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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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24
Nov17

PARAGENS DE AUTOCARRO NO JAPÃO

António Garrochinho
A paradas de ônibus podem ser encontradas em todas as formas e tamanhos, ainda que em alguns lugares não sejam encontradas pois os vândalos as destroem. Na pequena cidade japonesa de Konagai, nos arredores de Isahaya, na Prefeitura de Nagasaki, eles além das formas tem, em tese, cinco sabores de diferentes frutas: melancia, morango, laranja, melão e tomate. Essas paradas de ônibus peculiares foram originalmente construídas para a Travel Expo de 1990, a fim de atrair visitantes que chegavam de vários locais.

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A exposição, que foi realizada na cidade de Osaka e atraiu mais de 23 milhões de visitantes, foi um sucesso e devido a isso uma série de feiras menores que expressam temas relacionados foram realizadas em todo o Japão.

Konagai também realizou uma exposição intitulada "Jornda Nagasaki", e esses dezesseis abrigos de ônibus em forma de frutas foram parte disso.

Desde então, os pontos se tornaram uma atração turística local na região e acabam por receber uma audiência mais ampla depois de 2005, quando a cidade, juntamente com outras quatro, foram fundidas na maior cidade de Isahaya, permitindo que fossem conhecidos por mais viajantes e turistas.

As paradas de ônibus ainda são funcionais e se mantiveram notavelmente conservadas por um quarto de século. Elas parecem ser bem mantidas pelo serviço público também.
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24
Nov17

Não é surpresa constatar que este fotógrafo tenha mais de 1 milhão de seguidores no Instagram

António Garrochinho
Para dominar com perícia a arte da fotografia é importante praticar de maneira constante o tempo todo. Só assim é possível conquistar a experiência necessária para que suas imagens transmitam realmente o que você deseja conseguir com elas. Jason M. Peterson já acumula 25 anos dedicado à fotografia, especializada no banco & preto, podemos dizer que atingiu níveis de perfeição dificilmente superáveis. Diferente do modismo das fotos monocromáticas que alguns fotógrafos apenas descolorem, Jason trabalha sua lente realmente em função dessa composição.

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Sem a necessidade do uso de toda a paleta de cores, só com a faixa que vai do branco ao preto, ele consegueimagens verdadeiramente impressionantes ante as quais vale a pena se deter alguns minutos (ou mais) para se deleitar com elas.

Não é de estranhar, portanto, que tenha conseguido uma grande relevância nas redes sociais, especialmente no Instagram, onde já ultrapassou a barreira do milhão de seguidores. Há fotógrafos da moda com mais seguidores, como Murad Osmann (4,6 milhões), Chris Burkard (2,8 milhões) ou Jimmy Chin (1,7 milhões), todos tremendamente talentosos, mas nenhum com a técnica apurada de Jason.
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24
Nov17

24 de Novembro de 1859: Charles Darwin publica 'A Origem das Espécies'

António Garrochinho


O livro sobre  A Origem das Espécies, obra científica  do naturalista britânico Charles Darwin, é publicado em Inglaterra no dia 24 de Novembro de 1859. 


A teoria de Darwin defendia que organismos vivos evoluem através de um processo a que chamou de “selecção natural”. Nela, organismos com variações genéticas que se adaptam ao seu meio ambiente tendem a propagar mais descendentes que organismos da mesma espécie aos quais faltam as variações, influenciando, por conseguinte a estrutura genética em geral das espécies. 



Darwin, que foi influenciado pelo trabalho do naturalista francês Jean-Baptiste de Lamarck e do economista inglês Thomas Malthus, constatou grande parte das evidências a favor da sua teoria durante a longa expedição de pesquisas a bordo do HMS Beagle nos anos 1830, que durou perto de cinco anos. Visitando lugares diferentes como as Ilhas Galápagos e a Nova Zelândia, Darwin adquiriu um conhecimento muito próximo da flora, fauna e geologia de muitas terras.


A ideia da evolução orgânica não era nova. Tinha sido aventada antes, entre outros, pelo avô de Darwin, Erasmus Darwin, um insigne cientista inglês e por Lamarck, que no começo do século XIX desenhou o primeiro diagrama evolucionário – uma cadeia que levava de organismo unicelulares ao homem. No entanto, só com Darwin que a ciência apresentou uma explicação prática do fenómeno da evolução. 



Darwin havia formulado a sua teoria da selecção natural em 1844, contudo mostrou-se cauteloso em revelar as suas teses ao grande público porque contradizia flagrantemente a versão bíblica da criação. Em 1858, com Darwin ainda em silêncio acerca das suas descobertas, o naturalista britânico Alfred Russel Wallace publicou por sua conta um artigo que resumia a essência da sua teoria. Darwin e Wallace pronunciaram uma conferência conjunta diante da Sociedade Linnean de Londres em Julho de 1858. Darwin resolveu então preparar a sua obra para publicação. 


Trazida à luz em 24 de Novembro de 1859, a primeira edição de  A Origem das Espécies  esgotou-se rapidamente. A maioria dos cientistas abraçou de imediato a sua teoria, visto que resolvia inúmeros quebra-cabeças da ciência biológica. 


Contudo, os cristãos ortodoxos condenaram o trabalho como uma heresia. A controvérsia quanto às  ideias de Darwin aprofundou-se com a publicação de uma série de livros sobre plantas e animais, em particular “A descendência do Homem e selecção em relação ao sexo” e “A expressão da emoção em homens e animais” nos quais expõe a evidência da evolução do homem.


À época da morte de Darwin em 1882, a sua teoria da evolução já era universalmente aceite. 


Em homenagem ao conjunto do seu trabalho científico, foi enterrado na Abadia de Westminster ao lado de reis, rainhas e outras ilustres figuras da história britânica. 


Subsequentes desenvolvimentos na genética e na biologia molecular levaram a algumas mudanças no entendimento da teoria evolucionista, porém as ideias de Darwin permanecem até hoje como essenciais no campo da biologia. 

Fontes: Opera Mundi
wikipedia (imagens)

Capa do livro A Origem das Espécies, de 1859
Árvore de evolução de Darwin

Retrato de Charles Darwin - John Collier
24
Nov17

O golpe do 25 de novembro sem livro de livro de explicações nem reclamações

António Garrochinho


Carlos Matos Gomes



O golpe do 25 de novembro sem livro de livro de explicações nem reclamações
A propósito de uma imbrincada teia de justificações de Rodrigo Sousa e Castro a propósito da legitimidade do golpe do 25 de novembro de 1975. Ora, em minha opinião o golpe não necessitava de qualquer legitimidade, a não ser a da força de que dispunham os golpistas e, em minha opinião, não necessita hoje de qualquer bênção jurídica. As leis fazem-se e usam-se por receita.
Sobre o golpe do 25 de novembro de 1975 retenho uma imagem de ribatejano: um grupo de campinos reuniu-se a mando de um feitor e recolheu ao redil um novilho tresmalhado. É uma cena da lezíria.Não é necessário grande ciência jurídica nem política para o explicar. Entretanto diz Rodrigo Sousa e Castro no seu post, em resposta a um comentário:
“Todavia essa legitimidade revolucionária caducou um ano depois (do 25 de abril de 74), após a extraordinária expressão da vontade eleitoral do Povo Português que em massa acorreu às urnas (eleições para a Constituinte em 25 abril 75) e disse quem queria que redigisse a CRP (Constituição da República). A partir daí, tal como sempre defenderam os que estavam em maioria no CR (Conselho da Revolução) era a Constituinte que falava mais alto. E foi precisamente por esta questão que se deu a rotura entre militares e partidos políticos.” (que teve o seu ponto de fissura no golpe de 25 de novembro 75)
A história é o que foi e não adianta nada tentar reescrevê-la. Os vencedores do golpe de 25 de novembro de 1975 não necessitam de argumentos para o justificar, mas, juntamente com políticos e historiadores adeptos dessa solução para a situação política de Portugal nesse período, alguns sentem-se na obrigação de encontrar outros argumentos que não os da força e do interesse. Esses argumentos mais ou menos falaciosos, mas apelativos tanto quanto possível e farisaicos, assentam basicamente nos seguintes pontos:
- retorno à pureza do 25 de abril;
- defesa da democracia (embora em sentido nunca explicitado, mas que se presume ser politicamente demo-partidárias e liberais economicamente);
- respeito pelas alianças tradicionais e pela divisão do mundo entre as super-potencias da época;
- reposição da ordem pública e fim do caos;
- resistência a um hipotético golpe esquerdista e a uma ditadura comunista.
É este, em termos gerais, o discurso dos vencedores do 25 de novembro, tanto dos que comeram os figos: políticos, religiosos e aliados económicos do bloco central representados por Mário Soares; como daqueles a quem rebentou a boca, os militares do grupo dos nove, os ditos moderados.
Num post no FB, com a foto de um trio de militares devidamente fardados (V Lourenço, Eanes e J Neves), daqueles a quem afinal rebentou a boca por os figos que lhes deram serem os de sobra e estarem verdes, ou serem selvagens, onde faltam os principais protagonistas: Mário Soares, o embaixador americano FCarlucci e o chanceler alemão H.Schmidt, Rodrigo Sousa e Castro adianta um argumento que contraria não só a história, mas a lógica, o que, vindo de um homem reconhecidamente inteligente como ele é, diz bem da dificuldade em encontrar argumentos que façam sentido a propósito da “bondade” (em sentido lato) do golpe de 25 de novembro de 1975.
Diz RSC sobre as origens e a legitimação do 25 de novembro que a legitimidade revolucionária caducou um ano depois do golpe do 25 de abril de 74 e que após a extraordinária expressão da vontade eleitoral do Povo Português que em massa acorreu às urnas e disse quem queria que redigisse a CRP era a Constituinte que falava mais alto.
Esta a afirmação de Rodrigo Sousa e Castro é uma falácia.
Em 25 de abril de 74, em Lisboa um alargado grupo de militares realizaram um golpe de estado, derrubaram a ditadura do Estado Novo (mas não o regime colonial).
Em 26 de abril de 74, em Bissau, um grupo de militares derrubaram o regime colonial, ao reconhecerem por sua conta a independência da Guiné.
Faltava o pós-golpes. E é de dois pós-golpes que se trata e da legitimidade de quem exerceu o poder no tempo que vai de 25 de abril de 75 a 25 de novembro de 75. Nesse período a legitimidade não assenta nos resultados para a Assembleia Constituinte, ao contrário do que RSC afirma.
Para o pós-golpe de derrube do governo de Marcelo Caetano, o programa do MFA propunha a realização de eleições, dentro de um ano, para uma Assembleia Constituinte, da qual sairia uma Constituição e seria esta a definir os órgãos do futuro governo e a política ultramarina/colonial.
Parece óbvio, mas não para RSC, que até à entrada em vigor da futura constituição a legitimidade seria a dos “golpistas” que se tinham comprometido a transferir o poder para órgãos políticos legitimados por uma Constituição elaborada por uma Assembleia Constituinte, eleita por processos reconhecidamente democráticos e a consultar os povos das colónias sobre o futuro politico destas. A Assembleia Constituinte não tinha outra legitimidade que não a de elaborar uma Constituição.
Mário Soares promoveu interna e externamente, até à exaustão, para consumo de simples de espirito, e crentes no que lhes convém a mistificação do argumento de que a partir dos resultados das eleições para a Constituinte, a legitimidade política devia assentar nos resultados das eleições. Seguindo esse raciocínio, que Sousa e Castro repega, chegaríamos à situação em que os vencedores das eleições para a Constituinte passavam a deter o poder de elaborar a lei fundamental — eram poder legislativo –e, simultaneamente, detinham poder executivo! E Mário Soares era jurista!
Este raciocínio leva à conclusão de que, sendo assim, o Presidente da República (emergente do poder dos golpistas do 25 de abril de 74), o Conselho de Estado, depois o Conselho dos 20, por fim o Conselho da Revolução, mais todas as chefias militares e judiciais, todos os governos nomeados para as colónias antes e principalmente após as eleições para a Constituinte (25 de abril de 75) agiam por um poder delegado pela assembleia constituinte, que era, segundo a inovadora tese de Sousa e Castro, a fonte de legitimidade do poder e que legitimou o 25 de novembro de 75! Só a título de anedota repare-se que este argumento compromete a Assembleia Constituinte na nomeação do almirante Rosa Coutinho para Angola, tão execrado pelas forças maioritárias na dita Constituinte!
Segundo esta tese, sendo o resultado das eleições para a Constituinte, a 25 de abrill de 75, a fonte da legitimidade do 25 de novembro de 75, não se compreende que à sua revelia, mas por ação não contestada por ela os militares golpistas da Guiné e o governo provisório de Lisboa tenham reconhecido a independência do Estado da Guiné Bissau em Setembro de 75. Também sem intervenção da dita Constituinte legitimadora do golpe de 25 de novembro decorreram as negociações para as independências de todas as colónias! É de recordar que a última independência de uma colónia — logo a jóia da coroa, Angola — ocorreu a 11 de novembro de 75, isto é, antes do golpe de 25 de novembro, o que é incompreensível à luz da argumentação de Sousa e Castro, porque se a Constituinte legitima o golpe restaurador da democracia em Portugal, porque aceitaram os golpistas do 25 de novembro que esta não se pronunciasse sobre as independências das colónias? Porque aceitaram, segundo Sousa e Castro, a legitimidade dos resultados da Constituinte para o golpe militar em Lisboa e já não recorreram a essa legitimidade para o acto tão significativo como era o da independência de Angola?
Mais, assentando a legitimidade do 25 de novembro nos resultados para a Constituinte, porque se manteve em vigor o Pacto MFA-Partidos assinado a 11 de abril de 75após a realização das eleições (25 de abril de 75), ou, no mínimo porque não se pronunciou a Assembleia sobre ele?
Ainda segundo a tese de Sousa e Castro, de a Assembleia Constituinte constituir a fonte legitimária do golpe “democrático” do 25 de novembro menos se compreende que a Assembleia Legislativa saída das eleições de 25 de abril de 1976 tenha abdicado de parte significativa do seu poder e mantido um órgão que é um produto direto do golpe de 25 de abril de 74, o Conselho da Revolução.
Existe um princípio do tipo axiomático que afirma que quem pode o mais pode o menos. Rodrigo Sousa e Castro contesta-o. Na sua argumentação para legitimar o golpe do 25 de novembro 75 (que, repete-se, não necessita de outra legitimação do que a existência de força para alterar um estado de coisas e impor outro) Rodrigo Sousa e Castro considera que a Assembleia Constituinte, com os poderes que o programa dos golpistas do MFA lhe estabeleceram, serviu como fonte de legitimação do golpe do 25 de novembro, o tal que livrou o país da ditadura comunista e impôs a economia liberal, mas a Assembleia Legislativa saída das eleições de abrilde 76, de onde emergiu o constitucionalmente legitimado I Governo Constitucional já não servia para exercer plenamente o poder e necessitava da muleta do Conselho da Revolução!
Parece óbvio que Rodrigo Sousa e Castro tenta coser uma justificação bastante esfarrapada de ordem jurídica para o que foi um acto de imposição pela força de uma dada ordem. Como no rugby, não é necessário dar voltas à cabeça, nem às leis, para justificar uma placagem, ou uma rasteira.

Carlos Matos Gomes
24
Nov17

24 de Novembro de 1906: Nasce Rómulo de Carvalho (António Gedeão), químico e poeta português.

António Garrochinho

Poeta, autor dramático, cientista e historiador, nasceu a 24 de novembro de 1906, na cidade de Lisboa, e aí morreu a 19 de fevereiro de 1997, na sequência de uma operação cirúrgica delicada.



Personalidade multifacetada e homem de apurada cultura, licenciou-se em Ciências Físico-Químicas, na Universidade do Porto, e foi professor liceal para além de cientista, divulgador científico e investigador da História das ciências. 


Com o seu nome próprio, Rómulo de Carvalho é autor de numerosos volumes de divulgação da cultura científica, publicados, nos anos 50 e 60, na coleção "Ciência para gente nova", da Atlântida nos anos 70, nos "Cadernos de iniciação científica", da Sá da Costa, a que seguiriam nas décadas posteriores vários manuais escolares. 


No domínio da História da ciência em Portugal, são marcantes estudos como História dos Balões e A Astronomia em Portugal no Século XVIII. Elaborou também a obra História da Educação em Portugal.



Já com cinquenta anos de idade, começou a publicar literatura, sob o pseudónimo de António Gedeão. É contemporâneo da geração de "Presença", mas só se revelou na segunda metade do século, sendo saudado, no momento da sua revelação, por David Mourão-Ferreira como uma voz "inteiramente nova" no panorama poético dos anos 50 (cf. Vinte Poetas Contemporâneos, 2.a ed., Lisboa, Ática, 1980, pp. 149-153). Para essa originalidade concorriam, entre outros traços, a incorporação das tradições do primeiro e segundo modernismos, a opção por um estilo rigorosamente cadenciado e ritmado, a expressão da inquietação e angústia coletivas do Homem do pós-guerra ou o recurso frequente a uma terminologia ou imagística provenientes do domínio científico. Jorge de Sena (cf. estudo introdutório à segunda edição de Poesias Completas, Lisboa, Portugália, 1968) e Fernando J. B. Martinho (cf. Tendências Dominantes da Poesia Portuguesa da Década de 50, Lisboa, Colibri, 1996, pp. 428-433) assinalam na poesia de António Gedeão a recorrência de dispositivos retóricos que permitem considerar no âmbito de um neobarroquismo a poesia do autor de Movimento Perpétuo.



Os poemas alcançaram grande popularidade, pela linguagem simples mas emotiva e carregada de uma inteligente sensibilidade, sempre atenta aos valores humanistas. É uma poesia que funde meios de expressão tradicionais com uma visão moderna do mundo, abordando a temática do sentimento da solidariedade, da denúncia do sofrimento e da própria solidão humana. Todo o ser do poeta se ergue num protesto denso de substância vital, e, sob este aspeto, a sua poesia deixa transparecer um compromisso direto, imediato e espontâneo com o drama social do homem e o segredo do mundo.


Vários dos seus poemas foram também divulgados através da música como, por exemplo, Calçada de Carriche, Fala do Homem Nascido, Lágrima de Preta e a canção Pedra Filosofal, composta e cantada por Manuel Freire, que teve um sucesso invulgar.


Por ocasião do seu nonagésimo aniversário, em 1996, Rómulo de Carvalho foi alvo de homenagens em vários pontos do país. Por decisão ministerial, a data do seu aniversário, 24 de novembro, passou a ser assinalada como o Dia da Cultura Científica.


Fontes: Infopédia
wikipedia (imagens)
 Pedra Filosofal


Eles não sabem que o sonho 
é uma constante da vida 
tão concreta e definida 
como outra coisa qualquer, 
como esta pedra cinzenta 
em que me sento e descanso, 
como este ribeiro manso 
em serenos sobressaltos, 
como estes pinheiros altos 
que em verde e oiro se agitam, 
como estas aves que gritam 
em bebedeiras de azul. 

Eles não sabem que o sonho 
é vinho, é espuma, é fermento, 
bichinho álacre e sedento, 
de focinho pontiagudo, 
que fossa através de tudo 
num perpétuo movimento. 


Eles não sabem que o sonho 
é tela, é cor, é pincel, 
base, fuste, capitel, 
arco em ogiva, vitral, 
pináculo de catedral, 
contraponto, sinfonia, 
máscara grega, magia, 
que é retorta de alquimista, 
mapa do mundo distante, 
rosa-dos-ventos, Infante, 
caravela quinhentista, 
que é Cabo da Boa Esperança, 
ouro, canela, marfim, 
florete de espadachim, 
bastidor, passo de dança, 
Colombina e Arlequim, 
passarola voadora, 
pára-raios, locomotiva, 
barco de proa festiva, 
alto-forno, geradora, 
cisão do átomo, radar, 
ultra-som, televisão, 
desembarque em foguetão 
na superfície lunar. 


Eles não sabem, nem sonham, 
que o sonho comanda a vida. 
Que sempre que um homem sonha 
o mundo pula e avança 
como bola colorida 
entre as mãos de uma criança. 




António Gedeão, in 'Movimento Perpétuo' 

VÍDEO


24
Nov17

24 de Novembro de 1957: Morre Diego Rivera, consagrado artista plástico mexicano

António Garrochinho


Morre em 24 de Novembro de 1957, aos 70 anos Diego Rivera, destacado artista mexicano, famoso por pintar obras de alto conteúdo social em edifícios públicos. Ele foi criador de diversos murais espalhados por cidades do México e dos Estados Unidos.



Na verdade, o nome completo do artista mexicano era Diego María de la Concepción Juan Nepomuceno Estanislao de la Rivera y Barrientos Acosta y Rodríguez. Facilitando a vida de jornalistas e do público, decidiu adoptar apenas Diego Rivera.

Nascido em 8 de Dezembro de 1886 em Guanajuato,  começou a partir de 1896 a fazer aulas na Academia de São Carlos, desobedecendo aos desejos do seu pai que queria vê-lo na carreira militar. 


No começo do século, recebeu bolsas de estudo para viajar até Espanha e conhecer obras de Goya, El Greco, Brueghel e ingressar no ateliê de Eduardo Chicharro, um dos mais importantes retratistas espanhóis.



Ao contrário de outros grandes artistas gráficos como José Clemente Orozco, artista filiado no Exército Constitucionalista, e de David Alfaro Siqueiros, alto oficial, Diego Rivera não teve participação directa no conflito político e militar da Revolução Mexicana de 1910. Em 1916, depois de passar por diversos países da América do Sul, fixa-se em Paris, onde mantém contacto com artistas como Picasso, Ochoa e Inclán, aderindo então ao cubismo. Em 1917, influenciado por Paul Cezanne, aproxima-se do pós-impressionismo, conseguindo chamar a atenção pelas suas telas de cores vivas.



Em 1920 empreende uma viagem à Itália onde aprofunda o estudo da arte renascentista. Quando toma conhecimento de que José Vasconcelos fora designado ministro da Educação do México, regressa ao seu país e participa em iniciativas artísticas ao lado de Orozco, Siqueiros e Tamayo.



Em 1927, Rivera é convidado para as cerimónias dos 10 anos da Revolução Bolchevique em Moscovo. 


Casa-se com a pintora Frida Kahlo em 1929. 


Em 1930 é convidado para a realização de diversas obras nos Estados Unidos, onde a sua temática comunista desataria contradições, críticas e atritos com proprietários, governo e imprensa locais.



Em 1933 ocorre um dos episódios mais controversos da sua vida. 


O magnata John Rockefeller contrata Rivera para pintar um mural na entrada do edifício RCA em Nova Iorque. 


Era o principal edifício do Rockefeller Center. Situado na 5ª Avenida era um marco emblemático do capitalismo.

Rivera desenhou então o mural sob o tema O Homem na Encruzilhada de Caminhos ou o Homem Controlador do Universo. 


Estando para completá-lo, resolveu incluir um retrato de Lenine. 


A reação da imprensa foi imediata e virulenta. Rockefeller considerou o retrato como insulto pessoal, mandou cobrir o mural e ordenou que fosse destruído. De volta ao México em 1934, pintou o mesmo mural no 3º andar do Palácio de Belas Artes.



Em 1936 solicita ao presidente Lázaro Cárdenas asilo político a Leon Trotsky, o que se concretiza no ano seguinte, sendo recebido na Casa Azul de Frida Kahlo. 


Em 1940, já divorciado de Kahlo e afastado do dissidente soviético, volta a casar-se com ela.



Em 1946 pintou uma das suas obras mais importantes Sonho de uma Tarde Dominical na Alameda Central no Hotel do Prado. Integra com Orozco e Siqueiros a comissão de Pintura Mural do Instituto Nacional de Belas Artes.



Em 1950 ilustrou o livro Canto Geral de Pablo Neruda. Em 1952 realizou o mural A Universidade, a Família Mexicana, a Paz e a Juventude Esportista no Estádio Olímpico Universitário na Cidade do México.



Em 1953, Rivera cria uma obra-prima que se encontra no Teatro dos Insurgentes, Cidade do México. 


Tal obra tem um elevado significado pois cada imagem representa parte da história do México. O mural é feito de pequenos azulejos de vidro. A colocação esteve a cargo do mestre Luigi Scodeller.



Há uma cena em que aparece o popular comediante Cantiflas a receber dinheiro dos grupos abastadas da sociedade mexicana representada por capitalistas, militares, um clérigo e uma cortesã. 


Os pobres encontram-se do lado esquerdo representando os grupos exploradas. Atrás de todo o cenário vislumbra-se a antiga Basílica de Guadalupe.


Em Junho de 1954, morre Frida Kahlo e no ano seguinte casa-se com Emma Hurtado. 


Viaja para a União Soviética para uma intervenção cirúrgica. Falece em 24 de Novembro de 1957 em sua casa, actualmente conhecida como Museu Casa Estúdio Diego Rivera e Frida Kahlo. 


Os seus restos mortais foram colocados na Rotunda das Pessoas Ilustres, contrariamente à sua última vontade.


 Fontes: Opera Mundi
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Diego Rivera (fotografia de Carl van Vechten, 1932)

Frida Kahlo e Diego Rivera em 1932, foto de Carl Van Vechten
Detroit Industry, Mural Norte, 1932–33. Detroit Institute of Arts.
Mural  de Tlatelolco, Palacio Nacional, México
24
Nov17

24 de Novembro de 1869: Nasce óscar Carmona - Óscar Carmona será o Presidente da República que mais tempo estará no poder, ocupando ininterruptamente a presidência entre 1926 e 1951, ano da sua morte.

António Garrochinho


Óscar Carmona nasce em Lisboa, a 24 de Novembro de 1869, filho de Inácio Maria Machado de Morais Carmona (general do Exército) e de Maria Inês de Fragoso Côrte-Real.


Passa grande parte da infância em Chaves, junto do seu avô paterno, Leonel Joaquim Machado Carmona. É nessa cidade que completa a instrução primária em Chaves. Feito o exame complementar em Vila Real, ingressa no Colégio Militar com 13 anos e completa os estudos secundários em Agosto de 1888. Frequenta a Escola Politécnica de Lisboa durante dois anos. Em 1890, entra para a Escola do Exército, concluindo o Curso de Cavalaria em 1892, com uma menção honrosa por ter obtido a melhor classificação do seu ano.


A 3 de Janeiro de 1914, casa em Lisboa com Maria do Carmo Ferreira da Silva, natural de Chaves, de quem tinha já três filhos. Viviam juntos há mais de uma dezena de anos. ]

Em 1928, após a sua primeira eleição para a Presidência da República, passa a residir no Palácio da Cidadela de Cascais, até 1945, ano em que estabelece residência no Palácio Nacional de Belém. No período que habitava o Palácio da Cidadela, deslocava-se frequentemente para Belém através do comboio da linha de Cascais.


Terminado o Curso de Cavalaria, Óscar Carmona é colocado na Escola Prática de Equitação, em Vila Viçosa com a patente de 1.º sargento aspirante a oficial.

É sucessivamente promovido a alferes (1894), tenente (1899), capitão (1907), major (1913), tenente-coronel (1916), coronel (1919), general (1922) e marechal (1947).


Em 1894 é colocado em Chaves, no Regimento de Cavalaria nº 6. Durante as primeiras décadas do século XX, ocupa vários postos militares, em diferentes unidades. Em 1902 é elevado a "cavaleiro da ordem de São Tiago do mérito científico, literário e artístico" por "manifestações de subido mérito em topografia". Em 1906 é-lhe atribuída "a medalha de prata da classe de bons serviços". Em 1907 faz o tirocínio para a promoção ao posto de capitão e fica colocado na Escola Prática de Cavalaria, em Torres Novas.


Após a implantação da República, a 15 Outubro de 1910, é nomeado vogal da Comissão de Reorganização do Exército e, três anos depois, assume funções como instrutor da Escola Central de Oficiais, em Mafra (1913-1914). O apoio a Sidónio Pais valer-lhe-á a nomeação para comandante da Escola Prática de Cavalaria em Torres Novas (1918-1922). A sua posterior e rápida promoção a coronel e a chegada à chefia da 4.ª Divisão Militar (Évora), entre 1922-1925, constitui o primeiro passo no sentido de se tornar o futuro homem consensual da Ditadura Militar e do Estado Novo.


Até ao golpe de 28 de Maio de 1926, ocupa a pasta da Guerra no Ministério de António Ginestal Machado (1923) e participa como promotor de Justiça em vários julgamentos militares resultantes das múltiplas revoltas que ocorrem na fase final da I República. Assim acontece no caso dos implicados na "Noite Sangrenta", de 19 de Outubro de 1921, e com os participantes na Revolta Outubrista.


Mas será com o julgamento dos militares implicados no movimento militar de 18 de Abril de 1925 que ganhará notoriedade ao proferir a célebre frase "A Pátria doente manda acusar e julgar neste tribunal os seus filhos mais dilectos!". Com o seu discurso, Carmona, invertendo os papéis, coloca o regime republicano no banco dos réus e consegue a absolvição dos militares acusados. 


Esta atitude custa-lhe, no entanto, o comando da 4.ª Divisão Militar, sendo colocado na Inspecção-Geral de Material de Guerra. Retomará o comando das tropas no decurso do golpe militar de 28 de Maio de 1926.


Tendo cultivado a imagem de "não-político", Carmona conseguiu passar todo o período da I República com uma posição de neutralidade, que lhe valeu a possibilidade de a qualquer momento manter boas relações com os diferentes pólos políticos que se digladiavam. 


No entanto, data do período do Ultimatum (1890) a sua adesão ao republicanismo. Provavelmente ainda antes do final do século adere à Maçonaria - instituição onde nunca ascendeu na hierarquia -, mas durante a revolução republicana, em 1910, mantém-se à margem dos acontecimentos. O seu desinteresse pela política vai ao ponto de nunca ter exercido o seu direito de voto durante a I República.


A sua primeira participação política de relevo é a aceitação do cargo de secretário do ministro da Guerra na ditadura de Pimenta de Castro. Quando esta é derrubada, Carmona é preso, mas sem consequências, até porque logo no ano seguinte assume - como vimos - o comando do Regimento de Cavalaria nº 2, em Lisboa.


Depois de no período de Sidónio Pais (1917 - 1918) lhe ter prestado o seu apoio, Carmona virá a ter, em 1923, uma curta passagem pelo Ministério da Guerra, no governo liderado por Ginestal Machado.


Contactado por Mendes Cabeçadas para integrar o movimento militar de 28 de Maio, Óscar Carmona não adere, aguardando por um sinal do grupo de Sinel de Cordes, que apenas chega no dia 30. Logo no dia seguinte, assume, em Évora, o comando da 4.ª Divisão Militar, juntando-se finalmente ao movimento. 


Torna-se, ao lado de Mendes Cabeçadas e de Gomes da Costa, um dos elementos do triunvirato que sai vitorioso da revolta.

Antes de exercer as funções de Presidente da República, por decreto datado de 26 de Novembro de 1926, Óscar Carmona torna-se ministro dos Negócios Estrangeiros (Junho) - onde tem como principal missão assegurar o reconhecimento internacional da ditadura militar - no governo liderado por Gomes da Costa, e assume a pasta da Guerra e a Presidência do Ministério (ambos em Julho), após o derrube deste.


Como resultado dos primeiros confrontos no interior da Ditadura Militar nascida do 28 de Maio de 1926, são sucessivamente afastados Mendes Cabeçadas e Gomes da Costa. A 9 de Julho, Óscar Carmona assume a presidência do Ministério.


À semelhança de Gomes da Costa, também Carmona passará a exercer, na qualidade de presidente do Ministério, as funções de Presidente da República. A partir de Novembro de 1926, com a publicação do Decreto n.º 12 740, oficializa-se a sua posição como Chefe do Estado, tendo poderes para nomear os ministros, declarar o estado de sítio, negociar tratados, indultar e comutar penas.


A 29 de Novembro toma posse das novas funções, a título interino e enquanto não for eleito o titular do cargo de Presidente da República. A cerimónia realiza-se no Palácio do Congresso. 


Apesar de ser um período bastante conturbado do ponto de vista político, com diversas tentativas de reinstaurar a democracia parlamentar, Carmona mantém-se no poder, e apesar de ser por muitos considerado um líder com falta de carisma, não deixa de ser um factor de união no seio das Forças Armadas, e como tal garante de estabilidade da Ditadura Militar.


Em 1928 a necessidade de legitimar o novo poder leva à convocação de eleições presidenciais. Único candidato, Carmona conta com o apoio de parte do Partido Democrático e da União Liberal Republicana.


Carmona é eleito Presidente da República, com mais de 760 mil votos, para um mandato de cinco anos (25 de Março de 1928). 


No dia 15 de Abril de 1928, presta compromisso de honra na antiga sala da Câmara dos Deputados. O primeiro governo a tomar posse após a eleição presidencial, liderado pelo general Vicente de Freitas, integra já, como ministro das Finanças, António de Oliveira Salazar, que consegue que o seu ministério disponha de total autonomia perante o governo. Carmona protege Salazar dos diversos ataques de que é alvo no seio da ditadura militar, até lhe entregar a Presidência do Conselho de Ministros, em 1932.


Em 1933, a Constituição Política do Estado Novo alarga o seu mandato por mais dois anos. 


A possibilidade de reeleição do Presidente da República é uma das questões que Salazar mantém em aberto até à última hora da definição do texto a ser aprovado por plebiscito, no que não deixa de ser uma "demonstração de força" perante Carmona. Feita essa concessão, é sucessivamente reeleito em 1935, 1942 e 1949.

Se a eleição de 1935 se faz sem que exista qualquer oposição, interna ou externa ao regime, da posição de Carmona, e sem que se suscite um grande interesse à sua volta, a sua reeleição para um terceiro mandato, em 1942 - e portanto em plena 2ª Guerra Mundial - é marcada pela divisão dentro do regime, entre os apoiantes dos aliados, e os germanófilos. Os últimos pretendem a eleição de Salazar como Chefe do Estado, e o afastamento de Carmona, declarado apoiante do primeiro grupo. Acaba no entanto por ser o escolhido de Salazar e a sua eleição é feita com um apoio que surpreende até o chefe do governo.



Na eleição Presidencial de 1949, marcada pela animosidade existente entre Carmona e Salazar durante o mandato anterior, é colocada a questão da possível substituição do Presidente da República. 


No entanto, as alternativas não apresentam viabilidade. A eleição de Salazar volta a ser colocada, mas o Presidente do Conselho recusa. 


É também colocada a hipótese de candidatura de Américo Tomás. No entanto, Carmona é novamente o candidato do regime, muito pelo papel que continua a desempenhar de garantia da unidade nas Forças Armadas. 


Esta última eleição é a primeira em que os movimentos oposicionistas conseguem lançar uma candidatura - do general Norton de Matos - em cuja campanha é possível encontrar nomes como os de Mário Soares e Salgado Zenha, à época presidente da Associação Académica de Coimbra. No dia anterior à eleição (12 de Fevereiro), é anunciada a retirada da candidatura, por falta de condições de liberdade. No dia da eleição vários dos seus apoiantes são detidos.


Óscar Carmona será o Presidente da República que mais tempo estará no poder, ocupando ininterruptamente a presidência entre 1926 e 1951, ano da sua morte.


Durante o seu longo mandato realiza apenas duas viagens ao estrangeiro: em 1929, visita Espanha e, dez anos depois, a União da África do Sul.


Como chefe do Estado, percorre todo o país, do Algarve (1932 e 1934) ao Porto (1932 e 1937), passando por Portalegre (1932), Madeira (1938), Açores (1941) e Seixal (1943). Num regime que faz das possessões coloniais um dos seus sustentáculos, as suas visitas a São Tomé e Príncipe e Angola, em 1938, e a Cabo Verde, Moçambique e Angola, no ano seguinte, revestem-se de grande importância política, para além da carga simbólica.

O seu terceiro mandato como Presidente da República (1942 - 1949) é marcado pelo ressurgimento de alguns movimentos oposicionistas, muitos deles no seio da instituição militar. Estes tiverem como estratégia primordial, na maioria dos casos, a criação de condições para que Carmona pudesse afastar Salazar da Presidência do Conselho. O acolhimento dado por Carmona a diversos movimentos reivindicativos e representantes da oposição são suficientes para que Salazar coloque a possibilidade de mudança de regime, de forma a não ter que enfrentar em 1949 uma nova eleição presidencial. A tensão entre Carmona e Salazar, no período final da Guerra, é já evidente, com o Presidente do Conselho tomando decisões à revelia do Chefe do Estado (remodelação governamental, entre outras medidas). A resistência de Salazar à concessão de facilidades às forças aliadas nos Açores, bem como a sua tardia anuência ao embargo da venda de volfrâmio à Alemanha nazi, são factores que agravam a relação entre ambos.


Em 1945, é criada a Organização Militar de Libertação Nacional, que junta alguns militares em volta do almirante Mendes Cabeçadas, à época comandante da base do Alfeite. Se inicialmente Carmona parecia estar do lado dos revolucionários, as promessas de Salazar, de abertura do regime, acabam por fazer o Presidente da República recuar, e rejeitar o apoio ao movimento. No entanto, Carmona não abandona a sua posição de independência, estabelecendo contactos com diversos elementos da oposição democrática. 


Em 1946 constitui-se a Junta Militar de Libertação Nacional, movimento oposicionista, novamente liderado por Mendes Cabeçadas, com o apoio implícito de Óscar Carmona, que o chega a receber em audiência particular a este propósito. Esta movimento coloca em marcha uma tentativa de golpe de Estado, entretanto abortada, a 10 de Abril de 1947. Apesar da sua cumplicidade com os golpistas, Carmona recebe, nesse mesmo ano, o bastão de marechal, gesto do chefe de Governo que tem como objectivo o apaziguamento das relações entre ambos. No julgamento dos envolvidos no golpe de Abril de 1947, a estratégia da defesa passa pela implicação de Carmona no golpe. Este, no entanto, nega qualquer envolvimento.



Na sua última reeleição, em 1949, largos sectores da oposição avançam com a candidatura oposicionista do general Norton de Matos. Mas não seria desta vez que o regime "teria de medir forças" com a oposição, uma vez que - como vimos - Norton de Matos retira a sua candidatura um dia antes das eleições, alegando falta de condições para a realização de um acto eleitoral livre e isento.



Morre no dia 18 de Abril de 1951, no Palácio de Belém, no exercício das suas funções, realizando-se o seu funeral no Mosteiro dos Jerónimos. 


Menos de dois anos antes (20 de Abril de 1949), havia tomado posse após mais uma reeleição.

wikipedia (imagens)

 
Óscar Carmona e Salazar

24
Nov17

VÃO DAR SANGUE - Dantes, a solidariedade era outra coisa – era clandestina e feita a favor das famílias dos presos políticos ou dos mortos pela PIDE. A caridade também só rendia aos pobrezinhos. Hoje, a solidariedade parece ser uma actividade bem

António Garrochinho


Por Joaquim Letria



Recordo-me dum tempo em que não havia ONGS (Organizações Não Governamentais) subsidiadas por discretas secretarias de Estado nem por Altos Comissariados. Mas havia muita generosidade. Mandava-se tabaco e ambulâncias para os militares em Angola, Guiné e Moçambique e não se dizia que o tabaco mata porque dizer isso a quem andava aos tiros parecia, com certeza, muito mal.

As coisas chegavam ao destino a tempo e horas, como eu próprio me lembro de comprovar e as senhoras da Ditadura andavam entretidas com a caridade. Hoje não há caridade. Há solidariedade que parece ser mais uma conquista de Abril.

Dantes, a solidariedade era outra coisa – era clandestina e feita a favor das famílias dos presos políticos ou dos mortos pela PIDE.  A caridade também só rendia aos pobrezinhos. Hoje, a solidariedade parece ser uma actividade bem lucrativa.

Lembro-me dum incêndio que destruiu toneladas de bens alimentares destinados a minorar a fominha da miséria envergonhada que anda por aí. 

O fogo ocorreu em circunstâncias estranhas e muitos ficaram a pensar como é que com tanta gente a fingir que almoça um “croissant” e um copo de leite e janta uma tigela de sopa. Não se tinha distribuído tanta proteína, hidratos, ferro e vitaminas armazenados em condições perecíveis e deploráveis.

Actualmente, milhões de euros angariados por comovente generosidade não chegam ao destino ao cabo de anos passados sobre impiedosa destruição de vidas e bens por incêndios provocados pela ganância daqueles que dizem combatê-los, no continente e na Madeira.

Meninas desta situação e meninos “prafrentex” assalariados por comissariados e ONGs aparecem regularmente muito empreendedores a pedir ajudas através de números de telefone de valor acrescentado e depósitos em contas à ordem. 

O Estado não se fica atrás: cobra IVA e outros impostos sobre donativos e obras de reconstrução daquilo que não protegeu ou até ajudou a destruir e engorda ainda mais à custa da desgraça. 

Há décadas que contribuo para uma organização com sede no Reino Unido que ajuda populações carenciadas no Terceiro Mundo. Todos os anos recebo um relatório e contas para que eu fique a saber como foi bem empregue cada tostão e quem beneficiou com a minha ajuda e a generosidade de milhares de outras pessoas que anonimamente também querem ajudar o próximo.

Por cá, o regabofe atingiu um ponto que não se pode criticar aqueles que dizem que só pagam o almoço a quem tem fome e ajudam directamente quem vive com pensões miseráveis, dando dinheiro em numerário só a desgraçados que precisem dum “xuto”, antes que estes vão roubar alguém.

As meninas e meninos desta situação podiam ser mais úteis a… dar sangue. Dói um bocadinho, mas também está em falta. E com o “empreendedorismo sustentável” que os anima ainda descobrem que o sangue pode ser  um rentável  nicho de mercado.


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24
Nov17

PÃO PÃO, QUEIJO QUEIJO

António Garrochinho

NESTE PAÍS INVENTA-SE TUDO E MAIS ALGUMA COISA PARA NOS ILUDIR CONVENCENDO-NOS DE QUE ESTAMOS CONSEGUINDO ALGO.

SOMOS PASSAGEIROS PARADOS ONDE A PAISAGEM, O HORIZONTE NÃO É REAL.

É UM FILME ILUSÓRIO, UMA PROJEÇÃO VIRTUAL QUE NOS ENCHE OS OLHOS MAS NÃO MUDA EM NADA A NOSSA VIDA.

OS MAIS ATENTOS, OS QUE NÃO SE DEIXAM ILUDIR ESTÃO CANSADOS DE CONTABILIZAR FRUSTRAÇÕES E DEIXARAM DE ACREDITAR.

OS QUE REBATEM, QUE ALERTAM, QUE SE REVOLTAM CONTRA A ALIENAÇÃO E A MENTIRA SÃO MARGINALIZADOS E ROTULADOS MALEVOLAMENTE PELO SEU NÃO ALINHAMENTO COM A DEMAGOGIA ENGANOSA IMPOSTA AO POVO.

CÚMPLICES NA CRIAÇÃO DE ILUSÕES NESTE HIPNOTISMO ESTUDADO HÁ MUITOS.


António Garrochinho
24
Nov17

FORUM TSF

António Garrochinho
O que eu ouvi há minutos no forum "TSF"

Um dos ouvintes disse: A geringonça foi boa para o país porque elevou a classe média alta e a classe média baixa mas mau porque depende do PCP e do BE.

Claro que daqui podem retirar-se uma infinidade de ilações mas a que eu retiro é que este ouvinte participante é mais papista que o papa, um hipocondríaco xuxa, mais anti comunista do que o Assis/Clio ou mais ignorante que uma pastilha elástica na sola do sapato.
24
Nov17

DOA A QUEM DOER

António Garrochinho

PORCA, CHEIA DE PUS VIRULENTO, ,MALVADA, TRAIÇOEIRA, FASCISTA, É A COMUNICAÇÃO SOCIAL PORTUGUESA, O "JORNALIXO PORTUGUÊS".

UMA HOMILIA DIÁRIA DE ÓDIO, DE RESSENTIMENTO PARA COM O 25 DE ABRIL QUE OS COLOCOU A TODOS NA MÓ DE CIMA.

PARA LÁ DA MAIORIA SER UM EXÉRCITO DE IGNORANTES QUE NÃO DOMINA A LÍNGUA PORTUGUESA, A CONSPURCA, A ESCREVE PESSIMAMENTE E A PRONUNCIA AINDA PIOR, OS TRASTES QUE ESTÃO ENFIADOS NOS JORNAIS NAS TELEVISÕES TODOS PAGOS COM O NOSSO DINHEIRO NÃO TEM O MÍNIMO RESPEITO PELO CIDADÃO QUE SE QUER INFORMAR E O QUAL LHES DEVERIA MERECER MAIS CONSIDERAÇÃO E RESPEITO.

MAIS VALE AO CIDADÃO ARRANJAR MANEIRA DE AFORRALHAR A CARTEIRA E DESLOCAR-SE A UM BORDEL ONDE TAMBÉM PODE VER GAJAS DE CARNES AVANTAJADAS EM SALTOS ALTOS E PEPSODENTE TIPO (PAULINHO DAS FEIRAS) E CHULOS DE SAPATOS ENVERNIZADOS.

QUE ME DESCULPEM OS POUCOS PROFISSIONAIS QUE AINDA TÊM VERGONHA NA CARA E MERECEM O ORDENADO QUE RECEBEM.

NÃO CONSIGO PACTUAR COM O RIDÍCULO, A OSTENTAÇÃO DAS GAJAS REPUXADAS CHEIAS DE PLÁSTICO QUE NEM BALEIAS POLUÍDAS ,NEM COM A ARROGÂNCIA DOS BONECOS VENTRÍLOCOS QUE A TROCO DE MIGALHAS LAMBEM O RETO AO CAPITALISMO ÁVIDOS DA MERDA AUTENTICADA PELOS NEO LIBERAIS, OS DONOS DISTO TUDO.

CLARO QUE PARTE DESTES PALHAÇOS, LOCUTORES, APRESENTADORES E AO MESMO TEMPO ARTISTAS DE VARIEDADES SIMILARES AO TONI DAS CAMINÉTES, O QUE CONTA É O SALÁRIO E NUNCA A DEONTOLOGIA DO JORNALISMO E A HONESTIDADE DE SERVIR O SEU PRÓPRIO POVO AO QUAL ELES NÃO MERECEM PERTENCER.
  

António Garrochinho
24
Nov17

A IMPRENSA REVOLUCIONÁRIA

António Garrochinho



Fernando Correia
Jornalista


A luta dos partidos comunistas e operários e dos grandes movimentos de massas contra o sistema capitalista e o imperialismo é indissociável do papel informativo, formativo e organizativo historicamente desempenhado pela imprensa revolucionária.

Marx e Engels, desde o período da juventude, tiveram consciência da necessidade e foram os iniciadores de um jornalismo ligado à actividade militante da classe operária. Um jornalismo concebido enquanto instrumento de orientação e de organização das lutas de massas, cuja primeira grande concretização foi a Nova Gazeta Renana (1848), que Lénine viria a considerar “o melhor, insuperável órgão do proletariado revolucionário” (1).

Na direcção e edição do jornal Marx e Engels trabalhavam juntos: Marx era o chefe de redacção e Engels o seu mais directo colaborador. Recordaria este mais tarde: “As coisas de Marx e as minhas daquele tempo quase que não são, em geral, de separar, em virtude da divisão planificada do trabalho” (2). E noutra ocasião: “Eram tempos de revolução”, durante os quais “trabalhar na imprensa quotidiana é um prazer. Vê-se o efeito de cada palavra diante dos olhos, vê-se como os artigos caem como se fossem granadas e como a carga explosiva rebenta” (3).

Meio século mais tarde, porém, estavam criadas as condições para se poder ir mais longe e mais fundo. Cabe a Lénine o mérito de o ter conseguido. 

Como dirigente partidário, definiu a missão do órgão central enquanto ferramenta ao serviço da luta revolucionária e da construção do partido; como dirigente do Estado soviético, atribuíu à imprensa uma decisiva e insubstituível tarefa na edificação da nova sociedade; como responsável de publicações, preocupou-se com os diversos aspectos da sua produção - administrativos, gráficos, estilísticos, de distribuição, etc; como teórico da imprensa e do jornalismo, abordou de forma inovadora não só a função e o funcionamento do órgão partidário, quer antes quer depois da Revolução, mas também temas como o lugar da imprensa na sociedade de classes e os conceitos e valores burgueses de jornalismo. E, como todo o autêntico jornalista, foi sempre, até ao fim da vida, um infatigável leitor de jornais...

Evocar estes tempos não significa procurar no passado modelos para aplicar mecanicamente no presente. Mas para os que nos dias de hoje se encontram do mesmo lado da barricada e se empenham numa luta movida pelos mesmos ideais, não é indiferente conhecer as razões que levaram a dar tanta importância à imprensa partidária e os motivos que fizeram com que lhe fossem dados determinados contornos. Sem esquecer que, entre nós, durante mais de quatro décadas, houve um jornal que, nas concretas e específicas condições nacionais mas no quadro das melhores tradições da imprensa revolucionária, resistiu e lutou contra o fascismo em ligação estreita com a actividade partidária: o Avante!, órgão central do PCP.

As realidades de hoje são muito diferentes. Mas como não reconhecer flagrante actualidade, em muitos aspectos, às análises e opiniões de Lénine, por exemplo, sobre os critérios, objectivos e concepções das classes dominantes acerca da imprensa ou sobre o conteúdo e o estilo dos jornais operários? E como não ver na publicação do Avante! clandestino, na sua vida e na sua luta, uma fonte de inspiração para as tarefas de hoje (em condições e com exigências muito diversas) da imprensa comunista?


1. 
A missão da imprensa revolucionária

A parte mais substancial da herança leninista chegou-nos através dos testemunhos da sua permanente intervenção no quadro das situações concretas com que se foi confrontando. Esses testemunhos consistem não só em brochuras e ensaios, cartas e discursos, relatórios e recomendações, mas também em muitas centenas de artigos, comentários e notas publicados em dezenas de jornais e revistas.

Entre Lénine e a imprensa estabeleceu-se uma relação natural. Tendo-se apercebido do tipo de relações existentes entre o jornal e o quotidiano das pessoas e da capacidade da imprensa para influir sobre elas e contribuir para a transformação das realidades através da acção de massas, aproveitou e utilizou o jornal como instrumento privilegiado para a sua (dele e do partido) intervenção na prática política e na luta ideológica.

Como reflexo da grande importância por ele dada à imprensa como meio de comunicação e de ligação às massas (recorde-se que se tratava do única grande meio de comunicção social existente naquele tempo), Lénine transformou o próprio jornal em objecto de análise teórica - uma análise não feita uma vez por todas, mas em conexão com a evolução da realidade política, económica e social.

Em épocas diferente entendeu a missão da imprensa também de maneiras diferentes. Em 1900, quando se tratava de criar o partido e enraizá-lo na classe operária e nos trabalhadores, apontou para a imprensa uma função que já não seria a mesma quando, depois de Outubro de 1917, o principal objectivo era vencer a contra-revolução, combater os resquícios do passado e construir a sociedade socialista.
O que sempre permaneceu - e por isso ter permanecido é que o resto mudou - foi uma análise baseada em claras posições de princípio e a fidelidade ao marxismo enquanto íntima ligação da teoria à prática e da prática à teoria, ambas em permanente e criadora relação dialéctica.

Por exemplo: em dado momento, quais as relações e a força relativa das classes? Quais as formas de que se reveste a luta de classes? Qual a sua tradução na luta ideológica? Qual o reflexo desta na consciência e na acção das massas? Quais as tarefas prioritárias e quais os meios para as concretizar? Como se compreende se tivermos em conta estas interrogações - cuja validade e operacionalidade, aliás, se mantêm actuais - Lénine não poderia dar da missão da imprensa (ou da táctica partidária, da política de alianças, etc.) uma definição abstracta, alheia à realidade concreta e às exigências da prática política revolucionária.

A importância que Lénine atribuía à imprensa e a atenção que sempre lhe concedeu (atenção que, não por acaso, surgiu ao mesmo tempo do que os seus primeiros passos na actividade política) resultava fundamentalmente da noção que tinha do decisivo contributo que ela poderia dar à concretização do objectivo essencial: a conquista pelo proletariado da liberdade, da justiça e do progresso para todo o povo, isto é, o derrube do regime absolutista e a construção da sociedade socialista.

Reconhecendo a grande importância da imprensa como fenómeno social, ele pensava ser impossível desligar a actividade jornalística e editorial da actividade política e partidária. Mais: a imprensa teria que ser encarada como uma arma de luta nesse terreno. A sua atitude parte, sem subterfúgios, de um ponto de vista marxista e revolucionário e assenta numa posição de classe que não se esconde atrás de mentiras e hipocrisias, tais como as propaladas na Rússia de então pela imprensa burguesa sobre a “liberdade” e a “democacia”.

Para Lénine, porém, não se tratava de tirar à imprensa qualquer pretensa “neutralidade” que ela, por definição, possuiria, desviando-a e comprometendo-a no combate político e ideológico; tratava-se, sim, de a pôr nas mãos do proletariado ao serviço da luta de classes, tal e qual como a burguesia o fazia em seu próprio proveito, ainda que escondendo essa utilização sob a capa de frases empoladas sobre a “liberdade de imprensa”, a “objectividade”, a “independência”, etc..

Esta é uma das ideias de base em que assentam os principais conceitos e análises de Lénine no terreno quer da imprensa partidária quer das concepções pretensamente “democráticas” da burguesia. Serão estes dois aspectos que sinteticamente abordaremos nos pontos 2. e 3.


2. O jornal como propagandista, agitador e organizador


Houve dois períodos particularmente importantes na actividade jornalística de Lénine, ambos ligados à publicação dos mais destacados representantes da imprensa bolchevique: o Iskra (A Centelha) e o Pravda (A Verdade).
Iskra é geralmente considerado não só como o iniciador da imprensa bolchevique mas também como o verdadeiro pioneiro da imprensa comunista e organicamente ligada à vida e à luta do partido. Surgiu em Dezembro de 1900 como o começo da concretização e o instrumento para a defesa de um dos objectivos que nesses anos mais preocupava Lénine: a criação de um jornal político (necessariamente ilegal, devido à opressão czarista) para toda a Rússia, concebido como “uma parte de um gigantesco fole de uma forja que atiçasse cada centelha da luta de classes e da indignação do povo, convertendo-a num grande incêndio” (4).

Lénine era de opinião que para conduzir a luta contra a autocracia se tornava absolutamente necessária a construção de um partido de novo tipo - o partido da classe operária. Nas condições da luta clandestina, numa Rússia imensa onde a dispersão e o espontaneísmo constituiam poderoso entrave à luta organizada de massas, tal objectivo, segundo ele, só seria possível de alcançar através da publicação de um jornal único que saísse regularmente e unificasse sob uma mesma bandeira ideológica e organizativa os diversos grupos locais.

Tal como o partido, também o jornal seria de um novo tipo: “A função do jornal não se limita, contudo, a difundir ideias, a educar politicamente ou a ganhar aliados. O jornal é não só um propagandista colectivo e um agitador colectivo, mas também um organizador colectivo. Neste último caso, pode comparar-se com os andaimes colocados num edifício em construção, que marcam os seus contornos, facilitam o contacto com os diversos grupos de operários, ajudando-os a distribuir as tarefas e a perspectivar os resultados obtidos graças a um trabalho organizado” (5).

Lénine, que se encontrava então no exílio, era ao mesmo tempo a alma e o corpo do Iskra, nele desempenhando todas as tarefas - nomeadamente a de autor, tendo colaborado praticamente em todos os números. Em torno do jornal foi-se criando uma verdadeira organização, ramificada pelo país, que teve um papel decisivo na estruturação e organização do partido, dando-lhe coesão ideológica e unidade na acção.

Quanto ao Pravda, surgido bastante mais tarde, em Maio de 1912, assinala já uma outra etapa da evolução da imprensa e do partido: publicando-se legalmente no próprio país, funcionou, na sua primeira fase, até Julho de 1914, como centro da actividade clandestina do partido. Não obstante nessa altura se encontrar de novo no exílio, Lénine mantinha-se em assíduo contacto com a redacção, em Petersburgo, e na prática era o verdadeiro director, conforme se verifica pela numerosa correspondência por ele enviada e recebida nesse período.

Um dos princípios defendidos por Lénine para a imprensa partidária, e de acordo com a concepção acima mencionada, era a necessidade de uma grande participação no seu conteúdo do maior número possível de trabalhadores, participação esta devidamente organizada num amplo movimento de correspondentes operários e camponeses. Mais de 17.000 textos publicados pelo Pravdanesse período foram enviados pelos leitores. Ao contrário do Iskra, o Pravda já não tinha como objectivo a formação do partido nem se destinava essencialmente aos núcleos de revolucionários, dirigindo-se às grandes massas e tornando-se para elas um pólo de atracção.


3. Dois conceitos de "liberdade de imprensa"


Leitor assíduo e atento da imprensa, Lénine formulou ao longo dos anos severas apreciações aos conceitos e aos métodos dos jornais propriedade dos capitalistas. Mas houve um período em que as circunstâncias da luta política e ideológica o levaram a abordar este tema com maior insistência.

Com o derrubamento do czarismo e o estabelecimento das liberdades públicas, a Revolução de Fevereiro de 1917 instaurara no país um regima democrático-burguês que deixava praticamente intactas as estruturas essenciais do absolutismo. Socialistas-revolucionários e mencheviques (6) conluiados com a burguesia no poder, alinhavam com esta na apologia de uma democracia formal que se limitava a continuar por novas formas a opressão e a exploração anteriores. No sector da imprensa isso também era visível:
“Os capitalistas (e, com eles, por estupidez ou por inércia, muitos socialistas-revolucionários e mencheviques) chamam «liberdade de imprensa» à supressão da censura e à possibilidade para todos os partidos de poderem editar a sua imprensa.

“Na realidade, isto não é a liberdade de imprensa, mas a liberdade de os ricos, da burguesia, enganarem as massas populares oprimidas e exploradas” (7).

Chamando a atenção para a desproporção existente entre a enorme tiragem global dos jornais pertencentes à burguesia em comparação com a dos jornais democráticos, não obstante os apoiantes destes constituirem a maioria esmagadora do povo, Lénine pergunta e responde:

“Porque é que isto sucede?

“Todos o sabemos perfeitamente. A edição de um jornal é um grande e lucrativo empreendimento capitalista, no qual os ricos investem milhões e milhões de rublos. Na sociedade burguesa, a «liberdade de imprensa» consiste na liberdade, para os ricos, de enganar, corromper, mistificar sistematicamente, sem cessar, quotidianamente, por intermédio de milhões de exemplares, os pobres e as massas exploradas e oprimidas do povo” (os sublinhados são de Lénine).

À concepção de «liberdade de imprensa» defendida pela burguesia estavam associados, naturalmente, determinados métodos de praticar o jornalismo, os quais constituíam uma esclarecedora concretização daquela concepção.
“A imprensa burguesa recorre sempre e em todos os países ao seu processo mais usual e «infalível»: mente, faz barulho, grita, repete a mentira pois «dela ficará sempre alguma coisa»”, escreve ele no Pravda em Abril de 1917 (8).

Depois de citar notícias da imprensa segundo as quais numa reunião na sede do partido em Petersburgo ele tinha «vociferado desalmadamente» e num comício no Cinema Moderno discursara no telhado (!), Lénine esclarece ser tudo completamente falso: no comício no cinema nem sequer estivera presente, e na outra reunião, em vez de ter “vociferado”, limitara-se a apresentar um relatório (tratava-se das famosas teses de Abril). E contra-ataca:

“Quem «vocifera desalmadamente» são os capitalistas e a sua imprensa; esforçam-se por afogar a verdade, por impedir que ela seja ouvida, por tudo submergir sob uma torrente de injúrias e vociferações, impedindo um esclarecimento concreto”.

Com a Revolução de Outubro a situação muda radicalmente no país. No lançamento dos alicerces da nova sociedade a imprensa ocupa um lugar considerado insubstituível. Entretanto, continuaram a não faltar oportunidades nem motivos a Lénine para, por diversas vezes, retomar a sua teorização sobre a falsa liberdade da imprensa burguesa, contrapondo a esta a nova imprensa saída da revolução - uma realidade que nascia e se consolidava, não obstante todos os obstáculos, incluindo os motivados pela dificuldade em cortar radicalmente com os métodos e as concepções do passado.

Logo nos primeiros dias de Novembro, no esboço de um projecto de resolução sobre a liberdade de imprensa, escrevia:

“A burguesia entendia por liberdade de imprensa a liberdade para os ricos de publicar jornais e para os capitalistas de açambarcar a imprensa, o que na prática conduziu em todos os países, sem excluir os mais liberais, à venalidade da imprensa.

“O governo operário e camponês entende por liberdade de imprensa a libertação da imprensa do jugo do capital, a passagem para propriedade do Estado das fábricas de papel e das tipografias, a atribuição a cada grupo de cidadãos que atinja um determinado número (por exemplo 10.000) do direito à utilização de uma certa parte dos stocks de papel e da correspondente mão-de-obra para a impressão” (9).

Lembrando, no decorrer do I Congresso da Internacional Comunista, que uma das principais palavras de ordem da “democracia pura” defendida pela burguesia era precisamente a “liberdade de imprensa”, Lénine acentuava que “os operários sabem também, e os socialistas de todos os países reconheceram-no milhões de vezes, que esta liberdade é um logro enquanto as melhores tipografias e as grandes reservas de papel se encontrarem nas
mãos dos capitalistas e enquanto existir o poder do capital sobre a imprensa, que se manifesta em todo o mundo tanto mais clara, nítida e cinicamente quanto mais desenvolvidos se encontrarem a democracia e o regime republicano, como, por exemplo, na América (10).


4. O estilo do trabalho e o estilo da prosa

Parece-nos útil e interessante evocar alguns episódios e reter algumas opiniões de Lénine expressas ao longo do seu contacto próximo com a produção da imprensa partidária. Ele mostra ter do jornal uma concepção dinâmica e combativa, singularmente actual, conciliando o rigor ideológico e político com a vivacidade jornalística.

A não publicação pelo Pravda de uma determinada notícia, entretanto divulgada pelo jornal dos mencheviques, motivou uma áspera carta de Lénine à redacção: “O que é que isto quer dizer? Para que serve um jornal operário se trata com tanto desprezo aquilo que interessa aos operários?” Para além da falha política, chama a atenção para o aspecto “puramente jornalístico” da questão, acentuando que “o jornal não é uma coisa pela qual o leitor apenas passa a vista e na qual o autor lança apressadamente as suas reflexões. Um jornal deve ele próprio procurar, encontrar a tempo e publicar no momento oportuno os materiais essenciais. Um jornal deve procurar e encontrar os contactos de que tem necessidade” (11).

Por mais de uma vez considerou a “monotonia” como uma inimiga da imprensa. Em 1901, numa carta a Plekhanov, pedia-lhe que redigisse para o Iskra pequenos artigos (Lénine era contrário às longas prosas nos jornais, reservando-as para as revistas) sobre temas económicos, nem que fosse apenas uma vez por outra, sublinhando: “Esperamos sinceramente que nos ajude, senão o Iskra arrisca-se a tornar-se monótono” (12).

Anos mais tarde, respondendo a uma carta do Nievskaia Zvezda (13) na qual os próprios jornalistas se queixavam da “monotonia”, Lénine comentava que esta se torna inevitável enquanto não se der o devido lugar à “polémica”. “Ao iludir as «questões espinhosas», o Zvezda e o Pravda tornam-se secos e monótonos, pouco interessantes e pouco combativos”. Defende que um órgão socialista “deve lançar a polémica”, levantando as questões em vez de se limitar a uma posição defensiva. Sublinhando ser pernicioso deixar ao adversário a iniciativa de tomar posição sobre as divergências, adverte: “um jornal que se limita a ir a reboque está perdido (...). A monotonia e o atraso são incompatíveis com o jornalismo”.

Nas suas cartas ao Pravda incita frequentemente os jornalistas a serem mais batalhadores e estabelece comparações com a imprensa rival: “O Loutch combate com furor, com histeria, abandonando desavergonhadamente os seus princípios. O Pravda, para o humilhar, assume um ar sério, afectado, e pura e simplesmente não luta! Tem isto alguma coisa a ver com o marxismo? Não é verdade que Marx sabia aliar a luta mais apaixonada, mais intrépida e mais implacável a um perfeito espírito de princípio?” (14).
Lénine considerava que o ardor no combate jornalístico não devia pôr em causa a fidelidade aos princípios. Mas também era preciso adequar a linguagem e o estilo ao conteúdo.

Comentando um artigo que lhe fora enviado para apreciação, escrevia ele ao autor: “Em minha opinião o tema está bem escolhido e convenientemente tratado, mas a redacção parece-me insuficiente. Contém demasiada - como dizer? - «agitação», o que não convém a um estudo sobre uma questão teórica” (15).

Noutra oportunidade, ao dar a opinião sobre um artigo por ele considerado “mau”, criticava: “É mordaz, mas não mais do que isso. Por amor de Deus, um pouco menos de mordacidade. É necessário expor os argumentos com mais calma e insistir na verdade de uma maneira mais detalhada, mais simples” (16).


5. Portugal: O fascismo e a imprensa clandestina


A acção de Marx, Engels e Lénine no que se refere à imprensa revolucionária (nas condições da luta clandestina ou noutras) constituíu uma preciosa fonte de ensinamentos e experiências para o movimento comunista internacional e para todos os que se empenham no combate a regimes ditatoriais ou lutam pelo aprofundamento da democracia e pelo fim da exploração.

Em Portugal, foi em 24 de Junho de 1926 que pela primeira vez os jornais inseriram a célebre menção “Este número foi visado pela Comissão de Censura”, ainda que só em 1933, após seis anos de subordinação ao Ministério da Guerra, tivesse sido criada uma Direcção-Geral dos Serviços de Censura, no âmbito do Ministério do Interior.

“Oportunamente a censura desaparecerá e todas as liberdades públicas serão restabelecidas”, assegurava em entrevista ao Mundo de 13 de Julho de 1926 o general Carmona, que três dias antes substituira o general Gomes da Costa na chefia do movimento do 28 de Maio (17). Mas a “oportunidade” nunca veio a surgir, nem mesmo quando, mais de quarenta anos depois, o pretenso “liberal” Marcelo Caetano substituiria as palavras “censura” por “exame prévio” e “cortado” por “proibido”, naquilo a que alguém chamaria a “reforma dos carimbos” (18).

A luta contra a censura seria uma das constantes da luta mais geral contra o regime, tanto mais que representava uma das suas faces mais odiosas. Tão odiosa que, em público, até os seus mais fieis servidores na imprensa se sentiam, por vezes, nomeadamente nos últimos anos do regime, na obrigação de a criticar, mesmo que apenas perante audiências restritas, chegando-se ao ponto de, por exemplo, Barradas de Oliveira, director do oficioso Diário da Manhã, ter chamado à censura “forma grosseira, declarada, impudente da intervenção do Estado” (19).

É no contexto da resistência contra a censura e da luta mais geral contra o fascismo que se insere a acção da imprensa clandestina, cuja história e cuja acção são parte inseparável do combate desenvolvido durante décadas. 

Um combate a que não faltam heróis e mártires que na luta pela liberdade sacrificaram a própria vida, como foi o caso de José Moreira, responsável pelo aparelho de imprensa do PCP na segunda metade dos anos quarenta, torturado pela PIDE até à morte sem prestar nenhuma informação, e que um dia escreveu, lapidarmente: “Uma tipografia clandestina é o coração da luta popular. Um corpo sem coração não pode viver”.

Os jornais clandestinos surgiram ou tiveram particular desenvolvimento nos períodos de ascenso da luta popular. A partir do início da década de sessenta, com o eclodir da guerra colonial, o agravamento das contradições do regime e a intensificação e o alargamento da luta de massas (a que se devem juntar as novas possibilidades técnicas de impressão), os jornais clandestinos ganharam um importante impulso, provindos, para além da imprensa do PCP, de sectores tão diversos como os grupos esquerdistas, o núcleo do que viria a ser o Partido Socialista, os católicos progressistas e estruturas diversas de natureza sindical, estudantil e de carácter unitário.

De uma maneira geral, tratou-se de jornais de vida efémera e publicação descontínua, muitas vezes feitos no estrangeiro e com pouca intervenção no dia-a-dia da situação nacional, desprovidos dos meios organizativos que possibilitassem uma produção contínua e uma chegada fácil ao seu potencial público. 

A verdade é que a vida de um jornal clandestino está directamente condicionada por um enquadramento em que há que ter em conta factores essenciais como o aparelho técnico e a ligação às massas.

Um jornal clandestino desligado de uma organização forte e coesa, naturalmente também ela clandestina (ou essencialmente clandestina), está votado ao malogro. Não tem defesas nem cobertura, não tem protecção para o seu aparelho técnico, não tem meios humanos e vínculos orgânicos que o façam chegar às massas. Vive isolado, sem ultrapassar um reduzido círculo de leitores - e, necessariamente, vive pouco. Foi o que aconteceu com a maior parte da imprensa clandestina durante o fascismo.


6. O Avante! - órgão central do PCP


Compreende-se assim que tenha sido o Avante!, órgão central do PCP (o único partido político antifascista existente durante o quase meio século de ditadura em Portugal), o jornal clandestino de maior duração, divulgação e influência ao longo desse negro período, sendo mesmo internacionalmente considerado o jornal que, em todo o mundo, durante mais tempo resistiu com êxito às duras condições da clandestinidade.

O primeiro número do jornal surgiu em 15 de Fevereiro de 1931, na sequência de uma importante reorganização do Partido iniciada dois anos antes. Os dez anos seguintes caracterizaram-se por uma grande irregularidade de publicação, que por cinco vezes foi interrompida e retomada. Era o reflexo das debilidades do próprio Partido, ainda impreparado para resistir à repressão.

Houve nesse período um ano em que a citada impreparação se traduziu numa sobrevalorização das capacidades próprias e numa não menos clara subestimação dos obstáculos a vencer: em 1937, apesar das dificuldades orgânicas do Partido motivadas pelos sucessivos golpes da polícia e pela falta de quadros provados e experientes, o jornal passou de mensal a semanal, atingindo os 10.000 exemplares de tiragem.

Consumidas quase todas as forças da organização nessa tarefa, quando, passados alguns meses, na sequência de uma série de prisões, a repressão atingiu o aparelho técnico, não houve capacidade de resposta e a publicação foi interrompida durante cerca de dois anos.

O jornal reaparece em Agosto de 1941, no quadro de uma reorganização que finalmente dotaria o PCP dos meios organizativos e humanos e da orientação política capazes de lhe permitirem enfrentar com êxito as perseguições policiais e de dirigir a luta contra a ditadura e pela instauração da democracia.

A existência, sempre em território nacional, de aparelho técnico próprio (extensivo a O Militante, boletim de organização, e a outras edições do partido e de carácter unitário, no que se refere quer à composição e à impressão quer à distribuição) permitiram que o jornal permanecesse desde então incólume perante as arremetidas policiais. Por várias vezes houve tipografias clandestinas localizadas e assaltadas, mas logo uma outra entrava em funcionamento, assegurando assim que o contacto com os leitores não fosse interrompido.

Ao longo dos anos, mais de 80 casas - andares ou vivendas aparentemente “normais” - foram em todo o país utilizadas como local de produção do Avante!. O jornal publicava-se em papel-bíblia, com quatro ou seis páginas de formato A-4 (com algumas variações), composto manualmente e impresso através do processo do prelo imortalizado no célebre desenho de José Dias Coelho.

Lidos hoje, com a lupa do historiador ou na perspectiva do simples curioso das coisas do passado recente, o Avante! e outros jornais clandestinos apresentam-se como uma fonte insubstituível para o conhecimento da situação social e económica no país, da política do fascismo e da luta contra ele. Nas suas páginas surge tudo aquilo que a censura e a falta das liberdades em geral impedia que por outra forma fosse tornado público: a denúncia da repressão e dos crimes fascistas, a exploração dos trabalhadores, as greves e outras lutas nas fábricas, nos campos, nos escritórios e nas escolas, a actividade do partido e dos movimentos e organizações unitárias, o desmascaramento da política governamental, assim como a acção do imperialismo, a luta de libertação dos povos, a solidariedade internacionalista, etc..

Mas o órgão central do PCP não se limitou a informar e a formar: tomando ele próprio parte activa no trabalho militante e na movimentação popular, apelava e dava sentido à luta, apontava caminhos, circulava de mão em mão funcionando como vínculo e veículo de laços orgânicos e ideológicos, integrava-se no trabalho organizativo, contribuindo para o alargamento, a coesão e a operacionalidade do colectivo partidário e ajudando à mobilização das massas, à convergência dos objectivos, à unidade na acção e ao fortalecimento e implantação do Partido. Tratava-se de levar à prática a concepção do jornal revolucionário não apenas enquanto propagandista e agitador, mas também enquanto organizador colectivo.

Com o derrube do fascismo e a conquista da democracia, transformaram-se profundamente o contexto político, as condições de trabalho, os contornos jornalísticos e os objectivos editoriais do Avante!, assim como de O Militante. Alteraram-se a sua vida e a sua luta, tal como anteriormente inseparáveis da vida e da luta do Partido, mas permanece a sua identidade (tal como a do Partido) enquanto jornais revolucionários empenhados na transformação da sociedade.

A situação tornou-se muito diferente. No entanto, a evolução da comunicação social, em íntima ligação com a evolução económica, política e cultural, concede hoje particular actualidade, em vários aspectos, a muitos dos traços distintivos da imprensa do Partido anterior ao 25 de Abril, continuando a exigir dela - no quadro de uma tarefa pela qual todo o colectivo partidário é responsável - a complexa missão de simultaneamente informar e esclarecer, denunciar e combater, divulgar e propor, mobilizar e organizar. 
Voltaremos a este tema.


Notas:

(1) Karl Marx. Biografia, Edições “Avante!” - Edições Progresso, Lisboa - Moscovo, 1983, p. 194.
(2) (3) Ob. Cit., p. 191 e p. 193.
(4) V.I. Lénine, “Que Fazer?”, in Obras Escolhidas em seis tomos, Edições “Avante!” - Edições Progresso, Lisboa - Moscovo, 1984, tomo I, p. 200.
(5) V.I. Lénine, “Por onde começar?”, in Oeuvres, Editions Sociales - Editions du Progrés, Paris - Moscou, 1977, t. 5, p. 19.
(6) Socialistas-revolucionários: partido pequeno-burguês cujos dirigentes, depois da revolução de Fevereiro, fizeram parte do Governo Provisório, vindo mais tarde a opor-se frontalmente ao poder soviético. Mencheviques: representavam a facção minoritária entre os comunistas (daí o seu nome, em contraposição aos bolcheviques, maioritários, segundo as palavras correspondentes em russo), tendo também participado no Governo Provisório.
(7) V.I. Lénine, “Como assegurar o êxito da Assembleia Constituinte? (A Propósito da Liberdade de Imprensa), in Oeuvres, t. 25, pp. 407-412.
(8) V.I. Lénine, “A Aliança da Mentira”, in Oeuvres, t. 24, pp. 112-115.
(9) V.I. Lénine, “Projecto de Resolução sobre a Liberdade de Imprensa”, in Oeuvres, t. 26, pp. 294-295.
(10) V.I. Lénine, “Teses e Relatório sobre a Democracia Burguesa e a Ditadura do Proletariado” (I Congresso da Internacional Comunista, Março de 1919), in Obras Escolhidas em três tomos, Edições “Avante!” - Edições Progresso, Lisboa - Moscovo, 1979, t. 3, pp. 78-79.
(11) V.I. Lénine, in Oeuvres, t. 35, pp. 54-55.
(12) V.I. Lénine, in Oeuvres, t. 36, pp. 88-89.
(13) V.I. Lénine, in Oeuvres, t. 35, pp. 31-33. O Nievskaia Zvezda (A Estrela do Neva) era um jornal bolchevique que se publicou em 1912 em Petersburgo.
(14) V.I. Lénine, Oeuvres, t. 36, p. 187. O Louch (O Raio) era um jornal menchevique que se publicou em Petersburgo em 1912 e 1913.
(15) Ibidem.
(16) V.I. Lénine, in Oeuvres, t. 35, p. 115.
(17) Cit. In Alberto Arons de Carvalho, A Censura e as Leis de Imprensa, Lisboa, Seara Nova, 1973, pp. 41-42.
(18) A expressão é de Raul Rego. Cf. Teses ao 3º Congresso da Oposição Democrática, Seara Nova, 1974, p. 137.
(19) Cf. Curso de Jornalismo, Estudos de Ciências Políticas e Sociais, Junta de Investigação do Ultramar, Lisboa, 1963, p. 171.


abrildenovomagazine.wordpress.com
24
Nov17

EXIJO QUE SE APUREM OS RESPONSÁVEIS

António Garrochinho


(Joaquim Vassalo Abreu, 23/11/2017)
cdt
Exigir apenas “que se apurem as responsabilidades” é muito curto e eu exijo mais: exijo os responsáveis!
Mas não só: exijo também que se forme uma Comissão de Inquérito, que até pode ser permanente e por tempo indeterminado, pois assim estará sempre “in time” e vigilante, nem que ela apenas sirva como retaguarda de apoio ao TIC do Alexandre- O Grande, não o da Macedónia mas o de Mação e do seu fiel Rosarovski.

Para quê? 

Para apurar os responsáveis, pois que coisas paranormais se vão sucedendo em catadupa e tem forçosamente que haver culpados. Tem que haver nomes, tem que se encontrar nomes, nem que no fim ela se desintegre e desfaça porque, parca ração, só conseguiu encontrar um nome, o suspeito do costume: Sócrates! O único CDT (culpado de tudo)!

Os jornais irão cumprir o seu papel, que é o de manterem o povão informado e serão o seu permanente eco, ou mata borrão se assim entenderem, porque a culpa não pode morrer solteira, quanto mais divorciada ou viúva abandonada! É que a sua experiência é já legendária na coisa…

Mas como já estamos todos fartos de casos de enorme complexidade, tanto na investigação como no alinhamento dos cordelinhos, todos nas mãos do Alexandre- O Grande, não o da Macedónia mas o de Mação, mais o seu fiel Rosarovski, todos eles emaranhados nos milhares e milhares de páginas do Processo do Marquês, que se confunde com o dos Salgados, para quê desperdiçar mais tempo e dinheiro, quando os meios são o que são, apesar deles não quererem mais?
Para quê investigar as Tecnoformas, os Submarinos, o roubo e a compra de material militar, os sobreiros, o BES, as privatizações da EDP, da REN, da NAV, dos Correios, mais a queda do Banif e a recapitalização da Caixa, o Montepio, a PT, a CP, a RTP e tudo o que acaba em “P”, se tudo isso é de uma complexidade “muito mais maior” e, no fim, ainda acaba tudo no tal CDT (culpado disto tudo)? Seria tempo e dinheiro gasto e perdido. Mas a Comissão permanente essa tem que ficar de pé.
E tem que ficar de pé para concluir que aqui neste cantinho à beira mar plantado, podem suceder as coisas mais surreais mas mais que indicativas, as mais pungentes mas divertidas, as mais obscuras mas elucidativas, as mais distantes mas concludentes, as mais profundas mas emergentes, as mais radicais mas complacentes que, à falta de outrem, terão sempre todas um único culpado e não poderia ser outro: 

o CDT! 
Mas porquê? 
Porque está tudo na sua Operação: a do Marquês!

Mas, se mesmo assim for demasiado ostensivo acusar o dito, essa Comissão de Inquérito permanente e adstrita ao Grande, não da Macedónia mas de Mação, e ao seu fiel Rosarovski, vai apreciar coisas bem mais simples e de muito maior linearidade na acusação, de muito mais escorreita investigação e apreciação e de muito maior facilidade em proferir a acusação.

No entanto, pese o facto de até se mostrarem de nula complexidade, como são imensas e a perder de vista, desde logo se prevê que tudo isso vá demorar tempos infindos, até haver a dita acusação, pelo que, no fim, não podendo as mesmas prescrever, terão como único acusado os eternos “INCERTOS”. E tudo acabará em bem, com um condizente relatório e o gáudio pelo dever cumprido dos comissários inquiridores. Algumas delas, mas só algumas:
  • A SECA! Que culpado investigar e indiciar? O S. Pedro? Será que ele receberá a convocatória e virá responder nem que seja pelo crime de reincidência agora agravada?
  • O AQUECIMENTO GLOBAL! Chama-se quem? O Trump? Mas esse mandará é um estridente “Fuck”!
  • OS FURACÕES! Chamava-se o Poseidon, o Neptuno, ou até o Juno, para serem indiciados de crime por inércia. Pois, é que eles mandam dizer que aos anos que deixaram de mandar nos mares e nos ventos…Há muito que não exercem…
  • AS TROVOADAS? A Santa Bárbara, claro! Mas ela também manda dizer que isso já não é com ela. Que se fale com a Cristas!
  • A LEGIONELLA! Para esta podia-se chamar para depor uns Cruzados ou uns Cavaleiros de Malta, mas estes também mandam dizer que o seu trabalho há muito caducou. Que mandem chamar o Pedro pois a proibiu e terão é que saber quem a sua ordem não cumpriu!
  • A DESERTIFICAÇÃO DO INTERIOR! Só se poderá chamar não o próprio Interior, que seria o mais capacitado não estivesse ele no exterior, mas o “anterior”. E o anterior ao anterior e assim sucessivamente…e até o Salazar era de chamar!
  • A FOME NO MUNDO! Aqui é muito fácil: chama-se uns quantos comilões!
  • O ISIS! Aqui chama-se o Califado e o Daesch, se ainda estiverem vivos…
  • A CORRUPÇÃO! Isso é tão complicado, tão complicado, que é melhor nem chamar ninguém! Porque uns vão argumentar esquecimento por cansaço “celebral”, outros porque nem lá estavam, outros porque só cumpriram a Lei, outros ainda porque apenas fizeram o que os outros faziam, os do esquecimento, pelo que aqui só resta chamar dois nomes: Marcelo e Marques Mendes!
Admirados? Então raciocinem comigo. O Prof. Dr. MARCELO e Marcelo: Ele sim, pois passa a vida a pedir responsabilidades e a querer responsáveis por tudo e por nada mas, como não é de coisas pequenas, não as pede para a Tecnoforma, para os Submarinos e outras tretas…mas disto certamente saberá pois, depois de muito estudo, ainda lhe resta a experiência de muitos anos de comentador!

o MARQUES MENDES? Este também sim, porque sabe de tudo! Ou será que disso nada sabe pois a sua memória é, como a daqueles tais, muito selectiva?
Conclusão: Acho que a culpa ainda vai morrer não viúva mas…SOLTEIRONA!


estatuadesal.com

24
Nov17

Microalgas foram responsáveis pela mortandade de peixes no Tejo

António Garrochinho


Denúncias apontavam a poluição causada por empresas e a eutrofização das águas do rio


O relatório técnico-científico do Laboratório de Patologia de Animais Aquáticos aponta as microalgas como responsáveis pela recente mortandade de peixes no rio Tejo, em Vila Velha de Ródão.
O documento, a que a agência Lusa teve hoje acesso, explica que no exame anátomo-patológico efetuado aos peixes verificou-se a presença de microalgas Cyanobacteria, Microcystis aeruginosa Kg.
"Em 20 setembro e 17 outubro passados foram analisadas amostras de peixe com a mesma proveniência do peixe desta amostra, tendo sido elaborados os respetivos relatórios (....) e onde consta ter sido identificada a alga acima referida [Cyanobacteria]", lê-se no documento.
O relatório técnico-científico foi elaborado pelo Laboratório de Patologia de Animais Aquáticos pertencente ao Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), sendo que a amostra foram 17 peixes (alburnos) recolhidos na barragem do Fratel.
"Os 'blooms' constituem um problema grave, quer para a qualidade da água, quer para a ictiofauna. Neste caso, a consequência mais comum é a morte dos peixes por ação de toxinas (hepatotoxinas, neste caso) e por anóxia, ou devido a compostos provenientes da decomposição dos 'blooms', amónia e hidroxilaminas", sustenta.
O documento explica ainda que nos ecossistemas aquáticos em processo de eutrofização, especialmente em períodos de temperaturas elevadas, como aquele que se registou e com ausência de pluviosidade, ocorre o desenvolvimento de grandes proliferações de fitoplâncton, 'os blooms' que causam a morte dos peixes.

O partido ecologista "Os Verdes" questionou o Governo sobre a mortandade de peixes que se verificou no rio Tejo, na zona de Vila Velha de Ródão, tal como o Movimento pelo Tejo, que denunciou a situação e apontou como causas a poluição causada por empresas e a eutrofização das águas do rio.

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