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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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30
Jun17

NOTA DO GABINETE DE IMPRENSA DO PCP - Acerca do roubo de material militar em Tancos

António Garrochinho


O PCP não pode deixar de considerar o assalto a um paiol militar em Tancos como um caso de extrema gravidade a necessitar de todo o apuramento, incluindo a retirada de consequências.
A existência de um sistema de vídeo vigilância inoperacional há dois anos, segundo notícias vindas a público, é revelador do estado de degradação a que as opções políticas de sucessivos Governos, e de forma mais violenta do anterior Governo PSD/CDS-PP, conduziram as Forças Armadas. Uma degradação nos planos de material, pessoal e dos direitos dos militares.
Ilustrativo da retirada de direitos dos militares é a situação que envolve o apoio aos familiares de militares, como seja a do militar recentemente falecido no Mali, resultante da alteração à lei, por parte do Governo PSD/CDS-PP, que fez com que os beneficiários deixassem de receber o equivalente a seis vezes o salário bruto do funcionário público falecido, e passassem a receber três vezes o indexante de apoio social, que está agora fixado em 421,32 euros, restando ainda perceber exactamente como está tudo o que diz respeito a seguros e apoio aos militares nas denominadas forças nacionais destacadas.

www.pcp.pt
30
Jun17

Pedro e o abutre

António Garrochinho


(João Quadros, in Jornal de Negócios, 30/06/2017)
quadros
De repente, abriu-se uma nesga. Uma nesga na couraça de sorte e resultados positivos de António Costa. Passos Coelho vislumbrou um calcanhar de Ulisses na geringonça e atacou. Podemos dizer que o resultado foi uma espécie de burro de Tróia.

Baseado numa informação falsa, dada pelo responsável pela Santa Casa de Pedrógão Grande, o líder da oposição acusou o Governo, e a ausência de apoio psicológico aos familiares das vítimas, de serem responsáveis por suicídios ocorridos após o incêndio. Tudo isto é muito difícil de explicar, a não ser que Santana Lopes ainda aspire ao cargo de líder do PSD. Com tantos factos relacionados com o que falhou em Pedrogão Grande, Passos vai além do ocorrido e resolve inventar e usar o que não lembraria ao diabo.
Passos Coelho é o SIRESP de António Costa. Sempre que se vislumbra algum perigo, ele aparece e, com as suas acções, salva a geringonça. Mais uma vez com o seu discurso de tragédia, Passos fez de maluquinho da aldeia: “Vem lá o segundo resgaste! Vem lá o diabo! Há gente a suicidar-se por desespero!”. Dá a sensação de que está na altura de alguém pagar um copo ao Passos.
Vinte e quatro horas depois, Passos Coelho veio pedir desculpa por não ter havido suicidas e de ter sido mal informado. Não chega. Passos não percebe que pior do que ter usado informação errada foi o que fez com ela. Passos Coelho pode ter lido a “Fenomenologia do Ser”, de Sartre, mas ainda não entendeu a moral da história do Pedro e o Lobo.
E aproveito e recordo que o FMI considerou que “não anteviu a magnitude dos riscos” que Portugal, Grécia e Irlanda enfrentaram durante a crise, e que os programas português e grego “incorporaram projecções de crescimento demasiado optimistas” – ou seja, já não é a primeira vez que Passos confia em informações erradas e se dá mal. Vá lá que desta vez foi só ele.
Não é preciso inventar fantasmas, há muitas perguntas sobre a realidade que têm de ser feitas e respondidas. Não me interessa se, segundo o Relatório do SIRESP, o SIRESP foi absolutamente espectacular. O SIRESP pode funcionar muito mal, mas tem uma grande auto-estima. Conheço tanta gente assim. Se o SIRESP custou o que custou, deve achar que é muita bom.
Este é um daqueles momentos em que faz falta um bom líder da oposição. Se Passos Coelho não está capaz, se José Gomes Ferreira não tem tempo, e se Cristas é a mãe de todos os eucaliptos, está na altura de pensar em reformular a floresta e o deserto que é a oposição.

 estatuadesal.com
30
Jun17

Jerónimo de Sousa participa num comício da CDU em Faro

António Garrochinho

Jerónimo de Sousa, secretário geral do PCP, participa, na próxima quinta-feira, 6 de Junho, às 21h30, num comício da CDU, a realizar-se no Jardim Manuel Bívar, em Faro.

Esta ação contará com a presença de candidatos às autarquias locais do concelho, numa iniciativa integrada na preparação das eleições autárquicas de Outubro.
Até porque o objetivo da CDU nesse ato eleitoral é aumentar «o número de votos e de eleitos em toda a região do Algarve».

Em Faro, com os primeiros candidatos da CDU à Câmara e Assembleia Municipal e Assembleias de Freguesia apresentados, e estando a decorrer as apresentações nas diversas freguesias, «a realização deste comício constituirá uma oportunidade para apresentar contas do mandato que está a terminar e divulgar as principais propostas da CDU para o concelho», segundo o PCP.
António Mendonça, vereador da CDU e candidato à Câmara Municipal de Faro, também intervirá nesta iniciativa.
«Num concelho que há muito é governado ora pelo PS, ora pelo PSD, a CDU apresenta-se com o seu projeto alternativo, como a única força verdadeiramente de esquerda no poder local, como a grande força de oposição às opções da actual maioria PSD, e como a voz das aspirações dos trabalhadores e populações do concelho», conclui o PCP.

www.sulinformacao.pt
30
Jun17

FARO - MONTENEGRO - Carros do Aeroporto invadem Montenegro, mas solução não descola

António Garrochinho








A situação não é nova e parece não ter solução à vista: o estacionamento na freguesia do Montenegro, que vive paredes meias com o Aeroporto de Faro, é um pesadelo. Os moradores e comerciantes “lutam” com os prestadores de serviços de empresas que operam na aerogare, com as rent-a-car e com as empresas de transferes, por um lugar para deixar o seu automóvel.

A Junta de Freguesia de Montenegro, em Abril, manifestou a sua preocupação sobre este problema, mas, desde então, e com a chegada do Verão e o aumento do número de utilizadores do Aeroporto, pouco mudou.
Steven Piedade, presidente da Junta de Freguesia de Montenegro, disse ao Sul Informação que conversou com Alberto Mota Borges, diretor do Aeroporto de Faro, pedindo «para criar um parque para prestadores de serviços das empresas que operam na aerogare, nos terrenos pertencentes à ANA que estão desocupados, cobrando uma taxa de 25 euros mensais, mas ele não mostrou grande vontade disso».

O autarca defende uma solução em que «os trabalhadores das prestadoras de serviços paguem um euro por dia. Já tenho falado com muitos deles e, atualmente, pagam cerca de 60 euros por mês. Com os ordenados baixos que muitos têm, querem poupar ao máximo».
Ao Sul Informação, Alberto Mota Borges disse que, «neste momento, disponibilizamos um parque de longa duração [custa 5 euros por dia] e um parque dedicado ao staff, mais afastado do parque em frente do terminal».
Segundo o responsável, um novo parque só «será avaliado se e quando a procura justificar o investimento».
Sem grande abertura da parte do Aeroporto, Steven Piedade diz que «temos tentado criar condições para utilizar todos os terrenos de cedência que existem por ocupar, para que os residentes estacionem lá».
Além disso, «temos conversado com o Município, vamos tentar marcar o estacionamento, ordenar, mas, com isso, aumentamos cinco ou seis lugares. Vamos também fazer uma obra de melhoria, ao pé da escola antiga, vamos criar mais 11 estacionamentos, mas são pequenas coisas, quando o problema é tão global».

Steven Piedade explica que «há vários problemas» que complicam o estacionamento dos residentes de Montenegro. «Quando a freguesia cresceu, a legislação não obrigava a estacionamento incluído no edifício. Depois, há danos colaterais do Aeroporto, ao nível do estacionamento: há os turistas que não querem pagar e deixam no espaço público, há as empresas de transferes e há as rent-a-car, para as quais há legislação: devem ter parque próprio e, em 24 horas, após a receção do carro, a viatura deve estacionada nesse espaço».
Mas isso também nem sempre acontece e até há relatos de carros a ser entregues aos clientes que os alugam, na via pública, em pequenas empresas que têm sede em Montenegro.
Steven Piedade diz que há mesmo uma empresa de rent-a-car que, «no Google Maps, está identificada como tendo a sua sede no estacionamento público. Já dei conhecimento disso à GNR. As outras têm sítio para colocar as viaturas, mas há tanta rent-a-car pequena, sobre as quais não temos informação, com 20, 30 viaturas, que, com a nova taxa, fugiram do aeroporto».

Armando Santana, presidente da ARA – Associação de Empresas de Rent a Car do Algarve, diz que já viu «fotografias que ilustram os problemas de estacionamento no Montenegro e não havia nenhum carro que fosse de rent-a-car. São muitos deles de clientes que têm de pagar preços exorbitantes para estacionar no aeroporto e de funcionários de empresas que operam na aerogare…».
No entanto, prossegue, «não quero com isto dizer que não existam situações momentâneas de estacionamento na via pública».
O representante das rent-a-car algarvias diz que, ao nível do estacionamento dos veículos deste tipo de empresas na via pública, «tem havido uma evolução muito positiva, porque as empresas estão obrigadas a ter parque. Não posso dizer que todos cumprem, há sempre os bons e os maus da fita nestas situações, mas não são as rent-a-car que constituem o principal problema».
Armando Santana considera que «há várias atividades envolvidas e com culpas no cartório, os parques do aeroporto têm 1/3 de ocupação, depois há também empresas de transferes, sediadas no Montenegro, que também estacionam. É necessária uma reflexão».

O problema do estacionamento das viaturas de empresas de transferes é realçado por Steven Piedade. «Não há qualquer tipo de legislação para essas empresas, que podem estar a ocupar espaço público. Só uma que temos no Montenegro, a maior do país, tem cerca de 400 viaturas que operam em todo o Algarve. É outro problema que temos ali. Dá emprego a algumas pessoas, é certo, mas cria estes constrangimentos».
Segundo o autarca, o problema não é específico de uma rua, ou de uma zona, e alastra-se «a toda a envolvente do aeroporto num raio de 600 a 800 metros. Em todo o lado, serve para deixar viaturas, na estrada para a praia, na Arábia, nas rotundas…».
Por isso, Steven Piedade diz que vai apelar à ministra da Administração Interna, «porque há o problema de a GNR não ter meios para fiscalizar todas estas situações, o efetivo é reduzido. Tem de haver uma ação concertada. Não passa só pela Junta de Freguesia, tem de ser global, porque o problema é enorme».

O problema é «enorme» e os principais prejudicados são os moradores e os comerciantes, que inundam as redes sociais com queixas sobre a falta de estacionamento. E houve quem já tenha passado das palavras aos atos, porque, diz Steven Piedade, «já tive conhecimento de alguns “ecos” de situações de vandalismo para com carros estacionados. Houve viaturas vandalizadas no Vale das Almas, mas, de momento, não tenho conhecimento que continuem essas situações».
Fonte do Comando Distrital da GNR, que não comenta a alegada falta de meios para fiscalizar o estacionamento indevido, também confirma, ao nosso jornal, a versão de que, este ano, «desde Janeiro, ainda não houve qualquer queixa relacionada com carros vandalizados na freguesia de Montenegro».
Sul Informação foi para a rua e constatou que existem carros estacionados – e bloqueados – em rotundas, bermas ou descampados, além de estacionamentos públicos ocupados por empresas de transferes. O problema está à vista de todos, a solução é que ainda não.

www.sulinformacao.pt
30
Jun17

Fotos lembram o amor do casal que há 50 anos abriu caminho para os casamentos inter-raciais nos EUA

António Garrochinho
1967. Depois de nove anos proibidos de pisar em seu próprio estado, a Virgínia, por serem um branco e uma negra formando um casal, finalmente Richard e Mildred Loving viram a Suprema Corte dos Estados Unidos reverter a decisão e definir que casamentos inter-raciais não poderiam ser proibidos em nenhum lugar do país.


A confusão jurídica começou em 1958, quando os dois viajaram até Washington para se casar, já que a cerimônia não seria permitida na Virgínia (nem em outros 15 estados do sul dos EUA). Pouco tempo depois de voltar para casa, eles foram surpreendidos pela polícia, que invadiu a residência graças à denúncia de um vizinho.
A certidão de casamento foi considerada inválida e os dois se declararam culpados por “coabitar como marido e mulher, contrariando a paz e a dignidade social”. Foram condenados a um ano de prisão, sentença anulada contanto que os dois deixassem a Virgínia e não retornassem por 25 anos.

Em 1964, advogados da União Americana pelas Liberdades Civis entraram com uma ação para que a pena fosse anulada. Eles apelaram até que a decisão fosse levada à Suprema Corte, que reverteu a sentença de forma unânime em 12 de junho de 1967.
O dia ficou conhecido como Loving Day, em memória do casal que lutou pelo fim da proibição de relacionamentos inter-raciais. O caso judicial ficou conhecido como Loving vs Virgínia, num trocadilho em que o estado se colocava tanto contra o casal Loving quanto contra o amor, e inspirou um filme lançado em 2016.

Em 1965, Grey Villet, fotojornalista da revista Life, documentou o dia a dia de Richard e Mildred, além de seus amigos e familiares, enquanto eles travavam a batalha na justiça. Para comemorar os 50 anos da decisão, o ensaio de Villet foi publicado em livro no começo de 2017, e são essas as fotos que ilustram a matéria.







Todas as fotos © Grey Villet


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30
Jun17

Nunca o inimigo do ser humano esteve tão definido

António Garrochinho

O neoliberalismo tende, assim, a regressar às remotas origens políticas, cada vez mais ciente de que o poder absoluto do mercado e os lucros plenos não se alcançam com democracias.
«O
«O "En Marche" macroniano é o paradigma da direitização actual»CréditosAlain Jocard/POOL / Agência Lusa
Muito mais que um simples problema de lateralidade, o actual exercício político dominante é um método acabado de distorção, engendrado pelos mesmos que sentenciaram a extinção da esquerda e da direita para sobrevivência do capitalismo selvagem à custa do sacrifício da democracia.
Como já devem ter reparado, por esse mundo afora, com evidência especial na Europa, o centro político desvia-se aceleradamente para a direita, enquanto aquilo a que chamam oficialmente a «esquerda», quando ainda existe, e com algumas excepções, lhe segue as pisadas.
A esquerda consequente foi encafuada na «extrema-esquerda» pelo discurso oficial dominante, onde fecha o modernizado circuito político encostada à extrema-direita, como o seu reflexo num espelho. Imutável e virtuosa, só a direita permanece no seu lugar, «moderada» e «democrática», aguardando que todas as correntes se lhe juntem, convertidas, enfim, à única e verdadeira ideologia: a ideologia única, disfarçada de extinção das ideologias, vitimadas pela inutilidade.
Reordenadas assim as coisas, o mercado reinará sem sobressaltos, os partidos rodarão inofensivamente em órbita de um sistema tutelar como um Sol protector e dinamizador de uma sociedade perfeita, guiada pela convergência de todos na maximização dos lucros de cada vez menos.
Enquanto o cenário ideal não se concretiza, a direita assume o papel maternal de acolher os que andavam transviados, ou apenas fingiam, repudiando os inconvertidos, tratados como escória cuja única utilidade é a de comporem uma democracia de faz-de-conta até que a palavra e o conceito se dissolvam no anacronismo.
Como está mesmo a antever-se, um esquema assim tão logicamente elaborado será vítima da própria perfeição, que não é compatível com as coisas humanas. O que não desencoraja os seus mentores, que dele extrairão as vantagens possíveis e enquanto for tempo.
Por isso, até no meio da casta amestrada dos politólogos começam a ouvir-se considerações sobre a «direitização da política», tão evidente ela é. Na verdade, a deturpação ideológica subjacente a este fenómeno pouco ou nada tem de novo. O que agora se torna significativo é a transformação das ideias propagandísticas e manipuladoras em factos consumados no ordenamento político-partidário através da Europa.
Isto é, durante décadas e décadas do século XX, a tendência dominante entre as associações políticas reclamando-se da social-democracia ou do «socialismo democrático» foi a de estarem mais perto dos interesses patronais do que dos trabalhadores, o que se reflectiu no funcionamento em alianças políticas com a direita, como ainda hoje se observa, às escâncaras, no Parlamento Europeu.
Para tornar mais fácil e eficaz a articulação com essa denominada «esquerda», e assim consolidar a institucionalização do «arco da governação», a direita «moderada» benevolamente tratada como «conservadora» procurou evitar associações evidentes com a extrema-direita e o fascismo, beneficiada pelo facto de esses sectores terem sido residuais durante bastante tempo.
Exceptuam-se destas considerações as longas colaborações entre os «arcos de governação» das democracias representativas e regimes fascistas como o português, o espanhol ou o grego, muito bem tolerados como sistemas autoritários úteis na geoestratégia da guerra fria, mesmo que os sacrificados fossem – como sempre – a democracia e os direitos humanos.
A assimilação, cultivada pela propaganda oficial, entre as esquerda consequente e a extrema-direita como correntes marginais, é uma réplica nada inovadora da recorrente teoria manipuladora que considera o fascismo igual ao comunismo, definido como social-fascismo, de que cuja divulgação até à exaustão os estrategos ultramontanos da CIA encarregaram os agentes «maoístas» de modo a iludirem, arrastarem e desviarem massas de jovens motivados pelos ideais revolucionários. O tempo acalmou a clarificou as águas, mas nem assim os novos ideólogos abandonam as velhas receitas.
As alterações em curso não aparecem subitamente do nada. Como se prova através das semelhanças com práticas anteriores, fazem parte de um processo em andamento que encontra um momento significativo, por exemplo, na transformação thatcherista do Partido Conservador britânico em organização de extrema-direita – não assumida, é certo – viragem confirmada agora com o desplante que é a coligação com o fascismo colonialista dos unionistas dominantes no norte da Irlanda.
Bastou aos tories juntar a componente nacionalista subjacente ao Brexit com as práticas de extrema-direita para esvaziar o UKIP como organização fascista, racista e xenófoba.
«En Marche macroniano é o paradigma da direitização actual: um ministro socialista funda um partido pessoal subsidiado por grandes banqueiros, candidata-se à presidência representando o "centro" e assume plenamente um poder absoluto, em estado de excepção, para impor as "reformas" neoliberais»
Permanecendo nas ilhas, recordo que Tony Blair aplicou a solução final de Thatcher ao Partido Trabalhista, através da famosa «terceira via»; demonstrando, contudo, a imperfeição das perfeitas esquematizações traçadas nos laboratórios neoliberais, Corbyn veio baralhar as contas através de uma coragem e de uma persistência que ninguém pode negar-lhe.
O golpe dado em Itália através da liquidação dos Partidos Comunista e Socialista, para dela emergir uma nova entidade tecnocrática e mercantilista designada Partido Democrático (os agentes ciáticos baptistas foram pouco imaginativos), apresentada como a «nova esquerda», foi outro passo para a «direitização». Correspondeu, porém, a circunstâncias temporais próprias ditadas pela queda do muro de Berlim e ao facto de a Itália estar sempre na linha da frente das práticas testadas pela NATO e as agências intervencionistas norte-americanas.
As transformações actuais, contudo, têm outra amplitude. São muito mais abrangentes e consolidadas, com as características de um salto qualitativo. Como se a persistência da crise – ainda agora confessada em Sintra pelo presidente do Banco Central Europeu – a lamentada «lentidão» da privatização dos Estados e das «reformas estruturais», isto é, a liquidação dos direitos sociais, laborais e humanos, suscitassem uma maior impaciência dos impérios económicos e dos sínodos financeiros.
Nos palcos políticos são muito claros os sinais de que existe uma vontade de colher apressadamente os frutos – podres – das múltiplas gestões sociais-democratas exercidas de leste a oeste da Europa.
Os partidos responsáveis por tais práticas, com excepção dos que decidiram manter-se dentro do respeito estrito pela democracia representativa, desaparecem e transformam-se tal como sucedeu aos Partidos Socialista e Comunista italianos. Os exemplos sucedem-se: Letónia, Estónia, Hungria, Polónia, Bulgária e Roménia, Grécia, Croácia e Eslovénia, Holanda, Bélgica (flamengo), Finlândia, Suécia, Dinamarca, Holanda… Sem escalpelizar, por ora, o mimetismo das mil e uma faces submissas da social-social democracia, fenómeno triste em exibição directa e ao vivo na Grécia.
E, claro, Espanha, Alemanha e França. Por suicídio, por descrédito, por pulverização suscitada pelo desnorte ideológico total, exposto em guerras pessoais e de clãs, ou ainda pela subserviência à direita institucionalizada na gestão daquilo a que chamam «União Europeia», a hecatombe social-democrata tornou-se uma epidemia.
Alguns insistem na designação original e cada vez mais enganadora depois de terem abraçado irremediavelmente a «terceira via».
Outros, cujo exemplo mais relevante é o caso francês, assumem a ruptura com o passado. O En Marche macroniano é o paradigma da direitização actual: um ministro socialista funda um partido pessoal subsidiado por grandes banqueiros, candidata-se à presidência representando o «centro» e assume plenamente um poder absoluto, em estado de excepção, para impor as «reformas» neoliberais; de caminho convida Donald Trump, que diz criticar, como primeira figura do primeiro 14 de Julho do seu consulado presidencial.
Para completar o cenário falta lembrar que Emmanuel Macron foi eleito com o patrocínio do staff da senhora Clinton e do senhor Obama, os maiores fazedores de guerras desta década, seguidores dos mais eficazes falcões entre os republicanos.
Entretanto, o senhor Manuel Valls, ex-primeiro ministro e um dos primeiros dirigentes a defender uma mudança de nome do PS, anunciou que abandona os escombros do partido que ajudou a destruir; o ex-presidente François Hollande segue o mesmo trilho, mesmo que não o proclame, ele que há dois anos profetizou que o PS deveria «suicidar-se» para dar espaço a um «Partido do Progresso», talvez en marche.
As generalizações podem ser abusivas; a identificação de tendências, ou mesmo de mudanças qualitativas, é um exercício de base factual. Ao fim de décadas a fazer trabalhos sujos da direita ao serviço da rapina neoliberal – enquanto a direita se encostava à extrema-direita, «para lhe retirar espaço» – a social-democracia arruinou-se e está a engrossar o espaço ocupado pela direita extremada e antissocial. Assim como a emergência de Trump não é um «engano» do establishment, a direitização do cenário político europeu é a continuação de uma mudança que, assim consolidada, facilmente se tornará global.
A direita devorou a sua «esquerda» oficial, o partido único com duas faces de uma moeda tende a unificar-se mesmo. A extrema-direita, que resiste a ser assimilada pela grande direita, torna-se maldita, como exemplificou a campanha mediática contra a senhora Le Pen, e vai fazer companhia no índex à «extrema-esquerda», prova de que o novo-velho autoritarismo é tolerante, pois permite a sobrevivência de marginais, desde que silenciados e inoperantes.
Os modos como se processa a instauração deste cenário permitem, porém, importantes clarificações. A mais relevante, no momento, é o descrédito absoluto da história da Carochinha segundo a qual o fascismo político e o neoliberalismo económico-financeiro são sistemas incompatíveis. Como se os nacionalismos atrapalhassem o sistema de exploração generalizada e de opressão dos sectores sociais verdadeiramente produtivos.
Nessa já nem os mais ingénuos caem. A ligação dos conservadores britânicos ao fascismo unionista dominante no norte da Irlanda perturbará a liberalização económica total, sempre em curso no Reino Unido? Quem acredita nisso? Do mesmo modo que a primeira experiência neoliberal no terreno executada pelos Chicago Boys, no Chile, a partir de 1973, necessitou da cobertura fascista e sangrenta da ditadura de Pinochet.
Foi assim que começou a era política e económica actual, não o esqueçamos. O neoliberalismo tende, assim, a regressar às remotas origens políticas, cada vez mais ciente de que o poder absoluto do mercado e os lucros plenos não se alcançam com democracias.
Neoliberalismo económico-financeiro e fascismo político são talhados um para o outro e, pelos exemplos ao nosso dispor, constituem mesmo a única solução em perspectiva para a sobrevivência do capitalismo no seu estado supremo de exploração humana.
Nunca, como agora, o inimigo do combate pela liberdade e pela democracia, o inimigo do ser humano, esteve tão definido no nosso horizonte.
José Goulão

www.abrilabril.pt
30
Jun17

RECADO AO PEDRO

António Garrochinho


Eu vou-te avivar a memória, já que não te lembras daquilo que fizeste quando eras Primeiro Ministro.
A primeira medida que tomaste foi o aumento do IVA, recordas?
Dessa medida resultou a falência de milhares de PMEs e o desemprego de milhares de trabalhadores.
Milhares de pequenos empresários ficaram sem meio de vida, cheios de dívidas viram-se obrigados a entregar casas aos bancos e a pedir esmola.
Conheci vários que se mataram dentro das empresas em desespero porque como eram empresários nem direito tinham a um subsídio de desemprego.
O desemprego disparou para níveis nunca vistos neste país.
As IPSSs, a Cáritas e outras organizações de Solidariedade Social não tinham mãos a medir para atender pedidos de ajuda de famílias inteiras que sem apoios da Segurança Social estavam a passar fome e desesperadas sem conseguirem fazer face ás despesas básicas.
Milhares de famílias foram atiradas para a rua, despejadas das suas casas pela Banca, por senhorios e pelas Finanças através de penhoras por dívidas ao Estado, quando muitas dessas dívidas eram de valor inferior ao valor real das habitações.
Depois vieram os cortes nas pensões de reforma, no complemento solidário para idosos, nas pensões de viuvez, nos abonos de família e nas pensões não contributivas como por exemplo no RSI que cortaste a torto e a direito sem olhar a quem e sem apelo nem agravo.
Aumentaste o IMI, começaste a cobrar IUC sobre veículos independentemente de estarem ou não em circulação, chegando ao ponto de cobrares esse imposto a quem nem carro tinha ou sobre veículos já abatidos há anos.
Aumentaste impostos na gasolina, no gasóleo, no tabaco, nas bebidas alcoólicas, aumentaste as portagens e todos esses aumentos foram reflectir-se no aumento do custo de vida que como é óbvio foi mais sentido pelas classes sociais mais frágeis e carenciadas.
Criaste as taxas moderadoras e com essa medida muitos idosos deixaram de ir ao médico ou aos hospitais.
Fechaste Centros de Saúde, Maternidades e Hospitais e muitos idosos morreram por falta de assistência médica, mas também jovens e parturientes morreram por falta de cuidados médicos.
Doentes oncológicos viram as suas cirurgias adiadas e sem cuidados continuados.
Doentes crónicos ficaram sem médicos de família e sem comparticipação em medicamentos imprescindíveis ao tratamento das suas doenças.
Lembras-te dos doentes com Hepatite C a quem negaste um medicamento que podia salvar vidas e mesmo curar?
Deu até azo a manifestações populares na AR que a tua amiga Assunção Esteves reprimiu e mandou deter alguns doentes que se manifestavam indignados e com razão!
Não eram suicidas mas tu querias bem lá no fundo que fossem para poupares algum. Fazia-te jeito para ficares bem visto perante a Troika e a tua amiga Merkele.
Fechaste escolas e fizeste dos professores e das suas vidas gato sapato, obrigando-os a andar em Bolandas sem saberem o que fazer e onde ir!
Mudaste Freguesias, alteraste comarcas, encerraste Tribunais e deste com os juízes e advogados em doidos com a porcaria do sistema Citius todo baralhado.
Esqueceste essa cena?
Eu lembro-te.
Dessa confusão resultaram prejuízos para empresas, para cidadãos e para todo o país que nunca mais se vai recuperar!
Pais que perderam a guarda dos filhos conheci 19, 5 mataram-se.
Fora os que não conheço e olha que não conheço muita gente.
Mães que se viram sem as pensões de alimentos por culpa da baralhada com o Citius foram milhares.
Uma era professora e o filho era deficiente.
Atirou-se da varanda de um hotel.
Mas também houve mães que envenenaram os filhos e a seguir mataram-se porque não tinham nem emprego nem apoios e nem ajuda de psicólogos.
Sabes Pedro, moro em Almada.
Fui obrigada a vir morar para aqui.
Não, não foi culpa tua.
As coisas neste país já não estão bem há muitos anos.
Realmente apanhaste o país num grande caos económico, mas mesmo assim se fosses honesto e um bom gestor terias evitado cortar onde mais doeu!
Os cortes atingiram os mais fracos e para recuperar um país começa-se por por ordem nas finanças públicas cobrando impostos aos que não pagam.
Mas para o fazeres, para cobrares aos que sempre fugiram aos impostos terias de começar por ti, não é assim?
E depois os teus amigos e financiadores não iriam gostar nada de terem de alargar os cordões à bolsa.
Mas como te dizia, vim viver para Almada há uns anos e sabes, aqui temos uma Ponte onde todos os dias durante o teu governo assistimos a muitos suicídios.
E também temos o Metro que não é subterrâneo, é como um eléctrico sabes?
Pois volta e meia para não dizer uma a duas vezes por semana, lá se tinha de chamar o INEM por causa de um velhote ou velhota que "escorregava" e caía à linha!
E quantos eu vi a chorar de vergonha por serem apanhados no supermercado a guardar uma lata de salsichas ou de atum na mala ou num bolso do casaco!!
E outros a sairem da farmácia sem aviar a receita porque a reforma tinha encolhido e os filhos tinham-se mudado lá para casa e estavam desempregados e sem subsídios de desemprego!
Sabes Pedro, sabes qual é o teu mal?
Teres tido um pai fantástico e uma mãe que tudo te desculpou.
Os anos de cabulice, as más notas no liceu, as noitadas na vadiagem, a vida boémia, as drogas, a pouca ou nenhuma vontade de estudar ou trabalhar e a falta de respeito por toda a gente.
Tu não tens noção da quantidade de vidas que deste cabo ao longo da tua vida, não só nos quatro anos em que te tivemos de aturar como Primeiro Ministro, mas desde que te conheci quando vivias na Rua República da Bolívia.
Tenho pena de não ter adivinhado naqueles anos naquilo em que tu te irias transformar!
A sério Pedro.
Naquele dia em que chamei a PSP de Benfica e evitei que a malta do Bairro do Charquinho te desse um arraial de porrada, se eu tivesse adivinhado no que te irias transformar, eu tinha fechado os olhos e fingido que te tinhas atirado da varanda do quinto andar.
Teria evitado tanta coisa, até ouvir as alarvidades que continuas a atirar pela boca fora.
Tantos anos depois e continuas a ser o mesmo chulo que conheci na nossa adolescência e juventude.
Olha Pedro, queres um conselho?
Reforma-te da política e mete uma rolha na boca ou um dia destes apareces suicidado nalguma esquina da vida.
É que nem todos os que te conhecem bem são tão pacíficos e compreensivos como eu e como a malta que te aparou as pancas lá em Benfica, tu sabes bem na casa de quem.
Espero que a Laura recupere depressa da maldita doença.
Ela não merece tanto sofrimento!
E se um dia nos voltarmos a cruzar nalguma rua de Lisboa vira o rosto, para que eu não me sinta tentada a sujar as minhas mãos na tua cara.
É que eu tentei duas vezes o suicídio por tua causa quando me vi atirada para a rua sem qualquer apoio e a lutar contra o cancro e sem ajuda psiquiátrica.
Não acertei na dosagem.
Não tinha de ser.
Quem sabe o que a vida me reserva?
Talvez me reserve a felicidade de te ver a ti Pedro e aos teus amiguinhos (tu sabes a quem me refiro) atrás das grades e a pagares pelos milhares de vidas dos que se suicidaram ou tentaram em desespero por vossa causa!
Assino o nick com que me conhecias: Nini Nilo
30
Jun17

QUANDO FOR GRANDE QUERO SER GENERAL

António Garrochinho

A vídeo-vigilância não funciona nas forças armadas há 2 anos. Dois paióis militares foram assaltados em Tancos, onde há vigilância 24 sobre 24 horas. Parece ser, aliás, uma moda roubar material de guerra neste Burkina Faso… do norte de África.
Sai mais um inquérito para a mesa do canto. Demorado, inócuo, desculpabilizador, simplório e irresponsável. Os generais continuarão a engordar a pança da sua incompetência, os coronéis fecundarão os subordinados com protocolos a que ninguém liga, os majores e os capitães prosseguirão o seu aturado trabalho nos bares de oficiais.
Espero, sinceramente, que não deixem de castigar severamente o furriel-de-dia. Ah, e não permitam que o “Apache” (nome imaginário do cão do regimento) se mantenha em liberdade condicional. Acorrentem-no.
Guilherme Antunes
Foto de António Garrochinho.


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