio a Sesto S.Giovanni.
        De acordo com a revista, Anis Amri foi abatido por um agente ainda em estágio, com nove meses de serviço, que o atingiu mortalmente tendo ficado ferido num ombro com uma bala de calibre 22.

        Quem era o suspeito

        Anis Amri, de origem tunisina, já tinha vivido em Itália, onde chegou via Lampedusa em 2011. Esteve preso em Palermo durante quatro anos, por furtos, violência e fogo posto, antes de seguir para a Alemanha, onde chegou em 2015.
        De acordo com o seu pai, Mustafa Amri, que o descrevia esta semana como "violento", terá sido na prisão italiana que Anis se aproximou do extremismo muçulmano e se radicalizou.
        Anis Amri só se tornou suspeito do atentado de segunda-feira em Berlim depois das análises forenses terem encontrado papéis de asilo em seu nome na cabine do camião de 40 toneladas lançado sobre a feira de Natal berlinense.
        Impressões digitais encontradas na porta do camião e na cabine do veículo, indicando que ele o tinha conduzido, vieram adensar as suspeitas.
        A polícia alemã está sob uma chuva de críticas, depois de ter deixado escapar o suspeito entre os dedos. Anis Amri já tinha sido investigado na Alemanha por ligações ao extremismo islâmico e estava na lista de mais de 500 suspeitos considerados capazes de levar a cabo atentados.
        Mas nem quando foi detido por posse de papéis de identidade falsos foi deportado.
        No início de 2016, Amri estaria a preparar um assalto para conseguir dinheiro para comprar armas que iria usar num atentado. As investigações não resultaram em dados concretos e acabaram por ser abandonadas.
        Apesar de estar na lista de suspeitos "perigosos" o paradeiro de Anis Amri era absolutamente desconhecido das autoridades. A sua última morada oficial era um centro de refugiados que ele abandonara há vários meses.



        www.rtp.pt
        23
        Dez16

        SALÁRIO MÍNIMO NOS 600 EUROS CAIU E AGORA PS AO LADO DA DIREITA CONTRA A REPOSIÇÃO DAS FREGUESIAS

        António Garrochinho


        Os socialistas, social-democratas e centristas chumbaram esta quinta-feira, no Parlamento, o projeto de lei do PCP para a reposição de freguesias, extintas em 2013, na senda da reforma administrativa de Miguel Relvas. Uma iniciativa do BE, com o mesmo objetivo, também levou tal fim.


        O projeto de lei comunista teve apenas os votos favoráveis do BE, PCP, PEV e de um deputado do PS, Norberto Patinho. O único eleito do PAN, André Silva, absteve-se, tal como o socialista Pedro Carmo. E contra, o PS, PSD e o CDS.
        Já quanto à iniciativa do BE, que estabelecia um "processo extraordinário de restauração de freguesias extintas", em 2013, teve igual votação.
        No final, a autoria do projeto do PCP, a deputada Paula Santos alegou que o "PS, PSD e CDS são hoje responsáveis por defraudar as expectativas das populações". "Não acompanhamos medidas delatórias em relação a esta matéria. Não há justificação para este chumbo", lamentou.
        João Vasconcelos, do BE, leu na votação um "ataque ideológico". "[Um] Ataque as populações do interior e das populações rurais. O Bloco lamenta e reprova o recuo do PS. Os autarcas podem sempre contar com a posição do Bloco de Esquerda", atirou.
        Se à Direita, António Costa Lima, do PSD, alegou que a votação da bancada socialista teve "a virtude de fazer cair a mascara do PS" e a centrista Cecília Meireles sublinhou que os dois projetos se tratou de "um ajuste de contas entre a Gerigonça", já a deputada do PS Susana Amador referiu que antes de qualquer análise do mapa das autarquias locais está o plano do Governo de "transferência de competências paras as freguesias".
        Há uma semana, também Susana Amador havia dito que quaisquer "alterações, a haver, só ocorrerão em 2018", depois das eleições autárquicas no outono de 2017.
        "A revisão das freguesias será feita no quadro de 2018", disse, então sublinhando que a prioridade para o PS passa pela a introdução de "uma definição de competências" e que avançar com a desagregação das fusões de 2013 nos próximos tempos seria "um processo autista, contra as assembleias municipais".
        A fusão de freguesias começou a ser delineada por Miguel Relvas, ministro-adjunto do Governo PSD/CDS, em 2012, tendo sido concretizada em 2013, a poucos meses das eleições autárquicas desse ano - o que provocou enorme contestação local.

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