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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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10
Nov17

Não nascemos crentes: estudo conclui que a religião não tem nada a ver com o pensamento intuitivo ou racional

António Garrochinho
Um novo estudo da Universidade de Oxford acaba de descartar que o sentimento religioso esteja relacionado com o pensamento intuitivo e descarta que a religiosidade seja algo com a qual nascemos. A conclusão joga por terra não só uma convenção antiga da psicologia cognitiva que explicava o desenvolvimento do sentimento religioso no cérebro como um resultado do pensamento intuitivo. Em outras palavras, as crenças religiosas surgem de maneira intuitiva, e que as diferentes religiões canalizam uma conclusão que as pessoas chegam de antemão seguindo um processo natural.


Não nascemos crentes: estudo conclui que a religião não tem nada a ver com o pensamento intuitivo ou racional
Segundo esta hipótese amplamente aceita, as pessoas crentes são mais intuitivas que analíticas. Uma equipe combinada de neurocientistas, psicólogos e filósofos do Centro de Avanços em Ciências do Comportamento nas Universidades de Coventry e Oxford examinaram essa assunção realizando um estudo sobre um grupo de peregrinos do Caminho de Santiago.

O estudo começou entrevistando os voluntários para determinar seu grau de crenças religiosas e sobrenaturais. Depois foram submetidos a uma longa bateria de testes de lógica, matemática e probabilidade destinadas a analisar seu grau de pensamento intuitivo. Finalmente, participaram de um experimento não invasivo de eletro-estimulação sobre o giro frontal inferior, uma área do cérebro que supostamente estaria associada à inibição de crenças sobrenaturais em pessoas ateístas.
Não nascemos crentes: estudo conclui que a religião não tem nada a ver com o pensamento intuitivo ou racional
Nenhum dos experimentos permitiu provar de maneira concludente a suposta relação entre sentimento religioso e pensamento intuitivo. Segundo o principal autor do estudo: Miguel Farias:

- "O que nos leva a crer em deuses? A intuição ou a razão, o cérebro ou o coração? Existe um longo debate em torno desta questão, mas nossas conclusões desafiam a teoria de que as crenças religiosas estejam determinadas por um pensamento intuitivo ou analítico. Não achamos que as pessoas nasçam crentes do mesmo modo em que todas acabam aprendendo de maneira inevitável algum tipo de linguagem."

Se não é intuitivo nem de nascimento, de onde surgem os sentimentos religiosos? Miguel aponta a fatores sociais:

- "Os dados sociológicos e históricos dos quais dispomos mostram que nossas crenças se baseiam fundamentalmente em fatores sociais e educativos, e não em diferenças cognitivas como a dicotomia entre pensamento intuitivo ou analítico. O sentimento religioso baseia-se muito provavelmente na cultura de cada um, não em algum tipo de intuição primitiva ou pré-existente."
Não nascemos crentes: estudo conclui que a religião não tem nada a ver com o pensamento intuitivo ou racional
O estudo tem uma falha de procedimento: pegou pessoas que já tinham sido criadas em um meio cultural determinado. O ideal (se fosse possível conseguir alguém assim) seria usar voluntários sem nenhuma influência cultural desde seu nascimento e observar como se desenvolve sua lógica de pensamento e como desenvolve uma cultura própria. Mas infelizmente isso é impossível!

Há um frase de Neil deGrasse Tyson que para mim é genial e se ajusta bem ao tema:

- "O bom da ciência é que ela é verdadeira creia você ou não nela."

Em meu caso, fui criado sob padrões religioso mais estritos: orar antes de dormir ou comer, terço com capelinha em casa, Aparecida do Norte em 12 de outubro, JUC, coroinha... mas conforme ia crescendo cresciam minhas dúvidas. Deixar de ter essas crenças impostas a decidir em que crer e o que não é algo difícil, mas em meu caso, ao menos, foi muito custoso porque fui criado sob um medo constante, medo do pecado, medo do castigo, medo de ir para o inferno, medo a pensar diferente.
Não nascemos crentes: estudo conclui que a religião não tem nada a ver com o pensamento intuitivo ou racional
Por sorte tive um pai muito bacana e compreensivo, que um dia me disse que só eu poderia decidir se meus razoamentos e sede de conhecimento eram mais importantes do que ir a missa das 7 no sábado. Era um adolescente e tomar esse tipo de decisões não é fácil. De qualquer forma decidi me afastar da religião e isso teve uma cobrança, principalmente familiar, muito cara na minha vida.

Hoje em dia, respeito as religiões, respeito os religiosos, peço "Benção" a minha mãe, abençoo os meus filhos, não porque eu acredito, mas eles sim e isso é o mais importante: cada um vive a sua crença (ou não-crença) de acordo àquilo que acredita e lhe convém, sem, no entanto, impô-las como uma verdade absoluta.



www.mdig.com.br
10
Nov17

UM ARQUITETO CRIOU UMA CASA INCRÍVEL DE CONTAINERS. SEU INTERIOR É TÃO BONITO QUANDO SEU EXTERIOR

António Garrochinho
Viver em um recipiente de transporte no meio
do deserto pode não soar como a idéia de diversão de todos, mas espere até que você veja essa impressionante criação criada pelo designer londrino James Whitaker.
A casa de 200 metros quadrados, que inclui uma cozinha, uma sala de estar e três quartos (suite), é feita de vários recipientes de transporte conjunto, configurados em vários ângulos diferentes. Criando a ilusão de uma flor que floresce no deserto ou uma estrutura mais semelhante a outro mundo. Foi projetado para um produtor de filmes sem nome que tem paixão por criar projetos criativos e como você pode ver, não é muito mais criativo que isso!
minilua.com

10
Nov17

Ku Klux Klan: Cavaleiros das trevas - Conheça um dos grupos mais macabros que existiram e existem nos EUA

António Garrochinho



Criada para intimidar os negros, a Ku Klux Klan cresceu e ampliou seu alvo: judeus, imigrantes, católicos. Mas como 6 homens vestidos de fantasma puderam espalhar tanto terror? Saiba por que essa encarnação do ódio nunca morre; apenas adormece.

Começou de repente. A calma de Colfax, na Louisiana, foi quebrada pelo som trovejante das armas de fogo. 

Na manhã de 13 de abril de 1873, uma milícia de 300 homens invadiu a cidadezinha. Todos eram brancos. Muitos estavam vestidos com capuz e túnica igualmente brancos. Logo eles cercaram os defensores da cidade, quase todos negros, dentro do pequeno tribunal local. Alguns dos sitiados tentaram escapar: foram perseguidos e apanhados pelos cães dos invasores. Esses foram os sortudos. Os que finalmente se renderam após a luta foram fuzilados sistematicamente ou jogados vivos aos aligátores dos pântanos da região.

Estima-se que o número de vítimas tenha ficado entre 100 e 300. O Massacre de Colfax oficialmente ocorreu por causa da disputa entre dois candidatos à prefeitura da cidade - um apoiado por brancos e outro por negros. Na verdade, o que transformou uma pequena intriga política em uma tragédia foi o ódio racial. O mesmo ódio responsável pela criação de uma das organizações mais terríveis de todos os tempos: a Ku Klux Klan, culpada pelas mortes em Colfax e por outras centenas de crimes. Ao longo de seus quase 150 anos de existência, a Klan mostrou ser parecida com a ave mitológica fênix, que renascia das próprias cinzas: diversas vezes considerada extinta, ela sempre conseguiu se reerguer com novos nomes, grupos e objetivos. 


"Esses ciclos sempre começaram em momentos de rápida mudança na sociedade americana", afirma Michael Newton, autor de The Ku Klux Klan: History, Organization, Language, Influence and Activities of America’s Most Notorious Secret Society ("A Ku Klux Klan: História, Organização, Linguagem, Influência e Atividades da Sociedade Secreta Mais Notória da América"), inédito no Brasil. Segundo ele, as tensões provocadas por mudanças sociais levam à busca de um bode expiatório. "A Klan sempre se aproveitou desse sentimento", diz. "É fácil culpar os negros ou outras minorias quando se perde o emprego ou sua loja vai à falência. Os nazistas fizeram o mesmo com os judeus, mas a Klan foi criada mais de 50 anos antes."

Tudo começou com um grupo de amigos entediados. Na véspera do Natal de 1865, 6 colegas resolveram criar um clubinho secreto na cidade de Pulaski, no Tennessee. A idéia era fazer brincadeiras, dar alguns sustos e se divertir com rituais de iniciação - como os trotes aplicados nas universidades. Eles resolveram batizar sua sociedade secreta com a palavra grega kuklos, que significa círculo - no caso, um pequeno círculo de amigos. Como todos tinham ascendência escocesa, também foi acrescentada ao nome a palavra klan, uma referência aos antigos clãs (famílias) da Escócia. Como resultado, a pequena confraria passou a ser designada como Ku Klux Klan. Ela também seria conhecida como KKK, ou simplesmente Klan. Uma das diversões dos rapazes era sair cavalgando à noite, cobertos por lençóis, para assustar os negros da região. Em poucas semanas, a Klan já impedia que os negros se encontrassem nas igrejas e invadia as casas de famílias negras para roubar suas armas. Mais alguns meses e as brincadeiras se transformaram em assassinatos, linchamentos, enforcamentos, estupros, castrações e incêndios criminosos. Nessa altura, a Klan já tinha centenas de membros e se espalhava cada vez mais rápido por todo o sul dos EUA.

Essa explosão de ódio contra os negros se explicava pela situação da região. Os EUA tinham acabado de sair da sangrenta Guerra de Secessão, em que a questão racial foi um dos fatores centrais. Os estados americanos do norte tentaram abolir a escravidão nos estados do sul, cuja economia era basicamente agrícola e dependente da mão-de-obra negra e escrava. Contrariados, os sulistas resolveram se separar do resto do país e formaram a Confederação Americana. O Norte não aceitou a decisão e foi à luta para garantir a unidade do país. A guerra durou de 1861 a 1865 e terminou com a derrota do Sul, que teve sua economia arrasada pelas batalhas e pelo fim da escravidão.

Para muita gente, fazia sentido culpar os negros pela ruína do Sul. "Quando os soldados do exército confederado derrotado voltaram para casa, encontraram a antiga sociedade sulista de pernas para o ar", diz o historiador Allen W. Trelease, da Universidade da Carolina do Norte. "Muitas das famílias tradicionais estavam arruinadas e seus antigos escravos eram agora seus iguais. A região virou um poço de descontentamento. Os próprios fundadores da Klan eram todos ex-soldados confederados." Essas condições fizeram com que também surgissem na região outros grupos semelhantes, como os Cavaleiros da Camélia Branca, a Irmandade Branca e a Liga Branca. O que os unia era o fato de seus integrantes serem brancos, sulistas e descontentes.Financiada por fazendeiros e pequenos comerciantes, a Klan começou a crescer.

Estima-se que a organização tenha chegado a reunir cerca de meio milhão de membros, chamados de klansmen, por volta de 1867. Foi aberta uma sede em Nashville e eleito seu primeiro líder oficial, que tinha o título de "grande mago". O escolhido foi Nathan Bedford Forrest, um famoso ex-general do exército confederado. Mas, na prática, ele tinha pouco controle sobre a organização: a Klan era um amontoado de grupos de radicais espalhados pelos estados do sul. Todos eram clandestinos; não tinham filiação oficial, taxas, jornais ou oradores. No entanto, o grande mago teve um papel fundamental para a Klan - ele definiu um rumo político para a organização.

Após a guerra civil, o Congresso americano criou a chamada Reconstrução, um programa de políticas destinadas a integrar os negros recém-libertos à sociedade sulista. Entre outras medidas, a Reconstrução dava aos negros o direito de votar, freqüentar escolas e portar armas. O objetivo número 1 da Klan era lutar contra a Reconstrução. E também contra seus simpatizantes: o principal era o Partido Republicano (o mesmo do ex-presidente americano George W. Bush). Em 1868, a Klan assassinou o congressista republicano James Hinds. Isso teve uma repercussão enorme, e colocou o governo dos EUA contra a Klan.
Em 1869, um júri federal classificou o grupo como "organização terrorista", e centenas de klansmen foram processados. Foi aprovada uma lei, conhecida como Civil Rights Act ("Ato dos Direitos Civis") ou Ku Klux Klan Act, para defender os negros.

E os crimes raciais passaram a ser julgados em tribunais federais, onde já havia vários juízes negros. Essas medidas resultaram na decadência da Klan a partir de 1872. Mesmo enfraquecido, o grupo ainda era capaz de atrocidades como o Massacre de Colfax - citado no começo desta reportagem. Ainda que a Klan já não fosse capaz de agir em grande escala, ações localizadas como essa eram suficientes para intimidar a população negra. O pavor que o grupo espalhara fez com que muitos negros não aparecessem para votar, permitindo aos democratas manter o controle dos estados do sul. Isso fez com que, em 1876, fossem aprovadas as "leis Jim Crow": um conjunto de medidas que impunha a segregação racial em ambientes públicos, como escolas, trens e ônibus. Um enorme retrocesso para os direitos humanos. E uma grande vitória para os racistas.

  • Bombando no cinema


Durante quase meio século, a Ku Klux Klan só existiu como uma lembrança assustadora. Com a maioria dos membros da organização mortos ou muito velhos, parecia que o terror branco não voltaria a assombrar os EUA. 

Mas, dois fatos ocorridos em 1915 fizeram o grupo voltar com tudo. O primeiro foi o lançamento do filme O Nascimento de uma Nação, de D.W. Griffith. Baseado no livro The Clansman, de Thomas Dixon Jr., o filme mostra os membros da Klan como heróis - são nobres cavaleiros que lutam contra bandidos negros. O filme inventou vários mitos em torno do grupo, como o ritual de queima das cruzes (que nunca havia sido realizado pela Klan). Mesmo para os padrões da época, o filme foi considerado extremamente racista. O único problema, por assim dizer, é que ele fez o maior sucesso. O Nascimento de uma Nação foi a produção mais lucrativa de todos os tempos até então. Para divulgar o filme em algumas cidades, atores se vestiam como os membros da Klan e cavalgavam em frente aos cinemas antes da estréia. O filme também foi o primeiro a ser exibido na Casa Branca, onde recebeu elogios do presidente, o democrata Woodrow Wilson.

Aproveitando a "klanmania" gerada pelo filme, o representante comercial William Simmons resolveu recriar a organização. Ele era um espertalhão, que via a chance de obter altos lucros com a possível volta da Klan. E outro fato deu mais força à empreitada: em 1915, o judeu Leo Frank foi condenado pelo estupro e assassinato de uma garota chamada Mary Phagan. Muita gente via semelhanças entre a menina e uma personagem do filme, Flora, que se joga em um abismo para evitar ser estuprada por um negro. Inflamado pelos jornais sensacionalistas, o caso suscitou uma onda de anti-semitismo. Foi criado um grupo chamado Cavaleiros de Mary Phagan, que seqüestrou Frank da cadeia e o linchou. O oportunista Simmons recrutou os Cavaleiros de Mary Phagan para formar a espinha dorsal da nova Klan. Batizado agora de Cavaleiros da Ku Klux Klan, o grupo incorporou todos os rituais mostrados no filme de Griffith, especialmente a queima das cruzes. De início, a KKK não chegou a ser um sucesso estrondoso, se limitando basicamente ao estado da Geórgia e apostando na empolgação com o filme de Griffith. Novamente, foi preciso uma onda de mudanças sociais para que o grupo realmente engrenasse: a 1ª Guerra Mundial, entre 1914 e 1918, deu o empurrãozinho que faltava.

A guerra deslocou um fluxo enorme de imigrantes europeus para os EUA. Fugindo dos combates e da crise econômica, esses imigrantes tiveram um grande impacto religioso (muitos eram judeus ou católicos), cultural e econômico na sociedade americana. Quando os soldados americanos voltaram, encontraram um país em ebulição, e muitos viram a Klan como uma defesa dos interesses dos "verdadeiros americanos". A xenofobia do pós-guerra transformou a década de 1920 na era dourada da Ku Klux Klan. E a nova Klan tinha 3 diferenças básicas em relação à antiga: em primeiro lugar, tinha vários inimigos. Além dos negros, era contra os imigrantes, os judeus, os comunistas e outros novos personagens da sociedade americana. Em segundo lugar, ela não era limitada ao sul, mas se espalhava por todo o país. E essa nova versão da Klan era mais presente nas grandes do que nas pequenas cidades, que tinham menor concentração de negros e estrangeiros. 

O novo grupo também era muito bem organizado. Com quartel-general em Atlanta (conhecida como a "cidade imperial"), era uma entidade registrada legalmente, que pagava impostos e tinha reconhecimento jurídico. Só os métodos continuavam iguais: intimidação, assassinato, tortura e linchamento.
O grupo cresceu rapidamente até se tornar a maior organização do país, com mais membros do que o Exército e o governo federal. Em seu auge, por volta de 1924, os Cavaleiros da Ku Klux Klan reuniam mais de 5 milhões de membros, equivalente a cerca de 10% de toda a população urbana americana da época. Em alguns estados, o percentual de membros atingia 40% da população total. O sucesso do grupo foi tanto que chegou até mesmo a ultrapassar as fronteiras americanas, com a criação de uma "filial" no Canadá. Em comum, essa vasta gama de membros compartilhava o fato de que sua esmagadora maioria pertencia ao segmento social conhecido como wasp, sigla em inglês das iniciais de branco, anglo-saxão e protestante. 

"O conceito wasp está intimamente ligado à segunda encarnação da Klan", afirma o escritor Michael Newton. "O grupo levava esse conceito de modo radical: era branco, contra os negros; anglo-saxão, contra os imigrantes; e protestante, contra os católicos e os judeus", completa. Além de conduzir perseguições raciais, a Klan também tentava impor regras morais. Tornaram-se comuns as batidas do grupo em bordéis, atrás de "mulheres imorais" e de homossexuais. O grupo também divulgava listas em que constavam os nomes de jovens que eram pegos fazendo sexo dentro de carros. E no Alabama uma mulher divorciada foi seqüestrada, despida, amarrada em uma árvore e chicoteada.

Apesar de se considerar um movimento não político, a Klan logo passou a ter uma forte influência nos governos de diversos estados, como Alabama, Texas, Oklahoma, Indiana, Oregon e Maine, além de representantes dentro do Congresso. O escritor Wyn Craig Wade, autor de The Fiery Cross ("A Cruz Ardente", inédito no Brasil), afirma que a Klan teria tido entre seus membros 11 governadores e 16 senadores nos anos 20. Até mesmo alguns presidentes americanos chegaram a flertar com a organização (veja quadro na página ao lado). Em seu auge, o grupo atingiu tamanha força política que tentou indicar seu próprio representante para concorrer à Casa Branca nas eleições presidenciais de 1924. Na convenção do Partido Democrata, em Nova York, a Klan apoiava o candidato William McAdoo contra Al Smith, que era católico. Os klansmen tentaram de tudo para fazer prevalecer sua indicação: marcharam, queimaram cruzes, fizeram o diabo a quatro. O impasse só foi resolvido quando ambos os candidatos retiraram suas indicações e escolheram o moderado John Davis como nome de consenso. O episódio, que se tornou conhecido como Klanbake, teve péssima repercussão para os democratas. Davis acabou derrotado pelo republicano Calvin Coolidge.

  • Superman versus KKK


A era dourada da Klan começou a esmaecer no final dos anos 20. O desgaste na imagem veio tanto das seguidas ações violentas do grupo quanto da desmoralização de seus líderes. O caso mais notório foi protagonizado por David Stephenson, chefe da Klan em Indiana, preso por estuprar e assassinar uma professora. Durante o julgamento, surgiram detalhes sórdidos. Stephenson feriu sua vítima de tal modo que ela "parecia ter sido atacada por lobos", segundo os legistas. Também ficou evidente a ligação de Stephenson e de parte da cúpula da Klan com um grande esquema de corrupção que envolvia o governador de Indiana e o prefeito de Indianápolis, ambos apoiadores do grupo. Com vasta cobertura dos jornais, o caso gerou uma péssima publicidade para a Klan e fez cair de modo drástico o número de sócios. 

Os 5 milhões de membros de 1924 acabaram se reduzindo para cerca de 30 mil por volta de 1930. Com a chegada da 2ª Guerra, o prestígio do grupo caiu ainda mais. Embora a cúpula da Klan apoiasse oficialmente a guerra contra o "invasor amarelo" japonês, eram evidentes as ligações entre as doutrinas do grupo e do nazismo. Mas o golpe final contra a segunda encarnação da Ku Klux Klan viria de dentro. Os responsáveis seriam Stetson Kennedy, escritor e ativista dos direitos humanos, e... o Superman. Isso mesmo, o herói do planeta Krypton teve participação fundamental na queda do grupo. A história começou assim: Stetson Kennedy tinha uma profunda aversão pela Klan desde que sua ama-de-leite negra, Flo, havia sido assassinada pelo grupo por dirigir a palavra a um condutor de bonde que lhe dera o troco errado. Em 1944, ele decidiu se infiltrar na Klan. 

Procurou uma taverna na qual os membros da organização se reuniam, ganhou a confiança deles e em pouco tempo já era aceito como sócio. Rapidamente, Kennedy aprendeu todos os códigos, palavras secretas e rituais da Klan. Ele começou a vazar essas informações para os produtores do programa de rádio do Superman. O resultado foi uma série de 4 episódios onde o personagem enfrenta e vence os mascarados da Klan. A desmoralização foi total. Ao ter seus segredos revelados e ainda ser derrotada pelo Superman, a organização perdeu muito de sua aura de terror: durante algum tempo, passou a ser objeto de toda sorte de ridicularização. Com a evasão de associados, a Klan não conseguiu dinheiro para pagar seus impostos. Isso foi fatal. A falta de pagamento deu finalmente ao governo uma chance, e ele aproveitou: os Cavaleiros da Ku Klux Klan tiveram decretada sua falência e foram obrigados a fechar as portas no final de 1944.
Em 1981, um grupo que se intitulava Cavaleiros Brancos da Ku Klux Klan planejou uma operação incrivelmente ousada: eles queriam invadir a Dominica, uma pequena nação situada numa ilhota do Caribe. 

Os líderes do grupo se uniram ao antigo primeiro-ministro local Patrick John. A idéia era levar um barco cheio de armas e munição até a costa da ilha e entregar a carga a um grupo de rebeldes sob o comando de John. Em troca da ajuda, a ilha seria transformada em uma nação branca nacionalista, na linha do apartheid na África do Sul. A pequena força policial da ilha fazia com que o plano, aparentemente maluco, tivesse chances reais de sucesso. O FBI, que vinha monitorando a operação, resolveu intervir: em abril de 1981, prendeu no porto de Nova Orleans os membros do grupo, que já estavam carregando o navio com as armas.

Recentemente, um relatório divulgado pela Liga Antidifamação, organização que monitora grupos radicais em território americano, praticamente decretou o fim da Klan. "Aquela que já foi a organização terrorista mais importante do país é hoje uma coleção amorfa e fragmentada de grupos e indivíduos." De fato, existem nos EUA entre 100 e 150 grupos que se denominam herdeiros da Klan. Nenhum deles tem ligação direta com a organização original ou com o poderoso grupo dos anos 1920: como o termo Ku Klux Klan é de domínio público, qualquer grupo pode usá-lo. Hoje as principais atividades são a distribuição de panfletos, marchas de protesto e alguns encontros anuais. 




































O dinheiro é pouco, e até os líderes máximos dos grupos precisam ter empregos normais para conseguir sustento. E a famosa influência política virou pó: o único congressista americano com ligações conhecidas com a Klan é o senador Robert Byrd, que foi membro do grupo há quase 50 anos. Ele diz que "se arrepende profundamente". Alguns dos principais grupos hoje são o Klans Imperiais da América, o Cavaleiros Americanos da Ku Klux Klan e o Cavaleiros da Camélia Branca da KKK. Eles têm forte inclinação cristã fundamentalista e acreditam em uma conspiração judaica para dominar o mundo. Outras facções tentam tornar sua imagem mais aceitável ao criar eufemismos para suas crenças. Falam mais da "glória de sua herança branca" do que no ódio por outras raças. O mais famoso deles é o Partido dos Cavaleiros, que se define como "racialista".

A diferença é sutil, mas importante. Enquanto o racismo prega a superioridade de uma raça sobre outra, o racialismo diz que elas são iguais, mas devem viver separadas.O conceito de racialismo, aliás, é responsável por um dos fatos mais bizarros dessa história toda: os supremacistas negros que apóiam grupos inspirados na Ku Klux Klan. Segundo a lógica deles, apoiar a Klan é dar força ao movimento racialista - e com isso fortalecer a idéia de separação entre as raças. Marcos Garvey, um dos primeiros líderes do movimento negro do mundo, convidou membros da Klan para falarem em manifestações.

Robert L. Brock, um líder negro anti-semita, doa dinheiro ao Partido dos Cavaleiros e já chegou até a vestir a roupa branca da Klan. "O fato de esse tipo de tese ter seguidores é sinal de que as tensões raciais e sociais continuam fortes na sociedade americana", diz o historiador Allen Trelease. "Assim, nunca se pode descartar completamente o risco do ressurgimento de um grupo como a Klan", completa. O escritor Michael Newton tem uma opinião parecida. "Há temas, como a imigração mexicana, com potencial para despertar problemas similares aos que fizeram a Klan renascer na década de 1920". Quando se fala na Ku Klux Klan, nunca se pode dizer que a ameaça chegou ao fim.

  • Ódio racial no Brasil


Além dos EUA, a KKK fincou raízes em alguns outros países, como Inglaterra, Alemanha, Canadá e África do Sul. Já no Brasil, o grupo nunca foi muito bem-sucedido. O que existe no país é um grupo (estima-se que sejam menos de 10 pessoas) chamado Klans Imperiais do Brasil, ramificação da organização americana Klans Imperiais da América. Ele foi praticamente desmantelado em 2003, quando a Polícia Federal prendeu o líder da organização (ao contrário dos EUA, no Brasil é crime divulgar conteúdo racista) e tirou o site da organização do ar. No entanto, a operação brasileira da Klan sempre foi pequena quando comparada aos demais grupos de ultradireita que existem hoje no país. Os mais próximos das motivações da Klan são os diversos grupos skinheads (cabeças raspadas) espalhados pelo Brasil. A maior parte deles é composta de neonazistas que abraçam o conceito do white power ("poder branco"), ou seja, a superioridade dos brancos sobre as demais raças. São totalmente contra negros, nordestinos e homossexuais.


  • Racistas na Casa Branca


Embora o grupo não tenha conseguido eleger abertamente um membro, pode ter exercido forte influência sobre pelo menos 3 presidentes dos EUA

1. Warren Harding (Republicano, 1921 a 1923)
Foi acusado pelo ativista político Stetson Kennedy, que se infiltrou na Klan, de ter se filiado à organização em 1923, em cerimônia realizada na própria Casa Branca.
2. Woodrow Wilson (Democrata, 1913 a 1921)
Retomou a segregação racial no governo federal, que havia sido abolida em 1865. E escreveu um livro em que chama a Klan de "venerável império do sul".
3. Harry Truman (Democrata, 1945 a 1953)
Em 1924, foi aconselhado a entrar para a Klan (então uma poderosa aliada dos democratas). Chegou a pagar a inscrição, mas ninguém sabe se realmente se filiou.

  • A nova Klan


É o pesadelo de muita gente, mas já existe até um programa de governo. Um dos grupos atuais que se inspiram na Klan, o Partido dos Cavaleiros, se define como um movimento político e elaborou uma lista de medidas a ser implantadas caso o grupo chegue ao poder. Confira as principais propostas:
  • • Incentivo financeiro para a repatriação de estrangeiros ao pais natal.
  • • Internação obrigatória em hospitais de todos os infectados pelo vírus HIV.
  • • Criação de uma lei proibindo a prática do homossexualismo.
  • • Aprovação de medidas que incentivem a posse de pelo menos uma arma por cidadão.
  • • Proibição da entrada de mulheres na Polícia e nas Forças Armadas.
  • • Fim do ensino da Teoria da Evolução nas escolas.
  • • Uso de tropas do exército para impedir a entrada de imigrantes no país.
  • • Proibição da compra de empresas e propriedades americanas por estrangeiros.
  • • Abolição do aborto.
  • • Fim de todas as cotas para negros em universidades e para mulheres em cargos públicos.
  • • Fechamento das agências que monitoram o abuso de crianças pelos pais.
  • • Término de todos os programas americanos de ajuda humanitária ao exterior.
  • • Retirada dos EUA das Nações Unidas.
  • www.comunidademib.blogspot.com.br
10
Nov17

10 factos bizarros sobre a vida e a obra de Salvador Dali

António Garrochinho


Salvador Dalí foi um dos homens mais famosos do século XX por uma série de razões. Obviamente suas obras de arte são icônicas, mas em um mundo de imagens, ele foi uma grande personalidade de bastante destaque, seja em seu estilo não habitual, seu bigode peculiar e sua capacidade de se tornar um showman que assegurava que fosse lembrando quando passava por qualquer cidade. Mas seria ele um louco ou apenas um artista? Ou seriam essas duas instâncias faces da mesma moeda? Como se pode ver, ele poderia estar em ambos os lados.

10- Ele acreditava que era a reencarnação de seu falecido irmão

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Uma possível explicação para o estilo de vida bizarro de Dalí pode estar em sua infância peculiar. Antes de nascer, sua mãe deu à luz uma outra criança, também chamada Salvador Dalí. Infelizmente, o primeiro Salvador faleceu de uma infecção de estômago quando tinha apenas 22 meses. Nove meses depois, o segundo Salvador Dalí nasceu. Como o segundo Salvador tinha semelhanças incríveis com o primeiro e tinha nascido exatamente nove meses depois, seus pais começaram a suspeitar que ele era, de fato, a reencarnação do primeiro filho morto.
Quando Dalí tinha 5 anos, seus pais o levaram ao túmulo do primeiro Salvador e o informaram sobre sua crença – que ele era a reencarnação do falecido irmão. Isso gerou um grande impacto psicológico em Dalí – muito de seu trabalho futuro viria a conter alusões à criança morta que ele acreditava ser a melhor parte dele próprio. A experiência traumática também pode ajudar a explicar alguns eventos bizarros que aconteceram naquele mesmo ano…

9- Infância sádica

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Para Dalí, mesmo com pouquíssima idade, dor e prazer eram praticamente a mesma coisa. Pelo menos é como Dalí justificaria seus hábito da infância de atacar pessoas sem nenhuma razão aparente. O pior exemplo ocorreu quando ele estava andando com um amigo e notou que, ao atravessar uma ponta, parte da grade de segurança estava faltando. Ao observar que não havia ninguém por perto, Dalí decidiu jogar seu amigo da ponte. O menino caiu de quase 5 metros de altura em cima de pedras pontiagudas e afiadas e ficou seriamente machucado. Segundo consta, Dalí não chegou a sentir culpa nem remorso: enquanto via a mãe tomando conta de seu amigo machucado, o menino de 5 anos de idade sentou calmamente e ficou sorrindo e comendo cerejas observando ela passar com bacias e mais bacias de água suja de sangue. Culpa? Provavelmente nenhuma.
Ainda neste ano, outro incidente bizarro aconteceu enquanto Dalí estava tomando conta um morcego ferido. Um dia, ele foi dar uma olhada em seu morcego e viu que ele estava coberto de formigas que, aos poucos, comiam ele vivo. A reação de Dalí foi pegar o morcego e morde-lo junto com as formigas.

8- Avida Dollars


VÍDEO

Na comunidade artística, Dalí foi renomado por seu amor por fazer dinheiro. Por conta disso, ele foi chamado de “Avida Dollars”, um trocadilho com seu nome e uma referência à sua ganância. Dalí fazia praticamente qualquer coisa para ganhar dinheiro. Ele criou a logo dos famosos pirulitos Chupa Chups e a logo de 1969 do “Eurovision Song Contest”. Ele também apareceu em comerciais dos chocolates Lanvin, de licores e até de pastilhas para azia.
Mas estes eram apenas os meios legais de ganhar dinheiro – ele também era um tanto quanto vigarista. Ele justificou o enorme valor de um de seus quadros alegando um cliente rico que a tinta havia sido misturada com o veneno de um milhão de vespas. Mas ela não tinha. Outro golpe de Dalí foi quando ele foi contactado por Yoko Ono, que pediu uma mecha de seu bigode. Dalí fixou o preço em $10,000. Quando Yoko percebeu, Dalí já havia enviado a ela um chumaço de grama seca, pois estava preocupado com a possibilidade de Yoko usar seu bigode para bruxarias. É sério.
Dalí também tinha a capacidade de evitar de pagar as contas de restaurantes. Ele frequentemente convidava grandes grupos de amigos para almoços caríssimos. Quando chegava o momento de pagar, Dalí preenchia, alegremente, um cheque com o valor total. Quando ele via que o garçom não estava olhando, ele rabiscava um desenho no verso do cheque, sabendo que ninguém jamais depositaria um cheque que contivesse um desenho original de Salvador Dalí. Assim, o cheque não era depositado e Dalí se livrava de pagar a conta.

7- Aparições Estranhas

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Aparte seu trabalho de artista, escritor, cientista, ou qualquer coisa que ele decidia ser quando acordava pela manhã, Dalí era um showman. Algumas vezes, suas acrobacias podiam ser até mais impressionantes que sua arte. Por exemplo, Dalí uma vez preferiu uma palestra usando uma roupa completa de mergulhador e se recusou a retira-la quase se sufocando dentro dela. Em 1955, ele chegou para um discurso em um Rolls-Royce repleto de couve-flores, mostrando seu fascínio pela forma do vegetal.
Para vender seu livro, O Mundo de Salvador Dalí, ele deitou em uma cama de hospital em uma livraria de Manhattan cercado de falsos médicos e enfermeiros, ligado a uma máquina que media as atividades cerebrais. Sempre que alguma comprava uma cópia do seu livro, ganhava também uma cópia da leitura da máquina. Mais tarde ele voltou a se cercar de couve-flores, desta vez enchendo uma limousine com elas e dirigindo pelas ruas de Paris, entregando-as para parisienses bem confusos.

6- Sua estranha fascinação por Hitler

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Dalí era obcecado por Hitler de um modo que até mesmo Hitler provavelmente acharia constrangedor. Durante a ascensão nazista, a maior parte do artistas surrealistas trataram de se distanciar da imagem do fascismo e de Hitler. Dalí, entretanto, começo a pintá-lo. Um dos quadros de Dalí que parece ser uma paisagem na verdade é uma fotografia de Hitler virada de lado e pintada de modo a parecer um plácido rio. Mais tarde, quando perguntado sobre sua fascinação por Hitler, Dalí disse: “Eu costumo sonhar com Hitler tanto quanto outros homens sonham com mulheres”.
Caso você esteja pensando que isso não poderia ficar mais assustador, não se preocupa, fica. Dalí continuou: “Hitler me excita muito… Suas costas gordas, especialmente quando eu o vejo aparecer em seu uniforme com aquele cinto e alças apertadas contra sua pele, surge em mim uma deliciosa emoção que começa na boca e me deixa em um êxtase “wagneriano”. Uma das últimas pinturas de Dalí é simplesmente chamada “Hitler se masturbando” e, infelizmente, não há nada de surreal no nome – ela mostra exatamente isso. Felizmente, a “virilidade” de Hitler fica escondida atrás das pernas pequeninos cavalos de metal.

5- Dalí Atômico

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O resultado da famosa colaboração entre Dali e o famoso fotógrafo Philippe Halsman, “Dalí Atômico” é uma ode à famosa pintura de Dalí “Leda Atômica” (que pode ser vista a direita da foto). A fotografia mostra Dali, sua mobília e uma série de gatos suepensos no meio do ar enquanto uma corrente de água serpenteia através da ação como uma cena deletada de Inception. Trata-se de uma figura espetacular, considerando que foi feita em 1949, muito antes que o CGI ou o Photoshop pudesse ter criado o efeito. 
Ao contrário, a foto foi montada à moda antiga – é tudo real. Para se chegar ao efeito, a mobília foi suspensa por fios enquanto Dalí pulava. Enquanto uma uma pessoa, de fora da pintura, lançada um balde de água e os gatos dentro da cena. Infelizmente, o efeito desejado não foi feito no primeiro take, nem no segundo. Ele teve que ser feito um total de 28 vezes. Tenha em mente que, depois de cada click, uma pessoa (algo como um estagiário dos anos 40) tinha que juntar os gatos aterrorizados vez após vez e, em seguida, jogá-los para a câmera novamente.

4- A inspiração de Dalí

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Quando olhamos as pinturas de Dalí, podemos suspeitar que elas são o resultado do uso abusivo de drogas psicotrópicas. Porém, Dalí uma vez disse: “Eu não uso drogas. Eu sou as drogas”. Então de onde vinha sua inspiração se não das drogas? Bem, Dalí tinha alguns truques para tornar-se mais criativo. Um deles envolvia um prato de alumínio e uma colher. Dalí se sentava em uma cadeira segurando a colher acima do prato e cochilava. Quando caía no sono, a colher caía no prato, fazendo um barulho alto o suficiente para acordar o artista em tempo de desenhar as imagens surreais que via em seus sonhos.
Outras vezes, Dalí ficava de cabeça para baixo até quase desmaiar, permitindo-se entrar em um estado de semi-lucidez. Sua técnica mais famosa foi chamada de “Método  Paranóico-Crítico”. Ela envolvia tentar criar um estado paranoico auto-induzido, o que o permitia desenhar relações irracionais entre objetos não conectados e traçar a paisagem se seu próprio subconsciente.

3- Casamento Fora dos Padrões

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Em agosto de 1929, Dalí conheceu o amor da sua vida: Elena Ivanovna Diakonova, mais conhecida como Gala. No entanto, Gala já era casada com o poeta surrealista francês Paul Eluard. Isto não desencorajou Dalí: “Ela foi destinada a ser minha Gradiva, a única que me move para frente, minha vitória, minha vida.” Como Gala e Eluard tiveram o que nós chamaríamos hoje em dia de “casamento aberto” – eles passaram três anos em uma relação a três com o artista Max Ernst –  havia muito pouco que impedia a relação com Dali. Após se divorciar de Eluard (embora eles aparentemente tenham continuado tendo relações sexuais), Gale casou com Dali em 1934. Eles ficariam juntos até a morte dela em 1982.
Enquanto ainda não era um casamento que podia ser chamado de tradicional – os dois continuaram a sair com outras pessoas – o relacionamento era aparentemente feliz. Gala se tornou a musa de Dali e sua agente de negócios, usando sua perspicácia financeira para apoiar o estilo de vida extravagante do pintor. A parceria era tão importante que Dali assinaria suas obras com ambos os nomes. Em 1968, Dali comprou para Gala um castelo na Espanha, que ela aceitou com a condição de que ele só poderia visita-la lá depois de obter sua permissão por escrito. Isto pode soar pouco usual – mas quem não precisaria de algum tempo fora ao se casar com Salvador Dali?

2- The Royal Heart (o coração real)


VÍDEO

Apesar da excentricidade que alguns classificam como completa loucura, Dalí era um gênio. Em nenhum lugar isso é mais aparente do que nas Joias de Dalí, uma coleção de joias feita por ele em colaboração com um milionário americano chamado Cummins Catherwood. O ricaço Catherwood forneceu milhares de dólares em pedras preciosas que Dalí encorpou a uma série de peças fabulosas. No total, 39 peças foram feitas, tendo sido trocadas de mãos várias vezes até finalmente serem vendidas à Fundação Salvador Dalí por 5.5 milhões de euros em 1999.
A peça central era The Royal Heart (o coração real). Feita de ouro puro com maravilhosos 46 rubis, 42 diamantes e duas esmeraldas, o mais incrível sobre o coração real é como ele, perturbadoramente, batia como um coração humano. Fique avisado: o vídeo abaixo pode causar pesadelos.

1- O Holograma de Alice Cooper


VÍDEO

Dalí tinha muitos amigos famosos e passou muito tempo com Elvis Presley, John Lennon, David Bowie, Pablo Picasso e até mesmo Sigmund Freud. Mas provavelmente seu conhecido mais estranho foi a lenda do rock Alice Cooper. Em 1972, Dalí ouviu falar de Cooper e ficou fascinado por seu show, que foi em parte inspirado pelo trabalho de Dalí. Naturalmente, o artistas pediu para se encontrar com Cooper e seu agente. Segundo Cooper, Dalí apareceu usando um casaco de pele de girafa, meias brilhantes que ele pegou de Elvis e botas. Ele pediu um copo de água quente, que ele usou a encher com um pote de mel que mantinha em seu bolso, e então cortou o fio de mel pingando com uma tesoura que guardava em seu outro bolso. Dalí estava acompanhado de um grupo de adolescentes vestidas com roupões que nada disseram.
As coisas ficaram ainda mais bizarras quando Dalí deu a Cooper uma escultura de plástico do seu cérebro, coroado com um relâmpago de chocolate com formigas reais correndo pelo meio – e então ele perguntou a Cooper para posar como modelo para ele. Cooper posou para ele, cercado de seguranças visto que ele usava uma tiara de diamantes que custava dois milhões de dólares. Ao final, Dalí criou um incrível holograma de Cooper coberto de diamantes e mordendo a cabeça da Vênus de Milo. Ele finalizou usando lasers para capturar a imagem tridimensional.
10
Nov17

Fascistas secretos - Na virada do século 19 para o 20, nasceu na Áustria a Arisofia, uma sociedade secreta que se transformou em uma grotesca fantasia de massa e formou as raízes ocultas da ideologia nazista

António Garrochinho

Fac-Símile do periódico Ostara, editado por Liebenfels, que aludia aos Cavaleiros Templários e disseminava ideias sobre uma raça mestra ariana destinada a assumir o poder totalitário. Acredita-se hoje que Hitler tenha sido um leitor habitual (Foto: Cortesia Jörg Heiser)
Primavera de 1908, Áustria, a 50 quilômetros de Linz, seguindo o curso do Rio Danúbio. Algumas centenas de convidados chegam em um navio a vapor vindo de Viena e são recebidos por salvas de canhão do castelo medieval embandeirado sobre a colina, o Burg Werfenstein. Os viajantes se refrescam nos pubs locais, antes de participar de um concerto comemorativo no pátio do castelo: canto coral e fogueira até tarde da noite. O evento é relatado nos jornais nacionais.
  • Jörg Lanz von Liebenfels, dono do castelo e cabeça da Ordem dos Novos Templários (Foto: Cortesia Jörg Heiser)
  • Karl Maria Weisthor, coronel da SS, que operava com ritos ocultistas e revestiu o Holocausto de uma aura de missão superior (Foto: Cortesia Jörg Heiser)
  • Guido von List, escritor que falseou título de nobreza de linhagem ancestral germânica (Foto: Cortesia Jörg Heiser)



Tudo parece bastante inofensivo. Mas o dono do castelo, um certo Jörg Lanz von Liebenfels, dirige uma sociedade sectária chamada Ordo Novi Templi (ONT), a Ordem dos Novos Templários, que se refere aos Cavaleiros Templários medievais. Seu programa, formulado em dezembro de 1907 e publicado na revista Ostara, promove uma visão de mundo “ariana” claramente racista, com pesquisa de ancestralidade genealógica e heráldica e concursos de beleza que seguem critérios raciais. No Natal de 1907, uma bandeira com a suástica foi içada sobre o castelo.
A história de vida de muitos antecessores ideológicos do futuro movimento nazista flui ao longo do Danúbio e seus afluentes: de Viena a Werfenstein e Linz, seguindo por Salzburgo e até Munique – a “capital do movimento”, como Adolf Hitler a chamou mais tarde. Eram ocultistas sectários que depositaram as sementes da colheita de Hitler: Guido von List e o mencionado Lanz von Liebenfels. Outro sectário de mentalidade semelhante tornou-se mais tarde membro do círculo íntimo de Hitler: o SS-Oberführer (coronel das SS) Karl Maria Weisthor. Ele foi assessor de Heinrich Himmler em assuntos ocultistas e supersticiosos, uma espécie de Rasputin do Reichsführer. Seguindo a liderança de Weisthor, a organização de elite do Terceiro Reich operava com símbolos e ritos ocultistas, revestindo o assassinato em massa e o Holocausto industrial de uma aura de missão superior.
Cartão-postal do Burg Werfenstein, local de encontro de ocultistas sectários que no início do século 20 promoviam visão de mundo "ariana" (Foto: Cortesia Jörg Heiser)
Cartão-postal do Burg Werfenstein, local de encontro de ocultistas sectários que no início do século 20 promoviam visão de mundo “ariana” (Foto: Cortesia Jörg Heiser)












A empreitada começa na Viena do fin de siècle. Com sua vitória na guerra alemã de 1866, a Prússia realizou a chamada “Pequena Solução Alemã”: uma Alemanha sob a liderança da Prússia, mas excluindo a Áustria. Assim, a fundação da dupla monarquia da Áustria-Hungria foi indiretamente forçada. O estabelecimento desse novo império real e imperial resultou automaticamente na dominação demográfica das partes não germânicas da sociedade no interior de suas fronteiras, com a formação de novos círculos pangermânicos que ressentiam a ideia de um Estado multiétnico, e para os quais o fracasso da “Grande Solução Alemã” – a unificação da Prússia com a Alemanha e a Áustria – era uma constante fonte de insultos e injúrias.
Até o fim do século 19, esses grupos se solidificaram cada vez mais em movimentos völkisch – nacionalistas, racistas e segregacionistas –, que defendiam uma visão de mundo estritamente antissemita, germânico-machista e antidemocrática. Mais ou menos na mesma época formou-se – de Londres a Nova York – um movimento ocultista e esotérico, a teosofia, sob a liderança da russo-germânica Helena Blavatsky. Práticas espíritas como as sessões mediúnicas faziam parte disso, mas, para Blavatsky, o mais importante era a mistura de motivos religiosos orientais, incluindo hinduístas e budistas, com a gnose judaico-cristã dos séculos primeiro e terceiro (da Cabala ao Hermetismo).
O aspecto importante era a ideia de um acesso privilegiado a revelações que só poderiam ser alcançadas por meio de certas técnicas de meditação, antigos ritos de iniciação e conhecimento secreto, qual seja, magia (para uma perspectiva mais detalhada da influência e das visões de Blavatsky do que seria possível no âmbito deste artigo, ver o ótimo livro de Gary Lachman, Madame Blavatsky: The Mother of Modern Spirituality, 2012). De maneira crucial, Blavatsky desenvolveu a noção das cinco “raças-raízes”, discernindo a história humana em sete etapas de desenvolvimento, sendo a quinta a “ariana”, na qual vivemos atualmente. A anterior, segundo ela, terminou milhões de anos atrás, com a queda da Atlântida.
De Blavatsky a Senhor dos AnéisFoi contra esse pano de fundo que se desenvolveu uma grotesca fantasia em massa, embora sob os auspícios de um conhecimento secreto supostamente exclusivo. Seu nome, de som distinto e inofensivo, era Ariosofia. Seu primeiro proponente foi Guido von List, um homem que publicou compulsivamente textos völkisch. A ideia teosófica das raças-raízes e de uma era ariana foi algo que Von List adotou alegremente e transformou em seu próprio sistema ideológico, substituindo os componentes “hindus” de Blavatsky por outros germânicos.
List era filho do comerciante de couros vienense Karl Anton List, e Guido só adotou o falso “von” de nobreza após a morte do pai. Esse estranho desejo de nobreza, decorrente de uma linhagem de ancestralidade germânica, tornou-se típica para muitos líderes e discípulos dos grupos ariosóficos. Em sua obra-padrão de excelente pesquisa As Raízes Ocultas do Nazismo (2004), o historiador britânico Nicholas Goodrick-Clarke, especialista em grupos ocultistas, menciona incontáveis nomes obscuros que soam típicos de sua época por serem grotescamente excêntricos e parodisticamente poéticos, como Ottokar Stauf von der March, Wilhelm von Pickl-Scharfenstein (barão Von Witkenberg), Harald Arjuna Grävell von Jostenoode, ou Frodi Ingolfson Wehrmann. Eles soam quase como uma lista de personagens de Game of Thrones. Especialmente o último: Frodi é o nome de um antigo rei mítico, que aparece tanto nas Eddas da Islândia quanto no épico Beowulf, transformado em “Frodo” por J.R.R. Tolkien para seu O Senhor dos Anéis. E, obviamente, isso levanta suspeitas de que um bom número desses senhores acima citados simplesmente inventou sua suposta linhagem ariana e cavalheiresca. A invocação de uma genealogia germânica de sangue azul serve como uma forma fantasmagórica de autoconsolo para aqueles em solo austríaco que se sentiram excluídos da “Pequena Solução Alemã”.
Em comparação, o nome de Guido von List é modesto, mas ele é ainda mais ousado na fabricação de sua própria ascendência. Analisado pelo arquivo de registro da nobreza de Viena, ele “prova” seu título com um anel de sinete que ostenta o brasão de um cavaleiro do século 12, Burckhardt von List. Parte da fama posterior de List veio de ele ter anunciado que era vidente e podia enxergar muito atrás no passado germânico. Em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial, ele previu uma vitória gloriosa, o que o obrigou a reinterpretar a derrota de 1918 como uma catástrofe necessária no caminho para a iminente salvação dos ario-germânicos.
Madame Helena Blavatsky, lider de um movimento esotérico formado no fim do século 19, e autora de ideias teosóficas que foram apropriadas e deturpadas por Guido von List na composição de sua doutrina antissemita (Foto: Wikimedia)
Madame Helena Blavatsky, lider de um movimento esotérico formado no fim do século 19, e autora de ideias teosóficas que foram apropriadas e deturpadas por Guido von List na composição de sua doutrina antissemita (Foto: Wikimedia)
Os escritos de List foram instantaneamente convertidos em clássicos no meio völkisch, especialmente sua novela Carnuntum (1888), em que ele conta a história de um ataque fictício de tribos germânicas à cidade romana de Carnuntum (a 40 quilômetros a leste da atual Viena). Mas o ponto crucial é que ele implementa seus motivos pagãos germânicos na construção de uma raça mestra ariana destinada a reinar. A doutrina esotérica propagada publicamente do wotanismo – baseada no principal deus germânico, Wotan, também conhecido como Odin – destinava-se a dar às classes sociais inferiores uma mitologia de orgulho popular. Apesar da doutrina interna esotérica Armanenschaft, a casta sacerdotal dos iniciados chamada “Alta Ordem de Arman”. Usando motivos estabelecidos pelos maçons, assim como pelos rosa-cruzes, List criou esse nome para invocar uma linhagem de reis-sacerdotes míticos que remontam às antigas raízes teutônicas. Mais tarde ele adornou sua criação com todo tipo de descoberta esotérica, de sigilos criptográficos (pictogramas mágicos) baseados no abade Johannes Thritemius de Sponheim (1462-1516) a suas próprias leituras das runas germânicas. A partir dos anos 1910, Guido von List imaginou o futuro reinado dos arianos: ele pedia simplesmente a submissão de todos os não arianos à raça mestra ariana. Os subjugados e escravizados fariam então todo o trabalho menor e mais duro, enquanto os cargos mais graduados nas empresas, no serviço público e na vida espiritual e intelectual seriam reservados aos ario-germânicos. A vocação para esses empregos se basearia, em primeiro e único lugar, no critério da pureza racial. Só homens ario-germânicos teriam liberdade e cidadania completas, enquanto todas as famílias teriam de manter um livro de ancestralidade racial. É um modelo societário que antecipava em duas décadas as Leis da Raça de Nuremberg e a abordagem geral dos nazistas. O elitismo místico de List precede a visão de Himmler de um Estado-Ordem SS.
Igreja católica x ideologia germânicaA construção de List também inclui de maneira típica uma teoria da conspiração. Seu objetivo é explicar como, se a raça mestra ariana era tão superior, ainda não se havia estabelecido o Estado da raça mestra. List afirmava que a culpada era a Igreja Católica, tão forte na Áustria na época que repudiou e demonizou o sacerdotalismo germânico durante séculos. O que também explicaria a necessidade de práticas secretas para transmitir o conhecimento proibido. É o típico argumento tautológico adotado pelos professores de ocultismo e teóricos da conspiração: a necessidade de sigilo é explicada pela igualmente secreta conspiração dos adversários.
A visão de List do renascimento das “Cortes Vêmicas” do fim da Idade Média na Westfália – tribunais secretos protovigilantes que emitiam e executavam sentenças de morte etc. – tornou-se a fantasia preferida de muitos, antecipando o futuro império pangermânico. A característica estratégica dupla dos movimentos sectários vem ao primeiro plano aqui: a iniciação interna oculto-religiosa deve ser equilibrada externamente por uma ação político-militar, embora encoberta.
O alinhamento anticlerical de List pode em princípio parecer em total contradição com a abordagem do monge cisterciense Jörg Lanz von Liebenfels, que depois de List tornou-se a principal fonte dos zelotes místico-germânicos. Assim como List, Liebenfels havia criado uma genealogia mística de nobreza para si mesmo: o filho do diretor escolar Johann Lanz, de Viena-Penzing, afirmava ser de fato o barão Johann Lancz de Liebenfels, com uma linhagem que remontava ao reinado dos Hohenstaufen, do sul da Alemanha, sobre a Sicília medieval.
Enquanto List se dedicava à religiosidade germânica neopagã, Liebenfels atuava com a obscura gnose do início da cristandade e alusões aos Cavaleiros Templários, embora com exatamente o mesmo resultado: a evocação de uma raça mestra ariana destinada a assumir o poder totalitário. A principal obra de Liebenfels tem o título incomparavelmente louco de Theo-zoology, or the Lore of the Sodom Apelings and the Electron of the Gods (1905). “Teozoologia” designava uma bizarra interpretação de motivos bíblicos com o conhecimento científico da época sobre radiologia e semelhantes. Segundo Liebenfels, os anjos celestiais, por exemplo, eram simplesmente seres superiores de tempos antigos que haviam perdido suas capacidades sobrenaturais depois de terem se misturado de forma sodomítica com raças inferiores – capacidades sobrenaturais que os arianos recuperariam depois de uma suficiente higiene racial. Assim, Liebenfels (que teve de deixar os cistercienses, ironicamente, por causa de pecados da carne) fundou a sociedade secreta masculina dos ONT. Foi sob a insígnia desse grupo que ocorreu o acima mencionado festival místico em Burg Werfenstein. Hoje acredita-se de modo geral que Adolf Hitler foi um dos leitores habituais do periódico de Liebenfels, Ostara. No entanto, muito cedo ele tomou cuidado para não fazer qualquer referência explícita a esses antecessores místico-ocultistas. Hitler não estava absolutamente interessado nos tradicionais círculos elitistas pequenos e sigilosos, mas pretendia formar uma cultura de massa extática, livre de todos os escrúpulos civilizados e dedicada a uma presença total industrial-militar que duraria mil anos – ou melhor, pelo período de vida do próprio Hitler (ele nunca designou um sucessor para o caso de sua morte), como se o Reich fosse sua obra artística que naturalmente cessaria com sua morte.
Tendo em vista esses objetivos, os antecessores místicos só interessavam a Hitler como um meio para atingir um fim, e, portanto, ele considerava sua apreciação explícita prejudicial (pelo menos a sua própria vaidade). Já em Mein Kampf (1925-1926) Hitler zomba dos evangélicos esotéricos alemães com suas longas barbas e, durante a cúpula do partido do Reich, em 1938, ele anunciou que “a insinuação dos exploradores místicos do além de tendência mística não será tolerada”. Entretanto, as semelhanças entre as manias racistas de Hitler, List e Liebenfels, ligadas a visões de um Grande Reich Alemão, são próximas demais para ser explicadas meramente por uma semelhança entre suas respectivas afinidades e meios. Afinal, Hitler fez da SS de Himmler, com suas bases místicas, a elite e o principal instrumento de poder.
Entre 1918 e 1929, na acelerada sucessão de derrota, hiperinflação, sucesso ilusório e estouro catastrófico experimentada pela Alemanha e a Áustria, criou-se uma sensação de irrealidade apocalíptica. Ela tornou-se o canteiro para os novos mantenedores da tradição germânica. Outro precursor do movimento nazista de Hitler em Munique foi a Sociedade Thule, liderada pelo barão Heinrich von Sebottendorf (ou apenas Adam Glauer – outro pseudonobre. Entre seus convidados estiveram os líderes nazistas tardios Rudolf Hess e Alfred Rosenberg. Sebottendorf foi instrumental na fundação do jornal Münchner Beobachter, depois rebatizado de Völkischer Beobachter, o órgão central da propaganda nazista. Outro grupo, a Sociedade Edda, fundada em 1925 na zona rural da Baviera, dedicou nada menos que três edições da revista Hagal às supostas capacidades sobrenaturais de um certo Karl Maria Wiligut – ninguém menos que o acima citado Weisthor, que se tornou o Rasputin de Himmler.
Antissemitismo e antifeminismoWiligut, ou Weisthor, continuou sendo a única exceção, o único ex-sectário promovido às fileiras dos nazistas dominantes depois de 1933. Nascido em Viena, o antigo oficial do Exército austríaco aposentou-se, em 1919, em Salzburgo, e passava o tempo criando sua própria lenda como descendente de um germânico pré-histórico, da realeza e semidivino. Na verdade, ele afirmava ser capaz de olhar diretamente para o passado de milhares de anos. Seu reconhecimento dos tempos remontava a 228 mil a.C., quando três sóis brilhavam sobre uma terra governada por gigantes e anões. Wiligut desenvolveu traços cada vez mais paranoicos e acreditava haver uma conspiração entre a Igreja Católica, os judeus e os maçons. A perda precoce de um filho e herdeiro muito desejado, juntamente com uma crise financeira causada pelo mau investimento de um ex-sócio, levou-o a um colapso em 1924, diagnosticado como esquizofrênico com manifestações megalomaníacas e paranoicas. A contragosto, Wiligut foi internado em um asilo em Salzburgo, onde passou três anos. Aparentemente, esse passado foi um dos motivos que o levaram a usar o pseudônimo Weisthor. Esse foi o homem que se mudou para Munique em 1932 e foi introduzido nas SS no fim de 1933.
O que nos conta essa pré-história da ideologia nazista ocultista? Em primeiro lugar, expõe como o insulto e a injúria narcisistas a pessoas que antes se consideravam naturalmente superiores (por que “nós” não fomos integrados ao novo Reich alemão? Por que somos subitamente uma minoria na Áustria?), em uma cultura soldadesca geralmente machista (das guerras alemãs de 1866 à Primeira Guerra Mundial), levaram a uma mania de raiva e vingança ligadas a fantasias de superioridade por meio de parentesco e raça.
Ruína de Carnuntum, cidade romana localizada a 40 km a leste da atual Viena, que dá nome à novela escrita por Guido von List em 1888 e que se tornou um clássico instantâneo da literatura völkisch (Foto: Reprodução)
Ruína de Carnuntum, cidade romana localizada a 40 km a leste da atual Viena, que dá nome à novela escrita por Guido von List em 1888 e que se tornou um clássico instantâneo da literatura völkisch (Foto: Reprodução)
E essa mania foi reveladoramente iniciada por notórios mentirosos e impostores. É esse espírito intoxicado de seres “insultados” e “injuriados” que se perpetua sempre que uma cultura machista de guerra se funde com uma ideologia de recuperar algum tipo de superioridade supostamente perdida em tempos antigos, devido a uma conspiração. É uma mistura característica para as personalidades politicamente psicopatas de hoje, em todo o espectro político e muitas vezes em lados antagônicos dele. Pense na cultura das armas pelos suprematistas brancos nos Estados Unidos e em Donald Trump, que se consideram ferozes opositores do islamismo fundamentalista – mas não poderiam ser mais alheios aos princípios democráticos da Constituição americana, exceto o direito de portar rifles. O Estado Islâmico no Iraque e na Síria  homens tão convencidos de sua superioridade quanto são mentirosos, ao fazer seus seguidores acreditarem estar lutando por uma causa religiosa “real”, com a ajuda do simbolismo oculto (as bandeiras, as teorias da conspiração ocultista etc.). Seus atos terríveis, muitas vezes representados em seus vídeos promocionais como jogos de tiro para computador, se disseminaram como um vírus contagioso entre os garotos imigrantes de segunda e terceira geração na Europa Ocidental, que desenvolveram personalidades injuriadas, intoxicadas, machistas, que têm tantas semelhanças com os que são supostamente seus inimigos políticos – psicopatas de direita como Anders Breivik, o mass murderer norueguês que cinco anos atrás matou 77 pessoas em Oslo, que se descrevia alternadamente como um cavaleiro templário cristão e como um “odinista” (seguidor do deus viking Odin). O rapaz de 18 anos que cometeu uma matança em um shopping center de Munique, em julho de 2016, e matou nove pessoas antes de se suicidar era filho de imigrantes iranianos, nascido na Alemanha, que trocou seu nome de Ali para David e se orgulhava do fato de ter nascido no mesmo dia que Adolf Hitler. O que todos parecem ter em comum, quer se declarem fascistas antimuçulmanos ou islamitas fundamentalistas, ou uma mistura absurda dos dois, é um feroz antissemitismo, antifeminismo e ódio do empoderamento queer, da diversidade étnica e religiosa em respeito mútuo e dos esforços da esquerda para melhorar a educação. Como disse Nietzsche de maneira muito apropriada: “Quem despreza a si mesmo ainda se respeita como alguém que despreza”.
Tradução Luiz Roberto Mendes Gonçalves

www.select.art.br
10
Nov17

Mercado Municipal de Faro promove "1ª Feira do Chocolate"

António Garrochinho


REGIONAIS
Das 10:00 às 18:00, o chocolate será o rei no Mercado Municipal de Faro e os visitantes terão oportunidade de adquirir e degustar iguarias únicas elaboradas com este ingrediente.
Para além da presença de vários expositores e produtores que irão mostrar o que de melhor se faz com chocolate, a feira contará com animação diária garantida pela “Funnyday”, Showcooking, palestras e atividades para escolas e famílias.
Sendo naturalmente um atrativo turístico, o certame, com entrada livre, tem ainda como objetivo a promoção de produtos locais, regionais e nacionais, divulgando a versatilidade culinária do chocolate.
PROGRAMA
Dia 16- 11:00- Inauguração
Dias 16 e 17- Estórias com chocolate (destinadas às escolas)
Dia 18 - Showcooking pela Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve- 10:30
         - Estórias com chocolate para famílias- 11:00
         - Palestra “Chocolate, bom mesmo paera a saúde ou puro prazer?”- 15:30
Dia 19 – Palestra “O chocolate na infância”
Diariamente: Animação FunnydayMundo Chocolate FaroFonte: GRP da CM Faro

maisalgarve.pt
10
Nov17

Mun de S B de Alportel acorda dinamização e manutenção do Parque de Manobras

António Garrochinho


O Parque de Manobras, onde o Instituto da Mobilidade e dos Transportes, IP realiza exames teóricos, foi motivo de acordo entre o referido instituto e o Município de São Brás de Alportel com vista à valorização do espaço exterior atualmente deteriorado e sem utilização.
A autarquia pretende desenvolver nos cerca de 20 mil metros quadrados da área, localizados na zona da Calçada, um espaço multidesportos, que integrará centro de apoio desporto de duas rodas, picadeiro municipal, e espaços comuns para as mais diversas modalidades. Outro projeto de enorme relevância a criar neste local será o Centro Regional para a Formação de Bombeiros em Fogo Urbano, sendo o segundo no Algarve. O local servirá ainda para o desenvolvimento de outros projetos que se revelem de interesse para a comunidade.
Os projetos serão desenvolvidos em parceria com entidades especializadas como é o caso da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de São Brás de Alportel e a Autoridade Nacional de Proteção Civil, a Federação Portuguesa de Ciclismo e as associações locais das mais diversas áreas.
O protocolo de cedência do terreno, a título gratuito por um período de 50 anos,  foi assinado em 1999 pela Câmara Municipal de São Brás de Alportel e pela, então designada, Direção Geral de Viação com vista à construção de um centro de exames e no espaço exterior ma escola de trânsito destinada à educação rodoviária das camadas mais jovens da população, sobretudo em idade escolar. Este protocolo integrou um projeto-piloto a nível nacional que levou à construção de 18 espaços com as mesmas características a nível nacional.
As infraestruturas foram construídas mas acabou por permanecer até aos dias de hoje apenas em funcionamento o edifício de exames teóricos, que o Instituto da Mobilidade e dos Transportes, IP vai continuar a utilizar. No espaço exterior nada foi criado e dinamizado.
Perante o desaproveitamento do espaço exterior e a falta de manutenção, a autarquia iniciou desde há muito diligências que levaram à assinatura de uma adenda ao protocolo que vai permitir dinamizar o restante espaço e colocá-lo à disposição da população são-brasense com novas valências.
O município de São Brás de Alportel quer assim ser um exemplo a nível nacional utilizando as infraestruturas existentes e criando novas que irão dinamizar e dar nova vida a um equipamento com localização privilegiada, tendo sido o sentimento de ambas as partes que este processo irá incentivar outros municípios a optar pela mesma solução aos restantes Centros existentes em Portugal.
A adenda assinada por ambas as entidades e vai vigorar durante 25 anos, podendo cessar antecipadamente se denunciada por escrito com um ano de antecedência por ambas as partes.Parque Manobras SBA2Parque Manobras SBA3


maisalgarve.pt
10
Nov17

VÍDEO - DEPUTADOS DO PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS - Perguntas ao Ministro do Ambiente sobre questões do Algarve

António Garrochinho


Perguntas ao Ministro do Ambiente sobre questões do Algarve, no âmbito da discussão na especialidade do Orçamento do Estado para 2018:
- falta de água para fins agrícolas nos concelhos de Alcoutim e Castro Marim e construção da barragem da Foupana;
- dragagens na Fuseta;
- Ligação do novo sistema de distribuição de água do Aproveitamento Hidroagrícola de Silves, Lagoa e Portimão ao adutor do Funcho-Alcantarilha.


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10
Nov17

A VERGONHA OU A FALTA DELA

António Garrochinho

O VASSALO DO CAPITALISMO VAI-SE REVELANDO.
 O Presidente da República elogiou na quinta-feira à noite a ação social de Maria Cavaco Silva durante os mandatos do seu marido como primeiro-ministro e na Presidência, considerando que foi "20 anos madrinha dos portugueses".

10
Nov17

SEM PAPAS NA LÍNGUA

António Garrochinho

SIM ! QUANDO O PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS DIZ E MUITO BEM QUE FORAM OS TRABALHADORES QUE SE UNIRAM E SE UNEM PARA DEFENDER OS SEUS DIREITOS E DERROTARAM EM 2015 O GOVERNO PSD/CDS EU ACRESCENTO MAIS ALGUMA COISA A ESTA REALIDADE.

NEM TODOS !

AINDA HOJE HÁ GENTE QUE TRABALHA E QUE ALINHA NAS FILEIRAS ILUSÓRIAS DE QUE OS NEO LIBERAIS/FASCISTAS DO PSD/CDS SERIAM A SOLUÇÃO PARA O PAÍS.

DESTES COITADOS NEM O SENTIMENTO DO DÓ ME MERECEM PORQUE MUITOS O FAZEM POR RUINDADE E PELO SENTIMENTO DA INVEJA MESQUINHA.

VINGAM-SE NÃO VOTANDO NA ESQUERDA QUE OS PROTEGE E DEFENDE.
ALGUNS PORCAMENTE ODEIAM OS COMUNISTAS.

COMO NÃO CONSEGUEM TER OS LUXOS DAQUELES A QUEM LAMBEM O CU VINGAM-SE DA FORMA MAIS ESTRANHA E É PRECISAMENTE NELES, NOS EXPLORADORES QUE VOTAM, JULGANDO DAÍ RECEBEREM BENESSES, UM EMPREGO, UMA CUNHA PARA DEPOIS SE PAVONEAREM FAZENDO PROPAGANDA ENALTECENDO AQUELES QUE OS ROUBAM E ESPEZINHAM.

PARECE IMPOSSÍVEL MAS É VERDADE.

ESTA SARNA IGNORANTE E ESTÚPIDA TEM SIDO A PRINCIPAL CAUSA DA RUÍNA EM QUE SE ENCONTRA O NOSSO PAÍS JUNTANDO A SUA CEGUEIRA AOS GATUNOS AOS CORRUPTOS AOS ALDRABÕES QUE NOS LIXAM A VIDA DO DIA A DIA.


António Garrochinho
10
Nov17

10 de Novembro de 1928: É publicado o primeiro fascículo de ' A oeste nada de novo", de Erich Maria Remarque

António Garrochinho


É publicado na revista alemã Vossische Zeitung em 10 de Novembro de 1928 o primeiro fascículo de  A Oeste nada de novo (Im Westen nichts Neues), aclamado romance de Erich Maria Remarque sobre a Primeira Guerra Mundial.


Remarque –  Erich Paul Remark – nasceu em 1898 na Baixa Saxónia numa família com ascendentes franceses. Alistou-se no exército alemão aos 18 anos e foi mandado para a frente ocidental, onde foi ferido por cinco vezes, a última gravemente. Regressou à Alemanha após a guerra, mudou o sobrenome para parecer de origem francesa. Exerceu várias actividades: professor, pedreiro, piloto de carros de corrida, jornalista desportivo, enquanto trabalhava no seu primeiro romance. 


O protagonista de  A oeste nada de novo  é Paul Baumer, um jovem soldado alemão que luta nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial. A história começa em 1917. Ao longo do livro Paul é ferido e hospitalizado, volta para casa sob licença e retorna aos campos de batalha apenas para ser morto uma semana antes do armistício de 1918. 


Após a publicação dos capítulos na Vossische Zeitung, o livro foi editado no ano seguinte e vendeu 1,5 milhões de exemplares naquele mesmo ano. Embora os editores manifestassem a preocupação de que passados mais de 10 anos após o fim da guerra o assunto ainda cativasse interesse, a descrição realista de Remarque da guerra de trincheiras sob a perspectiva de jovens combatentes tocou os sobreviventes da guerra, assim como multidões de civis, de forma positiva e negativa. 


Os mais duros críticos de Remarque foram os seus compatriotas. Muitos consideravam que o livro denegria o esforço de guerra germânico e que Remarque havia exagerado os horrores do conflito para levar adiante a sua agenda pacifista. Sem surpresa, as vozes mais ácidas vieram do emergente Partido Nacional Socialista, um grupo ultranacionalista liderado pelo futuro führer, Adolf Hitler. Em 1933, quando os nazis tomaram o poder,  A oeste nada de novo tornou-se um dos primeiros livros “degenerados” a ser publicamente queimado. 


Traduzido para 20 idiomas, o romance foi adaptado ao cinema em 1930, nos Estados Unidos e premiado com o Óscar de melhor filme e realizador. A mensagem pacifista não perdeu a sua eloquência no rosto inocente do herói Paul interpretado por Lew Ayres. 


Remarque iria publicar outros nove romances, todos tratando dos horrores da guerra e da luta para entender o seu motivo. O último livro, A noite em Lisboa, foi implacável na condenação à Segunda Guerra Mundial e à tentativa de Hitler de perpetrar a exterminação dos judeus e de outros “não povos” pela tese da “raça superior” dos arianos. 


Após ter sua cidadania alemã revogada em 1938, Remarque emigrou para os EUA. Frequentador assíduo da vida nocturna de Nova Iorque nos anos 1930, ele era visto acompanhado de belas actrizes como Marlene Dietrich em Hollywood. Remarque viveu os seus últimos anos de vida nas margens do lago Maggiore em Porto Ronco na Suíça italiana. Morreu em Locarno em 1970 onde vivia com sua mulher, a actriz Paulette Goddard.

Fontes: Opera Mundi
wikipedia (imagens)


Remarque em Davos, 1929


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10
Nov17

10 de Novembro de 1483: Nasce Martinho Lutero

António Garrochinho


Martinho Lutero nasceu a 10 de Novembro de 1483 em Eisleben, na Alemanha. Os seus pais fixaram residência, em 1484, em Mansfeld, onde Martinho iniciou os seus estudos. Terminando o curso da escola daquela localidade, então com 14 anos, deixou a casa paterna e ingressou na escola superior de Magdeburgo. Depois de um ano ali, teve que retornar a casa dos pais devido a uma grave enfermidade, indo por esta razão, no ano seguinte, estudar em Eisenach. Em 1501 ingressava na Universidade de Erfurt, cidade conhecida como "Roma Alemã" pelo seu elevado número de igrejas e mosteiros. Obteve  os graus de Bacharel (1502) e Mestre em Arte (1505). No mesmo ano ingressou no curso de Direito. Este, porém, foi interrompido visto que, a 02 de Julho de 1505,  teve sua vida seriamente ameaçada por uma tempestade que, por pouco, lhe tirara a vida. Fez, nesta oportunidade, um voto a Santa Ana que, se lhe fosse dado viver, ingressaria no mosteiro para tornar-se monge. No dia 17 de Julho de 1505 ingressa no convento da Ordem dos Agostinhos .Em Fevereiro de 1507 foi ordenado sacerdote. Por indicação do vigário da ordem, João de Staupitz, que reconhecia em Lutero uma erudição e inteligência incomuns, Lutero foi designado professor na Universidade de Wittenberg, fundada em 1502 por Frederico, o Sábio, duque da Saxónia e presidente dos sete eleitores civis que, juntamente com sete autoridades religiosas, elegiam o imperador do Sacro Império -Romano da Nação Alemã. Ocupou ali a cadeira de Teologia. Continuou também os seus estudos, instruindo-se principalmente nas línguas grega e hebraica.

Em 1511, então com 28 anos, foi enviado em missão diplomática a Roma, para solucionar uma divergência entre sete conventos de sua Ordem e o vigário geral da mesma. A corrupção, imoralidade, o desrespeito do clero e da cúpula da igreja para com as coisas sagradas marcaram nele uma profunda decepção. 

Em 1517, Lutero quis provocar um debate público sobre a venda de indulgências promovidas pelo Papa Leão X e o arcebispo Alberto de Mogúncia através da Ordem dos Dominicanos. Quando pregou à porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, em 31 de Outubro de 1517, o pergaminho com as 95 teses em latim para serem debatidas entre os académicos  conforme o costume da época, não desejava desencadear um movimento na história da igreja. O efeito dessas teses foi tão inesperado, que elas não ficaram apenas entre os letrados; traduzidas  para alemão, em poucas semanas espalharam-se por toda a Alemanha e outras partes da Europa, chegando ao conhecimento do povo em geral.

Em 1518 Lutero foi chamado para responder a um processo instaurado por Roma. Mas, por interferência de Frederico, o Sábio, Príncipe da Saxónia  o Papa consentiu que a questão fosse tratada na Alemanha. Exigia -se  que Lutero se retratasse, o que este não fez. Tinha Lutero nessa época o apoio do capítulo da Ordem dos Agostinhos e do corpo docente da Universidade de Wittenberg. Como Lutero recusava retratar-se, a resposta do Papa foi a bula de excomunhão Exsurge Domine (15 de Junho de 1520). A 3 de Janeiro de 1521 esgotou-se o prazo dado na bula, sendo então proferido o anátema definitivo pelo Papa Leão X através pela bula Decet Romanum Pontificem.

Fontes: geniosmundiais.blogspot
             wikipedia (imagens)

             
Lutero em 1529 por Lucas Cranach
File:Bulla-contra-errores.jpg
A Bula de Leão X Bulla contra errores Martini Lutheri et sequacium, conhecida como Exsurge Domine

A vida de Lutero no Cinema
Luther (Lutero) é um filme alemão (diálogos em inglês e latim) de 2003 realizado por Eric Till. O papel principal é desempenhado por Joseph Fiennes. O filme relata a vida de Martinho Lutero desde que ele se tornou monge até a Confissão de Augsburgo (1530).




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10
Nov17

Os trafulhas encartados

António Garrochinho



Aqueles que deixaram o Estado na penúria, que bateram recordes históricos de quebra de investimento dizem agora que o "Estado falhou " . Pesarosos afirmam : ao estado a que o Estado chegou ...., São os mesmos que escrevem que se deveria aproveitar a situação para se fazer uma "maior consolidação orçamental" isto é uma maior descapitalização o Estado...
Só têm um nome :trafulhas



foicebook.blogspot.pt
10
Nov17

PÃO PÃO, QUEIJO QUEIJO

António Garrochinho

POR VEZES NA NOSSA ADOLESCÊNCIA ENCARNÁVAMOS HERÓIS MUITO MAIS JUSTOS E AMIGOS DA JUSTIÇA E LIBERDADE.
HOJE, MUITOS DE NÓS ALINHAMOS COM IDEIAS FASCISTAS, RACISTAS E TOTALMENTE DESPROVIDAS DE HUMANISMO E VESTIMOS A PELE DO EGOÍSMO , DA INDIFERENÇA.
TUDO ISTO DERIVADO À INTOXICAÇÃO DA DOUTRINA BURGUESA, A DO CAPITALISMO E DO CONSUMISMO DESENFREADO.
TEMOS "VERGONHA" DE SER POBRES E EXPLORADOS NÃO REAGIMOS E EM ALTERNATIVA VOTAMOS NOS RICOS QUE NOS EXPLORAM.


António Garrochinho
10
Nov17

V.I.LENIN - As três fontes e as três partes constitutivas do marxismo

António Garrochinho



A doutrina de Marx suscita em todo o mundo civilizado a maior hostilidade e o maior ódio de toda a ciência burguesa (tanto a oficial como a liberal), que vê no marxismo uma espécie de “seita perniciosa”. E não se pode esperar outra atitude, pois, numa sociedade baseada na luta de classes não pode haver ciência social “imparcial”. De uma forma ou de outra, toda a ciência oficial e liberal defende a escravidão assalariada, enquanto que o marxismo declarou uma guerra implacável a essa escravidão. Esperar que a ciência fosse imparcial numa sociedade de escravidão assalariada seria uma ingenuidade tão pueril como esperar que os fabricantes sejam imparciais quanto à questão da conveniência de aumentar os salários dos operários diminuindo os lucros do capital.
Mas não é tudo. A história da filosofia e a história da ciência social ensinam com toda a clareza que no marxismo não há nada que se assemelhe ao “sectarismo”, no sentido de uma doutrina fechada em si mesma, petrificada, surgida à margem da estrada real do desenvolvimento da civilização mundial. Pelo contrário, o gênio de Marx reside precisamente em ter dado respostas às questões que o pensamento avançado da humanidade tinha já colocado. A sua doutrina surgiu como a continuação direta e imediata das doutrinas dos representantes mais eminentes da filosofia, da economia política e do socialismo.
A doutrina de Marx é onipotente porque é exata. É completa e harmoniosa, dando aos homens uma concepção, integral do mundo, inconciliável com toda a superstição, com toda a reação, com toda a defesa da opressão burguesa. O marxismo é o sucessor legítimo do que de melhor criou a humanidade no século XIX: a filosofia alemã, a economia política inglesa e o socialismo francês.
Vamos deter-nos brevemente nestas três fontes do marxismo, que são, ao mesmo tempo, as suas três partes constitutivas.
I
A filosofia do marxismo é o materialismo. Ao longo de toda a história moderna da Europa, e especialmente em fins do século XVIII, em França, onde se travou a batalha decisiva contra todas as velharias medievais, contra o feudalismo nas instituições e nas idéias, o materialismo mostrou ser a única filosofia conseqüente, fiel a todos os ensinamentos das ciências naturais, hostil à superstição, à beatice, etc. Por isso, os inimigos da democracia tentavam com todas as suas forças “refutar”, desacreditar e caluniar o materialismo e defendiam as diversas formas do idealismo filosófico, que se reduz sempre, de um modo ou de outro, à defesa ou ao apoio da religião.
Marx e Engels defenderam resolutamente o materialismo filosófico, e explicaram repetidas vezes quão profundamente errado era tudo quanto fosse desviar-se dele. Onde as suas opiniões aparecem expostas com maior clareza e pormenor é nas obras de Engels Ludwig Feuerbach e Anti-Dübring, as quais – da mesma forma que o Manifesto Comunista – são os livros de cabeceira de todo o operário consciente.
Marx não se limitou, porém, ao materialismo do século XVIII; pelo contrário, levou mais longe a filosofia. Enriqueceu-a com as aquisições da filosofia clássica alemã, sobretudo do sistema de Hegel, o qual conduziria por sua vez ao materialismo de Feuerbach. A principal dessas aquisições foi a dialética, isto é, a doutrina do desenvolvimento na sua forma mais completa, mais profunda e mais isenta de unilateralidade, a doutrina da relatividade do conhecimento humano, que nos dá um reflexo da matéria em constante desenvolvimento. As descobertas mais recentes das ciências naturais – o rádio, os elétrons, a transformação dos elementos – confirmaram de maneira admirável o materialismo dialético de Marx, a despeito das doutrinas dos filósofos burgueses, com os seus “novos” regressos ao velho e podre idealismo.
Aprofundando e desenvolvendo o materialismo filosófico, Marx levou-o até ao fim e estendeu-o do conhecimento da natureza até o conhecimento da sociedade humana. O materialismo histórico de Marx é uma conquista formidável do pensamento científico. Ao caos e à arbitrariedade que até então imperavam nas concepções da história e da política, sucedeu uma teoria científica notavelmente integral e harmoniosa, que mostra como, em conseqüência do crescimento das forças produtivas, desenvolve-se de uma forma de vida social uma outra mais elevada, como, por exemplo, o capitalismo nasce do feudalismo.
Assim, como o conhecimento do homem reflete a natureza que existe independentemente dele, isto é, a matéria em desenvolvimento, também o conhecimento social do homem (ou seja: as diversas opiniões e doutrinas filosóficas, religiosas, políticas, etc.) reflete o regime econômico da sociedade. As instituições políticas são a superestrutura que se ergue sobre a base econômica. Assim, vemos, por exemplo, como as diversas formas políticas dos Estados europeus modernos servem para reforçar a dominação da burguesia sobre o proletariado.
A filosofia de Marx é o materialismo filosófico acabado, que deu à humanidade, à classe operária sobretudo, poderosos instrumentos de conhecimento.
II
Depois de ter verificado que o regime econômico constitui a base sobre a qual se ergue a superestrutura política, Marx dedicou-se principalmente ao estudo deste regime econômico. A obra principal de Marx, O Capital, é dedicada ao estudo do regime econômico da sociedade moderna, isto é, da sociedade capitalista.
A economia política clássica anterior a Marx tinha-se formado na Inglaterra, o país capitalista mais desenvolvido. Adam Smith e David Ricardo lançaram, nas suas investigações do regime econômico, os fundamentos da teoria do valor-trabalho. Marx continuou sua obra. Fundamentou com toda precisão e desenvolveu de forma conseqüente aquela teoria. Mostrou que o valor de qualquer mercadoria é determinado pela quantidade de tempo de trabalho socialmente necessária investido na sua produção.
Onde os economistas burgueses viam relações entre objetos (troca de umas mercadorias por outras), Marx descobriu relações entre pessoas. A troca de mercadorias exprime a ligação que se estabelece, por meio do mercado, entre os diferentes produtores. O dinheiro indica que esta ligação se torna cada vez mais estreita, unindo indissoluvelmente num todo a vida econômica dos diferentes produtores. O capital significa um maior desenvolvimento desta ligação: a força de trabalho do homem torna-se uma mercadoria. O operário assalariado vende a sua força de trabalho ao proprietário de terra, das fábricas, dos instrumentos de trabalho. O operário emprega uma parte do dia de trabalho para cobrir o custo do seu sustento e de sua família (salário); durante a outra parte do dia, trabalha gratuitamente, criando para o capitalista a mais-valia, fonte dos lucros, fonte da riqueza da classe capitalista.
A teoria da mais-valia constitui a pedra angular da teoria econômica de Marx.
O capital, criado pelo trabalho do operário, oprime o operário, arruína o pequeno patrão e cria um exército de desempregados. Na indústria, é imediatamente visível o triunfo da grande produção; mas também na agricultura deparamo-nos com o mesmo fenômeno: aumenta a superioridade da grande exploração agrícola capitalista, cresce o emprego de maquinaria, a propriedade camponesa cai nas garras do capital financeiro, declina e arruína-se sob o peso da técnica atrasada. Na agricultura, o declínio da pequena produção reveste-se de outras formas, mais esse declínio é um fato indiscutível.
Esmagando a pequena produção, o capital faz aumentar a produtividade do trabalho e cria uma situação de monopólio para os consórcios dos grandes capitalistas. A própria produção vai adquirindo cada vez mais um caráter social – centenas de milhares e milhões de operários são reunidos num organismo econômico coordenado – enquanto um punhado de capitalistas se apropria do produto do trabalho comum. Crescem a anarquia da produção, as crises, a corrida louca aos mercados, a escassez de meios de subsistência para as massas da população.
Ao fazer aumentar a dependência dos operários relativamente ao capital, o regime capitalista cria a grande força do trabalho unido.
Marx traçou o desenvolvimento do capitalismo desde os primeiros germes da economia mercantil, desde a troca simples, até às suas formas superiores, até à grande produção.
E de ano para ano a experiência de todos os países capitalistas, tanto os velhos como os novos, faz ver claramente a um número cada vez maior de operários a justeza desta doutrina de Marx.
O capitalismo venceu no mundo inteiro, mas, esta vitória não é mais do que o prelúdio do triunfo do trabalho sobre o capital.
III
Quando o regime feudal foi derrubado e a “livre” sociedade capitalista viu a luz do dia, tornou-se imediatamente claro que essa liberdade representava um novo sistema de opressão e exploração dos trabalhadores. Como reflexo dessa opressão e como protesto contra ela, começaram imediatamente a surgir diversas doutrinas socialista. Mas, o socialismo primitivo era um socialismo utópico. Criticava a sociedade capitalista, condenava-a, amaldiçoava-a, sonhava com a sua destruição, fantasiava sobre um regime melhor, queria convencer os ricos da imoralidade da exploração.
Mas, o socialismo utópico não podia indicar uma saída real. Não sabia explicar a natureza da escravidão assalariada no capitalismo, nem descobrir as leis do seu desenvolvimento, nem encontrar a força social capaz de se tornar a criadora da nova sociedade.
Entretanto, as tempestuosas revoluções que acompanharam em toda a Europa, e especialmente em França, a queda do feudalismo, da servidão, mostravam cada vez com maior clareza que a luta de classes era a base e a força motriz de todo o desenvolvimento.
Nenhuma vitória da liberdade política sobre a classe feudal foi alcançada sem uma resistência desesperada. Nenhum país capitalista se formou sobre uma base mais ou menos livre, mais ou menos democrática, sem uma luta de morte entre as diversas classes da sociedade capitalista.
O gênio de Marx está em ter sido o primeiro a ter sabido deduzir daí a conclusão implícita na história universal e em tê-la aplicado conseqüentemente. Tal conclusão é a doutrina da luta de classes.
Os homens sempre foram em política vítimas ingênuas do engano dos outros e do próprio e continuarão a sê-lo enquanto não aprendem a descobrir por trás de todas as frases, declarações e promessas morais, religiosas, políticas e sociais, os interesses de uma ou de outra classe. Os partidários de reformas e melhoramentos ver-se-ão sempre enganados pelos defensores do velho, enquanto não compreenderem que toda a instituição velha, por mais bárbara e apodrecida que pareça, se mantém pela força de umas ou de outras classes dominantes. E para vencer a resistência dessas classes só há um meio: encontrar na própria sociedade que nos rodeia, educar e organizar para a luta, os elementos que possam – e, pela sua situação social, devam – formar a força capaz de varrer o velho e criar o novo.
Só o materialismo filosófico de Marx indicou ao proletariado a saída da escravidão espiritual em que vegetaram até hoje todas as classes oprimidas. Só a teoria econômica de Marx explicou a situação real do proletariado no conjunto do regime capitalista.
No mundo inteiro, da América ao Japão e da Suécia à África do Sul, multiplicam-se as organizações independentes do proletariado. Este se educa e instrui-se travando a sua luta de classe; liberta-se dos preconceitos da sociedade burguesa, adquire uma coesão cada vez maior, aprende a medir o alcance dos seus êxitos, tempera as suas forças e cresce irresistivelmente.
Março de 1913
Publicado originalmente em Prosvechtchénie, nº 3, Março de 1913.

10
Nov17

HISTÓRIA - 1922: Fim da Marcha sobre Roma

António Garrochinho


No dia 28 de outubro de 1922, chegava ao fim a Marcha sobre Roma, liderada por Benito Mussolini, marcando o início do regime fascista na Itália

Tais "marchas sobre Roma" já haviam ocorrido diversas vezes na história da cidade, como por exemplo no ano 43, quando Otávio seguiu em direção à capital do Império Romano com o objetivo de forçar sua nomeação ao posto de cônsul.


A principal marcha da história do país, no entanto, foi conduzida pelo guerrilheiro republicano Giuseppe Garibaldi, tendo levado à unificação italiana no século 19. Foi exatamente essa marcha que serviu de inspiração para Benito Mussolini.
Em 1923, Mussolini foi imitado na Alemanha por Adolf Hitler, que tentou organizar uma marcha de Munique a Berlim, com o intuito de tomar o poder. Sua tentativa terminou, porém, poucas horas depois de ser iniciada, tendo levado o simples nome de Marcha para o Feldherrenhalle (o panteão dos heróis nacionais alemães, em Munique). Apesar do fracasso, Hitler pelo menos participou pessoalmente da marcha, o que Mussolini não podia afirmar de si próprio.
Nos anos que se sucederam à Primeira Guerra Mundial, a Itália era dominada por relações políticas tão caóticas quanto as observadas na Alemanha na mesma época, durante a República de Weimar. Nem a Alemanha nem a Itália tinham tradição democrática e, assim, foi possível que principalmente partidos políticos radicais e agitadores ideológicos de linhas políticas marginais acabassem tirando proveito da confusão geral.
Um desses agitadores da extrema direita foi Benito Mussolini, professor primário e jornalista, oriundo da região da Emilia Romana. Sem qualquer ideologia política consistente, Mussolini e seu movimento fascista logravam despertar os sentimentos de seus compatriotas, ansiosos por uma liderança e pelo ideal de grandeza em tempos de insegurança.
26 mil de prontidão
O fato de o movimento fascista não contar com bons prognósticos nas eleições democráticas não perturbava o antidemocrata Mussolini. Ele se via mais como um "homem de ações" e dava preferência de qualquer maneira a outras formas de chegar ao poder.


Marcha sobre Roma foi "liderada" por Benito Mussolini
No dia 16 de outubro de 1922, Mussolini delegou a seus adeptos de Vecchi, de Bono, Balbo e Bianchi a tarefa de atacar Roma quando ele ordenasse. Para isso, Mussolini colocou à disposição dos quatro comandantes 26 mil combatentes, que ficaram em prontidão diante da cidade.
Mussolini ameaçou então o rei – que governava sob um regime constitucional – de fazer uso de meios militares, caso suas exigências não fossem cumpridas. No dia 24 de outubro de 1922, Mussolini anunciou: "Ou o governo é transferido para nossas mãos, ou nós tomamos o poder através de um ataque a Roma. Isso é agora uma questão de dias, talvez de horas".
De Roma não houve, de início, nenhuma resposta. O governo, que se reuniu pela última vez no dia 28 de outubro, estava ainda decidido a resistir às ameaças. Incumbido de defender Roma, o general Pugliese negou-se, no entanto, a seguir as ordens do rei. No mesmo dia, o rei Vittorio Emanuele dissolveu o governo e delegou ao liberal de direita Salanda a formação de um novo gabinete. As expectativas do rei eram de que Salanda convocasse Mussolini para fazer parte de seu governo e evitasse, com isso, o golpe de Estado.
De Milão, Mussolini comunicou ao rei não estar de forma alguma disposto a participar de um governo liberal. O desprezo do líder fascista pelo liberalismo pode ser constatado em seu texto Poder e Adesão: "Para a destemida, inquieta e crua juventude, há outras palavras que exercem uma fascinação muito maior, e estas são ordem, hierarquia e disciplina. Esse pobre liberalismo italiano, que suspira e luta por uma liberdade maior, é de certa forma tardio. O fascismo não se acanha hoje de autodenominar-se não-liberal e antiliberal".
Mussolini foi de trem
A rejeição de sua proposta por Mussolini e a ameaça que ainda pairava no ar de que tropas fascistas pudessem marchar sobre Roma fizeram com que o rei cedesse. No dia 29 de outubro de 1922, Vittorio Emanuele convocou Benito Mussolini a formar um governo fascista. Nos dois dias que se seguiram, os homens de prontidão foram postos em marcha para Roma, onde chegaram sob chuvas torrenciais. O duce só tomou um trem em Milão, com destino a Roma, na noite de 29 de outubro. Ele chegou confortavelmente, descansado e seco à capital italiana na manhã do dia 30.
A Marcha sobre Roma e suas circunstâncias foram polêmicas, mas ela pôde ser muito utilizada pelo governo fascista como propaganda. Mussolini ocultou da opinião pública que, para ele, a marcha só começara na noite de 29 de outubro, dentro de um confortável vagão-leito. Ao contrário, Mussolini falou seguidas vezes da sua "revolução italiana", afirmando que três mil "mártires" haviam sido mortos durante um conflito que na verdade nunca aconteceu.
Num aspecto, o departamento de propaganda do governo fascista falhou por completo. A tentativa de implantar um novo calendário na Itália foi fadada ao fracasso. Nesse calendário, estava planeado colocar "o primeiro dia do ano zero" como o dia em que a Marcha sobre Roma teria supostamente ocorrido: 28 de outubro de 1922.

operamundi.uol.com.br
10
Nov17

DIRECTORA MUNICIPAL FAZ OBRA SEM LICENÇA

António Garrochinho


Helena Lopes dirige o Departamento de Ambiente, Planeamento e Gestão Urbana na Câmara da Maia, que é responsável pela fiscalização urbanística. Mas, de acordo com uma denúncia enviada às autoridades, não licenciou as obras que foram realizadas na sua habitação - incluindo a edificação de um anexo, alargamento de área da propriedade e construção de uma piscina -, em Folgosa. 

A autarquia instaurou um processo de averiguação, e admite tomar " as medidas adequadas e as sanções previstas, caso se comprovem as referidas irregularidades". 

Em causa está o alegado incumprimento da legislação urbanística - que aquele departamento municipal fiscaliza -, e a taxa de Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) cobrada naquele terreno, cujo titular será o marido da diretora municipal. 

Ao CM, a Câmara da Maia indica que "o facto de a cidadã em causa ser funcionária da autarquia não lhe garante qualquer tratamento de exceção", e que "todos os cidadãos são iguais perante a lei e os regulamentos municipais". Apesar das várias tentativas de contacto com a visada, o CM não obteve qualquer resposta.Helena Lopes dirige o Departamento de Ambiente, Planeamento e Gestão Urbana na Câmara da Maia, que é responsável pela fiscalização urbanística. 

Mas, de acordo com uma denúncia enviada às autoridades, não licenciou as obras que foram realizadas na sua habitação - incluindo a edificação de um anexo, alargamento de área da propriedade e construção de uma piscina -, em Folgosa. 

A autarquia instaurou um processo de averiguação, e admite tomar " as medidas adequadas e as sanções previstas, caso se comprovem as referidas irregularidades". Em causa está o alegado incumprimento da legislação urbanística - que aquele departamento municipal fiscaliza -, e a taxa de Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) cobrada naquele terreno, cujo titular será o marido da diretora municipal. 

Ao CM, a Câmara da Maia indica que "o facto de a cidadã em causa ser funcionária da autarquia não lhe garante qualquer tratamento de exceção", e que "todos os cidadãos são iguais perante a lei e os regulamentos municipais". Apesar das várias tentativas de contacto com a visada, o CM não obteve qualquer resposta.
http://www.cmjornal.pt
10
Nov17

ADEUS AO PERGAMINHO – A INVENÇÃO DA IMPRENSA

António Garrochinho









na-imagem-acima-gutenberg



Do mesmo modo que a invenção do telescópio por Galileu Galileu, no século XVII, revolucionou a astronomia, a invenção da máquina de impressão em tipos móveis, mais conhecida como imprensa, pelo alemão Johannes Gutenberg, no século XV, provocou uma enorme revolução na modernidade: o processo de aceleração da produção de livros. Após a invenção da imprensa, imprimir e compor livros deixaram de ser práticas manuais e artesanais e tornaram-se uma produção em série mecanizada.
Gutenberg desenvolveu o seu invento por volta do ano de 1430. A máquina de imprensa de Gutenberg contava com uma prancha onde eram dispostos os tipos, ou caracteres, móveis. Esses tipos móveis nada mais eram que símbolos gráficos (letras, números, pontos etc.) moldados em chumbo. Um só molde desses tipos, alimentado com tinta, poderia imprimir inúmeras cópias de um mesmo texto em questão de horas. Se na elaboração manual dos livros (que eram chamados de códex, ou códice), o tempo gasto era enorme; com a imprensa, esse tempo foi amplamente reduzido.
No início do século XVI, os efeitos provocados pela imprensa de Gutenberg já eram perceptíveis nos principados alemães, sobretudo quando, por meio da imprensa, houve a popularização dos panfletos críticos do reformista Martinho Lutero. A Reforma Protestante deflagrada por Lutero em 1517 passou a ter uma grande recepção entre a população letrada da Alemanha, em virtude da circulação das teses e dos panfletos impressos. Posteriormente, uma contribuição ainda maior de Lutero para a história da leitura estaria de “mãos dadas” com a imprensa de Gutenberg: a tradução da Bíblia do latim para o alemão.
Com a Bíblia traduzida para uma língua vulgar (no sentido de que não era clássica, como o latim), a demanda por sua leitura também se tornou grande, já que nem toda a população letrada do século XVI dominava o latim. O papel da impressão em tipos móveis foi decisivo para suprimir essa demanda no menor tempo possível. Do século XVI para cá, as máquinas de imprensa (ou impressão, como é mais comumente dito hoje) tornaram-se ainda mais sofisticadas, bem como o público leitor mais amplo, diversificado e sofisticado, o que gerou novas perguntas e novas problemáticas a respeito de se estamos ou não passando por uma nova revolução no campo da leitura, como bem sugere o historiador francês Roger Chartier:
“A revolução do nosso presente é, com toda certeza, mais que a de Gutenberg. Ela não modifica apenas a técnica de reprodução do texto, mas também as próprias estruturas e formas do suporte que o comunica a seus leitores. O livro impresso tem sido, até hoje, o herdeiro do manuscrito: quanto à organização em cadernos, à hierarquia dos formatos, do libro da banco ao libellus; quanto, também, aos subsídios à leitura: concordâncias, índices, sumários etc. Com o monitor, que vem substituir o códice, a mudança é mais radical, posto que são os modos de organização, de estruturação, de consulta do suporte do escrito que se acham modificados. Uma revolução desse porte necessita, portanto, outros termos de comparação.”
megaarquivo.wordpress.com
A invenção da imprensa

O filósofo Marshall McLuhan propunha que a forma como nos comunicamos molda a sociedade em que vivemos e a forma como pensamos. A invenção da escrita, por exemplo, permitiu a criação dos grandes impérios, do pensamento linear e da burocracia. Na Idade Média, a invenção do pergaminho abriu caminho para que a escrita fosse vista como algo divino, elitizado, moldando a sociedade do período.
Outra grande mudança ocorre com a invenção da imprensa. McLuhan considera tão importante essa invenção que chama o mundo criado pela imprensa como Galáxia de Gutemberg. Com ela veio a era das revoluções, o nacionalismo e até o sentimento de individualidade e privacidade.

Uma das revoluções causadas pela impressa foi a publicação de livros, em especial a Bíblia em línguas locais. Essas edições deram às pessoas a noção de pátria, unida por uma linguagem. Além disso, com o barateamento do processo de produção, agora era possível ler livros individualmente, ao contrário da Idade Média, em que a leitura era quase sempre coletiva, com uma pessoa lendo para um grupo. Isso deu às pessoas a noção de individualidade e privacidade. Curiosamente, mais ou menos no mesmo período a arquitetura traz uma grande inovação: os corredores, que vão permitir que as pessoas tenham privacidade em seus quartos (antes, mesmo em castelos, era necessário percorrer vários quartos até chegar ao último).

Com o tempo, muitos desses corredores passam a ser ornados por obras de arte, quadros assinados por grandes artistas, mantidos por mecenas, daí surgindo a ideia de direito autoral (na Idade Média os artistas não assinavam seus trabalhos pois se considerava que sua arte era para a glória de deus e não do pintor).

Nas palavras de McLuhan: "A imprensa criou o livro portátil, que os homens podiam ler em particular e isolados dos outros. O homem podia, agora, inspirar - e conspirar. Como a pintura de cavalete, o livro impresso muito contribuiu para o novo culto do individualismo".

A invenção da imprensa vai popularizar o pensamento linear, já que os livros vinham numa sequência lógica que devia ser lida página a página.

A imprensa permitiu também a era das revoluções. O protestantismo surgiu a partir da leitura da Bíblia em línguas nacionais (antes era proibido traduzir a Bíblia e praticamente só os padres as liam e interpretavam para os fieis). Também como consequência do barateamento dos livros, as ideias de filósofos, como Descartes e, posteriormente, os iluministas, como Voltaire e Rousseau, se espalharam pelo mundo.

As ideias revolucionárias se espalhavam não só na forma de livros, mas também através dos jornais. Não é coincidência que os três grandes líderes da revolução francesa (Danton, Marat e Robespiere) eram também jornalistas.

A criação da rotatória e, posteriormente, do rádio e do cinema, iriam de novo provocar grandes mudanças. Nunca antes uma mensagem poderia ser enviada a tantas pessoas ao mesmo tempo. Isso possibilitou o surgimento de ditadores como Hitler e Mussolini, que utilizaram jornais, rádios e filmes para difundir suas ideias e convencer as pessoas a obedecerem. Tratava-se da era das massas em que as pessoas eram tratadas apenas como parte de um todo. Esse período foi sintetizado na teoria hipodérmica, segundo a qual a mídia tem poder absoluto sobre as pessoas.

Em meados do século XX surge a televisão e com ela a era do audiovisual. Embora fosse um meio de massa, McLuhan enxergava nela uma possibilidade de maior participação. A baixa resolução da telinha levaria o expectador a interagir com o conteúdo, não se tornando o apático receptor da era das massas. Apesar dessa visão ser otimista e um pouco ingênua, há de se destacar o fato de que a transmissão da guerra do Vietnã fez com que pela primeira vez a juventude americana se pronunciasse contra uma guerra. Provavelmente a familiaridade com imagens de vietnamitas, como a da menininha correndo nua, atingida por napalm, tenham possibilitado uma maior aproximação com o fato. A TV tornou possível ver que o inimigo também era um ser humano.

Embora estivesse escrevendo muito antes da internet, McLuhan parecia antecipar a sociedade da informação: "As informações despencam sobre nós, instantaneamente e continuamente. Tão pronto se adquire um novo conhecimento, este é rapidamente substituído por uma informação ainda mais recente. Nosso mundo eletricamente configurado forçou-nos a abandonar o hábito de dados classificados para usar o sistema de identificação de padrões. Não podemos mais construir em série, bloco por bloco, passo a passo, porque a comunicação instantânea garante que todos os fatores ambientais e de experiência coexistem num estado de ativa interação".

Nesse mundo de informação contínua, a comunicação se transforma num fluxo caótico em que a mídia oferece cada vez mais dados e o cérebro humano é obrigado a se adaptar a receber. Na medida em que a mente humana se acostuma com esse fluxo, passa a pedir mais e mais e o processo se amplia mais ainda, como uma bola de neve. As novas gerações lidam com informação como se fosse um vício: é a novidade que virá a qualquer momento no Facebook ou no Twitter, é o e-mail essencial que surgirá na caixa de entrada a qualquer momento e que exige constante vigilância.

As mensagens não são mais procuradas e recebidas de maneira linear, como na galáxia de Gutemberg, em que as informações vinham na mesma sequência das páginas dos livros. Nesse novo mundo, a informação passa a ser relacional. A leitura de um texto leva a outro texto, que leva a outro texto, que leva a outro texto e que muitas vezes leva ao primeiro texto.

http://www.digestivocultural.com
10
Nov17

A luta aprende-se lutando

António Garrochinho


O jovem já se afirma, fisionomia serena, consciente da luta coletiva que se inicia todos os dias.

Segundo a “Organização Oficial dos Direitos Humanos” da Palestina, desde janeiro de 2017 foram presos 483 menores pelas forças israelitas de ocupação e, neste último mês, só em multas dos jovens palestinos, Israel cobrou 21.300 dólares.


aspalavrassaoarmas.blogspot.pt
10
Nov17

Centeno no Eurogrupo seria uma péssima notícia

António Garrochinho



(Daniel Oliveira, in Expresso Diário

Quando Durão Barroso foi escolhido para presidente da Comissão Europeia, cargo que aceitou sem pestanejar apesar do compromisso que tinha com os portugueses, o provincianismo nacional, sempre sedento de aprovação externa, celebrou. E instalou-se a ideia de que Barroso, num lugar como aqueles, iria ser muito útil ao país. Sabemos que nenhum presidente da Comissão teve um mandato tão prejudicial para os interesses nacionais como ele.
Ainda hoje há quem acredite que a falta de apoio a Portugal se deveu à deslealdade e falta de patriotismo do atual quadro da Goldman Sachs. Enganam-se. Com outro seria igual. Barroso foi escolhido por ser fraco (e por vir de um país fraco) e facilmente manobrável por aqueles a quem devia a sua eleição: as maiores potências europeias. Ele nunca nos poderia ser útil. Tudo isto se passará se Mário Centeno for escolhido como presidente do Eurogrupo. Só que em pior, porque o cargo acumula com o de ministro das Finanças e acabará sempre por determinar a ação interna do ministro.
A escolha de Mário Centeno para presidente do Eurogrupo seria um presente envenenado que criaria enormes dificuldades ao país. A partir do momento em que Centeno passasse a ser o presidente do Eurogrupo, o seu cargo de ministro das Finanças confundir-se-ia com o seu cargo europeu.
Não poderia ser firme com outros Estados se não cumprisse tudo à risca ou até mais do que à risca. Não poderia dar-se a si mesmo qualquer espaço de manobra. O que quereria dizer que Portugal deixaria de poder negociar com Bruxelas. Pelo contrário, teríamos de ser mais papistas do que o Papa na aplicação de uma ortodoxia orçamental que é nociva para a economia. Qualquer desastre que acontecesse em Portugal, fosse responsabilidade do Governo ou não, teria de contar com tolerância zero daquele que deixaria, na realidade, de ser quem negociaria os interesses de Portugal na Europa para passar a ter de dar provas permanentes de bom comportamento. Não é por acaso que nenhuma grande potência deseja este tipo de cargo. Preferem quem lhes ceda.
Na situação política atual a coisa seria ainda mais complicada. Como se sabe, o Governo depende de uma maioria que inclui dois partidos muito críticos da ortodoxia orçamental de Bruxelas. Acho que a história lhes deu razão, mas isso não interessa agora para o caso. De um dia para o outro estes dois partidos passariam a apoiar o presidente do Eurogrupo. E isto teria três efeitos. O primeiro: o comportamento “exemplar” a que Centeno estaria obrigado tornaria os entendimentos à esquerda ainda mais difíceis. O segundo: o fosso que separa o PS do BE e PCP em matéria europeia ganharia uma nova centralidade perante a relevância europeia do nosso ministro das Finanças. Terceiro: o comportamento do presidente do Eurogrupo com outros Estados (a Grécia, por exemplo) passaria a ser um problema interno. Cada crítica ao Eurogrupo seria uma crítica ao ministro das Finanças do governo que apoiam, cada apoio ao ministro das Finanças seria um apoio ao presidente do Eurogrupo.
Tudo isto, num entendimento já de si tão frágil, corresponderia a uma gestão impossível. Não acredito que a “geringonça” sobrevivesse a tamanha pressão. Por mero cálculo de risco, ninguém faria cair o Governo. Mas ele deixaria de ter a mesma base de apoio. No estado em que Costa está, não podia ser pior para ele. Se compreendo o contentamento de um ministro sem passado nem futuro político, custa-me perceber como não boicota António Costa esta candidatura. É má para ele mas, acima de tudo, é péssima para o país.
10
Nov17

500 mil litros de água por dia de comboio até Viseu

António Garrochinho
Barragem de Fagilde está neste momento com cerca de 10,5% da sua capacidade


O presidente da Câmara de Viseu, Almeida Henriques, disse hoje que deverão chegar de comboio, a partir da próxima semana, mais de 500 mil litros de água diários para fazer face à seca que atinge a região.
"Está a ser preparada a possibilidade de vir um comboio com água, diário, durante a noite, que descarregaria em Mangualde, com capacidade de mais ou menos 500 metros cúbicos (m3) por dia. Estamos a monitorizar diariamente, mas diria que é convenientemente que na próxima semana este transporte já esteja a ser assegurado", revelou.
Em declarações à agência Lusa, o autarca de Viseu explicou que esta água virá de comboio de "um espaço de fornecimento perto de Lisboa".
Esta é mais uma medida para fazer face à seca que se atravessa, numa altura em que a Barragem de Fagilde está neste momento com 360 mil m3", ou seja, "cerca de 10,5% da sua capacidade".
"Já conseguimos reduzir bastante os consumos destes quatro concelhos [Viseu, Nelas, Penalva do Castelo e Mangualde] e a população está a responder bem. Mas a reserva da barragem só dá para mais 20 a 25 dias", acrescentou.
Nos últimos dias, o município de Viseu viu-se obrigado a transportar diariamente água em camiões cisterna para fazer face à seca.
"Estamos também a identificar outras situações, designadamente o caso do Museu do Quartzo, em que há aquele depósito de água na pedreira, em que vamos lá colocar uma ETA [estação de tratamento de água] portátil para podermos fazer o tratamento dessa água", referiu.
De acordo com Almeida Henriques, estes quatro municípios estão "lançar mão de tudo o que esteja ao alcance para garantir que não falta a água, com qualidade, na casa das pessoas".
"Desde que começámos este processo, a Câmara de Viseu já gastou 200 mil euros no abastecimento de água às pessoas. Esta é uma operação cara, que não vai ter qualquer impacto na fatura das pessoas, mas precisamos que o Governo nos ajude", apontou.
No seu entender, esta é "uma situação de emergência e "os quatro concelhos que estão com esta dificuldade não têm capacidade para aguentar este nível de despesa para fazer face a estas necessidades".
"Este fundo disponibilizado [pelo Governo] de 250 mil euros será manifestamente insuficiente para fazer face a isto, até porque a perspetiva é de que não vamos ter chuva nos próximos dez dias. E mesmo que tenhamos, ela não terá um impacto imediato na Barragem de Fagilde", alertou.
O autarca informou ainda que Viseu está a gastar uma média de "quase 20 mil euros por dia" na logística associada ao transporte da água.
"Em tempo de guerra não se limpam armas e esta é uma situação de emergência, que tem de ser encarada como tal. Por isso, o Governo tem de olhar para esta situação, monitorizando ainda mais em cima, e fazendo previsões a médio prazo, pois as perspetivas em relação à chuva não são nada animadoras", concluiu.

www.dn.pt

10
Nov17

Um Trump amaciado pela China chega ao Vietname

António Garrochinho
Durante a revista às tropas, ao lado de Xi, Trump parou para ouvir a banda militar
Tratado com todas as honrarias, presidente dos EUA admite que Pequim tente tirar vantagens comerciais da relação com o seu país. No Vietname poderá reunir-se com Putin


Donald Trump chega hoje de Pequim a Danang, no Vietname, para participar na cimeira de líderes da Ásia-Pacífico (APEC). Mais uma vez irá aproveitar para apregoar uma região do Indo-Pacífico, onde o comércio seja livre, justo e recíproco, e que haja mais investimento do setor privado.

Danang é uma estância turística que recebe pessoas de todo o mundo e um dos motivos de orgulho do regime comunista. Na guerra do Vietname, os Estados Unidos estabeleceram uma base da Força Aérea: foi neste local que muitos norte-americanos da geração do presidente aterraram para participar no conflito militar. "Finalmente vai poder pôr no currículo que esteve no Vietname", comenta à Reuters o veterano de guerra David Clark, de 68 anos. Donald Trump não foi à guerra - nem prestou serviço militar. 

A sua incorporação foi adiada cinco vezes. Já Clark esteve ao serviço dos Estados Unidos como fuzileiro em 1968 e 1969 e em 2013 regressou àquele país do sudeste asiático para se envolver em projetos de reparação da guerra, como ajudar famílias afetadas pelo agente laranja (arma química que além de ter destruído florestas provocou diversos tipos de cancro e problemas congénitos) ou na neutralização de bombas.

As feridas da guerra perdida pelos Estados Unidos não devem ser tema a abordar pelo presidente norte-americano. O dossiê mais quente sobre sobre questões militares, a Coreia do Norte, terá sido encerrado (ao menos enquanto ponto de agenda) em Pequim. "A China pode corrigir esse problema com facilidade e rapidez, e eu estou a apelar para a China e para o seu grande presidente trabalharem com afinco. Eu sei uma coisa sobre o vosso presidente: se ele trabalhar muito no assunto, isso vai acontecer", disse sobre a desejada placagem ao regime de Pyongyang. "Juntos, temos o poder para finalmente libertar esta região e o mundo dessa ameaça nuclear muito séria", afirmou durante a declaração conjunta aos jornalistas. Foi a primeira vez desde George Bush pai que um encontro oficial entre os líderes chinês e norte-americano não teve direito a conferência de imprensa.

Donald Trump foi recebido por Xi Jinping com todas as deferências. Ontem visitou o Grande Salão do Povo e a praça de Tiananmen, onde o regime esmagou em 1989 o movimento estudantil que aspirava a reformas democráticas. Também aqui a história e os direitos humanos não foram tema. Uma diferença apreciada por Pequim, em comparação com a anterior administração norte-americana.

Um momento inusitado ocorreu quando os dois líderes passaram revista às tropas. A dado momento, o norte-americano tocou no ombro do chinês e disse que queria parar para ouvir a banda militar. "Lindo", comentou Trump.
O outro tema da agenda do norte-americano em Pequim, as trocas comerciais, foram objeto de reviravolta. Durante a campanha eleitoral, Trump elegera a China como o grande inimigo da economia dos EUA. "É o maior roubo da história do mundo", afirmou em 2016 sobre as relações bilaterais. 

"Não culpo a China. 

Quem pode culpar um país por se aproveitar de outro em benefício dos seus cidadãos?", afirmou agora, tendo responsabilizado os anteriores presidentes. "Temos de corrigir isto porque não funciona, simplesmente não é sustentável", acrescentou.

Já Xi Jinping, que reconheceu a existência de "algumas tensões" entre as duas potências, destacou a transição da economia chinesa da fase do "crescimento de alta velocidade" para o "crescimento de alta qualidade". As declarações decorreram a meio de uma cerimónia de assinatura de acordos comerciais de 250 mil milhões de dólares entre empresários de ambos os países. A Boeing, por exemplo, anunciou que vai vender 300 aviões à China Aviation Supplies.

Putin em aberto

A agenda de Donald Trump ainda não está fechada no Vietname. É possível que o nova-iorquino se encontre com o presidente russo, Vladimir Putin. "Não chegou a ficar acordado", disse o secretário de Estado Rex Tillerson sobre um encontro bilateral, mas deixando a porta aberta a um encontro. No mesmo sentido respondeu o porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, ao admitir que os líderes poderiam cruzar-se "de uma ou de outra forma". Putin e Trump encontraram-se em julho, na cimeira G20, e concordaram em melhorar relações.


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