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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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22
Nov17

MARTELINHOS DE OURO - O BATE CHAPAS RUSSO

António Garrochinho

Um bom bate chapas  é um verdadeiro artista na recuperação de carros amassados e faz verdadeiros milagres quando necessário. A profissão ganhou expressão de verdadeira arte com os "martelinhos de ouro", tanto pelo serviço quanto pelo preço cobrado para o mesmo. E, ao que parece, este profissional metalúrgico gabaritado existe no mundo todo, como podemos atestar com este vídeo de Arthur Tussik, um russo que demonstra como ele realizou uma reparação completa de restauração de um sedã  BMW 7 Series.

Há de se imaginar que este veículo não tinha seguro, dado a seu estado de PT. Mas Arthur traz o carro de volta à vida. O veículo que parecia ter participado de uma competição de bate-bate extremo, quando chegou a sua oficina, sai dali como se tivesse acabado de sair da linha de produção.


VÍDEO
www.mdig.com.br
22
Nov17

O rio sagrado que se converteu em um exemplo canônico de uma catástrofe ecológica

António Garrochinho
Há um relação muito próxima entre o hinduísmo e os rios que margeiam as populações onde vivem seus seguidores, que tomam banho no rio pelo menos uma vez na vida, por ser considerado a purificação da alma. O problema é que além dos estimados 2 milhões hindus que se banham diariamente no rio, queimam corpos em piras enormes. A mesma coisa acontece com o Bagmati, o rio principal de Catmandu, capital de Nepal, que é considerado pela população local igualmente sagrado.

Não obstante, nem todos os corpos são cremados, alguns deles, como crianças, grávidas e pessoas consideradas puras, são simplesmente atirados no rio. Ademais, as vacas acabam tendo o mesmo destino, fazendo com que o o mesmo se converta em um exemplo canônico de uma catástrofe ecológica.
O Bagmati é o principal depósito de água de Catmandú e é considerado um rio sagrado.
No entanto, as cremações realizadas em suas orlas, bem como as festas religiosas em seus arredores levaram este rio a uma catástrofe ecológica.
Diversos residentes das zonas próximas ao rio Bagmati ganham a vida reunindo ferro velho e outros dejetos de seu fundo. Ademais, vivem nas mesmas áreas poluídas.
No entanto, há áreas ao longo do rio que não sofrem tanta contaminação. O povoado de Sundarijal é uma dessas áreas.
Uma situação contrária é registrada nas imediações do templo Pashupatinath, um dos principais do mundo dedicado ao deus Shiva.
As cremações realizadas diariamente e o lixo que os visitantes deixam na área contribuem à poluição do Bagmati
Uma das zonas mais desafiadas é Balaju, área povoada onde quase todos os dejetos tem como destino o rio.
Não obstante, os residentes locais usam as águas do mesmo para seus fins cotidianos.
Teku é outro território muito poluído. Aí encontra-se uma área de descarte de lixo de toda Catmandu. Trata-se de uma das zonas mais poluídas do rio. As pessoas vivem entre montanhas de lixo.
Na área de Kupondole vivem menos pessoas, pelo qual a poluição também não é alta. Às vezes é possível ver inclusive pescadores, conquanto não são muitos.
Em Chobar encontram-se dois templos importantes obde as pessoas celebram festas religiosas.
Conquanto depois destas festas religiosas as pessoas deixam ali um grande volume de lixo, também colocam no rio estátuas de seus deuses.
Não obstante, na mesma região encontra-se um parque natural, onde os níveis de poluição são baixos. Outro território "limpo" encontra-se na área de Khokana, onde a natureza quase não está contaminada.
Fonte: Russian Today.


www.mdig.com.br

22
Nov17

PÃO PÃO, QUEIJO QUEIJO

António Garrochinho

A SOCIAL DEMOCRACIA JÁ FOI MUITO "DOURADA" MUITO MAQUILHADA POR DETERMINADOS POLÍTICOS.
SENDO A ANTECÂMARA DO FASCISMO LOGO MUITOS A IDENTIFICARAM COMO UM ARDIL, UMA PROPAGANDA.

AGORA ESTÁ NOVAMENTE NA BERRA, E HÁ QUEM, COMO O CAMALEÃO, A TENTE IMPOR ,APRESENTÁ-LA, COM O INTUITO DE SER ESSE ARDIL UMA OPÇÃO DE ESQUERDA.

O VERDADEIRO SOCIALISMO, O COMUNISMO, CONTINUA A SER UM ESPECTRO PARA MUITOS QUE SE RECLAMAM DA LIBERDADE E DA IGUALDADE.

OS QUE TÊM MEDO DO SOCIALISMO REAL, DO COMUNISMO SÃO OS QUE LUCRAM ENQUANTO ELE NÃO EXISTE.

António Garrochinho
22
Nov17

A misteriosa e evidente morte de Primo Levi

António Garrochinho


Foi há precisamente 30 anos que o escritor e químico italiano Primo Levi fora encontrado sem vida na entrada do seu prédio, após uma queda do terceiro andar. Existem inúmeras dúvidas se se terá tratado de suicídio ou de um mero acidente. O que terá realmente acontecido? A resposta a esta questão divide biógrafos, historiadores, amigos e até familiares, havendo várias opiniões e teses sobre o assunto. Porém, uma análise da vida deste escritor e químico que enfrentou com uma coragem e uma determinação inigualáveis o inferno e o horror do Holocausto e dos campos de concentração em Auschwitz, tendo também uma vasta obra literária fortemente marcada pelos episódios que ali presenciou e viveu, ajudar-nos-iam a compreender as possíveis causas da sua morte.
Primo Levi nasceu em Turim, Itália, a 31 de Julho de 1919 no seio de uma família Judaica mas religiosamente liberal, o primeiro filho de Cesare e de Ester Levi. Desde muito cedo revelou capacidades de conhecimento acima da média das crianças da sua idade sendo também o único judeu das turmas nas quais transitava de ano para ano. Consta-se que tenha sofrido alguma pressão na escola devido à sua estatura franzina e religião. Durante a ascensão do fascismo, em 1933 fora obrigado a inscrever-se tal como outros jovens da sua idade na Opera Nazionale Balilla, a juventude fascista de Itália. Foi no liceu que ao ler textos de vários cientistas, sendo o mais influente William Bragg, conhecido pela famosa lei que descreve a difracção da luz em estruturas cristalinas, apaixona-se pela ciência e decide que o seu destino é estudar química. Concorre ao curso de Química na Universidade de Turim e forma-se em 1941 com extrema dificuldade em encontrar um professor que lhe pudesse orientar a sua tese, tudo devido ao antissemitismo que, tal como na Alemanha, se intensificava na Itália sob o regime fascista de Benito Mussolini. Assim como também tivera inúmeros obstáculos na procura de emprego, arriscando-se a trabalhar clandestinamente numa rede mineira em San Vittore, num projecto baseado na extração de níquel. Acaba por abandonar os trabalhos na mina na sequência da morte do seu pai, regressando a Turim e partindo tempos mais tarde para Milão em busca de novas oportunidades de trabalho.
Em plena segunda guerra mundial, os movimentos de resistência ganhavam força em determinadas zonas de Itália nomeadamente nas regiões próximas dos Alpes. Primo Levi e alguns dos companheiros formaram em Outubro de 1943 um grupo de resistência, uma espécie de Partisan, com a esperança de se juntarem à Giustizia e Libertà, um movimento político cujos ideais se baseavam no socialismo e na liberdade. Porém, o grupo não tinha qualquer tipo de experiência ou formação militar e os membros foram facilmente capturados e presos pela milícia fascista pouco tempo depois. Foi nesta altura que, confrontado e pressionado pelos militares ao serviço do regime, confessou ser judeu tendo sido imediatamente levado para Fossili, na cidade de Modena. Permaneceu num campo que estava sob o comando da Alemanha Nazi até ter sido levado para Auschwitz em Fevereiro de 1944 onde sofrera e presenciara as maiores monstruosidades que alguma vez a História retratou. Tal como muitos outros que por lá passaram, foram-lhe retirados todos os seus bens pessoais, deixou de ter nome tornando-se apenas num mero número. Primo Levi fora submetido a trabalhos forçados na construção de uma fábrica de produtos químicos num dos subcampos de concentração próximos, em Monowitz, o que até poderia ser vantajoso pois visto que tinha um conhecimento vasto de química tanto industrial como laboratorial. No início foi submetido a trabalhos pesados mas posteriormente com o avanço da construção passou as suas últimas semanas a trabalhar num laboratório. Permaneceu naquela longínqua localidade na Polónia até ao exército soviético se ter aproximado, o que levou a que as SS (as tropas de protecção nazi – Schutzstaffel) forçassem a evacuação do campo, deixando apenas aqueles que estavam gravemente doentes no sanatório. Toda esta rusga foi um fiasco e resultou numa marcha sangrenta que poupou Primo Levi, que na altura se encontrava gravemente afectado pela escarlatina. Foi então libertado dias mais tarde pelo próprio exército vermelho e permaneceu num acampamento soviético de antigos prisioneiros de guerra até regressar a Itália em Outubro do mesmo ano, percorrendo com outros sobreviventes várias linhas ferroviárias por diferentes países até ao seu destino.

Quando regressa a Turim arranja rapidamente emprego na DUCO, uma fábrica de tintas ligada à prestigiada companhia norte-americana Du Pont. É nesta altura que também começa a sua aventura literária, cujos episódios vividos naquele palco do terror lhe inspirariam. Em 1947 publica a obra que lhe valeu o reconhecimento mundial sendo ainda hoje considerada uma das mais importantes livros do pós-guerra, que descreve com detalhe o testemunho de alguém que presenciou a crueldade vivida nos campos de concentração: Se isto é um homem (Se questo è un uomo, título original em Italiano), foi o nome dado ao seu primeiro livro que mostra uma descrição exímia e pormenorizada do episódio que o marcara para o resto da vida. O título pode apontar tanto para uma obra poética como uma extensa reflexão ou ensaio mas no fundo trata-se de uma questão subjacente que pode ser retirada pelo leitor à medida que avança pelas páginas do livro.
Seguiram-se outras tantos trabalhos literários como A Trégua, uma continuação da história retratada em Se Isto é um Homem com a descrição da viagem de regresso de Primo Levi a Itália; O Sistema Periódico, nomeado pela Royal Institution of Britain como um dos melhores livros de ciência alguma vez escritos, conta as suas aventuras com os diferentes elementos da tabela periódica, algumas retratadas com um humor bastante subtil e característico e outras passadas em Auschwitz; Se não agora, Quando?, um romance fictício sobre as aventuras de dois judeus que durante a segunda guerra formam também um grupo de resistência; Assim foi Auschwitz, escrito juntamente com o físico italiano Leonardo De Benedetti, que passou também por Auschwitz, recolhe um conjunto de textos sobre a experiência dos campos de extermínio; e ainda outros tantos romances e diálogos assim como algumas obras póstumas. Toda a obra literária de Primo Levi bem como a sua história de vida tornaram-no uma figura imortal na literatura e num símbolo da resistência humana, mostrando também como a ciência e as letras conseguem andar de mãos dadas. Chegou mesmo a regressar anos mais tarde, em 1983, a Auschwitz de modo a dar o seu contributo como testemunha do que foram realmente os campos de concentração, regresso esse gravado pela televisão italiana que o acompanhou durante toda a viagem.

VÍDEO
No dia 11 de Abril de 1987, Primo Levi acabara por falecer devido a uma queda do terceiro andar do seu prédio em circunstâncias pouco esclarecedoras. Na altura as investigações que se levantaram foram inconclusivas, admitindo-se que se terá tratado de um suicídio e não se um acidente embora tal tese seja duvidosa para alguns. Alguém que se tornara num símbolo da resistência, num escritor de renome, num químico extremamente profissional que razões teria para pôr termo à sua vida? E o facto de ter carregado para sempre as memórias do que é viver num campo de concentração, testemunhando as maiores atrocidades alguma vez assistidas, teria alguma influência? Uma das célebres frases ditas por Primo Levi foi acerca da memória humana que é vista, segundo o próprio, como algo que pode ter duas faces, tendo propriedades boas ou más consoante as sensações que esta nos transmite:
“A memória humana é um instrumento maravilhoso, mas falacioso. As nossas memórias não são esculpidas em pedra, pois tendem a apagar-se com o passar dos anos. Mas muitas vezes estas podem mudar, ou mesmo aumentar, incorporando características estranhas.”
O maior problema que Primo Levi alguma vez tivera terá sido mesmo a memória: a memória de assistir ao massacre de milhares de pessoas naquele campo, a memória de sentir na pele as atrocidades do Holocausto, a memória de carregar para sempre as recordações do lado mais desumano do ser humano, memórias essas que aumentaram e que incorporaram as tais características estranhas como o próprio mencionara. Na altura da sua morte, o escritor Elie Wiesel, Prémio Nobel da Paz e também um dos mais influentes escritores do pós-guerra, comentou a morte do seu companheiro que conhecera nos campos de concentração com a seguinte frase: “Primo Levi morreu em Auschwitz há quarenta anos atrás.” O espírito de alguém que poderia ter tido um percurso de vida bem mais risonho fora amputado naquele que foi o maior palco do terror humano. Apesar de tudo, mais do que escritor ou químico, Primo Levi estará sempre associado à resistência à crueldade humana para todo o sempre, um símbolo das qualidades mais humanas que um ser humano por ter e de uma força de vontade, de coragem que o tornaram num ser humano único.
E este foi o Homem.


www.comunidadeculturaearte.com
22
Nov17

Bombeiros Sapadores de Faro comemoram 135 anos

António Garrochinho


Os Bombeiros Sapadores de Faro comemoram, a 1 de Dezembro, o seu 135º aniversário, com um programa de celebrações durante todo o dia.
As comemorações começam às 9h00, com o hastear das bandeiras no quartel da unidade.
Às 9h30 serão lembrados aqueles que já partiram, com uma romaria ao cemitério para uma homenagem aos bombeiros falecidos.
O programa prossegue com um desfile pelas ruas da cidade, às 10h30, em direção aos Paços do Município, local onde as entidades serão recebidas por Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro, às 11h00.
A sessão comemorativa do 135º aniversário do Corpo de Bombeiros Sapadores terá o seu início às 11h30, no salão nobre da Câmara Municipal.
«Neste momento das comemorações haverá lugar à distinção dos bombeiros mais antigos e das empresas e entidades que se têm evidenciado no apoio ao trabalho dos nossos soldados da paz», diz a Câmara de Faro.
Ainda no âmbito destas celebrações será, esta terça-feira, dia 21, às 21h00, inaugurada, no Fórum Algarve, uma exposição sobre a história da corporação, composta por materiais, documentos, equipamentos e viaturas antigas


www.sulinformacao.pt

22
Nov17

FARO - “Dos primeiros dias do homem” assinala centenário da Revolução Russa no Lethes

António Garrochinho


O recital de poesia “Dos primeiros dias do homem” realiza-se no próximo sábado, 25 de Novembro, às 21h30, no Teatro Lethes, em Faro, e vai assinalar o centenário da Revolução Russa.
Este será «um recital que evoca uma nova forma de escrever poesia, uma nova terminologia que surgiu na sequência da revolução soviética e que se alastrou por todo o mundo», diz a ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve.
«A título de exemplo: nunca antes deste acontecimento a palavra operário, entre outras que evocaremos, se tinha afirmado na dimensão poética», acrescenta.
Os bilhetes custam 10 euros e podem ser comprados aqui. Menores de 30 anos ou maiores de 65 pagam apenas 7,50 euros.


www.sulinformacao.pt

22
Nov17

Manuel Carvalho anuncia o novo Diabo: chama-se função pública

António Garrochinho







De um governo classificado de «barata tonta» a parceiros parlamentares ( e as suas «extensões sindicais») a assumir «as rédeas da política»,passando por um António Costa sob a previsão de não ter «fímbria de estadista», tudo isto e muito mais, género sete pragas do Egipto, serve para Manuel Carvalho trombetear hoje no Público o novo Diabo. Eu sempre disse que eles nunca mas nunca,  jamais em tempo algum iriam perdoar o que se seguiu ao 4 de Outubro de 2015.






otempodascerejas2.blogspot.pt
22
Nov17

Adeus ao consumismo?

António Garrochinho

171121-ConsumismoB
Avança, em todo mundo, crítica à obsessão por acumular e ostentar mercadorias. Um pilar psíquico das sociedades capitalistas pode estar em risco

O fenômeno está em expansão. 
Em nossas sociedades desenvolvidas, um número cada vez maior de cidadãos planeja modificar seus hábitos de consumo. Não só dos hábitos alimentares, já individualizados ao ponto de ser quase impossível reunir oito pessoas numa mesa para comer um mesmo cardápio. Mas do consumo de modo geral: a roupa, a decoração, a limpeza, os eletrodomésticos, os fetiches culturais (livros, DVDs), etc. 

Todas as coisas que até recentemente acumulavam-se em nossas casas como símbolos, mais ou menos medíocres, de sucesso social e de opulência (e, até certa medida, de identidade), hoje sentimos que nos sufocam. A nova tendência aponta à redução, ao desapego, à supressão, à eliminação… Enfim, à desintoxicação. Portanto, ao detox. Como se começasse o declínio da sociedade de consumo — estabelecida por volta dos anos 1960 a 1970 – e entrássemos no que começa a chamar-se de “sociedade do desconsumo”.
Certamente, pode-se defender que as necessidades vitais de consumo continuam sendo enormes em muitos países em desenvolvimento ou em regiões pobres do mundo desenvolvido. Porém, essa realidade indiscutível não impede de enxergar o movimento de “desconsumo” que se expande com um impulso cada vez mais intenso. Um estudo recente (1), realizado no Reino Unido, mostra que, desde o começo da Revolução Industrial, as famílias acumulavam bens materiais em suas casas, na medida em que seus recursos iam aumentando. 

O número de objetos reunidos traduzia seu nível de vida e seu status social. Assim ocorreu até 2011. Naquele ano, atingiu-se o que poderíamos chamar de “pico dos objetos” (peak stuff). Desde então, a quantidade de objetos que as pessoas possuem não deixa de diminuir. E essa curva, no formato de sino, conhecida como “curva de Gauss”, passaria a ser uma lei geral. Hoje, isso pode ser verificada nos países desenvolvidos (e em muitas regiões ricas dos países ao sul), mas também parece começar a refletir a inevitável evolução nos países em desenvolvimento (China, Índia, Brasil).
A consciência ecológica, a preocupação geral com o meio ambiente, o medo das mudanças climáticas e, particularmente, a crise econômica de 2008, que atingiu com violência os países ricos, têm, sem dúvida, influenciado essa nova austeridade zen. Desde então, nas redes sociais têm sido divulgados muitos casos espetacularesde detox anticonsumista. 

Por exemplo, o de Joshua Becker, um estadunidense que decidiu há nove anos, com sua esposa, reduzir radicalmente o número de bens materiais que possuíam, para viver melhor e obter tranquilidade mental. 

Em seus livros (Living with Less, The more of Less) e em seu blog “Becoming minimalist” [“Virando minimalista”, em tradução nossa], Becker conta: “Limpamos a bagunça de nossa casa e de nossa vida. Foi uma viagem na qual descobrimos que a abundância consiste em ter menos”. E afirma que “as melhores coisas da vida não são coisas”.
Porém, não é fácil se desintoxicar do consumo e converter-se ao minimalismo: “Comece aos poucos – aconselha Joshua Fields Millburn, que escreve no blog TheMinimalists –, tente se desapegar de uma só coisa durante 30 dias, começando pelos objetos mais fáceis de eliminar. 

Desprenda-se das coisas óbvias. Começando por aquelas que claramente não precisa: as xícaras que nunca usa, aquele presente horrível que ganhou, etc.”

Outro caso famoso de desapego voluntário é o de Rob Greenfield (2), um norteamericano de 30 anos, protagonista da série-documentário Free Way(“Viajante sem dinheiro”, do Discovery Channel), que, sob o lema “menos é mais”, abriu mão de todos seus pertences, inclusive de sua casa. E anda pelo mundo com apenas 111 pertences (incluindo a escova de dentes)… Ou a designer canadense Sarah Lazarovic, que passou um ano sem comprar roupa e cada vez que sentia vontade, desenhava a peça em questão. Resultado: um belo livro de esboços chamado Um montão de coisas lindas que não comprei (3). 

Também há o exemplo de Courtney Carver, que propõe, em seu site Project 333, um desafio de baixo orcamento, convidando os leitores a se vestirem com somente 33 peças de roupa durante três meses.
Na mesma linha, temos o caso da blogueira e youtuber francesa Laetitia Birbes, 33 anos, que ficou famosa pelo seu desafio de nunca mais comprar roupa novamente: 

“Eu era uma consumidora compulsiva. 
Vítima das promoções, das tendências e da tirania da moda – diz. 
Tinha dias em que chegava a gastar 500 euros em roupas… Toda vez que tinha problemas com meu parceiro ou com os exames, comprava roupa. Cheguei a compor perfeitamente o discurso dos publicitários: confundia sentimentos com produtos…” (4). 
Até que um dia decidiu esvaziar seu armário e doar tudo. Sentiu-se livre e leve; liberta de um peso emocional antes não suspeitado: “agora vivo com dois vestidos, três calcinhas e um par de meias”. E dá conferências por toda a França para ensinar sobre a disciplina do “lixo zero” e do consumo minimalista.
O consumismo é consumir consumo. 

É uma atitude impulsiva onde não importa o que é comprado, a questão é comprar. Na realidade, vivemos na sociedade do desperdício, desperdiçamos absurdamente. 

Ante essa aberração, o minimalismo de consumo é um movimento mundial que propõe comprar somente o necessário. O exercício é simples: devemos olhar para as coisas que temos em casa e determinar quais usamos realmente. 

O resto é acúmulo: veneno.
Duas jornalistas argentinas, Evangelina Himitian y Soledad Vallejos, passaram da teoria para a prática. Depois de terem vivido como milhões de outros consumidores, que acumulam sem nenhum critério, decidiram questionar seu próprio comportamento. 

Claro que ambas compravam por outros motivos, menos por necessidade. E propuseram-se ficar um ano sem consumir nada que não fosse absolutamente indispensável, para depois contar com grande talento as suas experiências (5).
Não se tratava somente de não consumir, como também de se desintoxicar, de libertar-se do consumo acumulado. 

As duas jornalistas começaram se auto impondo uma disciplina detox: cada uma tinha que extrair de sua casa dez objetos por dia, durante quatro meses: 1.200 ao todo. Tiveram de descartar, doar, se desprender, se desfazer… Como uma espécie de faxina, para passarem a ser “desconsumistas”: “Nos últimos cinco anos – contam Evangelina e Soledad – acendeu-se uma luz de consciência coletiva no mundo sobre a forma de consumir. 

É uma maneira de controlar os abusos do mercado. Porque é também uma estratégia para escancarar os pontos cegos do sistema econômico capitalista. Por mais que pareça pretensioso, é exatamente isso: o capitalismo apoia-se na necessidade de fabricar necessidades. E para cada necessidade é fabricado um produto… Isto é ainda mais palpável em países de economia desenvolvida, nos quais os indicadores oficiais medem a qualidade de vida de acordo com a capacidade de consumo das famílias…”.
Este aborrecimento, cada vez mais universal, com o consumismo, também atinge o universo digital. Surge o que poderíamos chamar de digital detox, que consiste em abandonar as redes sociais por um tempo e por diversos motivos. Expande-se o movimento dos “ex-conectados” ou “desconectados”, uma nova tribo urbana composta por pessoas que decidiram virar as costas para a internet e viver offline

Não possuem WhatsApp, não querem nem ouvir falar em Twitter, não usam Telegram, odeiam o Facebook, não simpatizam com o Instagram e quase não podem ser encontrados na Internet. Alguns sequer possuem uma conta de e-mail, e aqueles que têm, acessam-na somente de vez em quando… Enric Puig Punyet (36 anos), doutor em Filosofia, professor e escritor, é um dos novos “ex-conectados”. Escreveu um livro (6) no qual reúne casos verídicos de pessoas que, empenhadas em recuperar o contato direto com os outros e com elas mesmas, tomaram a decisão de se desconectar. “

A internet participativa, modalidade na qual vivemos, procura nossa dependência – explica Enric Puig Punyet. Por se tratar quase totalmente de plataformas vazias, nutridas por nosso conteúdo, interessa-lhes que estejamos conectados o tempo inteiro. Essa dinâmica é facilitada pelos smartphones, os quais fizeram com que constantemente estivéssemos disponíveis e alimentássemos as redes. 

Tal estado de hiperconexão, traz consigo os problemas que estamos começando a perceber: subtrai nossa capacidade de atenção, de processar profundamente e de socializar. Uma grande parte do atrativo das tecnologias digitais é planejada por companhias que querem nosso consumo e conexão contínua, como ocorre em tantas outras esferas – porque essa é a base do consumismo. 

Todo ato de desconexão, seja parcial ou total, deve ser compreendido como uma medida de resistência que procura compensar uma situação que se encontra desequilibrada” (7).
O direito à desconexão digital já existe na França. Em parte, como resposta à grande quantidade de casos de burnout (exaustão por excesso de trabalho) ocorridos nos últimos anos, como consequência da pressão laboral (8). 

Agora os trabalhadores franceses podem optar por não responder às mensagens digitais enquanto estão fora de sua jornada de trabalho. 

A França tornou-se pioneira neste tipo de leis, embora ainda existam dúvidas sobre o modo como esta será executada. 

A nova norma obriga as companhias que tiverem mais de 50 funcionários a abrirem as negociações sobre o direito de ficar offline, ou seja, a não atender e-mailsou mensagens digitais profissionais em suas horas vagas. Porém, o texto não especifica que deva chegar-se a um acordo, nem fixa nenhum prazo para as negociações. 

As empresas poderiam limitar-se a redigir um guia de orientações, sem participação dos trabalhadores. Mas a necessidade do digital detox, de sair das redes e se permitir uma folga da internet, está proposta.
A sociedade de consumo, em todos seus aspectos, já não seduz mais. Intuitivamente, sabemos hoje que tal modelo, associado ao capitalismo predatório, é sinônimo de desperdício e esbanjamento irresponsável. 

Os objetos desnecessários nos asfixiam. 
E asfixiam o planeta. 

É algo que o planeta já não pode suportar. 
Porque os recursos se esgotam. E se contaminam. 

Inclusive aqueles que existem em abundância (ar, água doce, oceanos…). E frente à cegueira de muitos governos, é chegada a hora de uma ação coletiva dos cidadãos, a favor de um desconsumo radical.
(1) Chris Goodall, “‘Peak Stuff’. Did the UK reach a maximum use of material resources in the early part of the last decade?” http://static.squarespace.com/static/545e40d0e4b054a6f8622bc9/t/54720c6ae4b06f326a8502f9/1416760426697/Peak_Stuff_17.10.11.pdf
(5) Leia Evangelina Himitian y Soledad Vallejos, Deseo consumido, Editorial Sudamericana, Buenos Aires, 2017.
(6) Enric Puig Punyet, La gran adicción. Cómo sobrevivir sin Internet y no aislarse del mundo, Arpa editores, Barcelona, 2017.
(8) Em 2008 e 2009 ocorreram 35 suicídios numa companhia como France Telecom (agora Orange). Também ocorreram na Renault. Desde o dia 1 de janeiro de 2017, a lei permite ao assalariado de uma empresa de mais de 50 trabalhadores, não atender e-mails fora do horário de trabalho.

outraspalavras.net
22
Nov17

DESABAFO

António Garrochinho

TENHO UM ELEVADO APREÇO PELA PLANTA (A PITA DE ALOÉ VERA).

POR EXPERIÊNCIA PRÓPRIA SEI DAS SUAS CAPACIDADES MEDICINAIS QUANDO BEM UTILIZADA E EM ESPECIAL NA SUA EFICÁCIA COMO CICATRIZANTE.

COMO TAL OCORREU-ME QUE SERIA DE MUITA CORAGEM QUE ALGUNS POPULARES QUANDO DA PROXIMIDADE DA CRISTAS LHE ESFREGASSEM NOS "BURACOS" E NAS VENTAS A PLANTA DOS MILAGRES.

SERIA ENTÃO FINALMENTE ACEITE PELOS MAIS CÉPTICOS A UTILIDADE DESTA PLANTA PARA SARAR OS ORIFICIOS QUE CAUSAM AS FERIDAS MAIS DOLOROSAS.

António Garrochinho
22
Nov17

O ódio que uma informação de qualidade suscita!

António Garrochinho

(Jorge Rocha, in Blog Ventos Semeados, 21/11/2017)
jornais1
Será crível que, daqui a uns bons anos, quando os historiadores se debruçarem sobre a História das esquerdas europeias nestes últimos anos, convirjam na conclusão de terem ascendido às respetivas lideranças alguns políticos avessos à matriz marxista – que lhes deveria estar no âmago! -, e deixado tentar por projetos espúrios de gerirem a organização capitalista da economia com maior competência que os habituais figurões das direitas. Se as análises forem objetivas constatarão que todas essas vocações conotadas com a esdrúxula «Terceira Via» terão reduzido drasticamente a influência dessas esquerdas junto dos respetivos eleitorados e contribuído ativamente para prolongadas governações das direitas mais conservadoras.

Porventura – e se a realidade evoluir como desejamos! – enaltecerão a exceção a partir da qual se terá então infletido o rumo das sociedades europeias e ela terá por nome a governação de António Costa à frente de uma maioria parlamentar virada determinadamente à esquerda. E como, pelos seus resultados, terá constituído exemplo paradigmático para que outros, igualmente afoitos, ousassem replicá-lo nos respetivos países.

Se o meu otimismo ganhar substancia poderemos encontrar a formulação de uma viragem histórica através da qual as sociedades europeias poderão ter recuperado o capital de esperança, que já foi o seu, quando prometiam um futuro mais justo e esperançoso aos respetivos povos.

Vem isto a propósito da polémica atualmente em curso em França e que tem tido por protagonista um dos mais pérfidos espécimes daquela «escola de pensamento» criada por Anthony Giddens, Bill Putnam e Mark Lyon e depois implementada por Tony Blair, Felipe Gonzalez, François Mitterrand ou Andreas Papandreou. Manuel Valls, pois é dele que se trata, não se contentou em quase destruir o Partido Socialista francês, como agora aposta na liquidação da agência noticiosa Mediapart, que é uma das poucas alternativas informativas em território gaulês a emancipar-se da tutela ideológica dos grandes grupos económicos. 

É que, ao contrário do «L«Obs», que manchou todo o passado da publicação outrora dirigida por Jean Daniel ao promover a candidatura de Emmanuel Macron à presidência ou do «Libé», caído nas mãos da sinistra Altice, a proposta informativa do site informativo de Edwy Pinel é uma das poucas garantias de se acederem a conteúdos noticiosos fiáveis. Algo que assusta e faz Valls agir como agente terrorista.

Vale pois ler atentamente um texto publicado na semana transata pelo diretor da Mediapart, que reivindica a importância da sua publicação na conjuntura atual e do qual se propõe a tradução do seguinte extrato:
“A democracia não se cinge ao direito de votar. Uma democracia que a tal se limitasse – o direito de escolher os seus dirigentes – pode produzir uma tirania doce em que o povo designa por intermediação os seus donos antes de retomar a costumada servidão. Porque, se for mantido na cegueira pelas propagandas partidárias e ideológicas dominantes com mentiras dos poderes estatais ou dos poderes económicas, o eleitor pode votar, sem o adivinhar, no seu pior inimigo ou na pior infelicidade que o possa esperar.

Significa isto que uma verdadeira democracia pressupõe o respeito por um direito fundamental: o de saber. Este direito é o de ser informado livremente, seriamente, rigorosamente. Saber tudo quanto caiba no interesse público ou seja tudo quanto é feito em nome do povo soberano, tudo o que influencia o seu quotidiano, tudo o que os interesses privados que gangrenam o interesse público pretendem esconder, tudo o que procuram escamotear os aparelhos partidários que apenas ambicionam o poder pelo poder, ou seja tudo o que nos der, enquanto cidadãos, a liberdade de escolher na maior autonomia das nossas decisões.”
Uma das dificuldades que a atual governação está a conhecer tem a ver com a desinformação da maioria dos órgãos de comunicação social, quase exclusivamente orientados para hostilizarem, continua e ativamente, tudo quanto está a colidir com os interesses de quem deles possui a propriedade. Por isso nos faz tanta falta uma Mediapart em Portugal, porque gente da estirpe de Valls é o que mais abunda no nosso ambiente político-partidário … e «informativo».


estatuadesal.com
22
Nov17

Dentro do euro não há dinheiro

António Garrochinho


(Jorge Bateira, in Facebok, 21/11/2017)
euros
Comecei o dia a ler as queixas de muitos reformados e pensionistas numa discussão a propósito das negociações com os professores e suas implicações orçamentais. Ter-se-á aberto a caixa de Pandora. De impulso, publiquei este comentário que aqui reproduzo:
Caros amigos, por muito que vos custe, a atitude política da imensa maioria dos atingidos pela austeridade da troika é inconsistente. Na altura, engoliram a propaganda de que “a culpa foi nossa por termos gasto acima das nossas possibilidades”. Agora, engoliram a propaganda do “virámos a página da austeridade”. Como economista e professor de economia política internacional, há anos que tenho investido muito do meu tempo a desmontar estas afirmações que manipulam a opinião pública.
Há vídeos e textos no blogue Ladrões de Bicicletas e na minha página Facebook e da Democracia Solidária – associação política, de que sou presidente, a explicar com clareza que o Governo não pode dar tudo a todos porque está dentro do euro.
Se não querem que o Estado social e o país morram de morte lenta, então (para serem consistentes) têm de reconhecer que dentro do euro não há vida decente. Tornar-nos-emos uma periferia do “espaço vital alemão”, empobrecida, envelhecida, decadente, tal como boa parte do interior do nosso país. Portanto, se querem contestar a política orçamental dos Governos (os anteriores e este) e fazer manifestações, sejam consequentes: manifestem-se pela recuperação da soberania nacional.
Um governo com moeda soberana tem dinheiro para pagar as despesas correntes e o investimento público que estimularão a economia e a criação de emprego. E, então, haverá orçamento para uma reforma justa das carreiras da função pública.
Tomem nota: primeiro o Estado gasta e gera défice -> depois, a economia cresce e gera emprego (o Estado também pode ter programas sociais de emprego) -> a seguir, as receitas do Estado aumentam e os subsídios sociais de desemprego, e outros, baixam => orçamento reequilibrado.
Conclusão: sim, há dinheiro, mas só depois de sairmos do euro e travarmos a fuga do dinheiro dos ricos para os paraísos fiscais (Luxemburgo à cabeça). 

Agora não fiquem na lamúria querendo ter sol na eira e chuva no nabal.


estatuadesal.com
22
Nov17

Pobreza laboral entre os jovens ronda os 20% em Espanha

António Garrochinho


Num relatório publicado esta segunda-feira, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) considera «especialmente grave» a situação dos trabalhadores jovens, uma vez que, apesar de terem um emprego, não obtêm recursos suficientes para ter uma vida digna.
A OIT defende que, para lidar com o desafio do trabalho entre os jovens, é necessário criar emprego de qualidade
A OIT defende que, para lidar com o desafio do trabalho entre os jovens, é necessário criar emprego de qualidadeCréditos
No relatório «Tendências mundiais do emprego juvenil 2017», ontem publicado, o organismo internacional alerta para a elevada taxa de trabalhadores jovens (15-24 anos) em situação de pobreza em países desenvolvidos, nomeadamente na União Europeia (UE).
O informe considera especialmente grave os casos de Espanha ou da Grécia, «onde o risco de pobreza entre trabalhadores jovens é de quase 20%», uma taxa superior em oito pontos percentuais à média dos 28 da UE.
O aumento do número de trabalhadores jovens em risco de pobreza – que auferem rendimentos inferiores a 60% do salário médio – está relacionado com a falta de emprego de qualidade e a precariedade.
Para a OIT, o desafio do trabalho entre os jovens «não consiste apenas em criar empregos», mas reside também na «qualidade do trabalho e do emprego» gerados.

71,1 milhões de jovens desempregados em 2018

O relatório da OIT estima que, em 2018, haja mais 200 mil jovens desempregados em todo o mundo relativamente a este ano, situando-se nos 71,1 milhões – o que representa uma taxa de desemprego de 13,1% neste sector da população.
A nível europeu, a taxa de desemprego jovem deve situar-se nos 17,8%, quatro décimas abaixo do que o organismo das Nações Unidas aponta para este ano: 18,2%.
A OIT destaca ainda a «drástica» diminuição da participação dos jovens na força de trabalho nos últimos 20 anos – de 55%, em 1997, para 45,7%, na actualidade. Trata-se de menos 35 milhões de jovens a participar na força de trabalho, apesar de, nestas duas décadas, a população juvenil ter aumentado em 139 milhões de pessoas.
Ao mesmo tempo, a OIT salienta que 76,7% dos jovens trabalhadores desenvolvem uma actividade no chamado trabalho informal – marcado pela precariedade, a insegurança, a falta de direitos e de protecção – face a 57,9% dos trabalhadores adultos.
Para os trabalhadores com menos de 25 anos, as possibilidades de ter um emprego temporário são o dobro das dos trabalhadores de outras faixas etárias mais elevadas, de tal modo que, «com frequência, iniciam a sua vida laboral em empregos temporários sabendo que é possível nunca chegarem a obter segurança no trabalho», denuncia a OIT.
Neste cenário, o organismo das Nações Unidas considera necessário investir mais na Educação de qualidade, «uma vez que o documento constata que, quanto mais tempo uma pessoa estuda, mais breve será o seu período de transição até ao emprego».



www.abrilabril.pt
22
Nov17

Secundária Pinheiro e Rosa debate “Participar na Vida da Escola: Porquê? Para quê?” - Debate onde participa o presidente da Junta de freguesia de Santa Bárbara de Nexe

António Garrochinho


“Participar na Vida da Escola: Porquê? Para quê?” é o tema do debate marcado para dia 23, quinta-feira, às 18h00, na Escola Secundária Pinheiro e Rosa, em Faro, no âmbito da Semana Aberta do Conselho Geral do Agrupamento Pinheiro e Rosa.
Segundo a organização, o objetivo é «sensibilizar para a necessidade de uma maior e mais assertiva participação de todos, bem como suscitar a reflexão sobre o futuro das organizações escolares», já que se pretende «saber o que pensam as pessoas sobre a participação de todos na vida da escola».
Contamos com a presença do aluno Gonçalo Jacob, de Palmira Ferreira, professora e encarregada de Educação de três alunos de ciclos diferentes, Nídia Cavaco, presidente da CPCJ, Carlos Baía, vereador da Câmara de Faro, Sérgio Martins, presidente da Junta de Freguesia de Santa Bárbara de Nexe, António Pina, ex diretor regional de Educação, e ainda de Manuel Célio, professor do Ensino Superior.
«Ainda assim, o que dará sentido a esta iniciativa é sabermos o que a comunidade, no seu todo, pensa sobre este tema», salienta a organização. «Pretende-se sobretudo contactar e ouvir a comunidade educativa procurando contribuir para os processos de melhoria do Agrupamento».
O debate será moderado pela jornalista Helena Figueiras.


www.sulinformacao.pt
22
Nov17

O QUE SÃO AS CHAROLAS NA NOSSA FREGUESIA ? - UNIÃO BORDEIRENSE

António Garrochinho

Grupo de Charolas União Bordeirense








Grupo de Charolas União Bordeirense

Pelo elevado interesse que desperta, por uma história riquíssima e pela cultura que transmite, o Algarve Primeiro convidou o grupo de Charolas União Bordeirense a falar do seu percurso e tradição, da mensagem que encerra em cada som que produz e, acima de tudo, das razões que alicerçam a sua jovialidade e continuidade.

O primeiro contacto foi estabelecido com uma jovem bordeirense que integra o grupo e que gentilmente nos compilou toda a informação solicitada, pelo que não podemos deixar de prestar o nosso agradecimento a Liliana de Sousa e à sua enorme capacidade de mobilização, sem esquecer o seu empenho e a genuinidade com que nos brindou.

O mesmo reconhecimento estende-se a Rui Vargues e aos quase trinta elementos que constituem a Charola União Bordeirense que, anualmente nos brinda com o seu talento e motivação para manter a história de Bordeira e prolongar a tradição.

Cada elemento tem o seu papel no grupo. Em Novembro quando é dado o mote para os ensaios, é Rui Vargues quem tem a incumbência de organizar e planear tudo.

“Os ensaios desta charola começam normalmente em Novembro. Tudo é organizado e planeado por Rui Vargues que anualmente contacta e se encontra com os músicos, agenda os ensaios, disponibiliza a casa dos seus pais para servir de local de ensaio. Ainda dispõe de talento e criatividade para escrever letras para as músicas e para levar o grupo a dar o seu melhor em cada atuação.” É indiscutível que, “Rui Vargues, é um forte e indispensável pilar desta União Bordeirense.”

De salientar que, “as Charolas são a manifestação cultural mais tradicional e genuína da Freguesia de Santa Bárbara de Nexe.”

Nos primeiros dias de cada ano, grupos de homens e mulheres, acompanhados de instrumentos (acordeão, castanholas, pandeiros, ferrinhos e por vezes clarinete e/ou saxofone), atuam em Festivais na Freguesia e arredores, nos cafés da zona e em casas de amigos, entoando cantigas e lançando quadras improvisadas (“vivas”), num clima de amizade e alegria.

De acordo com o grupo União Bordeirense, “as Charolas saúdam a chegada do ano novo, evocam a tradição e os melhores tempos do passado e são um acontecimento de marcada alegria e partilha, que incluem por vezes uma componente crítica.”

A origem das Charolas no Algarve remonta a vários séculos, mas o movimento charoleiro organizado terá começado a despontar entre 1918 e 1920, no final da I Guerra Mundial, quando os bordeirenses se organizaram para receber e saudar com alegria os seus conterrâneos que regressavam da guerra. “É assim de compreender que em Bordeira, Freguesia de Stª Bárbara de Nexe, esta tradição assuma especial importância, sendo que este pequeno sítio, tem no ativo 5 grupos charoleiros: Democrata, Juvenil Bordeirense, Juventude União Bordeirense, Mocidade União Bordeirense e União Bordeirense.”

No que concerne a Charolas, não há concursos ou prémios. A existência de concurso foi uma realidade em Bordeira, no entanto há mais de duas décadas que não se realiza. “Não faria sentido escolher os melhores, quando todos os grupos são diferentes e têm particularidades próprias mas têm o mesmo propósito e surtem o mesmo efeito em quem as escuta… Todas as 5 charolas de Bordeira são as melhores a cumprir o seu papel na sua terra – lembrar o passado, viver o presente e preparar o futuro, honrando os antepassados e vangloriando Bordeira.”

A União Bordeirense é a segunda charola mais antiga de Bordeira, tendo sido formada em 1919.

“Com 96 anos de história, esta charola passou por interrupções e por ela passaram vários elementos/grupos, mas a bandeira da charola está desde 1989 na posse do atual grupo, com algumas alterações na composição do grupo mas sem interrupções.”

Hoje em dia, a União Bordeirense é formada por aproximadamente 30 elementos – 4 porta-bandeiras, 4 músicos (3 acordeonistas e 1 saxofonista), 8 tocadores de castanholas, 10 tocadores de pandeiros, 1 tocador de ferrinhos e 1 começador.

Esta charola atua, ano após ano, nos festivais de Bordeira e Santa Bárbara de Nexe, no Encontro de Charolas que tem lugar no Teatro das Figuras em Faro, em cafés da zona, em casas particulares, no Cinema de Estoi e em todos os locais que solicitem a sua presença.

“Enquanto que existem charolas no sítio que obedecem a determinado intervalo de idades (como a Juvenil Bordeirense, por exemplo), a União Bordeirense acolhe e agrada do mais novo ao mais velho. O membro mais novo, Rodrigo Vargues, tem 13 anos e o mais velho é o saxofonista Germinal que tem 75 anos.

O sr. Germinal não é filho de Bordeira mas é um elemento chave, que diferencia a União Bordeirense das restantes charolas, por ser a única com saxofone em Bordeira. Mesmo não sendo bordeirense, vive com fervor esta tradição e no primeiro dia de atuações do ano (dia de ano novo) celebra o seu aniversário no seio deste grupo.”

Da história da União Bordeirense, “são de destacar os membros, Carlos Neves, Rui Vargues, Teodoro e António Pinto que são quem já conta mais anos no grupo”. (logo mais sabedoria e entusiasmo!)

Em Bordeira e nas redondezas, a União Bordeirense é conhecida como a “charola do Tó Marroco” que “é a alcunha de António Pinto, tocador de castanholas e homem forte para as ‘vivas’, que dá uma especial genuinidade e singularidade ao grupo.”

Nos ensaios, “entre um cálice de medronho e uma fatia de bolo, entre conversas e risos, vão-se criando as pancadarias, ensaiando os cânticos e afinando todos os pormenores para sair à rua no ano novo.”

Chegado o ano novo, “os dias fixos de atuações são 1 e 6 de Janeiro, sendo que há mais 2 ou 3 dias variáveis. O Dia de Reis é praticamente feriado em Bordeira. É o dia grande das charolas.”

A União Bordeirense “é apresentada por Rui Vargues e cada atuação é iniciada pelo som do seu inconfundível apito.”

Seguidamente, “o grupo brinda os presentes com a “Marcha de Entrada”, tocada e cantada; a qual se segue do “Estilo”, composto por pancadaria, estilo cantado por Vítor Simplício e coro. Segue-se a “Valsa das Vivas”, em que membros da Charola e do público versam (dizem ‘vivas’) dedicadas aos presentes, à união, à tradição e ao passado glorioso, dando-se por vezes também lugar a alguma crítica política e social. A atuação termina, por norma, com a “Marcha de Saída”, tocada e cantada, mas a União Bordeirense por vezes brinda o público com uma Marcha ‘extra’, que considera o seu hino.

Para envolver ainda mais os nossos leitores neste percurso que merece ser evidenciado, de realçar o espírito do grupo:“A União, grupo lindo que se formou honestamente e sem ter vaidade”, é um grupo onde imperam “a simplicidade, a amizade, os laços, as afinidades e a união. Dia 1 de Janeiro de 2016, este grupo saiu mais uma vez, porque sim... pela tradição! Pela amizade! Pelo passado! Por Bordeira!”

E mais!

“Sou União Bordeirense

E o que é isso afinal?

Só percebe quem pertence

A este grupo sem igual!”

I

Sou de um grupo diferente

Ao qual o tempo não vence

Gritarei eternamente

Sou União Bordeirense

II

P´ra muitos, pouco dirá

Não importa , não faz mal

Mas perguntam, digam lá?

E o que é isso afinal?

III

É difícil explicar

Cada um pense o que pense

Não há cá voltas a dar

Só percebe quem pertence

IV

É amizade a valer

É sentir algo especial

É ter honra em pertencer

A este Grupo sem igual

(Rui Vargues)

Para comprovar, só basta assistir e aplaudir todo este trabalho que tanto orgulha as gentes de Bordeira!



www.algarveprimeiro.com
22
Nov17

O QUE SÃO AS CHAROLAS, A SUA EVOLUÇÃO NA COMPONENTE RELIGIOSA E DE INTERVENÇÃO SOCIAL

António Garrochinho



























Sérgio martins 


As charolas


A designação de Charola, no Algarve, parece estar muito ligada à imagem do Deus-Menino, de pé, no alto de uma armação composta por caixas de diferentes tamanhos que, sobrepostas, formam um trono em escadaria. Por extensão, significa também o grupo de pessoas (cantadores, músicos e acompanhantes) que percorre os povoados, na época natalícia, cantando e/ou tocando de porta em porta. No entanto, o termo é muito polissémico. No mês de Junho, já pode significar o enfeite que se coloca no topo dos mastros, nas festas dos Santos Populares.
[...]

Perspectiva histórica das Charolas

Crê-se que as Charolas, entendidas como grupos de pessoas (cantadores, músicos e acompanhantes) que na época natalícia percorrem os povoados, cantando e tocando, se têm manifestado desde tempos ancestrais. De acordo com os relatos de pessoas mais idosas, é parecer comum que as Charolas já existiam antes do final da 1ª Grande Guerra, mas cantavam ao Deus-Menino. As Charolas seriam grupos de cantares de presépio que progressivamente adquiriram outras características e funções. Esta evolução parece ter ocorrido em vários grupos que progressivamente se foram constituindo nos mesmos moldes.

Uma apresentação

Executando a Marcha de Entrada, só com instrumentos, o grupo dirige-se para o local de apresentação até se instalar convenientemente. Ao som do apito, normalmente um curto e um longo, a música termina no momento da cadência final seguinte.
Tem então lugar o Estilo do Começador. Nalguns grupos, a composição musical correspondente ao Canto Novo designa- se Estilo do Começador. A designação estilo significa melodia, canção. Sendo as canções criadas de novo tomaram noutros locais a denominação de Estilo Novo (ou Canto Novo), por oposição ao Estilo Velho (Canto Velho) que correspondia às canções natalícias, com referências explícitas de louvor a Deus-Menino e relatando episódios bíblicos. A música correspondente ao Estilo do Começador, em compasso binário, tem normalmente duas partes: uma sem canto, com todos os instrumentos a tocar, em andamento mais rápido, para permitir o acompanhamento da pancadaria, outra mais lenta, para proporcionar o canto do começador, com letra de improviso, saudando as instituições que promoveram a apresentação e as pessoas que se encontram a assistir, é acompanhada somente pelos acordeãos. A ligação entre ambas as partes é feita exclusivamente por estes instrumentos (acordeãos), com carácter ad libitum. Este esquema estrófico alternando entre canto e tutti instrumental é repetido até nova ordem (apito) do começador.
Curiosamente, embora o Estilo do Começador se associe ao Canto Novo, conserva ainda alguma referência ambiental com o Estilo Velho, sobretudo pelo carácter emotivo que sugere e pretende transmitir (quando o começador canta é quase como no Fado, é sagrado, esse momento é sagrado).
Segue-se a Valsa das Vivas, momento alto da performação. É agora que terá lugar a satisfação ou não dos espectadores e a validação do nível de qualidade do grupo: a sua criatividade, o inesperado das situações evocadas, a oportunidade da crítica política, o simples retrato social e a lembrança dos que não podem ser esquecidos e que determinam o poder, o afecto, a amizade, a compreensão ou o desafio (retratar, saudar as pessoas, muitas vezes em tom de brincadeira, certas piadas, certas malandrices, que às vezes só o visado é que percebe). É o reino do improviso com regras explícitas.
A música pára quando o improvisador fala para levar toda a gente a gritar: Viva!. Esta acção de despoletar o entusiasmo chamam-na “tirar Vivas”. O discurso tem que ser formado por quatro versos com rima do tipo “abab” ou “abba”, ou por sextilhas. A sua finalidade é sobretudo causar o riso ou a admiração. Por vezes tem somente a função de saudação.
No entanto, o jogo que se estabelece e as cumplicidades assumidas tornam esta fase extremamente interessante, sem fim (uns somos o fermento dos outros: há o Zé que tira uma Viva sobre um tema ou uma pessoa e faz lembrar o António).
A música utilizada na Valsa das Vivas é formada por duas partes: uma em modo menor e outra que modela à relativa maior. Ambas as partes se repetem em esquema do tipo “aabb”, sendo “a” no modo menor e “b” no maior. A primeira das duas partes “aa” e “bb”, embora termine no acorde da tónica, corresponde-lhe uma melodia que não termina na tónica. A tónica só se afirma melodicamente na segunda vez de cada parte.
Quando o começador apita, ao sinal de um qualquer dos elementos ou até mesmo de alguém no público que quer tirar Vivas, a música completa a volta, acabando na próxima cadência que lhe permita terminar a parte em que está. Quando o momento de terminar chega, normalmente pela necessidade de dar a vez a outros, ou pelo facto de se sentir ser o momento de pôr um ponto final no assunto, o começador apita várias vezes anunciando o final da Valsa e não apenas o fim de uma volta para alguém tirar Vivas.
Por último tem lugar a Marcha de Saída. Mais uma vez trata-se de uma marcha com carácter vivo e de despedida. Esta Marcha tem canto. Há um refrão longo que tende a exaltar as virtudes do grupo, a sua boa disposição e alegria em participar nas Charolas. Há um esquema formal para o conteúdo da mensagem da Marcha de Saída. Primeiro, procede-se à identificação do grupo. Depois faz-se uma saudação, em geral. Finalmente, expressa-se a despedida com votos de Bom Ano, saúde, felicidade e gratidão, sendo comum exaltar-se a bandeira e o pendão do grupo.
Este esquema em 4 partes, nas actuações públicas em palco, tem normalmente uma duração de cerca de meia hora. Em contextos mais íntimos pode alongar-se.
[JERÓNIMO, Rui Moura. "Charolas, a invenção da tradição", in Cidade e Mundos Rurais: Tavira e as sociedades agrárias. Tavira: Câmara Municipal de Tavira, 2010, p. 121-124]
A melhor ilustração que encontrei (no Youtube) foi este vídeo (embora claramente amador, separa explicitamente as várias partes referidas no texto):

[Resumo da actuação da Charola da Casa do Povo de Conceição de Faro, 
no Dia de Ano Novo, de 2010, no 28º. Festival de Charolas de Conceição de Faro].
Este Canto Velho também poderá fazer as delícias de alguns leitores:

[Canto Velho é o canto mais tradicional da Charola e é repetido todos os anos.
Aqui é cantado pelo principiador João Faustino. A música e os versos são de autores desconhecidos
]

omeubau.net
22
Nov17

Marcelo e os avisos que continuam a faltar

António Garrochinho


Marcelo sabe-a toda e para manter a credibilidade vai falando daquilo que o povo gosta de ouvir mas mantendo a coisa pela rama, não vá o diabo tece-las.
Enigmático isto? Eu explico.
Por exemplo, Marcelo poderia ter sido direto quando se referiu à imprensa. Podia ocorrer-lhe os meus avisos antigos e, à semelhança de outros malefícios, sugerir os rótulos adequados...  se não o fez foi para que não lhe fosse dito que não se cospe no prato onde se andou tantos anos a comer...

conversavinagrada.blogspot.pt

22
Nov17

A Tecnoforma e o ensurdecedor murmúrio da imprensa

António Garrochinho

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 22/11/2017)  

Daniel
Daniel Oliveira

(Até que enfim que alguém com projecção do espaço mediático aborda este tema. Mas ó Daniel, faltou-te sublinhar, como nós próprios fizemos em artigo que aqui publicámos, o silêncio do rei do comentário, Marcelo Rebelo de Sousa, de seu nome. O tal que fala e opina sobre tudo o que se passa neste país, desde panteões, legionellas, fogos, carreiras ou lagartas na sopa. Não me digas que, além do silêncio da comunicação social, também não estranhaste este silêncio do Presidente. Assim, de silêncio em silêncio, estranho eu também o teu silêncio sobre o silêncio de Marcelo. A não ser que fique para próximo artigo. 
Estátua de Sal, 22/11/2017)

Já sabíamos, desde setembro, que o caso Tecnoforma tinha sido arquivado pelo Ministério Público (MP). Na altura, Miguel Relvas, prevendo a novíssima tradição nacional, até exigiu um pedido de desculpas. Hoje sabemos que os investigadores antifraude da Comissão Europeia (OLAF) discordavam das conclusões a que chegou o MP. E que os resultados da investigação do OLAF, que foi solicitada pelo próprio DCIAP, foram ignorados pela Justiça. Ou seja, que o nosso Ministério Público pediu apoio a um organismo europeu e depois resolveu ignorar as conclusões e arquivar o caso.
Estão em causa mais de seis milhões de euros que a Comissão Europeia quer de volta. Expressões como “graves irregularidades” e “fraudes” na gestão de fundos europeus entregues entre 2000 e 2013 à Tecnoforma são dos próprios investigadores. E concluem: “os factos enunciados podem constituir infrações penais previstas no Código Penal Português”. A notícia do “Público” surgiu agora porque só agora, com o arquivamento do processo, ficou disponível o relatório do OLAF.
Não sei se os investigadores do OLAF têm razão e se há mesmo fraudes na utilização de fundos europeus por parte da Tecnoforma. E ainda menos saberei se Pedro Passos Coelho e Miguel Relvas tiveram qualquer tipo de responsabilidades no uso destes dinheiros. Não acuso com bases em gordas de jornais. Não é esse o meu debate. O meu debate é sobre o comportamento do Ministério Público e da comunicação social.
Todos temos visto como o Ministério Público tem tratado suspeitas que envolvam o poder político. Nunca será por mim criticado o zelo da Justiça contra a corrupção e o mau uso de dinheiros públicos. Pelo contrário, já não era sem tempo. As críticas que tenho feito são outras: o desrespeito permanente por prazos minimamente razoáveis para que a justiça se faça e a utilização dos jornais tabloides para conseguir condenações na praça pública ainda antes de chegar à barra do tribunal ou até para esconder más investigações. Seja como for, não é fácil, olhando para o padrão do que tem sido o comportamento do Ministério Público em casos semelhantes, perceber um arquivamento que ignora acusações tão claras por parte dos investigadores do OLAF. A PGR já fez saber, através de fontes, que o processo deverá ser reaberto. O que ainda torna mais preocupante este arquivamento.
Quanto à comunicação, a diferença de comportamento é ainda mais gritante. O órgão lateral do Ministério Público, o “Correio da Manhã”, ignorou o caso. Antes do relatório ser conhecido, não usou as suas fontes no MP para ter acesso a esta informação. E mesmo depois dele ser conhecido, não achou o tema relevante. O “Correio da Manhã” é sempre menos ativo na sua campanha pela moralização do Estado quando os envolvidos são da sua simpatia política. O problema é que o pouco destaque dado a esta notícia nos dias seguintes à publicação do trabalho de José António Cerejo foi generalizado. Um internauta deu-se ao trabalho de fazer as contas às referências nos principais jornais, sites e canais televisivos de informação. Concluiu que, entre 11 e 14 de novembro, houve 171 referências ao jantar no Panteão Nacional contra apenas dez ao caso Tecnoforma. E assim como nasceu, o assunto morreu.
Como já disse, não tenho convicções sobre o caso Tecnoforma e ainda menos sobre qualquer tipo de envolvimento de Passos Coelho na alegada “fraude” na utilização de dinheiros europeus. Mas não é todos os dias que ficamos a saber que um organismo europeu acusa de fraude uma empresa em que o ex-primeiro-ministro teve um papel ativo importante. Também não é todos os dias que sabemos que o Ministério Público, contrariando o padrão do seu comportamento recente em relação a este tipo de criminalidade, ignora um relatório de uma estrutura europeia por si próprio solicitado e arquiva o processo. Seria natural, sobretudo olhando para os critérios editoriais da nossa comunicação social, que isto fosse tema. Foi quase irrelevante mesmo quando comparado com um “fait divers” requentado como os jantares no Panteão. Torna-se difícil vir com a conversa do “não culpem o mensageiro” quando o mensageiro é tão seletivo nas mensagens que nos traz…

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