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Jul16
Durão Barroso e os crimes de guerra
António Garrochinho
Durão foi mais imprudente que Blair
Há uma tolerância generalizada sobre a ação política de Durão Barroso. Trata-se Barroso como uma figura menor, desprezível, ainda que tenha desempenhado durante anos altas funções no Estado português e na política europeia. No imaginário coletivo será sempre o subserviente mordomo da cimeira que Portugal organizou para declarar a guerra do Iraque. Essa imagem não foi apagada quando saltou para mais altos voos à frente da Comissão Europeia mantendo esse registo de subserviência aos mais poderosos, mesmo nos momentos em que se atacava o país de que provém e que nunca hesitou em trair – veja-se o seu recente apoio à aplicação de sanções.
A formalização da sua relação com a Goldman Sachs é uma espécie de título honorífico por serviços prestados, não sendo de crer que venha a botar conselhos válidos sobre o Brexit, que vai muito além da rede de contactos que detém. Para Barroso é tempo de enriquecer à custa do que já fez ou deixou fazer, na senda de Blair ou Aznar.
Mas a aprovação do relatório Chilcot, que prova que Blair mentiu e lançou o Reino Unido numa guerra ilegítima, pode ser um perigoso percalço também para o futuro de Barroso. Paira a ameaça de abertura de um processo no Tribunal Penal Internacional que, até agora, admitia esperar pelas conclusões do relatório britânico. Recorde-se que os crimes de guerra não prescrevem.
Durão foi mais imprudente que Blair. Mesmo depois da invasão, questionado sobre as provas da existência das armas de destruição maciça, afirmava: “Com certeza que vi. Estão mortas as pessoas. Há os cadáveres. Toda a gente sabe que foram utilizadas armas de destruição maciça no Iraque contra o seu próprio povo e contra os iranianos. Isso não é discutível” (5/6/2003). Barroso afirmou ter visto o que se sabe não ter existido para justificar o início de uma guerra que ainda hoje provoca mortos por todo o mundo.
Na sequência do relatório Chilcot, parece-me difícil que não seja desencadeado, em Portugal, um processo de investigação semelhante ao britânico.
Tiago Mota Saraiva (jornal i)