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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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23
Fev18

23 de Fevereiro de 1916: Primeira Guerra Mundial. Portugal apreende os navios alemães nos portos portugueses, para "serem colocados ao serviço da causa luso-britânica".

António Garrochinho


A salva de 21 tiros dada no rio Tejo pelo navio Vasco da Gama, da Marinha de Guerra, marcou o final da tarde de 23 de Fevereiro de 1916, altura em que Portugal tomou posse dos 38 navios alemães ancorados em Lisboa. O primeiro foi o Santa Úrsula, depois rebaptizado de Estremadura, com 3771 toneladas brutas. O acto, com pormenores beligerantes, foi seguido depois em outros portos, e conduziu à declaração de guerra por parte da Alemanha.

O primeiro passo para o envolvimento oficial de Portugal na I Guerra Mundial, envolvendo num conflito directo com as forças do Kaiser e com o Império Austro-Húngaro, tinha sido dado no início de Fevereiro de 1916. No dia sete desse mês, o Governo republicano publicou uma lei onde, entre outros aspectos, ficava estabelecido que poderia requisitar, “em qualquer ocasião”, as “matérias-primas e os meios de transporte que forem indispensáveis à defesa ou economia nacional, que se encontrem nos domínios da República”.

No dia 23 foi dado o segundo passo, com a entrada a bordo nos navios alemães ancorados em Lisboa. Na mão, os emissários portugueses levavam uma carta pró-forma de notificação da requisição dos navios, com base numa lei publicada nesse mesmo dia. Esta alegava que a requisição se tornara necessária devido à falta de navios para transporte marítimo, o que dificultava o acesso do país a muitos produtos indispensáveis para a subsistência da população (facto que já dera origem a vários distúrbios em diversas localidades). De acordo com nova lei, que conta com a assinatura de Bernardino Machado (presidente) e Afonso Costa (chefe do Governo), caberia ao Ministério da Marinha avaliar os navios e todos os seus pertences.

Ao todo, foram apreendidos 72 navios e respectivas cargas, espalhados por todos os territórios portugueses, como Angola e Moçambique , mas com destaque para Lisboa (onde estavam mais de metade). No Porto, por exemplo, estava apenas uma embarcação, o Vesta. Diversos vapores precisaram de reparações, já que, embora sem incidentes, o processo de requisição confrontou-se com peças escondidas ou danificadas pelas tripulações alemãs.

As relações comerciais entre Portugal e a Alemanha tinham-se intensificado no virar do século, à medida que o Kaiser tentava ganhar espaço no palco europeu e mundial.

Em 1910, dois anos após a assinatura de um acordo comercial entre os dois países, os alemães ultrapassam os ingleses. Nesse ano, conforme destaca Sacuntala de Miranda, “para 906 navios britânicos, com tonelagem de 1.594.969, entram em Portugal 723 navios alemães, com tonelagem de 1.598.449”. Por essa altura, a Alemanha tinha doze linhas de navegação comercial a fazer escala regular em Lisboa, e vários cidadãos alemães viviam na capital portuguesa e na cidade do Porto. 

Quando se dá a requisição dos navios, que tinham ficado estacionados nos portos portugueses com o eclodir da guerra, a decisão já estava mais do que tomada ao nível do governo de Afonso Costa, em articulação com os ingleses. Era só uma questão de saber quando é que se avançava. Publicamente, numa entrevista ao jornal O Século, a 10 de Fevereiro, o deputado Leote do Rego defende de forma vincada o “aproveitamento temporário” dos vapores alemães. “O governo não deve hesitar em fazê-lo, embora preze aos germanófilos, aos seus falsos medos de zeppelins, de complicações, de açoites de qualquer Von, medos que se escondem atrás das lamúrias de certos loiros Falstaffs, sobre a sorte dos pobres soldadinhos, que terão de deixar o amanho das suas vinhas.”

Os receios ingleses

O governo de Afonso Costa, formado nos finais de 1915, queria entrar no conflito ao lado dos aliados, promovendo assim o regime republicano e protegendo os territórios em África. A falta de navios por parte dos ingleses acabou por proporcionar essa intervenção. O historiador Luís Alves de Fraga refere que, após várias negociações, o gabinete de guerra britânico invocou, a 16 de Fevereiro, de modo formal, a aliança com Portugal para requisitar os navios alemães.

Existiam no entanto, vários receios por parte do gabinete de guerra britânico. Num relatório classificado como “secreto”, datado de dia 12 de Fevereiro e onde se analisam as possíveis consequências da iniciativa portuguesa, refere-se ser provável que tal acto justifique a declaração de guerra por parte da Alemanha. Esta, por sua vez, poderia levar a confrontos em Moçambique (como aconteceu) mas poderia também levar Espanha a apoiar a Alemanha e o Império Austro-Húngaro.

O clero espanhol, constatava o relatório, era fortemente pró-alemão, e esta poderia ser uma ocasião para a Espanha tentar voltar a deter o domínio da Península Ibérica. “Se o exército espanhol é mau, o português é certamente muito pior”, sublinhava-se, realçando que, com a requisição dos navios, a Inglaterra ficava moralmente responsável por apoiar Portugal, o que poderia implicar o envio de “uma considerável força expedicionária para Portugal”, numa nova frente de combate.

A requisição dos navios poderia “envolver a Grã-Bretanha em pesadas responsabilidades militares”, e proporcionar a Portugal a justificação para pedir empréstimos de grande dimensão. “Se os navios em questão são tão essenciais para o esforço de guerra de modo a justificar o preço que poderá ter de ser pago é uma questão para ser decidida pelo governo de sua majestade”. A Espanha acabou por se manter neutral, aliviando assim o nível de risco.

A falta de navios de transporte era encarada como um grave problema pelo lado inglês. Um outro documento do gabinete de guerra, este classificado de “muito secreto” e datado de 11 de Fevereiro, alertava para o facto de o Almirantado ter informado que havia sérios atrasos no programa de construção naval, devido, nomeadamente, à falta de pessoal qualificado. “Tendo em conta a actual insuficiência de tonelagem disponível e a probabilidade de maior actividade por parte dos submarinos inimigos no curto prazo”, o gabinete de guerra defende que a resolução deste problema é de “importância primordial”.

Conforme refere Luís Alves de Fraga, a apreensão dos navios alemães fornece a Portugal uma tonelagem bruta superior à da marinha mercante nacional. No entanto, o acordo com a Inglaterra pressupunha a passagem para os britânicos da maior parte dos navios, embora navegassem com bandeira portuguesa. Foi, aliás, a passagem de muitos das embarcações para as mãos inglesas que levou Portugal ao estado de guerra com a Alemanha. A 2 de Março de 1916, Sidónio Pais, então responsável da República portuguesa junto do governo do Kaiser, enviou um telegrama para Lisboa onde sustentava que ainda se podia chegar a uma solução pacífica caso fosse “assegurado que navios não se destinam a inimigos da Alemanha”. Uma semana depois, no dia 9, o ministro plenipotenciário alemão em Portugal, o barão Otto Karl Von Rosen, entregou finalmente a declaração de guerra do seu país.

Diferentes destinos

Depois de ter cedido os navios à Grã-Bretanha, como estava estipulado, à disposição do governo republicano ficaram embarcações que somavam 85.208 toneladas, o equivalente a 35% do total. Em troca, Portugal entraria na Guerra com o apoio inglês, o que significava apoiar a formação e manutenção de um corpo expedicionário e um empréstimo financeiro, 25 anos após a bancarrota do país.

Vários dos navios apreendidos sofreram um destino algo irónico, afundados por submarinos alemães. Foi o caso do Leça e do Cascais, alvos, em Dezembro de 1916, dos torpedos lançados pelo UC 18, comandado por Wilhelm Kiel, perto da costa francesa.

Entre os navios que acabaram por ficar em mãos portuguesas houve destinos diversos. Alguns, poucos, serviram de apoio à Armada portuguesa, como o cruzador auxiliar Gil Eanes. Vários entraram para a empresa de Transportes Marítimos do Estado. Há, ainda, casos especiais, como o do Flores, que após ter sido devolvido pelos ingleses foi utilizado pela Marinha Portuguesa como navio-escola com o nome de Sagres (o actual navio foi construído também na Alemanha, mas em 1937).

Após a declaração de guerra da Alemanha o Governo republicano muda, inevitavelmente, de tom. A 20 de Abril são banidos os súbditos alemães de ambos os sexos, aos quais são dados cinco dias para saírem do país. A excepção são os homens entre 16 e 45 anos, que, para não poderem participar no esforço de guerra, “serão conduzidos para o lugar que for designado pelo Governo”. Ou seja, são aprisionados.

Proíbe-se todo o comércio com o inimigo e inicia-se uma intervenção sobre os bens dos cidadãos tidos como súbditos da Alemanha. Quanto à carga dos navios apreendidos, estabelece-se que “as mercadorias sujeitas a deterioração, ou de difícil guarda e conservação, podem ser vendidas em hasta pública por intermédio das alfândegas”, com o respectivo encaixe financeiro a ficar depositado na Caixa Geral de Depósitos (CGD).

Embora fosse difícil perceber quem eram os verdadeiros proprietários das mercadorias (se alemães ou se estas tinham sido pagas por um outro país, aliado ou neutral), foram vendidos diversos produtos que estavam nos navios, como aveia, sacas de café, placas fotográficas, barricas com anilina ou cimento, tabaco e tanques com ferro galvanizado.

Pelo meio, houve uma carga mais preciosa: a bordo do Cheruskia (depois Leixões), um dos navios apreendidos em Lisboa, estavam diversas peças arqueológicas de Assur, antiga Mesopotâmia, como uma estátua suméria e pequenas placas com inscrições cuneiformes e um cofre com mais de 3000 anos. O espólio, reencaminhado para a Universidade do Porto, era suficientemente importante para, após o final da guerra, em 1926, as autoridades alemãs o quererem reaver. Em troca, deram cerca de 600 várias outras peças de valor histórico, com destaque para o espólio egípcio. Hoje, parte dessas peças estão expostas no Museu Natural da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.

O ataque aos “bens dos inimigos”

A necessidade de organizar o que eram os bens de cidadãos residentes em Portugal considerados agora adversários, levou, a 4 de Maio de 1917, à criação da Intendência dos bens dos inimigos. A este organismo, que funcionou no âmbito do Ministério das Finanças, cabia “superintender a administração dos bens arrolados” e “promover a liquidação dos bens dos inimigos sempre que dela não resulte inconveniente”.

O processo foi tudo menos simples e rápido e marcou fortemente, pela negativa, diversas famílias enraizadas no país, algumas das quais com grande peso na sociedade portuguesa, como os Burmester e os d’Orey. Neste último caso, os membros da família eram descendentes de um exilado alemão que se instalara em Portugal 65 anos antes. Logo no dia em que foi publicada a lei que estabeleceu quem era considerado súbdito inimigo, três membros da família d’Orey, Rui, Waldemar e Guilherme (irmãos), apresentaram, como refere Maria João da Câmara, autora de um livro sobre os Orey, um requerimento no Ministério dos Negócios Estrangeiros no qual reafirmam a nacionalidade portuguesa. No entanto, não há resposta, e têm de sair do país. Estes responsáveis pela empresa de transportes de pessoas e mercadorias, que estavam ligados também ao comércio de ferro, “vêem-se obrigados a partir para Espanha, a 10 de Maio de 1916, rumo a Pontevedra”. A firma, que mantém a sua actividade, fica então nas mãos de um depositário-administrador, José Augusto Prestes, ficando José Antunes dos Santos como gerente.

Um documento da Intendência dos bens dos inimigos, cujo arquivo está hoje na Torre do Tombo (mas ainda em fase de tratamento), demonstra que, no início de Junho, Waldemar d’Orey e outro membro da família entregam um pedido de subsídios de alimento. A análise do valor a atribuir ficava a cargo de José Augusto Prestes. Pelo meio, e segundo Maria João da Câmara (que é também bisneta do fundador da firma), José Antunes dos Santos tentava “adquirir a empresa através de manobras pouco edificantes”.

Após uma recolha de assinaturas onde se pedia a revogação da expulsão dos membros desta família, “com dezenas de carimbos de firmas lisboetas”, a interdição acaba por ser retirada a 20 de Outubro. É o regresso dos Orey, cerca de seis meses depois. Diferente destino tiveram várias outras empresas.

Evitar especulações

Ao todo, foram abertas 1148 cadernetas individuais na CGD, ligadas a contas bancárias de pessoas identificadas como inimigas do Estado (incluindo pessoas e empresas portuguesas que tinham relações próximas com os indivíduos referenciados pelas autoridades). Nessas contas constam valores em numerário, títulos e objectos preciosos arrolados e depositados no banco público pelos respectivos depositários-administradores. No arquivo da Intendência dos bens dos inimigos estão também cerca de 890 processos ligados aos arrolamentos dos bens. Entre as empresas e instituições afectadas, além da família Burmester, estão o Clube Alemão de Lisboa, o Deutsche Bank, a Igreja Evangélica Alemã, a Bayer, a Siemens, o Colégio Alemão e o Consulado Alemão, apenas para dar alguns exemplos. São vendidos móveis e imóveis, além de diversos produtos (como sal, vinhos em pipas e garrafas, cortiça, produtos químicos, couros e automóveis). Aos antigos donos eram devolvidos objectos como roupas, retratos e quadros de família.

As hastas públicas devem ter sido aproveitadas por algumas pessoas em negócios pouco claros, já que, no final de Setembro de 1917, são dadas indicações para que uma venda de activos de uma empresa fosse feita em bloco para evitar conluios e especulações que resultassem “na adjudicação dos bens do inimigo por preço diminuto ou muito inferior ao seu valor”.

Pelo meio houve casos em que os antigos proprietários tentaram passar a tempo a propriedade, no papel, para cidadãos não conotados com o inimigo, colocando assim os seus bens a salvo. No arquivo da Intendência dos bens inimigos é relatado um caso, da firma Wimmer, na qual, segundo o documento enviado ao Tribunal do Comércio de Lisboa, se recorreu a “verdadeiras manigâncias para simular passagens de negócios a outras entidades”.

Neste processo, nem a CUF, um dos maiores grupos empresariais naquela época, ficou imune. A Inglaterra suspeitava das simpatias alemãs de Alfredo da Silva, e já tinha congelado as importações de produtos do patrão da CUF. A pressão aumentou com a declaração de guerra da Alemanha. Foi exigido o afastamento do alemão Martin Weinstein, sócio e amigo de longa data de Alfredo da Silva. Weinstein vende as suas acções a Alfredo da Silva e parte para Madrid onde virá a falecer.

A contra-gosto, o empresário português acede a uma análise do seu grupo, que conta com a participação do presidente da Câmara do Comércio Inglês, Garland Jayne. No dia 10 de Março de 1916, fica inscrito nas actas da empresa que “o Sr. Garland Jayne (...) disse que quer pela inspecção do perito contabilista, quer pelo que ele estava vendo agora, reconhecia que na CUF havia e há sempre a maior correcção, não tendo ela feito coisa alguma contrária aos interesses da Grã-Bretanha e dos seus aliados”. O perigo fora afastado.

Pagar no futuro

Pesando apenas as questões económicas do impacto e do envolvimento de Portugal na 1ª Guerra Mundial, fica evidente que as contas do país ficaram a perder.

Com a requisição dos navios alemães ficou aberta uma linha de crédito inglesa para o esforço de guerra, cuja soma, em 1918, segundo o historiador António José Telo, era de 15,6 milhões de libras. Sete anos depois, esse valor subira para 22,7 milhões de libras, devido aos juros acumulados e ausência de amortizações. Ou seja, um aumento de 45,5%.

Os encargos começaram logo em 1914-1915, com a inscrição de despesas extraordinárias para “material de preparação para a guerra”. O Orçamento do Estado para 1916-1917, datado de 26 de Maio de 1916, refere a abertura de uma conta especial, no Ministério das Finanças, de 75 milhões de escudos. Esta, denominada de “despesas excepcionais resultantes da guerra”, era a conta à qual seriam deduzidas “todas as despesas de carácter militar, económico e financeiro, não compreendidas no orçamento normal do Estado”. As despesas ordinárias para 1916-1917 estimadas para a Metrópole eram de 77,7 milhões de escudos. A dívida pública era então de 30,6 milhões. Dos 75 milhões disponíveis para a guerra, as principais fatias cabiam ao Ministério da Guerra (40 milhões), ao Ministério da Marinha (12 milhões) e ao Ministério das Colónias (10 milhões).

No orçamento do ano seguinte (1917-1918), datado de 6 de Setembro de 1917, as “despesas excepcionais”, “durante o estado de guerra e por motivo de guerra”, eram já de 150 milhões de escudos, cabendo ao Ministério da Guerra 100 milhões. As colónias ficavam agora com 20 milhões e a Marinha com outros 8 milhões (parte dos quais seria para pagar o início da construção de três submarinos). Para tal, o governo ficava autorizado a realizar “empréstimos e outras operações de crédito”.

Em 1918-1919 (já com o conflito terminado), o valor das despesas extraordinárias com a guerra é de 100 milhões de escudos. Nesta altura era já Sidónio Pais quem governava, ficando o Ministério da Guerra com 59,6 milhões, o das Colónias com 15 milhões e, em terceiro lugar, no lugar da Marinha, vinha o Ministério das Finanças, com 10,3 milhões de escudos. Entre as suas despesas inscritas estava a contabilização dos “juros e amortizações da dívida de guerra”. A dívida pública era agora contabilizada em 31,6 milhões de escudos, pouco mais do que em 1916-1917. Que as contas ligadas à guerra ficaram algo descontroladas é evidenciado por uma lei de 7 de Janeiro de 1924, onde se estipulava que, a partir da publicação desse decreto, passava a ser “absolutamente proibido requisitar ao Ministério das Finanças (...) quaisquer importâncias em conta da verba descrita no Orçamento do Estado, sob a rubrica ‘despesas excepcionais resultantes da guerra’”. De acordo com a nova lei, ficavam “civil e criminalmente responsáveis os organismos do Estado e respectivos funcionários que procederem em contrário”.

As contas de Salazar

Em 1926, oito anos depois do fim da guerra, ainda foi aberto “um crédito especial” de 2,2 milhões de escudos para liquidar “todas as despesas excepcionais” anteriores ao ano económico de 1924-1925. Já em Março de 1927, após a queda do regime republicano (na sequência do golpe militar de 28 de Maio de 1926), e de acordo com um outro decreto, faz-se a “consolidação” nas contas públicas da dívida de guerra contraída por Portugal junto da Grã-Bretanha.

Era, refere-se, “necessário proceder às indispensáveis operações de escrita a fim de se transferir da conta ‘operações de tesouraria’ para a competente conta de receita e despesa, inscrevendo-se, consequentemente, no Orçamento Geral do Estado, em receita, a soma a consolidar avaliada no citado acordo de 20.133.589 libras”. Feito o câmbio, eram 90,6 milhões de escudos (numa conta que não sugere a inclusão de juros). Ao Ministério das Finanças era aberto um crédito de 11,8 milhões de escudos, soma que ficou inscrita sob uma nova rubrica: “Dívida de guerra de Portugal à Grã-Bretanha, primeira prestação da anuidade de 1927”. O empréstimo ia demorar a ser pago.

Entre 1919-1920 e 1920-1921 a dívida pública mais do que duplicou, chegando ao redor dos 50 milhões de escudos. Em 1921-22 já era superior a 100 milhões, chegando a 1928-1929 acima do patamar dos 400 milhões de escudos. Nem tudo, obviamente, foi por causa do envolvimento directo na guerra (há todo o ambiente económico derivado do conflito mundial, como o aumento de preços e diferenças cambiais, com destaque para os produtos alimentares, num ambiente de crise económica e financeira) mas este está certamente incluído nas contas da derrapagem.

No final de 1939, quando a Europa vivia o início de uma 2ª Guerra Mundial, e certamente por causa disso, Salazar manda os organismos públicos fazerem um levantamento urgente sobre as repercussões da guerra de 1914-1918 nas receitas e despesas do Estado. A análise feita pela Direcção Geral da Contabilidade Pública refere que o conflito “pouco influenciou as receitas do Estado”, e, num comentário critico, sublinha que “só desde princípios de 1918 começaram a ser publicados vários diplomas com a intenção especial de ocorrer às excessivas despesas do Estado que de ano para ano vinham aumentando em sensível progressão”.

Nesse ano, tomam-se medidas como a subida dos direitos sobre alguns tipos de tabacos e imposto de selo, “aumentam-se em 5% as taxas do imposto de rendimento sob os vencimentos dos funcionários públicos”, e é instituído “o imposto sobre os lucros excepcionais derivados do estado de guerra” do qual “não consta, porém”, execução em contas públicas.

Os organismos públicos do Estado Novo destacam que após ter sido “declarada a guerra entre Portugal e a Alemanha, em 1916, é que começam verdadeiramente as despesas excepcionais resultantes da guerra e se começa a esboçar o agravamento do custo de vida”. Ao mesmo tempo, não terá havido a preocupação em “procurar aumentar as receitas públicas para fazer face ao aumento das despesas públicas”.

A ideia geral, refere-se, é que depois do fim da guerra os preços voltariam a estabelecer-se tal como antes de 1914. No entanto, é no início do ano económico de 1918-19 que “as despesas públicas começam propriamente a sofrer a influência da guerra”. Em 1919-1920, as receitas do Estado ascendem a 217,2 milhões de escudos, dos quais 8,3 milhões são receitas extraordinárias derivadas do conflito. Já as despesas somam 315,8 milhões de escudos, dos quais 87,8 milhões são encargos da guerra devidos pelos ministérios da Guerra e das Finanças. 

As últimas indemnizações

Na década de 1930 já os cidadãos alemães tinham recebido os “bens imobiliários e créditos não cobrados que se achavam sequestrados e arrolados”. No entanto, faltava ainda pagar diversas indemnizações a cidadãos portugueses lesados pelo conflito.

Um advogado, Levy Marques da Costa, publica uma petição em Junho de 1934 sobre os “sinistrados civis portugueses da Grande Guerra” (como em Angola e Moçambique), que depois irá remeter a Salazar, e onde dá conta que Portugal já recebera da Alemanha 2,3 milhões de escudos (embora as indemnizações ficassem bastante abaixo do esperado por Portugal). Aos sinistrados que ainda não tinham sido ressarcidos o Estado devia cerca de 22,6 milhões de escudos. “Os encargos da guerra, qualquer que seja a sua natureza, que não puderem ser pagos pelas indemnizações obtidas do inimigo, devem ser suportados por toda a Nação”, defende Levy Marques da Costa.

Finalmente, no Verão de 1937, já com a guerra civil a atravessar Espanha, é publicada uma lista com mais de 300 nomes de pessoas e entidades, civis e militares (ou seus familiares), com o valor da respectiva indemnização a ser paga. É o caso, por exemplo, de Francisco Marques Vieira, residente na vila de Chibia (sul de Angola, perto de Lubango) e que foi um dos vários civis afectados por “prejuízos materiais causados pelo combate de Naulila, e conjuntamente pela subsequente revolta indígena”. Duas décadas depois da intervenção militar de Portugal na I Guerra Mundial, as contas ainda estavam a ser fechadas.

Fonte: Público

O vapor “Cisne”, junto de um vapor alemão, conduzindo as forças da marinha que tomaram posse dos navios alemães, Março de 1916 ?


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23
Fev18

23 de Fevereiro de 1987: Morre o cantor e compositor Zeca Afonso

António Garrochinho


Poeta, cantor e compositor, José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos nasceu a 2 de Agosto de 1929, em Aveiro,e faleceu a 23 de Fevereiro de 1987, em Setúbal. Viveu até aos três anos na cidade onde nasceu, tendo, em 1932,viajado para Angola onde passou a viver com os pais e irmãos que aí já se encontravam. Terá sido aqui que o poeta criou uma relação estreita com a Natureza e sobretudo com África que, mais tarde, se  reflectiria em muitos dos seus trabalhos.


Regressado a Portugal, depois de uma breve passagem também por Moçambique, José Afonso foi viver para casa de familiares em Belmonte, onde completou o Ensino Primário. Estudou, já em Coimbra, no liceu D. João III e ingressou, depois, no curso de Ciências Histórico-Filosóficas da Faculdade de Letras daquela cidade, tornando-se notado pelas suas interpretações do fado típico coimbrão - não apenas pela qualidade da sua voz mas pela originalidade que emprestava às interpretações.


Em 1955, iniciou uma pequena carreira como professor do Ensino Secundário e  leccionou em liceus e colégios de locais tão variados como Mangualde, Aljustrel, Lagos, Faro e Alcobaça. Seis anos mais tarde, partiu para Moçambique onde voltaria a dar aulas. De volta ao seu país, em 1967, conseguiu uma colocação como professor mas, ao ser expulso do Ensino por incompatilidades ideológicas face ao regime ditatorial vigente, começou a dedicar-se mais à música e, consequentemente, a gravações mais regulares. 


A sua formação musical integrou um processo global de  actualização temática e musical da canção e fado de Coimbra. Foi assim que o cancioneiro de Zeca Afonso recriou temas folclóricos e até infantis, reescrevendo formas tradicionais como a "Canção de Embalar", evocando mesmo, neste retomar das mais puras raízes culturais portuguesas, o ambiente lírico dos cancioneiros primitivos (cf. "Cantiga do Monte"), ao mesmo tempo que introduziu no texto temas resultantes de um compromisso histórico, denunciando situações de miséria social emoral (os meninos pobres, a fome no Alentejo, a ausência de liberdade) e cimentando a crença numa utopia concentrada no anseio de "Um novo dia" ("Menino do Bairro Negro").


Reagindo contra a inutilidade de "cantar o cor-de-rosa e o bonitinho, muito em voga nas nossas composições radiofónicas e no nosso music-hall de exportação", partiu da convicção de que "Se lhe déssemos uma certa dignidade e lhe atribuíssemos, pela urgência dos temas tratados, um mínimo de valor educativo, conseguiríamos talvez fabricar um novo tipo de canção cuja actualização poderia repercutir-se no espírito narcotizado do público,molestando-lhe a consciência adormecida em vez de o distrair." ("Notas" de José Afonso in Cantares, p. 82).


Canções decoradas por várias gerações de portugueses, filhas da tradição e incorporando, por seu turno, a tradição cultural portuguesa, a maior parte dos temas de Zeca Afonso integram, como voz de resistência mas também como voz pura brotando das raízes do ser português, o imaginário de um povo que durante a ditadura decorou e entoou intimamente os versos de revolta de "Vampiros" ou de "A Morte Saiu à Rua", ou que fez de"Grândola, Vila Morena" o seu hino de utopia e libertação.


Menos equívoca, no pós-25 de  Abril, mas animada pelo mesmo ímpeto de reivindicação de justiça e de apelo à fraternidade, a sua canção, no que perde por vezes de subtil metaforização imposta pela escrita sob censura,ganha em força e engagement, na batalha contra novos fantasmas da alienação humana como o imperialismo, a CIA, o fascismo brasileiro, o novo colonialismo de África, o individualismo europeu. Neste alento, as Quadras Populares(1980) constituem uma verdadeira miscelânea sobre os novos desconcertos do mundo, as suas novas e renovadas formas de opressão, enumerando uma por uma as iniquidades, disparates e esperanças frustradas da sociedade saída da revolução de  Abril, aspirando, em conclusão, a uma revolução ainda não cumprida ou ainda por fazer.


Apesar de galardoado por três vezes consecutivas (1969, 1970 e 1971) com um prémio oficial, a sua produção viria a ser banida dos meios de comunicação, dado o seu conteúdo indesejável para o regime; por essa mesma ordem de razões - talvez mais do que pela inovação musical -, a sua popularidade viria a crescer após a reimplantação da democracia.


De toda a sua discografia, destacam-se os seguintes álbuns: Balada do outono(1960), Baladas de Coimbra(1962),Baladas e Canções(1964), Cantares de Andarilho(1968), Traz outro Amigo Também(1970), Venham mais Cinco(1973), Coro dos Tribunais(1974), Grândola, Vila Morena(1974), Enquanto há Força(1978), Como se fora seu Filho(1983) e Galinhas do Mato(1985).

José Afonso. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013.
wikipedia (Imagem)






Ficheiro:José Afonso - Monumento em Grandola1.JPG

VÍDEOS





23
Fev18

À espera de um Godot, que não lhes virá garantir a salvação

António Garrochinho


A votação para líder parlamentar do PSD, que correspondeu a uma verdadeira humilhação para o eleito e para o novo presidente do partido, vem ao encontro da tese relativa a uma expetável quebra nas legislativas de 2019, que tornem transitória a atual liderança. Mas a crise no PSD promete ser duradoura e prolongar-se pela próxima década adentro, se é que não implicará o seu fracionamento, já que Santana Lopes poderá sempre resgatar do sótão a velha ideia de um Partido dito Liberal apenas feito para satisfação do seu ego.
Compare-se a situação atual com a de há dez anos atrás, quando a crise financeira começava a dar sinais de vir a ocorrer , embora sem se julgar possível a dimensão verificada a partir de 15 de setembro desse ano, quando a Lehman Brothers abriu falência.
Na altura os grandes empresários já se tinham desafeiçoado de José Sócrates, que haviam louvaminhado como sendo o governante ideal para o país, quando lhes parecera permeável às suas pretensões. Bastou que muitos deles vissem frustrados os seus projetos de avultados negócios (e ainda mais lautos lucros) para que o transformassem no inimigo de estimação pronto a abater, como ocorreu com Belmiro de Azevedo, frustrado na ambição de monopolizar as telecomunicações e desde logo com o «Público» a servir-lhe de veículo de denegrimento constante do então primeiro-ministro.
 Por essa altura essa classe social já estava a promover Passos Coelho como sua almejada marioneta. Sabiam-no cábula enquanto estudou, mas tinha boa figura (o que poderia adoçar o eleitorado feminino, que o rival socialista houvera seduzido!) e tinha umas megalómanas ideias, que eram como o melhoral, não faziam bem, nem mal. O frustrado barítono pretendia mudar a Constituição como se ela fosse problemática para as negociatas do universo BPN & Associados e manifestava uma admiração beatífica pela Singapura do ditador Lee Kuan Yew. Replicar o «sucesso» desse tigre asiático nesta cantinho à beira Atlântico plantado figurava nas intenções do títere, como se as circunstâncias fossem replicáveis.
A conquista do poder por essas direitas políticas e dos negócios também andava bastante bem lançada com a campanha de marketing trapaceiro, que visava meter no imaginário coletivo as ideias, que bem caras viriam as revelar-se aos tontos, que nelas acreditaram como se fossem dogmas papais: que a gestão privada é sempre melhor do que a pública, que desnacionalizando serviços eles ficariam bastante mais baratos e com uma qualidade irrepreensível. E, porque havia que dar cabeças-de-cartaz para a excelência dos gestores privados essa foi a época de ouro de Zeinal Bava, de Paulo Teixeira Pinto, de António Mexia e outros que tais, cujos obscenos salários faziam corar de vergonha os mais talentosos craques do nosso futebol.
Houve até o caso caricato de João Rendeiro, presidente da Administração do BPP que, na semana de lançamento do seu livro encomiástico em que se dava como possuidor de um toque de Midas, foi preso e dado como fraudulento com direito a prisão. Esse exemplo não bastou para que os inocentes abrissem os olhos e evitassem oferecer o pescoço à degola, prosseguindo nesse crescente fervor por Passos Coelho.
Quando chegou o seu momento de glória o mais que tudo dos restaurantes finos de Lisboa não encontrou problema em disfarçar o vazio ideológico, que lhe varria a mente, porque a troika trazia um programa político-económico pronto a aplicar. O entusiasmo foi tanto, que ao grito de mata, logo ele gritou esfola, condenando o pobre do contribuinte a enormes aumentos de impostos, a cortes em ordenados e pensões e ao desaparecimento súbito de milhares de empregos. Convencido de que os portugueses mereciam a punição por serem os madraços do sul da Europa, que os alemães e holandeses zurziam a bel-prazer, Passos Coelho sentiu-se na pele de um pregador a quem o Deus todo poderoso da finança internacional entregava a tarefa de convencer os que teimavam em não lhe serem devotos.
Vem toda esta evocação para lembrar que há dez anos as direitas políticas e dos negócios tinham tudo pelo seu lado: uma crise económico-financeira em que poderiam surfar para defenestrar os socialistas, um político visualmente jeitoso, que ficasse bem nos cartazes eleitorais e nas televisões e todo um programa assente em desregulamentações e privatizações devidamente almofadado numa série de ideias feitas, que se pretendiam irrefutáveis, mas se viriam a revelar trágicas no seu logro.
Dez anos depois o que lhes resta? Onde estão os grandes empresários capazes de causarem admiração aos tolos que os não viam na sua essência de se interessarem exclusivamente pelos seus lucros? Onde andam os gurus, que levavam as revistas do tipo «Exame» a dar-lhes capas e a proclamar-lhes a genialidade? Onde anda a Igreja Católica na época ainda capaz de arregimentar votos de acordo com as instruções dos padres curas? Onde andam os líderes políticos capazes de enunciar uma ideiazinha, mesmo que pequenina, para o melhoramento da vida dos portugueses?
Dirão os mais avisados, que as televisões e os jornais andam a pelar-se por que chegue o Godot, que tire essas direitas das angústias existenciais em que vai vegetando. Mas espera-os o vazio, esse terrível nada, que tanto horror suscita a quem o pressente.


ventossemeados.blogspot.pt
23
Fev18

PCP sozinho na defesa de desvinculação de Portugal do Acordo Ortográfico de 1990

António Garrochinho


"É incompreensível e inaceitável" que os ministros da Cultura e da Educação não queiram discutir o relatório da aplicação do Acordo na Comissão de Cultura, frisou o deputado do PSD, alegando que os sociais-democratas não fazem como o PS, que "diz que não se passa nada quando tem um elefante sentado na sala", diz o PCP.


O PSD, PS, CDS e BE demarcaram-se hoje do projeto de resolução do PCP, que pretende a desvinculação de Portugal do Acordo Ortográfico de 1990, ainda que admitam a necessidade de o aperfeiçoar.
Na defesa do projeto de resolução n.º 1340/XIII/3.ª, que recomenda a saída de Portugal do Acordo Ortográfico (AO) de 1990, a deputada comunista Ana Mesquita foi a única a defender a proposta na Assembleia da República, alegando que o Acordo tende a “transformar-se num atoleiro cujas consequências se desconhecem”, além de subsistirem dificuldades na sua aplicação.
Sublinhando que o PCP “não tem ‘fixismos’ na escrita”, Ana Mesquita considerou que a existência do acordo só teria sentido se integrado numa política global da língua e que tal como existe não passa de uma “imposição legislativa desligada da realidade concreta e da comunidade”.
Para a deputada, Portugal deve abandonar o Acordo Ortográfico até porque este não passou de “experimentalismo ortográfico sobretudo para os alunos que tiveram de o aplicar”.
Ana Mesquita invocou ainda a petição de “Cidadãos contra o Acorto Ortográfico”, considerando que o facto de contar com mais de 20.000 assinaturas é elucidativo de que os portugueses dizem não ao AO.
Por seu turno, o deputado social-democrata José Carlos Barros considerou o projeto de resolução do PCP “extemporâneo”, sublinhando haver muita coisa a discutir sobre o Acordo.
“É incompreensível e inaceitável” que os ministros da Cultura e da Educação não queiram discutir o relatório da aplicação do Acordo na Comissão de Cultura, frisou o deputado do PSD, alegando que os sociais-democratas não fazem como o PS, que “diz que não se passa nada quando tem um elefante sentado na sala”.
Também o deputado socialista Diogo Leão considera que a pretensão do PCP não é positiva, uma vez que “os motivos que originaram o Acordo se mantêm atuais”.
O deputado centrista Nuno Magalhães defendeu que se aguarde pelo final do trabalho da Comissão de Avaliação de Aplicação do Acordo Ortográfico, e pela elaboração do relatório final, sustentando, porém, a necessidade de o acordo integrar as propostas de melhoria sugeridas pela Academia de Ciências de Lisboa.
Coube ao deputado Jorge Campos defender a posição do Bloco de Esquerda, tendo admitido que os bloquistas reconhecem a existência de problemas no Acordo, mas não se reveem na desvinculação de Portugal.
Jorge Campos considerou ainda que o abandono do AO de 1990 acarretaria “riscos, nomeadamente a nível de tratados internacionais e de manuais escolares”.
O projeto de resolução dos comunistas é votado na sexta-feira.


www.jornaleconomico.sapo.pt
23
Fev18

É assim tão fácil afundar um porta-aviões?

António Garrochinho


Vamos tratar sobre um tema bem delicado na área militar e que geralmente causa muita polémica.


Será que é tão fácil assim afundar um porta-aviões ou essa é uma ideia que propagam de maneira errada. Descubra agora na análise desse post.

veja o vídeo

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tudorocha.blogspot.pt
23
Fev18

Email das Finanças sobre limpeza de terrenos está a gerar o pânico

António Garrochinho


Um email da Autoridade Tributária enviado aos contribuintes com ameaças de multas para quem não limpar os seus terrenos, no âmbito da campanha contra os fogos, está a lançar o “pânico” e a levar alguns proprietários a abaterem até árvores de fruto e de jardim.
Em declarações ao Público, várias fontes lamentam que a “divulgação simplista da lei sobre a limpeza dos terrenos e a ameaça de multas está a levar a que se abatam até árvores de fruto”.
“As pessoas estão a cair no exagero, criou-se o pânico e há quem esteja a arrancar árvores de jardim, são asneiras atrás de asneiras“, nota o presidente da Associação Nacional de Empresas Florestais, Agrícolas e do Ambiente (Anefa), Pedro Serra Ramos.
O presidente da direcção da Associação Florestal do Vale do Sousa, Américo Mendes, acrescenta ao mesmo jornal que “está tudo em pânico” com o email e com uma lei que deixa espaço para muitas dúvidas.
E o PCP, através do deputado João Ramos, nota na TSF que já foi contactado por idosos assustados com o email das Finanças. Os comunistas acusam, assim, o Governo de estar a lançar um “alarme injustificado”.

Fisco avisa que as multas são a dobrar

No email em causa, o Fisco está a avisar os contribuintes de que têm até 15 de Março para limpar o mato e cortar árvores nas proximidades de casas e aldeias, podendo vir a ser multados se não o fizerem. Este email está a ser enviado a todos os contribuintes, mesmo aos que não detêm terrenos inseridos em espaços rurais.
Na mensagem, o Fisco afirma que “é obrigatório” limpar o mato e cortar árvores 50 metros à volta das casas, armazéns, oficinas, fábricas ou estaleiros, e 100 metros nos terrenos à volta das aldeias, parques de campismo, parques industriais, plataformas de logística e aterros sanitários.
É obrigatório também limpar as copas das árvores quatro metros acima do solo e mantê-las afastadas pelo menos quatro metros umas das outras, e cortar todas as árvores e arbustos a menos de 5 metros das casas e impedir que os ramos cresçam sobre o telhado.
Quem não tomar estas medidas até 15 de Março, pode ser sujeito a multas que “podem variar entre 140 a 5 mil euros, no caso de pessoa singular, e de 1.500 a 60 mil euros, no caso de pessoas colectivas”, frisa a nota do Fisco, realçando que “este ano são a dobrar”.
No Orçamento do Estado para 2018 (OE2018), ficou estipulado o regime excepcional das redes secundárias de faixas de gestão de combustível, definindo que a limpeza deve ocorrer até 15 de Março e que as multas serão o dobro, ou seja: até 10 mil euros no caso de pessoa singular e até 120 mil euros no caso de pessoas colectivas.
O decreto-lei 124/2006, de 28 de Junho, que estabelece as medidas e acções a desenvolver no âmbito do Sistema Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios, define que os “proprietários, arrendatários, usufrutuários ou entidades que, a qualquer título, detenham terrenos confinantes a edifícios inseridos em espaços rurais, são obrigados a proceder à gestão de combustível“.
Este ano, e até 31 de Maio, as Câmaras Municipais podem substituir-se aos proprietários na limpeza do mato, sendo que os proprietários são obrigados a permitir o acesso aos seus terrenos e a ressarcir a Câmara do valor gasto na limpeza, recorda o Fisco na citada comunicação.

“Mais um negócio do fogo”

A comunicação do Fisco e a campanha geral que tem sido levada a cabo pelo Governo com vídeos e folhetos está a ser muito criticada por vários especialistas que consideram que o futuro da floresta pode estar em risco.
“Há milhares de árvores em risco de serem abatidas no país desnecessariamente”, alerta o Público, citando fontes que consideram que tudo isto pode ser “pior que os incêndios” para a floresta.
Já Pedro Serra Ramos teme que surja aqui “mais um negócio do fogo”, com empresas a aparecerem dispostas “a cortar tudo, sem qualquer conhecimento técnico”, o que poderá acabar por ser “mais destrutivo que os fogos”, salienta.
“A tendência é para limpar raso e isso vai deixar os terrenos expostos a uma erosão brutal”, lamenta por seu turno o biólogo Nuno Oliveira, também ouvido pelo Público, considerando que há o risco de destruir “espécies autóctones, protegidas, que têm valor patrimonial” e que “vai abrir-se caminho à entrada das infestantes”.
Por outro lado, a própria lei merece reparos e há especialistas que falam em “erros técnicos” que podem até levar a que “cresça mais mato” e a “aumentar a velocidade do vento e a secura, o que irá ajudar as chamas a progredir”, como explica o engenheiro florestal da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Paulo Fernandes, ao mesmo diário.
Certo é que proprietários e Câmaras Municipais não têm meios para cumprir a lei atempadamente. E há quem peça uma abordagem diferente ao problema, apelando a que sejam dados incentivos para se proteger a floresta. É isso mesmo que sublinha a petição “Cuidar de quem cuida da floresta” que defende a reapreciação da Lei e a “reorientação das prioridades e dos recursos afectos à política florestal”.


23
Fev18

Você Está Sendo Programado: 5 Maneiras Pelas Quais Seus Pensamentos Estão Sendo Conduzidos contra seu Próprio Interesse

António Garrochinho

Há muitos exemplos na história do controle mental sendo usados para influenciar as massas para que elas se curvem à vontade dos que estão no controle. Atualmente, como o site Activist Post aponta, o controle da mente se expandiu para além do puramente psicológico para incorporar um aspecto tecnológico também. A boa notícia é que, conscientes desses métodos, você pode evitar ou, pelo menos, reduzir seus efeitos até certo ponto.


Publicidade e propaganda

À medida que a mídia continua a consolidar, as linhas estão embaçadas entre o governo e a estrutura corporativa. Notícias, televisão, filmes e impressos podem trabalhar juntos para enviar uma mensagem que parece ser verdade simplesmente porque tantas fontes relatam o mesmo. Com as vidas cada vez mais ocupadas, as pessoas não têm tempo para fazer o esforço para se aprofundarem no que é verdade e o que não está entre todas as informações com as quais somos constantemente bombardeados, e pode ser mais fácil simplesmente aceitar o que nos dizem sobre temas como vacinas, gripe e pesticidas. Muitas vezes, essas mensagens são mesmo tomadas um passo adiante e também enviadas subliminarmente.



Água, ar e alimentos

Outro método moderno de programação mental é o uso de aditivos venenosos presentes em nossos alimentos que alteram a química do cérebro das pessoas para torná-las mais dóceis. Por exemplo, o glutamato monossódico (GMS) e o aspartame, essencialmente, matam as células do cérebro por excesso de estimulação, e eles são tão amplamente distribuídos que estamos vendo a população se tornar cada vez mais desmotivada e distraída. O flúor que é regularmente colocado na água potável das pessoas, entretanto, foi provado diminuir o QI. Mesmo aqueles que são mais conscientes de evitar alimentos processados ??ainda estão vulneráveis ??aos pesticidas pulverizados em produtos agrícolas.



Educação

Muitas pessoas reclamam que a juventude de hoje é muito menos inteligente em muitos aspectos do que as gerações mais velhas, e isso pode não ser um acidente. Afinal, emburrecer as pessoas torna muito mais fácil impor sua vontade sobre elas.



Medicamentos

Os medicamentos são uma maneira conveniente de controlar as pessoas, e muitas vezes, são as próprias pessoas que os buscam depois de terem se convencido, de alguma forma, que têm algo de errado com elas. A psiquiatria é considerada por alguns como um dos maiores facilitadores do controle mental moderno, pois ela tenta definir todos com base em seus distúrbios e não em seus atributos positivos. Com mais de um quarto das crianças americanas que agora estão tomando medicamentos psiquiátricos, está se tornando um modo de vida normal para a próxima geração.


Testes militares

É um fato infeliz que o soldados homens e mulheres tenham sido submetidos ao controle mental e às experiências médicas. Quando você pensa sobre isso, as pessoas dos serviços militares tendem a ser aqueles que respondem bem à estrutura e obediência, e o treinamento implica seguir ordens sem resistência.

Há muitos outros métodos de controle mental que estamos vendo sendo utilizados em toda parte, desde a religião à política, aos esportes e computadores e até o espectro eletromagnético. Nós estamos vendo o desenvolvimento da inteligência artificial (IA) que pode essencialmente ler sua mente e decodificar seus sinais cerebrais, e é assustador pensar em onde isso pode chegar. É hora de acordar para o que realmente está acontecendo ao seu redor, se você quiser ter uma chance de salvar seu livre arbítrio.


 http://www.anovaordemmundial.com
23
Fev18

Habitantes da aldeia, na Sertã, estão sem telefone fixo ou rede de telemóvel - Mulher morre sem auxílio onde a Altice ainda não repôs comunicações

António Garrochinho


Uma mulher morreu em casa enquanto o marido caminhava dois quilómetros para conseguir fazer uma chamada telefónica, numa aldeia da Sertã. O episódio dramático confirma denúncias de abandono das populações pela Altice.
Créditos
O óbito terá ocorrido na passada semana, de acordo com a Rádio Condestável, na aldeia de Vale de Ameixoeira, freguesia de Troviscal (Sertã). O facto de ainda não estarem reestabelecidas as comunicações na zona e de não existir rede de telemóvel terá sido determinante, já que o marido da vítima teve de caminhar cerca de dois quilómetros para pedir auxílio.
A situação não é nova, mas assume agora contornos de tragédia. A confirmação de uma vítima mortal põe a nu as consequências da privatização da Portugal Telecom (actual Altice Portugal) e a entrega de um sector tão sensível como as telecomunicações aos privados.
Em reacção, a Altice argumenta que já refez 99,5% das ligações cortadas pelos fogos. Quatro meses depois, a empresa justifica o atraso com a dificuldade em contactar com alguns clientes que, recorde-se, ficaram sem telefone fixo e, nalguns casos, vivem em zonas sem rede de telemóvel.
Têm ainda sido noticiadas tentativas por parte da Altice de, à boleia da substituição da rede de cobre por fibra óptica, impor pacotes que incluem televisão a clientes que apenas tinham telefone fixo, com mensalidades mais elevadas.
O tema já foi levado à Assembleia da República pelo secretário-geral do PCP, num dos últimos debates quinzenais. Na altura, como agora, a Altice isentou-se de quaisquer responsabilidades, atirando-as ora para os clientes, ora para a NOS, com quem o Estado assinou o contrato de serviço público em 2014.

www.abrilabril.pt

23
Fev18

OLHÓ AVANTE ! - OS INACTIVOS

António Garrochinho


Anabela Fino 

Os inactivos
A cena mediática nacional é hoje palco privilegiado da actividade frenética a que se dedicam uns espécimes que a si próprios se classificam de inactivos, isto é, dos que dizem «estar fora da vida política activa». De José Miguel Júdice a Santana Lopes, de Marques Mendes a Cavaco Silva, só para citar alguns exemplos, é ver como todos se desunham a perorar sobre os «casos» colocados na ordem do dia pela agenda económica/política/social do capital.

Refastelados nos seus cadeirões de comentadores ou em poses para a posteridades, coloquais uns, mais doutorais outros, todos debitam em nome da democracia sobre os problemas do povo e do País como se estivessem isentos de responsabilidades, quais virgens sem sombra de pecado, e apontam caminhos que a ser seguidos só poderão levar ao desenvolvimento e ao progresso, apesar de terem a particularidade de serem os mesmíssimos trilhados ao longo de décadas com resultados sempre em desfavor dos suspeitos do costume.

Nesta lavandaria self-service, autêntica barrela de passados mais ou menos longínquos, Júdice já não é o antigo fundador do contrarrevolucionário MDLP onde a extrema-direita se acoitou para combater o 25 de Abril, de onde passou para o PSD, partido em que permaneceu até se aproximar do CDS, primeiro, e do PS, depois, em eleições autárquicas, acabando a apoiar Marcelo nas presidenciais. Do mesmo modo, Marques Mendes lixiviou um longo passado como autarca, deputado, ministro de Cavaco Silva (de 1985 a 1995) e de Durão Barroso (2002 a 2004), e dirigente do PSD. Poderíamos continuar por aqui que havia pano para mangas, mas seria ocioso.

O que importa mesmo referir é que estes políticos da política de direita, dizendo não estar no activo, intervêm activamente como fazedores da opinião publicada, seja para falar sobre a «insustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde e do sistema de Segurança Social» ou ameaçar contar o que dirigentes socialistas lhe disseram no passado «sobre o Bloco de Esquerda e o PCP», como fez Cavaco em entrevista recente ao Expresso, seja nos recados semanais transmitidos nos comentários televisivos e replicados depois abundantemente em jornais, revistas e sítios electrónicos. A tónica mais recente, comum a praticamente todos, a propósito do congresso do PSD e até a despropósito, é a entronização da dupla Cavaco Silva / Passos Coelho em que todos parecem agora apostados. Afinal terão sido eles os salvadores da Pátria, o empobrecimento forçado e brutal de milhões de portugueses foi uma forma de progresso, os despedimentos em massa uma inevitabilidade para o crescimento da economia, etc., etc., etc.

Nesta corrida para ver quem lava mais branco, Marques Mendes, que foi ao congresso do PSD «matar saudades», deixa «uma palavra de agradecimento» a Passos Coelho pelo «legado na história do PSD e na história do País», e já anuncia que Luís Montenegro será líder do partido, não se sabe é quando.

Se isto é um inactivo, imagine-se o que seria se estivesse em actividade.

www.avante.pt


23
Fev18

DEMOLIÇÕES NA RIA FORMOSA. PROJECTO DE RESOLUÇÃO DO PCP FOI CHUMBADO COM OS VOTOS CONTRA DO PS E A ABSTENÇÃO DE PSD/CDS

António Garrochinho





Hoje, na Assembleia da República, foi votado o Projeto de Resolução do PCP "Pelo fim das demolições nas ilhas-barreira da Ria Formosa". Foi chumbado com os votos contra do PS e a abstenção de PSD e CDS. Estes partidos mostraram claramente, para quem ainda tivesse dúvidas, que querem prosseguir as demolições e expulsar os moradores das ilhas-barreira. Dizem, manhosamente, que são só 22 casas e que depois param. Mas a seguir a estas 22 virão mais 22 e outras 22 e mais 22, até não restar nenhuma casa. Nessa altura, as ilhas estarão "limpas" e prontas para entregar aos grandes interesses económicos. Adaptando um poema de Bertold Brecht a esta situação:

Primeiro demoliram aquela casa,
Mas eu não me importei
Porque não era a minha.
Depois demoliram outra casa,
Mas eu não me incomodei
Porque não era a minha.
Agora vêm demolir a minha casa
E quando percebi,
Já era tarde.

Iniciativa




Projeto de Resolução 1335/XIII
Pelo fim das demolições nas ilhas-barreira da Ria Formosa [formato DOC] [formato PDF]
Autoria

2018-02-16 |  Entrada

2018-02-19 |  Admissão

2018-02-19 |  Baixa comissão para discussão
Comissão de Ambiente, Ordenamento do Território, Descentralização, Poder Local e Habitação - Comissão competente


Votação na Reunião da Comissão n.º 138 em 2018-02-20
Aprovado 
     
2018-02-21 |  Anúncio

2018-02-22 |  Votação Deliberação
Votação na Reunião Plenária n.º 51
Rejeitado 
Contra: PS
Abstenção: PSDCDS-PPPAN
A Favor: BEPCPPEV



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António Garrochinho

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