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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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02
Fev18

O QUE UM HOMEM IDEALIZOU POR TER FALTA DE ESPAÇO NO QUARTO ONDE VIVIA

António Garrochinho






Se tens falta de espaço e necessitas ter o quarto e o escritório na mesma divisão, talvez possas fazer isto!

A ideia é perfeita para um pequeno apartamento ou para um sótão!

Uma plataforma elevada é usada como espaço de escritório, enquanto debaixo se encontra a cama.

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02
Fev18

VÍDEOS - Por que nossa pele fica arrepiada quando escutamos certas canções?

António Garrochinho

Chamam popularmente de pele de galinha e ocorre quando ouvimos uma certa canção, ou inclusive determinado fragmento de uma canção, sentindo um classe de calafrio, como se fôssemos sacudidos pela emoção. Mas como é possível que um punhado de notas musicais possam proporcionar algo assim? A explicação a este fenômeno foi um dos objetos de estudo do pesquisador musical mais renomado da Alemanha: Eckart Altenmüller, da Hochschule für Musik and Theater de Hannover.

Por que nossa pele fica arrepiada quando escutamos certas canções?
Com esta ocorrência em mente, ele realizou um estudo com dezenas pessoas com idades compreendidas entre 11 e 72 anos que escutaram canções selecionadas pelos pesquisadores e procedentes de uma coleção que os próprios voluntários trouxeram de casa.


Os participantes deviam pressionar um botão quando ficassem arrepiados em frente a um sistema de coordenadas em uma tela onde aparecia refletido seu estado emocional. Aqueles com mais calafrios chegaram a ter a sensação até 70 vezes no período de 2 horas. Tal e como explicou o divulgador científico Christoph Drösser em seu livro Der Musikverführer (A sedução da música):


- "A sensação não só era baseada nas sensações subjetivas dos voluntários. Os pesquisadores mediram também parâmetros corporais como o ritmo cardíaco e a temperatura da pele. E curiosamente estas coincidiram por completo com a impressão dos participantes: 4 segundos antes de acontecer o arrepio o coração acelerava, e 2 segundos depois aumentava a temperatura corporal."



VÍDEOS

O que sugeriu este estudo é que a música é capaz de produzir essa sensação de calafrio em todas as pessoas. Na maioria dos casos, no entanto, o efeito só aconteceu com uma canção que os participantes tinham certo vínculo emocional. Por exemplo a canção que escutou quando se apaixonou pelo seu atual parceiro, ou aquela que tocou em um momento muito marcante de sua vida.

Não obstante, existe alguma peculiaridade musical considerada universal para produzir este tipo de sensação nas pessoas? Ao que parece, só há alguns traços gerais um pouco superficiais. Em quase todos os casos verificados no experimento, antes de notar o calafrio ocorria um aumento de volume ou uma mudança substancial no arranjo musical.

Também verificaram que a presença de uma voz masculina em um registro agudo podia causar o fenômeno. Outra forma um tanto quanto inesperada de gerar arrepios mediante notas musicais foi notada como o efeito surpresa, quando alguém ficou verdadeiramente surpreso com uma canção desconhecida para ele. No geral, os fatores que originaram o calafrio variavam de uns participante a outros.

Um outro estudo mais recente, mediante ressonância magnética, cientistas americanos registraram a atividade cerebral de pessoas ouvindo músicas para identificar como as notas e arranjos musicais podem causar os calafrios. O que descobriram foi que indivíduos que sentem arrepios são especiais.

Ao analisar as imagens da ressonância magnética, os pesquisadores conseguiram identificar que o grupo que respondeu de forma positiva às sensações proporcionadas pela canção mantinha mais conexões neurais em 3 campos do cérebro: no córtex responsável pela audição; no que envolve o processamento dos sentidos, e no que responde pela habilidade de monitorar nossas emoções.

A ideia dos cientistas era verificar como a música, como um canal social e emocional de relacionamentos, pode criar efeitos psicológicos nas pessoas.


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02
Fev18

Um laboratório flutuante que fará você considerar a possibilidade de ser fotógrafo

António Garrochinho
No ano passado, os artistas colaborativos Claudius Schulze e Maciej Markowicz lançaram o projeto conhecido por 2Boats: uma dupla de barcos interligados que a dupla navegou de Hamburgo até a Unseen Photo Fair de Amsterdã e para a Paris Photo ao longo de vários meses. Ambos os barcos servem como estúdios de viagem para os artistas, no entanto, com funções muito diferentes, mas complementares para quem vive de fotografia.




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Um laboratório flutuante que fará você considerar a possibilidade de ser fotógrafo 01
A casa flutuante artesanal de Schulze -com bola de discoteca ao ar livre e rede- funciona como um centro para workshops e discussões criativas, enquanto o estúdio de Markowicz também é uma câmara escura de revelação de fotos.

Schulze e Markowicz planejam terminar sua jornada na Trienal de Fotografia de Hamburgo, que abre em 7 de junho de 2018. para tanto é possível acompanhar as explorações de Schulze no Instagram no perfil @claudiusschulze, e a câmara em grande escala da Markowicz no @obscurabus, Também é possível ler sobre as anteriores eventos visitados pelos dois barcos fotograficamente centrados no blog 2Boats.
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02
Fev18

Bem-vindo(a) à Koshlândia, a terra dos gatos rústicos da Sibéria

António Garrochinho


Bem-vindo a Koshlândia, a terra dos gatos rústicos da Sibéria 22



À primeira vista, a fazenda de Alla Lebedeva não parece muito diferente de qualquer outra assentada em Prigorodny, uma pequena aldeia no oeste da Sibéria. Mas basta dar alguns passos pelo local para você perceber um de seus gatos siberianos peludos, e depois outro, e outro e muitos outros... Bem-vindo, você acaba de chegar a um lugar muito popular na região, conhecido como Кошланда, ou a "Terra dos Gatos".

Alla, de 59 anos, e seu marido Sergey acolheram seu primeiro gato em 2003, um belo felino siberiano chamado Babushka.
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Um ano depois, ela deu à luz cinco gatinhos e não demorou muito para que uma cambada (ou gataria?) tomasse posse de toda a fazenda.
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Quando as pessoas perguntam quantos gatos vivem na Gatolândia, Alla simplesmente diz "um monte, talvez mais". emoticom
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Alguns dormem no galinheiro, alguns no galpão, outros relaxam na cerca ou no telhado da fazenda.
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Eles estão praticamente em todos os lugares, e é assim que Alla e Sergey gostam.
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Na verdade, eles estão tão orgulhosos do paraíso de seus gatos que sempre tiram fotos dos felinos e publicam nas mídias sociais.
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Você provavelmente já viu algumas das fotos de Alla Lebedeva antes na rede.
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Mas provavelmente tenha ficado com a impressão de que as bolas de pelo adoráveis fossem gatos noruegueses.
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Isso ocorreu há alguns anos, quando as fotos começaram a viralizar on-line.
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Os gatos foram apresentados como noruegueses por um site muito famoso e kibador que postou as fotos sem sequer dar crédito a Lebedeva.
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- "Alguns anos atrás percebi que minhas fotos tinham se tornado virais"disse Alla.
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- "No começo, eu vi as fotos em um site falando sobre gatos noruegueses. Eles usaram minhas fotos duas vezes, sem nenhum crédito."
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Foi assim que os gatos de Koshlândia se espalharam pelo mundo como "gatos noruegueses".
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Alla diz que os muitos gatos que vivem em Koshlândia são divididos em dois grupos principais.
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Um deles sai para caçar na taiga siberiana e não retorna por meses.
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O outro, mais mansos e que em geral adentram as dependências da fazenda permanece e vive o tempo todo com seus humanos.
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Ainda que este grupo seja formado por animais mansinhos, eles mantém a distânciaquaisquer ratos que se julguem corajosos o suficiente para aventurar-se na terra dos gatos.
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- "Nossos gatos vivem livremente. Em geral, todos os gatos rústicos siberianos são incomuns e diferem dos gatos que vivem em apartamentos", explica Alla.
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- "Assim como um coelho difere de uma lebre. Eles são selvagens e independentes".
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Alla Lebedeva sempre atualiza as fotos e clipes em sites de redes sociais como Twiter.
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Mas os entusiastas dos gatos também podem acompanhar as aventuras dos gatos de Koshlândia no YouTube, onde Alla posta regularmente novos vídeos.
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Alla não entra em detalhes, mas o gato siberiano provavelmente seja o resultado do cruzamento entre o gato europeu e o gato-bravo selvagem dos bosques siberianos.

Talvez por isso tenha peculiaridades que nenhum outro gato tem.
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O gato siberiano costuma ser amigável e brincalhão e é um dos poucos gatos que gosta de brincar com água.
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Ele se destaca, também, por sua grande inteligência e sua extrema fidelidade ao dono.
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Como qualquer outro gato doméstico, o siberiano ronroneia alto e se enrosca nas penas de seus humanos quando quer carícias.
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Diferente dos machos, as fêmeas podem apresentar atitudes ariscas especialmente na época de acasalamento.
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Outra característica especial deste gato acontece na hora da cria.
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É muito comum que um macho se acasale apenas com uma fêmea e assim permaneçam juntos para cuidar da ninhada.
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O gato da Sibéria se adaptou muito bem para viver em temperaturas extremas.
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É uma das poucas raças que apresenta pelagem loga no inverno e curta no verão.
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Mas há uma parcela de "bandidos", tanto de fêmeas quanto de machos, que se embrenham no mato para caçar durante meses.
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Quando voltam todos "fudidos" e desgrenhados, então passam dias no bem-bom para se recuperar da aventura, para só retornar no próximo ano.

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Se você já teve um cão que foge na primeira oportunidade que encontra o portão aberto sabe muito bem do que se trata. Igualzinho!emoticom

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02
Fev18

O que eu pensaria se fosse mal intencionado!

António Garrochinho



Se eu quisesse ser mal intencionado poderia pensar que alguém no Ministério Público estaria a encarar com grande preocupação a provável substituição de Joana Marques Vidal por quem se revele menos zarolho nas investigações passíveis de gerarem capas do «Correio da Manhã» e decidiu enviar um recado ao governo sob a forma da investigação sobre os bilhetes para o futebol do ministro Mário Centeno. Algo do género: «atrevam-se a mexer no nosso arranjinho, que nem o presidente do Eurogrupo escapa!» É que, não só a ministra da Justiça se descaíra a prever a mudança de rosto à frente da Procuradoria-Geral da República, como vem crescendo em volume o intenso clamor pela urgente substituição de quem tem mostrado uma tão explicita passividade face à facilidade com que tem sido violado o segredo de Justiça nos processos confiados aos seus subordinados.
Se o mandato de Joana tivesse acabado em vésperas do final da anterior legislatura, Passos Coelho repetiria o que fez com o Banco de Portugal, conseguindo ter mais um dos «seus» em funções durante os quatro anos da governação socialista. Para azar dos que têm garantido neste seis anos de mandato da Procuradora uma contínua parcialidade a seu favor, está na hora de mudar o rumo no comportamento do Ministério Público, tornando-o efetivamente respeitador da legalidade democrática - não só salvaguardando o referido segredo de Justiça, mas também investigando e condenando quem o viola (desde as fontes internas  até quem as publica!), só assim se cumprindo o principio da presunção de inocência dos arguidos desde a fase instrutória dos processos até ao fim do seu julgamento).
É claro que a campanha dos «da Joana» vai tendo várias vertentes: esta semana até regressou à boca de cena um magistrado - conhecido por organizar um Congresso da sua classe com o alto patrocínio do Grupo Espírito Santo -, a pretexto de um livro em que defende a tese absurda de nunca a Justiça ter estado tão afetada na sua independência relativamente ao poder político como terá sucedido quando Pinto Monteiro era o Procurador e José Sócrates o primeiro-ministro. Está visto que aquele sobre quem o anterior Procurador comentou que o facto de ter chegado onde chegou só denota a mediocridade que hoje grassa no Ministério Público, quer-nos tomar por tolos. Algo que manifestamente não somos.
Apesar dos danos suscitados durante uns dias à irrepreensível reputação do ministro - inclusive com repercussões internacionais! - quem terá tido a peregrina ideia de lançar esta lebre a coberto de uma manchete do «Correio da Manhã», logo secundada pelo «Observador» e pelo «Expresso», deve estar arrependido de o ter feito. Porque a investigação revelava-se tão coxa, tão desconchavada, que acabou por ser criticada pelos próprios tenores da direita comentarista nos diversos jornais e canais de televisão, deixando sem rede de proteção - a não ser no anonimato com que estas coisas são escondidas - o clandestino autor. Depois do sucedido ficou ainda mais demonstrado - se ainda mais provas fossem necessárias! - que já ontem era tarde para que Joana Marques Vidal seja substituída.
No meio disto tudo o nosso selfieman, que tanto gosta de comentar tudo e mais alguma coisa, procedeu para com esta ignomínia com a mesma «distração», que dedicou ao caso Tecnoforma ou à luta das operárias da Triumph. Assobiou para o lado, tirou mais um boneco, deu mais um abraço … e seguiu em frente como se fosse algo com que não tivesse a haver...


ventossemeados.blogspot.pt


02
Fev18

O carpinteiro alemão que quase conseguiu matar Hitler

António Garrochinho

Nove de novembro é muitas vezes considerada uma data decisiva na história alemã. A primeira república alemã foi proclamada em Berlim em 9 de novembro de 1918. Em 9 de novembro de 1923, Adolf Hitler tentou derrubar o governo alemão em Munique. Em 9 de novembro de 1938, as empresas judaicas e as sinagogas em toda a Alemanha foram incendiadas durante o pogrom nacional conhecido como a Noite dos Vidros Quebrados. E, em 9 de novembro de 1989, o Muro de Berlim caiu. Uma data fatídica? Talvez, mas definitivamente uma data que carrega o peso da história.
Mas é o dia anterior - 08 de novembro – que nos mostra como pode ser trágica a soma  da coincidência, da natureza e da atividade humana. De fato, se o mundo não tivesse perdido 13 minutos na noite de 08 de novembro de 1939, toda uma série de sinistras datas posteriores da história alemã nunca teriam ocorrido. 
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Sexta-feira, 3 de outubro de 2008, um homem olha para a fotografia de Johann Georg Elser, em um monumento em Freiburg, na Alemanha. Elser, um cidadão alemão, tentou assassinar Adolf Hitler com uma bomba, o atentado aconteceu em 8 de novembro de 1939. Hitler terminou seu discurso inicial, escapando da explosão cronometrada por apenas 13 minutos. Oito pessoas morreram, 63 ficaram feridas, Elser foi capturado e preso. Pouco antes do fim da II Guerra Mundial, ele foi executado no campo de concentração nazista em Dachau.

Aqueles 13 minutos em 08 de novembro de 1939 foram o mais caros da história do século XX. Dentro de um período de menos de seis anos, de 1939 a 1945, eles custaram à humanidade 50 milhões de vidas. Para os alemães, aqueles 13 minutos resultaram em expulsões no pós-guerra da Polônia e da Tchecoslováquia e em uma nação arrasada e dividida pelos vencedores do conflito.

O aeroporto de Munique foi fechado em 8 de novembro de 1939 por causa de uma forte neblina. Como resultado, o visitante mais importante da cidade naquele dia, foi forçado a cancelar seu voo para Berlim e voltou para a capital alemã de trem. 

Adolf Hitler, que, a 1 de Setembro de 1939, ordenara a Wehrmacht alemã a atacar a Polônia, desencadeando a Segunda Guerra Mundial, tinha chegado a Munique para dar uma palestra no salão de uma cervejaria chamada Bürgerbräukeller, tal como tinha feito em todos os 08 de novembro em anos anteriores. Era onde os membros fundadores do partido nazista se confraternizavam todos os anos para celebrar a tentativa de golpe de 08 de novembro de 1923. Um golpe que terminou com Adolf Hitler na prisão.
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Adolf Hitler, aos 35 anos de idade, em sua libertação da prisão Landesberg, em 20 de dezembro de 1924. Hitler havia sido condenado por traição por seu papel em uma tentativa de golpe em 1923 chamado Putsch da Cervejaria. Esta fotografia foi tirada pouco depois dele ter terminado de ditar "Mein Kampf" ao deputado Rudolf Hess. Oito anos mais tarde, Hitler seria empossado como Chanceler da Alemanha, em 1933.

Por causa da neblina em Munique, Hitler começou seu discurso às 8:00 horas, 30 minutos mais cedo do que o planejado, de modo a não perder o trem noturno para Berlim. O Führer deixou a Bürgerbräukeller às 9:07 da noite. Como já dito, o mau tempo salvou a vida do ditador. Uma bomba escondida em uma coluna diretamente atrás de onde Hitler estava falando explodiria as 9:20. A explosão foi tão forte que parte do teto desabou. Oito pessoas foram mortas e 63 feridas, algumas em estado grave. Quando a bomba explodiu, Hitler já estava sentado em uma limusine aquecida, em seu caminho para a estação de trem.

Naturalmente, ninguém sabe como a história alemã teria progredido se Hitler tivesse sido assassinado no outono de 1939. A II Guerra Mundial já estava em andamento, não no Ocidente, mas no Oriente, onde o exército alemão já havia ocupado a Polônia. Será que a morte de Hitler levaria a Wehrmacht a se retirar do território ocupado de imediato? Quanto tempo teria levado para a Alemanha  derrubar o regime nazista e introduzir a democracia?
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A cervejaria Bürgerbräukeller após o atentado a bomba.

Com a morte de Hitler seria improvável que uma conflagração mundial que reivindicou 50 milhões de vidas tivesse se seguido. Se pudéssemos de alguma forma ter salvo aqueles 13 minutos em novembro de 1939, todas as nossas vidas, especialmente as de nossos pais e avós e seus contemporâneos na Europa, teria sido mais tranquila. É difícil imaginar o Holocausto sem Hitler. 

Após sua morte, Auschwitz provavelmente teria permanecido como apenas outra pequena cidade anônima em terras da Europa Central. Talvez ela ficasse conhecida por sua fábrica, na entrada para a cidade, mas o nome Auschwitz certamente nunca teria se tornado sinônimo de horror e tampouco associado com a matança metódica de milhares de homens, mulheres e crianças inocentes. E a Alemanha de hoje, com certeza seria completamente diferente.
Às 20:45,  cerca de meia hora antes da bomba ser detonada, um homem de 36 anos foi preso em Constança, na fronteira alemã com a Suíça, enquanto tentava convencer os guardas de fronteira e os funcionários aduaneiros a deixá-lo entrar no país vizinho. No começo, os policiais pensaram que o sujeito fosse um traficante. Mas ele  não carregava cigarros, salsichas ou bebidas alcoólicas. 

Em vez disso, os guardas encontraram notas sobre como fazer explosivos, um cartão postal que descrevia a Bürgerbräukeller, um emblema do grupo Frente Vermelha de Lutadores, um alicate e algumas partes de metal de aparência suspeita. Os funcionários da fronteira não sabiam o que fazer com o homem. Somente no final da tarde, o conteúdo de sua mochila, que ele foi forçado a esvaziar na alfândega, fez sentido.
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Hitler comanda uma cerimônia em homenagem às vítimas do atentado em Munique

Os agentes da alfândega, logicamente, receberam um telex informando-os sobre o atentado contra a vida de Hitler. O homem, Johann Georg Elser, foi transferido para Munique, onde de início, ficou em silêncio e, em seguida, negou qualquer envolvimento no incidente. Mas as evidências apontando para sua culpa tornavam-se cada vez mais claras. O que finalmente delatou Elser, que falava com um sotaque suábio, foram seus machucados,  seus joelhos esfolados. O espaço vazio na coluna onde os explosivos foram escondidos só poderia ter sido atingido por alguém rastejando sobre os joelhos. Garçonetes também identificaram Elser como cliente assíduo da Bürgerbräukeller, e, então, ele acabou confessando.

Elser veio de um lugar modesto na região no sudoeste da Alemanha conhecido como Alpes Suábios. Ele era magro, porém forte, tinha um rosto simpático, gostava de tocar cítara e foi membro de uma associação histórica conservadora. Quando os alemães ainda podiam votar, Elser, que era carpinteiro, votava a favor do KPD (Partido Comunista Alemão), porque ele acreditava que os comunistas eram mais propensos a defender os interesses dos trabalhadores. Apesar de suas convicções políticas, o protestante Elser ia frequentemente à igreja aos domingos e orava regularmente. Ele se recusou a participar nas eleições fictícias do Terceiro Reich.

No final de 1920, um amigo convenceu Elser a ingressar  na Frente Vermelha de Lutadores, uma organização militante que simpatizava com os comunistas. Mas Elser não era violento e nem um ideólogo obstinado. Em vez disso, ele era um músico muito talentoso, um homem muito apreciado pelas mulheres. Ele também era um homem que preferia a ação às palavras – Elser se tornou membro do Sindicato dos Marceneiros pela simples razão de que, "se deve ser membro desta união." Sempre que os discursos do Führer eram transmitidos no rádio, ele se retirava do lugar e também se recusava a cumprimentar  seus colegas alemães com as palavras "Heil Hitler!"
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Um selo postal em celebração dos 100 anos de Georg Elser (2003) e o busto do carpinteiro em Berlim

Depois de confessar o crime em Munique, Elser foi levado para a sede da Agência  de Segurança do Reich Alemão em Berlim, onde foi severamente torturado pela Gestapo. Mas o chefe das SS, Heinrich Himmler, mesmo depois das torturas, ficou insatisfeito com os resultados. Elser alegou ter agido sozinho, entretanto, Himmler não acreditava nessa possibilidade. Como poderia um desconhecido, um carpinteiro com uma educação singela, ter quase conseguido assassinar o Führer?

Para os nazistas, um envolvimento da inteligência britânica teria sido mais conveniente - Hitler já estava começando a alimentar a ideia de uma invasão da Inglaterra. Na verdade, dois agentes britânicos tinham acabado de ser presos e os nazistas rapidamente acusaram os dois homens como co-conspiradores de Elser. Mas o carpinteiro nunca tinha visto os dois britânicos. 

O homem que quase matou Hitler não era nem um intelectual, nem um agente que trabalhava para uma potência estrangeira. Elser, como ficou provado, não precisou estudar a política externa ou ser parte de algum corpo diplomático para perceber que a Alemanha e a  Europa estavam se aproximando de uma catástrofe no final de 1930. 

Na época, ele confessou a um amigo que a Alemanha nunca teria um governo melhor, a menos que alguém viesse a derrubar o regime atual. Seu amigo incrédulo lhe respondeu que ele estava fora de sua razão, que ele nunca poderia executar tal proeza. A resposta de Elser foi que, mesmo parecendo impossível, ele tentaria, em seguida, acrescentou, no dialeto suábio: "Aber schwätzat net" - Não conte a ninguém!
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O Völkischer Beobachter, jornal porta-voz dos nazistas, tenta associar Elser com dois espiões britânicos.

No dia após o assassinato ter falhado, o porta-voz do partido nazista, o periódico Völkischer Beobachter, estampou a seguinte manchete em letras garrafais:  "A Salvação Surpreendente do Führer", título que provavelmente refletia uma visão amplamente difundida entre a população alemã. A maioria dos alemães, mesmo aqueles que não eram nazistas, tinha decidido que Hitler - então um líder de guerra que colocara a Polônia de joelhos em apenas 21 dias - não era de todo ruim. 

Considerando que 6 milhões de alemães estavam desempregados em 1933, havia emprego para todos, apenas três anos mais tarde. A economia estava em pleno andamento, em parte como resultado dos programas de produção de armas de Hitler. Hitler proibiu os sindicatos, que poderiam ter criado exigências salariais inconvenientes para as empresas. Depois de anos de inflação e desemprego em massa, a Alemanha subitamente experimentava um boomeconômico.
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Nos interrogatórios da Gestapo, Elser é obrigado a desenhar os diagramas do dispositivo que explodiu a bomba. Entre 1925 e 1929, ele havia trabalhado numa fábrica de relógios em Konstanz, onde adquiriu conhecimentos para a construção de uma bomba-relógio, que  mais tarde foram utilizados na tentativa de assassinato de Hitler .

Mas o carpinteiro dos Alpes Suábios recusou-se a acreditar em uma única palavra  de Hitler. Ele tinha um mau pressentimento e preocupava-se que Hitler planejava chamar o mundo para uma guerra horrível. Elser não confiava no ditador nazista, então, no verão de 1938, ele finalmente decidiu assassinar o "Führer". Nesse tempo, as suspeitas de Elser sobre Hitler tinham se tornado realidade: Em 21 de maio de 1938, Hitler deu a ordem secreta "para anexar o resto da Tchecoslováquia." Estadistas da Europa mais uma vez deixaram-se enganar pelo ditador alemão. Georg Elser, um simples carpinteiro, enxergara a verdade através do ardil nazista.

A Europa havia se transformado em um continente tenebroso em 1930. A luz da democracia vacilava, estando perigosamente perto de ser extinta. No momento em que Elser preparava seus detonadores, apenas 11, dos 28 estados europeus tinham constituições democráticas. As monarquias constitucionais da Europa da época, provaram ser mais resistentes aos totalitários, aos fascistas e às tendências de extrema direita. Mas os regimes autoritários e as ditaduras já  tomavam conta da maioria dos países. É frequentemente esquecido que a democracia tem apenas algumas gerações de idade em muitos países europeus.

Tanto o Zeitgeist quanto o estado populista de Hitler, comemorado pela maioria dos alemães, se moviam em direções contrárias às crenças de Elser - e ainda assim ele nunca perdeu sua fé no valor da liberdade. Johann Georg Elser agiu como um cidadão consciente e de responsabilidade ética e política, sem o apoio de qualquer organização ou movimento, somente com o compromisso de uma lei fundamental não escrita. 

Na confissão, dada alguns dias após sua prisão, Elser reclamou que, entre outras coisas, a classe trabalhadora no estado nazista estava "sob uma certa compulsão." "O trabalhador, por exemplo, não pode mais mudar de emprego sempre que o desejar. E por causa da Juventude  Hitlerista, ele não é mais o mestre de seus próprios filhos, e ele não é mais livre para adorar o que lhe agrada." Elser exigiu liberdade de movimento, liberdade de religião e  liberdade de consciência - todos os direitos fundamentais que mais tarde seriam garantidos pela constituição alemã. Talvez à crítica do nacional-socialismo de Elser faltasse a condenação da agressão à Polônia, mas a mensagem era clara: a liderança do Partido Nazista estava a intervir na vida dos cidadãos de uma forma totalmente inaceitável, e os alemães deveriam lutar por seus direitos.
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Treinamento de tiro dos membros da Juventude Hitlerista, em um campo de treinamento militar.

Depois que Elser foi assassinado no campo de concentração de Dachau, em abril de 1945, levou décadas para ele ganhar o respeito que merecia. Por volta de 1946, Elser foi até acusado de ter sido um agente da Gestapo. De acordo com uma teoria da conspiração, a qual até mesmo alguns historiadores do pós-guerra apoiaram, a tentativa de assassinato  não passara de um truque da propaganda nazista.

Após essa teoria descabida, a morte de Elser foi simplesmente esquecida. Quem teria afinal, interesse em relembrar a história desse carpinteiro depois da guerra? Os alemães orientais não tinham nenhum uso para este solitário herói, cuja afinidade com o meio comunista foi limitada, na melhor das hipóteses. 

A liderança da Alemanha Oriental foi especialmente fria para com os individualistas, e na década de 1950, quando o SED empregou táticas brutais para lidar com centenas dos chamados "desviantes", até mesmo os comunistas poderiam rapidamente acabar na prisão por tomar posições individualistas. Mesmo quando o ex-presidente da Alemanha Oriental, Erich Honecker, afrouxou as rédeas por um curto período de tempo no início de 1970, Elser ficou impopular dentro da visão leninista da história. 

Johann Georg Elser, carpinteiro e herói de sua classe, foi ignorado na Alemanha Oriental durante o tempo em que os chamados trabalhadores e agricultores, supostamente detinham o poder do estado. Na verdade, mesmo quando Elser estava planejando seu ataque a Hitler, os comunistas provavelmente teriam tentado convencê-lo a desistir. Afinal de contas, o pacto Hitler-Stalin tinha acabado de ser assinado. No outono de 1939, a Alemanha e a União Soviética eram nações amigas.
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"Eu quis pela minha ação prevenir uma matança maior"
Em memória de Johann Georg Elser, que passou a sua juventude em Königsbronn. Em 8 de Novembro de 1939, ele quis impedir o genocídio com uma tentativa de assassinar Hitler. Em 9 de Abril de 1945, Johann Georg Elser foi assassinado no Campo de Concentração de Dachau. O seu nome foi dado a um pequeno quarteirão em Maxvorstadt, na cidade de Munique. Também em Munique, uma sala de concertos foi batizada de 'Georg Elser Halle'.

A memória de Elser também foi de pouca utilidade no Ocidente por muitos anos. Os esquerdistas não sabiam bem como categorizar este individualista taciturno, e os conservadores viam Elser como um anão histórico incômodo, em comparação com outro pretenso assassino de Hitler: Claus von Stauffenberg. Logicamente, o fato de  Elser ter origem humilde, desempenhou papel decisivo nessa avaliação.

Este esquecimento, tanto da esquerda como da direita foi, provavelmente, a maior injustiça infligida a Elser, após a sua morte. Hitler, nos 12 anos de seu reinado de terror, foi alvo de 42 tentativas de assassinato. Mas apenas dois homens, o conde Claus Schenk von Stauffenberg, um oficial militar, e Georg Elser, um carpinteiro, chegaram perto de matar o ditador alemão. 

É por esta razão que a ação de Elser foi tão singular. O fato  dele permanecer tanto tempo ignorado pelos historiadores alemães, serve apenas para mostrar o tempo que a Alemanha levou para honestamente confrontar-se com sua própria história. Johann Georg Elser  é um verdadeiro herói alemão.


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02
Fev18

JULIETA GANDRA

António Garrochinho

Maria Julieta Guimarães Gandra nasceu a 16 de Setembro de 1917 em Oliveira de Azeméis e formou-se em Medicina, em Lisboa. Aí conheceu Ernesto Cochat Osório, natural de Angola, com quem veio a casar e a ter um filho. Em meados dos anos 40, o casal parte para Angola.
Em Luanda, Julieta Gandra depressa se torna conhecida como médica ginecologista. Atende no seu consultório da Baixa luandense as mulheres da elite branca e atende, nos musseques, as mulheres angolanas, circulando, com igual desenvoltura, nos dois meios. Frequenta o Cine Clube e a Sociedade Cultural de Angola, convivendo com diversos intelectuais que irão estar na origem do Movimento popular de libertação de Angola.
Durante a campanha presidencial de 1958, num comício de apoio a Humberto Delgado, dirigiu-se, no início da sua intervenção, às «mães negras», essas que tão bem conhecia do seu trabalho enquanto médica. Presa no Verão do ano seguinte, outras mães, brancas essas, viriam a exigir que continuasse a prestar-lhes assistência – o que as autoridades, surpreendidas, acabaram por permitir (1).
Acusada de conspirar contra a segurança externa do Estado, bem como de pertencer ao Partido Comunista, foi julgada em Tribunal Militar, em Luanda, sem poder contar sequer com o apoio de um advogado – já que o seu fora detido em Lisboa quando se preparava para embarcar. Condenada a doze meses de prisão, viu a sua pena aumentada para dois anos de prisão maior e medidas de segurança de seis meses a três anos, após recurso do Ministério Público. Julieta recorreu por sua vez – mas o novo julgamento, desta feita em Lisboa, veio apenas aumentar-lhe a pena para quatro anos de prisão maior e medidas de segurança.
Em 1964, a cumprir pena em Caxias, com a saúde muito debilitada, foi escolhida como «prisioneira do ano» pela Amnistia Internacional, saindo em liberdade em Julho de 65. Fica então a viver em Lisboa, numa casa que cedo se torna ponto de encontro de activistas e militantes anti-coloniais e com consultório na rua Manuel da Maia.
Após o 25 de Abril, volta para Angola – acompanhada por Fernanda Tomás, que conhecera na prisão – para ai preparar as bases do Serviço Nacional de Saúde. Mas é a sua saúde que se deteriora e a obriga a regressar a Portugal, em 1978 (2). Morreu a 8 de Outubro de 2007, com 90 anos.

A minha memória da Julieta
Confesso não me lembrar de como e quando conheci a Julieta Gandra. Foi, certamente, depois de, em Março de 1969, ter ido viver para o mesmo prédio em que ela vivia. E, muito provavelmente, no âmbito da recolha de apoios para um militante do MPLA detido em Peniche, o João Baptista, boletineiro dos CTT e pai de 8 filhos, cuja família ficara em Angola e não tinha, obviamente, possibilidade de o visitar.
Certo é que se tornou frequente que descesse um andar para a visitar, ou ela subisse um para se juntar aos diversos jovens angolanos que, na casa que eu então partilhava com a Zé Albarran, se reuniam a discutir a situação em Angola, trocar informações, sonhar com um país independente, ou, simplesmente, dançar e conviver.
Há pouco mais de um ano, enquanto o caixão da Julieta deslizava para o forno incineratório, surpreendi-me ao compreender que tinha mais 30 anos do que eu – e teria portanto nesses anos em que mais convivemos, mais do dobro da minha idade. Creio que nunca mo fez sentir. É certo que, quando chegava, lhe cedíamos de pronto o melhor lugar e nos sentávamos no chão, para a ouvir melhor. Mas isso era apenas prova do respeito que tínhamos por ela. Estava na casa dos 50, mas era uma mulher linda, cheia de vida, e escutávamo-la com uma profunda admiração. À moda africana, respeitávamos os «mais velhos»: e recordo a emoção com que vimos chegar, a um desses encontros, pela mão da Julieta, outro velho militante do MPLA, Ilídio Machado. Eram, ambos, lições de História ao vivo, mas seria extremamente redutor vê-los apenas como isso: a Julieta estava sempre bem informada, trazia novidades, mantinha-se (pelas estranhas vias da clandestinidade, mas também da amizade) sempre a par do que acontecia, quer em Angola, quer em Portugal.
Como «mais velha» que era, tratava-nos por «meninos». Ralhava-me muitas vezes, porque achava que devia controlar melhor a minha cólera. Tinha, também, pouca paciência para lamechices. O que não a impediu de uma grande solidariedade – e alguns bons conselhos – quando se tornou evidente que estávamos, todos os do grupo que se reunia em minha casa, em riscos de prisão.
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Data dessa altura – em que a vigilância da PIDE se intensificou a tal ponto que os agentes já não se contentavam em acompanhar as nossas actividades a partir do café das traseiras (informação que nos foi dada, com solidariedade anti-fascista, por alguém que eu nem conhecia), nem sequer em vigiar a porta do prédio, mas se colocavam ao lado dela e, por vezes, nas varandas comuns – um dos episódios que melhor retrata a força, a coragem e o sentido de humor da Julieta. Vinha a entrar no prédio, bastante carregada. Ao lado da porta, um agente da PIDE. Virando-se para ele, disse-lhe: «Em vez de estar aí parado, ajude-me a levar os embrulhos!» E o pide, surpreendido, obedeceu. Pouco depois, batia a Julieta à nossa porta, toda sorridente, a contar-nos o que acontecera. Acho que foi a melhor forma que encontrou de nos incutir coragem.



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02
Fev18

Era uma vez um país

António Garrochinho


48 anos de ditadura, 37 anos de democracia, um filme – “48”, da realizadora portuguesa Susana de Sousa Dias – sobre a tortura nas prisões da PIDE. Cinco dos participantes de “48” contam histórias de antes e depois da tortura, vidas inteiras que fizeram a história do país tal como o conhecemos hoje.
Era uma vez um país/ onde entre o mar e a guerra / vivia o mais infeliz/ dos povos à beira-terra. (…) Ora passou-se porém / que dentro de um povo escravo / alguém que lhe queria bem / um dia plantou um cravo. (…) Quem o fez era soldado/ homem novo capitão/ mas também tinha a seu lado/ muitos homens na prisão.
“As Portas que Abril Abriu”, José Carlos Ary dos Santos
Manuel Martins Pedro. Preso em 1958, 1959, 1969
No meio de um espancamento, deu por si a arregaçar as mangas. Puxava com força, mas as mangas não subiam, porque o casaco era emprestado e estava-lhe apertado. Os carrascos pararam a olhar para ele, para aquele espectáculo, e foi só quando pararam de lhe bater que ele, surpreendido, percebeu o que fazia. Sorriu.
Manuel Martins Pedro foi preso três vezes, ao todo esteve preso 11 anos, e tem várias histórias em que sorri. Ainda hoje quando conta algumas dessas histórias, ri-se. Alguns camaradas ficam chocados: “Ó Manuel Pedro, pá, como é que te podes rir?” Mas ele não consegue evitar. Quando entrava na sala de espancamento um chefe de brigada a tresandar a perfume, Manuel Martins Pedro olhava para ele – um pide, sim, podia arregaçar as mangas – e sorria.
E lá está ele de novo a rir-se, divertido como um menino, um senhor de quase 80 anos, sentado num banco à sombra da Igreja da Memória, na Ajuda, com vista para o rio Tejo e o Cristo-Rei.
Também houve momentos em que perdia a cabeça, enfurecia-se, deixava de parecer franzino, de fraca saúde. Ainda hoje, pouco antes da entrevista, quando a filha comentou que herdou dele o feitio, veio-lhe à cabeça a cara de um pide e lembrou-se que esteve quase a dar-lhe uma cabeçada. Tinha visto a cara do pide perto, muito perto, e começou a fazer contas, é agora, é agora… E quando ia avançar, ele parou de lhe bater. Era uma reacção desaconselhada pelo manual “Se fores preso, camarada”, que tinha lido atentamente, mas o manual não podia ter em conta os feitios de todos os membros do partido clandestino comunista português. Então, esta manhã, em casa, pensou: “Se lhe tivesse dado uma cabeçada, ele tinha-me esfrangalhado todo.”
Quando vai fazer visitas guiadas à prisão de Peniche, o que as pessoas mas querem que conte é sobre as torturas. Se ele não falar do assunto, os grupos de escolas perguntam. E depois de ele contar, a pergunta seguinte é: como é que aguentava?
A resposta nunca fica completa, porque para isso seria preciso contar a história do país, ou pelo menos a história do bairro da Ajuda, onde nasceu, cresceu, onde regressou às poucas horas do dia 27 de Abril de 1974 depois de ter sido libertado de Peniche, onde ainda vive, com a filha e a neta perto, onde quer morrer. Seria preciso fazer uma visita guiada evocando o bairro operário, onde as casas não tinham água nem electricidade, e contar que antes do 25 de Abril só se lembra de ser livre aos sete anos, quando ainda andava na escola e tinhas as tardes livres, à solta. E então, perceberiam que o riso que acompanha as histórias não é para fazer bonito, passar por herói. É uma expressão de desprezo, ódio mesmo.
Depois da escola, quis ser serralheiro, mas o pai que não, que ele era raquítico. Quis então ir para a marinha, mas o pai que não, que ele não dava para marinheiro. Foi então para “groom” no Tavares Rico. Não gostava. A única coisa que lhe agradava era ouvir os empregados de mesa galegos a conversar. Gente diferente, que tinha estado do lado dos republicanos, e tinha fugido com a derrota na Guerra Civil Espanhola. Em 42, enviavam-no às bancas dos jornais para trazer notícias da Segunda Guerra Mundial, e ele vinha, orgulhoso da missão, contar batalhas como a do cerco de Estalinegrado. Via entrar no restaurante António de Oliveira Salazar, via sair satisfeitas grandes figuras do regime. Apontava num caderninho os preços: champanhe – 600 escudos, o dobro do salário mensal do pai operário. Depois do trabalho, voltava para o pequeno quarto que tinha alugado no Bairro Alto. Deitava-se a pensar no pai e na vida no bairro da Ajuda e então, aos 11 anos, tinha saudades da infância.
Adelino Silva. Preso em 1963
Quando acaba de falar, e se levanta para ser fotografado, Adelino Silva fica subitamente desconfortável como se percebesse que naquela sala despida, na sede do PCP, na Rua Soeiro Pereira Gomes, cabe o mundo todo. Para ter o que fazer com as mãos, agarra os documentos pessoais que trouxe, documentos que cada vez menos lhe parecem pertencer só a ele e à sua família.
Trouxe a sua “Biografia Prisional”, em que a história da sua vida na PIDE começa assim: “Preso por esta polícia em 31-1-1963, por ser ‘membro’ e ‘funcionário’ da associação secreta e subversiva que denominam por ‘partido comunista português’.”
Mostra o Boletim de Casamento, emitido pela Conservatória do Registo Civil de Oeiras, a 6 de Abril de 1966, em que se regista o casamento de Adelino Pereira da Silva, de profissão “estudante”, “residente em Cadeia do Forte de Peniche”, com Maria Alice Diniz Parente Capela, de profissão “doméstica”, “residente em Forte de Caxias”. Ele tinha 27 anos, ela 25. Não se viram e não se beijaram no dia do casamento.
Trouxe também uma folha de carimbos com que a PIDE ia registando os seus movimentos uma vez fora da prisão; e um pacote de postais que fazia para o filho, com fios que faziam bonecos mexer. Dentro, escrevia para o “Frédinho”, “com muitos beijinhos e chi-corações do paizinho muito amigo”. Por cima, punham o carimbo da censura.
E, finalmente, trouxe uma fotografia recente da mulher, Alice Capela, que também participa em “48” e que não pode acompanhá-lo hoje. É uma mulher de cabelo curto, loiro, ar jovial. Conheceu-a quando ela tinha apenas 18 anos, não muito longe da actual sede do PCP de Lisboa, e o casamenteiro foi o António Dias Lourenço.
Dias Lourenço tinha-lhe pedido que montasse uma casa clandestina, e explicou-lhe que vinha morar com ele uma mulher. Disse-lhe: “Vocês vão montar uma casa, não é para serem companheiros, mas se vocês se entenderem, como são jovens…”
Quando chegou à rua combinada, viu-a ao longe com o Dias Lourenço. E ela viu-o a ele, e pensou que não podia ser aquele rapaz, não devia ser, seria demasiada sorte. Achou-o bonito.
Viveram uma história de amor nessa casa e quando desconfiaram que estavam prestes a ser descobertos, saíram precipitadamente. Levaram as roupas e os papéis importantes, mas já na casa nova, Adelino deu conta de que lhe faltavam documentos. Alice implorou-lhe que não voltasse atrás. “Até fechou a porta à chave, e dizia, ‘não vás, que eu tenho um pressentimento’”, conta. “Quando lá cheguei, já lá estava a PIDE.”
No filme “48”, durante a entrevista de Adelino Silva, para além das suas fotografias de cadastro, aparecem também as fotografias de cadastro da mulher, da sua mãe, do seu pai. Os pais da Alice também estivam presos na mesma altura. E o filho, com três anos.
Depois de se casarem oficialmente, puderam começar a corresponder-se – entre Caxias e Peniche –, e escreviam sobretudo sobre o filho, que foi andando de casa em casa entre familiares e amigos. Alice foi libertada primeiro, depois Adelino. Reencontraram-se os três, o filho tinha dez anos, e foi uma euforia. Mas só depois do 25 de Abril poderiam ter uma vida “normal”, se bem que Adelino não sabe bem o que é isso de vida “normal”. É normal contar o amor da nossa vida para um gravador de jornalista?
Conceição Matos. Preso em 1965 e em 1968
Conceição Matos tinha medo de falar. Soube a história de uma mulher, do Barreiro como ela, que tinha falado. Conceição Matos era então muito jovem, impressionável, e tinha tido uma grande admiração por aquela mulher. Pensava: “Se aconteceu com ela, como será comigo?…”
O companheiro, Domingos Abrantes, dizia-lhe que não pensasse nisso, que não receasse, mas ela só teve a certeza de que não falaria no dia em que lhe entraram em casa com pistolas: “Mãos ao ar”.
Quando já estava presa em regime normal, um dia, no recreio, vê essa mulher. “Estava feita num farrapo”, conta Conceição Matos numa sala do Hotel Vitória, o edifício do PCP na Avenida da Liberdade. “Quando me vê, agarra-se a mim, a chorar, a chorar, a dizer: ‘o que é que eu fui fazer?’. Nunca mais a viu, porque ela emigrou quando saiu da prisão, mas ainda hoje pensa nela. A Conceição Matos pode custar falar sobre o período de torturas que descreve em “48”, mas pelo menos pode agarrar-se a isto: aguentou-se.
Conceição Matos é uma mulher desenvolta, atenta, e tem uma memória excelente. Lembra-se de muitas mulheres com quem se cruzou na prisão. Da Astrid, angolana, que todos os dias rezava o terço, recebia um padre muitas vezes, e só anos depois lhe contou  que costumava  perguntar ao padre onde estaria Deus naquele momento. O padre nunca lhe soube responder.
Conceição Matos tinha sido católica, mas perdeu a fé. Na sala de tortura, um dia entrou um pide a cantar: “A 13 de Maio, na Cova da Iria…” Se Deus era omnipotente como lhe tinham ensinado, então não estava a fazer bem o seu trabalho. Nesse caso, mais valia que fizesse ela bem o seu trabalho. A convicção na luta colectiva contra o regime passou a ser a sua fé – essa “fé tua companheira” como escreveu Zeca Afonso para o seu irmão, Alfredo Matos, em “Por trás daquela janela”.
Lembra-se de cantar com outra prisioneira, como numa reza: “Gafanhoto, a liberdade comeu.” Canta, e a sua voz rouca, enche uma das salas do Vitória. A voz reconhece-se, como se reconheceria um rosto, de “48”.
No filme, aparece também a fotografia da sua segunda prisão. Dessa vez, já não tinha medo de falar. Quando chegou à António Maria Cardoso, disse: “Podem fazer-me o que quiserem, podem ter a certeza que não falo”.
Quando foi posta em liberdade, apanhou um táxi à porta da PIDE, e o taxista perguntou-lhe se trabalhava ali. Ela, explicando que tinha sido presa, começou a dizer mal da PIDE. O taxista disse-lhe que tivesse calma: “Minha senhora, isto agora vai mudar, porque entrou o Marcelo. Não me diga que não sabe?”
Ela não sabia que Salazar tinha caído da cadeira. Mas duvidou que a situação mudasse, e continuou a insultar a PIDE. Era preciso tirar o gafanhoto de cima do povo.
Álvaro Pato. Preso em 1973
Aos 13 anos, estava a brincar na rua com outros miúdos, e uma mulher chamou-o:
- Conheces o João Floriano Baptista Pato?
- Sim, é o meu avô.
- Então, eu sou a tua mãe.
Álvaro Pato nunca tinha sequer visto uma fotografia dela. Do pai, Octávio Pato, tinha visto uma única fotografia em casa dos avós, com quem vivia, mas não o reconheceu quando se encontraram pela primeira vez, tinha ele nove anos. Foi nesse dia que percebeu que tinha pais. Só quando o pai foi preso, pôde começar a usar o apelido Pato e riscar “pais incógnitos” do bilhete de identidade.
Passou a adolescência a falar com o pai sob a vigilância dos guardas prisionais. Sabia algumas senhas, mas as senhas não davam para perguntar como tinha sido a vida dele todos aqueles anos separados ou para lhe contar como tinha crescido em Vila Franca de Xira. Essa relação, não sendo “normal”, era aquela que ele podia ter e era o que conhecia, numa família em que tios, primos, irmãos, todos eram anti-fascistas e todos sofreram barbaramente nas prisões da PIDE.
Álvaro Pato quase não consegue falar do irmão Rui, cadastrado pelos fotógrafos da PIDE ao colo da mãe que veio a suicidar-se pouco depois de sair da prisão. É uma das fotografias que Susana de Sousa Dias encontrou nos Arquivos da PIDE e da qual partirá para contar a história da família Pato, no próximo filme, “Luz Obscura”.
Para Álvaro Pato, é mais difícil falar sobre a infância e a família do que sobre a tortura. A tortura conta-se com um murro na mesa de sobressaltar um torturado depois de muitos dias sem dormir. A dor da pancadaria, diz, “deixa-se de sentir.” A outra não.
Álvaro Pato não tinha tomado a iniciativa de contar a sua história. Ao fim de todos estes anos, ainda não consegue conter as lágrimas. Mas fala com as lágrimas que forem necessárias porque parece-lhe que fazem falta iniciativas como o filme “48”, “que levem as pessoas a falar”. Parece-lhe que Portugal tem esquecido a dimensão repressiva da ditadura fascista. E faz uma acusação: “A democracia não resolveu esta questão e deixou os criminosos de antes do 25 de Abril completamente incólumes.”
Desde sempre, o normal para Álvaro Pato era “estar do lado da luta, a fazer alguma coisa para alterar o estado das coisas”. Foi preso em 1973.
“48” termina com Álvaro Pato a contar a libertação de Caxias, de 26 para 27 de Abril, quando pôde começar uma “vida normal”. Foi logo ali que começou essa vida, assim que respirou ar livre e reencontrou uma antiga namorada, à espera dele e dos outros prisioneiros políticos, com milhares de outras pessoas em Caxias. Voltaram a ver-se no meio de outra multidão, na chegada de Álvaro Cunhal. Casaram em Julho. No ano seguinte tiveram o primeiro filho e depois mais outro rapaz; esperam agora o primeiro neto.
“‘Vida normal’ tem a ver com isto, que considero muito importante e que não tive em miúdo: a vida com os pais”, diz Álvaro Pato. “Não termos que nos preocupar se vamos presos, se temos familiares em risco de vida. O normal é isso. E acreditarmos que o futuro depende de nós, que a história é feita pelas pessoas.”
Matias Mboa. Preso em 1964
Matias Mboa foi vendido por um saco de moedas, mais precisamente por 200 escudos. Estava em Maputo com a cabeça a prémio, quando um companheiro o conduziu de uma reunião da FRELIMO para a Base nº2. A seguir, foi dar a morada à PIDE. Os agentes chegaram à meia-noite com metralhadoras. Mboa ainda pegou numa pistola, mas depois lembrou-se do que lhe tinham ensinado, que um combatente não é um suicida. O pai e a mãe gritavam, choravam. A Base nº 2 não era mais do que a sua casa. Depois a sua casa passou a ser, por sete anos, a prisão da Machava.
Estar a falar com liberdade pelo Skype desde Moçambique para Portugal podia estar na lista de coisas boas pelas quais valeu a pena estar preso. Na lista de coisas más: nunca ter aprendido a dançar bem; não ter estudado quando era jovem; custar até ler sobre o que passou, como agora, quando abre o livro de memórias, publicado recentemente, e lê: “Quero esquecer-me de ti, Machava. Quem sou eu com tanto medo, com tanta indiferença? Quem sou eu?”
Passaram exactamente 40 anos desde que foi libertado. Ajudou a fazer a independência de Moçambique. Passou pela guerra civil e pela paz. Criou filhos e netos. E durante todo este tempo foi reencontrando o homem que o tinha denunciado por 200 escudos. Encontrava-o na rua e, em vez de lhe voltar costas, falava-lhe. Um dia, convidou-o para sua casa, e abraçou-o.
“Este espírito atribuo-o muito à religião”, diz. A única vez que Deus é mencionado em “48” é durante a entrevista de Matias Mboa, de quem não vemos um rosto de um arquivo da PIDE, porque as imagens dos resistentes africanos não ficaram para a história.“Pai, com esta tortura posso vir a perder a pouca fé que tenho”, ouve-se sobre uma imagem de um campo de vigilância.
Como é que Deus lida com o sofrimento dos homens é sempre a pergunta que fazemos perante o lado mais negro da História. Esta é resposta de Mboa e podia aplicar-se a todos os presos políticos da PIDE, até aos que não acreditam: “O sofrimento por uma causa justa e nobre aproxima-nos de Deus.”
Texto publicado no Ípsilon, Público, 22 de Abril de 2011


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02
Fev18

Histórias e Memórias da Resistência no Barreiro

António Garrochinho


No dia 30, quando Américo Tomás acompanhado pelo director geral da PIDE/DGS, o major Fernando da Silva Pais e restante comitiva do governo salazarista desfilavam pela Avenida, um petardo rebentou perante a estupefacção geral, lançando centenas de panfletos com dizeres contra o fascismo, contra a guerra colonial, pela liberdade, pela democracia.

Na hora fugaz do almoço, por vezes, aquela senhora a quem chamam “menina”, desfia memórias e histórias. Histórias de pessoas que se sentam ao nosso lado, histórias clandestinas, como tinham de ser as histórias da resistência à ditadura, com homens e mulheres que não se sentem heróis, mas foram capazes das maiores audácias. Em nome da liberdade.
A “menina”, que dedicou toda a sua vida à profissão e ainda hoje é reconhecida e estimada por várias gerações de barreirenses, fala com naturalidade de como a sua casa se tornou uma “casa de apoio do Partido”, acolhendo e escondendo da polícia política muitos militantes clandestinos. Alguns nunca chegou a vê-los, ou sequer a saber quem eram. Por vezes apanhou grandes sustos, quando à noite, os cães em alvoroço nos quintais da vizinhança alertavam para presenças estranhas. A sua casa acabaria por se tornar conhecida da polícia e a senhora, a quem chamam “menina”, teve de deixar a sua varanda florida e o Barreiro que tanto amava. Como alguns barreirenses e tantos outros portugueses, foi forçada a partir para França, de onde só voltou depois da Revolução.
Hoje falou da preparação da acção de protesto, que teve lugar no dia da inauguração do monumento a Alfredo da Silva. Em 30 de Junho de 1965, o regime deslocara-se em peso ao Barreiro, para homenagear Alfredo da Silva, com a inauguração da sua estátua. No acto estiveram presentes o Chefe do Estado Américo Tomás, os presidentes da Assembleia Nacional e Câmara Corporativa, quinze ministros e secretários de estado, chefias militares e toda a descendência do dono da CUF.
A senhora, a quem chamam “menina”, diz que os preparativos começaram dias antes, quando duas companheiras levaram para sua casa, um grande embrulho muito enfeitado com laços, para não levantar suspeitas. Era a máquina de stencil, para reprodução de documentos. Os panfletos começaram logo a ser impressos, mas demorou alguns dias, já que a tinta não secava facilmente e tinham de ficar espalhados por toda a casa. Nessas alturas ninguém podia lá entrar e ela tinha de ter cuidados redobrados pois, mesmo no andar de baixo vivia um conhecido bufo da PIDE. Quando ficaram prontos, ela não adivinhava qual o destino dos panfletos, só o soube depois.
No dia 30, quando Américo Tomás acompanhado pelo director geral da PIDE/DGS, o major Fernando da Silva Pais e restante comitiva do governo salazarista desfilavam pela Avenida, um petardo rebentou perante a estupefacção geral, lançando centenas de panfletos com dizeres contra o fascismo, contra a guerra colonial, pela liberdade, pela democracia.
Ninguém se aleijou e a acção foi tão espectacular que surpreendeu todos, sobretudo as forças policiais. Ainda hoje, a senhora a quem chamam “menina”, não sabe como, nem quem lançou o petardo.
Histórias destas, de homens e mulheres anti-fascistas que não se furtaram à luta e à acção, são muito comuns no Barreiro. Podemos ouvi-las à esquina, ou na mesa do café. O Barreiro da resistência não é um mito, ele foi uma dura realidade.

Esta senhora, a quem alguns afectuosamente chamam “menina”, conclui «isto [a liberdade, a democracia] não caiu do céu, foi preciso lutar muito.»

Rosalina Carmona

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02
Fev18

Sérgio Ribeiro: Uma vida de luta por ideias

António Garrochinho


Militante do PCP, foi preso duas vezes pela PIDE, Sérgo Ribeiro esteve encarcerado no Aljube e em Caxias. Desde o 25 de Abril, concorreu 16 vezes às eleições autárquicas em Ourém.
A vida de Sérgio Ribeiro - ou episódios dela - já deu alguns livros. Ou não fosse a escrita uma das coisas que mais gosta de fazer e a sua vida tão intensa e preenchida. São 80 anos de dedicação aos ideais em que a acredita e a servir a política “além das próprias forças”.
Militante do PCP, foi preso duas vezes pela PIDE e esteve encarcerado no Aljube e em Caxias. No pós-25 de Abril, trabalhou como técnico das Nações Unidas em África, foi professor universitário, eurodeputado e deputado na Assembleia da República. Por 16 vezes, concorreu às eleições autárquicas em Ourém.
Para perceber o percurso de Sérgio Ribeiro é preciso recuar até à sua infância e juventude, passadas em Lisboa, onde o pai, natural do Zambujal, uma pequena aldeia dos arredores de Ourém, se fixou.
“Cresci num ambiente de não aceitação do regime fascista e de defesa da democracia e da liberdade. O meu pai tinha apenas a 4.ª classe. Não tinha hábitos de cultura, a não ser o de ir ao teatro, que me pegou. Mas, sem saber como nem porquê, era anti-clerical, republicano e anti-fascista”, conta Sérgio Ribeiro, realçando ainda a influência de alguns amigos do pai, como Artur de Oliveira Santos, administrador de Ourém aquando das designadas aparições de Fátima.
Com naturalidade, foi tomando consciência de que “não gostava” do que via à sua volta e da vontade de “querer mudar as coisas”. Começou a ir às comemorações do 5 de Outubro no cemitério do Alto de São João, em Lisboa. Vieram as primeiras fugas à GNR que, nesses encontros, “carregava” nos estudantes.
Esta sua actividade de luta contra o regime intensificou-se com a entrada na Faculdade de Economia e a colaboração com a Associação de Estudantes (AE). “O meu pai passou-me também o gosto pelo associativismo. Esteve ligado a várias colectividades. Fundou a Casa de Ourém em Lisboa, da qual fui sócio fundador, e organizou a primeira excursão de oureenses a viver em Lisboa à sua terra natal.”
Durante os tempos de faculdade, Sérgio Ribeiro colaborava em várias secções da AE, nomeadamente, na organização de actividades desportivas que serviam também como oposição ao regime. É disso exemplo a tentativa da Mocidade Portuguesa de “arrancar as AE do associativismo estudantil, passando a organizar campeonatos de futebol, onde oferecia tudo: estádio nacional, botas com pitões e equipamento do melhor”.
Em resposta a esse “aliciamento” surgiram os TIAS – Torneios Intra- -Associações, disputados “em campos pelados e com botas travessas”. “A participação no TIAS era uma recusa ao regime”, conta Sérgio Ribeiro, que, em 1957, se sagrou campeão universitário de futebol.
O dia em que a morte saiu à rua
A adesão ao PCP acontece, “de forma natural”, em 1958, no mesmo ano em que termina o curso, passando a integrar a célula de economistas do partido. Desses tempos, são muitas as histórias e os episódios, mas há um que o marcaria para sempre: o assassinato do camarada José Dias Coelho, que Zeca Afonso imortalizou na música A morte saiu à rua.
Nesse dia, Sérgio Ribeiro ficou de ir buscar aquele funcionário do partido para uma reunião. Mas, à hora e no local combinado, ele não apareceu. Tinha sido interceptado e morto pela PIDE. Só dias depois souberam da morte através de uma notícia do jornal. “O episódio marcou-me toda a vida”. De tal forma, que, há dez anos, quando saiu da anestesia, “após a operação a um cancrozito”, a primeira coisa de que falou foi desse dia.

www.jornaldeleiria.pt
02
Fev18

Do feminino na Literatura portuguesa

António Garrochinho


Manifestação sufragista
quase sempre um sobressalto quando nos referimos à questão do feminino, tomado enquanto conceito associado à literatura e, neste caso em particular, à literatura portuguesa. A ideia de que a esta possa ser colada o rótulo de feminismo (ficando presa a ele), bem como uma outra, ainda mais perniciosa, a de que se encontra especificamente ligada ao universo feminino, são as razões mais frequentes que fazem com que as próprias escritoras reajam de forma negativa sempre que, de uma ou de outra forma, são confrontadas com esta problemática. Ou porque não querem ser conotadas com uma dimensão feminista, em que não se reconhecem e que consideram algo anacrónica, ou, por outro lado, por recusarem a ideia de um paradigma que consideram de mau-gosto e que remete a escrita das mulheres para uma suposta menoridade. Na verdade, não é disso que aqui se trata e muito menos pretendemos estabelecer uma abordagem de estudos de género, mas apresentar um panorama da literatura feminina contemporânea em Portugal, nas suas múltiplas dimensões, ao longo do século XX e, agora, do século XXI. Um século em que a escrita feminina teve um papel marcante e, não raro, transgressor, no panorama português, em particular nas últimas décadas, em que uma parte significativa da ficção portuguesa é feita por mulheres.
Embora os tratados de pedagogia de Luís António Verney (1782), no último capítulo de O Verdadeiro Método de Estudar, e de Ribeiro Sanches (1759), na sua obra As Cartas sobre a Educação da Mocidade, insistissem sobre a necessidade de instrução da mulher na sociedade, no entanto, ela far-se-ia em favor dos filhos e sempre na intimidade do lar, isto é, garantindo a preservação do recato familiar e da ordem social. Relembre-se, ainda, a este propósito, o célebre cavaleiro de Oliveira, em algumas passagens de Amusement Periodique, no qual refere que a sapiência das mulheres se requer “regradinha” como os temperos, nem muita nem pouca, mas o suficiente para educar os filhos e animar os salões, para entreter os maridos. Para manter o estatuto das mulheres, a sociedade contava com dois aliados: uma mentalidade profundamente conservadora e anti-feminina e a exclusão da mulher dos sectores de produção e de trabalho, factor que garantia a sua dependência económica.
O facto de a nossa história não reconhecer a importância das mulheres nem o seu contributo para as mais diversas áreas não significa que tivessem faltado à história portuguesa exemplos de mulheres ousadas como Joana Vaz, Paula Vicente — filha de Gil Vicente -, Leonor Coutinho, Ângela e Luísa Sigeia (irmãs), Públia Hortênsia de Castro, que se distinguiram na Literatura. É Helena Vasconcelos, no seu livro Humilhação e Glória (Quetzal Editores, 2012)quem sublinha o contributo das suas obras, muitas ou quase todas remetidas ao esquecimento. Também houve mulheres que, vestidas de homens, partiram para as guerras e combates, ao lado dos homens, mesmo durante o período dos descobrimentos, em que partiam nas caravelas, usando de astúcia feminina.
No século XVIII, as mulheres que possuíam dinheiro e uma certa posição social conheceram alguma liberdade e importância na sociedade. É, aliás, sabido que o século XVIII permitia às mulheres uma liberdade maior que às suas sucessoras do século XIX, mais espartilhadas pelas convenções sociais e pela prepotência masculina e que apenas as valorizava enquanto «fadas do lar». Se o final do século XVIII e século XIX teve uma escritora que se distinguisse, essa foi a lendária Marquesa de Alorna (1750–1839) e tal só se tornou possível devido à atribulação da sua vida que, condenando-a ao exílio por causa da perseguição do Marquês de Pombal aos Távora, a levou aos salões literários europeus, onde privou e conheceu as grandes figuras da literatura e da cultura europeias, em particular Madame de Stael, célebre romancista e ensaísta francesa, figura emblemática do iluminismo em França.
Marquesa de Alorna
A fina educação da Marquesa de Alorna e a leitura de filósofos como Voltaire, Rousseau e Montesquieu, entre outros, contribuiu para a sua formação e para a liberdade do seu pensamento e da sua cultura, tendo sido ainda conhecida pelo seu talento para o desenho e para a pintura. Sobre a obra e a vida de Marquesa de Alorna escreveu Maria Teresa Horta, sua descendente, uma obra magistral, As Luzes de Leonor (D. Quixote, 2011).
Na Transição do século XIX para o XX
Já o século XIX, como o reconhece Helena Vasconcelos na mesma obra, foi “pernicioso e, em muitos casos, devastador para as mulheres.” (p. 158) O romantismo, veiculando a ideia da mulher como um ser frágil e instável, caprichoso e melancólico, remeteu as mulheres para um estatuto de «deusas», de mães intocáveis, o que muito convinha ao universo masculino, enclausurando-as no lar.
Porém, o século XX assiste ao crescimento do feminismo em Portugal durante o período da implantação da República, com o aparecimento de movimentos femininos, sufragistas e ligados à Maçonaria. Relembrem-se aqui os casos de Adelaide Cabete (1867–1935), médica e republicana convicta e que fez parte da Liga Republicana das Mulheres, tendo lutado pelo direito de voto das mulheres. Durante mais de 20 anos, esta médica obstetra e ginecologista que defendeu ideias progressistas e que esteve ligada a várias organizações de cariz social e político presidiu ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (1914–1947) mandado encerrar por Salazar e cuja última presidente foi Maria Lamas. Também as pedagogas e escritoras como Carolina Beatriz Ângelo (1878–1911), que foi a primeira mulher a exercer o direito de voto nas eleições constituintes de 1911, e Ana de Castro Osório (1872–1935), jornalista, escritora e republicana, Presidente do Grupo de Estudos Feministas, muito contribuíram para a construção da igualdade e para o despertar da importância dos direitos femininos na sociedade portuguesa. Mais do que lutar pelo direito de voto — e nisto se diferenciavam as organizações portuguesas das organizações de sufragistas inglesas — consideravam prioritário o direito das mulheres à instrução e a sua frente de luta foi precisamente (enquanto pedagogas de ideias muito avançadas) contra o analfabetismo e pugnando pela educação das mulheres e das crianças e a saúde materna e infantil. Outra das suas preocupações foi com o restabelecimento da Paz, durante a Primeira Grande Guerra. Houve, ainda, duas mulheres, que merecem referência, sobretudo pela luta pelos direitos cívicos que pretendiam idênticos aos dos homens: Maria Veleda (1871–1955) e Angelina Vidal (1847–1917), activista social, escritora e jornalista.
Florbela Espanca
Todavia, é num contexto social em que vigora ainda um conservadorismo feroz que emerge a obra de Florbela Espanca (1894–1930), ao arrepio da sua época. Figura Florbela entre as raras mulheres que têm acesso a educação superior. Quando se matriculou na Universidade de Direito, em 1917, era uma das 14 mulheres, entre 347 alunos inscritos, revelando o escasso nível de educação entre as mulheres. Talentosa e bela, rapidamente se tornou notada. As suas obras de poesia, cuja lírica forte e impressiva se impunha na poesia da sua época, mostravam um lado feminino pouco usual na literatura, como o desamor, a solidão e uma profunda melancolia, que viria a vitimá-la em 1930. A sua obra-prima, Charneca em Flor, foi publicada um dia após o seu suicídio trágico e dois anos depois da morte do seu adorado irmão, Apeles Espanca. A assumpção do desejo erótico é igualmente um dos temas que contribuíram para o carácter transgressor da sua obra, rompendo com os cânones morais e sociais do seu tempo. A sua vida, atribulada e apaixonada, marcada pelos divórcios e casamentos, constituíam, por um lado, um desafio às regras vigentes e, por outro, uma afirmação da liberdade feminina numa sociedade patriarcal que apenas destinava à mulher um papel passivo. Tanto Florbela, quanto mais tarde Judith Teixeira (1880–1959), que a antecedeu e cujos livros, considerados imorais, foram alvo de perseguição e queimados no pátio civil, em conjunto com a obra do poeta António Botto. Mais discreta na sua vida pessoal, Judith Teixeira acabaria por ficar esquecida e os seus livros ficariam por reeditar. Só recentemente a sua obra começou a ser objecto de estudo.
Irene Lisboa (1892–1958) foi professora, pedagoga, escritora e igualmente uma das vozes mais marcantes da literatura portuguesa tendo a sua obra sido repartida pelos vários géneros literários: poesia, conto, crónica e novela. Tendo continuado os seus estudos de pedagogia em países como a Suíça, França e Bélgica, conheceu Jean Piaget e Édouard Claparède, com quem estudou no Instituto Jean-Jacques Rousseau. Brilhante pedagoga, quis aplicar as suas ideias e acabou por se ver afastada do ensino por causa dessas mesmas ideias que colocavam em causa o aparelho burocrático do estado. Já reformada, a partir dos 48 anos dedicou-se inteiramente à sua obra pedagógica e literária, o que valeu a admiração de críticos como João Gaspar Simões e dos escritores José Gomes Ferreira e José Rodrigues Miguéis. Porém, a sua obra nunca conheceu grande aceitação por parte do público. Na opinião da ensaísta e professora Paula Morão, a sua lírica rompe com os cânones da poesia e da lírica tradicional, dando lugar ao verso livre. A sua escrita toma por objecto temas como o quotidiano e a solidão urbana, numa procura de redescobrir o amor pela simplicidade das coisas. As suas primeiras obras foram publicadas com pseudónimos masculinos, para garantir uma maior aceitação pública: João Falco para a literatura e Manuel Soares para a obra científica. Deve ser ainda ressaltado o seu papel fundamental na oposição portuguesa, pois Irene Lisboa combateu pela emancipação das mulheres, tendo pertencido ao MUD (Movimento de Unidade Democrática), que foi criado em 1945 e a cuja direcção pertenceu, bem como Maria Lamas (1893–1983), nossa representante no Conselho Mundial da Paz. Tanto estas duas escritoras, como Manuela Porto (1908–1950), ligada ao teatro e que introduziu em Portugal a escritora Virginia Woolf, entre outras escritoras feministas. Não é nunca demais lembrar a escritora Maria Archer (1899–1982), cuja coragem assombrosa afrontou a sua época.
Virginia Woolf
Maria Archer foi das raras escritoras portuguesas que, numa época em que as mulheres sofriam pela sua dependência económica, viveu da sua escrita, enquanto jornalista e, graças às suas ideias políticas, sofreu o afastamento da sua própria família. Ilse Losa (1913–2006), de origem alemã e judaica, chegou a Portugal em 1934, onde veio a casar e adquiriu a nacionalidade portuguesa. A sua obra é essencialmente dedicada à tradução e literatura infanto-juvenil.
Também Maria Judite de Carvalho (1921–1998) se destacou no panorama da literatura portuguesa contemporânea pela sua vasta obra, inovadora e crua. Casada com o escritor Urbano Tavares Rodrigues, conheceu o exílio entre 1949 e 1955, tendo vivido entre a França e a Bélgica. A sua linguagem depurada e “limpa”, abordando temas como a angústia e a solidão, foi certamente muito influenciada pelo existencialismo, que conheceu de perto enquanto viveu fora de Portugal. Paisagem sem Barcos (1963) e Armários Vazios (1966) representam o que de melhor nos trouxe a literatura feminina, obras cuja linguagem era reduzida ao essencial e depuradas, como não existiam no seu tempo. Destaquem-se, ainda, duas autoras igualmente importantes, como a escritora Natália Nunes (1921), viúva do poeta António Gedeão e mãe de Cristina Carvalho, uma das autoras da nossa actualidade, Fernanda Botelho (1926–2007) e Isabel da Nóbrega (1925), que pertenceram, juntamente com Maria Judite de Carvalho, à direcção da SPE — Sociedade Portuguesa de Escritores, criada em 1956 e encerrada pela PIDE em 1965. Na literatura infantil e juvenil, podemos encontrar Matilde Rosa Araújo (1921–2010) e Maria Rosa Colaço.
Clarice Lispector
Do lado brasileiro, a literatura estava na sua plenitude e chegava-nos a importância de autoras como Clarice Lispector (1920–1977), com a sua escrita ousada, visceral e desafiadora dos cânones literários, abordando temas como a loucura e a sexualidade. Na poesia, sublinhe-se a lírica de Cecilia Meireles (1901–1964), que cruzava a herança simbolista com o modernismo, tendo mantido uma relação de amizade próxima com vários poetas portugueses, tendo sido casada (em primeiras núpcias) com um artista plástico português, Fernando Correia Dias (1892–1935).
Sophia de Mello Breyner Andresen (1919–2004) pode ser considerada, na literatura portuguesa, uma das poetisas mais importantes. Mais tarde, após o 25 de Abril, viria a desempenhar funções políticas que a transformaram numa das mulheres que marcaram o período pós-revolucionário. Também Natália Correia (1923–1993) foi não só uma mulher corajosa e dotada de um poder oratório invulgar como uma escritora notável (hoje um pouco esquecida) e uma figura pública incontornável — organizadora de tertúlias e de encontros entre poetas e escritores — que protagonizou momentos inesquecíveis de resistência, participando das campanhas de apoio às candidaturas para a Presidência da República do general Norton de Matos (1949) e de Humberto Delgado (1958). Era considerada uma das mulheres mais belas de Lisboa e o seu bar O Botequim foi considerado um dos pólos culturais mais importantes durante as décadas de 70 e de 80. A sua obra vasta repartiu-se entre a ficção, a dramaturgia e a poesia. Foi ainda responsável pela coordenação da Editora Arcádia, uma das grandes editoras portuguesas da época e viu-se também implicada no caso da publicação de Novas Cartas Portuguesas, o que lhe valeria uma sentença de três anos de prisão e absolvida cm o 25 de Abril.
A geração poética que, em Portugal, emergiu com o movimento em torno da da revista Poesia 61, trouxe para a ribalta autoras que fariam uma completa revolução da poesia, contando-se entre elas Maria Teresa Horta (1937), Luiza Neto Jorge (1939–1989) e Fiama Hasse Pais Brandão (1938–2007). Vozes que se confirmariam mais tarde na poesia portuguesa. Foi, no entanto, o escândalo da publicação de As Novas Cartas Portuguesas, da autoria de Maria Teresa Horta, Isabel Barreno (1939) e Maria Velho da Costa (1938), que se tornou claro o poder que a literatura feminina teve na década de 70, provocando um verdadeiro abalo no país e na forma como eram olhadas as mulheres dessa época. 1971 foi o ano em que tudo aconteceu, tendo levado à acusação e à condenação das suas autoras por pornografia, provocando um verdadeiro cataclismo na opinião pública internacional. Mais do que nunca, a escrita feminina concentrou em si, apadrinhada por Natália Correia, esse poder verdadeiramente transgressor da linguagem, que desferia um golpe certeiro nas estruturas do poder político e social. Foi um ano aziago para Marcelo Caetano, que viu tremer o fascismo e se viu criticado pela imprensa estrangeira, naquilo que foi considerado pelas feministas europeias e americanas como um grande escândalo. O prestígio de que gozavam fora do país as autoras pelas suas ligações ao feminismo era de tal forma que, em 29 de Março de 1973, era assinado no Times, por vários escritores, uma carta de repúdio à perseguição das três escritoras.
Após o 25 de Abril, as vozes femininas impuseram-se na literatura portuguesa, tanto na poesia quanto na ficção. Isabel da Nóbrega, Agustina Bessa-Luís, Maria Ondina Braga, Maria Gabriela Llansol, Lídia Jorge, Hélia Correia, Teolinda Gersão, Maria Velho da Costa, Ana Hatherly, mas também poetas como Sophia, Fiama, Natália Correia, Luiza Neto Jorge, Eduarda Chiote, Isabel de Sá, Rosa Alice Branco, Ana Luísa Amaral, Helga Moreira, Adília Lopes, Alice Vieira, entre muitas outras vozes mais recentes que emergem actualmente, como Luísa Costa Gomes, Ana Teresa Pereira, Dulce Maria Cardoso, Inês Pedrosa, Cristina Carvalho, Patrícia Reis ou Alexandra Lucas Coelho, vêm corroborar a importância que as vozes femininas ocupam hoje no panorama da literatura portuguesa.
No campo da poesia, se nas últimas décadas têm sido mais expressivas as vozes masculinas, no entanto, a partir do novo século são muitas as vozes femininas e jovens que tendem a impor-se na poesia portuguesa, como Ana Marques Gastão, Margarida Vale de Gato, Filipa Leal, Rita Taborda Duarte, Margarida Ferra, Inês Fonseca Santos, Raquel Nobre Guerra, Cláudia R. Sampaio, Rosalina Marshall, Golgona Anghel, Rosa Oliveira, Cláudia Lucas Chéu. Que a literatura feminina conhece hoje uma assinalável pujança é um facto incontornável e que muito deve ao combate que as femininistas travaram contra os preconceitos de uma sociedade tradicional e conservadora é outra verdade, que não deve, nunca, esquecer-se. Em nome da justiça.
@Maria João Cantinho/Júlia Coutinho

revistacaliban.net
02
Fev18

Crónicas do Sudoeste Peninsular: “Os territórios não são pobres, estão pobres” POR ANTÓNIO COVA

António Garrochinho

A valorização do interior está na ordem do dia. Em três escritos anteriores (Público, 11 de Janeiro, Público, 23 de Janeiro e Público, 29 de Janeiro) abordei o recém-criado Programa de Revitalização do Pinhal Interior (PRPI) e dois instrumentos de intervenção territorial que eu considero fundamentais para a valorização do interior, a saber, o laboratório colaborativo e o parque agroecológico municipal.
Estas duas aproximações são, porém, duas visões meramente instrumentais e “concetualmente curtas” em reação a uma tragédia que acaba de acontecer.
Numa aceção mais larga e mais longa, “valorizar o interior” significa colocar questões fundamentais e dar-lhes uma resposta apropriada, por exemplo: que modelo de desenvolvimento territorial, que tipologia de bens e serviços, quais os beneficiários do novo modelo, qual o seu escalonamento temporal, que parcerias e modelo de financiamento, que papel para as tecnologias digitais, que modelo de governação do território?

As Grandes Opções para a valorização do interior
Não vou, agora, responder a todas estas questões, mas posso adiantar algumas variações em redor das grandes opções de investimento disponíveis para a valorização do interior e que são outras tantas estratégias de atuação:
– Em primeiro lugar, podemos optar por “pequenos investimentos cirúrgicos de reposição” tendo em vista repor equipamentos, infraestruturas, serviços e empresas que foram destruídos pelos acontecimentos;
– Em segundo lugar, podemos optar por reforçar uma “rede de vilas, cidades pequenas e médias do interior” tendo em vista consolidar a sua malha, aumentar os seus efeitos de aglomeração e, portanto, a sua área de influência;
– Em terceiro lugar, podemos optar por um “plano de infraestruturas de rede”, por exemplo, a renovação da ferrovia, o reforço da rede de barragens, o saneamento das bacias hidrográficas, o melhoramento da rede rodoviária, novos centros hospitalares, a renovação do parque escolar;
– Em quarto lugar, podemos optar pela instalação de uma “rede digital de alta velocidade”, acabando com esta discriminação territorial e assim contribuindo para a smartificação dos territórios do interior;
– Em quinto lugar, podemos optar por “investimentos agroambientais e agroflorestais de ordenamento do território”, tendo em vista reduzir os riscos ambientais e climáticos destes territórios;
– Em sexto lugar, podemos optar por um “sistema de incentivos fiscais e financeiros às empresas” que se queiram instalar nos territórios do interior e que são variáveis com o número de empregos criados;
– Em sétimo lugar, podemos optar pela prioridade ao “turismo de vilas e aldeias”, às suas redes e valorização dos seus sinais distintivos territoriais, tendo em vista atrair novos residentes e visitantes;
– Finalmente, e porque todas estas opções não são exclusivas, podemos sempre optar por um mix de todos estes instrumentos de intervenção territorial. É, de resto, na composição deste mix instrumental que está o segredo da estratégia de desenvolvimento territorial, uma vez que não há utilities sem smartificação, que não há consolidação das áreas de influência sem o reforço das redes urbanas, que não há gestão do risco sem planos verdes, que não há investimento empresarial sem o reforço da economia de visitação e residencial.
Este inventário de opções de política dirigido à valorização do interior serve apenas para ilustrar a minha tese inicial enunciada no título deste escrito “Os territórios não são pobres, estão pobres”, uma vez que é “a engenharia da nossa vontade”, traduzida em obra, que acaba por determinar o curso dos acontecimentos. A dificuldade, porém, reside no “combinado de opções”, no seu envelope orçamental e, especialmente, no sistema operativo de governação territorial.
Na mesma linha de raciocínio, e com ele intimamente relacionado, acresce um fator que eu julgo ser um dos grandes obstáculos aos programas de valorização do interior, a saber, a sua particular socio-demografia e o grau de sociabilidade do seu capital social ou, de forma mais simples, a intensidade-rede das suas relações sociais, transformadas e traduzidas em competências especificas dos seus recursos humanos em ordem a uma mudança longa e estruturada no seu modo de vida.
Por que é que alguns territórios do interior “aparentam ter parcos recursos”? Em parte, por que as suas relações de sociabilidade apresentam baixos índices de intensidade-rede, isto é, revelam uma “sociabilidade fraca”. Os territórios não são pobres, “estão pobres” em determinada circunstância ou conjuntura histórica porque os seus responsáveis primeiros e atores principais não estiveram à altura das suas responsabilidades políticas e públicas Os territórios são construções longas e delicadas que atravessam muitas vicissitudes e contrariedades.
O seu capital social é fruto dessa história vivida e dessa sociabilidade histórica muito particular e é dessa experiência histórica concreta que se geram, emergem e estruturam os recursos de um território. Por maioria de razão, na sociedade do conhecimento em que vivemos os novos problemas emergentes devem-se, em boa medida, a um défice de conhecimento. Por isso nós dizemos, os territórios não são pobres, estão pobres.

As condições gerais que devem ser observadas
Não temos dúvidas, no próximo futuro teremos mais campo na cidade e mais cidade no campo. Os princípios informadores da 2ª ruralidade serão cada vez mais atendidos.
Por exemplo, as circulares verdes e os corredores periurbanos serão equipamentos essenciais, assim como o “parque agroecológico municipal ou intermunicipal”, uma infraestrutura polivalente e multifuncional com o objetivo principal de ordenar o “caos periurbano” da 1ª ruralidade e delimitar uma rede de mosaicos agroecológicos e paisagísticos com funções produtivas, pedagógicas, terapêuticas e recreativas.
Tendo estes exemplos bem presentes, vejamos algumas condições gerais que precisam de ser observadas, no momento de pensar os programas de valorização dos territórios do interior.
– Os programas de intervenção territorial não podem ser reduzidos a um elenco de medidas, necessitam de uma intencionalidade estratégica e operacional e de um calendário de execução;
– Os territórios não podem ser reduzidos a “nomenclaturas territoriais estatísticas” ou comunidades de municípios que não se sentem fazendo parte de uma comunidade de destino ou de um território-desejado;
– Os atores-principais não podem ser reduzidos a departamentos da administração pública local e regional, os territórios necessitam da mobilização da inteligência emocional e a criatividade dos cidadãos;
– Os controladores do processo de seleção e decisão não podem ser reduzidos a templates e algoritmos, os territórios necessitam de um ator-rede que in situ seja o “principal cuidador”;
– A economia local e regional não pode ser reduzida a uma sucessão de eventos, é necessário que esses eventos sejam integrados em “atos orgânicos” de estruturação longa da economia local;
– A inovação territorial não pode ser reduzida à informática de gestão e administração, é necessária uma nova cultura de ordenamento urbanístico com relevo para as pequenas e médias cidades do interior no que diz respeito ao seu autogoverno, em formatos socioinstitucionais inovadores como são a economia dos contratos, das convenções, dos clubes e dos territórios-rede;
– A inovação agroecológica não pode ser reduzida a umas medidas difusas de natureza agroambiental, sem verdadeiro impacto, é necessário defender no âmbito da PAC pós-2020 uma nova geração de bens públicos rurais, tais como infraestruturas verdes, corredores ecológicos, equipamentos agroecológicos e ecossistémicos e pagamentos por serviços ambientais prestados;
– O capital social não pode ser reduzido a uma sociabilidade fraca ou cooperação de baixa intensidade, de resto, não se compreende que sendo a cooperação um recurso abundante e barato não seja usado com mais frequência e intensidade pelos territórios do interior.

Notas Finais
Como se observa, a valorização do interior e a composição dos novos territórios dependem de um mix de opções de desenvolvimento, escalonadas no tempo e no espaço, com protagonistas muito variados, com realizações muito condicionadas e com impactos sociais, ambientais e culturais de grande amplitude cujos efeitos ninguém sabe, muito bem, onde e como são projetados.
Por outro lado, importa evitar a todo o custo que “os silos ministeriais” descarreguem as medidas em stock sobre os territórios, sem cuidar da territorialização dessas medidas e da retenção dos seus efeitos de aglomeração.
Com efeito, uma consequência é o impacto territorial das políticas sectoriais, outra é a territorialização das políticas públicas sectoriais, outra, ainda, são as políticas públicas de base territorial. Para isso, precisaríamos de um “modelo revolucionário de governação territorial”. Mas esse já é outro assunto.

Autor: António Covas é professor catedrático da Universidade do Algarve e doutorado em Assuntos Europeus pela Universidade Livre de Bruxelas


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02
Fev18

† A Ideologia Gótica †

António Garrochinho


Atualmente, o termo "Gótico" vem sendo mais utilizado pela sociedade atual, começou a virar moda e por isso, ou melhor, talvez por isso, a maioria das pessoas já tenham ouvido falar de alguma música, na arquitetura ou na literatura gótica, as pessoas começaram então a estarem mais habituadas com esse nome. Outro fator importante para esse reconhecimento sobre o nosso ideal, é pelo "visual”... Infelizmente as pessoas se iludem pensando que muitas destas, são realmente góticos, mas não sabem que o fundamento do goticismo é atitude, e não visual. Outras ideologias também usam muito o "preto" no seu visual, e entre elas existem sempre uma atitude que contradiz o que a sociedade atual impõe, fazendo que ela seja contra esta tal ideologia, mas o problema é que esse desfavorecimento é geral, e na maioria dos casos, o preto é jogado para os góticos, que estão cada vez mais sendo julgados de rebeldes da sociedade ou adolescentes mimados. Muitas pessoas não conhecem a cultura gótica, ainda existe muito preconceito com ela, e por não conhecer, as pessoas tem medo, e por terem medo, acabam julgando esse estilo de viver. E por causa disso, acabam influenciando na nossa própria ideologia, como por exemplo, o medo dos Neogóticos assumirem que são góticos,por terem medo da reação da sociedade sobre eles, transformando a ideologia dentro de si como se fosse uma vergonha.
Buscamos o individualismo que têm e abrem suas mentes para outros universos mais sensíveis ao mundo. Muitos dos góticos tem 2 características marcante entre eles, aqueles que levam os seus sentimentos aos extremos e aqueles onde a raiva ainda vaga pela mente, transformando eles em seres altamente frios, esses geralmente querem se distanciar de todos para que possam pensar sobre as suas vidas. Há alguns casos que a pessoa varia de característica dependendo do dia, dai é que vem o termo "inconstância gótica".A Maioria dos Góticos vivem em busca da sua Lenda Sentimental, procurando nos seus sentimentos uma razão para viver, muitas vezes vendo que a razão é um bom caminho a ser seguidos em horas de necessidade. Outras seguem outros caminhos, usando outras fontes para que possam esquecer as dores que atormentam o seu coração. Às vezes essas outras fontes são utilizadas de uma forma errada, como por exemplo, o suicídio. ( Vale lembrar que ser Gótico não significa ser mal educado, anti-social e muito menos ter depressão e ser triste )
            O que é Gotico:
Segundo muitos não existe uma verdadeira definição para o que é ser gótico; pois não é um movimento e assim não há características pré-definidas para serem listadas. O termo surgiu há muito tempo, com os Godos, um povo germânico vulgarmente chamado de Bárbaros e que foram os primeiros germânicos a se converterem ao cristianismo. Mesmo esse povo e sua cultura não tendo nada em comum com o estilo gótico é sempre bom lembrar a origem do termo.
relativo aos godos, uma confederação de tribos germânicas que invadiu o império romano durante o séc. III d.C. e foram os primeiros povos germânicos a se converterem ao cristianismo. A primeira distorção do adjetivo data da renascença. Os italianos achavam que a arte clássica, que admiravam e procuravam reviver, fora corrompida na idade média pelos cristãos. Assim sendo, fizeram dos godos seu Bode-espiatório e taxaram pejorativamente toda arte medieval (cristã) de gótica, ampliando assim o sentido da palavra.
Durante os séculos em que foi moderna, a arte gótica era conhecida sob o nome de "opus francigenarum", o que significa "obra francesa" e indica bem a sua principal origem. Entretanto nos séculos XV e XVI com a Renascença e o entusiasmo pela antiguidade clássica, passou-se a considerar a Idade Média como uma época bárbara e obscura. Como os godos eram os bárbaros mais conhecidos, o estilo passou a se chamar gótico, ou seja, bárbaro por excelência, alcançando um sentido pejorativo e de profundo desprezo.
A arte gótica era muito conhecida pela arquitetura arrojada, o que permitia aos seus construtores erigirem castelos e fortalezas mais fortes e resistentes de que os de outras civilizações da época. Estes castelos, mansões e fortificações era palco de histórias e lendas, muitas ligadas ao místico e sobrenatural. Ao final do séc. XVIII, eles foram visitados por uma nova estirpe de habitantes. Eram poetas, escritores, ocultistas e sonhadores. Nas sombras eles produziam obras imortais como Frankenstein, O Corvo, As Flores do Mal, Drácula e outras.
Os góticos tem a mania de achar na literatura uma explicação dos seus profundos sentimento... ( muitas vezes considerado estranhos ).
Quando você pergunta o que é um gótico você pode obter várias respostas diferentes e contraditórias, dependendo de como você formula a pergunta; porem cada resposta obtida pode representar uma parte válida desta subcultura. Gótico é mais que um rótulo ou conceito de vida, e ao mesmo tempo um estilo de vida e uma filosofia que tem suas raízes no  passado e no presente.O Gótico não é apenas um estilo musical, é uma subcultura completa. Sem dúvida a música é um eixo importante. Mas, como em qualquer cultura, outros elementos são constituintes também.
Ignorando aqui  referencias históricas das tribos de bárbaros na Europa  neste comentário específico refiro-me a o que é ser gótico, gótico é uma subcultura. Começou nos anos 70  na Europa e nos Estados Unidos. E aqui  no Brasil em 1980 a cultura era composta de indivíduos de posturas incomuns com uma insaciável curiosidade pela cultura, intelectuais e socialmente pouco aceitos na  expressão de  sua arte e de si mesmos, demonstrando assim seu desencanto do mesmismo da sociedade moderna. Os góticos sempre foram voltados aos movimentos musicais, literários e arquitetônicos, possuidores de um humor um tanto incompreendido, sendo assim difamados como depressivos  pois eles acham beleza e graça até nas coisas que, para uma sociedade comum, seriam  tétricas, ele veem como belo e artístico .
           Significado de "Gothic" em inglês:
O adjetivo "Gothic" em Inglês carrega sentidos que lembram: vitoriano, sombrio, misterioso, fantasmal, onírico, macabro, amedrontador, etc. Tudo que é vitoriano, sombrio, misterioso, fantasmal, onírico, etc é Gótico.
                   O que é uma Subcultura?
uma cultura paralela à Cultura Oficial, que não combate a cultura oficial, mas também não a aceita. Uma subcultura busca construir um universo a parte, que faça sentido para seus membros, integrando música, pintura, literatura, roupas, eventos, festas, lojas, trabalho, relações humanas, comportamento, etc. Por isto chamamos de subcultura-gótica.
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                  O Gótico surgiu do Punk?
Não apenas do Punk. O Punk teve o efeito de dar notoriedade a muitos artistas, mas muitas influências diretas do Gótico e da Darkwave são anteriores ao Punk 1976- 77. Se o Gótico tivesse simplesmente surgido do Punk, a maioria de suas características principais teriam surgido do nada. O Glam-Rock, o New-Romantic e o KrautRock, por exemplo, também tiveram grande influência na formação do Gótico, sem falar das influências não musicais.
                  Visual gótico
O Clássico Visual "Roupa Preta" dos góticos, não vem do goticismo em si, vem da influência dos Darks dos anos 80 que usavam estas roupas "obscuras" para afrontar as pessoas que usavam diversas cores para demostrar a sua felicidade, ou melhor, falsa felicidade. Achavam que usando preto, pudesse mudar pelo menos um pouco a cabeça dessas pessoas que buscavam sua felicidade em algo superficial e falso, já que não conseguiam ter um momento de reflexão para melhoria de suas vidas sem precisar mentir para si mesmo. A roupa preta também está sendo utilizada principalmente ultimamente como sentimento de luto contra a sociedade que piora a cada dia que passa, e muitos usam por simplesmente gostar da cor preta. Os Góticos tem uma fascinação incrível pela Noite, sentir o seu vento, a sombra do vento batendo ao seu rosto, fazendo que crie inspirações para os seus sentimentos, é um caminho para achar sua Lenda Sentimental, uma fantasia de prazer para as brilhantes mentes que buscam um conhecimento além do conhecido.Góticos não vestem só preto. Mas buscam um grande contraste e superposição de estilos diversos. O importante é o efeito dramático.
            Literatura Gótica
A Literatura gótica é uma das mais profundas que existem, abordam não só de puro amor, histórias fantásticas e contos. Mas também a tristeza e lágrimas nas suas poesias .Noite, lua, estrelas, sonhos, raiva, rosas e sangue em geral são a maiores inspirações para as mentes que homenageiam esta literatura tão bela e única.
OBS: Álvares de Azevedo surgiu como poeta e contista no ano de 1848, e até hoje é considerado um dos maiores autores ultra-românticos do país, seus textos são considerados góticos.
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                Filosofia Gótica
A Literatura gótica é uma das mais profundas que existem, abordam não só de puro amor, histórias fantásticas e contos. Mas também a tristeza e lágrimas nas suas poesias .Noite, lua, estrelas, sonhos, raiva, rosas e sangue em geral são a maiores inspirações para as mentes que homenageiam esta literatura tão bela e única.
OBS: Álvares de Azevedo surgiu como poeta e contista no ano de 1848, e até hoje é considerado um dos maiores autores ultra-românticos do país, seus textos são considerados góticos.
          Religião
É difícil conhecer um gótico que não tenha passado por isso, uma pessoa ir até você e perguntar, "Você é satânico?". A resposta todos já deve saber, "Não” (Mesmo porque, satânico esconde sua magia, não liberta ela a face de todos). O gótico é uma ideologia e não uma pessoa, e por isso, o gótico não segue nenhuma religião ( A maioria deles) pois não gostam de seguir mandamentos e regras de outros. A religião é encarada como se fosse algo fantástico, um mundo de fantasia aonde as pessoas fogem da sua realidade e tristezas e buscam
através de uma reza, uma salvação. As esperanças são importantes para os humanos, mas o gótico não vê esperanças certeza para a sua salvação, mesmo porque, em toda a sua vida nunca aconteceu um milagre para que possa salvar a ovelha negra perdida. Os Góticos acreditam que a esperanças é cultivada através da vontade dos próprios seres, mas como no nosso desejado mundo, quem somos nós para julgar as mentes de outras pessoas? Respeito é fundamental.
            Arquitetura Gótica
A arquitetura gótica com certeza é o fator mais importante que impulsionou o conhecimento da ideologia gótica ao mundo. As belas artes formadas neste ideal é demostrada através de catedrais antigas belíssimas. Em termos de estética e qualidade a arquitetura gótica é considerada uma das melhores e por isso fascinam pessoas do mundo todo. Exemplos de arquitetura gótica podem ser vistas até mesmo em filmes de terror, como aqueles castelos, locais abandonados e obscuros, cemitérios sombrios e até mesmo igrejas. A arquitetura fascina tanto a mente humana que nos enche de encanto e mistérios, fazendo nossas cabeças entrarem em outro mundo, onde nós fizemos a nossa história. Mesmo assim, ainda existem pessoas que querem julgar o nosso gosto, e também, criticando essa arte maravilhosa que merecia pelo menos um pouco de respeito por sua história. no Brasil é difícil encontrar uma arte gótica como por exemplo um castelo antigo, e por isso, as pessoas julgam nós como pessoas que andam só pelo cemitério de noite, mas é óbvio que essa história não tem nada a vê. Se tivesse um castelo abandonado por aqui, com certeza seria um lugar que eu iria pelo menos uma vez.
               Atração pelos cemitérios
Parques públicos são atrativos para as pessoas comuns, os cemitérios tem a mesma atração para os góticos. Os cemitérios são uma das muitas opções--outras incluem parques, áreas de acampamento,jardins,estacionamentos,ruas ou praias desertas,etc.
Os Cemitérios são  lugares quietos, ideais  para  introspecção e reflexão.
Coloca-os  em contato com sua própria mortalidade.
Se nós entendermos a fragilidade da vida, seremos mais capazes de apreciar isto.
Assim ficamos longe de TV, computadores, tensões do dia a dia , responsabilidade, superficialidade e as coisas sem importâncias que invadem nossas vidas.
Um cemitério promove um nível de introspecção e reflexão que muitos outros lugares não poderiam nos dar .Os cemitérios são bonitos, e de atmosfera misteriosa.As esculturas, mausoléus, locais sombrios são elaborados, frequentemente ornamentados. Eles são como um museu gótico, um lugar favorito para obter retratos artísticos. A arte cemiterial é divino, nos transmite emoções frágeis de melancolia. As esculturas de anjos também nos passam esta sensação profunda, são lindas.
Arte Gótica
A Cultura gótica não se destaca somente pela arquitetura e música de altíssima qualidade, mas também as suas artes. Ao ver as pinturas góticas sentimos um vão dentro de nossos corações, um vão que sente os inúmeros sentimentos que vem após do impacto, sentimentos de tristezas e felicidades em uma explosão de arte, olhos paralisados por segundos, inspirações e significados ao olhar a pintura que nos paralisa como se fosse um coração, e você buscando o seu conhecimento, a cada pintura, transmite uma história, um sentimento confuso ou um sentimento perdido, as artes são desenhadas com cores tristes, neutras, desenhos de almas, de morte, pensamentos e horror. Os artistas góticos, desenham o que sentem o que veem, o mundo que enxergam, do mundo que existe e que vivem, Desta mesma forma nos expressamos. Infelizmente por serem fechados e isolados do mundo real, não se há muitos vestígios de obras plásticas do goticismo, e de seus artistas.
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           Fixação pela morte
Toda humanidade é fixada na morte
A morte é um conceito abstrato para a maioria das pessoas
Os góticos  representam exteriormente os pensamentos que moram atrás da mente de todo mundo. Os góticos tendem a expressar  seus sentimentos sobre morte um pouco mais abrangente  que o resto do mundo, o gótico representa aceitação do inevitável .Isso não significa que góticos possuem obsessão pela morte.O gótico reconhece o equilíbrio de escuridão e luz, vida e morte e sem medo de coisa alguma ,afinal, acreditamos que a morte, é a libertação .Muitas pessoas acham que são pessoas perturbadas ou tétricas, o que também não é verdade.
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Com objetivo de informar as pessoas da sociedade de cultura dominante a abrir suas mentes para o conhecimento de uma cultura e modo vida, pois conhecer antes de qualquer opinião burra é o mínimo em que um ser humano possa fazer .
.........................Como qualquer tipo de tribo urbana, a subcultura gótica tem seu contexto que na verdade são ideologias da subcultura. Esta ideologia é um
´´ conjunto de ideias´´ determinado pelo tal grupo, consistem em contextos para que se faça parte do grupo. A pessoa de identifica com a ideologia, com o modo de vida, assim tornando-se mais um de nos...
A nossa ideologia é como outra qualquer, porém única. Sempre haverá preconceito da cultura dominante com a nossa subcultura pois estamos fora do padrão social. Somos humanos, temos nossa liberdade de expressão independente do que a sociedade rejeita.
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02
Fev18

Os “cavalos-soldados” da Primeira Guerra Mundial

António Garrochinho


A Inglaterra enviou aproximadamente um milhão de cavalos para os campos de batalha. Somente 65.000 retornaram.

Historiadores calculam que mais de 90% dos cavalos ingleses enviados para os campos de batalha na Primeira Guerra Mundial (1914-1919) nunca retornaram. Na época, embora já se empregasse carros e tanques em conflitos armados, os animais ainda representavam uma das principais formas de locomoção em combate. Era a chamada “cavalaria”, considerada uma tropa rápida e eficaz de luta envolvendo soldados.
Mas os cavalos não serviram apenas para carregar combatentes: os animais também foram vitais para o envio de mensagens, transporte de armas e suprimentos. E isso, claro, consumia muitos recursos. Como passavam horas e até dias carregando grandes quantidades de objetos e peso, passando frio e calor, precisavam ser alimentados corretamente. Durante os quatro anos de campanha, o exército britânico, por exemplo, precisou arcar com toneladas de alimentos para manter seus cavalos vivos.
De acordo com o site World War History Online, estima-se que até o fim da Primeira Guerra Mundial cerca de oito milhões de cavalos tenham sido utilizados pelos dois lados no conflito, além de 213 mil mulas. Do lado britânico, dos quase 1 milhão de cavalos enviados ao front aliado, apenas 65.000 retornaram. No que diz respeito às forças francesas, esse número pode ter chegado a pouco mais 500 mil. E do lado alemão, historiadores acreditam que as fatalidades envolvendo cavalos podem ter alcançado a casa dos dois milhões. A maioria morreu em combate. No entanto, devemos levar em conta que muitos também se perderam ou simplesmente foram vendidos.
Cavalos na Primeira Guerra Mundial
Membros da Royal Scots Greys próximos de Brimeux, França, em 1918. Foto: funcionário do governo britânico. 
Os “cavalos-soldados” eram extremamente respeitados entre os combatentes. Documentos encontrados no Ministério da Guerra Inglês, revelam que dezenas de milhares de animais que corriam risco de morte após lutarem na guerra foram salvos graças a um ofício que Winston Churchill enviou para a sua própria secretaria de Estado de Guerra e par ao Ministério de Transporte. O esforço logrou êxito: em apenas uma semana, foram enviados de volta para Grã-Bretanha 21 mil cavalos.
A História dos cavalos na Primeira Guerra Mundial ainda é desconhecida do grande público. Mas, recentemente, foi possível descobrir um pouco mais sobre ela com o filme do diretor americano Steven Spielberg, “Cavalo de Guerra”, lançado em 2012. A sinopse do filme:

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UM DOS MUITOS FEITOS - O CAVALO BILL

Na "batalha de Romani" muito crucial, Shanahan convenceu seus superiores a levar Bill aos campos de batalha. Nesta batalha particular, mais de 100 mil cavalos estavam envolvidos, ao lado dos soldados combatentes. 

Bill provou ser o melhor companheiro de campo de batalha de Shanahan; Com seus movimentos inteligentes e resistência, Bill ajudou Shanahan a lutar na batalha. 
Tanto Bill quanto Shanahan ficaram gravemente feridos, mas não antes de vencer a primeira batalha contra os turcos no Oriente Médio.




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02
Fev18

A “ameaça vermelha”: medo e paranóia anticomunista

António Garrochinho



Surgido no século XIX, o anticomunismo consolidou-se como um poderoso discurso político no século XX e parece ainda estar vivo em nosso tempo.

Por Daniel Trevisan Samways
Na polarização política que vem ganhando força no país – e, talvez, no mundo – alguns velhos bordões anticomunistas reaparecem como que vindos direto do período da Guerra Fria. Ou da década de 1930. Ou quem sabe de antes. E com isso, importantes perguntas tornam a emergir: o anticomunismo é uma característica exclusiva dos discursos “de direita”? Continuam sendo alimentados – e propagados – mais por um imaginário aterrorizante do que por referenciais teóricos e práticas ou ameaças reais?  Que ações de exceção estes discursos legitimam?
Essas perguntas não são novas – fazem parte das investigações dos pesquisadores da área interdisciplinar que podemos chamar de “estudos sobre o anticomunismo” há bastante tempo –, mas demonstram a necessidade de compreender o fenômeno do anticomunismo em seu caráter histórico. E este é o objetivo principal desse artigo que, ao levantar algumas questões, pode também lançar algumas luzes sobre o presente.

VÍDEO

Vídeo do governo americano no pós-guerra: “como identificar um comunista”.
Antes de começarmos, no entanto, vale chamar a atenção para o fato de que muito dos discursos anticomunistas são caracterizados não só por oposição ao comunismo – doutrina político-econômica surgida no século XIX no contexto da Revolução Industrial e que visava combater a exploração da classe trabalhadora, almejando, ainda, uma sociedade sem classes –, como também a outras ideias e um “amálgama do mal” a ser combatido. Essas outras ideias variam com as circunstâncias do momento histórico e do local. É comum no Brasil, por exemplo, se associar o comunismo a pautas sociais “progressistas” por conta das circunstâncias das disputas políticas.
O que é o anticomunismo?
O anticomunismo é um fenômeno histórico que remonta ao século XIX, sendo encontrado tanto na Europa quanto na América. Está presente não apenas em discursos que pregam a perseguição de comunistas, mas também em um conjunto de ideais em defesa da propriedade privada que colocam o comunismo como uma ameaça à democracia1 – segundo alguns discursos liberais, a democracia seria possível apenas no capitalismo.
Na obra Dicionário de Política, Luciano Bonnet afirma que o anticomunismo pode ser entendido não somente como um conjunto de ideias do campo das “direitas” contrárias ao comunismo, mas sim como um fenômeno muito mais complexo e também com uma grande pluralidade. O autor aponta que existem anticomunismos de origem fascista, clerical ou reacionário, os quais podem desencadear ações de violência, pois parte de seu discurso e prática consistem na oposição ferrenha aos comunistas e à caracterização destes como fonte de todo tipo de malefícios, por exemplo, na encíclica Divinis Redemptoris, de 1937, na qual o papa Pio XI afirmava que “vós, sem dúvida, Veneráveis Irmãos, já percebestes de que perigo ameaçador falamos: é do comunismo, denominado bolchevista e ateu, que se propõe como fim peculiar revolucionar radicalmente a ordem social e subverter os próprios fundamentos da civilização cristã.”5 Hitler, por sua vez, afirmou, durante o processo eleitoral de 1933, que o marxismo era o principal inimigo do movimento nazista. “Jamais, jamais me desviarei da tarefa de esmagar o marxismo… Só pode haver um vencedor: ou o marxismo ou o povo alemão! E a Alemanha triunfará!” Bonnet afirma ainda que é possível encontrar o anticomunismo no meio liberal e até dentro do próprio espectro de “esquerda”, mais próximo aos ideais socialdemocratas, que defendem uma economia mais livre do controle estatal.
O historiador Michael J. Heale ressalta que, desde o século XIX, o anticomunismo já permeava o ideal republicano de segurança nos Estados Unidos. Mas é no século XX, sobretudo após a Revolução Russa de 1917, que o anticomunismo se tornou uma das forças políticas mais importantes e influentes no mundo, responsável por nortear uma poderosa estratégia do chamado “mundo ocidental” contra o comunismo, principalmente aquele vindo da recente União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Um relevante aspecto para entender esse destaque que as ideias anticomunistas ganharam é compreender a própria mensagem anticomunista e os canais de que ela se utiliza.
Anticomunismo e mensagens para massas
No contexto da Guerra Fria – que podemos definir, resumidamente, como o período após a Segunda Guerra mundial (1945) e a queda do Muro de Berlim (1989), e marcado pela disputa entre um bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e outro socialista, liderado pela União Soviética–, os estadunidenses tornaram-se os principais propagadores de uma cultura anticomunista, embora não tenham sido os únicos. Para isso, valeram-se da recém-criada indústria cinematográfica, das histórias em quadrinhos e da imprensa: por meio da cultura e do entretenimento, os meios de comunicação de massas permitiram às ideias anticomunistas um alcance muito mais amplo que no passado.
O cinema, as artes e a literatura retrataram os comunistas como seres maléficos, sem alma ou coração, incapazes de amar e atuando apenas por meio de “orientações de Moscovo”.
Porém, para a construção do imaginário anticomunista, a forma como o comunismo era representado é tão (ou mais) importante quanto os canais que faziam circular as informações. O cinema, as artes e a literatura retrataram os comunistas como seres maléficos, sem alma ou coração, incapazes de amar e atuando apenas por meio de “orientações de Moscou”. Assim, a figura do “inimigo” do mundo ocidental e seus “valores”, entre eles a democracia, ganhou no período um rosto e uma personalidade. Vale destacar a ironia histórica: os argumentos anticomunistas viriam a alimentar o rompimento com a democracia em diversos regimes ocidentais capitalistas.
É importante ressaltar que muitas pessoas acreditavam, de fato, que os comunistas, tal como se via nos filmes, eram capazes das piores atrocidades. Aquilo que pode ser visto hoje como uma paranoia, uma distorção do real, era visto como uma verdade por milhões de pessoas que acreditavam – e ainda acreditam – no poder e na falta de escrúpulos dos comunistas.
Paranoia: caça às bruxas e os mitos de complô
Uma das grandes preocupações dos governos ocidentais era a capacidade de disfarce dos comunistas. Eles poderiam estar em todos os lugares, nas igrejas, na televisão, nas escolas e universidades, no campo ou infiltrados nos governos. Alguns cineastas ironizaram esse discurso, caso do diretor Stanley Kubrick, que no filme Dr. Strangelove (1964) representou o exagero e até mesmo a irracionalidade do discurso anticomunista. No filme, o general Jack Ripper acreditava que os russos haviam contaminado a água dos Estados Unidos e ordena um ataque. Por mais que o enredo retratasse uma ameaça real – a possibilidade de uma guerra nuclear entre URSS e EUA e a destruição do mundo – por outro, abordava com grande ironia a paranoia anticomunista.

Capa de um “comic book” de 1947, nos Estados Unidos, joga com um futuro onde o país é dominado por comunistas. Imagem: Wikipedia.

Porém, o anticomunismo não pode ser visto como uma manifestação política irracional.  Se os filmes retratavam o caráter maligno e ardiloso dos comunistas, na vida real o governo estadunidense também acreditava nisso. Não fortuitamente, foi criado, em 1938, o “Comitê de Atividades Antiamericanas”, que além de investigar funcionários públicos, foi para Hollywood a procura de atores e diretores supostamente comunistas.
Fazendo um paralelo com a análise do historiador Raoul Girardet, em Mitos e mitologias política¸ é possível afirmar que o “mito do complô” (que é bastante antigo na História) foi reforçado durante a Guerra Fria, agora através dos “soldados de Moscovo”. Segundo Girardet, para que um complô tenha êxito é necessário conectá-lo a elementos negativos, que nos remetam a pesadelos, animais perigosos e peçonhentos, com garras e presas, das quais é impossível escapar, ou um monstro que nos devora e nos despedaça.
No caso do complô anticomunista, o monstro em questão vestia vermelho e defendia o fim da propriedade privada. Essas questões nos levam a pensar em que medida os sentimentos podem adentrar o espaço do político e mobilizar ações bastante práticas no cotidiano social – afinal de contas,  o temor anticomunista gerou táticas de guerra, produção de manuais de combate e tortura, além do treinamento de agentes (nem sempre) secretos, com o apoio de parte da sociedade civil.

O anticomunismo: um passado ainda presente
A principal preocupação desse artigo foi lançar algumas luzes sobre o presente. Assistimos, recentemente, a prisão de jornalistas e manifestantes, ataque a espaços de arte e cultura, com livros sendo utilizados como prova de comportamentos criminosos, museus e obras de arte censuradas, invasão de universidades, prisão de reitores e professores, além da utilização cada vez mais intensa dos aparatos de violência estatal. Em que medida o ideário anticomunista justifica atos de violência?
A articulação de forças para conter o comunismo não mobilizou apenas corações e mentes, mas se refletiu na prisão, tortura e morte de comunistas, e na criação de um conjunto de leis para criminalizar essa doutrina e prender seus seguidores. Se o anticomunismo é um conjunto de ideias contra o comunismo, também se refletiu em ações, muitas delas de grande violência e que difundiram o terror e o medo. A perseguição de comunistas foi uma realidade não apenas em regimes ditatoriais, mas também nas democracias.
Não é possível afirmar que todos os agentes eram sádicos ou paranoicos, ou que toda a sociedade foi dominada pelo temor anticomunista e pela tolerância à violência, mas é impossível negar sua existência dentro da estrutura repressiva ou em diferentes lares de famílias ditas “de bem” espalhadas pelo Brasil.
Voltando nossa atenção para o presente – e ampliando nossa crítica para o jogo de forças a que estamos submetidos, vale a pena nos perguntarmos: quem será o novo inimigo do Estado? Que rosto ele terá? Poderia o imaginário anticomunista continuar justificando atos de violência no Brasil, mesmo em período democrático? Recorrer à História talvez nos ajude a responder estas e outras questões.

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02
Fev18

Portugal | E SE OS CORRÊSSEMOS TODOS À CASTANHADA?

António Garrochinho

Quentes e boas eram as castanhas assadas que se vendiam em imensas esquinas de Lisboa. A fumarada denunciava o local onde podíamos comprá-las, embrulhadas num cartucho afunilado de qualquer folha de jornal de data antiga ou nas famosas páginas amarelas das listas telefónicas já desatualizadas. Pois, só que atualmente as gerigonças que comportavam o assador, as castanhas por assar e aquelas que estavam a assar mudaram mudaram de poiso e foram para parte nenhuma. Desapareceram. Deixaram esquinas de ruas vazias daquele fumo e daquele cheiro agradável. Lá encontramos uma ou outra “fábrica ambulante” das quentes e boas castanhas mas são muito raras nesta Lisboa a modernizar-se com as refeições pobres, nocivas e rápidas. Chamam-lhe evolução. Pois. Chamem-lhe o que quiserem. Pena é que acabem com o que é bom, cheiroso e quente, como as castanhas assadas que encontrávamos quase a cada passo nesta Lisboa que mais parece terem deixado de amá-la. Avancemos.

Decerto já deram por isso. Esta é a “entrada” que antecede o Expresso Curto. Hoje da lavra de Miguel Cadete, do dito Expresso. Diretor, também. Os diretores nos jornais são mais que as mães, uns disto e outros daquilo. Foram-se as castanhas assadas e multiplicaram-se ene de vezes os diretores, e os gestores, e os advogados, e os doutores-doutores, e os licenciados que ainda não são doutores mas sim dótores… É um fartote. É a tal evolução. Adiante.

Vai daí, a propósito destes aumentos evolutivos e da extinção de tradições, como as castanhas assadas sobre rodas de uma geringonça ou carripana – que regra geral era um triciclo – também aumentou o número de corruptos e de corruptores, aumentaram os ladrões e afins de colarinho branco. Alguns ou até todos doutores e dótores da mula-ruça. Nada como andar na universidade para estudar cientificamente como parasitar a sociedade e pô-la exangue com a locupletação de milhares e milhões em notas altaneiras que quase só chegam às mãos dos ditos VIPs, popularmente chamados de vigaristas, trafulhas, filhos desta e daquela ou de epítetos muito piores. São os tempos que mudam, é a chamada evolução. Para esses os tempos mudaram mas para os que produzem, em fábricas, em obras, nas várias atividades exploradoras do sangue, suor e lágrimas, não mudou o tempo nem as vontades de extinguir a penúria de milhões em Portugal e de muitos mais milhares de milhões em todo o mundo.

Tenham um resto de bom dia. Bom almoço, para os que têm o privilégio de almoçar, em chiquérrimos restaurantes ou prantados frente a mesas fartas, estragando comida que dava um jeitão aos que quase nada têm. Nisso também quase nada mudou. Na realidade acontece mesmo assim, não só em Portugal mas sim por todo o mundo.

Sigam para o Expresso Curto da lavra do senhor diretor jornalista (talvez). E aguentem sempre, se continuarem a não reagir a esta bagunça orquestrada por imensos vigaristas de “canudo”. Certo é que não são assim todos eles mas os que existem são demasiados. E de vez em quando lá vem à tona qualquer coisinha… Fizz, Lex, esses são os de agora. Mas já houve e há tantos… Impunes, condecorados por Cavaco Silva (p.ex.), de olhos em bico a olharem para os seus umbigos, arquitetando novas tramóias. Uns ascos aperaltados com canudos autênticos ou que conseguiram numa qualquer caixa da Farinha Amparo. 

E se os corressemos à castanhada? 

paginaglobal.blogspot.pt
02
Fev18

Roménia: "Suspeitos vão ter que ser informados das operações anticorrupção"

António Garrochinho



Enquanto os protestos engrossam as ruas da Roménia, uma destacada senadora do partido social democrata no poder declarou que a principal procuradora anticorrupção do país, Laura Kovesi, tem que deixar o cargo.


Enquanto os protestos engrossam as ruas da Roménia, uma destacada senadora do Partido Social Democrata, no poder, declarou que a principal procuradora anticorrupção do país, Laura Kovesi, tem que deixar o cargo. Kovesi lidera o diretório nacional anticorrupção encarregue de investigar altas individualidades.

A euronews perguntou a Laura Kovesi porque é contra a reforma do sistema judicial em curso.

"Se estas propostas forem implementadas, não poderemos combater de forma eficiente a corrupção e a nossa atividade ficará seriamente afetada. Estas alterações ampliam a autoridade do ministério da Justiça sobre os procuradores e eliminam algumas ferramentas de investigação muito úteis", explica Laura Kovesi.

A coligação no poder, liderada pelos sociais-democratas, nega qualquer má conduta. Mas a União Europeia, bem como o conselho da Europa, exprimiram preocupações sobre a reforma judicial.

Até que ponto as alterações previstas vão prejudicar o trabalho de quem investiga políticos corruptos apanhados em flagrante?

"Habitualmente nós organizamos operações para apanhá-los em flagrante, mas agora, com estas propostas, já não podemos fazer isso mais - porque temos que anunciar ao visado... Por isso, nesta situação, o procurador vai ter que telefonar ao suspeito - olá, temos uma queixa contra si e queremos apanhá-lo em flagrante. Pode vir às nossas instalações participar nos nossos interrogatórios e atividades... Depois disso é óbvio que não o podemos apanhar", diz.

O Tribunal Constitucional da Roménia eliminou alguns detalhes das leis judiciais votadas em meados de dezembro. Mas existem receios de que a reforma do Código do Processo Penal inflame ainda mais os protestos em todo o país.

VÍDEO




pt.euronews.com
02
Fev18

«A defesa dos direitos dos trabalhadores vai muito para lá da alteração da legislação laboral»

António Garrochinho


Tribun
VÍDEO

No debate quinzenal na Assembleia da República, Jerónimo de Sousa questionou o governo sobre as consequências negativas das privatizações dos CTT e da Altice (00:01) e também sobre as alterações ao código de trabalho que o PCP tem apresentado na Assembleia da República, e que já amanhã irá discutir um novo projecto de lei (2:32)


abrildenovomagazine.wordpress.com
02
Fev18

MORDOMOS DA NATO

António Garrochinho




Resultado da imagem para OTAN

Jorge Cadima   

Nunca é demais recordar que o actual governo é “um governo do PS”, com o essencial das opções de fundo que identificam o PS como um dos partidos da política de direita. 

Esta situação, é certo, ficaria mais à vista em todas as áreas se não se tratasse de um governo minoritário. Mas em política externa e de defesa, como é tradicional, não é só a política de direita que se exprime: é também a direita da política.



Na véspera da visita a Portugal do Secretário-Geral da NATO, os Ministros da Defesa e Negócios Estrangeiros publicaram um artigo no Público (25.1.18): uma lamentável posição de submissão e seguidismo, contrária à Constituição de Abril. 

Conseguem, num mesmo parágrafo, recordar que Portugal é membro fundador da NATO (sem lembrar que foi no tempo do fascismo) e afirmar que «a NATO é, pela história e pelo presente, uma parcela marcante da nossa forma de conceber a Defesa Nacional, integrando o seu código genético». 

Os genes do passado andam por aí.
O artigo junta a sigla NATO à palavra «segurança». Refere com orgulho que «Portugal é dos maiores contribuintes» para a missão NATO no Afeganistão «com quase 200 militares envolvidos». Mas o que é o Afeganistão ocupado, após décadas de subversão e 17 anos de guerra EUA/NATO? 

No sábado anterior ao artigo, um ataque talibã matou 22 pessoas e no fim-de-semana seguinte um veículo-bomba matou 100. O New York Times (27.1.18) citando a ONU, diz que ao longo de 2017 morreram em média dez civis por dia, sem recordar que muitos morreram em ataques aéreos dos EUA/NATO. 

A agência da ONU para os Refugiados (UNHCR) fala em cerca de 2,5 milhões de refugiados afegãos, só no Paquistão e Irão. Segundo outra agência da ONU, a UNODC, a produção de ópio, quase totalmente erradicada no ano anterior à invasão, disparou após 2001, tendo em 2017 a área de cultivo de papoilas aumentado 63% e a produção de ópio 87%. 

Papoilas afegãs produzem 90% da heroína mundial e o Afeganistão é o país com a maior percentagem de heroinómanos (BBC, 11.4.13). Nos EUA os utilizadores de heroína aumentaram de 189 mil em 2001 para 4,5 milhões hoje (Chossudovsky, globalresearch.ca, 27.1.18). O jornalista A. Vltchek mostra campos de papoilas junto à base dos EUA em Bagram (21stcenturywire.com, 5.8.17). 

São antigas e bem documentadas as ligações entre os serviços secretos dos EUA e o tráfico de drogas. Quando o artigo diz que «somos […] produtores de paz e segurança […] em tantas outras partes do globo», citando concretamente o Afeganistão, é disto que fala.
Todas as guerras NATO geraram tragédias semelhantes, com um rastro de destruição dos Balcãs à Líbia e Médio Oriente. 
Os ministros anunciam que no «futuro próximo» Portugal irá «reforçar as capacidades, nomeadamente através da aquisição de novas aeronaves de transporte médio e do reforço da nossa capacidade naval» no âmbito da NATO. 

Entretanto, adia-se investimentos no SNS, transportes públicos ou na prevenção e combate a incêndios. 
Defendem «que a NATO se mostre cada vez mais preparada para a sua vocação a 360 graus», ou seja, o auto-proclamado ‘direito’ a intervir em toda a parte e sob qualquer pretexto. Mas a NATO é uma ferramenta criminosa de guerra, destruição, mentira e agressão imperialista. 
Que se acha acima da lei. 
Querem comprometer Portugal em futuras guerras contra o Irão, a RPD Coreia ou mesmo a Rússia e a China, decididas pelos EUA/Trump? Com que consequências? Para quê?
Não é apenas em matéria de UE que este governo não rompe com políticas contrárias aos interesses do povo e do País. Tal como Tony Blair, há quem no Governo PS queira ser dos mais fiéis mordomos da NATO, agora sob a tutela Trump. 

É uma tradição antiga nas nossas classes dirigentes, trocar a soberania por um prato de lentilhas. Mesmo que seja, como em 1580, para se submeter a potências em declínio. 

Em declínio, mas criminosas e perigosas.


*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2305, 1.02.2018


www.odiario.info
02
Fev18

Maioria dos fornecedores da Autoeuropa ainda não chegou a acordo sobre horários

António Garrochinho


Os trabalhadores das empresas fornecedoras da fábrica de Palmela também vão trabalhar ao sábado. Até agora, só um terço conseguiu um entendimento com os funcionários.
O trabalho obrigatório aos sábados na Autoeuropa está a provocar tensões também nas empresas fornecedoras da fábrica de Palmela. O Jornal de Negócios revela que das 19 empresas fornecedoras, apenas cinco chegaram a acordo, para os novos horários aos sábados, que começa a ser seguido este sábado na Autoeuropa.
O coordenador das comissões de trabalhadores das empresas do parque industrial da Autoeuropa, Daniel Bernardino, salienta que os trabalhadores até admitem trabalhar todos os sábados, mas querem ser compensados de forma extraordinária.
"Há empresas que têm garantido o trabalho extraordinário, outras que trabalham cinco dias por semana num esquema de rotatividade de folgas. Neste momento, cerca de dois terços da empresa não conseguiram ainda consenso".
Em entrevista à TSF, Daniel Bernardino lembra que os acordos alcançados dizem respeito aos horários de trabalho até agosto. O responsável das comissões de trabalhadores confessa que está ainda mais preocupado com o que vai acontecer a partir dessa altura.
Os novos horários na Autoeuropa entram em vigor este sábado, com a obrigatoriedade do trabalho aos sábados.
As 19 empresas do parque industrial empregam mais de 8 mil trabalhadores.

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António Garrochinho

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