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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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04
Dez17

No “Christmas” de Cascais não entra o Pai Natal !

António Garrochinho


VÍDEO








Clemente Alves


No “Christmas” de Cascais não entra o Pai Natal !
Na reunião da Câmara, a ter lugar amanhã, 5 de Dezembro, está agendado para ser deliberado um apoio financeiro de 203.000,00€ para a realização por um grupo de interesses privado do “Cascais Christmas Village".
Deliberar, isto é: “legalizar" a decisão já assumida e anunciada (veja-se o vídeo) de pôr a carroça a andar à frente do burro e da vaca, ou não se tratasse dum Christmas.
E quem vai receber o simpático bodo ? : - Ora, nem mais nem menos que a Cofina, Média, SA, dona da CMTV, da revista Sábado e do jornal Correio da Manha, que na última campanha para as autárquicas se fartaram de escrevinhar a favor da candidatura do presidente Carlos Carreiras. - Porque ser grato também é apanágio de ser fino.
Mas vamos lá a ver que “estória” é esta do “Christmas Village”, assim nomeada porque, como em todo o mundo toda a gente sabe, em Cascais todos somos gente fina: todos tocamos piano e falamos british !
Então é assim:
- O presidente Carreiras, feliz e contente pelos resultados do Christmas do ano passado, decidiu invitar de novo o ‘Santa Claus’, que noutras bandas é chamado de Pai Natal, obviamente por gentios nada ilustrados, para vir a Cascais brindar-nos com o Uou-Uou, Uou das suas célebress guturais gargalhadas.
Vai daí, mandou vir ao gabinete dos Paços do seu Concelho o agente artístico exclusivo do Santa, que em terras de Portugal se assina como Cofina SA, para acertarem as condições da presença do simpático barbudo na Villa de Cascais.
Sem pestanejar, o presidente da VIllage, além de oferecer o parque do Marechal Carmona para se assentarem os arraiais do Christmas, de pronto aceitou que a Câmara compense a tão distinta e exclusiva presença do Santa com o modesto pagamento de 203.000,00€ a título de cachet. Importância a transferir para os baús lapónicos a partir dos cofres onde nós, súbditos cascaenses, alegremente depositamos os euros das taxas, tarifas e impostos.
E porque cabedais, pratas e oureis são coisas que por cá tanto abundam, autorizou ainda o querido edil que aos súbditos que acorram ao chateaux do Santa Claus seja colectada a módica maquia de 6,00 a 36,00€, se os infantes se fizerem acompanhar pela respectiva gens.
E que, se além da acostumada carícia, graciosa (?), nas barbas do Santa os infantes e as infantas cascaense também quiserem dar um giro na gigante roda, a habilitar-se a uma escorregadela na pista antártica, ou trepar à bossa do camelo em presença, se insta aos nobres papás que não regateiem abrir mais um pouco os cordões à bolsa.
Pois é: roam-se, “imbejosos” do mundo inteiro. Nós, os de Cascais, somos assim: exclusivos e cosmopolitas !
04
Dez17

A I GUERRA MUNDIAL DEU “LUCROS! MUITOS LUCROS!” À INDÚSTRIA DAS CONSERVAS.

António Garrochinho


As conservas portuguesas alimentaram os soldados nas trincheiras, mas a voragem do lucro e as fraudes no produto conduziram ao descrédito do sector no final do conflito.870491
É difícil imaginar um soldado a combater numa guerra, com fome e frio, preparado para abrir uma lata de conserva de sardinha e só lá encontrar serradura. Ou talos de couve. Ou cabeças de peixe.
A indústria portuguesa das conservas estava ao rubro com o aumento da procura. A conservação de alimentos permitida pela esterilização era perfeita para alimentar os milhares de homens atirados para as trincheiras e, se vender para o estrangeiro já antes era uma realidade para os empresários, com a I Guerra Mundial o sector teve o seu arranque definitivo. Contudo, para alguns, a ânsia do lucro foi mais forte.
Joaquim Vieira Rodrigues, professor do ensino secundário que dedicou a sua tese de mestrado ao estudo da indústria no Algarve, recorda que 80 a 90% das conservas já antes do conflito eram destinadas à exportação, até porque em Portugal “ninguém tinha dinheiro para as comprar”. A região sul foi o berço da nação conserveira: foi aqui que, em 1865, se utilizou pela primeira vez o processo de “appertização” numa fábrica de atum em azeite da Ramirez, em Vila Real de Santo António. Este método de conservação de alimentos foi descoberto pelo francês Nicholas Appert e aperfeiçoado pelo inglês Peter Durand, que patenteou a lata de metal para conservar comida em 1823. Pasteur demonstrou, mais tarde, os princípios científicos do processo, daquela que foi a primeira versão de alimento pré-cozinhado da história da humanidade, como refere Chagas Duarte, num artigo que escreveu para a Associação do Espaço de Património Popular (Aldraba). Em 1880, a sardinha em conserva é produzida pela primeira vez em Setúbal, onde nas duas primeiras décadas do século XX se produziam dois terços de toda a conserva nacional.
Com a guerra de 1912-1918 as vendas para o estrangeiro aumentaram, “em quantidade mas, sobretudo, em valor”, recorda Joaquim Rodrigues, que se doutorou em História Económica e Social Contemporânea. As conservas eram enviadas não só às tropas portuguesas que combatiam em África e na Flandres, mas também aos exércitos de países aliados contra a Alemanha. Inglaterra, França e Itália eram os principais destinos.
Num pequeno artigo publicado em 1949, o tenente médico veterinário Álvaro Joaquim Fernandes Ferreira, enaltece as vantagens da comida enlatada na alimentação das tropas em campanha. Recorda que “a duração de uma contenda é difícil de prever” e, por isso, as conservas oferecem vantagens “sem paralelo” porque permitem “distribuir a cada soldado uma série de rações de prolongado período de conservação que, aliado ao seu reduzido volume e peso, lhes garante por muitos dias autonomia alimentar – exigência humana que se torna necessário satisfazer para o bom desempenho das missões bélicas”. O autor cita, sem identificar, “um famoso oficial que participou nas campanhas contra Napoleão” que declarava: “O apetite, eis a primeira exigência do exército”. Na guerra de 1914 essa exigência esteve longe de ser cumprida.
Fisicamente longe do conflito, a indústria aproveitava a oportunidade. A exportação – cerca de 90% era de sardinha, mas também incluía atum e outro peixe não especificado – passou de 25.794 toneladas em 1913, para 40.838 toneladas em 1919. Os dados disponibilizados pelo INE mostram ainda que, em valor, as vendas valiam 2484 contos um ano antes da guerra. Um ano depois do conflito, em 1919, tinham aumentado para 22.937 contos. Em 1920, as exportações de sardinha chegaram a valer 40.949 contos, mesmo que em quantidade o país tivesse exportado consideravelmente menos.
Fábrica Ramirez em Vila Real de Santo António
Fábrica Ramirez em Vila Real de Santo António
“Perante a crise e no início do conflito, o governo republicano autorizava a instalação de armazéns gerais em Setúbal, Olhão, e Lagos. Seriam ali depositadas conservas, sujeitas a análises e exames”, que iam desde provas de soldadura ou cravação, ao estado do conteúdo da lata, escreve Joaquim Rodrigues. Os armazéns financiavam as conserveiras e as novas fábricas surgiam como cogumelos.
Amadeu Henrique Nero mudou o negócio familiar de peixe salgado e seco (que exportava para Itália ou Espanha) para a produção de conservas em Sesimbra em 1912, ou seja, quatro anos antes de Portugal ter entrado formalmente em guerra com a Alemanha. Nessa altura, estavam registadas no país 106 unidades, quase metade na região de Setúbal, conta José Nero, neto do industrial. Em 1916 o número aumentou para 110, um ano depois, para 188 e, em 1918, chega às 223 fábricas.
“Há muitas que aparecem mas desaparecem no final da guerra porque era o negócio da altura. Houve até uma fábrica em Setúbal dentro de um barco velho e encalhado”, recorda. Durante o conflito, as marcas criadas pelo avô, Catraio (atum) e Georgette (sardinha), eram exportadas para França, Itália e Inglaterra, numa altura em que a “indústria estava desorganizada e em que cada um fazia o que queria”. José Nero, que em 2010 trouxe de volta ao mercado as duas marcas históricas, recorda os relatos de latas recheadas de talos de couve, serradura ou mesmo vazias, que os industriais mais ambiciosos não hesitavam em enviar para os clientes. Por seu lado, Joaquim Rodrigues conta que há referências de barcos afundados ao largo do Cabo de São Vicente para que os empresários pudessem ser compensados pelos seguros. O contexto era de verdadeira euforia.
O investigador diz que durante a guerra, e até 1922, só no Algarve o número de fábricas triplicou. A depreciação do escudo e o fácil acesso ao crédito deram o empurrão necessário para esta produção descontrolada. As “casas comerciais e bancárias forneciam desde os materiais até ao dinheiro para comprar peixe, com a condição de receberem em consignação todas as conservas fabricadas”, refere no seu estudo, citando o número 133 do Boletim do Trabalho Industrial. Havia dinheiro, mas muitos empresários usavam-no para o “luxo, jogo e passeios”, outros para comprar propriedades e casas luxuosas e “poucos foram os que, pensando no futuro, trataram de preparar as suas fábricas com alguns melhoramentos indispensáveis para poderem trabalhar depois da guerra, em concorrência com o estrangeiro que, de dia para dia, ia aumentando a produção”.
Em 1917, Manuel Ramirez já tinha traçado um rumo estratégico para a empresa, que ainda hoje perdura ligada à mesma família. Em vez de se limitar à exportação queria fidelizar mercados e, por isso, apostava nas suas marcas para ganhar clientes de forma sustentável. Uma delas era a Cocagne, lançada em 1906 a pensar no mercado belga e que ainda existe. No momento da guerra, a Ramirez “aumentou a sua produção mas ao contrário de outros fabricantes, que visavam apenas o lucro imediato, não aumentou desordenadamente os seus elementos de produção, sem atender a que o consumo era anormal e transitório”, lê-se no livro “Ramirez, Memórias de Cinco Gerações”, editado pela empresa.
Preparação do atum na fábrica de conservas,
Preparação do atum na fábrica de conservas,
Mas a exportação enriqueceu os empresários. Não só Manuel Ramirez, como também Júdice Fialho, que chegou a ser o maior industrial nacional e ibérico das conservas. No Algarve, “não havia braços que chegassem para a laboração das fábricas”, com homens, mas sobretudo, mulheres e crianças a garantirem a produção a baixo custo, conta Joaquim Rodrigues. A população aumentou, agravando problemas de habitação, higiene e salubridade. Ao mesmo tempo, a subida constante dos preços das conservas compensava as crises de matéria-prima.
Em 1917, a Inglaterra permitia a importação de folha-de-flandres (necessária para revestir a lata e evitar a ferrugem) em quantidades muito limitadas e, um ano depois, o governo regulava o acesso à folha e ao estanho através de um decreto de lei para que houvesse uma “distribuição equitativa pelas empresas conserveiras”. Os ingleses temiam que o estanho pudesse ser vendido aos alemães e o embargo levou mesmo ao encerramento de fábricas.
O azeite também era escasso. O governo republicano quis conciliar os interesses das colónias portuguesas (que produziam, por exemplo, óleo de amendoim que era usado nas conservas), com os industriais do azeite da metrópole e os conserveiros, “em pleno crescimento das exportações”, continua Joaquim Rodrigues. O preço do azeite aumentou e a especulação de comerciantes e intermediários levou a Direcção-geral de Economia e Estatística Agrícola a questionar as fábricas sobre as quantidades consumidas. A falta desta matéria-prima também fechou unidades e despoletou protestos de operários.
O professor algarvio encontrou descrições da voragem do lucro em textos do Boletim Industrial escritos por técnicos da Direcção-geral das Indústrias. Neles, fala-se no “descrédito internacional” pelas fraudes e falta de cuidado da produção: “A grande maioria dos conserveiros portugueses pôs absolutamente de parte todos os princípios de higiene e tendo unicamente como objectivo fabricar muito e vender depressa – porque então tudo se vendia para os países em luta – começou a encher as latas de qualquer espécie de peixe”.
“Lucros, muitos lucros! Fábricas, muitas fábricas! Era verdade que o escudo desvalorizava quase de dia para dia, que os preços das matérias-primas subiam vertiginosamente, que os escudos que recebiam pela venda da conserva não chegavam para fabricar a mesma quantidade de mercadoria. Mas ninguém, ou poucos, se preocupavam com essas ninharias”, escreve também Francisco José Guerra, em A indústria das conservas nos contratos colectivos e no pós-guerra.
Nos anos 1920, os governos republicanos aplicaram vários regimes de taxas sobre as exportações de conserva de sardinha, publicando sucessivos decretos-lei. Joaquim Rodrigues conclui que o Estado, devido às dificuldades atravessadas no final do conflito, teve a “tendência para aumentar os direitos de exportação das conservas”. Mas quando a guerra acabou, os preços das conservas caíram, os lucros “e as fortunas esvaíram-se em fumo”. E apareceram as reclamações pelas fraudes praticadas. As latas não se vendiam, os bancos começaram a pressionar os empresários para o pagamento dos juros e comissões, apropriando-se de muitas fábricas. Joaquim Rodrigues encontrou uma intervenção do deputado José Luís Supico na Assembleia Nacional de 1935 em que se fala da “prosperidade artificial” da guerra e do pós-guerra gozada pela indústria. Em pânico, os industriais chegaram a pedir ao governo para que “os delegados à Conferência da Paz recomendassem o consumo de conservas portuguesas de peixe nos países que os aliados tivessem submetido à paz”.
São tempos conturbados, com reformas económicas que incluem a valorização do escudo a partir de 1924, que levaria a uma queda acentuada das exportações. “A conserva perdeu o poder que tinha nos mercados e houvesse muito desemprego. Só em Olhão, em 1925, havia 60 fábricas encerradas”, conta Joaquim Rodrigues.
Das 400 unidades registadas em 1926, restaram 158 em 1938. A II Guerra Mundial iria trazer de volta um novo período de ouro, mas nem mesmo nessa altura foram ultrapassados os números de exportação alcançados em 1923, de 53.599 toneladas.
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A histórica indústria tem resistido às intempéries e, hoje, está representada em 20 fábricas, a maioria concentrada no Norte do país. Exporta entre 60 a 65% da sua produção e, em 2013, conseguiu estar, pela primeira vez desde 2009, entre os três produtos mais exportados (depois do vinho e do azeite), ultrapassando as cervejas. O ano passado, as vendas internacionais ultrapassaram os 206 milhões de euros, mais 15,6% do que em 2012. Não só manteve clientes fiéis na Europa, como cativou o mercado interno.

BIBLIOGRAFIA:

Rodrigues, Joaquim Vieira – A indústria de conservas de peixe no Algarve (1865-1945), 1997; Ferreira, Álvaro Joaquim Fernandes – As conservas enlatadas na alimentação das tropas em campanha, 1949; Ramirez, Memórias de cinco gerações.

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LATAS DE CONSERVA DA RAMIREZ ENCONTRADAS NA DESPENSA DE HITLER

A RAMIREZ É A MAIS ANTIGA MARCA PORTUGUESA E NA SUA ORIGEM COEXISTIU COM UMA FÁBRICA DE TECIDOS

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No ano em que morreria Dona Maria II e rebentava a guerra da Crimeia, o andaluz Sebastian Ramirez descia o Guadiana e fundava em Vila Real de Santo António a primeira conserveira portuguesa.
O investimento combinava a preparação de atum em salmoura com a produção de tecidos e fardas. Mas depressa a família abandonou o têxtil e se concentrou no negócio que lhe daria fama e proveito. Na sua peregrinação fabril, passou por Albufeira, Olhão e Setúbal antes de se focar em Matosinhos e Peniche, quando a escassez de matéria-prima ditou o encerramento de Vila Real de Santo António.
Cinco gerações depois, a Ramirez permanece como uma das marcas mais antigas do mundo a operar no mercado. Por ano, mais de 20 milhões de latas viajam para 35 mercados. Até no bunker de Hitler foram encontradas três latas de sardinhas made in Portugal.
Manuel Ramirez puxa de documentos para falar do passado. O futuro pertence aos seus dois filhos, os herdeiros do negócio familiar. A fundação da marca, em 1853, diz ele, “está certificada no primeiro cadastro realizado pelo Consórcio Português de Conservas de Peixe”. A unidade iniciara a actividade sob a direcção de um mestre conserveiro catalão, que aprendera a tecnologia emergente na Bretanha.
“O peixe chegava à lota a qualquer hora do dia ou da noite e os potentes apitos da fábrica convocavam os trabalhadores, na sua maioria mulheres”, diz Manuel Ramirez.
Os operários “trabalhavam a partida do atum e depois regressavam a casa até que chegasse um novo barco”. Este modelo só se alteraria radicalmente com a vulgarização da tecnologia do frio, na década de 60 do século passado, eliminando o carácter sazonal da actividade.
Em 1908, a unidade de conservas empregava 16 soldadores, 40 operários, 160 mulheres e seis paquetes. Na altura, o salário diário dos operários oscilava entre 400 e 900 réis e os pescadores recebiam 12 vinténs e 10% do valor da pesca.
Sebastian Ramirez combinou a diversificação de produtos com a expansão geográfica. Acrescentou a cavala e a sardinha ao portefólio da marca, focada desde sempre na exportação para grandes países como a Espanha, Brasil e Itália. Durante muitos anos liderou o mercado italiano de atum, através da exportação recorrendo a latas de formato gigante de 5 e 10 quilogramas.
A sucessão de Sebastian Ramirez foi assegurada por dois dos cinco filhos. Dos outros, dois teriam mortes trágicas, causadas por uma queda e por um naufrágio, e um terceiro lançara negócios próprios em Espanha. Frederico tornou-se conselheiro e político, o irmão Manuel passou a conduzir o barco da família. Foi ele que verticalizou a empresa, desde a pesca ao fabrico das embalagens.
Reconhecendo que a indústria conserveira depende da incerteza do mar e das condições dos mercados, Manuel tomou a decisão arrojada de lançar ao mar o primeiro galeão sardinheiro a vapor português, o “Nossa Senhora da Encarnação”. “O meu avô revelou-se visionário pois foi com ele que a marca encetou um programa de expansão internacional e de fidelização dos mercados”, diz Manuel Ramirez.
Foi, todavia, com as guerras que o negócio da Ramirez e da generalidade da indústria conserveira portuguesa prosperou. Se no fim do século XIX Portugal tinha 76 fábricas, no fim da Primeira Guerra Mundial, o universo alarga-se para 300. A empresa percebeu que “o consumo era anormal e transitório” e, ao contrário de outros concorrentes, aguentou-se na ressaca dos anos 20. Ainda assim, sofreu com a pressão de preços e a depressão em que o sector mergulhou e que levaria até Oliveira Salazar a publicar um diagnóstico sobre as ameaças que as conservas enfrentavam.
A Segunda Guerra Mundial ajuda à retoma. Portugal beneficia do facto de ser dos raros países com a produção a funcionar. A Ramirez fornece a Cruz Vermelha e exporta para mercados como a Bélgica, Reino Unido e Alemanha. Por isso, a família não estranhou um telefonema do seu agente em Hamburgo, no início dos anos 50, dando conta que tinham na sua posse três latas muito especiais. Eram conservas de sardinha em azeite que tinham sido recolhidas do bunker de Hitler. “Não sei como lhe foram parar às mãos, lembro-me que as enviou ao meu pai”, recorda Manuel Ramirez. Meses depois, a família decidiu prová-las, verificando que estavam em perfeito estado de conservação. “Estavam óptimas”, recorda o empresário que aproveita o episódio para troçar das leis europeias que impõem um prazo de caducidade a todos os produtos.
Nessa altura, já a família Ramirez rumara ao Norte e escolhera Matosinhos como sua base fabril. Os ventos da indústria estavam a mudar. Os anos 50 são marcados pela crescente escassez de atum. A Ramirez recorre à refrigeração e, mais tarde, inova nas latas de abertura fácil. Há quatro anos, refrescou a sua identidade corporativa, adoptando as cores da bandeira portuguesa para vincar a sua origem.
Em 2008, pela primeira vez, a exportação da Ramirez superou o mercado doméstico (51% vs. 49%). A este resultado não é alheio o contrato assinado com o Governo de Chávez, no âmbito do programa de troca de petróleo por alimentos. A marca já operava na Venezuela, mas a sua presença era residual.
O negócio de €3 milhões (4 milhões de latas) foi um impulso valioso nas vendas de €20 milhões da empresa. A marca Ramirez representa metade. Este ano, a exportação volta a crescer. Com unidades em Leça da Palmeira e Peniche, a conserveira vende por ano 40 milhões de latas, distribuídas pelas suas 14 marcas, algumas das quais criadas para mercados específicos como o árabe ou do Benelux. China e Japão são os novos mercados de exportação da Ramirez, adaptando os sabores às tradições locais.
1824 Surge a primeira fábrica de conservas de sardinha, em Nantes;
1853 Sebastian Ramirez funda, em Vila Real de Santo António, a sociedade S. Ramirez, que se dedica ao fabrico de tecidos e à salga de atum. Nascia a primeira fábrica portuguesa de conservas;
1865 Ramirez articula a sua fábrica de salga com uma unidade de preparação de conservas de atum em azeite;
1890 A conserveira adopta o autoclave, que permite obter rapidamente a temperatura desejada e reduz o tempo de esterilização;
1904 A Ramirez recebe o primeiro de cinco Grand Prix, em Londres;
1906 Conquista os mercados da Bélgica, Holanda e Luxemburgo, ainda hoje rendidos às sardinhas que a empresa comercializa com marcas próprias;
1908 É fundada a Ramirez & C.ª Lda, com sede em Vila Real de Santo António;
1910 Em Maio, são constituídas mais duas empresas, com sede em Albufeira e Olhão;
1928 Depois de Setúbal, a marca passa a ser produzida em Matosinhos, em instalações precárias;
1931 Em Dezembro, o ministro das Finanças, António de Oliveira Salazar, publica um diagnóstico sobre a indústria conserveira;
1946 Em Abril, a Ramirez inicia a construção da nova fábrica de Matosinhos;
1959 Emílio Ramirez adquire uma unidade produtiva em Peniche;
1968 Desaparecem as armações de pesca do atum. A última grande companha é realizada em Tavira;
1972 Surgem as latas de conservas de abertura fácil, com argola, uma estreia mundial da Ramirez;
1992 Renovação da imagem e do logo-símbolo da marca;
1996 Escassez de matéria-prima leva fábrica de Vila Real de Santo António a fechar;
2003 A marca e a empresa comemoram 150 anos de actividade;
2005 Adopta as cores da bandeira nacional nas suas latas para vincar a origem portuguesa;
2009 Cria um Centro de Nutrição, em parceria com a Universidade do Porto


centrodeestudosportugues1.wordpress.com



04
Dez17

AS CASAS MAIS ESTRANHAS DO MUNDO - a mais estranha é Portuguesa

António Garrochinho


Quem diria… Até em matéria de coisas estranhas, somos muito bons. Numa lista dos 50 edifícios mais estranhos do mundo, uma casa entre quatro rochedos surge em primeiro lugar. E é lusa!
A casa mais estranha do mundo é, portanto, portuguesa e pertence à família Rodrigues, que a mandou construir em 1974. Tudo aconteceu num belo dia de Primavera, quando a família Rodrigues foi dar um passeio pela serra de Fafe. Quando se depararam com os quatro penedos, o pai Rodrigues pôs-se logo a idealizar ali uma casa…
Adquirido o terreno, a “Casa do Penedo” acabou por surgir mesmo ali, nas montanhas entre Fafe e Celorico de Basto. E hoje, passados 42 anos, continua a uso. Actualmente, a família utiliza-a apenas no período de férias e aos fins-de- semana, mas, infelizmente para os Rodrigues, são muitos os turistas de todo o mundo que ali acodem motivados pela curiosidade. E não é de estranhar, face à sua originalidade e beleza. Muitos dizem tratar-se da verdadeira casa dos Flinstones!

Tal como o exterior, o interior apresenta também um estilo rústico, com a mobília, as escadas e o corrimão todos feitos de troncos de árvores. O sofá é feito em betão e madeira de eucalipto, pesando 350 Kg. Ainda sem electricidade, o que aquece a casa no Inverno é a lareira que possui.
Mas nem tudo são rosas… Nos últimos anos, devido à notoriedade que tem vindo a receber através das redes sociais, a casa tem sido alvo de alguns actos de vandalismo. Contudo, a família Rodrigues tudo faz para manter a “Casa do Penedo” o mais operacional possível. Razão pela qual a porta, de aço, pesa à volta de 400 quilos e os vidros das janelas são agora à prova de bala. Foi na Internet que os Rodrigues ficaram a saber serem possuidores de “uma das casas mais loucas do mundo”. A partir daí, os curiosos tentam levar tudo. “Até o sofá já levaram. Por isso, fiz um sofá que pesa uns 350 quilos, com cimento e tronco de eucalipto”, argumenta Vítor Rodrigues, filho do comprador do terreno, entretanto já falecido.
Espero que este meu artigo não vá incomodar ainda mais os Rodrigues, mas não deixa de ser um “mimo”, esta casa. E podem apreciá-la aqui, nas imagens…

CASA DO PENEDO – FAFE

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CASAS DAS FURNAS – AÇORES

Esta casa fica na Ilha de São Miguel e funciona hoje como posto de transformação da EDA (Empresa Eletricidade dos Açores). A sua construção foi inspirada nas constantes movimentações da ilha causadas pelos vulcões e pelos movimentos tectónicos. Esta casa já é um autêntico ponto de atração turística nas Furnas, o que vai ao encontro da visão dos engenheiros e arquitetos deste projeto que tinham como objetivo criar algo único e que desse nas vistas.
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 centrodeestudosportugues1.wordpress.com
04
Dez17

Detidos dez suspeitos do homicídio da jornalista Caruana Galizia

António Garrochinho


As autoridades maltesas anunciaram a detenção de dez suspeitos na sequência da investigação relativa ao assassinato da jornalista Daphne Caruana Galizia, no dia 16 de outubro. O caso tem sido acompanhado ao mais alto nível no país e o anúncio foi feito pelo próprio primeiro-ministro. Joseph Muscat começou por revelar a detenção de oito cidadãos de nacionalidade maltesa e com antecedentes criminais, tendo posteriormente elevado o número para dez através da sua conta de Twitter.
Os investigadores consideram que os detidos foram os responsáveis pela preparação do explosivo que custou a vida à jornalista mas Muscat jogou pelo seguro e recusou dizer se já tinham chegado aos cérebros do atentado.
Daphne Caruana Galizia era conhecida por denunciar vários casos de corrupção e o narcotráfico na ilha, investigava atualmente a ligação da classe política do país, incluindo o primeiro-ministro, aos "Papéis do Panamá."
#Malta PM @JosephMuscat_JM announces arrest of 10 persons 'with reasonable suspect' related to assassination of #DaphneCaruanaGalizia - following raids in several localities this morning.


VÍDEO


pt.euronews.com
04
Dez17

Os tremoços da EDP

António Garrochinho




Como o povo português ganhou com a privatização da EDP !!!


"A EDP Renováveis teve lucros de 165 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano, um aumento de 468% em relação a 2016. Se há alguém que esteja a precisar de ajuda é ela. Ainda bem que vendemos a EDP aos chineses, ou agora não saberíamos o que fazer ao dinheiro. Ainda nos víamos obrigados a aumentar o ordenado mínimo para seiscentos euros.

Para terminar, convém recordar que António Mexia e João Manso Neto, da EDP, e João Faria Conceição e Pedro Furtado, da REN, foram constituídos arguidos aqui há uns tempos. Em causa estão os crimes de corrupção activa, corrupção passiva e participação económica em negócio. Felizmente, para eles, apesar de trabalharem para o governo chinês, não vão ser julgados na China 



foicebook.blogspot.pt
04
Dez17

DANÇAM A RONDA

António Garrochinho

NOS SALÕES DO PALÁCIO DO RATO E EM BRUXELXAS DANÇA-SE A VALSA DO EUROGRUPO.

É MAIS UMA CORRIDA MAIS UMA VIAGEM XUXILAISTA NO CAMINHO DO TAXO DOURADO A "BEM DO POVO" DIZEM ELES,

JÁ LÁ ESTÁ GUTERRES NA ONU, CENTENO NO EUROGRUPO E BREVEMENTE OUTRO XUXA NAS MIGRAÇÕES.

SERÁ ISTO BOM PARA OS PORTUGUESES !?
CLARO QUE NÃO !

ANTES PELO CONTRÁRIO ! SE GUTERRES NOS ABANDONOU EM NOME DA CARTEIRA RECHEADA COMO DURÃO BARROSO O FEZ, SE CENTENO TAMBÉM NOS ABANDONOU AGORA TEREMOS UM CENTENO A PENSAR A DOIS TEMPOS, NA CONTA BANCÁRIA (A DELE) E A DO DIRECTÓRIO CAPITALISTA DA UE.

INTOXICAM-NOS ESTES MERDAS DA GOVERNAÇÃO, ILUDE-NOS O JORNALIXO COM O HISTERISMO COSTUMEIRO QUANDO SE TRATA DE TACHOS E DE DINHEIRO FAZENDO O ALARIDO ESPAMPANANTE DE QUE ESTES TACHOS BENEFICIAM O POVO PORTUGUÊS.

PURA ILUSÃO AMIGO(A)S E CAMARADAS !

QUANTO MAIS PORTUGAL SE VÊ REPRESENTADO NA HOSTES DO CAPITALISMO E DO IMPERIALISMO MAIS A GOVERNANÇA TOMA MEDIDAS LESIVAS PARA O POVO PORTUGUÊS.

LÁ ANDA A CORJA ! E COMO DIZIA JOSÉ AFONSO, LÁ ANDAM ELES DANÇANDO A "RONDA" NO PINHAL DO REI


António Garrochinho

04
Dez17

UNIVERSIDADE DO ALGARVE -Dois candidatos com muito em comum disputam presidência da AAUAlg

António Garrochinho




Os alunos da Universidade do Algarve (UAlg) vão voltar a eleger a direção da Associação Académica na próxima terça-feira, dia 5 de Dezembro. Em 2017, há duas listas candidatas, encabeçadas por Pedro Ornelas (Lista A) e Daniela Vairinhos (Lista C), que até já foram colegas numa ex-direção da AAUAlg, mas que estão agora de lados opostos da barricada.


Sul Informação e a Rádio Universitária do Algarve RUA FM entrevistaram ambos os candidatos à Direção Geral da AAUAlg, num programa Impressões que teve, desta vez, um formato de debate. Uma conversa que deixou claro que há muitos pontos em comum, nos planos das duas listas, e até na postura dos dois candidatos. A diferença, percebeu-se, está na grande prioridade.
~

Se, por um lado, Pedro Ornelas, que integrou a equipa do presidente da associação cessante, Rodrigo Teixeira, nos seus dois mandatos, defende que o mais importante é intervir ao nível da ação social, Daniela Vairinhos, que foi um dos elementos da Direção Geral de Nuno Lopes e ainda esteve com Rodrigo Teixeira no seu 1º mandato, defende que, acima de tudo, é urgente aproximar a AAUAlg dos estudantes.

«Na minha opinião, a Associação Académica, tem um propósito – até porque tem essa capacidade – de ser uma ferramenta de ação social. A Académica tem de estar próxima dos estudantes e, dessa forma, tem de se aperceber de certos problemas. A partir desse momento, a sua responsabilidade é chegar lá e tentar resolvê-los», acredita Pedro Ornelas.

Daí que o candidato que encabeça a Lista A destaque este entre os pilares da sua candidatura. «O apoio a estudantes carenciados, com a criação de bolsas de estudo por parte da AAUAlg, poderá ser uma realidade no ano que vem», assegurou.


«Há alunos deslocados e outros que, realmente, precisam de ajuda financeira. Eu acredito que se nós criarmos uma bolsa de estudo em cada Unidade Orgânica, vamos estar a dar uma ajuda fundamental a quem não tem essa possibilidade. Temos de assegurar que todos, sem exceção, possam estudar no Ensino Superior Público. Se isso não for uma realidade, o que é feito do Estado Social?», questionou Pedro Ornelas.

«Neste momento, não podemos entrar em loucuras e dizer que vamos criar 30 ou 40 bolsas, porque isso não é possível. A AAUAlg não tem dimensão nem recursos financeiros para isso. Mas se criarmos uma bolsa por unidade orgânica, é perfeitamente exequível e não nos faz uma mossa gigante», acrescentou.

Daniela Vairinhos, por seu lado, elegeu como principal bandeira «a comunicação com os alunos e aproximar a Associação Académica aos estudantes. Muitas das nossas propostas vão nesse sentido, nomeadamente no que toca às Reuniões Gerais de Alunos (RGA), que acontecem por unidade orgânica», disse.

«Queremos adaptar um sistema que foi criado há dois anos na Faculdade de Ciências e Tecnologias (FCT), que passa por utilizar os alunos que são representantes por anos e por curso – que devem obrigatoriamente estar nessas RGA para representar os seus cursos – e proporcionar um contacto direto entre as turmas e a AAUAlg, bem como com o diretor das unidades, que costuma estar nas reuniões», ilustrou a aluna que encabeça a Lista C.

Daniela Vairinhos também quer tornar usual uma prática que já acontece durante a Receção ao Caloiro, em que há uma comunicação direta, «por sms ou presencialmente» entre os representantes da AAUAlg e as comissões de praxe.
«Tudo aquilo que a Académica faz ao nível pedagógico será informado pelos nossos vice-presidentes aos representantes por ano e por curso, para que a mensagem e a imagem passe e não seja apenas um post ou um comunicado da AAUAlg», defendeu.

Tudo para que os alunos saibam «o que se está a passar e aquilo que nós fazemos por eles. É estar com eles nas salas de aula, fazer o contacto direto e estar perto dos alunos», concluiu.

O reforço da aproximação aos alunos é, de resto, aquilo que Daniela Vairinhos mudaria, em relação ao que foi feito nos últimos anos. Até porque, à semelhança de Pedro Ornelas, considera meritório o trabalho que tem vindo a ser feito pelas anteriores Direções Gerais da AAUAlg, ao nível financeiro e da estruturação da associação, não vendo motivos para alterações de fundo.

«O ponto fulcral é mesmo a comunicação e a maneira como os alunos veem a Associação Académica. Não digo que a visão seja má, mas por vezes é inexistente. Muitos dos alunos não se interessam com o que se passa na nossa academia e isso nota-se na participação. Em cerca de 7 mil alunos que havia no ano passado, 1600 votaram. A taxa de abstenção é muito alta e isso significa que, apesar de estarmos a trabalhar para eles, muitos dos alunos não notam», defendeu a candidata à AAUAlg.

Daniela Vairinhos acrescentou que a questão «do aumento de número de bolsas» é também uma preocupação da sua candidatura.


Da mesma forma, no que toca à comunicação com estudantes, Pedro Ornelas não desvaloriza a sua pertinência, defendendo mesmo que «é fundamental e um dos pilares que tem sido defendido há anos pela AAUAlg». Mas, diz, «é complicado chegar a toda a gente, porque somos uma academia com mais de 8 mil alunos».
O primeiro elemento da Lista A assume-se como um candidato de continuidade da atual Direção Geral e, como tal, diz que manterá a mesma linha. Daí que prefira destacar aquilo que é para manter.

«Quero manter a boa gestão financeira que tem sido feita na Associação Académica e a recuperação que está ser conseguida», considerou.
Noutros campos, como a questão das propinas, ambos os candidatos estão em sintonia: não pode haver aumentos e até devem baixar.


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04
Dez17

OS TRABALHOS DE COSTA!

António Garrochinho
(Joaquim Vassalo Abreu, 02/12/2017)


Dos feitos de António Costa ao longo destes ricos e intensos dois anos enquanto Primeiro Ministro de um Governo de apoio parlamentar nunca visto, que eu desde já apelido até de revolucionário, já quase tudo foi dito.
Mas, para mim, o que mais ressalta e, aqui sim, poderíamos falar de uma autêntica “Reforma Estrutural”, é a mudança radical que se verificou em relação ao “status quo” vigente durante quarenta anos, que foi o de ter sido possível alargar o chamado “arco da governação” aos Partidos mais à Esquerda no espectro político, fazendo com que o futuro não seja mais igual ao passado.
E como se trata de uma mudança radical e irreversível eu chamo de “Reforma Estrutural”. A esta não o ser o que será então uma “Reforma Estrutural”? Por isso hesitei entre este título e “Os Trabalhos das Esquerdas” mas, pensando melhor e pensando no texto acho este mais indicado. Espero que concordem…
E esta autêntica revolução foi provocada, por um lado, pelo convencimento pelas Esquerdas de que a estratégia do “quanto pior melhor” era árvore que, depois de mais de quatro anos de pesadelo, não mais daria frutos ( e eu já aqui o disse que mudei o meu sentido de voto por isso mesmo) e da subsequente sua disponibilidade para viabilizar um Governo de Esquerda e, por outro lado, pelo cansaço provocado pela política de autêntica predação social levada a cabo pelo tal governo do ajustamento, que fez com que se tivesse erguido uma autêntica barreira à sua continuação.
Temia-se que o impacto imediato resultante da solução governativa encontrada e da tremenda “azia” que tal provocou numa Direita apanhada de surpresa, acompanhados da imprevisibilidade de um novo Presidente da República, da pressão e postura de Bruxelas com ameaças de sansões, do problema das ajudas aos Bancos, da passagem do Orçamento e da exigência de planos B, C e demais dicionário e a que poderíamos acrescentar ainda alguma duplicidade dos parceiros parlamentares de Esquerda face aos temas estruturantes não negociados, desse mau resultado e a fizesse abortar à nascença.
Mas, felizmente, tal não sucedeu e passo a passo e com estoicismo, nunca cedendo às inúmeras chantagens da Direita e seus aliados nos Média, demonstrando sempre a Bruxelas a sua boa fé, ultrapassando sempre tudo o que dos seus parceiros cheirasse a imediatismo, aproveitando ainda a boleia da recuperação económica europeia, o Governo de Costa foi somando pontos, tanto na política interna como na afirmação externa, por via de uma recuperação sustentada de indicadores que, a partir de certa altura, face à precoce incredulidade, se tornaram num valiosíssimo trunfo.
E sem dar qualquer azo de contrição a Bruxelas que, de outro modo, nunca aceitaria flexibilizar a sua posição de reaccionário princípio, a da reversão de direitos aos trabalhadores e pensionistas, foi possível impor e efectuar as tais reversões, reversões que, com o aumento de rendimento disponíveis para as famílias, mais a confiança conquistada em todos os sectores sociais e da economia, mais a consequente descida do desemprego e folga da Segurança Social, deixou a Direita a falar sozinha e a “patrioticamente” desejar que tudo corresse mal e o fim do mundo chegasse a correr e vestido de diabo!
A recuperação e o crescimento económicos passaram a ser um facto e os indicadores de popularidade e satisfação globais, além de se terem tornado também uma realidade, levaram as sondagens a apontarem o limiar da maioria absoluta para o PS.
Não plenamente esgotadas as medidas contidas nos acordos inicialmente negociados e firmados, mas em vias de ficarem totalmente executadas começou, no meu entender, a instalar-se um clima de preocupação nos Partidos mais à esquerda pois, sendo eles partes integrantes da solução, começaram a ver os louros irem todos direitinhos para o PS, como de algum modo se veio a reflectir nas Autárquicas.
Mas com a Economia a responder como se sabe, a confiança dos consumidores e demais agentes em alta, o grau de satisfação das famílias e das empresas em níveis há muito tempos nunca vistos, com o desemprego a diminuir progressivamente, o crescimento a sustentar-se, as Agências de Rating a tirarem Portugal do incómodo “lixo” de risco etc. etc. e etc…aconteceram a tragédia de Pedrogão e os incêndios de Outubro, mais os acima de cem mortos que provocaram acrescidos dos enormes danos causados.
O Governo foi posto à prova e mais que o Governo o próprio Estado, nas suas múltiplas Instituições e foi o que se viu. O Governo perante o inesperado titubeou, não agiu com a eficácia na acção nem com inteligência no discurso e colocou-se em muitas mentes um ponto de interrogação em relação à sua real competência (em confronto com a eficácia conseguida a todos os níveis nos dois anos de governação) e tal situação de dúvida, exacerbada por uma comunicação social ávida de tensão e morte, foi utilizada até aos limites do imaginário por uma Direita sem quaisquer escrúpulos, bom senso e apenas sedenta de vingança. Vingança de quê? De alguém lhes ter tirado o “poleiro”!
Vieram então as justificações e respostas, as demissões e coisas mais e contrariamente ao que se poderia temer e muitos temiam, os resultados das Autárquicas vieram confirmar que os danos políticos desejados por uma Direita ansiosa por “vendetta” não correspondiam ao entendimento da “vox populi” e, no fim, o PS não saiu fragilizado, antes pelo contrário, e ganhou até em Pedrogão!
As restantes Esquerdas, pese o facto de terem votado favoravelmente o terceiro e penúltimo Orçamento desta Legislatura, começaram a manifestar sinais de indisponibilidade para novos acordos escritos pelo que, tendo de admitir que os próximos dois anos até ao fim da Legislatura venham a ser ultrapassados sem quaisquer crises políticas graves, com altos, baixos, arrufos e sei lá que mais, coloca-se-se uma questão essencial: Como vai ser até às próximas Legislativas e como será depois se, tal como espero e desejo, as Esquerdas se mantiverem maioritárias? Por falta de acordo vão entregar o poder às Direitas?
O PSD vai apresentar um novo líder, que tudo aponta venha a ser Rui Rio e, assim sendo, voltará a colocar-se em cima da mesa por muitos a hipótese de um acordo pós-eleições ao centro (o tal “centrão” novamente, PS+PSD, ou Costa mais Rui Rio). E para isso vão as Esquerdas alertar o eleitorado, tentando-o convencer a por nada deste mundo dar a maioria absoluta ao PS.
É claro que as Esquerdas vão reclamar também como seus os sucessos desses quatro anos de governação, advindos de uma maioria nunca vista ou sonhada e, a haver qualquer solução alternativa em que eles não estejam presentes, irão culpar o PS por tudo o que de menos bom posteriormente suceda.
Mas eu, como não prevejo que façam novamente acordos escritos, elas viabilizarão sempre um Governo minoritário do PS, cientes de que ficarão sempre com a faca e o queijo na mão: poderem reclamar e exigir por um lado e criticar e responsabilizar por outro!
Não prevejo, portanto, vida fácil para António Costa, não falando para já nos conflitos internos que tudo isto possa aportar e prevejo-lhe, antes, muitos e duros trabalhos.
Mas, em nome de tudo o já conseguido, em nome da tal “reforma estrutural”, esse tiro tirado da manga que foi o de introduzir as Esquerdas à sua esquerda na órbita da governação eu, como cidadão empenhado e consciente, muito lhe agradeço essa autêntica “revolução” introduzida neste sistema e desejo do fundo do coração que tudo lhe corra bem e, acima de tudo, que as Esquerdas voltem a ser maioritárias!
Esta é a minha análise! Não consigo ser hipócrita…


04
Dez17

FRATERNIZAR – Mianmar e Bangladesh – O QUE FAZ CORRER O PAPA JESUÍTA? – por MÁRIO DE OLIVEIRA

António Garrochinho


14 horas de voo. Destino: Mianmar e Bangladesh. Na Ásia. Dos 51 milhões de habitantes de Mianmar, maioria budista, apenas 700 mil são católicos. Dos 163 milhões de habitantes de Bangladesh, 85% são muçulmanos e o islamismo é a religião oficial do Estado, enquanto os cristãos integram os 0,3% do grupo, “Outras crenças”. Não são, pois, os católicos de um e outro país, cujas populações sobrevivem em chocante pobreza-miséria que move o papa jesuíta. É a Ásia, no seu todo, onde o império de Roma tem tido grande dificuldade em instalar-se nas mentes das populações, ocupadas por outras religiões. Em flagrante contraste com a Europa e com o continente latino-americano, onde todos os Estados são seus braços seculares, sempre que necessário. Inquisição “dixit”.
Consciente de que a sede do seu império já domina as mentes das populações da Europa e dos países que as descobertas e conquistas, com a cruz numa mão, a espada na outra e a Bíblia na sacola, lhe acrescentaram, o papa jesuíta, vestido de dominicano e com nome franciscano sabe bem que, para ser o senhor do mundo, tem de rasgar novos caminhos, se quer instalar-se também nas mentes dos povos asiáticos. O Ocidente já está garantido, e, hoje, na forma mais devastadora que é a versão laica pós-cristã e ateia, adorador do único deus todo-poderoso, o Dinheiro. É imperioso, pois, instalar-se nas mentes dos povos da Ásia. Com múltiplas acções de bem-fazer e escolas com a marca da cruz e a ideologia-teologia da Bíblia. Para que haja um só rebanho e um só pastor, não na maiêutica linha política de Jesus Nazaré, mas na do invicto Cristo bíblico-financeiro.
Por coincidência, a Argentina, país natal do papa jesuíta, está em lágrimas, com aquele submarino desaparecido, desde 15 de Novembro. Dentro, 44 seres humanos que, nesta altura, é suposto estarem todos mortos. Mas a agenda papal não previu este grave acidente e é para estes dois países com mais de 200 milhões de habitantes, no seu conjunto, ligados entre si também por fronteira terrestre, que o papa jesuíta argentino teve de ir. Cumpriu-se a agenda, arrancada a ferros. Quem ainda não é súbdito de Roma, mas de outras crenças, também elas conquistadoras das mentes das populações, resiste o mais que pode a fazer-se cristão católico romano. Adoradores do mesmo deus, o todo-poderoso Dinheiro, mascarado de outros nomes, já são. Mas súbditos do papa de Roma ainda não. E isso faz toda a diferença para as ambições de Roma. É para pôr fim a esta substantiva diferença, que o papa jesuíta argentino se multiplica em viagens. É isto que o move. É sempre bem recebido, porque todos Estados do mundo sabem que o mais sofisticado e mais letal armamento está nas mãos dos Estados que já são súbditos dele. E isso pesa tanto, que qualquer outro Estado tem de agendar a visita sugerida por Roma.
Só tresloucados fanáticos ousariam atentar contra o papa de Roma. Pelo que todo o investimento que cada Estado tem de fazer para assegurar a sua integridade durante a visita é feito a pensar nesses que todas as fés religiosas têm, ou elas próprias não fossem as suas mães. Fossem só os graúdos dos Estados a ver-receber o papa de Roma e não seria necessário o chocante investimento que cada viagem papal exige. Mas o papa imperador de Roma não prescinde dos banhos de multidão. E cada Estado, budista, hindú, islamita, protestante ou ateu, capricha no recurso ao protocolo imperial. Até porque, depois do regresso do papa a Roma, são eles que ficam no terreno, com as populações ainda mais conformadas com a miséria em que vegetam. Viram de fugida o papa de Roma e a ostentação das suas missas e depressa concluem que nasceram para ser o que são – miseráveis, analfabetos, carne-para-canhão. Como exige o todo-poderoso deus Dinheiro. O de todas as fés religiosas, inclusive, do ateísmo. Resta-lhes por isso conformar-se com os restos que caem da mesa dos palácios dos respectivos chefes, com os quais o papa de Roma, seu potencial imperador, se encontrou, abençoou e negociou.
04
Dez17

Barroso acusado de traição

António Garrochinho



Dusan Sidjanski, antigo professor de Durão Barroso, revelou em carta: “Cortei todos os laços com ele.” E Sidjanski, um dos mais prestigiados docentes da Universidade de Genebra, explica, assim, a razão de tão radical decisão: “Ele usou as instituições da UE para participar nos piores bancos globais.”
A acusação de Dusan Sidjanski, que além de professor foi amigo de Durão Barroso, foi conhecida na mesma semana em que a imprensa suíça tornou público o fim da ligação de Barroso à universidade onde estudou e agora dava aulas como professor convidado.
Para Sidjanski a ligação do Dr. Barroso ao Goldman Sachs é uma “mancha para a Europa”. Por isso, sublinha, “não posso acreditar que neste momento ele destrua a sua reputação a este ponto. Isso mostra que ele é fraco.”

(Dusan Sidjanski é um dos mais renomados e prestigiados académicos mundiais, Politólogo e professor universitário, Sidjanski nasceu em Belgrado, onde estudou na escola francesa. Sidjanski frequentou a Universidade de Lausanne e formou-se em Ciência Política na Universidade de Paris. Foi ele que fundou o Departamento de Ciência Politíca da Universidade de Genebra e é autor de várias e importantes obras).

A notícia de que a Universidade de Genebra (UG) não renovou o contrato do Dr. Barroso e prescinde dos serviços do “prof” foi tornada pública na última semana pelos jornais suíços, mas entre nós passou quase total e convenientemente despercebida.
O estabelecimento de ensino da Genebra não revelou as razões que o levou a não renovar o contrato com o professor Barroso, mas o jornal “Le Temps” adianta que o seu vínculo ao Goldman Sachs é o motivo para tão drástica decisão. Durão estudou e trabalhou nos anos 80 naquela universidade e agora dava ali aulas sobre políticas europeias.
Uma coisa é certa: a Universidade de Genebra considera que o banco de investimento norte-americano, que agora dá emprego a Barroso, é um dos grandes responsáveis pela crise financeira de 2008. Uma crise que, recordo, provocou a falência de estados e empresas e dizimou milhares de famílias em todo o mundo.
O “Le Temps” assegura que o meio académico suíço se considera “traído” por Barroso. Dr. Barroso que, antes de ser anunciada a sua contratação pelo Goldman Sachs, revelou aos seus pares que iria ter menos tempo disponível, pois iria trabalhar para uma “grande” entidade. “Disse-nos que não nos ia agradar”, lembra René Schwok, diretor do Instituto de Estudos Global, da Universidade de Genebra.
Como se vê, o Dr. Durão não se importou em desagradar e trair. O meio académico suíço e a presidência da UE foram apenas as camas de aluguer que utilizou para se deitar na alcova dos gangsters globais..

estatuadesal.com

04
Dez17

A ficção mais cruel dos nossos dias

António Garrochinho


José GoulãoOs exemplos da cumplicidade entre os operacionais da «guerra contra o terrorismo» e os terroristas abundam. Quando as tropas sírias e os seus aliados russos libertaram Deir ez-Zor encontraram um gigantesco arsenal do Daesh – camuflado e em abrigos subterrâneos – constituído essencialmente por armamento, munições, tanques e viaturas de transporte de fabrico norte-americano e dos seus aliados, desde as mais relevantes potências da NATO a Israel. E, agora que em alguns casos protegem a sua retirada, assumem até o risco de importar terroristas para os seus próprios países.



A mensagem propagandística dizendo-nos que os Estados Unidos da América e seus mais sonantes aliados combatem o chamado «Estado Islâmico» ou Daesh é, nas suas múltiplas consequências e nos desmultiplicados efeitos, a ficção político-militar mais cruel dos nossos dias.
Em primeiro lugar porque é uma mentira; depois, porque essa aldrabice, assumida e propagada conscientemente, ilude expectativas e esperanças alimentadas nas vastas comunidades que vivem directa ou indirectamente aterrorizadas; além disso, porque mistifica a realidade da situação internacional, fazendo com que prevaleçam e surtam efeito as teses disseminadas a propósito de supostas ameaças que, de facto, não o são; e também porque é uma mentira que distorce o verdadeiro significado do terrorismo, tenta esconder as suas cumplicidades e permite que se escondam na floresta dos enganos e da desfaçatez assassina os que tiram mais proveitos do crime.

Porém, a cortina censória que deixa amplo espaço à mistificação não é opaca. Há muito que se conhecem cumplicidades entre os cruzados da guerra contra o terrorismo e os seus supostos alvos, cultivadas em terrenos férteis que se alongam do Afeganistão à Líbia.
Também não é novidade, para muita gente, que se o Daesh não possui hoje a força que lhe fomentou a aura de arrasador, de horda irresistível, isso deve-se aos terríveis golpes que lhe têm sido infligidos, na Síria, pela cooperação entre as forças armadas russas e sírias; e, no Iraque, pelo exército iraquiano, desde que conseguiu furtar-se às grilhetas da tutela absoluta das forças ocupantes norte-americanas, que o condenavam a uma confrangedora inutilidade.


Mesmo não conseguindo encobrir tudo, o manto da propaganda veda, à maioria das pessoas, o conhecimento da realidade integrada do espectro do terrorismo, dos seus apoios e beneficiários, transformando-a num produto inconsumível, ferido de maneira letal pelas artimanhas das supostas, e cada vez mais abrangentes, «teorias da conspiração».


A BBC, numa situação que honra o jornalismo íntegro, rarefeito a esse nível, desafiou agora essa maldição e foi um dos meios de comunicação que divulgou a maneira como a «coligação internacional» chefiada pelos Estados Unidos para «combater o Daesh» na Síria organizou, em 12 de Outubro, a fuga e salvamento de grande parte da estrutura operacional deste grupo acantonada na sua «capital», a cidade síria de Raqqa.


Quando perderam o principal reduto, graças à ofensiva generalizada das forças de Damasco e dos seus aliados russos, os comandantes, destacamentos militares, respectivas famílias, armas e munições do Daesh beneficiaram de um comboio de transportes, longo de sete quilómetros e com motoristas pagos a peso de ouro, facultado pela «coligação internacional» e pelos seus amanuenses das «forças democráticas sírias», um dos vários heterónimos do terrorismo internacional que levou a guerra à Síria.


Desta maneira, e armados até aos dentes, de acordo com o relato da BBC, os derrotados em Raqqa foram redistribuídos pelo território da Síria ainda sob ocupação e alguns chegaram à Turquia.


Outros seguiram destino diferente. Segundo um terrorista de origem francesa entrevistado pelo autor da reportagem da televisão britânica, ele e outros membros do Daesh receberam instruções para regressar à Europa, designadamente a França, para organizarem atentados.
Por essa altura, os serviços de espionagem norte-americanos advertiram os seus parceiros do lado de cá do Atlântico para se precaverem contra a possibilidade de acontecerem novos ataques terroristas, sobretudo por ocasião das festas de Dezembro.


Em boa verdade, a NSA e subsidiárias não necessitam da sofisticada aparelhagem de combate à privacidade dos cidadãos de que dispõem ao redor do globo. Sabendo que o Pentágono organiza a salvação de terroristas do Daesh em perigo, e que alguns destes recebem instruções para realizar atentados, qualquer exercício da mais elementar lógica aristotélica garante deduções óbvias como a que foi comunicada à comunidade europeia da espionagem.
Os apoios assegurados pela «coligação internacional» ao Daesh em Raqqa não são caso único, longe disso. Outros já conhecidos apenas não têm cobertura da BBC ou similares, logo não existem – embora aconteçam.


Como em At Tanf, onde os Estados Unidos, em nome da «coligação internacional», criaram uma base aérea clandestina – porque à revelia do governo legítimo da Síria – alegadamente «para combater» o Daesh. No âmbito das operações nessa base, os ocupantes vedaram o acesso das comunidades locais, e dos refugiados do campo de Rukban, a todo o auxílio humanitário numa área de 55 quilómetros em redor. Por duas vezes, pelo menos, o exército sírio e seus aliados foram atacados a partir dessa base quando realizavam operações contra o Daesh.


Também em Abu Kamal se registaram acontecimentos associados a esta estranha guerra da «coligação internacional contra o terrorismo». A região foi libertada pelo exército de Damasco e não tardou que os satélites registassem o movimento de um longo comboio de êxodo, dando a fuga aos terroristas derrotados em direcção a Wadi al-Sabha, ponto de passagem para território do Iraque sob controlo norte-americano.


Partilhando as indesmentíveis evidências registadas, Moscovo entrou em contacto com a «coligação» sugerindo uma cooperação operacional para atalhar a fuga dos criminosos e completar o trabalho antiterrorista realizado em Abu Kamal. A resposta de Washington foi negativa: os fugitivos estavam «a render-se voluntariamente», pelo que não poderiam ser atacados à luz das Convenções de Genebra.

Provando que levavam a sério o pretexto invocado, apesar de os mercenários se retirarem em condições perfeitamente operacionais, prontos a retomar a guerra noutras frentes, tropas da «coligação», congregadas em redor dos «moderados» das «forças democráticas sírias», internaram-se 15 quilómetros em redor de Abu Kamal para neutralizarem qualquer ofensiva das forças de Damasco contra os terroristas foragidos.


Em Abu Kamal, o contingente libertador encontrou provas de que as «forças democráticas sírias» e o Daesh actuam, afinal, em conjunto. Philip Giraldi, ex-operacional da CIA e analista israelita, desmentiu que exista qualquer colaboração entre os terroristas «moderados» e os «extremistas», apesar das evidências.


«O que pode haver é uma certa mistura em alguns enclaves», admitiu. Remetendo-nos mais uma vez para a denúncia feita pelo general norte-americano Wesley Clark, ex-comandante supremo da NATO, segundo a qual Israel também contribuiu para a criação «do projecto do Daesh».

Os exemplos da cumplicidade entre os operacionais da «guerra contra o terrorismo» e os terroristas abundam. Quando as tropas sírias e os seus aliados russos libertaram Deir ez-Zor encontraram um gigantesco arsenal do Daesh – camuflado e em abrigos subterrâneos – constituído essencialmente por armamento, munições, tanques e viaturas de transporte de fabrico norte-americano e dos seus aliados, desde as mais relevantes potências da NATO a Israel.


No impressionante mostruário não faltavam avançados sistemas de comunicação e reconhecimento, além dos mísseis anti-tanque TOW, que se obtêm unicamente por fornecimento directo e não em qualquer revendedor de vão de escada. O fenómeno teve uma explicação oficial norte-americana, a de sempre: «os fornecimentos foram feitos pelos Estados Unidos aos seus aliados no terreno, mas caíram nas mãos dos terroristas».

As explicações oficiais de Washington, já o sabemos, valem o que valem. No auge da vaga de propaganda em torno da suposta participação da «coligação internacional» na libertação do feudo do Daesh em Raqqa, o secretário norte-americano da Defesa, James Mattis, explicou que o objectivo dos Estados Unidos é «o extermínio» dos terroristas.
«Procuraremos que nenhum sobreviva a este combate», assegurou. Confrontado, entretanto, com a operação de salvamento e fuga das estruturas criminosas derrotadas, o general norte-americano Ryan Dillon, porta-voz da «coligação internacional», assegurou que esta prática não contradiz a estratégia definida por Mattis. «Demos aos nossos aliados sírios o poder de decidir, uma vez eles é que morrem no terreno; escolheram evitar os tiroteios e poupar vidas humanas», sentenciou.

Ainda em matéria de explicações oficiais, segundo a CNN o Pentágono prepara-se para anunciar que são dois mil, e não apenas 500, os efectivos militares norte-americanos na Síria, e todos eles do ramo de operações especiais. Trata-se de um contingente de invasão, porque entrou e permanece à revelia do governo legítimo do país.

O objectivo, justifica Mattis, é que «os Estados Unidos se mantenham militarmente no terreno para apoiar uma solução diplomática». Mas como as explicações oficiais, já o sabemos, valem o que valem, não custa admitir que Washington, a par de Israel, tente evitar, a todo o custo, a vitória de Damasco, a reunificação síria e o restabelecimento da normalidade no país.
Alguém disse que a insistência no desmembramento da Síria pode ser «um novo Vietname» para os Estados Unidos. Uma interpretação capaz de ser bem menos ficcional que as declarações norte-americanas – e da NATO – garantindo que praticam o «combate ao terrorismo», e prometendo até «o extermínio do Daesh».


04
Dez17

AI ! QUE ROUBALHEIRA

António Garrochinho


E VAI HAVENDO QUEM AINDA CONSIGA PAGAR ESTAS CONTAS POR DOIS CAFÉS, UM DESCAFEINADO, E UMA ÁGUA.
OS QUE LÁ VÃO DE CERTEZA QUE NÃO LHES CUSTA A GANHAR.
LÁ VEM O VELHO DITADO: QUEM TEM CABRAS...
foto:.Rui De Noronha Ozorio
04
Dez17

Aliança de Oposição hondurenha festeja vitória

António Garrochinho
HispanTV

[Giorgio Trucchi | LINyM] 


As eleições presidenciais hondurenhas de 26 de Novembro parecem ter dado a vitória ao candidato da oposição, Salvador Nasralla, mas o Supremo Tribunal Eleitoral ainda não confirmou esse resultado.
Registem-se, para já, dois dados politicamente significativos da biografia política de Nasralla: um, ser um dos fundadores do partido “Anticorrupção”; outro, ter assinalado a responsabilidade dos grandes media no empolamento da crise venezuelana. Talvez esses dados ajudem a explicar a demora.
Um processo eleitoral que viu milhões de hondurenhos saírem pacificamente a votar para eleger as suas autoridades para os próximos quatro anos está-se convertendo aceleradamente numa farsa eleitoral, que poderia em breve converter-se em perigosa crise política.
Os magistrados do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) negam-se a dar a conhecer os resultados das eleições de 26 de Novembro. A única informação da madrugada da passada segunda-feira – resultante da pressão dos observadores internacionais – referia-se a 58% das actas, em que o candidato da Alianza de Oposición, Salvador Nasralla, tinha uma vantagem superior a 100 mil votos sobre o seu principal concorrente, ol actual presidente Juan Orlando Hernández.
Ambos candidatos se declararam vencedores, os ânimos estão a aquecer e o TSE cala-se, de forma suspeita. Apenas o magistrado suplente do TSE Marco Ramiro Lobo admitiu que a vitória de Nasralla “é irreversível”.
De acordo com o presidente do TSE Davíd Matamoros, o tribunal dará resultados definitivos uma vez contadas todas as actas. Ainda faltariam umas 7500 actas que supostamente não puderam ser transmitidas por via electrónica a partir dos centros de votação e que estão agora sendo entregues fisicamente. Estas actas representam aproximadamente uns 2 milhões de votos. Os resultados seriam dados a conhecer até quinta-feira 30 de Novembro.
Entretanto, tanto a Alianza de Oposición como o Partido Liberal asseguram ter em seu poder um número muito maior de actas. Segundo os dados da contagem paralela da Alianza de Oposición, com 71.4% das actas físicas processadas Nasralla (45.6%) manteria uma vantagem de 5 pontos sobre Hernández (40.6%). Muito atrás estaria o candidato liberal Luis Zelaya com 13.9%. A diferença é de quase 118 mil votos. Os liberais dizem ter em seu poder mais de 90% de actas.
“O Tribunal tem os mesmos dados. Os observadores também. A tendência é irreversível e eu sou o novo presidente. ¿Porque se calam então?”, interrogou-se Nasralla ante uma multidão que se concentrou frente às instalações do TSE para exigir que cesse de atrasar a publicação de resultados.
A incerteza criada pelas autoridades eleitorais está sendo aproveitada pelo partido oficialista e pelo actual presidente e candidato à reeleição, que se proclamou ganhador, embora as contagens que apresenta se refiram sempre a sondagens internas. Activistas do Partido Nacional saíram à rua em diferentes partes do país.
Juan Orlando Hernández está a ficar isolado, uma vez que o candidato do Partido Liberal, Luis Zelaya, reconheceu a vitória de Nasralla e aceitou trabalhar com ele e com a Alianza durante a próxima legislatura.
“Juan Orlando (Hernández) e seu partido não se atrevem a reconhecer a sua ampla derrota. Por favor, façam-no. Não podem já reverter isso. O povo decidiu e devem respeitá-lo. Espero que o tribunal tome nas próximas horas a decisão de dizer a verdade”, disse Nasralla ante a multidão.
Fonte: LINyM
https://nicaraguaymasespanolblogspot.com/2017/11/fotos- honduras-alianza-de-oposicion. html
04
Dez17

Domingos Abrantes. “Os comunistas devem ter uma conduta de vida. Há coisas que se colam”

António Garrochinho

Domingos Abrantes acusa Zita Seabra de mentir e assume que tem “pouca consideração” pelos dissidentes

Domingos Abrantes tem 81 anos e orgulha-se de ser o único membro do Conselho de Estado que não é doutor. Garante que preferia morrer a falar na PIDE e assume que tem “pouca consideração” por aqueles que saíram do PCP e mudaram de partido. “Ganharam muito em passar para o lado do capital.” Foi, nas últimas décadas, um dos importantes dirigentes do partido e congratula-se com esta solução governativa. 
Lembra-se do dia em que se tornou comunista?
Tenho memória do dia em que ingressei no MUD Juvenil. Foi um jovem meu amigo que me abordou e isso é uma coisa que ficou gravada. Foi esse mesmo jovem que me ligou depois ao partido. 
Com que idade?
Tinha 17 anos.
Era operário...
Era operário. Nessa altura trabalhava na Fábrica de Material de Guerra.
É o único operário no Conselho de Estado.
Exatamente. É uma coisa curiosa porque sou o único que não é doutor. Isso tem algum significado, porque tem em conta a natureza deste partido. Seria difícil isso acontecer em qualquer outro partido. 
Como tem visto esta experiência governativa? Posso chamar-lhe uma aliança entre o PS e o PCP?
Não. Não é uma aliança. Esta solução governativa ou, se quisermos, esta solução política tem de ser vista do ponto de vista político e institucional. Do ponto de vista institucional, ela tem uma enorme importância porque se interrompeu uma governação de direita com todas as consequências que isso teve para o país. 
Afastar a direita do poder foi a razão mais importante para o PCP aceitar esta solução?
Nalguns aspetos pode ser a mais importante. A direita tinha um projeto muito claro de aprofundamento dessa ofensiva, podemos dizer que queria quase fazer um ajuste de contas com o que ainda restava do 25 de Abril. E, portanto, o afastamento da direita era o nosso objetivo estratégico fundamental. Esta solução política teve outro resultado de uma enormíssima importância, porque a Assembleia da República estava transformada numa caixa de ressonância dos governos. Os deputados estavam ali para sancionar as políticas governativas e esta solução permitiu restituir dignidade à função dos deputados. A aprovação deste Orçamento é disso um bom exemplo. A terceira questão é que já se tinha criado a ideia de que havia partidos que podiam existir, caso do PCP, mas não podiam intervir nas soluções governativas. Acabar com essa ideia de que havia partidos que não podiam intervir nas soluções governativas foi um grande avanço.
O que fez com que esta solução não fosse possível durante 40 anos de democracia?
Não aconteceu antes, mas nós batalhámos por isso. Houve dezenas de encontros no sentido de nos entendermos para barrar o caminho à direita. O que aconteceu foi que, desta vez, conjugaram-se vários fatores, nomeadamente a disponibilidade do PS para inverter o rumo de 40 anos de aliança com a direita. Isso é um facto. Podemos dizer que o seguro de vida da política de direita tem sido a aliança do PS com os partidos de direita. A direita conseguiu conquistas monumentais ao longo destes anos, reconversões do regime democrático, porque contava com o PS. Desta vez houve uma disponibilidade do PS para mudar de rumo. Existia também a nível das massas um sentimento de que era preciso mudar. Mas o PCP está longe de considerar que esta é a solução ideal e está longe de considerar que esta é a política necessária. Foi aquilo que foi possível.
Não existe uma contradição quando o PCP vota a favor dos Orçamentos deste governo e ao mesmo tempo contesta o governo na rua?
Isso nem é novo. Nós estivemos nos governos provisórios e isso é uma questão de princípio. Não abdicamos da defesa desses valores. Nós assumimos e cumprimos os compromissos que foram assumidos. Esperamos que o Partido Socialista também os cumpra. 
Está a cumprir?
Sim. Até agora tem cumprido. A nossa opinião, como é sabido, é que é necessário ir mais longe. Há muita coisa que não foi revertida e que nós não aceitamos que se considere que foi caso perdido. Por exemplo, o PS não quer mexer nas leis laborais e foi das grandes reversões que houve em termos dos direitos dos trabalhadores. 
O mais certo é o governo não ceder a essa pretensão do PCP.
O PS responde por ele. As cedências do PS ao patronato são claras. Houve enormes retrocessos que degradaram imenso as condições dos trabalhadores. Hoje estamos confrontados com um problema que devia preocupar todos os democratas, porque o patronato atua na maior das impunidades. Os trabalhadores não sabem qual é o seu horário de trabalho, Temos horários de trabalho com 60 e 70 horas, sete dias por semana, e é pegar ou largar. Nós não damos por adquirido que isso é para ficar assim. O PS, a certa altura, tem de fazer opções. 
Há pouco lembrava que o PS, até agora, tinha sempre optado por governar com a direita. Julga que o PS mudou ou foi apenas uma questão de oportunidade virar-se agora para os partidos à sua esquerda? 
É uma boa pergunta. As alianças do PS com a direita não foram conjunturais. Eu quero recordar que nós tínhamos um acordo com o PS antes do 25 de Abril. No dia 23 de março de 1974 houve um encontro, ao mais alto nível, entre delegações do PCP e do PS em que foi estabelecido um acordo, porque estava no horizonte o derrubamento da ditadura. A ideia era que o entendimento entre os dois partidos era fundamental para a consolidação do regime democrático. O PS rasgou isso muito rapidamente. O grande problema é que não há um Partido Socialista. Há vários. Repare que há gente que rejeita esta solução política e defende o bloco central.
O Francisco Assis, por exemplo, defende que o PS está mais próximo do PSD do que do PCP em questões fundamentais como a União Europeia. Não tem alguma razão?
O PS, como disse, são vários partidos. Conheço bem o PS. Existe uma situação curiosa porque temos um Partido Socialista que nunca fala do socialismo. Não me consegue indicar um dirigente do PS que fale em socialismo. É uma coisa esquisitíssima. Depois é esquisito - pelo menos, coloca algumas interrogações - o facto de haver muitos dirigentes do PS que são gestores de grandes grupos económicos e financeiros e trabalham para bancos. Isto para dizer que aquilo que o Assis disse tem algum fundamento. A base das alianças do PS com a direita, ao longo dos anos, tem um suporte de interesses de classe comuns. 
Conheceu bem Mário Soares. Falavam muitas vezes?
Encontrei-me dezenas de vezes com o dr. Mário Soares. O problema que nós enfrentámos, a seguir ao 25 de Abril, e continuamos a enfrentar hoje é que havia uma corrente de democratas, à qual o dr. Mário Soares pertencia, que queriam um regime de liberdades democráticas, mas queriam manter os monopólios, os latifúndios e as alianças internacionais. Queriam um regime de liberdades, mas mantendo os que eram responsáveis pela ditadura. Esta contradição existiu e continua a existir. Mas também julgo que há uma corrente no PS...
Mais à esquerda...
Repare que os partidos socialistas estão a pagar caro por terem feito alianças com a direita. O Assis, quando fala que o futuro é uma aliança com a direita, devia lembrar-se daquilo a que conduziu essa situação na Grécia, em França, na Holanda... 
Olha para o PS com desconfiança? 
Não olho com desconfiança. Eu repito: eu participei numa delegação do PCP em que houve uma discussão sobre este problema e nós afirmámos que considerávamos a aliança com o PS como uma questão fundamental para a consolidação da democracia. Isto faz toda a diferença. É evidente que não se fazem alianças se não há uma base comum de questões fundamentais. 
Usou os contactos que tem com alguns socialistas para ajudar a construir esta solução política?
Nós sempre falámos com socialistas. Isso é uma coisa que é conhecida. Creio que aquela feliz frase do Jerónimo de que “o PS só não forma governo se não quiser” foi decisiva para barrar o caminho a novas tentações da direita.
O PS tem tentado assumir a paternidade desta solução política.
É um facto histórico. Ficou claro para o país que a direita só iria para o poder se o PS quisesse. 
O PCP teve um mau resultado nas autárquicas. Não teme que esta solução política beneficie o PS e prejudique o PCP?
Não. Querer fazer uma ligação direta entre os resultados e esta solução política não faz sentido nenhum. É curioso que a direita insista na ideia de que isto foi um mau negócio para o PCP. Quando a direita fala nisto, há razões para desconfiar. A direita está nervosa e tem alguma razão para isso, porque tinha dado por adquirido que a política que tinha seguido era para continuar e isso não aconteceu. Há aqui toda uma chantagem de um anticomunismo serôdio. 
Os fracos resultados eleitorais do PCP não o preocupam? 
Tínhamos razões para estar preocupados se o PCP perdesse a sua autonomia. 
Se o PS voltar a precisar do PCP, a seguir às próximas eleições, o que vai acontecer? 
Esta solução nasceu de um quadro especifico muito concreto. Tratava-se de barrar o caminho à direita. É evidente que esta solução provou que não há políticas de via única, provou que era possível outra política, e isso não é um ganho pequeno, mas é limitado. Uma grande parte dos nossos recursos são absorvidos pelo serviço da dívida. Portugal está inserido na União Europeia e o PS faz da União Europeia a sua bandeira, mas nós somos um país cada vez mais limitado na sua capacidade de decisão e na sua soberania. Nós, aparentemente, decidimos questões orçamentais, mas está ali sempre um parceiro a pedir-nos contas. Para que serve o parlamento? 
Apesar de todas essas divergências entre o PCP e o PS, tem sido possível alguma estabilidade. Julga que o governo vai durar quatro anos?
Há muita gente que gostava que isso não acontecesse. Basta ouvi-los. Dá ideia que lá em casa acendem umas velinhas para que isso não se concretize. Nós cumpriremos as condições que foram acordadas, mas a bola está do lado do PS. O PS é que é governo e os Orçamentos é que põem lá o que é decisivo. Se aumenta salários, carreiras... Se não for lá posto, se não for decidido no concreto... Não há acordos em abstrato. Isto é passo a passo, é ano a ano. Vamos ver o próximo. 
O PCP entrar num governo do PS já será um passo mais difícil ou não?
O PCP não rejeita participar no governo desde que o nosso povo lhe dê as condições para isso. Ninguém pode pensar que iríamos para o governo dar aval a limitações da nossa soberania ou a agressões a outros povos. Isso não vai acontecer. Isso era o fim. Temos um património de gerações sucessivas que deram o melhor da sua vida pelo Portugal democrático, de-senvolvido e soberano. Não vamos hipotecar esse património. 
Mas se António Costa convidar o PCP para ir para o governo... 
A primeira coisa que os que cá estiverem nessa altura perguntarão ao António Costa é: qual é a política?
Já conhecemos a política do PS com António Costa durante estes dois anos.
Não é a política destes dois anos. Isso, então, nem valia a pena fazerem-nos uma proposta. 
Voltando ao início desta conversa: a sua vida mudou completamente quando entrou para o partido, com menos de 20 anos...
É evidente. Uma coisa é ter uma vida normal, estar com os amigos, ir ao café... A minha vida passou a ser uma vida de clandestino.
Não lhe custou sacrificar a juventude? 
A minha juventude foi uma juventude de luta. Entrei numa fábrica aos 11 anos. Era normal na época. Foi uma juventude de entrega à resistência com o ardor próprio dos jovens. 
Sempre teve essa convicção de que um dia aconteceria qualquer coisa como o 25 de Abril?
Demorou mais do que eu imaginava naquela altura, mas tinha confiança absoluta. Podia não ver... A esperança de um comunista era ver o derrube do fascismo. Tive essa felicidade. Muitos camaradas deram a vida por isso. 
Não tinha medo das consequências de entrar para o PCP, nomeadamente de ser preso e torturado?
Medo? Não. Costuma dizer-se que quem tem medo compra um cão. Qualquer comunista sabia que a possibilidade de ser preso era enorme. Foram muito poucos os que não foram presos. Outra coisa era estar preparado para o embate com a polícia.
Como é que resistia? Como se preparava para enfrentar a tortura?
Como é que lhe posso explicar... Era preciso ter essa determinação. A pessoa que entrava na polícia tinha de marcar o ritmo. Era preciso deixar claro à polícia que dali não levava nada. Quando digo marcar o ritmo é não dar as mais pequenas abébias à polícia. Se houvesse ali uma hesitação, um enfraquecimento... Tinha de mostrar à policia que não estava assustado. Eu, por exemplo, nunca disse o meu nome. A mim, nunca me ouviram o nome. Se eu dissesse, era uma cedência. 
Compreende as pessoas que não resistiram e falaram na PIDE?
Aquilo não é pera doce. Eu, sobretudo na segunda prisão, não sabia se sairia dali com vida. Estive 16 dias na tortura do sono. As pernas incham brutalmente. Os pés já não cabem nos sapatos. A pele começa a rasgar. A morte é uma coisa real.
Preferia morrer a falar?
Claro. Eles diziam: “Você vai morrer.” O médico ia ver se a pessoa aguentava, mas às vezes enganava-se. A polícia vai esticando, esticando... Houve camaradas que se assustaram e não aguentaram. Percebo isso, mas o dever deles era aguentar. 
O que lhes acontecia?
Eram expulsos imediatamente.
O PCP mandou executar algum militante por causa disso?
A polícia nunca provou isso. As pessoas que foram acusadas disso, sobretudo no chamado caso de Belas, foram presas e a polícia não as acusou disso.
O que fez com que tantas pessoas tivessem abandonado o Partido Comunista? O que acha que fez com que tantos militantes, alguns com grandes responsabilidades dentro do partido, tivessem deixado de acreditar no ideal comunista?
O problema é se alguma vez acreditaram. Esse é que é o problema. Terei de concluir que estavam no sítio errado. Tenho pouca consideração pelas pessoas que dão essas piruetas. Gosto mais das pessoas coerentes. Ser comunista tem custos. Tem poucos benefícios e tem muitos custos. Sempre foi assim e continua a ser. Nós não nos revemos nesta sociedade. Não escondemos que não é isto que queremos, não aceitamos que a humanidade esteja condenada a um mundo de miséria, de exploração, de guerra... Isto não vai ser sempre assim. Mas isto é uma caminhada e este partido só existe com pessoas com convicções. Sem convicções não se chega até ao fim.
E muitos perderam essa convicção...
Alguns deles, quando viviam da mesada do papá, eram revolucionários, mas, a certa altura, o capitalismo... Veja bem o percurso de alguns. Ganharam muito em passar para o lado do capital. 
Um comunista tem de abdicar de certos bens materiais?
Não. Isso é uma treta. Eu ouvi a propósito disto da Revolução de Outubro as maiores barbaridades. Ouvi há dias na televisão o sr. dr. Marçal Grilo dizer o seguinte: “Os comunistas têm ódio a quem tem alguma coisa.” O nosso problema não é os que têm alguma coisa, o nosso problema é com os milhões de pessoas que não têm nada. A grande parte da humanidade não tem nada. Não me venham com essa história da propriedade. O que nos preocupa não é os que têm o seu carro e a sua casa. Nós somos é contra a propriedade que permite explorar outras pessoas. Eu tenho carro, tenho casa. Até tenho duas casas. 
Mas um comunista que compre um carro de alta cilindrada, por exemplo, não é malvisto dentro do partido?
É evidente que os comunistas devem ter uma conduta de vida, porque há coisas que se colam. Mas nós temos camaradas ricos. Temos pessoas que, do ponto de vista dos seus interesses de classe, tinham muito a perder com o comunismo. 
A Zita Seabra, que foi expulsa, escreve num livro sobre o seu percurso no PCP que alguns elementos do partido lhe vigiavam a casa e a seguiam na rua. O Domingos Abrantes, nessa altura, teve algumas conversas com a Zita Seabra sobre essas divergências. Era comum o PCP usar estes métodos?
Conhecia-a bem e estou em condições de saber onde é que começa a verdade e a mentira. O grau de mentira ultrapassa todas as marcas. Basta ler esta última entrevista dela ao “Expresso” - algumas coisas, até um bocado megalómanas. Ela conta ali coisas dela que são mentira. Completamente mentira. É uma pessoa que perdeu o sentido da seriedade. A pessoa podia mudar de ideias e ser séria. 
Nunca teve dúvidas...
O que entende por dúvidas? É as pessoas pensarem que lutaram por uma coisa que não tem razão de ser? Isso não. Houve erros, houve avaliações que não foram tidas em conta, mas isso não põe em causa, nem pode pôr em causa, este projeto de profunda transformação do mundo. Toda esta campanha à volta da Revolução de Outubro é no sentido de convencer os de baixo que estão condenados a viver assim. 
Não é pouco dizer que houve erros tendo em conta o que aconteceu na União Soviética?
Uma coisa são erros, desvios e violações de direitos e princípios. Isso é um processo muito complexo. Houve sem dúvida avaliações do processo que foram subestimadas. Não existem razões nenhumas para repudiar e abdicar dos valores da Revolução de Outubro. A Revolução de Outubro não foi só desvios e violações. Foram conquistas colossais. Ninguém quer falar disso. Nessas toneladas de textos, ninguém fala das enormes conquistas. Só falam dos desvios. Não lhes convém. Conquistas que ainda hoje muitos países não têm e passaram cem anos. Introduziu as oito horas de trabalho, a igualdade entre homens e mulheres, era um país de analfabetos e foi o primeiro país a erradicar o analfabetismo... 
Isso pode apagar os crimes que foram cometidos?
Ainda bem que fala dos crimes. Falam dos crimes do Estaline, mas não falam dos crimes do capitalismo. O capitalismo matou e continua a matar milhões de pessoas. Não vejo essas pessoas, que falam dos crimes do Estaline, indignadas com o capitalismo. A guerra não é o resultado do capitalismo? Estas bombas que caem no Iraque, no Afeganistão, na Síria... E depois há um truque porque o Estaline é comunismo e o Hitler não é capitalismo. O Hitler é capitalismo. O fascismo português é capitalismo. O capitalismo foi construído em muitos lados à custa de milhões de escravos. O problema mais grave é querer associar a ideologia a uma pessoa no concreto e aos crimes. Você acha que é justo associar as pessoas que vão a Fátima, por exemplo, aos crimes da Igreja? A Igreja não matou centenas de milhares de pessoas? Não queimou pessoas vivas? Eu não insulto nenhum católico a dizer que a Igreja matou muitas pessoas. Mas o que os preocupa é que os trabalhadores não aceitem este mundo de exploração. Por isso é que escrevem e falam. 

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