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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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04
Ago18

Famosos, ricos e aposentados fogem para Portugal para pagar menos impostos - A neta do ditador fascista franco mudou residência para Portugal

António Garrochinho




A República Portuguesa mantém um regime fiscal muito favorável para os estrangeiros 
que se instalam no país, em troca de atrair a sua capacidade de consumo. 
A medida data dos tempos da crise e permanece apesar das críticas internas e externas. 
A neta de Franco mudou sua residência para Portugal seduzida
pelos benefícios do país

Palácio da Pena, em Sintra (Portugal)







Bom tempo, melhores praias e um custo de vida relativamente baixo. 
Três anzóis os quais Portugal colocacomo isco:regime fiscal aplicável aos residentes não habituais (RNH). 
Explicado sem detalhes técnicos, um dos regimes fiscais mais benevolentes da Europa para os estrangeiros que se estabelecem dentro de suas fronteiras. 
O lucro é duplo: a República vizinha atrai o consumo estrangeiro, enquanto os novos moradores economizam impostos tanto no país de origem quanto no destino.
Esta lacuna nasceu em 2009 (apesar de não entrar em vigor até três anos depois), quando a crise econômica sufocou o país ibérico e as autoridades lançam suas redes socioeconômicas para paliativos cada esquina. 

Quase uma década depois, quando Portugal inverteu a sua situação e apresenta o maior crescimento do século (2,7 por cento) , essa solução continua em vigor. 
Mais de 10.000 estrangeiros de 95 nacionalidades diferentes mudaram a sua residência para Portugal nos últimos anos , de acordo com a informação publicada pela imprensa portuguesa, dado que não existem dados oficiais actualizados de uma medida cujo âmbito exacto permaneça nas sombras. .
Aqueles que se desviam deste caminho fiscal estão isentos de pagar, durante os primeiros dez anos de residência em Portugal, o chamado IRS (Imposto sobre Rendimentos Individual, o equivalente ao IRPF espanhol) daqueles rendimentos que vêm de fora. Além disso, para certas profissões, existe uma taxa fixa de 20 por cento para os benefícios alcançados no país Português. Em suma, existe uma dupla não tributação, uma espécie de paraíso fiscal (temporário e condicional) em matéria tributária. Aqueles que atingem o estatuto de RNH estão automaticamente isentos do pagamento de impostos pela sua pensão, tanto nos seus países de origem como em Portugal., dado que este tratado fiscal bloqueia a legislação relativa ao Estado de origem do dinheiro e a República Portuguesa, ao mesmo tempo que faz dinheiro com o seu poder de compra, também não os cobra.
As estatísticas mais recentes da administração fiscal portuguesa, referentes a 2016, mostram que o regime de residentes não habituais significava esse ano para os cofres públicos um custo de 350 milhões de euros (o montante que o IRS deixou de aceder), um valor que em 2015, foi de 155 milhões de euros e só cresce. Mas a opacidade dos números é clara: precisamente em 2015, a Inspección General de Hacer realizou uma auditoria na RNH que não foi tornada pública .

Aposentados, famosos e grandes fortunas

A terceira idade do norte da Europa é a que melhor aprendeu o atalho para a "Flórida da Europa", como a agência de notícias econômicas Bloomberg chama de Portugal. Animadores para fazer o salto não faltam, como deduziu um vídeo que Deloitte dirige sua clientela e no qual este consultor salienta que o regime fiscal aplicável aos RNH "permite que qualquer cidadão, independentemente da nacionalidade, desfrutar do clima Português enquanto eles se beneficiam de um regime fiscal atraente ".

Carmen Martínez-Bordiú, em uma imagem de arquivo.  EP
Carmen Martínez-Bordiú. / EP
















E os aposentados não são os únicos seduzidos pelo país vizinho, o que gradualmente acrescenta celebridades à sua lista de moradores. A última figura que mudou sua residência para o outro lado da fronteira é Carmen Martínez Bordiú . Neta do ditador Francisco Franco argumenta uma mudança de cenário que lhe permite fugir das muitas polêmicas desde a morte no final de 2017 de sua mãe, Carmen Franco, a única filha do líder: a exumação dos restos mortais do Vale do caudilho os Caídos , a retirada do Ducado de Franco e a expropriação de Pazo de Meirás. "Ele quer viver em um ambiente natural, longe das grandes cidades", explicou a jornalista Beatriz Cortázar, autora do exclusivo. Aparentemente, nenhum sinal da isca.


"Há uma ideia romântica para que os estrangeiros venham a Portugal porque o país está na moda e muito bonito. Em geral, a principal motivação permanecem nos benefícios fiscais , "disse ele na digitais Dinheiro Vivo Vincenzo Scorcella, corretor de imóveis. O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras Português Governo afirma que a principal razão pela qual as nacionalidades francesa e italiana estão na lista dos mais comuns em Portugal encontra-se na percepção de ser um país seguro e também benefícios fiscais ..

O discurso emocional de Madonna em uma cerimônia de premiação: "Seu machismo me fortaleceu"
A cantora Madonna.













A chegada de rostos familiares não é nada casual, confirmada pelo ex-secretário de Estado para Assuntos Fiscais quando a medida foi aprovada, Carlos Baptista Lobo: "Lembro-me que, nas discussões preparatórias, e jocosamente, foi determinado como meta atrair a pessoa que teve mais celebridade no mundo: Madonna ", escreveu anos depois no Jornal Econômico . A cantora norte-americana tem residência em Lisboa desde outubro de 2017, quando obteve uma autorização especial depois de se encontrar com a já emanada ministra da administração interna, Constança Urbano de Sousa.

Os idosos e celebridades,  são pessoas com grande poder aquisitivo diz o consultor Price Waterhouse Coopers em uma de suas publicações , que fala de "turista prémio " e o interesse em atrair "ricos e suas famílias." O regime fiscal para RNH "visa a atrair não - residentes que transportam a atividades de alto valor agregado ou obter rendimentos de propriedade intelectual , industrial ou know-how, bem como beneficiários de pensões obtidos no exterior, para solicitar período de dez anos consecutivos , "resume o Tax and Customs Authority, uma agência que inicialmente criticou a medida.

Para se qualificar para deduções você tem que viver por lei, pelo menos, 183 dias em Portugal ou ter uma casa própria , alugada ou própria, com a intenção de torná-la habitual.

A MEDIDA EM QUESTÃO
O governo socialista de José Sócrates, o presidente que passou nove meses na cadeia e é acusado de vários crimes de corrupção, foi quem aprovou este número fiscal, no entanto não foi implementado de forma eficaz até 2012, e com o Governo  entre o PSD e o CDS liderado por Pedro Passos Coelho a lei tomou caminho. 



Já no ano passado, o ministro das Finanças, Mario Centeno, propôs uma emenda para criar uma taxa mínima de imposto para os aposentados estrangeiros. O debate ainda está na mesa. Isto foi confirmado por centeno agora presidente do Eurogrupo



www.publico.es
04
Ago18

CHUVA DE GRANIZO EM ALBUFEIRA LEVA BANHISTAS A FUGIREM DA PRAIA

António Garrochinho
Um dos dias mais quentes do ano em todo o país, mas ao final da tarde a chuva surpreendeu os algarvios e turistas. Várias pessoas que se encontravam este sábado na praia Maria Luísa, em Albufeira, foram apanhadas de surpresa por volta das 18.45 por uma chuvada intensa, que as levou a fugir do local.
De acordo com o relato de uma testemunha ao DN, de repente o céu começou a ficar carregado de nuvens e, sem nada o prever, começou a chover torrencialmente e até granizo. A situação demorou alguns minutos, o tempo suficiente para as pessoas fugirem da praia surpreendidas como que se estava a passar.
Segundo a meteorologista Paula Leitão, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), esta situação já estava prevista, pois tinha sido lançado um aviso laranja para possibilidades de ocorrência de trovoada nos distritos de Portalegre, Beja, Évora e Faro. A ocorrência de trovoada deve-se a uma situação de grande instabilidade, que pode por vezes causar a queda de granizo.
Ao final da tarde já se registava alguma chuva e descargas elétricas, segundo os dados disponíveis no site do Instituto.
Há também registo no site da Proteção Civil de várias quedas de árvores no Alentejo.










www.dn.pt
04
Ago18

HOJE - PORTLAND PREPARA-SE PARA CONFRONTOS ENTRE NAZIS E ANTI FASCISTAS

António Garrochinho


Nesta foto de arquivo de 30 de junho de 2018, o grupo Patriot Prayer realiza uma passeata e marcha em Portland, Oregon, no meio de um protesto de grupos antifascistas.
Mark Graves, o Oregonian, AP


O grupo de direita Patriot Prayer reuniu-se para um comício no centro de Portland este sábado, no meio a uma forte presença policial e um grande contingente de contra-manifestantes barulhentos no terceiro confronto em dois meses.
O evento também se desenrolou comemorando o aniversário da manifestação "Unite the Right" em Charlottesville, Virgínia, em agosto passado, que se deteriorou em confrontos e deixou uma pessoa morta.

Pessoas de ambos os lados enxameavam a área usando almofadas de proteção ou coletes, muitas também usando máscaras ou cobrindo-se com bandanas. A polícia manteve os dois grupos separados por barricadas 
A polícia disse que viu algumas pessoas entre os contra-manifestantes carregando armas 
A polícia alertou via Twitter que ninguém carregando um rifles, espingardas ou outra arma de de mão seria autorizado a entrar no parque Tom McCall - o local da manifestação.
A polícia também disse que qualquer item, como um mastro de bandeira ou um escudo caseiro, que possa ser usado como arma, será confiscado.
Na véspera do evento, o prefeito Ted Wheeler disse que tinha "sérias preocupações" sobre uma possível violência.
A marcha, planeada para meses, foi organizada por Joey Gibson, líder do grupo Patriot Prayer, e um candidato republicano de longa data para o Senado dos EUA no estado de Washington.
Ele ocorre cinco semanas após os confrontos entre esquerda e direita em 30 de junho, nos quais ambos os lados, incluindo grupos antifascistas mascarados, lutaram no centro de Portland, espancando e golpeando-se um ao outro. A polícia declarou o evento como um motim e revogou as autorizações de manifestação
 Um evento parecido com a Oração Patriótica, ocorrido em 4 de junho, resultou em brigas e assaltos de ambos os lados, enquanto a polícia lutava para manter os grupos separados.
 The Associated Press
04
Ago18

BEIJOS - GABRIELA MISTRAL

António Garrochinho


Há beijos que pronunciam por si mesmos
do amor a sentença peremptória,

há beijos que se dão com um olhar,
há beijos que se dão com a memória.

Há beijos silenciosos, beijos nobres,
Há beijos enigmáticos, sinceros,
Há beijos que se dão só com a alma,
Há beijos proibidos, mas verdadeiros.

Há beijos que queimam e que ferem,
Há beijos que arrebatam os sentidos,
Há beijos misteriosos que deixaram
milhares de sonhos errantes e perdidos.

Há beijos problemáticos que contém
um código que ninguém tem decifrado,
Há beijos que provocam a tragédia
que tantas rosas em botão tem arrasado.

Há beijos perfumados, beijos quentes
que palpitam em íntimos desejos
Há beijos que nos lábios deixam rastros
como um campo de sol entre dois gelos.

Há beijos que parecem açucenas
por serem sublimes, ingênuos e puros,
Há beijos traiçoeiros e covardes,
Há beijos malditos e perjuros.

Judas a Jesus beija e deixa impressa
em seu rosto de Deus a aleivosia,
enquanto Madalena com seus beijos
fortifica piedosa de Jesus a agonia.

Desde então nos beijos pulsa
o amor, a traição e as dores;
nas bocas humanas se parecem
à brisa que brinca com as flores.

Há beijos que produzem desvarios
de amorosa paixão ardente e louca,
você bem os conhece pois são meus
criados por mim para sua boca.

Beijos de fogo que no seu rastro impresso
levam sulcos de um amor vetado,
beijos de tempestade, selvagens beijos
que só nossos lábios tem provado.

Lembra-se do primeiro? Indescritível!
Cobriu sua face de tons vermelhos
e no impulso de uma emoção tão estranha
encheram-se de lágrimas seus olhos.

Lembra-se de que numa tarde de loucura
eu o vi ciumento imaginando ofensas;
segurei-o com meus braços, vibrou um beijo
e viu brotar sangue em meus lábios .

Eu o ensinei a beijar: os beijos frios
são de impassível coração de rocha,
Eu o ensinei a beijar com meus beijos
inventados por mim para a sua boca.

(GABRIELA MISTRAL)
04
Ago18

cartoon

António Garrochinho



AS TELEVISÕES IMPLANTARAM EM M.R.SOUSA UM SHIP PARA NÃO O PERDEREM NAS SUAS DESLOCAÇÕES MESMO EM PERÍODO DE FÉRIAS. 

04
Ago18

Margarida Tengarrinha: “Tenho uma fúria muito grande com a impunidade dos assassinos da PIDE”

António Garrochinho


O que vais ouvir, ler ou ver foi produzido pela equipa do Fumaça, um projecto de media independente, progressista e dissidente e foi originalmente publicado em www.fumaca.pt.
Amados pelo povo, os clandestinos e comunistas são o sustentáculo mais firme da resistência ao fascismo”, lê-se no livro “A resistência em Portugal”, escrito por Margarida Tengarrinha e José Dias Coelho, seu companheiro. A clandestinidade era uma missão pelo povo. 

Quem a aceitava, mergulhava numa vida de contradição. Longe da família, das filhas, que aos cinco anos tinham de abandonar os pais, dos amigos, do emprego e, mais profundamente, longe de si próprio. 

O primeiro passo era criar uma identidade nova, totalmente diferente da anterior. Mudar o aspeto visual, o sotaque, a história de vida, a profissão imaginada, e a estória a contar aos vizinhos e às vizinhas. E quando tudo parecia mais real, tudo mudava novamente.

VÍDEO
Fui quantas pessoas foram necessárias”, disse-nos Margarida Tengarrinha, militante anti-fascista de 90 anos, que esteve na clandestinidade cerca de 20. Em conjunto com o seu companheiro, o artista José Dias Coelho, criou uma oficina de falsificação de documentos para os camaradas do partido, incluindo Álvaro Cunhal, dirigente do Partido Comunista Português, já fugido da prisão de Peniche. Durante a década de 1950, as casas de Margarida e José foram dos mais importantes núcleos de resistência ao Estado Novo.
Mas a 19 de dezembro de 1961, “a morte saiu à rua” e “o pintor morreu”. José Dias Coelho foi assassinado a tiro pela PIDE, em Lisboa, enquanto fazia uma tarefa para o Partido Comunista Português. No ano seguinte, Margarida exilou-se em Moscovo, capital da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS, para trabalhar com Álvaro Cunhal e, mais tarde, mudou-se para Bucareste, na Roménia, onde foi redatora na Rádio Portugal Livre.
Durante a vida, foi Teresa, Leonor, Marta, e mais tarde, Beatriz. Só depois do 25 de Abril voltou a ser quem era: “O 25 de Abril para mim foi o César Príncipe [jornalista] puxar por mim e dizer “Margarida Tengarrinha”. É o meu nome!”.

SOM AUDIO
No dia 21 de Julho, sábado, estivemos na Casa da Imprensa em conjunto com mais de 100 pessoas, para celebrar, ao vivo, o lançamento da nossa nova identidade: Fumaça. A Margarida esteve também connosco. Conversámos sobre os anos da clandestinidade, como foi criar as suas filhas Teresa e Guida, a morte do seu companheiro, a impunidade dos assassinos da PIDE e o 25 de Abril.
Texto e entrevista: Ricardo Esteves Ribeiro
Preparação: Maria Almeida, Pedro Santos, Ricardo Esteves Ribeiro e Tomás Pereira
Captação e edição de som: Bernardo Afonso
Captação e edição de imagem: Bernardo Afonso e Frederico Raposo
   
Se quiseres apoiar a Comunidade Cultura e Arte, para que seja um projecto profissional e de referência, podes fazê-lo aqui.
04
Ago18

inconsoladas

António Garrochinho
INCONSOLADAS E POR ESTE ANDAR, AS RATAZANAS DO PSD AINDA ACABARÃO POR DIZER QUE RUI RIO TEM IDEIAS SOCIALISTAS.

XUXIALISTAS SEI QUE AS TEM DA MESMA FORMA QUE O ANTÓNIO COSTA TEM AS IDEIAS DUMA SOCIAL DEMOCRACIA FEITA À MANEIRA DO CAPITALISMO E BASEADA NA FILOSOFIA DA "SENHORA DA AGRÉLA" QUE ORA FECHA A PORTA ORA ABRE A JANELA.



António Garrochinho
04
Ago18

RECRIAÇÃO DE FOTOS ICÓNICAS DE MADONNA

António Garrochinho


Em 1989, Madonna cantava "Express Yourself", implorando aos ouvintes que fizessem exatamente isso. O fotógrafo de moda Vincent Flouret seguiu seu conselho e até incluiu a cantora em suas atividades criativas. Através de um projeto charmoso que ele chama de Maxdonna, ele captura alguns dos momentos mais icônicos de Madonna, desde capas de disco até apresentações de videoclipes, e a substitui por seu adorável cão, Max.

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A «recriacão» destas fotos icônicas de Madonna são uma «perfeicão» 01
O amigo peludo de Flouret é natural quando se trata de canalizar a Rainha do Pop. Ele é capazde imitar a aparência sensual e as poses que ajudaram a definir a carreira de Madonna. Também ajuda que Flouret foi capaz de recriar trajes para dar a cada imagem um outro nível de autenticidade. Os resultados transmitem a essência de cada original de Madonna, mas não foram fáceis de fazer:

- "Essas fotos, entre os cliques, as roupas caseiras, o treinamento consumiram oito meses de trabalho", explicou Flouret.

Flouret garante que Max se divertiu com o projeto e tem uma maneira engenhosa de fazer isso.

- "Ele é a minha prioridade", diz ele. - "Tudo é como uma brincadeira para ele. Por exemplo exemplo, se a sessão de fotos precisa de um chapéu para uma foto, eu compro semanas antes e deixo ele brincado como se fosse um de seus brinquedos. E assim, tudo fica normal e divertido para ele quando fotografamos semanas depois."

Acontece que o trabalho duro de Flouret e Max não passou despercebido. A própria Madonna admirou Maxdonna e até mesmo compartilhou nas redes sociais.

- "Ela postou a capa do 'Like a Virgin" em seu Instagram. Eu me senti como uma criança quando vi!"
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www.mdig.com.br
04
Ago18

CONHEÇA ALGUNS FARÓIS DO MUNDO

António Garrochinho

Construídos para guiar marinheiros e aventureiros através do mar revolto, os faróis guardam um certo apelo mesmo para quem nunca pisou em um barco. Graças a sua função primeira, eles geralmente são erguidos em lugares remotos, em meio a paisagens de tirar o fôlego na costa de diversos países ao redor do mundo 
01 - TORRE DE LEANDRO | TURQUIA 
Localizada em uma pequena ilha na entrada sul do Estreito de Bósforo, na Turquia, a Torre de Leandro, também conhecida como Torre da Donzela, pertence à famosa província de Istambul. Ela foi primeiramente construída em 408 a.C., depois se tornou um forte em 1110 d.C., e bem mais tarde passou a servir como farol. Hoje, seu interior possui um café e um restaurante, além de uma cúpula com ótima vista para a cidade. Diversos barcos levam turistas de Istambul até a pequena ilha várias vezes por dia 
02 - FAROL LINDAU | ALEMANHA 
Construído entre 1853 e 1856 no oeste do Lago Constance, o Lindau é o farol mais ao sul da Alemanha. Com 33 metros de altura e uma circunferência de 24 metros, ele ainda funciona como farol, acendendo a pedido de barcos. Hoje, a luz é elétrica, mas por muito tempo foi uma fogueira, substituída por querosene e, depois, gás, até 1936. Hoje, recebe turistas que podem apreciar uma bela vista e descobrir informações sobre a fauna, flora e embarcações no lago 
03 - FAROL DO CABO DE HOOK | IRELAND 
No pequeno Condado de Wexford, turistas podem encontrar um dos maiores orgulhos do povo irlandês: o Hook Head Lighthouse, ou Farol do Cabo de Hook. Construída ainda no século 12, a torre é considerada o mais antigo farol ainda em funcionamento do mundo, e é, portanto, um dos mais fascinantes exemplos de arquitetura medieval na Irlanda. O farol recebe tours diariamente nos quais os turistas podem aprender mais sobre a história da torre e do país, além de apreciar a incrível paisagem 
04 - PEGGY’S POINT | CANADÁ 
O Canadá tem centenas de faróis, mas o mais famoso deles é, certamente, o Peggy’s Point, na Nova Escócia. Se erguendo em meio a uma paisagem dramática de rochas, a torre de 15 metros tem mais de 100 anos de idade e se tornou um símbolo do país e uma parada imperdível para quem visita a região. Diz a lenda que seu nome é uma homenagem a Peggy, o único sobrevivente de um naufrágio que aconteceu por ali no século 19 
05 - TOURLITIS | GRÉCIA 
O Tourlitis foi construído próximo a um castelo na ilha de Andros, em 1897, em cima de uma pedra esculpida pelas ondas quase tão grande quanto a própria torre. Mas não durou muito, tendo sido destruído na Segunda Grande Guerra. Em 1990, uma réplica foi construída no mesmo lugar por um magnata do petróleo, que dedicou a onírica estrutura à sua filha, e Tourlitis, assim, se tornou o primeiro farol automático do país. Hoje, é um dos pontos turísticos mais procurados da região 
06 - TORRE DE HÉRCULES | ESPANHA 
Localizada a cerca de 1600 metros da cidade d'A Corunha, na Galícia, a Torre de Hércules foi construída pelo Império Romano no fim do século 1 e dá as boas-vindas para quem chega ao porto d'A Corunha até hoje. A torre tem 55 metros de altura, 34 metros correspondem à estrutura original, enquanto 21 metros foram adicionados durante uma restauração no século 18. Hoje, não funciona mais como farol, mas é um Patrimônio Mundial da UNESCO e um dos mais famosos pontos turísticos dessa região da Espanha. Por lá, os turistas também encontram um parque de esculturas, pinturas rupestres da Idade do Ferro e um cemitério muçulmano 
07 - PETIT MINOU | FRANCE 
Construído há mais de 150 anos, o Farol do Petit Minou foi construído em frente ao Forte do Petit Minou, na Baía de Brest, famosa por seus ventos fortes, em Plouzané. Desde então, guia os barcos que adentram a região com sua luz que alcança até 35km de distância. Turistas certamente não se arrependem de dedicar um pouco de seu tempo em terras francesas para apreciar a beleza dessa paisagem que guarda uma importante história 
08 - RUBJERG KNUDE | DINAMARCA 
Quando foi construído em 1899 na Jutlândia do Norte, Dinamarca, o Rubjerg Knude não estava nem perto do mar e muito menos cercado por enormes dunas de areia, e servia para guiar os barcos que passavam por ali. A rápida erosão causada pelo mar, no entanto, construiu a imagem que você pode ver na foto e o farol foi abandonado depois que sua luz começou a ser ofuscada pela areia. Estima-se que a estrutura caia no oceano até 2020, então se quiser visita-la, é melhor correr 
09 - LES ÉCLAIREURS | ARGENTINA 
Les Éclaireurs, que pode ser traduzido para os iluministas, é um farol construído em 1920 no conjunto de ilhas de mesmo nome na baía de Ushuaia, capital da Tierra del Fuego, na Argentina. A torre tem 11 metros de altura, emite luzes brancas e vermelhas que são alimentadas por painéis solares e é famosa por receber visitas de morsas e pinguins. Os locais a conhecem como A Torre do Fim do Mundo, já que ao sul dela você não vai encontrar muito mais que a Antártica 
10 - CAPE BYRON | AUSTRÁLIA 
O Cape Byron é o farol mais oriental e mais potente da Austrália, e está localizado em New South Wales. A torre, construída em estilo colonial no início do século passado, tem 23 metros de altura e recebe mais de 500 mil turistas por ano. Ele recebe visitas guiadas diariamente e fica em uma região popular para ver baleias 
11 - PIGEON POINT | ESTADOS UNIDOS 
Localizado na Califórnia, o Pigeon Point é o maior farol da costa oeste estadunidense, construído em 1872, e hoje você pode se hospedar por lá. Ainda que suas lentes não sejam mais utilizadas, o farol ainda serve como base para a guarda costeira estadunidense e auxílio para embarcações. Ele está inserido em um parque nacional rico em vida animal, incluindo mamíferos aquáticos, e recebe visitas guiadas diariamente 
12 - GREEN POINT | CIDADE DO CABO 
O Green Point foi o primeiro farol da costa sul-africana e é o mais antigo farol ainda em uso do país. A torre vermelha e branca, que foi acesa pela primeira vez em 1824, é um belo ponto de contraste em meio ao verde ao redor. Os turistas costumam subir ao topo e apreciar a bela Cidade do Cabo ao longe 

Fonte dos textos e fotos: guiadasemana.com.br / msn.com / Thymonthy Becker / Charlie Styforlamber /


04
Ago18

dias de praia

António Garrochinho

mulheres em dias de praia
nos vestidos de cambraia
havaianas no nu pé
nos homens chutos na bola
saborear uma cervejóla
na esplanada do café



António Garrochinho


04
Ago18

04 de Agosto de 1849: Morre Anita Garibaldi, heroína de dois mundos

António Garrochinho


Ana Maria de Jesus Ribeiro da Silva, também conhecida como Anita Garibaldi, foi  esposa do herói italiano Giuseppe Garibaldi. Nasceu no município de Laguna, em Santa Catarina. Os seus pais eram descendentes de imigrantes dos Açores. Depois de falecer o pai, casou-se, aos 15 anos, por insistência da mãe, com Manuel Duarte Aguiar. Esse casamento sem filhos foi um fracasso e durou pouco tempo.

Em 1837, durante a Guerra dos Farrapos, Giuseppe Garibaldi, a serviço da República Rio-Grandense, tomou a cidade portuária de Laguna, transformando-a na primeira capital da República Juliana. 

Ali, conheceu Anita - e desde então permaneceram juntos. Entusiasmada com os ideais democráticos e liberais de Garibaldi, ela aprende a lutar com espadas e usar armas de fogo, convertendo-se na guerreira que o acompanharia em todos os combates. 


Durante a batalha de Curitibanos, o casal separa-se, inadvertidamente, e Anita é capturada pelo exército imperial. Presa, os oficiais informam-na que Garibaldi morreu. Anita, que estava grávida, pede então que a deixem procurar o corpo de seu companheiro entre os mortos. Sem encontrá-lo, e suspeitando que estivesse vivo, ela aproveita-se de um descuido dos soldados, salta sobre um cavalo e foge dos seus perseguidores. 

Poucos quilómetros depois, depara-se com o rio Canoas e, sem hesitar, lança-se nas águas. A perseguição cessa, pois os soldados acreditaram que ela estivesse morta. Mas Anita passa para a outra margem e reencontra os rebeldes e, na cidade de Vacaria, une-se novamente a Garibaldi. Poucos meses depois nasceria o primeiro filho dos quatro que tiveram. 

Anita e Garibaldi casaram-se em 26 de Março de 1842. Em 1847, Garibaldi enviou Anita a Itália, como sua embaixadora, a fim de preparar o terreno para o retorno aquele país acompanhado por um exército de mil homens. Garibaldi pretendia desembarcar em Itália para lutar na primeira guerra da independência italiana, contra a Áustria. Depois da chegada de Garibaldi, seguem para Roma, onde se proclama a República Romana. 

A cidade, contudo, é atacada por tropas franco-austríacas, e Anita, grávida do quinto filho, luta ao lado de Garibaldi na batalha de Gianicolo. 

Obrigados a bater em retirada, o casal foge acompanhado de um exército de quase quatro mil soldados. São perseguidos, contudo, por forças francesas, napolitanas e espanholas. 

Durante a fuga, quando chegam a San Marino, que também  se havia  libertado dos austríacos, Garibaldi e Anita não aceitam o salvo-conduto oferecido pelo embaixador norte-americano e decidem prosseguir na fuga. 

Anita, entretanto, contrai febre tifoide e não resiste. 

Falece perto de Ravenna, a 4 de Agosto de 1849.
wikipedia (Imagens)

Ficheiro:Anita Garibaldi - 1839.jpg
Retrato de Anita Garibaldi - Gaetano Gallino

Ficheiro:Giuseppe e Anita Garibaldi trovano rifugio a San Marino.JPG

Garibaldi e Anita buscam refúgio em San Marino

Ficheiro:Garbaldieanita.jpg

Garibaldi e Anita, ferida, fogem de San Marino, 1849 (quadro de anónimo, século XIX)

File:GaribaldiFam1878.jpg

A Família Garibaldi em 1878
04
Ago18

Qual é a língua mais antiga do mundo?

António Garrochinho



Será que o português é mais antigo do que o espanhol? E o irlandês — terá sido inventado no século XX? E o galego — apareceu no século XIX? Claro que não, mas há quem diga que sim. Porquê? E, já agora, qual é a língua mais antiga do mundo? Será o basco? Vamos lá a isto…

Entre o irlandês e o galego

As línguas são uma manifestação física da identidade de cada um — é por isso que os idiomas são campo pródigo a palavras inflamadas, corações aos saltos, faces ruborizadas de indignação e dedos a bater depressa na pressa de responder.
Gaston Dorren, autor do livro Lingo (mais do que recomendável!) e do blogue Language Writercontou há meses como se meteu numa discussão de Twitter entre dois irlandeses: um unionista e um republicano… Dizia o unionista que a língua irlandesa era uma invenção do século XX. A coisa aqueceu e o irlandês do Sul disparou: cala-te lá, pá!, que o irlandês é mais antigo do que o inglês!
Também há discussões destas cá mais perto de casa. Ainda há pouco tempo assisti — e meti a colher — numa discussão bem quente entre galegos e um louco dum tuiteiro cá do burgo que insistia nisto: o galego foi inventado no século XIX! Um ou outro galego contrapunha, em modo agarrem-que-me-vou-a-ele que o galego é mais antigo que o português.
Quem tem razão?
De certa maneira, ninguém — embora se tiver de ir à luta, terei de arregaçar as mangas contra quem acha que o galego foi inventado o mês passado. Ou seja, ninguém tem razão, mas quem diz que o galego foi inventado no século XIX está mais errado do que os outros.
O leitor terá imaginado que a resposta não seria fácil — mas talvez seja uma surpresa perceber a razão da dificuldade…

As línguas não nascem, transformam-se

Andamos por aí com uma certa ideia do que é uma língua que nos leva a compará-la a uma pessoa: nasce, desenvolve-se, às vezes morre. Esta metáfora serve-nos em muitos casos. Mas, noutros, dá origem a ideias um pouco desastradas.
No que toca à origem das línguas latinas, a ideia geral será esta: havia uma língua estabilizada (o latim), que se desfez e deu origem a embriões de outras línguas. Esses embriões acabaram por dar origem a línguas nacionais, muito mais tarde: o português, o espanhol, o francês, etc. — estas línguas desenvolveram-se até aos píncaros das idades de ouro das suas literaturas.
Bem, esta imagem não é completamente falsa — mas engana-nos. Para percebermos isto a fundo, temos de fazer um exercício: temos de esquecer a escrita. Pensemos, para já, apenas na língua falada na rua.
Imagine a época de Afonso Henriques — ou mesmo antes. Imagine aquilo que se falava nas ruas de Guimarães 100 ou 200 anos de Portugal ser um reino independente.
Na escrita, o latim imperava. Na fala, será que a linguagem das gentes era pior do que a nossa, ou seja, menos capaz de expressar as emoções ou incapaz de permitir conversas, amores, combinações?
Não parece provável: afinal, ninguém encontrou até hoje uma língua que limite os seus falantes, que impeça de sentir esta ou aquela emoção. Repare na língua que sai da boca dos portugueses de agora: repare na extraordinária variedade e riqueza das palavras com que conversamos, mesmo com quem mal sabe escrever. Sim, eu sei que há quem tenha pouco jeito, mas, em geral, sabemos convencer, discutir, ironizar, brincar, namorar — às vezes, escrevemos um romance inteiro com a mera entoação de voz numa simples frase… Às vezes, insinuamos as maiores patifarias com uma pequena interjeição dita de certa maneira…
Piadas no pátio da escola… Discussões de namorados… Histórias antigas contadas aos netos… Conversas profundas no terraço… Reuniões estratégicas numa empresa… As palavras saem da nossa boca a todo o minuto e servem-nos para tudo e nada.
Esta capacidade de conversar e de viver não diminuiu quando o Império Romano desapareceu.. Nunca houve um momento em que a língua deixasse de ser uma língua inteira na boca de cada falante.
Da mesma forma, os romanos já receberam a sua língua do que vinha antes — e assim continuamos.
Ou seja, não há um momento em que possamos dizer: esta língua nasceu hoje. Em geral, a linguagem é transmitida sem cortes radicais entre gerações.
Como explicou Gaston Dorren na discussão de que falei, o inglês e o irlandês não têm idade. São ambas tão antigas como a linguagem humana.

Então e o basco? Não é mais antigo que o português?

Ora, dirá o leitor mais desconfiado: isso é tudo muito bonito, mas a verdade é que falamos hoje uma língua muito diferente do latim — enquanto, por exemplo, os bascos falam a mesma língua há 7000 anos! Ou seja, o basco é mais antigo que o português… Há mesmo quem diga que é a língua mais antiga do mundo.
Continuemos longe da escrita. Continuemos apenas a pensar no que se fala. Ora, o basco mudou tanto ou mais do que o latim nestes quase 2000 anos que nos separam dos romanos (e o próprio latim nunca tinha parado de mudar durante o Império — já Cícero se queixava da língua das ruas…).
O basco mudou — e dividiu-se, tal como o latim. O basco falado em família tem diferenças tão marcadas como as diferenças entre as várias línguas latinas. Não acredita? Pois veja este vídeo, que mostra como o basco tem uma variedade dialectal que podia perfeitamente ser interpretada como uma família de línguas diferentes.
O basco oficial e ensinado nas escolas é o basco batua, uma norma — um registo escrito e formal e uma linguagem literária — baseada nos dialectos centrais do basco (mas com algumas contribuições dos outros dialectos). Percebe-se que os bascos tenham criado uma língua unificada — seria mais difícil proteger e promover o basco se este fosse uma colecção de línguas incompreensíveis entre si.
Ou seja, o basco não se manteve inalterado e indivisível durante milénios, ao lado de línguas a nascer a partir do latim. No fundo, a situação basca é semelhante ao que aconteceria no universo alternativo em que tentássemos ressuscitar o latim desta forma: institucionalizamos o dialecto francês, mudamos-lhe um pouco o vocabulário e a gramática para o aproximar dos outros dialectos latinos — e chamamos «latim» a essa norma. Em casa, todos falámos durante séculos (neste universo alternativo) qualquer coisa parecida com o português, o espanhol, o italiano — até que, com uma norma institucionalizada, as escolas, a televisão e a urbanização começam a espalhar o novo latim em todo o Novo Império Romano (neste universo alternativo, o sul da Europa unificou-se num só estado). Na Lisboa dos dias de hoje, os avós ainda falam o dialecto da terra (o português do nosso universo). As gerações mais novas, no entanto, já usam o latim (o francês do nosso universo), excepto quando conversam com os avós.
Parece estranho? É estranho. Mas é o que acontece no País Basco — que tem a complicação adicional de haver outra língua em concorrência com este sistema de dialectos incompreensíveis e uma norma comum (chamada, já agora, de euskera batua) — falo do castelhano, claro está.

O grego sobreviveu milénios?

Há também o caso do grego. Mantém o mesmo nome desde a Antiguidade — não é óbvio que é mais antigo do que o português?
Na verdade, um grego de hoje em dia terá tantas ou mais dificuldades em ler um texto em grego antigo do que um português em ler um texto latino.
Houve, na verdade, desde o século XIX até aos Anos 70 do século passado, uma tentativa de aproximar o grego moderno do grego antigo — tentou-se impor uma língua literária artificial com algumas formas clássicas. Essa língua artificial chama-se katharevousa, em contraste com o grego demótico, ou seja, o grego da rua que é hoje oficial.
As lutas foram terríveis — houve mortos! A língua grega tem o seu quê de sagrado para os gregos e o katharevousa ia beber à tendência para mitificar a língua do passado como mais perfeita e genuína (é uma tendência universal).
A norma do grego moderno acabou por se libertar desse peso e, hoje, a língua oficial está mais próxima da língua da rua. Ainda há quem suspire pelo regresso da velha língua, mas a verdade é que o grego não ficou parado na Antiguidade e é muito diferente do grego antigo. Tentar mantê-lo congelado é um esforço inglório, que apenas prejudica os gregos.
Todas as línguas são assim — mudam constantemente. É certo que, por vezes, há cortes um pouco mais marcados. Por exemplo, quando uma população assume como sua a língua de outra população — a língua costuma dar então um salto através duma simplificação acelerada (falei disso neste artigo). Mas, mesmo assim, uma população nunca cria a sua língua do nada — uma língua não nasce: transforma-se. (Curiosamente, não nasce, mas pode morrer.)

Quando nasce uma língua?

Falei do basco e do grego para dizer isto: é quase impossível determinar a idade de uma língua.
Se usamos o critério do nome da língua ou mesmo a permanência no mesmo território, acabaremos por considerar que o grego moderno e o grego antigo são a mesma língua. Não faz muito sentido: as diferenças linguísticas são comparáveis às diferenças entre o latim e o português.
Se acharmos que uma língua nasce no momento em que se separa de outra, deixando de haver compreensão mútua, então teremos de falar de várias línguas bascas — e todas bastante recentes. Já o português, nesse caso, terá surgido quando se separou, por exemplo, do galego — e quando foi isso? Já aconteceu?
As línguas são como aquelas bactérias que se multiplicam através da divisão: surgem novas bactérias, é certo, mas nenhuma é mais antiga do que a outra — nenhuma é mãe da outra. As línguas são um bicho esquisito.
Alguém dirá: ora, a língua nasce quando nascem os primeiros documentos escritos. É um critério apetitoso — é concreto, é físico, podemos comprovar a data. Mas, se assim for, a maioria das línguas humanas nunca chegou a nascer.
No fundo, o ponto em que começamos a contar a História de uma língua é sempre uma escolha, tem sempre muito de arbitrário.

Viagem ao princípio da língua

Tudo isto pode ser assim, mas o que importa a muitos é a norma associada à língua escrita — e formal, já agora —, ou seja, o registo particular baseado na fala de determinada zona ou grupo social, normalmente o grupo de prestígio que habita nas cidades mais importantes de cada sociedade.
Por outras palavras, quando perguntamos a idade duma língua, estamos a perguntar a idade da tradição escrita e literária dessa língua. Nesse ponto, podemos ter algumas datas: a data em que o português se tornou oficial; a data em que o galego começou a ser usado na literatura; a data em que o irlandês ganhou uma norma escrita…
É esta associação entre língua e norma escrita que justifica que alguém considere o irlandês uma língua recente — os irlandeses já o falam há milénios, mas a sua norma escrita actual é mais recente — no entanto, esta maneira de encarar a história é muito enganadora: os irlandeses falam essa língua há muito tempo, apesar de agora já só sobreviver em zonas particulares.
Essa associação estrita (e errada) entre língua e escrita também explica que haja quem considere o galego uma «invenção» do século XIX: a literatura galega moderna renasce nesse século — mas mesmo assim, para dizer que o galego nasceu no século XIX, é preciso ignorar que já tinha havido textos bem mais antigos escritos na língua dos galegos.
A mim, na verdade, interessa-me a história do uso escrito das línguas, mas há tanto que se esconde por trás — tanto e tão interessante!
Gosto de pensar como o português não surgiu do nada quando surgem os primeiros documentos — mesmo que seja muito difícil ter certezas sobre o que se passou antes.
Gosto de pensar que a palavra «mãe» veio da «mater» latina, mas entre uma e outra existiram muitas formas pelos séculos fora, todas tão expressivas e maternais como a nossa.
Gosto de pensar que a «mater» latina veio de qualquer coisa de anterior, até chegar à «*méh₂tēr» indo-europeia, uma forma reconstruída duma língua que ninguém escreveu.
Gosto de pensar que os tais indo-europeus nunca se chamaram assim e nunca escreveram a palavra «*méh₂tēr» — mas fosse qual fosse a forma da palavra «mãe», existiu na boca de pessoas reais que percebiam e sentiam a sua língua como nós sentimos a nossa.
E gosto de pensar que essa «*méh₂tēr» também terá vindo doutra «mãe» mais antiga, assim até chegarmos ao dia em que alguém, pela primeira vez, disse a palavra «mãe» (mas sobre isso falaremos noutro artigo).

A língua e o barro

A linguagem humana e a sua variabilidade será como o barro, sempre moldável e sempre a caminho de ser outra coisa. De vez em quando, há quem pegue num pedaço desse barro e coza uma língua-padrão — mas, na rua, as pessoas continuam a brincar com o mesmo material, mudando a forma da língua até a forma rígida da norma se partir e ter de ser substituída por outra (felizmente, a norma não tem de ser assim tão rígida; e é bom que não o seja, pois só assim garantimos que não se parte, como aconteceu com o katharevousa).
Note-se: a norma não pode inventar uma língua do nada — tem de usar os materiais que existem. A norma é uma força que actua sobre esses materiais, por vezes como política consciente, com mais ou menos êxito, outras vezes através de mecanismos inconscientes de aproximação à fala do grupo de prestígio. Houve gregos que tentaram moldar o barro para se parecer ao grego antigo — falharam, embora algumas palavras dessa norma artificial tenham sobrevivido. Os bascos ensinam agora uma língua unificada e esse processo tem corrido bem. Curiosamente, a língua dos galegos e dos portugueses viveu séculos debaixo de normas diferentes, mas o material comum ainda lá está, a permitir que nos entendamos, quando vemos quão parecido é o barro dum lado e doutro da fronteira.
Bem, voltemos à nossa pergunta: qual é a língua mais antiga do mundo? A única resposta razoável é explicar que as línguas não têm idade, como diz Gaston Dorren. As línguas mudam, passam por fases, vão-se sujeitando a diferentes normas, misturam-se e influenciam-se umas às outras. Neste percurso complexo, damos-lhes nomes e assumimo-los como bandeiras das nossas identidades. Por isso, é normal que queiramos saber quando nasceram as tais bandeiras.
É normal, da mesma forma, que um português queira saber se o espanhol é uma língua mais antiga do que a sua — mas a resposta, mais uma vez, só pode ser esta: nenhuma delas nasceu, apenas se foi moldando ao longo dos séculos, a partir de materiais anteriores, num processo que começou há muitos milénios — e não acabou!
A língua que o leitor tem na cabeça tem pergaminhos tão antigos como a língua de todos os outros seres humanos. Todos falamos o que resultou da sucessão ininterrupta de gente a falar desde o princípio dos tempos — e assim continuaremos, de palavras na boca, a moldá-las sem fim, por muitos e bons séculos.

www.certaspalavras.net
04
Ago18

SEM PAPAS NA LÍNGUA

António Garrochinho



ORA AÍ ESTÁ A "ONDA DA PIMBALHADA" QUE ELES, OS NEOLIBERAIS AUTARCAS APROVEITAM PARA CARREGAR NAS COSTAS DO ZÉ POVINHO O ENGANAR E ALIENAR !

AS GULOSEIMAS, AS FESTAS POR TUDO QUANTO É CANTO DE PORTUGAL. A "BANHA DA COBRA" AOS MUNÍCIPES QUE TAMBÉM SERVEM PARA DISFARÇAR AS RUINOSAS POLÍTICAS DA DIREITA, OS NEGÓCIOS COM AS PARCERIAS PÚBLICO PRIVADAS, OS ESCÂNDALOS DA CORRUPÇÃO, AS LUVAS, O DINHEIRO POR DEBAIXO DA MESA.

NO MEIO DO LIXO QUE VAI SUBINDO AOS PALANQUES ONDE AS MOÇAS DANÇARINAS MOSTRAM O PERNÃO E OS "CANTORE(A)S URRAM ESBRACEJANDO QUAL NACIONAL CANÇONETISMO AGORA COM INOVAÇÃO ELECTRÓNICA, APARECE DE TUDO NA ÉPOCA DO VERÃO.

DE VEZ EM QUANDO LÁ METEM UM(A) ARTISTA, UMA BANDA, UMA ORQUESTRA QUE TENDO QUALIDADE, SERVE DE PRETEXTO PARA AS TONELADAS DE ZURRAPA QUE JÁ COBRAM CACHETS SUPERIORES.
DIZIA, SERVE DE PRETEXTO PARA BRANQUEAR AS INTENÇÕES DE UMA CAMPANHA ELEITORAL QUE JÁ NÃO TEM PRINCÍPIO NEM FIM. É CONSTANTE, É OPORTUNISTA, ESCANDALOSA E DESPREZA A REFLEXÃO DOS PORTUGUESES. .

O QUE IMPORTA É DAR "FESTA" O QUE IMPORTA É APARECER NO PALCO OU À MESA COM ALGUNS MUNÍCIPES E FREGUESES ESCOLHIDOS (OS APOIANTES) E DISTRIBUIR SORRISOS, MÃOZADAS, E ESPERAR QUE OS PORTUGAS LHE PAGUEM O ALMOÇO OU JANTAR E TIREM SELFFIES COM O PRESIDENTE, O VEREADOR, ETC ETC.

O CHIMFRIM RAIA O RIDÍCULO, E CHEGA A INCOMODAR OS QUE AINDA PODEM TIRAR FÉRIAS E QUEREM APESAR DE TUDO ALGUM DESCANSO E RETIRO DAS PALHAÇADAS DA POLÍTICA QUE MASSACRAM O ANO INTEIRO.

A IMPRENSA " A VOZ DO DONO" AS TELEVISÕES, OS PASQUINS, AS RÁDIOS, DIVIDEM-SE EM ENTREVISTAS ENQUANTO NÃO HÁ INCÊNDIOS, DESASTRES, CATÁSTROFES QUE TENHAM MORTE, ROUBOS, FACADAS E MUITO SANGUE, E PUBLICAM ATÉ À EXAUSTÃO CENTENAS DE FOTOS COM OS FIGURÕES DAS CÂMARAS E A VISITA INESPERADA DE GOVERNANTES.

O FOLCLORE TRISTE DESTE PAÍS ONDE MUITOS DESABAFAM QUE "NEM SÓ DE PÃO VIVE O HOMEM" TORNOU-SE UMA ARMA DE ATIRAR AREIA PARA OS OLHOS DOS PORTUGUESES QUE APESAR DE TUDO ALGUNS PORTUGUESES AINDA GOSTAM.


António Garrochinho
04
Ago18

A OPINIÃO DE OUTROS - O papel da social-democracia na história do capitalismo

António Garrochinho


O seguinte escrito é parte da dissertação de mestrado do autor, defendida no programa de pós-graduação em Serviço Social da UFPE, intitulada “Em busca da Revolução Brasileira: crítica à estratégia socialista na obra de Carlos Nelson Coutinho”. O tema deste terceiro capítulo da dissertação é uma crítica ao conceito de “reformismo revolucionário”, de Carlos Nelson Coutinho. Na formulação dessa proposta, aspecto central da estratégia socialista coutiniana, o autor realiza um balanço histórico da experiência social-democrata e eurocomunista. Depois de descrever sua análise, realizamos o nosso balanço sobre essas duas tendências do movimento operário.
O presente texto, portanto, é uma crítica aos limites da social-democracia e do eurocomunismo compreendendo que a despeito de todas e cada uma das suas diferenças, os limites estratégicos são semelhantes e levaram aos mesmos impasses. O balanço não é exaustivo dado que não é o tema central da dissertação e do capítulo três. Nas próximas partes da dissertação, a serem publicadas no Lavrapalavra, o conjunto dos argumentos e raciocínio ficará ainda mais nítido.

Autores com substanciais diferenças entre si, como Lênin (2017), Antônio Gramsci (2007) e Rosa Luxemburgo (2011) sublinham um elemento fundamental para compreender o movimento operário europeu e seus rumos que descambaram no fim da II Internacional na Primeira Guerra Mundial: a partir de 1870 se acelera a transição do capitalismo europeu à sua fase monopolista e ganha um novo impulso a expansão colonial com a partilha do mundo.
Essa nova fase do capitalismo combinada com a expansão colonial se articula em uma conjuntura política pós-Comuna de Paris. Como resposta imediata à Comuna, na França, se processa uma brutal e sangrenta repressão ao movimento operário; já na Alemanha de Bismarck e na Áustria-Hungria, “preocupados com a possibilidade de sublevações generalizadas das classes trabalhadoras, buscam promover condições para uma mediação entre capital e trabalho […] delineiam um ‘Estado assistencial’” [1] (COSTA, 2011, p. 55).
Evidentemente, esse processo não foi teleológico e totalmente compreendido pelas classes dominantes, seus intelectuais e dirigentes políticos na época. Muitos representantes da burguesia viam as concessões ao movimento operário e sua entrada no parlamento como o canto dos cisnes do capitalismo; outros, porém, buscaram articular estratégias de transformar os movimentos de contestação dos trabalhadores em apêndices da ordem, costurando pactos de conciliação de classe. Nesse enfrentamento, a questão colonial tinha papel destacado.
Rosa Luxemburgo travava uma intensa luta política para não ceder, nas batalhas por ganhos imediatos, ao militarismo e ao colonialismo do Estado alemão – mesmo tendo uma visão negativa dos movimentos de emancipação nacional das colônias e semi-colônias -; Lênin e os bolcheviques defendiam uma firme posição de autodeterminação dos povos contra qualquer forma de colonialismo e opressão nacional. Já os representantes mais lúcidos da burguesia, como Cecil Rhodes, ciente da relação orgânica entre expansão colonial e controle da questão social nos países centrais do capitalismo, colocava assim a questão:
“Ontem estive no East-End londrino (bairro operário) e assisti a uma assembleia de desempregados. Ao ouvir ali os discursos exaltados cuja nota dominante era pão!, pão!, e ao refletir, no caminho da volta para casa, sobre o que tinha ouvido, convenci-me, mais do que nunca, da importância do imperialismo (…). A ideia que acalento representa a solução do problema social: para salvar os 40 milhões de habitantes no Rio Unido de uma mortífera guerra civil, nós, os políticos coloniais, devemos nos apossar de novos territórios; para eles, enviaremos o excedente da população e neles encontraremos novos mercados para os produtos das nossas fábricas e das nossas minas. O império, como sempre digo, é uma questão de estômago. Se quereis evitar a guerra civil, deveis tornar-vos imperialistas” (LÊNIN, 2012, p. 112).
O debate sobre abandonar o objetivo final da luta socialista ou participar do parlamento estava atravessado por aquela que era a questão fulcral para o movimento operário entre 1870 e 1914: manter uma política internacionalista e de independência de classe em todas as lutas – através das mais diversas formas de luta, inclusive as legais – ou aproveitar a oportunidade criada pelo capitalismo monopolista para conseguir ganhos potencialmente constantes e buscar negociar posições melhores dentro da ordem por meio de apoio à “sua” burguesia monopolista.
Eduard Bernstein e a maioria do movimento social-democrata, especialmente a partir da Primeira Guerra Mundial, seguiram pelo segundo caminho – não como uma escolha livre e espontânea, mas como resultado da luta de classes, cuja consequência foi uma gigante vitória das burguesias sobre os trabalhadores. Losurdo (2006; 2015) apropriadamente chama de “socialismo imperial” essa relação entre subjugação política-ideológica dos trabalhadores ao capitalismo monopolista em troca de ganhos materiais e níveis variados de “integração política” [2]. Para não deixar dúvidas, segue a posição de Bernstein sobre o expansionismo colonial:
“Legítimo o que assumiu a política imperial alemã, o assegurar em casos deste gênero [política de Guilherme II na baía de Kiautschou] o direito de codecisão (juntamente e em concorrência com as grandes potências rivais, sobre o destino da China), e exorbitando das tarefas da social-democracia a oposição de princípio às medidas que daí derivarem (…). Quando depois alguns jornais chegaram ao ponto de afirmar que o partido tem de condenar no plano dos princípios e incondicionalmente a aquisição da baía – então não posso de modo nenhum estar de acordo” (BERNSTEIN apud LOSURDO, 2006, p. 29).
Lênin foi o líder operário a melhor apreender o pleno sentido, no calor da história em processo, a base econômica, social e política desse amoldamento à ordem da social-democracia. Para o autor de O Estado e a Revolução, o capitalismo monopolista criou uma espécie de aristocracia operária inteiramente pequeno-burguesa pelo seu modo de vida, altos salários (tomando como referência o salário médio dos trabalhadores europeus e de outros países) e concepção de mundo, constituindo o principal apoio da Segunda Internacional e o auxílio social da burguesia, demonstrando o vínculo entre “reformismo e chauvinismo” (LÊNIN, 2012, p. 34). A ruptura no movimento operário com a criação dos partidos comunistas, portanto, não pode ser compreendida sem dimensionar esse debate fundamental.
Para adensar ainda mais o argumento, cabe destacar que um dos critérios fundamentais de clivagem dos comunistas das demais tendências políticas dos trabalhadores foi o “apoio, não em palavras, mas, sim, em ações, a todos os movimentos de emancipação das colônias” como diz a condição oitava das vinte e uma condições de adesão à Internacional Comunista (BRAZ, 2011, p. 130) [3]. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, com o início da construção do Estado de bem-estar social, as diferenças políticas da social-democracia e do movimento comunista quanto ao colonialismo e o suporte aos movimentos revolucionários da periferia capitalista só se aprofunda: enquanto o campo socialista liderado pela URSS, a despeito de todos os problemas que se possa apresentar, foi ator político fundamental no amparo aos movimentos de emancipação nacional do terceiro-mundo [4], a social-democracia abraça completamente (com nobres exceções, como a liderança de Olof Palme na Suécia) a manutenção da ordem colonial e neocolonial pelo mundo [5].
Nesse sentido, a social-democracia, além dos dilemas estratégicos e táticos do movimento como um todo e de cada partido em sua ação nacional, continha uma contradição dilacerante que a impedia de atuar como força revolucionária consequente (contradição que também teve repercussões no movimento comunista [6]): sua capacidade de conseguir ganhos materiais e políticos imediatos para a classe trabalhadora e de gerir uma ordem democrática sem grandes convulsões sociais tinha seu fundamento na estrutura de acumulação capitalista mundial cujo papel de centro – ou metrópole – do capitalismo precisava ser assegurado. Como resume muito bem Moraes (2001, p. 15), “sem a pilhagem da imensa periferia, o poder aquisitivo e a qualidade de vida no capitalismo central seriam muito piores e consequentemente a situação social muito mais conturbada”.
Ao final da Segunda Guerra Mundial o movimento social-democrata já tinha abandonado qualquer traço de partido operário com independência de classe, enfraquecida a dimensão classista de sua identidade política e totalmente qualificado a realizar uma gestão à “esquerda” da ordem dominante (BRAZ, 2011; POULANTZAS, 1980; PRZEWORSKI, 1991). Por isso, o reformismo social-democrata nunca colocou em perspectiva política, durante o Welfare State, o confronto com o capitalismo. A leitura coutiniana, ao afirmar que o reformismo social-democrata, caso seja levado às últimas consequências, teria potencialidades anticapitalistas, não tem sustentação histórica. Senão, vejamos.
Três exemplos são suficientes para encorpar essa perspectiva. Primeiro, a política de nacionalizações efetuadas pela social-democracia no Welfare State teve um caráter essencialmente conservador. Elas incidiram, fundamentalmente, em setores da economia sem a capacidade de oferecer lucros em curto e médio prazo, atuando na transferência de valor para o setor privado da economia, garantindo, assim, preços subsidiados para os grandes monopólios e socializando os custos da reprodução social entre as classes trabalhadoras e camadas médias. A produção e apropriação da riqueza socialmente produzida permaneceram, sem qualquer sinal de ameaça, nas mãos do capital:
“A despeito dessas variações, a filosofia geral da propriedade estatal é amplamente compartilhada: os socialdemocratas estão comprometidos com o livre mercado sempre que possível, e com a propriedade pública quando necessário. Caracteristicamente, as empresas estatais estão limitadas às instituições de crédito, industriais de carvão, ferro e aço, produção e distribuição de energia, transporte e comunicações. Fora desses setores, apenas as companhias ameaçadas de falência e, portanto, de redução do emprego, passam para o controle público. Os casos de envolvimento do Estado na produção e venda de bens de consumo finais são raríssimos, limitando-se, aparentemente, à indústria automobilística. O Estado dedica-se às atividades econômicas que são necessárias para a economia como um todo, e vende seus produtos e serviços principalmente a empresas privadas. Estas, por sua vez, vendem aos consumidores. Assim, o Estado não concorre com o capital privado, e fornece os insumos necessários para o funcionamento rentável da economia como um todo” (PRZEWORSKI, 1991, p. 56) [7].
A teoria econômica keynesiana, fundamentação da política econômica social-democrata, propugnava ação estatal na regulação da economia, indução de “políticas de desenvolvimento” e atuação estatal na regulação do consumo e mercado de trabalho, mas com total respeito à propriedade privada dos meios de produção, mercantilização da força de trabalho e apropriação privada do excedente econômico (mais-valor).
Na política social, existem diversas construtos teóricos sobre o Estado de bem-estar social ser responsável pelo fim da desigualdade de classes e da miséria e também sobre conseguir proporcionar a total universalização do acesso à saúde, educação, moradia etc. colocações que não se sustentam a partir de uma análise mais qualificada das condições de vida da classe trabalhadora nos “30 anos dourados” do capitalismo [8].
Em 1958, na Inglaterra, 2,5 milhões de pessoas (contingente formado essencialmente por trabalhadores) não possuíam água encanada, 3 milhões não tinham banheiro em suas residências e 6,5 milhões sequer onde tomar banho (LESSA, 2013, p. 42). Em termos educacionais, segundo dados compilados por Ralph Miliband, a classe dominante e as camadas médias compunham 56% dos estudantes do ensino superior: esse índice subia para 80% nos estados mediterrâneos e na Alemanha Federal, o número de universitários oriundos das classes trabalhadoras nunca ultrapassou 6% (LESSA, 2013, p. 47). Caso seja feito um recorte analítico específico, focando nos imigrantes, minorias nacionais e trabalhadores dos setores com as remunerações mais baixas da economia, os índices são muito piores.
Evidentemente, um trabalhador médio europeu na época do Welfare State vivia melhor que um asiático, africano ou latino-americano, mas, apesar dessa afirmação inquestionável, não devemos perder de vista a filosofia intrinsecamente conservadora – que visava evitar o perigo soviético e realizar uma política social desmobilizadora que em nada afetasse a acumulação de capital – das políticas sociais estabelecidas nesse período, como deixa claro William Beveridge, autor do famoso “Relatório Beveridge”:
“A linha divisória entre independência e dependência, entre o eficiente e o inimpregável deve se tornar mais clara e maior (…) [Estes, os inimpregáveis] devem se tornar os reconhecidos dependentes do Estado, afastados da livre indústria e adequadamente mantidos em instituições públicas, mas com uma completa e permanente perda de todos os direitos da cidadania, incluindo não apenas o direito ao voto, mas também as liberdades civis e a paternidade” (BEVERIDGE apud, LESSA, 2013, p. 108).
A filosofia de Beveridge não foi aplicada com esse nível de radicalismo devido às lutas da classe trabalhadora, mas o seu sentido geral não foi alterado. A democratização do Estado, último aspecto que iremos discorrer no balanço sobre a social-democracia, será tratado mais sumariamente porque pretendemos, posteriormente, abordar a questão do Estado e do processo de dominação política com maiores detalhes. Cabe dizer que a despeito da vigência de vários direitos democráticos institucionalizados e parcialmente respeitados – direito ao voto, a dita liberdade sindical e de imprensa etc. – os centros estratégicos do poder, isto é, aqueles aparelhos do Estado que concentram a capacidade de formulação e execução das políticas decisivas (governo central, ministério da justiça, suprema corte, Forças Armadas, ministérios de condução econômica etc.) continuaram sob o firme controle da classe dominante.
Um excelente exemplo é o destino dos comitês de socialização que foram criados a fim de estudar medidas de socialização progressiva da economia rumo ao socialismo por vários partidos social-democratas. O comitê britânico foi breve, e o governo de Lloyd George ignorou solenemente suas reivindicações; na Alemanha, o primeiro comitê renunciou e depois foi fechado. Na Suécia, o comitê, depois de dezesseis anos de trabalho, extinguiu-se sem qualquer recomendação acatada. O balanço desses comitês é um retumbante fracasso (PRZEWORSKI, 1991).
Além disso, na Itália, o Partido Comunista foi proibido de chegar ao governo central durante décadas em decorrência de uma articulação entre a democracia cristã, a classe dominante nacional e o imperialismo estadunidense, contando para isso com mecanismos legais e ilegais de “guerra suja” [9]; na Alemanha Federal foi aprovado em 1950 o Decreto contra os rechaçados como inimigos da constituição, proibindo assim os comunistas de serem funcionários públicos e pondo na ilegalidade dez de suas organizações. Em 1956 o PC alemão é tornado ilegal [10] e em 1972 o governo socialdemocrata de Willy Brandt lança o “Decreto contra os Radicais” sujeitando a exame de lealdade à constituição qualquer candidato a cargo público [11]; na França, especialmente depois de 1954, foi montado um gigantesco sistema de tortura e vigilância interna centrados especialmente em torno da D.S.T (polícia secreta francesa), com aplicação de repressão em massa (criando o famoso “método francês” de tortura) [12].
Para concluir, não é verdade que o Welfare State garantiu melhores níveis de vida aos trabalhadores que o socialismo soviético. É evidente que o critério de análise da qualidade de vida define a conclusão a se chegar. Utilizando como fundamento de análise a quantidade e a qualidade de bens de consumo, o Welfare State era, sem dúvida, superior ao socialismo soviético, porém, considerando como critério central o acesso aos bens de consumo coletivo como saúde, educação, cultura, lazer, moradia, direitos trabalhistas [13] etc., e também que a URSS não praticava o colonialismo [14], a superioridade do país nascido da Revolução de Outubro é incontestável. Como bem pontua Lessa (2013, p. 175) “as iniciativas soviéticas voltadas aos ‘mais carentes’ são imbatíveis no confronto com qualquer dos denominados Estados de Bem-estar social. Estas realizações, em seu tempo, foram empregadas com grande sucesso na propaganda do regime soviético”.
Podemos, didaticamente, com objetivo expositivo, compreender três níveis de incidência das lutas de classes na produção material da vida: relações de produção, padrão de reprodução do capital e política econômica. Historicamente, a classe trabalhadora sob a social-democracia conseguiu atuar no nível de política econômica e em menor medida, no padrão de reprodução do capital, mas não transformou radicalmente as relações de produção. A propriedade privada dos meios de produção, a mercantilização da força de trabalho e a apropriação privada da riqueza socialmente produzida conformam o fundamento ontológico das relações de produção capitalistas; a depender da posição do país na acumulação capitalista mundial, as relações de produção podem assumir a forma de um padrão de reprodução neoliberal ou de bem-estar social, tomar uma política econômica ortodoxa ou keynesiana etc. A construção de direitos como a regulamentação da jornada de trabalho vai contra o interesse dos burgueses tomados individualmente, e a depender da conjuntura inviabiliza uma acumulação com taxas de lucros satisfatórias num determinado padrão de reprodução do capital, porém, não põe em ameaça a existência de acumulação capitalista (MASCARO, 2014).
A dialética entre “transformação” da forma e conservação do conteúdo, caso não tenha sua devida relevância observada, acaba tomando mudanças importantes como fundamentais. A resistência encarniçada que a classe dominante impõe a essas conquistas pode ser explicada através da compreensão de que os trabalhadores atuando enquanto classe na busca por essas vitórias imediatas podem transcender a lógica do capital e ameaçar as relações de produção dominantes (LUXEMBURGO, 2011). A importância da luta por direitos não está localizada, centralmente, na potencialidade anticapitalista de sua lógica, mas na capacidade política e ideológica do proletariado, por meio de seu movimento, de negar o capital e buscar superá-lo. Dessa forma, a virada político-estratégica das classes dominantes que passaram a operar a destruição do Estado de bem-estar social a partir dos anos 70 não significa a contradição irreconciliável entre os direitos, a cidadania – típicos de alguns poucos países centrais do capitalismo – e a acumulação do capital, visto que a questão primordial foi: alterar o padrão de reprodução buscando superar, por meio de uma perspectiva do capital, a crise capitalista.
Nesse ínterim, chegamos ao chamado eurocomunismo. Esse movimento dizia respeito a um conjunto de formulações teóricas e de prática política dos partidos comunistas da Itália, França e Espanha que buscaram formular conjuntamente uma alternativa à social-democracia e ao socialismo soviético – denominado comumente de stalinismo. Embora estivessem unidos nessa iniciativa, as diferenças entre esses PC’s eram bem maiores do que uma leitura superficial pode captar [15]. Centrando nos impasses e desfecho da experiência eurocomunista e abstraindo-se das gigantescas diferenças entre os PCs, podemos dizer que o eurocomunismo foi:
“(…) Um conjunto de propostas que priorizava o momento histórico nacional como o terreno onde se edificaria a estratégia e sobre o qual se desenrolaria as ações políticas e as lutas concretas. O partido se inclinava para a ampliação de sua legitimidade político no conjunto da vida nacional, o que significava a expansão das alianças para além dos setores revolucionários, conformando, assim, uma estratégia política que concebia a questão eleitoral e parlamentar como momentos privilegiados – tático-políticos – para tal expansão. Ela se daria por um salto qualitativo do partido junto às massas (…) possibilitando a participação do partido na vida parlamentar e mesmo no governo, agregaria a sua estratégia elementos políticos democratizantes e reformadores da sociedade capitalista (…). As reformas passaram a ser compreendidas como momentos políticos que promoviam avanços graduais e permitiam um acúmulo de forças sociais, necessários à construção do processo revolucionário. A própria ideia de revolução ganhava com o eurocomunismo a noção de processualidade, o que compreendida a conquista de vitórias parciais – no parlamento, no governo, na institucionalidade burguesa – que reforçariam a possibilidade da revolução” (BRAZ, 2011, p. 251 – grifos no original).
Ressurge, sob novas formas, o mesmo impasse social-democrata: o eurocomunismo, na busca meritória e indispensável por uma via nacional ao socialismo e recusando transplantes mecânicos de diretrizes soviéticas à luta política nacional, levou o enfraquecimento do internacionalismo proletário quase ao limite e para a compreensão das realidades nacionais utilizou uma perspectiva entificada que desconsiderava o papel dos países de centros consolidados como a França, ou intermediários como Espanha e Itália, na acumulação mundial do capital [16]. Além disso, apesar de suas formulações teóricas serem qualitativamente melhores que as da social-democracia, as noções de uma capacidade ilimitada de democratização do Estado, transformação via processos eleitorais e transição progressiva ao socialismo, também reapareceram.
Em suma, os termos centrais do debate social-democrata entre o fim do século XIX e o início da primeira guerra, como demonstrados por (PRZEWORSKI, 1991, p.19-67), ressurgem no eurocomunismo, em alguns casos com maior radicalidade e consistência teórica como no PCI, e em outros, com as mesmas debilidades tradicionais e crivado de gigantescas ambiguidades como no Partido Comunista Espanhol [17]. O eurocomunismo em sua “intenção de ruptura” com a social-democracia não conseguiu superá-la em número de votos e competividade eleitoral, a “centralidade das reformas democráticas preconizada não se converteu em luta revolucionária” (BRAZ, 2011, p. 267) e com a derrubada da União Soviética, a crise quase terminal do movimento comunista também atingiu os partidos que mais buscavam se diferenciar do PCUS: foi o fim do eurocomunismo.
A falência completa do reformismo dos PC’s eurocomunistas, embora não deslegitime sua intenção de renovar a estratégia socialista, mostra equívocos nas respostas teóricas e práticas aos problemas colocados. A despeito de todas as diferenças com a social-democracia, o eurocomunismo e as várias propostas de transição democrática ao socialismo, há algo em comum entre elas: uma particular concepção de Estado e do processo de dominação política que será, a seguir, objeto de análise.
[1] “Em novembro de 1872 […] tem lugar uma ampla reunião de delegados dos governos da Alemanha e da Áustria-Hungria para definir a luta contra a Internacional, buscar soluções ao problema social e desenvolver os rudimentos de um Estado providente, preocupados pela sorte das classes despossuídas […] Na reunião citada de novembro de 1872 são apresentadas uma série de propostas para regulamentação estatal do descanso dominical, a limitação do trabalho industrial das mulheres, a indenização por acidentes, a criação de oficinas de trabalho, a introdução de inspetores de fábrica segundo modelos ingleses, a criação de instituições educativas para trabalhadores, a reforma do sistema habitacional, a criação de seguros de enfermidade e invalidez e a instituição de tribunais de arbitragem e conciliação” (GONZÁLEZ GARCÍA apud COSTA, 2011, p. 56).
[2] Como Losurdo (2015, p. 156) bem registra, Marx e Engels já compreendiam o perigo da dialética entre expansão colonial e aburguesamento do operariado: “já em 1858, Engels não só constata amargurado que o ‘proletariado inglês se aburguesa cada vez mais’, mas acrescenta: ‘afinal, isso é de alguma forma compreensível para uma nação que explora o mundo inteiro’. Cinco anos depois, ele amplifica: ‘do proletariado inglês toda energia revolucionária é quase desaparecida e ele declara-se completamente de acordo com o domínio da burguesia’”. Continua Losurdo: “citei duas cartas de Marx, que chegam às mesmas conclusões: longe de solidarizar com o trabalhador irlandês – ele observa em 1870 -, ‘o operário inglês comum […] percebe a si mesmo como membro da nação dominante […]. Sua atitude é muito parecida à dos brancos pobres em relação aos negros nos velhos estados escravistas dos Estados Unidos”.
[3] Lênin, sobre a questão nacional e colonial, no II Congresso da IC, em 5 de julho de 1920, diz o seguinte “Das teses fundamentais acima expostas decorre que na base de toda a política da Internacional Comunista na questão nacional e colonial deve ser colocada a aproximação dos proletários e das massas trabalhadoras de todas as nações e países para a luta revolucionária comum pela derrubada dos latifundiários e da burguesia. Pois só tal aproximação garante a vitória sobre o capitalismo, sem a qual é impossível suprimir a opressão e a desigualdade nacional” (LÊNIN, 2017, p. 435).
[4] “A União Soviética e os partidos aliados a ela desempenharam um papel crucial na formação política e ideológica dos quadros do movimento [de libertação africana], tendo sido crucial em Moscou no ano de 1930, a escola de Stálin, intuindo preparar quadros marxistas. As repercussões da crise econômica que sacudiam o mundo possuíam uma natureza favorável à tarefa do movimento anticolonial […] Após ter traçado os mecanismos e as vias para colaboração com os movimentos anticolonialistas, o mundo socialista engajou-se em um programa de apoio ativo à descolonização da África, sob a forma de uma assistência material e diplomática, oferecida em conformidade com o princípio do marxismo-leninismo, segundo o qual, o mundo socialista deveria ajudar àqueles que aspirassem à descolonização […] A URSS assinou acordos com cerca de quarenta países africanos. Um das mais interessantes dimensões desta cooperação dizia respeito ao ensino e à pesquisa: formação de quadros africanos na URSS, envio de professores e pesquisadores soviéticos às universidade e centros de pesquisa africanos. Aproximadamente 30.000 africanos formaram-se no sistema soviético de ensino superior” (THIAM; MULIRA; WONDJI, 2010, p. 968-970).
[5] “Na verdade, a Internacional Socialista não se aventurava na América Latina, considerada por ela o quintal dos Estados Unidos. “Não me recordo de textos condenando a deposição de Jacobo Arbenz na Guatemala, em 1954”, afirma Antoine Blanca, na época membro da Secretaria de Relações Exteriores da Seção Francesa da Internacional Operária (Sfio). “Dez anos depois, quando pedi a palavra para denunciar a intervenção da Marinha norte-americana em Santo Domingo, Guy Mollet esbugalhou os olhos!” Sem voltar demais no tempo, lembramos que, fundado em 1933 por Salvador Allende, o Partido Socialista (PS) chileno recusou-se a se filiar à IS, criticando suas “posições conformistas no seio do sistema democrático burguês capitalista”. Já em 1959, a Revolução Cubana tinha colocado o anti-imperialismo no centro dos debates. Mas isso sem grandes consequências para a IS, que deu uma olhada interessada, mas ao mesmo tempo muito distante” LEMOINE, Maurice, 2012, edição 54 da revista Le Monde Diplomatique.
[6] “Apesar dos esforços de Lênin, Gramsci, Mariátegui, entre outros, em formular e aplicar o quadro teórico marxista para a questão étnica, nacional e colonial, uma série de conflitos e resistências internas no movimento comunista de diversos países em adotar uma posição progressista devem ser aqui relembrados. Esta resistência em aplicar as determinações teóricas e políticas de Moscou gerou, de um lado, uma crise que terminaria com a expulsão de diversos líderes dos partidos comunistas dos países em questão; de outro lado, provocou um atraso na avaliação teórica e na atuação política sobre a questão racial nesses países. O problema se manifestava especialmente naquelas regiões em que o domínio colonial já se havia consolidado desde algum tempo. Estes eram os casos da Indonésia, definitivamente subordinada ao império colonial holandês em 1830;da Argélia, colônia francesa a partir de 1833; da Índia, possessão britânica desde1849; e dos territórios portugueses na África. De uma forma geral, a posição oficial dos PC’s nestes países era, no mínimo, contraditória. Contraditória com preceitos teóricos do marxismo, mas, sobretudo, com os princípios de integração à III Internacional Comunista. Evitava-se, nestes partidos, atacar o colonialismo, chegando mesmo a justificá-lo com o argumento de “missão civilizatória”, incluindo nesta missão o socialismo – ou seja, a independência das colônias só poderia vingar desde que liderada pelo comunismo das metrópoles” (CHADAREVIAN, 2007, p. 17-18).
[7] “O relatório também deixa claro que não deve haver retorno a modelos antigos de nacionalização que foram adotados após a Segunda Guerra Mundial. Eram indústrias estatais destinadas principalmente a modernizar a economia e fornecer indústrias básicas para subsidiar o setor capitalista. Não havia democracia nem contribuição dos trabalhadores [na direção] das empresas estatais e certamente nenhuma integração em qualquer plano mais amplo de investimento ou necessidade social. Este foi o chamado “modelo de Morrison”, batizado em homenagem ao líder trabalhista de direita Herbert Morrison, que supervisionou as nacionalizações do pós-guerra no Reino Unido” (tradução nossa) – ROBERTS, Michael. Modelos de propriedade. Acessado em 20/03/2018. Disponível em: http://www.socialisteconomist.com/2018/02/models-of-public-ownership.html?m=1
[8] Sobre as ideologias em torno do período histórico do Estado de bem-estar social, conferir a obra de Lessa (2013, p.11-28).
[9] Um exemplo da política da classe dominante na Itália: “(…) Entrava em cena do Reparto Celere, uma espécie de polícia especializada na repressão às manifestações políticas e no combate aos movimentos sociais progressistas – um aparelho coercitivo do Estado italiano dirigido com mão de ferro pelo ministro do interior, Mario Scelba, que acabou por se transformar numa instituição estruturada como uma máquina repressiva responsável pelo aniquilamento de um suposto ‘inimigo interno’” (MONDAINI, 2001, p. 111).
[10] Cabe pontuar que vários pensadores do “socialismo democrático”, incluindo Carlos Nelson Coutinho, escreveram muito para estimular a esquerda a respeitar as “regras do jogo”, mas pouca atenção dedicaram a estudar “que jogo” estava posto. Um exame detalhado dos mecanismos constitucionais para impedir a conquista do governo pelas organizações dos trabalhadores foi realizado por Domenico Losurdo em seu Democracia ou Bonapartismo: triunfo e decadência do sufrágio universal (2004). O limite da análise losurdiana é abordar especialmente o século XVIII e XIX e dedicar pouca atenção ao fenômeno contemporâneo.
[11] Informações disponíveis no site Deutsche Welle. Acessado em 20/03/2018. Disponível em: http://www.dw.com/pt-br/1950-decreto-contra-inimigos-da-constitui%C3%A7%C3%A3o/a-955333
[12] “O Estado de bem-estar social francês elevou a tortura a uma nova patamar que correspondia à nova função, a de ‘engenharia social’, para a qual ‘a subversão não é mais o problema. Destruir e inserir o medo no nativo o é” (Lazreg, 2008: 56). “Tal técnica e tal função social da tortura são até hoje conhecidas como o “método francês” e é a preferida desde a Argélia até Guantánamo, passando por Israel e as nossas ditaduras latino-americanas” (LESSA, 2013, p. 153).
[13] “Nenhuma sociedade tinha até então elevado o nível de vida e o consumo para toda a população tão rapidamente e num período de tempo tão reduzido. O emprego era garantido. A educação gratuita era acessível a todos, dos infantários às escolas secundárias (gerais, técnicas, profissionais), universidade e escolas pós-laborais. Havia um serviço de saúde gratuito para todos, com cerca de duas vezes mais médicos por pessoa do que nos Estados Unidos. Os trabalhadores sofriam acidentes ou doenças tinham assegurado e baixa médica paga. Em meados da década de 1970, os trabalhadores gozavam em média de 21, 2 dias úteis de férias [….] O Estado regulava os preços e subsidiava os custos de alimentação básica e habitação. As rendas constituíam 2% a 3% do orçamento familiar, a água e os serviços públicos apenas 4% a 5% […] Segundo a UNESCO os cidadãos soviéticos liam mais livros e viam mais filmes do que qualquer outro povo do mundo” (KEERAN, KENNY, 2008, p. 12-13).
[14] É inegável a postura imperial da política externa soviética frente ao bloco socialista, considerando-se a única líder por direito, tratando os países do Leste Europeu como sua zona de segurança; ao mesmo tempo, também consideramos inegável que a URSS não usava esses países como sua periferia econômica e muito menos os regimes nacionalistas em África e Ásia. O papel da URSS era, ao contrário, realizar a maior transferência do século XX de crédito, tecnologia e recursos financeiros. Os dados sobre a ajuda econômica da URSS a esses países podem ser encontrados em (PAULINO, 2010, p. 68-78).
[15] “A expressão eurocomunismo não nasce das fileiras do movimento comunista, mas sim das páginas de um órgão da chamada imprensa burguesa. De fato, ela aparece pela primeira vez no cenário político internacional em 26 de junho de 1975, num artigo escrito no periódico milanês Giornale Nuovo pelo jornalista Frane Barbieri, iugoslavo exilado na Itália desde o início dos anos setenta. Com o novo termo, revelava-se a preocupação em definir de forma mais precisa a crescente confluência existente entre alguns partidos comunistas da Europa Ocidental, em torno de uma série de princípios capazes de construir uma concepção de sociedade socialista apropriada aos países europeus, marcados pela existência de um capitalismo desenvolvido com uma economia de mercado razoavelmente sólida (…) Então, as elaborações particulares realizadas por estes partidos comunistas do Ocidente europeu – as quais giravam ao redor da busca independente de uma série de ‘vias nacionais’ ao socialismo – acabam por convergir para a afirmação de uma proposta de dimensões bem maiores, isto é, uma via que contemplasse uma parte significativa do continente europeu, uma ‘via européia’ ao socialismo”. MONDAINI, Marco. Há trinta anos, o eurocomunismo. Acessado em 20/03/2018. Disponível: http://www.acessa.com/gramsci/?id=535&page=visualizar
[16] “Para Mandel, o eurocomunismo é resultante de processos históricos que fizeram parte da trajetória do movimento comunista internacional. Assenta-se em três raízes históricas que lhe emprestam identidade e o explicam: uma tendência à social-democratização, portanto, ao reformismo; uma adaptação nacional da política de coexistência pacífica; e uma forma de atualização da “estratégia de esgotamento” de Kaustky. Está última se expressava no eurocomunismo na estratégia que apregoava uma espécie de transformação gradual do capitalismo, a partir da realidade nacional das relações capitalistas. Renunciava-se aí ao internacionalismo da luta revolucionária, a partir de uma excessiva centralização das estratégias no contexto nacional, exatamente quando o capitalismo – e, portanto, as lutas de classes – aproximava-se de sua fase mais radicalmente internacionalizada, gerando formas de expansão do capital mais mundializadas” (BRAZ, 2011, p. 268 – gritos no original).
[17] “(…) Quanto ao PCE, parecia se confirmar na sua experiência concreta que a autenticidade e a propriedade da via reformista cabia, como sempre coube, à social-democracia, que em sua renovação no país conseguiu vencer em todas as frentes comum combate com os comunistas espanhóis, do movimento sindical às eleições gerais. Ademais, a mão de ferro do antissoviético e antistalinista Santiago Carrilho – secretária-geral do PCE e autor do livro Eurocomunismo e o Estado (Rio de Janeiro/São Paulo: Difel, 1978)- não permitia ao partido traduzir internamente as posições renovadas que defendia para a sociedade (BRAZ, 2011, p. 267).
BIBLIOGRAFIA:
BRAZ, Marcelo. Partido e Revolução – 1848-1989. São Paulo: Expressão Popular, 2011.
CHADAREVIAN, Pedro Caldas. Os precursores da interpretação marxista do problema racial In São Paulo: Boitempo Editorial, Revista Crítica Marxista, n° 24, p.73-92, 2007.
COSTA, Sílvio. Ensinamentos da Comuna de Paris In PINHEIRO, Milton (org.). 140 anos da Comuna de Paris. São Paulo: Outras Expressões, 2011.
GRAMSCI, Antônio. Cadernos do cárcere – Maquiavel: notas sobre o Estado e a política. Volume 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
______. Cadernos do cárcere – Maquiavel: notas sobre o Estado e a política. Volume 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
KEERAN, Roger; KENNY, Thomas. O socialismo traído: por trás do colapso da União Soviética. Lisboa: Editora Avante!, 2008.
LÊNIN, V. I. Lenin e a revolução de outubro: textos no calor da hora (1917-1923) (org.)
NETTO, José Paulo. São Paulo: Expressão Popular, 2017.
____. Imperialismo, etapa superior do capitalismo. São Paulo: Expressão Popular, 2012.
LESSA, Sergio. Capital e Estado de bem-estar social: o caráter de classe das políticas públicas. São Paulo: Instituto Lukács, 2013.
LOSURDO, Domenico. Luta de classes: uma história política e filosófica. São Paulo: Boitempo Editorial, 2015.
______. Liberalismo. Entre a civilização e a barbárie. São Paulo: Anita Garibaldi, 2006.
LUXEMBURGO, Rosa. Obras escolhidas volume II. São Paulo: Unesp, 2011.
MASCARO, Alysson Leandro. Estado e forma-política. São Paulo: Boitempo Editorial, 2014.
MONDAINI, Marco. Do stalinismo à democracia: PalmiroTogliatti e a construção da via italiana ao socialismo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2011.
PAULINO, Robério. Socialismo no século XX. O que deu errado? São Paulo: Letras do Brasil, 2010.
PRZEWORSKI, Adam. Capitalismo e social-democracia. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.

lavrapalavra.com
04
Ago18

A MÃO POR DETRÁS DOS AFECTOS

António Garrochinho



arcelo Rebelo de Sousa resolveu devolver à Assembleia da República um decreto que tinha por finalidade garantir aos arrendatários o direito de preferência em caso de compra dos imóveis por inteiro. Tudo isto surge numa altura em que decorre um negócio que, caso a lei venha a entrar efectivamente em vigor, pode ficar em risco: trata-se da operação de venda de 277 imóveis da companhia de seguros Fidelidade a um fundo de investimento norte-americano (Apollo), operação na qual a Fidelidade se tem negado a dar a devida preferência a cada um dos inquilinos sobre a respectiva fracção. Enquanto a lei vai, volta e não entra em vigor, lá vão folgando as costas, dando tempo precioso à consumação da negociata.

O presidente tem à sua mão um conjunto de sapientíssimos conselheiros. Esses assessores “técnicos” determinam ou influenciam, naturalmente, as decisões a tomar, pois é para isso que lá estão. O problema coloca-se quando um desses conselheiros aparenta ter, directa ou indirectamente, interesses óbvios na opção tomada. Para este caso concreto, a mão que se esconde por detrás dos afectos é, segundo o Jornal Económico, Miguel Nogueira de Brito. De acordo com o artigo, o conselheiro de Marcelo «é sócio da sociedade de advogados Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados (MLGTS), a qual tem como clientes sociedades de investimento como a Apollo Global Management ou a Oaktree Capital, entre outras gestoras de fundos de investimento imobiliário».

Confrontado pelos jornalistas acerca do hipotético conflito de interesses, Marcelo respondeu à questão de forma contraditória, apressada, esquiva e leviana. Não negando a intervenção de Nogueira de Brito, justificou-se dizendo ter-se tratado de uma “decisão solitária” e por razões “políticas”. Foi uma espécie de "ele aconselhou mas eu não liguei ao conselho". Ele "disse mas foi como se não tivesse dito". Qualquer coisa como "é proibido, mas pode-se fazer". A razão “política”, onde cabe tudo e um par de botas, é invocada para selar a impertinência da dúvida. E se isso pode bastar à oficialidade, não pode de modo algum silenciar quem ousa – e bem – questionar.

Não há afecto, «dab» ou dancinha patética que disfarce a urgência do escrutínio. Há um grande negócio entre colossos financeiros prestes a concretizar-se penalizando o elo mais fraco, que são os inquilinos. Se tal se concretizar durante o tempo que vai demorar até à aprovação do decreto, a negociata passa a ter o patrocínio oficioso de Belém. E Marcelo, como qualquer outro agente político, tem de ser responsabilizado pelo que faz, pelo que não faz ou pelo que deixa fazer.







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04
Ago18

Da crise atual à próxima crise, sinais de alarme – Como o fascismo faz de todos nós uns imbecis

António Garrochinho


Como o fascismo faz de todos nós uns imbecis

E o que fazer sobre isso antes que ele o faça 

Por Umair Haque





No final, se deixarmos, os fascistas farão de todos nós uns imbecis. É um enigma estranho e macabro. Poderá ser resolvido – poderemos pará-lo? Primeiro, deixem-me ilustrar um pouco esta questão.

O esquerdista olha ao redor, perplexo, após a ruína de uma nação, e pergunta-se: “Estaria errado em querer um estado forte e robusto? Ah, o que eu fiz!”. Ele vê as instituições que outrora defendeu pervertidas, viradas do avesso. Instituições do Estado Providência que tinham como objetivo oferecer o bem-estar tornaram-se, em vez disso, instituições da opressão. Os exércitos passaram a subjugar em vez de libertar. Os tribunais acham os culpados inocentes e os inocentes culpados. E aqueles que em tempos protegeram a liberdade e a prosperidade, em vez disso, protegem agora a obediência, a indecência e a subjugação. E aí o pobre esquerdista fica, perplexo, feito tolo, à medida que os fascistas usam a lei, a justiça e a governança como instrumentos de ruína e atrocidade. Ah, para que serve um estado maior se o fascista não o utilizará mais do que um dia para o transformar numa ferramenta muito mais poderosa?
Aí, ao lado dele, está o conservador, chocado com a queda da sua nação. Ele grita: “Ah! Como eu estava errado! Se ao menos eu próprio não tivesse apelado à destruição da governança, então talvez o fascismo não tivesse surgido no vácuo deixado atrás deles!” Ele olha em volta e vê um Estado, um governo, instituições, que, desgastadas, corroídas, desmanteladas, foram para a maré fascista o que um dique recentemente arrasado representa para um tsunami. Ele pergunta-se: porque é que eu estava errado? Deveria ter apoiado um estado mais forte, um governo maior? Se a conservação daquilo que se herda, dos valores e ideais resulta apenas na elevação do puro que faz de uma sociedade uma máquina de predação sobre o impuro, então para que serve aquilo a que chama conservadorismo? O que é que na verdade ele conserva se não o pior que há em nós?
Ao lado de ambos está o fantasma da história, a rir-se. Ele sussurra: “nunca se tratou de ser o grande contra o pequeno. Mas sobre o melhor e o pior. Sobre a dignidade, a verdade, o respeito e o possível. Sobre maneiras corretas ou erradas de organizar e ordenar as coisas. A vossa luta nunca importou em nada.” Mas eles não o ouvem. Eles estão assombrados pelos seus próprios erros.
Ao lado do conservador e do liberal senta-se o intelectual. Segurando o seu caderno de notas, com os olhos arregalados, com o seu rosto fantasmagoricamente pálido. Ele escreve uma frase, e depois risca-a. “Mas como é que isto pode ter acontecido?“, murmura ele. “As minhas equações diziam que estava tudo bem!” Ele não vê que os seus factos e dados foram construídos para medir a ascensão de uma sociedade – não a queda de uma sociedade. E assim ele nunca pensou que o crescimento continha massas de desesperados, dificilmente capazes de sobreviverem, vivendo à beira de um precipício, e assim demasiado disponíveis para se virarem para o primeiro demagogo que lhes gritava, que os fazia sentirem-se fortes e seguros, novamente. E melhor ainda se esse demagogo toma como bode expiatório o estrangeiro, o outro, o fraco, o ninguém – porque quem seria mais fácil pisar, para se ganhar um sentimento de superioridade?
Assim, aí está ele sentado, o intelectual, intrigado sobre um enigma que ele nunca vai resolver – porque os factos, os dados, as equações, tudo isso é cego em face da escuridão ardente que queima o coração dos homens.
Ao lado do intelectual sentam-se duas figuras desamparados. Eles são os líderes das alas esquerda e direita do país que uma vez se chamou um país livre. Eles olham um para o outro, mas os seus olhares não se cruzam, envergonhados. Somente cada um sabe o fardo que pesa sobre o outro que o envia para as profundezas do desespero. “Ah“, ambos pensam, amargamente, com um profundo arrependimento, “se eu tivesse constituído uma genuína oposição! Uma oposição de verdade! Uma verdadeira visão para uma sociedade dilacerada, destruída, em que as pessoas poderiam ter acreditado, de novo, que poderia ter unido as pessoas, que as poderia ter estimulado e despertado! Mas desperdicei todo o meu tempo e energia em indignação, na cólera, a tentar envergonhar os que não têm nenhuma vergonha. Ah, que erro que eu cometi!
O seu colega responde, tristemente, “nós não sabíamos então que o que estávamos a fazer era apenas a alimentar o espetáculo fascista – porque cada onça de raiva que lhe demos apenas alimentou o mito de que ele era forte, transgressor, e bastante ousado para corrigir uma sociedade destroçada. Mas por que não fomos nós fortes e ousados? Porque nunca oferecemos às pessoas um melhor contrato social, porque nunca virámos a maré contra o fascismo, em vez de estar a alimentá-lo?” E ambos olham um para o outro, entorpecidos, quebrados, derrotados.
Por último, ao lado deles, senta-se o jornalista. “Mas eu disse a verdade! Porque é que ninguém a ouviu?! “, diz o jornalista a chorar, embora ninguém mais o ouça. Todos eles estão agora a marchar ao som do tambor fascista. No entanto, ele não ouve a História a rir, e gentilmente a perguntar-lhe: “Ah, mas quando você chamou às mentiras “falsidades ” e ao fascismo “nativismo” e aos campos de concentração “centros de detenção” e ao desaparecimento de crianças “vergonhoso”, em vez de crime, foi isso realmente a verdade? Quando você se recusou a fazer paralelos com os períodos mais sombrios da história, para ensinar às pessoas o que foram a Gestapo e a Stasis, de quão rapidamente a escuridão caiu pela última vez, era isso realmente um qualquer tipo de verdade – ou apenas a arrogância, orgulho, arrogância de ‘não pode acontecer aqui’? Não é a verdade algo de mais preciso, algo que se assemelhe mais com como usar as palavras mais precisas e as histórias que conhecemos? Aquelas que contêm a plenitude da experiência humana dentro delas?
… E assim, quando você se recusou a chamar as coisas pelo que elas eram, você não facilitou a vida aos fascistas para eles se erguerem, também, dando-lhes uma licença para continuar a tapar a verdade, para perverter a realidade, para chamar a decência de indecência e a justiça de injustiça? Teriam eles podido fazer isso se você tivesse realmente avisado toda a gente das histórias que a história nos conta, usando palavras que ecoam pela história — como ‘genocídio’, como ‘colapso’, como ‘campos’ e ‘atrocidade’ e ‘ruína’ — com a força e o sofrimento dos séculos? ” Mas o jornalista não a ouve. Ele está muito ocupado implorando para ser ouvido, com palavras que não significam nada, e nunca significaram.
E lá estão as pessoas. Algumas delas estão assustadas. Algumas delas estão orgulhosas. Algumas delas estão dormentes. Algumas delas estão derrotadas. O pior que havia entre eles triunfou e os fracos estão a começar a perecer. No entanto, ninguém ainda, mesmo aqueles que se preocupam e se questionam sobre o que ainda está para vir, resolveu este grande e terrível enigma.
Se o fascismo acaba por fazer de todos nós uns imbecis, então como é que é melhor derrotá-lo? A resposta está escondida à vista de todos nós. Para admitir a nossa loucura agora mesmo- assumir a responsabilidade, fazer um balanço de tudo isto, aceitar a responsabilidade por isso mesmo -e acreditem-me, há mais do que suficiente para seguir em frente, sejamos intelectuais, jornalistas, políticos, académicos ou ativistas. Para enfrentarmos as nossas próprias fraquezas. Os erros que cometemos, as injustiças que fizemos ao outro, as pequenas traições que cometemos, e as pequenas queixas que alimentámos. Sejam eles intelectuais, políticos, morais ou sociais. O fascismo acaba por fazer de nós uns imbecis – e por isso devemos admitir a nossa loucura demasiado humana em primeiro lugar, devemos imediatamente apagá-la antes que ele tenha uma chance de se inflamar. Antes de que o fascista vire a cara e ridicularizando-nos grite então: -“fraqueza! É a coisa mais desprezível de todas! Eliminem os fracos! “— e antes que tenhamos dado conta estamos agarrados à garganta um do outro.
Se, mesmo agora, nós podemos fazer isso – deixemos que as nossas fraquezas nos conduzam, nos ensinem, nos instruam e nos guiem em direção a tudo que é bom e nobre e verdadeiro em nós, a seguir haverá então uma esperança. Mas se não o pudermos fazer, então não há nada além de desespero e de ruína no nosso futuro. Porque a verdade é esta. O enigma do fascismo tem apenas uma boa resposta, mas milhões de respostas impensáveis.

O autor: Editor de Bad Wordsa book of nightsEudaimonia and CoLeadership in the Age of Rage, e eudaimonia. Escreve sobre Economia, Liderança, Política, Cultura e outros temas.


aviagemdosargonautas.net
04
Ago18

O FASCISMO

António Garrochinho

A palavra “fascismo” vem do italiano fascio, que significa “feixe”. 

Na Roma Antiga, o fascio (também conhecido como fascio littorio), era um machado revestido por varas de madeira. Ele geralmente era carregado pelos lictores, guarda-costas dos magistrados que detinham o poder. 

O fascio podia ser usado para punição corporal, e também era um símbolo de autoridade e união: um único bastão é facilmente quebrável, enquanto um feixe é difícil de arrebentar.


No século 20, o político italiano Benito Mussolini se apossou desse símbolo para seu novo partido. Em 1914, ele fundou o grupo Fasci d’Azione Rivoluzionaria (mais tarde, em 1922, surgiria o conhecido Partido Nacional Fascista). 
O uso do fascio não foi à toa. 

A Itália enfrentava uma profunda crise desde sua unificação tardia (concluída em 1870), e as consequências da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) pioraram a situação. Mussolini prometia, com o fascismo, trazer de volta os tempos áureos do antigo Império Romano.
Em 1919, os italianos Alceste de Ambris e Filippo Marinetti publicaram o Il manifesto dei fasci italiani di combattimento, texto hoje conhecido como Manifesto Fascista, que propunha um conjunto de medidas para resolver a crise da época. 


Nas décadas seguintes, o termo “fascismo” passou a ser usado para designar as políticas adoptadas por Mussolini e seus seguidores.


O regime de Mussolini começou oficialmente em 1922, quando ele assumiu o cargo de primeiro ministro da Itália, e foi um sistema político nacionalista, imperialista, antiliberal e antidemocrático. 
Ele implantou um governo totalitário que privilegiou conceitos de nação e raça sobre os valores individuais. 

O fascismo italiano quase acabou em 1943, quando os países Aliados invadiram a Itália, durante a Segunda Guerra Mundial. Mas os nazistas ainda deram uma segunda chance ao ditador: os alemães reocuparam a Itália, resgataram Mussolini e o levaram para o norte do país, onde ele tentou restituir seu governo. 

No fim, em 1945, os Aliados tomaram o norte e Mussolini foi capturado e fuzilado por guerrilheiros da resistência italiana. Seu corpo foi exposto em praça pública. 

Com a derrota da Itália (e das forças do Eixo) na guerra, “facista” tornou-se um termo pejorativo.

04
Ago18

Detido por violação durante exorcismo em Fátima afinal é padre ! e o padre foi detido por burla qualificada

António Garrochinho

Padre Humberto Gama Nuno André Ferreira 



Vítima foi conduzida a estabelecimento hospitalar, onde lhe foram prestados cuidados de saúde. 
O homem de 79 anos detido esta sexta-feira pela Polícia Judiciária por ter aproveitado uma sessão de exorcismo para violar vítima é um antigo padre. 

O crime de que o padre Humberto Gama é acusado aconteceu no passado dia 1 de agosto em Fátima. 

Segundo a Polícia Judiciária, o arguido usou a sua atividade de exorcista, explorou a fragilidade da vítima e violou-a. O homem levava inúmeras pessoas a consultá-lo, oferecendo ajuda e cobrando dinheiro pelos seus serviços. 

A vítima foi conduzida a um hospital, onde lhe foram prestados cuidados de saúde. 

O padre foi detido e será julgado pelo crime de violação e a polícia "investiga a eventual prática do crime de burla qualificada". 

Humberto Gama já foi expulso há anos da Igreja e apesar disso terá continuado a intitular-se sacerdote e a realizar sessões de exorcismo no Porto, Vila Real e Fátima.





https://www.cmjornal.pt
04
Ago18

Fogo ainda lavra em Monchique, mais de 700 operacionais no local

António Garrochinho


Mais de 700 operacionais continuam a combater as chamas no concelho de Monchique, Algarve, depois de, durante a noite, ter sido ativado o Plano Municipal de Emergência e deslocados 15 habitantes da Foz do Carvalhoso por precaução.

Fogo ainda lavra em Monchique, mais de 700 operacionais no local

Durante a manhã de sexta-feira, cinco pessoas já tinham sido deslocadas do sítio das Taipas, logo no início do incêndio, mas o fogo acabou por seguir na direção exatamente oposta, de acordo com a Proteção Civil

Ás 7h50 o fogo estava a ser combatido por 700 operacionais, apoiados por 188 viaturas e seis meios aéreos, de acordo com o Comando Distrital de Operações do Socorro (CDOS) de Faro.
Entretanto, segundo disse aos jornalistas o presidente da Câmara de Monchique, foi ativado o Plano Municipal de Emergência e está também a ser prestado apoio social pessoas que foram retiradas das suas casas por precaução.
Algumas dessas pessoas foram encaminhadas para a Santa Casa da Misericórdia, duas das quais eram idosos acamados, outras duas estão numa escola, sendo que as restantes optaram por ficar em casa de familiares.
Por agora, não há registos de habitações ardidas, havendo apenas algumas infraestruturas de apoio agrícola, vulgarmente chamadas de barracões, que foram afetadas.

www.noticiasaominuto.com
04
Ago18

PAVANA PARA UMA BURGUESIA DEFUNTA

António Garrochinho




PAVANA PARA UMA BURGUESIA DEFUNTA
A cabeça de vaca de minha tia mais velha
repousa em guerra lenta no cemitério maior.
Rói-lhe o bicho das contas a fímbria da orelha
Rói-lhe o rato da raiva as narinas sem cor.

Repousa em paz Raposa que na toca
fareja a galinhola e o fricassé.
Já não mija mas cheira
já não vive mas ousa
ser a santa que foi ser o estrume que é.

A cabeça de vaca de minha tia refoga
nas lágrimas burguesas da família enlatada
cozinha-lhe a memória um viúvo de toga
descasca-lhe a cebola uma filha frustada.

A cabeça de vaca de minha tia meneia
o sim-sim o não-não dos outros semivivos
na família a razão de se morrer a meias
é a exaltação dos suspiros cativos.

Se não fosse o desgosto se não fosse a gordura
o retrato na sala o buraco no ventre
se não fosse de força tinha feito a escritura
nem sequer houve tempo para o oiro dos dentes.

Minha tia mastiga minha tia castiga
na saleta do inferno as almas dos criados:
- não me limpaste o pó a campa tem urtigas
atrasaste o jantar dos condenados.

A cabeça de vaca de minha tia sem nome
coze no fogo brando do que é passar à história.
Dissolve-se na boca resolve-se na fome
do senhor que a devora em sua santa glória.



José Carlos Ary dos Santos

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