O olimpismo desportivo enveredou decididamente por um modelo comercial, um negócio em que muito se compra, quase tudo se vende, e no fim o que conta é o número de medalhas obtido. O desporto abandonou a faceta de actividade lúdica e expressão de paz e passou a ser espectáculo e mercado, em que a mercadoria é o próprio atleta. Perdeu-se algum encanto, por mais rápido que se corra ou mais alto se salte, ou que a cerimónia seja deslumbrante.
Temos como aspecto novo por exemplo a nacionalização dos atletas. A equipa de andebol do Qatar é constituída por 14 atletas, onze dos quais de nacionalidades diferentes. Os petrodólares árabes são verdadeiramente magnéticos. O mesmo se passa com inúmeros países, como a Grã-Bretanha, o Brasil e a Espanha, que fazem alinhar a defender as cores nacionais, gente não nascida ou residente no País, embora com uma qualquer e singular ligação familiar do tetravô. As novas potências desportivas são muito activas nessa estratégia.
Uma outra realidade do olimpismo é a epidemia de doping, que envolve muitos atletas, alguns reincididamente e que levou á exclusão de equipas como a russa em certas modalidades. A utilização de meios fraudulentos para atingir resultados desportivos é muito antigo. São inúmeros os historicamente acusados. É o prestígio do olimpismo que está em risco. Importa reestabelecer a confiança e a verdade, doa a quem doer.
Falemos de Portugal, da sua expressão desportiva, a avaliar pelos seus resultados no Rio. Há agora uma muralha de silêncio sobre a representação nacional. Discutir passou a ser, aparentemente, acto anti-patriótico. Á partida, coloca-se a fasquia mais alto, muito mais alto, do que transparece no resultado final. Temos dificuldades em passar de um resultado individual para a expressão global do chamado mealheiro olímpico. Temos poucos argumentos em justificar a pobre mediania (um 78.ºlugar).
Criamos ímpares condições aos atletas de alta competição, investimos em bolsas pecuniárias, em treinadores de elite, em competições regulares. E falhamos … ou fomos apenas razoáveis, segundo alguns.
O que falta dizer é que temos uma prática desportiva numericamente muito pobre, fora das visões apaixonadas das bancadas e das televisões. Poucos praticam desporto, como se vê nas vilas, nas praias, nos jardins. Não temos desporto escolar, não temos desporto universitário (o mais frequente, e não é desporto, são as bebedeiras das Queimas da Fita). Não temos desporto feminino com significado.
Temos uma juventude que desde o pré-primário não exercita o corpo, a mente, o exercício, o equilíbrio, o desporto colectivo. Temos uma juventude obesa, uma juventude pouco habituada a lutar por objectivos e metas parcelares, persistente e sacrificada em nome de um resultado final. Temos uma juventude sem ídolos, plástica ou plastificada, incapaz de um raciocínio próprio, uma rebeldia salutar, uma criatividade com sentido.
E na educação global, na responsabilidade assumida, estará a solução. O bronze de Telma sabe a pouco. Até porque pode ser cada vez mais residual. O futuro anuncia-se negro.
CR
cris-sheandbobbymcgee.blogspot.pt
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