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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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15
Jul18

Fascistas italianos e polacos fazem rondas na praia de Rimini

António Garrochinho


As organizações de extrema-direita Forza Nuova e Campo Nacional Radical promoveram na cidade italiana a «primeira operação europeia para a segurança». Grupos antifascistas manifestaram preocupação.
Fascistas italianos e polacos a patrulharem as praias de Rimini (Itália)
Fascistas italianos e polacos a patrulharem as praias de Rimini 
Patrulhas e caminhadas «com vestimentas negras» ao longo da praia, e uma foto de grupo no local onde no ano passado duas raparigas polacas foram violadas, na cidade costeira de Rimini, foram algumas das actividades levadas a cabo, na semana passada, pelos fascistas italianos da Forza Nuova (FN) em conjunto com os polacos do Campo Nacional Radical (ONR, na sigla em polaco).
A iniciativa, organizada pela secção local da FN e caracterizada como a «primeira operação europeia para a segurança», decorreu durante cinco dias, entre 5 e 9 de Julho, e, além dos «patrulhamentos», contou com conferências e encontros entre os grupos de extrema-direita. Numa nota de imprensa, citada pelo periódico Il Fatto Quotidiano, a FN diz que «as nossas praias e os nossos parques […] viram a assídua presença dos patriotas polacos e italianos».

Fascistas disfarçados de «patriotas»

Mirco Ottaviani, coordenador regional da FN na Emília-Romanha, lamentou que tivessem sido seguidos de perto pela Polícia e, em declarações à Euronews, valorizou a «bela agitação mediática» gerada pelo encontro entre fascistas polacos e italianos.
Em seu entender, tratou-se de «uma iniciativa simbólica num tempo limitado», que foi «mal interpretada». Acrescentou, no entanto, que não «foi um evento isolado» e que «se irá repetir ao longo do Verão», tendo ambos os grupos mais acções planeadas.
Quanto à proximidade com os polacos do ONR, afirmou que «está cada vez mais forte no Leste [da Europa], onde temos alcançando grande êxito ultimamente». «Há uma mudança em curso na Europa», disse.
A FN foi um dos partidos e movimentos fascistas europeus cujos dirigentes se fizeram representar, em Novembro do ano passado, na manifestação da independência da Polónia, em que participaram cerca de 60 mil pessoas.
Marcada por slogans xenófobos e pelo enaltecimento da supremacia branca, do anti-semitismo e da islamofobia, a mobilização, de que o ONR foi um dos principais promotores, foi descrita pela TV estatal polaca como uma «grande marcha de patriotas».

Propaganda, repúdio e preocupações

Várias organizações antifascistas italianas expressaram de imediato o seu repúdio e a sua preocupação com estes patrulhamentos, que visam sobretudo cidadãos estrangeiros, e, segundo refere Il Fatto Quotidiano, causaram grande impacto as fotos «dos militantes vestidos de negro», em fila, na praia.
O presidente da Câmara de Rimini, Andrea Gnassi, disse que as autoridades competentes tomaram nota do caso e estão a adoptar as medidas necessárias, mas desvalorizou a agitação mediática em torno destes «camisas negras»: é «uma farsa em camisa negra de dez tipos que fugiram de casa e se puseram em fila para fazer uma selfie fascista».
Giusi Delvecchio, presidente da Associação Nacional de Partisans Italianos – fundada nos anos 40 por participantes na resistência ao regisme fascista –, também disse acreditar que estas actividades são, em grande medida, um «golpe publicitário». «Fecharam-se num hotel e saíram à socapa para tirar fotos quando não havia ninguém para os ver e depois lançaram-nas no Facebook como propaganda», declarou à Euronews.
Não deixou, no entanto, de se mostrar preocupado, sobretudo pelo envolvimento de um grupo fascista estrangeiro.
Por seu lado, o assessor para a Segurança do Município de Rimini, Jamil Sadegholvaad, sublinhou que da extrema-direita não vem nada de bom e, referindo-se a esta «aliança com os polacos» na cidade da Costa Adriática, lembrou que esteve ao lado das raparigas agredidas o ano passado. «Não precisamos cá de nazis polacos ou da FN», frisou.

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15
Jul18

Sindicatos e utentes exigem intervenção na linha do Algarve

António Garrochinho


Devido ao mau estado da linha e composições ferroviárias, sindicatos e utentes promoveram esta sexta-feira uma concentração de protesto, com tribuna pública, junto à Estação de Faro.
Estação de Faro
Estação de FaroCréditos
O protesto contra a degradação da linha do Algarve e em defesa da melhoria do transporte ferroviário decorreu hoje à tarde, junto à estação de Faro.
Entre os promotores estão a Comissão de Utentes da Linha do Algarve e várias estruturas sindicais da CGTP-IN – União dos Sindicatos do Algarve, Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações e  Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário.
Em comunicado, as estruturas afirmam que o actual estado da linha do Algarve «é inadmissível», salientando «a supressão de muitas das circulações previstas», como o «material circulante obsoleto», além de horários, formas de articulação com outros transportes e ligações a outros pontos do País que são «desajustados das necessidades das populações».
Por outro lado, os organizadores acrescentam que,«apesar dos sucessivos anúncios de muitos milhões para esta linha, o que assistimos, diariamente, é o seu desaparecimento».


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15
Jul18

Onde pára a maioria?

António Garrochinho

(José Soeiro, in Expresso Diário, 13/07/2018)

Desde o seu Congresso, dirigentes do PS e membros do Governo têm-se multiplicado em declarações contraditórias sobre o caminho que pretendem. Nalguns casos, elas são a expressão normal das contradições existentes no próprio Governo e no Partido Socialista, entre os que defendem convictamente a solução política que existe (como Pedro Nuno Santos, por exemplo) e os que, como Santos Silva, por exemplo, anseiam regressar ao lugar de onde verdadeiramente nunca saíram e libertar-se rapidamente de qualquer compromisso com a Esquerda. Se fosse apenas uma troca de declarações, seria interessante mas pouco relevante. Mas este ziguezague é a expressão de uma confusão em torno de escolhas políticas concretas, que aliás põe em causa a consistência e a coerência da atual maioria. Se a ideia do Governo é essa – pô-la em causa, para reconstruir o centrão –, então é uma boa estratégia. Mas seria, sobretudo, uma irresponsabilidade que fosse por esse caminho. Há muitas escolhas para fazer e muitos problemas para resolver.
Um exemplo: a legislação laboral. Independentemente das divergências que sempre existiram entre o Partido Socialista e a Esquerda, tinha sido possível chegar a um acordo, depois de quase dois anos de reuniões de um Grupo de Trabalho, entre Bloco, PS e Governo, com medidas importantes para limitar abusos nos contratos a prazo e no trabalho temporário. Depois, é o que se sabe: à revelia da Esquerda, o Governo acordou com as confederações patronais um conjunto de medidas de sinal contrário para esvaziar e mitigar o que tinha negociado com o Bloco. Acontece que a proposta de lei laboral do Governo ainda não foi votada. Está o PS disponível para, no Parlamento, concertar-se com a Esquerda na especialidade? Está o PS disponível, por exemplo, para anular as normas suscetíveis de serem declaradas inconstitucionais, como o alargamento do período experimental para 180 dias? Para eliminar da proposta o alargamento a todos os sectores de contratos orais sem invocação formal de motivo nem direito a compensação? Ou para garantir que a questão do banco de horas é reenviada para a esfera da negociação coletiva? Está o PS disponível para voltar a negociar à Esquerda, ou vai ser apenas o eco parlamentar das medidas impostas pelos patrões na concertação social?
Outro exemplo: o Serviço Nacional de Saúde. António Arnaut e João Semedo, duas figuras exemplares cuja vida simboliza o compromisso com o SNS público e universal, deram um exemplo de generosidade e de diálogo, propondo em conjunto uma nova Lei de Bases, com o objetivo de salvar o SNS e reverter a sangria de recursos públicos para o negócio privado na saúde. O Governo, que marcou presença na apresentação da proposta, apressou-se a criar uma Comissão presidida por Maria de Belém Roseira para fazer uma outra proposta de Lei de Bases, amiga dos grupos privados (com os quais, de resto, Belém mantém uma relação íntima) , capaz de travar a Lei Arnaut/Semedo. O PS quer mesmo deitar por terra a possibilidade de negociar uma lei à Esquerda, para negociar à Direita uma lei que tenha o apoio de quem descaracterizou o SNS e protege interesses particulares de grupos económicos da área da saúde? É esse o caminho que escolhe?
Os exemplos são muitos. Depois de ter repetido, a propósito de assuntos tão diversos como as carreiras dos professores, as pensões antecipadas, a meta de 1% para a Cultura ou a renovação de equipamento para hospitais que “não há dinheiro”, o Governo descobriu subitamente uma disponibilidade de desembolsar mais 4 mil milhões em despesas militares, para ir de encontro à exigência da NATO e à pressão de Trump de gastar 2% do PIB (do PIB, não é sequer do Orçamento!) em defesa. Num país que dedica à Cultura, por exemplo, 0,1%, ou seja, 20 vezes menos.
Ao longo destes últimos meses, a Esquerda tem estado onde sempre esteve: não cala as suas posições nem abdica das suas propostas sobre cada assunto, mas nunca faltou à maioria para nenhum progresso nem nunca se pôs de lado de nenhum processo negocial. Resta saber se o PS pretende, em cada uma destas matérias, falar com a Esquerda ou faltar à Esquerda.

 estatuadesal.com
15
Jul18

O terço na mão e o diabo no coração: o diário secreto do Padre Fontes

António Garrochinho


(Ricardo J. Rodrigues, in Diário de Notícias, 13/07/2018)
(A vida deste homem, padre de ofício, é uma autentica odisseia de teimosia contra a injustiça, a ignorância e de amor pelo seu “rebanho”. Daí ter sido sempre incompreendido pelas cúpulas da Igreja e de igual modo pelo poder secular. E foi mais um a quem Cavaco, esse tacanho mesquinho, recusou agraciar e reconhecer mérito. É ler este excelente artigo. É longo mas vale bem a pena.
Comentário da Estátua, 13/07/2018)

Na última sexta-feira 13 do ano, aqui fica a história de como um sacerdote aprendeu a dançar com o diabo. E de como o escreveu num diário secreto que tem desde os dez anos e agora mostrou.

Quem pegar num mapa e percorrer com um dedo a linha da fronteira norte do país, encontra Vilar de Perdizes entre o lado transmontano do Gerês e a cidade de Chaves, numa região conhecida por Alto Barroso. A aldeia não tem mais de 200 almas, gente que até aos anos 1980 viveu do contrabando e hoje ganha sustento com o gado. É por isso habitual ter dificuldades a entrar no povoado ao fim da tarde: a hora do crepúsculo enche a única estrada de acesso a Vilar de bois de raça barrosã, que regressam à corte após um dia de pasto.
Mesmo no centro do lugar fica a casa de António Lourenço Fontes, padre. É edifício mais comprido do que largo, com paredes de granito e pequenas janelas quadradas por onde a luz entra sempre focada. Nas habitações transmontanas raramente o sol se mostra capaz de inundar um quarto inteiro - e a do Padre Fontes parece estar sempre mergulhada numa relativa penumbra. É aqui, nesta casa escura com paredes forradas de livros, que começa esta história.
À entrada está a biblioteca de temas religiosos. Estantes onde sobram bíblias e interpretações da bíblia, teses de teologia, relatos da vida dos santos. Dali acede-se à parte traseira da casa. No primeiro quarto está a secção de política, sociologia e uma parede toda dedicada a escritores e poetas transmontanos. No segundo estão os livros de botânica, etnologia e antropologia. Depois há uma porta de madeira que dá acesso a um antigo lagar de azeite, também ele forrado de prateleiras.
"Tenho aqui uma coisa que nunca mostrei a ninguém", diz o homem, enquanto galga um pequeno muro e procura com os dedos uma caixa. Lá dentro, pequenos cadernos gatafunhados com letra miúda, notas de pensamentos íntimos, relatos de tradições pagãs, escritos proibidos de contestação ao regime e à Igreja. O primeiro caderno é de 1950, ano em que Fontes entrou, tinha 10 anos, no seminário. "Isto é o meu diário. Mantive-o sempre comigo e mais ninguém. Talvez seja tempo de o partilhar."
Esta noite, em Montalegre, o padre Fontes presidirá à última sexta feira 13 de 2018 - e, tendo em conta que a próxima só acontecerá em setembro de 2019, tem consciência de que poderá ser a sua última. "Ainda estou para cá para durar, que os transmontanos são rijos. Mas ando um bocado parkinsónico, preciso de me reformar das festas", atira num gracejo.
O dia de azar é celebrado na vila desde 2002. Esgota hotéis e restaurantes, enche as ruas de gente para assistir a um espetáculo por onde desfilam artistas mascarados de bruxas e duendes. O ponto alto é o responso da queimada, proferido pelo Padre Fontes no castelo, em frente a um enorme caldeirão de ferro. Um texto do tempo em que português e galego eram uma única língua, e que ele descobriu numa aldeia espanhola próxima da fronteira, chamada Randim: "Vade retro Satanás, prás pedras cagadeiras. Lume de cadáveres ardentes, mutilados dos corpos indecentes, peidos de infernais cus. Forças do ar, terra, mar e lume, a vós requero esta chamada. Se é verdade que tendes mais poder que as humanas gentes, fazei que os espíritos ausentes compareçam a esta queimada."
Isto é o Padre Fontes, o homem de fé que goza na cara do diabo. Tornou-se figura nacional em 1982, quando organizou o primeiro Congresso de Medicina Popular em Vilar de Perdizes e convocou para o centro da aldeia todo o tipo de bruxos e cartomantes, videntes e leitores de mãos. A ousadia fê-lo entrar em guerra com o bispo de Vila Real, aquilo era um atentado à Igreja. "Mas isto são as crenças e as tradições do meu povo. As mezinhas, os responsos, o diabo. Negar as nossas tradições - o nosso paganismo, até - seria minorar uma cultura riquíssima, que para mais se está a perder."
Então diz-se etnólogo acima de tudo. Chamam-lhe rebelde e ele não o nega. Nos diários pessoais, aliás, está toda a narrativa da sua inquietação. Fontes contrariou sempre as leis da Igreja com que não concordava. Afrontou o salazarismo e encheu o peito contra a Guerra Colonial. Pesquisou o oculto para entender a crendice - "porque só ao entendê-la podia destruí-la." Pagou por isso o preço de o esconderem numa aldeia isolada do Alto Barroso. Mas ele ripostou, fez do fim do mundo o seu centro. Na terceira página do seu diário de 1957 escreveu esta frase que pode bem explicá-lo inteiro: "Trago comigo o terço na mão e o diabo no coração."

Tratado de audição das velhas

A entrada no seminário de Vila Real, aos 10 anos, foi gesto da própria vontade. "Nasci em Cambezes do Rio em 1940, mas sempre tive sede de conhecer o mundo. Nas circunstâncias em que vivia, uma família pobre de 12 irmãos, ir para padre era a única forma de alimentar a minha curiosidade." Nas férias, quando tornava a casa, sentava-se na cozinha a ouvir as histórias da mãe. E foi por isso que começou a escrever o seu diário.
"Ela recitava-me ladainhas para curar todos os males, misturas de ervas para tratar enfermidades, responsos para afastar os demónios. Fazia-o para que eu me aprendesse a proteger agora que tinha saído debaixo da saia dela. Eu escrevia tudo, tudo, tudo." Só muito mais tarde perceberia o tesouro que estava a receber nas mãos. Nesses cadernos de 1950 há orações para afastar bruxas, outras para desviar as alcateias, há mezinhas para curar dores de garganta, azares sucessivos e os dias de solidão - estes, por exemplo, resolvem-se fervendo um caldo de urze, mel e uma pedra apanhada à porta de casa.
Nos meses e anos seguintes estenderia a pesquisa às vizinhas, primeiro da sua aldeia, depois dos outros povoados isolados do Gerês. "Sentava-me a meio da tarde no terreiro com as velhas para ouvi-las contar o que sabiam. Ao início escrevia tudo, mas depois era tanta coisa que comecei a selecionar o que era mais valioso." No seminário, repetia aos companheiros o que tinha registado. Começou a correr nos corredores que o Fonte sabia curar males e a fama acabou por chegar aos ouvidos dos padres. "Levei reprimendas, fiquei de castigo muitas vezes por isso, mas nunca lhes fiz caso. O diário permanecia escondido debaixo de uma laje solta que tinha sob a cama. E esse nunca o apanharam.
A vida de Fontes era dupla. Durante a semana aprendia a ser padre, os sábados e domingos passava-os a ouvir lendas e a bailar nas festas. "Aos 17 anos, o reitor descobriu que eu tinha estado num bailarico e tinha dançado com uma rapariga a noite toda. Já me achavam meio estranho, então aquela foi a desculpa para me expulsarem." Não era bem o que tinha nos planos, mas ao sair do seminário decidiu agarrar numa mochila e cumprir um sonho antigo: ir a Sevilha.
Consigo não levava mais do que uma tenda, uma bíblia, uma muda de roupa e um tacho. "Apanhava boleia de alguns carros motorizados, mas sobretudo de carros de bois. Acampava onde calhava, conheci o meu país inteiro, em Espanha fui às touradas. Foi a maior aventura da minha vida." Há um caderno inteiro com os detalhes dessa viagem, onde estão colados bilhetes de entrada em museus, desenhos de paisagens, registos de despesas. "Quando voltei a Trás os Montes havia uma carta em casa. O seminário tinha decidido readmitir-me. Reuni com o reitor que me disse: 'Ficas, mas tens de virar a casaca.' Eu disse que sim, mas cá para mim pensei que a partir de agora havia de fazer as coisas à minha maneira."
A partir dessa altura o diário de António Lourenço Fontes tornou-se no ensaio para o jornal clandestino que haveria de escrever no Seminário. Chamava-se A Trama, era escrito à mão, e assinado por um desconhecido Marotus. Ali, Fontes convocava os colegas que se iam tornar padres a ouvirem o povo e as suas tradições, "porque cada velho que se extingue é uma biblioteca que morre." Gozava de caras com as incoerências do reitor, que apregoava a caridade e depois vivia faustosamente. Reivindicava a descida do preço das propinas e questionava a utilidade do voto de celibato. Os textos originais ainda estão ali e ele ri-se ao lê-los outra vez. Não olhava para eles há mais de 50 anos.
Fazia uma única cópia, que deixava à porta do quarto dos amigos - e estes depois rodavam-no por toda a gente. Ninguém sabia quem era Marotus. No dia em que os padres descobriram a primeira cópia de A Trama houve um inquérito para apurar a identidade do autor. Mas nunca deu frutos. Sereno, a ver o escândalo diante dos seus olhos, Fontes ria-se sozinho. Levava o terço na mão e o diabo no coração, sim.

Onde Judas perdeu as botas

Na véspera de ser ordenado, a 22 de junho de 1963, o reitor do Seminário de Vila Real disse-lhe que a cerimónia ia ser anulada. "Tinha-lhe constado que eu ia fazer uma festa na minha aldeia depois da missa nova e ele disse-me que não iria tornar padre quem só estava interessado em bailaricos." O rapaz exasperou, pois se era a primeira vez em mais de um século que a aldeia produzia um sacerdote. Ripostou: "Só se combate o diabo com a alegria." O superior olhou-o demoradamente e por fim acedeu. Aquele rapaz estranho iria mesmo tornar-se operário de Cristo.
Nessa noite, António Lourenço Fontes escreveu no seu diário uma das mais inquietas páginas do registo: "O Amândio diz que me vão capar, e a verdade é que lá terei de fazer o voto de celibato. Nem sei bem o que vou fazer. É mais um proforma do que um compromisso jurado." Mesmo hoje, admite que teve várias namoradas depois de ser padre. E insiste as vezes que forem precisas que não faz qualquer sentido que os padres não se possam casar. "Amo menos a Deus se amar uma mulher também?" Ainda tem esperança que este Papa, Francisco, traga essa lufada de ar fresco à Igreja.
Logo depois de ordenado, foi - nas suas palavras - enviado para o desterro. "Mandaram-me para padre em Tourém, que era a aldeia mais isolada de Montalegre, mas também a mais autêntica." Recusava-se a vestir batina, o que acabaria por revelar-se bastante útil para ser aceite na comunidade. "Nessa altura, havia uma igreja protestante na aldeia, fundada por um militar espanhol que se tinha estabelecido ali. Andavam às turras com os católicos, mas tratei logo de acalmar os ânimos, eram todos filhos de Deus. Acabámos a celebrar a missa juntos, pronto."
Nos primeiros anos teve tempo de prosseguir a recolha de tradições, mas depois começou a sangria de rapazes. Os diários de 1967 a 1969 são de profunda reflexão política. "Estou farto destes senhores medievais que nos governam. Nunca seremos um país desenvolvido enquanto o povo sentir que está sempre em dívida com os poderosos", lê-se a 15 de março de 1968. No ano seguinte, a 12 de fevereiro: "O povo está a desenvolver uma tendência de desertar dos meios rurais. Pois se aqui só há fome e trabalho duro, que havemos de fazer? Emigram, fogem desta vida e fogem da guerra." Uma semana depois, a 19: "Porque raio andam estes rapazes a matar africanos que querem fazer da sua terra um país? Esta guerra tem de acabar e depressa. E esta ditadura o mesmo."
Transformava estes pensamentos em cartas, e enviava-as ao irmão, que estava em Moçambique, e a um par de rapazes de Tourém, que estavam em Angola e na Guiné. Assinava com o pseudónimo Ramiro Concha do Rio, nome que voltaria a usar anos mais tarde, quando abriu o jornal Notícias de Barroso. "Como iam num envelope da Igreja sabia que não seriam censuradas. E eles, lá em África, tinham instruções para lê-las em voz alta a um grupo de confiança uma única vez. E depois queimá-las." Por medo da PIDE, inventou um alfabeto secreto de linhas e pontos, com que começou a escrever os textos mais incendiários do diário. "E também fiz umas cartas com tinta invisível, feita de sumo de limão. Quando se aproximava do calor podia ler-se o que eu tinha escrito."

Rir na cara do diabo

Em 1971 os seus bons serviços foram recompensados. Para resolver a fome abundante na região tinha organizado cursos agrícolas, que obrigavam o Governo Civil a distribuir leite e farinha pelo povo. Tourém estava-lhe grata. "O bispo perguntou-me se queria ir para o Porto, mas numa cidade nada poderia fazer pelo povo. Pedi-lhe para ir para Vilar de Perdizes, que apesar de tudo estava menos isolada." E foi.
Os dados que tinha recolhido utilizava-os agora em peças de teatro, que escangalhavam as gentes da aldeia de riso. "Casamentos pagãos, tradições de bruxaria, todas essas coisas que o povo estava acostumado a temer." Dizia-se naquela altura que não se devia assobiar de noite que o som chamava o diabo. "Pois a primeira peça que fiz começava no meio do terreiro, à meia-noite, comigo a assobiar. Era a minha arma para aniquilar a crendice: gozar com ela."
No dia 27 de abril de 1974, António Lourenço Fontes escreveu no seu diário que tinha havido uma revolução em Lisboa e que lhe parecia que o país tinha finalmente condições para libertar-se do seu jugo medieval. "A primeira coisa a fazer é ensinar este povo a ler e a escrever. E ensinar-lhes os direitos que têm diante dos poderosos." Preces atendidas: meses depois entrava em marcha a campanha nacional contra o analfabetismo e desaguava em Vilar de Perdizes um grupo de professores de Lisboa. "Foram tempos extraordinários, esses."
Um ano depois, o Padre Fontes editou o primeiro volume de Etnografia Transmontana - Crenças e Tradições de Barroso. Três anos mais tarde, um segundo volume, também ele feito a partir da recolha que enchera as páginas do seu diário. Manuel Barros, professor de antropologia da Universidade do Porto convidou-o a vir apresentar o livro para uma plateia cheia. "Temos diante de nós o mais importante etnógrafo português depois do Abade de Baçal", disse então.
Foi por tudo isto que se lançou de cabeça a um novo escândalo, em 1982. Organizou o Congresso de Vilar de Perdizes ao mesmo tempo em que criou o jornal Notícias de Barroso. "Percebi que só o poder da imprensa, da opinião pública, me permitira enfrentar os poderes estabelecidos na Igreja e na política." No seu semanário dava conta das tradições pagãs, em retorno recebia cartas furiosas de padres e autarcas. Tem-nas todas guardadas. Um chorrilho de ameaças.
António Lourenço Fontes nunca quis agradar ao poder, antes quis entender as suas gentes. E elas retribuem-lhe o louvor. É ele que preside à Sexta Feira 13. É seu o nome da sede do EcoMuseu de Barroso, em Montalegre. Tem honras de várias instituições galegas, quase nenhuma em Portugal. Em 2009 todos os deputados eleitos por Vila Real apresentaram ao presidente da república um pedido para que lhe fosse atribuída a Ordem de Mérito. Cavaco recusou.
Na sua casa em vilar de Perdizes, onde para além de livros e destes diários esquecidos há uma série de máscaras do diabo - que foi recolhendo nas suas viagens pelo mundo - Fontes agarra-se a uma e diz-lhe numa voz já velha, já pouca. "Tu a mim não me metes medo. A ti, Satanás, eu agarro pelos colhões."


estatuadesal.com
15
Jul18

O que ele dizia, quando andava sóbrio

António Garrochinho


«(...) Em 2015 um grupo de economistas e universitários de todo o mundo caraterizaram esta política (o neo-liberalismo) como “uma política de ameaça, de ultimato, de obstinação e de chantagem”, que “significa, aos olhos de todos, um fracasso moral, político e económico do projeto europeu.” Neste mesmo ano, Jean-Claude Juncker confessou publicamente que as políticas de austeridade regeneradora são políticas que “pecam contra a dignidade dos povos.”(...)»
Neste texto (a não perder) percebe-se que, ou a "narsa" ainda não tinha chegado ou os vapores da "ciática" já teriam passado, num raro momento de sobriedade.
  
15
Jul18

Pescadores contra suspensão da pesca da sardinha em 2019

António Garrochinho



Pescadores estão revoltados com o recente parecer do Conselho Internacional para a Exploração do Mar, visto que os cruzeiros científicos do Governo para a sardinha indicam uma melhoria do stock em 50%.
O Conselho Internacional para a Exploração do Mar (ICES em inglês), sediado na Dinamarca, divulgou ontem um parecer científico a defender a suspensão da pesca da sardinha em 2019, para Portugal e Espanha, justificando com uma diminuição do stock nos últimos anos.
A última recomendação do ICES para a proibição da pesca da sardinha é idêntica ao parecer que emitiu em Outubro de 2017. O estudo não caiu bem entre pescadores, que manifestam «revolta e incompreensão

É com alguma revolta e incompreensão que constatamos que esta avaliação não integra, com o devido destaque e relevância, os últimos dados científicos do recurso, que demonstram uma significativa melhoria da abundância da sardinha nas águas ibéricas», afirmou o presidente da Associação das Organizações de Produtores da Pesca do Cerco, Humberto Jorge, em declarações à Lusa.
No mesmo sentido, citado pelo Correio da Manhã, Eduardo Matos, da Associação Nacional da Pequena Pesca de Cerco e da Associação de Pesca Artesanal da Região de Aveiro afirmou que «não há qualquer justificação. Aquele organismo ignora os últimos dois cruzeiros científicos que o Governo promoveu, sendo que o último apontava para melhoria do stock em 50%, em relação ao de Dezembro, na sardinha e na biomassa».
Entretanto, o Governo já afirmou tencionar manter a pesca da sardinha, com um nível «baixo e muito rigoroso», visando a recuperação do recurso. Este destacou o aumento de 55% no estado da biomassa (total de sardinhas existentes) entre 2015 e 2017, resultado das medidas de contenção.
José Apolinário, secretário de Estado das Pescas, frisou também que o novo cruzeiro científico do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) terá lugar em Novembro, o que permitirá ainda «reavaliar» as possibilidades de pesca para 2019.

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15
Jul18

AS CIDADES MAIS COLORIDAS DO MUNDO

António Garrochinho



Infelizmente estamos quase sempre envolvidos pelo triste e sorumbático cinza do concreto brutalista. Isso é triste porque, afinal, todos nós precisamos de um pouco mais de cor em nossas vidas, já que elas acabam se traduzindo em nosso comportamento. Cor é vida, é euforia. As cidades ficam mais vibrantes e com um encanto todo especial quando suas construções trazem um toque colorido ao seu visual.

Conforme poderemos ver nesta coleção de cidades que impressionam por se asssemelhar mais a uma paleta de cores que nos permitem fugir por um momento do ambiente urbano e lembrar que a vida pode ser bem mais alegre e divertida!

A lista das cidades mais coloridas do planeta foi feita pela revista Travel and Leisure e contempla a cidade do Rio como uma delas, mas infelizmente não encontrei uma imagem decente e livre de copyright que pudesse justificar a presença da cidade brasileira no ranking, então...
1. Cinque Terre, Itália
As cidades mais intensamente coloridas do mundo 01
2. Cidade do Cabo, África do Sul
As cidades mais intensamente coloridas do mundo 02
3. Gamla Stan, Estocolmo
As cidades mais intensamente coloridas do mundo 03
4. Barranco, Lima, Peru
As cidades mais intensamente coloridas do mundo 04
5. Ilha de Burano, Itália
As cidades mais intensamente coloridas do mundo 05
6. Trinidad, Cuba
As cidades mais intensamente coloridas do mundo 06
7. Pattaya, Tailândia
As cidades mais intensamente coloridas do mundo 07
8. Bristol, Inglaterra
As cidades mais intensamente coloridas do mundo 08
9. Puerto Vallarta, México
As cidades mais intensamente coloridas do mundo 09
10. Caminito, Buenos Aires
As cidades mais intensamente coloridas do mundo 10
11. Wroclaw, Polônia
As cidades mais intensamente coloridas do mundo 11

12. St. Johns, Newfoundland, Canadá
As cidades mais intensamente coloridas do mundo 12
13. Longyearbyen, Svallbard, Noruega
As cidades mais intensamente coloridas do mundo 13
14. Willemstad, Curaçao
As cidades mais intensamente coloridas do mundo 14
15. Vila Provence de Menton, Côte d'Azur, França
As cidades mais intensamente coloridas do mundo 15
16. Nápoles, Itália
As cidades mais intensamente coloridas do mundo 16

17. Isla Mujeres, México
As cidades mais intensamente coloridas do mundo 17
18. Brighton Beach, em Melbourne, Austrália
As cidades mais intensamente coloridas do mundo 18
19. Amorgos Island, Grécia
As cidades mais intensamente coloridas do mundo 19
20. Nuuk, Gronelândia
As cidades mais intensamente coloridas do mundo 20
21. Berlim, Alemanha
As cidades mais intensamente coloridas do mundo 21
22. Paradise Island, Bahamas
As cidades mais intensamente coloridas do mundo 22
23. San Francisco, Califórnia
As cidades mais intensamente coloridas do mundo 23
24. Scarborough, North Yorkshire, Inglaterra

As cidades mais intensamente coloridas do mundo 24
https://www.mdig.com.br
15
Jul18

Sindicato da Função Pública do Norte acusado de perseguir funcionários

António Garrochinho


Enquanto nas ruas apregoa a defesa dos direitos dos trabalhadores, dentro de portas o Sindicato da Função Pública do Norte é acusado de estar a exercer intimidação, perseguição e assédio moral sobre duas trabalhadoras da própria estrutura.
As duas funcionárias dão a cara e mostram provas materiais que sustentam o caso.

O sindicato nega tudo, mas gravações a que o Sexta às 9 teve acesso

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www.rtp.pt

15
Jul18

CIDADE MANIPULADA

António Garrochinho



Vivemos numa cidade em que "manter as pessoas na ignorância é um dos propósitos do poder."
A manipulação dos media é a parte mais visível.
Por mim, cá pela Aldeia, tenho feito o que posso: utilizando este extraordinário instrumento, que é a internet, tenho conseguido ter voz onde antes só havia solilóquio.
"Noam Chomsky é um dos intelectuais mais respeitados do mundo. Este pensador americano foi considerado o mais importante da era contemporânea pelo The New York Times. Uma de suas principais contribuições é ter proposto e analisado as estratégias de manipulação de massa que existem no mundo hoje."
As redes sociais e os blogues, para os detentores do poder na Figueira, são perigosos, pois podem ridicularizar a campanha e encenação montada e em exibição permanente.
Se os figueirenses actuassem conjuntamente, fixando os objectivos correctamente, se soubéssemos esquecer e desprezar o acessório e atacar o essencial, poderíamos vencê-los!
Claro que estou a falar da mudança de gestão autárquica.

Na Figueira, sabemos como a cidade está e sabemos também de quem é a culpa.
Ao longo dos anos o PS e o PSD concorreram entre entre si no campeonato do “quem faz pior pela Figueira”.
Sempre que os grandes interesses falaram, a Figueira calou-se - e continua a calar-se, principalmente se quem lá está é da mesma cor de quem governa.
A gestão da Câmara, ao longo dos anos,  tem infelizmente servido para muita coisa que nada tem a ver com a gestão do município. Santana Lopes é o exemplo mais visível, mas não foi o único.
E, a culpa disto tem sido dos figueirenses: se, um dia, acreditarmos e lutarmos, venceremos!
15
Jul18

Ver o(s) Retrato(s)

António Garrochinho


Manuel Augusto Araujo
retratoOs retratos tornaram-se uma vulgaridade depois do advento da fotografia, quando as máquinas fotográficas entraram com naturalidade no quotidiano. Hoje, com os telemóveis, são um excesso que os desvaloriza inundando as redes sociais. Já nem será assombroso que na galeria dos Presidentes da República Portuguesa, o actual presidente opte por uma selfie que não desmerecerá da aberração que é o retrato do anterior depois de um belíssimo retrato feito por Júlio Pomar e outro mais discutível pintado por Paula Rego. O retrato entrou em acentuado declínio em que as excepções sobressaem da vulgaridade nesta sociedade cercada e afundada pelas imagens.
É neste contexto que O Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) organiza uma exposição surpreendente e notável tendo por tema o retrato, organizada por Anísio Franco, Filipa Oliveira, Paulo Pires Vale que avisam que “esta é uma exposição falhada porque haverá sempre retratos ausentes que poderiam ter sido escolhidos”. Não são essas ausências, mais que expectáveis, que retiram fulgor a este “inquérito ao retrato português”, subtítulo de Do Tirar Polo Natural, o título da exposição recuperado do primeiro tratado sobre a arte do retrato, escrito pelo pintor Francisco de Holanda.
São três os núcleos, Afectividade, Identidade Poder, em que se agrupam as obras que cruzam obras de épocas muito diferentes e das mais diversas técnicas. Inicia-se no átrio com uma estátua de D. João III e uma obra de Helena Almeida, introduzindo o que se vai ver, e termina nos painéis de Nuno Gonçalves, a obra mais representativa da arte nacional do retrato. Num percurso extremamente bem organizado desde o século XV até à atualidade,encontram-se obras tão diversas como a pintura de Domingos Sequeira da condessa de Linhares retratando o marido, o de José Cardoso Pires por Júlio Pomar, a recuperação de uma parede de Vihls onde fixou as imagens de três moradores do Bairro 6 de maio, na Amadora, os de Aurélia Sousa e o seu paradigmático auto-retrato, o Grupo do Leão de Columbano, os de Nikias Skapinakis que na época fizeram furor, Malhoa, o emblemático Ecce Homo de António Carneiroos do grupo KWY que se auto-retrataram como personagens dos Painéis de São Vicente, até mesmo uma colecção de cromos de futebol da equipa do mundial de 1966. Nada é irrelevante da coleção de retratos (moeda incluída) em que está representado D. João VI, o primeiro rei português a perceber a importância da sua imagemao não retrato de Fernando Calhau ou ao 48, filme ensaio de Susana Sousa Dias com as fotos tiradas pela PIDE aos presos políticos para os seus ficheiros.
Dito nesta sequência de acaso, outra seria possível, poderá parecer que com tamanha disparidade de épocas, estilos, géneros os visitantes se dispersem e mesmo tenham algumas perplexidades ou equívocos. Nada de mais errado. A lógica pela qual os retratos são expostos proporciona uma séria reflexão do papel nuclear do retrato na sua expressividade, da afectiva ou à da imagem do poder político que se começou a afirmar na Renascença.
Haverá ausências mas a falta de uma qualquer obra, seja qual o motivo de não estar incluída, não se sente nas sequências de cada um dos núcleos sistematizados por um critério sólido que torna esta exposição sobre o retrato excepcional num tempo em que, como já se referiu, o retrato se banalizou ameaçando tornar-se irrelevante. Exposição no MNAA a ver até finais de Setembro.

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