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Jul17
ATAQUE VIOLENTO FOI A PRIVATIZAÇÃO
António Garrochinho
António Costa assinalou o seu receio pelo que possa acontecer à PT nas mãos da Altice, comparando-a à Cimpor, dados os riscos para a integridade de uma grande empresa de base tecnológica, criada pelo tal Estado empreendedor português, e para os seus cada vez mais pressionados trabalhadores, terminando com um “olhe, eu por mim já fiz a minha escolha da companhia que utilizo”. Estes comentários merecem meia dúzia de notas meio críticas.
Em primeiro lugar, quero apostar que o Negócios, que fica perturbado com críticas justas a certos negócios, daqui a uns tempos repetirá a manchete, mas com uma alteração – “Primeiro-Ministro faz ataque violento à Lone Star” –, já que predadores há mesmo muitos.
Em segundo lugar, o destino da PT é a enésima ilustração dos riscos que impendem sobre empresas crucialmente estratégicas quando são privatizadas e reduzidas a geradores de lucros de curto prazo para accionistas impacientes.
Em terceiro lugar, o PS, que foi um dos entusiastas participantes do ciclo de privatizações, a começar na revisão constitucional que o permitiu há quase três décadas, tem de reconhecer que sem propriedade pública não há regulação, nem estratégia de desenvolvimento, que nos valha.
Em quarto lugar, o governo tem de ser consequente com o diagnóstico, mobilizando todos os instrumentos ainda ao seu dispor.
Em quinto lugar, a greve dos trabalhadores da PT merece todo o apoio, indicando que o trabalho organizado é um dos freios à predação em curso.
Em sexto lugar, temo que as declarações de Costa sejam inconsequentes, dada a convocação da ideia da “liberdade para escolher”, confundindo de forma reveladora a realidade da deliberação política, que tem lugar na AR, com a ilusão ideológica da soberania do consumidor privado, que não deve ter lugar no debate público.
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