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Dez16
CDS recusa apoio do PSD em Lisboa deixando cair Moreira
António Garrochinho

Ângelo Correia (PSD) diz que a margem de manobra para Passos não apoiar Assunção Cristas é "limitada". A líder centrista não negoceia Lisboa por troca com o Porto
O apoio do CDS à recandidatura ao Porto do independente Rui Moreira está dado e oficializado. E não vale a pena ninguém no PSD pensar que pode convencer os centristas a dar o dito por não dito em troca do apoio do PSD à candidatura da líder do CDS, Assunção Cristas, à Câmara Municipal de Lisboa.
"O assunto do Porto está decidido e está anunciado desde março, quando no congresso do partido anunciei o apoio a Rui Moreira", disse ontem ao DN a presidente do CDS, Assunção Cristas.
No domingo, na SIC, Luís Marques Mendes disse que o PSD só apoiará a candidatura de Assunção Cristas a Lisboa se o CDS desistir de apoiar Rui Moreira no Porto. Mas também acrescentou logo que muito dificilmente o CDS aceitaria este negócio.
Ontem, falando com jornalistas após uma visita ao centro paroquial de São Vicente de Paulo, no bairro da Serafina, em Lisboa, a líder centrista reiterou a disponibilidade do CDS para conversar com o PSD sobre um apoio dos sociais-democratas à sua candidatura autárquica. "O CDS tem o seu caminho definido há muito tempo, disse desde a primeira hora que não dependia de ter ou não ter o apoio do PSD, também disse desde a primeira hora que se o PSD entender que aqui há um projeto mobilizador, ganhador para a cidade, e quiser trabalhar em conjunto, certamente que nós estamos disponíveis", disse a líder centrista. "Temos bons contactos, bons diálogos sempre com o PSD em relação a muitas partes do país. Quanto a questões específicas de Lisboa, o tempo dirá como é que as coisas correm. Da nossa parte, estamos com tranquilidade a fazer o nosso trabalho", acrescentou.
Em declarações ao DN, o "senador" laranja Ângelo Correia - que empregou Passos Coelho antes de este se tornar líder do PSD - admitiu que o seu partido já não tem muitas alternativas senão apoiar a candidatura de Cristas a Lisboa: "Não sei se o PSD tem muitas alternativas aceitáveis. Exibiu durante demasiado tempo a dificuldade de ter ausência de candidatos."
Segundo acrescentou, "o tempo não tem jogado a favor das opções que o PSD tenha" e "começa a escassear" pelo que "o grau de manobra é limitado". "Há questões em que é tão importante a substância quanto o tempo. Já é tarde." E assim o PSD "tem uma margem de manobra muito limitada", ou seja, "está quase reconduzido a alimentar o exército de eleitores de Assunção Cristas". Passos Coelho, ele próprio, não é, para Ângelo Correia, hipótese como candidato a Lisboa ("era uma jogada de demasiado risco, o que teria a ganhar era muito mas o que tem a perder é muito mais") e a única hipótese para o PSD ter uma solução autónoma em Lisboa é "ter um bom candidato". Mas aqui também há um problema: "Onde é que ele está?"
Quanto ao Porto, Ângelo Correia também não vê como pode o CDS agora recuar e deixar de apoiar a recandidatura do presidente independente da câmara, Rui Moreira. Este "já tem o apoio formal do CDS e do PS e até de personalidades do PSD, o bloco social que cimenta a sua força é demasiado recente, existe e tem sido consolidado" e assim "destruí-lo é uma situação tática de grande dificuldade".
O precedente Abecasis...
A confirmar-se o apoio do PSD a Cristas não seria a primeira vez que um candidato do CDS em Lisboa lideraria uma aliança com os sociais-democratas. Aconteceu em 1979, sendo a lista encabeçada pelo centrista Krus Abecasis (que aliás venceu). Só que nessa altura o CDS era maior do que o PSD no poder autárquico em Lisboa. Nas primeiras autárquicas da democracia, em 1976, o PS venceu em Lisboa com 35,5%, e o CDS ficou em segundo lugar, com 18,9%. O PSD foi a quarta força (15,2%), atrás da FEPU (coligação antecedente da atual CDU), que obteve 16,2%. Foi partindo desta base eleitoral, com o CDS maior do que o PSD, que os dois partidos se entenderam em torno da candidatura liderada por Krus Abecasis.
... e o da coligação PS+PCP
A haver um precedente que possa justificar o apoio de uma força maior a uma candidatura encabeçada por alguém de uma força mais pequena ele pode, na verdade, radicar-se à esquerda, na candidatura (vencedora) à CML protagonizada em 1989 pelo então líder do PS Jorge Sampaio em coligação com o PCP, o MDP e o PEV.
Sampaio foi o candidato a presidente mas na verdade nessa altura o PS era mais pequeno autarquicamente em Lisboa do que o PCP. Nas autárquicas anteriores, em 1985, a coligação liderada pelos comunistas (APU) ficara, com 27,5%, em segundo lugar, atrás do PSD, e quase dez pontos percentuais à frente da candidatura do PS (17,9%). O facto de o PS ter apresentado o seu próprio líder levou o PCP a aceitar uma posição secundária (encabeçou a lista à Assembleia Municipal).
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