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orouxinoldaresistencia

POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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04
Jul18

Google abre milhões de contas de email a olhos alheios

António Garrochinho



A Google juntou-se ao Facebook na lista dos gigantes da internet para quem a privacidade dos seus utilizadores não conta: deu acesso às contas do Gmail a terceiros, incluindo o conteúdo de mensagens.
A Google deu acesso total às contas do Gmail, o seu serviço de email, a empresas «parceiras», que puseram os seus trabalhadores a vasculhar o conteúdo das mensagens de milhões de utilizadores. Para isso, basta que a conta seja utilizada para aceder a determinadas aplicações: a partir daí, a via aberta à correspondência pessoal é assegurada pela transnacional.
A revelação foi feita pelo The Wall Street Journal, que dá conta que empresas como a Return Path, especialista em marketing por email, leram as mensagens de milhões de utilizadores do Gmail, mas também com contas de email da Microsoft ou da Yahoo, com o intuito de desenvolver os seus produtos.
No caso da Google, a revelação surge pouco depois de esta ter garantido que ia deixar de usar os seus computadores para pesquisar as caixas de email e usar essa informação para refinar os resultados da sua própria plataforma publicitária.
O esquema é idêntico ao que está por trás do escândalo que envolveu o Facebook: a partir do momento em que é dado o acesso de alguma aplicação à conta, a empresa que desenvolveu essa aplicação fica com acesso total. Neste caso, para além de informações pessoais, essas empresas terceiras ganharam também acesso a correspondência pessoal.
A empresa argumenta que foram os próprios utilizadores que deram acesso a terceiros às suas caixas de email, ao ligarem a sua conta a aplicações externas. Uma argumentação que só pode ser sustentada na ausência de informação clara por parte da própria Google. Na generalidade dos casos, as empresas escondem-se atrás de aplicações gratuitas sem qualquer ligação com o verdadeiro propósito da recolha de dados: são criadas empresas de «fachada», que desenvolvem aplicações com o único objectivo de conseguir «infiltrações» no máximo de contas.
O artigo 34.º da Constituição da República Portuguesa estabelece que «o domicílio e o sigilo da correspondência e dos outros meios de comunicação privada são invioláveis» – um comando constitucional que, para a Google ou o Facebook, vale zero.


www.abrilabril.pt
04
Jul18

AQUI VAI REALIZAR-SE A FINAL DO CAMPEONATO MUNDIAL DE FUTEBOL

António Garrochinho




Estádio Luzhniki: a sede da final do mundial de Futebol Rússia 2018
O primeiro e o último jogo do Mundial de Futebol foram programados para este estádio icónico, no primeiro mundial de futebol realizado em solo russo, representando um recomeço na história do desporto deste país.
Quando foi anunciado que o Estádio Luzhniki se tornaria um dos lugares a sediar a Copa do Mundo da Rússia de 2018, o local ficou fechado por vários anos para grandes obras de reconstrução, sendo a mudança mais notável o aumento no número de assentos de 78,000 para 81,000 espectadores.
Com a luz do verão, o estádio Luzhniki fica magnífico sob o raro sol de Moscovo, lembrando o Coliseu Romano.
Para a Copa do Mundo, o estádio Luzhniki foi programado para sediar 7 partidas, sendo a final do torneio no dia 15 de julho
Este emblemático estádio e seu complexo são de propriedade do governo de Moscovo, e não há clubes baseados neste local, apesar de que antes da sua reconstrução serviu de base para equipes como o CSKA Moscovo, o Spartak Moscovo e o Torpedo de Moscovo.
Localizado na capital russa, o Luzhniki Stadium é um dos maiores e mais históricos estádios da Europa. Sua cerimónia de inauguração ocorreu em 1956,
Esta histórica instalação também serviu como local central para os Jogos Olímpicos de verão em 1980, sediando também as cerimônias de abertura e encerramento, bem como uma série de eventos desportivos, incluindo a final da UEFA Champions League em 2008 além do Campeonato Mundial de Atletismo
Além disso, o estádio já recebeu shows de alguns dos maiores artistas do mundo, incluindo The Rolling Stones, Michael Jackson, U2 e os Red Hot Chili Peppers.

04
Jul18

CONHECE A LENDA DO QUADRO " O MENINO CHORANDO" ?

António Garrochinho
Todo o mundo gosta de histórias inexplicáveis, e o chamado “quadro do menino chorando”, pintado pelo italiano Giovanni Bragolin, acabou se transformando em lenda urbana durante a década de 80, justamente por estar envolto em uma aura de mistério. O artista, na verdade, se chamava Bruno Amadio, e ficou famoso por retratar uma série de meninos e meninas chorosos.
Como toda lenda que se preze, a do quadro de Amadio está recheada de contradições, eventos inexplicáveis, controvérsias e uma pitada de ocultismo. O artista chegou a frequentar uma academia de artes de Veneza — sua cidade natal — e uma das versões da lenda, que começou a circular na Inglaterra, conta que o quadro que acabou ganhando fama de “amaldiçoado” foi um retrato que Amadio fez do próprio filho.

Versão inglesa



O garotinho morria de medo do fogo e, para fazê-lo chorar para a pintura, Amadio segurava fósforos queimando diante de seu rostinho. Ainda de acordo com essa versão da lenda, o menino teria falecido algumas semanas após a obra ser finalizada, e o artista durante um incêndio terrível em sua casa — só para constar, segundo os registros, o italiano nasceu em 1911, e veio a falecer apenas em 1981.
A lenda acabou se consolidando depois que o retrato do menino passou a ser produzido em série na Inglaterra, e diversos incêndios registrados no país foram atribuídos à maldição do quadro, que era um dos poucos itens encontrados intactos após os incidentes. Um conhecido tabloide britânico chegou a publicar um extenso artigo sobre investigações relacionadas à pintura, e inclusive foram organizadas campanhas públicas para destruir as figuras.

Variações da lenda

Além da história que circulou — e foi consolidada pelo tabloide — na Inglaterra, também existem versões não menos interessantes, incluindo as demais crianças retratadas por Bragolin. Uma delas conta que o pintor, passando por dificuldades ao não conseguir vender seus quadros, decidiu fazer um pacto com o diabo. No entanto, em vez de oferecer a própria alma no “negócio”, o artista teria vendido as dos compradores de suas pinturas. Espertinho...
Outra versão conta que as pinturas contariam com várias mensagens subliminares, e algumas das crianças retratadas apareceriam com as pupilas dilatadas. O pintor inclusive teria confessado que a causa disso era que os pequenos estariam mortos, e que eram crianças reais que haviam sido abduzidas para serem entregues ao demônio.
Existe ainda a história de que Bragolin, depois de fugir da Itália para a Espanha durante a guerra, teria usado como “modelos” as crianças que viviam em um orfanato local que foi — adivinhe! — destruído algum tempo depois em um terrível incêndio. Dizem também que o pintor teria pedido a todos os que tivessem obras suas que se desfizessem delas.

www.megacurioso.com.br

04
Jul18

Como era ser criança em Portugal

António Garrochinho


Afinal, como se brincava (ou não) no tempo dos cavaleiros? E das Descobertas? E no Estado Novo? A jornalista Maria João Martins foi investigar e o resultado foi o livro 'História da Criança em Portugal'.

Catarina Fonseca
Foto: Divulgação/ in 'História da Criança em Portugal'

'História da Criança em Portugal', de Maria João Martins (Editora Parsifal, €13.95)

– Na Idade Média, as crianças nobres não cresciam com a família. Afonso Henriques foi criado com um dos magnatas da corte, Egas Moniz, que o preparou para ser rei. 
– A criança medieval era amamentada até aos 3 ou 4 anos (enfim, ainda não havia biberões nem leite de substituição…)
– A nossa escola é um produto da escola da Idade Média: e da Igreja. Já havia um professor, muitos alunos, disciplinas e avaliações. Mas ao princípio as escolas formavam apenas monges, filhos de reis e alguns nobres. Curriculum: ler e escrever, Bíblia, canto e aritmética. Mais tarde: latim, gramática, retórica e dialética.
– A melhor mãe de Portugal deve ter sido… uma inglesa: pelo menos, foi a partir de D. Filipa, mãe da Ínclita Geração e mulher de D. João I, que se difundiu a ideia de que era conveniente apostar na educação dos infantes. 
– A coroa de melhor pai? Bem, sabe-se que D. Manuel era um pai atento dos seus muitos filhos (tão atento que foi com imensa relutância que deixou casar a sua adorada filha Isabel, já ela ia quase nos 30 anos, o que na altura equivalia a quase terceira idade). 
– Nem os bebés reais tinham a vida facilitada, atropelados em jogadas políticas: a filha mais nova de D. Manuel, Maria, nascida do seu terceiro casamento, estava órfã de pai aos seis meses e separada da mãe aos 2 anos, uma vez que a política obrigava D. Leonor, uma vez viúva, a abandonar Portugal e nunca mais ver a filha. Ainda assim, Maria teve sorte: anos depois, chega à corte uma tia, D. Catarina, para se casar com o rei, e faz notar ao marido que a menina é esperta. D. João III imediatamente lhe arranjou bons mestres. Não era a sorte da esmagadora maioria das meninas, que nem ler sabiam.
– Esta tia sabia o que era ser princesa e infeliz: Catarina viveu até aos 18 anos trancada numa torre com a mãe, Joana, a Louca, e a sua diversão consistia em atirar moedas da torre para que as crianças pobres viessem brincar por baixo da sua janela… 
– O órfão D. Sebastião confessava-se desde os seis anos, e desde os 3 que se sentava no trono, dando a minúscula mão a beijar aos embaixadores e dignitários internacionais.

Dos meninos-reis às amas
– As meninas sempre brincaram com bonecas, mas as princesas não tinham bonecas bebé: tinham representações de mulheres adultas ricamente vestidas (uma espécie de Barbies). Diferença: estas bonecas não seriam propriamente brinquedos, mas formas de mostrar o que estava na moda e com as quais posavam nos retratos. 
– Para os rapazes, o jogo mais popular era a pela, um antepassado do ténis que consistia em lançar uma bola com uma raquete. Um brinquedo que os pais Descobridores trouxeram aos filhos do Oriente: um papagaio de papel. Mais chocante (para nós…) era o novo ‘brinquedo’ que estava na moda trazer de África às crianças ricas: um companheiro de brincadeiras negro…
– O nosso melhor rei morreu antes do ser, ainda adolescente. Sabiam que por pouco não tivemos um rei chamado D. Teodósio? Era filho de D. João IV, e era, rezam as crónicas, culto, letrado, sensato e muito inteligente. Infelizmente, era também muito doente: morreu aos 19 anos, de tuberculose. Má sorte a do reino: o seu sucessor, o irmão Afonso, era o oposto: atrasado, imbecil e arruaceiro. Felizmente havia ainda um terceiro irmão, Pedro…
– Os rapazes nobres só iam para colégios (jesuítas) no início da adolescência. Para a universidade iam os filhos segundos e que queriam seguir a carreira eclesiástica. Os primogénitos, que iam herdar tudo, cedo deixavam de estudar… As raparigas tinham poucas hipóteses de instrução. Podiam estudar em conventos, mas mesmo aí pouco mais aprendiam que leitura e bordados. Claro que os pobres não tinham esses luxos... . 
– Nos séculos XVIII e XIX, a Roda da Santa Casa da Misericórdia acolhia os bebés indesejados e pagava a amas de leite para os amamentar. Mesmo as mães pobres recorriam por vezes às amas, de modo a poderem continuar a trabalhar no campo. Mas havia muitas fraudes: as mães dos enjeitados ofereciam-se para amamentar os próprios bebés que haviam abandonado, ou encobriam a morte de uma criança, trocando-a por outra. Escusado será dizer que as mortes destes bebés iam dos 20 aos 90%.

Fechadas na ‘nursery’ ou expostas na roda
– O último rei de Portugal era filho de uma adolescente. A rainha Maria Pia tinha apenas 16 anos quando D. Carlos nasceu, e ainda não chegara aos 18 quando teve o seu último filho, Afonso. Ao serviço dos dois estavam três criadas, uma varredeira, um criado de quarto, um moço de recados e uma preceptora. Não sabiam nada do mundo: na mesa real nunca se falava de política. 
– A família de D. Carlos não era assim tão diferente das famílias reais atuais: também passeavam com os pais mandando beijinhos à multidão. Em agosto iam de férias para muito longe (Pedrouços) e em setembro para ainda mais longe (Cascais). 
– Um dia, em 1873, D. Carlos, com 10 anos, atrapalhou-se no mar de Cascais. A mãe tentou salvá-lo mas também quase se afogou. Valeu-lhes o ajudante do faroleiro da Guia, que recebeu uma medalha e uma pensão vitalícia. Quem também recebeu uma medalha: a rai-nha. Afinal, também tentou salvar o filho. E hoje como ontem, não desperdicem o valor de boa publicidade.
– Há um século, estava na moda as classes altas contratarem nurses, mademoiselles ou frauleins (ou mesmo as três) para que as crianças aprendessem outras línguas. Também está na moda ter um espaço especial na casa só para as crianças. Mas eram pouquíssimas as crianças nessas condições: mais frequentes eram as abandonadas. No princípio do século XX, 12% das crianças eram ilegítimas, e a grande maioria delas abandonadas ou expostas na Roda. 
– Em 1910, 80% dos portugueses não sabe ler nem escrever. Foi só a partir da República que se instituiu a escolaridade obrigatória de cinco anos (não durou).

Do ardina ao menino do cravo
– Em 1000 bebés, morrem 150 ao nascer: era assim no tempo da Segunda Guerra, em Portugal, onde a grande maioria das crianças nascia e vivia tão mal como no século XIX. Se sobrevivessem, esperava-os desde pequeninos uma vida de operário, costureiras ou pequenos ardinas. No Norte, era frequente serem separados da família com 7 anos para virem servir em Lisboa. 
– Em 1942 é criado o abono de família. Mas: só para casais casados pela Igreja, com mais de cinco filhos menores, legítimos e batizados. Ufa!
– Durante o Estado Novo, muitas escolas fecham, a escolaridade obrigatória passa a três anos e com separação de sexos. Resultado: drástica falta de mão de obra qualificada, que leva, muitos anos depois, em 1965, à criação da Telescola. 
– Diogo Bandeira Freire tinha apenas 3 anos e uma cara angélica com caracóis louros quando foi arrancado à cama e levado ao aeroporto da Portela, onde o fotografaram a colocar um cravo numa metralhadora segura por três soldados. Mal sabia o bebé que se tornaria o ícone de uma revolução de 74…
– À data da Revolução de Abril, as mães ainda não sabiam o sexo dos bebés antes de nascerem. Desde então, muita coisa mudou: e há uma boa notícia: no grupo dos 22 países da Europa Ocidental, Portugal ocupa hoje uma honrosa sexta posição no ranking dos países mais bem classificados em termos de mortalidade infantil: a taxa caiu de 78 em mil, em 1960, para 3, em 2009, em grande parte devido à criação do Serviço Nacional de Saúde, em 79. 
– Ah, e que foi feito do’ menino do cravo’? Emigrou para Inglaterra. Portugal é um bom país para nascer, mas não para viver... 

activa.sapo.pt
04
Jul18

Lá vai o português

António Garrochinho
«Lá vai o português, diz o mundo, quando diz, apontando umas criaturas carregadas de História que formigam à margem da Europa.
Lá vai o português… lá anda. Dobrado ao peso da História, carregando-a de facto, e que remédio – índias, naufrágios, cruzes de padrão (as mais pesadas). Labuta a côdea do sol-a-sol e já nem sabe se sonha ou se recorda. Mal nasce deixa de ser criança: fica logo com oito séculos.
No grande atlas dos humanos talvez figure como um ser mirrado de corpo, mirrado e ressequido, mas que outra forma poderia ele ter depois de tantas gerações a lavrar sal e cascalho? Repare-se que foi remetido pelos mares a uma estreita faixa de litoral (Lusitânia, assim chamada) e que se cravou nela com unhas e dentes, com amor, com desespero, ou lá o que é. Quer isto dizer que está preso à Europa pela ponta, pelo que sobra dela, para não se deixar devolver aos oceanos que descobriu, com muita honra. E nisto não é como o coral que faz pé firme num ondular de cores vivas, mercados e joalharia; é antes como o mexilhão cativo, pobre e obscuro, já sem água, todo crespo, que vive a contra-corrente no anonimato do rochedo. (De modo que quando a tormenta varre a Europa é ele que a suporta e se faz pedra, mais obscuro ainda).
Tem pele de árabe, dizem. Olhos de cartógrafo, travo de especiarias. Em matéria de argúcias será judeu, porém não tenaz: paciente apenas. Nos engenhos da fome, oriental. Há mesmo quem lhe descubra qualquer coisa de grego, que é outra criatura de muitíssima História.
Chega-se a perguntar: está vivo? E claro que está: vivo e humilhado de tanto se devorar por dentro. Observado de perto pode até notar-se que escoa um brilho de humor por sob a casca, um riso cruel, de si para si, que lhe serve de distância para resistir e que herdou dos mais heróicos, com Fernão Mendes à cabeça, seu avô de tempestades. Isto porque, lá de quando em quando, abre muito em segredo a casca empedernida e, então sim, vê-se-lhe uma cicatriz mordaz que é o tal humor. Depois fecha-se outra vez no escuro, no olvidado.
Lá anda, é deixá-lo. Coberto de luto, suporta o sol africano que coze o pão na planície; mais a norte veste-se de palha e vai atrás da cabra pelas fragas nordestinas. Empurra bois para o mar, lavra sargaços; pesca dos restos, cultiva na rocha. Em Lisboa, é trepador de colinas e de calçadas; mouro à esquina, acocorado diante do prato. Em Paris e nos Quintos dos Infernos topa-a-tudo e minador. Mas esteja onde estiver, na hora mais íntima lembrará sempre um cismador deserto, voltado para o mar.
É um pouco assim o nosso irmão português. Somos assim, bem o sabemos.
Assim, como?
José Cardoso PiresE Agora, José? (p. 19-21)

caminhosdamemoria.wordpress.com
04
Jul18

UMA ENTREVISTA À "SEARA NOVA" COM JOSÉ MANUEL TENGARRINHA (2005)

António Garrochinho
josé manuel tengarrinha
Em 2005, a Revista Seara Nova, então dirigida por Ulpiano Nascimento, publicou uma conversa com José Manuel Tengarrinha, um dos dirigentes que mais se destacaram na liderança da oposição democrática, em 1969 e 1973. Dessa longa conversa, em que o político e historiador reflecte e relata na primeira pessoa factos da resistência anti-fascista ao longo dos 48 anos da ditadura, transcrevemos a parte relativa ao movimento CDE.
 
 
Seara Nova – Em 1969, surge a Comissão Democrática Eleitoral (CDE). Todos estes aspectos que já abordámos influenciaram a CDE?
José Manuel Tengarrinha – Daí a necessidade de compreender as características que a CDE tem em 1969. É evidente que é fortemente marcada pela queda política de Salazar e pela pretensa esperança na abertura do regime. Todos nós fomos embalados nessa esperança, embora uns mais que outros. Na nossa área, a esperança era limitada, mas a área socialista estava eufórica. Mário Soares, que tinha estado no exílio em São Tomé, foi amnistiado por Marcelo Caetano e regressou. Este facto é importante para se perceber o contexto em que nasce a CDE. Mário Soares pretende apresentar-se como o dirigente máximo da oposição e como o interlocutor legítimo para Marcelo Caetano dialogar com a oposição. Nesse sentido, elabora um documento que é tornado público e enviado para Marcelo Caetano, em que diz que é preciso encontrar forças políticas capazes de ter visibilidade, e dando como completamente excluída a hipótese de o PCP desempenhar qualquer acção relevante no panorama da oposição portuguesa por se encontrar praticamente extinto. Ou seja, apresenta-se como o único capaz de ser a face da oposição democrática. Esse documento reúne cento e vinte assinaturas, entre as quais as de Urbano Tavares Rodrigues, Rogério Fernandes e outros.
SN – Que importância tem nessa altura e nesse contexto o II Congresso de Aveiro?
JMT – Era aí que queria chegar. Nota desta evolução que tenho estado a assinalar são as características dos três congressos de Aveiro. Os dois primeiros são congressos republicanos, só o último se designa Congresso da Oposição Democrática. 
SN – O que denota o peso do republicanismo histórico.
JMT – Exactamente. O primeiro é inclusive presidido por um antigo ministro da Primeira República. 
SN – Mas Mário Sacramento já participa.
JMT – É a condescendência porque não tinham ninguém que o conseguisse organizar. Reconheciam o Mário Sacramento e respeitavam-no, embora soubessem que era militante do Partido Comunista. Havia uma enorme admiração intelectual por Mário Sacramento, que foi o secretário do Congresso e teve grande influência em toda a sua organização, ainda que este primeiro congresso se tivesse limitado a fazer a denúncia política, com intervenções dispersas e com um acento mais «comicieiro» do que propriamente de reflexão sobre os problemas. O segundo congresso, em 1969, realiza-se já com o Marcelo Caetano como presidente do Conselho de Ministros e, nessa altura, a intervenção dos elementos da área comunista, digamos assim, tanto os intervenientes como os que estão na organização, já é mais forte. E tem esta característica que é interessante: está dividido em secções e com a preocupação de análise das situações concretas do País. Não é já apenas a proclamação política, como no primeiro, e no velho estilo da retórica republicana, mas um congresso em que se pretendeu estudar problemas e encontrar soluções. Dado que a participação foi muito mais diversificada que no primeiro congresso e dado que a nova situação política, com o Marcelo Caetano, trazia algumas perspectivas de que a oposição se apresentasse como uma força que exercesse influência na condução política, elabora-se a Plataforma de São Pedro de Moel. 
SN – A Plataforma de São Pedro de Moel assenta num acordo, mas nas legislativas de 1969 a oposição concorre em duas listas distintas.
JMT – Chegou-se a acordo, mas havia questões em que as divergências eram grandes e são estas que acabam por vir a determinar a existência da CDE e da CEUD (Comissão Eleitoral de Unidade Democrática). Primeiro, a questão da guerra colonial com o reconhecimento do direito das colónias à independência que era visto pela corrente socialista de uma forma mais recuada, assente num estatuto de certa autonomia, diria que um neocolonialismo encapotado. Para isto, havia duas razões, uma delas por quererem captar sectores moderados da oposição, ainda na área próxima do republicanismo histórico que era colonialista; outra prendia-se com a pretensão de serem elementos válidos para o diálogo com Marcelo Caetano e, obviamente, se defendessem a independência das colónias não o conseguiriam, uma vez que para aquele a defesa das colónias era ponto de honra e quem defendesse a independência e o diálogo com os movimentos de libertação era, pura e simplesmente, considerado traidor. Recordo-me que nessa altura Mário Soares chegou a ter reuniões com o presidente da Acção Nacional Popular (ex – União Nacional) para tentar acertar posições. 
SN – A transição do regime pela via democrática também era motivo de divergência. Porque é que a área da CDE considerava que tal não seria possível?
JMT – O nosso corte com o regime marcelista eliminava liminarmente essa possibilidade. O nosso programa – aliás, essa parte foi escrita pelo Jorge Sampaio, naturalmente com a contribuição de todos – logo no início dizia que não era credível que o regime marcelista pudesse conduzir a uma democracia. (O que veio a verificar-se logo no final de 1971, com o recrudescimento da repressão).
Havia uma outra divergência. Nós defendíamos que o regime fascista estava alicerçado num poder económico que era preciso destruir, e que a ligação/relação entre poder económico e poder político estava de tal maneira entrelaçada que considerávamos ser impossível “deitar abaixo” apenas o poder político, conservando as estruturas do poder económico em que o regime fascista se apoiava: os monopólios, os latifundiários, o capital financeiro. Na Plataforma de São Pedro de Moel, após uma violenta discussão, ainda conseguimos incluir uma referência à necessidade fundamental de limitar os monopólios.
SN – Como é que o problema da guerra colonial foi resolvido no documento da Plataforma de São Pedro de Moel?
JMT – Negociações com os movimentos de libertação, não mais do que isso, e via política para a solução do conflito. Pela primeira vez – e o documento produzido prova-o – a oposição, numa perspectiva programática, apresenta-se com uma certa visão conjunta sobre os problemas, mas era evidentemente frágil.
SN – Essa fragilidade, por assim dizer, impede a unidade nas eleições legislativas de 1969?
JMT – Quando se começam a preparar as eleições havia todo este lastro positivo e negativo. Além disso, havia um programa de estratégia de organização e de movimentação política que esteve muito na origem distintiva da CDE e da CEUD. Em Julho de 1969, decorrente de algumas reflexões que tínhamos feito no ano anterior, discutimos na organização do PCP – e tínhamos a sorte de o dirigente do partido responsável pela região de Lisboa ser um homem extraordinariamente inteligente e aberto, o Pedro Ramos de Almeida – a ideia de que deixar que a direcção de todo o movimento político se cristalizasse nas figuras políticas habituais, tanto dos ainda recuperados do republicanismo histórico, como do Mário Soares e outros, seria reduzir a capacidade de mobilização do próprio movimento. Daí o símbolo da CDE, o conhecido «pé de galo» que simboliza as bases a crescer para o topo, concebido pelo José Carlos Ary dos Santos.
SN – Ao longo da luta anti-fascista nunca houve nada parecido com o movimento CDE?
JMT – Nunca. A grande originalidade da CDE é a inversão completa de todos os critérios até então utilizados para a organização dos movimentos de oposição.
SN – Para esta inversão não teve igualmente importância o papel dos católicos?
JMT – Ainda não. Eles aparecem inicialmente mais ligados à CEUD. Na CDE tem importância um outro factor, o Maio de 68. É que aqueles jovens, e muita daquela gente que entra na CDE por via dos movimentos estudantis e dos católicos progressistas são fortemente influenciados pelo Maio de 68 e pelo seu carácter «basista». Por isso é que a nossa proposta de formar um movimento que partisse das bases vai encontrar receptividade em todos esses movimentos que nada tinham a ver com o Partido Comunista.
SN – Não deixa de ser curioso o facto de essa não ser a forma de organização de um partido comunista.
JMT – Tratava-se de duas realidades diferentes. Uma é a realidade do PCP como organização e como partido; outra é a promoção de movimentos políticos e sociais contra o regime. E, de facto, o carácter basista da CDE é impulsionado pelo PCP, nasce das reuniões que mantivemos com inúmeras pessoas de diferentes ideologias. Claro que o PCP tinha um objectivo que não podia ser confessado: desta maneira, reduziam-se as personalidades a um papel menor e o movimento oposicionista não ficava preso às orientações reformistas e oportunistas dessas personalidades.
SN – Esta forma de organização revelou-se importante para conseguir uma participação tão ampla quanto possível?
JMT – Sem dúvida. Lembro-me da primeira Assembleia realizada em Lisboa, no Palácio do Marquês da Fronteira, onde estavam mais de 400 pessoas. É a partir do movimento CDE que vamos ter um conjunto de pessoas a participar activamente e influentemente no movimento político, como nunca tinha acontecido. Eram pequenos comerciantes, operários e gente de camadas sociais que normalmente obedeciam às ordens dos senhores republicanos. Formaram-se comissões de freguesia, comissões concelhias, distritais e todas elas com uma influência fundamental na grande dinâmica que foi a CDE.
SN – Por que sucede a divergência e, em alguns distritos, se apresentam ao acto eleitoral a CEUD e a CDE?
JMT – Na referida reunião realizada no Palácio Fronteira ainda participam elementos da Acção Socialista, mas depois faz-se a «separação das águas» tendo em conta o carácter reformista e oportunista daquela linha que não se conciliava com a nossa. A deles continuava a ser a de uma organização de cúpulas, a nossa era basista. A CEUD concorreu apenas em Lisboa, Porto e Braga. Em todos os outros círculos eleitorais era a CDE. A movimentação que se conseguiu foi de uma amplitude que, a nós próprios, surpreendeu. Era gente tão diversa…Lembro-me do Nicolau Breyner vir com os seus cães fazer segurança à sede de Campo Pequeno. Era realmente impressionante. É deste movimento que nasce o MDM (Movimento Democrático de Mulheres), a Intersindical Nacional (uma das organizações da CDE eram as bases sócio-profissionais). Nessas reuniões de mulheres, havia pessoas de muito diferente nível social e cultural: ao lado de senhoras de casacos de peles estavam operárias fabris, discutindo em pé de igualdade. Um nível de democracia nunca visto. Aliás, a participação de mulheres foi espantosa. Os movimentos oposicionistas eram machistas, raramente havia mulheres. Havia a Isabel Aboim Inglês, a Maria Lamas, a Virgínia Moura, mas, em quantidade, as mulheres eram raríssimas. Na CDE não, e isso mesmo acabou por traduzir-se no número de mulheres que integraram as nossas listas.
SN – Em 1969, a CDE vai às urnas e mesmo estando impedida de falar da guerra colonial nos seus comícios e sessões…
JMT – …Era eu que abordava sempre o tema, pelo que era sempre o último orador. Na maioria das vezes, assim que começava a falar sobre a guerra colonial a PIDE e a polícia interrompiam a sessão. Na sessão inaugural da campanha eleitoral, na Sociedade de Belas Artes, falei agachado no meio de um fortíssimo cordão de segurança formado por companheiros. No final, houve pancadaria que foi uma coisa louca.
Uma última nota sobre 1969. Alguns sectores católicos e o próprio Mário Soares consideravam-nos uns tontos ou uns ingénuos manobrados pelo PCP. A verdade é que para a estratégia de Soares e Zenha não dava jeito nenhum ter qualquer aliança com a CDE. Pretendiam que a CEUD, a partir da grande projecção das personalidades individuais, pudesse ter uma maioria esmagadora no campo da oposição. Eu não era conhecido, o Pereira de Moura não era conhecido, o Jorge Sampaio era conhecido como dirigente académico mas, no país, muito pouco. Portanto, confiavam que a força atractiva das suas personalidades seria suficiente para alcançarem um bom resultado, com o qual se apresentariam ao Marcelo Caetano como representantes da oposição. Só que as contas saíram-lhes furadas. Em Lisboa, a CEUD teve cerca de 4 por cento e a CDE teve 19 por cento.
SN – Depois da derrota, Mário Soares vai para o estrangeiro e, no exterior, cria o Partido Socialista. Como se conciliam as posições nas eleições legislativas de 1973?
JMT – No final de 1971, há a grande repressão do regime de Marcelo Caetano provocada pela influência que os «ultras» tinham sobre ele. A ideia que alguns tinham de que o regime seria liberalizado e de que teria havido um encontro em Londres entre mandatados de Marcelo Caetano e representantes dos movimentos de libertação foram factos que agitaram muito os «ultras». Através do presidente, Américo Tomás, exerceram uma forte pressão sobre Marcelo que faz uma viragem na condução do regime. As cooperativas são fechadas de forma brutal. Até a Cooperativa dos Trabalhadores de Portugal, que tinha sido sempre consentida mesmo durante o salazarismo, foi encerrada. As perseguições aos sindicalistas, como Daniel Cabrita e outros, traduzem-se no encerramento de vários sindicatos. Nessa altura, as movimentações que se fazem são essencialmente ao nível das reivindicações dos trabalhadores porque a oposição ficou politicamente muito limitada na sua capacidade de intervenção.
SN – Mas em alguns distritos a CDE mantinha uma organização activa.
JMT – Sim. Nunca morreu e até assumiu formas de luta muito concretas, como a da luta contra a censura. O Fernando Namora, por exemplo, fazia parte do secretariado da luta contra a censura. A luta pela libertação dos presos políticos, com a constituição da Comissão de Socorro aos Presos Políticos, e diversas lutas contra o aumento do custo de vida são outros exemplos.
SN – A percepção de que Marcelo Caetano não estava disposto a qualquer abertura democrática foi um factor importante para a unidade da oposição?
JMT – Em 1973, as condições alteraram-se. Os dirigentes socialistas que estavam em Portugal viviam muito intensamente a situação do País. Para estes era claro que as propostas que a CDE tinha feito em 1969 se mantinham perfeitamente válidas. Todos reconheciam – aliás, isto está documentado nas teses do Congresso da Oposição Democrática de 1973 – que, ao contrário do que a CEUD dizia em 1969, e de acordo com o que dizia a CDE, Marcelo Caetano não significava uma alternativa democrática para o País. Não havia qualquer esperança de que, através do regime marcelista, Portugal pudesse atingir a democracia. Segundo aspecto em que agora todos estavam de acordo era o de que a guerra colonial já tinha atingido tais proporções que era impossível, por via militar, resolver o problema. Por outro lado, homens como Salgado Zenha já tinham percebido que nunca Marcelo Caetano permitiria que fossem alternativa dentro do regime. Portanto o entendimento estava facilitado.
SN – Esse entendimento foi conseguido no Congresso de Aveiro de 1973?
JMT – O Congresso de 1973, o primeiro designado por Congresso de Oposição Democrática e diferentemente do que tinha acontecido antes da constituição da CDE, foi um congresso amplíssimo, com uma muito vasta organização. Desde as freguesias, às concelhias e distritais, realizaram-se reuniões muito participadas de preparação que levaram a que o Congresso fosse organizado com a mesma filosofia da CDE: das bases ao topo. A própria composição social dos delegados dos distritos à Comissão Nacional Preparatória do Congresso se alterou profundamente: agora, eram agricultores, operários, pequenos comerciantes, intelectuais, profissionais liberais. Foi uma coisa única, que contrastou grandemente com os congressos republicanos, até ao nível das decisões, da estratégia. Tudo foi discutido pelo representante de cada distrito, eleito pelas concelhias, e com uma irrepreensível característica democrática: nunca houve a imposição de qualquer centralismo, de qualquer grupo de dirigentes que assumisse ou quisesse assumir a direcção do que quer que fosse. Mas é importante que se diga que este grandioso congresso só foi possível porque os socialistas que viviam em Portugal tinham então uma visão da realidade diferente dos que estavam no estrangeiro.
SN – Do Congresso de 1973 sai uma plataforma política, diferente da plataforma de São Pedro de Moel. É mais importante?
JMT – Muito mais importante e por várias razões. Por um lado, dava a imagem de uma oposição unida, não através de figuras, mas de um programa e das movimentações populares e de base que se geraram em todo o País. E isto porque as «comissões» da CDE não tinham morrido, estavam, quando muito, adormecidas. Por outro lado, havendo esta base política de apoio, estavam criadas as condições favoráveis para que a oposição se apresentasse em bloco nas eleições de 1973. Tínhamos também a noção – nas reuniões que já havia com militares – de que o facto de a oposição se apresentar com uma plataforma conjunta era um factor importante para que os próprios militares, nas suas diferentes sensibilidades e correntes políticas e ideológicas encontrassem pontos comuns de acordo. Aliás, fazendo a comparação entre o programa do MFA e a plataforma política resultante do Congresso de 1973, encontram-se evidentes semelhanças.

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04
Jul18

A questão mais incómoda da guerra colonial

António Garrochinho
pide guerra colonail
Dalila Mateus, num livro editado há tempos atrás mas que é uma referência da historiografia dedicada à guerra colonial (*), portanto sempre actual, aborda as actividades da Pide/DGS nas antigas colónias no período 1961-1974, uma questão que ainda é tabu, até pelos desassossegos que desperta em grande parte dos militares que participaram naquela guerra. 

A historiadora expõe os mecanismos de actuação da Pide/DGS em África e os meios que dispunha e que utilizava (na medida do que é possível saber-se e escapou à destruição dos arquivos). 

Além de demonstrar que o que se passou nas frentes das guerras coloniais foi um genocídio intermitente gerido contra as populações africanas (confirmando a caracterização feita pela ONU), para além de actos de brutalidade generalizada e de máxima crueldade praticados pelas Forças Armadas, sobretudo durante o primeiro período da guerra mas que se verificaram pontualmente até ao fim, o grosso das acções de obtenção de informação, infiltrações entre os guerrilheiros, atentados contra os seus líderes, tortura de prisioneiros, gestão de prisões e de campos de concentração (onde o internamento era ordenado pela própria Pide, sem julgamento e como sendo um ”acto administrativo”de “fixação de residência”) foram cometidas à Pide/DGS. Ou seja, na maior parte dos casos, as Forças Armadas passavam para a Pide a maior parte do “trabalho sujo” relativamente a militantes, simpatizantes ou suspeitos de simpatias para com as causas nacionalistas.
Esta “repartição de tarefas” assentou numa cumplicidade e complementaridade totais e absolutas. Para além de permitir que as Forças Armadas salvaguardassem a sua imagem de “combatentes” apenas “guerreiros”, cumprindo uma qualquer ética castrense, e com margem para a chamada “psico”, o trabalho entregue à Pide “ganhou” em “especialização” e em “eficácia” (embora, por regra, as operações ofensivas tenham sido conjuntas). Mais, tornou as duas organizações numa espécie de irmãs siamesas em que uma não podia viver sem a outra. As operações militares faziam-se com base nas informações da Pide, a Pide trabalhava os prisioneiros feitos pelas Forças Armadas. 

Neste sentido, as torturas, os assassinatos, as prisões indiscriminadas, cometidas pela Pide durante a guerra colonial, foram crimes da polícia política mas mancharam, na mesma dimensão de iniquidade e responsabilidade, os comandos militares irmanados com a polícia. E sabendo como sabiam o que a Pide aplicava aos guerrilheiros, a co-responsabilidade é absoluta.
Como entender a resistência havida após o 25 de Abril, em extinguir a Pide em África, em que, sobretudo em Angola, ainda trabalharam durante muito tempo integrados na PIM (Polícia de Informação Militar)? Como entender a excelente apreciação que a maioria dos oficiais de carreira fazia sobre os méritos da Pide em África? 
Como entender que o Alto-Comissário em Moçambique (Vitor Crespo), onde a Pide foi desmantelada mais cedo, se tenha encarregado de destruir os ficheiros da Pide? Como perceber a ausência de escrúpulos dos militares golpistas após o 25 de Abril trabalharem em estreita colaboração com ex-pides, retomando velhas cumplicidades? Finalmente, como perceber que, enquanto na metrópole, a Pide era odiada pela população, em África ela era considerada e acarinhada pela maioria dos colonos (por vezes, mais estimada que os militares que faziam a guerra)? 
A resposta a estas últimas questões está, como hipótese, na noção que os militares profissionais tinham que não haveria condições para fazerem a guerra sem a Pide. E sabiam que a Pide “fazia bem” o papel que lhe estava atribuído (a maioria dos guerrilheiros reconhece isso, sendo uma das raras excepções a prosápia estúpida de Marcelino dos Santos da Frelimo que afirmou que a Pide não sabia nada). Compreende-se assim que, no início da pós-revolução, a Pide continuasse viva e bem viva nas ainda colónias. 
Ou pela integração no PIM, ou, clandestinamente, a ajudar a “resistência branca”, transbordando depois para o combate ao MPLA e, em Moçambique, na criação da Renamo.
Parte dos oficiais de carreira profissionalizados na guerra colonial (muitos deles com três comissões feitas) deram a “volta política”, participaram na descolonização e seguiram o paradigma político do MFA. Mas um número significativo de oficiais de média e alta patente (a partir de Major na altura do 25 de Abril) foi incapazes de digerir a descolonização e entender o papel da Pide como sendo um alicerce do regime (o que, sendo verdade, não abona sobre o regime). 
É que não foram as Forças Armadas (só por si) que fizeram as guerras nas colónias, a Pide (só por si) tão pouco. 
Foi uma e outra. 
Foi o regime salazarista-marcelista. 
Quando o regime caiu, o colonialismo caiu e a descolonização só podia ter como ponto de partida o ponto de chegada do colonialismo português. O “depois” “devia” ter sido diferente e melhor. Mas o “depois”” que houve partiu do “antes” herdado. Alguns militares da época não o entenderam na descolonização e cada vez o entendem menos, servindo a profusa literatura de memória e análise que publicam, em blogues e em livros, como demonstração dessa fixação, porque o ressentimento cresce com o tempo, sem que a catarse tenha sido feita. À força de “justificarem”, perante a sociedade e eles próprios, os anos de profissão naquelas guerras, perderam essa capacidade, a da catarse da participação de uma guerra injusta, impossível de vencer, iníqua nos meios utilizados e nos crimes cometidos, directamente ou com sua colaboração.
(*) – A Pide/DGS na Guerra Colonial – 1961-1974, Dalila Cabrita Mateus, Ed Terramar.
 
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04
Jul18

UM BOM LIVRO E UM BOM FILME - Resenha: O menino do pijama listrado

António Garrochinho

Resultado de imagem para AS HISTORIAS DE MENINOS POBRES



Resenha: O menino do pijama listrado

Depois do filme, um comentário comparando as versões em papel e película…
Um olhar “inocente” sobre os campos de concentração
Andreia Santana
Li O menino do pijama listrado em menos de 12 horas. Não dá para largar o livro depois que você começa, simples assim. Ambientado na II Guerra Mundial, um tema sobre o qual tenho grande curiosidade, o livro é um poema. Triste e ao mesmo tempo belo. Comovente, mas nem um pouco piegas. A infância é mostrada em toda a sua inocência, mas não é uma infância subestimada. É a inocência de descobrir o mundo, questioná-lo, chocar-se, um não compreender que guarda uma compreensão intuitiva, inconsciente.
John Boyne é um autor que eu não conhecia e antes de ler o livro, assisti ao filme, em 2009. Após conhecer a história original, afirmo ter visto uma das melhores adaptações de um livro para o cinema nos últimos anos. Do elenco à forma de tratar a história, o filme teve um cuidado e um respeito com o livro que há muito não vejo no cinema.
Conversando com algumas pessoas que também viram o filme, mas que na ocasião não tinham lido ainda a obra (como eu) surgiu o questionamento sobre o desfecho da narrativa. Sem antecipar aqui o que acontece, digo apenas que acredito que aquele final era necessário para sustentar a história construída desde o início. É o mesmo desfecho do livro e por mais que doa, não poderia haver outro.
Particularmente, gosto de finais que não fazem concessões à emotividade e que por isso, não sacrificam a coerência de uma boa história. Assistindo aos extras do filme, vi uma entrevista com o diretor Mark Herman, em que ele traduz muito bem minha impressão tanto da obra em papel quanto da sua transposição em película: “não é uma produção sobre a II Guerra Mundial, o conflito é o pano de fundo para mostrar a história de uma família alemã e das consequências do nazismo, muitas trágicas, para a estrutura familiar como um todo”.
Diria ainda que é um livro (e um filme, agora não dá para dissociar um do outro) sobre a perda da inocência diante de um flagelo como foi esta guerra em particular. Se pensarmos sob o ponto de vista sociológico (levando em conta o modelo adotado pela nossa sociedade), em que a família é o primeiro núcleo ao qual somos apresentados, abalos aí, nesta base, comprometem toda a estrutura sobre a qual a nossa sociedade é estruturada, comprometem principalmente a ideia de civilização como a linha que separa o animal humano da barbárie.
Admiro os livros e os filmes que me colocam para pensar nessas questões. São instigantes, provocadores na medida em que nos levam a reavaliar conceitos. Sem pretensões de construir uma crítica especializada, meu envolvimento passional com os livros e os filmes não permite tal reflexão, daí ter desistido de virar “crítica” na estrita tradução, o que posso dizer de mais técnico sobre O menino do pijama listrado é que o filme tem uma fotografia que nos remete à década de 40 do nazifascismo alemão. A luz é muito limpa, as cores esmaecidas, como que envoltas em camadas discretas de cinza. Mais do que as roupas e carros de época, o que nos transporta para a Berlim nazista é a cor e a luz. O roteiro também é enxuto, sem grandes dramatizações, é um cotidiano de 70 anos atrás, envolto em situações que se por um lado tiveram repercussões mundiais até hoje, por outro também foi marcado por centenas de tragédias familiares.
Os atores, principalmente as duas crianças protagonistas, são de uma correção e de uma entrega aos seus papeis que poucas vezes vi em meninos tão pequenos. Parecem anjos caídos em meio ao caos. O olhar dos dois é qualquer coisa de desconcertante. E ambos tinham só nove anos na época (o filme é de 2008 e o livro de 2007). Os atores adultos, de forma muito digna, se colocam na posição de coadjuvantes para que aquelas duas crianças conduzam a narrativa. No livro, os adultos são os coadjuvantes, sempre vistos e interpretados por Bruno e por Schmuel. O filme me emocionou, assim como o livro, mas foi uma emoção diferente, uma emoção que nasce do eterno desejo humano de contrariar o destino, mesmo quando ele teimosamente recusa-se a mudar.
Já falando especificamente do livro, trata-se da tradução de tudo isso aí acima só que transposto para o reino das palavras. A narrativa simples, poética e delicada de John Boyne tem gosto, tem cheiro e tem cor. Os diálogos entre Bruno e Shmuel, respectivamente o filho de um comandante nazista e um menino judeu preso em um campo de concentração, são de um lirismo e de uma pureza de fazer chorar, mas também de fazer rir justamente pela inocência que sabemos não existir mais no mundo de hoje, 70 anos depois. Aquele grau de fantasia pertencia às crianças de um outro tempo e nos deixa, a nós adultos, muito nostálgicos. Nostalgia não da tragédia da vida dessas duas crianças, mas uma saudade infinita de um tempo que somos levados a acreditar que era mais puro.
Uma sinopse: O menino do pijama listrado conta a história da amizade entre Bruno, filho de um comandante da elite nazista, diretor de um campo de concentração, e Schmuel, um menino judeu prisioneiro neste campo. Os dois tem nove anos e até antes da insensatez da guerra, levavam vidas muito parecidas, o que fica claro pelos contrastes sutis nos diálogos das crianças e na própria realidade do campo e da casa de Bruno. O campo aliás, só aparece descrito com contornos indefinidos, visto pelos olhos de Bruno, que a princípio, acredita que o local visto da janela de seu quarto é uma fazenda onde vivem fazendeiros estranhos, que passam o dia vestindo pijamas listrados. A dureza do lugar é revelada aos poucos, quase como um jogo de esconde-esconde, em que Bruno compreende a natureza do trabalho de seu pai.
Um curiosidade: Um dado histórico muito interessante adotado na versão em filme é a utilização de trechos de um antigo vídeo de propaganda nazista, rodado em 1941, que mostrava os campos de concentração como beneméritas cidades construídas por Hitler para presentear os judeus, onde eles viviam felizes na sua segregação!! Era esse tipo de filme que passava nos cinemas alemães, numa forma de convencer a classe média do país de que a “higienização” proposta pelo III Reich era benéfica para todos! Não que todos os alemães fossem inocentes das atrocidades cometidas por Hitler, mas muitos, por medo, omissão, preconceito ou por falta de vontade de pensar por conta própria, engoliam a propaganda oficial. Sabiam a verdade de forma inconsciente, mas preferiam não vê-la.

mardehistorias.wordpress.com
04
Jul18

COLUMBOFILIA - O VOO DA MORTE

António Garrochinho
Todos os anos, mais de um milhão de pombos morrem enquanto competem nas controversas corridas de pombos de Taiwan, uma série de eventos esgotantes em que as aves são levadas até alto mar, liberadas no meio do nada e forçadas a voar para casa. De acordo com vários relatórios de organizações de direitos dos animais, menos de 1% deles retornam à terra. Acontece que a pequena ilha de Taiwan hospeda mais eventos de corrida de pombos do que qualquer outro país do mundo, envolvendo bilhões de dólares em apostas.

O voo da morte columbina: as duras corridas marítimas de Taiwan matam mais de um milhão de pombos por ano
Dezenas de milhares de pombos são amontoados em caixas de carga, enviados para o oceano por barcos de pesca e liberados para ver quais os que conseguem voltar para casa mais rapidamente. Alguns caem na água logo após serem soltos, depois de colidirem uns com os outros ou entrarem no barco, enquanto o resto sucumbe à fadiga, ou aos ventos. Dos dois milhões de pombos que competem em várias dessas corridas extenuantes todos os anos, menos de 1% chega em casa.
O voo da morte columbina: as duras corridas marítimas de Taiwan matam mais de um milhão de pombos por ano
A cena da corrida multibilionária de pombos em Taiwan é tão competitiva que muitos participantes confiam em todos os tipos de táticas obscuras para aumentar suas chances de sucesso. Muitos "pilotos" drogam seus pássaros com pouca preocupação com sua saúde, enquanto outros tentam modificar os números das anilhas das patas das aves ou até sequestrar favoritos e mantê-los como resgate.

Reportagens de 2014 sobre as corridas implacáveis de pombos causou grande impacto na época, levando o governo de Taiwan a intervir e a invadir alguns dos maiores clubes de corrida de pombos da ilha. Em 2015, a polícia apreendeu cerca de 120 milhões de baths (14 milhões de reais) em ativos e confiscou computadores e outros equipamentos desses clubes.
O voo da morte columbina: as duras corridas marítimas de Taiwan matam mais de um milhão de pombos por ano
No entanto, a repressão do governo não impediu os pilotos de pombos de forçarem seus pássaros a competir nestas corridas mortais. Enquanto a grande mídia parece ter abandonado completamente o assunto nos últimos anos, há evidências de que as corridas sazonais de Taiwan ainda estão ocorrendo.

VÍDEO
Em junho do ano passado, a tripulação de uma draga australiana descobriu que um pombo em dificuldades havia pegado uma carona no navio. Após uma inspeção mais detalhada, eles descobriram que o interior de suas asas tinha sido tatuada com símbolos coloridos e caracteres chineses. A ave presumivelmente foi levada por ventos fortes e teve a sorte de encontrar um navio para descansar antes que caísse no oceano devido à exaustão.

VÍDEO
Também em 2017, o clube de corridas de pombo taiwanês Zhong Zheng Club de Kaohsiung relatou apenas 147 sobreviventes dos 42.423 pombos registrados nas corridas de verão e outono do ano passado. Infelizmente, mesmo aqueles que retornam às vezes morrem nas mãos dos donos. Se não tiverem músculos suficientes para ganhar prêmios, sempre tem uma gordurinha para acabar no prato.


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04
Jul18

A «bolha do insucesso» de Nuno Crato (I)

António Garrochinho


Foram há dias divulgados os valores de retenção e desistência no ensino básico e secundário relativos a 2016/17. Os progressos registados, em todos os anos e ciclos de ensino, tornam hoje mais nítida a inversão da tendência de redução do insucesso escolar ocorrida durante o consulado de Nuno Crato. De facto, de taxas a rondar em 2001 os 18% (total), 13% (ensino básico) e 40% (secundário) passou-se, respetivamente, para valores na ordem dos 11%, 8% e 21% entre 2008 e 2011, voltando a retenção e desistência a subir nos anos seguintes (em particular no básico), já com Crato na 5 de outubro. Desde 2015, contudo, foi retomada a trajetória de diminuição do insucesso, atingindo-se em 2016/17 os valores mais baixos de retenção e desistência registados desde 2001 (8% no total, 6% no básico e 15% no secundário).

Torna-se portanto hoje mais difícil a José Manuel Fernandes alegar, de novo, que «Nuno Crato entregou» em 2015, ao atual Governo, «um sistema com menos retenções do que aquele que herdou em 2011» (como se nada se tivesse passado entre essas duas datas). E por isso também já não será necessário pedir à atual maioria que «não estrague», com um «ataque (...) suicida e criminoso», as políticas do Governo anterior. Pode ficar descansado, José Manuel. Como vê, a bolha de insucesso que a direita gerou já faz parte do passado.

É claro que nós sabemos de onde vem tanta (e tão indisfarçável) revolta: acabou-se com a «jóia da coroa» do Cratismo, os exames finais do 4º e 6º ano. Isto é, uma decisão que consagrou, entre outras, a rutura com uma conceção retrógrada de ensino e aprendizagem - como era a do anterior Governo - orientada para a memorização e para o empobrecimento curricular e que desvaloriza a prioridade à compreensão e a aquisição de competências. Dirão que é o regresso do «eduquês», do «facilitismo» e da «década perdida». Sim, da tal «década perdida» que conduziu aos muito bons resultados do PISA em 2015, obtidos por alunos que, manifestamente, não frequentaram a escola de Crato.

04
Jul18

04 de Julho de 1187: O Sultão Saladino reconquista Jerusalém

António Garrochinho


Senhor do Egipto e da Síria, o sultão Saladino conquista uma grande vitória sobre o exército dos cruzados da Palestina no dia 4 de Julho de 1187, perto da colina de Hattin, próximo do lago Tiberíades (Batalha de Hattin). Esta batalha termina com a reconquista de Jerusalém pelos muçulmanos e torna ilusória a manutenção dos cruzados na Terra Santa.

Ao longo dos anos, os cruzados vindos da Europa foram sendo assimilados pela população local ao casarem-se com jovens arménias, gregas ou sírias. Os seus filhos seriam marcados pela miscigenação cultural. Um fluxo permanente de peregrinos armados vindos do ocidente  ajudavam-nos a defender o seu território contra os muçulmanos.

Os novos cruzados, impacientes para lutar contra os infiéis, não escondiam seu desprezo pelos cruzados já instalados na Palestina e seus descendentes. Não entendiam o seu relacionamento cordial com os vizinhos turcos ou árabes. Os reis que se sucediam em Jerusalém faziam de tudo para impedir esse relacionamento. Contudo, a união tão temida surge em 1174 sob a égide de um chefe providencial, o curdo Saladino.

No mesmo ano, o rei Amauri I  de Jerusalém morre e é o seu filho que herda o trono sob o nome de Balduíno IV. Mas ele tinha apenas 13 anos e descobriu que sofria de lepra. Não obstante, o jovem preservava o reino com coragem pedindo para ser levado em liteira ao campo de batalha se necessário.

O chamado Rei Leproso mantinha relações de estima com o seu inimigo Saladino a quem, apesar disso, combatia com energia. Em 1177, o exército de Saladino sitia os cruzados em Ashkalon, um porto do sul da Palestina, e depois dirige-se a Jerusalém. No entanto, Balduíno IV inflige-lhe uma pesada derrota.

Quando, em 16 de Março de 1185, o infeliz Balduíno IV falece, Raimon de Tripoli e os barões do reino tentam impedir que Gui de Lusignan assuma o poder. Mas este, habilmente, toma a regência em nome de Balduíno V, filho de Sibila (irmã de Balduíno IV), ainda criança. No poder, Gui beneficia da cumplicidade de três conselheiros:  Héraclius, patriarca de Jerusalém; Gérard de Ridefort, grande-mestre da Ordem dos Templários; Renaud de Châtillon, príncipe da Antióquia.

Châtillon é também senhor da Cisjordânia e chefe da poderosa fortaleza de Kérak, a leste do rio Jordão. Esses domínios permitem-lhe controlar as comunicações entre os muçulmanos do Egipto e da Síria. Decide lançar uma expedição marítima no Mar Vermelho em 1183, visando saquear o santuário de Meca. As suas tropas são derrotadas dois dias antes do seu objectivo.

Saladino adoece gravemente em 1185. Até aquela altura, limitava-se a comandar o mundo muçulmano pouco se preocupando com os francos e com Jerusalém. Decide então relançar a jihad – a guerra santa contra os infiéis.

Na Primavera de 1187, Châtillon ataca de novo uma caravana, violando a trégua entre cruzados e muçulmanos. Com um facto agravante: a irmã de Saladino fazia parte da caravana. O sultão exige uma reparação ao rei de Jerusalém, Gui de Lusignan, que recusa. Saladino põe-se em marcha com todo o seu exército em Maio de 1187. Uma derradeira tentativa de conciliação conduzida por Raimon III de Tripoli fracassa pelo facto dos Templários, comandados por  Gérard de Ridefort, terem atacado uma coluna de alguns milhares de soldados muçulmanos.

Após uma jornada em pleno sol, o exército estaciona ao sopé da colina de Hattin. No dia seguinte, na manhã de 4 de Julho de 1187, a colina é cercada pelos muçulmanos. É o massacre. Quase toda a cavalaria franca perde a vida. Raimon III, todavia, consegue escapar com alguns cavaleiros.

O sultão fica na posse da Verdadeira Cruz, uma relíquia descoberta por Santa Helena que acompanhava os francos em todos os campos de batalha. De volta a Damasco, entrega 300 monges-soldados do Templo e da Ordem dos Hospitalários aos religiosos ultrarradicais inimigos, que os executam de maneira tão selvagem quanto torpe diante dos olhos de Saladino.

Para tomar a Cidade Santa, que, para surpresa de Saladino, estava bem defendida, tiveram de sitiá-la. Saladino concorda em preservar a vida e a liberdade dos sitiados em troca de dez besants - antiga moeda bizantina de ouro – para cada homem, cinco para as mulheres e um para as crianças. 

Ao tomar a Cidade Santa em 3 de Outubro, Saladino manda derrubar a cruz dourada erigida 88 anos antes no alto da mesquita de Omar. Força os seus prisioneiros Gui de Lusignan e Gérard de Ridefort a fazer os defensores das portas a renderem-se. Termina assim a grande empresa inaugurada pelo papa Urbano II – as Cruzadas. Durante mais um século, os cristãos do Ocidente tentariam retomar Jerusalém, sem vigor nem sucesso.
Fontes: Opera Mundi
wikipedia (imagens)


Batalha de Hattin num manuscrito medieval
Saladino e Guy de Lusignan após a Batalha de Hattin
04
Jul18

04 de Julho de 1776: Assinatura da Declaração de Independência dos Estados Unidos da América

António Garrochinho


Reunidos na cidade de Filadélfia, estado da Pensilvânia para um novo congresso, em 4 de Julho de 1776, os representantes das colónias inglesas da América do Norte adoptam a sua Declaração de Independência. Escrita por Thomas Jefferson, John Adams e Benjamin Franklin, o texto é votado e aprovado por todas as delegações, excepto a de Nova Iorque que a aprovaria somente alguns dias depois. 

Esta jornada marca a ruptura definitiva das 13 colónias com o Reino Unido. Entretanto, a guerra de independência estava longe de ter acabado: numerosos norte-americanos influentes permaneciam fieis à coroa da Inglaterra e os britânicos não estavam dispostos a abandonar as suas colónias. O conflito somente terminaria com a assinatura dos tratados de Versalhes e de Paris em 3 de Setembro de 1783. 

A declaração chegou 442 dias após as primeiras descargas de artilharia da chamada Revolução Americana em Lexington e Concord em Massachusetts, que marcaram uma expansão ideológica do conflito que viria finalmente a encorajar a intervenção da França a favor dos Patriotas.


A primeira grande confrontação norte-americana à política britânica ocorreu em 1765 após o parlamento londrino ter aprovado a Stamp Act (Lei do Selo), estabelecendo que todos os documentos em circulação na colónia americana deveriam receber selos provenientes da metrópole, uma medida tributária destinada a aumentar a receita para financiar o exército britânico estacionado na América. Sob o lema "no taxation without representation," os colonizados norte-americanos reuniram-se num Congresso da Lei do Selo em Outubro de 1765 para vocalizar a sua oposição ao imposto. Com a promulgação em Novembro, conclamou-se um boicote aos bens importados da Inglaterra. À parte, ocorreram alguns ataques organizados contra as alfândegas e até contra as residências dos colectores de imposto. 
Após meses de protesto nas colónias o Parlamento britânico revogou a Lei do Selo em Março de 1766. 


Muitos colonos continuaram a aceitar pacificamente o governo da coroa britânica até à promulgação pelo Parlamento da Tea Act (Lei do Chá) em 1773, uma lei destinada a salvar a debilitada East India Company ao baixar brutalmente o imposto sobre o chá, concedendo-lhe, outrossim, o monopólio sobre o comércio do chá norte-americano procedente da metrópole. 

O reduzido imposto permitiu à East India Company vender mais barato até o chá contrabandeado pelos comerciantes holandeses. A população local passou a ver essa lei como mais um acto de tirania tributária. Em resposta, militantes chamados de Patriotas de Massachusetts organizaram o "Boston Tea Party," (Festa do Chá de Boston) uma acção de protesto executada pelos colonos na América contra o governo britânico, em que foram destruídos muitos caixotes de chá pertencentes à Companhia Britânica das Índias Orientais atirando-os às águas do porto de Boston. A manifestação teve lugar em 16 de Dezembro de 1773.

O Parlamento britânico, sentindo-se ultrajado pelo Boston Tea Party e outros actos flagrantes de destruição de propriedades britânicas, promulgou as Coercive Acts (Leis Coercitivas), também conhecidas como Intolerable Acts (Leis Intoleráveis), em 1774. 

As Coercive Acts bloquearam o porto de Boston ao comércio, estabeleceram um governo militar formal em Massachusetts, tornaram os funcionários britânicos imunes a processos criminais na América e obrigaram os moradores locais a alojar as tropas inglesas. Os colonos, em decorrência, convocaram o Primeiro Congresso Continental a fim de organizar uma resistência unida a Londres.

Com as outras colónias aguardando atentamente, Massachusetts liderou a resistência aos britânicos, formando um governo revolucionário paralelo e organizando milícias para resistir à crescente presença militar britânica em todo o país. Em Abril de 1775, Thomas Gage, governador britânico de Massachusetts, ordenou que as suas tropas marchassem para Concord, onde presumivelmente estava localizado um arsenal dos Patriotas. Em 19 de Abril, tropas regulares britânicas depararam-se com um grupo de milicianos americanos em Lexington e os primeiros tiros da Revolução Americana foram ouvidos.
 
Inicialmente, tanto os americanos quanto os britânicos viam o conflito como uma espécie de Guerra civil dentro do Império. Para o rei George III era uma rebelião colonial e para os americanos, uma luta pelos seus direitos como cidadãos britânicos. No entanto o Parlamento permaneceu pouco disposto a negociar com os rebeldes americanos e, ao invés disso, pagou a mercenários alemães para ajudar o exército britânico a esmagar a rebelião.

Em Janeiro de 1776, Thomas Paine publica o Common Sense (Senso Comum), um influente panfleto político que convincentemente argumentava em favor da independência, tendo vendido mais de 500 mil exemplares em poucos meses. Na Primavera de 1776, o apoio à independência já varria as colónias, levando o Congresso Continental a conclamar que organizassem os seus próprios governos. Uma comissão de cinco pessoas foi nomeada a fim de redigir uma declaração.

A Declaração de Independência foi em grande parte obra de Thomas Jefferson. Ao justificar a independência Americana, Jefferson apropriou-se generosamente da filosofia política de John Locke, um defensor dos direitos naturais, e dos trabalhos de outros teóricos ingleses. A primeira secção exibe o famoso conceito: “Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens foram criados iguais, foram dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade.” A segunda parte apresenta uma longa lista de agravos que propiciam as razões para a rebelião. 

Em 2 de Julho, o Congresso Continental aprovou uma moção apresentada pela colónia de Virgínia propondo a separação da Grã-Bretanha. As dramáticas palavras dessa resolução foram acrescentadas no fecho da Declaração de Independência. Dois dias mais tarde, em 4 de Julho, a declaração foi formalmente adoptada por 12 colónias após mínimas emendas. Nova Iorque aprovou-a somente a 19 de Julho. Em 2 de Agosto, a declaração foi sancionada. 

A Guerra de Independência duraria mais cinco anos. Para chegar ao seu término ocorreram os episódios da vitória dos Patriotas em Saratoga, o duro Inverno em Valley Forge, a intervenção dos franceses e a vitória final em Yorktown em 1781. Em 1783, com a assinatura do Tratado de Paris com a Grã-Bretanha, os Estados Unidos tornaram-se formalmente uma nação independente. 


 Fontes: Opera Mundi
 wikipedia (imagens)

Declaração de Independência dos Estados Unidos
Declaração de Independência dos Estados Unidos da América

Da esquerda para a direita: Franklin, Adams, e Jefferson a trabalhar na redacção da Declaração -Jean Leon Gerome Ferris
Ficheiro:T Jefferson by Charles Willson Peale 1791 2.jpg

 Thomas Jefferson autor do projecto original do documento
04
Jul18

04 de Julho de 1811: Nasce D. Antónia Adelaide Ferreira," a Ferreirinha"

António Garrochinho


D. Antónia Adelaide Ferreira, mais conhecida por Ferreirinha, nasceu em Godim, Peso da Régua no dia 4 de Julho de 1811 e faleceu na mesma localidade em Março de 1896.

Ficou conhecida por se dedicar ao cultivo do Vinho do Porto e pelas notáveis inovações que introduziu. A sua família era abastada e possuía vinhas. O pai, José Bernardo Ferreira casou-a com um primo, mas este não se interessou pela cultura da família e esbanjou grande parte da fortuna.

D. Antónia teve dois filhos: uma menina, Maria de Assunção, mais tarde Condessa de Azambuja, e um rapaz, António Bernardo Ferreira. Ficou viúva com 33 anos e a viuvez despertou em si a vocação de empresária, levando-a a assumir a liderança da Casa Ferreira, fundada pelo seu avô, Bernardo Ferreira, por ordens do Marquês de Pombal. Fez grandes plantações de vinha, construiu armazéns, contratou colaboradores, comprou quintas importantes – Aciprestes, Porto e Mileu – e fundou outras – como Vale Meão –, tornando-se uma figura cimeira no sector do Vinho do Porto

O Duque de Saldanha (um dos homens mais poderosos do seu tempo) pretendia casar o seu filho com Maria de Assunção, filha de D. Antónia.  D. Antónia recusou a proposta realizada pelo Duque e este, habituado a não ser contrariado, mandou os seus homens raptar a menina de apenas 12 anos. 

Ao saber da estratégia do Duque a família de D. Antónia fugiu para Espanha e depois para Inglaterra. Na sua ausência (viveu em Londres 3 anos) seria Joaquim Monteiro Maia, colaborador de D. Antónia, que tomaria conta do negócio. Sabe-se que a Ferreirinha, como era carinhosamente conhecida, se preocupava com as famílias dos trabalhadores das suas terras e adegas. Apoiada pelo administrador José da Silva Torres, mais tarde seu segundo marido, Antónia Adelaide Ferreira lutou contra a falta de apoios dos sucessivos governos. 
Debateu-se contra a doença da vinha, a filoxera e deslocou-se a Inglaterra para obter informação sobre os meios mais modernos e eficazes de combate a esta peste, bem como processos mais sofisticados de produção do vinho. 
Em 1880, ficou novamente viúva, intensificou o seu envolvimento em obras de benfeitoria, designadamente na construção dos hospitais de Vila Real, Régua, Moncorvo e Lamego.
Ferreirinha investiu em novas plantações de vinhas em zonas mais expostas à radiação solar, sem abandonar também as plantações de oliveiras, amendoeiras e cereais.
A Quinta do Vesúvio, uma das suas muitas propriedades, era por ela percorrida e vigiada de perto.
Quando faleceu, em 1896, deixou uma fortuna considerável e perto de trinta quintas. Do Douro para o mundo passou a lenda da sua tenacidade e bondade.
Em 2004 a RTP exibiu uma série, da autoria de Francisco Moita Flores, onde se retratava a sua vida.


Fontes: https://www.publico.pt/tema/jornal/uma-mulher--de-coragem-22331112

wikipedia





04
Jul18

Professores concentram-se em Faro contra os serviços mínimos às avaliações

António Garrochinho

 




Dezenas de professores concentraram-se esta segunda feira frente à Delegação Regional de Educação, em Faro, e juntaram-se ao protesto nacional de professores, que se multiplicaram em iniciativas similares em várias cidades do país.
Esta foi mais uma jornada na luta dos docentes, que estão em greve às avaliações. A paragem é «pelo tempo de serviço não reconhecido, pelas condições de trabalho, pelo elevado número de alunos por turma, pela intransigência do ministério, pela falta de abertura ao diálogo, pelo futuro de todos os alunos, por um Portugal melhor».
Os manifestantes que se juntaram junto à agora chamada Direção de Serviços da Região (DSR) do Algarve da Direção-Geral de Estabelecimentos Escolares empunharam cartazes que remetiam para as reivindicações que motivam a greve, mas também contra a imposição de serviços mínimos, que obrigam os professores, mesmo de greve, a dar notas e a realizar as reuniões de avaliação dos alunos ainda sem classificação até quinta-feira.
A ordem emanada pelo colégio arbitral criado para avaliar o pedido do Governo de que fossem garantidos serviços mínimos foi contestada pelos sindicatos e pelos professores, que saíram à rua em protesto hoje, dia 2 de Julho, um pouco por todo o país.
Além de Faro, houve concentrações de professores em Lisboa (frente ao Ministério da Educação), no Porto, Coimbra, Braga, Leiria, Guarda e Viseu.


www.sulinformacao.pt
04
Jul18

Megaoperação da PSP em quatro distritos. Há "vários detidos"

António Garrochinho


Trata-se de uma investigação do Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa. Operações no terreno levadas a cabo por agentes da PSP com o apoio dos militares da GNR.

Megaoperação da PSP em quatro distritos. Há "vários detidos"
País Investigação
Uma megaoperação da PSP está, esta quarta-feira de manhã, no terreno e a ser levada a cabo, em simultâneo, em quatro distritos.
As “mais de 50 buscas” estão a ser realizadas em Lisboa, Porto, Setúbal e Santarém e já levaram à detenção de “vários sujeitos”, disse ao Notícias ao Minuto fonte da PSP.
Segundo a RTP, este número cifra-se, para já, nas 12 pessoas, mas é provável que venha a aumentar.
No decorrer da operação em curso contra o tráfico de armas, sabe o Notícias ao Minuto, os agentes da PSP já apreenderam “várias armas de fogo”, que a agência Lusa afirma serem mais de duas dezenas.
As mais de cinco dezenas de buscas, que estão a decorrer sob a coordenação do Comando da PSP de Lisboa, contam com "muitos homens" da PSP na rua que estão a ser auxiliados, no terreno, por militares da GNR. 
A operação terá sido batizada de Colmeia.
Buscas (também) em dois bairros de Lisboa
Entretanto, a agência Lusa adianta que estão a ser levadas a cabo buscas nos bairros lisboetas no Casalinho da Ajuda e no Bairro 2 de Maio, desde as 7h00, não resultando claro, para já, se as operações estão relacionadas, embora tudo indique que sim.
Fonte da PSP não avança para já mais informações, remetendo esclarecimentos para mais tarde.

www.noticiasaominuto.com
04
Jul18

Filha de Himmler trabalhou para os serviços de espionagem após queda do nazismo

António Garrochinho



Holocausto

Jornal Bild faz a revelação e diz que Gudrun Burwitz foi uma nazi convicta até à sua morte, no final de Maio.
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A filha de Heinrich Himmler — o homem que inaugurou o primeiro campo de concentração para judeus, durante o regime nazi, e que figura nos arquivos da história como o principal arquitecto do Holocausto — trabalhou para os serviços de espionagem da Alemanha Ocidental. Segundo o diário Bild, Gudrun Burwitz fez parte de um grupo alargado de funcionários com ligações ao nazismo que o Serviço Federal de Inteligência (BND, na sigla em alemão) recrutou durante os anos 50 e 60 do século passado e permaneceu activa em grupos neonazis até à sua morte, no final de Maio.
Burwitz trabalhou no BND entre 1961 e 1963, como secretária, tendo sido apontada por Reinhard Gehlen, um antigo general da Wehrmacht, que depois da queda do Terceiro Reich começou a colaborar com os Estados Unidos e que foi conduzido à chefia dos serviços de inteligência da Alemanha Ocidental em 1956. Escreve o Bild que muitos dos agentes recrutados por Gehlen eram antigos membros Gestapo e das SS – a força paramilitar de elite presidida, aprimorada e expandida por Himmler durante o regime de Adolf Hitler.
Ao tablóide alemão, o responsável pelo departamento de história do BND, Bodo Hechelhammer, confirmou que Burwitz integrou os quadros da agência de espionagem. “O BND confirmou que Burwitz trabalhou para a organização até 1963, sob um nome falso. O momento da sua partida coincidiu com o início de uma mudança no entendimento e na contratação de funcionários envolvidos com os nazis”, afirmou, citado pela Deutsche Welle.
A reportagem publicada pelo Bild na passada sexta-feira dá ainda conta da dedicação de Burwitz na reabilitação da imagem do pai e da sua participação activa em diversos grupos e organizações neonazis e de extrema-direita. “O meu pai é visto como o maior genocida da história. Quero tentar mudar essa imagem”, garantira na única entrevista que concedeu, em 1959.
Gudrun Burwitz era a filha mais velha de Himmler – o número dois do regime teve outras duas filhas, frutos de uma relação extraconjugal – e acompanhava muitas vezes o pai em aparições públicas, nos anos 30 e 40. A companhia da criança loira e de olhos azuis em eventos deleitava o líder nazi e alimentava a sua obsessão pelo delírio da pureza racial alemã – que o levou a conceber e implementar o sistema de detenção e extermínio que tirou a vida a mais de 6 milhões de pessoas, entre judeus, ciganos, deficientes ou homossexuais. 
Quando Gudrun tinha 12 anos, o pai levou-a até ao campo de concentração de Dachau. Uma experiência que descreveu como “muito agradável”. “Hoje fomos ao campo de concentração das SS em Dachau. Vimos o trabalho de jardinagem. Vimos as árvores de fruta. Vimos todos os desenhos pintados pelos prisioneiros. Maravilhoso. E depois tivemos imensas coisas para comer. Foi muito agradável”, escreveu no seu diário, citada pelo Washington Post.
Casada com Wulf-Dieter Burwitz – um funcionário do Partido Nacional Democrático da Alemanha (NPD, neonazi) –, Gudrun Burwitz era conhecida tanto nos círculos da extrema-direita como junto de detractores como a “princesa nazi” ou a “Madre Teresa do nazismo”. 
Capturada juntamente com a mãe no final da Segunda Guerra Mundial, acabou por ser libertada em 1946, já depois do pai se ter suicidado na prisão. Integrou a Wiking-Jugend (Juventude Viking), uma das muitas organizações clandestinas de nazis ou familiares de nazis que se formaram nos anos 50, e aderiu à Stille Hilfe (Ajuda Silenciosa), um grupo que prestava apoio legal e financeiro a antigos membros das SS fugidos à justiça – como Klaus Barbie, Anton Malloth ou Martin Sommer.
Trabalhou muitos anos como ama, em Munique, e morreu no passado dia 24 de Maio, com 88 anos de idade. De acordo com o Bild, foi uma nazi convicta até ao fim.

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04
Jul18

Alterações das leis laborais vão cruzar-se com debate do Orçamento

António Garrochinho


Parlamento

Governo e PS querem evitar momento de tensão esta sexta-feira por causa das leis laborais. Nenhuma proposta deverá ir a votos. Discussão em detalhe não deverá ficar fechada antes do final de Outubro.
Alterações à legislação laboral não deverão ir já a votos

Alterações à legislação laboral não deverão ir já a votos 
A tensão entre os parceiros de Governo arrasta-se há semanas, mas poderá esvaziar-se na sexta-feira, quando o Parlamento discutir as alterações à legislação laboral. Já é certo que os socialistas apresentarão um requerimento a pedir que a proposta de lei do Governo não seja votada em plenário, passando directamente para a discussão em sede de comissão parlamentar do Trabalho e da Segurança Social. O PCP mantém o tabu mas o BE dá sinais de que a sua proposta também pode baixar à comissão sem ser votada. Isso atirará a discussão do detalhe das propostas para depois das férias, cruzando com o Orçamento do Estado para 2019.
José Soeiro, deputado do BE, admite que os seus projectos de lei não vão a votos na sexta-feira, desde que o Governo faça o mesmo. “Se houver um pedido por parte do Governo para que a sua proposta de lei baixe à especialidade sem votação, nós consideramos agir com reciprocidade, baixando também as nossas propostas sem as submeter a votação”, adiantou ao PÚBLICO o deputado responsável pela área laboral no Bloco.
Soeiro não tem dúvidas de que o debate parlamentar em torno da legislação laboral vai arrastar-se até ao final de Outubro, cruzando-se com o debate sobre o Orçamento do Estado para 2019. É que além da proposta do Governo, há várias propostas do BE e do PCP que, se baixarem à especialidade, também serão apreciadas.
Já do lado dos comunistas, fonte parlamentar remeteu para mais tarde o anúncio da decisão final, mas a indicação que quer o Governo quer o PS tinham era de que o PCP também não faria finca-pé na votação.

Detalhes políticos

A situação é puramente política. Os socialistas dão o primeiro passo para evitar o confronto no hemiciclo, entregando o requerimento a pedir que a proposta do Governo não seja votada no Parlamento no dia 6 de Julho. Alegam a formalidade de ainda não se ter concluído o período de discussão pública da iniciativa, que decorre até ao dia 12 deste mês (seis dias antes do último plenário).
Quando isto acontece, os projectos podem ser votados logo na sessão plenária a seguir ao fim do prazo da discussão pública, mas como os agendamentos já estão preenchidos até ao final do ano parlamentar, o debate na comissão da especialidade só deverá iniciar-se em Setembro. Tratando-se de alterações às leis laborais, são necessárias audições a várias entidades, o que pode dificultar a aprovação final das alterações legislativas antes de o Parlamento se dedicar em exclusivo ao Orçamento do Estado, em Outubro.
Ainda assim, o debate de sexta-feira vai ser “duro”, como referiu um deputado da maioria ao PÚBLICO, razão pela qual os socialistas querem evitar que o momento seja ainda mais embaraçoso. Querem também evitar dar argumentos à esquerda que esta possa cobrar nas negociações do Orçamento do Estado.

PS quer forçar alterações

Para convencer os parceiros a adiar a votação das propostas, atirando o trabalho para a comissão da especialidade, o líder parlamentar do PS insistiu na chamada “concertação parlamentar” e prometeu que o próprio partido de Governo vai apresentar propostas de alteração. Nesta terça-feira, nas jornadas parlamentares, junto à barragem do Alqueva Carlos César insistiu na ideia que o grupo parlamentar tem autonomia e liberdade em relação ao Governo e que não vai deixar de a usar.
Prometeu, por isso, medidas para “melhorar esse acordo, impedindo abusos que o pervertam”, acrescentando: “É isso que faremos com a liberdade que nos é própria”. Esta última frase é um recado para dentro do executivo e António Costa acabou por lhe dar resposta no discurso que fez a seguir, lembrando não só aos parceiros de esquerda como à própria bancada que o acordo de concertação social – que está na base da proposta de lei do Governo – corresponde ao que estava no programa do Governo e que os deputados podem apresentar propostas nesse quadro: “Isto não quer dizer que a legitimidade democrática do Parlamento esteja limitada pela concertação social”.

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04
Jul18

Portugal é dos países onde os alunos mais dependem da família para tirar um curso

António Garrochinho


Ensino Superior

Pais pagam 56% dos gastos dos estudantes do ensino superior. Maior parte do dinheiro vai para custos com casa e comida.
Ensino superior

Os jovens portugueses ficam até tarde em casa dos pais. Por isso, Portugal é um dos países da Europa em que os alunos mais dependem das famílias para tirar um curso superior. Os estudantes nacionais pagam apenas 44% dos custos que têm com a frequência das universidades e politécnicos. A habitação leva a maior fatia, sobretudo em Lisboa.
Estes dados foram publicados recentemente no estudo Eursostudent, que avalia as condições sócio-económicas da vida dos estudantes na Europa. De acordo com esse relatório, Portugal é o quarto país onde as famílias assumem uma maior fatia dos gastos com a frequência do ensino superior: são 56% de todos os custos.
Apenas a Geórgia, a Irlanda e a Sérvia – onde os pais dos alunos suportam 64% dos custos – têm uma percentagem mais elevada neste indicador. Em média, os estudantes pagam dois terços das suas despesas mensais do seu próprio bolso nos 28 países estudados.
PÚBLICO -

O elevado contributo das famílias nacionais para os cursos superiores dos seus filhos está directamente relacionada com o facto de os estudantes portugueses estarem entre os que mais tarde saem de casa dos pais.
De acordo com o Eurostudent, 49% dos alunos do ensino superior portugueses vivem com os pais durante a sua licenciatura ou mestrado. Este número é bem superior à média internacional que é de 36%.
Os estudantes que vivem com a família são aqueles que têm uma menor contribuição para os custos com a educação: pagam 26% dos custos. Os estudantes que vivem sozinhos contribuem com 60% das despesas.
“Há uma questão cultural” que tem que ser levada em conta para entender estes dados, contextualiza Luísa Cerdeira, professora da Universidade de Lisboa: “As famílias da Europa do Sul têm uma noção de responsabilidade sobre os seus filhos que se prolonga até que terminem a formação e arranjem emprego. Nas famílias anglo-saxónicas esta termina quando atingem a maioridade”.
Esta realidade atinge não só o comportamento das famílias “como as próprias políticas públicas”, acrescenta. Nos países nórdicos (Dinamarca, Noruega, Suécia e Finlândia) – onde há subsídios dos Estado à emancipação dos jovens –, bem como na Áustria, menos de 20% dos gastos de um curso superior são assumidos pelas famílias. São os países onde os estudantes mais contribuem para os seus próprios estudos, mostra este relatório.
PÚBLICO -

A maior parte do dinheiro gasto pelos estudantes ou as famílias vai para os custos com habitação e alimentação. Apenas 13% da estrutura de custos diz respeito a custos directos com educação (propinas, livros, etc.).
Estes dados são coincidentes com os resultados de um estudo do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, coordenado por Luísa Cerdeira, publicado no ano passado que indicava que a residência é um dos gastos com maior influência nos custos da frequência do ensino superior. Os estudantes do ensino público que estão deslocados gastam, em média, mais 781 euros por ano que os seus colegas que continuam a viver junto do agregado familiar.
“Quem chega ao ensino superior continua a ser um privilegiado”, aponta o presidente da Federação Académica do Porto, João Pedro Videira, segundo o qual estes números colocam em evidência o facto de, nos casos em que as famílias não têm condições para assumir este esforço, os estudantes acabam por não ir estudar no ensino superior.
PÚBLICO -

Lisboa entre as capitais mais caras

“Não basta ter boas notas para entrar no ensino superior”, acrescenta João Rodrigues, da Federação Académica de Lisboa (FAL). “Os alunos têm que ultrapassar uma série de outros obstáculos para conseguirem ter sucesso”.
Isto é particularmente evidente em Lisboa onde “cada vez mais, só é possível estudar num quadro de excepção”, aponta o mesmo dirigente. O Eurostudent confirma a análise do presidente da FAL: Portugal é dos países onde a diferença dos custos com habitação entre a capital e as cidades mais pequenas é mais pronunciada.
Os estudantes que não vivem com os pais em Lisboa têm despesas com alojamento 125 euros superiores aos seus colegas que vivem em cidades mais pequenas. Irlanda, França, Itália e Polónia estão na mesma situação.
O mesmo acontece com os gastos com alimentação. Os estudantes em Lisboa gastam no mínimo mais 52 euros por mês que os seus colegas nas cidades de menor dimensão.
Cidades universitárias como o Porto, Coimbra e Braga foram alvo deste estudo mas não foram consideradas para este índice por terem mais de 100 mil habitantes.
O elevado custo de vida de Lisboa faz também com que Portugal seja dos países avaliados neste relatório em que a percentagem de estudantes a viver com os pais é mais alta entre os estudantes da respectiva capital. São 55% dos alunos de Lisboa que vivem com a família durante o curso superior.
Apenas Croácia e Itália, onde 73% dos estudantes de Roma vivem com os pais, têm uma percentagem mais elevada neste indicador. Nas cidades com menos de 100 mil habitantes, apenas 4% dos portugueses vivem com os pais.
O Eurostudent é da autoria do Centro para a Investigação em Ensino Superior e de Estudos da Ciência da Alemanha, que liderou um consórcio com outros seis centros de investigação europeus para produzir este estudo. Foram envolvidos 28 países europeus, incluindo a Turquia, a Geórgia ou a Albânia, que não fazem parte da União Europeia.
O relatório mostra que além dos 49% de estudantes do superior que vivem em casa dos pais há ainda 24% que dividem casa com outras pessoas e 13% que vive com companheiro ou filhos (ver caixa) e 8% vivem sozinhos.
PÚBLICO -

Outros 6% dos estudantes nacionais vivem em residências universitárias, um valor muito inferior à média internacional, que é de 18%. Há dois meses, um diagnóstico feito pelo Ministério da Ciência e Ensino Superior mostrou que as 13.971 camas disponíveis nas residências para estudantes do ensino superior só garantem alojamento para 12% dos que se encontram a estudar fora das suas áreas de residência.


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04
Jul18

PÃO PÃO, QUEIJO QUEIJO

António Garrochinho

A VERDADE É QUE OS TRABALHADORES, O "PCP", VAI LUTANDO PARA QUE OS MAIS DESPROTEGIDOS, OS QUE SÃO ATROPELADOS NOS SEUS DIREITOS TENHAM VOZ NESTE PORTUGAL TRAFULHENTO.

SIM! É VERDADE ! E DEPOIS COMO REAGE UMA PARTE DO POVO ?

VOTA NOS PARTIDOS DE DIREITA E ALIMENTA ILUSÕES DE QUE O "PS" É DE ESQUERDA E AINDA PODE SER UMA SOLUÇÃO PARA OS ESPOLIADOS E MARGINALIZADOS.

SE ESTA REALIDADE, ESTA POSTURA DO "PS" FOSSE UM MERO DESVIO OCASIONAL E TEMPORÁRIO AINDA SE ACEITAVA, MAS OS QUE TÊM OLHOS PARA VER, OS QUE SÃO ELES AS PRÓPRIAS VÍTIMAS DAS POLÍTICAS DIREITISTAS DO FALSO PARTIDO SOCIALISTA, QUE ESPERAM PARA AGIR ?

SE NAS BASES DO "PS" AINDA HÁ QUEM SEJA DE ESQUERDA PORQUE NÃO AGE COMO TAL ?


António Garrochinho
04
Jul18

A aplicação das 35 horas a todos os trabalhadores da saúde constitui uma importantíssima conquista dos trabalhadores e trará certamente melhorias na saúde dos profissionais e na qualidade dos cuidados que são prestados.

António Garrochinho

A aplicação das 35 horas a todos os trabalhadores da saúde constitui uma importantíssima conquista dos trabalhadores e trará certamente melhorias na saúde dos profissionais e na qualidade dos cuidados que são prestados.

A existência de profissionais de saúde em número adequado e devidamente valorizados, social e profissionalmente, é condição indispensável para a prestação de cuidados de saúde de qualidade e de forma atempada.

O PCP contribuindo, mais uma vez, para o reforço do SNS, propôs e a Assembleia da República aprovou um projecto de resolução que recomenda a agilização por parte do Governo dos processos de recrutamento de profissionais de saúde para o Serviço Nacional de Saúde. O PCP reafirma que exigirá do Governo a sua concretização.



04
Jul18

SEM PAPAS NA LÍNGUA

António Garrochinho





A RESISTÊNCIA ÀS POLÍTICAS DE DIREITA, SE É QUE SE PODE CHAMAR RESISTÊNCIA ENTROU AGORA NUMA FASE DE FAZER ACEITAR O INACEITÁVEL.

NA MINHA OPINIÃO PORTUGAL NÃO ESTÁ A "ESCAPAR" À LOUCURA NEOLIBERAL QUE SE INSTALOU NA EUROPA E AO ESVAZIAMENTO DA LUTA REAL CONTRA OS EXPLORADORES E OS GRANDES BURGUESES, QUE ATRAVÉS DOS PARTIDOS LACAIOS, UTILIZAM O ELEITORALISMO ALDRABÃO, DANDO PODER À BANCA E AOS BANQUEIROS, ABUSANDO DA DEMAGOGIA E DIVIDINDO COM CHANTAGEM OS QUE AINDA SE QUEREM ERGUER E RESISTINDO SE MANTÊM LÚCIDOS CONTRA O CAPITALISMO E OS SEUS AGENTES.

NÃO ME CANSO DE REPETIR QUE NESTAS "JOGADAS" DE ACORDOS COM O PODER SÓ OS TRABALHADORES É QUE PERDEM E CADA VEZ MAIS.

O CICLO VICIOSO DO "MAL MENOR" É UMA REALIDADE E JÁ SE NOTA QUE QUEM ANTES NÃO ACEITAVA TAIS POLÍTICAS HOJE ENVEREDA PELA NEGOCIAÇÃO DE TOSTÕES, NÃO REIVINDICANDO O PODER POLÍTICO E APESAR DE MUITOS SLOGANS E FRASES INCENDIÁRIAS TUDO NÃO PASSA DE UM JOGO DE ACEITAÇÃO NEGOCIADA (QUE O POVO NUNCA CONHECE) AS POLÍTICAS E O DITAME DO CAPITALISMO.

BEM ME PODERIA ALONGAR E MESMO OS QUE DISCORDAM DA MINHA OPINIÃO E DO MEU OBSERVAR DA REALIDADE PORTUGUESA NÃO CONSEGUEM PROVAR QUE ESTOU ERRADO.

O POVO PORTUGUÊS VIVE AO SABOR DUMA COMPLEXA TEIA DE INTERESSES, OS GRANDES E OS PEQUENOS, E COMO É ÓBVIO EM NADA BENEFICIA COM ESTE NEVOEIRO ESTUDADO E O JOGO DO EMPURRA, QUE SÓ TEM EM VISTA MANTER A CLIENTELA ELEITORAL E OS INTERESSES "ESTRANHOS" DE UNS POUCOS QUE JÁ SE VÃO RETRATANDO E MOSTRANDO O QUE QUEREM PARA A MAIORIA DOS QUE VIVEM MAL E MANIPULADOS SEM DÓ NEM PIEDADE PELO OPORTUNISMO DAS POLÍTICAS BURGUESAS QUE SÃO RAINHAS.

NÃO SERÁ DEMAIS REPETIR QUE ASSIM NÃO VAMOS LÁ !

PS: NÃO DEIXA DE TER RAZÃO A CITAÇÃO DESTE ANARQUISTA BRASILEIRO



António Garrochinho

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