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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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03
Set17

"Aqueles ditos artistas da alcatifa da fama que andam à boleia, que dominam as ditas rádios, ditas televisões, e ditos festivais, mas não dominam de música ironicamente.

António Garrochinho
"Aqueles ditos artistas da alcatifa da fama que andam à boleia, que dominam as ditas rádios, ditas televisões, e ditos festivais, mas não dominam de música ironicamente. Monopolizam a indústria de tal forma que só não vê quem não quer o saque, os interesses e os empurrões. Talvez se as pessoas soubessem dessas ascensões duvidosas os mandassem bugiar, ou talvez até gostassem mais.
E um sistema político que é complacente com isto é tão ou mais culpado. Um serviço público que não tem um sistema de candidatura para as diversas áreas do meio artístico, e insere quem se chega à frente ou quem tem padrinhos, é um serviço podre. Que não existe. Tal e qual aquele festival daquele partido revisionista, que se diz (meramente à toa) defensor de um ideal onde a igualdade e a justiça são critérios prioritários, e isso é tudo falso e prestam a mesma vassalagem. Como se vê aliás na acção que têm no (des)governo.
...Assim vai o país na área da música. A diferença existe naqueles que não compactuam, que não andam à boleia e sabem um pouquinho mais de música. Sendo que ler livros vai no batalha, curiosamente é quem mais falha na hora da batalha. Quem é farinha deste saco a seco engolirá, quem não é um sorriso bradará.
E aqueles que têm a lata e desonra de fazer/pedir crowdfunding para gravar álbuns? Pedir para um luxo..! Tenham vergonha também! Trabalhem! Claro está que a culpa é de quem dá, mas vão enganados na carruagem.
E aqueles que têm amiguinhos com dinheiro e Dick Tracys? Tocam nos bares da vizinhança e enchem a pança com o mesmo consumo rápido dos enchidos sem fome de renome."

Sebastião Gouveia
Escritos sobre a ralé da realeza.
03
Set17

VÍDEOS - ABERTURA/CARVALHESA/AVANTE CAMARADA - JERÓNIMO DE SOUSA e PEDRO NUNO SANTOS (PS) NA FESTA DO AVANTE FALAM SOBRE O ORÇAMENTO DE ESTADO

António Garrochinho

O Governo garante que o próximo Orçamento do Estado não vai ter coisas más e que as negociações com os partidos de Esquerda estão a correr bem. De visita pelo segundo ano consecutivo à Festa do Avante, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares respondeu ainda à oposição, que acusou o Governo de eleitoralismo.

VÍDEO



CARVALHESA






AVANTE CAMARADA





www.msn.com
03
Set17

A AVANTESMA TAMBÉM JÁ DEFENDE CAVACO - Geringonça e afins querem Cavaco calado, quedo e mudo?"

António Garrochinho

O regresso de Cavaco Silva à arena política com uma intervenção na Universidade de Verão da Juventude Social Democrata (JSD) esta quarta-feira, quer pela dureza do vocabulário escolhido, quer pelos recados que deixou ao atual Presidente da República e ao Governo, originaram uma onda de críticas. 
O social-democrata Carlos Abreu Amorim, "que nunca foi cavaquista", saiu em defesa de Cavaco Silva. "Confesso-me indignado com as reações ultra-sectárias ao seu discurso por parte dos partidos da Geringonça e de outros políticos", começa por escrever na sua página de Facebook, colocando de seguida algumas questões.
"Sejamos claros: alguém condenou Cavaco Silva a um voto forçado de silêncio? Mas, então, aquele que foi uma figura incontornável da política portuguesa desde 1979 (2 anos como ministro das Finanças, 10 anos como primeiro-ministro e outros tantos como Presidente da República) está proibido de dar a sua visão sobre o país? A Geringonça e afins querem-no calado, quedo e mudo?".
Para Carlos Abreu Amorim, a "extrema ferocidade das censuras à opinião de Cavaco Silva apenas comprova que este acertou em cheio no alvo mas, também, e muito pior, que quem nos governa está irremediavelmente deficitário dos rudimentos de cultura plural e democrática". A verdade, prossegue, "é que esta gente não sabe conviver com quem discorda das suas ideias e ações que crêem e querem acima de qualquer reparo".

www.noticiasaominuto.com
03
Set17

TERRORISMO | A Alemanha envolvida nos ataques da Catalunha

António Garrochinho



















Segundo a polícia espanhola, a célula terrorista que atacou alvos, a 17 e 18 de Agosto de 2017, em Barcelona e Cambrills era liderada por Abdelbaki Es Satty.

Este foi preso em Rachid Aglif, condenado a 21 anos de prisão pela sua participação numa reunião preparatória dos atentados de Madrid (11 de Março de 2004).

Abdelbaki Es Satty era, até Junho, o imã da mesquita do Norte de Ripoll.

Ora, esta mesquita depende do ramo sírio dos Irmãos Muçulmanos implantado na Alemanha, em Aachen(Aix-la-Chapelle).

Durante a Guerra Fria, o governo alemão, a solicitação da CIA, deu asilo aos Irmãos Muçulmanos sírios após o fracasso da sua tentativa de golpe de Estado contra o antigo Presidente Hafez al-Assad. No decurso da actual guerra contra a Síria, o governo Merkel criou uma célula especial no Ministério do Negócios Estrangeiros para tratar directamente com os Irmãos Muçulmanos da Síria.

paginaglobal.blogspot.pt

03
Set17

03 de Setembro de 1759: É decretada a expulsão dos Jesuítas de Portugal

António Garrochinho


A 3 de Setembro de 1759, o rei D. José I decretou a expulsão dos Jesuítas do país. Os primeiros padres saíram a 16 de Setembro rumo a Itália, para Civitate Vechia.

Algumas razões conduziram à sua expulsão, saída e consequente confiscação dos seus bens para a coroa: o terramoto de 1 de Novembro de 1755 levara à morte milhares de pessoas e à destruição do país. O pânico e o terror instalaram-se sobretudo em Lisboa. Os padres jesuítas, principais confessores e educadores da população, justificavam o terrível acontecimento como castigo divino, pela falta de manifestação de fé e de devoção. O respeitado padre Gabriel Malagrida chegou a proferir que só por meio de procissões e de orações se acalmava a ira de Deus.

O ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, empenhado na reconstrução do país, necessitava da energia da população para os trabalhos de remoção dos escombros e para a nova construção e justificando o terramoto como um fenómeno de causas naturais, repudiava a atitude dos padres, que prejudicavam a sua acção governativa.

Na noite de 3 de Setembro de 1758, o rei D. José I, sofreu um atentado, do qual escapou com ferimentos. A situação afectara-o em muito, o restabelecimento foi lento e o acontecimento recente do Terramoto, levara-o a refugiar-se em Belém, dado que se sucederam as réplicas sísmicas durante algum tempo. Vivia em pânico.

A investigação sobre o atentado e o processo judicial decorrente, conduziram à acusação e à prisão dos principais membros da família Távora, do Duque de Aveiro, respectivos criados envolvidos e à influência de alguns padres jesuítas, nomeadamente do padre Malagrida, confessor das famílias.

Em Janeiro de 1759, os implicados no crime de lesa-majestade, foram sentenciados e supliciados em Belém. Os seus bens tomados para a coroa e os jesuítas viram a sua influência e poder diminuídos, para além de recair sobre estes a suspeita do seu envolvimento, ainda que moral no atentado. A sua expulsão era iminente.

A 3 de Setembro desse mesmo ano, primeiro aniversário da tentativa de regicídio, um decreto real obrigava ao exílio de todos os jesuitas existentes no país. Foram presos os principais de cada colégio, reitores e padres mais influentes e conduzidos aos cárceres existentes na Junqueira e no forte de São Julião da Barra.

De Lisboa, os padres jesuítas partiram das suas principais casas: do Colégio e convento de Santo Antão, que logo foi transformado em Real Hospital de São José, substituindo o antigo e arruinado Hospital Real de Todos os Santos, localizado no Rossio, da Igreja e Casa professa de São Roque, transformada mais tarde em Misericórdia de Lisboa e centro assistencial dos mais necessitados, do Noviciado da Cotovia, na rua da Escola Politécnica, convento jesuita, que o Marquês de Pombal transformou em Colégio dos Nobres, para a educação dos filhos fidalgos e da nobreza citadina e finalmente do Convento de Arroios, também mais tarde convertido em hospital.

Partiram em barcos, escoltados pela guarda real e recolheram-se primeiro em Setúbal antes de partirem definitivamente do país.

Foram confiscados todos os bens e propriedades da Companhia de Jesus que reverteram para o Estado. O seu regresso a Portugal só foi permitido em 1858.



Aguarela representativa da expulsão dos Jesuitas, fotografia de Garcia Nunes, Arquivo Municipal de Lisboa, AFML - A59744
Aguarela representativa da expulsão dos Jesuitas, fotografia de Garcia Nunes, Arquivo Municipal de Lisboa, AFML - A59744
O Marquês de Pombal por Louis-Michel van Loo
03
Set17

03 de Setembro de 1384: Final do cerco de Lisboa

António Garrochinho


O segundo cerco de Lisboa foi imposto pelas forças de Castela em 1384 e durou 4 meses e 27 dias.

Do casamento de D. Fernando (1367-1383) com D. Leonor Teles tinha sobrevivido apenas uma filha, a infanta D. Beatriz, que, por proposta do seu pai, firmada no tratado de Salvaterra de Magos (1383), seria desposada por D. João I de Castela, o que aconteceu em Maio de 1383. O filho varão que nascesse deste casamento herdaria o trono de Portugal, acaso D. Fernando I não tivesse descendentes até à sua morte. O monarca faleceu no dia 22 de Outubro de 1383, sem herdeiros masculinos, tendo-se iniciado uma crise de sucessão. Diante da revolta popular devido ao receio da perda da independência face aos castelhanos dá-se  a aclamação do Mestre de Avis como Regedor e Defensor do Reino.

D. João I de Castela entra em Portugal e ocupa a cidade de Santarém. A resistência portuguesa e o exército castelhano encontram-se pela primeira vez a 6 de Abril de 1384, na Batalha dos Atoleiros. Nuno Álvares Pereira soma mais uma vitória para a facção de Avis, mas o confronto nada resolve. 

Depois da derrota na Batalha dos Atoleiros, D. João I de Castela retira para Lisboa, cerca a capital e com o auxílio da sua marinha bloqueia o porto da cidade e controla o Tejo. O cerco era uma séria ameaça à causa do Mestre de Avis, uma vez que sem Lisboa, sem o seu comércio e o dinheiro dele afluente, pouco poderia ser feito contra Castela.  João I de Castela precisava de Lisboa por motivos de ordem política, uma vez que nem ele, nem a sua mulher tinham sido coroados e sem esta cerimónia, eram apenas pretendentes à coroa

O cerco é descrito por Fernão Lopes (Crónica de el-rei D. João I, entre os capítulos CXIV e CL), que refere alguns dados interessantes sobre a cerca da cidade, à época, descrevendo as medidas defensivas, entre as quais:

a cerca era amparada por 77 torres, no topo das quais foram montados caramanchões de madeira, visando optimizar a defesa;

os muros da cerca eram rasgados por 38 portas. A mais crítica era a chamada Porta de Santa Catarina, defronte da qual se estabeleceu o arraial de Castela, e defronte à qual se registrava maior número de escaramuças.

o lado da Ribeira era defendido por duas grossas estacadas, desde as águas do rio até ao pé da cerca;

uma estacada dobrada defendia o Caminho de Santos, por baixo da Torre da Atalaia;

uma estacada dobrada, no lado oposto da cidade, estendia-se junto ao muro dos fornos de cal, na direcção do Mosteiro de Santa Clara;

encontrava-se em construção, mesmo durante os combates, um troço da barbacã em face do arraial castelhano, desde a Porta de Santa Catarina até à Torre de Álvaro Pais, no comprimento de dois tiros de besta.

a frota vinda do Porto conseguiu romper o cerco, trazendo poucos alimentos à cidade. No combate naval então travado com os barcos castelhanos foram capturadas três naus portuguesas e a nau do comandante foi igualmente capturada.

o cerco de Lisboa foi levantado a 3 de Setembro de 1384, devido sobretudo à epidemia de Peste Negra que assolou o exército Castelhano, causando-lhe muitas baixas; houve também ataques na periferia do cerco por parte de forças do exército de D. João, Mestre de Avis, forças essas chefiadas pelo fronteiro do Alentejo,Nuno Álvares Pereira. Finalmente o povo de Lisboa encontrava-se seguro e livre de perigo.


Fontes:

A peleja de 1384 - Super Interessante

wikipédia
Siege of Lisbon 1384.JPG
O cerco de Lisboa - Crónicas de Jean Froissart
03
Set17

QUE NERVOS !

António Garrochinho



QUE NERVOS!!!
Num comentário “feicebuquiano” sobre já nem sei o quê, mas que acabou nos “fatais” Trump e Kim… uma senhora advogada, depois de tecer alguns elogios ao livro de Zita Seabra dobre a “história” do PCP e os segredos tremendos lá revelados, como por exemplo os microfones nos aparelhos de ar condicionado instalados em ministérios, instalações militares e etc… a mando dos comunistas, tarefa levada a cabo com primorosa execução técnica da falecida “fnac” que começara por ser “tepclima”, cooperativa operária que apoiei várias vezes com outros companheiros, cantando para angariar fundos… e que acabou por… mas isso é outra história…
A senhora advogada, como ia dizendo, declarou solenemente que não entendia como é que alguém poderia defender a Coreia do Norte (e o Kim), por comparação com os EUA (e Trump), chamando mesmo à coisa… uma posição “indefensável”.
Resolvi fazer-lhe, num comentário, uma pergunta absolutamente directa, que é a que aqui transcrevo:
Senhora dona xxx xxx… (não vale a pena trazer para aqui o nome)
Ponto um… não gosto (nem um pouco) de Kim Jon-Un.
Ponto dois… já que está em maré de comparações e coisas indefensáveis… diga-me, mesmo que seja assim por alto…
Quantos países é que a Coreia do Norte já invadiu?
Quantos governos legítimos estrangeiros derrubou, ou conspirou para derrubar?
Quantos dirigentes de países estrangeiros já assassinou?
Quanto países estrangeiros pilhou, roubando as suas matérias primas?
Quantos países atacou com bombas nucleares? Ah… esta é uma pergunta parva, já que, até hoje, só os EUA fizeram essa coisa porca.
Mas pronto… as restantes perguntas mantêm-se. Coisas simples…
Como já disse no título, estou para aqui num estado de “nervos” lamentável, há já horas e horas e horas… e não há resposta.
Creio que a senhora, como boa advogada, teve ter uma coisa qualquer para responder. Deve é estar à espera até ter uma resposta tão boa, mas mesmo tão boa… que faça “jurisprudência”… ou lá o que é… 

03
Set17

CAMARÃO DA ILHA

António Garrochinho
Como acontecerá a todos nós, José Monje Cruz nasceu e morreu. No intervalo, tornou-se um dos mais célebres e geniais cantautores de flamenco de todos os tempos, com o nome artístico Camarón de la Isla (ou apenas Camarón). José viu o mundo em San Fernando (“La Isla”), Cádiz, em 1950, e morreu em Barcelona a 2 de Julho de 1992. Tinha 41 anos. Cancro do pulmão. O caixão baixou à terra envolto na bandeira cigana.
VÍDEOS





Este livro de Carlos Lencero (1951-2006), intitulado “Sobre Camarón. La leyenda del cantautor solitário”, é a melhor e mais completa biografia de Camarón que conheço. Desengane-se, porém, quem julgue que vai encontrar aqui histórias sórdidas ou pormenores escabrosos sobre a agitada existência terrena de Camarón de la Isla, as suas múltiplas dependências, a derrocada previsível, o estertor agonizante ao fim de uma vida de excessos e drogas. Carlos Lencero privou de perto com o génio, foi seu companheiro, sendo letrista das músicas de vários nomes lendários do flamenco, desde o próprio Camarón até Pata Negra, Raimundo Amador, Macanita, Remedios Amaya e Diego Carrasco. O livro é íntimo, não indiscreto. E, já que falamos de grandes nomes, o flamenco e a canção espanhola têm trazido ao mundo uma onomástica sensacional, com rapazes e moças com alcunhas artísticas como Pansequito, Dolores Vargas La Terremoto, Tomatito, El Tumba, La Moreno, Chocolate, Niño Ricardo, Kiko Veneno, Pepe Ébano ou, atenção, Ramón el Portugués.
Neste panteão ilustríssimo, a voz de Camarón destacou-se, imortal e potente, límpida e única. A ponto de alguns dizerem, com apoio no douto parecer de médicos otorrinolaringologistas, que a sua garganta tinha uma configuração peculiar, quase feminina.
Quem diria… num macho gitano que começou a vida querendo ser toureiro: a primeira vez que se viu numa arena, em vez de um novilho pluma apareceu-lhe pela frente uma besta negra de 400 quilos; apavorado, Camarão buscou novo rumo, indo parar quase por acaso ao universo da música e das canções gritadas. Me dieron una ocasión / de salir a torear; / se me quitó la afición – cantaria, anos depois. Nessa altura da vida, quando se fez grande e célebre, afundou-se no álcool (aguardente, whisky com muito gelo, litros de cerveja Cruzcampo) e nas drogas, desde o LSD, típico da altura, à letal heroína (a «droga heróica», porque supostamente curava a tuberculose), passando pelos barbitúricos e, claro, as doces ervas importadas do Rif.
Os seus biógrafos dizem que a voz excelsa se começou a notar muito cedo, por volta dos oito, doze anos. Pela escola passou pouco, tendo uma estadia fugaz num estabelecimento dos Padres Carmelitas onde o ciganito loiro era obrigado a entrar pela porta das traseiras, já que a da frente só dava acesso aos alunos que pagavam propinas. Criou-se nas ruas, começou a cantar às noites, ao princípio na Taberna Flamenca, em Málaga, e depois, na companhia de Dolores Vargas (“la Terremoto”, já atrás falada), com quem firmou contrato para um tour por Espanha e pela restante Europa.
Em 1968 grava pela primeira vez em estúdio e, por essa altura, muda-se para Madrid, a capital fatal. Já ao tempo cobrava um bom cachet, coisa de duas mil pesetas diárias, segundo dizem (outras opiniões camaroeiras elevam a fasquia para quatro mil pesetas).
Em definitivo, tinha baraca, um termo indefinível da gíria flamenca, originário de Marrocos, com passagem pelos acampamentos gitanos. Carisma? Dom divino? É impossível definir baraca, mas Camarón de la Isla tinha-a aos molhos, para dar e vender. Ele e, claro, Paco de Lucía, o “filho da portuguesa” nascido em Algeciras em 1947, que se cruza desde cedo na vida do Camarão da Ilha. Juntos, gravam nove discos, ambos a crescer a cada dia, até que os destinos de ambos se separaram, sem zangas nem maledicências.
Atesta-o o facto de Paco de Lucía ter sido um dos que, no fatídico dia, carregou às costas o féretro embrulhado na bandeira cigana. E este livro de Carlos Lencero é também, a seu modo, uma biografia breve do génio da guitarra, ainda que sobre ele existam melhores e mais desenvolvidos materiais, como o maciço volume, de quase 500 páginas, «Paco de Lucía. El Hijo de la Portuguesa», de Juan José Tellez (Planeta, 2015).
Não por acaso, o primeiro disco de Camarão, produzido em 1968 e saído em 1969, chama-se “El Camarón de la Isla con la colaboración de Paco de Lucía”, a prova irrefutável da irmandade indestrutível, que se manterá até à morte (curiosidade: na infância, Paco sonhava ser cantor, sendo seu pai que, com notável clarividência, o levou às cordas).
Entretanto, Camarón casou. Aos 25 anos de idade, com Dolores Montoya, “La Chispa”, da qual teve quatro filhos (teve uma outra filha nascida de uma anterior – ou paralela – ligação amorosa). A mulher sempre o considerou um marido exemplar, opinião que o seu biógrafo e amigo não acompanha na totalidade, dizendo que Camarón nunca abdicou das prerrogativas e privilégios que a cultura cigana concede aos varões. Por exemplo, ausentava-se subitamente de casa, sem dizer palavra, por uma, duas semanas. Andava na farra por Madrid, Barcelona ou noutras paragens onde se cultivava o flamenco. Em 1975, foi galardoado com o portentoso Prémio Nacional da Cátedra de Flamencologia de Jerez (!).
O seu período áureo será, talvez, a década de 80, entre Madrid e Sevilha. É no Bairro de Triana, ou por lá perto, que Camarão se expande até ao infinito. Quem quiser saber um pouco mais, numa breve mas esclarecedora incursão pela vida sevilhana do Camarão, leia o fantástico e extraordinário livro “Fantasmas de Espanha”, de Gilles Tremlett, que até foi cá editado pela Alethêia e está à venda, pasme-se, por cinco euros (!), ou lá perto.
Sendo um homem medularmente espanhol, Camarón teve uma carreira internacional apreciável, primeiro na Camarga francesa, depois no Festival de Jazz de Montreux e até em Nova Iorque. Em 1988, actuou em Paris, no Cirque d’Hiver, com bilhetes a 200 francos e fila à porta. Em 1990, causaria sensação na Grande Maçã. Mas, quando lhe perguntaram se iria instalar-se na cidade e fazer carreira pelas Américas, disse, tão-só: “En Manhattan no hay pescaíto frito”. Camarão não era um bom garfo, longe disso, mas ficava doido com pescaíto frito, entre outras drogas duríssimas.
A sua obra-prima, numa vasta discografia, será, porventura, “La leyenda del tiempo”, que, como é costume, a crítica da época não apreciou nadinha. Mas foi um disco revolucionário, em vários sentidos, começando pelo facto de se tratar da primeira gravação da História da Humanidade em que os batedores de palmas, os palmeros, ganharam uma quantia igual à dos cantores e guitarristas.
Fica para a memória, Camarón de la Isla, a lenda do tempo. De cabelos longos e barba desgovernada, assemelhava-se a Cristo, sem tirar nem pôr. Morreu numa clínica de Barcelona, em 2 de Julho de 1992, o ano da Expo de Sevilha e doutros desvarios. No funeral, era tanta gente, tantos políticos engravatados, que a viúva e os filhos quase foram esquecidos.



eco.pt
03
Set17

RACISMO, NÃO OBRIGADA por Luísa Lobão Moniz

António Garrochinho



A televisão, a imprensa escrita, a rádio, os telemóveis têm-se revelado um apoio à revelação do que se passa no mundo.

Por vezes são muito cruéis as imagens, as entrevistas que têm sido feitas durante os incêndios, cheias, furacões. Vimos, quase em directo, as manifestações pró e contra o racismo que ocorreram no “dono da Paz”, os Estados Unidos da América…

A muitos de nós veio a recordação das lutas que foram necessárias para a igualdade entre pessoas com a pele de outra cor que não a branca…Os racistas começam a surgir manifestando-se na rua tentando demonstrar que o racismo está vivo.

Mas afinal o que é o racismo? O racismo é um modo de estar que se foi modificando à medida que os regimes políticos, as representações do outro se foram adaptando sem, no entanto, desaparecer, como se pensava no final da II Guerra Mundial.

O racismo comporta em si mesmo  ideologia, preconceito e discriminação que são de difícil definição.

O racismo não se manifesta explicitamente só pela cor da pele ou por razões culturais, manifesta-se por relações de poder. Os migrantes vêm tirar os empregos, mas os nacionais quererão fazer os trabalhos que fazem os migrantes?

É-se racista quando há hierarquias de poder prepotentes e quando os migrantes vivem um estatuto social no fim da tabela, quando são os mais fracos no meio social.

Todos os sem poder podem ser vítimas de descriminação por parte de quem manda ou de quem quer mandar. Exemplos desta situação são as crianças, os deficientes, as mulheres, quem vive em bairros sociais, os trabalhadores não qualificados, os homens e mulheres que vivem em habitações abarracadas…

Os mais vulneráveis da defesa dos seus direitos.

É fácil fazer um discurso discriminatório relativamente aos ciganos. A representação social dos ciganos é de quem só causa problemas e quer os mesmos direitos que “nós”.

É fácil fazer um discurso discriminatório relativamente aos caboverdeanos. A representação social liga-se a actos de violência.

É fácil fazer um discriminatório dos sem-abrigo. Não querem fazer nada.

Os racistas gostavam que quem não é português fosse para as suas terras.

É romeno, mas é boa pessoa. Este “mas” é significativo.

Cada um gostaria de fazer parte do grupo com mais poder, veja-se como se comportam socialmente quem é detentor de pequenos poderes!

Racismo, não obrigada.


aviagemdosargonautas.net

03
Set17

Coragem e lucidez precisa-se

António Garrochinho
A diabolização da República Democrática Popular da Coreia atingiu um tal paroxismo que embotou quaisquer rasgos de lucidez. Rejeita-se a R. D. P da Coreia como reflexo condicionado sem procurar entender o porquê de tal comportamento.
Os Estados Unidos lançaram sobre a península coreana mais bombas (635 mil toneladas) e napalm (32.557 toneladas) do que contra os japoneses, durante a Segunda Guerra Mundial.
É imperioso, necessário e urgente, sairmos a terreiro e confrontarmos os detratores da RDP da Coreia com os crimes hediondos perpetrados contra este povo.
A denúncia vem dos próprios algozes:
«Nós queimamos todas as cidades da Coreia do Norte – General Curtis LeMay» e “Durante um período de três anos ou mais, nós matamos – cerca – 20 por cento da população” general da Força Aérea Curtis LeMay”, chefe do Comando Aéreo Estratégico durante a Guerra da Coreia. (“Over a period of three years or so, we killed off — what — 20 percent of the population,” Air Force Gen. Curtis LeMay, head of the Strategic Air Command during the Korean War).
A guerra da Coreia quase destruiu essa nação de 20 milhões de habitantes. Nunca se viu semelhante devastação. – General MacArthur”
Em nome da verdade e da justiça é forçoso divulgar o genocídio a que foi submetida a R D P da Coreia, tarefa fácil por ser tão evidente, é uma questão de coragem para enfrentar os média corporativos.



aspalavrassaoarmas.blogspot.pt
03
Set17

O sexo, essa coisa obsoleta

António Garrochinho



(António Guerreiro, in Público
ronaldo1
Talvez Cristiano Ronaldo seja a figura da neutralização do desejo, da banalização do sexo, e o seu corpo seja uma paródia do erotismo.

Na guerra dos homossexuais pelo reconhecimento, de onde a sexualidade emerge como um problema político, uma das palavras de ordem que perduram é aquela que já nos finais do século passado foi amplificada nas ruas de algumas cidades norte-americanas: “We’re queer, we’re here, so get fuckin’ used to it” (tradução livre e muito puritana: “Somos bichas, aqui estamos, vão ter que se habituar”). De maneira muito mais moderada, mas ainda assim provocando atritos públicos, esta frase começou há pouco tempo a ser declinada em Portugal. Devemos perceber que ela não tem apenas o seu significado literal: significa também que a sexualidade só pode criar uma identidade colectiva e individual quando lhe é conferido um sentido para isso, quando se acredita que é possível dar-lhe um sentido que excede qualquer descrição científica e respeitante ao comportamento. O ideal de uma homossexualidade completamente despolitizada e silenciosa, subtraída às guerras do reconhecimento, é a mais profunda aspiração dos defensores de uma ordem antiga que se disfarça com roupagens modernas. Devemos perceber que essa despolitização chegou a todas as formas de sexualidade e produziu uma sexualidade branca, isto é, uma banalização eminente do sexo. Essa banalização não se mede pelas práticas nem por um critério contabilístico, mas pelas representações no espaço público, pelo fluxo de imagens e palavras a que dá origem. Talvez percebamos melhor o que se passa se prestarmos atenção a um desaparecimento notável: o desaparecimento do “desejo”. Não do impulso e da força com esse nome (ou, pelo menos, não completamente), mas da palavra que os designa. Esta foi uma palavra-maná na literatura e na teoria que floresceram depois do Maio de 68. O desejo estava por todo o lado, era um investimento colectivo, uma pandemia. Não se falava de outra coisa: da lírica provençal a Marguerite Duras, o desejo era o motor que movia a palavra literária e garantia que ela tinha uma força que não podia ser codificada. Quem ler muitos dos estudos literários dessa época será levado a perguntar: “Mas aquela gente não pensava noutra coisa?”. Foi aliás neste contexto que Deleuze e Guattari criaram o famoso conceito de “máquinas desejantes” (por sinal, num livro chamado O Anti-Édipo) que alimentou a mais fecunda imaginação teórica de uma geração que tinha começado a substituir a revolução pelo desejo, condescendendo às vezes num flácido “desejo de revolução” — um estado em que nunca chega ao momento de satisfação. Como sabemos, tudo isto acabou num enorme desencanto e numa profunda “crise do desejo”, diagnosticada com todo o rigor e seriedade, mas que hoje já nem conseguimos vislumbrar o que é. O que podemos hoje perceber é que o sexo se tornou uma coisa completamente obsoleta. Tão obsoleta como a alma. Ele já não é a fonte dos fluxos de desejo, e até a reprodução se cumpre por meios completamente artificiais, sem vínculos com a sexualidade.
Um ilustre representante destes tempos do sexo obsoleto é o Cristiano Ronaldo: não por ter escolhido a procriação assexuada (ou, pelo menos, não exclusivamente por causa disso), mas porque fez do seu corpo uma fortaleza encerrada em si mesma, sem portas nem janelas, como uma mónada.
Por ali, não entra nem sai o desejo. O mais sexy dos futebolistas tornou-se um holograma, uma imagem descarnada. O seu corpo erótico foi impregnado de um excesso que o empurra para além dos seus fins e o anula na paródia do erotismo. Nem gay nem hetero, Cristiano Ronaldo é um género singular. Prova de que a teoria do género não é uma impostura intelectual.


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