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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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29
Mai17

UM EXTREMISTA NA BERRA

António Garrochinho

Pedro Mexia, o extremista mais na moda em tudo o que for comunicação social nacional. O homem arremete na televisão contra a esquerda, investe nos jornais sobre o anti-comunismo mais bacoco, “faladra” na rádio rodeado de mentiras e de meias verdades que não explica e que afasta propositadamente do contexto.
É intelectualmente um tipo infamante que se vai servindo de uma aurazinha criada por esta sociedade medíocre e pouco alfabetizada, onde cada um que apareça a debitar frases relativamente coerentes, fica desde logo auspiciada uma carreira a que se garante sabedoria infinda.
Hoje, naquele programinha pateta, chamado “governo sombra”, voltou a atiçar “os crimes do estalinismo” com a mesma tranquilidade e bonomia com que garante o milagre de Fátima. Bem como a bondade do capitalismo. Sem rede, à toa, sem contraditório. Cobardemente!
Guilherme Antunes (facebook)
Foto de António Garrochinho.

29
Mai17

Conheça os 5 países mais frios do mundo

António Garrochinho


Você conhece o país mais frio do mundo? Ou sabe ao menos dizer quais são os 5 mais frios de nosso planeta?


Se ainda não sabe não tem problema, descubra nessa lista pra lá de gelada os países mais frios que são uma ótima opção para ir em suas férias.

Sem mais delongas, assista ao vídeo abaixo, do canal Maiores do Mundo:

VÍDEO




Esses são os países mais frios de nosso mundo:

5) Islândia


4) Finlândia


3) Mongólia


2) Canadá


1) Rússia


E pra fechar, claro, só faltou mais algumas fotos do lugar mais gelado da Terra, a Antártida:

0) Antártida




tudorocha.blogspot.pt
29
Mai17

CTT - balcões e LIBERDADE

António Garrochinho
CTT - balcões e LIBERDADE
Sabido dos imensos balcões dos CTT que fecharam.
Passaram as Juntas de Freguesia, especialmente em pequenos aglomerados a assumir as tarefas referentes aos CTT.
Como resultado temos que os trabalhadores da Junta, são-no também dos ctt, nunca deixando de estar sob a alçada do exmº e digníssimo presidente da Junta, está aqui uma questão MUITO FEIA para quem trabalha por aqueles sítios.
Sempre e em todos os lados, são as pessoas que estão atrás dos balcões, considerados como uns estupores, uns calaceiros, uns faz nada; isto para não ir para a minha linguagem natural e usual.
Embora seja uma realidade, muitas das vezes……. Nem sempre assim é, até porque aturam de tudo e mais sei lá eu o quê- e a mim também. .
Hoje foi-me dada a oportunidade de apreciar um caso ESTRAMBÓLICO, que me levou a pensar que estou a ficar velho da cabeça.
ALI em Vilar do Paraíso, existe um desses balcões, onde vou mais vezes, pelo facto de ter menos gente.
Eles ajudam a fazer o IRS, a inscrever a catraiada na escola, infantários, existem no local Jornais e Revistas, pelo menos uma a dizer tudo o que há de bom na freguesia, puderaaaa e OK.
Só havia na minha frente uma MENINA a ser atendida, que levantava uma encomenda, apresentando o Postal respectivo.
O SINHOR pediu-lhe o Cartão de Cidadão para verificar se a letra dizia com a careta, versus encomenda com o postal…. E dizia!
Como estava ali juntinho ( sem me encostar à MENINA, seus homofóbicos do caralho e feministas da treta) , vi perfeitamente que nunca o HOMEM tirou o Catão de Cidadão de cima do Balcão.---- mais á frente se verá a que propósito vem isto.
A MENINA assinou o aviso, pagou 70 € e pôs-se mesmo ali a abrir a encomenda, o que só por si me arrepiou as meninges, como se isso não bastasse, virou-se para o HOMEM, dizendo:
- Não é nada disto que eu quero, devolva e dê-me os 70 €!!
O HOMEM pacientemente explicou que já tinha o aviso assinado e o papel em como tinha recebido os 70 €, nada podendo fazer.
- Não me interessa eu não levo nada disto.
E não é que o HOMEM lhe diz que embora não o podendo fazer, seria melhor então voltar a MENINA a embrulhar a encomenda ? ? ? ?
A MENINA passou a GAJA e embrulhou aquela merda / duas caixas de sapatos / a trouxo mocho, colocou fita cola por tudo quanto era sítio e vai de dar ó HOMEM….
SÓ QUE… tinha embrulhado aquela merda ao contrário, as indicações de nome morada e coisa e tal, tinham ficado para dentro, não eram pois visíveis.
Vai de desembrulhar novamente e tornar a tentar colocar a coisa correctamente.
Pacientemente o HOMEM, acabou por ser ele a colocar a fita devidamente, devolveu-lhe os 70 € e disse-lhe:
- Pronto se não for levantado em 6 dias, vai devolvido ao remetente.
Sem um OBRIGADO a GAJA vira-se para o HOMEM e diz:
- Dê-me o bilhete de identidade, que o senhor ficou-me com ele !
Uma parte de mim fervia, sendo que a outra me dizia, esquece pá, vais armar um confusão do caralho, vais insultar a GAJA vais mesmo ser malcriado. - - - - Dei atenção à 1ª, sem esquecer a 2ª, afastei-me um bocadito, não sem dizer :
- Desculpe lá meter-me onde não sou chamado, mas o SENHOR nem no Cartão de Cidadão pegou, estava em cima do Balcão ele colocou o aviso ao lado, pediu-lhe para assinar o aviso e só foi com o aviso buscar a encomenda.
HÁ GAJOS COM UMA SORTE DO CARALHO, MESMO . . . A GAJA NÃO ME DISSE NADINHA.
Já o HOMEM não teve a mesma sorte, mesmo confirmando o que tinha dito eu.
DESCULPE, mas eu nem peguei no Cartão de Cidadão, só confirmei o que tinha de confirmar !
O HOMEM que nunca tinha saído de onde estava, até à máquina das fotocópias foi verificar, procurando o caralho do Cartão de Cidadão, desesperado conscientemente embora inconscientemente soubesse que nunca tinha pegado no CU da GAJA,, há pois, Cartão Único era antes, passou a ser do “ Cidadom “ para ela ainda bilhete de identidade.
Eis que toca o telemóvel da GAJA, que atende, conversa práqui e pracolá, acaba a dita, vira-se para o HOMEM dizendo:
- DEIXE LÁ , não procure mais…..
Foi-se pelas escadas abaixo SEM CAIR – infelizmente.
A LIBERDADE é mesmo FODIDA , quando mal interpretada.
 DIZ QUE SIM ZÉ,,,, NEGA !
- - - - - - - - - -
Tenha paciência chefe e diga lá quanto tenho a pagar por isto, dando-lhe o PACOTE ( de jornais embrulhados e devidamente dirigidos a SENDIM ), era um PACOTE era, estão a pensar em quê ? BASCULHOS…..
Conversei um bocadinho com o HOMEM, na esperança de lhe dar ALENTO para o que acabava de suceder.
SABE SENHOR, SE VÃO FAZER QUEIXA AO SINHOR PRESIDENTE, DEPOIS NÓS É QUE ÓBIMOS.
É MESMO FODIDO ISTO !! ! ! !
( Leiam com atenção a LETRA da canção dos EUNUCOS do JOSÉ AFONSO)
E já agora VOTEM, mas vejam lá em quem…. É que a letra dos EUNUCOS cantada é uma coisa LINDA,, mas lida com calminha DIZ MAIS do que se ouve e acontece ...
E Ó MAIS NUM PARECE....

29
Mai17

Foi condenado por homicídio mas provou estar inocente 24 anos depois

António Garrochinho


Shaurn Thomas depois de ser libertado da prisão 





Um norte-americano de 43 anos foi libertado da prisão, 24 anos depois de ter sido detido para cumprir pena por homicídio.

Shaurn Thomas estava acusado de ter assassinado um empresário em 1990, mas sempre alegou estar inocente. Thomas tinha então 16 anos e, na altura do crime, estava num centro de estudos nas imediações; uma testemunha, que garantia tê-lo visto no local do homicídio, retirou depois o depoimento, mas o jovem foi condenado a prisão perpétua em 1993. A vítima do crime estava a depositar 25 mil dólares, cerca de 22 mil euros, quando foi atacada.

Foram os esforços de James Figorski, um antigo agente da polícia que se formou em advocacia, que permitiram que Thomas ficasse agora em liberdade: ao longo de três anos, Figorski trabalhou com Thomas no âmbito do Pennsylvania Innocence Project, projeto que visa provar a inocência de pessoas condenadas erradamente.



Segundo a CBS News, Thomas foi libertado na noite da passada terça-feira e já conseguiu usar um telemóvel pela primeira vez. À estação de televisão, Marissa Bluestine, do Pennsylvania Innocence Project, disse que o processo que envolve Thomas nunca deveria ter chegado à barra dos tribunais.

Stephonia Long, a noiva de Thomas, disse à CBS que todos estão "muito, muito felizes". "Ele sempre foi muito positivo porque acreditava na sua inocência", explicou.



www.dn.pt
29
Mai17

Quem eram os heróis de Portland (e porque é que Trump continua calado)?

António Garrochinho



Três homens impediram que um militante da extrema-direita atacasse duas raparigas no metro de Portland. Dois morreram esfaqueados, um está gravemente ferido. Nos Estados Unidos, multiplicam-se os tributos aos “heróis de Portland”. Só falta Trump dizer qualquer coisa.

Continuam a multiplicar-se os tributos aos três homens que saíram em defesa de duas raparigas, alvo de insultos e ameaças, numa carruagem do metro de superfície de Portland, estado norte-americano do Oregon. Dois deles, Taliesin Myrddin Namkai Meche e Rick Best, foram mortalmente esfaqueados. O terceiro, Micah Dave-Cole Fletcher, encontra-se hospitalizado em estado grave. O agressor, Jeremy Christian, um militante de extrema-direita com antecedentes criminais, entretanto detido, golpeou os três homens na garganta.


As duas raparigas alvo do ódio do extremista escaparam ilesas. Uma negra, outra com vestes islâmicas, tinham ouvido insultos islamofóbicos e racistas, tinham ouvido que não tinham lugar nos Estados Unidos. Entretanto, uma delas veio a público agradecer o sacrifício de três homens desconhecidos.
“Só vos quero dizer obrigado, vocês que arriscaram a vida por mim, porque nem sequer me conheciam e acabaram por perder a vida por mim, pela minha amiga e pelo nosso aspecto”, disse Destinee Mangum, norte-americana de 16 anos, a uma filial da Fox no Oregon.Para já, desconhece-se a identidade da segunda rapariga. Ambas pedem privacidade após o incidente da noite de sexta-feira.
Entretanto, e por todo o país, continuam a ter lugar vigílias e cerimónias de homenagem a Meche, Best e Fletcher, três heróis sem capa, como dizia Ellie Eaton, uma activista citada pelo jornal Oregonian.
Repete-se também a publicação de perfis das três vítimas. Sabemos agora que Meche, de 23 anos, trabalhava na empresa de consultoria Cadmus Group. É recordado por antigos colegas e professores do Reed College, universidade onde se formou em Economia, como alguém “atencioso, humilde, inteligente, curioso e afectuoso”. Amante de basquetebol e campismo, era conhecido por ajudar os colegas nas aulas.
“Viveu uma vida alegre e preenchida. (…) Era irredutível na sua conduta e no respeito por todas as pessoas. No seu derradeiro acto de bravura, manteve-se fiel àquilo em que acreditava”, lê-se num comunicado da família citado pelo Oregonian. No Facebook, a mãe escreveu um breve tributo num tom mais íntimo, partilhado já mais de 160 mil vezes: “Estrela cintilante, amo-te para sempre”.


Ainda no Oregonian, os amigos recordam um jovem que tinha sempre a porta aberta para acolher quem visitava Portland.
Rick Best, de 52 anos, era um veterano das Forças Armadas que esteve no Iraque e no Afeganistão. Era pai de quatro filhos e, após 23 anos no exército, regressara à vida civil para trabalhar para a autarquia de Portland. Em 2014, tinha tentado entrar na política local, concorrendo sem sucesso a um cargo no condado de Clackamas. Recusou qualquer donativo para financiar a campanha.
Fletcher, de 21 anos, continua a recuperar dos ferimentos sofridos no ataque. No fim-de-semana, foi submetido a uma cirurgia para extrair fragmentos de osso cravados nas vias respiratórias. Já não corre risco de vida, mas um dos golpes falhou a veia jugular por milímetros. É estudante na universidade estadual de Portland. Em 2013, venceu um concurso de poesia no liceu. Condenava a islamofobia latente nos Estados Unidos após os atentados de 11 de Setembro. “Permitimos que deixassem uma pegada feia na América que não desapareceu passados 12 anos”, dizia então.
Na noite de sábado, voltou a partilhar um poema no Facebook: “Cuspi no olho do ódio e sobrevivi”.
Sobre o assassino, Jeremy Christian, de 35 anos, sabemos agora que era um militante da extrema-direita, que partilhava mensagens racistas e extremistas no Facebook e que tinha participado em manifestações onde foi filmado a fazer a saudação nazi. Tinha já um cadastro significativo, com condenações por roubo e rapto. Na véspera do ataque de sexta-feira, tinha protagonizado outro incidente na via pública ao arremessar uma garrafa de água contra uma mulher, e tinha sido filmado a insultar tudo e todos numa carruagem do metro de Portland. A polícia não põe de parte a hipótese de Christian sofrer de perturbações mentais.
Entretanto, foram já reunidos cerca de meio milhão de euros em várias campanhas de recolha de fundos para ajudar Fletcher no pagamento das despesas médicas e para auxiliar as famílias das duas vítimas mortais do ataque.
Nas redes sociais e nas ruas, os norte-americanos têm condenado o crime e elogiado as vítimas. No entanto, e três dias após o ataque, o Presidente Donald Trump ainda não veio a público pronunciar-se sobre o incidente. O silêncio é notado por várias personalidades, incluindo o jornalista Dan Rather, que escreveu uma carta aberta ao chefe de Estado, instando-o a falar.

“Dois norte-americanos morreram, deixando para trás família e amigos. Estão a ser velados por outros tantos milhões de pessoas que estão profundamente preocupadas com o que poderá vir a seguir. Espero que possa considerar isto merecedor do seu tempo para tomar nota”, escreveu o repórter veterano numa missiva partilhada mais de 140 mil vezes no Facebook.




No entanto, e desde que chegou da primeira viagem ao estrangeiro, Trump só teve tempo para tweetar várias vezes sobre a imprensa (que acusa de partilhar mentiras), os resultados das eleições no Montana e as suas propostas para a reforma fiscal e do sistema de saúde.



www.publico.pt
29
Mai17

O massacre esquecido - O que levou 400 mil famílias londrinas, logo após a declaração de guerra do Reino Unido à Alemanha nazi, a mandar matar os seus animais de companhia?

António Garrochinho



O massacre de 400 mil cães e gatos, durante quatro dias, em Londres, perpretado pelos seus próprios donos, é um acontecimento esquecido da Segunda Guerra Mundial
O massacre de 400 mil cães e gatos, durante quatro dias, em Londres, perpretado pelos seus próprios donos, é um acontecimento esquecido da Segunda Guerra Mundial
D.R.
Dos períodos da História Contemporânea, é um dos mais conhecidos e estudados. Muitos dos eventos que decorreram durante da Segunda Guerra Mundial, das decisões políticas que influenciaram o curso dos eventos aos milhões de histórias pessoais e tragédias que deflagraram durante estes anos, já foram objeto de profundas análises e investigações, livros, filmes e reflexões pessoais. Os números do horror e das mortes já foram há muito contabilizados. Mas de entre os escombros, ainda continuam a surgir factos e elementos passíveis de darem mais forma e rigor aos acontecimentos terríveis que ocorreram durante este período negro da História. Um deles, agora contado no mais recente livro da historiadora inglesa Hilda Kean, decorreu durante quatro dias na cosmopolita Londres: assim que, a 3 de dezembro de 1939, o primeiro-ministro Neville Chamberlain anunciou, em direto na rádio BBC, que o Reino Unido havia declarado guerra à Alemanha nazi, milhares de britânicos fizeram filas de várias centenas de metros (a autora fala, por vezes, em meia milha, cerca de 800 metros), à porta das clínicas veterinárias, para darem uma injeção letal aos seus animais de estimação.
Em quatro dias, perto de 400 mil cães e gatos morreram, cerca de 25% da população de animais domésticos em Londres. Neste período, o 'stock' de clorofórmio esgotou e registou-se uma crise na gestão dos resíduos na capital inglesa.
Este procedimento coletivo, sem precedentes, foi voluntário, com o Governo britânico, os veterinários e as associações de proteção dos animais a pedirem calma às pessoas e a aconselharem contra estes atos de eutanásia. E aconteceu antes mesmo de os animais domésticos se tornarem figuras centrais no esforço de guerra, oferecendo assistência emocional e ajudando os seres humanos a sobreviver em cenários de combate e bombardeamento — contribuição que foi reconhecida, anos mais tarde, pelo próprio Governo britânico.
Hilda Kean, antiga responsável pelo departamento de História Pública do Ruskin College, Oxford, especializou-se em História Pública e Cultural e, mais particularmente, na história cultural dos animais. Com este livro, “The Great Cat and Dog Massacre”, resgata o acontecimento coletivo que marcou a primeira semana da guerra entre o Reino Unidos e a Alemanha e que acabou no esquecimento de todos.
Como se explica tal comportamento, perpetrado por tantos milhares pessoas? Kean explica que o medo de um ataque eminente dos nazis e a necessidade de se “fazer alguma coisa” para preparar a guerra, levou os britânicos a taparem as suas janelas com pesadas e escuras cortinas, a substituírem as flores dos seus canteiros domésticos por couves, a mandarem os seus filhos para o campo e, finalmente, a darem um fim abrupto à vida dos seus animais de companhia. Na teoria, defendiam, estavam a poupá-los ao sofrimento dos raides aéreos. Contudo, o primeiro ataque em solo britânico só aconteceu sete meses mais tardes desses fatídicos dias.

UMA DECISÃO PESSOAL SOMADA A MUITAS OUTRAS

Recorrendo a diversos materiais de pesquisa, como entrevistas, diários pessoais, cartas, notícias e anúncios publicitários, Hilda Kean argumenta que este ato coletivo não foi o resultado de uma crise de pânico generalizada: na verdade, refere, a primeira semana de guerra foi marcada por um “aborrecimento negro e generalizado”. E a eutanásia dos animais de companhia foi uma forma de as pessoas poderem fazer algo e estarem em controlo de alguma coisa. Mas foi sempre uma decisão pessoal, que nada teve de massiva, e que se deveu a condições pré-existentes em cada lar: afinal, 75% das famílias londrinas com animais de estimação fizeram, perante o mesmo dilema, tomaram a decisão contrária. Mas a decisão de 400 mil famílias, juntas, com medo de que lhes faltasse comida se a tivessem de partilhar com os seus animais, levaram a um massacre. No fundo, a autora coloca em causa a narrativa das “pessoas boas” a travarem uma “guerra boa” contra o “grande mal” — ainda que, meses depois de milhares de animais terem recebido a injeção letal, outros tantos tenham sido salvos por soldados aliados durante a evacuação, por via marítima, da célebre batalha de Dunkirk (1940): 300 mil soldados em fuga construíram centenas de jaulas para transportarem cães abandonados para a Inglaterra.
“The Great Cat and Dog Massacre — The Real Story of World War Two's Unknown Tragedy", Hilda Kean, Editora: University of Chicago Press; Páginas: 223 páginas; Preço: €27 (Amazon)
“The Great Cat and Dog Massacre — The Real Story of World War Two's Unknown Tragedy", Hilda Kean, Editora: University of Chicago Press; Páginas: 223 páginas; Preço: €27 (Amazon)
A partir do momento em que as bombas começaram a cair sobre Londres, as rações tornaram-se mais restritas e a comida do cão e do gato começou a ser desviada para os pratos do dono. O racionamento era para todos: donos e respetivos animais. Mas foi nesta época que os atos heróicos do cão que salvou a menina dos escombros ou do gato que antecipou mais um ataque aéreo começaram a ser determinantes. Como os humanos, padeceram dos males da guerra: perderam familiares (leia-se donos), enlouqueceram com os raides, muitos não sobreviveram aos ataques. Durante os anos da guerra, por exemplo, várias as organizações alertaram para importância de tanto cães como gatos usarem proteções nas orelhas, durante os ataques aéreos, ou máscaras antigases especiais e adaptadas. Porque para a guerra de uns é a guerra de todos.

expresso.sapo.pt
29
Mai17

Do roubo do BPN ao furto de chocolates Milka e de quatro queijos de cabra

António Garrochinho


(Carlos Rodrigues Lima, in Diário de Notícias, 28/05/2017)
oliveirA_COSTA
Esta semana, temos Oliveira Costa, chocolates Milka e quatro queijos de cabra. Não é uma receita para uma salada. É apenas jurisprudência.

Esta semana, o país exorcizou – ainda que parcialmente – um fantasma: o BPN. Esse mesmo. O banco que nos custou qualquer coisa como cinco mil milhões de euros. Em primeira instância, o tribunal condenou a maioria dos arguidos a penas de prisão. O fundador/ex-presidente e rosto da instituição, José Oliveira Costa, apanhou a pena mais pesada: 14 anos de cadeia. Neste processo, o crime de burla qualificada foi imputado a vários arguidos. Isto é, no fundo, tratou-se de desvio de dinheiro do próprio banco.
Mas, ao nível dos conceitos de direito, o pessoal do colarinho branco não furta nem, utilizando a linguagem popular, rouba um banco. Isto são crimes de gente pobre, indigente. Um finório burla um banco. Porque, segundo a doutrina, ao contrário do furto e do roubo, que podem ser praticados por qualquer rapazola, a burla exige um “especial requinte fraudulento”, “uma mentira qualificada”, uma “astúcia”, um “ardil”. Talvez por tudo isto é que o julgamento tenha demorado seis anos.
Mais sorte do que Oliveira Costa teve “Manuel”, serralheiro de profissão, que em março de 2007 foi apanhado a furtar no Continente do Colombo quatro chocolates “Milka”, no valor de 4,85 euros (processo 7216/2008). Depois de identificado pela PSP, o processo lá foi para o Ministério Público, que o acusou por um crime de furto simples. A acusação fez uma descrição crua dos factos: “Já no seu interior [do Continente], retirou de um dos expositores um (1) chocolate Milka caramelo, no valor de euro 1,09 e quatro (4) chocolates Milka, no valor unitário de euro 0,94 e total de euro 3,76. Tudo no total de euro 4,85. Depois, deslocou-se para a zona das caixas de pagamento, onde passou sem efetuar o pagamento dos referidos artigos.” Quem não esteve para se chatear com isto foi uma juíza de primeira instância que, em despacho, recusou a acusação, dizendo estar em causa uma “coisa furtada de valor diminuto” e por se “tratar de um género alimentício, é destinado à satisfação imediata e indispensável de uma necessidade do arguido”.
Talvez indignado, o Ministério Público recorreu para o Tribunal da Relação de Lisboa, aceitando o argumento do valor diminuto, mas rejeitando a tese da satisfação de uma necessidade, porque os chocolates até nem “são sequer são um bem alimentício de primeira necessidade”. Isto na opinião do senhor procurador, claro. Provavelmente, diabético.
Analisando os factos do ponto de vista do “homem médio” (conceito utilizado nos tribunais para designar os cidadãos não licenciados em Direito), o juiz desembargador Carlos Almeida rejeitou por completo a tese do Ministério Público. Então um chocolate não pode ser um bem para satisfação nutricional? Pode: “O ser indispensável para a satisfação da necessidade nutricional não requer que o alimento seja um bem alimentício de primeira necessidade. São coisas completamente diferentes. É apenas necessário que se trate de um alimento”. Para o juiz desembargador, o argumento, do procurador, “a não constituir qualquer resquício de um moralismo injustificado”, introduzia um requisito adicional ao que diz a lei. “Por certo que se em vez dos cinco chocolates o objeto do crime de furto fossem cinco latas de conservas, de valor equivalente, não se colocaria a questão”, concluiu Carlos Almeida no acórdão de setembro de 2008. E muito bem: cada um come o que gosta.
Este tipo de crimes é conhecido nos tribunais como “furto formigueiro”, o qual estava expressamente previsto, por exemplo, no Código Penal de 1982. Mas se quatro chocolates foram considerados, em Lisboa, como uma necessidade, o Tribunal da Relação do Porto, em 2006, teve um entendimento diferente relativamente a outro alimento. Uma vez mais, um homem foi acusado pelo crime de furto simples. Em causa estavam quatro queijos de vaca (processo 0611764). Deduzida a acusação, o juiz de instrução recusou dar andamento ao processo, argumentando estar em causa o tal valor diminuto do produto do furto e um bem alimentício.
Também neste caso, o Ministério Público recorreu para o Tribunal da Relação. E, em abril de 2006, os juízes desembargadores Manuel Moreira, Manuel Braz e Luís André da Silva alteraram a decisão do colega de primeira instância, ordenando a realização do julgamento. E declararam: “Não se percebe como é possível afirmar, sem outros elementos, que quatro queijos de vaca se destinassem a satisfazer uma necessidade imediata do agente (!?), pois que o número é perfeitamente desadequado, o que afasta o imediatismo da necessidade”.
Ou seja, se o juiz de Lisboa se estava a borrifar para os diabetes do arguido, no Porto a justiça tem uma dimensão de saúde pública. Toda a gente sabe que quatro queijos comidos de enfiada provocam colesterol. E roubar um banco?



estatuadesal.com
29
Mai17

A triste geração que precisa ter para ser.

António Garrochinho



Estamos testemunhando a era da ‘ostentação’, onde para ser legal e aceito pela sociedade, é preciso usar roupas caras, produtos importados de última tecnologia, dirigir carrões, que custam uma fortuna, mas que muitas vezes, não condizem com os salários e posições de seus respectivos donos.

Algumas pessoas gastam o que não podem, para fingir uma realidade a qual não pertencem, para muitas vezes, impressionar desconhecidos.
Todo esse conceito de provar que ‘pode’ através de bens materiais ou de tudo aquilo que só o dinheiro pode comprar, está silenciosamente, nos condenando a uma eterna insatisfação, uma tristeza crónica, que muitos acreditam poder curar somente com aquisições financeiras.
Infelizmente, esse tipo de comportamento, é o resultado de uma sociedade fútil, capitalista e que a cada dia mais inverte valores, e nos transforma em zumbis perseguidores do dinheiro 
Quero deixar claro, que o inimigo não é o dinheiro, mas sim a ambição desmedida, e a falsa impressão de que ‘ele’ pode comprar tudo e resolver todos os problemas.
Também não é pecado algum, gastar um dinheiro que é seu, que é consequência do seu esforço e trabalho.
O problema é quando queremos viver um estilo de vida que não condiz com a nossa condição real.
Não é feio usar roupas mais baratas ou frequentar lugares mais simples.
Feio é gastar mais do que pode, comprar e não conseguir pagar.

Não seja produto dessa sociedade cruel, não se torne um ventrículo nesse espetáculo de manipulação.Além do mais, saiba que o sentido da vida e a verdadeira Felicidade que você tanto procura, infelizmente não podem ser encontrados nessas banalidades e modismos ridículos.
Estar na moda e ser elegante tem mais a ver com a sua personalidade, sua educação e comportamento, do que com as roupas que você usa.
Luxo mesmo é levar uma vida decente, com dignidade, amor próprio, e uma consciência limpa que não te faz perder nenhuma noite de sono, pensando nas dívidas que fez, para poder finalmente ter a falsa impressão de ser alguém.
Lembre-se que, Ser humano, gentil, educado, humilde, ter paz e saúde, é a única riqueza que ninguém pode, e nunca vai tirar de você.

www.resilienciamag.com
29
Mai17

O RANHO ! - ELEIÇÕES FRANÇA 2017 Portuguesa é candidata pela Frente Nacional porque defende "a bandeira francesa"

António Garrochinho

Lucinda Carvalho é candidata às eleições legislativas de 11 e 18 de junho em França pela Frente Nacional (FN) porque defende "a bandeira francesa" num país que "perdeu muitos valores".

FN
"Não sei se há muitos portugueses a votar Front National mas, como eu, há pessoas que são portuguesas na alma e também francesas e querem defender a bandeira francesa. A França perdeu muitos valores", explicou, em português, a candidata a deputada que nasceu na freguesia de Tourém, no concelho de Montalegre, há 50 anos.
A franco-portuguesa chegou a França em 1970, com três anos, e adquiriu a nacionalidade francesa em 1988, tendo sempre falado português em casa dos pais e tendo chegado a integrar uma associação portuguesa de Pau, no sudoeste do país, uma cidade dirigida por François Bayrou que foi nomeado ministro da Justiça.
Insistindo sentir-se "portuguesa na alma", a candidata que entrou na FN em 2012 esboçou um retrato de França como "um país que fez vir muitos estrangeiros e deu a possibilidade a todos de ter uma vida melhor", incluindo aos seus pais, mas considera que se chegou a uma rutura.
"Agora, a França não pode receber tanta pessoa estrangeira porque não há trabalho. A França perdeu na economia, perdeu muito trabalho, muitas fábricas foram para países onde se trabalha a preço bem baixo. Antes havia trabalho para toda a gente, havia respeito. Hoje não há nada disso, a França perdeu muito valor. É preciso uma França que encontre os valores que tinha antes", argumentou a educadora de infância.
Lucinda Carvalho, que se candidata pela segunda vez a um lugar de deputada, considerou que durante a vaga migratória de portugueses para França, nos anos 60 e 70, "havia trabalho, havia respeito" e que "não havia, como agora, pessoas que vêm de outros países e que querem obrigar a comer diferente" ou a "ensinar línguas estrangeiras que não interessam nas escolas".
"Nós temos todos a mesma religião e temos uma maneira de respeitar as pessoas. Há pessoas que vêm de outros sítios que não têm nada a ver connosco e querem impor-nos a cultura delas. Eu não sou racista porque sou de origem portuguesa, mas há pessoas que vêm para a França e não a respeitam como nós - os portugueses ou os espanhóis - a respeitámos", considerou.
A luso-francesa defendeu, ainda, que o partido de extrema-direita "não é fascista porque defende os valores do país, a economia, o trabalho, as pessoas que vivem em França", acreditando que os que defendem a FN "são pessoas respeitadoras e com valores".
A candidata na terceira circunscrição do distrito Pyrinées-Atlantiques tem 13 adversários e acredita que "ir à segunda volta é possível" porque alega que a FN teve "bons resultados" na sua região durante as presidenciais.
Na reta final para as legislativas, Lucinda Carvalho promete intensificar a campanha, nomeadamente junto dos "muitos portugueses" da sua região, seja em associações, em feiras onde distribui panfletos ou em reuniões públicas, afirmando que "ficava contente se os portugueses" votassem nela.
Lusa
29
Mai17

MATUTANDO

António Garrochinho

PARA ME INSPIRAR NOS MEUS TEXTOS E COMENTÁRIOS E PARA ME INFORMAR COSTUMO DAR UMA VOLTA PELO UNIVERSO BLOGUER E DEPOIS PELAS PUBLICAÇÕES DO FACEBOOK JÁ QUE O JORNALIXO DOS PASQUINS ME DEPRIME.
HOJE NÃO ME ESCORRE NADA !

A princípio ainda matutei se seria a "culpa" do glorioso já que terminou a época em cheio mas não ! A culpa é mesmo dos que têm a obrigação de informar que ocultam não divulgam o que tem interesse no que cultiva, e não sabem informar com independência e sem dualidades.

A INFORMAÇÃO QUE SE ENCONTRA NO ESTRANGEIRO É MAIS COMPLETA APESAR DA "DOENÇA" QUE ATACOU OS MEDIA EM TODO O PLANETA TODA A GENTE QUE ANDA POR AQUI NA NET SABE QUE EM PORTUGAL SOMOS UMA VERGONHA.

O QUE NÃO SE PLAGIA, INVENTA-SE E O QUE NÃO SE INVENTA DETURPA-SE E NO RESTO MENTE-SE.

Que me perdoem os jornalistas sérios, os que têm gosto na profissão e fazem dela uma profissão que outrora foi digna e prestava um bom serviço aos leitores, aos espectadores das TVÊS.

Para terminar neste excerto lembro que:A ética jornalística é o conjunto de normas e procedimentos éticos que regem a actividade do jornalismo. Ela refere-se à conduta desejável esperada do profissional. Portanto, não deve ser confundida com a deontologia jornalística ligada à deôntica.

A deontologia refere-se a uma série de obrigações e deveres que regem a profissão. Embora geralmente não institucionalizadas pelo Estado, as normas da ética jornalística são consolidadas em códigos de ética que variam de acordo com cada país.

Actualmente, o jornalismo oscila entre a imagem romântica de árbitro social e porta-voz da opinião pública e a de empresa comercial sem escrúpulos que recorre a qualquer meio para chamar a atenção e multiplicar suas vendas, sobretudo com a intromissão em vidas privadas e a dimensão exagerada concedida a notícias escandalosas e policiais.

Jornalismo é também definido como "a técnica de transmissão de informações a um público cujos componentes não são antecipadamente conhecidos". Este particular diferencia o jornalismo das demais formas de comunicação. Actualmente, o termo "jornalismo" faz referência a todas as formas de comunicação pública de notícias e seus comentários e interpretações.
O tipo de jornalismo de ética duvidosa ou contestável é chamado de imprensa marrom, sensacionalista, pimba,


António Garrochinho
29
Mai17

Os novos pobres da Comporta

António Garrochinho



Trabalho Ganham três euros, brutos, por hora, dormem em contentores e não se queixam. São os imigrantes mais explorados do país

OS NOVOS POBRES DA COMPORTA

Na rota da exploração laboral na Costa Vicentina

Textos Hugo Franco Fotos Tiago Miranda



Uma ação de fiscalização do SEF/ACT identificou 200 trabalhadores estrangeiros na última quarta-feira na Comporta e em Grândola. Imigrantes dormem em contentores com a roupa e comida ao monte. Alguns sonham em ter um negócio na restauração outros dizem-se satisfeitos com o trabalho no campo 


As moscas atacam a cara, as mãos, o pescoço. Voam entre os restos de comida e os pacotes de leite aberto. Acumulam-se num tupperware onde descansa a massa do naan (pão), numa cozinha improvisada. “Estão em todo o lado. Nem na Índia era picado por tanto inseto como aqui na Comporta.” O desabafo, num português esforçado, é de Mohandas (nome fictício), um dos 50 trabalhadores que caminham a passo lento até à zona onde se concentram os inspetores da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) e do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). Mohandas já está farto das moscas, dos patrões que só querem “work, work, work” em troca de três euros (brutos) por hora e de partilhar um contentor sem janelas, sem mesas e armários e pouco maior do que uma vulgar sala de jantar juntamente com seis, e às vezes sete colegas. Já esteve em Beja na campanha do melão, agora apanha brócolos e abóboras na Comporta. “É um trabalho sujo. Não quero que a minha família venha cá ver isto”, diz o imigrante que ainda assim não pretende voltar ao seu país e sonha em ter um dia um restaurante em Lisboa.

Mas os sonhos não são para aqui chamados. A poucos quilómetros das praias desertas de areia dourada e dos resorts de luxo, que o “The New York Times” apelida de “hippie chic”, ficam os dormitórios dos trabalhadores vindos da Índia, do Nepal, do Senegal e do Paquistão. O cenário é semelhante: roupa espalhada nas camas e no chão, ao lado de canecas, pratos por lavar, tachos com restos de arroz, embalagens de detergente, batatas fritas, latas de feijão, botas e mochilas abertas. “Isto é muito mau, é horrível”, constata uma das inspetoras do SEF que tinha estado na propriedade em fevereiro. “Está tudo na mesma”, acrescenta, torcendo o nariz. O cheiro, de comida e transpiração, é nauseabundo. É pior ainda na cozinha, também situada num dos contentores, onde dois tachos em tamanho XL guardam o almoço. O calor amplia os odores e cola-se ao corpo.

Na operação de combate ao tráfico de seres humanos, do SEF e da ACT, com o apoio da GNR, e que se desenrolou em paralelo por toda a Europa através do programa Empact, da Europol, foram identificados cerca de 200 imigrantes esta quarta-feira na Comporta, mas também numa herdade de produção intensiva de mirtilos, ali perto, em Grândola.

Na herdade da Comporta, a presença de mais de 40 operacionais, que obrigam à paragem do trabalho durante toda a manhã, causa visível desconforto entre os dois responsáveis de campo. Um deles, que prefere não se identificar, reconhece que os funcionários “fazem um trabalho duro, mas não escravo”, lamentando que não haja portugueses interessados na agricultura. Admite que estes imigrantes “talvez devessem ser mais bem remunerados”, justificando que tal não é possível já que as margens de lucro são baixas: “Teríamos de aumentar os preços dos produtos.” O jovem gestor defende que todos os consumidores acabam por ser culpados pelos magros salários praticados nas herdades de produção intensiva como aquela. “Queremos todos produtos da maior qualidade ao mais baixo preço, o que faz pressionar as grandes cadeias de distribuição, não dando hipótese para os agricultores pagarem mais.”

Quanto às condições nos contentores, onde segundo a ACT são cometidas várias ilegalidades, este gestor aponta o dedo aos trabalhadores. “Colocámos contentores novos, mas eles não têm cuidado e degradam-nos rapidamente. Não conseguimos combater as barreiras culturais.” Ainda assim, garante, a empresa responsável por estes dormitórios, que funcionam a poucos metros dos campos de brócolos e abóboras, prepara-se para os retirar do local, onde também existe uma fossa a céu aberto, que já tinha sido multada pela GNR. “Vamos realojá-los em casas”, promete.

Só que as casas onde vivem outras tantas centenas de imigrantes, sobretudo na Costa Vicentina e junto a Alqueva, estão longe dos mínimos exigíveis de habitabilidade. Junto à outra propriedade fiscalizada, em Grândola, dormem cerca de 20 pessoas dentro de um casebre. “Há pelo menos seis colchões por quarto espalhados pelo chão. Uma miséria”, comenta um operacional. Mas há exemplos piores. Este ano, a ACT já deu com um T3 em Serpa, onde se amontoavam 55 pessoas que pagavam uma renda mensal de €1530. Em Pedrógão, viviam 25 famílias numa antiga oficina de automóveis com uma única casa de banho. Foram também já detetados casos de trabalhadores que tinham de descontar uma parte do salário pela pernoita em contentores, muitos deles sem eletricidade ou água quente.

Praias e Cristiano Ronaldo

Não foi detetado nenhum caso flagrante de tráfico de pessoas para exploração laboral, que era um dos objetivos da missão. E quase todos os imigrantes tinham consigo os contratos das empresas de trabalho temporário, todas elas debaixo dos radares da ACT e do SEF há vários meses. Mas o fenómeno preocupa os investigadores. “O trabalho escravo existe em Portugal. Já não tanto nas grandes empresas de referência viradas para a exportação, como nestas que fiscalizámos hoje, que não querem ter o seu nome envolvido em situações socialmente deploráveis”, afirma Carlos Graça, coordenador da equipa da ACT especializada em trabalho não declarado.

São as pequenas empresas, criadas de um dia para o outro, que causam as maiores dores de cabeças às autoridades, já que conseguem operar na sombra, impondo a lei do silêncio aos trabalhadores, os mais vulneráveis da cadeia, e que apenas querem arranjar uma maneira de ter trabalho em Portugal, mesmo que sem um contrato e recebam muito abaixo daquilo que lhes haviam prometido. “É difícil caçá-las”, admite Carlos Graça, que sabe de casos de imigrantes que saem do seu país com dívidas de 10 a 15 mil euros a estes grupos. “Como não têm dinheiro, ficam desde logo em falta para com eles. Uma parte do salário é enviado para a família mas serve também para pagar a estas redes”, acrescenta (ver entrevista).

Em 2015 e 2016 o SEF identificou 25 suspeitos (portugueses e estrangeiros) do crime de tráfico de pessoas para fins de exploração laboral. “No distrito de Lisboa foi assinalado um aumento gradual de sinalizações deste tipo de crimes. E Santarém e Beja registam o maior aumento a nível nacional no ano passado.” Nos últimos dois anos foram condenados seis traficantes de pessoas por exploração laboral, em processos do SEF, todos com penas de prisão entre três e cinco anos, suspensas.

“O facto de as pessoas no país de origem não terem as mesmas condições de trabalho não pode permitir que em Portugal se pense que elas estavam habituadas a pior e que assim estão bem. A dignidade humana tem de se sobrepor, independentemente da qualidade de vida no país de origem”, defende o inspetor Orlando Ribeiro, coordenador da Unidade Antitráfico de Pessoas, do SEF.

Nestas herdades da Comporta e em Grândola, o óbvio por vezes parece escapar-se entre os dedos. A revolta de Mohandas, o imigrante indiano que sonha ter um restaurante, não é partilhada, pelo menos publicamente, pelos compatriotas que formam filas em frente da carrinha Schengen (que tem o registo das entradas legais no espaço europeu), que controla em tempo real se os imigrantes têm os passaportes e vistos regularizados. A esmagadora maioria diz-se “muito feliz” por ter um emprego em que recebem “pelo menos o dobro” do salário que auferiam na terra natal. E mesmo os que admitem trabalhar mais de 11 horas seguidas, em dias em que as temperaturas ultrapassam os trinta graus, não revelam qualquer tipo de descontentamento. “É bom estar no país de Cristiano Ronaldo e destas praias lindas”, diz Yam Lal Paudyal, um nepalês sorridente de 28 anos no meio do grupo de amigos, todos igualmente sorridentes. E têm eles tempo, e meios, para ir à praia? À do Carvalhal, a mais próxima, dificilmente se acede sem ser de carro. “Passeamos quando podemos”, respondem já com menos sorrisos. No intervalo do trabalho, logo após o almoço, os mais resistentes caminham em grupo ao lado das estradas secundárias. Os outros, a grande maioria, aproveitam para dormir debaixo dos sobreiros.

TRÊS PERGUNTAS A

CARLOS GARCIA


Inspetor de trabalho; coordenador da equipa da ACT especializada em trabalho não declarado

Existe trabalho escravo em Portugal?

Existe. Infelizmente, temos ainda largas franjas de falsos prestadores de serviços. São empresas de ocasião, unipessoais, criadas com o único objetivo de lucrar o máximo possível no mais curto espaço de tempo. São formadas em Portugal, e em regra por pessoas dos mesmos países de onde vem a mão de obra. Aconteceu no passado com os romenos, tailandeses e agora com os indostânicos (nepaleses, paquistaneses ou indianos). Quando são intercetados pelas autoridades pura e simplesmente eclipsam-se. Praticam um trabalho escondido: não fazem descontos, não declaram os trabalhadores, não pagam seguros. São dirigidas por um testa de ferro, que é um trabalhador como outro qualquer, selecionado para constituir essa empresa. Mal é descoberto, esse trabalhador desaparece e vai para outro país da Europa. Pouco tempo depois, um colega forma outra empresa, a mando de alguém. Com as alterações da lei no ano passado, os proprietários das herdades passaram a ser responsáveis solidários com as infrações que aí se praticam. E começam a ter mais cuidado e controlo com quem contratam.

Mas os portugueses não querem trabalhar nestas herdades e as grandes produções agrícolas precisam de muitos trabalhadores...
Alentejo está em forte expansão e necessita muito de mão de obra, principalmente na Costa Vicentina e em Alqueva. Dada a escassez de mão de obra nacional, tudo o que vem a qualquer preço é bom. No meio destes milhares de trabalhadores continua a haver empresas com práticas deploráveis. Fazemos também o controlo a montante, com o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), em relação aos pedidos de admissão de novos trabalhadores em Portugal. Este tipo de empresas está a ser barrado. Elas só recrutam pessoas com o intuito de depois as ceder a terceiros. Vamos continuar muito atentos a esta realidade, pois elas contribuem para o crescimento da economia paralela: este fenómeno alimenta, por exemplo, o mercado do arrendamento ilícito.

A maioria dos trabalhadores com quem falámos não se queixa muito.
 
Infelizmente, eles aceitam isto como se fosse razoável. Um cidadão indiano identificado por nós há pouco tempo dizia-me: “Isto não é bom, mas eu suporto.” Na lógica deles, já é bom ter um teto, televisão, eletricidade, uma casa de banho onde por vezes corre água quente, outras vezes água fria. No país deles, vivem em condições muito piores do que estas. Este é o argumento que as empresas sem escrúpulos utilizam para os convencer a vir trabalhar para Portugal. Ganhar o ordenado mínimo português é muito mais do que alguma vez eles vão conseguir no seu país, mesmo depois de pagar as dívidas às cadeias mafiosas. Muitos já saem do país com dívidas de 10 a 15 mil euros a estas redes. Isto passa-se ainda antes de os imigrantes chegaram ao nosso território. Em Portugal, tentamos controlar estas ilegalidades. Mas isto é mais difícil de fazer no país de origem, onde tudo começa.

OS 23 DO NEPAL

No último verão, três homens (um português e dois estrangeiros) foram detidos numa operação SEF/ACT quando se preparavam para abandonar o país de avião. As autoridades resgataram ainda 23 trabalhadores nepaleses de uma propriedade agrícola em Almeirim. Os suspeitos, que estão a ser julgados em Santarém com a acusação de tráfico de seres humanos e auxílio à imigração ilegal, descontavam o alojamento e a comida do magro salário. Os casebres não tinham janelas nem pavimento. Só havia uma cozinha e uma casa de banho comum, sem água canalizada. Também não havia eletricidade. Às vítimas era prometido que se conseguiriam regularizar junto do SEF. Tudo mentira.


NÚMEROS


371
trabalhadores estrangeiros e 22 empresas identificadas pelo SEF esta semana em operações para detetar casos de exploração laboral em propriedades agrícolas. Foram realizadas fiscalizações em Grândola/Comporta, Castelo Branco, Vila Real, Leiria, Faro e Porto


1000
cidadãos estrangeiros sem autorização de residência ou visto em operações de combate ao trabalho ilegal detetados pelo SEF em 2015 e 2016


200
trabalhadores, detetados em situação precária e sem condições de trabalho, foram regularizados após intervenção da ACT em 13 explorações agrícolas, em 2015


118
vítimas de exploração laboral confirmadas pelas autoridades em 2016, ano que bateu o recorde nestes casos, de acordo com o Observatório de Tráfico de Seres Humanos

Jornal Expresso SEMANÁRIO#2325 - 20 de Maio de 2017

 cadernosdalibania.blogspot.pt
29
Mai17

INTERVENÇÃO DE JERÓNIMO DE SOUSA, SECRETÁRIO-GERAL, ALMOÇO REGIONAL DA CDU «Precisamos de continuar a lutar para inverter o inquietante processo de desertificação, declínio social, de estagnação e regressão económica»

António Garrochinho



Uma forte saudação a todos os presentes e a esta terra de Seia que nos recebe, a todos os que no distrito da Guarda estão neste projecto democrático e unitário da CDU, neste espaço de participação e realização ao serviço das populações.
As minhas palavras são para manifestar o nosso reconhecimento pelo esforço, pela persistência, pela dedicação a esta terra de todos os que por aqui continuam a intervir e a agir em defesa das populações e que, apesar das muitas dificuldades e das conhecidas resistências à consideração séria dos seus problemas, não desistem de lutar e de propor soluções para a defesa e o desenvolvimento da sua freguesia, do seu concelho, do seu distrito.
Um reconhecimento e uma saudação muito especial, neste momento, ao povo de Almeida (na pessoa da sua presidente de Junta que aqui está) e à luta que tem vindo a travar e continua a travar contra o encerramento da agência da Caixa Geral de Depósitos no seu concelho. Uma luta justa que tem o nosso apoio. Todos sabem da posição do PCP em relação à solução a encontrar para este banco público.
Defendemos a recapitalização da Caixa como uma necessidade estratégica para a sua defesa e desenvolvimento como banco público ao serviço do povo e do País. Mas não poderíamos, nem podemos aceitar um plano de reestruturação assente em centenas de despedimentos e no encerramento de dezenas de balcões. Nem a solução que impôs a União Europeia e o governo PS aceitou que o obriga à emissão de dívida com uma taxa de juro superior a 10%.
As dificuldades por que tem passado a Caixa não estão no número de balcões, nem no número de trabalhadores. Essas dificuldades têm origem na forma como foi gerida a carteira de crédito, nos créditos concedidos aos amigos sem nenhumas garantias de reembolso, nos negócios ruinosos, como aconteceu com o negócio de Espanha, entre outros.
Não foram os trabalhadores, nem as populações os responsáveis pela situação, pelo que não podiam, nem podem ser eles a ser penalizados.
Não andou bem o governo do PS nesta questão e andou também muito mal quando entregou o Banif ao maior banco espanhol a preço de saldo e com pesados encargos para o erário público e o Novo Banco a um fundo de investimentos americano, ao mesmo tempo que adiava o prazo do pagamento da banca privada de 4,9 mil milhões de euros do fundo de resolução do BES, por 30 anos.
Mas o que este problema do encerramento da agência de Almeida revela é que ainda precisamos de continuar a lutar para inverter o inquietante processo de desertificação, declínio social, de estagnação e regressão económica que a política de direita promoveu durante todos estes últimos anos.
Uma política contrária aos interesses do País e do povo, que cortou no investimento público, destruiu e abandonou a produção nacional, suporte de vida das populações e que se agravou com as políticas de ataque aos serviços públicos e as políticas de privatização das empresas públicas que têm levado ao encerramento e à diminuição da oferta de muitos dos seus serviços, com a dupla consequência negativa de submeter a gestão do respectivo serviço exclusivamente à eficiência financeira e aos critérios do lucro e diminuir a oferta de emprego nestas regiões.
Na verdade, anos e anos de governos do PSD, CDS e PS que deixaram os territórios do interior cada vez mais frágeis.
Anos e anos a prometerem ciclicamente políticas de desenvolvimento regional e de combate às assimetrias e a anunciarem vezes sem conta uma vontade descentralizadora, mas tanto as promessas, como a vontade proclamada acabaram sempre por transformar-se em soluções cada vez mais centralizadoras de serviços, de programas, de fundos que deixaram um vazio de medidas de defesa e valorização das actividades económicas que poderiam ser suporte de um desenvolvimento sustentado destas regiões. Foi assim, a par com políticas nacionais e europeias ao serviço dos grandes interesses económicos e monopolistas, que avançou o processo de desindustrialização e se acelerou o declínio do sector agrícola e do mundo rural.
Fala-se hoje muito de descentralização e fazem-se propostas, tal como se anunciam programas visando garantir coesão do território nacional, como as que faz o governo do PS.
Mas não é possível falar seriamente de descentralização ignorando as limitações financeiras e administrativas a que as autarquias têm estado sujeitas, procurando confundir transferências de responsabilidades com passagem de encargos.
Não é possível falar seriamente de descentralização à margem da criação das regiões administrativas, cuja concretização é um imperativo para criar condições para uma política de desenvolvimento regional com a activa participação das autarquias e dos agentes económicos e sociais.
Não é sério falar de descentralização e de proximidade e, ao mesmo tempo, recusar a reposição das freguesias liquidadas como ainda recentemente PS, PSD e CDS fizeram.
Tal como não se encontra resposta ao desenvolvimento regional no Programa Nacional de Coesão Territorial e no seu errado diagnóstico acerca da origem das dificuldades do interior.
Um programa que não dá resposta à questão central dessas regiões, a redução e debilidade da actividade económica e do emprego.
Não encontra resposta na actual política agrícola a reboque da PAC e dos critérios da política de direita que permanecem e seguem a saga destruidora de explorações agrícolas familiares com o seu papel único na ocupação do território.
Tal como não encontra resposta na recente Reforma Florestal por falta de resposta aos seus estrangulamentos e porque se esquece da questão central que é a do preço da produção lenhosa, para não tocar nos interesses dos grandes grupos económicos.
A construção de um Portugal mais desenvolvido, mais coeso e mais justo terá que assentar numa mudança profunda, numa ruptura com a política de direita que tem sido seguida e na concretização de uma nova política voltada para as necessidades do País e do povo português.


www.pcp.pt
29
Mai17

A culpa é de Corbyn

António Garrochinho



Depois da campanha A Culpa é de Mélenchon, podemos também denunciar a campanha A culpa é de Corbyn, de resto já bem documentada por Agostinho Lopes. Faz todo o sentido. É que há apostas jornalísticas, já com mais de duas décadas, na diluição da social-democracia no consenso euro-liberal que não podem ser perdidas pelos esforços em curso, aqui e ali, para reverter esta diluição.

Ainda hoje na sua crónica semanal no Público Vicente Jorge Silva, cujo principal contributo para o debate público foi um insulto – “rasca” – a toda a uma geração na década de noventa, acusa Corbyn de ter arranjado “álibis” para o ataque terrorista em Manchester. Álibis, repito, vejam bem até onde desce a aposta no ataque ao socialismo que só pode ser democrático e logo anti-imperialista.

Na realidade, a intervenção de Corbyn sobre este tema foi tão clara quanto justa: “Muitos peritos, incluindo dos serviços secretos e de segurança, têm identificado as ligações entre as guerras que o nosso governo apoiou e travou noutros países, como a Líbia, e o terrorismo no nosso país. Esta avaliação em nada reduz a culpa dos que atacaram as nossas crianças. Estes terroristas serão eternamente repudiados e implacavelmente responsabilizados pelas suas acções. Mas um entendimento informado das causas do terrorismo é uma componente essencial de uma resposta eficaz, capaz de garantir a segurança do nosso povo e de combater, ao invés de estimular, o terrorismo.”

Nem mais, nem menos.

ladroesdebicicletas.blogspot.pt
29
Mai17

SOU O PAULO MAS....

António Garrochinho


Inspirado na profundidade da mensagem daquele cartaz do CDS de Águeda, que publiquei ali atrás… e apanhando no ar a ideia por detrás de um comentário lido por aí, cujo autor já não vou poder fazer a justiça de identificar (varreu-se o nome)… tomei a liberdade de criar um cartaz para oferecer, com todo o gosto, à campanha do CDS para a Câmara de Lisboa.
Samuel Quedas (facebook)
Foto de António Garrochinho.

29
Mai17

100º aniversário do nascimento de John F. Kennedy

António Garrochinho


Presidente dos Estados Unidos da América (1961/1963), nasceu a 29 de maio de 1917 em Brookline, Massachusetts e morreu a 22 de novembro de 1963 em Dallas. Foi o 35.º presidente eleito dos Estados Unidos, tendo sido também o primeiro a pertencer à Igreja Católica. Em 1941 alistou-se na Marinha e esteve no Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial. Foi eleito para o Congresso pelo Partido Democrático em 1946, e para o Senado em 1952. Em 1957 ganhou o Prémio Pulitzer com Profiles in Courage, uma biografia de oito senadores que preferiram sacrificar as suas fortunas a trair as suas ideias. Em 1960 derrotou Nixon nas eleições presidenciais, em parte devido aos bem sucedidos debates televisivos e ao auxílio de académicos e intelectuais de Washington. O seu programa de reformas internas designava-se New Frontier e foi executado a título póstumo por Lyndon Johnson. Enquanto presidente adotou uma atitude favorável à integração racial, sendo partidário da descolonização e do apaziguamento das relações leste-oeste. A sua administração durou 1037 dias. Enfrentou um conjunto de crises externas, especialmente em Cuba e em Berlim. Assumiu-se como único responsável pelo insucesso da invasão da Baía dos Porcos (Bahía de los Cochinos). Conseguiu a proeza de ver assinado o Tratado da proibição de ensaios nucleares pelo presidente soviético Nikita Khrushchev e pelo primeiro-ministro inglês Harold Macmillan; aprovou a Aliança para o Progresso, consolidação das relações entre os Estados Unidos e a América Latina; atravessou a crise de Berlim, tendo proferido a célebre frase «Eu também sou um berlinense», num discurso em frente ao fatídico muro. Era um presidente imensamente popular na América e no estrangeiro. Enquanto visitava o Estado do Texas, na cidade de Dallas, fazendo-se transportar numa limousine descapotável, Kennedy foi subitamente atingido por um tiro assassino na Praça Dealey, disparado a 22 de novembro de 1963 por Lee Harvey Oswald (1939/1963). À volta do assassinato do presidente surgiram muitas teorias que foram investigadas por uma comissão especial liderada pelo chefe da Justiça americana Earl Warren. Na altura, os investigadores determinaram que Oswald teria atuado isoladamente, mas mais tarde foi ventilada a hipótese de o assassinato ter resultado de uma conspiração.

John Fitzgerald Kennedy. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012.
wikipedia

Ficheiro:John F. Kennedy, White House color photo portrait.jpg
John F. Kennedy , 35º Presidente dos E.U.A.Ficheiro:JFK and family in Hyannis Port, 04 August 1962.jpg
John  F. Kennedy e a família em 1962

Ficheiro:Coche de Kennedy.jpg
O carro presidencial momentos antes do assassinato



Filme JFK
File:JFK-poster.png
Filme norte-americano de 1991, realizado por Oliver Stone e com guião baseado nos livros Crossfire: The Plot That Killed Kennedy, de Jim Marrs, e On the Trail of the Assasins, de Jim Garrison, sobre o assassinato do presidente John Kennedy. Fazem parte do elenco de actores Kevin Costner, Kevin Bacon e Tommy Lee Jones, entre outros. Ao longo do filme é mostrado, por diversas vezes, o vídeo amador feito por Abraham Zapruder, que mostra o presidente John F. Kennedy a ser atingido pelos tiros disparados contra ele.O filme foi incluído em quinto lugar na lista dos 25 filmes mais controversos de todos os tempos, feita pela Entertainment Weekly em 16 de Junho 2006.O filme apresenta uma possível teoria da conspiração para explicar o assassinato do presidente norte-americano .
29
Mai17

"Não se pode falar de descentralização ignorando limitações financeiras"

António Garrochinho



"Fala-se hoje muito de descentralização e fazem-se propostas, tal como se anunciam programas visando garantir coesão do território nacional, como as que faz o Governo do PS. Mas não é possível falar seriamente de descentralização ignorando as limitações financeiras e administrativas a que as autarquias têm estado sujeitas, procurando confundir transferência de responsabilidades com passagem de encargos", afirmou o líder comunista.

Jerónimo de Sousa falava em Seia, no interior do país, num almoço da Coligação Democrática Unitária (CDU), que juntou cerca de 200 militantes.
Na sua intervenção, referiu ainda que "não é possível falar seriamente de descentralização à margem da criação das regiões administrativas, cuja concretização é um imperativo para criar condições para uma política de desenvolvimento regional com a ativa participação das autarquias e dos agentes económicos e sociais".
"E não é sério falar de descentralização e de proximidade e, ao mesmo tempo, recusar uma proposta do PCP para repor as freguesias liquidadas pelo PS, pelo PSD e pelo CDS. Isto são dois pesos e duas medidas", apontou.
Jerónimo de Sousa disse ainda que "não se encontra resposta ao desenvolvimento regional no Programa Nacional de Coesão Territorial e no seu errado diagnóstico acerca da origem das dificuldades do interior".
No seu discurso, o líder do PCP lembrou também que "esta semana a Comissão Europeia, a contragosto, decidiu recomendar a saída de Portugal do Procedimento de Défice Excessivo".
"Para quem como nós se bateu, quantas vezes quase sozinhos, contra esta imposição intolerável e se bate e continua a bater para que o país se liberte do conjunto de outros constrangimentos que o submetem, não pode deixar de assinalar qualquer passo dado nesta direção como uma necessidade", afirmou.
No entanto, disse que agora andam "a dar palmadinhas nas costas uns dos outros a saber quem é que foi o campeão da saída do Procedimento por Défice Excessivo".
"Nós entrámos lá por alguma razão. Entramos lá devido à política que foi seguida pelos últimos governos, de comprometimento do nosso aparelho produtivo (...), com a pouca vergonha na banca em que desviaram milhares de milhões de euros, foi com o caráter especulativo pelas mãos dos Governos anteriores que nós entrámos lá. Ou seja, nunca devíamos ter entrado e, por isso mesmo, hoje congratulam-se com a saída, esquecendo as responsabilidades passadas que tivemos com esta situação", criticou.
Em relação às eleições autárquicas do dia 01 de outubro, Jerónimo de Sousa disse que é necessário afirmar a CDU "como uma força indispensável e necessária para a defesa dos mais genuínos interesses das populações".


29
Mai17

DONA BRANCA - COMO O GOVERNO "TRAMOU" A BANQUEIRA DO POVO

António Garrochinho
Foi o grande escândalo dos anos 80. O Observador faz a pré-publicação da nova biografia escrita pelo jornalista Pedro Prostes da Fonseca: "Dona Branca - a Verdadeira História da Banqueira do Povo".
Não era banqueira, mas emprestava dinheiro ao povo. Não tinha um banco, mas deixou um rasto de lesados. Maria Branca dos Santos, conhecida por D. Branca, era uma usurária que montou um esquema em pirâmide que colapsou com estrondo e escândalo nos anos 80. O Governo do Bloco Central (PS e PSD) teve de fazer face ao problema a meio de um programa de resgate do FMI, com uma estranha limitação. Nessa época, não era assim tão evidente a ilegalidade desta atividade. O jornalista Pedro Prostes da Fonseca, autor de livros como “Porta para a Liberdade” — uma biografia do guarda que permitiu a Álvaro Cunhal fugir do Forte de Peniche –, ou de “O Assassino de Catarina Eufémia”, escreveu agora a biografia da mulher que ficou conhecida como “a banqueira do povo”.
O Observador faz aqui a pré-publicação do livro “Dona Branca — a Verdadeira História da Banqueira do Povo” que chega às livrarias esta quinta-feira, dia 1 de junho. Esta é uma parte do capítulo quatro, onde o autor conta como o Governo tentou resolver o problema. Ernâni Lopes, ministro das Finanças, defendia uma abordagem legal ao problema, mas o ministro da Justiça, Rui Machete, convenceu-o apenas a gerar insegurança nos depositantes, para fugirem daquele esquema informal de empréstimos.

A biografia de Dona Branca, de Pedro Prostes da Fonseca, chega às livrarias no dia 1 de junho (Dream Editora)

Notícia de uma burla: o que ouviu a polícia

“Se 1961 ficou na história como o annus horribilis de Salazar, para Maria Branca dos Santos foi 1984 o ano de todas as tormentas. O episódio relatado na Judiciária por Maria do Rosário Nobre, que veio propositadamente da Figueira da Foz a Lisboa, acompanhada da irmã, em março, para juntas depositarem na D. Branca a pequena fortuna de dez mil contos [este valor atualizado corresponderia a cerca de 230 mil euros hoje, segundo os cálculos no site Pordata; os restantes valores que constam neste texto foram calculados da mesma forma] (seis mil, ela, e quatro mil, a irmã), é o retrato de um negócio já em perda.
Coube ao agente Vicente Henriques ouvir Maria do Rosário no primeiro dia de agosto de 1984 – uma quarta-feira em que a imprensa centrava atenções na fuga de Futre de Alvalade para o Porto. Por tão bem ilustrar o caos daquela atividade, transpõe-se, quase na íntegra, o conteúdo das suas declarações:
«Para esse efeito [depósito dos dez mil contos] deslocaram-se ambas [Maria do Rosário e a irmã], no dia 9 de março passado, logo pela manhã, ao local indicado no jornal [na Av. Almirante Reis], onde foram encontrar uma grande bicha de pessoas, umas para depositarem dinheiro, outras para receberem os juros dos depósitos. Quando chegou a vez delas, eram já 11 horas, talvez 11h30».

D. Branca com Manuel Manso, um dos muitos que foi condenado à revelia por ter escapado para o estrangeiro (foto cedida por Elvira Carracão)
«Entraram para uma sala de espera, onde se formava nova bicha. Alguns momentos depois, foram chamadas para uma sala anexa onde foram atendidas por um indivíduo ainda novo, alto, magro, aparentando uns 30 anos, a quem, depois de uma breve entrevista, entregaram o dinheiro constituído por notas do Banco de Portugal. Contra essa entrega de dinheiro, o mesmo indivíduo preencheu, assinou e entregou à declarante o recibo que se encontra fotocopiado junto à participação, tendo feito o mesmo à sua irmã».
«Enquanto isso, reparou a declarante, existia nesse escritório mais três empregados e umas três ou quatro empregadas […]. Recorda-se que viu a D. Branca ali sentada, pessoa que já conhecia por fotografias nos jornais e revistas. Porém, nesse dia não chegou a falar com ela».
Causou certa estranheza quando esse funcionário que a atendeu, após ter manuscrito o recibo, ter mostrado interesse em ficar na posse do original, facto que a declarante e a sua irmã contestaram imediatamente, chegando mesmo a dizer-lhe que isso levaria a que ficassem sem qualquer prova do depósito
«Esclarece a declarante que lhe causou certa estranheza quando esse funcionário que a atendeu, após ter manuscrito o recibo, ter mostrado interesse em ficar na posse do original, facto que a declarante e a sua irmã contestaram imediatamente, chegando mesmo a dizer-lhe que isso levaria a que ficassem sem qualquer prova do depósito».
«Um mês depois, mais ou menos no dia 9 de abril, a declarante e a sua irmã deslocaram-se de novo ao mesmo escritório, munidas dos recibos, e, chegada a vez delas, o mesmo funcionário que as havia atendido anteriormente pagou-lhes, em notas, 600 mil escudos à declarante e 400 mil escudos à sua irmã. No verso dos recibos, foi feita menção dessas quantias entregues como juros».

Edição especial do Tal & Qual dedicado a D. Branca. A tiragem de 180 mil exemplares esgotou em poucas horas (foto Tal & Qual)
«No outro mês a seguir, ou seja em início de maio, voltaram de novo ao mesmo escritório com o propósito de receberem mais juros, mas já ali não encontraram o empregado que as havia atendido. Foram, sim, atendidas por um outro homem, também novo, alto, bastante moreno, de bigode, e que dizia chamar-se Matos. A declarante e a irmã exibiram, tal como da primeira vez, os originais dos recibos e solicitaram os juros. Aquele mesmo indivíduo, não dando alguma explicação, levou-as para uma outra sala até junto de um indivíduo que estava ao telefone, baixo, magro, aparentando cerca de 30 anos, e que se dizia ser [Mário] Rui e sobrinho de D. Branca. Tal indivíduo, ao olhar para os recibos, disse espontaneamente que os mesmos eram falsos e que não pagaria os juros que reclamavam».
A sua irmã começou a exaltar-se, o que levou a que a própria D. Branca fosse junto dela e da declarante e, colocando o braço sobre a declarante, disse: “Não tenham problemas porque não ficam sem o vosso dinheiro”.
«A declarante e a irmã explicaram que tinham sido atendidas por determinada pessoa, ali mesmo naquele escritório, e que, no mês anterior, já tinham recebido os seus juros, como constava no verso dos seus recibos. Porém, isso não foi justificação que o tal [Mário] Rui aceitasse, reafirmando que não pagaria coisa alguma».
«Posto isto, a sua irmã começou a exaltar-se, o que levou a que a própria D. Branca fosse junto dela e da declarante e, colocando o braço sobre a declarante, disse: “Não tenham problemas porque não ficam sem o vosso dinheiro”. Foi a sua irmã que nessa altura afirmou: “Vamos mas é chamar a Polícia Judiciária”, ao que a D. Branca sugeriu logo que tivessem calma, não chamassem a polícia, e que fossem a determinado dia e hora a uma morada que lhes forneceu». (…)

A rede e um segurança professor de artes marciais

A 17 de julho, justamente no dia em que começaram a voltar para trás os primeiros cheques sem provisão assinados por Maria Branca dos Santos, esta ia à PJ apresentar queixa contra «um tal Leão e um Santos», acusando-os de falsearem os seus recibos.
Na semana anterior, Amândio Filomeno de Matos, natural de Angola, interrogado na Judiciária, explicou o seu papel na organização: que começou por ser depositante e ia receber os juros a casa de D. Branca até ser convidado a ajudá-la nos escritórios, para detetar a existência de recibos falsos.

D. Branca com Germinal Cordeiro, o homem com quem partilhou muitos anos da sua vida, retratados nos anos 40 (foto cedida por Elvira Carracão)
Rui Mendonça, um professor de artes marciais, seria recrutado para segurança: «Ela tinha uma grande preocupação que fizessem mal aos netos. Dava-me ao fim de cada semana um maço de notas que tirava de um saco, sempre entre 250 e 300 mil escudos».
Além de Matos e Mendonça, Rosa Maria David, Gizela Abreu e Linda ajudavam nos escritórios. Também Maria Eugénia, sobrinha de D. Branca – filha do irmão João – fazia parte da equipa, assim como o filho Mário Araújo.
Rui Mendonça, um professor de artes marciais, seria recrutado para segurança: "Ela tinha uma grande preocupação que fizessem mal aos netos".
Maria Luzia Calado e Mário Rui Marques Ferreira chegaram à organização não pela via de depositantes, mas desviados ao enteado. Trabalhavam na imobiliária de Ernesto Cordeiro quando D. Branca os convenceu a transferirem-se para o seu muitíssimo mais frutuoso negócio.
Com 28 anos e natural de Santa Iria de Azóia, Mário Rui tinha como missão levantar os cheques de D. Branca, abrindo, por ordem desta, contas em seu nome, para que o dinheiro da banqueira estivesse disperso caso houvesse uma investigação.
O homem que as duas irmãs apontaram como um dos principais responsáveis na organização, que lhes negou os juros, gostava de carros. Tinha um Jaguar 2.8, um BMW 3.15, um Triumph TR7 e um jeep Willis. Na Judiciária informaria que o BMW pertencia à mulher e que o Triumph e o jeep foram comprados na sucata por 150 contos [cerca de 3.500 euros], tendo gasto 250 contos [cerca de 5.800 euros] para os recuperar. Esta última verba fora-lhe dada por Luís Pereira, sócio do Hotel Mundial, em Lisboa – que, segundo o Tal & Qual, negociava com diamantes. Luís era marido de Maria Eulália Gomes Pereira, a Lola, retornada de Angola, arguida no processo e uma das primeiras a fugir para o estrangeiro – quando o casal entretanto já se separara.

Um dos muitos recibos que foram considerados falsos pela Polícia Judiciária (retirado do processo)
Mário Rui contou que D. Branca lhe emprestara 1.200 contos [mais de 27.500 euros] para pagamento de uma casa que comprou em Vialonga para a sua filha, Rita Isabel, de três anos, e que acabou por lhe dizer que não queria o dinheiro de volta, pois era uma prenda que dava à criança. Disse também na PJ que chegara a guardar, durante uns meses, em sua casa e na dos seus pais, por soli- citação de D. Branca, «uma importância que chegou a atingir 240 mil contos [cerca de 5,5 milhões de euros]». «À medida que ela ia necessitando, ia-me pedindo, até que em finais de março ou princípios de abril chegou a zeros».

Como Rui Machete convenceu Ernâni Lopes a gerar “insegurança”

Enquanto o Banco de Portugal e a Judiciária investigavam o negócio, o governo tentava encontrar a melhor forma de o empurrar para o fundo. Não haver uma legislação adequada ao caso complicava; as opiniões dividiam-se sobre se a atividade da banqueira era ou não legal.
O Tal & Qual, que começou por fazer de D. Branca sua bandeira, multiplicando várias vezes as vendas de jornais à sua custa, com o tempo começava a manchar-lhe a imagem. No dia 5 de junho de 1984 publicava um parecer jurídico, não assinado, que apontava para a ilegalidade do negócio: «O exercício das funções de crédito e a prática dos demais atos inerentes à atividade económica estão regulados pelo decreto-lei nº 41.403 de 27 de novembro de 1957. Apesar da nacionalização da Banca, esta regulamentação, com as devidas adaptações, não está conceptualmente ou sistematicamente prejudicada. Assim, continua a ser exato que, à face da lei portuguesa, só o Estado e as instituições de crédito podem exercer aquelas funções (artigo 2.º do citado decreto-lei). E, conforme ainda o artigo 3.º, só são instituições de crédito os institutos para tal efeito criados pelo Estado e os bancos. É evidente que D. Branca não figura neste enquadramento legal».
Para o governo, a situação não era tão simples. A edição de 5 de julho de 1984 do Diário de Lisboa citava uma fonte do Ministério das Finanças, segundo a qual «a dificuldade da investigação é a de provar que “a banqueira do povo” empresta apenas dinheiro a terceiros ou se dedica a atividades ilegais». Na véspera, já Ernâni Lopes, numa conferência de imprensa para apresentar o Programa de Recuperação Financeira e Económica, referia-se ao caso D. Branca, afirmando que o executivo tomaria «as medidas indicadas na altura própria», mas que o assunto pertencia principalmente ao pelouro do Minis- tério da Justiça.
"Devíamos criar nos portugueses um sentimento de insegurança em relação àqueles investimentos. Ernâni Lopes, que no princípio estava mais inclinado para um caminho mais formal, acabou por ceder às minhas insistências e fez uma declaração chamando a atenção que se tratava de uma atividade ilegal e sobretudo que tinha um risco."
Rui Machete, ministro da Justiça naquela época
Dois dias antes da declaração de Ernâni Lopes, o diretor do Departamento dos Serviços Distritais de Fiscalização Tributária de Lisboa ordenava uma fiscalização às atividades da banqueira. A tarefa foi entregue ao perito de fiscalização tributária de 1.ª classe, Manuel Martins da Fonseca, que viria a concluir que D. Branca exercia uma «atividade bancária». Nesta conformidade, era convidada a pagar 91.500 contos [erca de 21 mil euros] por falta de pagamento de contribuição industrial entre os anos de 1979 e 1983. O fisco não só não tinha ido mais atrás no calendário, como fizera uma dedução dos lucros sem qualquer base precisa.
A 2 de agosto de 1984, já mais respaldado pela devolução de cheques sem provisão, que já configurava crime, o governo referia-se pela segunda vez à banqueira. No final de um conselho de ministros, Ernâni Lopes advertia para os sérios riscos de colocar dinheiro na D. Branca e avisava que o executivo nada poderia fazer para quem ficasse «sem as suas poupanças neste negócio especulativo».

Multidão no dia da reabertura dos escritórios da D. Branca, na Av. Rio de Janeiro (foto Tal & Qual)
Estava em marcha o plano gizado pelo ministro da Justiça, como hoje recorda o próprio Rui Machete: «Eu tinha relações de especial amizade com o professor Ernâni Lopes, éramos como irmãos. Discutimos este problema e entendi duas coisas: em primeiro lugar, que dadas as caraterísticas da senhora [D. Branca], da maneira como agia, do duvidoso enquadramento penal, achava que não devíamos agir de maneira coerciva […]. Defendi, e depois o Ernâni Lopes acabou por concordar comigo, que devíamos criar nos portugueses um sentimento de insegurança em relação àqueles investimentos […]. Ernâni Lopes, que no princípio estava mais inclinado para um caminho mais formal, através dos trâmites da Justiça, acabou por ceder às minhas insistências e fez uma declaração pública, chamando a atenção que se tratava de uma atividade ilegal e sobretudo que tinha um risco. Passado pouco tempo, começou efetiva- mente a haver um sentimento de insegurança, com pessoas a deixarem de fazer depósitos e outras a correrem para recuperar o dinheiro que lá tinham posto. E rapidamente D. Branca deixou de ter dinheiro para pagar. O que provou ter sido uma estratégia que resultou em pleno».
Sob pretexto de férias, a 23 de julho de 1984 foram fechados todos os escritórios da organização, com promessa de reabertura para 3 de setembro. No dia 5 de outubro, a PJ descobria que estavam reservados três bilhetes para o voo da TAP de dia 12 desse mês com destino ao Rio de Janeiro. Só um desses bilhetes estava identificado em nome de Maria Branca dos Santos.
Elvira, a ex-companheira de Ernesto, coloca dúvidas sobre a existência desses bilhetes, por meses antes ter sido desafiada pela banqueira para ir passar uma temporada a Cádis com a família, porque alguém pagaria um milhão de contos para se afastarem. Perante a recusa de Elvira, D. Branca decidiu ficar em Portugal, por não querer afastar-se dos netos. Esta versão seria corroborada em tribunal por João Manuel Rodrigues da Silva, cunhado de Elvira e que aos domingos fazia serviço de motorista à banqueira: «Eles disseram-me que tinha que levar a D. Branca a passear para fora», afirmou, esclarecendo que esses «eles» eram elementos que a rodeavam, entre os quais contavam-se o advo- gado Francisco Garcia, Marta da Costa, Amândio de Matos e «um tal Vadinho».
Fabricado ou não, o episódio dos bilhetes era o argumento perfeito para a detenção de D. Branca e a estocada final na sua atividade. Rui Machete ganhara. Hoje, o ex-governante admite que a solução que defendeu comportou riscos, por poder ter criado um ambiente de pânico e insegurança, mas que os custos com a continuação da atividade da banqueira seriam maiores. «O mais preocupante para mim foi constatar que muitas das pessoas que tinham lá dinheiro eram pessoas com cultura, algumas até licenciadas em Direito, pessoas decentes que não tinham consciência de que poderiam estar a prejudicar outras mais inocentes. Lembro-me de ter ficado muito admirado quando, a falar com amigos sobre o assunto, me confessarem que também lá tinham ou tiveram dinheiro depositado».
Por pudor ou para não manchar a imagem, a maior parte dos depositantes na D. Branca nunca apresentou queixa, o que explica em grande parte que a Judiciária tenha apreendido recibos que, apenas relativos a 1984, totalizavam cerca de 17 milhões de contos, quando a soma dos valores declarados pelos lesados, respeitantes a depósitos entre 1983 e 1984, foi de apenas 1,14 milhões de contos [cerca de 26,5 milhões de euros]. A outra parte da explicação estará ligada aos recibos falsos, que foram impossíveis de quantificar.
Também justifica a razão de não surgir um magistrado, um agente da Judiciária, um médico, um arquiteto, um advogado ou um jornalista na lista de ofendidos, distribuídos, para fins de futura indemnização, em cinco escalões: «boa condição económica» (18,2%), «média» (33,2%), «remediada» (24,8%), «modesta» (28,6%) e «pobre» (0,3%). As indemnizações foram mandadas pagar solidariamente pelos arguidos que foram condenados, mas, como os que tinham a carteira mais recheada haviam escapado, a verba reunida chegou apenas a alguns dos lesados com menos recursos. Depois houve quem interpusesse ações civis contra D. Branca ou contra os angariadores a quem confiaram o seu dinheiro, como terá feito a freira Ludovina.”


observador.pt
29
Mai17

OUVIDOS E ESQUECIDOS (aviso: isto parece, mas não é sobre futebol)

António Garrochinho


(Por José Gabriel, in Facebook, 27/05/2017)
Passa hoje o 30º aniversário da vitória do F C Porto na Taça dos Campeões Europeus. As televisões e os meus amigos portistas narram de muitos modos esta efeméride. Reportagens, memórias, festejos, palavras de exaltação clubista e portista. Tudo isto se compreende. Mas, mais uma vez – com excepção das vozes dos jogadores do tempo ouvidos – a figura de Artur Jorge parece esfumar-se. Era interessante percebermos porquê. É que há muito penso que, a dar um exemplo de desportista profissional, escolheria, entre muito poucos, Artur Jorge. Então por que razão este país que tão depressa incensa gente da bola como se fossem exemplos de excelência nacional e vértice da magnificência humana, esquece tal figura? É que os atributos do Artur Jorge estão nos antípodas do perfil que a imprensa e a opinião publicada “desportivas” sacralizam. Quer dizer: as qualidades de um dos maiores jogadores e treinadores da história do desporto português são exactamente o que o desqualifica para ser ídolo nacional-futebolista.
Artur pertenceu à última geração do futebol da Académica antes do cilindro da hiper-profissionalização alterar completamente as condições do desporto, sobretudo do futebol, e transferiu-se para o Benfica perante uma proposta irrecusável. Todavia, apesar do cepticismo dos seus amigos, ia decidido a completar a sua licenciatura em Filologia Germânica. Sei disto porque, involuntariamente, assisti à conversa – não ia deixar ia bife a meio, não é? – entre Artur Jorge e Toni sobre o tema, ao balcão do Tropical; com as dúvidas, as importâncias em causa, as condições oferecidas. Sobre tudo isto guardarei silêncio, como é óbvio, mas compreendo o que o levou a decidir como decidiu.
Artur Jorge fez uma carreira brilhante no Benfica e na Selecção Nacional. Campeão nacional por diversas vezes, elemento destacado do que era, na altura – eu sou insuspeito – uma das melhores equipas do mundo, tudo parecia um caminho para a glória. O que se passou então? Aconteceu que:
– Artur Jorge concluiu mesmo a licenciatura em Germânicas.
– Encerrada a carreira de jogador, foi fazer um curso superior de desporto e especialização em futebol. Num país de Leste – socialista! -, valham-nos os céus!
– Iniciou a sua carreira acumulando bons resultados e sucessos, o que o levou aos grandes. Acumulou títulos no FCPorto. campeonatos nacionais, taças, super-taças e o mais que viesse. Finalmente, foi campeão europeu e mundial com o seu clube; o primeiro português – ouviram mourinhólatras?
– Entretanto, contrariando as expectativas e hábitos do nacional-futebolismo, gastava o seu dinheiro em colecções de arte e – heresia! – publicava poesia.
– Durante a sua vida, desde os anos 60 em Coimbra, nunca se furtou a ter uma posição de cidadania activa e democrática, o que, geralmente, era olhado com desconfiança no mundo da bola.
– Pecado final: sendo perguntado sobre os comentários aos jogos então transmitidos pela televisão, declarou que, para não ouvir disparates, desligava o som e punha música clássica ou jazz. Estava, assim, feita a heresia final e alimentado o ódio da comunicação social.
– A sua carreira de treinador desenvolveu-se em vários países, adicionado ao seu palmarés campeonatos, taças, super-taças em França, na Rússia, na Arábia Saudita.
– O seu êxito trouxe-o ao Benfica, que, com problemas financeiros e uma equipa envelhecida, queria resultados de milhões com investimentos de tostões. Aqui, teve a infelicidade de sofrer uma cirurgia a um tumor cerebral que o afastou do trabalho algum tempo. O Benfica ficou em terceiro, mas já tinha ali um bode expiatório, cujo nome arrastou pela imprensa como culpado de todos os males. Porque lembro isto? Porque ainda ontem ouvi esta referência e ela é recorrente em alguns dos meus amigos benfiquistas nesta rede. Nostálgicos de glória, parecem não perdoar nada.
– Artur Jorge foi, assim, a primeira grande figura nacional com voz de comando no desporto internacional. Só encontramos semelhante em Moniz Pereira, no atletismo.
Artur Jorge: um homem culto, um cidadão democrata empenhado, um esteta, um artista, um enorme profissional, um desportista exemplar como poucos, é apagado da memória comum e, até, hostilizado. Porquê? Exactamente por estas razões.
Repito: este texto fala de futebol mas não é sobre futebol.

 estatuadesal.com
29
Mai17

Um nómada para quem o mundo era a sua aldeia

António Garrochinho


(Valdemar Cruz, in Expresso Diário, 28/0572017)

Há mortes  que só quando acontecem nos apercebemos como acabam por levar um pedaço indelével do que somos. Para o bem ou para o mal, muito do que sou como jornalista devo-o a Miguel Urbano Rodrigues.
Uma outra parte não desprezível fica a cargo de outro grande jornalista também já desaparecido, Araújo Moreira.
O Miguel foi o meu primeiro diretor, em “o diário”, iniciava eu a minha caminhada no jornalismo. Assustava-me, às vezes, aquela voz, frágil no tom, mas poderosa no modo como expressava uma mundividência (foi na boca do Miguel que pela primeira vez ouvi esta palavra carregada de significados) geradora de espantos vários no jovem jornalista em formação que eu era nos meus 19/20 anos.
Como qualquer pessoa de convicções fortes, alicerçadas, neste caso, numa invulgar cultura, o Miguel suscitava ódios vários, que se mantiveram para a vida, mas também admirações continuadas. Há um número significativo de ex-jornalistas de “o diário”, por exemplo, que com ele trabalharam diretamente durante anos, para quem a simples evocação do nome do Miguel Urbano desencadeia um profundo sentimento de aversão. E, no entanto, há uma imensidão de gente para quem o Miguel era pouco menos que um herói. Ouviam-no em conferências e debates e sentiam estar ali a voz que lhes confortava as suas certezas, tão afastadas do espaço mediático. Mesmo na sua relação com o PCP, de que era militante desde a clandestinidade, não raras vezes o Miguel se mostrava irascível. Era um agastamento com justificações ideológicas, ancoradas na ortodoxia a que o associavam, e o levava não raras vezes a considerar que a orientação seguida pelo seu partido estava a ser feita de cedências para ele inaceitáveis. E dizia-o frontalmente. E debatia com quem fosse necessário.
Foi da sua boca e da leitura de alguns dos seus livros que melhor e mais intensamente percebi como o mundo está sempre muito para lá das fronteiras da nossa conveniência. O Miguel era um nómada. Todos os lugares eram a sua terra. O mundo era a sua aldeia. Mas o Miguel era um nómada, até das ideias, dos sentimentos, dos afetos.
Viajante obsessivo, conheceu, conviveu e participou nas lutas em que se envolveram inúmeros revolucionários do século XX. Em particular na América Latina.
Foi por decisão sua que pela primeira vez fiz um serviço no estrangeiro. Eu, que nunca viajara de avião, lá fui, jovem imberbe, para a então Checoslováquia. Saí de Lisboa com 19 graus positivos e chego a Praga com 20 graus negativos. Jamais esqueci as palavras do Miguel antes da minha partida para o aeroporto: “Vais encontrar uma cidade única. Viena é bonita, mas Praga é bela”. Depois disso já estive mais de uma vez em qualquer uma das cidades. Tendo a concordar com o Miguel. Há uma indizível beleza a pontuar as ruas de Praga.
Ao longo dos anos tivemos distanciamentos e aproximações. Com frequência discordávamos na análise de diferentes acontecimentos nacionais ou internacionais. Ainda assim, nunca deixava de me fascinar com o conhecimento que tinha de tudo, e dos protagonistas da História. Nunca, nem mesmo com o avançar da idade, abandonou, entre outras, duas características: o fascínio pelo belo consubstanciado no corpo de uma mulher, e uma infinita sede de conhecimento.
Ultimamente comunicávamo-nos muito por mail. Sempre que me acontecia ter de escrever o Expresso Curto, era seguro que a primeira reação a chegar à minha caixa de correio eletrónico seria a do Miguel Urbano Rodrigues. Poucos minutos após as 9 horas da manhã lá estava a cair uma mensagem do Miguel. Ele, que tanto gostava de falar, era ali muito sintético. “Hoje não gostei”. “Hoje foi muito bom”. Uma vez ou outra decidia-se por notas mais longas de apreciação.
De há uns tempos para cá deixei de receber os comentários do Miguel. Deixei de receber os artigos que escrevia e me enviava antes de os publicar. Comigo foi sempre de uma generosidade sem limites. Mesmo quando era duro, ou até injusto, no modo como comentava o meu trabalho ou as minhas opções. Essa maneira de ser era algo que lhe estava colada à pele. Comprazia-se com o modo como poderia ser absolutamente demolidor. Por isso suscitava ódios. Por isso cultivou inimizades.
Vou ter saudades. Vou sentir a falta do inesperado. Como aconteceu há uns anos numa rua de Havana, onde nos encontrámos por absoluto acaso. Esse acaso, porém, acabou por ser decisivo para o desfecho da reportagem do Expresso em que estava então envolvido, graças aos para mim inimagináveis contactos proporcionados pelo Miguel.
Nessa mesma viagem acabou por me intermediar uma entrevista, na mais absoluta clandestinidade, com um grupo de guerrilheiros latino-americanos de passagem por Havana. Por questões de segurança, o resultado dessa conversa só pôde ser publicado longas semanas depois e sem qualquer referência ao local onde decorrera a entrevista.
Nem ele, nem eu, acreditamos no além. Porém, depois deste desconcerto que constitui o despropósito de falar de mim para tentar, assim, de alguma forma explicar parte do que foi o Miguel, com as suas grandezas e fragilidades, quem sabe se não estará ele a sorrir com este desvio, e, mais surpreendente ainda, se os acasos da vida não farão com que um dia nos cruzemos por aí. Até logo, Miguel.

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