Muitas foram as histórias que alteraram o rumo do nosso país ao longo da história. Algumas vinganças de amor, como o romance entre D. Pedro e Inês Castro por exemplo, no entanto houveram outras vinganças por razões economicas, politicas ou até vinganças por puro ódio e inveja.
Estas histórias alteraram o curso da história, pois quebraram algumas alianças e surgiram outras novas alianças. Houve até vinganças entre irmãos que arrastaram o país e os portugueses para uma guerra civil sangrenta.
O ministro que perde o seu rei e o seu poder.
Durante 27 anos, Marquês de Pombal contou com o apoio incondicional de D. José I. O primeiro conde de Oeiras aboliu a escravatura e a discriminação contra os cristãos-novos, criou a primeira zona demarcada do Douro, reorganizou Lisboa após o terramoto, etc. As suas reformas permitiram inovação social e económica, indo, desta forma, contra os poderes instalados, o que lhe valeu vários inimigos.
Uma vez mais Marquês do Pombal é protagonista de outra história, pois com a morte de D. José em 1777, foi colocado de parte, embora ainda fosse ministro. Duas semanas após a morte do rei, já com vários inimigos seus soltos da cadeia, Marquês de Pombal apresentou a demissão à rainha, D. Maria I.
Acusado de peculato e abuso de poder, o primeiro conde de Oeiras tentou defender-se dizendo que tudo o que fez teve o consentimento de D. José. A herdeira do trono não gostou de ver a memória do pai envolvida no escândalo e processou o Marquês de Pombal. Ao fim de 18 meses de inquérito e aos 80 anos de idade, Sebastião José de Carvalho e Melo foi considerado culpado e condenado a castigos corporais exemplares.
“Já mataram o rei gordo e o magrinho também”
O povo estava descontente com a opressão que se vivia sob a governação de João Franco. O parlamento continuava a autorizar o empréstimo de mais dinheiro para as despesas reais que não paravam de aumentar ao mesmo tempo que D. Carlos, o rei, era acusado de negligenciar o governo do país para se dedicar à caça. Tudo isto foram ingredientes que culminaram, a 1 de fevereiro de 1908, com o assassinato do rei e do príncipe herdeiro.
A família real circulava num coche aberto, no Terreiro do Paço, quando dois atiradores tiraram a vida aos dois corpos reais. D. Amélia, que seguia na carruagem, gritava desesperada. D. Manuel segurava o corpo quase sem vida do irmão, D. Luís. Já sem vida estava D. Carlos que teve morte imediata quando a primeira bala lhe trespassou o pescoço. Alfredo Costa e Manuel Buíça foram os autores do regicídio, tendo sido abatidos durante o tiroteio e, posteriormente, tratados como verdadeiros heróis pelos portugueses.
A humilhação vingada
O general Humberto Delgado (na foto) foi assassinado por agentes da PIDE em fevereiro de 1965 numa localidade espanhola. Tudo porque teve a ousadia de se candidatar às eleições presidenciais de 1958 e de fazer frente a Salazar. A campanha eleitoral contou com o apoio tremendo da população e, numa entrevista à France Presse, o general teve a coragem de dizer a frase que ainda hoje ecoa: “Obviamente demito-o [Salazar]”. Após o sufrágio, o general ‘Sem Medo’ foi viver para o exílio, mais precisamente para o Brasil de onde continuou a sua oposição ao regime.
Elevado pela sua vontade de derrubar Salazar, Humberto Delgado estabeleceu contactos com outros opositores, sem saber que alguns deles eram agentes infiltrados da PIDE. A sua vida chegou ao fim no dia em que tinha um encontro marcado com alegados opositores que o queriam apoiar. Tratou-se de uma emboscada. Humberto Delgado e a sua secretária que o acompanhou ao encontro, Arajanyr Campos, foram assassinados.
O que ficou por esclarecer foi se se tratou de uma detenção que correu mal ou se se tratou de um homicídio planeado. A verdade é que o general ‘Sem Medo’ morreu às mãos de elementos da PIDE, os mesmos que anos antes havia humilhado ao conseguir entrar e sair de Portugal apenas com um bigode a disfarçar-lhe a aparência, facto do qual se vangloriou.
O caso Camarate: Acidente ou atentado? Eis a questão
Bastaram 43 segundos para que o dia 4 de dezembro de 1980 mudasse o panorama político nacional. Falamos do tempo em que o avião bimotor que transportava Francisco Sá Carneiro (na foto) esteve no ar. Depois caiu no bairro das Fontainhas, em Camarate, matando o então primeiro-ministro e a sua companheira, Snu Abecassis, o ministro da Defesa Adelino Amaro da Costa e a esposa, o chefe do gabinete do primeiro-ministro (António Patrício Gouveia) e os dois pilotos do aparelho. Até hoje este é um caso que levanta muitas dúvidas.
A tese oficial é a de que se tratou de uma avaria no motor da asa esquerda, mas durante a investigação muitas dúvidas foram levantadas, desde logo porque a Scotland Yard informou a PJ da detenção de um criminoso moçambicano (Lee Rodrigues) que havia sido visto na área reservada para a manutenção dos aviões no aeroporto de Lisboa, no dia da tragédia. Porém, o telegrama com tal informação desapareceu do processo e o inspetor da PJ encarregue da investigação foi afastado um mês depois.
Três meses depois, a Direção-Geral de Aviação determinava que a queda do avião se tinha ficado a dever a um “esgotamento inesperado de gasolina”, mas os investigadores encontraram vestígios de nitroglicerina na zona de recolha do trem de aterragem e um buraco que indicava a existência de uma explosão. A tese de atentado ganhou mais força com José Esteves como o principal suspeito – ex-operacional da rede bombista da extrema-direita e especialista em explosivos na Guerra Colonial.
Na origem da vingança teriam estado suspeitas do ministro da Defesa da existência de irregularidades no então Fundo de Defesa do Ultramar e até de tráfico de armas. A bomba teria sido dirigida a Amaro da Costa. Sá Carneiro teve a infelicidade de querer antecipar a sua viagem para o Porto. Isto são suposições, desconfianças, pois nunca nada ficou provado.
O melhor é não contrariar o povo quando ele fala em milagre
No início do século XVI Portugal estava assolado pela peste e pela seca que levaram à morte de milhares de pessoas. Face a esta situação a população pedia intervenção divina e, no dia 19 de abril de 1506, muitos acreditaram que esta tinha chegado. Era domingo de pascoela e o povo estava na igreja do Convento de São Domingues quando uma luz brilhou no crucifixo de Jesus Cristo. Todos rejubilaram, pensando tratar-se de um sinal de Deus após tantos apelos de ajuda e compaixão.
Todos menos um: um cristão-novo. Este ousou dizer que a luz era apenas o reflexo das candeias. Homens e mulheres devotos arrastaram-no para a rua, espancaram-no e queimaram-no numa fogueira. Outros cristãos-novos foram perseguidos e mortos. Cinco dias depois D. Manuel mandou parar a chacina e os dois frades que instigaram o povo a cometer tais atos foram garroteados e queimados.
Quando os ciúmes afinam a pontaria da rainha
Em março de 1732 foi consumado o casamento entre o então infante D. José (na foto) e D. Mariana. O jovem casal era feliz, gostava de jogar, mas tudo mudou quando o infante passou a rei. Os deveres de Sua Majestade não lhe permitiam dedicar muito tempo à rainha e esta começou a enfurecer-se, até porque, dizem as ‘más línguas’, o rei era muito dado a companhias femininas.
Ora, em agosto de 1751, durante uma caçada, D. Mariana apontou a uma lebre, disparou e o chumbo acertou numa pedra, fez ricochete e acertou em cheio na cara de Sua Majestade. Dada a ótima pontaria de que a rainha era detentora, logo surgiram boatos de que não teria sido um acidente, mas sim um ato de vingança da rainha ciumenta e solitária.
Como D. Carlota Joaquina infernizou a vida de D. João VI
A partir do momento em que D. João VI (na foto) assume a regência de Portugal, o seu casamento com D. Carlota Joaquina começa a descambar. Tudo porque a rainha-consorte, de origem espanhola, queria ter uma palavra a dizer nos destinos do reino de Portugal, Brasil e Algarves. Porém, D. João VI não a incluiu no Conselho de Regência do reino e foi então que a guerra começou. D. Carlota Joaquina fez de tudo para destituir o rei.
E, para isso, contou com o apoio de alguns nobres, mas todas as suas tentativas fracassaram. Ainda assim, a sua oposição ao marido e rei de Portugal era notória, sendo do conhecimento público que o casal não vivia em harmonia. A rainha consorte (na foto) apoiou o filho D. Miguel numa tentativa de instituir uma monarquia absolutista e recusou, publicamente, prestar juramento à Constituição de 1822.
Palavra dada não é palavra honrada quando se trata de vingar a morte da amada.
D. Pedro casou com D. Constança, infanta de Castela, em 1336, mas foi pela aia da esposa, a dama galega D. Inês de Castro, que o infante português caiu de amores. D. Constança apercebeu-se da atração do marido pela aia e, para evitar uma ligação carnal, convidou-a para ser madrinha do seu segundo filho, D. Luís. Mas este morreu e com ele a proibição de um relacionamento amoroso.
A infanta castelhana acabou por morrer ao dar à luz o seu último filho, deixando, desta forma, o caminho livre para D. Pedro e D. Inês. Os dois amantes tiveram quatro filhos, mas o facto de D. Inês pertencer à família Castro impediu que D. Afonso IV, pai de D. Pedro, aceitasse a sua relação. O monarca acabou por mandar matar a fidalga, momento a que assistiram os seus netos.
D. Pedro revoltou-se e deu início a um conflito com o pai, mas acabou por assinar um documento no qual prometia não se vingar dos carrascos da sua Inês. Porém, assim que D. Afonso fechou os olhos, recomeçaram as perseguições que culminaram na morte de Diogo Lopes Pacheco, Álvaro Gonçalves e Pêro Coelho – o coração deste último foi arrancado e cozinhado.
Destratar a amante do rei é ser alvo de vingança de Sua Majestade
O imperador do Brasil era casado com D. Leopoldina da Áustria, mas não resistia a um bom ‘rabo de saia’. A dada altura conhece Domitila de Castro por quem cai de amores irremediavelmente. Ela não era bem aceite na sociedade, primeiro porque o marido a tinha deixado por ela o ter traído, e segundo porque todos adoravam e respeitavam a imperatriz. Embevecido de tanto amor e paixão, D. Pedro I do Brasil (IV de Portugal) vingou-se de todos os que humilharam a amante.
Certa vez, D. Domitila foi proibida de entrar num teatro por não pertencer a nenhum clube privado. O rei soube e mandou fechar o teatro e suspender a peça em exibição. Noutra situação, D. Domitila subiu à tribuna de um teatro reservada às damas do Paço e, assim que se sentou, as damas que lá estavam saíram em protesto. D. Pedro ficou furioso quando soube e elevou a posição da amante para Dama de Honra da Imperatriz.
Discutir religião com um padre é meio caminho andado para a fogueira
O mais importante humanista português despertou a inveja em várias pessoas, entre elas o padre Simão Rodrigues. Os dois haviam estudado juntos em Pádua, em Itália, e, desde então, a animosidade entre eles era evidente. Tudo porque Simão era defensor assertivo da Igreja de Roma e Damião de Góis (na foto) era defensor de ideais mais libertadores, sendo amigo, inclusive, de Martinho Lutero. Mas Damião era também amigo das principais mentes da Europa e, sobretudo, do rei D. João III, o que despertou a inveja do padre.
Durante duas décadas este fez denúncias à Santa Inquisição para que Damião de Góis fosse punido por ser um herege, sem efeito. Só ao fim de mais de 20 anos é que as denúncias tiveram provimento e tudo porque o humanista escreveu a Crónica de D. Manuel, tendo sido bastante crítico para com os poderes instalados e nada amigável da Casa de Bragança. Posto isto, o padre Sebastião voltou à carga com a Inquisição e Damião de Góis foi preso em 1571 aos 69 anos e muito doente. Foi condenado a prisão perpétua, mas acabou por morrer em sua casa, sozinho.
Quando o rei prefere os bastardos, o filho legítimo só pensa em vingança
O infante D. Afonso (na foto) tinha ciúmes dos dois filhos bastardos do pai, D. Dinis, até porque era conhecida a atenção que o monarca dava a D. Afonso Sanches e a D. João Afonso. Esta situação levou a uma guerra civil, entre pai e filho, culminando num acordo de paz. Com a morte de D. Dinis, e pese embora pedisse no testamento que o filho, seu sucessor, não maltratasse os irmãos, D. Afonso IV colocou a sua vingança em prática assim que assumiu o trono. O monarca acusou Afonso Sanches de o tentar envenenar para usurpar o trono. Como castigo, retirou-lhe todos os bens e o irmão bastardo viu-se obrigado a defender-se com recurso às tropas.
Começa uma nova guerra que acaba por terminar graças à intervenção da mãe do rei, a rainha Santa Isabel. Entretanto Afonso Sanches adoece e morre. As atenções viram-se então para o outro irmão bastardo, João Afonso, que é sentenciado pelo rei à pena de prisão por o ter traído ao ajudar Afonso Sanches. Tudo isto aconteceu em apenas dois anos, os dois primeiros anos de D. Afonso IV que, recorde-se, mandou matar Inês de Castro, o grande amor da vida do seu filho, D. Pedro I.
O atentado falhado que podia ter impedido o Salazarismo
No dia 4 de julho de 1937, Salazar (na foto) dirigia-se à moradia de um amigo, Josué Trocado, para assistir à missa na capela ali construída. Quando o carro parou à porta da moradia, Salazar saiu da viatura e logo se ouviu um grande estrondo com vidros a estilhaçar, tampas das sarjetas e pedras da calçada a voarem. Tratava-se de um atentado contra o presidente do Conselho de Ministros que não sofreu nem um arranhão.
Passado o susto, Salazar entrou na moradia na companhia do anfitrião e assistiu calmamente à missa. Depois deste atentado falhado – levado a cabo por anarquistas e elementos da Frente Popular que desde o início do ano já haviam feito explodir bombas junto ao Ministério da Educação, Emissora Nacional e Rádio Clube Português – Salazar passou a circular num carro blindado (Chrysler Imperial) e mudou-se para o Palácio de São Bento.
Esta compilação de alguns destes episódios mais marcantes da História de Portugal, foi feita com base no livro “Grandes Vinganças da História de Portugal. O seu autor é Ricardo Raimundo, licenciado em história e mestre em História Moderna. Conhecido por lançar obras como ‘Mortes Insólitas da História de Portugal’, ‘Escândalos da Monarquia Portuguesa’ ou ‘Maus da História de Portugal e Episódios da História de Portugal Que Não Aconteceram Bem Assim’.
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