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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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02
Jul17

A ENTREVISTA DA JOANA, AQUELA QUE NÃO DESISTE , AQUELA QUE FALA MUITO BEM, AQUELA QUE DIZ QUE: Os candidatos [do Bloco de Esquerda e do PCP] escolheram dar um sinal de que não estão interessados em ganhar eleições, estão interessados em apoiar a c

António Garrochinho
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 “O Bloco perdeu a irreverência toda com a geringonça”


A ex-deputada do BE anunciou esta semana a candidatura a Lisboa pelo Nós, Cidadãos! e promete uma campanha “surpreendente”.

Joana Amaral Dias aceitou o convite do Nós, Cidadãos! para se candidatar à Câmara de Lisboa e garante que corre por “amor à camisola”. Define-se como “ativista política” e promete uma campanha “criativa” e “surpreendente”. 
Anunciou esta semana a candidatura a Lisboa. O que a motivou? 
O Nós, Cidadãos! convidou-me para fazer este combate. Foi um convite que me fez sentido porque as principais candidaturas que até agora se apresentaram são, na verdade, pseudocandidaturas.
Revê-se ideologicamente neste partido? Não é um projeto mais conotado com o centro-direita?
Não. É uma coisa extremamente heterogénea que tem como ponto agregador a questão da cidadania, a possibilidade de a vida democrática e política ser mais aberta em vez de serem sempre os mesmos partidos e, basicamente, os mesmos protagonistas. 
Embora, em Portugal, os novos projetos não tenham conseguido vingar, ao contrário do que aconteceu noutros países europeus que foram afetados por esta crise.
Não é bem assim. Se olharmos para fenómenos como Rui Moreira na Câmara Municipal do Porto, estamos a ver aí claramente um sintoma de uma versão portuguesa disso de que está a falar. Se olharmos para a eleição do Presidente da República e a forma como ele fez a campanha eleitoral, estamos a olhar para outro sintoma disso mesmo. Acho que essas novas e renovadas formas de fazer política vão vestindo diferentes roupagens e em Portugal também existem. Não são iguais às que existem em Espanha ou na Grécia, mas também existem.
A solução deixou de estar nos partidos tradicionais?
Olhando para estas candidaturas a Lisboa, acho que a solução não está nos partidos tradicionais. Assunção Cristas candidata-se por uma questão de afirmação. A candidatura de Teresa Leal Coelho não é por Lisboa, é para fazer uma perninha a um amigo. A candidatura do Medina é porque o poder lhe caiu no colo e o comboio continua. As restantes candidaturas são da geringonça. Os candidatos [do Bloco de Esquerda e do PCP] escolheram dar um sinal de que não estão interessados em ganhar eleições, estão interessados em apoiar a candidatura de Fernando Medina.
É um apoio indireto?
É evidente. O João Ferreira é deputado europeu. Tem alguma intenção séria de ganhar a câmara? Vai a todas? O sinal que a esquerda dá nesta campanha é que a geringonça está em marcha para a Câmara de Lisboa. Como sou muito crítica da geringonça, gostava que tivéssemos candidatos autónomos e independentes com projetos criativos e próprios para a cidade. Os problemas da cidade de Lisboa estão diagnosticados há décadas e em todas as eleições autárquicas nós ouvimos a mesma ladainha. É o problema da habitação...
O turismo veio agravar alguns desses problemas.
O turismo é uma inevitabilidade, mas esses problemas já existiam e nunca foram resolvidos. O diagnóstico é repetido há anos. Fernando Medina comporta-se como presidente às segundas, quartas e sextas, e às terças, quintas e sábados é o cordeirinho de Deus que, agora sim, ao fim de dois anos e meio, vai resolver os problemas da habitação, dos transportes, do estacionamento... 
Vamos por partes. Como se resolve o problema da habitação?
Resolve-se da maneira que toda a gente diz que se resolve, a começar pelo Fernando Medina, mas depois ninguém consegue resolver. A renda média em Lisboa é de 830 euros. Isto não é comportável para nenhuma família. Isto não é compatível com os ordenados médios dos portugueses. É excelente que venha turismo para a cidade, mas nós temos de resolver, agora mais do que nunca, este problema. A câmara tem de criar uma bolsa imobiliária altamente acessível para que as pessoas possam viver em Lisboa. As pessoas estão a ser despejadas em bairros como a Mouraria, Alfama... A câmara tem de acudir a estas situações.
Seriam programas para a classe média?
Sim. Com certeza
Qual seria a renda que a câmara pedia?
Tem de haver rendas a partir dos 150 ou 200 euros.
O problema do trânsito é outro dos que ninguém consegue resolver.
Eu não aceito o ataque que é feito sistematicamente aos automobilistas que são residentes em Lisboa. As pessoas têm o direito de utilizar o carro. Eu, por acaso, sou utilizadora de transportes públicos, mas gostava de perguntar ao Fernando Medina ou à Assunção Cristas se usam o metro ou a Carris. Falam de poleiro. Provavelmente, nunca usaram o metro nem o autocarro na vida e, portanto, demonizam os automobilistas em Lisboa porque não conhecem a realidade. 
Utiliza os transportes públicos?
Eu, embora seja utilizadora frequente dos transportes públicos, tenho muitas situações na vida em que sou obrigada a utilizar o carro. Tenho um pai com 70 e tal anos que teve um AVC há cinco e tem dificuldades de mobilidade. Não posso pôr o meu pai no metro. Obviamente, tenho de utilizar o carro. Na minha situação há milhares de pessoas em Lisboa, com dificuldades de mobilidade. Tenho uma filha com 16 meses, não consigo andar com ela no metro. Grande parte das estações de metro não tem elevador para a superfície. Isto é uma obra assim tão dispendiosa? Houve dinheiro para fazer obras entre o Saldanha e o Marquês, obras que podem ser bonitas, mas não são fundamentais. Isto são obras muito simples e pouco dispendiosas que melhorariam imenso a qualidade de vida dos lisboetas. 
Não há excesso de carros na cidade?
Há muitos carros porque as pessoas não têm alternativas. Já sabemos que precisamos de parques dissuasores e transportes públicos articulados para que a pessoa chegue à cidade e possa deixar o carro. Podem ser construídos silos verticais. É uma ideia utilizada na maior parte das cidades europeias. O que é feito às fortunas de lucro que faz a EMEL? Porque não é utilizado esse dinheiro para criar soluções para os transportes?
Acha que é excessiva a atuação da EMEL?
É absolutamente excessiva. Os lisboetas sentem-se perseguidos pela EMEL. Os lisboetas têm de ter uma discriminação positiva. Pelo menos nos locais onde trabalham. Tem de haver, pelo menos até que sejam resolvidos os problemas dos transportes públicos, alguma tolerância. Não aceito que a autarquia transforme a vida dos lisboetas num inferno.
Tornou-se mais conhecida quando foi deputada pelo Bloco de Esquerda, entre 2002 e 2005. Como começou a ligação à política?
Desde muito nova, desde os 17 anos, que fiz parte de movimentos e associações cívicas e, quando o Bloco de Esquerda nasceu, eu era dirigente numa associação que operava na zona centro do país e trabalhava com pessoas que tinham sido completamente marginalizadas: sem-abrigo, prostituição de rua, heroinómanos de longo curso... Tínhamos um grande ativismo social. Continuo, aliás, a definir-me como ativista política. Sempre me vi assim e é essa identidade que mantenho. 
Conseguiu aplicar essa vontade de intervir nos anos em que foi deputada na Assembleia da República?
É um pouco diferente, mas eu apanhei uma altura de grande ativismo no parlamento, porque foi a guerra no Iraque. O Bloco tinha só três deputados e trabalhávamos imenso.
Mais tarde saiu do Bloco de Esquerda. Desiludiu-se com a política? 
Com a política, não estou desiludida. A política é um combate por uma vida melhor. Com a vida partidária, nunca tive grandes ilusões... A verdade é que tudo se complicou quando aceitei o convite de Mário Soares para ser mandatária da Juventude. Nessa altura, o Bloco discordava. Continuo a achar, ainda hoje, que o Bloco devia ter apoiado Mário Soares. O Bloco, indiretamente, veio a dar--me razão, porque cinco anos depois apoiou a candidatura de Manuel Alegre, reconhecendo que tinha de haver alguma convergência. Com essa divisão à esquerda, tivemos de aguentar na Presidência da República dez anos de Cavaco Silva. Tudo se complicou nessa altura, mas eu continuo e continuarei o meu percurso político. 
Foi esse caso pontual que levou à rutura com o Bloco?
Houve várias coisas. O Bloco tinha como promessa inicial e como um dos seus objetivos ser um movimento de movimentos, ou seja, integrar estes movimentos de cidadãos. Tinha essa promessa e abandonou-a. Não é por acaso que o Bloco tem uma implantação autárquica muito fraca. O Bloco abandonou a política local, mostrou grande desinteresse pela questão da cidadania ativa e pelos movimentos sociais. Isso desiludiu-me muito, porque acho que fazer esta política tradicional, muito parlamentarista, muito alocada só aos lugares de poder, é curto. É uma coisa com a qual não me identifico muito. 
O Bloco perdeu alguma irreverência?
Agora perdeu a irreverência toda, com a geringonça. Já vinha perdendo alguma, na minha perspetiva; agora, com a geringonça, perdeu-a toda. Estou estupefacta com algumas... Eu nunca fui grande adepta da ideia da geringonça, porque é muito importante haver uma boa oposição em democracia. 
Uma boa oposição de esquerda?
De esquerda e de direita. Eu já sabia que a direita estava ligada à máquina, em vida artificial, com Pedro Passos Coelho. Como se confirma. Não haver oposição, não haver debate e não haver confronto não é saudável para uma democracia. Tem de haver confronto e, por isso, nunca fui adepta da geringonça
Há muita gente que não era adepta desta aliança e passou a ser.
Eu estou ao contrário. Não era e agora sou menos ainda. Sempre achei que o consenso mata a alternativa e a prova está à vista. Agora sou ainda menos porque se passeiam os Lacerdas Machados da vida e ninguém faz nada. São feitos negócios na banca de levar as mãos à cabeça e ninguém faz nada. Deu-se em Portugal a maior catástrofe da nossa contemporaneidade e não vejo nenhuma exigência enérgica da parte da oposição. Eu não quero uma oposição que faça prova de vida. Quero uma oposição que, com razões fundamentadas e sérias, questione aquilo que tem de questionar, fiscalize aquilo que tem de fiscalizar e apresente alternativas. 
Concorda com aquela ideia de que o António Costa meteu o Bloco e o PCP no bolso?
Voltamos ao início da conversa. Olhe para os candidatos à Câmara de Lisboa. Acha que o PCP e o Bloco mostram alguma vontade de fazer real oposição ao Fernando Medina? Nunca fui adepta da geringonça porque sempre achei que o consenso mata a alternativa, e quando vejo uma oposição tão tímida, um escrutínio tão débil e tão frágil sobre tudo o que este governo tem feito, fico ainda mais descontente. António Costa não tem, neste momento, oposição, Fernando Medina não tem oposição, e isso é preocupante, porque uma democracia madura tem de ter debate e discussão. 
Falou da tragédia dos incêndios em Pedrógão Grande. Defendeu já que a ministra se devia ter demitido. Porquê?
Sim. As mesmas pessoas que pediram a demissão de todos os ministros da direita por erros que fizeram agora dizem que não se pode pedir a demissão da ministra porque isso seria a maneira melhor de não se discutirem responsabilidades. Não é verdade. A melhor maneira de não se discutirem responsabilidades é aquilo que está a acontecer. É evidente que houve muitos erros. A ministra não foi logo ao local. Já o ano passado, durante a época terrível dos fogos em agosto, a ministra estava de férias no Algarve. Por acaso, estávamos na mesma festa numa das noites em que aconteceu um grande incêndio. Só que eu não era ministra e podia estar na festa, a dra. Constança é que não. Isto para dizer que a ministra devia demitir-se e continuava-se o apuramento das responsabilidades. É evidente que ela não tem capacidade para o ocupar o cargo. Se não se assumem responsabilidades políticas nesta situação, então não se assumem em nada. 
O país estava a viver alguma euforia com os bons resultados económicos, mas também no futebol ou na música. Como é que um país pode lidar com esta situação em que num dia está perto da euforia e no outro é confrontado com as suas fragilidades e com uma tragédia brutal como a que aconteceu em Pedrógão Grande?
Isto é o que nós chamamos em clínica o princípio da realidade. Estávamos a viver alguma euforia por coisas boas, desde as nossas vitórias na bola até ao controle do défice, são tudo coisas positivas que me deixam muito contente, mas são tudo coisas da ordem do funcionamento, e não da ordem estrutural. Aquilo que os incêndios demonstram é que, apesar de algumas vitórias, as questões que são de longo prazo e que são estruturais estão por resolver. Continuamos a ser um país desorganizado, um país que abandona as suas gentes e as suas terras, um país cheio de interesses em que a política vive numa teia altamente promíscua com interesses económicos. Foi uma chamada à realidade da forma mais cruel que podia existir, e isso é um embate muito duro. Vamos ver como é que o país reage e isso depende da forma como a classe política vai responder a esta tragédia. 
Voltando ao seu percurso político. O PS também a convidou, nos tempos de José Sócrates, para candidata a deputada. 
Sim, mas não aceitei. Na altura, achei que era o mais correto. Quanto mais tempo passa, mais eu acho que fiz bem. Foi José Sócrates e a sua equipa que me convidaram para ser deputada, e eu achei que devia recusar. Foi melhor assim. Se eu estivesse preocupada em ser deputada ou com os cargos, já tinha aceite um desses convites e não andava aqui a fazer combates com pequenos partidos. A fazer campanhas sem dinheiro. Eu faço isto por amor à camisola. 
Como vai ser esta campanha para a Câmara de Lisboa?
As campanhas que tenho feito são campanhas com um orçamento quase nulo, mas com gente muito empenhada e muito criativa. O “Agir” já fez uma campanha eleitoral assim nas últimas eleições legislativas e esta vai ser igual. Vai ser uma campanha surpreendente. Com o “Agir” tivemos ações como aquela de colocar uma faixa na Assembleia da República com a inscrição “vendido”, a bandeira da Grécia no Castelo de São Jorge. Esta campanha vai ser igualmente animada. Até um pouco mais, porque nós já apurámos alguns métodos de ação.
Nessa altura deu muita polémica a fotografia que tirou para a revista “Cristina”. Houve quem achasse que estava a utilizar o corpo para ganhar votos. 
A maternidade é uma coisa natural. Essa história tem um início que vale a pena repor. Eu achei que devia ter a hombridade de dizer aos eleitores que estava grávida. Felizmente, tudo se resolveu e tenho uma filha espetacular mas, inicialmente, a gravidez era de risco e a minha médica pediu-me alguma contenção nas viagens. Achei normal fazer uma conferência de imprensa a dizer: “Estou grávida e, se for eleita, não serei eu a ocupar o cargo”. E fiquei espantadíssima quando as pessoas começaram a dizer que eu estava a instrumentalizar a minha gravidez e a atacar os direitos das mulheres. Diziam: “Se estás grávida, vai para casa. Se é uma gravidez de risco, estás a pôr em risco o teu bebé.” Tenho muita pena, mas não admito que ataquem os direitos das mulheres, e muito menos nas questões da maternidade. E, portanto, aquela capa foi uma capa pensada, provocatória e arriscada. Certamente não era para ganhar votos, porque qualquer pessoa sabe que era arriscada. Era para dizer que a gravidez é uma coisa natural. Portugal continua a ser um país que ataca violentamente as mulheres. E, portanto, acho que fiz muito bem.
Não a surpreendeu a polémica?
Não, claro que não. Sabia muito bem que ia dar polémica. A polémica é reveladora da parte mais conservadora e, curiosamente, até de uma parte muito conservadora da esquerda. Parece que, para alguma esquerda, as mulheres só podem despir-se se for para defender os direitos dos gays. Eu também defendo e estou nessa batalha na primeira linha, mas as mulheres também podem usar o seu corpo para defenderem os direitos da maternidade. Quem se revelou mais com essa capa foi essa esquerda muito conservadora que usa um verniz muito cosmopolita, mas depois, à noite, chega a casa e é do mais chauvinista que se possa conhecer.
O facto de ser uma figura pública cria--lhe alguma dificuldade na sua profissão? As pessoas confundem a psicóloga com a personagem que veem na televisão?
Não há rosa sem espinhos. Tem uma parte boa porque algumas pessoas procuram-me porque me ouviram na televisão e gostaram. Tem uma parte complicada e que é preciso resolver, que é as pessoas projetarem certas coisas. Uma figura pública não deixa de ser um boneco, não deixa de ser uma persona, e é natural que as pessoas projetem nessa persona certas coisas. Isso tem de ser desconstruído e trabalhado nos primeiros contactos com a pessoa. Há um trabalho extra que tem de ser feito. Tenho aprendido a lidar com isso e tem sido uma aprendizagem, porque não há assim tanta gente, tantos profissionais da saúde mental, com essa exposição. 
Até que ponto é que esta crise, para além dos problemas económicos, afetou a saúde mental das pessoas?
Trouxe muitos problemas porque o mundo inteiro viveu os primeiros 15 anos do novo milénio de forma completamente maníaca, sempre lá em cima. Aqueles filmes como “O Lobo de Wall Street” mostram bem como as pessoas estavam muito maníacas. Não é por acaso que a cocaína é a droga de eleição do século xxi. É uma droga eufórica. E, portanto, o final dessa crise é uma grande ressaca, uma enorme depressão e a exposição das fragilidades. As coisas maníacas nas sociedades e nas pessoas individuais visam proteger as enormes fragilidades. Se olharmos para o sistema financeiro do século xxi. percebemos que ele estava com enormes fragilidades. Essa fuga em frente escondia as fragilidades. Escondia as fragilidades financeiras e económicas, mas também escondia as nossas fragilidades individuais. E, portanto, quando essa crise estoira e começa a haver esta fase descendente, as pessoas também se revelaram. Deixaram de poder fazer férias no Brasil na Páscoa e na República Dominicana no verão. 
Foram obrigadas a abrandar.
Exatamente. Tiveram de abrandar as suas partes maníacas e confrontar-se com os seus insucessos, os falhanços e, muitas delas, com situações muito dramáticas. Aqui no meu consultório apanhámos muitas situações em que as pessoas passaram de contextos muito confortáveis, até quase ociosos, para contextos muito diferentes em que perderam o emprego, as casas… Assistimos aqui a algumas derrocadas pessoais e situações de insolvência. Foi um choque muito violento. As pessoas começam agora a recuperar psicologicamente e a viver com as suas fragilidades. É natural que todos tenhamos tendência a negar as nossas fragilidades e procuremos ativar os nossos mecanismos de sobrevivência e defesa o mais possível. Isso é natural mas, em excesso, tem uma fatura pesada. Foi a que nós andámos todos a pagar ultimamente.
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02
Jul17

CÃES, CÃES E DONOS QUE SÃO CÃES

António Garrochinho

A MIM JÁ ME ACONTECEU EM PORTIMÃO SER ATACADO POR DOIS CÃES DE RAÇA BOXER ESTANDO EU PARADO A OBSERVAR UM TRABALHO QUE TINHA TERMINADO NUMA MORADIA DE UM FAMILIAR.

TIVE QUE ME DEFENDER A PONTAPÉ E FUI FELIZ AO ACERTAR DEBAIXO DA BOCA DE UM DELES QUE RECUOU LEVANDO O OUTRO A IMITÁ-LO.

RECLAMEI COM A DONA QUE ESTAVA POR PERTO A FAZER QUE NÃO ERA NADA COM ELA E QUE TEVE O DESCARAMENTO DE DIZER QUE EU ESTAVA A PONTAPEAR OS ANIMAIS.

A GAJA FOI ESPERTA ! SABENDO QUE NÃO PODERIA ANDAR POR ALI COM OS ANIMAIS À SOLTA E SEM BUÇO, TRATOU LOGO DE DEFENDER-SE.

MAIS TARDE EU E UNS AMIGOS FOMOS À CASA DA SENHORA QUE TEVE QUE ENROLAR A LÍNGUA PARA NÃO SER LEVADA ÀS AUTORIDADES.

Vais demorar o dobro do tempo para chegar onde queres , se parares a atirar pedras a todos os cães que ladram pelo caminho.
Pois é ! e se não levar pedras ? se não tiver alguma que esteja por ali solta ?

Sou devorado pelos cães de luxo, aqueles que nem os ossos nos deixam, aqueles treinados para gostar de carne humana e que vivem só para treinar os dentes nos pacíficos cidadãos mesmo aqueles que adoram animais.

António Garrochinho
02
Jul17

O imposto que ajudou à união dos patrões e à queda da República

António Garrochinho


Criada em 1924, a União dos Interesses Económicos, impulsionada pela 
Associação Comercial de Lisboa, serviu como ponto de encontro dos patrões 
contra o sistema parlamentarista da Primeira República.


O golpe militar de 28 de Maio de 1926 acabou por servir de base ao Estado Novo de Oliveira Salazar
Foto
O golpe militar de 28 de Maio de 1926 acabou por servir de base ao Estado Novo de Oliveira Salazar 


“A lei do selo constitui uma violência contra o comércio”, escrevia João Pereira da Rosa, dirigente da Associação Comercial de Lisboa, num artigo publicado em O Século no dia 11 de Setembro de 1924.
O artigo de Pereira da Rosa, ligado ao movimento patronal ( e mais tarde procurador da Câmara Corporativa do Estado Novo), surgia na sequência de um conflito cada vez mais evidente entre grandes comerciantes e o Governo republicano, que ganhara novos contornos com a portaria das novas taxas de selagem para bebidas alcoólicas e perfumarias. Esta lei, publicada nos jornais de 26 de Agosto, encarecia o custo dos produtos, com benefícios para os cofres do Estado.

Menos de dois meses antes, a ACL já tinha realizado uma assembleia extraordinária onde aprovara uma moção onde defendia que as pastas da agricultura, comércio, finanças e colónias deviam ser administradas por personalidades sem “interferências políticas” e que, se necessário, o Chefe de Estado deveria impor essas medidas contra o Parlamento.
A primeira reacção dá-se logo numa reunião da Associação Comercial de Lisboa (ACL) a 10 de Setembro, afirmando-se que, pelo seu impacto económico, esta “não se pode cumprir”. Decide-se ainda pela criação de uma comissão especializada e uma manifestação de desagrado, que passaria pelo encerramento dos estabelecimentos comerciais no dia em que a referida comissão fosse recebida pelo Governo. Mas se o imposto foi um mote para a demonstração de desagrado, este funcionou mais como ponto de agregação do que motivo único de descontentamento.
É ainda referida a necessidade de um “movimento patriótico tomar a responsabilidade, por delegacia nos seus melhores componentes, das pastas de natureza económica e financeira, num Governo de salvação nacional, no objectivo único de, pondo em práticas as suas doutrinas, tanta vez recusado pelos governos, salvar o País da derrocada que se avizinha”.
O tom claramente anti-parlamentarista dos responsáveis da ACL (presidida por Adriâno Júlio Coelho, tinha como vice-presidente Mosés Amzalak, que virá a ocupar a presidência em 1926) é rapidamente condenado pelo Parlamento e pelo Senado, com os republicanos a considerarem a moção um “incitamento ao crime”.

A criação da UIE

No domingo de 28 de Setembro reúnem-se “representantes de todas as associações comerciais, industriais e agrícolas de todo o País para apreciarem e deliberarem sobre a continuação do movimento iniciado pelas forças económicas da capital, acerca dos decretos sobre selo e contribuição recentemente criados”. Nascia então a União dos Interesses Económicos (UIE).
A UIE, Impulsionada pela ACL, teve o apoio dos comerciantes e industriais do Porto, seguindo-se os agricultores, cuja associação é dominada por José Pequito Rebelo (monárquico, ligado ao Integralismo Lusitano) e Joaquim Nunes Mexia (proprietário agrário, foi deputado sidonista e virá a apoiar a Ditadura Militar, assumindo a pasta da Agricultura.
Estavam plantadas as sementes da organização civil que congregará as forças dos patrões contra o regime republicano, mesmo se a UIE era dominada pelos comerciantes, cujos interesses, muitas, vezes, se opunham aos dos industriais.
O ponto de viragem do patronato dera-se entre 1922 e 1923. Por um lado, sente uma necessidade de união após a noite sangrenta de 19 de Outubro de 1921 (que conduz ao exílio voluntário, ou fuga, de Alfredo da Silva, proprietário da CUF, que chega a ser alvo de atentado em Leiria, quando se dirigia para Espanha), e perante o perigo de avanço do programa dos radicais. Por outro lado, a sua luta deixa se ter como alvo principal o operariado, focando-se, assim, mais nos programas de Governo.
“A ACL pode assim orgulhar-se de, ao fim de poucas semanas de uma campanha conduzida de forma exemplar, ter conseguido unir contra a República a quase totalidade das associações patronais”, escreve António José Telo. O historiador destaca que “só numa altura de grave crise como a que então se atravessava tal seria possível”, levando assim à formação de “uma organização patronal claramente política e virada contra o sistema de partidos e a República”.
Por esta altura, numa nova reunião que envolveu elementos dirigentes da ACL, da Associação Comercial do Porto (ACP) e da Associação Industrial Portuguesa (AIP), Pereira da Rosa declara que “as forças vivas do País, num movimento colectivo, sem precedentes, vinham oferecer o seu concurso e a sua colaboração ao Governo para se fazer uma remodelação do actual serviço de impostos. O comércio, a indústria e a agricultura querem pagar mas não como querem que eles paguem”. E acrescenta: “Os erros e os desmandos que fizeram cair a monarquia hão-de derrubar igualmente este regime”. As posições iam endurecendo, e o jornal O Século começa a publicação de uma série de entrevistas com personalidades que formarão a UIE, e que se inicia com Alfredo Augusto Ferreira, da ACL, publicada a 1 de Outubro de 1924.
Este responsável é apresentado como membro da comissão organizadora da UIE. “Houve a necessidade de criar um organismo novo, a UIE, que consubstanciará as aspirações máximas das associações de classe integradas no movimento e promoverá a sua execução ampla e largamente sem ter de subordinar-se às leis estatuárias das associações de classe”, explica Augusto Ferreira. Para já, continuava a resistência à selagem das garrafas de bebidas e perfumes, entre fiscalizações do Governo e incitamentos ao seu não cumprimento por parte da ACL. E contestava-se o novo acordo com a Companhia dos Tabacos (ligada do grupo Burnay), que fazia subir as taxas de importação de tabaco estrangeiro.
Na noite de 10 de Outubro, é determinado o corte, em reunião da ACL, de “quaisquer relações com o governo actual”, ao mesmo tempo que se elabora a estratégia de protesto através do encerramento dos estabelecimentos comerciais e industriais. Na rua, um grupo de pessoas clamava contra a reunião, onde a própria polícia marcava uma presença visível, através de personalidades como o comissário geral, Ferreira do Amaral. No final da reunião, João Pereira da Rosa é preso, com a acusação de crime de sedição. Só seria solto cinco dias depois, sob fiança.
O Governo ainda tenta ir ao encontro dos patrões em Dezembro, alterando a lei. Mas em vão. A lei era uma boa arma de combate, e cinco associações comerciais de Lisboa, -- entre as quais está a ACL--, e a Associação Industrial do Porto, entregam um parecer ao Parlamento, dizendo que “esse decreto apenas contém a disposição pela qual ficam isentos do pagamento do imposto os refrigerantes vulgarmente conhecidos por «pirolitos». Tudo indicava que este recente decreto facilitasse a aplicação do imposto do selo. Tal, porém, não sucedeu”. No Parlamento, as associações contam com o apoio dos nacionalistas e dos monárquicos, que atacam o Governo.
Através de O Século, propriedade da SNT, adquirida por Mosés Amzalak, Carlos de Oliveira e João Pereira da Rosa, os patrões e a UIE foi fazendo a sua campanha. Contra eles estará o Governo de José Domingues dos Santos, apoiado pela ala esquerda do PRP, e que toma posse a 22 de Novembro de 1924.

O encerramento da ACL

A UIE começa em Dezembro desse ano a preparar-se para as eleições legislativas do ano seguinte, com uma reunião no Porto, tendo já em vista o recenseamento eleitoral. Para tal, multiplicar-se-á em deslocações para dezenas de localidades, e todas as capitais de província. Em termos organizacionais, a UIE funcionava com uma Junta Central (conselho directivo), que se reúne com o conselho de delegados das comissões distrital. Além destas, havia ainda, nas distritais, as comissões municipais e as comissões paroquiais.
A Junta Central era formada por João Pereira da Rosa (presidente da Junta Central da UIE), Levi Marques da Costa (vice-presidente da AIP e vice-presidente da Junta Central), Alfredo Ferreira (ACL), Carlos de Oliveira (ACL), Roque da Fonseca(ACL), Nunes Mexia (União Agrária), , César Azevedo (AIP), António de Assis Camilo (ACL) e Eduardo Maria Rodrigues (Associação Comercial de Lojistas). Afonso Galvão de Castro era o seu secretário-geral.
No entanto, a 5 de Fevereiro de 1925 a ACL é dissolvida pelo Governo. O Século publica a nota do Diário de Governo onde a decisão é anunciada, e onde se afirma que “ultimamente, a Associação Comercial de Lisboa, por mais de uma vez, se tem desviado do cumprimento dos fins para que foi instituída, claramente expressos nos seus estatutos; considerando que essa atitude tomou, recentemente, um carácter de verdadeira rebelião contra os poderes constituídos, revelada já pelo modo como promoveu o não acatamento dos seus consócios da lei 1:633 de 17 de Julho de 1924 e o seu regulamento respeitante imposições fiscais”.
Esta, dizia-se, passou a ser um “grémio político, tendente a promover a desordem e capaz de gerar males sociais difíceis de calcular (...)”. Poucas semanas depois, a UIE sofre um atentado à bomba contra a sua sede provisória do Porto. E, com o encerramento da ACL, a campanha da UIE perde intensidade e velocidade, embora não cesse, avançando com a publicação das suas directrizes e apelando ao recenseamento dos seus apoiantes. Entre as suas reivindicações e teorias estão o apoio às forças produtivas nacionais, menor peso e intervenção estatal, e a aproximação ao proletariado. Para todos os efeitos, defendia-se um Governo de força e ordem.

O princípio do fim da República

A 18 de Abril dá-se um golpe militar conservador encabeçado general Sinel de Cordes, com o Governo a responder com o estado de sítio, suspensão das garantias constitucionais, e censura à imprensa. 
O Século é encerrado sob suspeita de ligação ao golpe, e apenas sairá de novo para as ruas no dia 6 de Maio. Carlos de Oliveira, destacado dirigente da UIE e um dos proprietários do jornal, é preso, após ter sido descoberto um documento incriminatório relacionado com o golpe em sua casa, no segredo da sua secretária pessoal.
A polícia faz mesmo uma rusga a O Século. João Pereira da Rosa, esse, deslocara-se para o estrangeiro, afirmando o diário que motivado por questões “de doença”. Pereira da Rosa dirá, meses mais tarde, que se o Chefe do Governo tivesse ouvido as associações patronais, na figura da ACL, com o desejo de nomeações técnicas para as pastas ministeriais de relevo, “talvez se tivesse evitado o 18 de Abril”. A Associação Comercial de Lisboa acaba por ser reaberta a 11 de Julho, sob a égide da UIE e onde marcam presença todos os responsáveis das associações patronais lisboetas.
Logo na semana seguinte, a 19 de Julho, dá-se novo golpe de Estado, onde desponta como líder um dos responsáveis pela implantação da República, José Mendes Cabeçadas. As forças conservadoras tentavam a sua sorte, e a UIE envereda agora por uma campanha política mais profunda, ao mesmo tempo que O Século chega a defender os golpes de 18 de Abril e de 19 de Julho.
No campo político, e apesar de tudo o seu esforço, o resultado da UIE é pouco animador para os seus defensores. Os patrões vêem seis deputados serem eleitos, dos quais cinco são empossados, e um senador eleito e empossado. Entre os nomes estão Joaquim Nunes Mexia, Eduardo Fernandes de Oliveira, José Maria Álvares, José Rosado da Fonseca e San’Ana Marques.
Após as eleições, a UIE parece esmorecer, com as associações a assumirem novamente a dinâmica de representação de classes. A 17 de Dezembro, depois das legislativas de Novembro que voltam a dar a vitória do Partido Democrático, toma posse o 45º Governo, liderado por António Maria da Silva. Sem que se soubesse, este ficaria para a História como o último Governo da 1.ª República.
“O Governo foi forçado a demitir-se ante a galharda atitude do Exército, fiel intérprete do sentimento pátrio”. Era assim que O Século se referia, a 30 de Maio, ao movimento militar iniciado no Norte pelo General Gomes da Costa e que está na origem da Ditadura Militar, berço do Estado Novo. Acrescentava o jornal: “Não devem esquecer, os revolucionários triunfantes, que, enquanto os partidos dominarem, aberta ou encapotadamente” iriam persistir, dizia, os casos de corrupção e fraude, com perdas de dinheiro para o erário público.
Era dado todo o apoio das forças económicas ao golpe, com forte peso da ACL, sublinhando a ideia anti-parlamentarista, mas, mais do que isso, anti-partidária, sinónimo de corrupção. Na noite de 7 de Junho, reunida em assembleia, a ACL apoia de forma incondicional o golpe, oferecendo a sua colaboração. E, no simbólico dia 10 de Junho, reúne-se a Junta Central da UIE, oferecendo o seu apoio ao Governo, afirmando que “a UIE não quer senão boa administração, ordem, liberdade de trabalho e aproveitamento máximo dos valores sociais que formam a reserva produtora do País”.
António de Oliveira Salazar faz a sua estreia como ministro da Finanças, e o Tenente-Coronel Passos e Sousa assume a pasta do comércio. No mesmo dia, este último tem ainda a oportunidade de participar no 92º aniversário da ACL. Aqui, afirma-se que “fora assim que a Associação Comercial, levando os seus protestos a toda a província, conseguira fazer o ambiente propício ao movimento de salvação que acabava de sair vitorioso”. Cumprido o seu objectivo, a UIE acabaria por ser oficialmente extinta em 1937, já com Estado Novo de Oliveira Salazar fortemente estabelecido no país. 

Principais fontes e bilbiografia:

Jornal O Século, 1 de Janeiro de 1924 a 16 de Junho de 1926; Livro de actas da Associação Comercial de Lisboa, 1924 – 1926; Relatórios da Associação Comercial de Lisboa de 1923 a 1926. 
FRANÇA, José-Augusto, «Os anos 20 em Portugal»; História de Portugal, direcção de José Mattoso; TELO, António José. As associações patronais e o fim da República, in «O fascismo em Portugal»; TRINDADE, Luís, «História da Associação Comercial de Lisboa»


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02
Jul17

146 Anos da Comuna de Paris

António Garrochinho

bANDEIRA cOMUNA
A Comuna de Paris (18 de Março/28 de Maio de 1871) foi a primeira revolução em que classe operária partiu “ao assalto dos céus”(Marx) por reconhecidamente ser a única que era capaz de iniciativa social e política.
A Comuna de Paris não aparece por geração espontânea. As suas raízes históricas mais próximas encontram-se na Revolução Francesa, nos seus episódios mais decisivos como a Tomada das Tulherias, o fim da monarquia, na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, preâmbulo da nova Constituição. É a herdeira política da ala mais radical dirigida por Robespierre que acaba guilhotinado pelos conjurados corruptos do Thermidor. Mas também na Conspiração para a Igualdade (1796) de Babeuf. Na insurreição de 1848, afogada num banho de sangue que se propagou pela Europa no ficou conhecido pela Primavera dos Povos. Uma longa linha de lutas e insurreições operárias no séc. XIX. Será a última desse século, a primeira a triunfar, mesmo que por um pequeno lapso de tempo, em que, se ergueram em simultâneo as bandeiras do patriotismo e do internacionalismo. Um marco histórico para as revoluções que lhe sucederam, nomeadamente a Revolução de Outubro. Foi a primeira revolução socialista da história da humanidade.
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História da Comuna de Paris
Paris vivia situação turbulenta depois de Napoleão III ter assinado a rendição na guerra entre a França e a Prússia. A revolta era generalizada. Os operários franceses que viviam sob duras condições de trabalho se já não concordavam com a rendição da França mais revoltados ficaram quando o governo, para resolver os custos da guerra, lançou novos impostos sobre os trabalhadores para solucionar os problemas das dívidas contraídas.
A revolta estalou apoiada na Guarda Nacional, maioritariamente formada por operários, a que se juntaram milícias populares de cidadãos e soldados que se amotinaram. Um governo revolucionário foi organizado na base de comités de bairro que elegeram um Comité Central, onde figuravam representantes da Federação dos Bairros, blanquistas, proudhonistas, membros da Associação Internacional dos Trabalhadores, fundada em 1864, por impulso de Karl Marx. Confluíam várias tendências políticas dos socialistas aos anarquistas, proletariado e pequena burguesia, artistas e escritores. O vácuo político deixado pelo governo que, impotente para conter a revolta, tinha fugido para Versalhes, foi ocupado pelos revolucionários.
A Comuna foi proclamada. A seu primeiro édito é esclarecedor: “a abolição do sistema de escravidão do salário de uma vez por todas”. O sistema eleitoral sofreu uma viragem radical. A democracia directa foi instituída em todos os níveis da administração pública. A polícia foi abolida e substituída pela Guarda Nacional. A educação foi secularizada, a previdência social foi instituída. O poder da burguesia foi posto em causa. O alarme na Europa não podia ser maior.
O governo de Thiers, depois de ter sido humilhado pela Prússia com a coroação do imperador Guilherme II no palácio de Versalhes, negociou com o Império Alemão a libertação dos soldados franceses para recompor o exército e atacar Paris. A desproporção de forças não podia ser maior. 100 000 soldados a mando de Versalhes contra 18 000 milicianos da Comuna. A cidade, apesar de heroicamente defendida, foi tomada de assalto. A repressão que se seguiu foi de uma imensa brutalidade, como tem sido sempre, ontem e hoje, contra quem ousa afrontar mesmo pelo uso do voto o poder instituído, como se assistiu no Chile ou quando na Indonésia, Suharto massacrou um milhão de militantes comunistas que ameaçam vencer as eleições.
REPRESSÃO1
20 000 comunards foram imediatamente executados. 40 000 foram presos, torturados e executados. Esses eram os considerados “contumazes” pelos Conselhos de Guerra de Versalhes que julgaram e condenaram 13 450 cidadãos. Contam-se nos autos 80 crianças, 1320 mulheres, 12 050 homens. O número de mortos às mãos do governo de Thiers é calculado em 80 000.
A Comuna de Paris acabou por ser uma causa desesperada. Uma causa indispensável na luta de massas pelo que se aprendeu para lutas futuras. Os canalhas burgueses de Versalhes colocaram os Parisienses perante uma alternativa: ou respondiam ao desafio ou sucumbiam sem combate. Neste último caso, a desmoralização da classe operária seria uma desgraça maior que a perda de um qualquer número dos seus chefes (Marx /Guerra Civil em França)
 Apontar para o Futuro
Pela primeira vez na História da Humanidade, simples operários ousaram tomar nas suas mãos os privilégios dos que se julgam seus “superiores naturais”. Ousaram formar com os seus iguais, o seu próprio governo. É admirável a actividade legislativa da Comuna. Em semanas introduziu mais reformas, que os governos nos dois séculos anteriores. Era o ímpeto revolucionário de corte radical com o passado, o triunfo dos sans-culotes sobre os jacobinos que os tinham traído na Revolução Francesa.
Enumerar os principais decretos da Comuna de Paris é revelador do que era novo porque, como escreveu Rimbaud, “é preciso ser resolutamente moderno, aguentar o passo dado”. A Comuna não recuou em muitos passos para o futuro ainda hoje actuais. O trabalho nocturno foi abolido; oficinas que estavam fechadas foram reabertas para que cooperativas fossem instaladas; residências vazias foram desapropriadas e ocupadas; todos os descontos em salário foram abolidos; a jornada de trabalho foi reduzida, chegou-se a propor a jornada de oito horas; os sindicatos foram legalizados; instituiu-se a igualdade entre os sexos; projectou-se a autogestão das fábricas; o monopólio da lei pelos advogados, o juramento judicial e os honorários foram abolidos; testamentos, adopções e a contratação de advogados tornaram-se gratuitos; o casamento foi simplificado, tornou-se gratuito; a pena de morte foi abolida; o cargo de juiz tornou-se electivo; o Estado e a Igreja foram separados; a Igreja deixou de ser subvencionada pelo Estado e os espólios sem herdeiros passaram a ser propriedade do Estado; a educação tornou-se gratuita, laica e obrigatória; escolas nocturnas foram criadas e todas as escolas passaram a ser de frequência mista;
COMUNICDO COMUNAa Bandeira Vermelha foi adoptada como símbolo da Unidade Federal da Humanidade; instituiu-se um escritório central de imprensa; o serviço militar obrigatório e o exército regular foram abolidos; todas as finanças foram reorganizadas, incluindo os correios, a assistência pública e os telégrafos; traçou-se um plano para a rotação de trabalhadores; organizou-se uma Escola Nacional de Serviço Público; os artistas passaram a autogestionar os teatros e editoras; o salário dos professores foi duplicado; o internacionalismo foi posto em prática: o fato de ser estrangeiro não era irrelevante. Os integrantes da Comuna incluíam belgas, italianos, polacos, húngaros, que defenderam mais patrioticamente a França que os vendidos aos interesses particulares na esteira do bispo Cauchon que entregou Joana D’Arc aos ingleses ou dos que actualmente rastejam às ordens do grande capital sem pátria.
Ensinamentos para Hoje e Amanhã
A Comuna tem um papel de relevo na elaboração da teoria revolucionária em Marx, Engels e Lenine. O ensaio de Marx, A Guerra Civil em França, é um livro maior. O texto de Marx, tem a particularidade de depois de, em 1870, ter feito vários avisos à classe operária sobre os perigos de acções prematuras, evidenciar um enorme entusiasmo com a Comuna sem deixar de criticar os seus erros, as suas fragilidades. Ao analisar as debilidades políticas da direcção comunard não coloca em causa a Comuna. O seu objectivo é retirar lições da derrota para robustecer a resistência, as futuras revoluções. Via nessa experiência histórica um alcance imenso.
“Seria evidentemente muito cómodo fazer história se só se devesse travar a luta em condições infalivelmente favoráveis (…) Graças ao combate travado em Paris a luta da classe operária contra a classe capitalista e o seu Estado capitalista entrou numa fase nova (…) Qualquer que seja a maneira como as coisas aconteçam no imediato será um ponto de partida de importância histórica mundial.” (…) “Um passo em frente da revolução proletária universal, um passo real, bem mais importante que centenas de programas e de raciocínios” Marx, livro citado.
Em 1917 com a Revolução de Outubro em marcha, Lenine escreve O Estado e a Revolução, ensaio central na sua vasta obra política. A Comuna de Paris, os textos de Marx são o ponto de partida para as suas teses sobre a natureza de um Estado Socialista, em que não basta apoderar-se do Estado e fazê-lo funcionar para os seus próprios fins. Exige-se a sua transformação impondo a democracia proletária (ditadura do proletariado) contra a democracia burguesa (ditadura da burguesia). Democracia burguesa que não hesita em recorrer à mais feroz repressão, quando a sente necessária para a sua sobrevivência. Em que, mesmo “na mais democrática das repúblicas, a mais ampla democracia representativa, nunca conseguirá eximir-se às consequências devastadoras que é a separação entre representantes e representados. Separados desde logo económica e socialmente, permite que os representantes manipulem os representados de acordo com os seus próprios interesses”.(O Estado e a Revolução, Lenine)  Na realidade, ontem como hoje, a liberdade não é igual entre todos. A liberdade de um trabalhador, por razões sociais e económicas, não é igual à de um capitalista, o que levou Orwell a considerar que “para sermos corrompidos pelo totalitarismo não é necessário viver num país totalitário”.
Essas as grandes lições da Comuna de Paris. Uma experiência revolucionária impar na luta milenar das lutas do proletariado e dos povos oprimidos. Uma chama de esperança revolucionária na longa história, feita de êxitos e fracassos, da luta pela transformação do mundo e da vida.
COMUNARDS
pracadobocage.wordpress.com
02
Jul17

"O esmagamento da Grécia revolucionária"

António Garrochinho


O rei da Grécia Jorge II e o seu governo fugiram para o Egito imediatamente a seguir à invasão das tropas alemãs (6 de abril de 1941) e formaram aí um governo no exílio. A 27 de Setembro de 1941, por iniciativa do Partido Comunista da Grécia, as forças democráticas de todos os estratos do povo uniram-se na Frente de Libertação Nacional (EAM, segundo a sigla grega).
Os ocupantes fascistas alemães criaram um governo marionete, encabeçado pelo general G. Tsolakoglou, que recrutou tropas entre a população grega e enviou-as para a frente de combate contra a União Soviética em 1943.
Sob a direção do PC da Grécia, os patriotas gregos formaram o Exército Popular de Libertação (ELAS), unindo no seu seio os diferentes grupos de guerrilha. Contando com o apoio enérgico da maioria do povo, em meados de 1943, o ELAS já tinha libertado um terço da Grécia continental.  
Em 10 de Março de 1944, os patriotas gregos formaram o Comité Político de Libertação Nacional (PEEA). Nas eleições para o Conselho Nacional do PEEA participaram 1,8 milhões de pessoas, mais de 80 por cento dos cidadãos eleitores. No Conselho Nacional estavam representados todos os estratos do povo.
Em maio de 1944, sob pressão dos britânicos, o PEEA concordou em formar um governo conjunto com o governo no exílio formado no Egipto, sob a direção do social-democrata G. Papandréou. Este governo foi constituído no Cairo em 2 de setembro de 1944.
Aos comunistas e representantes da EAM, unidos no PEEA, foi prometido apenas 25 por cento dos lugares, o que estava muito aquém do seu real apoio popular. Através deste compromisso imposto ao PEEA, os partidos burgueses, que não haviam participado na luta de resistência e se tinham comportado de forma expectante e até cooperante com a potência ocupante alemã, garantiam a maioria absoluta no “Governo de Unidade Nacional”.
Face ao rápido avanço do Exército Vermelho nos Balcãs, as tropas alemãs viram-se obrigadas a retirar da Grécia. No início de novembro de 1944, aproveitando a retirada das tropas alemãs, o ELAS libertou a Grécia, com exceção de algumas ilhas.
Cumprido o programa da Frente de Libertação Nacional (EAM), apoiado pela maioria do povo, devia agora ser completada a revolução democrática, anti-imperialista. A hegemonia do imperialismo britânico na Grécia e no Mediterrâneo oriental seria pelo menos reduzida, senão mesmo suprimida. O lado britânico queria impedir isso a todo o custo. O Foreign Office constatava com pesar que não era possível uma intervenção armada na Jugoslávia contra Tito, mas na Grécia, sim. Na perspectiva do Foreign Office, o governo britânico teria de utilizar a força, não obstante, assim nos assegura Sir Liewellyn Woodward, não há a mínima dúvida de que a maioria da nação grega saudou a ingerência.  
O Governo britânico nunca se embaraçou a justificar as intervenções imperialistas. Em 13 de Outubro de 1944, tropas britânicas aterraram em Atenas e no Pireu. As provocações do lado do exército de intervenção britânico, sob o comando do general Scobie, e de políticos e oficiais gregos restauracionistas conduziram à sublevação do ELAS.
Agora Churchill estava no seu elemento. Na noite de 4 para 5 de dezembro autorizou telegraficamente o general Scobie a reprimir pela força os movimentos populares.
Nas suas memórias, Churchill vangloria-se retrospectivamente da sua intervenção pessoal nos combates na Grécia. As instruções transmitidas por telegrama ao general Scobie são claras; estão documentadas as afirmações odiosas de Churchill, na sua dicção anticomunista, dando as instruções bárbaras, que teriam honrado qualquer déspota oriental. Posteriormente ainda procurou legitimá-las, difamando os comunistas e tratando as massas populares de “populaça”:
“Agora interferia directamente na direcção do assunto. Quando soube que os comunistas tinham ocupado quase todas as esquadras de polícia em Atenas e assassinado a maioria dos polícias que não estavam de acordo com eles, e que se encontravam a menos de um quilómetro da sede do Governo, ordenei ao general Scobie e aos seus cinco mil soldados – que apenas dez dias antes tinham sido saudados pela população como libertadores – que interviessem e avançassem com a força das armas contra os assaltantes traidores. Não faz sentido fazer estas coisas a meio termo. A violência da populaça, com a ajuda da qual os comunistas queriam ocupar a cidade para se apresentarem ao mundo como o governo desejado pelo povo grego, só podia ser impedida pelo fogo das armas. Não houve tempo para convocar uma reunião governamental.
“Eden e eu estivemos juntos até cerca das duas horas da manhã; estávamos ambos inteiramente de acordo que só a força das armas podia valer-nos. Vi que ele estava esgotado e disse-lhe: ”Se quiser ir deitar-se, eu trato disto.” Ele retirouse, e cerca das três [horas] redigi o seguinte telegrama para o general Scobie:
 “(…) Você é responsável pela paz e pela ordem em Atenas e deve impedir todas as unidades da EAM/ELAS de se aproximarem da cidade e, se necessário, eliminá-las. Pode promulgar todos os regulamentos que entender necessários para controlar as ruas e prender elementos rebeldes. O ELAS procurará, naturalmente, onde existir o perigo de um tiroteio, enviar à frente mulheres e crianças. Em tais casos tem de atuar engenhosamente e evitar erros. Mas não hesite em disparar sobre todos os [elementos] armados na cidade, que se oponham às nossas autoridades ou às autoridades gregas por nós reconhecidas. Evidentemente que seria bom que o Governo grego com a sua autoridade se colocasse sob o seu comando, e Leeper procura convencer Papandréou a fazê-lo. Mas não hesite em atuar como se se encontrasse numa cidade conquistada, na qual uma insurreição estivesse em marcha. (…)
2. Caso os bandos do ELAS se aproximem da cidade a partir do exterior, encontra-se com certeza na situação de lhes dar uma lição, com os seus tanques, que coiba os outros de novas tentativas. Contará com a minha cobertura para todas as ações bem pensadas e sensatas. Temos de afirmar a nossa posição e autoridade em Atenas. Ganharia grande mérito se o conseguisse sem derramamento de sangue, mas se necessário também com derramamento de sangue.”
“Este telegrama foi enviado dia 5, cerca das 4h e 50m. Tenho de concordar que estava formulado de forma um pouco severa. Porém, pressenti a necessidade urgente de dar ao comandante instruções claras, por isso usei premeditadamente as expressões mais fortes. Com uma tal ordem nas suas mãos, teria a coragem de atuar energicamente, já que lhe dei a certeza de cobrir todas as suas ações bem pensadas, independentemente das consequências. Toda a evolução me preocupava seriamente, contudo estava convencido de que aqui não podia haver nem fraquezas nem indecisões. Lembrei-me do famoso telegrama de Arthur Balfour, nos anos 80, para a administração britânica na Irlanda: “Não hesite em disparar.” Esse telegrama foi então enviado pelo telégrafo público e provocou uma tempestade de indignação na Câmara dos Comuns, porém, evitou determinados derramamentos de sangue. O episódio revelou-se como uma das etapas mais importantes na subida de Balfour ao poder. Sem dúvida que as coisas agora eram diferentes, mas este “Não hesite em disparar” soou-me aos ouvidos como uma insinuação de dias longínquos.”
“Não hesite em disparar!” O general Scobie não hesitou. As ressalvas restritivas de Churchill tinham só uma função de álibi.
A guerra suja de intervenção contra o Exército Popular de Libertação – elemento ativo da coligação anti-hitleriana – foi duramente criticada na Grã-Bretanha, o que Sir Llewellyn Woodward explicou com a falta de informação da população inglesa sobre «a violência da multidão e da ditadura comunista”.  Através dos seus meios de comunicação, o Governo britânico ajudou a ultrapassar rapidamente esta lamentável “deficiência” informativa.  
Mas também nos EUA houve críticas à atuação do exército britânico contra o Exército Popular de Libertação. Manifestamente, o presidente Roosevelt também estava insuficientemente informado sobre «ditadura comunista» da «populaça». Como o seu filho Elliot Roosevelt se recorda, o presidente estava profundamente indignado com o combate das tropas inglesas contra a guerrilha na Grécia, “que tinha lutado corajosamente durante quatro anos contra os nazis”.
“Não me admiraria», disse o presidente Roosevelt, «se Winston [Churchill, UH] nos tivesse simplesmente transmitido que queria apoiar os monárquicos gregos. Isto estaria de acordo com o seu carácter. Mas assassinar a guerrilha grega! Usar as tropas inglesas para tal coisa!”  Roosevelt criticou pouco antes da sua morte a “capacidade inglesa de juntar num bloco os outros países contra a União Soviética”.
Em Janeiro de 1945, Harry Hopkins, um conselheiro do presidente, informava Elliot Roosevelt sobre os “planos [de Churchill] de invasão a partir do Sul”, como “a última tentativa de colocar soldados aliados nos Balcãs antes dos russos”.16
Isto chegará para caracterizar as ambições de Churchill na Grécia e nos Balcãs.

Naturalmente que Stalin compreendeu a política pérfida, as brutalidades dos intervencionistas britânicos na Grécia. Mas o Governo soviético não podia ajudar os patriotas gregos. Independentemente de um ataque contra as tropas britânicas ser demasiado arriscado, dada a relação de forças existente no Sul da península balcânica, um tal passo contra um parceiro de coligação podia ter conduzido à ruptura na coligação anti-hitleriana. Churchill sabia que Stalin não faria nada contra a intervenção britânica para evitar tal ruptura. Roosevelt também evitou uma condenação pública de Churchill pelas mesmas razões.
A originalidade da situação histórica consistia em que, por um lado, os parceiros da coligação anti-hitleriana dependiam uns dos outros, por outro lado, estavam divididos por contradições de classe, que teriam de ser dirimidas depois da guerra. Era uma difícil decisão para Stalin, abandonar ao seu destino os camaradas de classe gregos para manter a coligação anti-hitleriana. Em 1944/45, a guerra contra o fascismo alemão e contra o Japão tinha prioridade sobre as ações de luta delimitadas localmente. Os exércitos alemães lutavam ainda com obstinação fanática na frente germano-soviética. Uma ruptura na coligação anti-hitleriana, mesmo na fase final da guerra, teria tido efeitos militares imprevisíveis. A decisão deve ter sido difícil para Stalin, mas não tinha outra alternativa. Assim, Churchill pôde ainda assinalar cinicamente que “ao longo das semanas em que se prolongaram os combates de rua em Atenas, (…) não houve nenhuma palavra de acusação no Pravda ou no Izvéstia”.  
 
Aditamento:
Churchill e os restauracionistas gregos verificaram à sua maneira a teoria marxista-leninista do Estado e da revolução: primeiro esclarece-se a questão do poder, se necessário por banho de sangue, depois eleições «livres» e, veja-se, agora os partidos burgueses têm a maioria. Nas eleições «livres» de 31 de março de 1946, o PC da Grécia, o EAM e outros partidos democráticos não puderam participar. Milhares de combatentes da resistência contra o ocupante fascista foram assassinados pelas tropas contrarrevolucionárias, 75 mil foram presos e mais de 100 mil combatentes ativos do movimento de libertação foram perseguidos e empurrados para a ilegalidade. Em 1 de Setembro de 1946 realizou-se um referendo «livre» sob as baionetas das tropas reacionárias, que aprovou o regresso do rei Jorge II e, em “livre autonomia”, restabeleceu-se a hegemonia do imperialismo britânico na Grécia. Em fevereiro de 1952 consumou-se a entrada “livre” na OTAN. Na verdade, a luta dos democratas gregos não estava e não está ainda terminada.

 
NOTAS
1.  O Governo britânico «had to use force, but there is no doubt that the great majority of the Greek nation welcomed their interference…» (British Foreign Policy in the Second World War, Londres, 1962. Her Majesty’s Stationary Office, p. 351). Estranho! Uma página antes L. Woodward afirma que a monarquia grega era odiada por largas camadas da população, agora diz que a nação grega estava agradecida aos britânicos por lhe ter devolvido o seu querido rei.
2. Winston S. Churchill, Der Zweite Weltkrieg (Edição revista pelo próprio Churchill das suas memórias em doze volumes), Frankfurt/Main, 2003, p. 1007 e seg. Sublinhado no original.
3. «(…) mob violence and communist dictatorship». L. Woodward, idem, ibidem, p. 358.
4. Elliot Roosevelt, Wie er es sah (As he saw it), 1ª ed., Zurique, 1947, p. 278.
5. Idem, ibidem, p. 285.
6. Churchill, idem, ibidem, p. 1008, sublinhado no original.

O presente texto é um extracto adaptado do capítulo IV da obra de Ulrich Huar,
Contribuições de Stalin para a Ciência Militar e Política Soviética (Verlag, Berlim, 2006),
parcialmente traduzida e publicada em Para a História do Socialismo
 



www.novacultura.info
02
Jul17

HOJE NA HISTÓRIA - Revolucionário boliviano Tupac Katari é morto por império espanhol

António Garrochinho


Inspirado em Tupac Amaru II e Tomás Katari, ele liderou 40 mil homens no cerco a La Paz no século XVIII

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Tupac Katari e Bartolina Sisa / Reprodução
“Matam apenas a mim. Voltarei e serei milhões.” Essa é a frase que marca a luta do revolucionário boliviano Tupac Katari, que atuou na libertação de seu país do domínio espanhol no século XVIII.
Nascido Julián Apasa Nina, o líder das rebeliões indígenas da Bolívia contra o Império Espanhol morreu aos 31 anos, esquartejado pelos colonizadores, no dia 15 de novembro de 1781. Membro da nação aymara, Apasa assumiu o nome de Tupac Katari para homenagear dois líderes rebeldes do povo andino: Tupac Amaru II e Tomás Katari.
Em seu tempo, ele levantou um exército de 40 mil homens e mulheres, e estabeleceu um cerco à cidade de La Paz, em 1781. Sua luta era contra a exploração, os desmandos e os maus tratos impostos aos povos originários pelos colonizadores espanhóis.
Katari e sua companheira, Bartolina Sisa, se estabeleceram na cidade de El Alto, vizinha a La Paz. Sisa foi a comandante do cerco ao local, desempenhando um papel fundamental nesta luta. Apesar da valentia, o levante foi derrotado após uma batalha contra as tropas coloniais que chegaram de Lima, no Peru, e de Buenos Aires, na Argentina.
Tupac Katari foi torturado e barbaramente executado. Sua morte ocorreu após os colonizadores amarrarem seus braços e pernas por cordas em cavalos, que correram em quatro direções.
Tupac Katari e Bartolina Sisa são lembrados como heróis pelos atuais movimentos indígenas na Bolívia e no Peru.

www.brasildefato.com.br
02
Jul17

até.....

António Garrochinho

Até o mais imbecil dos seres "pensantes" pode dedicar-se a algum esforço se tiver o mínimo talento para a demagogia, para pregar o ridículo e ser aplaudido de volta pelo galinheiro.
Cócórócócó !

02
Jul17

A HISTÓRIA DOS OVOS FABERGÉ

António Garrochinho

Feitos de ouro e diamante, ovos de Páscoa milionários traziam 'surpresa'



O ovo vinha com uma réplica da carruagem imperial que demorou 15 meses para ser terminada. Ele faz parte da Coleção Forbes e foi leiloado em 2004 (Foto: Stan Honda/AFP)O ovo vinha com uma réplica da carruagem imperial que demorou 15 meses para ser terminada. Ele faz parte da Coleção Forbes e foi leiloado em 2004 

Confeccionados minuciosamente com materiais nobres como ouro, mármore e pedras preciosas, os ovos de Páscoa que possivelmente são os mais valiosos do mundo são ainda mais valorizados pela mística em torno de sua história, marcada tanto pelo luxo quanto pela tragédia.
Avaliados em milhões de dólares, os ovos Fabergé foram feitos entre 1885 e 1916 por encomenda da Corte Imperial Russa


O ovo de 1898 em uma exposição no Kremlin, em Moscou, em 2004. (Foto: Yuri Kadobnov/AFP)




Com fotos em miniatura da família imperial, o ovo de
1898 foi exposto no Kremlin, em Moscou, em 2004.

Em 1917, quando a família real foi assassinada pelos bolcheviques que deflagraram a Revolução Russa, seus tesouros (incluindo os ovos) foram confiscados, e seu paradeiro ficou desconhecido por anos.
Hoje, os 42 exemplares sobreviventes (eram 50, no total) são disputados em leilões de casas como Christies e a Sotheby's.
Alguns pertencem a colecionadores privados e outros podem ser admirados por turistas em museus na Rússia, nos Estados Unidos e na Alemanha (veja lista no fim da reportagem).

Presente para a imperatriz
Os famosos ovos receberam esse nome em homenagem a seu criador, Peter Carl Fabergé, joalheiro da família Romanov, que dominava o país na época.
Em 1885, ele recebeu a encomenda do czar Alexander III, que queria presentear sua mulher, a Imperatriz Marie Fedorovna, com um presente de Páscoa luxuoso.
Na época, a tradição era dar a amigos e parentes ovos de galinha pintados à mão nessa época do ano – uma data tão importante para a Igreja Ortodoxa Russa quanto o Natal para os ocidentais. Os ricos de São Petersburgo adaptaram o costume e passaram a dar joias como presentes.
Querendo unir as duas tradições, o czar encomendou a Fabergé um voo de Páscoa que fosse, na verdade, uma joia.
Todos os ovos Fabergé vinham com surpresas dentro (Foto: Laski Diffusion/East News/Liaison)

Todos os ovos Fabergé vinham com surpresas em
seu interior (Foto: Laski Diffusion/East News/Liaison)

O resultado foi um ovo coberto por esmalte branco por fora, imitando uma casca comum, que se abre revelando uma “gema” toda coberta de ouro. Essa gema, por sua vez, tem outra surpresa dentro: uma galinha também de ouro, que denominou essa primeira joia como o “Ovo de Galinha”.
Originalmente, ela continha ainda uma pequena réplica feita em diamante da Coroa Imperial e pendente de rubi em forma de ovo. Essas duas últimas surpresas se perderam.
O presente especial de Páscoa virou uma tradição na Corte, que foi mantida por mais de 30 anos. Até 1916, Fabergé criou ao menos um ovo ao ano, usado para presentear as esposas e as mães dos czares.
O trabalho era tão minucioso que cada um deles levava um ano ou mais para ser produzido, por uma equipe formada pelos melhores artesãos da época, que trabalhavam em segredo.
O tema mudava todo ano: em geral era inspirado nos laços de família, na vida na corte e nas conquistas da dinastia Romanov. O ovo de 1911, por exemplo, comemorava o 15° aniversário da ascensão de Nicholas II ao trono, e o de 1913, os 300 anos da dinastia.
A única exigência era que todos eles tivessem uma surpresa em seu interior. Um elefante de mármore, um cisne em miniatura e minimolduras com retratos dos membros da família imperial foram alguns desses presentes.
Para terminar uma dessas surpresas -- uma réplica perfeita da carruagem real em tamanho reduzido-- , Fabergé trabalhou durante 16 horas ao dia por 15 meses.
O Ovo de Galinha, primeiro feito por Fabergé (Foto: Stan Honda/AFP)O Ovo de Galinha, primeiro feito por Fabergé, tem uma "gema" feita de ouro (Foto: Stan Honda/AFP)
Mais de 3 mil diamantes
O ovo mais caro produzido por ele foi o de 1913. Feito de cristal finíssimo adornado com gravuras, platina e 3.246 diamantes, ele foi apelidado de “ovo de inverno” e ficava em uma base que parecia gelo derretido. Sua surpresa era uma cesta de platina com flores feitas de quartzo branco, ouro, jade e outros materiais preciosos.
O ovo “Laranjeira”, de Fabergé (Foto: William Thomas Cain/Newsmakers/Getty Images)
O ovo “Laranjeira”, de Fabergé (Foto: William Thomas
Cain/Newsmakers/Getty Images)

Na época, ele foi avaliado em 24.600 rublos, que equivaliam a 2.460 libras estima-se que no mundo de hoje isso equivaleria a 1,87 milhões de libras 
O “ovo de inverno” foi vendido pela casa de leilões Christie’s em Nova York em 2002, por US$ 9,6 milhões 
Não foi o mais caro. Cinco anos depois, o ovo Rothschild, criado em 1902, foi vendido em outro leilão por US$ 18,5 milhões

Fuga
Quando os bolcheviques tomaram o poder, o atelier, a loja e as joias produzidas por Carl Fabergé foram confiscados, e o joalheiro e sua família fugiram da Rússia.
Em uma determinação de 1951, a família perdeu o direito de produzir e comercializar peças com o nome Fabergé – direito que recuperou apenas em 2007.
A marca foi relançada em 2009 e tem a participação de Tatiana e Sarah Fabergé, bisnetas do joelheiro. Joias inspiradas no trabalho de Peter Carl – muitas delas com detalhes em forma de ovos – são vendidas em lojas de cidades como Londres, Nova York, Dubai e Hong Kong.
Confira alguns museus onde é possível ver alguns dos ovos Fabergé:

Museus do Kremlin
Moscou (Rússia)
Site: kreml.ru/en/museums/armoury/
Museu Fabergé
Baden Baden (Alemanha)
Site: faberge-museum.de
Virginia Museum of Fine Arts
Richmond (EUA)
Site: www.vmfa.state.va.us
The Walters Art Museum
Baltimore (EUA)
Site: thewalters.org
The New Orleans Museum of Art
Nova Orleans (EUA)
Site: noma.org
The Cleveland Museum or Art
Cleveland (EUA)
Site: www.clevelandart.org


g1.globo.com
02
Jul17

02 de Julho de 1566: Morre Nostradamus

António Garrochinho

Médico do século XVI, Michel de Nostradame nasceu em Dezembro de 1503, em Saint Remy, na França, no seio de uma família judia.Graças aos ensinamentos dos seus avôs, quando Michel foi para a escola, em Avignon,aprender filosofia, gramática e retórica, já tinha conhecimentos profundos de literatura clássica, história, medicina,astrologia (que na altura era considerada uma ciência legítima) e medicina natural.

Nostradamus (versão do seu nome em Latim) tornou-se conhecido pelo tratamento que concebeu para combater a Peste Negra, que deflagrou na Europa durante o século XVI. A cura utilizada por Michel de Nostradame consistia na limpeza do corpo e administração de vitamina C aos seus pacientes. Sempre que entrava numa localidade para dar consultas, o médico pedia que fossem retirados das ruas todos os corpos que lá se encontravam abandonados.Em 1537 a peste chegou a Agen, onde Nostradamus vivia com a família. Ocupado com a cura da população, não conseguiu salvar a mulher e os dois filhos. Começou a questionar as suas capacidades enquantomédico e, desapontado, viajou pela Europa sem destino durante seis anos. Foi nessa altura que Nostradamus se apercebeu dos seus poderes proféticos.

Dez anos depois da morte da sua família, Michel de Nostradame mudou-se para Salon, onde voltou a casar. Na sua casa montou um estúdio privado, onde instalou um astrolábio, espelhos "mágicos", um tripé e um recipiente de vidro de forma redonda, que ele desenhou a partir dos modelos usados nos oráculos.

À noite Nostradamus retirava-se para o estúdio, onde fazia experiências com ervas pungentes. Durante alguns anos o médico optou por não divulgar as suas descobertas científicas.

Em 1550 publicou o primeiro almanaque de profecias, Quadras um conjunto de doze quadras com profecias genéricas para cada altura do ano que se aproximava. As críticas favoráveis encorajaram Nostradamus a continuar.

O seu trabalho mais conhecido, As Centúrias, foi iniciado em 1554. A primeira centúria foi publicada em Lyon, em 1555. As restantes publicaram-se nesse mesmo ano, sendo finalizadas em 1558, mas Michel de Nostradame decidiu não as distribuir em grande número. As Centúrias foram impressas por mais de 400 anos.

No seu tempo, bem como atualmente, as quadras proféticas tiveram várias interpretações. As combinações de francês com o provençal, o grego, o latim e o italiano escritas como enigmas, anagramas e epigramas são complexas e exigem que o potencial intérprete tenha conhecimentos de vários campos temáticos.

Algumas quadras de Nostradamus podem encontrar significações em diversas épocas, mas as que lhe deram afama de ser um dos maiores profetas foram as quadras precisas. À exceção das profecias que se concretizaram no tempo de Nostradamus, é difícil poder dar uma interpretação exata das previsões que o profeta fez e que ainda não se cumpriram.

Apesar de nos últimos anos da sua vida Michel de Nostradame ter sofrido de artrite e de gota, parentes e amigos seus afirmaram que o médico sempre se manteve alerta às profecias.

Um dos factos que admirou grande número de pessoas foi a previsão que Nostradamus fez da sua própria morte.

Nostradamus morreu no dia 2 de julho de 1566. O seu epitáfio é uma exaltação ao seu carácter profético.

Nostradamus. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012.
wikipedia (Imagens)

Centúrias impressas em Turim
02
Jul17

02 de Julho de 1961: O escritor Ernest Hemingway, autor de "Adeus às Armas",Prémio Nobel da Literatura em 1954, comete suicídio

António Garrochinho


Ernest Miller Hemingway (21/7/1899-2/7/1961), romancista e contista norte-americano, nasceu em Oak Park, Chicago, e foi educado no liceu local. O pai de Hemingway era médico e transmitiu ao filho o entusiasmo pelos desportos. A mãe insistira para que o filho se dedicasse à música, mas Hemingway resolveu tornar-se jornalista e escritor. Trabalhou inicialmente como repórter para o Kansas City Star . Em Abril de 1918, durante a Primeira Guerra Mundial, alistou-se como voluntário, tendo sido colocado numa unidade de ambulâncias na frente italiana. Pouco depois de ter chegado a Itália, foi ferido numa perna e transportado ao hospital da Cruz Vermelha. Regressou à América e em 1919 voltou a trabalhar como repórter para o jornal de Toronto Star Weekly . O casamento com Hadley Richardson, em 1921, foi o primeiro dos quatro matrimónios do escritor. Na Europa, Hemingway trabalhou como correspondente. Em Paris, para onde partiu em 1922 ao serviço de um jornal canadiano, conheceu Gertrude Stein e frequentou os círculos literários da capital francesa. Ali contactou com outros expatriados: Ezra Pound, James Joyce e Scott Fitzgerald. O livro Three Stories and Ten Poems teve uma circulação limitada em Paris (1924) e no ano seguinte foi publicado o livro de contos In Our Time , que recebeu a aprovação dos críticos americanos. As primeiras obras de Hemingway revelavam a influência de Ring Lardner e Sherwood Anderson, mas a carreira literária do autor desenvolveu-se fundamentalmente a partir das experiências pessoais que mais o marcaram, entre as quais se destacam a guerra e o jornalismo. Em 1926 foi publicado o romance Torrents of Spring , uma paródia do livro de Sherwood Anderson Dark Laughter . No mesmo ano Hemingway publicou The Sun Also Rises (editado na Inglaterra com o título Fiesta ). Este romance e o volume de contos que se seguiu ( Men Without Women , 1927) confirmaram a reputação do escritor. A acção de The Sun Also Rises desenrola-se em Paris e tem como protagonista um jornalista americano ferido na guerra. O romance desenvolve muitas das questões centrais da obra de Hemingway. Em 1928, divorciado de Hadley e casado com Pauline Pfeiffer, o escritor mudou-se para Key West, na Florida. No final desse ano o pai de Hemingway suicidou-se. No romance de 1929, A Farewell to Arms ( Adeus às Armas ), foi retomada a temática da guerra. Entretanto as suas viagens a Espanha, África e Cuba revelaram-lhe actividades que considerou símbolos da condição humana: a tourada e a caça. Na primeira inspirou-se para escrever Death in the Afternoon (1932), um dos seus melhores livros. Em The Green Hills of Africa ( As Verdes Colinas de África , 1935) descreveu as aventuras de um safari, um tema que retomou em The Snows of Kilimanjaro e The Short Happy Life of Francis Macomber , ambos inseridos na colectânea The First 49 Stories (1938). A experiência da guerra voltou a marcar Hemingway quando este partiu para Espanha como correspondente durante a guerra civil espanhola (1936-39). Um dos mais conhecidos romances do escritor, For Whom the Bell Tolls ( Por Quem os Sinos Dobram , 1940), inspirou-se neste episódio. Hemingway escreveu ainda Across the River and Into the Trees ( Na Outra Margem, entre as Árvores , 1950) e The Old Man and The Sea ( O Velho e o Mar ), um breve romance sobre a luta de um pescador cubano contra um peixe gigante. O livro, considerado uma parábola da humanidade, valeu a Hemingway o Prémio Nobel da Literatura em 1954. O estilo inovador de Hemingway, que preferiu a economia de linguagem e a palavra depurada aos artifícios literários e à extensa análise psicológica, influenciou as gerações seguintes de escritores americanos. Hemingway, que desejou ser um homem de acção, um artífice em vez de um artista, cultivou um ideal de virilidade, procurando contornar a derrota final da condição humana: a morte. Suicidou-se no dia 2 de Julho de 1961.

Ernest Hemingway. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011.
wikipedia(Imagens)



Ernest Hemingway na cabine do seu barco Pilar
Arquivo: Ernest Hemingway 1950.jpg

Ficheiro: Bundesarchiv Bild 183-84600-0001, Ivens und Hemingway bei Ludwig Renn, Chef der XI.  Internationalen Brigaden.jpg
Ernest Hemingway (ao centro) durante a Guerra Civil Espanhola

02
Jul17

Uma opinião - Um homem político pode ser ateu, agnóstico ou crente. Mas, o facto de pretender servir a Deus não faz do seu partido político uma Igreja.

António Garrochinho


Islão e clericalismo no Médio-Oriente Alargado

(...) Vou, pois, aclarar questões relativas ao Islão antes de descrever o mais precisamente possível a sua situação actual.
Em primeiro lugar, se têm uma ideia feita quanto ao Islão, é porque vocês não conhecem mais do que uma única das suas versões, já que de Marrocos até ao Xinjiang esta religião assume as formas mais variadas. Quer seja no plano litúrgico ou jurídico, não há qualquer semelhança entre o Islão de Sarjah (um dos Emirados A. Unidos- ndT) e o de Java.

Esta religião pode ser abordada a partir de uma leitura literal do Alcorão, ou a partir da sua leitura contextualizada, ou, ainda, a partir de uma crítica da autenticidade do texto corânico actual.
Durante os primeiros quatro séculos do Islão, todos os muçulmanos concordavam com a necessidade de interpretar o Alcorão, o que se traduziu na elaboração de quatro sistemas jurídicos distintos (hanafita, malequita, shafiita e hanbalita), segundo as culturas locais. Mas no fim do século X, constatando a expansão desta religião e temendo que ela acabasse por se dividir, o califa sunita interditou que se levasse a interpretação mais longe. Apenas os xiitas a continuaram. Desde então, o Islão adapta-se como pode às exigências do seu tempo.
Contrariamente às aparências, se nos recusarmos a interpretar o texto, não o conseguimos compreender tal e qual ele foi redigido, mas unicamente através da sua própria cultura. Sabendo que Maomé viveu na Arábia, os Sauditas tomam como certo que compreendem de forma espontânea o sentido do Alcorão como se a sua sociedade e a sua língua não tivessem evoluído desde há 1.400 anos. Para eles, tal como no século XVIII para Mohammed ben Abdel Wahhab, Maomé reforçou os valores do tribalismo nómada. São estes os «wahhabitas». Por exemplo, o Alcorão condena os ídolos, por isso os wahhabitas destroem as estátuas de deuses antigos, o que Maomé jamais fez, mas que corresponde à sua cultura beduína. No século VIII, os cristãos bizantinos tiveram que enfrentar igualmente os «iconoclastas» sauditas que destruíam, em nome de Cristo, as decorações das Igrejas. _ O tribalismo nómada não tem sequer a própria noção de História. Os wahhabitas destruíram a casa do Profeta, em Meca, porque ela se havia tornado num local de peregrinação, portanto, segundo eles, de idolatria. Mas eles não pararam por aí. Nestes últimos anos destruíram toda a antiga e magnífica cidade de Meca porque culturalmente não atribuem qualquer significado a essas relíquias.
Se nos referirmos à sua leitura literal, seremos «fundamentalistas». Em geral, pensa-se numa vida tal como a dos companheiros do profeta. Neste caso é-se, então, um «salafista», já que nos tentamos aproximar dos piedosos ancestrais (os «salafs»). Este movimento, nascido no século XIX, no Egipto, constituiu-se em resposta ao wahabismo e era extremamente liberal. Ora, no entretanto tornou-se muito repressivo.
Por exemplo, a maioria dos salafistas actuais proíbe o consumo de álcool, mas alguns xeques afirmam o contrário, que é lícito beber com moderação. Todos acham a sua justificação no Alcorão, o qual comporta três passagens aparentemente contraditórias sobre este assunto. _ Todas as religiões são confrontadas com esta impossibilidade de reproduzir um passado que ninguém pode reconstituir. Por exemplo, no século XX, o movimento carismático entre os cristãos levou a entendimentos opostos sobre a sexualidade segundo eram baseados directamente nos Evangelhos ou na moral das Epístolas de Paulo.
Desde há alguns anos, sob a influência do trabalho realizado por exegetas europeus a propósito da redacção de textos bíblicos, alguns autores questionam a autenticidade do texto corânico. _ Em primeiro lugar, de maneira a afirmar a sua autoridade, o califa de Damasco fez coligir textos atribuídos a Maomé a partir dos quais ele constituiu o Alcorão, depois mandou queimar todas as outras antologias. Além disso, a palavra «Maomé» não designa uma pessoa específica, é um título dado aos sábios. É, pois, possível que o Alcorão reproduza as palavras de vários Profetas o que parece ser corroborado pela presença de estilos literários diferentes no texto canónico.
Os arqueólogos descobriram textos corânicos anteriores à versão canónica. Existem diferenças, por vezes significativas, entre estes textos escritos com alfabetos distintos. Além disso, quanto ao Alcorão canónico, propriamente dito, foi escrito com um alfabeto simplificado que só foi completado mais tarde, no século VIII. Esta transcrição é em si mesma uma interpretação e é possível que ela tenha sido por vezes mal feita. _ Claramente, algumas suratas (capítulos -ndT) do Alcorão retomam textos mais antigos utilizados pelos cristãos da região. Elas não foram compostas em árabe, mas em aramaico e certas palavras originais foram conservadas no texto definitivo. A sua leitura contemporânea é objecto de inúmeras incompreensões. Assim —não mexe sequer com os kamikaze do Daesh (E.I.) que esperam a sua recompensa no paraíso— a palavra «houri» significa «uvas brancas», e não «virgens de olhos grandes» (ndT= os suicidas do Daesh explodem-se crendo que no paraíso terão 72 virgens de prémio).
Resumindo, as coisas são bastante simples: o Islão é a religião do Alcorão. No entanto a tradição confere uma importância quase igual à lenda dourada do Profeta, as Hadiths. Trata-se de obras escritas muitas vezes centenas de anos mais tarde por pessoas que não podiam ter sido testemunhas dos factos que relatam. Estes factos são muito mais numerosos daquilo que seria possível ter ocorrido em toda uma única vida. Ilustram opiniões muito diversas e opostas. Algumas são de um nível intelectual impressionante e podem servir para justificar seja o que for. O crédito indevidamente atribuído a estes escritos fantasiosos deformou profundamente a transmissão da mensagem corânica.
Na prática, todas estas discussões mascaram uma outra, essencial: muito embora a religião seja o que tenta conectar o homem com Deus, acaba necessariamente por ser o lugar de todos as golpadas. Porque, como se pode pretender conhecer a Deus se ele é de uma natureza radicalmente diferente e superior à nossa? E, supondo que Ele se tenha expresso através dos profetas, como se pode pretender compreender o que Ele nos teria dito? Notai que, nesta perspectiva, a questão da existência de Deus —quer dizer de uma consciência superior à nossa— não faz mais nenhum sentido. É, por exemplo, o que defendiam entre os cristãos São Gregório de Nazianze ou São Francisco de Assis.
Sempre nesta perspectiva, os homens que buscam aproximar-se de Deus —isto é, não a aplicar a Sua Lei, mas a fazer evoluir a natureza humana para a tornar mais consciente— têm tendência a partilhar a sua experiência e, portanto, a formar Igrejas. Para funcionar estas tendem a formar profissionais, sacerdotes ou imãs. No cristianismo esta função só apareceu a partir do IIIº século, ou seja várias gerações após a morte de Jesus. Em todas as religiões, estes clérigos acabam por desfrutar de um estatuto intermediário entre os laicos e Deus. No entanto, nenhum dos fundadores das grandes religiões criou, por si próprio, nenhuma Igreja, ou clero.
Assim como a Europa experimentou um tremendo retrocesso com as grandes invasões que destruíram o Império Romano (os Hunos e os Godos), do mesmo modo o mundo muçulmano experimentou também um retrocesso com as invasões mongóis (Gengis Khan e Tamerlão). Se este trauma só durou três séculos na Europa, ele foi artificialmente prolongado no mundo árabe pelas colonizações otomana e europeia. Embora isso nada tenha a ver com a história do cristianismo, nem com a do islão, surgem clérigos que pretendem que esses retrocessos são a consequência do pecado, que se teria generalizado. Para regressar à idade de ouro, bastaria pois seguir os seus ensinamentos, e não tratar de reconstruir.
Inexoravelmente, clérigos metem-se na política e pretendem impor a sua visão das coisas em nome de Deus. Segue-se uma disputa rival entre eles e os laicos. Assim, em França, logo que o trauma das grandes invasões foi ultrapassado, a realeza laica, muito embora sendo considerada de «direito divino», entrou em conflito com o papado clerical. No mundo árabe, o qual não passa de uma minoria no seio do mundo muçulmano, este conflito surgiu com a descolonização e os movimentos de independência. Os líderes nacionalistas (Nasser, Ben Barka) chocaram-se com os Irmãos Muçulmanos. Durante a Guerra Fria, os primeiros foram apoiados pelos Soviéticos e os segundos pela OTAN. A dissolução da URSS enfraqueceu o campo nacionalista e traduziu-se numa vaga islamista. Além disso, a «Primavera Árabe» foi uma operação da OTAN para eliminar definitivamente os nacionalistas em favor dos Irmãos Muçulmanos. As multidões que apoiaram estes movimentos não procuravam, de forma nenhuma, a instauração de democracias. Pelo contrário, estavam convencidas que colocando os Irmãos Muçulmanos no Poder, elas criariam uma sociedade ideal e uma nova Idade de Ouro islâmica. Depois, acabaram no maior desencanto.


foicebook.blogspot.pt
02
Jul17

PRECIOSIDADES ABANDONADAS EM PORTUGAL

António Garrochinho

Do lado de fora, os edifícios das Termas dos Cucos estão bem pintados e o jardim bem arranjado, mas no interior são já visíveis sinais de degradação. As termas deixaram de funcionar em 1998. Apenas o parque está aberto para uso da população (foto: patrimoniodetorresvedras.blogspot.pt) 
Conhecida como Casa dos Ingleses, a Quinta do Esteiro Furado (Sarilhos Pequenos, Moita) foi pertença de família inglesa. Ainda hoje é possível ver o que resta do palácio, das levadas de água, do moinho de maré e do porto privado onde os produtos eram enviados para Lisboa (foto: mistergambit.deviantart.com)
Há meses foi devastado por um incêndio

As histórias de assombrações rodeiam o Palácio Fonte da Pipa, em Loulé. Mandado construir para receber o rei D. Carlos, o palácio foi batizado de Quinta da Esperança, mas ficou conhecido por Fonte da Pipa dada a fonte com o mesmo nome que existia no local. (foto: o-outro-bau-do-zejulio.blogspot.pt/
A Casa da Praça (freguesia de Frazão) foi construída no séc. XVIII. Considerada uma das mais belas casas solarengas do concelho de Paços de Ferreira, pertenceu à família Alves Barbosa e é lembrança (em ruínas) das fidalgas tradições de Frazão. (foto: Junta Freguesia Frazão)
O Convento de São Francisco do Monte localiza-se na freguesia de Santa Maria Maior, Viana do Castelo. Foi um dos três primeiros conventos da Ordem dos Frades Menores a ser erguido em Portugal, datando dos finais do séc. XIV. Atualmente encontra-se em ruínas. (foto: Wikipedia)


    Foto 1
   Foto 2
Foto 3

Termas Águas Radium/Hotel Serra da Pena – Sabugal   
                                                                                                                                                                Reza a lenda que neste lugar, construído no inicio do século XX, Don Rodrigo (conde espanhol) terá curado a sua filha de uma grave doença de pele, com o recurso às águas deste lugar. No decorrer dessa situação, o senhor decidiu construir este hotel termal que se encontra hoje conforme as imagens acima. 
......................................................................//.....................................................................


Este é um dos 19 Sanatórios situados no Caramulo, a "via Sanatorial", desenvolvida pelo médico Jerónimo de Lacerda, com a finalidade de tratar doentes com tuberculose.
A erradicação da doença levara à ruína de muitos destes sanatórios


Inaugurado pelo rei D. Carlos I (1907), o Sanatório Sousa Martins foi o primeiro instituído pela Assistência Nacional aos Tuberculosos (rainha D. Amélia). Em janeiro de 2014 foi classificado como conjunto de interesse público, na expectativa de que trave a degradação do complexo.


encontrogeracoesbnm.blogspot.pt
02
Jul17

Não deveria, não poderia

António Garrochinho



A União Europeia deveria ser como o Canadá, onde a multiplicidade étnica é o factor determinante para a construção de uma identidade nacional. Onde todos os cidadãos, independentemente do seu país de origem, se identificam orgulhosamente como canadianos. 

Respondo a Celso Felipe, inusitadamente insensato no Negócios: não sei se deveria e estou certo que não poderia. Não sei se deveria, porque na história do Canadá há vários detalhes esquecidos: do tratamento dado às nações originais, cujas populações ainda hoje são vítimas das mais severas discriminações, ao vulcão adormecido do nacionalismo no Québec.

Sei que não poderia, porque a Europa é um continente composto por múltiplos Estados nacionais consolidados, que continuam a ser as comunidades de destino mais relevantes para a esmagadora maioria. A sua tentativa de unificação degenera sempre em projetos imperiais, em autênticas prisões dos povos, onde impera a lógica disciplinar.

 Hoje, temos uma moeda funcional para o neoliberalismo, mas não teremos um orçamento federal que valha 15% do PIB da Zona, nem dívida pública comum, como no Canadá. Experimentem perguntar aos alemães se querem tal coisa, com as responsabilidades financeiras associadas. E eu sei que não quero as contrapartidas políticas que nos aproximem de tal coisa, não quero ser parte de uma nação original, cada vez mais condenada a viver da bondade de estranhos e de baixos salários, o lugar que nos cabe neste projecto.

Por cá, temos e teremos o uso dos instrumentos supranacionais para atentar economicamente contra a soberania dos Estados, e logo contra a democracia, aliás com o apoio de federalistas como Celso Filipe, que gostam de falar de liberdade, mas gostam também das chamadas reformas estruturais, impostas de fora, que diminuem as liberdades dos de baixo.


 ladroesdebicicletas.blogspot.pt
02
Jul17

José Fanha - BALANÇO PROVISÓRIO

António Garrochinho




José Fanha - BALANÇO PROVISÓRIO




Estamos mais gordos mais magros
talvez mais denso
ou mais pesado o nosso olhar
temos pressa de ternura
angústias de vez em quando
e umas contas de telefone atrasadas
para pagar.

Temos falta de cabelo
três ou quatro cicatrizes
sofremos de inquietação.
Muitas vezes nos disseram
como é rápido o deslize
mesmo assim nunca deixámos
de dar corda ao coração.

Daqueles que já partiram
guardamos silêncio e nome
e uma improvável mistura
de amargura e rebeldia
nas palavras desordeiras
que dizem redizem cantam
relembrando dia a dia
como é feita de azinheiras
a capital da alegria.

Muitas ondas já morreram
outras tantas vão nascer
muitos rios já se cansaram de correr até á foz
águas claras que se foram
outras águas se turvaram
e agora restamos nós.

Somos muitos somos poucos
calmamente radicais
sabemos vozes antigas
trazemos a lua ao peito
amamos sempre demais.

Neste caminho tomado
fomos traídos trocados
vendidos ao deus dará.
Nem por isso desistimos
e assim nos vamos achando
perdidos de andar às voltas
nas voltas que a vida dá.

Somos uns bichos teimosos
peixes loucos aves rindo
plantas poetas palhaços
e portanto resumindo
somos mais do que nos querem
estamos vivos
somos lindos.



daliedaqui.blogspot.pt
02
Jul17

A TOQUE DE CAIXA

António Garrochinho
A TOQUE DE CAIXA (definição)
Em Portugal havia uma tradição de, quando resolviam expulsar de uma cidade algum vagabundo, gatuno, ou malandro, irem tocando tambor (também chamado caixa) atrás dele, até os limites da comunidade. O sujeito era “corrido”, sob vaias e gritarias, e isso era considerado uma vergonha. Sair a toque de caixa é uma expressão que veio desse costume português.
02
Jul17

OS EXTINTOS GARIMPEIROS PORTUGUESES

António Garrochinho
VÍDEOS




GARIMPEIROS DO TEJO - ESTREMADURA



Eldorado Portugal, Caça ao Ouro; Rotas do Garimpo, Histórias de Pesquizadores, Auríferos: Manuel Ribeiro, o Último dos Garimpeiros Portugueses á Procura da Sorte nas Margens dos Rios


Os portugueses - Manuel Ribeiro, o último dos garimpeiros
Os portugueses, Manuel Ribeiro, o último dos garimpeiros, Há "graus impressionantes" de ouro em Évora, confirmadas as mais optimistas expectativas: há ouro no Alentejo, mais concretamente na freguesia de Nossa Senhora da Boa Fé, no concelho de Évora. A empresa canadiana Colt Resources anuncia em comunicado “graus impressionantes” do metal precioso junto à superfície


O garimpo de ouro no Tejo e no vizinho Ocreza terminou nos anos 50 do século passado mas Manuel Ribeiro Gonçalves, 85 anos, ainda o recorda, na aldeia de Foz do Cobrão, concelho de Vila Velha do Ródão.



Desmontando a caça ao ouro em Portugal

Évora - Perfurações no Alentejo confirmam descoberta de ouro. nós começamos por ordem alfabética... Como tal, Beja

A crise programada pela Elite do conhecimento, BilderbergComissão Trilateraltem como objectivo roubar os recursos naturais. Os Governos Sombra e a irmandade maçonica e o Fórum Portugal Global, que inclusivé usam passaporte próprio delapidou o país para dar origem á crise, consequentes avaliações negativas pela Arma de Guerra Económica Moody's, entrada do FMI, embaratecimento de mão de obra e da propriedade.

Portugal e Espanha têm um tesouro mineral debaixo dos pés. É um facto que iremos demonstrar com um estudo alargado que estamos a a publicar, na continuação da caça ao ouro da peninsula ibérica, já falámos de; As "aurarias" latinas, Consistórcis, e O ouro de Társis e das terras e Ribeira Aurífera de Oeiras, "Oeiras", areias de Ouro, in o Ouro de Mértola, O Ouro de Beja, tabelas que temos há mais de um ano.

 

Na continuação da caça ao ouro em Portugal, desta feita, para desenfastiar, sem mudar de assunto, vamos publicar a história de - Manuel Ribeiro, o último dos garimpeiros portugueses.

Tabelas Auríferas ouro, Dados de Registos de Ocorrências do Laboratório Nacional de Engenharia e Geologia LNEG Tabela de Ouro Distrito de Évora

Manuel Ribeiro Gonçalves, 85 anos, mais conhecido por Manuel «Paneiro» acabara de chegar do lagar de azeite e sentara há não mais de cinco minutos num sofá das instalações do GAFOZ (Grupo de Amigos da Foz do Cobrão): «Não gosto de estar parado. Gosto de andar ou então leio os livros que a câmara traz. Ultimamente li um da Isabel Alçada e esse grandalhão que está aí (“ 2666” de Roberto Bolaño). Li tudo mas não gostei muito. Do Sousa Tavares gostei muito, aquele passado em África».

Manuel já trabalhou muito no campo, nas ceifas no Alentejo, na azeitona e na vinha, vendeu fatos para homem e transportou limões da zona para vender no Mercado da Ribeira em Lisboa mas do que todos querem saber é dos seus tempos como garimpeiro no Tejo e no vizinho Ocreza.

«Eram anos de miséria. Só íamos para o rio pesquisar o ouro para matar a fome. Era preciso comer quando terminavam as ceifas ou a apanha da azeitona. Naquele tempo a aldeia tinha umas 600 pessoas e só oliveiras, batata, couves. Não havia cereais. Tínhamos 20 moinhos a água mas precisávamos de comprar o cereal para fazer o pão no mercado de Vila Velha do Ródão», conta Manuel, que começou no garimpo em criança com o pai.

Da Foz do Cobrão partiam grupos de três ou quatro homens que se espalhavam pelas margens alcantiladas do Ocreza, entre as fragas das Portas de Almourãoonde, conta a lenda, um dia dois pescadores encontraram no fundo do rio um carrinho de bois em ouro. «Queriam levá-lo para casa mas com a ganância deixaram-no resvalar e lá voltou ele para o fundo. É o que se conta, sempre se contou essa lenda».

Manuel e os outros garimpeiros chegavam a andar por ali semanas, dormindo à beira rio, pesquisando, lavando, uns dias com sorte, outros nem por isso. Usavam uma bandeja redonda em madeira. «Segurava melhor o minério».

Na bandeja vinha estanho, ferro, chumbo e com sorte algum ouro. «Era preciso ter cuidado para não deixar chumbo nenhum na bandeja. Depois, colocávamos o mercúrio. Este é que separava o ouro do resto. Ficava branquinho...». No final, aqueciam o ouro numa colher até o amarelecer.

«Dava poucochinho, se desse muito estava rico», conta a sorrir. À procura do ouro da Foz do Cobrão chegavam das bandas de Cantanhede os «malas verdes», ourives ambulantes empoleirados em bicicletas transportando um baú de folha-de-flandres. No mercado de Vila Velha do Ródão, tanto compravam como vendiam: «Aos 19 anos, no Dia dos Santos, comprei-lhes um relógio por 360 escudos, ganhava eu 15 a 16 escudos…Ainda o tenho».

À medida que os outros iam largando o rio e o garimpo, Manuel «Paneiro» foi dos últimos. «Andei lá até 1955». Hoje, Foz do Cobrão tem cerca de 40 habitantes, a maioria idosos. Ganhou alguma vitalidade e muitos visitantes com a criação do GAFOZ e a adesão à Rede das Aldeias de Xisto. «Aparece muita gente no Verão e nos fins-de-semana». Muitos querem saber como se fazia o garimpo de ouro no rio Ocreza e Manuel, um homem que gosta de conversar, nunca se faz rogado e leva-os até ao rio. «Sempre que há um grupo e me pedem eu vou…»

revoltatotalglobal.blogspot.pt
02
Jul17

LEVE OS MOÇOS À PRAIA, MÓH !!!!

António Garrochinho

Levamos os miúdos, as sombrinhas e os tarecos de autocarro para a praia de Faro. Depois vamos a pé pela ponte com tudo a reboque mas somos impedidos de ficar na zona central da praia, graças à ridícula concessão que ali autorizaram.
Onde antes podiam estar 200 pessoas estão hoje 50.
Brilhante.
Agora já não há desculpas para não viajar connosco até à Praia de Faro. A partir do dia 1 de Julho, crianças até aos 10 anos (inclusivé) pagam apenas 1,50€, por isso, deixe o carro em casa e desfrute com toda a família de uma agradável…
PROXIMO.PT

02
Jul17

MATUTANDO

António Garrochinho

ESTE VÍCIO, ESTA MODERNIDADE DE NÃO DISCUTIR A VIDA.

QUEREMOS VIVER DE QUALQUER MANEIRA ESPERANDO MILAGRES E NADA FAZENDO PARA COLMATAR OS MALES, AS INJUSTIÇAS, AS ABISSAIS DIFERENÇAS ENTRE EXPLORADOS E EXPLORADORES.
NÃO NOS PREOCUPAMOS COM OS FINS NEM COM OS PRINCÍPIOS, OS VALORES ANDAM PELAS RUAS DA MERDA.

RESOLVEMOS OS NOSSOS PROBLEMAS COM A ALIENAÇÃO DO FUTEBOL ENTRE UMAS RODELAS DE CHOURIÇA E UM JARRO DE TINTO.

A VIDA SÃO SÓ DOIS DIAS E O CARNAVAL TRÊS.

CHORAMOS, QUAL CARPIDEIRAS MANIETADAS PELOS DISCURSOS DOS POLÍTICOS QUE NÃO SE CANSAM DE ENCOMENDAR CORTEJOS FÚNEBRES PARA ALIMENTAR A NOSSA FÉ, O FADO, A SINA, EMFIM A NOSSA DESGRAÇA, E AS NOSSAS CRENÇAS.

A CULPA É SEMPRE NOSSA, SOMOS CULPADOS DA NOSSA DESGRAÇA, DO DESEMPREGO, DA POBREZA, GASTAMOS DEMAIS.

SOMOS PARVOS Q.B.

António Garrochinho
02
Jul17

O cubano, militar e galã, que Portugal não trocou por um espião da CIA

António Garrochinho


A “guerra fria” entre Estados Unidos e Cuba passou por Portugal. Primeiro pela Guiné-Bissau, em 1969, com a prisão de um militar cubano. Depois por Lisboa, em 1974, onde a revolução estava na rua e até o The New York Times noticiava as manif’s a pedir “Liberdade para o capitão Peralta.” Apaixonou-se por uma enfermeira portuguesa, que o acompanhou no regresso a Havana. Fidel Castro, ele próprio, elogiou, num congresso do PC cubano, em 1975, as “virtudes de comunista” do capitão Pedro Rodriguez Peralta, militar, jovem e galã
Featured image
(Fotografia do Expresso, proibida pela Censura)
O militar, jovem, era cubano. Na madrugada do 25 de Abril, estava preso em Lisboa pelo regime fascista há cinco anos. Chamava-se Pedro Rodríguez Peralta.
Em novembro de 1969, os militares portugueses tinham organizado a “Operação Jove”. O objetivo era capturar Nino Vieira, mítico comandante do PAIGC na “frente sul”. Nino não vinha na coluna rebelde, mas os soldados capturaram um capitão das forças armadas cubanas que estava a dar formação aos homens do PAIGC. Fizeram-se tiros, alguns dos rebeldes foram feridos, Pedro Peralta atingido. Primeiro, foi transferido para Bissau e depois para a capital, onde esteve na prisão de Caxias e, já em 1970, no Hospital Militar, na Estrela, em Lisboa. Foi julgado e condenado.
Featured image
(Revista FLAMA, n.º 1.409, de 07 de março de 1975)
Nesta história de espiões nem faltou a tentativa de trocar Peralta por um norte-americano, espião, Lawrence Lunt. Mas sem sucesso. O Vaticano foi o mediador.
A pressão dos Estados Unidos para a troca de prisioneiros é enorme. Henry Kissinger assina vários telegramas para a embaixada em Lisboa, dá ordens ao embaixador Scott a pedir audiências a António de Spínola, presidente da Junta de Salvação Nacional após o 25 de Abril, para tratar do assunto.
Aconteceu logo no dia seguinte ao golpe, a 26 de abril de 1974, em que o Departamento de Estado questionava se, após a mudança de governo, se mantinha válida a hipótese de troca de Peralta por Lunt.
A seguir, pode ver-se o exemplo de um desses telegramas:
CONFIDENTIAL
PAGE 01 STATE 085867
60
ORIGIN SS-30
INFO OCT-01 ISO-00 SSO-00 CCO-00 /031 R
DRAFTED BY EUR/IB:EMRABENOLD:MS
APPROVED BY D – MR. RUSH
EUR – MR. STABLER
ARA – MR. LITTLE
S/S – MR. LUERS
——————— 079323
Z 262016Z APR 74 ZFF4
FM SECSTATE WASHDC
TO AMEMBASSY LISBON FLASH
C O N F I D E N T I A L STATE 085867
EXDIS
E.O. 11652: GDS
TAGS: PINS, PO
SUBJECT: CAPTAIN PERALTA
REF: LISBON 1620
RAISE SUBJECT INFORMALLY WITH FREITAS CRUZ IF HE IS STILL
AROUND AND ASK HIM IF HE CAN CONTACT JUNTA WITH VIEW TO
EXCHANGING PERALTA FOR LUNT RELEASE FROM CUBAN JAIL. KISSINGER
CONFIDENTIAL
NNN
Três dias depois, novo telegrama. Agora, Scott, o embaixador, tinha contactado o embaixador Freitas da Cruz, no Palácio das Necessidades. O embaixador português pedia paciência. A JSN estava a ponderar o caso.
CONFIDENTIAL
PAGE 01 LISBON 01647 291042Z
53
ACTION SS-30
INFO OCT-01 ISO-00 /031 W
——————— 096931
R 291023Z APR 74
FM AMEMBASSY LISBON
TO SECSTATE WASHDC 9483
C O N F I D E N T I A L LISBON 1647
EXDIS
E.O. 11652: GDS
TAGS: PINS PO
SUBJ: CAPTAIN PERALTA
REF: LISBON 1639; STATE 085867
DCM TALKED WITH CALVET DE MAGALHAES AGAIN ON EVENING
APRIL 28 ON SUBJECT. CALVET SAID THAT HE COULD CONFIRM
THAT PERALTA IS IN MILITARY CUSTODY AND THE
JUNTA IS STUDYING THE MATTER AND ASKS FOR OUR
PATIENCE.
SCOTT
CONFIDENTIAL
NNN
A verdade é que, dentro do Governo, havia várias sensibilidades e as prioridades eram outras. Galvão de Melo, membro da JSN, admitia o cenário, segundo um telegrama norte-americano, da troca de prisioneiros exigida por Washington. O embaixador Scott pedia paciência. As semanas sucediam-se. E nada.
As instruções sucedem-se a partir de Washington para um país que vivia ainda a festa do fim da ditadura. A 01 de maio, quando milhões de pessoas saíram à rua para celebrar o Dia do Trabalhador em liberdade, chegava mais um telegrama. Desta vez, seguia, para o pessoal da embaixada dos EUA em Lisboa, o texto que havia sido proposto por Cuba e que a Santa Sé, em 1971, tentou negociar com as partes envolvidas.
CONFIDENTIAL
PAGE 01 STATE 089868
62
ORIGIN SS-30
INFO OCT-01 ISO-00 /031 R
DRAFTED BY ARA/CCA:HVSIMON:MB
APPROVED BY ARA:HWSHLAUDEMAN
ARA/CCA:ESLITTLE
EUR/WE:CKJOHNSON(PHONE)
EUR/IB:EMRABENOLD (DRAFT)
S/S:WHLUERS
——————— 001928
R 012356Z MAY 74
FM SECSTATE WASHDC
TO AMEMBASSY LISBON
C O N F I D E N T I A L STATE 089868
EXDIS
E.O. 11652: GDS
TAGS: PINS, PO, CU
SUBJECT: CUBAN EXCHANGE OFFER: LUNT-PERALTA
REF: STATE 88767
THE FOLLOWING IS TRANSMITTED AS BACKGROUND FOR YOUR USE
SHOULD THE SITUATION REGARDING THE RELEASE OF PERALTA
DEVELOP TO THE POINT WHERE THERE IS SOME QUESTION AS TO
THE NATURE OF THE CUBAN OFFER. OPERATIVE PORTIONS FROM
THE CUBAN AIDE-MEMOIRE OF MARCH 30, 1971 GIVEN TO THE
VATICAN’S REPRESENTATIVE IN HAVANA: QUOTE (THE AUTHORITIES)
WOULD BE WILLING TO RELEASE THE PRISONER (LUNT) AND
DELIVER HIM TO THE NUNCIATURE OR TO WHOMEVER IT MIGHT
INDICATE, PROVIDED FREEDOM AND DELIVERY TO CUBAN AUTHORITIES,
AT WHATEVER PLACE THEY MIGHT INDICATE, WERE GRANTED
AT THE SAME TIME TO PEDRO RODRIGUEZ PERALTA…END QUOTE.
RUSH
CONFIDENTIAL
NNN
Se as autoridades cubanas aceitassem a libertação de Lunt, ao mesmo tempo Peralta seria também libertado. Faltava convencer as novas autoridades de Portugal, saídas do golpe do Movimento das Forças Armadas (MFA) mais preocupadas com outras questões, como a formação do Governo, a descolonização ou o destino a dar aos antigos governantes e aos dirigentes da PIDE.
As manifestações também se sucederam alguns dias frente ao Hospital da Estrela. “O povo português libertará o capitão Peralta”, escrevia o MRPP num comunicado em que pedia “Todos à Estrela”, a 26 de maio de 1974. Todos não, mas foram muitos. No estrangeiro, houve noticias destas manifestações, no ABC e no The New York Times.
A tensão sobe. As forças armadas são chamadas a intervir e dispersam os manifestantes.
Quem comandava as tropas era Jaime Neves, capitão de Abril e mais tarde polémico comandante dos “comandos”, que conta o que aconteceu numa entrevista ao Sol, a 15 de maio de 2009.
Costa Gomes (da JSN) disse-me para eu ir buscar um cubano, o célebre capitão Peralta, que estava no hospital da Estrela e que os gajos da extrema-esquerda queriam tomar o quartel para o tirarem de lá. Perguntei-lhe se podia usar de todos os meios. Só ao fim de meia hora é que escreveu a meu pedido uma ordem, mas frisando que só em caso extremo podia usar as armas. Lá fui e, pela primeira vez na minha vida, assustei-me e vi-me aflito. (…) Quando eu dou a volta no Largo da Estrela vejo um mar de gente, e os malandros de repente atiram-se todos ao chão e não me deixam andar Eu vou devagarinho e vi os gajos a minha frente a fazerem amor…Tive que andar a levantá-los um a um e lá consegui encostar os carros todos ao fim de duas horas.
O que aconteceu para a libertação, a 16 de setembro de 1974? Há várias versões. Em 1996, num debate sobre a descolonização de Angola, surge o tema Peralta e Spínola. O debate era entre o embaixador Nunes Barata, adjunto de Spínola em Belém, em 1974, e António Ramos, ajudante de campo de Spínola na Guiné. Hoje, a transcrição dessa discussão está no Arquivo de História Social do Instituto de Ciências Sociais.
O diálogo é elucidativo.
Nunes Barata: Perguntei-lhe [a Spínola] o que se tinha passado em Conacri. Quer dizer, a ideia com que fiquei de Conacri é que era uma operação destinada a derrubar o Sekou Touré. Era destinada a pôr no poder em Conacri um governo que fosse menos anti-português. A ideia era essa: auxiliar a oposição a Sekou Touré e tomar conta do poder. E libertar os portugueses que lá estavam.
Ainda a propósito da descolonização da Guiné há o caso Peralta de que se falou muito depois do 25 de Abril – a libertação imediata do capitão cubano Peralta, que o Spínola não queria fazer sem ter a garantia de que também seriam libertados os militares portugueses que estavam presos pelo PAIGC. E foi uma das razões [que levou a que] um dia [tivesse uma] conversa com o Fabião, porque o Fabião mandou libertar uma série de prisioneiros nossos que eram membros do PAIGC sem ter obtido a garantia de que o PAIGC atuaria da mesma maneira, que libertaria os portugueses que lá estavam. Portugueses e Guinéus que trabalhavam nas Forças Armadas portuguesas. O caso Peralta foi esse: [o Spínolaopôs-se à libertação sem haver essa garantia. Disse: “O Peralta é um prisioneiro como outro qualquer, é um capitão cubano que estava com o PAIGC, nós prendemo-lo, se nós o libertamos eles também têm que libertar oficiais e soldados nossos que estão presos.” Mas também aí acabou por ceder às pressões e o Peralta foi libertado […].
António Ramos: Disseram-lhe que estavam a entregar presos portugueses em Aldeia Formosa, ele pega no telefone e manda libertar o Peralta e, passado uma hora, desmentem-lhe a libertação dos presos em Aldeia Formosa. Não estavam a entregar coisa nenhuma… Isso aí é uma daquelas golpadas em que nós portugueses temos culpa.
Pedro Rodriguez Peralta, que se enamorou por uma enfermeira portuguesa no Hospital da Estrela, partiu finalmente para Cuba a 16 de setembro.
O jornal ABC noticiou a passagem do cubano por Madrid. O capitão Rodriguez Peralta tornou-se conhecido em Cuba. Fidel Castro elogiou-lhe o heroísmo. Da enfermeira portuguesa, de pouco (ou nada) reza a história.

osdiasdarevolucao.wordpress.com
02
Jul17

DESASTRES NATURAIS

António Garrochinho



Quando a terra rugiu em Lisboa, Voltaire escreveu que “chegara o último dia do mundo”
Nas igrejas cheias, porque era dia de Finados, foi onde houve maior número de mortos. Não tardou que hordas de padres rondassem as ruínas e à dor juntassem o medo, dizendo que o desastre tinha sido castigo divino, exigindo penitências. O padre Malagrida opunha-se mesmo à reconstrução de Lisboa que “Deus destruira devido à brandura para com os hereges”. Havia mesmo quem acusasse os que se tentavam recompor de “lutar contra o Céu”. Um cidadão britânico, a viver na cidade, espanta-se por os trabalhos de socorro estarem a ser dificultados pelas ladainhas de tanta gente a atormentar os moribundos com carpidas rezas e gritos de misericórdia.
O futuro seria propício para a Igreja, que terá os seus edifícios como os primeiros a ser re-erguidos. A restante cidade, hoje a “baixa pombalina” que nasceu do traço de Manuel da Maia e de Eugénio dos Santos, demoraria mais de 50 anos para ser reconstruída. O “marquês de Pombal” que ficou na fotografia como “o grande empreendedor”, andava à época entretido com outros assuntos mais urgentes – a queimar livros, entre eles o “Dicionário de Filosofia” e os “Poemas sobre o Terramoto” de Voltaire, que inquiria:
"Estais vós seguros de que a eterna causa que tutela,
Que tudo faz, que tudo sabe, que tudo criou por ela,
Não poderia atirar-nos para este triste revés
Sem formar vulcões acesos por baixo de nossos pés"?
Ontem, como hoje, a beatice lusitana e os resquicios da Inquisição continuam a ser as causas dos castigos dos nossos males.

xatoo.blogspot.pt
02
Jul17

PÃO, PÃO, QUEIJO, QUEIJO.

António Garrochinho


O LAMBER DE CUS, A GRAXICE, A TRAIÇÃO, FAZ ESTRAGOS IRREPARÁVEIS NO SEIO DA CLASSE TRABALHADORA. ELA ENVENENA, CONFUNDE, DESTRÓI OS VALORES HUMANOS, AS AMIZADES.

A CONSCIÊNCIA DE CLASSE É UM PILAR FUNDAMENTAL DE QUEM GANHA O PÃO HONESTAMENTE E RESPEITA O TRABALHO DE TODOS.

QUANDO OS TRAIDORES SE INFILTRAM E SE VENDEM AOS EXPLORADORES, O ASCO, A REVOLTA É LEGÍTIMA POR PARTE DE QUEM TEM HONRA E LUCIDEZ, POR PARTE DE QUEM RESPEITA A SUA ORIGEM, CULTURA E A SUAS GENTES.

António Garrochinho
02
Jul17

Trabalhadores do Pingo Doce saíram à rua

António Garrochinho


Trabalhadores do Pingo Doce de duas lojas em Braga realizaram ontem uma greve e uma concentração, afirmando junto da população as reivindicações de aumentos salariais e horários regulados.
A luta contra o assédio moral é uma das reivindicações dos trabalhadores do Pingo Doce
A luta contra o assédio moral é uma das reivindicações dos trabalhadores do Pingo Doce
Houve uma adesão significativa à greve dos trabalhadores da lojas do Pingo Doce de Vila Verde e do Braga Parque, informou o Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP/CGTP-IN).
A concentração na entrada do Braga Parque, para além de ser a primeira realizada naquele local, contou com uma elevada mobilização de trabalhadores das duas lojas e permitiu que se fizesse uma denúncia pública dos problemas sentidos neste local de trabalho, afirmou o sindicato.
Estiveram presentes na acção, para além de outras delegações regionais do CESP, a União dos Sindicatos de Braga e uma delegação do PCP, que contou com a presença da deputada Carla Cruz.

Trabalhadores exigem resposta às reivindicações

O sindicato denuncia que a empresa não responde aos problemas e reivindicações dos trabalhadores, e não cumpre do contrato colectivo de trabalho (CTT)».
Os trabalhadores «estão sujeitos aos horários semanalmente e até diariamente alterados sem aviso prévio, como está previsto no CTT aplicável», refere o CESP num comunicado, acrescentando que «a empresa já foi alvo de denuncia à Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT)», mas continua em incumprimento.
O comunicado refere que os trabalhadores defendem «o aumento dos salários e subsídios para todos sem discriminação», não aceitando que os aumentos «estejam dependentes de avaliações subjectivas por parte das chefias».
Os trabalhadores protestam ainda pelo direito ao exercício da pausa de 15 minutos, incluindo dos postos de abastecimento e cafés, e defendem o direito à conciliação entre a vida profissional e a vida familiar e pessoal.
O sindicato também denuncia que «os trabalhadores da reposição nocturna ficam a trabalhar à média luz» e defende a garantia de condições de higiene, saúde e segurança no trabalho.
Outras das reivindicações que estiveram na base do protesto são o fim da obrigatoriedade de trabalho em secções diferentes sem a formação profissional correspondente e o fim do assédio e da pressão sobre os trabalhadores.
www.abrilabril.pt

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António Garrochinho

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