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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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19
Abr17

PCP chama diretor-geral da Saúde ao Parlamento

António Garrochinho

Comunistas requereram a presença de Francisco George para esclarecer os deputados sobre surto de sarampo


"Entende o grupo parlamentar do PCP que a Assembleia da República não pode alhear-se". É assim que os comunistas justificam a chamada ao Parlamento do diretor-geral da Saúde Francisco George, para prestar esclarecimentos na comissão parlamentar sobre o recente surto de casos de sarampo que atingiram o País.
O requerimento do PCP foi enviado esta terça-feira ao presidente da comissão parlamentar da Saúde, antes mesmo de ser conhecida a notícia da morte da jovem adolescente no Hospital Dona Estefânia. Mesmo assim, a existência de 15 casos confirmados de sarampo – sete no Algarve e os restantes na região de Lisboa – foram razões suficientes para a convocação do responsável da Saúde para prestar contas aos deputados.


expresso.sapo.pt
19
Abr17

HOJE, AS ALDEIAS

António Garrochinho



O CALOR HUMANO, A INTER AJUDA OUTRORA UMA CARACTERÍSTICA DOS PEQUENOS MEIOS VAI-SE AUSENTANDO DAS ALDEIAS RURAIS.

CHEGO A PENSAR QUE AS PESSOAS NA SUA MANEIRA DE SENTIR E DE AGIR NÃO SÃO DE "LUGAR ALGUM".

PERDERAM O APEGO ÀS ORIGENS, ENVERGONHAM-SE DELAS, O QUE É UM ERRO ENORME.

NÃO GANHARAM COMO PODEM PENSAR E PERDERAM CULTURA, E APESAR DE SE "MOSTRAREM MODERNAS" CHEGAM A ATINGIR A IGNORÂNCIA E A ESTUPIDEZ NA TENTATIVA DE QUEREREM SER O QUE NÃO SÃO OU O QUE NÃO DEVERIAM SER, JÁ QUE EXISTE ORGULHO E É SALUTAR NA MINHA OPINIÃO SER MONTANHEIRO.

A PROXIMIDADE DAS CIDADES, A FACILIDADE DE DESLOCAÇÃO, O CONSUMISMO E O DESPREZO PELAS CULTURAS AUTÓCTONES SÃO UMA CAUSA DA FRIEZA QUE HOJE SE ENCONTRA NAS PESSOAS QUE HABITAM AS PEQUENAS ALDEIAS .

EXISTE MUITA LÁBIA, MUITO ESTRANGEIRISMO ,MUITA RIVALIDADE BACOCA, E NOTO EM ALGUNS, POR VEZES NA PALAVRA OU INTENÇÃO ,O DESEJO QUE QUE A VIDA FOSSE MAIS PACATA MAIS FRATERNA, NO SENTIDO DAS GENTES SE UNIREM E PRESERVAREM DETERMINADOS USOS E COSTUMES QUE NOS PROPORCIONARAM A VERDADEIRA IDENTIDADE.

SÃO POUCOS OS QUE SE PREOCUPAM COM AS TRADIÇÕES E AS RESPEITAM E DE ALGUMAS QUE AINDA PREVALECEM ESTÃO COMPLETAMENTE DETURPADAS E DESCARACTERIZADAS.

OS USOS E COSTUMES VÃO-SE TORNANDO SECUNDÁRIOS ASSIM COMO A AMIZADE, A INTER LIGAÇÃO, QUE EXISTIA NOS ALDEÕES.

NÃO SABEM O QUE PERDEM, E POR VEZES NOTO EM ALGUMAS CARAS UMA FELICIDADE APARENTE, FALSA, QUE NA VERDADE QUER DIZER QUE GOSTARIAM DE QUE AS COISAS NÃO TIVESSEM MUDADO TANTO. AQUELAS COISAS QUE NOS ENSINARAM OS NOSSOS AVÓS, OS PAIS, OS AMIGOS MAIS VELHOS.

POSSO ESTAR ERRADO EM ALGUMA OBSERVAÇÃO, ALGUM JULGAMENTO PODERÁ SER PRECIPITADO OU CONSERVADOR MAS NÃO ESTOU ERRADO DE TODO.
VEJO E SINTO !

António Garrochinho
19
Abr17

Tráfico de seres humanos: A escravatura do século XXI

António Garrochinho



O tráfico de seres humanos é, em todo o mundo, o terceiro negócio ilícito mais rendível, logo depois da droga e das armas. Tendo como causa principal a pobreza e as grandes desigualdades sociais, este tráfico não exclui nenhum país, seja ele de origem, de trânsito ou de destino. Mulheres, crianças e adolescentes continuam a ser as principais vítimas. 

O número exacto das vítimas de tráfico de seres humanos é difícil de avaliar, mas pode ascender a vários milhões em todo o mundo, 2,5 milhões, de acordo com as estimativas da Organização Internacional do Trabalho (OIT). E, apesar da consciência actual sobre o que são os direitos humanos, não cessa de aumentar, alimentando um negócio ilícito que a mesma OIT avalia em mais de 30 000 milhões de dólares por ano.
Por tráfico de pessoas «entende-se o recrutamento, transporte, acolhimento ou recepção de pessoas recorrendo ao uso da força ou outras formas de coacção, rapto, fraude, engano, abuso de poder ou de uma situação de vulnerabilidade, ou a concessão de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra, para fins de exploração», segundo a definição que consta do Protocolo para a Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, Especialmente Mulheres e Crianças.
Na sua definição, este protocolo adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, de Novembro de 2000, acrescenta ainda que «essa exploração incluirá, no mínimo, a exploração da prostituição alheia ou outras formas de exploração sexual, os trabalhos ou serviços forçados, a escravatura ou práticas análogas à escravatura, a servidão ou a extracção de órgãos».  

Países vulneráveis

Numa reunião realizada em Maio deste ano, para debater a forma de melhorar a coordenação ao combate deste crime, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, apelou para os governos melhorarem os níveis de vida das suas populações, visando pôr termo a este tráfico, que prospera graças à pobreza, e que «destrói os indivíduos e mina as economias nacionais». Porque, como crime que é, este tráfico não gera quaisquer receitas para os Estados, apenas para os traficantes.
Os países mais vulneráveis ao tráfico de seres humanos e à exploração sexual são «os mais marcados pela pobreza, instabilidade política e desigualdade económica, países que não oferecem possibilidade de trabalho, educação e perspectivas de futuro para os jovens» nas palavras da missionária comboniana Gabriella Bottani, que integra no Brasil a Rede Um Grito pela Vida.
Ainda segundo a mesma religiosa, numa entrevista à página on-line do Instituto Humanitas Unisinos, os principais países de origem de tráfico de seres humanos situam-se no Sueste Asiático, que «continuam a apresentar o maior fluxo de mulheres traficadas transnacionalmente», seguindo-se os países da África Subsariana, do Leste da Europa, da América Latina e das Caraíbas, enquanto entre as principais zonas de destino se podem mencionar «os Estados Unidos, a Europa Ocidental, o Japão, o Médio Oriente e até países emergentes como a África do Sul e mesmo o Brasil». No total, segundo um documento divulgado pela ONU, entre 2007 e 2010, tinham sido identificadas cerca de 460 rotas de tráfico humano em todo o mundo. 

Mulheres e crianças

Do total de 2,5 milhões de pessoas traficadas mencionado pela OIT, quase 80 por cento são mulheres e adolescentes, e 27 por cento são crianças, tanto de um sexo como de outro. A exploração sexual representa a imensa maioria dos casos conhecidos, sendo o tráfico de humanos para fins laborais frequentemente subestimado ou então encarado como infracções de outros tipos, entre elas a de imigração ilegal. Está também confirmado pelos números que o tráfico de seres humanos tende a ser maior nas regiões onde a imigração é mais intensa, aproveitando-se os traficantes das dificuldades de muitos imigrantes ilegais para encontrarem trabalho. 
As mulheres são aliciadas muitas vezes nas suas aldeias de origem com promessas falsas de um emprego noutro país, como empregadas domésticas ou na indústria hoteleira, por exemplo, e aceitam emigrar no sonho de melhores oportunidades económicas para si e para as famílias. No entanto, acabam com frequência vítimas involuntárias de exploração sexual ou na prostituição forçada, de onde dificilmente conseguem libertar-se, até porque os documentos de identidade e o dinheiro que ganham lhes são confiscados por aqueles que as exploram, a pretexto de terem de pagar o custo do seu transporte para o país de destino. Completamente vulneráveis, são vítimas de violência por parte de clientes, proxenetas, donos de bordéis, traficantes e até de agentes da lei corruptos, e o medo impede-as de apresentar queixa às autoridades.

Trabalho forçado

Trabalho forçado e trabalho em regime de servidão são também formas frequentes de tráfico de seres humanos: as vítimas são obrigadas a trabalhar contra sua vontade, sujeitas a violência ou castigos, ou então prestam serviços destinados a pagar uma dívida, real ou suposta, acabando o seu trabalho por exceder amplamente o valor da dívida. O tráfico para trabalho forçado, que se verifica com maior frequência em África, no Médio Oriente, no Sul e no Sueste da Ásia e no Pacífico, representa uns 36 por cento do total, mas tem vindo a aumentar consideravelmente nos últimos anos. As vítimas de tráfico para mendicidade representam 1,5 por cento, havendo já sido detectados em 16 países do mundo casos de tráfico humano para extracção de órgãos.
Os traficantes pertencem, geralmente, a redes de crime organizado, sobretudo quando se fala da Europa. Mas com frequência são mulheres que foram elas próprias traficadas em algum momento das suas vidas – exemplos disso têm sido registados na Índia, onde algumas mulheres utilizam as relações pessoais que ainda mantêm nas suas aldeias para recrutar mais raparigas, ou no Benim, onde elas acham que estão a ajudar as famílias mais carenciadas a obter algum rendimento extra. No Nepal, de onde saem muitas mulheres e jovens para trabalhar em bordéis na Índia – o seu número está calculado em cerca de 200 000 – verifica-se que os angariadores são muitas vezes familiares das raparigas, que as aliciam com promessas de casamento e de bons salários, chegando alguns a casar efectivamente com elas antes de as conduzirem para lugares de prostituição. 

Europa

As estimativas – imprecisas como seria de esperar – apontam para 100 000 a 500 000 pessoas alvo de tráfico humano na Europa, sejam elas traficadas para a Europa ou dentro do próprio continente, e para fins maioritariamente de exploração sexual. Como tal, as vítimas são sobretudo mulheres e raparigas, mas existe também tráfico de rapazes para a mendicidade e a venda ambulante e tráfico de homens para o trabalho forçado.
Um relatório recente da Comissão Europeia revelou que o número de pessoas vítimas de tráfico humano na Europa aumentou 18 por cento entre 2008 e 2010, devido principalmente à crise económica que se vive na região. Só naquele período, foram identificadas 23 632 vítimas de tráfico humano, mas, para a responsável da União Europeia pela luta contra este tráfico, Myria Vassiliadou, isto representa «apenas a ponta do icebergue». Daquele número, mais de 60 por cento provêm de países da própria UE, principalmente Bulgária e Roménia, e 14 por cento são africanas.
A Europa de Leste, sendo hoje em dia um dos epicentros da emigração mundial, constitui o ponto de partida da maioria do tráfico de seres humanos. Entre 1991 e 2001, de acordo com um estudo de Romain Miginiac, da Universidade de Genebra, 79 por cento das mulheres traficadas detectadas pela polícia alemã eram originárias da Europa Central e do Leste.
A Moldávia, país que integrava a antiga União Soviética, é um dos principais países de origem das mulheres vítimas de tráfico humano. Com 3,8 milhões de habitantes e um rendimento médio equivalente a 225 euros por pessoa, tem um quarto da sua população activa emigrada no estrangeiro. Uma mulher pode ser vendida, até pelo próprio namorado, por 300 euros, valor que pode ascender a 3800 quando os traficantes concluem o «negócio» noutro país europeu, como a Itália. Uma vez chegadas, a situação habitual repete-se: os documentos são-lhe confiscados e elas são obrigadas a prostituírem-se.  
A maioria dos países europeus dispõe hoje de programas de acção nacionais para lutar contra este fenómeno do tráfico de seres humanos, mas a eficácia tem sido reduzida, dado que a maior parte destes programas incide mais na resposta do que na prevenção. Além disso, os traficantes adaptam o seu modus operandi em função das legislações e das políticas concebidas para o combater.  
De acordo com um estudo do Alto Comissariado para os Refugiados (ACNUR) já com alguns anos, são uma minoria os países europeus que, por exemplo, concedem regularmente asilo político por perseguição relacionada com as actividades sexuais. E, por outro lado, quando são repatriadas para os seus países de origem, as mulheres e raparigas vítimas de tráfico não dispõem de apoios específicos e ficam sujeitas às mesmas vulnerabilidades que as levaram a ser vítimas a primeira vez.

África Subsariana

O problema do tráfico de seres humanos afecta todo o continente africano, tendo já sido definido como a escravatura dos tempos modernos. Aqui predomina o tráfico de mulheres e crianças para exploração sexual, se bem que o tráfico de homens para trabalho forçado também exista.
A UNICEF calcula que todos os anos sejam traficadas nesta região mais de 200 000 crianças, consequência directa da pobreza. Os menores são muitas vezes vendidos pelos próprios pais na esperança de um trabalho e de uma vida melhor para eles e para toda a família. Além disso, não se pode esquecer que a forte incidência da sida em África faz anualmente milhares de órfãos – são já 11 milhões em todo o continente – os quais ficam totalmente vulneráveis à acção dos traficantes de seres humanos.
Em certas sociedades, as mulheres são objecto fácil de tráfico humano em consequência de costumes que as marginalizam e relegam para um estatuto inferior. A discriminação de género que muitas sofrem impede-as de frequentar uma escola e, mais tarde, de ter uma profissão remunerada. Com frequência o nascimento de uma rapariga é ainda encarado como uma desgraça e, em casos extremos, há crianças do sexo feminino a serem vendidas para custear os estudos dos irmãos varões. 
Na África Austral, existe um fluxo de tráfico humano com destino à indústria do sexo na África do Sul. A Organização Internacional para as Migrações (OIM) tem detectado tráfico de mulheres a partir de Moçambique, de Angola e da região dos Grandes Lagos para a África do Sul, bem como tráfico de crianças no interior deste mesmo país.
Na Nigéria, com cerca de 170 milhões de habitantes, metade dos quais nos centros urbanos, regista-se um volume considerável de tráfico humano dentro do país. As famílias pobres enviam tradicionalmente os filhos e filhas que não conseguem sustentar para junto de famílias mais abastadas, facto que, se na maior parte das vezes se traduz em melhores condições de vida para as crianças, noutras equivale a uma forma de escravatura.
Os nigerianos são também vítimas de tráfico humano para a Europa, o Médio Oriente e outros países africanos, seja para exploração sexual, trabalho forçado ou servidão doméstica. Na Europa, as nigerianas são encaminhadas em especial para Itália (onde se calcula que existam 10 000 prostitutas desta nacionalidade), Espanha, Holanda e Bélgica. Muitas mulheres e raparigas contraem dívidas de milhares de dólares com os traficantes; chegam inclusive a ser levadas aos feiticeiros tradicionais, perante quem fazem o juramento de pagar essa dívida e de manterem silêncio.    

Ásia

No que se refere à Ásia do sul, o principal destino dos seres humanos traficados é o Médio Oriente. Mas há muitas mulheres e raparigas oriundas do Bangladesh encaminhadas para a Índia, Paquistão, Bahrein, Kuwait e Emirados Árabes Unidos, enquanto os rapazes são transportados para os Emirados, o Omã e o Qatar, onde são obrigados a trabalhar como jóqueis nas corridas de camelos, muitas vezes subalimentados para não aumentarem de peso.

Na Ásia Oriental, o desenvolvimento económico verificado na China nos últimos anos, assim como na Coreia do Sul, Singapura e Taiwan tornou todos estes países apetitosos para a emigração, legal ou ilegal, a par do Japão. As Filipinas são um exemplo típico de país de origem, com quase um milhão de emigrantes. Mas estes Estados asiáticos são em muitos casos apenas países de trânsito: o objectivo último é preferentemente a América ou a Europa.



 ANA GLÓRIA LUCAS, Jornalista

www.alem-mar.org

19
Abr17

10 artistas famosos com histórias bizarras, perigosas e violentas

António Garrochinho



Em comparação com profissões mais obviamente perigosas, artistas famosos não são exatamente conhecidos por serem malucos ou violentos. Mas esse não foi sempre o caso. Houve momentos muito bizarros na história da arte que terminaram em brigas, assassinatos e pornografia. Como:

Artistas famosos com histórias bizarras

10. A gangue de Caravaggio


Michelangelo Merisi da Caravaggio foi o original “bad boy” da arte. Para quem não sabe, ele viveu uma vida frenética e curta na qual dormiu com inúmeros homens e mulheres, participou de duelos aleatórios, atacou uma prostituta e matou um cara esfaqueando-o na virilha.
Os registros não são definitivos, mas ele também pode ter agido como cafetão e agredido um dos seus rivais artísticos com uma espada. No entanto, nada se pode comparar com sua “gangue”.
O grupo de pintores e arquitetos romanos, liderado por Onorio Longhi, acreditava no lema “spe nec, nec metu” (“sem esperança, sem medo”). À noite, eles se vestiam como antiquados cavaleiros e andavam pelas ruas de Roma a cavalo pegando prostitutas, entrando em brigas e tentando assassinar seus rivais. Em 1606, o grupo entrou em uma confusão que acabou com um homem morto e vários outros gravemente feridos.
Toda essa violência não livrou Caravaggio das consequências. Um dia, ele estava em uma taverna napolitana decadente quando foi atacado por um homem com quem já havia lutado anteriormente. O pintor saiu da briga com ferimentos grotescos dos quais nunca se recuperou. Ele morreu em circunstâncias desconhecidas, aos 38 anos.

9. Fra Filippo Lippi e sua luxúria



Um pintor florentino do Renascimento, Fra Filippo Lippi foi um artista extraordinariamente talentoso que competiu com alguns dos maiores nomes da história da arte. Como resultado, ele é menos famoso hoje do que deveria ser. Acima, seu afresco “A Virgem e Menino com História da Vida de Sant’Ana”.
Em uma área é bem conhecido, no entanto: na amorosa. Ao longo de sua vida, Lippi criou diversas polêmicas por conta de seus flertes com mulheres. Apesar desta reputação, ele foi contratado em 1456 para fazer uma pintura no convento de freiras de Santa Margarida em Prato. Não muito tempo depois de chegar, Lippi conseguiu seduzir e dormir com uma freira chamada Lucrezia Buti.
Diz a lenda que ele pediu a Madre Superiora para fornecer-lhe uma freira para posar para sua pintura e, em seguida, se aproveitou da jovem que foi enviada. Há duas histórias diferentes que afirmam o que ocorreu em seguida: ou Lippi fugiu com Lucrezia, ou a sequestrou no meio de uma procissão, levando-a para viver com ele em pecado.
Apesar de toda a Itália se indignar com o escândalo, não havia nada que pudessem fazer. Lippi era protegido da família Medici, que convenceu o Papa a perdoá-lo depois de “apenas” um pouco de tortura. Lippi e Lucrezia passaram o resto de suas vidas como amantes.

8. A briga futurista



O movimento italiano do futurismo foi um movimento artístico que abraçou a destruição do velho para abrir caminho para o novo. Admirava a velocidade, a mudança, a máquina e, mais tarde, o fascismo. E acima de tudo, admirava a violência. Guerra era vista como uma força positiva para a mudança, com a brutalidade sendo um nobre esforço.
Assim, quando os futuristas de Milão se desentenderam com os seus homólogos de Florença, apenas uma coisa foi possível: pancadaria. Quando Ardengo Soffici escreveu um artigo em 1910 menosprezando a Exposição Futurista de Milão, os membros da escola milanesa pegaram o trem até Florença, foram ao Cafe Guibbe Rosse, encontraram Soffici e desceram a porrada nele.
Claro que Soffici não estava sozinho. Logo, essa foi uma das mais épicas brigas na história da arte. Durou várias horas e só terminou quando todos os envolvidos foram arrastados até a delegacia. O café foi totalmente destruído, e muitas pessoas ficaram feridas. Estranhamente, isso não marcou o início de uma longa rivalidade. Os grupos de Florença e Milão na verdade se tornaram amigos.

7. O desbravador Thomas Moran



Os EUA eram um lugar ainda pouco dominado em 1871. Regiões inteiras eram completamente desconhecidas, de forma que Washington enviou equipes de homens para explorar territórios estranhos. Entre eles, estava o pintor Thomas Moran.
Artistas famosos não parecem o tipo de gente que vai dar uma de conquistador e sobrevivente em ambientes inóspitos, mas foi isso que Moran fez. Originalmente da Inglaterra, o pintor foi ao Parque Nacional de Yellowstone (então uma terra de mistérios cheia de crateras estranhas e jatos de vapor) levando apenas alguns suprimentos com ele.
Moran passou 40 dias neste vasto deserto, pintando tudo que via. Mesmo hoje, acampar em Yellowstone por 40 dias seria um feito muito significativo, em um mundo no qual armas poderiam facilmente afugentar um urso pardo e muitas outras tecnologias poderiam garantir comunicação e segurança. Moran não tinha nada disso. Suas pinturas se tornaram um ícone, a tal ponto em que ele passou a ser chamado de Thomas “Yellowstone” Moran.

6. Michelangelo, excrementos e pornografia



Possivelmente o maior artista que já viveu, Michelangelo foi um escultor tão impressionante que até mesmo seus bonecos de neve eram considerados obras-primas. Mas havia um outro lado desse mestre da Renascença: em seu tempo de inatividade, Michelangelo gostava de pornografia.
Michelangelo é conhecido por ter feito um dos desenhos mais bizarros da história da arte, apresentando um homem curvado exibindo seu ânus para o mundo. Ele também escreveu várias poesias sobre excrementos (urina e fezes), com frases brutas e retratos obscenos.
Vai entender!

5. O motim violento do balé



Não é sempre que as palavras “balé” e “motim” aparecem em uma única frase. Mas o público do início do século 20 era muito diferente das multidões que apareciam a dança hoje.
Quando o compositor Igor Stravinsky estreou A Sagração da Primavera em 29 de maio de 1913, o público estava tão chateado que literalmente começou uma briga. Embora hoje seja considerado um clássico, A Sagração da Primavera foi ousadamente experimental para a época. Antes mesmo da cortina subir, metade da plateia já vaiava só a música orquestral.
Quando a dança começou, as multidões francesas rapidamente iniciaram o motim. De acordo com presentes, incluindo Pablo Picasso e Marcel Proust, membros da audiência irritados atiraram legumes no palco e tentaram parar a apresentação. Duas facções rivais na plateia atacaram uma a outra, reduzindo a noite de abertura a uma pancadaria apocalíptica. Até o final da briga, 40 pessoas haviam sido violentamente expulsas do local.

4. Rimbaud, traficante de armas e escravos



Arthur Rimbaud foi para a poesia o que Caravaggio foi à pintura. Aos 17 anos, se tornou um sem-teto nas ruas de Paris até iniciar um tórrido caso de amor homossexual com o poeta eminente Paul Verlaine. Rimbaud encheu-o de drogas, roubou-o e usou seus trabalhos impressos como papel higiênico.

Mais tarde, aos 25, Rimbaud dirigiu-se para a África Oriental para se tornar um oportunista traficante de armas. Em 1885, comprou vários milhares de rifles da Europa e levou-os em camelos através da Etiópia para vendê-los no que era então a Abissínia. A viagem levou cerca de quatro meses e envolveu um trekking através de uma paisagem lunar de vulcões e sol escaldante.
Rimbaud nunca escreveu mais uma palavra sequer de poesia. Em vez disso, permaneceu na África, trabalhando primeiro como um mercenário e mais tarde como um comerciante de escravos.

3. Maxwell Bodenheim e um novo nível de boemia



Na primeira metade do século 20, Maxwell Bodenheim era considerado um dos maiores escritores da América. O fato de que precisamos explicar quem ele é hoje já indica que seu destino não foi dos melhores.
Em seus últimos anos, o ex-grande escritor levou a boemia a um outro nível, tornando-se um bêbado sem-teto. Na década de 1940, praticamente saiu da sociedade e passou a dormir com sua esposa em bancos de parque, ficando sóbrio apenas tempo suficiente para escrever seus poemas. Ele era conhecido por aparecer em festas literárias com um saco no qual colocava qualquer coisa que não estivesse amarrada.
Bodenheim também era um idiota com as mulheres. Ele seduziu e depois largou quatro beldades famosas, fazendo com que todas tentassem o suicídio. Apesar de ser um cafajeste, o artista não pode suportar ver sua esposa o trair. Em fevereiro de 1954, ele foi morto tentando impedir um lavador louça de dormir com sua esposa. O cara sacou uma pistola para afastar o boêmio, acabando com sua vida.

2. Aristas da Primeira Guerra Mundial



Muitos artistas do Reino Unido foram tão marcados pela Primeira Guerra Mundial que não quiseram deixar este momento passar sem registrá-lo. Vários, ao invés de visitar os locais de batalha como artistas oficiais, na verdade se alistaram para lutar, e acabaram trabalhando em algumas das piores condições imagináveis.
O pintor Eric Kennington, por exemplo, foi enviado para Laventie, na França. O primeiro inverno da guerra foi incrivelmente brutal. Em um ponto, ele passou quase quatro dias sem dormir depois de as temperaturas caírem para -20 graus Celsius e uma forte nevasca enterrar as trincheiras britânicas. Em janeiro de 1915, ele perdeu um dedo do pé devido à infecção. Dispensado do exército devido à sua condição médica, Kennington não desistiu e voltou para o front como um artista oficial da guerra.
Richard Nevinson foi outro que ofereceu-se para juntar-se à Cruz Vermelha. Lá, ele viu centenas e centenas de cadáveres mutilados e pessoas com feridas gravíssimas. Richard teve febre reumática e também acabou dispensado do exército. Como Kennington, imediatamente voltou para a guerra como artista oficial, arriscando sua vida para mostrar a carnificina na Europa sob a forma de quadros.
Em um sentido muito real, estes homens estavam preparados para morrer por sua arte.

1. Gesualdo, o sadomasoquista



Don Carlo Gesualdo foi um alaudista e compositor do final da Renascença. Aos 20 anos, ele se casou com sua prima Maria d’Avalos, de 24 anos, que era supostamente tão sedutora que dois homens tinham morrido de felicidade ao ter relações sexuais com ela.
Não muito tempo depois da união, Gesualdo a encontrou na cama com o duque de Andria, que estava usando suas roupas. Em um ataque de raiva, matou os dois, mutilou seus corpos e possivelmente assassinou seu filho, pensando que poderia pertencer ao Duque. A história não deixa claro se esse último acontecimento é fato ou boato. O que é verdade é que, como membro da aristocracia, Gesualdo foi isento de pena dos assassinatos.
Isso não o impediu de se torturar, no entanto. Depois de ter depressão, o artista começou a manter um grupo de homens jovens em seu castelo para o propósito expresso de bater nele em orgias sadomasoquistas.
Ele também se envolveu em um julgamento de bruxaria e acabou no lado errado da Inquisição Espanhola. Gesualdo evitou a morte nessa ocasião, mas acabou derrotado por seu próprio “hobby”: foi espancado até a morte por seus homens no que foi descrito como “uma espécie de fúria masoquista”, aos 47 anos. 

[Listverse]



hypescience.com
19
Abr17

As touradas em Portugal – Breve história de uma atividade polémica

António Garrochinho

CAPA-3

A realização de touradas nunca foi consensual na sociedade portuguesa e por quatro vezes estiveram proibidas no nosso país. A sua promoção ao longo dos últimos 300 anos foi inconstante havendo registo de vários períodos em que praticamente deixaram de existir os combates com touros em Portugal.
A promoção de touradas esteve sempre relacionada com a evolução da nossa sociedade e em particular no século XIX com as lutas entre liberais e absolutistas. Periodos como a implantação da República e a transição para a Democracia foram nefastos para as touradas que quase desapareceram em Portugal.
touradas portugal
Inicialmente as lutas com touros consistiam em exercícios militares para aguçar a ferocidade dos combatentes e aperfeiçoar a sua perícia. Mais tarde com o surgimento da pólvora, a cavalaria perdeu a sua importância nos campos de batalha e os combates com touros e outros animais ‘ferozes’ ganharam um carácter lúdico mas igualmente violento, originando um grande número de vítimas mortais. A prática desta atividade esteve sempre reservada às classes mais privilegiadas da sociedade.
Os combates sangrentos como diversão foram sempre contestados pela igreja católica. O Papa Pio V chegou a proibir a sua realização em 1567, acabando desde logo com a realização de touradas em Itália. Em Portugal e Espanha a decisão do Papa foi desrespeitada, a Bula Papal foi ignorada e o seu conteúdo escondido ou adulterado, mas a Bula chegou a ser publicada em Portugal e as touradas proibidas pelo Cardeal D. Henrique.
touradas portugal antitourada 2
As corridas de touros não são um exclusivo da Peninsula Ibérica. Elas ocorreram um pouco por toda a Europa medieval. A maioria dos países abandonou ou aboliu este tipo de espetáculos sangrentos por volta do século XVI por se tratarem de eventos cruéis e impróprios de nações civilizadas. Atualmente as touradas são proibidas em diversas nações europeias como a Dinamarca, Alemanha, Itália ou Inglaterra.
Em Portugal foram proibidas novamente em 1809 pelo Principe Regente D. João. A proibição das touradas foi cumprida com determinação pelo Intendente Geral da Polícia Lucas Seabra da Silva que se referiu a elas nestes termos: “Os combates de touros sempre foram considerados como um divertimento impróprio de humana Nação civilizada”.
Bullfight
Lutas com touros em Inglaterra (1620).
As corridas de touros mantiveram-se em Espanha sendo daí exportadas para Portugal onde foram alvo de várias restrições e abolidas por decreto em 1836. Por constituírem uma importante fonte de receita para a Casa Pia de Lisboa e para as Misericórdias, e por forte pressão destas duas entidades, as touradas foram novamente autorizadas mas apenas para fins benéficos. No entanto a determinação não foi respeitada e rapidamente se transformaram num evento comercial lucrativo para um pequeno grupo de empresários tauromáquicos, acompanhando e imitando a evolução que acontecia no país vizinho. Essa influência é evidenciada nos trajes, nas lides, no vocabulário e até na música que se ouve nas praças.
Foram várias as personalidades que ao longo da história contestaram a violência do espetáculo tauromáquico. Em Portugal a contestação foi intensa durante o século XIX e personificada em homens como Passos Manuel, Borges Carneiro, José Feliciano Castilho, António F. Castilho ou Silva Túlio.

Durante o Estado Novo, as touradas beneficiaram de grande impulso em Portugal

A evolução dos valores humanos e o surgimento de uma consciência social para o respeito pelos animais não-humanos colocou os combates com touros à margem da evolução civilizacional.
A sua prática esteve sempre relacionada com setores mais conservadores da sociedade portuguesa e espanhola. Foi durante os regimes absolutistas que as touradas foram propagandeadas na Península Ibérica, com destaque para os reinados de Fernando VII (Espanha) e D. Miguel que em Portugal anulou a Constituição e lançou as sementes para o florescimento do negócio das touradas com o início da criação de touros nas lezírias do Tejo e a construção da nova Praça de touros do Campo Santana em Lisboa. Em Espanha Fernando VII encerrou diversas Universidades e em 1830 fundou a “Universidade Tauromáquica” em Sevilha.
RibatejoA partir de 1919 as touradas foram outra vez proibidas em Portugal com a entrada em vigor do Decreto nº 5650 de 10 de Maio que punia toda a violência exercida sobre animais com pena correccional de 5 a 40 dias em caso de reincidência, mas a partir de 1923 as touradas voltavam a ser propagandeadas durante o Estado Novo, inclusive com touros de morte, e em filmes como “Gado Bravo” (1934), “Severa” (1939), “Sol e Touros” (1949), “Ribatejo” (1949), Sangue Toureiro (1958) … Foi também durante a ditadura que se ergueram grande parte das praças de touros hoje existentes em Portugal: Beja (1947), Póvoa do Varzim (1949), Moita (1950), Almeirim (1954), Montijo (1957), Cascais (1963 – demolida em 2007), Santarém (1964), Coruche (1966),…
Franco e Salazar no Campo Pequeno (Diário de Notícias, 24 de Outubro de 1949)
A “tourada portuguesa” é resultante de décadas de contestação e restrições que levaram ao modelo atual, suavizando a sua crueldade aos olhares do público. A “pega” dos forcados, por exemplo, surgiu já no século XX como a solução de recurso para substituir a “sorte de morte” no final da lide que simboliza o domínio do homem sobre o animal. A “pega” foi importada da “suerte de mancornar” que antigamente se realizava em terras espanholas.

 
A tendência natural das últimas décadas, nos países onde ainda subsistem as corridas de touros, tem sido claramente no sentido do aumento das restrições ao desenvolvimento desta atividade e a sua abolição, pela violência e risco associados, mas também e principalmente pelo sofrimento e maltrato a que são sujeitos os animais antes, durante e após o espetáculo. Portugal não foge à regra dos outros países onde a tradição se mantém, e as estatísticas indicam claramente que nos últimos anos o número de espetáculos tem vindo a diminuir em resultado de um menor apoio financeiro das autarquias, mas também pelo crescente desinteresse dos cidadãos portugueses pelas touradas.
Bibliografia:
  • Catálogos Gerais – Direcção de Serviços de Documentação e Informação da Assembleia da República.
  • Gonçalves, Odete. “Touradas e poder político na transição do Sec. XVIII”, Revista História. Março de 2004.
  • Duviols, Jean-Paul, et. al. “Des taureaux et des hommes”, . Paris: Presses Paris Sorbonne, 1999
  • Noronha, Eduardo de. “História das Toiradas”. Lisboa: Comp. Nac. Ed., 1900
  • Saumade, Frédéric. “Las tauromaquias europeas: la forma y la historia, un enfoque antropológico”. Sevilha: Secretariado de Publicaciones de la Universidad de Sevilla, 2006
  • Almeida, Jaime Duarte de. “História da Tauromaquia”. Lisboa: Artis, 1951
  • Ângelo, J. S. Faustino. “História breve da cultura tauromáquica em Portugal”. Alcobaça: Tipografia Alcobacense Limitada, 1983
  • Barreto, Mascarenhas. “Corrida: Breve história da tauromaquia em Portugal”. Lisboa: Ag. Port. Revistas,1970
  • Ximeno, P. José. “Ópusculo sobre los catorce casos reservados y otras tantas excomuniones sinodales”. México: Don Alexandro Valdês, 1816
  • Lisboa. Arquivo Municipal de Lisboa, Chancelaria Régia, Livro XIII de Consultas, Decretos e Avisos de D. José I
  • Carta pastoral de D. João Soares que manda publicar uma bula de Pio V onde se proíbe as corridas de touros. Biblioteca Nacional de Portugal, S.l. : s.n., depois de 1 de Novembro de 1567
  • “Obras del venerable maestro Juan de Ávila “Tomo nono. Madrid: Andrés Ortega, 1760
  • Buiza, Luis Toro.“Sevilla en la história del toreo”. Sevilha: Fundación de Estudios Taurinos, Universidad de Sevilla, 2002
  • Rey, Luis Lozano . “Protección de animales y plantas”. Heraldo Deportivo, no 563. Madrid, 1931
  • Andrade, Vitória Pais Freire de. “A Acção dissolvente das touradas”, Lisboa: Tip. de A Batalha, 1925
  • Machado, Fernão Boto. “Abolição das touradas: projecto de Lei”. Lisboa: Typ. Bayard, 1911
  • Revista Universal Lisbonense, redigido por António Feliciano de Castilho, Tomo II, anno de 1842-1843. Lisboa: Imprensa Nacional, 1843
  • Pelegrín, Santos López. “Filosofia de los toros”. Madrid: Boix, 1842
  • Garrett, Almeida. “Memória Histórica de J. Xavier Mousinho da Silveira”. Lisboa: Imp. da Epocha, 1849
  • Robert W. Malcolmson. “Popular Recreations in English Society 1700-1850”. Cambridge: Cambridge University Press, 1973
  • Strutt, Joseph. “Sports and pastimes of the people of england”, Londres: T. Bensley, 1810
  • “Archivo pittoresco”, Volume 1. Lisboa: Tip. de Castro Irmão., 1858
  • Martínez, Antonio Luis López. “Ganaderías de lidia y ganaderos: historia y economía de los toros de lidia”. Sevilha: Universidad de Sevilla, 2002
  •  Ribeiro, José Silvestre. “Resoluções do Conselho de Estado na secção de contencioso administrativo”. Tomo XIV. Lisboa: Imprensa Nacional, 1868
  •  Intendência Geral da Polícia – Avisos e Portarias. Anno 1820/Agosto. Mç 38
  • Stallaert, Christiane. “Etnogénesis y etnicidad en España: Una aproximación histórico-antropológica al casticismo”. Barcelona: Proyecto A Ediciones, 1998

“Lutar com animaes bravos, maltrata-los e feri-los com traças ardilosas ou com destemida temeridade, mas por gosto e sem necessidade, é cousa repugnante e deplorável e que a moral não autoriza, e que muito doi a corações generosos. Semelhantes espectáculos não amenizam os instintos, nem levantam o nível moral de um povo, bem ao revez d’isto só servem para obdurar os ânimos, tolhendo os progressos da sua moralidade e empanando com uma nódoa os brilhos da actual civilização.”

Lisboa: Câmara dos Senhores Deputados, 5 de julho de 1869.
Joaquim Alves Matheus;
José de Aguilar;
Antonio Pereira da Silva;
Augusto da Cunha Eça e Costa;
João Carlos de Assis Pereira de Mello;
Fernando Augusto de Andrade Pimentel e Mello;
Henrique Barros Gomes;
António Joaquim da Veiga Barreira;
José Dionysio de Mello e Faro;
Barão da Ribeira de Pena;
Henrique de Macedo Pereira Continha;
Jose Augusto Correia de Barros;
Francisco Pinto Beata;
Luiz Vicente d’Affonseca;
Henrique Cabral de Noronha e Menezes;
Filippe José Vieira;
José Luiz Vieira de Sá Júnior;
Joaquim Nogueira Soares Vieira.
 basta.pt
19
Abr17

EXPLORAÇÃO DE MULHERES NA INDÚSTRIA DA MODA: UM MAL HISTÓRICO

António Garrochinho

Por Rafaella Britto


Ao longo da história humana, a escravidão assumiu diferentes formas. Mesmo mais de um século após a assinatura da Lei Áurea, em 1888, ela ainda existe e está por toda parte. E desde os primórdios das civilizações, a escravidão é sofrida cotidianamente pela mulher.
E o que tem a moda a ver com isso? Absolutamente tudo. Em sua obra “O Segundo Sexo” (1949), Simone de Beauvoir descreve como as indústrias da moda e da beleza exercem impacto, especialmente, sobre o corpo feminino: “Os costumes, as modas são muitas vezes utilizados para separar o corpo feminino da transcendência: a chinesa de pés enfaixados mal pode andar; as garras vermelhas da estrela de Hollywood privam-na de suas mãos; os saltos altos, os coletes, as anquinhas, as crinolinas destinavam-se menos a acentuar a linha arqueada do corpo feminino do que a aumentar-lhe a impotência. Amolecido pela gordura, ou ao contrário tão diáfano que qualquer esforço lhe é proibido, paralisado por vestidos incômodos e pelos ritos da boa educação, é então que esse corpo se apresenta ao homem como sua coisa.” (1)

Mulheres num provador de roupas - Londres, 1860 (Foto: London Stereoscopic Company/Getty Images)

A indústria da moda escraviza a mulher que consome e, mais fortemente, a mulher que produz: atualmente, 97% das roupas que vestimos são produzidas no estrangeiro, em países marcados pela pobreza e pelas frágeis leis trabalhistas. Dos 40 milhões de empregados na indústria da moda em todo o mundo, 85% são mulheres. (2)
Desde o fim da última década, as denúncias de trabalho escravo envolvendo redes de produção globais têm suscitado debates acerca da responsabilidade corporativa e dos impactos sócio-ambientais da moda produzida em série para consumo rápido e descartável (fast-fashion).

(Foto: Reprodução/Commons/Wikimedia)

Recentemente, o desabamento do edifício Rana Plaza, em Bangladesh, causou comoção internacional: localizado em Daca, capital de Bangladesh, o Rana Plaza alojava fábricas independentes, com cerca de 5.000 trabalhadores – em sua maioria, mulheres - que produziam para marcas como Zara, H&M, Primark, Benneton, Walmart, Carrefour, The Children’s Place, entre outras. Os funcionários viviam em condições precárias: horas de trabalho contínuo e baixos salários. O edifício desabou em 24 de abril de 2013. As buscas foram concluídas em 13 de maio e o balanço final totalizou 1127 mortos. O incidente já é apontado como uma das maiores tragédias deste século.

VÍDEO

Um breve passeio pela história mostra que ainda temos muito a evoluir: com o advento da Revolução Industrial e a consolidação do capitalismo, a mulher assumiu importância econômica, pois deixou as atividades do lar para participar ativamente da produção. Entretanto, foi um processo lento e doloroso para que ela conquistasse seus direitos trabalhistas.
O feminismo marxista de autoras como Alexandra Kollontai preconizava a liberdade das mulheres ligada a do proletariado. August Bebel, um dos fundadores do Partido Social Democrata da Alemanha, escreveu: “A mulher e o trabalhador têm ambos em comum o fato de serem oprimidos”. 


Uma imigrante italiana, trabalhadora de uma fábrica têxtil, em Nova York - ca. 1912 (Foto: Reprodução)

Na França, em princípios do século 19, as operárias têxteis trabalhavam sem descanso e ganhavam bem menos que o suficiente para suprir suas necessidades e de suas famílias. O ambiente das fábricas era degradante, fazendo com que muitas operárias contraíssem doenças como a tuberculose. Algumas, impelidas pela fome, submetiam-se aos constantes abusos de seus empregadores. 


Operárias da fábrica têxtil Triangle Shirtwaist - Nova York, ca, 1910 (Foto: Reprodução)

Devido a pouca instrução, muitas delas nem sabiam que podiam unir-se em sindicatos para reclamar seus direitos, como ocorre ainda hoje.  Em “O Segundo Sexo”, Beauvoir aponta os seguintes dados: “Em 1905 contam-se 69.405 mulheres num total de 781.392 sindicalizados; em 1908 contam-se 88.906 mulheres num total de 957.120 sindicalizados; em 1912 contam-se 92.336 mulheres num total de 1.064.413 sindicalizados; em 1920 contam-se 239.016 operárias e empregadas sindicalizadas para 1.580.967 trabalhadores e, entre as trabalhadoras agrícolas, somente 36.193 sindicalizadas entre 1.083.957, ou seja, ao todo, 292.000 mulheres sindicalizadas num conjunto de 3.076.585 trabalhadores inscritos nos sindicatos. É uma tradição de resignação e de submissão, uma falta de solidariedade e de consciência coletiva que as deixam assim desarmadas diante das novas possibilidades que se abrem para elas.” (3)


Operárias da fábrica têxtil Triangle Shirtwaist, em Nova York, ca. 1910 (Foto: Reprodução)

Em 1909, a greve das trabalhadoras da fábrica Triangle Shirtwaist, em Nova York, obteve vasta repercussão midiática: a greve, liderada pelas mulheres do sindicato International Ladies’ Garment Workers’ Union, propunha um acordo coletivo por melhores condições de trabalho. O International Ladies’ Garment Workers’ Union foi o primeiro sindicato americano a ter a maioria de filiados do sexo feminino, e existiu até o ano de 1995. 


Operárias da Triangle Shirtwaist na histórica greve de 1909 (Foto: Reprodução)

A Triangle Shirtwaist possuía este nome por produzir as famosas shirtwaists (‘camisas acinturadas’), a peça da moda entre as mulheres do fim do período vitoriano até a era eduardiana. Entretanto, a produção dessas peças de luxo custava a vida de centenas de jovens moças imigrantes – grande parte proveniente da Itália -, que trabalhavam 14 horas por dia em troca de um parco salário que variava entre 6 e 10 dólares semanais.  


Operárias da Triangle Shirtwaist (em sua maioria, imigrantes italianas) em 1909 (Foto: Reprodução)

As condições de trabalho eram as piores imagináveis: as operárias viviam amontoadas entre si, num ambiente que abrigava têxteis inflamáveis e era iluminado a gás. No dia 25 de março de 1911, irrompeu o incêndio que causou a morte de 147 operários, sendo 124 mulheres e 23 homens. O evento tornou-se conhecido como a origem do Dia Internacional da Mulher.


Um policial diante dos corpos das vítimas do incêndio na fábrica Triangle Shirtwaist, em Nova York, 1911 (Foto: Reprodução)

Entretanto, a criação do Dia da Mulher não foi impulsionada por este único evento, mas por uma série de acontecimentos que se iniciaram na segunda metade do século 19, quando as mulheres começaram a batalhar por melhores condições de protagonismo na sociedade e pelo direito ao voto. Em 1910, um ano antes do incêndio na Triangle Shirtwaist, a militante socialista alemã Clara Zetkin já havia proposto na II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, em Copenhague, “uma jornada especial, uma comemoração anual de mulheres”.  


Operárias da Triangle Shirtwaist na histórica greve de 1909 (Foto: Reprodução)

As atuais demandas pela ética corporativa na indústria e o consumo consciente provam que moda e política não são indissociáveis. O feminismo não deve calar-se diante da escravização perpetrada contra mais de 30 milhões de mulheres, responsáveis por dar sustentação a uma das principais indústrias do setor econômico mundial. Aos poucos, desconstrói-se a falácia (ou a ilusão) da ‘democratização’ da moda. Não é possível falar em democracia se a moda não assume seu caráter libertário. E esta liberdade deve ser para todos.

Referências:

(1) (3) BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo - Vol. 1: Fatos e Mitos. Tradução de Sérgio Milliet. Difusão Européia do Livro – São Paulo, 1970;

imperioretro.blogspot.pt
19
Abr17

TRUMP NÃO TEM O "JEITO", NEM O "JOGO DE CINTURA" DA "KILLARY"...

António Garrochinho

O núcleo duro da aristocracia financeira mundial pôs Trump a fazer o mesmo "jogo de cintura" da Hillary Clinton em relação ao caos e ao terrorismo, como se esse jogo tivesse que ser feito por um "quadrado", quando ele era feito por um "redondo", que nem "pescadinha de rabo na boca"... esquecendo-se que ele:

1- É um iniciado nesse jogo e por isso, "tosco" a ponto de não garantir o ponto de credibilidade mínima que conseguiam com a Clinton;

2- Está longe de dominar essa capacidade de manobra, até por que não tem os meios mediáticos totalmente ao seu dispôr, como ela detinha;

3- Está numa posição de "mentiroso compulsivo" ou de "louco", pois entra em contradição com a lógica de sua campanha, coisa que nunca a Clinton iria "conseguir", tão "embalada" que ela estava no "métier"...

Entrevista na íntegra do presidente sírio Bashar al-Assad à AFP

PERGUNTA: Senhor presidente, você deu a ordem de atacar Khan Sheikhun com armas químicas?

RESPOSTA: Na verdade, ninguém investigou até agora o que aconteceu naquele dia em Khan Sheikhun. Como você sabe, Khan Sheikhun está sob o controle da Frente al-Nusra, que é um braço da Al-Qaeda. As únicas informações que o mundo tem até agora são as publicadas pelo braço da Al-Qaeda. Ninguém tem outras informações. Não sabemos se todas as fotos ou imagens de vídeo que vimos são verdadeiras ou se estão manipuladas. É por isso que pedimos a realização de uma investigação em Khan Sheikhun.
Além disso, fontes da Al-Qaeda disseram que o ataque ocorreu entre as 06h00 e as 06h30 da manhã, enquanto o ataque sírio na mesma região foi por volta do meio-dia, entre as 11H30 e as 12H00. Falam, portanto, de duas histórias ou eventos diferentes. Não foi emitida nenhuma ordem para lançar um ataque. E, além disso, não temos armas químicas porque renunciamos ao nosso arsenal há vários anos. E mesmo que tivéssemos essas armas, nunca as teríamos usado. Ao longo de nossa história, nunca utilizamos o nosso arsenal químico.

P: Então o que aconteceu naquele dia?

R: Como acabo de dizer, a única fonte destas informações é a Al-Qaeda, que não podemos levar a sério. No entanto, nossa impressão é de que o Ocidente, principalmente os Estados Unidos, é cúmplice dos terroristas e armou toda essa história para que servisse de pretexto ao ataque. O ataque não ocorreu por causa do que aconteceu em Khan Sheikhun. Estamos diante de um único e mesmo evento: a primeira etapa era o espetáculo ao qual assistimos nas redes sociais e nas redes de televisão, e a campanha midiática desencadeada. A segunda etapa era a agressão militar. Foi o que aconteceu, na nossa opinião. Porque foram apenas alguns dias, ou inclusive 48 horas, entre a campanha midiática e o ataque americano, sem a menor investigação, sem a menor prova tangível do que seja. Nada além de acusações e campanhas midiáticas, e depois o ataque.

P: Então, quem seria, na sua opinião, o responsável por esse suposto ataque químico?

R: As acusações propriamente ditas vêm da Al-Qaeda. Não temos, portanto, a necessidade de realizar uma investigação para determinar a origem. Eles mesmos declararam: a região está sob seu controle e não há mais ninguém. Em relação ao ataque, acabo de dizer, não está claro se aconteceu ou não. Porque como é possível verificar um vídeo? Há tantos vídeos falsos neste momento, e há provas que eram falsas, como as dos Capacetes Brancos, por exemplo. São membros da Al-Qaeda, membros da Frente Al-Nusra. Fizeram a barba, colocaram capacetes brancos, e apareceram como os heróis humanitários, o que não é verdade. Estas mesmas pessoas matavam soldados sírios e a prova está na internet de todas as formas. Ocorre o mesmo com esse ataque químico. Não sabemos se essas crianças morreram em Khan Sheikhun. Nem mesmo sabemos se estão realmente mortas. E se houve um ataque, quem o lançou? E com que material? Nenhuma informação, nada de nada, e ninguém investigou.

P: Então você pensa que é uma invenção?

R: Evidentemente, foi 100% fabricado. Não temos arsenal químico, não vamos utilizá-lo. Existem vários indícios, mesmo na ausência de provas, porque ninguém tem informações precisas ou evidências tangíveis. Por exemplo, menos de duas semanas ou 10 dias antes do ataque, os terroristas avançavam em várias frentes, incluindo na periferia de Damasco e em Hama, que está perto de Khan Sheikhun. Suponha que temos esse arsenal, suponha que temos vontade de usá-lo: por que não recorremos a ele no momento em que nossas tropas retrocediam e os terroristas ganhavam terreno? O momento deste suposto ataque coincide com o período em que o exército sírio avançava rapidamente e que assistíamos à derrota dos terroristas. Por que então usar essas armas, se as possuímos realmente e temos a vontade de usá-las? Falando logicamente, por que utilizá-las neste momento preciso e não no momento em que atravessávamos uma situação difícil?
Em segundo lugar, e supondo mais uma vez que temos estas armas e a vontade de utilizá-las, por que usá-las contra os civis, e não contra os terroristas que combatemos?
Em terceiro, o exército sírio não está presente nesta região. Não temos batalhas e não temos nenhum objetivo em Khan Sheikhun, que não é uma zona estratégica. Falo de um ponto de vista militar: por que atacá-la? Por qual motivo? Evidentemente, trata-se essencialmente para nós de uma questão de ética, ou seja, não teríamos utilizado a arma química mesmo que a tivéssemos. Não temos nenhuma vontade de utilizá-la, porque seria intolerável e imoral e, se fosse o caso, perderíamos nosso apoio popular. Todos os indícios vão, portanto, contra toda essa história. É possível dizer que é uma obra que fabricaram e que não se sustenta. A história não é convincente.

P: Com o ataque aéreo americano, Trump parece ter mudado consideravelmente de posição em relação a você e à Síria. Você tem a sensação de ter perdido quem classificou anteriormente de possível amigo?

R: Eu disse “se”, falava em condicional: se forem sérios combatendo os terroristas, nos tornaremos parceiros. Também disse que isso não envolvia apenas os Estados Unidos, porque somos parceiros de todos os que querem combater os terroristas. Este é, para nós, um princípio fundamental. Mas ultimamente ficou demonstrado, como eu já disse antes, que eles são cúmplices dos terroristas, quero dizer os Estados Unidos e o Ocidente. Não são sérios no momento de combater os terroristas. Ainda ontem, alguns de seus responsáveis defendiam o (grupo) Estado Islâmico. Diziam que o Estado Islâmico não possuía armas químicas. Estão defendendo o Estado Islâmico contra o governo e o exército sírio. De fato, não se pode falar de associação entre nós que lutamos contra o terrorismo e combatemos os terroristas, e eles, que os apoiam abertamente.

P: Você pode dizer que o ataque americano o fez mudar de opinião a respeito de Trump?

R: De qualquer forma, era muito prudente ao expressar qualquer opinião a seu respeito, antes ou depois de se tornar presidente. Sempre disse: “Vamos esperar para ver o que ele vai fazer. Não comentaremos as declarações”. Efetivamente, este ataque é a primeira prova de que não se trata do presidente dos Estados Unidos, mas do sistema, do próprio regime nos Estados Unidos. É o mesmo. Não muda. O presidente é um dos atores no cenário americano. Se quiser ser um líder, e qualquer presidente ali quer ser um líder, não poderá. Alguns dizem que Trump queria ser um líder. Qualquer presidente ali que queira ser um líder depois tem que engolir as palavras, deixar de lado seu orgulho, se o tiver, e dar uma guinada de 180 graus. Caso contrário, pagará na política.

P: Mas você acredita que haverá um segundo ataque?

R: Enquanto os Estados Unidos forem governados por este complexo militar-industrial, empresas financeiras e bancárias, o que se pode chamar de o regime profundo que atua no interesse destes grupos, evidentemente pode se repetir em qualquer lugar e a qualquer momento, e não apenas na Síria.

P: E seu exército e os russos agirão em represália se isso acontecer?

R: Se quer falar de represálias, vamos falar de mísseis que percorrem centenas de quilômetros, coisas que não podemos alcançar. Mas a verdadeira guerra na Síria não depende desses mísseis, mas do apoio dado aos terroristas. É a parte mais perigosa dessa guerra. Nossa resposta será a mesma que no primeiro dia: esmagar os terroristas em toda a Síria. Quando nos desfizermos deles, nada nos preocupará nunca mais. Essa é nossa resposta, e não é uma reação a um evento concreto.

P: Você diz então que a resposta por parte do exército sírio ou dos russos será difícil porque os barcos estão muito afastados?

R: É totalmente certo para nós que somos um pequeno país, todos sabem. Não podemos alcançar esses navios. Ou seja, podem lançar mísseis de outro continente, todo mundo sabe. São uma grande potência, nós não somos. Quanto aos russos, isso é outro assunto.

P: Você vai aceitar os resultados de uma investigação dirigida pela Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ)?

R: Desde 2013, quando os terroristas lançaram seus primeiros ataques contra o exército sírio utilizando mísseis químicos, exigimos uma investigação. Fomos nós que pedimos que fosse investigado. Desta vez falamos ontem com os russos, e durante os dias que se seguiram ao ataque, de que vamos trabalhar juntos em prol de uma investigação internacional. Mas essa investigação precisa ser imparcial. Podemos permitir qualquer investigação se, e somente se, for imparcial, e garantindo que países imparciais participem, para ficarmos certos de que não seja utilizada com fins políticos.

P: E se o governo for acusado, você renunciará ao poder?

R: Se acusarem ou se demonstrarem? Há uma grande diferença. Porque já acusam o governo. E se você quer dizer “eles” Ocidente, não, porque o Ocidente não nos interessa. Se você fala da OPAQ, se conseguir demonstrar que houve um ataque será preciso investigar para saber quem deu a ordem de lançar este ataque. Mas, no que diz respeito ao exército sírio, há uma coisa clara: não possuímos essas armas e não podemos, ainda que quiséssemos, não podemos e não temos os meios necessários para lançar um ataque como esse, nem temos a intenção de fazê-lo.

P: O que você quer dizer? Que não possui armas químicas?

R: Não. Há vários anos, em 2013, renunciamos a todo o nosso arsenal. A OPAQ declarou a Síria livre de material químico.

P: Faço a pergunta porque os americanos disseram que havia armas químicas na base aérea. Você nega?

R: Atacaram a base e destruíram os depósitos que contêm diferentes materiais, mas não havia gás sarin. E então o que? Se dizem que lançamos nosso ataque com sarin a partir dessa mesma base aérea, o que aconteceu com o sarin quando atacaram os depósitos? Alguém ouviu falar do sarin? Nosso chefe do Estado-Maior chegou à base apenas algumas horas depois do ataque. Como pode ter chegado se havia sarin? Como o número de mártires foi seis, quando havia centenas de soldados e de oficiais no local? Se havia sarin na base, como é possível que os outros não tenham morrido? Nas mesmas imagens de vídeo manipuladas sobre Khan Sheikhun, quando os socorristas tentavam ajudar as vítimas ou as pessoas supostamente afetadas, não usavam máscaras ou luvas de proteção. E então? Onde está o gás sarin? Teriam que ter sido afetados diretamente. Isso tudo são apenas acusações. Quero dizer que esse ataque americano e essas acusações constituem uma prova adicional sobre a invenção e o fato de que não havia sarin em lugar nenhum.

P: Se você diz que não deu a ordem, é possível que elementos desordeiros tenham lançado esse ataque químico?

R: Ainda que houvesse um elemento descontrolado, o exército não possui material químico. Além disso, um elemento desordeiro não pode enviar um avião por iniciativa própria, mesmo que queira. É um avião, e não um pequeno veículo, ou uma metralhadora. Seria possível se falássemos de uma pistola que alguém manipula de acordo com sua própria vontade para violar a lei, coisa que pode acontecer em qualquer lugar do mundo, mas é impossível quando se trata de um avião. E, em terceiro lugar, o exército sírio é um exército regular, e não milícias. Está estruturado e hierarquizado, com mecanismos muito claros para dar ordens. Portanto, nunca foi o caso, nos seis primeiros anos de guerra na Síria, que um elemento rebelde tentasse agir contra a vontade de seus superiores.

P: Os russos o advertiram antes do ataque americano? Estavam presentes na base aérea?

R: Não, não nos advertiram porque não tiveram tempo. Os americanos os advertiram apenas minutos antes do ataque, ou, como dizem alguns, “depois do ataque”. Os mísseis demoram um tempo para chegar à base. Mas, na realidade, tínhamos alguns indícios, e tomamos algumas medidas.

P: Você confirma que 20% de sua força aérea ficou destruída após o ataque, como dizem os americanos?

R: Não conheço o marco referencial destes 20%. O que é para eles 100%? Corresponde ao número de aeronaves? Ou à qualidade? Esta taxa se refere às aeronaves operacionais ou às armazenadas? Não sei o que querem dizer. Não, na realidade, como os russos declararam, algumas aeronaves velhas ficaram destruídas, de qualquer forma algumas delas não estavam em operação. É a verdade, a prova é que, desde esse ataque, não paramos de atacar os terroristas em toda a Síria. Não temos a impressão de ter sido afetados por este ataque.

P: Seu governo declarou no início que haviam atacado um depósito de armas químicas. É verdade??

R: É uma possibilidade entre outras, porque quando você ataca um alvo dos terroristas, ignora o que existe ali. Sabe que é um alvo, pode ser um depósito, um acampamento ou uma sede, você não sabe. Mas sabe que os terroristas o utilizam, então ataca, como qualquer outro alvo. É o que fazemos diariamente, e às vezes durante horas, desde o início da guerra. Mas não tem como saber o que há dentro. Era uma possibilidade, entre outras, que os bombardeios aéreos tivessem apontado para um depósito de armas químicas. Mas, mais uma vez, isso não corresponde ao momento do anúncio, não apenas porque os terroristas o anunciaram sozinhos pela manhã, mas também porque seus órgãos de informação e suas páginas do Twitter e a internet anunciaram o ataque horas antes do suposto ataque, ou seja, às 04h00 da madrugada. Às 04h00 anunciaram que haveria um ataque químico, e que seria preciso se preparar. Como souberam?

P: Não pensa que Khan Sheikhun representa um revés para você? Pela primeira vez em seis anos, os Estados Unidos atacam seu exército. Ontem, após uma breve lua de mel, Tillerson disse que o reinado da família Assad em breve chegará ao fim. Não acredita que Khan Sheikhun constitua um grande revés para você?

R: De forma alguma existe na Síria um reinado para a família Assad. Está sonhando. Ou, digamos, alucinando. Não perdemos nosso tempo com sua declaração. De fato, os Estados Unidos estiveram nos últimos seis anos profundamente envolvidos no apoio aos terroristas por toda a Síria, incluindo o Estado Islâmico e a Al-Nusra, assim como todas as facções que compartilham a mesma mentalidade na Síria. É algo claro e provado na Síria. Mas se você quiser falar de ataques diretos, há apenas alguns meses ocorreu um ataque mais grave que este último, e isso pouco antes de Obama abandonar suas funções. Estou pensando no que ocorreu em Deir Ezzor, no leste da Síria, quando atacaram uma montanha de uma grande importância estratégica. Atacaram uma base do exército regular sírio. Se o exército sírio não tivesse sido na época suficientemente forte para repelir o ataque do Estado Islâmico, a cidade de Deir Ezzor teria caído, e Deir Ezzor estaria conectada com Mossul, no Iraque. Isso teria constituído uma vitória muito estratégica para o Estado Islâmico. O governo americano estava diretamente envolvido. Mas por que recorreram desta vez ao ataque direto? Porque, como acabo de dizer, os terroristas nessa região estavam em plena derrota. Os Estados Unidos não tinham, então, nenhuma outra opção além de apoiar seus agentes, os terroristas, atacando diretamente o exército sírio. Entregaram todo tipo de armas, mas isso não funcionou.

P: Não acredita que isso seja um revés para você?

R: Não. Isso forma parte do mesmo contexto que dura seis anos, e que tomou múltiplas formas, enquanto a política americana e ocidental a respeito da Síria não mudou nada. Deixemos de lado as declarações, algumas são feitas com um tom elevado, outras são menos fortes, mas a política continua sendo a mesma.

P: Você enviou a maior parte dos rebeldes a Idlib. Pensa em atacá-los da próxima vez?

R: Atacaremos os grupos armados em qualquer parte da Síria, em Idlib, ou em qualquer outro lugar. Quanto ao momento ou à prioridade, é uma questão militar que é discutida em nível militar.

P: Você disse no passado que Raqa era uma prioridade para seu governo. No entanto, as forças que avançam à cidade se constituem, majoritariamente, de curdos apoiados pelos Estados Unidos. Você não teme que seja deixado à margem na libertação de Raqa?

R: Não, já que apoiamos qualquer um que queira libertar qualquer cidade dos terroristas. Isso não quer dizer, no entanto, libertá-la dos terroristas para que seja ocupada pelas forças americanas, por exemplo, ou por qualquer outro agente ou outro terrorista. Então, não está claro quem libertará Raqa: forças sírias que a entregarão depois ao exército sírio? Será feito em colaboração com o exército sírio? Ainda não está claro. Foi isso que ouvimos há um ano, aproximadamente, ou um pouco menos, mas não ocorreu nada em terra. Tudo continua sendo virtual, já que não há nada tangível em terra.

P: Estados Unidos e Rússia são os padrinhos do processo de Genebra. Diante da tensão existente entre os dois países, você acha que esse processo continuará?

R: Existe uma grande diferença entre o fato de que o processo esteja ativo, o que pode ocorrer a todo momento, e o fato de que seja eficaz. Até agora, o processo não foi eficaz. A razão é que os Estados Unidos não são sérios para chegar a uma solução política. Querem utilizar o processo político como um guarda-chuva para os terroristas, ou pretendem obter mediante essa tribuna o que não puderam fazer no campo de batalha. Razão pela qual o processo não foi eficaz. Agora nos encontramos na mesma situação, e não consideramos que essa administração seja séria neste plano, já que apoia os próprios terroristas. Então podemos dizer: sim, podemos reativar o processo, mas não podemos dizer que esperamos que ele seja eficaz ou frutífero.

P: Após seis anos, você não está cansado?

R: Para dizer a verdade, a única coisa que pode pressionar uma pessoa não é a conjuntura política, nem a postura militar, mas a situação humanitária na Síria, o derramamento diário de sangue, a resistência, o sofrimento que se sente em cada lar da Síria. É a única coisa penosa e cansativa, se podemos falar de cansaço. Mas se você quiser falar da guerra, da política, das relações com o Ocidente, não, não estou cansado, porque defendemos nosso país e nunca nos cansaremos de defendê-lo.

P: O que o impede de dormir?

R: Mais uma vez, o sofrimento do povo sírio que constato com o contato humano que mantenho com cada família síria, direta ou indiretamente. É a única coisa que pode me impedir de dormir de vez em quando. Mas não as declarações, nem as ameaças ocidentais de apoiar os terroristas.

P: Hoje há pessoas de Fua e de Kafraya que serão levadas a Damasco e Aleppo. Não teme que isso possa representar um deslocamento da população e que a Síria do pós-guerra não seja como a que existia antes da guerra?

R: O deslocamento feito neste contexto é obrigatório. Não foi escolhido por nós, e desejamos que todos possam continuar em seus povoados e em suas cidades. Mas estas pessoas, como muitos outros civis nas diferentes regiões, estavam cercadas e sitiadas pelos terroristas. Eram abatidas diariamente. Então tinham que ir embora. Evidentemente, voltarão as suas casas após a libertação. Foi o que aconteceu em várias outras regiões, onde as pessoas retornaram para as suas casas. É uma situação provisória. Falando das mudanças demográficas, elas não são do interesse da sociedade síria quando são permanentes. Como é temporário, não nos preocupa.








19
Abr17

AS VACINAS

António Garrochinho

A RESPONSABILIDADE DAS VACINAS, DE VACINAR, PODE SER DE CADA UM, E A RESPONSABILIDADE DO CONTÁGIO DO ALASTRAMENTO DE DOENÇAS DE QUEM É ?

SE HÁ PROBLEMAS E ACREDITO QUE OS EXISTA COM CERTAS VACINAS NÃO PODEMOS VIVER NO MUNDO ONDE SE LUTA POR ERRADICAR DOENÇAS E HAJA QUEM DERESPEITE TODOS OS TIPOS DE PROTECÇÃO.

ESSAS PESSOAS NÃO EXISTEM SÓZINHAS NO PLANETA TERRA E NÃO PODEM PÔR EM RISCO A SAÚDE PÚBLICA.

HÁ NEGÓCIOS COM A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA, HÁ FALHAS NOS MEDICAMENTOS E ISSO TEM QUE SER DENUNCIADO E SOLUCIONADO MAS NÃO ACATAR DETERMINADOS PROCEDIMENTOS E FACTOS DA CIÊNCIA NÃO NOS LEVA A LADO ALGUM.

António Garrochinho
19
Abr17

13 funcionários da Autoridade Tributária acusados de corrupção

António Garrochinho


18/04/2017
Segundo adianta a Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa (PGDL), entre os arguidos estão ainda técnicos oficiais de contas, contabilistas, advogados, gestores de empresas, empresários e uma pessoa coletiva, tendo o MP pedido uma indemnização civil em representação do Estado Português no valor de 57.465 euros.

De acordo com a acusação, ficou indiciado que, entre o segundo semestre de 2011 e 17 abril de 2016, os arguidos funcionários da AT, a troco de dinheiro e de bens patrimoniais e não patrimoniais, praticarem atos que beneficiaram particulares junto da administração fiscal.
Em causa está o fornecimento de informação fiscal, bancária ou patrimonial de terceiro, consultoria e aconselhamento fiscal, eliminação de dívidas, cessações de atividade de contribuintes em sede de IVA e IRC com efeitos retroativos (com subsequente extinção de processos de execução fiscal e de contraordenação) e emissão de certidões de não dívida de sociedades que não correspondiam à realidade.

A acusação indica ainda que os funcionários da AT agora acusados introduziram no sistema informático da Autoridade Tributária dados forjados que geraram dados fiscais que não correspondiam à realidade, em benefício dos seus titulares, repartindo, depois, entre si as contrapartidas recebida dos "clientes" consoante o grau de intervenção do funcionário.
"Para tal, os funcionários da AT acederam a dados pessoais de contribuintes contidos em sistema informático de uso exclusivo da AT e cobertos por segredos, violando as responsabilidades e deveres funcionais a que se encontravam vinculados pelo exercício de funções públicas, sempre visando obter para si e para terceiros benefício económico indevido à custa da defraudação da Fazenda Nacional", sustenta a acusação do MP.

Os 45 arguidos encontram-se sujeitos às medidas de coação de termo de identidade e residência (TIR) e proibição de contactos, estando um deles em prisão domiciliária com pulseira eletrónica.

O MP requereu a aplicação da pena acessória de proibição do exercício de função aos arguidos funcionários da AT e que fossem declaradas perdidas a favor do Estado as vantagens auferidas pelos mesmos pela prática dos crimes imputados.

O inquérito foi dirigido pela 9ª secção do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa, com a coadjuvação da Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC) da Polícia Judiciária.


www.tsf.pt

19
Abr17

Morreu a jovem internada com sarampo

António Garrochinho


O sarampo já fez uma vítima. A jovem de 17 anos que estava internada em Lisboa, no Hospital Dona Estefânia, morreu durante a madrugada desta quarta-feira, informou o Centro Hospitalar de Lisboa Central. A morte foi provocada por uma pneumonia bilateral, consequência do sarampo.
A rapariga estava internada nos cuidados intensivos pediátricos do Hospital Dona Estefânia, tendo sido contagiada com sarampo ainda no Hospital de Cascais, onde foi atendida por outros problemas de saúde.
Foi em Cascais que teve contacto com um bebé de 13 meses que tinha sarampo e foi assim que apanhou a doença. A jovem não estava vacinada.
Para além do caso da jovem que morreu, há outros 20 casos confirmados de sarampo em Portugal.
Há mais de duas décadas que não havia sarampo em Portugal. Os últimos casos de que há registo são da segunda metade os anos 80. A doença tinha sido considerada erradicada em setembro do ano passado.

www.tsf.pt
19
Abr17

19 de Abril de 1506: Início do massacre dos cristãos-novos de Lisboa, relatado pelo humanista Damião de Góis, na Crónica de D. Manuel I.

António Garrochinho


Desde os alvores da nacionalidade, sempre existiram minorias étnicas e religiosas em Portugal. Judeus e mouros e, mais tarde, ciganos, constituem os contingentes mais expressivos. Os primeiros antecedem provavelmente as invasões dos segundos, tendo gozado muitas vezes de proteção e favorecimento régios, mercê das suas fortunas e atividades mercantis, e até da sua preponderância cultural. Inseridos num Portugal agropecuário e piscatório,dedicar-se-ão aos ofícios ou a actividades liberais (ciência, medicina, farmácia...) e gradualmente ao comércio e à finança, onde não conheciam grande concorrência.Ao longo da Idade Média, habitaram preferencialmente - de acordo com as suas ocupações profissionais - nas maiores aglomerações urbanas do País, em bairros próprios(judiarias; mourarias no caso dos árabes ou mouros, menos numerosos), praticando o seu culto, falando o seu idioma e mantendo as suas tradições ancestrais. Diplomaticamente, mantinham fidelidade à Coroa, a ela se subordinando. À parte alguns incidentes, principalmente motivados por questões religiosas, a sua vida no Reino não correu nunca grandes riscos de ser posta em causa.Tal acontecerá somente em finais do século XV, quando a sua posição social, económica e política está consolidada, mantendo uma relação quase simbiótica com o Portugal das Descobertas.

 Na verdade, após a sua expulsão de Espanha por parte dos Reis Católicos (Isabel de Castela e Fernando deAragão) em 1492, muitos dos judeus que aí não se quiseram converter à força atravessaram a fronteira e instalaram-se no nosso País. Terão sido cerca de 60 000. D. João II, influenciado por judeus influentes na Corte(Mestre Vizinho, por exemplo, e talvez pelo rabi-mor peninsular, Isaac Aboab), acolhe-os, tanto mais que aqueles preferiram refugiar-se em Portugal a serem escravizados em Marrocos, para onde teriam de ir de barco, o que não conseguiam obter. D. João II impõe-lhes o pagamento de 8 cruzados para cá permanecerem, a pagar sob pena da servilidade ou da expulsão. Pretendia-se a fixação de operários especializados que faltavam em Portugal.Falecido D. João II, sucede-lhe D. Manuel, monarca que se revelou tolerante para os judeus que não podiam pagar.Este monarca está, todavia, conotado com as páginas mais tristes do Judaísmo em Portugal. Em Março de 1497, em troca da mão da princesa D. Isabel, filha dos Reis Católicos, como cláusula contratual de casamento, é imposta a expulsão de Portugal da comunidade judaica através de uma lei que entra em vigor nesse mesmo ano.Mas, habilmente, D. Manuel, para impedir uma saída tão numerosa de gentes do nosso País, envolvido na gesta ultramarina, decreta o batismo forçado de mouros e judeus no prazo de dez meses. Caso não o aceitassem,teriam que abandonar o País. Os menores de 14 anos seriam entregues a cristãos.Esta medida visava o reforço do poder real. Os judeus eram um bloco fechado detentor de certos privilégios e leis favoráveis no seio da sociedade civil. Torná-los legalmente iguais era uma medida que agradava à maioria da população. Há também a demonstração de uma útil tolerância por parte do monarca. Este, porém, mandará fechar os portos do País para impedir a sangria judaica: muitos, não querendo ser cristãos, suicidam-se, por vezes com as suas famílias. Perto de 20 000 ficaram retidos em Lisboa.A partir desta conversão forçada, passarão a chamar-se cristãos-novos,tendo um prazo de 20 anos para abandonar os costumes judaicos e se cristianizarem exemplarmente. Mas,clandestinamente ou não, grande parte dos cristãos-novos mantiveram os seus hábitos ancestrais. Em 1499 um alvará régio proíbe a saída do País aos cristãos-novos. Todavia, não lhes era limitada a ascensão a cargos políticos ou administrativos. Ao mesmo tempo, poder-se-iam casar com cristãos-velhos.


Apesar de uma certa liberdade de consciência (não poderiam ser interrogados acerca da sua crença) e de alguma protecção régia, a situação assumiu contornos dramáticos na fatídica Páscoa de 1506. Levantaram-se motins populares contra os cristãos-novos, tendo a população sido instigada pelos frades dominicanos. São perseguidos e exterminados cerca de 2000, acabando nas fogueiras do Rossio. A desconfiança e a insegurança dos cristãos-novos, se nunca desaparecera, antes aumentava agora, obrigando-os a procurar outras paragens. O que desencadeou os motins populares?


A historiografia situa o início da matança no Convento de São Domingos de Lisboa, no dia 19 de Abril de 1506, um domingo, quando os fiéis rezavam pelo fim da seca e da peste que tomavam Portugal, e alguém jurou ter visto no altar o rosto de Cristo iluminado — fenómeno que, para os católicos presentes, só poderia ser interpretado como uma mensagem de misericórdia do Messias - um milagre.

Um cristão-novo que também participava da missa tentou explicar que esse milagre era apenas o reflexo de uma luz, mas foi calado pela multidão, que o espancou até a morte.

A partir daí, os judeus da cidade que anteriormente já eram vistos com desconfiança tornaram-se o bode expiatório da seca, da fome e da peste: três dias de massacre se sucederam, incitados por frades dominicanos que prometiam absolvição dos pecados dos últimos 100 dias para quem matasse os "hereges".

A corte encontrava-se em Abrantes - onde se instalara para fugir à peste - quando o massacre começou. D. Manuel I tinha-se posto a caminho de Beja, para visitar a mãe. Terá sido avisado dos acontecimentos em Avis, logo mandando magistrados para tentar pôr fim ao banho de sangue. Entretanto, mesmo as poucas autoridades presentes foram postas em causa e, em alguns casos, obrigadas a fugir. Manuel I penalizou os envolvidos, confiscando-lhes os bens, e os dominicanos instigadores foram condenados à morte por enforcamento. Há também indícios de que o referido Convento de São Domingos (da Baixa) teria sido fechado durante oito anos e sabe-se que os representantes da cidade de Lisboa foram expulsos do Conselho da Coroa (equivalente ao actual Conselho de Estado), onde tinham assento desde 1385, quando o rei D. João I lhes concedeu esse privilégio pelo seu apoio à sua campanha pela conquista do Trono português.


Em 1536, D. João III manda instalar o Tribunal do Santo Ofício (Inquisição) em Portugal, dentro de uma atmosfera de fanatismo religioso que reconhecia nos cristãos-novos a causa de todos os males de que padecia o País. D.João III, de certa forma, orquestrou todo este ambiente de fundamentalismo cristão, temendo os ventos da Reforma que varriam a Europa. Também houve instigações de grandes famílias terra tenentes, interessadas em derrubar a burguesia mercantil através da Inquisição e da perseguição aos cristãos-novos (conotados com os grupos de mercadores e financeiros), no intuito de refazerem as suas grandes fortunas gastas em aventuras militares em Marrocos e de reconquistar as hierarquias da nação.Sob o espetro da Inquisição, nunca mais os cristãos-novos, maioritariamente judeus, tiveram no reino tranquilidade. Continuaram, clandestinamente, a fugir para os Países Baixos, Constantinopla, Norte de África, Salónica (Grécia), Itália e Brasil, mantendo laços secretos e apoiando os cristãos-novos portugueses. A maioria das 1500 vítimas da Inquisição portuguesa eram também cristãos-novos, tal como uma boa parte dos seus 25 000 processos até à sua extinção. No nosso País, o Santo Ofício, por exemplo, influirá no desaparecimento dos ofícios nas regiões de Trás-os-Montes e Beiras, onde os judeus eram os dinamizadores da produção de têxteis, sedas e lanifícios. Para além do confisco de bens, os cristãos-novos serão também vítimas dos atestados de "limpeza de sangue" nas candidaturas a cargos públicos,militares ou da Igreja, o que os afastava por possuírem confirmação inquisitorial.O século XVII pouco traz de melhor aos cristãos-novos apesar da "primavera" de D. João IV e do apoio do Pe. António Vieira. O apoio financeiro e político dos cristãos-novos à Restauração (através das conexões judaicas de origem portuguesa na Europa) ter-lhes-á permitido uma certa ascensão social e algumas liberdades e garantias, iniciando-se o ressurgimento dos grupos mercantis onde aqueles prosperavam. Com a morte de D. João IV, porém, recomeça o pesadelo inquisitorial e as perseguições contra os cristãos-novos. O Marquês de Pombal, em 1773, porá fim a este clima de instabilidade entre os cristãos-novos, acabando com as perseguições e cerceando duramente as atividades do Santo Ofício, desde logo ao eliminar os atestados de "limpeza de sangue". Os cristãos-novos perdem o estigma da culpabilização pela ruindade do mundo, a par do domínio da burguesia, eliminando-se as estruturas do Antigo Regime. Assim, transforma-se a Inquisição em tribunal de Estado, acabando com a encenação daquela instituição clerical contra os cristãos-novos que lentamente assumirão o seu Judaísmo.PedroNunes (matemático), Abraão Usque (editor e tradutor), Garcia de Orta (médico e naturalista), António José daSilva (dramaturgo que morreu na fogueira inquisitorial um pouco antes das medidas de Pombal), Ribeiro Sanches(médico), Baruch Espinosa (filósofo) e Rodrigues Lobo (poeta) são alguns dos cristãos-novos portugueses com dimensão histórica e cultural, herdeiros de um potencial intelectual e científico avançado em relação àquilo que o nosso país produzia em termos de pensamento, técnicas, artes e letras. Muitas obras e indivíduos se perderam nas teias da Inquisição, apenas por terem nascido cristãos-novos. Calcula-se hoje, por outro lado, que boa parte das vítimas do Holocausto nazi descendiam de cristãos-novos portugueses fugidos nos séculos XVI e XVII.

cristão-novo. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013.
wikipedia


Ficheiro:Massacre de lisboa.jpg
Uma das duas únicas gravuras sobreviventes ao Terramoto de Lisboa1755 e ao incêndio da Torre do Tombo: “Von dem Christeliche – Streyt, kürtzlich geschehe – jm. M.CCCCC.vj Jar zu Lissbona – ein haubt stat in Portigal zwischen en christen und newen chri – sten oder juden, von wegen des gecreutzigisten [sic] got.” (Da Contenda Cristã, que recentemente teve lugar em Lisboa, capital de Portugal, entre cristãos e cristãos-novos ou judeus, por causa do Deus Crucificado”).


 

Monumento em Lisboa em homenagem aos Judeus mortos no massacre de 1506
19
Abr17

19 de Abril de 1882: Morre o naturalista britânico Charles Darwin, autor da teoria sobre a origem das espécies.

António Garrochinho


Naturalista e biólogo inglês, Charles Robert Darwin nasceu a 12 de Fevereiro de 1809, em Shrewsbury, e morreu a 19 de Abril de 1882, em Dawn, Kent.

Neto de Erasmus Darwin, um médico e poeta conhecido, e filho de um médico, perdeu a mãe com apenas oito anos e, desde então, a sua educação ficou a cargo das irmãs mais velhas. Ingressou na Universidade de Edimburgo em 1825 para estudar Medicina mas, não se sentindo identificado com o curso, mudou para a Universidade de Cambridge com o intuito de se tornar pastor da Igreja. Apesar das suas intenções, Darwin conheceu os professores John Henslow, de biologia, e Adam Sedgwickint, de geologia, que lhe despertaram o interesse pelo estudo da História Natural, área a que se veio a dedicar no percurso da sua vida. Findos os estudos universitários, em 1831, participou como naturalista na viagem do navio inglês Beagle. Esta viagem a várias partes do globo proporcionou-lhe o estudo e desenvolvimento aprofundado dos seus conhecimentos, assim como novos dados de investigação sobre a evolução da Terra, desde as variações geológicas à descoberta de fósseis que se assemelhavam a animais que ainda habitavam na mesma região. De regresso a Inglaterra, em 1836, Darwin deu início ao estudo científico baseado nas suas experiências e descobertas e lançou uma publicação científica com o nome Journal of Researches , em 1839. Ainda nesse ano, casou com Emma Wedgwood, com quem viria a ter 10 filhos, e mudou-se para Down House, em Kent.

Mais tarde, em 1859, publicou a célebre obra em que expôs a sua teoria, The Origin of Species by Means of Natural Selection (A Origem das Espécies pela Seleção Natural). Apesar de reconhecer que os seus conhecimentos sobre hereditariedade eram limitados, representou em forma de árvore a relação entre os animais e plantas da actualidade com outros já extintos, seus ancestrais. The Origin of Species by Means of Natural Selection foi alvo de várias críticas por parte de outros cientistas que alegavam falta de provas e explicações para fundamentar as teorias apresentadas.

Em 1871 Darwin aplicou a sua teoria ao estudo da origem do homem, dando importância ao factor sexual na selecção natural, na obra The Descent of Man and Selection in Relation to Sex (A Ascendência do Homem e a Selecção em Relação com o Sexo ).

Cerca de 1880, realizou, juntamente com o seu filho Francis, uma série de experiências através das quais, utilizando sementes de gramíneas, sobretudo de aveia, tentou descobrir as razões que levavam a que algumas plantas se inclinassem para a luz. Após várias horas de observações, concluiu que as plantas produzem substâncias - fito-hormonas - que influenciam o seu comportamento assim como o seu crescimento. Os resultados destas experiências foram relatados mais tarde no livro The Power of Movement in Plants (1881). Nas duas últimas décadas da sua vida, Darwin escreveu, aliás, vários livros sobre botânica, nos quais descreveu pormenorizadamente todas as observações e experiências que realizou com plantas. O trabalho de investigação sobre a importância das hormonas no crescimento das plantas continuaria a ser desenvolvido, mais tarde, por Peter Boysen-Jensen (1913), Arpad Paal (1918) e Frits Went (1926).

A doutrina proposta por Darwin, segundo a qual a luta pela vida e a selecção natural são mecanismos da evolução dos seres vivos, é conhecida por darwinismo.

As suas teorias foram postas em causa, principalmente por membros da Igreja, até inícios do século XX.

Foi membro da Royal Society e membro honorário de várias academias de ciências.

Os restos mortais de Charles Darwin encontram-se na Abadia de Westminster.



Charles Darwin. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. 
wikipedia (Imagens)
Ficheiro:Charles Robert Darwin by John Collier.jpg
Retrato de Charles Darwin - John Collier

Ficheiro:Voyage of the Beagle-en.svg

O percurso da viagem do HMS Beagle
Ficheiro:Origin of Species.jpg



Capa do livro A Origem  das Espécies, de 1859
19
Abr17

19 de Abril de 1943: Início do Levantamento do Gueto de Varsóvia

António Garrochinho


Os 60 mil judeus que ainda sobreviviam no gueto de Varsóvia, Polónia, iniciaram um levantamento no dia 19 de Abril de 1943 contra as tropas nazis, que tinham recebido ordens de Hitler para exterminá-los. O combate, desesperado e desproporcional, duraria até 16 de Maio. Sete mil judeus morreram com as armas em punho. Os demais foram conduzidos a campos de extermínio. 


As forças nazis tentavam eliminar o gueto judaico da cidade quando se depararam com o fogo dos resistentes judeus, liderados por Mordechai Anielewicz, Iosef Levartowski, Andrej Schmit e Michal Klepisz, de diferentes orientações políticas, que se uniram para enfrentar o inimigo. “Estamos limitados, mas não caídos. Dos nossos esconderijos, ataquemos o inimigo. Se for para morrer, morramos como heróis, para permanecermos vivos à posteridade.”, dizia o manifesto que dava vida ao Levantamento do Gueto de Varsóvia. 


Pouco depois da invasão da Polónia pela Wehrmacht em Setembro de 1939, perto de 500 mil judeus polacos foram confinados em deploráveis condições numa área de cinco quilómetros quadrados, onde normalmente poderiam viver 200 mil. O gueto foi cercado por um muro de três metros de altura e arame farpado vigiado por soldados das SS. Quem quer que fosse apanhado a tentar fugir era fuzilado. Os nazis controlavam também a quantidade de alimentos levada ao gueto, obrigando os judeus a viveram basicamente de um prato de sopa por dia. Doenças e inanição mataram milhares todos os dias. 


A partir de Julho de 1942, cerca de seis mil judeus eram transferidos a cada dia para o campo de concentração de Treblinka. Diziam os nazis que eles estavam a ser transferidos para campos de trabalho, mas logo se soube que na verdade levá-los para campos de trabalho significava a morte. 


Ante este quadro, uma resistência subterrânea  formou-se: a OJC (Organização Judaica de Combate). Armas de porte reduzido eram adquiridas a alto custo a organizações polacas antinazis. A resistência, armada com armas ligeiras, foi capaz de resistir à continuidade da deportação, atacando os nazis do alto dos telhados e dos sótãos. Um inverno severo e a falta de comboios também contribuíram para a redução das deportações. 


Quando chegou a Primavera, em 19 de Abril de 1943, o líder nazi Heinrich Himmler anunciou que o gueto deveria ser esvaziado à força em homenagem ao aniversário de Hitler, que seria no dia seguinte. Cerca de dois mil soldados SS atravessaram as barreiras com tanques, obuses, lança-chamas e metralhadoras, contrapondo-se aos cerca de mil judeus que portavam pistolas, fuzis, granadas caseiras e coktails Molotov. 


A resistência judaica mostrou-se capaz de rechaçar os ataques durante 28 dias. Milhares foram massacrados à medida que as tropas alemãs avançavam,  fazendo explodir os edifícios um a um. Os combatentes da OJC foram aos esgotos para continuar a luta. Em 8 de Maio o bunker de comando caiu diante dos nazis.

Finalmente, em 16 de Maio, o general SS Jurgen Stroop assume o controlo total do gueto. Teve então início uma maciça deportação para Treblinka. Durante o levantamento cerca de 300 soldados alemães foram mortos e cerca de mil feridos. Mais de 56 mil judeus foram massacrados. Virtualmente todos os sobreviventes do levantamento levados a Treblinka foram exterminados até o fim da guerra. 

Fontes: Opera Mundi
wikipedia (imagens)
File:Stroop Report - Warsaw Ghetto Uprising 06b.jpg
Fotografia de Maio de 1943  
File:Stroop Report - Warsaw Ghetto Uprising - 26552.jpg
Destruição de casas no gueto 
19
Abr17

O erro de Calvino

António Garrochinho



Na última semana tive a oportunidade de perceber o erro de interpretação que fizemos relativamente à frase de Dijsselbloem.
Na verdade, vi  centenas de calvinistas ( especialmente alemães) agarrados à cerveja todo o dia, mas muito raros os que se agarravam às mulheres.
Afinal, o que separa os povos do sul dos calvinistas e huguenotes do norte, é "apenas" uma questão de prioridades.

19
Abr17

ABRIL

António Garrochinho

HÁ MUITOS INFILTRADOS EM INSTITUIÇÕES ONDE E QUANDO QUANDO SE COMEMORA O 25 DE ABRIL PODEMOS OBSERVAR A OLHO NU QUE A SUA (A DELES) CONDUTA NÃO É COMPATÍVEL COM AS ASPIRAÇÕES DO POVO PORTUGUÊS NO QUE DIZ RESPEITO À CONQUISTA DE DIREITOS E À DISPONIBILIDADE PARA A LUTA SOCIAL E POLITICA IDENTIFICADA COM OS VALORES DO MÊS LIBERTADOR. .

MOSTRAM SIM A SUA ESTRATÉGIA DE PROMOÇÃO PESSOAL ASSEGURANDO O SEU TACHINHO E INTRODUZINDO MANIFESTAÇÕES CULTURAIS QUE EM NADA HONRAM O COMEMORAR DA REVOLUÇÃO.

A PEDAGOGIA DO 25 DE ABRIL JÁ É DEFICIENTE NAS COMEMORAÇÕES DO GOVERNO, EM INSTITUIÇÕES MILITARES, E EM MUITAS ESCOLAS.
NAS AUTARQUIAS TAMBÉM SE ASSISTE-SE A UMA COMPLETA DESCARACTERIZAÇÃO DA DATA QUE NOS LIBERTOU DO FASCISMO.

É CASO PARA NOS LEMBRARMOS DO DITADO POPULAR; OLHOS QUE NÃO VEEM, CORAÇÃO NÃO SENTE !

António Garrochinho
19
Abr17

"Marcelo lançou finalmente o debate público sobre a escravatura"

António Garrochinho


Marcelo foi o primeiro Presidente português a visitar o Senegal
Perplexo com as declarações do PR em Gorée, um professor universitário português na América escreveu um post indignado no FB. As reações levaram-no a escrever uma carta aberta


"Estas declarações do Presidente da República sobre a escravatura e o papel de Portugal nela têm a vantagem de lançar um debate, de mexer num assunto que desde 1974 foi varrido para debaixo do tapete."
Pedro Schacht Pereira, professor associado de Estudos Portugueses e Ibéricos na The Ohio State University, primeiro subscritor da carta aberta "Regresso a Gorée - Não em nosso nome", que o DN hoje publica, quer crer que Marcelo, apesar "da extrema ligeireza do que disse", finalmente abriu, pouco antes do 43º aniversário do 25 de Abril, a caixa de Pandora que tem estado arrumada na mais recôndita prateleira da psique nacional. "Este debate existia na academia, nas universidades. Mas agora passou para a esfera pública, com artigos a saírem todos os dias nos jornais [e posts no Facebook como o do ex-secretário de Estado dos Assuntos Europeus e ex-embaixador de Portugal em Paris Francisco Seixas da Costa e do ex-deputado do PS e antropólogo Miguel Vale de Almeida], e aquilo que espero do Presidente é que clarifique a sua posição e dessa forma contribua para a promoção e a saúde de uma discussão da qual a sociedade portuguesa sairá com certeza melhor."

Comentando que "a história que se dá na escola sobre o esclavagismo português ainda é a mesma que se dava no Estado Novo; fiz o liceu depois do 25 de Abril e não me lembro de se ter sequer falado do assunto, para além da declaração de que 'Portugal aboliu a escravatura em 1761'", Schacht ficou ainda assim "boquiaberto" com as afirmações do PR: "Pus-me a pensar na quantidade de trabalho que temos pela frente." E indignado, como se percebe no longo post que escreveu logo no Facebook, e no qual comenta: 

"Não é desmentir o Presidente, por lamentável que seja essa necessidade, aquilo que está ou deveria estar em causa. O que está em causa é que a obstinação em não reconhecer a responsabilidade nacional na história nacional implica uma admissão involuntária de culpa não resolvida, como uma desonra familiar que se esconde dos hóspedes. E, concomitantemente, a infantilização dos cidadãos, como se elas/eles não tivessem capacidade de receber em herança a sua história, e de, como dizia Sophia, "livres habitarmos a substância do tempo". 

As respostas ao post, com várias pessoas a pedir que o tornasse público para ser partilhado, levaram-no a formular a hipótese de escrever uma carta - ao que muitos disseram: "Eu assino." Decidiu pois avançar com a dita.

Schacht, que nasceu no Porto em 1969 e se formou em Filosofia na Universidade de Coimbra, tendo-se doutorado em Estudos Luso-Brasileiros na Universidade de Brown, nos EUA, onde acabou por se radicar -- está na The Ohio State University desde 2008 - confessa ter ficado desde logo intrigado com o anúncio de que Marcelo ia a Gorée, em face dos precedentes pedidos de perdão de João Paulo II [em 1992] e de Lula da Silva [em 2005] naquele local. "Não tinha grandes expectativas.. Não esperava de um responsável português que assumisse uma posição muito vincada, muito menos um pedido de perdão. A posição do perdão é performativamente, politicamente e eticamente complexa, não é qualquer líder que é capaz de emitir um perdão que faça sentido." Mas, prossegue, uma coisa é não ter expectativas, outra é "constatar o absurdo de uma posição que repete a propaganda do século XIX e do Estado Novo, quando já não temos colónias, vivemos numa sociedade democrática e globalizada e já não temos uma população tão ignorante. Um dos meus projetos é escrever um livro sobre o sublime africano na obra de Eça de Queirós - que está pejada de referências a africanos, algo que está longe de ser suficientemente estudado, e que demonstra que esta questão era problemática na sociedade portuguesa. E parece que o debate continua no mesmo ponto." Aliás, prossegue, "a figura que melhor nos permite pensar as contradições de Portugal é o a do padre António vieira - que é glorificado como um defensor dos índios mas que nos Sermões do Rosário advoga a importação massiva de mão-de-obra africana para o Brasil. Por um lado tem um desprezo enorme pelos colonos portugueses e por outro condena os africanos à salvação pela escravatura."

E reações à carta, que prevê? 

Responde com um sorriso na voz: "Há muita raiva e fúria nas reações que tenho visto aos textos críticos das declarações do PR que têm sido publicados, e que advém de esta questão não ter sido trabalhada, pensada, questionada. Mas descontando o facto de que nas redes sociais as reações são sempre brutais -- quem achar que Portugal é um país de brandos costumes só tem de se educar nas redes sociais -- o que espero, tanto de académicos que assinaram o texto como dos que não o assinaram, é que publiquem textos."



19
Abr17

França em corrida contra o tempo para evitar abstenção recorde

António Garrochinho


Emmanuel Macron, candidato do En Marche!, favorito nas sondagens para a primeira volta, visitou ontem a sede do grupo KRYS em Bazainville
Taxa de abstenção pode atingir níveis recorde. 29% dos eleitores franceses estão ainda indecisos quanto à sua participação na primeira volta das eleições de domingo


"Se votar mudasse alguma coisa, há muito que seria proibido." A frase, do humorista francês Coluche, poderia bem ilustrar o estado de apatia que caracteriza os potenciais abstencionistas. Para evitar que a abstenção bata todos recordes e acabe por ser a grande vencedora da primeira volta das presidenciais francesas no domingo, os candidatos continuam numa corrida contra o tempo.
Segundo uma sondagem divulgada Ifop-Fiducial, que foi realizada entre os dias 14 e 18 junto de uma amostra de 2804 pessoas e foi divulgada ontem à tarde, a taxa de abstenção é de 29%, ou seja, praticamente a mesma da primeira volta das presidenciais de 2002, que atingiu o recorde de 28,4%.
Essas foram as eleições em que o então líder do partido Frente Nacional, Jean-Marie Le Pen, ficou em segundo lugar na primeira volta, à frente do candidato do Partido Socialista, Lionel Jospin, disputando a segunda volta com o candidato da direita Jacques Chirac (que acabou por vencer e permanecer como chefe do Estado até maio de 2007).
    Na primeira volta de domingo, a situação é um pouco semelhante, embora a posição do candidato socialista seja menos favorável. Benoît Hamon surge em quinto lugar com 7,5% das intenções de voto na sondagem realizada para a Paris Match, a CNews e a Sud-Radio. Na primeira e na segunda posição estão Emmanuel Macron e Marine Le Pen, respetivamente com 23,5% e 22,5%.
    O primeiro é ex-ministro da Economia de François Hollande (o presidente cessante socialista) e candidato ao Eliseu pelo movimento independente En Marche! A segunda é eurodeputada e filha e sucessora de Jean-Marie Le Pen na liderança da Frente Nacional, partido de extrema-direita anti-imigração, antieuro, anti-Schengen, anti-UE.
    É de esperar, assim, que Marine, tal como o pai, em 2002, passe à segunda volta das presidenciais. Exceto, claro está, se os indecisos se mobilizarem na reta final e alterarem o que tem vindo a ser expresso nas últimas sondagens. Na terceira posição da sondagem Ifop-Fiducial surge o candidato do partido de direita Os Republicanos, François Fillon, com 19,5% das intenções de voto. E na quarta Jean-Luc Mélenchon, candidato da França Insubmissa, aliança da esquerda radical, com 19% das intenções de voto.
    Face aos níveis de abstenção, o próprio presidente cessante apelou à mobilização dos eleitores. "Não ter motivo de arrependimento no dia seguinte é, em si, o melhor para ir votar", disse François Hollande, que exercerá o direito de voto em Tulle. "Se não têm esperança em algo novo, pelo menos que não tenham motivo de arrependimento. Um voto é uma coisa que tem uma consequência importante para o país", sublinhou o chefe do Estado (que em 2012 venceu Nicolas Sarkozy).
    Segundo a sondagem realizada pelo Ifop-Fiducial, entre os abstencionistas há mais eleitores mulheres do que homens. Se no geral a taxa de abstenção é de 29%, entre os eleitores com menos de 35 anos é da ordem dos 35%. E de 27% entre os que têm idade igual ou superior a 35 anos.


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