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orouxinoldaresistencia

POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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06
Set16

Ao contrário daquilo que possam pensar, tive um dia em cheio na Festa do Avante. Num gesto de pura empatia decidi visitar o território inimigo para o compreender melhor

António Garrochinho
Foto de Jovem Conservador de Direita.
Jovem Conservador de Direita

Ao contrário daquilo que possam pensar, tive um dia em cheio na Festa do Avante. Num gesto de pura empatia decidi visitar o território inimigo para o compreender melhor. A empatia é a qualidade que nos permite colocar-nos no lugar dos outros para percebermos porque é que eles fazem coisas estúpidas como ser comunista. É muito fácil dizer que os comunistas são estúpidos, por isso o meu esforço de empatia foi no sentido de compreender aquilo que os leva a ser estúpidos. E saí de lá com algumas conclusões. Os comunistas não são tão estúpidos como eu pensava. Uma pessoa torna-se comunista porque é medíocre ou incompetente e vê no comunismo e no seu projecto de engenharia social a única forma de conseguir ter algum sucesso na vida. Ser comunista, no fundo, é uma opção racional. É muito fácil para uma pessoa como eu, com todas as qualidades para triunfar nos mais variados palcos, ser de direita. Porque sei que se o sistema premiar os melhores eu vou ser devidamente recompensado pelo meu esforço. Mas, se eu fosse incompetente, poderia facilmente ser aliciado para o comunismo e para um ideal de igualdade que nos coloca a todos, competentes e incompetentes, no mesmo patamar. Ser de direita é a consequência natural de uma pessoa que possui as minhas qualidades. A salvação dos comunistas pode passar por encontrarem uma pessoa que os inspire a serem mais competentes, logo de direita. E saí do Avante com a convicção de que essa pessoa posso ser eu.
Até os comunistas são capazes de reconhecer que uma liderança minha poderia beneficiar toda a gente. Orgulho-me de dizer que a esmagadora maioria das pessoas, quando interrogada pelo meu estagiário acerca da sua opinião sobre mim, só tinha coisas boas a dizer e, sem precisar de falar muito com eles, asseguravam-me que votariam em mim. Até comunistas. É verdade que não é difícil reconhecer grandeza numa pessoa qua anda vestida de fato num sítio em que está toda a gente em tronco nu e a cheirar a suor. A minha presença de fato e gravata naquela festa é a metáfora perfeita da superioridade da direita. Estavam todos mal vestidos, inclusivamente alguns altos dirigentes comunistas, mas basta alguém entrar naquele recinto com a sua farda do sucesso marca Hugo Boss para roubar todas as atenções e captar eleitorado ao próprio partido comunista. É claro que usar fato não chega. O carisma é essencial. O meu estagiário também andava por lá de fato e só ouviu insultos. Foram merecidos. Deixei-o entrevistar um palhaço de andas e ele disse-lhe que o Stalin matava palhaços. Isso não se faz. O palhaço é uma pessoa que está lá a fazer o seu trabalho. Assustar e/ou fazer rir crianças não é fácil e não precisa nada de distracções extra, como saber que estava rodeado de admiradores de um ditador que matava palhaços.
Saí da festa do Avante com uma admiração ainda maior do capitalismo, como se isso fosse possível. Já sabia que era o melhor sistema político, o que eu não sabia é que era o sistema mais magnânimo. Sem capitalismo, a festa dos comunistas não era possível. Sem o capitalismo os comunistas não teriam acesso aos telemóveis que lhes permitem partilhar as suas selfies comunistas nas redes sociais. Teriam apenas um telemóvel soviético e só podiam fazer chamadas depois de irem preencher um impresso a pedir autorização ao partido. Além disso, o grande capital estava bem representado nas barracas do grande capital chinês e angolano, onde provei uma deliciosa moamba. Também sei reconhecer quando os comunistas se tornam capitalistas mas continuam a ser "comunistas" só para os verdadeiros comunistas não os chatearem e os deixarem trabalhar. O Eng. José Eduardo dos Santos ri-se às gargalhadas quando viaja num dos seus jactos particulares comunistas. Eu sei porque já viajei com ele algumas vezes. Ri-se mesmo muito quando lhe chamam camarada. Há quem lhe chame camarada quando ele está a beber champanhe só para ele se cuspir todo. Ele bem tenta ficar chateado a seguir porque, como qualquer bom falso comunista aka capitalista, não gosta de desperdiçar champanhe que custa 10 mil euros a garrafa. Mas é muito difícil dar uma reprimenda a uma pessoa que acabou de contar a nossa piada preferida.

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