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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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04
Abr18

Tiroteio na sede do YouTube. Atiradora acusava empresa de "discriminação"

António Garrochinho


Mundo
Em entrevista à NBC News, o pai de Nasim Aghdam diz que já tinha avisado a polícia de que a filha “odiava” a empresa
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Foi identificada a mulher que na terça-feira perpetrou um tiroteio na sede do YouTube, em San Bruno, perto de São Francisco, antes de se suicidar. Trata-se de Nasim Najafi Aghdam, uma mulher de 39 anos, residente em San Diego que se queixava da censura contra os seus vídeos.

A polícia de San Bruno já identificou a atiradora que na terça-feira levou a cabo um tiroteio na sede do YouTube e está agora a investigar o que esteve na origem deste ataque.  

Com uma pesquisa rápida na Internet é possível encontrar o  VEJA AQUI CLIQUE ONDE DIZ SITE EM AZUL  site de Nasim Najafi Aghdam, onde a atacante se queixava de discriminação por parte da empresa. A revolta contra esta plataforma de partilha de vídeos poderá ter estado na origem do tiroteio.  

Vegan, defensora dos direitos dos animais, bodybuilder, Nasim Aghdam criticava constantemente o YouTube por tratamento diferenciado do seu conteúdo. “O Youtube está a filtrar os meus canais e a impedir que eles tenham visualizações!”, escreveu no seu site

Nasim tinha várias contas na plataforma – em persa, turco e inglês – que foram entretanto eliminados pelo Youtube. As contas no Facebook e Instagram foram também desativadas.   

“Não há liberdade de expressão no mundo real e vão ser suprimidos por dizer a verdade que não é apoiada pelo sistema. Os vídeos de determinados utilizadores são filtrados e relegados para segundo plano, para que dificilmente as pessoas consigam ver os seus vídeos”, acusa a atiradora no seu site. 

“Não há igualdade na oportunidade crescimento no Youtube ou noutros sites de partilha de vídeos. O teu canal só cresce se eles quiserem!”, referia ainda a autora do ataque. 
Pai da atiradora terá avisado a polícia
Em entrevista à NBC News, o pai de Nasim Aghdam diz que já tinha avisado a polícia de que a filha “odiava” a empresa e poderia atacá-la de alguma forma. Uma das principais queixas era a de que a empresa não estava a partilhar as receitas geradas pelos vídeos com os criadores de conteúdos. 

Ismail Aghdam revela ainda que a filha tinha sido dada como desaparecida no dia anterior ao ataque e que fora encontrada de madrugada a dormir num carro.  

Katie Nelson, porta-voz da polícia local, confirma que uma mulher foi encontrada a dormir num carro no dia anterior, durante a madrugada. No entanto, não confirmou à NBC se que a polícia foi de facto alertada pelo pai da atiradora.  

Aos jornalistas, o irmão, Shahran Agdam conta que a atiradora “estava sempre a queixar-se em como o Youtube tinha arruinado a sua vida”.  

As três vítimas alvejadas estão a receber tratamento no hospital. Um homem de 36 anos está em estado crítico, uma mulher de 32 anos encontra-se em estado grave e uma mulher de 27 anos que está estável, segundo um porta-voz do Hospital Geral de São Francisco.  

“Neste momento não temos qualquer evidência em como a atiradora conhecia as vítimas do tiroteio ou se os indivíduos foram alvos específicos”, disse a polícia de San Bruno na terça-feira.  

De acordo com a imprensa norte-americana, Nasim Aghdam era ativista dos direitos dos animais há pelo menos uma década, altura em que participou num protesto da PETA contra o abate de porcos durante um exercício militar. 

Numa notícia publicada pelo The San Diego Union-Tribune em 2009, Nasim Aghdam surge numa fotografia durante a manifestação. “Para mim, os direitos dos animais são iguais aos direitos humanos”, disse na altura.  

Desde o ano passado que cresceram os protestos contra o YouTube. Uma foto publicada no Facebook em fevereiro de 2017 mostra um cartaz onde a atiradora critica a “ditadura” vigente naquela plataforma.  



Num vídeo publicado no Instagram, Nasim Aghdam questionava os seus seguidores: “Relativamente à liberdade de expressão, pensam que o Irão é melhor que os Estados Unidos ou que os Estados Unidos são melhores que o Irão?”. O último vídeo de Nasim tinha sido publicado há três semanas e mostrava a atiradora a realizar exercício físico.

www.rtp.pt
04
Abr18

Projeto de eletrificação da Linha do Algarve vai ser apresentado em Faro

António Garrochinho


A Infraestruturas de Portugal (IP) vai apresentar o projeto de eletrificação da Linha do Algarve, numa sessão que terá lugar na sexta-feira, dia 6 de Abril, na Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, em Faro.
A apresentação será feita por Carlos Fernandes, vice-presidente da IP, na sessão de inauguração da mostra “160 Anos do Caminho de Ferro em Portugal”, que poderá ser vista a partir desse dia e até 30 de Maio na sala de exposições da CCDR do Algarve.
«Este projeto, é parte integrante do Corredor do Algarve, um dos seis eixos de desenvolvimento prioritário, nos quais se integram os projetos de investimento a concretizar para o horizonte 2014-2020. Será uma intervenção ao longo de 40 quilómetros deste eixo estruturante para a mobilidade da principal região turística de Portugal e desta com o restante território nacional e europeu, pelo que a sua modernização irá dinamizar a economia regional e nacional», enquadrou a CCDR algarvia.
Esta entidade acrescentou que o investimento que será feito, no âmbito no Programa Ferrovia 2020, «permitirá a exploração comercial exclusivamente com material elétrico e outras melhorias, que contribuirão para a eficiência do sistema, nomeadamente, a redução no tempo de percurso e menores custos ambientais».
Na cerimónia de inauguração da exposição, uma iniciativa conjunta da CP – Comboios de Portugal e da IP, também «será realçada a centenária Estação de São Bento e a importância do modo ferroviário para o desenvolvimento e coesão territorial, social e económica do país».
Enquanto a mostra estiver patente, serão realizadas «atividades de carácter recreativo e educativo e serão exibidos filmes do Cinerail – Festival Internacional de Cinema Ferroviário Internacional sobre a temática».


www.sulinformacao.pt
04
Abr18

A menina tradutora

António Garrochinho




H. tem onze anos, uma menina doce e estudiosa que devia preocupar-se com as saidas com as amigas, os cantores preferidos, os filmes mais recentes, mas em vez disso transformou-se na tradutora de uma familia destroçada.
Com cuidado ela transmite-me o que se passou hoje, com extrema preocupação de não esquecer nada.
“a policia saiu da nossa casa há minutos. Empurraram as mulheres, a minha avó….
A minha avó só dizia: prenderam o meu filho e ele é inocente
Eles empurravam-nas e diziam têm que acabar com isto entrem para dentro de casa, calem-se, tirem as fotografias das paredes”
H. para, ouve o que esta a dizer a mãe
“a mamã diz para te dizer o que disse a avó…
Eram muitos
Ela vai te enviar os videos…”
Este relato chega de El Aaiun, dos territórios ocupados do Sahara Ocidental, da casa da familia de Sidi Abdallahi Abbahah, preso politico saharaui do grupo de Gdeim Izik, em greve de fome desde dia 9 Março.
Abdallahi filho de Ahmedsidi, filho de Mamia, irmão, tio desta menina que se transforma em tradutora e relatora de violência.
“Diz à tua mãe se faz favor que escrevi tudo e que as mulheres da tua familia são muito valentes, tu és muito valente”, H não vê as lágrimas que escorrem pela minha cara.
Lágrimas de quem não quer um mundo com meninas tradutoras de horrores.
“gosto muito de ti” assim se despede a menina da infância roubada, mais uma vitima da ocupação marroquina que se recusa a ser vitima e é na verdade mais uma heroina saharaui.
E hoje porunsaharalibre.org decidiu transmitir vos esta notícia através da voz de H.

VÍDEOS







porunsaharalibre.org
04
Abr18

Da Europa para o mundo: a corrida global para o fundo

António Garrochinho

liber

As dificuldades agudas que os trabalhadores europeus enfrentam fazem parte de um processo internacional de empobrecimento.
O desemprego atingiu níveis sem precedentes na Europa Ocidental, os salários estão diminuindo e os ataques ao trabalho organizado estão se intensificando. Quase um quarto da população da Europa Ocidental, cerca de 92 milhões de pessoas, estava em risco de pobreza ou exclusão social em 2013. São quase 8,5 milhões de pessoas a mais do que antes da crise.
A pobreza, a privação material e a superexploração tradicionalmente associadas ao Sul Global estão ressurgindo nas regiões ricas da Europa.
A crise está minando o "modelo social europeu" e sua suposição de que o emprego protege os indivíduos da pobreza. O número de trabalhadores pobres - trabalhadores empregados em domicílios com renda anual abaixo do limiar da pobreza - está crescendo, e a austeridade vai piorar as coisas no futuro.
Os críticos da austeridade argumentam que isso é absurdo e contraproducente, mas os líderes europeus discordam. Durante a última rodada de negociações com a Grécia, a chanceler alemã, Angela Merkel, argumentou: "Isso não é sobre vários bilhões de euros - isso é fundamentalmente sobre como a UE pode permanecer competitiva no mundo".
Há alguma verdade nisso. O que Merkel não menciona é que os trabalhadores na Europa, em particular no Sul da Europa, competem cada vez mais com os trabalhadores do Sul Global. O crescente empobrecimento e austeridade na UE são dois lados da mesma moeda, e ambos refletem tendências estruturais em direção ao empobrecimento e profundas mudanças na economia global.
Em uma sociedade capitalista, os lucros vêm do trabalho vivo dos trabalhadores, de modo que aumentar a produtividade não visa melhorar os padrões de vida, mas diminuir o salário relativo - isto é, a diferença entre o valor produzido e o valor retido pelos trabalhadores.
A acumulação de capital tende, assim, a uma crescente polarização entre a riqueza relativa e a pobreza, que pode coexistir com o aumento dos padrões de vida de alguns setores da classe trabalhadora.
Essa dinâmica, e a relação social entre trabalhadores e capitalistas que a sustentam, não está confinada dentro das fronteiras nacionais. Para Marx, o empobrecimento não era apenas uma questão dos salários reais das classes trabalhadoras do Norte: o empobrecimento envolve aspectos quantitativos e qualitativos do trabalho e das condições de vida dos trabalhadores em escala global, e não nacional.
O expansionismo econômico e militar é parte e parcela da acumulação de capital - permite o crescimento do exército de reserva global de trabalho explorável por meio de investimento estrangeiro ou migração. Uma maior oferta de mão-de-obra permite que o capital diminua os salários e prolongue a jornada de trabalho, reduzindo a demanda por novos trabalhadores e aumentando ainda mais a oferta de mão-de-obra, em um círculo vicioso de excesso de trabalho e desemprego.

 Integração e Globalização

Essas dinâmicas ajudam a explicar como é que, em meio a uma das maiores revoluções nas tecnologias de informação e comunicação desde meados da década de 1970, o mundo experimentou um rápido aumento da pobreza global.
Até mesmo o Banco Mundial admite que, quando a China é excluída, entre 1981 e 2004 a pobreza extrema (pessoas que vivem com menos de US $ 1,25 por dia) aumentou em cada “região em desenvolvimento”. Um estudo recente do Pew Research Center descobriu que uma classe média global emergente, se tomarmos a linha de pobreza dos EUA como uma métrica, em 2011, 84% da população mundial era pobre (vivendo com menos de US $ 20 por dia).
Além disso, a participação dos salários no PIB caiu na maioria dos países nos últimos trinta anos - indicando piora da mão de obra em relação ao capital - mesmo em regiões onde a pobreza extrema diminuiu mais recentemente, como China, América Latina e Europa Oriental. .
Esses processos de empobrecimento devem ser vistos no contexto da ascensão do neoliberalismo desde meados da década de 1970 e dos programas de ajuste estrutural impostos por instituições financeiras lideradas pelo Norte, como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. Juntamente com guerras imperialistas e catástrofes ecológicas em alguns países, a neoliberalização levou a processos acelerados de desapropriação rural, privatização e reestruturação produtiva, aumentando o número de trabalhadores “vulneráveis” e desempregados. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, este exército de reserva industrial global do trabalho agora compreende cerca de 2,4 bilhões de pessoas.
Em 2010, estima-se que 942 milhões de trabalhadores pobres - quase um em cada três trabalhadores em todo o mundo - viviam abaixo da linha de pobreza de US $ 2 / dia. Era apenas uma questão de tempo até que esse empobrecimento crescente começasse a ser sentido seriamente na Europa Ocidental.
Há vários fatores em jogo nesse processo. Em resposta à queda da rentabilidade, o relançamento do processo de integração da UE a partir de meados da década de 80 e o alargamento da UE a Leste nos anos 2000 contribuíram para a internacionalização da capital da Europa Ocidental. Outro grande impulso veio da abertura da China ao mercado mundial e sua entrada na OMC em 2000.
A introdução do euro não só impediu os estados membros do sul de usar a desvalorização competitiva para apoiar suas exportações; também reduziu os custos de transação e eliminou as incertezas cambiais, acelerando os fluxos de capital para os novos estados membros da Europa Central e Oriental e, cada vez mais, para a Ásia. Ao mesmo tempo, a imigração líquida para a UE-15 aumentou e, com ela, a oferta de mão-de-obra.
O aumento resultante do desemprego na Europa Ocidental foi apenas parcial e inicialmente compensado pela tão celebrada expansão do emprego atípico e do setor de serviços.
A desregulamentação, a privatização e as reformas da previdência e do trabalho contribuíram para aumentar a oferta de trabalho, enquanto as reformas legais reduzindo o escopo da atividade sindical corroeram a densidade sindical e a cobertura da negociação coletiva, levando ao aumento da desigualdade salarial e à baixa remuneração.
As políticas de imigração restritivas e racistas nunca procuraram impedir a imigração para a "Fortaleza Europa", mas produziram ilegalidade e um sistema diferenciado de direitos visando estratificar e dividir a classe trabalhadora.
A Grã-Bretanha de Thatcher mostrou o caminho para o resto da Europa Ocidental. Depois de uma profunda transformação em direção a uma economia baseada em serviços, no Reino Unido, a pobreza e o emprego mal remunerado (empregados que ganham dois terços ou menos do que o salário médio nacional bruto por hora) quase dobraram.
Ao contrário do resto da Europa, a pobreza no trabalho começou a aumentar na Grã-Bretanha nos anos 80, e os tempos de trabalho tornaram-se extremamente polarizados - ainda tem a mais longa semana de trabalho de funcionários em tempo integral na Europa Ocidental (em 2008: 42,4 horas / semana versus 37,3 horas / semana acordadas coletivamente).
A Alemanha seguiu um caminho semelhante após a reunificação. Embora tenha retido uma parcela maior do emprego industrial do que a maioria dos outros países da Europa Ocidental, desde o final da década de 1990, a internacionalização do capital desempenhou um papel importante no crescimento das exportações da Alemanha, assim como a imigração. Além disso, em 2003-05, as “reformas” de Hartz I – IV introduziram políticas de trabalho na Alemanha, forçando os desempregados a aceitar qualquer trabalho sob quaisquer condições.
Como resultado de todos esses fatores, o setor de baixos salários da Alemanha aumentou de 13% em meados da década de 1990 para 20% em 2005, juntamente com a pobreza no trabalho. A tendência anterior para a redução das horas de trabalho também se inverteu: entre 2003 e 2008, o tempo de trabalho real dos empregados a tempo inteiro aumentou em média 0,8 horas.
A Itália experimentou tendências similares de reestruturação de produção e imigração, aumentando o emprego atípico e uma polarização do horário de trabalho desde o final dos anos 80; em 2008, os empregados em tempo integral trabalhavam em média 39,2 horas por semana, 0,7 horas por semana a mais que em 1995.
Até recentemente, a Itália não havia sofrido uma profunda desregulamentação do mercado de trabalho como a Grã-Bretanha e a Alemanha. O emprego com baixos salários no setor formal italiano (9,5%) permaneceu menor do que na Alemanha, que exibiu em 2008 a segunda maior parcela de empregos com baixos salários na UE-15 (20,2%) atrás do Reino Unido (20,6%). Mas a Itália tinha uma das populações mais altas e estáveis ??de trabalhadores pobres na Europa Ocidental, cerca de 10% e concentrada principalmente no sul.
A estabilidade e o tamanho dos trabalhadores pobres da Itália resultam da imposição de políticas neoliberais de precarização e privatização do trabalho sem a correspondente compensação previdenciária, e também refletem a especialização internacional do sistema produtivo italiano.

 Consequências Desiguais?

A reorganização da indústria européia em direção ao leste, em particular o alemão, estimulou um redirecionamento do comércio da periferia do sul para o leste. Os estados membros do Sul continuaram a importar dos países do norte e do centro-leste da Europa sem encontrar saídas alternativas para suas próprias exportações. Como resultado, a produção e serviços intensivos em capital se tornaram progressivamente concentrados no norte da Europa, enquanto os estados membros do sul experimentaram um processo de degradação da produção.
A União Monetária Européia, portanto, ampliou, em vez de aliviar, a divergência nos modelos de especialização dos países do norte e do sul, levando a crescentes desequilíbrios entre países com superávits de exportação e países com déficits.
Muitos estudiosos, inclusive da esquerda, interpretam esses desequilíbrios como sinalizando uma falta de competitividade das economias do sul da Europa em relação às do norte.
Este argumento, no entanto, limita seu olhar para dentro da Europa e ignora que o que um país produz e exporta é importante. O ponto é que, por causa de suas estruturas produtivas, estados membros do sul como Grécia, Portugal, Espanha e, parcialmente, a Itália competem cada vez mais com países em desenvolvimento, não com o norte da Europa.
Enfrentando cada vez mais a pressão na produção de baixa e alta tecnologia, desde o início dos anos 2000, a UE perdeu participação de mercado para os BRICS, e China em particular, que se tornou o maior exportador de bens e está subindo na cadeia de valor. Assim, embora a realocação da produção para países de baixos salários seja fundamental para a competitividade das empresas da Europa Ocidental, a ascensão da China e de outros países asiáticos está pressionando fortemente as economias mais fracas da UE.
Isto ajuda a explicar as consequências agudas, mas desiguais, da recente crise financeira e económica em sectores e países da UE-15. O setor manufatureiro da UE é um dos mais afetados, com 4,5 milhões de empregos perdidos entre 2008 e 2012 (correspondendo a 12% do emprego industrial).
Os níveis de desindustrialização variam muito entre os países e dentro deles, e os fluxos de investimento estrangeiro direto (IED) da UE-15 estão mudando cada vez mais para os mercados emergentes da Ásia. Embora o investimento das empresas nas economias avançadas seja baixo, os mercados emergentes tornaram-se o principal destino dos fluxos globais de IDE, absorvendo 54% dos fluxos mundiais de IDE em 2013.
Para manter-se competitiva e lucrativa neste clima, desde 2011 a União Européia aumentou sua vigilância das políticas fiscais de seus estados membros e começou a intervir diretamente em novas áreas políticas, como a fixação de salários.
Esse intervencionismo está diretamente ligado à imposição de reformas estruturais e de austeridade na Europa Ocidental - encolhendo o setor público, cortando gastos públicos, desmantelando sistemas de negociação coletiva, e aumentando a polarização das horas de trabalho, todos visando fortalecer o capital da UE diante da crescente competição o sul global.
Estes factores estruturais e políticos sustentam as diferenças sem precedentes nas tendências do desemprego e dos salários reais na UE-15 desde o início da crise. No primeiro trimestre de 2015, o desemprego variou de 4,7% na Alemanha a 5,4% na Grã-Bretanha, 12,4% na Itália e 25,6% na Grécia.
A Alemanha era o único país da UE-15 onde os salários reais médios diminuíram entre 2000 e 2009. Mas desde 2010 a situação quase se inverteu: os salários médios aumentaram 4,4% na Alemanha, enquanto diminuíram 2,3% na Itália, 4,1% na Grã-Bretanha e 23,6% na Grécia.
O exemplo da Itália é particularmente impressionante. Com a China como seu segundo maior concorrente, depois da Alemanha, na Itália, a lucratividade começou a cair muito antes da Grande Recessão. Desde 2008, a produção industrial da Itália diminuiu em pelo menos 25% e sua capacidade industrial em 13%.
O sistema de emprego italiano está passando por um processo correspondente de rebaixamento, com maior crescimento em empregos atípicos e de baixa remuneração, e declínio de empregos mais bem pagos.
As intervenções da UE em 2011 corroeram ainda mais a negociação coletiva e apoiaram a implementação de políticas de trabalho. Reforçando os ataques de Berlusconi ao trabalho, os governos de Monti e Renzi aboliram o direito de os trabalhadores serem reintegrados em caso de demissão injusta e generalizaram relações de trabalho precárias.
Na Grã-Bretanha, a produção manufatureira ainda está abaixo dos níveis anteriores à crise, e a crise e a austeridade puseram fim à capacidade de longo prazo do setor público para compensar as perdas de emprego no setor privado.
O aumento do emprego no setor privado concentrou-se em empregos involuntários, temporários e autônomos, enquanto a austeridade pressionou os salários, as condições de trabalho e os gastos sociais.
Na Alemanha, a evolução relativamente mais favorável do emprego e dos salários reais é principalmente o resultado da especialização da indústria de manufatura em produtos de alto valor agregado, que está expandindo seu mercado nos BRICS.
Mas mesmo na Alemanha, os salários estão se expandindo a uma taxa bem abaixo da produtividade, e o emprego temporário e de baixa remuneração está aumentando. Essa compressão salarial explica por que a pobreza no trabalho na Alemanha quase dobrou entre 2005 e 2013, de 4,8% para 8,6%.
No Reino Unido, os níveis de pobreza no trabalho são mais altos, mas relativamente mais estáveis. Este quadro depende principalmente do facto de as taxas de pobreza da UE serem calculadas em relação ao rendimento disponível mediano, que está em declínio em muitos países, reduzindo assim o limiar da pobreza.
A tendência do Reino Unido é pior se olharmos para a privação material severa. Entre 2007 e 2013, o percentual de pessoas ocupadas que enfrentam condições de privação material grave aumentou em 250%, de 1,9% para 4,8%.
Na Itália, as taxas de privação material grave duplicaram de 4,3% para 8,6% entre 2007 e 2013, enquanto os níveis de pobreza no trabalho são quase 11% - superiores à média da UE-15 e aumentando apesar do limiar da pobreza.
Este processo unitário, mas desigual, de empobrecimento é acompanhado por uma clara tendência para maiores jornadas de trabalho para os empregados em tempo integral. Na Alemanha, estes retornaram ao nível pré-crise de pouco menos de 41 horas / semana, enquanto a Grã-Bretanha está testemunhando um retorno da “cultura de longas horas” - enquanto quase um em cada cinco funcionários trabalha por salários baixos, um quinto do tempo integral os funcionários trabalham regularmente mais de 45 horas / semana.
Na Itália, o percentual de empregados em tempo integral que trabalham mais de 45 horas / semana (16,3% em 2011) quase dobrou desde 2002.

 Da Europa para o mundo

O aumento do empobrecimento e da exploração é essencial para o capital da UE-15 aumentar a rentabilidade e manter a sua posição na economia mundial. É por isso que a austeridade deve continuar indiscutível e ininterrupta, e é por isso que a troika tem sido tão implacável com suas exigências ao governo do Syriza.
A UE deve fazer um exemplo de trabalhadores na Grécia que são culpados de se levantar e dizer “não” à austeridade, particularmente em um contexto de crescente oposição na Espanha, e também em certa medida na Alemanha e no Reino Unido.
O que a classe dominante da UE mais teme é a radicalização e ligação entre as lutas dos trabalhadores por toda a Europa e além. Ao mesmo tempo, a falta de um programa radical para romper com a zona do euro levou a moderação e retiros por parte do governo Syriza, que não aproveitou o potencial de luta existente entre os trabalhadores.
Os movimentos que surgiram em países como a Grécia e a Espanha mostraram a possibilidade de quebrar as divisões dentro da classe trabalhadora e desenvolver formas alternativas de poder para a política institucional. Mas esses movimentos permaneceram isolados e receberam pouco apoio dos trabalhadores no resto da Europa.
Mais recentemente, a solidariedade com a Grécia manteve-se limitada e não se tornou parte de mobilizações sindicais adequadas. As poucas tentativas de desenvolver ações sindicais em toda a Europa (como a greve geral em novembro de 2012) permaneceram confinadas no sul da Europa, e as iniciativas dispersas de coordenação de negociação no nível da UE foram amplamente mal-sucedidas.
Mas a solidariedade internacional não é algo secundário que pode ser adiado para fases posteriores de luta. Esta é uma crise estrutural internacional e, portanto, deve ser a nossa resposta. Os trabalhadores na Europa estão enfrentando um processo de empobrecimento unitário, mas muito desigual, que está acontecendo mesmo em países de alto desempenho como a Alemanha e o Reino Unido.
A luta pela redução da jornada de trabalho com a mesma remuneração é essencial para enfrentar as raízes do empobrecimento e para a construção da solidariedade entre trabalhadores e trabalhadores desempregados, precários e menos precários, masculinos e femininos, imigrantes e nativos.
Esta não é uma demanda puramente econômica. Para concretizá-lo, o movimento operário precisa rejeitar a lógica da competitividade nacional e abordar as estratificações e divisões. Isso requer a compreensão de que a condição dos trabalhadores na Europa Ocidental está diretamente ligada à dos trabalhadores e das classes populares da Europa Oriental e do Sul Global.
O imperialismo europeu opositor é essencial para fortalecer a resistência da classe trabalhadora na própria Europa Ocidental. E assim é a luta contra o endurecimento do racismo e da islamofobia do Estado, e pela revogação das legislações racistas que facilitam a superexploração dos trabalhadores imigrantes.
Todas essas demandas podem realizar o potencial de classes trabalhadoras cada vez mais “multinacionais”, unificando o movimento operário dentro e através dos espaços nacionais.
Lucia Pradella

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