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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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29
Ago18

HÁ 26 ANOS QUE A A1 FICOU COMPLETA

António Garrochinho


Os 87 quilómetros que faltavam para completar a autoestrada do Norte, entre Torres Novas e Condeixa, foram inaugurados a 13 de setembro de 1991. 

A partir desse dia já era possível viajar de carro da capital à invicta em apenas três horas. 

Um tempo recorde quando comparado com as nove ou mais horas que o mesmo trajeto demorava a fazer pela Estrada Nacional 1. 

E muitos ainda se lembram desses tempos em que se saía de Lisboa de manhã cedo para chegar ao Porto ainda a tempo de jantar.
Mas para conhecer melhor a história da mais importante autoestrada de Portugal é preciso recuar a 1961, quando no dia 28 de maio foi inaugurado o primeiro troço entre Lisboa e Vila Franca de Xira. 

Uma cerimónia que contou com a presença de António de Oliveira Salazar. 

O Presidente do Conselho apreciou não só a construção desses primeiros 25 quilómetros da autoestrada “mas também as interessantes paisagens que dela se desfrutam, pedindo, por vezes, que se abrandasse a marcha do automóvel nos pontos mais encantadores” escrevia o jornal O Século nesse dia histórico.
Tratou-se de um avanço significativo em termos de mobilidade numa época em que Portugal ainda não tinha grandes hábitos de condução muito menos em vias com um traçado moderno que nada tinham que ver com as antigas estradas. 

Percorrer estes vinte e poucos quilómetros novinhos em folha era uma coisa inédita e até estranha para os automobilistas portugueses que de início não aplicaram as novas regras de comportamento que a via exigia, circulavam a velocidade de passeio e não sabiam que a faixa da esquerda era para quem queria ir mais rápido.
A autoestrada do Norte tem uma extensão de pouco mais de 300 quilómetros e a sua conclusão foi assinalada com um marco de aço inoxidável colocado ao quilómetro 180 (junto à saída para Condeixa), com 27 metros de altura, de autoria do arquiteto Charters de Almeida. Estava assim fechada a janela que em 1961 se abria a novos horizontes, a linha que se tinha traçado entre Lisboa e Vila Franca de Xira estava finalmente completa, deixando para trás o inferno que era fazer a viagem entre as duas mais importantes cidades do País.
Em 1991, além da autoestrada do Norte, Portugal tinha mais 189 quilómetros de autoestradas: Lisboa-Setúbal (36 km); Lisboa-Cascais (17 km); Porto-Braga (84 km); Porto-Penafiel (34 km) e Lisboa-Malveira (18 km).

autoclube.acp.pt

29
Ago18

Museu Municipal de Arqueologia de Albufeira

António Garrochinho






O Museu Municipal de Arqueologia de Albufeira apresenta 
um discurso museográfico relacionado com o desenrolar do 
processo histórico no concelho de Albufeira e nos concelhos 
limítrofes, desde a Pré-História, aos séculos XVI e XVII. 
A exposição inclui cinco grandes núcleos temáticos: 
Pré-História, Período Romano, Período Visigótico e Islâmico 
e Idade Moderna e o acervo é formado pela coleção da 
Paróquia de Albufeira, reunida pelo Pe. Semedo de Azevedo 
na década de 60 do século XX. Destaca-se o património 
arqueológico e um conjunto de elementos arquitetónicos e 
artefactos da Villa Romana da Retorta, da necrópole do 
Morgado da Lameira e da antiga Igreja Matriz de Albufeira.







O Museu Municipal de Arqueologia abriu ao público no dia 20 de agosto de 1999, localizando-se no núcleo antigo da cidade, na antiga Praça de Armas de Albufeira. 

O edifício onde se encontra instalado, constituído por dois pisos, funcionou como Câmara Municipal até ao final dos anos 80 do século XX, tendo sido recuperado e reabilitado, de modo a integrar o património arqueológico existente. 

 O Museu integra a Rede Portuguesa de Museus, desde 2003, sendo um museu credenciado conforme o disposto na Lei-quadro dos Museus Portugueses e pertence à Rede dos Museus do Algarve, desde 2007.Conteúdos editados pela DGPC/DMCC


http://www.patrimoniocultural.gov.pt

29
Ago18

Urgeiriça: «O Estado sabia que o minério matava e deixou-nos aqui para morrer»

António Garrochinho
www.noticiasmagazine.pt




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    Passaram 13 anos desde o encerramento da última das 61 minas de urânio em Portugal - a Urgeiriça, em Canas de Senhorim.

Texto Ricardo J. Rodrigues Fotografias Rui Oliveira/Global Imagens


O ano era 1986 e da Ucrânia chegavam notícias de uma tragédia sem precedentes. 

Um reator nuclear tinha explodido em Chernobyl e, à medida que a taxa de contaminação de cancro disparava no Leste da Europa, a Euratom – Comunidade Europeia da Energia Atómica – apertava as medidas de segurança sobre a exposição à radioatividade.

Portugal tinha aderido nesse ano à CEE e estava obrigado a cumprir as diretivas. Mas nas minas da Urgeiriça, em Canas de Senhorim, o urânio continuava a ser extraído a seco, manuseado sem luvas nem máscaras adequadas, carregado em camiões sem qualquer proteção especial.

António Minhoto, presidente da Associação dos ex-Trabalhadores das Minas de Urânio.

«Víamos morrer homens com 40, 50 anos e às tantas a mortandade era tão grande que perguntávamos se o Estado não estaria a negligenciar a segurança de nós todos,» conta António Minhoto, presidente da ATMU.
Os fatos de trabalho dos mineiros, dos trabalhadores do departamento químico e dos embaladores de minério eram levados para casa para lavar com o resto da roupa – nas mais das vezes à mão, em tanques comunitários.
«Víamos morrer homens com 40, 50 anos, uns atrás dos outros», diz António Minhoto, presidente da Associação dos ex-Trabalhadores das Minas de Urânio (ATMU). «E às tantas a mortandade era tão grande que perguntávamos se o Estado não estaria a negligenciar a segurança de nós todos.»
Foram 170 mortes desde essa altura, segundo as contas da ATMU. «As anteriores a 1986 não podemos contabilizar porque não conseguimos provar que a Empresa Nacional de Urânio (ENU) tivesse consciência de que estava a submeter os funcionários a riscos desnecessários.»

Natércia Cancela é viúva há 23 anos. Um cancro do pulmão matou-lhe o marido, mineiro da Urgeiriça.

A entrada do país na Comunidade Europeia e consequentemente na Euratom não lhes deixa margens para dúvidas: «Foram dadas indicações ao Estado e o Estado pura e simplesmente ignorou.» Em 1986 havia 350 trabalhadores na Urgeiriça. Metade morreu entretanto de cancro.

Sempre que em Canas de Senhorim corre a notícia da morte de mais um mineiro, Natércia Cancela diz a quem a quiser ouvir: «Desgraçada desta mina que só sabe roubar-nos homens.» Tem 65 anos, é viúva há 23. Um cancro fulminante no pulmão matou-lhe o marido em 1994, quando este tinha 41 anos.
«Toda a gente achava que a mina era trabalho bom. Recebia-se um bocadinho melhor e era emprego fixo por muitos anos.» A radioatividade não era assunto.
José Cancela trabalhava desde os 16 anos no poço de Santa Bárbara, o maior depósito de urânio da Urgeiriça. «Operava as máquinas de perfuração, que soltavam aquela poeira toda que hoje sabemos ser radioativa. 

Mas nunca usava máscara ou luvas. A única coisa obrigatória era o fato-de-macaco, que ele trazia para casa para lavar e me punha a água toda preta assim que o deitava à bacia.»

Nem ela nem o marido alguma vez desconfiaram de que a proximidade do minério pusesse vidas em perigo. «Toda a gente achava que a mina era trabalho bom. Recebia-se um bocadinho melhor e era emprego fixo por muitos anos.» A radioatividade não era assunto.
Só muitos anos mais tarde, já depois do encerramento da mina, é que ela começou a encaixar as peças todas. «Se não se tivesse criado a ATMU para levantar a voz, continuaríamos na mesma ignorância até hoje. 

O Estado conhecia os perigos e nada fez para proteger estes homens. Sabia que o minério matava e deixou-nos para aqui a morrer. E, pior do que isso, tentou sempre esquivar-se às suas responsabilidades.»
Em 2016, os antigos mineiros do urânio foram homenageados na Assembleia da República. «Soube um pouco ao pedido de desculpas que Portugal nunca nos fez. Não era, mas era.»
Não será bem assim. Em 2015, o atual governo estabeleceu um plano para compensar as famílias dos antigos trabalhadores das minas de urânio que morreram com neoplasias malignas. Os que perderam um familiar com menos de 45 anos estão a receber cinquenta mil euros, aos que tinham entre 45 e 55 anos cabem quarenta mil e, aos maiores de 55, trinta mil euros. «Depois de 15 anos de luta, conquistámos uma parte do que queríamos, mas não tudo», diz António Minhoto. «E foi um processo verdadeiramente trabalhoso.»
Minhoto diz que o Estado nunca admitiu verdadeiramente qualquer culpa. «É por isso que foi definido um plano de compensações e não de indemnizações. Pensámos seriamente em não aceitar esse plano, mas, depois de década e meia de luta, esta era a primeira vez que as nossas exigências eram atendidas.» Em 2016, aliás, os antigos mineiros do urânio foram homenageados na Assembleia da República. «Soube um pouco ao pedido de desculpas que Portugal nunca nos fez. Não era, mas era.»
Para trás estão anos de reivindicações que os sucessivos governos recusaram. «Tivemos de organizar conferências, contratar especialistas, tudo para provar a relação entre o urânio e as mortes. Portugal não queria assumir responsabilidades, nem sequer queria investigar essas responsabilidades», atira.


Acabaria por ser o Instituto de Saúde Dr. Ricardo Jorge a dar-lhes o suporte de que precisavam para estabelecer a responsabilidade do Estado. Num relatório de 2002 sobre mortalidade por cancro nos concelhos do país, Nelas apresentava o dobro dos valores dos restantes municípios.
«Estamos preocupados com o crescimento de casos de tiroidismo – não nos mineiros, mas nas segundas e terceiras gerações. E vemos também um número anormal de familiares de mineiros que desenvolvem cancro.»
«Este excesso de mortalidade poderá estar associado à existência da mina da Urgeiriça e da sua escombreira», dizia nesses dias ao Público um dos investigadores, José Marinho Falcão. «Embora não seja possível excluir a existência de outras causas, tudo indica que o problema possa estar aí.»


A partir daí a ATMU ganhou outra força. Apesar de o relatório não garantir certezas absolutas, os sinais da contaminação eram evidentes. «A tal mortalidade excessiva verifica-se não só nos homens mas também nas mulheres», apontava o mesmo investigador. «E isso sugere a possibilidade de exposição ambiental geral, não apenas a quem trabalhava na mina». E é este precisamente o ponto por que a associação agora batalha.

«Estamos preocupados com o crescimento de casos de tiroidismo – não nos mineiros, mas nas segundas e terceiras gerações. E vemos também um número anormal de familiares de mineiros que desenvolvem cancros na traqueia, nos pulmões e no estômago, apesar de nunca terem descido ao poço», diz António Minhoto.

A contaminação, dizem, não se circunscreve aos trabalhadores do urânio. Depois do relatório do Instituto Ricardo Jorge, o governo aceitou criar em 2007 um posto médico para fazer rastreio oncológico aos antigos trabalhadores das minas. Mas só alargou o acompanhamento aos familiares em 2010 e, para muita gente, isso foi tarde de mais.
«Estou velha, não me zango com a morte, mas zango-me com os que sabiam que estávamos a morrer aos bocadinhos e nem uma palavra disseram», diz Emília Costa.
É precisamente o caso de Emília Costa, 80 anos, que vem a descer a rua no Bairro Novo dos mineiros, agarrada a um andarilho porque mal consegue andar. Ao seu lado, uma gata que parece cadela – chama-se Princesa, acompanha-a por todo o lado. O marido era empacotador na mina, trabalhava no departamento químico.

«Viemos de Lisboa para Canas quando casámos, foi aqui que lhe apareceu trabalho e foi onde construímos uma vida melhor.» Chegaram nos anos 1950, e ele nunca descansou até 2000. «Chegava-me todos os dias a casa coberto de pó de urânio, e eu é que lhe tratava da roupa. Nunca lhe vi uma máscara, umas luvas. Morreu em 2001, tinha 66 anos, e a falta que ele me faz.»

Emília Costa tem 80 anos e cancro, doença para a qual perdeu o marido, mineiro, em 2001.

Uma década depois, quando foi chamada às consultas no posto médico, a mulher recebeu a pior das surpresas: tinha cancro e metástases espalhadas por todo o aparelho digestivo. «Andei a fazer quimioterapia e lá tenho conseguido fintar a morte. Mas agora anda a minha filha em exames, e eu só rezo a Deus para que as notícias sejam boas. Que Ele me leve a mim em vez dela.»

Não tem dúvidas de que o mal familiar vem da mina. Pois se bebiam água do poço, pois se tomavam elas conta da roupa do seu homem. «Às vezes penso que devíamos ter ficado em Lisboa, que o meu marido nunca devia ter vindo estragar o corpo para a mina de urânio. Mas como é que podíamos saber? 

Mesmo os que sabiam nunca nos disseram nada. Estou velha, não me zango com a morte, mas zango-me com os que sabiam que estávamos a morrer aos bocadinhos e nem uma palavra disseram. Se falassem mais cedo, quantas vidas se teriam salvado?»
«A radioatividade não se vê, não se cheira nem se sente. Mas esteve sempre aqui, a matar-nos devagarinho», diz Oceano Pereira.
Oceano Pereira, 67 anos, trabalhou, tal como o marido de Emília, durante três décadas na unidade de tratamento químico da Urgeiriça. Era tratador químico, perdeu a conta às vezes que inalou os gases do ácido sulfúrico com que era feito o composto e as poeiras radioativas que saíam das máquinas de moagem. 
«Eu era sindicalista e comecei a ler uns livros sobre radioatividade. E foi nos anos 1980 que comecei a perceber que o nosso manual de segurança era obsoleto.»

Por causa dos seus esforços, alguns trabalhadores passaram a usar medidores de contaminação e, muitos anos mais tarde, luvas e máscaras. «Mas isso não servia de grande coisa, porque a poeira era transportada a céu aberto e as partículas espalhavam-se por toda a parte. As águas da lavagem eram descarregadas em barragens e infiltravam-se livremente nos solos. Era a mais pura das irresponsabilidades.»

Oceano Pereira trabalhou 30 anos na mina. Escapou ileso, mas ainda hoje se pergunta se a morte da mãe e da mulher por cancro não estarão relacionadas com o urânio.

Oceano escapou ileso à mina, mas ainda hoje se pergunta se a morte da mãe e da mulher por cancro não estarão relacionadas com o urânio. «Nenhuma delas trabalhou na Urgeiriça, mas ambas contactavam com os materiais contaminados que eu levava para casa.» 

Além disso, nos primeiros anos em que se mudaram para ali não havia rede pública de águas, bebia-se o que vinha do poço – e hoje sabem que os solos estavam carregados de resíduos perigosos. «A radioatividade não se vê, não se cheira nem se sente. 

Mas esteve sempre aqui, a matar-nos devagarinho.»
A grua do poço de Santa Bárbara – oitocentos metros terra adentro – ainda ali está, rodeada de casas restauradas e que hoje servem para fazer festas e almoços de convívio. Antes eram oficinas e serralharias, armazéns onde se guardava a pedra, moinhos onde era transformada em pó.
Numa coisa toda a gente concorda: a Urgeiriça não era só uma mina, era uma aldeia e era um orgulho.
«Eu trabalhava ali, nos laboratórios de química.» Carlos Borges, 67 anos, aponta o dedo para uma grande casa lá ao fundo, que não se pode visitar porque a Empresa de Desenvolvimento Mineiro (EDM) está agora a fazer ali obras de isolamento. Ao lado, cercados por arame farpado e vigiados por seguranças privados, jazem ainda 150 toneladas de composto de urânio, um produto altamente radioativo que ainda não tem destino assegurado.


Das 12 pessoas que trabalharam com Borges no laboratório de química, metade perdeu a vida para o cancro. «Havia uma mulher a quem só aos oito meses de gravidez lhe entregaram um avental para se proteger dos químicos. Havia mineiros que levavam pedras de urânio para casa sem nunca pensarem que estavam ativas. Houve primos que eu trouxe para trabalharem aqui sem nunca me passar pela cabeça que os estava a trazer para a morte.»

Emociona-se, numa confusão de sentimentos. «Isto foi a minha vida, sabe? Foi aqui que me fiz homem. Não dá para explicar o que uma pessoa sente quando percebe que um lugar que se amou a vida toda afinal está amaldiçoado.»

Helena Albadia mora numa vivenda antiga do Bairro dos Mineiros, construída com madeira cheia de minério e pedras com urânio ativo. A casa apresenta perigo e implica intervenção urgente.

Numa coisa toda a gente concorda: a Urgeiriça não era só uma mina, era uma aldeia e era um orgulho. Quase toda esta gente estudava na escola primária do complexo mineiro, fazia compras na mercearia que ali vendia tudo, convivia na Casa dos Trabalhadores, namorava, casava, tinha filhos ali. Em 1954 foi até construído o Bairro dos Mineiros, com casas pequenas mas confortáveis, que nos anos 1980 teria uma segunda fase de apartamentos modernos. Helena Albadia mora até hoje numa vivenda antiga, uma das oitenta que precisam de intervenção.


É que os primeiros edifícios foram construídos com material da mina. Barrotes de madeira cheios de minério, pedras de fundação com urânio ativo, algumas manchadas pelo composto, que tem o dobro da radioatividade. «Andaram aqui a medir os níveis de perigo com uns aparelhos e agora dizem-me que a casa não está boa.» E isso é um drama para a mulher, porque foi ali que ergueu o monumento às suas memórias, e foi ali que lutou pela vida.

«O meu marido morreu com 38 anos, teve um cancro que o matou de um sopro. E eu fiquei aos 39 com nenhum trabalho e dois filhos nos braços. Como sou do Porto, nunca tive família que me ajudasse.» 

As crianças começaram a trabalhar na adolescência, ela somava turnos nas limpezas – mas conseguiu criar a prole, e fê-lo naquela casa. A EDM promete recuperar as casas e ela já não sabe o que sentir: se medo se amor às suas paredes. «Se ao menos ainda aqui tivesse o meu marido para me ajudar a decidir», choraminga, e depois revolta-se: «Danada desta mina que me roubou a felicidade toda.»
Em 1907 foram descobertos jazigos de urânio na região da Guarda. Seis anos depois abriram as minas da Urgeiriça, em Canas de Senhorim (Nelas). 

Até 1944 o urânio não tinha valor comercial e explorava-se sobretudo o rádio, mas a partir de 1951, com a Guerra Fria e a corrida ao armamento nuclear, começou a produção de concentrados de óxido de urânio e a indústria ganhou novo fôlego.


No auge da produção, nos anos 1960, havia 61 minas nos distritos de Viseu, Guarda, Castelo Branco e Portalegre. Mas todo o tratamento e transformação eram feitos ali, na Urgeiriça. Todas as outras minas fecharam em 2000, depois de a queda do Muro de Berlim pôr termo à necessidade de urânio. A Urgeiriça foi a última a encerrar, em 2004.


A exploração de urânio em Portugal esteve sempre entregue a um único proprietário. Primeiro foi um grupo francês liderado pelo banqueiro Henrique Burnay, que daí a uns anos fundaria o Banco Fonsecas & Burnay. Em 1929 foi constituída a Companhia Portuguesa de Radium, de capitais ingleses, que converte duas depois a exploração de rádio em urânio.


A má gestão inglesa leva Salazar a apropriar-se da empresa e a criar a Junta de Energia Nuclear, que depois do 25 de Abril muda de nome para Empresa Nacional de Urânio. A cada mudança, uma quebra brutal no número de trabalhadores: nos anos 1950 chegavam aos 1500, no final da década de 1980 já eram pouco mais de 350. A empresa começa a avançar com um processo de despedimento na década seguinte, até à extinção definitiva há 13 anos.


Cinquenta milhões de euros é quanto o Estado já pagou à Empresa de Desenvolvimento Mineiro para resguardar ambientalmente as regiões onde estavam as minas de urânio portuguesas.


Os lugares mais perigosos – que tinham escombreiras, depósitos e barragens – estão tratados, mas falta a descontaminação de vinte poços. O Laboratório Nacional de Proteção Radiológica admite que ainda são feitas descargas de água contaminada na bacia do Mondego, mas que os níveis de radioatividade não representam perigo para a vida humana.
29
Ago18

18 de Janeiro de 1934 – Os dias em que Silves parou

António Garrochinho


Artigo publicado na edição nº 64, janeiro de 2006presos de silves





















Instalado no poder, um dos objectivos de Salazar, foi o de tentar dissolver os sindicatos livres existentes, substituindo-os por sindicatos nacionais, controlados pelo regime. Contra esta medida levantou-se em Portugal um amplo movimento de contestação, que culminaria com a decisão dos trabalhadores em organizar uma Greve Geral.
A 18 de Janeiro de 1934 a greve geral tem início, em várias localidades do País, com destaque para a Marinha Grande, Silves, Barreiro e Almada.

Reprimida duramente, a greve geral resultou em várias prisões e encerramento de fábricas. Salazar, que no final do ano anterior, em 1933, atirara já para a prisão os principais opositores ao regime, incluindo militares, não hesita com os operários.
Após o 25 de Abril, a importância do 18 de Janeiro de 1934 começou a ser realçada, sobretudo na Marinha Grande, onde foi construído um monumento evocativo da data.

Em Silves, no entanto, esta data tem sido ignorada, não estando também devidamente estudado o papel dos operários corticeiros da cidade na greve de 1934. Mas alguns trabalhos recentes de investigadores universitários confirmam que os acontecimentos na cidade corticeira foram do maior relevo para a história nacional e do movimento de resistência ao fascismo.
Dia 18 de Janeiro
Na altura dos acontecimentos, Silves conta com cerca de 10 mil habitantes e constitui um importante centro corticeiro, onde se encontravam instaladas fábricas rolheiras e de recortes, cuja produção se destinava quase exclusivamente aos mercados externos, em particular aos de França e Alemanha. Existiriam então 23 empresas, de pequena dimensão, já que só uma ultrapassa a centena de trabalhadores, e cerca de 880 corticeiros.

È em finais de 1933 que se inicia a preparação do movimento grevista que, em Silves, é organizado por dois grupos diferentes. Por um lado, estão vários operários ( e não só), militantes ou simpatizantes do Partido Comunista; do outro, o grupo de libertários e anarquistas. Apesar das suas diferenças de opiniões e do combate que travam nos sindicatos para o seu domínio, ambos os grupos apoiam a realização da greve geral, a “Greve Geral Revolucionária”, como fica conhecida.

Comunistas e anarquistas reúnem-se na noite do dia 17 de Janeiro, separadamente, para prepar as acções do dia seguinte. 

Mas, enquanto os comunistas decidem esperar o sinal de que a greve se está a concretizar em todo o País, o grupo de anarquistas empreende sozinho a sua acção.
No dia 18 de madrugada, avançam para a primeira operação: o derrube de postos telegráficos e telefónicas, com o consequente isolamento de Silves. Mas seja porque uma parte dos que estão destacados para tal missão falham, seja porque se atrapalham os postes de um dos lados da cidade ficam por derrubar. 

De qualquer forma, o corte das comunicações marca o desencadear do movimento na cidade.

A não chegada do comboio a Silves às 7 horas da manhã, é outro dos momentos decisivos. Convencidos de que os ferroviários também tinham aderido a greve, os anarquistas passam à fase seguinte. Grupos de anarquistas, alguns deles armados de pistolas, revólveres e bombas, percorrem as fábricas de Silves instigando os operários a abandonar o trabalho.

Quando os líderes sindicais entram nas fábricas e apelam à greve, o operariado que entrara à hora habitual abandona os postos de trabalho de forma unânime. 

Quando as notícias dos acontecimentos chegam ao governo, é para informar que em Silves “todos os operários” estavam em greve. Ou seja, a greve, além de envolver os operários da indústria da cortiça, teria alastrado a outros sectores.

Esvaziadas as fábricas, enchem-se as praças e as ruas mais importantes de Silves. É para a sede da antiga Associação de Classe dos Operários Corticeiros que dirigentes e grevistas se dirigem.
A presença dos grevistas na ruas leva a GNR a estabelecer um serviço de patrulha, forças de cavalaria e infantaria são colocadas nas ruas, sem que isso intimide os operários. 

Na posse de um respeitável arsenal, os anarquistas preparam-se para uma das acções que haviam projectado: o ataque ao quartel da GNR.

No entanto, essa intenção é perturbada pela entrada na estação do comboio que deveria ter chegado a Silves às 7 horas da manhã. 

A sua chegada significa que a greve não está a ter a amplitude que os grevistas imaginavam.

Também a GNR se apercebe da implicação da chegada do comboio, “passando logo ao ataque, a bater e a prender as pessoas”. 

A repressão é imensa. Aos trabalhadores não resta outra solução senão a de abandonarem as ideias de sublevação, mantendo-se apenas em greve.

Ao fim do dia o administrador do concelho manda afixar um edital em que intimida os operários a retomarem o trabalho, no dia seguinte, dia 19, pede aos proprietários do comércio que reabram os seus estabelecimentos e impõe o recolher obrigatório a toda a população a partir das 21 horas. 

Tal como sucedeu na Marinha Grande e em Almada, os patrões são notificados para que laborem normalmente no dia 19 e para que forneçam às autoridades não só a identificação dos operários que abandonaram o trabalho no dia 18, como a dos que vierem a fazê-lo no dia 19.
A noite chega com a polícia no encalço dos principais responsáveis pela greve.
O outro dia
No dia 19 de Janeiro, as fábricas abrem as suas portas como de costume mas cedo se verifica uma situação insólita: cerca de duas centenas de operários não comparecem ao trabalho.

Ao início da tarde, a situação torna-se ainda mais estranha quando os operários que tinham comparecido na parte da manhã, resolvem abandonar o seu posto de trabalho. Às 14h30, um telegrama informa o ministro do Interior de que parte dos operários que em Silves tinham retomado o trabalho voltaram a abandoná-lo.

No mesmo dia reúne o Conselho de Ministros a fim de fazer o ponto da situação, sobretudo das que se vivem em Almada e Silves, e o governador civil de Faro recebe ordens para nomear elementos militares a fim de conduzirem as investigações. Assim, enquanto a manutenção da ordem pública, as buscas e as prisões, continuavam a cargo da GNR, a direcção das investigações passa para foro militar.

A 20 de Janeiro de 1934 Silves acorda “sob rigorosa vigilância militar”, a secção da GNR é reforçada com elementos vindos de Faro e Monchique.
Perante esta situação, as autoridades esperariam decerto que os operários regressassem às fábricas. Mas, surpreendentemente, os corticeiros de Silves não comparecem nas fábricas.

O jornal “Século” noticia: “ As fábricas de Silves continuam paralisadas e estão inactivos cerca de mil operários”, afirmando que se “mantém paralisadas desde quinta –feira, por não terem comparecido ao trabalho os respectivos operários, as várias fábricas de cortiça desta cidade”.
E mais não diria o jornal nos próximos dias, em virtude da censura.
Mas em Silves a situação continua complicada. No dia 21, por ser domingo, não se trabalha nas fábricas, mas no dia 22 de Janeiro, os operários mostram-se dispostos a regressar às fábricas. 

Mas agora são os patrões que estão impedidos de os aceitar, por imposição do governo que pretende castigar os grevistas, determinando que não possa voltar a trabalhar quem tenha participado da greve. 

O problema é que em Silves a greve teve a adesão de todos, pelo que não há quem os substitua.

De facto, o governo escolhe Silves para dar o exemplo, sendo aqui muito mais rigoroso do que fora noutras localidades como Barreiro, Sines e Almada.

E as fábricas em Silves continuam fechadas.
Cria-se assim uma situação insustentável para os operários, que não recebem os seus salários, e para os industriais que não podem abrir as suas fábricas. 

Descontentes, os patrões enviam uma delegação ao ministro do Interior, mostrando que as ordens governamentais originaram o “encerramento de todas as fábricas”, que a “substituição desses operários se torna praticamente impossível num meio pequeno como é Silves” e que dessa “paralisação de trabalho resultam para a indústria prejuízos graves” e que estão impedidos de cumprir “sérios compromissos tomados tanto no País como no estrangeiro”.

Não obstante estes apelos, o governo está disposto a castigar os grevistas de Silves sem contemplações, e até finais de Janeiro a situação permanece inalterada.

Finalmente, ao fim de 21 dias de encerramento, o que correspondia à mesma quantidade de dias sem trabalho e sem salário, o governo permite que as fábricas reabram, cedendo aos variadíssimos apelos dos industriais.
Os presos da greve
Como resultado da repressão, são presos muitos operários. A prisão, que na altura era no Castelo de Silves, enche-se, mas por pouco tempo. Levados a julgamento, 35 trabalhadores de Silves, pertencendo 12 ao grupo comunista e 23 ao grupo anarquista, são considerados culpados e transferidos para Angra do Heroísmo. 

A maioria, que na altura dos acontecimentos é muito jovem, cumprirá 12 anos de cadeia, em condições absolutamente inumanas que trarão a morte e a doença a muitos.
Entre os operários de Silves destacam-se, António Estrela, Joaquim dos Santos Caetano, José Gonçalves Rita, Manuel Simão, Abatino da Luz Rocha, António Feodor, Miguel Chucha, Domingos Passarinho, Daniel Pincho, Casimiro da Silva, Carlos Maria, Francisco Marques, António Baptista, Virgílio Aço, Manuel Pessanha, Pedro Baptista, Virgílio Barroso, José do Carmo, José Passarinho.

Mas para o governo a prisão não era castigo suficiente. Um exemplo disso foi o que aconteceu aos operários que foram presos mas posteriormente absolvidos pelo tribunal. Ao regressarem a Silves, às suas casas, foram impedidos de o fazer pelo administrador local, Salvador Gomes Vilarinho, pelo que tiveram de abandonar a cidade com as suas famílias procurando trabalho noutros locais.
Por outro lado, o governo fascista nunca esqueceria a grandeza da greve de 1934 em Silves e empregou todos os meios ao seu dispor para levar as empresas corticeiras a abandonarem a cidade ou a fecharem as portas, como aconteceu com a firma J.A. Duarte, Lda, que empregava 500 operários e cuja falência foi praticamente imposta pelo governo.
Progressivamente, a pressão governamental foi produzindo os seus efeitos e a maioria dos operários acabaria por se deslocar para outros centros corticeiros como Cova da Piedade, Barreiro, Alhos Vedros, onde persistem até hoje grandes comunidades de silvenses.
Mas a resistência em Silves, essa, não acabou com as prisões de 1934. Apesar do governo ter destruído praticamente o grupo de anarquistas, um novo grupo de resistentes, liderados pelo PCP, encabeçou a luta dos operários e a resistência antifascista, que foi sempre permanente nesta cidade, apesar das sucessivas prisões, até ao 25 de Abril de 1974.

Nota: Para escrever este artigo, foi necessário consultar várias fontes, nem sempre coincidentes em números, nomes, e relato dos acontecimentos, pelo que não é de excluir alguma falha, pela qual antecipadamente peço desculpa. Penso que muito haverá ainda por descobrir, estudar e divulgar no que respeita à história do operariado de Silves e do restante concelho, e este artigo não tem qualquer pretensão além a de dar a conhecer aos nossos leitores os acontecimentos da greve de 18 de Janeiro de 1934 em Silves.
Agradeço particularmente a Edmundo Estrela que me facultou um vasto dossier, com os artigos de José Luís Cabrita “ Silves – Lutas sindicais e anti-fascistas”; a parte respeitante a Silves do livro “Sindicatos contra Salazar – A revolta do 18 de Janeiro de 1934”, da investigadora Fátima Patriarca; o artigo de Alfredo Canana publicado no Diário de Lisboa em 1980, “ A propósito de uma efeméride que se aproxima – O 18 de Janeiro em Silves”; bem como ampla documentação pertencente a seu pai, António Estrela, um dos operários que interveio na greve e que esteve preso durante 12 anos; assim como as fotos e fichas policiais que aqui se reproduzem.


www.terraruiva.pt
29
Ago18

A ESTAS DATAS DEVEMOS PORTUGAL SER COMO É (PARTE 1)

António Garrochinho

A História diz respeito ao passado, porém, fala-nos também daquele que será o futuro de uma determinada nação
Achamos importante recordar alguns dos marcos históricos que fizeram de Portugal o país que é hoje.
E isto tanto se aplica ao que é bom, como a fundação do Condado Portucalense, os Descobrimentos ou até autores como Camilo Castelo Branco e Eça de Queiroz, como também se aplica ao que é menos bom, como é o caso da escravatura, a guerra civil, a Inquisição, entre outros.
Assim, e com base no livro '100 Datas que Fizeram a História de Portugal - Tudo o que Precisa Saber', do autor Pedro Rabaçal, apresentamos-lhe em várias publicações aquelas que são as 100 datas que mais marcaram a 'personalidade' do nosso país.






























https://www.noticiasaominuto.com
29
Ago18

No tempo de Salazar é que não era bom

António Garrochinho

Havia Respeito?

  • Desde a proibição de Partidos, à censura, até ao impedimento de todas as liberdades (associação, reunião e manifestação), havia opressão, havia medo, havia tortura e mortes. Respeito? Não! Apenas no Tarrafal, estiveram
    340 antifascistas que somaram entre
    eles dois mil anos, onze meses e cinco dias de cárcere e tortura, onde apenas
    lá foram 32 assassinados;

Os cofres estavam cheios de ouro? Justiça?

  • Ora se Salazar mandou enviar os pedintes para os meios rurais e proibiu o povo de andar descalço e mendigar, era porque havia miséria, desemprego, fome;
  • Esta subnutrição e miséria, levavam a que a esperança média de vida nos homens fosse entre os 36 e os 39 anos, das mortes (grandemente evitáveis) 30% do total devia-se a tuberculose, o Orçamento para a Saúde Pública estabelece-se em 1,2 escudos para cada cidadão e o número de camas de hospitais é de 24 para cada 10 000 habitantes, metade do país vive sem electricidade e a maioria das pessoas não tem saneamento e água potável, a iliteracia ronda os 80%;
  • O Regime estava subjugado ao capital estrangeiro (Inglaterra, EUA, etc), permitindo concessões ruinosas para a economia nacional, por exemplo entregava-se ao controlo britânico a produção e comércio externo de conservas, cortiça, resinas, etc;
  • Cerca de metade de todos os investimentos do Estado dividiam-se entre as despesas militares e despesas para assegurar o aparelho repressivo;
  • Em 44-45 dos já poucos que não sendo filhos da grande burguesia, conseguiam aceder ao ensino superior, milhares são afastados com a subida de 500% da propina;
  • As mulheres e os jovens ganhavam em média menos 50% realizando o mesmo trabalho. O funcionamento do país, lei após lei apenas faziam legal o roubo, o roubo da dignidade, da alimentação, da saúde, do trabalho, do salário, tornava legal e moralmente exaltante a exploração do homem pelo homem, o machismo, o racismo e o anti-comunismo.

Coragem hoje, abraços amanhã

Os anos passados em clandestinidade na luta contra o fascismo levaram-na a chamar-se Maria Helena, Marília, Benvinda. Hoje, é Conceição Matos, reconhecida resistente anti-fascista, continuando a ser uma orgulhosa militante do Partido Comunista Português. Os anos de luta e as prisões na PIDE deixaram-lhe memórias que, diz, “tenho o dever de contar”.
À medida que o tempo passa o risco de se perder a memória histórica aumenta. No caso de Portugal, chega-se a branquear o regime fascista. Como caracterizas a ditadura?
Há até quem negue ter havido fascismo em Portugal. No entanto, os 48 anos de ditadura significaram miséria extrema, carência alimentar, na saúde, na educação, brutal exploração, prisões, torturas, crimes.
Só no campo de concentração do Tarrafal foram assassinados 32 antifascistas. As acções reivindicativas nas fábricas, campos e escolas eram reprimidas, muitas vezes com prisões. As mulheres eram cidadãs de segunda. O não esquecimento do fascismo e das transformações que o 25 de Abril trouxe é uma forma de lutar pela liberdade.
Estiveste presa pela PIDE duas vezes, pela tua actividade contra o regime. A primeira vez um ano meio, entre 1965 e 1966. Como foi?
Foi horrível. Só quem passou é que sabe. Cheguei a uma altura em que achava que ia mesmo morrer. Mas o Partido dava-me força. Fizeram-me a tortura do sono, passava noites sem dormir. Às tantas já se tem alucinações. Mas nunca falei. Deram-me espancamentos brutais. Mas o que me custou mais não foram os espancamentos, foram as torturas morais. Despiram-me duas vezes. Da primeira vez, obrigaram-me a fazer as necessidades no chão e que eram limpas com a minha roupa. Disseram-me que dali só saía ou para a morgue ou para o Júlio de Matos. Da segunda vez ameaçaram que me iam despir completamente, e assim o fizeram. Depois, as PIDES empurraram-me para o pé de um grupo de dez homens. Gritei: são uns monstros! Um dia o povo há-de se vingar! Fui brutalmente espancada por uma PIDE. Depois chegou um fotógrafo para me fazer a tortura do flash. Sentaram-me numa cadeira, a darem-me murros no queixo para olhar directamente para o flash. Isto durou horas e horas. Disse-lhes: não tenho nada para dizer à polícia. Lá dentro aprendi a comunicar com os outros presos. Ouvia-os a bater nas paredes, tipo morse. Fui ouvindo e decifrei o código que usavam. Às tantas consegui comunicar com eles. Perguntaram-me: “falaste?”. Eu disse que não. Responderam-me: “amiga, coragem hoje e abraços amanhã”.
E a segunda prisão?
Foi em 1968. Estive presa dois meses e meio. Quando cheguei a uma das salas de tortura da PIDE, disse: foi aqui que me deram cabo da saúde. O inspector Tinoco, que me tinha torturado na primeira prisão, respondeu-me: “tenho muita honra em ter-lhe dado cabo da saúde. Tenho muita pena de não lhe ter dado cabo da vida”.
Que formas de luta utilizavas na clandestinidade para combater o fascismo?
Trabalho de agitação, distribuição de Avantes, escrevia materiais do Partido na máquina de escrever, cuidava da casa e vigiava-a. Tinha que fazer parecer que éramos [Conceição e o companheiro, Domingos Abrantes] pessoas com vidas normais. Tive vários pseudónimos, fui Maria Helena, fui Marília, fui Benvinda.
Onde estavas no 25 de Abril? Como o viveste?
Nesse dia estava em Paris, onde eu e o Domingos vivíamos desde 6 de Fevereiro de 1974, pois o Partido tinha-nos destacado para tarefas exteriores. Foi na rua, no encontro com um camarada, que soube do golpe militar. O Domingos estava em Bruxelas. Eu sabia pouco do que se estava a passar. Quando vi na TV francesa a Junta da Salvação Nacional com o Spínola e a seguir canções do Zeca Afonso fiquei confusa. Mas, à medida que ia recebendo mais informação, a alegria e a confiança avançaram. Especialmente no dia que libertaram os presos. Foi um momento emocionante e inesquecível.
Que mensagem queres deixar aos jovens nestes 42 anos do 25 de Abril?
Uma mensagem de confiança de que por muito difícil que seja o caminho, mais tarde ou mais cedo as esperanças que Abril abriu serão realizadas. Que os nobres ideais do socialismo e do comunismo triunfarão.
Mas esse futuro não cairá do céu. Constrói-se com a luta constante. Confio que os jovens comunistas de hoje e amanhã serão como sempre foram construtores empenhados do futuro.
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Como se fez o 25 de Abril?

Foram 48 anos de ditadura fascista em Portugal. 48 anos em que, apesar da dura repressão do regime, nunca deixou de haver quem lutasse contra o fascismo, pela democracia e a liberdade. Foram todas as lutas, umas maiores outras mais pequenas, mas todas de grande significado e importância, que criaram as condições para o derrube do fascismo e para a madrugada libertadora do 25 de Abril. Lutas em que os comunistas estiveram sempre presentes, sendo o PCP o único partido que resistiu durante toda a ditadura mantendo sempre actividade e a sua direcção política dentro do território nacional, com vários exemplos de heroísmo na resistência às mais duras provações impostas pela clandestinidade, incluindo a prisão e a morte de muitos comunistas.
É importante relembrar o papel que a juventude teve ao longo dos anos na luta anti-fascista. Damos aqui apenas alguns exemplos de como a luta foi fundamental para derrubar o fascismo:

ANOS 30


arrastao.blogs.sapo.pt



A juventude esteve presente desde os primeiros momentos em que a luta anti-fascista se afirmou. Logo em 1934, no culminar de um longo processo de luta contra a fascização dos sindicatos e contra o governo de Salazar, temos o marco da greve geral dos operários vidreiros na Marinha Grande a 18 de Janeiro, em que os trabalhadores chegaram a tomar o poder naquela localidade, a que se sucedeu uma brutal repressão pelo fascismo. Segundo os participantes nesse momento alto da luta anti-fascista, havia uma grande influência das Juventudes Comunistas nas fábricas, nomeadamente junto dos aprendizes.

Anos 40 e 50

Apesar da brutal repressão, houve ao longo dos anos diversos focos de luta dos jovens contra o fascismo, nas escolas (liceus, escolas industriais e comerciais, universidades), e nas empresas. Das várias estruturas, destacamos o Movimento de Unidade Democrática Juvenil (MUD Juvenil) que foi criado para dar expressão a essa luta, aproveitando todas as possibilidades de actuação política legal, articuladas com um trabalho clandestino e semi-legal.
agualisa6.blogs.sapo.pt

O MUD Juvenil teve uma grande importância na criação de Associações de Estudantes e na eleição de dirigentes associativos comprometidos com os valores democráticos. A influência e mobilização do MUD Juvenil foi ainda determinante para contrariar a influência da organização para-militar criada pelo regime fascista, a Mocidade Portuguesa, que apesar de ser de participação forçada para muitos jovens, nunca conseguiu ter a mesma capacidade de mobilização do MUD Juvenil.
Das muitas lutas e acções anti-fascistas que poderiam ser citadas, destacamos a Semana da Juventude, que foi lançada pela Federação Mundial da Juventude Democrática (FMJD, estrutura da qual actualmente faz parte da JCP) em Março de 1947 e que teve expressão em Portugal por diversas actividades organizadas pelo MUDJ, entre as quais um acampamento de jovens em defesa da democracia, realizado em Bela Mandil, no Algarve, e que foi brutalmente reprimido pelo fascismo. É daí que o 28 de Março foi consagrado, após a Revolução de Abril, como o Dia nacional da Juventude, lembrando esse marco do movimento democrático juvenil.

Anos 60 e 70

Os primeiros anos da década de 1960 são marcados por grandes lutas anti-fascistas: a fuga de Peniche e outras fugas das prisões políticas do fascismo; o desencadeamento da luta de libertação nacional em Angola; as grandes lutas dos trabalhadores agrícolas do Alentejo e Ribatejo que resultaram no alcançar da jornada de 8 horas; as manifestações do 1.º de Maio de 1962, que em Lisboa tiveram mais de 100 mil manifestantes; entre outros exemplos – lutas que marcam um ascenso da luta anti-fascista, e em que a juventude esteve sempre presente.


É nesse contexto de avanços na luta que se dá o ascenso do movimento estudantil, que seinseriu na dinâmica de luta do movimento democrático e anti-fascista. Das muitas lutas académicas, destacamos a grande Crise Académica de 1962, marcada por diversas greves, manifestações, luto académico e outras formas de luta dos estudantes, dando origem à consagração do 24 de Março como Dia do Estudante. A grande greve estudantil de 1969 em Coimbra é também um marco na luta dos estudantes.
Muitos outros exemplos poderiam ser citados, desde candidaturas presidenciais, congressos, manifestações pela Paz e contra a guerra colonial, amplas mobilizações de massas que deram frutos em Abril de 1974 e no período que se lhe seguiu.


www.jcp.pt
29
Ago18

Sarre: A seleção do país que nunca existiu

António Garrochinho

O Sarre, em alemão Saarland, é um dos dezasseis lander - estados federais - que compõem a Alemanha. Com somente 2 569 km², o Sarre é um dos mais pequenos estados germânicos, apenas superando em tamanho os lander de Bremã, Hamburgo e Berlim
 
Atravessado pelo rio Sarre, que lhe dá nome, o pequeno estado fica encostado à fronteira com o Luxemburgo e a França, situado no sudoeste do país, cercado a leste e a norte pelo estado da Renânia-Palatinado, o Sarre tem como capital a cidade de Säarbrucken, e tem uma história curiosa que transformou esta outrora pacata região de agricultores num dos principais centros de disputa europeia, durante o século XIX e a primeira metade do século XX, à imagem da vizinha Alsácia e Lorena (França).
 
Fruto da geopolítica
 
Ocupada pelos franceses em sequência da Revolução Francesa (1789) a região funcionou como um tampão entre as ambições gaulesas e o crescente poderio da Prússia, trocando de mãos até 1871, momento em que na sequência da Guerra Franco-Prussiana a região seria incorporada no recém unificado (e nascido) Império Alemão.
 
A Primeira Guerra Mundial viu o domínio sobre a região mudar de mãos, com a França a receber um mandato da Sociedade das Nações para administrar o Sarre. Um referendo realizado em 1935 "devolveu" a região à Alemanha, e o Sarre passou a fazer parte do III Reich. 
 
Mapa alemão que mostra o Sarre (a preto) e as fronteiras com a Alemanha, França e a proximidade do Luxemburgo.
Terminada a Segunda Guerra Mundial(1945), a Alemanha encontrava-se militarmente ocupada pelos exércitos dos vencedores aliados: União Soviética, Estados Unidos da América (EUA), Grã-Bretanha e França.
 
Em sequência da Conferência de Potsdam (17 de Julho a 2 de Agosto de 1945) as quatro potências acordavam entre si, dividirem a Alemanha e a Áustria em quatro zonas, cada uma ocupada por um dos quatro exércitos vencedores. As duas capitais, Berlim e Viena, seriam também divididas em quatro setores que seriam igualmente controlados pelas quatro potências. Acordaram também separar os dois países e impedir que se voltassem a unir.
 
Com o agudizar das relações entre os aliados e o espoletar da Guerra Fria, a Alemanha acabaria por ficar dividida em duas entidades: A República Federal da Alemanha (RFA) - a parte ocidental do país que incluia os territórios controlados por EUA, França e Grã-Bretanha - e a República Democrática Alemã (RDA) - parte oriental do país, composto unicamente pelo setor ocupado pela União Soviética.
 
Mas já em 1946, a região do Sarre, no sudoeste do país, ocupada pela França, fora separada da Alemanha ocupada, para se formar o Protectorado do Sarre. Uma entidade política, autónoma, sob supervisão francesa, que provocou uma inusitada situação: um território alemão, administrado por franceses, que oficialmente não era nem alemão, nem francês.
 
As autoridades francesas pensavam incorporar o Sarre na França, ou como segunda hipótese, viabilizar um estado independente do Sarre, amputando a Alemanha de uma região muito rica em matérias primas e carvão. Mas não obstante os grandes desígnios elaborados no Quai D'Orsay, ambos os projetos acabariam por esbarrar nos desejos da população, ansiosa por se reunir à Alemanha Ocidental.
 
Representação desportiva
 
Com um estatuto autónomo, o Protetorado do Sarre pôde participar em competições desportivas internacionais e em 1952, uma representação nacional sarlandesa partiu para Helsínquia, onde participou nos Jogos Olímpicos de Verão em nove modalidades distintas. 



A comitiva sarlandesa desfila na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Helsínquia (1952).


 

 O futebol do Sarre não participou nos Jogos de 1952, mas estaria presente na fase de qualificação do mundial de 1954, que seria disputado na Suíça. O futebol sarlandês emancipara-se e a 25 de Julho de 1948, nascera a Saarländischer Fußballbund (SFB) - Federação Sarlandesa de Futebol - em Sulzbach.
 
A «Aventura Francesa»
 
O estatuto do Sarre no Pós-Guerra permanecia incerto e enquanto certos membros do governo francês ponderavam a anexação do território, pelas chancelarias da Europa se discutia o destino a dar à região, o futebol local tentava servir de meio para "suavizar" as relações franco-alemãs.
 
A partir de 1948, o Bureau de Sports, promoveu a realização de encontros desportivos entre equipas dos dois países. Mas a presença de alemães em terras francesas não seria por certo bem recebida pelas populações gaulesas, tão fresca que estava a memória da guerra e da ocupação germânica .
 
O Sarre, fruto da ocupação francesa, tornou-se o intermediário perfeito para a situação. Aos poucos, atletas e equipas sarlandesas atravessaram a fronteira para atuar em França, o que ajudava os clubes locais a encontrarem novos adversários, uma vez que as equipas do Sarre continuavam impedidas de visitar ou serem visitadas por equipas alemãs.



Militares franceses cumprimentam os jogadores sarlandeses, momentos antes de mais uma partida.

 

Entretanto, a SFB organizava a Ehrenliga, que durou três épocas, uma competição onde participavam diversos clubes locais, com excepção do 1.FC Saarbrücken, clube que aceitou o convite da Federação Francesa de Futebol (FFF) para participar como convidado no Championnat de France de football D2, época 1948/49, afrancesando o nome para FC Sarrebruck, jogando contra clubes dos «cinco cantos do hexágono» entre eles alguns de grande tradição no futebol francês como o Nantes, o Bordéus, o Mónaco ou o Lens. A Liga tinha 19 clubes, podendo assim o Sarrebruck "tapar a vaga" e ser o adversário do clube que ficava livre em cada fim-de-semana.
 
O «desaparecimento»
 
Para surpresa dos franceses, o clube convidado venceu a esmagadora maioria dos jogos, pedindo de imediato a admissão na D1, o que alarmou os dirigentes dos principais clubes franceses, que vetaram a subida de divisão do Saarbrücken, para desilusão de Jules Rimet, um grande impulsionador da inclusão do Sarre em França, que prontamente se demitiu da presidência da FFF em sequência da "nega" dos dirigentes dos clubes e da Liga.
 
Contudo, a história da presença do Saarbrücken nas competições francesas levanta muitas dúvidas para os historiadores do futebol. Oficialmente o Saarbrücken nunca participou na D2 1948/49, não sendo incluído na classificação final homologada pela FFF.
 
Jornal local faz referência a uma vitória do Saarbrücken por 8x0 sobre o Le Mans, fazendo eco que a equipa sarlandesa era «líder da tabela» [tabellenführen] da D2.
Mais estranho será o facto de a France Football não fazer nenhuma referência à participação do Saarbrücken na prova, não anunciando nenhum dos seus jogos, não se podendo encontrar nas suas páginas nenhuma crónica de um jogo que envolva o FC Sarrebruck, nem nunca o nome do clube tenha aparecido na classificação da prova ou numa ficha de jogo. 
 
A tabela classificativa conta com apenas 19 clubes, curiosamente, todas as semanas, uma equipa ficava livre e nessa data, a equipa livre defrontava o Sarrebruck, que ao longo de 38 jogos, obteve 26 vitórias, sete empates e cinco derrotas, o que perfazia um total de 59 pontos, o suficiente para ser campeão, com mais seis pontos que o Lens e o Bordéus, que aparecem na classificação final - e oficial - com 53 pontos, respectivamente em primeiro e segundo lugar. Talvez esta «omissão» do FC Sarrebruck dos registos, ajude a explicar a decisão do clube do Sarre de desistir da ideia de competir em provas oficiais francesas.

Taça Internacional do Sarre
 
Em sequência de ter rejeitado permanecer na II Divisão gaulesa, o Saarbrücken abandonou a Liga Francesa, rejeitando ao mesmo tempo competir na débil Ehrenliga o que abriu um problema aos dirigentes do clube, pois ao rejeitarem jogar em França e ao recusarem participar na prova local e como os clubes do Sarre continuavam impedidos de jogar na Alemanha, o Saarbrucken deixou de poder jogar futebol.  A solução encontrada pelos dirigentes sarlandeses foi criar uma competição, a Internationaler Saarlandpokal, para assim manter o clube ativo.


Troféu da Taça Internacional do Sarre, que o Sarrebrücken venceu na primeira edição.

 



No novo torneio participaram diversos clubes de topo de quatorze países da Europa e América, mas apesar do sucesso da primeira edição, em que o Saarbrücken foi vencedor a prova - batendo os franceses do Stade Rennais na final - acabaria por só ter mais uma edição, tendo os clubes do Sarre sido admitidos a participar na Oberliga Sudwest, com autorização da DBF (federação alemã), a prova regional dos vizinhos lander da Alemanha Federal.
 
Em 1955, o Saarbrücken foi convidado para participar na primeira edição da Taça dos Clubes Campeões Europeus, como representante do Sarre. O clube venceu o AC Milanpor 3x4 em San Siro, mas seria goleado em casa na segunda mão (1x4).
 
A seleção do Sarre

Em Julho de 1949, os diversos clubes federados na SFB tinham declinado o convite para se associarem À FFF, e quase um ano mais tarde, em Junho de 1950, a SFB seria admitida na FIFA, três meses antes que a DFB. A Federação da Alemanha de leste só seria admitida na FIFA dois anos volvidos.
 
Tendo como base a equipa do Saarbrücken e alguns jogadores de outros clubes locais (como  o SV Saar 05 e o Borussia Neunkirchen) a seleção do Sarre pôde disputar jogos internacionais, 19 ao todo, 10 deles contra equipas B e disputou a qualificação para o mundial de 1954.
 
A 22 de Novembro de 1950, o Sarre bateu a seleção da Suíça B por 5x3 em Sarrbrücken. O primeiro jogo oficial foi disputado contra a Noruega, em Oslo, tendo o Sarre vencido por 2x3, começando da melhor maneira a qualificação para o mundial suíço.
A Mannschaft do Sarre, que participou nas eliminatórias para o mundial de 1954 na Suíça.



 

Seguiu-se uma derrota em Estugarda com a Alemanha Ocidental (3x0). Um empate a zero com a Noruega em casa, deixou em aberto a possibilidade de discutir a qualificação com a Alemanha Ocidental no último jogo, mas a força do poderoso vizinho fez-se sentir e o Sarre perdeu por 1x3.
 
Para muitos podia ser uma derrota pesada, mas a esmagadora maioria dos habitantes do Sarre, considerava-se alemã e no verão do ano seguinte, festejaria como qualquer outro alemão, a vitória da Mannschaft na final de Berna contra a Hungria (3x2)
 
A realização do mundial na Suíça permitiria outro grande momento na história do futebol local. A 5 de Junho, pouco antes da competição começar na Suíça, o Uruguai, campeão mundial em título, visitou o Protectorado. No Ludwigspark em Saarbrücken, com Schiaffino, Andrade, Varela... a «Celeste Olímpica demonstrou toda a sua classe».
 
Perante 15 mil espetadores, os sul-americanos brilharam, goleando a seleção do Sarre por 1x7. O tento de honra seria da autoria de Rob Niederkirchner, o herói que conseguiu bater Máspoli. 
 
Plebiscito e «regresso a casa»
 
Apesar da não qualificação, Helmut Schön continuaria a treinar a seleção do Sarre até 1956. Schön, natural de Dresden na Alemanha Oriental, orientara também o Saarbrücken entre 1953 e 1954, e alguns anos depois da incorporação do Sarre na RFA, seria o treinador da seleção alemã ocidental, liderando a Mannschaft à conquista do Euro 72 e do Mundial de 1974.
 
Em 1955 realizou-se o referendo em que o os sarlandeses decidiram que o seu destino devia estar ligado à República Federal da Alemanha. A data do regresso à pátria ficou marcada para 1 de Janeiro de 1957.
 
Outra figura do futebol do Sarre que ficou ligada ao futebol alemão, seria Hermann Neuberger, um natural do Sarre, que liderou a DFB entre 1975 e 1992, sendo presidente da instituição na altura da conquista do mundial de 1990 em Itália e presidindo à federação aquando da unificação das duas Alemanhas.
 
Fosse pela longa duração do seu consulado, fosse pelas unificação, a verdade é que Neuberger já ganhara um papel na história do futebol alemão por ter sido em 1962 um dos mentores da fundação da Bundesliga, além de ter sido um dos responsáveis pela organização do Mundial de 1974.



www.zerozero.pt
29
Ago18

Tarifa solidária no gás de botija não responde às necessidades do País

António Garrochinho


O projecto-piloto de aplicação da tarifa solidária a «clientes finais economicamente vulneráveis» não serve a maioria dos utentes e adia o compromisso do Governo de reduzir o preço do gás de botija.
O custo do gás de botija «é praticamente o dobro do gás natural canalizado», lê-se na petição do MUSP
O custo do gás de botija «é praticamente o dobro do gás natural canalizado», lê-se na petição do MUSPCréditosAntónio Cotrim / Agência Lusa
De acordo com a portaria publicada hoje em Diário da República, o projecto visa testar a aplicação da tarifa solidária num número limitado de municípios do continente, tendo a duração de um ano, contado da data de celebração do primeiro protocolo.
O diploma elege para beneficiar da tarifa solidária de Gás de Petróleo Liquefeito (GPL) as pessoas singulares em situação de «carência socioeconómica», nomeadamente as que são abrangidas pelo complemento solidário para idosos, rendimento social de inserção (RSI), subsídio social de desemprego, abono de família e pensão social de invalidez.
Considera ainda como beneficiários os utentes que usufruem da tarifa social de energia eléctrica, devendo, para isso, «a Direcção-Geral da Energia e Geologia (DGEG) fornecer aos municípios requerentes a identificação dos beneficiários elegíveis».
Na portaria, assinada pelo secretário de Estado das Autarquias Locais, Carlos Miguel, e pelo secretário de Estado da Energia, Jorge Seguro Sanches, cada beneficiário terá direito a duas garrafas por mês a preço solidário, à excepção dos agregados constituídos por mais de quatro elementos, em que o número de botijas com a tarifa em causa ascende a três.
O projecto-piloto vai abranger, no máximo, dez municípios e será aberto a todos os operadores do mercado titulares de marca própria, que nele queiram participar. O mercado do gás engarrafado em Portugal é dominado pela Galp, Repsol, Rubis e OZ, que conseguem margens de 27%. 

Alcance limitado

Sendo Portugal o país da Europa onde o preço do gás de botija é mais elevado, o alcance da medida é limitado e revela a inércia do Governo do PS em assumir os compromissos definidos no Orçamento do Estado de 2017, de reduzir os preços do gás utilizado em 2,6 milhões de lares. 
No mês de Junho, Jorge Seguro Sanches argumentava que a criação de uma tarifa social para o gás de garrafa, em oposição à fixação de preços máximos, como reivindicam o PCP e o PAN, teria resultados «mais importantes» para as regiões do Interior.
Mas, se analisarmos, por exemplo, a distribuição geográfica do RSI, de acordo com as estatísticas produzidas pela Segurança Social, vemos que é nos grandes centros urbanos, designadamente nos distritos de Lisboa, Porto e Setúbal que se concentra o maior número de beneficiários desta prestação social.  
Numa petição lançada em Maio, o Movimento de Utentes dos Serviços Públicos (MUSP) alertava para a necessidade de baixar o IVA do gás de botija de 23 para 6%, denunciando que 75% das famílias portuguesas não tem alternativas a este gás e «estão directamente a contribuir para os lucros dos grandes fornecedores». 
Em Espanha, onde o preço é regulado e «os rendimentos das famílias são substancialmente superiores», o mesmo produto «é quase dez euros mais barato», referem os utentes. 


www.abrilabril.pt
29
Ago18

Clara Ferreira Alves, anticomunista e ignorante

António Garrochinho


Clara Ferreira Alves, que já foi de tudo e de todos, santanete mal-agradecida, viúva socratina, apoiante do PSD e do PS, promessa de escritora, modelo de futilidades e de um provincianismo cosmopolita desesperado.
Dia 10 de Novembro de 2015 passa para a história da vida política portuguesa, não só pelas consequências que o acordo à esquerda irá provocar nas opções das políticas futuras, mas principalmente pelo modo como se pode utilizar um partido, enquanto força política organizada, para influenciar a realidade, gerir os tempos e exercer o poder.
Em democracia, é natural função dos partidos moldarem e transformarem as circunstâncias em activos políticos que lhes permitem alcançar os objectivos a que se propõem.
Esta foi a ocasião em que a forma suplantou o conteúdo, o controlo político do tempo e do modo condicionou a estratégia, e a capacidade de estabelecer a percepção de que a força de uma ideia era a ideia de uma força mais se impôs.
Se Cavaco Silva indigitar António Costa para formar governo, o que teremos será um governo PS com apoio parlamentar do PCP, dos Verdes e do BE. Se teremos um governo PS com uma efectiva política de esquerda sustentada nos acordos assinados, veremos.
São tempos apaixonantes e desafiadores. Porém, para a caprichosa pluma Clara F. Alves, profissional de bitaites, “(…) caminhamos para a mais grave crise do regime depois do 25 de Abril”, isto em texto bisnau em que nos avisa, espevitada de orgulho, como se soletrasse quadras em dia da raça, que é anticomunista.
Temos, então, que a Joana d’Arc da Artilharia 1 é um soldadinho aprumado na guerra contra a razão, especialista em propaganda em que o método é a inversão dos factores, a inversão de todos os valores no âmbito da qual não existe mentira que não mereça a pena ser difundida.
O anticomunismo de que Clara se reclama é uma ideologia da negação que falsifica os dados e recorre à mentira. Também faz parte deste método difamar e qualificar de ingénuos e imbecis os que pensam de outra forma, algo que Ferreira Alves pratica com militante afinco.
Clara Ferreira Alves, que já foi de tudo e de todos, santanete mal-agradecida, viúva socratina, apoiante do PSD e do PS, promessa de escritora, modelo de futilidades e de um provincianismo cosmopolita desesperado, escrevinhadora no “Correio da Manhã”, o que pode explicar muito, que teve um primo clandestino comunista, diz ela, o que pode explicar outras tantas coisas, é boçal-chique e, principalmente, ignorante.
Optou há muito por trocar pensamentos por colagens de propaganda – dá menos trabalho e tem clientela assegurada. O texto em questão está polvilhado de mentiras, suspeições, fantasias, preconceitos e de uma atrevida ignorância.
Começa que o anticomunismo da Clara é, na realidade, anti-PCP. Não existe nela qualquer ideia que mereça debate; o que existe é crendice.
Todo o texto é uma peça contra o PCP, tentando deixar a ideia de que os comunistas são responsáveis por todos os males e, neste caso, pelo sufoco da cultura portuguesa desde os anos 60 do século passado.
E como é que a pobre chega a esta conclusão? Está tudo na Tate Modern em Londres, numa exposição, afirma tal Colombo.
É uma snobe, para quem o fascismo, que arruma numa linha de texto, “foi um regime totalitário que não percebeu a história”, fim de citação.
Falar do pintor Dias Coelho, assassinado na rua a tiro, ou das torturas infligidas ao escritor Urbano Tavares Rodrigues, ou das prisões do compositor Lopes Graça, ou do assalto e destruição da Sociedade Portuguesa de Autores em Maio de 65 pela PIDE e por elementos fascistas do Jovem Portugal e dos “Centuriões”, e da prisão de João Gaspar Simões, Augusto Abelaira, Fernanda Botelho, Manuel da Fonseca, Alexandre Pinheiro Torres, entre outros.
Lembrar a morte, tortura e exílio de milhares de comunistas, homens e mulheres simples e anónimos, que com o seu sacrifício ganharam a nossa liberdade, nunca reclamando nem esperando nada, é recordar-lhe, minha senhora a sua pequenez.
O seu insulto grotesco, dirigido a homens e mulheres de coragem que seria incapaz de encarar nos olhos, prova a sua mediocridade orgânica, carente de alarve aplauso.
Já agora, e porque não faz tese, só refere achaques temperamentais para a doença de que padece, em que classificação coloca o seu anticomunismo?
Na da beata de Beirais? Na do verdugo da PIDE? Na do nazi ou na do racista? Na do Salazar ou na do Caetano? Na do maccarthismo ou na do Ricardo Salgado?
A senhora é anticomunista porque é o seu espaço vazio que gere os fantasmas da sua incultura. Amarga e sem referências, soma clichés em panfletos e, tal como diz, “vende opiniões sujeita ao rating das audiências e comentários online”.
Ou seja, tem a pluma à disposição, à venda, e ser anticomunista é mais fácil e tem dado para a vidinha.
Afirma que é assim por “razões históricas e profundamente temperamentais”. Não se iluda, é fundamentalmente por ignorância.
Artur Pereira | Jornal i

abrildenovomagazine.wordpress.com



29
Ago18

Jorge Pires: Uma intervenção decidida em defesa do SNS

António Garrochinho
VÍDEO









1 - O PCP chama a atenção para as dificuldades no funcionamento do SNS, reafirma a sua oposição à forma como o Governo do PS tem conduzido a política de saúde e denuncia a campanha em curso, desenvolvida a partir dos centros político e económico do grande capital, não com o objectivo de melhorar o funcionamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS), mas para o substituir por um sistema de saúde centrado em duas componentes: um serviço público desvalorizado apenas com um conjunto de garantias mínimas, destinado aos mais pobres e uma prestação centrada nos seguros de saúde e concretizada pelos grupos privados, cuja prestação de cuidados dependeria do dinheiro que cada um tivesse para adquirir um seguro de saúde.
É inaceitável a postura demagógica e cínica de dirigentes do PSD e CDS, alguns que passaram pelo Governo de Passos Coelho/Portas e Cristas, provavelmente o governo que mais prejudicou o SNS e os direitos dos portugueses no acesso à saúde, virem agora lamentar-se de uma situação em que têm particulares responsabilidades


2 - São evidentes os sinais crescentes de fragilização do SNS, fruto de anos de política de direita, de subfinanciamento e subinvestimento que condicionam a sua missão constitucional de garantir o acesso de todos os portugueses à prestação de cuidados de saúde. O conjunto de problemas que afectam o funcionamento das unidades de saúde, com consequências sobretudo nos tempos de espera e na qualidade do serviço prestado, têm ganho expressão nos últimos meses. Dificuldades que são indissociáveis da transferência da prestação de cuidados para os grupos privados, com a respectiva canalização de meios financeiros já hoje superior a 3.000 milhões de euros/ano, considerando apenas as convenções, as PPP e os subsistemas públicos.


3 - O PCP reafirma que os problemas crónicos que se reflectem na situação actual do SNS são consequência da política de direita da responsabilidade de PS, PSD e CDS.
Mas o actual Governo do PS insiste numa política que fragiliza o funcionamento do serviço público e que limita a sua capacidade de responder às necessidades dos utentes.
O que se impõe são medidas efectivas que dotem o SNS das condições e meios para corresponder ao seu objectivo e não manobras que visam perturbar deliberadamente o funcionamento do SNS, desacreditá-lo e descredibilizá-lo aos olhos dos portugueses, para facilitar e justificar a presença crescente dos grupos monopolistas que intervêm no sector.


4 - Nos últimos dias falou-se muito das dificuldades que se vivem em cerca de 80% das maternidades públicas, devido à falta de profissionais para a constituição das equipas. Situação que exige a formação de mais médicos, nomeadamente da abertura da formação especializada a mais médicos jovens.
A justa preocupação, nomeadamente dos sindicatos quanto à falta de profissionais, não se pode confundir com a campanha desenvolvida que procura provocar insegurança para levar à opção por maternidades privadas. Nada de novo nesta situação. Já no passado recente com o primeiro Governo/Sócrates se justificou o encerramento de maternidades públicas com o pretexto de não realizarem 1500 partos/ano, não se conhecendo que alguma maternidade privada tenha sido encerrada por não atingir este número de partos.


5 - A desresponsabilização do papel do Estado em violação com o que a Constituição consagra, tem sido uma constante ao longo dos anos. O desinvestimento realizado por PS, PSD e CDS tem tido um impacto de dimensão estratégica na saúde em Portugal, visando enfraquecer e descredibilizar o SNS junto dos portugueses para justificar a política de privatização de serviços.
Para o crescente peso da oferta privada na saúde tem sido determinante a mobilidade dos profissionais de saúde entre o sector público e privado.
A contratação de profissionais pelo actual Governo tem sido insuficiente para compensar saídas para a reforma, para os privados e até para a emigração, situação tão mais preocupante quanto o pico da saída de médicos por limite de idade ainda estar por se verificar.
A escassez de profissionais – Médicos, Enfermeiros, Técnicos Superiores de Saúde, Técnicos de Superiores de Diagnóstico e Terapêutica, Auxiliares de Acção Médica e Assistentes Técnicos -, e a desvalorização social e profissional a que têm sido sujeitos, está na origem do aumento dos ritmos de trabalho, da exaustão e desmotivação, pondo em causa a prestação de cuidados de saúde, contribuindo para o aumento do tempo de espera para consultas e cirurgias, reflectindo-se no número de utentes sem médico – cerca de 700 000 apesar da redução que se tem vindo a verificar. Se é certo que o concurso agora realizado pode permitir reduzir o número de utentes sem médico de família, a verdade é que continuará a haver centenas de milhar de utentes sem médico e enfermeiro de família, mesmo com todas as vagas preenchidas.


6 - Desde a criação do SNS, faz dia 15 de Setembro 39 anos, o PCP tem tido uma intervenção responsável, sempre com o objectivo de salvaguardar a existência do SNS, reforçar a sua capacidade na promoção da saúde e na prevenção da doença, mas também a sua capacidade enquanto prestador de cuidados. Propostas que apontam para o reforço do investimento nos seus meios financeiros, técnicos e humanos, para garantir uma gestão executada por gente comprometida com o serviço público, para o fim da promiscuidade crescente entre o público e o privado, para o fim das PPP, entre muitas outras.
A valorização do SNS é inseparável da ruptura com a política de direita na afirmação da política patriótica e de esquerda. Para o PCP, é fundamental garantir que o SNS readquira a sua matriz inicial. Um Serviço Nacional de Saúde universal, geral e gratuito.
Escassez de profissionais, que no caso dos médicos se agrava com a degradação da formação médica. Tal como o PCP teve oportunidade de denunciar, o Decreto-Lei nº 13/2018 desfere um rude golpe no processo de formação médica existente em Portugal e aprofunda as malfeitorias que tinham sido introduzidas, em 2015, por PSD e CDS.
O que se impõe é não novos e inadmissíveis adiamentos, mas sim a contratação de profissionais que cubram as necessidades do SNS e a integração de todos os trabalhadores com contratos individuais de trabalho em contratos de trabalho em funções públicas, com a correspondente integração numa carreira com vínculo público.
A crescente dificuldade em realizar exames de diagnóstico nos hospitais públicos, em resultado da falta de investimento em equipamentos, tem sido argumento para transferir para os privados a realização desses exames como ainda há dois dias a comunicação social deu conta com a transferência de ecografias por parte do Hospital de Santa Maria para clínicas privadas.


7 - No imediato, a solução para uma parte significativa dos problemas do SNS, passa pela aplicação global do Plano de Emergência apresentado pelo PCP, de que destacamos:
- A dotação de cada unidade de saúde dos recursos orçamentais adequados às necessidades da população e considerando a modernização dos equipamentos e o alargamento da capacidade da resposta pública, bem como a melhoria da organização dos serviços;
- Reforço do investimento público, em particular quanto à requalificação e construção de centros de saúde e de hospitais, especialmente em Évora, Seixal e Sintra;
- Reverter as Parcerias Público Privado e assegurar a gestão pública desses estabelecimentos pondo fim à promiscuidade entre público e privado;
- Identificar as carências de Médicos e Enfermeiros, Técnicos de Saúde, Auxiliares da Acção Médica e Assistentes Técnicos, e proceder à sua contratação e substituir as subcontratações e vínculos precários por contratações com vínculo público efectivo, como prevê o Orçamento do Estado para 2018;
- Atribuir médico de família a todos os utentes na perspectiva de encontrar uma solução definitiva até ao final da legislatura, estabelecer um plano para progressiva redução do número de utentes por médico de família e implementar o enfermeiro de família;
- Revogar as taxas moderadoras e garantir o transporte de doentes não urgentes a todos os utentes que dele necessitam para aceder aos cuidados de saúde.


8 - Apesar de todas as dificuldades, é no SNS, que os portugueses encontram a resposta mais sólida e segura para as situações mais complexas, não apenas porque no serviço público estão as melhores equipas de profissionais e a experiência acumulada, mas principalmente porque a lógica de funcionamento assenta na saúde e não numa oportunidade de negócio para os grupos monopolistas da saúde. O direito constitucional à Saúde é inseparável do reforço e melhoria do Serviço Nacional de Saúde, objectivo que exige a ruptura com a política de direita e a concretização de uma política patriótica e de esquerda.



www.pcp.pt

29
Ago18

SAÚDE -Três mil milhões de euros vão anualmente para os privados

António Garrochinho

O PCP critica a política da Saúde do PS, mas também do PSD e do CDS-PP, que desvia para os privados três mil milhões de euros/ano, e denuncia a campanha em curso para desvalorizar o serviço público. 
Numa conferência de imprensa esta manhã, o dirigente comunista Jorge Pires começou por criticar a postura «demagógica e cínica» de dirigentes do PSD e do  CDS-PP, «alguns que passaram pelo governo de Passos Coelho, Paulo Portas e Assunção Cristas, provavelmente o governo que mais prejudicou o SNS e os direitos dos portugueses no acesso à Saúde». 
O PCP alerta para as dificuldades no funcionamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e reafirma a sua oposição à forma como o Governo do PS tem conduzido a política da Saúde.
Sobre a campanha em curso, «desenvolvida a partir dos centros político e económico do grande capital», Jorge Pires defende que ela surge, por um lado, para desvalorizar o serviço público, «destinado aos mais pobres» e, por outro, para instituir um sistema de prestação de cuidados «centrado nos seguros de saúde» e dependente «do dinheiro que cada um tivesse».
Para os comunistas, as dificuldades observadas no SNS, «fruto de anos de política de direita, de subfinanciamento e subinvestimento que condicionam a sua missão constitucional de garantir o acesso de todos os portugueses à prestação de cuidados de saúde», são «indissociáveis» da transferência da prestação de cuidados para os grupos privados. A que se junta a «respectiva canalização de meios financeiros já hoje superior a 3000 milhões de euros/ano, considerando apenas as convenções, as parcerias público-privado (PPP) e os subsistemas públicos».

Contratações não compensam saídas

Não obstante apontar a fragilização do SNS à política de direita, «da responsabilidade de PS, PSD e CDS-PP», o PCP critica o Governo do PS pelo facto de «insistir» numa política que põe em causa o funcionamento do serviço público, limitando «a sua capacidade de responder às necessidades dos utentes».
Sobre a contratação de profissionais pelo Governo, Jorge Pires advoga que ela tem sido insuficiente para compensar as saídas para a reforma, para os privados e até para a emigração. «Situação tão mais preocupante quanto o pico da saída de médicos por limite de idade ainda estar por se verificar», defende.
Para o PCP, a origem do aumento dos ritmos de trabalho, da exaustão e desmotivação dos profissionais de saúde deve-se à escassez de médicos e enfermeiros, entre outras categorias, e à desvalorização social e profissional a que estes trabalhadores têm sido sujeitos. 

«Reforço do investimento público» 

No imediato, garante o dirigente comunista, a solução para uma parte significativa dos problemas do SNS passa pela aplicação global do Plano de Emergência apresentado pelo PCP, onde a maioria dos pontos foi aprovada no Parlamento, e no qual se prevê «a dotação de cada unidade de saúde dos recursos orçamentais adequados às necessidades da população, considerando a modernização dos equipamentos e o alargamento da capacidade de resposta».
Ao mesmo tempo, propõe-se o «reforço do investimento público, em particular a requalificação e construção de centros de saúde e hospitais, especialmente em Évora, Seixal e Sintra», a reversão de PPP e garantia de gestão pública dos estabelecimentos de saúde, «pondo fim à promiscuidade entre público e privado». 
O PCP defende ainda a contratação de médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares, em detrimento das subcontratações e vínculos precários, além da revogação das taxas moderadoras e a atribuição de um médico de família a todos os utentes, «na perspectiva de encontrar uma solução definitiva até ao final da legislatura». 
Jorge Pires frisa que, apesar de todas as dificuldades, é no SNS que os portugueses encontram «a resposta mais sólida e segura para as situações mais complexas». «Não apenas porque no serviço público estão as melhores equipas de profissionais e a experiência acumulada, mas principalmente porque a lógica de funcionamento assenta na saúde e não numa oportunidade de negócio para os grupos monopolistas da saúde», conclui. 


 www.abrilabril.pt


29
Ago18

Miséria gritante em Timor-Leste

António Garrochinho

É tema de conversa no Facebook da atualidade, a "casa" onde sobrevive uma timorense idosa, desgastada pelos longos anos de luta pela sobrevivência, na atmosfera que envolve o local paira a indiferença das elites timorenses, dos empresários gananciosos, dos políticos do mesmo jaez que aprovam para eles, familiares e amigos mordomias imorais para além dos atos corruptos que praticam com toda a impunidade - exceptuando uns quantos que servem de exemplo na punição, para povo ver.

Pela parte da igreja - aparentemente interventiva socialmente - não toca o sino a rebate perante os milhentos timorenses que sobrevivem na miséria inconcebível e desumana. Falam, dizem aqui e ali sobre estas injustiças sociais, sobre o descalabro das desigualdades que nos saltam à vista, mas não separam o trigo do joio. Nas melhores oportunidades lá vão dar cobertura às elites que têm devastado milhares de milhões de dólares já não se sabe exatamente em proveito de quais benefícios coletivos.

Também não se vê em grandes reportagens dos orgãos de comunicação social timorenses o enorme descalabro de injustiças e desigualdades que sirva de denúncia sobre aquela realidade timorense: a pobreza extrema em grande percentagem causada pelo desvio de avultadas verbas que deviam e devem ser destinadas à melhoria das condições de sobrevivência dos timorenses socialmente mais injustiçados pelos poderes vigentes que se passeiam no fausto, articulando palavras enganosas sempre e não só durante as campanhas eleitorais. Esses demonstram estar desprovidos do sentimento de indignação perante as injustiças sociais de que são cúmplices ou mesmo altamente culpados. São os dirigentes, são as elites, embriagadas por poderes e por valores que experimentam com garbo, inchados de orgulhos que afinal são ainda mais causa das tantas injustiças que vimos se soubermos olhar com olhos de ver e por isso nos indignarmos e não nos calarmos.

Também não se vê por parte de correspondentes estrangeiros da comunicação social a mostra do que acontece em Timor-leste relativamente à pobreza extrema existente. Por uma ou outra vez lá aparece um caso... Para aliviar os pecados da profissão que é erradamente exercida e nos omite a realidade que deve levar ao conhecimento de todo o mundo. Mas essa não é só uma formatação exclusiva para Timor-Leste, é vasta e global. Tanto, sobre isso, que havia para acrescentar...

Certas denúncias surgem, por exemplo, no Facebook e noutras redes sociais. Têm o peso que têm e é real, sendo porém aquilatado somente pela relevância que lhe quiserem dar. O que não acontece neste exemplo que trazemos, basta perceber a indignação, a revolta,  os lamentos, a solidariedade, pelos exemplos e as palavras adendadas...

Perante isto qual será o efeito causado nas elites timorenses? O  que fará Taur Matan Ruak - agora PM - se acaso tomar conhecimento do triste exemplo aqui expresso? E de todos os outros que existem em Timor-Leste? O que farão todos os outros nos poderes políticos e de suas ilhargas? Experimentarão ao menos vergonha? Não tem parecido. Não parece que possuam esse sentimento. A reação é desmentirem e/ou avançarem com números e estatísticas ilusórias que lhes convenham e que permitam prosseguirem na senda dos seus absolutismos e ganâncias.

O povo timorense injustiçado não merece estes maus tratos, estas indiferenças, estas injustiças, este desprezo recheado de falsas promessas por parte dos que desencaminham os milhares de milhões de dólares não se sabe bem para onde nem porquê, quando se constata que existem prioridades gritantes quando olhamos para a realidade timorense.

Diz-se que a esperança é a última a morrer e que o rebate de consciências depravadas, às vezes criminosas, causa reconversões repletas de arrependimentos e de justiça. Fiquemos à espera. Sentados.

Certo é que existe imensa miséria gritante em Timor-Leste.

Beatriz Gamboa | Mário Motta = António Veríssimo


paginaglobal.blogspot.com
29
Ago18

Moçambique | Conselho de Ministros retira mandato a Manuel de Araújo

António Garrochinho

Manuel de Araújo foi mesmo afastado oficialmente do cargo de edil de Quelimane. A decisão foi tomada esta terça-feira (28.08) pelo Conselho de Ministros moçambicano. Ex-autarca diz que vai recorrer.

O Conselho de Ministros retirou na terça-feira (28.08) o mandato a Manuel de Araújo por ele ter saído do partido MDM, pelo qual foi eleito, e ter ingressado na RENAMO, em julho, ainda antes de terminar o mandato.

Manuel de Araújo está inconformado com o seu afastamento do cargo de presidente de Conselho Municipal de Quelimane, mas diz que não se surpreende com a decisão.

"Era um passo espectável, nós estávamos à espera, a qualquer momento, que o Conselho de Ministros tomasse essa decisão", disse.

Araújo refere que ainda está à espera do documento oficial com a decisão do Conselho de Ministros, além do documento com o pedido da Assembleia Municipal para o seu afastamento, da semana passada. Assim que os obtiver, promete recorrer.

"Posso garantir, neste momento, que vamos exercer o nosso direito. Nós não podemos agir com 'ouvir dizer'. Nós temos de receber os factos e uma comunicação. E, a partir dessa comunicação, temos um prazo, e, dentro desse prazo,  vamos apresentar o nosso posicionamento. Estamos num Estado de Direito, onde as partes têm o direito de serem ouvidas", afirmou.

Ameaças de morte

O ex-autarca denuncia também que tem sido alvo de ameaças de morte desde que foi apresentado publicamente como cabeça de lista da RENAMO nas eleições autárquicas, marcadas para 10 de outubro.

Segundo o porta-voz da corporação da polícia na província da Zambézia, Sidner Lonzo, já foram reforçadas as medidas de segurança para garantir a segurança de Manuel de Araújo.

"A polícia, junto aos serviços provinciais de investigação criminal, está neste momento a trabalhar para identificar as pessoas que proferem ameaças contra Manuel de Araújo, mas ainda não temos pistas a seguir. As vias de ameaças são essas reportadas por mensagens telefónicas", comentou Lonzo.

Manuel de Araújo conta que não é a primeira vez que sofre ameaças.

"Em plena sessão da Assembleia Municipal, fui ameaçado de morte. E na Praça dos Heróis, no dia 7 de abril do ano passado, um antigo combatente também me ameaçou de morte. O que fazemos sempre é alertar as autoridades e eles vão tomar as providências cautelares  que acharem".

Marcelino Mueia (Quelimane) | Deutsche Welle


29
Ago18

ruas, casinhas do nosso país

António Garrochinho


                   pedrinhas, flores, a nossa raíz
                   canteiro de malva e malmequer
                   a cal que de alva nos fere a vista
                   e um luar de Agosto que nos conquista
                   como o belo rosto de uma mulher


                   António Garrochinho 2011
29
Ago18

amor sem tempo

António Garrochinho



nas águas ténues do chuveiro
a tua pela macia, veludo
foi tudo
entramos numa harmonia sensual
verdadeira
natural
universos pairavam sobre mim
não sabia lidar com o desejo
não sabia lidar com a tua partida
só queria a tua boca, o teu beijo
a tua vida ...
turbilhão de soluções impensadas
só o desejo
os vapores expulsos dos nossos corpos
tinham o cheiro da paixão
mas o tabaco de tanto desespero
sofucava-me
na procura de alternativas
pensamento vã
mas acredito
mas acredita
o meu coração dançou,
pulou,
bailou
saltou do invólucro

o que amamos não saciou, nunca saciará
só quando te tiver definitivamente, descansarei
as cicatrizes desse amor estão vivas
sará-las
sei que queremos

António Garrochinho
29
Ago18

PEDRAS PARIDEIRAS - PORTUGAL

António Garrochinho


Pedras Parideiras
As Pedras Parideiras assim se chamam porque os olhos vêem isso: pedras maiores a parir pedras menores. O fenómeno é insólito – tão insólito que, segundo se diz, apenas existe cá e num outro ponto geográfico em território russo -, e acontece na Serra da Freita, junto a Vale de Cambra, fazendo parte do Arouca Geoparque (um dos quatro existentes em Portugal, a par com o já aqui falado Geoparque de Terras de Cavaleiros).

Acreditava o povo que de dentro da pedra-mãe se geravam novas pedras, como se de fetos se tratassem, e que estas eram repelidas da primeira como se falássemos de um vulgar parto, transformando estas rochas em verdadeiros seres vivos. 

Esta explicação popular de tal processo natural levou a que as gentes da Castanheira, aldeia que se situa imediatamente ao lado das Pedras Parideiras, recolhessem estas pequenas pedras-filhas e as levassem para casa com um propósito: colocá-las debaixo das almofadas das mulheres para que estas ficassem mais férteis, num ritual muito parecido ao que acontece com as marafonas da aldeia de Monsanto

Esta crença parece ter-se espalhado aos visitantes que lá vão (e já são muitos, na ordem dos milhares ao mês), porque é dificílimo encontrar alguma que seja. A versão científica, que tem invariavelmente menos graça, explica o que realmente acontece. 

Esta particular estrutura granítica aborígene, forma pequenos nódulos que com as alterações térmicas e a ajuda da água – esta entra em fendas existentes na pedra-mãe, que ao congelar aumenta de volume e faz o efeito de cunha, ou seja, transforma-se numa espécie de abre-caricas – se vão soltando da rocha-mãe em jeito de pedrinhas, com forma de discos, ficando assim espalhadas à volta da sua origem, à mercê de quem as encontrar.
O caminho até lá é relativamente fácil. Subindo a Serra da Freita, vindo de Vale de Cambra, viramos à esquerda para um trilho que indica o Centro Interpretativo das Pedras Parideiras e de onde se tem uma perspectiva longínqua da Frecha da Mizarela

Os aglomerados situam-se para cima, em direcção ao topo da serra, e já foi feita uma cerca  que permite a miúdos e a graúdos fácil acesso às rochas-mãe. 

Na verdade, não se tendo sorte, o que hoje conseguimos ver do trilho definido são apenas estas – as parideiras -, já que as outras, os seus rebentos, são roubadas. 
Percebemos quais são pelas cicatrizes que se vêem em cada um destes rochedos: buracos arredondados que marcam os sítios onde houve parto

Fora do alcance do braço humano estarão outras, mais acima, e essas, provavelmente, já com as suas filhas à sua beira. 

No Centro de Interpretação propriamente dito, que esconde por baixo de si outras pedras parideiras, estão guardadas algumas pedras paridas originais, de vários tamanhos.








www.portugalnummapa.com
29
Ago18

Pássaros nascidos em conchas?

António Garrochinho


Como assim? Aves nascendo em conchas e saindo voando por aí? 

Será mito ou verdade?

 http://www.bioorbis.org/2018/05/aves-conchas-mito-verdade.html


VAMOS DESCOBRIR...

Bom, tudo começou com Sir Robert Moray (Figura 2), que foi um espião do cardeal Richeliu, maçom, membro do exército escocês que tomou Newcastle dos ingleses em 1640 e, em seu tempo livre, o primeiro presidente da Royal Society. Ele escreveu em detalhes sobre a história natural de usa terra natal e fez uma descoberta memorável, publicada na revista da Sociedade, Philosiphical Transactions, em 1677.

Figura 2. Sir Robert Moray. Fonte da imagem: FindaGrave.

MITO OU VERDADE?

Em uma tora na costa da Ilha de Uist, ele observou e relatou:

“Inúmeras pequenas conchas; havendo em seu interior pequenos pássaros de formas perfeitas, os quais se supõe que sejam gansos selvagens (...) Esse pássaro (...) considerei de formas tão curiosas e perfeitas que parece nada lhe faltar, em relação a suas partes externas, para compor uma perfeita ave marinha; (...) o pequeno bico como aquele de um ganso, os olhos marcados, a cabeça, o pescoço, o peito, as asas, o rabo e as patas formados como os de outra ave aquática, se bem me recordo.” Sir Robert teve a honestidade de admitir que ele jamais havia observado algum dos animais adultos, mas garantiu a seus leitores que “algumas pessoas dignas de créditogarantiram ter visto alguns tão grandes quanto um punho fechado”.

Figura 3. Gansos-de-faces-brancas. Fonte da imagem: AvesdosAçores.

O mito dos pássaros nascidos em conchas, os gansos-de-faces-brancas (Figura 3), como os conhecemos hoje, sendo as conchas supostamente as sementes de uma certa árvore, já era bastante difundido (de fato, tais gansos eram confundidos com percebes (Figura 8), uma espécie decrustáceo pertencente à Infraclasse dos cirripédios). 

Figura 4. Thomas Henry Huxley (1825-1895). Fonte da imagem: TodayinScienceHistory.

A noção era tão arraigada que, durante um tempo, o ganso-de-faces-brancas (barnacle goose, em inglês) foi considerado um peixe e podia ser comido pelos católicos às sextas-feiras. Thomas Henry Huxley (Figura 4) sugeriu que o equívoco ocorreu porque tais pássaros eram comuns na Hibérnia, ou Irlanda, e que a mudança de Hiberniculae para Barnaculae, o termo então usado para cracas, foi bastante simples.

A VERDADE POR TRAZ DA EMBRIOLOGIA

A ideia de uma árvore que dá pássaros é estúpida, mas surge de uma observação antiga e precisa, de que a forma adulta de muitos seres é bastante distinta da de seus ovos e embriões (Figura 6). O olho não reinado tem dificuldade em distinguir as formas jovens. Um feto humano com um mês de desenvolvimento é quase idêntico ao de um chimpanzé, a parte interna do ovo de um ganso se parece bastante com a do ovo de um avestruz, e as larvas de cracas não são muito diferentes das de seus parentes, as lagostas e os caranguejos. Até mesmo o fundador da embriologia moderna, Karl Von Baer (Figura 5), considerava difícil estabelecer tais distinções. 

Figura 5. Karl Von Baer (1792-1876). Fonte da imagem: Wikipédia.

Em 1828, ele escreveu: “Tenho dois embriões preservados em álcool que esqueci de rotular. Hoje, sou incapaz de determinar o gênero a que pertencem. Podem ser lagartos, pequenos pássaros ou até mesmo mamíferos.



O desenvolvimento é a imposição de um padrão sobre uma massa disforme. A maioria dos animais, das cracas aos gansos, compartilha os mesmos tipos básicos de células. Conforme um embriãocresce, elas são organizadas para formar um caranguejo, um ganso ou um avestruz, um homemou um morcego

Essa grande recombinação constrói corpos novos e complexos a partir da mesma matéria-prima. Ao fazê-lo, esconde a lógica sob a qual os corpos são construídos. A anatomia de um adulto faz muito mais sentido quando vista pelos olhos do embrião. 

No livro A Origem das espécies usou a similaridade entre os estágios iniciais de seres aparentemente não relacionados para argumentar que “a comunhão da estrutura embrionária revela a comunhão da descendência”.

    NA BIOLOGIA MODERNA

    A ideia ganha nova vida na biologia moderna, que revela afinidades entre os embriões até mesmo de seres distantes. O DNA, assim como os corpos que constrói, é baseado em uma série de variações sobre um tema estrutural. 

    Conforme o ovo se torna adulto, órgãos complexos (olhos, ouvidos, mãos ou cérebros) são agrupados a partis de elementos que podem ser distinguidos com clareza apenas no embrião.

    Figura 7. Cracas. Fonte da imagem: GeoCaching.

    Em nenhum lugar o contraste entre jovem e velho é mais notável que entre as cracas (Figura 7). Um dia se pensou que tais seres fossem caracóis, por causa de suas sólidas conchas. 

    De fato, eles são animais de membros articulados não diferentes de caranguejos, aranhas ou moscas. Seus ancestrais viviam livres nos oceanos, mas, hoje, muitos deles passam a maior parte de suas vidas numa cela de prisão. As cracas são parentes próximos não de lapas, como um dia se imaginou, mas de camarões e lagostas. 

    Essa afinidade foi descoberta nos anos 1820 por um cirurgião do exército baseado na Irlanda mas, por muitos anos, o grupo (os cirripédios, para dar seu nome técnico) pareceu não mais do que obscuro. Poucos biólogos se importavam com tais seres tediosos.

    Figura 8. Percebes.

    Até que Charles Darwin, o famoso naturalista, dedicou um sexto de sua carreira científica ao estudo desses seres. Seus oito anos de pesquisa, mostraram que os animais, por mais tolos que pareçam, tinham lições não apenas para os naturalistas, mas para a biologia como um todo. 

    Conforme ele se aproximava lentamente da ideia de que a vida não era fixa mas passível de mudanças, foi alertado de que “ninguém tem o direito de examinar a questão das espécies a não ser que tenha descrito minuciosamente muitas delas”.

      Darwin escreveu quatro livros, sobre a taxonomia, os embriões e os fósseis de tais seres. Algumas espécies eram estranhas; tão distintas dos habitantes das rochas da costa do País de Gales ou da Escócia que qualquer parentesco parecia quase tão improvável quanto uma afinidade com os gansos. Darwin foi tão preciso que ganhou prêmios por seus estudos e estabeleceu um tema central da evolução: de que o embrião é a chave para o adulto.


      www.bioorbis.org
      29
      Ago18

      DE ONDE VÊM AS ROLHAS ? - UM VÍDEO HOMENAGEANDO OS CORTICEIROS PORTUGUESES

      António Garrochinho



      VÍDEO


      Atenção o vídeo está em inglês mas é possível traduzir para português.

      NO CANTO INFERIOR DIREITO CARREGUE NO PEQUENO RECTÂNGULO E ACTIVE AS LEGENDAS, DEPOIS CARREGUE NA RODINHA DENTADA LOGO A SEGUIR E CARREGUE ONDE DIZ TRADUZIR AUTOMATICAMENTE E APARECERÁ A POSSIBILIDADE DAS VÁRIAS TRADUÇÕES

      Abrir uma garrafa de vinho depois de um longo dia é um dos poucos prazeres reais da vida. Mas já se perguntou de onde vem aquela pequena rolha, também conhecida como a última barreira entre você e seu vinho favorito? Em Portugal, há uma longa e rica história de colheita de sobreiros. Os ceifeiros retiram as cascas da árvores à mão, usando um processo que garante que a árvore permaneça viva e saudável.

      O método é tão difícil que os profissionais começam a aprender o ofício desde cedo, mantendo uma habilidade passada através das gerações. Então, da próxima vez que você relaxar com uma garrafa de vinho, dê uma segunda olhada na cortiça, a jornada de manter o vinho bem acondicionado na garrafa é mais surpreendente do que você imagina.
      www.mdig.com.br

      29
      Ago18

      PCP quer estudo sobre impacto do turismo em Lisboa

      António Garrochinho



      www.noticiasaominuto.com




      Através do documento, que ainda será apreciado e votado pelo executivo (liderado pelo PS), o PCP defende a promoção de uma "abordagem de prevenção dos impactos negativos do turismo intenso", através do estabelecimento da capacidade de carga turística - "uma ferramenta de planificação e de ordenamento da atividade turística, aferindo-se a sustentabilidade desta atividade na relação com a cidade".

      Mais concretamente, este conceito tem a ver com "o número máximo de pessoas que podem visitar determinado local turístico sem afetar o meio físico, económico ou sociocultural, e sem reduzir de forma inaceitável a qualidade da experiência dos visitantes".

      Os eleitos Ana Jara, João Ferreira e Carlos Moura pretendem que este conceito seja integrado nos instrumentos de planeamento urbano, como o Plano Diretor Municipal (PDM), por forma a "estabelecer os limites críticos da intensidade turística no território da cidade".

      "O que propomos é pensar a atividade turística à escala da cidade e começar a pensar o seu planeamento e o futuro à semelhança do que já fizeram outras cidades, como Amesterdão ou Barcelona", disse a eleita Ana Jara durante a apresentação das medidas.

      A par disto, e caso esta proposta seja aprovada, deverá também ser elaborada uma Carta do Turismo de Lisboa, instrumento que os comunistas querem que seja um "suporte ao diagnóstico, planeamento e ordenamento da atividade turística na cidade, que deve servir de base à monitorização dos impactes do turismo".

      A proposta visa então "desencadear um processo de diagnóstico e de avaliação de impactes do turismo ao nível local, principalmente nas freguesias centrais de Lisboa, cujos resultados devem ser integrados na revisão do PDM".

      Durante a apresentação da proposta, a vereadora Ana Jara salientou que este "é o momento pertinente" para falar destas questões, uma vez que "estas preocupações já estão na agenda política e fazem parte das preocupações dos lisboetas".

      "Estamos num momento em que esses fluxos turísticos têm grande impacto na vida da cidade e não estamos a estudar isso", afirmou, falando num "licenciamento intensivo de unidade hoteleiras e alojamento local que tem consequências".

      Por seu turno, o eleito João Ferreira fundamentou que esta é uma "proposta inovadora e fundamental para mitigar as consequências do turismo" e também para, "no futuro, assegurar um turismo de qualidade".

      Na apresentação esteve também presente o geógrafo Luís Mendes, da Universidade de Lisboa, que em março apresentou um estudo onde calculou que o índice de saturação turística nos bairros lisboetas de Alfama e Bairro Alto era de um turista por cada dois residentes.

      Na opinião do especialista, deveria ser feito um "diagnóstico anual" sobre o impacto do turismo na capital, uma vez que os estudos realizados, quando são publicados, "já aparecem com atraso".

      Luís Mendes apontou também que uma análise deste tipo, um "estudo empírico, com menos teoria e mais realidade concreta" demoraria "entre seis meses a um ano" a concluir.
      29
      Ago18

      Não deixai ir a eles as criancinhas, encarcerem-nos, livrai-nos do mal

      António Garrochinho

      Curto para mais tarde recordar. Vale. O Papa espalha-se ao comprido. Deixai vir a mim as criancinhas, disseram os pedófilos lá do burgo gigantesco que alberga gentes feias, porcas e más, que dizem ir ganhar os céus.

      As corporações são depósitos da escória da sociedade. As igrejas das várias religiões é o que são e disso vamos sempre tendo notícias ao longo dos milénios. É lá que se acobertam ladrões, assassinos, pedófilos etc. Pelo dito, Francisco, o papa, é cúmplice de pedófilos. E de outros criminosos da dita santa sé católica, apostólica, romana? Vai-se lá saber! Há os bons, os decentes, os humanos, os honestos, os solidários… Ah, pois há. Em todos as corporações e também nos do credo de Roma. É assim, são esses decentes que dão crédito aos que não merecem e são uns criminosos, sacanas, avaros, ladrões, etc. Também acontece assim em quase tudo. Olhem para os políticos em Portugal… Pffff.

      Há um lema que não falha: nunca fiando.

      Mas o Curto não se resume só a isso. Vá ler, já aqui em baixo.

      Bom dia, se não vomitarem com estas e outras de papas, padres, bispos e quejandos, assim como de políticos desonestos, banqueiros salgados e insonsos, toda a restante cáfila dos que nos fazem a vida numa amálgama de trampa e tristeza. Barafustem e exponham vossas razões. Ajam. Não rezem. (MM | PG)

      Bom dia este é o seu Expresso Curto

      Perdoai-lhes, Senhor? Eles sabiam o que faziam

      Filipe Santos Costa | Expresso

      Bom dia.

      Hoje, no Vaticano, é dia de audiência geral do Papa e a expectativa é sobre se Francisco falará do escândalo de pedofilia que volta a abalar a Igreja Católica - desta vez, atingindo-o diretamente e beliscando a sua imagem de uma forma que nunca tinha acontecido ao longo do pontificado. A acusação de que Francisco sabia dos abusos sobre menores perpetrados pelo cardeal norte-americano Theodore McCarrick, tendo ocultado essa informação e até dado provas de confiança no acusado, fragilizou de forma inédita o atual chefe da Santa Sé, deixando-o na mira dos setores mais conservadores da Igreja.

      Ontem surgiu uma nova revelação neste caso: o procurador-geral da Pensilvânia, o estado norte-americano onde teve origem o capítulo que reacendeu a polémica da pedofilia na Igreja Católica, garantiu que existem provas de que o Vaticano tinha conhecimento de décadas de práticas criminosas protagonizadas por centenas de padres de seis dioceses da Pensilvânia. “Há exemplos concretos em que o Vaticano sabia e estava envolvido na ocultação”, assegurou o procurador-geral Josh Shapiro, um dos responsáveis pelo relatório divulgado na semana passada sobre essa longa história de abusos sobre menores e respetiva ocultação por parte da hierarquia católica. Shapiro só não pôde responder se Francisco sabia aquilo que o Vaticano sabia. “Só não posso falar sobre o Papa.”

      Mas tudo indica que, pelo menos em relação aos crimes cometidos pelo cardeal McCarrick, Francisco sabia mesmo, e ocultou mesmo. Na segunda-feira, um dia depois de ser divulgada a carta em que o antigo embaixador (núncio) do Vaticano em Washington revelou que em 2013 deu conhecimento ao Papa da existência de dossiês sobre práticas pedófilas de McCarrick - acusando Francisco de ter ignorado essa informação e dado novas responsabilidades ao cardeal suspeito, o que agora motiva a exigência de que o Papa se afaste do cargo -, o Sumo Pontífice recusou-se a responder às acusações. Mas não desmentiu o conteúdo da carta do arcebispo italiano Carlo Maria Vigano. Apenas se recusou a comentá-la.

      O New York Times explica quem é o arcebispo Vigano e conta como este desapareceu depois de escrever a carta em que pede a Francisco que resigne.

      O silêncio do Papa tornou-se demasiado ruidoso, numa história feita de silêncios que nunca deviam ter acontecido. Ao calar as denúncias que recebeu sobre McCarry, e ao calar-se outra vez agora, que é confrontado com essa responsabilidade, Francisco repete o pecado da Igreja, que desde sempre encobriu os casos de pedofilia de que ia sabendo, escolhendo sempre olhar para o outro lado. Há uns anos, essa conspiração de silêncio caiu com estrondo sobre a própria Igreja, quando o Boston Globe descobriu uma parte do que estava oculto (lembra-se do filme Spotlight?). E agora, que consequências terá mais silêncio e mais ocultação?

      A ironia, neste caso, é que a recusa de Francisco em comentar a carta acusatória aconteceu no voo em que o Papa voltava a Roma depois de uma viagem à Irlanda em que admitiu o “falhanço das autoridades eclesiásticas” relativamente aos casos de pedofilia, que classificou como “crimes repugnantes”.

      No avião de regresso, como é tradição, o chefe da hierarquia católica conversou com os jornalistas e, embora sem falar das acusações de que é alvo, falou de outros temas. Como a homossexualidade. O seu intuito seria - como já fez noutras ocasiões - exortar os católicos com filhos homossexuais a que os entendam e “não os condenem”. Mas uma frase lançou gasolina num tema inflamável: “Quando [a homossexualidade] se manifesta na infância, a psiquiatria pode desempenhar um papel importante para ajudar a perceber como as coisas são”. A declaração do Papa dava a entender que vê a homossexualidade como um distúrbio psiquiátrico - e essa foi a razão do clamor que se levantou, sobretudo junto de organizações LGBT. Ontem, na habitual transcrição da conversa do Papa com os jornalistas, o Vaticano apagou a palavra “psiquiatria”. Segundo o gabinete de imprensa da Santa Sé, o que o Papa disse não reflete o seu pensamento - Francisco “não queria dizer que se trata de ‘uma doença psiquiátrica’”.

      Por falar em doença psiquiátrica, vale a pena ler estas duas reportagens, que desenterram o passado de instituições católicas que ao longo de décadas foram autênticas casas de horror.

      Aqui, uma magnífica reportagem multimédia do New York Times publicada em outubro, sobre um lar na Irlanda para jovens mães solteiras e para os seus filhos. A “casa de horrores de Tuam” foi um dos casos que assombraram a visita do Papa à Irlanda, neste fim de semana, e que Francisco prometeu estudar com atenção.

      Aqui, uma investigação publicada ontem pelo BuzzFeed sobre um orfanato católico no estado do Vermont, EUA. O caso não é novo, mas a longa reportagem conta com pormenores como era a vida das crianças que caiam nas mãos de freiras sádicas que parecem saídas de um filme de terror de quinta categoria. Há muitos relatos de abusos, violência, e até denúncia de mortes. Um aviso: não é a típica leitura levezinha de agosto. Mas, de qualquer forma, agosto está a acabar...

      29
      Ago18

      SEM INSPIRAÇÃO

      António Garrochinho
      ESTOU BLOQUEADO NO "FACEBOOK" POR UM MÊS E COMO TAL REVOLTADO E COM FALTA DE INSPIRAÇÃO PARA ESCREVER O "PÃO PÃO QUEIJO QUEIJO" E TAMBÉM O "SEM PAPAS NA LÍNGUA". 

      O BLOQUEIO DEVEU-SE À PUBLICAÇÃO DE UM VÍDEO DO PEDRO BARROSO (CANTO BREJEIRO) ONDE APRESENTAVA VEJAM SÓ, UMA BONECA COM PARTE DO SEIO À MOSTRA.
      29
      Ago18

      Geringonça é para quem pode

      António Garrochinho

       

      Miguel Guedes | Jornal de Notícias | opinião

      Na campanha para as eleições autárquicas de 2017, Santana Lopes assegurava, a alto e bom som, o quanto estava na moda bater no PSD. Menos de um ano depois, prefere fragmentá-lo em pedaços, batendo bolas por fora depois de malhar contra o muro interno, mas sem arrastar (ainda) alguns dos seus principais batedores. Enquanto a recolha de assinaturas para a constituição da "Aliança" decorre a bom ritmo, não há nomes sonantes do PSD que prefiram correr na pista individual de Santana, fora do trilho de sempre. Talvez porque seja unânime a percepção de que a "Aliança" é tão-só a concretização do projecto pessoal de um homem viciado em eleições, incapaz de abdicar do teste de aceitação popular que o seu partido já não lhe proporcionará. No momento em que Rui Rio é a última esperança do PSD para purgar o partido da lógica dos interesses que a deriva neoliberal de Pedro Passos Coelho petrificou, convém a muitos adversários internos de Rio que alguém navegue à vista, impedindo aquilo que mesmo uma vitória do PS nas próximas legislativas não impedirá face à aproximação de Rui Rio a António Costa: o regresso do PSD aos arredores da sua matriz social-democrata para ressuscitar, mais cedo do que tarde, o bloco central.

      Na lógica dos interesses, é natural que Santana Lopes já não tenha interesse no PSD. Outros protagonistas esperam, com natural ansiedade e pérfida estima, pelo fim precoce do actual líder. Nessa fila laranja de sucessão, não há lugar para Santana. Na ausência de reflexo, prefere a Oposição. E, perante a sua história política, percebe-se bem a preocupação de muitos sectores à Direita: Santana é um especialista em segundos lugares. O ataque ao ceptro de líder da Oposição far-se-á tão mais forte quanto mais Rio se encostar ao PS e Cristas se afastar do eleitorado ao centro só porque a "Aliança" existe. Esse "lugar de ninguém" da Direita portuguesa está, finalmente, prestes a ser ocupado por uma inequívoca vontade de fragmentação, curiosamente em contraciclo com uma histórica e inusitada união das esquerdas. A Direita pode querer mas já nunca será capaz de uma geringonça. Como os tempos mudam.

      Não haverá outro partido que Santana Lopes possa criar caso não ganhe as eleições ou, pés à terra, a liderança da Oposição. Nesse sentido, será bom contar com ele por muito tempo, enquanto aguarda pelo fenómeno de arrastamento no PSD que um eventual desastre eleitoral do partido ditará como inevitável. Sobra a pergunta: se o partido dos interesses sair do PSD para abraçar a "Aliança" e Rui Rio definhar pela purga libertária dentro de portas à espera do abraço do bloco central, o que restará do PSD?

      (O autor escreve segundo a antiga ortografia)

      * Músico e jurista


      paginaglobal.blogspot.com
      29
      Ago18

      Capitalismo de desastre - documentário

      António Garrochinho

      Para se ver quando se tiver tempo.




      Trata-se de um (clique no link) azul) documentário do mais clássico que existe e sem pretensões, que passou há dias na RTP3, enquanto dava um telejornal quase asséptico sobre o que vai pelo mundo.

      O contraste é ainda maior quando se começa a ver o filme. Um investigador percorre vários países no planeta - Afeganistão, Haiti, Papua Nova Guiné, etc. - e vai repescar os casos em que a comunidade internacional interveio supostamente para ajudar certos países em estado de desastre. 

      A ajuda foi eficaz? O investimento estrangeiro deu autonomia a esses países? Trouxe-lhes riqueza e prosperidade, tranquilidade e segurança? Ou deixou esses países num círculo vicioso de ajuda - que não chega aos lugares, às populações - e que continuam, cada vez mais, a necessitar de mais ajuda (Afeganistão), que chega sempre de paraquedas aos países em estado de necessidade, com o apoio dos maiores políticos mundiais (Haiti), impondo-lhes contratos de exploração de matérias-primas que abandonam depois de esgotadas, deixando um rasto de poluição (Papua Nova Guiné), pagando salários que não pagam as despesas de transportes e alimentação (Haiti), muitas vezes sem qualquer intervenção dos governos locais, que brincam às democracias ocidentais com o dinheiro vindo de fora (Haiti), enquanto as centenas de milhões de dólares de ajuda pública se evaporam por canais desconhecidos... 

      Não há novidades. Não há coisas verdadeiras novas relativamente a décadas passadas. E por isso é que parece ainda mais chocante e criminoso.  

      Especialmente dedicado a quem, em Portugal, repete e repete e repete que o investimento estrangeiro é a solução para Portugal.    


      29
      Ago18

      A VERDADE NUA E CRUA

      António Garrochinho




      Diz uma parábola judaica que certo dia a mentira e a verdade se encontraram.
      A mentira disse para a verdade:
      – Bom dia, dona Verdade.
      E a verdade foi conferir se realmente era um bom dia. Olhou para o alto, não viu nuvens de chuva, vários pássaros cantavam e vendo que realmente era um bom dia, respondeu para a mentira:
      – Bom dia, dona mentira.
      – Está muito calor hoje, disse a mentira.
      E a verdade vendo que a mentira falava a verdade, relaxou.
      A mentira então convidou a verdade para se banhar no rio. Despiu-se de suas vestes, pulou na água e disse:
      -Venha dona Verdade, a água está uma delícia.
      E assim que a verdade sem duvidar da mentira tirou suas vestes e mergulhou, a mentira saiu da água e vestiu-se com as roupas da verdade e foi embora.
      A verdade por sua vez recusou-se a vestir-se com as vestes da mentira e por não ter do que se envergonhar, saiu nua a caminhar na rua.
      E aos olhos de outras pessoas era mais fácil aceitar a mentira vestida de verdade, do que a verdade nua e crua.

      29
      Ago18

      A VIDA NOS OCEANOS (EP2)

      António Garrochinho







      Fotógrafo registra vida misteriosa do 

      fundo dos oceanos










      www.terra.com.br


      O PEIXE VOADOR

      O peixe-voador (Exocoetus sp.), são animais conhecidos pela sua capacidade de “voar”. Encontrados em zonas tropicais e subtropicais de todos os oceanos, eles, na verdade, conseguem se impulsionar para fora da água e planar por distâncias consideráveis com auxílio das nadadeiras peitorais. A prática é uma forma de fugir de predadores.

      Peixe voador planando

      Conhecido popularmente como peixe-voador, coió, cajaleó, cajaléu, holandês, pirabebe, santo-antônio, voador-cascudo, voador-de-pedra e voador-de-fundo, estes animais medem no máximo 25 centímetros de comprimento. Os peixes voadores possuem corpo alongado, dorso azul-acinzentado, flancos prateados e ventre claro. Suas nadadeiras pélvicas são muito curtas, e as peitorais são extremamente desenvolvidas.
      Em 2008, uma equipe do canal de televisão japonês NHK filmou um peixe-voador planando no ar durante 45 segundos, no que pode ser o voo mais longo já gravado da espécie marinha.

      vídeo

      topbiologia.com


      29
      Ago18

      [SEMANARIO] Se lanza Latinoamérica Rompe el Cerco

      António Garrochinho
      ste semanario, fruto del esfuerzo colectivo de Agencia Prensa Rural (Colombia), Radio Kurruf (Temuco, Chile), Festivales Solidarios (Guatemala), Radio Santa Cruz (Bolivia), Feministas universitarias Atziry (Honduras), Red de Prensa Alternativa Zur RPAZ (Colombia) y Radio Pirata ( Valparaíso, Chile).
      1078796998

      “Hermanas y hermanos de Latinoamérica, este es nuestro primer programa semanal continental, en la búsqueda de seguir en la construcción, reconstrucción y deconstrucción de la comunicación comunitaria y desde abajo, rompiendo las relaciones de machismo, patriarcado y privilegios. Pues surgimos en un espacio colectivo, buscando romper las relaciones de poder y privilegios y en la construcción de espacios colectivos reales. Luego de ser desterradas y expropiadas de manera unilateral pero comprometidas con los pueblos, las luchas y resistencias de la tierra, seguimos caminando de cara al sol y con nuestra mochila llena de la lucha de pueblos, usamos la palabra como nuestra herramienta para romper el cerco”, expresan los y las impulsoras del semanario.
      ROMPE EL CERCO
      Escucha el audio aquí
      Esta semana con la integración desde Venezuela, Chile, Guatemala, Honduras, Bolivia y Argentina.
      Desde Argentina, el presidente de FARCO (Foro Argentino de Radios Comunitarias),Pablo Antonini, analiza la realidad que se está viviendo en Argentina sobre el incumplimiento de la Ley de Servicios de Comunicación, la mega fusión de Telecom y Cablevisión; y el impacto en los medios comunitarios.
      Desde Bolivia, Mercedes Fernández (Radio Santa Cruz) entrevista a Juan Pablo Richtter, guionista y productor de la película El Río, de vital importancia para visibilizar desde el cine la realidad que viven los pueblos en Bolivia, por defender su dignidad y la madre tierra.
      Desde Guatemala, Lucía Ixchíu- Periodista comunitaria e independiente –Festivales Solidarios, narra la realidad de defensores de la naturaleza en el Estor, Izabal y la persecución y asesinatos por denunciar la contaminación del lago de Izabal por parte de la Transnacional CGN-PRONICO.
      Además, luego de que el Ministerio Público pidiera el sobreseimiento de Juan Suram y Jerson Xitumul, se otorgó la libertad, generando un precedente para las y los defensores. Sin embrago, continúan los presos políticos que defienden el ambiente.
      Desde Honduras, Melisa Espinoza Ruiz -Feministas universitarias ATZIRY y Movimiento de Diversidad en Resistencia -. Tania Iden de la organización OFRANEH (Organización Fraternal Negra Hondureña), explica el proceso de lucha para la recuperación del territorio, evidenciando la situación que viven y las condiciones de racismo en este país.
      Desde Chile- Temuco, Diego Vilches - Radio Kurruf -.Este sábado 28 de julio, el Machi Celestino Córdova ha vuelto a su Rewe (espacio ceremonial/ritual de la comunidad) luego de permanecer en huelga de hambre. Llogro de las comunidades mapuche y del pueblo chileno que se solidarizó con las demandas del Machi.
      Desde Venezuela, Omary Enrique, vocera de la plataforma de lucha campesina explica qué se proponen en la Marcha Campesina Admirable, que moviliza a campesinos y campesinas de diferentes estados del país. Con cerca de 20 días de caminata aspiran cumplir con 400km que les separan de la Caracas, la capital del país. Para difusión en redes los siguientes hashtags: #MarchaPorLaDignidadCampesina #MarchaCampesinaAdmirable #CaracasSolidariaConLaMarchaAgraria
      Desde Latinoamérica Rompe el Cerco repudieron el acto de violencia a tres mujeres chilenas en una marcha a favor del aborto legal, seguro y gratuito.
      Chile
      Escucha el audio aquí
      29
      Ago18

      «Não há falta de mão de obra na hotelaria, há é falta de condições de trabalho»

      António Garrochinho
      www.sulinformacao.pt



      As soluções para a falta de mão de obra na hotelaria passam pelo aumento de salários e pela melhoria das condições de trabalho. Esta é a opinião dos sindicatos do setor que, esta terça-feira, numa ação pública, na Oura, em Albufeira, distribuíram um comunicado aos veraneantes, com as suas sugestões para resolver o problema da falta de trabalhadores nos hotéis e restaurantes da região.
      Tiago Jacinto, coordenador do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Algarve, disse aos jornalistas que «existem vários problemas no setor, mas o principal não é a falta de mão de obra. O principal é, sim, a incapacidade de fixar trabalhadores. O que verificamos é que, quando voltamos a determinado local, não encontramos os mesmos trabalhadores».
      Para o sindicalista, «a primeira razão para isto são os baixos salários. A hotelaria e o turismo estão a crescer dois dígitos, mas os salários dos trabalhadores estiveram bloqueados durante 10 anos».
      A juntar a isto, «as empresas deixaram de pagar os feriados e o trabalho suplementar».

      Veraneantes receberam comunicado
      Também a precariedade é outro problema. «Precisamos de trabalhar 12 meses por ano, mas agora chega a haver pessoas contratadas à semana, ao dia ou até à hora». Segundo Tiago Jacinto, «tem havido um agravamento dos contratos a prazo, do trabalho temporário e dos estágios. Chegam estagiários, às centenas, de outras regiões do país, que, no fim do estágio, não ficam empregados. É mão de obra a custo zero que acaba por ocupar postos de trabalho».
      O sindicalista também realça a «crescente dificuldade dos trabalhadores em conciliar a vida familiar e privada com a profissional. As empresas, desde o Governo PSD/CDS, deixaram de ter a obrigatoriedade de comunicar os horários à ACT. Isto leva a que haja alterações de horário de um dia para para o outro e ao prolongamento das jornadas de trabalho».
      Também é apontada ao anterior Governo outra crítica: «acabou com a Carteira Profissional. Isto leva a que um cozinheiro possa sair de uma cozinha para ir trabalhar a seguir para um jardim. Há uma estratégia montada para desvalorizar o trabalho e isto leva à degradação do serviço. Há pessoas novas, sem experiência, a trabalhar no setor e isso reflete-se na qualidade do serviço. É importante repor a obrigatoriedade da Carteira Profissional nos setores que trabalham com o público», considera Tiago Jacinto.
      Segundo o sindicato, tem também havido «um aumento de casos de assédio moral no trabalho. Temos trabalhadores que, com mais de 20 anos de casa, nos contactam porque querem despedir-se».



      Por tudo isso, considera Tiago Jacinto, «Não há falta de mão de obra, há é falta de condições de trabalho».
      Maria das Dores Gomes, da Federação de Sindicatos da Hotelaria e Turismo, concorda com o diagnóstico feito por Tiago Jacinto e acrescenta que «há trabalhadores que se reformam deste setor, com reformas de miséria, porque algum do valor que receberam não foi sujeito a descontos. A pressão é muito grande e já há situações de troca de comida e dormida por salários. Estamos a chegar ao limite da escravatura».
      Há ainda «muitos trabalhadores que nem sabemos se existem. São clandestinos e a própria ACT não tem meios para fiscalizar».
      Para António Goulart, da União de Sindicatos do Algarve, para resolver todos estes problemas, o que é preciso é «mudar o paradigma» do setor do turismo no Algarve e acabar com a ideia de «que os trabalhadores ficam “congelados” e “descongelam” no Verão, ficando prontos a “servir”».
      Goulart explica que a falta de mão de obra existe porque os trabalhadores «não querem ir para o setor» e «os patrões acabam a competir com outros setores que oferecem melhores condições».



      Para o responsável pelos sindicatos no Algarve, «há uma agenda escondida: o que é dito hoje pelas empresas é o mesmo de há 20 anos, com o objetivo de importar mão de obra de outros países. Nós acolhemos esses trabalhadores de braços abertos, o que não aceitamos é que haja o objetivo de trazer esses trabalhadores para baixar os salários».
      Este ano e ao fim de longos meses de negociações, o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Algarve chegou a acordo com a Associação dos Industriais da Hotelaria e Similares do Algarve (AHISA) para aumentar os salários dos trabalhadores da hotelaria em 3%.
      No entanto, assume Tiago Jacinto, o acordo atingido no novo Contrato Coletivo de Trabalho «não é satisfatório». Isto porque, «estava congelado desde 2009. Só conseguimos uma nova revisão em 2017. São muitos anos sem a revisão das tabelas salariais. A inflação subiu 10%, mas os dois aumentos salariais acordados, em 2017 e em 2018, não chegam para repor o valor da inflação. Achamos o aumento pequeno, mas foi o acordo possível», conclui.
      29
      Ago18

      VÍDEO - COMO SE PINTAM DRAGÕES QUASE SÓ COM UMA PINCELADA

      António Garrochinho


      O artista Keisuke Teshima demonstra sua técnica para pintar belas e dramáticas imagens de dragões usando pincéis sumi-e. O que realmente os torna especiais é como ele usa um grande pincel carregado com vários tons para criar seus corpos com uma única pincelada. Essas pinturas são chamadas "hitofude ryuu" ("dragão de um traço só") e os pequenos movimentos, com maior ou menor pressão aliados ao giro do papel, cria um design escalonado, fazendo com que a dinâmica de um corpo contorcido apareça na tela.

      VÍDEO

      29
      Ago18

      As direitas e os seus tiques fascizantes nos media

      António Garrochinho



      Vai por aí uma campanha intensa, fundamentada numa reportagem da TVI, sobre a má aplicação de dinheiros públicos e donativos para os prejudicados com o incêndio de Pedrógão Grande no ano transato. As direitas, de que o antigo canal da Igreja, se faz porta-voz entusiasta, continua sem digerir bem que uma Câmara anteriormente enfeudada ao seu lado da trincheira política, tenha virado à esquerda, de nada tendo valido então, que muitos dos donativos tenham sido entregues então à Santa Casa da Misericórdia local comandada pelo cabeça-de-lista do PSD às mais recentes autárquicas. E que a brasileira do CDS continue a falar para os poucos, que ainda a aturam, não constituindo mais-valia, que se veja para os que a julgavam fadada a papel de relevo nos anos que virão.
      Como António Costa já desmascarou apenas duas denúncias dizem respeito a dinheiros supervisionados pela sua tutela. E as situações ilícitas em curso de investigação pelo Ministério Público muito deverão à pressa imposta por vozes insensatas, que, no calor dos acontecimentos, exigiam pronta resolução dos problemas rastreados. Ora, como diz um ditado bastante sensato,“depressa e bem, não há quem!”.
      Culpe-se, pois, Marcelo, a referida brasileira e todos quantos patrocinaram a histeria verbal de então e que obrigou a avançar com verbas sem as devidas cautelas, que só investigação criteriosa e demorada poderia consolidar.  Curiosamente o próprio Marcelo mostra-se agora cuidadoso em evitar conclusões precipitadas desalinhando-se dos que, agindo mentalmente com fundamentos fascizantes, se apressam agora a agarrar no caso para mais uma campanha antipolíticos, numa imitação de tantas outras, que levaram às sinistras governabilidades atualmente sofridas por húngaros, polacos, italianos.
      A realidade demonstra que os oportunistas imitam os ladrões: quando a ocasião se proporciona aí estão eles a aproveitarem-se. E esse comportamento nada tem a ver com a «corrupção» dos políticos. Veja-se o caso das fraudes nas matrículas das escolas públicas de Lisboa e do Porto, que levava muitos alunos a não terem cabimento das áreas em que residiam, por provirem de outras, quem lhes ocupava o lugar. Identificada a situação, mudada a regulamentação de tais matrículas e o problema desapareceu, naquele que é um merecido sucesso da equipa do Ministério da Educação.
      29
      Ago18

      Hora de dar adeus aos oceanos? (1)

      António Garrochinho

      Série de reportagens expõe retrato de nossa crise civilizatória: pesca industrial maciça devasta os mares e amplia fome e crise social em todo o mundo. Em nome do lucro, ninguém a contém

      Mort Report | Outras Palavras | Tradução: Inês Castilho

      Se você odeia aquelas pequenas fatias de peixe salgado na pizza, Giuseppe Cormaci tem boas novidades. A pesca de anchovas do Mediterrâneo foi um fracasso este ano. Mas isso significa que você não vai encontrar muito robalo suculento, o branzino, e muito menos atum azul. Tente, talvez, linguine à medusa. “A pesca da anchova caiu pela metade”, me disse Cormaci. Ajeitando seu sovado chapéu, com um sorriso pesaroso de otimista não convicto, ele continuou: “Pode melhorar novamente. E então, de novo, ter uma queda total”.

      Assim como o nome de seu barco de 24 pés – Lupo –, ele é um lobo solitário. Seu filho o ajudou durante duas estações de pesca, mas saiu para abrir um bar na praia. Com os poucos euros que lucra depois de subtrair as despesas de combustível, manutenção e redes, na semana de 90 horas, ele não consegue pagar uma tripulação. Aos 50, pertence a uma espécie em risco de extinção: o pescador artesanal.

      O mar que ele conhecia tão bem está agora cheio de surpresas. Águas aquecidas trazem águas-vivas em massa — inclusive a venenosa caravela-portuguesa. Um grande tubarão branco cruzou a ilha espanhola de Maiorca. Sobretudo, ele vê barcos-arrastões estrangeiros de alta tecnologia arrancar o que encontram pela frente, destruindo áreas de reprodução.

      Mude o idioma e Cormaci é qualquer um dos incontáveis marujos antigos que entrevistei, nos últimos anos, na Europa, África, Ásia, América Latina e Pacífico. Mudanças climáticas e poluição pioram progressivamente. Aumenta a sobrepesca sem controle. O marketing estimula a demanda, e as frotas comerciais pescam ainda mais intensamente, tudo o que podem.

      Os ambientalistas concentram-se em grandes coisas. O nobre atum azul, tão elegante e rápido quanto uma Ferrari em primeira marcha, excita um público geralmente apático. Mas ele janta a arraia-miúda junto à base de uma complexa cadeia alimentar marinha, que é a dieta principal de mais de um bilhão de pessoas. As anchovas dificilmente ficam limitadas à pizza. Filés frescos no azeite de Taggiasca em Alassio, na Itália, valem um dia de viagem. Na Ligúria, como em qualquer outro lugar sob sua influência, elas alimentaram as comunidades costeiras desde sempre.

      O mesmo ocorreu com aqueles pequenos arenques, as sardinhas. Quando Portugal fica sem sardinhas, você entende que o fim está perto. Carnudas numa grelha ou enlatadas em óleo apimentado com piri-piri, elas definem uma nação. Mas os estoques caíram de 106 mil toneladas, em 2006, para 22 mil, em 2016. No alto da cadeia alimentar, até a amada pescada da Iberia está se tornando rapidamente mais escassa. No ano passado, a União Europeia retirou as sardinhas do cardápio por 15 anos. O governo português recusou-se a aceitar, forçando um acordo. Os operadores de frota desafiaram a ciência e culparam os concorrentes da União Europeia. Enquanto isso, famílias devoram sardinhas como se não houvesse amanhã.

      Recentemente, na hora do almoço em Lisboa, encontrei um típico boteco perto do porto. Sua vitrine era um minúsculo aquário. Perguntei ao garçom se o peixe estava se tornando escasso. “Sim”, disse ele, encolhendo os ombros com indiferença, enquanto servia meu prato com estaladinhos de caranguejo e amêijoas com sardinhas assadas. O vinho verde dissolveu minha culpa. Ações individuais importam, mas salvar os mares exige um esforço global planejado. Há um oceano somente, e nele a pesca tem ido além da sustentabilidade, ameaçando até mesmo pequenos crustáceos na Antártica. Ganância desenfreada e controvérsia sobre a escala dessa crise impedem ações efetivas.

      Os cientistas acompanham de perto, mas é difícil contar peixes. Eles são invisíveis e se movem. Governos e indústria manipulam os dados para evitar o controle. Se são definidas cotas, a frouxa fiscalização possibilita fraudes desenfreadas. Em Roma, a Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO) informa que a pesca anual global chegou perto de 80 milhões de toneladas durante anos. Somando o que é jogado ao mar, não declarado ou capturado ilegalmente, é provável que esteja próxima de 130 milhões. A análise detalhada pressagia uma calamidade.

      A piscicultura chega agora quase à mesma quantidade que a pesca selvagem. Supostamente, essa é uma boa notícia. Na verdade, significa que enormes quantidades de “peixes forrageiros” tirados do oceano são cozidos até tornar-se pellets ou pasta para alimentar os mais valiosos salmão e atum de cativeiro.

      Iniciei minhas viagens sobre pesca em 2011, conduzindo uma equipe do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos. Concentramo-nos na cavala de bronze do sul do Pacífico, dizimada durante décadas para a confecção de farinha de peixe. Um quilo de salmão chileno de criação pode exigir até 4,5 quilos de cavala transportada por redes que causam estragos em criadouros. Daniel Pauly, o eminente oceanógrafo da Universidade da Colúmbia Britânica, considerou a cavala de bronze como os últimos búfalos. “Quando eles tiverem acabado”, disse-me, “tudo estará terminado… Esse é o fechamento da fronteira.” Agora a cavala de bronze está se recuperando. Isso ocorre em parte porque as frotas pescaram tanto, que dispersaram o estoque e não conseguiam mais carregar suas redes. Mas nosso relatório provocou algumas ondas que foram estampadas nas primeiras páginas. Autoridades europeias e norte-americanas reagiram.

      Essa é apenas uma espécie, numa remota esquina do mapa. Embora evidencie o que Pauly disse no início: a pilhagem dos oceanos não vai parar, a menos que um grande poder leve a sério assumir a liderança e convencer os outros a agir de forma sustentada. A União Europeia fez alguns progressos, mas Espanha, França e Holanda, entre outros, resistem a medidas mais duras. A China é de longe o maior agressor, rapidamente a caminho de tornar-se pior. Isso deixa os Estados Unidos, que na época de Barack Obama tentaram assumir a liderança, com pouco sucesso.

      As leis do mar da ONU não passam de afirmativas de boa intenção, a não ser que sejam compulsórias; elas raramente são. A supervisão é deixada às ORGP – organizações regionais de gestão da pesca – compostas por funcionários do governo e representantes da indústria. Como as decisões devem ser unânimes, o veto de qualquer país-membro pode bloquear controles efetivos.

      Por exemplo, o atum azul quase sumiu sob a guarda de uma ORGP conhecida como ICCAT. (Os ativistas a chamam de Conspiração Internacional para Capturar todo o Atum, em inglês a sigla ICCAT.) Grupos ambientalistas despertaram o interesse público para salvá-lo. Agora, a pressão de governos e operadores de frota o ameaçam novamente. Ao lado do atum azul Atlântico, há apenas dois outros: no Pacífico, principalmente em águas japonesas, e no sul, abaixo da Austrália e da Nova Zelândia. Ambos caíram para cerca de 3% do que eram antes que a pesca comercial os atingisse, gerações atrás.

      Obama criou reservas marinhas no Pacífico. John Kerry, como secretário de Estado, convocou uma “cúpula do oceano” global em Washington para angariar apoio. Sob a bipartidária Lei Magnuson-Stevens, de 1976, a Marinha e a Guarda Costeira reprimiram a pesca ilegal nas águas dos EUA. Ajudaram pequenas nações-ilha a rastrear pescadores ilegais em alto mar. Já Donald Trump vê os peixes em termos de lucro imediato e o solo oceânico como fonte de minerais raros ou exploração de petróleo. Ele retrocedeu em muitas das salvaguardas de Obama. Uma versão mais relaxada da lei  de 1976, aprovado pela Câmara, encontra-se agora no Senado.

      Nesse clima de mudança diplomática, a China abandonou quase toda sua pretensão, construindo frotas sofisticadas para saquear à vontade. Quando Trump senta-se para negociar com Xi Jinping, os peixes não estão no cardápio.

      A essa altura, surgem as perguntas óbvias. O que fazer agora? E isso é difícil de responder.

      Quando a União Europeia perseguia a pesca ilegal com mais energia, baniu a importação das nações que trapaceavam. Mas é muito fácil transferir de local as embarcações de captura, de modo a disfarçar sua origem. De qualquer forma, a China tem enorme demanda doméstica e necessidade cada vez menor de exportar.

      Educar os consumidores não é suficiente. Falta de informação – em parte uma manobra intencional das pessoas que vendem peixes – pode piorar o problema. “Sustentável” é frequentemente uma palavra da moda falada por aí sem sentido. Quando comecei minha pesquisa, Amanda Nickson, do Fundo Filantrópico Pew, em Washington, culpou a falta de pressão pública. “É como se os médicos lutassem contra o câncer de mama sem quimioterapia, radiação ou cirurgia, e só experimentassem algumas pílulas até que os pacientes morressem”, disse-me ela. Australiana que conhece os fatos e diz o que pensa, ela critica as reuniões da ORGP com outros ambientalistas e cientistas marinhos. Depois de uma reunião frustrante, tomando uma cerveja, refletiu: “Nós só temos que pescar menos peixes, e eles irão durar para sempre.”

      Liguei para Nickson semana passada para uma atualização. A despeito de algumas vitórias, disse ela, os peixes estavam perdendo a batalha. Muito pode ser feito – e é feito –, como novas reportagens irão mostrar. Mas o problema é altamente complexo, mais humano que pisciano. Aqui no plácido porto de Alessio, pequenas vinhetas tornam a cena terrivelmente clara. Tantos africanos que se afogam além do horizonte estão fugindo desesperadamente do destino enfrentado pelo velho marujo Giuseppe Cormaci. Grandes frotas aniquilam o que sobrevive a águas quentes, correntes alteradas, lixo de plástico e mudanças na química do mar. Quando seu sustento se vai, eles rumam ao norte.

      Se suas anchovas sucumbirem, o atum azul também sucumbirá. No final, tudo se reduz a vontade política. Cidadãos conscientes podem abdicar do delicioso sashimi de barriga de atum, mas outros não, independentemente do preço. As autoridades precisam estabelecer limites – e aplicá-los. Em minha mente, sou assombrado por uma imagem recorrente. Quando a última fatia de toro for talhada de uma barriga de atum azul, ele vai acabar, contemplado e não consumido, numa mesa de bufê nos jardins de Mar-a-Lago, [o fabuloso resort da Flórida frequentado por milionários e usado por Donald Trump para receber convidados ilustres].

      paginaglobal.blogspot.com
      29
      Ago18

      Nem mais, nem menos

      António Garrochinho
      ladroesdebicicletas.blogspot.com




      Eu quero pagar o IRS por inteiro, desde já porque não sou nem mais nem menos do que os outros, os meus iguais, conterrâneos, portugueses tão portugueses como eu e sem culpa nenhuma das políticas responsáveis pelo êxodo de centenas de milhares de pessoas ao longo dos últimos dez anos. 

      Por uma questão de justiça, e justiça social, ou não fosse o objectivo primordial dos impostos o melhorar de um país no seu todo, e perdoem-me a ingenuidade. 

      E quantas vezes será preciso repetir que o cerne foi sempre a falta de trabalho, de condições de trabalho, segurança no trabalho, a ausência de uma carreira e de um futuro digno desse nome? 

      João André Costa, criador do blogue Dar aulas em InglaterraPúblico.

      É uma crónica oportuna de crítica ao mais recente exemplo da política usada e abusada por um Estado desprovido de instrumentos decentes de política e por um governo ainda demasiado influenciado pela sabedoria económica convencional e pelas suas estreitas hipóteses motivacionais: os chamados incentivos, nomeadamente fiscais. 

      Não há realmente área onde este tipo de instrumento não seja mobilizado, geralmente para dar entender que se está a fazer alguma coisa, criando no processo um sistema fiscal mais opaco e injusto.
      29
      Ago18

      29 de Agosto de 1842: O Tratado de Nanquim encerra a primeira Guerra do Ópio entre chineses e britânicos

      António Garrochinho


      No dia 29 de Agosto de 1842, o Tratado de Nanquim pôs fim à primeira Guerra do Ópio entre a China e a Grã - Bretanha. Algumas décadas antes, em 1793, o grande imperador Qianlong havia rejeitado as tentativas britânicas de aumentar o comércio com o Império do Meio.


      Os mercadores da Companhia Inglesa das Índias Orientais e o governo de Londres receberam muito mal a indisposição do imperador em encontrá-los. 

      Não deixaram de difundir fortemente em toda a Europa o desprezo que lhes inspirava essa China, outrora tão elogiada, hoje arcaica, imóvel, voltada para si mesma.


      O seu despeito era ainda maior visto que continuavam a comprar à China o chá que os britânicos consumiam bastante, bem como muitos outros produtos de luxo – porcelanas, pedrarias e sedas.


      Para tentar equilibrar uma balança comercial pesadamente deficitária, a Companhia das Índias pôs em acção um “comércio triangular” tão pouco recomendável quanto era o tráfico de escravos. 

      A companhia desenvolveu nas Índias a cultura do pavot – toda planta papaverácea do género Papaver, agrupando diversas espécies que produzem flores indo da papoila (Papaver rhoeas) ao pavot a ópio (Papaver somniferum) — e de modo totalmente ilegal, inicia os chineses no consumo do ópio.


      As vendas ilegais de ópio na China passaram de 100 toneladas para 2.000 toneladas em 1838.


      Em 1839, o novo governador de Cantão, exasperado, manda apreender e queimar 20 mil caixas de ópio. Em resposta, os ingleses bombardeiam Cantão enquanto uma esquadra sobe o rio Yangzi Jiang  obrigando o imperador Daoguang a capitular.


      Esta “diplomacia através dos canhões” desembocou no Tratado de Nanquim pelo qual os vencedores ganharam o direito de comercializar livremente em cinco portos chineses. A Grã - Bretanha obtém, a ilha de Hong Kong na foz do rio das Pérolas e a riquíssima região de Cantão.


      Cúmulo da humilhação, o imperador teve de conceder um privilégio de extra-territorialidade aos britânicos e pagar-lhes 21 milhões de libras esterlinas. Os franceses e norte-americanos apressaram-se em exigir vantagens equivalentes.

      A humilhação sofrida pelos chineses com o Tratado de Nanquim está na origem dos levantamentos populares contra a dinastia manchu dos Qing, o mais notável deles a insurreição de Taiping.
      Fontes: Opera Mundi
      Blogue Estórias da História
      wikipedia (imagens)
      Assinatura do Tratado de Nanquim
      29
      Ago18

      29 de Agosto de 1915: Nasce a actriz sueca Ingrid Bergman

      António Garrochinho
      estoriasdahistoria12.blogspot.com



      Resultado de imagem para ingrid bergman

      Ingrid Bergman com c.16 anos

        Actriz sueca, nasceu em 29 de agosto de 1915, em Estocolmo, e faleceu em Londres a 29 de agosto de 1982, vitimada por um linfoma. 

      Foi uma das actrizes mais conceituadas do Mundo, especialmente durante os anos 40, quando estava no auge da sua beleza natural. Órfã de mãe com apenas dois anos,foi graças à herança deixada pela sua progenitora que se inscreveu no curso de Interpretação da Academia Real Dramática de Estocolmo. 

      Depois dum início de carreira no teatro, interpretou o seu primeiro papel cinematográfico com uma figuração em Landskamp (1932). Gradualmente, passou a ser uma das actrizes mais conceituadas da Escandinávia, especialmente depois do sucesso da primeira versão de Intermezzo (1936), de Gustav Molander, onde interpretou uma jovem pianista que se apaixona por um homem casado. O filme despertou a atenção de David 

      O. Selznick, que a convenceu a fazer um remake em Hollywood da mesma película, ao lado de Leslie Howard. O sucesso foi imediato e a rápida adaptação de Ingrid à língua inglesa impeliu-a a voos mais altos. 

      Numa altura em que Greta Garbo se retirava da vida artística activa, Hollywood parecia ter encontrado outra rainha nórdica.Depois dum breve regresso à Suécia, voltou aos Estados Unidos para interpretar uma série de títulos que a tipificaram brevemente num registo de mulher atormentada em Rage in Heaven (Tempestade,1941) e Adam Had Four Sons (Os Quatro Filhos de Adão, 1941). No ano seguinte, arrancou um dos desempenhos mais memoráveis da sua carreira, quando personificou Ilsa Lund no mítico Casablanca(1942). O par romântico que fez com Humphrey Bogart baseado numa noção de amor impossível comoveu plateias e provou que Ingrid era uma actriz plena de versatilidade. No seu título seguinte,protagonizou momentos inesquecíveis ao lado de Gary Cooper, desempenhando Maria, uma camponesa espanhola em For Whom the Bell Tolls (Por Quem os Sinos Dobram, 1943), tendo cortado o cabelo especialmente curto para ser fiel à personagem criada por Hemingway. A Academia brindou-a com uma nomeação para o Óscar de Melhor Actriz, tendo-o perdido para Jennifer Jones. Mas os cinéfilos sabiam que era uma questão de tempo até a Academia a premiar e não tiveram que esperar muito. Pela sua personagem Paula Alquist, que é quase levada à insanidade pelo seu marido (CharlesBoyer) em Gaslight (Meia-Luz, 1944), de George Cukor, venceu o Óscar para Melhor Actriz. 

      Até ao finalda década, ainda receberia mais duas nomeações na mesma categoria: por The Bells of Saint Mary's(Os Sinos de Santa Maria, 1945), onde desempenhou com brilhantia uma Madre Superiora, e por Joanof Arc (Joana D'Arc, 1948), onde voltou a rapar o cabelo para interpretar a heroína nacional francesa.

      Em 1950, foi vítima dum escândalo que quase lhe arruinaria a carreira. Durante as rodagens de Stromboli (1950), apaixonou-se pelo realizador Roberto Rossellini, tendo engravidado, apesar de estarainda casada com o primeiro marido, um médico. Stromboli foi proibido em muitos países e Bergman deixou Hollywood para ir morar em Itália com Rossellini. Da paixão, nasceu Isabella Rossellini, que,após uma carreira de modelo, viria a seguir as pisadas da mãe. Ingrid ainda foi dirigida pelo marido em Europa 51 (1952), Viaggio in Italia (Viagem à Itália, 1953) e o magnífico La Paura (Medo, 1954). Em 1956, separou-se de Rossellini e passou brevemente por França, onde filmou, sob a orientação de Jean Renoir, Elena et les Hommes (Helena e os Homens, 1956). De regresso a Hollywood, aceitou protagonizar Anastasia (Anastásia, 1956), a história verídica duma mulher amnésica que acreditava ser a princesa-herdeira do trono russo. Em boa hora o fez, pois recebeu o segundo Óscar para Melhor Actriz da sua carreira. A década seguinte foi pautada por um interregno, tendo a atriz trabalhado apenas esporadicamente. Ressurgiu em força, inserida no elenco de luxo de Murder on the Orient Express (Crime no Expresso do Oriente, 1974), no papel de missionária. Num registo incrivelmente dramático, voltou a provar as suas qualidades interpretativas, ganhando o terceiro Óscar da sua carreira, desta vez na categoria de Melhor Actriz Secundária. Ainda seria nomeada por uma última vez,na única ocasião em que trabalhou sob a orientação de Ingmar Bergman: Höstsonaten (Sonata de outono, 1978). Os seus últimos anos foram bastante penosos devido a um cancro da mama que lhe foi diagnosticado em 1978. Ainda teve forças para encarnar a primeiro-ministro israelita Golda Meir, nasérie televisiva A Woman Called Golda (1982).

      Ingrid Bergman. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. 
      wikipedia (Imagens)
      Arquivo: Ingrid Bergman em Notorious Trailer.jpg
      Com Cary Grant em Notorious

      VÍDEO
      29
      Ago18

      Memória histórica: os mártires de Anguieiro

      António Garrochinho


      ARQUIVO / MAITE CRUZ
      A praça de Sant Felip Neri, cujas paredes conservam restos do estilhaço da guerra civil.

      Em agosto de 1936, onze pessoas foram mortas sem piedade. 

      Sem julgamento ou qualquer acusação, eles foram violentamente arrancados de suas casas e em pouco tempo foram mortos em uma vala em Anguieiro (Galiza). 
      Alguns corpos apareceram, outros não sabem onde podem estar.
      Não se trata agora de encontrar e punir quem puxou o gatilho ou quem deu a ordem, mas recuperar a honra de todos que, como essas onze pessoas, nunca deveriam perdê-lo. 

      Os onze que agora lembramos e honramos, não cometeram outro "pecado" do que trabalhar duro para sustentar suas famílias. 
      Não. Eles não eram "pecadores". 
      Os "pecadores" eram aqueles que, a qualquer preço, pretendiam manter seus privilégios injustos.
      Para aqueles que estão desconfortáveis ??e que têm memória, eu quero dizer-lhes muito alto: não é bom esquecer. 
      A história é aprendida, mas não é esquecida ou distorcida. 

       O que nós queremos é a verdade. 
      Nem vingança ! queremos apenas a verdade e a recuperação da honra daqueles que a merecem, como estes onze mártires de Anguieiro :
      DANIEL GONZÁLEZ GRAÑA. Ele tinha 24 anos de idade. Ele era um residente de Cangas. Marinheiro de profissão. Membro da Confederação Nacional do Trabalho.
      ANTONIO BLANCO RODAL. Ele tinha 26 anos de idade. Vizinho da Rúa Singulis de Cangas. Marinheiro de profissão.
      GUILLERMO FERNÁNDEZ FERNÁNDEZ. Eu tinha 27 anos. Vizinho do Seixo (Darbo). Mason por profissão. Membro do Partido Socialista.
      ALEJANDRO MARTÍNEZ PAZÓ. Eu tinha 19 anos. Vizinho de Darbo. Cantoneiro por profissão. Membro do Partido Socialista.
      JOSÉ MARTÍNEZ PAZÓ. Ele tinha 26 anos de idade. Vizinho de Darbo. Membro do Partido Socialista.
      ANTONIO FERREIRO NÚÑEZ. Ele tinha 32 anos de idade. Vizinho de Darbo. Cantoneiro por profissão.
      NORMANDINO NÚÑEZ MARTÍNEZ Ele tinha 46 anos. Vizinho da Rúa del Sol (Cangas). Marinheiro de profissão. Membro da Confederação Nacional do Trabalho.
      VILAREURO SECUNDINO RUIBAL. Ele tinha 38 anos. Vizinho de Darbo. Cantoneiro
      ESTANISLAO FERREIRO NÚÑEZ. Ele tinha 24 anos de idade. Vizinho de Darbo. Cantoneiro
      EUGENIO BASTOS FERNÁNDEZ. Eu tinha 18 anos. Vizinho da Rúa del Castro (Cangas). Mecânico nos estaleiros das Barreiras. Membro da Juventude Unificada.
      JOSÉ NORES RODRÍGUEZ. Eu tinha 16 anos. Vizinho da Rúa Libertad (Cangas). Mason por profissão.
      Que cada um dos onze saiba que não os esquecemos, e que sua morte não foi em vão, que ela nos forçará a agir para que nunca mais se possam repetir tais infames atrocidades.

      www.elperiodico.com





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