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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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31
Ago18

Chiado: a esplanada das raparigas em apuros

António Garrochinho


É conhecida como a Cantina das Freiras, ainda que ali, no Palacete O"Neill, nunca tenham existido freiras. Hoje é a pátria de Teresa, que nesta esplanada escondida no Chiado conseguiu resolver um sonho de 50 anos.
Todas as tardes, quando as portas fecham ao público e todos os funcionários saem do Palacete O"Neill, Teresa Nangenjo dirige-se à enorme sala de jantar e vai sentar-se sozinha com um livro no terraço virado para o Tejo. "Às vezes leio um capítulo inteiro, outras vezes fico aqui em silêncio a ver o rio e a cidade. Vou-me deixando ficar até ao pôr do Sol. Se o tempo estiver quente, sou capaz de passar aqui uma noite inteira. Nessas alturas, dou por mim a pensar em todas as mulheres que se sentaram neste mesmo lugar antes de mim e que encontraram aqui as respostas de que precisavam, como eu encontrei."
Aquele lugar fica num dos espaços mais disputados do centro de Lisboa, no Chiado. Mas é, ainda, e talvez milagrosamento, um refeitório. Conhecido como a Cantina das Freiras, apesar de nunca ter albergado qualquer ordem religiosa, nesta sala e terraço são servidos em média cem almoços diários, a preços acessíveis. A sala de refeições tem 80 lugares sentados, mas a maioria das pessoas prefere esperar, às vezes de tabuleiro na mão, por uma das 24 cadeiras do terraço. Apesar disso, o número um da Travessa do Ferragial permanece um dos lugares mais escondidos do Chiado, e um dos seus tesouros - tem uma das melhores vistas da cidade. E a partir das cinco da tarde, que é a hora a que termina o dia de trabalho, aquele passa a ser o reino exclusivo de Teresa.
O edifício alberga, desde 1942, a sede da Associação Católica Internacional ao Serviço da Juventude Feminina (ACISJF), que então se chamava Obra de Proteção às Raparigas. "E desde essa altura que é chamado de Cantina das Freiras. Até ao 25 de Abril só aqui entravam mulheres e é daí que vem a confusão", explica Maria da Conceição Afonceca, diretora da instituição. "Nos primeiros anos nem sequer eram servidos almoços. Havia apenas estas mesas e havia um fogão a gás onde as mulheres que trabalhavam nos Armazéns do Chiado, no Grandella, nos escritórios do centro, podiam aquecer as suas refeições."
O nome oficial era o Réchaud do Ferragial, mas o francesismo nunca pegou. "As empregadas de escritório tinham hora e meia de almoço, as do comércio duas horas inteirinhas. Era tempo mais do que suficiente para o almoço, então começou a haver aqui aulas de costura, cozinha, datilografia, inglês e francês. Algumas professoras eram freiras, as mulheres com maior acesso à educação naquele tempo." Desde os primeiros tempos, o espaço serviu também de abrigo para raparigas que, à sua sorte, tinham abandonado a província com o objetivo de vir servir nas casas das famílias da capital. Eram aqui acolhidas, treinadas, muitas delas alfabetizadas.
"Com o passar das décadas, com o fim da ditadura, com a melhoria das condições de vida e dos direitos femininos, as necessidades mudaram. Passámos a acolher estudantes, nalgumas delegações mulheres vítimas de violência doméstica e aqui em Lisboa criámos este refeitório que auxilia famílias em risco e ajuda a financiar o trabalho noutros pontos do país."
O palacete do Chiado há muito que deixou de dar aulas às meninas, há muito que deixou de lhes dar quarto no terceiro piso. A única exceção é uma angolana do Huíla. Teresa Nangenjo é a última e é a única habitante do Palacete O"Neill, a última rapariga em apuros que ainda habita estas paredes. Tem 63 anos. Vive aqui, ela e só ela, há 20.

A interrupção do sonho

No dia em que completou 13 anos, Teresa Nangenjo recebeu uma notícia que haveria de marcá-la para sempre. A sua melhor amiga tinha acabado de morrer com diagnóstico de lepra. "Foi nessa altura que tomei a minha decisão. Fosse de que maneira fosse, eu tinha de me tornar médica para curar os leprosos de Angola."
Nasceu na Caconda, município a 280 quilómetros da antiga Sá da Bandeira, hoje Lubango, capital do Huíla, sul do país. Zona pobre e devastada pela guerra civil. "Apesar de ser hoje uma doença tratável e curável, ainda há focos mortais de lepra em África, nomeadamente em Angola. Acontece em populações mais isoladas, que não têm acesso aos cuidados de saúde."
Era para essas entranhas do continente que ela queria ir. E foi por isso que em 1974, aos 18 anos, se mudou para Luanda. "Entrei na Faculdade de Medicina mas, ao fim de um ano de estudos, o departamento foi fechado. O esforço financeiro depois da independência estava a ser canalizado para a guerra, não para as universidades."
Ficou na capital e arranjou emprego no aeroporto, era hospedeira de terra da TAAG. "Gostava do meu trabalho, mas nunca desisti do sonho de me tornar médica. E, em 1983, apareceu finalmente a oportunidade por que esperava. Teria de abandonar um trabalho de que gostava, teria de mudar de país, mas não tive a mínima hesitação."
Teresa vem de uma família católica, é sobrinha de bispo e tia de padre. Nesse ano, a então República Federal da Alemanha tinha concedido dez bolsas a cidadãos angolanos para virem estudar para a Europa e a Pastoral Universitária de Luanda ficou encarregue de selecionar alguns dos candidatos. Havia uma vaga para Medicina em Lisboa. "Quando me contactaram a perguntar se queria ir eu nem deixei a pessoa do outro lado da linha acabar a frase. Quando vou?"
Chegou em outubro de 1983 à Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Com o dinheiro da bolsa alugou um quarto na Avenida Almirante Reis e todos os dias rumava ao Hospital de Santa Maria, para aulas teóricas e práticas. "Durante dois anos, correu tudo muito bem. Mas depois fui diagnosticada com diabetes e tive uma crise que quase me tirou a vida."
Aulas interrompidas, internamentos vários, os cinco anos seguintes foram de batalha para salvar a pele. "A bolsa durava no máximo sete anos, mas em 1990, quando cheguei ao limite, ainda nem sequer tinha acabado o terceiro ano."
As contas, essas, tinham de ser pagas. A doença estava debelada, mas sem bolsa nunca conseguiria ter teto nem comida na mesa. Nesse outubro de 1990, Teresa Nangenjo empregou-se num lar de terceira idade, a tomar conta de doentes acamados. Já não voltou a inscrever-se na faculdade. O sonho da medicina parecia estar para sempre perdido.
Está um grupo de alemães na fila para o almoço. Maria de Deus Cabrita espera que se decidam - bacalhau à Gomes de Sá ou croquetes com arroz e salada? "De há dois anos para cá isto mudou muito", diz a cozinheira da Cantina das Freiras, que aqui trabalha há 46 anos. "Primeiro tínhamos as meninas trabalhadoras, depois as meninas que estavam longe das famílias, a seguir vinham os estudantes de Belas-Artes e agora 70% são turistas."

Um tempo novo

O boom lisboeta do turismo explodiu aqui com particular força. Não há edifício à volta do Palacete O"Neill que não tenha sido tomado pelo alojamento local ou pela hotelaria. O filho da cozinheira, David, entrou para o staff do self-service há seis meses - é preciso gente que se desenrasque a inglês. Sinais dos tempos. "As nossas instalações também sofrem grande assédio imobiliário", conta a diretora da instituição. "Mas, quando recebemos este edifício, ficámos obrigados por contrato a dar-lhe este uso. É a nossa safa."
No dia 25 de abril de 1974 também havia bacalhau à Gomes de Sá para o almoço e, verdade seja dita, os empregados da cozinha só se aperceberam de que havia uma revolução ali ao lado quando largaram o turno. "Também foi uma revolução cá dentro, porque a partir dessa altura começaram a poder vir aqui almoçar os cavalheiros", conta Maria de Deus. A segunda reviravolta foi o incêndio do Chiado, há 30 anos. "Deixámos de ver todos os dias os mesmos rostos", explica. Foi quando o centro da cidade se tornou menos aldeia e mais urbe.
Em 1942, o Palacete O"Neill foi doado em testamento por Luiz O"Neill, tio de Maria João Avillez e Maria José Nogueira Pinto, à ACISJF - que foi fundada em Portugal em 1914. "Eram anos de guerra", diz Maria da Conceição Afonceca, "de grande vulnerabilidade feminina." A associação tinha uma série de casas-abrigo espalhadas pelo país e um posto avançado nas principais estações de comboio e autocarros, para recolher as meninas que chegavam da província com uma mão à frente e outra atrás. Funcionaram até ao final do século passado. Neste milénio, muitas fecharam, outras converteram-se em abrigos para vítimas de violência doméstica e adolescentes em risco, ou lares de terceira idade para mulheres.
O edifício do Chiado tornou-se exclusivamente cantina e, além de receber o público, presta apoio alimentar a famílias em dificuldades. Os quartos que um dia receberam raparigas em apuros estão todos vazios, exceto um. Em 1998, a Pastoral Universitária falou a Maria da Conceição Afonceca do caso da Teresinha, que tinha vindo para Lisboa ser médica. "Eu estava a trabalhar, mas desloquei um ombro e tive de ser operada. Não podia mexer-me, perdi o emprego, não tinha como pagar o quarto", conta a angolana.
Veio viver para o Chiado. Nos últimos 20 anos, curou-se, encontrou novo trabalho e conseguiu voltar a inscrever-se na universidade, onde fez as cadeiras que lhe faltavam e as da especialidade que sempre quis - infetologia, para tratar da lepra. No dia 20 de julho deste ano, Teresa Nangenjo passou o último exame que lhe faltava. Em setembro, arranca o estágio em Santa Maria. Tem 63 anos e agora é que é. "No próximo ano vou mudar-me para Angola e fazer o que sempre sonhei", conta-nos na esplanada onde se salvou, um sorriso rasgado com a perspetiva da partida. Já tem contactos estabelecidos, vai direitinha ao Huíla investigar a doença nas comunidades isoladas. A vida de uma rapariga em apuros está prestes a começar - no Chiado.



www.dn.pt
31
Ago18

Arcebispo que acusou papa de encobrir abusos sexuais decidiu "desaparecer"

António Garrochinho

Quem o conta é o jornalista que ajudou o ex-núncio nos Estados Unidos a acusar publicamente papa Francisco de conhecer desde junho de 2013 as acusações de abusos sexuais que recaem sobre o cardeal Theodore McCarrick.
Marco Tosatti conta ao New York Times que depois de compor uma carta 11 páginas (sete mil palavras) no apartamento do jornalista em Roma, o arcebispo Carlo Maria Viganò desligou o telemóvel e desapareceu dos radares, optando por manter o seu destino secreto.
A carta baseia-se em acusações pessoais, mas sem apontar qualquer documentação ou prova. Marco Tosatti diz que apaziguou a linguagem de um homem enraivecido.
O arcebispo de 77 anos, queria denunciar "redes homossexuais" na igreja que atuam "com o poder de tentáculos de polvo" para "estrangular vítimas inocentes". Redes que o papa conhecia,
Francisco conheceu o caso a 23 de junho de 2013, porque ele próprio o comunicou "e continuou a encobrir o cardeal ex-arcebispo de Washington, McCarrik", acusou.
"A corrupção atingiu o topo da hierarquia da Igreja", disse arcebispo Vigano na sua carta, onde exige ainda a renúncia do papa Francisco.

www.tsf.pt
31
Ago18

A maior estrutura de madeira do mundo

António Garrochinho



Metropol Parasol é um monumento extraordinário, considerado a maior estrutura de madeira do mundo. Toda a estrutura do local é feita de made...

Metropol Parasol é um monumento extraordinário, considerado a maior estrutura de madeira do mundo. Toda a estrutura do local é feita de madeira coberta por uma fina camada de poliuretano. 


As linhas sinuosas do monumento, finalizado em março de 2011, cobrem a Plaza de la Encarnacíon em Sevilha, na Espanha. 
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A construção abriga um museu arqueológico, um mercado de agricultores, uma praça elevada, bares e restaurantes no subsolo e um terraço panorâmico no topo. 

O edifício é formado por peças de madeira encaixadas umas nas outras, que deixam um espaço livre para a passagem do sol. As cores neutras da estrutura contrastam com as cores fortes das construções da região. 

O projeto do arquiteto alemão Jürgen Mayer H. e de sua equipe, intitulado ‘Metropol Parasol’ em 2004 foi vencedor da competição de arquitetura pública, para remodelar a Plaza de la Encarnacíon. 

Os guarda-sóis gigantes de madeira acima da Praça são ícones do desenvolvimento urbano cravados no centro medieval da capital de Andaluzia. 

O projeto arquitetônico traça uma relação única entre o lado histórico e cultural da região e a cidade contemporânea. 

Localização por satélite 


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gigantesdomundo.blogspot.com
31
Ago18

ESTA TARDE - HOMEM MORRE CARBONIZADO ENCARCERADO EM VIATURA NA EN 125

António Garrochinho

Homem morre carbonizado em colisão com camião

Vítima mortal seguia numa carrinha, que se incendiou e explodiu após o embate
Um homem morreu carbonizado esta tarde na sequência de uma colisão entre um camião e uma carrinha na EN 125, junto ao Hospital de Portimão. A vítima mortal seguia no veículo ligeiro de mercadorias, que se incendiou após o embate e acabou por explodir.
Contactado pelo Sul Informação, o Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Faro revelou que a vítima mortal «ficou encarcerada na viatura» e não conseguiu fugir quando esta se incendiou e explodiu.
O condutor do camião, que tombou com o embate, «sofreu ferimentos ligeiros» e foi encaminhado para o hospital de Portimão. O acidente deu-se pelas 14h50 desta sexta-feira, dia 31 de Agosto.
Segundo o Correio da Manhã, quando os Bombeiros de Portimão chegaram ao local, a carrinha já estava a arder.
O trânsito mantinha-se cortado nos dois sentidos, neste local, às 16h15. Os bombeiros estavam a limpar a via, enquanto se aguardava autorização para a retirada do corpo.
Não há previsão para a hora de reabertura da EN125, pelo que o melhor é usar como alternativa a Via do Infante ou as ligações por dentro de Portimão, nomeadamente pelo antigo troço da 125.






www.sulinformacao.pt
31
Ago18

Médico de Coimbra diz que fim da hora de inverno será preocupante para crianças e adolescentes

António Garrochinho


 O especialista em medicina do sono Joaquim Moita avisa que o fim da hora de inverno seria preocupante sobretudo para as crianças e adolescentes, que passariam a acordar e a ir para as aulas ainda de noite.
A Comissão Europeia vai propor o fim da mudança de hora, depois de essa ter sido a vontade expressa por uma grande maioria dos europeus na consulta pública lançada este verão, acabando com a distinção entre horário de verão e horário de inverno.
Em declarações à agência Lusa, o médico Joaquim Moita, que dirige o Centro de Medicina do Sono do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e a Associação Portuguesa do Sono, lembra que o cérebro humano precisa de exposição à luz solar para acordar devidamente.
“Se acabar a hora de inverno, entre os meses de novembro e janeiro iremos estar às 08:15 ainda com noite escura”, avisa o especialista.
Ora, às 08:15 muitas das crianças e adolescentes portugueses já estão a ter aulas ou pelo menos a caminho da escola.
“O resultado não será benéfico e o desempenho cognitivo e físico podem ficar comprometidos. As crianças e os adolescentes já deviam ir bem acordados para a escola e, para acordar bem, o cérebro precisa de exposição ao sol, à luz solar”, explica Joaquim Moita.
O especialista frisa que uma das regras básicas da higiene do sono é precisamente levantar à mesma hora e procurar a exposição solar, o que pode ficar comprometido caso se acabe com a hora de inverno.
“Os mesmos problemas também se podem aplicar ao mundo do trabalho. É muito preocupante para as faixas etárias mais jovens, mas também para quem já trabalha”, indicou.
Joaquim Moita julga que haveria vantagens em manter a hora de inverno e considera que as alterações entre hora de verão e hora de inverno não constituem qualquer problema médico, até porque o organismo se adapta facilmente a estas mudanças de hora.
O perito lembra que os portugueses “já dormem pouco”, considerando que o fim da hora de inverno pode ainda prejudicar mais o descanso, o número de horas de sono e a forma como se desperta.
Uma maioria “muito clara” de 84% dos cidadãos europeus pronunciaram-se a favor do fim da mudança de hora na consulta pública realizada este verão, de acordo com resultados preliminares hoje divulgados pela Comissão Europeia.
Os resultados preliminares hoje publicados pelo executivo comunitário – os resultados finais serão divulgados “nas próximas semanas” – revelam que os portugueses que participaram no inquérito “online” estão em linha com a média europeia, já que 85% também defenderam que deixe de se mudar o relógio duas vezes por ano, o que Bruxelas pretende agora implementar, com a apresentação de uma proposta legislativa.
Naquela que foi, de forma destacada, a consulta pública mais participada de sempre, com mais de 4,6 milhões de contributos oriundos de todos os Estados-membros, a maior parte das respostas veio da Alemanha, onde o assunto foi particularmente mediatizado, apontando a Comissão que a taxa de participação em percentagem da população nacional variou entre os 3,79% na Alemanha e os 0,02% no Reino Unido, tendo em Portugal participado no inquérito 0,33% da população.
Os resultados preliminares, acrescenta Bruxelas, “indicam também que mais de três quartos (76%) dos participantes consideram que mudar de hora duas vezes por ano é uma experiência «muito negativa» ou «negativa»”, e “como justificação do desejo de pôr fim a esta regras alegam o impacto negativo na saúde, o aumento de acidentes de viação ou a falta de poupanças de energia”.


www.noticiasdecoimbra.pt

31
Ago18

A ESTAS DATAS DEVEMOS PORTUGAL SER COMO É (PARTE 3)

António Garrochinho
A História diz respeito ao passado, porém, fala-nos também daquele que será o futuro de uma determinada nação.

E isto tanto se aplica ao que é bom, como a fundação do Condado Portucalense, os Descobrimentos ou até autores como Camilo Castelo Branco e Eça de Queiroz, como também se aplica ao que é menos bom, como é o caso da escravatura, a guerra civil, a Inquisição, entre outros.

Assim, e com base no livro '100 Datas que Fizeram a História de Portugal - 

Tudo o que Precisa Saber', do autor Pedro Rabaçal, apresentamos-lhe EM VÁRIAS PUBLICAÇÕES aquelas que são as 100 datas que mais marcaram a 'personalidade' do nosso país.






























A estas datas devemos Portugal tal e qual como é









31
Ago18

SOBRE A REFORMA AGRÁRIA (António Gervásio)

António Garrochinho



1
SOBRE A REFORMA AGRÁRIA
(António Gervásio)

Camaradas e amigos, agradeço o convite para partcipar nesta iniciatva.
1 – A reforma agrária foi a conquista da revolução de Abril mais avançada e mais à esquerda, a realização democrática que mais mexeu com a vida dos trabalhadores e das populações locais. 
Não há tempo para fazer desenvolvimentos.


A figura histórica de Vasco Gonçalves, militar de Abril, viveu o fervor da reforma agrária. Foi um impulsionador de a terra a quem a trabalha! Muitas UCP’s, nos campos do Alentejo e Ribatejo, foram baptizadas com o nome “Companheiro Vasco”. 
Em vida visitou grande parte das UCP’s. Foi um primeiro ministro da reforma agrária eintransigente na sua defesa.
Álvaro Cunhal, apaixonado e conhecedor da reforma agrária, um destacado lutador da terra a quem a trabalha, afirmava com profunda convicção: “A reforma agrária é a mais bela conquista da revolução portuguesa”!





A reforma agrária de Abril foi um processo muito discutido, com muita organização,rápido, não encontrou oposição de outros trabalhadores nem das populações locais.
Não foi “um roubo de terras”, “um fracasso”. A bandeira da “terra a quem a trabalha”já vinha de trás, na luta sem tréguas pelo pão, pela liberdade, pelo derrube do fascismo. 
Não caiu aos trambolhões com o 25 de Abril. O processo da reforma agrária portuguesa não tem outro igual. Não nasceu à procura de modelos nos manuais de economia ou noutras reformas agrárias. 

A reforma agrária de Abril criou o seu modelo,
de acordo com as realidades nacionais. Realizaram-se plenários, muita discussão e organização.
Nos campos do sul, a reforma agrária ganha força, ganha convicção. As forças progressistas, no governo, na assembleia da república e na rua empurram o avanço da reforma agrária. 

Por outro lado, as forças de direita no aparelho de Estado travavam
tudo a quatro rodas para a reforma agrária não avançar, a lei não sair! A reforma agrária passa ao lado do governo, avança para a ocupação dos latifúndios incultos.


2 – Em meados de 1974 os agrários agudizam a sua contra-revolução: despedem os trabalhadores, recusam dar emprego. Recusam aceitar cumprimento dos contratos colectivos de trabalho. Deixam estragar as culturas, deixam morrer gado à fome e à sede. Esvaziam as albufeiras. Fogem com máquinas e gado para fora da região,verdadeira sabotagem económica. A luta de classes agudiza-se. 
Surgem muitas interrogações: 

Que fazer? Surgem nos meses de Outubro/Novembro as primeiras
ocupações de latfúndios como resposta à ofensiva dos agrários – herdade do Cuteiro,

2


Donas Maria (Beja); herdade do Picote e anexos (Montemor-o-Novo; )Sousa da Sé
(Évora) e outras.

Não era o avanço da reforma agrária, mas eram sinais. A pressão da reforma agrária crescia. O PCP convoca a 1ª Conferência dos trabalhadores agrícolas do Sul em 9 de Fevereiro de 1975, em Évora. Participam mais de 4000 delegados e muitos convidados.
Participaram membros do governo, militares de Abril, delegações sindicais, organizações camponesas de todo o País, delegações camponesas de Angola,Moçambique. Guiné-Bissau, Brasil, Espanha e várias outras. No Rossio de Évora juntam-se mais de 30.000 pessoas para assistir ao comício e encerramento da conferência,para ficarem a saber o que foi discutido e decidido.
O debate de um dia foi vivo. O slogan constante levantado era “avante com a reforma agrária, a terra a quem a trabalha”.


No comício, quando um dirigente da organização afirmou que a Conferência decidiu avançar para a ocupação dos latifúndios, ouviu-se um estrondo de 30.000 pessoas!
Esta Conferência marca o avanço da reforma agrária de Abril em Portugal, pela primeira vez na história do País!


3 – Quando falamos em rapidez e organização, vejamos: a seguir à Conferência houve um espaço de tempo para ver as herdades a ocupar, ver os colectivos de trabalhadores
a formar para construir as UCP’s. Foi um espaço relato de muitas reuniões e plenários, de discussão. Como dirigir colectivos de muitas dezenas e centenas de trabalhadores e centenas de milhares de hectares de terra, era uma tarefa que assustava. 

No início não se conhecia as UCP’s. Falava-se de “herdades colectivas”.
Depois de muita discussão retirou-se a herdade colectiva e criou-se a “Unidade Colectiva de Produção” (UCP), organismo eleito, com estatutos, dirigente das UCP’s.


Vejam a rapidez do processo:

Em Julho de 1975, 6 meses depois da Conferência, estavam ocupados 500 000 ha. A Lei
da reforma agrária saiu em 29 de Julho de 1975, com metade das ocupações feitas.
Nos começos de 1976, cerca de um ano depois da realização da Conferência:


Estavam ocupados 1.140.000 ha,
Criadas 550 UCP’s,
Criados mais 50.000 postos de trabalho.

3

Nos dois primeiros anos, antes da grande ofensiva, eis os sucessos alcançados da reforma agrária:


Área semeada, mais 139%;
Máquinas e alfaias, mais 169,6%;
Regadio, mais 126%;
Cabeças de gado, mais 112%;
Postos de trabalho, mais 50.000;
Acabou o fagelo do desemprego;
Acabou com o latifúndio em muitos concelhos.

Agarrou-se rápido os caminhos da mecanização, regadio, pecuária, novas culturas,produção forrageira, estufa, aumento da produtividade por unidade: arroz, tomate, milho por hectar, leite por animal e outras.
As UCP’s criaram novas estruturas para servir as populações, nomeadamente:


Centros de Dia para idosos,

Creches e jardins de infância para os filhos dos trabalhadores, transportes para os seus trabalhadores de casa para o trabalho e vice-versa,

Criaram-se cooperativas de consumo, talhos, padarias, adegas, lagares, hortas colectivas, mercados da reforma agrária com produtos de melhor qualidade e mais baratos, para servir as populações.

4 – Em alguns casos, as herdades ocupadas só tinham terras incultas e mato. Eram UCP’s pobres, sem máquinas, sem sementes, sem água, sem gado, sem habitações.

Houve experiências extraordinárias. As UCP’s mais ricas juntaram-se com as suas máquinas, lavraram e semearam as terras dessas UCP’s pobres.

Em muitas UCP’s os trabalhadores emprestaram dinheiro, nos primeiros tempos, às suas UCP’s para comprar máquinas, gado, sementes e alfaias.
Nos primeiros tempos, antes da grande ofensiva, as UCP’s começam a estabelecer relações comerciais com pequenos agricultores do norte e centro, venda e compra de
palha e fenos e outros. Um conjunto de UCP’s do distrito de Portalegre , foram ceifar, grátis, o arroz de pequenos agricultores da zona da Figueira da Foz. Um acto desolidariedade que colheu grande simpatia.

5 – A reforma agrária de Abril colheu uma ampla simpatia, adesão e solidariedade, no País e fora de fronteiras. Milhares de pessoas, homens, mulheres e jovens, em excursões e transportes próprios, deslocavam-se para os campos do Alentejo e do Ribatejo a ver o avanço da reforma agrária, sobretudo nos fins de semana, oferecendo jornadas de trabalho voluntário. Formaram-se grupos de médicos, nos fins de semana,dando apoio clínico às populações locais. 

Grupos de artistas cantores, oferecendo boa
música aos homens e mulheres da reforma agrária, artistas como Ary dos Santos Samuel Quedas, Lopes Graça, Vitorino, Janita Salomé, Adriano Correia de Oliveira Manuel Freire e vários outros. 




A reforma agrária de Abril ganhou grande parte da
opinião pública do nosso País e além fronteiras. A União Soviétca (ainda então socialista) ofereceu á reforma agrária portuguesa cerca de 250 máquinas agricolas (Outubro de 1976). A RDA, Bulgária, Hungria, Roménia e Checoslováquia ofereceram tractores e alfaias agrícolas. 

Na Holanda capitalista um grupo de holandeses, amigos
da reforma agrária de Abril, elaboram um pedido ao parlamento holandês no valor de milhares de contos (moeda antiga) para comprar uma oficina mecânica e oferecê-la à reforma agrária. 
 Foi aceite. (Outubro de 1976). Essa oficina foi instalada emMontemor-o-Novo para servir as UCP’s.



No nosso País, zonas industriais, como Mague (Alverca), Sorefame (Lisboa), Siderurgia (Seixal), Arsenal do Alfeite (Almada) e outras da zona do Porto ofereceram tractores e alfaias agrícolas, a sua solidariedade à reforma agrária. Extraordinária solidariedade.

A reforma agrária trouxe grandes melhorias na vida aos trabalhadores agrícolas dos campos do sul. Nascia um Mundo novo nos campos do sul! Sem a ofensiva destruidora, os campos do Alentejo e do Ribatejo seriam, hoje, uma região
forescente.

6 – A reforma agrária de Abril trouxe experiências novas. Importa estudá-las. Como as UCP’s – Unidades Colectivas de Produção, com órgãos dirigentes, eleitos pelos trabalhadores, com Estatutos, iniciativa, capacidade e disciplina no trabalho, organização na produção. A ofensiva travou o “avanço da mais bela conquista da
revolução Portuguesa”.

As Conferências anuais da Reforma Agrária.

Ao longo de 14 anos realizaram-se 12 conferências, todas em Évora, nos pavilhões do Rossio.
Cada conferência era um grande acontecimento polítco nos campos do sul, ligado à produção agrícola. Envolvia milhares de trabalhadores. A sua preparação ocupava meses de trabalho.

5


As suas realizações atraíam milhares de pessoas do País e do estrangeiro. Eram balanços de produção, análise, propostas, novos planos. As Conferências foram outra criação nova da reforma agrária de Abril.

Ao longo de 14 anos realizaram-se, também, vários encontros de cultura. Aumentar a produção era uma preocupação constante.
A reforma agrária era uma realização que envolvia um amplo trabalho de organização.

Alguns exemplos:


Comissão da reforma agrária junto do CC;
Comissão regional dos 5 distritos do sul;
Secretariado regional da reforma agrária (unitário);
Secretariados distritais da reforma agrária (unitários);
Secretariados concelhios da reforma agrária (unitários);
Comissão organizadora das conferências da reforma agrária (unitária);
Secretariados de células das UCP’s (Partdo).

Álvaro Cunhal acompanhou activamente o percurso da reforma agrária. Ao longo de 14 anos ele visitou a grande maioria das UCP’s, algumas muitas vezes.
Participou em todas as conferências da reforma agrária (12). Sem o PCP não teria havido reforma agrária de Abril.



7 – A OFENSIVA DESTRUIDORA.

O avanço rápido do processo da reforma agrária, a crescente simpatia e adesão do povo português, a solidariedade, os êxitos alcançados na produção e organização, em pouco tempo, etc., assustaram as forças de direita e da política
de direita. Daí não ficarem à espera. Alteraram a Lei 406-A para a Lei 77/77 (Lei Barreto). Mobilizaram poderosas forças militarizadas com chaimites, jeeps, cães-policias, cavalos, metralhadoras e aviões, pensando que acabariam com a
reforma agrária em poucos meses. Enganaram-se, a resistência prolongou-se cerca de 14 anos.
Em 1986, 10 anos de ofensiva destruidora tinham roubado e destruído às UCP’s:


720.000 hectares de melhores terras;
230 UCP’s destruídas e muitas outras deixadas à beira da morte;
247.000 cabeças de gado roubadas;
53.000 postos de trabalho destruídos, um golpe mortal!
Mais de 2000 trabalhadores espancados e feridos;




Dois trabalhadores mortos a tro, em 27 de Julho de 1979, António
Casquinha, 17 anos, e José Geraldo (Caravela), 57 anos, na UCP
Bento Gonçalves, Montemor-o-Novo, numa luta em defesa de um
rebanho de vacas.




A reforma agrária foi destruída pelas forças de direita, utilizando armas pesadas. Sem as armas não teriam destruído a reforma agrária! Em 1990 a reforma agrária estava praticamente destruída. O que restava já não era reforma agrária! Repetimos: A reforma agrária não falhou! Ela foi destruída pelas forças poliítcas de direita com armas na mão apontadas!

8 – PORTUGAL PRECISA DA REFORMA AGRÁRIA.

A ofensiva não destruiu só a reforma agrária, destruiu igualmente a
agricultura nos campos do sul. Voltaram os latifúndios, a terra está mais concentrada e inculta. Voltou o desemprego. Os campos do sul
despovoaram-se. Hoje, a população nos campos do sul é sensivelmente igual há de 100 anos atrás. Não há investimento nem desenvolvimento. As vilas e aldeias dos campos do sul estão despovoadas, reduzidas a população idosa.
Quem passa pelas ruas só vê, pratcamente, casas velhas e vazias.
As herdades dos campos do sul cheias de mato, cheias de cercas de arame farpado e coutadas. As estradas de terra com séculos de vida foram charruadas, destruídas. Não se pode atravessar as herdades de uma zona para a outra, não há caminhos, é proibido passar.
Hoje, em geral, as herdades têm uns rebanhos de gado, subsidiados com dinheiro europeu. Um feitor, com jeep ou cavalo, dá a volta às herdades, muda o gado de uma cerca para outra.
O Alentejo está enxameado com olivais de produção intensiva, na sua maioria dos espanhóis, e o terreno também foi comprado pelos capitalistas espanhóis!
O grande lago do Alqueva não serve os campos do sul, rega os olivais espanhóis e corre para o oceano...
Os campos do sul e Portugal de Abril precisam da reforma agrária, precisam de um governo democrático, de uma política de esquerda ao serviço do Povo e do País. Esse passo está nas mãos do Povo Português!

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Mas não tenhamos ilusões! Com governos de direita, com polítcas de direita, com governos contra, não há reforma agrária. É a nossa experiência ao vivo.
Não é uma questão de não gostar da reforma agrária, é uma questão de classe. Estes governos ao serviço do capital, curvados à União Europeia, não vão mexer no latifúndio e entregar a terra a quem a trabalha! Sem a
liquidação do latfúndio não há reforma agrária no País!
As grandes extensões de olivais espanhóis de produção intensiva, o aumento de algumas vinhas, não nos devem tapar os olhos, esconder a realidade viva!
A reforma agrária não está esquecida, continua a ser uma bandeira de todas as forças progressistas do País, uma sentida aspiração dos trabalhadores e populações do sul e do nosso Povo. 

A luta continua...

A REFORMA AGRÁRIA É NECESSÁRIA!

A TERRA A QUEM A TRABALHA!


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António Garrochinho

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