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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

orouxinoldaresistencia

26
Jun18

FOTOS FALSAS DE ESTUDANTES ESTÃO A CHEGAR ÀS REDES SOCIAIS MAS SÃO DE ACTORES PORNO

António Garrochinho

ARTISTA PORNO RUSSA

OUTRO EXEMPLO DE FOTO QUE NÃO É DE UM PORTUGUÊS,

AQUI É APRESENTADO COMO ESTUDANTE BRASILEIRO

Ele é José Manuel Velazquez, jovem brasileiro de 19 anos, vencedor do concurso de física quântica a nível nacional, é originário de Rondônia e vai representar o Brasil nas olimpíadas de física.

As falsas postagens descreviam as pessoas das fotos como brilhantes estudantes portugueses que não estariam recebendo a devida atenção.


O que os desavisados não sabem é que essas pessoas das fotos não são estudantes e nem brasileiros, mas sim atores de filmes pornográficos! As pessoas não estão sabendo o que fazer ao ver a parentada caindo nas fake news. Há quem achasse quase bonitinho o tamanho da inocência do pessoal, mas também há quem se divertiu bastante com isso!






26
Jun18

FAZER LUZ DA RAZÃO PORQUE PAGAMOS A LUZ A PREÇO DE OURO

António Garrochinho





Os contratos no Mibel para a compra e venda de electricidade no mercado português no terceiro trimestre deste ano estão a ser negociados a 63 euros por megawatt hora (MWh), um valor que está 40% acima dos 45 euros a que a electricidade está a ser transaccionada na Alemanha. O valor de referência da energia eléctrica no mercado nacional está também 35% acima dos contratos que estão a ser firmados em França, onde o preço do MWh para o terceiro trimestre está em 46,5 euros. Os valores para o quarto trimestre são similares."

Fonte, Expresso


"Os lucros da EDP cresceram 16% para 1.113 milhões de euros em 2017 face aos 961 milhões registados em 2016.

26
Jun18

UM CENÁRIO POSSÍVEL ?

António Garrochinho

O VOTO NO PCP É O ÚNICO QUE PODE GARANTIR QUE NÃO CONTINUEM OS ATROPELOS E O JOGO DE DIREITA POR PARTE DO GOVERNO DE ANTÓNIO COSTA.

SE O PS ATINGIR A MAIORIA ABSOLUTA VOLTARÃO OS TEMPOS NEGROS SE DE BREU NÃO O FOSSEM ELES JÁ HOJE.

AINDA PODERIA ACONTECER QUE QUEM NORMALMENTE VOTA PS TIVESSE ALGUMAS RÉSTIAS DE DE ESQUERDA OPTASSE PELO VOTO ÚTIL, OU SEJA: OS VOTANTES DO PS QUE FOSSEM INIMIGOS DO BLOCO CENTRAL ASSIM EVITAREM O DESASTRE VOTANDO À ESQUERDA DO PS E MANDASSEM O RIO DAR UMA VOLTA.

SE ME DISSEREM QUE ESTOU A DELIRAR ACEITO MAS QUE O CENÁRIO SERIA POSSÍVEL TAMBÉM NÃO É MENTIRA.

ATÉ LÁ OS QUE SÃO VERDADEIRAMENTE DE ESQUERDA NÃO PODEM DESMOBILIZAR E É NA RUA, NA LUTA,QUE TAMBÉM QUE SE PODE REFORÇAR, CONSCIENCIALIZAR E UNIR O POVO QUE ANDA NAS RUAS DA AMARGURA.


António Garrochinho
26
Jun18

VÍDEO - O REINVENTAR DA RODA ! - Darpa quer reinventar a roda com um sistema que se transforma em função do terreno

António Garrochinho


A agência de projetos de pesquisa avançada de defesa, melhor conhecida simplesmente como Darpa, trabalha em um novo tipo de roda para seus veículos militares, que em parte é inspirada nos sistemas de tração dos tanques e muda de forma dependendo do terreno no qual se encontre. Pesquisadores da Universidade Carnegie Mellon, nos Estados Unidos, desenhado em conjunto com a Darpa um sistema chamado "Reconfigurable Wheel–Track", ou roda reconfigurável, que pode mudar de forma de uma roda tradicional a um sistema de esteira com forma triangular de forma quase imediata.


De fato, a transformação da roda toma menos de dois segundos enquanto encontra-se em pleno movimento, graças a que cada uma das rodas conta com seu próprio motor interno. A ideia de reinventar a roda, segundo os pesquisadores, é que o veículo se desloque de maneira otimizada sem se importar com o terreno ou tipo de solo em que se encontre: no caso dos terrenos duros as rodas terão melhor rendimento, enquanto nos terrenos suaves como areia ou barro, o sistema similar aos tanques será bem mais efetivo.

VÍDEO




www.mdig.com.br
26
Jun18

BIOGRAFIA DO ANARQUISTA ALGARVIO BARTOLOMEU CONSTANTINO (1863-1916)

António Garrochinho

bartolomeu-constantino
Operário sapateiro, nasceu em Olhão em 1863 e faleceu em Lisboa, no Beco da Ricarda, n.° 4, em 11 de Janeiro de 1916. Figura controversa, Bartolomeu Constantino foi um extraordinário orador do anarquismo. Sempre que solicitado para falar em algum lugar, fechava a sua pequena banca de trabalho e seguia corajosamente sem a preocupação do que podia acontecer. Foi o promotor do Congresso Anarquista de 1911, abrindo espaço às ideias libertárias e possibilitou logo em 1914 outro encontro acrata. Durante o governo de Afonso Costa viveu no Algarve onde lançou um jornal, com a ajuda da sua companheira Júlia Cruz. Também viveu algum tempo em Almada, mas para o seu espírito irrequieto, os lugares tornavam-se pequenos.
Falando do transladamento dos seus restos mortais A Batalha de 5-10-1922, informa em 1ª página: “A Comissão pró-transladamento convida a C.G.T., U.S .0 ., Federações, Sindicatos, Juventudes Sindicalistas e Comunistas Libertários e grupos revolucionários”. E concluía: “O itinerário é Loreto, Praça Luís de Camões, rua do Mundo, S. Pedro de Alcântara, Praça Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Praça Brasil, rua Visconde de S. Ambrósio, rua Saraiva de Carvalho e Cemitério dos Prazeres”.O proletariado e os anarquistas de Lisboa compareceram em massa a confirmar o apreço ao orador anarquista.
Embora o seu nome tenha caído um pouco no esquecimento, de que urge resgatar, tem hoje uma praceta com o seu nome no Laranjeiro (Almada) (https://goo.gl/maps/e9wD6zf8Rfx)
Bartolomeu Constantino
Bartolomeu Constantino foi um dos anarquistas portugueses mais proeminentes, senão o mais proeminente, no período conturbado da transição entre a Monarquia e a República.
Ao contrário de quase todos os outros revolucionários do seu tempo, que após a queda da monarquia, se foram rendendo às mordomias e corrupção do novo regime republicano, Bartolomeu Constantino manteve sempre uma grande autenticidade de convicções, tendo morrido em 11 de Janeiro de 1916 na mais completa miséria, com 52 anos.
Ao longo da vida esteve preso 36 vezes!
Tal como vem descrito no Assento de Baptismo nº 145 do Livro dos Assentos dos Baptismos da Igreja da Nossa Sra. do Rosário da Vila de Olhão (existente no Arquivo de Faro) e confirmado pelos Arquivos do Cemitério dos Prazeres em Lisboa (onde ocorreu o seu funeral), Bartolomeu Constantino nasceu em Olhão, na Rua das Lavadeiras, em 23 de Junho de 1863, filho de mãe solteira, Antónia da Cruz, e de pai incógnito, neto materno de António da Cruz e Rosa da Conceição.
BartolomeuConstantino.jpg (41137 bytes)
Bartolomeu Constantino
A mãe poderia ser lavadeira, o que é confirmado não só pelo nome da rua em que residia, onde na época trabalhavam as lavadeiras em tanques apropriados, como pela vaga memória que os seus descendentes ainda têm (segundo estas informações, incertas e talvez romanceadas fornecidas pela família, o pai de Bartolomeu Constantino seria um militar francês…).
Não sabemos quanto tempo terá vivido em Olhão (nas consultas efectuadas ao censo de 1863 e 1868, em Olhão, não o encontrámos…) mas teve seguramente uma origem muito humilde pois era sapateiro, provavelmente por influência do seu padrinho, José Francisco Xavier, que tinha esta profissão. Curiosamente os sapateiros constituíam nesta época a classe operária mais instruída do Algarve (Marques, Maria da Graça Maia – O Algarve da antiguidade aos nossos dias: elementos para a sua história – Ed. Colibri, Lisboa, 1999, ISBN 972-772-064-I, p.467) e Bartolomeu Constantino não fugiu à regra: de forma autodidacta educou-se, e dentro da sua actividade política foi sindicalista, actor de teatro e jornalista.
Dotado de qualidades oratórias extraordinárias, tornou-se num exaltado apologista da divisão equitativa da propriedade e das riquezas, passando a sua palavra a ser indispensável nos grandes comícios revolucionários da época.
Abílio Gouveia, num artigo publicado na Voz de Olhão de 3-6-1976 transcreve o comentário que o escritor Rocha Martins faz da actuação de Bartolomeu Constantino na grande parada operária do 1º de Maio de 1893:
Pela primeira vez em Portugal se fizeram em comícios proletários as afirmações duma alta grandeza moral. Celebrara-se a reunião no teatro da Alegria e um anarquista eloquente, o sapateiro Bartolomeu Constantino, fizera vibrar as massas obreiras com os seus arrancos condenatórios da sociedade. Era calvo, de grande barba; os olhos vivos, debruados de vermelho duma inflamação teimosa; a sua voz tocava todas as gamas e, ao erguê-la, furiosa e indignada, o artífice lembrava um apóstolo, como os precursores de cristianismo, pregando, de entre os farrapos, aspirações de fraternidade. Falava para as estrelas, com os pés no pântano; o seu trajo roto esquecia, ante o ardor das suas exortações.
Quando as acabava, entre palmas, ia para o canto humilde da sua casa puxar o fio enserolado com a mão calosa, apertada pelos políticos. Arrebatava o povo e sofria, o honrado trabalhador, o boca de oiro do anarquismo incipiente.
Na sua época – a viragem entre o séc. XIX e o séc. XX – assistia-se ao nascimento de sonhos e utopias, mas também de enganos e mal-entendidos.
Em Portugal, os monárquicos resistiam sem fé à deterioração do seu regime, e os republicanos acreditavam ingenuamente que bastaria destronar o rei para, num passe de mágica, o País reencontrar a sua antiga grandeza.
Noutro registo ideológico, encontravam-se os socialistas não marxistas, os socialistas marxistas liderados por Azedo Gneco, assim como os anarquistas libertários. Todos eles acreditavam que não bastaria acabar com a monarquia para melhorar as condições de vida do povo.
No entanto, enquanto os marxistas e os anarquistas radicais consideravam que o seu objectivo apenas seria conseguido através de uma profunda revolução, quiçá sangrenta, os socialistas não marxistas, também chamados “possibilistas”, acreditavam na possibilidade de mudar aos poucos, com pequenas reformas pontuais e dentro do regime existente.
Bartolomeu Constantino era um anarquista muito próximo dos possibilistas, que apelava à mudança com um mínimo de violência, através da educação das massas operárias. Frequentemente esteve próximo dos republicanos, que considerava aliados tácticos, atendendo que a destituição do rei era para ele, um primeiro passo positivo para a libertação e igualdade entre os homens.
Lutou pela criação de plataformas de entendimento entre possibilistas, anarquistas e republicanos, o que lhe valeu encarniçadas críticas dos anarquistas radicais e dos marxistas. Estes últimos, que não lhe perdoavam a independência e o grande protagonismo que tinha junto dos operários, acusavam-no frequentemente de estar mancomunado com a polícia e os capitalistas.
Devido ao seu esforço, primeiro fundou-se a União Socialista, em 1899, e depois a Federação Socialista Livre, em 1901. Esta última Federação era constituída por vários grupos autónomos em todo o País, havendo em Olhão o Núcleo Socialista “Sempre Avante” e em Quelfes o Grupo “Despertar”.
Em 1903 Bartolomeu Constantino deixa Lisboa e segue para o Algarve, onde aparece ligado ao Grupo “Libertos”, de Faro. Viu-se envolvido nos incidentes ocorridos nesta cidade, em Fevereiro de 1904, por ocasião da visita do primeiro-ministro João Franco. Acusado de ser organizador destes distúrbios, é preso em Junho de 1904, na Associação Marítima, onde residia e, posteriormente, julgado em Olhão no dia 4 de Agosto. É defendido por Afonso Costa (várias vezes futuro primeiro-ministro de Portugal durante a 1ª República) que se desloca ao Algarve. Afonso Costa é então coadjuvado por dois jovens advogados olhanenses que embora não partilhassem da ideologia do réu, acreditavam na sua inocência – João Lúcio e Carlos Fuzeta.
Este julgamento criou em todo o País um extraordinário movimento de solidariedade que abalou a monarquia, mas que não impediu que Bartolomeu Constantino tenha sido condenado à deportação perpétua para Timor. Após o julgamento, Afonso Costa apela da sentença e elogia Bartolomeu Constantino por ser “um operário humilde na sua vida, mas altivo nas suas ideias e crenças”, argumentando que “anarquista é-o, tal como foi Jesus”.
Apesar da pesada condenação, no início de Outubro de 1904, Bartolomeu é transferido para a cadeia de Lisboa, atendendo dois presos terem fugido da cadeia de Olhão uns dias antes, e em Julho de 1905 acaba por ser liberto devido à grande campanha nacional de solidariedade.
Passa a viver em Setúbal, onde instalou em 1906 um estabelecimento de comidas e bebidas e, em Junho de 1908, fixa residência em Almada (Mutela) onde participa activamente nas lutas sindicais da Federação Corticeira.
Teve um papel muito importante nesta região, durante a revolta que conduziu à proclamação da República em 5 de Outubro de 1910: perante o impasse momentâneo da revolta na véspera, em Cacilhas, Bartolomeu Constantino incita e arrasta os operários com o seu discurso inflamado. No dia seguinte, é um dos que proclamam a tão desejada República em Almada.
Após a República, promove o primeiro Congresso Anarquista português de 11 a 13 de Novembro de 1911 (na qualidade de secretário da Federação Anarquista da Região Sul) e dirige o jornal “Comuna Livre” (órgão da União Anarquista Comunista), sendo detido novamente em 1912. Depois da libertação passa a residir em Chaves e, em Janeiro de 1915, foi eleito para a Direcção da “União Operária Transmontana” e, em Agosto do mesmo ano, Secretário-Geral da União Anarquista Comunista.
Regressa a Lisboa, sendo a sua última morada uma loja do Beco da Ricarda, nº 4, na freguesia do Sacramento.
Quando morre em 11 de Janeiro de 1916, na mais completa miséria, a emoção nas classes operárias foi enorme. Segundo os relatos do jornais da época, ao seu funeral ocorrido dia 16 de Janeiro no Cemitério dos Prazeres, assistiram mais de 20.000 pessoas e foi necessário construir oito tribunas para que usassem da palavra todos os oradores que lhe quiseram prestar a última homenagem.
Terá sido o único grande revolucionário da época, que o foi sinceramente até à morte!
Em 1916, o Jornal O Setubalense anunciava que a sua antiga companheira – Júlia Cruz – e filhos agonizavam de fome num mísero quarto de Lisboa, sem cama para dormirem e um cobertor para se agasalharem! Este periódico abriu uma subscrição para ajudar a família de Bartolomeu Constantino, a que concorreu a esmagadora maioria do proletariado setubalense. Também alguns elementos da burguesia setubalense contribuíram na colecta, o que comprova o respeito que a memória de Bartolomeu Constantino granjeava, mesmo de sectores socialmente diferentes.

Fotografia de 1912, fornecida pela bisneta (Dulce C.): da esquerda para a direita temos Bartolomeu Constantino, o seu filho mais novo, Lingg C. (com 7 anos), sua companheira, Júlia da Cruz (professora primária), seu filho mais velho, Antero C.
Bartolomeu Constantino viria a ter ainda mais uma filha, Ana Constantino, nascida em Janeiro de 1914, em Chaves.
Sabemos que em 1917, Júlia da Cruz vivia em Lagos e recebia correspondência dirigida à União das Associações das Operárias de Lagos. Posteriormente,  aderiu ao Partido Comunista, passou a viver com um militante comunista – Alfredo Cruz – que chegou a estar preso no Tarrafal, de quem teve mais dois filhos.
Agradecemos comovidamente à família as fotografias e as informações que nos forneceram.
António Paula Brito
Fonte:
26
Jun18

A CIDADE - JOSÉ AFONSO

António Garrochinho

A CIDADE

A cidade é um chão de palavras pisadas
a palavra criança a palavra segredo.
A cidade é um céu de palavras paradas
a palavra distância e a palavra medo.
A cidade é um saco um pulmão que respira
pela palavra água pela palavra brisa
A cidade é um poro um corpo que transpira
pela palavra sangue pela palavra ira.
A cidade tem praças de palavras abertas
como estátuas mandadas apear.
A cidade tem ruas de palavras desertas
como jardins mandados arrancar.
A palavra sarcasmo é uma rosa rubra.
A palavra silêncio é uma rosa chá.
Não há céu de palavras que a cidade não cubra
não há rua de sons que a palavra não corra
à procura da sombra de uma luz que não há.

A CIDADE cantada por ZECA AFONSO

ORIGINAL É O POETA

Original é o poeta
que se origina a si mesmo
que numa sílaba é seta
noutro pasmo ou cataclismo
o que se atira ao poema
como se fosse um abismo
e faz um filho ás palavras
na cama do romantismo.
Original é o poeta
capaz de escrever um sismo.
Original é o poeta
de origem clara e comum
que sendo de toda a parte
não é de lugar algum.
O que gera a própria arte
na força de ser só um
por todos a quem a sorte faz
devorar um jejum.
Original é o poeta
que de todos for só um.
Original é o poeta
expulso do paraíso
por saber compreender
o que é o choro e o riso;
aquele que desce á rua
bebe copos quebra nozes
e ferra em quem tem juízo
versos brancos e ferozes.
Original é o poeta
que é gato de sete vozes.
Original é o poeta
que chegar ao despudor
de escrever todos os dias
como se fizesse amor.
Esse que despe a poesia
como se fosse uma mulher
e nela emprenha a alegria
de ser um homem qualquer.

ARY DOS SANTOS declamando “MUITOS HOMENS NA PRISÃO”

Zeca Afonso (1929-1987)



Algumas coisas estão tão coladas em mim que até me esqueço de divulgá-las, de espalhá-las… esses pequenos tesouros que temos sorte de tropeçar. Nem me lembro como conheci Zeca Afonso, acho que foi através de João Arruda, violeiro dos melhores aqui de Barão… Já vinha de antes, de sei lá que lugares do coração, essa paixão por Portugal (e Espanha). Conhecer o fado de Zeca foi abrir outras tantas portas e janelas de minha curiosidade sobre essa terra e povo (que se entrelaçam tão intimamente com nossa história e cultura.)
Oriundo do fado de Coimbra, Zeca Afonso foi uma figura central do movimento de renovação da música portuguesa na década de 1960. De caráter político ativo, Zeca ficou associado na memória portuguesa à Revolução dos Cravos, pois uma de suas composições, “Grândola, Vila Morena”, foi utilizada como senha pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) para começar a revolução em 25 de Abril de 1974.
Mas seu envolvimento político já vem de antes: professor em Moçambique, foi preso várias vezes por desenvolver intensa atividade anticolonialista. Em 1963, as canções políticas “Os Vampiros” e “Menino do Bairro Negro”, que integravam o disco Baladas de Coimbra, seriam proibidos pela Censura. “Os Vampiros” viria a tornar-se um dos símbolos de resistência antifascista da época. Entre 1967 e 1970, mantém contato com a LUAR (Liga Unitária de Ação Revolucionária) e o Partico Comunista Português (PCP) o que lhe custará várias detenções pela PIDE (polícia política de Portugal).
Em 1983, quando Zeca Afonso já se encontrava doente, foi-lhe atribuída a Ordem da Liberdade, que o cantor recusou solenemente.
Abaixo seguem algumas coisinhas que selecionei: 1. “Grândola, Vila Morena” com sua letra. 2. Um vídeo com Zeca falando sobre o que achava de sua música ter sido a senha da Revolução dos Cravos. 3. Depois uma canção de protesto de Zeca sobre o “Alípio de Freitas”, padre português que veio para o Brasil e se tornou militante revolucionário durante a ditadura militar, participando da AP (Ação Popular). Essa canção dialoga diretamente com a situação do Brasil da época, era uma canção de protesto, uma canção de alerta internacional sobre o que ocorria no Brasil. Alípio só soube dessa canção em 79, quando ela já tinha rodado o mundo. Alípio acredita que essa canção foi, em grande parte, responsável por sua libertação do cárcere. (Alípio acompanhou seu amigo Zeca Afonso até os ultimos dias no hospital.) 4. E por fim, “Cantigas do Maio”, cantiga que fala das idas e vindas dos amores, seus sofrimentos e alegrias, baseada em quadras populares portuguesas. Essa canção marca outra faceta muito importante de Zeca Afonso: o resgate/recriação da cultura popular portuguesa, algo como faz o Dércio Marques no Brasil. 5. E por fim, mesmo, um poema de Zeca… o Zeca poeta ficou um tanto apagado diante do Zeca cantor. Poema lindo, de final forte.

1. “GRÂNDOLA, VILA MORENA”

Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada esquina, um amigo
Em cada rosto, igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto, igualdade
O povo é quem mais ordena
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola, a tua vontade
Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade

2. ZECA AFONSO FALA SOBRE “GRÂNDOLA”

3. “ALÍPIO DE FREITAS”

4. “CANTIGAS DO MAIO”

5. DOS MUITOS FILHOS GRADOS

Dos muitos filhos grados
que tiveste
nem um se lembra
da velha casa térrea
onde concebeste sem pecado
e estragaste os teus dias
entre a corda da roupa
a cozinha e o homem
Amanhã sem aviso
apanhas um eléctrico*
mudas de roupa
acompanhas
o trajecto dos astros
De repente
é o arco-íris em volta
o guarda-freio** a volúpia
a rua o beiral
duma grande família
Não voltes
* eléctrico: bonde
** guarda-freio: funcionário dos bondes


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26
Jun18

“AY, CARMELA!”

António Garrochinho

“AY, CARMELA!” versão Miguel Ángel Gómez Naharro


“AY, CARMELA” VERSÃO CLÁSSICA


El Ejécito del Ebro
Rumba la rumba la rumba la
Una noche el río pasó
Ay Carmela! Ay Carmela!
Pero nada pueden bombas
Rumba la rumba la rumba la
Donde sobra corazón
Ay Carmela! Ay Carmela!
Contraataques muy rabiosos
Rumba la rumba la rumba la
deberemos resisitr
Ay Carmela! Ay Carmela!
Pero igual que combatimos
Rumba la rumba la rumba la
Prometemos resistir
Ay Carmela! Ay Carmela!
26
Jun18

Victor Jara - O ÚLTIMO POEMA

António Garrochinho



11 de setembro é a data do golpe auxiliado pelos EUA que derrubou Allende no Chile e assassinou milhares de lutadores. Victor Jara, um dos maiores músicos da Nueva Canción foi provavelmente assassinado nesse dia. Este post é uma singela homenagem a Victor e ao povo chileno que viveu outro 11 de setembro.
No dia 11 de setembro, sabendo do golpe que derrubava Allende, Jara correu para a universidade onde trabalhava para se juntar aos 600 estudantes que ocupavam o prédio. Dali, mesmo sem muito armamento, resistiriam aos militares. Os tanques cercaram a universidade. Um companheiro vendo Jara com seu violão lhe disse: “Chegou a hora de trocar o violão pelo fuzil!”. Victor Jara respondeu, de maneira simples, que não sabia atirar e continuaria a usar sua melhor arma… cantou sem parar, animando a resistência. Depois de uma luta desigual, foram obrigados a se render. A multidão foi levada para o estádio Chile. Victor foi rapidamente reconhecido por um oficial: “Você é aquele maldito cantor, não é?”. Separado dos demais, foi duramente espancado. Quando o soltaram ensanguentado, junto aos companheiros na arquibancada, Victor presenciou cenas terríveis… estudantes torturados, outros executados ao tentarem escapar… outros, ainda, suicidando-se, perdidos em desespero. Percebeu logo seu destino. Pediu pedaços de papel e lápis aos companheiros. Mal acabara de escrever este que seria seu último poema, militares o puxavam para conduzi-lo ao Estádio Nacional do Chile. Antes de sair, conseguiu clandestinamente passar o papel para um companheiro que, passando a outro e a outro e a outro, salvaram o manuscrito.
Poucos dias depois, a esposa de Victor identificou seu corpo num terreno baldio. Apresentava sinais nítidos de tortura e dezenas de furos de balas pelo corpo. Os militares, indignados com o poder (humano) de sua poesia e música, haviam brutalmente dilacerado suas mãos. Não percebiam assim que semeavam dez mil outras.

Último poema de Victor Jara

Somos cinco mil
nesta pequena parte da cidade.
Somos cinco mil.
Quantos seremos no total,
nas cidades e em todo o país?
Somente aqui, dez mil mãos que semeiam
e fazem andar as fábricas.
Quanta humanidade
com fome, frio, pânico, dor,
pressão moral, terror e loucura!
Seis de nós se perderam
no espaço das estrelas.
Um morto, um espancado como jamais imaginei
que se pudesse espancar um ser humano.
Os outros quatro quiseram livrar-se de todos os temores
um saltando no vazio,
outro batendo a cabeça contra o muro,
mas todos com o olhar fixo da morte.
Que espanto causa o rosto do fascismo!
Colocam em prática seus planos com precisão arteira,
sem que nada lhes importe.
O sangue, para eles, são medalhas.
A matança é ato de heroísmo.
É este o mundo que criaste, meu Deus?
Para isto os teus sete dias de assombro e trabalho?
Nestas quatro muralhas só existe um número
que não cresce,
que lentamente quererá mais morte.
Mas prontamente me golpeia a consciência
e vejo esta maré sem pulsar,
mas com o pulsar das máquinas
e os militares mostrando seu rosto de parteira,
cheio de doçura.
E o México, Cuba e o mundo?
Que gritem esta ignomínia!
Somos dez mil mãos a menos
que não produzem.
Quantos somos em toda a pátria?
O sangue do companheiro Presidente
golpeia mais forte que bombas e metralhas.
Assim golpeará nosso punho novamente.
Como me sai mal o canto
quando tenho que cantar o espanto!
Espanto como o que vivo
como o que morro, espanto.
De ver-me entre tantos e tantos
momentos do infinito
em que o silêncio e o grito
são as metas deste canto.
O que vejo nunca vi,
o que tenho sentido e o que sinto
fará brotar o momento…”
(Victor Jara, Estádio de Chile, Setembro 1973).

IDENTIFICADO O ASSASSINO DE VICTOR JARA

Edwin Dimter Bianchi não esperava nada daquilo,passados todos estes 30 anos de esquecimento. Pode ser, também, que sempre estivesse à espera deste dia. Como todas as manhãs Edwin seguiu a sua rotina em direcção ao seu local de trabalho, como chefe de um departamento de controle de superintendência da AFP em Santiago do Chile. Quando lá chegou deu os bons dias, tomou um café, falou com os colegas, e seguindo as hierarquias ocupou,com um certo desdém, a sua secretária.
Foi então que o som dos batuques se começou a ouvir. De princípio, o ruído era imperceptível, longínquo, como se viessem de um passado remoto, ainda que insistente e resistente. Mas a verdade é que o murmúrio ia crescendo. Tambores e mais tambores acompanham os cantos que se escutavam desde o passeio da avenida. O estrondo parou à porta do edifício do ministério do trabalho. Edwin começou então a suar rios de recordações. Ouvia gritos e choros. As vozes tornaram-se muito nítidas. Eles estavam ali.
Edwin Dimter Bianchi ouviu claramente como gritavam o seu nome, alto e bom som, entre refrões e contratempos. Um autêntico clamor.
Quem trabalhava por perto começou a olhá-lo como nunca o havia feito. Os gritos e os cantos daquele numeroso grupo, armado de tambores e cartazes, alertava também os transeuntes e todos os funcionários do ministério. E todos eles ficaram a saber que alí estava «O Príncipe». Anos a fio gozando do maior anonimato como um incógnito e cinzento funcionário não impediram a sua identificação e localização. Haviam-no descoberto.
Edwin Dimter Bianchi, «o príncipe», é recordado por muitos pela sua crueldade quando, por ocasião do golpe de estado militar de 1973, esteve no Estádio do Chile durante aqueles dias. Foi Edwin Dimter Bianchi, «o princípe», que assassinou Victor Jara depois de o ter torturado ao longo de várias horas. Victor Jara recebeu então quarenta e quatro tiros. Desde então, os tribunais nada fizeram. Mas as gentes não esquecem. E Edwin Dimter sabe agora que a sua tranquilidade, tal como a sua impunidade, acabaram. Desmascararam-no.
As mãos de Victor Jara perseguem-no e lançam-no ao inferno. Que se foda.
Abel Ortiz
Tradução para português do texto de Abel Ortiz.
Ver o original em:
http://abelortiz.blogspot.com/

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26
Jun18

OS PUM PUNS E O FANTOCHE EDUCADOR DA CLASSE OPERÁRIA - UM DEMAGOGO, UM DIVISIONISTA QUE SEMPRE TRAIU QUEM NELES ACREDITASSE - Arnaldo Matos apela à luta "com tudo o que tivermos à mão"

António Garrochinho


Arnaldo Matos, líder do PCPT/MRPP, apelou esta segunda-feira à luta "contra a exploração a exploração capitalista, com tudo o que tivermos à mão".

O líder do PCTP/MRPP socorreu-se da rede social Twitter esta segunda-feira para apelar à luta de operários “contra a exploração capitalista”.
“Operárias e operários: organizemo-nos e lutemos contra esta exploração capitalista, com tudo o que tivermos à mão!”, escreveu na rede social.
A acompanhar o apelo, Arnaldo Matos partilhou a imagem de duas metralhadoras Ak47.
No mesmo dia, Arnaldo Matos completou a ideia anterior, dirigindo críticas à banca privada e mostrando indignação em relação aos "ladrões de bancos". 
“Temos uma banca privada, paga com dinheiro do povo? Trabalhamos cada vez mais, cerca de 50 horas por semana, aos sábados e domingos, com o salário mais baixo da União Europeia, e ainda pagamos os “roubos dos ladrões de bancos?”, escreveu.


Arnaldo Matos apela à luta "com tudo o que tivermos à mão"
www.noticiasaominuto.com

26
Jun18

RESTAURANTE CHINÊS CONTRATA DESCASCADORA DE MARISCO PARA QUE OS CLIENTES NÃO SUJEM AS MÃOS

António Garrochinho




Recentemente, um restaurante em Xangai, na China, ganhou as manchetes por solucionar um dos problemas do primeiro mundo mais preocupantes da atualidade: descascar lagostins. Não seria bom se alguém pudesse lidar com essas cascas desagradáveis ??e depois lhe entregar a carne suculenta? Para isso os restaurante contratou jovens descascadores que fazem o trabalho sujo nas mesas dos clientes, enquanto estes podem checar as mídias sociais ou jogar videogamesnos seus celulares.


Restaurante chinês contrata lindas descascadoras de lagostins para que os clientes não tenham que sujar as mãos
Parece que essa coisa de lambuzar as mãos e chupar os dedos degustando um manjar dos reis é, para alguns, um problema. De modo que pagando um pouco mais por sua lagosta terá uma descascadora profissional na mesa.

- "Descascar caranguejo ou lagostim é realmente uma coisa muito chata de se fazer e suas mãos ficam sujas, então nós introduzimos descascadoras profissionais aqui", disse o dono do restaurante em um vídeo da Pear. - "Os clientes não precisam fazer isso e podem comer sua iguaria predileta sem ficar com este cheiro forte nas mãos."
VÍDEO
Mas espera, que ainda tem mais... Por um pequeno extra elas também servirão o acepipe direto à boca, como um bebê.
Restaurante chinês contrata lindas descascadoras de lagostins para que os clientes não tenham que sujar as mãos
Pelo visto descobriram um nicho de mercado entre viciados de celulares e o serviço se ornou muito popular entre gamers de videogames. Este tipo de clientes estão permanentemente com as mão ocupadas e não podem se permitir o luxo de perder nem um momento tentando descascar camarões e, ainda menos, sujar as mãos. Vício 2.0.
Restaurante chinês contrata lindas descascadoras de lagostins para que os clientes não tenham que sujar as mãos
Ele Nanxin, uma das descascadoras no restaurante, é estudante universitária do quarto ano com especialização em design de moda. Ela recebem 15% da taxa de serviço, o que aparentemente ajuda a ganhar um salário de 10 mil yuans (quase 6 mil reais) todos os meses. Ela também gosta do trabalho porque lhe dá a oportunidade de interagir com todos os tipos de pessoas.
Restaurante chinês contrata lindas descascadoras de lagostins para que os clientes não tenham que sujar as mãos
Segundo o ShanghaiIst, esse tipo de serviço se tornou popular há um par de anos, depois que uma ex-comissária de bordo iniciou seu próprio serviço de descascar caranguejos e anunciou no mercado on-line do Taobao. Só falta fazer aviãozinho.


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26
Jun18

HISTÓRIA QUASE DESCONHECIDA DE PORTUGAL - O MASSACRE DO COLMEAL PELA GNR

António Garrochinho




O Massacre do Colmeal (Kolmenari em lingua lusitânica reconstruída) é uma das páginas mais negras da História da Lusitânia moderna sob jugo e ocupação portuguesa. Muito embora esta tragédia recente para o povo nativo Lusitano que habitava a aldeia do Colmeal (hoje aldeia fantasma mas que antes do massacre em 1956 tinha 14 famílias com no mínimo 60 habitantes e que também era sede de freguesia com 338 habitantes, englobava mais algumas aldeias menores como Bizarril, Luzelos e Milheiro, no concelho de Figueira da Castelo Rodrigo no distrito da Guarda) tenha acontecido a uma escala muito menor dos primeiros massacres perpetrados por portugueses e espanhóis mais os mercenários estrangeiros ao seu serviço que estão hoje na origem da maioria das elites locais portuguesas, quando estes nos primeiros tempos da "reconquista" cristã e (também) depois da fundação de Portucale (ou condado Portucalense, hoje Portugal) por uma elite astur-leonesa de sangue maioritariamente franco-germânico, e portanto de origem estrangeira, este cobarde crime e massacre português cometido durante o regime fascista português contra o nosso povo nativo lusitano (que na época dos acontecimentos foi censurado e silenciado por toda a comunicação social portuguesa, onde jornais e rádios nacionais e regionais nunca escreveram uma única linha sobre este crime), ele também indicia que outros crimes semelhantes terão ocorrido durante o fascismo e durante os últimos anos da monarquia portuguesa ou após as guerras que oposeram miguelistas contra "liberais", cujos vencedores "liberais" levaram depois a uma reforma administrativa que levou à extinção de centenas de concelhos na Lusitânia e noutras regiões de Portugal, contra a vontade das populações locais. Após a invenção de Portugal (ou a fundação do condado de Portucale por uma elite de origem estrangeira, cujas etapas teriam ocorrido em dois séculos diferentes) no século X quando os "cristãos" portugueses e espanhóis (cujos estados após a sua consolidação no plano económico e no terreno militar estão na formação e insticionalização de ambos estes dois "povos" elitistas) invadiram as terras a sul do rio Douro que embora sob administração militar muçulmana pertenciam aos povos nativos que teriam a posse das terras conseguidas graças a uma reforma agrária, após ferozes lutas, batalhas e guerras contra mouro-berberes islamizados que teriam o apoio dos lusitanos e de todos os outros povos nativos ibéricos, porque os conquistadores islâmicos ou islamizados teriam devolvido as terras aos povos nativos, tanto os estrangeiros portugueses como os espanhóis (astur-leoneses, castelhanos e elites galegas) teriam cometidos muitos massacres contra os nativos lusitanos durante a conquista das suas terras, não só do ponto de vista militar, como durante os tempos posteriores de imposição da nova "ordem" e das leis dos novos conquistadores portugueses que tará levado à expulsão das suas terras e casas que foram roubadas aos nativos lusitanos para serem entregues aos senhores feudais e mercenários estrangeiros que teriam recebido dos reis e da nobreza elitista portuguesa (toda ela de origem estrangeira e não nativa) a "doação" destas terras, hoje os descendentes dos primeiros senhores feudais e mercenários estrangeiros formam as diferentes elites locais portuguesas. E como é evidente em qualquer parte do mundo, quando um povo ou uma família é expulsa da sua própria terra e casa isso levará à sua resistência contra a injustiça cometida. Não surpreende pois que os primeiros estrangeiros portugueses que se estabeleceram na Lusitânia e nas terras a sul do rio Douro, tenham cometido inúmeros e grandes massacrados contra os povos nativos que defendiam as suas próprias terras. 





O facto de não haverem registos históricos nem documentos oficiais portugueses a comprovarem estes massacres não invalida nem poderá negar a sua existência. Massacres como os do Colmeal contra o povo nativo Lusitano e contra os outros povos nativos de Portugal, cometidos pelas "autoridades" portuguesas de forma a defenderem as elites locais, terão sido centenas e não apenas algumas dezenas, evidentemente que a grande maioria terá ocorrido nos primeiros anos da ocupação portuguesa quando atravessaram a margem norte do rio douro e invadiram a Lusitânia e outras terras a sul.

A vida quase sempre decorreu calma e bucólica na isolada e recôndita aldeia do Colmeal, localizada num paradisíaco vale de difícil acesso nas faldas da Serra da Marofa. A pequena comunidade terá sido fundada por pastores lusitanos desde tempos pré-históricos, pré-romanos, pré-cristãos e pré-portugueses. A confirmar este facto local, existe um outro ponto de interesse junto á localidade e que apenas recentemente foi descoberto: as pinturas rupestres. Situam-se junto à povoação nos enormes penedos que ladeiam a ribeira do Colmeal e tratam-se de representações esquemáticas de antropomorfos, datando do 3º Milénio a.C., contudo, a história escrita da aldeia lusitana do Colmeal, a partir da ocupação portuguesa da Lusitânia, transporta-nos para tempos mais recentes, pelo menos ao século XII (1183 é a referência mais antiga que se conhece do local em documentos papais e leoneses antes da referência portuguesa, o rei de Leão D. Fernando II "doou" esta aldeia e outras à Ordem de S. Julião do Pereiro, que seriam por muito tempo sua proprietária). 





A história do Colmeal não se faz, no entanto, apenas de laboriosos camponeses. Esta é também uma terra de pergaminhos fidalgos da elite local portuguesa, já que aqui terá vivido Pedro Álvares Cabral, o famoso descobridor do Brasil. O “solar” brasonado da família, não obstante a ruína, ainda é visível em lugar de destaque na aldeia. Após o Tratado de Alcanizes, os bens desta Ordem passam para a Ordem de Alcântara, em 1297, e as terras de Riba Côa são integradas na Coroa Portuguesa. As disputas com os espanhóis despovoaram os lugares da serra, e D.Afonso V deu-lhe carta de Couto - terra que não pagava impostos por pertencer a um nobre, com o nome de Colmeal das Donas em 1540. Era senhorio deste povo João Gouveia. Com a morte deste fidalgo o Colmeal das Donas passa a pertencer a Vasco Fernandes de Gouveia (1476), e, com a morte deste, a Fernão Álvares Cabral e D.Isabel de Gouveia. Pais de Pedro Álvares Cabral. Mudanças sucessivas levaram a que a burguesia endinheirada, saída da República, se fosse apoderando dos domínios da nobreza. Os Condes de Belmonte não escaparam e venderam o foro do Colmeal das Donas. Os novos proprietários e as novas elites locais mantinham direitos que remontavam ao tempo das sesmarias, ao mesmo tempo que lavravam à pressa escrituras e delimitavam terrenos. As gentes do Colmeal, os nativos de sempre, por sua vez, habituadas à servidão, continuavam a pagar foro. Desta feita, aos feitores dos novos senhorios. 

O triste fado da aldeia foi ditado no início da década de 40 com a chegada de um novo rendeiro, que subia as rendas a seu bel-prazer. Valores que atingiram níveis quase impossíveis de suportar. Durante anos os habitantes "mataram-se" a trabalhar para pagar as rendas. Muitos dos ainda sobreviventes desse tempo recordam esses tempos sem saudade, mas lá vão dizendo que, embora as terras «fossem más», «uns lavravam, outros tinham cabras, outros tinham vacas», e a agricultura lá ia dando para viver e pagar aos rendeiros. 

Mas cada vez mais revoltados com a situação, os habitantes do Colmeal recusaram-se a pagar e, como resultado, tiveram de travar uma longa batalha jurídica que de nada lhes valeu. O processo começou com a acção de despejo para o caseiro da casa dos Cabrais, acusado de deixar de pagar renda ao senhorio, mas anos depois os aldeões passaram à categoria de subarrendatários do mesmo e tratados de igual modo. Por altura das colheitas dois oficiais da justiça chegaram com a sentença final. Mais 25 soldados da GNR fascista. E uma acção de despejo. Estava-se no dia 8 de Julho de 1957.






Em 1527 no primeiro censo oficial a aldeia teria 15 moradores oficiais, não contando com os camponeses e pastores das áreas envolventes nos arredores. No século XVII a aldeia teria 50 habitantes, no início do século XVII teria 80, no século XIX teria 90 habitantes. No início do século XX, inverterá contudo a sua tendência populacional, em 1940 teria só 62 habitantes pertencentes a 14 famílias distribuídas por 12 fogos ou residências. Se é verdade, como já referimos, que inicialmente a posse do Colmeal pertenceu à Ordem Militar de Cavalaria de São Julião do Pereiro, sabe-se, igualmente, que séculos mais tarde o senhorio da povoação passou para as mãos da família dos Cabrais, da Casa de Belmonte. O avô materno de Pedro Álvares Cabral, Vasco Fernandes de Gouveia, possuía mesmo o título de Senhor do Colmeal e, durante gerações, a presença dos donatários e seus familiares seria constante no “solar” dos Cabrais existente na povoação. Não é, por isso, difícil de acreditar que o famoso navegante aqui também tenha residido. Não há, no entanto, qualquer prova quanto à possibilidade desta personalidade aqui ter nascido, como defende alguma da tradição oral na região. 

A historiografia oficial refere, de resto, que terá nascido em Belmonte entre 1460 e 1470. Foi D. Afonso V quem deu-lhe carta de Couto em 1540, era senhor desse povo João Gouveia. Com a morte do fidalgo andou aquela terra de senhor para senhor até acabar nas mãos de Pedro Álvares Cabral. Curiosamente terá sido também por essa altura que é construída a igreja do Colmeal. Da presença dos Cabrais (ou de outros pretendentes e senhores feudais vindos de outras paragens que trocavam ou compravam o feudo, só o povo nativo era local) na aldeia ficou o seu “solar” e o brasão, lavrado numa pedra avermelhada, representando duas cabras. A presença desta família e dos seus símbolos terá sido tão marcante que, sintomaticamente, a lenda que explica a origem da aldeia recorre de uma forma frequente a elementos que se relacionam de forma inegável com os Cabrais e a sua pedra de armas esculpida na aldeia. 

Para os portugueses e as autoridades, a aldeia foi apenas um feudo da elite local portuguesa, dos Cabrais, porque os seus habitantes mais pobres, camponeses e analfabetos, não tinham história nem direitos, eram pouco mais do que escravos do trabalho, do tempo e da injustiça de um país ainda hoje (no século XXI) medieval e feudalista. E só este facto histórico-social interfere com a existência que tem tanto de milenária como de comunitária, patorial, camponesa e despretensiosa do povo local. Até ao dia em que as "autoridades" portuguesas ao serviço duma elite local, condenaram a povoação e os seus habitantes à morte. 

A paz, as tradições, o silêncio e a tranquilidade em que vivem os seus habitantes estava prestes a desaparecer, brutalmente...
O princípio do fim da aldeia do Colmeal, que daria origem à destruição da aldeia, às expulsão dos aldeões das suas casas e terras e ao massacre com algumas dezenas de mortes dos seus habitantes nativos mais resistentes contra a injustiça portuguesa tivera início já antes de 1956. Mas a 8 de Julho de 1957, eram pouco mais das dez horas da manhã, um destacamento da Guarda Nacional Republicana (GNR) composto por 25 praças e 3 oficiais (um militar para cada dois habitantes, isto só podia acontecer se toda a aldeia resistisse e estivésse a lutar pelas suas casas e terras) decididos e fortemente armados (os aldeões, pastores e camponeses inocentes não tinham armas) com metralhadoras e preparados para o pior cenário, irrompem pela aldeia e, em poucas horas, surpreende e expulsa as 14 famílias de cerca de 60 aldeões e camponeses pobres que ali viviam, descendentes de gerações e gerações de lavradores e pastores que desde sempre, desde tempos lomngínquos e pré-históricos tal como os seus ancestrais mais antigos, aí viveram, habitaram, trabalharam e morreram, naturalmente. Nada impediu as autoridades de rebentarem com as portas das casas e levarem os poucos haveres desta gente simples que se refugiou na maioria nos montes e aldeias em redor. Os populares não aceitaram e a GNR viu-se obrigada a intervir para expulsar os resistentes no dia 10 de Julho de 1957. Segundo os populares houve casas queimadas e registaram-se mesmo alguns mortos entre os populares da localidade. Foi a primeira vez que tal sucedeu em Portugal, uma população ser expulsa colectivamente do de uma localidade inteira. 

Da localidade restam as casas que se encontram abandonadas. Inclusive, na velha igreja quinhentista, se baptizaram, casaram e enterraram. Uma mais que discutível e injusta decisão judicial, só possível sob o autoritarismo do regime fascista de então e pela impunidade de uma elite local, transformava o Colmeal numa aldeia fantasma. E toda a povoação desapareceu. 

E a maioria dos seus habitantes fugiu e refugiou-se nas aldeias vizinhas ao cobarde massacre perpretado pelas autoridades portuguesas. Hoje, só as ruínas patrimoniais e a memória colectiva das gentes, dos poucos habitantes ainda sobreviventes e dos lugares resiste, ainda e sempre, ao invasor. Para nos contarem o pouco que se conhece. Para que o massacre nunca seja esquecido pelas gerações vindouras, para que o silêncio nunca nos esmague.
Como foi possível acontecer? Como foi possível na segunda metade do século XX, em plena Europa e num país europeu, como Portugal, acontecer um Massacre contra um povo nativo, inocente e indefeso como este? Cerca de cinquenta anos depois a interrogação (a vergonha para as elites tugas e a indignação para o povo nativo lusitano) continua a incomodar os sobreviventes deste dramático acontecimento ou "episódio" ocorrido em Portugal, mais exactamente no interior da região da Lusitânia amordaçada. ainda hoje o povo nativo Lusitano mais consciente da sua verdadeira identidade étnico-cultural lusitana e não portuguesa, espera um pedido de desculpas das autoridades e dos governantes portugueses, em vão... Como é possível alguém ser expulso da sua terra, da terra onde nasceram e viveram os pais, os avós, os trisavós, os seus directos ancestrais mais antigos vindos de tempos pré-históricos que já habitavam este lugar antes do aparecimento dos portugueses... Alguns deles, de resto, enterrados no cemitério que se desenvolve em torno da igreja paroquial, também ela bem no centro na aldeia. 

Como foi possível um particular (membro duma elite local tuga) reivindicar para si a posse de uma antiquíssima e histórica aldeia que albergou sucessivas gerações de pastores e camponeses? Reivindicar a posse dos terrenos que a circundavam, ainda se poderá compreender. Mas a aldeia!? Uma aldeia antiquíssima que existia há séculos e que era, de resto, sede de freguesia... Reivindicar a posse de uma povoação, das suas casas, ruas, do cemitério e da velha igreja edificada há mais de quinhentos anos, é de facto incompreensível nos dias de hoje. 
Mas não o foi, durante o regime autoritário, ditatorial e fascista de Salazar, há menos de cinquenta anos.

Um pouco sobre as causas da história. 

Os factos remontam aos anos iniciais do século XX antes dos anos '40 do século XX, quando um novo "feitor" anunciava já a desgraça, que afinal a aldeia já não era foro mas que pagavam renda. E todos passavam a andar endividados. Porque o feitor subarrendatário não pagava a renda há quatro anos àquela que era, de acordo com uma escritura de 1912, à nova e legítima proprietária dos terrenos dos herdeiros dos condes de Belmonte. A colheita mal dava para comer quanto mais pagar ao arrendatário: eram impostos da burra, dos cães e da carroça dos machos, mais a côngrua, um alqueire de trigo... Com efeito, em meados dos anos ’50 do século XX, começa a construção da tramóia, Rosa Cunha e Silva a nova herdeira das terras onde se situava a aldeia, queria-se dona de todo o Colmeal, e sob o pretexto de que os habitantes do Colmeal, ao contrário do que até então haviam feito, se recusavam agora a pagar os foros e rendas devidos pelos trabalhos agrícolas que aí desenvolviam, moveu um processo judicial contra aquela comunidade. E foi consultar o seu advogado, um burguês "opositor" do regime com passado, um "socialista" que entre os seus vícios burgueses e hipócritas meditava em "part-time" nos dramas dos pobres, Manuel Vilhena, que baralhou as leis e transformou a povoação anterior à nacionalidade numa quinta privada. 

O pleito correu durante três anos no Tribunal de Figueira de Castelo Rodrigo. Analfabetos na sua esmagadora maioria, incapazes de perceber verdadeiramente o que estava em causa (afinal não era a “sua” aldeia?), impossibilitados de se socorrer de bons advogados, os pouco mais de cinquenta habitantes do Colmeal são obrigados, por ordem judicial, a ser expulsos da sua terra. 

O mandato de despejo é rapidamente e em força posto em pratica pela Guarda Nacional Republicana com 28 militares armados até aos dentes às coronhadas e aos tiros que, em poucas horas, forçou a saída dos habitantes das suas casas dando-lhes apenas tempo para reunirem os seus poucos e parcos haveres. Mas houve muitos que resistiram contra a injustiça de lhes quererem roubar a sua aldeia, as suas terras, as suas casas, a sua família, a sua história, as suas vidas... E pagaram por isso. Foram assassinados e esquecidos pelo poder instalado em Portugal.


Durante os anos seguintes, após a expulsão e o massacre, a muito custo, a maioria dos antigos habitantes do Colmeal foram refazendo a sua vida. Uns emigraram para o estrangeiro (Brasil e França) ou para as grandes cidades do litoral português como Porto e Lisboa. Outros optaram por permanecer no concelho, nomeadamente noutros lugares da freguesia como Luzelos e Bizarril (onde hoje se encontra a Junta de Freguesia, a igreja paroquial e o novo cemitério). A pergunta, essa no entanto, persiste: como foi possível ter acontecido tudo isto? Estranhamente, ou talvez não, ou talvez sintomaticamente, quando entra no jogo toda a especulação imobiliária e financeira envolvente, a alterarem, a baralharem e a deturparem ainda mais as "regras" do jogo, a história deste episódio judicial teve um curioso desenlace. 

A dona e senhora, agora única, do Colmeal acabou por ter que vender, como forma de pagamento, estes seus domínios ao próprio advogado do diabo! Um de tal elitista local com o nome de Manuel Vilhena. Hoje o Colmeal não passa de uma grande quinta agrícola que engloba a arruinada aldeia fantasma, coberta de vegetação, e na qual se destaca a velha igreja medieval, dedicada a S. Miguel, que vem sendo objecto de contínuos e profundos atentados ao longo dos anos tendo-se transformando, também ela, numa triste ruína.


Ainda hoje considerado sede de freguesia (a freguesia devido à desertificação humana das terras do interior patrocinada por sucessivos governos anti-regionalistas e anti-populares portugueses tem hoje apenas 58 habitantes distribuídos por 4 aldeias, mas a do Colmeal tem 0 habitante), o Colmeal foi, por despacho governamental datado de 1985, elevado ao estatuto de Imóvel Classificado. De nada lhe valeu. O saque e as delapidações ao património edificado (nomeadamente à igreja) prosseguiram. Só a decadência e a ruína acompanham o silêncio absoluto e sepulcral que se vive neste bucólico vale encaixado no sopé da Serra da Marofa. Mas nem sempre foi assim. Apesar de nunca ter sido uma grande aldeia, o Colmeal conviveu durante séculos e milénios com os gritos das crianças, o ruído dos carros de bois, o bulício da deslocação dos rebanhos e os tradicionais cantares dos homens e mulheres envolvidos nos trabalhos agrícolas e tradições milenárias. 

À data dos acontecimentos, as características topográficas e naturais do Colmeal contribuíram para que do ponto de vista económico-agrícola, fosse considerada, pelo menos em comparação com a generalidade da vizinhança, como uma zona bastante produtiva. Nestes terrenos se produzia imenso centeio e trigo. 

A abundância de água, nem sempre habitual nesta região, permitia igualmente uma assinalável produção hortícola e alguma vocação para a pastorícia de ovinos e caprinos. As amendoeiras e as oliveiras tão características desta paisagem, estavam também aqui presentes (hoje cada vez mais substituídas pelo eucalipto). 

Contudo as mais afamadas produções do Colmeal foram, durante séculos, o mel (que estará, de resto, na origem do próprio nome da povoação), os pimentos, as rolas e as cebolas. Estas duas últimas chegaram, aliás, a fazer parte da própria designação da aldeia já que esta era, muitas vezes, designada por Colmeal das rolas ou Colmeal das cebolas. A generalidade das ruínas corresponde a antigas e tradicionais habitações de piso térreo, predominando a tradicional arquitectura de alvenaria em xisto sem revestimento, com o esporádico recurso ao granito nalgumas componentes estruturais, como é o caso das padieiras, ombreiras e esquinas dos edifícios. 

Os palheiros e cortes apresentam características semelhantes, embora nestes últimos a cobertura fosse através de materiais perecíveis e não de telha, ao contrário do que acontecia nas habitações onde, apesar do abatimento dos telhados, se detecta ainda essa solução. Do conjunto da povoação salientam-se dois edifícios: a igreja e o “solar” dos Cabrais. A igreja, belíssimo imóvel que terá tido a sua provável origem no século XV e denota uma clara inspiração românico-gótica, não obstante a ruína, a falta de cobertura e a invasão da vegetação, brinda-nos ainda com alguns dos frescos que decoravam originalmente as suas paredes, como é o caso de uma cena de Adão e Eva no paraíso.

Revisionando e explorando as memórias e lamentações dos seus antigos habitantes que viveram os acontecimentos e expõem toda a verdade nua e crua da história desta aldeia "abandonada" ou "fantasma" como dizem alguns portugueses, cujo povo nativo foi vítima de um cobarde massacre, com um grande número de mortos, segundo testemunhos da maioria dos populares que viveram os trágicos acontecimentos em 1957. Entre os testemunhos (e testemunhas) daqueles que viveram a tragédia ou o Massacre do Colmeal, sabemos que ainda hoje há 20 famílias de descendentes dos antigos habitantes do Colmeal que procuram recuperar a propriedade das casas que foram roubadas aos seus antepassados Lusitanos, para eles A ALDEIA DO COLMEAL NÃO É A QUINTA DADA AOS QUIRINOS! Para eles aquele massacre e aquela vergonha contra um povo não pode ficar impune. Porque "aquilo não se fazia!".
Bem hajam 
Carlos Fernandes

skywaterland.blogspot.com

Colmeal – Crónicas da aldeia abandonada

Não há na história nacional dia igual aquele dia de 8 de julho de 1957, quando as forças policiais irromperam pela aldeia do Colmeal (concelho de Figueira de Castelo Rodrigo), rasgando a ruralidade de um Portugal perdido na beira, esquecido de todos e à mercê da lei do mais forte onde a vontade dos poderosos imperou pelo uso da força.
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Dentro da igreja que depois do abandono da aldeia entrou em ruínas
O episódio trágico ficou enterrado na memória coletiva das gentes, assim como as vidas daqueles que pereceram, num secretismo ditatorial que oprimia o país, vergando a miséria dos mais pobres às vontades dos mais ricos.
Pouco ou mesmo nada se escreveu na época do massacre e pouco se estudou ainda hoje, mas sabe-se que Rosa Cunha e Silva devidamente coadjuvada com o seu advogado Manuel Vilhena conseguiu por artifícios e maliciosas intenções alterar o estatuto das terras de Colmeal de aldeia para quinta privada da qual era herdeira. A partir daí bastava exigir os tributos aos habitantes da terra. Grassava a fome e a vida era dura, pouco sobrava para subsistir e menos ainda para suportar as rendas que a nova senhoria impunha.
Lemos que serviu de pretexto para a ação judicial de despejo a mora do pagamento, mas não será de estranhar que assim mesmo acontecesse. Como poderiam os aldeões satisfazer o pagamento dos impostos???
O certo é que o despejo ganhou forma e foi executado à mão armada pelas forças policias. Não se sabe quantos morreram e menos se pode adivinhar para onde fugiram os sobreviventes e qual a sua sorte. Mas desde esse dia 8 de junho que não voltou a haver vida naquela aldeia.

Colmeal.Osmeustrilhos
Restam ruínas das casas de habitação encimadas pelo que resta da igreja. Tudo jaz aqui no sopé da Marofa, que a tudo assistiu, testemunho mudo que engoliu os gritos de desespero e os sons da metralha da GNR.
Parece que no final e para pagar ao advogado a poderosa Rosa terá sido forçada a vender as terras, mas para encontrar o desfecho feliz da história temos de percorrer 60 anos na história até à inauguração do hotel – Colmeal Coutryside Hotel – que nos dias de hoje restitui um pouco de vida à aldeia abandonada.
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O Belíssimo  Colmeal Coutryside Hotelque hoje ocupa quase a totalidade da antiga aldeia.

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Vista panorâmica para a Aldeia de Colmeal, em Figueira de Castelo Rodrigo
Dicas para visitar a aldeia de Colmeal
  • Localização: A aldeia de Colmeal situa-se bem perto da vila de Figueira de Castelo Rodrigo, na estrada que liga esta sede de concelho a Pinhel (estrada N221, mais conhecida por “Excomungada”,  má fama que ganhou na década de 70 por ser perigosa – ver no mapa localização de Colmeal.
  • Pode alojar-se no moderno Hotel e Spa Colmeal Coutryside Hotel.
  • Existem percursos pedestres para aproveitar a paisagem envolvente. Solicite informações na receção do Hotel.
  • Já que está numa das mais bonitas zonas do pais, aproveite para visitar as Aldeias Históricas e o Alto Douro Vinhateiro.

www.osmeustrilhos.pt

26
Jun18

Vilarinho das Furnas

António Garrochinho


Vilarinho das Furnas
A insólita aldeia de Vilarinho das Furnas, no Minho, esconde-se por baixo de águas, e não há aqui nenhuma metáfora a querer dar segundos sentidos às palavras. Literalmente, Vilarinho das Furnas é uma aldeia-submarino, escondida por baixo do Homem, entre o vale da Serra Amarela e da Serra do Gerês, nas que são conhecidas como Terras de Bouro. E, tal como um submarino, de vez em quando vem à superfície, quando o nível das águas desce, fenómeno raro e sazonal, aproveitando a pouca secura que o Minho tem nos meses de Verão. A sua história poderia ser um clássico da Disney, não fosse ela acabar tão mal.
Olhar para Vilarinho das Furnas é como apontar olhos a ruínas romanas perdidas e escavadas debaixo dos actuais solos portugueses. Aqui a diferença é que o amargor é maior, por se tratar de um passado mais recente, de pessoas que ainda hoje estão vivas e deixaram de ter uma realidade tão sua por interesses maiores que não eram os seus. É mais isso que custa, saber que uma aldeia granítica terminou a sua história por vontades alheias e não por saída dos seus filhos. Restam-nos os meses quentes para lembrarmos este pedaço de cultura comunitária agro-pastoril minhota, uma espécie de parente falecido do que ainda é hoje a povoação de Rio de Onor, em Trás-os-Montes. Uma antiga povoação que poderá ser romana ou até celta, que lembra a que Uderzo e Goscinny criaram quando inventaram Astérix: aqui também havia um Zelador, o líder da aldeia, e os Seis, meia dúzia de representantes das famílias que lá moravam – todos eles, Zelador e os Seis, tinham o seu cargo a prazo, tratando-se em todos os casos de posições rotativas entre os habitantes de Vilarinho das Furnas.
Esta ideia de comunitarismo foi-se dissipando a partir de 1970, quando o anúncio de uma barragem ali mesmo em cima saiu para a imprensa. Pouco a pouco, os aldeões levaram o que conseguiram dali para fora. Em 1972, aquando da inauguração da desta imponente parede fluvial, já Vilarinho das Furnas era uma aldeia fantasma, pronta a ser engolida. E foi mesmo engolida pelo Homem, nome do rio mas também da espécie animal que montou tal ideia, numa coincidência de termos que dificilmente se encontrava mesmo que se tentasse. A barragem ficou-lhe com o nome, para a lembrar. É o mínimo.
Antigos moradores que foram indemnizados com amendoins e bananas para de lá saírem, ainda hoje se reúnem para a invocação de memórias. Muitos dispersaram-se por outros casarios nortenhos, uns mais perto, outros mais longe, alguns recorreram à emigração. Fundaram “A Furna”, uma associação que protege o que resta da cultura da aldeia, já que em matéria pouco sobra, e o que sobra está quase sempre oculto. A ela junta-se o Museu Etnográfico de Vilarinho das Furnas. Muito pouco para substituir o que antes havia, mas melhor que nada.
Coordenadas de GPS: lat=41.765813 ; lon=-8.207066
26
Jun18

Batata Doce de Aljezur

António Garrochinho


Batata Doce de Aljezur
Quando todos se alinharam no cultivo da batata dita normal, uma terra que marca o início do Algarve resistiu, mantendo-se firme na plantação de um tubérculo estranho, comprido, por vezes pontiagudo. Agradecemos a teimosia porque é por ela que temos a Batata Doce de Aljezur.

Produto de Aljezur mas não só

Primeiro que tudo, façamos justiça a um outro concelho, o de Odemira, que em parte é responsável pela produção deste produto – o que faz dele filho do Algarve mas também do Baixo Alentejo.
No entanto, a grande cobertura do seu cultivo acontece em Aljezur, o que lhe valeu o epíteto terra da batata doce e que bem pode ser confirmado olhando para o brasão de uma das freguesias do concelho, Rogil, que conta com a planta de batata doce na parte de baixo do escudo.
Juntas, as freguesias destes dois concelhos formam a IGP (Indicação Geográfica Protegida) da Batata Doce de Aljezur.
Esta região portuguesa que se aporta no extremo sudoeste europeu dispõe de condições particulares para a sua produção, sobretudo nas planícies de pouca arborização e nas charnecas secas típicas da Costa Vicentina. Condições essas que confluem com aquelas encontradas do outro lado do Atlântico, de onde a batata foi trazida.
A razão principal é a qualidade dos solos que escondem as batatas – tendo chãos arenosos, pouco sólidos, e um subsolo comprimido, o que acontece é que estas raízes não têm muito espaço para crescer em comprimento, atrofiando-se ao invés, ficando carnudas. Mas, além do solo, não podemos descartar o tempo que lá faz, de um sol quente, por vezes muito quente nos meses de geração (que vão de Março a Novembro, sensivelmente), o que terá o impacto pretendido no açúcar, fundamental para que a Batata Doce de Aljezur dê primazia à parte do doce.
A colheita e a cura têm igualmente um papel central. É importantíssimo que se retirem os tubérculos antes das primeiras chuvas aparecerem e que a cura seja feita, numa primeira semana, ao relento, mas antes que o ar fique frio – razão pela qual o mês limite para o processo seja o de Novembro.

A lenda da Batata Doce de Aljezur

Conta-se entre os aljezurenses que a conquista definitiva de Aljezur aos mouros foi feita com a ajuda de uma poção mágica, a lembrar aquela que Astérix tomava para limpar romanos.
Segundo a lenda, a poção não era mais do que uma espécie de feijoada de batata doce, que fortaleceu os exércitos de Paio Peres, Mestre da Ordem de Santiago, e levou os Cristãos a arrasarem as forças contrárias de tal forma que os próprios sarracenos ficaram estarrecidos.
É desta crença que surgiu o dito popular em Aljezur: no passado ajudou um nobre, mesmo sendo comida de pobre.
A lenda, obviamente, não pode ser levada à letra, até porque sabemos que a batata (doce ou normal) só chegou à Europa bem depois disso, enquanto descoberta do Novo Mundo, quando o Velho Continente decidiu ser hora de se virar para fora. Ainda assim, é reveladora de como o povo de Aljezur e arredores vê a sua batata: um produto com um passado longínquo, enraizado na mais irreversível identidade do seu território.

Utilizações gastronómicas

A Batata Doce de Aljezur (que é sempre tida na variedade Lira) é matéria prima para variadíssimos pratos ou produtos: pudim, pastéis, tortas, feijoada, sopa de feijão ou pão são alguns deles. Até filhoses e compotas e aguardentes.
A ela estará sempre associada a classe mais pobre, como de resto se verificou com a batata normal para os transmontanos. E é nessa faceta de prato do povo que ainda é preferível ser comida, assada ou cozida, dando primazia à polpa.
Recentemente, vários restaurantes e até chefs domésticos resolveram adoptar a batata doce em detrimento da convencional – pelo valor nutritivo e pelo palato -, como acompanhamento de refeições ou como simples petisco (neste último caso, a preferência vai para a sua fritura).

Festival da Batata Doce

É tal a estima que Aljezur tem por ela que já lhe dedicou um evento. Acontece no fim do mês de Novembro, quando a colheita já foi feita, e dura um fim de semana inteiro.
Além de envolver um punhado de restaurantes e tascas na preparação de pratos onde a batata doce é interveniente, promove a sua utilização na doçaria regional.
Anualmente, por ocasião do festival, é também costume ser comunicado um novo desígnio para a batata vicentina: aconteceu recentemente quando dois cervejeiros (curiosamente, um alentejano e outro algarvio, precisamente a origem geográfica da Batata Doce de Aljezur) criaram uma cerveja composta por ela, de nome Tuber Bock.
A feira é complementada com a exposição e venda de outros produtos, salientando-se o artesanato aljezurense.

Onde ficar em Aljezur

Há várias dormidas possíveis em Aljezur, sendo que se destacam as diversas casas tradicionais (e deixe-se lá os hotéis de luxo para as cidades).
Mencionamos, entre outras, a Carpe Vita no morro junto ao castelo, a simples mas confortável Casa Azul que conta com dois quartos, e a também típica Casa da Amoreira que se faz acompanhar de uma pequena horta e goza de vista para Aljezur.

www.portugalnummapa.com

26
Jun18

O fotógrafo húngaro que a PIDE prendeu

António Garrochinho


Nicolás Muller privilegiou a fotografia documental e humanista, militância partilhada com os compatriotas Capa e Brassaï. A retrospetiva Nicolás Muller. Obras-Primas, revela imagens inéditas do Portugal pobre vivido na ditadura de Salazar

No abc da grande fotografia modernista, Nicolás Muller não é o primeiro nome que atiraríamos para a mesa. E, no entanto, este fotógrafo húngaro, um mestre praticamente desconhecido entre nós, documentou o Portugal de pés descalços da década de 1930 que Salazar não queria revelar ao mundo
Estas são imagens dominadas pelo preto e branco, tiradas pelo «turista interminável», batismo da mostra de homenagem feita após a morte de Muller, em 2000. Também se lhe poderia chamar refugiado – para usar uma das palavras obrigatórias do presente. É que o fotógrafo húngaro representa bem a história do século XX europeu: foi obrigado a saltar fronteiras e a exilar-se em vários países devido à ascensão do nazismo e à perseguição aos judeus instigada por Hitler. É com esse estatuto que Nicolás desembarcará igualmente em Portugal, o dito paraíso neutral que Salazar promovia no mundo.

EXÍLIO EUROPEU

Filho de boas famílias, Nicolás Muller cedo abandonou a advocacia, para desgosto do pai. Aos 24 anos, a morar em Budapeste, começa a fotografar para a editora Athaenaeum. O confronto com a realidade despertar-lhe-à a vocação humanista que marcará toda a sua longa carreira. Em 1937, o fotógrafo percorreu toda a Hungria humilde, «feudal e repressiva», onde os trabalhadores dos campos viviam em casebres, comendo pouco, nada sonhando. «Aprendi o que a fotografia pode significar como arma, como documento autêntico de uma realidade existente. Foi aí que me converti numa pessoa e num fotógrafo engagé, comprometido», contou Muller.
Um ano depois, em 1938, quando rebenta a notícia de que Hitler invadira Viena, o pai telefona-lhe, recomendando-lhe que saia imediatamente do país. Nicolás agarra num baú e na câmara fotográfica, e inicia o seu longo exílio. Em Paris, respira «pela primeira vez» o ar da liberdade, e conhece os compatriotas fotógrafos André Kertész, Robert Capa, Brassaï. «Brassaï e Cartier-Bresson são os fotógrafos com quem mais me identifico», admitiria anos mais tarde. No Café Flore, é apresentado a Picasso e Dora Maar. «Picasso viu as minhas fotos e escolheu duas ou três, queria comprá-las. Eu não quis aceitar-lhe dinheiro, e como sabia pouco francês e era tonto, nem me ocorreu pedir-lhe que autografasse ou desenhasse algo nas costas de uma imagem. E assim fiquei sem [ter] um Picasso», confessou anos mais tarde.
Com trabalhos já publicados nas revistas Regards (do Partido comunista), Match, Paris Plaisirs, Plaisirs France, Nicolás Muller percebe, em 1939, os inequívocos sinais da guerra que aí virá: Hitler cresce, ameaçador, sobre as fronteiras vizinhas. «Paris já não era um sítio para um fotógrafo húngaro que balbuciava a língua de Molière. Consegui que a France Magazine me encomendasse uma reportagem sobre Portugal e, com dor no coração e na câmara, despedi-me de Paris», escreveu então.

O «PAÍS NEUTRAL»

A ideia da reportagem era fazer um retrato do próprio Salazar – que, obviamente, nunca se concretizará. Corre o mês de Setembro, quando Muller desembarca do comboio em Portugal. Isto é, fica retido em Vilar Formoso, onde acaba por alugar uma casa. Uma das fotografias patentes na retrospetiva é um belo e melancólico retrato tirado na vila raiana: uma rapariguinha, vendedeira enrolada em roupas pretas e rodeada de sacas de batas, sentada no chão e encostada a um cesto de frutas. O olhar, esse, não se sabe onde estará.
O pai vem novamente em seu socorro: membro do Rotary Club, move os cordelinhos para que o filho consiga um salvo-conduto para Lisboa, onde se instalará numa pensão em pleno Chiado. O fotógrafo parte à descoberta do norte português, viajando por Coimbra, Porto, Guimarães, Meadela, Barcelos, Póvoa de Varzim. Sobre a Invicta, dirá: «Agradou-me o seu porto, cheio de bulício, com um colorido vivo e a ponte de Eiffel.» Parte substancial do portefólio português de Nicolás Muller afadiga-se em torno de barcaças amontoadas, de operários a descarregar sal e conservas à força de braços. Perto, há miúdos de pés descalços e sujidade nas bochechas. Três mulheres - o inverso das Três Graças - refugia-se no chão, com a presença de um polícia em segundo plano. Um homem dorme, derrotado, no empedrado à sombra de uma canga de bois.
O Portugal da década de 1930, visto pela câmara deste húngaro, é um país pobre, desesperançado, dominado, adivinha-se, pelas elites e pela religião. Retratos de senhores bem fardados em grupos protocolares e queixos levantados contrastam com mulheres conversadeiras e humildes. Numa das fotografias, uma longa fila de seminaristas passa, como rebanho ordeiro, à frente da fachada do Hotel Francfort. Do outro lado do passeio, da vida, estão os homens com dentes mal tratados e camisas sujas, mulheres envelhecidas décadas antes do tempo, crianças enroladas em cobertores rotos…

DESAGRADO DE DITADOR

A composição das fotografias de Nicolás Muller, muitas vezes tiradas de cima para baixo, ou viceversa, acentua dramaticamente esta realidade, desviando-a do registo despido de militância. A denúncia faz-se. E Portugal é, aqui, deveras, um fado triste. O retrato não é favorecedor à iconografia de pequeno paraíso aldeão, cultivada por Salazar. E os seus peões tratarão do assunto com as armas costumazes: Muller é preso pela pela PIDE e encarcerado 1na Cadeia do Aljube, condenado co um aviso de quinze dias para abandonar o país.
À saída da cadeia, o fotógrafo húngaro tinha correspondência do pai, eterno protetor, a propor-lhe uma solução: que se batizasse para não levantar suspeitas. Em terra apreciadora de santinhos coniventes, Salazar poderia apreciar o gesto... Com a ajuda da dona da pensão e do pároco da igreja em frente, Nicolás lá recebe os sacramentos. Mas o exílio noutro país já é inevitável: o seu próximo destino será Tânger, em Marrocos. Na maleta, leva as fotografias portuguesas, de que agora se revela um núcleo 
Mas Nicolás Muller. Obras-primas mostra mais do que esse enrugado Portugal. Depois de sete anos a captar cenas marroquinas, o fotógrafo húngaro, então casado com uma espanhola, abrirá um estúdio de fotografia em Madrid – muito bem sucedido junto de público e de elites inteletuais. Em 1990, declara: «Já me sinto velho e muito cansado. A única coisa que ainda me dá prazer é ver a minha mimosa em flor e desfrutar do seu perfume.» A árvore de que fala Muller está na casa das Astúrias, o seu último exílio. Um lugar sobre o qual afirmará: «A vida de cada um consiste numa montanha de erros e algum gesto acertado, e o meu único gesto acertado foi construir esta casa em Andrin.» Talvez pudesse ter dito a mesma coisa sobre um lugar na paisagem portuguesa - se Salazar não tivesse ficado desagradado com a sua vontade de tirar fotografias.












visao.sapo.pt
26
Jun18

UM NOBEL PARA A OCDE, JÁ!

António Garrochinho



UM NOBEL PARA A OCDE, JÁ!


A OCDE «descobriu» que o «elevador social» das principais sociedades capitalistas (da OCDE a 24 países) está «avariado» (1). Isso mesmo: «avariado»!
A OCDE descobriu que «(…) a situação económica das pessoas em Portugal se transmite fortemente entre gerações (…)». Que «(…) em Portugal pode levar aproximadamente 5 gerações para que crianças nascidas em famílias na parte baixa da distribuição de rendimento alcancem o rendimento médio (…)».

Mas não estamos mal acompanhados. Se cá demora 5 gerações a chegar à «classe média», estamos perto da média da OCDE (4,5 gerações), no mesmo patamar que os EUA, Inglaterra e Itália, e melhor que a França e Alemanha, que demoram 6 gerações! O que não deixa de ser interessante para os que, diariamente, atribuem, explicam, todos os males e desgraças do país pelos feitios, vícios, temperamentos, idiossincrasias (e outras fantasias), da «raça portuguesa»!

A OCDE descobriu, nestes tempos tumultuosos que atravessam as sociedades capitalistas, que a receita da social-democracia e da democracia cristã, pregada há 100 anos (talvez melhor, desde que irrompeu o «espectro do comunismo» na Europa (2) e, mais assumidamente, depois da revolução russa de 1917), é falsa. Isto é, o dito «elevador social» movido a educação, segurança social e emprego, sob o jugo do capital, não eleva ninguém! É certo, há excepções para confirmar a regra. 

A OCDE valida, assim, certamente depois de laboriosos estudos e complexos cálculos matemáticos, ao arrepio da sua ideologia, o que os comunistas há muito afirmam: na sociedade de classes do capitalismo, cada classe reproduz a sua classe. Diz a insuspeita OCDE: «(…) 55% dos filhos de trabalhadores manuais crescem para se tornarem trabalhadores manuais.», «Ao mesmo tempo, filhos de gerentes têm cinco vezes mais possibilidades de se tornarem gerentes do que filhos de trabalhadores manuais». E podia dizer mesmo mais: que os filhos do Belmiro têm todas as possibilidades de serem novos belmiros, os filhos do Amorim, novos amorins, tal como os Espírito Santo foram/são filhos dos espíritos santos…( mesmo se o Belmiro e o Amorim são das tais excepções). Não é por acaso que tanto falam e tanto gostam das (grandes) «empresas familiares», das ditas «dinastias empresariais». O capitalismo não só produz (e «alimenta-se» das) desigualdades (sociais e territoriais), como as reproduz, agravando-as mesmo.


Mas a OCDE descobriu também os remédios, isto é, os mesmos velhíssimos remédios das velhíssimas receitas atrás referidas da social-democracia e da democracia cristã (aliás, medidas propostas por muitos socialistas utópicos): a educação! Que agora, segundo a OCDE, deve ser focada na educação pré-escolar e na qualificação dos adultos. Mas há (oh!) inovação: «A falta de mobilidade na parte baixa [do rendimento] em Portugal pode estar relacionada com o elevado nível de desemprego de longa duração (DLD) e a segmentação do mercado de trabalho». Logo, segundo a OCDE reforçar «novos e serviços de emprego e PAMT (Políticas Activas do Mercado de Trabalho) aos mais necessitados». Remédios que, como é sabido, têm dado resultados extraordinários: cada vez há mais DLD, e só não há mais porque a reforma ou a reforma antecipada retiram muitos dessa estatística.


Notável a perspicácia OCDEza. Mas há dilemas e questões difíceis sobre que a OCDE terá ainda de reflectir: os do fundo não sobem porque são DLD ou são DLD porque são do/estão no fundo? E então, os do fundo, empregados e desempregados de curta duração, não sobem porquê? Uma coisa é certa, os do topo, não chegam a DLD, porque nem a empregados chegam… são ricos a tempo inteiro e de longa duração!
      

A OCDE não explica como «as suas receitas» são concretizadas, compatibilizadas com as suas orientações de políticas económicas, financeiras e orçamentais que desencadeiam cortes nos orçamentos da educação e da saúde, nos apoios sociais, a desvalorização do trabalho e dos trabalhadores, despedimentos e desemprego, a instabilidade profissional e maior precariedade. Como se compatibilizam «as suas receitas» com as ditas e celebradas «reformas», sempre presentes nos relatórios e recomendações da mesma OCDE (e FMI, e CE, e etc.) dirigidas aos países seus associados! Aliás, é notável a desfaçatez com que aborda «as reformas» da legislação laboral do anterior governo PSD/CDS: «(…)reformas do mercado de trabalho, reduzindo as diferenças na Legislação de Protecção do Emprego [juro, que é assim que está escrito!!!] entre trabalhadores temporários e permanentes, ao mesmo tempo que estimulando a mobilidade profissional.». Então não foi! Reduziram, sim senhor: passaram milhares de permanentes a temporários e, logo, reduziram «as diferenças» para todos os que passaram a precários; enviaram milhares de trabalhadores para o desemprego e, logo, um futuro de DLD ou de trabalho precário, ou de biscates e, logo, estimularam «a mobilidade profissional». E quando todos os trabalhadores forem precários, é certo: acaba-se a dita «segmentação do trabalho». Descaramento. Mas a avaliação («rigorosa», «científica») da OCDE não se fica por aqui: «As reformas ampliaram a rede de segurança proporcionada pelos benefícios aos desempregados, fortaleceram o seu quadro de activação e aumentaram a oferta de programas de treinamento de curto prazo e a contratação de subsídios para os desempregados». Para lá do «português ocde», a mentira pura e simples. Então não foi! Reduziram a indemnização por despedimento, que foi facilitado, reduziram a abrangência temporal do subsídio de desemprego e, logo, ampliaram a «rede de segurança» e os «benefícios» dos desempregados! Passaram milhares de trabalhadores de uma actividade laboral regular e estável para a precariedade e o desemprego, isto é, para o activismo do corre, corre, para os centros de emprego e a via-sacra das visitas a empresas (sem trabalho) para obter um carimbo e, logo, fortaleceram o «seu quadro de activação»! Descaramento absoluto.                 


E, para cúmulo, a OCDE, de vez em quando, manda-nos o Álvaro, o ex-dito ministro Álvaro, o autor da tal «Legislação de Protecção do Emprego» de que a OCDE tanto gosta, aconselhar-nos a fazer mais das ditas «reformas». Mas ele não precisa de vir, e pode assim poupar dinheiro à OCDE em viagens e alojamento. Como sabemos o primeiro-ministro A. Costa, do Governo PS, tem em curso, com a ajuda do grande patronato, um esforço sério para consolidar a dita reforma que o próprio Álvaro, ministro da Economia, do governo PSD/CDS, fez. Legislação em que o primeiro-ministro A. Costa não quer mexer, no essencial, porque está de acordo.
A OCDE também não explica porque é que o «elevador» está cada vez mais avariado, apesar da manutenção e reparações a esmo por conselho e por conta dos peritos da OCDE, e de outros da mesma laia. Terá alguma coisa a ver com troikas e companhia, de dentro e de fora?


Nós percebemos bem as preocupações da OCDE. Como explica o Público, que se farta de reproduzir e insistir nas suas páginas (o que outros media também fazem) sobre as vantagens das receitas da OCDE, «Como os perigos decorrentes da estagnação social não são nada negligenciáveis, nomeadamente porque reforçam o risco de aparecimento de movimentos extremistas e populistas que põem as democracias em risco (…)» (Público, 16JUN18).
De facto, como dizia, citando ou por conta própria, o Eng. António Guterres, nos inícios da sua carreira de primeiro-ministro, nos tempos idos de meados da década de 90 (ainda longe do pântano onde mergulhou para ressurgir fénix renascida como Comissário da ONU, antes de ser eleito Secretário-Geral: «Se nós não tratarmos dos pobres, um dia, os pobres tratam de nós».

(1) Na tradução literal do comunicado da OCDE (15JUN18) em português, escreveu-se «quebrado»: «Um elevador social quebrado»
(2) «Anda um espectro pela Europa - o espectro do Comunismo», Manifesto Comunista, 1872)


Texto de Agostinho Lopes publicado no Jornal Económico da passada sexta-feira.

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26
Jun18

UMA VERGONHA ! PARA A NATO NUNCA FALTA DINHEIRO ! O QUE É QUE ELA NOS DÁ ? - EUA e Portugal assumem compromisso de aumentar despesas com a NATO

António Garrochinho

O secretário de Estado norte-americano e o ministro dos Negócios Estrangeiros português reafirmaram quinta-feira o compromisso de reforçar as despesas com a NATO e a segurança europeia na energia, assim como enfrentar as ações destabilizadoras da Rússia.
Ainformação foi prestada pelo porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Heather Nauert.

"O secretário [de Estado] Pompeo reniu-se hoje com o ministro dos Negócios Estrangeiros Santos Silva. Eles reafirmaram o compromisso mútuo entre os Estados Unidos e Portugal para aumentar as despesas com a defesa da NATO, reforçar a segurança europeia no setor da energia e enfrentar as ações destabilizadoras da Rússia", adiantou o porta-voz.

Augusto Santos Silva foi recebido na quinta-feira pelo secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, no Departamento de Estado, no primeiro ato de uma visita de cinco dias a Washington, na semana que antecede o encontro entre o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, e o chefe de Estado norte-americano, Donald Trump, na Casa Branca.

As relações entre a União Europeia e os EUA foi um dos temas debatidos pelos dois chefes da diplomacia durante o encontro, com o ministro português a reiterar que "independentemente das diferenças de opinião, que são claras hoje, em matérias tão importantes como as alterações climáticas ou o comércio internacional, a aliança entre as democracias da América do Norte e da Europa é absolutamente vital para a ordem internacional", disse Santos Silva à Lusa, por telefone, após o encontro.

Na reunião, os dois responsáveis abordaram as relações bilaterais, com o ministro a salientar "dois elementos positivos".

Por um lado, quanto à base das Lajes e às medidas de atenuação do impacto ambiental da presença norte-americana na ilha Terceira, Açores, Santos Silva apontou que, com o novo embaixador norte-americano em Lisboa, George Glass, "houve uma mudança positiva no comportamento norte-americano nas negociações".

Outro aspeto enaltecido por Santos Silva foi o aumento das trocas comerciais e do investimento entre os dois países.

Além disso, sublinhou, "atualmente 30% do gás natural liquefeito [GNL] exportado dos EUA para a Europa entra pelo porto de Sines", o que representa "um filão muito grande a nível comercial, económico e de segurança", porque permite aos países europeus ficarem menos dependentes do gás e petróleo de outros países, "designadamente a Rússia".

Do ponto de vista internacional, Pompeo prestou ao governante português "informação muito útil" sobre as negociações em curso entre os EUA, a Coreia do Norte e a China.

"Também informei sobre a relação entre Portugal e a China, que também são úteis para os EUA terem uma noção clara do que é essa relação, de qual é o seu alcance e natureza", acrescentou.

A reunião serviu também para "preparar bem o encontro", na próxima quarta-feira, entre Marcelo Rebelo de Sousa e Donald Trump na Casa Branca, que culminará a celebração do "Mês de Portugal nos Estados Unidos", no âmbito do qual foi celebrado o 10 de Junho com as comunidades de Massachusetts e Rhode Island.

A visita de Santos Silva a Washington prossegue, na sexta-feira, com uma intervenção no seminário da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), sobre o tema "Enduring Alliances".

No sábado, o chefe da diplomacia portuguesa participa na "Inaugural Portuguese-American National Conference", em que intervirá o secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres.

Já na segunda-feira, marca presença num jantar de trabalho sobre gás natural liquefeito, "com o objetivo de promover Portugal como 'Hub' europeu", segundo nota oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

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26
Jun18

EM FUTEBOLÊS

António Garrochinho

Mais faltas, mais penaltis, mais amarelos (UGT), mais expulsões tenho sofrido eu de maneira inglória e injusta.
Muitos, mesmo aqueles que marram contra o vermelho já me mostraram o cartão, embora ao levantar o dito o fizessem com cara de enjoados.

A minha estratégia passa, passou sempre, pelo manter vivo e intocável o meu posicionamento ideológico e como sou frontal e detecto facilmente as " mudanças, o "virar do bico ao prego", há por aí muitos seleccionadores que me querem ver fora de campo, já que não me conseguem "comprar" e não são capazes de me fazerem abanar as orelhas, concordando com os interesses só de alguns, e não com os da minha equipa que é vasta,e embora lhe aconteçam derrotas, um dia ganhará e acabará com o jogo viciado dos poderosos e lacaios.

Atacar, defender, saber estudar a táctica dos adversários e inimigos, chutar para fora e até assentar umas belas caneladas nos que praticam jogo sujo nada há que o proíba.

Todas as armas são boas e devem ser utilizadas pelos justos contra a corja.


António Garrochinho
26
Jun18

Há engenharia portuguesa nos comboios mais modernos do mundo

António Garrochinho


A Nomad Tech é uma empresa participada em 35% pela EMEF que exporta serviços para alguns dos caminhos-de-ferro mais desenvolvidos do mundo. Suíços, alemães, noruegueses, ingleses e australianos estão entre os seus clientes.
Relações públicas

Augusto Costa Franco e Nuno Freitas dirigem a Nomad Tech, da qual são accionistas Adriano Miranda
O jovem engenheiro faz zoom e no écran do computador aparece o local exacto onde se encontram naquele momento um conjunto de locomotivas alemãs que andam pela Europa a rebocar comboios de mercadorias: Alemanha, Holanda, Bélgica, República Checa, Polónia. A liberalização tem destas coisas e no centro da Europa é normal haver companhias ferroviárias a atravessarem as fronteiras de vários países.
“Podemos ver se estão paradas ou a circular e conseguimos monitorizar vários parâmetros do seu funcionamento para detectar eventuais avarias, ou até antecipá-las e, quando recolherem às oficinas, serem logo resolvidas”, explica o técnico que é um dos 21 funcionários da Nomad Tech, uma empresa de tecnologia de ponta vocacionada para a ferrovia.
No pólo da Asprela (Porto), onde a empresa tem a sede (possui ainda instalações na Amadora), é normal, também, monitorizar comboios suburbanos numa cidade australiana. Aquela hora da manhã muito poucos, porque dorme-se na Austrália quando em Portugal se trabalha. E vice-versa. “Às vezes temos reuniões pelo Skype durante a madrugada”, conta Augusto Costa Franco que, juntamente com Nuno Freitas, são os dois engenheiros responsáveis da Nomad Tech, que foi fundada a partir da EMEF, a empresa de manutenção de equipamento ferroviário da CP.
A sua origem remonta ao projecto de alta velocidade que acabou por não avançar em Portugal. Há 10 anos a CP preparava-se para operar com comboios idênticos ao TGV e criou a UMAV (Unidade de Manutenção de Alva Velocidade) que tratou no imediato de cuidar dos Alfas Pendulares que são o material tecnologicamente mais avançado da sua frota. Com o mesmo objectivo, foi criada a Unidade de Inovação e Tecnologia da EMEF.
A aplicação do conceito de Manutenção Centrada na Fidelidade (RCM na nomenclatura inglesa) entusiasmou a dinâmica equipa de jovens engenheiros que então começavam a trabalhar na EMEF. A RCM era uma prática utilizada na indústria aeronáutica que podia ser replicada para os comboios.
Em pouco tempo toda a frota dos pendulares passou a seguir essa metodologia da manutenção em conjunto com a tecnologia da monitorização remota. Tal traduziu-se em ganhos elevados de eficiência e disponibilidade. Havia avarias que se reparavam à distância e outras que já vinham identificadas e reparadas imediatamente nas oficinas. Graças a isso, os ciclos de imobilização, que se querem curtos, permitem uma elevada disponibilidade da frota.
A tecnologia portuguesa chamou primeiro a atenção dos suíços, que também possuíam pendulares iguais aos nossos. Em pouco tempo, a EMEF ensinou-os (a expressão é mesmo essa) a trabalhar com esta metodologia e começou a vender-lhes serviços. E, claro, como a empresa pagava pouco, não foram poucos os seus operários e alguns engenheiros que fizeram as malas e foram trabalhar para a Suíça.


www.publico.pt

26
Jun18

O deserto do Sara mata ainda mais migrantes do que o Mediterrâneo

António Garrochinho


Argélia abandona milhares de pessoas no deserto expulsando-as para o Níger.
Marrocos, Saara Ocidental, Ceuta, Imigração

Não há tantas provas de que o deserto mata, mas estima-se que seja mais perigoso do que o mar 
O mar Mediterrâneo tornou-se o símbolo das travessias perigosas, dos barcos apinhados, dos migrantes e refugiados mortos, embora o verdadeiro número nunca se saiba, provas de naufrágios e as suas vítimas davam, por vezes, à costa. A rota é tida como a mais mortífera. Mas há um local em que se estima que morram ainda mais pessoas, a maior parte das vezes sem deixar vestígios: o deserto do Sara.
A Organização Internacional para as Migrações (OIM) e o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) têm vindo a alertar para este fenómeno. “Ainda não temos uma estimativa do número de mortos no deserto” do Sara, declarou há meses o director para a África Ocidental e Central, Richard Danziger, numa conferência em Genebra. Poderão ter morrido no deserto, perdidas, com sede, exaustas e sob um calor de mais de 40 graus, até 30 mil pessoas desde 2014. Sozinhas, com filhos, em pequenos grupos.
O que se sabe é através de pessoas que fizeram a viagem e sobreviveram. Algumas, que conseguiram manter os seus telefones, gravaram o que aconteceu para responsabilizar as autoridades. Porque muitas vezes o facto de estas pessoas se encontrarem no meio do nada tem um responsável: as autoridades fronteiriças de países, sobretudo da Argélia.
Ju Dennis, da Libéria, filmou a sua deportação com um telefone que conseguiu manter escondido no corpo, conta a agência Associated Press que recolheu uma série de testemunhos. Foi levado num camião junto com dezenas de outros durante horas por quase estradas de areia, e deixado num local chamado “ponto zero”, onde guardas armados lhe indicaram a direcção do Níger – e lhe ordenaram para seguir viagem. Sem água, sem comida, sem orientação. Há relatos de guardas a disparar quando os expulsos não andam suficientemente depressa.

"Sentaram-se e deixámo-las"

São por vezes grupos de centenas de pessoas, mas depressa começam a dividir-se. “Houve pessoas que não aguentaram. Sentaram-se e deixámo-las”, contou pelo seu lado Aliou Kande, senegalês de 18 anos, que fez uma viagem semelhante mas a partir do Mali. Nunca mais as viu.
A Argélia não publica dados sobre as expulsões de migrantes. Mas a OIM diz que desde que começou a contar, em Maio de 2017 – quando 135 pessoas foram deixadas perto da fronteira para andar até ao Níger – que os números não param de aumentar. Em Abril deste ano foram 2888. No total deste período, sobreviveram 11.276 pessoas.
“Chegam aos milhares”, comentou Alhoussan Adouwal, responsável da OIM na localidade de Assamaka (Níger), a mais perto da  fronteira com a Argélia, encarregado de dar o alerta quando chega um grupo. “A escala das expulsões que estou a ver agora, nunca tinha visto nada semelhante”, disse à agência de notícias norte-americana. “É uma catástrofe”.
A OIM e o ACNUR têm equipas a correr o deserto, e por vezes conseguem salvar quem encontram a vaguear no calor. Algumas pessoas vagueiam dias seguidos antes de serem salvas. Muitas outras não aguentam. Por vezes as equipas encontram mortos – em 2013, num caso que chocou o país, durante cinco dias foram sendo encontrado cadáveres. No final eram 92 corpos, incluindo de 33 mulheres e 52 crianças. Alguns estavam em pequenos grupos, outros morreram sozinhos.

Drogas e armas juntam-se aos perigos

No Níger, os migrantes também se arriscam a ser abandonados pelos traficantes. “Por vezes são enganados pelos traficantes, que fogem com o seu dinheiro, deixando-os no meio do nada, num país que não conhecem, a tentar ganhar dinheiro para continuar viagem ou voltar a casa”, descrevia Guiseppe Loprete, responsável pelas operações da OIM no Níger, à agência de notícias das Nações Unidas.
Um recente combate ao tráfico de pessoas das autoridades do Níger levou a que os traficantes evitem agora parte da rota mais popular, usando desvios e aumentando o perigo. Com a crescente penalização, também os que lucram com a viagem são cada vez mais traficantes também de armas e droga.
Dos que se cruzam com as patrulhas das organizações humanitárias, a maioria opta por seguir de autocarro até Arlit, a seis horas numa estrada de areia de Assamaka. Daí vão até Agadez, a cidade do Níger na rota de comércio há gerações, e que está agora no centro de vários tráficos.

Os avisos de quem sobreviveu

Em Agadez, quem é resgatado pelas equipas de socorro e faz a viagem de regresso para o seu país (ou a sua terra, muitos são naturais do Níger) transforma-se muitas vezes num porta-voz dos perigos da viagem quando se cruzam com quem chega ali para na viagem para norte.
Daniel, dos Camarões, é um deles. Aos 26 anos saiu do seu país com o irmão gémeo e o tio e sofreu nas mãos dos traficantes entre o Níger e a Líbia, a paragem que se segue ao deserto do Sara. Na gradação de infernos pelos quais é possível passar a Líbia e as torturas dos traficantes está num lugar cimeiro.
Depois de lhes contar a sua história, de ser preso e espancado por não ter mas dinheiro para dar aos traficantes, não sabe o que decidem. “Isso é com eles, mas fiz a minha parte ao avisá-los”, conta no site do ACNUR.
Na cidade, a Associated Press descreve como todas as segundas-feiras à noite dezenas de carrinhas passam o posto de controlo para a abandonar, cheias de pessoas com uma carga de garrafas de água para enfrentar o Sara, de olhos fixos no que está em frente. A partir dali, só se vê pó.

 www.publico.pt 
26
Jun18

Governo aprova entrada “simbólica” da Santa Casa no Montepio

António Garrochinho


O ministro do Trabalho e Segurança Social mantém a "convicção firme" de que deve ser criado um banco social. Ou seja, aprova a entrada da Santa Casa no capital do Montepio.

O Governo aprovou a entrada da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) no capital do Montepio. Depois de ter estado em cima da mesa um investimento de 200 milhões, o Executivo, num novo quadro que regula a composição da carteira de investimentos desta entidade, diz ser necessário “rever a intensidade do esforço financeiro”, o que reforça a perspetiva de que esta operação será meramente “simbólica”. Isto na semana em que está agendado um Conselho Geral da Associação Mutualista, quando os conselheiros deverão dar “luz verde” à compra de 2% do banco.
“Não há qualquer mudança no que se refere à convicção firme da importância da existência de uma instituição forte e robusta detida por entidades da economia social”, afirmou o ministro do Trabalho e da Segurança Social, numa resposta enviada ao CDS, que questiona, assim como os outros partidos, a entrada da Santa Casa no capital do Montepio. Foi em abril que o Parlamento aprovou recomendações do PSD e CDS para que o Governo impedisse esta operação.
“Não subsistem dúvidas quanto à relevância da participação da SCML num projeto dessa natureza”, refere ainda Vieira da Silva, realçando, contudo, que “ao apresentar-se a definição de um novo quadro que regule a composição da carteira de investimentos da SCML, parece necessário rever a intensidade do esforço financeiro previsto”.
Neste sentido, refere, “aponta-se a confirmação do empenho da SCML no projeto de desenvolvimento e reforço da economia social, limitado a uma participação realmente simbólica”.
Recorde-se que, inicialmente, previa-se que a Santa Casa pudesse avançar com a compra de uma posição até 10% do capital do banco, participação que teria um custo estimado de 200 milhões de euros. Perante as críticas à operação, e depois dos partidos terem aprovado uma recomendação no sentido de o Executivo travar este investimento, a SCML passou a compradora de apenas 1% por cerca de 18 milhões. Outras misericórdias e IPSS ficarão com outro 1% do banco.
É já esta quinta-feira que Associação Mutualista vai abrir a porta à entrada da SCML no capital do Montepio, como avançou o ECO. A venda de uma participação de até 2% no capital social do banco a todas as misericórdias e entidades sociais que manifestaram interesse em participar neste investimento será votada, e ao que tudo indica aprovada, em Conselho Geral da Mutualista.
Os conselheiros da entidade liderada por Tomás Correia vão reunir-se no dia 28 de junho. E, de acordo com a ordem de trabalhos do Conselho Geral, em cima da mesa está a votação da alienação de parte do Montepio à SCML e a outras instituições da economia social.
A entrada da SCML, juntamente com outras entidades sociais, no banco liderado por Carlos Tavares deveria ter ficado concluída no final do ano passado, um prazo que acabou por ser estendido até maio e que encontra agora um desfecho. Ao que o ECO apurou, a partir do momento que o Conselho Geral aprove esta venda da participação, a SCML e as outras entidades poderão entrar no capital do Montepio no dia seguinte.
(Notícia atualizada às 12h43 com mais informação)
26
Jun18

França lança força militar europeia à margem da UE (e Portugal faz parte)

António Garrochinho


Bruxelas tem um processo de decisão demasiado lento, argumenta Macron. Na NATO há um conflito com Trump. Assim, nove países vão cooperar em operações internacionais.
As forças francesas assumiram a operação de 2013 no Mali

Descontente com os contornos de um plano de cooperação permanente para a Defesa, constituído no final do ano passado por 25 Estados-membros (PESCO, na sigla inglesa), a França decidiu aliar-se a outros oitos países para criar uma força comum de intervenção militar.
No projecto, à margem da União Europeia, estão Portugal, Espanha, Alemanha, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Estónia e o Reino Unido – que Paris consegue assim manter como aliado chave nesta área, independentemente do “Brexit”.
A ideia desta força, cujo compromisso foi formalizado segunda-feira com a assinatura de uma carta de intenções, é agilizar os procedimentos para actuar conjuntamente em missões militares de interesse europeu.
Por exemplo: “Se tivéssemos que voltar a fazer uma operação como a Serval, iniciada em 2013 no Mali, desejaríamos fazê-la entre vários países. Mas os atrasos e as decisões na UE ainda são demasiado demoradas face à urgência que uma situação crítica pode requer”, explicou Florence Parly, ministra da Defesa de Emmanuel Macron, numa entrevista publicada no domingo pelo jornal Le Figaro. África será o destino mais provável destas operações, tratando-se de uma área de grande interesse para a segurança europeia.
“Assinámos este compromisso com Macron, é um fórum para abordar a cultura de compromisso em termos de defesa e de serviços secretos. E Espanha tem protagonismo neste campo”, disse ao El País a nova ministra da Defesa do Governo liderado pelo socialista Pedro Sánchez, Margarita Robles. A ministra falava a partir do Luxemburgo, onde os responsáveis pela Defesa estão reunidos.
Esta iniciativa foi esboçada inicialmente num discurso que Macron proferiu na Universidade Sorbonne em Setembro de 2017, quando defendeu a necessidade de “se ir mais longe” do que vai a cooperação estrutura no âmbito da UE. “A nossa incapacidade para actuarmos juntos de forma convincente questiona a nossa credibilidade como europeus”, disse então.
No núcleo de países que começou por defender uma maior integração na defesa europeia estava Itália, que agora fica de fora desta iniciativa. É o resultado dos embates que o novo Governo italiano (uma coligação entre um partido de extrema-direita, a Liga, e o anti-sistema Movimento 5 Estrelas, ambos muito eurocépticos) já teve com Paris, nomeadamente a propósito da recusa de Roma em deixar desembarcar navios de ONG com centenas de pessoas resgatadas do Mediterrâneo a bordo.
Esta iniciativa quer-se lançada à margem da União, por causa das limitações que esta acarreta, e também da NATO, isto por causa das posições do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que exige aos parceiros europeus da Aliança Atlântica um aumento dos seus gastos em defesa. O plano de Macron é conseguir a reafirmação da autonomia europeia, pelo menos de um grupo de países.


www.publico.pt
26
Jun18

Recibos verdes: Segurança Social informa sobre mudanças nas isenções

António Garrochinho


Informação já começou a ser divulgada aos trabalhadores independentes, segundo a Segurança Social.

Recibos verdes: Segurança Social informa sobre mudanças nas isenções



partir de janeiro de 2019 há novas regras para quem acumula trabalho dependente com recibos verdes e que podem levar ao pagamento de contribuições, de acordo com a Segurança Social. A isenção ou não da contribuição irá depender do rendimento em questão.
Num comunicado, a Segurança Social explica que a “base de incidência dos trabalhadores independentes, que acumulem atividade com atividade profissional por conta de outrem e cujo rendimento relevante mensal médio apurado trimestralmente como trabalhador independente for de montante igual ou superior a quatro vezes o valor do IAS, corresponde ao valor que ultrapasse aquele limite”.
Na prática, isto significa que estará isento quem apure um rendimento relevante inferior a quatro IAS. Em 2018, quatro IAS equivalem a 1.716 euros, mas este é um valor que muda todos os anos.
Esta é uma das alterações publicadas no Decreto-Lei n.º 2/2018 de 9 de janeiro. De acordo com a Segurança Social, “foram enviadas notificações de cariz informativo aos trabalhadores independentes, dando-lhe conta das principais alterações introduzidas no respetivo regime de segurança social, as quais produzirão efeitos a partir de janeiro de 2019”, pode ler-se no site.

www.noticiasaominuto.com
26
Jun18

PERFIL FACEBOOK

António Garrochinho


DEFINITIVAMENTE
ATÉ AO FECHAR DA PÁGINA E NÃO JULGUEM QUE É POR NÃO TER CAPACIDADE DE AGUENTAR A "PRESSÃO".

NÃO ESTOU A DESABAFAR, ESTOU DETERMINADO A TOMAR ESTA POSIÇÃO SEM QUALQUER INCÓMODO ONDE ME SINTA INJUSTO PARA OS AMIGO(AS)S E CAMARADAS QUE ESTIMO E QUE ME ESTIMAM.

NOS ADÁGIOS POPULARES DIZ.SE QUE QUEM NÃO SENTE NÃO É FILHO DE BOA GENTE E QUEM NÃO DEVE NÃO TEME.

SE NECESSÁRIO FÔR VOU FECHAR ESTE PERFIL E PARTIR PARA OUTROS ESPAÇOS (QUE OS HÁ) ONDE SE POSSA DISCUTIR A VIDA SOCIAL E POLÍTICA DESTE PAÍS SEM QUE APAREÇAM OS "BATE E FOGE" OS QUE SE REIVINDICAM DE UM POSICIONAMENTO IDEOLÓGICO SEJA DEMOCRÁTICO, SOCIALISTA, COMUNISTA E ANTI FASCISTA. .

ESTOU FARTO ATÉ À MEDULA DOS QUE SÃO MERAMENTE QUEZILENTOS, DOS QUE SÓ VEEM NUM SENTIDO E NÃO RESPEITAM A OPINIÃO DE OUTROS TOMANDO POSIÇÕES QUE NÃO SE ADEQUAM AOS VALORES DE ABRIL QUE DEFENDO E DOS QUE SE AUTO ROTULAM DE REVOLUCIONÁRIOS MAS O NÃO SÃO.

NA MINHA PÁGINA NÃO HÁ PACHORRA PARA IDEIAS FASCISTAS E ISSO TODOS SABEM E JÁ CONSTATARAM AO LONGO DOS ANOS ONDE DESAFIO AS MÁS LÍNGUAS A APONTAR-ME IDEIAS, TEXTOS FRACTURANTES QUE QUEBREM A UNIDADE DOS QUE SEMPRE DEFENDI, OS EXPLORADOS, AS VÍTIMAS DESTE FASCISMO MODERNO QUE DURA HÁ QUARENTA E OITO ANOS, TANTOS JÁ COMO A DITADURA DO SALAZAR/MARCELO.

ESTOU FARTO DE CONFUSÕES ONDE O QUE SE EXPLORA NO QUE ESCREVO, NUNCA É NO SENTIDO DE ARRANJAR SOLUÇÕES, DAR OPINIÃO CONSTRUTIVA E SIM ARRANJAR PELEJAS DESNECESSÁRIAS MUITAS DAS VEZES DESCONTEXTUALIZANDO PROPOSITADAMENTE, POR MÁ FÉ, IGNORÂNCIA, REVISIONISMO OU DIVISIONISMO O QUE DIGO.

PARA PEDITÓRIOS FASCISTAS, FASCIZANTES E SECTARISTAS CÁ O RAPAZ NÃO ESTÁ DE SERVIÇO.


António Garrochinho
26
Jun18

Os Justos - Jorge Luis Borges

António Garrochinho

Os Justos

Um homem que cultiva o seu jardim, como queria Voltaire.
O que agradece que na terra haja música.
O que descobre com prazer uma etimologia.
Dois empregados que num café do Sul jogam um silencioso xadrez.
O ceramista que premedita uma cor e uma forma.
O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade.
Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto.
O que acarinha um animal adormecido.
O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.
O que agradece que na terra haja Stevenson. *
O que prefere que os outros tenham razão.
Essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mundo. 






https://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Louis_Stevenson
Jorge Luis Borgesin "A Cifra" Tradução de Fernando Pinto do Amaral

voarforadaasa.blogspot.com
26
Jun18

O CUSTO HORA DA MÃO DE OBRA EM PORTUGAL NO 1.º TRIMESTRE de 2018 DIMINUIU 1,5% QUANDO COMPARADO COM O DO 1.º TRIMESTRE de 2017, ENQUANTO NOS PAÍSES DA UNIÃO EUROPEIA AUMENTOU 2,7%: A SOBRE-EXPLORAÇÃO DOS TRABALHADORES EM PORTUGAL AUMENTOU EM 2018

António Garrochinho



O CUSTO HORA DA MÃO DE OBRA EM PORTUGAL NO 1º TRIM.2018 DIMINUIU 1,5% QUANDO COMPARADO COM O DO 1º TRIM.2017, ENQUANTO NOS PAÍSES DA UNIÃO EUROPEIA AUMENTOU 2,7% : a sobre-exploração dos trabalhadores em Portugal aumentou em 2018

Quadro 1- Evolução do custo hora da mão de obra entre o 1ºTrim.2017 e o 1º Trim.2018 na U.E


Eugénio Rosa, 17-6-2018,  edr2@netcabo.pt

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