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orouxinoldaresistencia

POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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25
Jan17

Monstruoso, este é o maior Trator Pá Carregadeira da Caterpillar no mundo (que carrega 45t e tem 1.763cv)

António Garrochinho


A vida de todos nós é cercada de elementos que foram fabricados com o uso de recursos minerais. Dessa forma, a atividade de mineração é absolutamente essencial e as máquinas pesadas cumprem um papel indispensável nessa área. Por isso, nós aqui no AutoVídeos sempre procuramos dar destaque aos brutais tratores e camiões que atuam nessas missões desafiadoras. Nós já mostramos aqui a maior Pá Carregadeira do mundo, que é a LeTourneau L-2350, e agora é o momento de conhecermos a linha 994 da Caterpillar, que corresponde aos maiores tratores da marca com essas características.

A atual maior Pá Carregadeira da Caterpillar é a 994K, que carrega 45 toneladas (40,8 toneladas métricas) por passada, sendo que a versão de levantamento alto move 42 toneladas (38,1 toneladas métricas) por passada. Esse desempenho é cerca de 20% melhor do que antecessora 994H.
Este trator é voltado para o carregamento de camiões de mineração nas classes de 250, 200 e 150 toneladas, podendo operar com seu pacote de alta temperatura em condições de até 50 graus Celsius.
O seu motor é um Cat 3516E com 1.763 cv e o peso operacional é de cerca de 237 toneladas. Veja agora alguns vídeos que mostram Pás Carregadeiras da linha 994 da Caterpillar em detalhes e em ação, inclusive sendo transportadas por imensos camiões.

VEJA VÍDEOS
autovideos.com.br
25
Jan17

A história de Hans Massaquoi

António Garrochinho

Hans Massaquoi entre colegas de turma em Hamburgo 1939
Hans Massaquoi entre colegas de turma em Hamburgo

A suástica bastarda e outras saias justas nazi-racistas


Você já ouviu falar num cara chamado Hans Jürgen Massaquoi? Nem eu tampouco. Coisa impressionante! Tantos anos cavucando estas coisas de negro e nunca ouvi falar desta história inacreditável. Chego a ela depois de esbarrar, quase sem querer nesta incrível e inusitada foto aí de cima: Um negrinho fofo, impávido e impoluto, aparentemente cheio de orgulho em ser fotografado com uma suástica no peito.
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Was ist das? GroBe Skandal! Ein Neger Nazi? Was ist los? Nein! Nein! Nein! _Diria o Adolf, apoplético, desmunhecando e batendo os pézinhos.

“Negro, negro! Limpador de chaminé!”


(Ofensa racista popular na Alemanha dos anos 30/40)
“Mamãe, eu não sou ariano?” – perguntava Hans a sua mãe, aos oito anos de idade depois de ter sido proibido de brincar com as outras crianças na escola.”

Pois esta é a mais pura e verdadeira história de Hans Jürgen Massaquoi, cujos trechos extraídos de uma resenha de seu livro autobiográficoNeger, neger, schornsteinfeger!” (‘Destined to witness” na versão norte americana) disponibilizamos aqui. 

Puxando o fio desta meada podemos descortinar um vasto mundo de iniqüidades e injustiças há muito sabidas, quando associadas a população judia na Alemanha nazista, mas que nunca havíamos, nem de longe, imaginado terem sido os mesmos infortúnios sofridos por milhares de pessoas negras engolfadas pela fervura daquele caldeirão de sandices.


Negros na Alemanha nazista? Nem pensar! 

Num ou noutro filme de um Fassbinder da vida, talvez, mas quase sempre soldados negros americanos, ja no finzinho da guerra, transando com uma loura pálida, de boca carnuda com baton carmim, numa cama amarfanhada na penumbra de algum conjugado de Berlim.

Nada de terror. Só tesão, sexo selvagem e lágrimas de despedida.

Talvez seja até por isto – o inusitado de uma situação tão incomum – que as histórias sobre negros na Alemanha nazista tenham se tornado, estranhamente tão obscuras quanto mal contadas.

Mais são muitas as histórias. Candentes, impressionantes, com ganchos nos levando a associá-las com outras tantas experiências individuais neste vasto contexto trágico da diáspora africana neste nosso mundo muito mais do Cão do que de Deus.
Algumas outras partes desta intrigante meada estamos também disponibilizando abaixo, em rápidas pinceladas, só para instigá-los, afim de que possamos juntos ir futucando e esmiuçando mais e mais (o que de nossa parte, dada a eletrizante e inusitada importância dos fatos aqui revelados,  faremos com toda certeza em posts a seguir.)
É só esperar para ler.
————
Os trechos da resenha do livro de Massaquoi e demais informações sobre a vida de negros na Alemanha nazista contidos neste post foram extraídas do jornal El País e do site da Deuscht welle, traduzidos livremente por este vosso criado.


A guerra íntima de Bertha e Hans


Hans Jürgen Massaquoi nasceu em 19 de janeiro de 1926 em Hamburgo, filho de mãe alemã e pai liberiano. Tinha seis anos quando Hitler chegou ao poder. O pai de Hans era filho do cônsul da Libéria na Alemanha. Sua mãe, Bertha Baetz, era uma enfermeira de classe média baixa. O rico filho do diplomata africano interessou-se pela bela jovem ao vê-la em uma festa, e dessa relação nasceu o pequeno Hans.
Seu pai nunca se preocupou muito com ele e nunca lhe deu muita atenção, já que nessa época era um estudante universitário em Dublin. Mas seu refinado avô (o rei Momulu IV rei dos Vai, uma etnia liberiana), o primeiro diplomata africano na Europa, o acolheu em seu palacete de Hamburgo junto a seus tios e primos africanos. O patriarca se orgulhava de ter um neto alemão que falava o idioma local com perfeição.
Bertha com o filho Hans, tendo ao lado a foto do pai
Bertha com o filho Hans, tendo ao lado a foto do pai


“Eu associava a pele negra com superioridade, porque nossos serventes eram brancos” – diz Hans em sua autobiografia.
Seu destino mudou drasticamente quando o Führer assumiu o poder e expulsou os diplomatas africanos da Alemanha. Todo o clã Massaquoi regressou a seu país, Libéria, mas Bertha, a mãe de Hans decidiu ficar em sua pátria, porque o menino era doente e temia que viajando à África ele poderia morrer já que naquela época -e até hoje em dia- a África era um continente assolado pela malária. Praticamente sozinha, Bertha retomou seu trabalho de enfermeira e mudou-se com seu filho para a zona operária de Hamburgo.


Eu, que tinha aprendido a ver vantagens em meus traços raciais, de repente me vi obrigado a considerá-los um inconveniente”.



No início, nem ele nem sua mãe consideraram como uma ameaça à ascensão do nazismo. Era algo que não os preocupava, afinal eles eram alemães.


“Assim como toda criança, eu estava fascinado pela parafernália nazista. Os uniformes, as bandeiras e os desfiles me deixavam encantado. Para mim, para meus colegas, Hitler estava envolvido nessa auréola divina que lhe protegia de qualquer crítica”.


As coisas foram mudando pouco a pouco. Primeiro foram os letreiros afixados nos balanços  de praça proibindo crianças não-arianas de brincar. Depois, um misterioso desaparecimento de seus professores que eram judeus. Depois sua mãe foi despedida de seu trabalho “por ter concebido o filho de um africano”.


“Uma vez que as absurdas leis raciais entraram em vigor, ficou claro que minha vida ia se tornar muito difícil. Mas o amor e a proteção de minha mãe me deram a sustentação necessária”.


Em seu livro autobiográfico, Hans conta com detalhes as tentativas que fez para ser considerado um alemão comum. A cada vez que era recusado reagia negando o evidente, e esta situação o levaria ao absurdo de querer fazer parte das Hitlerjugend, as Juventudes hitleristas, uma mistura de tropa de escoteiros com organização paramilitar.
No dia que descobriu que lhe negaram a entrada exclusivamente por sua cor de pele, Hans abriu os olhos e começou a entender do que se tratava o nazismo. A partir daquele momento abandonou o desejo de ser aceito pelos nazistas e libertou-se da dependência afetiva de Hitler como onipotente figura paternal.
Hans com a mãe e primas
Ao começar a guerra, apesar de ser “indigno de usar o uniforme alemão”, esteve a ponto de se alistar no exército. Só não foi para a frente de batalha por ser considerado uma pessoa sem importância, o que agravou os seus problemas emocionais, já que sendo um homem jovem e sadio se envergonhava de não estar combatendo junto a seus compatriotas.
Foi enquanto trabalhava em uma fábrica de munição que Hans pode observar que a máquina de guerra alemã começava ruir. Em 1943, os aliados, com a Operação Gomorra, bombardearam intensamente Hamburgo durante dez dias, até deixar a cidade em escombros, onde morreram mais de 40 mil pessoas.
Hans estava tão deprimido que não fazia diferença morrer nas mãos da Gestapo ou do bombardeio aliado. De toda forma, a presença da Gestapo incomodou-o por muito tempo ainda e teve que conviver sob a constante ameaça de sua presença e interrogatórios. Desprezado por todos, era considerado um cidadão de segunda classe, a tal ponto que um dia uma multidão quis linchá-lo achando que era um piloto aliado.

O fim da guerra com a tomada de Hamburgo pelos britânicos significou também uma nova vida para Hans. Pela primeira vez em sua vida não sentia medo. O medo de ser humilhado, ridiculizado, degradado, a ver-se privado de sua dignidade.

Após a Segunda Guerra Mundial sobreviveu como saxofonista de jazz, depois emigrou a Libéria, o país de seu pai, e por fim ancorou nos Estados Unidos, país que o acolheu como cidadão e onde foi recrutado como pára-quedista e enviado à Guerra da Coréia durante dois anos.
Graças aos benefícios dos veteranos de guerra ingressou na Universidade de Illinois, onde estudou jornalismo, carreira à qual dedicou mais de quatro décadas vindo a se aposentar quando era diretor da famosa revista Ebony.

Ao final e apesar de tudo há de se considerar que o destino foi bastante benevolente com Hans Massaquoi. Olhando para o passado e recordando o horror também sofrido por outras inocentes etnias, ele pelo menos sobreviveu para contar a sua história.”
Hans Mossaquoi, como diretor da revista afro-americana 'Ebony'

Hans Mossaquoi, como diretor da revista afro-americana ‘Ebony’

spiritosanto.wordpress.com
25
Jan17

PERSONALIDADE: Angela Davis

António Garrochinho

 Uma das mulheres que mais inspira as feministas, principalmente negras: Angela Yvonne Davis,ou simplesmente, Angela Davis.

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Angela tem 72 anos, é ativista desde sua adolescência e ganhou notoriedade mundial na década de 70. Ou seja, tem muito dela que precisamos saber, mas para facilitar a leitura, fiz um resumão para vocês entenderem a força e assuntos que a Angela trata.Resultado de imagem
Ela fez parte do Partido Comunista dos Estados Unidos e era integrante do PanterasNegras (lembra de Formation no Super Bowl? Há inspirações reais das Panteras Negras naquela apresentação). Assim, lutou a favor dos direitos das mulheres e contra a descriminação racial e social nos Estados Unidos. Angela é natural do Alabama, estado americano extremamente racista, e por sofrer tanta humilhação por conta de sua cor  resolveu lutar a favor dela.
Estudou comunismo e socialismo teórico em Nova York na década de 60, onde integrou uma organização comunista de jovens estudantes. Em seguida virou militante do partido e ativista nas causas das mulheres e dos negros.
Lutou fervorosamente contra a prisão de 3 militantes negros (“irmaõs soledad”) quando era do Partido Comunista e por essa razão entrou para a lista de procurados do FBI, tornando-se inimiga e fugitiva do Estado. Por consequências do julgamento e a morte de um dos 3 militantes, a prisão de Angela foi decretada. A prisão dela teve como consequência o movimento Free Angela Davis com forte repercussão, contando com apoio até de Lennon e Yoko e dos Stones (todos compuseram músicas dedicadas a ela).
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Na década de 80 chegou a concorrer na vice-presidência dos Estados Unidos, tendo votação baixa, prosseguiu sua carreira no ativismo político e escreveu diversos livros, principalmente sobre a situação carcerária americana.
Hoje ela segue dando discursando e dando palestras, principalmente em universidades. Ela já recebeu o Prêmio Lênin da Paz, em 1977.
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Último livro publicado no Brasil.
“O desafio do século XXI não é reivindicar oportunidades iguais para participar da maquinaria da opressão, e sim identificar e desmantelar aquelas estruturas nas quais o racismo continua a ser firmado. Este é o único modo pelo qual a promessa de liberdade pode ser estendida às grandes massas”
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negraecrespa.com

25
Jan17

Agentes dos serviços secretos dos EUA estão a investigar uma mulher que sugeriu no Twitter o homicídio do presidente, Donald Trump.

António Garrochinho
Heather Lowrey já foi interrogada pelos agentes em Louisville


Agentes dos serviços secretos dos EUA estão a investigar uma mulher que sugeriu no Twitter o homicídio do presidente, Donald Trump.
Heather Lowrey já foi interrogada pelos agentes em Louisville, tendo os serviços secretos investigado o passado da utilizadora do Twitter, que terá escrito na rede social: "Se alguém foi suficientemente cruel para assassinar MKL [Martin Luther King], talvez alguém seja suficientemente bondoso para assassinar Trump".
De acordo com a agência Associated Press, Richard Ferretti disse na terça-feira que quando os serviços secretos concluírem a investigação, o relatório será enviado para o gabinete do procurador-geral dos EUA, que decidirá se Lowrey será formalmente acusada na justiça.
A lei federal proíbe ameaças ao presidente dos EUA e o crime é punível com pena de prisão até cinco anos.
Ferretti disse ainda, citado pela AP, que os internautas deveriam "pensar duas vezes" antes de usar as redes sociais.


www.dn.pt
25
Jan17

25 de Janeiro de 1554: Fundação da cidade de São Paulo, no Brasil, pelo padre Manuel da Nóbrega.

António Garrochinho


A fundação de São Paulo insere-se no processo de ocupação e exploração das terras americanas pelos portugueses, a partir do século XVI. Inicialmente, foi fundada a Vila de Santo André da Borda do Campo (1553), constantemente ameaçada pelos povos indígenas da região. Nessa época, um grupo de padres da Companhia de Jesus, da qual faziam parte José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, escalaram a Serra do Mar e chegaram ao planalto de Piratininga onde encontraram "ares frios e temperados como os de Espanha" e "uma terra mui sadia, fresca e de boas águas". Do ponto de vista da segurança, a localização topográfica de São Paulo era perfeita: situava-se numa colina alta e plana, cercada por dois rios, o Tamanduateí e o Anhangabaú.

A data oficial reconhecida para a fundação da cidade de São Paulo é a da conversão de São Paulo, 25 de Janeiro de 1554, quando foi rezada a primeira missa no local do colégio fundado pelos jesuítas Manoel da Nóbrega e José de Anchieta, que se chamou "Colégio São Paulo de Piratininga", dando origem ao povoado que se formou ao seu redor. O lugar escolhido foi estratégico, numa elevação entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú, garantindo protecção contra ataques e ampla visibilidade dos caminhos que levavam até lá. Actualmente, o local é conhecido como Pátio do Colégio e mantém parte da colina histórica preservada.

Em 1560, o povoado ganhou foros de Vila e pelourinho mas a distância do litoral, o isolamento comercial e o solo inadequado ao cultivo de produtos de exportação, condenou a Vila a ocupar uma posição insignificante durante séculos na América Portuguesa.

Em 1681, São Paulo foi considerada cabeça da Capitania de São Paulo e, em 1711, a Vila foi elevada à categoria de Cidade. Apesar disso, até o século XVIII, São Paulo continuava como um quartel-general de onde partiam as "bandeiras", expedições organizadas para apresar índios e procurar minerais preciosos nos sertões distantes. Ainda que não tenha contribuído para o crescimento económico de São Paulo, a actividade bandeirante foi a responsável pelo devassamento e ampliação do território brasileiro a sul e a sudoeste, na proporção directa do extermínio das nações indígenas que opunham resistência a esse empreendimento.

 O crescimento vertiginoso da urbe iniciou-se com a instalação da ferrovia Santos-Jundiaí, na segunda metade do século XIX. A posição estratégica da cidade, como passagem obrigatória entre o porto e as rotas de escoamento do café (então plantado em quase todo o interior paulista), levou à modernização radical da sua estrutura económica e urbana.

Na passagem do século XIX para o XX, a cidade já estava totalmente transformada. O comércio  diversificou-se, atraindo todo tipo de actividade, como casas de câmbio e hotéis. E a área urbanizada  espraiou-se para atender ao rápido aumento de população, principalmente com a vinda de imigrantes estrangeiros, na sua maioria italianos, portugueses, espanhóis, sírio-libaneses, japoneses e judeus.

wikipedia(imagens)

Ficheiro:Antônio Parreiras - Fundação de São Paulo, 1913.jpg
Fundação de São Paulo - António Parreiras
Ficheiro:Várzea do Carmo por Arnaud Pallière.jpg
A Várzea do Carmo em 1821, aquarela de Arnaud Julien Pallière, 1821. Ao chegarem do Rio de Janeiro ou de Santos, e já na entrada da cidade pelos lados do Brás, os viajantes observavam esta paisagem
25
Jan17

25 de Janeiro de 1576: Paulo Dias de Novais funda a cidade de Luanda

António Garrochinho


Em 11 de Fevereiro de 1575, chegou à Ilha das Cabras — a ilha de Luanda — a armada de Paulo Dias de Novais, composta de sete velas — «dois galeões, duas caravelas, dois patachos e uma galeota» — e cerca de 700 homens, dos quais, à volta de 350 eram homens de armas, no dizer de Lopes de Lima e conforme a «descrição» dirigida em 1592 a D. Filipe I, por Domingos d'Abreu de Brito — «descrição» essa que, a seguir, transcrevemos, do livro de Lopes de Lima «Ensaios sobre a statistica das "Possessões Portuguesas»—: «que a gente que este Governador levava erão tresentos e cincoenta homeês dos quaes erão a mayor parte delles chatins, çapateiros, e alfayates, e hus delles apeguarão em seus officios, outros per suas industrias se tornarão nas mesmas embarcações, e algua parte delles acabarão com misérias e necessidades per falta de mesinhas...»


A actual Luanda foi fundada a 25 de Janeiro de 1576, pelo capitão Paulo Dias de Novais, primeiro governador de Angola. Cedo se desenvolveu uma povoação para a qual se dirigiram vários comerciantes interessados no tráfego de escravos. Em 1605, apesar de não possuir qualquer fortificação ou feitoria, a povoação foi elevada a cidade. Em 1641, ficou sob o domínio dos holandeses, sendo recuperada, em 1648, sob o comando de Salvador Correia de Sá, que lhe atribuiu o nome de S. Paulo da Assunção de Luanda.

Nos séculos XVII e XVIII, foram construídas várias fortificações, como a Fortaleza do Morro de S. Miguel, a de São Pedro da Barra, o Forte de São Francisco do Penedo, o de N.ª S.ª da Guia e o de São António. Durante os séculos XVIII, XIX e XX, a urbe conheceu um grande desenvolvimento na arquitectura civil e religiosa de que são exemplo os palácios do antigo Governo-Geral, o Paço Episcopal e a Igreja do Carmo. Com o progresso da cidade, surgiu também a imprensa, aparecendo, em 1856, o primeiro órgão de comunicação, Aurora.



No século XX, foram criadas instituições públicas de relevo, como o Museu de Angola (1938), o Instituto Angolano de Educação e Serviços Sociais (1962) e os Estudos Gerais Universitários (1962), que foram substituídos pela Universidade, em 1968. Após a independência, em 1975, Luanda tornou-se a capital do país e conheceu um grande afluxo populacional, devido à guerra civil, acentuada no interior do país, provocada pela luta pelo poder entre os diversos partidos políticos de Angola. No início de 2002, com o fim da guerra civil, Luanda começou a recuperar o esplendor do passado.

Fontes: Kuribeka.com.sapo
Luanda. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. 
Wikipedia (Imagens)


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Ficheiro:Cadornega.jpg
Frontispício da "História geral das guerras angolanas" de António de Oliveira de Cadornega, escrito 
em 1680.

Paulo Dias de Novais
Ficheiro:Salvador Correia de Sa e Benevides.jpg
Salvador Correia de Sá e Benevides , Governador de Angola

Ficheiro:Cidade de São Paulo da Assumpção de Loanda.jpg
Vista de Luanda em 1755

Ficheiro:Luanda1883.jpg
Luanda em 1883

25
Jan17

25 de Janeiro de 1785: O Cardeal Rohan presenteia Maria Antonieta com um colar de diamantes (O caso do colar de diamantes)

António Garrochinho


No dia 25 de Janeiro de 1785, o príncipe-cardeal de Rohan recebe um deslumbrante colar de diamantes que ele destina à rainha Maria Antonieta. O escândalo iria desabar no colo da rainha da França e arruinar a sua reputação de mulher honesta. Alguns meses mais tarde eclodiria a Revolução.

O colar havia sido produzido cerca de 1773 pelos joalheiros parisienses Böhmer e Bassenge com 647 joias e um peso total de 2300 quilates.

Os joalheiros estavam certos de vendê-lo à condessa Du Barry, favorita do rei Luis XV, mas a morte do velho rei em 1774 não permitiu concretizar a venda.

Surge a ideia de vendê-lo à nova rainha, Maria Antonieta. Chegaram a apresentar a maravilha aos soberanos em 1778 e em 1781. O jovem rei Luís XVI não se deixa envolver e recua diante da enormidade do preço, 1,6 milhão de libras. A rainha também se mostra ponderada. Iria lembrar que era o preço de dois navios, dos quais a França tinha muito mais necessidade.

A jovem austríaca tinha chegado a Versalhes com 14 anos e foi definida como personagem frívola, cercada de jovens aristocratas despreocupados. O príncipe Louis de Rohan era um deles. Filho de ilustre e riquíssima família, parte para Viena como embaixador em 1772. É expulso dois anos mais tarde pela imperatriz que se escandaliza com a sua libertinagem. No entanto, é nomeado capelão na França, depois cardeal e por fim bispo de Estrasburgo.

O cardeal de Rohan tem suas ambições políticas e atribui à antipatia da rainha o fracasso dos seus projectos. Foi então que conheceu uma jovem mulher pouco recatada que descendia de um bastardo filho do rei Henrique II e utilizava o título fantasioso de condessa De La Motte-Valois. Ela mantinha vínculos com um libertino italiano, Giuseppe Balsamo, quem se apresentava como conde de Cagliostro.

A condessa Jeanne De La Motte-Valois fazia alarde de uma pretensa intimidade com Maria Antonieta a ponto de convencer o cardeal de poder ganhar as suas boas graças.

Em 11 de Março de 1784, uma entrevista discreta é organizada no Bosque de Vénus, perto do Petit Trianon, onde a rainha passava boa parte do seu tempo. A rainha aparece e entrega ao cardeal uma rosa e um bilhete fazendo um sinal para que se calasse. Na realidade, era uma modista parisiense, Nicole d'Oliva, quem desempenhava o papel de sósia da rainha. O cardeal julga ser a rainha e empresta-lhe 150 mil libras. Mais tarde, a sósia da rainha pede-lhe novos empréstimos e que sirva de intermediário entre ela e os joalheiros Boehmer e Bassenge na compra de um colar de diamantes no valor de 1,5 milhão de libras, que ela desejava ter mas, em segredo, para não alarmar o rei. Os joalheiros também são contactados com um pedido para que entreguem o colar a Jeanne para que esta o transmita à rainha. Rohan aceita servir de intermediário na transacção, chegando o colar às mãos da condessa de La Motte, que o vende em Londres com o auxílio do seu marido. Quando a factura dos joalheiros chega ao palácio real, tudo se vai., descobrir. O rei Luís XVI manda prender o cardeal Rohan, Cagliostro, a condessa e seus cúmplices: ao todo quinze pessoas.

Em 15 de Agosto de 1785, dia da Assunção, houve uma grande festa em Versalhes. O grande capelão da França celebraria um ofício solene na capela do palácio. Já havia vestido o seu hábito pontifical quando foi intimado a apresentar-se no gabinete real.

Luis XVI recebe-o em presença da rainha e do ministro da Casa Real, o barão de Breteuil. Mostram-lhe o compromisso firmado em favor dos joalheiros Böhmer e Bassenge. O cardeal, desconcertado, é obrigado a firmar a confissão cujos termos foram ditados pelo rei. “Que se prenda o cardeal!”, Exclama Breteuil, seu inimigo jurado. No mesmo dia, Rohan é encarcerado na Bastilha. No dia seguinte é a vez de  Jeanne de la Motte.

O rei confia ao Parlamento o processo do cardeal. A instrução arrasta-se enquanto o alto-clero se insurge contra a afronta a um dos seus, vítima de burlões e apenas culpado de ingenuidade. 

Em 22 de Maio de 1786, o processo tem início diante de 64 magistrados da Grande-Câmara. Dez dias depois o procurador-geral, Joly de Fleury, pronuncia uma acusação sombria. Uma parte da corte insurge-se enquanto milhares de manifestantes do lado de fora proclamam ruidosamente o seu apoio ao cardeal. O rei despoja o cardeal de todos os seus cargos e exila-o na Abadia da Chaise-Dieu.

A condessa De la Motte é condenada a ser açoitada em público, marcada com ferro em brasa e presa com prisão perpétua na Salpêtrière de onde foge pouco depois. Cagliostro é banido do reino.

A opinião pública acolhe o veredicto enquanto os pintores oficiais tentam reverter o julgamento popular, apresentando Maria Antonieta não mais como a rainha da elegância e sim como uma mãe afectuosa, cercada de crianças. Esta operação de comunicação não funcionou.

O caso do colar marcaria um novo apodo à rainha : “Madame Déficit”, a alimentar o ressentimento popular contra ela.

Tratado como mártir, o cardeal de Rohan seria eleito depois da Revolução para os Estados Gerais em 1789 pelo clero de Tonnerre, antes de emigrar para a Alemanha, onde morreria em 1803.





Fontes: Opera Mundi
wikipedia (imagens)

Maria Antonieta em 1783 - Élisabeth-Louise Vigée-Le Brun 
O Cardeal Louis de Rohan
A Condessa de La Motte
Reconstituição do colar
25
Jan17

QUANDO QUINZE ENERGÚMENOS ENVERGONHAM UM PAÍS

António Garrochinho


Quinze energúmenos com assento no Conselho de Opinião da RTP (ver nomes aqui: http://media.rtp.pt/institucional/orgaos-sociais/conselho-de-opiniao/) vetaram o nome de João Paulo Guerra para Provedor do Ouvinte da RTP.

Quinze trumpistas à portuguesa conspurcam um dos nomes mais prestigiados do jornalismo e radialismo cá da paróquia.

Quinze ratos de esgoto, sem apresentarem um único argumento válido e escondidos cobardemente atrás do voto secreto, destroem um serviço público e envergonham um país.

aditaeobalde.blogspot.pt
25
Jan17

Fotógrafo viaja até a Mongólia para registrar o cotidiano de tribo nômada

António Garrochinho


Você  já imaginou como é a vida na Mongólia? O fotógrafo  Hamid Sardar-Afkhami optou por documentar a vida dos pastores nômades que vivem ao norte do país, chamados de Dukha. Eles vivem cercados com seu rebanho de renas, o que resultou em fotos surpreendentes de um povo  exótico.

As renas fornecem leite e queijo, e também são  utilizadas para a caça. Segundo a apuração de Sardar-Afkhami, que é  Ph.D em sânscrito  e estudos tibetanos pela Harvard, os Dukhas têm  diminuído  consideravelmente em quantidade ao longo dos anos. Atualmente são 44 famílias, em torno de 200 e 400 pessoas. Já  as renas, são  600, sendo que em 1970 eram estimadas em torno de 2000.

Além  de clicar belos e impactantes retratos, o fotógrafo documenta este povo para preservar sua cultura. Parte disso está  compilado também  no filme feito por ele, “The Reindeer People” (algo como “As Pessoas-Renas”), que descreve, dentre outras coisas, as conexões  entre florestas e espíritos dos antepassados.

http://nomadesdigitais.com/

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25
Jan17

Megalodon - O Maior Predador de todos os tempos nadou nos mares pré-históricos

António Garrochinho



A vida (ou melhor a sobrevivência!) não devia ser nada fácil entre 20 e 16 milhões de anos atrás. Se em terra firme, já devia ser difícil se manter longe de sanguinários predadores sáuricos como o Tyranossaurus Rex ou Veloceraptor, o que dizer em alto mar.

Os oceanos eram habitados por enormes animais, em especial pelo que hoje é considerado o mais terrível e monstruoso dos predadores marinhos. O gigantesco animal foi um primo dos tubarões atuais, capaz de colocar no chinelo o Grande Tubarão Branco. Ele era uma máquina assassina, uma locomotiva com enormes dentes pontiagudos que recebeu o nome Carcharodon Megalodon (que significa literalmente "grandes dentes"). 

Esse animal foi um verdadeiro pesadelo que reinou absoluto nos mares pré-históricos. Ele comprova as célebres palavras "Se o Diabo quisesse um dia ser um animal, ele iria escolher ser um Tubarão". Felizmente essa criatura está extinta há quase 2 milhões de anos, mas mesmo hoje seu poder de fascinar e aterrorizar se mostra lendário.

Para falar do C. Megalodon, devemos começar falando dos seus dentes, pois são eles os fósseis mais numerosos e que permitiram tomar conhecimento da existência do animal em primeiro lugar. 

Os dentes são de longe o mais comum dos fósseis encontrados do megalodon. Com dentes medindo em média dezoito ?centímetros e com uma quantidade realmente assombrosa, não é estranho que eles sejam encontrados em vários lugares.? ?Não se sabe há quanto tempo pessoas ao redor do mundo encontram e colecionam dentes de megalodon,? mas apenas em ?1667? a ciência os reconheceu pelo que eles são.? Antes disso, as pessoas acreditavam que esses fósseis fossem dentes de dragão, ou a língua deles transformada em pedra no momento em que eles morriam. A verdade veio a ser conhecida graças ao naturalista dinamarquês Nicolas Steno que relacionou supostos dentes de dragão, com os de outro animal igualmente temido, os grandes tubarões brancos.  

Uma das razões para os dentes do megalodon não terem sido identificados desde o início como pertencentes a enormes peixes, se explica pelo fato da maioria deles terem sido (e ainda serem) encontrados em lugares que não condizem com o típico habitat de tubarões. De fato, que não tem a ver com o de qualquer animal marinho. A maioria dos dentes foi achada em desertos ou cânions bem longe do mar. 

Mas é preciso lembrar que os megalodon viveram há milhões de anos e que desde então, a Terra passou por significativas mudanças geográficas com deslocamento de massas continentais e mares. No passado, onde haviam oceanos profundos em que nadavam os imensos megalodon, hoje existem desertos com relevo recortado, repletos de cânions e ravinas que milênios atrás eram o fundo do mar. Lugares como Shark Tooth Hill na Califórnia, que recebeu o nome dos nativos americanos muito antes dos homens brancos chegarem. Os índios usavam as presas aguçadas dos megalodon como facas e pontas de lança. Isso ajudou a preservar vários fósseis. De fato, da Flórida até a Califórnia, fósseis de megalodon já foram encontrados. Isso sem mencionar artefatos semelhantes desenterrados na Europa Ocidental, no Sudeste Asiático, na América Central, Caribe e na Ásia.

O fóssil de dente de Megalodon ao lado dos dentes de um Tubarão Branco.
Os dentes do Megalodon são normalmente comparados com os do grande tubarão branco, em virtude de sua similaridade, possuindo forma triangular e cerdas serrilhadas. Em virtude dessa familiaridade, particularmente por ambos possuírem as serras usadas para dilacerar, acredita-se que os hábitos alimentares dos dois animais eram bastante semelhantes evolutivamente. Ambos eram carnívoros de grande porte, com a diferença que o megalodon era uma espécie de parente primitivo do tubarão atual. 

Naturalistas conseguiram em alguns casos recuperar todos os dentes de um espécime, mais a mandíbula e as vértebras. Infelizmente, assim como os tubarões atuais, os megalodons são peixes cujo corpo é formado quase que inteiramente por cartilagens moles e flexíveis. O material que constitui a cartilagem se decompõe muito rápido, pode-se dizer que no momento em que um animal com essa estrutura morre, seu corpo começa a se desfazer quase que imediatamente. No caso do megalodon isso é verdade, tudo o que restou desses magníficos monstros foram alguns poucos restos fossilizados ou calcificados, que ao menos permitem fazer uma suposição de como eles eram. Para todos os efeitos, os megalodon se pareciam muito com os atuais tubarões brancos, guardadas as devidas proporções. 

A partir do momento em que se correlacionou os dentes do megalodon com os dos tubarões atuais, a maioria das pessoas começou a se perguntar "de que tamanho eram esses tubarões pré-históricos"? A resposta mais honesta é que não se sabe realmente, uma vez que a ausência de uma estrutura óssea dificulta a medição do animal. Mas com base no que se obteve, paleontólogos e ictiologistas conseguiram realizar uma medição aproximada trabalhando com os dentes e vértebras encontradas.  

A maior estimativa de tamanho para o Megalodon (preto), a menor estimativa média do Megalodon (cinza), o tamanho máximo de um Tubarão Branco (cinza claro) e a comparação com um homem adulto (no alto)
Um dos métodos para se determinar o tamanho do megalodon é relacionar suas dimensões com a profundidade do esmalte restante nos fósseis. Outro método envolve estimar o tamanho da raiz dos dentes do megalodon e o raio de sua mandíbula, método utilizado algumas vezes para determinar o tamanho de tubarões atuais. Esse método conclui que cada centímetro de raiz de dente equivale a cerca de 129 centímetros de comprimento corporal. Usando essa engenharia regressiva estimou-se que esses animais poderiam medir entre 15-16 metros do focinho até o final da barbatana. É possível entretanto estimar realisticamente que alguns espécimens poderiam chegar a 17-18 metros. Há um dente recolhido no Panamá, no entanto, medido através desse critério que pode ter pertencido a um animal que atingiu 20 metros de comprimento, o que tornaria o maior tubarão branco já encontrado, um anão próximo dele. Para s eter uma ideia, esse tubarão seria do tamanho de um ônibus.

Com base nesses tamanhos e usando o tubarão branco como referencial direto de equivalência, é possível determinar também o peso dos megalodon. Um espécime de 15 metros pesaria algo em torno de 22 toneladas. Já um animal de 18 metros pesaria quase 35 toneladas, enquanto um megalodon realmente grande de 20 metros poderia chegar facilmente a incríveis 50 toneladas, mais do que uma baleia jubarte. O peso do megalodon como se pode ver não progride de forma exponencial, um exemplar com 15 metros menos poderia pesar bem menos que a metade de um animal com 20 metros de comprimento. Isso ocorre porque os tubarões não concentram seu peso no comprimento, proporcionalmente animais maiores tem um diâmetro avantajado e consequentemente mais massa muscular responsável por torná-los mais pesados.

Mais uma comparação de tamanho, o Megalodon teria quase duas vezes o tamanho de uma Orca.
Também é interessante compreender que um animal em geral só atinge um determinado tamanho se o seu habitat for capaz de fornecer suas necessidades de alimentação, um fato da natureza baseado na lógica de que um corpo grande necessita de mais comida para transformar em energia.  Não é exagero afirmar que o megalodon passava praticamente a sua vida inteira em uma busca constante por comida. 

Tubarões são geralmente considerados predadores oportunistas. O megalodon, no entanto pode ser categorizado como "um dos mais formidáveis carnívoros que já existiram." Seu enorme tamanho, combinado com a alta velocidade que ele era capaz de atingir, e a poderosa mandíbula faziam dele uma extremamente eficaz máquina de matar, com um vasto espectro de presas à sua disposição. Entre as presas habituais estavam os cetáceo de menor porte, como golfinhos e baleias pequenas, cetáceos de grande porte, baleias brancas e azuis, arraias, tartarugas gigantes e até mesmo aves marinhas. Eles também atacavam os antepassados de mamíferos aquáticos como morsas e leões marinhos. Em essência, o megalodon se alimentava de qualquer animal que ele encontrasse, ocupando o topo da cadeia alimentar. A ação de mais de um megalodon em uma área podia causar um profundo impacto na estrutura das comunidades marinhas. Muitos biólogos supõem que por essa razão, os megalodon costumavam se manter em movimento, raramente eliminando todas as presas em uma área a fim de poder retornar a ela após um longo ciclo. É provável que eles também seguissem o padrão de movimento de suas presas, sobretudo baleias.

Movimento ascendente de ataque
Quando comparado ao tubarão branco, o megalodon também se mostra um caçador mais eficaz. Além de empregar uma enorme velocidade para alcançar as suas presas, este animal visava a área das nadadeiras para limitar o movimento ou imobilizar totalmente seu alvo. A significativa quantidade de fósseis de baleia do Plioceno com ferimentos perceptíveis nas nadadeiras evidenciam a especificação do megalodon em atacar a presa de modo mais eficaz. Uma mordida provocava um dano massivo que impedia qualquer chance de fuga da presa. Mesmo animais maiores e mais pesados, como o antepassado da Baleia Azul (com 25 toneladas a mais) eram incapazes de resistir a esse ataque letal. 

Uma das estratégias preferidas do megalodon era realizar um ataque ascendente, no qual ele se aproximava velozmente vindo de alta profundidade nadando quase em posição vertical. Um ataque bem sucedido dessa natureza era tão potente que podia quebrar a espinha de uma pequena baleia e matá-la com uma única investida.

Mandíbula de Megalodon montada em 19
Outra adaptação surpreendente dos tubarões que fazem deles predadores tão eficazes é o fato deles substituírem frequentemente seus dentes. Ao longo de um período de vida de 25 anos, um tubarão grande pode produzir até 20 mil dentes, um estoque que praticamente anula qualquer possibilidade de que seus dentes se gastem. Em uma mandíbula com três metros de largura e dois metros de comprimento, um magalodon tinha um estoque permanente de mais de 100 dentes.

A mordida do megalodon é semelhante a dos tubarões atuais. Ao atacar uma presa, o animal cravava os dentes o mais fundo possível com uma pressão que podia alcançar 41 mil libras (apenas para comparação, a pressão máxima exercida pela mordida de um Tubarão Branco atinge 4 mil libras). Uma vez tendo agarrado a presa, o megalodon movia a cabeça vigorosamente de um lado para o outro fazendo com que seus dentes serrilhados rasgassem e dilacerassem a carne da presa que se soltava em grandes pedaços. A mandíbula do tubarão possui a peculiaridade de se mover independentemente do crânio, ela se expande e rescinde de rasgar de maneira mais oficiente e empurrar os pedaços cortados para sua garganta. Mesmo que sua presa consiga escapar, o tubarão se alimenta dela no primeiro momento em que morde.

Apesar de seu longo reinado, o Megalodon desapareceu durante o Pleistoceno há cerca de 1,8 milhões de anos atrás. Por volta dessa época, os megalodons se tornaram mais raros e poucos dentes pertencem a esse período. Cientistas ainda tentam responder a questão de como um predador tão eficiente quanto o megalodon simplesmente deixou de existir. Há diferentes teorias que tentam explicar a razão para ele ter desaparecido dos mares.

A primeira teoria leva em consideração a possibilidade do surgimento de algum predador mais eficiente, capaz de subjugar o megalodon. Em um primeiro momento parece pouco provável que algum animal pudesse tomar o lugar de um monstro dos mares, contudo, a desvantagem do megalodon poderia estar em seu pequeno desenvolvimento cerebral. Embora fosse uma máquina assassina, o megalodon se guiava unicamente pelo instinto de se alimentar. Outros animais, como o delphinid (uma espécie de baleia predadora) surgiram durante esse período e podem ter se tornado um competidor à altura. Mais do que competir por comida, esses animais podiam caçar o megalodon. Mesmo sendo menores, os delphinids eram consideravelmente mais inteligentes e podiam caçar em bando: três sou quatro deles podiam vencer um tubarão em uma luta franca.

Mas apesar de ser plausível, os cientistas acreditam que a extinção esteja ligada a um resfriamento da temperatura dos mares, ocorrida nesse mesmo período. O megalodon, embora fosse magnífico de um ponto de vista biológico, não era capaz de se adaptar a mudanças drásticas de temperatura. Há evidências sugerindo que ao longo do Pleistoceno esses tubarões gigantes se dirigiram cada vez mais para o hemisfério norte em busca de águas mais quentes num período marcado por duas Eras do Gelo. Com o tempo, essas condições adversas podem ter liquidado o megalodon. Um dos elementos chave da sobrevivência das espécies é a capacidade de se adaptar, algo que o megalodon não queles capazes de se adaptar desenvolveram uma resistência a mudança de temperatura, uma vantagem que o Tubarão Branco possui até os dias atuais.

Finalmente, existe uma terceira hipótese viável. Sendo tão grande, o megalodon necessitava de uma assombrosa quantidade de comida. Sabe-se que no período em que ele desapareceu, muitas espécies de baleias foram afetadas pelas mudanças climáticas. É possível que essa privação de alimento tenha causado um enorme impacto na cadeia alimentar e dificultado sua obtenção de presas. Com cada vez menos alimento disponível, muitos megalodons podem ter se voltado para o canibalismo. Estima-se que um animal desse porte tivesse de comer algo em torno de 6 a 10 toneladas de carne por dia. Sem a sua fonte principal de alimento, os megalodon começaram a devorar seus semelhantes ou mesmo seus filhotes em uma busca desenfreada pela sobrevivência o que reduziu seu número. 

Para sobreviver, eles tiveram de diminuir de tamanho e adaptar a nova realidade. Os últimos espécimens conhecidos tinham dentes menores em relação aos seus antepassados e consequentemente dimensões corporais menores. É possível que dentro de gerações os megalodon tenham progressivamente diminuído seu tamanho para sobreviver e dado origem ao seu descendente, o tubarão branco.

Desde a sua descoberta, o megalodon se converteu em um fascinante objeto de curiosidade. Os primeiros cientistas e biólogos marinhos que se debruçaram sobre as evidências encontradas (leia-se "dentes") construíram fantásticos moldes para a mandíbula do animal e apresentaram conclusões equivocadas, algumas afirmando que o megalodon poderia atingir até 30 metros de comprimento e pesar mais de 100 toneladas. Houve certo grau de exagero, mas os cientistas atualmente agem de forma mais comedida antes de apresentar suas teorias. 

Muitas pessoas se perguntam se não poderia haver um megalodon ainda perdido no mundo, algum espécime que tivesse por acaso escapado da foice letal que é a estagnação evolutiva. A possibilidade é quase nula para a maioria dos pesquisadores, mas essas conclusões não impedem o surgimento de rumores, boatos e até filmagens que mostram o que seriam megalodon nadando em mares revoltos.

Se esse fosse o caso, os mares seriam o lugar menos seguro na Terra.

mundotentacular.blogspot.pt
25
Jan17

O sistema político em Cuba: uma democracia autêntica

António Garrochinho




Cuba constitui um sistema de poder popular único, autóctone, que não é cópia de nenhum outro
O governo do povo, pelo povo e para o povo”

(Abraham Lincoln)
Por Anita Leocadia Prestes



















Ao estudar o sistema político vigente em Cuba, é necessário lembrar que seus antecedentes remontam ao ano de 1869, quando o povo da pequena ilha caribenha lutava de armas na mão pela independência do jugo colonial espanhol. Seus representantes se reuniram na parte do território já liberado e constituíram a Assembléia Legislativa, que aprovou a primeira Constituição da República de Cuba em armas. Era assim estabelecida a igualdade de todos os cidadãos perante a lei e abolida a escravidão até então existente. Essa primeira Assembléia Constituinte elegeu o Parlamento cubano daquela época e também, de forma democrática, seu Presidente, assim como o Presidente da República de Cuba em armas, designando ainda o Chefe do Exército que levaria adiante a luta pela independência.

Cuba socialista reconheceu a importância de tal herança e, inspirada também nos ensinamentos do grande pensador e líder revolucionário José Marti, chegou a criar um sistema político que constitui um Sistema de Poder Popular único, autóctone, que não é cópia de nenhum outro. Em Cuba não existem os chamados três poderes (executivo, legislativo e judiciário), característicos do sistema político burguês. Há um só poder – o poder popular. Como o povo exerce o poder? Segundo a Constituição, o povo o exerce quando aprova a Constituição e elege seus representantes e, em outros momentos, mediante as Assembléias do Poder Popular e outros órgãos que são eleitos por estas Assembléias, como é o caso do Conselho de Estado, órgão da Assembléia Nacional. Portanto, o poder popular é único e exercido através das Assembléias do Poder Popular.

Outro elemento importante do sistema político cubano é a existência, de acordo com a Constituição, de um único partido – o Partido Comunista. Não se trata de um partido eleitoral, e por isso não participa do processo eleitoral, designando ou propondo candidatos ou realizando campanha a favor de determinados candidatos. Seguindo o caminho apontado por José Marti, fundador do Partido Revolucionário Cubano - partido único como única via para conquistar a unidade de todo o povo na luta pela independência e a soberania do país, e também na luta por justiça social -, o Partido Comunista de Cuba se diferencia do conceito clássico de partidos políticos; além de não ser um partido eleitoral, é o partido dirigente da sociedade, cujas funções e cujo papel são reconhecidos pela imensa maioria do povo. A definição do seu papel está inscrita na Constituição, aprovada em referendo público, mediante voto livre, direto e secreto de 97,7% da população.

É importante ressaltar que o PC é constituído pelos cidadãos mais avançados do país, o que se garante mediante um processo de consulta das massas. São os trabalhadores que não pertencem ao PC que propõem, em assembléias, as pessoas que devem ser aceitas em suas fileiras. Depois que o Partido toma decisão sobre as propostas dos trabalhadores, se reúne novamente com eles para informá-los. Quando toma decisões em seus congressos, o PC as discutiu antes com a população. O Partido não dá ordens à Assembléia Nacional do Poder Popular nem ao Governo. O PC, após consultar o povo, sugere e propõe aos órgãos do Poder Popular e ao Governo as questões que somente a essas instituições cabe o papel de decisão.

O Parlamento cubano se apóia em cinco pilares de uma democracia genuína e verdadeira, a saber:

  • O povo propõe e nomeia livre e democraticamente os seus candidatos.
  • Os candidatos são eleitos mediante voto direto, secreto e majoritário dos eleitores.
  • O mandato dos eleitos pode ser revogado pelo povo a qualquer momento.
  • O povo controla sistematicamente os eleitos.
  • O povo participa com eles da tomada das decisões mais importantes.

O sistema do Poder Popular em Cuba é constituído pela Assembléia Nacional, as Assembléias Provinciais, as Assembléias Municipais, o Conselho Popular e a Circunscrição Eleitoral, que é o degrau básico de todo o sistema. Nenhum desses órgãos está subordinado a outro, mas todos funcionam de forma que suas funções e atividades sejam complementares, tendo em vista alcançar o objetivo de que o povo possa exercer o governo de maneira prática e efetiva.

O sistema do Poder Popular se apresenta atualmente em Cuba da seguinte maneira: no nível nacional, a Assembléia Nacional do Poder Popular; em cada uma das 14 províncias, as Assembléias Provinciais do Poder Popular e nos 169 municípios, as Assembléias Municipais; no nível de comunidade, os Conselhos Populares (1540); cada Conselho agrupa várias circunscrições eleitorais e é integrado pelos seus delegados, dirigentes de organizações de massas e representantes de entidades administrativas. No nível de base, ainda que sem formar parte de maneira orgânica da estrutura do sistema do Poder Popular, nem do Estado, tem-se a circunscrição eleitoral. A circunscrição eleitoral e o seu delegado são a peça-chave, a peça fundamental do sistema. A circunscrição se organiza para efeito das eleições, mas o delegado continua funcionando na área por ela abarcada e, por isso, a mesma continua sendo sempre denominada de circunscrição.

Participam das eleições todos os cidadãos cubanos a partir dos 16 anos de idade, que estejam em pleno gozo dos seus direitos políticos e não se incluam nas exceções previstas na Constituição e nas leis do país. Os membros das Forças Armadas têm direito a voto, a eleger e a ser eleitos. A Constituição estabelece que cada eleitor tem direito a um só voto. O voto é livre, igual e secreto. É um direito constitucional e um dever cívico, que se exerce de maneira voluntária, e quem não o fizer não pode ser punido.

Diferentemente dos sistemas eleitorais das democracias representativas burguesas, em que os candidatos aos cargos eletivos são escolhidos e apresentados pelos partidos políticos, em Cuba o direito de escolher e apresentar os candidatos a Delegados às Assembléias Municipais do Poder Popular é exclusivamente dos eleitores. Esse direito é exercido nas assembléias gerais dos eleitores das áreas de uma circunscrição eleitoral da qual eles sejam eleitores. A circunscrição eleitoral é uma divisão territorial do Município e constitui a célula fundamental do Sistema do Poder Popular. O número de circunscrições eleitorais em cada Município é determinado a partir do número de seus habitantes de maneira que o número de delegados das circunscrições à Assembléia Municipal nunca seja inferior a trinta.

O registro eleitoral em Cuba é automático, público e gratuito; todo cidadão, ao atingir os 16 anos de idade e estando em pleno gozo dos seus direitos políticos, é registrado como eleitor. Segundo a lei, no país são realizados dois tipos de eleições: 1) eleições gerais, em que são eleitos, a cada cinco anos, os Deputados à Assembléia Nacional e demais instâncias de âmbito nacional, incluindo o Conselho de Estado, assim como os Delegados às Assembléias Provinciais e Municipais e seus Presidentes e Vice-presidentes; 2) eleições parciais, a cada dois anos e meio, em que são eleitos os Delegados às Assembléias Municipais e seus Presidentes e Vice-presidentes. Deve-se assinalar que tanto os Deputados à Assembléia Nacional quanto os Delegados às Assembléias Provinciais e Municipais são eleitos diretamente pela população.

As eleições são convocadas pelo Conselho de Estado, órgão da Assembléia Nacional que a representa entre os períodos de suas sessões, executa suas decisões e cumpre as funções que a Constituição lhe atribui. Para organizar e dirigir os processos eleitorais, são designadas Comissões Eleitorais Nacional, Provinciais, Municipais, de Distritos, de Circunscrição e, em casos necessários, Especiais. A Comissão Eleitoral Nacional é designada pelo Conselho de Estado, as Comissões Provinciais e Especiais são designadas pela Comissão Eleitoral Nacional, as Comissões Eleitorais Municipais pelas Comissões Eleitorais Provinciais e assim por diante. Todos os gastos com as eleições são assumidos pelo Orçamento do Estado; portanto os candidatos nada gastam durante todo o processo eleitoral.

Para elaborar e apresentar os projetos de candidaturas de Delegados às Assembléias Provinciais e de Deputados à Assembléia Nacional e para preencher os cargos que são eleitos por elas e as Assembléias Municipais, são criadas as Comissões de Candidaturas Nacional, Provinciais e Municipais integradas por representantes das organizações de massas e de estudantes e presididas por um representante da Central de Trabalhadores de Cuba, assegurando desta maneira a direção dos trabalhadores em todo o processo eleitoral.A propaganda eleitoral é feita exclusivamente pelas Comissões Eleitorais, garantidas a todos os candidatos condições de igualdade; nenhum candidato pode fazer campanha para si próprio.

Para ser proposto como candidato a Deputado à Assembléia Nacional, é necessário ter sido apresentado como pré-candidato por uma das organizações de massas do país, que a Comissão Nacional de Candidaturas submeta essa proposta à consideração da Assembléia do Poder Popular do município correspondente, e que esta, pelo voto de mais da metade dos Delegados presentes, aprove a sua designação como candidato por esse território. Será considerado eleito Deputado à Assembléia Nacional o candidato que, tendo sido apresentado pela respectiva Assembléia Municipal, tenha obtido mais da metade dos votos válidos emitidos no Município ou Distrito Eleitoral, segundo o caso de que se trate. As eleições para os demais níveis do Poder Popular seguirão a mesma sistemática.

Em Cuba, os Deputados à Assembléia Nacional e os Delegados às demais Assembléias não recebem nenhum tipo de remuneração pelo exercício do mandato popular; continuam exercendo suas profissões em seus locais de trabalho e recebendo o salário correspondente. A Assembléia Nacional se reúne duas vezes ao ano, as Provinciais Municipais com maior frequência. Os Deputados e Delegados exercem seus mandatos junto aos seus eleitores, prestando-lhes contas periodicamente e podendo, de acordo com a Lei, serem por eles removidos a qualquer momento, desde que, em sua maioria, considerem que seus representantes não estão correspondendo aos compromissos assumidos perante o povo.

Sem espaço para um exame mais detalhado do Sistema Político de Cuba, é esclarecedor, entretanto, abordar o processo de eleição do Presidente do país, que é o Presidente do Conselho de Estado e do Conselho de Ministros. Para ser eleito Presidente, é necessário ser Deputado e, por isso, deve ter sido eleito por voto direto e secreto da população, da mesma forma que todos os 609 Deputados da Assembléia Nacional. No caso específico, por exemplo, do Presidente Fidel Castro, ele foi designado candidato pela Assembléia Municipal de Santiago de Cuba e eleito pelos eleitores de uma circunscrição do município e, além disso, eleito pela maioria, pois a Lei eleitoral estabelece que nenhum Deputado pode ser eleito sem obter mais de 50% dos votos válidos. Posteriormente, sua candidatura a Presidente do Conselho de Estado foi votada pelos Deputados, devendo alcançar mais de 50% dos votos para ser considerado eleito.

A abordagem realizada do Sistema Político de Cuba, ainda que sucinta, evidencia seu caráter popular e democrático, que é, entretanto, permanentemente distorcido e falsificado pela mídia a serviço dos interesses do grande capital internacionalizado.


Anita Leocadia Prestes é professora do Programa de Pós-graduação em História Comparada da UFRJ e presidente do Instituto Luiz Carlos Prestes.


FONTE:  Brasil de Fato
mundodosocialismo.blogspot.pt
25
Jan17

OS MEUS AMIGOS ESTÃO NA RUA CONTRA TRUMP ENQUANTO EU NÃO, uma crónica de JÚLIO MARQUES MOTA

António Garrochinho


júlio marques mota

Os meus amigos, conhecidos ou desconhecidos estão nas ruas. Eu não. Eles estão na rua em Coimbra, no Porto, em Lisboa a protestar contra Trump, estão em Londres, em Paris, em muitas cidades dos Estados Unidos. Mas não defendo nem de longe nem de perto Trump e a sua equipa, um verdadeiro clã de dissidentes das diversas linhas de direita mas que continuam a ser de direita e dissidentes da Democracia real.

Da equipa de Trump saliente-se:

a) Para as questões económicas.

– Com o advento do capitalismo financeiro no início do mandato de Reagan, todos os sucessivos governos têm utilizado figuras de Wall Street. Obama não foi exceção ao nomear Hank Paulson para salvar o sistema durante a crise dita de subprime. Sob os comentários sarcásticos dos ignorantes comentadores franceses, Donald Trump deu a impressão de continuar esta tradição tendo a seu lado gente de ex-Goldman Sachs como Gary Cohn, Steven Mnuchin, ou Steve Bannon. Exceto que, Goldman Sachs, ao contrário do que se poderia pensar, não representa o arquétipo da elite financeira norte-americana. Esta é encarnada pelos bancos tradicionais de depósito (Merrill Lynch, Morgan Stanley, Bank of America) e não pelos bancos de investimento e de financiamento como é o caso de Goldman Sachs . Este grupo de intelectuais (como todos eles são) quer promover um capitalismo ultraliberal a nível nacional, um mercado de trabalho não regulamentado, o abandono de Obamacare, o cancelamento do Dodd Frank Act, que previa a regulação do sistema financeiro.

b) Para as questões de segurança e militares

James Mattis, secretário-geral da Defesa, apelidado de “cachorro louco” ou o “monge soldado” por causa de seu rigor moral, do seu celibato sacerdotal e do desrespeito para o Pentágono e pela sua burocracia. Michael Flynn, forçado a demitir-se do exército por causa de críticas levantadas contra os seus superiores, em que afirmara que Hillary Clinton deveria estar na cadeia e cuja principal preocupação é a guerra contra o Islão. John Kelly que se recusa a fechar Guantánamo; Mike Pompeo, o nível diretor da CIA, que apoia a coleta em massa dos dados de comunicação dos cidadãos; para não mencionar o retorno de David Petraeus, ex-chefe da CIA (em total desacordo com a estratégia de Obama) cuja carreira foi abruptamente interrompido devido a um escândalo de natureza sexual.

O denominador comum destes militares é assumidamente o ódio ao Islão. Eles não são intervencionistas e é provável que a sua vontade de dominação se dispensará de intervenções militares diretas, gato escaldado de água fria tem medo. Isto sugere  o uso de meios de dissuasão pela intimidação, pela arrogância com conotações nucleares. Como Donald Trump fez durante a sua campanha.

Daqui nada haverá a esperar de muito bom, exceto duas coisas de imediato, a desglobalização e a alteração da política energética dos Estados, podendo haver mesmo uma terceira, sobre a qual não nos debruçamos agora por ser um tema a merecer uma série de artigos, e que é o programa Obamacare. Dito de outra forma,  temos muitas dúvidas sobre o que é que ele representa de facto.

Quanto às duas coisas que podem ser positivas com Trump – sublinhando-se que poder ser é diferente de ser – são a negação da atual globalização e a política energética que poderá levar à subida do petróleo. Ainda aqui, consideramos necessário e urgente que se desencadeie um processo de desglobalização das economias, a sua desmundialização, mas também não acreditamos que a equipa de Trump escolha a melhor forma. Mas há uma vantagem nisto: obrigar-nos a pensar seriamente sobre o assunto e a batermo-nos depois por propostas sérias que serão seguramente o oposto do status quo e o oposto também das  políticas defendidas por Trump, igualmente. O mesmo poderíamos dizer também quanto ao Obamacare. Se assim for  e quando assim for, esperemos então que as ruas das grandes cidades americanas e europeias se enchem, com as pessoas a baterem-se por algo de verdadeiramente concreto, de verdadeiramente democrático

Podemos admitir que o programa Obamacare possa não ser bom, não o sabemos com exatidão, podemos admitir que este precise de uma profunda reformulação a favor dos mais desfavorecidos, o que é muito provável, mas uma outra coisa é certa, temos a certeza de que a via escolhida por Trump não será obrigatoriamente a melhor, mas se as nossas dúvidas se confirmam quanto à fraca qualidade do Obamacare, na sequência das múltiplas concessões feitas ao poder de K-Street em que Obama foi useiro e vezeiro, então colocar o programa Obamacare em questão pode ser uma atitude positiva.

Estamos certos de que o que passo a escrever relativamente à desglobalização possa ser considerado altamente discutível mas não o escrevo por ironia.

Prepara-se uma linha agressiva contra a globalização. As reações que temos vindo a ouvir mostram-nos que não estamos preparados para a discutir. Anda-se desde há anos a falar contra a globalização e de repente vem Trump com um programa de direita falar do assunto e a defender a indústria nacional contra as deslocalizações da mesma para as regiões consideradas offshore’s. Dito de outra forma, Trump estará a defender um certo protecionismo. Face a esta mudança eis-nos que passámos todos a defender a livre-troca e no caso da globalização atual, isso significa que passamos a defender o neoliberalismo. Dito de uma outra forma, eis a esquerda a cair no extremo oposto, a defender a linha seguida por Clinton, por Obama e que seria continuada por Hilary Clinton: a política neoliberal pura e dura, amaciada com uma retórica social-democrata bem eloquente de Obama, a esquerda então a defender a política que nos trouxe para a situação atual.

Não nos podemos esquecer da situação em que Obama deixou o país, Um dos artigos que iremos publicar lembra-o bem:

A. Hillary Clinton rejeitou mesmo completamente a orientação da pretensa classe política, em favor de uma discreta segmentação demográfica dos eleitores, enviando mensagens codificadas através da cor e do corte dos seus fatos tanto às mulheres dos subúrbios de Filadélfia como aos corretores de seguros em Tallahassee. É a política da identidade, onde as condições de trabalho de cada um de nós são menos importantes do que onde cada um compra e o que é que compra. Não há aqui nenhuma mensagem unificadora na sua campanha. Em vez disso, existem milhares de mensagens, cada uma individualmente feita e com objetivos semelhantes aos procurados pelos anúncios no Google e na Amazon. É a política pelo algoritmo.

Entretanto, os eleitores de colarinho azul do Trump são acusados pelas elites liberais de neonazis ou de funcionarem como autómatos da Ku Klux Klan (KKK). Nas últimas semanas, MSDNC dedicou muita atenção à tentativa imbecil de David Duke andar agarrado à lapela do casaco de Trump. Duke aparece com menos de 5% entre os republicanos na sua vangloriada corrida para o Senado em Louisiana. E quanto aos eleitores de Trump, que rejeitam a base racista de Duke? Como é que os democratas explicam isso? Estes nem sequer o tentam fazer. A classe baixa americana, sejam pretos ou brancos, os marginalizados pela globalização e por um governo que trabalha somente para enriquecer ainda mais os mais ricos, são vistos pelo líder dos Democratas como uma coleção de “deplorables” e “super predadores”

Os democratas entregaram-se totalmente à lógica do neoliberalismo e as vítimas empobrecidas e pulverizadas das suas políticas devem ser responsabilizadas pela sua própria condição lamentável. Os pobres serão penalizados por serem pobres. Onde estão os dividendos de longo prazo nesta cínica marca da política?

(…)

A direção do Partido democrata (Democratic National Committee – sigla DNC) viciou as suas primárias para garantir a nomeação do único candidato que poderia perder face a Trump. Não será então de espantar que o mesmo banco de cérebros no alto das emanações da sua própria arrogância, perdesse todos estes lugares no Senado, também?

O DNC passou mais tempo a conspirar para derrotar Bernie Sanders, do que o fizeram os republicanos. A direção do Partido democrata parece não ter aprendido nada com a campanha de Sanders, nem sequer a partir das questões que se ouviam a partir dos seus apoiantes: um sistema corrupto alimentado pelo dinheiro das multinacionais e da indústria do armamento, onde os trabalhadores são humilhados e ridicularizados, em que a juventude americana está a ficar sobrecarregada em termos de endividamento e sem nenhuma oportunidade de melhoria da situação, e em que os negros e os hispânicos são tratados politicamente como escravos, como cativos de um partido que exige a sua lealdade ainda que não faça nada por eles. A equipa de Clinton venceu Bernie Sanders, pagam-lhe para sair da corrida e, em seguida, marchou arrogantemente em direção à desgraça que construíram como destino.

B. Clinton mostrou-se ela própria com uma singular falta de coragem a caminho já do fim da sua campanha. Ela não podia mesmo falar contra a brutalização das pessoas tribais em North Dakota, a defenderem os seus cursos de água e os seus cemitérios contra os mercenários de Big Oil. Como é que alguém pode olhar para o seu silêncio em face das permanentes atrocidades ai cometidas e ainda acreditar que ela alguma vez se levantaria a favor deles?

(…)

Nos anos 60 e 70, a legislação dos direitos civis levou os brancos do sul para o campo republicano. Agora 40 anos de políticas económicas neoliberais levaram os eleitores da classe trabalhadora a abandonar o Partido Democrata em massa. Basta olhar para as sondagens à boca das urnas: as famílias de sindicalistas votaram: 47% Clinton; 45% Trump.

Isto aparece como um choque tanto para os líderes do Partido Democrata como para os do Partido Republicano que ficam pois a saber que há uma guerra de classes em curso na América. É muito mau para as pessoas da classe trabalhadora que seja Donald Trump a conduzi-la.

Em suma, quem colocou Trump no poder foi exatamente a direção do Partido democrata (Democratic National Committee – sigla DNC) que optou pela candidata que menos possibilidades tinha de ganhar. E foi ela que dispôs de todos os meios para ganhar. Que agora se façam manifestações contra os resultados eleitorais é estranho, e estranho é também que estas manifestações tenham por base fundamentalmente os movimentos feministas. Sabemos todos nós que a campanha de Clinton foi posicionada nos votos das mulheres e é ai que se dá o grande falhanço de perspetiva. Na Flórida, estado decisivo por definição, Clinton obteve apenas 51% dos votos das mulheres. A história da cassete guardada durante dez anos (por quem e com que fim?, isso lamentavelmente não interessa a ninguém questionar) e martelada ao infinito parece ter resultado menos nas eleições do que agora para as manifestações contra Trump, basicamente de mulheres segundo a imprensa.

Mas uma coisa me parece estranha. De repente centenas de milhares de pessoas na rua, sobretudo mulheres. Não estiveram antes, quando o Estado Providência americano foi massacrado durante a Administração Obama, ou quando este último prosseguiu uma politica externa extremamente agressiva, tanto ou mesmo mais do que o guerreiro George W. Bush? Neste período, a esquerda praticamente não existiu nas ruas. Estamos longe dos tempos da guerra do Vietname. Como se assinala num dos textos que iremos publicar sobre o período da Administração Obama:

O capitalismo das grandes empresas privadas simplesmente não estava adicionalmente a produzir mais bens. Não para os 80 por cento de menores rendimentos, de toda a maneira. A economia estava a ficar em ruínas, atolada no que parecia ser um estado recessivo permanente. O setor transformador tinha sido morto de dentro para fora, com milhões de empregos bem remunerados a serem terceirizados e a não haver mais nada para substituir esses empregos e essas produções senão tristes empregos no setor de serviços. O desemprego crônico de longo prazo oscila em mais de 10 por cento, pior, muito pior, para os negros americanos. Aqueles que se agarraram aos seus postos de trabalho viram os seus salários estagnados, os valores das suas habitações a descerem e as pessoas a ficarem sufocadas sob montes de dívida. Enquanto isso, o capital movia-se em círculos cada vez mais pequenos entre uma odiosa geração de novos ricos, de super-ricos, ganhando sem nenhum suor milhares de milhões a partir da movimentação fácil dos capitais.

Por volta de 2008, a melancolia parecia ter-se evaporado do espírito americano. O país viu o seu próprio governo repetidamente pregar o medo do futuro aos seus cidadãos. A paranoia tinha-se tornado a última indústria em crescimento. A partir das High Sierras para a Blue Ridge, a paisagem política tornou-se azeda e rancorosa, a preparação adequada do terreno político para que a semente do Tea Party germinasse e crescesse, assim como a plataforma ranker ou ainda movimentos mais venenosas da direita norte-americana. Estes não eram os descendentes ideológicos do arrebatado libertário que foi Barry Goldwater. Os adeptos do Tea Party perderam a inocência ocidental e o idealismo ingénuo de Goldwater. Estes populistas suburbanos, de um modo geral, são brancos, infelizes e envelhecidos. Animados por uma penosa nostalgia por uma terra da fantasia pré-lapsariana defendida pela Administração Reagan, muitos sentiram a sua posição na sociedade a descer de uma forma impossível de ser evitada. Eles queriam: o seu país de volta. De volta, mas de onde?

Em vez de responsabilizarem as grandes empresas multinacionais pelas enormes e violentas deslocalizações ou os banqueiros predadores, eles dirigiram o seu desejo de se vingarem para os imigrantes e negros, para os funcionários públicos e professores, para os cientistas e para os homossexuais. Há algo de profundamente patético sobre o fatalismo político desta nova espécie de know-Nothings . Mas, deve-se dizer, a sua ira é basicamente pura. Esta estranha associação de descontentamento fervilhava com um sentido rudimentar de alienação, de um desespero ácido com a diminuição das potencialidades de vida na América pós-industrial.

(…)

Evidentemente, as mais dolorosas feridas políticas de Obama foram autoinfligidas, e começaram mesmo antes da sua eleição, quando veio a correr para Washington e para ajudar a salvar o plano de resgate de Bush para Wall Street. Esta foi talvez a primeira indicação real de que os luminosos discursos de campanha sobre a mudança sistémica e geracional mascararam a mentalidade servil de um homem que ansiava desesperadamente por ser abraçado pelas elites políticas e financeiras da nação. Em vez de se encontrar com as vítimas dos predadores de Wall Street ou com os seus advogados, como Elizabeth Warren e Ralph Nader, Obama preferiu ir apertar a mão aos cérebros de Goldman Sachs e tagarelar com o creme de la creme dos lobistas ao serviço das multinacionais da K Street. Por fim, Obama ajudou a salvar algumas das empresas mais venais e corruptas em Wall Street, aceitando proteger os seus executivos de topo por acusação de crimes financeiros e, possivelmente, mais tarde terá sido compensado com desprezo.

Assim, a revolução de Obama terminou antes de começar, balizada sempre pelo desejo arrogante do político se mostrar aos grandes do Establishment. A partir daí, outras promessas, desde o desejo de enfrentar as mudanças climáticas ao encerramento de Guantánamo, desde o desejo de acabar com a tortura ao desejo de querer iniciar um sistema de saúde nacionalizado, todas elas se mostraram ainda mais fáceis de não serem cumpridas.

Peguemos no tema que alimentou toda a sua campanha: o fim da guerra no Iraque. Poucas semanas depois de tomar posse, Obama foi levado ao Iraque e ao Afeganistão, pela mão de Robert Gates e do general David Petreaus e tinha regressado à Casa Branca ferido e humilhado. A retirada prosseguiria lentamente, mas uma força sinistra ficaria por trás indefinidamente, um contingente mortífero de cerca de 50.000 agentes da CIA, de unidades de forças especiais, esquadrões de caçadores assassinos e mercenários implacáveis ao serviço de empresas privadas. A guerra aberta de Bush tornou-se silenciosamente numa operação clandestina sob Obama. Fora de vista, fora do pensamento.

Até ao Outono de 2009, mesmo os mais insensíveis de Washington estavam a ficar cansados com o facto de que a ocupação americana no Afeganistão se ter enredado completamente. Os ritmos e os sons selvagens da guerra tinham saído pela culatra. Muitas promessas quebradas, muitos casamentos foram bombardeados, muitos assassinatos foram realizados, muitas crianças foram mortas ou mutiladas, muita covardia e corrupção nas satrapias fantoches em Cabul. A maré tinha-se virado irrevogavelmente contra os EUA e as suas políticas esquálidas. Longe de serem finalmente neutralizados, os Talibãs estão agora mais fortes do que em qualquer outro momento desde 2001. Mas, em vez de capitalizar essa mudança tectônica de sentimentos no que se refere a este falhanço das tropas americanas, Obama, num estratagema cínico para provar a sua posição militarista, viajou Para West Point e anunciou num discurso sombrio que ele estava a subir o nível de objetivos militares e políticos no Afeganistão pondo em prática uma série de propostas elaboradas pelo General Petreaus, como o aumento de forças no terreno para levar a cabo novas campanhas letais que permitiriam descobrir o rasto e visar alvos suspeitos de rebeldes através das cordilheiras da Asia Central (Hindu Kush) e no Paquistão.

Naquela noite, Obama falou com uma severa cadência, repleta de pausas imperiosas, como se sugerisse que ele, ao contrário do inconstante George W. Bush, ia continuar a guerra no Afeganistão até que a vencesse. Mas ele sabia melhor fazê-la. E assim a faziam os seus altos comandos – mesmo Stanley McChrystal e David Petreaus, que tinham concebido a estratégia de contra-insurreição dos rebeldes Sabia que não havia nada a ganhar no Afeganistão. Naquela distante m zona do mundo, não havia sequer padrões para medir o sucesso militar. Isto significava ser uma guerra punitiva, pura e simples, destinada a extrair o máximo de sangue possível, uma guerra obscena feita em grande parte por aviões teleguiados atacando indiscriminadamente e de modo assassino aldeias de camponeses

Depois, o movimento pacifista norte-americano não foi capaz de mostrar mais do que uma impotente indignação. Mas à medida que as guerras de Obama se espalharam do Afeganistão e do Iraque para o Paquistão e para o Iemen, Somália e Líbia, com exclusão dos ativistas Trabalhadores Católicos e dos Quakers e ainda alguns Code Pinkers – as últimas trémulas luzes morais da nação – mesmo aqueles gritos de protesto ocos dos pacifistas dissipavam-se em murmúrios abafados e cheios de desilusão. Será que a esquerda americana se extinguiu como qualquer tipo de forte força política e tomou a presidência de Barack Obama como prova disso mesmo?

Onde esteve a esquerda americana até agora, é a pergunta implícita no texto, onde estiveram as tantas centenas de milhares de pessoas que agora estão nas ruas quando a Administração Obama procedeu da forma acima descrita, quando se praticaram todos os crimes de que se fala nestes excertos ou ainda quando se praticaram todas as políticas internas agressivas e desfavoráveis para uns, os 85% da população americana, e favorável para outros, para os 15% mais ricos deste mesmo país? Onde estavam a final? Não estavam, pura e simplesmente, nas ruas.

A presença das pessoas na rua, agora, e a sua ausência durante os oito anos de Administração  Obama em que não há memória de um período recente onde tantos negros tenham sido abatidos pela polícia,  é para  mim muito difícil de perceber. E a questão é tanto mais complicada quando o Wall Street Journal nos mostra que um dos mais relevantes apoiantes e fundraiser da candidatura de Clinton, Georges Soros, um verdadeiro assassino económico de países inteiros, perdeu mil milhões de dólares porque apostou erradamente em K-Street, em Nova Iorque, apostando que os mercados iriam rejeitar de imediato Trump .

Como se assina na imprensa internacional:

O multimilionário americano-húngaro que ganhou fama e muita ao ganhar um milhar de milhões de dólares numa só noite em 1992, quando obrigou a libra a sair do SME, perdeu a mesma quantidade nas semanas seguintes à eleição de Donald Trump.

Se a votação para Donald Trump fez sorrir muitos investidores ocidentais, incluindo americanos, durante dois meses (o Dow Jones descolou de 9% neste período), o especulador e multimilionário famoso George Soros deve ter ficado com a cara em cor de cinza. Com efeito, gestor de Hedge Funds, bem conhecido pela comunidade financeira pelas suas apostas de grandes quantias de dinheiro nos mercados de títulos, terá agora perdido cerca de mil milhões de dólares nas semanas que se seguiram ` às eleições, uma vez que apostou massivamente à baixa dos títulos, o mesmo é dizer especulou à baixa dos mesmos, informa o Wall Street Journal. No entanto, os cortes de impostos previstos pelo programa do 45º Presidente são considerados favoráveis ao crescimento económico e os lucros das sociedades cotadas, apoiaram a K-Street de Nova Iorque desde 9 de novembro.

Neste contexto uma movimentação pura e dura, canalizável por grupos especializados viria mesmo a calhar. Repare-se que grosso modo, a jogada de Soros será mais ou menos a seguinte: aposta na descida dos títulos, vende-os a descoberto antes da descida que está a querer provocar. Depois atira uns rumores para o ar, que podiam ser ampliadas pelos ruídos de grandes manifestações, os “mercados” antecipam que as coisas vão correr mal, os preços dos títulos descem e George Soros vai comprá-los. A diferença entre a venda dos títulos (antes) e a entrega dos títulos (depois) de os ter comprado significa a sua margem de ganho. Imaginemos que a diferença é de 2%. Se perdeu 1 milhar de milhões significa que o valor da sua aposta na bolsa foi de 50 mil milhões! Mas a crença na vitória de Clinton era enorme. Como alguém disse:

Ela tinha o jogo ganho, ela tinha o dinheiro, ela tinha a imprensa, ela tinha os peritos, e tinha as sondagens, tinha tudo pelo seu lado. Tudo isto não significou nada.

George Soros apostou nessa mesma dinâmica, nas asneiras seguintes de Donald Trump e, quem sabe, se numas movimentações de base democrática para ajudar aos seus objetivos pessoais. Jogou forte e duro, perdeu.

Falando da Europa, das muitas manifestações que por ela se fizeram, podemos levantar a mesma pergunta e perguntar por que ruas andaram enquanto a realidade económica era manipulada de tal forma pela classe dominante que os níveis de desempregados corrigidos das estatísticas oficiais são os seguintes:

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“Os números oficiais do desemprego não dizem grande coisa sobre o estado real do mercado de trabalho e a capacidade de uma economia para satisfazer as necessidades de emprego da população”, diz Pierre Sabatier, o Director-geral de PrimeView. Para ser oficialmente contabilizado como desempregados, é necessário não somente não trabalhar, mas também estar imediatamente disponível e andar ativamente à procura de trabalho

Mas esta definição, estabelecida pela Organização Internacional do Trabalho (BIT), deixa de lado os “desempregados desencorajados ” – que gostariam de trabalhar, mas eventualmente desistir à procura de um emprego. Esta definição também ignora aqueles que, à  falta de melhor, se contentam com trabalho a tempo parcial. Os dados existem, no entanto. O organismo europeu para as estatísticas, Eurostat, publica-os regularmente. Mas esses números são pouco comentados e ainda mais raramente comparado entre países.

Todos os estatísticos dizem: a “boa” medida de desemprego não existe, tudo é uma questão de convenções. No entanto, ultrapassar o indicador oficial e integrar dados deste “halo de desemprego”, como nos dizem especialistas, permite uma melhor visão do desempenho de diferentes países, no domínio do emprego. E o resultado não é famoso.

Desempregados desencorajados e empregados a tempo parciais esquecidos pelos estatísticos:

trump-ii
Fonte: Prime View, Eurostat

Estes números dão-nos uma visão clara do drama que atravessa a Europa. Esperemos então que eu esteja enganado, e que as centenas de milhares de pessoas que se movimentem contra Trump, se movimentem com a mesma força contra esta realidade, contra os políticos e os banqueiros que a geraram. Se o fizerem,  as forças de luta pela dignidade humana, é disso que se fala quanto a estes números, vencerão as forças das trevas. Se o fizerem, e mesmo que a luta não seja fácil, a vitória será de todos nós.

Vale a pena aqui lembrar um ativista americano do século XIX, Frederick Douglass, que nos deixou uma grande mensagem:

Aqueles que lutam a favor da liberdade e ainda desvalorizam a agitação são as pessoas que querem ter o usufruto das culturas sem terem de  semear  a terra; eles querem a chuva sem trovões e sem relâmpagos; eles querem o oceano sem o ruído das suas ondas, das suas muitas águas.  A luta pode ser moral, ou pode ser física, ou pode ser ambas. Mas deve ser uma luta. O Poder nunca deu nada a ninguém que lhe não tenha  sido exigido. Nunca o fez e nunca o fará.

Não acredito que as gentes da pequena e média burguesia que vieram para as ruas se lembrem das razões que levaram à vitória de Trump, e até agora não vejo que o tenham feito e que retifiquem o tiro, ou melhor, que passem a atirar nas duas direções, em Trump e naqueles que objetivamente lhe deram a vitória, os Soros, Obamas, os grandes media, as gentes de K-Street, etc. etc.. Por isso não acredito na força destas manifestações e por isso mesmo prefiro, por agora,  ouvir o Som do silêncio de Simon and Garfunkel. Aqui vos deixo a letra da canção:


Hello darkness, my old friend,

I’ve come to talk with you again,

Because a vision softly creeping,

Left its seeds while I was sleeping,

And the vision that was planted in my brain

Still remains

Within the sound of silence

In restless dreams I walked alone

Narrow streets of cobblestone,

‘Neath the halo of a street lamp,

I turned my collar to the cold and damp

When my eyes were stabbed by the flash of a neon light

That split the night

And touched the sound of silence

And in the naked light I saw

Ten thousand people, maybe more

People talking without speaking,

People hearing without listening,

People writing songs that voices never share

And no one dared

Disturb the sound of silence

“Fools” said I,

“You do not know, silence like a cancer grows

Hear my words that I might teach you,

Take my arms that I might reach you”

But my words like silent raindrops fell,

And echoed

In the wells of silence

And the people bowed and prayed

To the neon god they made

And the sign flashed out its warning,

In the words that it was forming

And the signs said,

“The words of the prophets are written on the subway walls

And tenement halls

And whispered in the sounds of silence”



Referências bibliográficas:


JEFFREY ST. CLAIR, sitio Counterpunch, The President Who Wasn’t There: Barack Obama’s Legacy of Impotence, a editar pelo blog A Viagem dos Argonautas.

JEFFREY ST. CLAIR, sitio Counterpunch, O cataclismo: notas sobre o Dia das Eleições e a Política da Hubris, texto já publicado pelo blog A Viagem dos Argonautas. Ver em:

https://aviagemdosargonautas.net/2017/01/23/o-cataclismo-notas-sobre-o-dia-das-eleicoes-e-a-politica-da-hubris-por-jeffrey-st-clair/

Cyriaque de Castelnau, revista Causeur, une croisade sans ingérence Ce qu’annonce sa nouvelle administration. Texto a publicar  em A viagem dos Argonautas.

L’Express, L’expansion, À la recherche des chômeurs invisibles en Europe, texto disponível em:

http://lexpansion.lexpress.fr/actualite-economique/a-la-recherche-des-chomeurs-invisibles-en-europe_1798738.html

Frederick Douglass, disponível em:

http://www.publiceye.org/buildingequality/Quotes/Frederick_Douglass.htm

Wall Street Journal, Billionaire George Soros Lost Nearly $1 Billion in Weeks After Trump Election. Disponível em

http://www.wsj.com/articles/billionaire-george-soros-lost-nearly-1-billion-in-weeks-after-trump-election-1484227167

Bloomberg,  Soros Lost Nearly $1 Billion After Trump Election, WSJ Reports. Disponível em:

https://www.bloomberg.com/news/articles/2017-01-12/soros-lost-nearly-1-billion-after-trump-election-wsj-reports


aviagemdosargonautas.net
25
Jan17

Há um Povo que Ainda Canta no Algarve que Tiago Pereira continua a descobrir

António Garrochinho


Já passaram  seis anos desde que o Tiago Pereira começou a sua viagem pelo país, para fazer uma recolha das tradições musicais e de oralidade dos portugueses, mas é no Algarve que continua a descobrir regularmente tesouros que poucos, até mesmo os que cá vivem, sabem que existem.
O realizador português vai estar este sábado, dia 28, às 16h00, no Museu do Traje de São Brás de Alportel para a apresentação e lançamento do livro da série documental «O Povo que Ainda Canta», que fez um registo inédito da música portuguesa, tradicional e não só, e imortalizou em vídeo tradições de todo o país.
Na mesma sessão, será apresentado o novo site do projeto «A Música Portuguesa a Gostar dela Própria» , que entretanto se transformou numa associação de divulgação da cultura protuguesa (AMPAGDP), plataforma onde serão disponibilizados os mais de 2600 vídeos que foram captados ao longo de seis anos, por Tiago Pereira.
O livro de 96 páginas agora lançado «inclui oito DVD com os episódios da série [que foi exibida durante seis meses na RTP2, em 2015], mais dois extra, com vídeos que foram gravados depois de a série ter passado», disse Tiago Pereira, em conversa com o Sul Informação. «É uma forma importante de mostrar que “A Música Portuguesa a Gostar dela Própria” não se esgotou na série, é um projeto que continua em processo. Enquanto houver músicos, enquanto houver seres humanos, há sempre projeto, pois haverá música para gravar», ilustrou o autor do livro, que estará em São Brás, no domingo.



«Este é um livro muito íntimo, que representa os cinco anos da vida da música portuguesa e da minha vida. É uma espécie de diário de bordo de coisas que eu ia gravando na altura e de fotografias que, às vezes, eu ou outros tirávamos durante as gravações. É a materialização daquele período num livro e é um livro de afetos, que relata momentos irrepetíveis, até porque muitas das pessoas que estão no livro já morreram», explicou.
O livro é, de resto, dedicado a Adélia Garcia, uma das guardiãs desta sabedoria musical portuguesa encontrada por Tiago Pereira, que faleceu no dia 31 de Dezembro de 2016. A cantadeira de Caçarelhos (Vimioso), conhecida pela sua bela voz, até já tinha sido gravada por Giacometti.
Esta será a segunda apresentação oficial do livro «O Povo que Ainda canta», logo depois deste ter sido lançado em Lisboa, no domingo passado, e, para o cineasta português, não podia ser de outra forma.
«É super importante que esta segunda apresentação se faça no Algarve, pois inspirou o primeiro episódio d’ “O Povo que Ainda Canta”. Na altura, escolhi esta região, porque era o local onde não havia pontos no mapa da Música Portuguesa a Gostar dela Própria. Havia muito poucas gravações do Algarve e era importante resolver isso», explicou.
Desta forma, o episódio piloto da série «tinha 52 minutos, chamava-se “Quem manda aqui sou eu” e era sobre o Algarve». Este episódio acabou reduzido para 26 minutos, como os demais.
Tiago Pereira ainda continua o seu trabalho de recolha no Algarve, voltando com regularidade à região. «Tenho gravado muito em São Bartolomeu de Messines, por causa do André Guerreiro », revelou.
«O Algarve é daquelas riquezas que são muito difíceis de encontrar. É muito complicado chegar às pessoas. Há muito que vou aí tentar gravar e, passados cinco anos, continuo a descobrir verdadeiras pérolas. Ainda há pouco gravei um homem, perto de Messines, que dançava a estravanca ao lado de uma vaca, ao mesmo tempo que tocava harmónica e explicava como a dança funcionava», contou.

VÍDEO

Por outro lado, «o Algarve ainda tem muitas pessoas que têm na memória a lógica dos bailes de roda e dos bailes mandados e, eventualmente, a literatura tradicional. E isso é uma grande riqueza: os trava-línguas, os provérbios, mesmo os próprios mandos. Nos bailes mandados, está lá toda a lógica do rap e nos trava-línguas toda a lógica do hip-hop e do drum&bass».

25
Jan17

NINGUÉM GOSTA DE FUTEBOL MAIS DO QUE EU !

António Garrochinho

PODERÃO GOSTAR DE MANEIRA IGUAL.
SÓ QUE EU PREOCUPO-ME MAIS COM OS MEUS IRMÃOS QUE NÃO TÊM TRABALHO, NÃO TÊM SALÁRIO, SAÚDE, CASA PARA HABITAR, PÃO PARA OS SEUS FILHOS.. 
PREOCUPO-ME COM OS EXPLORADOS, OS ESCRAVIZADOS OS MARGINALIZADOS PELA SOCIEDADE CAPITALISTA E ATÉ POR ALGUNS QUE SE DIZEM AMIGOS.
NÃO ME SERVE A CAPA DO FUTEBOL, PARA DISFARÇAR A FALTA DE "TOMATES" OS BRAÇOS CAÍDOS, A BOCA FECHADA QUANDO SE TRATA DE LUTAR E DENUNCIAR OS ATROPELOS À VIDA DOS CIDADÃOS, À VIDA DIFÍCIL DO MEU POVO QUE VIVE MAL, COM FOME, E COM MISÉRIA NOS SEUS LARES.
NÃO ME SERVE A CAPA DO FUTEBOL PARA DISFARÇAR A FALTA DE CORAGEM PARA ERGUER A VOZ CONTRA OS QUE TORNAM A VIDA DOS TRABALHADORES NUMA EXISTÊNCIA MISERÁVEL SEM FUTURO, SEM ESPERANÇA.
ENOJA-ME ESSA COVARDIA E ALIENAÇÃO DE FECHAR OS OLHOS AO MAIS IMPORTANTE QUE É A VIDA DIFÍCIL E DURA DOS NOSSOS SEMELHANTES.
António Garrochinho
25
Jan17

QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, TECNOLOGIAS E IMPACTOS

António Garrochinho


Quarta revolução industrial, tecnologias e impactos
Segundo os mais ricos e poderosos do planeta, a quarta revolução industrial já está a caminho e é o resultado da convergência da robótica, nanotecnologia, biotecnologia, tecnologias de informação e comunicação, inteligência artificial e outras. O Foro Económico Mundial, que reúne anualmente em Davos as maiores empresas do planeta, publicou, em 2016, um relatório onde afirma que, com o “temporal perfeito” de mudanças tecnológicas a que se juntam os asseticamente denominados “fatores socioeconómicos, até 2020 perder-se-ão 5 milhões de empregos, mesmo tendo em conta os novos que se criarão pelas mesmas razões.

Se eles falam da perda de 5 milhões de empregos, certamente serão muitos mais. E é só um dos impactos desta revolução tecnológica, que não se define por cada uma destas tecnologias isoladamente, mas pela convergência e sinergia entre elas. Enumeram, entre as dez tecnologias chave – e mais disruptivas –, a engenharia de sistemas metabólicos para produzir substâncias industriais (leia-se biologia sintética para substituir combustíveis, plásticos, odorantes, saboreantes, princípios ativos farmacêuticos derivados de conhecimentos indígenas); a internet das nano-coisas (além de usar internet para produção industrial, agrícola, etc., também nano-sensores implantados em seres vivos, inclusive nos nossos corpos, para captar e receber estímulos e administração de drogas e fármacos); ecossistemas abertos de inteligência artificial (integrar máquinas com inteligência artificial à internet das coisas, às redes sociais e à programação aberta, com capacidade de modificar radicalmente as nossas relações com as máquinas e também entre elas) e várias outras, como novos materiais para armazenar energia, nano-materiais “bidimensionais”, veículos autónomos e não tripulados (drones de todo o tipo com maior autonomia), optogenética (células vivas manipuladas geneticamente que respondem a ondas de luz) e produção de órgãos humanos em chips eletrónicos.

No ano 2000, o Grupo ETC denominou esta convergência de BANG (Bits, Átomos, Neurociências, Genes), uma espécie de Big Bang tecno-sócio-económico, melhor dizendo “Little Bang” porque as tecnologias à nano-escala (aplicadas a seres vivos e materiais) são a plataforma de desenvolvimento de todas as outras.

Supúnhamos, então, que este “little Bang” estava formando um tsunami tecnológico que teria impactos negativos de grandes dimensões no meio ambiente, saúde, trabalho, na produção de novas armas para a guerra, vigilância e controlo social de todas e todos, entre outras. Tudo num contexto da maior concentração corporativa da era industrial, oligopólios com cada vez menos empresas que controlam imensos setores de produção e tecnologias.

Assim está sucedendo, mas para cada um de nós, separadamente, é difícil percebê-lo na totalidade e nas dimensões dos seus impactos que se complementam. Os governos maioritariamente controlados por interesses corporativos e com o mito de que os avanços tecnológicos são benéficos em si, deixam que quase todas estas tecnologias prossigam, se usem, vendam, estando a disseminar-se no ambiente e nos nossos corpos, sem a mínima avaliação dos seus possíveis impactos negativos e sem regulações, muito menos com a aplicação do princípio precaucioso. Um exemplo claro é a indústria nanotecnológica que, com mais de 2000 linhas de produção nos mercados, muitos presentes na nossa vida cotidiana (alimentos, cosméticos, produtos de higiene, farmacêuticos), não está regulamentada em nenhuma parte do mundo, embora aumentem os estudos científicos que mostram toxidade no ambiente e saúde, especialmente para os trabalhadores expostos na produção e uso de materiais com nanopartículas.

Mas o Foro de Davos sim, elabora anualmente um amplo relatório sobre os riscos globais, porque esses riscos afetam os seus capitais e inversões. Na edição de 2015, afirmam que “O estabelecimento de novas capacidades fundamentais que está ocorrendo, por exemplo, com a biologia sintética e a inteligência artificial, está particularmente associado a riscos que não se podem avaliar completamente em laboratório. Uma vez que o génio tenha saído da garrafa, existe a possibilidade de aplicações indesejadas ou da produção de efeitos que não se possam antecipar ao momento da sua invenção. Alguns desses riscos podem ser existenciais, ou seja poderão pôr em perigo o futuro da vida humana”. A revelação de partes, atenua a falta de provas. Mas ainda que reconheçam, não tomam nenhuma medida que coarte os seus lucros.

Neste contexto, desde há alguns anos, estamos trabalhando em conjunto com outras organizações, movimentos sociais e associações de científicos críticos, na construção de uma rede de avaliação social e ação sobre tecnologias (Red TECLA), para encontrar, por um lado, informação e, por outro, tentar compreender o horizonte tecnológico, suas conexões, impactos e implicações vistas de muitas perspetivas (ambiente, saúde, ciência, género, trabalho, consumo), fortalecendo-nos para atuar sobre elas

Para avançar nestas ideias e no questionamento da tecnologia ao serviço do lucro, com experiências concretas de vários países latino-americanos, realizar-se-á, na Cidade Universitária do México o seminário internacional “Ciência, tecnologia e poder: Olhar crítico.” Convocado pela Red TECLA, a União dos Cientistas Comprometidos com a Sociedade e o Grupo ETC.


Silvia Ribeiro, é investigadora do Grupo ETC
Tradução CS/LA

Via: as palavras são armas http://bit.ly/2jOnyHT
25
Jan17

AOS GOVERNANTES PROPONENTES NÃO BASTA QUE O SEJAM, TAMBÉM TERÃO QUE PARECER QUE O SÃO…

António Garrochinho

Lembra o titulo o lema aplicado à “mulher de César”, coisa por mim rebuscada por este meu gosto de brincar com as palavras. Mas aplica-se. Todos os governantes da maior potencia mundial tinham um ar simpático e uma presença cordial. Era assim Clinton, era assim Bush, foi assim Obama cuja administração sai maculada por responsabilidades enormes na continuação da (des)ordem mundial, nos enriquecimentos ilícitos que terão aprofundado o fosso das desigualdades, na continuação de Guantanamo e na eternização das guerras, conflitos e tensões.
Trump tem uma coisa rara, não esconde nada. Tem a alma na cara.
Mas… seria pobre este meu apontamento caso se limitasse a apontar o facto.
O principal interesse deste meu escrito é chamar a atenção para textos de reflexão. Estes:
Via: CONVERSA AVINAGRADA http://bit.ly/2jqEnrg
25
Jan17

EX-AUTARCAS ACUSADOS POR DESPESAS DE MEIO MILHÃO

António Garrochinho

Seis ex-presidentes de câmaras do distrito de Viseu estão acusados pelo Ministério Público de receber indevidamente, entre 2002 e 2007, mais de meio milhão de euros.

Montantes recebidos a título de senhas de presença, despesas de combustível, alimentação e transporte em nome da Associação de Municípios da Região do Planalto Beirão e da Ecobeirão - Sociedade de Tratamento de Resíduos Sólidos do Planalto Beirão.


 http://www.jn.pt
25
Jan17

Uma conversa com Raquel Varela sobre Eu, Daniel Blake, de Ken Loach

António Garrochinho


Por Yasmin Afshar
A história do novo filme de Ken Loach, Eu, Daniel Blake,acontece em Newcastle, uma cidade inglesa de longa tradição de lutas operárias. Daniel Blake é um carpinteiro que, depois de um ataque cardíaco, fica impossibilitado de trabalhar e, por isso, procura obter um auxílio-doença. Ao enfrentar os obstáculos impostos pela burocracia do Estado, ele conhece Kate, desempregada, mãe de dois filhos pequenos, que procura, também em vão, obter o auxílio-desemprego.
A história representa o drama de milhares de trabalhadores na linha da miséria que dependem da assistência do Estado britânica. À diferença de outros filmes do cineasta trotskista, Eu, Daniel Blake não trata de uma alternativa de luta coletiva contra o sofrimento dos personagens. Daniel acaba por perecer em uma disputa solitária com o Estado assistencial.
Será o filme somente uma história de fracasso? Não é o que pensa Raquel Varela, historiadora do trabalho, professora da Universidade Nova de Lisboa e coordenadora do Observatório para as Condições de Vida da UNL. Na conversa que tivemos, ela discorreu sobre a passagem do Estado de bem-estar para o Estado assistencial, a influência dessa transição sobre os vínculos sociais e afetivos e sobre os obstáculos subjetivos a serem superados para a construção de um futuro comum.

1) O pano de fundo de Eu, Daniel Blake é a conversão do Estado de Bem-Estar Social inglês em Estado assistencial: da promoção de direitos universais, o Estado passou a garantir o mínimo necessário à sobrevivência dos mais pobres (via auxílios e renda mínima). Como a senhora explica essa transição? 
O que nós temos é um erro fulcral na esquerda, que confunde Estado de Bem-Estar Social universal com Estado assistencialista, focalizado e parcial – de sustentação das altas taxas de desemprego, do exército industrial de reserva e da população excedente. Enquanto que o primeiro eleva o valor da força de trabalho e a massa salarial, o segundo o faz cair. O segundo é o reverso do primeiro, têm formas e sentidos colidentes. Na verdade o que faz a assistência social – como a renda mínima e outros programas compensatórios – é utilizar dinheiros dos trabalhadores de setores médios para sustentar os períodos de desemprego dos trabalhadores pobres. Essa transição se dá a partir dos anos 1990, com a duplicação da força de trabalho em escala mundial e a aplicação dos programas desenhados pelo Banco Mundial em todos os países, recomendando que, assim que a taxa de desemprego começasse a elevar-se, começassem a se criar programas assistencialistas. Esse é um programa essencialmente capitalista, portanto – como digo, as grandes investigações sobre isto estão no Banco Mundial – mas que, infelizmente, foi adotado pela social democracia oficial e por parte da esquerda marxista-revolucionária, que viu nisso um “mal menor”, digamos assim. Para quem aposta no programa da transformação social global como saída política da presente crise, alguma autocrítica deve ser feita a respeito do significado histórico-universal deste Estado particular. Que o filme fale a respeito justamente do rincão do mundo que deu origem ao Welfare State, a Europa Ocidental, como a sua mais vigorosa antítese, é mesmo de se pensar. Um importante registro: parte da esquerda mundial e dos trabalhadores de todos os países não vergou a espinha. Sir Loach certamente faz jus a esse filão.
2)   Quase todos os personagens que convivem com Daniel Blake estão desempregados ou vivem de “bicos” mal-remunerados, pequenos delitos e de eventuais benefícios do Estado. Que função cumprem esses auxílios estatais na era neoliberal?
O caso de Daniel Blake é o de um trabalhador manual produtivo, um operário altamente qualificado, com pendores de autonomia e criatividade típicas do que já foi um dia o mestre-artesão. O domínio sobre a totalidade do processo produtivo, o amor ao ofício, a autoestima social e política que daí derivam são a sua marca. É o trabalhador em parte não-alienado – ou pelo menos o trabalhador com mais e maior força anímica e criadora, e isso tem muito a ver, na minha opinião pessoal e política, com o fato de Ken Loach ser parte do movimento trotskista e o trotskismo considerar que há nesta parcela específica do mundo do trabalho uma vanguarda de cena da transformação social global – que tenta auxiliar os trabalhadores desempregados, precários e subempregados. É claro que é tudo mais complexo do que isso, tanto na arte como na vida, pois o próprio trabalhador manual clássico – ou seja, o personagem-tipo de Daniel Blake – acaba por cair na possibilidade de indigência quando não luta, coletivamente. Aliás, no filme, ele acaba morto, derrotado porque enfrentou – sozinho – o Estado.
O dado importante aqui também é que o Estado aparece como o que é. O Estado não aparece como um “amigo assistencial”, mas como uma teia burocrática, em que os serviços de desemprego, na verdade, são para manter as pessoas desempregadas, e não para auxiliá-las. Ou seja, é para gerir o preço da força de trabalho, pois é o desemprego, o exército industrial de reserva, que gera o valor do salário de quem está empregado. E o Estado, através dos serviços de desemprego, cumpre esse papel. E de uma forma até algo complexa aqui: porque os próprios serviços do Estado estão já privatizados. Ou seja, entra aqui toda a questão da burocratização política e do Estado moderno. Mas a proposta de Loach não é uma sociologia do trabalho ou uma politologia do Estado. Trata-se de um olhar arguto sobre as riquezas e as misérias do mundo do trabalho contra o mundo do capital.
3)   O filme retrata o controle burocrático do Estado da miséria contemporânea. O que é a miséria? Como ela se reproduz a partir dos anos 1970 na Europa?
A miséria, de fato, é relativa. Aquilo que é dado como miséria no Brasil não é dado como miséria na Dinamarca, porque isso tem a ver com o patamar da luta de classes, ou seja, com as conquistas sociais. Aquilo que é intolerável para um trabalhador miserável dinamarquês – por exemplo, não ter saúde gratuita – é aceitável para a classe média brasileira – pagar a saúde. O índice de miséria normalmente vem associado ou à ideia de um valor fixo por dia, estabelecido pela ONU, que é o limite/linha da pobreza; ou então vem associado ao salário médio, como é em grande parte dos países. Ou seja, quando há uma queda do salário médio, também cai a linha de pobreza. Não caem os pobres, cai é a fasquia a partir da qual eles são considerados pobres. Eu penso que, hoje em dia, nós não podemos nos valer dessas estatísticas para o trabalho político e social de mudança e transformação das relações mercantis – portanto, de derrubada do modo de produção capitalista, para dizer então com todas as letras. Por quê? Porque miséria no Século 21 também deve ser uma criança não saber ler, não tocar um instrumento, não saber apreciar um quadro de arte – porque a miséria tem a ver com a produtividade alcançada. E a produtividade aumentou, em alguns países países ocidentais, em média, 5, 6, 7 vezes, nos últimos 50-60 anos, portanto, desde a grande guerra. O segundo pós-guerra fez consolidar uma nova etapa do capitalismo dos monopólios e com isso inscreveu na letra da lei o complexo categorial do que primeiramente foram as políticas públicas (universais) e, depois da crise do capital pós-73 – com a quebra do padrão ouro-dólar e todas as mudanças associadas – os programas compensatórios (focais). Isso não é o mesmo no centro do sistema e na periferia – mas é curiosa a fala de um dos personagens precarizados, vizinho de Sir Daniel Blake, o ‘China’, a dizer que a sua condição salarial é, em verdade, “pior do que está na China”. É também curioso que esse vizinho não despeja o lixo, é individualista, e Loach critica isso – não o suficiente para o retirar da classe trabalhadora, porque Blake abraça-o e cuida-o, mas critica-o por ele não ter respeito pelos outros trabalhadores. O mesmo se passa com um do bairro que deixa o cão fazer cocô no jardim. Loach tem compaixão por todos os trabalhadores mas o nosso herói do filme tem outra moral, superior, evidentemente.
4)   Os impactos afetivos da miséria e do desamparo é um todos principais temas do filme. Que influência a situação de desemprego e dependência da assistência do Estado pode ter sobre os vínculos de solidariedade?
A questão é que nas associações mutualistas ou nos sindicatos operários em que havia seguridade social (e saúde associada a isso), as pessoas sentiam que estavam a dar um contributo, uma quota, e teriam um beneficio de volta por esse associativismo. Enquanto que o Estado parece ser muito mais distante das pessoas. Muitas vezes as pessoas nem sentem que estão a pagar algo. Por exemplo, o subsídio-desemprego é um desconto da folha de pagamento dos trabalhadores ativos. Mesmo os programas focalizados são dinheiro de todos os trabalhadores – obviamente uma parte pequena dos trabalhadores mais pobres e a maior parte dos trabalhadores médios. Não é uma dádiva do Estado, o Estado não está a dar nada a ninguém. Mas essa relação não fica tão clara quanto nas associações mutualistas. Eu diria, ainda, que o desemprego é profundamente desmoralizante. As pessoas sentem-se completamente excluídas da sociedade, porque justamente o que organiza a sociedade é o trabalho, a produção social da vida em coletividade. O que acontece – e o filme demonstra de forma tocante – é a desefetivação dos seres sociais que, pouco a pouco ou de forma brutal, vão apagando as suas luzes para aquilo que Karl Marx chamou de “omnilateralidade do ser genérico”, isto é, a totalidade complexa do que somos e do que podemos vir a ser através do desenvolvimento humano em geral. O filme mostra pontos altos e baixos do mesmo Daniel Blake, por exemplo, na sua oficina maravilhosa de madeiras e ferramentas, com cuidados e delicadeza no trato em geral da vida e do trabalho, mas também um embrutecido Daniel enrolado em cobertores e a vender toda a mobília da casa para não congelar de frio no inverno do Norte da Europa. O mesmo acontece com a mãe desempregada, que vai dos estudos universitários iniciais para a prostituição ocasional, pequenos furtos, mentiras casuais. A dignidade de lutar por trabalho, o movimento social contra o desemprego, não se faz notar no filme. Mas em se tratando da obra e da vida de Ken Loach poderíamos relacionar inúmeros exemplos nas telas e fora delas. Loach e seus associados não pararam de lutar em movimentos, sindicatos e partidos de combate. O mapa dos afetos e a coordenada de convicções andam de mãos dadas. A saída contra a solidão é, mesmo, coletiva.
5)   A angústia e a ansiedade afetam inclusive os filhos de Kate. Algumas de suas intervenções recentes se dedicaram ao tema da educação das crianças, além de a senhora ser mãe de gêmeos. Da sua perspectiva, qual a diferença entre ser criança na Europa hoje e nos anos 1970?
Há algo que aparentemente melhorou: em média, o acesso de cuidados de saúde, pelo menos até os anos 1980-90 na Europa, o acesso de cuidado à saúde e a educação em média melhorou. Mas eu penso que hoje já estamos em um retrocesso. Pois quando analisamos a alimentação, por exemplo, não se trata só da fome calórica, mas também da fome de alimentação propriamente nutricional. Do ponto de vista da capacidade de brincar das crianças, piorou, e muito! Eu diria que as crianças foram as primeiras a sofrer esse impacto absolutamente brutal da distopia da tecnologia, ou seja, do homem-máquina. Todos os estudos hoje, com populações relativamente grandes do ponto de vista da amostragem, demonstram que as crianças que passam mais horas a ver televisão e com videogames têm muito mais doenças associadas. E eu penso que no futuro a grande diferenciação vai se fazer entre aqueles que sabem se concentrar e que dominam a ciência fundamental – a programação por trás dos computadores – e aqueles que só sabem apertar os botões – que é a larga maioria populacional. Há muitas crianças com analfabetismo de nexo psicofísico, com a coordenação motora algo afetada. Suas noções de tempo e espaço, a abstração geográfica, o sentido de proporções estão em franco declínio histórico. O que dizer então, por exemplo, de seu juízo estético? Brincar é fundamental para o desenvolvimento infantil e suas funções psíquicas superiores, que nos distinguem como parte da humanidade. Interagir livremente em espaço aberto. Temo que a poiésis, a criação, da grande maioria das crianças que sabe deslizar um mouse ou acessar o touchscreen não é a mesma de uma criança que brinca de esconde-esconde. As máquinas não nos libertaram um pouco mais; nos fizeram um pouco mais brutos, porque quem determina o seu desenvolvimento não está nem um pouco interessado nestas questões mais amplas. A humanidade vive uma crise de direção. Para onde vamos, como ente espécie? É a isso que a pergunta sobre a educação das crianças deve nos levar. Refletir sobre o nosso presente e o nosso futuro.
6)   Para Daniel Blake, existem coisas inegociáveis, que não estão a venda. A dignidade (“self-respect”) é, para ele, o sentimento de reconhecimento de sua própria humanidade. A senhora acredita haver uma “economia moral” da classe trabalhadora, como afirmava o historiador marxista inglês Edward Palmer Thompson? Seriam essas coisas “inegociáveis” a motivação decisiva para lutar contra as injustiças sofridas?
A economia moral thompsoniana é um grande debate na teoria da história das classes e grupos sociais “de baixo”. Tem a ver com o antagonismo social entre o direito consuetudinário e a propriedade privada na sua gênese e devir. Para isso recomendo, com muito vigor, a obra Os despossuídos (Karl Marx, Boitempo, 2017). E eu acho sim que há algo como uma moral econômica das classes trabalhadoras, sem dúvida alguma. Nomeadamente, não pode ser outra senão aquela que deriva do próprio trabalho. Nós devemos trabalhar. Quem tem saúde deve trabalhar. Ele, Daniel Blake, aliás, não pode trabalhar porque não tem saúde. Mas quem tem saúde deve trabalhar. A ideia de que nós temos uma parte da sociedade a trabalhar para uma outra parte da sociedade ou de que vivemos à conta do trabalho dos outros – que é o que acontece quando as pessoas são ricas, são capitalistas, vivem não só do seu trabalho, quando trabalham, mas vivem do trabalho dos outros – é injusta. Mas a ideia de que alguém pobre não deveria trabalhar é uma ideia profundamente equivocada. O trabalho é a produção coletiva da sociedade como um todo. Cada um deve fazer aquilo que sabe e pode, não pode ficar sem trabalhar. Portanto a política justa é a política de divisão do trabalho por todos, para o pleno emprego. Veja-se agora a polêmica com o Rendimento Básico Incondicional – numa altura em que estão a privatizar o Estado social e temos taxas reais de desemprego de 10 a 20% em todos os países ocidentais, “alguém!” teve a ideia brilhante de dar um cheque de 500 euros aos trabalhadores para vegetarem no desemprego e irem ao mercado comprar saúde e educação. Como a esquerda não compreende o engodo?
A dignidade do trabalho está clara no filme. Até porque, no filme, o trabalho está associado à dignidade: o controle que Daniel tem das ferramentas, por exemplo. A única coisa que ele não vende é sua própria caixa de ferramentas e seu trabalho não-alienado, os peixinhos dependurados. Ele, aliás, quer voltar a trabalhar, é um ataque cardíaco que não o permite. Uma esquerda vertebrada e um forte movimento de trabalhadores deve se colocar de pé não pelas rendas mínimas, mas pelo pleno emprego, redução da jornada de trabalho sem redução de salário, divisão entre todos do trabalho. Devemos voltar a discutir qual é a nossa moral e qual é a deles.
7) É comum ouvirmos dizer que a Previdência primeiramente criada na Prússia, por Otto von Bismarck, em 1880. Ao lado de outros pesquisadores, a senhora remonta sua origem à experiência da Comuna de Paris, em 1871. O que está em jogo nessa disputa histórica? Afinal como os communards inventaram a Previdência?
Justamente, a primeira experiência de uma segurança social universal, ou seja, de que os de agora descontam para os que já não estão a trabalhar, entra em funcionamento na experiência do autogoverno da Comuna de Paris, quase na metade do Século 19. E a ideia da segurança social sob controle do Estado de forma generalizada nem é de Bismark, é de Hitler. Portanto, todos os regimes ditatoriais utilizaram a segurança social como uma fonte de receitas. O que foi logrado com Bismark foi, digamos, uma série de políticas públicas, em parte pela pressão da social democracia alemã e pela urbanização. O tema e o problema são realmente fascinantes e os novos estudos e pesquisas do Estado Social são revigorantes. Se nada de novo pode surgir da falta de memória, o papel da historiografia social do trabalho não é menor nesta polêmica.
8) A senhora costuma dizer que o Estado de Bem-Estar Social já foi uma bandeira contrarrevolucionária mas que é hoje uma causa revolucionária. Por quê é assim?
O Estado Social foi criado em 1945, em troca de os trabalhadores em armas – ou seja, milhões de soldados na Europa – entregarem os fuzis. Daí foi criado o Estado Social e a política do pleno emprego, em que as pessoas não podiam ser despedidas sem elevadas indemnizações. E isso permitiu uma elevação salarial geral – quer do salario direto, quer do indireto, que é o Estado Social. Mas isso era possível com taxas de crescimento a 7%, em que os lucros cresciam e os salários também. Hoje, isso não é mais possível. A conservação da ordem do capital, do modo de produção, implica hoje a destruição do Estado Social. Não é possível manter a remuneração dos capitais privados e o Estado Social. Em um primeiro momento, era a prevenção da revolução social para além das fronteiras da URSS. Hoje, faz parte da luta entre a economia política do trabalho versus a economia política do capital.
9) Há alguns anos a senhora acompanha de perto a luta trabalhista dos estivadores europeus. Em outro filme de Ken Loach, Os Estivadores de Liverpool, de 1996, o diretor acompanha a greve dos estivadores daquele porto. Qual a relação entre esse movimento passado e a greve dos estivadores do porto de Lisboa em 2014?
Os estivadores de Liverpool são um extraordinário exemplo de uma ativa e altiva luta solidária entre trabalhadores precários e fixos – em que os trabalhadores fixos fazem greve de solidariedade aos trabalhadores precários e que, por isso, são demitidos e depois começa uma luta internacional em defesa de Liverpool. Os trabalhadores de Lisboa eram trabalhadores fixos que fizeram greve para que os trabalhadores precários se tornassem fixos – e foi exatamente isso que aconteceu. Acabaram de ser assinados os contratos e isso é uma vitória indiscutível, que levanta nossa moral. Ou seja, contra a ideia de que as pessoas vão perder seu emprego (afetos, identidade, sentido de pertença e ‘self-respect’) e receber do Estado e a favor da ideia de que as pessoas têm que ter um salário digno e direito inalienável ao trabalho. Faz tempo que não ganhamos dessa forma. E faz tempo que precisávamos ganhar. Mas muito tempo não é sempre.
10) Seu último livro, escrito a quatro mãos com o psicanalista Coimbra de Matos, Do Medo à Esperança, aborda problemas sociais a partir de dois afetos centrais. Na definição de Spinoza, o medo é a expectativa de que um mal nos aconteça, enquanto a esperança é a expectativa de que nos aconteça um bem. Em ambos, entretanto, trata-se de uma possibilidade mais ou menos remota. Mas a esperança pode também ser entendida como a espera passiva de algo, vinculado, eventualmente, a uma crença religiosa – em um futuro incerto. As palavras e as coisas. Em que medida a esperança pode ser um afeto de engajamento ativo no aqui e agora?
Poderia falar de esperança ou de ânima, alma, por que não? [risos]. Ou, ainda, a Vitamina ‘E’, de ‘Entusiasmo’, que significa mesmo ‘levar os deuses adentro’. A inspiração que dá forma ao título deste livro é justamente Baruch Spinoza. É o tempo-de-agora! As pessoas devem ser levadas a acreditar na força que têm. Acreditar ou não na nossa força é fundamental. Essa é aliás uma das funções dos partidos revolucionários: levar a acreditar na sua força potencial, sem mitificação e sem mistificação. Portanto, a esperança é isso: dizer às pessoas que não há obstáculos objetivos ao fim do capitalismo e à construção de sociedades livres e iguais. Há obstáculos subjetivos que podem – não quer dizer que vão, pois não creio em “fins”, teleológicos, da história – ser sinceramente contornados. E a esperança em trabalhadores como Daniel Blake é aqui e agora claramente o mais central. Ou seja, pessoas que vivem do trabalho, e só do trabalho, pessoas com honra, com dignidade, com moral – essas pessoas são absolutamente fundamentais para uma mudança social. Mas Blake precisa de uma organização – e uma organização precisa de Blakes. Sem organização coletiva que dispute o poder político todo o movimento é estéril: já deveriam não duvidar disso depois do que aconteceu ao movimento anti-globalização, primaveras árabes, Occupy Wall Street, cerco ao parlamento em Espanha, greves gerais na Grécia – quem tem partidos organizados é quem define o rumo da sociedade em última instância. Quem não tem mexe-se ao som da música dos outros.
Volto ao livro. A arte do encontro entre o marxismo e a psicanálise já rendeu alguns altos momentos da teoria e da cultura do “Breve Século”. Não raro a historiografia se enriqueceu da psicologia ou da interpretação do indivíduo se passou à análise das sociedades. Mas o que neste livro tem lugar é algo diferente disso. Há aqui um elemento de dissidência, posto que não se trata de qualquer marxismo, nem de qualquer psicanálise. Já ouvi dizer que o melhor do amor e da revolução é não ter de escolher entre o amor e a revolução. Mas é, também, não ser obrigado a optar entre paixão e rigor, profundidade e clareza, responsabilidade e compromisso. O melhor de nós está no outro. Do começo ao fim, como alfa e ômega de todas as questões, está a nossa capacidade de construir, renovar e cultivar as relações. Bertolt Brecht dissera, a certa feita, que “amor é a arte de criar algo com a ajuda da capacidade do outro”. Os impasses e desafios do espírito de nosso tempo são o motivo gerador que alinhavaram essa conversa entre gente tão parecida e tão diferente quanto Coimbra e eu. Lá dizemos, por exemplo, que força e violência não são o mesmo. Que não basta analisar os “de cima”; é preciso criticar os “de baixo”. E, sobretudo, que no princípio não foi o verbo nem a ação; mas a relação. O que poderá surpreender a alguns é que se faça uma conversa assim tão a sério, em meio a tantas gargalhadas. É a última nota que registro: eis aqui uma obra de paixões vivas, de projetos de vida, de construção do futuro comum. Por que não?


lavrapalavra.com
25
Jan17

TSU: Taxa maldita que afastou a Esquerda já foi gatilho para outra crise

António Garrochinho


A famosa Taxa Social Única está no centro de uma polémica entre o Governo PS e partidos à sua esquerda. Esta não é sequer a primeira vez que tal acontece: o imposto deu azo a uma manifestação histórica em 2012 e provocou até uma crise governamental.

A sigla TSU marca os últimos anos da política em Portugal. Usada como mecanismo de compensação em vários acordos de concertação social, a Taxa Social Única tem sido mais 'simpática' para os patrões, numa tendência que não agrada aos trabalhadores e sindicatos.
No dia em que o Parlamento discute e vota as apreciações parlamentares, de Bloco de Esquerda e PCP para revogar o diploma do Governo que baixa a Taxa Social Única (TSU) para as empresas, o que será viabilizado com apoio do PSD, o Economia ao Minuto e a Agência Lusa recordam os pontos chave da TSU e como se chegou ao impasse atual, lembrando ainda como esta mesma taxa já foi gatilho para uma manifestação, em 2012, e até para uma crise governamental.
O que é a TSU?
A Taxa Social Única (TSU) é a contribuição que empresas e trabalhadores descontam todos os meses para que a Segurança Social possa pagar as reformas, segundo o que ganha o funcionário.
Quanto descontam atualmente trabalhadores e empresas?
A TSU sobre o trabalhador é de 11% e sobre as empresas com base no salário do trabalhador é 23,75%.
As empresas têm, até final de janeiro deste ano, um desconto de 0,75 pontos percentuais sobre a taxa de 23,75%, aplicável a quem receba o salário mínimo nacional.
O que reabriu a polémica com a TSU?
Em resultado de um acordo em concertação social, no final de 2016, que não teve a assinatura da CGTP, o Governo decidiu a descida da TSU para os empregadores em 1,25 pontos percentuais para quem pague o Salário Mínimo Nacional (SMN), a partir de fevereiro de 2017, ficando em 22,5%, e um aumento do SMN de 530 para 557 euros.
O Governo estima que esta medida terá um impacto de 40 milhões de euros.
Os três partidos que apoiam o Governo no parlamento, PCP, BE e Verdes, são contra esta medida e na quarta-feira vão ser debatidas e votadas na Assembleia da República apreciações parlamentares do PCP e do BE que pedem a eliminação desta descida.
O PSD, liderado por Pedro Passos Coelho, já anunciou que votará ao lado da esquerda contra esta descida. A mudança de posição valeu aos sociais-democratas a acusação de incoerência por parte do PS -- "uma cambalhota", acusou o PS no debate quinzenal da semana passada.
A TSU já esteve na origem de uma crise governamental?
Sim, já. Há quatro anos, a taxa que serve para financiar a Segurança Social abriu aquela que foi a primeira crise política no interior da coligação PSD/CDS-PP no Governo (2011-2015), com o então primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, a recuar na medida ao fim de duas semanas.
A redução da TSU em 5,75 pontos percentuais, passando de 23,75% para 18%, foi anunciada por Passos Coelho a 7 de setembro de 2012, numa comunicação ao país.
Em contrapartida, o Governo pretendia aumentar a contribuição dos trabalhadores para a Segurança Social para 18%, ou seja, uma subida de sete pontos percentuais. A medida deveria ser aplicada quer aos trabalhadores do setor privado, quer aos funcionários públicos.
Depois de Passos ter dito que o CDS concordara com a medida, Paulo Portas, líder do CDS e ministro dos Negócios Estrangeiros, admitiu ter discordado, explicando que não bloqueou a decisão para evitar uma crise nas negociações com a 'troika' e uma "crise de Governo".
A medida da TSU acabou por ser mais um argumento para a manifestação contra a troika e a austeridade que reuniu milhares de pessoas e que decorreu em Lisboa, Porto, Coimbra e outras localidades do país.
E o Governo PSD/CDS-PP recuou?
Sim. A 21 de setembro de 2012, reuniu-se o Conselho de Estado, órgão de consulta do Presidente da República, Cavaco Silva, que ouviu os parceiros sociais sobre o assunto.
Com milhares de pessoas a manifestarem-se em frente ao Palácio de Belém, em Lisboa, os conselheiros de Estado estiveram reunidos durante oito horas.
No final, através de comunicado, foi anunciado que o Governo tinha informado o órgão político de consulta do chefe de Estado de que estava disponível para, no quadro da concertação social, "estudar alternativas" à alteração da TSU, que resultaram num "enorme aumento de impostos" anunciado pelo então ministro das Finanças, Vítor Gaspar.
Algumas das medidas foram a redução do número de escalões de IRS de 8 para 5, aumentando assim a taxa efetiva de IRS, e a introdução de uma sobretaxa de 4 pontos percentuais sobre os rendimentos auferidos em 2013.
Que posição tomaram PS, PCP e BE em 2012?
O PS era, em 2012, liderado por António José Seguro, que considerou a medida "inaceitável e imoral". Seguro chegou a ameaçar com uma moção de censura do PS se o executivo PSD/CDS persistisse "em aplicar uma proposta que transfere rendimentos dos trabalhadores para as entidades patronais".
Os três partidos que agora apoiam, no parlamento, o executivo de António Costa (BE, PCP e PEV), eram, em 2012, frontalmente contra esta medida.
O que defende hoje o PS?
Estava previsto no quadro macroeconómico, apresentado pelo PS antes das legislativas de 2015, uma redução progressiva e temporária da TSU para trabalhadores e empresas. As medidas abriram divisões no PS, em especial com os setores ligados aos sindicatos, à UGT e aos reformados.
O PS sugeria uma redução de forma gradual até 2018 para salários abaixo de 600 euros, passando a TSU dos atuais 11% para os 9,5% em 2016, os 8% em 2017 e os 7% em 2018.
No programa de Governo, o Executivo prometia reduzir a TSU paga pelos trabalhadores com salários até 600 euros. A medida é apresentada como temporária e a partir de 2019 "haverá uma diminuição dessa redução, que se processará em oito anos".
A medida pode violar o acordo de Governo com os parceiros à esquerda?
O Partido Ecologista Os Verdes foi o único a dizer que sim, mas o primeiro-ministro disse que não.
Num debate em dezembro, antes ainda do acordo na concertação, a deputada Heloísa Apolónia considerou que a proposta para uma descida da TSU estará em violação com o teor das declarações conjuntas assinadas entre PS, Bloco de Esquerda, PCP e PEV para a formação do atual executivo.
O primeiro-ministro rejeitou, respondendo: "Não é assim, porque está no programa do Governo que iríamos propor à concertação social, anualmente, uma trajetória de convergência para o salário mínimo. É isso que estamos a fazer."

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25
Jan17

Governo deve "chamar à pedra" acionistas da central de Almaraz em Portugal

António Garrochinho


Para o Bloco, o Governo deve tomar uma posição junto dos acionistas da central que estão no mercado português. Estes têm algum papel em "40% da energia elétrica em Portugal"

O Bloco de Esquerda defendeu hoje que o Estado português deve "chamar à pedra" os acionistas da central nuclear de Almaraz, que são empresas protagonistas na economia portuguesa.
"Chamar os acionistas [da central de Almaraz] à pedra é obrigação do Governo português", afirmou hoje Jorge Costa, do Bloco de Esquerda (BE).
O deputado falava durante a audição do ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, na comissão parlamentar de Ambiente, Ordenamento do Território, Descentralização, Poder Local e Habitação, sobre o tema da central de Almaraz e construção do armazém para resíduos nucleares.
Para o BE, o Governo deve tomar uma posição junto dos acionistas da central -- Endesa, Iberdrola e Union Fenosa -- que estão no mercado português e têm algum papel em "40% da energia elétrica em Portugal".
O BE pediu, com caráter de urgência, uma audição dos representantes dos conselhos de administração das filiais portuguesas da Iberdrola, Endesa e Gas Nattural Fenosa sobre a situação da central nuclear de Almaraz.
Durante a audição, iniciativa do Partido Ecologista Os Verdes (PEV), os partidos da oposição insistiram na necessidade de Portugal tomar uma atitude sobre o prolongamento da vida da central nuclear de Almaraz, criticando o ministro por se focar na construção do armazém e da falta de consulta a Portugal.
Heloísa Apolónia, do PEV, defendeu que o assunto da central requer uma "entrada em peso" da vertente diplomática, mas principalmente dos chefes de Governo dos dois países.
Para esta deputada, é necessário que a componente sustentabilidade seja realçada e defendida a segurança da população e o ambiente.
O ministro voltou a ser criticado, principalmente pelo PSD, através da deputada Berta Cabral, dizendo que "o Governo só tomou conhecimento do assunto com a aprovação do armazém de resíduos".
"Ministro não seguiu o básico princípio da precaução e limitou-se a desvalorizar", como fez com outros assuntos, salientou Berta Cabral.
"Não consigo comparar com o que fez o anterior governo [pois] uma comparação com zero é uma indeterminação, a conta não fecha", respondeu João Matos Fernandes.
"Não digo que o anterior Governo não fez nada, constato que o anterior Governo não fez nada", disse ainda o governante.
O ministro recordou que, assim como Portugal definiu a sua política energética, em que nuclear não existe e fez aposta nas renováveis, Espanha apostou no nuclear.
E "Espanha é soberana a definir a sua política energética", acrescentou.


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25
Jan17

O QUE É QUE ISTO QUER DIZER !? -Consórcio liderado por português oferece 15 mil milhões para limpar malparado

António Garrochinho
Consórcio liderado por António Esteves, ex-partner da Goldman Sachs, propõe comprar créditos de risco que pesam no balanço dos bancos

O Banco de Portugal recebeu um cheque de 15 mil milhões de euros que pode resolver o problema do malparado da banca. A proposta foi feita há cerca de dois meses por António Esteves, ex-partner da Goldman Sachs que, apoiado por um grande banco de investimento, pretende comprar os créditos duvidosos dos bancos.
A notícia foi avançada pelo Público, a quem António Esteves confirmou a proposta para aquisição destes ativos problemáticos, que ainda está sob análise do regulador bancário.


www.dn.pt
25
Jan17

USA - Polícia prendeu brasileiro que tinha 20 milhões de dólares sob o colchão

António Garrochinho


Homem de 28 anos é acusado de conspiração e fraude

As autoridades norte-americanas apreenderam 20 milhões de dólares, cerca de 18 milhões de euros, que estavam escondidos no estrado de uma cama. O dinheiro, encontrado num apartamento no estado de Massachusetts, pertencia a um homem brasileiro que foi preso e acusado de conspiração por tentativa de lavagem de dinheiro.
Cléber Rene Rizério Rocha, de 28 anos, foi preso na primeira semana de janeiro no seguimento de uma investigação a um esquema em pirâmide camuflado em nome de uma empresa de serviços de internet, a TeleFrex.
Esta semana, a procuradoria-geral divulgou uma imagem do dinheiro encontrado no apartamento do homem.
Photo of $20M seized in box spring following arrest of Brazilian national in scheme to launder proceeds of TelexFree http://go.usa.gov/x9bs5 
    Mais de 965 mil pessoas de vários países foram enganadas por este esquema e perderam, ao todo, mil e 76 milhões de dólares, cerca de mil e 64 milhões de euros, segundo a Reuters.
    O juiz decretou pena de prisão enquanto aguarda julgamento para Rocha porque entendeu que existia um risco de fuga.
    O esquema da TeleFrex, a empresa que vendia serviços de voz sobre Internet (Voip), consistia em convencer os clientes a assinarem uma subscrição para se tornarem promotores e ganharem dinheiro a publicar anúncios na internet. Esses promotores eram depois pagos pelo dinheiro dos novos subscritores.
    A empresa foi criada pelo norte-americano James Merrill e o brasileiro Carlos Wanzeler. O primeiro foi preso em 2014 e declarou-se culpado de conspiração e fraude. Wanzeler fugiu para o Brasil em 2014 e não pode ser extraditado.


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    25
    Jan17

    Acidente com catamarã no Terreiro do Paço faz 34 feridos

    António Garrochinho













    Um catamarã oriundo do Barreiro embateu esta manhã quando atracava no Terreiro do Paço

    O catamarã Antero de Quental embateu hoje, às 8.39, no cais do Terreiro do Paço, em Lisboa, quando fazia manobras para atracar, confirmou ao DN fonte da Polícia Marítima.

    O barco fazia a ligação entre o Barreiro e o Terreiro do Paço. O comandante do Porto de Lisboa informou que se registaram 34 feridos, tendo 23 deles sido transportados para o hospital: 12 para São José, oito para Santa Maria, dois para São Francisco Xavier e uma mulher para a Maternidade Alfredo da Costa. De acordo com a mesma fonte tratam-se de ferimentos ligeiros.

    "Só um tinha evidências de fratura num membro inferior", disse José Isabel. "Todos os outros foram imobilizados por uma questão de precaução e serão avaliados no hospital", afirmou.

    "O acidente aconteceu quando a embarcação estava a atracar. Trata-se de uma embarcação da Soflusa que vinha do Barreiro com destino ao cais Sul/Sueste e que ao atracar embateu. As pessoas, com a ânsia de sair, já estavam de pé junto às portas de saída, coisa que não deve acontecer. As pessoas devem permanecer sempre sentadas", adiantou o capitão do Porto de Lisboa.

    A mesma fonte defendeu que o nevoeiro terá sido "fator determinante para acidente ter acontecido", considerando que a avaliação da distância feita pelo comandante terá sido errada, tendo em conta a velocidade com que se aproximou do cais.

    José Isabel disse ainda que a embarcação não terá sofrido danos.

    A embarcação em causa é da empresa Transtejo e operada pela Soflusa. Tem capacidade para 600 passageiros e a bordo seguiam 561 passageiros e quatro tripulantes, de acordo com informações do administrador José Bagarrão.

    Em declarações aos jornalistas no local, o administrador adiantou que vai ser criada uma comissão de inquérito para investigar as causas do acidente. Admitiu, contudo, que o nevoeiro "é uma das hipóteses entre muitas" que podem ter estado na origem do choque violento da embarcação com o pontão e que levou alguns passageiros a serem projetados.

    O mesmo responsável garantiu que o catamarã em causa estava em perfeitas condições, com certificado de navegabilidade válido e inspeções em dia.

    Adiantou ainda que as ligações fluviais mantêm-se, ainda que possam existir alguns atrasos.

    No local estiveram o capitão do Porto de Lisboa, a Polícia Marítima, elementos da Proteção Civil municipal, o INEM, 26 elementos dos Sapadores de Bombeiros de Lisboa, apoiados por oito viaturas, e os Bombeiros Voluntários de Lisboa.

    Na própria estação fluvial do terreiro do Paço foi auxílio a algumas vítimas.

    (Atualizada às 10:53 com o número de feridos)



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