(…) Da presença da GATEM – Espelho Mágico na Federação Portuguesa de Teatro … até ao momento … são MAIS as COISAS que nos UNEM ,,, do que AQUELAS que nos SEPARAM | (…) Nesse rol de VALORES comuns salientam – SE os VALORES (entre outros) de JOÃO BARROS _ mestre da cenografia e também um excelente encenador .
TRISTE NOTÍCIA PARA O TEATRO E PARA A CENOGRAFIA NO NOSSO PAÍS : Faleceu João Barros
E AGORA sai um texto escrito pelo CORAÇÃO de Manuel Ramos Costa _ Um Homem do Teatro :
Hoje no inicio da tarde no IPO de Lisboa, faleceu o nosso amigo João Fonseca Barros.
O seu corpo estará na Capela de Rio de Mouro amanhã segunda-feira, a partir das 12h. Será cremado às 14h no Crematorio de Rio de Mouro (R. Marques de Pombal, 2, Rinchoa, Agualva Cacém).
JOÃO BARROS, de seu nome completo, João Manuel da Fonseca Barros, é lisboeta. À data de 21 de Dezembro de 1946, nasceu na maternidade Magalhães Coutinho, na freguesia do Socorro, Bairro da Mouraria, mas foi no Bairro de Alfama que se criou e onde, paredes meias com a Sé Catedral, tem vivido os seus sonhos de artista multifacetado, no campo do teatro.
Seu pai, um cozinheiro de primeiríssima, era minhoto, natural de Ruivães, distrito de Braga. E sua mãe, uma beirã de gema, nascida em Goujuim, perto de Armamar, distrito de Viseu.
Filho único, o João Barros teve uma infância normalíssima, animada pela corte dos seus primos e primas. Os seus pais não tinham grandes recursos, viviam do seu trabalho. Mas nunca lhe faltou nada até porque como era o mais novo da família foi sempre muito acarinhado.
Foi o seu padrinho que até aos doze anos lhe pagou os estudos, opondo-se, no entanto, ao seu desejo de ser artista. Daí que, depois de acabar a primária e a admissão ao liceu, na antiga escola da Rua Costa do Castelo, o João foi para a Veiga Beirão, onde fez o segundo ano. Porém, as dificuldades em casa e o desamparo que se veio a verificar por parte do padrinho, levaram o João a procurar trabalho no Coliseu dos Recreios, como aprendiz de cenografia.
Quis assim o destino que, ao dar este passo, o João Barros se colocasse no cruzamento de alguns dos seus sonhos de menino, designadamente, o teatro e a pintura. Paralelamente, decidiu frequentar, à noite, várias escolas até terminar o quinto ano.
Os conhecimentos adquiridos, primeiro com Marcelo Cunha e Silva e depois com os ilustres irmãos Hernâni Martins e Rui Martins, no Teatro Avenida, levaram-no a frequentar a Escola António Arroio, onde, em pouco tempo, passou a ser assistente do mestre Manuel Lima. Trabalhou e privou também com grandes cenógrafos e figurinistas, nomeadamente, Pinto de Campos, Mário Alberto, Moniz Ribeiro, Hernâni Lopes e Rogério Amaral entre outros. Durante esse período, frequentou também uma escola de música e chegou a estar três anos na Aliance Française. Mas a cenografia já então começava a tomar conta dele e não havia tempo para mais.
Tendo passado a sua adolescência dividido entre os cenários e as aventuras com os amigos de infância, que ainda conserva, o João, com dezanove anos, foi chamado para cumprir o serviço militar obrigatório, que o levou até Moçambique, onde acabaria por criar um grupo de teatro, em Lourenço Marques, actual Maputo, no clube militar. A par disso, durante o tempo que lá esteve, em Moeda, de Setembro de 1967 a Novembro de 1970, foi decorador, desenhador criativo de publicidade e, no seu dizer, pintou quadros que se fartou.
Regressado a Lisboa, no paquete Infante D. Henrique, quatro dias depois vê-se a trabalhar no Teatro Politeama. E não contente com o rumo da Juventude Antoniana, organismo juvenil sediado na Igreja de Santo António de Lisboa, à qual pertencia desde miúdo, o João Barros funda o Núcleo X (10) por ser este o número de participantes, reunido entre amigos de infância e alguns familiares, com o propósito de fazerem teatro, organizar convívios, excursões, exposições de pintura, de escultura e de fotografia. Não faltaram também sessões de cinema, de poesia e de música. O grupo durou dois anos com este nome, Núcleo X, tendo em 1973 mudado e dado origem ao GOTA – Grupo Oficina Teatro de Amadores, do qual era diretor, cenógrafo, encenador e ator.
O Teatro para o João Barros é como o respirar. E ser-se cenógrafo, o cenógrafo da sua época, é saber pintar, saber de carpintaria, costura, escultura e, acima de tudo saber muito de teatro, amar o teatro e ter paixão pela arte.
O seu primeiro trabalho cenográfico foi concretizado precisamente no Coliseu dos Recreios, na super-revista «Mulheres de Sonho», sob a direção dos irmãos Martins. E um dos mais recentes, que ele mesmo salienta, destinou-se ao musical West Side Story, do La Féria, pessoa, que no seu dizer, é muito exigente, que procura a perfeição e com quem sempre gostou de trabalhar.
São inúmeros os cenários que produziu ao longo dos anos para peças de teatro, bailados, musicais, revistas e, no Teatro São Carlos, em óperas, sem nunca descurar os seus projetos no Gota. Mas como cenógrafo, falta-lhe ainda – revelou-nos não há muito tempo – fazer uma marcha popular, ou não fosse ele um alfacinha de gema, eterno enamorado da sua terra natal – Lisboa.
João Barros é indubitavelmente um mestre da cenografia mas é também um excelente encenador, um ator versátil, e um grande apreciador da dramaturgia portuguesa, da qual destaca as obras de Luís de Sttau Monteiro, Bernardo Santareno, Jaime Salazar Sampaio, Mendes de Carvalho, entre muitos outros.
Descontente com o que considera certas faltas de gosto no teatro português mais recente, como por exemplo, o uso e abuso das novas tecnologias, e de considerar que a cenografia está a ser muito mal tratada, João Barros tem procurado concentrar-se nas coisas mais gratificantes que vão sucedendo por esse país fora e que ele tanto aplaude com enorme satisfação, como por exemplo, o número sempre crescente de pessoas empenhadas em aprender teatro e em fazer teatro, com amor e dedicação.
Tal consciência começou a gerar-se nele a partir do V Fórum Permanente de Teatro, para o qual a Federação o convidou e dele, até à data, nunca mais prescindiu, como mestre no painel de cenografia.
São dele estas palavras:
«Desde logo senti a grande importância dos fóruns. Senti a festa, a alegria, em suma, o teatro vivo! De fórum em fórum, tenho sentido um crescimento constante, um melhoramento enorme a todos os níveis. Mas julgo que ainda há muito a fazer e, por isso mesmo, a grande importância da sua continuidade.»
É a este homem, conhecido pela sua bondade e simpatia, que gosta de ópera, de bailado, de música, de cinema, de pintura, de ler…
É a este mestre, todo feito de talento e humildade, que adora tripas à moda do Porto e que vive preso à vida pela própria vida – Família. Amigos. Animais.
É a este amigo que, pensando sempre mais nos outros do que em si mesmo, que direção da Federação Portuguesa de Teatro em perfeita sintonia com a Fundação INATEL e do Municipio da Póvoa de Lanhoso decidiu atribuir com todo o mérito e gratidão o Prémio Prestígio Personalidade Fundação INATEL 2018, em Março deste ano.
Obrigado, João Barros!