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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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31
Jan17

HISTÓRIA DO FADO - Nascido nos contextos populares da Lisboa oitocentista, o Fado encontrava-se presente nos momentos de convívio e lazer.

António Garrochinho


Nascido nos contextos populares da Lisboa oitocentista, o Fado encontrava-se presente nos momentos de convívio e lazer. Manifestando-se de forma espontânea, a sua execução decorria dentro ou fora de portas, nas hortas, nas esperas de touros, nos retiros, nas ruas e vielas, nas tabernas, cafés de camareiras e casas de meia-porta. Evocando temas de emergência urbana, cantando a narrativa do quotidiano, o fado encontra-se, numa primeira fase, vincadamente associado a contextos sociais pautados pela marginalidade e transgressão, em ambientes frequentados por prostitutas, faias, marujos, boleeiros e marialvas. Muitas vezes surpreendidos na prisão, os seus actores, os cantadores, são descritos na figura do faia, tipo fadista, rufião de voz áspera e roufenha, ostentando tatuagens, hábil no manejo da navalha de ponta e mola, recorrendo à gíria e ao calão. Esta associação do fado às esferas mais marginais da sociedade ditar-lhe-ia uma vincada rejeição pela parte da intelectualidade portuguesa. 

Atestando a comunhão de espaços lúdicos entre a aristocracia boémia e as franjas mais desfavorecidas da população lisboeta, a história do fado cristalizou em mito o episódio do envolvimento amoroso do Conde de Vimioso com Maria Severa Onofriana (1820-1846), meretriz consagrada pelos seus dotes de cantadeira e que se transformará num dos grandes mitos da História do Fado, referencial agregador da comunidade fadista. Em sucessivas retomas imagéticas e sonoras, a evocação do envolvimento de um aristocrata boémio com a meretriz, cantadeira de fados, perpassará em muitos poemas cantados, e mesmo no cinema, no teatro, ou nas artes visuais, desde logo a partir do romance A Severa, de Júlio Dantas, publicado em 1901 e transportado para a grande tela em 1931, naquele que seria o primeiro filme sonoro português, dirigido por Leitão de Barros.

Também em eventos festivos ligados ao calendário popular da cidade, em festas de beneficência ou nas cegadas - representações teatrais de carácter amador e popular, na generalidade representadas por homens, nas ruas, verbenas, associações de recreio e colectividades - o fado ganharia terreno. Apesar deste tipo de representação constituir um divertimentos célebres do Carnaval lisboeta, de franca adesão popular e muitas vezes com um vincado carácter de intervenção, a regulamentação da censura em 1927 iria contribuir, de forma lenta mas irreversível, para a extinção deste tipo de espectáculo.  

O Teatro de Revista, género de teatro ligeiro tipicamente lisboeta nascido em 1851, cedo descobrirá as potencialidades do fado que, a partir de 1870 integra os seus quadros musicais, para ali se projectar junto de um público mais alargado. O contexto social e cultural de Lisboa com seus bairros típicos, sua boémia, assume protagonismo absoluto no teatro de revista. Ascendendo aos palcos do teatro o fado animará a revista, estruturando-se novas temáticas e melodias. No teatro de revista, com refrão e orquestrado, o fado será cantado quer por famosas actrizes, quer por fadistas de renome, cantando o seu repertório. Ficariam na história duas formas diferentes de abordar o fado: o fado dançado e estilizado por Francis e o fado falado de João Villaret. Figura central da história do Fado, Hermínia Silva consagrou-se nos palcos do teatro nas décadas de 30 e 40 do Século XX, somando os seus inconfundíveis dotes de cantadeira com os de actriz cómica e revisteira

Alargando-se o campo de apropriação do fado a partir do último quartel do séc. XIX, corresponde a esta época a estabilização formal da forma poética da “décima”, quadra glosada em quatro estrofes de dez versos cada, aquela em torno da qual se estruturaria o Fado para mais tarde se desenvolver em torno de outras variantes. Será também neste período que a guitarra, ao longo do século XIX, progressivamente difundida dos centros urbanos para as zonas rurais do país, se definirá na sua componente específica de acompanhamento do fado. 

A partir das primeiras décadas do século XX o fado conhece uma gradual divulgação e consagração popular, através da publicação de periódicos que se consagram ao tema, e da consolidação de novos espaços performativos numa vasta rede de recintos que, numa perspectiva comercial, passava agora a incorporar o Fado na sua programação, fixando elencos privativos que muitas vezes se constituíam em embaixadas ou grupos artísticos para efeitos de digressão. Paralelamente, sedimentava-se a relação do Fado com os palcos teatrais, multiplicando-se as actuações de intérpretes de fado nos quadros musicais da Revista ou das operetas. 

Com efeito, o aparecimento das companhias de fadistas profissionais a partir da década de 30, veio permitir a promoção de espectáculos, com elencos de grande nomeada e a sua circulação pelos teatros de norte a sul do País, ou mesmo em digressões internacionais. Tal foi o caso do “Grupo Artístico de Fados” com Berta Cardoso (1911-1997), Madalena de Melo (1903-1970), Armando Augusto Freire, (1891-1946) Martinho d’Assunção (1914-1992) e João da Mata e do “Grupo Artístico Propaganda do Fado” com Deonilde Gouveia (1900-1946), Júlio Proença (1901-1970) e Joaquim Campos (1899-1978) ou da “Troupe Guitarra de Portugal”, integrada, entre outros, por Ercília Costa (1902-1985) e Alfredo Marceneiro (1891-1982). 

Embora os primeiros registos discográficos produzidos em Portugal datem dos alvores do século XX, o mercado nacional era ainda, nesta fase, bastante incipiente, uma vez que a aquisição quer de gramofones, quer de discos, acarretava custos bastante elevados. Efectivamente, depois da invenção do microfone eléctrico, em 1925, reunir-se-iam as condições fundamentais às exigências de captação do registo sonoro. Decorrendo, no mesmo período, o fabrico de gramofones a preços cada vez mais competitivos, estavam criadas, junto de uma classe média, as condições mais favoráveis de acesso a este mercado. 

No contexto dos instrumentos de mediatização do fado a TSF – telegrafia sem fios - assumiu uma importância central nas primeiras décadas do século XX. Da intensa actividade de postos de radiodifusão verificada entre 1925 e 1935, destacam-se o CT1AA, o Rádio Clube Português, a Rádio Graça e a Rádio Luso rapidamente popularizada pelo destaque que deu ao fado. Em 1925 tinham início as emissões da primeira estação de rádio portuguesa, o CT1AA. Investindo nas infra-estruturas técnicas e logísticas que lhe garantiam a expansão do seu âmbito de radiodifusão e a regularidade das emissões, o CT1AA de Abílio Nunes passou a integrar o fado nas suas emissões, angariando um vasto círculo de ouvintes, que se estendia à diáspora da emigração portuguesa. Incluindo emissões em directo dos Teatros, bem como apresentações musicais ao vivo nos estúdios, o CT1AA promovendo ainda, a título experimental, a transmissão de um programa de fados da responsabilidade do violista Amadeu Ramin.

Com o golpe militar de 28 de Maio de 1926 e a implementação da censura prévia sobre espectáculos públicos, imprensa e demais publicações, a canção urbana sofreria profundas mutações. De facto, logo no ano seguinte, regulamentando globalmente as actividades de espectáculo através de um extenso clausulado, o Decreto-Lei nº 13 564 de 6 de Maio de 1927, vinha consagrar, ao longo do disposto em 200 artigos, uma “Fiscalização superior de todas as casas e recintos de espectáculos ou divertimentos públicos (…) exercida pelo Ministério da Instrução Pública, por intermédio da Inspecção Geral dos Teatros e seus delegados”. Neste contexto, o fado sofreria inevitavelmente profundas mutações regulado agora, nos termos do disposto naquele instrumento legal, ao nível da concessão de licenças a empresas promotoras de espectáculos, nos mais diversificados recintos, dos direitos de autor, da obrigatoriedade de visionamento prévio de programas e repertórios cantados, da regulamentação específica para a atribuição da carteira profissional, da realização de contratos, deslocações em tournées, entre inúmeros outros aspectos. Impunham-se, assim, significativas mutações no âmbito dos espaços performativos, no modo de apresentação dos intérpretes, nos repertórios cantados – despidos de qualquer carácter de improviso – consolidando-se um processo de profissionalização de uma plêiade de intérpretes, instrumentistas, letristas e compositores, que passava a actuar em recintos diversificados para um público cada vez mais alargado. 

Gradualmente, tenderia a ritualizar -se a audição de fados numa casa de fados, locais que iriam sobretudo concentrar-se nos bairros históricos da cidade, com maior incidência no Bairro Alto, sobretudo a partir dos anos 30. Estas transformações na produção do fado irão necessariamente afastá-lo do campo do improviso, perdendo-se alguma da diversidade dos seus contextos performativos de origem e, por outro lado, obrigar à especialização de intérpretes, autores e músicos. Paralelamente, as gravações discográficas e radiofónicas propunham uma triagem de vozes e práticas interpretativas que se impunham como modelos a seguir, limitando o domínio do improviso.

Na década seguinte, vingariam definitivamente as tendências de um revivalismo dos aspectos ditos típicos, que apontavam para a recriação dos aspectos mais genuínos e pitorescos nos ambientes performativos do fado.

E se desde o primeiro momento o fado marcou presença no teatro e na rádio o mesmo irá acontecer na sétima arte. De facto, se o advento do cinema sonoro foi marcado pelo musical, o cinema português consagrou ao fado particular atenção. Ilustra-o bem o facto do primeiro filme sonoro português, realizado em 1931, por Leitão de Barros, ter por temática as desventuras da mítica figura da Severa. Como tema central ou simples apontamento, o fado foi acompanhando a produção cinematográfica portuguesa até à década de 70. Neste sentido, também em 1947 com O Fado, História de uma Cantadeira protagonizado por Amália Rodrigues ou, em 1963, com O Miúdo da Bica, protagonizado por Fernando Farinha, o cinema português consagra particular atenção ao universo fadista. Não obstante o protagonismo de Amália Rodrigues, também neste contexto, são ainda de sublinhar as incursões na Sétima Arte, de artistas como Fernando Farinha, Hermínia Silva, Berta Cardoso, Deolinda Rodrigues, Raul Nery e Jaime Santos.

E se a difusão radiofónica permitira ultrapassar barreiras geográficas, levando a milhares de pessoas as vozes do fado, depois da inauguração da Rádio Televisão Portuguesa - em 1957 – e, sobretudo, com a sua difusão, à escala nacional, em meados da década seguinte, os rostos dos artistas passariam a ser divulgados junto do grande público. Recriando em estúdio ambientes ligados às temáticas fadistas, a televisão transmitiria regularmente, em directo, de 1959 a 1974, programas de fado que contribuiriam de um modo inequívoco para a sua mediatização.

Usufruindo desde o último quartel do século XIX da divulgação nos palcos do Teatro de Revista e, a partir das primeiras décadas do século XX, da promoção de uma imprensa especializada, mediatizando-se progressivamente na Radio, no Cinema e na Televisão, o fado conhece uma franca vitalidade no período compreendido entre as décadas de 1940 e 1960, muitas vezes designado de “anos de ouro”, surgindo em 1953 o concurso da Grande Noite do Fado que se realizará anualmente, até aos nossos dias. Reunindo centenas de candidatos das várias colectividades e agremiações da cidade, este concurso, tradicionalmente realizado no Coliseu dos Recreios mantém-se, ainda hoje, como um evento de grande importância na tradição fadista da cidade e na promoção de jovens amadores que ali tentam ascender ao estatuto profissional.

Os expoentes da canção nacional encontravam-se, nesta época, vinculados a uma rede de casas típicas com elenco residente, usufruindo agora de um mercado de trabalho mais vasto, onde avultam as possibilidades de gravação discográfica, de realização de digressões e tournées, de actuações na rádio e na televisão. Paralelamente, sucediam-se as apresentações de fadistas nos “Serões para Trabalhadores” eventos culturais de cobertura radiofónica promovidos pela FNAT, a partir de 1942, promovendo-se os programas de fado também a partir do Secretariado Nacional de Informação, Cultura e Turismo que, a partir de 1944 passava a tutelar a Censura, a Emissora Nacional e a Inspecção Geral dos Espectáculos. A partir da década de 1950, a aproximação do regime ao prestígio internacional de Amália Rodrigues vinha reforçar esta colagem do regime ao fado, depois de nele operar profundas alterações.

Se a simplicidade da estrutura melódica do Fado valoriza a interpretação da voz, ela sublima também os repertórios cantados. Com forte pendor evocativo, a poesia do fado apela à comunhão entre intérprete, músicos e ouvinte. Em quadras ou quadras glosadas, quintilhas, sextilhas, decassílabos e alexandrinos, esta poesia popular evoca os temas ligados ao amor, à sorte e ao destino individual, à narrativa do quotidiano da cidade. Sensível às injustiças sociais, revestiu-se inúmeras vezes, de um vincado carácter de intervenção. 

E se as primeiras letras de Fado eram, na sua maioria, anónimas, sucessivamente transmitidas pela tradição oral, esta situação inverter-se-ia definitivamente a partir de meados da década de 20, época em que surge uma plêiade de poetas populares como Henrique Rego, João da Mata, Gabriel de Oliveira, Frederico de Brito, Carlos Conde e João Linhares Barbosa, que consagrará ao fado particular atenção. A partir dos anos 50 do século XX o fado cruzar-se-á definitivamente com a poesia erudita na voz de Amália Rodrigues. A partir do contributo decisivo do compositor Alain Oulman, o fado passará a cantar os textos de poetas com formação académica e obra literária publicada como David Mourão-Ferreira, Pedro Homem de Mello, José Régio, Luiz de Macedo e, mais tarde, Alexandre O’Neill, Sidónio Muralha, Leonel Neves ou Vasco de Lima Couto, entre muitos outros. 

A divulgação internacional do Fado começara já a esboçar-se a partir de meados da década de 30, em direcção ao continente africano e ao Brasil, destinos preferenciais para actuação de artistas como Ercília Costa, Berta Cardoso, Madalena de Melo, Armando Augusto Freire, Martinho d’Assunção ou João da Mata, entre outros artistas. Seria, porém, a partir da década de 1950 que a internacionalização do Fado se consolidaria definitivamente sobretudo através da figura de Amália Rodrigues. 

Ultrapassando as barreiras da cultura e da língua, com Amália o Fado consagrar-se-ia definitivamente como um ícone da cultura nacional. Durante décadas e até à data da sua morte, em 1999, caberia a Amália Rodrigues, o protagonismo a nível nacional e internacional.

Introduzida em Portugal a partir das colónias inglesas de Lisboa e do Porto, referências de gosto e mentalidade cultural da época, a guitarra inglesa conheceu uma grande divulgação nos salões europeus de meados do século XVIII. De utilização exclusiva nos círculos da burguesia e da nobreza dos salões urbanos, entre meados do século XVIII e 1820, “é nessa qualidade que a vemos associada ao acompanhamento de algumas modinhas e cançonetas italianas de carácter mais erudito (…) no que se refere aos primeiros testemunhos do Fado dançado no Brasil (…) as fontes da época mencionam sempre a viola. O mesmo sucede nas descrições mais antigas do fado de Lisboa (…)” (Cfr. NERY, Rui Vieira, Para uma História do Fado, Lisboa, Publico/Corda Seca, 2004, p. 98).

A partir do início do novo século vai surgindo nas fontes históricas a designação “guitarra portuguesa” atestando possivelmente o modelo de seis pares de cordas, uma alteração provavelmente introduzida em Portugal e, será sobretudo a partir de 1840, que surgem notícias da sua associação ao contexto performativo fadista onde assumirá um plano de absoluta centralidade.

Na história da construção da guitarra portuguesa, inteiramente artesanal, distinguem-se duas famílias de guitarreiros que aperfeiçoaram e transmitiram o seu segredo ao longo de sucessivas gerações. A primeira inicia-se com Álvaro da Silveira e é continuada por Manuel Cardoso e seu filho Óscar Cardoso. A segunda nasce com João Pedro Grácio e mantém-se com João Pedro Grácio Júnior, que se destaca de seis irmãos, e seu filho Gilberto Grácio. O diálogo permanente entre esta oficina e os executantes que a preferiram, como Luís Carlos da Silva, Petrolino, Armando Freire, Artur Paredes, Carlos Paredes, José Nunes, foi fundamental á evolução técnica e acústica do instrumento.

De entre os guitarristas, Armando Augusto Freire, também conhecido por Armandinho (1891-1946) foi autor de inúmeros fados e variações, deixando uma escola da qual saíram, entre outros, Jaime Santos, Carvalhinho, Raúl Nery e José Fontes Rocha.

No que se refere aos conjuntos de guitarras, ficaram como referência os conjuntos do Professor Martinho d’Assunção, proeminente violista e compositor e o conjunto de guitarras de Raúl Nery criado a convite da Emissora Nacional e formado pelo próprio Raúl Nery como primeiro guitarra, José Fontes Rocha – segundo guitarra - Júlio Gomes –viola - e Joel Pina –viola baixo.

A revolução de Abril de 1974 veio instaurar um Estado democrático em Portugal, fundado no pressuposto da integração das liberdades públicas, no respeito e garantia dos direitos individuais, com a inerente abertura, aos cidadãos, de uma mais activa participação cívica, política e social. Progressivamente, ao longo das décadas seguintes, far-se-ão sentir as influências da cultura de massas, próprias de uma sociedade da era da globalização, contexto que modificará a relação do fado com o mercado português, que se concentra agora na música popular de carácter interventivo absorvendo, simultaneamente, muitas das formas musicais criadas no estrangeiro.  

Nos anos imediatamente seguintes à revolução a interrupção, por dois anos, do concurso da Grande Noite do Fado, ou a diminuição radical da presença do fado em emissões radiofónicas ou televisivas, atestam bem a hostilidade ao fado. 

De facto, só a estabilização do regime democrático devolveria ao fado o seu espaço próprio a partir de 1976 e, logo no ano seguinte, vinha a lume o álbum Um Homem na Cidade por um dos maiores expoentes da canção urbana de Lisboa, figura central da internacionalização do fado, autor de uma sólida carreira de 45 anos, ao longo da qual tem articulado, como ninguém, a tradição fadista mais legítima, a uma inesgotável capacidade de a recriar. 

Encerrando-se gradualmente o debate ideológico em torno do fado, será sobretudo a partir da década de 1980 que terá lugar o reconhecimento do lugar central do fado consenso, no quadro do património musical português, assistindo-se a um renovado interesse do mercado pela canção urbana de Lisboa, como o atestam a atenção crescente da indústria discográfica, através, nomeadamente de reedições de registos gravados, a gradual integração do fado nos circuitos dos festejos populares, à escala regional, o aparecimento progressivo de uma nova geração de intérpretes, ou ainda a aproximação ao fado de cantores de outras áreas como José Mário Branco, Sérgio Godinho, António Variações ou Paulo de Carvalho.

Emergindo, no plano internacional um renovado interesse pelas culturas locais musicais, através dos seus expoentes mais reconhecidos, nos circuitos do disco, dos media e dos espectáculos ao vivo, Amália Rodrigues e Carlos do Carmo assumem destaque absoluto. 

Já nos anos 90 o fado consagrar-se-ia, definitivamente nos circuitos da World Music internacional com Mísia e Cristina Branco, respectivamente no circuito francês e na Holanda. Também nos anos 90, um outro nome que se destaca no panorama do Fado é Camané, com grande consagração. Desde a década de 90 e já no dealbar do século surge uma nova geração de talentosos intérpretes como Mafalda Arnauth, Katia Guerreiro, Maria Ana Bobone, Joana Amendoeira, Ana Moura, Ana Sofia Varela, Pedro Moutinho, Helder Moutinho, Gonçalo Salgueiro, António Zambujo, Miguel Capucho, Rodrigo Costa Félix, Patrícia Rodrigues, ou Raquel Tavares. No circuito internacional porém, Mariza assume protagonismo absoluto, desenhando um percurso fulgurante, ao longo do qual tem legitimamente colhido sucessivos prémios na categoria de World Music. 

Excertos do texto:
Pereira, Sara (2008), “Circuito Museológico”, in Museu do Fado 1998-2008, Lisboa: EGEAC/Museu do Fado. 

www.museudofado.pt
31
Jan17

A "Dieta Mediterrânica" na pintura portuguesa

António Garrochinho


Natureza Morta (peixe, rábano de folhas verdes, galheteiro com azeite e vinagre); óleo sobre tela; 1931. Autor: Abel Manta (1888-1982) - Museu José Malhoa - MatrizNet.

A "Dieta Mediterrânica", com origem nos países junto ao Mar Mediterrâneo, tem sido transmitida de geração em geração ao longo dos séculos. 

A "Dieta Mediterrânica", definida pelo termo grego “díaita”, da qual deriva dieta, significa estilo de vida equilibrado, uma forma de estar e não apenas um padrão alimentar, que combina ingredientes da agricultura local, receitas e formas de cozinhar próprias utilizadas pelas diferentes comunidades ao longo dos séculos, refeições partilhadas, tradições e festividades. Este regime alimentar, juntamente com o exercício físico moderado, praticado diariamente, favorecido pelo clima ameno, completam um "modo de vida" que a ciência moderna nos convida a adoptar em benefício da nossa saúde.


Natureza Morta com Peixes, Camarões e Perna de cordeiro; óleo sobre tela; 1640-1650. Autor: Baltazar Gomes Figueira (Óbidos,1604-Óbidos,1674) - Museu de Évora - MatrizNet
Natureza Morta (ganso, fatia de abóbora e couve); óleo sobre tela; século XX. Autor: Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929) - Museu do Chiado - MatrizNet
Natureza Morta (maçãs, uvas e copo com vinho); óleo sobre tela; século XX. Autor: Manuel Jardim (1884-1923) - Museu Nacional Machado de Castro - MatrizNet

Esta dieta é caracterizada pelo consumo de pão, azeite e vinho, alimentos de origem vegetal, como massas e arroz, legumes, hortaliças, fruta fresca e frutos oleaginosos. As aves, peixe e ovos devem ser consumidos numa base semanal e a carne vermelha apenas uma vez por mês. A dieta mediterrânica permite o consumo moderado de vinho tinto mas sempre às refeições.

A UNESCO, no decurso da 8ª sessão do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, que decorreu no Azerbaijão, no dia 4 de Dezembro de 2013, classificou a "Dieta Mediterrânica" como Património Cultural Imaterial da Humanidade de Portugal, Espanha, Marrocos, Itália, Grécia, Chipre e Croácia.


Natureza Morta ( couve, molho de cebolas e utensílios de cozinha); óleo sobre tela; 1887. Autor: José Queirós (1856-1920) - Museu de Évora - MatrizNet
Natureza Morta com Frutos; óleo sobre tela; 1650. Autor: António Pereda y Salgado (1611-1678).- Museu Nacional de Arte Antiga - MatrizNet
Natureza Morta (aipo, marmelo e laranja); óleo sobre tela; 1650-1684. Autores: Baltazar Gomes Figueira (Óbidos, 1604 - Óbidos, 1674) e Josefa de Ayala (Sevilha, 1630 - Óbidos, 1684)- Museu de Évora - MatrizNet

O pão é, sem dúvida, uma fonte de energia. Nutricionalmente, pertence ao grupo dos cereais e é um fornecedor de vitaminas (B1, B2, B5), fibras e hidratos de carbono.  Ao longo do território português, confecciona-se em diferentes formatos, como o Folar de Chaves, a broa de Avintes e a broa de milho com origem no Norte de Portugal, o pão de centeio da Serra da Estrela, e o pão de trigo, de que é exemplo o pão alentejano. Este, geralmente de grandes dimensões, é utilizado em diversos pratos como as açordas e as migas à alentejana.

O azeite, rico em antioxidantes e vitamina E, é um alimento transversal na dieta dos Portugueses. Utilizado principalmente como condimento nas sopas, nas saladas, nas migas, no bacalhau assado ou nas batatas cozidas, o azeite também está presente na confecção de doçaria, bolos e filhós, principalmente nas Beiras e Alentejo. 

Natureza Morta com Frutos e Flores; óleo sobre tela; 1670. Autora: Josefa de Ayala dita Josefa de Óbidos (1630-1684) -  Museu Nacional de Arte Antiga - MatrizPix
Natureza Morta; óleo sobre tela; 1941. Autora: Maria Keil (1914-2012) - Centro de Arte Moderna - MatrizNet

Interior; óleo sobre tela; 1914. Autor: Eduardo Afonso Viana (1881 - 1967) - Museu do chiado - MatrizNet

O pescado integra a dieta mediterrânica, mas em Portugal, o peixe é consumido tradicionalmente devido à dimensão da nossa costa e à qualidade do pescado capturado no Atlântico. O peixe é rico em omega 3, proteínas, vitamina D, cálcio, ferro e vitamina B 12. A célebre sardinha, o polvo e o bacalhau, são os peixes preferidos pelos portugueses, que comem 57 quilos de pescado por ano per capita. Por esta razão, é importado cerca de dois terços do peixe que chega à mesa.

Portugal tem uma grande variedade de vinhos com excelente qualidade. Em quantidades moderadas ( 250 ml por dia), é um excelente tónico. As regiões produtoras de melhor vinho são o Douro, o Alentejo, e o Dão, merecendo também referência as regiões do Minho, Terras do Sado, Bairrada e Bucelas.


Abóboras; óleo sobre tela; 1944. Autor: Mário Eduardo de Passos Reis. - Museu do Chiado - MatrizNet
Natureza Morta - A Lagosta; óleo sobre tela; 1953. Autor: Eduardo Afonso Viana (1881-1967) - Museu Nacional soares dos Reis - MatrizNet
Natureza Morta; óleo sobre tela; 1965. Autor: Abel Manta (Autor: Abel Manta (1888-1982) - Museu Nacional Grão Vasco - MatrizPix.

O tomate, a cebola, o alho e o azeite, são imprescindíveis na dieta mediterrânica, assim como algumas ervas aromáticas. Além dos temperos já mencionados, no norte de Portugal é comum usar a salsa e o louro, no sul, especialmente no Alentejo, utilizam os coentros, a hortelã, o poejo, os orégãos, o alecrim... 
A descoberta do caminho marítimo para a Índia, por Vasco da Gama, possibilitou aos portugueses o consumo da pimenta (designada no Brasil como pimenta-do-reino), canela, noz-moscada e cravinho-da-índia. A doçaria portuguesa faz uso abundante da canela.


Hortaliceiras; óleo sobre tela; 1938. Autor: José de Almeida e Silva (1864-1945) - Museu Grão Vasco - MatrizNet

Milho ao Sol; óleo sobre madeira; 1927. Autor: José Malhoa (1855-1933) - Museu Grão Vasco - MatrizNet
Festa na aldeia; óleo sobre madeira; século XIX; Autor: Leonel Marques Pereira (1828 - \1892) - Museu do Chiado - MatrizNet

Azeite e Pão (montado alentejano com campo de trigo e conjunto de oliveiras); óleo sobre tela; século XX. Autor: João de Melo Falcão Trigoso (1879-1956) - Museu do Chiado - MatrizNet
31
Jan17

SABIA QUE..... TEATRO DE REVISTA PORTUGUESA

António Garrochinho


Foi em Paris pelos finais do séc. XVIII que começou a fazer furor um novo género de espectáculo chamado "revue de fin d’année", um conjunto de quadros desligados em que se misturava o canto, a dança e a declamação com a finalidade de passar "em revista" e criticar os acontecimentos mais marcantes de cada ano que findava.
A Portugal, a revista chegou a meio do séc. XIX, foi em Lisboa em 1850 a apresentação da primeira revista à portuguesa, e o público português logo a consagrou como o mais popular dos géneros teatrais, habituando-se pelos anos fora a rir ás gargalhadas, com os trocadilhos e a piscadela de olho dos seus cómicos, a admirar a alegre desenvoltura das suas vedetas, a trautear as cantigas lançadas dos seus palcos, e onde obviamente o Fado teve os seus momentos de glória.
Ao recordarmos o nosso "Teatro de Revista", que para muitos intelectuais chegaram a apelidá-lo de "rasca"!, homenageamos todos os que contribuíram para os sucessos do Teatro de Revista em Portugal.
lisboanoguiness.blogs.sapo
31
Jan17

Gato Barbieri - vídeos

António Garrochinho










Gato Barbieri























Gato Barbieri (Leandro Barbieri) nasceu em 1932, na Argentina (Rosário). Essa fera do sax tenor é também compositor e se destacou nos anos 60 no movimento chamado de Free Jazz, assim como no Latin Jazz. Nascido em uma família de músicos, Barbieri começou a se interessar a tocar após ouvir Charlie Parker. Passou pela clarineta e depois pelo sax alto, quando tocou com o pianista, também argentino, Lalo Schifrin. Aderiu ao free jazz por influência principalmente de John Coltrane. Como compsitor, seu trabalho mais conhecido é a trilha sonora do filme O Último Tango em Paris, de Bernardo Bertolucci, pela qual ganhou o prêmio Grammy. Após a morte de sua esposa, Michelle, deixou de se apresentar em público, embora ainda tenha gravado esporadicamente.
O primeiro vídeo mostra uma apresentação dele com o guitarrista Santana, interpretando Europa, de autoria deste último.

Neste outro, temos a maravilhosa trilha sonora de O Último Tango em Paris.



musicolatras.blogspot.pt
31
Jan17

Os deuses - URANO E GAIA – CÉU E TERRA GERAM A VIDA

António Garrochinho


O género humano ao adquirir uma consciência intelectual,tornou-se superior a todos os seres viventes na Terra. As civilizações mais primitivas questionavam as raízes dessa consciência, deparando-se com um mistério nunca decifrado: de onde viemos? Como surgiu o universo, a terra, o céu, a vida? O questionamento jamais foi elucidado, acompanhando a evolução das civilizações, e mesmo no seu grau mais avançando, jamais houve uma reposta concreta, a não ser as teorias, tanto científicas quanto místicas.
Os gregos antigos, assim como os povos que os cerceavam, na busca por repostas ao princípio de tudo, criaram o mito cosmogônico. A origem da vida era mais misteriosa do que a própria existência concreta. Assim, situando o Caos como princípio desordenado e solitário de tudo, engendraram a primeira divindade a habitar este nada, Gaia, a poderosa mãe Terra. Ser imortal e de importância cosmogônica, cabe a Gaia povoar o Caos, gerar incessantemente a vida, todos os seres do universo. Mãe de deuses e de monstros, não cabe a ela questionar a prole, mas dar a vida. Gaia concebe até mesmo sem a fecundação de outro ser, dentro da sua solidão no Caos gerou Urano, o Céu. Será com ele que terá as divindades primordiais do universo, dando origem à linhagem dos deuses que governarão o mundo e criarão a raça humana.
Urano, o Céu estrelado, é tão grandioso quanto Gaia, a Terra, cobrindo-a por completo. Sua função é fecundá-la, sua força é fálica, é o primeiro governante do mundo, tendo como cetro o órgão reprodutivo, como garantia do trono o sêmen fecundador. Cabe a Gaia gerar a vida, a Urano fecundá-la.
Urano e Gaia, Céu e Terra, juntos povoam o universo de seres monstruosos, como os Ciclopes, que só possuem um olho no meio da testa, os Hecatônquiros, gigantes de cem braços e cinqüenta cabeças; e ainda os Titãs, deuses primitivos, já com a forma que será transmitida quando Prometeu criar o homem.
Urano não suporta as forças violentas e ações aterradoras dos filhos. Para evitar que destruam as coisas, encerra-os no Tártaro. Gaia é a mãe de todos, não suporta ver os filhos presos. Não os culpa pela forma que têm, culpa a Urano, que a fecunda todos os minutos do dia. No embate entre Gaia e Urano, virá Cronos (Saturno), o maior dos Titãs, que incitado pela revolta da mãe, destronará o pai e será o próximo senhor dos deuses. Urano não pode morrer, pois é imortal, mas é castrado pelo filho. Sem a força fecundadora, tem a morte do seu poder. Assim, está cumprido o reinado de Urano e Gaia. O Céu e a Terra geraram a vida, os deuses, cabe a eles continuar a evolução, gerando os homens, a maior de todas as criações dos seres mitológicos.
A partir do Caos Surge a Vida
No primórdio dos tempos havia o Caos, uma extensão ilimitada e desordenada, um espaço aberto em um abismo sem fundo. Antes do Caos nada existia, o princípio extinguia-se abruptamente. No meio do abismo do Caos, em determinado momento um ínfimo chão foi instaurado, surgindo Gaia, a Terra, através do mito do cosmo e da força intelectual, encerrando a desordem do nada.
Gaia trazia em si a pulsação da vida, a latência de uma natureza que não se continha sozinha. Na solidão fria do Caos, surgiu, seguido a Gaia, Eros, o amor. A partir dele, nada mais poderia caminhar sozinho.
Antes de ser atingida pela força de Eros, Gaia trazia o principio que fecundava e era fecundada por si mesma. Podia sozinha gerar a vida. No ímpeto de querer um ser tão poderoso quanto ela, concebeu Urano, o Céu estrelado, que a cobriu por inteiro. Ainda sozinha, gerou as Montanhas, o Mar, o Ponto e as Ninfas.
No meio do Caos, depois de Gaia, surgiu a Noite, ser constituído por uma treva profunda. Assim como Gaia, a Noite engendrou sozinha o Éter, a luz feita somente para iluminar os deuses; e, o Dia, claridade maior que se iria estender não somente aos imortais, como às criaturas perecíveis, entre elas os homens.
No instante em que se gerou a Noite, o Caos viu nascer o Érebo, lugar sombrio que se alojaria debaixo da Terra, constituindo a morada das sombras, das almas.
Mas Eros, o amor, força maior do que a própria madre geradora de Gaia, já não permitia que entidade alguma fecundasse solitariamente. O amor exigia dois pólos como geradores da vida: o fecundador e o fecundado. Movida pelo impulso determinador de Eros, Gaia uniu-se ao seu filho primogênito, Urano.
Urano mostrou-se um amante apaixonado. Ao lado de Gaia, tornou-se o senhor de todos os seres e deuses. Da união e do amor dos dois, nasceram seres violentos e primitivos, povoando o universo e a Terra.
O Caos, princípio de tudo, já não seria o presente ou o futuro, perdera a solidão do nada diante da vida. Antes dele não se sabe o que existia. Nunca será revelado aos deuses e aos homens. Depois de organizado, o Caos chamar-se-á Cosmos.
Gaia e Urano, Cultos e Representações
A primeira geração dos seres imortais da mitologia foi classificada como divindades primordiais. Com a evolução da civilização grega, tais divindades perderam o sentido religioso, adquirindo apenas uma importância cosmogônica, ou seja, para justificar a origem do universo, dos deuses e dos homens. São seres unicamente mitológicos, sem que se ergam templos, ou que sejam cultuados.
Eros, o amor, a segunda força primordial a existir, muitas vezes assume a existência como uma segunda geração de deuses, o que lhe retira apenas a alusão mitológica, sendo considerado filho de Afrodite (Vênus), a deusa do amor, inserido assim no seu séquito e recebendo o seu culto.
Gaia é, talvez, a única divindade primordial que recebeu culto dos gregos antigos. É a deusa mãe, difundida ou assimilada em todas as religiões politeístas. Se no monoteísmo Deus é onipotente, deidade absoluta, criador através da sua força divina, sem a conotação de gênero masculino ou feminino, no politeísmo a força geradora é feminina. Todo ser vem da preparação do ventre da mulher, portanto uma deusa trará a madre procriadora, concebendo a vida. Gaia é a Terra, o planeta da vida, tudo passa a existir a partir dela. É o símbolo da fecundidade universal. Faz parte dos deuses primordiais que constituem a ordem material, a força indomável do universo, causando o desequilíbrio divino, impedindo-o de chegar aos homens. Zeus (Júpiter), será quem constituíra a ordem espiritual, governando Céu e Terra com a ajuda dos deuses do Olimpo.
Tidos como geradores da ordem material e não espiritual, os deuses primitivos não carecem de cultos ou adoração. Gaia é diferente, é a deusa mãe. Nos primórdios da civilização grega, recebia cultos em Patras, onde lhe era atribuído o dom de poder curar todas as doenças. Também a cidade de Delfos lhe atribuiu um templo. Com o decorrer da civilização grega, Gaia perde espaço para os deuses filosóficos, os olímpicos que se assemelham mais ao homem, não só fisicamente, como na personalidade de cada divindade. Delfos substituiu a adoração a Gaia pela de Apolo, o deus da luz. Nas outras partes da Grécia, Gaia vai tendo o mito confundido com o de Afrodite e o de Hera (Juno), a esposa de Zeus e rainha do Olimpo, deusa da família.
As representações artísticas de Gaia na arte grega são ínfimas. Normalmente é figurada como uma mulher enorme, assim como o é o planeta Terra; com os seios fartos, para amamentar todos os filhos. É a própria concepção materna que jamais se perde.
Urano, por sua vez, é um ser mitológico, sem a conotação do culto. Pai de todos, é o maior representante da ordem material. Será destronado pelo filho Cronos, que também não trará a ordem espiritual ao mundo. Urano é o pai que fecunda, mas não o pai que ama os filhos. Questiona sempre a prole, as suas ações devastadoras. Limita-se a prendê-los no Érebo. Nas artes, Urano tem poucas representações, permanecendo o estigma procriador, sendo figurado com os órgãos genitais desproporcionalmente grandes diante do resto do corpo. Assim, Gaia e Urano, trazem como símbolos principais os seios fartos e falo gigante, respectivamente, demonstrando que o Céu tem como função básica fecundar a Terra, reproduzindo a vida pululante do mundo.
Urano Aprisiona os Filhos
Ao perder a capacidade de gerar os filhos sozinha, Gaia submete-se à força universal de Eros, o deus do amor, que estabelece o princípio de dois corpos, tanto aos imortais como aos mortais, para que se faça a fusão que resultará na vida.
Gaia une-se ao seu primeiro filho, Urano. Envolvida por Eros, sente pelo marido a paixão dos grandes amantes, no que é correspondida na plenitude. Juntos, Gaia e Urano irão governar os imortais, as forças da natureza, constituindo a primeira dinastia dos deuses.
O reinado de Urano é marcado pela violência das forças naturais dos seus filhos. Do amor entre Gaia e Urano nascerão primeiro os doze filhos mais poderosos, sendo seis homens, os Titãs: Hipérion, Iápeto, Cronos, Crio, Ceo e Oceano; e, seis mulheres, as Titânias: Mnemósine, Tétis, Réia (Cibele), Têmis, Febe e Téia. Os Titãs constituem um caráter violento, proporcionando ao mundo imortal o desequilíbrio e a desordem.
As proles seguintes de Urano e Gaia são compostas pelos Ciclopes, seres gigantes, que possuem apenas um olho no meio da testa; e, os Hecatônquiros, criaturas monstruosas, possuidoras de cem braços e cinqüentas cabeças. São seres indomáveis, fazendo parte da primeira geração evolutiva dos deuses. São responsáveis pelas forças catastróficas da natureza, fazendo os vulcões entrarem em erupção, os terremotos abalarem a Terra, as tempestades e os furacões assolarem os campos e os mares, provocando todos os cataclismos que transformam a face do planeta desordenadamente, preparando-o para a evolução da vida e para o surgimento do próprio homem.
Urano é o pai e o irmão desses seres. O sentimento paterno é menor do que o fraterno. Não consegue aceitar a força devastadora dos filhos sobre a Gaia, a Terra. Urano não suporta os Titãs. Odeia ainda mais os Ciclopes e os Hecatônquiros. Revolta-se contra a violência destruidora da sua prole. Na sua revolta de pai, decide que não verá mais a face dos filhos rebeldes, encerrando-os para sempre no Tártaro, a parte subterrânea do Érebo.
Gaia, a mãe Terra, que a tudo suporta, sofre com a reclusão dos filhos no subterrâneo do seu ventre. Ela é a mãe natureza, não podendo impedir os fenômenos naturais provocados pelos filhos na construção da vida. Urano não suporta os filhos, mas não deixa de gerá-los. Impõe a Gaia uma fecundidade contínua. Desde que se unira a Urano, a deusa jamais deixou de ver o seu ventre crescer, não parando de gerar um só dia.
O que lhe causava mais dor do que o parto, era ver os filhos arrancados do seu convívio e aprisionados no Érebo. O coração de Gaia encheu-se de mágoa, transformando o amor que sentia por Urano em ódio. Já não suportava mais ser fecundada por ele.
Cronos Destrona Urano
Gaia revolta-se contra Urano. À revelia do marido, decide libertar os Titãs. Reúne os filhos e ordena-os que destronem o pai. Mas os Titãs se recusam a obedecer à mãe, com exceção de Cronos, o deus do tempo, que não se conformava com o sofrimento da mãe diante da fecundação continua de Urano.
Juntos, Gaia e Cronos urdem um plano para destronar Urano. A deusa mãe afia uma foice que há muito talhara, entregando-a ao filho. Na mitologia grega, a foice é o símbolo da morte, é através dela que se ceifa a vida; ambiguamente é também o símbolo da colheita, da esperança vinda dos grãos da natureza. Será com a foice afiada por Gaia que Cronos destronará o pai.
Num embate final entre Cronos, o deus do Tempo, e Urano, o Céu estrelado, a hierarquia dos deuses terá um novo líder, iniciando um novo reinado. Urano, em seu princípio insaciável pela fecundação, sente o falo procriador crescido. Imediatamente aproxima-se de Gaia, na intenção de possuí-la e gerar um novo filho. Mas Cronos, preparado pela mãe, espreita e aguarda aquele momento fatídico. O deus do tempo atira-se sobre o pai, lutando ferozmente com ele, subjugando-o. Num gesto ligeiro e certeiro, atravessa os testículos cheios do pai, cortando-os com a foice. No chão, Urano sangra intensamente, contorcendo-se de dor. Agarrando-se ao desespero da perda da viriliade, o deus solta um grito ensurdecedor, que ecoa pelos quatro cantos do mundo.
Cronos segura os testículos do pai. Estava concretizado o fim do seu reinado. Urano é imortal, não pode ser morto. O seu reinado é constituído pelo princípio da fecundação. Extirpar-lhe os testículos é usurpar-lhe o poder, condená-lo à morte divina. Declarar o fim do seu reinado. Era a vez de de Cronos fazer ecoar o seu grito de vitória, para que todas as criaturas imortais saibam. Em seguida, atira os testículos do pai pelo espaço. Era o novo rei dos deuses.
Em um último momento de fertilidade absoluta, o sangue de Urano escorre sobre a terra, mais uma vez fecundando a natureza. Do sangue do deus derramado sobre a terra, nasce as Melíadas, ninfas dos carvalhos; os Gigantes, seres de grande força e altura; e, as Erínias, divindades vingadoras dos crimes, inclusive o que cometera Cronos contra o pai. Mas o deus do tempo é o novo senhor dos deuses. As Erínias nada fazem contra ele.
Os testículos de Urano vão parar no mar. Os órgãos extirpados carregam a última quantidade de sêmen do deus, que expelidos nas águas, formam uma espuma branca, dela emergindo Afrodite, a deusa do amor e da beleza.
Os Mitos de Gaia e Urano na Evolução do Culto Grego
A ascensão de Cronos ao poder não trará para Gaia o objetivo que planejara. Tão logo sobe ao poder, o filho liberta somente os Titãs e as Titânias, deixando permanecer os Ciclopes e os Hecatônquiros no Tártaro.
A traição de Cronos faz com que Gaia se revolte contra ele. Será ela quem ajudará a Titânia Réia, mulher de Cronos, a salvar o filho Zeus (Júpiter), de ser devorado pelo pai. Zeus será quem destronará Cronos e libertará definitivamente os Ciclopes e os Hecatônquiros. Mas Gaia jamais verá todos os filhos em liberdade. Estabelecido o reinado de Zeus, ela verá os filhos Titãs e os Gigantes derrotados e confinados no Tártaro.
Além de gerar filhos sozinha e com Urano, Gaia, divindade símbolo da fecundação, teve filhos com outras entidades. Com o Mar gerou Nereu, Taumante, Fórcis, Ceto e Euríbia. Com o Tártaro engendrou Equidna, e segundo algumas versões da lenda, o monstro Tifão. Outros monstros são tidos como filhos de Gaia por variantes das lendas do mito, sendo eles Pitão, Caribde, Anteu e Fama.
O mito de Urano está intimamente ligado ao de Gaia. É através dela que ele gerará a prole da qual irá nascer os deuses do Olimpo, e o próprio homem. Não lhe cabe a organização espiritual do universo, mas sim a sua formação material. O seu reinado é turbulento, responsável pelo surgimento das forças primitivas do planeta. Caberá aos olímpicos a implantação da ordem, e, da essência espiritual.
Gaia, a força da fecundidade, é considerada a mãe do universo e de todos os deuses. Nos primórdios da formação do povo grego, era tida como inspiradora dos oráculos. Com tempo, deixou de ser divindade cultuada, para ser apenas mitológica dentro do politeísmo grego, passando a ser a explicação para a origem do universo. Foi perdendo espaço para outras deusas, mais elaboradas e mais próximas da personalidade humana. Assim, Afrodite, a deusa do amor, passou a representar também a fecundidade. Réia, mãe de Zeus, tomou para si o título de mãe do senhor dos deuses, sendo por este motivo mais venerada. Deméter (Ceres), passou a ser a deusa que fecunda os campos e proporciona o alimento e as colheitas aos homens. Finalmente Hera, a ciumenta esposa de Zeus, tornou-se a deusa protetora da família e dos lares. Gaia, aos poucos, ficou somente com a função de revelar aos homens a origem divina de todas as coisas e da vida.


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Jan17

The Monkees

António Garrochinho

The Monkees foi uma série de televisão exibida pela primeira vez em doze de setembro de 1966 e que contava as desventuras de quatro rapazes – Micky DolenzMichael NesmithPeter Tork e Davy Jones e sua banda, que dava nome ao programa. Nas palavras de Dolenz, The Monkees era “uma série de TV sobre uma banda imaginária […] que queria ser os Beatles, [mas] que nunca teve sucesso”.
O caso é que eles nunca foram uma banda imaginária e tiveram sim muito sucesso. Ao criar a série, o aspirante a cineasta Bob Rafelson pretendia usar uma banda já existente, o grupo de folk-rock de Nova Iorque Lovin’ Spoonful, criador de clássicos como Daydream e Summer In The City. Mas, por problemas contratuais, a banda não pode participar, criando aí para Rafelson e seu sócio, Bert Schneider, a necessidade de arranjar 4 músicos/atores para interpretar os Monkees. Um anúncio circulou durante dois dias de outubro de 1965, convocando “garotos insanos” entre 17 e 21 anos para participarem de uma nova série de TV. 437 jovens apareceram, dentre eles estava até mesmo Stephen Stills, do Bufallo Springfield, que dizem ter sido recusado por ter dentes ruins. Enfim, três rapazes foram escolhidos nas audições, Nesmith, Tork e Dolenz, já que o inglês Davy Jones já tinha sido previamente selecionado.
A série em si durou duas temporadas, entre 1966 e 68, mas os Monkees entraram pra indústria musical definitivamente. Foi em janeiro de 1967, quatro meses depois de sua estréia, que os quatro integrantes fizeram a primeira sessão de gravação como uma banda completamente funcional. Até ali, o tempo tinha sido gasto decidindo quem tocava o quê, quais músicas eles gravariam, além de quando e como seriam lançadas. A banda era tutelada por produtores e supervisores musicais, e pra fazer música usavam a ajuda de outros músicos. Pensando assim, seria difícil negar o que diziam seus detratores na imprensa e no movimento hippie, que os acusavam de ser uma banda falsa, montada e sem valor cultural ou musical. Mas a coisa não foi bem desse jeito.
É verdade que os Monkees nasceram como uma banda para uma série de TV; eles importaram características dos Beatles, como o corte de cabelo e um trocadilho no nome (Monkeys/Monkees e Beetles/Beatles); eram usados com o propósito principal de vender discos, o que eles fizeram muito bem por algum tempo, vendendo até mais que os próprios Beatles e faturando em cima do sucesso destes. Infelizmente, para os críticos, o “quarteto pré-fabricado” (Como foram chamados por jornais da Inglaterra) tinha qualidade. Em 1967, um repórter tentou conseguir de Jerry Garcia, integrante do Grateful Dead, um comentário sobre os álbuns “falsos” dos Monkees, e este respondeu que “eles foram bons álbuns, e têm que ser, já que têm ótimos músicos tocando neles”. E a idéia é essa. Vistos como irrelevantes e sem talento por muitos, os Monkees extrapolaram a futilidade da situação onde foram criados, ou como foi colocado por ninguém menos que George Harrison: “É óbvio o que está acontecendo, tem talento ali. […] Quando eles tiverem ajeitado tudo, podem acabar virando os melhores”.
Hoje, mais de quarenta anos depois, o ouvinte mal poderá distingüir os Monkees das músicas pop de sua época. O problema, se vê, não é musical. O autor de Monkeemania: The True Story of The MonkeesGlen Baker, suspeita de inveja disfarçada por parte dos artistas e mídia dos anos 60, principalmente pelo fato da banda ter tido “o sucesso dado pra eles em uma bandeja de prata”; Baker deixa o que talvez seja a verdade sobre os Monkees: “Um imaginativo e altamente memorável exercício na cultura pop”. Para nós, no presente, e longe das confusões em torno da série e da banda, só podemos fazer um julgamento justo, levando em conta nosso próprio gosto. E quem o fizer pode se surpreender positivamente. Quem sabe às vezes seja preciso atravessar décadas pra ver com clareza. Aos meus leitores, se é que os tenho, espero que gostem:

vídeos
E mais uma, pra confirmar:
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31
Jan17

Piratas da Somália, a Verdade que a mídia não mostra ! - Parte 1 /2/3/4

António Garrochinho




AAA34Intrépidos, aventureiros, sedutores, românticos e também um pouco loucos. As histórias de piratas cativaram-nos desde sempre na literatura, cinema e televisão. A pirataria é tão antiga como a própria navegação. Mas...o que é um pirata? O pirata é um bandido que se dedica ao roubo e ao saque marítimo. Apropria-se daquilo que não lhe pertence e fá-lo fortemente armado e à margem da lei.
Por vezes contam que a proteção de um estado ou nação e atuam em seu nome a coberto do que ante era denominado de "cartas de Corso". Nesse casodenominavam-se "Corsários".
"Os piratas somalis ampliaram o seu raio de ação"
"São dois os piratas"
"O exército tentou capturar os piratas"
"Finalmente a fragata Canárias alcança o batel e captura os dois piratas"
"Cerca de 60 piratas partilharam os despojos de 2 milhóes e meio de euros"
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Na atualidade, a pirataria na somália assolapa os meios de comunicação. Mas...existirá tal pirataria?  Em que consiste? E...quem são realmente os piratas?


Voltando no tempo

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Para averiguar isso é necessário retroceder até a origem. A somália foi colonizada pela itália e a Inglaterra. Consegue a sua independência em 1960, mas o governo democrático dura tão somente 9 anos. Em 1969, o ditador Mohamed Siad Barré lança um golpe de estado e forma o governo. Consegue com o apoio incondicional do Estados Unidos. E não em vão: Graças a isso as principais companhias petrolíferaas ianques conseguem contratos importantes para explorar o petróleo existente no país.
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Situada na África, a Somália ocupa uma posição geoestratégica fundamental para as rotas de comércio de transporte marítimo que unem a Europa e a Ásia. Mais de 20 mil barcos de carga atravessam anualmente as suas costas através do Golfo de Áden. Transportando mais de 10% do comércio mundial e por ali transita também grande parte do petróleo extraído no Oriente Médio. Há muito tempo que nações regionais e potências estrangeiras a disputavam como ponto estratégico para as rotas de transporte marítimo.
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O mandado militar de Siad Barré prolonga-se até 1988, quando o Movimento Nacional Somali se revolta contra a sua ditadura. O levantamento da lugar a uma sangurenda guerra civil que se prolonga até 1991, ano em que Siad Barré se vê obrigado a abandonar o poder e a fugir do país. Mas a sua saída não tras a paz. Perante o vazio de poder, vários clãs defrontam-se entre si para tomarem o controle do país. O que tem impedido a existência de um governo estávelaté a atualidade (2011).
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A guerra civil teve consequências devastadoras para o povo somali. Mais de 300.000 mortos. Um milhõa e meio de refugiados. E uma fome terrível que afeta todo o país agrava pela persistente seca. Hoje em dia, o frágil governo apenas consegue o controle da capital. Os confrontos entre as diferentes facções são constantes. A violência, o caos e a anarquia reinam nas ruas da Somália, que é considerado o país mais perigoso do mundo.


A Pesca Ilegal

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Aproveitando-se dessa situação caótica, sem controle nem governo, um sem número de barcos de pesca procedentes de vários países começam a pescar sem nenhuma licença nas águas em frente à Somália, incluindo as suas águas territoriais. Barcos, procedentes dos EUA, Ásia e União Européia praticam um tipo de pesca denominada: I.U.U. Pesca Ilegal, Não declarada, não regulada. A sua incessante e descontrolada ativivdade usando artes de pesca proibidas em outras regiões do planeta estão acabando comas reservas pesqueiras de um país, que carece de autoridade e meios para proteger as suas costas.
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Na atualidade, mais de 800 barcos de distintos paises pescam na zona. Estima-se que os lucros anuais gerados pela pesca ilegal ascendem a mais de 450 milhóes de dólares. A pesca do atum sofreu um vertiginoso e insustentável incremento nos últimos 10 anos. Só a frota do atum, composta fundamentalmente pela Espanha, com 60% das capturas e pela França, com 40% das capturas na Somália, umas 500.000 toneladas de atum por ano. As frotas pesqueiras das grandes potências, com a União Européia como líder, contribuem desta maneira para o empobrecimento de uma das regiões mais miseráveis do mundo. Roubam a principal fonte de proteínas da sua população e acabam com a forma de vida e sustentos dos pescadores locais. Desta forma, condena-se sem remédio a um país frágil que agoniza e morre de fome.

Piratas da Somália, a Verdade que a mídia não mostra ! - Parte 2

pirata_18Protestos nunca ouvidos - Desde 1990 que a comunidade somali vem protestado reiteradamente na ONU e em diversos organismos internacionais. Os seus protestos nunca foram ouvidos e muito menos atendidos. O grupo de supervisão para a Somália das Nações Unidas também constatou e alertou nos seus relatórios sobre a depredação sistemática da zona levada a cabo por frotas de pesca estrangeiras. A ONU tampouco ouviu os seus próprios supervisores e não fez absolutamente nada para deter no saque. Mas o padelo não termina aqui.
Desde a queda do governo, em 1991, outros barcos começaram a aparecer também na costa somali. A sua atividade é mais misteriosa. Os barcos entram nas suas águas territoriais, vertem barris no mar e abandonam o lugar. Essa atividade suspeita alerta os pescadores somalis, os quais tentam dissuadir os cargueiros que realizam os derrames. Mas não tem êxito.
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Os derrames continuam durante 14 anos. O conteúdo desses barris era um mistério até final de 2004, quando um terrível tsunami assolou o sudeste asiático. Quando a onda do tsunami chega a Somália centenas de barris são arrastados contra a costa. Os barris rompem-se, o contéudo sai a superfície e termina nas praias.


Assassinatos em massa que a mídia não mostra

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As pessoas começam a adorecer. Infecções das vias respiratórias, hemorragias intestinais, estranhas reações químicas na pele e mais de 300 mortes repentinas causam alarme entre a população. Após algum tempo ocorrem nascimentos com malformações e diversas enfermidades. Nick Nuttall, porta-voz do programa do meio-ambiente das Nações Unidas, explicou que quando as embalagens se romperam pela força das ondas os barris trouxeram a luz uma atividade espantosa:
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"A SOMÁLIA ESTA SENDO UTILIZADA COMO VERTEDOURO DE RESÍDUOS PERIGOSOS DESDE O INÍCIO DOS ANOS 90, E CONTINUOU DESDE A GUERRA CIVIL NÃO RESOLVIDA NESSE PAÍS.O LIXO É DAS MAIS DIVERSAS CLASSES: HÁ RESÍDUOS RADIATIVOS DE URÂNIO, O LIXO PRINCIPAL, E METAIS PESADOS COMO CÁDMIO E MERCÚRIO. TAMBÉM HÁ LIXO INDUSTRIAL, RESÍDUOS HOSPITALARES, LIXO DE SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS E O QUE SE QUEIRA MAIS NOMEAR, O MAIS ALARMANTE AQUI É QUE SE ESTA DESCARREGANDO LIXO NUCLEAR!!! O LIXO RADIATIVO ESTA MATANDO POTENCIALMENTE OS SOMALIS E ESTA DESTRUINDO TOTALMENTE O OCEANO."
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Ahmedou Ould Abdallah, representante especial da ONU na Somália, declarou a Al-Jazeera que as descargas de resíduos tóxicos continuam a acontecer na atualidade. O diplomata afirmou que possuia informações fidedignas de que são corporações européias e asiáticas as que estão despejando resíduos nucleares e químicos nas costas da Somália.
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Sim, as Nações unidas enviaram os seus representantes para constatar a catástrofe. E sem embargo, o capítulo foi encerrado. por hora não existiu um único despacho judicial, detenção ou condenação por estes atos criminosos. E isto não ocorre unicamente na Somália.
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As águas de outros países africanos como a Costa do Marfim, Nigéria, Congo e Benim também são usadas como vertedouros tóxicos pelos paises industrializados. Unicamente no ano de 2011, chegaram a África 600.000 toneladas de resíduos tóxicos. O continente africana converteu-se na lixeira de resíduos radiativos gerados pelos países ricos.


Um pais devastado

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Um país devastado que morre de fome. Os países ricos correm para lhes arrebatar a pesca e de passagem contaminar as suas águas com lixo tóxico e nuclear. Este é o contexto em que apareceram os homens que algunsmeios de comunicação denominam de PIRATAS. Perante esta situação de absoluta impotência, alguns pescadores reagiram de uma maneira desesperada. Começaram a aliar-se em pequenos grupos armados e usando lanchas rápidas tentam afugentar os barcos pesqueiros estrangeiros e dissuadir os navios que despejam resíduos nas suas águas.
"Há muitos anos conseguíamos pescar muitíssimo, o suficiente para comer e para vender no mercado. Mas depois chegaram os navios estrangeiros de pesca ilegal, que muitas vezes despejam produtos tóxicos que dizimam as reservas pesqueiras. Não me restou alternativa." Pescador local
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Chamam-se a si mesmos os "Guardas-Costas voluntários da Somália" e contam com o total apoio da população local. Segund uma pesquisa, 70% da população somali apoia fortemente esta atividade como um meio de defesa das águas territoriais do país. Um dos seus líderes, Sugule Ali, explicou os seus motivos: "Parar a pesca ilegal e as descargas nas nossas águas. Não nos consideramos bandidos do mar. Consideramos que os bandidos do mar são os que pescam ilegalmente e despejam lixo."
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Mas inicialmente ninguém os leva a sério. As frotas pesqueiras estrangeiras continuam pescando impunemente e as descargas tóxicas continuam. Tendo em conta que tudo isto ocorre num país cheio de armas e dividido em grupos rivais, a estes pescadores rapidamente se unem ex-combatentes e acabam convertendo-se em grupos fortemente armados. Pressentem um lucrativo negócio na captura destes barcos e na exigência de um resgate. Quando começam a reter barcos a zona vai-se esvaziando e as frotas estrangeiras deixam de chegar com tanta frequência.

Piratas da Somália, a Verdade que a mídia não mostra ! - Parte 3

pirata_38As Grande Potências sugando a vida, a saúde e dignidade de um povo - As grandes potências vêem agora ameaçada a sua atividade de pesca lucrativa e veêm-se privados do seu particular e muito econômico vertedouro de resíduos tóxicos e nucleares. A ONU, que ignorou sistemativamente as reclamações somalis agora atende às reclamações dos paises afetados por essas ações. Espanha e França, paises com importantes frotas pesqueiras na região encabeçam uma petição de uma reação militar conjunta. Desta maneira nasce a Operação Atlalanta.
A missão dispõem inicialmente de 8 vasos de guerra, barcos de abastecimento e aviões de reconhecimento e vigilância. Após o fracasso inicial da operação, é ampliado o seu prazo e dotação, com mais de 20 navios e 1800 militares. O custo estimado para o governo espanhol ascende a mais de 6 milhóes de euros mensais. A segurança privada dos atuneiros galegos e bascos ascende a meio milhõa de euros mensais. O governo espanhol suporta metade desse custo por intermédio do Orçamento de Estado.
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Recordemos a definição de pirata: Roubam no mar, apropriando-se do que não lhes pertence. Realizam as suas ações fortemente armados. E em algumas ocasiões contam com a proteção de um Estado ou de uma Nação. Mas...Porque razão pescam ali estas frotas? Não poderiam por acaso fazê-lo nas suas águas territoriais? Nos seus oceanos? Não. E a causa é terrível. Jão não resta nada que pescar. DEvastaram e saquearam todas as suas reservas. Os paises ricos exterminaram a vida marinha dos seus próprios oceanos.
Os sistemas de pesca dos paises capitalistas industrializaram-se. Os ecossistemas marinhos são explorados até ao limite com o inguito de maximizar os lucros. Detrói-se a capacidade de regeneração das espécies marinhas, a cadeia alimentar é quebrada e as espécies extinguem-se. Como denuncia a Greenpeace Internacional pelo menos um quarto de todas as criaturas marinha capturadas são atiradas de volta ao mar, mortas. Baleias, golfinhos, albatrozes, tartarugas. São o que a indústria pesqueira denomina frivolamente de capturas acessórias.


A total falta de consciência sobre o meio ambiente.....o que interessa é o LUCRO !

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Desde os mares do Norte ao Golfo da Biscaia, o Cantábrico e o Mediterrâneo, esgotou-se e destruiu-se o habitat da maioria das espécies. O professor de história do Pensamento Político Jose Carlos Garcia Fajardo, afirma: "Por isso as nossas fortas européias foram a procura de ricas reservas na Africa, América Latina e Ásia. Em muitos paises serviram-se de governantes sem escrúpulos da falta de meios para defender a pesca nas suas próprias águas ou de falsas Joint ventures criadas para roubar as suas riquezas.
No ano de 2006, tendo em visa proteger os seus recursos naturais o Senegal não renovou os acordos pesqueiros com paises da União Européia. Mas parece impossível deter as frotas pesquisas capitalistas. Elas burlam as leis criando joint ventures, comprando licenças a outros paises e agitando bandeiras de conveniência. Atualmente, através da Internet pode-se comprar uma bandeira de conveniência em alguns minutos e por menos de 500 euros.
No Senegal, os barcos de pesca deixaram de ser úteis para a sua finalidade original e são agora usados para transportar imigrantes que procuram um futuro melhor em paises europeus. Ironicamente os mesmos paises que lhes arrebataram o seu futuro. Na Somália, os barcos deixaram de ser úteis para a pesca e são usados agora para a pirataria.
A Conferência Global dos Oceanos anunciou que 75% dos bancos de pesca mundiais desapareceram. A FAO também alertou que 80% ds reservas mundiais estão sobreexplorados e 30% das espécies marinhas se encontram abaixo do limite biológico de segurança. Por tudo isso, diversos estudos científicos calculam que no ano 2048 estarão esgotados todos os recursos pesqueiros do planeta.
Fonte: Documentario "Piratas", Espanha, 2011. Compilação em forma de texto e imagens, Renato, gestor de conteúdo do Arquivo
oarquivo.com.br

31
Jan17

MUROS LINDOS

António Garrochinho


ARÁBIA SAUDITA – Iémen, ao longo de 1.800 km
ARÁBIA SAUDITA – Iraque, ao longo de 700 km
Dois muros livres de um país “feudal/democrático”, que é o mais fiel aliado dos EUA no Médio Oriente incendiado.
O feudalismo whabita incorpora no seu sistema “democrático” a punição para os crimes cometidos(?) pelos cidadãos, o corte de mamas em mulheres ou perda de dedos e de mãos noutros casos. Tudo dependerá do nível de testosterona sentido nesse dia pelo dignitário efervescente, de serviço, da Casa de Saud.
ÍNDIA – Bangladesh, ao longo de 530 km
ÍNDIA – Paquistão, ao longo de 550 km
Estes dois incandescentes muros libertários pertencem á mais imunda organização da sociedade conhecida no planeta. Esta sociedade esclavagista tem inscrita na sua lei fundamental o reconhecimento do racismo. Exactamente por isso, é apresentada aos rebanhos indolentes como a maior “democracia do mundo” (assim mesmo).
Guardião do “status quo”, os EUA fornece-lhes “amazonas e danúbios” de armamento sofisticado, pago ao preço de muitos milhares de milhões de dólares, de que resulta o modo de viver terráqueo mais humilhante para o seu povo, pós-revolução industrial.
Há muitas dezenas de muros espalhados por todo o globo. “Bons” muros, com auspiciosos objectivos de integração rácica e desenvolvimentista, desde que chancelados pelo grande irmão norte-americano.
Guilherme Antunes (facebook)
31
Jan17

AS CATARATAS VICTÓRIA À VISTA DE DRONE

António Garrochinho

As cataratas Victoria, situadas na fronteira da Zâmbia e Zimbábue, constituem um salto de água do rio Zambeze, que é considerado um dos maiores espetáculo naturais do planeta devido ao estreito e raro abismo em que a água cai. As cataratas têm uma largura aproximada de 1,7 km e 108 metros de altura, e foram batizadas com este nome pelo desbravador e navegador escocês David Livingstone em 1855, em homenagem a rainha Victoria, ainda que localmente todos chamem a cachoeira de "Mosi-oa-Tunya", algo como a "fumaça que troveja".

As cataratas fazem parte de dois parques nacionais, Parque Nacional de Mosi-oa-Tunya, na Zâmbia e o Parque Nacional das Cataratas Victoria, no Zimbábue, e são uma das maiores atrações turísticas da África Austral. Elas foram declaradas Patrimônio da Humanidade pela Unesco, em 1989, protegendo um área de 8.780 hectares e no seguinte vídeo você pode ver o porquê dizem que estas são consideradas um dos maiores espetáculos da Terra.
VÍDEO
www.mdig.com.br
31
Jan17

you're fired!

António Garrochinho



Proiba-se a entrada no El Dorado de Trump a todos os manetas, pernetas, marretas, marrecos e seus tarecos. Impeça-se a invasão de hispânicos, germânicos, islâmicos, satânicos libertários. Vede-se a passagem a mamelucos, malucos, eunucos. A mongóis, espanhóis, caracóis não arianos. A chineses, franceses e outros malteses. A beduínos e suínos. A pretos com pecado, brancos com mancha, amarelos encardidos, cãozoada sem pedigree. A olhos em bico, corações generosos, mãos amigas. A hindús, budistas, sacristas. A refugiados, maltratados, maltrapilhos. Interdite-se o contraditório, a diferença, a variedade. A democracia, a liberdade. 

We're all fired. Fora! Rua que esta pátria não é tua nem de quem a apanhar. É dos expatriados de Inglaterra, dos expropriadores de terra, dos fora-da-lei e dos desavindos d'el-rei, dos caubóis e dos carcanhóis, do dólar sacrossanto e da santa Wall Street, do melhor povo do mundo na mais gloriosa nação do mundo, agora outra vez maior, outra vez melhor, mais rica, mais segura, mais, mais, mais, mais, mais e tudo o mais.

Por mim, fiquem com ela. Abocanhem-na. Amanhem-na e amanhem-se. Isolem-se e amolem-se. Por mim, não me levem para a gaiola de doidos onde o trunfa laranja por agora impera. Não me prendam, não me vendam por um punhado de bucks. De bills ou dimes. De dead presidents. Enquanto este andar por aí, alive and kicking na dignidade e nos direitos de cada um. 

Com todas as letras e sem pudor: fuck you Mr. Trump!

ouropel.blogspot.pt

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