No imaginário popular, os pilotos kamikazes japoneses eram todos fanáticos imperialistas ansiosos para se sacrificar por seu país. Oficialmente, é dito que todos se voluntariaram, mas a realidade é que muitos foram essencialmente forçados a cumprir esse papel, como foi o caso do estudante japonês Hayashi Ichizo, chamado pelo exército em 1943 com a idade de 21 anos. Se você acha que ele era muito jovem para se candidatar à morte, saiba que nem sequer era o mais novo entre os kamikazes, título que coube a Yukio Araki, na foto acima segurando seu cachorro, que tinha apenas 17 anos. Em seu diário, Hayashi relatou como foi ser designado para servir como um piloto suicida:
“Para ser honesto, eu não posso dizer que o desejo de morrer pelo imperador é genuíno, que vem do meu coração. No entanto, é decidido por mim que eu morra para o imperador. Não vou ter medo do momento da minha morte. Mas eu estou com medo de como o medo da morte vai perturbar a minha vida… Mesmo para uma vida curta, há muitas memórias. Para alguém que teve uma vida boa, é muito difícil se separar dela. Mas cheguei a um ponto de não retorno. Eu devo mergulhar em um navio inimigo. À medida que a preparação para a descolagem se aproxima, sinto uma forte pressão sobre mim. Eu não acho que eu posso encarar a morte… Eu tentei o meu melhor para escapar em vão. Então, agora que eu não tenho escolha, eu devo ir valentemente”. Sua missão suicida foi concluída em 12 de abril de 1945, cinco meses antes da rendição do Japão.
A tricana é a rapariga do povo. A expressão começou por designar a moça do campo, rústica e ingénua, para passar a identificar a jovem mulher trabalhadora, a operária da indústria nascente na segunda metade do século XIX. A partir de 1852, atricaninha passaser figura recorrente nos pregões das festas Nicolinas, remetendo para as raparigas cândidas e pobres que se deixavam ir na cantiga dos estudantes, como podemos observar no exemplo seguinte, extraído do pregão que João de Meira escreveu para as festas de 1903:
Tricaninhas gentis eu perco por sincero;
Talvez que não gosteis do que vos vou dizer,
Mas se vos falo assim é pelo que vos quero,
Ninguém pode ser réu, por muito bem-querer.
E se não sou leal naquilo que vos digo
Ceguinho seja eu por toda a minha vida,
E se depois da jura inda embirrais comigo,
Falai-me logo então, falai-me na saída.
O amor do estudante é coisa passageira,
Diz a cantiga já que apenas dura uma hora,
Se hoje o traz enleado uma linda trigueira
É uma loira, amanhã, aquela que namora.
A abelha anda a libar o mel de flor em flor,
Cada rosa que deixa, a deixa sem saudade,
Assim é tal e qual, tricanas, nosso amor,
O amor que vos oferece a nossa mocidade.
É o riso que dura apenas um instante
E vem depois a dar em lagrimas sem fim...
Não vos fieis em nós... Não vos fieis em mim...
Dez anos depois de João de Meira, Alfredo Guimarães escreveu sobre as tricanas de Guimarães, num texto carregado de “notas psicológicas” em que descreve o seu viver. Foi publicado na Ilustração em 1913 e é ilustrado com alguns retratos de operárias das fábricas das Avenidas. Aqui fica.
A tricana de Guimarães
Agora, ainda mal saídos do Inverno, as caldeiras do extraordinário número das fábricas de Guimarães apitam ainda quase de noite e os salões frios que arregimentam dezenas e dezenas de mulheres são ainda, durante as primeiras horas, iluminados a luz eléctrica.
Por isso cedo, e muitas vezes, sob chuvas e ventanias inclementes, se ouvem na rua, cantando como castanholas, as socas de biqueira de verniz e de pau de nogueira, com que as raparigas estremunhadas e de xaile em bioco, apressadas, pacientes e pobres, caminham corajosamente, e por vezes alvoroçadamente, ao trabalho madrugador das tecelagens.
Não venho fazer um sermão de piedade, reproduzindo nesta página a desagradável impressão que sempre me causou, pelas manhãs húmidas do Inverno, essas que o trabalho levanta aturdidamente dos catres pobres, magritas, pálidas e em jejum de comunhão. Essa tarefa de recriminar o industrialismo burguês da minha terra natal, que, ainda neste século de fraternidade e ternura, fabrica, com um espírito de indiferença verdadeiramente monstruoso, a par dos seus panos de linho e das suas camisolas de algodão, verdadeiros sortidos de tuberculosos, de neurasténicos, de linfáticos, de analfabetos, de miseráveis, — essa tarefa hei-de tomá-la um dia às mãos.
Agora, porém, eu escrevo somente dessa rapariguita doce das fábricas, ou seja da sua beleza, tenacidade e amorio sentimental; escrevo sobre quem possui, através a fome das suas férias, espírito económico bastante para se enramalhar de cores, em chitas alegres e oiros baratos, e surgir alegres, nas horas domingueiras, depois da missa burguesa do meio-dia, ao seu namorado de hoje, ao seu marido de amanhã
E sobre essa pequena sofredora que nas horas “de conversar” faz ao seu cansaço o mesmo que à asa afogueadorado xaile, alijando-o dos ombros com heroicidade, muito há que observar e escrever.
A tecedeira de Guimarães, levantando-se às seis horas da manhã, trabalhando doze a quatorze horas por dia, vestindo-se a prestações, curando-se no hospital em enfermarias devassadas, alimentando-se pessimamente e dormindo em casas sem higiene e comodidades — é, todavia, alegre como um pássaro, pregadora como um leiloeiro, ligeira e vibrante como uma seta em fogo. A sua língua não é, em verdade, das melhores coisas — visto que aos oito anos se fecham para ela as portas da escola e abrem as da fábrica, onde a moral é nenhuma. Mas, apesar disso, quando é noite bem cerrada e o sino toca às “almas” e a burguesia ceia regaladamente, oiçam o que vai por além. Chove, e, todavia, descendo as avenidas num coro enorme, espalhado no vento em onda harmoniosa de orfeão, as raparigas voltam em rancho e cantando a última das trovas chegadas àquela terra de padres artificiosos, de beatas monstruosas e de políticos do antigo regime, ardilosos e reservados como as feras. E se a tricana tecedeira de Guimarães é linda e elegante disponha-se, quem disso duvide, a observar uma onda dessas pequenas, saindo o portal das fábricas à hora de jantar. Com os cabelos polvilhados de cotão dos; teares, lenço caído sobre a nuca, peitos verdes e duros das ansiedades carnais dos quinze anos, a saia rota, o olhar brilhante, a boca em fogo, ela lá vai correndo à sua casa térrea, quase tão agitada de vestuários como uma pastora que procura o tresmalhado das ovelhas, quase fugidia e suspensa e ama como uma ave que se levanta ao sol para sentir mais quente o coração inquieto de namorada.
A tricana tecedeira de Guimarães ou é “Maria Rosa”, ou “Teresa do Sacramento”, ou “Maria de Oliveira” ou “Ana de Jesus”. Tem quatro saias brancas lisas, às ramagens amarelas, e chinelas de verniz, com laço, pelo Natal e em domingo de Passos. Tem xailes de luxo e sombrinha de seda só para a missa dos domingos. Quando, por doença, a da vida, recorre ao preguista da terra — ou seja ao “Costa-Queijo”. É, em rapariga, vaidosa da sua frescura e beleza; depois de casada, suja e desmazelada como mulher nenhuma deste mundo. Em geral não sabe ler.
E, volta e meia, vemo-la à porta do médico, doente do peito — “ética”, como ela usa dizer.
São estas as poucas notas psicológicas que eu conservo dessa rapariga que tão mal vive e que canta sempre com tanto gosto.
Alfredo Guimarães
Ilustração Portuguesa, 2.ª série, n.º 373, 14 de Abril de 1913, pp. 464-466
A Polónia foi dos países que muito sofreu com a Segunda Guerra Mundial. Mais de seis milhões de polacos morreram no conflito, entre 1939 e 1945. A maioria, homens e mulheres comuns, nada tinha a ver com o conflito ideológico que motivou os ataques e a ocupação do país. E, para quem está planeando conhecer a Polónia, visitar um dos maiores símbolos dessa trágica história, o Gueto de Varsóvia, é indispensável.
Criado pelos nazistas, em 1940, o Gueto de Varsóvia era um lugar nada agradável, onde judeus de toda a Polónia foram confinados – veja o mapa. Cercado por muros de tijolos vermelhos, o espaço chegou ter a maior concentração de judeus marginalizados de todo o período da Segunda Guerra. Em seu auge, quase 400 mil pessoas em condições precárias viviam amontoadas dentro de seus muros, em meio a doenças e uma sujeira sem fim.
Símbolo que deveria ser usado por todos os judeus.
Depois de serem confinados como animais, os judeus aguardavam o momento de serem enviados aos campos de concentração. Um dos principais destinos da população do Gueto, o campo de Treblinka, ficava a 105 quilômetros de Varsóvia. E, a partir de 1942, ele passou a receber mais e mais judeus que, sem saber, entravam nos vagões do trem em direção a um único destino: a morte. Hoje, sabemos que grande parte dos passageiros era formada por idosos e crianças.
O espaço destinado a receber os judeus prisioneiros.
Maldades médicas
Nessa época, já corria na Europa a fama dos experimentos médicos feitos com judeus no campo de Ravensbrück. Naquela estação de horrores, as equipes médicas removiam os músculos e os nervos de pessoas vivas, sem anestesia. A desculpa era entender como os tecidos humanos podiam se regenerar.
No campo de Dachau, as invenções da equipe médica eram piores: a pele dos prisioneiros mortos servia de matéria-prima para bolsas, chinelos e luvas. Se não houvesse mortos suficientes, era só matar mais alguns.
Quem não perdeu a vida no Gueto encontrou a morte nos campos de concentração.
A vida dos judeus valia muito pouco – ou simplesmente nada – para a ideologia nazista. Mas, como sabemos, outros grupos também foram perseguidos por Hitler. O pacote de maldades incluía eslavos, negros, ciganos, gays e Testemunhas de Jeová, mas, entre as minorias, os judeus eram a maioria. No Gueto de Varsóvia eles eram unanimidade.
A revolta de Varsóvia
Dentro do Gueto, homens e mulheres que ainda tinham um sopro de esperança, planejaram uma revolta, uma luta dos judeus contra a opressão nazista. A ajuda vinha de fora, de simpatizantes que infiltravam armas e explosivos no Gueto.
Há inúmeras histórias de polacos que se envolveram com as dolorosas histórias do Gueto de Varsóvia. Uma delas é a de Irena Sendler que resgatou mais de 2.500 crianças, pondo em risco sua própria vida.
Durante os primeiros dias do que ficou conhecido como o Levante de Varsóvia – Powstanie warszawskie, em polonês –, o pequeno exército judeu, formado por pessoas que nunca tinham pegado em uma arma de fogo antes, incluindo crianças, teve êxito. Mas isso só aconteceu porque os nazistas jamais esperavam uma reação dos confinados.
Entretanto, como o poder de fogo do exército de Hitler era infimamente maior, logo a situação foi controlada. Como vingança, em 1943, o ditador alemão mandou exterminar todos os judeus do Gueto e, mais, ordenou que o lugar fosse completamente destruído.
Judeus rendidos depois da revolta.
Soldado voluntário, de apenas 12 anos, morto durante o Levante.
Foto que mostra a destruição do Gueto, em 1943.
O Gueto de Varsóvia hoje
Durante a reconstrução da cidade, no pós-guerra socialista, vários prédios foram construídos na região onde ficava o Gueto. Os únicos sinais de sua existência são uma pequena parte do Muro do Gueto, que virou um memorial, e o traçado no chão, que podemos ver em algumas áreas da cidade.
O que restou do Muro do Gueto virou um memorial.
O traçado original do Muro do Gueto.
Conjunto de prédios construído no pós-guerra.
Uma grande parte dessa história é contada no Museu do Levante de Varsóvia. Em três andares, ele exibe um incrível acervo sobre esse período histórico, incluindo a recriação de ambientes do Gueto, relatos e histórias de sobreviventes e um vídeo em 3D que mostra como a cidade ficou devastada depois da Segunda Guerra.
Visitantes no Museu do Levante de Varsóvia.
Um dos ambientes do Gueto recriados no Museu.
Cena do filme 3D que mostra como a cidade ficou destruída depois da Guerra.
Em toda a cidade, vários pontos de memória, sempre identificados com a sigla WP, lembram os mortos do movimento de resistência judeu, o Levante de Varsóvia. Uma visita ao Memorial do Levante de Varsóvia também vai lhe ajudar a entender melhor essa história.
Um dos pontos de memória dos horrores da Guerra.
O símbolo do Levante.
O importante Memorial do Levante de Varsóvia.
Detalhe do Memorial, que fica na Stare Miasto.
O Memorial do Pequeno Insurgente: dizem que homenageia as crianças que lutaram no Levante.
Esta é uma das fotos que estavam no cartão de memória achado no corpo de um militante do Estado Islâmico
Em fevereiro deste ano, em meio ao avanço das forças iraquianas para retomar o controle da cidade de Mosul das mãos do grupo que se autodenomina Estado Islâmico, o correspondente da BBC no Iraque, Quentin Sommerville, teve acesso a várias imagens armazenadas em um cartão de memória.
As fotografias eram de combatentes do Estado Islâmico (EI) que morreram em confronto com o Exército iraquiano. Assim, teve início uma busca pelas identidades e histórias por trás das imagens.
Confira o relato do repórter:
Fevereiro está prestes a chegar ao fim e os soldados do Exército do Iraque vivem a batalha de suas vidas: a reconquista de Mosul, a segunda maior cidade do país, que desde meados de 2014 está nas mãos do grupo extremista autodenominado Estado Islâmico.
Nos últimos três meses, eles conquistaram um enorme avanço sobre o sul da cidade. Estamos perto do vilarejo de Al-Buseif.
Mais adiante, se continuarmos andando, encontraremos o aeroporto e as primeiras casas do oeste de Mosul.
Mas antes, nas margens do rio Tigre, encontramos os corpos de três combatentes do grupo extremista.
Um deles chama minha atenção: está enterrado sob uma montanha de escombros do que antes foi um bunker e parece mais um menino do que um homem.
Uma das fotos mostra o jovem ao lado de alguém que parece ser sua irmã
Isso confirma o que temos visto nos últimos meses: quanto mais as forças iraquianas se aproximam de Mosul, mais corpos são encontrados.
Os soldados iraquianos primeiro limpam a área para descartar a presença de combatentes próximos. Depois começam a examinar um dos corpos.
Em um dos bolsos encontram uma pequena quantidade de dinheiro sírio que não vale muito. Mas do outro lado encontram algo muito valioso: um cartão de memória de um telefone.
As fotos armazenadas ali nos permitiram conhecer fragmentos da vida dos combatentes do Estado Islâmico que encontramos mortos à beira do Tigre.
Quem era esse jovem combatente e que segredos da organização extremista teria guardado nesse cartão?
Radicalização
Ao examinar as fotos, o que mais chama a atenção é a evolução desse jovem: de fotos luminosas com membros de sua família até outras mais escuras em que podemos vê-lo acompanhado de outros combatentes.
Uma foto onde o jovem aparece como se estivesse descansando
De abraçar uma menina até segurar um rifle Kalashnikov.
Um oficial iraquiano me dirá mais adiante que os jovens das fotos pertencem ao grupo de apoio armado Nínive, uma espécie de comando que opera como suporte das atividades militares principais.
Há outra foto em que o jovem aparece como se estivesse dormindo.
Mas há uma que desperta minha curiosidade em particular: é uma foto do mesmo homem um pouco mais velho e com o cabelo mais longo. Ele olha diretamente para a câmera, mas o que chama atenção são suas mãos, cobertas por um par de luvas.
Debaixo da roupa ele veste um colete-bomba. E as luvas escondem o dispositivo com o qual ele pode ativar o explosivo.
Ele está disfarçado de maneira que o possível alvo não possa reconhecer a ameaça e sorri agasalhado com uma jaqueta bege.
Há muitas outras fotos - junto de seus colegas combatentes e outros soldados mais antigos - que evidenciam o nível da guerra que estão lutando.
Essa é uma das poucas fotos que mostram o combatente armado
Mas há muito mais informações que só soubemos quando estávamos a ponto de abandonar a pequena fazenda na qual havíamos nos refugiado naqueles dias.
Estratégias de guerra
Há dois tipos de momentos na cobertura da batalha por Mosul: os de hipervigilância durante os combates e as poucas horas de descanso.
As luvas disfarçam o dispositivo para ativar o colete-bomba
Apesar de ter passado quase duas semanas no mesmo lugar, não me dou conta de algo fundamental por causa do cansaço: ao revisar com atenção algumas das fotos do jovem combatente, percebo que esse quarto foi o lugar em que ele esteve durante algum tempo.
Essa fazenda abandonada também foi seu quartel. E o cenário de muitas dessas fotos.
Então começo a buscar entre os escombros alguma coisa abandonada, algo que permita que eu me aproxime de sua identidade.
No rastreamento por documentos do Estado Islâmico com datas de dezembro de 2016 há ordens precisas sobre a estratégia para rechaçar um iminente ataque do Exército do Iraque.
Depois de um tempo, em meio à ansiedade de irmos para Irbil e entre um monte de lixo coberto de poeira, encontro um caderno com um nome em inglês escrito a mão: "Abu Ali Al Moslaue".
Era esse o jovem das fotos do cartão de memória?
A caligrafia é cuidadosa e, pelo que leio, o registro de notas é meticuloso.
Noto que Abu estava aprendendo a disparar morteiros.
Dá para ver que ele é um bom aluno. Nas notas, é possível ver também algumas coordenadas escritas sobre possíveis alvos que ele conseguiu achar via Google Maps.
E dá para ver como, com a ajuda de um compasso, ele calculou a possível trajetória curva do projétil disparado a partir do morteiro.
O comandante
Outro caderno que revela mais informações: em princípio só podemos ler alguns poemas mal escritos, mas, na medida em que avanço pelas páginas, percebo que este é o caderno de anotações do comandante de outro pelotão de combatentes que estava instalado aqui.
Seu nome é Abu Hashem e, de acordo com suas anotações, ele comandava oito homens e dois veículos que compunham uma unidade da brigada móvel de defesa aérea do EI.
Em suas notas, descobre-se um chefe que exerce sua liderança com rigor. Ele tenta dividir os membros de sua unidade em pequenos grupos de três, o que os obriga a estar juntos na maior parte do tempo.
Nessa foto o jovem das outras imagens não aparece. As autoridades acreditam que ele batia a foto
Logo percebo sua dureza. Em uma ordem escrita, ele manda um grupo seguir uma patrulha e sentencia: "Aqueles que desobedecerem serão castigados. Talvez Alá os recompense com alguma benevolência".
Temos que deixar o refúgio. Tomo os cadernos e os levo comigo.
Devo sair não apenas de Mosul, mas do Iraque. Mas primeiro saio à rua, deparo-me com os corpos desses combatentes duas semanas depois, irreconhecíveis pelas dentadas dos animais e bicadas dos pássaros.
Levo essa imagem na cabeça.
A testemunha
Volto a Mosul dois meses depois, em meados de abril, e começo a perguntar sobre o jovem da foto a seus companheiros.
O Exército iraquiano conseguiu avançar sobre o oeste da cidade e agora o combate parece mais a seu favor. Os dias refugiados na precariedade daquela fazenda abandonada parecem ser de outro século.
VÍDEO
Quarto onde estavam escondidos os combatentes do Estado Islâmico
Quando me encontro com um deles, um dos comandantes da brigada das forças especiais do Iraque me conduz até um setor de seu novo refúgio, localizado em um bairro residencial perto da linha de frente do combate.
Ali está um militante do Estado Islâmico coberto de sangue, com evidências de ter apanhado fortemente.
Mas não sei quem pode tê-lo deixado assim: se foram os soldados iraquianos ou moradores de Mosul como vingança.
Os soldados levam o homem ferido e então entra outro jovem, com a aparência de um soldado fora de serviço, a quem vamos chamar de Ibrahim.
Ibrahim lutou pelo EI por dois anos. Mas agora é um agente duplo que também dá informação às forças de segurança iraquianas.
"Esse não sabe de nada", disse o comandante antes de me deixar falar com ele.
Peguei as fotos que havia guardado na minha última viagem e lhe mostrei para que me ajudasse a identificá-lo.
Era difícil. Primeiro porque a maioria dos combatentes se conhecem por nomes de guerra.
Este é um dos papeis com o selo de uma mesquita no leste de Mosul
Em segundo lugar, um fator fundamental a ser levado em consideração: os combatentes das fotos eram muito jovens.
"Quando o Estado Islâmico chegou, eles eram garotos. Nós não os reconhecemos como homens", disse Ibrahim.
Livros de oração
As pistas sobre sua identidade eram vagas. Fui até a fábrica de morteiros que as coordenadas indicavam nos cadernos.
Mas os trabalhadores, que agora produzem tanques, não quiseram dar detalhes, com medo de represálias do EI.
Mesmo que houvessem saído de Mosul, me disseram, não teriam ido muito longe.
Então a última pista estava nos livros de oração que havia encontrado na mesma fazenda e levado comigo.
Todos esses livros tinham o selo de uma mesquita localizada no leste de Mosul. Além disso, estavam assinados por um imã que havia escrito dedicatórias aos jovens combatentes.
As forças do Iraque conseguiram retomar o controle de várias áreas de Mosul
Quando cheguei, fui recebido pelo mulá Fares. Ele me explicou que o imã que assinou os livros de oração havia se juntado ao Estado Islâmico. Ele o estava substituindo.
Então lhe mostrei as fotos e finalmente consegui o reconhecimento de cada um dos jovens.
Ele me confirmou que eles pertenciam ao Nínive e que eram frequentadores assíduos da mesquita desde pequenos.
Então ficou olhando para uma das imagens.
"O poder está com a pessoa que tem uma arma, mesmo se for pequena e jovem. Como os jovens que assassinaram homens grandes e fortes dos nossos bairros. Como um imã que estava aqui antes, que foi baleado por meninos", disse Fares.
Está claro que o Estado Islâmico tinha bastante apoio em Mosul, mas esse apoio acabou quando o grupo começou a recrutar e armar adolescentes. Pegando os mais jovens e os sacrificando por sua causa.
Em Mosul, o EI está perto de ser derrotado.
Os corpos desses jovens na beira do rio já não estão mais lá - foram devorados por animais. Não há nem sequer rastros. Mas seu legado de destruição e incerteza permanece: estende-se para além de Mosul e da corrente que movimenta o rio Tigre. www.bbc.com
Hoje, ninguém no parque consegue explicar a guerra civil, uma guerra entre irmãos. Aqui todos vivem juntos: aqueles que lutaram por um e os que lutaram pelo outro lado. Mas as memórias ficam e não só entre os homens.
Parque Nacional da Gorongosa
Hoje, o mais famoso parque nacional de Moçambique recebe turistas, contribui para o desenvolvimento económico e social das populações em redor e reintroduziu espécies quase extintas durante a guerra que se arrastou por 16 anos.
A Gorongosa serviu de refúgio aos rebeldes da RENAMO, a Resistência Nacional Moçambicana, e foi cenário de violentas batalhas entre estes e o governo da FRELIMO, a Frente de Libertação de Moçambique.
Esta foi a guerra que se seguiu à de libertação do poder colonial português. Uma guerra que uns chamam civil, outros de desestabilização. Quem hoje trabalha no Parque Nacional da Gorongosa diz que foi guerra entre irmãos. Foi um conflito que, passados 20 anos da assinatura do Acordo Geral de Paz em Roma – a 4 de outubro de 1992 – ninguém no parque consegue explicar. Mas as memórias, essas ficam.
SOM ÁUDIO
Os animais da Gorongosa ainda são tímidos
No fim da guerra civil, todos os edifícios do parque nacional ficaram destruídos
Há dias em que o guia Moutinho não tem grandes mamíferos para mostrar. Os elefantes, rinocerontes, búfalos, leões e leopardos não aparecem. Eles estão lá, escondidos entre arbustos e picadas estreitas. Mas com o sol a pôr-se e os portões do parque quase a fechar, já não há tempo para ir à procura.
Quem vem à Gorongosa à procura dos chamados big five – esses cinco grandes animais, que há muito tempo ganharam o apelido pela dificuldade de serem caçados – tem que contar com uma decepção. É certo que safari é sempre questão de sorte. Mas no parque nacional, queixa-se Moutinho, o guia, muitos animais, sobretudo os elefantes, são ainda tímidos: "Os elefantes de cá ainda têm um bocado de trauma por causa do passado que tiveram, eles sempre assistiram os outros elefantes serem atacados. Então sempre que vêem a presença de um carro, é uma ameaça para eles." Até hoje, diz Moutinho, os elefantes atacam os carros: "Agora já estão a tentar habituar-se um bocado, tentam ficar um pouco mais relaxados. Mas nem todos."
O elefante nunca esquece
Os elefantes podem viver até 70 anos. E a memória do elefante é eterna: os da Gorongosa sabem bem o que aqui se passou quando eram mais jovens. Ainda hoje se lembram de ver as suas mães, as suas avós e as suas irmãs serem mortas.
Foram verdadeiras chacinas protagonizadas por guerrilheiros da Resistência Nacional Moçambicana, RENAMO, que instalaram aqui o seu comando central no final da década de 1970, e pelos soldados da Frente de Libertação de Moçambique, FRELIMO, que combatiam os rebeldes. Abundavam também os caçadores furtivos, porque em tempo de guerra e de fome, as pontas de marfim eram trocadas por armas e comida.
Em 1960, o governo colonial português declarou a Gorongosa Parque Nacional. Os portugueses em Moçambique costumavam dizer que Noé, o da Bíblia, tinha deixado na Gorongosa a sua arca com os animais que salvara do dilúvio, tantos eram os que se podiam avistar. Mas se Noé os deixou, os homens levaram-nos. Enquanto a guerra de libertação poupou a maioria dos animais da Gorongosa, a que se lhe seguiu, pouco depois de alcançada a independência do jovem Estado, dizimou a fauna local em 90%.
A memória dos homens também é dolorosa
Njinga passou cinco anos no mato: alimentou-se de mel e da carne dos animais do parque nacional
Como muito bem sabe Jorge Njinga Chapomba, um dos fiscais do acampamento sazonal do parque. Foi levado pelos rebeldes, ainda rapaz, e viveu no mato. Mas isso haveria de ser mais tarde. Lembra-se de tudo, de toda a "miséria", como diz, e até do dia em que a RENAMO foi, pela primeira vez, à sua aldeia: "Eles vinham à população, recrutavam jovens, entre os 17 e os 40 anos. Então nós começámos a fugir porque em 1979 foram levados meus dois irmãos."
Naquela altura, os rebeldes eram chefiados por André Matsangaísse, que conhecia bem a Gorongosa e por isso escolheu a região para montar a sua base central. Era o local perfeito: além de a mata cerrada oferecer proteção, os animais asseguravam a alimentação e os rios e a própria localização no centro de Moçambique facilitavam o acesso a outras zonas estratégicas.
Na guerra civil havia dois tipos de espaço: o mato e a zona urbana. Enquanto a RENAMO dominava grandes áreas do mato, incluindo o Parque Nacional da Gorongosa, a FRELIMO concentrava-se nas aldeias e cidades. No meio, havia guerra, com as consequências que se adivinham para a população, diz Njinga: "Nós não podíamos sair daqui para lá, e de lá não se podia vir para aqui. Quem era apanhado no meio, era fuzilado."
Em 1984, Njinga também acabou por ser levado. Foi em 16 de junho. Disseram-lhe que iria cozinhar para os chefes, lavar roupa, erguer palhotas. Juntamente com outros rapazes recolhia informações junto da população local sobre os alvos a atacar. Ficou com os rebeldes até outubro de 1986. Depois, não aguentou mais e fugiu para o mato com um colega: "Sofremos muito", diz, e conta que passaram todo o tipo de privações: "camisa não tínhamos, nem calções". Andavam pela beira do rio à procura de peças de roupa e tudo o mais que servisse à sobrevivência como "um arame para tentar fazer uma agulha. Sofri muito. Não tínhamos comida. Só comíamos mel e animal do mato". Um inferno que durou cinco anos.
Safari no Parque Nacional da Gorongosa
O refúgio na Gorongosa
Njinga não foi o único a refugiar-se no Parque Nacional. A fome, o medo, a guerra empurraram muitos habitantes da região para as matas. E além do marfim dos elefantes, levado para troca, outros animais eram caçados pela carne.
A caça furtiva sobreviveu à guerra. 20 anos depois de FRELIMO e RENAMO se terem sentado em Roma com os mediadores para assinar o Acordo Geral de Paz, cerca de 120 fiscais em 22 postos fixos, mais outros móveis espalhados pelo parque, patrulham ainda a área diariamente. Mas para um território tão vasto, o número de fiscais continua demasiado reduzido. A carne proibida faz hoje as delícias dos talhantes da cidade da Beira, mas também dos proprietários de barracas e vendedores em mercados locais.
O "Chefe Dois" ainda planeia operações. Hoje em dia, trata-se de apanhar caçadores furtivos na Gorongosa
No parque, Armilo Cheless é conhecido por "Chefe Dois", uma alcunha que trouxe dos tempos da guerra. Da guerra o "Chefe Dois" trouxe ainda o vocabulário bélico que emprega, sempre que tem oportunidade. E trouxe também a vontade de enfrentar todos os desafios. Em tempos, foi comandante de armas pesadas do exército nacional e combateu nas províncias centrais de Sofala, Manica e Tete: "Estávamos em conflito entre irmãos". Armilo Cheless levou então uma vida estranha: "Era dormir e sonhar com os combates, não tinha outro serviço a fazer, senão fazer planos contra o inimigo, preparar-se para ir lá atacar."
A guerra eterna contra a caça furtiva
Hoje, o "Chefe Dois" é fiscal de florestas e fauna bravia no parque. Ele sabe que a luta contra os caçadores furtivos não está ganha: "Isso não termina. Mesmo agora apanhámos uns cinco que fugiram. Um foi evacuado, mas é menor, tem 15 anos." Quando são interrogados, os caçadores furtivos explicam que é a fome e falta de emprego que os leva a matar os animais.
Armilo Cheless continua a planear e a atacar. Especialmente este ano, porque a caça furtiva aumentou. Uma razão é a falta de chuva que levou a más colheitas.
Calcula-se que cerca de 6.000 animais são mortos no parque todos os anos. Os fiscais chegam a desmantelar anualmente mais de 100 armadilhas e a apreender mais de 20 armas. Os furtivos, geralmente homens pobres das comunidades em redor, são depois encaminhados para o tribunal que os julga.
Provavelmente, o "Chefe Dois" preferia apanhar em flagrante um daqueles caçadores de fama lendária. Mas até esses parece que estão reformados.
Já é possível observar muito mais animais no parque do que logo após o fim da guerra civil
A nova vida na Gorongosa
O acampamento de Chitengo, na Gorongosa, é o ponto de encontro geral, sobretudo quando cai a noite. Quem manda agora no bar é Tatu Alexandre Jorge, chefe do restaurante. Diariamente tem de apresentar contas à administração. Tatu tem hoje 43 anos.
É difícil acreditar que por detrás do sorriso de cidadão pacato se esconde um bandido que em tempos foi famoso, como ele próprio diz: "Fui um grande caçador furtivo durante a guerra e no fim da guerra". Quando a guerra acabou, as armas tiveram que ser entregues, mas: "nós passámos a caçar com armadilhas e ratoeiras. Alguns dos nossos colegas tinham armas, mas nós tínhamos medo de ser apanhados".
O risco de apanhar cadeia ou uma grande multa parecia excessivo a Tatu Alexandre Jorge que já não quer saber dessas atividades ilegais. Mas, até há pouco tempo, tinha em casa 15 crianças para sustentar: oito suas, três de um irmão, quatro de outro. Os dois irmãos morreram na guerra: um pela FRELIMO, o outro pela RENAMO.
Para alimentar 15 crianças, Tatu (centro) chegou a fazer dinheiro com a proibida carne dos animais do parque nacional
Tatu nunca esquecerá quando o irmão, que se tinha juntado aos rebeldes, foi morto, pois aconteceu numa data histórica: em agosto de 1985, no ataque que destruiu a base central da RENAMO na Casa Banana, erguida no sopé da Serra da Gorongosa: "Foi num dia em que vieram os zimbabueanos, trouxeram a FRELIMO, atacaram a RENAMO. O meu irmão também foi assaltado naquele sítio". Durante dias, a FRELIMO fez caça ao homem, conta, matando os elementos da RENAMO que tentaram fugir. Entre os quais, o irmão de Alexandre Jorge.
O proveito da fama
Tatu nunca andou na guerra. Foi graças à sua fama de caçador que arranjou emprego no Parque Nacional da Gorongosa. Em 2004, o governo moçambicano e a norte-americana Carr Foundation assinaram um acordo que visava reconstruir a infraestrutura e restaurar a biodiversidade do parque, bem como fomentar o desenvolvimento comunitário em volta.
Tatu agarrou a oportunidade: "Então eu disse à minha senhora: põe boa roupa, põe sapato na pasta para eu ir lá depois de ver as minhas armadilhas. Fui ver armadilha, tinha apanhado um animal, então levei animal, ainda fui deixar em casa, era uma zebra". Depois Tatu dirigiu-se à administração do parque à procura de emprego. Quando deu o seu nome, a reação foi imediata: "Tatu? Qual Tatu? Eles ficaram logo ali muito interrogados. Tatu, o caçador furtivo? Sou eu. Aí eu comecei a ficar com medo". Mas a fama que o precedia garantiu-lhe emprego na hora.
O filantropo
O objetivo de Greg Carr na região da Gorongosa é contribuir para o alívio da pobreza
Em 2008, o governo de Moçambique e a Carr Foundation fizeram saber que o Parque Nacional da Gorongosa será co-gerido por ambos os parceiros por mais 20 anos. A fundação é obra de Gregory Carr. Nos anos 80, o americano fez fortuna com uma empresa de telecomunicações e, desde então, dedica-se à filantropia.
A sua fundação disponibilizou 40 milhões de dólares, o equivalente a mais de 30 milhões de euros, para serem aplicados na Gorongosa. Uma parte do dinheiro foi gasta na reintrodução de espécies ameaçadas, na criação de empregos e em formações. Construíram-se escolas e centros de saúde, incluindo clínicas ambulantes, que chegam aos locais mais remotos.
O objetivo é contribuir de forma sustentável para o alívio da pobreza na região, diz Carr: "98% dos funcionários deste parque são moçambicanos. Este é o parque deles e eles são talentosos. Tenho orgulho neles e no facto de a nossa equipa ser muito unida. O nosso objetivo é fazer da Gorongosa um Parque Nacional magnífico."
Só o parque emprega permanentemente cerca de 350 pessoas das comunidades em redor. Além disso, há trabalhos ocasionais. Os operadores turísticos também recrutam pessoal. Ao empregar a população local, o parque está também a proteger-se: os caçadores furtivos que como Tatu têm a promessa de sustento e ainda acesso a segurança social acabam por se render.
E ninguém quer saber hoje se, num passado longínquo, combateram nas fileiras da FRELIMO ou da RENAMO.
No parque nacional muitos animais ainda estão tímidos: a guerra deixou marcas na memória
"Os duelos em defesa da honra".O último destes combates ocorreu em 1928:, numa discussão entre dois professores: Beirão da Veiga e Eugénio Dias Ferreira [avô de Manuela Ferreira Leite]
Em 7 de maio de 1954 o exército colonial francês sofreu uma derrota histórica no Vietnã. Depois de cercado por mais de cinco meses no vale de Dien Bien Phu, pelas forças dos guerrilheiros do Vietminh, (precursores dos vietcongs que depois iriam enfrentaram os norte-americanos), o alto comando militar francês decidiu render-se ao general vietnamita Vo Nguyen Giap, que iria se tornar um dos nomes mais famosos das guerras anticolonialistas e um dos maiores capitães de guerra da história do século XX.
A rendição dos colonialistas
"Foi o nascimento de um grande orgulho para o mundo em desenvolvimento. Uma pequena nação da Ásia derrotou convincentemente um poder colonial. Isto mudou a história". Anil Malhotra - Agente do Banco Mundial na Índia, sobre a batalha de Dien Bien Phu, maio de 1954.
V.N.Giap nascido em 1912
Era uma longa fila de soldados que se rendiam. Magros, enfraquecidos, debilitados pelas febres da floresta, exaustos pelas noites indormidas, com o uniforme em frangalhos, pareciam sombras do que restava do orgulho colonial francês. No dia 7 de maio de 1954, o coronel Christian de Castries, comandante da guarnição-fortaleza de Dien Bien Phu, depois de cercado pelos vietnamitas por 169 dias, depôs suas armas.
O mais doloroso para a honra nacional dos franceses é que desta vez a derrota não se dava para as poderosas e treinadas Divisões Panzer dos generais Rommel e de Guderian, como tinha acontecido em 1940. A capitulação, desta feita, deu-se frente a gente nanica que combatia com sandálias de borracha e comia arroz com as mãos. O comandante deles, o general Vo Nguyen Giap, então com 43 anos de idade, era ainda menor do que seus comandados, pouco ultrapassando o metro e meio .
Ocupando Dien Bien Phu
A bandeira do Vietminh tremula em Dien Bien Phu
A ironia foi que a determinação em travar aquela batalha decisiva no meio da selva partira do próprio comandante supremo da Indochina, o general Henri Navarre. Pressionado por Paris para dar logo um fim naquela guerra que se arrastava já há mais de sete anos, ele planejou um ousado lance de xadrez: um xeque-mate contra a guerrilha comunista. Lançou sua principal peça do tabuleiro, 17 mil homens, a maioria deles da Legião Estrangeira, tropa de elite, bem atrás das linhas inimigas.
O local escolhido foi o vale de Dien Bien Phu, uma espécie de esquina geográfica situada no Noroeste da Indochina, a 500 quilômetros de Hanói, na qual se entrecruzavam as fronteiras do Vietnã, do Laos e da China comunista, área por onde passava o apoio logístico às guerrilhas do Vietminh (Liga Revolucionária do Vietnã, controlada pelos comunista de Ho Chi Minh).
Pôs então em execução um enorme deslocamento de tropas que envolveu o apoio de saltos de pára-quedistas com o rápido entrincheiramento e fortificação do terreno. Navarre supôs que os vietnamitas, ao verem os franceses na sua retaguarda, aceitando a provocação, iram expor-se. Saíram das tocas e viriam de peito aberto atacar o inimigo.
Ai a superioridade bélica dos europeus iria se manifestar. Mas qual o que. Paciente como se fora uma raposa das selvas, o general Giap montou uma demorada operação de cerco contra os franceses. Milhares de civis – estima-se em 250 mil homens e mulheres - foram mobilizados para, por dentro das picadas da floresta fechada, a pé ou com bicicletas, trazerem em cestas ou à mão todo o equipamento de artilharia necessário a formar um laço de aço ao redor da fortaleza. educaterra.terra.com.br
Lendas havaianas falam de Kokoika, uma estrela brilhante que prenunciou um conquistador que iria derrotar seus rivais e unir a terra. Quando videntes místicos observaram o cometa Haley em 1758, parecia que a profecia estava próxima. O preocupado Rei Alapai ordenou que seu filho recém-nascido fosse morto, mas foi desobedecido. A criança foi criada secretamente e recebeu o nome de Kamehameha, que significava “Aquele Muito Solitário” ou “Aquele que Foi Separado”.
Conforme Kamehameha cresceu, consolidou seu poder, derrotando seu primo e outros rivais em guerras civis com armas ocidentais, e impedindo a aquisição definitiva do Havaí por poderes coloniais hostis. Ganhando o apelido de “Napoleão do Pacífico”, Kamehameha introduziu reformas como uma lei que protegia os direitos das crianças, idosos e dos sem-teto. O preceito ainda é usado mesmo nas modernas leis havaianas. Apesar de seus sucessores não terem sido capazes de segurar a independência das ilhas, suas contribuições culturais e sociais vivem até hoje. No entanto, quando os jovens atuais ouvem o seu nome, provavelmente só lembram de uma bola de fogo como desenho animado que leva o seu nome.
Um mulato baiano Muito alto e mulato Filho de um italiano E de uma preta hauçá
Foi aprendendo a ler Olhando mundo à volta E prestando atenção No que não estava a vista Assim nasce um comunista
Um mulato baiano Que morreu em São Paulo Baleado por homens do poder militar Nas feições que ganhou em solo americano A dita guerra fria Roma, França e Bahia
Os comunistas guardavam sonhos Os comunistas! Os comunistas!
O mulato baiano, mini e manual Do guerrilheiro urbano que foi preso por Vargas Depois por Magalhães Por fim, pelos milicos Sempre foi perseguido nas minúcias das pistas Como são os comunistas?
Não que os seus inimigos Estivessem lutando Contra as nações terror Que o comunismo urdia
Mas por vãos interesses De poder e dinheiro Quase sempre por menos Quase nunca por mais
Os comunistas guardavam sonhos Os comunistas! Os comunistas!
O baiano morreu Eu estava no exílio E mandei um recado "Eu que tinha morrido" E que ele estava vivo
Mas ninguém entendia Vida sem utopia Não entendo que exista Assim fala um comunista
Porém, a raça humana Segue trágica, sempre Indecodificável Tédio, horror, maravilha
Ó, mulato baiano Samba o reverencia Muito embora não creia Em violência e guerrilha Tédio, horror e maravilha
Calçadões encardidos Multidões apodrecem Há um abismo entre homens E homens, o horror
Quem e como fará Com que a terra se acenda? E desate seus nós Discutindo-se Clara Iemanjá, Maria, Iara Iansã, Catijaçara
O mulato baiano já não obedecia As ordens de interesse que vinham de Moscou Era luta romântica Era luz e era treva Feita de maravilha, de tédio e de horror
Os comunistas guardavam sonhos Os comunistas! os comunistas!
Sua trajetória de intelectual, sociólogo e guerrilheiro foi breve como sua vida. Em 15 de fevereiro de 1966 as montanhas Colombianas o acolheram em seu ventre. Vencemos, comemoram as forças de repressão, matamos o sacristão da guerrilha, o padre subversivo que carregava na mochila, a cruz e a bíblia, no ombro o fuzil. Para nós, o povo Latino Americano, nascia um santo, desses para o qual não se acendem velas com pedidos lamuriosos, mas se cantam musicas dançantes que enaltecem as lutas de libertação, os embates desse povo que teima em não se render às nações imperialistas e esses estranhos homens e mulheres que optam por se manter intrépidos ao lado do povo pobre, mesmo que tal opção lhes custe dois dos bens mais preciosos ao ser humano, a liberdade ou a própria vida.
Camilo Torres Restrepo
Ele que falava que a voz do povo falava mais que a sua própria, não imaginava que desde aquele dia falaria pela voz de todo o povo que luta por liberdade e transformação social, todos aqueles para quem destinou suas cartas. Estudantes, camponeses, presos políticos, trabalhadores urbanos, comunistas, cristãos, desempregados, todos o trazemos junto quando carregamos nossas bandeiras e lutamos pelo nosso sonho coletivo de paz, amor e esperança.
Camilo Torres tornou-se padre por amor aos pobres, como assim compreendia ser a missão da igreja cristã, uma igreja comprometida com a luta permanente pela melhoria da qualidade de vida do povo, servidora da humanidade, centrada no amor ao próximo. Por este amor, cristão, sobretudo, foi forçado a renunciar ao sacerdócio, continuou padre, no entanto, dedicando-se inteiramente a ação revolucionária, primeiro semeando entre a juventude universitária e o trabalho pastoral, a urgência da mudança das estruturas de seu país, a Colômbia, uma revolução econômica, social e politica, capaz de abrigar em seu seio todo o povo colombiano, distribuir a riqueza, repartir a terra, rural e urbana, e extirpar a elite de rapina aliada desde sempre ao império norte-americano, posteriormente embrenhando-se junto aos camponeses na guerrilha de fato, por acaso do destino, falta de experiência em combate, um chamado de deus, talvez, não importa, caiu no primeiro combate.
E por que justamente nesse 15 de fevereiro, evocar novamente Camilo? Seria porque, todo o 15 de fevereiro ele renasce em alguma montanha da Colômbia, da América Latina, ou onde houver povo explorado lutando contra os grilhões do imperialismo. Seria pelo seu sorriso, eternizado na foto mítica, vestido com o uniforme do Exército de Libertação Nacional e fuzil no ombro. Não, por nenhuma dessas razões, é pura e simplesmente para não nos deixar esquecer que tal como falava Camilo, na América Latina, e no Brasil, há uma causa de privilégios e concentração e uma causa de luta e liberdade, é necessário saber de que lado se está. O golpe político no Brasil, referendado pela classe média batedora de panelas, afinal não salvou o país, ao contrário levou-nos a uma frustração nacional, tal frustração pode se transformar em uma rebelião do povo, será então necessário milhares de Camilos a conduzir a revolta guiados por amor e compromisso com a unidade da classe, a estruturar o novo programa social, econômico e politico, capaz de dar resposta aos anseios do povo trabalhador. Estamos sofrendo uma série de violências, físicas por parte da polícia quando saímos para a rua nos manifestar, num claro aumento generalizado da repressão e a violenta perda de direitos adquiridos.
Camilo Torres Restrepo é desses, que se mantém intrépido ao lado do povo pobre latino americano, se mantém ao lado de nós brasileiros sem-terra, pequenos agricultores, estudantes universitários, comunistas, cristãos, desempregados, trabalhadores das fábricas, presos políticos, mulheres exploradas/violadas/violentadas etc. Morreu por seu povo, de fuzil na mão, munido de amor e sonhos de paz, pois como a bela frase que alguém um dia eternizou, não sei quem, também não vem ao caso, “só preza pela paz, quem um dia viveu a guerra”.
Durante a ditadura militar no Brasil, alguns artistas viraram colaboradores do regime – seja por simpatizarem com os governos militares ou por pura covardia – passando informações sobre o que acontecia no meio artístico e participando de atos realizados nos quarteis.
No documento em anexo produzido pelo Centro de Informações do Exército (CIE), classificado como informe interno e confidencial, o CIE reclama que alguns veículos intitulados pelos militares de “imprensa marrom” (tal qual O Pasquim) estariam fazendo campanhas contra alguns artistas amigos e colaboradores da ditadura.
O informe difundido para outros órgãos da repressão política sugere que esses artistas “amigos da ditadura” sejam blindados, protegidos.
(Vídeo) Roberto Carlos mostra sua consideração ao ditador chileno Augusto Pinochet
Compreende-se que o governo e os dirigentes do PS não queiram empolar nem explorar as palavras e as atitudes do Presidente nos últimos dias. O primeiro-ministro é suficientemente experiente para perceber e ultrapassar a desfeita que elas representam. Mas o facto de jornalistas e comentadores incensarem o Presidente revelando uma gritante incapacidade de distanciamento não impede que outros olhem para os factos com cabeça fria e análise desapaixonada.
O Presidente não é alguém que tenha surgido de fora da política para salvar o país através de afectos. É um político que durante décadas a fio dispôs, como nenhum dos seus antecessores, de uma tribuna que lhe permitiu influenciar a opinião pública e fez dele o mais eficaz spin-doctor da política portuguesa, prática que mantém através de constantes aparições e declarações públicas. Marcelo não é apenas um homem de afectos que gosta de abraçar os que sofrem. É também um político que persegue objectivos próprios e que manifestamente gosta do poder e o usa nas margens das suas competências.
No discurso de 16 de Junho, perante o País atordoado pela tragédia, o Presidente pôs em causa a continuidade do governo, coisa que não podia fazer, ao chamar o Parlamento a decidir se queria ou não que o governo continuasse. Foi um passo que nenhum Presidente ousara dar antes e que não cabe nas funções do Presidente. Que tenhamos visto, os incêndios não obstante a enorme tragédia que deles resultou, não atentaram contra o “regular funcionamento das instituições”, condição que legitimaria uma intervenção do Presidente. Não tendo os partidos que apoiam o governo levantado qualquer questão quanto à manutenção desse apoio, o discurso do Presidente só pode ser lido como uma tentativa de fazer crer aos portugueses que a “culpa” do governo nos incêndios era tão grande que a sua continuação necessitava de relegitimação.
A nova atitude do Presidente para com o Governo surge após uma vitória estrondosa do PS nas eleições autárquicas e num momento em que as sondagens davam o PS perto de poder alcançar uma maioria absoluta. A economia vai bem e a aprovação do orçamento para 2018 parece assegurada. Por outro lado, o PSD aguarda a eleição de um novo líder que necessitará de algum tempo para se afirmar no País. Inteligente e arguto, Marcelo sentiu o perigo que representaria para o papel que reserva para si próprio como Presidente, se o PS viesse a conseguir uma maioria absoluta nas próximas legislativas. Com um governo de maioria absoluta o Presidente perderia poder e influência.
As tragédias de Junho e Outubro foram, pois, a oportunidade para o Presidente fragilizar o governo. Ao ter feito saber repetidamente que tinha pressa que fossem apuradas responsabilidades (como se o governo estivesse a empatar o apuramento dos factos) induziu as pessoas a pensarem que o governo era inoperante e incompetente e que sem a sua presença e as suas palavras nada seria resolvido.
Só assim se justifica que o Presidente tenha quebrado a lealdade institucional com o governo e tenha feito tábua rasa da informação que o primeiro-ministro lhe tinha fornecido, fingindo que não sabia que a ministra Constança Urbano de Sousa ia ser demitida e que iam ser anunciadas importantes decisões quanto às populações e zonas afectadas.
O Presidente dos afectos pode ser também muito frio e calculista.~
Na primeira segunda-feira de setembro, dia 4, terminou a 31º edição do maior festival de contracultura do mundo, o Burning Man. Tudo começou em 1986, quando Larry Harvey e Jerry James queimaram um grande boneco em Baker Beach, uma praia de São Francisco, na Califórnia, para protestar a favor da liberdade de expressão.
Com o passar dos anos, eles continuaram repetindo o ritual e cada vez mais pessoas foram aderindo ao movimento, até que, em 1990, aproximadamente 500 pessoas compareceram ao local. Foi quando a polícia interviu, proibindo que o evento acontecesse e fazendo com que os organizadores fossem atrás de um novo espaço para que o Burning Man continuasse existindo.
Hoje, o evento acontece durante oito dias em Black Rock Desert, uma cidade temporária construída especialmente para o festival em Nevada, e costuma reunir cerca de 70 mil pessoas de todas as idades, raças e credos. Para participar, basta querer passar uma semana no deserto, curtindo música, arte, alegria, fantasia e todo tipo de maluquice que você puder imaginar. E estar disposto a viver durante uma semana sem dinheiro, sem leis e sem preconceitos.
Em Black Rock não existem regras. Você encontrará pessoas fantasiadas ou até mesmo nuas passeando normalmente, sendo que várias delas estarão em verdadeiros carros alegóricos e outros tipos de esculturas, que são, inclusive, uma atração à parte do Burning Man. Por isso, fizemos uma seleção com algumas das mais maravilhosas instalações que passaram pela edição de 2017, confira abaixo:
No entanto e para evitar vandalismo nas redes exteriores, que já aconteceu, o campo vai estar aberto provisoriamente todos os dias entre as 9 e as 17 horas.
Oportunamente e após o polidesportivo ser oficialmente recebido pela Câmara Municipal de Faro serão estipuladas as condições de utilização.
A Junta de Freguesia de Santa Bárbara de Nexe aproveita para saudar o nosso conterrâneo Nuno Neves ( Nuno MN) pelo seu empenho na construção deste equipamento e apelamos a todos e todas para que utilizem o campo correctamente e combatam o vandalismo.
Corais são animais cnidários da classe Anthozoa, que segregam um exosqueleto calcário ou de matéria orgânica, mas além de sua complexidade, sua beleza hipnotiza qualquer amante da natureza.
Duas mulheres de Honolulu, em Havaí, e seus dois cães acabam de ser resgatadas após uma odisseia de quase cinco meses à deriva no Oceano Pacífico. Jennifer Appel e Tasha Fuiava saíram do Taiti no dia 3 de maio, mas sofreram uma falha do motor e o mastro quebrou. Para piorar as coisas, o único smartphone caiu na água no primeiro dia. As duas mulheres foram, por sorte, avistadas por um pesqueiro com bandeira taiwanesa na terça-feira desta semana, quando estavam a 900 milhas náuticas (1.660 quilômetros) ao sudeste de Japão.
O barco alertou a guarda costeira da base de Guam, que determinou que o navio mais próximo para resgatá-las era o USS Ashland. O barco chegou às 10:30 da manhã do dia seguinte.
- "Estou muito agradecida pelo trabalho que nosso país fez por nós. Salvaram-nos a vida", explicou Jennifer em um comunicado da marinha. - "O orgulho e os sorrisos que sentimos quando vimos o barco foi de puro alívio."
Como é possível que duas mulheres e seus cães tenham sobrevivido tanto tempo sem acesso a água potável? Por sorte tinham dessalinizadores de água a bordo e comida seca para dois anos em forma de massa, arroz e aveia.
Os problemas para elas começaram no dia 30 de maio, um mês mais tarde de sua partida. Seu barco enfrentou uma tempestade e depois disso passaram cinco meses enviando sinais de socorro que ninguém parecia receber.
Sua maior preocupação eram os tubarões que rodeavam o barco constantemente.
- "Em verdade estávamos navegando pelo salão de sua casa. Rodear-nos era sua maneira de dizer-nos que saíssemos dali. Chegado um momento, decidiram usar o barco para mostrar aos mais jovens a caçar e investiam contra embarcação de noite."
VÍDEO
As duas mulheres receberam assistência médica a bordo do USS Ashland e permanecerão a bordo até que o navio chegue em terra em sua próxima parada. A marinha publicou do um vídeo em que podemos ver o momento do resgate, com as duas aventureiras e seus cães visivelmente contentes.
- "A marinha dos Estados Unidos esta sempre a disposição para assistir qualquer marinheiro de qualquer nacionalidade e seja qual for sua situação, acrescentou o comandante do Ashland, Steven Wasson.
Um aventureiro inglês recentemente conseguiu experimentar o que a maioria de nós só viu no filme de animação da Pixar "Up", de 2009: voar 8 mil pés acima do solo amarrado a balões de festa coloridos. The Adventurists, uma empresa de aventura com sede em Bristol, na Inglaterra, oferece férias incomuns para quem procura experiências extraordinárias. Os projetos anteriores incluíram, entre muitos outros, um rickshaw atravessando o Himalaia e uma corrida de moto através do maior lago congelado do planeta na Rússia.
Todas as aventuras proporcionam dinheiro para caridade, e nos últimos 12 anos eles arrecadaram mais de 5 milhões de libras. Para o seu último projeto de captação de recursos, a empresa inspirou-se no aclamado filme da Pixar, amarrando uma cadeira de praia a 100 balões e fazendo com que um aventureiro louco voasse a 8 mil pés acima do solo.
Mas antes que pudessem começar a atender os clientes, a idéia teve que ser testada. Após dois meses de planejamento, Tom Morgan, o fundador da empresa, e sua equipe primeiro voaram até Botswana para fazer o teste inicial.
- "Há muito espaço aberto. E está no meio de um continente, então, quando o vento sopra, não vamos pousar no mare morrer ", disse Morgan, em alusão ao padre baloeiro brasileiro, que morreu em abril de 2008, ao voar preso a balões de festa. No entanto, depois de uma semana de tentativas falhas, ele e sua equipe decidiram se mudar para o norte de Johanesburgo, na África do Sul.
- "O problema foi encontrar uma boa janela de tempo e era difícil proteger os balões enquanto eles continuavam estourando", disse Morgan à BBC News.
Com apenas o suficiente de hélio para uma última tentativa, a equipe passou dois dias enchendo balões. Na segunda-feira, 23 de outubro, amarrado a uma cadeira de praia sob 100 balões e cercado por suprimentos de segurança, Morgan alçou vôo. Ele se levantou lentamente no início, mas começou a acelerar muito rapidamente quando alcançou a camada de inversão da atmosfera.
"Eu tive que manter minha calma e começar gradualmente a estourar os balões", lembrou Tom. - "Foi uma sensação bastante indescritível atravessar todo este terreno em uma cadeira barata pendurada em uma grande quantidade de balões."
Morgan atingiu um máximo de 8.000 pés (2,438 m) e viajou 25 km no seu vôo de duas horas. Ele descreveu a experiência como "incrivelmente legal", e também admitiu que sentiu bastante medo quando a cadeira começou a ascender sem parar.
- "Nós não tínhamos certeza de que Tom voltaria vivo. Nós não pensamos que ele iria conseguir", disse Matthew Dickens, gerente de eventos de The Adventurists. - "Mas sim, ele chegou lá no final."
O vôo de balão bem sucedido significa que agora os clientes ávidos por uma aventura maluca poderão agora reservar vôos semelhantes na empresa. Então, se você pensa em ser um dos postulantes não vá se esquecer de dar uma boa abastecida de créditos no seu celular, como não fez o padre do balão, que em seu último contato avisou que não sabia como operar o GPS e que seus créditos estava esgotando.
O funeral de Bhumibol Adulyadej, rei de Tailândia falecido faz um ano, foi realizado ontem, quinta-feira (26/10), dando início a um longo ritual onde se encontraram mais de 200.000 pessoas nas ruas para despedir de um monarca que a junta governamental entronou um status de quase divino. O rei morreu aos 88 anos, em 13 de outubro de 2016, e desde então era conservado no palácio, onde era venerado segundo um ritual budista.
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A cerimônia que se estendeu durante todo o dia começou ao amanhecer com a chegada de um Rolls Royce, com 20 minutos de atraso, de seu filho e herdeiro, o rei Maha Vajiralongkorn, vestido com o uniforme militar de gala. Então, um grupo de monges budistas entoaram uma oração, presidida pelo novo rei.
Depois o falecido monarca foi transportado do palácio para o monumental crematório construído para a ocasião. Para incinerá-lo construíram um crematório real fabricado pelos melhores artesãos do país, que representa o monte Merú, que é o centro do universo segundo a tradição budista. Esta espetacular estrutura dourada (foto 6) tem uma altura de 50 metros e custou 90 milhões de dólares.
O presidente norte-americano Grover Cleveland (1885 – 1889) inaugurou em 28 de Outubro de 1886 a estátua do escultor francês Frédéric Auguste Bartholdi "La liberté éclairant le monde" (A Liberdade Iluminando o Mundo), ou a Estátua da Liberdade, instalada na ilha Liberdade, em Nova Iorque. A França ofereceu-a aos Estados Unidos para celebrar a amizade franco-americana durante a guerra de independência. Construída com placas de cobre moldadas, ela é dotada de uma estrutura de ferro concebida por Gustavo Eiffel, o construtor da torre Eiffel.
Em 17 de Junho de 1885 o navio francês Isère, partiu do porto de Rouen com peças e partes da estátua. A obra estava repartida por 210 caixas. O pedestal, a cargo dos norte-americanos, não estava pronto e a estátua só seria inaugurada em Outubro de 1886. Assim, o centenário da assinatura da Declaração de Independência dos Estados Unidos foi comemorado com atraso.
O historiador francês Edouard de Laboulaye foi quem primeiro propôs a ideia do presente, e o povo francês arrecadou os fundos para que, em 1875, a equipa do escultor Frederic Bartholdi começasse a trabalhar na colossal estátua. O projecto atrasou-se porque na época não era politicamente conveniente que, na França imperial, se comemorassem as virtudes da ascendente república norte-americana.
Em Julho daquele ano, Bartholdi fez uma viagem aos EUA e encontrou o local ideal para a futura estátua – a ilhota na baía de Nova Iorque. Entusiasmado, começou a estátua, que incorpora símbolos da maçonaria no seu projecto: a tocha, o livro na sua mão esquerda e o diadema de sete espigões em torno da cabeça, como também a tão evidente inspiração ligada à deusa Sophia, que compõem o monumento como um todo. Segundo os iluministas, esta deusa inspirou a sabedoria nos ideais da Revolução Francesa.
A estátua funcionou como farol de 1886 a 1902. Um acto de sabotagem dos alemães na Primeira Guerra Mundial, conhecido como a explosão Black Tom, causou um prejuízo de 100 mil dólares, danificando a saia e a tocha. Desde então não é permitida a visita à tocha.
A estátua sofreu um grande restauro na comemoração do seu centenário, foi reinaugurada em 3 de Julho de 1986, com o custo de 69,8 milhões de dólares. Realizou-se uma limpeza geral e a sua coroa, corroída pelo tempo, substituída.
A estátua mede 46,50 metros (92,99 metros contando o pedestal). Apenas o seu nariz mede 1,37 metros. O conjunto pesa um total de 24.635 toneladas, das quais 28 toneladas de cobre, 113 toneladas de aço, e 24.493 toneladas de cimento no pedestal. São 167 degraus da entrada até ao topo do pedestal. Depois são mais 168 degraus até à cabeça. Por fim, outros 54 degraus levam à tocha.
Dizem dirigentes do PS que entre o Presidente da República e o Partido Socialista não há divergências e que são os media que querem encher os tablóides e fazerem negócio. Dizem os fãs de Marcelo rebelo de Sousa à direita e à esquerda que Marcelo é um presidente simpático e inteligente.
Diz o fascista xuxa Francisco Assis que o PS continua a proteger na sua senda de pluralismo eleitoralista que vai haver nova "gerinçonça" onde o PR vai ser o novo protagonista.
Diz o próprio Marcelo que é difícil produzir um bom leite assim como como conseguir um bom governo e que na sua ideia quer que este governo chegue até ao fim da legislatura não excluindo alternativas à oposição de poder (já) arranjar soluções sobre novas formas de governação.
A oposição ao governo de António Costa todos sabemos é de direita, Marcelo é um refinado embaixador de direita com um percurso atribulado dentro do PSD que lhe causa traumas já que sempre ambicionou ser primeiro ministro.
Marcelo é o maior beijoqueiro da história da política nacional, o que de maneira simpática continua a homenagear e a medalhar os neo liberais, os fascistas, os que lhe são caros e gratos e toma estas posições sempre numa áurea de simpatia, fingimento e arte como se fosse um grande mestre do hipnotismo que conseguiu vergar o povo português.
Diz António Costa representante nº 1 do governo actual que quer a soberania total e íntegra de Espanha face às aspirações independentistas da Catalunha.
Quase se poderá dizer que todas as declarações de independência, autonomias, repúblicas, são ilegais e que se terá que pedir autorização a meia dúzia de aldrabões e fascistas quando os povos quiserem decidir de suas culturas, identidade e aspirações políticas.
Diz o PSD/CDS que se Passos Coelho ainda governasse não teria existido Pedrogão Grande.
Dizem, escrevem, a maioria esmagadora dos jornalistas, opinadores, politólogos, economistas que António Costa é hábil e inteligente mas que a direita é a solução para os males que afligem os portugueses.
Diz uma significante parte do povo português que é preciso ter calma e tudo se irá solucionar já que esta é a maneira dos governantes fazerem política e a maioria dos governados aceitarem as directrizes emanadas dos governos que nos fodem há mais de 40 anos.
Não é preciso ser um génio do ambiente nem da economia para perceber que alguma coisa não está certa. Ora, na presença de uma actividade humana que emite toneladas de dióxido de carbono para o ar (na verdade não é bem emitir, é realizar a combustão do carbono, o que o liga a dois átomos de oxigénio que já estavam na atmosfera antes dessa reacção e é curioso que a massa atómica do carbono é 12g/mole e a do oxigénio é 16g/mole o que faz com que a combustão resulte numa molécula com 44g e que, apesar de apenas emitirmos 12g de carbono para a atmosfera, conta-se o peso de toda a molécula nas contas da doutrina dominante), os governos de todo o mundo, ao serviço de interesses muito próprios e todos eles económicos, promovem uma política de redução de emissões que até aqui tem fracassado. Mas pensemos um pouco: ora se uma boa parte dos seres autotróficos, principalmente os que realizam a fotossíntese (plantas, algas, algumas bactérias) consome como alimento fundamental o CO2, guardando o carbono e devolvendo o oxigénio à atmosfera, por que raio falamos de todo o tipo de medidas menos o de travar a destruição da floresta. As emissões de CO2, mesmo num contexto de alteração do paradigma energético, não desaparecerão: toda a actividade animal as liberta e todas as combustões as liberta. Mesmo num contexto de produção hidroeléctrica para alimentar energeticamente milhões de viaturas, haveria um grande custo ambiental, não apenas sob a forma de destruição de habitats e de destruição de rios e orlas litorais inteiras. Substituindo tal energia por fotovoltaica, seriam necessários milhões de quilómetros quadrados para satisfazer uma parte do que hoje se utiliza em termos de consumo energético. O capitalismo inventa tudo: inventa sistemas de captura de CO2, mercado de licenças de emissão, carros eléctricos que não poluem mas que são alimentados por uma indústria muito poluente e que obrigam a mais barragens, mais centrais eléctricas, mais devastação de terras, principalmente para a procura de terras raras que estão na base das baterias modernas (desde que a pedreira fique num ermo e os trabalhadores sejam de um qualquer país distante e a poluição não se veja nas metrópoles, não haverá problema). Inventa tudo menos a solução mais simples: deixar a floresta viver. Deixar que a natureza converta em madeira, em folhas, em seiva, em flores, em frutos, em tubérculos, em raízes, em fitoplâncton, o carbono que nós lançamos para a atmosfera. Mas como venderiam as madeiras exóticas aos milionários? Como plantariam a soja? Como produziriam o óleo de palma? Como explorariam os recursos do subsolo? Certamente seria possível realizar as últimas três sem destruir a floresta, mas isso implicaria reduzir lucros, ou mesmo eliminá-los da equação. A floresta, se lhe permitirmos crescer, tem a capacidade de absorver todo o CO2 do mundo e de manter o CO2 atmosférico sempre em níveis equilibrados. O que não é possível é continuar a emitir e a destruir floresta ao mesmo tempo. Não é a Humanidade que é predadora. É o capitalismo.
O juiz Joaquim Neto de Moura não está num tribunal de primeira instância. Está no Tribunal da Relação do Porto. Não está na base do sistema judicial português. Participou na escolha de futuros juízes e teve a seu cargo julgamentos mediáticos. Não teve um momento infeliz. É reincidente na desculpabilização de agressores de mulheres. Não preciso de repetir o que já todos disseram: a sentença que o país, atónito, ficou a conhecer este mês, em que marido e amante recebem pena suspensa depois de agredirem uma mulher de forma bárbara (usando uma moca com pregos) porque ela era adúltera, é um convite a mais agressões a mulheres, um dos crimes mais comuns e mortais em Portugal. Isto é apenas o óbvio.
A sentença de Neto Moura, que sendo juiz perdeu o direito ao tratamento de excelentíssimo, de meritíssimo ou até de “senhor”, merece uma leitura mais severa. Ela viola os direitos humanos, o Estado de Direito democrático e a Constituição da República. Falta a este cidadão autoridade moral e cívica para continuar a julgar seja quem for.
Mas Neto de Moura não está sozinho. O Sindicato dos Juízes, sempre tão lesto a falar de processos e julgamentos, calou-se desta vez. O Conselho Superior da Magistratura avançou com um processo, mas todos ficámos com a desagradável sensação que só o ruído mediático o levou a dar esse passo. E é do Supremo Tribunal de Justiça a sentença que considerou como atenuante para um violador o facto de duas turistas terem ido “para a estrada pedir boleia a quem passava, em plena coutada do chamado ‘macho ibérico’”. O exemplo vem de cima e as coisas não mudaram muito nos últimos 28 anos.
A democracia e a integração na Europa mudou radicalmente o país nos últimos 40 anos. Mudou profundamente as escolas, as universidades, o Estado e as empresas. Mas a justiça mudou muito menos. A carreira de juiz continua a ser, em muitos casos, ambicionada por quem sonha com o prestígio do pequeno poder provinciano. A cultura da arbitrariedade e do autoritarismo domina os nossos tribunais. Basta entrar na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa para sentir o cheiro a mofo. A Justiça é o grande falhanço da nossa democracia.
Claro que há muitas exceções de excelência e inteligência. A média nem será diferente de qualquer outra atividade, onde o ótimo e o péssimo são sempre a minoria. O problema é o que o sistema promove e valoriza. É isso, e não a qualidade média dos profissionais, que determina a cultura de uma classe.
Por isso, não é tão cedo que me ouvirão dizer que confio na nossa justiça. Não, não confio. Confio mais nas nossas escolas e na nossa academia, no nosso sistema de saúde e nas nossas empresas, na nossa política e na nossa imprensa do que na nossa justiça. A Justiça não pode, e bem, ser limitada por qualquer outro poder. Os seus mecanismos de autorregulação não são mais do que mecanismos de autopreservação, bastante laxistas e corporativos, como se vê pelo percurso deste juiz. Por isso ela manteve-se protegida das enormes mudanças a que assistimos no país.
O que me assusta é ver tantos portugueses a acreditarem que a regeneração da nossa democracia pode vir do poder judicial. É o oposto: é preciso que este país que tanto mudou consiga mudar as salas dos tribunais. Até lá, a selvajaria paleolítica do juiz Neto de Moura será apenas uma caricatura grotesca do atraso cultural da nossa justiça. Ou, pelo menos, de tudo o que ela tolera.
Em 28 de Outubro de 1856 foi inaugurado o primeiro troço de via-férrea em Portugal. Com uma distância de 36 km, ligava Lisboa (Cais dos Soldados) ao Carregado. O novo meio de transporte compunha-se de duas locomotivas (a “Portugal” e a “Coimbra”) e dezasseis carruagens. O trajecto a percorrer era de 36,5 km e demorou cerca de 40 minutos. No dia seguinte, foi aberto ao público com duas viagens de ida e volta por dia: Lisboa – Carregado 8h45 e 16h / Carregado – Lisboa 7h e 14
No dia da inauguração, pelas 10:00 horas da manhã, o comboio Real, puxado pelas locomotivas Santarém e Coimbra seguia com o Rei D. Pedro V a bordo, bem como o Cardeal Patriarca de Lisboa, para abençoar a nova tecnologia. O Comboio dos convidados, com cerca de 9 carruagens, foi puxado pela locomotiva Lisboa.
Na altura, a obra foi apresentada como "grande ícone da regeneração e da política fontista de progresso nacional", mas esteve longe de colher unanimidade dos principais representantes das letras nacionais da época. "Almeida Garrett foi um dos escritores que criticou a introdução do caminho-de-ferro em Portugal, no século XIX. O autor de «Viagens na Minha Terra» considerava que o caminho-de-ferro "não era o tipo de progresso que o país precisava" e receava que o novo meio de transporte agravasse o fosso entre as grandes cidades do litoral e o interior.
Desta inauguração transcreve-se uma passagem do livro de memórias da Marquesa de Rio Maior (que à data era criança):
Vou narrar o que me lembra do solene dia da inauguração que, enfim, chegou. Minha mãe não quis ir ao banquete do Carregado. Mas foi comigo para um cerro fronteiro à estação de Alhandra ver a passagem do comboio (….).
Finalmente, avistámos ao longe um fumozinho branco, na frente de uma fita escura que lembrava uma serpente a avançar devagarinho. Era o comboio? Quando se aproximou, vimos que trazia menos carruagens do que supúnhamos. O comboio parou por um momento na estação, de onde se ergueram girândolas estrondosas de foguetes (...).
(...) Só no dia seguinte ouvimos o meu pai contar as várias peripécias dessa jornada de inauguração. A máquina (...) não tinha força para puxar todas as carruagens que lhe atrelaram; e fora-as largando pelo caminho. Creio que se o Carregado fosse mais longe e a manter-se uma tal proporção, chegava lá a máquina sozinha ou parte dela. (...)
(...) Meu pai passou para a carruagem real, na qual chegou ao Carregado, onde assistiu aos festejos e comeu lautamente, porque o banquete era farto ".