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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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04
Mar17

AFOGAR O GANSO

António Garrochinho

CUIDADO PARA NÃO SERES VÍTIMA DE RACISMO NÃO APANHES MUITO SOL NAS OBRAS, NÃO TE TISNES.
PARA QUE A VIDA NÃO TE CORRA COMO NO "BAILADO DE CISNES".
NÃO SEJAS TANSO.
ANTES AMIGO DOS MAGNATAS COMO O INOCENTE NÚNCIO
LACAIO DESSES EM QUE SEMPRE LHES ESTÁ NA CARA O PRENUNCIO.... DO GAMANÇO.
TRABALHA, NÃO REFILES, OBEDECE, E CONTENTA-TE DE VEZ EM QUANDO EM AFOGAR O GANSO.
António Garrochinho

04
Mar17

Patrícia Mamona conquista medalha de prata no Europeu de pista coberta

António Garrochinho




Patrícia Mamona terminou o concurso do triplo salto do Europeu de pista coberta no segundo lugar com um salto de 14,32 metros, melhor marca pessoal este ano.
Ao segundo dia do Campeonato da Europa de Pista Coberta de Belgrado (Sérvia), a primeira medalha para as cores nacionais, obtida por intermédio de Patrícia Mamona, no triplo salto.
A portuguesa foi medalha de prata com um salto de 14,32 metros, obtido na quinta oportunidade e que é a sua melhor marca pessoal e também a quarta melhor mundial deste ano.
Mamona, que é campeã da Europa em título ao ar livre, mas nunca obtivera um pódio de grandes campeonatos em pista coberta, ficou a escassos cinco centímetros do lugar mais alto do pódio, que foi para Kristin Gierisch. A alemã obteve 14,37 metros na segunda oportunidade, registando depois três saltos nulos e fazendo 13,91 metros no sexto e último.
A grega Paraskevi Papahristou alcançou a medalha de bronze (14,24m), enquanto a outra saltadora lusa presente nesta final, Susana Costa, terminou em sétimo, com 13,99 metros, uma marca que é recorde pessoal.
04
Mar17

A TRAÇÃO ELÉCTRICA , O CARRO AMERICANO, E OUTROS TRANSPORTES NA CIDADE DO PORTO

António Garrochinho
A tração elétrica surgiu na cidade do Porto em 1895, com a Companhia Carril de Ferro do Porto que se havia fundido, em 1893, com a Companhia Carril de Ferro Americano do Porto à Foz e Matosinhos, tendo prevalecido o nome da primeira. O aumento de capital facilitou a aquisição de veículos novos e o investimento na instalação da linha aérea. Procurava-se um meio de transporte revolucionário, económico e viável para as acidentadas ruas do Porto. 

Colocou-se a hipótese, em 1892, de nas ruas mais acidentadas - Clérigos, Santo António (atual 31 de janeiro) e Mouzinho da Silveira - serem aplicados ascensores semelhantes aos de Lisboa. Porém, volvido um ano, em 1893, o pensamento do gerente da Companhia, homem dinâmico e empreendedor, mudou radicalmente levando-o a afirmar que a melhor solução seria a tração elétrica. 

Em 17 de janeiro de 1894, José Ribeiro Vieira de Castro dirigia à Câmara Municipal do Porto um requerimento pedindo licença para - como ensaio – "substituir, na tração dos seus carros, a força animal pela elétrica, nas linhas marginal e da Restauração, desde a rua do Infante D. Henrique até o extremo do concelho e desde o Passeio da Graça (Cordoaria) até Matosinhos”. 


As vantagens do novo sistema eram variadas: os horários poderiam ser mais regulares pelo facto das velocidades estarem estabelecidas; facilitava a multiplicação de unidades de transporte visto não estarem dependentes das grandes quantidades de gado; melhorava a circulação nas ruas de declive mais acentuado; era um transporte que utilizava uma energia limpa contribuindo assim para uma maior salubridade das ruas. O espaço urbano teve, então, a possibilidade de se reorganizar; alargou o seu perímetro ao anexar antigos subúrbios, criando outros em simultâneo. 

A primeira linha de carros elétricos, foi inaugurada em 1895. Ia do Carmo à Arrábida, ampliando-se depois para a Foz e Matosinhos. A partir daí as linhas do elétrico expandiram-se por toda a cidade e concelhos vizinhos, sendo o transporte urbano mais importante desde os finais da primeira década do século XX até aos inícios dos anos 60 do mesmo século, o seu período áureo, mas também o início do seu declínio. 



A eletrificação de linhas iniciada em 1895 veio contribuir a par com a indústria e o comércio, para o desenvolvimento da cidade, o seu crescimento e o das povoações vizinhas. Em 1895 chegava também a Portugal o primeiro automóvel importado de Paris, em segunda mão, pelo Conde de Avilez. Era o ponto de partida para a revolução automóvel que se viria a processar ao longo do século XX, sobretudo nas duas principais cidades do país - Porto e Lisboa.


A 27 de julho de 1878 a Câmara Municipal do Porto (CMP) autorizou as duas Companhias então existentes a introduzirem a tração a vapor. Só a Companhia Carris de Ferro do Porto adotou este sistema que perdurou até 1914 e que consistia na utilização de pequenas locomotivas a vapor "as máquinas” que puxavam uma série de carruagens.

A tração a vapor foi suspensa a partir de 9 de novembro de 1914. Apesar de ter circulado durante 36 anos, não foi um veículo muito popular nem teve a difusão esperada pelas ruas da cidade.

O CARRO AMERICANO

O Porto foi a primeira cidade portuguesa a usufruir dos benefícios dos "carros americanos". Em 1858, Albino Francisco de Paiva Araújo pretendeu obter do governo uma "concessão para estabelecer um caminho-de-ferro, dos denominados Americanos”, entre a cidade do Porto e a povoação da Foz. Essa autorização, que Paiva Araújo não conseguiu, obteve-a o Barão da Trovisqueira doze anos depois. 

Em agosto de 1870 foram fixadas cláusulas e condições mediante as quais foi dada ao mencionado barão, autorização para o estabelecimento à sua custa, de um caminho-de-ferro para transporte de passageiros e mercadorias, servido por cavalos (rail road), na estrada pública entre a cidade do Porto e a povoação da Foz, podendo prolongar-se até Matosinhos. 

A importação de todo o material fixo e circulante indispensável para a construção e exploração desse caminho-de-ferro foi autorizado livre de direitos nas alfândegas do reino até 30 de junho de 1872. Em finais de junho de 1871 iniciaram-se as obras de construção da linha marginal, e a 29 de setembro desse mesmo ano estava concluída em toda a sua extensão a linha do caminho-de-ferro americano entre a Alfândega Nova e a Foz. Previa-se para breve a abertura ao público, mesmo sem inauguração oficial. O primeiro percurso feito por este carro foi da Rua da Alfândega Nova até ao Passeio Alegre, indo posteriormente até à Foz e Matosinhos.

A iniciativa privada esteve, então, na origem do estabelecimento da primeira linha na Marginal, inaugurada a 15 de maio de 1872. A partir do momento em que é concluída a linha, a sua concessão passa para as mãos de outros dois particulares, José de Melo e António Tavares Basto, que constituem a Companhia Carril de Ferro Americano. Um ano depois surge outra companhia, a Companhia Carris de Ferro do Porto, criada por Vieira de Castro e Evaristo Pinto. A primeira companhia ficou conhecida pela população, como a companhia de baixo, pois o percurso dos seus carros decorria na marginal, enquanto a companhia de cima, seria a Carris, que mantinha os Americanos em circulação no centro da cidade. 
A partir da década de 1930, as camionetas, carroçadas de forma a permitir o transporte de passageiros entraram em concorrência aberta com os carros elétricos. Pela concessão do exclusivo dos transportes públicos, dada à Companhia Carris de Ferro do Porto (CCFP) não era permitido o transporte de passageiros por outros meios que não fossem os da CCFP, mas com a conivência da Câmara, as camionetas começaram a operar na cidade, principalmente nas horas de maior afluência de público, o que provocou enormes prejuízos à CCFP.

Mesmo com a razão do seu lado, a CCFP nunca mais se viu livre delas aumentando cada vez mais nas ruas da cidade, como se pode depreender do parágrafo seguinte retirado do relatório e contas da CCFP: "(...) continua a concorrência de carreiras de camionetas dentro e nos arredores da cidade, tirando passageiros e impedindo o movimento dos elétricos, nas horas de maior afluência (... )in "Relatório e Contas da CCFP" (1933).

Em 1933, a Administração da CCFP, fazendo uma análise ao atual sistema de transportes públicos da cidade reconhecia que "o 1º «Estabelecimento» (Carros, Central, Sub-estações e linhas) tinha sido completamente derrotado (…) sendo necessária a sua substituição na sua totalidade". 

O número de passageiros aumenta também significativamente, e era impossível dar resposta às inúmeras exigências dos passageiros ficando frequentemente os carros elétricos em "rosário" (termo utilizado na época para uma boa quantidade de carros parados em fila), como consequência ora do impedimento das vias, ora dos frequentes cortes de energia.

Surgia no Comércio do Porto de 1 de janeiro de 1939, um artigo intitulado "Os Futuros Transportes Urbanos do Porto" onde era apontada como solução transitória um sistema misto, carros elétricos e auto-omníbus, e um prazo de 25 anos para que fosse abolida por completo a tração elétrica sobre carris, com sacrifício para a concessionária mas com benefício para o público e trânsito - pois entendia-se que por este meio os "engarrafamentos" nas ruas acabariam.

Os anos 40 do século XX trouxeram alterações profundas aos transportes públicos do Porto. Em 1936, a CMP avisa a CCFP, com base no artigo trigésimo primeiro da escritura da concessão para a exploração da viação elétrica na cidade do Porto, que o contrato de concessão seria rescindido em 1941. Esta pretensão da CMP só não se concretizou em 1941 porque deflagrou na altura a tão famigerada 2ª Guerra Mundial, o que levou a Câmara e o Governo a adiar por mais 5 anos a situação.

Chegado o ano de 1946 inicia-se uma nova era nos transportes públicos. A CCFP, depois de 73 anos de laboração dá lugar ao STCP (Serviço de Transportes Colectivos do Porto), liderado pela Câmara Municipal do Porto. Era chegada a hora da CMP intervir diretamente na vida dos transportes públicos da cidade, e foi isso que fez, elaborando um plano/programa em que eram estabelecidas prioridades para os próximos anos.

Uma das prioridades era a aquisição de autobuses, para a qual estava reservada uma despesa extraordinária de 3.850 contos e mais 1.300 contos para a aquisição de terreno para a construção da primeira fase da garagem e oficinas dos mesmos.

Foram ainda nesse mesmo ano de 1946, estudadas e estabelecidas as bases de aquisição de 15 autobuses, cuja adjudicação acabou por fazer-se a uma firma da capital - Auto-Triunfo - devendo as primeiras unidades ser entregues em julho de 1947.

A estratégia traçada pelo STCP em 1946, no que diz respeito à aquisição de autocarros, seria colocada em prática no decorrer de 1948. De facto, nem tudo correra como fora planeado, pois dos 15 autocarros que se pretendiam adquirir em 1946 apenas dois estavam disponíveis em março de 1948, pelo que a Administração não querendo perder mais tempo, nem prejudicar o público, inaugurou a 1 de abril desse mesmo ano, a carreira "C”, que partia da Avenida dos Aliados e tinha o seu terminus no Carvalhido.

Os primeiros autocarros que circularam na cidade do Porto eram da marca Daimler, e foram carroçados na firma DALFA, Lda. que laborava em Ovar. Os chassis eram provenientes de Inglaterra, e custaram ao STCP, já carroçados, cerca de 1.000 contos cada um. Os autocarros iniciaram a circulação pintados de amarelo, tendo posteriormente, em 1959, mudado para verde.

A evolução em termos de carreiras de autocarros fez-se sentir ainda durante 1948, pois à medida que o material encomendado (autocarros) ia chegando iam sendo inauguradas novas carreiras, existindo no final do ano 4 carreiras em exploração com uma extensão de rede de 26 quilómetros. Com 10 autocarros em circulação, atingiu-se uma média diária de 5.000 passageiros transportados. 

Carreiras de autocarros inauguradas em 1948:
C - Carvalhido - 1 de abril
D - Antas - 1 de junho
A - Foz - 24 de junho
E - Paranhos - 23 de outubro

Os autocarros chegaram e venceram. Mesmo com a construção nas oficinas do STCP de um novo modelo de elétrico o - "S-500" - o autocarro via aumentada, de ano para ano, a sua frota. Com o Plano de Remodelação da empresa, elaborado desde 1962 e colocado em marcha a partir de 1967, o autocarro assume-se definitivamente como protagonista dos transportes públicos da cidade, ultrapassando os elétricos tanto em quilómetros percorridos como em passageiros transportados e respetivas receitas. A partir daí, o autocarro nunca mais deixou de se expandir, sendo ainda atualmente o meio de transporte mais utilizado, para a satisfação das necessidades das populações da área metropolitana do Porto. No entanto, o autocarro não sentenciou irreversivelmente o elétrico pois ainda hoje se vêem elétricos a circular, embora numa vertente mais turística.

Os autocarros atuais são eficientes, ecológicos e utilizam fontes de energia diversificada. A partir do ano 2000 a STCP apostou no Gás Natural como energia alternativa e mais económica, tendo em operação um máximo de 255 autocarros a gás, representando 57% da frota. A STCP também participou em 2004 e 2006 num projeto europeu de teste a autocarros movidos a hidrogénio em operação regular. Circularam no Porto, durante 2 anos, 3 autocarros movidos a hidrogénio, uma energia limpa e abundante no planeta.

Em termos de rede de autocarros, após a entrada em funcionamento do Metro, em 2003, a STCP efetuou uma remodelação profunda da sua rede, que culminou com a Nova Rede implementada em 2007. A numeração das linhas passou a ter dígitos em vez dos 2 anteriores e foi feita uma redefinição de percursos de modo a aumentar os rebatimentos sobre as redes de comboio (CP) e Metro. O Porto foi também a primeira cidade do país a adotar uma bilhética intermodal e sem contacto, que permite usar ao mesmo preço os vários serviços e modos de transporte aderentes.
www.stcp.pt
04
Mar17

Dicionário de Profissões

António Garrochinho



Retomamos, neste início de 2017, um projecto iniciado em 2014, agora enriquecido com a experiência ganha, entretanto, e melhorado no seu aspecto visual e informativo. É um dicionário construído com termos ligados a profissões, caídos em desuso, ou cujo significado é pouco conhecido, que nos vão surgindo no decorrer das nossas investigações.

Fiéis aos nossos princípios, fizemos questão de associar ao dicionário os contributos dados no nosso grupo do Facebook pelos nossos companheiros de jornada, assim como as fontes utilizadas para a sua elucidação. Estas podem ser consultadas no separador "Fontes", localizando o respectivo número na lista.

CLIQUE NO FIM DA LISTA NAS LETRAS DO ALFABETO

lista.

 



genealogiafb.blogspot.pt
04
Mar17

LEMBRAM-SE DOS CAMIÕES "BARREIROS" !? ?

António Garrochinho




  1. Barreiros Diesel

    A Barreiros foi fundada por Eduardo Barreiros Rodriguez e começou a sua actividade de fabrico de camiões em 1958. Mas já antes o seu fundador convertia motores de gasolina para diesel e tinha começado a fabricar motores diesel.
    Mas só em 1958 começou o fabrico de camiões completos.

    Em 1963 a Barreiros foi adquirida pela Chrysler que, em 1967, muda o nome da Barreiros para Chrysler Espanha Sa. Houve camiões Barreiros, contudo, até 1978 a partir daí os carros passaram a ostentar a marca Dodge.



  2. BARREIROS DIESEL





  3. A fábrica Barreiros em Portugal, denominada Companhia Portuguesa de Motores e Camiões, foi inaugurada em 18 de Maio de 1962 e situava-se na Quinta Nova em Setúbal.
    forum.motorclassico.pt
04
Mar17

Nomes e apelidos em Portugal: algumas notas

António Garrochinho

Denomina-se apelido, ou sobrenome, qualquer nome usado em comum por toda a família. No Brasil, o vocábulo apelido tem o significado de alcunha, pelo que nesse país é utilizado somente o termo sobrenome.

O costume de cada pessoa usar um nome ou nomes próprios, seguidos dos apelidos da mãe e/ou apelidos do pai é relativamente recente. Datará, para muitas famílias, de finais do século XVIII, princípios do XIX.
Nuno Gonçalo Monteiro, no seu estudo «Os nomes de família em Portugal: uma breve perspectiva histórica», refere que para as famílias nobres, «não vigorando em Portugal quaisquer normas legais sobre o assunto, o apelido ou conjugação de apelidos mais importantes eram em regra, até ao século XIX, os primeiros que se usavam depois do nome próprio, deixando-se frequentemente cair os restantes. O primeiro apelido era geralmente o paterno, embora se pudessem escolher livremente de entre os usados pelos pais ou pelos quatro avós, sendo frequentes os casos de irmãos que não usavam o mesmo apelido.»
Quanto aos modelos populares, refere ainda que «no século XVII, algumas breves sondagens realizadas em registos paroquiais de freguesia rurais, designadamente nos registos de casamentos, sugerem, nos quatro cantos de Portugal, a inexistência de quaisquer regras dominantes que estivessem na base da adopção dos sobrenomes. Estes podiam ser o apelido do pai, ou da mãe, ou um apelido não coincidente com nenhum dos que os pais usavam. Ainda se registava a adopção de patronímicos.»
Seria já no século XX, com o Código do Registo Civil de 1928, que ficaria estipulado o uso dos sobrenomes maternos e paternos, por essa ordem e não excedendo um total de quatro.

Vejamos, de forma sucinta, como evoluíram os nomes portugueses.

Fonte da imagem






























A forma mais frequente de formação de apelidos na Idade Média foi a adopção do nome próprio do pai, sob a forma de patronímicos. Nos reinos ibéricos adicionava-se a desinência -ez, (por vezes -z ou -iz,) e em Portugal também "-es", para formar o segundo nome do filho. 
Este sufixo -ez, portanto, significava "filho de" e todos os apelidos com esta característica são denominados patronímicos.

Lista de alguns patronímicos 


NomePatronímico galaico-português
ÁlvaroÁlvares-Alves
Antão/AntónioAntunes
BentoBentes
Bermudo/VermudoBermudes
BernardoBernardes
DiogoDias, Diegues
DomingosDomingues
EgasViegas
HenriqueHenriques
EstêvãoEsteves
Fernão/FernandoFernandes
García/GarciaGarcês
GeraldoGeraldes
Godinho/GodímGodíns
GomesGomes
Gueda/Guedo/GuidoGuedes
GonçaloGonçalves
João (através do latim Ioannes)Eanes/Anes
LopoLopes
MarcosMarques
Martín/Martim-MartinhoMartins
Menendo/Mendo/Mem/Mendes
Munio/MoninhoMoniz
NunoNunes
Pelayo/Paio1Paes/Pais
Pero/PedroPeres/Pires
RamiroRamires
RodrigoRodrigues
SanchoSanches
SimãoSimões
SoeiroSoares
TeloTeles
VascoVasques/Vaz
VímaraVimaranes/Guimarães

Apesar de ser considerado característico da Idade Média, o tipo de nome constituído por nome, patronímico e apelido nunca chegou a ser usado pela maioria da população portuguesa, que se limitava a usar o nome próprio e o patronímico.

Quando se iniciam os registos paroquiais no século XVI este sistema já estava desorganizado. Ao percorrermos os livros paroquiais dos séculos XVI e XVII, vemos que a maioria dos nomes que aí se encontram é formada por dois elementos, sendo o segundo um patronímico ou um apelido, mas predominando os patronímicos. 

De facto, os patronímicos começam a ser usados como apelidos, e a ser transmitidos em gerações sucessivas, em vez de serem adaptados em cada geração do nome próprio do pai. Outros apelidos têm origem em alcunhas, nos nomes das terras (toponímicos) de onde as pessoas são naturais, ou, ainda, nas profissões.

É também uma época de grande indisciplina, que perdurará até ao século XX no uso e transmissão dos apelidos, pois as pessoas usam frequentemente apelidos diferentes dos que usavam os seus pais e irmãos, indo buscá-los indiferentemente a pai, mãe, avós, tios, padrinhos ou onde quisessem, e mudando-os mesmo ao longo da vida.

No baptismo, o padre, normalmente, registava apenas um nome próprio, e verificámos que nos vários filhos comprovados de um casal, por vezes os pais aparecem com apelidos diferentes, sobretudo a mãe, que pode aparecer com o patronímico ora do pai, ora da mãe.

Era na altura do casamento que se “fixavam” normalmente os apelidos e são estes os registos mais completos para o conhecimento dos apelidos familiares. Nos registos de óbitos verificamos que os jovens adultos, que morriam solteiros, eram normalmente apenas identificados pelo nome próprio e a indicação de filiação: Fulano, moço/a solteiro/a, fº de Beltrano.

Os apelidos (e também os nomes) tinham uma grafia bastante livre e podiam ser postos no feminino. Ninguém se admirava (excepto os descendentes contemporâneos) se uma mulher aparecesse umas vezes como Joana Leitão, outras Joana Leitoa.

No século XVIII, entre a nobreza titular, difundiu-se a moda estrangeira de usar nomes muito compridos, e esta extravagância permaneceu até ao princípio do nosso século, chegando a haver pessoas com mais de 30 nomes. Nas classes populares, creio que sobretudo urbanas, houve uma outra moda, a de as mulheres abandonarem os apelidos, usando apenas os nomes próprios ou de devoção. Por isso aparecem nomes como Ana Rita de S. João, Ana Joaquina do Espírito Santo ou Ana Maria de São José.

No princípio do século XIX expandiu-se em Portugal um costume que vigorava na maioria dos países europeus: o de a mulher adoptar o nome do marido. Esta prática só a encontrei em meios urbanos, mas ignoro se foi seguida, embora com alguma distanciação  temporal, nos meios rurais. Aqui o que encontrei, nos meus ascendentes foi os filhos adoptarem o apelido paterno, enquanto as raparigas usavam os apelidos maternos.



Actualizado em 29-10-2016, MA, MC
Publicado em: Antroponímia

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04
Mar17

BRASIL -A paranoia anticomunista com 80 anos de atraso - Revolta Comunista que tentou derrubar Getúlio Vargas em novembro de 1935

António Garrochinho

Quando certa paranoia anticomunista ainda provoca delírios, alguns até cômicos, com certeza esses reacionários de hoje teriam uma síncope se vivessem há 80 anos, quando duas importantes capitais (Recife e Natal) e a capital do país à época (Rio de Janeiro) foram o cenário da Revolta Comunista que tentou derrubar Getúlio Vargas em novembro de 1935.

Muitos conhecem a revolta como “intentona comunista”, apelido depreciativo dado ao governo ao levante, basta dar um pulo ao dicionário que encontramos intentona como um “intento louco, um plano insensato”. A prepotência dos aliados de Getúlio, que apelidaram com desprezo o movimento, talvez se deva à rapidez com que venceram os revoltosos: cerca de uma semana.
Quem liderou a revolta foi a Aliança Nacional Libertadora (ANL), fundada poucos meses antes, em maio de 1935. No comando da ANL estavam os comunistas, mas ela reunia democratas, liberais, antiimperialistas, anti-latifundiários e socialistas que se opunham ao avanço do nazi-fascismo. A Aliança chegou a reunir 70 mil filiados, entre eles, militares descontentes com os rumos do governo Vargas que participaram da Revolução de 30. Os militares alinhados ao governo acusavam a ANL de receber “ouro de Moscou” e defendiam seu banimento do cenário político.
Com o lema “Pão, Terra e Liberdade”, a ANL tinha entre suas principais bandeiras a urgência de uma ampla reforma agrária. Foi um jovem militante comunista, Carlos Lacerda, quem leu o manifesto de Luís Carlos Prestes que pedia “todo o poder a ANL” que consagrou o Cavaleiro da Esperança como presidente de honra da Aliança. Mais tarde, Lacerda tornou-se um empedernido conservador e ferrenho opositor de João Goulart e Juscelino Kubitschek.
revolta comunista 1935
Carlos Lacerda lê manifesto de Luís Carlos Prestes em congresso da ANL (fonte: Fundação Maurício Grabois)
O Partido Comunista foi fundado no Brasil em março de 1922, cinco anos após a Revolução Russa de outubro de 1917. Com apenas quatro meses de existência, foi colocado na clandestinidade pelo estado de sítio do presidente Arthur Bernardes. Entre 1924 e 1925, a Coluna liderada por Luís Carlos Prestes lutou contra o governo central.
Os planos do levante comunista no Brasil começaram a tomar corpo em Moscou entre o final de 1934 e o início de 1935. Em abril de 1935, Prestes retorna da capital russa e passa a contar com a ajuda de comunistas infiltrados no Brasil como o ex-deputado comunista alemão Artur Ewert, o argentino Rodolfo Ghioldi, além de outros, para articular a revolta. Os planos de Prestes incluíam a tomada do poder e a instalação de um governo popular que prepararia a implantação de um regime socialista no país.
“As lutas continuam, porque a vitória ainda não foi alcançada e o lutador heroico é incapaz de ficar a meio do caminho, porque o objetivo a atingir é a libertação nacional do Brasil, a sua unificação nacional e o seu progresso e o bem-estar e a liberdade de seu povo e o lutador persistente e heroico é esse mesmo povo, que do Amazonas ao Rio Grande do Sul, que do litoral às fronteiras da Bolívia, está unificado mais pelo sofrimento, pela miséria e pela humilhação em que vegeta do que uma unidade nacional impossível nas condições semicoloniais e semifeudal de hoje!” (trecho do manifesto de Luís Carlos Prestes).
O 21º Batalhão de Caçadores na cidade de Natal abrigou o primeiro levante militar no dia 23 de novembro de 1935. Após 19 horas de confrontos que vitimaram 100 pessoas, os rebelados tomam o controle da cidade e formam o Comitê Popular Revolucionário, com integrantes do Comitê do Partido Comunista. Durante 4 dias, Natal viveu a revolução, mas a reação das tropas do governo massacrou os rebeldes, oficiais foram presos e soldados e militares de baixa patente foram torturados.
intentona comunista 1935
Prédio da Força Pública do Rio Grande do Norte baleado após o Levante Comunista (fonte: Projeto República/ UFMG)
Com a insurreição em Natal, o secretariado do Partido Comunista do Recife marcou o levante para o dia 24. O levante na Vila Militar enfrentou dura resistência, mas os rebeldes dominaram o quartel e conseguiram marchar em Recife. O governo mobilizou mais tropas e a rebelião também foi debelada na capital pernambucana.
Mesmo com a revolta sufocada no Nordeste, o levante aconteceu na capital do país no dia 27 de novembro no 3º Regimento de Infantaria, da Praia Vermelha, e na Escola de Aviação Militar do Campo dos Afonsos. No momento do levante no Rio, o governo já havia recolhido informações sobre os planos dos revolucionários, o que facilitou a reação das tropas fiéis a Getúlio.
Sem contar com a adesão do operariado e da classe média, a rebelião foi violentamente derrotada. A partir daí, uma forte repressão se abateu não só contra os comunistas, mas contra todos os opositores do governo. Milhares de pessoas foram presas em todo o país, inclusive deputados e senadores.
revolta comunista 1935
Combatentes correm no Levante Comunista de 1935 (fonte: Projeto República/ UFMG)
Para justificar os arbítrios cometidos, o governo ainda inventou que militares getulistas foram assassinados enquanto dormiam nos quartéis da capital fluminense. Participantes do levante foram torturados e membros do partido comunista que não participaram da revolta também foram presos.
Getúlio Vargas aproveitou a histeria anticomunista para prender milhares de opositores, a grande maioria deles não havia participado do movimento revolucionário e mal sabiam o que tinha acontecido. Vargas usou o levante para concentrar ainda mais poderes em suas mãos: militares poderiam ser cassados, garantias democráticas da Constituição foram suspensas e a censura sobre a imprensa aumentou.
intentona comunista 1935
Soldados rebeldes caminham de braços dados para a prisão no Rio de Janeiro
Prestes só foi preso em março de 1936 ao lado de Olga Benário e libertado 9 anos depois, em 1945, quando recebe anistia de Getúlio Vargas. Sua companheira, Olga Benário, agente comunista alemã, grávida de Prestes, foi deportada pra seu país de origem, em 1942. Depois de dar a luz à filha, Anita Leocádia, em uma prisão da Gestapo (polícia secreta alemã), Olga foi morta em um campo de concentração com 34 anos de idade.

zonacurva.com.br

Em 2002, o documentário “O Assalto ao Poder”, de Eduardo Escorel, nos dá mais detalhes sobre a Revolta Comunista de 1935:
Em 2013, A TV Brasil entrevistou um dos participantes da revolta, Antero de Almeida, com 107 anos:


04
Mar17

Pureza racial (genotípica) e pureza endogâmica (fenotípica)

António Garrochinho



endogamia é um padrão de acasalamento onde parentes próximos se casam, reduzindo a diversidade genética. Os efeitos desta prática são cada vez mais conhecidos. Todo nós sabemos que casamento entre primos de primeiro grau, aumentam os riscos da criança nascer com defeitos.
Todos nós temos genes mutantes. Quando nos casamos com alguém que é mais geneticamente próximo de nós, os riscos de acumulação destes genes em comum será maior do que quando casamos com uma pessoa que não é da família. Alguns genes são vantajosos quando são herdados parcialmente e desvantajosos quando são totalmente herdados. Por exemplo, os ”genes” da esquizofrenia podem aumentar a capacidade criativa quando são herdados parcialmente. Podemos dizer que uma pessoa nestas condições, apresentaria uma espécie de manifestação branda do transtorno. O potencial criativo da esquizofrenia está presente, mas sem o descontrolo cognitivo, que lhe é característico.
A endogamia aumenta os riscos de acumulação de mutações, que quase sempre serão deletérias, especialmente se forem totalmente expressadas.
No entanto, esta prática também reduz a diversidade genética e isto quer indicar ”pureza”. Agora, como muitas das populações muçulmanas do Oriente Médio podem ser geneticamente puras se são racialmente mestiças????
As populações do oriente médio são em média, racialmente mestiças, que é o resultado de séculos de miscigenação por exemplo com os milhões de escravos ”africanos” que foram trazidos por meio do tráfico terrestre, especialmente com as mulheres africanas (leia-se, negras).
A pureza racial se relaciona com genótipo enquanto que pureza endogâmica se relaciona com fenótipo, ou seja, a expressão dos genes ou do genótipo.
Os finlandeses são racialmente puros?? Mas o que realmente é a pureza racial??
O aparecimento de etnias e posteriormente de raças e de espécies, é o resultado de acasalamento próximo, que necessariamente não precisa ser endogâmico, contanto que seja mantido dentro da população. O acasalamento dentro da etnia, produz o acúmulo de mutações, o que nos ajuda a explicar porquê algumas doenças são mais comuns em certas populações do que em outras. As mutações também produzem novas adaptações ou vantagens.
Em resumo, o aparecimento de novas etnias, é resultado direto de um acúmulo de mutações e posterior combinação única de adaptações. Você tem uma população X. Esta população está se casando entre si, mas sem ser baseado em um padrão endogâmico. Então, as mutações mais comuns entre eles, não só será preservada, provavelmente como uma vantagem heterozigota, como também poderão ser mais selecionadas, produzindo diferenciação fenotípica.
A diversidade genética pode acontecer quando você tem o surgimento de múltiplas micro-adaptações. Isso provavelmente não aconteceu com os finlandeses, que tem se concentrado demograficamente no extremo do sul do país (bem como também em outras regiões ao redor do atual território) desde há um bom tempo, por causa do clima severo do restante do território que tem ocupado. Os finlandeses, segundo alguns estudos genéticos importantes, teriam 60% de genes ”siberianos” ou ”asiáticos” pelo lado materno. Mas isso não é sinal de miscigenação, porque temos de especular, de onde realmente surgiu a variação racial caucasóide europeia…..
A teoria mais aceita diz que ”todos nós éramos como os negróides subsaarianos” (maneira nonsense de dizer, mas enfim) até que ocorreu, por acúmulo de mutações, resultado de um provável isolamento geográfico, a grande divergência genética humana, dando início ao aparecimento dos ”eurasiáticos”. Europeus e asiáticos, teriam se separado ”tempos depois” provocando o aparecimento de novas variações humanas.
Mesmo se não for comprovado que os finlandeses são a representação moderna dos antigos europeus, parece que a genética é mais complexa do que canta a nossa vã antropologia… 
Frequência genética não vem do além…
Parece claro que existem dois tipos de pureza, a racial e a genética. A pureza racial se baseia na pureza do genótipo enquanto que a pureza ”genética” (se devo denominá-la assim) seria a pureza do fenótipo, da expressão do fenótipo.
O termo ”pureza” não se baseia em ”inexistência” de alelos de outras populações, mas a combinação única destes alelos. Aqui, como sempre, é um palpite. Os ”genes europeus” não vieram do nada, mas são combinações únicas dos mesmos genes ou traços que estão universalmente distribuídos pela espécie humana.  É apenas uma questão metodológica da genética moderna em determinar que uma combinação de genes ou a maneira como se expressam possam ser classificados como ”europeus” ou ”asiáticos”. Isto não quer indicar que europeus sejam aliens em comparação às demais raças ou variedades humanas. Portanto é perfeitamente possível afirmar que, se for confirmado tal versão é claro, os finlandeses são os mais racialmente puros da Europa, por manterem mais intactas as combinações únicas do fenótipo caucásico ancestral (inclusive, com maior presença de traços mongólicos). Mas partindo do pressuposto que os caucasianos sejam muito diversos em aspecto racial, esta afirmação não se sustentaria porque, se também for comprovado que os europeus evoluíram de diferentes ramos ancestrais, tanto o puro mediterrâneo, moreno, dolicocéfalico e com rosto oval, quanto o nórdico, de mesmas características, mas com pigmentação muito mais clara, sejam ambos, representantes fidedignos de gracilização ancestral das variedades caucasianas.
Portanto, é perfeitamente possível termos uma população que seja racialmente pura (preservação das combinações fenotípicas únicas desde o primeiro efeito fundador) e geneticamente diversa, assim como podemos ter uma população que seja racialmente diversa ou mestiça e que seja mais geneticamente pura, isto é, que tenha uma menor diversidade genética provocada pela endogamia, ou seja, o casamento de familiares muito próximos que tendem a compartilhar uma maior porcentagem de ”genes” em comum.

santoculto.wordpress.com
04
Mar17

As mais famosas operações da inteligência militar russa

António Garrochinho


GRU
A Gazeta Russa apresentou as quatro operações mais conhecidas da unidade secreta da estrutura da inteligência militar – a unidade de operações especiais do GRU (sigla russa para Departamento Central de Inteligência).
Manobras na Espanha
Em 1936 eclodiu a guerra civil espanhola. O governo republicano legítimo encontrava-se isolado. Na qualidade de aliado, a Espanha contava apenas com a URSS, que a ajudou na luta contra os fascistas. Nessa época, o governo soviético criou um destacamento de forças especiais para efetuar manobras de diversão na Espanha. Em sua essência, esse destacamento viria a ser o antecessor do atual GRU.
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A operação com maior ressonância do destacamento russo foi a destruição do trem com o comando da Divisão Aérea Italiana nas proximidades da cidade de Córdoba, no início de 1937. O trem de oito vagões foi atingido por uma mina e acabou caindo precipício abaixo.
Houve também outras manobras de diversão conduzidas com sucesso pelo destacamento em questão durante os combates na Espanha, entre as quais está a explosão de um trem com munições e o assalto a uma propriedade que abrigava um batalhão de metralhadoras dos franquistas.
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Após a derrota dos republicanos, parte desse destacamento tomou o navio para a Argélia e de lá rumou de volta para a URSS. É importante salientar que quatro desses ex-membros dos batalhões de operações especiais participariam posteriormente em atividades de guerrilha em Cuba, sob a liderança de Fidel Castro, no final dos anos 1950.
Homens-rã na Nicarágua
A Marinha também tinha seu batalhão de operações especiais GRU na forma de um esquadrão especial de mergulhadores que eram, ao mesmo tempo, agentes da inteligência e operativos com o mais alto nível de preparação para ações militares e manobras de diversão. Essa estrutura surgiu após o fim da Segunda Guerra Mundial, quando a Otan já possuía unidades similares ao seu serviço.
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Esses mergulhadores foram enviados para operações especiais logo em seguida. No período entre 1967 e 1991, trabalharam em Angola, Etiópia, Vietnã, Coreia, Egito, Cuba e Nicarágua. Eles andavam armados com facas e fuzis que disparavam debaixo de água balas capazes de matar um homem a uma distância de 10 a 15 metros.
No entanto, eles realizaram operações bem “comuns”, nas quais não havia a necessidade de sacar armas. O ex-comandante de primeira ordem dos homens-rã militares, já na reserva, Iúri Pliatchenko, narrou em primeira pessoa o dia a dia dos homens-rã militares ao historiador russo Aleksandr Kolpakidi:
Mecs na Nicaragua
“Em 1984 não tivemos que descer às águas da Nicarágua. A nossa equipe de especialistas se ocupou apenas de trabalho puramente analítico. O que esperavam de nós eram recomendações: queriam saber se aquela região era ou não navegável. As explosões provocadas por minas tiveram grande ressonância em todo o mundo, e o nosso aliado da época estava praticamente sob bloqueio. Descobrimos rapidamente que as minas de produção artesanal eram lançadas de barcos tipo ‘piranha’, que se assemelhavam aos nossos botes de fundo liso. Demos indicações aos nicaraguenses de como combater esses lançamentos e como converter rebocadores convencionais em caça-minas. Depois da nossa partida não explodiu mais nenhum barco.”
Assalto ao Palácio de Amin
Nem todas as operações do GRU foram silenciosas e sem derramamento de sangue. A mais famosa operação das forças especiais da inteligência militar aconteceu no Afeganistão, durante o assalto à residência do secretário-geral do   PDP do Afeganistão, Hafizullah Amin.
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Juntamente com o batalhão de operações especiais da KGB, a inteligência do GRU também participou dessa difícil operação de combate, formando o chamado “batalhão muçulmano”, para o qual foram cuidadosamente selecionados agentes do GRU de origem tadjique, uzbeque e turcomano, por falarem farsi. O batalhão foi secretamente introduzido na guarda do palácio de Amin. Quando o ataque ocorreu, eles foram de grande ajuda para as outras unidades. A Operação Shtorm-333 foi bem-sucedida, e Amin, morto. As forças das GRU perderam sete homens nessa operação.
Campanha tchetchena
As forças do GRU participaram de operações especiais não só no exterior, mas também na Rússia. Por exemplo, na primeira campanha tchetchena de 1994-1995 eles estiveram envolvidos tanto em trabalhos de inteligência, como diretamente nas equipes de assalto. As forças terrestres não conseguiam tomar Grózni por causa do seu treinamento militar extremamente fraco, e as forças especiais foram então acionadas para ajudar. Uma vez que a principal função desta unidade era operações de inteligência e manobras de diversão, ela acabou tendo a maior quantidade de perdas humanas.
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No entanto, após a tomada de Grózni, a elite do GRU continuou ocupada com seus objetivos militares mais imediatos: fornecer às tropas no terreno dados sobre os posições dos combatentes, muitos dos quais chegavam à Tchetchênia vindos da guerra do Afeganistão, de modo que as suas táticas tradicionais de guerra já eram bem conhecidas da inteligência militar russa. Devido a isso, as forças especiais do GRU foram mais eficazes que todas as outras unidades na guerra da Tchetchênia.
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www.revistaoperacional.com.br
04
Mar17

NOTÍCIAS DO ASSALTO II

António Garrochinho


Joe Berardo recebeu em 2007 da CGD cerca de mil milhões de euros para comprar 5% do BCP, e deu como garantia as próprias acções do BCP. Se tudo corresse bem, Berardo vendia as acções e ficava com o dinheiro. É o que se chama ficar-rico-sem-mexer-uma-palha. Se tudo corresse mal, o prejudicado era a CGD, isto é, o dinheiro dos contribuintes.
Como se sabe, a realidade optou pela segunda via. Acções que valiam mil milhões em 2007 valem hoje um décimo desse valor.
Os 5% comprados com o dinheiro da CGD bastaram para Joe Berardo ajudar a colocar os administradores da CGD, Vara e Santos Ferreira, ao comando do BCP.
Joe Berardo está falido: CGD, BES e BCP desistiriam de cobrar dívidas ao empresário.


Percebemos agora quem descapitalizou verdadeiramente a CGD: o PSD e a gestão ruinosa da CGD por comissários do PSD, do CDS e do PS. Percebemos ainda melhor o “engalfinhamento” do PSD e do CDS na “troca de correspondência” entre o Ministro Centeno e o ex-presidente da CGD Domingues.  O manto de nevoeiro que disfarça o essencial: Portugal esteve entregue a um bando de assaltantes.

cris-sheandbobbymcgee.blogspot.pt
04
Mar17

04 de Março de 1394: Nasce no Porto o Infante D. Henrique, "O Navegador"

António Garrochinho


Filho do rei D. João I e de D. Filipa de Lencastre, o infante D. Henrique nasceu na cidade do Porto no dia 4 de março de 1394, vindo a falecer em 1460. Ficou conhecido por o Navegador, mas foi-o de terra firme. O seu epíteto advém da forma como protegeu e instigou as primeiras viagens expansionistas, ficando para sempre ligado a este glorioso período da História de Portugal, sendo decisiva a sua ação no Norte de África e no Atlântico. A sua obra já era de então conhecida na Europa, como atesta uma carta escrita pelo sábio italiano Poggio Bracciolini ao Infante, em 1448-1449. O letrado italiano compara os seus feitos aos de Alexandre, o Grande, ou aos de Júlio César, enaltecendo-os ainda mais por serem conquistas de locais desconhecidos de toda a Humanidade.

D. Henrique era um homem muito poderoso, como o atesta o título de Infante, que usava em detrimento de duque.Seguindo a tradição da época, recebeu uma educação exemplar, mas profundamente religiosa. A sua moral enquadra-se dentro do moralismo puritano inglês, que se revela também nos escritos de seu pai e de seus irmãos,preocupados em emitir juízos morais e em dar conselhos. Também ele deixou conselhos escritos e um brevet ratado de teologia. De entre os inúmeros cargos que exerceu foi "protetor" da Universidade de Lisboa, isto é, o procurador da instituição junto do rei, cargo de grande prestígio atribuído pelos reis apenas a figuras de grande importância social. Da sua ação dentro da Universidade destaca-se a renda que concedeu ao curso de Teologia.Fica ainda a dúvida sobre uma provável instituição da cadeira de Matemática ou de Astronomia, atribuição ligada a toda a mitologia criada em torno da sua pessoa. Na verdade, o seu interesse pela navegação terá permitido patrocinar uma escola de cartografia, trazendo de Maiorca um judeu chamado Jaime, conhecedor da ciência.Contudo, nada aponta ainda para o uso de instrumentos de navegação astronómica e para a invenção da cartaplana, instrumentos depois necessários nas navegações atlânticas, nem para a existência de uma grande escola em Sagres. Tudo isto faz parte da auréola que se foi criando à sua volta.

De facto, aquilo que sabemos desta personagem enigmática foi-nos deixado por Gomes Eanes de Zurara, na Crónica da Guiné, onde o Infante é exaltado de forma quase sobrenatural ("príncipe pouco menos que divinal"). O cronista traça o seu retrato psicológico dando grande ênfase às suas qualidades virtuosas e pias, como a castidade e o facto de não beber vinho. Segundo o seu relato, D. Henrique não era avarento, era um trabalhador aplicado, que para dedicar o tempo necessário aos seus projetos suprimia as horas de repouso noturno. O seu feitio obstinado revela-se na teimosia em manter Ceuta, ainda que o preço a pagar tenha sido a liberdade do seu irmão, D. Fernando, depois cognominado popularmente de "Infante Santo". A D. Henrique se devem feitos como a tomada de Ceuta em parceria com seu pai e irmãos, embora também tenha participado no desastre de Tânger; a armada das Canárias; a guerra que os seus navios faziam aos infiéis, principalmente piratas; o povoamento das"descobertas" ilhas Atlânticas, particularmente notável na Madeira. Foi ele quem mandou vir da Sicília a cana-de-açúcar e os "técnicos" para supervisionarem o seu cultivo e a sua transformação, fazendo da Madeira uma importante região produtora de açúcar.

A sua figura foi guindada à galeria dos heróis nacionais entre finais do século XIX e princípios do século XX,inserindo-se numa corrente nacionalista que desejava "reaportuguesar" Portugal. Aquando do centenário do seu nascimento, a cidade do Porto, liderada pela voz de Joaquim de Vasconcelos, tomou a iniciativa das comemorações de forma a rivalizar com a celebração lisboeta do centenário de Camões. A ideia era equiparar o espírito da cidade à coragem, energia e iniciativa do Príncipe Navegador, erguendo-lhe uma estátua e atribuindo o seu nome a uma rua. Este mesmo espírito nacionalista levou a que muitos artistas o retratassem e o esculpissem, ou que a ele dedicassem obras, como a de Manuel Barradas, segundo o qual o "Infante fora grande por ser a encarnação fanática de uma ideia".

Outro facto que contribuiu para a sua notabilidade foi a divulgação, por Joaquim de Vasconcelos, dos painéis de S. Vicente de Fora, atribuídos a Nuno Gonçalves, onde o artista português Columbano identificara uma das personagens como sendo o Infante. O homem do chapeirão aparece também no manuscrito da Crónica da Guiné,de Zurara, conservado na Biblioteca de Paris, o que reforça esta ideia. Assim, o Infante D. Henrique passa a ser uma das personagens de eleição do nacionalismo português, que dominou durante o Estado Novo, representando a coragem, o dinamismo e o espírito empreendedor do povo português.

Infante D. Henrique. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013.
wikipedia (Imagens)
Ficheiro:Henry the Navigator1.jpg


Representação do Infante num dos Painéis de São Vicente de Fora
VÍDEO


04
Mar17

ESTA BATATA NÃO É SÓ DOCE, TAMBÉM DÁ SAÚDE

António Garrochinho

Aqui se traçam os estranhos desígnios de uma raiz a que chamam batata e apelidam de doce, mas que pouco engorda e menos mal faz a diabéticos. Em poucos anos, a batata-doce passou de besta a bestial, e é por isso que rumámos a sul, ao encontro dela. Bom apetite

Luísa Oliveira
Jornalista
Rumo ao Sul, o termómetro do carro chegou aos dois graus e começou a piscar, como um alarme. Temíamos, por isso, tiritar assim que pisássemos os terrenos do maior produtor de batata-doce nacional, a empresa Atlantic Sun Farms, junto à praia do Carvalhal, já no Algarve do Sudoeste. Felizmente, a viagem foi de 250 quilómetros e deu para a temperatura subir, permitindo até que o sol de inverno nos aquecesse enquanto enterrávamos os pés no solo arenoso que esconde as batatas. “Ela também se dá em barro, mas depois é difícil apanhá-la sem se estragar, porque tem a pele muito sensível”, ensina-nos João Costa, 35 anos, o gerente da quinta.
O meio da manhã já é muito tarde para quem anda na apanha da batata – nem um português. Nesta altura do ano, não se espera que haja raiz já com dimensão suficiente para as encomendas, mas os 120 hectares que a empresa semeia pelo Parque Natural, e as diferentes variedades que por lá existem, assim o permitem. “Como mantemos o solo bem drenado, conseguimos ter batata-doce quase o ano inteiro”, explica Silvana Oliveira, 33 anos, a gerente da empresa.
Algo que não acontece com os pequenos produtores, aqueles que só se dedicam à variedade certificada. Quando uns quilómetros abaixo, e umas horas mais tarde, já ao cair do dia, fomos espreitar os campos que Helena Arsénio, 68 anos, cultiva sozinha, só encontrámos ervas daninhas e resquícios do que foi a sua pequena colheita do ano passado. Mas já lá voltaremos. Por enquanto ainda estamos em cima do trator verde, a perceber de perto como se apanha parte das 2700 toneladas que a Atlantic Sun Farms (detida por alemães, que se encantaram com a região e as condições ideais para esta cultura) produz – 80% dela irá para fora do País, especialmente Alemanha e Holanda.
Do cimo do trator, vê-se o mar
Deste troço de terra que ainda falta lavrar, avista-se o azul do mar bem perto. Mas isso é coisa que não importa para quem está de olhos postos na batata-doce, num silêncio concentrado, apenas interrompido pelo rouco ruído do trator, que avança lento sobre o cultivo. Quando passa por cima do rego onde há rama, apanha o que houver no terreno, a eito, e atira os exemplares recolhidos para cima de um tapete rolante na plataforma atrelada. É então que dois trabalhadores, de cara tapada e bem abrigados do frio, retiram as ervas que vêm agarradas, e mais a terra e as pedras. Atrás deles, outros quatro dedicam-se à primeira escolha – nem tudo vai para o armazém. E o que se aproveita cai em caixas de madeira, cheias aos 390 quilos. Tudo isto se passa na companhia de uma elegante garça branca, que caminha a um ritmo compassado, sempre atrás do trator.
Esta será a rotina por aqui até fevereiro, quando se desbastarem os 31 hectares que ainda escondem batata-doce. Em maio recomeça a sementeira, nos terrenos em que a colheita ocorreu mais cedo. E, em agosto, os tratores voltam a entrar em ação. Entretanto, no armazém guarda-se a batata-doce Lira, a de polpa branca, laranja ou roxa, a uma temperatura ideal, depois de elas passarem pela lavagem, serem calibradas e embaladas. Lá fora, espera-as um camião TIR que se encherá da raiz antes de viajar até à Alemanha.
Mas este, voltamos a repetir, é o calendário especial de uma quinta que fatura quatro milhões de euros, produz muita batata-doce e tem como objetivo chegar às cinco mil toneladas em 2017 (nada que se compare ao “rei da batata-doce”, que produz 240 mil toneladas na Califórnia. Para saber mais sobre esta história, há que ler a caixa O rei é português).

A Lira protegida
Os restantes agricultores do concelho, que também são sócios da Associação de Produtores de Batata-Doce de Aljezur, têm outra agenda, mais rigorosa. O produto que retiram da terra, a chamada Lira, é selado, desde 2009, com a Indicação Geográfica Protegida, e só dá uma vez por ano. ?“É única, genuína e mais doce. Quando se coze, fica consistente e adequa-se muito bem à doçaria”, garante Manuel Marreiros, o presidente da associação, que agora também se dedica a esta cultura, mas antes presidiu à Câmara Municipal.
Para as cerca de duas dezenas de produtores desta variedade de batata-doce, janeiro é a altura para se dedicarem ao viveiro. Quando a raiz pega, lá para maio, fazem a transplantação para a terra onde ela irá crescer. E só em setembro começam na apanha. Quando bem armazenada – nas instalações da associação, na zona industrial do Rogil, por exemplo –, num ambiente em que a humidade não passa dos 80% e a temperatura dos 14 graus, pode aguentar-se até ao verão. Isso só não acontece porque as 250 toneladas que todos apanham são curtas para as encomendas – e as encomendas não saem muito da região.
Polvo à Lagareiro, com puré de batata-doce, vinagrete algarvio e chips de alho, assinado pela chef Susana Felicidade e servido no seu restaurante Pharmacia, em Lisboa
Polvo à Lagareiro, com puré de batata-doce, vinagrete algarvio e chips de alho, assinado pela chef Susana Felicidade e servido no seu restaurante Pharmacia, em Lisboa
DR
A chef Susana Felicidade, 44 anos, dona dos restaurantes Pharmacia e Cozinha da Felicidade, na capital, é uma das que se abastece com produtores locais para os seus pratos. Não admira muito – nasceu na Arrifana, uma bela praia do concelho de Aljezur, e desde que tem memória que a batata-doce faz parte dos pratos lá de casa. “Até vir para Lisboa, achava que o cozido à portuguesa se fazia com batata-doce, porque na minha região ela não fica fora de nada”, lembra. O clima da Costa Vicentina e Sudoeste Alentejano, aliás, é perfeito para este tipo de cultura: muito ameno, com sol quase todo o ano e terrenos arenosos e húmidos.

De besta a bestial
As recordações de Susana Felicidade (que criou pratos como bochechas de porco estufadas com puré de batata-doce ou rosti de batata-doce, palha de batata-doce e salmão fumado), ou de qualquer pessoa da sua zona, são de um tempo em que a batata-doce ainda era malvista. Pensava-se que por ter doce no nome e no paladar engordava muito e era até proibida a diabéticos. Com a crescente importância da nutrição, que se empenhou em estudos científicos para determinar as características deste tipo de alimento que se chama batata, mas que na verdade é uma raiz, percebeu-se como se estava perante um produto de vasto interesse nutricional (ver caixa A raiz mais que perfeita). “Ao contrário da batata inglesa, esta é rica em hidratos de carbono complexos de baixo índice glicémico, de absorção lenta, não provocando picos de produção de insulina”, diz a nutricionista Ana Ni Ribeiro. Num ápice, a raiz saiu da sombra e tornou-se gourmet. Passou a fazer parte de muitas ementas de restaurantes, nas suas mais variadas aceções – frita, assada, cozida, em puré e até (passe a redundância) em doces. Em Portugal, entre 2012 e 2014, consumiu-se dois quilos per capita (em Espanha foram apenas 200 gramas por pessoa).
Com esse advento, denuncia Manuel Marreiros e outras pessoas ouvidas para esta reportagem, chegou também a batata chinesa, como é conhecida em Aljezur. Não vem da China, mas trata-se de um exemplar parecido com a Lira, que dá duas vezes ao ano (em vez de uma) e se desfaz assim que é cozinhada, dizem os peritos. Torna-se difícil distingui-las a olho nu, a não ser depois de se ver como perde a consistência ao ser trabalhada, mas note-se que a certificada tem de estar embalada e trazer consigo o selo de qualidade.
Nada a opor a que haja mais variedade nos terrenos e nas lojas, se não aparecesse quem ande por aí a vender gato por lebre – a Lira tem melhor reputação no mercado e um preço de transação mais alto (€1,3 o quilo).
Para a chef de cozinha algarvia (e muito viajada), não há dúvidas e rejeita exageros: “A batata de Aljezur é a melhor do mundo, não só pelo doce mas pelo sabor complexo que perdura. Toda ela é densa e não tem buracos, porque demora tempo a crescer.”

Pastel de nata de batata-doce
Tal como Susana, a produtora Helena Arsénio, sócia nº 1 da associação local, não imagina a sua vida sem a batata-doce e usa mesmo a palavra paixão quando fala dos anos, ou de uma vida, que já dedicou a esta cultura. “O meu pai plantava-a, e eu, desde os meus 5 ou 6 anos, também pegava na mangueira para a regar. Sempre foi um bichinho e agora é também um complemento à reforma de 279 euros”, conta, com alguma nostalgia. Chegou a deitar à terra 100 mil pés, quando ainda tinha a ajuda dos pais e do irmão, que entretanto morreram. Hoje, apesar das três hérnias discais, dedica-se às batatas-doces sozinha: semeia, planta, corta a rama e cuida delas até ao fim. Resultado: uma tonelada que vende à associação, para que as embalem e revendam no mercado. Este ano, “velha e cansada”, avisa que só vai tratar de um hectare delas.
Anabela Claro, 59 anos, não sabe se as batatas-doces com que dá forma aos produtos à venda no Pão do Rogil são de Helena. Mas, desde que tomou as rédeas do negócio familiar aberto há 50 anos, teima em inovar à custa do produto mais popular da região. Nas prateleiras da sua pastelaria, o pastel de nata de batata-doce arregimenta clientes habituais. Podemos acrescentar, depois de o provarmos, que é menos doce do que o tradicional e mais compacto. Natural: Anabela não usa farinha para fazer o pão de batata-doce, os bolos à fatia, os bolinhos embalados, as broinhas ou o bolo príncipe (uma espécie de bolo-rei à sua moda) – “É tudo com a batata ao natural e sempre da certificada.” Acentua este último adjetivo para se distanciar de um restaurante que abriu há três anos, chamado Museu da Batata-Doce, onde, garantiram-nos, não se usa a genuína para fabricar os produtos que lá vendem, desde travesseiros a azevias ou queijadas.
Desde que Maria Andrade introduziu a variedade alaranjada em Moçambique que as crianças estão mais habituadas a comê-la, aumentando assim os níveis de vitamina A
Desde que Maria Andrade introduziu a variedade alaranjada em Moçambique que as crianças estão mais habituadas a comê-la, aumentando assim os níveis de vitamina A
DR
O doce que dá saúde
A mais de 16 mil quilómetros de Aljezur, Maria Andrade não está muito preocupada com a genuinidade da batata-doce que se come em Moçambique. A investigadora cabo-verdiana, doutorada em genética e fisiologia da batata-doce pela Universidade do Arizona, nos EUA, e a viver há 20 anos nesta ex-colónia portuguesa, centra-se antes na quantidade de vitamina A que pode dispensar, através desse alimento, aos meninos moçambicanos. E, nesse campeonato, não há como a de polpa alaranjada, a mais consumida nos Estados Unidos.
Maria sabe como as estatísticas são duras – quando começou o projeto, perto de 70% das crianças com menos de 5 anos apresentava carências de vitamina A, o que pode levar à cegueira noturna e a um enfraquecimento do sistema imunitário. A UNICEF financia a suplementação, mas nem todos conseguem chegar a um local onde ela seja dispensada. Foi então que a investigadora pensou num sistema sustentável para diminuir a deficiência. Já havia o hábito de cultivar batata-doce em Moçambique, mas não era laranja (quanto mais betacaroteno tiver, mais rica será em vitamina A). Aproveitando que a maioria dos cultivos desapareceu com as cheias de 2000, introduziram a nova variedade e lançaram uma campanha de promoção, baseada no slogan “O Doce que Dá Saúde”. E pegou. Em 2011, “depois de melhoramentos em laboratório, conseguimos identificar 15 variedades tolerantes à seca e aos vírus e que dão duas vezes mais do que as tradicionais”, conta Maria Andrade, entusiasmada, ao telefone. A campanha também ensina os moçambicanos a fugirem às receitas rotineiras do antigamente. Agora, já as consomem em sumo, bolos, pães, sobremesas ou purés. A coisa tem corrido tão bem que em 2016 o prestigiado prémio World Food foi parar às mãos deste projeto moçambicano (e a outros quatro investigadores que desenvolvem a mesma ideia noutras latitudes). Foram 250 mil euros para que a batata-doce continue a espalhar a sua magia por quem mais dela precisa.
Manuel (ao centro) e os seus dois filhos, vice-presidentes da empresa, líder da produção nos Estados Unidos
Manuel (ao centro) e os seus dois filhos, vice-presidentes da empresa, líder da produção nos Estados Unidos
DR

O REI É PORTUGUÊS

Aos 72 anos, Manuel Eduardo Vieira é conhecido no meio como o rei da batata-doce, nos EUA. Como chegou até aqui, este açoriano que andou descalço até aos 11 anos? “Com a graça de Deus, a minha família, uma gestão rigorosa, disciplinada e eficiente, e a melhor equipa”, diz, como quem já conhece de cor a resposta, e sem esconder o orgulho. Vive há quase 50 anos na Califórnia, numa região em que a terra é leve e arenosa, como se quer para esta cultura ser bem-sucedida, e desde então está aos comandos da A. V. Thomas, uma empresa que atualmente produz 240 mil toneladas de batata (grande parte dela biológica) numa área que ascende aos 2500 hectares. Quando comprou a empresa ao tio, trabalhavam lá 7 empregados; hoje, emprega 1100 pessoas. Há que bem servir toda a América do Norte, numa população que se estima ser de 450 milhões. Manuel Vieira, comendador, produz mais de 10 variedades diferentes desta raiz e sabe que “todas têm elementos fantásticos”. Mas a de polpa laranja é a mais popular nos seus mercados – grandes consumidores deste tipo de vegetal. Mesmo assim, o maior produtor do mundo tem notado, nos últimos anos, um aumento substancial na procura. “O sabor até pode ser igual ao produto português, mas aqui ele tem melhor aparência, e os olhos também comem.” Já houve agricultores nacionais que o visitaram para aprender com o rei. E ele tem todo o gosto em ensinar.

OS BENEFÍCIOS DA BATATA-DOCE

- Como é rica em vitamina A, fortalece o sistema imunitário.
- Embora tenha muitos hidratos de carbono, a sua absorção é lenta, o que a torna indicada para diabéticos.
- Pode inserir-se num regime ?de perda de peso porque ajuda a diminuir o apetite.
- Melhora a digestão e o funcionamento intestinal, ?pois tem bastante fibra.
- Fornece boa energia para o treino, auxiliando na queima da gordura e ganho de massa muscular.
- Só a batata-doce providencia vitamina E, sem acréscimo de gordura.
- Tem bastantes antioxidantes, que ajudam ao bom funcionamento do cérebro.
- Trata-se de uma excelente fonte de potássio, essencial à manutenção da integridade das células.
- Como há 33 mg de cálcio em cada 100 gramas, dá saúde aos ossos.
- É uma boa fonte de magnésio e por isso diminui os níveis de stresse.
- Tem menos 10% de calorias do que a batata branca.

visao.sapo.pt
04
Mar17

04 de Março de 1777: D. Maria I demite o Marquês de Pombal e afasta-o de Lisboa

António Garrochinho


Sebastião José de Carvalho e Melo, ministro de D. José I, obteve a confiança total do monarca e governou o país despoticamente, eliminando toda e qualquer resistência. Dos factos mais notáveis da sua carreira destacam-se: a reconstrução de Lisboa após o terramoto de 1 de Novembro de 1755; a cruel repressão do atentado contra D. José I; a perseguição feita à Companhia de Jesus, que culminou com a sua expulsão e o confisco dos seus bens; a supressão das diferenças entre cristão-novos e cristãos-velhos; a reorganização da instrução pública; a reforma da Universidade de Coimbra; a reorganização do exército, que foi confiada ao conde de Lippe; as medidas a favor da agricultura, da indústria e do comércio; a criação das companhias do Grão-Pará, Maranhão e Paraíba e a dos Vinhos do Alto-Douro; a criação da Aula do Comércio; a fundação da Imprensa Régia e do Colégio dos Nobres; a criação do erário, etc. Encarregou o célebre escultor Machado de Castro de criar a estátua equestre do soberano. Após a morte de D. José I a 24 de Fevereiro de 1777, D. Maria I subiu ao trono e o marquês de Pombal pôde perceber que triunfavam os seus inimigos. Oito dias depois, a 4 de Março, D. Maria demitiu o ministro do seu pai, ordenando-lhe que se recolhesse à sua casa de Pombal. Em seguida abriram-se as portas dos cárceres aos numerosos presos que a política severa do marquês ali encerrara. A aclamação da nova soberana realizou-se em 13 de Maio do mesmo ano de 1777. Começaram então as perseguições contra os parentes e os amigos do marquês; arrancou-se o seu medalhão do monumento do Terreiro do Paço, e promoveu-se um processo, indo a Pombal dois desembargadores sujeitar a um interrogatório o velho estadista.  Condenado ao desterro da Corte, terminou amargurado os seus dias na vila de Pombal onde faleceu em 1782. Em 1856, os seus restos mortais foram transladados para Lisboa, tendo sido depositados na Igreja da Memória.
 Marquês de Pombal. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2014. 
 wikipedia (imagens)
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Retrato do Marquês de Pombal
File:Retrato do Marques de Pombal.jpg

04
Mar17

04 de Março de 1869: Nasce o poeta e autor dramático, Eugénio de Castro

António Garrochinho




Poeta e autor dramático, nascido a 4 de março de 1869, em Coimbra, e falecido a 17 de agosto de 1944, na mesma cidade. Formado pela Faculdade de Letras de Coimbra, aí viria a desempenhar funções docentes e diretivas. É ainda durante os estudos académicos que funda, em 1889, com João Menezes e Francisco Bastos, a revista Os Insubmissos, criada com um intuito deliberado de rivalizar com a revista académica Boémia Nova, recém-lançada por Alberto de Oliveira e António Nobre. Na polémica entre as duas publicações serão colocadas questões de versificação (o problema da cesura do alexandrino) que, se não têm a ver diretamente com o Simbolismo, contribuirão para uma nova consciência da linguagem poética, afim das premissas daquele movimento, cuja emergência é usual datar-se de 1890, data da publicação do volume poético Oaristos de Eugénio de Castro. Deixando para trás quatro volumes de poesia (Canções de abril, 1884; Jesus de Nazaré, 1885; Per Umbram, 1887; Horas Tristes, 1888) pouco significativos na bibliografia do autor, se considerados à luz da estética de que viria a ser porta-voz, na introdução a Oaristos, o poeta acusaria os lugares-comuns sobre que assentava a poesia sua contemporânea, quer ao nível de imagens, de rimas e de léxico, defendendo uma nova expressão poética, que, reclamando a "liberdade do ritmo", o processo estilístico da aliteração, as "rimas raras", os "raros vocábulos", e um estilo "decadente", se traduziria, neste, como em volumes posteriores, como Horas, numa poética atenta ao valor sugestivo e musical do significante, alheia a qualquer compromisso com a realidade social e defensora de uma poética de "arte pela arte". Em 1895, Eugénio de Castro fundou a revista internacional A Arte, que, anunciando a colaboração de autores como Paul Adam, Gabriele d'Anunzio, Maurice Barrès, Gustave Khan, Maeterlinck, Stéphane Mallarmé, Jean Moréas, Jules Renard, J. H. Rosny, ou Verlaine, pretendia constituir, ligando alguma poesia portuguesa (sobretudo a do autor) à poesia europeia, um elo no movimento simbolista internacional, com cujos representantes Eugénio de Castro mantinha, aliás, correspondência. A sua poesia, seja nesta primeira fase, onde a influência do simbolismo de matriz verlainiana é muito nítida, seja em fases posteriores, de refluxo neoclassicista (A Fonte do Sátiro e Outros Poemas, Camafeus Romanos, A Mantilha de Medronhos, Descendo a Encosta), nunca se libertou do epíteto de esteticista e escolar, sendo, no entanto, uma referência incontornável na análise do processo de libertação da linguagem poética que viria a culminar com o modernismo. No domínio da expressão dramática, peças como Belkiss inscrevem-se numa compreensão do fenómeno teatral próxima do teatro simbolista de Maeterlinck, a que se seguiriam outras tentativas, de pendor classicista, como Constança.
Fontes: Infopédia
wikipédia (imagens)

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Três Rosas

Sempre, mas sobretudo nas brumosas 
Horas da tarde, quando acaba o dia, 
Quando se estrela o céu, tenho a mania 
De descobrir, de ver almas nas cousas. 

Pendem deste gomil três lindas rosas; 
Uma é rosada, a outra branca e fria, 
Rubra a terceira; e a minha fantasia 
Torna-as humanas, vivas, amorosas. 

Sei que são rosas, rosas só! mas nada 
Impede, enquanto cai lá fora a chuva, 
Que a minha mente a fantasiar se ponha: 

Por ser noiva a primeira, é que é rosada; 
Branca a segunda está, por ser viúva; 
A vermelha pecou ... e tem vergonha! 

Eugénio de Castro, in 'Antologia Poética' 
04
Mar17

Impasse político - Se unionistas e nacionalistas não se entenderem nas próximas três semanas, a Irlanda do Norte volta a ser governada diretamente por Londres

António Garrochinho


O impasse político promete continuar na Irlanda do Norte após as eleições mais disputadas desde o Acordo de Paz de 1998.
Os unionistas venceram novamente o escrutínio mas o Sein Fein alcançou o melhor resultado de sempre, com os dois partidos a ficarem separados por pouco mais de 1000 votos.
O Partido Democrático Unionista (DUP), da primeira-ministra Arlene Foster perdeu 10 deputados, acabando por ser penalizado pelo apoio que deu ao ‘brexit’ e pelo escândalo em torno de alegadas irregularidades num programa de incentivo à utilização de energias renováveis, que esteve na origem da cisão no executivo e provocou estas eleições antecipadas, 10 meses após o último escrutínio.
O Sein Fein, agora liderado por Michelle O’Neill, fica com apenas menos um deputado do que os unionistas e já disse que só entra no governo se Foster se afastar.
O Acordo de Paz obriga à partilha do poder entre os dois partidos mais votados. Se unionistas e nacionalistas não se entenderem nas próximas três semanas, a Irlanda do Norte volta a ser governada diretamente por Londres.
VÍDEO



pt.euronews.com
04
Mar17

Valas comuns de bebés descobertas em orfanato católico na Irlanda

António Garrochinho


Escavações desenterraram restos humanos. Suspeita-se que 800 crianças tenham morrido e sido enterradas na instituição dirigida por freiras católicas que acolhia mães solteiras


Orfanato Bons Secours - Tuam (Irlanda)
Orfanato Bons Secours - Tuam (Irlanda). 
As piores suspeitas confirmaram-se. Investigadores do governo irlandês desenterraram, esta sexta-feira, um passado macabro em valas comuns existentes em 20 caves na instituição "Bon Secours", localizada em Tuam, na República da Irlanda, e destinada a mães solteiras e suas crianças.
Desde o ano passado que uma comissão do governo irlandês foi criada para averiguar suspeitas de mortes de, pelo menos, 800 crianças na instituição para mães solteiras, que funcionou entre 1925 e 1961.
Em outubro passado, começaram as escavações. Descobriram-se esta sexta-feira "quantidades significativas" de restos humanos em, pelo menos, "17 de 20 caves que foram esquadrinhadas desde o início do ano".
Os restos mortais são de seres humanos que morreram com idades entre as 35 semanas fetais e os dois a três anos", sublinhou uma fonte da comissão governamental irlandesa, citada pelo jornal The Guardian, com base em análises de ADN já realizadas.

Morria uma criança de 15 em 15 dias

O orfanato de Tuam era uma de dez instituições na Irlanda que, no século passado, acolheram cerca de 35 mil mulheres grávidas, solteiras, entre o final das duas grandes guerras.
A estimativa dos investigadores governamentais irlandeses é a de que, no Bon Secours, morreu uma criança em cada duas semanas.
A investigação começou após uma historiadora residente na zona, Catherine Corless, ter descoberto registos de 800 crianças residentes no orfanato e apenas duas certidões de óbito, no mesmo período de tempo. Acresce que, na passada década de 70, alguns rapazes que jogavam futebol nos jardins do orfanato ter-lhe-ão contado a descoberta de uma pilha de ossos numa cave.
Tudo indicava que havia ali uma enorme vala comum"  contou a historiadora ao jornal The Guardian, suspeitando-se que a instituição de freiras católicas, enquanto funcionou, adotaria o que era prática comum em instituições semelhantes: recebia mães grávidas, prestes a dar à luz, que eram depois separadas dos filhos, os quais esperariam até serem adoptados.
A comissária irlandesa para as crianças, Katherine Zappone, afirmou já que a descoberta é "triste e perturbadora" e prometeu que as famílias das crianças serão ouvidas, de forma a providenciar funerais apropriados e outros cerimoniais.
Honraremos as suas memórias e iremos asegurar as medidas apropriadas para tratar dos seus restos mortais", salientou a comissária.

tvi24.iol.pt 
04
Mar17

ESPECIAL - O ALGARVE E OS ALGARVIOS Sobre tradições perdidas e sobre tradição «inventada» ou a Histórica histórica encruzilhada de uma região com o poder central.

António Garrochinho


Fale-se no Algarve ou nos algarvios e, de imediato, se ergue uma miríade de lugares-comuns que fundamentam o conhecimento de quem nos desconhece por completo..
Sempre foi assim ao longo da história e grave é a distorção da nossa essência de gente por essas eminências pardas paridas de um poder central, de si provinciano e periférico, dos traumas dos ultimatos britânicos e das perdas de Brasil e de outros mundos dados ao mundo. O discurso oficial do poder central sempre foi o da invenção dos lugares-comuns e de estereotipar os povos e gentes por si dominados. Povos com milenar percurso e com a mais bela das diversidades, de onde lhes advêm a riqueza – não apenas a material, mas, essencialmente, a riqueza histórica, cultural, social, linguística, etnográfica ou antropológica. A riqueza da raison d´être dos povos. E nesses povos, o algarvio.
Povo caldeado durante milénios pelos que aqui chegaram e se radicaram, mas definido sobretudo pela existência milenar das gentes, das suas formas de vida, do aproveitamento racional dos recursos do território, do equilíbrio (forçado ou voluntário) dos nativos com as formas de poder chegadas e exógenas. Se, da Idade do Ferro aos Fenícios, Cónios e Turdetanos, de Roma e sua queda aos Visigodos, aos Árabes (com a sua chegada, permanência e partida) e à reconquista cristã e deste reino dentro do reino, o poder, traço comum, assumiu as formas administrativas e legais que regraram a região, mas tendo sempre as gentes algarvias, e o Algarve, no fim desta equação.
Às mutações da ordem política vigente, permaneceu o sentido de perenidade do povo algarvio, com a sua particular forma de organização e de modus vivendi. Uma riqueza que advêm não de traços comuns com que o exterior nos vê, mas desta mesma essência de diversidade que temos entre localidades separadas por poucos quilómetros, entre sotaventinos e barlaventinos, entre serranos e litorâneos, entre os mesteres – os trabalhadores rurais, os pescadores, todos sem excepção. A nossa diversidade é, justamente, a nossa unidade milenar. Não a unidade de lugares-comuns e esquadria crua com que os outros procuram definir-nos, mas sim a unidade de gentes de luta que nas suas atividades construíram as vidas, e da exemplar constância como os recursos de que dispomos, foram sempre equivalentes ao nosso sucesso.
Que o poder central formate, ao longo da História, o Algarve e os algarvios nessa padronização injusta e desconhecedora da nossa natureza e memória, é quiçá uma forma de colonização que, sendo sub-reptícia, não deixa de ser igualmente agressiva. Mas que a criação do poder central passe por uma ideia estática e preconcebida do povo algarvio e que este mesmo povo tenha, por força da falácia que lhe é imposta, esquecido a sua memória, a sua importância e a sua capacidade – esse sim é um processo desastroso que atenta terrivelmente a alma mater e à autoestima que devíamos nutrir, por força da nossa história e pela nossa força.
Não esqueças, irmão algarvio, que em tempos milenares da tua história, foste o mais apreciado garum romano, vendido, na capital do império, mais caro que ouro às nobres famílias patrícias; que foste os néctares e ambrósias louvados pelos poetas árabes nascidos no teu seio e que cantaram a tua beleza; que foste água das tuas fontes e madeira dos teus bosques – limpos até à última árvore – para os navios da expansão marítima portuguesa; que foste gentes indómitas embarcadas nessas mesmas naves, como o piloto Gonçalo de Lagos; que foste a força das tuas pescas e a abundância da tua agricultura, quando além dos recursos com que sobrevivias muitos mais te levavam, sem que existisse, até ao século XVI, proteção às tuas costas, ao teu comércio. Que te levantaste de sismos enormes – não apenas o de 1755, mas anteriores, como no século XVII ou em 1722. Que foste os indomáveis olhanenses do caíque “Bom Sucesso” rumo ao Brasil, em 1808. Que foste a melhor cortiça do mundo, no teu montado já extinto; que foste as bolsas de atum, da sardinha e de tantos outros pescados e de uma numerosa frota de pesca, que faziam a força da tua indústria conserveira; que foste as tuas hortas e pomares, onde em condições determinadas, tal como no Brasil ou em Angola, havia duas produções anuais. Tu és, Al-Muthamid, Ibn Ammar, António Aleixo, António Ramos Rosa, Gastão da Cruz, Casimiro de Brito, Nuno Júdice. Tu és os irmãos Cabreira, Mendes Cabeçadas, Teixeira Gomes, Duarte Pacheco, João de Deus, Bernardo Passos, Maria Keil ou o Remexido e tantos mais dignos da galeria de imortais de Portugal. Todos algarvios…
É deste povo assim digno, destes notáveis, mas sobretudo dos milhares de notáveis anónimos, que, de Sagres a Vila Real de Santo António, de Alcoutim a Odeceixe e dos contrafortes da cordilheira serrana de Monchique – Caldeirão – Espinhaço, pelos xistos serranos, pela argila e calcário do barrocal e pelas várzeas, areias e falésias do litoral sul, das nossas cidades, vilas, aldeias e montes, construíram a pulso as suas vidas, a nossa verdadeira tradição – a do nosso povo, dos nossos recursos, do nosso modo de vida e da nossa memória.














Façamos a devida distinção sobre este conceito de tradição: a legítima e a criada. A tradição legítima por exemplo, foi a que, desde Lisboa, foi abolida com ferocidade, especificamente com a proibição do trajo algarvio por excelência, o «Bioco» das mulheres olhanenses, na segunda metade do século XIX. A tradição criada foi aquela que promoveu, por exemplo, uma falsa imagem das qualidades da região como importante base para a campanha do trigo, na região serrana onde, sem existirem terras com qualidade e clima adequado à cultura cerealífera, a repetição de erros de sobre-exploração e falta de arroteamento, em nome de um aumento produtivo que permitisse criar a ilusão de uma independência alimentar do país, causou a total exaustão e falta de produtividade dos campos.
As tradições que muitos algarvios pensam como suas, mas que são grosseiras montagens impostas pela expressão da política de espírito do Estado Novo e do seu criativo António Ferro. Nos tímidos inícios do turismo na região, em finais da década de 40 do século passado, esta política criou o Algarve enquanto produto destinado aos turistas dos poucos hotéis então existentes, numa miscelânea e amálgama de elementos de trajo que vão da fórmula do lenço sob o chapéu, num sucedâneo neoimpressionista de mondadeira, e das meias rendadas importadas de um campino em trajo domingueiro.
E inclusive pela invenção do próprio folclore algarvio pobre e minimalista de modinha adornado de ferrinhos, nessa criação tão abstrata quanto de mau-gosto, dos ranchos folclóricos – que nunca haviam feito parte da cultura algarvia. E assim, nessa falácia do vendável do Portugal salazarista estereotipado, até a forma de dançar os corridinhos, especialmente o frenético Alma Algarvia como hino do Algarve, tiveram que ter coreografia inventada a partir das rotações constantes dos dançarinos, quais os das danças de dervixes, em terras do Oriente Médio.



Talvez a charola de Reis não fosse tão apelativa por ser mais parada que o corridinho. E talvez a normalidade das vestes das gentes trabalhadoras do Algarve não combinasse bem com a moldura pretendida para o Portugal dos Pequeninos e a Exposição do Mundo Português, de 1940. Hoje, cai esta tão antiga tradição algarvia das charolas, morrendo quiçá porque, em termos do turismo, não interesse revelá-la como uma das mais arraigadas formas de convívio entre várias comunidades algarvias. Talvez a recuperação de uma verdadeira tradição algarvia como os bonecos dos Maios, que durante os anos do fascismo no nosso país, pelo contexto cáustico das suas mensagens, não fosse interessante ao tal poder, seja afinal um afirmar da nossa identidade, despida de qualquer interesse.
Diga-se que, segundo interesses externos, a invenção do estereótipo da nossa região chegou ainda mais além e de forma mais chocante – como foi o caso da chaminé algarviaEx libris de elemento arquitetónico da região, na sua atual complexidade de conceção industrial, por molde com pináculos e complexas formas geométricas e cores, nada tem que ver com a tradicional chaminé algarvia, onde a existir rendilhado, este se obtinha com a disposição em forma simétrica de meias telhas ou ladrilhos, colocados opostamente uns contra outros, sob um eixo de simetria. A estas chaminés, que primavam pela simplicidade, deu-se-lhes um cunho distinto, enquanto se afirmando que certos marmanjões cónicos, hexagonais e de outras formas, são a pureza algarvia.
Estas chaminés, não sendo necessariamente elemento sine qua non característico da arquitetura tradicional algarvia, até porque a forma da casa algarvia contempla uma enorme variedade de exemplos – desde as faladas casas de taipa de formato cilíndrico, com telhados de colmo, até às casas com açoteias ou da rusticidade arquitectónica rural que, não sendo exclusiva do Algarve, são constantes na região sul de Portugal e até nas mais diversas paragens do Mediterrâneo.
O próprio turismo foi sujeito à invenção da tradição do sol e praia. Em tempos mais remotos, a promoção turística das terras algarvias assentava na saúde, através de águas de fontes termais e as estâncias das mesmas. Esta sua razão de existência assumia um carácter que prevalecia pela qualidade e diferenciação, fosse em Monchique, Tavira ou Cachopo.
Verifica-se assim a proposta ideológica de substituir a bela complexidade da nossa riquíssima diversidade histórica e cultural, por um padrão estático toscamente simplista e renegador das virtudes do que somos, diversificadamente, como povo – das nossas atividades e modos de vida; dos nossos recursos, das relações entre nós próprios e com o mundo. Em suma, a imposição e desenvolvimento deste turismo pelas decisões do poder central e assentimento de gente algarvia (talvez não merecedora de o ser), para agudizar e eternizar a tradição da ditadura da mono-atividade turística, com impacto assinalável no PIB nacional, mas que vende em nome do lucro de muitos grupos estrangeiros ou nacionais que recorrem a offshores sem que qualquer dessa riqueza se traduza na região onde é produzida – na qualidade de vida dos algarvios, na dignidade dos trabalhadores sujeitos à exploração e sazonalidade e na constatação que o sempre arguto cacique algarvio, marcando o seu conjunto de interesses, continuará a manter a muita tradicional forma de actuar, proclamando cá pelo feudo gritos de Ipiranga contra o poder central, no relativo a questões como as portagens da Via do Infante, requalificações de estradas como a EN 125 ou reabilitação de portos marítimos. Depois, porém, como pequenos algarvios na grande cidade e na Assembleia da República, fora da zona de conforto (e das mentiras apregoadas) na região, aprovam as medidas que a lesam , abstêm-se quando deveriam tomar posição ou votam, junto dos que nos prejudicam, contra a revogação das medidas que violentam o Algarve e os algarvios.














Sabemos, pois, nestes tempos que temos a tradição de ser donos “do mar azul, das areias, dos trezentos e tantos mais dias de sol, das unidades hoteleiras de excelência, de pratos tradicionais algarvios (se a nossa gastronomia não fosse tão rica que a cada três quilómetros difere o que é tradicional e onde até a sardinha assada nacionaleira é tradicional do Algarve”. Todos lugares-comuns, para justificar a mono-atividade turística algarvia, enquanto matriz única da inevitabilidade de toda a riqueza de uma região, presente e futura.
E escondidos noutra tradição de lugares-comuns, menos convenientes de serem apregoados, ficam os dos salários de miséria, da ausência de direitos, o de determos, na proporção nacional, uma das maiores taxas de desemprego e um panorama de precariedade absoluta, e o do agravar de uma emigração que nos sugou uma geração jovem, capaz e competente, especialmente na nossa região.
De entre outras tradições inventadas, temos a do ataque cego à pesca tradicional, com a falta de apoio à colectivização da mesma enquanto recurso gerador de riqueza e de postos de trabalho; as de que a agricultura na região só se pode basear no modo biológico e nas pequenas explorações, mais a gosto de pequena horta como produto acessório dos turismos rurais, destinado a dar a sensação de férias úteis à Humanidade do yuppie centro-europeu que se julga, durante duas semanas, como estando a retomar a vida ligada à terra. E isto quando, essencialmente, as tecnologias e serviços que vende na sua vida profissional durante o ano, delapidam predatoriamente mais recursos naturais e humanos que sejam eventualmente necessário, na lógica do capitalismo globalizado onde todos, no geral, vegetamos.
Das tradições inventadas que defendem a Ria Formosa, tendo-lhe deixado fechar barras naturais e abrindo outras em sentido contrário ao das correntes marítimas e ventos dominantes, centenariamente. E que, nos últimos quinze anos, assorearam a ria, mataram viveiros, liquidaram mariscos, acabaram com a pesca dentro dela e onde a tradição do conhecimento dos antigos, que tanto alertaram estudiosos sobre certas pertinentes questões, foi desprezada.
tradição inventada da brutal especulação imobiliária que tornou Quarteira, Monte Gordo e um pouco de toda a costa algarvia em caixotões de cimento com vista para o caixote em diante, que, esse sim, tem vistas para o mar. Da especulação que empregou, na construção, milhares de pessoas que haviam deixado a pesca e agricultura, pela morte destas atividades, em tempos que a União Europeia dera verbas para modernizar. Mas que nos bolsos das mentalidades curtas de armadores e proprietários de terras, assoberbados por dinheiro fácil, se modernizaram em abandonos de campos e abates de embarcações de pesca.
Uma mais grave, quiçá, que foi a tradição inventada das demolições a esmo na zona das ilhas barreiras de Olhão, quando as gentes que lá nasceram, viveram, tiveram seus filhos e lá morreram e querem continuar a morrer lentamente, sem algum dia lhes ter sido dada a dignidade que mereciam, como no caso dos Hangares de Olhão, da Culatra e outras. Ou a invenção da tradição de colocar pontões a Barlavento, com a erosão das falésias e com o desgaste e arrastamento de areias, que vão depois assorear a Sotavento.












A invenção das tradições que brilharam na requalificação da Praia Maria Luísa, arruinada para que existisse mais espaço para o turista desfrutar da sua beleza. Ou as tradições que deixam património de valor artístico e arquitetónico incalculável, como o Palácio da Fonte da Pipa ou outros, arderem por falta de intervenções adequadas.
Ainda da tradição inventada para uma região sem estradas fundamentais ao transporte de pessoas e bens. Sem vias rápidas alternativas gratuitas e fundamentais para a atividade económica da região e com a EN 125 marcando a sua lei de perigo constante e sinistralidade. E de como se impõe uma restruturação e reabilitação do conjunto de estradas regionais, bem como os desassoreamentos das vias navegáveis tanto da costa, como dos rios, o que, do ponto de vista do investimento em obras públicas, permitiria gerar milhares de postos de trabalho. Ou ainda do que será necessário para quebrar outra tradição inventada – a que enuncia a falta de capacidade de resposta e de infraestruturas que permitam um acesso de primeiro mundo à saúde, aos habitantes desta região densamente povoada e frequentada, anualmente, por várias centenas de milhares de turistas.
Assim, e sem mais me alongar, porque longa vai esta opinião mas assim se impunha, quando leio e vejo que algum do povo desta região, entregue às mentiras que lhe são impostas mas que se alça para defender a invenção dessas mesmas mentiras pelos que o submetem a tudo o que atrás mencionei. E vindo estes demonizar o petróleo ou as estufas hidropónicas. Ao primeiro, pelo suposto facto dos mares e praias do Algarve, com a sua exploração, se virem a tornar um tanque de despejo de hidrocarbonetos. Quanto às estufas (que, em Espanha, cometeram o gravíssimo pecado de reaproveitar, de forma otimizada a água da condensação das noites do deserto de Almeria e que geraram mais de 50 mil postos de trabalho direto e outros tantos indiretos, numa das regiões com maior desemprego do nosso país vizinho), por cá vai vingando o pretexto que a inestética visão das estufas estraga as paisagens do turismo, em regiões de barrocal e serrania praticamente desertificadas de população e onde, curiosamente, estas estufas do século XXI até são mais jeitosas que as estufas que pelo Algarve se espraiavam nos anos 70 e 80 do século passado.
Sobre esta ignorância dos nossos, que lhes é vendida pelo cacique ou pela voz e reflexão maniqueísta de alguns que se julgam iluminados entre tantos, e que, por sua vez, são no combate ao poder central, vítimas incautas do mesmo.
Ontem como hoje, nos corredores de Lisboa pretende-se fomentar a anulação da consciência da nossa grande força enquanto região produtiva, diversificada e não entregue apenas a um monopólio qualquer, que gere capitais que não servem depois ao desenvolvimento do Algarve. A estes usurpadores, a suspeita remota de qualquer intenção de que o sector produtivo se pretenda reformular e, por consequência, se consolide a autonomia do Algarve – aspiração que sempre nos coube por inteiro e tem de ser a exigência de todos nós, em relação ao nosso destino comum – é motivo para desencadear a intoxicação mediática sustentada nas tais tradições inventadas. Nunca haja um algarvio que, à menor consciência, venha de forma incauta defender a sua região e o modo de vida da sua comunidade, sustendo como preocupação fulcral as paisagens, a pretexto destas serem parte total da qualidade de vida da região. As mesmas que serão depois, de modo espúrio, capitalizadas como portfólio da monoactividade turística da região… É que se as paisagens do Algarve são uma riqueza de todos nós, elas não podem ser, só por si, apenas um retrato estático cujo desejo de manutenção implique o sacrifício de um povo que continua a sofrer do descaso histórico do poder. Pois para que a paisagem se cristalize, não pode acontecer que a vida de pessoas e seus filhos tenha que se cristalizar igualmente – e tal tem vindo a suceder desde há mais de quatro décadas, em nome do Turismo e do Algarve do sol e praia.
João Tomás Rodrigues | Técnico Superior de Património Cultural

barlavento.pt
04
Mar17

Os matraquilhos da Taberna do Luciano

António Garrochinho


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Descobri há dias esta foto a circular nas redes sociais setubalenses. A única coisa que tem de interessante é retratar um tempo que foi o da minha infância, com os personagens que subitamente recordamos daqueles tempos das nossas vidas em que tudo parecia possível. Era o tempo em que, vindos da escola, parávamos para, ainda antes do almoço que as mães tinham já na mesa, jogar ruidosamente aos matraquilhos que estão no meio do estabelecimento de venda de tinto e branco a copo. Dez tostões, dez bolas, dois para dois e muita risota com a azelhice dos parceiros e adversários de ocasião. Os jogos prolongavam-se até se esgotarem os dez tostões que sobravam nos bolsos, ou porque não tínhamos comido a sandes na escola ou porque tínhamos poupado no bilhete da camioneta da carreira. Sempre era uma forma de adiar a pescada cozida com brócolos que as nossas mães, estranhamente, naqueles tempos tanto gostavam de cozinhar…
Era assim num tempo em que os miúdos entravam em tabernas, mas não as frequentavam. Este era um dos pretextos que nos permitia lá entrar. O outro era ir ao vinho para o almoço, tarefa reservada aos rapazes. Aquele era o reino masculino onde alguns dos membros mais agressivos da espécie ditavam todas as regras ou mesmo a ausência de lei. Já bastava que lá em casa elas mandassem e todos quisessem pensar que nelas mandavam eles. A taberna não era, por isso, o sítio mais adequado para raparigas. Isso era coisa apenas para as mulheres já adultas que nem sempre estavam dispostas a deixar o marido a fermentar na mesa onde, isolado, se destacava o mesmo copo repetidamente esvaziado.
Na rua da Taberna do Luciano – o taberneiro que, de cotovelos no balcão sorri para foto, acompanhado pelo filho, o jovem que se encontra entre o naipe de velhos tabernistas que posam sérios e compenetrados – conviviam a frutaria, a leitaria, a mercearia do César, a regataria da Elvira, mais à frente a mercearia do Botão (acho…), o relojoeiro, o carvoeiro, a loja de roupa, o estofador, o electricista e vendedor de eletrodomésticos e ainda uma panificação com alguma importância. Era a Rua Ladislau Parreira, que, com a Vasco da Gama e o Largo da Fonte Nova, eram o centro comercial do bairro de Tróino. Havia também a papelaria, a Drogaria, o fotógrafo, o Hugo Alfaiate na Vasco da Gama, a retrosaria, a farmácia e o funileiro. E havia as tabernas. Com a do Luciano eram para cima de cinco, e sempre com clientela.
Era o meu bairro.
Naquelas ruas crescíamos a jogar ao pião, íamos onde bem queríamos, gozávamos com o Evaristo da mercearia, homónimo do outro do filme de Francisco Ribeiro onde uns gozões enervavam o merceeiro Evaristo, encarnado pelo ator António Silva, perguntando-lhe se “tens cá disto”, com a diferença de o nosso Evaristo não se zangar tanto.
Juntávamo-nos num grupinho sentado horas a fio no pial da porta da churrasqueira da Rua Paulino de Oliveira e descobríamos, depois do pião, dos matrecos, do bugalho, do jogo da carica e do prego que, afinal, as miúdas tinham piada. Eram giras e atraíam. Como sempre, alguns sabiam falar com elas e outros nem sequer se atreviam a olhá-las. A Zubaida, morena pequena, despertava paixões em quase todos. Miúda, mas já vivaça como todas as miúdas, sabia alimentar e manter em suspenso os egos de quem lhe interessava e despachar o resto dos basbaques que descobriam nela possibilidades nunca antes imaginadas, embora ela já as tivesse descoberto todas. Depois, havia a Joaquina da Rua do Ligeiro. A Joaquina atrevida e generosa. Com ela, as possibilidades imaginadas por muitos tornaram-se mesmo realidade. Devíamos homenageá-la…
As tragédias caíam em cima de nós como bombas. Aconteceu quando morreu a mãe do Guerra, ainda antes de ter cinquenta anos, com doença que nenhum de nós compreendia. Voltou a acontecer quando o Canina, a fazer de guarda redes, voou para apanhar bola mais distante e morreu com a cabeça esmagada contra a trave (ou terá sido a baliza que lhe caiu em cima? Aqui falta-me a memória…). A viagem na camioneta alugada para o funeral, coisa frequente naqueles tempos, foi uma mistura de tristeza e de alegria pelo convívio que o Canina, na hora da despedida, nos ofereceu. Ele que era um miúdo malandreco havia de ter gostado de ir ali com a Zubaida e a Joaquina…
E havia o Sebastião, amigo que, na última vez que o vi, toldado pelos fumos ou pelos ácidos, ou por tudo ao mesmo tempo, já nem me reconheceu. Apenas queria uma moeda. Na moeda que me pediu vi que a infância dele foi, afinal, diferente da minha, embora partilhássemos o mesmo pial, os mesmos jogos e as mesmas piadas. O Sebastião foi para o mar, como foram todos os homens da sua família. Ainda que soubesse evitar o vento que o podia empurrar para fora da barra, perdeu o Norte para sempre.
Lembro-me dos jogos com ele e com o Saraiva, amigo do peito a quem se perde para sempre o rasto, na Taberna do Luciano, naqueles matrecos que, uma vez por mês, recebiam a visita de um especialista em lubrificações que faziam deslizar as traves dos bonecos do Sporting e do Benfica como deslizam os peixes na água. Não havia matrecos como aqueles. Aqueles homens que pareciam já ter nascido na Taberna do Luciano nem sequer nos viam e muito menos ouviam. Nem nós sabíamos do que falavam eles, se é que falavam. Para quê? Bastavam-nos dez tostões para dez bolas e os golos marcados na baliza do outro lado, disparados mesmo cá do fundo pelo guarda redes em acelerada roleta, o único jogador a quem, pelas regras que alguém inventou numa qualquer taberna, era permitido rolar sobre si mesmo a muitas rotações por minuto, disparando a bola a velocidades estonteantes. Quando entrava na outra baliza, a gritaria que se seguia talvez, e só nesse caso, podia fazer com que aqueles homens reparassem em nós. Nunca consegui perceber se alguma vez aconteceu. Mas tenho a certeza de que, naquela indiferença de quem apenas olha para os companheiros de taberna pelo vidro fosco do copo, todos sabiam que eu era filho do Batista e que o Sebastião e o Saraiva eram filhos de outros que eles conheciam e até talvez se cruzassem com eles na taberna.
Só muito mais tarde percebi por que se sentavam horas a fio na taberna a colecionar copos nas mesas de mármore guarnecidas com aqueles bancos com furo no meio do assento para meter o dedo e transportar de um lado para o outro. Tinham sido derrubados pela pobreza, a própria e a alheia. Trabalharam desde que, como eu, iam também à taberna de qualquer outro Luciano jogar matraquilhos e rir com os amigos. Agora, depois de uma eternidade a trabalhar, fosse na pesca fosse noutro qualquer trabalho com salário de miséria, faltava-lhes o sorriso e a paciência para os matrecos e sobrava-lhes a vontade de beber tintos e brancos, conscientes de que a espiral de pobreza em que sempre viveram não lhes permitiu ir mais longe, como sonharam naquela idade em que tudo parecia possível. Restava-lhes o consolo do copo de tinto e de poderem ignorar os miúdos que enfiavam moedas de dez tostões na ranhura dos matrecos estacionados no centro da taberna.
Na verdade, para eles aquela taberna não tinha centro. Tinha apenas recantos escuros, onde cada um permanecia escondido na própria sombra e nas trevas da velha casa da Ladislau Parreira.
Os nomes usados nesta história são fictícios, à exceção de Luciano, o dono da taberna. 



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04
Mar17

Apurar toda a verdade

António Garrochinho


(In Blog O Jumento, 03/03/2017)
quatro_broxes
Antes de vir a público tomar uma posição sobre as transferências para as offshores, Passos Coelho, como um bom político que antes de tomar banho na praia sabe onde deixa a roupa, falou com o seu secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, um governante que apesar de depender de Vítor Gaspar e depois de Maria Luís Albuquerque,  respondia perante Paulo Portas, o seu verdadeiro chefe. O pobre homem teve um momento de amnésia e, de acordo com a imprensa, garantiu ao líder do PSD, que estava tudo bem.
Afinal, o desgraçado foi vítima das suas crises de amnésia transitória, esqueceu-se que enquanto governante se tinha esquecido do processo numa gaveta , tudo isso porque no início do seu mandato teve uma dúvida existencial – a divulgação dos dados não iria favorecer os infractores? – dúvida para a qual acabou por não encontra resposta, apesar dos lembretes do director-geral da AT a sua memória iria atraiçoá-lo sistematicamente e por várias vezes se esqueceu de a esclarecer. Aliás, esta pobre alma anda mesmo lelé da cuca, em quatro dias veio com quatro versões, cada vez que falou em público já se tinha esquecido do que tinha dito no dia anterior.
Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, parece ter também graves problemas de memória. Por várias vezes foi alertado para o que estava sucedendo no BES e nada fez, esqueceu-se sempre das suas obrigações e de proteger os interesses do país, do sistema financeiro e dos portugueses. O próprio Passos Coelho também parece ter problemas do género, esqueceu as responsabilidades de Carlos Costa no que sucedeu ao país e reconduziu-o no cargo.
O próprio Cavaco Silva já teve melhores dias; no seu livro das quintas-feiras evidenciou uma crise de amnésia selectiva, o pobre senhor só se recordou do que lhe interessava e por aquilo que escreveu sobre as escutas a Belém ficamos muito preocupados com que poderá estar acontecendo aos seus neurónios, baralhar factos na sua idade não augura nada de bom. E por falar de problemas de memórias com idosos, idade em que as falhas de memória nos fazem recear o pior, veio a Teodora Cardoso falar de milagres, um sinal de que se esqueceu das inúmeras verdades científicas que andou dizendo ao longo do ano.
Entre problemas de amnésia e crises de senilidade começa a ser evidente que vivemos num país em que é cada vez mais complexo distinguir a verdade da mentira. Já se sabia que no mundo da bola o que é verdade hoje será a mentira de amanhã. Parece que no mundo da política nem dá para considerar que com o tempo as verdades azedam como o vinho, o povo só tem direito a mentiras, porque as verdades são sistematicamente esquecidas.
Até o inquestionável Carlos Alexandre disse ao Expresso que não tinha amigos na magistratura, dizia ele que “devem ser levados em conta como avisos de que eu, realmente, não tendo fortuna pessoal, não tendo amigos na magistratura (não quer dizer que se os tivesse as coisas fossem de forma diferente), estando um pouco isolado como estou — tenho consciência disso —, sou mais vulnerável a qualquer tipo de incidência negativa que me venha a ser dirigida.” Pois, o que era verdade na entrevista do Expresso devido a um problema de amnésia revela-se uma mentira, ainda hoje o Público noticia que Orlando Figueira, o procurador acusado de corrupção, lhe chegou a emprestar dinheiro. Enfim, nem o sóbrio super juiz se consegue escapar a esta epidemia de amnésia.
É uma pena que gente como Passos Coelho considere que só eles têm direito a conhecer toa a verdade e apenas quando esperam que a verdade corresponda às suas conveniências.


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04
Mar17

OS PIRATAS HOJE SÃO MAIS SOFISTICADOS E AINDA MAIS CRUÉIS - No tempo dos corsários e piratas

António Garrochinho


No século XVII, os piratas aterrorizavam os mares. Seu alvo principal eram os galeões espanhóis cheios de ouro do Novo Mundo. Foram instrumentos de uma luta entre 


Em maio de 1701, quem percorresse as margens do rio Tâmisa, em Londres, depararia com um espetáculo macabro: cadáveres pendurados em estacas balançando com o movimento das águas. Eram corpos de piratas que tinham sido condenados a morrer na forca. A inusitada exposição destinava-se a chamar a atenção dos marinheiros para o que lhes aconteceria caso fossem capturados como piratas. A terrível advertência fazia parte dos esforços da Inglaterra em por fim à pirataria – cujo governo, por sinal, a estimulara cem anos antes – e assim tranqüilizar os comerciantes que viam seus negócios ameaçados pelos ladrões dos mares. Entre os desconhecidos corpos de marinheiros que pendiam em Londres naquela primavera do início do século XVIII, um ao menos era de um personagem importante: o capitão da marinha William Kidd, que em 1695 desertou com navio e tudo, tornando-se um dos mais célebres piratas da época.
Preso em Boston, na então colônia inglesa da América do Norte, o escocês Kidd foi julgado e executado em Londres. Na verdade, a pirataria não era propriamente uma novidade na Europa daqueles notáveis tempos de expansão econômica e marítima. Tão antiga quanto a própria história da navegação, a pirataria se fez presente desde os tempos antigos, passando pelo Egito e Grécia até o império romano. Depois, durante a Idade Média, teve nos vikings nórdicos seus mais ferozes praticantes. Além deles, também ingleses, franceses, holandeses, irlandeses e árabes dedicaram-se ao ofício pouco nobilitante de despojar de suas riquezas navios em alto-mar. Por representarem um transtorno à boa marcha dos negócios por via marítima, os piratas sempre estiveram sujeitos a severas punições.
Apesar disso, houve época em que a atividade chegou a ser estimulada por vários governos. No século XVI, os ingleses sentiam-se ameaçados pela Invencível Armada espanhola, montada graças ao ouro saqueado das Américas. Em 1567, com suas naus equipadas com o que havia de mais moderno em matéria de armas de fogo, a Espanha acabou por bloquear o tráfego comercial marítimo entre as Ilhas Britânicas e os Países Baixos. Para dar o troco aos espanhóis, a Inglaterra criou e manteve durante vinte anos uma verdadeira frota mercenária: os corsários, navegadores aos quais outorgavam cartas de corso (do latim cursus, viagem por mar). Tratava-se, na verdade, de autorizações para roubar: as cartas permitiam que eles abordassem os galeões espanhóis que traziam para a Europa as riquezas das colônias do Novo Mundo.
O cenário era o mar das Antilhas, na América Central. “A vantagem para os ingleses é que as frotas que levavam os tesouros espanhóis tinham data marcada para sair e rota conhecida, o que facilitava o trabalho dos piratas. Mesmo assim os combatentes eram ferozes, pois as frotas eram sempre escoltadas”, explica a historiadora Janice Theodoro da Silva, da USP, especializada em América colonial. “O investimento que a Inglaterra fazia na pirataria tinha retorno certo”, avalia a historiadora. “Embora as despesas fossem enormes, o butim era compensador”. A rigor, a Inglaterra não era a única nação cujo comércio exterior se ressentia da presença espanhola nos mares – e por isso recorria aos corsários. A França, por exemplo, também se valia dessa arma.
A diferença é que a Inglaterra soube utilizá-la como ninguém, até porque alguns dos mais célebres piratas eram súditos de Sua Majestade Britânica. O melhor exemplo disso foi o audacioso Francis Drake, que entre 1577 e 1580, com o apoio da rainha Elizabeth I, realizou uma viagem de circunavegação do mundo em seu navio The Golden Hind, passando pelo estreito de Magalhães, que liga no sul da América o Atlântico ao Pacífico. Já que estava mesmo por ali, aproveitou para saquear a costa do Pacífico e capturar o ouro, a prata e as pedras preciosas dos galeões espanhóis. Ao regressar à Inglaterra, foi recebido com todas as honras pela rainha e condecorado com o título de sir.
O suporte da coroa britânica à pirataria enfureceu de tal forma o rei Felipe II da Espanha que acabou declarando guerra aos ingleses. Foi uma decisão que mudou o curso da história européia. Pois em 1588, há quatrocentos anos, a Invencível Armada, com seus 133 navios, foi destroçada – e essa foi uma das causas do declínio político e econômico da Espanha no mundo e da ascensão da Inglaterra. Corsários, flibusteiros, bucaneiros ou pura e simplesmente piratas, financiados por governos ou por ricos comerciantes, tinham sempre um único objetivo, como, aliás, todo ladrão que se preze, em alto-mar ou terra firme: fazer fortuna pilhando a fortuna alheia. No entanto, como em tudo na vida, nem sempre eram bem-sucedidos.
Qualquer marinheiro que embarcasse num navio pirata sabia, por exemplo, que sem presa não haveria paga. Por isso, era uma gente disposta a tudo. Quando o capitão do navio finalmente conseguia arrebanhar a tripulação de que precisava para zarpar, estabelecia as regras para a divisão do produto do saque. Os interessados ficavam então sabendo que, terminada a pilhagem, as mercadorias seriam vendidas; calculado seu valor total, deduziam-se as despesas de viagem (um terço era pago a quem havia financiado o, digamos, empreendimento) e o restante era repartido. Ao capitão, naturalmente, cabia a parte do tubarão – algo como um terço do produto do saque; os marinheiros de primeira viagem ficavam com os trocados.
Mas, veterano ou novato, o marinheiro que primeiro gritasse “vela à vista” receberia 100 moedas. Se houvesse combates e algum marinheiro saísse mutilado, seria indenizado: quem perdesse um olho ou um braço recebia 600 moedas; a perda de um dedo (do pé ou da mão) era recompensada com 100 moedas. Tais obrigações deviam ser cumpridas à risca pelo capitão; em contrapartida exigia-se que os marinheiros não se acovardassem nem se embriagassem na iminência de uma abordagem – o que, apesar de tudo, era comum. Para saber se um marinheiro estava ou não bêbado, submetia-se o suspeito à prova de andar em linha reta – e não se admitia culpar o balanço do mar pelos ziguezagues.
Os piratas embarcavam nessa vida movidos pela ganância, mas suportavam o dia-a-dia a bordo movidos a álcool, rum de preferência. Conta-se até que certa vez uma navio de piratas demorou três dias para capturar um galeão por falta de homens sóbrios. Mas havia ocasiões em que era permitido festejar e beber até cair. Isso acontecia quando os navios atravessavam determinados marcos geográficos como o estreito da Flórida (que separa o mar das Antilhas do golfo do México) ou a linha do equador (marco imaginário que divide o hemisfério norte do hemisfério sul). Então um dos piratas se vestia de rei e, acompanhado de sua corte, todos vestidos de forma espalhafatosa, batizava os que nunca haviam cruzado a fronteira. O batismo variava desde o afogamento simulado num barril até um passeio sobre uma tábua suspensa na proa e então mergulhada na água, uma, duas, três vezes. Depois, os calouros que resistissem a essa verdadeira tortura recebiam um apelido que lhes dava a tripulação. A cerimônia, por assim dizer, terminava com uma batalha de água que se espalhava pelo navio e geralmente com homéricos porres. Esse costume talvez tenha dado origem às festas que os navios de passageiros promovem até hoje para comemorar a travessia do equador.
Mas a vida no mar nas regiões tropicais estava longe das lendas que a literatura e o cinema se encarregariam de difundir. As ilhas onde os piratas aportavam podiam ser ensolaradas, com praias cobertas de palmeiras e cachoeiras de águas límpidas. Mas, apesar do cenário paradisíaco, os ladrões do mar costumavam padecer – e muitas vezes morriam – de tudo quanto fosse doença. Como nem sempre as provisões que levavam eram suficientes para a incerta vida marítima – as tempestades, por exemplo, podiam tirar os navios da rota -, os piratas acabavam a pão e água (ou nem isso) até chegar a um porto seguro onde pudessem reabastecer os navios. Freqüentemente, a comida não só era pouca mas inadequada. A falta de vitamina C, por exemplo fazia o marinheiro morrer de escorbuto, doença que se caracteriza por provocar fortes hemorragias. Trechos de um depoimento deixado por um pirata anônimo, citado pelo historiador Edward Ritchie, da Universidade da Califórnia, dá uma idéia do que podia ser a vida de pirata:
“Muitas são as misérias que os marinheiros enfrentam quando adoecem, sendo poucos os meios de se reconfortarem, pois então não podem buscar a carne e a bebida que acham que lhes farão bem (…) E, quando o marinheiro morre, é ‘enterrado’ rapidamente, poupando aos amigos e conhecidos o trabalho de ir à igreja e mandar dobrar os sinos (…) Em lugar disso eles apenas o costuram num cobertor velho ou num pedaço de lona, amarram em seus pés duas ou três balas de canhão e o lançam ao mar”. Havia ainda problemas mais prosaicos. Por exemplo, o constante contato com a água salgada decompunha as roupas rapidamente e os piratas se viam obrigados a usar as sedas e brocados que haviam pilhado – e que não eram propriamente os trajes mais adequados para o clima e o serviço.
Não espanta assim que, se a primeira ambição de um pirata fosse enriquecer, a segunda era voltar para casa o quanto antes. Em casa, alguns piratas bem-sucedidos, tinham prêmios adicionais à espera. Além de Sir Francis Drake, houve o caso do inglês Henry Morgan. No comando de uma frota que chegou a ter 36 navios, ele percorreu o mar das Antilhas durante dezessete anos. Mas em 1672 foi preso e reconduzido à Inglaterra. Ali, no entanto, foi feito cavaleiro e ainda por cima nomeado governador da Jamaica – com a incumbência de reprimir a atividade de seus ex-companheiros. Morgan morreu em 1688, aos 53 anos, em santa paz e cercado de todas as homenagens.
Foi por essa época, no final do século XVII, que as colônias inglesas, francesas e holandesas nas Antilhas começaram a atrair aventureiros de todo tipo. Como não tinham terras e a economia colonial girava em torno de plantações que utilizavam mão-de-obra escrava, esses forasteiros acabaram confinados a alguns povoados. Por força do isolamento, organizaram-se em confrarias para tentar a sorte no mar, dedicando-se também à pirataria. Como algumas dessas colônias eram pobres, seus governadores, sem meios de combater os piratas, não tinham outra saída senão aliar-se a eles. Por isso, alguns portos antilhanos, como Port Royal, Anguila e a ilha de Tortuga, transformaram-se em célebres esconderijos de piratas.
Tanto nos povoados que freqüentavam quanto nos seus navios, as regras eram informais. Num livro sobre pirataria, tema que fascinou o inglês Daniel Defoe (1660-1731), autor do clássico romance Robinson Crusoé, narra que, muitas vezes, os piratas elegiam democraticamente seus capitães. Eles também acabaram substituindo a tradicional bandeira vermelha sem emblema, a marca registrada dos navios corsários, pelo pano negro estampado com a caveira e os ossos cruzados. Os ladrões do mar, entretanto, já estavam com os dias contados.
No início do século XVIII, já estabelecida como a nação mais rica e poderosa do mundo, a Inglaterra dispensou definitivamente os serviços dos piratas – e declarou aberta a temporada de caça à pirataria. Assim o governo britânico cumpria com algum atraso o compromisso assinado em 1670, no Tratado de Madri. A primeira lei inglesa instituindo tribunais especiais para julgar os piratas capturados data de 1700. Foi graças a essa lei que o capitão William Kidd acabou executado e teve seu corpo exposto em Londres em 1701. Dezessete anos depois, chegou a vez de outro pirata famoso, Edward Teach, o Barba Negra, que assolava as colônias inglesas da costa sudeste da América do Norte. Ele costumava buscar refúgio em Charleston, na Carolina do Sul, mas os habitantes do lugar acabariam criando coragem e trataram de dar cabo de tão perniciosa figura. Assim, Barba Negra terminou seus dias linchado. Os corsários saíam da história para virar lenda.


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04
Mar17

O “SALDOCE” e o “CASTELO SAGRADO”!

António Garrochinho

(Joaquim Vassalo Abreu, 04/03/2017)
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A que podemos juntar também o seu sacrossanto vigia e o “Riofraco”. Mais o Santos e o Sobrinho. O afilhado e o padrinho. Também o do bigodinho. A Isabel e o maridinho. O general e um filhinho. O saca rolhas e o coelhinho. A violinha e o cavaquinho. Um leopardo mansinho e do CC um narizinho, entupidinho!
Vão-me desculpar, mas eu hoje estou deveras zangado. E zangado comigo mesmo e com vocês todos. E com o mundo todo em geral e com todas as praias ou lugares que estão fora da nossa visão ou conhecimento, longe da costa, portanto, e a que chamam de “Offshores” também. Com tudo e com todos, em suma.
É que acabei de ver o terceiro e último episódio da trilogia “Assalto ao Castelo” e já nem sequer me apetece falar de toda essa coisa começada por “M”, preferiria até que começasse por “T” mas, perdoem-me, acho que nem com esta consigo começar. Porquê? Porque é tanta a chafurdice, tanta a conivência, tanta a desonestidade e tanta a “irresponsabilidade”, essa que eu achava que era apenas privilégio dos Juízes, os únicos que não são responsabilizados pelas decisões judiciais tomadas, que apenas me posso perguntar: Como não está esta gente toda na cadeia?
Pergunta introspectiva minha, mas muito inocente, já se sabe. Porque continuamos a ter relações privilegiadas com Angola e com toda a sua “cleptocracia”? E com toda aquela oligarquia? Como é que deixamos que mandem em Bancos e em grandes empresas Portuguesas quando sabemos que todo o seu capital é advindo da sistemática corrupção e de roubo a todo o seu Povo? Eu sei que a pergunta é inocente, eu sei, mas não será legítimo fazê-la?
Mas há uma outra perplexidade me assaltou e que me continua a consumir, e que é a seguinte: Como é que é a SIC a fazer esta reportagem, quando perante a situação actual da CGD, por exemplo, vemos os seus “pontas de lança” tudo promoverem para o seu descrédito e a tudo o que isso pode levar (por exemplo privatização e “esquecimento” de cobranças de créditos cristalizados de insuspeitos devedores, como aconteceu com outros…).
Porquê a SIC, portanto? Porque é que havendo um jornaleiro que começa a ser mais que insuportável, o José Gomes Ferreira, mais os Caiados e outros que tais criados, a tudo fazerem para que este Governo falhe, é feita uma reportagem destas, elaborada por um grande e competente jornalista, sem dúvida, mas que, para tal, teve que ter o superior aval do seu presidente: o “Balsebraços”.
“Braços”, sim, porque ele não é apenas uma mera “mão”: ele tem mais extensões. E sabemos o que isso pode significar. E, assim sendo, mas delirando, é claro, como aliás sempre faço, não poderá tratar-se de um ajuste de contas com o “SALGROSSO”? Porque mesmo sendo Salgado ele fez-se sempre de “Saldoce” com o “Balsebraço” e, quem ainda tem memória, deve recordar-se daquela vez em que o Salgado, dessa vez “grosso”, ameaçou retirar todo o investimento publicitário do seu grupo no grupo Impresa. Há quem tenha memória curta mas, felizmente, a minha ainda me vai servindo,
E depois, e aí não sei mesmo, será que o “Balsebraço” não terá alguma aplicação na Rioforte, depois transformada em “Riofraco”, assim a modos que um colateral de algum empréstimo? Ninguém sabe. E eu muito menos…
Mas repito, estou muito zangado. E aqui creio que todos me acompanham na fatal pergunta: como é que aquele vigia da guarita do “Castelo”, o tal de Carlos Costa, ainda se mantém lá de sentinela e não há quem o consiga arredar de lá? Como, se ele não vigia nada? E se vigia não age?
O António Costa diz que ele é inamovível e nem o comandante em chefe o consegue de lá tirar. Só o manda chuva do tal castelo sediado em Frankfurt, um tal Draghi, o consegue fazer e eles parece que são unha com carne. Como, se ele com a anterior governo tanto colaborou a com este se calou? Colaborou calando e corroborando tanto o Coelho, como a Maria Luis e enganando um outro que nunca se deixava enganar e nunca tinha dúvidas, dizendo estar bem o que sabia que estava mal e reiterando a confiança e certeza das suas disponibilidades para ultrapassar qualquer crise? Como?
Carlos Costa? Sabia de tudo! O “Balsebraço”? De tudo sabia. O Coelho e a Maria Luis, idem idem aspas. O Cavaco? De nada sabia. Só sabia o que o da guarita lhe transmitia. O “Pata Negra” e o “Granadero”? Esses só tremiam perante uma ordem. O Sacadura? Estava fora…
Tirando o Sócrates que era o culpado de tudo e, quer-me parecer, afinal não vai ser de nada, só de não ter pago o imposto de selo dos empréstimos do amigo, mas aí também não sabemos se o Juiz Alexandre pagou o devido pelo empréstimo de um outro amigo, ele que nem amigos dizia ter, tirando, como dizia o Sócrates, quem vai ser o CDT (culpado disso tudo)?
Eu, por mim, e por isso mais zangado estou, comecei a escrever sobre o BES e sobre a “Saúde da Banca Portuguesa” (três textos), já nos idos de 2013, e outros que podem procurar no meu Blog, tais como: “BES-Aguentará Portugal um novo, mas maior, BPN?”; “Os Anjos, Os Anjinhos e os Anjolas no caso BES”; “O Sistema”; “Parecer dos 14 milhões”…etc e etc… E, portanto, acho que cumpri a minha modesta obrigação.
E mais não digo!



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