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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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17
Fev17

QUEM QUER FAVA RICA !!!!!

António Garrochinho


QUEM QUER FAVA RICA !!!!!
Vendida nas ruas da Lisboa antiga por mulheres que, de panela à cabeça, a anunciavam gritando um dos últimos pregões lisboetas, a fava-rica era uma sopa de fava seca muito nutritiva e apreciada. As leguminosas, de que a fava é um exemplo, têm um alto teor de proteínas devido à simbiose com as bactérias Rhizobium do solo. Estas bactérias, alojadas nas raízes das plantas, convertem o azoto do ar em compostos que as leguminosas usam para produzir proteínas. Em vários locais do mundo, as leguminosas têm sido uma importante alternativa a fontes de proteína animal. A prová-lo está o facto de muitas proeminentes famílias romanas da antiguidade terem tido o nome das leguminosas mais comuns: Fabius (fabae - fava), Lentulus (lenticula - lentilhas), Piso (pisae - ervilha) e Cicero (cicer - grão de bico). Apesar da fava-rica ter desaparecido das ruas de Lisboa, ainda há recantos onde pode provar a receita original, como é o caso do restaurante Forno do Alfarrabista na Mouraria.

www.pavconhecimento.pt

17
Fev17

ALFREDO MARCENEIRO - A MANEIRA MELHOR DE SER FADISTA - NUNCA SE DOBROU AO QUE O FASCISMO QUIS FAZER DO FADO

António Garrochinho



«a minha oficina chama-se Marcenaria & Fado. Eu faço fados em pau santo, em nogueira, em castanho, em mogno e em pinho. Os de pinho são os mais populares, os de maior agrado!»
 Alfredo Marceneiro





«O cenário é uma taberna, ao fundo uma barregã» — dizia ele, naquela sua voz rouca, para começar a criar clima. Depois, dava uns passos, mãos nos bolsos, quase a dançar, e ia tomando cena, até que parava, deitava a cabeça para trás, fazendo sobressair a melena sempre muito negra, e começava a cantar.

VÍDEO






LEMBRO-ME DE TI


Acontecia isto noite alta, em alguma casa de fados já fechada ao público, quando o Alfredo Marceneiro resolvia revelar, a uma meia dúzia de eleitos, como é que se cantava o fado, o fado que, em grande parte, foi ele quem o inventou. Algumas vezes tive o privilégio de estar entre esses eleitos, ora no «Mesquita», ora no «Machado», ora no «Faia» ou na «Viela», nem sei já quando foi a primeira vez. Mas o que sei, isso sim, é que era uma experiência tremenda, arrebatadora, que valia como uma  verdadeira iniciação.
É que, através daquela voz velada, um tanto ondulante, sem efeitos, que apenas marcava cada palavra para construir um ambiente musical, transmitia-se muito mais do que cantigas, ou fados, transmitia-se toda uma moral e um conceito de vida, transmitia-se oralmente toda uma cultura. 
Se as situações cantadas, em palavras por vezes difíceis, iam do melodrama ao jocoso, tanto fazia, pois tinham sempre, naquela voz, uma força a que ninguém podia ficar indiferente.




O leilão da casa da Mariquinhas - Linhares Barbosa / Popular - Fado Mouraria


Alfredo Marceneiro, toda a vida

É que os poetas que ele cantava, os seus poetas, também tinham vindo quase todos do proletariado urbano, por isso sentiam e sofriam aquelas palavras, como ele as sentia e sofria.
Poetas do fado tão esquecidos, mas que não podem deixar de ser lembrados, a começar por Henrique Rego, tipógrafo, seu grande amigo e poeta preferido, que para o Marceneiro escreveu a história da «impúdica bacante» que descobre, assombrada, que o jovem pintor que tenta seduzir é, afinal, o seu filho. E quando o Marceneiro nos contava que «a turba comovida / pasma ante aquele quadro original, estranho», sentia-se «a piedade e o medo», tal qual o mesmo arrepio da tragédia, na revelação de que Edipo é filho de Jocasta. Enfim, a grande tradição da cultura. 





Aos desmandos da cidade liberal e corruptora, opunha tipicamente o mesmo Henrique Rego o valor puro da vida campestre, simbolizados naquela «Menina, lá do mirante / toda vestida de cassa», ou então concentrava amor e raiva transbordantes num objecto: «O lenço que me ofertaste / tinha um coração no meio / quando ao nosso amor faltaste / eu fui-me ao lenço e rasguei-o»; ou era capaz de atingir o quase puro folclore, em «Toma lá colchetes de oiro». E tudo isto o Marceneiro fazia chegar até nós, intacto, no poder da sua voz tão vibrante, tão estranhamente entrecurtada.
E depois havia também o poeta Linhares Barbosa, grande malabarista das palavras, ora contando a história da perdição citadina da filha de um moleiro, em «Eu lembro-me de ti, chamavas-te Saudade», ora dando-nos um calafrio no Natal do criminoso. «Batem - me à porta, quem é? / ninguém responde... que medo...»
Muitos foram os poetas que escreveram para o Marceneiro e ele mantinha vivos, mas é de lembrar ainda Gabriel de Oliveira, o Gabriel Marujo, que Fernando Pessoa e António Botto «ousaram» incluir numa antologia poética, todo cheio de misticismo, velado e misterioso, na Senhora do Monte, ou mais colorido no célebre Há festa na Mouraria


Fado amador no restaurante Ferro de Engomar, na estrada de Benfica. Por volta de 1930. Foto Arquivo Fotográfico da CML.


E isto sem esquecer, claro, o verso fácil, sorridente e um tanto revisteiro de Silva Tavares, contrariando as regras da moral estabelecida, ao cantar as alegrias da Casa da Mariquinhas, que teve tal sucesso que até mereceu continuação, no Leilão da Mariquinhas, de Linhares Barbosa, e cuja fama tanto perdurou que Alberto Janes, cheio de graça e invenção, muitos anos depois, a transformou em casa de penhores e em símbolo de uma época e de uma moral fadista que findava, em Vou dar de beber à dor, que, na voz de Amália, foi aquele êxito louco que se sabe.
Mas não se pense que Alfredo Marceneiro era apenas um grande intérprete, um contador admirável de histórias, pois ele era também e sobretudo um músico excelente, inventando para cada fado a melodia certa, tão certa que, por vezes, nem se dava por ela, e algumas são de uma beleza incrível. E reparar.
E é bem significativo que Amália Rodrigues, num dos seus discos melhores e mais elaborados (para mim o melhor), onde pela primeira vez aparecem as músicas de Alain Oulman, tenha escolhido, para cantar os seus próprios versos, célebre Estranha forma de vida, uma  velha melodia do Marceneiro.
— «Aquilo nem é um fado, é uma valsazinha que eu fiz há uma  data de anos e se lembraram agora de ir buscar» — ouvi eu dizer ao Alfredo Marceneiro, nessa altura, sempre irónico mas não sem uma ponta de orgulho.


Alfredo Marceneiro cantando na Adega Machado no Bairro Alto em 1961, acompanhado à viola por Armando Machado? e noticia de uma sessão de fados com Alfredo Marceneiro e Vicente da Câmara, acompanhados pela guitarra de Carlos Paredes, para os bailarinos Margot Fonteyn e Nureyev, no Grémio Literário em 1968. Foto da net.


Para cantar o fado até à morte

E já agora, sempre digo que ouvir o Alfredo Marceneiro conversar, teorizar sobre o fado, era quase tão bom como ouvi-lo cantar. E as coisas que se aprendiam; era toda a história do fado, que com a sua história afinal se confunde.
Nessas recordações, nunca saudosistas, sempre incisivas e críticas, muito críticas mesmo, passava-se pelo tempo em que o fado era cantado em cafés e acompanhado ao piano, «como devia de ser, que a guitarra só se usava para cantar o fado na rua, depois é que tudo isso se mudou»; passava-se pelo tempo em que cantar o fado não era profissão, e cada cantador — os cultivadores, como então se lhes chamava — juntava orgulhosamente ao seu nome a indicação do seu ofício honrado, tal como ele tinha sido, durante muitos anos, fadista sem deixar de ser marceneiro, e dos bons, operário que até entrara na greve do Alfeite. Lá se diz, na sua célebre marcha, que vale como um programa de vida: «Sou Marceneiro sim, porque trabalho / Marceneiro do fado e no ofício.»
E falava-se também na decisiva Festa do Fado, organizada por António Botto, no São Luiz, em 1924, primeiro passo para a dignificação dos fadistas, que depois se puderam profissionalizar, como «artistas de variedades», classificação que nunca lhes agradou lá muito. 


Anúncios da presença de Alfredo Marceneiro em Casas Típicas em 1946 e 1956.

E era inevitável virem á baila aqueles sítios míticos, onde o fado se foi forjando: o «Perna de Pau», o «Ferro de Engomar». Ainda fora de portas, lá para as hortas arrabaldinas; o «Solar da Alegria», o «Luso da Avenida», o «Salão Artístico», da grande guitarra Armandinho, já no Parque Mayer; o «Café Mondego», o «Retiro da Severa», onde um dia se estreou a Amália, sem esquecer o «Solar do Marceneiro», ali à Calçada de Carriche, de vida breve, pois cantar a horas certas e sempre no mesmo sítio, nunca foi do seu agrado, nem mesmo em casa própria.
Foi tudo isto há muitos anos. Mas quanto a essas verdadeiras lições de cultura popular que o Alfredo Marceneiro dava, quando estava para aí voltado, não acredito que quem as tenha ouvido, possa esquecê-las.
Depois dessas noites mágicas, quando a madrugada já ameaçava, e todos se iam deitar, ele ajeitava o lenço de seda ao pescoço, e lá entrava ainda por aquela réstea de noite, sempre fugidio, indo geralmente até ao Ritz  Club,  para fazer  barba. Talvez para começar bem o dia. Talvez para acabar bem a noite. É que isto de tempo certo e horas marcadas não era com o Marceneiro. O seu tempo construía-o ele, como muito bem entendia. Tal como a vida. Tal como o fado.

Vítor Pavão dos Santos
O Jornal 8-7-1982



Anuncio do Solar do Marceneiro, no final da década de 1940, Solar este que pertencia a Alfredo Marceneiro e outro anuncio em 1950 de um restaurante naquela zona, com direção artística de Alfredo Marceneiro, talvez fosse o mesmo?.



Alfredo Marceneiro canta o Bêbado Pintor, Letra de Henrique Rego e Música de Alfredo Marceneiro - Alexandrino da Laranjeira: Para a Manuela de Freitas.



Morreu de cansaço e tristeza
por
Fernando Dacosta

O mundo exterior foi-se-lhe fechando devagar. Quando o percebeu sentiu-se cansado e triste. Sentou-se em casa, casa de páteo aldeão, deixou de cantar, de sorrir e de comer.

Aos 91 anos recusou, ele que sempre a amara, a vida. Não sofria de nada: corpo, coração, pulmões, rins, estavam bons. Apenas a vista se afundava. Morreu no amanhecer do último sábado, de cansaço, de tristeza — de velhice. Desinteressou-se, revelam os amigos, de continuar. A sua velha cidade transformara-se. As pessoas, as casas, as noites, os sentimentos tornaram-se outros — e tornaram-no alheio. A ele, fadista de génio e de orgulho, símbolo de um povo húmido e triste e ensombrado.


Alfredo Marceneiro e Herminia Silva em 1970. Foto copiada de jornal.

«Começou a entristecer, a entristecer (palavras de Mascarenhas Barreto) até que... De há oito anos para cá a vida nocturna de Lisboa, que era a sua, alterou-se radicalmente. Os velhos motoristas de praça, os velhos porteiros e empregados de mesa foram substituídos por gente nova que não o conhecia. Isso magoava-o muito. Por vezes não o deixavam entrar nas casas de fados, não o acarinhavam, e ele sempre foi tratado nas palminhas das mãos. Os taxistas paravam quando o viam e levavam-no muitas vezes de borla, toda a gente o chamava pelo nome, lhe oferecia a mesa, o ajudava, quando aparecia tudo mudava à sua volta, ofereciam-lhe dinheiro. Às vezes cantava, mas só cantava quando lhe apetecia. Recusou contratos, recusou filmes, recusou ofertas valiosas. Eu ia buscá-lo muitas vezes com outros amigos. Deixou de trabalhar muito cedo devido a um acidente numa mão. Vivia de uma reforma, com modéstia, mas com dignidade, passava os dias a descansar e só saía à noite pois tinha medo dos automóveis. O trânsito aterrorizava-o!» 


A Viela, Letra de Guilherme Pereira da Rosa e Música Alfredo Marceneiro (Fado Cravo?)


Fado feito de pinho...

Alfredo Marceneiro é uma memória de Lisboa, como as fragatas do rio, os bicos de gás, o cacau da Ribeira, onde várias vezes o vimos no raiar da manhã, memória terna e secreta feita, há muito, imaginário colectivo.
Nele, o fado é  um edifício sem tempo, um  Jerónimos  de afectividade, um vinho de penares, um altar de exorcismos. «A culpa foi do Júlio Dantas ao escrever «A Severa». O êxito foi tanto que o fado começou a entrar (evoca-nos Luís Oliveira Guimarães) nos salões e a levar os fidalgos às casas típicas. Ele é que arranjou essa trapalhada... Mais tarde o turismo tomou conta de tudo. Ora o Marceneiro ficou como era, só cantando quando queria. Ele dizia-me: a minha oficina chama-se Marcenaria & Fado. Eu faço fados em pau santo, em nogueira, em castanho, em mogno e em pinho. Os de pinho são os mais populares, os de maior agrado!»


Nesta foto estão três do nossos maiores fadistas de sempre: Alfredo Marceneiro, Lucília do Carmo, (mãe de Carlos do Carmo) e Maria Teresa de Noronha, na casa de fados O Faia. Foto da net, sem data mas com a indicação: nos anos 60.


«Foram sectários com ele»

Envolto no seu universo, o velho fadista vagabundeou, livre e sábio, pelos anos, pela música, pela amizade, pelo orgulho de se saber resistente.
«Sim, resistente. Era um cantor da resistência (sublinha-nos Luís Cília) como um Gardel. Nunca se dobrou àquilo que o fascismo fez do fado. O Marceneiro era, em termos culturais, um cantor revolucionário porque verdadeiro, de raiz. Podia ter sido um tipo riquíssimo mas recusou, não cedeu. E era-lhe muito fácil entrar no sistema! Só tenho pena que não tenham sido os progressistas a pôr-lhe a medalha de Lisboa em vez do Abecassis. Mas os progressistas foram um bocado sectários com ele. Ele que tinha uma coisa cada vez mais rara: a autenticidade. Comovo-me muito ao ouvi-lo... o Ferré, quando cá esteve, gostou imenso de o ouvir, ficou muito impressionado. Que pena não ter sido aproveitado de outra maneira, mas os mentores da nossa cultura, que se calhar até têm muito pouca cultura, não se aperceberam do seu valor cultural!»


Alfredo Marceneiro, Amália e o marido em foto sem data copiada de jornal.


O fado também é protesto

Em entrevista antiga, Ti Alfredo desabafava: «Cá para mim o fado hoje não passa de uma fonte de receita turística... fado hoje é para inglês ouvir. Fado, canção do povo e para o povo? Não me façam rir! Onde está o povo que hoje em dia pode dar 500 escudos para ir às casas típicas?» O fado «também é uma canção de protesto, ou de denúncia!»
Singularíssimo o seu funeral foi caminhado ao som de guitarras, de vozes de fadistas, de palmas e de sinos. Pelas ruas fora, numa tarde sufocada de domingo e de emoção, até ao cemitério, amável, dos Prazeres.
Amália entoaria com outros «A Casa da Mariquinhas». «O fado — disse — morreu hoje». «Com lídima expressão e voz sentida/ Hei-de cumprir no mundo a minha sorte/ Alfredo Marceneiro toda a vida/ Para cantar o fado até à morte.»
Até à morte.

Fernando Dacosta
O Jornal 8-7-1982



Letra de Armando Neves e Música de Alfredo Marceneiro (Fado CUF).
"O MARCENEIRO"



Com lídima expressão e voz sentida
Hei-de cumprir no Mundo a minha sorte
Alfredo Marceneiro toda a vida
Para cantar o fado até à morte.



Orgulho-me de ser em toda a parte
Português e fadista verdadeiro,
Eu que me chamo Alfredo, mas Duarte
Sou para toda a gente o Marceneiro.



Este apelido em mim, que pouco valho,
Da minha honestidade é forte indício.
Sou Marceneiro, sim, porque trabalho,
Marceneiro no fado e no ofício.



Ao fado consagrei a vida inteira
E há muito, por direito de conquista.
Sou fadista, mas à minha maneira,
À maneira melhor de ser fadista.



E se alguém duvidar crave uma espada
Sem dó numa guitarra para crer,
A alma da guitarra mutilada
Dentro da minha alma há-de gemer


citizengrave.blogspot.pt
17
Fev17

“O ódio já está na Internet”

António Garrochinho


Juntámos à mesa jovens com percursos e experiências diferentes do discurso de ódio. Pusemo-los a dialogar sobre formas de lidar com as “piadolas” racistas ou homofóbicas que circulam nas redes sociais. Isto tudo a propósito de um manual do Conselho da Europa, que acaba de sair em português
Uma piada misógina na Internet torna-se viral e deixa uma jovem em pranto; o pranto vai em crescendo até ela ser de novo insultada por “se estar a fazer de vítima”. O insulto sobre a cor de pele negra de um rapaz propaga-se e torna-se um hábito que leva a outro insulto e a outro até se tornar insuportável estar na escola. Um comentário racista é deixado no mural do Facebook de alguém, mas outro alguém que também é alvo decide ficar calado. 
Quantos episódios como estes se passam na vida real e nas redes sociais e no nosso mural do Facebook, do Twitter? Até que ponto a fronteira entre liberdade de expressão de uma pessoa e direitos humanos da outra colidem no espaço público? Quanto destas ofensas são afinal discurso de ódio?
Em meados de Dezembro, o Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ), que coordena uma campanha do Conselho da Europa contra o discurso de ódio online, lançou um manual, com o nome Referências, para educar através dos direitos humanos. Fez acções de formação durante três dias com 24 participantes, entre professores e dirigentes de associações juvenis, entidades que irão ser multiplicadores da campanha. É um manual com exercícios para se reflectir em situações em que no centro está um caso de “discurso de ódio” – e para experienciar na própria pele o que é estar do lado das vítimas.
Para perceber como funciona este manual, o que é o discurso de ódio hoje nas redes sociais portuguesas e como é entendido pela juventude, juntámos à mesa um grupo de sete pessoas: quatro jovens com sensibilidades e experiências diferentes, uma membro de uma associação juvenil, a coordenadora da campanha do IPDJ, Margarida Saco, e uma mãe da Associação de Pais de uma escola em Lisboa. Lançámos perguntas, conduzimos a conversa, pusemos o foco na opinião de Tomás Barão, Edgar Cabral, Jéssica Pedro e Filipe Moreno.

1. O que é para vocês o discurso de ódio? Já vos atingiu?

Tomás Barão, 21 anos, estudante de Design de Comunicação na Faculdade de Belas-Artes. É de Palmela.

Já sofri bullying mas foi há alguns anos. Acabei por ultrapassar a questão. O discurso de ódio atinge todas as pessoas. Quando discrimino a pessoa negra, estou a discriminar a mulher, a pessoa transexual, a pessoa cigana… São minorias oprimidas que muitas vezes, elas próprias, são opressoras de outras minorias.
Por exemplo, noutro dia, fui dançar hip-hop. No espectáculo, o rapper falava sobre a sua vida, um bocado difícil. E no meio da música põe-se a dizer coisas misóginas e a incitar à violência contra as mulheres. Pensei: ‘Okay, estás a usar o rap como ferramenta para exprimires a opressão que sofres e ao mesmo tempo estás a oprimir.’ Estas coisas têm de ser desconstruídas, isso passa pelo que nos falta ter na escola. É muito fácil perceber que os manuais de História, por exemplo, não fazem a desconstrução do que foi a colonização portuguesa dos países africanos e têm uma narrativa extremamente imperialista, fala-se da epopeia dos portugueses mas não das atrocidades. Esta imagem pode ser um discurso de ódio. Ao ser complacente com essas discriminações, está a discriminar. Um professor de História tem de ter noção destas coisas e, se não consegue falar aos seus alunos sobre escravatura, fez essa escolha. Não sei se é discurso de ódio mas a invisibilidade mata, tem de ser abordada.
PÚBLICO -
Foto
Tomás Barão (à esquerda) e Edgar Cabral , ambos com 21 anos 
Depois fazem-se manuais [como o Referências]. Acho que têm um efeito muito limitado, não vão à raiz do problema. A raiz do problema atinge-se na escola, é onde as coisas têm de começar.

Edgar Cabral, 21 anos, animador sócio-cultural no Atelier de Tempos Livres de uma escola em Telheiras, vem do bairro Zambujal, na Amadora.

O Tomás tem razão. Há vários factores que trazem racismo, preconceito, discriminação, ‘n’ coisas que se não forem trabalhadas pela raiz dificilmente conseguimos mudar alguma coisa. Estes manuais podem-nos ajudar a minimizar mas não resolvem o problema – como diz a campanha, o ódio não é opinião, é um sentimento que temos de dentro de nós e, se não conseguirmos tirar o ódio de dentro de nós, dificilmente conseguimos mudar alguma coisa. O Tomás diz que sofreu bullying. Porque é que a educação que vem de casa não trabalhou isso? A escola tem de pegar no pai e na mãe, falar do caso de bullying, chegar ao foco do problema. Um pedido de desculpa serve mas ao mesmo tempo não serve porque deixa sempre marca nas pessoas. Eu, com a minha experiência nos bairros sociais, digo que há ódio racial. As pessoas passam ao lado e nem olham umas para as outras. Às vezes vejo crianças a dizerem: ‘És isto.’
Tomás Porque aprendem na família.
Edgar E dói. Há ‘n’ coisas que têm de ser trabalhadas. As campanhas e a publicidade são meios para chegar às pessoas, mas sem trabalho de campo é muito difícil. Nas redes sociais vê-se de tudo. O ódio já está na Internet. Às vezes abrimos a página de Facebook e já estamos a levar com alguma coisa.

2. Também sente isto em relação ao Facebook, Jéssica?

Jéssica Pedro, 17 anos, estudante do 12.º ano de Ciências Sócio-Económicas, vive no Bairro de Campolide, em Lisboa.

Sim. Basta entrar no feed do Facebook. O discurso de ódio incentiva ao discurso de ódio. Por exemplo, agora o assunto dos refugiados tem sido muito debatido. Há uns que lhes chamam terroristas, alguém escreve sobre isso, outra pessoa partilha porque concorda, segue-se um ciclo de pessoas a basearam-se em notícias falsas, que não têm sentido – e o ódio vai-se propagando. Depois há pessoas que dizem: ‘É a minha opinião, tens de aceitar.’ Liberdade de expressão é o argumento mais usado. Mas estão a ofender pessoas.
PÚBLICO -
Foto
Jéssica Pedro e Filipe Moreno, ambos com 17 anos 

3. O que é classificaria como discurso de ódio?

Jessica É um discurso que incentiva o ódio em relação a uma raça, a uma pessoa, grupo social, de género, etc.

4. Há gradações?

Jéssica Sim, as minorias recebem muito mais discurso de ódio do que o grupo dos brancos, por exemplo.

5. E há coisas mais graves do que outras?

Jéssica Sim, mas efectivamente tudo é grave. Por exemplo, humor negro. Há piadas que não deviam ser consideradas humor sequer. E as pessoas dizem: ‘Ah, mas foi só uma piada.’ Assim passa. Há imensas piadas, até com violação, e em relação às raças, em que as pessoas dizem que não podemos levar a mal – essa é a desculpa mais frequente. Mesmo que não me afecte a mim, que afecte outra minoria, as pessoas dizem que não posso levar a mal.

Filipe Moreno, 17 anos, estudante no 12.º ano, na área de Economia, mora no Bairro de Alvalade, em Lisboa.

Em relação ao humor negro tenho uma mentalidade mais aberta. Mas concordo, acho que quem faz essas piadas nem pensa, é apenas um motivo para entreter. Em relação à sensibilização, na minha escola, todos os anos havia palestras, da polícia, de instituições: o bullying e ódio não é muito presente. Mas cada vez que abro o meu Facebook o ódio é constante, literalmente: ‘Este é cigano, este é gay, vamos desprezá-lo, não pode ter os mesmos direitos do que nós.’ Liberdade de expressão não é poder dizer mal de tudo. Há coisas mais pequenas, mais básicas que vão fomentar o ódio: a pessoa que partilha a seguir acrescenta um ponto e esse ciclo começou com algo que não é muito de ódio, mas acaba no extremo.

6. O que se faz nesse caso, quando se vê?

Filipe Deve-se tentar dar o nosso ponto de vista. Não se deve cair na crítica fácil de dizer ‘és racista’, mas mostrar o que está mal com contra-argumentos.

7. Faz sempre isso?

Filipe Nem sempre, porque muitas vezes nem conheço a pessoa. Mas tento fazer quando é um amigo. Não vou dizer directamente: ‘És racista.’
Jéssica Se formos responder com ódio, estamos a ser iguais a eles. Devemos expressar o nosso ponto de vista porque normalmente passamos ao lado das coisas, ‘isso não é comigo, não quero saber’ – acho que isso tem de ser mudado.
Edgar Nas redes sociais, quando vejo alguma coisa desse tipo, não ligo muito. Para quem vive num bairro social, isto é o prato do dia. Tento chegar perto da pessoa e mudar o ponto de vista e muitas vezes tenho sucesso porque estou perto da pessoa.
Tomás A Internet incita-nos a agir de maneira impulsiva. Custa, mas temos de perceber que é muito mais fácil acusar logo e dizer ‘és um racista, xenófobo’ do que [usar contra-argumentos].
A propósito das piadolas, tenho um amigo que escreve num blogue sobre transexualidade; estava a comentar uma série de piadas transfóbicas em que os humoristas se defendem dizendo que aquela é a profissão deles, ‘vocês não têm sentido de humor nenhum’. O que diz o meu amigo é que é possível fazer humor do lado das pessoas oprimidas. Como o Jon Stewart, que fez um segmento a gozar com o facto de as pessoas trans não terem direitos. Ou seja, a escolha é do humorista: possível é.

8. Como é a vossa experiência no envolvimento de discussões deste tipo?

Tomás Normalmente o que publicamos no Facebook é uma câmara de eco. Quando é algo pelos direitos LGBT, toda a gente diz ‘sim’, ‘like’. Mas uma vez publiquei uma notícia sobre a etnia cigana e foi incrível. As pessoas vinham dizer: ‘Tu tens razão, mas… a minha mãe é professora e na escola um cigano disse que queria ser ladrão’ – e outras coisas do género, historietas que não interessam para nada. Foi muito difícil desconstruir aquilo, é das coisas mais enraizadas na mentalidade portuguesa – e acho que não consegui.
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"Uma das preocupações do manual é dar instrumentos às pessoas para puderem analisar, terem capacidade crítica e intervirem", explica Margarida Saco, coordenadora da campanha do IPDJ 

9. O manual tem alguma coisa que ajude a lidar com estas situações?

Margarida Saco Acho que tem de ser cada um a encontrar os seus próprios argumentos. É uma questão de ir respondendo e desconstruindo com histórias e dados positivos. Assim como alguém diz que conhece um cigano que quer ser ladrão, há outros exemplos contrários. E não é por um querer ser ladrão que podemos generalizar. Estou aqui com isto aberto na parte do discurso online [abre o manual]: uma das coisas que faz é dar uma definição, e várias dicas e pistas, com exemplos. O discurso de ódio é sempre mau mas há o mau e o pior. Que medidas vamos usar para responder? Uma parte tem que ver com o tom, que dá para medir a intenção.
O manual dá estes exemplos de frases: ‘Os imigrantes, ao longo da história, têm sido uma má influência’, ‘as pessoas com deficiência vivem à custa do Estado’, ‘um preto não é um ser humano, é um animal’, ‘és uma prostituta, vou violar-te amanhã’. Aqui o tom do texto escrito vai aumentando, e embora o primeiro já seja mau o final é um discurso direccionado com ameaça. Também há outros exemplos aqui, é diferente a intenção da frase ‘acabem com os gays’ escrita num email a um amigo como piada ou no mural de alguém que é gay. Uma das preocupações do manual é dar instrumentos às pessoas para puderem analisar, terem capacidade crítica e intervirem.
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Gabriela Ramos, 40 anos, mãe, trabalha com a presidência da Associação de Pais da Vergílio Ferreira. Regina Lima, 26 anos, membro da Associação Bué Fixe

Regina Lima, 26 anos, membro da Associação Bué Fixe

Faz todo o sentido a ideia de contrapor o discurso com argumentos válidos, saber responder com argumentos positivos. O manual ajuda bastante. O discurso de ódio muitas vezes expressa já uma intenção, que é a sua pior forma – este exemplo de ‘vou violar-te’ se calhar não é tão comum, mas ‘merecia ser violada’ já se ouve.

10. Como é que se lida com o discurso de ódio que quer ser subtil?

Tomás Por isso faz falta treinar o espírito crítico e nisso a escola falha. Muitas vezes esses discursos passam indetectados. O outro é dar-nos argumentos contra. Alguém que lide com pessoas com deficiência consegue desconstruir esses argumentos, alguém que não conhece ninguém tem mais dificuldade. Por exemplo, tinha alguma dificuldade em dar alguns argumentos a pessoas que são contra as pessoas ciganas; só quando comecei a conhecer pessoas ciganas é que comecei a ter argumentos. Antes pensava: isto é discurso de ódio, há qualquer coisa de errado, mas não tenho informação, como lido com isto? Por isso faz falta estar em contacto com as comunidades, com as minorias e cada um partilhar aquilo que somos.

11. As redes sociais espelham discriminação em relação a mulheres, Jéssica?

Jéssica Sim, estamos atrás do computador, do ecrã e há o anonimato, é fácil as pessoas espelharem opiniões ridículas. Depois há um público maior: a partir do momento em que alguém publica uma opinião, estão imensas pessoas a ver. Voltando ao humor negro: para quem está a dizer uma piada, aquilo é só uma piada. Se alguém vê e concorda, pensa: ‘Há mais uma pessoa a concordar comigo e ainda tenho mais razão do que pensava que tenho.’ Assim vai-se espalhando.

12. E a escola que ferramentas dá para lidar com este tipo de questões?

Gabriela Ramos, 40 anos, mãe, trabalha com a presidência da Associação de Pais dos alunos da Escola Secundária de Vergílio Ferreira

O problema tem que ver com valores, com responsabilidade e o emitir opiniões. É preciso trabalhar a responsabilidade para com o outro, compreender. O meu filho, de oito anos, este ano foi alvo de bullying por causa da cor e ninguém deu por isso: ‘és preto’, ‘cheiras mal’, ‘o que estás a fazer na nossa turma?’, diziam-lhe. Davam-lhe encontrões no recreio, colocavam os seus pertences na casa de banho. Mas passavam despercebidos, foi outra criança que alertou os pais para o que se estava a passar. Erradicar o discurso do ódio passa também por perceber as estratégias que estão a ser usadas. Porque começou como uma piada: ‘vamos chamar-lhe preto’, ‘não brinquem com o Bernardo’. O líder teve seguidores e enraizou-se, tornou-se uma piada. Uma miúda da turma do Bernardo passava por ele e dava um estalo na cara, achava piada. Eu ponho o dedo na ferida, abordei alguns pais sobre isto que aconteceu para perceberem que nem tudo corre bem: não temos filhos perfeitos.
PÚBLICO -






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Campanha "Ódio não". O manual do Conselho da Europa, agora traduzido, visa educar pelos direitos humanos 



13. Como é que se controla a piadola que começa a ter seguidores?

Filipe Passa pelos pais. E quando os preconceitos começam em casa, há grupos que são discriminados logo aí.
Tomás Na comunidade LGBT é um bocadinho mais difícil. As crianças ciganas têm pais ciganos, as negras têm pais negros e sofrem o mesmo. As pessoas LGBT quase sempre têm pais que não são LGBT e muitas vezes estão em risco de serem postas fora de casa apenas por o pai ou mãe descobrirem que são gay, lésbica, transexual…
Nesse caso, é um discurso de ódio que os jovens muitas vezes ouvem em casa sempre que aparece uma coisa na televisão, o pai ou mãe mandam o comentário e a pessoa em casa encolhe-se, fica a perceber que há algo errado ali. É o efeito da piadola, que pode ser extremamente pequenina e parecer insignificante mas a pessoa ao lado vai sentir-se mal. Se calhar há pessoas com sensibilidade para não fazer piadas racistas quando está um negro por perto mas as pessoas muitas vezes não pensam que está por perto uma pessoa lésbica, homossexual ou trans porque não é visível, só se a pessoa se assumir. As discriminações operam de maneiras diferentes.

14. Se pensarem nas vossas redes sociais, o que é mais comum verem de discurso de ódio?

Tomás Acabo por fechar as minhas redes sociais a isso, quem não interessa não sigo – sou amigo de pessoas que têm mais cuidado com aquilo que dizem.

15. O argumento do politicamente correcto é muito usado?

Tomás E qual é o mal?
Filipe Que é isso de politicamente correcto? Temos a nossa opinião independentemente de ser politicamente correcta. Se algum dia tiver uma opinião e disserem que é politicamente incorrecta, não a vou apagar por causa disso.
Jéssica As pessoas normalmente justificam o discurso de ódio como sendo opinião. Não é. Temos direito a ter a nossa opinião desde que não estejamos a ofender ninguém. Dizerem que ‘és preto e não gosto de ti’ e justificarem que é uma opinião… Não. Temos de estabelecer a diferença entre opinião e discurso de ódio.

16. O discurso de ódio devia ser punido?

Tomás Não sei se cabe a mim decidir.
Edgar Pergunta muito difícil.

[Em Portugal, há legislação, quer através da lei de discriminação racial ou do Código Penal, que pune racismo, xenofobia, discriminação com base na orientação sexual.]
Filipe Acho também há a procura dos revoltados das redes sociais, acontece tantas vezes as marias madalenas a chorar... Muitas vezes procura-se chamar racista e xenófobo a pessoas com discursos em que nem sequer há essa intenção.
Regina O discurso de ódio também tem que ver com a forma como se define. O que o Filipe está a dizer é que o que para mim é discurso de ódio não será para ele. Se calhar depende se fazemos ou não parte de uma minoria, habitualmente discriminada ao longo do tempo – uma pessoa que não sofreu na pele se calhar não vê. Somos livres, sim, faz parte dos direitos humanos, mas temos de colocar as coisas no ponto em que a minha liberdade começa onde acaba a do outro. Não posso achar que a minha liberdade é um dado absoluto e achar que neste contexto devo dizer tudo o que quero.



17
Fev17

QUEM SE LEMBRA DE CAJUDA ENQUANTO JOGADOR !?

António Garrochinho

CAJUDA


(Manuel Ventura Cajuda de Sousa, 27/7/1951,Olhão)


Médio-defensivo / Defesa-central
67/68-Olhanense----------juv.
69/69-Olhanense----------jun.
69/70-Desportivo S.Brás--Dist. 
70/71-Sambrazense--------Dist. 
71/72-Olhanense----------II
72/73-Sambrazense--------Dist.
73/74-inactivo
74/75-inactivo 
75/76-Olhanense----------II
76/77-Farense------------II 
77/78-Farense------------II 
78/79-Farense------------II 
79/80-Farense------------II
80/81-Farense------------II
81/82-Farense------------II
82/83-Farense------------II




































Antes de ser um treinador de méritos
reconhecidos internacionalmente,Manuel
Cajuda foi um jogador com uma carreira
baseada na totalidade no seu Algarve
natal.
Começando no Olhanense,Cajuda foi melhor
aproveitado no Farense,jogando a médio
defensivo,defesa-central ou libero.
Nunca jogaria na 1ª Divisão mas no seu
ultimo ano como jogador sagrou-se Campeão
da 2ª Divisão com o Farense,ficando no
clube na época seguinte,no primeiro escalão
nacional,mas já nas funções
 de treinador-
adjunto.
A partir dai começaria uma carreira de
técnico que já o levou a trabalhar em clubes
de norte a sul do 
país,e também no Egipto e
Emirados Árabes Unidos,sempre com competência
e resultados positivos.





Cajuda,o 5º em baixo,ainda no Sambrazense


Cajuda no Olhanense



Cajuda,ao centro,com a braçadeira de capitão,comandando
 a defesa do Farense em 79/80



Excerto de uma entrevista de Manuel Cajuda ao "Jornal do Algarve" em 1985
Cajuda,como capitão do Farense, no ultimo ano como jogador





algarvalentejo.blogspot.pt

17
Fev17

ALGARVE - Visitar Moncarapacho !!

António Garrochinho

Moncarapacho apresenta-se como típica vila do Barrocal algarvio, por entre colinas suaves, onde vicejam hortas e pomares e não falta a presença das figueiras, amendoeiras e romãzeiras.
É possível comprovar a presença humana em vestígios arqueológicos pré-históricos e depois a passagem dos gregos, os romanos, os visigodos e árabes.
Destaca-se como sendo a maior e mais antiga freguesia do concelho de Olhão, ainda anterior a este concelho. O primeiro documento oficial que refere a povoação de Moncarapacho data de 1368, ano em que o rei D. Fernando deu "de aforamento a João Afonso e todos os seus sucessores uma vinha e figueiras que tinha em Tavira, em o logo que chamam Moncarapacho".
Apenas em 19 de Junho de 1471 D. João de Melo, bispo do Algarve, separou Moncarapacho da freguesia de Santiago de Tavira, autonomizando a povoação e elevando-a a sede de freguesia, embora continuasse pertencendo ao Termo (ou Concelho) de Tavira até 1826, data em que passou a integrar o Concelho de Olhão.
Na época medieval a região era ocupada sobretudo por Fidalgos que exploravam as zonas agrícolas e, na necessidade de praticar os sacramentos, levou à edificação de uma Igreja aprovada em 1459, este acontecimento conduziu a uma agregação e desenvolvimento da zona envolvente.
Durante o último quartel do século XV e todo o século XVI, Moncarapacho conheceu um grande desenvolvimento populacional, motivado em parte pelo estabelecimento de "famílias nobres" que haviam integrado a empresa dos Descobrimentos no Norte de África. Tal crescimento originou, grosso modo , uma nova estrutura urbana, que a vila mantém até aos dias de hoje.
Este conjunto, que se desenvolveu em torno da igreja matriz, é constituído por casas de dois pisos, de linhas sóbrias, e alguns palacetes, também estes de dois registos. São casas que conservam elementos quinhentistas, e sobretudo casas representativas da arquitectura burguesa do séc. XIX e início do séc. XX, sendo muito influenciadas pelos traços urbanos da vizinha cidade de Tavira.
Em meados do século XVI foi fundada a Misericórdia de Moncarapacho.
Moncarapacho é atualmente e desde inícios do séc. XX conhecida por manter festejos de Carnaval.

Igreja Matriz

A primitiva igreja de Moncarapacho foi edificada na primeira metade do século XV, havendo um contrato datado de Outubro de 1453 que autorizava os habitantes da povoação a terem capelão, embora dependessem da freguesia de Santiago de Tavira.
Na atual Igreja Matriz ainda é possível observar os elementos arquitetónicos (cunhais da retaguarda e as nervuras de algumas abóbadas) que a remetem para a sua origem gótica  e medieval.
Contudo, a magnificência fica a dever-se às ampliações quinhentistas que dotaram a igreja de um portal principal que é considerado como uma das mais belas obras de arte renascença do Algarve. Este portal apresenta um  grupo escultórico da Anunciação da Virgem e as imagens dos apóstolos São Pedro e São Paulo.
No interior merecem uma referência especial as pinturas das capelas das Almas, do Calvário e de Santo António e o núcleo de imagens dos sécs. XVII e XVIII, com destaque para as de Nossa Senhora do Rosário e do Senhor da Paciência


Igreja da Misericórdia


Será necessário solicitar aos funcionários da Igreja Matriz a permissão para uma visita a esta Igreja da Misericórdia.
A Igreja da Misericórdia trata-se de iniciativa particular, que posteriormente foi doada à Misericórdia, a sua data de construção é imprecisa apontando para finais do século XVI inícios do século XVII.
Sofreu obras de remodelação em 1748 e posteriormente em 1842 onde foi alterado o interior e o exterior, embora de uma modo geral a traça original tenha sido mantida.
 No retábulo do altar-mor, que se pode visualizar na figura ao lado, encontram-se seis telas de pintura maneirista (finais do séc. XVI) representando cenas da vida de Cristo.


Museu Paroquialmuseu.jpg (159989 bytes)

Capela de Santo Cristo e Museu Paroquial

Também muito perto da Igreja Matriz, encontram-se o Museu Paroquial e a Capela de Santo Cristo.
O edifício do Museu foi erguido no terreno anexo à Capela de Santo Cristo, surgindo no intuito de constituir um Museu em Moncarapacho, graças à grande persistência do Padre Isidoro Domingos da Silva e da amizade e apoio do estudioso Dr. José Fernandes Mascarenhas, ambos coleccionadores durante décadas que decidiram partilhar a sua paixão. Construído entre 1972/ 74, com numerosos donativos de particulares, só será aberto ao público em 1981, devido aos tempos controversos do 25 de Abril de 1974. Surpreende pelo conjunto de interessantes peças de arqueologia (pré-história, período clássico e ocupação árabe), destacando-se o marco miliário da época de César Augusto, peças de etnografia, uma valiosa coleção de imaginária religiosa dos sécs. XVI a XVIII, e um relógio construído pelo famoso relojoeiro inglês John Harrison (criou o primeiro relógio que resolveu o problema do cálculo da longitude nas navegações oceânicas), de que só existem quatro exemplares no Mundo.

 





É, porém, o presépio napolitano do séc. XVIII - um dos mais antigos da Europa - a principal atracção do Museu. Composto por um total de 45 peças, representa a adoração do Menino Jesus. As figuras, com cabeça em terracota, pernas e braços em madeira, estão vestidas com sumptuosos trajos da época, a que não falta a presença da prata e do ouro.
Tem visitas guiadas em português, inglês ou alemão nos dias úteis das 11h às 17h (ano 2006).
A Capela de Santo Cristo

Capela de Santo Cristo


Anexa ao Museu, o início da construção deste templo data  de 15 de Fevereiro  de 1632. Foi um local de grandes peregrinações provenientes de todo o Algarve nos sécs. XVII-XVIII e guarda desse período um valioso património.
A construção é barroca do séc. XVIII, de grande simplicidade. O interior está revestido por azulejos policromados de padrão que datam de 1663. Várias telas no seu interior representam cenas da Natividade e um Coração de Jesus. O altar em talha dourada, tem imagens do séc. XVIII. Há ainda uma interessante grade em pau santo (séc. XVII).
Esta capela ainda hoje recebe inúmeras visitas de todo o Mundo atendendo ter fama de "milagreira".


Casa-Museu Dr. José Fernandes Mascarenhas

Esta casa pertenceu ao Dr. José Fernandes Mascarenhas, filho da terra ilustre que publicou muitos estudos históricos e arqueológicos do Algarve e particularmente de Moncarapacho.
Esta casa guarda o seu valioso espólio e é uma homenagem à sua vida (para saber mais clique aqui). Pretende também contribuir para o estudo do património de Moncarapacho,
Está localizada na R. 5 de Outubro, nº 47 (telef. 289792478 / 967556107 e está aberto ao público no seguinte horário: 3ªs, 5ªs feiras e 1º sábado de cada mês das 10h às 13h. Aceitam-se marcações para grupos.

Em volta de Moncarapacho existem diversos montes onde em tempos se localizaram ermidas e que actualmente são óptimos miradouros da paisagem circundante.
Na Ermida ou Igreja de S. Sebastião dos Matinhos 
i.s.sebastiaodosmatinhos.jpg (39336 bytes)

(em Bias-Norte), dedicada a este santo, tem lugar uma procissão anual, no primeiro domingo que se segue à Páscoa. Conta-se que várias vezes se tentou trazer a imagem do santo para Moncarapacho mas que sempre ele "fugia" para o local onde agora se encontra esta Ermida, pelo que os moncarapachenses tiveram mesmo que a erigir (na porta principal está gravado na pedra a data de 1713).
O  Cerro de S. Miguel 

(411 m), a cerca de 4 Km a noroeste de Moncarapacho é, sem dúvida, o local que proporciona um dos mais belos panoramas do Algarve, abrangendo a Sul, o litoral de Albufeira a Espanha e, a Norte, o alcantilado da Serra do Caldeirão.
Este Cerro foi sempre um ponto conspícuo muito importante para os marinheiros, desde a Antiguidade - os Gregos chamavam-lhe Montanha Sagrada ou Monte Zéfiro (deus do vento oeste, que os levava para casa...).
Segundo a tradição local, após a reconquista cristã, o cerro teria recebido o nome do santo preferido do Infante D. Henrique, atendendo ter sido o primeiro ponto de terra portuguesa que ele avistara no regresso da conquista de Ceuta. Ainda na primeira metade do séc. XX existia uma cruz de pedra no topo do cerro para assinalar o significado cristão dado ao local.
Segundo a lenda também teria sido o Infante D. Henrique a construir a Ermida de S. Miguel, na encosta norte do Cerro de S. Miguel. Comprovadamente, esta Ermida existe pelo menos desde o séc. XVI e nela ocorreram romarias e pagamentos de promessas até ao séc. XIX
i.s.miguel.jpg (79080 bytes)
.
A Ermida proporciona uma bela vista de S. Brás do Alportel, e a possibilidade de se fazer piquenique em mesas de pedra. No interior encontram-se algumas imagens antigas de Nossa Senhora. Abre todos os terceiros domingos do mês, pelas 17 h, para celebração de missa. Também no Natal, é costume celebrar a Missa do Galo.
Um outro miradouro natural, desta vez situado a nordeste de Moncarapacho, é o Cerro da Cabeçaque, para além de panoramas que abrangem um vasto arco do litoral, tem a curiosidade de ser perfurado por numerosas grutas que são as mais profundas do Algarve (gruta da Senhora, do Garrafão, dos Mouros, da Ladroeira Grande e Ladroeira Pequena) e algares (algar Maxila, 90 m; algar da Medusa, 78; algar do João, 60m; algar do Próximo, 35m; etc.). Tudo isto é actualmente só acessível a espeleólogos.


 
s.miguel.jpg (126438 bytes)

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Panorâmica do Cerro da Cabeça: avista-se ao longe Tavira e Vila Real de Sto António, mais à direita está o mar, não incluído nesta fotografia.

www.olhao.web.pt
17
Fev17

Este é o Algarve que (muita gente) não conhece

António Garrochinho


  • 5
São Brás de Alportel pode não ser o mais imediato destino turístico algarvio, mas esta vila situada entre a serra e o mar possui muitos encantos escondidos. Os estrangeiros têm vindo a descobri-los e a potenciá-los. Está na hora de os portugueses fazerem o mesmo.
Toda a gente sabe que os ingleses sempre gostaram do Algarve. O sol, a praia, a comida, o custo de vida, são inúmeras as razões para que os súbditos de Sua Majestade venham gozar a reforma junto ao mar. Mas já nem só de ingleses e do litoral vive a região, sendo cada vez mais os estrangeiros que se afastam do oceano em direção ao interior, rumo a aldeias e a vilas onde o tempo não parou, mas que continuam a conservar muitas das características que o turismo de massas parece ter engolido.
Como São Brás de Alportel. Um pouco por toda a vila veem-se pequenos grupos de estrangeiros, sobretudo dinamarqueses. A maioria fica instalada na antiga Pousada de Portugal, edifício que depois de três anos de gestão do Grupo Pestana e quatro de abandono, por falta de viabilidade financeira, funciona desde 2014 como aparthotel de 34 quatros comercializado no mercado dinamarquês. Formam uma espécie de comunidade, mas não se fecham em casa. Frequentam as lojas, os cafés e os restaurantes.
Frank e Veronique não são dinamarqueses, mas também eles têm ajudado a dinamizar a terra. A história não é original (um dia vieram de férias e apaixonaram-se pelo Algarve interior), mas vale a pena ser contada, até porque dessa paixão nasceu um dos mais bonitos alojamentos de charme da zona: Farmhouse of the Palms.
Vila localizada entre a serra e o mar, São Brás de Alportel é mais do que um ponto de passagem. Merece uma visita demorada.
Belgas, a viver em Antuérpia, trabalhavam ambos na banca e a vida não lhes corria propriamente mal, ainda assim não hesitaram em deixar tudo para trás quando encontraram a casa dos seus sonhos, uma antiga quinta senhorial com 200 anos. Fica localizada a poucos minutos da vila, na colina Cerro do Botelho, com vista panorâmica sobre o vale e sobre São Brás.
Meteram mãos à obra e fizeram um Bed & Breakfast tão simples quanto sedutor. «Este o quarto mais pequeno» diz-nos Frank, mostrando uma das habitações no piso térreo. Poderia ser uma suite, uma boa suite, em muitos hotéis. Cinco quartos no total com terraço privativo e uma decoração (aparentemente) simples, em que sobressai o uso da pedra, a madeira, o branco. Há várias camas, redes e áreas lounge espalhados e uma piscina forrada com mosaico preto. Por momentos julgamo-nos na Grécia, em Itália. Um erro. Portugal, o Algarve interior é isto.
O mesmo Algarve que Gudrun Tschiggerl procurou. Uma austríaca que está em Portugal há 36 anos, foi diretora de hotel em Lisboa, trabalhou também no litoral algarvio, mas há alguns anos encontrou em Fonte da Mesquita, a cinco minutos de São Brás, o seu refúgio. Recuperou um antigo lagar de azeite e transformou-o num restaurante que junta técnicas contemporâneas com os sabores e saberes da região, como um bife de atum, um lombo de bacalhau ou um chambão de borrego à moda de África com especiarias e abóbora assada. Muitos dos clientes também são estrangeiros e trazem consigo guias para fazer caminhadas. Um dos percursos passa mesmo pelo restaurante. Nove quilómetros por entre rosmaninho e alfarrobeiras, numa explosão de verde que apanhará desprevenidos todos aqueles que acharem que o azul é a cor oficial da região.
O Algarve interior é sinónimo de boa gastronomia. Produtos vindos da terra, mas também do mar, que não fica assim tão longe.
Mas nem só de forasteiros se faz São Brás de Alportel. Bem pelo contrário. É neste cruzamento entre os que vêm de fora e a essência da terra que está muito do encanto da vila. É um ponto de confluências. Bem no centro, a estrada nacional N2 (que liga Chaves a Faro, o norte ao sul do país) cruza-se com a N270, via que tanto pode levar-nos para Loulé como para Tavira. Sobe-se ao miradouro do Alto da Arroteia, a 368 metros de altitude, e vê-se o mar, o barrocal, a serra do Caldeirão. «Porta aberta à serra, janela sobre o mar» é um dos slogans, um dos lemas da vila.
É verdade que à primeira vista não parece haver muito para fazer, um imponente centro histórico, uma obra arquitetónica de grande vulto, mas uma visita mais atenta mostra que São Brás é muito mais do que um mero ponto de passagem. Uma incursão a pé, pelo Museu do Trajo, ideal para conhecer a história e a etnografia da região; pela Guiso, loja de artesanato com seis meses criada por Sónia Martins, uma designer que se dedicou a divulgar, vender e também produzir pulseiras, colares, sabonetes ou malas de cortiça; pelo moderno restaurante Ysconderijo, de um jovem casal da terra; ou pela Casa da Barreira, um café/mercearia à antiga que serve tapas e vende licores, doces, azeite, mel, marmelada e carteiras e cestos feitos à mão.
A cortiça está ainda muito presente no dia-a-dia, apesar de já não serem um dos maiores produtores do mundo, como no século XIX. É possível fazer várias rotas à descoberta desta tradição ou mesmo comprar uma mala, um guarda-chuva ou um boné feitos com este material, na Pelcor. Uma loja que já teve alguns dos seus produtos expostos no MoMA, em Nova Iorque, provavelmente o mais famoso museu de arte contemporânea do mundo. Não há melhor material do que as nossas tradições.








Onde ficar
Farmhouse of the Palms
Cerro do Botelho, CxP 508
Tel.: 964478157
farmhouseofthepalms.pt
Onde comer
Lagar da Mesquita
Tel.: 289845809
facebook.com/lagardamesquita
de terça a sábado, das 12h às 14h e das 19h às 22h. Domingo das 12h às 14h
Preço médio: 15 euros
Ysconderijo
Rua Gago Coutinho, nºs 45 e 47,
Tel.: 289849520
Aberto só ao jantar, das 19h às 22h
Preço médio: 15 euros
Casa da Barreira
Largo do Mercado, 8
facebook.com/casadabarreiracafemercearia
O que ver
Museu do Trajo
Rua Doutor José Dias Sancho, 61
Tel.: 289840100
museu-sbras.com
De segunda a sexta, das 10h às 13h e das 14h às 17h. Sábado e domingo das 14h às 17h.
Texto de João Ferreira Oliveira - Fotografias de Leonardo Negrão/Global Imagens



www.voltaaomundo.pt

17
Fev17

BARROCAL ALGARVIO -entre a serra e o mar.

António Garrochinho



A intrincada serra algarvia reserva-nos segredos escondidos no topo dos seus montes e no fundo dos seus barrancos a que só um profundo conhecedor poderá aceder.
As “águas santas” – famosas nascentes de água milagreira que ajudaram durante milénios a aplacar a dor e o mau estar dos habitantes algarvios que muitas vezes se deslocavam de distâncias consideráveis para usufruir dos seus benefícios, estão espalhadas um pouco por todo o barrocal,  e constituem excelentes locais de visita.
As extensas paisagens de esteva, sobreiro, alfarrobeira, amendoeira, figueira, palmeira-anã e aroeira são a marca distintiva desta região.
Nas profundezas da serra encontram-se cursos de água que correm na sua maioria sazonalmente onde crescem choupos, amieiros, silvados e outras plantas. Nos pegos quase inacessíveis é fácil encontrar hortas quase sempre abandonadas  e por vezes, uma velha habitação de taipa com o forno ao lado da casa, que nos transporta de imediato ao passado e às dificuldades e dureza de quem por ali viveu.
Este locais são lar de muitas espécies de aves que se alimentam de bagas, pequenos frutos silvestres bem como de árvores de fruto abandonadas, insectos e larvas pelo que são reservas importantes para a avifauna. Na primavera  surgem autênticos jardins de plantas endémicas um pouco por todo o lado, das quais muitas são usadas ainda hoje na medicina tradicional pelos locais.
Conversar com estas populações que ainda vivem da pastorícia e agricultura, em particular com os mais idosos é sempre uma viagem que gostamos de fazer e onde muito se aprende.
No fundo desses barrancos vagueiam também javalis, texugos, saca-rabos, raposas, ginetes, lontras e outros mamíferos que fazem da noite o palco das suas caçadas.
Subir ao topo dos montes desafoga-nos a vista permitindo-nos observar extensas paisagens de esteva e às vezes medronheiros com que se faz a famosa aguardente de medronho.
Ai é o reino da águia de bonelli, dos gaios, charnecos, bico-grossudo, torcicolo e muitas outras espécies de aves.
As regiões mais interiores escondem-nos outros segredos…velhas aldeias abandonadas desde períodos muito antigos,  menires e túmulos das antigas sociedades agro-pastoris, edificações islâmicas  das quais só resta o chão, túmulos campaniformes que intrigam os arqueólogos, estelas com a famosa escrita do sudoeste  e algures perdida na serra uma edificação com 6500 anos que virá revolucionar em muitos aspectos, tudo o que se pensa da evolução humana no Algarve e que é tão só a única do género no sudoeste peninsular até agora encontrada.
Para além do que normalmente é referido sobre o Algarve e sobre as suas vilas e aldeias, existem muitos locais extraordinários com paisagens maravilhosas perdidos no barrocal que merecem toda a nossa atenção pois é  nesse  palco que se continuam a fazer descobertas inesperadas por parte dos nossos arqueólogos e comunidade científica.
















algarveselvagem.com
17
Fev17

O CERCO

António Garrochinho
DEPOIS DE TEREM COZINHADO TUDO NAS COSTAS DO POVO, UNS VÃO APERTANDO O CERCO, OUTROS DIZENDO QUE ESTÁ TUDO BEM E O PRESIDENTE NO SEU JEITO INSOSSO TAMBÉM VAI ACALMANDO AS HOSTES MAS NA MINHA OPINIÃO TEVE DEDO SEU NA SITUAÇÃO CRIADA.
OS GATUNOS LARANJA E DO PARTIDO DO JACINTO LEITE CAPELO REGO APERTAM O CERCO A UM CENTENO QUE JÁ ESTEVE MAIS LONGE DA DEMISSÃO.
ENQUANTO ISSO O "LOBO" XAVIER VAI MANOBRANDO NO SENTIDO DE DENEGRIR A CGD PARA QUE OS INTERESSES DO BPI ONDE PERTENCE AO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO LUCREM COM O DESCALABRO QUE OS FASCISTAS QUEREM CONCRETIZAR.
MARCELO TEM-NO NO CONSELHO DE ESTADO NUMA POSIÇÃO PRIVILEGIADA PARA OBTER TODO O TIPO DE INFORMAÇÕES.
António Garrochinho
17
Fev17

O ALGARVE E OS ALGARVIOS Sobre tradições perdidas e sobre tradição «inventada» ou a Histórica histórica encruzilhada de uma região com o poder central.

António Garrochinho

Fale-se no Algarve ou nos algarvios e, de imediato, se ergue uma miríade de lugares-comuns que fundamentam o conhecimento de quem nos desconhece por completo..
Sempre foi assim ao longo da história e grave é a distorção da nossa essência de gente por essas eminências pardas paridas de um poder central, de si provinciano e periférico, dos traumas dos ultimatos britânicos e das perdas de Brasil e de outros mundos dados ao mundo. O discurso oficial do poder central sempre foi o da invenção dos lugares-comuns e de estereotipar os povos e gentes por si dominados. Povos com milenar percurso e com a mais bela das diversidades, de onde lhes advêm a riqueza – não apenas a material, mas, essencialmente, a riqueza histórica, cultural, social, linguística, etnográfica ou antropológica. A riqueza da raison d´être dos povos. E nesses povos, o algarvio.
Povo caldeado durante milénios pelos que aqui chegaram e se radicaram, mas definido sobretudo pela existência milenar das gentes, das suas formas de vida, do aproveitamento racional dos recursos do território, do equilíbrio (forçado ou voluntário) dos nativos com as formas de poder chegadas e exógenas. Se, da Idade do Ferro aos Fenícios, Cónios e Turdetanos, de Roma e sua queda aos Visigodos, aos Árabes (com a sua chegada, permanência e partida) e à reconquista cristã e deste reino dentro do reino, o poder, traço comum, assumiu as formas administrativas e legais que regraram a região, mas tendo sempre as gentes algarvias, e o Algarve, no fim desta equação.
Às mutações da ordem política vigente, permaneceu o sentido de perenidade do povo algarvio, com a sua particular forma de organização e de modus vivendi. Uma riqueza que advêm não de traços comuns com que o exterior nos vê, mas desta mesma essência de diversidade que temos entre localidades separadas por poucos quilómetros, entre sotaventinos e barlaventinos, entre serranos e litorâneos, entre os mesteres – os trabalhadores rurais, os pescadores, todos sem excepção. A nossa diversidade é, justamente, a nossa unidade milenar. Não a unidade de lugares-comuns e esquadria crua com que os outros procuram definir-nos, mas sim a unidade de gentes de luta que nas suas atividades construíram as vidas, e da exemplar constância como os recursos de que dispomos, foram sempre equivalentes ao nosso sucesso.
Que o poder central formate, ao longo da História, o Algarve e os algarvios nessa padronização injusta e desconhecedora da nossa natureza e memória, é quiçá uma forma de colonização que, sendo sub-reptícia, não deixa de ser igualmente agressiva. Mas que a criação do poder central passe por uma ideia estática e preconcebida do povo algarvio e que este mesmo povo tenha, por força da falácia que lhe é imposta, esquecido a sua memória, a sua importância e a sua capacidade – esse sim é um processo desastroso que atenta terrivelmente a alma mater e à autoestima que devíamos nutrir, por força da nossa história e pela nossa força.
Não esqueças, irmão algarvio, que em tempos milenares da tua história, foste o mais apreciado garum romano, vendido, na capital do império, mais caro que ouro às nobres famílias patrícias; que foste os néctares e ambrósias louvados pelos poetas árabes nascidos no teu seio e que cantaram a tua beleza; que foste água das tuas fontes e madeira dos teus bosques – limpos até à última árvore – para os navios da expansão marítima portuguesa; que foste gentes indómitas embarcadas nessas mesmas naves, como o piloto Gonçalo de Lagos; que foste a força das tuas pescas e a abundância da tua agricultura, quando além dos recursos com que sobrevivias muitos mais te levavam, sem que existisse, até ao século XVI, proteção às tuas costas, ao teu comércio. Que te levantaste de sismos enormes – não apenas o de 1755, mas anteriores, como no século XVII ou em 1722. Que foste os indomáveis olhanenses do caíque “Bom Sucesso” rumo ao Brasil, em 1808. Que foste a melhor cortiça do mundo, no teu montado já extinto; que foste as bolsas de atum, da sardinha e de tantos outros pescados e de uma numerosa frota de pesca, que faziam a força da tua indústria conserveira; que foste as tuas hortas e pomares, onde em condições determinadas, tal como no Brasil ou em Angola, havia duas produções anuais. Tu és, Al-Muthamid, Ibn Ammar, António Aleixo, António Ramos Rosa, Gastão da Cruz, Casimiro de Brito, Nuno Júdice. Tu és os irmãos Cabreira, Mendes Cabeçadas, Teixeira Gomes, Duarte Pacheco, João de Deus, Bernardo Passos, Maria Keil ou o Remexido e tantos mais dignos da galeria de imortais de Portugal. Todos algarvios…
É deste povo assim digno, destes notáveis, mas sobretudo dos milhares de notáveis anónimos, que, de Sagres a Vila Real de Santo António, de Alcoutim a Odeceixe e dos contrafortes da cordilheira serrana de Monchique – Caldeirão – Espinhaço, pelos xistos serranos, pela argila e calcário do barrocal e pelas várzeas, areias e falésias do litoral sul, das nossas cidades, vilas, aldeias e montes, construíram a pulso as suas vidas, a nossa verdadeira tradição – a do nosso povo, dos nossos recursos, do nosso modo de vida e da nossa memória.
Façamos a devida distinção sobre este conceito de tradição: a legítima e a criada. A tradição legítima por exemplo, foi a que, desde Lisboa, foi abolida com ferocidade, especificamente com a proibição do trajo algarvio por excelência, o «Bioco» das mulheres olhanenses, na segunda metade do século XIX. A tradição criada foi aquela que promoveu, por exemplo, uma falsa imagem das qualidades da região como importante base para a campanha do trigo, na região serrana onde, sem existirem terras com qualidade e clima adequado à cultura cerealífera, a repetição de erros de sobre-exploração e falta de arroteamento, em nome de um aumento produtivo que permitisse criar a ilusão de uma independência alimentar do país, causou a total exaustão e falta de produtividade dos campos.
As tradições que muitos algarvios pensam como suas, mas que são grosseiras montagens impostas pela expressão da política de espírito do Estado Novo e do seu criativo António Ferro. Nos tímidos inícios do turismo na região, em finais da década de 40 do século passado, esta política criou o Algarve enquanto produto destinado aos turistas dos poucos hotéis então existentes, numa miscelânea e amálgama de elementos de trajo que vão da fórmula do lenço sob o chapéu, num sucedâneo neoimpressionista de mondadeira, e das meias rendadas importadas de um campino em trajo domingueiro.
E inclusive pela invenção do próprio folclore algarvio pobre e minimalista de modinha adornado de ferrinhos, nessa criação tão abstrata quanto de mau-gosto, dos ranchos folclóricos – que nunca haviam feito parte da cultura algarvia. E assim, nessa falácia do vendável do Portugal salazarista estereotipado, até a forma de dançar os corridinhos, especialmente o frenético Alma Algarvia como hino do Algarve, tiveram que ter coreografia inventada a partir das rotações constantes dos dançarinos, quais os das danças de dervixes, em terras do Oriente Médio.
Talvez a charola de Reis não fosse tão apelativa por ser mais parada que o corridinho. E talvez a normalidade das vestes das gentes trabalhadoras do Algarve não combinasse bem com a moldura pretendida para o Portugal dos Pequeninos e a Exposição do Mundo Português, de 1940. Hoje, cai esta tão antiga tradição algarvia das charolas, morrendo quiçá porque, em termos do turismo, não interesse revelá-la como uma das mais arraigadas formas de convívio entre várias comunidades algarvias. Talvez a recuperação de uma verdadeira tradição algarvia como os bonecos dos Maios, que durante os anos do fascismo no nosso país, pelo contexto cáustico das suas mensagens, não fosse interessante ao tal poder, seja afinal um afirmar da nossa identidade, despida de qualquer interesse.
Diga-se que, segundo interesses externos, a invenção do estereótipo da nossa região chegou ainda mais além e de forma mais chocante – como foi o caso da chaminé algarviaEx libris de elemento arquitetónico da região, na sua atual complexidade de conceção industrial, por molde com pináculos e complexas formas geométricas e cores, nada tem que ver com a tradicional chaminé algarvia, onde a existir rendilhado, este se obtinha com a disposição em forma simétrica de meias telhas ou ladrilhos, colocados opostamente uns contra outros, sob um eixo de simetria. A estas chaminés, que primavam pela simplicidade, deu-se-lhes um cunho distinto, enquanto se afirmando que certos marmanjões cónicos, hexagonais e de outras formas, são a pureza algarvia.
Estas chaminés, não sendo necessariamente elemento sine qua non característico da arquitetura tradicional algarvia, até porque a forma da casa algarvia contempla uma enorme variedade de exemplos – desde as faladas casas de taipa de formato cilíndrico, com telhados de colmo, até às casas com açoteias ou da rusticidade arquitectónica rural que, não sendo exclusiva do Algarve, são constantes na região sul de Portugal e até nas mais diversas paragens do Mediterrâneo.
O próprio turismo foi sujeito à invenção da tradição do sol e praia. Em tempos mais remotos, a promoção turística das terras algarvias assentava na saúde, através de águas de fontes termais e as estâncias das mesmas. Esta sua razão de existência assumia um carácter que prevalecia pela qualidade e diferenciação, fosse em Monchique, Tavira ou Cachopo.
Verifica-se assim a proposta ideológica de substituir a bela complexidade da nossa riquíssima diversidade histórica e cultural, por um padrão estático toscamente simplista e renegador das virtudes do que somos, diversificadamente, como povo – das nossas atividades e modos de vida; dos nossos recursos, das relações entre nós próprios e com o mundo. Em suma, a imposição e desenvolvimento deste turismo pelas decisões do poder central e assentimento de gente algarvia (talvez não merecedora de o ser), para agudizar e eternizar a tradição da ditadura da mono-atividade turística, com impacto assinalável no PIB nacional, mas que vende em nome do lucro de muitos grupos estrangeiros ou nacionais que recorrem a offshores sem que qualquer dessa riqueza se traduza na região onde é produzida – na qualidade de vida dos algarvios, na dignidade dos trabalhadores sujeitos à exploração e sazonalidade e na constatação que o sempre arguto cacique algarvio, marcando o seu conjunto de interesses, continuará a manter a muita tradicional forma de actuar, proclamando cá pelo feudo gritos de Ipiranga contra o poder central, no relativo a questões como as portagens da Via do Infante, requalificações de estradas como a EN 125 ou reabilitação de portos marítimos. Depois, porém, como pequenos algarvios na grande cidade e na Assembleia da República, fora da zona de conforto (e das mentiras apregoadas) na região, aprovam as medidas que a lesam , abstêm-se quando deveriam tomar posição ou votam, junto dos que nos prejudicam, contra a revogação das medidas que violentam o Algarve e os algarvios.

Sabemos, pois, nestes tempos que temos a tradição de ser donos “do mar azul, das areias, dos trezentos e tantos mais dias de sol, das unidades hoteleiras de excelência, de pratos tradicionais algarvios (se a nossa gastronomia não fosse tão rica que a cada três quilómetros difere o que é tradicional e onde até a sardinha assada nacionaleira é tradicional do Algarve”. Todos lugares-comuns, para justificar a mono-atividade turística algarvia, enquanto matriz única da inevitabilidade de toda a riqueza de uma região, presente e futura.
E escondidos noutra tradição de lugares-comuns, menos convenientes de serem apregoados, ficam os dos salários de miséria, da ausência de direitos, o de determos, na proporção nacional, uma das maiores taxas de desemprego e um panorama de precariedade absoluta, e o do agravar de uma emigração que nos sugou uma geração jovem, capaz e competente, especialmente na nossa região.
De entre outras tradições inventadas, temos a do ataque cego à pesca tradicional, com a falta de apoio à colectivização da mesma enquanto recurso gerador de riqueza e de postos de trabalho; as de que a agricultura na região só se pode basear no modo biológico e nas pequenas explorações, mais a gosto de pequena horta como produto acessório dos turismos rurais, destinado a dar a sensação de férias úteis à Humanidade do yuppie centro-europeu que se julga, durante duas semanas, como estando a retomar a vida ligada à terra. E isto quando, essencialmente, as tecnologias e serviços que vende na sua vida profissional durante o ano, delapidam predatoriamente mais recursos naturais e humanos que sejam eventualmente necessário, na lógica do capitalismo globalizado onde todos, no geral, vegetamos.
Das tradições inventadas que defendem a Ria Formosa, tendo-lhe deixado fechar barras naturais e abrindo outras em sentido contrário ao das correntes marítimas e ventos dominantes, centenariamente. E que, nos últimos quinze anos, assorearam a ria, mataram viveiros, liquidaram mariscos, acabaram com a pesca dentro dela e onde a tradição do conhecimento dos antigos, que tanto alertaram estudiosos sobre certas pertinentes questões, foi desprezada.
tradição inventada da brutal especulação imobiliária que tornou Quarteira, Monte Gordo e um pouco de toda a costa algarvia em caixotões de cimento com vista para o caixote em diante, que, esse sim, tem vistas para o mar. Da especulação que empregou, na construção, milhares de pessoas que haviam deixado a pesca e agricultura, pela morte destas atividades, em tempos que a União Europeia dera verbas para modernizar. Mas que nos bolsos das mentalidades curtas de armadores e proprietários de terras, assoberbados por dinheiro fácil, se modernizaram em abandonos de campos e abates de embarcações de pesca.
Uma mais grave, quiçá, que foi a tradição inventada das demolições a esmo na zona das ilhas barreiras de Olhão, quando as gentes que lá nasceram, viveram, tiveram seus filhos e lá morreram e querem continuar a morrer lentamente, sem algum dia lhes ter sido dada a dignidade que mereciam, como no caso dos Hangares de Olhão, da Culatra e outras. Ou a invenção da tradição de colocar pontões a Barlavento, com a erosão das falésias e com o desgaste e arrastamento de areias, que vão depois assorear a Sotavento.

A invenção das tradições que brilharam na requalificação da Praia Maria Luísa, arruinada para que existisse mais espaço para o turista desfrutar da sua beleza. Ou as tradições que deixam património de valor artístico e arquitetónico incalculável, como o Palácio da Fonte da Pipa ou outros, arderem por falta de intervenções adequadas.
Ainda da tradição inventada para uma região sem estradas fundamentais ao transporte de pessoas e bens. Sem vias rápidas alternativas gratuitas e fundamentais para a atividade económica da região e com a EN 125 marcando a sua lei de perigo constante e sinistralidade. E de como se impõe uma restruturação e reabilitação do conjunto de estradas regionais, bem como os desassoreamentos das vias navegáveis tanto da costa, como dos rios, o que, do ponto de vista do investimento em obras públicas, permitiria gerar milhares de postos de trabalho. Ou ainda do que será necessário para quebrar outra tradição inventada – a que enuncia a falta de capacidade de resposta e de infraestruturas que permitam um acesso de primeiro mundo à saúde, aos habitantes desta região densamente povoada e frequentada, anualmente, por várias centenas de milhares de turistas.
Assim, e sem mais me alongar, porque longa vai esta opinião mas assim se impunha, quando leio e vejo que algum do povo desta região, entregue às mentiras que lhe são impostas mas que se alça para defender a invenção dessas mesmas mentiras pelos que o submetem a tudo o que atrás mencionei. E vindo estes demonizar o petróleo ou as estufas hidropónicas. Ao primeiro, pelo suposto facto dos mares e praias do Algarve, com a sua exploração, se virem a tornar um tanque de despejo de hidrocarbonetos. Quanto às estufas (que, em Espanha, cometeram o gravíssimo pecado de reaproveitar, de forma otimizada a água da condensação das noites do deserto de Almeria e que geraram mais de 50 mil postos de trabalho direto e outros tantos indiretos, numa das regiões com maior desemprego do nosso país vizinho), por cá vai vingando o pretexto que a inestética visão das estufas estraga as paisagens do turismo, em regiões de barrocal e serrania praticamente desertificadas de população e onde, curiosamente, estas estufas do século XXI até são mais jeitosas que as estufas que pelo Algarve se espraiavam nos anos 70 e 80 do século passado.
Sobre esta ignorância dos nossos, que lhes é vendida pelo cacique ou pela voz e reflexão maniqueísta de alguns que se julgam iluminados entre tantos, e que, por sua vez, são no combate ao poder central, vítimas incautas do mesmo.
Ontem como hoje, nos corredores de Lisboa pretende-se fomentar a anulação da consciência da nossa grande força enquanto região produtiva, diversificada e não entregue apenas a um monopólio qualquer, que gere capitais que não servem depois ao desenvolvimento do Algarve. A estes usurpadores, a suspeita remota de qualquer intenção de que o sector produtivo se pretenda reformular e, por consequência, se consolide a autonomia do Algarve – aspiração que sempre nos coube por inteiro e tem de ser a exigência de todos nós, em relação ao nosso destino comum – é motivo para desencadear a intoxicação mediática sustentada nas tais tradições inventadas. Nunca haja um algarvio que, à menor consciência, venha de forma incauta defender a sua região e o modo de vida da sua comunidade, sustendo como preocupação fulcral as paisagens, a pretexto destas serem parte total da qualidade de vida da região. As mesmas que serão depois, de modo espúrio, capitalizadas como portfólio da monoactividade turística da região… É que se as paisagens do Algarve são uma riqueza de todos nós, elas não podem ser, só por si, apenas um retrato estático cujo desejo de manutenção implique o sacrifício de um povo que continua a sofrer do descaso histórico do poder. Pois para que a paisagem se cristalize, não pode acontecer que a vida de pessoas e seus filhos tenha que se cristalizar igualmente – e tal tem vindo a suceder desde há mais de quatro décadas, em nome do Turismo e do Algarve do sol e praia.

João Tomás Rodrigues | Técnico Superior de Património Cultural

barlavento.pt
17
Fev17

A 2 DE FEVEREIRO DE 1954 O ALGARVE COBRIU-SE DE NEVE

António Garrochinho

O mês de fevereiro tem sido, ao longo das últimas décadas, fértil em acontecimentos singulares. A 15 de fevereiro de 1941, o país foi atingido por um violento ciclone e, em 1969, a 28 do mesmo mês, foi sacudido pelo maior sismo registado, no século XX, em Portugal continental. Escassos quinze anos antes, a 2 de fevereiro de 1954, um outro prodígio aconteceu – um grande nevão cobriu o país de norte a sul.
Apesar de se sentir um frio intensíssimo, não só em Portugal, como no resto da Europa, nada fazia prever o insólito acontecimento. Os algarvios, habituados a temperaturas amenas, desesperaram perante o frio que os invadira e, apesar dos prenúncios da primavera com a chegada das andorinhas, viveram dias de um inverno glacial que culminou com a queda de um forte nevão.


Figueiral coberto de neve no Algarve






Fenómeno invulgar mas não inédito no sul do país, ele substituiu por algumas horas a peculiar neve algarvia – a flor das amendoeiras.
Pela sua singularidade, o nevão ficou registado na memória de todos os que o presenciaram e foi amplamente difundido pelos periódicos da época, como o “Diário de Notícias” (DN), “O Século” e “A Voz”. Volvidos 60 anos, é através destes jornais que revisitaremos a região por aqueles dias ímpares.


Neve em Portimão, junto à Casa Inglesa







Logo no dia 1 de fevereiro, o DN registou a queda de neve em Aljezur e Odiáxere, causando grande perplexidade entre os populares. Também em Portimão, foram vistos alguns flocos ainda a 31 de janeiro, mas foi a 2 de fevereiro que a neve atingiu, ali e em toda a região, o seu auge: “Na tarde de hoje [2 de fevereiro] das 16 às 19 horas, caiu com maior intensidade, pelo que a cidade ficou toda coberta de branco. Nas ruas a neve atingiu entre 10 e 20 centímetros de altura. Não há memória entre a gente idosa da terra de nada semelhante ao que agora se presenciou e o assunto é comentado como estranho fenómeno nestas paragens.” A temperatura desceu bastante atingindo, em Portimão, segundo “A Voz”, 1ºC.


A neve em Portimão, junto à Casa Inglesa










Em Bensafrim, nevou mais de uma hora, alterando a paisagem: “Os telhados, os caminhos, e os campos tomaram encantador aspecto, com a sua imaculada brancura, espectáculo nunca visto nestes sítios. A camada de neve atingiu alguns centímetros de espessura e serviu de divertimento à petizada”.
Mais a norte, em Aljezur, esta caiu “sob um frio glacial”, juntamente com chuva miudinha. Em Odeceixe, o fenómeno prolongou-se por três horas, atingindo o nevão, em alguns sítios, mais de 8 centímetros de espessura, deixando os campos “completamente brancos”, numa visão inédita.
Também em Lagos nevou com abundância, constituindo um “espectáculo maravilhoso nunca observado nesta cidade.” O mesmo sucedeu em Porches, enquanto, na vizinha Armação de Pêra, apenas nas amendoeiras a neve não causou admiração: “Com um céu de tonalidade uniforme de chumbo e ausência de vento, caiu neve de manhã, sobre esta localidade. Os telhados e os campos ficaram completamente brancos e o espectáculo, pela primeira vez aqui observado, impressionou vivamente a população”.


Neve no Castelo de Silves









Sobre Alcantarilha, foi publicado: “O frio tem sido muito intenso. De manhã caiu um nevão, o que admirou muita gente, pois, na verdade não há memória de tão grande quantidade de neve. Os flocos levíssimos, pareciam pétalas de flores de amendoeira”. No entroncamento ferroviário de Tunes, a aldeia “acordou sob um espesso manto de neve. Não há memória de um nevão assim no Algarve.”
Na velha Silves, “caiu neve sobre esta cidade e arredores durante toda a tarde de ontem, proporcionando um espectáculo de rara beleza”. Também em Algoz se registou idêntico fenómeno: “Ninguém se recorda de tão baixa temperatura, nem tanta neve”, como noticiou “A Voz”, referindo ainda: “Hoje, devido ao grande nevão que caiu durante a noite, os campos, telhados, arvoredo e ruas estavam cobertos de grande camada de neve, cujo aspecto era encantador, pois, nalguns pontos a camada branca atingia 40 centímetros de altura. Toda a população acorreu aos lugares mais altos, a presenciar tão lindo aspecto que se conservou, até que o Sol tudo desfez”.
O mesmo sucedeu em São Bartolomeu de Messines: “Nevou ontem com tanta intensidade que passadas pouco mais de duas horas a neve atingia em alguns pontos, mais de 30 cm de espessura. Era encantadora a visão das grandes extensões alvinitentes”.

Um palmo de neve na capital do distrito



Neve em Faro





Na capital de distrito, Faro, uma notícia datada de dia 3 referia: “Durante parte do dia de ontem e da noite passada caiu sobre esta cidade forte nevão, facto que se regista aqui pela primeira vez e despertou a mais viva curiosidade, pois a maior parte da população nunca vira neve. Esta atingiu nalguns pontos mais de um palmo de altura e conservou-se durante quase todo o dia de hoje, que esteve muito frio”.
O mesmo aconteceu em Estoi, onde o termómetro registou 0º C. Também em São Brás de Alportel as temperaturas desceram sobremaneira, o termómetro marcava às 14 horas, do dia 2, “dois graus negativos, que baixaram para quatro, às 19 horas, temperaturas que só há 23 anos se registaram”, noticiava “A Voz”. A neve caiu em São Brás ininterruptamente durante 10 horas, atingindo nas ruas “30 centímetros de altura e, nalguns sítios, 1 metro”.
Por sua vez, em Olhão, nevou abundantemente durante a tarde, até cerca das 21 horas, atingindo o manto branco 15 cm de altura. Na rua Eng. Duarte Pacheco, as portas ficaram mesmo entaipadas. Na manhã seguinte, “a vila apareceu envolta num imenso manto branco de neve e de gelo, dando aos olhanenses o ensejo de presenciar um espectáculo inédito. Durante o dia, a população despejou para a rua, a neve acumulada nas açoteias das residências, o que deu origem a grossos blocos que, apesar do sol, senão derretem. Nos arredores, as flores de amendoeira confundindo-se com os flocos de neve, ofereciam um espectáculo grandioso”.


Neve na avenida da República, em Olhão






Na Fuzeta, escreveram os jornais da época, “não há memória de espectáculo tão deslumbrante como o que se verificou nesta povoação, cujas ruas e açoteias ficaram cobertas de neve”. Na verdade, junto ao mar e em todo o litoral, centenas de embarcações e os próprios areais ficaram cobertos de neve.
Em Tavira, nevou abundantemente entre as 18 e as 23 horas, acumulando-se cerca de 40 cm no largo dos Mártires da República. Quanto aos campos, referia o DN, “todas as árvores parecem amendoeiras em flor.”
Na freguesia de Cachopo, a neve atingiu cerca de 60 centímetros, caindo também com intensidade em Santa Catarina. A esta última localidade foram mesmo chamados os bombeiros de Tavira para desobstruírem telhados e varandas, pois temia-se que abatessem.

Espetáculo bonito, mas com prejuízos



Neve em Silves









Na verdade, todo o cenário idílico e encantador causado pelo nevão foi também acompanhado por enormes prejuízos, que a imprensa não deixou de elencar: “no Algarve, onde a raridade do espectáculo da brancura da neve emprestou maior importância ao nevão (…), a outra face da medalha é, porém, a desolação dos lavradores em presença das culturas devastadas. Muitas árvores partidas, as colheitas de amêndoa perdidas, prejuízos incalculáveis nas sementeiras são o triste balanço deste espectáculo”, lembrava o DN.
Já “O Século” enumerava-os em Silves: “o teatro desmontável da companhia Rafael de Oliveira, que está instalado no Largo da Senhora dos Mártires, abateu com o peso da neve e os bombeiros voluntários nada puderam fazer. Um dos bombeiros foi arrastado pelo desabamento, indo cair na plateia. No sítio do Falacho, um grande eucalipto abateu com o peso da neve, sucedendo o mesmo com oliveiras, e alfarrobeiras noutros sítios. As escolas primárias ficaram bloqueadas pela neve, tornando-se penoso o acesso dos alunos e professores. Nas estradas registaram-se acidentes de viação, vendo-se na ladeira de São Pedro alguns veículos voltados nas valetas, por terem derrapado na neve (…). As carreiras de camionetas para Armação de Pêra foram interrompidas durante quatro horas e as fábricas da indústria corticeira não funcionaram em consequência do intenso frio que se fazia sentir. As sementeiras recentes que ainda não germinaram não sofrerão prejuízos com a neve, mas as ervilhas e as favas ficaram queimadas, o que acarreta uma grande perda para a região”.


Neve na Baixa de Faro





Estes prejuízos repetiram-se por todo o Algarve. Em Estoi, os favais ficaram ocultos sob meio metro de neve, o que sucedeu também em Armação, Guia, etc.. Houve ainda telhados que abateram, como em Moncarapacho ou Olhão, postes e fios quebrados, quer de energia elétrica quer de telefone e com eles interrompidos os respetivos serviços.
Em Faro, por exemplo, informava o DN, “estiveram durante toda a noite passada e parte do dia de hoje interrompidos o fornecimento de energia eléctrica à cidade e desde as 16 horas de ontem até às 11 de hoje as ligações telefónicas com Lisboa e o resto do país”.
O mesmo sucedeu em Olhão, onde até as operárias conserveiras tiveram de ser socorridas, paralisando os trabalhos. As estradas ficaram intransitáveis, com carros e autocarros bloqueados.




Neve vista da ponte sobre a Ribeira de Marim







Em Tavira, as carreiras foram suspensas, enquanto em Alcoutim só a carreira de Vila Real de Santo António para Martinlongo se realizou, porém em difíceis condições.
As ligações ferroviárias foram também afectadas, circulando os comboios com atrasos. Houve pelas ruas quedas incontáveis e com elas muitos braços e pernas partidas. O frio daqueles dias matou ainda muitas aves e as andorinhas que tinham chegado na véspera, assoladas pelo frio, entravam pelas casas em busca de refúgio.
Todavia e apesar de todas estas contrariedades e prejuízos, o nevão ficou marcado na memória de todos aqueles que o presenciaram, pela surpresa e espetacularidade que criou, causando ainda hoje encanto e admiração.


A EN125, junto a Olhão, coberta de neve






Se nos últimos anos, por diversas vezes, pequenos flocos de neve têm brindado a região, nunca até hoje se repetiu um nevão de dimensão idêntica ao ocorrido em fevereiro de 1954.

Autor: Aurélio Nuno Cabrita é engenheiro de ambiente e investigador de História Local e Regional


www.sulinformacao.pt



17
Fev17

A HISTÓRIA DOS "IRIS" BANDA DE ROCK ALGARVIA

António Garrochinho




VÍDEO


Em Julho de 1979, um grupo de 4 rapazes, onde para além de muitos outros só Domingos Caetano da actual formação fazia parte, resolveu formar uma banda que teve como intenção principal, fazer e tocar boa música. Como tantas outras bandas que à altura proliferavam pela região, começaram desde logo por actuar nos bailes e em festas um pouco por todo o Algarve. Assim nasceram os IRIS.



A sonoridade da sua música e a enorme capacidade de comunicação que transmitiam, proporcionou que fossem contratados por um hotel em Vilamoura, onde permanecem como banda residente durante alguns anos.




Durante este período de tempo, o "bichinho" do rock foi soando cada vez mais alto, logo fazendo com que fossem compondo músicas originais, tentado ao mesmo tempo criar uma sonoridade e uma forma de tocar únicas. Foram gradualmente deixando a rotina do hotel e em meados de 1994, começaram a frequentar exclusivamente o circuito de bares, tendo participado em muitas primeiras partes de grandes eventos que iam acontecendo pelo Algarve.

Em Junho de 1994 a banda IRIS teve aquela que até hoje se tornou a sua principal formação: Domingos Caetano nas guitarras e na voz principal; Chico Mesquita nas vozes e no baixo; Thierry Guerreiro na bateria; e finalmente Ray Van Duyvenbode na guitarra acústica e nas vozes.


Em finais desse mesmo ano a banda IRIS começa a trabalhar com António Martinho, que se torna seu empresário e gestor de carreira, tendo com ele iniciado uma longa campanha na busca de uma editora que demonstrasse vontade em apostar nas suas músicas.


Finalmente em Abril de 1995, assinam um contrato discográfico de 3 CD’s com a Vidisco, donde resulta o seu 1º CD intitulado "Vão Dar Banhó Cão", saído em Setembro desse ano e produzido pelo inglês Neal Kay, tendo sido gravado nos estúdios JPN em Faro.

O sucesso deste trabalho surpreende toda a gente e ainda mais os membros da banda, que de um dia para o outro se vêem confrontados com muitas solicitações, quer para a sua participação em programas de rádio, de televisão, entrevistas, quer para espectáculos um pouco por todo o país, quando até ai, tocar era também e quase sempre sinónimo de se ir dormir em casa. Passado algum tempo o CD atinge mais de 20.000 cópias vendidas, tendo a banda sido galardoada com um Disco de Ouro.

É no entanto no ano seguinte em 1996, que este trabalho e o fenómeno IRIS atingem o seu maior impacto. "Oh Mãe, Aquêle Moçe Batê-me", versão da música "The House Of The Rising Sun" imortalizada pelos Animals, foi sem dúvida o tema que fez a diferença, trazendo como maior inovação, as músicas rock cantadas com pronúncia algarvia, levando os "moços marafados" a efectuar mais de 60 espectáculos por todo o pais. É nesta altura que a banda contrata o guitarrista Rui Machado "Max" reforço este, que permite ao Domingos movimentar-se ainda com maior dinâmica e energia em palco.
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Dois anos mais tarde em Março de 97, a banda lança o seu 2º CD intitulado "IRIS". Trabalho produzido pela própria banda, que novamente apostaram em "casa" para gravar, uma vez mais utilizando os estúdios JPN em Faro, onde incluem desta vez para além dos já habituais elementos, a participação do teclista João Ruano, do acordeonista Cláudio da voz da Nita, que tal como o Max na guitarra eléctrica, passam a integrar os espectáculos ao vivo da banda. O single "Atira Tó’Mar", versão da música original de Bob Dylan, "Knocking On Heaven’s Door", foi dos temas mais tocadas entre as rádios nesse ano. Uma vez mais é Disco de Prata, com mais de 17.000 cópias vendidas.
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Considerada por todos com uma das melhores e mais energéticas bandas em palco, os IRIS percorrem todo o país, deixando um rasto de boa disposição entre todos aqueles que assistiam aos seus espectáculos.

Ao mesmo tempo em Novembro de 1997, a banda IRIS envolve-se em conjunto com outras bandas da sua editora, no projecto "Heróis do Rock" onde a música "Ser Jovem Sem Droga" dá o mote. Com uma intervenção social muito forte, este projecto chama a atenção sobre problemas da Sida e da droga, revertendo uma grande parte das suas vendas, em favor da Liga Portuguesa Contra a Sida.


É então montado um espectáculo, em que o IRIS e todos os participantes do projecto promovem os ideais de uma juventude saudável e sem droga, chamando a atenção dos média e do público em geral, através de eventos realizados de norte a sul do país, sobre o chamado "maior flagelo dos tempos modernos". É nesta altura que efectuam 2 grandiosos espectáculos, que serão só por si, o ponto mais alto das suas carreiras, o Coliseu do Porto e o Coliseu de Lisboa. O CD atinge vendas deslumbrantes e é atribuído aos participantes um Disco de Ouro, numa cerimonia efectuada no Coliseu de Lisboa.

Em Novembro de 1998 o projecto "Heróis do Rock" volta a repetir-se tendo como música de lançamento o tema "Sou Metade Sem Ti". Uma vez mais oferecem parte das receitas à Liga Portuguesa Contra a Sida e uma vez mais o sucesso do projecto é enorme, vendas superiores a 20.000 cópias e um novo Disco de Ouro a ser atribuído aos elementos participantes.

Em Maio de 1999 a banda lança o seu 3º CD intitulado "Intuição". Desta vez foram buscar o produtor Rodrigo Leal, que por esta altura estava nos E.U.A. a produzir o seu álbum, encontrando-se a trabalhar no estúdio do conhecido Nuno Bettencourt. Foi então utilizado o estúdio de gravação Noites Longas no Seixal.

Deste CD foi extraído o primeiro single "Por Ti, Já Não Sei" letra de Salsicha e música de Domingos Caetano, que rapidamente chega aos tops nacionais.

É nesta altura que a banda atinge a sua maioridade. As versões eléctricas de temas da música tradicional portuguesa e os temas originais, todos eles cheios de muita garra e da habitual ironia, o que de resto se tornou numa imagem de marca da banda, levam a que tenham as melhores críticas por parte do público. Os seus espectáculos ao vivo são um misto de emoção, vivacidade e energia, Domingos Caetano prova ser um "front-men" por excelência e a banda ao dar sempre "o tudo por tudo", é convidada a actuar em cada vez mais locais, muitos deles por onde já haviam passado antes




Em meados de Setembro desse ano saem da banda o Ray e o João Ruano, sendo o primeiro substituído pelo Cláudio na guitarra acústica e o segundo pelo jovem David nas teclas mantendo-se o Max encarregue da guitarra eléctrica, dando assim continuidade à sua presença no grupo.

O ano de 2000 não trás grandes novidades à vida da banda que continua a tocar em mais uma tournée, que os leva a muitas localidades do país.


Em Março de 2001, o IRIS trouxe o seu 4º CD, produzido pelo João Paulo Nunes e pelo Domingos Caetano, foi escolhido novamente o Algarve para efectuar a sua gravação, desta vez nos estúdios da Sueste Records na Fuzeta.

Este novo CD intitulado "Tá o Mar Fête Num Cão", foi criado como sendo um trabalho de retrospectiva carreira discográfica da banda algarvia, sendo apresentado em forma de CD Duplo e que teve como 1º Single e música de lançamento, o tema "Estou Além" versão livre com arranjos de Domingos Caetano, da música original do mito da música Pop Portuguesa, António Variações.


No CD n.1 deste trabalho encontra-se uma selecção dos melhores temas anteriormente editados pela banda, desta vez com novas misturas e masterizações, junto com 2 temas inéditos "Logo à Tarde", letra de Diogo Noronha e música de Domingos Caetano e um 2º inédito, "Alma Gémea", com letra de Pedro Freitas Branco e música de Domingos Caetano.

O CD n.2 tem um conjunto de 8 músicas ao vivo, cujas gravações foram efectuadas pela banda ao longo dos anos as quais foram recuperadas, misturadas e masterizadas para esta edição.

Para além das faixas áudio, o CD n.2 também inclui uma faixa em CD-ROM, produzida pela Vertente Produções em Faro, onde se podem visionar todos os vídeo-clips da banda, alguns dos quais que nunca tinham sido vistos pelo grande público, isto para além de muitas surpresas e da muito boa disposição com que a banda já tanto acostumou o seu público.

Neste CD-ROM ainda se podem encontrar duas músicas extra, "O Dom Da Vida" letra de Sal Bonner e música de Domingos Caetano, incluído na colectânea "Outros Destinos" editada pela "Direcção Regional do Algarve – SPTT" e o "Comisionado para la Droga de Junta de Andaluzia", patrocinado pelo projecto INTERREG 2; e ainda "As Loucuras Da Deputada" instrumental de Domingos Caetano, esta última gravada especialmente para a colectânea "Guitarristas", que em 1998 foi editada pela Música Alternativa e que todas elas, só poderão ser ouvidas por quem corra o CD no computador.



É nesta altura (2001/2002) que o IRIS promove a grande renovação no seu elenco. Assim, para além dos já conhecidos David Fernandes nas teclas e Cláudio Martins na viola acústica e no acordeon, há na banda um novo grupo de músicos que substituem o Thierry, o Chico e o Max. Eles são Chico Cardoso na bateria, Cláudio Barras no baixo e Virgílio Silva na guitarra eléctrica. É com estes músicos que a banda inicia mais uma tournée nacional que os leva a muitas localidades do país.

Em finais de Junho de 2003, o jovem Bruno Gonçalves passa a fazer parte da banda, substituindo nos teclados o David Fernandes que entretanto tinha saído.

O 5º trabalho discográfico da banda IRIS saiu para as bancas a 14 de Novembro. Uma vez mais este novo CD trará as melodias Rock, as músicas originais e acima de tudo a qualidade e a boa disposição que tem caracterizado os trabalhos do IRIS.

Em 2004 a banda faz muitos espectáculos no continente e ilhas, tendo o guitarrista Sílvio voltado a fazer parte da equipa. A bateria também foi nesta altura entregue ao jovem Hugo.


Em Setembro, foi feita a entrega da Medalha de Mérito Turístico Grau Prata ao Domingos Caetano, numa cerimónia presidida pelo Sr. Secretário de Estado do Turismo, Dr. Carlos Martins, por ocasião das comemorações oficiais do “Dia Mundial do Turismo 2004”, que decorreu no Auditório da Delegação de Faro do Instituto Português da Juventude. A Região de Turismo do Algarve instituiu a atribuição das “Medalhas do Turismo” destinadas a dar público apreço às entidades singulares ou colectivas, públicas ou privadas, nacionais ou estrangeiras, cuja actividade se tenha evidenciado na valorização, dinamização e divulgação do turismo, com manifesto interesse para a Região do Algarve.



Já no final de 2004 o IRIS começa uma nova fase da sua vida, remodelando toda a equipa de músicos. Assim, no baixo ficou o Márinho (músico dos primórdios da banda em 1988), na bateria o Paulo Cardoso, nas teclas o Carlinhos, mantendo-se o Sílvio nas guitarras. Diz quem os ouviu, que a força e a energia doutros tempos, foi recuperada e melhorada.


O ano de 2005 trouxe outro elemento ao grupo de trabalho. O Thierry voltou à bateria e a sonoridade de outros tempos voltou a fazer-se ouvir. 

Foi com ele na bateria que a banda celebrou os 10 anos de cd’s, num espectáculo realizado em Faro, mesma localidade onde tinha sido apresentado o 1º cd “Vão dar banhó cão” em 1995. Assim, no dia 7 de Setembro, exactamente 10 anos depois, a banda realiza um grandioso espectáculo com a participação da Orquestra de Câmara “Ensemble Petrov”, composta por violinos, violas e violoncelos, num total de 10 músicos de formação clássica, assim como da participação do Grupo Coral do Algarve, dirigido pela Drª. Evelina Assenova Kavrakova.

Após um ano intenso de muitos espectáculos, o final da época trouxe todos os músicos ao estúdio para iniciarem a pré-produção, daquele que será o próximo trabalho discográfico.

O ano de 2006 traz a reentrada do João Ruano “João de Lagos” para complementar as teclas, e a substituição do Sílvio pelo Rui Machado que pela segunda vez volta a ser o responsável pelas guitarras.
VÍDEO

Em Julho a banda dá um dos muitos espectáculos em que participa a Orquestra de Câmara “Ensemble Petrov”, desta vez para 50.000 pessoas na Concentração Motard do Moto Clube de Faro. Aproveitando o ambiente e as condições técnicas, decidem gravar num só “take”, todo o espectáculo para a possível edição de um CD ao-vivo.

O ponto alto de 2007 foi sem dúvida o lançamento de um CD/DVD gravado ao vivo com a Orquestra de Cordas “Ensemble Petrov”, colocado à venda em finais de Junho, tornando-se assim os IRIS na primeira banda rock portuguesa a gravar ao vivo com uma orquestra de cordas. Aquilo que deveria ser somente um trabalho áudio, depressa se tornou numa edição que inclui uma versão do mesmo espectáculo em formato de DVD, com vários capítulos onde entre outros, se podem ver entrevistas assim como um breve historial da banda.

Pela sua qualidade, este trabalho trouxe o merecido reconhecimento da critica, que já tardava na vida da banda.



Como habitual a banda faz uma tournée com diversos espectáculos por todo o país e ilhas. No final da época do verão a banda entra em estúdio para a pré-produção do seu 7º trabalho discográfico, 6º de originais, cuja edição se prevê aconteça para breve.

2008 - Após mais um período de muitos espectáculos e com a pré-produção do novo trabalho concluída, a banda finalmente inicia as gravações em Novembro nos estúdios da Rockestra – Associação Juvenil em Moncarapacho.

Foram longas horas passadas em estúdio, tendo o trabalho final sido o resultado de um vasto período de maturação (leia-se, dedicação, carinho e trabalho árduo), mas que resulta em mais um marco na história da banda. Domingos continua a ser o motor criativo do projecto, assinando igualmente muitos dos 12 temas que compõem o CD. A seu lado continuam Thierry (Bateria e Percussão), Márinho Pires (Baixo e vozes), Rui Machado (Guitarras) Carlos Guerreiro (Teclas e vozes) e João Ruano (Teclas), contando em alguns dos temas, com a presença de convidados como Sara Gonçalves, Inês Graça e João Ramos (coros), Nuno Ferreira e Bruno Romeira (guitarras) e Beto Kalulu (percussão).


Com as gravações dos 12 temas terminadas em Janeiro, o trabalho ficou definitivamente pronto em Maio de 2009.

Estando o contrato discográfico com a editora de sempre concluído, foi altura da banda iniciar um novo período da sua vida: a busca de um novo parceiro para colocar no mercado o novo cd. Após as várias alternativas encontradas, a banda cedeu os direitos fonográficos do trabalho à editora Espacial, com quem ficará ligada durante o próximo ano.

Em resultado de uma proposta apresentada por uma fã da banda, a jovem Raquel Luís, iniciou-se a elaboração da capa/livreto, tendo todo o trabalho sido concluído pela própria, no início de Outubro.

Com a colocação à venda em inícios de Novembro a banda prepara um espectáculo de lançamento deste novo CD intitulado “Sueste”. Tal como referido nos agradecimentos do cd, “a todos os fãs que nos têm apoiado ao longo destes anos - é para vocês este trabalho”.




Fonte: http://www.iris.pt/


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17
Fev17

CONSERVA DE CENOURAS Á ALGARVIA COM UM BOM TINTO

António Garrochinho

Gastronomia Algarvia - Conserva de Cenouras à Algarvia
Ingredientes:
Para 4 pessoas
300 grs de cenouras roxas tenras ;
3 dentes de alho ;
1 ramo de salsa ;
1 colher de colorau doce ;
1 colher de erva doce ;
1 dl de vinagre ;
sal q.b. ;
pimenta q.b.
Confecção:
Lave as cenouras e descasque-as. Coza-as inteiras, temperadas com sal. Deixe arrefecer. Corte ás rodas não muito finas. Descasque os alhos e pique.
À parte, numa vasilha apropriada, deite as cenouras. Tempere com o alho, o colorau, a salsa, o vinagre, a erva doce, o sal e a pimenta.
Deixe repousar na marinação alguns dias antes de servir.
Conselho: As cenouras a utilizar nesta confecção deverão ser das roxas. Esta conserva poderá ser servida como acepipes ou como acompanhamento de peixes ou carnes.
Foto de António Garrochinho.

17
Fev17

Terras do nosso Algarve - Alte

António Garrochinho


Cheira a flores, e a água fresca da ribeira que a atravessa, desde a fonte grande à queda do vigário, dá-lhe uma frescura perene, mesmo nos mais quentes dias de verão.
A aldeia de Alte é geralmente considerada como uma das mais bonitas de Portugal.
Uma visita à Fonte Pequena oferece o enquadramento perfeito... foi aliás aqui que o poeta altense Cândido Guerreiro tantas vezes se inspirou e, por isso acabou por lhe ser erguida, neste local, uma estátua em sua homenagem.
Encontra aqui um espaço harmonioso onde o verde e a frescura convidam a momentos de lazer.
Ao longo da aldeia, a ribeira conduz as águas da Fonte Grande, num curso onde abundam as levadas, açudes e velhas azenhas.


Edificada entre os quatro serros que a rodeiam - Galvana, Francelheira, Castelo e Rocha Maior - a aldeia convida a percorrer as suas ruas apertadas, pisando de mansinho as calçadas tradicionais e empedrados e espreitando aos pátios cheios de floreiras de sardinheiras.
Noutros tempos podiam ouvir-se ao virar de cada esquina, sobretudo na Rua dos Pisadoiros, o som das maças de pisar o esparto, planta selvagem que marcou a vivência económica e social de toda a freguesia.
Localização

Alte situa-se na parte sul da região do Caldeirão e é delimitada a norte por S. Barnabé, a leste por Salir e Benafim, a sul pelo concelho de Albufeira e por S. Bartolomeu de Messines a oeste.
A freguesia é atravessada de oeste para este pela EN 124 que liga Silves a Alcoutim. A 25 Km, aproximadamente, de Loulé, por estrada nova e construída a preceito, chega-se lá em poucos minutos. Até Albufeira os 30 Km levam mais tempo a percorrer.
VÍDEO



Actividades Principais

A população de Alte ocupa-se, na sua maioria, de actividades ligadas ao pequeno comércio e à agricultura de susbsistência.

História

Com vestígios de ocupação romana desde o Neolítico, a região acolheu comunidades de agricultores e pastores que influenciaram sucessivamente as comunidades locais. Durante a colonialização romana e o domínio visigótico, Alte evolui de villa rural integrada na grande propriedade romana, para comunidade camponesa autónoma da beira – serra, mantendo as relações comerciais com as cidades do litoral. No período muçulmano, Alte torna-se um povoado fortificado e nas terras limítrofes são desenvolvidas novas técnicas agrícolas e as culturas da amendoeira, alfarrobeira e figueira. As culturas árabe e berbere marcaram decisivamente a arquitectura local. Após a conquista cristã do Algarve, é estabelecido o senhorio de Alte que se manteve até ao século XX.


Património Cultural

Igreja Matriz - Com fundação anterior ao séc. XV, a igreja sofreu remodelações nos séculos XVI e XVIII, apresentando actualmente um interior composto por três naves separadas por arcos, suportados por fortes colunas. O maior destaque vai forçosamente para a lindíssima abóbada quinhentista artesoada, revestida de azulejos do século XVIII, azuis e brancos e rica talha barroca. O portal e as pias baptismais são manuelinos.
A talha dourada dos retábulos das capelas de Nossa Sr.ª do Carmo, Nossa Sr.ª do Rosário e São Francisco contrasta com os azulejos polícromos que revestem a Capela de São Sebastião. Belas imagens de Santa Teresa, do século XVII, e de Nossa Sr.ª do Rosário e Santa Margarida, do século XVIII, completam a decoração da igreja.
Casa Rosa - Nas Assumadas, trata-se de um museu rural onde se pode admirar uma colecção privada de utensílios agrícolas, mobiliário e peças de cerâmica.

Património Natural

Pego do Vigário (Morgado de Alte) - Trata-se de uma queda de água que se situa pouco abaixo da aldeia de Alte e surge pelo caudal da Ribeira e pela morfologia dos vales e encostas daquela área. Mede cerca de 10 metros de altura e 2 metros de largura. É um local de acesso um pouco difícil, devido à sua encosta.
Fonte Pequena e Fonte Grande - Nascentes de água (Olho de Boi) que, durante séculos, foram local de encontro das mulheres da aldeia para encherem os cântaros de água e lavarem a roupa, hoje são um local aprazível propício ao repouso e piqueniques. Tratam-se de nascentes de água localizadas num pequeno vale junto da aldeia de Alte. Nas margens da ribeira encontram-se restaurantes, cafés, áreas de piquenique e de banhos (a represa constitui uma piscina natural). As águas da Fonte Grande e da Fonte Pequena que dão origem à Ribeira de Alte, já fizeram mover os nove moinhos da aldeia.



Tradições

Em relação à origem do nome da povoação há uma lenda que alguns consideram facto histórico. Nos primeiros tempos, em toda aquela vasta área, houve apenas uma ermida no sítio Vila Verde do Vale, actualmente denominado, Santa Margarida. No Freixo Verde, localizado a nascente, morava uma rica lavradora muito religiosa e a que mais contribuía para as despesas do capelão. Ora a ermida localizava-se a poente. Nunca o capelão subia ao altar para a missa aos domingos e dias santos, sem que a lavradora do Freixo Verde se encontrasse na capela. Um dia, porém, esta demorou-se tanto que o capelão, ao pensar que já não viria, iniciou a celebração. Quando os fieis já retornavam a suas casas, no caminho encontraram a lavradora no sítio onde agora se encontra a povoação de Alte. Dando-se conta que a celebração da missa tinha sido feita mesmo sem a sua presença, a lavradora voltou-se para a criadagem e disse:
Alto! que aqui mandarei edificar uma igreja.
E assim se fez a igreja que é hoje a matriz, com a denominação de Igreja do Alto, passando depois, com o tempo, a aldeia a ser designada por Alte, a que não será alheio o “sotaque serrano” .
Segundo o povo, junto aos cerros que rodeiam a aldeia ouvem-se à noite os murmúrios dos mouros que enterraram no seu interior, todas as suas riquezas.

Es são esses mesmos montes que motivam outras cantigas que ainda hoje são entodas
"Quatro serros tem Alte
Que o cercam em redor
Galvana e Francilheira
Castello e Rocha Maior
Cantiga de Alte" (in Monografia do Concelho de Loulé)


Produtos Locais

À economia, predominantemente agrícola e de sequeiro e assente ainda em práticas herdadas de tempos remotos, associa-se a produção da aguardente de medronho, do mel, do queijo e da doçaria. Particular relevo merecem os trabalhos de artesanato que se executam na Freguesia de Alte com recurso ao esparto, à palma, à madeira e à cerâmica e que se comercializam em todo o Algarve. Em Santa Margarida, encontra artesanato de rendas e croché e trabalhos em cobre e alumínio. Na Torre, visite a cooperativa de fabricação de brinquedos de madeira e oiça o célebre grupo musical “Os Velhos da Torre”.

Gastronomia

Na doçaria e confeitaria, existem deliciosos doces e bolos, nomeadamente de amêndoa e mel, nas pastelarias locais.
Bolos que sabem bem com a aguardente de medronho.
Mas em poucos lugares sabem tão bem as típicas comidas da serra algarvia, a galinha de cabidela ou cerejada, o galo caseiro, as papas e o jantar de milhos, entre muitas outras.

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17
Fev17

AS CEREJEIRAS ICÓNICAS DO JAPÃO JÁ ESTÃO FLORIDAS EM KAWAZU

António Garrochinho
Mesmo que a região das cerejeiras de Kawazu floresce quase todos os anos prematuramente, um feitiço recente de tempo quente recebeu as flores icônicas ainda mais cedo do que o habitual. As belas flores cor-de-rosa mostraram sua cara de forma muito antecipada em 15 de fevereiro, a data mais adiantada em 15 anos. E permitirão a atividade do hanami (contemplação das flores) até o começo de março. Kawazu é o lugar perfeito para um vislumbre das flores de sakura, com impressionantes 800 árvores na margem do sinuoso rio Kawazu-gawa, tornando a paisagem pitoresca ainda mais encantadora do que o habitual.

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As árvores cerejeira icônicas do Japão já estão em plena florada em Shizuoka 01
Via: Kyodo News
Como muitas áreas no Japão, a cidade comemora o fenômeno colorido, natural com uma festa. Este ano é o 27º Festival da Flor de Cerejeira de Kawazu, que vai até 10 de março e provavelmente atrairá cerca de 1 milhão de visitantes. Além de uma vista deslumbrante das belíssimas árvores (que, à noite, são lindamente iluminadas), o festival também possui barracas que oferecem comida típica, frutas cítricas regionais, lembrancinhas e adoráveis cerejeiras minúsculas que os visitantes podem plantar em casa! Veja as flores de cerejeira deste ano em plena floração.
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As árvores cerejeira icônicas do Japão já estão em plena florada em Shizuoka 02
Via: Tsumizo
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Via: Mika
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Via: Sankei Photo
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Via: Saya
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As árvores cerejeira icônicas do Japão já estão em plena florada em Shizuoka 06


Via: Mika
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Via: Toshizou02
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Via: Yulies12
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As árvores cerejeira icônicas do Japão já estão em plena florada em Shizuoka 09
Via: Phos1comnet
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As árvores cerejeira icônicas do Japão já estão em plena florada em Shizuoka 10
Via: Uniz_yip
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As árvores cerejeira icônicas do Japão já estão em plena florada em Shizuoka 11


Via: Ssarit
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As árvores cerejeira icônicas do Japão já estão em plena florada em Shizuoka 12
Via: Mt.Yone
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As árvores cerejeira icônicas do Japão já estão em plena florada em Shizuoka 13
Via: Osuzusaaan
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As árvores cerejeira icônicas do Japão já estão em plena florada em Shizuoka 14
Via: Boywithoutbangs
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As árvores cerejeira icônicas do Japão já estão em plena florada em Shizuoka 15
Via: Flyforyourself
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As árvores cerejeira icônicas do Japão já estão em plena florada em Shizuoka 16
Via: Suenmay_my
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As árvores cerejeira icônicas do Japão já estão em plena florada em Shizuoka 17
Via: Tiptoeingworld
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As árvores cerejeira icônicas do Japão já estão em plena florada em Shizuoka 18
Via: Irodori
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As árvores cerejeira icônicas do Japão já estão em plena florada em Shizuoka 19
Via: Aya.Chacooo
Fonte: Asahi Shimbun.

www.mdig.com.br
17
Fev17

RTP encerra delegações no Minho

António Garrochinho

As delegações da Rádio e Televisão de Portugal em Braga e Viana do Castelo vão encerrar. A equipa da rádio pública de Braga já está a trabalhar na redacção do Centro de Produção do Norte, no Porto.

A RTP encerrou várias delegações no Norte do País, concentrando as emissões da região nos estúdios do Porto
A RTP encerrou várias delegações no Norte do País, concentrando as emissões da região nos estúdios do PortoCréditos
De acordo com informações recolhidas, a equipa da rádio pública no Minho já abandonou a delegação funcionava, até aqui, em Braga. O destino da equipa de televisão, ainda a trabalhar em Viana do Castelo, deverá ser o mesmo.
Nos últimos anos foram várias as delegações da RTP encerradas no Norte do País, com a concentração de meios no Centro de Produção do Norte, de onde são produzidos os noticiários da RTP2 e outros programas de informação e entertenimento.
O Centro de Produção do Norte da RTP esteve ameaçado durante a anterior legislatura quando, em 2012, a produção do programa matinal Praça da Alegria foi transferida para Lisboa. Na altura, houve mesmo ameaças de retirar a produção do Jornal2 das instalações do Porto.
Esta última decisão relativamente às delegações do Minho já mereceu a oposição das autarquias da região, assim como uma pergunta do PCP ao Governo. Os comunistas sublinham que a decisão terá «consequências negativas na cobertura daqueles concelhos e de toda a região do Minho» e que «contraria a identificada necessidade de promover a proximidade do serviço público de rádio e de televisão às populações».

www.abrilabril.pt
17
Fev17

A(s) voz(es) incómoda(s) – T(á)Visto - Fátima Campos Ferreira não resistiu e interrompeu Arménio Carlos. No «Prós e Contras» da passada segunda-feira

António Garrochinho


 – Edição Nº2255  –  16-2-2017

A voz incómoda
Fátima Campos Ferreira não resistiu e interrompeu Arménio Carlos. No «Prós e Contras» da passada segunda-feira, é claro, com as leis laborais como tema do programa. E não é que o dirigente da CGTP estivesse a falar durante muitos minutos: a questão é que Arménio Carlos incomoda, dispara factos e números capazes de causarem escândalo, não se mostra inclinado a encarar com serenidade que os trabalhadores cumpram o seu destino natural que é o de serem explorados das muitas e variadas maneiras que ele, Arménio Carlos, bem conhece.
E depois há a voz e talvez também o modo como ele a usa: aquela voz surge sempre impregnada de uma indignação que reforça o efeito dos dados que ele exibe e que por si já seriam indignantes. É claro que uma voz assim a desfiar factos fundamentados e fundamentais não fica lindamente numa reunião onde desejavelmente todos deviam ser, se não amigos, pelo menos tranquilos e pacíficos. Ouve-se Arménio Carlos e é fácil perceber que ele não é homem para certas omissões ou, no mínimo, para certos esquecimentos: para esquecer que são muitos os portugueses que trabalham sem deixarem de estar afundados na pobreza, que a famigerada troika veio com o objectivo de destruir a legislação laboral que defendia ou ainda defende os direitos dos trabalhadores, que 25 por cento das crianças portuguesas vivem abaixo da linha técnica que identifica a pobreza, que subsistem condições de trabalho que engendram a morte em pleno acto laboral.
É claro que uma voz assim que enumera coisas destas assusta, injecta mal-estar em gente serena e bem sentada nas suas cadeiras, e em consequência é preciso calá-la. Por isso Fátima acudiu a interromper Arménio, como era exigido pela serenidade geral e o desejável bom entendimento entre todos. Fátima é sem dúvida uma boa senhora que não gosta de ver gente incomodada. 
Em terrível incerteza
Ora, entre o muito que Arménio Carlos enumerou no estreito tempo de antena que apesar de tudo conseguiu, talvez mereça referência destacada a epidemia de precariedade laboral que percorre o País. A questão é que a precariedade elimina a expectativa natural, dir-se-ia que quase instintiva, de uma existência compatível com necessidades humanas básicas e continuadas: alimentação, reprodução, habitação. Quem não sabe se terá trabalho remunerado na semana seguinte, no mês seguinte, e assim vai manter-se ao longo da sua vida laboral, vive em terrível incerteza: não pode estar certo de continuar a ter duas ou três refeições diárias, de assegurar a si próprio e à sua família um tecto sob o qual sobrevivam, de manter a esperança de dar aos filhos o pão e o ensino de que eles carecem absolutamente.
Em verdade, a precariedade que vem sendo apregoada como inevitável e tendencialmente «natural» é a semente de todas as angústias, a intensificadora de muitas subserviências, a estimulante de todos os abusos, a propiciadora de muitas infâmias. Arménio Carlos decerto sabe muito bem tudo isso e muito mais, faz parte do seu trabalho conhecer esse peculiar monstro que foi introduzido no cenário laboral, e porque o sabe é tão firme nas denúncias que aliás documenta. É nesse quadro que bem se entende que Fátima o tenha interrompido, ela, que é boa senhora e por isso gostaria de ver todos amigos ou pelo menos todos cordeais.
Percebe-se, porém, que Arménio Carlos é diferente: que é saudavelmente exigente na escolha de amigos e na selecção de cordialidades. Acontece que também ali, no improvisado estúdio que a RTP montou no auditório da Fundação Champalimaud, Arménio Carlos está a bater-se por direitos humanos fundamentais, e essa é uma situação enormemente séria. E, contudo, mesmo com aquela voz incómoda, com aquela veemência que a muitos parecerá excessiva, Arménio Carlos tem muitos milhares de amigos. Que lhe chamam camarada. Que gostam de ouvi-lo. E detestam que Fátima Campos Ferreira lhe corte a palavra.
Correia da Fonseca 
Este artigo encontra-se em: anónimo séc. xxi http://bit.ly/2lc7D6J
17
Fev17

O Rangel range e demite toda a gente

António Garrochinho


rangel1
Estive a ver o inenarrável Rangel na Prova dos Nove, da TVI24. O maior trauliteiro do ano, pese a gravata.
Rangel, surge de varapau em riste armado em campeão da verdade e da democracia. O ministro Centeno, mentiu e pronto. Deve demitir-se. O secretário das finanças, Marinho Félix, já há muito que se devia ter demitido. O Galamba disse que o Marcelo errou tanto quanto o Centeno, deve demitir-se. O Costa não se deve demitir, apenas, por enquanto. 

Entretanto o Domingues já se demitiu, uma injustiça, ele que tão bons ofícios iria aportar à coisa pública. O Matos Correia, esse, já se demitiu, vítima de um gravíssimo atentado contra a democracia perpetrado pelos partidos de esquerda.
Ou seja, por vontade da direita o governo, com tanta demissão, qual doente de pernas amputadas, iria a seguir para consumar a chusma de demissões.

Tão democratas que se babam ser e parece que querem chegar a poder a todo o custo, recorrendo a telenovelas de mau gosto, a golpes baixos de intriga, à iniquidade da trafulhice, em vez de discutirem o país, as necessidades dos portugueses e o futuro dos cidadãos.

Estamos cansados, ó Rangel. Queremos discutir coisas sérias. Estamos fartos dos teus uivos. O último deles, que me deu vontade de rir em grandes gargalhadas, é que o Bloco de Esquerda está muito próximo do Trump, esta mais uma pérola do Rangel, porque votou contra o requerimento da direita para levar os SMS do Centeno à Comissão de Inquérito à CGD!

O Trump é aquilo que se sabe. Mas olha que tu, ó Rangel, quando vociferas também levantas muito o dedinho, como se vê na imagem.. E nesse aspecto não ficas a dever nada ao personagem Trump.

estatuadesal.com
17
Fev17

CICLISMO - O reconhecimento da Fóia valeu a amarela a Daniel Martin

António Garrochinho


Irlandês tem quatro segundos de vantagem sobre o esloveno Primoz Roglic

Daniel Martin (Quick-Step Floors) recorreu à sua experiência para surpreender a concorrência e vestir-se de amarelo no alto da Fóia, numa segunda etapa da Volta ao Algarve em bicicleta em que a surpresa foi Amaro Antunes (W52-FC Porto).

Sabia-se que a Fóia faria a primeira triagem na lista de candidatos ao triunfo final, mas nem todos estavam preparados para o que se passou na subida ao ponto mais alto do Algarve: a Quick-Step Floors lançou três homens na frente e obrigou todos os outros a um esforço desmedido, com Primoz Roglic (LottoNL-Jumbo) a ser o único a estar à altura da ambição da equipa belga e do irlandês.
Líder da Quick-Step Floors para a Volta ao Algarve, Daniel Martin segurou o esloveno até ao risco de meta, para conquistar o seu primeiro triunfo em 11 meses e vestir uma amarela que o deixou visivelmente feliz.

"Vim reconhecer o percurso e conhecia perfeitamente a subida. Sabia que era importante arrancarmos em força desde a base e ganhar posição na frente. Foi um grande esforço da equipa. Rodámos na frente durante todo o dia, todos acreditaram nas minhas possibilidades. Estou feliz pela equipa", disse, ainda antes de subir ao pódio.
Martin não quis que ninguém estragasse o seu momento, preferindo nem pensar naquilo que o espera no contrarrelógio de Sagres, nem nos escassos quatro segundos de vantagem para Roglic e nos 26 para o terceiro, o polaco Michal Kwiatkowski (Sky), vencedor da 'Algarvia' em 2014.

"Farei o melhor que puder no contrarrelógio e veremos como correrá. Agora quero desfrutar desta vitória", 'disparou' o corredor de 30 anos.

Com 189,3 quilómetros a percorrer até ao ponto mais alto do Algarve, situado a 900 metros de altitude, no coração da serra de Monchique, vários foram os que tentaram contrariar o prognóstico de uma luta entre os principais candidatos à geral individual na chegada à Fóia, com oito 'bravos' a saírem do pelotão cinco quilómetros depois da partida de Lagoa.

Adam de Vos (Rally Cycling), líder da montanha, Edward Theuns (Trek-Segafredo), Kanneth Vanbilsen (Cofidis), Igor Boev (Gazprom-RusVelo), Brian van Goethem (Roompot-Nederlandse Loterij), João Matias (LA Alumínios-Metalusa BlackJack), Luís Gomes e Daniel Sánchez (RP-Boavista) trabalharam na frente para conseguir uma margem que nunca excedeu os 3.30 minutos e que foi decaindo à medida que as dificuldades da jornada se foram sucedendo.

Aos 151 quilómetros, o último dos resistentes, Edward Theuns, despediu-se da fuga, anulada pelo trabalho da Katusha-Alpecin, que tinha clara a missão de levar Tony Martin e Tiago Machado em boa posição até à escalada final, bem conhecida do seu diretor José Azevedo, que aí foi o melhor em duas ocasiões (2000 e 2001).

Mas, tal como em Lagos, havia outra formação com a lição bem estudada: à entrada dos 9,1 quilómetros da subida, com uma inclinação média de 6,2%, a Quick-Step Floors assomou à frente do grupo de favoritos e desmembrou-o, com Martin a isolar-se na companhia de Enric Mas, vencedor da Volta ao Alentejo de 2016, e de Zdenek Stybar.

Na resposta, 'colaram-se' aos homens da Quick-Step Floors o esloveno Roglic e o polaco Kwiatkowski, que pouco depois se isolariam com Martin na liderança. Vindo de trás para a frente, Amaro Antunes (W52-FC Porto) uniu-se aos grandes nomes do pelotão mundial, merecendo mesmo um olhar de esguelha do ciclista da Sky, com quem se cruzou no circuito de juniores.

Mas a resistência do português, que esta época já deu nas vistas na Volta a Valência, acabou a três quilómetros do alto, com o algarvio a ser apanhado pelos perseguidores -- na meta, coincidente com uma contagem de primeira categoria, Antunes foi o melhor português, ao ser quarto, diante do italiano Rinaldo Nocentini (Sporting-Tavira), a 33 segundos do vencedor, e está na mesma posição da geral, a 43 segundos do irlandês.

A etapa (e a amarela) estava confinada a uma luta a três e aí, com Kwiatkowski já descolado (foi terceiro, a 20 segundos), Martin levou a melhor, impondo-se num 'sprint' improvisado ao quinto classificado da geral do ano passado.
"Roglic esteve bastante forte em Valência e sabia que seria um dos favoritos para a classificação geral. Ataquei-o, porque não quis colaborar comigo mas no último quilómetro sabia que a minha experiência me seria útil", resumiu Martin.

O irlandês sabe que tem uma tarefa difícil nos 18 quilómetros de contrarrelógio da terceira etapa, mas hoje, quando despir a amarela, poderá respirar descansado, depois de ter praticamente eliminado nomes de peso da luta pela geral: o alemão Tony Martin (Katusha), vencedor da prova em 2011 e 2013, ou o português Tiago Machado, que estão a mais de 1.40 minutos da geral.

17
Fev17

NO LIVRO QUE NADA MAIS É DO QUE UM AJUSTE DE CONTAS ENTRE DOIS VIGARISTAS SÓCRATES E CAVACO E UM ATAQUE VENENOSO À ESQUERDA EIS O QUE DIZ O COVEIRO DE PORTUGAL ! - Para Cavaco Silva, Bloco e PCP são "influência negativa" na governação

António Garrochinho







Ex-presidente escreve que teve "a perceção" que Costa, logo após as eleições, "já estava trabalhar num entendimento de Governo com o Partido Comunista Português e o Bloco de Esquerda"

O ex-Presidente da República Cavaco Silva acusa BE e PCP de exercerem uma "influência negativa" na governação do país, com o executivo socialista a depender, "para a sua sobrevivência política", do apoio destes partidos.
No livro "Quinta-feira e outros dias", que chegou hoje às livrarias e será apresentado ao final da tarde pelo antigo chefe de Estado, Cavaco Silva centra-se na coabitação entre 2006 e 2011 com o então primeiro-ministro socialista José Sócrates.
Contudo, no 13.º capítulo, sobre "a interrupção voluntária da gravidez", o ex-Presidente da República fala brevemente do atual Governo, liderado pelo socialista António Costa, que tem o apoio parlamentar de BE, PCP e PEV, recordando um dos seus últimos vetos políticos: a revogação aprovada a 18 de dezembro de 2015 às alterações à lei da interrupção voluntária da gravidez votadas por PSD e CDS-PP antes do verão.
Com as alterações então introduzidas, lembra o antigo Presidente, reforçavam-se os direitos de informação das mulheres, estabelecia-se a obrigatoriedade de acompanhamento psicológico e revogava-se a norma que impedia os médicos de invocar objeção de consciência, indo assim ao encontro das "preocupações" que Cavaco Silva tinha manifestado em 2007, quando promulgou a lei sobre a despenalização do aborto.
A lei, aprovada por PSD e CDS-PP, "veio a ser alvo da falta de bom senso e do afã revisionista da coligação parlamentar formada pelo PS, pelo BE, pelo PCP e pelo partido ecologista 'Os Verdes'", escreve Cavaco Silva.
A revogação das alterações, continua o antigo chefe de Estado, foi feita "de modo apressado e irrefletido", sem que tivesse ocorrido debate público, uma adequada ponderação dos interesses em causa ou qualquer auscultação de entidades ou personalidades de referência.
Por considerar que a revogação das alterações representava um "claro retrocesso na defesa dos diversos valores" e em "defesa do interesse nacional", Cavaco Silva vetou a "lei revogatória".
"Era um caso típico em que o Presidente da República não podia ter qualquer dúvida em enfrentar a maioria parlamentar, mesmo que, por radicalismo ideológico, esta se revelasse obstinada, e confirmasse a lei - como veio, de facto a verificar-se", refere.
Cavaco Silva estabelece mesmo uma comparação entre o "sentido de equilíbrio" demonstrado em 2007 por José Sócrates, na sequência da vitória do "sim" no referendo, e a atitude da maioria que aprovou oito anos depois a revogação das alterações introduzidas meses antes.
"O PS e o seu líder tinham então demonstrado um sentido de equilíbrio que estivera ausente na reversão aprovada pelo parlamento em dezembro de 2015. A explicação, concluo, deve residir no facto de, em 2007, o Governo do PS não depender, para a sua sobrevivência política, dos apoios do BE e do PCP e da influência negativa que estes partidos passaram a exercer na governação do país", lê-se no final do capítulo reservado à interrupção voluntária da gravidez.
Mais à frente, no capítulo intitulado "a última quinta-feira", no qual relata a última reunião semanal que teve com José Sócrates, a 16 de junho de 2011, volta às críticas aos comunistas e bloquistas.
Não obstante muitas críticas e acusações ao antigo primeiro-ministro, nomeadamente de lhe ter mentido, Cavaco Silva reconhece o facto de José Sócrates nunca se ter deixado "capturar" pelo PCP ou pelo BE.
"Sempre o vi bem consciente de que o caminho defendido por estes partidos seria desastroso para Portugal e para os portugueses. O caminho leninista que querem implementar só tem gerado miséria e totalitarismo", diz Cavaco, considerando que se José Sócrates "tivesse ido por aí", a herança deixada pelos seus Governo teria sido muito pior.
"A verdade é que não existe na Europa, nem tão pouco no mundo, qualquer país que seja desenvolvido e que registe um caminho de sucesso tendo partidos da extrema-esquerda a determinar a condução da política económica", acrescenta.
Nos parágrafos finais do livro, com perto de 600 páginas, Cavaco Silva volta a falar do Governo liderado por António Costa, confessando que logo no dia a seguir às eleições de 04 de outubro de 2015 teve "a perceção" que o agora primeiro-ministro, "rompendo com a tradição de 40 anos do seu partido, já estava trabalhar num entendimento de Governo com o Partido Comunista Português e o Bloco de Esquerda".
Falando nas "grandes preocupações" que as confederações patronais, a UGT, os presidentes dos maiores bancos e economistas lhe tinham transmitido em relação à hipótese de um "Governo do PS apoiado pela extrema-esquerda", Cavaco termina o livro remetendo para o próximo volume da obra.
"Mas, essa é uma história que não faz parte deste volume", conclui.

17
Fev17

CASA ASSALTADA TRANCAS Á PORTA ! - PSP exige a todos os agentes o número de série da arma de serviço

António Garrochinho




Pedido foi feito depois de a PSP ter registado o desaparecimento de 50 armas de nove milímetros, algumas apreendidas na posse de criminosos

A PSP pediu, há cerca de duas semanas, a todos os polícias para indicarem o número de série da arma com que trabalham, disse hoje à agência Lusa fonte policial.
O pedido foi feito em todos os comandos da PSP do país dois dias depois da apreensão de uma arma de fogo da polícia durante uma operação policial que decorreu no Porto, adiantou a mesma fonte.
Segundo a fonte, os polícias indicaram o número de série da arma de serviço aos comandantes de esquadra ou de departamento.

Entretanto, fonte sindical defendeu a existência de uma base de dados com os registos de todos os números de série das armas de serviços atribuídos a todo o efetivo.
O Ministério da Administração Interna (MAI) anunciou hoje que a PSP suspendeu de funções dois agentes e instaurou um inquérito ao armazenamento de armas da direção nacional após terem sido extraviadas 50 armas de nove milímetros.

Fonte policial adiantou à Lusa que na sequência da apreensão de uma arma de fogo durante uma operação policial que decorreu no Porto há duas semanas, foi detetado que esta pertencia ao armazém de material de guerra da direção nacional da PSP.

Segundo a mesma fonte, foi feita uma contabilização do armamento e foi detetado o extravio de um lote de 50 armas de nove milímetros.

Em comunicado, o MAI adianta que a PSP suspendeu de funções dois polícias e instaurados processos disciplinares, além de ter sido comunicado ao Ministério Público.

17
Fev17

REABRE AMANHÃ O PAVILHÃO CARLOS LOPES EM LISBOA

António Garrochinho


A segunda vida do pavilhão que já foi o orgulho de Lisboa


Carlos Lopes guiou o DN pelo renovado multiusos do Parque Eduardo VII, a que deu o nome em 1984, por sugestão de Krus Abecassis, e que amanhã será reaberto. Por entre troféus, o ex-atleta, que cumpre amanhã 70 anos, revisitou a carreira

"Estou a viver no presente o meu passado, a minha história, embora não seja saudosista deu-me muito gozo ir ao meu museu privado buscar cada medalhada, cada diploma, cada fotografia... é um quarto de século de vida dedicado ao atletismo." Carlos Lopes não esconde o entusiasmo pela reabertura, amanhã às 17.00, do pavilhão a que "empresta" o nome desde 1984, ano em que conquistou a medalha de ouro olímpica na maratona.

O Pavilhão Carlos Lopes volta a abrir portas ao público, numa cerimónia que coincide com o 70.º aniversário do antigo atleta e terá a presença do primeiro-ministro, António Costa. O icónico espaço da cidade de Lisboa, com lugar na história de Portugal desde 1921, viu o tempo e a falta de uso transformá-lo num edifício sem vida nos últimos 14 anos.
A dias da reinauguração, Carlos Lopes guiou o DN pelo novo espaço. E ainda, por entre cimento e entulho, caos e nervosismo, confessou ser "um homem feliz" por lhe fazerem "uma homenagem destas em vida". Estava na companhia da mulher e de um dos netos, o Salvador, de 2 anos, e do seu inseparável do monstro das bolachas verde. "Ele já vai percebendo que eu corria e diz-me que qualquer dia me vai ganhar", brincou o ex-atleta olímpico, contente com a nova cara do recinto. "Já viu bem isto? Está tão bonito...", exclamou Lopes, que não é homem de elogio fácil, fazendo um gesto na direção dos torreões da fachada e do Salão Nobre.

Em 2003, o recinto foi obrigado a fechar por falta de condições de segurança e em profunda degradação. De tal forma que o herói nacional que lhe deu o nome se sentiu envergonhado. "Isto não estava em condições de receber grandes eventos, as bancadas estavam mortas, podres, temos de perceber isso, estava descaracterizado, tinha limitações para o público, e é normal que os eventos tenham sido deslocados para outros pavilhões onde havia melhores condições para a prática das modalidades que se fazem hoje em pavilhão, agora como edifício é e sempre foi lindíssimo, num parque verde a perder de vista em pleno centro de Lisboa. Isto são coisas que merecem ser preservadas, e em boa hora o fizeram", desabafou.

O antigo atleta lembra-se de ir lá ver "eventos de culturismo, as Marchas de Lisboa e até comícios". Mas não recorda os tempos em que o espaço recebeu o maior evento desportivo, o Mundial de Hóquei em Patins, em 1947. "Tinha acabado de nascer", brincou, ele que nasceu a 18 de fevereiro, dois meses antes da final do mundial (frente à Bélgica), que foi simultaneamente Europeu e que deu a Portugal os primeiros dois títulos da história. Numa memória mais recente ficaram alguns espetáculos nacionais e internacionais, como o de Nick Cave (1988) e os comícios políticos, como o do regresso de Álvaro Cunhal da URSS (1989)... até cair em desuso e no esquecimento já em pleno século XXI.
A requalificação custou cerca de oito milhões de euros e manteve os traços originais do monumento, património da cidade. Todas as fachadas e elementos de interesse patrimonial foram restaurados, mantendo as suas características originais. A entrada principal, por exemplo, conservou os painéis de azulejos, em azul e branco, que representam marcos da história de Portugal com temas dedicados a Sagres, à Batalha de Ourique, à Ala dos Namorados na Batalha de Aljubarrota e ao Cruzeiro do Sul, produzidos pela Fábrica de Sacavém em 1922 (muito deles roubados durante a década de abandono). Foram também preservadas as esculturas Arte e Ciência, de autoria e execução do escultor Raul Xavier.

O telefonema de Krus Abecassis

Desenhado pelos arquitetos Guilherme e Carlos Rebello de Andrade e ainda por Alfredo Assunção Santos, foi construído no Brasil em 1921 para a Grande Exposição Internacional do Rio de Janeiro, tendo sido inaugurado em 1923. Mais tarde foi transportado de barco para Lisboa e reconstruído, ficando conhecido como o Palácio das Exposições. Depois da II Guerra Mundial, foi convertido para receber eventos desportivos e passou a ser Pavilhão dos Desportos, até receber o nome de Carlos Lopes.
O que aconteceu um ou dois meses depois de conquistar o ouro em Los Angeles, em 1984, quando o antigo atleta do Sporting recebeu um "surpreende e agradável telefonema" de Krus Abecassis, então presidente da Câmara Municipal de Lisboa. "Disse-me: "Estou a pensar dar o teu nome ao pavilhão dos desportos, o que achas?"" Fiquei muito orgulhoso e naturalmente aceitei. Vi a medida com bons olhos, porque é uma coisa que fica para a eternidade", contou antes de revisitar a carreira no mural.
Para o antigo atleta, os momentos ali presentes são todos importantes. "Consigo contar cada um", recordou, antes de dizer que a vida, mais do que a tropa, cuja fotografia faz sucesso, o ensinou "a viver o momento". Mas sem pessimismos: "Nunca me passou na cabeça que podia ir para a guerra ou morrer, sempre pensei em não me preocupar muito com a vida militar. Sentir as coisas do momento e do dia-a-dia. Não vale a pena complicar."
E nenhum momento o fez mais feliz do que o cortar da meta nos Jogos Olímpicos em primeiro lugar. "Se me perguntam qual é o momento mais importante, eu digo, e nem era preciso, toda a gente sabe que foi os Jogos... Se me pergunta que o esperava alcançar quando comecei no atletismo, naturalmente digo que não imaginava." A culpa foi em primeiro lugar dos pais: "Se não me fizeram perfeito, foi quase..."
Patriota assumido, não acredita que haja algum atleta que não sinta a bandeira: "Não há ninguém que não sinta orgulho em representar o país. Eu passei três anos na tropa e todos os dias ouvia o hino, e não me canso de o ouvir e sentir. É um hino lindo de mais para a gente o esquecer, e subir a um pódio nos Jogos Olímpicos e ver hasteada a bandeira é das coisas mais belas que existem."

Agora, passados 33 anos desde esse feito, lamenta que não tenha havido outros Carlos Lopes. Já olhou para algum atleta e viu o próximo Carlos Lopes? "Muitos, muitos...", respondeu, sem conseguir explicar se foi falta de visão do mestre ou falta de capacidade do atleta para chegar a esse estatuto: "Talvez de ambos [risos]. O problema é a conciliação do desporto e a escola, é complicado. Vemos jovens no desporto escolar com talento, mas depois, passado dois, três anos desaparecem, e é uma pena."
O antigo atleta olímpico viu o clube da aldeia (Vildemoinhos) rejeitá-lo por ser "excessivamente magro". Mas não desistiu. Numa correria com amigos, durante a noite para regressar rápido a casa, após um baile, Lopes bateu os rapazes da sua idade que treinavam regularmente e já se dedicavam ao atletismo na altura, o que o fez pensar que podia ter futuro no Atletismo. Depois, em 1967, foi recrutado pelo Sporting e dividia o tempo entre o treino e o trabalho de contínuo no jornal Diário Popular, que lhe "facilitou a vida" ao libertá-lo para treinar duas vezes por dia. Viria a conhecer a glória máxima em 1984, com o ouro olímpico na maratona (2h9m21s, um recorde olímpico até Pequim 2008). Um feito histórico, que lhe valeu a "honra" de dar o nome ao icónico pavilhão municipal do Parque Eduardo VII.

"A oferta de Lisboa fica mais atrativa"

Vítor Costa, Vice-presidente da Associação de Turismo de Lisboa em entrevista ao DN

De que forma a Associação de Turismo de Lisboa aparece, digamos assim, a tomar conta do Pavilhão Carlos Lopes?

A Assembleia Municipal viu na Associação de Turismo de Lisboa o parceiro ideal para o projeto. Já tivemos várias colaborações de sucesso e por isso foi um processo normal e natural até formalizarmos o acordo de cedência de direito de superfície a 50 anos, por 3,5 milhões de euros.

Quanto foi investido na requalificação?

A requalificação do pavilhão, os projetos e os equipamentos ficaram por cerca de oito milhões de euros no total, valor que não contabiliza os 3,5 milhões da aquisição.

Que importância terá o espaço para a cidade e o turismo?

Primeiro é importante lembrar que é um espaço icónico e um equipamento muito enraizado na memória dos lisboetas, seja por eventos desportivos, políticos ou culturais. Estava abandonado desde 2003 e era importante restaurá-lo para que voltasse a ter vida e dar a Lisboa mais um espaço atrativo para receber eventos, tornando a oferta da cidade mais atrativa e diversificada.

Que eventos estão já agendados para o Pavilhão Carlos Lopes?

No sábado [amanhã] será inaugurado o espaço, com entrada livre, que terá uma exposição permanente sobre Carlos Lopes e uma instalação multimédia sobre os 20 anos do Turismo de Lisboa, em exposição até 18 de março. Depois o primeiro acontecimento será um festival gastronómico - o Peixe em Lisboa - de 30 de março a 9 de abril. E a ModaLisboa de outubro também será lá... Não há propriamente uma programação, mas estamos a ser procurados para muita coisa, o espaço está a despertar muito interesse e curiosidade.

Que memórias tem das antigas vidas do pavilhão?

Tenho várias. Fui lá a comícios políticos, um deles foi o do Salgado Zenha como candidato à Presidência da República. Assisti lá também ao discurso de Jorge Sampaio, que viria a ser presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Lembro-me de ver lá o concerto dos Sétima Legião e assistir com entusiasmo às Marchas Populares, quando trabalha









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