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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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21
Jan17

21 de Janeiro de 1924: Morre Vladimir Ilych Ulianov, Lenine.

António Garrochinho


Em 21 de Janeiro de 1924, morre o líder da revolução bolchevique, Vladimir Ilitch Ulianov - Lenine. O revolucionário já estava semi-paralisado devido a sucessivos acidentes vasculares e aos poucos foi obrigado a renunciar ao exercício do poder. Mas teve tempo de instalar a ditadura do proletariado após o triunfo da Revolução de Outubro. A sua morte, devido a uma hemorragia generalizada, provocou intensa comoção popular. O funeral de Lenine teve a assistência de quase 1 milhão de pessoas sob o rigoroso inverno russo. 


Teórico político e homem de acção, Lenine foi o primeiro dos herdeiros de Marx a conduzir uma revolução até à vitória, lançando as bases do sistema soviético. Combinando uma reflexão teórica original e uma visão de organização centralizada e disciplinada, foi considerado pelos seus contemporâneos como o verdadeiro pai da revolução bolchevique. Os opositores consideram-no também como a origem do sistema de repressão e supressão das liberdades individuais. 


Influenciado desde muito cedo pela leitura da obra seminal de Karl Marx, O Capital, Lenine radicalizou a sua posição aquando da execução do seu irmão mais velho, Aleksandr, por conspirar contra o czar Alexandre III em 1887. Profundo e ardoroso intelectual, Lenine associa os princípios do marxismo directamente à sua própria teoria de organização política e a análise da realidade russa, imaginando um grupo de elite de revolucionários profissionais - ou “vanguarda do proletariado” -, que inicialmente conduziriam as massas russas à vitória sobre o regime czarista para finalmente provocar uma revolução mundial. Expôs essa teoria na sua famosa obra O que fazer? em 1902. A insistência de Lenine na necessidade desta vanguarda acabou por dividir o Partido Social-Democrata russo em dois. Uma ligeira maioria passou a ser conhecida como bolchevique que pregava a revolução e os seus oponentes, como mencheviques, que defendiam as reformas graduais. 




Após a eclosão da Primeira Guerra Mundial em 1914, Lenine, que então vivia na Suíça, instou os seus partidários na Rússia de reverter o  conflito anti imperialista numa guerra civil que livraria as classes trabalhadoras do jugo da burguesia e da monarquia. Com o sucesso da Revolução de Fevereiro de 1917 com a abdicação do czar Nicolau II, Lenine retorna clandestinamente à Rússia e trata de organizar a tomada do poder pelos bolcheviques, o que ocorreria em Outubro do mesmo ano.

Ao chegar ao poder, Lenine estabelece um armistício imediato com as Potências Centrais (Alemanha, Áustria e Turquia) e age rapidamente para consolidar o poder do novo Estado soviético, sob o controlo do que passou a ser Partido Comunista bolchevique. Para tanto, os “vermelhos” (revolucionários) tiveram de derrotar os “brancos” (reacionários) em feroz luta e repelir a invasão de 13 potências estrangeiras. 




Em 6 anos de poder, Lenine enfrentou extremas dificuldades para implementar a sua visão de Estado dentro das fronteiras, assim como materializar a revolução internacional. Lenine e o Politburo, que incluía Trotsky, seu fiel seguidor durante a guerra civil, e José Estaline, o secretário-geral do Partido Comunista, trataram de esmagar toda a oposição às políticas proclamadas na constituição da nova União Soviética. 




Lenine sofreu um primeiro derrame em Maio de 1922. O segundo, mais violento, ocorreu em Maio do ano seguinte, deixando-o quase sem fala e praticamente encerrou a sua carreira política. 

Quando Lenine morre, em Janeiro de 1924, na sua casa de campo em Gorki, o Politburo, no meio comoção geral, prepara exéquias excepcionais. Estaline envia um telegrama a Trotsky, que estava ausente de Moscovo, comunicando a morte de Lenine, mas o velho camarada não vai ao funeral. Havia três versões para a ausência de Trotsky: estaria em descanso no sul da Rússia; em tratamento de saúde ou em serviço. Trotsky telefona para Estaline e pergunta quando seriam os funerais. Estaline responde “No sábado.Não conseguirás chegar a tempo, e de qualquer modo nós  aconselhamos-te a permanecer aí com o teu tratamento de saúde”. As cerimónias ocorreram no domingo. Estaline foi o único orador ao lado do caixão mortuário. O povo e os camaradas do partido interpretaram a cena: Estaline transformara-se no herdeiro de Lenine. 



Fontes: Opera Mundi
wikipedia (imagens)

O funeral de Lenine - Isaak Brodski


Pintura de Lenine em frente do Instituto Smolny feita por Isaak Brodski
Lenine e Estaline


21
Jan17

pró e anti Trump / Um Ensaio sobre a Cegueira

António Garrochinho


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Desde as primárias que Trump criou anticorpos com as suas intervenções obnóxias, xenófobas e sexistas. Rejeição perfeitamente justificada por alguém que é uma variante de um político protofascista e é de algum modo imprevisto. Rejeição que foi amplificada por uma comunicação social e redes sociais que apoiavam descaradamente Hillary Clinton e que, desde o primeiro minuto, a favoreceram em relação a Bernie Sanders que começou logo a ser apresentado como psicologicamente instável e um perigoso utópico de esquerda.

Não deixa de ser curioso como se pode ser anti Trump sendo pró Clinton. Ou mesmo que se pretenda branquear as políticas da ex-Secretária de Estado apontando-a, em comparação com Trump, como um mal menor. Trump e Clinton são os dois piores dos males num país em clara decadência política social e económica que é esse o legado de Obama, um fala barato que defraudou todas as expectativas nele depositadas por quem se deixava encantar com a sua lábia, apesar e contra todas as evidências.
Quando se ouve um Robert de Niro muito excitado nas suas invectivas a Trump, fica muita gente em êxtase sem sequer se interrogar porque é o mesmo de Niro nunca surgiu a invectivar Obama quando ordenou a violenta remoção dos manifestantes do Wall Street Ocuppy, ou deu apoio à Al-Qaeda, etc. etc. a lista é longuíssima, ou as acções de Hillary Clinton no Médio-Oriente e na América Latina. Há que haver coerência. Do mesmo modo ficam todos muito indignados ao ouvirem Trump ameaçar de expulsão três milhões de emigrantes latino-americanos e esquecem que Obama expulsou dois milhões e meio. Ou que vai construir um muro na fronteira entre os EUA e o México que não mais é que completar o muro que Obama já tinha posto de pé.

Também não deixa de ser curioso que apareçam nas redes sociais vários intervenientes que elaboram listas com fotografias de pulhas e que entre os seleccionados não apareçam, Obama, Clinton, Kerry tão ou mais merecedores dessa distinção, sobretudo agora quando Kerry publicamente reconheceu, de forma oblíqua na edição do New York Times, clarificada quando o registo gravado da totalidade da entrevista foi publicado no The Last Refuge, que a administração Obama andou a equipar e financiar o Estado Islâmico. Essa gente é surda, cega e muda para um lado e ouve, vê, e lê para o outro lado. Bipolares políticos que, nos melhores casos, tanto podem estar do lado certo como do lado errado.

Quer isto dizer que Trump não é um perigo para o estado do mundo? É, claro que é. A diferença é que é um perigo mais imprevisível do que seria Hillary Clinton se tivesse ganho as eleições. Até talvez bombardeie menos países que Obama que em 2016, despejou três bombas por hora em vários pontos do mundo, os números são do Conselho de Relações Exteriores dos Estados Unidos da América, uma agência governamental.-

Do outro lado temos alguma gente que acaba por apoiar Trump só por ele manifestar o seu apreço por Putin e afirmar que quer melhorar as relações com a Rússia. Não percebem que essa viragem geoestratégica, se vier a acontecer o que é incerto, se inscreve claramente numa manobra de provocar um corte, mesmo que parcial entre a Rússia e a China, para isolar esse país que ele considera a grande ameaça económica aos EUA. Bem lá no fundo desses cenários o que realmente está em marcha é o que já estava em marcha desde algum tempo, a batalha, que pode degenerar em guerra,  entre dois blocos económicos: de um lado o até agora dominante e sem opositor, dirigido pelos EUA integrando a EU e o Japão tendo como braço armado a NATO e do outro o emergente liderado pelos BRICS que, apesar de todas as diferenças entre os seus integrantes, tem conseguido manter unidade. Até onde e de que formas se revestirá essa guerra é que é muito difícil prever, bem como o seu desfecho.

É extraordinário que os argumentos dessas legiões de gente anti-Trump sejam o espelho dos argumentos das legiões pró-Clinton. Todos iguais no essencial, todos diferentes nos pormenores. Um bom exemplo é o das histórias, todas não fundamentadas algumas sem se importarem de ser bem risíveis, da interferência de Putin nas eleições norte-americanas. A divulgação dos mails com as tramas mais canalhas da trupe Clinton para lixar Sanders, desde que ele apareceu e começou a enfrentar a senhora nas primárias até à Convenção Democrática em que ela foi escolhida. 

Nenhuma ruga de indignação surge. A existência dos mails, a suposta origem da sua divulgação, excita-os. Ficam mudos e quedos quanto ao seu conteúdo que ninguém se atreveu a desmentir. Porquê? Provavelmente porque os mails pouco acrescentam à personalidade intriguista e charlatona de Hillary Clinton que para eles deve ser aceitável, o que é inquietante pela degradação ética que revela.
Logo a seguir um grosso informe sobre como Trump estava nas garras dos russos. Informe obtido por John McCain, personagem da direita mais execrável com um longo historial de alianças com terroristas, que o entregou ao director do FBI e agora, perante o descrédito dessas informações mesmo pelos media mais ferozmente anti-Trump, veste-se de virgem ofendida dizendo que fez o seu dever sem saber se as informações eram credíveis. A sorte dele é que o ridículo não matar. Outro ausente de peso nas galerias fotográficas dos pulhas se houvesse discernimento e coerência.

Acenam com as bandeiras de que Trump é um perigo para a democracia. Será! Mas quem empunha essas bandeiras e está na barricada de Clinton é um perigo igual. Com contornos diferentes, mais de forma que substância, mas rigorosamente igual.

Neste contexto ninguém ou quase ninguém está sequer preocupado em procurar uma explicação racional para a vitória de Trump que é, a traço grosso riscado de forma sintética, a expressão política muito clara do fracasso e da crise estrutural do modelo neoliberal nos Estados Unidos. Todas essas campanhas a favor e contra Trump, chapinhando no pântano em que se transformou a democracia norte-americana, um legado que Obama catalisou, assunto para ser tratado autonomamente, é um bom tema para reescrever o Ensaio sobre a Cegueira. Cegueira de todos os que nela embarcam fazendo juízos políticos, sociais e económicos superficiais, bem enquadrados nas teias da dominante ideologia de direita, mesmo que se digam muito de esquerda. Nem sequer reparam que a grande diferença entre Trump, a administração Trump e os presidentes e administrações dos EUA que o antecederam, é que se antes foi para lá gente que maioritariamente metia a mão no pote, agora estão sentados na Casa Branca os donos do pote.

O mundo é cada vez mais um lugar perigoso mas quando a superficialidade e a cegueira política, tanto pró como contra Trump, se generaliza só o torna ainda mais perigoso.




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