14 horas de voo. Destino: Mianmar e Bangladesh. Na Ásia. Dos 51 milhões de habitantes de Mianmar, maioria budista, apenas 700 mil são católicos. Dos 163 milhões de habitantes de Bangladesh, 85% são muçulmanos e o islamismo é a religião oficial do Estado, enquanto os cristãos integram os 0,3% do grupo, “Outras crenças”. Não são, pois, os católicos de um e outro país, cujas populações sobrevivem em chocante pobreza-miséria que move o papa jesuíta. É a Ásia, no seu todo, onde o império de Roma tem tido grande dificuldade em instalar-se nas mentes das populações, ocupadas por outras religiões. Em flagrante contraste com a Europa e com o continente latino-americano, onde todos os Estados são seus braços seculares, sempre que necessário. Inquisição “dixit”.
Consciente de que a sede do seu império já domina as mentes das populações da Europa e dos países que as descobertas e conquistas, com a cruz numa mão, a espada na outra e a Bíblia na sacola, lhe acrescentaram, o papa jesuíta, vestido de dominicano e com nome franciscano sabe bem que, para ser o senhor do mundo, tem de rasgar novos caminhos, se quer instalar-se também nas mentes dos povos asiáticos. O Ocidente já está garantido, e, hoje, na forma mais devastadora que é a versão laica pós-cristã e ateia, adorador do único deus todo-poderoso, o Dinheiro. É imperioso, pois, instalar-se nas mentes dos povos da Ásia. Com múltiplas acções de bem-fazer e escolas com a marca da cruz e a ideologia-teologia da Bíblia. Para que haja um só rebanho e um só pastor, não na maiêutica linha política de Jesus Nazaré, mas na do invicto Cristo bíblico-financeiro.
Por coincidência, a Argentina, país natal do papa jesuíta, está em lágrimas, com aquele submarino desaparecido, desde 15 de Novembro. Dentro, 44 seres humanos que, nesta altura, é suposto estarem todos mortos. Mas a agenda papal não previu este grave acidente e é para estes dois países com mais de 200 milhões de habitantes, no seu conjunto, ligados entre si também por fronteira terrestre, que o papa jesuíta argentino teve de ir. Cumpriu-se a agenda, arrancada a ferros. Quem ainda não é súbdito de Roma, mas de outras crenças, também elas conquistadoras das mentes das populações, resiste o mais que pode a fazer-se cristão católico romano. Adoradores do mesmo deus, o todo-poderoso Dinheiro, mascarado de outros nomes, já são. Mas súbditos do papa de Roma ainda não. E isso faz toda a diferença para as ambições de Roma. É para pôr fim a esta substantiva diferença, que o papa jesuíta argentino se multiplica em viagens. É isto que o move. É sempre bem recebido, porque todos Estados do mundo sabem que o mais sofisticado e mais letal armamento está nas mãos dos Estados que já são súbditos dele. E isso pesa tanto, que qualquer outro Estado tem de agendar a visita sugerida por Roma.
Só tresloucados fanáticos ousariam atentar contra o papa de Roma. Pelo que todo o investimento que cada Estado tem de fazer para assegurar a sua integridade durante a visita é feito a pensar nesses que todas as fés religiosas têm, ou elas próprias não fossem as suas mães. Fossem só os graúdos dos Estados a ver-receber o papa de Roma e não seria necessário o chocante investimento que cada viagem papal exige. Mas o papa imperador de Roma não prescinde dos banhos de multidão. E cada Estado, budista, hindú, islamita, protestante ou ateu, capricha no recurso ao protocolo imperial. Até porque, depois do regresso do papa a Roma, são eles que ficam no terreno, com as populações ainda mais conformadas com a miséria em que vegetam. Viram de fugida o papa de Roma e a ostentação das suas missas e depressa concluem que nasceram para ser o que são – miseráveis, analfabetos, carne-para-canhão. Como exige o todo-poderoso deus Dinheiro. O de todas as fés religiosas, inclusive, do ateísmo. Resta-lhes por isso conformar-se com os restos que caem da mesa dos palácios dos respectivos chefes, com os quais o papa de Roma, seu potencial imperador, se encontrou, abençoou e negociou.