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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

orouxinoldaresistencia

25
Mar17

Mitos e sinais das unhas

António Garrochinho


A unha, objeto de numerosas crenças, torna-se uma fonte de informações médicas e médico-legais.


Conforme as épocas e os meios, as unhas são longas ou curtas. Para os chineses, as unhas longas são sinal de distinção
No meio de um deserto de areias e rochas, a descoberta de uma mastaba, em 1964, na necrópole de Saqqarah, Egito, trouxe revelações surpreendentes. Ali estavam as tumbas de Niânkhkhnoum e Khnoumhotep, que viveram na V dinastia do antigo Império, em 2400 a.C. Segundo as inscrições nas paredes, os dois irmãos eram encarregados das manicures do faraó.
A descoberta comprova como, desde a mais remota Antigüidade, as unhas têm sido objeto de cuidados especiais. Presentes em rituais e diversas crenças ancestrais, as unhas também foram utilizadas em poções de amor ou receitas miraculosas, capazes de livrar os doentes de seus tormentos. Embora as fórmulas à base de unhas não constituam uma terapia comprovada, médicos e legistas atualmente recorrem a elas em busca de sinais do corpo. 
As Virtudes das Unhas
GEORGES ACHTEN COMPAROU A UNHA a um "semipêlo ignorado". Sua composição é próxima à dos pêlos e cabelos, mas há várias diferenças. Enquanto o cabelo sofre os caprichos de um ciclo evolutivo - os fios crescem, caem e perdem a cor -, a unha está submetida a um monótono crescimento. Seu surgimento se dá ao final do quarto mês de vida intra-uterina e, após o nascimento, a unha da mão cresce cerca de 1 mm a cada dez dias e a do pé, a metade disso. A velhice desacelera o crescimento, que finalmente se detém na morte, contrariando algumas idéias infundadas segundo as quais o tecido continua a crescer após a morte.
Todos os vertebrados superiores têm unhas. Nos pássaros e carnívoros, elas tornam-se garras, e nos ungulados como, por exemplo, os ruminantes, transformam-se em cascos. Apenas os homens e os primatas possuem unhas planas. Este apêndice desempenha várias funções. Ele protege a extremidade vulnerável dos dedos contra os choques e o frio e permite uma apreensão precisa dos objetos pequenos. A unha, considerada uma ferramenta, agarra, arranha, belisca mas, principalmente, assegura uma sensibilidade tátil. Quando pegamos um objeto, a unha detecta as informações táteis que permitem aos dedos ajustar sua pressão à natureza do objeto em questão. Na ausência da unha, dizemos que o dedo está cego. Um gesto simples como abotoar a roupa pode tornar-se tão desajeitado sem esse tecido que o resultado fica comprometido. Em tradições hoje abandonadas, as parteiras na Itália e na França afiavam a unha de um dos dedos polegares e a usavam para cortar o cordão dos recém-nascidos.
As unhas longas enrolam-se sobre si mesmas. Shridhar Chillal, indiano, detém o recorde das unhas mais longas do mundo (6,15 metros, no total, para as cinco unhas). Ele as deixou crescer durante 48 anos
Poderes mágicos não eram atribuídos apenas ao pó do chifre dos rinocerontes. As virtudes conferidas aos restos de unhas também soam surpreendentes. Para males do estômago, reumatismos ou convulsões de uma criança, bastavam alguns restos de unhas e tudo ficava bem. A única dificuldade era conhecer o ritual, a posologia. Para impedir as convulsões de crianças, a prática mais disseminada consistia em enterrar ou queimar fragmentos de unha, ou reuni-los em um pequeno saco e colocá-lo sob o berço. Para um doente febril, havia, em toda a Europa, um único remédio: enterrar seus restos de unha em uma encruzilhada, de preferência à noite. Na Alemanha, para lutar contra problemas de estômago, cortavam-se e enterravam-se sob uma goteira 20 fragmentos das unhas das mãos e dos pés do doente. No sul da França, para fazer cessar as náuseas e os vômitos, fazia-se o paciente ingerir pó de unha.
De acordo com o médico francês Xavier Bichat (1771-1802), e também segundo o naturalista Jean-Baptiste Lamarck, seu contemporâneo, a unha é um "singular espaço anatômico que se presta a uma leitura filosófica", como relata Nicolas Postel-Vinay, escritor e médico que analisou a Anatomia Geral, de Bichat. Os antigos tratados de anatomia não eram apenas descritivos, mas, freqüentemente, ricos em digressões ideológicas. A Anatomia de Bichat estava marcada por uma filosofia vitalista, que tentava compreender as fronteiras da morte e da vida. Situada nas extremidades do corpo, a unha representava os limites de separação entre a vida e a morte, a civilização e a selvageria, o animal e o humano.
Em sua Anatomia Geral, Bichat consagra às unhas um artigo inserido na seção Épidermoïde. Segundo ele, a epiderme e as unhas são "espécies de corpos inorgânicos". O selvagem, o animal e o inorgânico são limites para a expressão do humano. A unha é um corpo "estranho", exterior à vida, uma marca que reflete a perspectiva vitalista, em que a vida se caracteriza por um movimento de expansão do simples ao complexo e do mole ao duro. Bichat constata que as unhas dos pés dos idosos tornam-se "extremamente grossas".
As unhas longas enrolam-se sobre si mesmas. Shridhar Chillal, indiano, detém o recorde das unhas mais longas do mundo (6,15 metros, no total, para as cinco unhas). Ele as deixou crescer durante 48 anos
Bichat trata, em seguida, de outras questões, principalmente a da relação entre a unha e a sociabilidade humana. "Unha polida e cuidada, marca de decoro; unha em forma de garra, marca de animalidade." Algumas pessoas, entretanto, fazem do crescimento das unhas um ponto de honra, para satisfazer um desejo estético ou uma vontade de se diferenciar. Os chineses consideravam as unhas longas um sinal de elevada distinção: entre os mandarins, o comprimento das unhas simbolizava os esplendores da ociosidade e da preguiça.


Ainda hoje, os dançarinos balineses deixam crescer as unhas da mão esquerda. Com isso, provam que não precisam suportar o trabalho cotidiano no arrozal e que a sua arte basta para prover suas necessidades. Montesquieu observou em sua obra magistral, O Espírito das Leis, que "há vários lugares na Terra em que se deixa crescer as unhas para sinalizar que não se trabalha". Dois séculos mais tarde, alguns habitantes do Extremo Oriente ostentam unhas com quase 70 cm. O recorde mundial cabe a um indiano. Suas unhas da mão esquerda, cuidadosamente enroladas, têm um comprimento total de mais de 6 metros (ver foto ao lado).
Sob as unhas longas, a sujeira acumula-se facilmente. Quando não há higiene, diversos microrganismos podem se desenvolver. A sujeira acumulada sob a unha forma um meio que contém mofos, como o Aspergillus flavus e o Aspergillus parasiticus, dos quais muitas variedades produzem as aflatoxinas, substâncias tóxicas. Há também as micotoxinas, metabólitos de mofos, que estão entre os tóxicos naturais mais poderosos da Natureza. A manutenção das unhas é, portanto, vital.
Hora Marcada
Por muito tempo o dia consagrado ao cuidado das unhas foi escolhido segundo critérios precisos. Na França, cortar as unhas nos dias "em R" (mardi/terça-feira, mercredi/quarta-feira, vendredi/sexta-feira) trazia infortúnios e fazia crescer pequenas peles em torno da unha. Na Holanda, o cuidado às sextas-feiras provocava doenças; na Dinamarca, aparar uma unha no domingo traria aborrecimentos. Para os portugueses, o sábado era dia proibido, pois estava reservado para que o demônio cortasse as unhas. Se a data importava, o lugar também: na Antigüidade, era proibido cuidar das unhas a bordo de uma embarcação, sob pena de atrair tempestades.
As unhas freqüentemente entravam na composição de poções de amor ou para as dores dos apaixonados. Para ser eficazes, esses líquidos mágicos deveriam ser preparados de preferência às sextas-feiras, dia de Vênus. Segundo os anglo-saxões, para enamorar um homem bastava misturar uma colher de café de unhas a uma bebida e fazer o eleito beber, sem saber de sua composição. Desde a Idade Média, na França e na Inglaterra, as moças carregavam, como amuleto, as unhas de seus amados para "amarrá-los" pelo casamento.

Com o recurso adicional de sedução, desde a Antigüidade as mulheres embelezam suas unhas. Durante séculos, as moças elegantes poliram as unhas com a ajuda de uma fina poeira abrasiva, geralmente de pedra-pomes, e passaram diversas tinturas, em particular de hena, utilizada no Egito Antigo e ainda em moda no norte da África. Na América Central, até os anos 70, as prostitutas tinham unhas coloridas e ornadas com motivos decorativos.
O esmalte de unhas só foi descoberto nos anos 20, em decorrência da Primeira Guerra Mundial. Sua produção se deu a partir da nitrocelulose, um explosivo obtido ao se fazer as fibras de celulose, obtidas do algodão ou da madeira, reagirem em uma solução concentrada de ácido nítrico. Após a ebulição, a nitrocelulose torna-se solúvel nos solventes orgânicos e, depois da evaporação, deposita-se em uma película dura e brilhante, chamada de laca. Em 1930, Charles Revson teve a idéia de utilizar pigmentos opacos para colorir esta laca incolor e, em 1932, criou a Revlon.

Desde 1930, os esmaltes evoluíram, adquirindo as mais diversas cores e eliminando risco de alergia. Alguns deles são utilizados para tratamentos, já que atravessam a placa ungueal. Os esmaltes antifúngicos, por exemplo, combatem certas onicomicoses, doenças causadas por fungos que destroem a unha. Um esmalte de cortisona está sendo testado para combater a psoríase das unhas. Liberando medicamentos imunomoduladores, ele poderia agir sobre as verrugas que se desenvolvem sob a unha, eliminando-as sem soltar a placa, intervenção necessária hoje. Observar as unhas pode revelar características mais ou menos fundamentadas sobre as pessoas. Os elegantes as mantêm cuidadas e coloridas; os ansiosos costumam roê-las.
Unhas Reveladoras
DO EXAME DAS UNHAS E DE SUAS LESÕES, os médicos extraem informações confiáveis. Por exemplo, contrariando uma idéia disseminada, as manchas brancas não estão vinculadas à falta de cálcio, mas, às vezes, a uma carência de zinco. As manchas amarelas são freqüentes nas pessoas que fumam muito, mas também naquelas que seguem um longo tratamento antibiótico com ciclinas. Algumas unhas apresentam faixas negras como códigos de barras, que surgem em decorrência, por exemplo, de disfunções hormonais (uma insuficiência das glândulas supra-renais), da ingestão de certos medicamentos citotóxicos ou de tumores da matriz ungueal. A forma e a textura das unhas também fornecem indicações. Unhas convexas e sem brilho encontram-se às vezes em pessoas acometidas por uma doença cardíaca ou pulmonar crônica grave. Costuma-se dizer que unhas secas e frágeis resultam de falta de vitaminas A, B ou E ou de uma carência de cálcio, mas a suplementação, muitas vezes proposta, nem sempre é eficaz. Mas sabemos tratar de unhas côncavas, que assinalam um eventual déficit de ferro na criança.
O estudo da unhas é também uma fonte de informações em medicina legal e, mais especialmente, criminal. Vestígios de sangue ou de terra sob as unhas constituem indícios, da mesma forma que os arranhões que elas podem deixar. Certa vez, os policiais da Scotland Yard investigavam um desaparecimento. Eles só haviam encontrado uma unha no chão de uma adega londrina. Entraram em contato conosco e pediram nossa ajuda. Estabelecemos então que a unha pertencia a uma mulher, não em razão de sua forma, mas porque continha ferro. Nas mulheres que usam esmaltes coloridos, a queratina ungueal retém por mais tempo os óxidos de ferro presentes nos corantes. A análise toxicológica das unhas em medicina legal pode revelar os sinais nas unhas produzidos pelo envenenamento por arsênico: faixas brancas transversais em todas as unhas (as faixas de Mees).
Mas esse domínio, rico em promessas, ainda deve ser decifrado. Os resultados poderiam ser empregados na luta contra o doping, em que o exame das unhas fornece algumas informações. Pesquisadores britânicos desenvolveram uma técnica baseada na análise da extremidade livre das unhas dos dedos do pé que poderia evidenciar, antes de uma competição, traços de produtos ilícitos dopantes, como a testosterona e a preguenolona, mais de um ano após seu emprego (a renovação de uma unha do dedo do pé ocorre entre 12 e 18 meses). Este método foi testado com êxito na busca por sinais de heroína ou de cânabis nos toxicômanos. A onicologia - a ciência das unhas - passou a ser uma realidade científica com crescentes possibilidades terapêuticas, tornando indispensável a inserção da semiologia das unhas no ensino e na prática médicos.

25
Mar17

Mitos e sinais das unhas

António Garrochinho

Conforme as épocas e os meios, as unhas são longas ou curtas. Para os chineses, as unhas longas são sinal de distinção
No meio de um deserto de areias e rochas, a descoberta de uma mastaba, em 1964, na necrópole de Saqqarah, Egito, trouxe revelações surpreendentes. Ali estavam as tumbas de Niânkhkhnoum e Khnoumhotep, que viveram na V dinastia do antigo Império, em 2400 a.C. Segundo as inscrições nas paredes, os dois irmãos eram encarregados das manicures do faraó.

A descoberta comprova como, desde a mais remota Antigüidade, as unhas têm sido objeto de cuidados especiais. Presentes em rituais e diversas crenças ancestrais, as unhas também foram utilizadas em poções de amor ou receitas miraculosas, capazes de livrar os doentes de seus tormentos. Embora as fórmulas à base de unhas não constituam uma terapia comprovada, médicos e legistas atualmente recorrem a elas em busca de sinais do corpo.
As Virtudes das Unhas

GEORGES ACHTEN COMPAROU A UNHA a um "semipêlo ignorado". Sua composição é próxima à dos pêlos e cabelos, mas há várias diferenças. Enquanto o cabelo sofre os caprichos de um ciclo evolutivo - os fios crescem, caem e perdem a cor -, a unha está submetida a um monótono crescimento. Seu surgimento se dá ao final do quarto mês de vida intra-uterina e, após o nascimento, a unha da mão cresce cerca de 1 mm a cada dez dias e a do pé, a metade disso. A velhice desacelera o crescimento, que finalmente se detém na morte, contrariando algumas idéias infundadas segundo as quais o tecido continua a crescer após a morte.

Todos os vertebrados superiores têm unhas. Nos pássaros e carnívoros, elas tornam-se garras, e nos ungulados como, por exemplo, os ruminantes, transformam-se em cascos. Apenas os homens e os primatas possuem unhas planas. Este apêndice desempenha várias funções. Ele protege a extremidade vulnerável dos dedos contra os choques e o frio e permite uma apreensão precisa dos objetos pequenos. A unha, considerada uma ferramenta, agarra, arranha, belisca mas, principalmente, assegura uma sensibilidade tátil. Quando pegamos um objeto, a unha detecta as informações táteis que permitem aos dedos ajustar sua pressão à natureza do objeto em questão. Na ausência da unha, dizemos que o dedo está cego. Um gesto simples como abotoar a roupa pode tornar-se tão desajeitado sem esse tecido que o resultado fica comprometido. Em tradições hoje abandonadas, as parteiras na Itália e na França afiavam a unha de um dos dedos polegares e a usavam para cortar o cordão dos recém-nascidos.
As unhas longas enrolam-se sobre si mesmas. Shridhar Chillal, indiano, detém o recorde das unhas mais longas do mundo (6,15 metros, no total, para as cinco unhas). Ele as deixou crescer durante 48 anos
Poderes mágicos não eram atribuídos apenas ao pó do chifre dos rinocerontes. As virtudes conferidas aos restos de unhas também soam surpreendentes. Para males do estômago, reumatismos ou convulsões de uma criança, bastavam alguns restos de unhas e tudo ficava bem. A única dificuldade era conhecer o ritual, a posologia. Para impedir as convulsões de crianças, a prática mais disseminada consistia em enterrar ou queimar fragmentos de unha, ou reuni-los em um pequeno saco e colocá-lo sob o berço. Para um doente febril, havia, em toda a Europa, um único remédio: enterrar seus restos de unha em uma encruzilhada, de preferência à noite. Na Alemanha, para lutar contra problemas de estômago, cortavam-se e enterravam-se sob uma goteira 20 fragmentos das unhas das mãos e dos pés do doente. No sul da França, para fazer cessar as náuseas e os vômitos, fazia-se o paciente ingerir pó de unha.

De acordo com o médico francês Xavier Bichat (1771-1802), e também segundo o naturalista Jean-Baptiste Lamarck, seu contemporâneo, a unha é um "singular espaço anatômico que se presta a uma leitura filosófica", como relata Nicolas Postel-Vinay, escritor e médico que analisou a Anatomia Geral, de Bichat. Os antigos tratados de anatomia não eram apenas descritivos, mas, freqüentemente, ricos em digressões ideológicas. A Anatomia de Bichat estava marcada por uma filosofia vitalista, que tentava compreender as fronteiras da morte e da vida. Situada nas extremidades do corpo, a unha representava os limites de separação entre a vida e a morte, a civilização e a selvageria, o animal e o humano.

Em sua Anatomia Geral, Bichat consagra às unhas um artigo inserido na seção Épidermoïde. Segundo ele, a epiderme e as unhas são "espécies de corpos inorgânicos". O selvagem, o animal e o inorgânico são limites para a expressão do humano. A unha é um corpo "estranho", exterior à vida, uma marca que reflete a perspectiva vitalista, em que a vida se caracteriza por um movimento de expansão do simples ao complexo e do mole ao duro. Bichat constata que as unhas dos pés dos idosos tornam-se "extremamente grossas".


As unhas longas enrolam-se sobre si mesmas. Shridhar Chillal, indiano, detém o recorde das unhas mais longas do mundo (6,15 metros, no total, para as cinco unhas). Ele as deixou crescer durante 48 anos

Bichat trata, em seguida, de outras questões, principalmente a da relação entre a unha e a sociabilidade humana. "Unha polida e cuidada, marca de decoro; unha em forma de garra, marca de animalidade." Algumas pessoas, entretanto, fazem do crescimento das unhas um ponto de honra, para satisfazer um desejo estético ou uma vontade de se diferenciar. Os chineses consideravam as unhas longas um sinal de elevada distinção: entre os mandarins, o comprimento das unhas simbolizava os esplendores da ociosidade e da preguiça.
Ainda hoje, os dançarinos balineses deixam crescer as unhas da mão esquerda. Com isso, provam que não precisam suportar o trabalho cotidiano no arrozal e que a sua arte basta para prover suas necessidades. Montesquieu observou em sua obra magistral, O Espírito das Leis, que "há vários lugares na Terra em que se deixa crescer as unhas para sinalizar que não se trabalha". Dois séculos mais tarde, alguns habitantes do Extremo Oriente ostentam unhas com quase 70 cm. O recorde mundial cabe a um indiano. Suas unhas da mão esquerda, cuidadosamente enroladas, têm um comprimento total de mais de 6 metros (ver foto ao lado).

Sob as unhas longas, a sujeira acumula-se facilmente. Quando não há higiene, diversos microrganismos podem se desenvolver. A sujeira acumulada sob a unha forma um meio que contém mofos, como o Aspergillus flavus e o Aspergillus parasiticus, dos quais muitas variedades produzem as aflatoxinas, substâncias tóxicas. Há também as micotoxinas, metabólitos de mofos, que estão entre os tóxicos naturais mais poderosos da Natureza. A manutenção das unhas é, portanto, vital.

Hora Marcada

Por muito tempo o dia consagrado ao cuidado das unhas foi escolhido segundo critérios precisos. Na França, cortar as unhas nos dias "em R" (mardi/terça-feira, mercredi/quarta-feira, vendredi/sexta-feira) trazia infortúnios e fazia crescer pequenas peles em torno da unha. Na Holanda, o cuidado às sextas-feiras provocava doenças; na Dinamarca, aparar uma unha no domingo traria aborrecimentos. Para os portugueses, o sábado era dia proibido, pois estava reservado para que o demônio cortasse as unhas. Se a data importava, o lugar também: na Antigüidade, era proibido cuidar das unhas a bordo de uma embarcação, sob pena de atrair tempestades.

As unhas freqüentemente entravam na composição de poções de amor ou para as dores dos apaixonados. Para ser eficazes, esses líquidos mágicos deveriam ser preparados de preferência às sextas-feiras, dia de Vênus. Segundo os anglo-saxões, para enamorar um homem bastava misturar uma colher de café de unhas a uma bebida e fazer o eleito beber, sem saber de sua composição. Desde a Idade Média, na França e na Inglaterra, as moças carregavam, como amuleto, as unhas de seus amados para "amarrá-los" pelo casamento.
Com o recurso adicional de sedução, desde a Antigüidade as mulheres embelezam suas unhas. Durante séculos, as moças elegantes poliram as unhas com a ajuda de uma fina poeira abrasiva, geralmente de pedra-pomes, e passaram diversas tinturas, em particular de hena, utilizada no Egito Antigo e ainda em moda no norte da África. Na América Central, até os anos 70, as prostitutas tinham unhas coloridas e ornadas com motivos decorativos.

O esmalte de unhas só foi descoberto nos anos 20, em decorrência da Primeira Guerra Mundial. Sua produção se deu a partir da nitrocelulose, um explosivo obtido ao se fazer as fibras de celulose, obtidas do algodão ou da madeira, reagirem em uma solução concentrada de ácido nítrico. Após a ebulição, a nitrocelulose torna-se solúvel nos solventes orgânicos e, depois da evaporação, deposita-se em uma película dura e brilhante, chamada de laca. Em 1930, Charles Revson teve a idéia de utilizar pigmentos opacos para colorir esta laca incolor e, em 1932, criou a Revlon.


Desde 1930, os esmaltes evoluíram, adquirindo as mais diversas cores e eliminando risco de alergia. Alguns deles são utilizados para tratamentos, já que atravessam a placa ungueal. Os esmaltes antifúngicos, por exemplo, combatem certas onicomicoses, doenças causadas por fungos que destroem a unha. Um esmalte de cortisona está sendo testado para combater a psoríase das unhas. Liberando medicamentos imunomoduladores, ele poderia agir sobre as verrugas que se desenvolvem sob a unha, eliminando-as sem soltar a placa, intervenção necessária hoje. Observar as unhas pode revelar características mais ou menos fundamentadas sobre as pessoas. Os elegantes as mantêm cuidadas e coloridas; os ansiosos costumam roê-las.

Unhas Reveladoras


DO EXAME DAS UNHAS E DE SUAS LESÕES, os médicos extraem informações confiáveis. Por exemplo, contrariando uma idéia disseminada, as manchas brancas não estão vinculadas à falta de cálcio, mas, às vezes, a uma carência de zinco. As manchas amarelas são freqüentes nas pessoas que fumam muito, mas também naquelas que seguem um longo tratamento antibiótico com ciclinas. Algumas unhas apresentam faixas negras como códigos de barras, que surgem em decorrência, por exemplo, de disfunções hormonais (uma insuficiência das glândulas supra-renais), da ingestão de certos medicamentos citotóxicos ou de tumores da matriz ungueal. A forma e a textura das unhas também fornecem indicações. Unhas convexas e sem brilho encontram-se às vezes em pessoas acometidas por uma doença cardíaca ou pulmonar crônica grave. Costuma-se dizer que unhas secas e frágeis resultam de falta de vitaminas A, B ou E ou de uma carência de cálcio, mas a suplementação, muitas vezes proposta, nem sempre é eficaz. Mas sabemos tratar de unhas côncavas, que assinalam um eventual déficit de ferro na criança.
O estudo da unhas é também uma fonte de informações em medicina legal e, mais especialmente, criminal. Vestígios de sangue ou de terra sob as unhas constituem indícios, da mesma forma que os arranhões que elas podem deixar. Certa vez, os policiais da Scotland Yard investigavam um desaparecimento. Eles só haviam encontrado uma unha no chão de uma adega londrina. Entraram em contato conosco e pediram nossa ajuda. Estabelecemos então que a unha pertencia a uma mulher, não em razão de sua forma, mas porque continha ferro. Nas mulheres que usam esmaltes coloridos, a queratina ungueal retém por mais tempo os óxidos de ferro presentes nos corantes. A análise toxicológica das unhas em medicina legal pode revelar os sinais nas unhas produzidos pelo envenenamento por arsênico: faixas brancas transversais em todas as unhas (as faixas de Mees).


Mas esse domínio, rico em promessas, ainda deve ser decifrado. Os resultados poderiam ser empregados na luta contra o doping, em que o exame das unhas fornece algumas informações. Pesquisadores britânicos desenvolveram uma técnica baseada na análise da extremidade livre das unhas dos dedos do pé que poderia evidenciar, antes de uma competição, traços de produtos ilícitos dopantes, como a testosterona e a preguenolona, mais de um ano após seu emprego (a renovação de uma unha do dedo do pé ocorre entre 12 e 18 meses). Este método foi testado com êxito na busca por sinais de heroína ou de cânabis nos toxicômanos. A onicologia - a ciência das unhas - passou a ser uma realidade científica com crescentes possibilidades terapêuticas, tornando indispensável a inserção da semiologia das unhas no ensino e na prática médicos.
www2.uol.com.br
25
Mar17

MILUNKA SAVIC FOI A MULHER SÉRVIA MAIS CONDECORADA MAS TERMINOU FAZENDO LIMPEZA NUM BANCO

António Garrochinho
Não sei quantas vezes já repeti isso, mas não me cansarei de fazer: - "Ser mulher ao longo da história foi uma profissão de risco.". Esta é a história de Milunka Savic, uma mulher que nasceu no povoado de Koprivnica, na Sérvia, hoje território croata, em 1889. Ela lutou nas guerras dos Bálcãs e na Primeira Guerra Mundial. Ferida em nove ocasiões, Milunka foi a mulher mais condecorada na história das guerras, e, não obstante, terminou a vida como senhora da limpeza em um banco.

Milunka Savic, a mulher mais condecorada da história que terminou a vida como senhora da limpeza
A juventude de Milunka é uma incógnita, ninguém sabe nada. Ela só apareceu em 1913, com 24 anos, quando seu irmão caçula foi chamado para se juntar as filas para lutar contra a Bulgária na Segunda Guerra dos Bálcãs. Como era seu irmão menor, ela não ia permitir que nada lhe ocorresse e decidiu ocupar seu lugar.

A jovem cortou o cabelo, vestiu-se com roupas de homens e apresentou-se com o nome de seu irmão. Poucas semanas depois de seu alistamento, e sem nem tempo para pensar na encrenca onde tinha se metido, entrou em combate contra os búlgaros na Batalha de Bregalnica (atual Macedônia) onde recebeu sua primeira medalha por bravura e sua primeira ferida de guerra.
Milunka Savic, a mulher mais condecorada da história que terminou a vida como senhora da limpeza
Milunka foi levada a um hospital e, logicamente, descobriram que era uma mulher. Quando seu oficial foi informado do engano, decidiu perdoá-la pelo valor mostrado no campo de batalha e disse que ela podia seguir carreira como enfermeira, se quisesse. Milunka fez questão de dizer que só serviria a sua pátria lutando na frente. Para dar uma lição naquela jovenzinha teimosa, seu superior disse que iria pensar antes de tomar uma decisão e que voltasse no dia seguinte. Mas Milunka não ia ceder, e colocando-se em posição de "sentido" disse:
Milunka Savic, a mulher mais condecorada da história que terminou a vida como senhora da limpeza
- "Eu aguardo aqui mesmo senhor!" E ali permaneceu nessa posição. Depois de uma hora o oficial foi dar uma olhada e lá estava a marrenta no mesmo lugar; duas horas, do mesmo jeito e sem piscar. Na quarta hora, vendo que a pertinaz não ia ceder, ordenou-lhe que voltasse à frente com sua divisão de infantaria.

Durante 5 anos não teria trégua para Sérvia nem para a sargento Milunka, e ainda não tinha decorrido um ano da derrota dos búlgaros nas Guerras Bálcãs quando estourou a Primeira Guerra Mundial e Milunka seguiria demonstrando seu brio.
Milunka Savic, a mulher mais condecorada da história que terminou a vida como senhora da limpeza
Em dezembro de 1914, na Batalha de Kolubara, os sérvios derrotaram às forças do Império austro-húngaro e nossa protagonista foi ferida com estilhaços de uma metralhadora e acabou recebendo a Ordem da Estrela de Karadjordje, a mais alta condecoração civil e militar outorgada pelo Reino da Sérvia. E não seria a única ocasião, pois em 1916 voltou à receber por capturar ela sozinha 23 soldados inimigos no rio Crna.
Milunka Savic, a mulher mais condecorada da história que terminou a vida como senhora da limpeza
Apesar destes episódios bem sucedidos, a guerra não ia bem e o exército sérvio se viu obrigado a se retirar e evacuar os civis. Na retirada para a costa tiveram que suportar os contínuos ataques das forças austro-húngaras e uma penosa travessia pelas montanhas nevadas atravessando Montenegro, Kosovo e Albânia. Desde a costa foram evacuados por barcos franceses e britânicos até a ilha de Corfu, onde fizeram o balanço da situação: proteger dezenas de milhares de civis naquela travessia tinha custado muitas baixas ao exército sérvio e 7 ferimentos em Milunka.
Milunka Savic, a mulher mais condecorada da história que terminou a vida como senhora da limpeza
Em Corfu reagruparam o exército sérvio que se uniu aos franceses para seguir lutando. A fama de Milunka entre os soldados aliados foi crescendo dia a dia, à mesma velocidade que as condecorações recebidas: duas da Legião de Honra de França, uma Ordem imperial e militar de São Jorge russa, uma Ordem de São Miguel e São Jorge britânica e a Cruz de Guerra Francesa (a única mulher da Primeira Guerra Mundial).
Milunka Savic, a mulher mais condecorada da história que terminou a vida como senhora da limpeza
Após a guerra Milunka Savic recusou uma oferta do governo francês para instalar-se em Paris, além de uma substancial pensão, para voltar a sua terra natal onde se casou e teve uma filha. Divorciada pouco tempo depois e esquecida por seu país, teve que subsistir trabalhando onde podia.
Milunka Savic, a mulher mais condecorada da história que terminou a vida como senhora da limpeza
Ainda assim, apesar de suas dificuldades econômicas, adotou três meninas órfãs de guerra. Em 1927 encontrou um trabalho estável como zeladora de um banco de Belgrado. Quando as coisas começavam a funcionar, e que tinha sido "promovida" a intendente do escritório do diretor, estourou a Segunda Guerra Mundial. Durante a ocupação alemã na Sérvia ela ficou presa no campo de concentração de Banjica por colaborar com a resistência. Conseguiu sobreviver no campo e, mais uma vez, a outra guerra.
Milunka Savic, a mulher mais condecorada da história que terminou a vida como senhora da limpeza
Logo depois da guerra, recebeu um "reconhecimento" do governo sérvio em forma de uma pequena pensão, mas que não lhe permitiu abandonar sua velha casa, quase em ruínas, em que vivia com suas três filhas pequenas. Ela teve que esperar vários anos ainda, e graças à pressão da opinião pública e outros veteranos de guerra, para que o governo, dada sua difícil situação, lhe concedesse um apartamento. Milunka morreu em Belgrado, em 5 de outubro de 1973, com 84 anos e foi enterrada com honras militares em Novo Groblje.


www.mdig.com.br
25
Mar17

Alemanha vai encalhar navio no gelo por um ano na 'maior expedição científica ao Polo Norte'

António Garrochinho


Embarcação de pesquisa vai coletar dados para ajudar a melhorar modelos climáticos que preveem aquecimento da região

Uma em+preitada alemã está sendo consierada a maior pesquisa já planejada ao Ártico.
Um navio de pesquisa de 120 metros de comprimento, o Polarstern, deverá encalhar e flutuar pelo mar de gelo do Polo Norte. A viagem de 2.500 quilômetros começa em 2019 e deve durar um ano.
Pesquisadores esperam reunir informações sobre a região onde o clima vem mudando rapidamente. Mês passado, a extensão do gelo do Ártico foi a menor já registrada (durante a era dos satélites) para o mês de janeiro, com temperaturas vários graus acima da média de longo prazo.
"A redução do gelo do Ártico vem ocorrendo muito mais rapidamente do que os modelos climáticos podem prever, então precisamos de modelos melhores para ter previsões mais precisas para o futuro", disse o professor Markus Rex, que coordenará o chamado projeto MOSAiC.
"Há uma previsão de que em poucas décadas o Ártico não tenha gelo no verão. Esse seria um mundo diferente e precisamos saber disso antecipadamente; precisamos saber se isto vai ou não ocorrer".
Rex detalhou o plano durante o encontro anual da Associação Americana para Avanços da Ciência (AAAS, na sigla em inglês).
O pesquisador alemão do Instituto Alfred Wegener, em Bremerhaven, disse que a expedição custará 63 milhões de euros (R$ 207 mihões), dos quais a maior parte já está financiada, com contribuições de parceiros internacionais estratégicos. Reino Unido, Rússia, China e Estados Unidos estão entre eles.
A missão lembra a expedição do explorador norueguês Fridtjof Nansen que, por volta de 1890, foi o primeiro a chegar ao Polo Norte e flutuar pelo mar congelado.
Uma escuna chamada Tara também atravessou o oceano de gelo - das águas da Sibéria até o Estreito de Fram - da mesma maneira, há uma década.


Mas o Polarstern é uma enorme plataforma científica e sua lista de tarefas e objetivos faz os esforços anteriores na região parecerem pequenos.
"Estamos embarcando vários equipamentos: muitos contêineres com instrumentos de medição, sensores de uso remoto para serem instalados no local, disse Rex.
"Vamos coletar amostras de água, gelo e ar, além de instalar acampamentos no mar gelado próximo ao Polarstern e a até 20-30 quilômetros de distância. E toda a instalação vai ficar à deriva pelo Ártico. Isto vai nos dar novas e fascinantes informações sobre o sistema climático".
A equipe do MOSAiC planeja até instalar uma pista de decolagem para que um avião de pesquisa auxilie o Polarstern
Será uma expedição complicada para os cientistas envolvidos, especialmente durante meados do inverno, quando o Sol não surgirá no horizonte. Os pesquisadores também terão que estar alertas à aproximação de ursos polares predadores.
Mas o professor Rex disse que a empreitada é vital para a compreensão da região remota, destacando sua importância até para quem vive longe do Polo Norte.
"Um polo mais quente afetaria os padrões climáticos em latitudes médias (entre os trópicos e os polos Sul e Norte)", ele disse à BBC News.
"O aquecimento do Ártico signfica que o contraste existente entre o Polo Norte e nossas latitudes será reduzida no futuro. Isto significa que o ar gelado do Ártico poderá chegar às nossas latitudes, e o ar mais quente de latitudes baixas, ao Polo Norte. Isto certamente provocará um grande impacto no clima".
O Polarstern deverá ser posicionado no gelo marinho em meados de 2019, com a previsão de ser liberado um ano depois.


g1.globo.com
25
Mar17

UMA MONTANHA NA INDONÉSIA COM UM RITUAL BIZARRO

António Garrochinho

Gunung Kemukus é uma montanha em Java, a principal ilha da Indonésia, que a cada 35 dias recebe muçulmanos de todo o país para participar de um ritual insólito.
O evento acontece em uma data auspiciosa segundo o ciclo Wetonan, que sobrepõe os cinco dias do antigo calendário javanês aos sete dias do calendário moderno (7×5=35).
Quando a escuridão cai no misterioso local, os peregrinos acendem velas e se sentam em esteiras ao redor das sagradas árvores dewadaru e das raízes retorcidas de enormes figueiras.
Na montanha “mágica”, há um túmulo no qual se acredita estarem guardados os restos mortais de um legendário príncipe e de sua amante.
Orações e flores dão início a ritual

Adultério em troca da boa sorte

“O jovem príncipe Pangeran Samodro fugiu com a rainha Nyai Ontrowulan, que era sua madastra”, conta Keontjoro Soeparno, psicólogo social da Universidad Gadjah Mada em Yogyakartax, na Indonésia.
“Eles se esconderam em Gunung Kemukus.”
Até o dia em que, flagrados durante uma relação sexual, foram assassinados e enterrados no cume da montanha.
Os peregrinos acreditam, assim, que se cometerem adultério nesse local serão “abençoados com boa sorte”, explica Seoparno, que estudou o ritual durante 30 anos.
Por isso, Gunung Kemukus é também conhecida como a “montanha do sexo”.

Evento acontece em data auspiciosa segundo ciclo Wetonan

Regras do jogo

O ritual começa com orações e oferendas de flores ao túmulo de Pangeran Samodro e Nyai Ontrowulan.
Em determinado momento, os peregrinos devem banhar-se em um dos dois riachos sagrados da montanha. E, em seguida, fazer sexo com uma pessoa desconhecida.
“Para receber bênçãos e dinheiro, é preciso fazer sexo com alguém que não seja seu marido ou mulher. Tem de ser alguém que você não conheça”, destaca Soeparno.
“Além disso, deve ser em Juman Pon (quando a sexta-feira coincide com Pon, um dos cinco dias do calendário javanês). A relação sexual tem de acontecer a cada 35 dias sete vezes consecutivas, de forma que dure em torno de um ano”, explica.
“Se por algum acaso não seja possível completar as sete vezes, é preciso começar tudo de novo. Essa é a parte difícil, especialmente para quem não é tão jovem.”
“O compromisso entre os dois é muito significativo: eles têm de trocar telefones e endereços, e combinar aonde vão se encontrar da próxima vez.”

Comida e teto

As noites mais concorridas podem reunir até 8 mil peregrinos.
“A maioria é dona de pequenos negócios. Eles esperam que, se completarem o ritual, suas vendas vão melhorar, vão ganhar muito dinheiro e terão muito sucesso”, afirma Soeparno.
Desde a década de 90, a montanha ganhou uma pequena infraestrutura para acomodar a multidão.
Além do santuário, há um restaurante onde é possível comprar chá, macarrão e amendoim. Na parte de trás dele, é possível alugar um dos dois pequenos quartos.
Vejo uma mulher de véu e um homem, ambos com cerca de 50 anos, sumindo atrás de uma cortina para completar o ritual em um dos quartos. Ao tentar entrevistá-los, eles fogem, e a dona se aproxima para pedir que deixemos o local.
Casais se encontram debaixo de figueiras

“O que acontece é que eles só estão juntos aqui na montanha. Se aparecerem na TV e seus respectivos cônjuges souberem disso, terão problemas. Aconteceu isso antes com o ex-proprietário desse restaurante: um homem apareceu na TV falando com uma mulher em uma noite e seus familiares o viram. A família ficou arrasada e o casal se divorciou”, afirmou.
Anteriormente, os casais faziam sexo ao ar livre, mas depois começaram a alugar quartos por valores irrisórios.

Em segredo

Dentro do santuário, Pak Slamat está lendo o Alcorão. Quando terminar, vai procurar uma amante.
“Aqui há muitas pessoas que te dizem que funciona, que antes de vir aqui seu negócio não estava dando certo e depois se recuperou. Deve ser controlado por Alá (Deus). Não há ninguém maior do que Alá”, afirma.
“Se vejo uma mulher que esteja disponível, me aproximo dela. Não ligo só para a aparência. O que vem de dentro é o mais importante. Já que estamos fazendo sexo com um objetivo, nossa motivação interna deve ser a mesma”, acrescenta.
Pak Slamat é casado e tem três filhos. Sua mulher não sabe onde ele está – ela acredita que ele esteja na mesquita, rezando.
“Ela não teria permitido que eu viesse para cá, mas o importante é que eu estou fazendo isso pelo bem dos negócios.”
Milhares chegam sozinhos em busca de um acompanhante. Os que estão no meio do ritual devem encontrar o(a) mesmo(a) acompanhante das vezes anteriores.

Sem laços

No santuário também está Ibu Winda, uma mulher de 60 anos vestida com uma blusa flourida dourada, uma minissaia curta, meias de prata e uma jaqueta de couro. Ela ostenta um batom vermelho brilhante e seu rosto está todo maquiado.
“Tenho quatro filhos, além dos netos. Se meu marido me pergunta, digo que estou trabalhando para meu negócio funcionar bem. Se eu lhe dissesse que viria a Kemukus, ele não me permitiria vir”, diz ela.
Nos últimos dez anos, Winda, que tem uma barraca de frutas no povoado onde mora, vem à “montanha do sexo” para se encontrar com o mesmo homem.
“Ele me disse que se ficasse com ele por pelo menos três anos, me levaria a Meca (Arábia Saudita) para fazer a peregrinação do Hajj (a maior importante do Islã). Ele chegou, inclusive, a vir me buscar no meu povoado. Mas eu tenho uma família, por isso só falamos por telefone. Quando viemos aqui, nos comportamos como marido e mulher”, diz.
“Desde que comecei a vir com ele, meus negócios vão de vento em popa. Bendito seja Alá”, completa.
Ritual remonta a adultério de príncipe com madrasta

Mistura javanesa

Mulheres com véus e outras com pouca roupa se misturam a homens de meia idade. Eles vão formando pares, ora debaixo de árvores ou dos bares de karaokê.
O ritual, porém, não é uma prática do Islã.
Na verdade, restringe-se à Indonésia, e trata-se de uma mescla de tradições religiosas com influências islâmicas, hindus, budistas e animistas conhecido popularmente como kejawen.
Nos últimos anos, com o país caminhando rumo ao Islamismo mais ortodoxo, o governo local vem tentando encorajar uma versão mais “familiar” do evento, mais afinada aos preceitos do Islã.
As autoridades preferiam que o aspecto sexual do ritual fosse negligenciado, mas não decidiram proibi-lo.
“Esse é um lugar de turismo religioso; a religião é formada por crenças e tradições, incluindo as de nossos ancestrais”, diz M. Suparno, coordenador de turismo de Gunung Kemukus.

Passagem do tempo

Até os anos 80, não havia nem restaurantes nem bares na “montanha do sexo”. Só árvores.
Mas na década seguinte, Gunung Kemukus desenvolveu, inclusive, uma “zona vermelha”.
Na medida em que a noite avança, as pessoas se dirigem aos bares de karaokê que se localizam ao longo dos becos perto do santuário e do túmulo. Em um deles, seis homens estão em um sofá vendo uma mulher cantar e dançar de uma maneira muito sexual.
“Costumava ser diferente. As pessoas realmente tinham relações sexuais ao ar livre. Mas o governo local decidiu que isso não era uma boa ideia e instalou cabanas de bambu. Como resultado, a prostituição tomou conta”, diz Soeparno.
O professor calcula que cerca da metade das mulheres que vão à montanha são trabalhadoras do sexo.
Montanha fica a 28 km a nordeste da cidade de Solo, um dos redutos mais radicais da Indonésia

Ritual valioso

Em todo o caso, o santuário tornou-se muito valioso em outro sentido.
Os aldeãos locais começaram a cobrar por cada veículo que entrava na área. O governo local, por sua vez, cobrava taxas tanto dos peregrinos quanto dos proprietários dos restaurantes e quartos.
Com o aumento da popularidade do ritual, o departamento de turismo passou a ganhar cada vez mais dinheiro.
Em 2014, as autoridades abriram uma clínica especializada em tratar doenças venéreas, distribuir preservativos e fazer testes de HIV.
“Quando uma tradição é praticada por tanto tempo, não é possível livrar-se dela. A prostituição brotou dessa tradição e pensei que necessitávamos de uma clínica para lidar com as consequências. Assim, podemos tornar algo negativo em positivo”, indica Mohammad Rahmat, que trabalha para o governo local.

Resultados

Na “montanha do sexo”, existem várias maneiras para que alcançar a “meta”.
Mulheres como Dian não têm muito problema.
Com um pano rosa na cabeça e jeans, está cercada por um grupo de homens em jaquetas de couro em meio a nuvem de fumaça.
Dian já completou seu ritual, mas voltou ao local para agradecer.
“Vim porque no passado minha vida era muito difícil”, diz.
“Meu marido me deixou e tenho três filhos, dois adotados e um nosso”, acrescenta.
“Meus amigos me disseram que minha vida ficaria mais fácil se viesse aqui. E depois de cumprir o ritual, muitas coisas mudaram. Sinto que agora tudo está realmente mais fácil; não é como antes. O resultado foi positivo”, conclui.
via BBC


nerdices.com.br
25
Mar17

Os muros que protegem os austríacos de inundações!

António Garrochinho

Cada vez ouvimos mais falar de tempestades e outras catástrofes naturais. Muitos especialistas dizem que a poluição dos humanos está causando tudo isso. Mas, independentemente das razões, a verdade é que temos de estar preparados para este tipo de situações.


Após as cheias e inundações de 2012, a cidade austríaca de Greim sabia que tinha de desenvolver algum sistema para conter o excesso de água, e proteger a sua população.

Não foi fácil encontrar uma solução para aquele problema. Tinha de ser um sistema que pudesse ser instalado e removido rapidamente, de acordo com as necessidades da cidade e do tempo. O resultado foi uma obra de engenharia brilhante que tens de conhecer.

Estes são os novos muros de contenção contra inundações na cidade de Greim:


Como podes ver, eles têm uma força incrível.


Os muros de contenção foram instalados pela empresa britânica Flood Resolution, que inventou e patenteou este sistema.


Primeiro, é instalada uma base de cimento à prova de água, que suporta as vigas de aço fortes. Depois disso, os painéis de aço reforçado são colocados como se fossem persianas.


O sistema pode ser removido e substituído muito rapidamente. Isso tem várias vantagens: poder desmontar aqueles muros logo que o nível de água baixe, e acrescentar mais se a situação piorar.


A parede tem uma resistência assombrosa, e pode subir até 4,6 metros.


Desde que estes muros foram instalados em 2012, eles têm protegido Greim das inundações de forma eficaz. Este sistema tem minimizado os danos das tempestades, e criado uma maior segurança à população.

VÍDEO


www.worldnoticias.com
25
Mar17

"Não teria deixado o BES apodrecer tanto"

António Garrochinho

Decisões erradas e tardias. É assim que Francisco Murteira Nabo, o novo membro do conselho consultivo do Banco de Portugal avalia a atuação do Banco de Portugal. No caso BES, como em vários outros casos que abalaram o setor financeiro. "Não foi uma inabilidade, foi uma opção", afirma Murteira Nabo quando confrontado com a forma como Carlos Costa geriu o dossier Espírito Santo. O atual presidente da Câmara de Comércio Luso-Brasileira, diz que, se estivesse no lugar de Carlos Costa, teria agido de forma diferente e "não teria deixado a situação apodrecer tanto".
Foram, opções, lembra Murteira Nabo, que levaram, também, à criação do Fundo de Resolução e, neste, como noutros casos, Murteira Nabo considera que Carlos Costa andou mal porque "era uma opção arriscada, que nunca tinha sido testada".

Entrevista a Murteira Nabo na íntegra

Como presidente da Câmara de Comércio Luso-brasileira, o que é que antecipa nas
relações económicas entre os dois países?

Precisamos aumentar esta relação, que nunca foi muito grande. Teve um período áureo na década de 90, quando a PT, EDP, Jerónimo Martins e Sonae foram para o Brasil. Muitos destes projetos não correram bem e houve um retrocesso. Neste momento, perante a crise brasileira, não há grandes investidores portugueses no Brasil, há é muitas PME, são cerca de 600, mas que representam no seu conjunto apenas 1% a 2% das exportações para o Brasil.
O caso "carne fraca" vai prejudicar a confiança entre os países?
Vai, com certeza. O Brasil é um dos maiores exportadores do mundo de carne bovina. Vai dificultar muito a imagem do Brasil, pois percebe-se que há ali um sistema de corrupção ou próximo da não certificação.
Falando agora de banca. Após os casos BPN, BPP, BES, CGD, que reflexão deve o sector fazer?
Cometemos um erro: quando detetámos que a banca estava cheia de imparidades, que o país e as empresas estavam endividados, não fizemos o que fez a Irlanda e Espanha, que foi criar um banco mau.
Diz "cometemos um erro", a quem se refere: Governo, Comissão, Banco de Portugal?
Foi o Banco de Portugal e o Governo. Ao não fazer isso, empurrámos o assunto com a barriga, convencidos que se resolveria. Mas não resolveu, e o que aconteceu foi termos bancos a cair ao longo dos tempos. A minha experiência como gestor é que problemas complicados resolvem-se logo, não se adiam, porque sai sempre mais caro e é pior. A banca tem de resolver o problema das imparidades e libertar os bancos de coisas que não podem resolver. É um pouco como a nossa dívida: temos de resolver este problema, não a conseguimos pagar.
A dívida deve ser negociada?
Sim, temos de negociar, não é uma questão financeira, é uma questão política. Toda a gente sabe que não temos capacidade para pagar a dívida. E não somos só nós, mas os países mais débeis sofreram porque não houve o princípio da solidariedade entre os países.
Há falta de coragem política do PS em assumir o que refere?
Acho que não é falta de coragem, acho que o PS está à espera do momento em que haja condições políticas para o fazer.
Esse momento pode demorar?
Pode demorar uns tempos, sim, depende da Europa que vamos ter. Se a Europa se esfrangalhar, então vai demorar mais tempo.
Disse numa entrevista, a propósito do BPN e BES, que a supervisão não tinha funcionado. E hoje, continua a não funcionar?
Não funcionou ao nível da supervisão bancária e não funcionou ao nível da supervisão das empresas. As auditorias não funcionaram, passaram a fazer-se auditorias contabilísticas e não de risco. Portanto nada funcionou em termos de supervisão... Acho que hoje a supervisão já aprendeu, e que, necessariamente, teve de corrigir.
Aprendeu pré ou pós Banif?
Acho que aprendeu antes do Banif, mas só agora se estão a tomar medidas de correção. Há um erro que fazemos na supervisão, que aprendi na China: ou se é um centralizador e se controla tudo, ou descentralizamos, e ao fazê-lo não podemos descentralizar a responsabilidade. As competências delegam-se, a responsabilidade nunca. Ao não delegar a responsabilidade tem de controlar, tem de supervisionar, se não fica dependente do operador. Portanto, em Portugal delegaram-se competências e não se supervisionou as responsabilidades e foram apanhados por isso.
A que nomes atribui o erro?
Não são nomes, são instituições. Foi o Governo, foram os próprios bancos e foi o Banco Central. Foram os europeus, foram os decisores, foi o Banco Central Europeu.
Desiludiu-se com António Costa?
Não estou desiludido com António Costa, acho que estamos a empurrar com barriga alguns problemas estruturais, que não se podem resolver ou não se querem resolver. Não vale a pena pensar que há milagres na economia, pois não há. Costa está à procura do momento para o fazer, ele ou o Governo, seja ele quem for. Se alterações não forem feitas o problema subsiste.
Foi nomeado para o cargo de vogal do conselho consultivo do Banco de Portugal pelo ministro das Finanças. Confia no ministro e no Governador para estabilizar o sistema financeiro?
Não falo em pessoas. Confio no Governador e a minha função no Banco de Portugal é muito pequena, é de aconselhar em certas funções e em certos atos. Estou muito interessado em ir porque tenho ideias muito claras sobre isso que podem até não coincidir com as do Governador ou com os outros, mas isso não me incomoda rigorosamente nada. Acho que foi um erro não termos resolvido os problemas na época, se calhar era até mais doloroso, mas já estavam resolvidos.
Foi inabilidade do Governador?
Foi uma opção, não uma inabilidade.
Isso pode tornar a resposta mais grave, se foi uma opção...?
Sim, foi uma opção, como foi uma opção o Fundo de Resolução. E todos sabiam que era um risco, pois não tinha sido ainda aplicado. E na minha opinião não foi uma grande solução, porque no fundo não resolveu o problema.
Se opção não deu resultado, deveria o Governador demitir-se?
Isso não comento. Agora acho que deve analisar o que tem de concreto para ter sucesso. Acho que ninguém se sente bem se incomodado ou se não tem as condições para ter sucesso.
Tendo em conta GES e BES, o Governador agiu bem ou mal?
A sensação que temos hoje é que deveria ter decidido mais cedo. Talvez possa dizer que se eu lá estivesse faria diferente...
Teria retirado, e cedo, a idoneidade a Ricardo Salgado?
Não sei se teria tirado ou não, mas não deixava apodrecer tanto.
Conhece Ricardo Salgado. Desiludiu-o?
Sim, conheço, fomos colegas de Faculdade. Houve uma mistura explosiva entre um grupo e o seu acionista e isto deveria ter sido tido em conta pelos decisores e pelos acionistas do Grupo BES mais cedo. Provavelmente já sabiam que estava assim.
Acredita na inocência dele?
Não tenho opinião sobre isso. Somos amigos pessoais, gostava que saísse bem destas coisas, mas se é responsável ou não, é um assunto que não abordamos.
Está de acordo com esta nova entidade de supervisão criada pelo Governo, faz sentido?
Faz, porque há falta a de coordenação. A ideia não é retirar funções ao operador, é coordenar as entidades que têm que ver com a regulação.
A imagem que passa é que fragiliza um pouco o Banco de Portugal. Concorda?
É um órgão como tantos outros, é um advisor, não um decisor, nem um gestor. Acho que é útil porque a experiência tem demonstrado que não há muita coordenação entre as várias entidades. Talvez não seja mau que se juntem numa comissão.
Passando para as telecomunicações, foi muito elogioso no passado quanto a Zeinal Bava. Como olha para o mesmo gestor hoje, acusado num processo como a Operação Marquês, e sobre o rumo que a PT levou?
Tenho uma análise sobre a situação, não com Bava, mas com a estratégia que a empresa seguiu e foi defendida pelos acionistas.
Acha que foi responsabilidade da empresa?
Foi responsabilidade dos acionistas. A partir de 2002, a empresa decide, ao nível do acionistas, aumentar a política de dividendos, e reduzir a dívida. Ao fazer isso deixou de investir no Brasil, onde tinha uma empresa, a Vivo, que estava a crescer 5 milhões de clientes ao ano e onde era preciso investir em rede digital. A PT que tinha uma relação de 50/50 com a Telefónica, passou a não ser capaz de satisfazer as necessidades de investimento. Começou então a entrar em dívida. Há uma altura em que a pressão da Telefónica para comprar a Vivo era grande, para além da ameaça da OPA à PT. Com a pressão da Telefónica, a Portugal Telecom, que já estava numa relação de 1 para 10, em vez de 1 para 4 como era o acordo inicial, e se dá mais tarde a OPA da Sonae, não aguentou. Isto tem a ver com uma estratégia da empresa, uma decisão dos acionistas. Obviamente o gestor também é responsável, mas a decisão é dos acionistas. Respondendo à sua pergunta a questão não é o Bava; o grupo empresarial PT definiu estratégicas que a levaram à venda da Vivo. Ora uma empresa que vende uma subsidiária que representa 60% do volume de vendas e 40% dos lucros, que tem 55 milhões de clientes, e que fica sem o dinheiro e sem a indústria, o que é que quer que aconteça?
A estratégia foi a errada?
Claro, a estratégia foi errada e o Bava foi apanhado por isso. Se sabia, ou se não sabia, não sei dizer.
Conhece bem Zeinal Bava? Metia as mãos no fogo por ele?
Fui eu que o admiti para a PT, era um excelente profissional. A culpa que ele terá é de ter aceite a estratégia que foi definida pelos acionistas.
Mas acredita que seja corrupto?
Isso não sei, não tenho a mínima noção disso. Agora como gestor, o erro que terá cometido é ter aceite uma estratégia ruinosa para a empresa. Aí fez a opção de ficar. Eu fiz o contrário: saí em 2002 quando comecei a sentir isto. A culpa não é dele, é dos acionistas que decidiram uma política de dividendos altos e redução dos investimentos. Por isso, a venda da Vivo era inevitável. O engenheiro Belmiro percebeu isso muito bem: quando fez a OPA à PT queria fundir a TMN com a Optimus e depois vender a Vivo e fazer o financiamento do seu grupo, claro. Só que os outros acionistas da PT não são burros e disseram que em vez de ser ele a fazer a mais-valia, faziam eles. Esta é questão de fundo da PT, não o Bava, que é apenas uma peça pouco importante neste conjunto.
E a PT na Altice, parece-lhe estar em boas mãos?
Depende do conceito de boas mãos. A empresa mudou muito e, portanto, a empresa de telecomunicações do meu tempo já não existe, é um outro projeto que conheço mal e não faço ideia onde vai acabar.
VÍDEO

www.tsf.pt
25
Mar17

PORQUÊ ?

António Garrochinho
MAS PORQUE CARGA DE ÁGUA É QUE OS PADRÉCOS, OS BISPOS SE DEBRUÇAM SOBRE O CASAMENTO SE NÃO CASAM, SE NÃO SABEM O QUE É VIVER COM UMA MULHER, SE A PRÓPRIA IGREJA NÃO ACEITA O FEMININO A NÃO SER PARA ARRANJAR OS ALTARES, PARA ADMINISTRAR A CATEQUESE NESSE MUNDO APARENTEMENTE DOCE MAS QUE É O VINAGRE DAS BEATAS ?
MAS PORQUE É QUE OS PADRÉCOS, OS BISPOS SE DEBRUÇAM SOBRE A EDUCAÇÃO DOS FILHOS SE OS NÃO TÊM (PELO MENOS OFICIALMENTE), SOBRE A INTERRUPÇÃO VOLUNTÁRIA DA GRAVIDEZ SE NÃO ENGRAVIDAM, SOBRE O PRESERVATIVO SE NÃO O USAM, SOBRE A SEXUALIDADE SE SÃO CRIMINOSOS PEDÓFILOS, PERVERTIDOS, MALVADOS ?
AG
25
Mar17

confusão

António Garrochinho
ELES, OS IGNORANTES, OS FDP, OS ETERNOS LACAIOS DO FASCISMO ATÉ CHAMAM COMUNISTA A PUTIN JÁ NÃO LHES CHEGANDO TODO O MAR MERDOSO DAS PALAVRAS QUE VOMITAM, DA DIFAMAÇÃO, DA MENTIRA, QUE SEMPRE UTILIZARAM NO SENTIDO DE CONSPURCAR, DIMINUIR, ESCONDER A LUTA HERÓICA, A HONESTIDADE E A VERDADE DOS COMUNISTAS PORTUGUESES SOBEJAMENTE DEMONSTRADA NA SUA ACÇÃO POLÍTICA DE ONTEM E DE HOJE.
AG
25
Mar17

A CEGUEIRA

António Garrochinho
MUITOS DE NÓS FALAMOS DE POLÍTICA NUMA PERSPECTIVA ABRANGENTE OU SEJA, DESEJAMOS PARA NÓS O QUE DESEJAMOS PARA OUTROS.

HÁ CERTOS POLÍTICOS QUE FALAM EM NOME DE TODOS (O POVO) SÓ COM O FITO DE NOS CAÇAREM O VOTO MAS AS DECISÕES SÃO SEMPRE DE ACORDO COM OS INTERESSES POLÍTICOS DE CADA PARTIDO.

INTERESSES QUE INFELIZMENTE SE DISTANCIAM MUITO DA REALIDADE EM QUE VIVE A MAIORIA DOS PORTUGUESES E O PIOR DISTO TUDO É QUE OS POLÍTICOS ARRANJAM SEMPRE MANEIRA DE ESTAREM CERTOS, NUNCA FALHAM, DISTORCEM A SUA PRÓPRIA ACÇÃO, MENTINDO, OCULTANDO E JOGANDO COM A ENGENHARIA DA RETÓRICA, A HABILIDADE NAS PALAVRAS, NO DISCURSO ELABORADO, MAS VAZIO DE REALIDADE.

ISTO É PERIGOSO ! PERIGOSO PARA O POVO QUE SE VAI DISTANCIANDO DA CLASSE POLÍTICA MAS MESMO ASSIM CAINDO SEMPRE EM NOVAS ARMADILHAS.

PARA ELES, OS INSTALADOS, NOS GRANDES E NOS PEQUENOS PODERES TANTO FAZ.

ASSEGURAM A SUA SOBREVIVÊNCIA, O SEU EMPREGO, E VIVEM FELIZES LIVRES DE AUSTERIDADE, AO ABRIGO DE JOGADAS POLITICAS QUE TODOS OS DIAS INVENTAM PARA QUE A CEGUEIRA PREVALEÇA.

António Garrochinho
25
Mar17

25 de Março de 1957: A França, a Alemanha Federal, a Itália, a Bélgica, a Holanda e o Luxemburgo assinam o Tratado de Roma, documento fundador da Comunidade Económica Europeia.

António Garrochinho

Em 25 de  Março de 1957 é assinado, pela Bélgica, Holanda, Luxemburgo, França, Itália e Alemanha, o Tratado de Roma, que instituía a Comunidade Económica Europeia (CEE)e a Comunidade Europeia da Energia Atómica (EURATOM), a primeira visando integrar a economia dos países membros com o estabelecimento da união aduaneira e de um mercado comum, e a segunda com o  objectivo de fomentar a cooperação no desenvolvimento e utilização da energia nuclear e elevação do nível de vida dos países membros.A assinatura deste tratado é o culminar de um processo que surge após a Segunda Guerra Mundial, que deixou a Europa destruída económica e politicamente submetida às duas  super potências: Estados Unidos e União Soviética. Surge então a ideia de os países europeus conseguirem uma integração económica e política. Após várias tentativas e fracassos, é assinado em 1951, em Paris, o tratado que cria a CECA - Comunidade Económica Europeia de Carvão e de Aço e que tinha por  objectivo a integração das indústrias do carvão e do aço dos países europeus ocidentais. Os seus inspiradores são Robert Schuman, ministro francês dos Negócios Estrangeiros, e Jean Monnet, também o seu primeiro presidente. Este é o primeiro passo concreto com vista à integração europeia, pois, pela primeira vez,havia transferência dos direitos de soberania de alguns estados para uma instituição europeia. Após mais algumas tentativas de alargamento da sua  acção, surge, em 1957, o Tratado de Roma. Com ele visava-se uma união económica de facto, pois aspirava-se a uma política comum para os produtos agrícolas, para os transportes e para todos os  sectores económicos importantes, regras comuns quanto à concorrência, com a coordenação da política económica dos estados membros. Pretendia-se, enfim, "uma união cada vez mais estreita entre os povos europeus (...) mediante uma  acção comum, o progresso económico e social dos seus países, eliminando as barreiras que dividem a Europa" (Preâmbulo do Tratado de Roma).Os anos seguintes à assinatura do Tratado são de sucesso, com enormes progressos económicos e expectativas numa maior cooperação noutros  sectores. Mas o processo vai ter também as suas dificuldades. Apesar de tudo, os êxitos são maiores e atraem a Dinamarca,Reino Unido e Irlanda, que fazem a sua adesão em 1973; forma-se a Comunidade dos Nove. E em 1981 mais um membro, a Grécia. Em 1986 entram Portugal e Espanha. Finalmente, em 1995, aderem Finlândia, Suécia e Áustria. E fala-se já em mais alargamentos, inclusive a Leste.A livre circulação dos produtos industriais, dos produtos agrícolas e de pessoas foi evoluindo nos seus processos e nas suas políticas, de acordo com as crises da economia mundial e das implicações das novas adesões. A Comunidade Europeia é o maior mercado do Mundo. Caminha-se agora para a criação da moeda única, o euro.

O Tratado de Roma de 1957 foi complementado e  actualizado com outros tratados como o Ato Único Europeu, de 1986, e o Tratado de Maastricht, de 1991.

O Ato Único Europeu, que é a primeira revisão do Tratado de Roma, altera as regras de relacionamento dos Estados membros e alarga os  objectivos e campos de  actuação da Comunidade, visando a União Europeia.Entrou em vigor em 1987 e com ele pretende-se a  adopção de políticas comuns, a criação de mercado comum com livre circulação de mercadorias, pessoas, serviços e capitais, além do reforço da coesão económica e social entre todos os estados membros e a redução das diferenças económicas e sociais existentes. Pretende-se também a cooperação na área da investigação e tecnologia, a criação de um Sistema Monetário Europeu e uma política comum do Ambiente.

O Tratado de Maastricht ou Tratado da União Europeia representa um avanço no processo de integração no âmbito político e social, com a implementação de uma cidadania europeia, o alargamento das competências da CE, com uma política externa e de segurança comuns, e cooperação no âmbito da justiça e dos assuntos internos.

Tratado de Roma. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. 
wikipedia (Imagem)
Arquivo: Tratado de Rome.jpg


Cerimónia de assinatura do Tratado de Roma (1957)
25
Mar17

ALGARVE - ONTEM CAIU NEVE NA FOIA E HOJE PODE CAIR MAIS

António Garrochinho


O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) tinha alertado: hoje havia a possibilidade de queda de neve acima dos 800 a 1000 metros na região Sul, ou seja, poderia cair neve na Serra de Monchique. E foi o que aconteceu esta tarde, no alto da Fóia, pelas 17h00, como mostra o vídeo, embora não tenha chegado a deixar um manto branco.
Com as temperaturas baixas que se prevê durante esta noite e madrugada, bem como com a manutenção da previsão de precipitação, é possível que a neve volte ao alto da Serra de Monchique, o ponto mais alto do Algarve, mas não será para dar muito nas vistas.
Ao longo do dia, como indicam os dados do IPMA, a temperatura mais alta na Fóia foi de 3,7ºC, mas também nunca caiu abaixo dos 0 graus. Durante a noite, esse valor poderá baixar um pouco.
Mas o mais provável é que haja geada na serra, pelo que as estradas de Monchique, em especial as que ligam a vila à Fóia, poderão ter gelo e tornar-se perigosas.
Por isso, na sua página de facebook, o presidente da Câmara de Monchique aconselha «prudência aos mais ousados e os devidos cuidados aos mais entusiastas».
«Com neve, geada ou simplesmente com muito frio, é sempre apetecível uma subida à serra!!!», salienta o autarca Rui André. Mas há que ter muito, muito cuidado.

www.sulinformacao.pt
25
Mar17

O jogo do déficit

António Garrochinho


costa_centeno
Diga dois virgula um ou mais exactamente diga dois virgula zero seis. É este o número oficial do déficit de 2016 que o INE hoje divulgou e que vai ser comunicado às instâncias europeias, permitindo ao país sair do procedimento de déficit excessivo. António Costa e Mário Centeno estão de parabéns.  (Ver notícia aqui)
Durante meses os profetas da desgraça de todos os quadrantes apostaram no preto e saiu vermelho. Apostaram no par e saiu ímpar. A direita pode dizer que tem azar ao jogo. A Dona Teodora bem pode recolher à sua clausura dourada e tratar dos seus gatos. A  Maria Luís bem pode dedicar-se a fazer uma reciclagem dos seus parcos saberes de economia, e talvez a nova edição das Novas Oportunidades lhe seja útil. O Passos Coelho, já que teima em não se demitir, bem pode votar na Assembleia da República, sempre ao lado de bloquistas, comunistas e socialistas, como ele gosta de dizer, e como prometeu que faria.
Mas, contrariamente ao que diz o ditado – azar ao jogo, sorte no amor –, o azar da direita não tem vindo a ser acompanhado por ganhos nos afectos do eleitorado. As sondagens são cada vez piores e adivinha-se para a direita, nas próximas eleições autárquicas, um terramoto maior que o de 1755. Passos Coelho e companhia colocaram as fichas todas no desmoronamento da actual solução política e na realização de umas hipotéticas eleições antecipadas. Quem coloca todas as fichas num único número, à espera de fazer um pleno, ou ganha tudo ou perde tudo. Passos perdeu tudo e resta-lhe ir para casa a pé, já que nem lhe deve ter sobrado dinheiro para pagar o táxi. Acontece a muitos jogadores e, como dizia Gueterres em tempos idos: – É a vida…
Assim, ter hoje ouvido Passos dizer que vai ganhar as próximas eleições autárquicas e que vai ganhar a câmara de Lisboa, ia-me fazendo cair da cadeira, tal a descomunal gargalhada que me assaltou. O homem está completamente demente e como já não consegue enganar ninguém – nem mesmo os seus mais prosélitos seguidores -, só posso considerar que se quer enganar a ele próprio. É um caso clínico do foro psiquiátrico a necessitar de urgente internamento.
Mas, a direita, perdedora em toda a linha no jogo das previsões, continua a jogar, na mira de recuperar o capital desbaratado, qual jogador inveterado e compulsivo. Agora o jogo passou a ser outro: o deficit cumpriu-se sim, mas não é sustentável. É o jogo da sustentabilidade, e é aí que anda a colocar agora as fichas todas. Quer dizer, o único discurso da direita não é discutir o presente mas fazer apostas sobre o futuro – acreditando que desta vez vai sair preto -, já que o eleitorado acha que o presente está melhor e acredita que irá continuar a melhorar, como demonstram todos os indicadores de confiança, quer dos consumidores quer dos empresários.
Mas claro. Como a direita está escaldada e já não acredita muito na sorte, na eficácia da sua pata de Coelho, sempre vai fazendo os trabalhos de casa mínimos para que a não sustentabilidade se concretize. E aí o ataque é ao sistema financeiro e a tudo o que com ele se correlaciona. Porque quanto mais problemas surgirem no sistema financeiro, mais eles  se transmitirão à economia, e a degradação da economia implicará necessariamente a degradação do déficit público. É simples, portanto, e é neste contexto que devem ser vistas as novelas dos últimos tempos:
  • Ataque á Caixa Geral de Depósitos e à sua recapitalização. Neste dossier, é de rir com as preocupações do PSD com o facto de parte desta capitalização ser feita por privados, eles que a queriam privatizar a 100%. É de rir com a preocupação que agora enunciam com o fecho de agências e redução de trabalhadores, eles que se fartaram de fechar agências, e mandar cidadãos para o desemprego. É de rir com a preocupação que dizem ter com o fecho de agências da CGD no interior do país, eles que privatizaram os CTT levando ao fecho de estações de correio por tudo quanto é sítio, não só o interior mas também nos meios urbanos.
  • Ataque ao Banco de Portugal tentando criar um clima de tensão entre o Governador e a actual solução governativa. Contrariamente ao que muitos pensaram na altura, achei a peça da SIC, Ataque ao Castelo, algo suspeita vinda de onde veio. Suspeita, não do ponto de vista jornalístico, mas sim do ponto de vista dos objectivos que prosseguia e a quem interessava. Não sejamos inocentes e ingénuos. Colocar em causa o Governador do Banco de Portugal, fragilizando-o e quase que forçando o Governo a pedir a sua demissão, apesar deste ser quase totalmente inamovível, nesta altura do campeonato, fortalece o sistema financeiro? Seguramente que não. Pôr a nu as pechas do regime angolano – que desde há muito se sabe ser uma cleptocracia -,  favorece as relações políticas e económicas entre Portugal e Angola e as nossas exportações? Seguramente que não.
  • Ataque dos correlegionários europeus à política económica do actual governo. Neste âmbito inserem-se quer as últimas declarações do ministro Schäuble, quer as do paspalho do Eurogrupo, o tal Dijsselbloem, e até do próprio Draghi. Vão de agoiro em agoiro, ainda que não sejam tão estúpidos que acreditem que rogar pragas seja suficiente. É por isso que vão trabalhando na sombra para que o Diabo venha, nem que para isso tenham que o puxar pela arreata.
E é este o cenário da confrontação política actual. Mas falemos de coisas mais sérias. E o que é mais pertinente não é discutir a sustentabilidade do déficit, mas sim a sustentabilidade da dívida pública. Com taxas de juro acima dos 3% e taxas de crescimento nominal do PIB abaixo dos 2% a dívida pública só pode aumentar, a não ser que ocorram cortes brutais na despesa pública, mormente nas despesas com o Estado Social. Cortes no Estado Social é sempre a receita da direita para equilibrar as contas públicas, cortes a que eufemisticamente  chamam reformas estruturais.  E é também decisivo discutir as regras europeias que exigem tais valores do déficit público, sacrificando as políticas públicas que poderiam fazer aproximar a economia do seu produto potencial.
Daí que, chegará um dia em que não será mais possível adiar a discussão desta realidade objectiva. O que fazemos na Europa, o que fazemos no Euro, como e em que prazo e condições poderemos liquidar a dívida do país, compatibilizando tal pagamento com um cenário de crescimento económico e de utilização mais eficiente dos recursos disponíveis, que tal possibilite.
Mas essa discussão a direita não a faz, não a quer fazer, e critica quem a pretende colocar no cerne do debate político. No fundo, o seu desígnio último é só um: regressar ao poder a qualquer preço. Ainda que o preço seja tão alto que leve à destruição do país e que passem a reinar sobre ruínas. Já o fizeram uma vez e querem compulsivamente repetir o feito. Está nas nossas mãos travar-lhes o passo.

estatuadesal.com
25
Mar17

Fisco vai deixar divorciados dividir filhos no IRS

António Garrochinho


Fernando Rocha Andrade não é um estreante em cargos governativos, mas nunca teve uma pasta com o mediatismo da que lhe foi conferida por António Costa: os Assuntos Fiscais
Rocha Andrade quer que o OE 2018 inclua um sistema que permita lidar com as situações de dependentes em guarda conjunta

O secretário de Estado dos Assuntos Fiscais vê mais vantagens do que desvantagens na existência de um fase única de entrega do IRS e garante que o sistema está preparado para acomodar um maior número de entregas de última hora. Em entrevista ao Dinheiro Vivo, Rocha Andrade diz que está a trabalhar no sentido de reformular os escalões do IRS em 2018 e que no próximo ano haverá também uma solução para enquadrar fiscalmente as várias tipologias de guarda conjunta dos filhos.
Quando no dia 1 de abril começar a entrega do IRS, o que vão encontrar de diferente os contribuintes abrangidos pela declaração automática?
Vão encontrar uma liquidação provisória feita no Portal das Finanças. Não se trata de uma simulação, mas de uma liquidação completa do seu IRS, com os elementos de que a Autoridade Tributária dispõe. Vão poder submetê-la muito simplesmente, com dois ou três cliques no rato.
E se não concordarem com os valores que lá estão?
Se não quiserem utilizar o IRS automático, têm o mesmo sistema que tinham no ano passado. Ou seja, mantém-se para todos a possibilidade de preenchimento normal de uma declaração.
As pessoas com deficiência também são abrangidas pelo IRS automático?
Sim, mas como o sistema não considera os benefícios ligados à sua condição de deficiente, não tem qualquer interesse em usufruir do IRS automático. Para terem aquele benefício, ainda têm de entregar uma declaração, tal como no ano passado. Creio que, com a alteração que se fará ao cadastro, será possível aquele benefício já estar incluído no próximo ano.
Em 2018 o sistema é alargado a quem tem dependentes?
Exatamente. Neste momento, não temos conhecimento de qual é a composição do agregado familiar e, por isso, também não sabemos quais são as despesas correspondentes aos dependentes que teríamos de colocar no IRS automático. Depois do verão teremos em funcionamento um sistema que permite às pessoas declarar a composição do seu agregado.
Quando é que este automatismo chega a todos?
Não creio que seja nesta legislatura. Mas creio que o IRS automático nunca poderá ser totalmente universal, porque há sempre rendimentos que a Autoridade Tributária não conhece no momento da entrega das declarações e, portanto, para esses nunca poderá haver totalmente um IRS automático. Vamos progressivamente alargar o universo dos abrangidos.
Que rendimentos é que a Autoridade Tributária desconhece em tempo útil?
Os rendimentos auferidos no estrangeiro, por exemplo, tendencialmente só são conhecidos mais tarde. Enquanto a entrega do IRS for na primavera, é muito difícil fazer o IRS automático com rendimentos do estrangeiro.
As rendas, a categoria B, será mais fácil serem abrangidas?
Será mais fácil e devemos ir evoluindo nesse sentido e também em alguns benefícios fiscais que hoje não é possível incluir no IRS automático, como os benefícios fiscais à poupança.
Isso significa que as aplicações em PPR ou nos certificados de reforma, por exemplo, não estão para já contemplados?
Os elementos que neste momento o IRS automático considera são os rendimentos de trabalho e de pensões, e as deduções que são validadas no portal de e-fatura. Para a pessoa usufruir do benefício fiscal precisa de entregar uma declaração. Tem de fazer o preenchimento do IRS como no ano passado.
O número é relevante?
Identificámos, com os dados do ano passado, que os agregados com rendimentos de trabalho ou de pensões, sem dependentes e que não tinham benefícios fiscais, eram pouco mais de 1,4 milhões, correspondendo a 1,8 milhões de contribuintes.
Em 2016, muitas pessoas queixaram-se de que a sua declaração ficou pendente durante semanas e que o reembolso chegou mais tarde. Neste ano será diferente?
No ano passado tínhamos uma situação que foi única, que era a entrada em vigor de uma reforma, o que significava que havia um conjunto de procedimentos que estavam a ser aplicados pela primeira vez e havia questões em que tinham de se criar as regras durante o processo da liquidação. Foi isto fundamentalmente que levou a que houvesse algum atraso, sobretudo para os contribuintes que entregavam na segunda fase. Neste ano não antevejo que existam esses problemas e haverá uma diminuição significativa do prazo dos reembolsos, tal como haverá uma diminuição do prazo médio dos reembolsos por força do IRS automático. Conto que o prazo do reembolso volte para os valores que existiam há dois e três anos. Agora, como sempre, haverá situações de grande complexidade e estou certo de que três ou quatro meses depois ainda teremos um ou outro contribuinte que não terá o seu IRS devidamente liquidado.
Qualquer desvio ao automatismo corre o risco de introduzir um ligeiro atraso no processamento
Há a ideia de que quem altere o valores das despesas fica com a declaração pendente...
O IRS é um processo cheio de automatismos. Qualquer desvio ao automatismo corre o risco de introduzir um ligeiro atraso no processamento.
A aplicação prática da reforma do IRS revelou alguns problemas entre os pais separados e com tutela partilhada. Neste ano, estas situações já estão todas acauteladas?
A questão das guardas conjuntas é de alguma complexidade no IRS e ainda não temos, neste ano, uma solução perfeitamente afinada para todas as situações. É algo que é preciso continuar a trabalhar. A primeira grande consequência que vai haver na guarda conjunta resulta do funcionamento das deduções fixas, ou seja, como na reforma os dependentes eram considerados no quociente familiar, e o quociente familiar só se aplicava a um dos progenitores e não aos dois, havia um dos progenitores na guarda conjunta que não tinha qualquer benefício do quociente familiar. Agora, com o aumento da dedução fixa por filho, ambos os progenitores, se tiverem guarda conjunta, vão ter o benefício. Houve também algumas alterações na separação, mas é ainda bastante difícil lidar com todas as situações porque a Autoridade Tributária não as conhece todas.
Mas está ser feita alguma coisa para que haja um tratamento fiscal semelhante em todas as situações que implicam dependentes?
Determinei que fosse criado um grupo de trabalho para que no Orçamento para 2018 tivéssemos um novo sistema para lidar com os dependentes em guarda conjunta nas muito diversas situações que existem, das separações de facto, dos casamentos, no divórcio, nas uniões de facto, em que normalmente a guarda conjunta não tem uma sentença judicial.
Neste ano a divisão das despesas e da dedução dos dependentes pelos pais ainda não será de aplicação generalizada?
Não está ainda, creio eu, totalmente resolvida na lei a questão da guarda conjunta, porque mesmo em situações atualmente abrangidas o sistema reveste-se de alguma complexidade. E é preciso tentar arranjar soluções que sejam simples e práticas, tanto de aplicar como de cumprir.
Vai ser possível deduzir as refeições escolares de 2016. Mas desconhecendo esta novidade provavelmente muitas pessoas deitaram as faturas fora e terão dificuldade em beneficiar...
É sempre possível obter segundas vias de faturas. Esta foi uma situação que tentámos corrigir, porque era injusta para quem andava na escola pública e tinha um diferente tratamento nas despesas de alimentação. A única coisa que era possível fazer era permitir às pessoas introduzir essas despesas. Para este ano temos uma solução que, essa sim, já funcionará como o restante e-fatura, em que faturas podem ser validadas.
O e-fatura aceita esta despesa como dedução de educação mesmo que não seja isenta de IVA ou não tenha uma taxa de 6%?
O que o sistema vai fazer é reconhecer quais são os fornecedores de refeições escolares em cantinas e quais são os números de contribuinte. E permitir que essas faturas, emitidas por essas empresas, sejam validadas pelas pessoas como despesas de educação, tendo naturalmente o IVA aplicável à restauração.
À semelhança de outros anos, haverá sítios onde as pessoas podem encontrar ajuda para entregar o IRS pela internet?
Há uma aposta em que as pessoas possam preencher a sua declaração de forma eletrónica recorrendo ao apoio dos Espaços Cidadão, das Juntas de Freguesia. A rede foi reforçada e haverá mais pontos de apoio. Nas repartições das Finanças também será possível ter ajuda.
Neste ano, pela primeira vez, há uma fase única de entrega do IRS. Se correr mal, admite mudar o modelo?
A anterior separação em duas fases tinha muito que ver com limitações da própria administração fiscal, com a não capacidade para lidar com todos os processos ao mesmo tempo. Estamos convencidos de que este modelo é melhor e dá, no fundo, um prazo mais alargado a toda a gente. Naturalmente, como tudo nos impostos e como tudo na governação, temos sempre de estar disponíveis para reconhecer que alguma medida correu mal e poder ser alterada.
A prática mostra que as pessoas deixam o IRS para o final do prazo. O sistema informático está preparado para fazer face a uma duplicação de acessos à última hora?
Vamos ter de nos aperceber de qual é exatamente o efeito que prevalece: se a curiosidade de ver o novo sistema, se a vontade de ter um reembolso mais rápido, ou se o típico hábito de deixar tudo para a meia-noite menos cinco minutos do último dia do prazo. Não sabemos. Vamos ter essa experiência e naturalmente os sistemas estão preparados para aquilo que é a nossa expectativa de maiores acessos. Essa preparação também pode ir sendo adaptada à medida que observemos o comportamento dos sujeitos passivos.
O governo tem no seu programa a revisão dos escalões do IRS, mas a medida tem vindo a ser adiada. Avança em 2018?
Queria alertar, antes de mais, para o facto de muitas das pessoas ainda irem ter neste ano aquilo que será um efeito positivo de baixa do IRS. Algumas vão sentir agora, pela primeira vez, a redução da sobretaxa do ano passado. Quanto à reformulação de escalões, reafirmo o que temos dito: a perspetiva do governo é poder fazê-la no Orçamento para 2018, e nós trabalhamos neste momento nesse sentido.

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25
Mar17

Catarina Martins diz que trabalhadores das pedreiras devem ser equiparados aos mineiros nas reformas

António Garrochinho



Dirigente dos bloquistas justifica equiparação com natureza dos riscos.


A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, defendeu esta sexta-feira, em Penafiel, que os trabalhadores das pedreiras sejam equiparados aos mineiros, para efeito de antecipação da idade da reforma sem penalizações.
"Quem trabalha numa pedreira deve ser equiparado a um mineiro, está certo, por causa dos riscos que corre para a sua saúde", afirmou.
Falando para dezenas de trabalhadores do setor reunidos em Peroselo, uma das freguesias da região dos granitos com maior número de pedreiras, a dirigente bloquista considerou que aquela profissão deve ser considerada de desgaste rápido.
Catarina Martins prometeu empenho BE nesta questão no parlamento e junto do Governo e exortou os trabalhadores do setor a subscreverem a petição pública que está a ser preparada e que reclama a antecipação da reforma para quem já tiver 40 anos de descontos para a Segurança Social. A petição já foi subscrita por mais de 3.000 trabalhadores do setor.
Acompanhada pelo deputado José Soeiro, a dirigente ouviu vários trabalhadores queixarem-se do desgaste rápido a que são sujeitos nas pedreiras da região, um tipo de trabalho que, alertaram, provoca várias doenças do foro respiratório, na audição e na coluna, entre outras.
Vários pedreiros na sala disseram ter pouco mais de 50 anos de idade, outros até menos, e já enfrentarem problemas graves de saúde, nomeadamente de silicose, uma das situações mais comuns naqueles profissionais.
Outros alegaram ter mais de 40 anos de descontos, por terem começado na profissão com 12 ou 14 anos de idade. No entanto, devido às doenças que contraíram têm cada vez mais dificuldade em trabalhar, não podendo, porém, parar por estarem ainda longe da idade de reforma.
Os trabalhadores também se queixaram das dificuldades que têm na realização de exames médicos, que dizem demorar demasiado tempo.
Catarina Martins recordou que está a ser negociada na concertação social a proposta do Governo que permite aos trabalhadores com 60 anos de idade e 48 anos de descontos a reforma sem penalizações.
A dirigente considerou que os 48 anos de descontos obrigatórios do novo regime avançado pelo Governo devia diminuir para 46, porque muitos profissionais, como no caso dos pedreiros, no princípio da década de 70 do século passado, começaram a trabalhar com 12 anos ou até com menos, mas só puderam fazer descontos a partir dos 14, como era obrigatório na época.
"Nós não queremos uma solução para as reformas que seja para quase ninguém ou para uma minoria. Nós achamos que é preciso respeitar a geração que foi mais sacrificada neste país, a geração que não teve direito a ser criança e teve de começar a trabalhar", afirmou.
A coordenadora do BE defendeu, por outro lado, que no caso específico dos pedreiros os serviços de saúde pública deviam proceder ao levantamento da situação concreta do setor e melhorar o atendimento, nomeadamente o tempo de resposta às situações de doença profissional que a maioria apresenta.
Catarina Martins mostrou-se também empenhada em trabalhar para que seja melhorada a fiscalização das condições de trabalho por parte do Estado, nomeadamente na utilização de equipamento de proteção dos trabalhadores.


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