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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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24
Jan18

GRAÇAS A DEUS, SOU ATEU

António Garrochinho

1. Acredita no habitual ou no sobrenatural?

No Livro A vida eterna, Fernando Savater conta um divertido episódio passado numa feira do livro em Madrid: depois de ter autografado o livro a uma senhora, esta aproximou-se dele e perguntou-lhe, baixinho: 
“o senhor é crente”? Diz Savater que decidiu responder com outra pergunta, seguindo a táctica que a sabedoria atribui aos nossos irmãos galegos: “crente em quê?” 

A boa mulher imobilizou-se vagamente, consultou rapidamente o marido- que a contemplava com uma certa reprovação condescendente e prosseguiu: “ bem, não sei … no habitual”. Concluí: 
“certamente, senhora, claro que creio no habitual. No que não creio é no sobrenatural .
Ao fingir não perceber a pergunta, Savater, com o seu humor habitual, criou um divertido quiproquo

Na verdade há crenças e crenças e por isso ele exige que a senhora especifique a crença a que se refere. Acontece que para ela, como para a maioria das pessoas, o habitual tem a ver com a crença nalgum Deus ou religião (o sobrenatural). 

Mas para Savater o habitual parece ser algo de muito mais concreto- talvez algo como acreditar que a terra gira à volta do sol. 
Assim, ao responder que acredita no habitual, isto é, no concreto e demonstrável, Savater afirma não acreditar no sobrenatural, no transcendente, no que não pode ser provado. Se o filósofo espanhol se divertiu, imagino, com esta espécie de trocadilho, a verdade é que a maioria dos seres humanos quando confrontada com a questão “é crente”, pensa de imediato na crença religiosa e o seu pensamento situa-se, sem qualquer hesitação, no mundo do transcendente. Isto, certamente, por uma razão simples: afinal o concreto não precisa de ser acreditado, precisa apenas de ser testemunhado ou comprovado.

No entanto, a questão da crença não se move apenas- longe disso- no espinhoso território dos dogmas professados pelas diferentes religiões. Ela lida com um mundo mais difuso, irracional, misterioso, próximo da superstição, das crenças populares, um mundo profundamente íntimo, pessoal, que dispensa categoricamente o imperativo “ver para crer”.
É isto o que explica que nenhuma descoberta científica tenha sido capaz, até hoje, de destronar a apetência pelo irracional e pelo transcendente, tendo até, em parte, contribuído, por vezes, para a aumentar. Este mesmo livro de Savater o prova, ao revelar, no capítulo introdutório, um inquérito realizado em 1916 e em 1966 e dirigido a cientistas, no qual se perguntava: “acredita em Deus”? Nos dois inquéritos com 50 anos de intervalo, 40% dos cientistas respondeu afirmativamente.

Com efeito, o impulso- podíamos até dizer biológico- do ser humano, não o leva, apenas a espreitar pelo buraco da fechadura, mas a pôr-se em bicos de pés para perscrutar o horizonte. 
E nas noites límpidas de Verão, quando o observa, mesmo se é capaz de identificar algumas das estrelas e planetas, este conhecimento científico não o impede de sentir a sua pequenez e de se deixar seduzir pela imensidão misteriosa do firmamento. 

De certa forma somos todos espectadores felizes de um espectáculo de magia e não há nada pior do que termos sentado ao nosso lado um pretendente a sabichão que nos segreda no momento de maior suspense: “eu sei como isto se faz”. Quantas vezes, mesmo depois de nos explicar o funcionamento secreto do truque mágico, o nosso cérebro, resistente milenar à prosaicidade do realismo, parece esquecer depressa a explicação minuciosa, para nos fazer navegar, de novo, no arrebatador oceano dos mistérios da vida.

O Invisível atrai-nos como um íman e numa época mergulhada no Visível, tudo indica que o seu poder de atracção se exercerá com redobrado vigor. Talvez tenha sido esta intuição que levou o escritor André Malraux (1901-1976) a anunciar que o século XXI seria religioso. 
Terá ele intuído que estaríamos tão saturados de visível, de selfies, de fotografias, de imagens e de écrans, que precisaríamos de nos virarmos para o lado onde, vendo apenas com a alma, se prescinde dos olhos? Terá ele percebido que, ligados aos nossos écrans, precisávamos de nos Religarmos com o mundo de forma mais anímica, num confiante e calmo abandono às forças cósmicas e telúricas?
Se a questão da crença é crucial e incontornável, é porque lida com o sentido último da vida. Todo o ser humano procura dotar a sua vida de sentido, sendo muito diversas e pessoais as formas de o atingir e quantas vezes, para nosso infortúnio, o sentido parece difícil de encontrar ou perder-se pelo caminho! 

Nesses momentos seria bom lembrar as palavras de Victor Frankl ( 1905-1997) no livro O homem em busca de sentido. Diz este médico que, se o mais comum é não sabermos o que queremos da vida, ela, pelo seu lado, sabe o que quer de nós: a questão do sentido da vida pode na verdade ser posta ao contrário. Em última instância, o Homem não deveria perguntar qual é o sentido da vida, mas antes reconhecer que é ele quem se vê interpelado. Numa palavra, cada pessoa é questionada pela vida.

Ora, para que cada um de nós possa responder aos chamamentos da vida e aos seus desafios, uma atitude se impõe: é necessário parar, deixar de nos agitarmos para a podermos ouvir com atenção, não fazermos ruído para a podemos escutar. Talvez fecharmos os olhos, ficarmos em silêncio e aprendermos a vê-la com os ouvidos.

www.lereperigoso.pt
24
Jan18

EVORAMONTE - A HISTÓRIA DE PORTUGAL NUM CASTELO

António Garrochinho
evoramonte paco ducal
A pitoresca e deliciosa freguesia de Evoramonte (ou Évora Monte) está situada entre as formosíssimas cidades de Évora e Estremoz. Outrora de elevada importância geográfica e militar, esta vila alentejana, cujas muralhas ainda protegem os seus habitantes lá do topo, sente-se como um guerreiro ancião que pacientemente aguarda os visitantes com inúmeras histórias para lhes contar.

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Castelo de Evoramonte desde a estrada

Evoramonte – a História

Claramente dividida em duas partes bem distintas, Evoramonte alia a atualidade que se vive na zona baixa à sua vila medieval situada no alto da Serra d’Ossa. Apesar da sua história remontar aos tempos pré-históricos, esta invulgar vila alentejana tem o seu primeiro momento notório durante o século XII.
Por volta da década de 1160, decorria a Reconquista de Portugal aos Mouros e a zona do Alentejo figurava-se como uma das mais difíceis para as tropas de D. Afonso Henriques. Foi exatamente nesta altura que Geraldo Geraldes, mais conhecido por Geraldo Sem Pavor (sim, aquele que daria nome à conhecida Praça do Giraldo), se ofereceu ao Rei para auxiliá-lo na retoma das terras alentejanas perdidas para os sarracenos.
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Rua de Evoramonte
Geraldo Sem Pavor, tal como o lendário Robin Hood, liderava, então, um grupo de salteadores e proscritos e foi a figura fundamental na conquista aos Mouros de Évora, Evoramonte e localidades vizinhas. A sua coragem e audácia sem limites tornaram-no numa lenda bem viva até aos dias de hoje, não só em Evoramonte, mas também em Évora e por todo o Alentejo.
Evoramonte teve o seu primeiro foral em 1248, renovado por El-Rei D. Afonso III em 1271. No entanto, as dificuldades em estabelecer uma população permanente e desejosa de lá viver pareciam manter-se. Assim, e com o intuito de fazer com que os habitantes de Evoramonte se sentissem protegidos e desejados, D. Dinis ordenou a fortificação da vila medieval em 1306. Embora a muralha tenha sofrido algumas alterações ao longo dos séculos, muito ainda se mantém do seu projeto original.

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A paisagem alentejana desde a Porta de São Sebastião do Castelo de Évora Monte
Na muralha que envolve a vila de Evoramonte pode conhecer as suas quatro portas dionisinas originais: a Porta do Freixo, com o seu arco gótico e ladeada por dois torreões cilíndricos, ostenta a inscrição que se refere ao início da construção da cerca; a Porta do Sol, semelhante à do Freixo, mas a oeste; a Porta de São Brás, voltada para a ermida com o mesmo nome e que ainda tem os seus munhões (encaixes para o eixo de um canhão); e a Porta de São Sebastião, que dá acesso direto à estrada que nos leva à Ermida de São Sebastião.
Ao subir a Serra d’Ossa, rumo à vila fortificada e ao castelo de Evoramonte, notará a forma dominante e imponente como a muralha se entrelaça com a encosta, formando um aglomerado militar bastante eficaz. O castelo em si, implantado num dos pontos mais altos da Serra d’Ossa, remonta também à Reconquista e a Geraldo Sem Pavor. Um feito arquitetónico distinto de tantos outros da sua época, o Paço fortificado é fruto da reconstrução do castelo original, após o terramoto de 1531.
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Paço Ducal de Evoramonte
Sob a orientação dos mestres Diogo e Francisco de Arruda e o patronato D. Jaime, duque de Bragança, o Paço, de inspiração italiana, é uma das gemas da arquitetura militar portuguesa. Ao chegar, verá, de imediato, os quatro torreões circulares dispostos num perímetro quadrangular. De alvenaria de pedra e cantaria de granito, será impossível não se sentir maravilhado com os extraordinários nós pétreos que se entrelaçam a meio das quatro faces do Paço. O estilo limpo e pouco adornado remete-nos para a sua função principal, a defesa da vila, com canhoeiras e frestas de tiro estrategicamente posicionadas. Por dentro, o Paço tem tetos em abóbada, assentes em pilares de cantaria.

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Evoramonte – os vasos na rua e as rendas na janela
Pouco a pouco, com o avançar dos tempos, a vila foi perdendo a sua importância militar e poder administrativo. Teve lugar de destaque na História de Portugal uma última vez, a 26 de maio de 1834, ao ser o local onde foi assinada a Convenção de Evoramonte, documento que colocaria fim à Guerra Civil Portuguesa (1828-1834). Travada entre os Liberais, apoiantes de D. Maria II, e os Miguelistas, defensores de D. Miguel I, esta guerra teria o seu fim em terras alentejanas bem perto de Évora. D. Miguel, ciente da sua derrota eminente, instala-se no concelho de Evoramonte com os seus conselheiros, onde acaba por assinar a sua capitulação e consequente abdicação do trono de Portugal.

Visitar Evoramonte

O apelo histórico e a beleza natural de Evoramonte mantêm, nos dias que correm, a força e fúria de outrora. Vila cujo caráter se forjou a ferro, sangue e fogo, reconstruindo-se a cada ataque sofrido, Evoramonte ostenta orgulhosamente as suas cicatrizes e fundações inabaláveis. Por isso, aproveite as tardes quentes do verão e venha ouvir as histórias que Evoramonte tem para lhe oferecer em sussurros de brisa fresca.

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Igreja Matriz de Evoramonte
Da mesma forma que em outras vilas alentejanas como Marvão e Monsaraz, a Evoramonte do alto da colina praticamente parou no tempo. Chegar lá acima pode ser um desafio se for a pé mas essa vontade instala-se nos mais ousados quando se vê o castelo desde a estrada, para quem vem de Évora ou de Estremoz.
Se decidir subir de carro, deixe-o fora das muralhas na Porta de São Sebastião para poder entrar na vila como o fizeram os portugueses ao longo da maioria dos séculos. A vila é pequena mas bonita e singular. O seu tamanho é um bom motivo para percorrer todas as ruas e recantos com atenção aos pormenores. Eles surgem por todo o lado em Evoramonte, seja um ornamento, uma porta ou janela claramente alentejanas, uma inscrição na parede, um pachorrento gato a descansar num lugar estratégico,…
Por onde quer que caminhe em Évora Monte vai encontrar simples casas brancas tradicionalmente pintadas com cal branca e, muitas vezes, com os coloridos rodapés, contornos de portas, janelas e frisos amarelos ou azuis típicos do Alentejo.
castelo evoramonte
As típicas cores nas paredes alentejanas de Evoramonte
Ao percorrer a pé toda a zona entre muralhas de Évora Monte pode ver a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição (bem perto do Cemitério dos Combatentes). Na Rua da Misericórdia, mais ampla e onde está o acesso às cisternas, alguns bancos convidam ao descanso. E perto das muralhas, aqui como em qualquer zona da vila, o horizonte longínquo recorda-nos o porquê da construção do castelo defensivo neste lugar. Mais à frente está a pequena Igreja da Misericórdia e o adjacente Hospital da Misericórdia. Mas o óbvio destaque em Évora Monte é a Torre, o Paço Ducal, no ponto mais alto da colina. Vale bem a pena caminhar à volta e mesmo entrar.
Na rua principal da vila, a Rua de Santa Maria, fica o lugar de onde vai poder levar a sua recordação de Évora Monte (para além das fotografias, claro). Chama-se Celeiro Comum e remonta a 1642, quando foi fundado a pedido dos evoramontenses por alvará de D. João IV para que houvesse reservas de cereais. Hoje em dia, acomoda uma loja de artesanato de extremo bom gosto.

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Artesanato em Evoramonte no Celeiro Comum
Aos artigos que simbolizam Portugal juntam-se muitos mais tradicionais desta região e os originais dos artesãos desta casa. Qualquer que seja a sua escolha, ao ver a sua peça de artesanato alentejano na sua casa, a vontade de voltar a Évora Monte terra vai crescer. Encontramo-nos por cá!


www.visitevora.net
24
Jan18

Larry Nassar condenado até 175 anos de prisão

António Garrochinho

VÍDEO



O antigo médico da equipa de ginástica desportiva dos Estados Unidos, Larry Nassar, foi condenado no Tribunal de Ingham, Michigan, a uma pena que prevê o mínimo de 40 anos e o máximo de 175 por abuso sexual. 
Foi com a frase "acabei de assinar a garantia da sua morte" que a juíza Rosemarie Aquilina rejeitou o pedido de desculpa de Nassar às vítimas antes de ouvir a sentença, classificando-o como hipócrita.

VÍDEO



The judge just read Larry Nassar like a book, glared at him after reading that non-apologetic letter and threw said letter to the side like garbage. She's FED up.
For those who missed it. This is the look Judge Aquilina gave Larry Nassar after she finished reading that six page letter, where at one point he said "Hell hath no fury like a woman scorn." pic.twitter.com/W8qIKJmTTm
Já a servir uma pena de 60 anos por acusações de pornografia infantil e com o mínimo de 40 anos a balizar uma pena que pode ir até aos 175, Nassar, de 54 anos de idade, enfrenta pelo menos um século de prisão.



pt.euronews.com
24
Jan18

O 25 de abril do futebol português. A verdadeira história do caso Saltillo

António Garrochinho


Há uma linha, ainda que sinuosa, a ligar o remate portentoso de Carlos Manuel, em Estugarda, que tornou realidade o sonho improvável de qualificação para um Mundial, e o pontapé de Éder, que, em Paris, deu uma conquista internacional com a qual, em Portugal, poucos sonhavam. E essa linha foi estabelecida no México, quando um conjunto de jogadores protagonizou um processo reivindicativo sem precedentes, colocou fim à sua carreira internacional, mas abriu a porta à profissionalização do futebol português de seleções. O longo estágio de preparação da participação da seleção nacional no Mundial de futebol de 1986, no México, é frequentemente recordado como um episódio entre o trágico e o caricato, repleto de incidentes rocambolescos, alguns verdadeiros, outros efabulados, que servem para alimentar o imaginário do futebol português da década de 80. Contudo, 30 anos decorridos, se olharmos para o que se passou, de facto, naquelas longas semanas em Saltillo, o que podemos ver é um momento crítico na transição do futebol em Portugal. Foi a partir da rebelião de Saltillo que se iniciou um processo de modernização e profissionalização das seleções.
Há dois anos, quando decidimos regressar a uma distante participação da seleção portuguesa no México 86 para escrever o livro “Deixem-nos Sonhar” (que chegou às livrarias a 7 de dezembro), estávamos longe de imaginar as revelações que encontraríamos. Um projeto que partiu de uma combinação de retorno à memória do que foi, para uma geração de portugueses, um momento fundador da relação sentimental com o futebol e com a vontade de contar uma história pouco esclarecida evoluiu para uma outra coisa: um retrato do país e da forma como as transformações na sociedade portuguesa se estendiam ao mundo do futebol, mudando-o de forma profunda. Foram horas de conversas com jogadores e outros que estiveram no México, desde jornalistas a membros da equipa técnica, passando por responsáveis federativos; de leitura de páginas sem fim de jornais da época; de consulta de documentos sobre o processo — tudo para desvendar um dos grandes mistérios do futebol português.
Quando numa conversa com Diamantino, um dos protagonistas desta história, o ex-jogador do Benfica afirmava que, no Mundial do México, “não tinha acontecido nada de especial”, estávamos ainda longe de compreender o alcance da afirmação. Durante o estágio, em Saltillo, não aconteceu nada de especial — no sentido em que várias ideias feitas que persistem sobre esse período são, no essencial, isso mesmo, ideias feitas: nem os jogadores fizeram greve, nem se assistiu a um processo de politização de reivindicações corporativas geridas politicamente a partir de fora, nem sequer os muito glosados episódios com mexicanas foram diferentes dos ocorridos em estágios de seleções antes ou depois de Saltillo. Contudo, além dos incidentes e do confronto adversativo entre a Federação, presidida por um austero Silva Resende, e jogadores, liderados pelo capitão inesquecível, Manuel Galrinho Bento, algo de estrutural ocorreu, refletindo transformações no futebol global, na sociedade portuguesa e nas estruturas dirigentes do futebol luso.
Numa canção que se revelaria premonitória, Herman José, pela voz inesquecível de Estebes, ainda antes da partida para o México, dera o mote com o hino não oficial dos Infantes, ‘Bamos Lá Cambada, Todos à Molhada’. Trinta anos depois, o atribulado estágio no motel La Torre e a participação de Portugal no Mundial do México em 86 podem ser descritos como um processo desorganizado, repleto de reivindicações incontidas e também de contradições. Mas o mais interessante é que já era possível antever neste momento atribulado, e naquilo que aparentava ser uma “cambada” em vez de uma seleção profissional, as sementes de uma mudança profunda.
Tal como depois de 1974, na política e no país, nada foi como antes; também o futebol de seleções se alteraria radicalmente depois da passagem pelo México-86. A rebelião de Saltillo foi um 25 de abril do futebol português, e, à imagem da transição política, uma transformação modernizadora, tardia, com elementos caóticos e na qual as reivindicações laborais foram preponderantes.

Um sonho por cumprir

Poucas frases refletem de forma tão exata o espírito do tempo como o apelo deixado cair pelo selecionador nacional, José Torres, na véspera de um jogo decisivo com a República Federal da Alemanha, no outono de 1985. Quando o ‘Bom Gigante’ reclamou “deixem-me sonhar”, expressava o desejo de alcançar um objetivo improvável, mas, sem o saber, dava conta de um ambiente que se vivia no país. O que estava em causa, muitos se recordarão, era uma improvável qualificação da seleção das quinas para a fase final do Mundial de Futebol. Mas, três décadas decorridas, podemos ler naquele apelo uma metáfora do país.
Tinham passado pouco mais de dez anos desde o 25 de Abril e Portugal era, finalmente, devolvido à Europa. O país sonhava: os portugueses libertavam-se de um passado de pobreza e fechamento para, de novo, viverem o presente com otimismo. A sociedade democratizava-se, modernizava-se e começavam a cumprir-se as expectativas de desenvolvimento social prometidas com a revolução. Só que, em 1986, o novo e o europeu coexistiam com traços persistentes do passado. Na sociedade, com novos recursos e padrões de consumo que se desenvolviam lado a lado com bolsas persistentes de pobreza; na política, com a adesão europeia e as eleições de Soares para Presidente e de Cavaco Silva para primeiro-ministro, que coexistiam com défices profundos de pluralismo; e, por arrasto, também no futebol, em que os clubes regressavam às finais europeias, a seleção se qualificava sucessivamente para a fase final do Europeu, em 84, e do Mundial, em 86, enquanto as estruturas dirigentes se mantinham presas a uma organização corporativa, amadora e anacrónica.
Numa partida épica, Portugal derrotaria a imbatível República Federal da Alemanha e a qualificação para o Mundial, 20 anos após Inglaterra, tornava-se realidade. Mas se o sonho de Torres se materializava, começaria a desmoronar-se daí a alguns meses. Depois de o país europeu, democrático e à procura de uma modernidade nunca cumprida, concretizar uma ambição desportiva que aparentava ser impossível, o futebol português reencontrava-se consigo próprio. E o sonho, esse, afinal, não se cumpriria.
Em troca, o país assistiria, de novo incrédulo, à desorganização, às divisões, à conflitualidade e a um fatalismo bem adequado ao espírito luso. Derrotados pela Polónia e por um improvável Marrocos — depois de, na estreia, ter surpreendido com uma inesperada vitória ante Inglaterra, comandada por Bobby Robson —, Portugal abandonaria o Mundial na fase de grupos.


Mexicanos. Foi no Mundial de 1986 que o futebol deu um passo significativo para a globalização, para a mediatização, e passou a ser, de forma irreversível, um negócio. Mas os jogadores, no centro de tudo, recebiam uma fatia pequena desse novo bolo


Mais do que a performance desportiva, o que ficaria para a história seria uma das páginas mais negras do futebol português, ainda que com contornos nunca totalmente esclarecidos. Uma insurreição dos jogadores, em conflito aberto com a Federação, um clima reivindicativo que dividiu a sociedade portuguesa, num momento em que estava em causa a representação do país, tudo apimentado por episódios insólitos, cujos relatos mitificados sobreviveram até aos nossos dias.
É tentador olhar para a rebelião de Saltillo e justificá-la com base numa mistura singular de nacional-porreirismo, personalidades contrastantes e um conjunto de episódios rocambolescos. Mas há razões mais profundas para explicar o que se passou naqueles dias mexicanos, em relação aos quais perdura uma nostalgia forte em todos os participantes e uma aura de curiosidade no país, que, à época, acompanhou tudo com grande interesse.
O professor Monge da Silva, membro da equipa técnica liderada por Torres, resume bem no livro o que se passou: “Estavam a ocorrer uma série de novidades no desporto mundial. Poderá haver uma leitura laboral, o conflito entre os jogadores e a entidade patronal. Uma leitura organizativa, que a Federação não tinha de todo. Uma leitura sociopolítica, da fase do futebol e do país. Portanto, há várias leituras que se podem fazer. Além disso, cada indivíduo tem leituras diferentes. E há uns que só sabem dos episódios burlescos.”

O mundo do futebol em transição

Quando, em Saltillo, numa imagem que marcou uma era, o capitão Manuel Bento leu um comunicado, rodeado por todos os seus colegas, onde expressava o descontentamento dos jogadores portugueses com a Federação, o momento estava longe de ser um ato isolado, circunscrito ao futebol português. Durante o Mundial, os sinais de contestação com a FIFA vieram um pouco de todo o lado, expressando um novo tempo. Como afirmou o avançado argentino Jorge Valdano, em pleno México-86, “mais do que nunca, neste Mundial, os dirigentes da FIFA enfrentaram uma nova situação. Os jogadores começaram a tomar consciência de que não são só músculos, mas seres pensantes e atuantes”.
O Mundial de 1986 decorreu precisamente a meio do longo mandato de João Havelange como presidente da FIFA (1974-1998) e corresponde a um marco no futebol moderno. Ainda na ressaca do até então ponto mais baixo do futebol mundial — a tragédia de Heysel, em 29 de maio de 1985 —, o México-86 foi novo ponto de viragem. Num futebol crescentemente mediatizado e no qual as transmissões televisivas adquiriram um papel poucos anos antes impensável, o Mundial tornou-se definitivamente um negócio sem paralelo no universo desportivo. As grandes competições internacionais de futebol passaram a estar ao serviço dos patrocinadores oficiais e os bilhetes assumiram valores exorbitantes. De desporto do povo, o futebol ameaçava transformar-se numa experiência corporate, devidamente televisionada.
Foi precisamente no México que o futebol deu um passo significativo para a globalização, para a mediatização, e passou a ser, de forma irreversível, um negócio. Mas nem por isso se democratizava. “O povo tem a TV”, disse, sintomaticamente, o diretor da prova, o mexicano Guillermo Cañedo, vice-presidente da FIFA, empresário de televisão e parceiro dileto de Havelange — e intermediário dos acordos da FIFA com os media — em resposta às críticas de que os bilhetes para os jogos eram demasiado caros para os mexicanos.
O povo tinha a TV, os jogadores uma fatia ainda pequena do bolo, enquanto a organização estabelecia relações privilegiadas com os patrocinadores, que lucravam como nunca antes com o negócio do futebol. O desporto-rei estava em rápida transformação, mas nem todos os intervenientes beneficiavam da mesma forma dos recursos que envolviam a modalidade. Por esses anos, as transferências entre clubes de países diferentes ganhavam expressão (Maradona tinha ido de Barcelona para Nápoles por 7,5 milhões de dólares, à época um recorde), mas os salários dos jogadores pouco tinham a ver com os que se praticam atualmente; enquanto isso, os patrocinadores começavam a associar-se aos grandes eventos e os dirigentes do futebol tornavam-se figuras cimeiras nos seus países e à escala global. Havelange era, então, rei e senhor do futebol mundial.
Mas como é que os sinais desta mudança se faziam sentir no futebol português? O jornalista David Borges, enviado do “Record” ao México, lembra que, em 1986, “os jogadores tinham noção de que havia um mundo de gente a ganhar dinheiro à volta deles e que eles ganhavam pouco com isso”. O treinador e ex-jogador Jaime Pacheco confirma essa ideia, recordando que, entre os atletas, havia “a noção de que a Federação já recebia dinheiro da UEFA e da FIFA”. Ora, uma das razões desta mudança passou também pela emergência de um novo protagonista: Joaquim Oliveira, irmão do ex-jogador António Oliveira, começava por essa altura a construir o seu império, que seria central na transformação do futebol português desde então. Além da intermediação dos direitos televisivos, a Olivedesportos dava os primeiros passos, precisamente em torno do negócio da publicidade e dos direitos de imagem da seleção portuguesa. Ainda hoje, entre quem esteve em Saltillo, não há quem esqueça a imagem de Joaquim Oliveira, praticamente sozinho e apoiado por uns quantos mexicanos que contratou localmente, a montar a publicidade estática nos treinos da seleção.
Depois de, em 1984, durante o Europeu, a Federação já ter beneficiado da venda dos direitos de imagem, no México, Joaquim Oliveira alargava a sua influência. Ficou com os direitos dos jogos e, num concurso disputado com a agência de publicidade McCann, que representava os interesses da Sagres, acabou por assegurar também os direitos de imagem das camisolas de treino dos jogadores, que por sua vez cedeu a outra cervejeira, a Cristal. Oliveira, que já era agente FIFA e, por isso, conhecia os meandros do futebol internacional, viu que existia um nicho de mercado e um negócio de futuro. A Federação lucrava com esta intermediação. A questão é que, para os jogadores, inicialmente, pouca diferença fazia.
Jaime Pacheco lembra que os jogadores “andavam lá com a Cristal e a Mundial Confiança”, para acrescentar: “Tínhamos a noção de que eles pagavam muito dinheiro e tínhamos a ideia de que, por pouco que fosse, devíamos receber. Andávamos lá a carregar com publicidade às costas e entendíamos que devíamos ter algum.” O advogado Jaime Dória Cortesão, mais tarde nomeado pela Federação para instruir o inquérito aos factos ocorridos durante o Mundial, recupera uma metáfora utilizada pelos jogadores: “Nós éramos os manequins de montra e, se a Federação vendia publicidade por causa dos manequins de montra, então tínhamos que receber algum.”
Enquanto surgiam novos recursos no futebol, colocavam-se desafios que a estrutura da Federação, nuns casos, não era capaz de gerir, noutros não queria resolver. Monge da Silva reconhece: “É o momento onde se deteta o desfasamento enorme que havia entre a capacidade organizativa dos nossos dirigentes e aquilo que o futebol exigia.” Ribeiro Cristóvão, outra testemunha dos acontecimentos, não hesita: “Ninguém estava preparado para aquilo.” Esta ausência de capacidade da Federação, que teve várias manifestações antes e durante o Mundial, foi admitida pelo próprio Amândio de Carvalho, vice-presidente federativo, responsável pelas seleções e, entretanto, falecido. Havia uma enorme confusão em torno de quem era responsável pelo quê: “Os problemas dos prémios seriam da minha responsabilidade, uma vez que eu era o chefe da delegação. A publicidade estática era pacífica. O que não foi nada pacífico foi o problema das camisolas e a imagem. Eu estava absolutamente a leste dessa situação.”
Porventura, a ausência de uma estrutura profissional e minimamente organizada explica o essencial do que aconteceu, mas, entre os jogadores, ainda hoje persiste a dúvida. Carlos Manuel reconhece que “as coisas estavam desajustadas para a época e que essa foi uma das razões para que tudo tenha acontecido”, mas adianta: “Aquilo era cada marosca. A Federação recebeu dinheiro da FIFA, da Adidas, dos patrocínios. (...) O que terá acontecido ao dinheiro? Não sei. Eu não o vi; nós não o vimos. Aquilo era uma vergonha. As contas da Federação eram contas de sapateiro.” Rui Águas admite que “as coisas eram tão pouco claras que acredito que, nos corredores, em vez dos jogadores tenham sido beneficiadas outras pessoas”. Naturalmente, é hoje impossível apurar que destino foi dado ao dinheiro. Mas uma coisa é clara: a desorganização da Federação e a falta de diálogo com os jogadores, a somar a uma tensão que se vinha acumulando há anos, criaram o contexto propício a todo o tipo de explicações.
A seleção chegou ao México com um otimismo desportivo moderado, mas com um peso excessivo em cima dos ombros, fruto de tensões acumuladas ao longo dos tempos. Desde pelo menos o Euro-84, em França, que havia um conjunto de problemas por resolver, que se iam agravando. Reivindicações com dois anos — como os montantes da diária, dos prémios, dos direitos de imagem, a negociação dos seguros e até a atribuição do cartão vitalício da FPF, que dava entrada gratuita nos estádios — eram discutidas parcialmente ou, em alguns casos, ignoradas. Estas reivindicações que, aos olhos dos nossos dias, parecem menores — quer quanto aos montantes envolvidos quer quanto ao que estava em questão — devem ser interpretadas à luz da época.
Entre promessas incumpridas, que já vinham do passado, e uma incapacidade de dialogar e encontrar entendimento, o ambiente entre dirigentes e jogadores foi-se adensando. Um misto de complacência e ausência de liderança, do lado da estrutura federativa, e atletas cada vez menos tolerantes com a Federação foi ajudando a que o clima se degradasse até um ponto de não retorno.
Jaime Pacheco recorda que, após o apuramento, foram “feitas uma série de promessas, de que saberíamos quanto é que iríamos ganhar como diária e por prémio de apuramento. Nós sabíamos que os outros países tinham tudo organizado e o que queríamos era chegar ao México sem estarmos preocupados com o que íamos ganhar. Em 84 fomos ganhando força, toda a gente estava do nosso lado e mesmo assim as coisas ficaram por concretizar. Na fase de apuramento para o Mundial, voltámos a ter os mesmos problemas e inclusive nas vésperas do embarque para Saltillo”.
Os jogadores não compreendiam a degradação do diálogo e o motivo pelo qual nada se resolvia. Fernando Gomes sublinha isso mesmo, ao referir que, quando chegaram ao México, “estava tudo por resolver, com a agravante de tudo se ter arrastado dois anos”. O então capitão do FC Porto recorda: “Estivemos quase um ano a ter reuniões mensais para resolvermos os problemas e a Federação nunca quis concluir nada. Nunca existiu da parte de quem mandava vontade de fechar o processo. Protelavam sempre.” Jaime Pacheco acrescenta: “Tivemos mil e uma reuniões, muitas no próprio campo de treinos. Falávamos também com o Torres — e fizemos tudo para que a liderança dele não fosse posta em causa. Ele levava a mensagem para a direção e trazia-nos outra, que era nenhuma. Era para amanhã, era para a semana, era para depois. Tinha sido tão simples resolver a situação — ou é isto ou não é nada ou é alguma coisa. Faz-me espécie porque é que eles nunca quiseram conversar connosco.” Gomes alinha pelo mesmo diapasão: “Cada vez que passava um mês, cada vez que era adiada uma reunião, os jogadores ficavam cada vez mais magoados. Fomos acreditando na resolução e depois reparámos que estávamos a ser enganados.”
O que explica este adiamento de um desfecho que, de uma forma ou de outra, teria de ocorrer? Aqui, as opiniões dividem-se. O mais certo é que a Federação estivesse convencida de que não precisaria de alcançar um entendimento com os futebolistas. Afinal, uma vez chegados ao México, a convocatória estaria fechada e não restaria aos jogadores alternativa. Muito provavelmente, a estrutura federativa pouco confiaria também no espírito de união do grupo e na capacidade reivindicativa dos atletas. A experiência do Euro-84 indiciava que os jogadores estariam pouco unidos e que, chegados à seleção, continuaria a imperar a fidelidade clubística. Além do mais, entre o elenco federativo, em particular para o presidente Silva Resende, persistia um sentimento de alguma desconsideração face aos jogadores, que coexistia com uma cultura autoritária.
Na visão do presidente da Federação, os jogadores estavam ali para jogarem e representarem as cores nacionais e à Federação caberia decidir o que fosse mais adequado, em nome do superior interesse nacional. Doze anos passados do 25 de Abril, o futebol português ainda era dominado por uma cultura de antigo regime e não acompanhava o passo de modernização e democratização que o país vinha vivendo. Rui Águas é perentório: “Houve muitas reuniões, definiu-se uma série de coisas, só que depois eles marimbaram-se. A Federação fez tábua rasa daquilo que se tinha falado e combinado. Chegaram ao primeiro dia de concentração e disseram: está aqui, comes e calas. Foi esse come e cala que criou o movimento. Esta história toda teve o condão de unir o pessoal contra a Federação.” José Carlos Freitas, enviado do jornal “O Jogo”, no mesmo sentido, confirma quer o adiamento sucessivo de qualquer solução para os problemas que se arrastavam quer o preconceito da Federação em relação aos jogadores: “Os dirigentes entendiam que os jogadores não percebiam nada daquilo. Só tinham de jogar à bola e limitarem-se a receber o prémio que eles entendessem — isto quando já havia jogadores que tinham contactos e já sabiam o que se passava lá fora, com outras seleções. Tudo isto por uma questão de mentalidade, de preconceito de classe.”
Com realismo, Jaime Cortesão coloca o dedo na ferida: “Se tivéssemos passado aos oitavos de final, aos quartos ou às meias-finais, não teria havido o processo Saltillo. Mesmo que o comportamento, que foi assim-assim ou admissível, passasse a ser inadmissível, não haveria. Mais uma vez, o penálti falhado, a bola que não entrou e o resultado é que pontificou. O que foi, ao fim e ao cabo, uma maneira de branquear as responsabilidades da Federação.” Em França, dois anos antes, o clima mais adversativo não fora um problema, porque a seleção teve um desempenho positivo. No México, uma eliminação precoce deu um relevo a uma rebelião que, de outra forma, teria ficado esquecida, enquanto isentou os responsáveis federativos de responsabilidades. Gomes conclui: “O país foi a vítima e nós, jogadores, fomos o bode expiatório. Hoje dificilmente isso aconteceria.”
Tanto tempo passado, Jaime Pacheco não esconde a mágoa: “Poderíamos ter tido outra estabilidade que não tivemos, quer no Europeu quer no Mundial. Poderíamos talvez ter ido mais além e ter evitado aquele calvário que o futebol português passou nos anos seguintes. A pior coisa que me aconteceu foi ter sido castigado na seleção e termos saído de lá como vilões, como se tivéssemos cometido algum crime grave. Honestamente, tenho a consciência de que não fiz nada para ser castigado, nem para ficarmos com aquela fama de que contribuímos para que o nome de Portugal ficasse com uma carga negativa. Também tenho a noção e a certeza de que esses acontecimentos provocaram uma maior organização e acabaram por ser uma mais-valia para o futebol português. Tenho a certeza disso. Hoje, a Federação tem os resultados que tem porque se iniciou um novo ciclo depois de Saltillo.”

A lesão de Bento — Um momento emblemático na crise de Saltillo

Poucos dias antes da segunda jornada da fase de grupos, Bento sofreu uma lesão gravíssima que o afastou do Mundial. Era uma das principais figuras da seleção, que se ressentiu disso

O capitão da seleção, um dos principais artífices da boa campanha lusa no Europeu anterior em França e determinante no jogo da qualificação na Alemanha (Carlos Manuel, colega de equipa, recorda como “as bolas batiam nos postes e no Bento”), voltou a ser figura de proa no México. Porém, tal não se deveu somente ao seu contributo desportivo, que se limitou a um jogo: a vitória ante a Inglaterra. Poucos dias antes da segunda jornada da fase de grupos, em que Portugal defrontaria a Polónia, Bento sofreu uma lesão gravíssima que o afastou do Mundial e, como se sabe hoje, marcou o fim de uma era nas balizas nacionais.
A descrição do lance, por Vítor Serpa, no jornal “A Bola”, é impressionante: “Um cruzamento, José António a saltar, Bento a aparecer por trás, a tocar no companheiro, a desequilibrar-se, a cair mal. Os seus gritos ganharam eco nas bancadas. Os companheiros correm para ele e deitam as mãos à cabeça. Houve quem fugisse logo dali, queriam afastar a visão terrível. (...) É o próprio jogador que, apesar das dores, e ao ver o pé virado, de lado, numa posição aterradora, tem ainda a coragem de o levar ao sítio. Quando o doutor Camacho Vieira chega junto dele, apercebe-se de que a lesão é grave. Bento logo lhe diz: ‘Doutor, não mexa muito na perna, está partida’. (...) O estádio parece um túmulo. O silêncio pesa em todos.”
Rui Águas, que anos mais tarde, em Kiev, protagonizaria uma situação idêntica, lembra-se do impacto que o acidente do colega teve nele: “Até fiquei maldisposto, pedi para sair.” Monge da Silva também não se conseguiu esquecer: “Foi uma coisa incrível. Ouve-se o estalo, um barulho impressionante.” Diamantino conta que “quando o Bento caiu, o pé dele ficou virado ao contrário e, sentado no chão, meteu-o no sítio. Entretanto, vinham o doutor Camacho Vieira e o massagista a correr e, quando chegaram, já o Bento tinha o pé no sítio e começaram a brincar porque não o tinham visto virado ao contrário. Ainda estava quente e não tinha dor, fizeram aqueles testes tipo entorse e ele tinha os ligamentos todos marados. Aquilo que o Bento lhe chamou... Alguém disse no hospital que, se ele não tivesse logo aquele sangue frio de meter o pé no lugar, seria muito mais grave. O certo é que acabou na mesma com a carreira dele”.
Para Jaime Pacheco, Bento “foi o melhor guarda-redes da história de Portugal” e acredita que a ausência forçada do número 1 português “foi a nossa desgraça. Com ele teríamos tido outros resultados. Era a nossa trave-mestra, o nosso suporte a todos os níveis. Sentimos muito a lesão dele”. Diamantino reconhece que “a equipa ficou muito abalada, o Bento era um elemento-chave e tínhamos uma confiança enormíssima nas suas capacidades”. Fernando Gomes, na mesma toada, recorda que Bento “era uma figura querida da seleção. A equipa ficou afetada emocionalmente pela sua lesão”, enquanto Rui Águas, apesar de considerar que o episódio “não desmoralizou a equipa, foi traumatizante. Aconteceu mesmo ali ao pé de nós, na véspera de um jogo decisivo”.

A desorganização

Da presença portuguesa no México-86 acumulam-se histórias reveladoras da impreparação e inaptidão da Federação Portuguesa de Futebol para lidar, então, com as exigências inerentes à participação num mundial. O episódio da lesão de Bento, até porque o ídolo se transformara subitamente num dos símbolos da reivindicação, fornece algumas delas.
Por exemplo, Ribeiro Cristóvão, que na viagem para o México se encontrava em período de convalescença de uma fratura no pé, viu-se confrontado com um pedido inusitado do capitão da seleção: “Ó chefe, você já se viu livre das muletas…” De acordo com o jornalista, a comitiva portuguesa “não tinha muletas” e foi ele quem “desenrascou a situação”.
Outro exemplo está relacionado com o seguro que, alegadamente, protegeia os atletas em caso de ocorrência de um sinistro. Amândio de Carvalho, questionado em Saltillo acerca do assunto, assegurou que existia “um seguro especial para o Mundial, que protege os jogadores e prevê tudo”. Passadas três décadas, em entrevista conduzida para o livro “Deixem-nos Sonhar”, o antigo dirigente reafirmou a existência do tal seguro e mostrou-se surpreendido quando o seu amigo Eurico Garrido, diretor do serviço de cirurgia do Hospital do Barreiro entre 1985 e 2003 e amigo chegado de Bento, o desmentiu: “Isso é completamente falso. O Bento só conseguiu as apólices de seguro muito mais tarde. Fomos com o advogado do Bento à Secretaria do Benfica e não havia documentação comprovativa de quaisquer seguros dos jogadores do Benfica presentes no México. Não sei como é que fizeram os acordos, mas os jogadores julgavam que tinham 20 mil contos (100 mil euros) de seguro por incapacidade. (...) Ele só conseguiu o seguro ao fim de um ano por via judicial. Nunca lhe deram as apólices, nunca teve direito a nada. Teve de ser a junta médica realizada na sede da Federação, a pedido de Bento, a declarar sem equívocos que se tratava de uma lesão aguda, e não qualquer recidiva de uma lesão antiga. Passados meses vi as apólices onde diziam que os diretores tinham 7,5 contos (37,5 euros) por dia por qualquer acidente e os jogadores tinham 5 contos (25 euros). Ficou com uma incapacidade de 9,6 contos (48 euros) por mês. Foi o que lhe foi atribuído. Foi extorquido e, se não fossem as muitas insistências, não levaria nem um tostão. A Companhia de Seguros enganou a Federação, mas foi a posteriori. Todos os factos sugerem que parte dos seguros foi efetuada depois de virem do México.”

A vida de jornalista

Curiosamente, foram poucos os jornalistas que assistiram à lesão do capitão português. Vítor Serpa recorda-se de “alguns jornalistas distraídos” e explica o que aconteceu: “A Seleção treinava tantas vezes em tantos sítios que obrigava a um esforço grande. O Zé Torres disse: ‘Vamos só ali um bocadinho para suar um bocado’ e houve jornalistas que não foram a esse treino. Logo por azar, o Bento parte a perna naquela circunstância, nem sequer a jogar à baliza. Há um jornalista da Renascença, o Ribeiro Cristóvão, que fez a reportagem imediata da situação da perna partida. Vai para o hospital, fala com os médicos. Eu estou lá com o Nuno Ferrari, também vamos, mas o Fernando Correia, por exemplo, tinha ficado em Saltillo. Estava na piscina a apanhar sol, havia um telefone, ele atende e era de Lisboa a perguntar quando é que ele enviava a peça do Bento. E ele nem sabia que o Bento tinha partido a perna. Isto porque tudo aquilo, a dada altura, mudava de um dia para o outro. O treino tanto podia ser ali ao pé como a 50 quilómetros.”
Outro dos esforços significativos a que os jornalistas estavam sujeitos tinha que ver com as comunicações. O México, a contas com uma profunda crise financeira agravada pela ocorrência de um terramoto devastador um ano antes, via-se acometido por inúmeras carências. Para os jornalistas, a diferença no fuso horário e as condições precárias em que trabalhavam desde Saltillo eram constrangimentos difíceis de ultrapassar. Os meios eram escassos e as comunicações telefónicas incomportáveis.
Entre as várias peripécias vividas pelos jornalistas ao longo do Mundial, David Borges recorda-se de um grupo de jornalistas andar em busca de um telex, até que, finalmente, encontraram um, numa repartição pública. Era necessário negociar o acesso e a utilização do telex, o que acabou por se revelar simples: a repartição tinha um diretor fanático por futebol e o telex podia ser utilizado. Em troca, os jornalistas tinham de levar o dirigente da administração pública mexicana a assistir a um treino da seleção. Assim foi: “Fomos com ele, no carro dele. E passados 15 minutos, vimos com espanto o gajo, dentro do campo, a atirar bolas ao Bento. O Bento na baliza e o fulano a rematar. Depois, levou-nos de volta e, no caminho, ia a conduzir com o braço de fora e a dizer: ‘Isto é que é vida’.”
P.A.S.

tribunaexpresso.pt
24
Jan18

ALTA VELOCIDADE - 1500 CHINESES CONSTROEM FERROVIA EM 9 HORAS

António Garrochinho


Eficácia, coordenação e muito planejamento. Assim, 1.500 chineses conseguiram estender a espetacular malha de vias para a nova estação de trens de Nanlong, na cidade de Longyan. O exército de trabalhadores trabalhou de forma ininterrupta para conectar a ferrovia de Ganlong com as vias de Nanlong. Também instalaram os sinais de trânsito e uma série de equipamento de monitoramento de trânsito. A façanha começou em 19 de janeiro pela noite e terminou 9 horas depois.

VÍDEO


O projeto foi bem sucedido porque os 1.500 trabalhadores foram separados em 9 equipes que trabalharam em diferentes setores de maneira simultânea, explicou Zhan Daosong, sub-diretor do Grupo de Engenharia Civil Tiesiju, responsável pela obra.

VÍDEO

Poderíamos ser nós, dentro do BRIC, se o país não tivesse se aventurado dentro do malogrado e fracassado sistema socialista nos últimos anos. O trem-bala que faria o trajeto Rio-São Paulo não saiu do papel, triste por um lado, mas que os pagadores de imposto agradecem, por outro, pois teria tudo para ser mais uma maracutaias para encher os bolsos da corja de políticos safados (redundância?).


www.mdig.com.br
24
Jan18

Museu de Dermatologia em Lisboa - As máscaras das doenças venéreas

António Garrochinho





Mais de duzentas máscaras de cera, moldadas sobre seres humanos, revelam, no Museu de Dermatologia em Lisboa, o tratamento e evolução da ciência nas doenças venéreas ou sexualmente transmissíveis, entre as quais a sífilis. Lisboa era, do princípio do século XIX até meados do século XX, uma cidade particularmente vulnerável à propagação destas patologias, que representavam uma ameaça à saúde pública. O espólio, preservado no museu instalado no Salão Nobre do Hospital dos Capuchos, é revelador do importante trabalho desenvolvido pelos médicos  Thomaz de Mello Breyner ou Luís de Sá Penella.

Célia Picão, administradora hospitalar e responsável pelo museu, muito visitado por estudantes, investigadores e escultores, recorda a O Corvo que não estamos assim tão longe desse período. Isto porque, no início do século XX, as salas de espetáculos eram obrigadas a passar documentários de prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, antes da sessão. Um dos documentários tinha o título bem objectivo “A Caminho Morgue” e passou a 25 de fevereiro de 1916, no Teatro Politeama.

Os locais de maior risco da cidade, seleccionados pelas meretrizes ou prostitutas, estavam na zona da Baixa, do Cais Sodré, do Bairro Alto, de Alfama e da Mouraria. O museu dispõe de ficheiros da época, onde se pode verificar que as mulheres doentes eram na sua maioria muito jovens.
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Este tipo de doença estigmatizava as pessoas e seus tratamentos eram violentos. Tornou-se necessário “humanizar os serviços” e aprofundar a investigação científica, a fim de encontrar curas menos dolorosas, através de recolha de mais informação para os respectivos estudos.

Thomaz de Mello Breyner (bisavô materno de Miguel Sousa Tavares), médico do Dom Carlos I e IV Conde de Mafra, foi um dos pioneiros no combate à marginalização social das pessoas afectadas por este tipo de doenças e um estudioso.

Apesar de fiel aos ideais monárquicos, o seu trabalho beneficiou da amizade que tinha com o maçon Francisco de Almeida Grandella, um opositor ao regime filiado no Partido Republicano e que financiou a compra de substâncias químicas tendo em vista encontrar novas profilaxias no tratamento de doenças como a sífilis.

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Todo este volume de informação documental e físico não poderia deixar de ser guardado para a construção do historial neste campo da medicina. É assim que, em 1955, é criado, por Luís de Sá Penella, o Museu de Dermatologia, no Hospital de Nossa Senhora do Desterro – instalado no antigo Convento do Desterro, fundado em 1591.

Curiosamente, com o incêndio do Hospital Real de Todos os Santos, em 1750, localizado sensivelmente onde hoje está a Praça da Figueira, foram os aposentos dos frades quem receberam os doentes.

“Este museu é um dos pilares de um vastíssimo e riquíssimo património cultural que gostaríamos que estivesse no Museu da Medicina, que ainda não existe”, explica Célia Pilão, responsável do museu, hoje instalado no Hospital dos Capuchos, na sequência do encerramento do Hospital do Desterro, em 2007.

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A coleção de 254 máscaras, associada a um fundo documental de publicações de sifiligrafia e dermatologia, onde se destacam sete livros de registo da consulta de “Moléstia Syphiliticas e Venéreas”, de Thomaz de Mello Breyner – avô materno da poetisa Sophia de Mello Breyner -, no Hospital do Desterro, entre 1902 e 1909, esteve em riscos de desaparecer, segundo Célia Pilão. A intervenção do médico João Fernandes Rodrigues, que promoveu a sua transferência para os Capuchos, acabou por salvar este valioso legado.

Artistas plásticos, nomeadamente escultores, mas também investigadores e alunos na fase de internato são os principais visitantes do museu, que está aberto ao público apenas às quartas-feiras (entre as 14h30 e as 18h). Contudo, podem ser feitas marcações pelo 963997916, fora deste dia da semana.

No museu, ressalta a coleção de máscaras onde estão documentadas a três dimensões patologias que, pelo avanço das terapêuticas, praticamente desapareceram. Para tratar as doenças como a sífilis, era utilizado o mercúrio e chegou-se mesmo a contaminar os pacientes com malária, pois julgava-se que as altas temperaturas no corpo humano eliminavam a doença.

No Museu de Dermatologia, é possível observar ainda a técnica de execução das máscaras em cera, cujos moldes foram obtidos a partir os doentes. Pelo menos 92 das máscaras foram executadas por Joaquim Barreiros, professor de Escola Superior de Belas-Artes e escultor na Fábrica de Porcelana da Vista Alegre. As cores, que pretendem reproduzir fielmente as manchas na pele provocadas pelas doenças, ficaram a cargo do pintor naturalista Albino Cunha.

A coleção do Museu de Dermatologia, embora seja a mais relevante existente no país, não é a única. Contam-se mais duas com valor histórico no ensino da medicina: no Museu Maximiano Lemos, no Porto, e na Faculdade de Medicina de Coimbra.

ocorvo.pt
24
Jan18

Pablo Picasso: a genialidade inesgotável e indiscutível

António Garrochinho
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      Pablo Picasso concentra em si a evolução da arte e o simbolismo que impregna o século XX. É o nome por excelência do cubismo, mas também do expressionismo, da expressão clássica, da revolução estilística e temática marcada por uma trajetória na qual se destaca a multiplicidade de explorações, as infinitas possibilidades que a linguagem pictórica oferece para retratar a vida, a sociedade, a história e o homem.
      Tudo aquilo que criou tornou-se atemporal. Projetou novos caminhos para a arte, fez com que esta não voltasse, a partir dele, a ser o que era anteriormente à sua obra.
     Figura excepcional, Pablo Picasso protagonizou e fundou correntes revolucionárias no universo da arte, desde as formas cubistas até a neofiguração, desde a escultura ou da água-forte até a cerâmica artesanal ou a cenografia para balé.
      Sua obra é abundante, diversificada, estendendo-se por décadas de um trabalho criativo inigualável, marcada pelo virtuosismo, pelo amor à vida e às amizades.
      Desde que começou a pintar foi motivo de admiração e seu trabalho encantou e encanta desde os mestres até o homem mais simples, trazendo em si a força contagiante de um homem nascido para a arte, apaixonado pelos bairros boêmios de Paris, pelo sol do Mediterrâneo, pelos touros, pelas pessoas simples e pelas mulheres belas, afeições que cultivou reiteradamente.
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      Pablo Diego José Ruiz Picasso nasceu em 25 de outubro de 1881, em Málaga, Espanha, primogênito do matrimônio entre o pintor José Ruiz Blasco e Maria Picasso López.
      De José Ruiz Blasco herdou o talento para o desenho e, apesar das dificuldades econômicas da família e da relação estreita com o pai, foi um estudante bastante negligente e muito distraído, mas com uma habilidade precoce que o levou a iniciar seus ensaios pictóricos aos dez anos de idade.
      Aos quatorze anos, em Barcelona, onde o pai atuava como professor na Escola de Artes e Ofícios, resolveu em um único dia os exercícios dos exames para ingresso na escola, os quais eram previstos para serem resolvidos em um mês, sendo admitido prontamente e, um ano depois, instalou seu primeiro atelier.
      Quando contava com dezessete anos, em Madri recebeu o primeiro prêmio: a Menção Honrosa pela obra Ciência e Caridade, da qual foi destacado o realismo acadêmico, tendo tomado como modelo para a figura do médico o próprio pai. A premiação o estimula a ingressar no curso avançado da Academia de San Fernando e seu trabalho, influenciado por Toulouse-Lautrec e por El Greco, recebeu diversas outras premiações, tanto em Madri como em Málaga.
     Sua primeira exposição individual ocorreu em 1898, na cidade de Barcelona e seus primeiros esboços foram comercializados em Paris, dois anos mais tarde, por ocasião da Exposição Universal. O comprador, Petrus Mañach, ofereceu-lhe cento e cinquenta francos mensais por toda a obra produzida em um ano. Picasso, ao tornar-se um artista profissional, decide assinar somente com o nome materno.
      Em 1901 tornou-se coeditor da Revista Arte Jovem, de Madri, a qual não durou muito e, de volta a Paris, conheceu Max Jacob e iniciou o que adiante se tornaria conhecido como o “período azul”. No ano seguinte, realizou sua primeira mostra parisiense e dois anos mais tarde passou a residir em Paris, em um alojamento compartilhado por outros artistas, tornou-se amigo de Braque e de Apollinaire.
     Influenciado por Cézzane, iniciou um período de intenso trabalho no qual, além da pintura, dedicou-se a elaborar, juntamente com Braque, as linhas mestras do cubismo analítico, cuja grande obra experimental, Las Señoritas de Aviñón, foi pintada em 1907.
      Rapidamente sobreveio o assombro e o escândalo dos críticos e de parte do público diante de um estilo disforme, que rompeu com todos os cânones e ganhou novos adeptos, no momento em que seu inventor expôs em Munique e em Nova York, nos anos de 1909 e 1911, respectivamente.
      Ao lado da então companheira, Marcelle Humbert, assim como de Braque, estabeleceu o cubismo sintético aproximando-se da abstração (em toda a sua produção, nunca abandonou a figuração). Pouco depois, mudou-se para Montparnasse, realizando exposições em Londres e Barcelona.
      Em 1914, com a Guerra, chegaram as tragédias que o levaram a praticamente abandonar o cubismo, através do recrutamento dos amigos Braque e Appolinaire e da morte súbita de Marcelle. A busca por novos rumos o levou a conhecer Diáguilev em 1917, por intermédio de Jean Cocteau, sendo encarregado da decoração do balé Parade, de Eric Satie.
      O final da guerra trouxe-lhe novas tristezas e esperanças: conheceu a bailarina Olga Koklova, com quem se casou em 1918 e despediu-se do amigo Apollinaire, morto no mesmo ano. Entre 1918 e 1925 trabalhou com diversos balés, trabalhos que deram origem à sua evolução pictórica.
      Em 1930, um velho retrato que pintara em 1918, retratando sua mãe, recebeu o prêmio milionário do Carnegie. Com o dinheiro recebido, comprou uma esplendida villa em Boisgelup e iniciou uma viagem pela Espanha que durou mais de um ano.
      Dedicou-se à escultura nesse ínterim, mantendo um romance com Teresa Walter, cujas consequências são um escandaloso processo de divórcio movido por Olga Koklova e o nascimento de Maya, sua primeira filha.
      Apaixonado novamente, desta vez por Dora Maar, Picasso assiste à eclosão da Guerra Civil e passa a apoiar firmemente os republicanos, aceitando simbolicamente a direção do Museu do Prado, embora residisse na França. Nesse período, em 1937, pintou o Guernika, e dois anos depois realizou uma grande exposição antológica, no Museu de Arte Moderna de Nova York.
      Durante a Segunda Guerra Mundial, com a ocupação da França pelas tropas nazistas, passou a trabalhar em seu refúgio de Royan. Deprimido e cada vez mais engajado politicamente, filiou-se ao Partido Comunista Francês em 1944. Nesse período apresentou setenta e sete novas obras no Salão de Outono.
      Até o ano de 1946, em que a fase de Vallauris se iniciou e passou a trabalhar com cerâmica, foi entusiasmado pela litografia. Viveu até então com a pintora Françoise Guillot, com quem teve dois filhos: Claude e Paloma.
      Em 1954 viveu uma fascinação pela adolescente Sylvette D., que aceitou posar para ele em troca de um dos retratos, produzindo assim alguns de seus trabalhos mais famosos e conhecidos.
      Em 1958 pintou o gigantesco mural para a UNESCO.
      Pablo Picasso foi um milagre, uma força revolucionária da vida e da arte, um criador até o momento da morte, em 8 de abril de 1973. Sua obra artística e pessoal é a mais fabulosa do século XX, mesclada a uma história de vida intensa, exacerbada, digna do legado que deixou.

A fase azul

      Uma das principais diferenças entre Picasso e a maior parte de seus contemporâneos é que ele nunca demonstrou qualquer sinal de debilidade ou de repetição em suas obras.
      A única orientação permanente em sua obra é um lirismo agudo, que como o tempo adquiriu acentos cruéis, inclusive e principalmente no período azul: o amargo lirismo, talvez uma nota que afugentava os compradores do início do século XX, é uma baliza de um jovem Picasso entre os vinte e os vinte e três anos de idade.
      Algumas de suas obras assinalam o espaço íntimo da mulher, outras mostram o cansaço do trabalho, com certa qualidade narrativa. Em seus quadros há mais do que intimidade, isolamento, e o cansaço brota da atitude de uma mulher sem que seja necessário explicá-lo, como no caso de La Planchadora.
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      As proporções ganham importância na obra de Picasso porque evocam proporções clássicas, que não podem ter sido escolhidas por causalidade, mas para produzir o equilíbrio nas obras, mesmo que por vezes subvertam os padrões da época.
      Contudo, a análise de uma obra de arte não pode ficar restrita às suas dimensões formais, porque não prescinde do conteúdo, não para indagar o que o artista narra, mas quais são suas preocupações.
      Enquanto a pintura acadêmica da época buscava incorporar-se à tradição pictórica com heroicos quadros históricos ou enaltecendo os valores da pintura consumeirista, Picasso apresenta uma mulher que trabalha até o esgotamento, idealizando a figura de alguém que passa por necessidades, tem compromisso político, retrata a pobreza e a necessidade sem fantasias, reflete sobre ela, traz para a arte o trabalhador empobrecido das cidades, o proletário, uma nova figura social.

      Contudo, os quadros do período azul não são, prioritariamente, um libelo contra a exploração, o desamparo a que a sociedade moderna condena homens e mulheres, mas se centram em uma reflexão sobre a condição humana. Há também muitas especulações sobre a relação entre o caminho seguido no período azul e o suicídio de seu amigo Casagemas, que o perturbou e influenciou diversas obras, elaboradas em torno desse acontecimento.
      Aos poucos, a alusão ao caso concreto se perde, em benefício de uma meditação mais profunda e de uma obra com perspectivas mais amplas. Na realidade, não importa saber que a face de Casagemas é a do homem que aparece à esquerda, em La vida, quadro mais representativo da época azul para se ter a certeza de que o quadro remete ao amor e à maternidade, à proximidade e a distância que pode haver entre um homem e uma mulher.
      Uma preocupação reiterada em Picasso é a comparação do casal que aparece à esquerda, em La Vida, com os frequentes estudos dedicados ao abraço que, nestes anos, se simplificaram na forma, radicalizando-se expressivamente.
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      A época azul, essencialmente, eleva o quadro ao que, nesses anos, pensava o jovem Picasso sobre a condição humana, em um meio tão estimulante e tão cruel como a cidade moderna. Talvez represente um período de crise, mas determinado não no esquema psicológico, nem na crítica social, nem tampouco na narração pintoresca ou nostálgica, mas como uma nova poética.
      Observa-se, ainda, que tanto suas pinturas do período azul como no período rosa, Picasso desenvolveu um idioma pessoal, amplamente tradicional em seu caráter, capaz de transmitir temas líricos e melancólicos. Depois, sob a influência de Cézanne e das esculturas ibéricas da antiguidade, voltou-se para os problemas mais fundamentais da representação, abandonando um estilo que começava a trazer compensações financeiras.

      No vasto e inacabado quadro Les Demoiselles d’Avignon, demonstrou novo interesse pela arte monumentalmente construída. Grandes nus femininos ocupam um espaço pictórico pouco profundo, fechado por panejamentos. As linhas oscilantes desses panejamentos e suas arestas vivas se repetem nas figuras, que só remotamente se relacionam com as formas normais de mulheres, e são quase desprovidas de modelado. As cabeças das três mulheres da esquerda possuem formas primitivas, relacionadas à escultura ibérica; as da direita derivam das máscara africanas da arte negras há muito existentes nos museus etnológicos, mas só então reconhecidas por seu poder artístico.
      Foi precisamente este quadro que levou Braque a aproximar-se de Picasso e, em quatro anos, ambos trabalharam juntos, elaborando o novo estilo conhecido como Cubismo.
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A fase rosa

      Picasso encontrou em Olivier o estilo, o humor e a temática dessa fase de seu trabalho. Com essa relação, mudou sua paleta para rosas e vermelhos, nos anos de 1904 e 1905, quando se configurou o Período Rosa.
      De uma maneira geral, pode-se afirmar do Período Rosa:
      a) utiliza, além do rosa, as cores predominantes no outono e os tons ocres;
      b) as pinturas se mostram mais agradáveis e os temas mais leves;
      c) as obras se mostram mais otimistas do que as pinturas do período azul;
      d) as figuras são curtas, concisas, e a dimensão é constante e equilibrada;
      e) é uma pintura mais delicada e clássica, possuindo ainda um fundo melancólico.
      A suave languidez, uma alegria difusa e emocionada inunda seus quadros. Paralelamente, as formas se tornam mais voluptuosas, os volumes surgem da profundidade monocromática, a forma mais potente reincorpora certa tradição do desenho clássico.
      Sem abandonar completamente esse período, a partir de 1906 transforma mais uma vez suas figuras, seu desenho. Na representação convencional da pessoa humana, Picasso passa a introduzir ligeiras assimetrias, estilizações que afirmam a expressão e, ao mesmo tempo, não alteram ainda o sentido anedótico de sua obra.
      De toda a sua produção artística, a menos usual pode ser considerada a obra Autorretrato, de 1907, identificada com o pós-impressionismo. Os tons avermelhados predominam, escuros ou claros, nas diversas partes do quadro. No fundo da parte esquerda, combina a cor rosa com base juntamente com o café e o azul, com um efeito que obscurece na parte inferior da tela. Os tons vermelhos e laranjas ficam mais claros até chegar ao rosto, que tem uma base gris que se une aos vermelhos, amarelos e laranjas para formar o tom da pele.
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      Picasso não se fixa muito nos detalhes da forma do rosto, mas enfatiza as cores, jogando com os tons para dar maior realismo ao semblante, deixando já de lado a perfeição da forma para se fixar no fundamental. É essa mudança que determina a obra de Picasso, já que teve uma evolução que o levou ao cubismo.
      Daí advém, para alguns autores, a divisão em um outro período: proto-cubista, do qual se evidencia El retrato de Gertrude Stein. Nesse período Picasso se desvincula dos cânones de arte relacionados em mostrar representações exatas da realidade e as modifica, mais precisamente transformando-as com padrões geométricos.
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      A principal afirmativa que se pode fazer, diante da observação das obras do período rosa, finalmente, é que este foi de calor e vivacidade, retratando um mundo de beleza, equilíbrio e serenidade, de felicidade mesmo, como a que o artista viveu nesse tempo e que lhe proporcionou a necessária evolução para o período cubista.

O Cubismo

      O Cubismo é sinônimo de descobertas, uma fase na qual não se encontra o aporte teórico, mas sim experimentos fundamentais na arte, com planos autônomos e independentes que se dissolvem e com volumes que se tornam menores, rompendo-se a linha de contorno e interrompendo-se o traço linear. Por isso, se compara o resultado com “o reflexo em um espelho quebrado” ou com a visão através de um caleidoscópio.
      A princípio ignorou a cor e concentrou-se na forma, buscando um elemento da intenção de Cézanne: captar a tridimensionalidade das coisas sem destruir a bidimensionalidade da tela. Depois dos “sólidos simplificados” das esculturas africanas, algumas pinturas foram “enfaticamente escultóricas”, encontrando uma nova solução, pela fragmentação do objeto em vários planos de formas simples, dispostas em um espaço pictórico plano.
      O clímax do cubismo analítico aconteceu em 1911, quando Picasso e Braque completaram sua formatação, produzindo algumas de suas demonstrações extraordinariamente belas.
      A perspectiva é múltipla, dada pelo estudo de cada plano, em sua autonomia, rompendo com a perspectiva monofocal albertiana e libertando a pintura dessa visão através da multiplicação dos ângulos de visão de um mesmo objeto.
      As gradações de sombra e de luz desaparecem, ocasionado pela decomposição do volume e a cor não traz indicações suplementares aplicando-se, em geral, em pequenos toques (passe-partout) a todos os objetos, mas que não consistem na cor verdadeira de nenhum deles.
      As formas geométricas invadem as composições. São formas que se traduzem em cilindros, cones, esferas e cubos. A retina capta as formas e a mente do pintor as simplifica e toda a composição ganha uma conotação filosófica, em que o observador é colocado diante de uma experiência distorcida das informações intelectuais, em que não é a realidade que se reflete, mas sim a ideia de realidade que possui o artista.
       Embora na época parecesse que o Cubismo conseguiria retirar da arte todos os elementos subjetivos e proporcionar a criação de obras que não poderiam ser “traduzidas” ou “descobertas”, como havia tentado o Impressionismo, a pintura dos cubistas varia muito no caráter e no significado
      A partir de 1912, Picasso, junto a Braque, desloca-se dessa fase de cubismo analítico para o cubismo sintético, mudando substancialmente a atitude diante da realidade e dos materiais artísticos, assim como demonstrando uma visão irônica da arte como tal.
      Do emprego de materiais e texturas que normalmente possuem significados ou contextos específicos resultou uma dupla função, muito importante na arte moderna: os quadros podiam agora ser planejados como organizações abstratas, muitas vezes formadas de unidades amplas e a forma e/ou caráter particular dos materiais podiam indicar um tema específico.
      Em 1913, Picasso produziu relevos baseados nessa ideia, assim como pinturas. Toda essa inovação conceitual foi possível, também, pela adesão de Gris ao movimento, no ano de 1911.
Especialmente sobre sua obra cubista, Picasso dizia que “a arte é uma mentira, que nos faz ver a verdade [...] quando se fala do naturalismo como oposto à pintura moderna, seria bom perguntar se alguém viu, alguma vez, uma pintura natural”.
      Fiel a esse preceito, Picasso nunca realizou uma pintura não-figurativa, pela ideia de que a pintura trata da realidade, mesmo que sustentasse que não lhe interessava pintar o que via, mas o que pensava sobre o que via. Do mesmo modo, acreditava que a pintura não pode ser concreta, ou seja, limitada a si mesma.
      O Cubismo de Picasso consta de várias fases:
      a) a primeira é a de Les Demoiselles d’Avignon, que se inspira no primitivismo e na arte negra africana;
      b) a segunda é de uma pintura com certa influência de Cézanne como, por exemplo, Tres mujeres;
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      c) no Cubismo Sintético as obras transcrevem a palha entrelaçada e surgem montagens de recortes de jornais, etiquetas, anúncios com crayon sobre eles e imitações de madeira, tal como em Au bon marche;
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      d) a última fase é a “pontilhista”, da qual é ilustrativo o quadro Mujer con Mantilla e que representa o rompimento gradual  com o Cubismo.
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A fase clássica ou greco-romana

      Esse período, posterior ao Cubismo sintético, inicia em 1917 e se estende até 1927. Nesse período, Picasso demonstra cansaço das estruturas geométricas e se volta, repentinamente, ao clássico.
      Outra motivação importante desse período foi a visita à Itália que Picasso fez, depois da Primeira Guerra Mundial, na qual contemplou as obras da Roma antiga, Pompéia, as obras renascentistas.
      Nesse momento, cria as máscaras, nas quais, com um desenho prodigioso, imobiliza a expressão, enquanto se limita a apontar as outras partes da figura.
      Caracteriza essa etapa a concepção do quadro como algo construído a partir de elementos plásticos inovadores, mesclados a elementos tradicionais, a simplificação dos planos geométricos, a riqueza das cores. Suas primeiras montagens como escultor também são desse período.
      O início da I Guerra Mundial conclui a etapa mais criadora do movimento cubista, encerrando-se também o momento em que o pintor realiza algumas de suas obras mais significativas, embora sua carreira ainda seria grande e frutífera.
      Nesse momento, quando cria a decoração para os Balés de Diaghilev, a sua produção em desenho e pintura entra em uma etapa hedonista, de inspiração clássica.
      Arlequín com Espejo, de 1923, é parte das obras desse período, do qual se consideram como parte desenhos inspirados no estilo do pintor francês Jean August Dominique Ingres.
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      O período surrealista se confunde com o clássico porque, apesar de alguns autores considerarem que se estende de 1928 a 1932, com esculturas cheias de fios e lâminas de metal, no ano de 1931 ilustra a obra Metamorfosis dentro do mais puro classicismo.
      A partir de 1925, sua temática se modifica novamente, indicando a transição a um período surrealista na qual, sem deixar de atender à realidade, não passam despercebidos sintomas ameaçadores como a ascensão do fascismo e o avanço do consumismo, os quais o inclinam, paulatinamente, a uma representação inédita da realidade.

A fase expressionista

      Para Picasso, a pintura é um conjunto de sinais e a metamorfose, ou modificação das formas, é equivalente a uma metáfora, uma linguagem com a qual o artista expressa as angústias de sua época.
      Em 1936, irrompe a Guerra Civil Espanhola e o artista, plenamente identificado com a causa republicana, carrega sua pintura de acentos trágicos, denunciando a violência e a morte.
       Em Guernica, no ano de 1937, deixa clara a denúncia da violência do bárbaro e gratuito bombardeio alemão a esse povoado basco. A redução da cor ao branco e ao preto e as figuras desconectadas tornam o quadro um símbolo legítimo e doloroso da história e das impressões da arte contemporânea.
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      O expressionismo de Picasso busca a representação da angústia. Uma obra de 1937,Cabeza de Mujer LLorando, é provavelmente o rosto mais doloroso de toda a história da pintura.
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       Durante toda a Segunda Guerra Mundial, o tema da morte é constante na sua criação artística, como em Nature morte au crâne de boeuf, de 1942, que resume o sentimento do artista pelos mortos na guerra e pela perda do amigo Julio González.
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      O expressionismo traduz as vivências de medo ou de insegurança para com o futuro, em deformações características do período, com suas metamorfoses baseadas primeiro em curvas e em elipses e, em seguida, em ângulos e traços enérgicos.
      Com o término da Guerra, inicia-se um período de calma na arte de Picasso, o momento em que surgem as pombas e as sacadas abertas para o Mar Mediterrâneo.
      O mais significativo do expressionismo, sem dúvidas, é Guernica, que representa mais do que uma cena concreta: é um símbolo, no qual Picasso renuncia à cor e a reduz a tonalidades gris. As chamas, o guerreiro morto com uma flor nas mãos, o cavalo ferido, são símbolos da dor da guerra. As figuras convulsas expressam a dor como um grito, um testemunho da revolta e do sentimento do artista.
     Além da evidente complexidade destes e de outros símbolos, e também da impossibilidade de dar à obra uma interpretação acabada, o impacto de Guernicacomo um retrato-denúncia dos horrores da guerra foi intenso.
      A última etapa de Picasso se inicia em 1946, após a Segunda Guerra Mundial, com novo otimismo, exaltação renovada da vida, acompanhada por reflexões pessoais sobre grandes obras do passado.

A fase de Vallauris

      Esse período se inicia quando Picasso fixa residência na cidade de Vallauris, onde termina a escultura El hombre del cordero e se dedica completamente à cerâmica.
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      Os quadros desse período são mais infantis, remetendo à maternidade e composto por enormes murais, tais como o Masacre en corée, de 1951, La guerra e La paz, de 1952 e La Baignade, de 1957. Durante os últimos anos, pintou variações de temas célebres.
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      Picasso baseou muitas de suas criações finais nas obras dos grandes mestres do passado, com influências de Diego Velázquez, Gustave Courbet, Eugene Delacroix e Edouard Manet.
      Nesses anos mesclou a pintura tradicional com a litografia e um interesse pela cerâmica, criando cerca de duas mil peças. também criou esculturas em bronze e, em 1968, especialmente, retornou aos temas iniciais, como o espetáculo circense, as touradas, as cenas eróticas e o teatro.
     Nesse último período não demonstrou qualquer cuidado em atender às exigências da pintura, a qual escoa em meio aos seus traços, tendo alcançado a liberdade para exprimir-se tendo como único compromisso essa expressão.
      De 1953 a 1973, incansavelmente, Picasso prosseguiu criando, usando todos os recursos que descobriu ao longo da sua trajetória. Sua pintura sempre foi influenciada pela vida pessoal e, em tudo que criou, imprimiu uma marca única.
      Em seus últimos anos, alcançou uma absoluta inovação conceitual, estética e formal. Somente a morte foi capaz de interromper essa inovação, retirar-lhe a vitalidade característica, quando se encontrava em plena atividade criadora.

O homem e seu legado

      Picasso representa um tema de difícil definição, uma espécie de “monumento” sobre o qual se apresenta um desafio intransponível para quem deseje explorá-lo.
      A maior dificuldade em delimitar suas contribuições é explicitar todas as faces de sua obra, todas essenciais para a renovação de conceitos e a revitalização do olhar sobre a arte e sobre a vida, de uma maneira muitas vezes explicitamente dolorosa e comprometida.
      A primeira constatação a ser feita é que sua obra é indispensável, mas é muito mais do que isso. Não se trata de qualquer outro pintor moderno, pois Picasso é a própria pintura moderna. Não se trata de um diferencial dentre outros de seus contemporâneos, mas do pintor produtivo, poderoso e inesgotável. É a supernova da arte do século XX, a qual qualquer asteroide que se queira formar em relativa independência deve evitar, para não ser tragado por seu enorme campo gravitacional.
      Picasso encarna o que escreveu Herman Hesse em O Lobo da Estepe: somos multidão, manada, debaixo de nossa aparência de indivíduos civilizados. Nele vemos isso claramente, sempre será maior que qualquer estilo, interpretação ou leitura que façamos de sua obra.
      O cubismo analítico representa a doutrina mais acabada do desenvolvimento de uma ideia: a arte nunca mais poderá ser a mesma depois dele, é um exercício que vai além do intelectual, uma lúdica e transcendente experiência de busca do espaço e de sua representação, comparável à revolução que Einstein realizou na Física, nessa mesma época.
Picasso se distinguiu por sua capacidade de seguir com tenacidade uma ideia e, ao mesmo tempo, não se perder nessa ideia. Suas paixões, sua família, seus amigos, suas obsessões e o diálogo com os pintores (contemporâneos ou não) que lhe interessam, são o grande tema de sua obra.
      Para ele, a arte era a vida. A obra e a pintura eram formas de existir, de “respirar”. Sua capacidade criadora trouxe para a arte um novo tempo, um novo sentido, de encontrar sem procurar, de receber sem inventar, de assimilar todo o que via, sentia, vivia, para depois, com a naturalidade do processo de respiração, emitir, exprimir, expressar.
      Nesse sentido, tudo alimenta a criação, tudo pode ser inspiração; criar e recriar, desenhar, modelar, juntar elementos, representam um único ato criativo, uma única expressão, porque são, sobretudo, sentimentos.
     Picasso não é o artista técnico, não buscou a perfeição estética, não perseguiu o aprimoramento do legado da arte através dos tempos, mas o fez, com naturalidade.
      Tudo o que se pode dizer as seu respeito, invariavelmente, deságua no consenso de que é a representação do século XX, um artista extremamente complexo, em que pese a precisão de sua obra.
     Picasso é complexo por suas ambiguidades, que lhe permitem ser considerado como o paladino da modernidade e das vanguardas artísticas, mas, ao mesmo tempo, também é a capacidade personificada de voltar-se os clássicos para recuperar os gêneros da pintura (a natureza morta, com o cubismo; a pintura histórica, com Guernica; a escultura, que retirou das trevas do academicismo; a cerâmica., etc.) e, sobretudo, para protagonizar uma das mudanças mais espetaculares da vanguarda do século XX: a chamada “volta à ordem”, que não era outra coisa senão um novo e intrigante olhar ao classicismo Greco-romano.
     Mesmo com todas as suas contradições, como todos os seres humanos, e com suas carências, se mostra um enigma, com toda a sua força, sua riqueza e sua precisão. Também com sua simplicidade, seu subjetivismo e sua variedade. Talvez sua visão do século XX não seja a mais completa, a mais sensata, mas dificilmente se poderá dizer que não seja a mais emocionante.
     É a revolução da forma, a ruptura, a reconstrução do tradicional, do clássico, o revolucionário que impõe uma concepção da arte, dividindo-a entre antes e depois de sua obra. Um gênio, pois.
      A genialidade de Picasso, por sua arte, como a de outros pintores também geniais, se deve à sua violência maravilhosa, que não evita o temor trágico da morte por estar vivo, que eleva, que arrebata o ânimo ao expor a vida, em todas as suas formas.
      Pode-se estabelecer uma evolução em seu próprio tempo, através de três etapas de sua vida: seu “ensimesmamento”, seu “enfurecimento” e seu “entusiasmo” final. É como se houvesse três Picassos sucessivos, sempre diferentes e sempre iguais ou fiéis a si mesmos.
Dessas três etapas, o autor destaca as telas mais significativas para caracterizá-las: Los musicos, como retrato do pintor “ensimesmado”, Guernica como retrato do pintor “enfurecido” e Les Demoiselles d’Avignon como retrato do pintor “entusiasmado”.
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      Contudo, não se pode esquecer que, junto às telas magistrais de Picasso, por sua vitalidade mesma, pela prodigiosa explosão da vida que se manifesta, em cada uma das suas diferentes etapas, em cada uma de suas telas, esculturas, litografias, cerâmicas, outras manifestações as complementam e enriquecem e talvez seja precisamente nessas que sua personalidade se torna mais evidente, se faz mais expressiva.
       Pode-se afirmar também, pela evolução da sua obra, que nenhuma fase de Picasso é mais extremada e absoluta do que a última, especialmente porque permanece incompleta e seria ainda mais surpreendente se o pintor tivesse vivido mais.
      A personalidade de Picasso, por suas próprias palavras, é o sentimento de um profundo e novo humanismo, angustiado e coletivo. Em oposição à concepção tradicional, que enaltece a beleza, Picasso se destaca por traduzir o sofrimento dos homens e mostrar suas faces.
     Picasso usa suas tintas para plasmar em sua obra processos coletivos, de tal forma que Guernica, por exemplo, não é o retrato de um bombardeio de uma cidade concreta, mas todo o horror da guerra, de todas as guerras, e as figuras não são personagens, mas a representação de todos os homens.
      Sua arte “se enquadra na vida da forma, e não na forma da vida”. Em seus quadros, se revela uma personalidade que excede a cena da obra pictórica, a cultura ocidental, que cria um universo organizado onde o espaço, a luz, a cor, são tratados como fenômenos evidentes, que o refletem pessoalmente.
      A personalidade de Pablo Picasso dominou a evolução das artes visuais durante todo o século XX e sua obra conserva intacta sua genialidade, intensidade e capacidade de comunicação. Afinal, se há algo que possa se aproximar da complexa personalidade de Picasso é sua curiosidade, seu imenso desejo de conhecer e de experimentar.
    Sua impetuosidade fez, portanto, com que passasse à história como exemplo de criatividade, de genialidade, de produtividade e de diversidade. Seus biógrafos coincidem quanto a isso e ao fato de ser um homem e um artista incomparável, mas também um grande destruidor.
      Isso é verificado, por exemplo, quando se sabe que quatro anos depois de sua morte e cinquenta anos após havê-lo conhecido, Marie Thèrése Walter enforcou-se na garagem de sua casa. Sua última esposa, Jacqueline Roque, também suicidou-se. Para ambas, a vida não tinha sentido sem Picasso. Do mesmo modo, poucos dias após a sua morte, o neto, Pablo, tenta suicidar-se, morrendo três meses mais tarde.
     Sua complexidade tinha muitas outras faces: era machista, cético, zeloso, possessivo, tirano, e sua força anulava todos os que o rodeavam. Esse caráter repercutiu na vida amorosa, em uma sucessão de mulheres que, praticamente, se conectavam umas com as outras. No fundo, Picasso se revela uma figura com forte carência afetiva, um temperamento que necessitava constantemente amar e ser amado.
     Diante disso, teve várias mulheres ao longo de seus noventa e dois anos, ainda que as biografias costumem reconhecer aproximadamente o mesmo número de parceiras oficiais. São doze relações, além da mãe, cuja influência é fundamental nos primeiros anos do pintor, criado em um entorno principalmente feminino, junto a duas irmãs.
     A importância dessas relações é desigual na vida de Picasso e, em alguns casos, dura apenas alguns meses. Sua relação mais duradoura foi a última, com a segunda esposa, com quem permaneceu até a morte, por quase vinte anos.
     Se é fato que a personalidade de Pablo Picasso pode não ter sido exemplar, o que se ressalta é que, como homem, foi singular e, como artista, um gênio grandioso. É esta, precisamente, a personalidade que influenciou a arte e continua a fazer de Picasso senão a mais importante, uma das mais produtivas contribuições que poderia ser dada à arte que se produziu depois dele.
     Foi um visionário, inquieto, irreverente, corajoso, características que quase sempre definem um gênio, um artista tecnicamente perfeito, do qual uma das faculdades mais notáveis era a capacidade de ver o mundo de todos os ângulos possíveis, formais, psicológicos ou intelectuais.
     Sua paixão pela vida o levou a interessar-se por todas as coisas que afetam ao homem: a solidão, a ternura, o amor, o desejo, a pura brincadeira, a decepção, a dor, a crueldade, a loucura, a fascinação pela mulher. Para expressá-los, inventou novas linguagens, experimentou materiais, utilizou todas as técnicas e em todas se destacou com excepcional maestria.
      Ao longo de sua trajetória como artista, descobriu e utilizou todas as fontes, reinventou o passado, absorveu tudo, experimentou tudo, apropriou-se de tudo para transformar e devolver com uma expressão original, renovada e freneticamente contemporânea.
     Picasso pode ser considerado a própria realidade, porque não pretende transcendê-la ou sublimá-la, mas mostrá-la, confundir-se com ela, oferecer possibilidades e perspectivas inéditas, fluxos de energia artística que projeta para o futuro.
     Indiscutivelmente, enfim, é o gênio da arte do século XX, aquele que mudou e determinou o destino da arte do seu tempo e da arte que viria depois dele.
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Fontes:
DUNCAN, David Douglas. O mundo privado de Pablo Picasso. Tradução de José Geraldo Vieira. São Paulo: Palácio do Livro, 1958.

SCHAPIRO, Meyer. A unidade da arte de Picasso. São Paulo: Cosac e Naify, 2002.

WALTHER, Ingo F. Pablo Picasso: o gênio do século. Lisboa: Taschen Books, 1994.

deanimaverbum.weebly.com
24
Jan18

Honoré Daumier - Pintor comprometido com uma profunda consciência social, sempre denunciou a dura realidade das classes populares.

António Garrochinho









Honoré Daumier (26 de fevereiro de 1808 - 10 de fevereiro de 1879) foi um gravador, caricaturista, pintor e escultor francês, cujas muitas obras oferecem comentários sobre a vida social e política na França no século XIX. 
Um dramaturgo prolífico que produziu mais de 500 pinturas, 4000 litografias, 1000 gravuras de madeira, 1000 desenhos, 100 esculturas, talvez seja mais conhecido por suas caricaturas de figuras políticas e satirizas sobre o comportamento de seus compatriotas

Pintor comprometido com uma profunda consciência social, sempre denunciou a dura realidade das classes populares.

Esta pintura mostra-nos uma certa sordidez dos personagens que contrasta com a sofisticação industrial do comboio. O grotesco que desenvolve incide no seu talento caricatural e que, também, se pode avaliar a influência de Goya. Há um extraordinário poder de síntese da narrativa compositiva, que evidencia o interesse que mais tarde viria a despertar nos expressionistas.
Nota de edição

Honoré Daumier 1808-1879
Actualmente ele também é considerado um dos mestres da litografia e um dos pioneiros do naturalismo.
As suas primeiras litografias datam de 1820. Tendo a sua caricatura Gargântua, que ridicularizava o rei Luís Filipe, custado seis meses de prisão em 1831.
Depois de dominar a técnica da litografia, Daumier trabalhou como ilustrador para publicidade. Desenvolveu também a linguagem da charge e da caricatura, caracterizada pela crítica social e política.
Já a sua pintura é completamente diferente. A paleta de cores que usa é nos tons ocre e terra. Os temas são artistas em desgraça e crianças na miséria, algo que o mobilizava de maneira singular. No entanto, seus quadros não visam à emoção gratuita; as suas personagens conservam o tempo todo a dignidade humana.
Daumier mudou-se com os pais de Marselha para Paris em 1816. A mudança atendia às ambições do pai, que embora fosse mestre em vitrais queria seguir a carreira de poeta. O adolescente Daumier trabalhava como empregado de um funcionário da justiça e como auxiliar de um contador. Nessa época começou a se interessar pelas artes plásticas. Ia com certa freqüência ao Museu do Louvre, onde ficava admirando e estudando as valiosas coleções. Em 1822 teve aulas no ateliê de Lenoir, um ex-aluno de David. Também estudou profundamente as obras de Rubens e Ticiano.
Suas primeiras litografias datam de 1820, quando Daumier estava empregado como ilustrador em diferentes centros gráficos da cidade. Sua caricatura Gargântua, que ridicularizava o rei Luís Filipe, custou-lhe seis meses de prisão em 1831. 


Privado da liberdade, o ilustrador matava o tempo retratando os presos. Já em liberdade, assinou um contrato com a revista La Caricature e mais tarde com a célebre Le Charivari.
São conhecidas mais de 4 000 litografias de Daumier. De fato, ele foi um dos litógrafos mais especializados. Nelas reproduziu uma visão crítica, às vezes irônica, às vezes direta e certeira, dos acontecimentos de sua época. Seu estilo é dinâmico e jovial. Com uma linha, Daumier podia redefinir um conceito psicológico, como no Ratapoil (1850).
Depois de dominar a técnica da litografia, Daumier trabalhou como ilustrador para publicidade e o mercado editorial, influenciado pelo estilo de Charlet. Ele desenvolveu a linguagem da charge e da caricatura, caracterizada pela crítica social e política.

Já sua pintura é completamente diferente. A paleta de cores se simplifica nos tons ocre e terra. Os temas são artistas em desgraça e crianças na miséria, algo que o mobilizava de maneira singular. No entanto, seus quadros não visam à emoção gratuita; seus personagens conservam o tempo todo a dignidade humana.

Self-Portrait 1869

A carruagem de terceira classe, Honoré Daumier


Honoré Daumier

24
Jan18

Realismo e Naturalismo

António Garrochinho


Contexto Histórico
O Realismo reflete as profundas transformações econômicas, políticas, sociais e culturais da segunda metade do século XIX. A Revolução Industrial, iniciada no Século XVIII, entra numa nova fase, caracterizada pela utilização do aço, do petróleo e da eletricidade; ao mesmo tempo o avanço científico leva a novas descobertas nos campos da Física e da Química. O capitalismo se estrutura em moldes modernos, com o surgimento de grandes complexo industriais; por outro lado, a massa operária urbana avoluma-se, formando uma população marginalizada que não partilha dos benefícios gerados pelo progresso industrial, mas pelo contrário, é explorada e sujeita a condições sub-humanas de trabalho.
 Esta nova sociedade serve de pano de fundo para uma nova interpretação da realidade, gerando teorias de variadas posturas ideológicas.
Numa seqüência cronológica temos:
 O Positivismo de Auguste Comte (1798 – 1857) – teoria científica que defende posturas exclusivamente materialistas e limita o conhecimento das coisas apenas quando estas podem ser provadas cientificamente. A realidade é apenas aquilo que vemos, pegamos e podemos explicar.
 O Socialismo Científico de Karl Marx (1818 – 1883) e Friederich Engels(1820 – 1895) – teoria científica que estimula as lutas de classe e a organização política do proletariado. É uma resposta da exploração do operário nas indústrias e nos grandes centros urbanos. Nessa teoria, Marx e Engels mostram o quanto o aspecto social está vinculado ao processo econômico e político.
 O Evolucionismo de Charles Darwin (1809 – 1882) – teoria científica que mostra o processo de evolução das espécies a partir da seleção natural, ou seja, diz que apenas “os fortes”, aqueles que têm condições de adaptar as adversidades, têm condição de sobreviver. Darwim, em sua obra Origem da Espécies (1859), questiona as teorias regiliosas sobre a criação, pois o homem não seria fruto do divino, mas da própria evolução das espécies.
 O Determinismo de Hippolyte Taine (1828 – 1893) – teoria que defende que o comportamento humano é determinado por três fatores: o meio, a raça, e o momento histórico.
Características do Realismo: 
  1. Concepção materialista da realidade: o homem, a natureza e o universo estão intimamente associados num todo orgânico, sujeitos às mesmas leis naturais.
  2. A realidade deve ser captada através da observação, tal qual o cientista no laboratório.
  3. Os fatores psicológicos e sociais estão sujeitos às leis naturais; nada têm de espirituais ou transcendentais.
  4. Preocupação com a verdade.
  5. Preocupação em ser objetivo no trato dos personagens.
  6. Retrata a vida contemporânea dos personagens, pois só a vida do momento pode ser objeto de análise e observação, ao contrário dos românticos que amavam o passado.
  7. A narrativa realista move-se lentamente e é cheia de pormenores, aparentemente inúteis, mas usados propositalmente para retratar de modo mais fiel a realidade.
  8. Não existe o livre-arbítrio. Tudo são forças biológicas, atávicas e sociais.
  9. Clareza e harmonia; correção gramatical; retrato fiel dos personagens; linguagem próxima da realidade.
“Outrora uma novela romântica, em lugar de estudar o homem, inventava-o. hoje o romance estuda-o na sua realidade social. Outrora no drama, no romance, concebia-se o jogo das paixões a priori; hoje analisa-se a posteriori, por processos tão exatos como os da própria fisiologia. Desde que se descobriu que a lei que rege os corpos brutos é a mesma que rege os seres vivos, que a constituição intrínseca duma pedra obedeceu às mesmas leis que a constituição do espírito duma donzela, que há no mundo uma fenomenalidade única, que a lei que rege os movimentos dos mundos não difere da lei que rege as paixões humanas, o romance, em lugar de imaginar, tinha simplesmente de observar. (…) A arte tornou-se o estudo dos fenômenos vivos e não a idealização das imaginações inatas…”
 Eça de Queirós. Idealismo e realismo. In: Cartas inéditas de Fradique Mendes. Apud: SIMÕES, J. G.: Eça de Quirós – trechos escolhidos. Rio de Janeiro, Agir, 1968.
Romantismo – primeira metade do século XIXRealismo – segunda metade do século XIX
– Sentimentalismo doentio– Observação impessoal
– Olhos no passado– Olhos no presente
– Supremacia da imaginação– Supremacia da verdade física
– Espiritualismo, religiosidade– Materialismo, espírito científico
– Subjetivismo– Objetivismo
– Temas nacionais e regionais– Temas cosmopolitas
– Fantasia e imaginação criadora– Documentação da realidade
– Arrebatamento de idéias– Análise, reflexão, observação
– Monarquia– República
– Heróis extraordinários– Gente comum, vulgar
– O mundo é como eu vejo– O mundo é como ele é
 REALISMO X NATURALISMO
A aproximação dos termos Realismo e Naturalismo é muito comum nos livros de história da literatura. Em muitos casos eles são usados até como sinônimos. Isso ocorre porque existem muitos pontos em comum entre o romance Realista e o Naturalista. Como exemplo pode-se citar o ataque à burguesia ao clero e à monarquia.
As proximidades dessas estéticas são tantas, que, muitas vezes, é difícil classificar um autor e, até mesmo uma obra, como pertencente a essa e àquela corrente literária. Um bom exemplo é o escritor português Eça de Queiros, considerado por muitos críticos literários como sendo Realista e, por outros, como Naturalista.
Apesar de toda essa proximidade, é possível encontrar algumas diferenças entre a prosa Realista e a Naturalista. O Naturalismo é fortemente influenciado pela teoria evolucionista de Charles Darwin. Por isso, vê o homem sempre pelo lado patológico. Sob essa ótica o Homem se comporta como um animal, ou seja, não usa a razão, pois os seus instintos naturais são mais fortes. Ainda sob esse ponto de vista, o comportamento humano nada mais é do que o reflexo do meio em que o homem vive (Esse meio é composto por educação, pressão social, o próprio meio ambiente etc.). Esse homem, que ainda é subjugado( dominado moralmente, reprimido, amansado domesticado) pelo fator hereditariedade física, está preso a um destino que ele não consegue mudar. Um bom exemplo disso é o personagem “Pombinha”, da obra “O Cortiço”, de Aluíso de Azevedo. No início do romance ela era uma jovem cheia de virtudes e destinada ao casamento. No entanto, devido às influências do seu meio, cedeu ao homossexualismo e à prostituição.
O Naturalismo aprofunda a visão científica do Realismo, pois acredita no princípio de que somente as leis da ciência são válidas, renegando assim, qualquer tipo de visão espiritualista. Dessa forma, acredita que o comportamento do homem pode ser explicado cientificamente. Então, o escritor naturalista observa o seu personagem muito de perto, buscando conhecer as causas desse comportamento para chegar ao conhecimento objetivo dos fatos e das situações.
 A temática também é um dos pontos em que há diferenças significativas entre o Naturalismo e o Realismo. Os autores Naturalistas, sempre por meio de uma análise rigorosa do meio social e de aspectos patológicos, trazem para sua obra temas como a miséria, a criminalidade e os problemas relacionados ao sexo como o adultério e o homossexualismo, tanto feminino como masculino.

profstellerdepaula.wordpress.com
24
Jan18

MAIS UM LADRÃO DO P”S”

António Garrochinho



É deputado da nação (ainda que desta nação), é o presidente da Distrital de Santarém do P”S”. É, pois, senhoras e senhores, mais um dirigente político das fileiras dos partidos burgueses, a quem a justiça nacional (apesar de tudo) caça e sentencia como fora da lei.

O ladrão em causa chama-se ANTÓNIO GAMEIRO e foi condenado por ter “sacado à má fila” um apartamento de uma mulher, sua cliente, emigrada na Austrália no valor de 45 mil euros. 

A lista de dirigentes do PSD, do P”S” e do CDS que são corruptos confessos, ladrões contumazes, acólitos de uma agenda para-política de enriquecimento pessoal de qualquer maneira, é longa, muito longa. Não obstante, o seu comprimento conhecido, é sabido dos quilómetros que falta apurar por displicência dos tribunais e encobertas cumplicidades.

Guilherme Antunes in facebook


24
Jan18

A FASCINANTE DANÇA CALEIDOSCÓPICA DOS 30 DEDOS

António Garrochinho


StatusSilver criou "Finger Kaleidoscope 2", um excelente vídeo, onde o incrível trio de artistas japoneses da Xtrap Dance Crew juntou seus 30 dedos para realizar uma dança fascinante da música de DJ Snake "Let Me Love You". Neste mix de teatro das sombras com coreografia de dança os comentadores apostam que, pelo formato das mãos, o trio é formado por TRÊS HOMENS
VÍDEO


São 3 homens, eles já participaram do Got Talent Asia.

VÍDEO


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24
Jan18

COMER COM OS OLHOS

António Garrochinho

A artista da culinária Ksenia Penkina faz bolos artesanais que são tão hipnotizantes para olhar quanto parecem gostosos de provar. A boleira de Vancouver trabalha com todo tipo de sobremesas, baseadas, ou melhor, cobertas com mousse espelhada e se auto proclama uma "apaixonada pela confeitaria". O problema, como você irá notar, é que a internet não tem cheiro e nem tem gosto e então somos obrigados a literalmente comer seus doces com os olhos. Diliça!

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Artista da culinária cria bolos com mousse espelhado tão fascinantes que dá vontade de comer com os olhos 01
Diz se que a expressão "comer com os olhos" surgiu na antiga Roma, quando os rituais funerários eram realizados com grandes banquetes, mas -sabe-se lá o motivo- ninguém podia comer, senão apenas admirar. A locução acabou ganhando novo sentido na cena gastronômica na condição de preparar a apresentação dos pratos de forma harmoniosa e colorida, visando despertar o interesse e dando água na boca apenas com o sentido da visão, uma espécie de sinestesia que se acentua com o cheiro do prato.

No entanto, no caso dos bolos de Ksenia, a gente é mesmo obrigado a comer com os olhos interneticamente ao babar na variedade de tamanhos e estilos de suas sobremesas cativantes cobertas de mousse, cuja glaçagem é geralmente composta de glicose de milho, leite condensado, gelatina em pó, chocolate branco e corantes.

Além de seus aspectos fascinantes, cada bolo é feito com combinações únicas que misturam o mousse com tudo, desde biscoitos e frutas até compotas e cremes. Você pode acompanhar todas as aventuras culinárias espelhadas de Ksenia na sua página do Instagram.
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24
Jan18

Sistema de rega com água não tratada vai chegar a novas zonas de Vale de Lobo

António Garrochinho


A Infralobo vai alargar a utilização de água não tratada, proveniente de captações subterrâneas, para a rega dos espaços verdes públicos de Vale de Lobo até ao final do primeiro trimestre deste ano.
Segundo explica a Infralobo, o sistema de rega já implementado em grande parte das zonas de Vale do Ténis e Oceano Clube «permite uma poupança anual de aproximadamente 52 mil metros cúbicos de água tratada».
O alargamento de áreas abrangidas por este sistema vai permitir uma «poupança anual total de aproximadamente 157.500 metros cúblicos de água tratada».
Com a rega gota a gota já implementada e com a utilização de plantas autóctones, «as soluções implementadas permitem uma melhor adaptação às alterações climáticas, de forma a reforçar a sustentabilidade ambiental, não sendo necessário consumir água tratada para efeitos de rega dos espaços verdes públicos», acrescenta a empresa municipal.
Segundo Vitor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé, «(…) é fundamental estabelecer uma estratégia de adaptação aos impactos decorrentes das alterações climáticas e que salvaguarde todo o nosso património humano, natural e material».


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24
Jan18

Casa do Artesão nasceu no coração de São Brás de Alportel

António Garrochinho


A Casa do Artesão, que quer valorizar o artesanato e a produção local, foi inaugurada no sábado, 20 de Janeiro, no Centro Histórico de São Brás de Alportel. 
Este era um «momento há muito aguardado», segundo a Câmara de São Brás.
Na inauguração estiveram Vítor Guerreiro, presidente da Câmara Municipal, Marlene Guerreiro, vice-presidente daquela autarquia, João Rosa, presidente da Junta de Freguesia de São Brás de Alportel, Mariana Prates, presidente da direção da Associação de Artesãos “Esfera Triunfante”, e Alexandra Gonçalves, diretora regional de Cultura do Algarve.
A Casa do Artesão, instalada num espaço adjacente ao Centro de Artes e Ofícios, está localizada no Centro Histórico de São Brás de Alportel mais concretamente no Largo do Mercado, local recordado como “Barreira”, onde ainda ecoam as memórias de outros tempos quando ali se encontravam as gentes, se realizavam as mercas e se agitava a vida social da comunidade são-brasense, como recordou Marlene Guerreiro.
Uma homenagem a artesãos e mestres de ofícios, uma “espécie de Arca de Noé” dos saberes de experiência feitos, artes da terra e da serra, este novo espaço é também um compromisso como o futuro, representando a mais recente aposta do Município de São Brás de Alportel na preservação do seu património material e imaterial.


Para Vítor Guerreiro «é fundamental aliar à preservação da tradição a inovação, pela mão dos jovens são-brasenses, trazer para o presente e levar para o futuro estes saberes que são marca da nossa identidade e que podem contribuir para o desenvolvimento sustentável do nosso território».
Já Alexandra Gonçalves deixou palavras de alento aos «guardiões» deste património material e imaterial e um apelo para que este projeto seja vivido por todos.
A Casa do Artesão vai ser dinamizada pelo município, em parceria com os artesãos e produtores de São Brás de Alportel que aqui vão trabalhar ao vivo, realizar oficinas de artesanato, mostras de produtos e outras iniciativas na missão de preservar e promover os saberes ancestrais e artesanais algarvios.
Esta Casa do Artesão é uma ação integrada no Plano de Revitalização do Centro Histórico, que pretende criar um novo polo de interesse turístico no concelho.
Este novo espaço vem reforçar as várias iniciativas que o Município tem vindo a desenvolver na área da preservação e promoção do património material e imaterial do concelho enquanto legado importante e identitário para as atuais gerações e para as gerações futuras.
Todos os artesãos e produtores locais interessados em participar neste projeto deverão contactar o município através do telefone 289 840 210 ou email artes.oficios@cm-sbras.pt.

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24
Jan18

Uma betoneira, um aspirador, um super paio…e um magalhães

António Garrochinho



Esta é uma história que mete uma betoneira, um aspirador, um paio com mais de um metro de comprimento, um computador Magalhães…e a boa disposição e o saber receber dos alentejanos.
É uma história, mas verdadeira, daquelas sobre as quais se costuma dizer: «só visto, contado ninguém acredita!»
No fim de semana passado, participei em mais uma visita cultural do Grupo dos Amigos do Museu de Portimão, desta vez a Vila Viçosa e ao seu Palácio Ducal, que visitámos tendo como guia a sua diretora, Maria Monge.
Após o jantar, pouco passava das dez da noite, e porque tínhamos visto uns foguetes, uma parte do grupo resolveu ir dar uma volta a pé pela vila, para espreitar a festa que, pela música que se ouvia, era ali perto. Tinham-nos dito que nessa festa seria rifado um trator…
Chegámos a um largo, perto do Paço Ducal, quase às escuras, onde nos deparámos com o seguinte quadro: de um lado, junto a uma bela e antiga fonte em mármore, estava estacionado um jipe Portaro, quase tão antigo como a fonte, e iluminado por umas luzes psicadélicas, a piscar, que alternavam entre azul e vermelho. As luzes, esclareça-se, estavam colocadas por baixo do jipe. E piscavam…e piscavam…
Do outro lado do largo, a peça mais importante: uma carrinha de caixa aberta, com o taipal de um dos lados aberto, e, lá em cima, uma betoneira, iluminada com mais luzes psicadélicas. Em cima da cabine da carrinha, um pequeno computador, também com luzes a picar e ligado às potentes colunas, de onde saía uma música de discoteca em volume bem elevado. Era como se houvesse ali um DJ…fantasma.
Porque o mais curioso é que, apesar das luzes a piscar freneticamente e da música alta, não se via vivalma no largo…
Quanto ao objetivo da betoneira, logo houve quem dissesse que, afinal, em vez do trator, deveria ser a betoneira o objeto das rifas…mal nós sabíamos…
Estávamos nós nestas conjeturas, quando, de uma rua que desemboca no largo surgiu um homem que se dirigiu a nós e nos cumprimentou de forma muito alegre: «Então vinham para a festa?», perguntou-nos. «Sim…mas parece que já acabou, não é?», respondemos. «Sim, mas eu posso explicar-lhes que festa é esta», disse o homem.
E lá nos explicou que se tratava de uma festa promovida pela Associação Alegres Olival, da Rua da Pascoela, ali mesmo ao lado do largo, para angariar fundos. Além das rifas, acrescentou, promovem também «garraiadas no olival» e, sobretudo, participam no concurso da Rua Florida, organizado todos os anos pela Câmara de Vila Viçosa e onde já ganharam dois prémios. «Temos 118 vasos de flores aqui na rua, além das flores de papel que fazemos para decorar tudo». Este ano, explicou-nos, a festa será a 7 de Julho. E logo ficámos todos convidados para lá voltar!
Mas e o que são estas luzes, o jipe, a betoneira?
O jipe, «um Portaro de 1980, com inspeção feita até ao fim deste ano de 2018», como nos disse o João Nunes, dirigente da associação, era o prémio principal das rifas que já tinham sido sorteadas durante a festa.
E a betoneira? «A betoneira? Então a betoneira é a tômbola!», explicou, com uma gargalhada. A tômbola? Como? E então ele saltou para cima da carrinha de caixa aberta, pôs a betoneira a funcionar. Rodando e rodando, lá iam ficando bem misturadas as bolas com os números que sobraram do sorteio. E sacou daquela super imaginativa tômbola uma bola com um número escrito, que era sugada pelo aspirador que segurava na mão. Ou seja, com uma betoneira e um aspirador se fazia um animado sorteio… nós, a essa altura, já nos torcíamos a rir, com a demonstração feita, tal como se pode ver no vídeo que fiz na altura.

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«E o computador que está ali em cima, para passar a música, sabem o que é? É um Magalhães! Ou um Sócrates, como a gente lhe chama!», acrescentou o divertido anfitrião. Nova explosão de riso.
Mas faltava ainda um pormenor para dar mais picante a esta cena, toda ela digna de um filme de Fellini…ou de Kusturica: o super paio!
É que os prémios da rifa eram os seguintes: «1º um jipe Portaro de 1980, mas com inspeção feita até ao fim deste ano de 2018; 2º seis litros de gasolina/gasóleo [dito assim mesmo: seis litros de gasolina barra gasóleo]; 3º um colete refletor; 4º um paio de 1 metro; 5º uma garrafa de vinho cheia; e 6º uma garrafa de vinho vazia». Nova explosão de riso da nossa parte.
Aí, e porque a noite estava fria, o João Nunes convidou-nos para irmos até à sede da Associação Alegres Olival, que fica ali ao pé, na Rua da Pascoela, para irmos beber uma «mine». E lá fomos. As minis foram tiradas de um frigorífico que não conseguia ficar fechado, sempre com a porta a abrir-se. Quando lhe chamámos a atenção para isso, respondeu: «é como ele trabalha melhor!»…e lá ficou o frigorífico escancarado.
As minis, oferta da associação ao grupo de algarvios, soltaram ainda mais a conversa. E falou-se, de forma bem humorada, do paio de um metro de comprimento, que se via ali, na sala ao lado, onde estava o proprietário da loja Palad’art, produtor do dito cujo. Como a sua loja, na Rua Florbela Espanca, só abriria no domingo às 10h00, e o Grupo dos Amigos do Museu de Portimão sairia mais cedo de Vila Viçosa, logo ali se fez a venda e a compra do super paio.
Depois, houve uma voluntária para o transportar, ao ombro, tal a dimensão do dito cujo, até ao hotel, que não era longe. Nenhum dos dois homens do nosso grupo quis transportar o paio…vá-se lá saber porquê…
Chegados ao hotel Solar dos Mascarenhas, pedimos ao rececionista se seria possível guardar o paio na cozinha, até à manhã seguinte, para que o seu cheiro não invadisse o quarto de um de nós. O rapaz, que deve ter pensado que tínhamos comprado chouriços normais, mal viu o paio de tamanho descomunal, exclamou: «Eh lá! Isto é que é um paio!».
Esta é, de facto, uma história que teve que ser vivida, para se acreditar. E nem o que eu aqui conto faz jus ao que se passou, tal foi o surrealismo da cena. É bem o exemplo da nossa afabilidade portuguesa, deste modo de ser lusitano. Aquele calipolense (habitante de Vila Viçosa) não nos conhecia de lado nenhum, mas logo ali se criaram laços de convivialidade e de amizade.
Nós já pusemos um gosto na sua página no Facebook, para podermos acompanhar as atividades daquela associação, constituída por gente bem disposta e super simpática. E, porque os tempos são de redes sociais, saiba que, quem quiser, até pode comprar rifas para estes sorteios via internet. «Basta dizer-nos, em mensagem no Facebook, nós mandamos o NIB e vocês fazem a transferência bancária».
E olhem que os prémios não são nada de desprezar: em Julho, para a festa de dia 7, serão rifados um LCD, as tais garrafas de vinho, uma cheia, outra vazia. E o paio, claro. O super paio. Outro, que este já é nosso e vai agora ser dividido…e degustado.











Autora: Elisabete Rodrigues é jornalista e diretora do Sul Informação


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24
Jan18

Greve nacional dos trabalhadores dos CTT a 23 de Fevereiro

António Garrochinho


Os CTT vão deixar de ter instalações, pessoal e serviços próprios em Coimbrões
Os quatro sindicatos que convocaram a greve e a manifestação anunciaram as acções de luta em comunicado conjunto, no qual defendem a reversão da privatização dos CTT – Correios de Portugal e um serviço postal universal de qualidade.
No documento, os sindicatos contestam os despedimentos, o encerramento de estações de correio e a sobrecarga de trabalho dos carteiros.
«Os sindicatos subscritores deste comunicado, confrontados com a destruição da Rede Pública Postal e da qualidade de serviço pela CE [Comissão Executiva] dos CTT, decidiram continuar a luta», afirmaram o Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações (SNTCT), o Sindicato Nacional dos Trabalhadores das Telecomunicações e Audiovisual (SINTTAV), o Sindicato Democrático dos Trabalhadores das Comunicações e dos Media (Sindetelco) e o Sindicato Independente dos Correios de Portugal (Sincor).
Salientaram, a propósito, os contactos que tiveram com as populações, as reuniões com comissões de utentes e com autarquias, as audições com os grupos parlamentares, as audições nas comissões parlamentares de Trabalho e Economia, bem como as reuniões com a Autoridade Nacional de Comunicações (ANACOM) e a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP).
As organizações sindicais consideraram ainda que, depois desses contactos, de plenários e de contactos com os trabalhadores do grupo a nível nacional e da greve de Dezembro, se tornou claro que «os CTT têm que aumentar o número de trabalhadores, de giros e de estações actualmente existentes e não, como anunciaram, fechar estações e despedir trabalhadores».
«Assim, perante o autismo da CE da Empresa, o único caminho é o da exigência da reversão total da privatização dos CTT, existindo já uma petição nesse sentido entregue na Assembleia da República. O Governo tem que assumir as suas responsabilidades no sentido de salvaguardar a Rede Pública Postal e para que o Serviço Postal Universal volte a ser prestado com qualidade às populações e empresas», defenderam os sindicatos.
No mesmo comunicado, os sindicatos representantes dos trabalhadores do grupo CTT exortam a população a participar na manifestação que vão promover em Lisboa, no dia da greve.

Municípios contra «maior degradação» 

Os municípios exortaram a administração do CTT, esta terça-feira, a acabar com as medidas restritivas que têm sido implementadas, designadamente as políticas de encerramento de estações e de despedimento de trabalhadores, que estão a degradar o serviço postal.
Em declarações aos jornalistas, após reunião do Conselho Directivo (CD) da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), em Coimbra, o presidente da associação, Manuel Machado, admitiu que as estações e postos dos CTT são «essenciais à garantia de um serviço postal que promova a qualidade de serviço e uma maior proximidade às populações». 
Para além das «actuais condições de prestação desse serviço, em que se verifica uma degradação da qualidade, as anunciadas medidas de reestruturação», envolvendo «despedimento de trabalhadores» e encerramento de lojas, «causam enorme perplexidade», salientou Manuel Machado.
Para a ANMP, a intenção manifestada pela empresa de fechar mais 22 estações de Correios e de dispensar várias centenas de trabalhadores representa «um passo mais na direcção de uma maior degradação» do serviço postal. 
«A prestação de um serviço postal universal de qualidade deve ser salvaguardada sem concessões a lógicas estritamente mercantilistas», destacou Manuel Machado, referindo que esta posição foi assumida pelo CD da associação, durante a reunião.
Recordando que compete à entidade reguladora – ICP (Instituto de Comunicações de Portugal)/ANACOM – «fixar os parâmetros da qualidade de serviço e os objectivos de desempenho para o triénio 2018-2020, associados à prestação do serviço universal pelos CTT», a ANMP apela para que ela seja «exigente e rigorosa nos parâmetros a estabelecer».

Com Agência Lusa

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24
Jan18

A Oxfam avisa: a desigualdade pode ser vencida

António Garrochinho


(Inês Castilho, in Outras Palavras, 23/01/2018)
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O trabalho perigoso e mal remunerado de muitos garante a riqueza extrema de poucos. As mulheres estão nos piores postos de trabalho e quase todos os bilionários do planeta são homens. Aumenta o abismo da desigualdade. Para reduzi-lo, empresas devem valorizar o trabalho e os sindicatos, eliminar as diferenças salariais por gênero, repartir lucros e não pagar dividendos milionários a executivos e acionistas.
Já governos devem priorizar trabalhadores e pequenos produtores de alimentos, e não os super-ricos – que precisam pagar uma “cota justa” de impostos para que se aumentem os gastos públicos com saúde e educação.
Esse é o recado da Oxfam Internacional à elite empresarial e política planetária reunida a partir de hoje na cidade gelada de Davos, na Suíça, no 48º Fórum Econômico Mundial. Entre os 3 mil hipers da plateia encontram-se Trump e Temer, este tentando vender o país ao lado de Doria, Meirelles e a maior comitiva dos últimos tempos. O programa prevê a palestra “Moldando a nova narrativa do Brasil” justo pra amanhã, 24 de janeiro, quando Porto Alegre estará fervendo com o julgamento do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva.
Capital versus Trabalho
estudo “Recompensem o trabalho, não a riqueza”, da Oxfam, revela uma concentração de riquezas sem limites. O ano de 2017 registrou o maior aumento de super-ricos da história – um a cada dois dias, somando 2043 pessoas pelo mundo, 90% deles homens, com riqueza superior ao PIB de 159 dos 193 países que habitamos. Só as riquezas criadas em 2017 seriam suficientes para acabar sete vezes com a pobreza extrema no globo, mas 82% delas foram para as mãos do 1% mais rico. Já a metade mais pobre da população mundial, 3,7 bilhões de pessoas, está de mãos vazias.
Toda essa riqueza não vem do trabalho, diz a Oxfam. Dois terços dessas fortunas resultam de heranças, monopólios (que “alimentam retornos excessivos para proprietários e acionistas à custa do restante da economia”) e clientelismo, ou seja, “a capacidade de interesses privados poderosos manipular políticas públicas para consolidar monopólios existentes e criar outros”.
Tudo isso compõe “uma ‘tempestade perfeita’” em que sindicatos perdem poder de negociação e “empresas usam a mobilidade dos seus investimentos para promover uma ‘corrida para trás’ entre países em termos de tributação e direitos trabalhistas”, afirma o relatório, que mostra o movimento regressivo dos direitos trabalhistas em vários países do mundo. Os dados são de instituições como a OIT (Organização Internacional do Trabalho), Banco Mundial, o banco Credit Suisse e a revista “Forbes”.
Mulheres, jovens, negros
Por aqui, onde é nossa a taça de campeões da desigualdade e o fantasma da fome volta a nos assombrar, cinco bilionários acumulam o mesmo valor que a metade mais pobre da população. O Brasil tem 12 bilionários a mais: eram 31 e agora são 43, no segundo maior aumento de sua história. E o patrimônio deles cresceu 13%: já alcança R$ 549 bilhões, mais de meio trilhão de reais. Já os 50% mais pobres tiveram sua fatia reduzida de 2,7% para 2% do bolo. A brasileira ou brasileiro que ganha um salário mínimo precisaria trabalhar 19 anos para conseguir o que ganha num mês alguém do 0,1% mais rico. Já os dividendos pagos em 2016 ao quarto homem mais rico do mundo, Amancio Ortega, pela matriz da rede de moda Zara, que distraidamente podemos frequentar, somaram aproximadamente 1,3 bilhão de euros [5,16 bilhões de reais].
Mulheres, jovens e negros são os mais impactados pelo desemprego, baixos salários e precarização do trabalho, afirma Kátia Maia, diretora da Oxfam Brasil. “As mulheres fazem jornada dupla, tripla de trabalho, um trabalho que não é remunerado. E esse trabalho não remunerado, quando contabilizado, chega a somar 10 trilhões de dólares anuais – se fosse computado teríamos outro desenho econômico. Vale ressaltar que o trabalho do cuidado é fundamental para a reprodução da própria sociedade”, diz ela. “Pensar soluções é pensar a liderança das mulheres.”
Além do que as mulheres sofrem assédio. “Em países da América Latina e do Caribe 94% das mulheres do setor hoteleiro são assediadas por hóspedes. Na Ásia mulheres não conseguem ver os filhos porque trabalham 12 horas por dia, 6 dias por semana, e o salário é tão baixo que não dá para pagar o transporte. Mulheres negras sofrem a desigualdade da desigualdade.” Mulheres estão em luta permanente, pela conquista da educação, por participação política. Assistimos a suas demonstrações no mundo todo, e no Brasil o movimento feminista tem sido um dos mais resistentes contra a volta do conservadorismo – diz ela.
Também os jovens estão entre os que recebem os salários mais baixos e recebem os maiores impactos do desemprego, mostra o estudo. Mas estão entre os que oferecem maior resistência, com mobilizações no mundo todo, lembra Kátia.  “No Brasil há muitos movimentos de jovens, o terreno é fértil para mudanças a partir da juventude.”
A desigualdade se reflete mais nos subalternizados, novamente, quando se pensa nas mudanças climáticas e desastres ambientais, pelo impacto na capacidade de recuperação e nas condições de vida e moradia nas áreas atingidas, lembra a diretora da Oxfam Brasil. “A questão ambiental é fundamental para a busca de soluções para a desigualdade. Ela nos ajuda a trazer para o debate outros elementos, o desafio e a responsabilidade de olhar para o futuro. Venho do movimento ambientalista, em 83 a gente ainda imaginava um futuro comum – o relatório ‘Nosso Futuro Comum’, de Gro Harlem Brundtland, mestre em saúde pública e ex-primeira ministra da Noruega – lembra?  E agora essa intensificação dos lucros nos distancia cada vez mais desse futuro.”
Se pretendemos incluir o conjunto dos 7 bilhões de habitantes do planeta, o padrão não pode ser o das elites, ressalta Kátia Maia. “Essa pressão sobre o clima, os rios, a terra, a água, os diversos elementos que formam o ambiente, é insustentável. Enfrentar as desigualdades passa necessariamente por rever o padrão de vida, que é altamente consumista.” E rever o padrão de vida passa necessariamente pela consideração do bem comum diante do bem individual. “Temos ainda uma grande reserva de práticas voltadas para a coletividade”, diz Kátia.
Depende de nós
Sustentar o otimismo, apesar de tudo. Kátia ressalta a importância da mobilização da sociedade “num mundo volátil, em que é um grande desafio enfrentar questões estruturais, que não acontecem num estalar de dedos, mas mais no longo prazo. A desigualdade foi construída por nossa sociedade, e pode ser modificada por nós. Se como sociedade a gente quiser, tem poder pra mudar.”
Mesmo porque a maioria quer igualdade. Ano passado a Oxfam fez uma pesquisa com 120 mil pessoas, de 10 países, que representam um quarto da população mundial, e o estudo mostrou que mais de três quartos dos entrevistados concordam em que o fosso entre ricos e pobres, em seu país, é muito grande. Os percentuais variam de 58% na Holanda a 89% na Nigéria; 60% concordam que é responsabilidade dos governos reduzir a lacuna. É urgente eliminar essa diferença, opinam quase dois terços dos entrevistados.
“No Brasil, a pesquisa de opinião ‘Nós e as Desigualdades’, feita pela Oxfam e o Datafolha em dezembro passado, mostrou que a população é contra essa desigualdade extrema, esse buraco que separa pessoas com e sem direito, de primeira e segunda categoria. Os brasileiros consideram que emprego é problema, falta de educação é problema, saúde é problema. As pessoas concordam quanto às soluções, mas não têm noção do tamanho da desigualdade. Estão preocupadas, e quanto mais a gente mostrar o tamanho da desigualdade, mais vão se preocupar.”
Daí os relatórios que a Oxfam, insistentemente, apresenta ano após ano em Davos. “Eles aumentam o debate, para que esse poder sinta a pressão, porque quando a gente pressiona tem passo atrás”. Ela dá exemplos recentes do poder que a gente tem.
“A Islândia acaba de aprovar lei afirmando que até 2022 não poderá mais existir diferença salarial entre homens e mulheres. Nós mesmas aqui no Brasil tivemos num certo período políticas públicas que davam aumento real no salário mínimo, que é muito importante no combate à desigualdade, além de outras políticas sociais inclusivas. Políticas que privilegiaram setores sociais que são maioria, mas são tratados como minoria, no quadro da desigualdade de gênero e raça.”
Katia aponta também as boas práticas de algumas empresas. “Há empresas que fazem maior repartição de lucros para seus trabalhadores, incentivam a organização sindical, empresas criadas por cooperativas de trabalhadores e que estão bem economicamente.” Lembra, contudo, que a grande maioria das corporações está operando com o máximo lucro, precarizando ainda mais o trabalho, empurrando as organizações sindicais para fora, pagando salários menores. “É uma corrida para aumentar os lucros, uma visão de curto prazo, um saque dos recursos naturais.”
No Brasil acontece um movimento contrário ao que a Oxfam indica como melhores práticas para a redução da desigualdade, reconhece a representante da organização no Brasil. “Nos últimos 15 anos houve ganhos, mas estes ganhos, apesar de positivos, não eram estruturais e estão sendo desmontados.”
Fórum de Davos
Este ano a elite mundial, ou operadores do Capital, brinca de democracia representativa e igualdade de gênero deixando a presidência do Fórum nas mãos unicamente de mulheres (que são 21% dos participantes).
Lá estarão, sob o mesmo teto que 70 chefes de Estado e governo, “900 representantes de ONGs, 1.900 executivos de empresas, 40 líderes culturais, 35 empreendedores, 80 jovens destacados, 32 pioneiros tecnológicos, 70 responsáveis de sindicatos, organizações religiosas e da sociedade civil.”
O espaço aéreo de Davos é fechado durante a cúpula e cerca de 5 mil soldados e chefes do exército e da polícia farão a segurança local.
Na pauta, a discussão de “formas de crescimento mais igualitário, questões climáticas, o impacto de novas tecnologias no mercado de trabalho, o combate às ameaças cibernéticas e assédio sexual”.
De olhos bem abertos para a América Latina. “O Brasil é um dos seis países latino-americanos que realizam eleições presidenciais em 2018”, lembra o programa do Fórum, ao pontuar o debate “Quais são os principais conquistas atuais e qual visão têm líderes regionais e globais para o Brasil no futuro?”. O título do evento regional do Fórum, que será sediado em São Paulo, em março, é “A América Latina em um momento de virada”.

estatuadesal.com

24
Jan18

Países de merda

António Garrochinho

Poderia ser mais uma tirada de Donald Trump. André Levy contextualiza a expressão e retoma o caso exemplar de Eric Garner para nos fazer reflectir sobre qual o país que poderá merecer o qualificativo usado por Trump. 
Projecto artístico multimédia «Try Our Shithole», no Trump International Hotel. A mensagem completa é «Not a DC resident? Need a place to stay? Try our shithole». Photo: @bellvisuals. «Shithole Projection on Trump Hotel», #Resist.Para conhecer Robin Bell consultar http://bellvisuals.com/ e https://www.instagram.com/bellvisuals/.
Projecto artístico multimédia «Try Our Shithole», no Trump International Hotel. A mensagem completa é «Not a DC resident? Need a place to stay? 
Numa reunião bipartidária sobre reforma da política de imigração dos EUA, na semana passada, o Presidente dos EUA ter-se-á referido ao Haiti, El Salvador e nações em África como «países de merda» (shithole countries). Trump sugeriu que os EUA deviam preferir acolher mais pessoas de países como a Noruega ou de países asiáticos, porque podem ajudar os EUA economicamente. Durante dias, políticos e comentadores têm discutido diferentes versões do ocorrido, incluindo a palavra exacta usada por Trump. Questionado por um jornalista sobre se era racista, Trump repetiu uma sua já comum defesa superlativa: «Sou a pessoa menos racista que você já entrevistou». Mas a palavra exacta, mesmo se foi ou não uma palavra vulgar, não esconde o sentimento racista e classista por detrás das afirmações de Trump na reunião, em inúmeros discursos e nas suas acções.
Recordem-se as suas repetidas tentativas, congeladas por Tribunais de Apelação, de restringir imigração e refugiados de inúmeros países muçulmanos, assim como da Venezuela e RPD da Coreia. Recordem-se as decisões em Novembro passado de terminar um programa humanitário (Estatuto Protegido Temporário) que permitiu a cerca de 2500 nicaraguenses e quase 60 mil haitianos viverem e trabalharem no EUA, após o terramoto que devastou o seu país em 2010. Ou decisão semelhante este mês, que afectará cerca de 200 mil salvadorenhos, que foram para os EUA após os terramotos que devastaram o seu país em 2001. Este programa, instituído em 1990, protegia mais de 300 mil pessoas que encontraram refúgio nos EUA, aí trabalharam e estabelecerem vida, muitos tendo tido filhos que são considerados cidadãos dos EUA. O fim deste programa vai forçar estas famílias a sair do país. Ou ainda a intenção de Trump de terminar um programa da era Obama (conhecido pelo acrónimo DACA) que protege jovens imigrantes de deportação, cerca de 800 mil jovens (os «sonhadores»,ou &dreamers) que foram trazidos ilegalmente para os EUA enquanto crianças.
É redutor, porém, resumir este episódio a mais uma tirada do Trump. Numa tentativa (triste) de defender Trump, o comentador da rede Fox News, Jesse Watters, desvalorizou as palavras insultuosas alegando que «é assim que os homens e mulheres esquecidos da América falam no bar». Mesmo que assim fosse, não justificaria que um Presidente falasse da mesma forma numa reunião de Estado. E certamente, nem todos nos EUA falam nestes termos. Mas seria ingénuo pensar que o racismo nos EUA se resume a Trump, seus acólitos e apoiantes mais «esquecidos». O racismo nos EUA estende-se até a sua pré-história, está enraizado nas suas leis e instituições, e mesmo avanços conseguidos estão sobre constante ameaça: veja-se o retrocesso quanto ao Acto de Direitos de Voto, de 1965, por decisão do Supremo Tribunal, em 2013, que permite a vários estados alterarem as suas leis de voto sem aprovação federal, prejudicando sobretudo a população negra. Poderíamos aqui fundamentar este racismo institucional com números sobre os níveis de pobreza, educação, ganho salarial, encarceramento, etc. Mas desta feita termino com um caso concreto ilustrativo.
Protesto «Black Lives Matter» contra a brutalidade policial em St. Paul, Minnesota, EUA. CréditosFibonacci Blue/Flickr /
Em 2014 Eric Garner foi morto por policiasque o estrangularam com um chave de braço, prática oficialmente proibida. Antes de morrerrepetiu 11 vezes «não consigo respirar». A polícia havia abordado Garner por suspeitarem de estar a vender cigarrosindividuais. O médico legal concluiu que a morte foi um homicídio. Porém, Daniel Pantaleo  polícia que já em 2013 havia sidoacusado de abuso numa tentativa de prenderdois homens negros, obrigando-os a despirem-se na rua – não foi sequer indiciado, dando azo a inúmeros protestos por todo o país.
Na semana passada, em Nova Iorque, foi o funeral da sua filha, Erica Garner, de 27 anos, activista contra a brutalidade policial. Em Agosto teve o seu segundo filho – Eric em honra do avô – e quatro meses depois, a 30 de Dezembro, faleceu após um ataque cardíaco induzido por um ataque de asma. Erica vinha atribuindo a deterioração da sua sua saúde à injustiça racial. Os números dão-lhe razão. Entre os países desenvolvidos, os EUA têm dos números mais elevados de mortes relacionadas com gravidez e parto: entre 700 e 900 mortes por ano (muitos mais enfrentam complicações severas). Mas os números são particularmente sérios entre os negros (ou, mais genericamente, entre as classes desprivilegiadas): a nível nacional, as mulheres negras morrem de complicações de gravidez a uma taxa três vezes superior às mulheres brancas (uma taxa semelhante às mulheres no México ou Uzbequistão). Em Nova Iorque, esse número eleva-se para 12 vezes mais. É caso para pensar qual é o país de merda.

www.abrilabril.pt
24
Jan18

Subsídio extra vai chegar a 13 mil desempregados de longa duração

António Garrochinho


Notificações começam a chegar nesta semana a casa de quem reúne requisitos para aceder a este apoio
Há cerca de 13 mil desempregados de longa duração que preenchem os requisitos para beneficiar do apoio extraordinário que lhes permite receber durante seis meses um valor equivalente a 80% do seu subsídio social de desemprego. Os potenciais beneficiários vão começar a ser notificados pela Segurança Social ainda durante esta semana e têm 90 dias para apresentar o pedido.
Este apoio extraordinário foi criado pelo Orçamento do Estado de 2016, tendo o governo decidido prorrogá-lo em 2017 e 2018. O objetivo é conceder uma ajuda financeira a pessoas que estão sem trabalho há mais de um ano (e que por isso são consideradas desempregados de longa duração) e que esgotaram subsídio social de desemprego há pelo menos 180 dias. Para se aceder à medida é ainda necessário que a situação de desemprego tenha sido involuntária.
De acordo com dados facultados ao DN/Dinheiro Vivo pelo Ministério do Trabalho e da Segurança Social, foram identificados em 12 mil a 13 mil pessoas que se enquadram no perfil de potenciais beneficiários.
Na notificação, que vai chegar por carta até ao final desta semana, seguem informações sobre as condições e os passos que devem ser observados, nomeadamente que o requerimento a solicitar o apoio deve ser entregue no prazo máximo de 90 dias, contados a partir do momento em que o desempregado complete 180 dias sobre o fim da concessão do último subsídio social de desemprego.
Este apoio extraordinário aos desempregados de longa duração foi criado em 2016. Foi prolongado em 2017 e de novo em 2018
Este prazo de 180 dias é uma das alterações introduzida pelo OE 2018 e que visou encurtar o período de tempo sem qualquer subsídio que os desempregados tinham de observar até poderem solicitar este apoio extraordinário. Até aí, o prazo eram 360 dias.
Por causa desta alteração, as pessoas que tenham completado aqueles 180 dias até 31 de dezembro de 2017 devem avançar com o requerimento (junto dos serviços de atendimento da Segurança Social da sua área de residência) no prazo máximo de 90 dias a contar da data em que receberem esta notificação.
A não entrega deste requerimento nos prazos indicados implica a perda do direito a esta prestação que equivale a 80% do subsídio social de desemprego - cujo valor ronda os 343 euros quando o desempregado vive sozinho ou os 428,9 euros quando viver com familiares.
Desde que esta medida entrou em vigor, em janeiro de 2016, já foram notificadas pela Segurança Social 41 812 pessoas, das quais 16 007 apresentaram requerimento. No final de 2017 estavam a receber este apoio 2458 pessoas. Este número altera-se todos os meses, pelo facto de os beneficiários irem esgotando o período máximo de atribuição (seis meses) ou porque deixaram de reunir condições para o receber.
É que o apoio está vedado ou é retirado se os elementos do agregado familiar do desempregado tiverem um rendimento mensal acima dos 343,12 euros (80% do Indexante de Apoios Sociais) e se tiverem um património mobiliário (ações, contas bancárias ou outras poupanças) de valor superior a 103 936 euros. É ainda necessário que tivesse tido subsídio social de desemprego - que está sujeito a prova de condição de recursos

www.dn.pt
24
Jan18

New York Times diz que Moro é partidário, que jogou democracia do Brasil num abismo e que Lula é inocente

António Garrochinho



Artigo publicado nesta terça-feira no New York Times, assinado por Mark Weisbrot, aponta que, ao agir de forma partidária, o juiz Sergio Moro colocou a democracia brasileira à beira do abismo.

Ele afirma ainda que o ex-presidente Lula foi condenado a nove anos e meio de prisão por evidências que jamais seriam levadas a sério num sistema judicial independente, como o dos Estados Unidos.

Por fim, Weisbrot diz que se um Poder Judiciário politizado for capaz de barrar o líder político mais importante da história brasileira, o Brasil viverá uma calamidade.

Leia, abaixo, a íntegra:

WASHINGTON - A regra da lei e a independência do judiciário são realizações frágeis em muitos países - e susceptíveis a reversões bruscas.

O Brasil, o último país do mundo ocidental a abolir a escravidão, é uma democracia bastante jovem, tendo surgido da ditadura há apenas três décadas. Nos últimos dois anos, o que poderia ter sido um avanço histórico - o governo do Partido dos Trabalhadores concedeu autonomia ao judiciário para investigar e processar a corrupção oficial - tornou-se contrário. Como resultado, a democracia brasileira agora é mais fraca do que aconteceu desde que o governo militar acabou.

Esta semana, que a democracia pode ser mais corroída quando um tribunal de apelação de três juízes decidir se a figura política mais popular do país, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva do Partido dos Trabalhadores, será impedido de competir nas eleições presidenciais de 2018 , ou mesmo preso.

Não há muita pretensão de que o tribunal seja imparcial. O presidente do painel de apelação já elogiou a decisão do juiz de julgamento de condenar o Sr. da Silva por corrupção como "tecnicamente irrepreensível", e o chefe de gabinete do juiz postou em sua página no Facebook uma petição pedindo a prisão do Sr. Silva.

O juiz de julgamento, Sérgio Moro, demonstrou seu próprio partidarismo em numerosas ocasiões. Ele teve que pedir desculpas ao Supremo Tribunal em 2016 por divulgar conversas telefônicas entre o Sr. da Silva e a presidente Dilma Rousseff, seu advogado e sua esposa e filhos. O juiz Moro organizou um espetáculo para a imprensa em que a polícia apareceu na casa do Sr. da Silva e levou-o para interrogatório - apesar de o Sr. da Silva ter dito que iria denunciar voluntariamente para interrogatório.

A evidência contra o Sr. da Silva está muito abaixo dos padrões que seriam levados a sério, por exemplo, no sistema judicial dos Estados Unidos.

Ele é acusado de ter aceitado um suborno de uma grande empresa de construção, chamada OAS, que foi processada no esquema de corrupção "Carwash" no Brasil. Esse escândalo de vários bilhões de dólares envolveu empresas que pagam grandes subornos a funcionários da Petrobras, empresa estatal de petróleo, para obter contratos a preços grosseiramente inflacionados.

O suborno alegadamente recebido pelo Sr. da Silva é um apartamento de propriedade da OAS. Mas não há provas documentais de que o Sr. da Silva ou sua esposa já tenham recebido títulos, alugados ou mesmo ficaram no apartamento, nem que tentaram aceitar esse presente.

A evidência contra o Sr. da Silva baseia-se no testemunho de um executivo da OAS condenado, José Aldemário Pinheiro Filho, que sofreu uma pena de prisão reduzida em troca da evidência do estado de viragem. Segundo o relato do importante jornal brasileiro Folha de São Paulo, o Sr. Pinheiro foi impedido de negociar a súplica quando ele originalmente contou a mesma história que o Sr. da Silva sobre o apartamento. Ele também passou cerca de seis meses na prisão preventiva. (Esta evidência é discutida no documento de sentença de 238 páginas).

Mas essa escassa evidência foi suficiente para o juiz Moro. Em algo que os americanos poderiam considerar como um processo de canguru, condenou o Sr. da Silva a nove anos e meio de prisão.
O estado de direito no Brasil já havia sido atingido por um golpe devastador em 2016, quando a deputada do Sr. Silva, Sra. Rousseff, eleita em 2010 e reeleita em 2014, foi acusada e demitida do cargo. A maior parte do mundo (e talvez a maioria do Brasil) pode acreditar que ela foi acusada de corrupção. Na verdade, ela foi acusada de uma manobra contábil que temporariamente fez com que o déficit orçamentário federal fosse menor do que seria de outra forma. Era algo que outros presidentes e governadores faziam sem consequências. E o próprio promotor federal do governo concluiu que não era um crime.

Embora houvesse funcionários envolvidos na corrupção de partidos em todo o espectro político, incluindo o Partido dos Trabalhadores, não houve acusações de corrupção contra a Sra. Rousseff no processo de impeachment.

O Sr. da Silva continua a ser o corredor da frente nas eleições de outubro por causa do sucesso dele e do partido em reverter um longo declínio econômico. De 1980 a 2003, a economia brasileira mal cresceu, cerca de 0,2 por cento anualmente per capita. O Sr. da Silva assumiu o cargo em 2003 e a Sra. Rousseff em 2011. Em 2014, a pobreza foi reduzida em 55% e a pobreza extrema em 65%. O salário mínimo real aumentou 76%, o salário real geral aumentou 35%, o desemprego atingiu níveis recordes e a infame desigualdade do Brasil finalmente caiu.

Mas em 2014, uma profunda recessão começou, e a direita brasileira conseguiu aproveitar a desaceleração para classificar o que muitos brasileiros consideram um golpe parlamentar.

Se o Sr. da Silva for impedido das eleições presidenciais, o resultado poderia ter pouca legitimidade, como nas eleições hondurenhas de novembro, que eram amplamente vistas como roubadas. Uma pesquisa do ano passado descobriu que 42,7% dos brasileiros acreditavam que o Sr. da Silva estava sendo perseguido pelos meios de comunicação e pelo judiciário. Uma eleição não-crivel pode ser politicamente desestabilizadora.

Talvez o mais importante, o Brasil se reconstituirá como uma forma de democracia eleitoral muito mais limitada, em que um judiciário politizado pode excluir um líder político popular de se candidatar a cargos. Isso seria uma calamidade para os brasileiros, a região e o mundo.
24
Jan18

Fotografias históricas do casal de criminosos Bonnie e Clyde são expostas pela primeira vez

António Garrochinho


Por mais imoral, antiética, perigosa e desaconselhável que seja a vida do crime, há algo de fascinante em certos bandidos capazes de romantizar e significar um sentimento contra o establishment, como que em um levante pessoal contra as regras e as injustiças provenientes do sistema, que acabam despertando o interesse e até a admiração popular.
Hoje a violência se intensificou e banalizou de tal forma que é impossível enxergar qualquer romantismo na vida do crime, mas no passado, poucos significaram melhor o espírito anti-herói capaz de burlar as regras para viver uma vida à margem do que o casal americano Bonnie e Clyde.
Adicionando à mítica da vida bandida o amor e o sexo como temperos infalíveis para torna-los a personificação de tal romantismo, Bonnie Parker e Clyde Barrow se conheceram em 1930, quando ainda eram jovens adultos. Clyde já havia sido preso algumas vezes e, em 1932, depois de mais uma vez ser solto, foi recomeçar a vida criminosa ao lado de sua amada.
Belos, jovens, destemidos e completamente loucos, por dois anos, Bonnie e Clyde entraram numa espiral de assaltos a banco, roubos e assassinatos que aterrorizou, espantou e fascinou os EUA – numa época de gangsteres e mafiosos em um país em profunda crise econômica e social, em que bandidos se tornavam verdadeiras celebridades.
A ficha de Clyde Barrow na polícia
A equipe policial responsável pela perseguição e morte da dupla
Em 23 de maio de 1934 a polícia finalmente encurralou os dois, atirando 107 vezes contra o casal que deixou a vida para entrar para a história. Hoje Bonnie e Clyde já se tornaram tema de filmes, livros, músicas, peças, até mesmo de um festival anual realizado anualmente no aniversário de morte na cidade de Gibsland, em Louisianna – a cidade mais próxima de onde o casal foi morto. E uma exposição, focada no fim da vida dos dois – em especial no cenário e nos acontecimentos posteriores à morte de Bonnie e Clyde – acaba de acontecer nos EUA.
O carro no qual a dupla foi morta, crivado de balas
Marca dos tiros no lado de Clyde do automóvel
Multidão rodeia o carro da dupla após a ação policial
O paletó de Clyde furado por tiros
A exposição Bonnie & Clyde: The End (O fim) reuniu documentos e principalmente fotos dos envolvidos e do ocorrido quando da morte dos dois. Feito fossem frames de um filme que de fato ocorreu na vida real, tais fotos pela primeira vez são reunidas para mostrar o que e como aconteceu o fim de tais singulares vidas – que se encerraram à força para se tornarem mitos e símbolos de uma época.
O corpo de Clyde
O corpo de Bonnie
Clyde e Bonnie mortos, com os policiais ao redor
O autor das fotos é desconhecido, e a exposição aconteceu na galeria PDNB, em Dallas, no Texas.
 
© fotos: autor desconhecido/Galeria PDNB/fonte:

vivimetaliun.wordpress.com
24
Jan18

Milhares de bolas de gelo gigantes aparecem em praia na Sibéria

António Garrochinho


Fotos e vídeos incríveis de uma praia em Nyda, na Sibéria, mostram milhares de bolas de neve formadas naturalmente. Elas se espalham por um trecho de 17km de litoral que fica no Círculo Ártico.
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As bolas apareceram no final de outubro, e ninguém da região se lembra de ter visto algo semelhante antes. As bolas têm tamanho variado, entre poucos centímetros de diâmetro e quase um metro.
Apesar de darem a impressão de terem sido feitas à mão, o que aconteceu foi um processo natural. Sergei Lisenkov, do Instituto de Pesquisa do Ártico e Antártica, explica que elas são causadas por um processo muito raro em que pequenas quantidades de gelo se formam e são empurradas pelo vento e pela água, formando as bolas de neve.
“Quando a água do golfo subiu, ela entrou em contato com o gelo. A praia ficou coberta de gelo e a maré começou a descer, deixando o gelo ali. Os pedaços rolaram pela areia molhada e viraram estas bolas”, explica ele. As condições ideais para formação dessas bolas inclui temperaturas, ventos e geografia do litoral muito específicos.
O fenômeno já foi observado em outras partes do mundo. Em 2014 o mesmo aconteceu nas margens do lago Michigan. 
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vivimetaliun.wordpress.com
24
Jan18

Sem papas na língua

António Garrochinho

O facebook, o twitter, o google + e outras redes sociais, são um antro imperialista, censuratório, fascista, que tal como os carrapatos, as ténias, os vampiros sociais vivem à custa dos utentes que as utilizam mas sempre tomam posições de defesa do capitalismo pois sabem estar bem cimentados no seio da humanidade que utiliza as novas tecnologias.
Dizer isto não é estar contra (antes pelo contrário) as redes sociais.
Estes espaços são mais uma oportunidade de aproximação de ideias dos cidadãos que incomodam muita gente e que muita gente desejaria calar.
Os que não sabem ver as diferenças, os que diabolizam o convívio são mais papistas do que o papa ou são completamente ignorantes, pois as redes sociais são um instrumento útil para divulgação de cultura, entretenimento e informação, e apesar de servirem o interesse dos poderosos ainda nos proporcionam alguma liberdade de opinião.
Nas redes sociais há de tudo como na vida.
Há os que gostariam de expressar as suas opiniões sem serem contestados, há os que se julgam superiores e só eles são detentores do saber e do viver e há os cães raivosos que mesmo sabendo da utilidade destas inovações são detratores falsos pois também eles as utilizam para se expressar embora venham cagar lantonas despropositadas sobre esta forma de comunicação e expressão.
Se não gostam porque estão nelas ?
Incomoda-os ouvirem os outros ? não serão egoístas, narcisistas, doentes ?
Qual a alternativa que apresentam ?
Serão deuses omnipresentes e conseguirão estar em todo o lado para dialogar com o país, com o mundo para "matar o tempo", a solidão, , o contacto com a família que está longe etc etc, serão mágicos e comunicarão com os seus semelhantes sem utilizar os telemóveis, os fax, a tecnologia da net ?
O livro é bom e insubstituível, a carta (correio) à maneira antiga também ela era querida mas já não se utiliza, a televisão, os jornais, o telefone, são instrumentos de contacto entre os seres vivos. porquê tanta raiva ? porquê tanta polémica ?
Sabemos da censura que existe nas redes sociais mas pergunto eu , onde não existe censura (infelizmente) onde ?
O que devemos fazer é resistir e não desistir.
António Garrochinho

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