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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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08
Nov17

NOTA DO GABINETE DE IMPRENSA DO PCP Sardinha: Pela sustentabilidade dos recursos e sustentabilidade dos pescadores

António Garrochinho

Sardinha: Pela sustentabilidade dos recursos e sustentabilidade dos pescadores



Numa situação que já se vem tornando recorrente de ano para ano, com a multiplicação de anúncios catastrofistas sobre a sustentabilidade da pesca da sardinha e os limites a impor a esta actividade, o País voltou a ser confrontado com variadas notícias e decisões, sobre as quais o PCP considera que:
1- O alarme lançado no sector piscatório e na opinião pública sobre uma quota Zero para a pesca da sardinha em 2018, que surgiu através de parecer do ICES - International Council for the Exploration of the Sea, foi, ao que tudo indica, uma manobra negocial da Comissão Europeia destinada a consolidar novas restrições na pesca ibérica de sardinha. O PCP lamenta o facto de, em vez de se distanciar desta manobra, o Governo português tenha, uma vez mais, sem qualquer reflexão séria sobre o problema, nomeadamente com as associações profissionais do sector, avançado com medidas, no mínimo, desajustadas, designadamente o anúncio precipitado da criação de zonas de interdição de pescas, de que entretanto já desistiu.
O PCP sublinha que nada justifica, a partir do conjunto de dados disponibilizados pelo próprio ICES relativamente a 2017, uma posição que sustente tal alarme e precipitação. Bem pelo contrário, quer a informação sobre a biomassa disponível (com um ou mais anos de idade), quer a quantidade de sardinha por grupos de idade, quer a mortalidade por pesca, evidenciam um evolução positiva, e melhorias significativas da situação stock de sardinha nas águas ibéricas. A biomassa com um ou mais anos aumentou 31,6% entre 2015 e 2017, reflectindo a enorme contenção de pesca concretizada a partir de Setembro de 2014. Estes dados, sobre a abundância de sardinha (e biqueirão), são aliás inteiramente confirmados pelas muitas declarações de mestres e pescadores ao longo dos últimos meses, bem como, pela informação recolhida pelo navio de investigação “Noruega” no mês de Agosto a norte do Cabo Carvoeiro.
2. O PCP, ciente da necessidade de assegurar a sustentabilidade dos recursos, a par da sustentabilidade do sector das pescas portuguesas, no caso presente do subsector da pesca de cerco, exige do Governo português, uma abordagem séria e fundamentada do problema. Sustentabilidade que só pode significar resposta conforme os interesses nacionais e em diálogo permanente com os principais interessados, pescadores, armadores e indústria conserveira, assegurando a sua sobrevivência social e económica. Nomeadamente:
- Uma posição firme junto da União Europeia, assegurando que o esforço de pesca da sardinha em 2018, está conforme com o que todos os dados e informações científicas e empíricas admitem, partindo assim, de uma base de 23.000 toneladas, valor consentâneo com o objectivo defendido pelo Governo, de uma recuperação da biomassa (2018/2030) de um mínimo de 5% ao ano;
- Que todas as medidas tomadas ou a tomar de limitações à pesca e consequente redução dos dias de trabalho dos pescadores e das receitas dos armadores por menor produção, devam ser adequadamente compensadas, e sem prejudicar direitos perante a Segurança Social. Entre outras matérias, o PCP entende ser necessário alargar para dois meses em cada ano o apoio público suportado por fundos comunitários a cessações temporárias de actividade e, complementarmente, outros dias de imobilização com o recurso ao Fundo de Compensação Salarial;
- O Governo deve tomar todas as medidas necessárias para reforçar a capacidade de investigação do Estado Português e assim sustentar, a partir da fiabilidade e confiabilidade do conhecimento nacional, as posições portuguesas: ampliando a investigação nacional específica dirigida aos recursos, dotando o IPMA de todos os meios e recursos humanos necessários; investindo sem mais demoras os recursos necessários para operacionalizar o navio comprado à Noruega – Mar Portugal – uma vergonhosa herança do Governo PSD/CDS e ex-Ministra Assunção Cristas, e que o Governo minoritário do PS manteve parado; articulando e confrontando, de forma permanente e institucionalizada, o conhecimento do IPMA com a informação recolhida pelo sector; e, mesmo considerando, que a limitação do esforço de pesca é um importante instrumento de gestão, é necessário alargar a investigação sobre a sustentabilidade dos recursos a outros factores e dimensões que não a pesca (multiplicação de predadores, presença de espécies concorrentes, alterações climáticas, etc); a procura de outras possíveis e correspondentes respostas ao problema da sustentabilidade;
- Impõe-se ainda que o Governo despolete junto da UE, com a participação de todas as estruturas públicas e privadas do sector, o processo de reavaliação e possível alteração do modelo que hoje suporta a definição do esforço de pesca anual da sardinha, cujas referências se encontram ultrapassadas e desajustadas da actual realidade dos recursos e pesca (como é o caso de se continuar a perseguir uma existência virtual de 370.000 toneladas de biomassa do recurso sardinha, que segundo o modelo em vigor asseguraria capturas anuais da ordem das 86.000 toneladas!).
Empenhado na defesa da produção nacional, designadamente do sector das pescas cujas imposições da União Europeia são a mais séria ameaça ao seu futuro, o PCP irá intervir nos próximos meses quer no plano da Assembleia da República, quer do Parlamento Europeu, visando a defesa deste sector, em coerência com as ideias acima referidas, que é, aliás, inseparável da garantia da sustentabilidade dos recursos no presente e para o futuro.



www.pcp.pt
08
Nov17

FEZ O "MANGUITO" A TRUMP E FOI DESPEDIDA

António Garrochinho

No passado dia 28 de outubro, Donald Trump saía do golfe. A caravana do presidente norte-americano vinha do Clube Nacional de Golfe Trump, nas margens do rio Potomac, perto de Washington DC, a capital dos Estados Unidos.
Pelo caminho, passou por Juli Briskman, que ia de bicicleta na mesma estrada. Tudo isto seria banal, não fosse o gesto de Briskman à passagem do presidente: levantou-lhe o dedo do meio, que é como quem diz, fez um gesto de conotação pouco simpática.

A imagem invadiu a imprensa e cedo se tornou num símbolo do descontentamento com a presidência de Donald Trump, eleito há um ano. Foi mesmo a Casa Branca quem explicou o sucedido: “A caravana do Presidente saiu do Trump National Golf Club às 15:12, passando por dois peões, um do quais fez um sinal de desaprovação. Depois, ultrapassou uma mulher ciclista, que usava uma camisola branca e um capacete, que respondeu mostrando o dedo do meio”, pode ler-se na nota dada pela residência oficial do presidente.

“A caravana teve de abrandar e a ciclista aproximou-se, ainda a mostrar o dedo, antes de seguir outra direção”, acrescenta o relatório, citado pelo ‘Guardian’.

O gesto, capturado pelo fotógrafo da AFP na Casa Branca Brendan Smialowski, que estava a acompanhar a caravana do presidente norte-americano, rapidamente se tornou viral. E agora custou o emprego desta mãe solteira.
Briskman mora nos arredores do campo de golfe de Donald Trump e havia saído para andar de bicicleta no sábado quando a caravana começou a passar.

Smialowski, veterano nas caravanas da Casa Branca, disse que está sempre com a câmara pronta a disparar.

"Nunca sabes o que vais ver. Nunca sabes o que vai acontecer", conta o jornalista. Gestos vindos de espetadores, como polegares para cima ou dedos do meio, são comuns.
Neste caso, diz o fotojornalista, Briskman "parecia saber exatamente quem estava dentro daqueles veículos".

"O que tornou esta ciclista única foi a sua tenacidade. Quando a caravana a ultrapassou, ela conseguiu recuperar e mostrar os seus sentimentos novamente", explica Smialowski.

A foto apenas mostra Briskman de costas, sem identificação, com o braço para cima e o dedo do meio levantado.
Logo as redes sociais apoiaram a causa de Juli, sem saberem, todavia, quem era a ciclista anónima. Houve quem lhe chamasse heroína, houve quem apelasse a uma candidatura presidencial da mulher da camisola branca.
Agora, porém, a história conhece um novo rumo. Consciente da mediatização que o gesto ganhou, Juli Briskman, uma mulher de 50 anos, com dois filhos, decidiu contar a história à empresa para que trabalhava - A Akima, uma companhia que colabora com o governo norte-americano.

No dia a seguir estava a ser despedida.

Os patrões explicaram-lhe que ao usar a imagem como foto de perfil no Twitter e no Facebook, Briskman estava a violar as regras da empresa para as redes sociais. “Basicamente, não podes ter conteúdos ‘sexuais’ ou ‘obscenos’ nas tuas redes sociais. Ou seja, eles estavam a dizer que mostrar o dedo [a Trump] é ‘obsceno’”, disse Briskman ao Huffington Post.

Na mesma entrevista, a mulher conta que explicou aos patrões, para quem trabalhava há pouco mais de seis meses, que o incidente ocorreu fora do horário de trabalho e que nada nas suas contas das redes sociais refere a empresa. Todavia, os executivos da Akima ter-lhe-ão explicado que como uma empresa contratada pelo governo, a imagem pode afetar o negócio.
No estado da Virginia, a legislação permite que os empregadores despeçam a qualquer altura e por qualquer razão.

Contudo, Juli Briskman lembra uma outra história, que diz ser semelhante na forma, mas diferente no resultado. É que no passado, conta, um colega, homem, pôde manter o emprego depois de fazer comentários grosseiros na página pessoal do Facebook, onde figura, na foto de destaque, o nome da empresa.

Briskman, que trabalhava no marketing e comunicações da empresa, explica que o homem levou uma reprimenda, mas pôde manter o emprego depois de apagar os comentários.
Agora, quer encontrar um trabalho numa causa com que se identifique, como as de planeamento familiar ou de proteção dos animais, diz a mulher, uma Democrata (Donald Trump foi eleito com o apoio do Partido Republicano, o Partido Democrata é a principal oposição).

Entretanto, os amigos de Briskman criaram uma campanha na página de angariação de fundos GoFundMe, para ajudá-la a recolher dinheiro enquanto procura um novo emprego.
Todavia, não se arrepende do que fez. Pode ter perdido o emprego, mas alegra-se por ter criado um símbolo para o protesto contra Trump. 

“Estou chateada com o estado do nosso país. Isto foi uma oportunidade de dizer alguma coisa”. E disse.



24.sapo.pt
08
Nov17

AVES DO PARAÍSO - UM VÍDEO ENCANTADOR

António Garrochinho
Neste outono, o Cornell Lab of Ornithology e National Geographic estão trazendo o Projeto Birds-of-Paradise para o público. Veja agora um avanço e testemunhe diversas estratégias de evolução no trabalho e experimente uma das maravilhas extraordinárias da natureza - de perto.

VÍDEO
08
Nov17

08 de Novembro de 1793:É inaugurado o Museu do Louvre em Paris

António Garrochinho



Depois de mais de dois séculos como palácio real e sede do poder monárquico, o Louvre é aberto em 8 de Novembro de 1793 como museu público pelo governo revolucionário francês.


Hoje, o acervo do Louvre é um dos mais ricos e diversificados do mundo, com obras de arte – fundamentalmente pinturas e esculturas – e objectos representativos de 11 mil anos de civilização e cultura da humanidade.

O palácio do Louvre começou com o rei Francisco I em 1546 no local onde antes existiu uma fortaleza do século XII construída pelo rei Filipe II. Francisco era um grande coleccionador de arte e o Louvre servia como sua residência real. Os trabalhos de remodelação do palácio, supervisionados pelo arquitecto Pierre Lescot, continuaram após a morte de Francisco e prosseguiram nos reinados de Henrique II e Carlos IX.


Quase todos os monarcas que se seguiram ampliaram o Louvre e os terrenos em volta, porém as maiores ampliações ocorreram sob o reinado de Luis XIII e Luis XIV no século XVII. Ambos os reis expandiram enormemente os bens artísticos da coroa, chegando Luis XIV a adquirir toda a colecção de arte do rei Carlos I de Inglaterra após a sua execução na Guerra Civil inglesa. Em 1682, Luis XIV mudou a corte para Versalhes e o Louvre deixou de ser a principal sede e residência da monarquia.


Envolvidos pelo espírito do Iluminismo, muitos na França começaram a conclamar pela exibição pública das colecções reais. Denis Diderot, grande escritor e filósofo francês e inspirador da Enciclopédia, estava entre os primeiros a propor a criação de um museu nacional de arte aberto ao grande público.


Embora o rei Luis XV tenha exibido temporariamente uma selecção de pinturas do seu acervo no Palácio de Luxemburgo em 1750, somente com a eclosão da Revolução Francesa é que foram alcançados efectivos progressos na instalação de um museu permanente. No dia 8 de Novembro de 1793, o governo revolucionário abriu o Museu Central de Artes na Grande Galeria do Louvre.


O acervo do Louvre cresceu rapidamente. O exército francês pilhou peças arqueológicas e artísticas dos territórios e nações conquistadas nas guerras do período revolucionário e principalmente nas Guerras Napoleónicas. Muitos desses objectos de arte saqueados retornaram às suas origens depois da derrota de Napoleão em 1815, porém muito das colecções de antiguidades da secção do Egipto e de outros departamentos deve às conquistas de Napoleão.


Duas novas alas foram acrescentadas ao edifício central no século XIX e o complexo de vários edifícios do Louvre foi completado em 1857, durante o reinado de Napoleão III.



Nos anos 1980 e 1990, o Grande Louvre como o museu é oficialmente conhecido, passou por uma grande remodelação. Inúmeros serviços públicos modernos foram acrescentados e milhares de metros quadrados de espaço para exibição foram abertos.


O arquitecto chinês I. M. Pei construiu uma imensa pirâmide de aço e vidro no centro do pátio de Napoleão, fronteiriço ao museu e que se abre também ao interior. Tradicionalistas invectivaram-na como um ultraje e ofensa às melhores tradições. Em 1993, por ocasião do 200º aniversário do museu, uma ala reconstruída, antigamente pertencente ao Ministério das Finanças, foi aberta ao público. Pela primeira vez, todo o complexo do Louvre era destinado aos objetivos artísticos e culturais do Grande Museu do Louvre.

Fontes: Opera Mundi
wikipedia (Imagens)
File:Paris moderne. Les Tuileries, le Louvre, et la rue de Rivoli, vue prise du Jardin des Tuileries.jpg

As Tulherias, o Louvre e a rua Rivoli - Charles Fichot
File:Hubert Robert, Une galerie du Musée.jpg
Uma galeria do Museu - Hubert Robert

Museu  do Louvre - Hubert Robert (1796)Fichier:Hubert Robert - Projet d'aménagement de la Grande Galerie du Louvre (1796).JPG



08
Nov17

Costureiras - a pintura de Marques de Oliveira

António Garrochinho
Interior – Costureiras trabalhando, 1884Beleza e verdade aproximam-se nesta cena de costumes de Marques de Oliveira que Soares dos Reis comentou elogiosamente, garantindo ao amigo que nada havia de comparável a este trabalho, no conjunto que apresentara em 1884.

Pode ser enganadora relativamente ao interesse do artista pela pintura de ar livre, mas a composição e o enquadramento escolhidos revelam esse interesse, de forma subtil. A pintura resolve-se na articulação entre interior e exterior e obriga o espectador a vaguear entre o compartimento doméstico e a paisagem situada para lá da janela aberta.
A pintura dentro da pintura – paisagens na parede da esquerda – não é acto gratuito face à importância que o género adquire no final do séc. XIX e ao carácter manuseável e coleccionável destes quadros, prontos a emoldurar para decorar interiores burgueses.
O elemento mais relevante da obra, para lá do carácter documental do trabalho das costureiras e do ambiente, reside no abandono da encenação prévia e na ausência da pose, opções que revelam a preferência pelo registo do e no momento. A vida quotidiana invade a pintura e as personagens, captadas na sua vivência rotineira, voltam costas ao espectador e abstraem-se do pintor que as representa.
Há nesta pintura um jogo de olhares: o olhar perto que as personagens encarnam dirigido aos afazeres que têm em mãos; o olhar longe que o pintor ensaia dirigido ao espaço exterior; o olhar vagabundo do espectador, arrastado para a experiência das distâncias. Neste jogo, a que a pintura se resumiria, há um último olhar que, partindo da personagem ao centro, vem ao encontro do nosso. A consciência de que há um espaço interno da pintura e do modelo convencional que é o quadro, e um espaço para cá da pintura, ocupado pelo artista e pelo espectador, é um sinal de modernidade inegável.
Marques de Oliveira, natural do Porto, inscreve-se na Academia de Belas-Artes da cidade, no ano de 1864. Em 1873 obtém uma bolsa para pensionista do Estado no estrangeiro e parte para Paris, ao lado de Silva Porto. Estuda com Alexandre Cabanel e Yvon. Viaja pela Holanda, Bélgica e Itália, e é premiado em diversas exposições.  A obra “Céfalo e Prócris”, também pertencente ao Museu, foi a sua prova final deste período. Regressa a Portugal em 1879 e, no ano seguinte, é um dos dirigentes do Centro Artístico Portuense, presidido por Soares dos Reis. Em 1881 lecciona Desenho Histórico na Escola de Belas-Artes do Porto, de que virá a ser director, cargo que abandona em 1913 para dirigir o Museu Soares dos Reis.
Depois de em França e em Itália ter descoberto a pintura ao ar livre, em Portugal haveria de registar as paisagens de Matosinhos, Aguda e Póvoa de Varzim, entre praias de pescadores e praias de banhos, sendo autor de algumas das marinhas mais aclamadas do naturalismo em Portugal, de que ficou como introdutor, com Silva Porto. Dedicou-se ainda à pintura decorativa (Palácio da Bolsa, Porto), religiosa (Igrejas dos Congregados e de São Lourenço, Porto), e à ilustração.
Ficha técnica:
João MARQUES da Silva OLIVEIRA (1853-1927)
Interior – Costureiras trabalhando, 1884
Óleo sobre tela
79,2 x 101,6 cm
Nº Inv. 79 Pin CMP/MNSR
www.porto24.pt

08
Nov17

Última vítima da pena de morte em Portugal foi fuzilada há 100 anos

António Garrochinho



Desertor português foi fuzilado

O soldado português João Augusto Ferreira de Almeida foi fuzilado pelas forças portuguesas após ter sido acusado de traição por ter tentado fugir do campo de batalha, passando para terra de ninguém, para procurar um elemento das tropas inimigas alemãs.
João procurava encontrar-se com um alemão que teria sido seu antigo patrão, com quem tinha boas relações. O desertor ainda procurou comprar o silêncio dos camaradas portugueses para passar para campos inimigos, mas acabou por ser denunciado e posteriormente capturado pelos seus superiores. Alguns relatos no local sugerem que quem motivou a condenação por fuzilamento não foram tanto os portugueses mas sim os britânicos que quiseram usar o soldado português para dar o exemplo às tropas britânicas e francesas no local.

Última vítima da pena de morte em Portugal foi fuzilada há 100 anos


Assinalam-se este domingo 95 anos sobre a execução de João Augusto Ferreira de Almeida, o último português condenado à morte por um tribunal português. Era do Porto e combateu na Primeira Guerra Mundial.
João Augusto Ferreira de Almeida tinha 23 anos e falava de mais. Natural da Foz do Douro, onde nascera a 3 de Abril de 1894, na Rua Alto de Vila, desembarcou em Brest, França, a 21 de Março de 1917, mobilizado como soldado chofer para o Corpo Expedicionário Português (CEP) que combateria na Primeira Guerra Mundial ao lado dos ingleses.
No final de Julho, incorrera já numa pena correccional de 60 dias e fora compulsivamente integrado no batalhão de infantaria n.º 23 para a cumprir. Quase 7 semanas na linha da frente, junto às trincheiras, os alemães a escassos metros. Manifestamente descontente, não tencionava cumprir o castigo até ao fim. E não cumpriria.
A decisão de se passar para o inimigo e de tentar encontrar o alemão Höfle, para quem trabalhara em Portugal, ia custar-lhe a vida. Embora abolida para todos os crimes, a 16 de Março de 1911, a participação de Portugal na Grande Guerra faria com que a pena de morte se reinstalasse pelo decreto n.º 2867, de 30 de Novembro de 1916, limitada em caso de guerra com “país estrangeiro e apenas no teatro de guerra”.
Segundo testemunhas ouvidas pelo tenente Artur Barros Basto, em processo de averiguações, Ferreira de Almeida contara os seus planos a vários soldados, no decurso do dia 29 de Julho.
Cerca das 11h, Francisco Alves Carneiro, 25 anos, de Álvares, Góis, estava de serviço ao posto de gás, junto ao cruzamento da trincheira de comunicação com a segunda linha, no sector de Neuve-Chapelle, não muito longe da fronteira com a Bélgica. Terá sido este soldado o primeiro a ouvir Ferreira de Almeida dizer que tencionava desertar. Aos 2 militares juntaram-se, entretanto, Adelino Alves, 23 anos, de Pomares, Arganil, e António Rei, de Vale de Pedra, Soure, todos da Infantaria 23.
Durante a conversa, com os 3 homens, Ferreira de Almeida queixou-se da pena de 60 dias e contou que só não desertara para junto dos alemães por ainda não conhecer o caminho até eles. Armando com uma pistola savage, que mostrou, abriu e exibiu os mapas que lhe viriam a ser apreendidos. E apontou-lhes a localização de pontos estratégicos: o quartel-general, depósitos de munições, de gasolina, batalhões de infantaria, fortes de artilharia.
De acordo com o relato dos 3 soldados, Ferreira de Almeida oferecera já entre 60 a 100 francos a um soldado de outra unidade para o levar até às linhas inimigas. Os testemunhos quanto ao valor exacto variam, mas, embora se tratasse de uma verba considerável para quem cumpria o serviço militar – uma galinha adquirida aos camponeses franceses para fugir à ração de combate atingia os seis francos –, o outro recusara.
António Rei, o homem que preocupado com as consequências da entrega dos mapas aos alemães denunciaria Ferreira de Almeida, tentou demovê-lo. “Mas vossemecê imagina que lá o tratam tão bem, como aqui?” “Você é doido, tomara-me eu lá que é bem melhor que aqui… e mesmo é para dar cabo desta merda que está aqui para a retaguarda”, lê-se nos autos.
www.porto24.pt




João Augusto Ferreira de Almeida

O Fuzilado Português


«Cerca das sete horas e quarenta e cinco minutos da manhã de 16 de Setembro de 1917 era executado, em Pincantin, próximo de Laventie, o soldado chaufeur João Augusto Ferreira de Almeida.

O acto efectivou-se perante a tropa reunida e na presença do promotor de justiça do Tribunal de Guerra junto do Quartel-General do CEP. Cumpria-se sentença do mesmo Tribunal e foram praticadas todas as formalidades regulamentares, como reza o termo do respectivo processo crime.

Tudo começara menos de cinquenta dias antes, a 30 de Julho de 1917, quando o capitão Mousinho de Albuquerque mandou apresentar o soldado António Rei no Batalhão de Infantaria 23 por este ter prestado declarações de excepcional gravidade contra o soldado Ferreira de Almeida.


Organizado de imediato o processo, foram ouvidas, para sua elaboração, nove testemunhas (sete soldados e dois sargentos). De uma forma geral todas confirmaram que durante o dia 29 de Julho, o soldado chauferJoão Ferreira de Almeida procurou saber o caminho para os alemães, declarando que já oferecera dinheiro a um soldado para que lhe fornecesse essa informação; mostrou ter intenção de indicar aos alemães, depois de desertar, os locais das tropas portuguesas através de dois mapas que possuía; insistiu em declarar que não acabaria o cumprimento da pena de sessenta dias de prisão a que fora condenado, pois antes disso passaria para os alemães.

Assim pôde o processo ser enviado em 7 de Agosto ao Juiz auditor a fim de que este emitisse parecer nos termos do artigo 337º do Código do Processo Criminal Militar. Foi o que este fez, concluindo que o arguido tentara passar para o inimigo, achando-se por isso incurso na caução do nº1 do artigo 54º do Código da Justiça Militar e a quem, pelo artigo 1º do Decreto de 30 de Novembro de 1916, cabia a pena de morte. Por isso, parecia ao Juiz auditor que o arguido poderia ser julgado sumariamente como dispunha o artigo 337º do Código do Processo Criminal em vigor.

Com base nos elementos apurados pôde então o comandante do Corpo Expedicionário Português, general Fernando Tamagnini de Abreu e Silva, determinar que o soldado em causa respondesse perante o Tribunal de Guerra a fim de ali lhe ser feita a respectiva aplicação da lei. Para tal atendia a que João Augusto Ferreira de Almeida, soldadochaufer nº502, cometera os seguintes factos criminosos:

1º - Tentara passar para o inimigo, para o que perguntara a várias praças o caminho a seguir, chegando até a oferecer dinheiro com o fim de obter essa informação.

2º - Quereria indicar ao inimigo os locais ocupados pelas tropas portuguesas, constando em duas cartas itinerárias de que a praça era portadora.


Ultimadas as diligências necessárias, o presidente do Tribunal de Guerra, coronel de Infantaria, António Luís Serrão de Carvalho marcou para 15 de Agosto o julgamento em conselho de guerra. Reunido o Tribunal em Roquetoire, verificou-se ser constituído para além do seu presidente, pelo Juiz auditor, Dr. Joaquim de Aguiar Pimenta Carreira, pelo júri, constituído por cinco oficiais - major Joaquim Freire Ruas, capitães Adriano Augusto Pires e David José Gonçalves Magno e Alferes Joaquim António Bernardino e Arnaldo Armindo Martins - e ainda pelo promotor, capitão Herculano Jorge Ferreira, e pelo secretário, tenente José Rosário Ferreira. Feita a chamada dos jurados e das testemunhas, lidas as principais peças do processo, identificado o réu e feitos os interrogatórios e alegações, o Juiz auditor ditou os seguintes quesitos:

1º - O facto de o arguido em 29 de Julho, encontrando-se na primeira linha, tentar passar para o inimigo perguntando a várias praças o caminho oferecendo a uma dinheiro para que lhe prestasse essa informação;

2º - O facto de o arguido querer indicar ao inimigo os locais ocupados pelas tropas portuguesas, constantes de duas cartas itinerárias de que era portador;

3º - O mau comportamento do réu;

4º - O crime ser cometido em tempo de guerra;

5º - O réu ter cometido o crime com premeditação;

6º - O crime ter sido cometido, tendo o agente a obrigação especial de o não cometer;

7º - O estar ou não provado o imperfeito conhecimento do mal do crime.


Foi sobre tais quesitos que o júri se pronunciou.

Assim, o 2º quesito não foi provado por unanimidade; o 3º e o 4º foram provados, também por unanimidade; o 7º não foi provado por maioria e os restantes (1º, 5º e 6º) provados por maioria. Nos quesitos 1º ( que viria a decidir a condenação), 5º, 6º e 7º o alferes Arnaldo Armindo Martins votou vencido. Foi portanto face aos autos que o promotor de justiça acusou o réu de, no dia 29 de Julho, tentar passar para o inimigo e de querer indicar ao mesmo os locais ocupados pelas tropas portuguesas constantes de duas cartas itinerárias, de que era portador, cometendo assim o crime de traição. Mas, discutida a causa e postos os quesitos ao júri, este declarou por maioria, somente o primeiro facto praticado pelo réu. Contudo, este se achou "incurso na sanção do artigo 54º, nº1, do Código de Justiça Militar que diz: "Será condenado á morte com exautoração o militar que passar para o inimigo". E tendo considerado provadas as circunstâncias agravantes, o promotor de justiça conclui: "Julgo, pois, procedente e provada a acusação e nos termos do artigo 1º do decreto de 30 de Novembro de 1916 condeno o réu á morte com exautoração".»

Ainda existiu um Recurso mas este não teve êxito, tendo-se cumprido a sentença a 16 de Setembro.





Fonte: Portugal Grande Guerra, Aniceto Afonso, Carlos de Matos Gomes - Marília Guerreiro


historia-dos-tempos.blogspot.pt

08
Nov17

O CARRO DE HITLER - UMA HISTÓRIA DA VOLKSWAGEN - 1/2/3/ PARTES O KDF-WAGEN

António Garrochinho







Kraft durch Freude , que pode ser traduzido como "Força pela Alegria",  a organização para os tempos livres da DAF - Deutsche Arbeitsfront, a Frente Alemã do Trabalho, a grande organização corporativa do regime nazi, foi quem mandou construir a fábrica de Wolfsburg, onde foi produzido o "carro do povo". 
Anúncio ao KDF-Wagen mostrando 
caderneta de poupança
Tudo começou em 1934 quando Hitler encomendou ao engenheiro austríaco Ferdinand Porsche o desenvolvimento de um pequeno automóvel "para o povo". 
Porsche tinha sido director técnico da Daimler-Benz, mas no começo dos anos 30 tinha-se estabelecido por conta própria como designerde automóveis desportivos e de competição, em Stutgart, no sul da Alemanha. Um dos seus projectos era o de desenvolver um carro pequeno que fosse, ao mesmo tempo, barato e económico; um «carro popular», que em alemão se dizia Volkswagen. O primeiro estudo foi realizado em 1931 para a Zundapp, e o protótipo, com o nome de tipo 12, foi produzido no ano seguinte, mas abandonado. Em 1932, o projecto foi reaproveitado a pedido da NSU, mas também acabou por ser abandonado. Em 1933, Hitler abordou Porsche, que conhecia desde 1924, sobre a realização de um carro popular e pediu-lhe a apresentação de projectos. Porsche, entre outros, apresentou um projecto com base numa plataforma com suspensão dianteira e traseira com barras de torção, com um motor de  4 cilindros arrefecido a ar, por meio de uma turbina movimentada pela árvore do dínamo. A carroçaria baseava-se nos carros de corrida Bentz e no Tropfenwagen de Rumpler, um carro em forma de gota de água. Foi este projecto que Hitler apoiou em 1934, e que foi formalmente contratado com a Reichverband der Automobilindustrie (RDA), a associação industrial da indústria automóvel.
O carro que foi encomendado tinha que ter como características, um motor traseiro de 986 cc,  de 26 cavalos, uma velocidade máxima de 100 km/hora, não pesar mais de 650 kg, ser refrigerado a ar, e consumir 7 litros aos cem quilómetros. Imitando a solução encontrada pela Ford, com o seu modelo T,  o Volkswagen, também só seria fabricado numa única cor - um azul escuro acinzentado, quase preto. Os primeiros protótipos foram terminados em fins de 1935, sendo baptizados com o código VW1 e VW2. Os primeiros ensaios em estrada foram realizados de Outubro a Dezembro de 1936, com base em três protótipos, e depois de estes serem analisados por uma comissão de admissão à produção, composta por representantes de todos os construtores de automóveis alemães, o projecto foi aceite.
Em 1937 e 1938 foram fabricados à mão,  pela Mercedes-Benz, por ordem expressa de Hitler, duas séries de protótipos, conhecidos pelo nome de VW38. Uma primeira série de 30 e posteriormente uma nova série de 60, que realizam ensaios de avaliação em grande escala.
Foi em 1938 que se decidiu construir uma fábrica para produção dos Volkswagen. O local escolhido foi a propriedade do conde von Schulenburg, o castelo de Wolfsburg, em Fallersleben na Baixa-Saxónia, a 80 km da cidade de Hanovre. A empresa que iria produzir o novo carro foi registada, em 28 de Maio de 1938, com o nome Gesellschaft zur Vorbereitung des Volkswagens (GEZUVOR) - Companhia para o desenvolvimento do Volkswagen, que foi mudado para Volkswagenwerk GmbH em Outubro seguinte.

O protótipo de 1934
Inauguração da fábrica em 1938

O Kommandeurwagen
O Kubelwagen
O Schwimmwagen
A fábrica foi lançada por Hitler em 26 de Maio de 1938, sendo aí apresentados os protótipos definitivos, de pré-produção, um dos quais, como se vê na fotografia, era descapotável e outro com um amplo tecto de abrir. O New York Times de 3 de Julho descrevia-o ironicamente dando-lhe o nome de «Beetle» - Carocha. A sua apresentação ao grande público deu-se no Salão Automóvel de Berlim de 1939, com o nome de Kdf Wagen - o Carro Força pela Alegria ! Ao mesmo tempo que se construía a fábrica criava-se uma cidade que teve o nome provisório de Stadt des KdF-Wagens - Cidade do carro Força pela Alegria.
O preço estabelecido foi de 990 Reich Mark's, mais 200 marcos para o pagamento dos seguros, num total de quase 1.200 marcos, divididos em pagamentos semanais de 5 marcos. O contrato previa a possibilidade de rescisão, mas a empresa seria indemnizada com 20% do capital pago, não se obrigando a um prazo de entrega, mesmo que o carro já tivesse sido pago.
Em finais de 1938 havia 150.000 contratos realizados, que chegaram, em Novembro de 1940, aos 300.000, mas nenhum "Volkswagen" foi entregue a particulares.  Entre Maio de 1938 e Setembro de 1939 foram fabricados, à mão, 215 exemplares, sendo que o primeiro destinado à venda saiu da fábrica em 15 de Agosto de 1939. Estes exemplares foram todos entregues a dignitários nazis. A produção em série só começou em Julho de 1941, sendo produzidos ao todo 41 modelos, devido a que a produção se centrava na produção dos modelos militares. Quando em Agosto de 1944 a fábrica foi integrada na indústria de armamento alemã, sobretudo para produzir os foguetes V1, e a produção dos KdF-Wagen foi terminada, tinham sido produzidos, ao todo, 630 exemplares.
O primeiro modelo militar, construído na fábrica  da Kdf, foi um carro para oficiais, com tracção às quatro rodas e um chassis mais elevado, que teve o nome de Kommandeurwagen, e de que foram construídos 667 exemplares. O modelo tinha boas qualidades em todo-o-terreno, mas a sua prestação em estrada era má, por falta de tracção. Foi o carro que voltou a ser fabricado em 1946, quando a fábrica, destruída durante a guerra, começou a produzir novamente.
Kubelwagen, o modelo seguinte teve muito mais sucesso, tendo sido produzidos  50.788 exemplares. Foi, de facto, o Jeep alemão, nem que seja pelo facto de a carroçaria ser fabricada por uma companhia americana, a Ambi-Budd de Berlim. Devido a ter o motor arrefecido por ar, podia ser usado em qualquer região do mundo, tanto no Árctico como no Norte de África. Em 1944 o motor de 984 cc foi substituído por um de 1.131 cc, o motor que será usado nos primeiros "Carochas" produzidos no pós-guerra. Este modelo voltou a ser produzido nos anos 60, tanto numa versão militar, como numa civil, sendo conhecido nos Estados Unidos por "The Thing" - A Coisa !
A outra versão militar, e a última, produzida durante a  Segunda Guerra Mundial foi o Schwimmwagen. Veículo anfíbio produzido a partir de 1942, com uma carroçaria completamente estanque, o "Schwimmwagen" era um bom veículo de reconhecimento, devido a ser também um veículo todo-o-terreno. O carro foi desenhado pelo filho do Eng. Porsche, também chamado Fernando, e conhecido pelo diminuitivo Ferry. A Direcção de Material das forças militares das SS - as Waffen-SS, tinha solicitado à empresa de Porsche um projecto para a produção de uma moto com o motor do Kdf-wagen, que tivesse capacidades para todo-o-terreno.  
O Schwimmwagen, usando o motor de 1.131 cc que será utilizado depois no Kubelwagen, foi fabricado até 1944, tendo sido produzidos 14.283 veículos.





UMA HISTÓRIA DA VOLKSWAGEN - 2.ª PARTE
O RECOMEÇO DA PRODUÇÃO
No fim da 2.ª Guerra Mundial a Volkswagenwerk estava destruída, mas as máquinas para produção dos automóveis estavam intactas, e havia material em armazém, que permitia o recomeço da produção.  Foi o que o major Ivan Hirst, do Corpo de Engenheiros do exército britânico, foi encarregado de realizar. Os carros eram necessários para as forças de ocupação britânicas.

Produção  do modelo 
Quando os soldados da 102.ª divisão de infantaria do exército americano avistaram a fábrica e a cidade da Volkswagen, em 11 de Abril de 1945, desconheciam a sua existência porque a localidade não vinha representada em nenhum mapa.
Devido à proximidade do exército russo, as tropas americanas não ocuparam logo a cidade, mas a população alemã foi ter com os soldados ocidentais, com medo das represálias dos combatentes russos.
Mais tarde, com a divisão da Alemanha em quatro zonas de ocupação, a cidade passou a ser responsabilidade do exército britânico. A direcção da fábrica foi entregue ao major Ivan Hirst, do Corpo de Engenheiros electrotécnicos e mecânicos, com o encargo de pôr a fábrica a funcionar e, enquanto Presidente da Câmara da povoação, dar condições de vida aos operários que lá viviam precariamente. A fábrica tinha 9.000 empregados e a localidade uma população de 17.000 habitantes, mas estava a aumentar todos os dias, com a chegada diária de refugiados dos territórios da Alemanha de leste. Foi na primeira reunião da nova autarquia, em 25 de Maio de 1945, que foi dado o nome de Wolfsburg à cidade. Nos primeiros tempos, a fábrica serviu sobretudo para reparação de Jeeps do exército britânico, e produção de motores.
Mas dois KdF-Wagens foram montados à mão, para uso do Quartel General do exército britânico. O exército britânico precisava urgentemente de meios de transporte e, por isso, fez uma encomenda de 20.000 automóveis à Volkswagen, em 17 de Setembro de 1945 . Serviriam também para pagamento das indemnizações ao governo britânico. Até ao fim do ano foram produzidos 1.785 automóveis, e no ano seguinte chegou-se aos 10.000 veículos, que foi atingido rigorosamente no dia 14 de Outubro de 1946. O preço era de 5.000 marcos, e os automóveis foram entregues à Comissão aliada de Controlo da Alemanha, e distribuídos aos Correios, à Cruz Vermelha e a outras instituições nascentes necessitadas. Não foram vendidos exemplares a particulares.

A fábrica da VW em 1945
Nordhoff, os VW e Wolfsburg
Em 1947 a empresa participou na Feira de Exportação de Hanovre, encontrando um comerciante interessado em exportar Volkswagens para a Holanda. No ano seguinte,  após contactos com a Ford, com o governo francês e com uma empresa automóvel britânica, o Rootes Group, que não se mostraram interessados em ficar com a administração da empresa,  o exército britânico entregou a direcção da fábrica, no dia 2 de Janeiro de 1948, ao antigo engenheiro da Opel  Heinrich Nordhoff, dando-lhe o título de director-geral.
Em 1949 a Comissão de Controlo aliada, ao entregar o controlo dos bens do estado alemão ao governo federal, entregou também a fábrica da Volkswagen. O governo de Bona passou este precioso bem para o Land da Baixa Saxónia, que criou uma empresa pública para gerir a fábrica.
A empresa entregue à Alemanha era uma empresa de sucesso. Empregava quase 10.000 pessoas, produziria até ao fim do ano 46.154 veículos, dos quais 23% seriam exportados para 9 países. Uma produção que estava a aumentar rapidamente,  já que, em 1948, o número não tinha ultrapassado os 20.000 exemplares. O Volkswagen era o carro mais vendido na Alemanha, tendo 50% do mercado. A empresa estava a criar  uma rede de vendas e de serviço na Alemanha e no estrangeiro, e tinha inovado ao criar um seguro especificamente para os compradores de Volkswagens. O único problema ? Era produzido só em duas cores: azul escuro e cinzento pérola.
Foi em 1949 que o Volkswagen foi visto novamente pelos americanos quando foi apresentado na Exposição Industrial alemã de Nova Iorque. Uma parte do público que o viu nessa exposição, possivelmente, lembrou-se  da reportagem com fotografias a cores da revista Life, que em 1938 tinha mostrado três modelos deste automóvel quando da colocação da primeira pedra da fábrica da Volkswagen por Hitler. A nova apresentação do carro não foi um sucesso. Nesse ano venderam-se dois carros nos Estados Unidos.
O modelo para exportação do «Carocha» foi criado também neste ano. Tinha um interior mais acolhedor do que a versão normal, mais cromados no exterior, e sobretudo mais cores disponíveis: verde, castanho, encarnado escuro (bordeaux) e preto.
A década de 50
Em 4 de Março de 1950 foi produzido o Volkswagen n.º 100.000. Até ao fim da década, precisamente em 1959, serão produzidos três milhões de carochas. Nestes 10 anos a Volkswagen, que era uma empresa pública, irá preparar-se para a época de ouro do Carocha, que será a década de 60, no fim da qual serão atingidos os 10 milhões de veículos (4 de Março de 1970). Será enquanto empresa privada que a Volkswagen se tornará a empresa a produzir o modelo mais vendido de sempre.
Durante estes anos a mudança mais visível deu-se no vidro traseiro que, em 1953 perdeu a barra central, aumentando a visibilidade em 23% , e que em 1958 foi aumentado tornando-se quase da largura do «capot». Na parte mecânica a modificação mais importante foi a introdução da caixa de mudanças sincronizada e o aparecimento dos travões hidráulicos. Na parte comercial foi introduzido o programa de troca de motor com garantia, e renovação de garantias para outros componentes.
Durante a primeira parte da década de 50, o Volkswagen foi sendo exportado para os Estados Unidos da América por empresas mais interessadas em garantir o fornecimento de carros desportivos, como os Porsches, do que em vender o «Carocha». As vendas não eram brilhantes e só com o aparecimento da Volkswagen America, empresa criada em 1954, é que a situação se modificou, e rapidamente.
A Volkswagen of America, que apareceu para coordenar a distribuição dos carros nos Estados Unidos e criar uma rede de serviços e de peças, fez com que o número de carros vendidos naquele país quadruplicasse num só ano e chegasse aos 35.000 veículos em 1955. Os Estados Unidos tornavam-se assim o mais importante mercado de exportação para a Volkswagen alemã. 
No final da década, já se vendiam nos Estados Unidos quase 100.000 mil veículos por ano, havendo uma lista de espera de seis meses, e isto sem nenhum tipo de publicidade em meios de comunicação de massa. O Volkswagen tinha conquistado os estudantes, que em números nunca vistos, afluíam aos campus universitários americanos, e começava a ser uma opção na escolha do segundo carro das famílias americanas. Em Março de 1960, as exportações tinham chegado aos 500.000 automóveis. Isto é, no princípio da década de 60, mais de 10% dos Volkswagen produzidos rodavam nos Estados Unidos - 500.000 veículos em mais de 3 três milhões produzidos.
O mercado americano tinha especificidades, que tinham que ter respostas condignas, até porque os regulamentos eram mais rigorosos que os europeus. Era necessário, por isso, criar uma versão de exportação do carro expecificamente americana, e que irá ter mais cromados do que as outras versões. Em 1952, esta versão tinha passado a ter travões hidráulicos e em 1955 passou a ter «pisca-piscas» eléctricos.
Mas era preciso vender mais. O mercado e as divisas - o dólar americano era a moeda mais estável - eram essenciais para a sobrevivência da Volkswagen. Para compra de máquinas necessárias à produção das fábricas. 
Em 1959, estava tudo preparado para um aumento de produção. Havia 4 fábricas a produzir Volkswagens na Alemanha (Wolfsburg, Braunschweig,  Hanover e Kassel),  e outras duas no estrangeiro, uma no Brasil e outra na Austrália. Havia também uma linha de montagem na África do Sul. Havia seguros, e havia em todo o mundo um exemplar serviços de pós-vendas

UMA HISTÓRIA DA VOLKSWAGEN - 3.ª PARTE
A REVOLUÇÃO CRIATIVA NA PUBLICIDADE DOS ANOS 60.
Quando a Volkswagen contratou em 1959 a recém criada agência de publicidade Doyle Dane  Bernbach para realizar a sua campanha publicitária para 1960, mal sabia a revolução que ia provocar na maneira de fazer publicidade. 
O anúncio com a frase "Pense pequeno"
(carregue no anúncio para ver o texto  em tamanho legível)
Em 1949, tinham sido vendidos no mercado americano 2, dois, Volkswagens. Um carro alemão, conhecido por ser um projecto de Hitler, tinha, naturalmente, no período do pós-guerra, muita coisa contra ele. Ainda por cima, de acordo com os padrões americanos, nem era bonito. Por isso, o ano de 1950 não foi muito melhor. Dos 6,6 milhões de carros novos comprados nos Estados Unidos, só 330 eram Volkswagens. Em 1953 o mercado não tinha evoluído muito mais, havendo um pouco mais de 2.000 «Carochas» nos Estados Unidos, no ano seguinte não ultrapassavam os 6.000.
Só em 1955 as coisas se modificaram, e muito rapidamente. Como vimos, em 1959 já se tinham vendido 500.000 exemplares do Carocha.
O que tinha sido modificado fora a maneira de vender o Volkswagen. O problema de qualquer carro estrangeiro em qualquer mercado é o da assistência e peças. A criação de uma rede de assistência técnica foi o que a Volkswagen America, empresa criada em 1952, realizou até 1960, data em que chegou aos 807 agentes e estações de serviço capazes de darem a assistência aos carros. Carros que se iam vendendo cada vez em mais números, a partir da implantação dessa política, somente pela força da publicidade verbal. É que, para a rede de assistência, as mudanças e melhorias no carro não impunham nenhuma necessidade de grande mudança do inventário - as novas peças normalmente podiam ser utilizadas nos modelos antigos, e o carro, bastante económico em vários aspectos - gasolina, óleo, pneus - começava a tornar-se atractivo como segundo carro de família.

A nova política comercial da Volkswagen foi um imenso sucesso, e em 1958 já havia 104.000 exemplares do carro alemão. No ano seguinte a indústria americana começou a preparar-se para lançar uma grande campanha publicitária à roda dos novos modelos mais pequenos, que iria lançar em 1960, para por em causa o crescente aumento das importações europeias - 600.000 veículos, 150.000 dos quais Volkswagens, em 1958. A Volkswagen preparou-se, não sabendo que de facto a concorrência iria ser de muito fraca qualidade.
Em Julho de 1959 a pequena agência de publicidade Doyle Dane Bernbach foi escolhida para a dirigir a campanha publicitária para promover, pela primeira vez, o Volkswagen na América. O problema principal era saber como se devia abordar a venda de um carro estrangeiro, e ainda por cima alemão, nos Estados Unidos do pós-guerra. 
A primeira ideia apresentada foi o de mostrar americanos a  vender um carro estrangeiro a outros americanos, mas foi rapidamente posta de lado. A segunda ideia foi o de pôr vários actores conhecidos a patrocinar o carro. Finalmente, após uma visita de três semanas à fábrica alemã, decidiu-se salientar o que a equipa da agência tinha notado: o controlo de qualidade obsessivo que era uma característica claramente diferenciadora do Volkswagen em relação aos seus concorrentes americanos.
Decidiu-se assim lançar uma campanha que se focaria no carro pura e simplesmente . «Um carro honesto promovido honestamente». O que era considerado um absurdo, pois não se podia dizer  a verdade ao consumidor. 
A campanha, dirigida por Bill Bernbach, arrancou em 1960 com um conjunto de anúncios em fotografias a preto-e-branco em que se focava um aspecto do carro. Cada anúncio era simples, renegando qualquer tipo de ornamento ou exagero. Era o oposto da publicidade feita até aí. Era a negação da publicidade enquanto aspiração, o contrário do sonho americano, como escreverá Dave Saunders (20th Century Advertising). 
Os anúncios eram estranhamente honestos, provocadores e colocavam o leitor na posição de um amigo inteligente. O texto era limitado ao básico - os 3 S's, da agência: SimplesSurpreendente e Sorriso (Simple Surprise Smile) -, e nunca congratulatório, podendo ser mesmo sarcástico, como no célebre anúncio em que, apresentando-se o módulo lunar, se afirma, respondendo a umas das críticas mais insistentes: «It's Ugly, But it gets you there» (É feio, mas leva-o lá). Ou no aqui apresentado: «Think Small» (Pense pequeno), em que nada faz pensar que o carro é maior do que parece. Não o carro é mesmo pequeno, como o anúncio salienta. Ou naquele outro, tão célebre como tantos outros, que só tem uma palavra -«Lemon» (Limão). Expressão coloquial que tanto pode significar feio como defeituoso, mas que serve para mostrar que nada há de defeituoso no Carocha, descrevendo o extraordinário controlo de qualidade existente na fábrica, e que tinha sido notado na primeira visita.
O modelo dos anúncios - uma grande fotografia (80% do espaço), um pequeno texto -  tornou-se um padrão imitado universalmente, mas não pelos outros fabricantes de automóveis. 
A investigação mostrou que os anúncios eram conhecidos e lidos em percentagens muito elevadas, e que vendiam carros, já que os potenciais compradores chegavam aos agentes repetindo quase literalmente o último anúncio publicado.
Mas a mensagem também foi passada na televisão, onde chegou a 90% das famílias americanas em meados dos anos 60. O anúncio aqui apresentado em quatro fotogramas resume bem o modelo: ligação emocional entre produto e consumidor, apelando à inteligência e ao realismo do leitor. 
No fundo, a campanha fez passar uma mensagem de frugalidade e sensibilidade, com uma clareza e emoção que a publicidade possivelmente não voltou a ver de novo, dando origem àquilo que se chama nos EUA a «Revolução criativa» na publicidade. 
Esta Revolução baseou-se na ligação íntima entre a parte artística e a parte textual da campanha (entre art e copy), e numa gestão de pessoal mais livre, onde se trabalhava em grupos de trabalho e em colaboração. 
As campanhas passaram a preocupar-se mais com a criatividade do que com  a investigação e compilação de dados, aspectos que Bernbach afirmava serem os mais prejudiciais ao desenvolvimento da imagem da publicidade, sendo mesmo considerados os factores mais importantes na perpetuação da mediocridade criativa.
Os resultados da campanha para a Volkswagen foram extraordinários. O número de carros pequenos de fabrico americano vendidos, 600.000 vendidos em 1960 passou a um pouco mais de 300.000 em 1962. A Volkswagen não foi afectada. Em 1963 o número de veículos vendidos anualmente nos Estados Unidos da América já tinha subido para 215.000.

Tradução dos anúncios:
Pense Pequeno.
O nosso carro já não é uma novidade assim tão grande.
Duas dúzias de estudantes já não se tentam enfiar dentro dele.
O empregado da estação de serviço já não pergunta aonde é que se põe a gasolina.
Já ninguém olha fixamente para o carro, devido ao seu desenho.
De facto, algumas pessoas que guiam o nosso "baratinho" 1 pensam que gastar só 7 litros aos cem 2, não é assim uma coisa tão extraordinária.
Ou usar 1/4 de litro de óleo em vez de 5 litros 3.
Ou nunca mais precisar de anti-congelante.
Ou andar 70.000 km num único conjunto de pneus.
Isto acontece porque logo que se habitua às nossas economias, nunca mais pensa nelas.
Excepto quando consegue estacionar num espaço muito pequeno. Ou renova o seu pequeno seguro. Ou paga uma pequena conta de oficina.  Ou troca o seu antigo VW por um novo.
Pense nisso.
Anúncio de Televisão
1. Vêem-se duas casas idênticas.
Voz off: O senhor Jones e o senhor Krempler eram vizinhos. Cada um tinha 3.000 dólares.
2. Com o seu dinheiro o senhor Jones comprou um carro de 3.000 dólares.
Com o seu o senhor Kempler comprou ...
3. ... um frigorífico novo ...
... um arca congeladora nova ...
... uma máquina de lavar roupa nova ...
... uma máquina de secar roupa nova ...
... um gira discos novo ...
... duas televisões novas ...
... e um novíssimo Volkswagen.
4. Agora o senhor Jones está confrontado com aquele velho problema ...
Como acompanhar os Kempler.


Notas:
1. "Flivver", é uma expressão coloquial americana que designa um carro barato.
2. 32 milhas por galão, são 51,488 quilómetros com 3, 785 litros. São rigorosamente 7,351 litros aos cem.
3. 5 pints em vez de 5 quarts, ou seja 28 cl em vez de 4,7 litros

UMA HISTÓRIA DA VOLKSWAGEN - 4.ª PARTE
OS RESULTADOS: UM CARRO DE CULTO QUE SE TORNOU O MODELO DE AUTOMÓVEL MAIS VENDIDO NO MUNDO.
Com a campanha publicitário da primeira metade dos anos 60, a Volkswagen conquistou o mercado americano, tornando-se ao mesmo tempo o carro que representou a contestação da juventude americana ao modelo social dos Estados Unidos.  
O VW Carocha e um Ford T
O VW Carocha acompanhado de um Ford T
Em 1971, rigorosamente no dia 27 de Agosto, o número de veículos exportados para os Estados Unidos chegou aos 5 milhões.
No ano seguinte, em 17 de Fevereiro de 1972, o número de carochas produzidos a nível mundial chegou ao número 15.007.034, tornando-o o carro mais vendido de sempre, ultrapassando assim o Ford T  produzido de 1908 a 1927.
A Volkswagen, privatizada parcialmente em Agosto de 1960 tornou-se nos anos seguintes o mais importante construtor europeu de automóveis, começando a criar um grupo que é actualmente um dos maiores do mundo em termos de carros vendidos, com um número superior a mais de 5.000.000 vendidos em 2001 e uma quota de mercado mundial de mais de 12%, mas que é de 19% na Europa ocidental, de 10% nos Estados Unidos e de 53% na China !
A criação do grupo tinha começado em 1965, com a compra da «Auto Union» à Daimler-Benz, o que permitia à Volkswagen entrar num segmento de mercado superior. A NSU será integrada nesta companhia em 1969, que se tornará a «Audi AG» em 1985. Para além dos automóveis o grupo entra no mercado de aluguer com a compra da «Selbstfahrer-Union» em 1970 que se transformará na «interRent», e que se tornará a «EuropCar» em 1988.

VW 1500
O VW 1500 de 1961
O Golf de 1974
O Golf de 1974
O Novo Carocha
O Novo Beetle de 1998
O sucesso nos anos 60 foi enorme, o Carocha tinha-se tornado, ironicamente, um carro que contestava o modelo económico e social dominante nos Estados Unidos. Um carro criado num regime ditatorial, tentando imitar o sucesso do Ford T, mostrava agora que se devia «Pensar pequeno», pensar nas pessoas.
A Volkswagen, desde cedo pensou na substituição do Carocha, tendo introduzido logo em 1961, um modelo de 3 volumes mais clássico, o 1500. Durante a década de 60 e no começo da de 70, nenhum dos modelos lançados pela companhia agradou. O 1600 de 1965, o 411 lançado em 1968,  o Passat introduzido em 1973, oSirocco de 1974, o Brasília, produzido no Brasil a partir de 1973, não convenceram os compradores.
Em 1974 o Carocha deixou de ser produzido na fábrica central de Wolfsburg, mas continuando a ser produzido na Bélgica, na fábrica de Emden.
Foi substituído pelo Golf, apresentado à imprensa em Maio de 1974, introduzindo um novo desenho automóvel, já começado a ser testado em modelos como o Sirocco e o Passat,  que deu origem à classe dos «compacto». O desenho foi muito bem aceite, tendo-se tornado logo o carro mais popular na Alemanha ocidental. Tinha demorado bastante tempo a encontrar o substituto, mas ajudado pela crise do petróleo de 1973-1974, a Volkswagen tinha acabado por encontrar o carro que lhe asseguraria o futuro. E em Janeiro de 1975 o Golf foi apresentado no mais importante mercado para a Volkswagen, o dos Estados Unidos da América, ano em que apareceram o Golf GTI e o Polo, modelo mais pequeno do que o Golf. Em 1978 o Carocha deixou de ser produzido na Europa, mantendo-se somente em produção na fábrica do México, tendo o último Carocha original sido vendido nos EUA em 1979.
Mas a Volkswagen, que tinha tentado afastar-se da imagem do carro com preocupações ecológicas, não conseguiu fazer esquecer o Carocha, e em 5 de Janeiro de 1994 apresentou o «Concept 1» na feira automóvel de Detroit. O veículo desenvolvido pelo centro de design da empresa de Simi Valley, na Califórnia, lembrava o primeiro Volkswagen devido às suas formas arredondadas. O protótipo foi muito bem aceite, e rigorosamente quatro anos depois o «New Beetle» (o Novo Carocha) foi lançado oficialmente nos Estados Unidos, recebendo nesse mesmo ano a medalha de ouro da Sociedade de Desenhadores Industriais da América (IDEA - Industrial Designers Society of America). 
O carro, vendido fundamentalmente nos Estados Unidos e Canadá nos primeiros anos, foi direccionado para um estrato sócio-económico alto, pertencente à geração nascida no pós-guerra - logo com idades compreendidas entre os 40 e os 50 -, nostálgico do antigo Carocha. Mas tinha também outro objectivo, posicionar o Grupo VW como uma alternativa mais barata aos BMW e aos Mercedes-Benz, fazendo com que a empresa pudesse competir em todos as classes de veículos e em todos os mercados.



 www.arqnet.pt
08
Nov17

Corridas para o fundo

António Garrochinho



Depois de a Síria ter anunciado a sua adesão ao Acordo de Paris, os EUA de Donald Trump passam a ser o único país a ficar fora do compromisso para conter o aquecimento global. Para os defensores da concorrência sem regras nem limites, este isolamento poderá ser encarado como uma vantagem competitiva. É a lógica da corrida para o fundo. A mesma lógica em que assenta, num outro plano, a competitividade através de baixos salários, da desregulação das relações laborais, da destruição do Estado Social e do desprezo pelas pessoas e pela sua dignidade e bem-estar.

ladroesdebicicletas.blogspot.pt

08
Nov17

O Apartheid

António Garrochinho



































O termo apartheid se refere a uma política racial implantada na África do Sul. De acordo com esse regime, a minoria branca, os únicos com direito a voto, detinha todo poder político e económico no país, enquanto à imensa maioria negra restava a obrigação de obedecer rigorosamente à legislação separatista.  Esta palavra no idioma africaner é separação.

A política de segregação racial começou a partir de 1913 e foi oficializado em 1948, com a chegada do Novo Partido Nacional (NNP) ao poder. O apartheid não permitia o acesso dos negros às urnas e os proibia de adquirir terras na maior parte do país, com a criação da Lei das Terras Nativas que destinava 87% das terras do país à minoria branca, obrigando a população negra a viver em zonas residenciais segregadas, uma espécie de confinamento geográfico. Casamentos e relações sexuais entre pessoas de diferentes etnias também eram proibidos.

A oposição ao apartheid teve início de forma mais intensa na década de 1950, quando o Congresso Nacional Africano (CNA), organização negra criada em 1912, lançou uma desobediência civil. Em 1960, a polícia matou 67 negros que participavam de uma manifestação pacífica. Mandela sempre defendeu a luta pacífica contra o apartheid, porém, depois deste dia 21 de março, nesse que ficou conhecido como “O Massacre de Sharpeville”, fez com que Mandela passasse a defender a luta armada contra o sistema.

Em 1961, Mandela tornou-se comandante do braço armado do CNA, conhecido como "Lança da Nação". Passou a buscar ajuda financeira internacional para financiar a luta. Porém, em 1962, foi preso e condenado a cinco anos de prisão, por incentivo a greves e viagem ao exterior sem autorização. Em 1964, Mandela foi julgado novamente e condenado à prisão perpétua por planejar ações armadas.

No dia 16 de junho de 1976 outra manifestação que ficou conhecida como o Levante de Soweto (ou Massacre de Soweto) começou com uma marcha de 10.000 estudantes carregando faixas e palavras de ordem, dizendo: "Abaixo Afrikaans" e "Viva Azania" (o nome dado à África do Sul por nacionalistas negros).  Policiais armados tentaram cercar os alunos como eles chegaram Phefeni School, sobre uma pequena colina rodeada pelas casas de mais de um milhão de sul-africanos negros.

A polícia diz que os alunos começaram a atirar pedras e outros objetos. Eles responderam disparando munição real contra a multidão.  Outro repórter disse que viu a polícia atirar uma granada de gás lacrimogêneo contra a multidão, sem aviso prévio. Quando os manifestantes responderam com pedras, os policiais abriram fogo. 

Hoje é comemorado nesta data, o dia da criança africana por causa da celebre foto de uma criança negra morta levada no colo por outro jovem negro.


Com o fim do império português na África (1975) e a queda do governo de minoria branca na Rodésia, atual Zimbábue (1980), o domínio branco na África do Sul entrou em crise. Esses fatos intensificaram as manifestações populares contra o apartheid. A Organização das Nações Unidas (ONU) tentou dar fim à política praticada no país. O presidente Piter Botha promoveu reformas, mas manteve os principais aspectos do regime racista.

Com a posse de Frederick de Klerk na presidência, em 1989, ocorreram várias mudanças. Em 1990, Mandela foi libertado e o CNA recuperou a legalidade. Klerk revogou as leis raciais e iniciou o diálogo com o CNA. Sua política foi legitimada por um plebiscito só para brancos, em 1992, no qual 69% dos eleitores (brancos) votaram pelo fim do apartheid.

Klerk e Mandela ganharam o Prémio Nobel da Paz em 1993. Em abril de 1994, Nelson Mandela foi eleito presidente da África do Sul nas primeiras eleições multirraciais do país.


O Parlamento aprovou a Lei de Direitos Sobre a Terra, restituindo propriedades às famílias negras atingidas pela lei de 1913, que destinou 87% do território à minoria branca.


Henrique Rodrigues Soares - História Contemporânea
1ª  imagem no lado esquerdo mais acima " Massacre de Sharpeville"
2ª  imagem no lado direito mais abaixo " Massacre do Soweto"

universodahistoria.blogspot.pt
08
Nov17

Maria da Conceição Vassalo e Silva da Cunha Lamas (1893-1983)

António Garrochinho
Completou os seus estudos no Colégio Religioso Jesus, Maria, José, em Torres Novas. 
Casou pela primeira vez em 1910 com Teófilo José Pignolet Ribeiro da Fonseca, tendo deste casamento, que durou até 1919, duas filhas, Maria Emília (1911) e Maria Manuela (1913). Viveu em Luanda entre 1911 e 1913, acompanhando o seu marido em missão militar, tendo aí nascido a sua segunda filha. 

Em 1921 casou em segundas núpcias com o jornalista Alfredo da Cunha Lamas de quem teve uma filha, Maria Cândida. Divorcia-se outra vez em 1936.

Simpatizante do PCP, esteve ligada à Oposição Democrática durante o Estado Novo. Entre 1962 e 1969 viveu em Paris como exilada política, habitando o Grand Hotel Saint-Michel, no Quartier Latin, onde conheceu Marguerite Yourcenar, e onde desenvolveu intensa actividade política e de apoio a portugueses refugiados em oposição ao regime fascista.
LIVROS
São especialmente dignos de nota as suas obras no âmbito da literatura infantil e no da etnologia, As Mulheres do meu País.



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Maria Lamas nasceu a 6 de Outubro de 1893 em Torres Novas.
Em 2011 o Município de Torres Novas promoveu a primeira edição do Prémio bienal Maria Lamas. Este prémio foi instituído para evocar a figura de Maria Lamas e perpetuar  o seu testemunho de lutadora pelos direitos das mulheres portuguesas. O prémio tem um valor pecuniário de 3000 euros e visa distinguir abordagens a temas relacionados com a mulher, o género e a igualdade, na perspectiva das ciências sociais e humanas, podendo submeter-se a concurso dissertações de mestrado e doutoramento, bem como trabalhos decorrentes de pós-doutoramento ou outros, desenvolvidos no âmbito de centros de investigação científica credenciados. As candidaturas são individuais, podendo concorrer autores portugueses e estrangeiros. 
A revista Islenha publicou em 2011 um número dando destaque à ligação de Maria Lamas ao arquipélago da Madeira.
Foram-lhe atribuídas duas das mais honrosas condecorações portuguesas, a de Oficial da Ordem de Santiago da Espada e a da Ordem da Liberdade.
 
Castro Soromenho, José Cardoso Pires e Maria Lamas, em Paris.
 Alves Redol, Maria Lamas, Jorge Amado e Ferreira de Castronum jantar no aeroporto de Lisboa em 1953.

A 29 de Junho de 2013 foi inaugurada em Almada a Biblioteca Municipal Maria Lamas. Uma obra da autoria do arquitecto João Santa-Rita. 
Em 2015 foi organizada pelo Municipio de Torrres Vedras a exposição "De corpo e alma, Maria Lamas", com obras de reconhecidos pintores portugueses tendo como inspiração Maria Lamas.
 
Exposição sobre Maria Lamas, Torres Vedras 2015.

Num testemunho, a escritora Maria Teresa Horta recorda-a como uma mulher igual às outras da sua época e do seu meio socio-económico: “Elegantíssima, bem vestida, muito bonita, com um toque de classe, com o seu colar de pérolas” […] “Ao começar a falar é que ficava diferente”.

Maria Lamas morreu aos 90 anos, em Lisboa a 6 de dezembro de 1983. 
Por Edital de 28/02/1984 o seu nome foi dado uma entre o Bairro das Pedralvas e a Urbanização da Quinta de Nossa Senhora do Cabo.



debategraph.org
08
Nov17

Lá vai o português

António Garrochinho
«Lá vai o português, diz o mundo, quando diz, apontando umas criaturas carregadas de História que formigam à margem da Europa.
Lá vai o português… lá anda. Dobrado ao peso da História, carregando-a de facto, e que remédio – índias, naufrágios, cruzes de padrão (as mais pesadas). Labuta a côdea do sol-a-sol e já nem sabe se sonha ou se recorda. Mal nasce deixa de ser criança: fica logo com oito séculos.
No grande atlas dos humanos talvez figure como um ser mirrado de corpo, mirrado e ressequido, mas que outra forma poderia ele ter depois de tantas gerações a lavrar sal e cascalho? Repare-se que foi remetido pelos mares a uma estreita faixa de litoral (Lusitânia, assim chamada) e que se cravou nela com unhas e dentes, com amor, com desespero, ou lá o que é. Quer isto dizer que está preso à Europa pela ponta, pelo que sobra dela, para não se deixar devolver aos oceanos que descobriu, com muita honra. E nisto não é como o coral que faz pé firme num ondular de cores vivas, mercados e joalharia; é antes como o mexilhão cativo, pobre e obscuro, já sem água, todo crespo, que vive a contra-corrente no anonimato do rochedo. (De modo que quando a tormenta varre a Europa é ele que a suporta e se faz pedra, mais obscuro ainda).
Tem pele de árabe, dizem. Olhos de cartógrafo, travo de especiarias. Em matéria de argúcias será judeu, porém não tenaz: paciente apenas. Nos engenhos da fome, oriental. Há mesmo quem lhe descubra qualquer coisa de grego, que é outra criatura de muitíssima História.
Chega-se a perguntar: está vivo? E claro que está: vivo e humilhado de tanto se devorar por dentro. Observado de perto pode até notar-se que escoa um brilho de humor por sob a casca, um riso cruel, de si para si, que lhe serve de distância para resistir e que herdou dos mais heróicos, com Fernão Mendes à cabeça, seu avô de tempestades. Isto porque, lá de quando em quando, abre muito em segredo a casca empedernida e, então sim, vê-se-lhe uma cicatriz mordaz que é o tal humor. Depois fecha-se outra vez no escuro, no olvidado.
Lá anda, é deixá-lo. Coberto de luto, suporta o sol africano que coze o pão na planície; mais a norte veste-se de palha e vai atrás da cabra pelas fragas nordestinas. Empurra bois para o mar, lavra sargaços; pesca dos restos, cultiva na rocha. Em Lisboa, é trepador de colinas e de calçadas; mouro à esquina, acocorado diante do prato. Em Paris e nos Quintos dos Infernos topa-a-tudo e minador. Mas esteja onde estiver, na hora mais íntima lembrará sempre um cismador deserto, voltado para o mar.
É um pouco assim o nosso irmão português. Somos assim, bem o sabemos.
Assim, como?
José Cardoso PiresE Agora, José? (p. 19-21)
08
Nov17

ESPECIAL - OPUS DEI - É A ESTA ORGANIZAÇÃO QUE O PR MARCELO REBELO DE SOUSA PERTENCE ? OPUS DEI A ELITE DA SEITA CATÓLICA

António Garrochinho
    • Conhecida como 'maçonaria branca', o Opus Dei tem mais de 1500 membros em Portugal. Apesar de negar a existência de uma estratégia de poder, conta com figuras de destaque na banca e na política. 


    • Os bens ultrapassam os 50 milhões de euros, impulsionados pelos quase 42 milhões da Fundação Maria Antónia Barreiro. Um hotel, uma escola superior, dezenas de imóveis, uma financeira e até uma escola de futebol fazem parte das estruturas controladas pela obra, através dos seus membros, embora legalmente não exista qualquer ligação. O registo comercial é claro: o Opus Dei em Portugal só é dono de três jazigos. Porém, as ações da obra ocorrem num património muito mais vasto, controlado por membros da organização e superior a 50 milhões de euros.

OPUS DEI – A ELITE DA SEITA CATÓLICA

OPUS DEI PORTUGAL
A ELITE DA SEITA CATÓLICA – OPUS DEI PORTUGAL
Em 1984, o presente de Natal chegou ao Opus Dei com dois dias de atraso. Foi a 27 de Dezembro que Maria Antónia Barreiro, uma milionária divorciada, infeliz e solitária, entrou no escritório do advogado que era há dois meses o administrador da sua fortuna e disse que queria alterar o testamento.
A única coisa de que tinha a certeza era que já não queria deixar tudo à amiga que indicara como principal herdeira dois meses antes, na altura em que modificou o testamento pela nona vez. “A sua amiga é rica ou pobre?”, perguntou-lhe o advogado. “É muito rica”, respondeu a cliente milionária. “Se é rica, já não estou com pena”, admitiu José Afonso Gil, um dos mais antigos e influentes supranumerários (membros casados) do Opus Dei em Portugal. Sentado num cadeirão no seu escritório da Rua Castilho, em Lisboa, o advogado contou à SÁBADO que sugeriu a Maria Antónia Barreiro que deixasse tudo à Misericórdia ou à sua paróquia.
Perante a recusa da cliente, propôs-lhe então a criação de uma fundação com o seu nome “para fazer coisas muito boas”. E acrescentou: “Não é para enriquecer.” Nem seria necessário – a fortuna já era enorme: juntava a herança do pai, Acácio Domingos Barreiro, sócio do Banco Português do Atlântico (comprado em 1995 pelo BCP de Jardim Gonçalves), e a do avô, José Domingos Barreiro, antigo armazenista de vinhos em Marvila.
Maria Antónia Barreiro aceitou e José Afonso Gil [na foto acima, a posar perante um retrato da ex-cliente] isolou-se na sua casa de Galamares, em Sintra, para redigir o novo testamento, incluindo três desejos da cliente que teriam de ser respeitados após a sua morte: primeiro, a fundação teria de pagar 50 contos por mês (o equivalente a 865 euros a preços actuais) ao seu motorista, a título vitalício, desde que ele continuasse a ser “prestável e digno”; segundo, ficaria assegurada a limpeza do jazigo da família; e, por fim, a fundação mandaria rezar durante cinco anos uma missa mensal em sua memória, bem como dos seus pais e do seu irmão.
Quanto ao património, constituído por dezenas de prédios, armazéns e terrenos, deveria beneficiar “os estabelecimentos de formação cultural então existentes na cidade de Lisboa”. Mas caberia aos dois testamenteiros, José Afonso Gil e José Alves Mendes (outro advogado membro da Obra), escolher as instituições a apoiar financeiramente. Ambos são membros vitalícios do conselho de administração da fundação. José Afonso Gil é há 27 anos o presidente.
Um terceiro administrador, também a título vitalício, seria indicado pela Sociedade Lusitana de Cultura, uma das mais antigas entidades fundadas em Portugal por numerários (membros que vivem em celibato, em centros do Opus Dei). O representante actual é o espanhol Jon Velasco, que é simultaneamente o número dois na hierarquia portuguesa da prelatura (estatuto jurídico atribuído à organização).
Depois, o Conselho Geral da Fundação integra dois dos mais destacados membros do Opus Dei: Francisco Oliveira Dias, ex-presidente da Assembleia da República, e Carlos Câmara Pestana, vice-presidente do BPI e presidente do Itaú, que frequentava semanalmente o mesmo centro da Obra que o advogado José Afonso Gil e os banqueiros Jardim Gonçalves e Paulo Teixeira Pinto (até à sua saída do Opus Dei, em 2008).
Prédios, jóias, depósitos…
Maria Antónia Barreiro era proprietária de 50% do quarteirão da pastelaria Suíça, na zona mais central de Lisboa, e que foi logo vendido. Possuía também uma quinta no Cartaxo, que foi dividida em parcelas e também comercializada – um ex-numerário disse à SÁBADO que o negócio foi feito por 700 mil contos (cerca de 10 milhões de euros a preços actuais), mas José Afonso Gil diz que não se recorda. A herança incluía mais 18 prédios espalhados por Lisboa, 25 jóias no cofre da residência, 21 depósitos a prazo em cinco bancos e ainda títulos do tesouro que a deviam compensar pela nacionalização do BPA, de que era accionista.
Maria Antónia Barreiro era crente, mas desconfiava do Opus Dei, muito por culpa de Gregorio Ortega Pardo, um numerário espanhol que nos anos 60 fugiu de Portugal com uma fortuna da organização. José Afonso Gil diz à SÁBADO que explicou à sua cliente que o seu património serviria para ajudar a formar pessoas numa perspectiva cristã. “Deus gostará do seu gesto”, disse-lhe. Mas admite que nunca lhe falou em concreto da ideia de usar tudo em obras do Opus Dei, como tem vindo a suceder.
Esta doação é uma das maiores alguma vez recebidas em todo o mundo pela instituição fundada em 1928 por S. Josemaría Escrivá. É mesmo comparável com o maior donativo de sempre, de 66 milhões de dólares (valores de 1999), que permitiu financiar a construção da sede em Nova Iorque.
A contabilidade da Fundação regista actualmente, entre património e activos financeiros, uma riqueza global de 41,8 milhões de euros. Contudo, este valor baseia-se em avaliações de imóveis feitas a partir do valor patrimonial declarado nas Finanças – e que é bastante inferior aos preços de mercado. Em nome da Fundação, há pelo menos 83 imóveis, espalhados pelas freguesias de S. Sebastião da Pedreira, Penha de França, Olivais, S. Domingos de Benfica e Campo Grande. Um destes é o apartamento onde a herdeira milionária viveu nos seus últimos anos de vida, um quinto andar na Avenida Miguel Bombarda, e que é hoje uma residência usada por padres do Opus Dei para dar formação a outros sacerdotes.
“Não cometamos esse erro”
Este imóvel é usado pela Obra, mas formalmente não lhe pertence. Apesar das ligações evidentes a vários dos edifícios que usa, a organização rejeita que lhe pertençam por não estarem em seu nome. “A propriedade e gestão das coisas móveis e imóveis onde funcionam centros e casas de retiro são de instituições autónomas não lucrativas, cujos responsáveis mantêm uma relação de coordenação com a prelatura”, explica à SÁBADO Pedro Gil, assessor de imprensa da organização.
Os únicos imóveis detidos formalmente pelo Opus Dei são três jazigos. O resto está em nome de uma série de cooperativas, fundações, associações e empresas controladas pelo Opus Dei através da presença nos órgãos sociais de numerários com cargos de responsabilidade ou peso histórico na organização.
“Os jesuítas perderam muitas coisas porque era fácil localizá-las. Não cometamos esse erro”, terá dito Josemaría Escrivá (na foto em cima), citado pelo jornalista Santiago Aroca numa investigação na revista Tiempo e na edição espanhola do livro Opus Dei de Michael Walsh. Pedro Gil diz que a atribuição da frase ao fundador da Obra é “espúria” e rejeita que este sistema de organização económica tenha sido escolhido para proteger o património. Segundo o assessor de imprensa, o objectivo é que o Opus Dei se concentre na sua missão espiritual, deixando as tarefas de gestão entregues a outras entidades. No entanto, recusou-se a indicar à SÁBADO quais são as instituições que gerem os bens da prelatura em Portugal. Mesmo depois de confrontado com uma lista de 17 instituições, admitiu que continha informações “sobretudo correctas”, mas disse que não estava completa e recusou-se a ser mais claro, por entender que se trata de um assunto da esfera privada da organização.
Também não quis comentar o facto de, nos anos 90, terem sido criadas várias empresas controladas por membros da Obra com a função essencial de servir as necessidades dos centros do Opus Dei. Surgiu assim o ateliê de arquitectura que projectou o oratório S. Josemaría, uma empresa de contabilidade, uma de abastecimento alimentar aos centros e ainda outra, controlada pela secção feminina, que se ocupava essencialmente da decoração dos espaços da organização, como contou à SÁBADO Paulo Andrade, que foi numerário até 1993 e chegou a ser subdirector de um centro.
O Opus Dei tornou-se polémico depois de ter sido implicado em vários escândalos financeiros e, mais recentemente, por os seus membros terem sido retratados como conspiradores no livro O Código Da Vinci. Os fiéis seguidores de Josemaría Escrivá procuram ser santos, atingindo a perfeição em tudo o que fazem. Os numerários também se mortificam regularmente, atingindo as costas com uma espécie de corda de algodão (a que chamam disciplinas) e usando um arame (cilício) na perna.
Os testamentos dos membros do Opus Dei
O dinheiro não é um detalhe na relação individual de cada membro com o Opus Dei. Os seguidores de Escrivá que são casados (os supranumerários) devem doar mensalmente uma verba equivalente ao que gastam com um filho. Já os numerários, a elite constituída por membros que vivem em celibato em centros da Obra, têm de observar regras mais rígidas na relação com o dinheiro e com os bens materiais. Por exemplo, não podem aceitar ofertas que não entreguem ao centro onde vivem nem guardar dinheiro do salário sem autorização do director do centro – entregam tudo o que ganham e vivem com uma pequena mesada calculada em função das suas despesas fixas.
Os numerários têm de registar um testamento ao fim de seis anos e meio de ligação à instituição, quando fazem a chamada “fidelidade”, para o vínculo se tornar definitivo. O objectivo, segundo Pedro Gil, assessor de imprensa do Opus Dei, é “suavizar essa preocupação sobre o futuro” e permitir ao numerário “ter o coração mais liberto para a sua missão”. São livres de deixar os seus bens a quem entenderem, mas a esmagadora maioria acaba por dizer que pretende que fique tudo para a Obra.
O ex-numerário Paulo Andrade (na foto acima) recorda que recebeu a indicação da cúpula da organização sobre as duas instituições do Opus Dei que devia indicar como beneficiárias, bem como os dois numerários que seriam os testamenteiros. Quando saiu da Obra, pediu que lhe devolvessem o testamento, mas não conseguiu: “Disseram-me que o iam destruir. Passou-se o mesmo com outras pessoas. Mas acho que, se me acontecesse alguma coisa, seriam os primeiros a apresentar-se com o documento.”
As heranças são assim, naturalmente, uma grande fonte de património para o Opus Dei. A Cooperativa de Fomento de Iniciativas Culturais (Cofic), entidade que financia o governo da Obra (em 2008, por exemplo, o seu orçamento ascendeu a 500 mil euros), dispõe de quatro imóveis localizados em Viseu que foram recebidos em 2007 pelo testamento de Nuno Girão, um numerário histórico, que dirigiu o Opus durante o Estado Novo. São três edifícios na Rua Direita e uma residência para membros, que teriam um valor comercial de cerca de 1,1 milhões de euros, segundo uma estimativa feita no local a pedido da SÁBADO pelo avaliador Artur Augusto Rodrigues. Pela herança de outra numerária, a Cofic recebeu duas casas, com mais de 3.800 metros quadrados de área total, e um terreno com 5.250 metros quadrados no distrito de Coimbra.
Um palacete comprado à família Espírito Santo
Todos os membros da direcção e do conselho fiscal da Cofic são numerários e vivem em casas do Opus Dei. Entre os 18 imóveis da cooperativa, sobressai uma quinta no Paço do Lumiar [na foto em baixo], com uma área superior a 10 mil metros quadrados. É lá que está instalada a própria sede do Opus em Portugal e onde vive o líder máximo (vigário regional), o padre José Rafael Espírito Santo. Não tem qualquer relação de parentesco com a família dos banqueiros Espírito Santo, que foi a proprietária do imóvel, ocupado a seguir ao 25 de Abril de 1974 por elementos do PCP. Em 1978, 11 filhos de Manuel Espírito Santo (presidente do BES entre 1955 e 1973) venderam a propriedade à Cofic, que teve de contrair junto da Caixa Geral de Depósitos um empréstimo no valor de 7.500 contos (meio milhão de euros a preços actuais), entretanto já amortizado. Não se sabe o preço negociado na altura, mas um perito imobiliário da Remax, que não viu o interior do palacete, estima que valha actualmente 19,6 milhões de euros no mercado.
Outro grande imóvel da Cofic, com 1.925 metros quadrados, fica no número 193 do Campo Grande, onde funciona o Clube Xénon, vocacionado para organizar actividades para rapazes e um dos principais pontos de captação de novas vocações, segundo o ex-numerário Paulo Andrade. Esta propriedade foi doada em 2006 pela ISCAL, Sociedade Imobiliária Civil, uma instituição administrada por três numerárias do Opus Dei, com sede numa quinta de Vila Nova de Gaia – trata-se da Quinta de Enxomil, onde a prelatura construiu um enorme edifício com dezenas de quartos para acolher os participantes nos seus retiros. Um centro semelhante, com essa mesma finalidade, foi erguido em Almançor, no Alentejo, em terrenos doados por Alfredo Cunhal (tio do líder histórico do PCP, Álvaro Cunhal) e fundador do Banco da Agricultura, onde Jardim Gonçalves e José Afonso Gil se conheceram.
“Começa-se pelas cabeças”
Assim que instituiu a fundação com o nome da antiga cliente, José Afonso Gil combinou com os dirigentes do Opus Dei que iria criar uma residência para estudantes universitários. “Começa-se pelas cabeças”, justifica à SÁBADO. Comprou então, por 550 mil contos (que correspondem hoje a cerca de 5,7 milhões de euros), um terreno junto à Universidade Católica e ainda conseguiu ficar com um espaço maior depois de negociar uma permuta com o então presidente da Câmara de Lisboa, Jorge Sampaio.
Foi aí que mandou construir a residência universitária de Montes Claros (com piscina, campo de futebol e pavilhão de squash) e o Oratório S. Josemaría Escrivá, inaugurado em 1998. Quem frequenta as missas do Opus Dei pode estacionar numa garagem com três pisos subterrâneos, que também pertence à Fundação. E ao lado está a AESE, Associação de Estudos Superiores de Empresas, igualmente controlada pela Obra. José Afonso Gil decidiu também adquirir uma moradia de 600 metros quadrados onde funciona o Clube Darca, um centro de actividades para raparigas, junto à Biblioteca Nacional.
Mas a maioria dos imóveis da Fundação Maria Antónia Barreiro concentra-se em Marvila, onde ficavam os armazéns de vinho de José Domingos Barreiro, o avô da benemérita. Aí, a Fundação tem 10 prédios, nove lojas e nove armazéns – um deles está arrendado há 22 anos a uma metalúrgica, que paga 2.398 euros mensais. Só este espaço, que tem quase 2.400 metros quadrados, valerá mais de meio milhão de euros. Ainda na zona oriental de Lisboa, a Fundação é proprietária de mais de metade da Rua Fernando Palha, onde vários edifícios são ocupados por espaços comerciais no rés-do-chão.
“Cá está a massa para safar isto”
Em 1993, José Afonso Gil, que era também advogado do BCP, vendeu os títulos do tesouro que a Fundação tinha herdado e recebeu 1,5 milhões de contos (cerca de 11,7 milhões de euros a preços actuais). Metade dessa verba foi logo investida na Fomento, cooperativa fundada em 1978 por um grupo de pais para administrar quatro colégios (onde a orientação espiritual está a cargo da prelatura) e que se encontrava numa situação financeira apertada. Jardim Gonçalves, um dos fundadores da cooperativa que manteve responsabilidades na sua gestão, conseguia que o BCP continuasse a dar crédito à Fomento, mas era cada vez mais difícil pagar as dívidas.
“Entreguei ao Jorge Jardim 700 e tal mil contos [mais de 5,4 milhões de euros a preços de hoje]. Ele até telefonou à mulher à minha frente e disse qualquer coisa como isto: ‘Olhe, cá está a massa para safar isto’”, recorda José Afonso Gil. O encontro entre os dois amigos deu-se no gabinete do então presidente do BCP na Rua Augusta. A Fundação Maria Antónia Barreiro ficou desde então credora dos colégios em 4 milhões de euros.
Dois dos actuais administradores da Fomento dirigem também uma outra cooperativa, a Socei, criada para gerir os valiosos imóveis onde estão instalados os colégios Planalto, em Telheiras, e Mira Rio, no Restelo. Um avaliador da Remax, a pedido da SÁBADO, estima que as duas moradias que constituem o Colégio Mira Rio possam valer 6,9 milhões de euros.
No Porto, o Colégio Cedros, que ocupa cerca de 15 mil metros quadrados em S. Pedro da Afurada, foi avaliado em 2,7 milhões de euros por João Saraiva, também da Remax. Junto a este colégio, a cooperativa possui dois terrenos com cinco mil metros quadrados com um valor comercial estimado em 640 mil euros.
A intervenção de Jardim Gonçalves
Jardim Gonçalves, que foi talvez o mais proeminente membro da Obra no mundo dos negócios, não participou apenas na gestão inicial dos colégios do Opus Dei. Ajudou também a fundar o Centro de Orientação Familiar, que promove acções de formação para casais e tem sede num terceiro andar da Travessa do Possolo, ao lado da residência de Cavaco Silva, em mais um imóvel da Fundação Maria Antónia Barreiro.
O banqueiro (na foto acima) pertenceu ainda ao núcleo de fundadores da AESE, Associação de Estudos Superiores de Empresas, uma instituição criada em 1980 para dar formação em gestão de empresas “segundo uma perspectiva cristã do homem e da sociedade”. Pelo menos 18 dos 23 fundadores eram membros da Obra fundada por S. Josemaría Escrivá. Entre eles, além de José Afonso Gil estão também Osvaldo Aguiar, anterior administrador financeiro do governo do Opus Dei, Carvalho Cardoso, ex-presidente do Belenenses que colaborou com António Champalimaud e geriu a Mundial Confiança, e Silvério Martins, fundador do CDS e ex-administrador da Rádio Renascença e do Banco Pinto de Magalhães.
Uma figura-chave nos corpos sociais da AESE até há pouco tempo foi José Fonseca Pires, um médico de 45 anos que pertence ao governo do Opus Dei em Portugal, onde desempenha o cargo de vogal de São Gabriel, ou seja, é o responsável pelas actividades dos supranumerários, os membros que vivem com as respectivas famílias. É também o presidente da Sociedade Lusitana de Cultura.
Quem normalmente dá a cara pela instituição de ensino é o seu vice-presidente e director-geral, José Ramalho Fontes, que tem morada registada numa vivenda com piscina e campo de ténis, que partilha com outros membros do Opus Dei em Linda-a-Velha. Este imóvel tem um valor comercial estimado por um avaliador da Remax, a pedido da SÁBADO, em 3,2 milhões de euros e está registado em nome da Cofic, a cooperativa que financia o governo da Obra.
Capital de risco
Em Junho de 2007, a AESE diversificou investimentos e ajudou a fundar uma sociedade de capital de risco chamada Naves, entrando com 11,76% (132.888 euros) dos 1,13 milhões de euros de capital social, transformando-se na sua maior accionista. O domicílio fiscal da Naves é também o da escola superior, na Calçada da Palma de Baixo. Os lucros líquidos desta sociedade de capital de risco mais do que quadruplicaram entre 2008 e 2010 (de 45.928,61 para 191.042,23 euros) e o total do activo também não parou de subir (de 903.693,38 euros em 2007 para 1.255.203,98 em 2010).
A Naves tem, por sua vez, participações em duas sociedades: uma imobiliária de Gaia (chamada In Time) e a Várzea da Rainha Impressores, empresa presidida por Zita Seabra, que também dirige a Alethêia, precisamente a editora que em 2011 republicou a biografia de Josemaría Escrivá escrita por um dos mais antigos padres da prelatura, Hugo de Azevedo, e que foi apresentada no auditório da AESE a 9 de Janeiro de 2012 (dia em que o santo faria 110 anos).
A AESE serve também para cimentar a ligação entre o Opus Dei e o mundo empresarial, conta Paulo Andrade, que ajudou a fundar a Escola Profissional Val do Rio, em Oeiras, com outros membros do Opus Dei, em 1989. Para obter financiamento, recebeu indicações de Raul Diniz e Eugénio Viassa Monteiro, dois numerários que foram directores-gerais da AESE. Aconselharam-no a marcar uma reunião com um grupo de empresários, dizendo que ia da parte deles, para lhes solicitar apoio financeiro. Vasco Pessanha, presidente da Inapa, e Abel Pinheiro, do grupo Grão-Pará, não são membros do Opus Dei mas aceitaram contribuir com um donativo para a criação da escola.
Uma outra instituição ligada ao Opus Dei é o Centro de Actividades Culturais do Campo Grande: é proprietária do número 72 da Alameda das Linhas de Torres e do edifício número 300 do Campo Grande – este foi comprado a seguir à revolução de 1974 por 7 mil contos (o equivalente actual a 1 milhão de euros). Possui também a sede histórica do Opus Dei no Porto, onde funcionam o Colégio Universitário da Boavista e o Clube Vega. O Centro de Actividades Culturais do Campo Grande é dirigido por dois membros do governo da Obra em Portugal: José Reis, um ortopedista encarregado das actividades para jovens a nível nacional, e o padre Isaac Fernandez, que ocupa o cargo de delegado de estudos.
O Hotel 3 Pastorinhos
O membro do governo que lida mais de perto com questões financeiras é o que ocupa o cargo de administrador. Trata-se do numerário Joaquim Claro, que é o presidente do Hotel 3 Pastorinhos, em Fátima. Os outros dois membros do conselho de administração também são numerários: Vítor Cunha, engenheiro do Porto, e Pedro Gil, que é assessor de imprensa do Opus Dei e filho de José Afonso Gil, presidente da Fundação Maria Antónia Barreiro – entidade que possui quase todo o capital social do hotel.
Há 21 anos, a Fundação tinha como sócia a EATIS, Empresa de Actividades Turísticas Internacionais, uma sociedade anónima que dividiu o capital social em partes iguais por quatro numerários: Osvaldo Aguiar, Raul Diniz, Luís Rebelo Pereira e Pedro Gil.
O hotel de três estrelas fica a 50 metros do Santuário, mas, segundo os Relatórios e Contas, em 2010 teve apenas 1.426 euros de resultado líquido, valor substancialmente inferior aos 76 mil euros verificados em 2009. As receitas atingem praticamente 1 milhão de euros por ano, só que esse valor fica ligeiramente aquém das necessidades de financiamento. O hotel, que está avaliado pelas Finanças em 4,5 milhões de euros, não parece um grande negócio, mas tem uma importância estratégica para a Obra, por permitir a realização de retiros na capital religiosa do País, com autonomia, sem ter de recorrer, por exemplo, a casas de religiosas, diz um ex-membro da prelatura.
Uma mulher caprichosa e esbanjadora
Maria Antónia Barreiro pediu frequentemente ao seu motorista que a levasse a Fátima nos últimos meses de vida e ia à missa quase todas as semanas. Mas o dinheiro era a base de todas as suas relações: dava mesadas e roupa às amigas – e a uma delas ofereceu mesmo um apartamento no Algarve; casou-se apenas uma vez, com o filho de um industrial, mas divorciou-se ao fim de cinco anos, o que implicou a perda de uma grande parte do seu património.
Era uma mulher caprichosa e uma autêntica esbanjadora. Ia à Loja das Meias e comprava dois casacos iguais, prevendo logo a hipótese de alguém lhe roubar um. Comprou, de uma só vez, 32 lenços da Cartier numa loja da Rua Castilho. Pagou 1.500 contos (mais de 26 mil euros a preços actuais) por um relógio em ouro branco, só para fazer pirraça a uma amiga, mas irritou-se por a peça amarrotar as suas camisolas no pulso e foi devolvê-la à ourivesaria uma semana depois, pedindo apenas 250 contos, um sexto do preço inicial. E incitava o motorista a andar mais depressa, no seu Jaguar ou no BMW 635, que passou a ser utilizado pelo presidente da Fundação após a sua morte. Morreu com um problema cardíaco no Hospital da Cruz Vermelha, a 11 de Janeiro de 1986, menos de um ano depois de assinar a última versão do testamento.
No velório de Maria Antónia Barreiro, apareceu a amiga indicada no penúltimo testamento. Só quando se preparava para combinar com o advogado um encontro para receber os bens é que descobriu que afinal havia um testamento mais recente, que tinha anulado o outro documento.
O próximo grande investimento do Opus Dei, através da Fundação Maria Antónia Barreiro, é a construção da nova residência universitária feminina (Colégio Universitário dos Álamos) prevista para o n.º 189 do Campo Grande, um edifício degradado onde funcionou o histórico restaurante Quebra Bilhas e que pertencia, desde 1939, à Sociedade de Perfumarias Nally. O imóvel foi comprado em 2008 por 2 milhões de euros. Para financiar o negócio, a Fundação decidiu vender vários edifícios, incluindo 10 fracções de um prédio na Rua dos Correeiros, em Lisboa, que permitiram um encaixe de 770 mil euros.
José Afonso Gil tem já disponível todo o dinheiro de que precisa para construir a residência feminina, assim que a Câmara autorizar: são 4,5 milhões de euros. E admite que tem planos para o próximo grande investimento: um centro para tratar doentes que precisam de cuidados paliativos. Mas só avança depois de ouvir a opinião dos líderes do Opus Dei.
*Com Manuel Almeida e Raquel Lito
Artigo publicado originalmente na edição impressa da SÁBADO de 23 de Fevereiro de 2012

fdpv.wordpress.com
08
Nov17

Condenável recurso à GNR na greve em Neves-Corvo

António Garrochinho


A direcção da Fiequimetal emitiu uma nota à comunicação social a repudiar de forma veemente o facto de a Unidade de Intervenção da GNR estar a interferir na greve em curso na Sociedade Mineira de Neves-Corvo, colocando-se do lado patronal e contra a luta dos mineiros.

Trata-se de uma inaceitável interferência, que tem como propósito limitar o normal funcionamento do piquete de greve, afirma-se na nota. Mas o recurso à força policial é também revelador de uma postura antidemocrática da Administração da Somincor e da multinacional Lundin Mining.
É importante assinalar que a administração da  Somincor não é dona das minas de Neves-Corvo, mas apenas concessionária da sua exploração, e tem compromissos assumidos com o Estado português. O Estado, por sua vez, não pode tornar-se cúmplice de uma postura condenável.
Os mineiros contribuem com o seu árduo trabalho para a riqueza nacional e para os lucros da multinacional. São trabalhadores e não podem ser tratados como criminosos.
Os mineiros estão a exercer um direito inscrito na Constituição da República Portuguesa! A greve foi decidida pelos trabalhadores da Somincor, organizados no seu sindicato, cumprindo todas as exigências legais e em defesa de reivindicações justas.
Apesar de todas as pressões e manobras e do sacrifício que requer dos trabalhadores, a greve continua a ter uma adesão muito forte e merece a solidariedade de todos os trabalhadores dos nossos sectores de actividade.


www.fiequimetal.pt

08
Nov17

A WEB SUMMIT E O AUTÓMATO

António Garrochinho
A WEB SUMMIT QUE EU AINDA NÃO COMPREENDI MUITO BEM O QUE É PARA LÁ DE REUNIR UMA SÉRIE DE CAPITALISTAS E POLÍTICOS BEM SUCEDIDOS NA VIDA APRESENTOU UNS BONECOS (ROBOTS) QUE PARECEM AQUELA APRESENTADORA DE TELEVISÃO COM A PELE ESTICADA DE TANTAS PLÁSTICAS E QUE FEZ DELIRAR UMA SÉRIE DE PAPALVOS QUE AINDA ACREDITAM QUE OS BONECOS PENSAM POR ELES E QUE NÃO TÊM A MENTE HUMANA POR DE TRÁS.
CHAMAM-LHE FELIZES A
" INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL"
AG


08
Nov17

SANTA BÁRBARA DE NEXE - ALDEIA

António Garrochinho






Emanuel Aniceto nosso conterrâneo em investimento particular, a Associação Nexense que adquiriu edifícios e com a colaboração de alguns nossos conterrâneos estão recuperando uma das ruas mais degradadas da nossa aldeia
Antigamente era assim !



fotos:by Ghostwriter D.

08
Nov17

Opinião O inferno são os paraísos dos outros

António Garrochinho






Comprar um avião privado ou um iate de luxo sem pagar IVA. Ser secretário do Comércio de Trump e lucrar com negócios secretos com oligarcas próximos de Putin. Uma empresa de explosivos com sede nos Barbados para construir uma arma para o antigo ditador Saddam Hussein. Usar uma empresa de investimento e investir em empresas de crédito abutre. Tudo é possível quando se tem muito dinheiro e acesso a um paraíso fiscal.
Da Apple à Microsoft, da Uber à rainha de Inglaterra, passando pelo vocalista dos U2, Bono, conhecido por suas preocupações sociais, nunca mais sabe quais são os nomes envolvidos na próxima fuga de informações de um offshore. Por outro lado, sabemos semper quem são os facilitadores: a começar pela reputada empresa Ernst & Young, ou pelo escritório de advogados em causa no caso dos papéis do paraíso, uma empresa Appleby.
A maior parte dos envolvidos argumenta que esquemas montados através, por exemplo, da ilha de Man ou das ilhas Caimão são legais. É isso, aliás, que justifica os milhões de pagamentos a consultores e advogados. É possível que a todos os territórios pertençam ao Fórum Global sobre Transparência e Troca de Informações para os efeitos Fiscais, não é uma ferramenta da OCDE, com uma avaliação de "muito cumpridores". Vale tudo para legitimar estes territórios que não são outro propósito senão esconder o ilegal, o que é ainda mais perverso, transformar em legal o que, à partida, não é.
E bem pode vir o vice-presidente da Comissão Europeia clamar pelo "sentido de urgência" do que é preciso fazer. Não passa de um exercício de pura hipocrisia. Basta lembrar que o trabalho de facto ocupa uma presidência da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, antes do ministro das Finanças e primeiro ministro do Luxemburgo. E que antes do Paradise Papers ocorreu o LuxLeaks, que revelou como o Luxemburgo governado por Junker se opunha a qualquer reforma da lei fiscal a nível europeu, enquanto oferececia fiscal fiscal secretos a multinacionais. Aliás, o Luxemburgo, como a Holanda, como Malta e outros continuam a ser centros de planeamento e fuga ao Fisco, não só em condições de cobrar, como pelos que estão disponíveis para a saída de dinheiro isento para para a Europa. Há uma razão para uma dona da EDP sem uma empresa sem Luxemburgo.
Distinguir entre bons e maus offshores, mais ou menos transparentes, mais ou menos cooperantes, funciona como exercício de legitimação que oculta o verdadeiro problema: o planeamento fiscal e opacidade, justificados pelo princípio da "competitividade fiscal". O mesmo princípio que justifica os "vistos gold" ou uma reforma do IRC de 2014 (o regime de Participação Exemption, por exemplo) em Portugal.
Enquanto se legitimar uma ideia de que o pagamento de impostos é um custo como qualquer outro, que como grandes empresas e fortunas têm o direito de "minimizar", recorrendo a todo o tipo de expedientes, não há princípio de igualdade ou justiça que pode prevalecer .

Mariana Mortágua
* DEPUTADA DO BE

www.jn.pt

08
Nov17

PCP: “Milagre é Teodora Cardoso ainda ter salário e ocupar o lugar que ocupa”

António Garrochinho


O Partido Comunista Português (PCP) criticou as declarações da presidente do Conselho de Finanças Públicas, Teodora Cardoso, que, em entrevista ao PÚBLICO e à Rádio Renascença, considerou que “até certo ponto" houve um milagre na redução do défice de 2016 para 2,1% do Produto Interno Bruto (PIB).
O deputado comunista Miguel Tiago afirmou no programa Política Pura da TSF que “milagre é Teodora Cardoso ainda ter salário e ocupar o lugar que ocupa”, lembrando que a economista “dizia maravilhas dos Orçamentos do Estado quando os portugueses viviam um dos piores momentos das suas vidas”.


www.publico.pt
08
Nov17

MARCELO E A "OPUS DEI"

António Garrochinho

Marcelo afirma que acompanha Opus Dei há décadas e defende liberdade na educação

O chefe de Estado deixou estas mensagens na inauguração das novas instalações do Colégio Mira Rio, em Telheiras, Lisboa, durante a qual elogiou o antigo presidente do Banco Comercial Português (BCP) Jorge Jardim Gonçalves, pelo seu contributo para este projeto educativo, o que suscitou uma salva de palmas.
Marcelo Rebelo de Sousa declarou que era "uma grande alegria" para si estar presente nesta cerimónia.
"Porque pessoalmente acompanho o percurso da 'Obra' [Opus Dei], e desta obra, há muitas décadas. Não quis o destino que partilhasse tão intensamente quanto algumas amigas e alguns amigos meus teriam gostado. Mas tenho, um pouco por toda a parte, muitas amigas e muitos amigos, parte dos quais aqui presentes, que continuaram essa caminhada", declarou.
Estas palavras foram ouvidas pelo presidente da Junta de Freguesia do Lumiar, deputado e vice-presidente do grupo parlamentar do PS, Pedro Delgado Alves, e pelo vigário regional do Opus Dei, monsenhor José Rafael Espírito Santo, e pelo antigo banqueiro Jorge Jardim Gonçalves.
Na assistência, composta por pais, alunos e professores dos colégio feminino Mira Rio e masculino Planalto, estava também o presidente do Partido Nacional Renovador (PNR), José Pinto-Coelho.
Marcelo Rebelo de Sousa apontou o Colégio Mira Rio como um exemplo de excelência e considerou "muito justa a recordação" do contributo que Jorge Jardim Gonçalves e a sua mulher, Assunção Jardim Gonçalves, deram para este projeto educativo.
Depois, referiu-se à Constituição da República Portuguesa como "muito aberta e compreensiva", recorrendo à passagem bíblica "na casa de meu pai há muitas moradas".
"Também na Constituição da República Portuguesa há muitas moradas. E há moradas públicas, e moradas privadas, e moradas sociais. E há moradas com inspiração religiosa e outras que não têm. E há moradas com ensino diferenciado e moradas que o não têm", prosseguiu.
Segundo o Presidente da República, "essa é uma riqueza da casa democrática portuguesa".
O chefe de Estado referiu que hoje também visitou uma escola pública em Vagos. "E agora estou aqui numa escola de iniciativa da sociedade civil, de inspiração cristã e, como ela própria reconhece, inspirada pela prelatura do Opus Dei".
"Parece muito longe, mas é o mesmo país: Vagos e Lisboa. Somos, na nossa diferença, um só. E essa é a riqueza da liberdade: a liberdade no ensino, a liberdade na educação, a liberdade na vivência das pessoas. Não há duas pessoas iguais, não há duas escolas iguais", defendeu.
Dirigindo-se às alunas do Mira Rio, Marcelo Rebelo de Sousa disse-lhes que devem ter consciência de que são privilegiadas - como ele próprio também foi - pela educação a que têm acesso e que isso lhes dá obrigações acrescidas.




24.sapo.pt

08
Nov17

MICRO MORADIAS PELO MUNDO

António Garrochinho
Cada vez aumenta mais a população mundial e há menos espaço nas cidades. Enquanto algumas pessoas optam por compartilhar moradia para evitar os espaços pequenos, outras não têm outra opção que residir em habitáculos reduzidos. Há também a realidade de que morar nas áreas centrais das cidades tem um custo diretamente proporcional ao tamanho do apartamento. Sendo assim, nesses espaços proliferam as quitinetes ou apart-hoteis cujos altos preços compensam a economia no transporte público.

Por outro lado, claro, perde o espaço vital. Algo que não incomoda muito os mais jovens já que entre o tempo que passa trabalhando e/ou na universidade, quase não fica em casa, mas a coisa se complica um pouco se a moradia é familiar que dificilmente se adequa em morar em uma caixa de sapato.

De qualquer forma, a demanda de apartamentos pequenos e acessíveis próximos ao centro é imensa em cidades onde não há muito espaço, e da mesma forma os bairros estão apinhados de gente disputando um lugar para morar, muitas vezes em condições deploráveis.

Estas fotografias mostram algumas pessoas que escolheram (ou são obrigadas) a se sujeitar em morar em pequenas moradias.
Wang Cunchun, de 90 anos, vive com seu filho sexagenário em uma quitinete de 10 metros quadrados em Xangai, na China.
20 fotos de micromoradias pelo mundo 01
A empresa imobiliária Chinesa Vanke apresenta um microapartamento durante uma exposição em Cantão.
20 fotos de micromoradias pelo mundo 02
Os Burger vivem em uma garagem de Los Angeles depois de perder sua casa em 2009.
20 fotos de micromoradias pelo mundo 03
Os pacientes que não podem pagar por uma cama no hospital de Hefei, na China, recebem tratamento em uma dos cômodos de 8 metros quadrados de um edifício próximo.
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Em Hong Kong os preços dos imóveis são tão altos que as pessoas vive em barracos de madeira de até 3 metros quadrados.
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Kong Kyung-soon, de 73 anos, reside em uma quitinete com dois metros quadrados de espaço vital, sem contar o banheiro.
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Ela mora bem ao lado do luxuoso bairro Gangnam, retratado por Psy, em Seul, na Coréia do Sul.
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Mulher vive com seu filho em um apartamento de 6 metros quadrados de Hong Kong, cujo aluguel custa 1500 reais ao mês. Valor que pagaria uma casa bem espaçosa no Brasil
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Casa Keret de Varsóvia, na Polônia, que tem esse nome pelo escritor israelense Edgar Keret, mede menos de um metro em seu vão mais estreito.
20 fotos de micromoradias pelo mundo 09
A moradia é tão pequena que é considerada uma instalação artística, onde o próprio Keret e o arquiteto Jakub Szczesny hospedam escritores e artistas.
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Os espaços reduzidos d China, "pequeno" é o "novo grande".
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Nesses apartamentos reduzidos, a principal tarefa é guardar as coisas de maneira eficaz e otimizada.
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Favelas em um subúrbio do norte de Bombaim, na Índia.
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Dharavi, um bairro em Bombaim, é uma das zonas com maior densidade de população de Ásia, já que alberga mais de um milhão de pessoas.
20 fotos de micromoradias pelo mundo 14
Estas moradias de 10 metros quadrados são alugadas entre 1 e 2 reais o metro quadrado por mês.
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Jon-Christian Stubblefield reside em um "espaçoso" estúdio de 19 metros quadrados em Seattle.
20 fotos de micromoradias pelo mundo 16
Foi uma opção acessível para viver no coração da cidade por menos de 1.200 dólares ao mês", Disse Jon em 2016.
20 fotos de micromoradias pelo mundo 17
A vários quilômetros, Seungchul You assegura que sua quitinete de 19 metros quadrados satisfaz todas as suas necessidades.
20 fotos de micromoradias pelo mundo 18
Este bloco de quitinetes de 56 metros quadrados em Hong Kong tem 19 unidades. Cada uma é conhecida "casa caixão" e mede uns 2,3 metros quadrados.
20 fotos de micromoradias pelo mundo 19
Também em Hong Kong, as "celas de cão" são ainda mais inquietantes. Assemelham-se a estantes de 60 por 180 centímetros fabricadas em telas e seus habitantes convivem com carrapatos, pulgas e um cheiro nauseabundo.
20 fotos de micromoradias pelo mundo 20


www.mdig.com.br

08
Nov17

Sobre o mercado de trabalho atual: do século XXI ao século XIX, um retorno a Marx. 2 – Assalariado e Código do Trabalho – Parte I

António Garrochinho

Especular  hoje dá mais dinheiro  do que contratar trabalhadores. A finança dá mais a ganhar que estar a empregar trabalhadores.  A ausência de regras, de restrições, de controlo, é ainda mais adequada ao banqueiro do que ao industrial.
Então, eles aplaudem a desregulamentação e  organizam-na. Emmanuel Macron declarou-se a favor de “uma sociedade sem estatuto”, sem status privado, isto é, sem um código de trabalho e sem estatuto  público, ou seja, sem o estatuto da função pública.

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Assalariado e Código do Trabalho – Parte I
 Gritar « Viva a empresa » não quer dizer nada
(Gérard Filoche, Setembro de 2017)

INTRODUÇÃO

O trabalhador assalariado tem apenas a sua força de trabalho para vender. O patronato  compra  essa força de trabalho. O salário é o que está em jogo nessa troca . O salário é ao mesmo tempo tanto o salário líquido quanto o salário bruto e super-bruto [1]. Com o salário  líquido, vive-se mês após mês . Com o salário socializado, que inclui todas as contribuições, vive-se toda uma vida . O nível de salários depende constantemente das relações de poder entre o empregado e o empregador. E essa relação de força encontra a sua encarnação nos direitos do trabalho.
Índice
  1. Gritar « viva a empresa » não quer dizer nada
  2. O trabalho não enriquece ninguém, ele permite viver; O que enriquece é a exploração do trabalho dos outros.
  3. Quando o trabalho ameaça custam mais do que o capital, o capital é  capaz de lhe  impor um salário máximo. O inverso ainda está para acontecer. .
  4. Cada vez mais, os trabalhadores têm um estatuto
  5. Direito do Trabalho e direitos humanos
Se temos uma má lei do trabalho, o  salário, as  horas de trabalho, as   condições de trabalho e o emprego estão fragilizados. Se tivermos  um bom direito do trabalho, o nosso nível de salário é maior, o nosso  tempo de trabalho é menor, as nossas  condições de trabalho são melhores e o nosso posto de trabalho está melhor garantido.
A empresa não é uma sala de dança, é um local de exploração da força de trabalho. Mesmo um  “bom” patrão não pode fazer mais do que explorar os  seus trabalhadores, caso contrário, a sua empresa morre.  Na sociedade capitalista, é essencial que a empresa gere  margens de lucros  e que haja uma partilha ao nível nacional  geral entre a multiplicidade de capitais. Por mais humano que seja o chefe, ele deve participar dessa exploração do homem pelo homem, caso contrário, ele não pode permanecer um patrão.

  1. Gritar “Viva a empresa ” não significa nada
“A Empresa” não existe, é como gritar “Vivam  os peixes”, há tubarões e sardinhas. Na França, mil empresas produzem quase 50% do PIB e são elas e os seus dirigentes  que decidem por toda a economia, investimentos, inovações, inovações  e desemprego. Em 1,2 milhões de empresas existentes. 200 000 PME, PME, ETIs são em 80% das subcontratadas das “mil”. Por fim,  há um milhão, de empresas muito pequenas, menos de  10 funcionários. Na partilha de produção e das “margens”, são os tubarões, os “grandes” que ganham: os mais pequenos patrões,   “sardinhas” , são dominados e saqueados, tal como  os assalariados.
A partilha  dos frutos do trabalho dos assalariados  da empresa, dos preços, dos lucros e dos dividendos é feita seja  de forma regulada e civilizada, ou de maneira selvagem e brutal.
A existência de um Código de Trabalho forte, preciso, controlado e aplicado existe  para que a divisão seja feita de maneira ordenada: uma economia em que esta partilha é harmonizado é forte em termos de “interesse geral” .
São os assalariados melhor formados os mais bem pagos,  os mais bem tratados que mais produzem. É melhor quando o Estado de direito, a ordem social pública, as leis da república prevalecem sobre o mercado selvagem. Além disso, a tendência real na França, ao contrário de falsas noções recebidas  é o desenvolvimento de contratos de longo prazo e à sua extensão: 85% dos contratos são contratos permanentes e mesmo  95% entre 29 e 54 anos, a duração média dos contratos permanentes cresceu 20% nos últimos trinta anos
A ausência de um Código do Trabalho ou a fraqueza de seu conteúdo permitem a sobre-exploração, o crescimento de injustiças, vidas desarticuladas e desfeitas : uma economia desregulamentada e flexível sem status, nem proteção ou respeito pelos assalariados  é também prejudicada pelas desigualdades e é sujeita a crises que se sucedem, uma a seguir à outra.
É pior, mesmo do ponto de vista da produção, quando o desemprego gangrena, quando a divisão do trabalho não ocorre, quando o sofrimento dos assalariados é maior, quando estes são tratados de forma menos digna ; mas é esse tipo de economia que permite que permite  “margens” maiores apropriadas pela finança. Especular  hoje dá mais dinheiro do que contratar trabalhadores. A finança dá mais a ganhar que estar a empregar trabalhadores.  A ausência de regras, de restrições, de controlo, é ainda mais adequada ao banqueiro do que ao industrial.
Então, eles aplaudem a desregulamentação e  organizam-na. Emmanuel Macron declarou-se a favor de “uma sociedade sem estatuto”, sem status privado, isto é, sem um código de trabalho e sem estatuto  público, ou seja, sem o estatuto da função pública.
Historicamente, a população mais rica, os 1%, fizeram todo o possível para capturar os frutos do trabalho de 99% da população trabalhadora. Estes 1% não são humanistas, altruístas, gente de partilhar,  eles sempre querem mais.

 A segunda parte deste texto será publicada, amanhã



aviagemdosargonautas.net
08
Nov17

Avulsos recolhidos algures num Centro de Saúde..

António Garrochinho


(Por Mário José Ferreira Pinto, in Facebook, 07/11/2017)
centro3
6h00m da manhã. O Sol já aparecia lindo sobre o azul celeste.
À porta do Centro de Saúde, um pequeno grupo de utentes organizava-se para a marcação da consulta “à vaga”.
A maioria já se conhece. Afinal todos são já bem experimentados nesta forma bem própria de utilização da consulta.
Aliás, o Director do Centro de Saúde até mandou instalar uns banquinhos de jardim no local, para tornar a espera mais atractiva.
É uma excelente oportunidade para trocar experiências e conhecimentos, que todos vão acumulando ao longo do seu percurso de contactos com os médicos e hospitais.
A Maria do Céu vai à consulta do “Parlamento”, a Dona Gertrudes vai à consulta da “Monopausa” e a Rita é que as corrige informando-as que aquela consulta chama-se de Planeamento Familiar.
Uma tem um “biombo” no “úbero” e leva os resultados duma “fotografia”, outra está preocupada com comichões na “serventia” do marido, até porque ele, havia poucos dias, tinha já sido consultado pelo médico por estar com os “alforges” todos inflamados. Alguém logo ali diagnosticou um problema na “aprosta” do marido.
Mais à distância desta conversa, um grupo de senhoras falavam dos métodos contraceptivos e, uma delas, peremptória, afirmava que nunca aceitaria porem-lhe uma “fateixa” dentro da barriga!
Uma outra discordava, e lá lhe foi dizendo que, por causa disso, é que teve tantos filhos, felizmente todos de parto normal, só o último foi de “açoreana”, mas aquele que lhe dava mais problemas era o mais velho que já era “toxico-correspondente”!
Noutro local, um grupo de homens mais idosos ia falando da relação entre o “castrol” e a “atenção”.
Às tantas um deles começa a explicação cuidada dum acidente que tivera. Por isso é que tinha a vacina contra o “tecto” em dia, mas o acidente estragou-lhe a “tibiotísica” e causou-lhe uma hérnia “fiscal”, pelo que tinha ido fazer uma “fotocópia” e um “traque”.
Outro referiu que nunca teve problemas de ossos, o seu problema era uma grande “espirrogueira na peitogueira”.
Uma senhora, atraída pela conversa, queixava-se de entupimento no “curso” com dores “alucinantes” quando se “abaixava”. Além disso cobria-se de suores e “gómitos”, ficava “almariada” e tudo acabava com uma forte “encacheca”, ficando cerca de 3 dias com cara de “caveira misteriosa”. Alguém lhe falou nuns supositórios que a poderiam ajudar mas ela já os conhecia, aparentemente tinham sido muito difíceis de engolir, pelo que o melhor ainda era o “clistério”.
Finalmente, uma outra senhora queixava-se da “úrsula” no “estambo”, pelo que vinha mostrar o resultado duma “endocuspia” e ainda algumas análises especiais, como a Proteína C “Reaccionária”.
8h30m da manhã. Ainda havia muito para conversar mas a Inês, jovem funcionária administrativa do Centro de Saúde, obviamente tarefeira, acaba de chegar. Os funcionários administrativos não podem chegar atrasados, caso contrário, confundir-se-iam com os doutores.
– Quem é o primeiro, se faz favor? Ora diga lá o seu nome?
– Josefina Trindade.
– Idade?
– 67 anos.
– Estado?
– Constipada, muito constipada!
9h00m da manhã. Aparece a enfermeira Freitas que grita para a pequena multidão barulhenta que cerca a Inês:
– Quem está para medir as tensões? É você? Então entre e diga-me qual é o seu problema?
– Sabe, senhora enfermeira, o meu problema é ter uma doença “arrendatária” que “arrendei” do meu pai e já me levou uma vez aos cuidados “utensílios” do hospital. Afecta-me as “cruzes renais” e por isso dá-me muita “humidade à volta do coração”. Aliás, o doutor pediu-me uma “pilografia” e um “aerograma” que aqui trago e recomendou-me beber pouca água.
Finalmente, chega o médico, que logo dá início às consultas:
– Então de que se queixa?
– De uma angina de peito, senhor doutor. Tudo começou há uma semana quando fui às urgências. O médico disse-me que era uma angina na garganta, mas a angina começou a descer e agora apanha-me o peito todo!
Aos poucos, os utentes iam entrando e saindo, com melhor ou pior cara.
Alguns perguntavam à Inês onde era o “pechiché da retrosaria” para pagarem a taxa moderadora.


estatuadesal.com
08
Nov17

A luta de um povo

António Garrochinho





SEGUNDO dados globais, as afetações do bloqueio económico, comercial e financeiro dos Estados Unido contra Cuba provocaram perdas ao ensino superior da ordem de US$ 1,5 milhão, só no último ano.
Esta quantia se reflete nas afetações por conceito de realocamento geográfico, dificuldades nas transferências bancárias, receitas que Cuba deixa de receber e limitações no acesso às publicações de alto impacto internacional.
Uma das consequências de maior envergadura na política estadunidense é o bloqueio tecnológico, o qual leva à procura de mercados geograficamente distantes, como o da China, para acessar à tecnologia. Isto cria um incremento, nada desprezível, dos custos por conceitos de frete.
Devido às limitações do bloqueio os pesquisadores cubanos têm limitado o acesso a mais de 200 sites. Igualmente, especialistas e profissionais de diferentes países não podem viajar à Ilha porque têm limitado seu acesso. Isto não só demonstra o caráter extraterritorial do labirinto legal, mas também dificulta a exportação de serviços e receitas de divisas no país.
Quando falamos de Educação Superior, no caso de Cuba, mantém-se a incitação à emigração e a fuga de talentos. Com esta prática se perde o esforço de vários anos realizado na formação de um profissional e o país é privado de seus melhores especialistas.
Além dos danos mencionados, a produção e os serviços são muito limitados pelos escolhos para acessar a determinados produtos, que atentam contra o desenvolvimento da docência.
Relativamente ao tema das afetações da criminal política do governo estadunidense contra Cuba, a diretora das Relações Internacionais do Ministério de Educação Superior, María Victoria Villavicencio, declarou:
«Muitas das afetações que hoje são provocadas pelo bloqueio impedem um número importante de possibilidades de avanço e significativas tentativas de desenvolvimento».
«Para nós não há dúvidas: o bloqueio é o principal escolho para o desenvolvimento tecnológico, científico e investigativo de nosso país».
À DISTÂNCIA DE UM CLIQUE 
No caso da Universidade das Ciências Informáticas (UCI), o bloqueio fica à distância de um clique. A casa de altos estudos neste ano identificou 209 sites que são públicos para o mundo, mas estão bloqueados para as direções IP desta instituição. No relatório de 2016 havia 116.
Da mesma forma, a instituição não pôde acessar a certificações profissionais, que são necessárias para a preparação e desenvolvimento de softwares.
A Universidade Agrária de Havana também sofre o impacto da política genocida dos Estados Unidos. Sua revista de ciências técnicas agropecuárias deve ter um identificador digital para cada artigo emitido, mas para Cuba é impossível devido aos efeitos do bloqueio.
Também nesta academia são afetadas consideravelmente as práticas docentes e a pesquisa científica, que são realizadas nos laboratórios, particularmente nas carreiras agropecuárias.
Atualmente, não é possível adquirir equipamentos para os laboratórios, nem reagentes ou meios de cultura, procedentes de firmas norte-americanas. Isto provoca o encarecimento extraordinário de todo o equipamento.
LIMITAÇÃO DAS RECEITAS 
O Centro Nacional de Sanidade Agropecuária, entre suas variantes para dar continuidade ao desenvolvimento científico, conta com as receitas que recebe pela exportação de produtos.
A partir de 2015 foi limitada significativamente a possibilidade de transferir da Nicarágua os fundos derivados das negociações com instituições desse país, devido à transferência tecnológica. Trata-se de perdas estimadas em quase US$ 50 mil.
Examinado de outra perspectiva, isto provoca falta de suficiente liquidez para que a instituição continue com sua missão fundamental: garantir o diagnóstico, controle e prevenção de doenças exóticas que afetam animais e objetivos de interesse econômico da Ilha maior das Antilhas.
Nestes últimos tempos, por causa do bloqueio, dificulta-se substancialmente a participação de cientistas cubanos em congressos internacionais. Estes encontros representam uma possibilidade de mostrar os resultados de nosso país no campo das Ciências Agropecuárias e trocar com especialistas de primeiro nível de outros países.
A UNIVERSIDADE DE HAVANA
As afetações financeiras, econômicas, bem como as barreiras tecnológicas para obter qualquer artigo essencial para a educação, afetam também a Universidade de Havana, a mais antiga destas instituições em Cuba.
As faculdades de Química, Física, Biologia e os centros de pesquisas ficam limitados. Além do equipamento precisam dos reagentes, mas devido ao bloqueio não é possível sua aquisição ou não têm financiamento para pagá-los.
Estas dificuldades nos pagamentos entorpecem as visitas e as trocas. As medidas contra Cuba anunciadas pela administração de Donald Trump podem reduzir enormemente a troca acadêmica e as visitas de estudantes, professores e pesquisadores do país do norte.
Apesar de todas estas dificuldades, a vontade política do governo cubano de elevar a qualidade da Educação Superior foi mantida em todos estes anos de Revolução, igualmente o compromisso dos estudantes e professores universitários.
«Se hoje as afetações não são maiores — assevera María Victoria Villavicencio — é porque contamos com um número importante de professores e pesquisadores com uma criatividade incrível, com muito profissionalismo e amor ao seu trabalho; com um compromisso enorme com as instituições, com nosso país, além de inventar fórmulas e inovar de modo que possam mitigar, de alguma maneira, os efeitos do bloqueio».



foicebook.blogspot.pt
08
Nov17

"As minhas filhas estão vivas em mim. Vivo por elas. E não quero mais mortes"

António Garrochinho


Izzeldin Abuelaish em Lisboa
Médico de origem palestiniana, Izzeldin Abuelaish está em Lisboa para participar no Web Summit, onde irá falar sobre as redes sociais como instrumento de justiça social em zonas de conflito.

Ao DN, contou como a morte trágica de três filhas (Bessan, 21 anos, Mayar, 15, Aya, 13) e de uma sobrinha (Noor, 17), vítimas de disparos de um carro de combate israelita, em 2009, durante uma operação militar em Gaza, o motivou a criar a fundação que apoia a educação de jovens e mulheres de todo o Médio Oriente.

Criou a fundação Daughters for Life (Filhas pela Vida). Que fins visa e em que áreas está ativa?

É uma fundação criada em memória das minhas três filhas que morreram em 2009. Um amigo disse-me que acabariam por ser esquecidas e eu respondi-lhe que mesmo que as pessoas as esquecessem, eu continuaria a viver por elas. Decidi que a tragédia da morte das minhas filhas iria tornar-se um investimento a favor do bem. Um assassínio não teria como resposta outros assassínios, o ódio não teria como resposta mais ódio. Criei a fundação para manter vivas as minhas filhas através de factos positivos, de boas ações, com trabalho a favor da educação de jovens e mulheres de todo o Médio Oriente, seja qual for a sua origem nacional ou religião...
Inclusive israelitas?
Sm. Pessoas que têm o potencial mas não têm meios para o concretizar. É fundamental dar mais educação às mulheres, dar-lhes oportunidades nos centros de decisão de serem agentes de mudança a favor de um mundo mais humano.

Quantas pessoas apoia a fundação?
Mais de 450 no Médio Oriente e outras 50 a estudarem nos EUA, Canadá, Reino Unido e Bangladesh. E espero que o governo português e as universidades possam colaborar connosco.

Um dia afirmou que "a tragédia não deve o ser fim da nossa vida. Não podemos admitir que nos controle e vença", falando do facto de as suas filhas já não estarem vivas...
Elas estão vivas em mim. Não estão mortas. Estão longe de mim. Vivem em mim. Vejo-as diante de mim. Falam comigo. Vivo por elas. Divulgo a sua mensagem. Não quero assistir a mais mortes. Em particular, de mulheres e crianças. Sinto raiva quando sei da morte de mulheres, adolescentes, crianças, qualquer ser humano, mas se uma tragédia não é o fim de tudo, então viver pelas minhas filhas é uma forma de impedir mais mortes. Por isso, digo às pessoas: não se deixem vencer pela tragédia, há coisas boas para fazer: sermos corajosos, corretos com os outros, bondosos. Há pessoas que acham que a bondade, tolerância, tenacidade são sinónimos de fraqueza. Não entendem que é necessária mais coragem para ser tolerante e bondoso. A tragédia por que passei deu-me mais força e coragem para defender aquilo em que acredito. E mais responsabilidade para fazer mais. E como vivi o sentimento de perda, quando vejo algo semelhante a desencadear sentimentos de raiva, sei que é preciso transformar esta raiva em algo positivo.

É a mensagem que procura transmitir às pessoas em situações semelhantes?
Sim. Sei que é muito difícil, doloroso. Quando penso nas minhas filhas, a única certeza é de que não as posso trazer de volta. É certo, mas posso fazer muitas coisas.

Faz isto em nome das suas filhas?
Sim. O que faço, faço em nome das minhas filhas. Elas vivem em mim. São elas que me motivam. E quando falo, quero que elas fiquem vivas também nos corações, nas mentes das outras pessoas e que estas entendam que somos responsáveis pelo mundo em que vivemos.

Após a morte das suas filhas, publicou o livro I Shall Not Hate (Não Odiarei, na tradução em português). Uma forma de perpetuar a sua memória?
É uma autobiografia. Escrevi-a porque a história de uma vida pode ser informação útil para outros, um exemplo, uma inspiração. Com o livro procurei transmitir uma mensagem universal de esperança. Ainda que seja palestiniano, não é só o conflito israelo-palestiniano que me preocupa - é o que se passa no mundo. O livro já deu origem a uma peça de teatro na Alemanha.

Foi traduzido em Israel?
Sim, em hebreu e também em árabe.

Pensa escrever um novo livro?
Estou a escrever I Will Shall Not Fear (Não Temerei). Não devemos ter medo. O medo é um terrível agente de poluição das sociedades.

Como vê o conflito israelo-palestiniano?
Não posso deixar de ver este conflito na perspetiva de médico. É uma doença cujo diagnóstico tem de ser feito com rigor e clareza. Uma vez estabelecido o diagnóstico, podemos definir o tratamento adequado. O meu diagnóstico é o seguinte: estamos perante um conflito entre duas nações, a palestiniana e a israelita, um conflito sobre a posse de terra e um conflito colonial, em que os palestinianos são ocupados e Israel o ocupante. É um conflito de longa duração, anterior a 1948, anterior à Declaração Balfour [1917] e em que, como disse, os palestinianos são ocupados por Israel, mas os israelitas são também ocupados pelas suas narrativas e experiências históricas de que os palestinianos não fazem parte, mas estão a pagar um preço. Os palestinianos merecem a liberdade e os israelitas têm de ser libertados das barreiras políticas criadas pelo ocupante que é o medo, a ganância. E a única forma de conseguirmos a cura de ambos os doentes e de os tornar ambos iguais um perante o outro é acabar-se com os dois tipos de ocupação.

O que seria uma revolução cultural em ambas as sociedades.
Pode ser necessária uma revolução cultural dos dois lados, mas não devemos nem podemos colocar em plano de igualdade o ocupante e o ocupado. E, sem dúvida, que a sociedade palestiniana também tem responsabilidades a cumprir. Deve encontrar formas de unidade e de trabalharem para alterar a sua própria situação e enfrentar o ocupante.

E os israelitas?
Os israelitas, por outro lado, devem compreender que nada será alcançado por meios militares. O que se aplica também aos palestinianos. Não será por aí que se chega à estabilidade, segurança e paz. Não é pela violência que se chegará à liberdade, segurança e a igualdade e o direito ao futuro para todos na região. Sublinho que os israelitas não serão livres enquanto os palestinianos também o não forem, e não terão segurança enquanto os palestinianos também a não tiverem. Só um caminho em comum é que permitirá chegar aos resultados pretendidos.

O momento político palestiniano é complexo: há tensões, divisões entre os principais organizações, alguns palestinianos sugerem que a sua liderança não está à altura das circunstâncias...
É indispensável uma liderança unida, uma comunidade unida. E a primeira nunca pode esquecer que tem de estar ao serviço da segunda e preocupada com o interesse nacional que é a criação de um Estado palestiniano livre e soberano de acordo com as resoluções da ONU. Esta é a grande e principal responsabilidade da liderança palestiniana e os palestinianos devem apoiá-la nesse sentido. Mas também penso que os israelitas devem optar por lideranças que defendam uma solução justa e pacífica para ambos os lados.

Há um elemento novo no conflito israelo-palestiniano, que afeta principalmente o lado palestiniano que é a extensão do conflito entre potências sunitas e xiitas e as respetivas tentativas de o influenciar de algum modo...
Essa divisão não é real na nossa sociedade. Somos palestinianos e não recorremos à religião para fazer política. Somos muçulmanos, cristãos, beduínos e até judeus, mas somos uma só nação. Mesmo que haja alguns grupos tentados por esse caminho, devemos ter presentes as nossas prioridades próprias e o objetivo nacional. Não se deve politizar a religião nem torná-la presente em qualquer conflito. Para mim, a religião é entre cada pessoa e o seu Deus, não é algo entre nós dois. O importante entre as pessoas é a relação humana e se há uma qualquer religião não interessada em promover o relacionamento humano, qual é o seu valor?

Mas a religião tornou-se um elemento político na região e no conflito.
É isso que temos de evitar e quanto aos que a estão a politizar em proveito de uma agenda própria, devemos evitar as armadilhas que nos estendem como devemos evitar abraçar o clima de medo que alguns procuram instilar por toda a parte. Estas são duas armadilhas contra as quais todos nós nos devemos precaver.

Como se tornou o primeiro médico a integrar o quadro de um hospital israelita?
Acreditei no meu trabalho, no que estava a fazer. Quando entramos num hospital em qualquer parte do mundo, seja em Lisboa seja noutra cidade, encontramos doentes de diferentes origens. Um médico vai tratá-los de maneiras diferentes? Não. São tratados de acordo com a doença e o diagnóstico que é feito. O importante é que estamos a lidar com pessoas. A medicina e a saúde tornam todas as pessoas iguais. Uma vez no hospital, todas as pessoas são doentes, mesmo aquele que cometeu um crime lá fora é tratado como qualquer outro doente. Aquilo a que ele tem de responder, será perante um tribunal. Pergunto eu: por que é que não seguimos fora dos hospitais, os princípios que observamos no interior deles? Deixe-me contar isto: um dos momentos mais felizes da minha vida é quando coloco nos braços de uma mãe o bebé que ajudei a trazer ao mundo. Geralmente, a criança está a chorar e consegue-se diferenciar o choro de uma criança palestiniana de uma israelita ou de outra qualquer? É isto que é preciso compreender e usar o exemplo desta profissão como exemplo para o mundo fora dos hospitais. É nisto que acredito e é isto que defendo ser o caminho a seguir.

Diria que ser médico ditou a sua visão do mundo?
Como médico e como palestiniano. Mas não só os médicos, também os professores, os jornalistas podem transmitir a mesma mensagem, uma mensagem humana, sem quaisquer preconceitos e sem a politizarem. E com verdade. Não minto aos meus doentes. Se um deles tem cancro, não posso fazer outra coisa que não seja dizê-lo e dizer também que farei tudo para o tratar. O importante é valorizar as vidas humanas, defender valores realmente humanos. Esse é o desafio. Fazer um mundo melhor para todos.

A sua perspetiva tem aceitação em Israel?
A minha mensagem é idêntica para todos. Não varia. Digo o mesmo em toda a parte. Procuro motivar as pessoas, aproximá-las, dar-lhes esperança, ajudar a combater o desespero. E lembrar que ninguém deve escapar às suas responsabilidades. Não vale a pena responsabilizar os outros para evitar as nossas próprias responsabilidades.
PERFIL
Nasceu em fevereiro de 1955 no campo de Jabbalia, em Gaza; estudou Medicina no Cairo, com uma bolsa, e em Londres. É Professor na Universidade de Toronto. Pai de seis filhos (quatro raparigas e dois rapazes), Izzeldin Abuelaish tornou-se desde cedo defensor do diálogo israelo-palestiniano. Perdeu três filhas em 2009 devido a um ataque israelita. Tem nacionalidade canadiana desde 2015.


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08
Nov17

PSP retira corpos de velórios. "O nosso luto foi invadido. É desumano"

António Garrochinho
Hospital de São Francisco Xavier notificou primeiras situações de legionela a 31 de outubro. Já foram detetados 35 casos (duas mortes)
Neta de Maria da Graça Ribeiro reage com indignação e diz que família pressionará para que funeral seja hoje

"Quando é que o ministério nos vai dar o corpo da minha avó? O nosso luto foi invadido. Estávamos na nossa dor, a despedir-nos. Queremos ter o nosso tempo de luto." Joana Araújo, neta de uma das vítimas mortais do surto de legionela no Hospital de São Francisco Xavier (HSFX), estava no velório da avó quando viu a PSP entrar para levar para autópsia o corpo de Maria da Graça Ribeiro, de 70 anos. "Não contesto as ordens que têm, mas é desumano. Queriam levar o corpo num saco como se fosse lixo." Perante a indignação da família, recorda Joana, as autoridades usaram a carrinha funerária para transportar o corpo desde o velório, na Igreja de Santo Condestável, em Campo de Ourique, até ao Instituto de Medicina Legal de Lisboa (IMLL).

Ontem, a PSP interrompeu os velórios das duas vítimas do surto de legionela (há mais 33 pessoas infetadas, cinco delas internadas nos cuidados intensivos) por ordem do Ministério Público (MP) que decidiu ordenar as autópsias dos corpos, quando estes tinham sido entregues às famílias pelos hospitais de Santa Maria e Lusíadas na segunda-feira. A decisão do MP está relacionada como facto de ter sido aberto um inquérito às mortes provocada pelo surto de legionela no HSFX identificado a 31 de outubro.

Joana Araújo não compreende o que aconteceu. "O corpo esteve mais de 24 horas na morgue do hospital. Disseram-nos que não era preciso fazer autópsia. A causa era conhecida", recorda a jovem, que neste momento só quer saber quando é que o corpo vai ser autopsiado e devolvido à família. "O mínimo que podem fazer é dar-nos o corpo o mais depressa possível", frisa, em conversa telefónica com o DN.
Tudo terá começado na sexta-feira, quando Joana foi com a avó a uma consulta de cardiologia no HSFX. "Terá sido infetada aí", diz ao DN a jovem. Maria da Graça começou por se sentir mal no sábado e terá piorado durante a madrugada, o que levou a família a chamar o Instituto Nacional de Emergência Médica de Portugal. "Como as urgências do HSFX estavam fechadas, foi levada para o Hospital de Santa Maria". Aí, as análises viriam a confirmar uma "pneumonia muito grave" provocada por legionela. "Os órgãos começaram a falhar e tiveram de a induzir em coma."
Na segunda-feira, às 09.15, Maria da Graça teve uma paragem cardiorrespiratória "e não conseguiram reanimá-la. "Fizemos dezenas de questões relativamente à autopsia. Indicaram-nos sempre que não era preciso fazer. Até que libertaram o corpo. Só fizemos o velório hoje [ontem], às 17.00, porque estávamos à espera do meu tio que vinha da Madeira e do meu primo que ia chegar da Suíça". Por volta das 19.00, a PSP entrou no velório "com um mandado" para levar o corpo de Maria da Graça, cujo funeral estava marcado para esta quarta-feira às 15.00.

A família contestou, lembra Joana, mas "não havia nada que pudesse fazer". "Queriam levá-la num saco como se fosse um lixo. Não deixámos e entretanto chamaram uma carrinha funerária para levar o corpo para o IMLL", recorda.

Esta situação foi "desconfortável" para os agentes, como reconheceu fonte do Comando Metropolitano de Lisboa à Lusa. "Dizer que é uma situação muito sensível é pouco e foi difícil de gerir. Foi desconfortável, mas teve de se cumprir. As pessoas estavam desagradadas com a situação, mas não houve problemas de maior", sublinhou.

Em comunicado, o MP anunciou que ordenou as autópsias das duas vítimas mortais - que considera "essenciais para a investigação em curso" - por não ter "recebido qualquer comunicação de óbito relacionada com esta matéria [legionela]". Por isso, teve "necessidade de recolher elementos que permitissem identificar as vítimas, bem como as circunstâncias que rodearam as mortes, designadamente o local onde ocorreram".

Além da autópsia ao corpo de Maria da Graça, o MP ordenou igualmente a autópsia ao corpo da outra vítima mortal, Simão José Santiago, o que fez que a data das cerimónias fúnebres também tivesse de ser alterada.
O jurista, de 77 anos, terá sido infetado quando foi fazer umas análises de rotina no Hospital de São Francisco Xavier. Deu entrada no Hospital dos Lusíadas durante o fim de semana, com sintomas de pneumonia forte, e acabou por falecer.


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08
Nov17

O ELÁSTICO ORÇAMENTO DA CATARINA

António Garrochinho




(Joaquim Vassalo Abreu, 08/11/2017)


Que como ainda não é feito em fibra de carbono ou outro qualquer material imune ao esticanço, mas para isso resolver temos aí a WEB SUMMIT e milhares de inovadores e empreendedores à espera de uma incubadora que, certamente como outras coisas inimagináveis, tal descobrirão, ele tanto estica, tanto estica que…rebenta!
É o Orçamento da Catarina! Tais e tais medidas, diz ela, não mereceram cabimento na generalidade, mas asseguro-vos que, na especialidade, tudo faremos para que elas lá constem. Essas e muitas mais.  Na especialidade, portanto, o Orçamento vai virar elástico!

A Mariana, por seu turno, numa excelente intervenção no Parlamento, desmontou num ápice a argumentação da Direita (as célebres clientelas das Esquerdas de novo, por exemplo) mas não resistiu à tentação e borrou no fim a pintura. Quando se referia às compensações pelo aumento de cerca de um milhão de Euros na despesa (redução do IRS, aumento das Pensões, dos Subsídios etc, que este Orçamento contempla), disse que a compensação é marginal (aumento do imposto sobre as bebidas açucaradas etc). Não referiu o aumento da Derrama Estadual, mas disse-o de modo orgulhoso e convicto.

A pergunta óbvia é: Mas de onde vem o dinheiro para colmatar esse aumento de despesa, certamente que justa e que eu até a apoio? Quem financia, Mariana? A isto ela respondeu que é o crescimento que concorre para que haja mais cobrança de impostos. Portanto, para a Mariana, o putativo aumento da cobrança de impostos advindo do crescimento económico será gasto na diminuição de impostos, não é? E o défice, Mariana? Como se baixa o défice?

Pois aqui está a questão e isso leva-nos para as famigeradas “Cativações”. Que, afirma a Catarina, sendo um instrumento de gestão de controlo corrente e por todos usado, “não podem servir para cumprir com Bruxelas e falhar com os parceiros”Ora, se o aumento das receitas com Impostos não dá para diminuir o défice, que mais resta que as “Cativações”? Poupanças, quero eu dizer, nos gastos intermédios do Estado e em alguns serviços. Mais endividamento, claro.

Ah, afirma ela, e aqui secundado pelo Jerónimo, que tivemos um Saldo Primário de cerca de cinco mil milhões e poupamos cerca de mil milhões em juros. Não se pode gastar algum? Pois, mas por alguma razão o nosso défice desceu e contando com os juros (cerca de sete mil milhões) ele será ainda de cerca de dois mil milhões. Como se colmata? Com mais dívida, é também evidente. E também porque dois mais dois ainda são quatro.

Eu não sou ninguém para dar lições à Catarina, e muito menos à Mariana que é uma reputada economista, mas sempre lhes recordo que cabe a qualquer Governo consciente da sua função e das suas obrigações, ter uma política prudente e preventiva no que concerne ao financiamento do Estado e da Economia, para que diminuindo ou acabando os estímulos do BCE na compra de activos (perspectiva-se que diminuam para metade já em Janeiro próximo) tenhamos condições para acorrer aos Mercados.

Mas para irmos aos Mercados em condições vantajosas temos que ter contas sãs e défice a pender para o zero, pois senão a dívida aumentará sempre, e um satisfatório “rating”. Mas de que depende o “rating”? Disto tudo, é claro também. O bom senso tem como limite o défice zero, quer se queira quer não.
Eu também não concordo com este “sistema” que está implantado, em pertencermos a uma moeda única que nos tolhe e em não termos instrumentos eficazes como a taxa de câmbio ou moeda própria, por exemplo. Mas é o que temos, enquanto tal não se modificar. E é obrigação de quem aspira à governação, ou a mesma queira influenciar, resistir à tentação da demagogia.
 O PODEMOS em Espanha, por exemplo. Teve a oportunidade de ter sido Governo em aliança com o PSOE mas, inseguro, pretendeu encher mais o balão através de novas eleições e desatou a reivindicar medidas sem conta, cerca de noventa, para que o PSOE não pudesse aceitar e levar a sua avante. Que sucedeu? Baixou a sua votação e deixou de contar para uma maioria! A demagogia às vezes paga-se! Mas pega-se, não é? Alguma vez terá o Bloco vontade de pertencer a um Governo?
Por registo de interesses, não sou apoiante do BE, antes pelo contrário, nunca nele votei e certamente nunca votarei mas, como pessoa de Esquerda, respeito-o, até porque faz parte da “Geringonça”.

Mas não aprecio e critico até a sua forma um tanto ou quanto imatura e excêntrica de actuar. Pelo que digo: Sei o que é o PCP e o que representa; também sei o que é o PS mas, sinceramente, não sei bem o que é ideologicamente o BE.

Sei que vão chover mil críticas a este meu posicionamento mas, como não sou o dono da verdade absoluta nem sou imune a críticas, pois façam o favor…
Tenho para mim que, tal como o “Albergue Espanhol”, o Bloco é o reduto onde cabem todos os indefinidos de Esquerda, os que foram anti-PCP, os que se revêm nas Esquerda do PS, mas não aceitam subscrever as regras do Capitalismo (e tudo o que nisso significa) e são assim como que uma sobra das Esquerdas, mas muitas vezes com uma arrogância intelectual tal que faz com que seja vista como uma organização pretensamente elitista. A Esquerda “Bairro Alto” ou “Caviar”, como também lhe chamam.
E não posso, para terminar, deixar de referir que não me agrada e irrita-me mesmo que, na vigência desta solução governativa, exiba muitas vezes uma postura sobranceira, a roçar muitas vezes o cinismo, reivindicando como de sua patente medidas que foram negociadas a três (ou quatro), quebrando até e muitas vezes o próprio sigilo auto imposto por todos. E isto diminui a sua fiabilidade e confiança, pelo menos para mim.
Mas na sua entrevista ao DN, que acabei por ler, constatei também uma surpreendente afirmação sua e que, de tão estimulante, eu acabei até por reler :”…as folgas pontuais não resolvem o problema estrutural da dívida”. E fiquei muito, mas muito confuso e perguntei-me: Se não são as folgas, será o quê? E como se faz para que as folgas deixem de ser pontuais? E como é que, sendo pontuais, servem para “esticar” o Orçamento?

Mas também fiquei convencido que, depois de saber dos seus dotes de alquimia, foi ela que, qual Alexandre- O Grande  com o “Nó Górdio”, resolveu o complexo, indecifrável e irresolúvel “nó” da “Quadratura do Círculo”!


estatuadesal.com
08
Nov17

INTERVENÇÃO DE JERÓNIMO DE SOUSA, SECRETÁRIO-GERAL, COMÍCIO COMEMORATIVO DA REVOLUÇÃO DE OUTUBRO «É com a profunda convicção de que o socialismo e o comunismo são o futuro da Humanidade que continuamos a nossa luta»

António Garrochinho




Hoje é um dia com um simbolismo particular, o dia em que assinalamos os 100 anos da Revolução Socialista de Outubro.
Assinalamos e celebramos, neste preciso dia 7 de Novembro, o primeiro dos dias de uma revolução nascente que vai não só abalar o mundo assente na exploração e na opressão, mas transformá-lo e marcá-lo profundamente, pela força do seu exemplo, das suas realizações revolucionárias e progressistas, da acção coerente e de princípios do novo poder proletário e camponês a favor dos trabalhadores e dos povos.
Assinalamos e saudamos nesse inaugural acto libertador o início de uma nova época histórica que permanece aberta no horizonte da luta dos trabalhadores e dos povos – a época da passagem do capitalismo ao socialismo – e nele a materialização de um milenar sonho de emancipação e de libertação de gerações de explorados e oprimidos!
Assinalamos e celebramos, condensando nesse glorioso 7 de Novembro, a gesta heróica dos que, decidida e conscientemente, se lançaram no empolgante empreendimento da construção de uma sociedade nova – o proletariado russo, sob a direcção do Partido Bolchevique e de Lénine - que, confirmando a perspectiva política e ideológica apontada pela obra teórica de Marx e Engels, se lançou na construção de uma sociedade sem exploradores nem explorados. Mas igualmente celebramos os que lhe deram continuidade, desbravando os caminhos inéditos e nunca antes conhecidos na construção da sociedade nova, assim como todos aqueles que, arrostando sacrifícios imensos os precederam e que, com a sua luta, a sua experiência revolucionária, os seus ensinamentos, mantiveram viva a perspectiva da luta libertadora e emancipadora dos povos.
Essas gerações de explorados e oprimidos que viam, quantas vezes, cair por terra, numa luta desigual, as suas bandeiras, como na Comuna de Paris, para adiante as tornarem a erguer na procura e conquista do futuro. Esse futuro pelo qual continuamos a nossa luta, para lá de todas as vicissitudes, levantando bem alto a grande bandeira que sempre nos guiou e que coloca o socialismo e o comunismo no horizonte da nossa luta.
Neste Centenário afirmamos a consigna “Socialismo, exigência da actualidade e do futuro”.
Relembramos, damos a conhecer e afirmamos a Revolução de Outubro como a realização mais avançada no processo de libertação da Humanidade de todas as formas de exploração e opressão.
Mostramos como a Revolução de Outubro não foi uma aventura, nem obra de aventureiros, como propala a propaganda anticomunista, mas obra dos próprios trabalhadores e do povo soviético que, com a sua luta, abriram os caminhos da sua libertação e com as suas próprias mãos começaram a erguer essa realidade nova, essa terra sem amos e da igualdade, anseio e sonho milenar que a Utopia proclamava e que o Manifesto do Partido Comunista consagrou em projecto político com a superação revolucionária do capitalismo pelo socialismo a ser experienciada e vivida por milhões de seres humanos.
Evidenciamos a importância e o valoroso papel da classe operária e dos trabalhadores, a sua unidade e organização no processo de transformação social e em todas as etapas do processo revolucionário e da construção da sociedade socialista.
Damos, muito justamente, um particular relevo às grandes conquistas e realizações políticas, económicas, sociais, culturais, científicas e civilizacionais do socialismo na URSS que a propaganda dos defensores da eternização da exploração capitalista omite e desvaloriza.
Mostramos como a Revolução Socialista transformou a velha e atrasada Rússia dos czares, onde persistiam relações feudais, num país altamente desenvolvido, mais industrializado e socialmente mais avançado, provocando efeitos extraordinários à escala planetária.
Mostrou-se como, num curto período de tempo histórico, se alcançou um significativo desenvolvimento industrial e agrícola e se eliminou o desemprego, confirmando a superioridade da propriedade social e da planificação económica. Se erradicou o analfabetismo e generalizou a escolarização, garantiu e promoveu, pela primeira vez, os direitos das mulheres, das crianças, dos jovens e dos idosos.
Pomos em evidência aquilo que a propaganda imperialista a todo o custo esconde: que foi a pátria dos «sovietes», o primeiro país do mundo a pôr em prática ou a desenvolver como nenhum outro, direitos sociais fundamentais, como o direito ao trabalho, a jornada máxima de 8 horas de trabalho, as férias pagas, a igualdade de direitos de homens e mulheres na família, na vida e no trabalho, os direitos e protecção da maternidade, o direito à habitação, a assistência médica gratuita, o sistema de segurança social universal e gratuito, e a educação gratuita, se assegurou o acesso à cultura e à prática do desporto.
Sendo que tudo isto foi alcançado pela União Soviética, apesar da intervenção de potências imperialistas, da guerra civil, do bloqueio económico e da sabotagem e de duas grandes guerras devastadoras.
Mostramos como as transformações e realizações revolucionárias estimularam a luta dos trabalhadores e dos povos de todo o mundo para que alcançassem importantes conquistas sociais. Mostramos o imenso contributo da URSS e do povo soviético para o avanço da luta emancipadora dos trabalhadores e dos povos, incluindo no apoio à conquista da independência de numerosas nações secularmente submetidas ao jugo colonial e o seu inquestionável papel de força motriz do progresso e da paz a nível mundial.
A Revolução de Outubro está e continua a estar no centro da luta ideológica. Os adversários do socialismo – o grande capital e o imperialismo – continuam a desenvolver uma singular e feroz campanha contra a Revolução de Outubro.
Fazem-no porque sabem que ela foi um acontecimento marcante na história para acabar com a exploração e também com o objectivo de enfraquecer o poder de atracção da nova sociedade, de desmoralizar e desmobilizar a luta pela sua concretização.
Fazem-no utilizando todo o seu arsenal de meios e influência porque o que verdadeiramente temem não são as soluções dos que, falando em socialismo, cortejam as Wall Streets e não ousam beliscar a ordem capitalista vigente, mas aqueles que, como o PCP, assumindo, os ideais e valores de Outubro, não aceitam o capitalismo como sistema final da história e lutam de forma consequente para pôr termo a relações sociais de produção assentes na exploração do trabalho e dos povos.
E muito menos temem, antes incentivam, os que negando a actualidade da clivagem essencial que permanece na sociedade dos nossos dias, a grande e decisiva opção entre socialismo e capitalismo, se empenham na produção e difusão de falsas dicotomias alternativas empolando variantes secundárias do capitalismo dos nossos dias, classificado e adjectivado de neoliberal versus progressista, cosmopolita versus nacionalista, ultramontano à Trump versus humanista, entre outros exemplos, e que visam encerrar a alternativa e solução dos graves problemas do capitalismo no interior do próprio sistema de exploração que os engendra.
Sabemos que a Revolução de Outubro foi sempre, desde o seu nascimento, objecto das mais insidiosas e odiosas campanhas difamatórias.
Este tempo de passagem do Centenário tem sido pretexto para a difusão em grande escala do mais baixo e vil anticomunismo. O ódio e a difamação não têm limites. Temo-los visto rebuscar na arca das velharias as mais torpes e estafadas mentiras não apenas para denegrir e diabolizar a Revolução de Outubro, mas os comunistas e o seu projecto.
Já não as delirantes construções do tipo que o “Diário de Lisboa” difundia ainda em 1921, onde se escrevia: “Na Rússia as mães já podem casar com os filhos”, porque de tão absurdas e abjectas deixaram de ter eficácia, mas todas aquelas que, tomando novas roupagens, os centros ideológicos e doutrinários da grande burguesia internacional incessantemente renovam, para demonstrar, com o selo de uma falsificada cientificidade, que o socialismo é uma experiência falhada e, sobretudo, que a natureza do projecto comunista é intrinsecamente perverso e anti-democrático.
Nesse afã de deturpação do projecto comunista popularizam teorias onde amalgamam regimes, sistemas, personalidades, práticas e objectivos, num vicioso processo de tentar unir e juntar o que é diferente e foi diferente não só na prática da acção política, mas nos objectivos e projecto.
Passaram a juntar no caldeirão da sua fantasiosa propaganda, equiparando fascismo e comunismo, falsificando a história, fabricando factos e arrolando incomensuráveis e inverosímeis crimes para suscitar a indignação das massas e criminalizar o socialismo e o seu percurso na vida dos povos no século XX e o próprio ideal comunista. Neste processo tratam de igual modo carrasco e vítimas, unindo-os no conceito de totalitarismo fabricado à medida das suas pretensões. Fingem ignorar que fascismo e comunismo são sistemas antagónicos. Que o fascismo – a ditadura terrorista dos monopólios e dos latifundiários em que o Estado é colocado ao serviço de uma escassa minoria - olhava a Revolução de Outubro e o seu Estado ao serviço da maioria do povo como o perigo principal e inimigo principal dos monopólios e da grande burguesia a quem o fascismo servia.
O que a verdadeira história regista não é a cumplicidade, mas heroicidade do povo e dos comunistas soviéticos para travar a barbárie e a catástrofe em que o mundo foi lançado pelo nazi-fascismo, tendo pago pelo seu contributo para a Vitória um custo muito alto: 20 milhões de mortos e um país devastado.
E o que na história não se pode apagar, por muitas operações de maquilhagem realizadas, é a simpatia e a cumplicidade das classes dirigentes das grandes potências capitalistas, perante a ascensão de Hitler e as suas acções belicistas, que a coberto da necessidade de salvar a paz e da política de «amansar a fera», com o sacrifício de povos e países, alimentavam a esperança de direccionar a bestialidade nazi para «resolver a questão russa».
No centro da sua ofensiva ideológica tentam a todo custo demonstrar uma incompatibilidade entre a Revolução de Outubro e a democracia, entre o socialismo e democracia, utilizando-a como uma arma de arremesso contra os partidos comunistas e revolucionários. Culpam a Revolução de Outubro de ser a portadora e conter em si os germes de desfigurações, erros e desvios por nós assinalados em congressos, e não escondidos, que conduziram à trágica derrota da URSS.
Mas como temos afirmado não é na Revolução de Outubro – a mais libertadora das revoluções – que se pode encontrar a origem do desaire que representou a destruição do socialismo na URSS, mas num “modelo” de construção do socialismo que, como temos afirmado, acabou por se afastar e contrariar o ideal e o projecto comunistas em questões fundamentais.
Não! O socialismo não é incompatível com a democracia, nem teme a democracia. O socialismo precisa da democracia, da participação consciente dos trabalhadores e do povo para se afirmar e desenvolver. Não há socialismo sem a participação dos trabalhadores e do povo, o seu contributo, o seu empenhamento, a sua decisão, sem uma organização da sociedade com um funcionamento profundamente democrático.
É por isso que no centro do projecto político do PCP e em todas as fases e etapas do processo de desenvolvimento da sociedade portuguesa está a concretização da democracia nas suas vertentes política, económica, social e cultural, no quadro de um sistema político assente na garantia do exercício das liberdades democráticas, incluindo de formação de partidos políticos, o respeito pelas opiniões políticas e crenças religiosas, a realização regular de eleições democráticas. Um sistema político assente num Estado democrático representativo e participado, alicerçado na soberania e independência nacional.
Não! Ao contrário do que afirma a campanha das forças do retrocesso político, económico e social, o que os povos devem ter fundadas razões para temer e de forma cada vez mais preocupante e crescente à medida que se aprofunda a crise estrutural do capitalismo, são as práticas e projectos de empobrecimento, amputação e liquidação da democracia dos defensores do sistema de exploração capitalista e o seu processo de globalização de domínio planetário.
O que os povos têm fundadas razões para repudiar e repelir são as suas práticas de exportação da sua “democracia” à bomba dos que falsamente arvorados em seus defensores querem perpetuar o seu domínio e impor pela violência os seus interesses, como a realidade da Líbia à Síria, do Iraque à Palestina, da Ucrânia à Venezuela aí estão a demonstrar. O que os povos devem temer são as artimanhas dos que se especializaram em engenharias eleitorais, para transformar minorias em maiorias, para confiscar e raptar a democracia.
O que os povos devem recear são os projectos daqueles que passaram a teorizar sobre a menoridade das massas para decidir questões complexas do Estado, visando usurpar a decisão soberana dos povos em matérias essenciais.
Esses mesmos que também impõem o pensamento único e a política única na União Europeia, com base em critérios caídos do céu, como no Euro, condicionando qualquer política alternativa.
Daqueles que a crise e a cada dificuldade encontrada para impor a sua vontade ensaiam em fugas em frente à custa da democracia e do direito dos povos a decidir, usurpando crescentes parcelas da sua soberania, centralizando-as em espaços supra-nacionais, longe do seu controlo e da sua decisão.
Esses que continuam a engenhar novos planos para transferir decisões políticas para especialistas e criar novos condicionamentos à decisão soberana dos povos. Sim, não são processos de intenção, são pretensões reais do FMI e da União Europeia.
Hoje estamos a celebrar a Revolução de Outubro, sem a União Soviética e sem o socialismo como sistema mundial e a evolução do mundo mostra quanto negativamente pesa essa ausência na vida dos trabalhadores e dos povos.
O capitalismo, liberto das condicionantes que a existência do socialismo como sistema mundial impunha e funcionando livremente de acordo com as suas regras, não só passou a pôr cada vez mais em causa as liberdades e direitos políticos, como agravou todos os problemas inerentes à sua natureza de sistema explorador, opressor, agressivo e predador estando a conduzir o mundo para barbárie, empurrando o mundo para os perigosos caminhos da confrontação generalizada e da guerra, o que apela ao reforço da luta pela paz e pelo desarmamento.
Duas décadas e meia depois das proclamações vitoriosas de um capitalismo inultrapassável, é o aprofundamento da sua crise estrutural e as suas consequências que pontuam de forma dramática na vida dos povos dos nossos dias.
Elas são iniludíveis na persistente e agressiva escalada do imperialismo, particularmente dos Estados Unidos da América, que a dança das administrações não altera, para impor o seu domínio hegemónico. Na escalada de tensão e provocação contra Estados soberanos, nomeadamente no Leste Europeu, Ásia Central, América Latina, África e Extremo Oriente. Nas agressões militares directas com destruição de países inteiros, em acções de chantagem e ingerência, numa espiral de confrontação e conflitos que, a não ser travada, conduzirá a Humanidade à catástrofe.Na nova corrida armamentista e o salto militarista nos EUA e na União Europeia, e com o envolvimento da NATO em guerras de agressão, que são, a par com as trágicas consequências sociais da ofensiva imperialista, as principais causas do terrorismo e do crescimento de forças xenófobas e racistas.
O balanço destes tempos é brutal e sinistro. Milhões de pessoas, cerca de 1/5 da população mundial, vivem afectados por conflitos. São milhões os deslocados e os refugiados. Morte, miséria, pobreza e fome espelham a catástrofe social da guerra vista cada vez mais como solução e resposta à própria crise do sistema de exploração.
Consequências que se vêem também na arrastada e cada vez mais profunda crise do processo de integração capitalista europeu e na tentativa de reactivação do eixo franco-alemão e do aprofundamento dos três pilares da União Europeia – o federalismo, o militarismo e o neoliberalismo -, a coberto do chamado “Futuro da Europa”.
Mas igualmente na grande regressão que há muito está em marcha, persiste e se agrava com a ofensiva do grande capital contra os direitos laborais e sociais, os serviços públicos, a soberania dos povos.
O proclamado reino da abundância pelo capitalismo globalizado, com a falaciosa prédica da competitividade, da flexibilidade, da desregulação e das reformas estruturais, traduziu-se em novas operações de concentração da riqueza a favor do capital transnacional, no agravamento da exploração, do desemprego, da precariedade, do aumento das injustiças sociais, com brutais custos para os trabalhadores e para os povos.
Toda uma evolução que confirma que o capitalismo não tem soluções para os problemas do mundo contemporâneo, que está por toda a parte em permanente confronto com as necessidades, os interesses, as aspirações dos trabalhadores e dos povos, e é incapaz de ultrapassar as suas contradições. Que o capitalismo não é reformável, humanizável ou regulável!
Sim, o mundo precisa do socialismo! Ele é uma necessidade que emerge com redobrada actualidade na solução dos problemas da humanidade. Uma necessidade que exige ter em conta uma grande diversidade de soluções, etapas e fases da luta revolucionária, certos de que não há “modelos” de revoluções, nem “modelos” de socialismo, como sempre o PCP defendeu e que assume como um objectivo supremo no seu Programa.
Programa que aponta como objectivos fundamentais da revolução socialista em Portugal: a abolição da exploração do homem pelo homem, a criação de uma sociedade sem classes antagónicas inspirada por valores humanistas, a democracia compreendida na complementaridade de todas as suas vertentes, a intervenção permanente e criadora das massas populares em todos os aspectos da vida nacional, a elevação constante do bem-estar material e espiritual dos trabalhadores e do povo, o desaparecimento das discriminações, desigualdades, injustiças e flagelos sociais, a concretização na vida da igualdade de direitos do homem e da mulher e a inserção da juventude na vida do país, como força social dinâmica e criativa.
Nas condições de Portugal, a sociedade socialista que o PCP aponta ao nosso povo, passa pela etapa que caracterizámos de uma Democracia Avançada, uma etapa que sendo parte integrante da luta pelo socialismo, a sua realização é igualmente indissociável da luta que hoje travamos pela concretização da ruptura com a política de direita e pela materialização de uma política patriótica e de esquerda que dá corpo a essa construção, num processo que não separa, antes integra de forma coerente o conjunto de objectivos de luta imediatos.
Também em Portugal a alteração da correlação de forças na situação mundial resultante do desaparecimento do socialismo como sistema mundial teve impactos profundamente negativos.
A agenda do capitalismo dominante de liberalização, privatização e financeirização da economia, ampliou e agravou os problemas acumulados de anos de política de direita e de recuperação capitalista e monopolista, de destruição das conquistas de Abril, acelerando a ofensiva de liquidação e privatização dos sectores estratégicos da economia nacional, e a destruição dos principais sectores produtivos nacionais e os direitos laborais e sociais dos trabalhadores e do povo.
Uma política que haveria de acabar por entregar os destinos do País à intervenção estrangeira e à concretização de um pacto ilegítimo entre aqueles que governaram o País em todos esses anos – o PS, PSD e CDS-PP - e uma troika estrangeira composta pelo FMI, União Europeia e BCE com resultados ainda mais ruinosos para o País e para a vida dos portugueses.
As consequências estão hoje patentes e perduram na sociedade portuguesa: regressão acentuada da capacidade produtiva do País; acentuação da sua dependência e da sua economia face aos monopólios e ao capital estrangeiro; uma dívida pública sufocante; regressão drástica das condições de vida dos trabalhadores e do povo, e dos seus direitos; aumento das desigualdades; cavados desequilíbrios regionais; agravadas vulnerabilidades estruturais que se expressam no plano produtivo, alimentar, energético, demográfico, de ordenamento de território, de infraestruturas e serviços públicos, que tornam Portugal numa nação extraordinariamente exposta a alterações adversas do quadro internacional.
Vulnerabilidades que ficaram dramaticamente expostas nos trágicos incêndios florestais que assolaram o País este ano, bem como outros problemas e às quais se junta um conjunto de fortes constrangimentos, nomeadamente resultantes do Euro que condicionam seriamente o desenvolvimento do País.
Agudos problemas, cuja solução reclama para a sua superação uma política patriótica e de esquerda, como a que o PCP defende para o País.
Uma política que tem como elementos decisivos, entre outros: a libertação do País da submissão ao Euro e à União Europeia, a renegociação da dívida pública para libertar recursos; a defesa e promoção da produção nacional e dos sectores produtivos, articulada com a valorização do trabalho e dos trabalhadores, como objecto e condição do desenvolvimento; a recuperação para o sector público dos sectores básicos estratégicos da economia; uma administração e serviços públicos ao serviço do povo e do País.
No seguimento do fim do socialismo na URSS e no seio do alarido apologético do capitalismo em marcha triunfal até à eternidade, alguns decretaram a morte do comunismo e aqui, neste País da Revolução de Abril, o declínio irreversível do PCP e a sua inevitável liquidação.
Tomaram os seus desejos pela realidade. A Marcha triunfal há muito está de regresso a casa com os seus estandartes anunciadores da sua perversa democracia universal, do fim das guerras e das crises arreados, e o PCP continua de pé, a viver e a lutar, não apenas resistindo, mas fazendo acontecer, mantendo no horizonte sempre e sempre o objectivo do socialismo!
Fazendo acontecer, com uma iniciativa e contributo decisivo para derrotar e travar a brutal ofensiva protagonizada pelo governo do PSD/CDS e pelas forças da ingerência estrangeira, pondo termo a quatro ruinosos anos de prática de agravamento da política de exploração dos trabalhadores e do povo e de empobrecimento nacional.
Fazendo acontecer, apontando o caminho que abriu a nova fase da vida política nacional em curso, criando novas e melhores condições para o desenvolvimento da luta, encetando um processo de defesa, reposição e conquista de direitos dos trabalhadores e do povo e conter o declínio do País.
Dois anos da nova fase da vida política nacional com a destacada intervenção do PCP se são motivo de apreensão e desorientação para os coveiros frustrados do PCP, patente na sua atitude revanchista contra o nosso Partido, são uma vantagem para a vida dos trabalhadores, dos reformados, dos intelectuais e quadros técnicos, dos pequenos e médios empresários, dos agricultores e pescadores, dos jovens e das mulheres que viram, com a acção e a intervenção do PCP, já garantidas algumas respostas aos seus problemas mais urgentes no domínio dos salários, das reformas, dos impostos, dos direitos, no apoio às actividades produtivas e à cultura.
Dois anos a lutar e fazer acontecer, dinamizando e organizando a luta dos trabalhadores e do povo. Essa luta que foi decisiva para travar a ofensiva das forças do retrocesso económico e social e o seu projecto de exploração e empobrecimento nacional. Que é decisiva e determinante para que continue a avançar a reposição e conquista de direitos e a exigência de uma política de desenvolvimento do País. Luta como a que se trava hoje nos mais variados sectores e que tem na grande manifestação da CGTP-IN do próximo dia 18, aqui em Lisboa, mais um momento alto e um ponto de confluência. Luta necessária e decisiva para afirmar a alternativa patriótica e de esquerda, e construir os caminhos do futuro.
Luta que não esquece a lição que a Revolução de Outubro confirmou: - “a emancipação dos trabalhadores tem que ser obra dos próprios trabalhadores”, obra do povo que aspira a viver numa sociedade mais livre e justa.
Sabemos das contradições resultantes da assumida opção do governo do PS de não se libertar dos seus compromissos com os interesses do grande capital e da sua postura de submissão e dependência externa, designadamente às imposições da União Europeia e do Euro.
Sabemos dos esforços das forças mais retrógradas, reaccionárias e do grande capital vêm fazendo, bem visível a pretexto da tragédia dos incêndios, com vista a limitar avanços na reposição e conquista de direitos e na criação de condições para recuperarem espaço perdido nestes dois últimos anos.
Mas é neste quadro de agudas contradições que continuamos e estamos na luta para levar o mais longe possível a defesa, reposição e conquista de direitos e a exigência para fazer avançar o desenvolvimento do País.
Aos sonhadores da morte, aos profetas do declínio irreversível e das inevitabilidades, nós afirmamos que aqui estamos e estaremos ligados ao pulsar da vida, prontos a prosseguir a nossa luta para resolver os problemas nacionais e a elevação das condições de vida do povo e fazer avançar a construção da alternativa patriótica e de esquerda, indispensável para a solução dos problemas do País.
Sim, estamos a celebrar a Revolução de Outubro sem a existência de grande parte da realidade que dela brotou.
Mas tal facto não apaga a sua importância para a luta dos trabalhadores e dos povos que hoje travam em defesa dos seus direitos e da soberania, face à ofensiva do imperialismo e por transformações progressistas e revolucionárias, pelo socialismo.
Não apaga a enriquecedora experiência dessa primeira Revolução Socialista vitoriosa e a demonstração prática da superioridade da nova sociedade.
Não apaga o que representou como força impulsionadora e propulsora de profundas e positivas transformações na vida dos povos e para a paz no mundo.
Não apaga a sua importância nos passos dados e avanços na afirmação de direitos dos trabalhadores e dos povos em todas as latitudes.
Não apaga o valor dessa experiência no longo e acidentado percurso da luta dos trabalhadores e dos povos na procura de um mundo melhor e mais justo, nem os ensinamentos que dela resultam.
Liquidaram a Comuna de Paris, mas não a semente que a produziu e germinou em Outubro. Fracassou um modelo historicamente configurado de construção do socialismo, mas não o ideal e o projecto comunista que continua válido, vivo e com futuro, transportando a semente que a luta dos trabalhadores fará renascer.
Porque, como afirmava Álvaro Cunhal “o nosso ideal corresponde de tal forma às necessidades e aspirações mais profundas do nosso povo ( e dos outros povos), que um dia dele será o futuro”.
Sim, a Revolução de Outubro está aí como experiência concreta, como fonte de inspiração, com os seus valores e ideais afirmando que outro mundo é possível. E por isso a celebramos!
Celebramos na Revolução de Outubro o combate que continua. O combate que precisa de um Partido Comunista forte e permanentemente reforçado, assumindo o seu papel de vanguarda em estreita ligação à classe operária, aos trabalhadores e ao povo. Um Partido munido dos instrumentos teóricos do marxismo-leninismo. Um Partido que age e luta permanente e quotidianamente em defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo e do País. Um partido patriótico e internacionalista.
Um Partido Comunista que não abdica de o ser, determinado, combativo, consciente do seu papel, firme no seu ideal e na afirmação do seu projecto transformador e revolucionário, e que tem sempre presente no horizonte da sua acção e intervenção a construção da sociedade nova livre da exploração do homem pelo homem.
É com a profunda convicção de que o socialismo e o comunismo são o futuro da Humanidade que continuamos a nossa luta, reafirmando que fomos, somos e seremos comunistas!




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António Garrochinho

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